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prática expandida experimentação conceptiva rodrigo arraes gianoni trabalho final de graduação faculdade de arquitetura e urbanismo - usp

Prática expandida - Experimentação conceptiva

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Rodrigo Arraes Gianoni - Trabalho Final de Graduação / 2011

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rodrigo arraes gianoni trabalho final de graduação

faculdade de arquitetura e urbanismo - usp

orientação: carlos roberto zibel da costasão paulo, dezembro 2011

Agradecimentos

Jamais teria alcançado meu objetivo, e muito menos ainda um produto que me satisfizesse sem a ajuda de

pessoas queridas e importantes nesta trajetória. Agradeço principalmente ao professor Carlos Zibel por sua

orientação precisa, acolhe doura e dedicada; ao professor Paulo da Fonseca, pelo interesse e conselhos

preciosos. Aos meus pais, fundamentais e cujo apoio incondicional durante todos estes anos de faculdade

(e foram muitos!) me possibilitaram estar aqui. Aos trabalhadores do LAME, por seu auxilio na execução das

maquetes; ao Bolinha, que conseguiu para mim um projeto de temática semelhante; aos meus amigos e a

minha namorada, Fabiola Diniz.

INTRODUÇÃO

NOVOS PENSAMENTOS

AS VERDADES ABSOLUTAS

MODERNIDADE LÍQUIDA

INTERDISCIPLINARIDADE

METODOLOGIA A PRIORI?

DESMONTAGEM E REMONTAGEM

O METAPROJETO

INPUT E OUTPUT

TOP-DOWN x BOTTOM-UP

PRODUÇÃO INTEGRADA

METODOLOGIAS E PROCESSOS

ALÉM DO PROGRAMA

MÉTODOS EXPERIMENTAIS

PROPOSTA INICIAL

OBSERVAÇÃO

PROGRAMA E DIRETRIZES

A FUNÇÃO ESPACIAL

REFLEXÃO INTERMEDIÁRIA

PROPRIEDADE: GAIOLA

CIRCUNSTÂNCIA: ANÔMALO

IDENTIDADE: ENTUBADO

CASUALIDADE: ôCO

DESENCADEANDO

GAIOLA

ANÔMALO

ENTUBADO

ôCO

REVISÃO POTENCIALIDADES

REFLEXÃO FINAL

REFERÊNCIAS

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SUMÁRIO

prática expandida - experimentação conceptiva8

Cloud Cities, Tomas SaracenoInstalação de volumes geométricos inflados, alterando noções de lugar, espaço, futuro e gravidade, possível através de uma arquitetura de interação entre sujeito e objeto.

introdução 9

Colocar a metodologia no papel principal neste ponto permite compreender as etapas de projeto de uma forma não linear.

As soluções, pesquisas, desenhos, visitas, protótipos, referências devem estar em constante revisão e aprimoramento. Dar

margem para a reflexão dos processos projetuais é fundamental para a sua compreensão, por isto o resultado final não

deve ser abordado como um projeto sólido e apresentado com soluções definitivas, mas sim uma narrativa complexa e

fielmente organizada conforme a trajetória do trabalho.

Para que esta metodologia pudesse ser estuda com propriedade, foi necessário primeiramente compreender todo o novo

cenário contemporâneo pela qual a sociedade atravessa. O ato projetual atual ainda está demasiadamente atrelado as

necessidades do século XX, quando as relações e troca de informações eram estáticas, pouco dinâmicas. Porém, com

o avanço das novas tecnologias, a revolução na disseminação das informações e os formatos das comunidades de

consumo criaram um cenário mais liquido, e é neste cenário que se insere o trabalho, da modernidade líquida (Bauman).

A modernidade liquida permite que esta troca de valores aconteça constantemente, ao passo que define os processos

projetuais de forma absolutamente liquida e instável, sempre sujeita a transformações originadas de circunstâncias muitas

vezes imprevisíveis. A condição de fazer parte de uma realidade líquida pressupõe que a metodologia adotada também

não deva ser estática e rígida.

Estes processos devem, portanto, extrapolar os limites convencionais do projeto, absorvendo etapas prévias e posteriores

do mesmo. Acredita-se que somente com este olhar abrangente sobre o projeto é possível entender e conectar todo

o seu processo de concepção dentro da nova modernidade. E mais, começar a expandir esta atividade visa uma nova

perspectiva para o universo projetual, em especial para a arquitetura, em que se entenda que o edifício não deve ser

definido tão somente como uma “obra de arte” intocável e congelada na cidade; mas sim um instrumento que corresponde

às expectativas e os anseios de seus usuários.

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por princípio o estudo metodológico das etapas de composição do espaço e da interdisciplinaridade por meio da experimentação de formas, linguagens e funções. O principal objeto de estudo não é o produto final, mas sim os processos de desenvolvimento e construção projetual, narrando o caminho trilhado conforme ele aconteceu, com todas as suas indefinições, dúvidas e reflexões.

prática expandida - experimentação conceptiva10

No inicio deste trabalho, nunca se imaginou o percurso a se seguir até o momento em que ele começou a ser construído.

Os caminhos pré-estabelecidos, dados a priori, induzem soluções pouco pensadas e contemplativas, onde a produção

linear e direta acontece sem que haja nenhum tipo de reflexão. Isto é preocupante para o desenvolvimento de um projeto,

uma vez que uma série de possibilidades ficam pelo caminho, ao passo que a reavaliação do programa ou das diretrizes

inicias não faz parte do trabalho. Novamente colocando a modernidade liquida em questão, observa-se que o espaço

existe diretamente conectado as necessidades dos sujeitos que o usam. Portanto, a inconstância de tais necessidades gera

o anseio pela mudança para se adaptar a estas transformações, gerando valores e programas que sempre devem ser

revisados.

Como isto reflete no universo projetual e na concepção do espaço? É importante entender que um projeto, mesmo que na

prancheta tenham todas as suas mais possíveis variáveis, possibilidades e problemas levantados, a execução real de tal

consigo novos enfrentamentos antes obscuros. Não apenas durante sua execução, mas também durante toda a sua vida

útil. A inserção de tal projeto na realidade líquida exige uma reaproximação do criador para com a criatura, na intenção de

controlar e entender quais escolhas foram acertadas e quais foram erradas. O projetista apenas insere os valores de “input”

(conceito que será explicado no capítulo “Novos pensamentos”) dentro do sistema, o que acontece a partir dai foge

completamente do seu controle, ainda mais se considerado que agentes externos podem mudar a percepção de tal projeto.

A não ser que o mesmo esteja disposto a acompanhar toda a sua vida após o nascimento, e não abandoná-la como “obra

pronta”. O trabalho sempre esta em desenvolvimento (work in progress).

Ainda neste cenário, outras duas vertentes serão exploradas como participantes desta metodologia “experimental”: a

vivência espacial e a interdisciplinaridade. No primeiro caso sabe-se que não necessariamente um espaço permite uma

interação instantânea entre sujeito e objeto, homem e espaço. Ela só acontece quando os sujeitos passam a se relacionar

entre si, e esta relação aconteça também com o espaço. Assim, o espaço vazio e sem vida torna-se lugar. É usual, em

circunstâncias cotidianas, encontrar situações inusitadas para tais; espaços projetados de forma pomposa, acolhedora

e abertos ao público, mas que, por fatores diversos, jamais conseguem aproximação com as pessoas. Por outro lado, o

contrário também acontece, com espaços absolutamente impróprios que se “lugarizam” por ali estabelecerem condições

para isto ocorra. Estabelecer condições e entender o perfil das pessoas e da tipologia de projeto é fundamental.

A interdisciplinaridade, por sua vez, tende a combinar as diversas ciências pertinentes a um projeto, sem que haja a

sobreposição de valores. Aqui, todas as etapas de projeto devem se comunicar mutuamente, uma dependente da outra,

para que o resultado final seja condizente com um todo. O que se observa é uma clara influencia do conceito de “sistemas

complexos”, onde o todo será sempre maior que a somatória das partes, pois se entende que a parte comunica-se entre si

gerando novos produtos específicos. Aqui, a hierarquização acontece, porém menos autoritária. É comum o uso do sistema

onde a hierarquia e a linearidade de projeto são predominantes. O que aqui se propõe é o uso de um outro sistema para

que todas as disciplinas consigam trabalhar em conjunto, no mesmo tempo e espaço, objetivando um resultado em comum

e com uma integração muito mais forte.

introdução 11

Todos estes conceitos serão retomados no momento oportuno, onde cada uma delas será devidamente explorada

e sua importância indicada dentro do trabalho geral. O nome deste trabalho, “Prática Expandida”, é um termo muito

recorrente em outras disciplinas, em especial no ensino. Na área da arquitetura, ele surge pela primeira vez nas instalações

experimentativas do MyStudio, dos arquitetos Hôweler e Yoon, que diante da pouca versatilidade projetual, tiveram a

coragem para propor novas aproximações, novas idéias, novos processos. Este nome será emprestado neste trabalho

pois exemplifica perfeitamente o que será feito: uma extensão da prática, indo além daquilo que se condiciona e tentando

romper as complicadas barreiras do tradicionalismo conceptivo e projetual.

prática expandida - experimentação conceptiva12

Presente em grande parte do século XX, as teorias hoje usadas dentro do universo projetual (ou cultura projetual, como alguns afirmam) carecem de uma releitura para se adequarem a um novo cenário, a uma nova realidade surgida após sensíveis transformações da sociedade e dos seus desejos e necessidades. Com isto, não somente os projetos, mas a prática e a metodologia também necessitam de alterações e reavaliações.O fato é que, imerso nessas novas necessidades,

que exigem novas posturas dos profissionais

envolvidos no projeto, as tradicionais e batidas

fórmulas de projeto tornam-se obsoletas, ineficientes

ao tentarem responder os novos anseios. Não que

devam ser abandonadas por completo; muitas

delas ainda desempenham um papel fundamental

em boa parte da sociedade, ainda respondendo

positivamente as suas necessidades. Sem contar

que já está consolidado e absorvido pela grande

maioria dos profissionais. Entretanto, a releitura de

seus aspectos e abertura de suas atividades, que

cada vez mais passam a ser menos especificas e

mais gerais, invocam a mudança e a adaptação.

Mas, por que isto é relevante dentro desta pesquisa

e experimentação?

É importante, pois como proposta de uma

exploração experimental e investigativa, procurou-

se a liberação das amarras tradicionais que os

modelos de projetar modernistas concretizaram

e engessaram durante todo o século passado.

Compreender como estas relações ocorre, quais

foram os motivos destas transformações, em qual

momento ocorreu à abertura dos processos e da

realidade passa a ser de extrema importância para

um posicionamento sobre o assunto, estimulando

assim uma criatividade de acordo com a nossa

contemporaneidade. A idéia é mostrar como

diversos conceitos podem contribuir decisivamente

para a metodologia projetual, tanto quando se

dispõe a avaliar os novos conceitos emergidos ou já

se posicionam sobre estes especulando propostas e

refletindo.

Estes conceitos serão apresentados aqui

brevemente, com a profundidade necessária para

deixar clara a sua contribuição neste trabalho.

Evitou-se uma discussão maior em alguns temas

(apesar de serem questionáveis o suficiente para

isto), pois geraria uma discussão infindável e que

se distanciaria da proposta inicial do trabalho.

Entretanto, em alguns pontos se fez necessário

ampliar a discussão, pois era impossível passar em

branco por estas sem uma reflexão ou reavaliação

das questões.

NOVOS PENSAMENTOS

novos pensamentos 13

interagem e reagem a algumas novas variáveis

surgidas nas últimas décadas.

O modernismo sempre olhou para frente,dificilmente

para trás, sempre caminhando para o futuro, para o

“progresso”. O que é batizado como “modernismo”

desconsiderou parte das complexidades que a

cultura possui, negando sistemas que romperiam

com a estática modernista. De certa forma,

o modernismo (não todo ele, mas uma parte

considerável) rompeu com elos do passado

com um estilo vanguardista e internacional,

condicionando o homem a se relacionar com

o espaço e não o contrário. Muitas vezes, este

pensamento a não flexibilidade destes pensamentos

resultou em verdades absolutas, inegáveis, barrando

quaisquer outros tipos de pensamento ou código

que poderiam contribuir significativamente para a

produção, privilegiando uma solução pré-definida

independente do enfrentamento.

Aparentemente, as cidades contemporâneas

se afastaram deste cenário imaginado pelos

modernistas; ao invés da ordem industrial e lógica

temos um cenário complexo e diversificado.

Segundo Moraes (Moraes, 2010) esta complexidade

acontece por diversos fatores, como o nivelamento

da capacidade produtiva entre os países, livre

circulação das matérias-primas no mercado global

e a fácil disseminação tecnológica; juntos, eles

permitiram a produção de bens de consumo

massificados, compostos de estéticas hibridas,

colocando em cheque os conceitos de estilo e

estética adotados até aquele momento. Além disso,

as formas de interações sofreriam uma drástica

transformação: deixariam de ser estáticas para

serem dinâmicas.

As verdades absolutas

O cenário estático e previsível, característico de

boa parte do século XX, influenciou diretamente os

ideais do projeto moderno. Com a maioria destes

conceitos originados da lógica e razão iluministas

e das éticas e estéticas industriais (pelo menos

em sua primeira fase), fórmulas pré-estabelecidas

surgiram com o objetivo de determinar uma nova

ordem social, da integração e da razão construtiva.

A idéia de “salvação”, caminho para a felicidade

e organização sempre subsidiaram o movimento

nessas escolhas, pois se acreditava que o projeto

modernista era a “arca de Noé”(Koolhaas, 1976)

da sociedade. O projeto modernista previa o

controle sobre o futuro da sociedade, no sonho de

que o mundo seguiria uma lógica clara e objetiva.

Existiram uma série de outros movimentos paralelos

ao modernismo, muitos deles compartilhando alguns

de seus conceitos, mas o próprio se adaptou e

readaptou durante o século XX, originando diversas

fases ou faces.

O modernismo (ou a crítica dele) deu origem a

outro movimento, o Pós-modernismo. Este termo

já foi muito combatido por diversos pensadores e

historiadores, como Benevolo, que afirmou que o

uso do prefixo “pós” é inadequado, pois sugere

uma idéia de “superação de algo”, neste caso

do modernismo, o que não é verdade. O próprio

se predispõe a indicar outros prefixos cabíveis,

como “neo”, “pro” ou “anti” modernismo. De fato,

este movimento apresenta uma série de conflitos

de idéias, alguns acreditando ser o reflexo de

uma contemporaneidade plural e diversificada.

Independente da postura perante cada movimento

(o que não é pertinente dentro desta discussão),

é fundamental entender como estes movimentos

prática expandida - experimentação conceptiva14

Modernidade líquida

A melhor forma de introduzir está liquidez presente

na contemporaneidade e que resultará em

mudanças nas etapas de projeto é citar as palavras

de um dos pioneiros desta observação, Bauman,

que nomeou este fenômeno como “Modernidade

Líquida”. A citação a baixo (do seu livro de mesmo

nome, extraída de Bicudo, 2008) exemplifica

perfeitamente este pensamento:

“(...) “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”,

“transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”,

“pingam”; são “filtrados, “ destilados”; diferente dos

sólidos, não são facilmente contidos - contornam

certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou

inundam seu caminho. Do encontro com sólidos,

emergem intactos, enquanto os sólidos que

encontram, se permanecem sólidos, são alterados

- ficam molhados ou encharcados. A extraordinária

mobilidade dos fluídos é o que associa a idéia de

“leveza”. (...) Associamos “leveza”ou “ausência de

peso” à mobilidade e inconstância: sabemos pela

prática que quanto mais leve viajamos, com maior

facilidade e rapidez nos movemos.” ( Bauman, 2011,

pg. 8)

As revoluções nas comunicações, a velocidade

na troca de informação e, por conseqüência,

a redução na validade destes valores podem

ser apontadas como causas deste fenômeno.

Esta modernidade é um sintoma da mudança

comportamental das comunidades, que

deixaram de ser de “vida” e passaram a ser de

“destino”(Bauman, 2011). As “comunidades de vida”

são caracterizadas pelos estados fortes (estados-

nação), que ditavam os estilos de vida. Já as

“comunidades de destino” são representadas pela

liberdade de escolha, na qual as pessoas podem

escolher suas identificações e seus objetos de

consumo. Portanto, a dissolução de estados fortes e

regionais e o crescimento de um estilo internacional

forte e disseminado privilegiaram o crescimento das

“comunidades de destino”, criando relações mais

dinâmicas. Apenas como ilustração, uma relação

direta pode ser feita destas comunidades com os

movimentos projetuais. As “comunidades de vida”,

tradicionalmente estáticas e representantes dos

estados-nação, se relacionariam diretamente com

o primeiro movimento modernista (que foi, inclusive,

um movimento muito admirado pelos regimes

totalitários). Já as de “destino” necessitaram de

movimentos mais abertos, devido a sua flexibilidade

e fluidez de valores. Este último torna-se mutável

ao passo que as pessoas estão ansiosas por

identidade(s) e dispostas a consumir valores pouco

claros, gerando uma constante incerteza de valores

que se modificam conforme interesses diversos.

Neste cenário, o ato de projetar pode ser

compreendido como um momento de solidificação

desta fluidez, com a intenção de compor um

sistema de códigos que se encaixe neste fluxo

constante. Existe uma contradição aqui, uma vez

que este sistema dinâmico deve estar sempre

aberto a transformações para um balizamento do

projeto com a realidade, não podendo assim ser

tão “sólido”. Projetar, dentro desta fluidez, passa a

ser lidar com um universo de possibilidades e não

mais o encarar de maneira diacrônica, casual e

definitiva,

Além disso, as novas dinâmicas e o fluido da

contemporaneidade valorizaram aspectos

antes considerados secundários na produção,

Museu do futebol - SP, 2008Projeto multdisciplinar que envolveu filósofos, historicistas,

psicólogos, museólogos, arquitetos e designers

novos pensamentos 15

como as afetivas, emocionais e psicológicas,

multidisciplinares, que agora também fazem parte

do produto. Muitos dos cenários, antes estáticos,

passam a ter que lidar com este fluido e com

a interdisciplinaridade, como o marketing, a

arquitetura, o design e a comunicação, entrando

portanto em conflito com esta realidade mutável.

É compreensível, portanto, que neste cenário

instável, os profissionais mais atentos as

necessidades demandadas pelas pessoas e,

principalmente, aqueles que se anteciparem a

elas estão sujeitas a um maior sucesso. Eles devem

estar sempre preparados para atuar em campos

que vão além da sua formação inicial, adentrando

as demais e sempre estando disposto a convergir

para outras áreas do conhecimento. Além disso,

devem estar sempre preparado para mudanças,

interpretando, antecipando ou prospectando estas

novas realidades.

Interdisciplinaridade

A criação é um campo cada vez mais vasto. O

desenvolvimento e a presença de inúmeras novas

mídias e a velocidade da informação fazem com

que as disciplinas tenham a obrigatoriedade de

interagir entre si. Evidentemente, cada uma das

disciplinas tem que ter os seus limites bem definidos

e suas especialidades respeitas. A música cabe

aos músicos; o texto aos escritores; a fotografia

ao fotografo; a arquitetura ao arquiteto. Quando

todos estes passam a operar juntos, passa a ser

responsabilidade do designer/projetista operar

este sistema para que ele seja o mais harmônico e

eficiente o possível. Uma visão geral do processo,

muitas vezes confundida com a centralização da

produção (“o faz tudo”), mas que exige do designer

a capacidade de explorar a competência de cada

uma das áreas e especialidades (Bicudo, 2008).

A ansiedade pela busca de identidade, de

algo para se identificar, em uma sociedade

em que é possível “negociar” esta identidade,

resultado da liberdade de escolha da sociedade

contemporânea, segundo os conceitos do próprio

Bauman. Um dos motivos da necessidade do

trabalho interdisciplinar está na fragmentação das

formas de se expor uma linguagem, resultando uma

grande confusão de informações que prejudicam

a totalidade da informação. Portanto o trabalho

deve ser realizado por equipes multidisciplinares que

devem articular conjuntamente suas especialidades

para um produto final mais adequado. Intercambiar

linguagens passa ser indispensável para um novo

pensamento projetual, explorando intersecções

entre as diversas disciplinas.

O conceito de rizoma aqui se faz extremamente

importante. Para lidar com toda a complexidade

de um sistema interdisciplinar, em que existe a

intersecção entre as suas partes, incluindo o próprio

tempo, que passa a ser um fator de importante

prática expandida - experimentação conceptiva16

na reavaliação e redefinição deste sistema. Parte

do que nos ano 90 ficou conhecido como design

experimental (Bicudo, 2008) influenciou muito o

pensamento de trabalhar o processo para permitir

uma melhor integração entre as partes, devida

especialmente a complexidade que estes sistemas

interdisciplinares carregam consigo. Possibilitam

também um novo tipo de comunicação entre as

partes e um dialogo mais rico entre enunciador e

enunciatário.

Metodologia a priori?

Os modernistas (e também muitos ditos “pós-

modernistas”) fizeram crer que o método a priori,

estático e indiscutível de construção projetual era

a mais adequada e respondia com mais eficiência.

Este formato metodológico pressupunha elementos

de “fácil decodificação, por não serem híbridos, e

quase sempre construídos por conteúdos previsíveis”

(Moraes, 2010). Como citado, a referência ao

método modernista projetual percorreu todo o

século XX em um cenário estático, propondo uma

metodologia objetiva e linear, quase seqüencial.

Realmente, em certo instante, esta metodologia

correspondeu às expectativas impostas pelos

“consumidores” (a sociedade em geral), entretanto

as complexidades do novo cenário colocaram a

sua validade em cheque.

Promover, portanto, uma prática projetual que crie

padrões de desenvolvimento ao mesmo tempo que

absorve os próprios padrões obtidos (Bicudo, 2008).

E a fluidez desta prática projetual deve permitir uma

nova aproximação entre sujeito e objeto através da

identificação e contatos comunicativos, afastando-

se conceito inicial modernista da adaptação

do homem ao espaço que o cerca e criando

uma relação mútua. Apesar das complicações

em se trabalhar neste cenário experimentativo

(mais comum no design gráfico, por exemplo), a

arquitetura já deu seus primeiros passos em direção

a experimentação e ao exercício da espacialidade,

escapando da típica visão física (construída) para

a puramente espacial, da vivência. Basta observar

a quantidade de sites que funcionam como museus

virtuais, além de games que criam/recriam um

espaço virtual.

Esta metodologia deve ser compreendida como

uma organização dentro de um sistema liquido

que se constrói mediante um contexto. Em outras

palavras, as condições estilísticas dadas por estes

movimentos e apontados por diversos teóricos

(como Benevolo) são mutáveis e redefinas

conforme o processo se desenvolve. O projeto

é o desenvolvimento de um padrão inicial,

sendo constantemente acompanhado do seu

desenvolvedor durante um espaço de tempo, por

intermédio de processo de feeedback/ reavaliação

(Johnson, 2003). A questão estilística se esvai,

uma vez que busca uma constante operação de

leitura e releitura dos códigos, sendo “muito mais

dado pelo contexto do que por uma imposição

do projeto”(Bicudo, 2008, pg. 26). Esta operação

constante leva crer que os processos não devem

ser dados a priori, mas sim construídos conforme

o ato de projetar, em uma resposta constante a

reorganização destes códigos. A modernidade,

através de um programa e um planejamento

estático, tende a engessar esta versatilidade

da metodologia, ignorando outros fatores e

possibilidades. Possibilidades estas que superam

de forma singular a metodologia inicial, ao passo

permitem a abertura do campo projetual para

Galeria Melissa- SP, 2007Projeto de uma loja de calçados, que tem a proposta de uma fachada dinâmica, “mutante”, que se recria de tempos em tempos com artistas convidados.

novos pensamentos 17

a descoberta e reprogramação. Segundo Mauri

(Morais, 2010) o “ sonho de um desenvolvimento

contínuo e linear se fragmentou diante as

emergências que não foram previstas, e que se

demonstraram imprescindíveis.”

A crise na metodologia imposta pelos movimentos

predominantes do século XX é o resultado

da não adequação de suas diretrizes dentro

da complexidade aqui descrita. As novas

circunstâncias pelas quais o universo projetual

esta submetido coloca uma nova metodologia

como protagonista, uma vez que discutir a

organização e as condicionantes projetuais passam

a ser indispensáveis. Pensando em um sistema

previamente estruturado, podemos identificar três

etapas para este novo desenvolvimento projetual:

o problem finding, o problem setting e o problem

solving (Moraes, 2010). O primeiro, é encontrar o

problema, depois configurar as suas necessidades

e por final resolve-lo. Dentro deste universo de

projeto, a metodologia desempenha o papel de

intervenção flexível e dinâmica, abandonado a

especificidade e o pontual. Esta metodologia deve

lidar com questões muito mais complexas que as

anteriores, em especial quando aborda questões

que extrapolam as unidades projetuais tradicionais

e tangem aspectos não materiais e valores que

articulam outros sentidos.

