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Prática de Ensino Supervisionada em Educação Pré-Escolar e
Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Cristiana Filipa Silva Fonseca
Relatório de Estágio apresentado à Escola Superior de
Educação de Bragança para obtenção do Grau de Mestre em
Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Orientado por
Manuel Luís Pinto Castanheira
Maria do Céu Ribeiro
Bragança
2014
ii
Agradecimentos
A aquisição deste grau académico é mais uma etapa concluída na minha vida, na
qual várias pessoas deram o seu contributo, embora de diferentes modos. Esta fase foi
composta por momentos de encorajamento, partilha, incentivo e apoio de pessoas que
me ouviram e ajudaram ininterruptamente. A estas pessoas agradeço por me ajudarem a
tornar este trabalho possível.
Por isso agradeço:
Em primeiro lugar aos meus pais, meu porto seguro que tanto me apoiaram e se
sacrificaram neste meu percurso; expresso-lhes especial gratidão, porque sem eles eu
simplesmente não existiria, nem seria a pessoa que sou hoje. À minha irmã pela sua
presença e apoio incondicional.
Ao professor Luís Castanheira, por todos os conhecimentos que me transmitiu,
por todos os momentos que me proporcionou, que me fizeram crescer e aprender e com
eles atingi conquistas muito benéficas que me tornaram um ser humano melhor e com
mais valores. Por todo o tempo que me dedicou e acima de tudo, por ser um grande
exemplo na minha vida, não só a nível académico como também a nível pessoal pela
sua determinação, força e sinceridade. Obrigada por me encorajar e por me fazer
acreditar que sou capaz.
À professora Maria do Céu Ribeiro, por todo o carinho com que sempre me
tratou, pelos momentos que me dedicou e pelo incentivo que me deu. Obrigada por me
escutar, me encorajar, estimular o meu trabalho e me ajudar a ganhar mais confiança em
mim.
Às crianças e respetivas educadoras/professoras cooperantes que me
acompanharam e partilharam comigo os seus saberes, tornando este trabalho possível.
Às minhas amigas pela partilha, ajuda, motivação e apoio que sempre me deram:
à Sandra pelos bons momentos que me proporcionou, aos lanches maravilhosos que
tivemos; à Paula, à Filipa e ao Pedro pelo seu apoio e, por fim, não menos importante,
um especial agradecimento à Xana pela dedicação, carinho e apoio incondicional, pelas
palavras de incentivo nos momentos de maior fragilidade e pela força que sempre
demonstrou para que concluísse esta etapa da minha vida.
A todos aqueles que contribuíram para a realização deste sonho, um muito
obrigado!
iii
Resumo
Este relatório de estágio foi realizado no âmbito do curso de Mestrado em
Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico, para demonstrar o
trabalho desenvolvido no âmbito da unidade curricular de Prática de Ensino
Supervisionada. A transição entre os ciclos ao longo deste percurso educativo é uma
questão muito importante, na visão da articulação e da continuidade, uma vez que são
fatores que contribuem para o sucesso educativo. As estratégias implementadas em
ambos os contextos de Educação Pré-Escolar e 1.º Ciclo do Ensino Básico visaram a
participação ativa das crianças, proporcionando-lhes sempre um ambiente de grupo e
um espírito de entreajuda. Abordamos a caracterização das duas instituições, dos grupos
bem como a descrição das experiências de ensino e aprendizagem realizadas nos dois
contextos. Tentamos promover experiências de ensino e aprendizagem que fossem
socializadoras, integradoras e significativas para as crianças. Na reflexão destacamos a
importância que esta experiência teve para nós, pois permitiu-nos construir novos
conhecimentos e convivência com as crianças.
Palavra-chave: Educação Pré-Escolar; 1.º Ciclo do Ensino Básico; Articulação
Curricular; Experiências de Ensino-Aprendizagem; Participação ativa.
iv
Abstract
This stage report was developed within the course of a Master graduation in Pre-
School Education and 1 st Cycle of Basic Education. It shows the work done in the area
of curricular unit of supervised teaching practice. The transition between teaching cicles
during the educational course is very important the whitin articulation and continuity,
since those are factors which help to improve the educational success. The strategics
used in both contexts aimed the active participation of children, always providing them
a group environment and a spirit/sense of sharing. In the report we describe the
institution, the groups of children/students, as well as the descripton of the teaching and
learning experiences performed in both contexts. We tried to promote teaching and
learning experiences which were sociable, comprehensive and meaning ful to the
children. On the reflection, we point out the importance that this experience had on us,
since it allowed us to construet new knowledges and to socialize the children.
Keywords: Preschool Education; 1st Cycle of Basic Education; Curricular
Articulation; Teaching-learning Experiences; Active participation;
v
Índice Geral
Índice de figuras ............................................................................................................................vi
Índice de quadros ......................................................................................................................... vii
Introdução ..................................................................................................................................... 1
1.Fundamentação das opções educativas .................................................................................... 3
1.1.Educação Pré-Escolar e 1.º Ciclo do Ensino Básico: Articulação Curricular ............................ 3
1.2.Processos de ensino e de aprendizagem ................................................................................ 8
1.3.Princípios pedagógicos sustentadores da ação educativa .................................................... 10
2. Contextualização da Prática de Ensino Supervisionada em contexto da Educação Pré-Escolar
e do Ensino 1.º Ciclo do Ensino Básico ........................................................................................ 13
2.1. Caracterização do contexto da Educação Pré-Escolar ..................................................... 13
2.1.1. O jardim-de-infância ..................................................................................................... 13
2.1.2.O grupo de crianças da sala dos 5 anos ......................................................................... 14
2.1.3. A organização do espaço ............................................................................................... 16
2.1.4. A organização da rotina diária ...................................................................................... 17
2.1.5. As interações na Educação Pré-Escolar ......................................................................... 20
2.2. Caracterização do contexto do 1.º Ciclo do Ensino Básico .............................................. 21
2.2.1 O agrupamento de escola .............................................................................................. 21
2.2.2. O grupo de crianças do 1º ano ...................................................................................... 22
2.2.3. A organização do espaço ............................................................................................... 23
2.2.4. A organização do tempo ............................................................................................... 24
2.2.5. As interações no 1.º ciclo .............................................................................................. 26
3.Descrição, análise e interpretação das experiências de ensino-aprendizagem ...................... 28
3.1 Experiências de ensino-aprendizagem desenvolvidas na Educação Pré-Escolar .................. 29
3.1.1.Experiência de ensino-aprendizagem: À descoberta da América do Sul ........................... 30
3.1.2.Experiência de ensino-aprendizagem: À descoberta do livro como estimulador de
experiências de aprendizagem .................................................................................................... 38
3.1.3.Experiência de ensino-aprendizagem: Uma viagem por Portugal ..................................... 49
3.2.Experiências de ensino-aprendizagem desenvolvidas no 1.º Ciclo do Ensino Básico ........... 52
3.2.1.Experiência de ensino-aprendizagem: uma história, um meio contextualizador.............. 53
3.2.2.Experiência de ensino-aprendizagem: A família e suas relações próximas ....................... 64
3.2.3. Experiência de ensino-aprendizagem: Alimentação saudável .......................................... 68
4. Considerações finais ................................................................................................................ 79
5.Referências bibliográficas ........................................................................................................ 84
vi
Índice de figuras
Figura 1 : Diferenças na abordagem metodológica dos dois ciclos……………………..4
Figura 2 - Comparação entre as áreas de conteúdo das Orientações Curriculares do Pré-
Escolar e o Programa do 1.º CEB……………………………………………………… 9
Figuras 3 e 4 – As crianças provam a fruta típica do Brasil …………………………...30
Figuras 5 e 6 – Realização das coroas de índio……………………………………….. 32
Figura 7 – As crianças já com a cara pintada de índio…................................................34
Figura 8 - Crianças a dançarem música brasileira. …………………………………….34
Figuras 9 e 10 – Realização da atividade das garrafas. ………………………………. 35
Figura 11 – Livro “A casa da Mosca Fosca” ………………………………………… 39
Figura 12 – Livro “Os ovos Misteriosos”…………………………………………...… 39
Figura 13 – Livro “Porque é que os animais não conduzem?”……………………….. 39
Figuras 14 e 15- Representações que as crianças fizeram com os blocos lógicos……..42
Figura 16 – Representação no papel da construção das crianças……………………....43
Figura 17 – Demonstração dos sinais de trânsito……………………………………... 46
Figuras 18 e 19 – Crianças a conduzir seguindo as regras dos sinais de trânsito.…….. 46
Figuras 20 e 21 – Construção do autocarro…………………………………………….48
Figura 22 – As crianças a tirarem o bilhete para entrar no autocarro…………………..49
Figura 23 – As crianças a entrarem para o autocarro…………………………………..49
Figura 24 – Livro “ A que sabe a lua”………………………………………………….51
Figura 25 – Lua em esferovite……………………………………………………….…55
Figura 26 – Palavras ditas pelas crianças com a letra L………………………….…….56
Figura 27 – Mapa da leitura……………………………………………………….……57
Figuras 28 e 29 – Colocar o número cinco por ordem crescente e decrescente………..58
Figura 30 – Árvore genealógica de algumas crianças. ………………………………...61
Figuras 31 e 32 - Dramatização da história “Corre, corre, cabacinha”………………...62
Figuras 33 e 34 - As crianças a manipularem o ábaco e as barras Cuisenaire. ………..64
Figura 35 – Livro “Os sete cabritinhos”………………………………………………..66
Figuras 36 e 37 – Treinar a grafia da letra M……………………………………….….68
Figuras 37 e 38 - Exploração dos blocos lógicos……………………………………....70
Figura 39 – Contorno dos blocos lógicos………………………………………...…….70
Figuras 42, 42 e 43 - Construções obtidas com objetos que as crianças trouxeram de
casa. ……………………………………………………………………………………73
vii
Figura 44 – Cartaz com os alimentos saudáveis e não saudáveis, construídos pelas
crianças………………………………………………………………………………....75
Índice de quadros
Quadro 1 – Rotina diária do jardim-de-infância…………………………………..….18
1
Introdução
Este documento é o reflexo do trabalho desenvolvido no âmbito da Prática de
Ensino Supervisionada (PES), desenvolvida no âmbito da Educação Pré-Escolar (E.P.E)
e do Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico, de ora em diante designado por 1.º CEB,
com este, pretende-se a construção de competências pessoais e profissionais,
conquistando uma imagem do que é ser-se profissional, contactando com a realidade
educativa e acima de tudo reconhecendo e utilizando conhecimentos pedagógicos.
Como refere Mesquita (2011) ”o aluno/futuro professor, como pessoa e professor em
desenvolvimento, enfrenta um conjunto de experiências significativas que podem
potenciar a sua ação profissional no futuro” (p. 15).
A PES tem uma importância indiscutível na formação de professores, pois é a
partir da prática pedagógica que o estagiário tem contacto com a realidade da sua
profissão futura, enquanto educador/professor, visto que são várias as experiências
práticas e que devem ser sempre reflexivas. Alarcão et al., (1997) defendem que,
a experiência de várias décadas de formação de professores em Portugal e a
experiência bastante enriquecedora (tanto no nosso país como no estrangeiro)
mostram que a formação inicial não se pode reduzir à sua formação académica
(aprendizagem de conteúdos organizados por disciplinas), mas tem que integrar
uma componente prática e reflexiva (p. 8).
Esta componente reflexiva permite ao futuro educador/professor ter uma
experiência enriquecedora, que o ajudará a encarar a sua futura profissão com mais
confiança, entusiasmo e clareza. Todo o trabalho desenvolvido tem como objetivo a
aquisição de aprendizagens significativas por parte das crianças, tendo como ponto de
partida as descobertas realizadas pelas próprias crianças. Isto porque “a curiosidade
natural das crianças e o seu desejo de saber é a manifestação da busca de compreender e
dar sentido ao mundo que é próprio do ser humano e que origina as formas mais
elaboradas do pensamento” (Silva et al., 1997, p. 79). A Educação Pré-Escolar e o 1.º
CEB precisam proporcionar um crescimento completo e harmonioso de cada uma e de
todas as crianças, com as vivências que lhes podem e devem oferecer.
A instituição onde decorreu o estágio de Educação Pré-Escolar é uma Instituição
Particular de Solidariedade Social [IPSS] incluída no projeto de Desenvolvimento a
Qualidade em Parcerias [DQP]. A envolvência da instituição neste projeto tem como
objetivo formar profissionais que movimentem procedimentos ativos, suportando-se na
2
prática de uma pedagogia participativa de modo a oferecer às crianças aprendizagens
significativas em contexto. O trabalho desenvolveu-se com um grupo de crianças de
quatro e cinco anos de idade.
A instituição de 1.º CEB onde decorreu a prática pertencia a um agrupamento de
escolas da cidade de Bragança. Desenvolvemos a ação pedagógica numa sala de 1.º ano
de escolaridade, com um grupo de crianças na faixa etária do 5/6 anos de idade.
Realçamos que neste contexto se encontravam presentes crianças com Necessidades
Educativas Especiais (NEE). Os princípios pedagógicos promovidos pela instituição
eram a interação e intervenção das crianças na sua aprendizagem, considerando os seus
interesses e carências.
Apresentamos este trabalho com base em três pontos. No primeiro
fundamentamos as nossas opções educativas. No segundo caracterizamos as instituições
e os grupos, descrevendo o espaço, o tempo e as interações em cada um dos contextos.
No terceiro apresentamos o que foi realizado na nossa prática, expondo e refletindo
sobre algumas experiências de ensino-aprendizagem correspondentes a cada área de
conteúdo. Fizemos a descrição e reflexão destas experiências, inserimos algumas fotos e
diálogos das crianças, pois achamos pertinente incluir esses registos para que
contribuam para uma melhor compreensão das dinâmicas que realizámos.
Apresentámos ainda uma reflexão crítica sobre todo o trabalho realizado. Nela constam
os aspetos mais significativos da ação desenvolvida em ambos os contextos, pois
contribuíram para a nossa formação e crescimento quer a nível pessoal como
profissional. Somos da opinião que, segundo Araújo e Cruz (2005),
ser professor envolve não só um ser profissional mas também um ser pessoal
muito envolvido e activo. O que damos confunde-se com o que recebemos; o
que ensinamos reflecte o que vamos aprendendo; os números e as letras
enredam-se com sorrisos e dificuldades; o papel de professora e amiga
entrelaçam-se em cada dia de trabalho (p. 107).
Por fim, seguem-se as referências bibliográficas, que foram o suporte de todo o
trabalho desenvolvido.
3
1.Fundamentação das opções educativas
1.1.Educação Pré-Escolar e 1.º Ciclo do Ensino Básico: Articulação
Curricular
Neste ponto e num primeiro momento, pretendemos refletir sobre a EPE e o 1.º
CEB, apresentando uma comparação entre o programa do 1.º CEB e as Orientações
Curriculares Educação Pré-Escolar (OCEPE) (ME, 1997), na organização e
identificação dos conteúdos de forma sequenciada, salvaguardando o desenvolvimento e
as capacidades de aprendizagem das crianças, em cada nível de educação. Num segundo
momento identificámos as principais dinâmicas de articulação, os desafios e
constrangimentos que norteiam as ações dos agentes educativos (educadores e
professores), na articulação entre os dois níveis de educação.
A EPE procura que a criança construa o seu próprio conhecimento de uma forma
lúdica, de acordo com o seu desenvolvimento, recorrendo a situações concretas e
palpáveis do dia-a-dia, a estratégias e a materiais que lhe sejam familiares, enquanto no
1.º CEB pretende-se que a criança consiga transpor essas aprendizagens para níveis de
abstração mais elaborados, considerando sempre o seu nível de desenvolvimento nas
diferentes áreas. O 1.º CEB é visto como “a etapa da escolaridade em que se concretiza
de forma mais ampla, o princípio democrático que enforma todo o sistema educativo”
(ME, 2006, p. 11). Para que haja articulação curricular entre a EPE e o 1.º CEB é
necessário que os professores do 1.º CEB tenham
em consideração os conhecimentos que as crianças trazem da educação pré-
escolar, que percebam as diferenças de modelo curricular entre os dois níveis
educativos e que encontrem, na educação pré-escolar, uma base educativa que
lhes será muito útil para desenvolver o seu projeto curricular (Serra, 2004, p.
91).
Logo, ao analisarmos a organização do tempo e do espaço podemos verificar que
cada nível de educação apresenta características próprias, que vamos sintetizar no
esquema comparativo seguinte vide (figura 1), na articulação entre o Pré-Escolar e o 1.º
CEB. A leitura da figura 1 na Educação Pré-Escolar, diz-nos que a criança tem mais
liberdade e gere o seu tempo, sendo que tem como mediador o educador. Partindo dos
interesses que as crianças vão verbalizando, serão construídos projetos integrados, numa
atitude de descoberta e resolução de problemas assente numa organização do espaço e
4
tempo, pois permite uma maior flexibilização e a oportunidade de haver um trabalho
interdisciplinar e de grupo.
Figura 1 - Diferenças na abordagem metodológica dos dois ciclos (adaptado de Serra, 2009, p. 30).
Como podemos verificar, o 1.º Ciclo caracteriza-se por uma estrutura mais
controlada e rígida, pois este assenta em aprendizagens formais que se traduzem na
aprendizagem de áreas específicas do conhecimento (leitura, escrita, matemática e
expressões) e o professor é quem decide a utilização de tempo e espaço. A este respeito,
Portugal (2002) menciona que a articulação entre a EPE e o1.º CEB é suscetível de ser
concretizada apesar das diferenças entre os dois níveis educativos, com:
a conciliação de um campo extremamente flexível com outro em que o núcleo de
aprendizagens essenciais se impõe, não é difícil encontrar numa análise
comparativa genérica dos referentes orientadores da educação pré-escolar e do
1.º ciclo princípios básicos comuns, como por exemplo: integração construtivista
da aprendizagem e da própria actuação educativa; continuidade em termos de
perfil de formação, baseada na identidade de vertentes que atravessam o campo
Interacções
•EPE: as crianças tornam-se mais independentes do adulto; priveligia-se a relação criança-criança.
•1ºCEB: as crianças são mais dependentes do adulto; priveligia-se a relação criança-professor.
Tempo e espaço
•EPE: as crianças são livres para fazerem escolhas; o espaço promove a interação entre pares e a livre circulação favorece a iniciativa da ação.
•1ºCEB: o professor decide o que as crianças fazem e despendem bastante tempo pela correção dos trabalhos; trabalho mais isolado, com menos possibilidades de escolha de atividades.
Autonomia e independência
•EPE: as crianças têm: interagem mais nas atividades ; são incentivadas na resolução de problemas; existe uma relação mais aberta.
•1ºCEB: as crianças mudam os seus comportamentos: no tempo gasto a ouvir e a esperar, na relação com o professor (relação dual); diminui a capacidade de auto-motivação.
Organização processual
•EPE: o jogo surge de forma espontânea; as crianças trabalham em conjunto e partilham os seus trabalhos uns com os outros.
•1ºCEB: o jogo surge como prémio. Favorece-se o trabalho em detrimento do jogo; raramente trabalham em conjuntos, pontualmente em pequenos grupos ou pares.
Aprendizagem
•EPE: dá ênfase ao desenvolvimento emocional através do jogo e atividades criativas, numa abordagem de conteúdos de uma forma integrada.
•1ºCEB: dá ênfase à aquisição de competências ao nível da leitura, escrita, matemática e estudo do meio.
5
dos objectivos e competências essenciais; a estrutura curricular organizativa pela
articulação da transversalidade e especificidade que pressupõe, pelo sentido da
globalidade e integração que lhe é inerente (p. 9).
A reflexão das abordagens metodológicas de ambos os ciclos presume que a
articulação entre ambos é possível, encontrando eco em Serra (2004) ao dizer que “a
base para a progressão e alargamento de saberes encontra-se na criança, isto é, os dois
documentos preconizam que é partindo da criança, dos seus saberes e do seu
desenvolvimento, que os professores e educadores deverão regular as suas práticas
educativas” (p. 85). Nesta vertente, Maia e seus colaboradores (2008) acham que “os
professores mais reflexivos e autónomos influenciam os níveis de realização dos alunos,
implementando estratégias educativas e metodologias de ensino e de aprendizagem mais
eficazes que auxiliam os seus alunos na construção dos seus saberes” (p. 49).
Nos dois documentos orientadores dos dois níveis, verificámos processos de
aprendizagem que acedem ao conhecimento, tendo em conta a cultura experiencial e o
desenvolvimento da criança, num aspeto construtivista, sistémico e ecológico. Neste
sentido, Alonso (1994) menciona a importância e premência de implementar e reforçar
as teorias construtivistas e críticas, sendo que apoiam a necessidade de criar
aprendizagens relevantes e significativas, pois possibilitam o “desenvolvimento da
capacidade de pensar e com compreensão de atitudes e valores necessários para a
cidadania” (p. 23). Segundo Silva (1997) acentuamos ainda, o facto de o educador
“promover a continuidade educativa num processo marcado pela entrada para a EPE e a
transição para a escolaridade obrigatória” (p. 28). O educador tem um papel
fundamental na vida da criança, pois deve prepará-la para a vida e quanto melhor for
esta preparação, mais fácil será a integração da criança e a sua transição para o 1.ºCEB
será um processo simples. Segundo Silva, citado por Laevers (2010),
distinguem-se 3 tipos de condições favoráveis para que cada criança possa
iniciar o 1.º ciclo com possibilidades de sucesso: as que dizem respeito ao
comportamento da criança no grupo, as que implicam determinadas aquisições
indispensáveis para a aprendizagem formal da leitura, escrita e matemática e as
que se relacionam com atitudes (p. 37).
O ensino básico deve promover “a realização individual de todos os cidadãos,
em harmonia com os valores da solidariedade social” e deve prepará-los para uma
“intervenção útil e responsável na comunidade” (ME, 2004, p. 11). Ao analisarmos o
papel da educação, as experiências e as aprendizagens das crianças assumem o lugar de
6
destaque. No entanto, há que realçar também o papel do adulto. Este deve realizar
ajustes na sua prática, sustentando-se na observação, análise, reflexão e pesquisa com o
objetivo de tornar a ação educativa cada vez melhor, não esquecendo que as crianças
são os atores principais de todo este processo. Neste sentido, não podemos deixar de
concordar com as seguintes palavras de Ragan (1978):
ensinar é não apenas uma das mais importantes profissões; do ponto de vista do
bem-estar humano; é, ainda, quando propriamente compreendido, uma das mais
técnicas e difíceis tarefas. O professor não é somente uma pessoa que marca
lições para as crianças e verifica se elas foram aprendidas; ele é construtor de
vidas e um mensageiro da herança cultural que a geração de hoje acumula para o
enriquecimento da futura (p. 31).
