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MONTEIRO LOBATO POLÊMICO
Acusado de defender a Eugenia (superioridade da raça
branca) e de usar expressões racistas em sua obra infantil,
Monteiro Lobato tem estado em permanente discussão na
mídia brasileira nos últimos anos.
EXEMPLOS DE PRECONCEITO
JECA TATU – “Além de vadio, bêbado”
TIA NASTÁCIA – “macaca de carvão” ; “carne
preta”
MONTEIRO LOBATO – 1882/1948CARACTERÍSTICAS DE ESTILO
• LITERATURA ADULTA = NARRATIVAS CURTAS (CONTOS)Narrativas abordando o universo do homem do campo na sua realidade
física, social e cultural.
• ORALIDADE REGIONALISTAIncorporação do falar caipira e algumas subversões gramaticais
misturadas com preciosismo lingüístico.
• NACIONALISMO CRÍTICOPolemizou com os modernistas por achá-los muito ligados aos modelos
das vanguardas européias (1917 – crítica à exposição de pintura de
Anita Malfati). Defendeu a nacionalização da extração de petróleo e
criticou duramente os políticos e intelectuais de sua época.
negrinha
1920 ( Livro “Negrinha”)
Monteiro Lobato
FICHA DE LEITURA• ESCOLA LITERÁRIA: PRÉ MODERNISMO
PERÍODO DE TRANSIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS
TRADICIONAIS DO SEC. XIX PARA AS CARACTERÍSTICAS
MODERNAS DO SEC. XX , MARCADO PELO ENGAJAMENTO
POLÍTICO-SOCIAL (ARTE ÚTIL) E PELA CONSCIÊNCIA CRÍTICADA REALIDADE BRASILEIRA
• NARRADOR: 3ª pessoa - onisciente
• ESPAÇO: Casa de uma fazenda que remonta àépoca da escravidão
FICHA DE LEITURA
• TEMPO: A narrativa cobre toda a vida dapersonagem negrinha, mas concentra-se na açãode poucos dias.
• LINGUAGEM: Estilo rebelde com a recusa deseguir a gramática da época, principalmente emrelação a acentuação gráfica de certas palavras.Presença de coloquialismos regionais
Negrinha – Menina negra nascida na senzala, filha de mãe
escrava. Órfã aos quatro anos de idade, foi mantida na fazenda pela
dona que a castigava como uma forma de compensação pela falta de
escravos nos quais descarregar sua maldade, após a abolição da
escravidão.
D. Inácia – Mulher “rica, gorda, dona do mundo” Fora “senhora
de escravos” e não aceitava a libertação dos negros e a ausência dos
castigos que satisfaziam sua sede de maldade.
Outras personagens: Sobrinhas de D. Inácia.
PERSONAGENS
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos (...) nascera na
senzala, de mãe escrava (...) assim cresceu Negrinha – magra,
atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos
quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a
pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe
sempre, por ação ou omissão. (...) Que idéia faria de si essa
criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha,
diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto
gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha,
coisa-ruim, lixo – não tinha conta o número de apelidos com
que a mimoseavam.
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha
da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de
ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo
– essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia!
“Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno por que se engraçou
dela o senhor; uma novena de relho por que disse “como é ruim, a
sinhá”...
O 13 de maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma
a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis (...)
tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade.
Cocres: mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do
paciente. Puxões de orelha (...) a gama inteira dos beliscões (...) a roda de
tapas, cascudos, pontapés e safanões. A vara de marmelo, flexível,
cortante: para “doer fino” (...) Era pouco, mas antes isso que nada.
Era de êxtase o olhar de negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer
sabia o nome desse brinquedo.
(...)
Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo quente, tudo, e aproximou-se da
criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem
ânimo de pegá-la.
(...)
Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor
menino, sorria para ela e para as meninas (...) era como se penetrara no
céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo
adormecer ao colo.
(...)
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a
casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha.
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu
doloroso inferno, envenenara-a.
Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda
boneca loura, tão boa, tão quieta(...) Vivera realizando sonhos da
imaginação. Desabrochara-se de alma.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem
dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio
rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas
e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu.
(...)
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica,
na memória das meninas ricas (...) outra de saudade, no nó dos dedos de
Dona Inácia.
Exercício
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha
uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que
trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz.
Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa – e
doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era
coisa! Se sentia! Se vibrava!
A) Com base na leitura do fragmento acima e do conto como um todo, explique o
que o narrador quer dizer quando afirma que Negrinha passou por uma “divina
eclosão”
B) Como esse sentimento novo irá determinar o destino de Negrinha?
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina
eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como
fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa – e
doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se
vibrava!
A) Com base na leitura do fragmento acima e do conto como um todo, explique o que o
narrador quer dizer quando afirma que Negrinha passou por uma “divina eclosão”
No dia que lhe foi permitido brincar com uma boneca pertencente às sobrinhas de
dona Inácia, Negrinha descobriu emoções e sentimentos que fizeram aflorar a
sua consciência de humanidade. Ou seja, ela se descobriu um ser humano com uma
alma.
A) Como esse sentimento novo irá determinar o destino de Negrinha?
Como é dito no fragmento, após esse dia seria impossível para Negrinha
“viver a vida de coisa”. Depois que as crianças partiram levando a boneca,
Negrinha caiu numa tristeza infinita e foi definhando até a morte.