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PÓS-MODERNISMO: CLARICE LISPECTOR E JOÃO CABRAL O que você deve saber sobre Surgido no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, o conceito de Pós-Modernismo ainda não é muito claro para os especialistas, dada a diversidade desse período. Embora com propostas diversas, a partir da década de 1940, surgiu no Brasil uma geração de escritores marcada pela experimentação e pela pesquisa estética. Aqui, enfatizaremos a produção da prosadora Clarice Lispector e do poeta João Cabral de Melo Neto.

PÓS-MODERNISMO: CLARICE LISPECTOR E JOÃO CABRAL

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O que voc ê deve saber sobre. PÓS-MODERNISMO: CLARICE LISPECTOR E JOÃO CABRAL. - PowerPoint PPT Presentation

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PÓS-MODERNISMO: CLARICE LISPECTOR E JOÃO CABRALPÓS-MODERNISMO: CLARICE LISPECTOR E JOÃO CABRAL

O que você deve saber sobre

Surgido no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, o conceito de Pós-Modernismo ainda não é muito claro para os especialistas, dada a diversidade desse período. Embora com propostas diversas, a partir da década de 1940, surgiu no Brasil uma geração de escritores marcada pela experimentação e pela pesquisa estética. Aqui, enfatizaremos a produção da prosadora Clarice Lispector e do poeta João Cabral de Melo Neto.

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Tendências da literatura pós-modernista

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Retomada de recursos formais clássicos e trabalho com a materialidade do texto poético

Concretismo e seus desdobramentos (Neoconcretismo ePoema-Processo)

Poesia social de Ferreira Gullar

Prosa realista-fantástica de Murilo Rubião e J. J. Veiga

Prosa psicológica de Lins, Piñon, Nassar, Dourado e Lygia Fagundes Telles

Escritura do choque e desautomatização de Clarice Lispector

Regionalismo fantástico de Guimarães Rosa

Prosa agressiva, irônica e direta de Fonseca e Trevisan

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Clarice Lispector (1920-1977)

Clarice aborda o imprevisto que rompe o rotineiro.

Essa experiência literária chocou críticos e leitores quando a autora, em 1943, publicou Perto do coração selvagem, obra distante dos pressupostos do Neorrealismo brasileiro.

Clarice Lispector, década de 1960

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Clarice Lispector (1920-1977)

A literatura de Clarice é marcada pela transgressão, ruptura e

inquietação diante da automatização que amortece a vida.

A autora aproximou-se do indizível, daquilo que a palavra não

representa, na tentativa de capturar o agora, mesmo tendo

consciência de seu óbvio fracasso. Clarice buscou a reprodução do

“instante-já” do pensamento.

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Clarice Lispector (1920-1977)

Segundo Affonso Romano de Sant’Anna, as obras de Clarice, em geral, percorrem quatro etapas:

1. Personagem disposta em determinada situação cotidiana

2. Prepara-se um evento que é pressentido discretamente pela personagem.

3. Ocorre o evento que “ilumina” (epifania) a vida da personagem.

4. Ocorre o desfecho em que a vida da personagem é revista.

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Clarice Lispector (1920-1977)

O fluxo de consciência e a epifania são característicos das suas obras.

Publicações:

Laços de família (1960)

A paixão segundo GH e A legião estrangeira (1964)

Felicidade clandestina (1971)

A hora da estrela (1977)

Destacam-se os contos “Amor”, “A imitação da rosa”, “Felicidade clandestina”, “Feliz aniversário”, “Legião estrangeira”, “A bela e a fera” ou “A ferida grande demais”. Clarice também escreveu literatura infantil.

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João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

Considerado o mais importante poeta da Geração de 1945, nasceu em Recife e passou a infância em engenhos de açúcar do Nordeste.

Em 1945 publicou O engenheiro, marcado pela preocupação com a linguagem, predominando a substantivação.

Personagens e cachorro diante do sol, 1949, de Joan Miró. Têmpera sobre tela, 81 × 54,5 cm.

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João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

São marcas de sua literatura a realidade brasileira, sobretudo a da região Nordeste, a metalinguagem e a linguagem-objeto.

Essas marcas estão presentes em O cão sem plumas (1950), O rio (1954), Morte e vida severina (1965), A educação pela pedra (1966), Museu de tudo (1975), A escola das facas (1980), Poesia crítica (1982).

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Sua poesia tem ligação com o Cubismo e dialoga com as obras de Mondrian, Joan Miró e Le Corbusier.

Le Corbusier reconstruiu a capela Notre–Dame-du-Haut em Ronchamp,

na França.

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João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

Em Morte e vida severina, um auto de Natal estruturado em redondilhas, “relê” a história do nascimento de Cristo no Recife.

O protagonista do poema narrativo é Severino, lavrador nordestino que se desloca do interior do sertão para o litoral em busca de novas perspectivas para sua vida de miséria, fome e seca.

Morte e vida severina, encenada em 1966 no Tuca, em São Paulo, sob

direção de Silnei Siqueira

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(Unirio/Ence-RJ) Texto para as questões de 2 a 5.

