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DIREITO DO TRABALHO/DIREITO CONSTITUCIONAL POSSIBILIDADE DE VINCULAÇÃO DO SALÁRIO PROFISSIONAL AO SALÁRIO MÍNIMO: RECEPÇÃO DA LEI Nº 4.950-A/66 PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO AOS EMPREGADOS PÚBLICOS. ENTENDIMENTO DO STF E DO TST. Lívia Deprá Camargo Sulzbach Procuradora do Estado do Rio Grande do Sul [email protected]

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DIREITO DO TRABALHO/DIREITO CONSTITUCIONAL

POSSIBILIDADE DE VINCULAÇÃO DO SALÁRIO PROFISSIONAL

AO SALÁRIO MÍNIMO: RECEPÇÃO DA LEI Nº 4.950-A/66 PELA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO AOS

EMPREGADOS PÚBLICOS. ENTENDIMENTO DO STF E DO TST.

Lívia Deprá Camargo Sulzbach

Procuradora do Estado do Rio Grande do Sul

[email protected]

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RESUMO

No presente estudo busca-se confrontar a previsão constante da Lei nº 4.950-A/66, que fixa o

piso profissional de engenheiros, agrônomos, químicos, arquitetos e veterinários em salários

mínimos, com a Constituição Federal de 1988, questionando-se, em especial, a possibilidade

de que essa norma seja aplicada a empregados públicos. Analisam-se os precedentes atuais do

Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior do Trabalho sobre a matéria.

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INTRODUÇÃO

No exercício da advocacia pública no âmbito trabalhista, deparamo-nos com uma série

de situações em que os empregados públicos pleiteiam o deferimento de parcelas trabalhistas

que seriam devidas aos empregados da iniciativa privada e que esbarram nas vedações

constitucionais dirigidas à administração pública e aos servidores públicos lato sensu.

Um caso bastante peculiar versa sobre a previsão constante da Lei nº 4.950-A/66, que

dispõe sobre o salário profissional estipulado em um número mínimo de salários mínimos

para os profissionais da engenharia, química, arquitetura, agronomia e veterinária, e sua

aplicação aos empregados públicos que pertencem a essas áreas.

No âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, há uma série de profissionais lotados em

fundações públicas que são regidos pelo regime celetista e que ajuízam reclamatórias

postulando a percepção dos vencimentos em conformidade ao disposto na supramencionada

lei.

Contudo, em se tratando de empregados públicos, questiona-se se incidiriam, no caso,

as vedações constitucionais que obstam o aumento de despesas da Administração Pública sem

orçamento prévio, ou a vedação ao Poder Judiciário de conceder vantagens com fulcro no

princípio da isonomia? Ou deve ser privilegiada a legislação específica que determina qual

deve ser o valor do salário mínimo profissional a ser pago às categorias previstas,

independentemente de se tratar de empregado no âmbito público e privado?

De outro lado, como fica tal previsão legal se confrontada com a Súmula Vinculante nº

04 do STF que proíbe a indexação ao salário mínimo para qualquer fim?

O objetivo do presente estudo é verificar as principais teses que se referem à questão,

bem como a posição adotada atualmente pelos Tribunais Superiores acerca do tema, o qual se

faz presente no dia-a-dia dos advogados públicos que lidam com questões trabalhistas e

constitucionais, sempre buscando a interpretação legal que observe os ditames constitucionais

e poupe recursos para a sua utilização na implementação de políticas públicas.

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1 ENTENDENDO A QUESTÃO CONTROVERTIDA: A PREVISÃO CONSTANTE

DA LEI 4.950-A/66 E A SUA RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988

A Lei 4.950-A/66 dispõe sobre a remuneração dos profissionais diplomados em

engenharia, arquitetura, agronomia, veterinária e química da seguinte forma, verbis:

Art . 1º O salário-mínimo dos diplomados pelos cursos regulares superiores mantidos pelas Escolas de Engenharia, de Química, de Arquitetura, de Agronomia e de Veterinária é o fixado pela presente Lei.Art . 2º O salário-mínimo fixado pela presente Lei é a remuneração mínima obrigatória por serviços prestados pelos profissionais definidos no art. 1º, com relação de emprêgo ou função, qualquer que seja a fonte pagadora.

Art . 3º Para os efeitos desta Lei as atividades ou tarefas desempenhadas pelos profissionais enumerados no art. 1º são classificadas em:

a) atividades ou tarefas com exigência de 6 (seis) horas diárias de serviço;

b) atividades ou tarefas com exigência de mais de 6 (seis) horas diárias de serviço.

Parágrafo único. A jornada de trabalho é a fixada no contrato de trabalho ou determinação legal vigente.

Art . 4º Para os efeitos desta Lei os profissionais citados no art. 1º são classificados em:

a) diplomados pelos cursos regulares superiores mantidos pelas Escolas de Engenharia, de Química, de Arquitetura, de Agronomia e de Veterinária com curso universitário de 4 (quatro) anos ou mais;

b) diplomados pelos cursos regulares superiores mantidos pelas Escolas de Engenharia, de Química, de Arquitetura, de Agronomia e de Veterinária com curso universitário de menos de 4 (quatro) anos.

Art . 5º Para a execução das atividades e tarefas classificadas na alínea a do art. 3º, fica fixado o salário-base mínimo de 6 (seis) vêzes o maior salário-mínimo comum vigente no País, para os profissionais relacionados na alínea a do art. 4º, e de 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo comum vigente no País, para os profissionais da alínea b do art. 4º.

Art . 6º Para a execução de atividades e tarefas classificadas na alínea b do art. 3º, a fixação do salário-base mínimo será feito tomando-se por base o custo da hora fixado no art. 5º desta Lei, acrescidas de 25% as horas excedentes das 6 (seis) diárias de serviços.

Art . 7º A remuneração do trabalho noturno será feita na base da remuneração do trabalho diurno, acrescida de 25% (vinte e cinco por cento). (grifo nosso) [sic]1

Como se verifica, o diploma legal supramencionado foi promulgado em 22 de abril de

1966, ou seja, anteriormente à Constituição Federal de 1988. Ocorre que a Lei Maior, que

passou a viger a partir de 05 de outubro de 1988, expressamente proibiu a vinculação do

salário mínimo para qualquer fim, como prevê o inciso IV de seu art. 7º, IV, verbis:

1 BRASIL. Lei nº 4.950-A de 22 de abril de 1966. Diário Oficial da União de 29/4/1966. Disponível na internet: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4950a.htm> Acesso em 29 de set de 2015

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Art. 7º:(…)IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada a sua vinculação para qualquer fim; (grifo nosso)

Assim, a primeira premissa a ser elucidada a respeito do tema versa sobre a recepção ou

não do disposto no diploma legal citado anteriormente pela Constituição Federal de 1988.

Nesse sentido, cabe citar o magistério de Estevão Mallet e Marcos Fava em

Comentários à Constituição do Brasil2 , no seguinte sentido:

Dadas a ampla finalidade do salário mínimo, que deve atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e de sua família, e a regra de revisão anual do valor, com vistas à preservação do poder de compra, a Constituição vedou a sua utilização como indexador econômico. Evita-se, com tal providência, o desvio de finalidade do instituto, a fim de que se mantenha a busca da preservação do poder aquisitivo do salário-mínimo, sem que isto repercuta em outras construções contratuais. O limite mencionado redundou na edição, pelo Supremo Tribunal Federal, da Súmula Vinculante n. 04, no que diz respeito à base de cálculo do adicional de insalubridade, que tinha por referência este valor (artigo 192, CLT). A proibição compreende, em primeiro lugar, o próprio Estado, impedido o Poder Legislativo de promulgar leis que indiquem o valor do salário mínimo como regra de revisão de quaisquer outros índices econômicos. Abrange também, de igual forma, os particulares, a quem não permite a fixação de cláusulas de reajustes contratuais com ase na variação do salário mínimo.

Consoante se verifica no trecho supramencionado, o Supremo Tribunal Federal editou a

Súmula Vinculante nº 04, a qual determina que: salvo nos casos previstos na Constituição, o

salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de

servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.

Em assim sendo, cotejando-se a norma constante da Lei 4.950-A/66, a qual prevê a

fixação do salário profissional de algumas categorias profissionais em múltiplos do salário

mínimo, com a previsão do art. 7º, IV, da Constituição Federal, que ensejou a edição da

Súmula Vinculante nº 04 pelo Supremo Tribunal Federal, poder-se-ia concluir pela não

recepção daquele diploma legal pela Constituição de 1988.

2 FAVA, Marcos; MALLET, Estevão. Comentário ao art. 7º, inciso IV. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p. 564.