Entende-se portanto, que a metodologia deve

dar suporte a este cenário liquido, participando

e interagindo diretamente com os componentes

de um sistema fluido. Isto dificulta o trabalho com

uma metodologia dada a priori, onde os caminhos

a se percorrer são conhecidos desde o inicio.

Somado a isto esta a ampliação do campo de

responsabilidades do projetista, extrapolando

os limites do projeto ao exercer influencia sobre

os indivíduos, promovendo reações e repostas

constantes dos envolvidos. Ao contrário do

engessamento moderno, em que o cenário gerava

os parâmetros de trabalho, o caminho aqui deve ser

trilhado conforme o avanço no projeto e, em alguns

casos, redefinida durante o percurso. Isto indica,

segundo Moraes, uma habilidade muito maior dos

designer/projetistas/arquitetos em lidar com as

informações disponíveis.

Desmontagem e remontagem

Um dos princípios mais importantes quando

estudamos a metodologia é compreender que esta

nada mais é do que uma constante operação entre

prática expandida - experimentação conceptiva18

desmontagem e remontagem de códigos. Isto se

justifica na própria falência da metodologia dada

a priori. Deleuze leva este conceito ao extremo,

quando afirma: “O artista clássico é como Deus, ao

organizar as formas e as substâncias, os códigos e

os meios, e os ritmos, ele cria o mundo”(Deleuze,

1997, vol. 5. pg. 216). Também nesta mesma linha

de raciocínio, Villém Flusser em seu livro “O mundo

codificado” aproxima a atuação do projetista a de

um profeta, pois não é somente um técnico, mas

sim um ser que possui um “olha-sentinela”(Flusser,

2007), dotado da consciência de responder pelos

outros homens, transformando objetos cotidianos

em veículos de comunicação (Bicudo, 2008).

Decodificar estes códigos e recodificá-los passa

a ser um importante fator para o sucesso de um

projeto. Uma das teorias mais exemplares de como

este funcionamento procede é a semiótica, que

“aparece como apoio fundamental neste ato

contínuo de projetar, a partir de sua capacidade

de desmontagem e remontagem dos objetos

analisados e de si própria” (Bicudo 2008). Portanto,

o projeto é uma associação entre dados iniciais e

de padrões que surgem conforme a profundidade

do projetista dentro deste e da interação deste

projeto com os agentes participativos. Em um

sistema tradicional de desenvolvimento projetual

tem etapas bem definidas de trabalho (programa

e projeto), adicionando a estes uma terceira etapa

que corresponderia a de reavaliação do sistema

depois de pronto. Entretanto, este pensamento já

pressupõe uma reorganização estruturada do ato

de projetar, estabelecendo um padrão pré-suposto.

Por exemplo, a etapa de reavaliação poderia

ser uma etapa intermediaria, como instrumento

de investigação e aperfeiçoamento tanto do

programa quanto do projeto mesmo quando ele

ainda esta processo de execução, produção e

pensamento. Portanto, o papel do designer pode

ser compreendido como algo muito maior do

que o simples ato de projetar, mas sim como um

verdadeiro descobridor de essências. Deve-se

aprofundar em um cenário mutante e complexo e

o papel do designer / arquiteto deixa de ser apenas

técnico e linear.

O Metaprojeto

As novas exigências aqui descritas obrigam os

projetistas a buscarem alternativas para se adaptarem

a elas; o universo projetual passa a cobrar uma maior

gama de conhecimentos do que antes, fazendo

o projetista ter que se aventurar por campos antes

pouco explorados, como o psicológico, semiótico

entre outros. Amplia-se o campo de atuação, ao

mesmo passo que se torna muito mais complexo,

exigindo uma ótica mais aberta e de poucos vícios.

As metodologias tradicionais, moldadas a priori,

já não correspondiam de forma positiva a estas

necessidades, em especial por pouco lidar com

as dinâmicas e contextos que envolvem o objeto

projetual; portanto, uma metodologia mais aberta e

dinâmica era uma alternativa a ser buscada. Assim,

surge o método conhecido como o Metaprojeto.

Originado do termo italiano “Metaprojecto” e

trabalhado pelo arquiteto Giuseppe Ciribini e

por Mario Oliveri, esta metodologia propõe uma

nova aproximação com as etapas de projeto,

desmembrando as diversas partes que a compõe

e as analisando individualmente. Este trabalho é

focado em reconhecer as partes dinâmicas e inter

relacionadas, estudá-las e identificando como

elas podem se reorganizar dentro do projeto. O

metaprojeto pode ser entendido como uma fase que

Siberian Airlines - LandorDisciplinas interagem-se na composição de um sistema visual

novos pensamentos 19

antecede a do projeto em si, pois existe uma abertura

muito maior de análise, cenários e possibilidades

do que quando o projeto é executado. O termo

“concept” (muito usado nas academias italianas)

aqui é recorrente, uma vez que o trabalho com a

concepção é a grande força desta metodologia.

Esta concepção atua como uma especulação de

um ou mais cenários, tanto na etapa inicial de um

novo projeto quanto como uma análise corretiva ou

de balizamento de um projeto já existente.

A grande singularidade deste sistema projetual

esta em não promover uma produção definida ou

definitiva, mas sim propor um alargamento “do seu

raio de ação próximo ao complexo conjunto de

atividades compreendidas em sua concepção. A

forma e a função contidas no projeto tornam-se o

ponto de partida e não o fim do projeto.” (Moraes,

2010). Aqui, não necessariamente resolvem-se

todos os problemas projetuais ou responde-se a

um programa previamente estipulado (como na

metodologia estática modernista), mas sim se

estudam as possibilidades e potencialidades de

um cenário abordado. Analisa-se um cenário atual

e especula-se um cenário próximo, obrigando o

projetista a lidar com as etapas já superadas em uma

atividade de reavaliação constante.

Importante colocar que o terreno de trabalho que

o projetista encontra aqui é a potencialidade como

sua produção. Considerando um sistema input e

output (que será abordado adiante), o metaprojeto

se dispõe a estudar profundamente todos os campos

e as potencialidades dos dados de inserção (input)

deste sistema, sem necessariamente definir os de

saída (output). No universo de projeto, isto significa

não prever um modelo de projeto único e definitivo,

mas sim “um articulado e complexo sistema de

conhecimentos prévios que erve de guia durante

o processo projetual.” (Moraes, 2010). Portanto ele

é um suporte importante para o projeto, dando

perspectivas de reflexão na sua elaboração e

pesquisa. Em outras palavras, o termo que vem

sendo usado para exemplificar esta metodologia é

bem sintetizadora: “ o projeto do projeto”. Não se

deve encarar o metaprojeto como prescritivo, mas

sim uma ferramenta de reflexão teórica, que induz a

decodificação do projetável.

Para que este “input” resulte em um ou diversos

“concepts”, é necessário estudar uma infinidade

de interações e condições, mapeando o cenário

de projeto e contextos. O resultado disso é uma

etapa “pré-projeto” mais importante que a própria

prática expandida - experimentação conceptiva20

etapa projetual, uma vez o sucesso deste pode

estar condicionado à compreensão correta deste

contexto. Portanto, o metaprojeto é um “pack of

tools”, responsável pela sustentação e orientação da

atividade projetual dentro da contemporaneidade

líquida, Ela não deve ser considerada uma substituta

a velha metodologia modernista, mas sim uma

paralela que se dispõe a estudar e criar os cenários

de atividade para esta metodologia, sendo uma

alternativa mais ampla e adaptável a diferentes

contextos do universo de projeto. Um importante

mediador da leitura da realidade e do ato projetual,

auxiliando este último a fornecer as repostas mais

adequadas ás complexas relações atuais. Esta leitura

da realidade possibilita não somente uma solução ou

resposta para uma problemática, mas sim abre um

campo de possibilidades e situações distintas, antes

não percebidas ou levadas em conta pela prática

projetual tradicional.

Conceitualmente, lida inteiramente com os dados

que compõe o “input”, atuando predominantemente

nas etapas iniciais de projeto. Esta afirmação,

defendida pelos seus idealizadores, pode não

verdade por completo. O metaprojeto pode e deve

atuar durante todo processo de desenvolvimento

e até mesmo durante a vida útil do mesmo, uma

vez que a realidade liquida criam necessidades

diferentes freqüentemente. Poder se adaptar e

readaptar pode fazer parte todo o processo e não

apenas no inicio de sua composição ou definição

do “concept”, dando os subsídios de reconstrução

projetual. ,

O metaprojeto é um percurso projetual de

observação da realidade e da não definição de

uma solução, mas sim da exposição de diversos

conceitos possíveis. Observa-se (analítica e

criticamente) o existente, explicam-se escopos,

objetivos e meios projetuais. Configura-se, portanto,

um cenário existente e previsto, que verifica uma

série de parâmetros como ciclo de vida, fatores

sociais, mercadológicos, que levará “a obtenção

de um mapa projetual que nos levará a uma visão

conceitual e, por fim, a um concept mais definitivo

antes da fase projetual” (Moraes, 2010).

Input e Output

Este conceito esta muito presente no texto de

Johnson (Johnson, 2003). Estes dois valores são

originados na linguagem de computação e na

elétrica. Através de experimentos juntamente com

programadores de softwares, Johnson chegou a

conclusão que só é possível controlar os dados de

inserção dentro de um sistema, os inputs. Em outras

palavras, por intermédio de uma seleção de dados

associados a alguns algoritmos (regras), o sistema

se desenvolve continuamente, e o seu idealizador

perde o controle sobre o resultado, sobre o output.

Conforme já citado, o metaprojeto pode ser

compreendido como o “projeto do projeto”,

o projetar mais especialmente estes dados de

“input” dentro de um sistema especulativo. Afasta-

se, portanto, a metodologia meramente como

uma produção linear e técnica, mas sim a da

produção e reflexão de uma realidade. Com isto, o

metaprojeto pode ser não apenas um definidor dos

dados de “input”, mas também um componente

importante de definição de possibilidades e regras

do sistema no qual estes “inputs” e “outputs” estarão

inseridos. Provavelmente, a única etapa pela qual o

metaprojeto não atua é o “output”. Considerando

ainda que o metaprojeto possa ser mais dinâmico

Cenpes Petrobras, Zanettini Arquitetura, RJ - 2010Projeto pioneiro na integração entre espaço de trabalho,

lazer e meio ambiente. O processo de projeto também seguiu esta visão de conjunto, uma vez que diversas disciplinas

(arquitetura, programação visual...) trabalharam juntas em um sistema bottom-up

novos pensamentos 21

do que os autores propõe, pode-se imaginar que

estes “inputs” e sistemas sejam dinâmicos, a partir

de uma reavaliação constante dos resultados

(“outputs”) deste conjunto combinados com a

fluidez da modernidade. Operar este conjunto

constantemente pode ser uma resposta interessante

a modernidade liquida. Pressupõe-se, portanto, que

o sucesso de um projeto está diretamente ligado

a capacidade de operar os “inputs” e o sistema e

avaliar constantemente os “outputs”.

Top Down (discurso) x Bottom Up (diálogo)

Os sistemas Top-Down são tipicamente hierárquicos,

onde uma significativa parte do processo é

desenvolvida linearmente, de cima para baixo.

Já o sistema Bottom-Up se difere por esta relação

não ser vertical, mas horizontal, onde o coletivo

é a prioridade ante o individual. Em um cenário

multidisciplinar fica clara a relevância deste sistema.

Steven Johnson, em seu livro “Emergência” (2003)

exemplifica isso neste trecho:

“múltiplos agentes interagindo dinamicamente de

diversas formas, seguindo regras locais e não

percebendo qualquer instrução de nível mais alto”

(Johnson, 2005, pg. 15)

Estes sistemas emergentes, segundo a visão de

Johnson, são observações da interação entre

sistemas diversos que geram padrões aplicáveis.

Processos emergentes, complexos e auto-

organizaveis (Johnson 2003) tornam-se fundamentais

para caracterizar sistemas operados “top-down”,

ante operados “bottom-up”(Johnnson 2003). A

simbiose entre as disciplinas é importante, pois

somente com uma organização neste sentido

que as partes conseguirão se compor de uma

Digital Water Pavillion, Zaragoza, 2008Espaço, gráfico e interatividade proporcionam uma nova relação do sujeito com o espaço dinâmico.

prática expandida - experimentação conceptiva22

reconhece isto, e busca uma terceira alternativa a

estes sistemas, onde a escolha pelo “top-down” e

“bottom-up” é o resultado de regras inicialmente

estipuladas em um projeto, que serão submetidos

a alguma análise para se definir qual dos dois

caminhos seguir.

Produção integrada

Para entrar melhor no assunto, observa-se o artigo

de Márcio Fabrício para a revista PÓS. Neste artigo,

o autor explora o conceito de reaproximação

entre as partes, remetendo a valores há muito

tempo perdidos, quando o artesão ainda tinha

o completo controle sobre todas as etapas do

processo. Conforme as profissões foram surgindo,

e a atividade manual passou a ser mecânica; e

muito mais do que mecânica, passou a ser em

série, ficou complicado para o profissional ter ampla

visão do projeto como unidade. Os trabalhadores

começaram apenas a lidar com a especialidade

com a qual eram designados.

A profissão de arquiteto pode ser entendida desta

forma. O autor usa como exemplo grandes projetos

de empreiteiras, mas este exemplo é plenamente

aplicável nas demais áreas. O projeto, como um

todo, demanda muito mais do que simplesmente

a arquitetura. Demanda projetos complementares

a este que são especializados nas suas respectivas

funções (exemplos: iluminação, elétrica,

paisagismo...). Considerando que cada uma destas

disciplinas corresponde a profissionais diferentes,

muitas vezes contratados como terceirizados,

costurar todas estas partes pode ser maçante.

E realmente é, uma vez que é comum encontrar

projetos com uma infinidade de incompatibilidades

entre as partes, como uma iluminação que não

forma mais harmônica, pensada conjuntamente

e não hierarquicamente. É importante colocar

que este sistema de organização proposto pro

Johnson é interessante, porém não é totalmente

funcional e aplicável, ao passo que um sistema

não necessariamente exclui o outro; o ideal seria

um sistema integrado entre top-down e bottom-up,

aproveitando-se das principais virtudes de cada

um deles. São compreensíveis as dificuldades em se

propor um sistema “bottom-up”, pois estes exigem

uma recombinação projetual que escapa do

convencional, obrigando a mudança drástica de

visão sobre os processos. Por outro lado, o “top-

down” propõe uma homogeneização produtiva

de pouco dinamismo, porém mais receptível

dentro do campo profissional. O próprio Johnson

arquitetura

comunicação

arquitetura

elétrica

estrutura

paisagismo

hidráulica

paisagismo

hidráulica

arquitetura

produto

gráfico

urbanismo

arquitetura comunicaçãoproduto gráficourbanismo

elétrica

estrutura

arquitetocoordernador

sistema de regulação e

reflexãometaprojeto?

arquitetura

comunicação

arquitetura

elétrica

estrutura

paisagismo

hidráulica

paisagismo

hidráulica

arquitetura

produto

gráfico

urbanismo

arquitetura comunicaçãoproduto gráficourbanismo

elétrica

estrutura

arquitetocoordernador

sistema de regulação e

reflexãometaprojeto?

arquitetura

comunicação

arquitetura

elétrica

estrutura

paisagismo

hidráulica

paisagismo

hidráulica

arquitetura

produto

gráfico

urbanismo

arquitetura comunicaçãoproduto gráficourbanismo

elétrica

estrutura

arquitetocoordernador

sistema de regulação e

reflexãometaprojeto?

arquitetura

comunicação

arquitetura

elétrica

estrutura

paisagismo

hidráulica

paisagismo

hidráulica

arquitetura

produto

gráfico

urbanismo

arquitetura comunicaçãoproduto gráficourbanismo

elétrica

estrutura

arquitetocoordernador

sistema de regulação e

reflexãometaprojeto?

Márcio M. FabrícioModelo de organização de equipessem coordenação

Márcio M. FabrícioModelo de organização de equipescom coordenação

Sistema de organização projetualtop-down

Sistema de organização projetualbottom-up

novos pensamentos 23

se adequa ao paisagismo, ou a arquitetura com

a elétrica. O motivo disto é a falta de visão de

conjunto. As trocas de informações ocorrem

unilateralmente; se por um lado esta troca é mais

rápida, por outro ela não integra as suas soluções

ao todo, resultando nas incompatibilidades

discutidas. Então, o autor propõe um novo sistema

de organização do trabalho, no qual o arquiteto (ou

um coordenador geral) se encarregaria de efetuar

a troca de informações entre as partes. O que

este trabalho propõe é um pouco diferente, mas

valido. Enquanto Fabrício acredita que as trocas

devam acontecer tão somente por intermédio

deste coordenador, aqui a proposta é que as trocas

também ocorram entre as partes, mas que elas

sejam validadas, documentadas e consultadas pelo

coordenador geral. Para um olhar mais claro sobre

as propostas, olhar os gráficos que se seguem.

prática expandida - experimentação conceptiva24

Projeto concurso La Villete - OMARepresentação marca época ao dispensar dados técnicos e investir no didático e no estudo das sensações

metodologias e processos 25

METODOLOGIAS E PROCESSOS

Como visto, a metodologia não deve ser dada a priori; ela deve ser construida conforme o desenvolvimento, conforme o projetista se aprofunda no universo de trabalho. É compreensível que permitir a abertura dentro de uma proposta é uma tarefa dificil de ser visualizada, ainda mais quando métodos muito consolidados e estabelecidos são o ponto de partida.

Propor uma nova forma de se projetar passa

a ser um desafio para aqueles que já estão ou

foram iniciados no universo do projeto. Como

conseguir criar e recriar processos em um cenário

já consolidado? Ainda mais na arquitetura, onde

sua lentidão em reconhecer e absorver novos

pensamentos afasta muito dos interessados na

investigação. Mais assustador é como esta atividade

de experimentar metodologias pode ser absorvida

por um mercado cada vez mais intransigente

e pouco receptivo ao novo, ao diferente. O

próprio arquiteto Mies van der Hoe afirmava

constantemente, quando questionado sobre a

semelhança muito grande entre seus projetos,

justificava que era impossível criar um projeto novo

toda a segunda-feira. De fato, o arquiteto estava

correto, mas vale lembrar que o cenário no qual

projetava era o estático modernista, e hoje as

novas metodologias e processos são obrigados

a investigarem e celebrarem as diversidades

Mesmo assim, iniciativas experimentativas existem,

e não são poucas; alguns se arriscam mais que

outros, é verdade, porém inovações sempre estão

sendo debatidas e propostas, sejam por projetos,

instalações, métodos pessoais ou simplesmente

pelas idéias. Experiências que refletem em diversos

pontos do universo do projeto sejam na concepção,

na execução ou na observação de uma

oportunidade de trabalho.

Neste ponto do trabalho haverá uma

exemplificação de como estes corajosos novos

produtores tem se esforçado no objetivo de ampliar

os horizontes projetuais. E muitos outros poderiam ser

citados, entretanto os aqui colocados não foram

selecionados por acaso; cada uma delas terá uma

contribuição importante para o desenvolvimento

do trabalho e das idéias que se seguirão. Portanto,

antes de avançar para fase propositiva e o inicio

das etapas produtivas, explorar um pouco a estes

processos e metodologias pode ser edificante, pois

quando aliadas aos novos pensamentos, ajudarão

na compreensão da seqüência do trabalho.

Danish Superharbor-BIGProjeto proposto pelos arquitetos ao governo dinamarques e alemão, a partir da observação de se liberar território na costa dinamarquesa para o turismo e adequar o suporte naval nacional as demandas européias.

prática expandida - experimentação conceptiva26

Além do programa

Em “novos pensamentos”, guiados na busca de

novas respostas para novos programas, alguns

arquitetos/designers se propuseram a rastrear

necessidades bem contemporâneas, antecipando-

se a possíveis clientes que as solicitassem. Esta

atitude passa a ser determinante na compreensão

metodológica e profissional atual, segundo os

fatores já mencionados. O posicionamento perante

os problemas e as propostas para os mesmos pode

ser algo novo e enriquecedor, porém muitas vezes é

ignorado por boa parte dos projetistas, em especial

arquitetos. Estes ainda preferem abordar a sua

profissão como uma resposta direta a um programa

estabelecido e não como um possível exercício na

construção do mesmo. O design, auxiliado pelo

“design thinking” (TIm Brown, 2010), conseguiu

avanços notórios neste sentido. Existe, portanto,

uma quebra tradicional do programa, agora não

mais fornecido ou solicitado por terceiros; o próprio

projetista pode ser o construidor de seu programa,

observador e desenvolvedor das necessidades.

Possivelmente, não existe melhor articulador que

este, uma vez que está imerso em universo de

projeto ao qual domina amplamente. Aqui serão

mostrados dois exemplos de como profissionais (no

caso da arquitetura, mais especificamente) teceram

seus olhares sobre problemas reais e propuseram

soluções por eles mesmos, independente de outros.

Danish Superharbor - BIG

Esta proposta tem origem a partir de uma

interessante observação do grupo BIG (Bjarke Ingels

Group sediado em Copenhagen, Dinamarca) sobre

o território e os portos da Dinamarca. Eles notaram

que a Dinamarca possui muito mais área de mar do

que de terra (aproximadamente o dobro) e a sua

costa possui dimensões muito significantes, sendo

que 2/3 da população reside nas suas proximidades.

Entretanto, boa parte desta costa esta ocupada

por atividades portuárias, que representam apenas

uma pequena fração na economia do país (ainda

mais comparada ao turismo, por exemplo). Eles

acreditam que usam seus melhores lugares com

o objetivo errado. Então, baseado em uma nova

demanda naval européia, que se expande para

o leste, e a necessidade de um novo porto que a

comporte, o escritório propôs um zona portuária

localizada no meio do mar báltico, entre a

Dinamarca, a Holanda e a Alemanha. Este novo

porto, além de ter uma localização estratégica,

libera parte da costa dinamarquesa para outras

atividades que são mais lucrativas para o país

(como o turismo). O projeto foi de absoluta iniciativa

The Bucky Bar - Studio for Unsolicited Architecture - NAIProjeto construído em uma tarde, em uma praça central de Amsterdã. É uma estrutura simples de guarda-chuvas que abrigam DJs, formando uma balada espontânea e momentânea, fechada com a chegada da polícia.

metodologias e processos 27

do escritório e de seus profissionais, sem um

intermediador ou cliente que a solicitou. Quando

levado e apresentado às autoridades responsáveis

e possíveis clientes, certa resistência aconteceu,

entretanto, para a surpresa do próprio grupo, a

proposta foi aceita e hoje se encontra em fase de

construção.

Studio for Unsolicited Architecture - NAI

Esta atividade é uma proposta inovadora do

escritório holandês, que propõe uma forma liberal

de produzir arquitetura sem estar atrelado a clientes,

orçamentos ou programa definidos. O projeto surge

através da observação, especulação, análise

e digressão de aspectos da dinâmica social do

ambiente urbano, observando a interação entre

as pessoas e cidade, propondo uma intervenção

arquitetônica que propicie isto. Este estúdio é

itinerante, promovendo diversos workshops pelo

mundo, inclusive no Brasil. A proposta surge através

do estudo especifico das relações das pessoas com

os locais e propõe intervenções que intensifiquem

essas relações. Muito antes de se propor a resolver

problemas ‘sociais’, onde a arquitetura é um ator

coadjuvante comportando um programa, coloca a

arquitetura como protagonista do espaço urbano,

sendo ela a mediadora entre as relações e o

espaço. Pode parecer conflituoso, mas é a grande

virtude dessa prática. Fora a questão libertária,

que leva a pensar na arquitetura como um meio

não como um fim em si mesmo, e a desenvolver

projetos sem as amarras do programa, do partido,

do conceito. É a arquitetura insurgente da própria

dinâmica do espaço – uma operação de vazios.

Os projetos deste grupo instigam pela diversidade

e criatividade de produção, indo desde festas

construídas com guarda-chuvas até pintar faixas de

pedestres no chão.