A criança desde que inicia a EPE, até ao final da escolaridade básica, traça um
percurso preponderante no seu processo de aprendizagem. Defendemos que ao longo
deste trajeto deveria existir continuidade educativa entre eles, pois como menciona
Homen (2003), “a sequencialidade entre os ciclos, ou a continuidade entre eles, é,
segundo os teóricos, um dos factores decisivos para o sucesso educativo de cada um
deles” (p. 17). Podemos verificar que Silva et al. (1997), também defendem essa
continuidade, pois
cabe ao educador promover a continuidade educativa num processo marcado
pela entrada para a educação pré-escolar e a transição para a escolaridade
obrigatória. (…). É também função do educador proporcionar as condições para
que cada criança tenha uma aprendizagem com sucesso na fase seguinte
competindo-lhe, em colaboração com os pais e em articulação com os colegas do
1.º ciclo, facilitar a transição da criança para a escolaridade obrigatória (p. 28).
Ao longo da comparação e reflexão entre os dois principais documentos
orientadores dos níveis educativos em estudo, podemos confirmar que tanto o educador
como o professor assumem um papel determinante, quer nas dinâmicas de articulação,
quer no desenvolvimento curricular que se estabelece em particular. Contudo, queremos
analisar as fragilidades e constrangimentos que o educador/professor assume nessa
articulação.
Achamos importante a comunicação entre adulto-criança, criança-criança e
criança-adulto, com o objetivo de construir a aprendizagem através de processos
cooperativos, pois como menciona Niza, citado por Folque (1999) “todos ensinam e
todos aprendem” (p. 6). Desta forma, o modo de trabalhar adotado pelo adulto pode ser
em grupo, em pares ou individualmente. Segundo Homann & Weikart (2009), o grupo
7
de trabalho pode ser pequeno de modo a proporcionar “a oportunidade de experiências
qualitativamente diferentes e válidas, nas quais os participantes podem unir-se para
atingir uma finalidade que lhes seja comum (…) e a partir daí descrever, mesmo que
com hesitações, as suas descobertas” (p. 369) ou então pode ser um grupo de trabalho
um pouco maior e em que o barulho significa que estão centradas na sua tarefa
(Azevedo, 2005). A função do adulto deve ser a de moderador, enquanto a criança deve
assumir uma atitude participativa e ativa no seu processo de aprendizagem. Com a
propiciação destes momentos de aprendizagem à criança, Oliveira-Formosinho (2011)
refere que se espera “criar experiências no desenvolvimento da identidade e das
relações, das linguagens e da significação” (p. 108). Segundo Wassermann (1994), nós
nunca devemos subestimar as crianças, porque se o fizermos poderemos ter uma
surpresa. As crianças são mais do que seres encantadores. Possuem saber, têm
ideias e capacidades de reflexão. Possuem astúcia na observação e sensibilidade
ao conhecimento. São altamente intuitivas, engenhosas, e capazes de rasgos
cognitivos de uma perspicácia que deixam os adultos desconcertados (p. 13).
O ator principal da educação é a criança e é em torno dela que tudo gira. É
necessário observar cada uma, recolher informações sobre o contexto familiar e o meio
onde vive, conhecer as suas capacidades, dificuldades e interesses, mas é a sua
formação que importa e à qual o adulto se dedica, ou seja, “o papel do adulto é o de
ajudar a criança a fazer a sua aprendizagem” (Roldão, 2005, p. 84). Este é um fator
favorável para conhecermos melhor o caráter de cada criança e devemos dar-lhes voz,
pois de acordo com Dewey (2002), as crianças têm um instinto social “que se manifesta
nas conversas, na interação pessoal e na comunicação que se desenvolvem com as
pessoas que a rodeiam” (p. 46). Ao desempenhar a função de educar e ensinar, o adulto
tem sempre a imagem da criança em mente, os seus interesses e a sua participação é tida
em conta para que as experiências de aprendizagem sejam lúdicas e cativantes. Como
refere Roldão (2005), “o apoio do educador assume aqui a sua importância, permitindo
assim o aprofundamento das questões, facilitando a construção de conhecimentos mais
rigorosos a partir dos saberes das crianças (p. 127). Este olhar atento enriquece os
conhecimentos que as crianças têm e olha-as como seres curiosos, participativos e
motivados para a construção de aprendizagens contínuas e significativas. Segundo
Oliveira-Formosinho (2011),
os objetivos das pedagogias participativas são os do envolvimento na
experiência e a construção da aprendizagem na experiência contínua e
8
interactiva. A imagem da criança é a de um ser competente que participa com
liberdade, agência, inteligência e sensibilidade. A motivação para a
aprendizagem sustenta-se no interesse intrínseco da tarefa e nas motivações
intrínsecas das crianças (p. 100).
A ação educativa e a competência para exercer não se esgotam na formação
inicial do docente; esta deve ser encarada como um início de percurso, que se vai
construindo ao longo do tempo e requer uma atualização constante. Sumarizamos, por
isso, com uma citação de Ribeiro (2000), ao afirmar que “a reflexão a partir de práticas
reais é a via possível para um profissional se sentir capaz de enfrentar as situações
sempre novas e diferentes com que se vai deparando na vida real e que o ajuda a tomar
decisões cada vez mais ajustadas, porque mais consciencializadas” (p. 90).
1.2.Processos de ensino e de aprendizagem
Nos objetivos da Educação Pré-Escolar e do 1.º Ciclo do Ensino Básico é visível
uma proximidade em termos de orientação educativa que procura estabelecer uma
coerência no processo de formação ao longo da vida. Monge (2002), apresenta como
princípios básico comuns, entre a Educação Pré-Escolar e o 1.º Ciclo do Ensino Básico,
a concepção de uma educação integrada e a importância da sua função
formativa; a interpretação construtivista da aprendizagem e da própria actuação
educativa; a continuidade, em termos de perfil de formação, baseada na
identidade de vertentes que atravessam o campo dos objectivos e competências
essenciais; a estrutura curricular organizativa, pela articulação da
transversalidade e especificidade que pressupõe, pelo sentido de globalidade e
integração que lhe é inerente (p. 29).
As áreas que compõem ambos os currículos estabelecem uma relação de
proximidade, como podemos verificar na figura seguinte (vide 2).
9
Figura 2 - Comparação entre as áreas de conteúdo das Orientações Curriculares do Pré-Escolar e o
Programa do 1.º CEB (adaptado de Serra, 2004).
Como podemos verificar na figura 2, em ambas as áreas e os níveis educativos
salienta-se que a área da Formação Pessoal e Social, ambos os níveis demonstram que a
criança/aluno desenvolva a sua identidade, a vivência em grupo, a aquisição de regras,
que se preocupam com a sua inserção na sociedade, que reconheça as suas
caraterísticas, aquisição de autonomia na realização das atividades propostas e da
promoção da educação multicultural. Como menciona Serra (2004) existe uma
preocupação para que em ambos os ciclos haja uma continuidade, “relativamente a
alguns aspectos programáticos que sendo referenciados nas orientações curriculares,
encontram seguimento e aprofundamento nos blocos temático que constituem o
programa do 1º Ciclo” (p. 80). Na opinião de Nabuco (1992), “o que é deveras
fundamental é que no pré-escolar se antecipem as experiências do ensino básico e que
os professores deste nível reforcem aprendizagens anteriores. Para isso é necessário que
os professores dos diferentes níveis trabalhem e pensem em conjunto, o planeamento a
longo prazo” (p. 82). Ao olharmos para a EPE e para o 1.ºCEB verificamos que ambos
contribuem para a preparação da criança, pois há uma continuidade do processo
educativo que é fundamental para que a criança atinja um conhecimento mais detalhado
de cada área. O educador/professor deve ser um investigador, um dinamizador, que
trabalhe em cooperação e que saiba comunicar com os mais diversos membros da
comunidade educativa, de forma, a promover esta ligação entre os dois contextos.
Como refere Silva (1997), o educador deve “promover a continuidade educativa
num processo marcado pela entrada para a EPE e a transição para a escolaridade
10
obrigatória” (p. 28). Para que a integração da criança seja a melhor, esta terá de ter uma
boa preparação, de modo, a facilitar a sua transição do pré-escolar para o nível seguinte
de ensino.
Quando a criança está a frequentar o 1.º CEB, esta fortalece os seus
conhecimentos prévios que conseguiu através da sua família, do seu próprio interesse e
na frequência do pré-escolar. Portanto, como refere Oliveira-Formosinho (2003), “o
adulto cria pontes entre o já conhecido e o ainda novo para que as crianças possam
aceder ao novo” (p. 5) e, a escola, na opinião de Folque (1996), também deverá
“proporcionar uma aprendizagem que tenha significado social, através de uma troca de
conhecimentos numa interação constante com a comunidade” (p. 6). As crianças devem
desenvolver competências sociais de cooperação, competências pessoais de autoestima,
uma vez que estas competências são transversais a todos os níveis de ensino. Apesar de
o currículo os diferenciar, possibilitam à criança a construção do seu próprio
conhecimento.
1.3.Princípios pedagógicos sustentadores da ação educativa
Ao planificar as atividades para o grupo, procurei que estas direcionassem as
crianças no sentido da descoberta e da participação, tentando afastar-me de uma
pedagogia transmissiva, pois considero que uma pedagogia ativa é a mais apropriada
para qualquer fase de aprendizagem. Orientar o aluno a “descobrir”, faz com que as
aprendizagens sejam mais significativas. Vários autores construtivistas tentaram
modificar a pedagogia transmissiva, mas no entanto, há uma grande distância entre as
propostas destes e a realidade pedagógica dos nossos dias, quer por crianças quer por
adultos. Segundo Oliveira Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007), “a Pedagogia
organiza-se em torno dos saberes que se constroem na ação situada em articulação com
as conceções teóricas e com as crenças e os valores” (p. 14). O processo educativo deve
ter em consideração o contexto sócio cultural da criança, mas tentando manter uma
atitude reflexiva que respeite e oriente a criança na descoberta do conhecimento. Desta
forma, procurei ser o que se designa de professor reflexivo. Como mencionam Oliveira
Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007), “ser profissional reflexivo é fecundar antes,
durante e depois da ação, as práticas nas teorias e nos valores, interrogar para
resignificar o já feito em nome da reflexão que constantemente o reinstitui” (p. 14). O
11
educador/professor deve apoiar o seu trabalho numa práxis da participação, usando o
diálogo. Como defende Oliveira-Formosinho (2007),
uma pedagogia centrada na práxis da participação procura responder à
complexidade da sociedade e das comunidades, do conhecimento das crianças e
das suas famílias com um processo interativo de diálogo e confronto entre
crenças e saberes, entres saberes e práticas, entre práticas e crenças, entre esses
polos em interação e os contextos envolventes (p. 14).
A pedagogia de participação é mais complexa que a pedagogia de transmissão.
Aliás, a pedagogia de transmissão centra-se no conhecimento que quer que o aluno
aprenda; resolve a complexidade através da escolha dos saberes; na lógica dos saberes e
restringe o tempo e o modo de fazer essa transmissão. Esta pedagogia baseia-se,
essencialmente, na transmissão de informação e na aceleração das aprendizagens, pois a
criança neste modelo de educação é vista como uma tábua rasa; e a sua atividade é
memorizar os conteúdos e reproduzi-los. Tendo em consideração estes aspetos foi
minha intenção na ação educativa basear-me numa pedagogia de participação passando
por: envolver-me no processo de aprendizagem das crianças; dar significado à
experiencia; promover o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e construir as
aprendizagens das crianças. Assim sendo, a criança passou a participar na planificação
das atividades, a cooperar e a questionar.
O meu papel de educadora/professora foi escutar, observar para planificar,
avaliar, alargar os conhecimentos das crianças. Como refere Freinet (1975) “a acção do
professor assemelha-se assim ao de um jardineiro, e do florista, uma acção mais
preventiva e facilitadora do que correctiva, que prefere enriquecer a seiva mais que
apressar a frutificação e degustação dos alimentos” (pp. 164-165). Para promover estes
princípios pedagógicos passamos por três pontos importantes: i) as relações e interações
(tentou-se criar um clima de partilha de experiências, desenvolvendo as interações) ii) o
espaço pedagógico (tentou-se promover o espaço, de forma, organizado para a
aprendizagem, os interesses das crianças, flexível e lúdico) e por fim; iii) o tempo
pedagógico (que no 1.º ciclo do ensino básico já era mais estruturado, mas mesmo assim
tentou-se que a rotina diária e o ritmo das crianças fosse respeitado, tendo em conta as
suas aprendizagens e o seu bem-estar).
13
2. Contextualização da Prática de Ensino Supervisionada em contexto
da Educação Pré-Escolar e do Ensino 1.º Ciclo do Ensino Básico
Neste tópico daremos a saber as referências concetuais que suportaram a
evolução da prática no âmbito da Educação Pré-Escolar e do 1.º CEB, considerando as
dimensões curriculares da pedagogia da infância: organização do ambiente educativo,
organização do espaço, rotina diária e interações; pois estamos cientes que estas
dimensões são cruciais na qualidade das aprendizagens oferecidas às crianças. Neste
sentido iremos pensar acerca dos princípios sustentadores da ação pedagógica que
desenvolvemos, pois acreditamos que uma educação de qualidade exige do educador
/professor uma formação científica e pedagógica que lhe consinta proceder em benefício
de uma aprendizagem ativa impulsionadora de sucesso educativo.
2.1. Caracterização do contexto da Educação Pré-Escolar
2.1.1. O jardim-de-infância
A instituição no âmbito da Educação Pré-Escolar onde realizei a Prática de
Ensino Supervisionada localiza-se na cidade de Bragança. Apesar da rua, ser bastante
movimentada, o local é calmo e, tanto o espaço exterior, como interior são amplos e
favoráveis para a realização de atividades.
Neste edifício, além do jardim-de-infância com três salas, a sala dos três, quatro
e cinco anos, existe também a valência de creche com três salas de crianças: a sala dos
bebés, sala de um ano de idade e a sala de dois anos de idade. A sua estrutura física é
toda ela a nível do rés-do-chão. O interior é composto por um enorme hall de entrada,
tem um gabinete da diretora, uma sala de arrumações, uma cozinha, vários espaços de
higiene para crianças e adultos e 3 salas de atividades de jardim-de-infância (sala dos 3,
4 e 5 anos de idade). Na parte central existe um salão multifuncional que serve para a
realização de atividades para toda a comunidade escolar e ainda como refeitório. Todos
estes espaços têm aquecimento central. No exterior há um recreio em toda a volta, com
parque infantil (baloiços, escorregas e cavalinhos), pois este espaço é muito importante
para que as crianças criem as suas brincadeiras. Segundo Hohmann e Weikart (2009) “o
tempo de ar livre ou exterior é uma oportunidade diária para as crianças se envolverem
em atividades lúdicas vigorosas e barulhentas” (p. 432).
14
Este espaço tem semelhanças com o modelo italiano Reggio Emilia, pois este
deve enriquecer não só as crianças, como também os pais e os educadores. Como
referência pedagógica, Malaguzzi, citado por Lino (2007), afirma que o espaço é
reconhecido
para organizar e promover relações agradáveis entre as pessoas de diferentes
idades, criar um ambiente educativo atractivo, providenciar mudanças, promover
escolhas e actividades e pelo seu potencial para desenvolver todos os tipos de
aprendizagens, cognitiva, social e afectiva. Tudo isto contribui para um
sentimento de bem-estar e segurança da criança (p. 104).
O horário de funcionamento da componente letiva é das 9:30 às 12:30 e das
14:00 às 16:00. A instituição tem também um horário de componente social de modo a
apoiar os pais.
2.1.2.O grupo de crianças da sala dos 5 anos
Na sala onde decorreu a ação pedagógica, o grupo de crianças era formado por
vinte crianças, sendo treze do sexo feminino e sete do sexo masculino, com idades de
quatro e cinco anos de idade. As crianças tinham um desenvolvimento cognitivo
adequado à sua faixa etária. Estas informações foram-nos fornecidas pelo corpo
docente, e que comprovamos com o trabalho que desenvolvemos com as crianças.
O desenvolvimento cognitivo é uma etapa que prevê que os seres humanos
passem por algumas mudanças ao longo da sua vida, em contato com o meio que os
rodeia. A teoria de Piaget tem características, desde o nascimento até ao final da
adolescência, este grupo de crianças encontram-se no estádio intuitivo ou pré-
operatório. Segundo Lino (2007),
no estádio intuitivo ou pré-operatório (dos 2 aos 7 anos), o pensamento sofre
uma transformação qualitativa em função das modificações gerais da acção
(Piaget, 1973). É o estádio da inteligência intuitiva, do surgimento da linguagem,
do desenvolvimento da função semiótica (ou função simbólica), dos sentimentos
interindividuais espontâneos e das relações sociais de submissão do adulto
(Piaget, 2000) (p. 207-208).
As crianças eram sociáveis, alegres, participativas, interagiam e comunicavam
muito entre si e com os adultos e o seu tempo de concentração variava muito consoante
a área de trabalho. Estas envolviam-se nas experiências de aprendizagem com interesse,
e revelavam um enorme gosto pelas histórias e expressão plástica. A atividade lúdica é
15
fundamental nesta idade para que a criança faça as suas aprendizagens e consiga evoluir
no seu desenvolvimento, em geral. As brincadeiras e o jogo são cruciais. Sendo assim
estamos de acordo com Nídio (2007), quando refere que
através do jogo e da brincadeira a criança aprende, também, a conhecer a
realidade do quotidiano, sente até onde podem ir as suas capacidades e, nesse
sentido, percebe as suas fragilidades, aprende a superar-se, a não ver a derrota,
nenhuma fragilidade, antes aceitando-a serenamente, da mesma forma que
saberá encontrar a glorificação da vitória a honra que aos vencidos é sempre
devida, sobretudo aos que cultivam a lealdade com que jogam e brincam (p. 5).
Nesta idade é fundamental o recreio, pois a criança tem oportunidade de
interagir com outras crianças, uma vez que quando estas vão para casa passam muito
tempo a ver televisão e a jogar computador. Como salienta Silva et al., (1997) ”a
interação entre crianças em momentos diferentes de desenvolvimentos e com saberes
diversos, é facilitadora do processo de desenvolvimento e da aprendizagem” (p. 35). Em
observação pudemos verificar que a maior parte das crianças optava sempre pela área da
cozinha e a área das construções. Foi sempre nossa preocupação tentar incentivar as
crianças para que ocupassem todas as áreas, principalmente, incentivar as crianças pelo
gosto pelas histórias, pois estas perguntavam todos os dias se íamos contar histórias.
Uma vez que as crianças mostravam interesse pelas histórias tivemos isso em conta para
planificar atividades educativas partindo sempre da leitura de histórias. Tendo como
objetivo abordar todas as áreas de conteúdo das orientações curriculares e proporcionar
às crianças aprendizagens significativas. Como é referido pelas Orientações
Curriculares para a Educação Pré-Escolar (ME\DEB, 1997) quando afirmam que “a
interação entre crianças em momentos diferentes de desenvolvimento e com saberes
diversos é facilitadora do desenvolvimento e da aprendizagem” (p. 35).
Um ponto menos positivo do grupo de crianças era estas não saberem trabalhar
em pequeno grupo, pois não sabiam partilhar o material entre si e os colegas. À medida
que o tempo foi passando, dialogámos com as crianças para a necessidade de partilhar.
Notámos que houve uma evolução no que diz respeito à partilha do material. Logo, foi
necessário ter conhecimento das características das crianças, tendo em conta o seu
contexto familiar de forma a identificar as suas características socioeconómicas e
culturais. As crianças tinham uma família estruturada, sendo que o agregado familiar era
composto por pai, mãe e irmãos. As famílias eram jovens, com idades compreendidas
entre os 25 e 40 anos. As profissões dos pais eram sobretudo na categoria dos serviços e
16
comércio, onde poderíamos encontrar profissões como empregados de balcão e
camionistas.
2.1.3. A organização do espaço
A organização do espaço foi pensada de modo a motivar as crianças e encorajá-
las para a realização de diferentes tipos de atividades, procurando criar um clima de
bem-estar e de aprendizagem ativa. Entendemos que, o modo como o espaço educativo
se encontra organizado influencia, em grande medida, as oportunidades lúdicas das
crianças, a sua aprendizagem e desenvolvimento. Procuramos, assim, envolver as
crianças na criação de um espaço com o qual se identificassem e em que pudessem agir
de forma autónoma e responsável. Por outro lado, promovemos a participação das
crianças na tomada de decisão sobre a organização e identificação dos materiais e das
áreas, bem como na reparação de alguns materiais que se deterioraram e na procura de
outros que, ao longo do ano, puderam contribuir para o enriquecimento das experiencias
realizadas.
A organização da sala foi ainda norteada por intencionalidades múltiplas, no
sentido da criação de possibilidades de interação social, em grande e pequeno grupo, de
brincar e trabalhar e de acolher diferentes ritmos, identidades e culturas (Oliveira-
Formosinho e Andrade, 2011). As áreas organizadas na sala eram a das expressões,
biblioteca, construções, jogos e a da casa/faz de conta. Esta organização foi feita
atendendo à diversidade, quantidade, estética, acessibilidade e visibilidade dos
materiais, procurando que as crianças pudessem experienciar um quotidiano ordenado e
fazer escolhas em função de gostos e intencionalidades próprias.
Esse espaço foi alvo de transformações ao longo do ano lectivo, pois como
refere Oliveira-Formosinho e Andrade (2011) “é o desenrolar do jogo educativo
quotidiano que vai requerendo a sua organização e reorganização” (p. 12). Por outro
lado, Vasconcelos (2009) lembra que “o educador deve constantemente interrogar-se se
a organização do espaço (…) trabalha na zona de desenvolvimento próximo das
crianças, se se coloca um grau acima do seu desenvolvimento, se cria problemas,
interrogações, propõe soluções, se é desafiador” (p. 59). Daí a importância que merece
ser dada à observação e reflexão sobre o modo como os materiais e espaços educativos
se apresentam e como são percebidos pelas crianças, requerendo-se que a desafiem a
agir e a progredir. No sentido de responder melhor às necessidades formativas e
17
interesses das crianças e favorecer o seu desenvolvimento, procuramos, como alerta
Rinaldi (1999), ver a sala como um organismo vivo que requer transformação, mas
também a necessária continuidade de identidade dentro dessa mudança. As Orientações
Curriculares para Educação Pré-Escolar (ME\DEB,1997) lembram que a “reflexão
permanente sobre a funcionalidade e adequação do espaço às potencialidades educativas
dos materiais permite que a sua organização vá sendo modificada de acordo com as
necessidades e evolução do grupo” (p. 38).
A sala de atividades tem a forma retangular, é espaçosa, com 50m2 de área,
possui uma excelente luminosidade natural e possibilidades de bom arejamento. Tem
uma porta que dá acesso direto ao salão polivalente e outra ao espaço de recreio
exterior. A sala encontrava-se dividida em áreas à volta da sua fronteira: área da
expressão plástica, área da biblioteca, a área do quarto, a área da cozinha, a área das
construções. Como refere Silva (1997), “os espaços de educação pré-escolar podem ser
diversos, mas o tipo de equipamento, os materiais existentes e a forma como estão
dispostos condicionam, em grande medida, o que as crianças podem fazer e aprender”
(p. 37).Este tipo de organização, encaminhada pelos princípios da aprendizagem ativa,
afetava a forma como as crianças aprendiam, conseguindo efetuar escolhas e fortalecer
as suas intenções, bem como a forma como os adultos lecionavam, através do apoio, da
escuta e do diálogo sobre as ações que a criança desenvolvia.
