Prática Científica Na Engenharia

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  • 7/26/2019 Prtica Cientfica Na Engenharia

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECNICA

    PPPRRRTTTIIICCCAAACCCIIIEEENNNTTTFFFIIICCCAAANNNAAAEEENNNGGGEEENNNHHHAAARRRIIIAAA:::MMMTTTOOODDDOOOCCCIIIEEENNNTTTFFFIIICCCOOONNNAAAAAANNNLLLIIISSSEEEDDDEEESSSIIISSSTTTEEEMMMAAASSSTTTCCCNNNIIICCCOOOSSS

    Mrcio Fonte-Boa Cortez

    Roberto Mrcio de Andrade

    2002

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    Mrcio Fonte-Boa [email protected]

    Roberto Mrcio de [email protected]

    Universidade Federal de Minas Gerais

    Departamento de Engenharia Mecnica

    Av. Antnio Carlos, 6627 - Pampulha

    31.270-901 - Belo Horizonte MG

    PRTICA CIENTFICA NA ENGENHARIA:MTODO CIENTFICO NA ANLISE DE SISTEMAS TCNICOS

    Material didtico sobre conceitos preliminares

    de Metodologia Cientfica e Anlise de

    Sistemas Tcnicos da Engenharia, introduzindo

    noes de Modelagem e anlise de modelos,

    baseado em diversos trabalhos da literatura e

    na experincia cientfico-acadmica dos

    autores, para servir de orientao a

    profissionais e estudantes de engenharia de

    graduao e ps-graduao, tanto com relao

    aos assuntos abordados quanto referncia de

    livros e publicaes a respeito.

    2002

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    prtica cientfica na engenharia: mtodo cientfico na anlise de sistemas tcnicos

    AAAgggrrraaadddeeeccciiimmmeeennntttooosss

    Ao Dr. Ricardo Luiz Utsch de Freitas Pinto, professor do Departamento de Engenharia

    Mecnica da UFMG, por sua preciosa colaborao para este material, com a elaborao das

    idias apresentadas no captulo sobre Teoria da Otimizao.

    Ao engenheiro Petrnio de Oliveira Castanheira, M.Sc., ex-aluno dos Cursos de

    Graduao e Ps-Graduao em Engenharia Mecnica da UFMG, por sua colaborao na

    redao do texto.

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    prtica cientfica na engenharia: mtodo cientfico na anlise de sistemas tcnicos

    O problema essencial numa era

    computadorizada permanece o mesmo que sempre

    foi. Esse problema no apenas como ser

    mais produtivo, ter mais conforto, mais

    satisfao mas como ser mais susceptvel,

    mais sensato, mais adequado e mais vivo.

    Norman Cousins

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    prtica cientfica na engenharia: mtodo cientfico na anlise de sistemas tcnicos

    PPPRRREEEFFFCCCIIIOOO

    A universidade tornou-se um polo de enorme importncia na questo

    Cincia/Tecnologia, levando-a a institucionalizar a pesquisa cientfica e tecnolgica. A

    viabilizao de um modelo de universidade baseado na inter-relao ensino-pesquisa

    depende, fundamentalmente, do nvel de qualificao acadmico dos professores e da

    intensidade de pesquisa desta instituio. Por conseguinte, os cursos de ps-graduao passam

    a desempenhar um papel importantssimo, ao fazerem o acoplamento entre a qualificao dos

    professores e o desenvolvimento de projetos de pesquisa. Desta forma, os professores-

    pesquisadores se mantm atualizados no "estado da arte" de suas reas especficas e

    propiciam aos alunos, de graduao e de ps-graduao, o espao necessrio para

    acompanhar as tendncias cientfico-tecnolgicas, atravs das exposies didticas e da

    insero dos alunos em atividades de pesquisa. Com isto, os alunos podem adquirir uma

    formao acadmica com maior nfase em cincias bsicas da engenharia. Outro aspecto de

    grande importncia com relao a este modelo de universidade, particularmente no tocante ao

    currculo proposto, a alocao profissional do engenheiro. Este profissional, dado seu perfil

    de formao acadmica cientificamente orientado, encontra-se habilitado a desenvolver novos

    produtos tecnolgicos ou a realizar transformaes tecnolgicas, aliando cincias ou

    conhecimento bsicos realidade tecnolgica em que se insere ou opera.

    A expresso "perfil de formao acadmica cientificamente orientado" no significa

    que o aluno adquire conhecimentos puramente cientficos desprovido de aspectos prticos ou

    distante da realidade tecnolgica do momento. Significa que o futuro profissional dispor de

    uma certa autonomia para lidar com os processos e fenmenos fsicos envolvidos nos

    sistemas e projetos em que venha atuar (problemas tcnicos de engenharia). Entende-se como

    problemas tcnicos de engenharia aspectos de dimensionamento, fabricao e montagem de

    dispositivos, equipamentos e instalaes, bem como a investigao de suas particularidades

    funcionais, como por exemplo, uma previso do comportamento de um dado equipamento em

    condies adversas s definidas no projeto. A soluo dos problemas da Engenharia tm um

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    prtica cientfica na engenharia: mtodo cientfico na anlise de sistemas tcnicos

    impacto na natureza, em particular na vida humana. Assim, importante que profissionais

    desta rea sejam capazes de compreender e predizer a natureza dos processos envolvidos nos

    problemas. Como ilustrao, considere-se a realidade mundial que aponta para o uso mais

    racional de energia e de matrias primas, estimulado pela necessidade de novas fontes de

    energia e de novas idias para explorao destas fontes, aliado preocupao ecolgica.

    Neste contexto, concepo, desenvolvimento, projeto e instalao de estratgias energticas

    requerem planejamento e alocao cuidadosos de fontes de energia, considerando-se tambm

    a preocupao ecolgica. Assim, a soluo dos problemas tcnicos de engenharia deve

    resultar de uma compreenso da natureza dos processos e de uma metodologia para sua

    predio qualitativa/quantitativa. Provido desta competncia, o projetista de um sistema de

    engenharia pode assegurar o desempenho desejado, bem como definir um projeto timo

    dentre vrias alternativas. A capacidade de predio habilita o projetista a operar

    equipamentos existentes de forma mais segura e eficiente. Predio de processos relevantes

    auxiliam na previso de caractersticas geomtricas e operacionais timas de equipamentos.

    A estruturao curricular dos Cursos de Engenharia deve direcionar a formao do

    engenheiro, capacitando o futuro profissional a acompanhar as tendncias tecnolgicas

    mundiais, por um lado, e alterar sua prpria realidade tecnolgica, por outro lado. Assim,

    importante que o aluno aprenda a trabalhar com a metodologia cientfica para analisar

    sistemas da Engenharia. A anlise destes sistemas envolve, na maioria dos casos, dadas as

    ferramentas computacionais (experimentao matemtica) e instrumentais (aquisio de

    dados experimentais) disponveis, uma representao dos processos/fenmenos por uma

    rplica fsica do sistema ou de partes do sistema (modelo fsico) ou uma descrio dos

    processos/fenmenos em forma matemtica (modelo matemtico), atravs de uma forma

    (modelagem fsica) ou de uma linguagem adequada (modelagem matemtica), e a

    sistematizao e interpretao dos resultados decorrentes do estudo do modelo (anlise do

    modelo), podendo contar-se com o auxlio ou a necessidade de uma filosofia especial de

    abordagem do problema em questo para facilidade da anlise ou atendimento de certas

    exigncias ou condies definidas a priori (otimizao).

    Busca-se, com este material didtico, apresentar aos alunos alguns conceitos

    preliminares metodologia cientfica de anlise de sistemas tcnicos da engernharia. Este

    material no tem a pretenso de constituir, isoladamente ou por si s, uma nica fonte de

    consulta para os alunos, outrossim, por se tratar de uma compilao de diversos trabalhos da

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    prtica cientfica na engenharia: mtodo cientfico na anlise de sistemas tcnicos

    literatura e atravs da experincia cientfico-acadmica dos autores, servir de orientao, tanto

    com relao aos assuntos abordados quanto referncia de livros e publicaes a respeito.

    Dada a formao especfica dos autores em Engenharia Mecnica, o texto privilegia exemplos

    da rea. Este texto no se prope a varrer todos os conceitos de metodologia cientfica, mas

    to somente a apresentar aspectos importantes relativos postura na pesquisa cientfica ou na

    anlise de problemas tcnicos da engenharia. Este material apropriado para estudantes

    universitrios e jovens profissionais da engenharia.

    Belo Horizonte, 2002 Prof. Mrcio Fonte-Boa Cortez

    Prof. Roberto Mrcio de Andrade

    UUUnnniiivvveeerrrsssiiidddaaadddeeeFFFeeedddeeerrraaallldddeee MMMiiinnnaaasssGGGeeerrraaaiiisssEEEssscccooolllaaadddeee EEEnnngggeeennnhhhaaarrriiiaaa

    DDDeeepppaaarrrtttaaammmeeennntttooodddeee EEEnnngggeeennnhhhaaarrriiiaaaMMMeeecccnnniiicccaaa

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    prtica cientfica na engenharia: mtodo cientfico na anlise de sistemas tcnicos

    SSSUUUMMMRRRIIIOOO

    Introduo 1

    1. Cincia & Tecnologia 7

    1.1 - Cincia. 7

    1.1.1 - Definio 7

    1.1.2 - Aspectos lgicos 7

    1.1.3 - Aspectos tcnicos 8

    1.1.4 - Objetivos da cincia 8

    1.1.5 - Diviso 9

    1.1.6 - Caractersticas do conhecimento cientfico 9

    1.1.7 - Breve abordagem histrica da evoluo da cincia 12

    1.2. Tecnologia 14

    1.3. Consideraes Finais 15

    2. Mtodo Cientfico 17

    2.1 - Mtodo Cientfico, Mtodo Racional e Argumento de Autoridade 17

    2.2 - Processos e Tcnicas do Mtodo Cientfico e Mtodo Racional 18

    2.2.1 - Observao 19

    2.2.2 - Hiptese 19

    2.2.3 - Experimentao 21

    2.2.4 - Induo e Deduo 22

    2.2.5 - Anlise e Sntese 24

    2.2.6 - Lei Cientfica e Teoria 25

    2.2.7 - Doutrina 26

    2.3 - Consideraes Finais 26

    3. Pesquisa Cientfica 28

    3.1 - Definico 28

    3.2 - Classificao da Pesquisa 29

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    prtica cientfica na engenharia: mtodo cientfico na anlise de sistemas tcnicos

    3.3 - Metodologia da Pesquisa Cientfica 30

    3.3.1 - Projeto de Pesquisa 31

    3.3.2 - Fases da Pesquisa 31

    3.4 - Consideraes Finais 34

    4. Divulgao de uma Pesquisa Cientfica 36

    4.1 Comunicao de Resultados de uma Pesquisa Cientfica 36

    4.2 Dissertaes e Teses 37

    4.3 Relatrio Tcnico-Cientfico 39

    4.4 Publicaes Peridicas 40

    4.5 Artigos de Publicaes Peridicas 41

    4.6 Apresentao Grfica do Trabalho: Editorao 41

    4.7 Citaes 41

    4.8 Referncias Bibliogrficas e Bibliografia 43

    4.9 Notas de Rodap 43

    4.10 Eventos Tcnicos e Cientficos 44

    5. Metodologia de Anlise de um Sistema Tcnico 46

    5.1 - Anlise de um Sistema Tcnico 46

    5.2 Modelagem 53

    5.3 - Anlise do Modelo 57

    Referncias Bibliogrficas R 1

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    Introduo 1

    IINNTTRROODDUUOO

    A atividade profissional do engenheiro abrange representao, produo, pesquisa,

    desenvolvimento e projeto.