Métodos experimentais

Indo em outra direção da produção inovadora, ao

invés de lidar com o encontro de um programa e de

uma proposta, será abordada a experimentação

como desenvolvimento projetual. Em alguns

casos, são apenas respostas diferentes ou ousadas

das mesmas solicitações de projeto, apenas

experimentando alguns aspectos do projeto,

como forma e linguagem. Uma experimentação

pontual. Já em outros casos, esta experimentação

é mais profunda; a experimentação torna-se uma

ferramenta importante de validação de escolhas

e até mesmo de construção de programas e

definição de processos. Seguem alguns casos de

destaque.

White noise white light - Atenas, 2004Instalação interativa mesclando luzes e sons que respondem ao movimento das

pessoas conforme estas o percorrem, conturbando um ambiente inicialmente estático.

LoRezHiFi - Washington, 2005Instalação interativa, onde luzes captam o movimento das pessoas e reproduzem em

um telão de LED, descriminando uma série de comportamentos naquele espaço.

Light Drift - Intersect - Philadelphia, 2010Instalação de órbitas luminosas que interagem uma com as outras estimuladas pelas ondas e distúrbios do rio.

prática expandida - experimentação conceptiva28

Expanded Pratice : Höweler + Yoon - MyStudio

Como mencionado, a experimentação

metodológica da dupla de arquitetos foi

fundamental para a idealização deste trabalho;

não por menos, o batismo de suas atividades

nomeia este trabalho. A prática consiste no uso

da tecnologia como a ferramenta protagonista

na composição projetual, ao passo que permite

novas interações dos espaços com os sujeitos

que os usam. Além disso, eles usam e abusam

de sensações diferentes, como luzes e sons para

produzir novas percepções espaciais, em uma

atividade interdisciplinar notável. A combinação

(ou mescla) da arquitetura com instalações criam

valores combinados e recombinados dentro de

contexto. Mais que isto, permite uma reavaliação

e trabalham constantemente com as resposta dos

usuários, resultando em uma importante análise

do sistema, permitindo o reajuste e a adaptação

do mesmo conforme os dados obtidos. Em alguns

pontos, os experimentos ultrapassam a mera

intenção de promover a interação, passando a ser

um poderoso coletor e denunciador das atividades

e comportamentos humanos. Portanto, a dupla se

Stephan HenrichProdução digital permite uma combinação de funções convencionais com estilo, forma, e linguagem robótica.

metodologias e processos 29

aproxima de uma inovadora forma experimentativa

de contribuição indispensável para a composição

de um programa, podendo ser considerada uma

prática inserida no metaprojeto, apesar de em

nenhum momento clamarem por tal definição em

suas pesquisas.

Stephan Henrich - Robotic architecture

No sentido das novas experiências originadas pela

tecnologia, este arquiteto propõe um novo caminho

para se pensar às formas e a linguagem. Usando

programas paramétricos, ele cria composições

lúdicas partindo de algoritmos gerados segundo

alguns critérios pré-estabelecidos. O resultado são

formas únicas, ousadas e singulares, apesar da

linguagem se aproximar bastante das possíveis

pelos programas paramétricos. Existe uma

aproximação muito forte da produção de Henrich

com a máquina; o próprio nomeia suas criações

como máquinas que devem cumprir determinadas

função perfeitamente. Se por um lado, temos uma

metodologia tradicional no sentido de respeitar um

programa previamente pensado, a intenção de

procurar novos caminhos para se compor formas e

linguagens associadas com funções é uma atitude

de destaque.

Maquetes - OMA

O escritório de Rem Koolhaas é um dos

grandes incentivadores das novas produções e

pensamentos. É de seu grupo de profissionais uma

das mais simbólicas mudanças na forma de pensar

e apresentar o projeto, através da proposta para

o parque La Villete, em Paris. Mas o escritório não

se resume apenas a esta investida; é recorrente

encontrar entre seus trabalhos experimentações

volumétricas com maquetes, em especial de

Estudo maquetes - OMAEstudo de maquetes, aliada a um programa pré-estabelecido, define as formas e linguagens das construções.

Colagens - EMBTMontagem de imagens associativas ajudam a criar um sistema de referências que será importante na definição da linguagem e da forma projetual.

prática expandida - experimentação conceptiva30

ciada. Assim como o OMA, o EMBT não se dispõe a

reavaliar o programa ou abrir as portas para novas

percepções e articulações, entretanto o caminho

projetual que utiliza para definir as linguagens de seu

trabalho é particular. Aqui, ao invés de maquetes

físicas, encontram-se outras composições tendo as

texturas como ponto de partida, por meio de “ima-

gens referenciais” que possuem algum tipo de liga-

ção com o objeto de projeto. A construção e união

destas imagens geram gráficos de intensidade

forte, quase como colagens de referências, que ao

se comporem abrem espaço para definições de

linguagens e formas. Neste sentido, a metodologia

afasta-se da modernista, pois desconsidera a téc-

nologia como parte indispensável da linguagem (a

caráter lingüístico. Apesar de seguir a tradicional

composição programática da metodologia, ele

deixa que as formas e as funções fiquem abertas

e, a partir de interações com diversos materiais

durante a composição física, recria novas

disposições e relações. As maquetes, portanto,

contribuem significativamente para definição da

linguagem do projeto e para as composições

formais e funcionais nela presentes, apesar de não

se aprofundarem no questionamento de nenhuma

delas.

Colagens - EMBT

Este é um outro escritório que investe na diversidade

produtiva e na metodologia de projeto diferen-

Mapeando as sombras - Antony VescardiEm uma atividade educacional, metodológica e investigativa

Vescardi propõe obter novas formas a partir da sombra de estruturas existentes. Em um ato continuo de leitura e

releitura, ele incentiva a constante descoberta e os possíveis desencadeamentos que esta prática pode atingir, ao repetir o

processo exaustivamente com um mesmo objeto origem.

metodologias e processos 31

honestidade dos materiais), indo em direção a uma

nova construção lingüística avaliadora do cenário

de inserção projetual.

As sombras - Antony Vescardi

Para finalizar, após serem citados processos de

diversas naturezas, algumas que se aproximam

muito do cenário dinâmico e fluido da

modernidade, enquanto outros que propõe

apenas enfrentamentos diferentes do desenvolver

projetual, mais um caso desta última situação

serão estudados. A produção de Vescardi

extrapola por completo as referências anteriores de

desenvolvimento projetual (maquete e colagem)

indo em direção a uma nova apropriação e

composição. O processo de trabalho é complexo:

ao se observar estrutura pré-existente sobre a

incidência de uma fonte de luz, uma série de

sombras projetadas sobre um plano são obtidas. A

interação entre as estruturas e as sombras obtidas

da projeção gera uma metodologia particular,

de cheios e vazios, que passam a enriquecer o

universo do projeto. Este conceito, batizado de

“mapeamento das sombras” pressupõe o ato

de projetar através da construção das sombras,

imaginando como formas e linguagem podem

se combinar no sentido de nova possibilidade e

desdobramentos. Isto gera uma reação em cadeia,

onde a construção inicial gera uma sombra, que

depois passa a ser construída, para depois gerar

uma outra sombra a ser construída novamente.

Uma relação cicilica, porém sempre descobridora e

nova.

prática expandida - experimentação conceptiva32

As abordagens previamente descritas criaram o escopo de trabalho que deverá ser seguido. Os mecanismos que serão

usados são bem próximos aos do metaprojeto, onde o objeto de trabalho não é o projeto em si, mas sim todas as variáveis

que orbitam a esfera deste projeto e possibilitam que tal exista dentro da liquidez da contemporânea. Portanto, o que será

feito aqui são estudos completamente abertos, sem nenhuma indicação definitiva, mas todos embasados na realidade,

onde o campo das possibilidades e potencialidade de um sistema é a grande chave. Assim como visto, o primeiro passo

a ser dado é a observação, ou o “problem finding”. A partir de um olhar crítico, uma necessidade urbana e cotidiana será

encontrada. Esta necessidade deve permitir o trabalho interdisciplinar, que aqui ficará restrito apenas as tradicionais

disciplinas de projeto (arquitetura, urbanismo, design), pois um verdadeiro trabalho entre disciplinas exigiria uma inter-

relação profissional que aqui não será possível. Não será uma observação pura por completa, uma vez que o “objeto-

tema” deve corresponder a algumas expectativas de trabalho, como a integração entre arquitetura e programação visual.

Portanto, dentro desta possibilidade, a necessidade será encontrada e desmontada, para que seus problemas, relações,

adversidades possam ser explorados. Como o ato de projetar trilha o constante caminho da desmontagem e remontagem,

a etapa de observação se estenderá até o ponto em que praticamente todas as fontes de averiguação estejam bem

estudas, possibilitando assim remontagem deste sistema com base nestes dados. É importante reafirmar como esta

observação será indispensável para uma reconstrução dos sentidos. Nesta remontagem, serão propostas diretrizes e

programas alternativos e multidisciplinares, que visão a solução do conjunto e não a desfragmentada.

Dentro do metaprojeto, estaria sendo explorando todo o conjunto compreendido pelos inputs e o sistema, no qual os

primeiros seriam as análises obtidas pela desmontagem do objeto tema e o sistema as propostas de construção deste

sistema conforme um programa e diretrizes. Por outro lado, para não cair em um senso de estranhamento e subjetividade,

algumas possibilidades de outputs serão desenvolvidas, apenas em caráter expositivo/indicativo, mas que servirá

como ilustração dos objetivos alcançados pelo processo. Assim, o produto final serão todas as condicionantes para a

execução de um ou mais projetos, diferentes ou iguais em essência. O resultado será apresentado na forma de concepts

de desenvolvimento, ilustrações conceptivas de comportamentos e intenções sem a necessidade de se preocupar com as

questões técnicas e construtivas.

Levando em consideração a próxima etapa, a de observação, será mais detalhado como será feita esta seleção, quais

PROPOSTA INICIAL

investigação

cotidiano

necessidades

comportamentos

desmontagem

remontagem

viabilidadedinamismo

ciclo de vida

aplicação

estratégias

disciplinas

espaçourbanográficoprodutooutros

OBSERVAÇÃO

ANÁLISE

SELEÇÃO

proposta inicial 33

serão os critérios usados. Em um primeiro momento, ocorrerá a observação; a observação acontece no momento em que a

crítica se da conta de um problema presente e que se faz necessário a algum tipo de usuário/consumidor . Esta observação

abrange diversas frentes de pesquisa e pensamento, indo desde observações de sintomas urbanos característicos de certo

recorte, até comportamentos pontuais da sociedade. A seleção deveria ser feita crua, simplesmente como uma resposta

a um problema; em um cenário ideal, isto é possível, mas para conseguir abranger todas as possibilidades projetuais

imaginadas, ela deve corresponder a algumas expectativas preliminares. Elas são diversas, mas as principais e que serão

determinantes são as disciplinas e o dinamismo. O objetivo é conseguir trabalhar com uma tipologia que permita a

transição pelas diversas disciplinas do universo projetual (aqui considerado espaço, urbano, gráfico e produto) além dos

subjetivos., que não serão explorados por exigirem maior comunicação com outros profissionais. Além deste, o grande

motivador desta seleção é o dinamismo, por ser um forte sinalizador das mudanças estudadas pela modernidade líquida,

de valores pouco duráveis e constantemente mutáveis. Encontrar uma possibilidade projetual que induzisse a esta última

abre possibilidades que se fazem tão importantes quanto o próprio trabalho multidisciplinar. Portanto, encontrar uma

tipologia, um “objeto-tema”, que corresponda a todas estas virtudes e que articule estas possibilidades para um estudo

aprofundado e experimentativo é o próximo passo deste trabalho.

prática expandida - experimentação conceptiva34

Night Club em Berlim, AlemenhaCasamento entre arquitetura e design visual, música e interatividade.

observação 35

Inicialmente, estes critérios de seleção não deveriam ter um olhar viciado, sendo

que as propostas e diretrizes surgiriam conforme a investigação do mesmo e de

um estudo de elementos cabíveis de inserção em um programa multidisciplinar.

E, como já esperado, ao invés de uma seleção restritamente oriunda da

observação, houve uma constante análise das possibilidades e potencialidades

antes da escolha do mesmo. Por exemplo, a escolha de determinada tipologia

de projeto poderia desviar praticamente todo o foco do trabalho, distanciando

as soluções propostas das pensadas em um primeiro momento.

Isto expõe um problema dentro da seleção: nem todas as tipologias

permitem um trabalho de linguagem aberto o suficiente que possibilitassem

a experimentação. Diversos fatores podem reduzir estas possibilidades, como

excessiva importância de um valor regional (como um conjunto habitacional)

ou um estilo de vida próprio, muito especifica. Portanto, a escolha deveria ser

criteriosa o suficiente para compreender os limites de cada uma das propostas

levantadas. Dentre estas propostas, basta lembrar que o fator “multidisciplinar”

foi muito presente; foi, na verdade, a circunstância principal de escolha, pois

com ela as articulações em diversos níveis de comunicação ficariam muito

mais evidentes, seja na definição de um mobiliário, escolha de texturas em uma

parede ou composição de materiais gráficos.

OBSERVAÇÃO

Necessidades cotidianas. Usos corriqueiros. Serviços esporádicos. Através de um olhar constante de análise e crítica, foi feita uma pré-seleção de algumas possibilidades de projeto. Os critérios fundamentais de seleção eram que esta necessidade oferecesse a possibilidade de trabalhar o espaço (físico ou virtual) interdisciplinarmente e com certa dinâmica. As possibilidades foram abrangentes, indo desde lojas, redes sociais e até sex shops.

e oferecem não somente riscos aos usuários, como também falta de conforto e adaptação aos usos. Existe também pouca interatividade do usuário com o espaço em si; alguns ainda propõem uma interação entre a musica e painéis animados digitais, mas esta relação poderia acontecer em outras esferas também, em espacial naquela em que o sujeito não se dá conta que esta imerso no espaço. Por fim, outro ponto importante é a liquidez que este tipo de entretenimento possui. É comum que diversos destes espaços tenham um ciclo de vida reduzido, é a própria proposta do formato. Desta forma, sempre existe renovação de conteúdo e público, para que sempre exista um frescor de novidade e o empreendimento renove-se no primeiro sinal de desgaste. Esta dinamica acaba sendo decisiva na escolha de um sistema projetual flutuante, respondendo sempre as expectivas de determinados usuários.

Com base nestes critérios, a tipologia selecionada foram os centros noturnos de entretenimento e socialização, popularmente conhecidos como “baladas”. Diversos fatores pesaram para sua escolha, sendo o principal corresponder aos critérios postos como excenssiais. Em princípio, o que foi mais notório é como este tipo de construção contribui negativamente para a paisagem urbana. Normalmente são construções para uso quase que exclusivamente noturno, dispondo fachadas pensadas para este propósito. Com isto, é normal a presença destas “manchas” dentro da paisagem, que ganham outra dimensão à noite, mas que de dia são apenas grandes vazios. Outro ponto favorável a sua escolha foi à concepção deste espaço. A grande maioria deles são adaptações de armazéns, galpões e edifícios em desuso. Nenhum problema quanto a isto; porém estas adaptações muitas vezes não são adequadas

prática expandida - experimentação conceptiva36

observação 37

Peccato Night Club - SPCasa noturna paulista de simples fachada e difícil identificação durante o dia

Skol Sensation 2010Ambientação no Anhembi com instalações infláveis

para aproximadamente 40 mil pessoas

Casa 92Casa adaptada para baladas, sendo cada um dos

ambientes projetos para sumularem um festa em casa

prática expandida - experimentação conceptiva38

Investigação

Nesse ponto, com a tipologia devidamente

selecionada, é importante que a mesma seja

desvendada para deixar mais claro o leque de

possibilidades que permite. E não existe nada

mais apropriado neste caso do que um profundo

estudo de caso, com o objetivo de evidenciar

necessidades e valores em cada um dos projetos

relacionados. A posse deste estudo dará condição

para o desenvolvimento de um programa mais

consciente e próximo de uma necessidade ideal.

A primeira observação é a mais objetiva possível:

uma rápida análise destes estabelecimentos na

cidade de São Paulo. Neste mapeamento, grande

parte dos projetos estão alojados em edifícios

adaptados ou reformados para o seu uso, em

especial grandes galpões industriais em desuso. Por

tanto, é muito comum encontrar estas tipologias

em locais da cidade que já abrigaram edifícios

com tal finalidade, como por exemplo, a Vila

Leopoldina e o Brás, resultando em trechos das

cidades canalizadores destes serviços. Outro lugar

que concentra uma quantidade relativamente

alta é a Vila Olímpia, cuja urbanização recente

associada às dimensões dos lotes propiciaram um

centro noturno interessante. Entretanto, este formato

carrega consigo uma vantagem: a adaptação

destes logradouros não esta apenas limitada a estes

grandes galpões e antigos moinhos, mas também

a outras construções de menor porte, como

residências, facilmente encontradas no bairro da

Vila Madalena (SP), por exemplo.

Ainda em outros casos, são encontradas situações

extremas, tanto para pequenos espaços quanto

para grandes. Para pequenos, podemos citar a

Moinho Santo AntônioGrande moinho adaptado para as funções de uma balada,

ainda assim presevando as características originais do espaço

Sub- AstorPorão é o suporte de um

ambiente intimo

observação 39

adaptação de terraços e de porões; para os grandes, o Anhembi (que recebe

festivais e shows com certa freqüência) e até mesmo grandes campos abertos,

como chácaras, que recebem tanto shows quanto “raves”. Esta variedade de

instalações indica uma propriedade importante: o espaço incorporado por

uso não necessita obrigatoriamente transformar o mesmo, mas podendo se

adaptar, inclusive em alguns casos incorporando a própria construção como

parte das suas características. É o caso do Moinho Santo Antônio, em que o

edifício original, suas texturas e materiais, compõem o espaço juntamente com

os elementos específicos inseridos posteriormente para o projeto. Outros espaços

optam exatamente pelo oposto. Em alguns casos, como a Casa 92, uma casa

foi inteiramente reformada, cada um dos ambientes projetados por artistas,

arquitetos e designer diferentes, com o objetivo de simular uma festa em casa,

sendo as ambientações importantes nesta função.

O Sub - Astor também é outro exemplo desta

característica, onde um porão foi ocupado com a

intenção de criar um ambiente intimo e restrito.

Talvez o exemplo mais importante deste isolamento

da intervenção em relação ao espaço que o

suporta sejam os eventos esporádicos, como os

festivais eletrônicos e as “raves”. Nestes casos,

grandes espaços abertos (chácaras) ou fechados

(como grandes salões de exposições) são usados

eventualmente, recebendo instalações que não

devem alterar suas construções, adotando soluções

temporárias. Esta diversidade de instalações permite

possibilidades interessantes, reconhecendo o fato

que qualquer lugar pode de fato abrigar este

uso, contanto que se aparelhe dos instrumentos

específicos(que serão tratados mais adiante).

The Edge (primeira) e Studio SP (segunda)- São Paulo, SP

Fachadas pouco expressivas escondem interiores e não

sinalizam uso

FumódromosEspaços inadequados tentam se adaptar as novas leis anti-fumo

prática expandida - experimentação conceptiva40

Outro fator importante para se observar são as

fachadas de tais ocupações. Muitas vezes, os

rearranjos internos dos espaços pouco influenciam

na estética externa destas construções. Ao

contrário, a maioria destes espaços acabam por

possuir fachadas absolutamente inexpressivas

durante o dia, mas que a noite, com o auxilio das

luzes de, ganham vida, É até mesmo complicado

definir o seu uso durante o dia, o tornando em um

absoluto “fantasma” e irreconhecível para quem o

vê em outras horas do dia. Interessante como este

fenômeno se assemelha muito com uma famosa

cidade: Las Vegas. Robert Venturi explora muito isto

em seu livro, Aprendendo com Las Vegas (Venturi,

Brown, Izenour 2003), desvendando como a cidade

A variação na ocupação trás consigo alguns

problemas, especialmente espaços mal preparados

para receber tais eventos; claramente “não-

projetados”, muitos sofrem com diversos problemas,

como ineficiência acústica, ausência de um

número suficiente de sanitários, péssima adequação

as leis de segurança, péssimas condições de

conforto, entre outros. Muitos ainda se adaptam

corriqueiramente e despreparadamente às

novas leis, como a da proibição de fumar em

ambientes fechados regulamentada pelo governo

do estado de São Paulo, muitas vezes ocupando

áreas externas e não propícias (como calçadas),

tornando-as “fumódromos”.

Las Vegas - dia e noiteDiferença de profundidade e persuasão.

observação 41

é transformada durante a passagem do dia para

a noite, criando novas profundidades e relações

muitas vezes bastante persuasivas. Este fenômeno

acontece, pois existe uma necessidade evidente

de criar uma vida noturna chamativa, de destaque,

fazendo com que os visitantes da cidade sintam-se

atraídos e dispostos a freqüentar tais lugares, sendo

cassinos e hotéis em sua maioria.

Enquanto algumas “baladas” e night clubs optam

por soluções fáceis e quase provisórias, que na

maioria das vezes são desagradáveis para os

freqüentadores, outras vão contra a maré e se

propõe a seguir soluções não tão simples, mas muito

mais eficazes e interessantes. E exemplos não faltam,

em diversas partes do mundo e também no Brasil,

algumas delas inclusive servindo como referência

em diversas publicações especializadas. Aqui

serão expostos três destes projetos, escolhidos por

apresentarem singularidades importante de serem

ressaltadas e que contribuirão decisivamente para

a formulação de diretrizes. A primeira é a Roxy/

Josefine, do arquiteto Fred Mafra, na cidade de

Belo Horizonte, mesclando de forma contundente

o espaço com o grafismo e a iluminação; na

seqüência a D-edge, do artista Muti Randolph e dos

arquitetos da Triptyque, na cidade de São Paulo,

que compreenderam a comunhão entre arquitetura

e design visual desde as etapas preliminares de

projeto; e o Lab Club, do grupo multidisciplinar

RISCO, também na cidade de São Paulo, resultando

em um interessante trabalho que abrange diversas

disciplinas, até mesmo a gastronomia molecular.

prática expandida - experimentação conceptiva42

Roxy/JosefineArquiteto: Fred MafraAno: 2007/2011 (reforma)Belo Horizonte - MGÁrea construida: 955m2

Capacidade: 1500 pessoas

Espaços(áreas aproximadas)

Área fumantes - 55m2

DJ - 72m2

Pista - 420m2

Lounge Lounge vipBarCozinhaDepósitoCopaEscritório

CamarimEntradaCheck-InChapelariaPalcoÁrea técnicaCheck-outBanheiro masc - 8 cab.Banheiro fam. - 6 cab.Banheiro acessi. - 2 cab.

Reforma e ampliação de uma casa noturna já

existente, com uma proposta de união entre

sensações estimuladas por diversos ambientes,

alguns compostos de materiais reluzentes e grafismos

e outros somente por luzes e formas geométricas.

Possui três bares (localizados próximo as pistas de

dança), quatro camarotes vips (podendo serem

recombinados e transformados em apenas um),

dois lounges e área para fumantes com teto

retrátil. Segundo o autor do projeto, os pilares de

desenvolvimento foram à comodidade, o escapismo,

a flexibilidade e a tecnologia. O principal elemento

de linguagem são os hexágonos, que são explorados

em diversos tamanhos e proporções. Estes hexágonos

se espalham por todas as paredes internas e

também pelo forro e, com o auxilio de luzes de LED,

proporcionam outra forma de tridimensionalidade,

além de dinâmicas luminosas singulares.

observação 43

AcessoCaixasAdministraçãoPistasLounge

D-EdgeArquiteto: Muti Randolph / triptyque arch.Ano: 2003/2011(reforma)São Paulo - SPÁrea construida: 648 m2 Capacidade: 900 pessoas

Espaços

Casa de música eletrônica, trazendo uma proposta

de interiores que utiliza um software que sincroniza

o jogo de luzes com as musicas e as animações

projetadas nas paredes, pisos e tetos. É uma outra

experiência de vivência espacial, através das

ondas sonoras que alteram a arquitetura do espaço

conforme os ritmos das músicas. O conjunto e

sobreposição de luzes se entrelaçam, criando um

ambiente dinâmico, fluido, que se altera como se

o ambiente estivesse tremendo, interagindo. Este

aspecto só é compartilhado pelas pistas, enquanto

os demais espaços, como os lounges e bares (o

afastado sãs pistas), são mais tranqüilos e menos

agitados.

prática expandida - experimentação conceptiva44

Lab ClubArquiteto: RiscoSão Paulo - SP

Área Construida: ? Capacidade: 226 pessoas

O antigo galpão da rua Augusta foi parcialmente

reformado, mantendo suas características principais,

recebendo um anexo funcional com escadas,

banheiros e administração. A ligação entre o antigo

e o novo é feita através de uma estrutura de metal

e vidro, que, desde a fachada, percorre todo o

galpão – um dispositivo transitável que abriga bares,

caixas e passagens, ao tempo em que serve de

suporte cenográfico para projeções que iluminam

o ambiente. Descendo a meio nível, ao ar livre, há

um quintal com jardim, banco e deque de madeira,

onde se pode fumar. No piso inferior fica uma pista

intimista, envelopada de borracha, com projeção

widescreen atrás do DJ e um dinâmico sistema de

iluminação em leds.