No espaço exterior, as crianças tinham experiências diferentes das que tinham
dentro da sala. Este possui um equipamento que permite à criança realizar movimentos
físicos, como baloiçar, escorregar, saltar e correr. Este espaço tem zonas com bastante
sombra, pois existem árvores ao seu redor. Neste espaço as crianças podiam observar,
explorar e comunicar com as pessoas.
2.1.4. A organização da rotina diária
A organização do espaço é essencial para a aprendizagem e evolução da criança
e uma organização da rotina diária colabora para este facto. Como refere Formosinho
(2007) é “(…) necessário, também, que o educador encontre uma forma de organizar os
tempos de experimentação diversificada com os objetos, as situações e os
acontecimentos” (p. 69), para que as crianças compreendam que ao longo do seu dia
existem diversos períodos de tempo e que cada um destes é utilizado para a
concretização de atividades diversas. Segundo Hohmann e Weikart (2009), “a rotina
18
diária oferece um enquadramento comum de apoio às crianças à medida que elas
perseguem os seus interesses e se envolvem em diversas atividades de resolução de
problemas” (p.85). Deste modo, a rotina diária ajuda a criança a controlar o seu tempo,
sem necessidade de que o adulto lhe diga o que deve fazer ao concluir uma atividade,
oferecendo à criança ocasiões para trabalhar em diversos ambientes, dentro da sala de
atividades.
No tempo de observação e também de intervenção foi possível entender que o
grupo de crianças dominava o seguimento dos acontecimentos de cada dia de trabalho
no jardim-de-infância, o que simplificou a concretização das diversas atividades, pois
nem sempre era necessário chamar a atenção das crianças quando se concretizava a
alteração de um tempo para o outro, pois elas faziam-no de forma conveniente.
A rotina diária faz parte do dia-a-dia de um jardim-de-infância considerado este
um aspeto que deve ser refletido pelo educador quando executa a organização do
contexto educativo. É notável que a rotina diária leve a criança a conhecer que existe
um tempo em que se trabalha em grande grupo e outro em pequeno grupo e também
individualmente. Segundo Hohmann e Weikart (2011), todos estes momentos permitiam
“à criança aceder a tempo suficiente para perseguir os seus interesses, fazer escolhas e
tomar decisões, e resolver problemas “à dimensão da criança” no contexto dos
acontecimentos que vão surgindo” (p. 8). Através da rotina diária a criança vai
verificando que todos os dias existe um tempo para cada tipo de atividade,
compreendendo também que durante o dia conseguirá fazer tudo aquilo que gosta, pois
poderá participar em todas as atividades no tempo previsto para cada uma delas.
No que respeita à prática e intervenção com o grupo de crianças seguiram-se as
propostas da educadora e, por isso, trabalhou-se, essencialmente, em pequeno grupo,
visto que, era propício para as crianças terem aprendizagens significativas, uma vez que
desta forma, todas as crianças tinham a mesma oportunidade e o mesmo tempo para a
concretização das tarefas. Ao trabalhar os distintos tempos com as crianças, o educador
tem a ensejo de compreender quais os benefícios das mesmas e também de oferecer-lhes
diferentes experiências de aprendizagem, uma vez que quer o tempo em grande grupo,
quer o tempo em pequeno grupo dão às crianças a oportunidade de fortalecerem
atividades diferentes. Na opinião de Silva (1997) “torna-se importante o trabalho entre
pares e pequenos grupos, em que as crianças têm oportunidade de confrontar os seus
pontos de vista e de colaborar na resolução de problemas ou dificuldades colocadas por
uma tarefa comum” (p. 35).
19
Como meio simplificador da compreensão da rotina diária executada apresenta-
se o quadro I, que esclarece o que se desenvolvia em cada um dos tempos comunicados
(vide quadro I).
Quadro I – Rotina diária do jardim-de-infância
Horário Momentos de
rotina
Descrição
8:00 – 9:00 Brincadeira livre As crianças são recebidas no jardim-de-
infância pelas auxiliares educativas. Enquanto
aguardam pela chegada da educadora, as
crianças brincam no salão com os colegas de
outras salas.
9:00 – 9:30 Receção e reforço do
pequeno-almoço
Tempo de entrada, em que os pais
acompanham as crianças à sala para
assinalarem a presença. Na ida para o salão as
crianças podem usufruir de uma pequena
refeição, reforçando o pequeno-almoço.
9: 30 – 10:30 Acolhimento/grande
grupo
Momento pensado para o reencontro do grupo,
comunicação e escuta de experiências, alegrias
e angústias vividas e que contribui para unir o
grupo em termos de afetos e de trabalho.
Espaço para diferentes atividades,
normalmente planeadas pelo adulto, mas
podendo integrar propostas das crianças.
10:30 – 11:30 Pequeno grupo As crianças são divididas em grupos, tendo em
conta o seu grau de desenvolvimento e a sua
forma de aprender. Este é por excelência um
bom momento de observação e registo de
avaliação não só das competências adquiridas,
mas sobretudo daquelas a adquirir.
11:30- 14:00 Almoço As crianças almoçam no refeitório da
instituição. Seguem-se tempos de descanso ou
relaxamento, supervisionados pelos auxiliares
de ação educativa
14:00 – 15:45 Tempo de trabalho
nas áreas
O momento inicial é para o planeamento em
grande grupo. Cada criança, individualmente
ou em grupo, faz a escolha das áreas, dos
materiais e da intenção de execução. A
educadora, rotativamente, fará o registo dessas
intenções com um pequeno grupo. No final do
dia voltam a reunir e aí, o mesmo grupo,
partilhará com todos o que fez e se se manteve
fiel ou não, à sua intenção de trabalho.
15:45 – 16:00 Tempo do lanche Lanche no refeitório, já com a supervisão da
equipa da componente social.
O papel do educador é fundamental para a organização da rotina diária. Esta
deve ter em atenção as necessidades das crianças, para que o educador possa apoiá-las e
serem elas próprias a descobrir o mundo que as rodeia, para que a criança tivesse tempo
para examinar livremente os materiais, que conseguisse meditar sobre as suas ações, que
20
analisasse os seus objetivos intrínsecos, as suas descobertas, as suas produções e
também para resolver os dilemas com que se vão confrontando. O autor Weikart (2009),
diz que “(…) ao pensarem sobre as coisas, começam a perceber que podem fazer as
coisas acontecer, aprender coisas novas e resolver os seus próprios problemas” (p. 341).
Assim sendo, o trabalho em grande e pequeno grupo era muito importante para as
crianças, pois assim, comunicavam entre si, havia uma troca de experiências, de saberes
e vivências.
2.1.5. As interações na Educação Pré-Escolar
Na sala de jardim-de-infância estabelecia-se um clima de interações positivas
alicerçado na confiança e no respeito. Tivemos de refletir sobre o papel que teríamos
que assumir, bem como sobre o papel que deveríamos conferir à criança, para que a
ação de todos fosse respeitada. Segundo Hohmann e Weikart (2009) “um clima de apoio
interpessoal é essencial para a aprendizagem ativa, porque esta é, basicamente, um
processo social e interativo” (p. 63). O pré-escolar assume interações que as crianças
desenvolvem com os objetos e com as outras crianças, e que merecem uma reflexão
individual sobre as interações desenvolvidas entre os adultos e as crianças. A
assimilação de como estas resultam solicita esclarecer o significado que se atribui à
palavra interação. Como afirma Brickman e Taylor (1991), ”a observação realizada
mostra que a interação dos adultos com as crianças numa variedade de situações – de
apoio, de jogo, de ensino – desempenha um papel importante na aprendizagem e
desenvolvimento das crianças” (p. 29). Por outro lado, e não menos importante, Oliveira
– Formosinho (2011a), lembra que “as interações adulto-criança são uma tão importante
dimensão da pedagogia que a análise do estilo dessas interações permite determinar se
estamos perante uma pedagogia transmissiva ou uma pedagogia participativa” (p. 30).
Deste modo, requer atenção e ponderação o modo como elas decorrem, uma vez que as
crianças interagem com os adultos, exprimindo ideias e saberes no sentido de irem
erguendo a sua própria opinião sobre a realidade.
No nosso caso, buscámos instituir uma comunicação e relação que
desencadeasse o desejo e prazer por aprender, o encorajamento à procura, observando o
nível de assimilação de cada criança e do grupo, bem como os recursos materiais e
espaciais disponíveis. É fundamental colocar as crianças em familiaridade com a
realidade educativa, em que se identifiquem como capazes de, pela sua própria
21
iniciativa, construírem saber, avocando a adulto/educador o papel de apoio e de suporte
a esse processo. Nesse caso, é substancial que o adulto promova um tipo de interação
que leve a criança a saber observar, escutar, esperar e dar espaço às crianças na tomada
de decisões. No entanto, brincar é a atividade mais natural das crianças e os adultos
estimulam a sua aprendizagem, participando e amparando as suas brincadeiras,
acompanhando os seus interesses, dividindo o controlo com elas, atendendo ao seu nível
de compreensão e beneficiando o desenvolvimento de experiências em que possam ter
êxito. Como mencionam Hohmann e Weikart (2009), o adulto deve “aproveitar o tempo
em que os pais vão largar ou buscar as crianças à escola para conversar um pouco com
eles [pois] é uma excelente forma de ajudar a construir relações positivas e confiantes
entre todos” (p. 119).
Procurámos promover interações que apoiassem a integração e desenvolvimento
de todos, assentes no respeito e apoio a cada um, assumindo o papel de alicerce à sua
aprendizagem e desenvolvimento. Refletimos, por isso, ter cooperado para a criação de
oportunidades educativas potencialmente amplificadoras da sua integração social.
2.2. Caracterização do contexto do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Neste ponto, iremos abordar diversos itens como a caracterização do
agrupamento onde realizamos a PES do 1.º ciclo do ensino básico, bem como o grupo
de crianças da turma do 1º ano, a organização do espaço, a organização do tempo e as
interações. Desta forma, temos como objetivo demonstrar o que foi vivenciado no 1.º
CEB.
2.2.1 O agrupamento de escola
O agrupamento de escolas onde realizámos a nossa ação educativa, no âmbito do
1.ºCEB começou a sua atividade letiva no ano 2013\2014 e inclui as valências do 1.º
CEB até ao 3.º CEB. O seu interior é constituído por um salão polivalente, uma
biblioteca, um refeitório, um gabinete de coordenação, uma sala de NEE, uma sala de
convívio para professores, salas para os funcionários, uma sala de reuniões, uma
reprografia e espaços para arrumos.
Em relação ao 1.ºCEB, embora a instituição fosse composta por oito salas,
apenas sete estavam ocupadas para a prática letiva e todas elas com equipamento
22
informático completo. As sete turmas que existiam, estas estavam organizadas da
seguinte forma: duas turmas do 1.º ano, duas turmas do 2.º ano, uma turma do 3.º ano,
uma turma do 4.º ano e uma turma de NEE. No rés-do-chão existiam sanitários para
cada género, segmentadas em cinco compartimentos cada. Esta instituição tinha o
equipamento de aquecimento em boas condições para o inverno rigoroso que se faz
sentir em Bragança.
O espaço exterior da escola é bastante amplo sendo constituído por um parque
infantil com baloiços e escorrega, bem como um campo para a realização de jogos
coletivos. Este espaço encontra-se devidamente vedado, para que os alunos possam
brincar em segurança. Possui duas entradas que permitem o acesso às aulas. Esse acesso
conflui espaços amplos interiores que funcionam como espaços de recreio em dias cujas
condições climatéricas não permitam usar o recreio exterior.
O horário do agrupamento de escolas, devido às necessidades das famílias e à
sua situação profissional, funcionava, no período da manhã, das 8:00 às 9:00, e no
período da tarde, das 17:30 às 19:00, havendo um tempo de prolongamento de
atividades dos tempos livres (ATL), onde as crianças tinham uma professora de apoio.
2.2.2. O grupo de crianças do 1º ano
O grupo era composto por vinte crianças, sendo treze do sexo feminino e sete do
sexo masculino. O nível etário das crianças situa-se nos cinco e seis anos de idade. Esta
turma tinha duas crianças com NEE onde as dificuldades eram percetíveis. Uma das
crianças estava na sala de NEE e a outra criança encontrava-se na sala de aula,
juntamente com as outras crianças, sendo apoiada por um professor de Educação
Especial duas vezes por semana num total de seis horas.
Os encarregados de educação demonstravam-se sempre atentos e interessados,
pois estes informavam-se com a professora sobre o desenvolvimento do seu educando,
sempre que possível. As crianças desta turma provinham de famílias de classe média e
com um ambiente familiar estável. Em termos de aquisição de conhecimentos o
empenho e interesse das crianças pelo ato educativo, pois apresentavam
desenvolvimentos com níveis e ritmos de aprendizagem diferentes. Em relação ao nível
comportamental a turma era heterógena sendo que eram crianças muito ativas, meigas,
participativas, sociais, motivadas para a realização das tarefas demonstrando sempre
gosto em ouvir e contar histórias. No que respeita à profissão dos pais, evidenciam-se,
23
várias categorias, sendo a categoria dos Serviços a mais exercida no plano profissional e
representada maioritariamente por elementos do sexo feminino. A situação familiar que
aconteceu no jardim-de-infância reflete-se no 1.ºCEB, onde pudemos verificar que as
crianças viviam com os pais e irmãos.
2.2.3. A organização do espaço
O espaço em que se desenvolveu a nossa ação educativa estava organizado de
forma a responder às necessidades das crianças e debater os diferentes níveis de
desempenho das mesmas. Segundo a opinião de Sprinthall e Sprinthall (1993) a “sala de
aula constitui uma unidade social distinta, com o seu conjunto de normas, a sua
atmosfera psicológica, o seu conjunto de relações, de papéis e a sua combinação
particular de expectativas de comportamento” (p. 476).
A sala de aula do 1.ºCEB onde se realizou a ação educativa era ampla, com
aproximadamente 50m², o que permite afirmar que é um espaço onde as crianças se
movimentavam livremente. Esta apresentava bastante luz natural, pois uma das paredes
era composta essencialmente por janelas com estores que permitiam regular a
intensidade da luminosidade para o interior da sala, sempre que o momento assim o
exigia. Esta era constituída por 16 mesas e várias cadeiras, sendo estas suficientes para
todas as crianças e professoras. Todo o mobiliário apresentava boas condições.
Dispunha de três armários para guardar os trabalhos das crianças, um quadro branco
para marcadores, um quadro interativo, um computador, uma impressora e um projetor.
Segundo Roldão (2005)
Para se criar e desenvolver uma escola de qualidade e oferecer aos alunos
aprendizagens significativas, é necessário investir nas condições físicas da
escola, quer a nível de requalificação dos espaços, quer a nível de recursos
materiais. O apetrechamento das escolas com recursos materiais
diversificados é essencial para o desenvolvimento de estratégias
diferenciadoras, permitindo aprendizagens funcionais e experimentais (p.
106).
Em concordância com o que anteriormente foi mencionado, a escola é um
espaço onde se desenvolvem aprendizagens significativas. Este espaço deve encontrar-
se em boas condições para o bem-estar das crianças. Deve, igualmente, possuir
materiais variados, de modo a cativá-las para o ato de experimentar, descobrir e
explorar. Como refere Oliveira-Formosinho (2007) “parte-se dos interesses das crianças
24
como motivação para a experiência educativa, que se estrutura e complexifica,
promove-se a compreensão dos interesses das crianças como base para a experiência e
sua estruturação” (p. 24). Ainda na opinião do mesmo autor, as crianças devem ser
vistas “como construtoras de conhecimentos, com competência para ter voz no processo
de ensino-aprendizagem” (p. 23), criando-se oportunidades para as crianças
expressarem os seus interesses e gerindo o seu tempo.
2.2.4. A organização do tempo
Segundo Oliveira-Formosinho (2007a), apercebemo-nos que a construção da
rotina diária traduz-se num tempo de práticas educativas ricas. O tempo é fundamental
para a gestão da sala de aula, logo, temos de o rentabilizar para que as crianças tenham
uma aprendizagem significativa. Segundo Arends (1995), achamos que o tempo é “ o
recurso mais importante que o professor tem de controlar: não só quanto tempo deve ser
gasto numa matéria específica, mas como gerir e focalizar o tempo dos alunos nos
assuntos escolares em geral” (p. 79). Portanto, tivemos sempre a preocupação em
realizar atividades que proporcionassem às crianças aprendizagens significativas, como
menciona Ribeiro (2005), as crianças são “o centro do interesse, o ponto fulcral de todo
o processo de ensino/aprendizagem, com todas as suas referências de vida em família e
sociedade” (p. 79). A escola é, pois, um espaço onde se desenvolvem aprendizagens
significativas, mas para isso o espaço deve encontrar-se em boas condições para o bem-
estar das crianças, devendo possuir variados materiais com o objetivo de cativá-las para
quando as crianças estiverem a experimentar, explorar e descobrir. Na opinião de
Roldão (2005),
para se criar e desenvolver uma escola de qualidade e oferecer aos alunos
aprendizagens significativas, é necessário investir nas condições físicas da
escola, quer a nível de requalificação dos espaços, quer a nível de recursos
materiais. O apetrechamento das escolas com recursos materiais diversificados é
essencial para o desenvolvimento de estratégias diferenciadoras, permitindo
aprendizagens funcionais e experimentais (p. 106).
No que diz respeito à criação de um horário para o 1.º CEB, ressalvamos o
Despacho n.º 19575\2006, de 31 de agosto onde se divulga que estas medidas criam
as condições para que, nos primeiros anos de escolaridade, as vinte e cinco horas
lectivas de trabalho semanal sejam orientadas para o reforço dos saberes básicos
25
e para o desenvolvimento das competência essenciais nas áreas de Língua
Portuguesa, Matemática e Estudo do Meio.
A presença de um horário escolar trouxe limitações às experiências de ensino-
aprendizagem, isto é, o docente vê-se restringido perante tempos limitados e desta
forma há uma quebra ritmo e dos conteúdos ao lecionar as diversas áreas curriculares.
Na opinião de Mesquita (2011b) “a verdade é que o sistema educativo português
mantém vincado um formato que no seu plano organizacional é considerado como
burocrático e serve esse processo através de um currículo uniforme pronto – a – vestir.
O tempo escolar também é burocrático e todas as ações burocráticas se tornam
insensatas” (p. 25). A rotina que o agrupamento de escola tinha estava organizada pelo
início da componente letiva às 9:00, um intervalo das 10:30 às 11:00 para o recreio e
componente letiva das 11:00 até às 12:30. No período da tarde, a componente letiva
tinha início às 14:00 e durava até às 15:30; o intervalo da tarde durava até as 16:00 e as
atividades terminavam às 17:30.
No 1.º Ciclo do Ensino Básico desenvolvemos atividades que permitissem a
transversalidade nas diversas áreas curriculares. Como refere Ribeiro (2003) a “natureza
transversal (…) deve ser integrada em todas as disciplinas que compõem o currículo,
tendo sempre em conta as necessidades dos alunos” (p. 61). Nem sempre foi possível
ser transversal em todas as áreas devido à importância que era dada às áreas de
Português e Matemática. Concordamos com Arends (1999) quando ele diz que “a
gestão do tempo na sala de aula é extremamente complexa. Requer conhecimento do
currículo, dos princípios da aprendizagem, de cala aluna na sala, e de boas práticas de
gestão”(p. 79). Logo, o tempo era organizado conforme as necessidades das crianças,
criando diferentes oportunidades de interação com a realização de trabalhos individuais,
em pequeno grupo ou em grande grupo. Segundo Ribeiro (2003), para que este trabalho
fosse possível era fundamental “conhecer o jovem aluno para além da sala de aula”( p.
79). Ainda de acordo com Ribeiro (2003), tentamos aproximar-nos da realidade escolar
e dos
seus conteúdos, programas e objectivos – da realidade de vida dos seus alunos,
indo de encontro às suas expectativas, perspectivas e sonhos, sempre com a ideia
de prepará-los para serem os 'construtores' críticos do seu próprio conhecimento,
adquirindo uma certa autonomia (p. 79).
26
O professor deve ter em consideração os tempos definidos, o que por vezes pode
dificultar o estudo de um tema devido às quebras existentes aos longo do dia para
abordar as diferentes áreas.
2.2.5. As interações no 1.º ciclo
A ação pedagógica foi desenvolvida numa turma do 1º ano de escolaridade,
baseando-se no diálogo, na cooperação, na afetividade, respeito, amizade e entreajuda,
tentando promover sempre interações positivas no grupo, tendo em conta as
necessidades e os interesses da criança. Concordamos com Oliveira – Formosinho e
Formosinho (2001), pois o professor precisa “apoiar o envolvimento da criança no
continuum experiencial e a construção da aprendizagem através da experiência
interativa e contínua, dispondo a criança tanto do direito à participação como do direito
ao apoio sensível, autonomizante e estimulante” (p. 18).
No decorrer da prática, a professora demonstrou amabilidade e disponibilidade
para todas as crianças, ajudando-as a superar as suas dificuldades. Com isto,
pretendemos dar voz às crianças, para que estas transmitissem as suas dificuldades,
ideias e opiniões nas diferentes situações. Em concordância com Ribeiro (2003)
devemos compreender a relação educativa de maneira a que ocorra “aprendizagem
conjunta, pelo professor e pelo jovem aluno, (…) para que os jovens adquiram e
construam uma sólida formação da sua personalidade e posteriormente se apresentem
como cidadãos responsáveis” (p. 78). Seguindo, ainda o pensamento de Ribeiro (2003),
podemos verificar que é essencial a relação entre professor\ aluno, pois ao “professor é-
lhe atribuído o papel de protagonista (…) ele deve acompanhar o evoluir dos seus
jovens alunos, passando-lhes para as mãos a “condução” da aprendizagem” (p. 78).
Na realização das atividades, apoiamos as crianças de forma a envolve-las na
aprendizagem, valorizando sempre a participação de todos os elementos do grupo.
Como menciona Oliveira-Formosinho (2007b) “bom aluno é o aluno envolvido, pois o
envolvimento da criança na atividade e nos projectos é considerado indispensável para
que dê significado às experiências, sendo essencial para que construa conhecimento e
aprenda a aprender” (p. 24). As crianças eram elogiadas pelo seu trabalho para que estas
se sentissem motivadas e incentivadas positivamente. Quando as crianças
demonstravam mais dificuldade na concretização das atividades, utilizávamos outras
estratégias para que as crianças conseguissem acompanhar os restantes elementos do
27
grupo. Na realização de atividades em grupo, as crianças eram escolhidas
aleatoriamente, para que, os grupos fossem diversificados, dando oportunidade às
crianças de trabalharem com todos os elementos da turma, fazendo com que houvesse
diferentes interações.