    Na primeira metade do sculo XX, a atuao do engenheiro se concentrava na busca

    de solues prticas para os problemas utilizando desenho na prancheta, clculos elementares

    e relatrio descritivo do projeto. As solues apresentadas eram limitadas tcnica e

    economicamente. A partir da segunda guerra mundial acentuou-se a corrida tecnolgica,

    atravs da associao do poder poltico-econmico com o mundo cientfico, fortalecendo o

    processo de inovaes tecnolgicas. Este processo foi intensificado pelo surgimento dos

    dispositivos eletrnicos de clculo. Consequentemente, ocorreu um redirecionamento nos

    conceitos e na execuo dos projetos em engenharia, dando-se um maior enfoque para os

    fenmenos fsicos envolvidos. Isto acelerou e ampliou o desenvolvimento tecnolgico,

    demandando maior gerao de conhecimentos bsicos e sua imediata aplicao, maior

    capacitao dos profissionais na anlise de processos fsicos.

    Atualmente, a Qualidade de Vida decorre da aplicao em grande escala da

    Tecnologia, pois esta gera riqueza, melhora a sade e o bem-estar dos cidados e condiciona a

    preservao do meio ambiente; esta, porm, necessita de Energia para ser desenvolvida e

    utilizada. Assim, quanto mais avanada se tornar a tecnologia melhor a qualidade de vida

    das pessoas maior a expectativa de vida maior a necessidade de energia. Surge-se,

    ento, um ciclo: quanto mais idosas e numerosas as pessoas, maior a quantidade de energia

    gasta para sua sobrevivncia. Portanto, o consumo de energia e a qualidade de vida esto

    intimamente ligados, sendo esta cada vez mais dependente da tecnologia (SPITALNIK, 1996). O

    suprimento energtico da sociedade - que vem crescendo tanto com o desenvolvimento e a

    utilizao de novas tecnologias, quanto com o aumento da expectativa de vida da populao

    (relaoQualidade de Vida / Tecnologia / Energia, figura I.1) deve ser feito de maneira

    racional e acarretar o menor impacto ambiental possvel (figura I.2). Com a valorizao da

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    Introduo 2

    questo ambiental, vm ganhando crescente ateno a implantao e operao de atividades

    que possam acarretar a liberao de poluentes na atmosfera e em outros componentes dos

    ecossistemas, contribuindo, dependendo do caso, para a ocorrncia de fenmenos, cujas

    conseqncias no se limitam escala local. Efeitos climticos, como o aquecimento global

    (efeito-estufa), a deposio cida (ou chuva cida) e a destruio da camada de oznio tm

    sido objeto nos ltimos anos de grandes estudos pela comunidade cientfica mundial. A

    saturao dos corpos de gua doce, o empobrecimento do solo e a destruio da cobertura

    vegetal, por outro lado, tm chegado a nveis que comprometem a quantidade e a qualidade

    dos recursos naturais disponveis para o uso sustentado pelas diversas atividades humanas.

    Alm destes, o risco de acidentes em operaes de minerao, transporte e transformao,

    principalmente, as que utilizam combustveis e substncias txicas, vm causando temores e

    demandando maiores cuidados no tocante segurana das instalaes e na concepo geral de

    projetos. O aproveitamento dessas fontes acarreta diversos tipos de impactos ambientais:

    poluio do ar e da gua (mundialmente intercambiveis), poluio local da terra e

    modificao da superfcie e das propriedades termo-ticas da Terra, impacto scio-cultural,

    exigindo-se medidas drsticas de preservao do meio ambiente (Plano2015, 1993; PDMA, 1990;

    PRODEEM, 1994)*1.

    Figura I.1 Trinmio Qualidade de Vida Tecnologia Energia.

    Qualidade de Vida

    decorre da aplicao em

    grande escala da

    Tecnologiagera riqueza, melhora a sade e o

    bem-estar dos cidados e condicionaa preservao do meio ambiente;

    para ser desenvolvida e utilizada,

    necessita de

    Energia

    1* Plano 2015: Plano Nacional de Energia Eltrica 1992-2015.

    PDMA: Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor Eltrico.

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    Introduo 3

    Figura I.2 - Relao Qualidade de Vida Tecnologia Energia - Impacto ambiental.

    tecnologia mais avanada melhor qualidade de vida das pessoas

    maior demanda de energia maior expectativa de vida das pessoas

    Suprimento

    Energtico

    Recursos Energticos

    Impacto Ambiental

    Conclui-se, ento, que as atividades da engenharia tm um impacto na natureza e na

    vida humana. importante que profissionais desta rea sejam capazes de compreender e

    predizer a natureza dos processos envolvidos nos problemas tcnicos com que venham a se

    defrontar. A soluo dos problemas tcnicos de engenharia deve resultar de uma compreenso

    da natureza dos processos e de uma metodologia para sua predio qualitativa e quantitativa.

    Provido desta competncia, o projetista de um sistema ou um analista de processos de

    engenharia podem assegurar o desempenho desejado, bem como definir, dentre vriasalternativas, um projeto timo ou uma soluo mais adequada. A capacidade de predio

    habilita o projetista e o analista a operar equipamentos e processos existentes de forma mais

    segura e eficiente. Predio de processos relevantes auxiliam na previso de caractersticas

    geomtricas e operacionais timas de equipamentos ou na definio de melhores solues

    para processos produtivos. Dadas as ferramentas computacionais (experimentao

    matemtica) e instrumentais (aquisio de dados experimentais) disponveis, na maioria dos

    casos, a anlise destes sistemas envolve (quadro I.3):

    PRODEEM: Programa de Desenvolvimento Energtico de Estados e Municpios (MME).

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    Introduo 4

    modelagem fsica ou modelagem matemtica- representao ou descrio dos processos

    e fenmenos do sistema ou de partes do sistema por uma rplica fsica ou em forma

    matemtica,

    anlise dos modelos simulao, sistematizao e interpretao dos resultadosdecorrentes do estudo,

    otimizao- filosofia especial de abordagem do problema em questo, para facilidade da

    anlise ou atendimento de certas exigncias ou condies definidas a priori.

    QUADRO I-1 Atividades profissionais do engenharia.

    Atuao:

    representao, produo, pesquisa, desenvolvimento e projeto.

    Impactos na natureza e na vida humana.

    Competncia

    profissional:

    Capacidade de compreenso da natureza dos processos tcnicos e de

    predio qualitativa/quantitativa dos processos, atravs da aplicao

    de uma metodologia adequada.

    Garantia de desempenho desejado para equipamentos/processos ou

    definio de um projeto timo.

    Acompanhamento das tendncias tecnolgicas mundiais e alterao

    de sua prpria realidade tecnolgica.ou de uma soluo mais

    adequada.

    Formao acadmica cientificamente direcionada

    =

    CCOONNHHEECCIIMMEENNTTOO ++ MMEETTOODDOOLLOOGGIIAACCIIEENNTTFFIICCAA

    A anlise de problemas tcnicos de engenharia requer o mtodo cientfico. Sobre este

    mtodo so apresentados alguns conceitos no captulo dois.

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    Introduo 5

    Na soluo dos problemas tcnicos de engenharia, abrangendo projetos de prottipos

    ou investigao de processos ou fenmenos fsicos, projetista e pesquisador assumem, do

    ponto de vista da Metodologia Cientfica, a mesma postura, cujos conceitos bsicos. Esta

    postura se adquire com a aplicao das fases da Pesquisa Cientfica, apresentadas no captulo

    trs.

    de importncia fundamental comunicar os resultados de uma pesquisa cientfica, o

    que poder feito atravs de veculos ou meios de informao especializados (documentos

    tcnico-cientficos) ou de divulgao geral ou no especializados (jornais, revistas, etc.).

    Informaes sobre forma e contedo do documento, em observncia das Normas Tcnicas

    pertinentes, como, por exemplo, dasNormas BrasileirasdaAssociao Brasileira de Normas

    Tcnicas- ABNT-NBRso apresentadas no captulo quatro.

    A predio do comportamento fsico de um dado sistema consiste de valores para as

    variveis significativas representativas dos processos de interesse. A anlise preditiva permite

    a investigao emprica de propriedades e fenmenos ou processos em um sistema, a

    concepo de projetos timos e o controle de sistemas dinmicos. A anlise preditiva de

    sistemas pode ser desenvolvida atravs da investigao experimental, do clculo terico ou de

    uma combinao de ambos. A investigao experimental requer a elaborao de uma "cpia

    fsica" do sistema e a seleo e montagem da aparelhagem ou instrumentao de medida. O

    clculo terico pressupe a representao do sistema em termos de expresses matemticas e

    exige ferramentas matemticas -- analticas ou numricas -- para sua anlise. s

    representaes fsica e matemtica do sistema ou da situao fsica real denominam-se

    modelo fsico e modelo matemtico , respectivamente. Para fins de exemplificao dos

    conceitos introduzidos, modelos de alguns sistemas tcnicos so apresentados. Isto constitui

    tema a ser abordado no captulo cincodeste material.

    O modelo , por natureza, uma representao idealizada de um sistema ou de partes

    deste. Assim, essencial uma anlise quanto sua representatividade ou proximidade da

    situao real. A anlise do modelo, objeto do captulo seis, consiste, basicamente, na

    discusso de tcnicas matemticasou na avaliao experimental de modelo fsico, validao

    .e simulao do modelo (fsico ou matemtico). Para finalizar a anlise de sistemas

    dinmicos, estabelece-se, a partir do modelo validado, um planejamento de gerao de

    resultados - Simulao, cujos tipos e procedimentos so abordados neste captulo.

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    Introduo 6

    No captulo sete apresenta-se uma breve introduo da Teoria da Otimizao,

    discorrendo, breve e superficialmente, sobre a Otimizao na natureza, no homem e na

    engenharia. Objetivo deste captulo propiciar aos alunos algumas informaes conceituais

    iniciais acerca da Teoria da Otimizao.