O projeto de arquitetura e identidade visual do LAB

é assinado pelo estúdio RISCO, que participou da

concepção e implementação do clube, de maneira

coordenada, no sentido de um design total: auxiliou

os proprietários na escolha do imóvel, desenhou

a reforma do espaço, equipamentos funcionais

(bancadas, balcões, sofás, apoios), displays

promocionais, logomarca, sinalização, cardápios e

site.

O bar transcende a proposta multidisciplinar

com a coquetelaria molecular, tendência da

mixologia contemporânea que aplica técnicas e

equipamentos da vanguarda gastronômica mundial

na elaboração de drinks, alterando a estrutura física

e química de ingredientes para a criação de novas

texturas e formas.

Skol SensationAssociação entre balões

infláveis e luzes compõe o ambiente

Balada silenciosa SoniqueInterações acontecem

conforme a música, aqui por meio de fones de ouvido

Disco ClubAmbiente mutável, sempre com novidades visuais

observação 45

Além destes projetos, alguns outros exemplos mais pontuais contém interessantes características. Ainda

na cidade de São Paulo, encontra-se a Disco Club, do arquiteto Isay Weinfeld. Aqui, um antigo galpão foi

reformado, propondo uma série de alterações de materiais, revestimento e linguagens conforme o tempo,

resultado em um frescor constante ao espaço. Um exemplo mais singular é balada Sonique, localizada em

São Paulo, onde eventualmente ocorre a chamada balada silenciosa; com fones de ouvido ao invés de caixas

de som, o público interage de outra forma, resultando em novas percepções e vivências. Outro exemplo, já

previamente citado, é o festival eletrônico Skol Sensation, que desenvolve uma linguagem particular com

balões infláveis e muitas luzes, criando o espaço de uma forma diferente e propicia, escapando da tradicional

solução construtiva.

Berghain BerlinJogo de luzes respeita o edifício e é a principal linguagem da balada

Berghain BerlinMaterial gráfico de divulgação (flayer)

prática expandida - experimentação conceptiva46

Já no cenário internacional, encontramos outras características pertinentes. A Berghain Berlin é possivelmente

uma das mais interessantes. Aqui, o espaço é composto em um antigo edifício claramente identificado com a

linguagem da arquitetura alemã, com sua rigidez formal, simetria e peso. Existe um respeito muito grande pelo

edifício original, já que todo ele foi completamente preservado, tornando a única intervenção o jogo de luzes

na fachada e alguns dos revestimentos existentes internamente.

Outra curiosidade nesta balada são as diversas campanhas desenvolvidas periodicamente, buscando atrair

públicos diversos. Neste caso, uma série de artistas são convidados para fazerem as artes do material gráfico

de divulgação e produtos de venda (como suvenirs). Estes produtos não apenas atraem o público, mas dão

um frescor de novidade e renovação constante ao empreendimento. Entretanto, uma linguagem central

sempre é mantida, aproximando-se todas as linguagens esporádicas a um tom sublime, destinado a um pú-

blico mais jovem e urbano da cidade de Berlim.

Berghain BerlinMaterial gráfico de

divulgação

InteratividadePaineis LED interagem

público, espaço e som

Vistas exóticasHorizontes e cidade tornam-

se plano de fundo

observação 47

Além destes, outros também se destacam por partidos singulares em sua concepção. Em alguns, a cidade e

o “skyline” fazem parte do pano de fundo, aproveitando vistas inspiradoras. Em outros casos, uma interação

ousada é proposta. Um grande painel de luzes de LED programadas por um computador respondem a

estímulos tanto musicais quanto dos usuários que estão na pista, excedendo a tradicional relação entre sujeito,

espaço e o acontecimento.

prática expandida - experimentação conceptiva48

Antes da elaboração, foi proposto um estudo sobre a interdisciplinaridade, afinal ela é dos pontos fundamentais

aqui apresentados. Para que o programa seja desenvolvido, antes de tudo é imprescindível entender como as

diversas partes deste sistema se integrarão e, principalmente, como se adequarão ao sistema de linguagem

proposto. Estas partes em comunicação e conexão resultam em um programa específico para cada atividade

e um total, que deve somar as partes integrando-as sensivelmente.

Em outras palavras, a interdisciplinaridade reinvidica uma comunhão entre as partes e ampliação do campo

de abrangência. Aqui, apenas foram citados exemplos originais das artes, como arquitetos, designers, artistas

plásticos, músicos...Porém o campo pode ser muito mais vasto e incluir profissões como psicologia e economia.

Portanto, este hibridismo de soluções e profissionais específicos só tende a engrandecer a qualidade dos

projetos.

Tomando por base a interdisciplinaridade estudada, definiram-se quatro disciplinas de projeto que deveriam

se integrar da forma explicita. Todas elas teriam uma conexão estreita entre cada, de forma direta, porém

com o auxílio de algum tipo de regulador, coordenador, que fizessem com que estas partes se articulassem

em prol de um produto final melhor. Antes que estas disciplinas fossem escolhidas e especificadas, algumas

diretrizes gerais, que serviriam como base para cada um dos trabalhos foram pensadas. Estas diretrizes devem

ter presença marcante em cada uma das disciplinas, como condição essencial.

• identidade mutável e adaptável - a idéia por trás disso é não criar um espaço(s) rígido, intransponível,

mas sim que possa acontecer e reacontecer de diversas maneiras dentro do seu universo. Para isto, todas

as disciplinas devem trabalhar com a idéia que estão produzindo um ciclo de vida projetual real; ele deve

ter começo, meio e fim. O fato de já projetar sabendo que um dia o objeto fatalmente deixará de existir é

complicado, mas abre ótimos precedentes para requalificação do trabalho e renega a idéia de se trabalhar

com uma arte estabelecida e intocável.

• explorar ganho e perda de valores - neste tipo de empreendimento isto é importante. Na verdade,

a realidade é que muitos dos “donos” de tais “baladas” já inauguram seus estabelecimentos imaginando que

PROGRAMA E DIRETRIZES

O fim das etapas de observação e investigação dá largada ao início da elaboração do programa e das diretrizes, que serão parte importante na composição do complexo sistema nos moldes do metaprojetual. Não serão colocadas como regras rígidas e absolutas, mas sim possibilidades amplas e passíveis de futuras revisões, em especial por apenas considerarem uma fração das possibilidades.

programa e diretrizes 49

ele terá uma vida útil determinada. Isto já faz parte do processo de confecção destes espaços. Entretanto, o

que aqui se propõe é uma organização de tal processo, na tentativa de brecar com a idéia de “mudar para

renovar” e sim “mudar para mudar”, atingindo os diversos públicos pelos seus interesses particulares e não

para oferecer uma sensação superficial de “novidade”.

• espaço físico indeterminado - a mais importante das diretrizes. Como visto durante a observação

das referências de trabalho, esta tipologia tem uma curiosa adaptação ao espaço que reside; ora ocupa

pequenas casas, ora grandes galpões. Esta variedade acabou por se tornar o principal elemento definidor

deste sistema, pois não haverá nenhum lugar, terreno, abrigo, ou outro espaço físico para se empregar o

sistema; aqui se considera que o uso é livre, adaptável a qualquer situação, como um sistema viral que se

espalha sendo por composições de fachada, mobiliário ou até mesmo um drink.

Estas diretrizes, portanto, ajudarão na composição de cada uma das disciplinas, que devem segui-las como

método de validação do trabalho. Partindo disto, temos as primeiras escolhas de cada uma delas, além

de qual produto de projeto seria mais cabível em cada caso, em uma primeira análise. A seguir estão às

disciplinas a serem trabalhadas e os produtos propostos que cada um gerará.

Espaço

Principal disciplina de estudo deste trabalho. Como conceber um espaço que esteja de acordo com as demais

disciplinas e as diretrizes? Inicialmente, entende-se que o espaço não deva ser algo fixo, e sim maleável as

novas necessidade impostas não apenas por esta tipologia de projeto, mas também pela realidade líquida. O

espaço, portanto, deve fazer parte do ciclo de vida do restante. Este ciclo de vida deve vir deste a etapa mais

primordial de projeto, desde a sua composição, execução, nascimento, uso e desuso. É importante considerar

todas estas fases no inicio do projeto, pois elas serão decisivas para os desenhos, escolhas de materiais, etc.

A seguir estão algumas das preocupações que serão levadas em conta durante o processo de desenho do

espaço.

• interatividade - para uma melhor relação entre o usuário e o espaço, será proposta uma interatividade

entre ambos. Tanto do usuário para com o espaço, quando o inverso, seja por estímulos sonoros, táteis, entre

outros. Evidentemente, tal interatividade por si só não é suficiente para criar o espaço comunicante, porém já

possibilita uma interação interessante entre as partes.

•dinâmica e versatilidade - é complicado propor algo neste sentido nos dias atuais. Com a tecnologia

fulminante e em constante transformação, criar um espaço que esteja sempre receptível a novas funções é

complicado. O mais comum é que as novas funções sejam “encaixadas”, sobrepostas. O uso de materiais de

fácil manutenção e de sistemas de construção que possam ser desmontados podem ajudar nesta adaptação.

prática expandida - experimentação conceptiva50

• construção e desconstrução - o uso de novas técnicas construtivas mais flexíveis, como estruturas

de aço, painéis, sistemas pré-fabricados, ajudam não apenas na construção, mas também na desconstrução

do espaço. A idéia é que nenhum dos espaços seja plenamente rígido; porém, tal liberdade de construção

deve ter algumas regras para um melhor controle. Pensando em uma “base mínima” e uma “base máxima”,

ou seja, dependendo das condições de inserção urbana. Um projeto em uma cobertura de edifício terá

limitações que não estarão presente em um projeto em um terreno aberto, por exemplo. Compreender como

estes sistemas construtivos se comportarão em diversas aplicações faz parte do processo.

• uso e reuso - segue muito do colocado no ponto anterior. Com a construção mediante a

necessidade de uso, a desconstrução gerará uma série de materiais sem um uso aparente, mas que poderão

ser reconstruídas em outras partes, em outras unidades do projeto, como um sistema “nômade”, que sempre

busca a área de maior demanda para se aplicar. Evidentemente, perdas pode haver no caminho, portanto

novamente as técnicas construtivas devem ser exploradas a exaustão.

• reciclagem - com o uso e o reuso e as inevitáveis perdas materiais, será importante fazer uma

escolha destes que ofereçam a possibilidade de reciclagem.

Gráfico

O projeto gráfico será aquilo que conterá a maior parte da linguagem, estando também presente

espacialmente. Existem planos de trabalhos variados neste quesito; pode-se pensar em painéis digitais,

produtos impressos, virtuais (luzes, vídeos, projeções). A linguagem é fundamental, e não necessariamente

deve estar condicionada a uma solução técnica apenas, mas se construindo por si própria.

• marca - apesar da liberdade da identidade, é necessário que exista uma identidade única para

o conjunto, que demonstre e especifique o tipo de serviço fornecido. Um nome, logo, papelaria, entre outras

peças. Identificar é uma peça chave, que deve fazer parte de todos os demais campos, como a arquitetura.

• divulgação - ferramenta de disseminação, conhecimento e aproximação dos usuários com

o empreendimento. Deve haver sempre uma atualização entre todas as suas peças, resultando em uma

divulgação clara, objetiva e única. Existem três caminhos passiveis de exploração: sites, viral e impresso. Os

sites são tradicionais, sempre carregando informações de acontecimentos, serviços, datas, entre outros.

Portanto é o principal informativo sobre o que se passa. O viral é uma novidade no ramo da divulgação. Com

sites falsos, e-mails e usando redes sociais, este é um meio mais pontual e menos informativo geral, como o site.

Neste caso, apenas um acontecimento é destacado. Por fim o impresso, no formato de cartazes e flayers que

também participam de uma divulgação mais pontual e em destaque.

programa e diretrizes 51

• painéis interativos - podem ser digitais ou não. Interagir com os usuários e o ambiente ou não.

Eles são importantes, pois elevam o grau de entretenimento e vivência a um outro patamar, mais amplo e

envolvente, podendo ser de alta-tenologia (visores de LED, painéis interativos) ou até mesmo de baixa, como

paredes de gelo ou de lousas para giz de cera.

• produtos e souvenires - sacolas, cartões, ingressos, cds, camisetas, chaveiros, livros de arte, tudo

deve englobar as duas identidades, mas especialmente a da campanha. Aqui se entende que este possa vir

a se tornar uma ótima proliferação da arte, na qual ela é aplicada na identidade da balada, geram produtos

comerciais e livros e cds que façam parte da divulgação dos autores e artistas envolvidos.

• sinalização - sinalização interna dos espaços, usando somente a linguagem geral do projeto.

Produto

Esta disciplina será pouco explorada neste trabalho. Apenas algumas diretrizes serão postas devido ao tempo

de execução, quase nenhum produto será aprofundado. O produto é simplesmente traduzir aquilo que foi

proposto nas demais disciplinas na confecção de materiais como louças, mobiliário, equipamentos, etc. A

escolha dela como disciplina participativa e diferenciada é a possibilidade de um trabalho mais específico,

e com isso obter resultados mais satisfatórios do que os de costume. Ainda é necessário se explorar um pouco

mais o território de projeto para uma melhor definição do que esta disciplina conseguirá contribuir efetivamente

para a produção final.

Urbanismo

A quarta disciplina. Fazer a concepção do espaço não se deve jamais desconsiderar a inserção urbana.

O que mais importa no urbanismo é como inserir o espaço no contexto urbano sem que este resulte em um

impacto negativo para a vizinhança, para o tráfego, entre outros. Como a idéia (inicial, ao menos) é tornar

este espaço como sendo um grande atrativo diurno também, de lazer e ócio; e se isto não possível, pelo

menos que permita uma fachada mais agradável de ser vista a luz do sol. Não haverá, entretanto, nenhuma

seleção de terreno (s) para verificar os impactos. Possivelmente isto fragilizará um pouco as escolhas, porém a

complexidade das questões pertinentes a implantação são todas reconhecíveis O que se propõe, portanto, é

apenas uma análise subjetiva de como esta inserção acontecerá, sem maior profundidade.

Como pode ser visto, as disciplinas de espaço e gráfico estão mais detalhadas, e não por acaso; elas serão

o grande foco deste trabalho, pois se entende que com o tempo e os recursos disponíveis os resultados serão

melhores. Na seqüência, existe um gráfico para fácil visualização das disciplinas e produtos de trabalho. Após

uma proposta especulativa espacial, onde por intermédio das análises feitas em etapas anteriores foi possível

extrair uma resposta ao programa.

eixo

prin

cipa

l de

lingu

agem

interatividade

souvenirsequipamentos

outros

distribuídos

luzescartões

sacolas

pulseiras

fake sitee-mail

cartaz

flayer

nome

simbolo

virtual

outros

saída

acessos

caixaslogobanh. estático

massa

individual

comércio

dinâmico físico

rede social

sofaspoltronas

puffs

bancada

prateleiracopos

utensílios

bancos

banheiros

indicações

estar

bar

não int.

interno

guiascomportamentos

interesses

gastronomia molecular

música

acesso

entorno

entorno

fachada

fluxos

visualfinanceiro

indicativas

identidade

externo

interativos

logo

site

impresso

viral

papelaria

mobiliário

localização

sinalização

acabamentos

paineis

marca

divulgação

paisagem

impacto

comunicação

estudos

disciplinas

versatilidade

dinâmica

construçãodesconstrução

reciclagem

ESPAÇO

PRODUTO

URBANO

OUTROS GRÁFICO

regulador

prática expandida - experimentação conceptiva52

Ocupação especulada = 1000 pessoas

Distribuição do programa pela área estipulada (ver detalhes)

Área total prevista= 1062 m2 (+ 20 % circulação)

+

programa e diretrizes 53

A Função espacial

Um dos pontos mais importantes de desenvolvimento é o de um sistema funcional aberto, que permita o

emprego em diversas tipologias diferentes e adaptação a situações especificas. Pode ser sim considerado

uma “receita de bolo”, na qual os espaços são estipulados para determinada capacidade de frequentadores

baseando-se em leis do estado e projetos existentes. A grosso modo, o objetivo é dar a possibilidade de se

estudar o depois disso; cruzar um sistema funcional a um sistema de linguagem e observar o resultado. É

comum ( em especial em uma arquitetura modernista que levanta a bandeira da lógica e da razão) considerar

este sistema funcional já o projeto definitivo; sua forma é o resultado da combinação de seus espaços e sua

linguagem os materiais aparentes, a construção “nua”. Entretanto, com uma rápida observação , é possivel

notar que a linguagem cria uma reviravolta nas necessidades de cada lugar. Portanto, como será visto a

termino deste tabalho, função e linguagem se compõe e criam dinãmicas próprias entre si.

Para conceber este espaço, optou-se pela neutralidade; nenhum dos espaços terão um peso maior sobre

o outro. A base para isto foram os projetos aqui previamente mostrados, alguns outros de experiências

profissionais pessoais e o Código de Obra e Construção, além de algumas normas (ABNT e NBR) de segurança.

Plano de ocupação

Para um planejamento embasado, que leva em conta fatores reais durante a sua construção, deve-se estipular

como acontecerá à ocupação e qual será a sua capacidade. Com base em levantamentos, ficou estipulado

que a combinação destes espaços seria o suficiente para comportar 1000 freqüentadores (não considerando

funcionários), um número razoável levando em canta os outros empreendimentos do gênero. Lembrando

que esta é apenas uma especulação espacial, não uma definição, onde a prioridade é o equilíbrio entre o

espaço e o senso comum que está presente na grande maioria dos exemplos desta tipologia. O resultado é

desvendar as funções espaciais, suas conexões físicas e visuais, quanto comporta cada um dos espaços, quais

têm acesso restrito e quais não. Por conseqüência, tem-se um projeto preliminar, idealizado, que poderá ter

uma parcela de maior ou menor importância na seqüência do trabalho, dependo do tipo de apropriação

que será feita.

Mesa + circul. 1,20m = 1,80 m2

1,80 m2 x 8 = 14,40 m2

prática expandida - experimentação conceptiva54

Bilheteria

Composição: Controle de acesso, recepção, distribuição de cartões, caixas, check-out

Lotação: 8 funcionários (acomodados em computadores)

Equipamentos: mesa, cadeira, computadores, organizadores.

Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média

Conexão espacial: entrada-saída (alta), chapelaria (alta), loja (alta), banheiros (média),

pista (baixa), bar (baixa)

Dimensionamento preliminar: 15 m2

Chapelaria

Composição: balcão de recebimento, guarda-volumes

Lotação: 2 funcionários (recebimento e devolução)

Equipamentos: balcão de recebimento, escaninhos e araras

Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média (balcão) e baixa

(guarda-volumes)

Conexão espacial: entrada-saída (alta), bilheteria (alta), loja (alta), banheiros (média),

pista (baixa), bar (baixa)

Dimensionamento preliminar: 15 m2

Loja

Composição: vendas, espera, recepção, área de trabalho

Lotação: 3 funcionários (2 atendentes + 1 caixa)

Equipamentos: caixa, expositores, estoque

Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média

Conexão espacial: entrada-saída (alta), chapelaria (alta), bilheteria (alta), banheiros

(média), pista (baixa), bar (baixa)

Dimensionamento preliminar: 20 m2

circulação = 1,10márea aprox. conjunto (banquetas, balcão e circ.) = 30m2

a = 1,30m2 a = 3,60m2

a = 5,75m2

unid. = 10 unid. = 20

unid. = 3

área de trabalho = 0,75m

programa e diretrizes 55

Pista dança

Composição: Pista(s) de dança

Lotação: 700 pessoas em pé

Equipamentos: nenhum especifico

Acesso: aberto - conexão visual alta

Conexão espacial: entrada (baixa), bar (alta), lounge (média), lounge privado (baixa),

banheiros (médio) , espaço artista - palco (alta)

Dimensionamento preliminar: 280 m2

Bar + lounge bar

Composição: balcão bar, área de trabalho bar, espaço para mesas, espaço em pé

Lotação: 200 pessoas (120 acomodadas) + 5 funcionários bar

Equipamentos: balcão (servir e preparado), estande de bebidas, depósito acesso rá-

pido, banquetas balcão, mesas 2/4/6 pessoas, sofas (alternativa)

Acesso: aberto - conexão visual alta

Conexão espacial: entrada (baixa), pista (alta), lounge (alta), lounge privado (alta),

banheiros (médio) , espaço artista - palco (baixa), serviços - cozinha/dep. (alta)

Dimensionamento preliminar: 160 m2

5-6 conjuntos previstos18,5 m2 cada

prática expandida - experimentação conceptiva56

Lounge privado

Composição: espaço intimista, privado, semi-isolado, unido ou separado

Lotação: 50 pessoas

Equipamentos: sofas, puffs, mesas, conjunto mobiliários

Acesso: restrito público - conexão visual baixa

Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), banheiros

(alta), pista (média), bar (média)

Dimensionamento preliminar: 90 m2

Lounge

Composição: espaço aberto, de descanso, pouco definido

Lotação: por volta de 50 pessoas

Equipamentos: sofas, puffs, mesas, conjunto mobiliários

Acesso: aberto público - conexão visual alta

Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), banheiros

(alta), pista (alta), bar (alta)

Dimensionamento preliminar: 50 m2

Banheiros

Composição: banheiro feminino, masculino e de deficiente em todos os pavimentos

Lotação: 1 bacia e 1 vazo para cada 20 pessoas do sexo (COE São Paulo)

Equipamentos: lavatórios, vasos e mictórios em cabines; cabines deficientes junto ou

separados dos demais. Idem lavatórios.

Acesso: aberto público - conexão visual alta (sinalização)

Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), lounge(alta),

lounge privado (média), pista (alta), bar (alta).

Proporção usada para cálculo de área = 60% homem + 40% mulher (dados obtidos em

locais específicos, médios para a cidade de São Paulo)

Dimensionamento preliminar: 120 m2

área = 0,80m2

área = 0,60m2

área = 1,15 m2

área = 2,75 m2

programa e diretrizes 57

Espaço artísta

Composição: palco (variável, indo de apresentações maiores até somente para DJs),

camarins com banheiro, sala de instrumentos.

Lotação: 1 a 5 pessoas

Equipamentos: diversos, alguns pode ser muito específicos

Acesso: restrito artistas - conexão visual alta (palco) e nenhuma (camarins/instrumentos)

Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (baixa), lounge (baixa),

admistração(alta)

Dimensionamento preliminar: 125 m2 (60 palco/15 instrumentos/60 camarins)

Serviços

Composição: cozinha, depósitos, administração e funcionários (vestiário e copa)

Cozinha

Lotação: 5 funcionários

Equipamentos: específicos conforme oferta

Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula

Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), adm. (alta), depósitos(alta),

funcionários (alta)

Dimensionamento preliminar: 25 m2

Depósitos

Composição: alimentício, bebidas, equipamentos, mobiliário

Equipamentos: especificos/câmaras frias

Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula

Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), adm. (alta), cozinha(alta),

funcionários (alta)

Dimensionamento preliminar: 40 m2

ExternosEntradaÁrea para fumantesTerraçoVarandasPróximo da pista e do bar, preferencial-mente

Circulação verticalEscadasRampasElevadoresEscalada???

SaídaemergênciaSegue padrões de segurança con-forme solicitação da legislação e bombeiros

Legenda hierarquias

acesso aberto

acesso restrito

conexões espaciais

visual direta

visual semi - direta

prática expandida - experimentação conceptiva58

Administração

Lotação: 3 funcionários + segurança

Equipamentos: específicos escritório

Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula

Conexão espacial: entrada alternativa (alta), depósitos (alta), cozinha(alta), funcionári-

os (alta), bilheteria (média)

Dimensionamento preliminar: 20 m2

Funcionários

Composição: espaço para troca, banho, alimentação e descanso

Lotação: 10 a 15 funcionários

Equipamentos: específicos

Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula

Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), depósitos (alta), cozinha(alta),

administração (alta)

Dimensionamento preliminar: 50 m2

Técnicos

Composição: cabine primária, cabine de som e luz, caixa de retardo, câmara de lixo e

carga e descarga.

