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PORTEFÓLIO REFLEXIVO DE APRENDIZAGEM | RVCC SECUNDÁRIO CNO :: ESCOLA SECUNDÁRIA INÊS DE CASTRO [2012] RVCC Secundário . Grupo APS47 pág. | 1 de 214 José Faria Soares CNO

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Preâmbulo

Segue‐se um resumo reflexivo que procurarei que seja simples e ordenado, resumo de

uma caminhada de 58 anos. Tempo de crescimento, diversão, formação, trabalho,

quilómetros de estrada, muitas noites de solidão em quartos de hotel, ausências e

desencontros em casa.

Transcrições numa jornada de 6 meses, considerando as sugestões de coordenadores e

formadores do RVCC. Pelo caminho ficaram horas perdidas a escrever, organizar, apagar e

voltar a fazer.

Gostaria ainda de, nesta reflexão, incluir e homenagear os meus pais, sem os quais não

poderia hoje elaborar este documento.

E… dedico a todos que acreditaram em mim, à minha família em particular, pela paciência

e pelo espírito colaborante, para com minha ausência em momentos específicos e

tradicionais e que me permitiram chegar até aqui, o meu obrigado.

José Soares

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Indíce

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Nota Prévia ............................................................................................................................ 5

Visão Pessoal ......................................................................................................................... 8

Aos meus Pais ................................................................................................................. 9

Principio ........................................................................................................................ 11

Visão Introspectiva .............................................................................................................. 52

Sociedade, Tecnologia e Ciências & Cultura, Língua e Comunicação .............................. 53

Equipamentos e Sistemas Técnicos ............................................................................. 54

Ambiente e Sustentabilidade ....................................................................................... 69

Saúde ............................................................................................................................ 87

Gestão e Economia ..................................................................................................... 103

Tecnologias, Informação e Comunicação .................................................................. 113

Urbanismo e Mobilidade ............................................................................................ 125

Saberes Fundamentais ............................................................................................... 147

Cidadania e Profissionalidade ........................................................................................ 171

Direitos e Deveres ...................................................................................................... 172

Complexidade e Mudança .......................................................................................... 182

Reflexibilidade e Pensamento Crítico ........................................................................ 187

Identidade e Alteridade ............................................................................................. 192

Convicção e Firmeza Ética .......................................................................................... 193

Abertura Moral ........................................................................................................... 198

Argumentação e Assertividade .................................................................................. 208

Programação .............................................................................................................. 213

Língua Estrangeira .......................................................................................................... 214

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Nota Prévia

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Como é natural nestas situações, entendo ser importante uma pequena nota

introdutória.

Em primeiro lugar, a motivação que me levou a fazer este RVCC. Em segundo, de forma

reduzida, fazer uma introspecção a toda uma vida, onde aconteceram coisas boas e

outras menos boas, aprimorando‐o para ficar para a posteridade.

De facto, terminei a minha escolaridade no ano lectivo de 1970 / 71, após a frequência ao

primeiro ano da secção preparatória ao instituto industrial e depois de terminado o curso

industrial de montador electricista. Esta formação académica tem como equivalência o 9º

ano de escolaridade. Com a entrada no desemprego e com a oportunidade do CNO,

entendi fechar um ciclo escolar que, apesar das condicionantes, não deixa de ser uma

equivalência formativa ao nível do 12º ano. Um cartão‐de‐visita valorizável, neste

mercado de trabalho tão exigente e, simultaneamente, uma valorização de conhecimento

pessoal.

Relativamente ao trabalho em si, entendi organizá‐lo numa perspectiva muito pessoal. Ao

longo das sessões e na elaboração dos próprios textos, algumas emoções foram passando

pelas horas dedicadas ao projecto, com o reviver das várias situações vividas.

Provavelmente rectifiquei atitudes e comportamentos, tornando‐me talvez melhor e mais

completo.

Considerei que deveria manifestar o meu “Eu”, abordar os temas com alguma reflexão,

algumas vezes de forma um pouco contundente, mostrando o que me fizeram sentir. Por

isso, todos os temas que se seguirão não são nada mais que momentos de introspecção,

de análise pessoal e a forma como interpretei os temas que foram propostos. Assim,

transcrevendo o que o pensamento me ditava, ficará para memória futura de todos

aqueles que um dia leiam estas memórias reflexivas, que independentemente da idade,

da cor ou religião, somos o que acreditamos, o que pensamos, o que aprendemos para

nos tornamos melhores.

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Hoje tenho consciência, que estou preparado para continuar a luta, num mercado de

trabalho cada vez mais difícil, mais exigente e mais académico, onde para a maioria a

idade é factor decisório.

Confesso que uma nostalgia trespassou com o final da avaliação de sala.

E gostava de deixar o meu agradecimento a todos que fizeram parte desta jornada. Aos

formadores, pela paciência com que enfrentaram as noites destas longas semanas. Ao

CNO e à ESIC, pelo que nos proporcionaram, pelo enriquecimento pessoal e pelo futuro

que se tornará provavelmente menos agreste.

A todos … sem excepção … o meu muito obrigado.

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Visão Pessoal

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AOS MEUS PAIS

O meu pai é oriundo do Marco de Canaveses, concelho do distrito do Porto, a cerca de 60

km da capital de distrito. Era o mais velho de três irmãos de uma família humilde, que

com a morte da mãe quando ainda tinha 9 anos, complicou mais ainda uma infância já

por si difícil. Frequentava a 3ª classe do ensino básico que termina e abandona de

seguida, para ajudar em casa a tratar dos irmãos enquanto o pai saía para o trabalho.

Aos 13/14 anos decide fugir de casa para o Porto, na procura de novas oportunidades de

vida. Por essa altura, já aprendera lá na aldeia a profissão de barbeiro, profissão essa que

ao chegar ao Porto desenvolve e aprofunda. Após alguns anos a saltar de um lado para o

outro, sempre na procura do melhor, chega à Afurada como barbeiro formado.

E é na Afurada, freguesia situada ao lado de Canidelo e centro piscatório de pesca

artesanal, que conhece aquela que viria a ser a companheira de vida, a minha mãe.

Já a minha mãe nasceu em Canidelo, no seio de uma família também ela humilde. Foi o

quarto filho de doze irmãos e, sendo mulher, uma das sacrificadas na ajuda em casa a

tratar dos irmãos (comum na altura), ainda com a morte prematura de três, fazia‐se

frente às diversas dificuldades de vida da época. Começa muito cedo a trabalhar (7/8

anos), pois as necessidades económicas assim o exigiam, não chegando a frequentar a

escola e contribuindo para o aumento da taxa de analfabetismo do nosso país.

Apesar do analfabetismo, sempre foi uma peça importante e uma mais‐valia no seio da

família, tanto em casa como nos pequenos negócios de comércio do meu pai. A

desenvoltura com que lidava com o dinheiro, as deslocações que fazia em transportes

públicos para junto dos fornecedores, encomendar, devolver mercadoria, acertar contas,

foram sempre um exemplo de desempenho e uma trave mestra na gestão da vida da

família.

Os seus ensinamentos como o respeito, a educação, o sentido de justiça e o espírito de

família, talvez hoje um pouco desenraizado na sociedade actual, são princípios que

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sempre procurei transmitir e incentivar aos meus descendentes. Por todo o esforço, pelo

sacrifício que fizeram para me tornar no homem que sou hoje, muito obrigado queridos

pais.

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PRINCIPIO

Nasci em Setembro de 1953 (16/09/53). Nasci após um parto complicado de dois dias e

duas noites em casa, assistido por uma habilidosa parteira, mulher usual da época.

Imagino as sequelas deixadas tanto físicas como psicológicas, na vida da minha mãe.

Por esta altura, o meu pai estava ausente. Questões de ética, honra e personalidade,

levaram‐no a não assumir o que outros lhe queriam impor, mesmo colocando‐o numa

situação vantajosa. Parafraseando um grande humorista do nosso tempo, eu nasci

sozinho. Os primeiros tempos de vida não devem ter sido fáceis.

Cresci num ambiente tranquilo, num mundo bem mais tranquilo do que é hoje e longe de

imaginar no que me iria tornar anos mais tarde. E como é simples e bonita a primeira

infância, onde tudo é desculpável por sermos crianças, onde a “mão” fria e crua do

mundo não nos atinge, altura onde e quando somos protegidos de todos os males da

sociedade.

Nesta fase, apesar de todas as dificuldades, aprendemos tudo. Jogos, desenvolvimento da

motricidade, reacção a estímulos, um sem número de actividades cheias de cores, formas

e pequenos valores, bases essenciais para a vida. Com o final desta primeira fase, o início

da responsabilidade.

Chegou Setembro de 1960. Numa altura em que as estações do ano tinham o seu tempo

e não se atropelavam como hoje, uma altura em que as noites quentes de verão traziam

as gentes do meu lugar para a rua e onde as crianças brincavam descalças. E como

mudaram os tempos.

Hoje, nas mesmas noites quentes de Verão, não vejo as mesmas gentes na rua, os

homens e as mulheres em grupo a falar de coisas que ninguém sabe. Hoje, as ruas estão

mais desertas, as esplanadas de praia cheias de gente de outros lugares, caminhando ou

deliciando‐se com bebidas frescas ou gelados. Hoje vejo centros comerciais cheios. Nas

minhas noites quentes de verão não havia centros comerciais ou esplanadas de praia.

Havia comunidade, partilha entre vizinhos, conversas avulsas de tudo e de coisa alguma.

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Setembro trouxe a primária. Chegaram as coisas esquisitas como números, letras e

construções. Chegaram rios, oceanos, montanhas, linhas férreas, estados e o mundo.

Como esponjas, absorvemos todas estas histórias pintadas a cores nos livrinhos que os

nossos pais haviam comprado ou pedido emprestado dias antes.

A primária mostrou‐nos que a nossa casa não era o centro do mundo, mas que pertencia

a um lugar, que fazia parte de uma freguesia, de um conjunto que fazia uma vila ou

cidade, num país chamado Portugal, um de muitos da terra, num universo ainda com

muito para descobrir.

É neste período que começamos a perceber a nossa insignificância e pequenez, quando

comparado com a imensidão de tudo que nos rodeia. E cedo começamos a crescer,

desenvolvendo outras capacidades, moldando aos poucos a nossa personalidade e a

nossa forma de ser.

Recordo com saudade o período das férias grandes, época onde aprendi a gostar do

campo e do interior de Portugal, gosto que mantenho ainda hoje. Sempre que tenho

oportunidade saio em viagem por um, dois ou três dias, normalmente pelo Norte de

Portugal, zona geográfica que me encanta desde o Minho a Trás‐os‐Montes e Alto Douro.

Tive a sorte e a oportunidade de poder passar as férias na casa da minha bisavó paterna e

da minha tia‐avó. Era com ansiedade que todos os anos esperava por este momento. A

viagem era longa apesar de se situar a cerca de 70 km do Porto. A camioneta da carreira

que fazia este transporte saía depois do almoço do Porto e regressava no outro dia. Eram

as únicas passagens de um transporte naquela aldeia a 8 km do centro da vila o Marco de

Canaveses.

E como passavam rápido estes três meses. Os dias sempre ocupados entre o acordar com

o tradicional chiado dos carros de bois que passavam muito cedo naquele caminho de

terra esburacado que circundava a nossa casa, o tirar o leite das cabras do pequeno

rebanho existente para consumo próprio e a hora de dormir, muita coisa acontecia.

A Sr.ª Glória, a padeira que todos os dias bem cedo e à mesma hora passava para

entregar o pão, com chuva ou com sol, vinha de longe, de uma aldeia que avistava‐mos à

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distância numa outra encosta circundante, a pé com a canastra à cabeça. Sentava‐se

connosco à lareira, aproveitando para descansar e tomar o café connosco, para continuar

o seu caminho.

Por esta altura, a minha bisavó velhinha, com uma jovialidade própria para os seus 90

anos, preparava‐se para a sua rotina diária, as regas em pequenos terrenos de sua

propriedade mais ou menos próximos, regressando para o almoço trazendo sempre

alguma coisa, como um atado de lenha para a lareira ou algumas verduras que

aproveitava para apanhar.

E chegava a altura das vindimas, as nossas e a dos vizinhos, que se organizavam em

comunidade para acorrer e ajudar em todos os terrenos ao redor. O pisar das uvas no

lagar para onde me levavam para naturalmente fazer de conta. A alegria das desfolhadas

à noite nas eiras, iluminadas por candeeiros a petróleo e animados pelo Sr. José da

concertina, sempre na expectativa de encontrar o milho rei, o momento alto da festa. E

tantos outros eventos aos quais fazia questão de estar presente. Inesquecível.

Recordo a minha bisavó como uma mulher linda, com cerca de 1,80 m seca de carnes,

olhar triste e simultaneamente meigo. Pela noite, sentava‐se no seu banco junto à lareira,

banhada pela luz de um pequeno candeeiro a petróleo, pondo a nu os seus longos

cabelos brancos, que com ternura e paciência, os escovava durante longo tempo em

silêncio.

A tristeza que trespassava do seu silêncio leva‐me hoje a imaginar o que pensaria aquela

boa mulher. As dificuldades em criar duas filhas após a ida do marido para o Brasil, sem

nunca ter recebido qualquer informação ou apoio, não sabendo ao fim de tantos anos se

ainda seria vivo ou morto. Uma mulher que penso, nunca terá tido a oportunidade de ver

o mar apesar de estar tão perto.

A minha tia‐avó era muito importante neste processo. Após alguns anos a viver e a

trabalhar em Lisboa, para onde tinha partido na expectativa de uma vida melhor, regressa

à sua aldeia abdicando do seu projecto de vida, a oportunidade de criar a sua própria

família com outros horizontes de futuro, para acompanhar durante longos anos a sua

mãe, num verdadeiro exemplo de amor, princípios e altruísmo. Hoje, pelo contrário,

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assistimos a agressividade gratuita para com os nossos idosos, ao abandono em

instituições, à solidão por que passam tantos, levando‐nos a questionar, mas que raio,

onde estão os princípios, a formação e o respeito? Será que o ritmo alucinante em que

vivemos justifica tudo?

A minha singela homenagem a estas duas lindas Senhoras que para lá do lazer das férias,

contribuíram a seu modo com os seus exemplos de vida ao meu crescimento e formação.

Nesta fase vamos descobrindo o corpo, damos os primeiros passos na atracção pelo sexo

oposto, nas brincadeiras inocentes (os primeiros namoricos). Nos dias de hoje reparo nos

recreios das escolas vazios, num silêncio ensurdecedor. Não ouço os gritos de “gooolo”

ou gritos femininos ao saltar à corda, ou até mesmo os riscos na terra (hoje dignos de

serem considerados património mundial e entrarem num qualquer museu) para o jogo da

macaca.

Hoje vejo os recreios com as geringonças XPTO como PSP’s e telemóveis de última

geração. Que raio aconteceu às trocas de cromos dos jogadores de futebol, ao cabrito à

cobaia e ao bacalhau, que aconteceu ao pião? Não sei. E levaria algum tempo a tentar

explicar o que penso, provavelmente me levaria à nova “geração à rasca”.

Quatro anos depois, chega o preparatório e o secundário, não sem antes passar pelos

exames de admissão ao Liceu, à Escola Técnica e à opção pelo curso industrial. De alguma

forma por influência paterna optei pelo Curso de Montador Electricista, na Escola

Industrial e Comercial de Vila Nova de Gaia.

Nesta altura, as faculdades eram uma miragem para a maioria das famílias. O horizonte

mais próximo seria o Instituto Industrial ou Comercial, sendo que o Liceu com sete anos

de formação permitia um acesso quase directo, enquanto quem seguia os cursos

industriais com cinco anos de formação, teria um exame de acesso muito complexo. A

forma simplificada neste caso seria a frequência de dois anos na preparação ao Instituto

Industrial, que iniciei já em período nocturno e que interrompi no final do primeiro ano.

São opções. Nesta fase pensamos já saber tudo. Temos outras prioridades, outros

objectivos, percebendo mais tarde o quão errado que estava.

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Vivia a Republica Portuguesa desde 1961 o período mais sangrento da sua história com a

guerra do Ultramar. Pelos relatos dos regressados, seria relativamente acessível durante

o período de comissão, a conclusão e acesso a voos mais altos.

O horizonte a curto prazo dos jovens da minha geração passava pela guerra. A vida neste

intervalo de 2/3 anos deveria ser vivida de outra forma. O facilitismo nunca foi bom

conselheiro e muitas vezes ao longo da vida me arrependi deste devaneio de juventude.

E agora que penso sobre isso, na qualidade de pai e de avô a caminho da reforma, analiso

a realidade dos novos tempos. Vejo as novas gerações preocupadas com tudo, menos,

provavelmente o que de facto deveria ser importante. Talvez as motivações sejam

diferentes. É possível.

Chego a pensar se os culpados desta nova “geração à rasca,” como orgulhosamente

gostam de se intitular, não sejamos nós mesmos. Nós, pais e mães que jogamos ao pião,

nós, que saltamos à corda e jogamos futebol no recreio.

Não tive PSP´s ou Nintendo’s, mas tive uma infância ao ar livre. Não tive uma bicicleta

com mudanças, mas tive uma “pasteleira” como muitos outros da minha idade, que

transitou do meu pai já comprada em segunda mão.

E quando mais tarde, mesmo com dificuldades, tentamos proporcionar o melhor aos

nossos filhos e agora netos, não estaremos a renunciar às nossas próprias origens,

tentando acompanhar as modas que a cada passo criticamos nos outros? Confesso que

não sei.

Sei, contudo, o que entendo como princípios fundamentais para um crescimento

equilibrado e sólido. Acima de tudo, passa pelos valores que nos foram incutidos pelos

nossos pais, pelos nossos avós e que nos proporcionaram podermos fazer o mesmo. Não

nos podemos esconder da responsabilidade de transmitir o que nos ensinaram, tendo

esse dever, essa obrigação, da qual não podemos fugir nem prescindir.

Observando hoje a sociedade tão moderna, tão evoluída, mais organizada mas mais

dispendiosa, obrigando ambos os pais a trabalhar, restando pouco ou nenhum tempo

para os filhos, a teoria da compensação acaba por ser o mal menor, dizem.

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Paradoxalmente, a criminalidade aumenta, a dependência de medicamentos é maior,

bem como o consumo de drogas e álcool. Dou por mim a pensar qual das gerações estará

mais à rasca com os últimos tempos: se a geração que está crescida, em princípio menos

preparada mas também com créditos de casa e carro para pagar e, dentro do possível

tentar ainda apoiar os filhos já independentes, mantendo a expectativa de muito de longe

a longe cometer a louca extravagância de jantar fora com a companheira. Ou a que quer

ter IPAD´s, telemóveis topo de gama, portáteis e todo o tipo de parafernália tecnológica.

Que teoria é esta da tal “geração à rasca”, que tem acesso a tudo, a coisas que os pais

nem sequer sonharam, e ainda assim estragam‐se da pior maneira. Não sei.

Deixamos para trás a infância. Deixamos de ser desculpados pela juventude e começamos

a ser cobrados por quase adultos. A puberdade.

Com uma personalidade ainda muito imatura e introvertida, procuramos o nosso lugar no

grupo da escola, dos amigos mais chegados, no seio da nossa própria família. E, de

repente, vemo‐nos rodeados por um sem fim de árvores, umas mais agrestes, outras que

nos ajudam a percorrer o caminho.

Chega o primeiro momento marcante, o passeio de finalistas. Pela primeira vez ficaria

fora de casa. Durante uma semana, estaria por minha conta e risco. Deslumbrante.

O conhecimento do país em toda a sua extensão, em todas as suas assimetrias, nessa

época ainda é mais marcante.

Com 15 anos inicio a minha actividade desportiva federada, como praticante de futebol

no clube da minha terra S. C. de Canidelo, na categoria de juvenil. Considerando algumas

potencialidades que me atribuíam, tentei no final do ano desportivo testar as minhas

capacidades no Boavista F. C. e no F. C. Porto. Acabei aprovado e optei pelo F. C. Porto na

época seguinte.

Esta opção acaba por marcar talvez definitivamente o rumo da minha vida. A prática do

futebol neste clube já nesta altura exigia uma presença diária para treinos durante a

tarde. O meu curso Industrial exigia um horário das 8:30h às 17:50h, incompatível para as

duas actividades.

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Em consonância com meu pai, optamos pela minha transferência escolar para o período

nocturno, de forma a manter a disponibilidade para os treinos. Dois meses mais tarde

outra situação se coloca, mas que raio, um homem deste tamanho sem fazer nada todo o

dia, tem que trabalhar para ajudar os pais. E como eram cáusticas e seguidas estas

opiniões na época.

O Trabalho

E em Dezembro de 1969, através de um pedido de meu pai a um amigo, inicio a minha

actividade profissional na área da manutenção industrial na Electro‐Cerâmica no Candal,

empresa de material eléctrico pertencente ao Grupo Vista Alegre.

Esta nova situação origina outras incompatibilidades, que me levam no final dessa época

desportiva a desvincular‐me do F. C. Porto (apesar de me ter tornado campeão Nacional

na categoria juvenil da época de 1969/70) e regressar de novo ao S. C. Canidelo. O futebol

deste tempo não envolvia a loucura de verbas a que hoje nos habituamos, às guerras

clubistas a que assistimos e, para o meu pai, o importante era terminar o curso e o

emprego, renegando o futebol para um passatempo que poderia praticar mesmo em

Canidelo.

Começo a trabalhar e, em simultâneo, mantenho a minha actividade desportiva, o

futebol. De imediato pus na mesa as minhas capacidades, absorvendo informações da

empresa, das áreas de intervenção, dos métodos de trabalho. Inicio uma nova fase da

vida, novos amigos. Bom chefe, bons companheiros, tento assimilar tudo que me

procuram ensinar, rapidamente percebo que o mercado de trabalho é completamente

diferente das salas de aulas. Durante este período e ao contrário do imaginado, relembro

Sócrates e um dos seus sábios pensamentos “sei que nada sei sobre o que sei”.

A determinada altura sou convidado a representar a empresa num concurso internacional

organizado pela OIT (Organização Internacional Trabalho) que consistia em montagens

eléctricas em prancheta (bancada). As provas realizavam‐se na Escola Infante D. Henrique

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no Porto na fase regional e, a final Nacional, na Escola Industrial de Belém em Lisboa.

Classifico‐me para a final e termino num honroso terceiro lugar, impossibilitando‐me a

possibilidade de discutir a final internacional. Termino o meu curso industrial e preparo‐

me para o serviço militar.

Serviço Militar

E chega a tropa. A 15 de Janeiro de 1974 começa o momento que considero dos mais

significativos da minha vida e o ano que mudará definitivamente o rumo do nosso país.

Portugal vivia em guerra nas Províncias Ultramarinas. O horizonte próximo passava pela

guerra e pelo encontro com uma bala perdida, pelo despoletar de uma mina

ardilosamente colocada e as consequências daí inerentes. A história conta‐nos sobre os

milhares de Portugueses que por lá ficaram na defesa de uma causa, condenada por toda

a Comunidade Internacional Democrática, à muito considerada perdida, que só acordos

políticos poderiam resolver. A ansiedade e o medo percorriam‐nos.

Chego ao Centro de Instrução Militar nas Caldas da Rainha para o curso de Sargento

Miliciano. A instrução decorre de forma sobejamente conhecida, uma vez que todos

devemos ter tido um familiar ou de um amigo que lá esteve e partilha uma ou outra

história em amenas conversas de café ou em casa. O rigor, a disciplina e a exigência,

foram os primeiros impactos de uma realidade inimaginável. Estávamos a ser formados

para comandar futuros militares, tornando‐me, dentro do meu grupo, um dos dois

nomeados para, em simultâneo, concorrer ao curso de Oficial.

O tempo passa entre a formação e os fins‐de‐semana sempre ansiados embora

momentâneos, no seio da família para recarregar baterias.

Entretanto, a 16 de Março (sexta‐feira) dá‐se um movimento que ficou conhecido pela

Intentona, uma tentativa de golpe de estado que dá forma ao Movimento das Forças

Armadas (MFA) que nasce por volta de 1973 por jovens Oficiais Milicianos, no intuito do

derrube do Governo.

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Este movimento surge após as tentativas do General Humberto Delgado, que já em 1958

corporizou o principal movimento da oposição na tentativa do derrube da ditadura

através de eleições presidenciais, donde sai derrotado num processo eleitoral fraudulento

e o leva ao exílio. Posteriormente, em 1962, tenta um golpe de estado militar que visava a

tomada do quartel de Beja, fracassado e que leva à sua morte e à de sua secretária junto

à fronteira com Espanha pela “PIDE”.

A “Intentona” foi um movimento de oficiais e sargentos que avança sobre Lisboa,

entretanto obrigado a recuar quando confrontado com as forças leais ao Governo, que

tinham saído ao seu encontro.

Eu deveria ter estado lá. Pela primeira vez no serviço militar estava “desenfiado”, termo

da gíria militar que significa estar ausente da zona militar sem autorização. Necessitava de

estar no Porto nesse sábado para um jogo de futebol com a minha equipa. Ao ser

recusado um pedido de saída oficial antecipado de fim‐de‐semana e, com o

conhecimento do chefe de instrução, decidi arriscar a saída na sexta‐feira, já que a saída

normal era ao sábado pelas 12h. E que mal me poderia ter dado.

Tomei conhecimento do acontecido pelas notícias da rádio, e entrei em pânico, estava em

causa a continuidade da minha formação. A normalidade voltaria com o regresso ao

quartel com os meus companheiros.

Com a rendição das forças das Caldas e por questões de logística alimentar foram os

meus companheiros autorizados a sair pela tarde de sábado, ficando apenas detidos os

revoltosos, podendo, assim, regressar tranquilamente. Foi o prenúncio da liberdade.

Termino a primeira formação, ficando pelo caminho o curso de oficiais com a candidatura

reprovada em detrimento de dois companheiros que nem candidatos eram, coisas do

serviço militar da época.

Por opção pessoal sou colocado em Lamego para um curso de Operações Especiais

“Ranger”.

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25 De Abril ‐ A Revolução

Inicio este novo curso sobre o lema “nunca se sabe”. Significava que estávamos isolados

do Mundo, no cimo do monte de Penude instalados em quatro barracões de madeira,

com um perímetro militar sem muros ou portões, a 4km de Lamego e com a serra das

Meadas como horizonte. Nada se sabia sobre o exterior, quando teríamos um fim‐de‐

semana ou o que faríamos no minuto seguinte.

Iniciávamos o dia com os dez mandamentos “Ranger”, em que o primeiro dizia “o ranger

resiste à fome ao cansaço e à incomodidade”, eramos considerados sete vezes abaixo de

cão, conforme repetiam ao longo do dia. A preparação física e psicológica eram questões

específicas na formação, de quem dentro de algum tempo estaria a comandar homens

em guerra. Desenvolvia‐mos o sexto sentido, topografia, comunicações rádio, primeiros

socorros, minas e armadilhas, tiro com todos os equipamentos militares e

especificamente técnica militar, enfim, uma vez que além de comando, teríamos que

substituir qualquer destas especialidades em caso de acidentes em guerra.

A 24 De Abril desse ano, por volta das 10h da noite, sem conhecimento do que se estava

a passar, somos chamados a formar na parada e a preparar o nosso equipamento de

guerra (arma, carregadores e cartucheiras). Longe de imaginar os motivos, somos

convidados a colocar no chão todo o equipamento, sair em marcha silenciosa pelo

interior da serra, para no regresso, duas a três horas depois, percebermos que todo o

nosso equipamento tinha desaparecido.

Na manhã do dia seguinte somos informados da Revolução em curso. Inicialmente

prevista a nossa participação na tomada da Legião Portuguesa, em Massarelos (Porto),

decidiram incumbir desta missão uma companhia de Comandos mais experientes, ainda

em Lamego e pronta para embarcar para Angola.

Com o sucesso da Revolução, vieram as festas populares para a rua. Criaram‐se grandes

expectativas na esperança de novas oportunidades e Portugal abria‐se, finalmente, ao

Mundo depois de 50 anos isolados.

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Para os jovens da minha geração, era a esperança do terminar da guerra, um dos

princípios que levaram à revolução Militar. O Povo voltava a ter voz.

Passada a euforia regressamos à formação. Terminei o curso em meados de Junho,

ficando nos primeiros classificados dos cerca de 100 instruendos futuros oficiais e

sargentos milicianos, ganhando duas das sete provas especiais realizadas. Como

recompensa, fui indigitado formador do curso imediatamente a seguir.

Considerando a dureza do curso, mesmo para os formadores, solicitei a troca que me foi

concedida e ser colocado no CIOE (centro de instrução) no centro da Cidade de Lamego,

onde me mantive até Setembro, altura que fui transferido para Chaves.

Chaves era na altura uma pequena cidade muito bonita do interior transmontano,

próxima da fronteira com Espanha (Verin), tendo apenas como principal senão como

chegar. Recordo que saía do Porto de comboio a diesel pelas 8:00h da manhã, transbordo

na Régua pelas 10:00h para um pequeno comboio de duas carruagens em linha reduzida

com máquina a vapor, seguindo‐se 4 horas de uma viagem lindíssima pelo sobe e desce

de belas paisagens do interior transmontano. Viajava no tradicional “foguete”, uma vez

que a composição normal levava cerca de 6h a perfazer a distância de 80km que ligava

estas duas cidades. Dizíamos na altura que permitia saltar, apanhar uvas e voltar a entrar

na curva mais adiante.

Após um mês tranquilo e relaxante, aproveitando cada dia ao máximo, o desenlace desde

sempre esperado, sou mobilizado para Angola e a partida imediata para Santa Margarida.

Uma nova fase se inicia.

O Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) é uma base e área de instrução militar do

Exército Português. Localizado no concelho de Constância, é uma das maiores instalações

militares da Europa. Com a guerra do Ultramar, passou a ser utilizado sobretudo para a

instrução em operações de contraguerrilha.

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Na margem direita do Tejo está Constância, conhecida por ter sido nesta vila onde viveu

Luís de Camões, para onde foi desterrado e aí escreveu alguns dos seus poemas líricos.

Iniciamos a formação e instrução de uma Companhia de jovens alentejanos e algarvios

acabados de chegar ao serviço militar. Comandados por um capitão de Comandos com

alguma experiência de guerra, eu já como Furriel Miliciano, era o único “Ranger” da

Companhia, o grande suporte do comando na instrução de técnica de guerra a caminho

do Ultramar.

Contudo, com os sucessivos desenvolvimentos que entretanto iam acontecendo no país,

as datas de embarque iam sendo adiadas, acabando por sermos desmobilizados e

colocados próximo das áreas de residência, substituídos por outra companhia mais

recente.

Verão Quente de 1975 | PREC “Período Revolucionário Em Curso”

O País vivia um período de convulsões sociais pela luta do poder, com ocupações de

terras e casas abandonadas, nacionalizações, saneamentos políticos no aparelho de

Estado, a reforma agrária, etc.

Era voz corrente que o PCP beneficiou em número (era um partido bem organizado). As

manifestações e contra‐manifestações sucediam‐se. O próprio Conselho da Revolução

entra em divergência, criando‐se grupos e, entre eles, o Grupo dos Nove que viria a ser

decisivo. Entretanto, o país ia sendo governado por Governos Provisórios. Em Abril é

eleita a Assembleia Constituinte, que vai preparar a Constituição Portuguesa e a eleição

do 1º Presidente Eleito, o General Ramalho Eanes em 1976.

No quartel o tempo ia passando com alguma tranquilidade, entre os serviços tradicionais

e as viagens para o interior do grande Porto, em missões de alfabetização e

esclarecimentos, onde era notório as dificuldades e carências das populações locais.

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O meu tempo de serviço militar aproxima‐se rapidamente do fim. Ainda sou consultado

para continuar nas Forças Armadas, recusando, uma vez que tinha um emprego e

preparava o meu casamento.

A 25 de Novembro é tornada pública uma acção da Maioria Silenciosa, que pré‐indicava

uma tomada de poder. A saída das Forças Militares dos comandos da Amadora, chefiados

por Jaime Neves, trava o processo, instalam‐se os moderados, esvai‐se a Revolução

ficando os ideais, caindo o V Governo Provisório liderado por Vasco Gonçalves.

Chegando ao fim o meu Serviço Militar, passo à disponibilidade e regresso à vida civil e ao

meu emprego.

De Novo o Trabalho

Terminado o serviço militar, eis‐me de regresso a uma casa donde tinha estado ausente

os últimos dois anos. Rapidamente vejo algumas mudanças estruturais entretanto

realizadas, e tomo conhecimento da situação social existente.

Ao nível de organização dos trabalhadores, tinha sido criada a comissão de trabalhadores

e os sindicatos dos diversos sectores laborais faziam as suas aderências.

Os partidos criavam as suas células dentro da empresa e a luta pelo controle destas

organizações era evidente.

Com a experiência adquirida e com uma visão global da realidade, considerava‐me uma

pessoa moderada com uma filosofia de esquerda, tendo sempre presente os direitos dos

trabalhadores e, em simultâneo, os deveres para com a entidade patronal. Faço a minha

inscrição no meu sindicato, aperfeiçoo de novo a minha capacidade profissional e

mantenho‐me atento a todos os desenvolvimentos sociais internos. “Vêm me à memória

uma imagem perdida”, relembro uma chamada ao gabinete do chefe de divisão,

alertando‐me para a leviandade das saídas frequentes antes do termo da hora laboral

(irresponsabilidade juvenil), que no futuro e após a tropa, não seriam permitidas.

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Paulatinamente fui ganhando importância dentro da estrutura da empresa, o respeito

dos colegas, da gerência, sendo visto como uma peça importante dentro de toda a

hierarquia.

Concorrendo e passando a presidir a comissão de trabalhadores, criamos uma comissão

intersindical, uma forma de aglutinar todos os delegados sindicais (eu já representava o

meu) dos vários sindicatos, para em conjunto e em consonância tratarmos todos os

assuntos com a Direcção e Administração da empresa. E entramos numa fase

relativamente tranquila dentro da empresa.

As acessibilidades ao meu lugar de residência começam a alterar. Onde antes, com a

chegada do inverno, as ruas em terra tornavam‐se intransitáveis, com os bombeiros a

recusarem circular para um transporte urgente ao hospital, eram agora renovadas e

normalizando a circulação.

Entretanto vou preparando o meu casamento.

Conheci a minha (ainda) futura mulher nos idos anos de 1972, tinha ela na altura 16 anos.

Conhecemo‐nos numa matinée dançante de domingo, num clube recreativo da cidade,

onde o gosto pelas danças de salão era comum. Sempre tive uma atracção pelas músicas

latino‐americanas. Ainda hoje, quando temos oportunidade, saímos a um jantar dançante

e deleitamo‐nos com algumas danças do nosso tempo, antes que as atrozes nos joelhos

nos indiquem as horas de voltar para casa.

Esta atracção pela música leva‐me em determinado período a tocar viola. Aprendizagem

a solo e de ouvido, para um percurso rudimentar de entretenimento em alguns

momentos, na tropa e em casa para descompressão.

Ficou o gosto, e a motivação transmitida anos mais tarde ao meu filho.

Nesta época, as discotecas ainda eram uma miragem, não haviam centros comerciais ou

esplanadas de praia, os cinemas situados no centro da cidade não eram muito

apetecíveis, quer por razões de transporte, quer por disponibilidades económicas.

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A minha futura Mulher vivia com a avó materna desde o seu nascimento. Uma senhora

de 70 anos, mas com um espírito, uma jovialidade e uma abertura aos novos tempos

dignos de registo.

Umas coisas levam a outras, a imaturidade irreflectida, o descuido, a falta de prevenção e

irresponsabilidade do momento, que num fim‐de‐semana ainda na tropa, após quatro

anos de namoro, o diagnóstico cai como uma bomba: grávida.

E um novo desafio se apresenta. O casamento.

Casamos e nasce o meu primeiro filho, Pedro, hoje com 35 anos.

Iniciamos um caminho que dura até hoje, com muitas páginas escritas, mas algumas

ainda em branco para escrever. Histórias de alegria e contrariedades, umas certamente

mais felizes que outras, contudo com a consciência que não as escrevi nem as escreverei

sozinho.

A minha mulher, uma guerreira, a trabalhar desde muito nova e mesmo com esta

mudança de estatuto e local de residência (eu neste aspecto fui privilegiado fiquei na

mesma zona de residência próximo dos meus pais), apesar do nascimento do nosso filho,

mantém a mesma energia, mesmo com “trabalho” acrescido e padecendo de um

problema genético que a debilita de tempos a tempos, normalmente nas mudanças de

estação (Primavera e Outono), a Esferocitose.

EH ‐Esferocitose Hereditária (doença de origem Africana)

Em termos genéricos trata‐se de um abaixamento de Hemoglobina (glóbulos vermelhos),

uma redução de valor entre 8 e 10 (análise ao sangue periódica, em vigilância hospitalar

permanente), estando normalmente a 11 que já é óptimo, sendo os valores normais de

todos nós a rondar os 13/14. A redução dos glóbulos vermelhos acontece pela

deformação e posterior filtragem através do baço, originando uma menor quantidade

destes no sistema sanguíneo e, por consequência, uma menor oxigenação ao nível

cerebral.

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A EH é causada por um defeito estrutural dos glóbulos vermelhos, tornando‐os esféricos e

de menor dimensão. Estas células, na sua passagem pelo baço, órgão de filtragem do

sistema, são rapidamente absorvidas devido a esta deformação.

OS principais sintomas passam pela fadiga e cansaço, palidez cutânea‐mucosa/icterícia.

Como tratamento, a prescrição médica passa, para além de complementos vitamínicos,

pelo descanso absoluto, sempre difícil para quem o absentismo não faz parte dos seus

princípios do dever laboral, e ainda, com uma casa para gerir.

Passa, igualmente e muitas vezes, pela extracção cirúrgica do baço que por norma se

encontra anormalmente desenvolvido. Existem algumas contra‐indicações, que têm a ver

com a perda de defesas naturais, substituídas pela toma de medicamentos específicos de

forma vitalícia, que substituem de algum modo as funções do baço na prevenção de

anticorpos.

Nesta fase o país vai avançando. As melhorias vão sendo evidentes. Os órgãos de

comunicação social, agora livres, transmitem tudo que vai acontecendo. Eu sem grande

apetência para a leitura de livros, confesso, esperava diariamente a chegada dos

vespertinos (Diário de Lisboa ou Diário Popular) à Estação de S. Bento, para a leitura ávida

dos acontecimentos do dia. Ao fim‐de‐semana eram os semanários Expresso e O Jornal

lidos da primeira à última página.

Entretanto nasce a minha filha Marta, hoje com 33 anos e com duas lindas meninas, a

Rita e a Maria Inês, com 5 e 2 anos respectivamente.

As responsabilidades familiares vão aumentando, assim como a esperança que o novo

futuro que estamos a criar, seja para os nossos filhos e netos, seja bem melhor que o

nosso, o dos nossos pais e avós.

Agora que penso nisto e tendo em conta a situação económica e financeira actual do país,

o que terá corrido mal? De quem será a culpa?

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O caminho faz‐se caminhando, mas para onde caminhou Portugal nestes 35 anos a

velocidade estonteante? O país está melhor, está diferente sem dúvida! Mas quais são as

mais‐valias criadas para estes usufrutuários deste cantinho à beira‐mar plantado?

Por onde andam as músicas de intervenção, de Zeca Afonso a Sérgio Godinho, de Pedro

Barroso a Adriano Correia de Oliveira? Por onde andam os sonhos e a esperança de um

país melhor?

Eu, cidadão anónimo, que sempre paguei os meus impostos, que há 40 anos contribuo

com o meu trabalho para o desenvolvimento deste meu país, pergunto: Sei que somos

um país periférico longe dos grandes centros de decisão, com custos acrescidos, mas não

teremos também algumas vantagens?

Quem com a sua intervenção, encaminhou e transformou Portugal num país de turismo

(para outros usufruírem) e de serviços?

Sabemos que o mundo se transformou num grande mercado global, mas por onde

andava a “inteligência”, que não soube ou quis tomar as devidas providências. Onde

estão as estruturas que criam emprego, que aportam riqueza e mais‐valias? Hoje vemos a

China, a Índia, o Brasil e outros países emergentes em crescimento económico

sustentado. E Portugal, para onde caminha?

Cerca de quatro anos após o nascimento da minha filha, a minha mulher é aconselhada a

laquear as trompas. Medida drástica pela irreversibilidade do processo.

Tinha como finalidade a salvaguarda de consequências futuras, em caso de nova gravidez,

considerada a situação clínica originada pela Esferocitose.

Esta situação crítica foi devidamente ponderada, principalmente pelos danos psicológicos

que poderia originar. A minha mulher, por esta altura com 28 anos, com muitas situações

de vida pela frente e que a irreversibilidade do processo poderia comprometer, só uma

grande confiança e companheirismo na nossa relação poderiam ajudar a ultrapassar.