28
3.Descrição, análise e interpretação das experiências de ensino-
aprendizagem
Neste ponto faremos uma descrição análise e interpretação de algumas
Experiências de ensino-aprendizagem (EA) que realizámos na Prática de Ensino
Supervisionada (PES) nos contextos de EPE e 1.º CEB. Para esta descrição
pormenorizada selecionamos as atividades que dão uma imagem mais abrangente da
prática educativa desenvolvida em ambos os contextos.
No que concerne à EPE selecionámos três EA, sendo elas: “À descoberta da
América do Sul”, “À descoberta do livro como estimulador de experiências de
aprendizagem” e “Uma viagem por Portugal”. Cada experiência de ensino-
aprendizagem tem um caráter acessível e integrador, contendo atividades nas diferentes
áreas de conteúdo, no suposto de ir ao encontro das necessidades das crianças. Na
planificação da ação educativa utilizámos os documentos oficiais, principalmente as
“Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar” (OCEPE).
Quanto ao 1.º CEB, as experiências de ensino-aprendizagem foram: “Uma
história, um meio contextualizador”, “A família e suas relações próximas” e
“Alimentação saudável”. Na preparação das experiências de ensino e aprendizagem,
tivemos como base sustentadora do meu trabalho os documentos oficiais para o 1.º
CEB, as Metas Curriculares de Aprendizagem e o Programa Oficial. Durante a ação
educativa organizámos e elaborámos os planos de aula tendo em atenção o ritmo de
aprendizagem de todos os elementos da turma. Para que haja um melhor entendimento
dos conteúdos lecionados por parte das crianças, o professor precisa de adequar a sua
prática para que todas as crianças possam ter uma aprendizagem significativa. Para
sustentar esta afirmação recorremos às palavras de Roldão (1999): “o que se pretende,
mais uma vez, com a adequação, é que a aprendizagem pretendida ocorra e seja
significativa, faça sentido para quem adquire e incorpora” (p. 53).
29
3.1 Experiências de ensino-aprendizagem desenvolvidas na Educação
Pré-Escolar
Para desenvolver a ação educativa, no âmbito da EPE, tivemos como base as
OCEPE (Silva et al., 1997) e as Brochuras de Operacionalização das OCEPE (Barbeiro
& Pereira, 2007 Mata et al., 2007; Boavida et al. 2008; Godinho & Brito, 2010; Martins
et al., 2007; Pacheco & Rodrigues, 2008; Sim-Sim, 2009). As experiências de ensino-
aprendizagem desenvolvidas com as crianças, tiveram em conta o projeto curricular da
instituição que tinha como tema “À procura da nossa cidade” bem como o Projeto
Curricular de grupo e os interesses das crianças. No jardim-de-infância e sala onde se
desenvolveu a PES procurou-se seguir uma pedagogia de participação. Oliveira-
Formosinho (2007) defende que “a participação implica escuta, o diálogo e a
negociação, o que representa um importante elemento de complexidade deste modo
pedagógico” (p. 21). Procurámos dar valor à participação de todas as crianças para
torná-las ativas na construção do seu próprio conhecimento. O educador deve
proporcionar às crianças experiências de aprendizagens significativas, tendo em conta a
organização do espaço, a organização do tempo e as interações. Tentámos realizar
atividades com as crianças em pequeno grupo para proporcionar a entreajuda e a troca
de ideias, pois como refere Silva et al. (1997) favorece “a interação entre crianças em
momentos diferentes de desenvolvimento e como saberes diversos, e facilitadores do
desenvolvimento e da aprendizagem” (p. 35).
A nossa preocupação ao longo da PES foi oferecer às crianças um clima de
cooperação e entreajuda entre crianças-crianças e crianças-adultos, bem como promover
a iniciativa para a resolução dos seus problemas, estimular o diálogo com o grupo e
ouvir a criança, para que esta se torne um ser autónomo na tomada das suas decisões.
Como ponto de partida das atividades, utilizou-se a exploração de diversas histórias que
permitiram trabalhar todas as áreas de conteúdo de uma forma integrada. Segundo Silva
et al. (1997) não se devem considerar as “diferentes áreas como compartimentos
estanques, acentua-se a importância de interligar as diferentes áreas de conteúdo” (p.
42).
30
3.1.1.Experiência de ensino-aprendizagem: À descoberta da América do Sul
Considerámos que esta atividade foi suporte para a preparação de diversas
experiências de aprendizagem que abordam algumas áreas de conteúdo, incentivando a
pesquisa científica e estimulando a curiosidade da criança, assim como o desejo de
conhecer outros meios que não estão no seu quotidiano.
Num momento de diálogo em grande grupo uma das crianças do grupo partilhou
a sua vivência e o desejo de voltar à América do Sul, mais precisamente ao Brasil, onde
tinha passado férias com os pais, referindo:
Rita – No Brasil há coisas maravilhosas e diferentes e a água do mar é
quentinha.
Rui – O que há lá que não há aqui?
Maria – Há índios nas florestas por exemplo.
Francisco – Índios!?
Ana – Isso só existe nos desenhos animados.
Maria – Não, não. Cristiana sabes que existem índios no Brasil! Podes ajudar-
me a explicar?
Educadora estagiária – Claro que sim. Mas olha, eu acho que tu sabes explicar.
Diz lá porque dizes que existem índios no Brasil!
Maria – Porque vi-os numa viagem que fiz com os meus pais! Até falámos com
eles! Estavam quase despidos, pintados e dançavam! Eram muito alegres e divertidos!
Rui – E moravam em casas como as nossas?
Educadora estagiária – Onde acham que eles moravam?
(Nota de campo nº1; 6 de Maio, 2013)
Partindo deste diálogo organizamos a EA sobre a América do Sul em especial
sobre o Brasil. Todas as crianças tiveram possibilidade de expor as suas ideias, partindo
da ideia de Oliveira-Formosinho & Costa (2011), quando refere que é fundamental
“consentir a fala de cada criança, dando-lhe atenção, documentando-a é convidar todas
as ouvirem-se e a ouvir os outros” (p. 87).
Na área do conhecimento do mundo fomos descobrir qual seria o sabor de
alguns frutos típicos do Brasil. Reunimo-nos em grande grupo, dialogámos acerca das
opiniões que tínhamos e foram feitos alguns comentários:
Rita – Eu gostava de experimentar os frutos do Brasil, devem ser bons.
Francisco – Como é que será o sabor?
Ana – Deve ser delicioso.
(Nota de campo nº2; 6 de Maio, 2013)
31
As respostas das crianças foram registadas e verificámos que ficaram curiosas
em saber qual seria o sabor dos frutos tropicais do Brasil. No dia seguinte levámos dois
frutos tropicais. Propusemos às crianças que os identificassem através da utilização dos
sentidos: tato e paladar. Partimos essa fruta (manga e papaia) em bocados e uma criança
de cada vez, com os olhos vendados retirava um pedaço de fruta que estava na caixa e
através dos sentidos tentava descobrir de que fruta se tratava. Como defendem
Hohmann e Weikart (2009),
reconhecer objetos a partir dos seus índices ou sinais sensoriais é uma
importante experiência para as crianças à medida que começam a formar e
compreender símbolos. Os sinais e pistas sensoriais estimulam as crianças a
formarem imagens mentais que representem objetos que não estejam imediata
ou completamente presentes (p. 482).
Esta atividade baseou-se na descoberta de alguns alimentos usando os sentidos,
tato e paladar, como podemos verificar nas figuras 3 e 4.
Figuras 3 e 4 – As crianças provam a fruta típica do Brasil.
O entusiasmo foi visível, pois as crianças demonstraram-se ansiosas para que
chegasse a sua vez, para descobrirem o “fruto mistério” como elas próprias diziam. No
final desta atividade as crianças teceram alguns comentários:
Ana – Cristiana esta fruta é ananás.
Lara – Ananás?!
Joana – Mas a Cristiana só trouxe papaia ou manga. Como pode ser ananás
Ana?
Pedro – Estas frutas são maravilhosas.
Maria – Podemos desenhar a fruta que mais gostamos Cristiana?
32
(Nota de campo nº3, 6 de Maio, 2013)
Como a Maria demonstrou interesse em desenhar o fruto que mais gostou,
decidimos colocar a proposta ao restante grupo que, mostrou entusiasmo por realizar
esta atividade. Foram distribuídas folhas brancas e lápis de cor pelas crianças. No final,
cada criança partilhou com o grupo qual era o fruto que mais gostou e porquê.
Através da atividade anterior podemos concluir que as crianças libertaram a sua
imaginação e desenharam o fruto que mais gostaram. Como nos refere Oliveira-
Formosinho (2011) “as crianças ao estarem em contacto com os materiais interessantes
que lhes despertem os sentidos e as façam refletir, permite que observem, cheirem,
toquem, ouçam e conversem” (p. 42). É importante que as crianças tenham consciência
da realidade, pois como menciona Roldão (2004) “a necessidade de estudar o meio,
prende-se, assim, no que se refere ao meio próximo, com a necessidade de
consciencializar a criança acerca da realidade em que vive, preparando-a para
compreender a intervir nessa realidade” (p. 27). Esta atividade permitiu ainda, o
contacto com as ciências, sendo que, o ensino desta deve ser implementado desde cedo,
para que a criança tenha conhecimento geral acerca do meio, adquirindo novos
conceitos, valores e atitudes. A criança deve colocar problemas e procurar a sua solução
e interrogar-se sobre a realidade, passos estes que constituem a base do método
científico. No domínio do Conhecimento do Mundo deverá permitir também o contacto
com a atitude e metodologia própria das ciências, assim como fomentar nas crianças
uma atitude científica experimental (Silva et al., 1997). Cabe ao educador despertar a
curiosidade da criança, conduzi-la a uma interpretação adequada e partir das suas
descobertas para chegar a uma conclusão geral, sem os influenciar.
Nota-se que as atividades práticas laboratoriais são muito importantes para
desenvolver competências através de processos científicos como a classificação,
comunicação, interpretação, observação e previsão, bem como a atitude, cooperação,
respeito e motivação que levam as crianças a conclusões pertinentes. Na visão de
Martins et al. (2009), “as crianças constroem explicações a partir de variadas
experiências familiares e escolares. Os adultos dos seus contextos próximos deverão
proporcionar-lhes situações diversificadas de aprendizagem, para exploração de
questões e fenómenos que lhes são familiares, aumentando a sua compreensão real” (p.
17). Esta experiência de ensino-aprendizagem foi benéfica para as crianças, porque
adquiriram aprendizagens significativas sobre os sentidos e também lhes foi
proporcionado um momento diferente de descoberta e contacto com diferentes
33
materiais. Na sequência de uma conversa com elas, manifestaram o desejo de se
teceram passar por índios e fizeram as seguintes considerações:
Ana – Cristiana, podíamos fingir que somos índios!
Lara – Mas para isso temos de fazer uma coroa de índio.
Pedro – E também temos de pintar a cara.
(Nota de campo nº4; 5 de Maio, 2013)
De imediato todas as crianças demonstraram interesse pelo assunto, ao
replicarem as ideias dos colegas. Segundo Sim-Sim (2008) “as crianças precisam de
oportunidades para conversar, o que requer tempo e espaço por parte do adulto para a
ouvir e para falar com elas” (p. 27).
Por sugestão de uma das crianças, decidimos construir uma coroa e no dia
seguinte levámos alguns materiais para que cada criança tivesse oportunidade de
construir a sua própria coroa, com a sua imaginação e criatividade. Como menciona
Silva et al. (1997), “a diversidade e acessibilidade dos materiais utilizados permite ainda
outras formas de exploração. Importa, por exemplo, que as crianças tenham sempre à
sua disposição várias cores que lhes possibilitem escolher e utilizar diferentes formas de
combinação” (p. 62). Antes de iniciarmos a atividade, proporcionou-se o seguinte
diálogo entre as crianças:
Rita – Cristiana, ainda não falaste dos índios.
Rute – Pois não, eu já sei muitas coisas sobre o Brasil mas quero saber mais.
Vicente – Eu já sei onde vivem os índios Cristiana.
Educadora estagiária – Onde vivem os índios Vicente?
Vicente – Vivem na floresta da Amazónia e eles não vivem todos juntos, num
canto vivem uns e noutro canto vivem outros.
Educadora estagiária – Exatamente. Foste pesquisar essa informação? Com
quem?
Vicente – Sim, com o meu pai. Há várias tribos de índios, sabes Cristiana? Eles
não vão ao supermercado como nós, para se alimentarem eles vão à caça e à pesca.
Educadora estagiária – Muito bem Vicente, já sabes muita coisa sobre os
índios.
(Nota de campo nº 5; 6 de Maio, 2013)
Pusemos ao dispor das crianças materiais como: tiras de cartolina, lápis de cor,
lápis de cera e marcadores. Todas as crianças demonstraram bastante interesse,
imaginação e criatividade nesta atividade vide (figuras 5 e 6).
34
Figuras 5 e 6 – Realização das coroas de índio.
A Expressão Plástica não requer a produção de obras de arte das crianças.
Segundo Sousa (2003), esta centra-se “no desenvolvimento das suas capacidades e na
satisfação das suas necessidades”, assim sendo, as artes plásticas devem estar “ao
serviço da criança e não está ao serviço das artes plásticas” (p. 160). Ao libertar as
Expressões devemos ter em consideração a sua competência para expressar, uma vez
que a criança comunica de variadíssimas formas e não é necessariamente de forma
verbal que a criança quer transmitir. Como refere Laevers (2010) é algo que é
percecionado, sentido ou pensado através de formas de expressão visual (e.g.,
pinturas, desenhos, construções, esculturas), musical (e.g., reprodução e criação
de sons e ritmos, canções), dramática (e.g., jogo simbólico, assunção de
diferentes papéis, recriação de histórias) e motora (e.g., dança ou movimento).
Através deste tipo de expressões, as experiencias da criança ganham para si
própria mais significado e intensidade, ao mesmo tempo que são comunicáveis
aos outros. Este domínio também integra a compreensão daquilo que os outros
expressam e a apreciação estética das diferentes expressões artísticas. Interessa
perceber até que ponto a criança se expressa de forma criativa e original, se
gosta e se se interessa pelas diversas formas de expressões artísticas (p. 56).
Para que a criança tenha um conhecimento mais consistente, especialmente dos
seus gostos, curiosidades e interesses, apoiámo-nos no domínio das Expressões Plástica,
Musical, Dramática e Motora, no sentido de oferecer às crianças experiências de ensino-
aprendizagem que lhes prendessem a atenção, pois a Expressão Plástica resultou em
aprendizagens mais significativas. Na tentativa de diversificar, foram vários os materiais
que colocámos à disposição das crianças, com o intuito de expandir os seus
conhecimentos e conduzi-las à descoberta. Exploraram-se variadas técnicas de pintura,
35
modelagem de plasticina, pasta de papel, técnicas com balões, e atividades que
estivessem associadas ao recorte, colagem e dobragem. Após as crianças terem feito as
suas coroas, passámos à fase seguinte, que consistia em pintar a cara de forma a
parecerem índios vide (figura 7). As crianças fingiram ser índios e posteriormente
surgiu a ideia por parte das crianças, de colocar música brasileira para dançarem (figura
8).
Figura 7 – As crianças já com a cara pintada de índio.
Aprofundar os assuntos do interesse da criança acentua o prazer pela atividade e
para tal, é necessário disponibilizar o tempo que for preciso para a realização das
atividades, uma vez que, Sousa (2003) defende o porquê de “a livre experiência através
das diferentes expressões artísticas permite à criança uma maior liberdade de expressão
emocional e, consequentemente, uma base sólida para as aquisições cognitivas” (p. 85).
Figura 8 - Crianças a dançarem música brasileira.
Nas figuras 7 e 8 verificamos que as crianças estavam alegres ao imitarem
índios. Considerámos que é na interação entre as crianças e na concretização de trabalho
36
em grupo que são proporcionadas situações para a resolução de problemas. Nas
experiências de aprendizagem apresentadas, a nossa intencionalidade educativa recaía
sobre o desenvolvimento da criatividade e a aprendizagem por descoberta com recurso a
diferentes materiais. As crianças sugeriram que fizéssemos uma atividade que os fizesse
reconhecer o Brasil. Em diálogo com as crianças surgiram algumas ideias, como
podemos verificar nos comentários:
Joana – Cristiana, podemos fazer algo que seja típico do Brasil.
Maria – Isso é uma boa ideia.
Vicente – Podemos ir pesquisar à internet, para ver quais são os objetos típicos
do Brasil.
Lara – Eu já sei, a minha prima já foi ao Brasil e como recordação trouxe uma
garrafa colorida.
Educadora estagiária – Se todos estiverem de acordo, podemos realizar essa
atividade. Temos de pensar como vamos arranjar o material.
Pedro – O meu pai tem um café, posso pedir-lhe as garrafas.
Maria – Que cores vamos utilizar?
(Nota de campo nº 6; 6 de Maio, 2013)
Notava-se um interesse por parte das crianças em descobrir e fazer novas
atividades relacionadas com o Brasil. Uma vez reunido o material necessário para a
realização da atividade, procedemos à divisão de tarefas. Um grupo de crianças ficou
responsável pela transformação do giz em pó colorido, que posteriormente foi
misturado com açúcar em vários pratos, de modo a agrupá-lo por cores. Nesta fase, as
crianças tiveram o poder de escolha para explorarem livremente os materiais. De
seguida, cada criança teve acesso à sua garrafa e dirigiu-se de forma individual e ordeira
para junto dos pratos, de modo a selecionar livremente a sua sequência de cores e desta
forma, encher a garrafa vide (figura 9). No final, por sugestão das crianças, foi realizada
ainda, a decoração da garrafa vide (figura 10).
37
Figuras 9 e 10 – Realização da atividade das garrafas.
Estas experiências são importantes do ponto de vista da satisfação dos interesses
artísticos, sensoriais e manipulativos das crianças. O facto de termos disponibilizado
cores para formarem padrões diferentes fez com que as crianças desencadeassem
conversas entre elas. Como refere Mendes e Delgado (2008)
no jardim-de-infância as crianças devem ser incentivadas a reconhecer,
descrever, continuar, completar e inventar padrões. Cabe ao educador encontrar
contextos estimulantes, a partir dos quais as crianças desenvolvam este tipo de
trabalho (p. 62).
Posto isto, pretendíamos que as crianças colocassem as suas ideias em prática,
criando algo do seu próprio interesse a partir da imaginação e criatividade, pois quando
estas criam “padrões descobrem novas combinações” (Hohmann e Weikart, 2009, p.
704). Estes autores mencionam ainda, que “criar padrões e ordem é uma importante
maneira que as crianças têm de organizar e encontrar sentido no mundo” (idem, p. 705).
Por sua vez, as OCEPE (ME\DEB;1997), alertam que “o desenvolvimento do raciocínio
lógico supõe (…) a oportunidade de encontrar e estabelecer padrões, ou seja, formar
sequencias que têm regras lógicas” (p. 74).
É crucial dar valor às ideias das crianças, ajudando-as a concretizar algo que foi
pensado por estas e incentivá-las a que surjam mais atividades partindo das suas
sugestões. Segundo Gonçalves (1991) citado por Sousa (2003),
através da expressão livre, a criança não só desenvolve a imaginação e a
sensibilidade, como também aprende a conhecer-se e a conhecer os outros,
aceitando e respeitando a autenticidade de cada um ou o modo pessoal como
cada um se exprime de acordo com as suas ideias , sentimentos e aspirações (p.
169).
38
O grupo expressou-se livremente, desenvolveu a criatividade e a imaginação,
soube respeitar-se mutuamente, aceitaram as criações e as propostas uns dos outros,
acordando ideias e proporcionando o espírito de equipa. Achámos relevante que exista
entendimento entre as crianças, baseada essencialmente no sentimento de respeito e
compreensão permitindo assim o desenvolvimento de comportamentos de cooperação.
Ao estimular a criatividade da criança, está a dar-se um voto de confiança. O educador
deve confiar nas capacidades da criança, pois como menciona Sousa (2003) devemos
orientá-las no sentido de “descobrir que a criação é mais importante que simples
execução reprodutiva. Ela própria reparará que afinal a técnica é apenas um meio para
dar forma à sua imaginação criativa” (p. 196).
3.1.2.Experiência de ensino-aprendizagem: À descoberta do livro como
estimulador de experiências de aprendizagem
A leitura de histórias era frequente, utilizando como suporte o livro, meios
informáticos (computador) e fantoches. Na EPE, a leitura de histórias é muito
importante, pois como refere Hohmann & Weikart (2009) com essa estratégia “cria-se
um laço emocional e pessoal muito forte de forma que as crianças passam a associar a
satisfação intrínseca a uma relação humana muito significativa com as histórias e a
leitura” (p. 547). Achamos relevante que, tanto a família como o educador, sensibilizem
e trabalhem a leitura com as crianças utilizando materiais que despertem o interesse das
mesmas, de modo a incentivá-las a criarem conhecimentos em relação à mensagem que
a história transmite e a desenvolver competências no domínio da leitura e da escrita.
Como afirma Teixeira (2002),
a leitura de histórias às crianças por parte dos adultos constitui um dos
momentos privilegiados de interação afectiva permitindo, em simultâneo, a
emergência de comportamentos de leitura. A família e os educadores têm um
papel crucial no desenvolvimento da literacia, servindo de modelos, fornecendo
materiais, demonstrando o seu uso, lendo às crianças, oferecendo ajuda, ensino,
encorajamento, e comunicando desejos e expectativas (p. 122).
As obras de literatura infantil são fundamentais para as crianças pois ajudam-nas
a compreender a vida das sociedades, outros povos, outros tempos e a vida atual.
Segundo Roldão (2001) “as histórias têm atravessado as mais variadas épocas e
culturas, constituindo-se como poderosos instrumentos de transmissão e estruturação de
39
ideias, crenças, costumes e valores” (p. 71). No que se refere ao domínio da Linguagem
Oral e Abordagem à Escrita, pretendeu-se desenvolver a noção de constituição das
palavras, ou seja, desenvolver a consciência de que as palavras são construídas a partir
da junção de letras. Propusemos várias tarefas com o intuito de desenvolver esta
consciência, como por exemplo, a divisão silábica com recurso a batimento de palmas.
É importante que se criem momentos em que a criança partilhe as suas vivências,
sentimentos e onde a comunicação seja valorizada de forma a desenvolver a linguagem.
Neste sentido, Hohmann & Weikart (2009), defendem que
a linguagem desenvolve-se em ambientes onde as crianças tenham experiencias
de que queiram falar, e onde têm alguém atento a elas, envolvendo-se em
diálogo. Estas interações com pessoas e materiais preparam o palco para a
criança construir a sua compreensão da linguagem, da leitura e da escrita – um
processo que começa no nascimento e continua a emergir durante os anos da
pré-escolaridade (p. 526).