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Contudo, não é dessa forma que se posiciona o Tribunal Superior do Trabalho,

porquanto, em recursos tendo como objeto a aplicação do piso profissional estabelecido pele

Lei nº 4.950-A/66, a Corte Superior Trabalhista aplica o disposto em sua Orientação

Jurisprudencial nº 71 da Seção de Dissídios Individuais – II, que prevê:

71. AÇÃO RESCISÓRIA. SALÁRIO PROFISSIONAL. FIXAÇÃO. MÚLTIPLO DE SALÁRIO MÍNIMO. ART. 7º, IV, DA CF/88 (nova redação) - DJ 22.11.2004A estipulação do salário profissional em múltiplos do salário mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo. 3

Tem-se então a seguinte questão controvertida: norma federal publicada em 1966 previa

um piso profissional calculado em salários mínimos para determinadas categorias

profissionais. Com o advento da Constituição Federal de 1988, foi vedada a indexação do

salário mínimo para qualquer fim, tendo o Supremo Tribunal Federal editado Súmula

Vinculante a respeito da matéria. Independentemente desse entendimento, o Tribunal Superior

do Trabalho editou orientação jurisprudencial entendendo cabível a estipulação do salário

profissional em múltiplos do salário mínimo, desde que não fixada a correção automática pelo

reajuste do salário mínimo.

Dessa forma, pergunta-se: no caso de empregados públicos vinculados a tais categorias

profissionais, deve a administração pública sujeitar-se a essa norma legal? Como os Tribunais

Superiores vêm se posicionando quanto à questão?

1.1 PRECEDENTES DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

O Tribunal Superior do Trabalho, conforme já exposto, editou orientação

jurisprudencial que afasta a proibição de definição de piso salarial em múltiplos do salário

mínimo. Dessa forma, poder-se-ia pensar que os precedentes majoritários da Corte Superior

Trabalhista orientam-se no sentido de admitir a aplicação da previsão da Lei nº 4.950-A/66,

inclusive, aos empregados públicos.

3 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Orientação Jurisprudencial nº 71 da SDI-II. Publicado no DJ de 22/11/2004. Disponível na internet: < http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/OJ_SDI_2/n_S5_61.htm#71> Acesso em 29 set 2015

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Contudo, pelo que se verifica dos julgados recentes desse Tribunal Superior, a

despeito do afastamento do entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal de que o

diploma legal não teria sido recepcionado pela Constituição Federal de 1988, a Corte

Trabalhista vem se posicionando, de forma majoritária, contrariamente à aplicação do piso

profissional aos empregados públicos. No entanto, o fundamento constitucional adotado é

diverso.

Para a maioria das Turmas do Tribunal Superior do Trabalho, é inaplicável aos

empregados públicos a Lei nº 4.950-A/66, porquanto ensejaria violação ao disposto pelos arts.

37, X e XIII e 169, § 1º, da Constituição Federal.

Veja-se o que estabelecem os dispositivos legais supramencionados:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:[…]X – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;[…]XIII – é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para efeito de remuneração de pessoal do serviço público;[...]

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.§1º. A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem com ao admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas:I – se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes;II – se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista.

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Constata-se, portanto, que, a despeito de o TST considerar que a lei do piso profissional

dos engenheiros e outras categorias afins não configura ofensa ao art. 7º, IV, da Constituição

Federal, as Turmas vêm entendendo, majoritariamente, que o diploma legal não é aplicável

4 BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da União de 05/10/1988. Disponível na internet: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm> Acesso em 29 de set de 2015

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aos empregados públicos vinculados àquelas categorias profissionais, por infringir as normas

constitucionais que determinam a observância de dotação orçamentária prévia anterior para a

concessão de vantagem ou aumento de remuneração, bem como às normas que exigem lei

específica para a fixação ou alteração da remuneração de servidores.

Nesse sentido, cabe citar trecho de precedente recentíssimo, da lavra da 1ª Turma do

TST, de relatoria do Ministro Walmir Oliveira da Costa, que bem enfrenta a questão

concernente à aplicação da lei que estabelece o piso profissional em confronto ao regime a

que submetidos os empregados públicos, verbis:

A regra confere efetividade aos arts. 37, X e XIII, e 169, § 1º, da Constituição da República e reforça a conclusão de que a Lei nº 4.950-A/66 não é inaplicável aos empregados públicos estaduais regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, ante a manifesta incompatibilidade com a exigência constitucional de que a concessão de qualquer vantagem aos servidores públicos seja precedida de autorização em lei e prévia dotação orçamentária.Note-se que a adoção do valor estipulado na Lei nº 4.950-A/66 implicaria a correção automática do salário profissional a ela vinculado, haja vista que o reajuste anual do salário mínimo refletiria diretamente no salário inicial fixado no referido preceito de lei, acarretando manifesto impacto orçamentário não previsível e, ainda, distorção salarial entre empregados públicos que se submeteram ao mesmo certame público, o que não é compatível com o princípio constitucional da isonomia.Interpretação em sentido contrário conduziria à inexplicável situação de que candidatos aprovados no mesmo concurso público com melhor ordem de classificação teriam, em tese, seus salários menores que os candidatos com classificação inferior, contratados, em observância à ordem de classificação, posteriormente quando, eventualmente, já reajustado o salário mínimo.Em última análise, assinale-se que a não aplicação da Lei nº 4.950-A/66 não contraria a diretriz da Orientação Jurisprudencial nº 71 da SBDI-2 do TST. Isso porque a controvérsia travada nos autos não se circunscreve à possibilidade de estipulação do salário profissional em múltiplos do salário mínimo. Não se nega que o salário profissional possa ser estipulado em múltiplos do salário mínimo, desde que expressamente previsto no edital, considerando-se, ainda, o seu valor nominal, sob pena de afronta ao princípio da isonomia.

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Cabe registrar, ainda, que na fundamentação do julgado supramencionado, é

citada a previsão do Decreto-lei nº 1.820/80, que estabelece em seu art. 13, que as leis

especiais que fixam remuneração mínima para categorias profissionais não se aplicam a

servidores públicos ocupantes de cargos ou empregos na Administração Direta da União, DF

e autarquias.

5 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão no RR-281-28.2012.5.04.0024. 1ª Turma. Relator: COSTA, Walmir O. Publicado no DJ de 04/05/2015. Disponível na internet: <http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaDocumento/acordao.do?anoProcInt=2013&numProcInt=59494&dtaPublicacaoStr=04/05/2015 07:00:00&nia=6357523> Acesso em 29 set 2015

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Nesse mesmo sentido, citam-se os seguintes julgados:

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. DIFERENÇAS SALARIAIS. SALÁRIO PROFISSIONAL DO ENGENHEIRO. SERVIDOR PÚBLICO CELETISTA. AUTARQUIA ESTADUAL. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 4.950-A/66.Na hipótese, ainda que a reclamante tenha sido contratada pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho, a sua condição é a de servidora pública, não se excluindo das faixas salariais ditadas pelo Poder Executivo, com observância aos artigos 37, incisos X e XI, e 169 da Constituição Federal, que estabelecem que a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração pelos órgãos e entidades da Administração direta ou indireta apenas poderão ser feitas se houver prévia dotação orçamentária para atender às projeções de despesa de pessoal ativo e inativo e aos acréscimos dela decorrente, bem como se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias. Dessa forma, a lei nº 4950-A/66 é inaplicável à autora, diante da necessidade de prévia lei e dotação orçamentária para a concessão de vantagens a servidores públicos.Agravo desprovido.6

AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. DIFERENÇAS SALARIAIS. SERVIDOR PÚBLICO DE MUNICÍPIO. SALÁRIO PROFISSIONAL DO ENGENHEIRO. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 4.950-A/66. Inaplicável a Lei nº 4.950-A/66 ao servidor público engenheiro em face da necessidade de lei e dotação orçamentária prévias para a concessão de vantagens. No caso, a remuneração deve observar os arts. 37, X, e 169 da Constituição da República, que dizem ser necessárias a prévia dotação orçamentária e a autorização em lei específica para a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração. Precedentes. Agravo conhecido e desprovido.7

RECURSO DE REVISTA. ADMISSIBILIDADE. ENGENHEIRO. CONCURSO PÚBLICO. REGIME CELETISTA. SALÁRIO MÍNIMO PROFISSIONAL. LEI NO 4.950-A/66. Ainda que contratado pelo regime celetista, a remuneração do servidor público municipal deve pautar-se na observância dos artigos 37, X e 169 daConstituição da República, os quais estabelecem a necessidade de prévia dotação orçamentária e autorização em lei específica para a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração. Logo, inaplicável o salário mínimo profissional previsto na Lei n.º 4.950-A/66.Recurso de revista conhecido e provido8

RECURSO DE REVISTA – DIFERENÇAS SALARIAIS – SERVIDOR PÚBLICO REGIDO PELA CLT - ENGENHEIRO - SALÁRIO MÍNIMO PROFISSIONAL –LEI Nº 4.950-A/66 – INAPLICABILIDADE O servidor público contratado pelo regime da CLT submete-se às regras constitucionais que preveem a necessidade de prévia dotação orçamentária e