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A Mudança Evolutiva

Chega os anos 80 e surge a oportunidade de acrescentar algo mais aos meus horizontes

profissionais. Portugal inicia a discussão para aderir à CEE, que se vem a concretizar em

1985. Sentia a necessidade de mudar algo no percurso da minha vida profissional, apesar

do gosto pela área da electricidade na vertente da manutenção, gosto que ainda hoje

mantenho, pois sempre que surge uma avaria nos electrodomésticos de casa, a primeira

observação e reparação é minha.

Tinha dias que ao chegar à Empresa sentia a sensação de fim de ciclo. Olhava para a

frontaria da fábrica e imaginava‐me a entrar para uma penitenciária em regime aberto.

Era hora de mudar.

Fui convidado a transferir‐me para o sector comercial da empresa. Era necessário

aprofundar e desenvolver o sistema comercial e esta proposta aparecia no momento

exacto.

Iria trabalhar na dependência do Director Comercial, tendo como funções o contacto com

clientes, procura de novos produtos (criar necessidade ao mercado, alargar a gama), a

promoção junto de gabinetes de projectos, instaladores e retalhistas. Ajudar a criar um

verdadeiro sistema comercial. Tendo em conta a minha actividade profissional, tinha um

conhecimento profundo de toda a área produtiva, considerando a formação de base,

conhecendo ao pormenor os produtos, quer na vertente técnica, quer na vertente

funcional. O que seria uma mais‐valia.

A Electro Cerâmica era uma das três grandes fábricas de material eléctrico de Portugal.

Tínhamos uma particularidade que nos diferenciava e que era sobejamente conhecida no

mercado: a cerâmica.

O interior (miolo) em cerâmica de algumas peças e na totalidade em outras, tinha a

vantagem de, quando sujeitas a determinada potência ou mau contacto eléctrico, resistir

melhor à temperatura produzida (Efeito de Joule).

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Contudo, o sistema comercial era um pouco sui genéris. Não existia equipa de vendas.

Todo o sistema de vendas estava concessionado a uma empresa privada (exterior)

chamada Revenda, que se encarregava da distribuição. As vendas eram efectuadas

exclusivamente através de armazenistas do ramo do material eléctrico, que por sua vez se

encarregavam do escoamento para todo o mercado.

Ao nível de preços, os três grandes fabricantes utilizavam uma certa “concertação” em

peças equivalentes e nas datas de entrada em vigor de novas tabelas.

Não tinha qualquer experiência comercial. Mas esta nova fase da minha vida, desenvolve

outras potencialidades, outros conhecimentos. Uma nova postura na minha realização

profissional.

O contacto fluía normalmente sem recurso a técnicas de venda ou linhas mestras. Ajudei

a empresa a ganhar uma posição sólida no mercado e, durante oito anos, período que

durou esta fase, vivi momentos de grande realização pessoal. Sentia ser uma referência,

tanto a nível interno nos contactos com as chefias produtivas (conhecia bem a empresa e

as pessoas), como no mercado.

Vários chefes passaram neste período, todos receberam o mesmo empenhamento e

colaboração, e todos o reconheceram e aproveitaram.

Em 1985, ano de adesão de Portugal à CEE, entra um novo Director Geral que se faz

acompanhar de um Director Comercial da sua confiança. Saliento esta situação pela

revolução comercial (ao nível de organização e de sistema) então encetada.

Desde o início senti existir uma certa empatia entre ambos, que se viria a desenvolver ao

longo do tempo. Ainda hoje contactamos regularmente.

O Director Geral, altamente qualificado, era o grande suporte das medidas que iam sendo

implementadas com o seu aval e anuência. No entanto, esta situação ia criando barreiras

a nível interno (produção), uma vez que algumas chefias, habituadas desde sempre a

comandarem o rumo de fabrico, não encaravam bem as directrizes vindas da parte

comercial sobre as prioridades de fabrico. Nem mesmo as mais elementares regras de

uma boa gestão produtiva.

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Tão visíveis eram estas realidades, que encontramos em stock milhares de peças (monos)

no armazém de produtos acabados, que ali se encontravam há já alguns anos.

Com alguma sagacidade e acordo da administração, conseguimos colocar estas peças de

forma controlada junto de alguns clientes, revertendo toda a facturação conseguida para

a remodelação física de toda a área comercial, ficando então esta, com uma imagem

moderna e mais funcional.

No entanto, o Director Geral é convidado a fazer parte de um novo governo, sendo

empossado como Secretário de Estado da Saúde. Inicialmente, foi colaborando à

distância mas acaba, mais tarde, por resignar.

Recordo uma passagem esclarecedora da sua forma de estar. Desloco‐me à estação da CP

em V. N de Gaia, para transportar para a empresa o Director Comercial que chegava de

Lisboa. Sou confrontado com a presença do então Secretário de Estado, em viagem

relâmpago e sigilosa, numa visita ao Hospital de S. João para controlo de presenças

médicas in loco.

Solicita‐me a disponibilidade do transporte ao Hospital, ao qual que acedo de imediato,

mas informei que estava com uma viatura de trabalho, uma Renault 4L, mas que, a

caminho, passaríamos pela fábrica e trocávamos para outra mais compatível. Recusou de

imediato pois esta enquadrava‐se perfeitamente com o espírito da visita.

Lembro a cara de espanto do funcionário da portaria de acesso, quando confrontado para

a abertura do portão pelo próprio Secretário de Estado. Deixei‐o na entrada da Urgência e

regressei à fábrica.

Fui informado mais tarde que, durante a viagem, aproveitou para despachar processos

pendentes da Empresa e que encontrou várias situações irregulares de presença na

actividade médica do Hospital.

O ritmo de trabalho era impressionante chegando, por vezes, a trabalhar cerca de 16 h

por dia. Todas as iniciativas eram pensadas e discutidas ao pormenor. As minhas funções

acabam por ser alargadas, sendo a principal um género de adjunto ao Director, sem

contudo estar devidamente contratualizado.

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Com a adesão à CEE, chegam os fundos comunitários e os cursos de formação

empresarial e, tal como noutros sectores, o departamento comercial forma toda a equipa

(eu incluído) em Técnica de Vendas e Marketing.

Após algumas remodelações, passo a chefiar uma equipa de 4 vendedores/promotores, o

sector comercial administrativo, o sector de transportes de produto, a publicidade e

marketing, vem como o armazém de produto acabado, na qualidade de Inspector de

vendas. Recusei outras opções que me ligariam muito à chefia, interna, que não estava no

meu horizonte de realização na época.

Vivi momentos de grande satisfação e realização neste período. Foi o alargamento de

gama com algumas empresas representadas de nível internacional, foram feiras de

amostra (exposições) na FIL (Feira Internacional de Lisboa) ainda em Belém, na Exponor

(Matosinhos), eventos marcantes com saliências pessoais da Presidência da

Administração pelo trabalho realizado. Mas o evento que marcou uma época, que nunca

tinha sido feito e, até onde julgo saber, nunca mais foi feito na Empresa, foram dois

encontros de clientes de âmbito Nacional, um a Norte (Porto) outro a Sul (Cascais).

Se o evento de Cascais atingiu um nível espectacular, o realizado no Porto ultrapassou os

limites inimagináveis, uma vez que estávamos próximos da fábrica, que em termos de

logística era uma ajuda preciosa. Tinha chegado a Portugal uma multinacional do sector e

que começava a fazer mossa.

Tínhamos um primeiro grande objectivo de ordem comercial com o lançamento de uma

nova Série de aparelhagem, que teria de arrasar e contrariar as tendências do mercado

em que o que era estrangeiro é que era bom. Precisávamos passar a mensagem de uma

empresa moderna, com capacidade de resposta e disponível para conciliar os interesses

dos comerciantes junto dos seus clientes.

A ideia passava, igualmente, por aproveitar o relaxamento de um fim‐de‐semana dos

clientes, para com toda a equipa de vendas a nível individual, obtermos um compromisso

em volume de vendas que aumentasse visivelmente a produção e cota de mercado.

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Este evento foi preparado ao pormenor durante meses. Tínhamos consciência do que

estava em jogo. Desde a viagem de comboio dos clientes do Sul previamente marcada, ao

autocarro que os esperava para o transporte ao Hotel praticamente reservado para o

evento, de tudo um pouco foi acontecendo.

Sessão de boas vindas, com as esposas a serem presenteadas com lindas faianças Vista

Alegre à sua chegada, bem como uma flor e nova peça Vista Alegre na volta ao hotel das

visitas turísticas programadas para os períodos de trabalho dos respectivos maridos, tudo

foi pensado.

Jantares em locais sobranceiros ao rio Douro, com um jantar de gala e um almoço de

encerramento nas instalações do hotel, com a presença da Administração, foram o

culminar de sonho numa realização inolvidável. Os resultados obtidos ultrapassaram as

melhores expectativas, em que ainda hoje, passados 25 anos, a Série lançada nessa época

continua a ser uma referência no mercado.

Com a realização profissional em alta, mas com algumas divergências internas, sentia a

proximidade do fim de mais um ciclo. Com a saída do Director Comercial pensei seguir o

mesmo caminho, apesar da oferta para chefiar um laboratório de “Controle de

Qualidade” que estava a ser criado.

O Grande Salto

Foi com mágoa que abandonei aquela que considerava a minha segunda casa. Foram 18

anos onde aprendi, cresci profissionalmente e como homem, aquém agradeço o muito do

que sou hoje, uma grande escola.

Rapidamente encontro nova colocação. Respondo a uma solicitação do Jornal Expresso,

sou seleccionado e passei as sucessivas provas de avaliação dos Recursos Humanos de

uma empresa da especialidade.

Tratava‐se da multinacional Americana Perkin‐Elmer, para a sua subdivisão de

tratamentos superficiais por projecção de ligas micro pulverizadas.

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A última prova foi em Madrid, já na presença do Director da Empresa (Espanhol) para a

Península Ibérica e com a “sucursal em Lisboa”, que tinha como objectivo escolher um

dos dois concorrentes finais candidatos ao lugar.

Não conhecia as competências do meu competidor, uma vez que a área da indústria e

metalomecânica não eram o meu ponto forte, mas, pela experiência e polivalência

adquiridas, ultrapassei as expectativas e fui contratado. Dois dias depois estou em Lisboa

para assinar contrato e uma semana depois estou em Madrid para iniciar uma formação

de um mês.

Em simultâneo, foi seleccionado um colega para a sucursal em Lisboa, que teria como

competências a gestão da sucursal e toda a zona a Sul de Coimbra. Eu ficaria com a

restante Zona a Norte.

Em relação a Lisboa estaria em desvantagem, uma vez que já existia trabalho realizado,

enquanto a Norte iniciaria do zero. Após a realização da formação que decorreu de forma

tranquila, ministrada por um companheiro “Basco” de Bilbau, foi o regresso e o inicio do

trabalho em perfeita sintonia com o companheiro a Sul.

De forma transversal, contactei praticamente com toda a Indústria Nacional, criei

mercado, fidelizei clientes e consegui uma quota de mercado interessante. Desenvolvi

razoavelmente o espanhol nos contactos quase diários com a sede nesta língua, vindo a

mostrar‐se importante mais tarde. Tinha um bom conhecimento sobre os equipamentos

e produtos, o que me permitia um à vontade na montagem, na manutenção e na selecção

do produto específico a utilizar.

Até ao momento, a metalomecânica não era, sem dúvida, uma área de referência na

minha carreira profissional. Mas tinha adquirido conhecimentos na formação realizada,

em que a abordagem a estes novos equipamentos passava pela consciência de que o

sucesso das empresas, neste mercado global, passava pela “produtividade” e pela

aquisição, inovação e novas tecnologias.

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Com o início da década de 90 chega a primeira contrariedade, que por motivo de doença

o meu companheiro de Lisboa que acaba por sair da empresa, assumindo eu a gestão da

sucursal e do todo território Nacional, dividindo o meu tempo entre Lisboa e Porto.

Foram tempos de sacrifícios e ausências significativas em casa, com os meus filhos já no

secundário e o meu acompanhamento nem possível, apesar de fazer questão de estar

presente sempre que se realizava uma reunião com a directora de turma, objectivo que

mantive sem faltar a uma, até ao fim do secundário.

Começo a sentir a necessidade do conhecimento de Inglês, uma vez que todos os

documentos técnicos eram em Inglês (com algumas excepções em Espanhol),

ultrapassando essa dificuldade com recurso a dicionários e ajuda preciosa do meu filho e,

mais tarde, com o recurso ao Google!

Frequento um instituto de Inglês que abandono no final do ano, apesar os resultados

serem satisfatórios. A disponibilidade emocional, o cansaço, as deslocações frequentes,

complicavam a frequência nocturna para uma aprendizagem frutuosa.

E que falta me fez este conhecimento, uma vez que a possibilidade de uma

internacionalização ao nível de empresa ficou condicionada.

O país avançando em vias de comunicação, levou‐me a viajar praticamente por todo o

território, que além do conhecimento geográfico de zonas fora dos prestigiados roteiros

turísticos, deu‐me uma visão social do estado em que estávamos. Na estrada,

desbravando asfalto por esse país fora, notávamos de facto as mudanças que aconteciam

em Portugal.

Este período fica marcado pelo complemento formativo, a multidisciplinaridade e

polivalência de trato enriquecedora, os contactos realizados normalmente ao nível de

chefes de departamento, encarregados gerais, proprietários das empresas, abrindo

horizontes de solidificação de uma imagem, que sempre procurei salvaguardar, pela

postura, disponibilidade total de colaboração, confiança e respeito que procurava

transmitir.

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Gostaria de registar neste período, o respeito de todos os companheiros espanhóis pelo

trabalho aqui realizado e, principalmente, pela amizade e cumplicidade que se mantém

com o Director até aos dias de hoje. Este asturiano (yá jubilado) de Avilés mas radicado

em Madrid há vários anos, ainda hoje sempre que visita sua família nas Astúrias, regressa

a Madrid pelo Porto, para nos encontrarmos numa conversa ao jantar.

Em 1993/94 a desilusão. Sem nada que o fizesse prever, a Perkin‐Elmer decide vender a

divisão Mecto à Sulzer, multinacional suíça, que adopta o nome Sulzer Metco para esta

divisão. Em pouco tempo, a divisão Metco transforma‐se em líder mundial no seu

respectivo mercado.

Esta resolução transforma radicalmente a vida de várias pessoas. Com a Sulzer, chegam

novas chefias, métodos e grandes alterações estruturais. Em Portugal termina a sucursal,

em Espanha toda a equipa é desmembrada e reduzida ao mínimo, passando todos os

negócios a serem realizados através de Madrid.

Termino o meu contrato com Metco Ibérica e sou convidado a ser o representante

exclusivo Sulzer Metco para Portugal, com excepção de 4/5 clientes que passam para a

dependência de Madrid. Comprei o primeiro carro, até ao momento sempre utilizara

carro de empresa em uso total e tornei‐me TI (trabalhador independente).

Os primeiros anos nesta nova situação correram normalmente, com o mesmo rigor, a

mesma disponibilidade, com uma maior responsabilidade dada a ausência de uma chefia

directa, mas com a preocupação de manter e se possível aumentar os níveis de

facturação.

Um tempo antes, juntamente com meu irmão criara‐mos uma empresa de remodelação e

transformação de interiores em lojas de comércio tradicional, a “Adequate”, tendo como

suporte um gabinete de arquitectura de um amigo comum.

Com a nova situação Sulzer, sou aconselhado a abdicar da minha posição na Adequate,

situação que me deixou desencantado. O meu irmão como técnico qualificado na área da

construção controlava a parte de projecto, eu com maior disponibilidade de tempo

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acompanhava mais a obra e interferia na área eléctrica e imagem. Abdico e passo a minha

parte ao meu filho. Com a chegada das dificuldades ao mercado da construção, acaba por

ser extinta.

Com o desmembramento da equipa em Espanha, passo a ser solicitado regularmente

para manutenções, montagens e formação aos clientes espanhóis. A experiência

adquirida, o desenvolvimento do castelhano (o “portanhol”) reconhecido por estes como

bom, transmitia‐me confiança nos contactos de alto nível que realizo em Espanha.

Visitei grande parte das províncias autónomas de Espanha, as diversidades regionais, a

gastronomia, a cultura sempre presente na vida Espanhola, tempos de conhecimento e

formação.

É comum na vida social dos Espanhóis os passeios em final de tarde em família, os

encontros ao balcão do bar para as conversas de tudo e nada entre duas ou três canhas

(copos de cerveja), com umas tapas pelo meio. Pela diferença com o resto de Espanha e

mesmo em Portugal, registo uma particularidade que me chamou atenção no Norte (zona

basca). O basco no seu circuito de passeio só toma uma bebida por bar, podendo mais

tarde voltar ao mesmo, mas a norma é uma bebida por passagem. Assisti a cumprimentos

entre pessoas, que mais tarde me informaram ser encontros de balcão que em repetições

sucessivas pelo mesmo circuito, terminam em amizades. Achei interessante pela lógica

sociável do acto.

Desde jovem que tenho uma grande atracção por Espanha, com o aprofundamento das

diversas variáveis pelas quais observo este país, cada vez mais sou fã incondicional de

“nuestros hermanos”.

Vivi com alguma intensidade largos períodos desta nova fase. A forma de gestão

estratégica de uma multinacional Europeia, mais economicista e exigente, colocava‐me

no fio da navalha permanentemente em relação há continuidade contratual, como tal e

prevendo o futuro, procurei encontrar algumas alternativas.

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Mudança Complementar / Freelancer

Com o mercado Sulzer estabilizado e com disponibilidade de tempo, inicio uma

participação condicionada, mas aceite pelas respectivas entidades patronais, numa

empresa de Vedantes do Porto. Sou contratado para, aproveitando os meus contactos ao

nível da indústria, desenvolver a “LE – Lubrication Engenieer”, empresa americana sua

representada, na área dos Óleos e Lubrificantes Especiais.

Experiência muito interessante, tanto pelo conhecimento adquirido neste subsector da

indústria, como pelos contactos estabelecidos e muitas vezes interligados com a minha

área principal, a projecção térmica.

Com algum sucesso nos primeiros anos, à medida que a crise global ia avançando o

projecto ia esmorecendo. Algumas transformações foram acontecendo, algum

desinvestimento patronal mais direccionado para a parte dos vedantes, com alguma

desmotivação da minha parte à mistura, levaram ao rompimento natural desta ligação ao

fim de oito anos.

Entretanto, participava numa feira na Exponor em representação da LE, apercebo‐me que

um expositor espanhol presente procurava representante para Portugal. Sem manifestar

grande interesse, contacto as duas pessoas presentes (director da fábrica e director

comercial) e sou contactado umas semanas depois. Convidado a uma visita relâmpago a

Bilbao, assino um contrato e acordamos uma semana de formação nas instalações da

Empresa Mebusa.

A Mebusa é uma empresa fundada em 1957 e fabricante de máquinas‐ferramentas de

tratamentos de superfícies e deformação de chapa. Sediada em Barakaldo (município de

Bilbao) num pólo industrial de excelência. Não era a primeira vez que me encontrava em

Bilbao, mas só agora tinha a oportunidade de visita mais pormenorizada.

A estadia estava a cargo da empresa, tendo tido a delicadeza de me instalarem primeiro

em Getxo, zona turística próximo do mar e, na parte final, no centro de Bilbao para assim

ter a oportunidade de a conhecer mais em pormenor.

Tinha uma ideia bastante errada da cidade de Bilbao. As rápidas visitas anteriores, a

informação proveniente dos jornais e dos telejornais, passavam uma imagem de

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instabilidade, degradante, em que a ETA teria um papel preponderante. Nada mais

errado, uma vez que Bilbao é uma cidade tranquila, muito bonita e com uma qualidade

de vida excelente. A ria de Bilbao que acompanha e divide a cidade em duas, as diversas

pontes que sobre o canal ligam a cidade moderna com a parte velha (casco viejo) e, entre

outras coisas, o ex‐líbris Museu Guggenheim, mais conhecido pela sua estrutura

arquitectónica exterior do que pelas exposições permanentes ou móveis que por lá

passam, que devido à sua complexidade foi construído graças ao uso de software CAD e

modelos virtuais em 3D.

Iniciei a minha formação numa semana trágica em Portugal, marcada pela queda da

ponte de Entre‐os‐Rios, que arrasta várias viaturas e, entre elas, um autocarro com

dezenas de pessoas, muitas delas ainda hoje por encontrar.

Aprendi muito nesta semana, que além da parte técnica e profissional com formadores e

quadros técnicos intermédios ligados ao Partido Nacionalista Basco, completamente

contra o processo da luta armada da ETA, mas de acordo com o fim em si, a

independência do País Basco.

Com uma administração envelhecida, sem possibilidades de modernização, a empresa

entra em falência e encerra em 2006. Um grupo de trabalhadores assume a marca

Mebusa, muda de instalações e, em regime corporativista, continuam o projecto. Eu,

credor de alguns vencimentos até hoje sem liquidação, termino com a colaboração.

Com alguns altos e baixos, a minha carreira profissional vai avançando, mas estável numa

união saudável do princípio de família. Desde sempre, procurando seguir os

ensinamentos transmitidos por meu pai, tento manter‐me fiel a este princípio, como pilar

estrutural e uma forma de estar na vida.

Neste período, casa a minha filha (2003) e, do fruto desta união, nascem as minhas netas

Rita e Inês, hoje com 5 anos e 2 anos respectivamente. Uma nova fase da vida começa,

com outras páginas para escrever. E aquela situação, muito distante, que ia acontecendo

aos outros, aparece sem darmos conta e hoje somos avós babados.

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Quando falo em princípios de família, não é retórica, é a realidade de uma vida em que os

ensinamentos dos meus pais, dos meus avós, são assumidos com a responsabilidade e o

dever de os transmitir de lhes darmos continuidade. Desde sempre que o meu princípio

base, independentemente do acompanhamento, do apoio sempre presente e quando

possível aos meus filhos, é a mesa das refeições, ponto fulcral em meu entendimento

numa casa de família.

Ainda hoje com o meu filho Pedro, também já casado (tanto ele como a irmã muito bons

alunos da Escola Inês de Castro), a minha casa abre‐se regularmente e sempre que

queiram para receber os meus filhos. E sentados à mesa, enquanto decorre a refeição,

assisto embebecido às discussões saudáveis sobre os mais variados temas, desde a

religião à política, do desporto às coisas mais triviais do dia‐a‐dia, sobre as suas

preocupações pessoais sobre tudo e nada, sorridente pelas suas diferenças de análise.

As minhas intervenções são o menos possível, ontem mais do que hoje, até pela idade e

independência actual só o faço para algum apaziguamento ou reflexão mais precisa,

sobre o tema em discussão. Sempre sem condicionalismos nas opiniões, olho de soslaio

para minha mulher e com um sorriso no rosto, sinto‐me feliz pelos seres humanos que

ambos ajudamos a formar.

Por altura de 2008 mais uma contrariedade acontece. Após vários exames rigorosos, é

diagnosticado “asma” à minha mulher. Esta situação, aliada à Esferocitose já mencionada

em capítulo anterior, origina de imediato doença profissional com percentagem muito

elevada de incapacidade e a consequente proibição de trabalho que se mantém até hoje.

Com serenidade e o apoio de toda a família no aspecto físico e psicológico, continua

presente em todas as situações necessárias, apesar do rol tipo “menu” do seu boletim

clínico.

Desde que a conheço, tinha por essa altura 16 anos e apesar de muito bonita, tinha um

aspecto frágil atendendo ao problema de Esferocitose. Embora morena tinha, contudo,

uma pequena mancha branca na zona da garganta, mancha que se manteve ao longo dos

anos sem alteração visível. Por coincidência ou não, após extracção da vesícula por

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sistema “laser”, que lhe provocou lesões ao nível do fígado, esta mancha alastra e

desenvolve‐se rapidamente por grande parte do corpo: “Vitiligo”.

Aos 28 anos faz a laqueação das trompas, aos 38 faz uma intervenção nas cartilagens da

articulação (Menisco) de um dos joelhos, posteriormente extracção da vesícula, aos 50

por indicação dos serviços de Hematologia, é marcada uma data para extracção do baço,

cirurgia essa que, após contacto com o cirurgião e por medo das consequências da falta

do baço, acaba por não acontecer, assumindo no entanto a responsabilidade do acto. Por

fim, aos 52, é diagnosticado “Asma”. Esperemos que para currículo clínico se fique por

aqui.

O Desenlace

Em 2005, o país é governando pelo PS de José Sócrates com maioria absoluta. O grande

objectivo da legislatura era a redução do défice público para valores próximos dos 3%,

compromisso assumido com Bruxelas. Portugal sendo um país periférico, sem grandes

fontes de receita, com uma economia pouco modernizada, com baixa produtividade e

com níveis de exportação que nem de perto nem de longe conseguem equilibrar a

balança comercial, teria muita dificuldade em conseguir este objectivo.

O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) é manifestamente baixo, e só com

aumento de impostos será possível aproximar dos valores estabelecidos. Esta medida trás

novas complicações, uma vez que o poder de compra baixa e os mercados da Industria,

Metalomecânica e Construção, iniciam um período de recessão. A crise complementar do

mercado de construção em Espanha já mais avançado, nosso parceiro privilegiado em

trocas comerciais bilaterais, mais agravam o mercado nacional.

Para nós Técnicos Comerciais com produtos muito técnicos e específicos, começamos por

sua vez, a sentir grandes dificuldades de investimentos das empresas.

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Por esta altura, sou contactado por um antigo Director com quem trabalhei, convidando‐

me para uma colaboração para uma área completamente nova para mim.

Confesso que a proposta nada tinha de atractiva. Uma área desconhecida e muito

concorrencial, com o mercado nada favorável, mas por amizade, pelos velhos tempos e

pelo desafio, decido aceitar.

Tratava‐se da Norvil, S.A. uma empresa espanhola, com sede e fábrica em Gijon e

delegação em Lisboa para o mercado português.

Tinha como área de actuação o fardamento profissional. Durante dois anos tentei

colaborar dando o máximo pelo projecto, mas algumas deficiências no sistema comercial,

a pouca penetração de mercado, com os custos provavelmente exagerados da estrutura

em Lisboa, levaram ao desinteresse da Norvil pelo projecto em Portugal.

Aproximava‐se o final de 2008. A crise Internacional, tão propagandeada ao longo do ano

(hoje em velocidade de cruzeiro) agudizava‐se e preparava‐se para assentar arraiais neste

mundo global. Com os mercados em queda ao longo do ano de 2008 e para agravar ainda

mais a situação, surge o escândalo Madoff.

Bernie Madoff, ex‐presidente do Nasdaq, cria um esquema financeiro tipo pirâmide ao

longo de 20 anos (D. Branca já o tinha testado uns anos antes em Portugal), e cria o caos

e a desconfiança no sistema bancário em todo o mundo. Por onde andava a supervisão do

mercado bolsista e bancário do sistema americano? Quando relembro a polémica e a

especulação sobre o BP (Banco de Portugal) em relação ao caso BPN, só apetece rir.

Esta fraude espantosa com proporções épicas (50 mil milhões de Dólares), considerada a

maior fraude de sempre, origina ondas de choque que percorrem o mundo. Só em

Portugal e Espanha, estima‐se perdas de 3 mil milhões de Euros.

Com a crise a varrer o mundo, a desconfiança instalada, os mercados financeiros

especulativos aproveitam lançando o caos, sendo a Europa provavelmente a mais

atingida com o ataque cerrado às economias mais débeis através das suas dívidas

soberanas.

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Com o núcleo duro da Comissão Europeia a fazer que anda mas não anda, com pouca

flexibilidade e a tardar nas medidas conjunturais de apoio aos mais débeis (talvez lhes

interesse a crise), pondo em risco o próprio Euro, a situação vai‐se degradando.

Que o digam a Irlanda (antes tão elogiada), a Grécia, Portugal, Espanha e agora Itália, a

Bélgica que tem escapado talvez por Bruxelas ser o grande centro de decisão.

Com tanta incerteza e desconfiança “O Mundo Pula e Avança”, talvez agora, sem a bola

colorida nas mãos de uma criança.

Em Dezembro sou contactado pelo chefe desde Madrid. Para lá da deselegância, uma

notícia destas merecia no mínimo um contacto directo. Era informado por telefone que a

partir de Janeiro, não seria renovado o contrato que mantinha com a Sulzer, que ano a

ano, ia sendo renovado de forma automática ao longo dos últimos 15 anos.

O seu antecessor, mesmo em período de controlo de custos, teve sempre o cuidado de

defender a representação em Portugal pela importância estratégica que tinha para a

Empresa. No momento da saída, teve a simpatia de se deslocar a Portugal para,

pessoalmente, me informar da saída para outra empresa, agradecer a colaboração e

solicitar uma opinião sobre a indicação do seu sucessor. Logicamente e por

companheirismo, indiquei o senhor que na primeira contrariedade nada faz para me

manter na empresa. Pelo menos, foi com a sensação que fiquei.

Pouco tempo passado, volto a receber a visita do agora ex‐chefe, acompanhado do seu

adjunto, a convidar‐me a representar em Portugal a empresa que dirigia. Por dedicação e

respeito a uma empresa que representava à quase 20 anos e que pensava vir a ser a

minha última referência no mercado de trabalho, recusei amavelmente o convite. Como

fui lírico e ingénuo.

A única informação transmitida, sem qualquer referência ao aspecto profissional, foi a

redução drástica dos efectivos por todos os sectores da empresa e por todos os países

representados, uma vez que a crise internacional apontada para 2009 assim o exigia.

Tinha na altura 55 anos e foi difícil aceitar a justificação. Pensei que um francês com

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tantos anos radicado em Espanha, já deveria ter limado o egoísmo e chauvinismo da sua

natureza. Acredito que perante a crise que se instalava, a empresa deveria tomar

medidas lógicas e racionais, pedindo a redução de custos em todas as sucursais, embora

no meu caso, a solução foi pela forma mais simples e mais fácil. O despedimento.

Eu era um custo indirecto, com os pagamentos a serem feitos em função da facturação

realizada, mediante apresentação de factura e sem mais qualquer tipo de encargo,

acreditando mesmo poder ser dedutível como custo de exploração.

E tão certo estou desta situação, que não é por acaso, que em visita ao Porto por mais de

uma vez, conforme fui informado por clientes amigos, nunca ter tido a honestidade

intelectual ou a hombridade de me contactar para tomar um café e, pessoalmente, tentar

esclarecer a obrigação da medida então tomada. Eu teria o feito.

Inicio o ano de 2009 no desemprego. Foi muito duro, muito difícil de suportar.

Contactado o Centro de Emprego, recebo a notícia que não tinha direito a qualquer

subsídio, uma vez que era trabalhador independente. Perante o que considerava uma

injustiça, depois de conversar com a responsável do centro, alterei a minha forma

colectiva, a única solução que tinha na altura e que acabei por pôr em prática,

plenamente convencido da injustiça da lei.

Durante seis meses enviei dezenas de currículos para tudo que era solicitação. Surgiu uma

oportunidade que aproveitei, independentemente da credibilidade do projecto. Estava

tão focado num trabalho por conta de outrem, que houve pormenores que não tive em

devida conta.

Em resposta a um dos muitos e‐mails enviados, sou contactado por telefone por uma

empresa de Mafra, marcando uma entrevista num determinado restaurante de Leiria.

Como combinado, apresentei‐me ao encontro, uma vez que conhecia razoavelmente bem

a cidade e não foi difícil encontrar o local.

Após as apresentações, foi‐me apresentado as pretensões e a área de trabalho a

desenvolver. Através de catálogo, fui sendo informado pelo meu interlocutor da gama de

produtos a trabalhar. Acertamos pormenores e concordamos iniciar de imediato a

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colaboração, que passava por um pequeno período de experiência, com os trâmites

normais de assinatura de contrato e de toda a restante organização, sendo tratado de

imediato por correio e e‐mail.

Tratava‐se da Tecrane S.A., uma empresa da área da construção sediada em Mafra, no

subsector das gruas e material de elevação. Era contratado para desenvolver o mercado

das Ferramentas Hidráulicas a norte de Coimbra (a partir do zero), informação não

transmitida na entrevista.

Sem grande conhecimento técnico do pormenor, tinha no entanto, por formação, um

conhecimento geral das ferramentas, o que me dava alguma tranquilidade. Nada é mais

preocupante para um Técnico Comercial do que promover e vender um produto que não

conhece.

A Tecrane tinha na sua gama de produtos a representação da Hi‐Force, multinacional

inglesa com sede e fábrica em Northampton, um pouco a norte de Londres.

Uma nova fase se iniciava, com um novo produto cujo mercado andava pela tradicional

indústria e metalomecânica que já conhecia, com incursões na construção.

Rapidamente me fazem chegar listagens de clientes, que cedo concluo serem listagens

pessoais do meu interlocutor, que nada tinha a ver com a ferramenta, já que não tive um

contacto que conhecesse a marca, apesar de a Hi‐Force ser reconhecida a nível

Internacional. Com este panorama, decido investir nas minhas listagens, nos meus

conhecimentos e ganho alguns pontos.

Durante os meses iniciais, os meus contactos com a empresa eram feitos por telefone, e‐

mail e CTT. Tinha sempre do outro lado a mesma voz, uma companheira que não

conhecia mas que foi uma ajuda preciosa, até ao dia que deixou a empresa, sem ter tido a

oportunidade de conhecer.

Dei comigo a pensar no motivo porque ainda não conhecia a empresa e porque desde o

encontro inicial, não voltei a encontrar aquele que, por ventura, seria o chefe, o patrão,

sem nunca o ter assumido.

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As coisas iam acontecendo, os pagamentos entravam em conta, embora de forma

irregular, sendo convidado em Novembro de 2009 a uma visita a Inglaterra, para uma

formação na empresa representada a Hi‐Force. Sabiam da minha dificuldade com o inglês

e como tal iria acompanhado por um jovem que não conhecia mas exímio em Inglês. Com

dificuldade e sem pontos de referência, consegui já no avião descortinar a pessoa que me

iria acompanhar.

Durante uma semana e com grande dificuldade comunicacional, utilizei alguma intuição e

bom senso, solicitando a tradução ao meu companheiro de viagem sempre que tinha

dúvidas. Apesar de todas as dificuldades, só com o conhecimento, experiência e

polivalência adquiridos ao longo da carreira, permitiram‐me conseguir no final o “Training

Certificate”, com um resultado para mim óptimo de 74%, nos três itens em formação,

tendo em conta a grande dificuldade de comunicação.

Sem o apoio necessário mas agora mais confiante na qualidade do produto, fui

desenvolvendo a minha actividade completamente autónomo e com resultados que

considerava satisfatórios.

Em Março de 2011 (21 meses após a entrada) e após mudança de instalações, fui

convidado a visitar a empresa. A desilusão. Dois contentores no cimo de um monte e uma

área envolvente tipo baldio, era a Tecrane (imagino como seria antes). Março e Abril já

não são pagos e, após reclamação, volto a Mafra e rescindo o contrato mediante

pagamento da divida.

42 anos após início de carreira, estou novamente no desemprego. Nunca imaginei que a

minha carreira profissional tivesse este desfecho. Sempre pensei num final tranquilo, com

a passagem de testemunho sem dramas ou contrariedades, com a serenidade do dever

cumprido. Mantenho a esperança em encontrar uma alternativa, que me permita

terminar com dignidade e orgulho, um trajecto de vida que me enobrece, por tudo que

consegui.

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A procura

Tenho 58 anos, felizmente com total disponibilidade física e mental, para desempenhar

bem qualquer oportunidade de trabalho. Sei das qualidades que possuo, mas também sei

que estou na faixa etária dos “velhos” para iniciar um novo projecto e novo para iniciar a

reforma.

Sei que no mercado de trabalho actual, a procura excede em centenas de milhar a oferta,

permitindo observar o despudor das empresas contratantes nos requisitos solicitados

para os lugares quando percorremos os sites da especialidade.

Durante esta primeira fase, tenho focalizado as minhas atenções para a minha área

específica. Alguns contactos com clientes, disponibilizando os meus serviços e

predispondo‐me de forma diplomática para uma colaboração efectiva. Mas a situação das

empresas também não está fácil. Com alguma relutância, vou passando a mensagem

junto de alguns amigos, o sentimento de obrigação inerente, causando‐me algum

desconforto, uma vez que em toda a minha carreira nunca utilizei este caminho. Envio de

cartas de apresentação espontânea com CV é outra das fórmulas utilizadas.

O dia‐a‐dia

Levanto‐me normalmente pelas 7:30H para a primeira tarefa. Recolher as minhas netas

previamente avisado pelo toque do telefone, anunciando a sua chegada. Por acordo com

a minha mulher e pela sua disponibilidade (está com baixa médica por incapacidade à 4

anos), decidimos apoiar a nossa filha ficando com a mais pequena, enquanto a mais velha

está no infantário.

Antes de levar a mais velha ao infantário, o primeiro café da manhã no “tasco” da

esquina, a leitura do jornal, percorrendo a actualidade e os classificados do dia. Organizar

alguma saída prevista ou algum serviço de bricolage em casa, e preparar‐me para o

computador que se vai manter ao longo do dia, são as tarefas que se seguem. A leitura do

e‐mail, com a entrada diária das solicitações de emprego nas empresas de Recursos

Humanos onde estou inscrito e a pesquisa por outras. Segue‐se as respostas às

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solicitações cujos requisitos se enquadrem, não respondendo por responder, avaliando a

possibilidade de ser uma mais‐valia, um valor acrescentado. Com o início do RVCC e a

preparação do PRA, esta permanência em frente ao computador aumentou

significativamente.

Por esta altura, já a minha neta mais nova circula pela casa com seus passos ainda

periclitantes, tentando subir para os meus joelhos a pedir: “vô o Panda o Panda”. São

momentos de descompressão e alegria, podendo acompanhar o crescimento desta nova

geração como um bálsamo para o momento que atravesso.

Cinema

Penso nos anos em que não assisto a uma sessão, uma vez que sou mais um comodista

sedentário de sofá, viciado na televisão que por cá se faz.

Férias nem pensar. Creio que há 15 anos que não sei o que são férias (dois, três dias

pontuais), pois são nos ditos períodos tradicionais que normalmente somos mais

solicitados para pormenores de última hora. Adorava futebol, tanto como praticante quer

como espectador, até com alguns conhecimentos na matéria. Mas aos poucos foi

morrendo a paixão ao perceber a falta de verdade desportiva, das trapaças existentes ao

nível dos dirigente e do comando de jogo.

Dou comigo a pensar se não estou de novo a aprender a viver e a ocupar o tempo, que

antes não dispunha e agora tenho de sobra. Entre todas as contrariedades, vou

recordando o ditado chinês “Se te sentares no caminho, senta‐te de frente…embora

tenhas de ficar de costas para o que já percorreste”. E penso nas minhas princesas (as

minhas netas) e na alegria diária da sua convivência, talvez compensando um pouco a

ausência no crescimento dos meus filhos.

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CNO

RVCC

Sem ter uma ideia objectiva dos resultados do CNO, tinha conhecimento do processo pelo

acompanhamento que procuro fazer de uma forma geral, e por todos os meios

disponíveis, políticos, de âmbito social ou outros, que acontecem no nosso País.

Entrei pela primeira vez na ESIC muito confuso. Mas que raio faço eu com 58 anos num

processo destes. Com a situação do país, com milhares de jovens formados à procura do

primeiro emprego e sem uma oportunidade, que mais valia, que valor acrescentado em

termos profissionais poderia obter. Confesso, fui obrigado pelos processos decorrentes

do Centro de Emprego.

As primeiras sessões explicativas do processo ainda mais complicaram o meu raciocínio,

ao ser confrontado com a necessidade objectiva de desenvolver temas específicos de

vida. Tinha passado os últimos trinta anos a escrever de forma sintética e resumida, todas

as variadíssimas situações decorrentes da minha vida profissional, como iria agora alterar

hábitos enraizados ao longo do tempo.

Após uma leitura rápida do Boletim Paginas do CNO 2011, oferecido pelo coordenador

Prof. Celso na primeira sessão, iniciei o primeiro trabalho de visão reflexiva de vida com

outra postura.

Provavelmente exagerei nos desenvolvimentos. Não sei se fui ao encontro dos objectivos

pretendidos, mas sei que, de alguma forma, dei asas ao pensamento.

Novas Oportunidades “O meu saber conta”, da capa do Boletim ou o lema do Workshop

“Aprender é uma mais‐valia” mencionado no texto da Prof.ª Ana Paula (pág. 7), altera a

minha primeira dúvida psicológica na chegada ao CNO.

Não sei se conseguirei atingir os objectivos propostos e esperados por toda a equipa de

formadores, mas sei que procurarei empenhar‐me e dar o melhor para o conseguir.

À medida que o texto da minha visão de vida ia avançando, não conseguindo controlar a

razão do pensamento e tentando aligeirar o raciocínio, lembrava‐me da minha segunda

dúvida das primeiras sessões e recordei José Régio e o seu Cântico Negro “Não sei para

onde vou, mas sei que não vou por aí”.