A intencionalidade educativa com a experiência de ensino-aprendizagem era
criar o gosto pela leitura e desenvolver a entreajuda, participação, atenção, cooperação,
partilha e o respeito pelas e entre as crianças. O educador deve valorizar, ouvir e dar
oportunidade a todas as crianças de colocarem as suas opiniões e partilharem as suas
experiências com o grupo, com o intuito de lhes despertar o desejo de comunicarem.
Como refere Silva (1997),
a capacidade do educador escutar cada criança, de valorizar a sua contribuição
para o grupo, de comunicar com cada criança e com o grupo, de modo a dar
espaço a que cada um fale, fomentando o diálogo entre crianças, facilita a
expressão das crianças e o seu desejo de comunicar (p. 66).
Antes de começar a leitura das histórias, os elementos paratextuais foram sempre
explorados. As crianças tocavam no livro, visualizavam a capa e contracapa, ouviam o
título e imaginavam o seu conteúdo, onde se desenrolava a ação e as personagens. Esta
estratégia foi um pilar sustentador da participação e interação das crianças, em que
desenvolveram a comunicação e mostraram-se curiosos para saber mais. Segundo Leão
et al. (2002) a leitura é um ato que permite às crianças
não só desenvolver as suas capacidades de compreensão e de expressão, como
também atingir horizontes inimagináveis. Abre-lhes as portas para um mundo
misterioso, cheio de emoções desconhecidas, onde muitas vezes nos
encontramos, os reconhecemos, identificamos, sentimos ou vivências pelas quais
já passamos ou que imaginamos acordados ou nos sonhos (p. 46).
40
Ao longo das observações podemos constatar que o tema “Os animais”
despertava bastante interesse às crianças. Assim sendo, propusemos a eleição de um
livro para ser trabalhado. Desta forma, colocámos ao dispor das crianças três livros:
vide (figuras 11, 12 e 13) A casa da mosca fosca (Eva Majuto e Sérgio Mora, 2010), Os
ovos misteriosos (Luísa Ducla Soares e Manuela Bacelar, 1994) e Porque é que os
animais não conduzem? (Pedro Seromenho, 2011).
Os livros circularam por todas as crianças, sem poderem ser folheados. Apenas
podiam observar as suas capas e contracapas. Para a escolha do livro ser justa, quisemos
saber qual era a escolha de todas as crianças. Recorremos à organização e tratamento de
dados, para podermos proceder à eleição do livro e foi sugerida pelas crianças a
realização de um gráfico de barras. Coloquei os livros no chão da sala e cada criança
escolhia a história que gostaria de conhecer e por cima da imagem colocava uma tampa
de plástico, construindo assim um gráfico de barras. As crianças ao selecionarem a
história, as crianças justificavam a sua escolha de forma decidida, como podemos
verificar no seguinte diálogo.
Ricardo – Eu quero a história “A casa da mosca fosca”, porque eu quero saber
como é a casa da mosca.
João – Eu escolho “Os ovos misteriosos”, porque deve ser um ovo com muitas
surpresas.
Rita – Eu escolho “Porque é que os animais não conduzem?”, porque quero
saber a razão para não conduzirem.
(Nota de campo nº 7; 13 de Maio, 2013)
Figura 11 – Livro “A
casa da Mosca Fosca”
Figura 12 – Livro “Os
ovos Misteriosos”
Figura 13 – Livro
“Porque é que os
animais não
conduzem?”
41
Através do gráfico que realizámos as crianças escolheram o livro “Porque é que
os animais não conduzem?” com dez votos, ficando em segundo lugar a história “Os
ovos misteriosos” com seis votos e por último a história “A casa da mosca fosca” com
quatro votos. Após a conclusão do gráfico foi realizada a contagem em voz alta pelas
crianças do número de escolhas para cada obra literária. Segundo Castro e Rodrigues
(2008) ”a organização dos dados em gráficos permite uma análise mais rápida, uma vez
que a contagem dos elementos da mesma categoria é mais evidente” (p. 72).
Apresentámos a história às crianças e de imediato manifestaram as suas opiniões em
relação à capa e contracapa. Podemos verificar o seguinte diálogo:
Rui – A história deve ser numa floresta.
Ana – Tem muitos animais, mas alguns devem estar escondidos.
Miguel – A girafa não cabe naquele carro porque tem um pescoço muito
grande.
(Nota de campo nº 8; 13 de Maio, 2013)
No diálogo podemos ver que as crianças começaram a partilhar as suas ideias
relativamente a história. Estas ouviram atentamente a história, mostrando-se divertidas e
atentas e como menciona Mata (2008) “ouvir leitura fluente, com a entoação adequada,
facilita o acesso ao sentido e à mensagem, a compreensão do que é ler e para que se lê”
(p. 79). Durante a leitura iam sendo anunciados animais que se iam juntando aos
anteriores, com o intuito de conduzir. Fazíamos uma pausa e as crianças ficavam
ansiosas e curiosas para saber qual seria o próximo. A educadora estagiária ia tirando os
animais de uma caixa e colocava-os no chão. Esta situação verificou-se desde o início
até ao fim da história, o que fez com que todas as crianças participassem e tornou-as
interessadas nas mesmas. No final da leitura houve um diálogo relativamente aos
animais que apareciam na história, falámos da letra “P” e das formas geométricas. As
crianças recontaram a história e referiram todos os animais que tentaram conduzir,
trabalhando assim a ordenação. Como refere Silva et al., (1997),
as histórias lidas ou contadas pelo educador, recontadas ou inventadas pelas
crianças, de memória ou a partir de imagem, são um meio de abordar o texto
narrativo que para além de outras formas de exploração, noutros domínios de
expressão, suscitam o desejo de aprender (p. 70).
De seguida, partindo da história, realizámos uma atividade para trabalhar a
consciência fonológica. Foi-lhes mostrada a história e as crianças foram descobrindo
42
palavras que começassem por “P”. Pretendia-se que as mesmas identificassem os
grafemas. Esta atividade leva-as a partilharem várias palavras com os mesmos
pressupostos, de onde surgiram os seguintes diálogos:
Rui – Eu sei muitas palavras que começam por essa letra, por exemplo: pedra,
pepino.
Maria – O nome da minha mãe começa por P, é Paula.
Rita – Eu sei algumas: pintar, porta e panela.
Lara – Por exemplo: pilha, pão e porto.
Pedro – O meu nome também começa por P, Pedro. E também sei mais: palavra
e paciência.
(Nota de campo nº 9; 13 de Maio, 2013)
Com este diálogo podemos observar que as crianças já identificavam algumas
letras que se encontravam no seu nome e dos seus familiares mais próximos. A divisão
silábica das palavras foi trabalhada com batimento de palmas. Segundo Castro e
Rodrigues (2008), “cabe ao educador estar atento ao que cada criança já conhece e criar
contextos significativos que facilitem o seu envolvimento”(p. 16).
Averiguou-se que as crianças ao nível do domínio da Linguagem Oral e
Abordagem à Escrita fizeram progressos significativos, compreendiam facilmente o que
se pretendia e havia apenas uma minoria que tinha dificuldades. As crianças, no geral,
conheciam as letras do alfabeto, associando-as ao seu nome e ao dos familiares mais
próximos. As atividades que envolvem a consciência fonológica promovem o sucesso
escolar das crianças e funcionam como prevenção para insucessos na leitura e na escrita,
tal como refere Laevers (2010),
de acordo com as OCEPE’S , é suposto que as crianças evoluam no domínio da
compreensão e comunicação oral e tomem consciência das diferentes funções da
escrita, da correspondência entre o código oral e escrito(perceber o que se diz
também se pode escrever e ler) e que cada um destes códigos tem normas
próprias (p. 40).
Nesta experiência de aprendizagem trabalhou-se também o domínio da
Matemática. Abordaram-se alguns pontos de interesse por parte das crianças nas figuras
geométricas, partindo dos sinais de trânsito referidos na história. Realçámos que cabe ao
educador dar voz à criança, para que assim possam surgir experiências de aprendizagem
que contribuam para o seu desenvolvimento. De acordo com Serrazina (2002), “ensinar
Matemática implica tomar uma série de decisões, de forma consciente, sobre que parte
43
dos conhecimentos matemáticos ensinar, em que momento é conveniente ensiná-los e
de que forma pode ser adequado tratá-los de modo que sejam aprendidos” (p. 14).
Colocámos blocos lógicos dentro de uma caixa, que continham várias figuras, com
tamanhos, cores e espessuras diferentes. Pretendíamos explorar com as crianças
algumas noções matemáticas, como por exemplo a lógica, tamanho e a cor. Mostrámos
as figuras geométricas e surgiram várias questões como: “Que forma tem as figuras?”,
“Quantos lados têm?”, “Qual a sua cor?”, “Que espessura têm?”, “Que objeto nos faz
lembrar?”, “Como se chama este biquinho?” (vértice), “Que nome se dá ao lado do
quadrado?” (aresta). As respostas iam sendo dadas em conjunto. Quando alguma
criança precisava de ajuda nas respostas, os colegas ajudavam. De acordo com Silva et
al. (1997),
Importa que o educador proponha situações problemáticas e permita que as
crianças encontrem as suas próprias soluções, que as debatam com outra criança,
um pequeno grupo, ou mesmo com todo o grupo, apoiando a explicitação do
porque da resposta e estando atento a que todas as crianças tenham oportunidade
de participar no processo de reflexão (p. 78).
Após a realização da atividade, as crianças manipularam os blocos lógicos de
forma livre e criativa. Esta tarefa revelou-se muito participativa nesse dia e nos
seguintes, por todas as crianças, uma vez que este material ficou disponível na área das
construções. Estamos de acordo com Portugal (2010), quando menciona que “a
liberdade é precisa para que a criança desenvolva iniciativas, explore ativamente, se
concentre naquilo que a fascina”, visto que, “um clima de liberdade traduz respeito e
confiança na criança” (p. 112). Nas figuras 14 e 15, podemos observar algumas
manipulações feitas pelas crianças com os blocos lógicos. De acordo com Zabala (1999)
“observar, manipular, demonstrar, comprovar, etc, são bases para uma aprendizagem
matemática significativa” (p. 166).
Figuras 14 e 15 - Representações que as crianças fizeram com os blocos lógicos.
44
Foi planeado tempo suficiente para esta atividade, para que as crianças
pudessem manipular livremente o material e para que não se sentissem limitadas pelo
tempo, pois segundo Caldeira (2009) “é necessário dar tempo, para o material ser
explorado, de forma a criar insights no processo de aprendizagem de modo a não ter
efeitos contraproducentes” (p. 14). Demonstrámos a importância de levar para a sala
material (blocos lógicos) que as crianças pudessem manusear, explorar e fazer as suas
próprias construções. Contudo e segundo a visão de Mendes e Delgado (2008), achamos
que é “fundamental que, nestas idades, as crianças possam manipular e efetuar
construções com materiais que representem figuras porque ao fazê-lo poderão mais
facilmente estabelecer relações entre elas” (p. 28). As crianças fizeram várias
construções pedindo para fazê-las numa folha (figura 16). Sentimos que estiveram
motivadas ao longo da realização desta atividade, pois queriam fazer mais figuras.
Figura 16 – Representação no papel da construção das crianças.
Foi muito compensador termos levado os blocos lógicos, pois conseguimos
perceber, através de expressões e diálogos das crianças, que estas gostaram bastante de
manipular este material. Concordamos, sem dúvida, com Damas (2005), quando refere
que,
os blocos lógicos são um óptimo material de apoio estruturados, composto por
peças coloridas que possibilitam estimular o pensamento da criança, através de
actividades e jogos que proporcionam um desenvolvimento integral, que vai
muito mais além do que uma formação básica em matemática. A manipulação e
experiência com os materiais, com as formas e com as cores permite que, a partir
de descobertas sensoriais, as crianças desenvolvam formas pessoais de expressar
o seu mundo interior e de representar a realidade (p. 95).
45
Esta atividade foi importante para as crianças, pois segundo Mendes e Delgado
(2008) “ao efectuarem construções com objectos as crianças realizam também uma
construção mental” (p. 24). Resultante do Domínio da Matemática, a comunicação
estabeleceu-se entre as crianças de forma a proporcionar-lhes oportunidades de
aprendizagem. Estas expressaram o seu raciocínio, as suas ideias, os seus pensamentos,
para isso, foi necessário dominar conceitos e expressá-los através da linguagem própria
da matemática. Como menciona Oliveira (2003),
a competência comunicativa começa a desenvolver-se desde que a criança nasce
e manifesta-se nas oportunidades que lhe são dadas para interagir com os outros.
Pensar no desenvolvimento das competências comunicativas no domínio da
matemática é, antes de mais, incentivar as crianças a expressar o seu pensamento
e saber matemático harmonizando a língua materna em conjunção com as
aquisições e expressões próprias da matemática (p. 58).
As crianças, juntamente com o educador devem realizar descobertas com os
problemas do quotidiano, isto é, o adulto deve incentivar as crianças para a resolução de
tarefas diversificadas que permitam à criança a aquisição de conhecimento e
desenvolvam o seu raciocínio. Estamos de acordo com Palhares (1997), quando
menciona que “no que respeita à posição do adulto, quando a criança se encontra face a
um problema, o adulto deve encorajar, encaminhar por meio de boas perguntas,
perguntas estas que apelem ao raciocínio” (p. 120).
Este grupo de crianças tinha um grande gosto pela música e por cantar. Foi
desta, forma, que escolhemos, para uma das atividades, a aprendizagem de uma canção,
“Canção das Figuras Geométricas”. Para que as crianças aprendessem a canção,
optámos por seguir três etapas: dizer pequenas frases, depois frases completas e por fim,
a letra completa com a coreografia. Segundo Portugal (2010), “a estratégia de
desconstruir e organizar a atividade em pequenos passos, adequados ao nível de
desenvolvimento da criança, é fundamental. À medida que a criança progride, os passos
e desafios podem ser maiores” (p. 133). A coreografia foi importante para as crianças
conseguirem decorar a canção, pois na opinião de Silva et al. (1997), “a dança como
forma de ritmo produzido pelo corpo liga-se à expressão motora e permite que as
crianças exprimam a forma como sentem a música, criem formas de movimento ou
aprendam a movimentar-se, seguindo a música” (p. 64). As crianças fizeram algumas
considerações, ao longo desta atividade:
João – Eu sei porque vamos aprender esta canção!
46
Rui – Eu também sei, é para não esquecermos o que acabamos de aprender.
Educadora estagiária – Alguém sabe que nome se dá a estas imagens que são
referidos na canção?
Maria – Eu sei, são figuras geométricas!
(Nota de campo nº 10; 14 de Maio, 2013)
As crianças fizeram os seus comentários relativamente à música que iriam
aprender. Como menciona Silva et al. (1997), “a relação entre a música e a palavra é
uma outra forma de expressão musical. Cantar é uma atividade habitual na educação
pré-escolar que pode ser enriquecida pela produção de diferentes formas de ritmo” (p.
64). Consideramos que as crianças se divertiram durante a aprendizagem da canção. O
entusiasmo e a ansiedade que estas demonstravam ao longo da atividade era bastante
notório. Esta atividade desenvolveu nas crianças uma aprendizagem significativa, como
podemos observar nas atitudes das mesmas e com o que as crianças referiam, por
exemplo, “a porta da nossa sala tem a forma de um retângulo” e “a bola tem a forma
de um círculo”. Posto isto, verificámos que as crianças conseguiram associar o que
aprenderam às situações reais. Segundo Godinho & Brito (2010) entendemos que “as
artes plásticas e a música na educação de infância [assentam] essencialmente em
atividades de expressão, fruição, experimentação e descoberta, que constituem pilares
sobre as quais as aprendizagens futuras e a personalização se vão edificar” (p. 9). Como
as crianças se manifestaram entusiasmadas nas atividades, achamos interessante
desenvolver atividades ao nível da consciência linguística.
Segundo Sim-Sim et al. (2008) “a consciência fonológica é a capacidade para
refletir sobre os segmentos sonoros das palavras orais” e menciona, mais
especificamente, “à capacidade para analisar e manipular segmentos sonoros de
tamanhos diferenciados como sílabas, unidades intrassilábicas e fonemas que integram
as palavras” (p. 48). No âmbito do desenvolvimento da consciência fonológica
explorámos a unidade “sílaba”, propondo às crianças que acentuassem “os bocados” de
algumas palavras da canção. Passámos a explorar as palavras retiradas da canção (rua,
um, lua, triângulo, quadrado e círculo), onde verificámos algumas dificuldades nas
palavras triângulo e círculo. Estas foram superadas através da repetição do batimento
das sílabas, acompanhado com palmas. Solicitámos às crianças que indicassem o
número de sílabas de cada palavra, utilizando peças de legos na leitura do número de
sílabas de cada palavra. Através das afirmações que as crianças fizeram, podemos
47
perceber que a utilização de indicadores para contagem das sílabas ajuda a compreender
as diferenças de tamanho das palavras:
Ana – A palavra mais pequena é o um.
Maria – Rua e lua têm dois legos.
Pedro – O triângulo é o que tem mais legos.
Lara – A palavra círculo é a mais pequena que o triângulo.
(Nota de campo nº 11; 14 de Maio, 2013)
Esta atividade deu lugar à participação e interajuda, valorizando o papel ativo
que cada criança deve assumir na construção do seu próprio conhecimento e do
conhecimento do grupo. Num outro dia e continuando a explorar o tópico matemático
das figuras geométricas, resolvemos convidar o grupo a ir para o exterior. Este dirigiu-
se para o exterior do jardim-de-infância, a caminho da Escola Segura. Explicámos às
crianças o que é a Escola Segura e para que serve. Levámos as crianças a esta
instituição com o intuito de lhes proporcionar uma experiência e vivência diferente. A
Escola Segura não era muito longe do jardim-de-infância e como estava bom tempo,
decidimos ir a pé com as crianças. Estava à nossa espera um polícia que nos
encaminhou para uma sala em que abordou algumas noções básicas com as crianças e
explicou os sinais de trânsito, como podemos verificar na figura 17.
Figura 17 – Demonstração dos sinais de trânsito.
Após a explicação do polícia dirigimo-nos para fora da sala e começaram as
atividades práticas. O polícia explicou às crianças que não haveria bicicletas para todas,
mas todas andariam de bicicleta, como podemos verificar nas figuras 18 e 19. Os que
andavam de bicicleta tinham de ter cuidado com os sinais e as crianças que não tinham
bicicleta seriam os peões. Concordamos com esta atividade por termos noção que “os
jogos de movimento com regras progressivamente mais complexas são ocasiões de
48
controlo motor de socialização, de compreensão e aceitação das regras e de alargamento
da linguagem” (Silva et al., 1997, p. 59).
Figuras 18 e 19 – Crianças a conduzir seguindo as regras dos sinais.
Reiteramos Portugal (2010) quando diz que “atividades que permitam às
crianças conhecer os limites corporais podem ajudá-las a compreender melhor o seu
corpo e os seus limites na interação com os outros” (p. 126). Com esta atividade
proporcionámos às crianças uma atividade diversificada e enriquecida na Expressão
Motora, a qual incorpora a área de Expressão e Comunicação. Proporcionámos às
crianças uma situação que lhes permite tomar consciência de condições essenciais para
a sua segurança e para uma vida saudável. Tal como refere Silva et al. (1997),
A diversificação de formas de utilizar e de sentir o corpo – trepar, correr
e outras formas de locomoção, bem como deslizar, baloiçar, rodopiar, saltar a pé
juntos ou num só pé, podem dar lugar a situações de aprendizagem em que há
um controlo voluntário desse movimento – iniciar, parar, seguir vários, ritmos e
várias direcções. A inibição do movimento, ou seja, a capacidade de estar quieto
e de se relaxar faz também parte do trabalho a nível da motricidade global (p.
58).
49
3.1.3.Experiência de ensino-aprendizagem: Uma viagem por Portugal
Nesta experiência de aprendizagem trabalhou-se, essencialmente, o domínio da
Matemática. Abordámos vários pontos segundo os interesses das crianças, partindo de
dois objetos que duas crianças levaram para a sala: uma levou dinheiro através de
algumas moedas e outra, um pequeno autocarro de brincar. É importante que o educador
ouça as crianças, para que assim surjam experiências de aprendizagem proveitosas de
modo a contribuir para o seu desenvolvimento integral. Como refere Serrazina (2002),
“ensinar Matemática implica tomar uma série de decisões, de forma consciente, sobre
que parte dos conhecimentos matemáticos ensinar, em que momento é conveniente
ensiná-los e de que forma pode ser adequado trata-los de modo que sejam aprendidos”
(p. 14). Com o brinquedo e as moedas que as crianças levaram para a sala de atividades,
aproveitámos para desenvolver algumas atividades de cálculo mental através da adição
e subtração. Acrescentámos mais algumas moedas e as crianças puderam contactar com
o dinheiro, fizeram a sua contagem e falámos da sua utilidade. O grupo juntou-se em
círculo e a criança que trouxe o autocarro teve a ideia que aquele dinheiro poderia servir
para fazer de conta que iam andar de autocarro. Assim, quem quisesse andar teria de lhe
pagar e ele teria de dar o troco, se assim o justificasse. As crianças assumiram assim,
papéis de vendedores e de turistas. De seguida apresentámos os diálogos surgidos entre
as crianças:
Maria – Eu não tenho dinheiro que chegue para andar no teu autocarro.
Pedro – Eu posso emprestar-te dinheiro Maria, quanto te falta?
Maria – Faltam-me dois euros. Obrigada Pedro.
(Nota de campo nº 12; 20 de Maio, 2013)
Como esta atividade se revelou confusa na manipulação do pequeno brinquedo
do autocarro, surgiu a ideia da construção de um autocarro de papelão de maiores
dimensões:
João – Tive uma ideia. E se construíssemos um autocarro grande para fazermos
uma viagem?
Francisco – Eu acho uma boa ideia. Mas como o vamos fazer?
Maria – Podíamos ir a Lisboa e ao Porto.
João - Tem que ser grande para cabermos lá todos! Eu posso ser o condutor.
50
(Nota de campo nº 13, 20 de Maio, 2013)
Partindo desta ideia, pusemos mãos à obra e começámos a preparar-nos para a
sua construção. Entre todos foi discutido o material necessário, o processo de
construção e as tarefas necessárias. Para a realização desta experiência de aprendizagem
utilizámos diversos materiais: papel crepe, papel de lustro, cartão, pratos de plásticos,
cordas e tintas de várias cores. Procurámos os materiais que iríamos precisar; posto isto,
dividimos as tarefas e começámos a trabalhar na construção do nosso autocarro como
podemos verificar nas imagens seguintes (figuras 20 e 21).
Figuras 20 e 21 – Construção do autocarro.