    No Apndice A apresentam-se algumas idias sobre oPrincpio da Analogiaentre os

    diversos sistemas tcnicos, mostrando-se que estes, embora fisicamente dissemelhantes ou

    distintos, guardam certassemelhanasoperacionais, ou seja, comportam-se de forma anloga

    entre si. Tal fato permite a anlise de um determinado sistema, a partir do conhecimento ou da

    experincia com outros sistemas ditos anlogos. Assim, determinados conceitos ou processos

    envolvidos nos diversos sistemas podem ser generalizados, o que representa uma ferramenta

    de anlise bastante til. Neste captulo apresentam-se detalhes sobre as caractersticas

    dinmicas de sistemas (Sistemas Generalizados). Estas caractersticas dizem respeito s

    transformaes energticas no sistema, representadas em termos de variveis fisicamente

    significativas, cujo inter-relacionamento se faz por meio de relaes constitutivas,

    satisfazendo-se aos princpios de conservao envolvidos.

    Exemplificaes de anlise de alguns sistemas tcnicos da Engenharia so

    apresentadas no Apndice B, ilustrando-se os procedimentos metodolgicos na anlise de

    problemas tcnicos da Engenharia.

    A ttulo de leitura complementar, sugerem-se as seguintes publicaes: BAZZO ePEREIRA (1993), HALL (1983), KAWAMURA (1979, 1986), LADRIRE (1979), LONGO (1984),MAXIMIANO et al. (1980), MARX (1980).

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    Cincia e Tecnologia 7

    CAPTULO UM

    CCIINNCCIIAA && TTEECCNNOOLLOOGGIIAA

    Os conceitos acerca de cincia e tecnologia apresentados a seguir foram extrados de

    CERVO eBERVIAN(1981), BARROS eLEHFELD(1986)e MORAIS(1978).

    1.1- Cincia

    1.1.1.

    Definio

    Cincia(do latim Scientia ou Scire significa aprender, conhecer) todo um conjunto

    de atitudes e atividades racionais, dirigidos ao sistemtico conhecimento com objetivo

    limitado, capaz de ser submetido a verificao. Em BARROS e LEHFELD (1986) define-se a

    Cincia como um conjunto de conhecimentos que se d atravs da utilizao adequada de

    mtodos rigorosos, capazes de controlar os fenmenos e fatos estudados, ou, conforme outra

    concepo, como sendo o estudo de problemas formulados adequadamente em relao a umobjeto, procurando para aquele solues plausveis atravs da utilizao de mtodos

    cientficos, bem como o produto obtido atravs de estudos e concluses adquiridos

    mediante consideraes das causas e efeitos que possui uma situao-problema.

    1.1.2. Aspectos lgicos

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    Cincia e Tecnologia 8

    A cincia possui um mtodo de raciocnio e de inferncia sobre os fenmenos a serem

    investigados, ou j indagados, na tentativa de descrev-los, interpret-los, explic-los e

    verific-los exatamente. So procedimentos e operaes intelectuais que:

    possibilitam a observao racional e controlada dos fatos;

    permitem a interpretao e explicao adequadas dos fenmenos;

    contribuem para a verificao dos fenmenos, positivados pela experimentao e pela

    reobservao;

    fundamentam os princpios da generalizao ou o estabelecimento dos princpios e das leis.

    Assim, a cincia consiste numa srie de proposies ou de enunciados que podem ser

    ordenados, guardando certa hierarquia, na qual o nvel mais baixo se relaciona com os fatos

    particulares e o mais elevado com alguma lei geral que governa o universo. Esses diversos

    nveis de hierarquia tem dupla ligao lgica: ascendente (elos indutivos) e descendentes

    (elos dedutivos).

    1.1.3.

    Aspectos tcnicos

    A cincia exige procedimentos de manipulao dos fenmenos indagados ou a serem

    pesquisados ou calculados com a maior preciso e controle possveis, registrando ocorrncia,

    freqncia, decomposio ou recomposio, comparao e aproveitamento dos fenmenos.

    1.1.4. Objetivos da Cincia

    Os principais objetivos da cincia so:

    aumento e melhoria do conhecimento;

    descoberta de novos fatos e fenmenos;

    aproveitamento espiritual;

    aproveitamento material do conhecimento;

    estabelecimento de certos tipos de controle sobre a natureza;

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    Cincia e Tecnologia 9

    1.1.5. Diviso

    A cincia se divide em:

    Formal: quando trata de entes ideais (ex. Matemtica, Lgica), empregando mtodo

    dedutivo, realizando imagens mentais simblicas e estabelecendo noes abstratas de

    grandeza e quantidade.

    Factual: ou cincia material ou emprica, quando preocupa-se com coisas, sucessos e

    processos (ex. Engenharia, Cincias Naturaisi, Cincias Humanas, etc.) utilizando mtodo

    indutivo, envolvendo observao, experimentao e verificao.

    1.1.6 Caractersticas do conhecimento cientfico

    Antes de se abordar o conhecimento cientfico em detalhes, faz-se interessante

    introduzir alguns conceitos sobre o Conhecimento.

    Conhecimento (relativo ao termo latino cognoscere = conhecer) o ato pelo qual o ser

    humano apropria mentalmente um objeto, buscando o entendimento de sua natureza. Os

    nveis de conhecimento so: emprico, filosfico, teolgico e cientfico (CERVO eBERVIAN,

    1981; BARROS eLEHFELD, 1986).

    O Conhecimento Emprico (do grego empeiriks= baseado apenas na experincia e

    desprovido de carter cientfico) adquirido atravs dos sentidos, aleatoriamente, baseado

    apenas nas experincias vividas ou transmitidas e no atravs do estudo. Representa a pedra

    fundamental do conhecimento humano e estrutura a captao do mundo emprico imediato.

    Caracteriza-se em sensitivo ou intuitivo, superficial, subjetivo, assistemtico, impregnado de

    projees psicolgicas, etc.. Denominado, tambm, de conhecimento vulgar, ou sensitivo, ou

    natural.

    iAs Cincias Naturais (Fsica, Qumica e Biologia) so classificadas como cincias emprico-formais (BARROS

    e LEHFELD, 1986; MORAIS, 1978).

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    O Conhecimento Filosfico (philos = amigo + sophia = sabedoria) adquirido

    atravs do raciocnio, sendo, portanto, abstrato. O conhecimento filosfico, de acordo com

    FERRARI (1982) baseia-se em hipteses que no so submetidas a teste, especulativo,

    valorado, infalvel, sistemtico e racional. Diferencia-se da cincia porque se fundamenta na

    experincia, mas no pode ser submetido experimentao.. A Filosofia tem a finalidade

    primeira de compreender a realidade e fornecer contedos reflexivos e lgicos de suas

    mudanas e transformaes, bem como tem a tarefa de elaborar princpios norteadores das

    aes humanas, caracterizados por aspectos crticos da sociedade, da poltica, do direito, da

    educao, etc..

    O Conhecimento Teolgico (theos = Deus + logos = estudo) obtm-se nos Livros

    Sagrados e aceito racionalmente pelos homens, submetido crtica histrica mais exigente. O

    contedo da revelao no conhecimento teolgico, representado pelos fatos a narrados e

    comprovados pelos sinais que o acompanham, reveste-se de autenticidade e verdade. Do

    ponto de vista teolgico, a existncia divina evidente e evidncia no se demonstra e nem se

    experimenta, mas analisa-se, interpreta-se e explica-se. Na Teologia, o mtodo reflexivo e

    lgico.

    O Conhecimento Cientfico(do latim tardioscientificus= relativo cincia) resulta da

    investigao metdica e sistemtica da realidade. Transcende os fatos e os fenmenos em si

    mesmos, analisa-os para descobrir suas causas e concluir as leis gerais que os regem.

    Conhecimento cientfico no conhecimento comprovado, mas representa o conhecimento

    que provavelmente verdadeiro atravs da verificao prtica por demonstrao ou

    experimentao. O procedimento cientfico transforma o conhecimento emprico em um

    contedo elaborado. O processo de busca de pr-anlise vai cedendo espao investigao

    sistemtica, organizao e seleo de dados e generalizao. Assim, a realidade cientfica

    construda e tem significado medida que oferece caractersticas objetivas,

    quantitativamente mensurveis e/ou qualitativamente observveis e controladas. O

    conhecimento tem por objetivo descobrir sempre alguma coisa nova ou fornecer o melhor

    nvel de certeza sobre um dado assunto. Para tanto este tipo de conhecimento passa a exigir

    padres adequados de competncia intelectual, de pensamento lgico, de raciocnio e at

    mesmo de intuio. Tais exigncias propiciaro ao estudioso padres mnimos de

    competncia para compreender, acompanhar, adaptar e criar formas e roteiros de pesquisa, de

    estratgias, de aes, etc.. Em suma, o conhecimento cientfico surgiu a partir das

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    preocupaes humanas cotidianas e este procedimento conseqncia do bom senso

    organizado e sistemtico. O conhecimento cientfico, considerado como um conhecimento

    superior, exige a utilizao de mtodos, processos e tcnicas especiais para a anlise,

    compreenso e interrogao da realidade. O conhecimento cientfico busca a generalizao. A

    abstrao e a prtica devem ser dominadas por quem pretende trabalhar cientificamente.

    FERRARI (1982) apresenta a seguinte caracterizao do conhecimento cientfico,

    transcrita a seguir.

    O conhecimento cientfico emprico factualporque lida com ocorrncias ou fatos.

    O conhecimento cientfico analtico porque pretende compreender uma situao ou

    fenmenos globais, em termos de seus componentes.

    O conhecimento cientfico geral. No existe cincia do particular. A cincia procura

    discernir as caractersticas comuns de tipos de objetos e as leis gerais ou condies de

    eventos. A descoberta de leis ou princpios gerais permite, por sua vez, a elaborao de

    modelos ou sistemas mais amplos que governam o conhecimento cientfico.

    O conhecimento cientfico sistemtico porque contm: 1) sistemas de referncias; 2)

    teorias e hipteses; 3) fontes de informaes e 4) quadros que explicam as propriedadesrelacionais.

    O conhecimento cientfico acumulativo pois vai se enriquecendo com os novos

    conhecimentos adquiridos. O processo acumulativo no meramente agregativo, mas

    dispe de natureza seletiva.

    O conhecimento cientfico falvelporque no definitivo, absoluto ou final.

    O conhecimento cientfico verificvel. A verificao consiste em testar a consistncia de

    ser empiricamente vlida ou provvel uma afirmao, um dado, uma hiptese ou uma

    teoria.

    O conhecimento cientfico explicativo. A forma mais simplificada de se obter a

    explicao entre os tipos de explicaes dedutivas, probabilsticas, teleolgicasii,

    genricas, etc. introduzir a varivel antecedente (fator prova) relacionada com a

    varivel independente e dependente.

    iiRelativos teleologia cincia ou doutrina relativa ao estudo dafinalidade; argumento, conhecimento ou explicao que relaciona um fatocom sua causa final.

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    O conhecimento cientfico preditivo,porque tem a funo de prognosticar com base na

    induo probabilstica.

    O conhecimento cientfico til,pois responde a uma perspectiva pragmtica. O conceito

    utilitrio da cincia, de certo modo, domina um grande crculo de estudiosos da cincia .