Equipamentos: específicos

Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula

Conexão espacial: entrada alternativa (alta), serviços (média)

Dimensionamento preliminar: não estipulado

bilheteria + chapelaria

lounge privado

lounge

eixo principal de distribuição

bar externos

serviços

técnicosespa

ço a

rtist

a

ba

nhe

iros

loja

pist

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e d

ança

controle

acesso

recepção

caixas

pista

palco

camarins

sala

instrumento

s

lounge

lounge

balcão bar

fumódromo

cozinha

cabine

primária

cabine

som e lu

z

caixa

retard

ocâmara

lixocara

ga e

descarg

a

depósitos

admistração

funcionários

vara

ndas

terra

ço

masc.

fem.

acess.

área trabalho

bar lounges

mesas

venda

espera

área

trabalho

recebimento

chapelaria

guarda

volumes

programa e diretrizes 59

prática expandida - experimentação conceptiva60

Ao chegar a este ponto, algumas complicações surgiram. Em um primeiro momento, após o desenvolvimento do programa

e das diretrizes, algumas idéias surgiram de como seria possível adequar estes dentro da produção. De fato, a construção

destas “regras” induzia a uma preocupante composição de “fórmulas de projeto”, criando regras rígidas a serem seguidas

e pouco discutíveis. Não exista muito espaço para a experimentação programática, apesar da própria desmontagem da

tipologia abrir um leque de possibilidades muito diferentes uma das outras. O receio era cair na vala comum, do convencional

e usual, da metodologia estática e dada a priori, o que contraria toda a pesquisa e proposta que aqui se fez tão importante.

O programa e as diretrizes respondiam apenas a um sistema intacto, maleável no que diz respeito à produção, mas pouco

abrangente quando o foco é promover novas interações, novos pensamentos e aproximações, sendo parâmetros rígidos

demais para um sistema intitulado aberto. Estes parâmetros apenas respondiam a uma determinada fração das diversas

possibilidades levantadas, desconsiderando outras que também seriam cabíveis, que ao serem deixadas de lado provocam o

enrijecimento da construção metodológica e a falta de versatilidade. Neste sentido, o que até aqui foi desenvolvido é apenas

um aprofundamento da metodologia estática modernista, ao passo que o universo das possibilidades é demasiadamente

restrito. Sendo mais pontual, o programa e as diretrizes se

encaixam em um contexto pré-estabelido e ideal, onde todos

os espaços contribuem igualitariamente. Apesar disto já ter

sido previsto anteriormente, é fundamental entender que

esta é apenas uma das infinitas possibilidades, obrigando

a exposição das diversidades permitidas pelo sistema por

meio da exemplificação conceptiva.

O programa gerou as condições, produtos e itens que

deveriam ser produzidos, independente de outras

possibilidades. O material gráfico, urbano e espacial seria

uma produção rígida, certeira e pouco experimentativa. As primeiras tentativas na continuidade deste trabalho indicam esta

situação, onde a produção era uma mera resposta ao programa e não a revisão do mesmo. Em um primeiro momento, na

tentativa de codificar o programa em uma linguagem interdisciplinar, algumas texturas foram selecionadas, dentro de um

leque de texturas que se avaliaram pertinentes. Esta seleção não teve nenhum outro critério a não ser o estético. O resultado

foi uma grande dificuldade em se trabalhar com este sistema de texturas, uma vez que a falta de aproximação delas com o

REFLEXÃO INTERMEDIÁRIA

reflexão intermediária 61

objeto de projeto resultavam em códigos muito distantes dos observados. Outra alternativa foi à produção de um sistema de

linguagem e códigos mais rígido, quase como um manual corporativo, um “manual de branding”. Parte do levantamento

gerado na etapa anterior abria precedente a isto; poder trabalhar materiais e produtos dentro deste método. Portanto, uma

segunda hipótese de trabalho seria a construção de um sistema nestes moldes, onde as possibilidades seriam levantadas

mediante a construção de todas os produtos propostos pelo programa. Porém, esta idéia tornou-se inviável principalmente

por dois motivos. Ao tentar desenvolver este sistema de identidade integrado, uma estruturação tradicional da metodologia

projetual seria o resultado; deixaria de lado novamente o caráter instintivo e aberto para se produzir apenas a um sistema

aplicável, carimbo. O inicio da produção, onde foi proposta um nome e um logotipo, já se afastaram das possibilidades

interessantes que o sistema permitia, obtendo definições. Além disso, iniciar um trabalho por este caminho (nome e logotipo)

seria equivocado, pois eles são ferramentas de síntese

máxima de um sistema de identidade. Portanto, o resultado

poderia ser desconexo, sem uma linguagem clara e sem

integração entre as partes, estruturada em um sistema

hierárquico onde o ponto de partida era um nome, logo, ou

imagem de referência.

O outro motivo determinante pela não continuidade da

proposta usando os sistemas de manuais corporativos esta

na própria inadequação deste sistema em se adaptar a nova

realidade, sendo extremamente rígido e autoritário. Dentro destes manuais, é comum encontrar infinitas “regras” a serem

seguidas, que vão desde o comportamento da identidade até todas as dimensões, unidades e linguagens dos produtos

relacionados a si. Não se pressupõe uma linguagem aberta, integradora, vislumbrante de possibilidades sempre novas, mas

sim uma rigidez formal, funcional e lingüística pouco edificante. De certa forma, um pouco da preocupação após o término

da etapa de programa e diretrizes era neste sentido, de restringir todas as possibilidades para uma solução estabelecida.

Deve-se botar em questionamento a real necessidade destes sistemas, uma vez que são completamente estanques, criando

entraves para um desenvolvimento coletivo. Desenvolve-se uma complexidade tão definitiva que praticamente qualquer

interação externa ao sistema passa a ser renegada, o que ainda por cima, minimiza a intervenção e participação de terceiros

e suas possíveis contribuições e leituras do sistema. Como são sistemas rígidos e pouco maleáveis, obrigam os demais

prática expandida - experimentação conceptiva62

profissionais (ou equipes multidisciplinares) a seguirem a

risca a cartilha estipulada por ela, com o risco de terem seus

trabalhos negados. A não abertura destes sistemas limita

ao máximo as possibilidades interpretativas e propositivas,

quase que descartando a potencialidade intelectual de

outros profissionais, que possivelmente poderia contribuir

de forma operante e instigante no sistema. Aqui, os inputs e

outputs são previstos, definitivos e inalterados.

O desenvolvimento inicial parecia muito distante do

proposto. Fazer a seleção arbitrária de imagens e depois

tentar desenvolver um sistema de identidade não parecia

corresponder às expectativas propostas inicialmente,

Nos dois casos (particularmente no último) havia um cenário fechado, de poucas alternativas, que seriam a apenas um

cumprimento as definições obtidas no programa desenvolvido. A palavra chave é alternativa; havia a necessidade de se

buscar alternativas a produção, que não apenas fossem capazes de permitir a abertura da linguagem, formas e funções,

mas também que pudessem questionar o programa desenvolvido, possibilitar a releitura deste programa e apontar outras

diretrizes não exploradas até o momento. Paralelo a isto, criar mecanismos de avaliação que deixariam mais claros, mas não

definidos, possíveis caminhos de direcionamento e redirecionamento, em especial a partir da possibilidade interação, um

elemento fundamental para construção de um projeto. A simplificação destas interações (que deixaram de ser rígidas para

serem maleáveis) permitem maior facilidade no momento de readaptar o projeto segundo novos conceitos, ao invés de usar

fórmulas e metodologias projetuias que limitem esta visão.

A grande dúvida era como fazer isto. Como promover uma abertura projetual, na tentativa de explorar as diversas

possibilidades dentro do cenário do projeto e, além disso, permitir que a integração e a interatividade deste sistema possa

ser determinante na sua concepção? Retornando um pouco ao conceito de metaprojeto, onde o que se produz são os inputs

do sistema, como seria possível promover inputs e regras abertas, direcionando a produção para outputs mais adaptáveis,

livres de verdades inquestionáveis? A resposta encontrada para isto era a experimentação.

reflexão intermediária 63

Experimentar, neste sentido, em diversos níveis da atividade projetual. Anteriormente foram explorados como se deram

algumas destas experimentações; pontuais, como na composição de fachadas, sistemas de linguagem, formas arquitetônicas.

Já em outros casos promoveram transformações mais profundas, quando estava diretamente ligadas a composição de um

projeto, a proposição de um programa; neste, experimentar é uma importante ferramenta ao coletar dados que serão operados

futuramente. Faz-se necessário entender qual seria o tipo de experimentação aqui pertinente e como ela contribuiria para a

formatação do sistema. Para isto, será parcialmente deixado de lado os dados e soluções obtidas na etapa anterior; o motivo

é que estes parâmetros estavam viciando o olhar, conduzindo a produção e dificultando a abertura projetual. Não que eles

devam ser descartados, ao contrário, são características fundamentais para a composição dos inputs deste sistema, pois

avaliam aspectos e possibilidades reais, apesar de restritas. Este programa será recuperado somente mais adiante, próximo

ao fim do trabalho. A idéia é deixar o pensamento livre para a experimentação, depois unindo as duas e estudando como

elas podem ser operadas em conjunto. Uma intenção bastante próxima da proposta pelo metaprojeto, onde a metodologia

livre e aberta ajuda na operação da fechada e estática. Serão somente mantidas dentro da experimentação as características

essenciais da tipologia, para que a produção não se distancie do objeto que esta sendo explorado.

A experimentação que será feita será a do processo, da construção, do levantamento de imagens e da sua reconstrução. Das

formas, das possíveis interações e, principalmente, da linguagem. Pode-se a chamar de “metodologia da experimentação”,

e provavelmente ela corresponda a isto. O formato usado será muito simples, em especial pelas diversas limitações (técnicas,

logísticas e financeiras) na concepção dos experimentos; como a idéia é fazer diversos experimentos para o sistema, e

não apenas um, para que assim fosse obtido um universo maior de possibilidades, experimentos muitos complexos foram

descartados. O conceito é simples: partindo de algumas situações corriqueiras, uma série de montagens tridimensionais são

construídas, quase como um jogo de imagens sobrepostas e referências (como as colagens do EMBT), porém que aqui criam

profundidade de ralações em virtude de ocuparem determinado espaço. Invés de pressupor apenas um material gráfico como

ponto de partida do desenvolvimento da linguagem e das formas, estas construções passam a compor espaços e, em alguns

casos, a lidar com fatores construtivos e multidimensionais. Serão propostos quatro experimentos, com objetos selecionados

conforme indicado, gerando relações de imagens intertextuais (que extrapolam o perímetro da referencia inserida da

tipologia estudada). Ao termino delas, serão avaliados estes processos para depois, na etapa chamada de desencadeando,

ver como estes experimentos podem interagir com o programa e recriá-lo, em um estudo de potencialidades.

prática expandida - experimentação conceptiva64

GaiolaEstudo de luzes

Experimento gaiolaArranjo de objetos

finalizado

propriedade: gaiola 65

E, foi a partir do manuseio de um objeto cotidiano, que

surgiram as primeiras idéias de desenvolvimento para o

primeiro experimento. Ao observar um simples “protetor de

fruta”, facilmente encontrado em mercados, encontrou-se

uma propriedade que seria impossível ao se estudar texturas

na tela de um computador: a elasticidade. Com o manuseio,

brincadeira e articulação, este simples material respondia

a uma identidade notável e correspondia a intenção inicial

para um sistema de linguagem.

Esta apropriação de um objeto qualquer não é uma

novidade, já que artistas de grande renome como Miró já se

apropriaram deste “objeto encontrado” para composição de

obras. Aqui, entretanto, o objeto encontrado não consegue

por si só compor uma linguagem singular, fazendo com que

se busquem outros destes objetos. Pedaços restantes de

papel. Restos de acrílico. Pequenos pedaços de MDF. Um

gancho de cabide velho e enferrujado. Objetos separados,

combinações pensadas, imagens associadas, linguagem

pronta. Mais instigante e provocador que o velho caminho da

escolha programada e unilateral.

PROPRIEDADE: GAIOLA

Os novos meio de produção e reprodução afastaram o projetista do contato direto com os elementos com o qual trabalha. A internet, os computadores, os softwares, são ferramentas que contribuíram para um melhor dialogo entre partes . Este contribuição jamais deveria ser uma substituição, mas uma soma as demais. O que se vê não é bem isso, e o profissional se distância cada vez mais dos objetos e etapas do processo de execução. Pegar um material em mãos, sentir seu peso, sua textura, sua cor, é fundamental. Portanto, como um primeiro experimento, partiremos de uma propriedade material, somente compreendida através do seu manuseio.

Elasticidade como propriedadeEstudo das possibilidades de deformações do objeto encontrado

prática expandida - experimentação conceptiva66

A propriedades

Antes, a atividade de manuseio do material é a

prioridade, explorando o seu volume, o seu peso

e a sua deformação. Ele possui uma propriedade

muito sutil de elasticidade, pois quando muito

exigido, sua deformidade torna-se permanente.

Ele não apenas é um elemento elástico, como sua

trama ainda possibilita a transparência entre os

lados e, quando exposta sobre um ponto de luz,

desenha uma trama sobre a parede sobre outras

coisas.

Deft PunkMúsica e palco, identidade particular e agressiva.

Fachadas Toyo ItoFachadas lembram muito películas de envolvimento

World of GooJogo eletrônico com visual

que lembra estruturas

propriedade: gaiola 67

Imagens referênciais

Antes de dar inicio a construção da composição

de linguagem, é possível atentar um pouco para

algumas referências visuais que se associam a este

material escolhido. Em primeiro plano, observa-

se uma forte semelhança com alguns palcos de

shows do Deft Punk, em especial pela sua forma.

Outra associação pode ser feita com a produção

gráfica do jogo World of Goo, onde animais juntam-

se para erguerem estruturas bem próximas do

campo da edificação. E, na área arquitetônica, as

fachadas de Toyo Ito lembram bastante películas

que revestem funções de um determinado edifício.

Lembrando que as referências aqui são todas

intertextuais, ou seja, não necessariamente devem

se remeter a tipologia (“baladas”), propondo assim

uma maior abertura lingüística.

prática expandida - experimentação conceptiva68

Compondo o objeto

Este é o inicio da composição do primeiro

experimento que servirá de referência para o

desenvolvimento que se seguirá. Inicialmente,

separou-se o protetor da fruta (evidentemente,

não se desperdiçando o alimento). Este objetivo

tem, como já bastante citado anteriormente,

como principal propriedade a elasticidade. Então,

após o estudo desta propriedade, decidiu-se

que ela serviria muito bem como um invólucro

para alguma coisa ainda não muito definida.

Como uma das referências visuais mostrava

uma arquitetura modernista envolvida por uma

propriedade: gaiola 69

película, então esta se tornou a solução: envolve-

la em uma forma tipicamente modernista, tendo

como base materiais que representassem muito

bem o seu estilo. Considerando que os elementos

formais mais claros do modernismo arquitetônico

são a laje e as aberturas piso-laje; um papel com

certa gramatura incorporava as lajes, enquanto o

acrílico eram estas grandes aberturas. O estilo da

arquitetura modernista faria parte da composição

e só precisava ser revestida com o objeto elástico.

O resultado foi bem parecido com as imagens

de referência, estando ainda demasiadamente

arquitetônico, construtivo. Era preciso ainda de

certo tom lúdico ao objeto, tornando-o mais aberto

a interpretações e apropriações. Fazendo alguns

croquis que pudesse iluminar a seqüência do objeto,

a melhor forma encontrada era tirá-lo do chão, mas

ao invés dos tradicionais pilotis do estilo moderno,

a idéia era pendurá-lo, como uma estrutura

dificilmente executável pela engenharia civil atual,

gerando outras possibilidades de linguagem e

formas.

prática expandida - experimentação conceptiva70

Com um gancho

de cabide comum,

facilmente encontrado

em qualquer lugar,

somado a um anel

fixo ao volume obtido

antes, a estruturação

estava feita, somente

faltando aquilo que

servirá de suporte para

erguer o este conjunto.

Entretanto, deixou-se

um pouco de lado esta

preocupação para se

aproveitar o momento

de composição para

investigar outro aspecto:

o conjunto não estava

propriedade: gaiola 71

fechado e ainda havia a possibilidade de testar alguma coisa a mais. A primeira é o uso das luzes, afinal elas

são componentes importantes nesta tipologia, conforme colocado antes. Mas nada de simuladores muito

elaborados; foram usadas luzes de árvore de natal, que com o jogo de troca de luzes resultaram em uma

surpreendente combinação de cores, transparência dos materiais e das sombras da película. Além das luzes,

entrando mais a fundo no universo arquitetônico, povoou-se cada um dos “pavimentos” como simulações

de escalas humanas, que tomam forma com o uso de canudos coloridos cortados com um tamanho

que gerassem uma determinada relação deles com o espaço. Isto só reforça ainda mais a característica

arquitetônica que este conjunto parcialmente composto pelo estilo arquitetônico modernista.

prática expandida - experimentação conceptiva72

Ainda restava um elemento para o experimento

estar completo, exatamente o suporte que

prenderia o gancho. Após algumas tentativas, com

composições que mais pareciam grandes arcos,

grandes construções, verdadeiras estruturas de

grande porte que provavelmente desvirtuariam a

idéia inicial de uma linguagem e formas abertas.

O receio era o resultado seguir uma direção

excessivamente arquitetônica e construtiva, o

25 x 2,5 cm h = 0,5cm

18 x 2,5 cm h = 0,5cm

12 x 2,5 cm h = 0,5cm

propriedade: gaiola 73

que não será algo ruim (afinal, a mesma pode ser

um grande disseminador lingüístico), mas como

era um conceito aberto, o mais apropriado era

estimular a variação de referências. Portanto,

o suporte deveria agregar mais valores ao

conjunto, na medida do possível explorando outras

possibilidades e potencialidades. Deveria cumprir

bem o seu papel e, se possível, tornar-se também

um importante elemento de apropriação e de

construção de linguagem. A solução encontrada

foi um suporte de pequenos pedaços de MDF com

aproximadamente 0,5 cm, que ao mesmo criavam

esta linguagem própria, mas de forma tênue, pouco

pesada. Uma base maior foi colocada para que o

apoio permitisse o equilíbrio do conjunto; o suporte

vertical prende o volume, lhe dando uma altura

apropriada; e, por fim, o pedaço superior que se

junta no topo e encaixa o gancho, dando forma

final a experimentação.

A Gaiola parte da propriedade de um material encontrado; sua elasticidade,

composta juntamente com um volume muito próximo a de uma arquitetura

modernista e solta no espaço pela combinação entre um suporte de madeira

e um gancho. Entretanto, o grande elemento ainda parecer ser o objeto inicial,

dotado da propriedade mais instigante. Não esquecendo a evidente presença

das demais peças de construção deste experimento, que também abre outros

precedentes que serão estudados no momento oportuno.

prática expandida - experimentação conceptiva74

circunstância: anômalo 75

A característica mais importante da “Gaiola” era

a apropriação de objetos cotidianos. Estes objetos,

recombinados e guiados por imagens intertextuais

formaram o primeiro objeto de linguagem e

experimentação. Para rever esta origem, existem

dois caminhos: o primeiro, uma readaptação

do processo anterior, ou seja, procurar novos

objetos, novas composição, repetindo o processo

com novos objetos. O segundo caminho, mais

complicado e mais atraente, seria partir de nova

idéia, uma nova proposta, uma outra origem.

E, como não interessava repetir todo um processo

já explorado novamente, o segundo caminho foi

o escolhido. Entretanto, recomeçar continuava

complicado, até o momento em que o inusitado

apareceu; um erro em um programa durante uma

das últimas tarefas da “Gaiola” resultou em uma

seqüência de eventos que foram se encaixando

e se somando até a formação deste novo

experimento de linguagem e forma.

AnômaloVolume final obtido após a combinação de técnicas, imagens referências e materiais

CIRCUNSTÂNCIA: ANÔMALO

Recomeçar um mesmo trabalho é complicado. Em geral, as decisões já estão viciadas e o trabalho encaminhado. Não é verdade. O reinicio de um trabalho trás consigo dificuldades sim, mas também é trajeto rico de conhecimento do trabalho, reavaliação de processo e crítica produtiva. Esta é a primeira etapa neste novo processo: reavaliar a anterior para propor algo não apenas diferente, mas possivelmente complementar.

prática expandida - experimentação conceptiva76

A circunstância

O gatilho de desenvolvimento para esta tipologia

foi, coincidentemente, o final do primeiro

experimento, durante o trabalho com a fachada

paramétrica (que será abordado na etapa seguinte,

a “desencadeando”). Durante uma das pesquisas

de desenvolvimento, mais especificamente em um

tutorial sobre o programa Grasshopper (um plug-in

para outro programa, o Rhinoceros), a idéia era

gerar um parâmetro para que uma forma específica

respondesse a um estimulo externo. Dentro

desta oportunidade levantada, foi considerado

um ponto de referência que deveria interagir

uma série de blocos dispostos em uma malha.

Um algoritmo simples foi desenvolvido, em que,

conforme a distância entre o ponto e algumas das

intersecções da malha aumentasse ou diminuísse,

a altura dos blocos responderia de forma aleatória

a este estimulo. Portanto, conforme este ponto

mudava sua posição no eixo XYZ e se afastava ou

se aproximava da malha de blocos, a altura de

cada um destes variava conforme esta distância.

Dentro do universo projetual, este estimulo poderia

deixar de ser simplesmente aleatório e tornar-se um

algoritmo com função técnica que contribuiria para

decisões de projeto (dimensionamento de aberturas

em uma fachada conforme a incidência de luz

direta, por exemplo). Mas este não o caso aqui, e

ele acabou tendo outra finalidade.

Rhino + GrasshopperAprendizado do desenvolvimento

de um algoritmo voltado para a transformação de um volume.

circunstância: anômalo 77

Neste caso, a apropriação acontece por um fator que vem agregado com

a produção digital, e não um resultado dela, de certa forma sendo inusitada.

Durante todo o trabalho com o programa, especialmente na tentava de

produzir este algoritmo que gerasse a construção descrita a pouco, sempre

houve erros durante as tentativas. Os volumes estavam satisfatórios, porém ainda

faltava algum componente a mais, alguma coisa a ele. Então, ao invés de

encarar os erros de processo como descartáveis não aproveitáveis, optou-se por

exatamente fazer o contrário: assumir de uma vez este erro, esta deformação,

esta não aceitação. Neste momento surge pela primeira vez a palavra

“anômalo” neste experimento.

Rhino + GrasshopperAlgoritmo para a forma

de um sistema de blocos, estimulados conforme a

distância destes para um ponto de referência

GrasshopperMensagem de erro. Primeiro sinal do “sintoma anômalo” neste experimento.

prática expandida - experimentação conceptiva78

Imagens referenciais

Anômalo. Eis a palavra que será o ponto de partida

para a pesquisa de imagens que contribuirão

para ao desenvolvimento do objeto. A idéia

basicamente é a mesma da “Gaiola”: uma

pesquisa rápida usando a ferramenta mais eficiente

de seleção de imagens disponível nos dias de

hoje, o Google Images. Com certeza não existe

instrumento mais direto e acessível do que este.

Com uma pesquisa bem básica de imagens, foi

feita a seleção de algumas possíveis referências

que tenham aproximação com a idéia proposta.

Algumas referências foram encontradas, indo desde

cover-arts de bandas, esculturas de artistas, até

arquitetura e pintura.

As imagens selecionadas tinham algumas

características próximas uma das outras. Dentre

elas, pode-se citar o disco do RadioHead lançado

em 2011, The King of Limbs, que apresenta uma

música instrumental singular e pouco convencional,

que reflete na escolha da arte para a capa do

álbum. Outros ainda, como os grandes robôs de

Star Wars, a pintura de “A tentação de Santo

Antônio” de Salvador Dali e as aranhas da artista

Louise Bourgeois acrescentam criaturas de pernas

esguias e corpos compactos, lembrando muito

deformações visuais que seriam pertinentes

dentro do nome “anômalo”. Somada a isto outras

referências, como o Atomium (construção feita

para a Grande Exposição Internacional de 1958 em

Bruxelas, Bélgica) e as peças gráficas de divulgação

do nightclub londrino Nuke Them All reforçam esta

face “sublime” e alternativa alcançada.

RadioHead - The King of Limbs (2011)Disco da banda inova pelo seu estilo

musical experimental

Star Wars - The Empire Strikes BackRobôs de grandes alturas sobre

grandes pernas

Nuke them all!Festa londrina underground famosa por

reunir estilos alternativos

circunstância: anômalo 79

Importante aqui que, ao contrário do que aconteceu com a gaiola, onde as referências mais fortes estavam

na arquitetura, às imagens foram selecionadas propositalmente para serem mais intertextuais. Ou seja,

diversas técnicas, produções artísticas, indo desde músicas, esculturas, arquitetura, pintura... A comunhão

inter artística ajudará a compor o objeto que se juntará a forma previamente pensada dos blocos, avaliando

o que cada uma destas imagens aqui postas tem em comum: o sublime.