6 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão no AG-AIRR 1145-18.2012.5.15.0038. 2ª Turma. Relator: PIMENTA, José Roberto Freire. Publicado no DJ de 12/06/2015. Disponível na internet: <http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaDocumento/acordao.do?anoProcInt=2015&numProcInt=4652&dtaPublicacaoStr=12/06/2015 07:00:00&nia=6389785> Acesso em 29 set 20157 Ibidem. Acórdão no Ag-AIRR-1147-85.2012.5.15.0038. 3ª Turma. Relator: BELMONTE, Alexandre Agra. Publicado no DJ de 07/08/2015. Disponível na internet: <http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaDocumento/acordao.do?anoProcInt=2015&numProcInt=12980&dtaPublicacaoStr=07/08/2015 07:00:00&nia=6429459> Acesso em 29 set 20158 Ibidem. Acórdão no RR - 1513-29.2012.5.04.0007. 5ª Turma. Relator: PEREIRA, Emmanoel. Publicado no DJ de 31/03/2015. Disponível na internet: <http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaDocumento/acordao.do?anoProcInt=2014&numProcInt=172515&dtaPublicacaoStr=31/03/2015 07:00:00&nia=6319953> Acesso em 29 set 2015

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autorização em lei específica para concessão de qualquer vantagem remuneratória -arts. 37, X, e 169, § 1º, da Constituição -, motivo por que é inaplicável, na hipótese, o salário profissional previsto na Lei nº 4.950-A/66, na espécie. Precedentes.Recurso de Revista conhecido e provido.9

1.1.2. ACÓRDÃOS TST – TURMAS COM ENTENDIMENTO DIVERGENTE.

CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS

Há, no entanto, turmas que divergem da jurisprudência majoritária, entendendo

aplicável o piso profissional estabelecido pela Lei nº 4.950-A/66, inclusive, aos empregados

públicos. Nesse sentido, cita-se decisão proferida pela 6º Turmas do Tribunal Superior do

Trabalho, verbis:

RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. ENGENHEIRO. SALÁRIO PROFISSIONAL. LEI Nº 4.950-A/66. PISO FIXADO EM MÚLTIPLOS DO SALÁRIO MÍNIMO. ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL 71 DA SBDI-2 DO TST. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Nos termos da jurisprudência consolidada no âmbito desta Corte, mediante a Orientação Jurisprudencial 71 da SBDI-2, “a estipulação do salário profissional em múltiplos do salário-mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção automática do salário pelo reajuste do salário-mínimo”. Nesse contexto, as diferenças salariais decorrentes do descumprimento dos arts. 5º e 6º da Lei 4.950-A/66 devem ser apuradas com base no cotejo entre o salário efetivamente pactuado e o salário-mínimo vigente no momento da contratação do trabalhador, aplicando-se aos reajustes posteriores os índices concedidos à categoria obreira, sem qualquer vinculação às elevações anuais do salário-mínimo nacional. Há precedentes. Ressurgindo condenação pecuniária da reclamada, há de se examinar a questão referente aos honorários advocatícios indeferidos pelo Regional por ter sido julgada improcedente a presente reclamação trabalhista. Ausentes os requisites da OJ 305 da SBDI-1 e das Súmulas 219 e 329 do TST, indevidos os honorários advocatícios. Recurso de revista conhecido e parcialmente provido.10

Adotando-se o entendimento acima citado, constata-se que haverá uma disparidade

entre empregados contratados para o mesmo cargo, com a mesma qualificação, porquanto,

seguindo-se os parâmetros estabelecidos pelo TST, deve ser calculado o valor do salário

mínimo vigente quando da contratação. No caso de o empregado ser contratado quando o

9 Ibidem. Acórdão no RR - 1188-24.2012.5.04.0017. 8ª Turma. Relator: AMARO, Márcio Eurico Vitral. Publicado no DJ de 04/05/2015. Disponível na internet: <http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaDocumento/acordao.do?anoProcInt=2014&numProcInt=252233&dtaPublicacaoStr=04/05/2015 07:00:00&nia=6355059> Acesso em 29 set 201510 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão no RR - 198300-64.2009.5.07.0003. 6ª Turma. Relator: CARVALHO, Augusto César Leite de. Publicado no DJ de 07/11/2014. Disponível na internet: <http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaDocumento/acordao.do?anoProcInt=2011&numProcInt=97256&dtaPublicacaoStr=07/11/2014 07:00:00&nia=6217998> Acesso em 29 set 2015

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valor era mais elevado do que um colega mais antigo, terá um salário inicial maior, o que

configura nítida ofensa ao princípio da isonomia.

Registra-se, por fim, que os Recursos Extraordinários sobre o tema, qual seja, extensão

do direito ao piso salarial previsto na Lei 4.950-A/66 aos empregados contratados pela

Administração Pública, foi selecionada pelo TST, em conformidade com o disposto pelo art.

543-B, § 1º, do CPC, estando classificada no elenco de matérias pendentes de exame de

repercussão geral enviadas pelo TST, sob o título de Controvérsia C-TST– 50004. Assim, O

Tribunal Superior do Trabalho vem sobrestando os recursos extraordinários interpostos até

que o Supremo Tribunal Federal se posicione sobre a matéria.

1.2. POSIÇÃO ADOTADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Primeiramente, cabe referir que o Supremo Tribunal Federal possui posicionamento

pacífico no sentido de que não se admite a indexação de qualquer valor ao salário mínimo,

tendo, inclusive, editado Súmula Vinculante sobre o tema (súmula vinculante nº 04).

Em assim sendo, poder-se-ia entender que o posicionamento adotado pelo Tribunal

Superior do Trabalho, no sentido de que a estipulação do piso profissional em múltiplos do

salário mínimo não ofenderia à Constituição Federal, consoante Orientação Jurisprudencial nº

71 da SDI-2, estaria em desconformidade com a jurisprudência da Corte Constitucional.

Para elucidar a veracidade da afirmação ora tecida, demonstrar-se-á o entendimento

atual do Supremo Tribunal Federal acerca da matéria, dividido em três tópicos: o primeiro

referente à arguição de descumprimento de preceito fundamental nº 53, o segundo, no qual

serão colacionados julgados recentes sobre a matéria em âmbito de recursos extraordinários e

reclamações e o terceiro que analisa o entendimento adotado quando do julgamento da

arguição de descumprimento de preceito fundamental nº 33 e suas consequências.

1.2.1) ADPF Nº 53 – VIOLAÇÃO AO ART. 7º , IV, DA CF/88

A ação de descumprimento de preceito fundamental nº 53 foi ajuizada pelo Governador

do Estado do Piauí contra decisões reiteradas do Tribunal Regional do Trabalho da 22a

Região e do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, que dispunham sobre a remuneração dos

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profissionais de Engenharia, Química, Arquitetura, Agronomia e Veterinária, reconhecendo a

aplicação do piso salarial de seis salários mínimos.

Em 22/04/2008, o Ministro Gilmar Mendes deferiu a medida cautelar na ADPF 53, no

seguinte sentido, verbis:

(...)

Registre-se, por importante, que os atos impugnados na presente ação reconhecem o direito ao piso salarial de 6 salários mínimos a funcionários da Administração Pública do Estado do Piauí vinculados à Companhia de Desenvolvimento do Piauí -COMDEPI, o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Piauí -EMATER, o Instituto de Terras do Piauí - INTERPI, a Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Piauí - CIDAPI, e Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí - CEPRO.A natureza jurídica do vínculo desses funcionários com os respectivos órgãos é informação essencial para o deslinde da presente controvérsia, pois a Lei nº 4.950-A/66 já teve a sua inconstitucionalidade reconhecida em relação aos funcionários estatutários, nos autos da Representação de Inconstitucionalidade nº 716, Rel. Min. Eloy da Rocha, DJ 26.02.1969.Assim, para aquelas decisões, provenientes do Tribunal de Justiça, que reconheceram aplicável o art. 5º da Lei nº 4.950-A a funcionários que têm vínculo estatutário a presente ação esbarra no óbice do art. 4º, §1º, da Lei nº 9.882/99, tendo em vista que há outro instrumento hábil para a solução da controvérsia, qual seja, a reclamação.Em relação aos funcionários com vínculo celetista, o dispositivo impugnado, ao criar mecanismos de indexação salarial para cargos, utiliza o salário mínimo como fator de reajuste automático da remuneração dos profissionais das aludidas categorias. Com isso, verifica-se ofensa à parte final do disposto no art. 7º, IV, da Constituição Federal. A jurisprudência desta Corte sobre o tema é claríssima, havendo precedente específico em que questão semelhante foi decidida no mesmo sentido que ora se propõe (ADPF 33, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 27/10/06).Assim, indefiro a inicial da presente ADPF, em face do art. 4º, §1º, da Lei nº 9.882/99, em relação às decisões que contemplaram funcionários estatutários e defiro o pedido liminar, ad referendum do Plenário desta Corte, para a suspensão das decisões impugnadas que se referem a servidores celetistas, nos termos do art. 5º, §3º, da Lei nº 9.882/99” (grifo nosso).11

Dessa forma, em face da medida cautelar deferida pelo Ministro Gilmar Mendes na

ADPF 53, deveriam restar suspensas as decisões que determinam a aplicação do piso

profissional calculado em salários mínimos. Contudo, resta dúvida sobre o alcance da decisão

proferida. Mais adiante, serão colacionados dois julgados conflitantes sobre o tema: um, do

TST (Min Walmir Oliveira da Costa), que considera que tal decisão determina o

11 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Decisão na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 53. Relator: MENDES, Gilmar. Publicado no DJ de 06/05/2008. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=53&classe=ADPF&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M> Acesso em 29 set 2015

13

sobrestamento dos demais recursos sobre o tema, e outra, do STF (Min Celso de Mello), que

entende que a decisão cinge-se à suspensão das decisões referidas na respectiva ADPF.