    1.1.7- Breve abordagem histrica da evoluo da cincia

    A cincia, conforme MARKOVITCH(MAXIMIANO et al., 1980),

    corresponde ao conhecimento progressivo que o homem adquire em relaoao seu meio e aos fenmenos da natureza. A cincia surgiu como parteintegrante da filosofia e a esta mantm-se estreitamente vinculada at omomento. Segundo o autor, filsofos gregos, como Plato (na Matemtica) e

    Aristteles (nas Cincias Naturais e Metafsicas)iii, lanaram as primeirassementes que passariam a germinar mais de mil e setecentos anos depois, como Renascimento na Itlia, e a florescer a partir do sculo XIX.

    HALL(1988), em A Revoluo na Cincia 1500 1750, afirma que

    nos sculos XVI e XVII, o Ocidente testemunhou uma mudana fundamental e

    decisiva na atitude do homem para com o mundo que o rodeava, o queproduziu um esprito de investigao mais penetrante donde emergiram acincia moderna e o moderno esprito cientfico.

    A seguir ser apresentada uma breve descrio da evoluo histrica da Cincia, com

    base no texto de MORAIS (1978), que utiliza a tradicional periodizao da Histria: Idade

    Antiga, Idade Mdia, Idade Moderna e Idade Contempornea.

    Idade Antiga:800 AC (criao das cidades de Esparta e Atenas) a 500 DC (queda doImprio Romano Ocidental).A Civilizao Helnica mostrou sempre grande preocupao

    em conhecer a natureza. Contudo, a mentalidade grega no propiciava o surgimento da

    verificao indutiva ou experimentao, pois os helenos amavam mais o cultivo das idias

    do que o trabalho manual com coisas e fatos. Vale dizer que sua mentalidade era

    predominantemente dedutivista. Assim, as cincias formais foram muito cultivadas e

    desenvolvidas pelos gregos, enquanto as cincias fatuais tiveram pouqussimo

    iiiPlato: 427 - 347 a.C. Aristteles: 384 322 a.C. Outros filsofos gregos de importncia:

    Pitgoras (~540 - ~500 a.C.) -Matemtica, Cincias Naturais e Metafsicas, Msica

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    desenvolvimento. O desprezo dos helenos pelas atividades prticas manuais lhes

    impossibilitou o descobrimento do "mtodo das demonstraes experimentais" ou "mtodo

    cientfico". Por outro lado, a Civilizao Romana, devido ao seu gnio predominantemente

    prtico e pelas suas muitas preocupaes polticas e militares, foi medocre na busca da

    cincia.

    Idade Mdia: 500 a 1500 (Renascimento). A poca medieval tida como teocntrica,

    com um predomnio extremamente acentuado de preocupaes religiosas. O homem

    medieval estava empenhado, sobretudo, na salvao da sua alma, na chamada "vida

    depois da morte".Para ele, a realidade dada fora estabelecida por Deus e era inteiramente

    sagrada. Logo, no competia ao homem pecador interferir na natureza - este devia to

    somente contemplar a sbia harmonia que o Todo Poderoso colocara no Universo. Talvez,

    ao se contemplar hoje a devastao do ambiente natural operada pela cincia e pela tcnica

    (que afinal se uniram), perceba-se certa sabedoria quase instintiva na atitude mstica

    medieval. De fato, no se percebe, ao longo de aproximadamente 1000 anos da Idade

    Mdia, uma "fisionomia" histrica estvel. Observam-se pontos altos (nas criaes

    teolgicas e filosficas) e pontos muito baixos, no tocante a passos dados pela

    experimentao. As Universidades, curiosamente criadas na Idade Mdia, cultivavam o

    ensino clssico, sditas, ainda, do imperialismo intelectual do Mundo Antigo. A atitude

    ideal era a de respeito cego ao que afirmavam as "autoridades" antigas, sendo inclusive os

    textos bblicos fontes de autoridade cientfica.

    Idade Moderna: 1500 a 1900 (Industrializao da Sociedade).Os fatos importantes que

    marcaram o princpio da Idade Moderna foram: o surto humanista do renascimento, que

    reposiciona o homem como centro do significado histrico; os grandes descobrimentos

    martimos e, sobretudo, o advento do experimentalismo cientfico, fruto de um raciocnio

    segundo o qual o homem, como senhor do mundo, podia transform-lo, manipulando-o

    vontade. O mundo torna-se uma quantidade de matria neutra a ser explorada e

    manipulada, no se mostrando mais sagrada e intocvel. Sem dvida, Galileu Galilei (1564

    a 1642) foi o pioneiro na mentalidade cientfica, ao analisar experimentalmente a queda de

    corpos esfricos do alto da Torre de Pisa, ao submeter a teoria de Coprnico

    (Heliocentrismo) prova prtica do telescpio, e acima de tudo, em trabalhos sobre

    dinmica, combinando a observao e a induo com a deduo matemtica, atravs da

    Euclides (~365 - ~300 a.C.) - Matemtica.

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    experincia, inaugurando assim o verdadeiro Mtodo da Pesquisa Fsica. Foi a novidade

    da substituio das longas argumentaes lgicas da dialtica formal pela observao dos

    fatos em si mesmos que marcou a mentalidade moderna. Nesta revoluo galileana, a

    cincia e a tcnica conseguiram unir-se. Isto foi decisivo para o incio da cincia aplicada,

    como conhecida atualmente.

    Idade Contempornea: a partir de 1900. Atualmente, o conhecimento da natureza

    (cincia) e o domnio das foras naturais (tcnica) deram-se as mos de tal forma que j se

    torna um tanto difcil dissoci-los. A Metodologia Cientfica dos dias atuais no

    acrescentou muita coisa ao que j fora estabelecido por Galileu. Ocorre, entretanto, que a

    fsica (amparada pela matemtica) desenvolveu sofisticadssimos instrumentos para a

    pesquisa, fato que possibilita, atualmente, gerar grandes resultados cientfico-tecnolgicos.

    1.2 -Tecnologia

    ATecnologia(do grego tchne = arte, ofcio, indstria+ logos = estudo, discurso)

    definida como o conjunto de conhecimentos, especialmente princpios cientficos, de que uma

    sociedade dispe sobre cincias e artes industriais, incluindo os fenmenos sociais e fsicos, e

    a aplicao destes princpios produo de bens e produtos. Tecnologia, portanto, mais do

    que tcnica.

    Tcnica(do grego tchne = arte, habilidade, ofcio) um conjunto de saber-fazer de

    ordem prtica, essencialmente ligada ao conhecimento emprico; um item isolado deste

    conjunto de conhecimento como, por exemplo, um processo industrial, um programa de

    computador, um automvel, etc.. A tcnica, segundo GALLIANO (1979), assegura a

    instrumentao especfica da ao em cada etapa do mtodo, a ttica da ao, resolve

    como fazer a atividade. BARROS e LEHFELD (1986) distinguem a tcnica comum da

    tcnica cientfica. A tcnica comum realiza-se ao acaso atravs de improvisaes de ensaios

    e erros conseqentes da experincia cotidiana. H um intermedirio que operacionaliza a

    realidade sem saber o porqu, o como, as causas, os efeitos da produo: mais precisamente

    este intermedirio no elabora relaes plausveis entre o conhecer e o produzir. a ao

    pela ao Assim, a tcnica comum desprovida de qualquer justificativa terica. Na tcnica

    cientfica, por outro lado, a prtica tem correspondncia racional, causal, explicativa e

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    compreensiva justificada na respectiva cincia que formaliza a formao profissional. Trata

    da utilizao dos conhecimentos expressos pelas teorias e leis sistematizadas para a

    obteno de resultados desejados. (BARROS e LEHFELD, 1986).

    A maneira pela qual as diferentes tcnicas so organizadas e integradas numa dada

    sociedade o que se chama de Sistema Tecnolgico ou simplesmente de Tecnologia. O

    sistema inclui eficincia econmica, eficincia tcnica, valores culturais e estratgia de

    desenvolvimento.

    De acordo com MARKOVITCH(MAXIMIANO et al., 1980),

    a palavra tecnologia surgiu na Inglaterra, no sculo XVII, e lidava,basicamente, com as artes aplicadas. Com o tempo, esse conceito foi-semodificando e alcanou a segunda metade do sculo XX, significando os meiose as atividades atravs dos quais o homem procura mudar ou manipular seumeio ambiente.

    Atualmente, conforme SILVA(citado por MARKOVITCH emMAXIMIANO et al., 1980),

    tecnologia o conhecimento especfico, detalhado e exato de processos e produtos, obtido

    atravs do conhecimento e da metodologia cientfica aos problemas da produo.

    Markovitchmenciona que a cincia e a tecnologia evoluram separadamente at a

    Revoluo Industrial; tendo vrios fatores contribudos para isto, particularmente

    o aspecto social: enquanto a cincia era preocupao das elites, a tecnologia era

    praticada pelos artesos e pelos membros das classes menos privilegiadas.

    1.3 Consideraes Finais

    De grande significado para reflexo sobre o papel social da Cincia & Tecnologia

    mostra-se o pensamento de MORAIS (1978):

    Dentre os componentes intelectuais do nosso sculo, a cincia e tecnologia sefizeram os mais importantes e, por esta mesma razo, os mais problemticos.E muito enganoso o ponto de vista segundo o qual s os cientistas e

    tecnlogos devem ter posio definida ante essas duas palpitantes reas dosaber e da ao.

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    Cincia e Tecnologia 16

    Todo o mundo ocidental vive um processo impactante que procura ofereceraos antigos mistrios explicaes oriundas do racionalismo materialista dacincia e tambm busca subjugar cada vez mais as foras da natureza, pondo-as a servio da comunidade humana. Assim que cabe a todos os cidadostomarem uma posio consciente em seu momento histrico. Ao contrrio do

    que muitos pensam, os expedientes da cincia e da tecnologia atuais tm a vercom a prpria organizao do nosso cotidiano familiar.

    Segundo MAXIMIANO et al.(1980),

    A cincia e a tecnologia formam a base do desenvolvimento econmico esocial da nao. A criao, a transferncia a adaptao e a aplicao deconhecimentos em prol do bem-estar da coletividade e da soberania nacional

    so processos que dependem do xito das organizaes nas quais se praticampesquisa e desenvolvimento, visando busca e ao emprego de novos

    conhecimentos, na contnua procura para estabelecer o melhoraproveitamento dos recursos mediante a explorao das descobertascientficas. Esse xito pode ser alcanado, basicamente, de duas formas: em

    primeiro lugar, com a excelncia tcnica representada pelo talento dospesquisadores; em segundo, com a qualidade das solues administrativas,que devem oferecer o apoio material, financeiro e organizacional apropriadoao pleno aproveitamento daquele talento.