Atomium BruxelasConstrução para a Grande Exposição Internacional de

1958 sediada na Bélgica

A tentação de Santo AntônioSalvador DaliDeformação aproxima o belo do feio, o sublime

Aranha Louise BourgeoisEscultura

prática expandida - experimentação conceptiva80

Para fazer a montagem do cubo, foi importante

observar que as quantidades de peças obtidas

não resultariam em um cubo, pois este necessitaria

de mais peças para que fosse completamente

fechado. Portanto, haveria algumas peças faltantes,

que deveriam ser tratadas como possíveis fendas,

aberturas, abrindo outras possibilidades não pensadas

3,5x3,5 cm 3 peças

base meio topo

4,0x4,0 cm 7 peças

4,5x4,5 cm 2 peças

5,0x5,0 cm 6 peças

5,5x5,5 cm 2 peças

circunstância: anômalo 81

Composição maquete

Inicialmente, procurou-se resolver os blocos de diferentes alturas conforme

obtido no estudo paramétrico. Para isto, um pedaço de 1 metro de caibro

foi cortado em pedaços irregulares, porém mantendo um determinado

padrão para que, combinados, pudessem formar um volume próximo

a de um cubo. O tamanho intermediário é de 4,5 por 4,5 centímetros;

os demais possuem uma progressão crescente ou decrescente de 0,5

centímetros (portanto, o maior tem 5,5 cm e o menor 3,5). No tatal, foram

obtidas 20 peças.

antes. Três fases foram pensadas: uma base, um meio

e um de topo. A junção destas formou o volume final

do cubo, que além de apresentar sua superfície

irregular (resultado da combinação de tamanhos

diferentes dos blocos com o cuidado de não estarem

alinhados) também tinham vazios não preenchidos.

Com o volume pronto, outra possibilidade foi notada:

o que antes era uma base e um topo, ao serem

rotacionados tridimensionalmente, criam outras

possibilidades, outros vazios sequer antes imaginadas.

Possibilidades estas somente compreendidas com o

manuseio do objeto final construído.

prática expandida - experimentação conceptiva82

Os vazios no cubo resultado da falta de peças que o completassem instigavam

possibilidades de utilização. Era necessário pensar em algum tipo de ocupação

para este espaço, adicionando mais um elemento de linguagem e forma.

Pensando que o fundamento de tudo é uma

linguagem aberta, foi proposta uma solução: imãs

foram colados nestes vazios, para que pudessem

tanto ser mantidos os vazios quanto acoplados

diversos objetos nestes. Observou-se aqui a

possibilidade de troca; o imã permitia não apenas

uma solução, mas diversas, sendo não apenas um

material encaixado, como nenhum ou diversos com

características diferentes. Em outras palavras, ela

não precisaria ser definitiva, mas uma em constante

transformação e mudança.

imã

circunstância: anômalo 83

Como exemplificação deste sistema em

transformação, uma identidade foi criada para servir

de encaixe no objeto. Apenas uma foi criada, mas

poderiam ser uma infinidade, portanto ela é de fato

apenas um exemplo. Com varas de bambu cortadas

e combinadas para formarem um wireframe de

blocos que se encaixariam no vazio por intermédio

dos imãs. Além disso, um fio de lã encobriu toda a

superfície deste volume aleatoriamente, sem uma

regra, apenas tomando o devido cuidado para que

se obtivesse uma textura harmônica e caótica ao

mesmo tempo. Quando encaixadas nos espaços

vazios do cubo revelam uma nova linguagem,

completando a anterior e criando uma nova estética

e outras potencialidades

A título de trabalho, será considerada daqui por

diante este conjunto de bambu com lã como parte

da linguagem. Porém é importe retomar que ela não

é definitiva, sendo outros desdobramentos possíveis.

imã

30°45°

45°

15°

30° 45°

45°30°

prática expandida - experimentação conceptiva84

O volume esta acabado,

mas ainda faltava

alguma coisa que

completasse o conjunto.

Faltava o elemento

de contradição, que

ajudaria a justificar o

nome de anômalo.

Neste momento as

imagens de referência

foram fundamentais,

em especial quando

comparadas e

uma semelhança

encontrada.

A semelhança estava na composição formal de

cada. Todas tinham uma forma em comum: corpo

pequeno, compacto e convencional, suportados e

erguidos por longos pés finos que contribuíam para

sua construção e contradição de sua proporção.

Portanto este era o elemento faltante: longos pés,

que dessem suporte a um volume rígido, neste caso

o cubo executado anteriormente. Para isto, foram

projetados alguns “pés” de suporte, que seriam

fixados na base deste cubo. Eles seriam constituídos

por pequenas pequenos pedaços de madeira

com secção circular com junções de diversos

ângulos e dimensões variadas dando um caráter

de desencontro e descontinuidade do conjunto.

Evidentemente, tiveram que ser pensadas com um

pouco mais de cuidado para que tivessem o mesmo

tamanho total para cada um servisse de suporte ao

cubo.

circunstância: anômalo 85

Com o desenho pronto, faltava escolher o material,

que foram as varas de marfim, devido a sua boa

resistência que facilmente suportaria o alto peso

do cubo. O tamanho máximo da altura das partes

combinadas deveria ser de 40 cm, uma boa altura

considerando o volume já criado e a junção dos

pés com ele. Desenhou-se o projeto em folhas para

que servissem de molde para o posicionamento

das varas, respeitando assim os ângulos entre as

partes e por conseqüência respeitando o trançado

pensado. Depois cada uma das partes foi colocada

sobre este desenho e estariam prontas para a junção

definitiva. Para a junção, inicialmente pensou-se em

colas, para depois se chegar à conclusão que seria

muito mais eficiente o uso de resina epóxi para a

fixação, principalmente pela segurança na junção

que futuramente suportaria o peso do volume acima

dele.

Quando finalizado, uma outra questão pairou

sobre o resultado. As resinas de epóxi deveriam

ser consideradas parte do sistema de linguagem

ou apenas um instrumento de construção do

experimento? Esta questão ficará em aberto, mas é

interesse compreender que qualquer relação pode

sim ser um elemento lingüístico.

prática expandida - experimentação conceptiva86

Com os pés prontos, faltava apenas junta-la ao

volume inicial. Entretanto não foi tão fácil quanto

parecia a princípio, principalmente porque a

principal formação visual era muito difícil de ser

seguida, pois não sustentaria o conjunto. O resultado

foi procurar manter a deformidade na construção

e permitir o equilíbrio necessário para que tudo

ficasse de pé. Para juntar os pés ao cubo, uma peça

que sobrou do caibro foi usada, usando a mesma

fixação que as partes da vara de marfim e sobre ela

encaixando o cubo. Este encaixe, por sinal, não é

fixo, permitindo que descoberta sobre a posição das

aberturas permanecesse validas e o jogo de volumes

ficasse enriquecido.

circunstância: anômalo 87

Anômalo é a mistura entre uma forma tradicional,

o cubo, associada a uma completamente irreal

e subjetiva, os pés que suportam e dão altura

ao experimento. O cubo tem faces irregulares,

motivado por tamanhos diferentes de cada um

dos blocos; blocos estes que não completavam

um cubo por inteiro, deixando aberturas

interessantes para os testes de diversos materiais

encaixáveis aqui exemplificados pelas varas de

bambu entrelaçados com linhas de lã. Somado a

isto, os pés compostos de varas de marfim unidos

com resina de epóxi, criando uma linguagem

confusa, caótica, associada diretamente com a

característica mais básica desde experimento: a

deformação, o erro, a anômalia.

prática expandida - experimentação conceptiva88

identidade: entubado 89

Observando atentamente o desenvolvimento tanto

da “Gaiola” quanto do “Anômalo”, boa parte do

processo de produção desconsiderou a relação

direta com a tipologia das “baladas”. No caso da

“Gaiola”, o objeto encontrado e no do “Anômalo”,

uma oportunidade de referências. Este afastamento

não deve ser entendido como uma desvalorização

destes dois experimentos, mas sim uma fuga da

esfera tradicional da referência selecionada

quando esta é estreita ao tema abordado.

Apesar desta fuga, é pertinente explorar mais o

território que o próprio conjunto de linguagens já

possui, através da recombinação de elementos,

em um processo de construção e desconstrução

recorrente nesta investigação. A principio, algumas

referências de linguagem já foram levantadas

durante a observação e exploração da tipologia;

entretanto, é interessante ir adiante destas

possibilidades e conduzir o caminho por uma trilha

que ainda não foi muito trabalhada.

EntubadoObjeto final da experimentação

IDENTIDADE: ENTUBADO

Olhando as experimentações anteriores, sentiu-se a necessidade de uma aproximação mais significativa entre a produção destes e a tipologia selecionada. Colocar objetos de referência direta no centro de desenvolvimento da linguagem provavelmente redirecionaria a novas e instigantes possibilidades.

prática expandida - experimentação conceptiva90

A identidade

Algumas referências já haviam sido exploradas,

sendo que qualquer uma delas tem potencial para

servir como base para este experimento. Entretanto,

olhando mais atentamente a elas, uma certa

preocupação surgiu: praticamente todas tinham

como referência estilos musicais ou eram muito

especificas e singulares, dificilmente configurando

a identidade de uma balada ou festa. Portanto,

nenhuma delas se encaixava perfeitamente

no objetivo aqui proposto, pois desenvolver um

experimento com base neles significaria usar a

identidade daquela balada especificamente, e não

de uma identidade total da tipologia. A solução foi

procurar novamente um ponto de referência.

A melhor possibilidade dentre as encontradas era

compor elementos diretamente relacionados com

imagens de referência de um determinado evento

ou balada. Ao observar algumas possibilidades,

selecionou-se a que parecia mais interessante:

as raves. Estas são festas que acontecem

normalmente durante um período de 2 ou 3 dias

ininterruptamente, onde a interação acontece

tanto de dia quanto de noite. Famosa por

acontecer em grandes campos e reunir grande

quantidade de pessoas, as raves usualmente

abusam do uso de iluminação e de simulação de

um espaço que funcione bem tanto de dia quanto

a noite.

RaveFestas acontecem em

grandes campos , tanto de dia quanto de noite

identidade: entubado 91

Quando vemos este mesmo espaço a noite, a

percepção passa a ser outra, bem distinta. As luzes

criam e recriam o espaço, transformando-o em uma

nova composição. O dinamismo, a associação com

as músicas e, em especial, a interação do público

tornam-se jogos visuais interessantes. Importante

ressaltar a participação do público neste processo,

que munidos de luzes, pequenas lâmpadas de LED,

auxiliam na construção deste espaço somente

luminoso, virtual.

Como primeiro passo no desenvolvimento deste

experimento, será usado o mesmo artifício de

composição usado pelo público deste evento: as

luzes. Portanto, o primeiro trabalho a ser realizado

será um estudo da volumetria alcançada,

brincando com este sistema de construção de luzes.

Durante a pesquisa de como seria possível este

estudo, uma interessante alternativa apareceu: o

uso do lightpaiting.

Imagens topoJogos de luzes dinâmicos

que criam um espaço fluído, continuo e dinâmico

Imagens abaixoMunidos de iluminação,

público contrinbui com a composição do espaço

prática expandida - experimentação conceptiva92

O lightpaiting é uma pratica já muito explorada, inclusive por artistas

consagrados como Pablo Picasso. Esta técnica é relativamente simples: em um

ambiente totalmente escuro ou com pouca iluminação, perto da escuridão,

e usando uma câmera (que possua o modo de longa exposição) fixa em um

tripé, o fotógrafo usa diferentes fontes de luz como se fossem pincéis. A única

coisa necessária é uma fonte luminosa e um ambiente com pouca iluminação

para investigar a interação desta iluminação com o ambiente. As imagens

nesta página mostram um pouco desta interação. Em alguns casos, a simulação

da luz é uma pintura sobre corpos, ambientações espaciais entre outros.

Logicamente, com muita modéstia em relação aos resultados obtidos por estes,

experimentasse a técnica para estudar o resultado.

Lightpainting- experimentosUso da técnica para a valorização dos corpos

Lightpainting- experimentosUso da técnica para a valorização do espaço

Lightpainting- Pablo PicassoArtista se aventurou com a

técnica em algumas de suas obras

identidade: entubado 93

prática expandida - experimentação conceptiva94

Infelizmente o resultado do estudo do lightpainting

foi modesto demais, mas algumas coisas podem ser

aproveitadas: neste caso as formas geométricas,

em espacial o circulo. Olhando as referências das

raves, dois elementos pareceram em destaque: a

iluminação e o gramado. A iluminação em si era um

pouco complicada de inserir dentro do experimento

volumétrico, apesar de ser importante considerar

que a investigação do lightpainting faz parte da

experimentação. Entretanto, como solução para a

maquete, até mesmo para enriquecer a produção,

será proposta algumas das volumetrias como já

feito anteriormente. O principal volume foi o cilindro,

obtido durante o lightpainting. Para representá-

lo, usou-se um tubo hidráulico com bitola de 10

centímetros e aproximadamente 40 centímetros de

profundidade.

Carretel de barbante

Tubo hidráulico bitola = 10 cm

Tubos de cola plástica

identidade: entubado 95

Juntamente com o cilindro, a grama foi pensada,

para que o volume cilíndrico abrigasse esta

característica e elas se somassem para a criação

da linguagem. Como partido para este trabalho foi

pensado em enrolar a grama e torná-la algo como

um “revestimento” interno do volume cilíndrico.

Para isto, um papel na cor verde foi cortado nas

dimensões internas do cilindro e depois colado

um tipo de fuligem pintada de verde, usada

costumeiramente na confecção de maquetes

arquitetônicas. O resultado foi adicionado

internamente ao cilindro e, com isto, a combinação

entre ambos os elementos aconteceu.

Papel verde com fuligem simulando grama

prática expandida - experimentação conceptiva96

O resultado pode ser observado na imagem acima.

Além deste volume, alguns outros eram importantes

dentro deste objeto, portanto deveriam ainda ser

explorados. Observado atentamente o jogo de luzes

presente à noite, quanto os canhões de luz jogam

luzes de diversas cores sobre a multidão, um novo

panorama é observado. A confusão e o caos das

luzes podem gerar um importe paradigma para a

recriação destes elementos, mas agora como um

volume físico. Para isto, foi pensada a utilização

de uma série de objetos, sendo selecionado um

em especifico que correspondia perfeitamente

às necessidades pensadas: os tubos de cola

plástica, que além de possuírem um diâmetro de

secção compatível com o volume do cilindro,

eram fáceis de serem cortados e apresentavam

uma transparência oportuna. Cortados em partes

pequenas, de aproximadamente 10 centímetros (e

assim encaixando perfeitamente dentro do tubo)

foram dispostos irregularmente, nos eixos XYZ. Ao

lado pode-se ver a combinação entre todos os

elementos.

Jogo de luzesCombinação de canhões de luz contribuem com confusão

e caos espacial

Tubos de cola plástica Diamêtro, manuseio e transparência adequados

identidade: entubado 97

prática expandida - experimentação conceptiva98

O resultado da composição do tubo era

interessante, porém ainda faltavam algumas coisas.

Olhando para as experimentações anteriores,

foi comum no final do processo se desenvolver

um elemento de suporte a composição inicial,

possivelmente aqui isto também seria interessante.

O primeiro passo era a escolha do material de

suporte. Alguns estudos formais foram propostos, a

maioria deles usando do barbante (que até agora

era apenas uma idéia não aproveitada) para a

suspensão. Como material, foi escolhida a espuma

de poliuretano, pela sua facilidade de manuseio

e corte, apesar de soltar muitos resíduos e de não

apresentar uma cara verdadeiramente simbólica.

identidade: entubado 99

linear das peças de poliuretano, como um elemento

de suporte continuo e repleto de eixos, confusão,

sobreposição e continuísmo, Como se fosse uma

construção pré-existente, onde o tubo se encaixaria

como uma das peças dos blocos, mas aqui

diferenciada completamente pelo seu formato,

estética e, possivelmente, função. Um recorte até

mesmo próximo e representativo do conceito e

organização de uma cidade.

As formas obtidas durante os estudos volumétricos

para o suporte não estavam dando certo, em

especial devido ao grande peso do tubo e a

dificuldade em entrelaçar o barbante de uma

forma que o conjunto ficasse equilibrado. Como

alternativa, para a construção deste objeto, foi

proposto algo mais simples: uma sobreposição não

prática expandida - experimentação conceptiva100

O resultado final já era satisfatório, entretanto

ainda caberia o uso de um dos objetos pensados

inicialmente, mas que esta sendo deixado de

lado: o barbante. No inicio, a idéia era usar da

mesma origem proposta para os tubos de cola,

da desorganização presente no jogo de luzes,

para fazer dele este elemento caótico. Em um

segundo momento, ele passou a servir quase como

uma estrutura de suporte ao conjunto, quando

combinado com os blocos de construção. No

final, quando aparentemente estava passando

batido, sem uso mais, ele surgiu como um bom

componente final do arranjo, apesar de parecer

uma insistência em seu uso. Um componente de

entrelaçamento entre todas as partes do conjunto,

como um agregador das partes, unificando em

um só objeto volumes tão diferentes quanto os

blocos desorganizados e o tubo. O resultado final

é para ser observado não apenas no ângulo

em que foi composto, mas também dos diversos

outros, ficando assim mais fácil compreender a sua

profundidade e potencialidade

identidade: entubado 101

Um dos princípios imediatos da formação

do Entubado foi a estreitar a relação entre

a seleção de objetos com a identidade da

tipologia. Porém, isto foi adiante, influenciando

inclusive no processo de criação, ao passo

que as luzes foram importantes formadores

de soluções para esta experimentação. O

objeto final é importante, mas o processo é

tão importante quanto, como é foi bastante

observado. As luzes trazem características

complementares não vistas nos outros

experimentos: o rígido do lugar ao dinâmico;

o certo e concreto ao incerto e abstrato;

a forma pura e simples pela forma virtual e

idealizada, momentânea, de passagem.

Associado isto ao objeto resultante,

possibilidades abrem-se dentro deste universo.

prática expandida - experimentação conceptiva102

casualidade: Ôco 103

As experimentações anteriores investiram em outras possibilidades de trabalho

que permearam outras esferas de possibilidades. Entretanto, foi evidente que

em cada uma delas algo já pensado e construído para que o resultado gerasse

muitas possibilidades e desencadeassem interessantes instrumentos de trabalho

dentro de um projeto aberto. Entretanto, todos eles tiveram como ponto de

partida a composição de objetos como o processo chave de formação, apesar

de que o Entubado com o Lightpainting fugiu um pouco deste cenário comum.

Portanto, todos os experimentos tiveram como centro

de desenvolvimento um processo em comum aqui

desenvolvido, de apropriação de materiais, associação

de imagens e composição de um experimento

emblemático e referencial. Porém, e se a fonte de

apropriação não fosse nenhuma das anteriormente

citadas, mas sim um processo de construção

propriamente dito? Em outras palavras, a apropriação

não do resultado, não da situação pronta, mas sim das

etapas e estudo de desenvolvimento já consagrado por

algum artista ou investigador do processo.

Esta possibilidade abriu a necessidade para

mais um experimento.

ôCORearranjo e recombinação de elementos e processos diferentes

CASUALIDADE: ôCO

Quando as possibilidades levantadas pelas experimentações anteriores pareciam suficientes para um trabalho de rico desenvolvimento e revisão do programa, surgi uma nova possibilidade de trabalho, desta fez originada em outra situação e em outras combinações. Tal situação não seria pertinente caso as possibilidades de desdobramento não fossem tão interessantes quando a dos demais experimentos.

prática expandida - experimentação conceptiva104

A casualidade

É compreensível que o acaso é complicado

de ser estudado. A partir do momento em que

existe alguma seleção, este acaso deixa de ser

um mero deslumbramento e passa a enfrentar

situações reais e deve lidar com as questões

mais técnicas e necessárias. A casualidade aqui

apresentada tem outra abordagem, mais próxima

das circunstâncias na construção de projeto do

que da teoria do acaso. Neste experimento será

feita uma combinação entre um processo de

desenvolvimento de um famoso artista para uma de

suas obras e uma produção já finalizada de outros

CriaturasCombinação entre elemen-tos arquitetônicos, tribais e rústicos

casualidade: Ôco 105

Para ajudar a composição do processo escolhido,

foram selecionados os trabalhos artísticos “Criaturas”

do escritório franco-brasileiro Triptyque Arquitetura.

O interessante nestas ambientes nestas criaturas é

a combinação de diversos elementos criando um

ambiente lúdico, que se aproxima sensivelmente

da arquitetura e espacialização incorporando

equipamentos específicos arquitetônicos (escadas,

janelas...) como elementos definidores de um

sistema de linguagem. O ponto mais notório neste

trabalho é a comunicação, a linguagem tribal,

rústica e natural.

artistas.

Como processo de desenvolvimento de um

projeto, que envolve diretamente um método

causal, foi selecionado o projeto da banqueta

dos Irmãos Campana. Segundo os próprios

autores do projeto, um processo que segue a

espontaneidade, o momento e a construção

de um objeto por intermédio da construção

livre. O processo é simples: de posse de algumas

varas metálicas, elas são soltas e, conforme a

distribuição alcançada dentro desta aleatoriedade,

à banqueta vai tomando forma até o momento

em que se transforma em objeto utilizável. Se

este desenvolvimento é ou não verdadeiro não

é passível de averiguação; o que importa aqui é

incorporar este processo dentro da produção deste

experimento. Portanto, a aleatoriedade de objetos

submetidos a estímulos específicos e transformações

não planejadas.

Irmãos CampanaProcesso criativo de desenvolvimento de uma baqueta

prática expandida - experimentação conceptiva106

Conforme o conjunto de imagens selecionadas

acima, era fundamental a seleção de um objeto

que remetesse ao caráter tribal e rústico, assim

como a apropriação da linguagem proposta.

Dentre todas as opções, a mais interessante

pareceu ser a do coco, pois sua forma e a texturas

pareciam adequados o suficiente para um trabalho

interessante. Além do mais, não é um objeto

engessado e esperado, como o protetor de frutas

da gaiola ou o tubo. Cada coco tem características

casualidade: Ôco 107

especificas, singulares, nunca sendo um igual a

outro, seja na cor, no peso ou na forma. Estas

são qualidades importantes deste elemento e

a sua diversidade será explorada mais adiante

durante o desenvolvimento deste experimento.

Como processo, será usado um processo

parecido ao da banqueta dos Campanas:

ele será submetido a transformações

aleatórias através da sua quebra. Entretanto,

o primeiro passo a se fazer com o objeto é,

cuidadosamente, abri-lo com o auxilio de um

abridor de garrafas, e seu liquido consumido.

É um líquido rico em sais mineriais e vitaminas,

muito importante à saúde para ser descartado

em uma composição experimental como esta.

prática expandida - experimentação conceptiva108

O próximo passo é a quebra. Jogado de uma altura

significativa, ao chão, com uma força razoável para

que fosse possível a sua quebra. A quebra do coco

estimulou uma nova observação sobre o próprio

objeto. Ele é divido em duas “fases”: uma externa,

visível, e outra interna, apenas percebida após a

sua quebra. Esta parte interna carrega consigo

o “branco” comestível, porém possui uma capa

de proteção deste interessante. Serão fases assim

tratadas, como o interno e o externo.

casualidade: Ôco 109

Já a camada interna não pareceu tão estimulante

quanto o objeto anterior. Sua textura é peculiar,

bem diferente e mais homogênea do que a

camada externa. Por ter mantido a forma original,

alguma relação de abrigo poderia ser adotada,

como uma forma dentro de outra. A dificuldade

em se trabalhar com a quebra e a junção entre

as partes, além de ser um produto perecível

desestimularam a continuidade do trabalho com

este elemento, apesar de ser significativo notar sua

existência.