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CNO

Resumo

Nasci em 1953, oito anos após o término da 2ª guerra mundial e, ao contrário das

histórias que ouço das pessoas da época e apesar das dificuldades de vida dos meus pais,

não me lembro de alguma vez ter passado fome.

Neste intervalo, o meu pai tinha chegado à Afurada. Começou numa pequena barbearia

desta zona pobre de pesca artesanal e, com as capacidades que demonstrava,

rapidamente passou para a melhor barbearia da zona. Juntamente com um companheiro,

sobrinho do patrão (mais tarde meu padrinho de baptismo), colaborava após a hora

laboral num estabelecimento de café do patrão, servindo às mesas até altas horas da

noite. A minha mãe, sempre mulher de trabalho, que desde pequena trabalhava para

ajudar em casa, trabalhava numa fábrica de conserva com produção sazonal, hoje

desactivada. Eram chamadas pela sirene da fábrica sempre que havia peixe e só saíam

quando o último cabaz fosse tratado.

Passaram os anos e eu nasci. Pelo reconhecimento do trabalho realizado, o patrão do

meu pai decide passar a barbearia para o seu nome e passa a dono. A minha mãe

continuava na fábrica. Não existindo os infantários que há hoje, cresci naquela barbearia

para onde a minha mãe me levava sempre que a sirene anunciava a chegada de peixe.

Abordo este tema, por me considerar desde sempre (apesar das dificuldades da vida),

uma pessoa privilegiada que se vai manter de algum modo até aos dias de hoje. Naquele

pequeno espaço comercial de referência, assisti a tudo um pouco da vida social daquela

gente. Cresci a ouvir as conversas de gente influente, o pároco do lugar, o regedor (sim,

regedor pessoa importante na administração local), os empresários dos barcos de pesca e

tantos outros anónimos que com a sua sabedoria me iam abrindo os horizontes do

conhecimento. A todos ouvia embebecido, agradecendo por permitirem a minha

presença como ouvinte na roda da conversa.

Os anos passaram e inicio a minha vida profissional continuando, de algum modo,

privilegiado. No meu primeiro trabalho recebia o salário à quinzena, ordenado que os

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meus pais nunca fizeram questão que lhes entregasse. Servia para pagar o serviço do

refeitório onde almoçava diariamente, tendo ao lado a grande maioria dos companheiros

que levavam o almoço de casa, para comer após o aquecimento prévio. O remanescente

ficava para as despesas particulares que já existiam na época.

Percorro a minha carreira profissional conforme os capítulos descritos anteriormente e

chego à situação actual. O desemprego.

Até este momento, sempre procurei ter um nível de vida minimamente agradável, para lá

da responsabilidade e do dever do trabalho, sempre pensei desfrutar um pouco das

coisas boas que a vida nos proporciona. A situação hoje é diferente.

Esta nova chegada ao desemprego é, sem dúvida, assustadora. A angústia do Amanhã

está sempre presente a todo o momento. A situação difícil que o país atravessa, com a

economia em recessão trimestre por trimestre, com as taxas de desemprego a

aumentarem assustadoramente e a luz ao fundo do túnel a parecer cada vez mais

distante.

Se pelo lado económico a situação não é fácil, pelo psicológico não é melhor. A tendência

imediata é para uma gestão de recursos mais apertada, procurando dentro do possível

manter um padrão de qualidade minimamente aceitável, conduzindo a um inevitável

isolamento e uma permanência em casa. Habituamo‐nos à rotina que reconheço não ser

benéfica.

Durante longos anos a minha actividade foi muito intensa. A autonomia funcional

aumentava a responsabilidade dos compromissos assumidos, onde os tempos livres eram

poucos e os momentos de lazer pontuais com prejuízo natural para a família.

A vida de Técnico Comercial não é, ao contrário do que parece, nada fácil. O fim‐de‐

semana normalmente utilizado para realizar relatórios, preparar e programar a semana

seguinte, mediante contactos previamente estabelecidos e com marcações confirmadas,

bem como as zonas de visita semanal, procurando reduzir custos para obter o máximo de

rentabilidade nas deslocações.

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No regresso a casa ao final do dia quando o programa o permite, para o jantar em família

e os assuntos do dia‐a‐dia, segue‐se uma pequena análise de resultados e notas para

relatório e a preparação de pormenores para o dia seguinte, são razões que preenchem o

tempo de tal forma, que esquecemos que existe vida para lá do trabalho.

Ao fim de uma carreira de 40 anos, chega o desemprego e tudo se altera, passando a

dispor de mais tempo e inevitavelmente mais sós. Olho para trás e pergunto‐me onde

estará o amigo que encontrava ao final da tarde, no mesmo bar junto à praia, para tomar

uma cerveja. As novas estruturas são, de facto, mais modernos, com um aspecto

excelente, mas o pormenor informal não está lá, faltando a essência enquanto conceito.

Mudam‐se os tempos, mudam‐se as vontades e, recordando Bilbao, penso que

provavelmente eles é que estão correctos.

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Visão Introspectiva

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Sociedade, Tecnologia e CiênciaCultura, Língua e Comunicação

Núcleos de FormaçãoEquipamentos e Sistemas Técnicos

Ambiente e SustentabilidadeSaúde

Gestão e EconomiaTecnologias, Informação e Comunicação

Urbanismo e MobilidadeSaberes Fundamentais

&

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Equipamentos e Sistemas Técnicos

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Electrodomésticos

Conforme descrevi no início da minha visão reflexiva de vida, sou oriundo de uma família

que, apesar das dificuldades inerentes à época, sempre procuraram criar as condições

mínimas exigíveis de conforto para todos nós. Cresci numa pequena casa sem a qualidade

que hoje tão pomposamente designam, sem condições de habitabilidade. Sem água

canalizada (em quantas existia no meu lugar?), com casa de banho exterior, recordo

aquele recanto denominado de cozinha onde, com duas máquinas a petróleo, a minha

mãe preparava as refeições que, a horas e sem falhas, nos apresentava diariamente na

mesa. Tenho ainda, na penumbra das memórias de infância, a minha mãe com bacias de

roupa à cabeça para as lavar num ribeiro que passava perto de casa e, mais tarde, num

tanque público do lugar. Os primeiros grandes confortos da minha mãe foram um

pequeno fogão rectangular de duas ou três bocas a gás, já nem recordo bem, e um

tanque em cimento para não ter que se deslocar. E não, não sou da idade da pedra.

Estávamos nos anos 50.

Desde esta altura e até aos dias de hoje, todos passamos por evoluções extraordinárias.

As novas gerações não têm nem ideia da vida à 50 anos atrás. Vem a propósito da

importância dos electrodomésticos na vida actual.

Electrodomésticos e a vida de hoje

A criação e a invenção dos electrodomésticos foram e são fundamentais na qualidade de

vida e, provavelmente, um dos princípios da emancipação da mulher, sendo impensável

imaginar a vida actual sem eles. Cada equipamento tem a sua função e a sua utilização

específica. A grande alegria da dona de casa enquanto mãe, mulher e profissional, hoje é

ter um pouco mais de tempo para todas estas solicitações que lhe são pedidas e exigidas.

Será que todos já pararam a pensar como eram as mulheres (donas de casa)

antigamente? Eu tenho um pouco essa imagem, verdadeiras escravas do lar, sem tempo

para elas próprias, onde ter uma actividade profissional era impensável, em que o tempo

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era pouco para o trabalho familiar. Hoje temos os electrodomésticos, as coisas estão mais

facilitadas e os sonhos e anseios passam a ser possíveis realizar.

Se dantes se lavava a roupa à mão, o ferro de engomar era a carvão sem possibilidades do

controlo de temperatura, graças à invenção do Homem hoje temos a máquina de lavar, o

ferro de engomar eléctrico, o fogão, o frigorífico, os microondas, que organizaram e

facilitaram a vida e o tempo da mulher. Já lá vai o tempo, não muito distante, onde a

mulher que ainda trabalhava fora e não tinha com quem dividir tarefas (alguns dos

conceitos machistas), acordava cedo para preparar o almoço antes de sair, e era a última

a deitar‐se após preparar o dia seguinte da família.

Hoje ainda temos a televisão dos maiores meios de comunicação do mundo. Sou do

tempo que para assistir a alguns programas de referência para a época, tipo festival da

canção ou poder assistir ao campeonato do mundo de futebol (Inglaterra em 1966),

deslocarmo‐nos a um café da zona, uma vez que a taxa de televisores por habitação era

muito baixa por esta altura. Os electrodomésticos são de facto fundamentais na nossa

qualidade de vida, e facilitou e deu liberdade à mulher.

Máquina de Lavar Roupa

Basicamente é uma máquina projectada para limpeza de roupas, é um equipamento que

usa água como meio principal de limpeza. Consiste num recipiente (tambor) que se enche

de água e através de um sistema electromecânico de movimento, agita e processa a

lavagem. Somente a partir da popularização do motor eléctrico, no início do século XX, se

conseguiu uma máquina que funcionasse eficientemente. As máquinas contemporâneas

são fabricadas em dois modelos básicos, com abertura superior mais usuais na América e

Austrália, e as de abertura frontal mais usuais na Europa.

As grandes diferenças estão no eixo do tambor, vertical ou horizontal e com porta

estanque e visor de vidro. Ambos os modelos têm a capacidade de lavar

automaticamente, impulsionados por um motor eléctrico, executando ciclos de lavagem,

enxaguamento, centrifugação, e pré‐programados de acordo com o tipo de roupa.

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Componentes electrónicos digitais controlam a lavagem. Ligadas a um ponto de energia

eléctrica, um ponto de entrada de água e uma saída para a água utilizada, com um

selector programável de tempo e depósito de sabão e amaciador, trabalha sem

supervisão. Os novos modelos, já com comando à distância, permitem a sua utilização

através de rede de computador e o controlo pela Internet.

Recomendações

A máquina de lavar roupa é um dos mais importantes electrodomésticos utilizados nas

casas de todos nós, sendo por isso, importante fazer uma escolha sensata na compra.

Como tal, devemos optar por equipamentos de classe A+++, A++, ou A+. É importante

considerar o número de pessoas do agregado familiar, a existência de crianças, ter

atenção por actividades que exijam (mais lavagens e com programas específicos), a

frequência das lavagens (diária ou semanal) entre outros. As maiores capacidades

implicam, gastos mais elevados de água e energia, o que constitui um desperdício. Os

aparelhos mais eficientes apresentam características técnicas que garantem bom

funcionamento e, ao mesmo tempo, reduzem o consumo energético e o impacto

ambiental.

Etiquetas

O objectivo da etiqueta é de informar os consumidores sobre a capacidade do

electrodoméstico e orientá‐lo a fazer uma boa compra consoante as necessidades. Trata‐

se de um rótulo com informações sobre a eficiência energética de um equipamento, que

contém ainda informações adicionais sobre consumos, ruído, rendimento ou capacidade.

A etiqueta energética possui sete classes de eficiência a Classe “A” é a mais eficiente, e a

classe “G” a menos eficiente. Existem mais duas classes suplementares de eficiência

superior (A+ e A++), sendo a A++ a classe mais eficiente. Os resultados obtidos são redução

do consumo de energia e a contribuição para um ambiente melhor. A relação de

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eficiência, entre as opções disponíveis, pode passar de <30% para as “A++” e> 125% para a

“G”.

Manutenção

Leia o manual de instruções do aparelho, onde encontramos as informações que nos

ajudam a optimizar a sua utilização. Não tente reparar situações para as quais não está

habilitado. Pela minha formação de base, a primeira abordagem a qualquer problema

funcional sou eu que a faço. No entanto, sempre que o problema ultrapassa os limites do

meu conhecimento, contacto, como é natural, a assistência técnica, situação prevista ao

nível do certificado de garantia, a que normalmente ninguém liga, mas que é

fundamental no relacionamento comercial, e na rentabilidade e eficiência do

investimento.

Em caso de dúvida temos sempre o recurso para a defesa do consumidor “DECO”.

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Metalurgia

Ciência que estuda a estrutura, a composição as características as propriedades e gere os

metais, desde a sua extracção do subsolo até sua transformação em produtos adequados

ao uso. Metalurgia designa um conjunto de procedimentos e técnicas para extracção,

fabrico, fundição e tratamento dos metais e suas ligas.

Desde muito cedo, o Homem aproveitou os metais para fabrico de utensílios. Os

primeiros altos‐fornos apareceram no século Xlll. A indústria metalúrgica teve novo

impulso no século XVlll com a revolução industrial. Passando um pouco ao lado da

história, desde a idade do chumbo, cobre, bronze e todos outros metais e ligas,

procurarei resumir, direccionando esta reflexão para o ferro e o aço nos seus momentos

evolutivos até aos dias de hoje.

A partir 1885 com o ferro já bem implantado nos materiais de construção, o alumínio

torna‐se importante no desenvolvimento industrial da civilização. Neste período (1885‐

1957) assistiu‐se também à introdução nos processos metalúrgicos de sistemas de

produção de aço.

Nos últimos 80 anos tem‐se apostado na produção de ligas e superligas metálicas, cujo

resultado nos dá uma melhoria nas propriedades. Isto em função das aplicações cada vez

mais exigentes que nos rodeiam. No entanto a consequência do desenvolvimento da

ciência e engenharia metalúrgica não é apenas a implementação de novos metais, mas

também a introdução de novas técnicas de superfícies (tratamentos superficiais) por

laser, nitruração iónica, CVD (deposição química a vapor), PVD (deposição física a vapor)

que alteram as suas propriedades, como é o caso da resistência ao desgaste, à corrosão e

à oxidação mas não alteram significativamente o seu custo de fabrico.

Muitos destes metais influenciaram tanto o modo de vida das populações como se

tornaram indispensáveis ao funcionamento das sociedades modernas. Há, porém, que ter

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em conta a selecção racional dos materiais e o modo de processamento tecnológico que

deverá ser económico quer em custos, quer em tempo, não esquecendo o aspecto

ambiental que envolve todo o processo de reciclagem ou de incineração tanto dos

resíduos industriais, como dos produtos já usados. Pois é destas precauções, em grande

parte, que depende o nosso futuro… e o futuro da história da metalurgia.

Metalomecânica

Incorpora todos os segmentos responsáveis pela transformação de metais nos produtos

desejados, desde a produção de bens até serviços intermediários, incluindo máquinas,

equipamentos, veículos e materiais de transporte.

Engloba ainda o estudo das propriedades dos materiais utilizados, o seu projecto e

selecção, e ainda fenómenos de resistência destes como a fadiga, a deformação ou o

atrito.

Metalização

Uma das técnicas introduzidas para tratamentos superficiais como atrás mencionei é a

metalização.

A metalização constitui uma das técnicas mais modernas e versáteis para prevenir o

desgaste e a corrosão, recuperar peças já desgastadas e defeituosas repondo as medidas

de origem desde pequenos componentes a grandes estruturas metálicas.

Consiste na deposição de um metal na superfície de qualquer material. Em sentido

amplo, a metalização compreende todos os procedimentos (e são vários) de tratamento

de superfície que têm como objectivo a deposição de uma camada metálica destinada a

proteger todo o tipo de desgaste (abrasivo, corrosivo, fadiga superficial, erosivo,

cavitação, etc.) e a melhorar as propriedades superficiais (dureza, porosidade, tensões

residuais, etc.), podemos metalizar tanto em superfícies electricamente condutoras

(metais) como em dieléctricas (vidro, papel, plástico etc.).

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Equipamento descrição

De forma a transmitir uma ideia o mais preciso sobre a projecção térmica optei pela

descrição da pistola de combustão a gás com alimentação por arame, o sistema mais

simples do processo mas que traduz de alguma forma os princípios básicos da

metalização por projecção térmica.

A pistola de metalizar

É sem dúvida o elemento mais importante do sistema. O instrumento onde tem lugar a

fusão e projecção do metal. É dividida em três partes:

Válvula da cabeça de gases – controla o fluxo de ar comprimido e gases tanto `a cabeça

como à turbina.

Turbina – regula a velocidade de alimentação e avanço do arame.

Controlo de alimentação – consiste no avanço ou paragem do movimento do arame.

Equipamento auxiliar

Para um funcionamento perfeito são necessários equipamentos auxiliares. Compressor

de ar comprimido, unidade de controlo de pressão e limpeza do ar, caudalímetro de ar e

gases para controlo de caudais pré determinado por parâmetros estabelecidos, e

conjuntos de mangueiras de interligação entre os diversos componentes.

A pistola standard, está preparada para utilizar arames de 1/8” (3,17mm) e acetileno

como gás combustível. Existem acessórios para todos os calibres desde 3/16” (4,7mm)

até menos de 1mm. A fusão e atomização do material tem lugar na cabeça de gases em

(alumínio forjado) que pode ser adaptado para utilizar qualquer gás combustível, que

contem uma boquilha com um orifício central e uns orifícios mais pequenos dispostos

anular mente ao redor do mesmo. A mistura oxiacetilénica sai pelos orifícios pequenos,

inflamam‐se mediante uma chispa e forma‐se uma chama contínua. O arame avança com

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velocidade uniforme através do orifício central da boquilha. A chama faz a fusão, aí,

incide um jorro de ar comprimido que o atomiza, criando um fino conjunto de partículas

projectando‐as ao exterior.

O transporte. As partículas dispersadas são aceleradas pelo jorro de ar comprimido e

chegam à superfície a metalizar em estado pastoso ou semi‐fundido, nestas condições as

partículas sofrem uma oxidação superficial devido ao contacto com o ar, situação que

devemos minimizar o mais possível limitando a distância de projecção.

Formação do enchimento. Ao chocar com a superfície a recobrir, as partículas adquirem

uma forma plana e aderem. As partículas que chegam em continuação apresentam as

mesmas formas e unem‐se às já aderidas por coesão formando uma camada sobre a

superfície a tratar ou recuperar.

A velocidade de alimentação controlada do arame flutua entre (457mm/minuto)

utilizando engrenagens normais até aproximadamente (13.716mm/minuto) com

engrenagens especiais de alta velocidade, facilmente instaláveis. As engrenagens de alta

velocidade, utilizam‐se para a projecção contínua, de materiais de baixo ponto de fusão

tais como metal anti‐friccção, estanho e zinco.

Esta pistola desenhada especificamente para operação manual, pode com a utilização de

uma barra simples e sólida, fixar à porta ferramentas do carro do torno mecânico e

funcionar em semi‐automático.

Metalização por Projecção Térmica

A metalização por projecção consiste em acrescentar partículas metálicas em estado

fundido a uma superfície, metálica ou não, mediante uma pistola que denominaremos

metalizadora. Neste processo as partículas têm mais de 10 mícron de diâmetro.

Normalmente, este sistema é conhecido pelo método empregado, sendo frequentes as

expressões “flame‐spray”, “arc‐spray”, “plasma‐spray” “ (HVOF) combustão de gases a

alta velocidade”. Em alguns casos, a camada projectada é fundida posteriormente sobre a

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superfície, conhecendo‐se este processo por “projecção‐fusão” ou “sinteterizado

superficial”.

As partículas do material utilizado são levadas em todos os casos ao estado plástico e

aceleradas até à superfície que se pretende recobrir. Estas partículas, ao chegar à dita

superfície, aderem às irregularidades da base (previamente preparada) e cedem sua

energia (cinética e térmica) a toda a zona, provocando micro soldadura neste momento,

junto com a coesão intermolecular produz forças de aderência superiores em alguns

casos a 80 N/mm2. No caso dos sinteterizados superficiais, consegue‐se a união

metalúrgica entre o material de enchimento e a base.

É de destacar que nestes processos (excepto nos sinteterizados) o enchimento se efectua

“a frio”, que em termos metalúrgicos não ultrapassa os 150ºC na maioria dos casos, o que

evita deformações e alterações de estrutura na peça.

Qualidade dos enchimentos

A qualidade e as características dos enchimentos que se obtêm por projecção de ligas

micro pulverizadas dependem de vários factores como:

‐ A natureza e a preparação da base

‐ A natureza do material de enchimento

‐ O sistema empregado para o efeito

A combinação de todos eles é o que faz que um enchimento seja apto para o fim a que se

destina. As tensões produzidas no esfriamento das partículas projectadas diminuem as

forças de aderência. Existem materiais onde é necessário limitar a espessura do

enchimento.

Estrutura e características do enchimento

A estrutura do enchimento, para um determinado material, depende do processo de

projecção empregado. Nos processos onde se utilizam gases, como oxigénio ou ar, e

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efectuando o enchimento em atmosfera ambiente, formam‐se óxidos que passam para a

camada projectada.

Com os processos mais usuais (spray com arco, gás ou plasma) em maior ou menor

medida existem estes óxidos, que desaparecem no caso da projecção por plasma em

câmara de vazio.

Os enchimentos obtidos por projecção são micro porosos, a macro dureza medida é

inferior à do material original que a constitui. De qualquer modo, a micro dureza das

partículas se mantêm e os óxidos fazem que os enchimentos tenham boas características

de resistência ao desgaste. A quantidade de poros depende, igualmente, do sistema

empregado, sedo o plasma spray o que dá camadas mais densas.

Métodos de projecção

Combustão (arame ou pó);

Arco‐Eléctrico (arame);

Plasma (arco não transferido);

Projecção em atmosfera controlada (plasma em vazio);

HVOF Combustão de gases a alta velocidade (pó);

Sinteterizado superficial.

Combustão

Em este processo utiliza‐se um arame como material de enchimento, como fonte de

energia um gás combustível (usualmente acetileno, propano ou gás natural). Pode ser

utilizado para qualquer material cujo ponto de fusão esteja por baixo de 2.750ºC. Utiliza‐

se com metais ou ligas assim como cerâmicas em forma de pó ou arame.

Arco‐Eléctrico

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Em este sistema se utilizam dois arames consumíveis entre eles se faz saltar um arco

eléctrico (arco‐voltaico) de 18 a 40 V (d.d.p.) diferença de potencial. A energia produzida

funde os extremos dos arames, e um gás atomizado neste caso ar comprimido, se

projecta sobre a zona do arco produzindo o arraste das partículas do metal fundido até à

peça a recobrir.

O equipamento consta de uma fonte de energia, uma unidade de controlo de arame,

outra de controlo de ar e a pistola metalizadora.

Plasma (arco não transferido)

É o método mais moderno de projecção assim como o de mais alta energia que se fabrica.

Consiste este método em produzir um arco eléctrico através do qual se faz passar um gás

(árgon, hélio, nitrogénio, hidrogénio, etc.) que, devido à alta temperatura produzida se

ioniza e sai projectado até à peça a recobrir a velocidades que podem alcançar os 2 mach

(duas vezes a velocidade do som / 2x340 m/s).

À saída da pistola se injecta o material pretendido em forma de pó muito fino, que é

arrastado pelo plasma, a sua temperatura eleva‐se muito por cima do seu ponto de fusão.

Ao poder conseguir as mais altas temperaturas, com este sistema podem‐se utilizar para

a projecção materiais de muito alto ponto de fusão, e as características dos enchimentos

são superiores a qualquer outro sistema.

O equipamento de plasma‐spray é formado por uma unidade de energia, uma unidade de

comando e controlo, um alimentador de pó, um intercambia dor de calor para

refrigeração e a pistola de projecção. Obtêm‐se por este sistema velocidades de partícula

de 2 mach e temperaturas na ordem dos 18.000ºC.

HVOF

Este novo sistema de projecção térmica por combustão de gases a alta velocidade, utiliza

o controlo e grande energia cinética das partículas de uma forma eficaz para produzir

enchimentos muito duros e com baixa porosidade que apresentam uma grande força de

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aderência e superfícies extremamente lisas. Conseguem‐se enchimentos com tensões

residuais muito baixas, em espessuras que não são possíveis normalmente com outros

processos de projecção térmica.

Este processo utiliza uma mistura de oxigénio/propileno, oxigénio/propano ou

oxigénio/hidrogénio, para produzir enchimentos de alta qualidade. Com as partículas

impactando sobre a superfície a recobrir, a velocidade supersónica e temperaturas de

combustão da ordem de 2.760ºC, as camadas projectadas têm umas características de

qualidade nunca alcançadas anteriormente.

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Equipamento / Assistência Técnica

A minha actividade profissional decorre, em grande parte, do pressuposto da

manutenção ou assistência técnica. Embora sejamos levados a pensar numa similitude de

acção, há, porém, algumas diferenças nas acções a desenvolver.

A minha formação técnica de base foi a electricidade como área principal, com alguns

conhecimentos na área da mecânica. Um curso técnico, tirado nos anos 60 nas antigas

escolas industriais e comerciais de boa memória, onde se preparavam técnicos para o

mercado de trabalho nas diversas áreas da indústria nacional. Recordo que uns anos mais

tarde, já em plena actividade profissional, um antigo chefe de grande qualidade técnica,

me comentava. “Sabes José, vai chegar um tempo que vamos precisar de um bom

electricista, e terá de ser importado de Espanha”. Não viveremos já estas situações?

Iniciei a minha actividade profissional precisamente pela manutenção industrial, numa

empresa com um grande parque de máquinas e de grande diversidade operacional. Esta

foi realmente a grande escola, pela diversidade, formação, aprendizagem, práticas e

conhecimento. A manutenção é na prática o conjunto de acções técnicas destinadas a

manter ou recolocar em linha, um equipamento em estado funcional para o qual foi

requerido. Desde sempre a primeira intervenção de assistência técnica em minha casa

para qualquer electrodoméstico, ou problema eléctrico, é feita por mim.

Nesta altura, as empresas mais antigas ainda não estavam devidamente preparadas com

a divisão sectorial ou individual das protecções de segurança. A reparação de algumas

máquinas, colocadas em linha de alimentação conjunta, obrigava a um trabalho muitas

vezes em carga eléctrica, para minimizar os períodos de paragem, aumentando os riscos

de manuseamento técnico. A produção foi e é, o ponto fulcral do desenvolvimento das

empresas, originando nesta época, reparações ao final de semana, para evitar tempos de

paragem.

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Durante vários anos segui esta área, que me proporcionou os conhecimentos válidos,

para o desempenho de outras funções futuras. A assistência técnica interpreto como a

transferência de conhecimento sobre o equipamento, ou produto, em combinação com

factores de produção tendo como objectivo assegurar um maior conhecimento dos

utilizadores, uma maior rentabilidade de processos, aplicações de materiais e serviços.

Tudo isto em paralelo com a montagem, manutenção, reparação, quando era caso disso.

Em actividade sempre tive como grande orientação comercial, a forma de estar e

argumento de vendas a disponibilidade total para, em “in loco” prestar todo o apoio

técnico indispensável, tanto no aspecto de selecção de produtos, como na forma de

utilização ou na reparação imediata. Estava sempre subjacente o bom funcionamento do

equipamento e a rentabilidade esperada deste, no normal funcionamento da empresa.

Logicamente que, para atingir estes pressupostos, indicava a necessidade de manter um

stock permanente, um kit mínimo das peças mais susceptíveis de deformação ou avaria,

para fazer face a essa ocorrência.

Por consequência, a minha vida durante os últimos 20 anos foi rica em viagens de

montagem, reparação e assistência, usufruindo do respeito e consideração dos clientes,

que em termos de igualdade de mercado, não trocavam o certo pelo desconhecido. Foi,

pois, um tempo de conhecimento enriquecedor, tanto profissional como cultural, em

Portugal ou em Espanha, para onde era solicitado com frequência.

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Ambiente e Sustentabilidade

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Eficiência Energética

Cada um de nós pode e deve contribuir para um mundo mais sustentável. Podemos fazê‐

lo aplicando três simples princípios aos nossos hábitos.

Adaptando medidas de eficiência energética tanto na estrutura da casa, como na

utilização de equipamentos.

Seleccionar os equipamentos eléctricos, considerando os consumos.

Utilizando os equipamentos de forma racional.

Todos devemos contribuir para aumentar a eficiência através de pequenos gestos. O

esgotamento das reservas fósseis, a pressão económica e as preocupações ambientais,

tornam a eficiência energética como uma das soluções para equilibrar o consumo e

ajudar a combater as alterações climáticas. Por isso, à que alterar comportamentos

através de pequenos gestos do dia‐a‐dia. Assim será possível contribuir para a redução de

emissões de gases com efeito de estufa, para a redução da dependência de combustíveis

fósseis e também a diminuição da factura de energia.

Pequenos gestos podem contribuir para uma melhoria ambiental, cada vez mais

degradado. A utilização de torneiras reguladoras do fluxo de água é simples e reduz o

caudal e estimula a poupança. O mesmo se passa com o autoclismo, utilizando

dispositivos de dupla descarga. E que dizer daquela luz que normalmente por hábito

deixamos acesa, que com um simples gesto podemos apagar. E tantas outras coisas como

lâmpadas de baixo consumo hoje até disponíveis para troca, organizar e racionalizar a

utilização da máquina de lavar, o electrodoméstico de excelência no consumo médio da

água de casa. Apesar de pequenos, os novos apartamentos têm sempre um espaço para

os resíduos domésticos e assim estimular a separação. São exemplos simples de

pequenos gestos, que com o hábito se tornam rotina, a bem do ambiente e da nossa

qualidade de vida.

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A integração de energias renováveis nos novos edifícios é um desafio para o qual o

objectivo é conceber um edifício eficiente, que permita a incorporação de um sistema

que capte a energia disponível e a transforme numa fonte de energia que seja útil para o

edifício. A estimativa de horas de sol disponíveis por ano em Portugal é por demais

evidente.

Edifício Eficiente

As características de construção dos edifícios têm uma influência determinante nas

condições de conforto interior. Um edifício construído sem ter em conta as condições

climatéricas do local, não poderá ser considerado um edifício eficiente na utilização de

energia para proporcionar conforto entre os seus moradores. A consequência directa

desta abordagem é a elevada incidência dos custos de aquecimento e de ar condicionado

nas despesas familiares.

Uma variável de grande relevância para os edifícios é a radiação solar, dependente da

orientação do edifício. A capacidade que um edifício tem de captar a radiação solar nos

períodos em que existe uma maior necessidade de energia (isto é, no inverno), e de ter a

menor superfície exposta à luz do sol quando existe a necessidade de dissipar o calor (isto

é, no verão), determina o grau de conforto oferecido aos moradores e os consequentes

gastos com energia em climatização, aquecimento ou arrefecimento.

Regra geral, é preferível que a orientação solar Este / Oeste seja reduzida. Estas duas

orientações, irradiadas principalmente durante o verão são muito difíceis de controlar, já

que permite irradiação quase perpendicular às janelas. Para combater o frio do inverno é

aconselhável reduzir as paredes e janelas viradas a norte, e aumentar as orientadas a sul,

porque as paredes e janelas viradas a sul são mais fáceis de proteger durante o verão.

A envolvência do edifício no consumo de energia tem a ver com as características

principais da inércia térmica dos materiais utilizados e o seu poder isolante. Limitam a

transferência entre o interior e o exterior. Um edifício mal isolado acarreta maiores

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custos com a climatização, mais energia no inverno, aquece mais no verão e diminuir

perdas e ganhos de calor é importante. No isolamento envolvente, 25% das perdas de

calor tem origem nas janelas. As janelas com vidro duplo têm maior capacidade de

isolamento do que com vidros simples. Injectar borracha de silicone nas fissuras ou tiras

vedantes nas juntas é uma técnica eficiente de controlo.

Uma casa orientada a sul minimiza consideravelmente as necessidades de aquecimento

durante o inverno. Durante o verão é necessário impedir o sol de incidir nas janelas

viradas a sul. Devemos utilizar protecções exteriores. O lado norte das casas deve ser

reservado às casas de banho, arrumos ou outras situações que não necessitem de

aberturas para o exterior. É nesta orientação que acontecem as grandes perdas térmicas.

Fachadas envidraçadas originam ganhos e perdas consoante as estações. A área

envidraçada de uma divisão não deve ultrapassar 15% da área de pavimento. A luz

natural é importante. Electrodomésticos de classe A, mais eficiente no consumo de

energia. As cores das fachadas exteriores, cores brancas (claras) absorvem 25% do calor,

cores escuras absorvem até 90%.

A produção de energia pelos próprios consumidores (Micro geração), utilizando

equipamentos de pequena escala. Em edifícios com espaços exteriores disponíveis, tem

duas vertentes, aproveitamento para áreas específicas e ainda o reenvio para a rede geral

a preços vantajosos. Utilização de colectores solares, captar energia solar e transformar

em calor equivale a uma poupança de 70% de energia. Converter a energia solar em foto

voltaico (electricidade) e direccionar para consumo específico, origina mais poupança.

Criar contentores no exterior adequado à separação de resíduos domésticos.

A imaginação é fértil, as novas tecnologias permitem quase tudo e o ambiente agradece.

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Energia Renovável

Definir energia não é fácil. Vamos considerar que energia associa‐se geralmente à

capacidade de produzir um trabalho ou realizar uma acção, em princípio, qualquer ente

que esteja a trabalhar: a mover outro objecto, a deformá‐lo ou a faze‐lo ser percorrido

por uma corrente eléctrica, está a “gastar” parte da sua energia, transferindo‐a ao

sistema sobre o qual trabalha.

A energia renovável é mais fácil de definir, sendo toda aquela que é proveniente de

recursos naturais, que são renováveis quando naturalmente reabastecidos. Exemplos:

Energia Solar ‐ sol;

Energia Eólica ‐ vento;

Energia Hídrica ‐ rios;

Energia das Ondas ‐ mar;

Energia de Biomassa ‐ matéria orgânica;

Energia Nuclear ‐ urânio;

As fontes de energia podem ser divididas em dois grupos principais: permanentes

(renováveis) e fosseis ou temporárias (não‐renováveis).

Nas não‐renováveis, não é possível repor o que consumimos, conduzindo inevitavelmente

à sua extinção. São exemplo o petróleo, gás natural e carvão. Segundo estudos científicos

as reservas de petróleo terminarão dentro de 40 anos.

Energia Solar

Qualquer tipo de captação de energia luminosa (e, em certo sentido, da energia térmica)

proveniente do sol e posterior transformação, seja para utilização de aquecimento

directo de água ou, ainda, como energia eléctrica ou mecânica. Através de painéis

solares, estes transformam a energia do sol em térmica (aquecimento) ou foto voltaica

(eléctrica).

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Energia Eólica

A energia eólica é a transformação da energia cinética do vento em energia eléctrica. A

energia do vento tem sido aproveitada desde a antiguidade. Servia para mover barcos

impulsionados por velas, para mover moinhos, noras para aproveitamento de águas para

rega e alimentação e, nos tempos modernos, para mover Aerogeradores (turbinas) para

produzir electricidade.

Este novo campo de aproveitamento cinético precisa de agrupamentos em parques

(eólicos) específicos, para que a produção de energia seja rentável. A energia eólica deve

ser considerada uma das mais promissoras fontes naturais de energia, principalmente

porque é renovável, ou seja não se esgota, limpa, existe por todo o lado, e, se utilizada

para substituir fontes de combustíveis fosseis, ajuda e muito na redução de efeitos de

estufa.

Portugal está dentro dos 10 produtores mundiais de energia eólica, o que o torna um dos

maiores produtores de energia eólica. Esta fonte de energia alternativa é uma aposta no

futuro e na sustentabilidade energética a nível nacional, e porventura mundial, sendo

estratégico para o desenvolvimento do país.

A energia produzida por este sistema é introduzida na rede de distribuição nacional (EDP),

que por sua vez, aproveitando períodos mortos de consumo ou excessos de produção,

utilizam parte desta para aplicar em electrobombas, que reenviam as águas utilizadas nas

barragens hidroeléctricas de novo para montante, ou seja, a sua bacia hídrica.

Este processo já é utilizado também, por exemplo, nas eclusas do rio Douro e faz parte da

sua navegabilidade junto às barragens. E cada vez mais este processo será intensificado,

tendo em consideração as transformações ambientais em curso devidos aos efeitos de

estufa, com menos precipitação de chuva em toda a bacia hidrográfica e, em simultâneo,

aos cortes de caudais nos rios internacionais feitos em Espanha, que são a fonte principal

do nosso sistema hidroeléctrico. Nada se perde, tudo se transforma.

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Energia Hidroeléctrica

Em Portugal existe o que é denominado por Rede Eléctrica Nacional, que através de

conexões entre si, abastecem a totalidade do país. Na actualidade, estimula‐se o aumento

de produção de energia eléctrica a partir das hídricas, e em particular das mini hídricas,

porque também é renovável, mais rentável e, consequentemente, reduz o efeito de

estufa originado por outras formas de produção de energia.

Actualmente o sector mini hídrico passa por alguma expansão. É baseado essencialmente

em aproveitamentos de fios de água, em que os seus impactos ambientais não são tão

significativos, relativamente às grandes hídricas. Sem grande poder de regulação de

caudal, são no entanto assim denominadas por não exceder os 10 kw de potência

produzida.

O sistema de aproveitamento hidroeléctrico consiste na retenção da água do rio numa

albufeira através de uma barragem criada para o efeito, que permite assim, controlar os

caudais necessários através de comportas. Por um lado temos o impacto ambiental a

jusante, que é necessário preservar em função da fauna e flora e, em simultâneo, a

actividade económica das populações adjacentes. Por outro lado, temos o

armazenamento de água, que serve em algumas situações (após tratamento) também

para o consumo através da rede pública.

Temos como exemplo a Central de Captação Douro / Paiva, situada na albufeira da

barragem Crestuma/Lever em V.N. de Gaia, que abastece com grande qualidade o Porto e

toda a área metropolitana. Outra função muito importante, em termos económicos e

ambientais, é o controlo de caudal dos rios, que em momentos de excessos de água

(inverno) conduziam às catástrofes regulares das cheias, pondo em risco os bens e a

propriedade das gentes ribeirinhas. Mas a razão principal da concepção das barragens, é

sem dúvida, a produção de energia eléctrica.

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A energia hídrica é obtida a partir dos fluxos da massa de água, que aproveita o desnível

existente, entre a albufeira e a central produtora, para transformar uma energia

mecânica originada através das pás das turbinas hidráulicas, para interligado a um

gerador eléctrico, transformar esta em energia eléctrica. Para a continuidade rentável do

processo, é necessário manter reservas de água suficiente, principalmente no período

seco (verão). A energia assim produzida chama‐se potência (P) e é medida em Watt (W).

Como as potências fornecidas são muito elevadas, utilizamos um múltiplo, o Quilowatt

(KW), para simplificar a unidade de transporte. Uma das dificuldades deste

aproveitamento energético, é a distribuição, o transporte a longas distâncias pelas linhas

ditas de (alta tensão), que observamos nos céus de Portugal.

Em electricidade, a potência depende da tensão em Volt (U) que é capaz de fornecer, e

pela intensidade de corrente em Amperes (I) que distribui. Quando a energia eléctrica

atravessa um condutor, liberta mais ou menos calor (efeito de Joule), em função do valor

da intensidade de corrente transportada e da resistência (Ohm ‐ Ω) do condutor maior ou

menor (diâmetro, secção).

O ideal seria o transporte em cabos grossos com menos resistência eléctrica, mas como é

tecnicamente impossível, o mais correcto é o transporte a tensões elevadas que podem

atingir os 400 KV. Convêm salientar, que a energia produzida pelos geradores é

relativamente baixa, é elevada posteriormente por transformação para fins de

transporte, e é rebaixada de novo para utilização doméstica ou industrial, para valores de

220/380 V.

Energia das ondas

A energia das ondas provém do aproveitamento das ondas do mar. É um sistema que

ainda não está comercializado, devido a aspectos técnicos e de rentabilidade do processo.

Os primeiros testes aconteceram ao largo da Póvoa de Varzim á cerca de 7 anos,

provavelmente sem os resultados esperados, para uma exploração rentável. Sei que

novos testes realizados posteriormente com resultados muito satisfatórios foram

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realizados por uma grande empresa Metalomecânica de um grupo conceituado

português, que aguarda a constituição de “consórcio” para aperfeiçoamento e possível

produção industrial. Esta empresa já é conceituada na área da energia eólica. Em Portugal

temos um sistema similar em actividade. Trata‐se de um processo de origem costeira que

utiliza os movimentos das marés e está situado na ilha do Pico, nos Açores.

Energia Biomassa

Embora a energia produzida seja proveniente da vida vegetal, a biomassa pode ser

considerada um recurso natural renovável. O processo passa pelo aproveitamento de

resíduos de matéria orgânica existente no ecossistema, facilmente renovável. Tem ainda

uma componente ambiental, pois permite a eliminação através da queima, dos resíduos

vegetais existentes.

A energia biomassa um processo recente em Portugal de aproveitamento energético, tem

principalmente a sua grande utilização no interior de zonas fabris no sector da celulose.

Os custos de produção são relativamente baixos, permitindo às empresas o

aproveitamento do descasque do eucalipto, principal matéria de produção da pasta de

papel, aos quais junta os resíduos vegetais da zona de implantação fabril, que para ali são

canalizados. A energia produzida através do vapor (turbinas de vapor), conseguido com a

queima destes produtos, permite de imediato uma utilização directa no consumo de

alguns sectores da própria unidade, sendo os excedentes incorporados na rede nacional.