A descoberta do mundoO que eu quero contar é tão delicado quanto a própria vida. E eu quereria poder usar a delicadeza que também tenho em mim, ao lado da grossura de camponesa que é o que me salva.Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo aliás atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. Ou será que eu adivinhava mas turvava minha possibilidade de lucidez para poder, sem me escandalizar comigo mesma, continuar em inocência a me enfeitar para os meninos? Enfeitar-me aos onze anos de idade consistia em lavar o rosto tantas vezes até que a pele brilhasse. Eu me sentia pronta, então. Seria a minha ignorância um modo sonso e inconsciente de me manter ingênua para poder continuar, sem culpa, a pensar nos meninos? Acredito que sim. Porque eu sempre soube de coisas que nemeu mesma sei que sei.As minhas colegas de ginásio sabiam de tudo e inclusive contavam anedotas a respeito. Eu não entendia, mas fingia compreender para que elas não me desprezassem e à minha ignorância. Enquanto isso, sem saber da realidade, continuava por puro instinto a flertar com os meninos que me agradavam, a pensar neles. Meu instinto precedera a minha inteligência.Até que um dia, já passados os treze anos, como se só então eu me sentisse madura para receber alguma realidade que me chocasse, contei a uma amiga íntima o meu segredo: que eu era ignorante e fingira de sabida. Ela mal acreditou, tão bem eu havia antes fingido. Mas terminou sentindo minha sinceridade e ela própria encarregou-se ali mesmo na esquina de me esclarecer o mistério da vida. Só que também ela era uma menina e não soube falar de um modo que não ferisse a minha sensibilidade de então. Fiquei paralisada olhando para ela, misturando perplexidade, terror, indignação, inocência mortalmente ferida. Mentalmente eu gaguejava: mas por quê? Mas por quê? O choque foi tão grande – e por uns meses traumatizante – que ali mesmo na esquina jurei alto que nunca iria me casar.Embora meses depois esquecesse o juramento e continuasse com meus pequenos namoros.Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. Esse adulto saberia como lidar com uma alma infantil sem martirizá-la com a surpresa, sem obrigá-la a ter toda sozinha que se refazer para de novo aceitar a vida e os seus mistérios.Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é pudor apenas feminino.Pois juro que a vida é bonita.

LISPECTOR, Clarice

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RESPOSTA: B

“A descoberta do mundo” é representante do gênero textual crônica porque:

a) a partir de espaços temporais, avalia-se o processo de amadurecimento do personagem.b) a estrutura narrativa só comporta um personagem com reflexões intimistas.c) apresenta um monólogo interior, utilizando estruturas, predominantemente, informais.d) a partir de um dado particular se faz projeção de um conhecimento maior do mundo.e) apresenta relação de causa e efeito proporcionais à atitude de descoberta do mundo.

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RESPOSTA: C

No texto, há várias ocorrências da palavra então.Considerando o trecho “... que não ferisse a minha sensibilidade de então” (6o parágrafo), o valor semântico dessa palavra é:

a) realce.b) conclusão.c) tempo.d) inclusão.e) intensidade.

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RESPOSTA: E

Em “eu quereria poder usar a delicadeza que também tenho em mim, ao lado da grossura de camponesa que é o que me salva...”O uso da expressão “quereria poder usar” antecipa ao leitor:

a) perspectiva inicial sem definição.b) visão de futuro imediato.c) conjunto de ações globais.d) reação ao momento observado.e) visão de uma ação não realizada.

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RESPOSTAS: B e C

Nos parágrafos 4o, 5o, 6o e 7o, há predominância de conjunções adversativas e concessivas. A função discursiva desses elementos no parágrafo corrobora o sentimento de:

a) ilusão repentina vivida pelo narrador.b) contraposição vivida pela personagem e o mundo.c) contradição vivida entre a adolescência e a fase adulta.d) permanência e transformação típicas da fase adulta.e) intimidade com as descobertas na fase adolescente.

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RESPOSTA: C

(Ufop-MG) A metalinguagem está presente nestes versos de A educação pela pedra, de João Cabral de Melo Neto, EXCETO em:

a)Certo poema imaginou que a daria a ver(sua pessoa, fora da dança) com o fogo.Porém o fogo, prisioneiro da fogueira,tem de esgotar o incêndio, o fogo todo;e o dela, ela o apaga (se e quando quer)ou o mete vivo no corpo: então, ao dobro.

MELO NETO, J. C. de. Dois P. S. a um poema.A educação pela pedra.

Rio de Janeiro: Alfaguara, 2008. p. 218.

b)Catar feijão se limita com escrever:jogam-se os grãos na água do alguidare as palavras na folha de papel;e depois joga-se fora o que boiar.Certo, toda palavra boiará no papel,água congelada, por chumbo seu verbo:pois, para catar esse feijão, soprar nele,e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

MELO NETO, J. C. de. Catar feijão.A educação pela pedra.

Rio de Janeiro: Alfaguara, 2008. p. 222.

c)Durante as secas do Sertão, o urubu,de urubu livre, passa a funcionário.O urubu não retira, pois prevendo cedoque lhe mobilizarão a técnica e o tacto,cala os serviços prestados e diplomas,que o enquadrariam num melhor salário,e vai acolitar os empreiteiros da seca,veterano, mas ainda com zelos de novato:aviando com eutanásia o morto incerto,ele, que no civil quer o morto claro.

MELO NETO, J. C. de. O urubu mobilizado.A educação pela pedra.

Rio de Janeiro: Alfaguara, 2008. p. 209.

d)Quando um rio corta, corta-se de vezo discurso-rio de água que ele fazia;cortado, a água se quebra em pedaços,em poços de água, em água paralítica.Em situação de poço, a água equivalea uma palavra em situação dicionária:isolada, estanque no poço dela mesma;e porque assim estanque, estancada, muda,e muda porque com nenhuma comunica,porque cortou-se a sintaxe desse rio,o fio de água por que ele discorria.

MELO NETO, J. C. de. Rios sem discurso.A educação pela pedra.

Rio de Janeiro: Alfaguara, 2008. p. 229-230.

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