Esta atividade foi uma mais-valia para a formação pessoal e social do grupo,
pois as crianças tinham de respeitar o outro em proveito da elaboração de algo em
comum. É de salientar, que o diálogo foi fundamental para obterem opiniões
concordantes entre si, de modo a ficarem todos satisfeitos. De acordo com Silva (1997),
a interação das crianças durante as atividades de expressão plástica e a
realização de trabalhos por duas ou mais crianças são ainda meios de diversificar
as situações, pois implicam um a resolução conjunta de problemas ou um
planeamento feito em comum em que se acordam formas de colaboração (p. 62).
Após a conclusão do autocarro, preparámos tudo para fazer a nossa viagem por
Portugal. Fizemos moedas de um e dois euros em cartão e foram distribuídas por todas
as crianças. Foram distribuídos ainda, os papéis que cada um desempenharia: vendedor,
cobrador de bilhetes, condutor, passageiros e informadores turísticos; no hall de entrada
foi montado uma cabine para se comprar e vender o bilhete da viagem. Em cada
paragem do autocarro havia outras crianças que faziam de informadores turísticos, que
informavam em que locais estavam e os principais monumentos a visitarem. As crianças
51
assumiram vários papéis e posteriormente trocavam de funções: o vendedor de bilhetes
passava a passageiro, cobrador e vice-versa, como podemos verificar nas imagens
seguintes (figuras 22 e 23).
Esta atividade foi realizada em conjunto com a sala dos quatro anos de idade. As
crianças realizaram a atividade utilizando símbolos e palavras, interligando assim a
comunicação matemática. Para Oliveira (2003),
a matemática aprende-se e comunica-se com o suporte da língua mãe,
uma vez que é através dela que os alunos constroem o significado e partilham o
seu saber e experiência matemática. Mas a na comunicação matemática utilizam-
se igualmente outros elementos comunicativos não menos importantes: os
símbolos e as palavras próprios da linguagem matemática, as figuras e os
diagramas ilustrativos, os gestos e movimentos do corpo, as tabelas, os desenhos
e os objetos, tanto de cariz matemático como outros (p. 58).
Segundo Rodrigues (2008), realçamos o papel da comunicação oral que a
criança assumiu com esta experiência de aprendizagem, pois é “um excelente meio de
desenvolvimento da linguagem, da criatividade, da organização reflexiva de ideias e dos
vários tipos de raciocínio e é uma competência fundamental no desenvolvimento
matemático das crianças” (p. 33). O entusiasmo das crianças foi evidente aquando da
compra do bilhete e pelo facto de terem dinheiro na sua posse. Concordando com
Oliveira (2003), as crianças “observam os pais e outras pessoas a lidar com dinheiro, a
utilizar os números em vários contextos domésticos, e eventualmente, a fazer contas”
(p. 114). Esta experiência alertou as crianças para as vivências da vida real, sendo elas
próprias a terem poder de escolha e a efetuarem contagens. Como menciona Silva
(1997), “cabe ao educador partir das situações do quotidiano para apoiar o
desenvolvimento do pensamento lógico-matemático, intencionalizando momentos de
Figura 22 – As crianças a tirarem o bilhete para
entrar no autocarro.
Figura 23 – As crianças a entrarem para o
autocarro.
52
consolidação e sistematização de noções matemáticas” (p. 73). Em concordância com
Oliveira (2003), é importante que desde cedo seja,
dada visibilidade à Matemática, no sentido de relacioná-la com o
quotidiano, tentando que as crianças «contem» com ela do seu lado [e que] a
apropriação do conhecimento matemático deve ser feita pela criança, por forma
a possibilitar o seu uso e reformulação em ligação com o contexto sociocultural
em que ela se insere (p. 56).
Apesar de o grupo sentir algumas dificuldades em relação aos cálculos, visto que
inicialmente não apreenderam que duas moedas de um euro tinham igual valor a uma
moeda de dois euros, com o decorrer da atividade e com diálogo, os obstáculos foram
ultrapassados. Todas as crianças trabalharam o cálculo mental, pois quando estas tinham
de ir comprar o bilhete tinham de ver se estavam a dar o valor correto e também quem
desempenhava o papel de vendedor tinha de se certificar se estava a receber a quantia
certa. A noção de número, as operações e a compreensão da sua presença na vida dos
seres humanos foi desenvolvida. Como refere Rodrigues (2008),
o sentido de número diz respeito à compreensão global e flexível dos números e
das operações, com o intuito de compreender os números e as suas relações e
desenvolver estratégias úteis e eficazes para cada um os utilizar no seu dia-a-dia,
na sua vida profissional ou enquanto cidadão activo (p. 11).
Portanto, as crianças ao participarem ativamente na sua aprendizagem,
construíam a sua própria visão e compreensão do mundo, onde o domínio da
Matemática assume um lugar de destaque no seu quotidiano. É de salientar a
participação das crianças na construção dos seus conhecimentos ao nível de todas as
áreas de conteúdo. É ainda importante que o adulto ouça sempre as crianças e tenha em
consideração as suas ideias e os seus interesses, para que ambos os lados se orgulhem
do trabalho realizado.
3.2.Experiências de ensino-aprendizagem desenvolvidas no 1.º Ciclo do
Ensino Básico
Este trabalho teve como base o documento oficial Programa do 1.º CEB (ME,
2004) e as metas de aprendizagem. O Programa de 1.º CEB ajudou-nos a realizar
experiências de aprendizagem que contribuíam para o sucesso escolar da criança, tendo
em consideração a participação, interação, escuta dos interesses e suas necessidades,
53
uma vez que os autores Brickman e Taylor (1991) defendem que ”para se envolverem
de forma activa e motivada quando as actividade e interacções são agradáveis, estão
relacionadas com as suas necessidades e interesses do momento e lhes proporcionam
sensações de deter o controlo e ter êxito” (p. 29). O objetivo principal das estratégias
adotadas era que as experiências de aprendizagem alcançassem resultados positivos. Na
nossa opinião e segundo Ribeiro (2010), é fundamental que os docentes “sejam capazes
de desenvolver estratégias que visem a melhoria, a qualidade da educação de todos os
alunos e a mudança de forma a promover uma formação/educação que responda ao
pluralismo e às novas exigências da sociedade contemporânea” (p. 116).
O papel do professor na pedagogia de participação exige uma procura pelo saber
para poder dar respostas às necessidades das crianças. Segundo Ribeiro (2003), “não faz
sentido que a função do professor não se modifique, não podendo a sua função 'reduzir-
se à simples tarefa de ensinar, mostrar, explicar e avaliar'” (p. 75). Constatámos que as
crianças são seres participantes na construção da sua própria aprendizagem. Como
refere Barroso (1995), “o professor já não é o que transmite conhecimentos aos alunos,
mas o que cria as condições necessárias para que estes aprendam” (p. 10). Tentámos ter
uma postura que apoiasse as crianças na sua aprendizagem; essa atitude valorizou as
crianças e deu-lhes voz. Na visão do autor referido anteriormente, estas devem ser vistas
como “co-produtoras dos saberes, saberes fazeres e saberes ser, necessários ao seu
crescimento e desenvolvimento” (p. 11). Uma pedagogia de participação possibilita
diferentes experiências de aprendizagem que envolvam a criança.
3.2.1.Experiência de ensino-aprendizagem: uma história, um meio
contextualizador
O 1.º ano de escolaridade tem dois momentos
importantes para a aprendizagem: o domínio da
leitura e o domínio da escrita. Estes domínios estão
presentes nos documentos orientadores do ensino do
Português, que não requer que a criança se exponha
só à linguagem escrita, mas sim que tenha um
convívio frequente com obras literárias ajustadas à
sua faixa etária. O envolvimento das crianças com a
Figura 24 – Livro “ A que sabe a
lua”
54
literatura incentiva a vontade de aprender a ler e a escrever, contribuindo para a
formação de leitores fluentes. Sim-Sim (2009) afirma que este estímulo faz ressaltar
“manifestações emergentes de conhecimento sobre a leitura e a escrita que são
preditivas de sucesso na aprendizagem posterior da leitura” (p.33). Desta forma, tendo
como objetivo principal a aprendizagem do grafema/fonema L escolhi uma obra para
fortalecer a prática pedagógica: “A que sabe a lua”, de Michael Grejniec. Na minha
opinião, partir de uma obra literária para o ensino da descodificação é importante, de
modo a favorecer a aquisição de uma competência literária implícita à aprendizagem do
sistema alfabético. Azevedo (2006) defende que estimular e “desenvolver o gosto pela
leitura implica, entre outros aspetos, familiarizar precocemente a criança com uma
variedade de textos literários, concedendo-lhes oportunidades para conhecer obras em
suportes variados, com temas, géneros e modos diversificados” (p.27).
O professor assume um papel muito importante no processo de
ensino/aprendizagem da leitura e da escrita e ainda na exploração de obras literárias
para a infância. Decidimos explorar a obra literária supracitada, envolvendo três etapas:
a pré-leitura, leitura e após leitura, com o objetivo de contribuir tanto para o ensino da
correspondência som/grafema, como para uma escrita de qualidade. Começamos por
mostrar a capa da obra tapando o título e propusemos às crianças que adiantassem a
história do livro, partindo das ilustrações da capa, como podemos ver na figura 24.
Assim sendo, surgiu o seguinte diálogo:
Professora estagiária – O que é que vocês conseguem ver na capa?
Mariana – Uma lua, com olhos e boca.
Pedro – Está ali uma girafa, mas a girafa não chega a lua.
Gabriel – A lua tem várias cores.
Carlos – A girafa e a lua estão a olhar uma para a outra.
Professora estagiária – Alguém tem ideia do que vai acontecer na história?
Afonso – Deve ser uma história sobre a lua e a girafa.
Alex – Eu acho que a lua se vai chatear com a girafa.
Sílvia – Eu duvido, pois a lua não fala e a girafa também não, por isso não se
vão chatear.
Após este diálogo com as crianças mostrei e li o título da obra literária,
conseguindo, assim cativar a sua curiosidade em volta da história. Ao terem
conhecimento do título as crianças criaram outros enredos, além dos que haviam já
mencionado. Segundo Pontes e Barros (2007), o objetivo primordial das atividades de
pré-leitura é “ativar e construir a competência enciclopédica do aluno, através da
exploração de elementos paratextuais, como a capa, o título, as ilustrações, encorajando-
55
o a expressar as suas ideias e a partilhar as suas experiências” (p. 71). As crianças ao
predizerem as possíveis hipóteses para a história imaginaram-se no papel das autoras e
empenharam-se ativamente na aula. Portanto, verificámos que estavam motivadas e
conseguimos captar a atenção das mesmas, constatando que a interação e o diálogo
estiveram sempre presentes. Segundo Ferreira e Fernandes (2007), o professor sempre
que quer explorar uma história precisa promover a discussão, de forma a “estabelecer
diálogos sobre a narrativa, procurando que as crianças produzam predições sobre a
narrativa, criando desejo de ouvir ler o texto” (p. 28). Através desta ideia, Pontes e
Barros (2007) mencionam igualmente, que o diálogo que se estabelece em torno do
texto visa não só “favorecer a participação oral”, como contribui “para o
desenvolvimento da linguagem” e conduz “os alunos com uma competência
enciclopédica menos desenvolvida, a beneficiar da partilha dos comentários do grupo,
alargando, assim, os seus próprios conhecimentos” (p. 71). Assim sendo e com o
objetivo de dar seguimento à exploração da obra, começámos a sua leitura e
suspendemos o procedimento no instante em que os animais estavam a subir uns para
cima dos outros. Desejávamos, desta forma, gerar o suspense e ainda pôr as crianças a
meditarem sobre o quanto esta subida dos animais conseguiria surpreender. Nesta
situação, surgiu de imediato o seguinte diálogo:
Professora estagiária – Estes animais vão conseguir chegar à lua?
Elza – Não.
Matilde – Só se for a girafa porque é muito grande.
Pedro – Ninguém chega à lua.
Durante a leitura é fundamental possibilitar às crianças a comunicação na elaboração de
interpretações do que poderá suceder, movimentando uma correspondência pegada e de
prazer entre o texto e a criança, na medida em que lhe oferece mais conhecimentos, de
maneira a ajudarem a criança na assimilação da história e a habituar-se com a estrutura
do texto. Na opinião de Pontes e Barros (2007), “focar a sua atenção na linguagem,
dado que o contacto com a riqueza oferecida pela linguagem literária favorece o
desenvolvimento e o enriquecimento da linguagem e do vocabulário” (p. 72). Durante a
leitura apercebi-me da união das crianças com o enredo o que, simplificou a assimilação
sobre as ideias-chave, personagens e acontecimentos, ou seja, neste espaço de tempo a
criança intersetou a informação do texto com o seu mundo experienciado e histórico-
factual (Pontes & Barros, 2007).
56
Uma vez analisadas as respostas que obtivemos das crianças, percebemos que a
sua imaginação não tem limites e sempre que motivada com ilustrações excelentes é
dominante e genuína. Pretendemos salientar que a literatura para a infância indica que
existem outras formas de ver o mundo e distintas veracidades, que conduzem a criança a
imaginar, fortalecendo a sua aptidão construtiva e o desenvolvimento do seu caráter. A
proximidade com contos abundantes em enigma promove o olhar crítico das crianças, o
apreço pela variedade e a apreensão de novos valores. Assim sendo, a promoção de uma
educação literária próxima das crianças, fortifica a formação intelectual e moral,
engrandece o vocabulário e aprimora a expressividade oral, ou seja, como refere
Sobrino (2000), ler e ouvir ler “desperta e estimula a imaginação infantil, fomenta e
educa a sensibilidade, provoca e orienta a reflexão e cultiva a inteligência” (p. 31).
Terminámos a leitura da obra revelando todo o segredo em torno de quem
chegaria à lua e nesse instante, as crianças puderam estabelecer comparações entre as
previsões que tinham referido anteriormente e as que obtiveram após conhecerem a obra
na sua totalidade. É essencial mencionar que a comunicação linguística esteve sempre
presente até à conclusão da leitura, auxiliando à confirmação, ou não, das deduções
efetuadas pelas crianças. Segundo Balça (2007), as atividades após, a leitura,
“possibilitam à criança refletir criticamente sobre o texto, permitem-lhes ser indagadora
e construtora de sentidos, atualizando as suas referências intertextuais, potenciando um
entendimento que amplia o seu conhecimento do mundo” (p. 134).
Neste sentido, ao estabelecerem ligações as crianças trocavam impressões e
debatiam-nas, o que simplificou a organização, a observação e a sinopse de ideias,
proporcionando assim momentos de elaboração de significados, estimulando posturas
de respeito perante os conhecimentos em relação aos outros, da forma que iremos
analisar no diálogo que expomos. Uma vez mais, está em evidência a relevância do
diálogo para a evolução da oralidade, tal como defende o Ministério da Educação
(2004): “o domínio do oral se constrói e se alarga progressivamente pelas trocas
linguísticas que se estabelecem numa partilha permanente da fala entre as crianças e
entre as crianças e os adultos” (p. 139).
Professora estagiária – Agora já podemos ver qual foi o animal que chegou à
lua.
Lara – Nunca pensei que fosse o rato!
Inês – Eu também não, é um animal tao pequeno.
Professora estagiária – Quem é que vocês achavam que chegava a lua?
Maria – A girafa porque era o animal maior.
57
Afonso – Nem sempre o animal maior consegue vencer. Por vezes o mais
pequeno também consegue.
Figura 25 – Lua em esferovite.
O ensinamento formal da escrita no 1.º ano de escolaridade permanece
relacionado à aprendizagem do alfabeto, sendo o conjunto de letras e grafemas que
reproduzem os sons da fala, portanto, continuámos a aula exibindo às crianças uma lua
em esferovite e posteriormente solicitámos que cada criança fosse escrever a palavra ao
quadro, como mostra a figura 25. De seguida mostrei-lhes cartões que continham
imagens e eles teriam de escrever a palavra correspondente a cada uma. Considerámos
estas atividades estimulantes, pois apesar de as crianças perceberem o que lhes foi
pedido, citaram algumas palavras que começavam por L (minúsculo e maiúsculo), a
frequência com que o aprendiz visualiza o grafema atribuindo-lhe um fonema, logo é
determinante na memorização ortográfica e fonémica das letras que compõem o
abecedário.
Sugerimos às crianças que atribuíssem um nome para o rato da personagem da
história, que iniciasse pela letra L. Foram vários os nomes sugeridos e além disso
enunciaram as sílabas “La, Le, Li, Lo, Lu” que os beneficiava na preparação para a
leitura da consoante com as vogais que já dominavam. A identificação de modelos
ortográficos tendo em vista a composição de um léxico rico, como refere Sim-Sim
(2009) a “capacidade para o rápido reconhecimento de sílabas, de sequências de sílabas,
de famílias de palavras e de padrões ortográficos que grafam unidades intrassilábicas é
determinante na celebridade da identificação de uma palavra escrita” (p. 53).
Pretendemos orientar as crianças na preparação da conversão grafema/fonema da letra
em estudo, no sentido que descodificar um sistema de escrita provoca a automatização
da identificação das letras e este é o percurso elementar que outorga o ingresso à leitura.
58
As crianças associam a representação caligráfica de uma letra ao seu fonema, mas na
opinião de Leite et al. (2006), só “com a prática e treino suficiente, as crianças
desenvolverão um sistema de mapeamento de relações entre fonemas e grafemas” (p.
149).
Por último, resguardando o interesse da aptidão caligráfica e ortográfica,
pedimos às crianças que concebessem a reprodução da letra em estudo de forma
incessante e repercutida, oferecendo-lhe duas ocasiões diferenciadas: no primeiro
momento distribuímos uma folha de lixa para que treinassem a grafia da letra L e
posteriormente, fizeram-no no caderno caligráfico e ortográfico; isto porque, por um
lado, a obtenção da capacidade gráfica é consequência de um trajeto longo, como
afirmam Batista, Viana e Barbeiro (2011), treinar a caligrafia é “ treinar uma forma de
destreza motora para o desenho do grafema, mas também uma forma de literacia visual,
por isso a criança deve saber que a caligrafia lhe serve exatamente para conhecer bem a
forma das letras de modo a que seja capaz de as escrever com rigor” (p.10). Por outro
lado, o momento de aprendizagem ocorreu guiado por uma atividade lúdico-expressiva,
que segundo Sousa (2003), sendo que “a criança, através da atividade lúdica, consegue
sozinha, efetuar as mais preciosas conquistas experimentais e vivenciais para o seu
desenvolvimento” (p. 150).
Na figura seguinte apresentamos o registo das palavras que as crianças
mencionaram com a letra L (figura 26).
Figura 26 – Palavras ditas pelas crianças com a letra L.
Dada a relevância da leitura e a evidência de as crianças se encontrarem num
período decisivo em relação à obtenção e assimilação da leitura, resolvi criar um meio
de avaliação envolvendo todos os participantes e assinalando numa tabela designada
“mapa da leitura” (figura 27), com cartões coloridos (vermelho, amarelo e verde) o
59
empenho de cada criança na leitura de uma pequena frase. O cartão verde era atribuído
às crianças que liam melhor, o amarelo às que apresentavam algumas dificuldades e o
vermelho àquelas que demonstravam muita dificuldade no decurso da leitura.
Admitimos que possuíamos algum receio em relação ao consentimento deste método
pelas crianças com mais dificuldade, portanto, sentir o apoio das professora cooperante
e supervisora foi essencial para seguir em frente. A atividade foi observada pelas
crianças com entusiasmo e algum anseio. No entanto, tentaram estimular e auxiliarem-
se uns aos outros. Os cartões eram concedidos em conversa com as crianças e tentámos
transmitir reforços positivos a todas as crianças, para que estas compreendessem que
necessitavam de continuar a trabalhar, no sentido de superar as suas dificuldades.
Considerámos que esta estratégia estimulou o desenvolvimento das crianças. Neste
sentido Coutinho e Azevedo (2007) referem que
a leitura da literatura de receção infantil, feita por prazer, é associada
efectivamente a inúmeros benefícios e a escola, sobre tudo a Escola Básica, terá
que encontrar o seu caminho para tentar, em conjunto, com os seus parceiros
sociais, descobrir mais espaços de diálogo com a promoção da leitura (p. 35).
Figura 27 – Mapa da leitura.
Relativamente à área disciplinar de Matemática, a matéria abordada foi os
números naturais até cinco, assim como a sua composição e decomposição. A principal
inquietação aquando da planificação foi tentar encontrar um elo de ligação com a área
disciplinar abordada anteriormente (Português). Com alguma incerteza compreendemos
que a obra literária seria um ótimo recurso e resolvemos começar a temática com este
diálogo: “Lembram-se de quantos ratinhos tinha a história? Agora imaginem que
quatros ratos amigos decidiram juntar-se ao grupo.” Rapidamente uma criança
60
proferiu o seguinte: “Assim ficamos com cinco ratos”. Esta descoberta foi evidente pois
já tínhamos abordado a composição e decomposição dos números naturais até cinco.
Achamos pertinente que haja ligação entre todas as áreas do saber, para que as
crianças não as observassem como áreas separadas, muito pelo contrário, que a
mudança entre elas ocorresse de forma mais discreta possível. Contudo, é de realçar a
importância das obras literárias, pois estes abordam diferentes temas e apresentam-se
como um magnífico recurso para a exploração de assuntos das diferentes áreas. Depois
de reconhecida e enunciada várias vezes a composição e decomposição do número
cinco, procedemos à distribuição de barras Cuisenaire com o intuito de as crianças
(agrupadas em pares) criarem grupos de cinco elementos. Este recurso às barras
Cuisenaire teve como objetivo proporcionar às crianças uma aprendizagem significativa
ao nível da composição e decomposição de números. Segundo Pimm (1996, citado por
Vale, 2000,),
no ensino da Matemática é necessária ação (real ou virtual), reflexão, e a
capacidade de ser capaz de comunicar ambas. Os alunos devem passar da
exploração direta sobre o objecto para a exploração virtual das possibilidades. O
propósito dos manipuláveis é ajudar os alunos a passar a ponte entre o concreto e
o abstracto da Matemática (pp. 66-67).
Solicitámos às crianças que se dirigissem ao quadro para representar as várias
maneiras de composição e decomposição, para posteriormente registarem no caderno
diário. Uma vez concluídas todas as decomposições do número cinco, abordámos a
ordem crescente e decrescente, utilizando uns dados (da mesma cor das barras
Cuisinaire), como forma de despertar o interesse destas e sistematizar as competências
trabalhadas. Demos continuidade à atividade solicitando às crianças colocassem os
cubos numa cartolina por ordem crescente e decrescente, para que ficasse registada na
sala de aula (figura 28 e 29).
61
Figuras 28 e 29 – Colocar o número cinco por ordem crescente e decrescente.
Os materiais curriculares estabelecem-se como poderosos recursos para um
processo de ensino-aprendizagem mais motivador, desafiante e eficaz (Pires, 2005).
Segundo Blanco (1994, citado por Pires, 2005,), os materiais escolares são “todos
aqueles 'artefactos', impressos ou não, cuja função é a de servir como veículos para
ensinar e aprender algo, que são utilizados no desenvolvimento dos processos de ensino
e aprendizagem e, portanto, de uso nas aulas” (p. 68).