Em termos económicos é altamente rentável para os promotores.

Energia Geotérmica

É a energia obtida a partir do calor proveniente da terra, mais precisamente do seu

interior. O calor da terra existe em toda a parte por baixo da “crosta” terrestre. Em alguns

sítios está mais perto da superfície do que outra, o que torna mais fácil o seu

aproveitamento. A energia geotérmica tem muitas aplicações práticas, desde

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aquecimento a habitações, piscinas, estufas (agricultura) e produção de energia eléctrica.

Poderá ser uma energia de futuro, limpa e pouco poluente.

A terra é formada por grandes placas, que nos mantém isolados do seu interior no qual se

encontra o magma, que basicamente podemos definir por rocha em estado de fusão.

Quanto maior é a profundidade onde se encontra, maior é a sua temperatura. Sabemos

da existência de nascentes de água quente. Quem nunca ouviu falar do célebre cozido das

furnas nos Açores, onde os produtos são cozinhados em pequenos poços no interior da

terra. Em Portugal, já existe uma moderna central Geotérmica na ilha de S. Miguel e outra

em construção na ilha Terceira, ambas nos Açores. Por coincidência ou não, a situação

geofísica dos Açores, é de perigo permanente com a possibilidade sísmica.

Energia Nuclear

A energia nuclear considerada também renovável, pela não utilização de combustível

proveniente de produtos fósseis, é cada vez mais controversa, após o acidente de

Chernobyl e, mais recentemente, no Japão. A produção eléctrica é conseguida através da

fusão nuclear do urânio, para produção de vapor de água que turbogeradores

transformam em energia. Apesar da energia limpa conseguida, tem a grande

desvantagem da radioactividade. Os resíduos radioactivos produzidos são muito difíceis

de eliminar, originam armazenamentos de muita longevidade, sendo sempre possíveis

acidentes graves em termos ambientais.

Apesar da profusão de centrais por todo o mundo, as populações sentem medo e a

tendência será possivelmente para a desactivação, até se encontrar sistemas de tal forma

eficientes, que eliminem o perigo radioactivo.

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Reciclagem

A reciclagem é a forma como designamos o reaproveitamento de materiais como

matéria‐prima para um novo produto. Acrescentaria ainda que o âmbito da reciclagem

será mais abrangente, tendo em conta a preservação do ambiente, como a contaminação

dos solos e da água.

A reciclagem ganhou visibilidade a partir do final da década de 80, a propósito do

esgotamento de matérias‐primas não renováveis como o petróleo e, em simultâneo, com

a falta de espaços para deposição, como os aterros sanitários ou equipamentos similares.

A reciclagem é, assim, vital para a conservação e melhoria do meio ambiente. A

combinação “Reduzir, Reciclar, Reutilizar”, faz cada vez mais sentido. A política de

sensibilização junto das crianças, para que cresçam conscientes da importância do

ambiente, é fundamental. Infelizmente, vamos dando conta que as crianças estão mais

receptivas a este fenómeno, que uma grande maioria de adultos.

Serve como exemplo a zona da minha residência, onde em deslocações ao ecoponto,

encontramos e visionamos as mais aberrantes utilizações, inclusive nos contentores do

lixo indiferenciado, com a deposição de lixo doméstico a balde, sem a mínima separação,

e mais gritante com todo o tipo de líquidos misturados, inqualificável.

Em minha casa, apesar de alguma falta de espaço, não somos totalmente correctos,

existindo um mínimo de preocupação com a separação de lixos, utilizando o exterior para

a acumulação do básico, papel e cartão, vidro, plástico e metal, e diariamente a deposição

nos locais correctos. Reduzir a poluição, reciclar e reutilizar o mais possível, deve ser o

lema e a obrigação de todos.

O conceito de reciclagem serve apenas para os materiais que, após tratamento, possam

ser transformados e novamente originar um produto igual e com as mesmas

características. A reutilização tem um conceito diferente, que consiste em transformar

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um material em outro similar, sem as mesmas características ou propriedades. Neste

caso, temos o papel e o vidro, como exemplo. Já uma lata de alumínio, depois de fundida,

pode ser transformada de novo em lata com as mesmas características.

Os resultados da reciclagem e da separação de lixo são significativos tanto no campo

ambiental, como no económico ou social. No ambiental, a redução de acumulação

progressiva de resíduos, a não produção de novos produtos, das emissões de gases como

metano (biogás) e dióxido de carbono (principal responsável na mudança do clima), as

agressões aos solos, ar e água, entre outros. No aspecto económico, contribui para um

uso racional dos produtos naturais não renováveis, e pelo reaproveitamento de recursos

já utilizados. No âmbito social, temos a melhoria da qualidade de vida, com melhor

ambiente e criação de postos de trabalho.

Os pontos específicos de recolha de lixo são o ecoponto e o ecocentro. O ecoponto,

sobejamente conhecido junto das zonas de residência, é constituído por um conjunto de

três (ou quatro em algumas situações) contentores para recolha selectiva.

Amarelo ‐ para plástico e metal;

Azul ‐ para papel e cartão;

Verde ‐ para o vidro;

Vermelho ‐ para pilhas e acumuladores (não em todos os locais).

Existem ainda contentores de lixo indiferenciado que, em caso de dúvida, devem ser

utilizados para deposição. Estão nestes casos exemplos as lâmpadas fluorescentes, tintas

e vernizes, que em última solução, devem aqui ser depositados.

O ecocentro consiste num parque de grandes dimensões, que recebe embalagens e

outros resíduos, devidamente compartimentados, não compatíveis com os ecopontos.

Nem todos os ecocentros estão preparados para todos os resíduos, mas, separar para

reciclar não significa só os ecopontos. Existem ainda Municípios que disponibilizam meios

para a recolha doméstica, do que é considerado monos mais volumosos, como

electrodomésticos, mobílias, etc., etc. Em conclusão, gostaria de salientar que mais de

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metade do lixo que produzimos diariamente pode ser reciclada. Todos temos a obrigação

de o separar em casa e os depositar correctamente nos locais apropriados.

Contudo, a reciclagem de lixo não deve ser visto só no âmbito doméstico. Existem

empresas preparadas e licenciadas para a recolha e tratamento de lixo na área industrial.

No caso dos óleos industriais, por exemplo, existe já uma taxa acrescida na compra, para

fazer face às despesas da recolha obrigatória do óleo usado. Para além deste produto,

temos ainda resíduos eléctricos e electrónicos, resíduos de construção e demolição, VFV

(viaturas em fim de vida), peças auto usadas, pneus usados, resíduos perigosos, resíduos

industriais, baterias etc., etc. A descontaminação de solos é uma área muito específica,

também com possibilidades de ser tratada. Todas estas acções fazem parte de processos

já existentes, que nos permitem cuidar do meio ambiente, para uma melhor qualidade de

vida.

“Por cada tonelada de papel reciclado, salvamos cerca de 20 árvores sujeitas a abate”.

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Protocolo de Quioto

No âmbito do protocolo de Quioto, Portugal assumiu o objectivo de limitar a emissão de

gases com efeitos de estufa (GEE) em 27% no quadriénio 2008/2012. Apesar da existência

de acordos internacionais para a redução de emissões, a verdade é que poucos ou

nenhuns cumprem. Considerando os padrões de conhecimento actual, as alterações de

clima são inevitáveis, e a emissão de gases com efeito de estufa vai continuar a aumentar.

O conhecimento científico garante que, mesmo que o GEE estabilize, o aquecimento e a

subida do nível médio das águas do mar continuará, devido à dinâmica associada aos

processos climáticos. O protocolo de Quioto é uma tentativa na procura de minimizar as

alterações climáticas, que vão acontecendo no Planeta. É pois, um tratado internacional

onde se procura reunir o consenso dos estados a nível mundial, em reduzir a emissão dos

gases que agravam o efeito estufa, considerados como causa “antropogénica” (derivadas

de actividades humanas) do aquecimento global.

Discutido e negociado em Quioto, onde foram abertas assinaturas a partir de 1997, e

rectificado em Março de 1999. Tinha como exigência para a entrada em vigor, a

obrigatoriedade (como não se tratasse de salvar o planeta) de o conjunto de países

subscritores representarem 55% das emissões. Viria a acontecer após a rectificação da

Rússia, entrando em vigor em Fevereiro de 2005. Demorou 8 anos! Este espaço de tempo

para uma situação tão premente, demonstra a grande dificuldade que os países

encontram, para levar à prática as alterações tão necessárias.

Com um calendário que tem o chamado Primeiro Período de Compromisso, o quadriénio

2008 / 2012, faz a exigência aos países membros (principalmente aos desenvolvidos), de

uma redução de emissões em pelo menos 5,2% aos níveis de 1990. Se o protocolo fosse

aceite e implementado com sucesso, existiria a hipótese de uma redução na temperatura

global entre 1,5ºC e 5,8ºC até 2100. No entanto, tudo dependerá das negociações após

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2012. Apesar de tudo, há quem afirme categoricamente, que a redução em 5% em

relação aos níveis de 1990 é insuficiente para fazer baixar o aquecimento global.

A situação não está fácil. Até porque, os valores percentuais a considerar entre países não

são uniformes, estando mais facilitados países em desenvolvimento e emergentes. Os

Estados Unidos o segundo país mais poluidor, logo atrás da China, recusa assinar o

tratado. A União Europeia (EU), que tem procurado cumprir e atravessa, como é sabido,

um período critico na sua economia, não entenderá que países do G8, como USA, Brasil,

China que apesar de subscritor ultrapassa e duplica todos os limites, assim como a India

um dos países emergentes, estejam sujeitos a tratamento especial.

Uma coisa é certa, ou estes senhores ganham juízo, ou as gerações futuras talvez nem nas

zonas glaciares tenham hipótese de sobrevivência.

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Alterações Climáticas

As alterações climáticas são identificadas como uma das maiores ameaças ambientais,

sociais e económicas que o mundo enfrenta na actualidade. A resposta política ao

problema requer uma acção conjunta, nas medidas que minimizem as causas e que

preparem a sociedade para lidar com os seus efeitos.

No âmbito do protocolo de Quioto, Portugal assumiu o objectivo de limitar a emissão de

gases com efeitos de estufa (GEE) em 27% no quadriénio 2008/2012. Apesar da existência

de acordos internacionais para a redução de emissões, a verdade é que poucos ou

nenhuns cumprem. Considerando os padrões de conhecimento actual, as alterações de

clima são inevitáveis, e a emissão de gases com efeito de estufa vai continuar a aumentar.

O conhecimento científico garante que, mesmo que o GEE estabilize, o aquecimento e a

subida do nível médio das águas do mar continuará, devido à dinâmica associada aos

processos climáticos.

As causas para o aumento da temperatura relacionam‐se com o efeito de estufa. Os GEE’s

como o dióxido de carbono, o metano e os outros, retêm a radiação infravermelha

proveniente do interior da crosta terrestre, impedindo que parte desta seja libertada para

o espaço. Esta combinação permite‐nos as temperaturas moderadas que usufruímos, em

vez do frio glaciar inabitável. Uma das áreas naturais de energia renovável provém

precisamente do efeito geotérmico, um aproveitamento em estudo para, por exemplo, os

edifícios inteligentes.

O aumento dos GEE’s resultante das actividades humanas (indústria, transportes etc.) vai

progressivamente fazer aumentar a temperatura da Troposfera. A troposfera é a porção

mais baixa da atmosfera, com uma espessura média de 12km (desde o nível do mar), é a

camada em que vivemos e respiramos e por onde circulam os aviões, assim como onde

ocorrem a maior parte dos fenómenos meteorológicos.

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Desflorestação

Uma das causas a juntar ao efeito de estufa tem a ver com o abate das florestas, e com a

praga dos incêndios. Tanto uma como outra têm, digo eu, os habituais interesses

económicos. Se através do abate existe uma política de solos para a grande construção ou

para a indústria de madeiras, nos incêndios parece‐me mais cirúrgico. A principal

preocupação em termos ambientais, passa pela diminuição de oxigénio e aumento de

dióxido de carbono (pela sua não remoção) anulando o efeito fotossíntese, mais uma

pequena ajuda a juntar à problemática.

No caso dos incêndios não acredito nos efeitos naturais, admitindo alguma negligência

das populações locais, que através de queimadas imprevidentes os possam originar, mas

a grande maioria terá mão humana. Se uma parte se pode alocar aos piromaníacos pelo

prazer de ver arder, existe uma grande parte em que estes serão pagos (provavelmente

quantias irrisórias), para benefícios dos mandadores. O grande problema é que muitas

vezes, por um pequeno espaço de interesse, acaba de forma trágica pela falta de controlo

em milhares de hectares de floresta.

Sobre esta problemática, reforçando o que atrás fica dito, deixo em jeito de “report” uma

visita turística ao Santuário de Nossa Senhora da Graça, no cimo do lindíssimo Monte

Farinha em Mondim de Bastos após o incêndio que ali tinha ocorrido, creio que pelo ano

de 2005. Ainda sentíamos o cheiro a queimado no ar. Subi à cripta do Santuário, e

perguntei ao vigilante que de binóculos em riste, perscrutava o horizonte, na procura de

fumo que indiciasse novo fogo, como tinha sido possível aquela catástrofe, indiciou a

presença de um pequeno avião que sobrevoou a zona, e que logo após o seu

desaparecimento se iniciou o incêndio em zona inacessível para os bombeiros.

O ciclo normal das estações do ano vai, de ano para ano, se alterando. As cheias ou

inundações e as tempestades são as catástrofes naturais mais frequentes. Secas

prolongadas, vagas de calor e de frio vão‐se acentuando. Furacões, sismos, maremotos,

vão sendo cada vez mais intensos e frequentes. Torna‐se cada vez mais premente a

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divulgação das consequências e dos riscos, para que todos nos empenhemos, em

conjunto e a nível individual, pela prevenção do meio ambiente.

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Saúde

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Alimentação Saudável

É consensual a ideia que uma boa alimentação ou nutrição é o acto de comer bem, de

forma equilibrada, para que os adultos mantenham o peso ideal e as crianças se

desenvolvam bem, física e intelectualmente, dependendo do hábito alimentar. Para

conseguirmos atingir os objectivos pretendidos, a rotina das escolhas deve garantir não

só a perspectiva do peso, mas também garantir uma saúde plena.

Todos temos consciência que o ritmo alucinante da vida actual condiciona e muito os

hábitos alimentares. Ou porque saímos um pouco mais tarde da cama, saltamos o

pequeno‐almoço, temos horas de chegada e o trânsito pode complicar. Com a

competitividade no emprego, somos os últimos a sair para o almoço, correndo à

lanchonete da esquina, em que encostados ao balcão e sem tempo para relaxar,

ingerimos os tradicionais fritos, naquele óleo de três dias e que continua operacional,

com um sumo e o café para o regresso de novo a correr. E, quando durante a tarde

memorizamos os afazeres para a chegada, pensamos num jantarzinho relaxante e

saudável em família, que aquele acidente no regresso (há sempre um acidente no nosso

trajecto que nos obriga a um atraso desesperante) obriga a adiar…mais uma vez. E o dia

seguinte está já aí.

A roda dos alimentos tem sete grupos com especificidades diferentes, representando,

cada um deles, uma proporção em peso que deveríamos ter na nossa alimentação diária.

Existem alguns alimentos funcionais, direccionados na prevenção de doenças específicas

ou para melhorar aspectos de saúde. Devemos sempre considerar na nossa dieta as

proteínas, hidratos de carbono, gorduras, fibras, cálcio e outros minerais. Variar os tipos

de cereais, carne, peixe, verduras, legumes e fruta, alternando as cores dos alimentos.

Algumas indicações importantes para começar uma alimentação saudável são:

Nunca deixar de tomar o pequeno‐almoço;

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Beber bastante água;

Fazer refeições menores;

Fazer pequenas merendas entre as três principais refeições.

A minha mãe, actualmente com 84 anos, vive em minha casa há muitos anos e dou graças

por isso. Até aos dias de hoje, foi sempre a grande responsável pelo tipo de alimentação

que consumimos em casa. É a primeira a sair de casa, com maior ou menor dificuldade

motora (hoje com mais dificuldade) deslocando‐se a pé ao mercado da Afurada (eu utilizo

a viatura), preferindo o peixe fresco como base da alimentação diária familiar.

Salvo algumas situações pontuais, em que utilizo o “take away”, para lhe proporcionar

algum descanso mental e físico, é a grande gestora da nossa alimentação. A sua “sopa”

foi primordial no crescimento saudável dos meus filhos e continua hoje diariamente na

alimentação prioritária das minhas netas. Não sei o porquê, mas, ao longo dos anos

habituado a grandes e pequenos “menus” por essa estrada fora, nunca abdiquei da

“comidinha” da mãe.

Devido à disponibilidade da minha vida actual, acompanho a minha neta ao infantário

após o pequeno‐almoço em minha casa, que procuro que seja o mais correcto possível à

base do leite e cereais. Contudo, apesar de toda a informação veiculada e reiterada em

todos os órgãos de comunicação social, continuo a assistir a crianças acompanhadas pela

mãe a chegar ao infantário a comer o tradicional bollycao com o sumo muitas vezes da

casa dos trezentos. Para além da mensagem errada que passam, fomentam o flagelo da

obesidade nas crianças e, em simultâneo, influenciam as outras crianças que têm, por

princípio, hábitos alimentares correctos.

O efeito pernicioso dos spots publicitários na alimentação infantil, são hoje

provavelmente o grande meio do seu distúrbio alimentar. Ou os pais tomam

providências, ou mais tarde não adianta chorar sobre o leite derramado. O nível de

obesidade infantil que se observa hoje nas nossas crianças ultrapassa todos os limites do

bom senso, exigindo‐se uma postura diferente dos educadores face aos perigos

inerentes.

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Segurança e Higiene no Trabalho

É o conjunto de conhecimentos e tecnologia que tem o objectivo de promover a

protecção do trabalhador no local de trabalho, tendo em vista a redução de acidentes e

doenças provenientes do posto de trabalho. É uma área, cuja combinação entre a

engenharia e a medicina no trabalho, tem como objectivo identificar, avaliar e controlar

situações de risco, criando um bom ambiente de trabalho, mais seguro e saudável.

A higiene do trabalho está mais direccionada para a prevenção e combate às doenças

profissionais. Tendo em conta os diversos riscos em causa, a análise (ergonómica), ou

seja, a teoria de avaliação de tarefas, trabalhos, produtos, ambientes e sistemas, a fim de

os tornar compatíveis com as capacidades e limitações das pessoas, é primordial.

A ergonomia divide‐se em três áreas essenciais:

Ergonomia Física – A resposta do corpo humano á carga física e psicológica.

Ergonomia Cognitiva – Tem a ver com os processos mentais, percepção, atenção,

controlo motor e recuperação de memória.

Ergonomia Organizacional – Organização de trabalho, programação de horários,

trabalho em equipa.

A segurança no trabalho nem sempre foi levada muito a sério pelas empresas. Factores

como a relevância dada à produtividade, em desfavor do risco, era de forma geral o usual

ao nível das nossas empresas. A falta de leis que protegessem os trabalhadores

contribuiu, também, para uma mentalidade pouco consentânea com a dignidade do

trabalhador.

Quando iniciei a actividade profissional no final da década de 60, o chefe do sector das

manutenções (electricistas, mecânicos, serralheiros, carpinteiros e reparação e obras)

era, também, pomposamente denominado chefe da segurança do trabalho. Este homem,

aquando de um acidente, limitava‐se a um pequeno inquérito ao sucedido, alguma

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rectificação pontual do posto de trabalho (depois da casa roubada trancas à porta) e

aguardar por novo acidente, nova rectificação, em vez de uma abordagem preventiva

sobre os diversos postos de trabalho.

Actualmente existe legislação que permite a protecção nos diversos sectores de

actividade, relacionadas com as condições ambientais e de segurança de cada posto de

trabalho. São várias as normativas Europeias (aplicadas em Portugal) em função do risco e

do tipo de equipamento de protecção a utilizar. Entre as várias coisas de ordem

estrutural, criaram‐se EPI’s e EPC’s em função da linha de trabalho.

EPI’s (equipamento de protecção individual), meios ou dispositivos destinados a

ser utilizados pelos trabalhadores, contra possíveis riscos, durante o exercício de

uma determinada actividade.

EPC’s (equipamento de protecção colectiva), equipamentos para protecção e

segurança enquanto individual ou grupo de pessoas relativas a determinada tarefa

ou actividade.

Muitas vezes não são de protecção mas de uso. Tais como redes, extintores, lava‐olhos ou

kit’s de primeiros socorros etc.

As medidas impostas por todas as normas e certificações existentes, ganham cada vez

mais relevância. Mas é notório que tardam em ser implementadas, sendo hora de quem

de direito despertar, para uma fiscalização eficaz e desmotivadora do faz de conta. Nos

últimos 10 anos morreram 1633 trabalhadores em acidentes de trabalho em Portugal.

Acidentes de trabalho

Em geral, resultam da combinação de factores onde se destacam as falhas humanas e

falhas de materiais. Eles podem acontecer em todo o lado, em casa ou na rua, mas

quanto ao posto de trabalho, parte deles acontecem por má preparação dos

trabalhadores, em relação à forma de enfrentar e lidar com os riscos. Em geral, a

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actividade produtiva engloba um conjunto de riscos específicos, próprios dos processos

ou operações a realizar, pelo que a segurança deve merecer um tratamento cuidado.

Demorou, mas hoje já se reconhece a importância e a ligação entre as condições de

trabalho e a produtividade. Havia a percepção que, a incidência económica dos acidentes

para as empresas, eram os custos directos (assistência médica e indemnizações).

Mais tarde começaram a considerar as doenças profissionais e, actualmente, as empresas

compreenderam que os custos indirectos dos acidentes de trabalho são bem mais

importantes que os custos directos. As perdas acumuladas podem ser muito elevadas,

podendo mesmo triplicar ou quadruplicar os custos directos do acidente de trabalho.

As condições de trabalho e as regras de segurança são o factor de maior importância para

a melhoria e desempenho das empresas, através do aumento da produtividade com

menor absentismo e sinistralidade. As condições de trabalho e o grau de satisfação dos

seus trabalhadores devem merecer a maior atenção das empresas, pois estas, para lá da

função técnica e económica, têm também um importante papel social.

Psicossociologia do Trabalho

O desgaste físico e emocional a que os trabalhadores são submetidos nas relações com o

ambiente de trabalho, é um factor muito significativo na determinação de alterações de

saúde. O stress, as depressões, a ansiedade, os ataques de pânico ou fobias, são exemplos

de patologias que condicionam o rendimento de um trabalhador.

Normalmente girando em torno da vertente física, é na vertente psicológica que mais se

faz sentir o efeito igualmente importante do rendimento do trabalhador. O trabalho

monótono e repetitivo, os turnos e o trabalho nocturno, são factores de risco que este

tipo de actuação pode provocar.

Efectivamente, a rotatividade de funções, os períodos de descanso compensatório e as

pausas mais alongadas, principalmente em mudança de turnos, pode funcionar como

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elemento diminuidor do cansaço físico, atenuando e baixando níveis de stress que podem

ser, eventualmente, fatais.

Informação e Comunicação

A capacidade humana está intimamente ligada à capacidade de obter informação. A

determinação de fazermos isto ou aquilo, advêm da informação necessária para

tomarmos esta ou aquela decisão. Posto isto, salientaria o papel que a informação tem

dentro da estrutura de uma empresa, como suporte à realização de tarefas, ou tomadas

de decisão e até mesmo em acções de formação.

A funcionalidade que um simples cartaz ou boletins informativos, a sinalização de

segurança e emergência, são por demais importantes no controlo à prevenção de riscos

no espaço laboral.

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Esferocitose / Definição

Uma das consequências da hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos) é o excesso de

ritmo a que a medula óssea produz novos glóbulos que, nos portadores desta doença,

ocorre com frequência, conduzindo directamente à anemia, ao contrário do sangue

normal.

A Esferocitose Hereditária (EH) é herdada segundo um padrão autossómico (que significa

presença do par de genes num par de cromossomas que não aquele que determina o

sexo), existindo o risco de uma transmissão dominante na ordem dos 50% em cada filho.

Há, igualmente, a probabilidade da criança não receber o gene defeituoso, tanto ela

como mais tarde os seus descendentes estarem livres dessa herança genética.

Probabilidade que felizmente aconteceu com a minha filha e, consequentemente, com as

minhas netas.

Os glóbulos vermelhos também conhecidos por hemácias ou eritrócitos sobrevivem

normalmente até 120 dias. Neste caso, passam a ter uma média mais curta, sendo a

deficiência da espectrina a causa mais comum. A função da espectrina consiste em dar

forma bicôncava aos glóbulos e, sendo defeituosa, produz a anemia hemolítica após

retenção pelo baço.

Diagnóstico

EH consiste na presença de esferócitos no sangue de um paciente com anemia,

determinado em testes à membrana dos glóbulos vermelhos. O esferócito é um eritrócito

de forma redonda que perdeu a forma bicôncava devido à perda da membrana celular e

como consequência origina uma maior debilidade da célula.

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Tratamento

Acrescentando ao já descrito (sinais, sintomas e tratamento) complementaria com a toma

diária de Folicil, suplemento de ácido fólico oral, que no caso da minha mulher

normalmente um comprimido. Existem casos que pela gravidade, a dose diária chega a

2/3 comprimidos. A vacinação pneumocócica se for considerada a esplenectomia.

Para casos de sintoma agudo, o recurso cautelar é o internamento hospitalar para

transfusão sanguínea, de forma a repor mais rapidamente os níveis de glóbulos

vermelhos.

O ácido fólico é uma vitamina B9 ou vitamina M hidrossolúvel pertencente ao complexo

B, necessária para a formação de proteínas estruturais e hemoglobina.

A esplenectomia total consiste na remoção cirúrgica completa ou parcial, do baço. Sendo

assim os glóbulos vermelhos permanecem anormais, mas a velocidade a que são

destruídos diminui acentuadamente, originando uma notável e permanente melhoria do

doente.

Em resumo, a EH trata‐se de um abaixamento de Hemoglobina (glóbulos vermelhos).

Traduz‐se numa redução de valor entre 8 e 10 (análise ao sangue periódica, em vigilância

hospitalar permanente), quando está a 11 é óptimo, sendo os valores normais de todos

nós a rondar os 13/14. A redução dos glóbulos vermelhos acontece pela deformação e

posterior filtragem através do baço, originando uma menor quantidade destes no sistema

sanguíneo e, por consequência, uma menor oxigenação ao nível cerebral.

A EH é causada por um defeito estrutural dos glóbulos vermelhos, tornando‐os esféricos e

de menor dimensão. Estas células, na sua passagem pelo baço, órgão de filtragem do

sistema, são rapidamente absorvidas devido a esta deformação.

O Baço

É um órgão de excelência de filtração e defesa imunológica. A remoção do baço tem,

como efeitos secundários, além dos riscos naturais provenientes de uma cirurgia,

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aumentar a susceptibilidade de adquirir infecções bacterianas e pneumáticas. No caso de

tal ocorrer, a defesa com tratamento imediato a antibiótico.

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Vitiligo / Asma

O Vitiligo caracteriza‐se pela redução de melanócitos, células localizadas na epiderme e

responsáveis pela produção do pigmento cutâneo, a melanina. É uma doença não

contagiosa genética não hereditária, em que ocorre a perda de pigmentação natural da

pele. Pode surgir em qualquer idade, sendo mais comum nas faixas etárias dos 10 a 15

anos (caso da minha Mulher) e 20 a 40 anos. A despigmentação da pele pode alastrar até

85% do corpo. Segundo estatísticas uma em cada cem pessoas é acometido por ela.

O Vitiligo requer precauções especiais com a exposição ao sol, uma vez que o local

atingido fica muito sensível, podendo ocorrer queimaduras graves.

Sobre o tratamento existem alguns estudos muito contraditórios, embora os especialistas

digam claramente que não há cura. A saída frequente passa por cirurgia estética, que

consiste na despigmentação da pele natural ainda existente, eliminando as manchas e

criando uma maior uniformização.

Muito se especulou na comunicação social sobre o cantor Norte Americano Michael

Jackson, em relação à cor da pele com que aparece em determinado momento. Na

realidade, portador de Vitiligo, foi sujeito a várias intervenções de despigmentação para

uniformização do seu aspecto exterior (cor uniforme), criando aquele aspecto frágil e

super protegido nas suas aparições públicas diurnas. Sendo uma figura pública como ele,

detentor de grande fortuna num Pais como a América, a existir uma probabilidade de

cura, logicamente que a procurava.

A Asma em termos genéricos, é uma doença inflamatória crónica das vias aéreas, que

ataca o sistema respiratório. Origina a redução ou até mesmo a obstrução do fluxo do ar.

O tratamento baseia‐se em medidas educativas, na execução de movimentos, controlos

respiratórios específicos, drogas que melhorem o fluxo aéreo, anti‐inflamatórios com

base em corticoides.

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A conjugação da Esferocitose com a Asma, debilitam enormemente quando em esforço.

Exercício em passada larga torna‐se praticamente impossível e grandes subidas estão fora

de questão. Por incrível que pareça dançar é óptimo.

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Envelhecimento em Portugal

O envelhecimento é o processo natural de desgaste do ser humano, depois de atingida a

idade adulta. Ao longo da vida passamos por vários estágios, considerando‐se como

norma a infância, juventude, adulto e idoso.

A infância é o período que nos leva até aos 11/12 anos, altura do desenvolvimento físico,

psicológico e o início da formação de personalidade. A juventude ou adolescência marca a

transição para a idade adulta, entre 12/13 anos e os 20/21, estágio onde vamos perdendo

os privilégios habituais da infância, e adquirimos as competências e conhecimentos que

nos permitirão desenvolver o papel responsável de adulto. A fase de adulto será

porventura o período mais alargado de vida, onde por norma assumimos todo o tipo de

responsabilidades económicas, sociais e familiares, e preparamos de algum modo a nova

etapa, a velhice.

O envelhecimento é um processo de degradação progressivo e natural da vida humana, e

varia de pessoa para pessoa. Considerando a situação actual do mundo, com todos os

problemas económicos conhecidos, a vida para a população activa não está fácil, mas é

com certeza muito mais difícil para a população idosa. A nossa geração idosa viveu,

enquanto activos, um período muito difícil, tanto ao nível de formação, económico e

mesmo ao nível de saúde. Os males das políticas erráticas pagam‐se caro. E hoje,

assistimos a situações altamente degradantes, tanto no campo ético, moral, social e

económico. Ainda hoje, alguns iluminados principalmente os que estão bem de vida,

advogam os mesmos princípios de escravatura para as populações, o princípio do pão em

uma das mãos, e o pau na outra. A verdade é que a propósito da recuperação económica

e do equilíbrio das contas públicas, nos encaminhamos a passos largos nesse sentido.

Esquecem estes iluminados, que grande parte desta divida, deve‐se sem qualquer tipo de

dúvida a 50 anos de obscurantismo educacional, social e económico.

Uma grande maioria vive no limiar da pobreza, sem grandes condições económicas para

a alimentação e medicamentos, próprios das maleitas da idade. Se alguns vão tendo a

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proximidade familiar, dentro do espírito de família, outros há que, infelizmente, vivem sós

sem qualquer apoio social, numa solidão total.

Será a solidão uma consequência universal do envelhecimento?

Só no primeiro mês do ano de 2012 faleceram 12 idosos, encontrados dias depois, sem

qualquer apoio social ou familiar, dramático. O envelhecimento e a solidão é o maior

desafio ético e moral que se coloca hoje á sociedade. O envelhecimento saudável e com

um mínimo de dignidade e qualidade de vida precisa‐se. Tendo em conta a esperança de

vida actual, o aumento da população idosa, é quatro vezes superior ao da população

jovem. O envelhecimento demográfico, ou seja, o aumento em proporção das pessoas

idosa, na população total, é cada vez mais significativo. Esta variação consegue‐se em

detrimento da população jovem e/ou em idade activa, ou seja, o grande reflexo da baixa

natalidade das últimas décadas em Portugal.

A Constituição Portuguesa é muito clara no seu artigo 72º.

Artigo 72º ‐ Terceira Idade: As pessoas idosas têm direito a segurança económica e a

condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia

pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social.

Senhores políticos tenham a honestidade intelectual e sem falsas demagogias, olhar com

sensibilidade para esta camada da população. Esqueçam os clientelismos partidários e o

caciquismo local ou regional, as pessoas não são números, e quando necessitarem de

receitas procurem‐nas em quem mais tem.

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O Papel dos Avós

Considerando as diversas condicionantes da vida actual, o papel dos avós na planificação

e acompanhamento na vida dos novos casais, é por demais importante. E, é importante,

não por qualquer razão transcendental do conhecimento, mas pela simples razão da

disponibilidade de tempo. Logicamente, que para lá da disponibilidade, existe a apetência

o principio de família, que desde o inicio deste trabalho procuro salientar, principio que

me foi transmitido pelos meus pais, e que sempre procurei incutir na formação de vida

dos meus filhos. Todos fazemos parte de uma família, e cada um de nós, dentro das suas

possibilidades, deve colaborar no apoio possível aos nossos familiares directos.

Posto isto, gostaria de colocar este tema não na tradicional obrigação dos avós no apoio

económico e logístico aos filhos, como se de uma obrigação se tratasse, mas em algo

mais, algo que nos sai mais do interior, a continuação dos princípios, e no que recebemos

em troca. Sabemos da cada vez maior dificuldade de horários, a que os pais estão

sujeitos, os avós são um recurso, a retaguarda do apoio familiar. Daí, a importância na

flexibilidade e na segurança, a tranquilidade que permite aos pais desempenharem as

suas actividades profissionais, com a convicção que os seus filhos estão em bom recato.

Normalmente e todos os dias pelas 7:30h a primeira tarefa. Recolher as minhas netas

previamente avisado pelo toque do telemóvel, anunciando a sua chegada. Enquanto a

mais nova (2 anos) passa o dia connosco, a mais velha (5 anos) após o pequeno‐almoço é

levada para o infantário, onde o pai a vai recolher, salvo qualquer imprevisto que o avô

ultrapassa quando necessário. Sinto‐me uma pessoa feliz, e minimamente realizada.

Conheci a vida em várias formas da sua existência, mas ver e acompanhar hoje o

crescimento e a formação das minhas netas, ultrapassa limites inimagináveis. O que

recebemos em troca, esta sim, uma das mais‐valias desta relação tão apaixonante.

Abordo este tema de forma aberta sem os blá, blá costumeiros dos pretensos pedagogos

do papel dos avós, que se por um lado ajudam, por outro (des) educam as crianças. Nada

mais fatela que esta conversa da treta. Só em cabeças menores, tanto ao nível técnico

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como em alguns filhos, esta questão pode ser levantada. Os avós dos dias de hoje têm

conhecimento, o único papel que desempenham é o papel de avós.

A responsabilidade primeira sobre a educação e formação dos filhos recaem sobre os pais

e não é transmissível. Os avós podem apoiar esta tarefa porém, e pela parte que me toca,

nunca assumiria tal responsabilidade. Uma coisa é a maior flexibilidade sobre

determinadas situações, outra, é por em causa os princípios que conhecemos e que são

transmitidos pelos pais, que nós próprios já o tínhamos transmitido enquanto filhos. Uma

coisa é colaborar sem preconceitos, outra é distorcer uma formação que é passada pelos

pais. Por isso reafirmo, os avós também têm vida própria e sabem distinguir entre o

importante e o acessório, algumas conversas que ouvimos em programas da nossa praça,

não significam mais do que, o desconhecimento duma realidade existencial, de quem na

maioria dos casos ainda não foi pai ou mãe e muito menos avô. É muito fácil falar a

coberto de um diploma que muitas vezes não significa mais que isso mesmo.

Nada melhor para terminar o meu raciocínio do que registar para a posteridade, o amor o

respeito pela avó, traduzido no espírito de família recentemente acontecido, e

proporcionado pela minha filha. Fez a minha mãe 85 anos neste mês de Fevereiro, e a

neta decide convidar em segredo, todos os descendentes da matriarca para uma festa de

homenagem. Estávamos todos, filhos, noras, neto e netas com respectivos maridos e

esposa, e as mais pequenitas bisnetas. Foi emocionante. Para mim isto é o

reconhecimento pelo verdadeiro espírito do papel dos avós. O verdadeiro papel dos avós,

não é nem mais nem menos, que a continuação do verdadeiro espírito de família.

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Gestão e Economia

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Orçamento

Orçamento é um plano financeiro e estratégico de administração para determinado

exercício. Aplica‐se tanto ao estado, como ao sector privado empresarial ou no âmbito

particular (familiar). No âmbito governamental, temos em Portugal organismos de

controlo dos orçamentos aprovados, como a Assembleia da Republica e do Tribunal de

Contas que fiscalizam a aplicação do orçamento e ajudam o Estado e a sociedade a gastar

melhor. A nível privado empresarial, existem os conselhos fiscais de administração para

esta fiscalização. Ao nível familiar, somos nós próprios a ter a incumbência de gerir da

melhor forma o nosso orçamento, sem derrapagens para uma sã convivência familiar.

Um orçamento em contabilidade e finanças é a concertação entre as receitas e despesas

de uma entidade (governamental, privada ou familiar), relativamente a um período de

execução determinado, anuais casos de governo ou empresarial e mensal mais específico

no âmbito familiar. Normalmente, costumo comparar o orçamento de estado ao meu

orçamento familiar, logicamente com as devidas diferenças minimizadas, já que temos

gastos muito similares, como na saúde, educação, transportes, energia, entre outros.

Orçamento Familiar

O orçamento familiar obriga as famílias a concertar as receitas e despesas que ocorrerão

num determinado período (mês). Esse exercício, permite ganhar uma noção mais realista

do conceito económico do agregado familiar. Prever momentos, programar e calendarizar

investimentos, reflectir acerca do peso de determinados gastos eventualmente

disponíveis. Uma das virtudes de um orçamento familiar é afastar a angústia das

incertezas em relação ao futuro. Se for possível cobrir as despesas da família com os

rendimentos esperados, o mês será viável economicamente, contribuindo para a

serenidade da família. Depois, basta ir acompanhando mensalmente o cumprimento e,

em caso de algumas folgas, tentar alguns investimentos para aquelas necessidades que

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todos temos vontade, a valorização do nosso espaço, ou no aspecto e necessidade

pessoal.

Como fazer um orçamento

Quando em crianças brincávamos às casinhas, aos médicos e enfermeiras entre outras

brincadeiras, todos tínhamos carros imaginários para nos deslocarmos para o emprego e

assim ganhar dinheiro para comprar comida e outras coisas, tudo de brincadeira. O

problema é que nada dura para sempre, o tempo passa e as brincadeiras passam à vida

real. E neste louco mundo adulto e real, é natural que todos nós nos percamos nas contas

diversas que nos aparecem para pagar, que exista cada vez menos mês para o dinheiro

disponível.

Um orçamento tem dois indicadores fundamentais: as receitas (ordenados, subsídios ou

abonos) e as despesas (amortizações de empréstimos, educação, electricidade, água, gás,

TV cabo), acrescentando gastos não fixos como supermercados, combustível, portagens,

roupa e entretenimentos, etc. Há que executar um orçamento o mais realista possível e

criar uma rubrica de imprevistos, para eventualidades não consideradas.

Um bom orçamento familiar pode até ser o primeiro passo para uma alteração funcional

de vida. Sim, porque a vida não é só controlo e números.

Junto gráfico correspondente ao meu orçamento familiar.

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O tempo de empresa;

A competência;

A localização no trabalho;

O conhecimento;

A personalidade;

A comunicação.

Sendo assim, a estrutura informal possui algumas vantagens, como a rapidez em alguns

processos, ganho de tempo na comunicação entre chefias e colaboradores, motiva e

integra alguns grupos de trabalho. Pela negativa, desde logo o desconhecimento do chefe

directo, e alguma dificuldade de controlo.

De forma prática, exemplifico um caso em que fui protagonista em determinado

momento. Estando envolvido num processo comercial de venda de valor significativo,

com uma grande empresa de construção para uma obra de excelência no estrangeiro, fui

confrontado com a inexistência de duas peças que não faziam parte da série, na ordem

de várias centenas e que eliminaria o negócio em curso.

Com o conhecimento técnico suficiente do produto e de todo o sistema produtivo da

empresa, decidi, por livre arbítrio, ultrapassar a formalidade hierárquica e tratar o

assunto a nível pessoal, criando estas duas peças de forma artesanal (mas com a

qualidade exigível) com a colaboração da produção. O resultado foi óptimo, mantive o

negócio e, mais tarde, dei conhecimento à chefia hierárquica.

Significa, portanto, que as estruturas organizativas devem ser respeitadas, mas não

devem ser vistas de forma rígida. A formalidade exigível e a informalidade competente e

objectiva poderão ser, circunstancialmente, uma mais‐valia e uma expansão, em prol da

imagem e desenvolvimento da empresa.