O resultado externo foi à casca do coco totalmente

despedaçada. Observam-se algumas das partes,

abertura e fendas obtidas após a quebra. Ele

quebrado não interessava muito como composição

final, então ele foi reconstruído com suas maiores

peças e as menores foram postas em “espera”

para um uso futuro. Ainda nesta parte, olhando

outros cocos e comparando as texturas de suas

faces, percebe-se a diferença que um mesmo

elemento pode ter e isto cria uma característica a

ser trabalhada mais tarde.

prática expandida - experimentação conceptiva110

Com texturas tão diversificadas, uma nova

quebra foi proposta, agora em mais três outros

cocos, sendo escolhidos conforme a maior

diversidade de sua aparência, em especial na

textura e na forma. O processo se repete deste o

consumo do líquido até a separação da camada

interna. Conforme observado anteriormente,

as complicações no trabalho da parte interna

levaram a outro uso dela, um pouco afastado do

experimento, conforme é possível ver nas fotos ao

lado, possivelmente aproveitando de fato a sua

maior potencialidade. Já a parte externa continua

com a mesma característica. A resposta aqui é a

mesma, propondo uma reconstrução de cada um

deles partindo dos maiores pedaços e deixando

os demais menores em espera para uma possível

utilização futura.

casualidade: Ôco 111

Com as quatro unidades desconstruídas e

reconstruídas, faltava compreender o que

poderia ser feita com elas. Decidiu-se unir as duas

referências (o processo e a linguagem) colocadas

no inicio e, com isto, propor uma composição

não apenas entre os processos, mas também

na linguagem. O resultado foi à junção de um

elemento metálico, representativo de um elemento

tecnológico, em contradição ao teor rústico e

bruto do coco. O elemento metálico é uma antena

de televisão, rádio, que além de corresponder as

expectativas da linguagem, ainda permitia certa

flexibilidade de tamanho quando desdobrado. Para

fixar, uma combinação de cola e resina epóxi, além

da adesão das sobras das quebras sobre o volume,

sobrepondo formas e texturas.

+

Coco rústico

Antena tecnológica

prática expandida - experimentação conceptiva112

O resultado pode ser visto nas páginas seguintes, onde é possível observar como a composição acontece

conforme as formas, texturas, alturas e a adesão das sobras sobre o coco reconstruído. O resultado é uma

complexidade de alternativas, pontos de vista e composição. Estas alternativas devem ser observadas não

apenas com o objeto isolado, mas principalmente com a junção e comunicação entre cada uma das

partes, e mais adiante entre estes experimentos e um possível usuário.

casualidade: Ôco 113

prática expandida - experimentação conceptiva114

Coletivamente, existem outras possibilidades mais

profundas. É complicado ressaltar um caráter

claro para este experimento. Seria ela uma

forma arquitetônica? Um simples objeto ou uma

instalação? Estas possibilidades serão abordadas

no momento oportuno, aqui ainda deve-se dar

seqüência a produção. Inseridos em conjunto,

respeitando as alturas compostas separadamente,

o resultado e a disposição entre as partes pareciam

um pouco desconexas. Alguns problemas de altura,

inter relação e sobreposição eram nítidas. Por sorte,

a escolha do material que da suporte a cada um

dos cocos, as antenas, permitem uma variação

bastante oportuna de altura que poderia ser

trabalhada de modo livre. Primeiro alguns testes de altura foram feitos, para que fosse possível compreender

a altura mínima e a máxima que cada uma poderia chegar mantendo o equilíbrio. Em seguida, todas foram

colocadas em seu menor tamanho e depois, uma de cada vez passava se reconstruir apenas pela diferença

de altura de cada um. O resultado final é uma outra composição, nem pior nem melhor que da inicial ou da

intermediária, mas diferente, possibilitando uma nova relação entre si e para fora do experimento.

casualidade: Ôco 115

Ôco é a mescla entre um processo e uma

linguagem. Um encontro programado, mas

casual pelas possibilidades encontradas durante

o processo, mesmo que com algumas coisas

descartadas. Uma linguagem que mescla o rústico

com a tecnologia, o natural com o artificial, que se

dispõe a ser uma forma itinerante, de composições

infinitas e relações abertas, ressaltadas por texturas

e formas que remetem a natureza e ao homem.

prática expandida - experimentação conceptiva116

As experimentações geraram possibilidades conforme previsto inicialmente. Ao se afastarem da proposta programática

inicial, elas abriram precedentes para uma releitura de todo o contexto, explorando alguns territórios antes pouco claros

quando levado em conta um campo de trabalho pouco flexível. Os experimentos têm um apelo mais forte no sentido da

forma e da linguagem, explorando pontualmente outros aspectos, como a concepção, a construção e até mesmo o próprio

programa. São junções, composições de imagens e materiais na forma de objetos de referência, mas que podem adquirir

um comportamento mais profundo, ao passo que o processo de sua composição pode ser levado em conta para a sua

construção projetual. Além disso, algumas destas composições trazem consigo contextos espaciais que, quando devidamente

analisados, permitem alguns interessantes desdobramentos para um determinado projeto.

Portanto, a grande força dos experimentos está na composição dos processos associadas ao objeto final, não somente o

resultado obtido pela sua construção. Um exemplo é o “entubado”, onde a descoberta do uso das luzes como componente

do sistema é tão importante quanto o objeto final em si. Os objetos finais são construções que adiantam algumas tendências

lingüísticas e formais, auxiliando na composição de uma nova espacialidade, de novas possibilidades de interação e de

novas perspectivas para o projeto. Existem características semelhantes entre os quatro, como a busca por referências que

escapem da tradicional seleção de referências baseadas nas disciplinas referências; em outras palavras, não são necessárias

as auto-referênciais. Na arquitetura, por exemplo, esta atividade é muito recorrente, em especial no movimento moderno,

onde se procura as soluções para as suas problemáticas dentro dela mesma. Alias, é interessante observar como outras

formas artísticas, como as artes plásticas, cinema e música, conseguem transitar com muito mais facilidade pelos diversos

campos da arte, enquanto a arquitetura tende a se manter fechada. Isto pode ser o resultado de uma necessidade constante

da arquitetura em ter que responder a usos constantes, devendo ser funcional e operacional, uma ferramenta em função do

espaço e das pessoas que estão nele. Este dialogo, entretanto, pode ser posto de lado, uma vez que esta função e operação

podem estar sujeitas a uma infinidade de possibilidades, não apenas as tradicionais pautadas pela lógica industrial e razões

iluministas. Talvez, os experimentos aqui desenvolvidos tornem a arquitetura o elemento principal de disseminação de uma

linguagem, ao que passo que todos eles trabalham substancialmente com o espaço; afastando a arquitetura como uma

absorvedora de uma linguagem puramente construtiva e industrial. Ao passo que existem fisicamente, interagem no espaço

e entre seus componentes, pode-se afirmar que as experimentações nada mais são do que colocar uma arquitetura de

linguagem no centro da produção multidisciplinar.

DESENCADEANDO

desencadeando 117

Outro ponto de intersecção entre as experimentações foi à opção pela escolha de objetos baratos, do cotidiano, para a

composição. Devido à velocidade que estas experimentações deveriam ser realizadas, optou-se por uma seleção menos

criteriosa e mais rápida destes objetos. Estes objetos foram encontrados e compostos segundo os parâmetros expostos

em cada caso, não necessariamente respondendo diretamente ao objeto-tema de estudo (o que de fato só acontece no

entubado). Estes objetos são recombinações tridimensionais de imagens, de composições espaciais e de produção artística.

Uma interessante colocação sobre estas composições está no fato de que tais experimentos são composições intermediárias

de projeto, como uma busca não por uma referência pronta, mastigada, direta; mas sim a recombinação destas para uma

nova referência. Em outros cenários, por exemplo, seria como se um designer ou arquiteto, ao se envolver em um projeto,

tem como seu primeiro passo uma pesquisa visual das possibilidades de seu trabalho, mas após isso ele não mergulha

diretamente neste universo, não trás estas imagens instantaneamente para o projeto. Ele as explora em outro sentido, em

outra produção, que aqui são os experimentos, mas que poderia ser pinturas, esculturas, cenário, animações, movimentos,

instalações...Uma reprodução destas imagens em um outro sentido, como um estudo aprimorado das possíveis relações

entre as imagens e determinadas formas e linguagens, para só depois cair no território mais rígido projetual, mas neste agora

municiado destas produções. Passar do território experimentativo para o projetual pode ser uma transição complicada,

cabendo ao idealizador compreender os limites permitidos entre cada uma das partes.

Este processo de “reconstrução da referencia” pode colocar em cheque o mito da “página em branco”, os velhos medos

e anseios do inicio projetual, aqui já aparado de uma construção referencial que de fato contribuirá para todas as etapas

do projeto. Entretanto, no que isto atinge e se reflete neste trabalho? Em um primeiro momento, é significativo traçar um

paralelo entre ele e os manuais corporativos, que em certa altura foram o objeto de criação deste trabalho. Ao se colocar

um do lado do outro, claramente se observa uma situação adversa, quase, oposta: enquanto um estanca leis e regras para

o desenvolvimento de um trabalho, como um manual de referência exata, o outro permite uma abertura mais abrangente,

de poucas definições, mas com alguns estudos substanciais de composição formal e lingüística. Recuperando a imagem

do projetista que experimenta antes de começar a projetar, podemos atualizar a atividade do manual corporativo como

uma experimentação exata e definitiva, inquestionável, uma referência imutável e autoritária. O experimento aqui exposto

já não, pois sua abertura, falta de definições, falta de regras e hierarquias resultam apenas em algumas potencialidades,

que podem ser identificadas de forma diferente por diferentes tipos de projetistas. Em um cenário idealizado, o manual

corporativo daria lugar à experimentação, que devolveria a criatividade, a inventividade aos envolvidos. Além disso, as

prática expandida - experimentação conceptiva118

aberturas que os experimentos carregam ainda adicionam parâmetros interessantes no input de um sistema metaprojetual,

como referências passiveis de transformações, readaptações, interferências e interação, esta última sendo a situação chave

para o desenvolvimento. Quando se fala em experimentos, não se tem em mente apenas a imagem das aqui produzidas, mas

também todo campo experimentativo.

Com estas definições bem claras de como a experimentação pode contribuir para o cenário de projeto, acontecerá à

seqüência da proposta de desenvolvimento. Como decidido anteriormente, a produção dos experimentos e do programa

em separado precisariam ser novamente conectados para se entender melhor como podem operam juntos. Portanto, nesta

etapa final, a desencadeando, será promovida a interação entre ambos, fazendo uma releitura de como a experimentação

e o programa podem se comportar juntamente, não apenas em uma leitura direta das formas e linguagens, mas também

em novas possibilidades de interpretação do programa. Isto será feito apenas no campo propositivo, sem levar conta

problemáticas projetuais, construtivas ou de materiais; a intenção e buscar algo, além disso, anterior ao ato projetual

convencional, através da exploração de novas interações entre o sujeito e o espaço, novas disposições e argumentações

sobre tecnologia, percepções, incentivos e como estes podem compor o espaço por si só. A linguagem é um instrumento de

trabalho forte e necessário, ainda mais se levarmos em conta as condições pela qual a tipologia e seus usuários necessitam.

Em se tratando dos experimentos, todos os seus parâmetros serão considerados, desde os objetos quanto o próprio processo

de desenvolvimento, que em alguns casos se mostraram mais importante. Em outros, entretanto, este aspecto será posto

em segundo plano, mas está é uma visão pessoal das experimentações, que não impede que uma segunda opinião faça

outra leitura dos potenciais. Do programa, alguns aspectos serão deixados de lado, pois exigiram uma complicação de

desenvolvimento que fugira das propostas abertas, como por exemplo o material gráfico (flayers, papelaria, site...) pois se

pressupõe que desenvolvimentos destes produtos seriam fáceis mediante a definição de um sistema maior de linguagem. O

grande foco é o espaço e as dinâmicas nele inserida, como pontos de referência, interconexão entre espaços e interatividade

de sujeito e objetos com uma profundidade mais significativa. Portanto, a organização espacial (e por conseqüente, a

arquitetura) torna-se instrumentos protagonistas na disseminação de uma linguagem. Apenas alguns objetos e produções

pontuais serão abordados, uma vez que podem contribuir no contexto de formação, em um cenário onde estes limites

disciplinares começam a se esvaziar e mesclar arquitetura, grafismo, objetos e, por que não, urbanismo.

Os materiais que serão apresentados têm por finalidade expor algumas destas possibilidades e potencialidades, não sendo

desencadeando 119

definitivas ou absolutamente corretas. São apenas alguns exemplos aplicativos deste sistema, procurando estudar algumas

das relações e comportamentos desta metodologia experimentativa. Na verdade, tudo é um grande conjunto de idéias,

um “brainstorm” em que gráficos e simulações virtuais serão mostradas como exemplificação de uma possível aplicação

segundo uma lógica e apropriação pessoal.

prática expandida - experimentação conceptiva120

Gaiola

O primeiro experimento tem três elementos de

trabalho, que devem se auxiliar dentro do suporte

desta linguagem. O primeiro deles é o conjunto

laje e abertura piso-teto, muito característica da

arquitetura modernista. Como este foi um elemento

escolhido propositalmente durante a construção

do experimento, ele mantém suas característica

originais de trabalho: é um símbolo da arquitetura

funcional, reducionista, reservada apenas ao

fato de cumprir com sua função mais primaria e

não planejar o exagero, o excesso. Portanto, o

extremo funcionalismo que marca a edificação

modernista aqui ficará responsável por abrigar

todas as funcionalidades tradicionais da balada;

muito provavelmente, a continuação tradicional do

desenvolvimento do projeto a partir do programa

rígido e absoluto resultaria neste aglomerado de

funções que ditam praticamente toda a forma

desencadeando 121

e a linguagem da arquitetura. O outro elemento que contribuirá para a

formação desta linguagem é o suporte de MDF com o gancho preso, que

dava suporte ao experimento. Neste caso, a melhor solução é de fato usá-lo

para este princípio, mas logicamente não para a suposta sustentação de um

edifício em questão, mas sim de outros componentes dentro do universo do

projeto, como mesas, cadeiras, balcões. Destaca-se o uso do gancho como

um elemento forte e marcador, podendo ter um peso lingüístico mais forte. A

última peça de linguagem e, provavelmente, a mais importante de todas é o

objeto que originou toda a experimentação: o “protetor de frutas”, conforme

ficou aqui conhecido. Sua propriedade aliada a sua forma serão o principal

foco de trabalho no desencadeamento deste experimento.

Para o desenvolvimento desta “malha” ou película, pensou-se em como ela poderia interagir e compor um

conjunto quando esta diretamente relacionada a uma volume. Para isto, uma simulação desta película

foi feita no programa Grasshopper, onde os volumes do experimento foram reproduzidos digitalmente,

representando a película que envolve um determinado volume, como um edifício.

prática expandida - experimentação conceptiva122

Para que esta simulação acontecesse como

previsto, cada um dos volumes componentes

desta película foram modelados em separado,

para que cada um tivesse uma interação própria,

respondendo cada uma de forma diferente

segundo um estimulo. Este estimulo seria um ponto

de referência inserido nos eixos XYZ; este ponto se

relacionaria diretamente com o ponto central de

cada um dos volumes geométricos em separado.

Esta relação seria mediante a distância entre os

dois; quanto mais perto o ponto de referência do

volume, menor abertura ele teria. Por outro lado,

pontoreferência

volumesgeométricos

desencadeando 123

quanto maior à distância ente os dois, mais abertos estará esta forma geométrica. Aparentemente, esta

relação é apenas estética, mas poderia também ter um caráter funcional. Imaginado que o ponto possa ser

um ponto de vista do observador, sendo as aberturas janelas do edifício. Outro ponto é a transparência de

uma fachada ou divisória, sendo que cada um dos seus volumes pode estar fechada conforme um maior ou

menor interesse em se manter a visão dos lados em que esta película esta posicionada. Falou-se muito sobre

a película como um “revestimento” do edifício, entanto é fundamental entender que está é apenas uma

das possibilidades, sendo possível pensar em outras aplicações, como tendas, divisórias, mobiliários (sofás e

balcões), além de a área multidisciplinar, usado como um forte marcador de linguagem e identidade.

Além disso, pensando em um valor estético para

a composição destas películas, a relação entre

suas aberturas pode ser diversa. Em um primeiro

momento (como feito no estudo paramétrico),

a película responderia de uma forma uniforme e

progressiva ao estimulo (as duas imagens acima).

Mas também pode ter uma resposta diferente, mais

caótica e menos linear, mais espontânea, como se

fosse um ser orgânico da natureza, como a imagem

ao lado.

pontoreferência

prática expandida - experimentação conceptiva124

A Gaiola é um trabalho misto entre três elementos: a forma da arquitetura modernista, que se encarrega neste estudo de abrigar todas as necessidades do projeto; o volume suporte, que aqui está apenas dedicado a certo uso; e o principal, a película, que é o grande elemento deste experimento, sendo propostas uma série de atividades com ela, desde deformações paramétricas de sua geometria até outras formas de aplicação, como nas fachadas de edifícios e divisórias.

desencadeando 125

prática expandida - experimentação conceptiva126

Anômalo

O segundo experimento tem aproximações mais

nítidas com processos de marcenaria. Basta olhar os

elementos usados (caibro, varas de marfim...). São

elementos construtivos usados como ornamentação

e linguagem. Existem dois elementos fortes

aqui: os “pés” e a “cabeça”. Os pés, esguios e

estruturados com a função de suporte a cabeça,

foram pensados exatamente com este principio.

Mas isto não significa necessariamente que, em

uma apropriação destes elementos, ele deva ter

uma função estrutural, assim como a forma da

cabeça sugere uma função de abrigo, mas não

necessariamente assim possa ser adotada. Portanto,

como induz estas formas e linguagens, o aspecto

arquitetônico tradicional será o norte: o abrigo, a

estrutura, as divisórias, as funções. Para um trabalho

mais especifico, é importante retomar alguns

conceitos já apresentados outrora neste texto:

desconstruir as partes e estudá-las em separado

para entender como articular melhor o conjunto.

A lã que abraça os volumes soltos reapresentam

bem o caráter caótico e desorganizado que

acompanha todos os elementos. Esta é a

característica que deve seguir até o final: caos,

desordem, desencontro, tudo seguindo um curto

caminho ao sublime, ao estranho e ao não familiar.

Este experimento clama por esta solução formal,

uma vez que a origem de sua composição foi

exatamente esta. Portanto, ser fiel a esta desordem

e a anomalias é um partido interessante a ser

seguido daqui por diante.

desencadeando 127

Desorganizados como os blocos. Tradicionalmente da concepção formal

modernista, os volumes sempre buscaram uma harmonia total: ou esbeltos e

sutis, ou grandes e chamativos. Aqui se observa o meio termo, que se constrói

sem estar necessariamente condenada a exercer uma função, mas que constrói

um outro escopo de linguagem. Associada a ela, uma iluminação entre as

partes também é proposta: com os blocos em diferentes tamanhos e posições,

a luz comporta-se como um valorizador das frestas e, portanto, ressaltando os

encontros e desencontros entre elas.

Os pés tendem a uma característica

de fixação e apoio, podendo ou

não ser funcionais. As varas de

madeira e as junções são materiais

aparentes. Pode-se pensar em muitas

alternativas neste caso; como será

visto adiante, as peças podem possuir

tamanhos, formas e junções de

diversos tamanhos e formas, além da

própria função, que pode fazer parte

do programa construtivo do espaço

(pilares, divisórias), ser um marco

espacial (espaço artista, bar) ou estar

apenas de acordo com um contexto

ornamental e lingüístico.junções

prática expandida - experimentação conceptiva128

Estudando o conjunto externamente, parte-se da

forma obtida do experimento. O volume cúbico

construído originalmente indica uma sensação de

abrigo, estar, que pode ser diretamente associada

ao conjunto proposto pelo programa da balada.

As fendas de iluminação dão uma outra dimensão

ao visual externo; dependendo do angulo de

visão, podem ficar evidentes ou encobertas,

apenas iluminado os blocos difusos. Os recortes

deste cubo (no experimento, envolvidos pala lã)

possuem um potencial de abertura e isolamento,

quase que um escape do interior turbulento da

balada. Portanto, talvez sejam os postos mais

propícios para abrigarem os lounges. Os elementos

próximos a um formato arquitetônico leva a crer

que este experimento será o que mais se manterá

fiel a proposta programática inicial. Entretanto,

as formas obtidas pelo experimento físico geram

complicações técnicas reais, como as estruturas

e os próprios blocos. O que vemos ao lado é uma

brincadeira de como ele pode ser desconstruído e

reconstruído, adaptando-se a circunstâncias bem

mais reais. Primeiro, o volume é simplificado ao

máximo, reduzido a primeira idéia do experimento;

depois, ele se liquefaz, como se cada um dos

blocos fossem se encaixando em um cenário,

sendo as grandes aberturas propostas conforme as

oportunidades do entorno.

desencadeando 129

Especulação de reorganização externa com base em uma forma arquitetônica executável

prática expandida - experimentação conceptiva130

desencadeando 131

Imaginando uma situação ideal, apenas na

construção de uma imagem para o uso interno

deste experimento, imagina-se que este está

povoado internamente por usuários da “balada”.

Como observado já durante o trabalho externo,

internamente observa-se com uma potencia de

conter toda a parte envolvida com a produção

sonora e luminosa, que exige aberturas menores.

As partes abertas podem ser os lounges, ou até

mesmo parte do bar, sendo espaços mais calmos,

de escapismo.

prática expandida - experimentação conceptiva132

Internamente, o panorama é um pouco diferente.

Os desenhos investigativos esbanjam um outro tipo

de função dentro do conjunto final; evidentemente,

a forma cúbica dificulta muito a ocupação

deste tipo de espaço, em especial pelos pés

direitos muito altos. Por outro lado, não se podem

excluir possibilidades; em algum local que possua

área suficiente, ele pode funcionar. Apesar das

mãos atadas, algumas possibilidades devem

ser levantadas, para que a linguagem interna

corresponda às expectativas da linguagem. Os

três elementos chaves são pensados de forma

parecida de quando trabalhadas externamente: os

blocos caóticos, as tiras divisórias ou aberturas na

fachada e as pés estruturas (simplesmente como

um funcionamento de linguagem). Ao lado, um

esquema foi pensado do possível desenvolvimento

destas linguagens. Partiu-se de um espaço vazio que

abrigaria perfeitamente os 280 m2 da pista. Em uma

tentativa de desenhos, este espaço é segmentado

e suas paredes são redesenhas conforme os

desenhos dos blocos e as frestas de luz. Os blocos

vão tomando forma e cada vez mais reduzindo a

superfície coerente e harmônica das paredes. Por

sua vez, os pés são adicionados de formas distintas;

por um lado, são espalhados aleatoriamente pelo

espaço e de outro, já concentrados, podendo ser

um grande marco interno.

desencadeando 133

O anômalo possui características muito próximas da construção arquitetônica tradicional, onde o espaço e suas divisões podem acontecer segundo o programa estipulado anteriormente. Outras possibilidades podem ser levantadas, ou melhor, ainda, revistas por outras pessoas que tenham uma interpretação diferente. Neste estudo de potencialidade, entretanto, a face explorada foi esta, ao se entender que estes conjuntos de sistemas lingüísticos e formais seriam facilmente aplicados no desenvolvimento de um projeto tradicional de uma casa no-turna.

prática expandida - experimentação conceptiva134

desencadeando 135

prática expandida - experimentação conceptiva136

Entubado

Cilindros e luzes. O terceiro experimento apontou

desde o principio para estas duas possibilidades,

basta observar com atenção as imagens usadas

como referência e os testes com o lightpainting.

O grande desafio neste caso era transformar estes

dois componentes em espacialidade, e como

de praxe, estimular a interação e a vivência do

sujeito presente. Como representantes destes,

foram apontados dois materiais: o tubo, grande

forma simbólica deste experimento, internamente

revestida de grama e os tubos transparentes que

se encontram no seu interior. Juntamente a estes

dois, ainda outros dois que podem alterar seu

sentido mais básico: o entrelaçamento do tubo

(representados no experimento pelo barbante)

e os próprios blocos desconexos em que está

entrelaçado. Por sua vez, a força deste último

recupera um valor arquitetônico importante: ao

indicar desordem, eixos desalinhados, formar

sobrepostas, caminhos e visuais, pressupõe

uma inserção urbana como nenhuma outra

composição possibilitou. Acrescenta-se a isto

ainda o entrelaçamento das formas, como um

componente simbiótico ou parasita, que se

apropria das condições urbanas para se estruturar

e acontecer. Portanto, têm-se dois potenciais

aqui: o arquitetônico, da forma, do uso, da

função em relação à espacialidade; e urbana, de

presença, criação de referência (um “landmark”

possivelmente). Estas possibilidades serão melhor

exploradas adiante. Por hora, é importante separar

cada um dos elementos/componentes e depois

repensar o conjunto, como feito no “anômalo”.

desencadeando 137

Agora, os barbantes que unem o tubo aos blocos

desconexos. Existem duas possibilidades aqui: ou

admiti-lo como estrutura de suporte e esconde-lo,

realizando assim o volume cilíndrico que abraça; ou

o contrário, evidenciá-lo com o uso de luzes. Esta

escolha pressupõe tratamento diferenciando para

cada caso, alterando a composição inicialmente

pensada. No caso de ser apenas estrutura invisível,

não assiste a necessidade de abraçar o existente,

podendo ser simplificado. No outro caso pode-se

respeitar mais a composição inicial, pois a evidencia

luminosa apontaria para um tratamento de

fachada e destaque no meio do caos visual urbano.