Registra-se que é possível a concessão de medida liminar em sede de ADPF, ad

referendum do Tribunal Pleno, para a suspensão das decisões impugnadas. Nesse sentido, o

magistério de Marcia Vogel Vidal de Oliveira, verbis:

O Supremo Tribunal Federal tem competência para deferir, por decisão da maioria absoluta de seus membros, em casos excepcionais, em razão da presunção de constitucionalidade das normas, pedido de medida liminar na ADPF que poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam o andamento de processos ou os efeitos de decisões judiciais, ou qualquer outra medida que apresente relação com a matéria da ADPF, salvo se decorrentes da coisa julgada26. Em casos de extrema urgência, perigo de lesão grave ou durante o período de recesso, pode o Ministro relator conceder a liminar, ad referendum do Tribunal Pleno. Existe a possibilidade da oitiva dos órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questionado, do Advogado-geral da União ou do Procurador-geral da República,no prazo comum de cinco dias, antes da decisão sobre a medida liminar. No caso do Advogado-geral da União, sua oitiva é uma faculdade, e não uma obrigatoriedade. 12

Ainda quanto ao tema, cabe citar, por fim, o magistério do Ministro Gilmar Mendes

acerca do cabimento da arguição de descumprimento de preceito fundamental, verbis:

Além do descumprimento de preceito fundamental, a Lei n. 9.882/99, que regulamentou o writ, explicita que caberá também a arguição de descumprimento quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, inclusive anteriores à Constituição (leis pré-constitucionais). Vê-se, assim, que a arguição de descumprimento poderá ser manejada para solver controvérsias sobre a constitucionalidade do direito federal, do direito estadual e também do direito municipal.A arguição de descumprimento vem completar o sistema de controle de constitucionalidade de perfil relativamente concentrado no STF, uma vez que as questões até então não apreciadas no âmbito do controle abstrato de constitucionalidade (ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade) poderão ser objeto de exame no âmbito do novo procedimento.13

Atualmente, a ADPF 53 tem como relatora a Min. Rosa Weber, que também o é da

ADPF 171, que versa sobre o mesmo tema e foi proposta pela Governadora do Estado do

Maranhão contra decisões proferidas pelo Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região.

12 OLIVEIRA, Marcia Vogel Vidal de. Da Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF . In REVISTA DA AJUFERGS / 03 . p. 341-375. Disponível na internet: http://www.ajufergs.org.br/revista_ajufergs_03.asp Acesso em 29 set 2015.

13 MENDES, Gilmar F; STRECK, Lenio L. Comentário ao art. 102, § 1º. IN: CANOTILHO, J.J. Gomes; _________; SARLET, Ingo W.; ___________ (Coords). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p. 1.392.

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Cabe citar que foi juntado aos autos da mencionada ADPF 171, parecer da lavra do

Ministro Francisco Rezek, o qual conclui que a Lei nº 4.950-A/66 não viola o disposto pelo

art. 7º, IV, da CF/88, justamente em face da previsão contida no inciso seguinte do mesmo

artigo (7º, V) que prevê a instituição de um piso profissional compatível com a complexidade

do cargo. Cita-se a conclusão constante do referido parecer:

I. A vedação expressa no artigo 7º, inciso IV, parte final, da Constituição da República, visa a impedir que o salário mínimo dos trabalhadores seja utilizado como indexador de obrigações de natureza não salarial, não dizendo respeito ao salário mínimo de categorias profissionais qualificadas, por ter este a mesma natureza e finalidade consagradas pela Carta na parte inicial daquela norma, e enfatizadas, de modo lapidar e incontornável, pela norma que lhe dá sequência imediata no texto fundamental.II. Não há incompatibilidade alguma entre o artigo 5º da Lei 4.950-A e a Constituição Federal de 1988, a qual, ao contrário de solapar por “não-recepção” o piso salarial consagrado em lei para trabalhadoresqualificados - face à extensão e à complexidade do trabalho que realizam -, deu-lhe estatura constitucional. 14

Ocorre que, ao contrário do ocorrido na ADPF 53, quando do exame do pedido de

concessão de medida liminar, constata-se que a relatora da ADPF 171 à época, Min. Ellen

Gracie, apenas examinou a questão no que concerne aos servidores públicos. Nesse âmbito,

consoante observado pelo Min. Gilmar Mendes, quando do deferimento da medida cautelar na

ADPF 53, já houvera manifestação de inconstitucionalidade em 1970. Cita-se a decisão

proferida pela Min Relatora à época, verbis:

1. O ato normativo federal anterior à Constituição de 1988 ora questionado (Lei 4.950-A, de 22.04.1966, que dispõe sobre a remuneração de profissionais diplomados em Engenharia, Química, Arquitetura, Agronomia e Veterinária) já teve sua inconstitucionalidade declarada por esta Suprema Corte, no que diz respeito aos servidores públicos sujeitos ao regime estatutário, no julgamento da Representação 716, rel. Min. Eloy da Rocha, acórdão publicado em 11.03.1970. Com base nessa decisão e nos seus estritos limites, o Senado Federal suspendeu definitivamente a execução do referido Diploma, retirando-o, portanto, do mundo jurídico, por força da promulgação da Resolução 12, de 07.06.1971. 2. Nos termos do art. 5, § 2º, da Lei 9.882/99, requisitem-se prévias informações ao Congresso Nacional. Após, abra-se vista sucessiva ao Senhor Advogado-Geral da União e ao Senhor Procurador-Geral da República. Publique-se. Brasília, 23 de junho de 2009. Ministra Ellen Gracie Relatora15

14 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Parecer na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 171. Parecerista: RESEK, Francisco. Disponível na internet: http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=267900 Acesso em 29 set 201515 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Decisão na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 171. Relator: GRACIE, Ellen. Publicado no DJ de 03/08/2009. Disponível na internet: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2679000 Acesso em 29 set 2015

15

O que se tem, até o presente momento, portanto, é uma sinalização do Supremo

Tribunal Federal, consoante decisão proferida pelo Min Gilmar Mendes na MC deferida na

ADPF 53, no sentido de que a Lei 4.950-A/66, não teria sido recepcionada pela Constituição

Federal de 1988, no que concerne aos empregados celetistas.

1.2.2) RECLAMAÇÕES E RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS COM AGRAVO

Pela análise de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de Recurso

Extraordinário com Agravo, constata-se que o Tribunal Constitucional vinha adotando

posicionamento que rechaçava a aplicação da Lei nº 4.950-A/66 por configurar violação ao

disposto no art. 7º, IV, da CF/88, bem como à Súmula Vinculante nº 04.

Corroborando o acima exposto, seguem as ementas das decisões proferidas:

DECISÃO: 1. Trata-se de agravo de decisão que deixou de admitir recurso extraordinário interposto em reclamação trabalhista que tem por objeto a aplicação do piso salarial de engenheiro civil previsto na Lei 4.950-A/1966. O Tribunal Superior do Trabalho não conheceu do recurso de revista, pois a decisão impugnada estava conforme a jurisprudência daquela Corte, no sentido de que a fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo não viola o art. 7º, IV, da Constituição, uma vez que não impõe o reajuste automático dos salários. No recurso extraordinário, a parte recorrente aponta, com base no art. 102, III, a, da Constituição, violação ao art.7º, IV, da CF, pois não deve prevalecer a vinculação de piso profissional ao salário mínimo. Em contra-razões, a recorrida sustenta, preliminarmente, a inexistência de repercussão geral da matéria. No mais, pede o desprovimento do recurso (fls. 413/426). 2. Despicienda a alegação da parte recorrida acerca da ausência de relevância da questão, pois, nos termos do art. 543-A, § 3º, do CPC, “haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal”. Como se demonstrará adiante, é o que ocorre no caso. 3. É pacífico na jurisprudência do STF o entendimento de que viola o art. 7º, IV, da CF, a vinculação de piso profissional em múltiplos do salário mínimo. Nesse sentido, são os seguintes precedentes: RE 524020 AgR, Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 15-10-2010; AI 620193 AgR, Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, Dje de 09-03-2012, este último assim ementado: Agravos regimentais em agravo de instrumento. Preclusão consumativa do segundo agravo. Piso salarial. Vinculação ao salário mínimo. Impossibilidade. Precedentes. 1. Interpostos 2 (dois) agravos regimentais contra a mesma decisão, incide, quanto ao último, a preclusão consumativa. 2. Impossibilidade de vinculação de piso salarial a múltiplos do salário mínimo. 3. Agravo regimental não provido. Assim, considerando a inconstitucionalidade de tal estipulação da Lei 4.950-A/1966, a qual é a causa de pedir da inicial da ação trabalhista, impõe-se o provimento do presente recurso, com a subsequente declaração de improcedência do pedido. 4. Diante do exposto, conheço do agravo para, desde logo, dar provimento ao recurso extraordinário para julgar improcedente o pedido inicial da reclamatória trabalhista. Ficam invertidos os ônus sucumbenciais, observando-se a assistência judiciária