    Segundo VELOSO (1996),

    A compreenso dos fenmenos da natureza e o domnio do ConhecimentoCientfico constituem um dos elementos fundamentais da afirmao dasociedade humana. Embora muitas vezes possam parecer desvinculados darealidade imediata, seus frutos tm tido a finalidade de facilitar as atividades

    sociais. Nos dois ltimos sculos da evoluo poltico-social, odesenvolvimento cientfico-tecnolgico foi tendo, cada vez mais, um papeldeterminante, estabelecendo-se, em conseqncia, regras e normas de atuaoda Cincia e da Tcnica. Nas sociedades industrializadas modernas, aorganizao do trabalho cientfico resultou num complexo sistema queincorpora polticas maiores de interesse da soberania dos povos, passando

    pelo planejamento estratgico de setores pblicos e privados, norteando as

    aes na rea, englobando rgos de financiamento e fomento pesquisa,universidades, institutos de pesquisa.

    Para informaes mais detalhadas sobre as definies e conceitos apresentados neste

    captulo, consultar CERVO e BERVIAN (1981), BARROS e LEHFELD (1986), MORAIS (1978),

    FERRARI (1982), RUDIO (1997), GALLIANO (1979), RUIZ (1978), dentre outros.

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    Mtodo Cientfico 17

    CAPTULO DOIS

    MMTTOODDOOCCIIEENNTTFFIICCOO

    Os conceitos acerca de cincia e tecnologia apresentados a seguir foram extrados deCERVO eBERVIAN(1981), BARROS eLEHFELD(1986)e MORAIS(1978).

    2.1 - Mtodo Cientfico, Mtodo Racional e Argumento de Autoridade

    CERVO e BERVIAN (1981) apresentam os conceitos seguintes sobre o mtodo

    cientfico, mtodo racional e argumento da autoridade.

    A metodologia (do grego meta = ao largo, objetivo, baliza, alvo, barreira, limite +

    odos = caminho, via + logos = estudo, discurso) a operacionalizao, sistematizao e

    racionalizao do mtodo. O mtodo (do grego mthodos = caminho para um objetivo) a

    forma de proceder, ou seja, a ordem que se segue na investigao da verdade, no estudo de

    uma cincia ou para alcanar um fim determinado, e constitui-se de processos e tcnicas.

    Processo (do latim processus = curso, marcha) a aplicao especfica do mtodo,enquanto tcnica a forma especial de execut-lo. A metodologia cientfica o estudo e a

    aplicao dos mtodos cientficos, isto , a definio da melhor maneira de se abordar

    determinado problema no estado atual do conhecimento, a arte de dirigir o esprito na

    investigao da verdade.

    Mtodo Cientfico. OMtodo Cientficoconsiste em um modo sistemtico de explicar um

    grande nmero de ocorrncias semelhantes, de forma objetiva e controlada, buscandoresultados verificveis e confiveis, relevantes e indispensveis ao conhecimento e

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    Mtodo Cientfico 18

    compreenso de um certo fenmeno ou processo. O mtodo cientfico procura descobrir a

    realidade dos fatos que, ao serem descobertos, devem guiar o uso do prprio mtodo;

    entretanto, o mtodo , apenas, um meio de acesso, pois, s a inteligncia e a reflexo

    descobrem como so realmente os fatos. Toda investigao nasce de algum problema

    observado ou sentido; o prosseguimento da investigao depende da aplicao de um

    conjunto de processose tcnicascientficas - mtodo cientifico - que ir guiar e, ao mesmo

    tempo, delimitar o assunto a ser investigado. Uma discusso ampla sobre as origens ou o

    desenvolvimento do mtodo cientfico pode ser encontrada em WEATHERALL (1970) e

    FERRARI (1982).

    Mtodo Racional. OMtodo Racional aplicado a assuntos abstratos, ou seja, que no so

    realidades, fatos ou fenmenos susceptveis de comprovao experimental. Todo mtodo

    depende do objeto de investigao. Mediante o mtodo racional, que tambm se desdobra em

    diversos processos e tcnicas, como a observao, a anlise e a sntese, a induo e a deduo,

    a hiptese e a teoria, procura-se interpretar a realidade quanto a sua origem, natureza

    profunda, destino e significado no contexto geral. A possibilidade de comprovar ou no as

    hipteses distingue o mtodo cientfico do mtodo racional.

    Argumento de Autoridade. OArgumento de Autoridadeconsiste em admitir uma verdade

    com base no valor intelectual ou moral daquele que a prope ou professa. Nas cincias

    experimentais e na filosofia, aceitar passivamente a opinio do especialista ou "autoridade" no

    assunto significa a morte da verdadeira pesquisa. Os resultados obtidos pelos especialistas

    servem para guiar os trabalhos de investigao e para confirmar solues encontradas pelo

    mtodo cientfico. As reas que mais utilizam o argumento de autoridade so a Teologia, a

    Histria, a Filosofia, o Direito, a Sociologia, etc.. Porm, exige-se que tal argumento, quando

    evocado, tenha passado pelo crivo austero da anlise e crtica mais rigorosa possvel, sem o

    que no ter qualquer eficcia.

    2.2 - Processos e Tcnicas do Mtodo Cientfico e do Mtodo Racional

    CERVO e BERVIAN (1981)ressaltam que os objetos de investigao determinam o tipo

    de mtodo (mtodo racional ou mtodo cientfico) a ser empregado. Em ambos os casos,

    processos e tcnicas especficas e comuns so empregados. Entretanto, os processos e

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    Mtodo Cientfico 19

    tcnicas apresentados a seguir podem ser aplicados tanto no mtodo cientfico

    (experimentao cientfica) quanto, com as devidas adaptaes, no mtodo racional. A

    conceituao a seguir foi extrada do texto destes dois autores, acrescida de alguns

    comentrios de outros autores.

    2.2.1 - Observao

    A observaosignifica aplicar atentamente os sentidos a um objeto, para dele adquirir

    um conhecimento claro e preciso, evitando, com isto, a reduo do estudo da realidade e de

    suas leis a simples conjecturas e adivinhaes.

    As observaes so precedidas pelas teorias. As observaes e experimentaes so

    realizadas no sentido de testar ou lanar luz sobre alguma teoria, e apenas aquelas

    observaes consideradas relevantes devem ser registradas.

    Para o bom xito da observao, exigem-se:

    a)condio fsica: instrumentao adequada para aumentar o alcance, registrar a intensidade

    e a preciso dos fenmenos;

    b)condio intelectual: curiosidade e discernimento dos fatos significativos;

    c)condies morais: pacincia, coragem e imparcialidade;

    d)regras da observao: a observao deve ser atenta, exata e completa, precisa, sucessiva e

    metdica.

    2.2.2 - Hiptese

    A hipteseconsiste em supor conhecida a verdade ou explicao exata que se busca,

    isto , estabelece, a priori, uma relao de causa e efeito ou de antecedente e conseqente

    entre dois fenmenos. a suposio de uma causa ou de uma lei destinada a explicar

    provisoriamente um fenmeno at que os fatos ou a experimentao a venham contradizer ou

    afirmar. Uma hiptese falsificvel quando existe uma proposio de observao ou um

    conjunto de observaes logicamente possveis que so inconsistentes com a hiptese, isto ,

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    Mtodo Cientfico 20

    se estabelecidas tais observaes como verdadeiras, estas falsificariam a hiptese. RUDIO

    (1997)afirma que toda pesquisa consiste em enunciar e verificar hipteses.

    As hipteses tm por funo:

    terica:orientar o pesquisador, dirigindo-o na direo da causa provvel ou da lei que se

    procura;

    prtica:coordenar e completar os resultados j obtidos, agrupando-os num conjunto

    completo de fatos, a fim de facilitar a sua inteligibilidade e estudo.

    De acordo com RUDIO (1997), as hipteses desempenham dupla funo: dar

    explicaes provisrias e ao mesmo tempo servir de guia na busca de informaes para

    verificar a validade destas explicaes.

    Quanto natureza (RUDIO (1997), a hiptese deve ser:

    plausvel- a hiptese deve ser plausvel, isto , deve indicar uma situao possvel de ser

    admitida, de ser aceita;

    consistente - a consistncia indica que o enunciado no est em contradio nem com a

    teoria e nem com o conhecimento cientfico mais amplo, bem como que no existe

    contradio dentro do prprio enunciado;

    especfica o enunciado deve ser especificado, dando as caractersticas para identificar o

    que deve ser observado;

    verificveli - a hiptese deve ser verificvel pelos processos cientficos, atualmente

    empregados;

    clara - a clareza refere-se ao modo de se fazer o enunciado, isto , que seja constitudo

    por termos que ajudem realmente a compreender o que se pretende afirmar e indiquem, de

    modo denotativo, os fenmenos a que se referem;

    simples - para ser simples, o enunciado deve ter todos os termos e somente os termos que

    so necessrios compreenso;

    iPara maiores informaes sobre verificao da hiptese , consultar,

    tambm,VERD (1978).

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    Mtodo Cientfico 21

    econmica a economia do enunciado supe a simplicidade e consiste em utilizar todos

    os termos e somente os termos necessrios compreenso mas na menor quantidade

    possvel;

    explicativa uma das finalidades bsicas da hiptese servir de explicao para oproblema que foi enunciado. Se isto no acontecer, a hiptese no tem razo de existir.

    As hipteses so obtidas a partir da:

    deduode resultados j conhecidos;

    da experincia;

    induo, se a suposta causa do fenmeno um dos seus antecedentes, que parece

    apresentar todos os caracteres de antecedente causal;

    analogia, quando so inspiradas por certas semelhanas entre os fenmenos um que se

    quer explicar e outro j conhecido.

    2.2.3 - Experimentao

    A experimentao consiste no conjunto de processos utilizados para verificar as

    hipteses, isto , trata-se de descobrir se realmente o efeito ou conseqente varia, e se varia

    nas mesmas propores, cada vez que varia a causa ou antecedente.

    O princpio geral em que se fundamentam os processos da experimentao o

    determinismo - nas mesmas circunstncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos,

    ou ainda, as leis da natureza so fixas e constantes.

    Os tipos de experimentao so: experimentos Aristotlico, Baconiano, Galileano e

    Kantiano.

    Experimento Aristotlico (Aristteles - 384 a 322 AC -fundador da ordem lgica ou lgica

    formal). O experimento Aristotlico somente demonstrativo (lgico), busca forar a

    experincia para confirmar a teoria, no utiliza os resultados da experincia. Responde

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    Mtodo Cientfico 22

    seguinte indagao: aquilo vai acontecer se ... . Aplicado nas demonstraes cientficas

    (observao ou verificao de resultados esperados).

    Experimento Baconiano (Roger Bacon - 1214 a 1294). O experimento Baconiano

    aplicado na busca de novos conhecimentos. Baseado na Alquimia (Alquimista procura a

    Pedra Filosofal para transformar qualquer coisa em ouro e curar todas as doenas - "a

    verdade um mineral, basta procur-lo que ser achado). Responde indagao: que

    aconteceria se .... Aplicado nas Cincias Naturais, na Bioqumica.

    Experimento Galileano (Galileu Galilei - 1564 a 1642). O experimento Galileano ou

    experimento dialtico visa refutar a hiptese que poderia validar a teoria a partir da prova

    rigorosa (il cimento) e do experimento crtico. No experimento Galileano, mais importante

    do que o resultado a interpretao dos resultados na formulao de novas hipteses.