O tubo, como já dito, é o principal elemento,

portanto será o norte aqui. Apesar de alguma

incerteza dentro do conjunto final, a grama interna

será mantida, mas ela será apenas uma simulação,

evidentemente. Avançando um pouco no estudo, o

tubo foi segmentado e decomposto, sendo algumas

de suas peças retiradas, resultando em uma série de

aberturas em sua superfície. Tomando como partido

isto como uma possível forma arquitetônica, estas

aberturas deveriam respeitar a cobertura e o piso

(devendo receber uma planificação, aqui sendo

mostrado curvo por se tratar apenas como uma

exemplificação). Já as aberturas serviriam como

janelas para a cidade. A idéia não consiste em

trabalhar com luzes ao compor o espaço? Portanto,

nada mais justo que as luzes da cidade participem.

prática expandida - experimentação conceptiva138

Os cilindros internos eram transparentes e, quando

a luz passava por eles, refletiam e espalhavam tal

iluminação pelo ambiente. Neste caso, a forma e

a distribuição irregular podem ser mantidas, mas

o material poderá ser trocado, ainda sendo um

irradiador de luz. Umas das possibilidades é o uso

de tubos com líqüidos no seu interior, que além

de possibilitarem uma dinâmica diferente, ainda

refletem a luz de forma espontânea e natural. No

exemplo acima, é possível observar um exemplo

deste sistema, que possuem bombas que mantém o

movimento do líquido e iluminação em suas bordas.

Restaurante instalado na cobertura de museu em Paris

desencadeando 139

De todos os elementos que compõe este

experimento, este é mais complicado. De fato,

durante a construção dele, houve mudanças

importantes na sua forma: inicialmente seria algo

como um “pórtico”, depois tirantes e por fim uma

forma desconexa de blocos. Mas, em todos eles,

existia uma característica semelhante: sustentar

ao tubo. E, com a falta de uma linguagem própria

para este componente, esta função acaba por

sendo indispensável para sua idealização. Portanto,

ele é aberto por completo, pode ser qualquer

coisa que possa dar suporte ao tubo, não apenas

estruturalmente como funcionalmente. Um exemplo

(e aqui, devida a forma obtida, bem nítida) é usar as

construções em coberturas como um meio possível

para abrigá-lo.

Quanto ao conjunto, primeiro estuda-se o quesito formal da

fachada. Mantém-se os blocos desconexos como suporte

apenas como simbólico, pois propor uma aplicação real disto

necessitaria uma avaliação criteriosa e técnica que destoa

deste estudo. Portanto, o volume cilíndrico continua sendo

o grande símbolo, aliado as aberturas nos seus extremos,

além das laterais que servem como escape para a cidade.

O elemento conflitante continua sendo as “tiras” que

envolvem o cilindro e abraçam o suporte. Como salientado

anteriormente, caso não sejam iluminadas, o grande destaque

no cenário urbano noturno passa a ser o interior da balada,

que deverá ser muito iluminado. Por outro lado, com estas

tiras iluminadas, o volume tem um grande destaque, sendo

uma solução singular e criando um “landmark” para a vida

noturna. Esta dúvida pode ser resolvida pelo entorno: se está

em um vazio, pode ser iluminada; porém se estiver adjacente

a demais tipologias semelhantes, a iluminação só causará

confusão visual e pouco ajudará em destacá-lo.

prática expandida - experimentação conceptiva140

Apesar do trabalho externo ter um trabalho especifico,

o interno será o grande expoente desta linguagem.

Mas para a criação e concepção do espaço interno,

não serão usada as tradicionais formas e soluções

espaciais; aqui, o que dita à espacialidade são as

luzes, que advêm de diversas fontes. As tracionais,

emitidas por canhões de luz. Depois, os tubos com

as bolhas de água, que resultam no reflexo da

água quando banhadas pelos canhões de luz. Isto

gera uma outra ambientação e uma outra forma

A primeira está na participação direta. Ou seja, além

de estar presente, ele pode interagir na formação

do espaço, com distribuição de itens luminosos,

que vão desde colares e pulseiras até aos copos

dos drinks. Cada um, portanto, passa a contribuir

com a iluminação local, formando e deformando o

espaço com movimentos, associações e integração.

Fazer parte torna-se divertido e instigante. Por fim,

uma condição externa, mas muito bem vinda: as

luzes da cidade, que com as aberturas permitem

desencadeando 141

de exploração da iluminação nestes ambientes.

Entretanto, isto deve ser trabalhado de forma sutil

para que a iluminação se integre harmoniosamente.

Outra exploração está na presença de telões de

projeção, que além de iluminar, projetam imagens

e outros tipos de interações. Além disto, é importante

que cada sujeito participe da composição deste

espaço e não seja apenas um agente passivo

no cenário. Para isto, algumas alternativas foram

pensadas.

não apenas a vista para as pessoas que estão em

seu interior, mas também com a adesão das luzes

da noite que de forma muito especifica contribuem.

Portanto, o espaço se constitui além do físico; passa

a ser também virtual, liquido modificável, interativo.

Apaguem as luzes e teremos a cidade; ascendam

somente os tubos e termos marcações firmes; liguem

as projeções e tem-se um grande dinamismo da

imagem em movimento; liguem tudo e termos um

caos luminoso.

prática expandida - experimentação conceptiva142

Mais que um espaço arquitetônico, que envolve a forma e função física, parte do ambiente pode ser composto por elementos mais dinâmicos, fluidos, que acima de tudo permitisse a interação das condições internas e externas, em uma constante transformação espacial. A resposta para isto foi o uso das luzes, que além de serem mutáveis, permitem a participação de agentes externos (como as músicas) e principalmente das pessoas, que de posse deste elemento de transformação, são participantes do cenário e do espaço.

desencadeando 143

prática expandida - experimentação conceptiva144

Ôco

Finalmente a última experimentação. Após a

exploração das anteriores, ficou complicado

encontrar um direcionamento singular para este

último, pois as possibilidades mais nítidas durante

o desenvolvimento já foram bem exploradas.

Mas, justamente pela casualidade que deu lhe

origem, ela viria a ser a mais diferente de todas.

Olhando com atenção, existem dois pontos

fortes nele: a oposição dos elementos que o

compõe e a abertura em relação a sua forma

e a sua relação entre as partes. Esta última será

devidamente trabalhada adiante. No outro caso,

os componentes constituem linguagem opostas: o

coco é um elemento rústico, da natureza, portanto

espontâneo, ainda mais quando submetido ao

processo de quebra e reconstrução. Do outro lado

temos a antena, que trás consigo todo um potencial

tecnológico, de inovação. A combinação entre

o rústico e o polido, o natural e o artificial devem

permanecer como principal direção da linguagem.

Pode-se imaginar como esta composição

acontece, criando um padrão de desdobramento

destas formas e texturas. As antenas (portanto,

a tecnologia) podem ser representadas como

elementos estruturais reais, de alta tecnologia, que

conforme os cálculos específicos devem sustentar

e estruturar todo o conjunto. Independente da

técnica, o importante é manter o código da

estrutura como o símbolo do avanço tecnológico.

Do outro lado, o elemento de contradição, o rústico

do coco, que pode ser pensado com diversas

técnicas representativas. Ao lado, é possível ver

um diagrama esquemático das formas, partindo

da simulação da forma dos cocos usados até a

sobreposição de algumas peças como se fossem os

pedaços dos mesmos. Apesar de ser um diagrama

simplificado, apresenta bem a idéia.

Formas básicas obtidas dos cocos usados no experimento

Simplificação em estrutura reticulada simples

Inserção aleatória da primeira camada de revestimento

Inserção aleatória da segunda camada de revestimento

desencadeando 145

Desenvolvimento da forma básica a ser aplicada nas faces volumé-tricas que simulam os cocos

prática expandida - experimentação conceptiva146

A construção destas formas está diretamente ligada às formas originais dos

cocos do experimento. Porém, no momento de compor o revestimento a

estrutura formal, houve muitos problemas para encontrar uma linguagem

parecida, pois as circunstâncias encontradas durante a quebra dos mesmos

dificilmente seriam as mesmas de quando simuladas pelo computador. Portanto,

somente como uma simulação, usando um formato de peça que se repetiu

bastante durante a quebra, uma forma padrão de blocos foi pensada e ela

distribuída pela superfície do volume. Apesar de ainda estar longe do ideal, o

resultado mostra um pouco a cara do que deveria ser volume final. Os volumes

paramétricos poderiam ajudar neste quesito, porém será deixada apenas

em aberto esta possibilidade para estudar melhor a principal força deste

experimento, a forma e a relação entre as partes.

E, se a principio pode parecer um tanto estranho que os elementos não se

desconstruam para um estudo individual e coletivo (como aconteceu nos

demais) isto não é apenas uma coincidência. De fato, as formas aqui obtidas

são as que mais se aproximam de um resultado final. Como? A necessidade

de explorar uma abordagem diferente para este experimento resultou em uma

revisão inusitada de todo o programa, das diretrizes, da tipologia e até mesmo

da própria construção da arquitetura. E neste momento se atinge ponto máximo

da experimentação: nada de programa, nada de diretrizes e muito menos de

espaços construídos; o objetivo inicial atingirá sua plenitude simplesmente por

agregar pessoas, promover a socialização e a vivência e comunicar objeto e

sujeito. Todas estas condições essenciais, mas aqui incorporada de uma outra

forma: como objetos de aglomeração e afinidades.

Pavilhão espanhol expo Xangai 2010 - EMBTExemplo de associação entre estrutura metálica tecnológica e revestimento rústico

Golden Fish Barcelona - Frank GehryExemplo de associação entre estrutura metálica tecnólógica e revestimento rústico

desencadeando 147

FogueiraSimbolo de união e aglomeração

“Feijão” - Anish Kapoor, ChicagoNovas possibilidades de vivências

urbanas além da edificação

prática expandida - experimentação conceptiva148

A expressão “objetos de aglomeração” pode

parecer muito vasta e imprecisa, porém ela pode

sintetizar a relação. Para entender melhor o que

esta acontecendo, retornam-se as primeiras

manifestações históricas de encontro, acolhimento

e reunião entre as pessoas. Observamos, por

exemplo, a fogueira, um objeto simples, mas que

consigo trás conforto, união e socialização. Não

é por nada que este simples elemento torna-

se tradicionalmente presente em diversas festa

populares, como as festas juninas brasileiras.

Retomando ainda princípios básicos da arquitetura,

de promover a abertura social, dialogo entre partes

e tantas outras ficam claro que a fogueira consegue

com muita eficiente ao reunir todos os atributos

para compor um espaço sem o edifício, “não-

edificado”. Quando se começa a entender isto, fica

claro que não existe mais a simples necessidade da

construção tradicional, mas sim a da construção

do sentido, da aproximação do sujeito com o

objeto (como é especialmente observado no

exemplo dado). Portanto, abandona-se a idéia

da construção e se dá um passo adiante: o lugar

(espaço humanizado) acontece diretamente pela

relação do ser com o objeto em questão, que no

caso especifico é o experimento.

?? ?? ? ??

! !! !! !

:):P ;):D:) :D:) :P :)

desencadeando 149

Entretanto, admitir o experimento como “esculturas”

pode não resultar no efeito desejado. Elas podem

simbolizar uma situação, mas não necessária

aproximar as partes. Usando novamente o exemplo

da fogueira, ela trás consigo benéficos que

extrapolem suas formas: o calor, a luminosidade...

Portanto, adiciona-se mais atributos em cada um

deles para que, assim, cada sujeito una-se com

ele. Simplificando e reduzindo o programa para

os itens mais indispensáveis para o acontecimento

da balada: som, bebidas e pessoas. Banheiros?

São importantes, mas existem alternativas; o ideal

é reduzir apenas ao absolutamente necessário

para a existência da “balada”. Estes selecionados

são suficientes, apesar de ser possível pensar em

outras interações, como estímulos a celulares

conforme a aproximação do objeto. Cada um

deles (ou conjunto deles) passa ser um polarizador

de encontros de pessoas, permitindo inclusive unir

diversas tribos de gostos distintos em um mesmo

local, mas cada em seu próprio “objeto de

aglomeração”.

Ôco resultou uma capacidade não explorada pelos outros: recompreender o espaço como uma outra solução, não necessariamente focada no “espaço construído”, mas sim naquela que acontece conforme as relações sociais de dão ao seu redor, lugarizando o espaço. Para que isto ocorra, uma simples expectativa pode não suportá-la, necessitando assim de algum suporte para que ocorra. Neste caso em especifico, cada uma das instalações seriam munidas de música e bebida, itens básicos para compor esta tipologia. Esta interação não acontece apenas entre a instalação e seus usuários, mas também entre instalações, propiciando vivências diferentes conforme sua posição, altura (mais baixos ao redor, médios em baixo e altos referenciais), direcionamento, entre outros, juntando afinidades parecidas e experiências sensoriais singulares.

prática expandida - experimentação conceptiva150

desencadeando 151

prática expandida - experimentação conceptiva152

A interação entre programa e experimentação apresentada são principalmente propostas formais e lingüísticas, apesar

de lidarem também com a reconstrução do programa. Cada um possui seus respectivos materiais, volumes, estruturas e

construções, sendo que para o estudo de potencialidades cada uma destas peças foi isolada, pois separadas poderiam

render outras possibilidades além do conjunto. As formas encontradas são um sistema aberto a especulação e apropriação,

podendo ser alteradas conforme outras leituras feitas da mesma. Estes experimentos de linguagem e formas têm como ponto

central o desenvolvimento espacial, sendo esta a principal disciplina desenvolvida, deixando de lado outras disciplinas

pensadas inicialmente, como as peças gráficas ou os produtos. A arquitetura e o espaço, mediante a uma linguagem

especulada para elas, podem-se tornar um fortíssimo elemento disseminador de linguagem, agregador de valor e construtor

de um sentido. Imaginando a multidisciplinaridade das mídias, conhecidas como crossmedia, onde uma série de formatos

midiáticos é desenvolvida ao mesmo tempo conforme uma mesma identidade seja em pequenos portáteis como aplicativos

para celulares ou até grandes cartazes. A arquitetura e o espaço podem participar também como uma forte mídia, na

escala da cidade. O caminho oposto pode ser observado, partindo-se da linguagem arquitetônica até as menores e simples

formas de difusão de mensagem. Isto seria impossível caso se use os tradicionais processos modernistas, onde a tecnologia

é a linguagem indispensável; ela pode fazer parte, juntamente com outros elementos que se justifiquem e que criem as

circunstâncias para isto.

Em se tratando de uma revisão programática, de diretrizes e de função, cada um dos experimentos foi estudado

propositalmente com diferentes abordagens para que obtivesse resultados diversos. No caso do Anômalo, por exemplo,

a aproximação entre experimento e programa é mais sensível, a experimentação pouco propondo para a revisão do

programa. Os espaços estavam bem definidos, construídos e seguiam parte das disposições e espaços previstos pelo

programa. A única singularidade estava no ponto de referencia dentro do espaço, neste caso as formas caóticas originadas

dos pés do experimento; além disso, as aberturas permitiam um outro trabalho funcional, recebendo áreas que exigem mais

tranqüilidade (como os lounges). A Gaiola é outro exemplo de como o programa pode se encaixar de forma perfeita, usando

os volumes da arquitetura modernista para resolverem o programa e deixando o valor experimental para o trabalho com

o material. No caso no entubado, houve um hibridismo destas funções, pois existe tanto a possibilidade de concretizar um

espaço físico quanto um virtual. Neste caso, o componente espacial deve promover a vivência, um fator contemporâneo

indispensável, que vai muito além do que a típica formatação de vivências propostas pela organização espacial do edifício.

Quando uma situação de programa é proposta, sem serem levadas em conta valores de cada um dos freqüentadores do

REVISÃO POTENCIALIDADES

revisão potencialidades 153

espaço, geralmente criam-se regras a serem seguidas sem que haja outros valores conjuntos para que sejam validados. Por

exemplo, se propõe exatamente onde as pessoas se reunirão, por onde elas circularão, sem haver um trabalho mais profundo

do estudo das relações destas pessoas com o espaço e entre elas mesmas. Quando o homem passa a ser repensado como

um agente participante e modificador do que está ao seu redor, a estrutura tradicional de projeto pode ser deixada de lado

para se focar especialmente nestes agentes espaciais.

Após todas estas análises, fica um estranhamento de como uma montagem tipicamente volumétrica e materiais em pequena

escala poderiam servir como participantes na rearticulação de um programa. De fato, um experimento que permitisse uma

interação entre a sua construção e os usuários da tipologia resultaria em alternativas, possivelmente mais instigantes no

campo do programa. Neste trabalho esta releitura e abertura do programa acontecem através da interpretação de cada um

dos experimentos, de seus materiais, formas e também da nova observação de parte das referências das “baladas” expostas

em um momento anterior. Em outras palavras, pode-se considerar perfeitamente que se partiu de formas para se chegar a

alguma função, e não o inverso, a já consagrada “a forma segue a função”.

Para finalizar, estes experimentos podem interagir entre eles, em matérias, formas e funções. Um exemplo é uma mistura

entre o elemento base da Gaiola e as formas geométricas do ôCO; ou a forma externa do entubado associada ao interior do

anômalo. Pode-se juntar cada umas das potencias, cada um dos valores mais significativos em cada para a composição de

um só experimento lingüístico, criando um caos formal e lingüístico singular, mas que precisaria ser devidamente estudado.

prática expandida - experimentação conceptiva154

O resultado deste trabalho não é de caráter definitivo, indicando que todo ele não passou de uma grande experimentação

metodológica, experimental e conceitual com base nas novas exigências que emergiram na sociedade nas últimas décadas.

O imediatismo, a fluidez e liquidez das relações fizeram com os métodos de projeto estáticos e pré-estabelecidos não

mais respondessem adequadamente a estas problemáticas. Além disso, o excesso das informações e o bombardeio das

comunicações exigiram cada vez mais uma interação mais próxima entre as diversas disciplinas projetuais, além de outras

antes desconsideradas neste meio. O resultado é o surgimento de novas alternativas metodológicas aliadas às antigas,

procurando uma readequação a este novo cenário.

O que se propôs neste trabalho foi encontrar uma metodologia que lidassem com estas variáveis. Não definir uma

metodologia fechada e rígida de principio, mas sim encontrar aspectos interessantes e pertinentes conforme o caminho

de trabalho é percorrido. Construir a metodologia e os processos passa o ser o grande protagonista, em uma investigação

continua de aprofundamento no contexto do projeto e dos comportamentos da sociedade. Os dois, metodologia e processo,

se fazem ao longo de um trajeto não linear e repleto de alternativas, não apenas um caminho único e certeiro. Este ideal se

aproxima bastante do conceito de metaprojeto, onde o que interessa de fato não é projeto em si, mas sim criar as condições

para que o projeto aconteça através da formatação de possibilidades, programas e potenciais de um determinado contexto.

Com isto, o que se pode dizer é o que a produção desenvolvida foi um metaprojeto livre, onde o importante foi compreender

os parâmetros inicialmente dados através de uma análise profunda da tipologia de projeto (as casas noturnas, baladas...) e

alteradas significativamente com as experimentações compositivas. Estas experimentações, que inicialmente tinham apenas

intenção de responder a novas idéias lingüísticas e formais, foram decisivas para a reorganização e revisão do programa e

das diretrizes especuladas, uma vez que colocaram a arquitetura e o espaço como tema central de uma trama multidisciplinar,

abrindo possibilidades não imaginadas antes.

Entretanto, este sistema tem os seus limites. As escolhas das experimentações, dos seus processos e materiais foram

absolutamente pessoal, sem haver qualquer outro tipo de interação com outras pessoas durante o processo, sejam elas

usuárias ou designers/arquitetos/projetistas/curiosos que quisessem se aventurar nesta experimentação. Isto esvazia

um pouco o resultado obtido, pois a impressão que se tem é que jornada das experimentações foi quase um processo de

descoberta pessoal do que de equipe, de um conjunto de pessoas envolvidas no ato de projetar. Imaginando um cenário

ideal, onde as experimentações possam ser originadas não apenas por uma pessoa, mas sim a partir de interações em

REFLEXÃO FINAL

reflexão final 155

diversos níveis (projeto colaborativo e participativo) de trabalho e processos, atribuindo especialidades de cada um dos

participantes, mesmo que eles estejam dentro da mesma disciplina. Isto enriqueceria substancialmente as experimentações,

pois diferentes agentes contribuíram na confecção de experimentos que poderiam ser recombinados, discutidos, debatidos

até o ponto no qual o objeto de referência torna-se coletivo; uma arte de todos. No terreno acadêmico isto poderia ser

muito proveitoso, uma vez que grupos de alunos podem ser incentivados a criar seus próprios experimentos como parte da

definição de um partido projetual, para somente depois partirem para o desenvolvimento projetual segundo os resultados

obtidos por este.

Outra atividade que contribuiria para um melhor aproveitamento das experimentações seria a interação destas com possíveis

usuários e sujeitos presentes no espaço da “balada”. Neste sentido, experimentos iniciais poderiam ser propostos, gerando

diversas possibilidades de interação aos usuários e pessoas de fora para que contribuíssem na sua construção. Tomando

como exemplo as experimentações aqui realizadas, as pessoas poderiam interagir tanto na seleção de materiais quanto na de

referencias e até mesmo no processo de combinação e construção destas composições. A participação direta também pode

ter em um sentido mais subjetivo, próximo do que o Höweler e Yoon propõe no “expanded pratice”, onde a experimentação

(simbolizada pelas suas instalações) é desenvolvida com a intenção de coletar dados dos usuários que ajudarão na definição

de um futuro programa e projeto arquitetônico. A complexidade desta proposta parece mais interessante, ao passo que uma

série de comportamentos podem ser analisados em separado e encaminhados para uma produção. Outra possibilidade vai

até mesmo além do que o grupo pretende; ao invés de um programa definido por uma observação tendenciosa (como foi

feita aqui) e experimentações que ajudam a balizar e abrir perspectivas para o universo projetual, por que não experimentar

para observar?

Sendo mais especifico: desde o inicio deste trabalho, onde o uso das experimentações ainda não era claro, a idéia foi

primeiro observar necessidades e comportamentos que correspondessem às expectativas que seriam trabalhadas. Isto

não se questionou em nenhum momento, nem mesmo após a confecção dos experimentos. Se, ao invés de propor uma

observação para encontrar uma necessidade, por que não experimentar para encontrar esta necessidade? Portanto, criam-

se experimentações interativas lançadas ao alcance de determinado público, coletando dados e comportamentos destes,

obtendo assim uma necessidade singular, real e muito mais próxima da sociedade. As experimentações aqui realizadas

não se dispõem a tal coisa, até porque tais instalações exigiriam uma complexidade de sistemas operando juntamente que

prática expandida - experimentação conceptiva156

estariam muito além das possibilidades aqui apresentadas. Dentro do que foram obtidas, as experimentações são apenas

revisões internas de trabalho, de uma metodologia mais flexível e aberta a novas interpretações, escapando do senso comum

e tradicional de composições formais, funcionais e lingüísticas. Não que isto este que seja equivocado ou extremamente

limitado no campo experimental. O que se esperava destas experimentações é exatamente o que foi obtido: investigar um

cenário, uma circunstâncias, explorar possibilidades pouco claras em determinado momento.

Assim sendo, a metodologia apresentada propõe soluções para alguns problemas e vícios típicos dos processos dados a

priori, deixando portas abertas para a reinvenção, para a abertura das mentes mais engessadas no conteúdo estático do

século que se passou. Lembrando que todos os processos são dados em estado work in progress. Nada é definitivo, tudo

muda tudo se transforma inclusive a própria metodologia, que deve acompanhar as mudanças dando respostas pouco

imaginadas em circunstâncias diversas, estimulando constantemente a inventividade, a inovação e a inquietação. Nada é

para sempre, tudo flui em uma velocidade impressionante na nova modernidade; tanto que, ao término deste trabalho,

o sentimento mais evidente é do anseio pela continuidade, pelas novas experimentações e pela inquietação produtiva e

investigativa.

reflexão final 157

prática expandida - experimentação conceptiva158

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