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Globalização

“A notícia do assassinato do presidente norte‐americano Abraham Lincoln, em 1865,

levou 13 dias para atravessar o atlântico e chegar à Europa. A queda da bolsa de valores

de Hong‐Kong (Outubro/Novembro de 97) levou 13 segundos para cair como uma bomba

sobre S. Paulo e Tóquio, Nova Iorque e Telavive, Buenos Aires e Frankfrt. Eis ao vivo e a

cores, a globalização”.

Designação

É consensual considerar que não há uma definição específica para este processo. Este

fenómeno de integração económica, social, cultural e política, com inicio em finais do

século XX e início do século XXI, será basicamente um conjunto de transformações, na

ordem política e económica mundial que se vai incrementando nas últimas décadas.

Fundamentalmente é a integração dos mercados numa aldeia‐global, explorada pelas

grandes corporações internacionais.

História

É sabido que a globalização é tida como um fenómeno capitalista. A concepção e a sua

popularidade surgem em meados 1980, logo associada aos aspectos financeiros. A

necessidade de expandir os seus mercados, leva pequenos países, antes protegidos por

barreiras alfandegárias de forma a proteger a sua produção dos produtos estrangeiros, a

abrirem‐se ao comércio e ao capital internacional, iniciando assim uma fase de

liberalismo económico. Todo este processo é acompanhado, em simultâneo, de uma

intensa revolução tecnológica da informação.

De forma significativa, os grandes beneficiários da globalização, até ao momento, são,

sem dúvida, os países emergentes designados por BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Estes países, com grande capacidade exportadora e grande mercado interno, têm cada

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vez mais presença mundial. Não é por acaso que, entre eles, representam mais de 25% do

planeta em área geográfica e 40% da população mundial. Possuem um PIB combinado de

cerca de 20.000 triliões de dólares e estão entre os países de maior e mais rápido

crescimento económico.

Comunicação

Um dos grandes conceitos da globalização passa pelas novas tecnologias e pelo

desenvolvimento da informação. A Internet é a fase mais visível das comunicações em

todo este processo. Acordos e protocolos, entre entidades e governos de todo o mundo,

permitiram a maior troca de ideias e opiniões na história da humanidade. De forma geral,

todo o tipo de comunicação sofreu um grande impacto, quer por assinatura ou satélite,

com todos os países livres a terem acesso ao que se passa pelo mundo.

Qualidade de Vida

A filosofia economicista no conceito da globalização poderá agravar ainda mais os

problemas já existentes da camada de ozono. A perspectiva a curto e médio prazo, no

aspecto da qualidade de vida, deverá, a meu ver, ser analisada e discutida por dois

ângulos diferentes e contraditórios. Por um lado, com acesso a novas tecnologias, novos

medicamentos, novos equipamentos cirúrgicos, permitem um aumento da longevidade

de vida e menor taxa de mortalidade infantil, como é visível em países emergentes ou

desenvolvidos. Por outro, com o aumento da produção industrial em países menos

estruturados, mas com ambições legítimas de crescimento, poderá por em causa os

esforços dos últimos anos na procura de entendimentos de redução do efeito de estufa. E

neste caso, terão sempre como padrão comparativo países com a responsabilidade dos

Estados Unidos da América, China, Japão entre outros, que apesar de todos os tratados,

acordos e protocolos internacionais, ou não assinam, ou quando o fazem, acabam por

não cumprir.

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A globalização, sempre apresentada como factor e impulsionador de desenvolvimento e

de redução de assimetrias internacionais, não parece estar a conseguir e a contribuir para

uma ordem económica mais justa. O século XX conduziu o mundo a uma encruzilhada. O

processo de reestruturação económico, levou o mundo em desenvolvimento à fome e a

grande percentagem da população ao empobrecimento.

Indústria / Serviços

Os efeitos no mercado de trabalho são mais que evidentes. Por um lado a criação de

empregos na modalidade outsourcing, mão‐de‐obra barata e temporária, onde não é

necessário alta qualificação. Por outro, a capacidade de processar informação e

conhecimento ficou mais importante do que o trabalho, por mais técnico que seja em

qualquer empresa, graças à automação existente. Isto leva‐nos à prioridade da alta

qualificação. Entramos na “era da informação”, uma transição para a era pós‐industrial. A

globalização ficará directamente ligada a um novo tipo de capitalismo, em que o mercado

do conhecimento é o factor mais influente no crescimento económico.

Direitos Humanos

Os direitos humanos são um conjunto de leis, vantagens e prerrogativas, para que um

individuo possa ter uma vida digna, independentemente do sexo, religião ou etnia,

emanados pela ONU (Organização das Nações Unidas). Sabemos que a Carta dos Direitos

do Homem ainda não é reconhecida em muitas regiões do mundo. Lembro a religião

islâmica (Jihad) ou a guerrilha latino‐americana, a título de exemplo. Que papéis têm os

grandes mentores da globalização, em função do conhecimento das desigualdades e falta

de oportunidades, existentes em alguns pontos desta aldeia global?

“Só saberemos que a globalização está de facto a promover a inclusão e a permitir que

todos partilhem a oportunidade que oferece, quando homens, mulheres e crianças

comuns, das cidades e aldeias do mundo inteiro puderem melhorar a sua vida. E é essa a

chave para eliminar a pobreza do mundo”.

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Ou ainda.

“Uma economia global requer uma ética global que reflicta não só o respeito pelos

direitos humanos, mas também o reconhecimento da responsabilidade pessoal e social”.

Antiglobalização

Quando analisamos os fenómenos resultantes do processo em curso da globalização,

surgem‐nos sempre textos e opiniões direccionados em dois sentidos. Uns, pelo fim das

filosofias políticas ideológicas, tal como sempre as entendemos, o Estado previdência, o

serviço nacional de saúde, a educação preferencialmente gratuita, os transportes públicos

como função social e o direito à reforma no final da vida activa, como complemento

digno da vida humana. Tendo como princípios o neo‐liberalismo, a subordinação do

Estado ao Poder económico, no fundo, o controlo do mundo pelo poder económico e

financeiro. Outros, baseados em princípios, ideologias, experiências e conhecimentos

adquiridos, pela protecção aos mais desfavorecidos e com espírito solidário com

pensamento contrários.

É perfeitamente natural que em qualquer processo de reformas ou transformação de

princípios com que nos habituamos a conviver e usufruir, tanto de origem corporativa ou

pessoal, existirem os prós e os contra. Apesar das contradições e das discussões sobre o

conceito, a grande controvérsia é, quanto a mim, os resultados. Este fenómeno (ou nem

por isso), que surge com a evolução dos novos “meios de comunicação” mais rápidos e

mais eficazes, têm, realmente, aspectos positivos e negativos. Um dos aspectos mais

preocupantes, por que passamos actualmente, tem a ver com a instabilidade económica

que se vive pelo mundo. A Europa passa por uma situação preocupante, com a Grécia e

Portugal (entre outros) em grande dificuldade. Qualquer acontecimento num

determinado país, rapidamente atinge outros por contágio como se de um único se

tratasse. Os países estão cada vez mais dependentes uns dos outros, onde nenhum é

imune.

As diferenças:

Para os globalistas:

Acontecimento real e significativo;

Sociedade civil global;

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Esfera pública transnacional;

Cidadania planetária, ética global;

Efectivo diálogo inter‐religioso;

Desenvolvimento sustentável.

Para os cépticos:

Como construção primordial ideológica ou mítica de valor explicativo marginal;

Um fenómeno económico que deve ser combatido em virtude das consequências;

Um fenómeno que se contrapõem aos laços de solidariedade social e comunitário

existente nos planos local, nacional e internacional.

Fica agora a dúvida: Será que os Estados‐Nação são uma invenção do passado

completamente ultrapassado?

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Tecnologias, Informação e Comunicação

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O telemóvel

Sem dúvida uma das inovações tecnológicas tornado imprescindível, mas um flagelo da

sociedade contemporânea. Amado por uns, odiado por outros, objecto do nosso dia‐a‐dia

que somos obrigados a aceitar, como aquele nosso familiar que achamos um chato mas

sempre convidado para as festas familiares. Vivemos, de facto, numa sociedade

telemóvel‐dependente. Não saímos de casa sem ele, e se nos falta, o mundo pára.

Naquele autêntico canivete Suíço da tecnologia (ele é processador de texto, agenda, lista

telefónica, máquina fotográfica, computador etc. etc.) temos a nossa vida. Podemos

encontrar de tudo, tanta mas tanta tralha que hoje é impossível abdicar deste nível de

arrumação. E depois, com o passar do tempo, o telemóvel passou a ser o veículo principal

de encontro social. Se através da Net já proliferam as salas de conversação, as operadoras

móveis apresentaram as mesmas possibilidades. Assim, a mensagem de texto (SMS)

encontrou um antídoto à altura. Agora os mais novos ao nível de preparatória ou

secundário, passou a escrever pior do que falava.

Vemo‐nos rodeados de gente que vive dependurada no telemóvel, evitando expor‐se,

assumir‐se, mostrar‐se. Escondidos num medo atroz de nada saber dizer, as palavras

escritas vivem hoje uma mutação tal que Camões deve contorcer‐se de raiva no túmulo.

A sociedade está mais aberta, mais dinâmica e mais actual. De facto o telemóvel

aproximou‐nos de tudo. E de todos. Mas não estaremos ao entrar num terreno onde a

máquina domina o homem e não o seu contrário? Já repararam no pânico em que

ficamos, se o nosso animal de estimação tecnológico fica sem bateria, ou saldo para fazer

uma chamada? Pois. Bem me parecia.

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Computador

Quando, nos anos 80, iniciei a actividade comercial, estava longe de imaginar as

possibilidades, o comodismo, o acesso rápido a todo o tipo de informação da empresa, e

poder transmitir na hora aos clientes. Relembro o fax para contactos mais rápidos, as

fotocópias quando era necessário deixar uma informação mais precisa, ou os primeiros

catálogos parcelares, impressos em tipografia. Anos mais tarde e sem darmos por isso,

aparece‐nos este pequeno “animal” electrónico a que dá‐mos o nome de computador.

Sem formação ou conhecimentos informáticos com umas dicas aqui ou ali, lá fomos

experimentando em algumas utilizações básicas, e sem qualquer dúvida afirmar, que

facilitou e tornou mais cómoda a nossa actividade.

Como é do senso comum, a utilização do computador nos dias de hoje é essencial.

Inicialmente, através de uma abordagem aos seus componentes essenciais, como a

memória ram ou rom, disco ou leitor, seguiu‐se os periféricos, como a impressora, a pen,

discos externos e servidores etc. Seguiram‐se exercícios com processador de texto (Word)

e pesquisa na internet, principais características da Web e a abordagem às mensagens de

correio electrónico, os exercícios próprios para quem começa a dar os primeiros passos

no mundo informático.

Mas afinal o que é o computador?

O computador é um equipamento que já ninguém dispensa, em trabalho ou em lazer, vai

connosco para todo o lado. Capaz de variados tipos de tratamento automático de

informação ou processamento de dados, ou seja, uma máquina que lê dados, efectua

cálculos e fornece resultados. O seu processo básico é em termos genéricos:

Entrada de Dados – ler ou receber informação inicial;

Processamento – efectuar o cálculo, e memória;

Saída de Dados – fornecer os resultados obtidos.

O computador pode de forma simplista, ser comparado a uma fábrica.

Entrada de matéria‐prima e mão‐de‐obra;

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A fábrica onde se manipula e processa a matéria‐prima;

Saída dos produtos acabados.

As características são a alta velocidade das suas operações, a memória com grande

capacidade de armazenar informação, e a possibilidade de executar longa sequência de

operações. Tem como vantagens poder aceder a processador de textos e de cálculo,

guardar documentos, entretenimento com música, filmes e jogos. Comunicar com outras

pessoas, aceder à internet e fazer pesquisa, fácil acesso à informação. As grandes

desvantagens passam pelo uso excessivo dos utilizadores, as complicações e prejuízos

com a pirataria informática on‐line (descodificação de passwords), e a ter em conta a

exposição de crianças e jovens, por pessoas mal‐intencionadas.

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Novos Média

Como já referi no início da minha história de vida, somos o resultado dum conjunto de

acções, valores, conceitos, regras, obrigações, que nos são transmitidos desde que

nascemos. Primeiro, pelos nossos pais, avós e demais familiares. Depois, segue‐se a

escola, os professores e os amigos, sendo estes últimos mais que o provável resultado de

outras histórias iguais às nossas.

E assim vamos crescendo com a consciência de que nada é eterno e que vivemos num

mundo em constante mudança, fruto das experiências que vamos acumulando ao longo

da vida, influenciados aqui e ali pela vicissitude de alguns comportamentos e opiniões. E

de forma contraditória, somos mais tarde “embrulhados” pela média, por uma

massificação de informação em catadupa, sem nos darmos ao trabalho de questionar a

sua veracidade. Sem dúvidas, assumo também a minha fraqueza e o meu comodismo.

Media / Mass Media / Novos Media

Em jeito de complemento ao atrás descrito, salientaria a importância que as novas

ferramentas informáticas e a sua evolução trazem ao mundo do trabalho, social e

particular. Abordar a questão dos Media no contexto da crise actual é, antes de mais,

uma questão de cidadania, de comércio e, consequentemente, politico.

E, nesta perspectiva, é aparentemente consensual dizer que são, em larga medida, os

Media, a que já poderemos chamar “tradicionais” e, sobretudo a televisão, como um dos

meios mais responsáveis pela situação em que vivemos. Dia a dia e cada vez mais

interiorizamos e reflectimos, se o mundo em que vivemos é um mundo configurado pelos

Media. Será a televisão, como já fora anteriormente a rádio, o meio pelo qual se instala o

poder total e invisível, assim como a crise da cidadania que vai acompanhando todo o

processo? Ou serão meros meios ao serviço de qualquer fim político, ou, pelo contrário, é

já um instrumento para a execução de um fim e de um destino programado?

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O Telex

Quando iniciei a minha actividade profissional em Dezembro de 1969, a empresa

dispunha como meios de comunicação empresariais o telefone, com a respectiva central

manual comandada por uma telefonista, que se encarregava através de cavilhas,

direccionar todas as comunicações de entrada e saídas pretendidas. Como complemento,

outra profissional, entre outros trabalhos administrativos, ocupava‐se da transmissão e

recepção via telex (já pormenorizado em texto anterior), de outros pormenores do

funcionamento da empresa. Os custos e o tempo perdido, embora razoável para a época,

eram, reconhecemos hoje, incompatíveis com as exigências de produtividade pedidas

pelo mercado actual.

O Faxe

A ideia de transmitir e reproduzir documentos, a longa distância e de forma rápida,

origina a criação do faxe em 1973, começando a ser fabricado e comercializado pelos

japoneses em grande escala. A “máquina de fax” consistia num scanner, um modem, uma

impressora e uma linha telefónica em um só equipamento. O scanner converte o arquivo

impresso em imagem digital, o modem envia a imagem pela linha telefónica para outra

máquina de faxe e a impressora produz a cópia do documento enviado. Este grande

avanço da comunicação tinha a vantagem sobre os correios, uma vez que a entrada de

documentos passa a ser quase instantânea, aumentando alguns custos intermédios mas

tornando mais rápidas decisões a tomar. Com a chegada da internet em 2000, este

equipamento vai perdendo importância, substituído pelos novos sistemas

computorizados, tipo correio electrónico, com outras potencialidades e a vantagem de

reduzir custos.

Se os Media “tradicionais” podem ser acusados de nos mergulharem numa solidão

apática, cortando laços de cidadania comunicativa, interventiva e participativa, os “novos

media” permitem e possibilitam o contrário, considerando o avanço informático e a

rápida expansão da internet, devolver a tal cidadania participativa, eliminando distâncias

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ou qualquer tipo de barreiras. Se, até ao momento éramos transformados em meros

espectadores passivos que nem o zapping nos ajudava a ultrapassar, com os novos

processos, passamos a interagir, a ser actores do nosso próprio destino e da nossa

vontade.

O Correio Electrónico

É um método que permite compor, enviar e receber mensagens e outros tipos de

documentos, através de sistemas electrónicos de comunicação. O termo e‐mail é aplicado

tanto nos sistemas que utilizam a internet, como em sistemas baseados em protocolos

empresariais, na troca de mensagens internas de empresas ou organizações de vários

âmbitos. O correio electrónico é anterior ao surgimento da internet, sendo os sistemas de

correio electrónico essenciais para o desenvolvimento da rede internacional de

computadores.

O envio e recepção de uma mensagem de correio electrónico são realizados através de

um programa de computador que suporta a funcionalidade do cliente de correio

electrónico e de um ou mais servidores que, através de um endereço electrónico,

conseguem transferir uma mensagem de um utilizador para outro, devidamente

conectado na internet. As aplicações são muito variadas, embora não tendo sido criado

como ferramenta de trabalho, é neste campo que mais se tornaram indispensáveis,

agilizando processos e diminuindo custos. A capacidade quase instantânea do envio de

informação técnica ou outra, permite, a nível empresarial, ganhos de produção e

produtividade, até à altura, impensáveis.

A Webcam

É em termos genéricos, uma câmara de vídeo que capta imagens e as transfere para um

computador, sendo normalmente usada para videoconferências. Actualmente muitos

computadores já trazem acoplados as webcams. A possibilidade de comunicação áudio

visual à distância, através da internet, é dos passos mais importantes conseguidos nos

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nossos tempos. O contacto intercontinental por este meio trouxe ganhos extraordinários,

tanto a nível empresarial neste mundo global, como a nível particular, no conforto e bem‐

estar dos contactos da vida privada. O desenvolvimento deste processo leva‐nos com

meios similares mas mais eficazes, à videoconferência, processo de eleição na economia

moderna.

A Videoconferência

O avanço tecnológico permite‐nos hoje realizar reuniões conjuntas, sem sair do nosso

local de trabalho. O contacto visual e sonoro entre pessoas que estão em lugares

diferentes transmite a sensação que os interlocutores se encontram no mesmo local.

Existem vários sistemas que possibilitam isto mesmo. Para além da partilha de

informação e de material de trabalho, esta comunicação é feita em tempo real,

independentemente de fusos horários, ou qualquer outra razão intemporal.

As grandes vantagens são:

Economia de tempo, evitando deslocações.

Economia de recursos, com a redução de gastos com viagens.

Visualização e alteração pelos interlocutores dos temas em discussão e em tempo real.

E fundamentalmente aumento de produtividade indiscutível a nível empresarial.

O Comércio Electrónico

É uma forma de transacção comercial hoje já muito comum, feita através de

equipamento electrónico, como por exemplo um computador. O acto de vender ou

comprar pela internet, sem sair de casa, é em si um bom exemplo de comércio

electrónico.

Muitos sectores da economia estão hoje ligados ao comércio on‐line. Quem hoje não

recorre ao sistema bancário on‐line, para consulta de contas, transferências ou

pagamentos de serviços, sem ter necessidade de se deslocar, evitando as sempre

desagradáveis filas de trânsito ou o tempo de espera para ser atendido, resolvendo assim

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de forma simples e confortável as suas situações particulares. Sabemos que em alguns

sectores de negócio, o sucesso não terá sido o esperado. Ou por questões de defesa do

produto (direitos de autor por exemplo), ou mesmo por questões afectivas (é o caso dos

livros), sentir a sensação física de desfolhar durante a leitura, em vez de uma leitura mais

fria a nível on‐line. Em cômputo geral, este meio comercial é sem dúvida uma mais‐valia,

um conforto para alguns estratos da população.

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Internet

A internet é, em termos práticos, um sinal codificado que nos entra em casa, um

aglomerado de redes em escala mundial de milhões de computadores interligados por

um sistema, que nos permite o acesso à informação e a todo o tipo de transferência de

dados. Internet ou internet (a forma está em discussão) possuem significados diferentes.

Se internet significa um conjunto de redes de computadores interligados, a Internet é

global e pública. No essencial, existe somente uma rede única e global, sendo o conjunto

de todas as redes, a Internet.

Desde o seu nascimento, onde numa primeira fase apenas permitia aos cientistas troca

de dados, até aos dias de hoje, grandes alterações foram sendo introduzidas a todos os

níveis. Desde a segurança de utilização, protocolos instituídos, autoridades que

coordenam todos os movimentos e serviços, permitiram transformar este meio de

comunicação num factor de desenvolvimento mundial. Todas as áreas de intervenção

sócio económicas de hoje, não passam sem a internet. Os serviços prestados por esta

entidade estão interligados com o que de melhor ou pior se faz neste mundo global.

E estasAs novas tecnologias de informação, principalmente a internet, “roubaram‐nos”

tempo. Tempo de pensar, de estar com os amigos, até em algumas situações de

conversar em família. E damos por nós vítimas de uma “doença” generalizada, um caso

de estudo confortavelmente apelidada de Googlomania. Qualquer dúvida, seja ela qual

for ou sobre que matéria seja, basta‐nos sentar em frente a um computador, ligarmo‐nos

à internet e aceder ao Google, esse conhecedor de todas as coisas, departamento

informativo que, depois da roda, foi a maior invenção da humanidade. E temos que dar

um prémio (inventado especificamente para este tipo de invenção quase interplanetário,

tipo Nobel) ao seu ou seus inventores, uma vez que sem o Google, a nossa vida que já é

descolorida por ela mesma, perderia até, as poucas cores que ainda vai tendo. E pela

ideia geral, se está na internet é verdade, e não pode sequer ser posto em causa.

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CNO

Esta falta de censura intelectual que o Google (ou outro qualquer motor de busca na

internet) nos trouxe, mudou a nossa intelectualidade informativa. A internet mudou

igualmente a discussão pública com os blogues, com as correntes de correio electrónico,

com as salas de conversação (embora aqui, a discussão tenha fins bem mais, digamos,

lúdicos). Se por um lado, este novo veículo de informação transformou‐se numa quase

fonte de energia intelectual vital para a nossa vida, por outro lado isolou as pessoas,

fechou‐as sobre si mesmas, cortou, em muitos casos, a vida social das gentes do meu

lugar, que falei no início da minha vida reflexiva.

E com esta nova perspectiva mundial em torno da internet, também os modos de vida se

adaptaram a este boom virtual. Hoje, visitamos museus, fazemos compras de mercearia,

visitamos casas, caminhamos pelas ruas das cidades, tiramos fotos a monumentos sem

sair de casa. E é esta “desconfortável” viagem pelo mundo sem sair de casa, esta

consciencialização de falta de contacto social, que cada vez é mais urgente ser

contrariada. Vivemos numa era virtual, somos vítimas desta doença “Googliana”, sem

percebermos de onde ela vem ou por onde começou.

E para combater esta tendência, devem os outros meios de comunicação apostar em

novos formatos, em formas inovadoras de informação, capazes de prender o espectador

ou leitor ao seu trabalho. Devem as televisões deixarem de se vender por tuta e meia aos

grandes lobbies do país, os jornais modificarem a imparcialidade, ditada por linhas

orientarias de redacção (agindo assim em douta ignorância) acima de tudo, deixarem cair

as revistas (cor de rosa) de especialidade de coisa nenhuma, que apenas entorpecem as

mentes, cada vez mais pequeninas do nosso Portugal.

Nada é tão importante para o nosso desenvolvimento intelectual, como agilizar e praticar

essa coisa tão simples e abstracta como é o pensamento, sem a desinformação

premeditada a que estamos sujeitos, ou o recurso a qualquer atalho informático da

internet. Usemos o que demais é nosso, a comunicação. Usemos as nossas próprias

palavras, o que nos constitui como indivíduos.

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CNO

A douta ignorância não é mais do que a consciencialização do pouco que sabemos face à

imensidão do saber.

Ou ainda, que alguém ignora a verdade exacta, ou está a distorcer a verdade de alguma

coisa.

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Urbanismo e Mobilidade

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Arquitectura / Construção

A arquitectura é a arte de planificar o ambiente habitacional. Trata da organização dos

espaços, que de forma estratégica prevê a estética, a mobilidade e a envolvência

paisagística, em última instância a qualidade de vida das populações urbanas.

A construção em Portugal muito artesanal e utilitária, sofre quanto a mim, 3 ou 4

transformações de estilos a partir da segunda metade do século XX. Com o fluxo de

emigração dos anos 60, traz‐nos principalmente para as nossas aldeias e o interior, uma

mistura de estilos e influências dos países onde estavam emigrados. Sem qualquer

preocupação estética, construíram nalguns casos algumas “aberrações”, desvirtuando o

ambiente e o interesse paisagístico. Com o 25 de Abril e as aberturas proporcionadas,

surge o movimento demográfico das populações para as grandes cidades, origina os

centros populacionais nas periferias, as pequenas novas cidades “dormitórios” com o

aumento da densidade populacional próximo dos centros. A necessidade de colocar o

maior número de pessoas no menor espaço possível, levou à construção em altura tipo

“caixote” nas nossas periferias, originando nalguns casos, o mau aspecto da entrada das

principais cidades. Penso que o aspecto economicista, arredou a arquitectura dos seus

princípios básicos, a arte de planificar, o meio ambiente, a estéctica e o interesse

paisagístico. O Boom construtivo originado pelos movimentos demográficos, entra pelos

anos 90 e leva‐nos a um sem número de edifícios, infelizmente muitos deles sem grande

qualidade construtiva, sem estética. Foi o período da “construção civil” e não da

arquitectura. Neste contexto assistimos em paralelo, à degradação e desvirtualização de

zonas turísticas por excelência, antes aprazíveis e apetecíveis, hoje um amontoado de

edifícios encavalitados uns nos outros, onde a qualidade de vida e o encanto dantes

natural, deixa muito a desejar. A costa algarvia por exemplo.

A situação alterou‐se com as próprias Autarquias a preocuparem‐se com todas as

envolventes da construção, tanto no âmbito paisagístico como da mobilidade. Hoje são já

os promotores imobiliários a preocuparem‐se com a qualidade, mesmo em edifícios de

custo controlado. À boa maneira portuguesa depois da casa roubada trancas à porta. A

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crise internacional, a queda do poder de compra dos portugueses, cria um novo bom

senso no mercado habitacional, até pela normal concorrência de mercado. As novas

tecnologias, a nova engenharia de materiais, permitem agora sim, à arquitectura nacional

adequar as novas edificações às reais necessidades dos portugueses. O edifício de

construção minimamente inteligente, onde os espaços se enquadram em termos

ambientais, em acessibilidades e mobilidade, onde a harmonia dos interiores se

complementam com os exteriores, onde as capacidades energéticas são levadas ao

extremo dos aproveitamentos, para bem do ambiente, e do conforto das populações.

Estão assim criadas as condições para que a nova arquitectura nacional, após alguns anos

de afastamento, devolva aos portugueses a qualidade de vida tão necessária, e tão

desvirtuada, pelo ritmo alucinante e economicista das últimas duas décadas.

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Habitação / Localização

O lugar onde vivo e sempre vivi é o lugar onde nasci, Sampaio, um lugar da freguesia de

Canidelo, paredes meias com a Afurada, encrostado numa encosta virada ao rio Douro,

tendo como horizonte o mar. No passado, com a chegada do inverno, as ruas em terra

tornavam‐se intransitáveis, com os bombeiros a recusarem circular para um transporte

urgente ao hospital, mas era a minha terra. Havia comunidade, partilha entre vizinhos,

conversas avulsas de tudo e de coisa alguma e, fundamentalmente, cheiro a mar e

maresia.

A minha geração, tal como muitas outras daqueles tempos, viviam um pouco na

continuidade da família, sendo as condições sociais e económicas então vividas que

também nos condicionava. As disponibilidades habitacionais não eram o que se viria a

tornar duas décadas mais tarde, tanto na facilidade de crédito para a compra de

habitação própria, como na profusão de imóveis entretanto construídos. Convém referir

que estamos nos anos 70, e quer se queira ou não, a evolução e as condições entretanto

criadas, alteraram formas de estar, princípios talvez um pouco conservadores e, de

alguma forma, um certo desenraizamento das origens.

Terminado o serviço militar, eu e a minha mulher decidimos casar, decorria o ano de 1976

até porque o meu filho Pedro estava a caminho. Seguindo a velha máxima “quem casa

quer casa”, alugamos a nossa casa num edifício acabado de construir, que por questões

logísticas e de comum acordo, era do outro lado da rua da casa dos meus pais. Tal como

hoje, a disponibilidade da avó para a guarda do Pedro e por ventura o previsível aumento

da família que viria a acontecer com a Marta, foi de alguma forma importante na decisão.

A localização da empresa onde trabalhava, para onde me deslocava a pé, enquanto a

minha mulher descia à Afurada, passava o rio para a outra margem e apanhava o

eléctrico até ao emprego, foi sem dúvida o outro principal motivo da decisão. Tendo em

conta as dificuldades económicas porque passam hoje uma grande maioria das famílias

portuguesas, salientaria que naquela época, o aluguer daquela casa para onde fui viver e

que ainda hoje habito, já representava todo o salário mensal da minha mulher.

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O lugar onde decidi continuar a viver, talvez não tivesse as melhores condições logísticas,

mas tinha o indispensável para sermos felizes e os meus filhos crescerem saudáveis.

Devido às condições de encosta, não temos transporte na minha rua, mas passa um

pouco mais abaixo e um pouco mais acima os transportes públicos que servem esta zona.

Não tinha supermercados (estes chegaram mais tarde), mas tinha as mercearias de bairro

que felizmente ainda existem hoje. Tínhamos e continuamos a ter o mercado e o peixe

fresco todos os dias, e principalmente a praia para onde poderíamos ir a pé. Tínhamos a

escola relativamente próximo, saíamos à rua e víamos o rio, uma imagem sempre

agradável e tranquila. Apesar de algumas boas razões pela opção do lugar, em

determinado momento pensei em sair. Já os meus filhos frequentavam a escola, inscrevi‐

me numa cooperativa de habitação, processo utilizado na época para aquisição de

habitação. Por dificuldades processuais da cooperativa, nos terrenos previstos para a

construção que situavam aqui em Canidelo, leva a direcção a transferir a construção para

a zona de Avintes. Após reunião de família onde os meus filhos têm papel crucial,

decidimos ficar e continuar na nossa casa. A ligação à escola, o grupo de amigos criado e

estar perto da praia, foram a principais razões da decisão.

Hoje as coisas estão diferentes para melhor. As acessibilidades ao meu lugar de

residência, com a chegada do inverno, as ruas em paralelos são perfeitamente

transitáveis, os transportes embora nos mesmos locais, são mais frequentes, apesar de

uma grande maioria já ter viatura própria. Paulatinamente cresceu a habitação, e

continuo a ter a mercearia de bairro. Ao redor surgiram os supermercados os centros

comerciais e os hotéis, e hoje tenho no final da rua, a vista agradável da marina da

Afurada.

Pode não ser o melhor que há, mas é a minha terra. Não consigo imaginar viver em outro

lugar.

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Afurada

A freguesia de S. Pedro da Afurada é a mais jovem freguesia do concelho de V. N. de Gaia,

tendo tido como nome primitivo Furada, referenciada nos forais de D. Dinis (1288) e de D.

Manuel (1518). Era considerada na altura um areal próprio para a pesca à varga (“varina”

ou “barga”, que juntamente com uma rede de arrasto de linho, era utilizada para o sável,

savelha ou solha. Nasce como povoação no início do século passado com a chegada de

pescadores oriundos das praias de Espinho à Murtosa, que aqui se radicam e se dedicam

a vários tipos de faina de pesca, a única actividade económica do lugar de Afurada.

Inicia um processo de crescimento na sua actividade piscatória, principalmente a

sardinha, com a construção de 3 pequenas traineiras ainda a vapor (até aqui utilizavam

pequenos barcos a remos) que, em conjugação com a pesca do sável e da lampreia no rio

Douro, passava a ser o principal centro piscatório do concelho.

Em reconhecimento pelo facto, foi dotado com um bairro de pescadores (90 residências)

na zona alta do lugar, uma escola de pesca, posto médico, da PSP e Guarda‐fiscal.

Empreendimento de âmbito social, inaugurado pelo então Presidente da República

General Craveiro Lopes (1951 a 1958).

Após um movimento cívico que teve como grande mentor o padre do lugar, muito

influente nos meios da época (Estado Novo), diz‐se, o até aqui lugar de Afurada, freguesia

de santa Marinha, é elevado à categoria de Freguesia decorria o ano de 1952. Adopta

como santo padroeiro o S. Pedro e passa a denominar‐se S. Pedro da Afurada.

S. Pedro de Afurada está situada na margem esquerda e junto à foz do rio Douro, sendo

uma das três freguesias consideradas urbanas do concelho de V. N. de Gaia. É uma

freguesia pequena, com uma área de cerca de 0,7km2 e uma população de 6.500

habitantes, que tem o mar e a cidade do Porto como horizonte. As comemorações ao seu

santo padroeiro, S. Pedro, realizam‐se a 29 de Junho com pompa e circunstância, tendo

os seus momentos altos, que enchem as ruas de forasteiros vindos de todo o lado, com o

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fogo de artificio e a procissão com a celebre bênção dos barcos, com a imagem de S.

Pedro junto ao rio e voltada para o mar. As gentes vareiras muito devotas vivem este

momento com muito fervor e devoção.

Localidade tradicionalmente pobre onde a fonte de rendimento provinha da pesca do rio

e de uma maioria que se distribuía por Matosinhos (centro piscatório com outra

projecção) para onde se deslocavam, na procura de trabalho que não existia na Afurada.

A ligação com este centro piscatório foi durante vários anos o sustentáculo económico

destas famílias. Tendo os pais com pouca formação escolar, os jovens logo após o ensino

básico (os que conseguiam) eram de imediato levados para a faina, tornando‐se uma

ajuda na economia das famílias.

Naufrágio Trágico

Em Dezembro de 1947 acontece aquele que viria a ser o maior naufrágio da actividade

piscatória em toda a costa Portuguesa. Apesar do bom tempo no momento da saída, a

frota pesqueira do porto de Matosinhos (mais de cem embarcações), devido a uma

mudança inesperada e repentina do tempo, vê‐se envolvida numa tempestade sem

precedentes (dizem os pescadores o mar é um “cão”), pondo em risco a vida daqueles

homens temerários e calejados pela vida do mar.

A luta com o mar num regresso apressado e aflitivo ao porto de pesca foi tenebrosa.

Daquela frota, autênticas cascas de noz ainda sem grandes condições técnicas, 4 ficam

para sempre no fundo do mar e, com elas, o desaparecimento de 152 homens entre

Miramar (Senhor da Pedra) e a barra do rio Douro. A ligação da gente da Afurada a

Matosinhos, leva toda a população a correr ao Cabedelo (junto à barra) com grande

angústia enchendo a praia de gritos, na esperança que o mar devolve‐se à praia o seu

ente querido familiar ou amigo. Conta a minha mãe, na altura com 20 anos, que os

momentos dramáticos vividos naquele dia e seguintes na praia do Cabedelo não deixaram

ninguém indiferente.

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Este acidente acaba por alterar de alguma forma o pensamento e atitude das gentes da

Afurada na sua relação com o mar, principalmente os mais jovens, que começam a

relacionar a sua actividade de outra forma. E se alguns dirigem a sua atenção para a pesca

do bacalhau, outros iniciam uma nova actividade na marinha mercante. Era o início da

emigração.

E com o princípio dos anos 60, década do grande êxodo de emigração em Portugal,

Afurada também não fugiu à regra.

Apesar de algumas melhorias, genericamente a terra continuava na mesma. As condições

de habitabilidade eram deficitárias. Não existia saneamento básico e raras eram as casas

que possuíam casas de banho. Durante muitos anos foi conhecida pela terra do balde,

uma vez que utilizavam o balde para transportarem todos os detritos que faziam em casa,

para posteriormente os lançarem ao rio com todos os reflexos inerentes em termos

ambientais.

Também na área de transportes a situação não era favorável e existiam apenas duas

hipóteses. A ligação por autocarro que passando pelo centro de V. N. de Gaia ligava ao

Porto, duas ou três vezes por dia, e um pequeno barco a remos (conhecido como caìco)

que ligava Afurada à outra margem do rio, Lordelo, nada apetecível, perigoso e de

consequências imprevisíveis quando as condições meteorológicas eram adversas.

O ambiente social na terra era muito complicado, com ligações familiares onde todos são

familiares de todos e se regem pelos mesmos princípios, qualquer situação de lana‐

caprina despoletava autênticas batalhas campais, que nem a pouca polícia existente

conseguia pôr cobro.

Em 1961 as duas margens passam a estar ligadas por uma lancha de transporte e em

1963 é inaugurada a ponte da Arrábida. A Afurada vai‐se alterando.

A Pesca do Bacalhau

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A pesca do bacalhau em determinado momento foi, sem dúvida, uma saída para a

população piscatória da Afurada. Existiam duas vertentes para esta opção. A primeira

tinha que ver com a tentativa de melhoria de vida, mesmo tendo em conta a dureza desta

actividade. A segunda como uma oportunidade dada aos jovens em idade militar, que na

sequência de um acordo com o Ministério do Mar, criam um Decreto‐lei que permitia a

quem fizesse 7 viagens ficar livre do serviço militar obrigatório. Recordo que por esta

época estávamos em guerra no Ultramar, e esta era uma saída para evitar a guerra.

As viagens da frota bacalhoeira duravam em média 5/6 meses, uma faina que tanto tinha

de dura como perigosa, acabando muitos pescadores desta terra por ficar

definitivamente por aqueles mares gélidos da Terra Nova e da Gronelândia. A pesca era

feita a nível individual e feita à linha nos tradicionais “dorys” de 3/4 metros com uma

capacidade de 300kg de pescado diário. Com a passagem da pesca para uma situação de

arrasto e com a limitação de quotas de pesca impostas a Portugal pelo Canadá

(salvaguarda de espécie em vias de extinção), o sistema foi perdendo força e acaba por

extinguir‐se, pelo menos ao nível local, em meados de 1974.

Marinha Mercante

Com o conhecimento e a habituação ao mar, os afuradenses arriscaram a emigração para

países como a Holanda e a Alemanha, na procura de uma vida melhor, como tripulantes

nos barcos de transporte de carga marítima. Sem formação ou qualificação, partiam na

esperança de encontrar uma oportunidade. Durante anos percorreram oceanos, portos

de mar e de rio, outras gentes, outras culturas e, hoje quando em conversa relembram os

tempos idos, conseguem a custo lembrar‐se de um ou outro porto por onde passaram,

onde nada mais ficou do que o conseguiram amealhar com o trabalho realizado.

Com o 25 de Abril começam paulatinamente as melhorias estruturais da Afurada. O

regresso dos emigrantes traz novos investimentos, nova frota com mais emprego,

remodelação e construção de novas casas nas encostas sobranceiras ao rio já em terrenos

de Canidelo, restaurantes e hotéis e a freguesia começa a ser diferente. As tradicionais

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inundações do rio Douro (com as situações dramáticas originadas) escasseiam, com ajuda

do complemento da rede hidroeléctrica ao longo do rio. As novas gerações de jovens

homens e mulheres optam por outras actividades (indústria e comércio), mas sem

paternalismo ou superioridade balofa que apesar de toda uma melhoria económica

indiscutível, infelizmente (talvez como em muitos outros lugares) a mentalidade, os

princípios básicos como a educação e o respeito pelos outros ainda continuam um pouco

arreigados.

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O programa Polis

Resulta da reflexão e amadurecimento de documentos e programas, que tinham vindo a

tomar forma desde 1990 em Portugal e no quadro da EU (União Europeia). Após algumas

iniciativas durante a década de 90, surge em Março de 2000 por despacho

governamental, a definição que viria a contratualizar este programa.

Melhorar a qualidade de vida das cidades, através de intervenções urbanísticas e

ambientais, melhorando a atractividade e competitividade dos pólos urbanos.

Requalificação urbana, com uma forte componente de valorização ambiental.

Requalificação e revitalização das cidades que promovam a sua multifuncionalidade.

Apoiar todas as acções, que permitam a qualidade do ambiente urbano e valorizar

elementos ambientais estruturantes tais como as frentes de rio ou costa.

Apoiar iniciativas que visem aumentar as zonas verdes, promover áreas pedonais e

condicionar o trânsito automóvel nas cidades.

Levando à letra todos os princípios e objectivos específicos consignados, a Câmara de

Gaia levou a efeito por todo o Concelho, em especial junto à orla marítima e em

particular na Afurada e em toda a marginal ribeirinha, transformações que alteraram

definitivamente o aspecto e a qualidade de vida das populações, tornando‐os em locais

aprazíveis e atractivos.

Na Afurada construíram um cais para embarcações, que serve em simultâneo como porto

de abrigo. Todas as ruas foram alteradas com a criação de saneamento básico. Foi criada

a zona pedonal em toda a marginal que entrando em Canidelo vai confluir com a zona

pedonal da orla marítima, zona esta aproveitada para os já conceituados concertos anuais

de musica pop (Marés Vivas), apesar dos transtornos para os locais nos três dias que leva

o evento.