16

gratuita concedida nos autos. Publique-se. Intime-se. Brasília, 05 de fevereiro de 2014. Ministro TEORI ZAVASCKI Relator 16 (grifo nosso)

DECISÃO: Trata-se de agravo nos próprios autos (Doc. 59), interposto pelo ESTADO MARANHÃO, com fundamento no artigo 544 do Código de Processo Civil, visando à reforma da decisão que não admitiu seu recurso extraordinário (Doc. 46), manejado com arrimo na alínea a do permissivo constitucional, contra acórdão (Doc. 44) cuja ementa tem o seguinte teor: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA - DESCABIMENTO. EXECUÇÃO. SALÁRIO PROFISSIONAL. DIFERENÇAS. ENGENHEIRO. Prevalece, nesta Corte, a compreensão da Orientação Jurisprudencial nº 71 da SBDI-2, segundo a qual a “estipulação do salário profissional em múltiplos do salário mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo”. Óbice do art. 896, § 4º, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e desprovido.” Não foram opostos embargos de declaração. Nas razões do apelo extremo, sustenta a preliminar de repercussão geral e, no mérito, aponta ofensa ao disposto nos artigos 7º, IV, e 37, XIII, da Constituição Federal. Aduz que a vinculação do piso salarial profissional a múltiplos do salário mínimo, tal como previsto na Lei nº 4.950-A/1966, afronta entendimento consubstanciado na Súmula Vinculante nº 4. Assevera que a vedação à vinculação ou à equiparação de espécies remuneratórias abrange também os empregados públicos. O Tribunal a quo negou seguimento ao apelo extremo, por não vislumbrar divergência com o entendimento do STF, porque não foi “fixada a correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo” (Doc. 57). É o relatório. DECIDO. O recurso merece prosperar. O acórdão recorrido está em confronto com a jurisprudência desta Suprema Corte, que se firmou no sentido de reconhecer a impossibilidade de vinculação do piso de categoria profissional a múltiplos de salários mínimos, como se pode depreender do teor da ementa dos seguintes julgados: “RECURSO. Extraordinário. Vinculação de salário profissional a múltiplos do salário mínimo. Impossibilidade. Precedentes. Esta Corte já assentousua jurisprudência no sentido da impossibilidade de vinculação de salário profissional a múltiplos do salário mínimo. 2. RECURSO. Agravo de instrumento. Ausência de cópias da petição inicial e da sentença de primeiro grau. Art. 544, §3º, do CPC. Desnecessidade. Outras fontes de convencimento. Não se exige, para fins de provimento do agravo, cópia da exordial e da sentença de primeira instância, desde que, por outros documentos, seja possível aferir a exata dimensão da quaestio iuris” (AI 277.835-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, DJe de 26/2/2010). 2 “Piso salarial: a vinculação de salário profissional a múltiplos do salário mínimo viola o artigo 7º, IV, da Constituição: precedentes” (AI 357.477-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ de 14/10/2005). No mesmo sentido, ARE 774.193-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 10/10/2014 e ARE 777.620-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe de 15/8/2014. Registre-se, ainda, que o acórdão recorrido está em dissonância também com o teor do Enunciado da Súmula Vinculante nº 4 desta Corte: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial”. Ex positis, PROVEJO o agravo para, desde logo, CONHECER e DAR PROVIMENTO ao recurso extraordinário, com fundamento no artigo 557, § 1º-A, do CPC. Ficam invertidos os ônus da sucumbência, ressalvada a hipótese de concessão do benefício da justiça gratuita. Publique-se. Brasília, 19 de dezembro de 2014. Ministro LUIZ FUX Relator (grifo nosso)

16 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Decisão no Recurso Extraordinário com agravo nº 689.597/PR. Relator: ZAVASKY, Teori. Publicado no DJ de17/02/2014. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=200884384&tipoApp=.pdf> Acesso em 29 set 2015.

17

[...]6. O Tribunal Superior do Trabalho determinou a aplicação da Lei n. 4.950-A/1966 para estipular o salário profissional inicial do Agravado em múltiplos de salários mínimos. Esse entendimento diverge da jurisprudência deste Supremo Tribunal, consolidada no sentido da impossibilidade de vínculo do piso salarial profissional ao salário mínimo: “Agravos regimentais em agravo de instrumento. Preclusão consumativa do segundo agravo. Piso salarial. Vinculação ao salário mínimo. Impossibilidade. Precedentes. 1. Interpostos 2 (dois) agravos regimentais contra a mesma decisão, incide, quanto ao último, a preclusão consumativa. 2. Impossibilidade de vinculação de piso salarial a múltiplos do salário mínimo. 3. Agravo regimental não provido” (AI 620.193-AgR, Relator o Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 9.3.2012). “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. FERROVIA PAULISTA S/A – FEPASA. ABONO CONCEDIDO AOS SERVIDORES EM ATIVIDADE. PISO SALARIAL. VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO: VEDAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO POR DECISÃO JUDICIAL: SÚMULA VINCULANTE N. 4 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (AI 700.945-AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 3.3.2011). Confira-se o voto do Ministro Sepúlveda Pertence no Agravo de Instrumento n. 357.477: “O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - É este o teor da decisão ora agravada: ‘Agravo de instrumento de decisão que negou seguimento a RE, contra acórdão do Tribunal Superior do Trabalho que manteve a vinculação do salário profissional a múltiplos de salário mínimo. Alega-se violação dos artigos 7º, IV, e 37, XIII, da Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal tem diversos precedentes em que se declarou inconstitucional a vinculação de salário profissional a múltiplos de salário mínimo, v.g. RREE 247.656, Ilmar Galvão, 1a T, DJ 15.05.2001; 294.221, Moreira Alves, 1a T, DJ 11.10.2001; 270.888-AgR, Maurício Corrêa, 2a T, DJ 25.05.2001; e 273.205, Moreira Alves, 1a T, DJ 19.04.2002, este último com a ementa que segue: ‘Professores do Estado do Paraná. Piso Salarial de três salários mínimos. - Falta de prequestionamento das questões relativas aos incisos XXXV e LV do artigo 5º da Constituição. - A vinculação desse piso salarial a múltiplo de salários mínimos ofende o disposto no artigo 7º, IV, da Constituição Federal. Precedentes do S.T.F. - Inexistência de ofensa por parte do acórdão recorrido aos artigos 39, § 2º, 7º, V e VI, e 206, V, da Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido pela letra ‘c’ do inciso III do artigo 102, da Constituição, mas não provido.’ Na linha dos precedentes, provejo o agravo (art. 544, § § 3º e 4º, do C.Pr.Civil), que converto em recurso extraordinário e, desde logo, dou provimento a este (art. 557, § 1º-A, do C.Pr.Civil), para afastar a vinculação do piso salarial a múltiplos de salário mínimo.’ Alega-se que o piso salarial estabelecido pela Lei 4.950-A/60 não se trata de vinculação ao salário mínimo como fator de indexação, e assim não esta incluído na vedação da parte final do artigo 7º, IV, da Constituição Federal. É o relatório. Não têm razão os agravantes. Reafirmo a incidência, no caso, da jurisprudência do Tribunal que proíbe a vinculação do salário profissional a múltiplos de salário mínimo. Nego provimento ao agravo regimental: é o meu voto” (AI 357.477-AgR, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 14.10.2005, grifos nossos). O acórdão recorrido divergiu dessa orientação jurisprudencial. 7. Ademais, Wilson José Dias Oliveira é engenheiro florestal, admitido em 1º.10.2009 para trabalhar como engenheiro florestal na Secretaria de Meio Ambiente, pelo regime celetista. Em 22.04.2008, o Ministro Gilmar Mendes deferiu a medida cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 53: “DECISÃO: Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental contra decisões reiteradas do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região e do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, que dispondo sobre a remuneração dos profissionais de Engenharia, Química, Arquitetura, Agronomia e Veterinária, reconheceu aos respectivos profissionais o direito ao piso de seis salários mínimos. Alega-se ofensa aos arts. 1º, 7º, IV, 18 e 37, XIII, da Constituição de 1988, sob os seguintes fundamentos: ‘(...) a) a regra impugnada, ao vincular a remuneração dos servidores à variação do salário mínimo, afronta a expressa vedação da parte final do art. 7º, IV, da Constituição de 1988, que