A variação de materiais é um meio importante para conduzir o aluno a participar
ativamente nas suas aprendizagens, tendo como objetivo os métodos de ensino-
aprendizagem, pois Reis e Adragão (1990) defendem que é fundamental que “o papel
do professor passa deste modo a ser de encorajar os alunos, fazendo-os participar nas
atividades, clarificando problemas, ajudando nas tarefas da auto e heteroavaliação,
aconselhando, formulando perguntas e estimulando o raciocínio. Longe deverá ficar
assim o caráter repetitivo e enfadonho do ensino-aprendizagem tal como se processava
num ensino não personalizado” (p. 106).
Considerámos que há cuidados a ter quando usamos materiais curriculares,
porque um professor não é unicamente aquele que transmite saberes, mas sim aquele
que segue, que escuta, que recomenda e que educa. O professor precisa de ficar
vigilante aquando do manuseamento dos materiais, proporcionando técnicas e
ensinamentos relativamente ao seu uso correto, com o intuito de conservá-los. Segundo
Pires (2007), “os materiais curriculares cumprem múltiplas funções, podendo ajudar o
professor a antecipar e interpretar o que os alunos pensam ou fazem nas atividades da
aula, a clarificar temas, (…) a apoiar a planificação do trabalho a um prazo mais longo a
62
desenvolver a sua capacidade de usar fontes curriculares diversificadas e a tornar mais
visíveis e flexíveis os seus julgamentos” (p. 115).
Concluída esta atividade, propusemos a resolução de tarefas matemáticas no
quadro interativo. Estas tarefas foram adaptadas de vários manuais escolares para que
possibilitassem às crianças a transmissão dos conhecimentos matemáticos para o seu
quotidiano, pois tal como refere Zabala (1999) “os conteúdos procedimentos na área da
Matemática, além de favorecerem processos de crescimento pessoal, objectivam dotar
os alunos de habilidades que os ajudarão a ser práticos e competentes para interpretar e
agir sobre aspetos matemáticos do ambiente, conseguindo que os conhecimentos
informais de cada criança se traduzam em acções funcionais e organizadas” (p. 165). A
estratégia de correção da resolução das tarefas matemáticas consistiu numa espécie de
desafio em que todas as crianças participaram. Cada criança teria de dizer o resultado da
tarefa e outra criança iria comentar se estaria bem ou não. Pensamos que esta
metodologia colocou em evidência as ideias defendidas no Programa de Matemática do
Ensino Básico. Para além da realização das tarefas propriamente ditas, o ensino-
aprendizagem tem de prever momentos para confronto de resultados, discussão de
estratégias e institucionalização de conceitos e representações matemáticas. Ouvir e
praticar atividades importantes na aprendizagem da Matemática é relevante mas, ao seu
lado, o fazer, o argumentar e o discutir surgem com importância crescente nessa
aprendizagem. (Ministério da Educação, 2007, pp. 8-9). Revelou-se uma estratégia
interessante para que as crianças adquirissem conhecimentos, no entanto constatámos
gosto e empenho na sua realização desta atividade.
No que diz respeito ao Estudo do Meio, os temas em estudo eram a identificação
dos nomes próprios e apelidos, assim como as diferentes relações de parentesco. Foram
diversas as estratégias adotadas, de forma a que as crianças tomassem conhecimento da
realidade. Iniciámos a aula com uma conversa, de forma a compreender se as crianças
identificavam os nomes próprios e os apelidos e solicitámos a apresentação de
exemplos. Escrevemos alguns nomes no quadro e abordámos as relações de parentesco,
tendo em consideração o apelido, uma vez que é um traço familiar e que, por regra, é
hereditário. Desta forma, procurámos obter partido do caráter transdisciplinar e
multidisciplinar de Estudo do Meio e gerar atividades de caráter prático, que
despertassem a reflexão crítica da criança e o progresso de conceptualizações. Neste
sentido e confirmando as palavras de Sá & Carvalho (1997) “ o envolvimento pessoal
63
na aprendizagem, é caldo de cultura propícia à efervescência, é fonte de prazer e alegria
para as crianças na aprendizagem” (p. 53).
Com o objetivo de desenvolver o diálogo instituído e pondo em execução, uma
vez mais a interdisciplinaridade, recorremos ao quadro interativo, a árvore genealógica
da família do rato (alvo de elaboração prévia e onde constatavam nomes inventados, de
forma a dar ênfase ao fonema “L”). Tanto a árvore em si, como os nomes inventados,
estimularam a atenção das crianças que de imediato identificaram os nomes próprios e
apelidos, assim como compreenderam as relações de parentesco e foram colocadas
algumas questões, às quais responderam corretamente. Distribuímos pelas crianças uma
árvore genealógica, uma vez que estas trouxeram as fotografias dos familiares
solicitados, anteriormente solicitadas. Distribuímos as tesouras e colas para que as
crianças pudessem realizar a atividade, sendo que estas recortaram e colaram as
fotografias corretamente, identificando o grau de parentesco (pais, irmãos, avós
maternos e paternos) e os respetivos nomes. As crianças apenas escreveram os nomes
próprios, uma vez que ainda não sabiam escrever o nome completo (figura 30).
Figura 30 – Árvore genealógica de algumas crianças.
Como menciona o Ministério da Educação (2004), esta tarefa permitiu que as
crianças estruturassem “o conhecimento de si [próprias], desenvolvendo, ao mesmo
tempo, atitudes de autoestima e autoconfiança e de valorização da sua identidade e das
suas raízes” (p. 105).
No que diz respeito à Expressão Plástica, é uma área de conhecimento que tem
como objetivo desenvolver algumas competências nas crianças como a criatividade e a
forma de se expressar. Como referem Leite e Malpique (1986) a “expressão é
libertadora de energias contidas, muitas vezes desconhecidas para o próprio e, portanto,
desencadeada de um processo que, de um modo geral, concorre para o desenvolvimento
harmónico do indivíduo e, em certos casos, para a reeducação, e reconstrução” (p. 10).
64
Verificámos que havia bastante interesse por parte das crianças em atividades que lhes
despertassem a imaginação e a sua criatividade. Desta forma, Abrantes (2001) menciona
que
as artes permitem participar em desafios colectivos e pessoais que
contribuem para a construção da identidade pessoal e social, exprimem e
enformam a identidade nacional, permitem um entendimento das tradições de
outras culturas e são uma área de eleição no âmbito da aprendizagem ao longo
da vida (p. 149).
Durante esta atividade as crianças mostraram-se empenhadas e concentradas na
construção da sua árvore genealógica.
3.2.2.Experiência de ensino-aprendizagem: A família e suas relações
próximas
Desencadeou-se uma atividade de Estudo do Meio referente ao tema “Outras
pessoas com quem mantém relações próximas”, tendo como objetivo abordar a
importância dos amigos e da família. Para tal, recorremos à obra literária “Corre, corre,
cabacinha” de Alice Vieira. Narrámos a história e fizemos a sua exploração integrada de
episódios para levar a criança a uma aprendizagem significativa, integrando os diversos
conteúdos. Após o diálogo com as crianças sobre a história, foi-lhes proposta a
dramatização da história. Para a realização desta atividade levamos para a sala alguns
materiais para que as crianças pudessem recorrer aos mesmos aquando da dramatização.
Todas as crianças representaram uma personagem, como podemos verificar nas imagens
seguintes vide (figuras 31 e 32).
Figuras 31 e 32 - Dramatização da história “Corre, corre, cabacinha”.
65
A utilização de materiais referidos na história motivou as crianças para a sua
participação e na opinião de Silva et al. (1997), estes recursos “facilitam a expressão e a
comunicação através de ‘um outro’, servindo também de suporte para a criação de
pequenos diálogos e histórias” (p. 60). A realização desta dramatização permitiu que as
crianças desenvolvessem a sua expressão oral, bem como a capacidade de improvisar e
memorizar pequenos textos, recorrendo à criatividade. Concordamos com Fragateiro
(1983) quando refere que “a criatividade é efectivamente o ponto de contacto entre os
diferentes intervenientes que reivindicam uma prática global, harmoniosa e criativa para
a formação da criança” (p. 16).
Como refere Roldão (2004), “a aprendizagem torna-se significativa quando a
criança se apropria dela em termos intelectivos e afectivos, incorporando-a e
enquadrando-a harmoniosamente no seu quadro de referências e experiência pessoal
anterior” (p. 53). Desta forma e como menciona Melo (2005), podemos afirmar que “a
educação artística proporciona espaços e tempos onde se constroem vários tipos de
literacia, em paralelo ao desenvolvimento da intuição, do raciocínio, da imaginação e
destrezas em formas únicas de expressão e comunicação” (pp. 98-99). A Expressão
Dramática proporciona à criança a oportunidade de se expressar livremente perante os
colegas, partilhando as ideias e as suas vivências. Esta atividade permitiu às crianças
representarem e desta forma trabalharem a noção do conceito de família e amigos.
Em cada representação selecionávamos nove crianças e solicitámos que uma
fosse numerar os colegas. Demos à criança nove cartões, cada um com um número e
pedi para que numerasse os colegas. Concordo com Hohmann e Weikart (2009) quando
se refere que “a compreensão do número implica também a emergência do conceito de
correspondência de um a um como base da equivalência numérica” (p. 718).
Á medida que a criança ia numerando os colegas, os restantes elementos do
grupo ia referindo os números.
Relativamente à área disciplinar de Matemática, o conteúdo abordado foi o
número natural nove, assim como a sua composição e decomposição. Com recurso ao
ábaco, as crianças representaram o número por ordem crescente e decrescente, contando
em voz alta sempre que acrescentavam ou retiravam um número. Este tipo de atividade
foi bastante motivante para as crianças, pois estas tiveram uma participação ativa e
empenharam-se em desenvolver o conhecimento dos números e as operações
matemáticas. Segundo Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999),
66
o conhecimento dos números e das operações constitui um saber indispensável
ao dia a dia dos alunos. Os números estão presentes em múltiplos campos da
sociedade actual e são usados não apenas para fazer cálculos ou para representar
medidas, mas também, para localização, para ordenação e para identificação (p.
46).
Após as crianças terem explorado a ordem crescente e decrescente do número
cinco, distribuímos ábacos e barras Cuisenaire com o objetivo de formarem grupos de
cinco elementos, primeiro de forma livre e depois seguindo regras. As imagens
seguintes mostram as crianças a manipularem os materiais manipuláveis anteriormente
referidos (figuras 33 e 34).
Figuras 33 e 34 - As crianças a manipularem o ábaco e as barras Cuisenaire.
A utilização das barras Cuisenaire proporcionou às crianças uma aprendizagem
significativa, na composição e decomposição dos números. Segundo Pimm (1996),
no ensino da Matemática é necessária ação (real e virtual), reflexão, e a
capacidade de ser capaz de comunicar ambas. Os alunos devem passar da
exploração directa sobre o objecto para a exploração virtual das possibilidades.
O propósito dos manipuláveis é ajudar os alunos a passar a ponte entre o
concreto e o abstracto da Matemática (citado por Vale, 2000, pp. 66-67).
À medida que as crianças iam fazendo a representação gráfica do número nove,
convidámos as crianças a apresentarem a sua proposta de decomposição no quadro e os
restantes elementos do grupo registavam-na no caderno diário. Solicitámos às crianças
que desenhassem no caderno diário um conjunto de cinco cabaças da história.
Dispusemo-las em pares e distribuímos materiais manipuláveis para que formassem
grupos de vários elementos e acompanhassem os desafios de composição e
decomposição do número nove. Para sistematizar a aprendizagem do número,
propusemos a resolução de tarefas matemáticas no quadro interativo, tarefas estas
67
adaptadas de vários manuais escolares, para que as crianças transpusessem os seus
conhecimentos matemáticos para o quotidiano, pois como refere Zabala (1999),
os conteúdos procedimentais na área da Matemática, além de favorecerem
processos de crescimento pessoal, objectivam dotar os alunos de habilidades que
os ajudarão a ser práticos e competentes para interpretar e agir sobre aspectos
matemáticos do ambiente, conseguindo que os conhecimentos informais de cada
criança se traduzam em acções funcionais e organizadas (p. 165).
Propusemos de seguida, coloquei um desafio em que todas as crianças
participaram: selecionámos aleatoriamente um grupo de duas crianças, em que uma
delas iria assumir o papel de professor (inventando um tarefa e corrigindo o colega) e à
outra, a função de aluno (que iria dar a resposta e explicar aos restantes colegas como
obteve o resultado). Esta metodologia é defendida pelo Ministério da Educação (2007),
no Programa de Matemática do Ensino Básico:
para além da realização das tarefas propriamente ditas, o ensino-aprendizagem
tem de prever momentos para confronto de resultados, discussão de estratégias e
institucionalização de conceitos e representações matemáticas. Ouvir e praticar
são atividades importantes na aprendizagem da Matemática mas, ao seu lado, o
fazer, o argumentar e o discutir surgem com a importância crescente nessa
aprendizagem (pp. 8-9).
No final, este desafio revelou-se um meio viável de aquisição de conhecimentos,
em que o gosto e o empenho foram sentidos por parte das crianças, apesar da notória
ansiedade.
No que diz respeito à Língua Portuguesa, começámos por relembrar a história
que tínhamos abordado no período da manhã (sendo novamente projetada em formato
PowerPoint) e solicitámos que as crianças lessem as palavras que já conheciam. À
medida que iam lendo essas palavras, a professora estagiária transcrevia-as no quadro.
Posteriormente, as crianças foram convidadas a escrever frases com essas palavras, de
forma individual, enquanto as restantes procediam ao seu registo no caderno diário. À
medida que a criança escrevia a frase, sugerimos a um colega que lesse a frase que
estava escrita e vice-versa. Constatámos que através desta atividade de leitura e
expressão escrita, criámos no grupo vontade de ler e acompanhar a leitura das restantes
crianças. Segundo Lopes (citado por Azevedo & Sardinha, 2009),
para que o jovem leitor tenha o gosto de ler é necessário que saiba ler sem
esforço e estar motivado para o fazer. Sendo certo que estas duas condições
podem ser mais bem conseguidas com a ajuda do professor, importante agente
68
na mediação e promoção da leitura na sala de aula, este precisa de se encontrar
apetrechado com ferramentas que conduzam ao desenvolvimento do gosto pela
leitura para que a mesma deixe de ser sinónimo de trabalho ou tarefa rotineira,
causando aborrecimento ou desmotivação na criança (p. 84).
Concordamos que as atividades de leitura e de escrita devem ser lúdicas para
manter as crianças motivadas e empenhadas nas suas tarefas, proporcionando assim,
novas aprendizagens. Esta tarefa foi realizada em grande grupo, pois como referem
Pereira & Azevedo (2005) é
útil para estabelecer os objectivos de trabalho a realizar, para organizar as tarefas
e para pôr em comum os aspectos trabalhados, o pequeno grupo é o tipo de
agrupamento ideal para favorecer a interacção cooperativa, para promover a
participação de todos os membros da turma (p. 88).
Esta atividade desenrolou-se com o acompanhamento de um adulto para que as
crianças fossem ao encontro do que era pretendido pois, como refere Pereira (2008),
“uma verdadeira aprendizagem da escrita necessita, hoje, de ser assistida por um
professor que cumpra a função de mediador, entendendo-se esta mediação como um
dispositivo ao mesmo tempo pedagógico e didático”
(p. 93). Pedagógico porque, é importante que o
professor crie um clima de confiança e entreajuda
na sala de aula, encorajando as crianças na
realização das atividades; didático porque, segundo
Pereira (2008), o professor deve promover
momentos que diversifiquem “as situações de
escrita (individual, em grupo…) e o tipo de escritos, socialize os escritos produzidos,
trabalhe a reescrita e o aperfeiçoamento dos textos dos alunos numa perspectiva de
aprendizagem em colaboração” (p. 39).
3.2.3. Experiência de ensino-aprendizagem: Alimentação saudável
Esta experiência teve início com a leitura da história “Os sete cabritinhos”, cuja
escolha se prendeu com o facto de pretendermos consolidar a consoante “M”, bem
como abordar todas as áreas disciplinares estabelecendo- se assim a
interdisciplinaridade.
69
Antes de iniciarmos a leitura da obra literária, foram analisados os seus
elementos paratextuais com as crianças. De acordo com Balça (2007) a análise dos
elementos paratextuais do livro tem como finalidade
“motivar as crianças para a leitura, atiçar a sua curiosidade em redor da possível
história encerrada no livro, mobilizar as suas referências intertextuais, colocar, desde
logo, hipóteses sobre o texto” (p. 134). Esta foi apresentada em suporte PowerPoint,
para que todas as crianças tivessem oportunidade de observar as imagens enquanto esta
era narrada. Desta forma concordamos com Fernandes (2007) que se baseia em
Champbell mencionando que
durante a leitura de histórias, as crianças aprendem sobre a estrutura da
língua escrita, sobre a organização do material impresso nos livros, para além de
desenvolverem o vocabulário, capacidades de manutenção da tarefa (atenção e
concentração) e interagirem com adultos e pares. A experiência linguística
permite-lhes construir conhecimentos sobre o léxico, novas estruturas sintáticas
a par de novos usos do discurso (p. 26).
Ao fim de ouvirem a história, as crianças desencadearam um diálogo, sendo-lhes
dada voz para que estas transmitissem as suas ideias aos restantes elementos do grupo.
Professora estagiária – Alguém quer falar sobre a história?
Maria – A história fala de muitos cabritinhos.
Pedro – Os cabritinhos viviam todos com a mãe.
Elza – Os cabritinhos viviam felizes até chegar o lobo.
Professora estagiária – O lobo vai fazer mal aos cabritinhos?
Gabriel – Vai, mas no fim ficam todos bem.
Professora estagiária – E o lobo? O que lhe vai acontecer?
Lara – Vai morrer.
Inês – Mas antes de morrer a mãe e os cabritinhos vão pôr-lhe muitas pedras na
barriga.
Segundo Balça (2007), os diálogos que as crianças realizam após a leitura de
uma história possibilitam à criança
reflectir criticamente sobre o texto, permitem-lhe ser indagadora e construtora de
sentidos, actualizando as suas referências intertextuais, possibilitam o diálogo
entre o texto e o leitor, tornando-o co-construtor activo de significados textuais,
potenciando um entendimento que amplia o seu conhecimento do mundo (p.
134).
O diálogo fez com que a criança refletisse sobre a história, sendo-lhe dada
oportunidade para transmitir as suas ideias e interesses. Desenvolveu-se, de seguida,
uma atividade que consistia no treino a letra M: numa primeira fase as crianças
Figura 35 – Livro “Os sete cabritinhos”.
70
treinaram a letra M com plasticina e posteriormente no caderno caligráfico e
ortográfico. Este momento de aprendizagem foi caraterizado por uma forte vertente
lúdico-expressiva, que desencadeou na criança o interesse pelo processo de ensino;
como referem Sim-Sim, Duarte e Ferraz (1997) “a expressão escrita é um meio
poderoso de comunicação e aprendizagem que requer o domínio apurado de técnicas e
estratégias precisas, diversas e sofisticadas” (p. 29). Nas figuras seguintes, podemos ver
o treino da caligrafia em plasticina (figuras 36 e 37).
Figuras 36 e 37 – Treinar a grafia da letra M.
Posteriormente solicitei às crianças que sugerissem nomes alternativos para a
personagem da história, que iniciassem com a letra M. As crianças mencionaram vários
nomes e referiram ainda as sílabas “Ma, Me, Mi, Mo e Mu”; é importante que estas
reconheçam padrões ortográficos, com vista à construção de um léxico rico.
Para dar início à atividade de escrita, a professora estagiária começou por
colocar no quadro palavras como “Mimi” e “mãe”, salientando com cor vermelha a
letra M. Começou por explicar às crianças as regras do jogo de escrita, que tinha como
objetivo construir uma frase com as palavras que tinha escrito no quadro, sendo que
cada frase tinha de iniciar com a última palava da frase anterior. Esta atividade foi
realizada em grande grupo permitindo assim a troca de ideias entre as crianças; estas
foram criativas, inventando frases bem elaboradas e seguindo as regras do jogo de
escrita criativa (anteriormente referidas). No decorrer desta atividade, a professora
estagiária sugeriu que enquanto a criança escrevia no quadro, os restantes elementos do
grupo procediam ao seu registo no caderno diário.
As crianças mostraram-se empenhadas na realização desta tarefa, ajudando-se
mutuamente e contribuindo com as suas ideias. Segundo Gil & Cristóvam-Bellmann
71
(1999), nas atividades de escrita criativa o mais relevante é saber se o “jogo significa
um processo de desenvolvimento para aquele que escreve e não se o produto final
possui qualidade” (p. 22). O entusiasmo por parte das crianças foi notável, mostrando-se
criativas na elaboração das frases, o que lhes permite tomar consciência dos processos
de escrita. Realçamos esta ideia citando Barbeiro (2006) “o facto de o jogo se
manifestar por meio do produto não significa que o processo não seja um elemento
fundamental” (p. 122).
As atividades tiveram continuidade com a realização de outro jogo de ordenação
de palavras para formar frases, sendo estas relacionadas com a história; tarefa esta que
teve como objetivo o desenvolvimento de competências no âmbito da leitura e da
escrita. Para dar início à atividade, solicitamos a participação de um grupo de crianças e
demos um cartão a cada uma, que continha palavras que estas já sabiam ler e escrever.
Dispostas na frente da sala, cada criança deu a conhecer aos elementos do grupo a sua
palavra e depois de todas lidas, organizaram-se entre si, ordenando as palavras, de modo
a formar uma frase com sentido. As crianças que se encontravam sentadas auxiliavam
os colegas na ordenação das palavras, fazendo comentários quanto à ordem das mesmas.
É de salientar que as crianças tiveram um grande espírito de grupo durante a realização
desta atividade, conseguindo assim, ordenar as palavras e construir todas as frases
propostas. Como reforçam as autoras Duarte, Sim-Sim e Micaelo (2007),
o reconhecimento rápido e automático da palavra escrita é o nó fulcral da leitura.
Esse reconhecimento é o resultado não só do conhecimento consciente dos sons
da língua de escolarização, i.e., a consciência fonológica e da sua relação com os
grafemas que lhes correspondem, mas também da capacidade para identificar
globalmente as palavras como unidades gráficas com significado (p. 12).
As crianças seguiram um critério ao nível da ordenação das frases, pois sabiam
que estas se iniciavam com letra maiúscula e terminavam com um ponto final. Posto
isto, a organização dos restantes elementos da frase era facilitada. As crianças tiveram
uma participação ativa nesta atividade, sendo que é fundamental o desenvolvimento de
atividades que estimulem o treino consecutivo da leitura e da escrita. Após a construção
das frases, a professora estagiária solicitava a participação de uma criança para escrever
a frase no quadro enquanto os restantes membros do grupo registavam no caderno
diário.