E que dizer da rede de esgotos e aguas pluviais, precedentes da parte Ocidental e Norte

do Concelho, que ao longo de vários quilómetros são transportados com a ajuda de

estações elevatórias e levados até à Etar Gaia Litoral, uma das maiores e mais sofisticadas

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da Europa, para após tratamento os resíduos serem descarregados no mar a 30m de

profundidade através de um exutor submarino com 2,5km de comprimento.

Existe ainda um projecto, que em consonância com a marina actualmente em construção,

dotará a encosta sobranceira ao rio (quinta Marques Gomes) assim como os terrenos da

antiga seca do bacalhau, de Hotéis, zonas residenciais e outros tipos de equipamentos

que, a curto/médio prazo, transformarão uma zona anteriormente degradada numa zona

turística por excelência.

A Afurada alterou definitivamente.

Hoje é visível a afluência de gentes de outras paragens que procuram desfrutar deste

novo visual e degustar algumas das suas especialidades, sendo expectável que as

melhorias notórias actuais, sejam acompanhadas em todas as vertentes sociais para bem

da Freguesia e da população residente.

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Urbanismo

Podemos relacionar o urbanismo com o estudo, o controlo e o planeamento, sendo visto

como uma ciência aplicada de carácter multidisciplinar no contexto de uma sociedade em

constante crescimento demográfico, como respostas a uma forte pressão de civilização e

urbanidade. A mobilidade é sempre um factor de progresso e crescimento económico.

Por vezes com prejuízo para o interior que se vai desertificando, com as saídas para as

grandes metrópoles, onde surgem as urbanizações.

Nos dias que correm, temos pouco tempo para pensarmos onde vivemos, excepto

quando pensamos mudar de casa ou de país, se circunstancialmente formos obrigados a

tal. Temerosos com as mudanças, agarramo‐nos à vontade inconsciente de nos

mantermos ao que nos é familiar, como a casa perto dos familiares, o emprego que

deixou de ter segredos, os transportes, vias de acesso ou atalhos para chegar a qualquer

lado, faz tudo parte da nossa enciclopédia mental.

Conscientes do nosso “bairrismo” por vezes exacerbado que nos orienta, esquecemos

muitas vezes conceitos que deveríamos aprofundar. Quantos de nós se preocupam com

as Assembleias de Freguesia, com o plano de ordenamento do território ou o PDM (Plano

Director Municipal), não tendo qualquer moral para contestar quando se inicia aquilo que

consideramos uma aberração. Eu, pela minha parte, reconheço que nunca. Num tom

crítico, aceitamos as regras que as Câmaras Municipais ditam, seguindo normalmente

orientações que vão chegando de cima, sem qualquer preocupação ou conhecimento da

situação concreta da localidade e da realidade, ou ainda mais grave, sem qualquer

uniformização global ou conceito urbanístico.

Apercebemo‐nos com facilidade dos impactos visuais que nos aparecem num simples

passeio com a família ao domingo. Por um lado, a desertificação acentuada das zonas

rurais, onde prevalecem as moradias dos emigrantes (nada tenho contra, antes pelo

contrário) muitas vezes, diga‐se em abono da verdade, com muito mau gosto. Por outro

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lado, a evolução das cidades dormitório na periferia das grandes cidades sem qualquer

conceito urbanístico, criando uma simulação de caixotes verticais amontoados, que as

pessoas, sem alternativas mais aprazíveis, são obrigadas a ocupar.

No entanto algumas coisas positivas subjacentes acontecem. Melhoram‐se vias de

comunicação, criam‐se centros comerciais e fixa‐se o comércio, aumenta o emprego e a

economia local. Por outro lado, as partes negativas acentuam‐se, como o aumento da

densidade populacional que se traduz num aumento de transportes públicos e privados

(o que supostamente deveria continuar a acontecer), os espaços livres são ocupados e

retirados das zonas de lazer, desaparecem árvores e jardins, com o ambiente a degradar‐

se acompanhando a nossa qualidade de vida. Penso nas novas gerações e nas que se

seguirão, recordando os meus tempos de infância e os espaços que dispunha para correr

e saltar.

Portugal, é considerado como sendo um dos países da União Europeia com melhores

condições de trabalho e residência para estrangeiros. Mas, apesar da evolução e da ajuda

inquestionável que o Polis trouxe até nós, assim determina e designa os seus programas

de contratualização:

Melhorar a qualidade de vida das cidades, através de intervenções urbanísticas e

ambientais, melhorando a atractividade e competitividade dos pólos urbanos.

Requalificação urbana, com uma forte componente de valorização ambiental.

Requalificação e revitalização das cidades que promovam a sua multifuncionalidade.

Apoiar todas as acções, que permitam a qualidade do ambiente urbano e valorizar

elementos ambientais estruturantes tais como as frentes de rio ou costa.

Apoiar iniciativas que visem aumentar as zonas verdes, promover áreas pedonais e

condicionar o trânsito automóvel nas cidades.

Sentimos que muito haverá ainda para fazer, quer no combate ao desequilíbrio do betão

existente, quer na procura de uma melhoria urbanística uniforme e homogénea.

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Ruralidade / Urbanidade

A ruralidade de hoje nada tem a ver com a ruralidade de outros tempos, tempos esses em

que me deslocava, em período de férias escolares, para casa de familiares já transcrito

em texto anterior. Local que, apesar de distar apenas cerca de 60 km da cidade do Porto,

designávamos como o Portugal profundo, demorando várias horas a lá chegar. Locais

praticamente isolados de tudo, onde as casas com as portas sempre abertas, e onde a

ligação entre as pessoas eram o exemplo de uma vida sem complexos, solidária, fraterna,

sem chauvinismos bacocos, enfim… sem comparação. Eram estes locais, que sem grandes

meios em equipamentos ou máquinas, se dedicavam à agricultura, à pecuária ou ao

pastoreio, a crua e nua Ruralidade, que por oposição às zonas urbanas, se definiam como

meios rurais ou campo. Actualmente, especialmente algumas grandes superfícies, foram

transformadas em zonas protegidas como áreas de conservação ambiental (flora, fauna

ou outros recursos naturais), passando a ter outra importância económica, por exemplo,

através de turismo rural ou ecoturismo.

Depois da desertificação das aldeias ao longo dos últimos anos, através da emigração ou

da imigração para as cidades do litoral, assistimos hoje a uma tendência de sinal

contrário. Pessoas com capacidade económica optam por ir residir para aldeamentos tipo

residencial permanente, com infra‐estruturas colectivas, de alguma forma uma vivência

análoga às da aldeia de outros tempos mas com todos os luxos, ou então, pela compra da

segunda casa na aldeia, que depois de alterada com todo o conforto, passa a ser o refúgio

dos fins‐de‐semana ou férias, longe da cidade. Normalmente, perto de um nó de auto‐

estrada ou de uma estação de caminho‐de‐ferro, para que o acesso seja rápido e o modus

vivendi não se altere. O movimento a que assistimos revela a crise das grandes cidades,

onde os centros perdem residentes, acentuando‐se as cidades dormitórios que se criam

nas proximidades e se transformam em grandes áreas metropolitanas, onde rapidamente

se avolumam os problemas sociais e ambientais. Ou seja, o pequeno grande caos diário,

do trânsito, dos transportes, do aumento de CO2 e todas as outras implicações

subjacentes e sobejamente conhecidas.

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As novas tecnologias de comunicação, contribuíram também para este esbatimento da

cidade. Hoje qualquer pessoa fora da cidade recebe a mesma informação que os

residentes e têm condições para, a partir de ali, realizar todas as áreas de negócios, que

até então só era possível nos grandes centros. O retorno às origens é a vontade de

preservar as identidades. As aldeias continuam a ser um ponto de referência, um

elemento de identificação, tanto para os que lá nasceram e de lá partiram, como para os

que como eu, não tendo nascido, temos na nossa genealogia valores de quem lá nasceu.

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Emigração / Imigração

Nos conceitos migratórios, encontramos a Emigração como a vontade e o acto

espontâneo de deixar o seu local de residência para se estabelecer numa outra região ou

país. As razões que levam uma pessoa ou grupos a emigrar são muitas, desde condições

de ordem políticas, situação económica desfavorável, perseguições religiosas ou guerras.

Existem ainda razões de cunho individual, tais como mudar para o país do cônjuge

estrangeiro após o casamento ou para climas mais amenos por questões de doença ou

outras. As emigrações tiveram um profundo impacto no mundo pelos séculos XIX e XX,

quando milhões de famílias deixaram a Europa para buscar uma nova vida em países

como os Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, Argentina ou Austrália.

A grande emigração para França é algo relativamente recente, data do final dos anos 50,

quando cerca de 1,5 milhões de portugueses emigraram para este país. A maioria está

hoje muito bem integrada na sociedade francesa tendo uma crescente influência política.

A emigração de portugueses para França entre 1961 e 1974, é um dos episódios mais

impressionantes da história contemporânea de Portugal, constituindo uma verdadeira

debandada do país. Estes portugueses reconhecidos hoje, como gente ordeira e

trabalhadora mas com pouca qualificação, instalam‐se em França, dispostos a

trabalharem em tudo que lhes apareça. As formas brutais de exploração a que foram

sujeitos, começam com as redes que os transportava até à fronteira, e não raras vezes os

abandonavam, muitos morreram pelo caminho. Em França são vítimas de todo o tipo de

descriminações, no trabalho, no alojamento e nas mais pequenas coisas do dia‐a‐dia,

humilhações que a custo suportavam. Poucos esperam enriquecer, mas todos esperam

uma vida mais digna que lhes é negada na própria terra. Saem de forma clandestina, com

todas as leis a revelarem‐se ineficazes. É a desertificação de regiões inteiras, com as

consequentes rupturas nas suas estruturas económicas, sociais e culturais. Nada seria

como dantes.

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Imigração

Ao contrário da emigração, considera‐se como o movimento de entrada, com ânimo

permanente ou temporário e com intenção de trabalho e / ou residência, de pessoas ou

grupos, de um país para outro. A Europa já foi um Continente muito aberto às imigrações,

principalmente em momentos de pós‐guerra, que serviam como uma maneira de

“reposição” de pessoas, e mão‐de‐obra barata para a sua reconstrução. Hoje, esta

abertura está mais condicionada, países como a Holanda, França, Alemanha e Reino

Unido, já criaram leis para dificultar entradas, que não provenham de países

comunitários. Mas, apesar das leis comunitárias determinarem livre circulação de pessoas

e bens, o mercado de trabalho é bem mais complexo. Cada vez mais o emigrante actual

tem outra qualificação (já não estamos nos anos 60), e considerando as taxas médias de

desemprego comunitárias, os naturais dos países sujeitos à imigração temem pela

segurança do seu próprio emprego. Aumenta a pressão popular e criam‐se movimentos

anti‐imigração, a França é um exemplo paradigmático disto mesmo.

Portugal é um país predominantemente de emigração, mas após o 25 de Abril, passamos

por períodos altos de imigração. Tínhamos um país atrasado e parado no tempo que era

necessário reconstruir. Primeiro com o regresso dos chamados “Retornados”, não por

serem propriamente imigrantes, mas era preciso empregar e integrar. Os milhares e

milhares de naturais das ex‐colónias portuguesas que se instalaram em Portugal, e que

aqui fazem a sua vida com exigências como se de naturais se tratassem. A expo 98, o Euro

2004 em futebol, onde foram necessárias grandes doses de imigração de países de leste.

Com a economia em recessão, com as taxas de desemprego em crescendo aumenta a

insegurança e a criminalidade, e com os políticos que temos em que a sua única filosofia é

o lado mais fácil, a receita de impostos, sem se preocuparem com medidas de

crescimento económico. Que será de toda esta gente.

Talvez a saída passe pelo regresso ao passado, quando as emigrações tiveram um impacto

profundo no mundo, nos séculos XIX e XX. Um grave problema se coloca em termos de

futuro aos políticos actuais, e em alguns países. Por um lado as baixas taxas de natalidade

na maioria dos países ditos desenvolvidos, por outro, a questão das reformas antecipadas

ou por direito, num mundo envelhecido em que o numero de trabalhadores activos é

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cada vez menor, e onde as receitas tributárias, são a parte de leão do equilíbrio das

contas públicas. Qual será a situação económica das futuras gerações, com a falta de

trabalho e de trabalhadores que contribuam para estes encargos.

Neste novo mundo global, é necessário e urgente acabar com dogmas e filosofias baratas.

Pensem na humanidade.

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Segurança Rodoviária

O estado da sinistralidade nas estradas portuguesas é deveras preocupante para todos

aqueles que, conscientemente, conduzem as suas viaturas e assistem a todo o tipo de

barbaridades, quando não são, também, vítimas de alguns “cowboys” da estrada. Uma

das preocupações de qualquer Estado é a garantia da segurança dos seus cidadãos, em

que a segurança rodoviária não foge à regra. Portugal é um país que apresenta elevados

índices de sinistralidade. Considerando esta fatalidade originada, quanto a mim e em

grande parte, por comportamentos inqualificáveis de alguns (muitos), foi criado em 2003

um Plano Nacional de Segurança Rodoviária, estabelecendo prioridades, objectivos a

atingir a curto prazo e medidas a tomar.

Algumas das prioridades relacionam‐se com a velocidade, tanto em estrada como dentro

das localidades, dos utilizadores de veículos de duas rodas e de pesados (como é

diferente a condução destes quando passam a fronteira), combate à fadiga e ao uso do

álcool, melhoria de estruturas de segurança, de sinalização rodoviária e melhor socorro às

vítimas. Estes objectivos apontam para a redução da sinistralidade e respectiva

diminuição do número de vítimas, mortais ou não. Ou seja, um plano que na minha

óptica, tem como simples finalidade a redução estatística da sinistralidade, através de

medidas restritivas e penalizadoras para os infractores, tentando limitar abusos através

de autêntica caça à multa.

Conhecendo bem os portugueses, estamos certos que, numa primeira análise, se

conseguem alguns resultados. O aumento da fiscalização (medo da multa), a rede viária

sofreu uma alteração extraordinária, que com a utilização de separadores e melhor

sinalização tanto vertical como horizontal, a criação de mais passadeiras e a proliferação

de rotundas nas zonas urbanas também ajudaram. Mas, a questão de fundo continua lá.

Um tema sempre actual e com discussão ao nível da psicologia comportamental, tem a

ver com o medo (fazer ás escondidas) e o respeito assumido. É consensual que o respeito

conquista‐se na base de um relacionamento correcto, na interiorização da situação em

concreto, dando ao outro a oportunidade de opinião, no fundo respeitando para ser

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respeitado. Vem a propósito e como exemplo, o ambiente familiar, onde o papel do pai

tantas vezes deturpado (ontem mais que hoje felizmente) até pela própria mãe, fazendo

deste o mau da fita não pelo respeito assumido, mas pelo medo do castigo ou da

penalização. Ou o que se passa de forma figurativa, no comportamento de uma grande

maioria de condutores portugueses, com um olho no volante e outro na berma da

estrada à procura da polícia, para poder executar manobras que em princípio não

deveriam fazer. Isto para não falar naqueles iluminados que com sinais de luzes, vão

informando o trânsito em sentido contrário que a polícia está mais adiante. Esta é a

mentalidade, é a forma de estar na estrada de muitos dos nossos condutores. O princípio

correcto de um bom plano de segurança rodoviária passa pela vivência familiar, pela

escola, pela formação educativa, pelo respeito pelo outro e, principalmente, pela

exigência de uma boa preparação formativa da prática de bem conduzir. Quantos têm

hoje a honestidade intelectual de assumir um erro cometido na estrada, sem chamar a

polícia na procura de esta encontrar uma deficiência no outro e assim escapar a uma

penalização? A culpa é das leis entretanto criadas, desresponsabilizantes e corporativistas

em benefício das Seguradoras e dos prevaricadores.

O código de estrada é claro estabelece regras e comportamentos. O grande problema

passa pelo seu cumprimento e principalmente pelo seu conhecimento e, aí, poderemos

encontrar também outros dos busílis desta questão. O cinto de segurança poderá ser

óptimo em momentos críticos para o condutor, mas normalmente o problema está em

quem vai dentro do cinto. Não é com certeza o cinto que vai executar uma manobra

perigosa interdita e originar um acidente grave.

Recordo que tirei a minha carta de condução no ano de 1976. Existia por esta época a

exigência de um mínimo de aulas de condução e, em simultâneo, a frequência das aulas

de código, com apresentação e discussão de exemplos práticos de condução. O exame

era realizado todo no mesmo dia (código e condução), onde já na viatura eramos

bombardeados pelo examinador, das mais diversas situações do código que requeriam

respostas sem tibiezas e só passando esta fase iniciaríamos o trajecto de condução, que

nos habilitaria a concessão da carta de condução. As alterações posteriores, pelo sistema

de respostas tipo cruz, criaram quanto a mim algum facilitismo no conhecimento do

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código, chegando na maioria dos casos uma identificação com os sistemas de exercícios

disponíveis tipo teste, onde a parte prática das aulas fica fora da aprendizagem.

Tive a sorte de frequentar uma escola de condução, onde o instrutor era um técnico

extraordinário e a filosofia da escola não passava só pelas estatísticas das aprovações em

exame, mas também pelo prestígio da qualidade de aprendizagem. Na antevéspera do

meu exame, fui sujeito a um primeiro teste de avaliação pelo responsável e dono da

escola, um senhor que já não sendo novo mas com grande experiência e conhecimento,

fazia questão de uma última avaliação dos formandos. E sem volante auxiliar levou‐me a

fazer um dos trajectos previsíveis do exame. No primeiro cruzamento que passei, sem

qualquer preocupação já que tinha prioridade, manda encostar e dá‐me o grande

ensinamento de condução, que ainda hoje recordo e sempre me acompanhou ao longo

dos 36 anos que levo de condução automóvel. “Acabou de passar um cruzamento sem

um mínimo de cuidado, e apesar da prioridade nunca esqueça, que é tão culpado o que

bate, como o que não evita o acidente”, disse.

Dizem as estatísticas, que desde 1998, assistimos em Portugal a uma queda progressiva

da sinistralidade. A melhoria do parque automóvel e as grandes melhorias na rede viária

poderão ser um reflexo, no entanto, os números continuam preocupantes. Devido à

minha actividade profissional, percorri centenas de milhar de km por todo o Portugal e

não só. Pelo que vi ao longo dos anos, sem qualquer tipo de dúvidas, o problema está nas

pessoas e seus comportamentos. O respeito pelo código da estrada e pelos outros, o

civismo e as boas práticas de uma condução preventiva, são condições “sine qua non”

para uma alteração definitiva na segurança rodoviária portuguesa.

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Saberes Fundamentais

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ADN / Engenharia Genética

Todos os seres vivos têm um ADN próprio e exclusivo, não havendo qualquer hipótese de

repetição. É pois um composto orgânico, cujas moléculas contêm as instruções genéticas

que coordenam o desenvolvimento e funcionamento dos seres vivos. Os segmentos do

ADN que contêm a informação genética são denominados genes. O restante da sequência

tem importância estrutural ou está envolvido na regulação do uso da informação

genética.

A estrutura da molécula de ADN foi descoberta por dois cientistas em 1953 e, a partir

desta altura, os avanços entretanto realizados atingem limites inimagináveis. Abstraindo

a comunidade científica, é muito difícil para nós comuns dos mortais, entender e

compreender este avanço da ciência e transportá‐lo para o nosso dia‐a‐dia, com todas as

razões de ordem moral, cultural ou ética. O genoma é o nome dado ao conjunto

completo de cromossomas existentes num organismo. Os cromossomas estão

distribuídos por pares, que por sua vez contem os genes. Os genes são as unidades

específicas da hereditariedade, unidades indivisíveis dos cromossomas onde se situam.

Toda esta informação é codificada pelo ADN.

O corpo humano é uma máquina extraordinária, sem comparação possível apesar da

evolução tecnológica e de todos os avanços conseguidos. A evolução e transformação do

ser humano levam milhões de anos de existência, transportando de forma figurativa a

descoberta dos anos 50 do século passado para as novas tecnologias, levando‐me a

pensar e comparar o ADN, a molécula que sempre lá esteve por formação espontânea, e

o pequeno microchip tão importante na era moderna e no avanço das novas tecnologias.

O conhecimento da existência do ADN, das suas propriedades e informação transmitida,

permite‐nos hoje aproveitar a codificação existente e direccioná‐la para fins diversos. Por

um lado, temos a engenharia genética que afloraremos mais adiante, por outro, temos

por exemplo a medicina forense. A técnica da impressão genética permite identificar

através do sangue, sémen, pele ou saliva de forma quase 100% fiável, tanto a

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identificação de um presumível criminoso, como prova de consanguinidade nas análises

de paternidade.

A lei natural da vida diz‐nos que nascemos, vivemos e que um dia morreremos. Assim, o

dia do nascimento é o primeiro do resto das nossas vidas. E esta afirmação leva‐nos à

questão de até que ponto a engenharia genética deve interferir na ordem natural das

coisas e nos levar para lá do razoavelmente aceitável.

O princípio da engenharia genética consiste em transferir um gene de uma célula de uma

espécie para células de outra espécie, de maneira que as células receptoras obtenham

propriedades novas ligadas ao gene transferido. As alterações de genes, através da

modificação dos genes dos óvulos ou dos espermatozóides, poderão influenciar a

constituição da espécie humana. Pela sua natureza, o desenvolvimento da engenharia

genética terá que conviver com problemas legais e éticos. A manipulação do genoma de

seres vivos, com fins de modificação da espécie, deverá merecer um controlo rígido da

sociedade, já que poderá gerar polémicas ético‐morais.

A engenharia genética desempenhará um papel cada vez mais importante no futuro, nos

domínios da saúde, da agricultura, do sector agro‐alimentar e não só. Ao nível da saúde,

os avanços permitem conhecer através do genoma as causas da maioria das doenças,

permitindo com o seu conhecimento diagnosticar e curar muitas delas, assim como

prever os potenciais riscos das mesmas ocorrerem. A este nível, penso que poderá ser

consensual a utilização do conhecimento, já que retirará sofrimento e aumentará a

qualidade de vida das pessoas. No âmbito da manipulação genética, o consenso será mais

difícil de conseguir, até porque, influenciar a espécie humana, a clonagem ou mesmo a

utilização de células estaminais, provocará riscos que a bem da humanidade é necessário

preservar. Sabemos que em Espanha, Grécia e Itália é completamente interdita qualquer

investigação sobre a clonagem, enquanto em Portugal não está se quer previsto qualquer

tipo de legislação. Isto significa que é teoricamente possível realizar em Portugal a técnica

da clonagem.

Os riscos referem‐se tanto ao uso científico, havendo sempre a possibilidade de

utilizações abusivas, como a sua aplicação na sociedade. A descriminação entre pobres e

ricos, mecanismos de descriminação genética entre trabalhadores ou até mesmo a

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exigência de análises para qualquer tipo de seguro, são exemplos de hipóteses que

teremos de considerar.

Dizem os especialistas, que o objectivo da investigação da clonagem humana nunca foi

clonar pessoas, tendo como único objectivo obter células estaminais para a cura de

doenças. Será? A experiência com a ovelha Dolly, o seu envelhecimento prematuro, não

terá nada a ver com isso? As células estaminais podem transformar‐se em vários tipos de

células diferentes, através de um processo chamado “Diferenciação”. Na fase inicial do

embrião, as células estaminais diferenciam‐se em todos os tipos de células existentes no

organismo. O espectacular poder natural destas células, geneticamente controladas,

poderão eventualmente servir para curar vários tipos de doenças. Uma vez que a

utilização de embriões é uma questão eticamente controversa, provavelmente ainda

demorará a possibilidade da sua utilização. Existe a legislação específica de cada país, que

como sabemos, não é uniforme na forma de observar este tema.

Abordamos de alguma forma uma engenharia genética, pretensamente direccionada pela

positiva, outras áreas ficaram por comentar, casos da agricultura ou agro‐alimentar por

exemplo. No entanto, não poderia deixar de abordar, embora de forma ligeira, talvez a

maior preocupação do Mundo actual, a engenharia genética ao serviço militar, ao serviço

da guerra. Apenas para que conste.

As enormes perspectivas que a engenharia genética biológica encerra nos mais diversos

domínios, fazem desta um importante instrumento e de grande preocupação na defesa

dos Estados. A produção de organismos geneticamente modificados pode ser utilizada

através de armas biológicas. Sabendo desta realidade, apetece perguntar…que se faz em

Portugal face a uma ameaça de ataque biológico? O bioterrorismo consiste na libertação

deliberada de agentes ou toxinas de origem biológica capazes de causar doenças ou

morte entre as populações. Estes agentes encontram‐se na natureza mas podem ser

geneticamente alterados, tornando‐se mais resistentes às terapêuticas existentes. Estes

processos podem ser disseminados de várias formas, o mais utilizado é sem dúvida o

processo por inalação. A exposição da vítima pode ser através do sistema respiratório, da

pele, da mucosa oro nasal. Como exemplo, recordemos o acontecido em 1995, no metro

de Tóquio, com gás Sarin.

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Rumos da Economia Portuguesa: Controvérsias & Incoerências

Crescemos numa era pós‐revolução industrial com o mundo aos nossos pés e ao alcance

dos grandes empreendedores. Para qualquer lado que nos viremos, rapidamente nos

apercebemos da sociedade em que estamos inseridos. Publicidade por tudo quanto é

lado, carros topo de gama a toda a velocidade rua abaixo, casas e hotéis luxuosos rua

acima, casas robotizadas, televisão, internet, etc.

Diariamente somos bombardeados com novas máquinas, novas invenções, criadas com o

único propósito de rentabilizar e aumentar a produtividade, de uma forma geral

salvaguardar os interesses dos empreendedores, e ajudar a mostrar um dos 7 pecados

capitais do homem: a preguiça. E sem darmos por isso, acomodamo‐nos à insensatez do

conformismo.

A cada dia que passa estas novas máquinas vão ganhando terreno, controlando o nosso

subconsciente, e hoje percebemos que entre avanços e recuos, o caminho que nos trouxe

até aqui não tinha só como objectivo a produção em série, mas também ajustar a

realidade como a conhecíamos e como gostaríamos de conhecer. Ao mesmo tempo,

percebemos que a revolução industrial foi mais do que este caminho selvagem, criou

métodos, objectivos produtivos, evolução tecnológica, regras e conceitos de segurança.

Criou a doença e a cura.

E nós homens profissionais neste mercado deficitário de trabalho, ou arrepiamos

caminho e acompanhamos toda esta evolução, ou iremos como já se faz sentir, fazer

parte da história.

Industrialização

A industrialização é um processo socioeconómico com o intuito de transformar uma

determinada área pretensamente retrógrada, em fonte de maior riqueza e crescimento

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económico. Transformação por meio do incremento de novas máquinas, que visam

substituir funções antes exercidas pelo homem, aumentando a produtividade, e

impulsionando o crescimento demográfico nas regiões em que ocorre. Ultrapassando a 1ª

revolução industrial, com o aparecimento da máquina a vapor, e posteriormente na 2ª

com a electricidade e o petróleo como fonte de energia, chegamos à informática e novas

tecnologias. Com o avanço paulatino então criado, a relação entre capital e trabalho vai‐

se impondo com o liberalismo económico e as novas relações entre nações, tornando‐se

o capitalismo o sistema económico vigente. A expansão da indústria está relacionada com

o processo das urbanizações, e o crescimento demográfico nas grandes cidades com os

fluxos migratórios, que originam por sua vez e por consequência, novas infra‐estruturas,

transportes, comunicação, e por arrastamento o inicio da degradação ambiental.

A industrialização chegou a Portugal com meio século de atraso em relação à Inglaterra, o

que nos manteve sempre atrasados, e que nos leva ao pagamento dessa factura até aos

dias de hoje. Com a política económica imposta pelo Estado Novo, ainda mais se acentua

essa desigualdade. Salvo raras excepções, na indústria (química, celulose, cimento e

alguma eléctrica e electrónica) a indústria portuguesa, estava direccionada para o sector

extractivo e têxtil, pequenas e médias empresas de origem familiar, onde a capacidade

produtiva se limitava ao factor humano. Sem grande apetência para a inovação

tecnológica, as nossas empresas foram perdendo competitividade (se é que alguma vez a

tiveram), e sem capacidade exportadora, limitavam‐se ao nosso pequeno mercado

interno, sem capacidade evolutiva. Vivíamos a fase, onde as remessas do dinheiro dos

emigrantes, eram factor importante para o equilíbrio das nossas contas públicas. Com o

25 de Abril, e a consolidação do sistema democrático, iniciamos um processo de alguma

abertura ao progresso industrial, que se vai acentuar com a entrada na C.E.E. em 1986,

com os programas de ajuda económica e financeira.

Com o objectivo de rapidamente atingir parâmetros de qualidade de vida, consentâneos

com as novas realidades, iniciamos um processo de investimentos tanto públicos, como

privados, onde a chegada de investimento estrangeiro foi e continua a ser importante. A

última década do século XX e o inicio do século XXI, foram por demais evidentes. A

construção civil e obras públicas, com a requalificação e construção de novas vias de

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comunicação, pontes, sector habitacional, eventos como a “Expo 98” e o campeonato da

Europa de Futebol de 2004, foram a mola de desenvolvimento, o abanão que Portugal

necessitava. Por outro lado, a chegada de novas multinacionais, com relevância para o

sector industrial, criaram algum avanço tecnológico. A criação de regimes especiais entre

o Governo e as autarquias Locais para a implementação destas empresas, em parques

industriais em várias zonas do país, foram uma mais‐valia para a criação de emprego, e

melhoria económica para as populações. Salientaria como exemplo, a área do sector

automóvel, e seus componentes de cablagem e afins, o sector do calçado e energia

renovável. O crescimento económico não sustentável neste período, foi pura ilusão,

viríamos rapidamente a dar‐nos conta da realidade. O grande problema destes grupos

económicos, é a tendência para o lucro fácil através de regimes fiscais especiais, e

aproveitamento de mão‐de‐obra barata e com pouca sustentabilidade a prazo, que às

primeiras dificuldades, encerram com os prejuízos locais e nacionais inerentes.

Desindustrialização

A desindustrialização é um processo social e económico causado pela eliminação ou

redução da capacidade industrial de um país ou região, especialmente a indústria pesada

ou transformadora. Uma das teorias passa pela perda de lucros das empresas. Em

Portugal sempre existiu o conceito de produtividade baseado na mão‐de‐obra barata.

Com a globalização e a inovação tecnológica, os meios de produção aumentam

originando um aumento de produtividade, uma maior produção de valor por unidade de

capital investido.

As empresas portuguesas, a maioria de origem familiar e com uma cultura de gestão

económica muito sedimentadas nas estruturas do fascismo, mantêm ao longo do tempo a

filosofia do lucro fácil e apenas competitivo, pelo lado da mão‐de‐obra. Algumas das

multinacionais entretanto chegadas, usaram e abusaram das facilidades económicas e

fiscais de investimento facultadas, utilizaram os mesmos princípios em quanto deu e, ao

mais pequeno sinal de perda de competitividade, encerraram ou deslocalizaram.

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A deslocalização não é propriamente uma desindustrialização, mas as bases, os princípios

económicos, e os transtornos criados às populações e ao país são os mesmos. As

empresas com filosofias económicas modernas, que fazem da inovação tecnológica as

bases da sua competitividade, não encerram, não deslocalizam e os níveis de quotas de

mercado irão com certeza acentuar‐se. Temos entre outros, o grande exemplo da Auto

Europa, que afirmam ir manter o acordo de empresa (AE), pois em termos de gestão, já

estão mais à frente que o último acordo de concertação social.

A globalização passou a ser uma realidade, e as consequências da competitividade não se

fizeram esperar. Ao nível Europeu com a abertura das barreiras alfandegárias (fim das

taxas alfandegárias), principalmente a produtos asiáticos, foi o princípio do fim de

grandes empresas nacionais, especialmente na zona norte, e nas indústrias têxteis e

calçado em particular. As empresas cujas transacções comerciais se realizavam em Euros

(€), com a sobrevalorização face ao Dólar foram perdendo competitividade nos mercados

exportadores, em especial no americano. O prazo de protecção concedido para a

indústria europeia, pelo período de 10 anos se poderem modernizar, passou rápido. Que

foi feito na maioria das empresas? Nada. Relembro as preocupações tornadas públicas

pelas empresas, no final da cláusula de salvaguarda. Com a perda de competitividade

aumentada, e com as dificuldades acrescidas no recurso ao crédito bancário, não tinham

grandes alternativas. E o descalabro dos encerramentos iniciou.

Com a crise financeira internacional em velocidade de cruzeiro, os encerramentos

continuam e o desemprego aumenta. A recessão económica vai‐se acentuando, e o

crescimento económico está longe de acontecer.

A Deslocalização

Com os problemas da globalização e da crise financeira internacional, e com a entrada de

novos mercados no espaço global, assiste‐se à debandada dos grandes grupos

(ultimamente até grupos portugueses tomaram o gosto), à procura de situações mais

favoráveis, para o fabrico e implantação dos seus produtos. Em Portugal, desde 2003 já

encerraram cerca de 200 empresas, dos mais diversos sectores por motivos de

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deslocalização. Normalmente esta, é motivada pela existência de custos inferiores (bens

primários, transportes, salários, impostos, subsídios, etc.). As estratégias passam pela

implantação geográfica em produtos ou linhas de produtos, (casos do sector automóvel

ou vestuário), formando‐se assim um sistema de produção hierarquizado, onde o grau da

valorização das especializações instaladas, têm a ver com o nível de desenvolvimento dos

países de localização. Em sintonia com o atrás descrito, assiste‐se a uma tendência de

concentração empresarial, com redução do número de empresas. Por exemplo, em 20

anos, passamos de 20 construtores no sector automóvel para menos de metade, na

fabricação de equipamentos e no mesmo período de tempo, de 30 mil para 3.500, dos

quais 20 representam metade do volume de vendas.

Ao incremento de multinacionais, corresponde a redução da capacidade de intervenção

dos estados nacionais, com a subjugação do poder político ao poder económico e com a

redução de direitos sociais. Este fenómeno tem grande impacto no emprego do país

deslocalizado (aumento de desemprego) e, é factor de destabilização laboral nos países

da nova localização. Seguindo este modelo de produção “mais flexível, mais rápido e mais

barato”, a deslocalização representa para milhões de trabalhadores, salários baixos,

horários de trabalho mais extensos, sem pagamento de trabalho extraordinário, ameaças

de despedimento até por má disposição da chefia, e falta de apoio nas situações sociais. A

isto devemos chamar aumento da exploração. (Ver ultimo acordo de concertação social

em Portugal, Janeiro de 2012). A deslocalização tem como principal objectivo aumentar o

lucro, principalmente pela pressão sobre custos, nomeadamente a força do trabalho.

Este processo só pode ser travado, com a introdução à escala nacional e internacional, de

regulação da deslocalização, criando mecanismos de responsabilização sobre as

empresas.

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25 De Abril

Esta data passa a fazer parte como uma das mais importantes da história de Portugal. O

golpe militar, que visava pôr fim a um regime ditatorial (Estado Novo) que vigorava desde

1933, inicia um processo que viria a terminar com a implementação de um regime

democrático, formalizado com a entrada em vigor da Constituição da República a 25 de

Abril de 1976. Fica conhecida em todo o mundo pela Revolução dos Cravos, através da

imagem feliz de uma criança a colocar um cravo no cano de uma espingarda. O Povo

voltava a ser livre e a ter voz.

Durante 40 anos o país viveu sob o jugo do fascismo, que, a coberto de uma Constituição

aprovada durante o mandato Presidencial de Óscar Carmona eleito em 1928. Controlou o

país através do partido único “União Nacional” e da sua polícia política, a PIDE (Policia

Internacional de Defesa do Estado), mais tarde DGS (Direcção‐Geral de Segurança), que ia

perseguindo os opositores ao regime. António Oliveira Salazar mantém‐se até 1968 altura

em que cai da cadeira e sofre lesões cerebrais. Foi substituído por Marcelo Caetano, que

faz uma gestão da ditadura um pouco mais branda, ficando conhecida como “Primavera

Marcelista”, acabando deposto com exílio no Brasil depois do 25 de Abril.

Nada mais evidente desta atrofia social, do que relembrar as décadas de 30 a 60 e

salientar a 2ª Guerra Mundial, onde todos os países do centro são invadidos pelas forças

expansionistas hitlerianas, com excepção do Sul, Portugal, Espanha e de alguma forma

Itália, que apesar da aliança encapotada com a França, logo após as primeiras vitórias das

forças aliadas, derrubam o governo de Mussolini e avançam até à vitória final (1945).

Este triunvirato (Salazar, General Franco e Mussolini), com as mesmas filosofias

ultraconservadoras fascistas, era os aliados perfeitos de Hitler para a sua visão

expansionista de tampão e controlo da Europa a partir do Sul. A Espanha tinha acabado

uma guerra civil (1936/1939), que com o apoio directo da Alemanha de Hitler leva ao

poder os nacionalistas do General Franco, onde o bombardeamento de Guernica é

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exemplo claro. Portugal debaixo de uma capa de neutralidade toma duas medidas

comprometedoras, enviando tropas para a frente nacionalista e, em simultâneo junto à

fronteira, impede e persegue os revoltosos em fuga. A Itália de igual modo envia tropas

na ajuda aos nacionalistas.

Portugal (Salazar), com novo acordo de neutralidade, já tinha dado todo o apoio ao

Generalíssimo Franco. A troco de um prato de lentilhas apoia Hitler com o envio de

volfrâmio e alimentos para a frente de batalha, transformando Portugal num país mais

pobre e com o maior período de fome (as filas para o pão e outros alimentos essenciais

são disso exemplo) jamais visto. Para os saudosistas evitou a guerra, para os outros,

amordaçou e impediu desenvolvimentos essenciais que viríamos a pagar durante várias

décadas.

A Itália acaba por ficar mal na fotografia, com o faz que anda mas não sai do sítio,

terminando vítima das suas próprias indecisões. Portugal, como o país mais pobre, mais

pequeno e mais periférico da Europa de entre os três, acaba por ser o mais penalizado, no

desenvolvimento económico e social que se seguiu ao pós‐guerra.

Sob o governo do Estado Novo, Portugal foi sempre considerado um país governado por

uma ditadura, quer pela oposição (honra seja feita ao Partido Comunista,

independentemente das opções politicas de cada um), quer pelos observadores

estrangeiros e instâncias internacionais. Numa época em que alguns países iniciavam os

seus processos de descolonização, Portugal mantinha uma política de manutenção do

“Ultramar”, apesar da forte contestação nos fóruns mundiais e em particular da ONU

(Organização das Nações Unidas), reforçando a sua defesa face ao alastramento dos

ataques independentistas em Angola, Guiné e Moçambique.

Com o condicionamento industrial, que protegia alguns monopólios e certos grupos

industriais e financeiros, o país continuava pobre, o que se manteve até à década de 60.

Esta situação origina o grande êxodo de emigração, com o complemento de jovens

mancebos com idade militar, que com o início da guerra do ultramar, aproveitam para

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fugir do país para evitar uma guerra sem sentido. Paradoxalmente ou talvez não, é

precisamente nesta década de 60 que se notam sinais de desenvolvimento económico.

E surge o célebre e famigerado “Orgulhosamente Sós”, que pelas opções de um passado

recente todos viram as costas a Salazar e posteriormente a Marcelo Caetano, situação

que só viria a desanuviar com o 25 de Abril.

Qualquer reforma política era impedida pelo sistema. O regime exilava‐se envelhecido,

num ocidente de países em franco desenvolvimento económico, social e intelectual. Em

momento alto da guerra fria, os grandes blocos capitalista e comunista, com políticas de

charme, financiam a guerrilhas nas colónias, tentando atrair influências futuras. São

exemplo disto mesmo, os apoios dos Estados Unidos da América à “UNITA” de Jonas

Savimbi e do Bloco de Leste ao “MPLA” de Agostinho Neto. Nem mesmo o desejo de

muitos colonos (futuros retornados) consegue evitar aquilo que todos premeditavam, o

fim da guerra e do colonialismo.

Preparação do Golpe Militar

A guerra colonial tornava‐se tema forte de discussão e era assunto de eleição para as

forças anti‐regime. Portugal, por esta altura, estava isolado do resto do mundo. Muitos

estudantes e opositores vêem‐se forçados a abandonar o país para escapar à guerra, à

prisão e à tortura.

A primeira reunião clandestina de capitães realiza‐se na Guiné, em Agosto de 1973. Uma

nova reunião acontece em Setembro já no Continente e dá origem ao MFA (Movimento

das Forças Armadas). A bola de neve não para de aumentar e, em Março de 1974, é

aprovado o primeiro documento do movimento que, clandestinamente, é posto a

circular.

O lançamento do livro “Portugal e o Futuro”, da autoria de António Spínola com a

cobertura de Costa Gomes, leva à demissão destes dois Generais (chefe e vice‐chefe do

Estado Maior General das Forças Armadas) a 14 de Março. Pela primeira vez, uma alta

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patente militar punha em causa publicamente o regime, advogando a necessidade de

uma solução política e não militar para o conflito do Ultramar.