18

proíbe a vinculação ao salário mínimo para qualquer fim; b) desatende a proibição inserta no art. 37, XIII, que veda a vinculação de quaisquer espécies remuneratórias para efeito de remuneração no serviço público, lato sensu e, finalmente, c) atenta contra o princípio federativo.’(fl. 4) A plausibilidade jurídica do pedido é invocada com fundamento em ofensa aos arts. 1º, 7º, IV, 18 e 37, XIII, da Constituição de 1988. Quanto ao perigo na demora da prestação jurisdicional, afirma-se que tramitam várias ações perante o Tribunal Regional do Trabalho, postulando a aplicação do art. 5º da Lei nº 4.950-A. O pedido final da arguição de descumprimento de preceito fundamental restou assim formulado: ‘(...) seja julgado procedente o presente pedido para o fim reconhecer, com eficácia erga omnes e efeito vinculante, inclusive quanto à coisa julgada já formada, que o art. 5º da Lei 4.950-A/66 não foi recepcionado pela Constituição de 1988, isso porque: (i) o dispositivo viola o art. 7º, IV, parte final, da Constituição, que veda a vinculação ao salário mínimo para qualquer fim; e (ii) a norma atenta contra a autonomia do Estado-membro, em detrimento do equilíbrio federativo (art. 1º e 18) e afronta a regra que proíbe a vinculação de quaisquer espécie remuneratórias (art. 37, XIII, CF/88).” (fl. 25) Passo a decidir. Registre-se, por importante, que os atos impugnados na presente ação reconhecem o direito ao piso salarial de 6 salários mínimos a funcionários da Administração Pública do Estado do Piauí vinculados à Companhia de Desenvolvimento do Piauí – COMDEPI, o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Piauí – EMATER, o Instituto de Terras do Piauí – INTERPI, a Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Piauí –CIDAPI, e Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí – CEPRO. A natureza jurídica do vínculo desses funcionários com os respectivos órgãos é informação essencial para o deslinde da presente controvérsia, pois a Lei nº 4.950-A/66 já teve a sua inconstitucionalidade reconhecida em relação aos funcionários estatutários, nos autos da Representação de Inconstitucionalidade nº 716, Rel. Min. Eloy da Rocha, DJ 26.02.1969. Assim, para aquelas decisões, provenientes do Tribunal de Justiça, que reconheceram aplicável o art. 5º da Lei nº 4.950-A a funcionários que têm vínculo estatutário a presente ação esbarra no óbice do art. 4º, §1º, da Lei nº 9.882/99, tendo em vista que há outro instrumento hábil para a solução da controvérsia, qual seja, a reclamação. Em relação aos funcionários com vínculo celetista, o dispositivo impugnado, ao criar mecanismos de indexação salarial para cargos, utiliza o salário mínimo como fator de reajuste automático da remuneração dos profissionais das aludidas categorias. Com isso, verifica-se ofensa à parte final do disposto no art. 7º, IV, da Constituição Federal. A jurisprudência desta Corte sobre o tema é claríssima, havendo precedente específico em que questão semelhante foi decidida no mesmo sentido que ora se propõe (ADPF 33, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 27/10/06). Assim, indefiro a inicial da presente ADPF, em face do art. 4º, §1º, da Lei n. 9.882/99, em relação às decisões que contemplaram funcionários estatutários e defiro o pedido liminar, ad referendum do Plenário desta Corte, para a suspensão das decisões impugnadas que se referem a servidores celetistas, nos termos do art. 5º, § 3º, da Lei n. 9.882/99”, (grifos nossos). Portanto, a Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho afrontou também a decisão proferida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 53, ao permitir a estipulação do salário profissional em múltiplos de salário mínimo, nos termos da Lei n. 4.950-A/1966. 8. Quanto ao requerimento da Agravante para serem “reconhecidos os efeitos erga omnes da presente decisão para em consequência determinar a suspensão de todos os feitos distribuídos perante as Turmas do E. Tribunal Superior do Trabalho e Tribunal Regional do Trabalho da Oitava Região que tratem da matéria e que tenham como parte passiva a Recorrente” (fl. 27, doc. 47), a decisão proferida neste agravo afeta apenas as partes deste recurso. Incabível a atribuição de efeitos erga omnes em ação subjetiva, desprovida a decisão proferida no agravo de eficácia vinculante, e os respectivos fundamentos somente se projetam para a relação jurídica processual circunscrita nesta prestação jurisdicional. 9. Pelo exposto, nos termos dos precedentes consolidados sobre a matéria neste Supremo Tribunal Federal, dou provimento ao agravo e, desde logo, parcial provimento ao recurso extraordinário para afastar a fixação do piso salarial do Agravado em múltiplos de salário mínimo e determinar o retorno dos autos ao Tribunal Superior do Trabalho para decidir como de direito (art. 544, § 4º, inc. II, al.

19

c, do Código de Processo Civil). Publique-se. Brasília, 18 de dezembro de 2014. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 17 (grifo nosso)

Contudo, a despeito dessas decisões proferidas recentemente pelos Ministros do

Supremo Tribunal Federal, verificou-se a existência de decisões e acórdãos recentíssimos que

vêm julgando improcedentes as reclamações ajuizadas tendo como objeto, exatamente, a

violação à Súmula Vinculante nº 04 por decisões proferidas pelo TST que entenderam pela

aplicação da lei nº 4.950-A/66, verbis:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. LEI 4.950-A/66. SALÁRIO FIXADO EM MÚLTIPLOS DO SALÁRIO MÍNIMO. SÚMULA VINCULANTE 4. ADPF 53 MC. 1. Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam reajustes automáticos. 2. O ato reclamado, ao aplicar a OJ 71, da SBDI-2 do TST, não afrontou a Súmula Vinculante 4, nem a ADPF 53 MC. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. 18

No corpo da decisão, o que se verifica é a adoção do entendimento de que o teor da

Orientação Jurisprudencial nº 71 da SDI-2 do TST, que dispõe que a estipulação do salário

profissional em múltiplos do salário mínimo não configura violação à Súmula Vinculante nº

04 do STF, desde que não haja o reajuste automático pelo salário mínimo.

Esse é o entendimento que vêm sendo adotado em sede de reclamação pelos Ministros

do Supremo Tribunal Federal: não são admitidas reclamações tendo como objeto a violação à

Súmula Vinculante nº 04, quando a decisão proferida pelo Tribunal de origem aplica a já

mencionada OJ 71 da SDI-2 do TST.

Para tanto, os Ministros do Supremo adotam entendimento pela aplicação da decisão

proferida no julgamento da Medida Cautelar na ADPF 151, em 02/02/2011, sendo relator para

acórdão o Min Gilmar Mendes, que versava sobre o piso profissional dos técnicos em

radiologia, em cujo julgamento restou assentado pelo STF a possibilidade de congelamento da

base de cálculo do piso salarial para desindexar o salário mínimo, conforme ementa a seguir

17 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Decisão no Recurso Extraordinário com agravo nº 837.767/DF. Relator: LÚCIA, Carmen. Publicado no DJ de 09/02/2015. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4635329> Acesso em 29 set 2015.

18 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão no Agravo Regimental na Reclamação nº 9.951. Relatorsubstituto: FACHIN, Edson. Publicado no DJ de 25/09/2015. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=3857421> Acesso em 29 set 2015.

20

transcrita:

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Direito do Trabalho. Art. 16 da Lei 7.394/1985. Piso salarial dos técnicos em radiologia. Adicional de insalubridade. Vinculação ao salário mínimo. Súmula Vinculante 4. Impossibilidade de fixação de piso salarial com base em múltiplos do salário mínimo. Precedentes: AI-AgR 357.477, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 14.10.2005; o AI-AgR 524.020, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 15.10.2010; e o AI-AgR 277.835, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, DJe 26.2.2010. 2. Ilegitimidade da norma. Nova base de cálculo. Impossibilidade de fixação pelo Poder Judiciário. Precedente: RE 565.714, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 7.11.2008. Necessidade de manutenção dos critérios estabelecidos. O art. 16 da Lei 7.394/1985 deve ser declarado ilegítimo, por não recepção, mas os critérios estabelecidos pela referida lei devem continuar sendo aplicados, até que sobrevenha norma que fixe nova base de cálculo, seja lei federal, editada pelo Congresso Nacional, sejam convenções ou acordos coletivos de trabalho, ou, ainda, lei estadual, editada conforme delegação prevista na Lei Complementar 103/2000. 3. Congelamento da base de cálculo em questão, para que seja calculada de acordo com o valor de dois salários mínimos vigentes na data do trânsito em julgado desta decisão, de modo a desindexar o salário mínimo. Solução que, a um só tempo, repele do ordenamento jurídico lei incompatível com a Constituição atual, não deixe um vácuo legislativo que acabaria por eliminar direitos dos trabalhadores, mas também não esvazia o conteúdo da decisão proferida por este Supremo Tribunal Federal. 4. Medida cautelar deferida.19

Nesse mesmo sentido, cabe citar, ainda, a Reclamação 21.398/RO, de relatoria do

Min. Teori Zavascki, julgada em 09/09/2015; a Medida Cautelar na Reclamação 21.592/PA,

de relatoria do Min. Roberto Barroso, julgada em 14/08/2015; a Medida Cautelar na

Reclamação 19.602/PA, de relatoria do Min Dias Toffoli, julgada em 29/06/2015; e a

Reclamação 19.130/PE, de relatoria do Min. Luiz Fux, julgada em 12/20/2015.