    Aplicado nas Cincias Naturais, etc..

    Experimento Kantiano(Immanuel Kant 1724 a 1804 ii).O experimento Kantianoadmite

    que o conhecimento existe a priori e gera novos conhecimentos, no sobrevivendo em si

    mesmo. Aplicado em simulaes matemticas, pesquisa eleitoral, projees no tempo, nas

    Cincias Econmicas, etc..

    2.2.4 - Induo e Deduo

    Induoe Deduoso formas de raciocnio ou de argumentao, ou seja, so formas

    de reflexo e no de simples pensamento. O pensamento caracteriza-se por ser dispersivo,

    natural e espontneo. A reflexo requer esforo e concentrao voluntria, dirigida e

    planificada.

    O argumento indutivo baseia-se na generalizao de propriedades comuns a certo

    nmero de casos observados, a todas as ocorrncias de fatos similares que se verificam no

    futuro.

    ii

    WINZER, Fritz - KULTURGeschichte Europas - Von der Antike bis zur Gegenwart. Ed. Naumann & Gbel.

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    Mtodo Cientfico 23

    Exemplos:

    Terra, Marte, Vnus so planetas. A Terra, Marte e Vnus no tm luz prpria.

    Logo, os planetas no tm luz prpria.(CERVO e BERVIAN, 1981).

    Os corpos A, B, C e D atraem o ferro. Ora, os corpos A, B, C e D so ims.

    Logo, os ims atraem o ferro.(CERVO e BERVIAN, 1981).

    Os corpos A, B, C e D se aquecem Ora, os corpos A, B, C e D so metais.

    Logo, os metais se aquecem. (BARROSe LEHFELD, 1986).

    Deduo a argumentao que torna explcita verdades particulares contidas em

    verdades universais. No raciocnio dedutivo, a concluso ou conseqente est contido nas

    premissas ou antecedentes, como a parte no todo. Este processo leva o pesquisador do

    conhecido ao desconhecido com pouca margem de erro, mas, por outro lado, de alcance

    limitado, pois a concluso no pode possuir contedos que excedam o das premissas.

    Exemplos:

    Todos os animais respiram. O mosquito um animal. Logo, o mosquito respira.(CERVOe BERVIAN, 1981).

    Todo mamfero tem um corao. Ora, todos os ces so mamferos. Logo, todosos ces tm um corao. (BARROSe LEHFELD, 1986).

    A forma geral de todas as explicaes e previses cientficas pode ser assim resumida:

    Leis e Teorias

    Condies Iniciais

    Previses e Explicaes

    O propsito bsico da induo e da deduo obter concluses verdadeiras a partir de

    premissas verdadeiras. Isto sempre ocorre nos argumentos dedutivos. Quanto aos argumentos

    indutivos, as concluses possuem contedos mais amplos que as premissas. Assim, quando as

    premissas de um processo indutivo so verdadeiras, o melhor que pode dizer que as suas

    concluses so, provavelmente, verdadeiras. Para que as concluses da induo sejam

    verdadeiras o mais freqente possvel e tenham um maior grau de sustentao, podem-se

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    Mtodo Cientfico 24

    acrescentar ao argumento evidncias, sob forma de premissas novas que figuram ao lado das

    premissas inicialmente consideradas.

    Os raciocnios indutivo e dedutivo envolvem o relacionamento entre vrios conjuntos

    de afirmaes, e no relacionamento entre afirmaes por um lado e experincias perceptivas

    por outro.

    A induo e a deduo so processos que se complementam. Por isto, a induo

    refora-se bastante atravs dos argumento dedutivos extrados de outras disciplinas que lhes

    so correlatas ou afins.

    2.2.5 - Anlise e Sntese

    AnliseeSnteseso ordens de conduo do pensamento que permitem inteligncia

    extrair da complexidade de idias, de seres e de fatos, as relaes de causas e efeitos e de

    princpios e conseqncias.

    A anlise a decomposio de um todo em suas partes. o processo que parte do

    mais complexo para o menos complexo. A sntese a reconstituio do todo decomposto pela

    anlise. o processo que parte do mais simples para o menos simples. Sem a anlise, todo o

    conhecimento complexo e superficial. Sem a sntese, fatalmente incompleto.

    O conhecimento de um objeto no se limita ao conhecimento minucioso de suas

    diversas partes. Deseja-se, tambm, conhecer o lugar que o objeto ocupa no contexto global.

    Por isso, anlise deve-se seguir a sntese.

    Espcies de anlise e sntese:

    Experimentais: operam sobre fatos ou seres concretos. Constituem o cerne de toda a

    experincia cientfica, de toda a pesquisa de laboratrio.

    Racionais: operam sobre idias e verdades mais ou menos reais. S podem ser feitas

    mentalmente. Empregam-se na Filosofia e na Matemtica.

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    Mtodo Cientfico 25

    A anlise racionalreduz o problema proposto em outro mais simples, j resolvido.

    uma espcie de induo: parte-se da soluo do problema, supondo-o resolvido e remonta-o

    por transformaes e simplificaes sucessivas, at o princpio, do qual o problema uma

    aplicao particular. Caminha-se do particular (mais complexo) para o geral (mais simples).

    A sntese racionalparte de um princpio geral mais simples e evidente, e dele deduz,

    por via de conseqncia, a soluo desejada. uma espcie de deduo: parte-se do princpio

    geral descendo de conseqncia em conseqncia at atingir a soluo do problema, isto ,

    vai-se do mais simples para o mais complexo.

    2.2.6 - Lei Cientfica e Teoria

    A Lei Cientfica representa um enunciado de carter universal que rene o

    conhecimento atual. Postulada, quando uma hiptese comprovada atravs da observao

    controlada e da experimentao.

    Embora, usualmente, o termo Teoria seja empregado como conceito de conhecimento,

    em oposio prtica, Teoria significa um conjunto de leis cientficas, buscando a

    interpretao de um assunto. Exemplos: Teoria Atmica, Teoria da Relatividade, Teoria do

    Buraco Negro, Teoria da Evoluo de Darwin, etc..

    A cincia um corpo de conhecimento historicamente em evoluo. Portanto, uma

    nova teoria s ser adequada se for considerado o seu contexto histrico. A avaliao de uma

    teoria est intimamente ligada s circunstncias nas quais ela surge. Elas podem ocorrer ao

    descobridor num estado de inspirao, alternativamente pode ocorrer como resultado de um

    acidente ou aps uma longa srie de observaes e clculos.

    Teorias precisas, claramente formuladas, so um pr-requisito para proposies e

    observaes precisas. Neste contexto, as teorias precedem a observao.

    As teorias so interpretadas como conjecturas especulativas ou suposies criadas

    livremente pelo intelecto humano, no sentido de superar problemas encontrados por teorias

    anteriores e dar uma explicao adequada do comportamento de alguns aspectos do mundo ou

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    Mtodo Cientfico 26

    do universo. Uma vez propostas, as teorias especulativas devem ser rigorosas e

    inexoravelmente testadas por observao e experimento. As teorias que no resistem aos

    testes devem ser eliminadas e substitudas. Apenas as teorias mais adaptadas sobrevivem.

    Embora no se possa dizer que uma teoria seja verdadeira, pode-se dizer que ela a melhor

    disponvel. Segundo CERVO e BERVIAN (1981), a teoria se distingue da hiptese,

    porquanto esta verificvel experimentalmente, enquanto aquela no. Todas as proposies

    da teoria se integram no mundo do discurso (conhecimento), enquanto a hiptese comprova

    sua validade, submetendo-se ao teste da experincia.

    Os segredos da natureza apenas podem ser revelados com a ajuda de teorias

    engenhosas e de grande penetrao. Quanto maior for o nmero de teorias conjecturadas, que

    so confrontadas pelas realidades do mundo, e quanto mais especulativas forem essas

    conjecturas, maiores sero as chances de avanos importantes na cincia.

    2.2.7 - Doutrina

    CERVO e BERVIAN (1981)afirmam que, enquanto a Cincia envolve operaes que se

    desenvolvem num ambiente de objetividade, de indiferena e de neutralidade, a Doutrina,por

    outro lado,prope diretrizes para a ao, um encadeamento de correntes, de pensamentos

    que no se limitam a constatar e a explicar fenmenos, mas apreciam-nos em funo de

    determinadas concepes ticas e, luz destes juzos, preconizam certas medidas e probem

    outras. Numa doutrina, segundo os dois autores, h idias morais, posies filosficas e

    polticas e atitudes psicolgicas, bem como interesses individuais, interesses de classes ou

    naes.

    2.3 Consideraes Finais

    A anlise cientfica de um problema tcnico requer o desenvolvimento de uma

    pesquisa (cientfica) que, por sua vez, exige a aplicao de uma metodologia cientfica,

    envolvendo etapas depreparao da pesquisa,de execuo da pesquisae de comunicao da

    pesquisa. Estes aspectos so abordados no captulo seguinte.

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    Mtodo Cientfico 27

    Para informaes mais detalhadas sobre as definies e conceitos apresentados neste

    captulo, consultar CERVO e BERVIAN (1981), BARROS e LEHFELD (1986), MORAIS (1978),FERRARI (1982), RUDIO (1997), GALLIANO (1979), RUIZ (1978), dentre outros.

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    Pesquisa Cientfica 28

    CAPTULO TRS

    PPEESSQQUUIISSAACCIIEENNTTFFIICCAA

    3.1 Definio

    Pesquisa(do espanhol pesquisa = investigao), conforme definio de BARROS e

    LEHFELD (1986), um ato dinmico de questionamento, indagao e aprofundamento

    consciente na tentativa de desvelamento de determinados objetos. a busca de uma resposta

    significativa a uma dvida ou a um problema.

    Pesquisa Cientfica , segundo os autores acima, a efetivao de um processo comaplicao da metodologia adequada metodologia cientfica- para a obteno de dados fiis,

    objetivos, comprovveis, relevantes e indispensveis ao conhecimento e compreenso de

    um certo fenmeno ou processo.

    MARKOVITCH (MAXIMIANO et al., 1980, cap. 1, p.17) define a pesquisa cientfica

    como a busca de um maior conhecimento dos fenmenos do meio, que constituem o ambiente

    do homem.

    O pesquisador, conforme LUNA (1998), ,

    no contexto da metodologia (Mtodos e Tcnicas), um intrprete darealidade pesquisada, seguindo os instrumentos conferidos pela sua posturaterico-epistemolgica. No se espera, hoje, que ele estabelea a veracidadedas suas constataes. Espera-se, sim, que ele seja capaz de demonstrar

    segundo critrios pblicos e convincentes que o conhecimento que ele

    produz fidedigno e relevante terica e/ou socialmente.

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    Pesquisa Cientfica 29

    3.2 - Classificao da Pesquisa

    A pesquisa cientfica classifica-se segundo a forma e finalidade. Em BARROS e

    LEHFELD (1986), encontram-se os seguintes conceitos tipolgicos da pesquisa (Figura 1.1).