Foi o princípio do fim. A 16 de Março acontece o levantamento (insurreição) das Caldas

da Rainha. Hoje, a esta distância no tempo, leva‐nos a pensar que esta acção fazia já parte

da estratégia de diversão, para ocultar o que estava para vir. E eu estava lá.

A 24 de Março acontece a ultima reunião clandestina dos capitães, que decide o derrube

do regime pela força e prossegue a movimentação secreta na preparação da estratégia

até ao 25 de Abril.

O Dia “D” e sequência cronológica

No dia 24 de Abril 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de

Carvalho instala secretamente o posto de comando do movimento no quartel da Escola

Prática de Transmissões (EPT), na Pontinha em Lisboa. Durante todo o dia, várias acções

vão sendo executadas de acordo com o previamente planeado. Entre as 17h30 e as 22h00

acontece os momentos cruciais do que viria a ser o dia da liberdade.

O grupo L34, composto por oficiais da academia militar, capturam o comandante de

cavalaria 7, a principal unidade afecta ao regime. Pelas 20h00, sem conhecer os

objectivos, o locutor Leite Vasconcelos (em dia de folga) é convocado para gravar poemas

do seu trabalho de rotina, com a finalidade de envolver a primeira senha. O censor

presente autoriza os textos e o alinhamento.

Às 21h00, na EPT, são montadas escutas às redes de comunicações da GNR, LP, DGS e

PSP. Simultaneamente foram montadas, ao Ministro e Subsecretário de Estado do

Exército, Chefe do Estado‐maior do Exército e Ministro da Defesa e foi aberta uma linha

directa de comunicações ao posto de comando da Pontinha (PC). Tudo foi possível. Dois

dias antes iniciaram‐se os preparativos técnicos necessários, incluindo a montagem de

cerca de 4km de cabo em menos de 24h.

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Às 22h00 o posto de comando do MFA está reunido na Pontinha, entre eles, Otelo, Victor

Crespo, Sanches Osório, Garcia dos Santos entre outros. Um capitão oficial da unidade

garantia a segurança do posto de comando.

1º Sinal

Aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, a voz de João Paulo Diniz anuncia

que faltam cinco minutos para as 23h e a música “Depois do Adeus”, de Paulo de

Carvalho no Euro Festival 1974.

Era o primeiro sinal para o início do fim. Entre este momento e os primeiros 20 minutos

de 25 de Abril, várias acções são desencadeadas. Na Escola Prática de Artilharia é preso o

comandante e segundo comandante; no Batalhão de Caçadores 5 em Lisboa, são

convocados os 30 oficiais que aderem na totalidade; na “EPA” e “BC5” são preparados

vários pelotões para intervenção.

2º Sinal

Às 00H20 é transmitida pela Rádio Renascença a segunda senha. Paulo Coelho é o locutor

de serviço nessa noite. Sem saber dos compromissos assumidos por dois dos seus

colegas, quase faz perigar a transmissão da senha à hora exacta por ter antecipado a

leitura de anúncios publicitários. Após alguns momentos de tensão na cabine técnica, é

posta a gravação previamente gravada e ouve‐se “Grândola, Vila Morena” de Zeca

Afonso. No final, o agente da censura ali presente, dá sinais de ter escutado algo que não

estava previsto. Neste momento inicia‐se o grande assalto há tanto tempo esperado.

A partir daqui os dados estavam lançados e tudo poderia acontecer. Até ao dia 26 várias

situações viriam a acontecer, sendo fastidioso pormenorizar passo a passo todos os

acontecimentos, uma vez que estão escritos e fazem parte da história. Nesta altura

estava em Lamego, a um passo de fazer parte deste momento alto da história e da

memória dos Portugueses.

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Gostaria apenas de salientar o momento determinante da revolução, com a saída da

Cavalaria de Santarém comandada por Salgueiro Maia pelas 03h30 e da sua chegada ao

Terreiro do Paço pelas 06h00.

E é justamente a partir daqui que irão acontecer os momentos mais marcantes. Por esta

altura, Marcelo Caetano entrava no Quartel do Carmo (GNR) que ainda estava com o

regime, avisado 1 hora antes pelo Director da PIDE/DGS Silva Pais, que a revolução

“estava na rua” e anunciando que a situação era muito grave.

Após o cerco das tropas de Salgueiro Maia ao Quartel do Carmo, com alguns tiros de

intimidação, Marcelo Caetano rende‐se pelas 18h00, após alguns encontros com Oficiais

Generais no propósito de não deixar o poder cair na rua. No rescaldo dos confrontos

ficam para a história 4 mortos, pelos disparos da PIDE/DGS, sobre um grupo de

manifestantes civis que se aglomeraram junto à sua Sede clamando justiça.

Consequências

A 26 Abril forma‐se a junta de Salvação Nacional constituída por militares, que dará inicio

a um governo de transição. O essencial do programa do MFA é, em síntese, resumido no

programa dos três “D”: Democratizar, Descolonizar, Desenvolver.

As medidas imediatas são a extinção da PIDE/DGS, da censura, sindicatos livres e os

partidos legalizados. Segue‐se a libertação dos presos políticos e o regresso ao país dos

líderes partidários no exílio, como foi os casos de Álvaro Cunhal e Mário Soares. Uma

semana depois é comemorado o 1º de Maio (Dia dos Trabalhadores), celebrado com

emoção e em plena liberdade, ao fim de muitos anos interdito.

Os dois anos seguintes são conturbados, designados pelo período “PREC”, com graves

confrontações entre facções de esquerda e de direita, principalmente a Norte. É o

período das nacionalizações e dos saneamentos políticos, normalmente conotados com o

Estado Novo. Acaba a guerra colonial e as colónias Africanas e Timor‐Leste tornam‐se

independentes.

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Ao fim de 37 anos a revolução continua a dividir a sociedade portuguesa, sobretudo nos

estratos mais velhos da população. Por qualquer lado que se pegue no tema, a discussão

centra‐se na luta dos estratos sociais. De forma resumida, pensa‐se que a partir de 1975

foram desfeitas as utopias criadas, que levaram à construção de um socialismo

democrático.

Os três D – Conclusão

Durante quase toda a metade do século XX, período fundamentalmente vocacionado

para uma ampla autonomização dos povos subjugados, nunca nenhum país procurou tão

rapidamente a concretização desta situação como Portugal.

O Portugal renovado e restaurado com o 25 de Abril. O Portugal renascido daquele que

foi o Estado Novo, o qual, que contrariamente ao seu conceito de Estado, nada trouxe de

novo à sua história a não ser empobrecimento e a um progressivo afastamento do

concerto das Nações civilizadas.

O novo Portugal, uma nova Nação, um novo país e um novo povo! Novo Portugal, nascido

de uma pluralidade de Nações à deriva e sem futuro, mas capaz de lhes dar um sentido

para a sua própria identidade, com uma postura social e politica mais consentânea com a

actual linha histórica do mundo moderno e, finalmente, novo povo, mais justo e mais

fraterno. Esta seria a ideia, este seria o projecto. Se nas mentes dos revolucionários,

esteve a força das suas convicções e a fé no sucesso da mudança, os condicionalismos

entretanto emergentes, abriam brechas e contradições no projecto inicial.

A trilogia dos três “D” deu lugar ao surgimento de interesses oportunistas de todos os

quadrantes que se foram infiltrando nas estruturas do tecido social. Estes

aproveitamentos contribuíram para que o evoluir do “projecto de Abril” se tornasse um

pouco amorfo, daí que o terceiro dos “D” tenha sido aquele menos visível.

Contraditoriamente a força com que se iniciou este projecto, não tem tido na sua

aplicação, correspondência ao inicialmente pensado.

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A sua evolução ao longo dos anos tem‐se manifestado de forma circunstancial e

formalmente instável. Grandes obras foram realizadas, significativas e profundas

mudanças mas, em última instancia, o sentimento e querer dos portugueses não chegou

a ser despoletado.

Daí que, passados quase 40 anos, temos a sensação de que já nada acontece de novo, ao

mesmo tempo as novas gerações, entretanto chegadas, já demonstram desconhecer a

verdadeira mensagem de Abril. Apetece perguntar o que fez a maioria dos pais destes

jovens para a transmissão da mensagem e para a passagem de testemunho.

Provavelmente foram à bola. É sempre mais fácil culpar os outros, abstrairmo‐nos das

nossas responsabilidades.

“Abril” já nada diz às novas gerações e, se na fase inicial não criou eco profundo na mente

dos portugueses, criando uma fonte de convicções profundas, também não é de admirar

que não se tenha dado aquela mudança imperativa e necessária para a evolução que se

impunha. A democratização é, ninguém o pode negar, um facto consumado. No entanto,

parece‐nos que as leis não são suficientemente eficazes para gerar a consciência que a

justiça social e as oportunidades são já igualitárias.

Posto isto, sem alarmismo ou eurocepticíssimo, o destino do povo português, ou seja o

quarto ”D”, acredito mesmo que passa pelo aprofundamento da Comunidade Europeia.

Desta forma, procuremos afastar o pessimismo nacional com empenhamento e

determinação. Eu acredito que faço parte daqueles cidadãos capazes de transformar as

realidades mais dúbias em iniciativas criadoras de entusiasmo, de esperança e de

verdade, tendo como meta imediata a construção de um Portugal melhor.

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O livro que eu li | CAPITÃES DA AREIA

É provavelmente um dos mais famosos romances de Jorge Amado. Conta‐nos a vida das

crianças, órfãos ou abandonadas nas ruas de S. Salvador da Baía no Brasil, que

organizadas em grupos, tudo fazem pela sobrevivência. É uma obra amarga, de pobres e

desamparados pela sorte, história triste de uma época que pode ser transportada para os

dias de hoje, que bate fundo na sociedade e no pensamento dos homens livres. Época

onde o poder instituído fazia gala em deturpar realidades, leva o leitor a desculpar os

actos menos correctos destes grupos de meninos, em detrimento, da lei, da Igreja, da

polícia, de instituições governamentais e mesmo da comunicação social. É uma história

dramática e lírica, que além de mexer com as emoções de quem a lê, os factos e

acontecimentos são importantes na sequência do crescimento destas crianças, onde elas

são as vítimas da desumanidade e do egoísmo dos homens.

Quando ouço os grandes discursos dos nossos políticos, falarem da igualdade de

oportunidades, da solidariedade, e olhamos ao nosso redor, o que vemos? As crianças

chegarem às escolas subalimentadas ou com fome, que leva as autarquias com o apoio

das direcções da escola a fornecer pelo menos uma refeição diária, e parece que agora,

também o pequeno‐almoço. A leitura deste livro fez‐me recordar algumas situações

similares passadas em Portugal. Quem não lembra o “arrastão” de 11‐06‐2005 na praia de

Carcavelos, prática já celebre nas praias de Copacabana e Ipanema, no Brasil. Ou os

grupos de jovens organizados, que a partir dos bairros limítrofes á cidade de Lisboa, entre

outras actuações, irrompem pelos comboios suburbanos e saqueiam tudo que encontram

pela frente. Diversões do tempo!

Jorge Amado centra a sua história, num grupo de cerca 100 meninos órfãos ou

abandonados, com idades compreendidas entre os 9 e os 16 anos de idade, que fazem da

rua a sua forma de vida, tudo fazendo pela sobrevivência e conhecido na cidade por

Capitães da Areia. Denominados assim, provavelmente por situarem o quartel‐general

junto às docas, tendo as areias da praia e o mar como horizonte. Utilizavam um armazém

de depósitos de mercadorias de embarque, em ruinas onde passavam despercebidos, e

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sempre era melhor que dormir na rua. Paralelamente centra a sua atenção, e faz um

acompanhamento mais personalizado em 4/5 jovens. Pedro Bala com 16 anos o chefe do

grupo, assumido e respeitado por todos, e mais os quatro lugares tenente, que em

conjunto delineavam os projectos e planos para conseguirem o necessário para a

sobrevivência do grupo. Pedro Bala, desde os 5 anos deambulava pelas ruas da cidade,

após a morte do pai, em confronto com a polícia em acções grevistas nas docas da Baía,

conhecia a cidade como ninguém, e tinha o sonho de ser um activista revolucionário na

esteira de seu pai. O “professor”, muito conceituado pela leitura de histórias e das

notícias dos jornais a todos os outros, e pela apetência pela pintura, com o sonho das

artes. Pirulito muito temente a Deus, mantinha no seu canto do barracão algumas

imagens de santos dependuradas, e não deixava de rezar todas as noites, gostava de ser

padre. O Volta Seca o mais agressivo, sonhava ser cangaceiro, e juntar‐se ao bando do seu

padrinho “lampião”, que actuava no interior do Sertão. O Gato, o mais marialva vivia da

noite. Ainda menino procurava as prostitutas, e com arte conseguia viver às suas custas.

O grupo tinha o apoio do padre José Pedro, proscrito da hierarquia, por tomar posições a

favor das crianças e contra as instituições instaladas, não lhe sendo atribuída nenhuma

paróquia.

Entre encontros e desencontros, passagens pelo reformatório onde eram barbaramente

torturados, por serem do grupo dos Capitães da Areia, ia fazendo aumentar o ódio pela

polícia, pela sociedade madrasta, pelo mundo onde estavam inseridos. Estes meninos que

a partir dos 10 anos se tornavam homens na luta pela sobrevivência, são crianças

carentes, sem o conforto duma casa ou um carinho de mãe. Crianças solidárias que

recolhiam outras abandonadas, e as acolhiam no seu abrigo. Aconteceu com Dora menina

com 13 anos, encontrada perdida na grande cidade acompanhada do irmão com 6 anos,

logo após a morte da mãe. Apesar da ebulição inicial contrariada pelo chefe já que era a

única menina do grupo, ganha a confiança de todos, e torna‐se a irmã, a mãe que nunca

tiveram. Dora tinha saído do morro e procurou uma família da sociedade na procura de

ajuda, indicação dada pela mãe, que lhe foi negada. Só a conseguiu no abrigo de outros

deserdados da sorte. Viveu grata ao seu protector por quem manteve um amor platónico,

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e morreu tranquila agarrada a este, na noite em que tinha saído do reformatório, retirada

por um grupo dos Capitães da Areia, debilitada por grave doença.

Passaram Invernos, verãos, vieram mais invernos e outros mais, e o vento não deixou de

trespassar o barracão noite após noite. O professor que tinha sido visto a fazer desenhos

na rua, foi levado para o Rio de Janeiro para aprender e desenvolver a pintura. Foi

noticiado mais tarde, o sucesso da sua 1ª exposição. O Volta Seca, após algumas

contrariedades com a polícia foge para o Sertão. Encontra o padrinho, e torna‐se num frio

sanguinário cangaceiro. Acaba preso. O pirulito que tinha deixado de furtar para viver,

vendia jornais e trabalhos de engraxador. Aproveitou uma nova chamada do padre José

Pedro ao Arcebispado, para o colocarem numa paróquia recôndita do Sertão, para onde

não conseguiam encontrar um voluntário, e por sua influência é colocado num seminário

para se formar como frade, para acções missionárias. O Gato subiu a fasquia e

desenvolveu a arte do proxenetismo, salta de dançarina em dançarina de cabaret, para

aquela que lhe proporciona melhor provento. Em paralelo torna‐se burlão conceituado

sempre pronto a dar o golpe nos mais incautos. Pedro Bala que tinha entrado para uma

organização política clandestina, após comandar o seu grupo como brigada de choque

contra os fura greves numa empresa da Bahia, foi convidado a formar outras brigadas

noutro estado, e abandona o comando dos Capitães da areia, passando este para um seu

lugar‐tenente.

“Anos depois os jornais de classe, alguns não tinham existência legal, publicavam notícias

sobre o proletário camarada Pedro Bala, perseguido pela polícia de 5 estados. No dia em

que fugiu da prisão, apesar do terror que se vivia, qualquer lar por mais pobre que fosse,

abriria a sua porta ao fugitivo Pedro Bala. Porque a revolução é uma pátria e uma

família”.

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Questões Polémicas

A preparação deste tema foi, talvez, um dos mais complicados de elaborar desde que

iniciei este projecto. Tendo em conta os meus princípios éticos em relação à sociedade

em que me encontro inserido, convicto contra interesses instalados, desde que estes não

beneficiem a população em geral e, em simultâneo, sinta as manipulações sub‐reptícias

muitas vezes usadas para se conseguirem determinados fins, reconheço por isso alguma

dificuldade, não pelo tema em si, mas pela diversidade de situações e dos conceitos a

considerar.

Desde sempre e ao longo do tempo, existiram pelo mundo questões polémicas,

manifestando‐se em Portugal de uma forma muito mais acentuada após o 25 de Abril de

1974, porque até então e principalmente durante o Estado Novo, o poder determinava e

mandava publicar sem qualquer hipótese de contraditório. Com o desenvolvimento e a

evolução tecnológica novas questões foram surgindo, com excepção dos temas

relacionadas com a moral, que desde sempre foram o tema mais visível das controvérsias.

E existem polémicas em todas as áreas do pensamento humano. Na ciência, na política,

na religião. Tenho para mim que as questões mais polémicas se relacionam com a

moralidade, com as opções individuais de cada um, quer por puro preconceito ou quando

manobradas por questões politicas ou religiosas, demasiado mediatizadas segundo os

interesses em causa ou que se pretendam obter.

Tendo em conta o mundo actual, “em que à mulher de César já não basta ser… é preciso

parecer”, é muito fácil criarem‐se organizações, núcleos de opinião (sabem sempre de

tudo) para se discutir eutanásia, homossexualidade, casamento gay e adopção ou até

mesmo pena de morte (felizmente já não existe em Portugal). Estes sábios de pacotilha

(qual menino Quim) estão sempre presentes (sabemos dos quadrantes de origem), ou de

onde surgem para presidir às ditas comissões de utentes, de utilizadores, disto e daquilo.

E onde andarão estes iluminados quando o tema é ciência, meio ambiente, educação,

saúde ou bem‐estar das populações, e quando se põe em causa as orientações políticas

do poder.

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Penso que numa sociedade aberta e democrática, a avaliação pública da controvérsia

depende da capacidade de reconhecer o que está em causa, de alcançar uma opinião

informada sem dogmas, manipulações ideológicas ou religiosas. Será que partindo de um

princípio de neutralidade como a laicidade, que é controversa, a retirada dos crucifixos

das escolas públicas (tenho princípios católicos), impondo‐o aqueles que professam outra

religião ou princípio étnico. Penso que a religião católica é, ou deveria ser, uma questão

de fé, uma forma de estar na vida, sem imposições de símbolos ou ideias preconcebidas,

só porque a maioria da população é de origem católica.

Será que um aborto, tecnicamente assistido dentro dos prazos da lei, é para alguns mais

controverso, do que passar ao lado de uma casa onde se sabe praticar‐se aborto

clandestino em vão de escada, sem as mínimas condições técnicas e de salubridade

exigíveis, olhando para o lado e assobiando para o ar.

Assim como o tema da incineração de resíduos tóxicos em cimenteiras deste país, que

mediante estudos técnicos devidamente comprovados e com meios tecnologicamente

avançados, com experiências sobejamente conhecidas em países desenvolvidos, é mais

controverso que manter os resíduos enlatados a céu aberto ou em qualquer barracão

deste país, sujeitos a todas as vicissitudes inerentes, dramatizado de uma forma

incompreensível. Provavelmente o barracão está localizado longe das zonas de residência

destes iluminados.

Nas últimas semanas, uma nova polémica surgiu na comunicação social (por

coincidência), em que um alto dirigente da polícia secreta portuguesa é acusado de

pertencer à “Maçonaria” (esta organização aparece ao longo do tempo várias vezes

referenciada, talvez um alvo a abater, digo eu), onde através dela, fez chegar informações

originárias do seu trabalho (secreto e confidencial) a uma grande empresa de

comunicação (ONGOING) e para onde acaba de se transferir para um alto cargo da

administração (por coincidência). Logo surgem os arautos da verdade, criticando e pondo

em causa uma organização secreta, que funcionando dentro dos padrões da lei (nunca li

ou ouvi nada em contrário) ninguém tem o direito de obstar, ou mesmo as pessoas que

dentro dos princípios de liberdade que a lei lhes confere, possam inscrever‐se em

qualquer organização, secreta ou não. Porque não falam na ética, no profissionalismo e

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na moral, da pessoa que possa ter cometido tal acto, em vez da organização a que

circunstancialmente pertence. Já agora, porque nunca se levantou nenhuma polémica

sobre a “OPUS DEI”? Pois, estamos conversados. Talvez seja oportuna aquela velha

máxima portuguesa “deixa‐me falar dos outros antes que falem de mim”.

Ainda dois temas mais me ocorrem, embora nada recentes, mas que me criam alguma

perplexidade. Um, pelo silêncio da hierarquia da Igreja, em que ou não dei por isso ou

terei passado um pouco ao lado da discussão. Falo concretamente de “O Código da

Vinci”, o romance escrito pelo americano Dan Brown, em que aborda temas como a

humanidade de Cristo e seu suposto casamento com Maria Madalena, de quem

pretensamente terá tido uma filha. O outro, embora reconheça a importância que poderá

vir a ter na humanidade futura, não deverá deixar de merecer uma grande discussão

pública, até pelos princípios éticos em causa, como é o tema “células estaminais”. Aceito

perfeitamente o desenvolvimento da ciência, os avanços conseguidos ao nível da

medicina nas últimas décadas falam por si. No entanto, a divisão do núcleo central da

célula para a cura de doenças até agora interditas, arrasta consigo também o princípio da

clonagem. Creio que a discussão actual, se resume à comunidade científica e seus

organismos de ética.

Deixaria de fora do tema casos como a homossexualidade, casamento gay e adopção, por

várias ordens de razão. Fui e sou muito amigo, apesar de não o encontrar há muito

tempo, de uma pessoa excepcional casado com duas filhas, com quem convivi ao longo

de vários anos, inclusive visita de casa. Em determinado momento, surge a grande

surpresa e a afirmação da sua homossexualidade, levando ao fim do casamento e a

assumir um companheiro. Ainda o encontrei algumas vezes, sem qualquer preconceito,

mas de repente desapareceu sem deixar rasto.

Gostaria ainda de aprofundar a controvérsia em torno do aborto, já referido, a não ser

pela simples razão de, apesar da despenalização do aborto tecnicamente assistido,

continuar a assistir, quase diariamente, ao abandono e ao homicídio de bebés acabados

de nascer. Ou mesmo sobre a pedofilia que, segundo os estudos e estatísticas judiciárias,

se localizam em grande maioria dentro das próprias famílias, devidamente instituídas

dentro dos parâmetros moralistas dos anti‐aborto ou anti‐adopção.

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Por último, lembrar Immanuel Kant (filósofo alemão do Sec. XVIII) e o que chamou

imperativo categórico, em que “parte da convicção que todas as pessoas são capazes de

emitir juízos morais, isto é, todos estão habilitados a ter uma opinião acerca da

moralidade das pessoas e seus actos. O princípio segundo o qual as pessoas serão

instadas a cumprir a lei moral, consiste em considerar a pessoa humana como um fim que

não pode ser usada como meio”.

A ética de Kant tem sido bastante discutida. A exigência de praticar apenas acções cujas

máximas pudessem ser universalizadas, garantem que as regras morais são absolutas. Há

quem o considere enganado neste ponto. Aliás penso que esta teoria é inspirada nos

valores da Igreja.

A tradição Cristã proporcionou‐nos um ideal de pessoa humana. Inspirado nesse ideal,

posso exercitar a minha liberdade, escolhendo a lei moral ao invés de ceder às

inclinações.

Condenar em nome da Moral é perfeitamente ridículo.

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CIDADANIA E PROFISSIONALIDADE

Núcleos de Formação

Direitos e Deveres

Complexidade e Mudança

Reflexibilidade e Pensamento Crítico

Identidade e Alteridade

Convicção e Firmeza Ética

Abertura Moral

Argumentação e Assertividade

Programação

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DIREITOS E DEVERES

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Liberdade e Responsabilidade

Num Estado Democrático livre somos aquilo que procuramos ser, a voz que nos comanda

e personifica. Vivemos numa sociedade livre, de respeito que deveria ser mútuo, num

mundo cada vez mais pequeno. No entanto nem todos caminhamos pela mesma estrada.

Aprendemos o conceito do que é a liberdade, o espírito de cidadania, os nossos direitos e

deveres, a diferença do que nos separa da marginalidade. Somos a voz da nossa própria

liberdade, vitima da nossa própria vontade. Ouvimos regularmente a tradicional

justificação, muitas vezes demagógica, eleita por alguns sábios da nossa praça “a minha

liberdade termina quando colide com a liberdade do outro”. A grande verdade está nos

princípios, na educação, na formação e no respeito pelos outros.

O exercício da liberdade com responsabilidade, condiciona‐nos na escolha do que

devemos dizer ou fazer em determinado momento, tendo sempre presente a escolha

entre o ser de facto um cidadão e o parecer, por vezes, um.

A abordagem dum tema tão abrangente permite‐nos, apesar da sua complexidade,

direccionar a reflexão nos mais variados sentidos. Tendo a capacidade de poder escolher

os nossos próprios passos, não só no nosso quotidiano pessoal, mas igualmente

profissional ou social, abordamos a prática dos mesmos conceitos, na mesma postura, na

mesma responsabilidade como cidadãos de facto que somos.

Regendo‐se por códigos de conduta vinculados em cada constituição, a sociedade civil

encontra formas diferentes de abordar as questões. Qualquer tema em discussão, social,

político, desportivo ou outro, será sempre analisado e comentado de forma diferente por

qualquer dos contendores. À que ter bom senso e respeito.

A vida familiar e o conceito da liberdade e responsabilidade partilhada, na hora de decidir

independentemente de quem o faz, sendo no entanto assumido por ambos, tanto em

relação aos filhos como a outra qualquer situação pontual.

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Ao longo de 20 anos, como representante em Portugal de empresas internacionais,

usufruí de total liberdade e autonomia no desempenho das minhas funções profissionais.

Com o lema “maior liberdade o máximo de responsabilidade” como mote, desenvolvi a

implementação da marca por todo o país com sucesso, não sendo esta situação

impeditiva do bom desempenho.

Assim como, em algumas sociedades ditas desenvolvidas ou não, está instituída a pena de

morte. Eu pergunto que autoridade tem alguém para tirar a vida a uma pessoa. Numa

discussão mais introspectiva, a resposta é naturalmente não.

E que justificação tem alguém que tira a vida a outro alguém porque está doente,

psicologicamente desequilibrado, por motivos passionais ou apenas porque está no local

errado à hora errada.

E se formos nós a vítima? Gostaríamos de ter a oportunidade de pagar na mesma moeda

ao nosso agressor? Penso que a resposta maioritária talvez seja o sim. Mas a questão não

se coloca só nos contornos da usurpação da vida. Crimes como a pedofilia ou violação?

Que castigo deveriam ter os seus autores? Confesso que não sei.

Mas numa perspectiva de humanidade, não devemos todos ter uma oportunidade de nos

redimirmos do que fizermos de mal? Alguns exemplos talvez bastem para que nós,

comuns mortais, tenhamos mais respeito pela liberdade dos outros.

E relembro Ramón, espanhol da Galiza, que após um acidente infeliz se torna num

paraplégico conhecido em todo o mundo pela luta desencadeada durante 30 anos a favor

da liberdade de optar pela “eutanásia”. História brilhantemente traduzida em cinema

“Mar Adentro”por um realizador espanhol, caracterizado como sendo uma visão da

morte desde a vida, desde o quotidiano normal, desde um lado muito luminoso, tendo

em conta a dignidade humana.

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Sindicatos

O sindicalismo é um movimento de associação de trabalhadores por conta de outrem

para protecção dos seus direitos. É, em simultâneo, uma doutrina política mediante a

qual, os trabalhadores agrupados em sindicatos, devem ter papel activo na condução da

sociedade.

O sindicalismo teve origem na Europa Medieval do Século XVIII, durante a Revolução

Industrial Inglesa. Que origina por sua vez o nascimento do capitalismo. Os proprietários,

em concorrência na luta normal de mercado, passam a utilizar cada vez mais máquinas,

tomando o espaço de muitos operários. Assim, tornam‐se excedentes de mão‐de‐obra

(onde já vi isto) originando, com isso, um pagamento salarial de acordo com os seus

interesses. E é justamente através desta situação que os operários percebem a

necessidade de se organizar e tentarem negociar as suas condições de trabalho,

originando, com isso, o surgimento dos sindicatos e associações para representar os

trabalhadores.

Durante a Revolução Francesa, surgiram ideias liberais que os capitalistas aproveitam e

estimulam. Exemplo disso, foi a aprovação de leis a proibir a actividade sindical a exemplo

da lei Chapelier que, em nome dos direitos do homem, considerou ilegais as associações

de trabalhadores.

Depois das reorganizações clandestinas do século XIX, foi reconhecida a legalidade dos

sindicatos no Reino Unido em 1871 e, na França, em 1884. Com a Segunda Guerra

Mundial, os ideais comunistas e socialistas predominaram nos movimentos sindicais

espanhóis e italianos. Depois da guerra, os movimentos sindicais passam a ser um grupo

de pressão importante em alguns países, mais pela participação politica do que pela

defesa dos trabalhadores.

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Em Portugal, também existe o sindicalismo desde o século XIX. Em 1911 consagrou‐se o

direito de associação já em plena República. O 28 de Maio de 1926 ilegalizou e dissolveu a

CGT (Confederação Geral do Trabalho) e proibiu a greve. O fascismo ia controlando tudo

o que era organização operária. O 25 de Abril de 1974 trouxe uma nova vida ao

sindicalismo em Portugal, garantido no programa do MFA. A Revolução dos Cravos trouxe

a liberdade sindical e o direito à greve, bem como o “lock‐out” (possibilidade dos patrões,

face ás revindicações operárias, poderem fechar empresas). Nasce a CGTP‐IN, de cariz

comunista, e a UGT, socialista, e ainda as confederações patronais. E inicia‐se um

processo com ganhos extraordinários para a classe trabalhadora, que com o passar dos

anos e à imagem da Europa Ocidental, infelizmente, os sindicatos vão perdendo força

num apagamento relativo e numa secundarização sociopolítica crescente.

Com o surgimento das centrais sindicais, em consonância com o processo revolucionário

em curso, surgem os primeiros contractos colectivos verticais, que ao contrário dos

anteriores (horizontais, ou seja por profissão) passavam a ter um âmbito mais abrangente

e por sector de actividade. O primeiro a ser negociado foi precisamente o do sector do

material eléctrico, sector onde estava inserido e para onde voltei após o serviço militar

obrigatório.

Como consequência, em conformidade com os meus princípios e com o momento que se

vivia em Portugal, fui durante 4 anos (entre 1976 e 1980) parte activa do movimento

sindical de empresa, integrando comissões de trabalhadores, sendo delegado sindical e

da comissão intersindical (organização de sindicatos dentro da empresa). Todo o meu

trajecto no movimento sindical foi sempre pautado por independência face aos partidos

políticos, com sentido ético e moral face aos direitos e consequentemente aos deveres.

Consegui alguma notoriedade neste desempenho, que originou um convite para integrar

uma lista aos corpos sociais do sindicato dos Electricistas do Norte, cuja eleição perdi. O

então presidente acabava de sair para a direcção da CGTP‐IN, é hoje o sobejamente

conhecido Carvalho da Silva, seu presidente. Posteriormente, sou convidado a integrar o

departamento comercial da empresa e, aos poucos, vou perdendo o contacto com o

sindicato, acabando por extinguir‐se a ligação.

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Em termos de conclusão e de forma sintética, abordarei o tema complexo em que a

atracção política dos sindicatos alterou os princípios filosóficos, prejudicando a sua

função principal, a luta de classes e a defesa intransigente dos trabalhadores e dos mais

desfavorecidos. Estão a ocorrer grandes mudanças na concorrência Internacional, e no

Mundo do trabalho. Será que os sindicatos estão a responder de forma correcta aos

novos desafios? Será que os sindicatos se preocupam e são agentes activos para o

crescimento, à competitividade e ao emprego?

Entende‐se geralmente a globalização como a liberalização das trocas comerciais de bens

e serviços, originada pelo abrandamento das barreiras alfandegárias e pelo

desenvolvimento tecnológico, que torna interdependentes todas as economias neste

“Mundo Global”. A livre circulação de capitais, o aumento do comércio internacional, o

peso cada vez maior das multinacionais, provoca uma nova realidade económica e cria

novos desafios para Portugal.

Os sindicatos têm que começar a preocupar‐se com a capacidade produtiva das empresas

e com a consequente distribuição da riqueza realizada. Pensar exclusivamente numa

política reivindicativa, sem ter em conta a situação económica e financeira, poderá

conduzir às falências, a deslocalizações fabris e a consequente redução de postos de

trabalho. Penso que a situação passa por defender o modelo de protecção social, reforçar

a adaptabilidade e a mobilidade, uma política de rendimento mais justa e solidária. O

papel dos sindicatos tem sido reduzido nos últimos anos quase à concertação e à

negociação colectiva, devendo assumir outros temas e responsabilidades na luta por uma

globalização diferente.

Pelo momento que atravessamos, penso que os sindicatos são cada vez mais necessários.

Na Europa, onde o sindicalismo nasceu, são vítimas do seu próprio sucesso, assegurando

uma melhoria continuada do nível de vida durante cerca de 40 anos, e até finais dos anos

90. Hoje, têm que passar para uma participação independente dos partidos, acreditando

que é isso que tem impedido na prática uma acção de unidade concertada, no respeito

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pelas maiorias democráticas saídas de eleições, mas também no respeito pelo papel que

cabe especificamente aos sindicatos.

Os sindicatos continuam a ser as organizações mais representativas da sociedade civil.

Cabe‐lhes a grande responsabilidade de tentar alterar, no respeito pelos valores

intrínsecos da sua concepção, os momentos difíceis por que passam os trabalhadores. O

mundo do trabalho necessita cada vez mais dos seus sindicatos, para assegurar que o

progresso económico caminhe lado a lado com o progresso social.

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Constituição Direitos e Deveres

Com o 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas liberta Portugal da ditadura

e restituiu aos portugueses, os direitos e liberdades fundamentais. A Assembleia

Constituinte entretanto eleita, aprova e decreta a Constituição da Republica Portuguesa,

a 2 de Abril de 1976. Foi à época considerada das mais progressistas e bem elaboradas da

Europa. Vários foram os países que a tomaram como modelo, na elaboração ou

rectificação dos seus próprios documentos. A Constituição abarca toda a organização

funcional do país. E, situa‐se no topo da pirâmide normativa, e aplica‐se aos diferentes

níveis de organização do Estado.

O Estado Português, rege‐se por um sistema semi‐presidencial, com três órgãos

institucionais autónomos, e competências específicas. A Assembleia da Republica o pilar

do Estado de direito, de onde imana o governo saído de eleições, e com poderes

legislativos e fiscalizadores sobre o governo Nacional. O Governo com competência para

governar o país, dependendo da Assembleia e da maioria aí criada. E o Presidente da

Republica, o topo da pirâmide. Ao Presidente cabe cumprir e fazer cumprir a Constituição.

É por inerência Comandante‐chefe das Forças Armadas, e para além da magistratura de

influência tem o poder de nomear o governo saído do voto popular, e o poder extremo de

dissolver a Assembleia da Republica se o entender necessário.

Dentro dos princípios, fundamentos e sistemas previstos, a Constituição prevê ainda o

Tribunal Constitucional, órgão de nomeação percentual, resultante dos resultados saídos

das eleições, em que cabe ao Presidente da Republica e aos partidos eleitos a indigitação

correspondente ao número de vagas existente. A este órgão de Magistratura, compete

em última análise decidir pela constitucionalidade dos preceitos legislados, ou de

situações que a nível individual ou colectiva possam ocorrer na sociedade e que a ele

sejam interpostos. Dentro da variedade normativa, salientaria alguns preceitos a título de

exemplo, referentes a:

Direitos e Deveres Fundamentais

Artigo 10º Sufrágio Universal

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O povo exerce o poder político através do sufrágio universal, igual, directo, secreto e

periódico, do referendo e das demais formas previstas na constituição.

Artigo 12º Principio da Universalidade

Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na

constituição.

Artigo 13º Principio da Igualdade

Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

Artigo 24º Direito à Vida

A vida humana é inviolável.

Em caso algum haverá pena de morte.

Artigo 53º Segurança no Emprego

É garantida aos trabalhadores a segurança no emprego, sendo proibidos os

despedimentos sem justa causa ou por motivos políticos ou ideológicos.

Artigo 64º Direito à Saúde

Todos têm o direito a protecção da saúde e o dever de a defender e promover

O direito à protecção da saúde é realizado:

Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições

económicas e sociais dos cidadãos tendencialmente gratuita.

A perspectiva ideológica.

As alterações à constituição só são possíveis por consenso de uma maioria de 2/3 dos

deputados com assento na Assembleia. Apesar desta dificuldade, já foi possível por 7

vezes nestes 36 anos de vigência, executar algumas alterações de pormenor, tendo a ver

com as realidades e exigências a que estamos sujeitos a nível internacional. A grande

questão ciclicamente colocada na opinião pública, prende‐se com a retirada das

componentes ideológicas sempre defendidas pela direita. Com as dificuldades inerentes e

correspondentes a um Estado bipolarizado em termos de eleitores, esta pretensão vai‐se

mantendo.

Uma pergunta deixaria no ar. Será que os nossos ditos empresários (gosto mais de lhes

chamar patrões, empresário é outra coisa), só conseguem funcionar com a cenoura na

ponta do pau. O empreendedorismo não passa só pela constituição, passa

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fundamentalmente pela capacidade de inovação, pela internacionalização, pelo

tratamento dado aos seus quadros, homens e mulheres deste país, que com o seu saber a

sua competência, conseguem transformar as empresa acrescentando valor, nem sempre

reconhecido.

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COMPLEXIDADE E MUDANÇA

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Inovações Tecnológicas

A sociedade tal como a conhecemos está num constante processo de mudança. As novas

tecnologias, se por um lado são um maravilhoso avanço tecnológico, têm, igualmente um

lado sombrio como em tantas outras coisas. A tecnologia abriu caminho ao progresso e

ao desenvolvimento económico.

Microplasma ‐um pequeno furo num pedaço de silício, deu a ideia de produzir um plasma

dentro de um buraco.

Cientistas afirmam que podem existir sondas extraterrestres nos observando, e só não as

encontramos porque não procuramos o suficiente.

Electrocristalização ‐líquido vira sólido sob acção de um campo eléctrico. É a primeira vez

que se demonstra que um material pode passar de líquido a sólido sem alteração da

temperatura ou da pressão.

Ao mais descontraído olhar, apercebemo‐nos da nossa dependência das novas

tecnologias. Pelos anos 70 quando inicio a minha carreira profissional era fundamental na

operacionalidade da empresa, a utilização do telex (mensagens pré gravadas por meio

mecânico em fita de papel perfurado mecanicamente). O telex tem origem no anterior

serviço de telegrafia. Mais tarde, já na década de 90 o fax foi o meu principal meio de

comunicação. De forma rápida e eficaz, qualquer informação tanto técnica como de

ordem comercial, passava por este equipamento. Posteriormente com a utilização do

computador e da internet (e‐mail), que com a ajuda do meu filho acabei por desenvolver

simplesmente na óptica do utilizador (única formação informática), mais agilizada ficou a

ligação ao mercado e à sede da empresa em Espanha. Exemplo prático da importância da

inovação tecnológica na minha vida profissional, num período de 40 anos, e os reflexos

positivos que trouxeram ao mercado estas novas ferramentas.

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O que seria hoje a vida familiar em especial das mulheres, após as suas actividades

profissionais chegar a casa tratar dos filhos, do jantar, sem a máquina de lavar ou do

micro‐ondas. E os automóveis, recheados e “artilhados” de tudo o que é inovação agora

também com o “GPS”, recordo quando em viagem procurávamos uma localidade, e

depois de várias paragens perguntando, onde fica …. e sempre a mesma resposta é já ali,

e continuava‐mos mais uns Kms. E que dizer dos pescadores durante a noite no alto mar

na procura de um “pesqueiro conhecido” e antecipadamente memorizado pela

experiência, através de um ponto de referência que era marcado em terra, uma luz, um

som, por exemplo. Hoje com o “GPS” marcam as coordenadas na saída, e com bom

tempo ou nevoeiro, chegam ao “pesqueiro” pretendido sem desvios ou transtornos.

Comboios de alta velocidade, aviões supersónicos, indústrias totalmente robotizadas, o

exemplo da AutoEuropa, com uma capacidade produtiva exemplar que lhes permite

serem Nº 1 em exportações em Portugal, telemóveis, computadores, internet, e‐mail …

são simples exemplos onde constatamos o quanto estamos dependentes da tecnologia.

Mas igualmente verificamos, que a mesma sociedade que nos envolve neste processo de

mudança, é a mesma que vai criando diferenças sociais, descriminações cada vez mis

evidentes nos menos preparados para aceitar estas novas evidências. Há que criar

também alternativas, apostar nas capacidades dos nossos idosos e reformados, nos

menos letrados. Temos de pensar nos homens e mulheres do nosso país, integrando‐os

nesta sociedade digital para que não sejam info‐excluidos. Será importante para o país,

mas também para o capital intelectual, das nossas organizações e da nossa

produtividade.