Veja-se que as decisões proferidas em sede de reclamação utilizam como paradigma,

muitas vezes, o AgReg na Reclamação nº 14.075/SC, julgado pelo Tribunal Pleno em

14.05.2014, cujo acórdão adotou os seguintes fundamentos, verbis:

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO – (Relator): Não assiste razão à parte recorrente, eis que a decisão impugnada na presente sede recursal ajusta-se, com integral fidelidade, à diretriz jurisprudencial firmada pelo Supremo Tribunal Federal na matéria ora em exame. Como tive o ensejo de enfatizar na decisão agravada, trata-se de reclamação na qual se alega que o ato ora impugnado teria transgredido a autoridade do julgamento que esta Suprema Corte proferiu, com efeito vinculante, no exame da ADPF 53- -MC/PI, Rel. Min. GILMAR MENDES, além de supostamente haver desrespeitado o enunciado constante da Súmula Vinculante nº

19 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão que deferiu a liminar na ADPF nº 151. Relator para acórdão: MENDES, Gilmar. Publicado no DJ de 06/05/2011. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2637147> Acesso em 29 set 2015.

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04/STF, que possui o seguinte teor : “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.” (grifei ) A parte ora reclamante, para justificar a alegação de desrespeito ao referido enunciado vinculante, assinala que o órgão judicial de cuja decisão se reclama entendeu que, “ao manter a condenação da SCGÁS ao pagamento de diferenças salariais decorrentes da aplicação do piso salarial estabelecido pelo art. 5º da Lei nº 4.950-A/66, contrariou a Súmula nº 04 editada por essa excelsa Corte Suprema”. Sendo esse o contexto, passo a examinar o pleito em causa. Cabe ter presente que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao proclamar, no julgamento do RE 565.714/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, a não recepção, pela Constituição da República, do art. 3º, § 1º, da Lei Complementar paulista nº 432/85, entendeu que a vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo revela-se inconstitucional , concluindo, além disso, pela impossibilidade de modificação, por decisão judicial, da base de cálculo do benefício em questão: “CONSTITUCIONAL. ART. 7º, INC. IV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NÃO-RECEPÇÃO DO ART. 3º, § 1º, DA LEI COMPLEMENTAR PAULISTA N. 432/1985 PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988 . INCONSTITUCIONALIDADE DE VINCULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE AO SALÁRIO MÍNIMO : PRECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE DA MODIFICAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO DO BENEFÍCIO POR DECISÃO JUDICIAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO . 1. O sentido da vedação constante da parte final do inc. IV do art. 7º da Constituição impede que o salário-mínimo possa ser aproveitado como fator de indexação; essa utilização tolheria eventual aumento do salário-mínimo pela cadeia de aumentos que ensejaria se admitida essa vinculação (RE 217.700, Ministro Moreira Alves). A norma constitucional tem o objetivo de impedir que aumento do salário-mínimo gere, indiretamente, peso maior do que aquele diretamente relacionado com o acréscimo. Essa circunstância pressionaria reajuste menor do salário-mínimo, o que significaria obstaculizar a implementação da política salarial prevista no art. 7º, inciso IV, da Constituição da República. O aproveitamento do salário-mínimo para formação da base de cálculo de qualquer parcela remuneratória ou com qualquer outro objetivo pecuniário (indenizações, pensões, etc.) esbarra na vinculação vedada pela Constituição do Brasil. Histórico e análise comparativa da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Declaração de não-recepção pela Constituição da República de 1988 do Art. 3º, § 1º, da Lei Complementar n. 432/1985 do Estado de São Paulo. 2. Inexistência de regra constitucional autorizativa de concessão de adicional de insalubridade a servidores públicos (art. 39, § 1º, inc. III) ou a policiais militares (art. 42, § 1º, c/c 142, § 3º, inc. X). 3. Inviabilidade de invocação do art. 7º, inc. XXIII, da Constituição da República, pois, mesmo se a legislação local determina a sua incidência aos servidores públicos, a expressão adicional de remuneração contida na norma constitucional há de ser interpretada como adicional remuneratório, a saber, aquele que desenvolve atividades penosas, insalubres ou perigosas tem direito a adicional, a compor a sua remuneração. Se a Constituição tivesse estabelecido remuneração do trabalhador como base de cálculo teria afirmado adicional sobre a remuneração, o que não fez. 4. Recurso extraordinário ao qual se nega provimento . ” (RE 565.714/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – grifei ) Impõe-se reconhecer que a impossibilidade de definição de uma base de cálculo específica, pelo Poder Judiciário, em tema de remuneração laboral (empregado) ou funcional (agente público), deriva da necessidade de respeito aos postulados constitucionais da reserva absoluta de lei e da divisão funcional do poder. Isso significa, portanto, que juízes e Tribunais não podem substituir, nessa matéria, por seus próprios critérios, aqueles que só podem emanar, legitimamente, por expressa determinação constitucional, do legislador . Não cabe, pois, ao Poder Judiciário atuar na anômala condição de legislador positivo (RTJ 126/48 – RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137, v.g. ), para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser validamente definidos pelo Parlamento (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 636, item n. 4, 1998, Almedina). Com

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efeito, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes. Não constitui demasia observar, por oportuno, que a reserva de lei – consoante adverte JORGE MIRANDA (“Manual de Direito Constitucional”, tomo V/217-220, item n. 62, 2ª ed., 2000, Coimbra Editora) – traduz postulado revestido de função excludente, de caráter negativo (que veda, nas matérias a ela sujeitas, como sucede no caso ora em exame, quaisquer intervenções, a título primário, de órgãos estatais não legislativos), e cuja incidência também reforça, positivamente, o princípio que impõe à administração e à jurisdição a necessária submissão aos comandos fundados em norma legal, de tal modo que , conforme acentua o ilustre Professor da Universidade de Lisboa, “quaisquer intervenções – tenham conteúdo normativo ou não normativo – de órgãos administrativos ou jurisdicionais só podem dar-se a título secundário , derivado ou executivo, nunca com critérios próprios ou autônomos de decisão ” (grifei). É importante assinalar, neste ponto, que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 565.714/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, não obstante a diretriz que viria a ser consolidada na Súmula Vinculante nº 4/STF, reconheceu a possibilidade de utilização, embora em caráter meramente supletivo, do salário mínimo como indexador de base de cálculo de vantagem pecuniária de servidor público ou de benefício laboral de empregado, até a superveniência de legislação ou, quando viável, de celebração de acordo coletivo ou de convenção coletiva de trabalho. Na realidade, esta Suprema Corte, ao assim decidir, construiu solução destinada a obstar a ocorrência de indesejável estado de “vacuum legis”. Cabe ressaltar que esse entendimento – que encontra apoio no magistério jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal (Rcl 6.266/DF, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – Rcl 6.873-MC/SP, Rel. Min. MENEZES DIREITO – Rcl 7.795-MC/PR, Rel. Min. MENEZES DIREITO – Rcl 7.945-MC/SP, Rel. Min. AYRES BRITTO, v.g.) – mereceu especial destaque da eminente Ministra ELLEN GRACIE, em decisão proferida, como Relatora, sobre a matéria ora em exame (Rcl 8.060-MC/SP): “É que, quando do julgamento do RE 565.714/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, DJE 07.11.2008, que originou a referida súmula, estabeleceu-se que o adicional de insalubridade deve ter como base de cálculo o salário mínimo, até que sobrevenha nova base de cálculo fixada por lei ou convenção coletiva.” (grifei ) Sendo assim, pelas razões expostas, nego provimento ao presente recurso de agravo, mantendo, por seus próprios fundamentos, a decisão ora agravada. É o meu voto. 20

(grifo nosso)

1.2.3.) ADPF Nº 33 E A VIOLAÇÃO AO PACTO FEDERATIVO

Sobre o tema, cabe registrar, ainda, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, que a

ADPF nº 33/PA, de relatoria, novamente, do Min Gilmar Mendes, tratou de questão

semelhante, qual seja, a possibilidade de uma regulamento que foi convertido em lei estadual

determinar a vinculação do salário profissional de determinada categoria profissional ao

salário mínimo.