    Forma. Segundo a forma, a pesquisa cientfica divide-se em descritiva, experimental e de

    ao.

    A pesquisa descritiva envolve observao, registro, anlise e correlao de fatos ou

    fenmenos, sem a interferncia do pesquisador ou manipulao do objeto de pesquisa.

    Existem dois tipos:pesquisa bibliogrficaou documental epesquisa de campo.

    A pesquisa experimental consiste na experimentao (laboratorial) com

    manipulao e controle das variveis independentes para observao e interpretao das

    modificaes e reaes ocorridas no objeto de pesquisa.

    Apesquisa de ao representa uma pesquisa social com base emprica, concebida e

    realizada com estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo,

    no qual os pesquisadores/participantes se envolvem de modo cooperativo, participativo e

    ativo no equacionamento, desencadeamento e avaliao dos problemas encontrados.

    Quanto aplicao (CERVO e BERVIAN, 1981), a pesquisa descritiva amplamente

    empregada nas cincias humanas, etc.. A pesquisa experimental se mostra bastante presente

    nas reas biolgicas, naturais, etc.. A pesquisa de ao tem grande emprego nas reas

    humanas sociais, polticas, psicolgicas, etc..

    Finalidade. Quanto finalidade a pesquisa se classifica empesquisa pura ou bsica e

    pesquisa aplicada ou tecnolgica.

    Apesquisa pura oubsicatem por finalidade a busca de novos conhecimentos tericos

    ou da maior compreenso de determinados fenmenos, alm da atualizao dos

    conhecimentos adquiridos.

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    Pesquisa Cientfica 30

    A pesquisa aplicada ou tecnolgica busca conhecimentos para a imediata aplicao

    dos resultados, da soluo imediata de problemas encontrados na realidade, processa a

    utilizao de conhecimentos tericos diretamente em problemas concretos ou a aquisio de

    novos conhecimentos tericos aplicados ou relativos a um dado problema real ou prtico.

    Informaes mais detalhadas sobre os conceitos apresentados podem ser encontradas

    em BARROS e LEHFELD (1986)e CERVO e BERVIAN (1981).

    3.3 - Metodologia da Pesquisa Cientfica

    Para o desenvolvimento de uma pesquisa cientfica, a metodologia cientfica envolve

    as etapas de preparao da pesquisa, de execuo da pesquisa e de comunicao da

    pesquisa. A anlise de um problema tcnico requer o desenvolvimento de uma pesquisa que

    abrange o estabelecimento de um projeto de pesquisae a definio das etapas de execuo,

    ou seja, das fases da pesquisa.

    Bibliogrfica ou DocumentalDescritiva

    de Campo

    Forma Experimental

    de Ao

    Pesquisa

    Pura ou Bsica

    Finalidade

    Aplicada ou Tecnolgica

    Figura 3.1 Classificao tipolgica da pesquisa segundo BARROS e LEHFELD (1986).

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    Pesquisa Cientfica 31

    3.3.1 - Projeto de pesquisa

    Oprojeto de pesquisarepresenta um planejamento formal constitudo da justificativa

    do tema em estudo e de seus objetivos gerais, da definio, a priori, de tcnicas e

    procedimentos necessrios ao cumprimento dos objetivos do tema de pesquisa, de um

    cronograma de atividades e de prazos, de uma avaliao dos custos e do cronograma de

    desembolso financeiro (se for o caso), da equipe de pessoal executora da pesquisa.

    Geralmente, execuo do projeto de pesquisa precede o anteprojeto ou proposta de

    projeto de pesquisa, o que corresponde fase preparatria da pesquisa, cujo contedo deve

    apresentar aspectos de relevncia, viabilidade e exeqibilidade.

    A estrutura bsica de um projeto de pesquisa contm os seguintes tpicos:

    Justificativa e Relevncia da Pesquisa.

    Formulao do Problema.

    Objetivos Gerais e Especficos.

    Metodologia (detalhamento do problema, definio ou descrio de materiais e mtodos,

    obteno de dados).

    Anlise dos Resultados (tratamento e anlise conclusiva dos dados obtidos).

    Oramento (especificao tcnica e custos dos materiais e equipamentos).

    Cronogramas de Atividades e de Desembolso Financeiro.

    Equipe Executora da Pesquisa (seleo e recrutamento de pessoal, distribuio de tarefas

    ou funes).

    Bibliografia.

    3.3.2 - Fases da pesquisa

    As fases da pesquisadefinem-se como um programa operacional composto de etapas e

    procedimentos associados envolvendo a preparao e execuo sistemtica do projeto de

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    Pesquisa Cientfica 32

    pesquisa (com o alcance dos objetivos gerais propostos), e a divulgao ou publicao dos

    resultados.

    As principais fases de uma pesquisa se caracterizam pelas etapas descritas a seguir.

    Preparao da Pesquisa proposta do projeto de pesquisa:

    A preparao de uma proposta de pesquisa envolve, basicamente, o estabelecimento

    de uma idia precisa de abordagem do tema, contendo1:

    Apresentao do tema: descrio monogrfica da natureza contendo seleo, discusso e

    delimitao do tema ou assunto quanto a: justificativa e relevncia da pesquisa, objeto,

    objetivos gerais e especficos (limitados e claramente definidos), extenso, campo e nvel

    de investigao,

    Apresentao do "estado da arte": localizao, seleo e leitura de documentos e

    publicaes que possam interessar ao tema discutido, apropriao de dados ou

    informaes essenciais ao desenvolvimento do tema (devidamente citados e listados no

    documento conforme normas especficas).

    Apresentao da metodologia: definio, a priori, de tcnicas e procedimentos (materiais

    e mtodos) necessrios, planejamento de obteno de dados, eventualmente, se possvel,

    discusso sobre expectativas e resultados esperados.

    Apresentao de custos e prazos: definio dos recursos financeiros necessrios e

    programao das atividades para cumprimento dos objetivos propostos.

    Apresentao da equipe executora: informaes relativas a inclinaes, possibilidades,

    aptides e tendncias do(s) proponente(s) ou constituintes do trabalho cientfico.

    Execuo da Pesquisa desenvolvimento do projeto de pesquisa:

    1Problema uma dificuldade terica ou prtica, no conhecimento de uma coisa de real importncia, para a

    qual se deve encontrar uma soluo.Definir um problemasignifica especific-lo em detalhes precisos e exatos,devendo sua formulao ser clara, concisa e objetiva, de preferncia em forma interrogativa e delimitada com

    indicaes das variveis que intervm no estudo de possveis relaes entre si. O problema, antes de serconsiderado apropriado, deve ser analisado sob o aspecto de sua valorao, quanto a: viabilidade, relevncia,novidade, exeqibilidade, oportunidade. Definio do tipo de problema: de estudos acadmicos, deinformao, de ao, de investigao pura ou aplicada(MARCONI eLAKATOS,1982).

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    Detalhamento do Problema formulao detalhada do problema (detalhamento dos

    objetivos gerais e especficos, desencadeamento de uma srie de procedimentos para a

    localizao, seleo e leitura de documentos e publicaes que possam interessar ao

    tema discutido (apresentao do "estado da arte" e da apropriao de dados ou

    informaes essenciais ao desenvolvimento do tema)2;

    Detalhamento das hipteses e da metodologia - descrio das hipteses e variveis

    envolvidas (definio dos termos e indicao das variveis, independentes e

    dependentes, etc.); imposio de pressuposies (hipteses) fundamentais para o

    estudo do problema, devidamente justificadas e sujeitas verificao e comprovao

    posterior, de forma a nortear, simplificar ou facilitar a anlise do problema em

    pesquisa; definio do(s) mtodo(s) (dos processos e das tcnicas de anlise, seleo

    ou definio de uma amostra) necessrios ou adequados (metodologia)3 para

    cumprimento dos objetivos propostos, bem como planejamento de obteno de

    informaes ou resultados desejados.4

    Obteno de resultados: aplicao de processos e tcnicas especficas para aquisio

    de resultados ou informaes preliminares (teste preliminar para reavaliao das

    hipteses e da metodologia - verificao dos procedimentos e instrumentos de

    pesquisa)e para gerao de resultados definitivos e conclusivos, a partir de condies

    pr-estabelecidas - limites operacionais, condies crticas de operao, situaes

    ideais, etc. - (etapa sem opinies pessoais e sem comparaes com outros autores).5

    Anlise dos resultados: interpretao e sistematizao dos resultados (emisso de

    opinies pessoais), incluindo comparao com outras fontes (literatura),

    estabelecendo relaes de causa-e-efeito, correlaes entre as variveis, relaes

    entre os resultados obtidos e as hipteses formuladas comprovadas ou refutadas

    mediante a anlise; sistematizao e vinculao conclusiva dos resultados aos

    objetivos propostos e ao tema.

    2Forma complementar de obteno de informaes so os contatos diretos.3O ferramental metodolgico deve ser diretamente relacionado e adequado ao problema ou objeto de estudo.

    4Organizao dos instrumentos de investigao, bem como elaborao de dossier de documentao relativo

    pesquisa (MARCONI eLAKATOS,1982).5 Coleta de dados (atravs de documentos, observao, entrevista, questionrio, formulrio, medidas de

    opinies e atitudes, tcnicas mercadolgicas, testes, sociometria, anlise de contedo, histria de vida),elaborao dos dados (seleo, codificao, tabulao) e representao dos dados (tabelas ou quadros,grficos, equaes).(MARCONI eLAKATOS,1982).

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    Pesquisa Cientfica 34

    Concluses: exposio sucinta e objetiva sobre a investigao efetuada, sntese final

    comentada das idias essenciais e com sistematizao e generalizao dos resultados,

    em resposta s hipteses e aos objetivos propostos, buscando a extenso da aplicao

    da anlise a problemas semelhantes.

    Relatrio da Pesquisa:

    Comunicao dos Resultados: exposio documental formal em linguagem clara,

    objetiva precisa, coerente e simples - da pesquisa conduzida, enfatizando todas as fases

    e etapas desenvolvidas (incluindo discusso da metodologia materiais e mtodos

    empregada), as quais so descritas, de forma anloga, em um relatrio de

    comunicao dos resultados da pesquisa.

    3.4 Consideraes Finais

    Para reflexo, apresentam-se alguns pensamentos quanto importncia e relevncia da

    pesquisa cientfica (quer no meio acadmico, quer no setor industrial).

    Apesquisa cientfica busca, de acordo com OLIVEIRA (1996),

    enriquecer a teoria j conhecida sobre determinado tema e sua finalidadeltima a conseqncia prtica no domnio da natureza no prognstico econtrole de eventos, nos avanos tecnolgicos, enfim a melhoria das condiesde vida, destino social dos conhecimentos. A relevncia social do trabalho

    produzido vai depender de sua trajetria, saindo dos muros da universidade ealargando o mbito de seus leitores e de sua aplicao, principalmente ao seconverter em benefcio para a populao.