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Associativismo

O conceito de associativismo designa, por um lado, a prática social da criação e gestão

das associações, enquanto organização autónoma e de gestão democrática constituídas

por assembleia‐geral, direcção e conselho fiscal. Por outro lado, a prática de associação

enquanto processo não lucrativo de livre organização de pessoas (sócios) para obtenção

de finalidades comuns. O associativismo, enquanto forma de organização social, tem

como conceito o voluntariado, por reunião de indivíduos usados como instrumento da

satisfação das necessidades humanas, em termos colectivos e, principalmente, ao nível

regional e local nas mais diversas manifestações.

Existem diversos tipos de associações com diversos âmbitos de actuação. Destacaria as

culturais e recreativas, desportivas, defesa do ambiente e património, desenvolvimento

local, de moradores, estudantes, pais e profissionais, etc. O associativismo contribui para

a consolidação e dinamização do tecido social, um importante factor de transformação e

inovação no âmbito local. Reveste‐se de uma forte contribuição económica, através do

investimento humano voluntário estruturado, desenvolvendo uma acção, que na prática

ficaria onerosa e difícil de realizar. O associativismo é, na prática, um exercício de

democracia, constituindo um importante factor de nova cidadania e definição da

identidade local, para integração social e expressão cultural.

Sem ser um activo participante do contexto associativo tive, no entanto, ao longo da vida,

participações (algumas se mantêm ainda hoje) tanto no aspecto participativo como

contributivo em algumas associações, que com o tempo e disponibilidade emocional, fui

perdendo. A nível participativo, ainda jovem como praticante da equipa desportiva

(futebol) da minha localidade, numa altura em que as modalidades desportivas

(amadoras) estavam longe das loucuras profissionalizantes a que assistimos hoje.

Numa altura em que as associações recreativas proporcionavam as célebres matinés

dançantes aos domingos, que eram o oásis no final de uma semana de trabalho, ainda

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muito longe das discotecas e “movidas” atuais. Mais tarde, como pai, fazendo parte duma

associação de pais na escola que os meus filhos frequentavam, mas que rapidamente tive

que abdicar em virtude da minha actividade profissional, incompatibilidade com a minha

disponibilidade de horários, que não me permitiam um acompanhamento como gostaria.

A nível contributivo, mantenho a ligação aos bombeiros locais há mais de 30 anos, pelo

trabalho excepcional que desenvolvem e a uma associação recreativa e cultural, pelo que

ainda representa a nível local.

Se em tempos idos o conceito associativo, principalmente o recreativo e cultural, tinham

uma importância extraordinário na vida das comunidades locais, actualmente esta

importância tende a desvanecer. As novas tecnologias, as novas alternativas ao dispor das

populações, são de tal forma díspares, que nos levam ao comodismo individual, da não

participação em momentos partilhados em comunidade. Apesar de todas as coisas boas

que a vida actual nos proporciona, sinto por vezes a nostalgia dos carnavais, das

passagens de ano, das festas tradicionais de época, que vivíamos nestes espaços, a que os

nossos filhos denominam de “caretas”, mas que nunca tiveram o privilégio de apreciar e,

assim, poder julgar.

Gostaria de terminar salientando a grande importância das organizações não‐

governamentais (ONG), que no momento de grande dificuldade que o país atravessa, com

grande humanismo e voluntariado, procuram minorar o sofrimento das populações.

Um grande bem‐haja para estas associações.

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REFLEXIBILIDADE E PENSAMENTO CRÍTICO

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SNS / Privados

O Serviço Nacional de Saúde (SNS), como rede organizada de órgãos e serviços

prestadores de cuidados globais de saúde a toda a população, através do qual, o estado

salvaguarda o direito à protecção da saúde, foi instituído em Setembro de 1979. O

nascimento do SNS acontece com a alteração à constituição de (1976) e da lei de saúde

(1979). O grande impulsionador deste sistema foi o Dr. António Arnault, que inicialmente

abriu o acesso aos postos de Previdência Social, a todos os portugueses

independentemente das suas capacidades contributivas. Com a criação do SNS, este

passa a ser financiado pelo estado e os cidadãos passam a usufruir do direito à saúde, de

forma geral e gratuito, independentemente das suas capacidades económicas.

Posteriormente são criadas 18 Administrações Regionais de Saúde (ARS), e os centros de

saúde. E a partir de Abril de 2003, é criada a rede de cuidados de saúde primários, onde

sectores privados com ou sem fins lucrativos, que prestem cuidados a utentes do SNS que

de acordo com contratos celebrados ao abrigo da legislação em vigor, são integrados no

Serviço Nacional de Saúde. O SNS é, talvez, o serviço público com maior impacto na

evolução de todo o colectivo nacional. É reconhecido como uma extraordinária realização

social, e tem sido um instrumento valioso para garantir a equidade e a coesão social.

Ainda durante 2011 os americanos aprovaram o SNS, após grande discussão pública. Vá‐

se lá saber porquê! É um estado do terceiro mundo, que chegou agora à conclusão da

bondade do sistema.

Portugal tem dois problemas básicos de raiz. Capacidade económica para crescer e

desenvolver, e uma nova linhagem politica neo‐liberal, que já nasceu (a maioria) no pós‐

25 Abril e em berços de ouro, que nunca trabalharam, e para quem a solução passa pela

eliminação de tudo que é publico. Esquecem‐se de dizer ao povo português, que todo o

serviço privado que querem impor, passa por levar estes grandes amigos investidores, a

sentar‐se á mesa do “Orçamento de Estado”, para acordos de prestação de serviços ao

SNS. Portugal não é a Suécia ou a Finlândia (Nórdicos), em que tanto os salários, como a

propensão para o pagamento fiscal perfeitamente assumido, desde os empresários aos

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trabalhadores, permita uma gestão do social sem problemas. Em Portugal não há

emprego, os salários são baixos, já não suportam mais descontos para pagamentos

privados, e ainda temos que gramar uma nova Nomenklatura de sinal contrário, de maus

políticos.

Senhores políticos não comecem a casa pelo telhado. Criem primeiro condições

económicas aos portugueses para poderem contribuir, e não lhe retirem o pouco que já

têm, para reencaminhar para os que já muito têm, com a desculpa de racionalizar

despesas, criando serviços que continuarão a ser pagos pelo “orçamento”, acrescentados

pelos parcos recursos dos contribuintes. Aja vergonha! Tenham respeito pela dignidade e

inteligência do povo.

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Liberdade de informação

Desde o meu serviço militar obrigatório aprendi e interiorizei a importância da estratégia

militar de informação e contra‐informação.

Tentando analisar de forma séria e em consciência a comunicação social tendenciosa que

se faz por cá, e com alguma tendência para ler nas entrelinhas e na informação sub‐

reptícia, chego à conclusão que a desinformação (leia‐se contra informação) atinge cada

vez mais as raias da menoridade intelectual.

A coberto de uma lengalenga demagógica de “liberdade de informação”, creio que

ninguém sabe (ou não quer saber) onde fica a fronteira entre a verdade e a difamação

orquestrada, a inverdade e a manipulação dos interesses instalados. Dou comigo a pensar

se, de alguma forma, não consideram os Portugueses “burros” ou, por outro lado, se a

honestidade intelectual informativa desceu à cave.

Assistimos a informação diária onde os “Pivô”, correctamente engravatados ou muito

bem maquilhadas com grande sorriso nos lábios, insinuam hoje um bem, que ontem

talvez uma melhor situação era transmitida como sem importância relevante.

Ou o que dizer daqueles repórteres, que em entrevista de rua direccionam de tal forma a

pergunta que a resposta é tão lógica que nem precisamos de a ouvir para saber qual é,

que apesar de mesmo assim, termos a noção das escolhas ao nível da redacção. Há temas

tão tendenciosamente marcantes, que nunca consegui entender se algumas expressões

são de vontade própria ou dirigidas e direccionadas intencionalmente.

Vem isto a propósito da discussão na Assembleia da Republica sobre o Orçamento de

Estado na especialidade para o ano 2012.

Assistimos à desonestidade intelectual de transformar uma pequena notícia (dita muitas

vezes) de alteração insignificante (provavelmente importante para alguns, poucos) aos

bolsos dos reformados, pensionistas e funcionários públicos, numa grande notícia de

impacto social (a minha sogra beneficia 10 €) para muitos milhares. Todos sabemos que

não passa de uma tentativa para calar a opinião pública, cujo descontentamento está em

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crescendo e, ao mesmo tempo, tentar tirar dividendos sobre a oposição, que neste caso

concreto até poderá ter razão.

Ao ouvir esta informação tantas vezes repetida e com tanta entoação, dou comigo a

pensar que algumas “pivô” da TVI e um célebre comentador semanal da nossa

informação “isenta”, ou mesmo Sílvio Berlusconi se sentirão “corar” de vergonha.

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IDENTIDADE E ALTERIDADE

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CONVICÇÃO E FIRMEZA ÉTICA

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Economia Mundial / Nacional /Bancos / Sobreendividamento

A economia mundial é o conjunto de actividades económicas desenvolvidas em todo o

mundo. A forma de ganhar dinheiro, de obter rendimentos, gastá‐los ou poupá‐los para

obter riqueza, depende de como o dinheiro é ganho, gasto e poupado no restante dos

países.

Os vínculos internacionais existem há muito tempo, mas, com a globalização, a economia

actual é diferente da anterior. Isto significa que as instituições nacionais hoje possuem

um poder restrito para influir sobre a sua própria actividade económica. Os governos têm

pequena margem de manobra para mudar, através da sua política fiscal ou monetária. Se

antes a desvalorização da moeda era um factor de equilíbrio utilizado para um aumento

de competitividade no comércio internacional, hoje nem isso. Com a entrada no mercado

comum e na moeda única (€), são as instituições, como Fundo Monetário Internacional

(FMI) e o Banco Central Europeu (BCE), que condicionam e impõem toda a política

monetária.

Não sou formado em economia, sou o costumado leigo treinador de bancada, mas vamos

acumulando experiência, empenhado e interessado nestas matérias. Assistimos a debates

económicos, acompanhamos as notícias diárias e chegamos às nossas próprias

conclusões. As condições económicas predominantes em cada país dependem em grande

parte do que ocorre na economia mundial, reflectida no comércio internacional, na

produção global e nas finanças internacionais.

Analisemos um pouco Portugal, que passa por momentos altamente deficitários. O

desemprego aumenta de forma galopante e a tendência é para continuar a aumentar. O

mal está, no que não se faz para contrariar, e antes se enganam as pessoas com paliativos

que nada resolvem.

Se não vejamos.

Para criação de emprego, é necessário crescimento económico, como! Só com a

eliminação do deficit, como ficará a economia nacional no final. Portugal está

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transformado num país de serviços, turismo (pouco) e pouco mais. As remessas dos

emigrantes praticamente acabaram, as exportações com um ar de graça nos últimos

anos, têm vindo a cair. Porquê?

Produtividade! Diz o governo e os iluminados do sistema. A grande solução, aumenta‐se

30m o horário de trabalho, reduzem‐se 4 feriados por ano e aumenta‐se a produtividade.

Nada mais falso.

Os portugueses já trabalham cerca de 200h anuais a mais que os alemães ou os

holandeses.

Os países naturalmente importadores dos nossos produtos estão em contracção, não

compram, a produção actual vai directamente para stock. O aumento de tempo de

trabalho não aumenta a competitividade, aumenta stock e por sua vez mais desemprego.

A competitividade é outra coisa. Não passa por mais trabalho, nem pela criação de

alterações às leis laborais a justificar despedimentos. Passa pela inovação e novas

tecnologias. Passa por aumento de produção por unidade de capital investido. Passa pela

internacionalização da marca e pela diversidade de mercados. Mas isso é muito trabalho

para os nossos patrões (não empresários), onde é mais fácil despedir e pedir subsídios ao

governo.

Passa ainda pelo aumento do poder de compra das famílias (cada vez menor), para

desenvolver o mercado interno, criar esperança e fazer girar a economia do país.

Há vários anos, que eu leigo na matéria, em conversa com amigos pergunto, que fazemos

em Portugal que nos traga mais‐valias e valor acrescentado para o país? Será o calçado, o

têxtil, os chapéus de S. João da Madeira. Onde estão os produtos transaccionáveis (leia‐se

indústria), que esses sim são uma mais‐valia. O que fazemos é trabalho das

multinacionais, que levam as mais‐valias para os seus países, ficando em Portugal os

baixos salários que pagam aos trabalhadores, e os impostos que estes pagam ao Estado.

Por onde andam as cimenteiras, com investimentos internacionais, as cerâmicas, as

siderurgias nacionais (Maia e Seixal), a indústria metalomecânica pesada, os estaleiros

navais de âmbito internacional, a manutenção tão conceituada da TAP (civil) ou da OGMA

(aviação militar), grandes empresas que de forma transversal tive o prazer de conhecer.

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Onde estão os nossos grandes empresários, os Belmiros, os Amorins, os Gerónimos e os

Espirito Santos entre outros. Sempre prontos a discursar (uns mais que outros), no alto da

sua cátedra (riqueza), sobre a economia nacional e a receber medalhas no 10 de Junho, e

apetece‐me perguntar. Porquê?

Onde estão os produtos transaccionáveis que detinham? As madeiras, as cortiças, a

metalomecânica, a indústria naval. Para uns é melhor eliminar o risco industrial, criar

grandes centros comerciais, receber na hora e forçar os fornecedores a receber a 180

dias, outros que, à mais pequena dificuldade, passam a sede da empresa para o

estrangeiro porque os juros bancários são mais baixos. Ou ainda criar instituições

bancárias, sempre mais fácil, ajudando ao facilitismo do sobre‐endividamento das famílias

e dá medalhas, do que pensar no país (óptimo para eles). Talvez mau para os

portugueses, uma vez que quem os ouve falar com tamanha ternura de Portugal, fica

espantado.

É hora de terminar com o patriotismo bolorento, chamar os bois pelos nomes, como

dizem na minha terra, e pensar de forma séria em Portugal e nos portugueses. Se os ditos

empresários não criam riqueza para o país, não criam emprego, o estado que anime a

economia local e regional com investimento público. Parar para não gastar, já aconteceu

durante 50 anos, e veja‐se o estado a que chegamos.

Banco / Sobreendividamento

O banco é uma instituição com a qual mantemos uma relação de amor e ódio, mas sem a

qual já não podemos passar. Sou cliente bancário há mais de trinta anos, mas sempre

mantive um certo afastamento às possibilidades disponibilizadas para créditos, ou

qualquer outra aplicação que envolve‐se risco. Aliás, penso que ao nível de crédito, para

além do cartão de crédito que utilizo cada vez menos, só mesmo na troca do último carro

utilizei, e mesmo assim através de instituição financeira em condições mais favoráveis.

Grande parte da minha actividade profissional foi passada numa multinacional. E sempre

tive a consciência da instabilidade que as multinacionais arrastam, como tal, todos os

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meus investimentos foram sempre muito ponderados. Sempre gostei de ter o controlo

sobre as minhas contas.

De acordo com os dados disponíveis, o endividamento das famílias portuguesas cresceu

exageradamente ao longo da década de 90. Se, em alguns casos podemos considerar

aspirações legítimas (talvez desadequadas) dos portugueses, para uma maioria trata‐se

de descontrolo financeiro no uso e abuso do crédito, agravado pela situação crescente do

desemprego involuntário. Um empréstimo é uma divida assumida e, como em tudo na

vida, as opções que tomamos terão como ónus o dever de regularização. O facilitismo

criado pelas instituições financeiras nas suas guerras concorrenciais provocou, de algum

modo, os excessos penalizadores para muitos dos endividados. E, por muito que se

critiquem os processos, é, em última instância, da responsabilidade dos próprios

endividados.

A sociedade consumista em que Portugal se tornou, originou o sobreendividamento. A

proliferação das formas de crédito (cartão de crédito, linhas de crédito via telefone,

crédito hipotecário, adiantamento de salários), levam à falta de provisão financeira, e

podem levar uma pessoa a contrair mais dívidas do que lhes é possível suportar com o

rendimento disponível, entrando assim em falência pessoal. O crescimento do

endividamento dos particulares reflectiu o ajustamento irracional das famílias e das

instituições de crédito. As alterações ocorridas, tanto do lado da oferta, como do lado da

procura do crédito, levaram as instituições financeiras a apostar no crédito a particulares,

tradicionalmente um mercado com baixos níveis de endividamento.

O aumento do rendimento disponível à época e a contenção do desemprego favoreceu o

crescente endividamento das famílias portuguesas. O acentuar da crise internacional a

partir de 2008, com o agravamento do desemprego, surgiu à luz do dia a irracionalidade

de algumas opções. A grande questão é que todos estamos sujeitos a um sem número de

dificuldades, apesar de nada termos contribuído para a situação criada.

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ABERTURA MORAL

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Espanha

Terra de Salvador Dalí, Gaudi, Picasso, Miró… a arquitectura catalã, museus, os caminhos

de Santiago e da Andaluzia emocionantes! Os sabores, o azul do mar…o flamenco.

A Espanha é um país democrático e está organizado sob a forma de um governo

parlamentar, sob uma monarquia constitucional. Com uma área de 500.000 km2 é, depois

da França, o segundo maior país da União Europeia. Administrativamente, está dividido

em autonomias regionais e inclui, ainda, as ilhas baleares, no Mediterrâneo e as Ilhas

Canárias, no Atlântico. Juntamente com Portugal e ocupando a maior parte, constituem a

Península Ibérica. Faz parte da bacia mediterrânica a leste e a sul, com uma proximidade

com o norte de África, liga ao centro da Europa através da França.

Foi ao longo do tempo sujeita a muitas influências externas, que hoje se traduzem na

forma de viver das suas gentes. É um país desenvolvido e com elevado padrão de vida.

A guerra civil (1936/1939) deu lugar a uma ditadura fascista, conduzida pelo general

Franco. Oficiosamente neutra durante a 2ª guerra mundial, a Espanha, como é normal em

períodos pós guerra, atravessou um crescimento económico assombroso durante os anos

60 e 70, apesar de reprimido cultural e politicamente. Com a morte de Franco e a entrada

da nova constituição de 1978, já depois do 25 de Abril em Portugal, iniciou uma

transformação sem precedentes no país. Até ao primeiro terço do século XX, a Espanha

viveu períodos de grande êxodo de emigração, em que os principais destinos eram Cuba,

Porto Rico, Argentina e Venezuela, o que tornou o país dos de menor densidade

populacional da Europa. Em contrapartida, a primeira década do século XXI teve um

efeito contrário e transforma a Espanha no país de maior receptividade de imigração da

União Europeia, com origem latino‐americano, Europa Ocidental e Oriental e Magrebe. A

população estrangeira em 2007 atingia os cerca de 4 milhões, que representa quase 10%

da população habitacional de Espanha. Com todas as influências civilizacionais passadas,

agora conjugadas com novas culturas novos saberes, que juntas às especificidades

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regionais autónomas, transformam Espanha em uma mescla de culturas, saberes, cor,

alegria e sabores, deveras aprazível.

Espanha é conhecida pelo seu património cultural diversificado, tendo sido influenciado

por muitas nações e povos ao longo da sua história. Criou a sua própria identidade e

cultura enraizadas desde os bancos da escola nas suas gentes. País maioritariamente

católico, tem na religiosidade o apoio e o motivo para encarar de forma tranquila as

complicações diárias. Não há um espaço comercial em que entremos sem receber um

caloroso e sorridente “Ola” ou um simpático “Adios” na saída. Com frequência,

observamos grupos de espanhóis que em viagem turística a Portugal, procuram inteirar‐

se do património existente, para aprofundamento de conhecimentos. Será que nós

portugueses em situação recíproca, tomamos as mesmas opções? Penso que não, salvo

raríssimas excepções.

Por razões profissionais, tive a oportunidade e o prazer de visitar Espanha por diversas

vezes, e quase todas as regiões. E desde sempre fui notando diferenças, tanto em relação

a Portugal, como entre elas, mantendo, no entanto, em termos gerais uma certa

similitude na forma de estar. Desde logo, temos um povo muito mais sedentário,

introspectivo, com um jantar apressado e a corrida apressada para o sofá, com o zapping

televisivo para desespero do resto da família que aguarda a telenovela ou o jogo de

futebol que passa dentro de momentos. Em contraste, temos os encontros de final de

tarde para “una copa”ao balcão do bar, as gargalhadas espontâneas por tudo e por nada,

o desanuviar de um dia de trabalho ou “las salidas por las calles com sus hijos, un poco

antes de la cena”. É agradável observar as mulheres, onde as mais novas, um pouco mais

desportivas, e as menos novas bem vestidas, bem maquilhadas, transformarem um

pequeno passeio de fim de tarde, pela avenida da sua cidade acompanhadas pelo seu par,

como se saíssem para um jantar especial.

As diversidades regionais, com as suas particularidades específicas, são por de mais

específicas. Desde sentimentos mais solidários a norte (País Basco), com as Astúrias mais

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parecidas com Portugal, até ao sul (andaluz) com o flamenco, mais alegre mas também

mais desconfiado, não esquecendo o encierro de Navarra (corrida ao lado dos touros

pelas ruas), ou as célebres movidas, a madrileña em (la castellana) ou las ramblas

(Barcelona). São partes de um todo que fazem de Espanha uma terra de cor, alegria e

bem‐estar. Não é por acaso, que a indústria turística espanhola cresceu nos últimos 40

anos e tornou‐se a segunda maior do mundo. O clima, a história, os monumentos

culturais, juntamente com as suas instalações e infra‐estruturas, fazem do turismo uma

das principais indústrias nacionais, fonte de emprego e desenvolvimento.

Também a nível energético a Espanha, tal como Portugal, carece de petróleo. As fontes

alternativas de energia limpa, hidroeléctricas e eólicas, são factor estratégico. A energia

solar e os “molinos de vento” torres eólicas, são já responsáveis por 50% da energia

produzida em Espanha. Convém salientar, que são um potencial produtor de

Aerogeradores, o que é uma mais‐valia para a sua economia. Portugal seguindo na

mesma senda da energia eólica, ainda necessita de importação deste equipamento,

apesar dos passos dados com o Cluster de Viana do Castelo, onde a Enercon

(provavelmente o maior fabricante mundial) em parceria com outras empresas, prepara a

curto prazo a produção integral em Portugal do novo modelo de Aerogeradores.

Esta é a minha visão de Espanha, talvez por deformação profissional seja um pouco

técnica e institucional. Penso todavia, que algumas diferenças entre os dois países ficam

implícitas no próprio texto. Por outro lado, há situações que são difíceis de descrever,

temos que as viver “en su sitio” porque só assim poderemos retirar o que de melhor

podemos encontrar. Eu pela minha parte gosto muito de Espanha.

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Conflitos Laborais

Numa perspectiva simplista, quando pensamos em conflitos laborais, imaginamos de

imediato o relacionamento entre empregados e empregadores. Sem dúvida que esta

conflitualidade é real, até por questões históricas. No entanto, os conflitos laborais

ultrapassam este binómio e, mais do que pode parecer, acontecem entre os próprios

trabalhadores, seja por questões de poder ou de ordem profissional, ego ou questões

pessoais.

E ao contrário do que se possa pensar, alguns destes conflitos até nem são maus para as

empresas. São os conflitos de pontos de vista, que muitas vezes levam a novas e

melhores soluções. O fundamental é direccionar as causas, para o lado positivo, e aqui as

chefias têm um papel preponderante, tanto na forma de gerir o problema, como na

solução, transformando uma situação hostil em bom ambiente de trabalho.

As pessoas que trabalham em grupo, com diferentes formações e personalidades, têm

também diferentes experiências, sendo esta mescla de situações traduzidas muitas vezes

em objectivos a conseguir e ultrapassar, tanto a nível profissional, como a nível pessoal.

Não é possível esperar, neste contexto de sobrevivência, uma completa ausência de

conflito, onde, na verdade, a falta ou inexistência dele acabar até por nem ser saudável.

Muitas organizações têm complexos de assumir que existem conflitos no interior da sua

empresa. Pensam que esta assunção significa uma “perda de controlo” sobre os seus

empregados, significando um mau funcionamento da sua organização. Com este

pensamento, elaboram regras, criam hierarquias e cadeias de comando bem claras e

definidas, acreditando numa perspectiva em que, com tudo bem organizado e bem

dirigido, acabam‐se as quezílias e a eficácia será alcançada por meio da harmonia, e da

ausência de conflito. Puro engano, é justamente uma boa gestão de conflito que se torna

necessária. Desde o início da minha actividade profissional, que sempre constatei “que é

muito fácil ser chefe… o difícil é saber ser chefe”.

Como referi, a relação nos aspectos económicos e de direitos entre empregados e

empregadores é, sem dúvida, a grande bandeira dos conflitos laborais. Nos últimos 40

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anos, Portugal passou por vários períodos de conflitualidade laboral, em função da

situação política da época. Se no período dito revolucionário se conseguiram avanços,

com a criação de leis laborais como os contratos colectivos de trabalho, direitos (entre

eles a lei da greve) e garantias dos trabalhadores, com o período da consolidação do

sistema, o sector empresarial privado foi revertendo paulatinamente a política geral de

trabalho a seu favor, gerando com isso um aumento de conflitualidade. Os períodos de

crise económica, como o que atravessamos presentemente, originam por sua vez novos

recuos para os trabalhadores, até pela perspectiva neo‐liberal de alinhamento e de

uniformização com os restantes países da Europa. É isso exemplo, o novo acordo

tripartido da concertação social assinado à poucos dias, onde direitos e garantias

acabaram por retroceder no âmbito dos trabalhadores, em função de uma pretensa

maior competitividade das empresas, que está longe de se comprovar que será real.

Ao longo do meu período de trabalho, além de alguns pormenores, passei por três

situações mais complexas, duas directamente comigo, e uma outra em defesa de um

companheiro de trabalho. Em relação ao companheiro, como referi anteriormente,

aconteceu num período em que tinha responsabilidades sindicais e na comissão de

trabalhadores. Em período de alteração de carreira deste companheiro, foi mencionado

pelo chefe de sector, que o colega em causa e pelo que lhe dava observar, padecia de

alguma dificuldade intelectual (para não lhe dar outro nome), visionado através das

paredes de vidro do seu gabinete. Não estando de acordo com a observação, com o apoio

do médico de trabalho da empresa, conseguimos em consultas externas, rebater e

alcançar os objectivos que era a sua promoção. Relativamente comigo, logo no início da

minha actividade, um companheiro mais velho achava que lhe deveria levar uma escada

para o seu posto de trabalho, isto na ausência do chefe de secção. Recusei naturalmente,

justificando que, como companheiro, o ajudava ao transporte uma vez que era pesada,

até porque era na época pré‐oficial e não seu ajudante. Após inquérito interno, este

companheiro foi penalizado com um dia de trabalho. A outra originou a saída da empresa

onde trabalhava há 20 anos. Por questões das ditas reorganizações internas, pois sempre

me considerei um não‐alinhado ao “Status Quo” do poder (dito por outras palavras,

nunca fui lambe botas), fui confrontado com algumas deselegâncias que, por questões de

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ética e personalidade, me obrigaram à rescisão de contrato com justa causa, com

pagamento indemnizatório para a minha saída.

Sempre cumpri as minhas obrigações como bom profissional, com respeito tanto nos

direitos como nas obrigações. Um chefe é um chefe e, todos que em determinado

momento me chefiaram, mereceram a máxima colaboração com a máxima

responsabilidade. Ainda que algumas chefias façam uso do velho esquema de Maquiavel

”espalha o medo se queres reinar”, apraz registar que só o consegue, se nada fizermos

para o impedir. Somos nós, sem medo da relação, cumprindo obrigações, sem grandes

discussões e não deixando extravasar o campo profissional, poderemos obter e impor o

respeito que nos é devido. Se não conseguirmos aguentar a pressão, a alternativa é

mudar de emprego, para tranquilidade mental e psicológica. Para as chefias que

entendam ser o autoritarismo a melhor forma de liderar, entendam que os maiores

activos de uma empresa são os seus colaboradores.

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Defesa dos trabalhadores

Os sindicatos, por questões organizativas e históricas, são por inerência os grandes

defensores dos seus aderentes, ou seja os trabalhadores. Existe uma corrente dentro do

sindicalismo (cada vez menor) o “anarco‐sindicalismo”, uma corrente anarquista que tem

como pensamento a transformação da organização sindical tal como é. Acreditam que os

sindicatos podem ser utilizados como instrumentos para mudar a sociedade, substituindo

o capitalismo e o estado, por uma sociedade auto gerida pelos trabalhadores.

Pura utopia. Conceito à muito ultrapassado, que a globalização veio definitivamente

erradicar. Com a globalização e o conceito neo‐liberal da economia empresarial a nível

mundial, os direitos dos trabalhadores vão, dia após dia, perdendo peso nas instâncias

que têm como incumbência a sua defesa. Por outro lado, a falta de adesão sindical e de

solidariedade entre os próprios trabalhadores, vai determinando a perda de influência

dos sindicatos, cada vez mais direccionados ao sector empresarial de Estado (Função

Pública), deixando a defesa dos trabalhadores do sector privado, cada vez mais

deficitária.

Toda a política laboral rege‐se pela lei geral do trabalho e, em particular, pelos contractos

colectivos de trabalho, negociados entre a associação empresarial e os sindicatos dos

respectivos sectores de actividade. Apesar das dificuldades por que passam hoje os

trabalhadores, mantêm‐se o recurso individual ao Ministério do Trabalho, ao Tribunal de

Trabalho e a instâncias internacionais de defesa, se existirem meios para o fazer. Portugal

é um país democrático com uma Constituição da Republica, onde estão consagrados

direitos e garantias, além de ser subscritor das Leis Internacionais de Trabalho (OIT).

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Pluralismo Politico / Abstenção

O pluralismo político é a essência da democracia a diversidade de opinião e o pulmão da

liberdade. A capacidade de em momentos pontuais, e independentemente dos nossos

princípios, ou orientações politicas, podermos proporcionar alternâncias de poder.

“A educação cívica numa democracia assenta em valores que se prendem com um código

de honra, dignidade e verdade, que deveria ser tão naturalmente inscrito na vida

quotidiano que não precisava de ser verbalizado” diz‐nos Pacheco Pereira. Pois! O

pensamento transcrito leva‐nos quase à perfeição, ao ideal da actividade politica. Mas o

problema começa precisamente aqui. Por um lado, a falta de dignidade e verdade da

classe politica, por outro, a formação, a procura de informação, e a capacidade de extrair

conclusões. Acredito que para muitos, os princípios ideológicos, as bases programáticas e

linhas orientadoras de acção, são questões incontornáveis, e os outros, talvez a maioria.

Não será neste grupo que incide o grande trabalho político de caça ao voto? E eu

pergunto… Quem serão os grandes responsáveis pela situação que Portugal atravessa,

tanto no âmbito social, económico ou financeiro? Procuro não ser “masoquista”, mas até

onde o conhecimento me leva, responsabilizo, a nova classe política, e principalmente o

Estado Novo. Que nos deixou um país subdesenvolvido, em guerra, com os altos custos

que ainda estamos a pagar, sem estratégia ou infra estruturas, um país com uma enorme

taxa de analfabetismo e iliteracia. 50 Anos de obscurantismo, com total ausência de

pluralismo, que trouxeram até aos dias de hoje várias gerações, que podem ser decisivas

em momentos de escrutínio.

Dou como exemplo a minha mãe. Hoje com 85 anos é como alguns milhares de

portugueses analfabetas. Em período eleitoral e sem qualquer indicação de voto da

minha parte, continua a votar no mesmo partido no seguimento do que fazia na época

em que o meu pai era vivo. Com uma cultura em que a cabeça de casal é o homem, onde

o papel da mulher era de submissão às suas vontades e opiniões, continua fixa nestes

contextos. Temos por hábito discutir estes temas em casa, quando reunidos em família, e

embora não intervenha está atenta às opiniões que vamos manifestando. É precisamente

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este deficit de opinião que existirá em milhares de portugueses, que será aproveitado de

forma despudorada pela classe política, com a falta de verdade, o caciquismo local, e por

instituições que tendo a obrigação de ser isentas, não o são. O pluralismo político é pois,

num sentido alargado, o reconhecimento da diversidade, que nos leva à democracia

pluralista, aos partidos políticos e à relação de representação.

Os últimos anos têm levado os portugueses à descrença da coisa pública. A mentira, a

falta de dignidade na classe politica, leva‐os, a não acreditar, e optar pela não

participação, originando a abstenção sobejamente conhecida. Entre 1975 e 2011,

aconteceram 14 actos eleitorais para as legislativas. Em todas elas a abstenção foi

subindo de forma constante. Iniciamos com cerca de 8% e em 2011 representava 42%.

Tendo em conta que este valor só representa a abstenção presencial, não considerando

os brancos e nulos. É pois este acto de se negar ou de se manifestar através do voto, que

deveria ser analisado, se é que já não está definido, com o descrédito na classe política,

onde o elo mais fraco, o povo, sai sempre prejudicado.

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ARGUMENTAÇÃO E ASSERTIVIDADE

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Chefia | Posições

É minha convicção que “é muito fácil ser chefe… difícil é saber ser chefe”. Ao longo da

vida assumi circunstancialmente algumas posições de chefia. Se em alguns casos tinham

uma representatividade formal, outras representavam uma responsabilidade efectiva.

Na área desportiva, ainda nas camadas jovens, fui capitão de equipa no clube onde

praticava futebol. Esta incumbência ao nível do jogo tem como missão específica o

contacto com o árbitro e a voz de comando dentro do campo, incentivando e unindo toda

a equipa na procura da vitória no jogo. Terminei relativamente cedo a minha actividade

desportiva como amador, que por uma questão de ética e de respeito por mim próprio,

levou‐me a abdicar da competição a nível regional, apesar das qualidades inatas que

predispunha.

Esta situação leva‐me a um convite para treinador/jogador da equipa de futebol da

empresa onde trabalhava, que disputava o campeonato de futebol de empresas, inscritos

no INATEL. Apesar do amadorismo em causa, as tomadas de posição assumiam

particulares cuidados. Gerir um grupo de companheiros, que se encontravam duas vezes

por semana para treinar após o seu dia de trabalho e novamente ao sábado de manhã

para o jogo semanal, não era tarefa fácil. O grau de exigência que colocava era elevado,

primeiro por questões competitivas na obtenção dos objectivos pretendidos, depois

porque ao assumirem a vontade de jogar, exigiria mais porque estavam ali porque

queriam, sem ganharem nada nem serem obrigados a o fazer. A experiência foi

excepcional, a vitória do torneio e a chegada pela primeira vez ao topo do futebol do

INATEL. Apesar de algumas tomadas de posição que passaram pela eliminação de alguns

que não se enquadravam nos princípios éticos e desportivos que se pretendia, no

cômputo geral foi óptimo.

Em período militar, passei talvez a fase de chefia mais complicada. Primeiro pela própria

natureza militar, depois pela obrigatoriedade do serviço e da diversidade de mentalidades

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em presença. Como sargento miliciano “furriel”, entre outras colocações de serviço,

preparei um grupo de homens em técnica de combate, direccionados para a guerra do

Ultramar. Homens com poucas semanas de tropa, alguns já casados e com filhos, cujo

destino era um cenário de guerra.

E dois pontos eram essenciais para mim: uma boa preparação psicológica e militar e um

grande espirito de grupo. Todos dependeríamos de todos e o mais pequeno deslize

poderia colocar em risco a nossa sobrevivência. Era formado em operações especiais

“Ranger”, cujo lema que interiorizávamos era “um por todos e todos por um e nunca se

sabe”, o que significava por um lado o despreendimento do momento presente, com a

responsabilidade de nunca saber‐mos o que iria acontecer no momento imediato.

Tinha assistido em Lamego, durante o período de formação, a duas situações que deixam

marcas. Uma, a baixa psiquiátrica de um companheiro de curso por não aguentar a

pressão psicológica exigida, a outra, a morte de outro companheiro, atingido por uma

bala que inadvertidamente, num período de brincadeira, estava na câmara de uma arma

que lhe foi apontada. Foram exemplos que nos incutiram um maior grau de exigência.

Sabíamos que no palco do Ultramar muitos acontecimentos destes aconteciam. Não

estávamos livres de, a qualquer momento, encontrar uma bala perdida em combate, não

podendo negligenciar este tipo de situações. Felizmente, surgiu a independência, fomos

desmobilizados e regressamos ao convívio da família.

Seguiu‐se o trabalho e novas situações de chefia aconteceram. Numa primeira fase, a

presidência da comissão de trabalhadores e da comissão intersindical da empresa, que

apesar das resoluções colegiais dos órgãos, tinham sempre um cunho pessoal da

presidência, na procura da consensualidade, entre as diversas opções em discussão.

Tive oportunidade de chefiar o grupo de trabalhadores, que em negociação com a

administração da empresa, aprovava aumentos salariais internos e extra contratuais (AE),

acordos de empresa, prémios de produtividade, onde englobávamos tanto os produtivos

como as manutenções e quadros técnicos. A admissão de novos funcionários,

normalmente filhos ou familiares dos companheiros de trabalho, na base de esquemas

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predefinidos, de formação, capacidades e necessidades familiares. Reconheço que esta

situação criou algumas inimizades, apesar da seriedade dos processos e da isenção

utilizados, pela falta de compreensão das pessoas em causa, que olhando para o seu

umbigo, pensavam ter direitos adquiridos.

Com a chegada ao sector comercial, atingi o máximo da carreira tanto a nível profissional,

como de chefia que viria a acontecer mais tarde. A partir de determinado momento era

na prática o vice‐director comercial, embora não declarado. Funcionava como braço

direito deste nas suas ausências, com poderes de decisão em momentos onde eram

precisas medidas imediatas. Situado na fábrica, foi‐me proposto o cargo de chefe de

vendas da equipa comercial Norte (fábrica) e da equipa Sul (sede). Recusei, por motivos

de ética profissional, em relação ao companheiro do Sul, mais velho e que já chefiava esse

sector. De comum acordo, decidimos criar o cargo de inspector de vendas Norte e Sul,

iniciando então a chefia da minha equipa devidamente formalizada.

Criamos estruturas, viaturas para todos, maior responsabilidade da equipa no mercado,

preparação de programas de visitas com maior rentabilidade e com ganhos efectivos e,

sempre com a minha supervisão, sugerindo alternativas a percursos, aprovando ou

recusando algumas propostas apresentadas. Recordo uma viagem de carro entre Lisboa

(Sede) e V.N.Gaia (Fábrica) na companhia do Director Comercial. Durante o trajecto, um

companheiro da minha equipa terá sido demitido e readmitido pelo menos três vezes. Já

na fábrica, a decisão de continuar em funções foi devida à minha oposição e

compromisso de solucionar o problema em causa. Este companheiro tinha sido recrutado

por mim da área produtiva para o sector comercial, sentindo potencialidades que se

viriam a manifestar mais tarde, não o poderia deixar sair.

Em simultâneo chefiava a equipa de marketing, que proporcionava todo o apoio à equipa

de vendas Norte /Sul, em catálogos e material de oferta ou mostruários de apresentação

do produto. Tinha ainda o acompanhamento diário ao director comercial, nas suas

intervenções directas junto dos clientes. Com o sector comercial em crescendo, foram

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restruturadas e modernizadas as instalações, passando a acumular a chefia do sector

administrativo comercial, o armazém de produto acabado e o sector de transportes de

produto. Apesar dos resultados, a ascensão cria por vezes anticorpos, originando

situações menos agradáveis, que terminariam com a apresentação da minha demissão,

que apesar da justa causa, deixou marcas pela injustiça.

Seguiram‐se 20 anos de sucesso em multinacional, onde para além de responsável pela

sucursal em Portugal, passei, com o seu encerramento, a representante único no país

sendo chefe de mim próprio, com o máximo de responsabilidade. Este processo termina

com o agudizar da crise internacional, com a empresa a decidir eliminar postos de

trabalho por toda a Europa, centralizando a organização de determinados mercados

menos apetecíveis, na sua sede na Alemanha.

Ao longo deste trajecto profissional, tive a oportunidade de colaborar com algumas

empresas da área industrial onde estava inserido, sempre na qualidade de representante,

assumindo a responsabilidade da gestão do tempo e do trabalho realizado.

Em termos de cômputo geral, hoje, olho para trás e sinto‐me satisfeito com o que vejo,

deito a minha cabeça no travesseiro e durmo tranquilo. Nunca atropelei ninguém para

atingir algum objectivo, antes pelo contrário. Nunca usei o poder pelo poder, sempre

procurei ser sensato, objectivo e profissional. Nunca retirei qualquer proveito do cargo

que circunstancialmente ocupava. Talvez por isso, hoje estou desempregado.

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PROGRAMAÇÃO

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LÍNGUA ESTRANGEIRA

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