A geometria é um tema Matemático importante no processo de
ensino/aprendizagem, pois permite à criança desenvolver capacidades no sentido
72
espacial e de visualização. Concordando com Ponte e Serrazina (2000), a aprendizagem
da geometria “deve ser feita de modo informal partindo de modelos concretos do mundo
real das crianças, de modo a que elas possam formar os conceitos essenciais” (p. 165).
Mostrando a importância do professor no processo de ensino da geometria
mencionamos os mesmos autores quando estes referem que “o professor deve planear o
tipo de tarefas adequadas, direcionar a atenção das crianças para as qualidades
geométricas das formas, introduzir a terminologia adequada envolvendo as crianças em
discussões onde esta terminologia seja usada” (p. 181), ou seja, o professor deve
desenvolver tarefas que promovam a progressão da aprendizagem da geometria.
Achamos relevante salientar que na aula anterior à aqui apresentada, foi
explorada com a turma a noção de que existem sólidos geométricos limitados por
superfícies planas e curvas. Neste sentido, começámos por dar continuidade a estes
conhecimentos através de alguns objetos que tínhamos solicitado às crianças na aula
anterior. Assim que os apresentámos à turma, surgiu o seguinte diálogo:
Professora estagiária – Eu tenho aqui um conjunto de objetos que nós
utilizamos no dia-a-dia. A sua forma é parecida com alguns sólidos geométricos.
Olhando para eles, quais são os sólidos que vós fazem lembrar?
Maria – Os cereais e o pacote de leite são iguais ao paralelepípedo.
Margarida – As bolas são parecidas com a esfera.
Professora estagiária – E o paliteiro?
Catarina – É parecido com este (pegou no prisma triangular).
As crianças revelaram conhecimento em relação aos sólidos geométricos e
estabeleceram com facilidade a sua comparação com os objetos do dia-a-dia. Assim,
apoiamos a ideia de Ponte et al., (2007), quando referem que “o ensino e a
aprendizagem da Geometria deve, neste ciclo, privilegiar a exploração, a manipulação e
a experimentação, utilizando objetos do mundo real e materiais específicos, de modo a
desenvolver o sentido espacial” (p. 20).
Foi apresentado um documento em formato PowerPoint com a imagem de cada
figura geométrica e a sua respetiva identificação, onde explorámos oralmente as suas
características. De seguida, a professora estagiária distribuiu folhas brancas e blocos
lógicos pelas crianças, com o objetivo de estas contornarem as figuras geométricas e
fazerem as suas próprias construções, dando asas à imaginação (figura 37, 38 e 39).
73
Figuras 37 e 38 - Exploração dos blocos lógicos.
Figura 39 – Contorno dos blocos lógicos.
A utilização destes materiais incentivou as crianças, desenvolvendo a sua
orientação e visualização espacial. Segundo Mendes e Delgado (2008),
é importante que as crianças sejam envolvidas em atividades nas quais tenham
de observar e manipular objetos com várias formas geométricas, de modo a irem
desenvolvendo a capacidade de reconhecer essas formas. Fazer construções,
recorrendo a materiais que representam formas geométricas, tanto
bidimensionais como tridimensionais, são experiências que poderão contribuir
para o desenvolvimento dessa capacidade (p. 10).
Estes materiais proporcionaram às crianças um momento de exploração livre e
lúdica, permitindo a ligação entre a Matemática e a Expressão Plástica. A área das
Expressões tem um papel importante no desenvolvimento da criança, pois permite que
esta se exprima e manifeste as suas emoções longe dos moldes estereotipados das
representações. A expressão pessoal da criança é fundamental, por isso o Ministério da
Educação (2004) menciona que “a possibilidade de a criança se exprimir de forma
pessoa e o prazer que manifesta nas múltiplas experiências que vai realizando, são mais
importantes do que as apreciações feitas segundo moldes estereotipados ou de
representação realista” (p. 89).
74
No final desta atividade pudemos verificar que havia desenhos muito originais e
que este conteúdo foi assimilado, tendo sido bastante gratificante verificar que as
satisfação com que as crianças realizaram a atividade. Na opinião de Sousa (2003) “a
livre experiência através das diferentes expressões artísticas permite à criança uma
maior liberdade de expressão emocional e, consequentemente, uma base sólida para as
aquisições cognitivas” (p. 85). Esta atividade contribuiu para que as crianças
despertassem o seu lado artístico, não com o objetivo de formar crianças-artistas, mas
sim “desenvolver as suas capacidades expressivas através da utilização de diferentes
materiais e técnicas, alargando o campo de experiências e o domínio de outras
linguagens expressivas” (ME, 2004, p. 95).
Dando continuidade ao estudo das formas geométricas, as crianças trouxeram
objetos de casa com o objetivo de fazerem as suas próprias construções. Já organizadas
em grupo, as crianças decidiram entre si que construção iriam realizar, dando-lhes
liberdade para as produzirem livremente, pois segundo Serrazina (2004), quando as
crianças têm oportunidade de manipular livremente os objetos “usam a sua imaginação
e são capazes de inventar histórias que correspondem às figuras que inventaram” (p.
113). A presença do jogo, em especial com materiais manipuláveis, é importante para
aquisição dos conteúdos de geometria. Como refere Barrody & Wilkins (2004),
o jogo é um dos mais importantes meios através do qual as crianças aprendem
sobre o mundo e como cooperar com ele. Os jogos são uma forma particular de
brincar que ajudam a desenvolver o raciocínio e os conceitos matemáticos bem
como praticarem procedimentos básicos (citado por Moreira, p. 86).
Para além dos objetos trazidos pelas crianças, colocámos à sua disposição alguns
materiais para poderem realizar as suas construções, como cola e tesouras. O recurso a
esta tarefa deve-se ao facto de facilitarem a compreensão das formas geométricas,
fortalecerem o raciocínio lógico e a criatividade. Com estas tarefas pretendíamos que as
crianças se envolvessem ativamente na atividade, desenvolvendo competências de um
modo mais estimulante. Considerámos importante que as crianças trabalharem em
grupo, pois constroem em conjunto, o conhecimento que se pretende, desenvolvem
competências sociais e a autonomia. Neste momento existiu troca de opiniões,
aprendem a partilhar, respeitar a opinião do outro e a trabalhar em equipa, sendo que,
proporciona condições de socialização para uma aprendizagem significativa. Nas
figuras seguintes (figura 40, 41 e 42) apresentámos alguns resultados da atividade feita
pelas crianças, que na opinião do Ministério da Educação (2004),
75
a exploração livre dos meios de expressão gráfica e plástica não só contribui para
despertar a imaginação e a criatividade dos alunos, como lhes possibilita o
desenvolvimento da destreza manual e a descoberta e organização progressiva de
volumes e superfícies (p. 8).
Figuras 42, 42 e 43 - Construções obtidas com objetos que as crianças trouxeram de casa.
Ainda segundo a opinião de Sousa (2003),
a educação artística, ao propor-se como uma via de formação do ser, não
pretende substituir a transmissão do saber mas apresentar uma equacionação
educacional valorizando as artes como meio não só de formação do ser como de
intervenção metodológica ativa, ao serviço do próprio ensino de saberes (p.
113).
No final propusemos que cada grupo expusesse a sua construção, comunicasse à
turma os materiais a que tinha recorrido e quais os sólidos presentes na construção.
Favorecemos assim a manipulação e a experimentação ao utilizar objetos do quotidiano,
de modo a desenvolver o sentido espacial. Os materiais manipuláveis contribuíram para
o desenvolvimento de aprendizagens significativas, pois de acordo com Ponte et al.,
(2007), o objetivo geral da aprendizagem é “desenvolver a visualização e [fazer com
76
que os alunos sejam] capazes de representar, descrever e construir figuras no plano e no
espaço e de identificar propriedades que as caracterizam” (p. 20). No decorrer da
atividade as crianças mostraram-se empenhadas na sua construção, fazendo as suas
descobertas, desenvolvendo a capacidade de análise, de reconhecimento das figuras e
das suas propriedades.
No que diz respeito ao Estudo do Meio, é uma área disciplinar fortemente
caraterizada pela abordagem conteúdos partindo da realidade próxima das crianças.
Como refere Roldão (2004),
A área de Estudo do Meio permite, assim, não só a promoção de um conjunto de
aprendizagens relevantes, mas a mobilização dessas aprendizagens para o
desenvolvimento integral do aluno, contribuindo para o seu enriquecimento
como pessoa. (…) É muito importante que o professor não remeta para segundo
plano o recurso à imaginação, à reflexão, à abstracção do imediato e do próximo,
de modo a possibilitar o efectivo alargamento dos mundos conhecidos pelas
crianças e o correspondente desenvolvimento das suas potencialidades (p. 32).
O professor deve proporcionar às crianças um contacto com realidades e
situações que sejam diferentes do seu meio local, com o objetivo de enriquecer as suas
experiências de aprendizagem. Segundo Oliveira-Formosinho e Formosinho (2011), o
professor deve “apoiar o envolvimento da criança no continuum experiencial e a
construção da aprendizagem através da experiência interativa e contínua, dispondo a
criança tanto do direito à participação como do direito ao apoio sensível, autonomizante
e estimulante ” (p. 18). Este precisa de refletir sobre as suas práticas e melhorá-las para
que possa contribuir para uma educação melhor, que segundo Roldão (2004), se deve
traduzir em “alargar os horizontes, expandir os conhecimentos, e experiências de que as
crianças são portadoras ao chegarem à escola” (p. 18). As experiências de aprendizagem
não devem portanto, ficar limitadas à sala de aula, mas sim proporcionar situações
próximas e longínquas à realidade das crianças. Na perspetiva de Roldão (2004), “a
experiência é também constituída, e de forma significativa, pelo que se vive
interiormente, pelo que se ouve contar, pelo que se imagina, pelo que se alcança pelos
diversos meios de comunicação, ainda que fisicamente não nos seja próximo” (p. 17).
O tema a abordar foi: alimentação saudável. Planifiquei atividades que partiram
do conhecimento das crianças e estabeleci um diálogo em torno da história que
tínhamos lido, que surgiu da seguinte forma:
77
Professora estagiária – Qual será a alimentação dos animais de que fala a
história?
Maria – Eles comem muita erva.
Professora estagiária – E achas que essa comida é saudável?
Gabriel – Sim.
Professora estagiária – Então e para nós, sabem qual é a comida mais
saudável?
Elza – Fruta, por exemplo.
Ricardo – Tudo o que estiver na roda dos alimentos é saudável.
Professora estagiária – Acham que têm uma alimentação saudável?
Rita – Sim, eu só como doces uma vez por semana.
Na sequência deste diálogo mostramos às crianças (em formato PowerPoint) a
roda dos alimentos, para que percebessem que é formada por vários grupos com
dimensões diferente, sendo que os grupos maiores têm mais importância. Achamos que
as crianças precisam ser informadas sobre a importância da prática diária de uma
alimentação equilibrada, para que as crianças adquiram e desempenhem um papel
elementar na formação de valores, hábitos e estilos de vida saudáveis. Tanto a escola
como a família devem oferecer condições para o desenvolvimento deste processo, pois
ambas devam constituir uma parceria para estimular a criança a adquirir e praticar
hábitos de alimentação saudáveis. Melhorar o comportamento alimentar das crianças
não é uma tarefa de curta duração, Nunes & Breda (2001) referem que se “trata de um
processo contínuo, que passa pelo acesso à informação, pela compreensão e
interiorização dessa informação, pela motivação, pela capacidade e possibilidade de
escolha e por estratégias de manutenção da mudança” (p. 10).
Para consolidar as aprendizagens, distribuímos pelas crianças imagens de uma
alimentação saudável e não saudáveis e posteriormente solicitámos que as colocassem
no cartaz, no lugar adequado, como podemos ver na figura seguinte (44).
Figura 44 – Cartaz com os alimentos saudáveis e não saudáveis, completado pelas crianças.
78
Na perspetiva de Roldão (2004), “a aprendizagem torna-se significativa quando
a criança se apropria dela em termos intelectivos e afectivos, incorporando-a e
enquadrando-a harmoniosamente no seu quadro de referências e experiência pessoal
anterior” (p. 53). Na nossa opinião esta tarefa foi proveitosa para o enriquecimento
cultural das crianças e permitiu-nos perceber se adquiriram os conteúdos trabalhados ao
longo da aula. Procurámos, sempre, promover o diálogo e a partilha de ideias de cada
criança para podermos ajudá-las a construir o seu próprio conhecimento. O diálogo
ajudou as crianças a adquirir novo vocabulário. Em síntese, é importante valorizar e
estimular as crianças em todos os momentos de ensino e aprendizagem,
proporcionando-lhes um ambiente de trabalho e descoberta, para que estas possam
questionar, comparar e criar, pois só assim se desenvolve conhecimentos sólidos e
fundamentados.
79
4. Considerações finais
Neste ponto tentaremos refletir de forma crítica sobre a ação desenvolvida ao
longo da prática pedagógica, nos dois contextos de estágio. Ao longo desta formação
compreendemos que ser educador/professor é ser transmissores de saberes e ter uma
visão holística. Como refere Sanches (2012), esta formação inicial deve gerar dinâmicas
“que permitam aos educadores e professores assumirem uma visão integradora e
integrada da ação educativa, no quadro de percursos de aprendizagem de qualidade, e o
desempenho de funções em situações e contextos de natureza cada vez mais complexa e
incerta” (p. 126).
Nesta caminhada aprendemos que ser educador/professor é acima de tudo
respeitar a criança, torná-la autónoma, escutá-la, considerando as suas origens e saberes;
isto é, deve partir-se da construção pessoal que esta já possui, para o desenvolvimento
de novas aprendizagens. Esta metodologia ajuda a criança a ampliar os seus
conhecimentos e envolve-a em experiências de aprendizagem significativas, que se vão
complexificando gradualmente. Ser educador/professor é um desafio constante que
exige de nós uma atitude reflexiva sobre as crianças com quem trabalhamos. Portanto,
receber formação para dois níveis de educação e ensino implica que se compreenda
cada um deles, fazendo uma articulação que respeite as diferenças e estabeleça pontos
de encontro.
Consideramos que estes momentos de contacto e intervenção em contexto de
jardim-de-infância e no 1.º CEB beneficiaram a aprendizagem de interações,
possibilitando ao futuro docente a formação de olhares mais profundos sobre a realidade
educativa. Como demonstra Oliveira-Formosinho (2002), este tipo de aprendizagem
“não deve ser ensinada descontextualizada dos processos de desenvolvimento curricular
e desinserida dos processos de desenvolvimento profissional ” (p. 122). Como tal, é
uma aprendizagem que se faz em parceria e contexto.
Sabendo que o papel do educador/professor deve ser assumido como mediador
das aprendizagens, procurámos fazê-lo de modo a favorecer a construção de novos
saberes. Assim, concordamos com Sanches (2012) quando menciona que o
educador/professor deve ser capaz de “atuar em contextos socioculturais e institucionais
plurais instáveis e complexos e de assumir neles um posicionamento crítico e inovador,
80
no sentido de criar condições que facilitem a progressão e aprendizagem de todos,
crianças e adultos, a melhoria da qualidade de vida das instituições e comunidades em
que desenvolve a atividade profissional ” (p. 114). Para tal, é fundamental encorajar a
criança a desenvolver a sua autonomia. Foi notável que em ambos os grupos, o adulto
ao estimular, motivar, envolver e incentivar as crianças nas experiências de
aprendizagem, estas demonstraram mais empenho e interesse na realização das
atividades. Concordamos com Silva et al. (1997) quando referem que
a independência das crianças e do grupo passa também por uma apropriação do
espaço e do tempo que constitui a base de uma progressiva autonomia, em que
vai aprendendo a escolher, a preferir, a tomar decisões e a encontrar critérios e
razoes para as suas escolhas e decisões (p. 53).
Em relação às tarefas propostas, às estratégias de ensino e aos métodos de
trabalho, tentámos diversificá-los sempre, com o objetivo de impulsionar a prática de
valores incontornáveis e emergentes na sociedade atual, sendo eles a entreajuda,
comunicação entre as crianças, a cooperação e o respeito mútuo. O professor deve
proporcionar às crianças momentos de trabalho em grupo para colocar em prática os
objetivos anteriormente referidos. Como refere Roldão (2005),
trabalhar em conjunto faz parte da natureza humana. O Homem, desde os seus
primórdios, que necessita de comunicar e trabalhar em conjunto. É algo que está
intrínseco à raça humana, para alcançar objetivos comuns. Este é o espírito que
devemos promover nas nossas crianças. Visando-se cada vez mais a capacidade
para ouvir diferentes pontos de vista, ponderá-los e tomar decisões em conjunto.
Por este motivo, a escola, depois da família, deveria ser uma instituição que
privilegiasse este método de trabalho. Aprender implica que os alunos sejam
elementos integrantes na construção do seu próprio conhecimento, que possam
pesquisar informações e realizar trabalhos em grupo.
Ao longo de toda a prática, em ambos os contextos, o desenrolar dos conteúdos
partiu, quase sempre, da leitura de histórias para a infância, uma vez que este é um
excelente recurso para motivar as crianças e para integrar as diferentes áreas
disciplinares. Como alude Macedo e Soeiro (citado em Azevedo & Sardinha, 2009), “os
livros de histórias são uma potencial mais-valia na compreensão do mundo e no acesso
aos mundos possíveis” (p. 51). A utilização de obras literárias contribuiu para atrair a
atenção das crianças e para o seu desenvolvimento pessoal, social, emocional e
cognitivo. Segundo Alonso e Roldão (2005),
81
o perfil do professor actual é o de um profissional apetrechado com instrumentos
teóricos, técnicos e práticos que lhe permitem desempenhar uma prática
reflexiva, capaz de dar resposta à diversidade de exigências com que é
confrontada a escola de hoje e do futuro. A sua função central – estimular
aprendizagens significativas nos alunos tendo em vista o seu desenvolvimento
integral enquanto indivíduos e cidadãos – é uma função complexa, que requer a
mobilização de conhecimentos, capacidades e atitudes a vários níveis, mas que
exige, sobretudo, uma grande capacidade reflexiva, investigativa, criativa e
participativa para se adaptar e intervir nos processos de mudança” (p. 49).
É importante referir que tanto na planificação como na concretização das
experiências de ensino-aprendizagem, respeitámos os ritmos e motivações das crianças.
Concordamos com Oliveira-Formosinho (2011), quando refere que “aprender o respeito
pelas diferenças dos outros implica sentirmo-nos respeitados nas nossas diferenças:
ritmos, motivações, gostos, aspirações, preferências” (p. 41). A utilização de recursos
diversificados e estratégias diferentes foram um método compensador para a realização
da ação educativa, pois em ambos os contextos, foi notório por parte das crianças o
interesse, participação e empenho nas atividades propostas. Na perspetiva de Alonso e
Roldão (2005),
para se criar e desenvolver uma escola de qualidade e oferecer aos alunos
aprendizagens significativas, é necessário investir em condições físicas da
escola, quer a nível de requalificação de espaços, quer a nível de recursos
materiais. O apetrechamento (…) de recursos materiais diversificados é
essencial para o desenvolvimento de estratégias diferenciadoras permitindo
aprendizagens funcionais e experimentais (p. 106).
Consideramos que houve uma evolução no que diz respeito à nossa formação
enquanto pessoas e fomos sentindo que estávamos cada vez mais preparadas para
lecionar nestes dois níveis de ensino. Gostaríamos de ressalvar que o tempo de estágio
foi de curta duração, sendo que se fosse mais prolongado contribuiria para aprendermos
mais, visto que somos construtores de saberes.
No início, a planificação era considerada por nós, como um guia que não podia
ser alterado; contudo, com o passar do tempo e com outra maturidade a nível de
pensamento, verificámos que a planificação era um instrumento importantíssimo
quando pensado de acordo com o grupo, com as necessidades e interesses que
demonstravam e com as informações que recolhíamos. Aprendemos a repensar a nossa
prática pedagógica uma vez que esta assenta na compreensão das necessidades das
crianças, proporcionando experiências de aprendizagem que pudessem ter significado
para elas.
82
Procuramos proporcionar às crianças experiências de aprendizagem
integradoras, conciliando sempre os saberes e interesses que estas iam demonstrando.
As atividades que apresentámos neste documento demonstram o cuidado que tivemos
em articular as diversas áreas do saber, pois acreditamos que as crianças deveriam
trabalhar o conhecimento como “um todo”. Foi do nosso interesse e preocupação
proporcionar às crianças experiências de aprendizagem que favorecessem a sua
formação pessoal e social, impulsionando assim a cooperação e colaboração. Pensamos
que as atividades que realizámos com as crianças favoreceram o seu desenvolvimento,
contribuindo para a construção dos seus significados através de ações específicas, como
“oportunidades permanentes para aprender” (Hohmann & Weikart, 2009, p. 454).
A nossa ação foi perspetivada de modo a contribuir para a formação de cidadãos
capazes de tomar decisões informadas, desenvolvendo atividades práticas e
experimentais, contribuindo assim para a promoção da literacia das crianças. Segundo
Rodrigues (2011), os “conteúdos científicos, a desenvolver o raciocínio, a contribuir
para a compreensão do mundo, a refletir no que poderá acontecer se se ousar
experimentar para conhecer e inovar, a ser autónomo, a cooperar com os outros e a
exercer plenamente a cidadania” (p. 12). Logo, estas experiências de aprendizagem
tinham como objetivo apoiar as crianças na construção do seu próprio conhecimento.
Neste sentido, procurámos apresentar um conjunto de atividades que implicavam a
resolução de problemas e encorajavam as crianças na sua resolução; assim, fomos
mediadores pedagógicos.
Quanto às perspetivas profissionais futuras, o nosso papel passará sempre por
encorajar e motivar as crianças, torná-las seres autónomos e de lhes fazer perceber que
têm ideias, que devem procurar soluções para os seus problemas e nós estaremos
sempre disponíveis para os apoiar.
Agradecemos à equipa pedagógica que nos acompanhou e à instituição pela sua
partilha de saberes, experiências, valores e paciência. A supervisão das
educadoras/professoras contribuiu para o nosso crescimento profissional e pessoal, pois
ensinaram-nos a olhar para as crianças de outra forma, como seres participantes e ativos
em todo o processo, assim como a valorizar a entreajuda. Com este trabalho de equipa e
partilha melhorámos as nossas interações com os adultos e com as crianças.
Temos consciência que a nossa maturidade e experiência profissional ainda é
pouca, por isso procuraremos ter uma formação continuada, consciente e reflexiva, de
83
modo a acompanhar as exigências e a evolução do mundo atual. Esta formação
atualizada fará toda a diferença e posteriormente irá refletir-se no nosso trabalho com as
crianças e também, no nosso desenvolvimento a nível profissional e pessoal. Assim,
continuaremos a partilhar os saberes e experiências, a refletir sobre as nossas práticas
com um espírito crítico e investigativo e por fim, a valorizar o trabalho em equipa como
enriquecimento profissional e pessoal.
84
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