    MARKOVITCH (MAXIMIANO et al., 1980, cap.1) afirma que:

    quanto maior o esforo em pesquisa, tanto mais elevado o grau de saber ede conhecimento sobre o meio e o universo do homem;

    quanto maior o esforo em pesquisa, tanto maior a probabilidade de seelevar o grau de eficcia do sistema de ensino;

    quanto maior o esforo em pesquisa, tanto maior a probabilidade de o pasalcanar grau mais elevado de aproveitamento dos recursos disponveis paraa satisfao das necessidades do homem, colocando ao alcance de todos os

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    Pesquisa Cientfica 35

    membros de uma comunidade os bens e servios de que necessitam para seubem-estar;

    quanto maior o esforo em pesquisa, tanto maior a probabilidade de o pasalcanar um grau mais elevado de independncia poltica, isto , a capacidadede a comunidade poder autodeterminar sua estratgia de desenvolvimento, em

    funo dos seus genunos interesses.

    Observa-se que a universidade tornou-se um polo de enorme importncia na questo

    Cincia/Tecnologia, levando-a a institucionalizar a pesquisa cientfica e tecnolgica. A

    viabilizao de um modelo de universidade baseado na inter-relao ensino-pesquisa

    depende, fundamentalmente, do nvel de qualificao acadmico dos professores e da

    intensidade de pesquisa desta instituio. Por conseguinte, os Cursos de Ps-Graduao

    passam a desempenhar um papel importantssimo, ao fazer o acoplamento entre a qualificao

    dos professores e o desenvolvimento de projetos de pesquisa. Desta forma, os professores

    (pesquisadores) se mantm atualizados no "estado da arte" de suas reas especficas e

    propiciam aos alunos o espao necessrio para acompanhar as tendncias cientfico-

    tecnolgicas, atravs das exposies didticas e da insero dos alunos em atividades de

    pesquisa. Com isto, os alunos podem adquirir uma formao acadmica com maior nfase em

    cincias bsicas da Engenharia. Outro aspecto de grande importncia com relao a este

    modelo de universidade, particularmente no tocante ao currculo proposto, a alocaoprofissional do engenheiro. Este profissional, dado seu perfil de formao acadmica

    cientificamente orientado, encontra-se habilitado a desenvolver novos produtos tecnolgicos

    ou a realizar transformaes tecnolgicas, aliando cincias ou conhecimento bsicos

    realidade tecnolgica em que se insere ou opera.

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    CAPTULO QUATRO

    DDIIVVUULLGGAAOODDEEUUMMAAPPEESSQQUUIISSAACCIIEENNTTFFIICCAA

    4.1 Comunicao de Resultados de uma Pesquisa Cientfica

    A comunicao dos resultados de uma pesquisa cientfica faz-se atravs de veculos

    ou meios de informao especializados ou de divulgao geral ou no especializados. Como

    exemplos de meios especializados citam-se revistas cientficas e congressos cientficos (artigo

    cientfico), monografias1 (de especializao, dissertao de mestrado, tese de doutorado),

    relatrio tcnico-cientfico, conferncia, seminrio, simpsio, etc. Meios de divulgao no

    especializados so jornais, revistas, etc..

    O contedo do documento de divulgao de um trabalho de pesquisa cientfica deve

    descrever o projeto de pesquisa desenvolvido, apresentando, em ordem cronolgica, todas as

    fases da pesquisa formalmente no texto, envolvendo tcnicas de redao que buscam a

    clareza, a objetividade, a preciso e a simplicidade do texto (com observncia das Normas

    Tcnicas pertinentes, ex. Normas Brasileirasda Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ABNT-NBR).

    Em FRANA (1996) encontram-se as informaes seguintes, transcritas de forma

    bastante sucinta, sobre monografias de mestrado e doutorado, sobre relatrio tcnico-

    cientfico, publicaes peridicas, artigos de publicaes peridicas.2

    1Vide prximo item.

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    4.2 Dissertaes e Teses

    Trabalhos de especializao, dissertao de mestrado, tese de doutorado, bem como

    trabalhos acerca de pesquisas rigorosas, so considerados como monografias cientficas. De

    acordo com SEVERINO (1983),

    O termo monografia no deve ser usado para designar restritamente um tipoespecial de trabalho cientfico. Isto porque nem todo trabalho cientfico, no

    sentido genrico, deve ser considerado monogrfico. Deve ser consideradouma monografia quando reduz sua abordagem a um nico assunto, a um nico

    problema, com um tratamento bem especificado. Os trabalhos cientficos seromonogrficos, na medida em que satisfizerem a exigncia da especificao, ou

    seja, na razo direta de um tratamento bem estruturado de um nico tema,

    devidamente especificado e delimitado.

    FRANA (1996)afirma que:

    Dissertaes e teses constituem o produto de pesquisas desenvolvidas emcursos no nvel de ps-graduao (mestrado e doutorado). Abordam um temanico, exigindo investigaes prprias rea de especializao e mtodosespecficos. Devem ser escritas no idioma do Pas, onde sero defendidas, comexceo daquelas para obteno do grau de mestre ou doutor em lnguasestrangeiras.

    A diferena entre tese e dissertao refere-se ao grau de profundidade eoriginalidade exigido na tese, defendida na concluso de curso dedoutoramento.

    Dissertao de Mestrado um documento que evidencia conhecimento da literatura

    existente e a capacidade de investigao do candidato, podendo ser baseado em trabalho

    experimental, projeto especial ou contribuio tcnica. Para desenvolver o trabalho, o

    pesquisador no precisa estar familiarizado com o tema, podendo iniciar-se nele a partir das

    primeiras pesquisas para elaborao do projeto. Tese de Doutorado um documento

    elaborado com base em investigao original, devendo representar trabalho de real

    contribuio para o tema escolhido. Para desenvolver o trabalho, o pesquisador precisa ter

    familiaridade e intimidade com o tema. (OLIVEIRA, 1996)

    Dissertaes e teses devem conter a seguinte estrutura bsica3:

    2Recomenda-se ao leitor remeter-se publicao da autora, para maiores e mais detalhadas informaes sobre o

    assunto, especialmente quanto ao contedo dos elementos constituintes do documento.3Em negrito marcam-se os elementos essenciais publicao (FRANA, 1996).

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    Capa: contm autoria, ttulo e ano do trabalho, dispostos a critrio do autor.

    Folha de rosto:contmdados necessrios identificao da obra (autor, ttulo, natureza,

    rea, local e instituio, ano de publicao).

    Folha de aprovao: em caso de documentos de especializao, dissertaes e teses,

    contm data da aprovao e nome completo dos membros componentes da banca

    examinadora.

    Pginas preliminares: pginas que antecedem ao sumrio, podendo conter Dedicatria,

    Agradecimentose Epgrafe4(separadamente, em pginas diferentes).

    Sumrio: indicao do contedo do documento, em termos de suas divises e sees, na

    mesma ordem e grafia ao longo do texto.

    Listas: nomenclatura, siglas, grficos, tabelas, figuras, equaes, ilustraes, etc..

    Resumo: sntese, em poucas palavras, dos pontos relevantes do texto, em linguagem

    concisa e objetiva (pargrafo nico).

    Introduo: discusso formal do tema/problema (da pesquisa); anlise das informaes

    bibliogrficas relevantes e proposio dos objetivos (gerais e especficos) da anlise.

    Desenvolvimento: descrio detalhada do problema, apresentao e discusso das

    hipteses, da metodologia de anlise, obteno e apresentao de resultados (sem opinies

    pessoais e sem comparaes com outros autores).

    Anlise dos resultados: discusso dos resultados, envolvendo sua interpretao,

    sistematizao e comparao com a literatura (com emisso de opiniespessoais e com

    comparaes com outros trabalhos da literatura).

    Concluses: sntese da anlise do tema, contendo, de maneira sucinta: apresentao do

    tema e dos objetivos do problema; discusso das hipteses e da metodologia de anlise,

    interpretao dos resultados e aplicabilidade da anlise a problemas semelhantes (resposta

    s hipteses e aos objetivos propostos).

    Anexos ou Apndices: informaes ou documentos complementares ou comprobatrios.

    4A epgrafe pode ocorrer, tambm, no incio de cada captulo ou partes principais (FRANA, 1996).

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    Referncias bibliogrficas: listagem, em ordem alfabtica e numerada, de todos os

    artigos, livros, etc. consultados e referenciados ao longo do texto, segundo as Normas

    Brasileiras(NBR) da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) NBR-6023, (cuja

    citao no texto deve estar em conformidade com a Norma NBR-10520da ABNT).

    4.3 Relatrio Tcnico-Cientfico

    Com relao ao relatrio tcnico, encontra-se a seguinte definio:

    Segundo a ABNT, relatrio tcnico-cientfico um documento que relataformalmente os resultados ou progressos obtidos em investigao de pesquisae desenvolvimento ou que descreve a situao de uma questo tcnica oucientfica. O relatrio tcnico-cientfico apresenta, sistematicamente,informao suficiente para um leitor qualificado, traa concluses e fazrecomendaes. estabelecido em funo e sob responsabilidade de umorganismo ou de uma pessoa a quem ser submetido. (citada por FRANA,1996).

    SEVERINO (1983) afirma que trabalhos didticos exigidos aos alunos

    (particularmente nos cursos universitrios de graduao), como tarefas acadmicas, podem

    constituir relatrios cientficos, cuja elaborao no se deixa pura espontaneidade criativado aluno, deve, porm, atender a determinados aspectos didtico-pedaggicos (diretrizes

    bsicas, mtodo da pesquisa e reflexo) do ensino superior.

    Os relatrios tcnico-cientficos constituem-se dos seguintes elementos5 (FRANA,

    1996):

    Capa

    Folha de rosto Prefcio ou apresentao

    Resumo

    Listas

    Ilustraes

    Smbolos, abreviaturas ou convenes

    Sumrio

    Texto5Em negrito marcam-se os elementos essenciais publicao (FRANA, 1996).

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    Anexos ou Apndices

    Agradecimentos

    Referncias bibliogrficas

    Glossrio ndice(s)

    Ficha de Identificao

    4.4 Publicaes Peridicas

    Por publicaes peridicas entende-se

    aquelas editadas a intervalos prefixados, por tempo indeterminado, com acolaborao de diversos autores, sob a responsabilidade de um editor e/ouComisso Editorial, incluindo assuntos diversos segundo um plano definido.So consideradas publicaes peridicas mais comuns: jornais e revistas.(FRANA, 1996).

    As publicaes peridicas podem compor-se dos seguintes elementos6 (FRANA,

    1996):

    Elementos materiais

    Capa

    Lombada

    Elementos textuais

    Folha de rosto

    Sumrio

    Artigo

    Outras sees

    Comunicaes

    Notas de Livros

    Resenhas de Publicaes

    Noticiosos, e outras

    Instrues para apresentao de artigos

    6Em negrito marcam-se os elementos essenciais publicao (FRANA, 1996).

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    4.5 Artigos de Publicaes Peridicas

    Artigos de publicaes peridicas so divulgaes de trabalhos em revistas tcnicas e

    cientficas, adotando as normas