20 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão que julgou o Agravo Regimental na Reclamação 14.075.Relator: MELLO, Celso de. Publicado no DJ de 16/09/2014. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4265626> Acesso em 29 set 2015.

23

Quando do julgamento da ADPF em questão, o eminente relator salientou que estaria

presente a violação a preceito fundamental, apta a ensejar o ajuizamento da ação

constitucional, ponderando o seguinte:

Na forma da jurisprudência desta Corte, se a majoração da despesa pública estadual ou municipal, com a retribuição dos seus servidores, fica submetida a procedimentos, índices ou atos administrativos de natureza federal, a ofensa à autonomia do ente federado está configurada (RE 145018/RJ, Min. Moreira Alves; Rp 1426/RS, Rel Min. Neri da Silveira; AO 258/SC, Rel. Min. Ilmar Galvão, dentre outros).É inequívoca, pois, a relevância constitucional da controvérsia submetida a esta Corte, quanto à ofensa ao princípio federativo e à contrariedade ao disposto no art. 7º, IV, parte final, da CF/88.21

Quanto ao mérito, entendeu o Supremo Tribunal Federal, por julgar procedente o

pedido para declarar a ilegitimidade (não recepção) do Regulamento de Pessoal do extinto

IDESP em face do princípio federativo (art. 60, § 4º, I, c/c art. 7º, inciso IV, in fine, da

Constituição de 1988.

Nesse sentido, cabe citar trecho do acórdão referido, verbis:

No caso específico, o dispositivo impugnado, ao criar mecanismos de indexação salarial para cargos, utiliza o salário mínimo como fator de reajuste automático da remuneração dos servidores de autarquia estadual que, ressalte-se, foi extinta e, para todos os fins, sucedida pelo Estado do Pará. Com isso, retira-se do Estado a autonomia para decidir sobre o reajuste de seus servidores, matéria que diz respeito a seu peculiar interesse, mas que estará vinculada à variação de índices determinada pela União.22

Constata-se, portanto, que a exigência de aplicação do disposto na Lei nº 4.950-A/66

aos empregados públicos vinculados a fundações estaduais e municipais configuraria

violação, também ao pacto federativo, porquanto imporia aos demais entes da federação a

observância de norma federal que dispõe sobre o piso salarial dos engenheiros e demais

atividades profissionais nela previstas.

21 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão que julgou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 33. Relator: MENDES, Gilmar. Publicado no DJ de 27/10/2006. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/verDiarioProcesso.asp?numDj=207&dataPublicacaoDj=27/10/2006&incidente=2030720&codCapitulo=5&numMateria=35&codMateria=1> Acesso em 29 set 2015.22 Ibidem. Disponível na internet: <http://www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/verDiarioProcesso.asp?numDj=207&dataPublicacaoDj=27/10/2006&incidente=2030720&codCapitulo=5&numMateria=35&codMateria=1> Acesso em 29 set 2015

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CONCLUSÃO

Em face da análise efetuada da questão controvertida e como vem sendo enfrentada no

âmbito do Tribunal Superior do Trabalho e do Supremo Tribunal Federal, tem-se as seguintes

conclusões:

1)A Lei nº 4.950-A/66, que dispõe sobre o salário profissional dos engenheiros,

arquitetos, agrônomos, veterinários e químicos, estipulando-o em seis salários

mínimos não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Para tanto,

considera-se, primeiramente, que a vinculação ao salário mínimo ofenderia o disposto

no inciso IV, do art. 7º da Constituição Federal;

2)O ato normativo federal anterior à Constituição de 1988 (Lei 4.950-A, de 22.04.1966) já

teve sua inconstitucionalidade declarada pela Suprema Corte, no que diz respeito aos

servidores públicos sujeitos ao regime estatutário, no julgamento da Representação

716, rel. Min. Eloy da Rocha, acórdão publicado em 11.03.1970;

3) Em se tratando de empregados públicos, obstam a incidência da lei as previsões

constantes dos arts. 37, X e XIII e 169, § 1º, da Constituição Federal, que exigem que

a concessão de qualquer vantagem aos servidores públicos seja precedida de

autorização em lei e prévia dotação orçamentária;

4) A aplicação da lei federal que dispõe sobre o valor do salário profissional a ser

adimplido pelos demais entes da federação configura violação ao pacto federativo,

previsto pelo art. 60, § 4º, da Constituição Federal;

5) O Tribunal Superior do Trabalho editou a Orientação Jurisprudencial nº 71 da Seção de

Dissídios Individuais – II, que dispõe que a estipulação do piso profissional em um

número de salários mínimos não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal

de 1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação de

correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo;

25

6) O entendimento adotado pela maioria das Turmas do TST é o de que a aplicação da Lei

4.950-A/66 aos empregados públicos configura violação aos arts. 37, X e XIII e 169, §

1º, da CLT;

7) Adotando-se o entendimento minoritário do TST, pela aplicação da Lei 4.950-A/66 aos

empregados públicos, constata-se que haverá uma disparidade entre empregados

contratados para o mesmo cargo, com a mesma qualificação, porquanto, seguindo-se

os parâmetros estabelecidos pela Corte Superior Trabalhista, deverá ser calculado o

valor do salário mínimo vigente quando da contratação. No caso de o empregado ser

contratado quando o valor do salário era mais elevado do que um colega mais antigo,

terá um salário inicial maior, o que configura nítida ofensa ao princípio da isonomia;

8) O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 04 que proíbe a indexação

do salário mínimo para qualquer fim;

9) Na ADPF nº 53, de relatoria da Min Rosa Weber, tendo como objeto, justamente,

julgados da Justiça do Trabalho entendendo pela aplicação da Lei 4.950-A/66 aos

empregados públicos, foi deferida medida cautelar pelo Min Gilmar Mendes, para

suspender as decisões impugnadas, em face de que configurariam ofensa à parte final

do disposto no art. 7º, IV, da Constituição Federal, uma vez que o dispositivo

impugnado, ao criar mecanismos de indexação salarial para cargos, utilizaria o salário

mínimo como fator de reajuste automático da remuneração dos profissionais das

aludidas categorias;

10) Anteriormente, o Supremo Tribunal Federal julgara procedente a ADPF nº 33, que

versava sobre caso semelhante, entendendo que violaria o pacto federativo norma da

União que determinasse a vinculação do reajuste dos servidores estaduais ao salário

mínimo;

11) Na ADPF nº 151, também de relatoria da Min Rosa Weber, ajuizada pelo Governo do

Maranhão, a discussão é idêntica à ADPF 53. Não houve deferimento de liminar;

26

12) Em Recursos Extraordinários com Agravo, há uma série de decisões proferidas pelos

Ministros do Supremo Tribunal Federal entendendo que a aplicação da Lei 4.950-A/66

configuraria violação ao art. 7º, IV, da CF/88. Contudo, no âmbito das reclamações,

esse entendimento vem sendo afastado, prevalecendo o de que a violação

constitucional é a de que haja o reajuste automático indexado ao salário mínimo, e não

a estipulação do salário profissional inicial com base naqueles valores. Para tanto, é

utilizado o entendimento adotado no julgamento da ADPF 151, de relatoria do Min

Gilmar Mendes, em que se determinou o congelamento da base de cálculo para

desindexar o salário mínimo;

13) O cenário atual é incerto quanto ao tema, porquanto há precedentes para ambos os

lados. Quanto aos entes públicos, entende-se que devem permanecer discutindo a

questão, tanto no âmbito do TST, quanto do STF, porquanto não está pacificada. Há

nítida violação constitucional pela aplicação da lei nº 4.950-A/66 aos empregados

públicos, o que enseja a permanência do debate perante as Cortes Superiores, de modo

a se evitar o gasto indevido de recursos públicos, em evidente burla ao pacto

federativo e às previsões constitucionais que cercam os gastos com servidores

públicos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da União de 05/10/1988. Disponível na internet:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm> Acesso em 29 de set de 2015

________. Lei nº 4.950-A de 22 de abril de 1966. Diário Oficial da União de 29/4/1966. Disponível

na internet: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4950a.htm> Acesso em 29 de set de 2015

_________. Supremo Tribunal Federal. Parecer na Ação de Descumprimento de Preceito

Fundamental nº 171. Parecerista: RESEK, Francisco. Disponível na internet:

<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronic

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CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F; SARLET, Ingo W; STRECK, Lenio L. (Coords)

Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/ Almedina, 2013. 2.380p.

OLIVEIRA, Marcia Vogel Vidal de. Da Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental -

ADPF. In: REVISTA DA AJUFERGS. n. 03. [s.d] p. 341-375. Disponível na internet:

<http://www.ajufergs.org.br/revista_ajufergs_03.asp> Acesso em 29 set 2015.