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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão Região Sul 1 PRÁTICA INTERDISCIPLINAR E O ATO CRIATIVO Wellington Lima Amorim (Prof. Dr. Wellington Lima Amorim Universidade Federal do Maranhão E-mail: [email protected]) Everaldo da Silva (Prof. Dr. Everaldo da Silva - Centro Universitário de Brusque E-mail: [email protected]) Todo ato criativo se dá, inicialmente, por meio de uma prática interdisciplinar. No entanto, ela não pode ser definida, para que não se corra o risco de se criar uma nova disciplina, com a função única de controlar o conhecimento produzido. Não se pode falar sobre uma educação criativa sem ter a interdisciplinaridade como condição prévia para o seu desenvolvimento. É a cooperação entre as disciplinas que proporciona intercâmbios e possibilita reciprocidades e enriquecimentos mútuos, possíveis de estimular a transdisciplinaridade. No desafio de buscar uma estrutura transdisciplinar, portanto, deve-se ter como aliado o diálogo, possível instrumento de transformação do real. Sem querer correr o risco de definir o conceito de interdisciplinaridade e o ato criativo, a própria interdisciplinaridade talvez consista na promoção do diálogo entre as diversas disciplinas. Para isso é preciso demonstrar que não há um método, ou uma dialética na educação, mas existe apenas o diálogo, que é a fala entre duas pessoas; conversação entre muitas pessoas. No diálogo não há um método definido, há apenas um jogo. O diálogo pode ocorrer em várias direções e sentidos, criando agenciamentos diversos. A dialética é uma técnica (techné), ou melhor, um método preciso e teleológico, que busca um fim, uma resposta. É por intermediação da dialética, que é arte de raciocinar, da lógica dialektiké (techné) discussão, em um constante processo de racionalização que somos levados a viver em um mundo dominado pela técnica moderna, o filho perverso da techné. Precisa-se, entretanto, cada vez mais de diálogos, de jogos de linguagem, de relações amorosas solidárias e carismáticas, e não de dialética, que é estéril, castrada por si mesma. A prática interdisciplinar entre a Sociologia e a Antropologia consiste neste diálogo, nesse jogo de ilusões, entre as diversas disciplinas disponíveis, nesse caso, a Sociologia e a Antropologia. Desde a antiguidade clássica, tendo como ponto partida o pensamento platônico-aristotélico, o homem apresenta um prazer praticamente solitário em classificar, organizar e delimitar espaços e territórios. No entanto, o progresso trazido por este pensamento, nada mais é do que um acréscimo dessa racionalidade, que tem origem nos primórdios da civilização ocidental. Contudo, aos poucos foi se percebendo que esta dita racionalidade disciplinadora é geradora de realidades irracionalizantes. Hoje, razão é designada apenas pelo „cálculo utilitário das consequências‟, organizando-se de forma a levar a um objetivo previamente definido. Essa racionalidade funcional não se pergunta pelos seus pressupostos e nem pelo seu sentido, agindo na esfera do como, sem se perguntar pelo porquê. Isso determina um nível de ação teleológica exclusivamente técnica, interesseira, em que predomina

PRÁTICA INTERDISCIPLINAR E O ATO CRIATIVO · dons celestes que nem o trabalho nem o dinheiro podem conferir. O dandismo é o último rasgo de heroísmo nas decadências, ... Mas

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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

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PRÁTICA INTERDISCIPLINAR E O ATO CRIATIVO

Wellington Lima Amorim (Prof. Dr. Wellington Lima Amorim – Universidade Federal do Maranhão – E-mail: [email protected])

Everaldo da Silva (Prof. Dr. Everaldo da Silva - Centro Universitário de Brusque – E-mail: [email protected])

Todo ato criativo se dá, inicialmente, por meio de uma prática interdisciplinar. No entanto, ela não

pode ser definida, para que não se corra o risco de se criar uma nova disciplina, com a função única de

controlar o conhecimento produzido. Não se pode falar sobre uma educação criativa sem ter a

interdisciplinaridade como condição prévia para o seu desenvolvimento. É a cooperação entre as disciplinas

que proporciona intercâmbios e possibilita reciprocidades e enriquecimentos mútuos, possíveis de estimular

a transdisciplinaridade. No desafio de buscar uma estrutura transdisciplinar, portanto, deve-se ter como

aliado o diálogo, possível instrumento de transformação do real. Sem querer correr o risco de definir o

conceito de interdisciplinaridade e o ato criativo, a própria interdisciplinaridade talvez consista na promoção

do diálogo entre as diversas disciplinas. Para isso é preciso demonstrar que não há um método, ou uma

dialética na educação, mas existe apenas o diálogo, que é a fala entre duas pessoas; conversação entre muitas

pessoas. No diálogo não há um método definido, há apenas um jogo. O diálogo pode ocorrer em várias

direções e sentidos, criando agenciamentos diversos. A dialética é uma técnica (techné), ou melhor, um

método preciso e teleológico, que busca um fim, uma resposta. É por intermediação da dialética, que é arte

de raciocinar, da lógica – dialektiké (techné) discussão, em um constante processo de racionalização – que

somos levados a viver em um mundo dominado pela técnica moderna, o filho perverso da techné.

Precisa-se, entretanto, cada vez mais de diálogos, de jogos de linguagem, de relações amorosas

solidárias e carismáticas, e não de dialética, que é estéril, castrada por si mesma. A prática interdisciplinar

entre a Sociologia e a Antropologia consiste neste diálogo, nesse jogo de ilusões, entre as diversas

disciplinas disponíveis, nesse caso, a Sociologia e a Antropologia. Desde a antiguidade clássica, tendo como

ponto partida o pensamento platônico-aristotélico, o homem apresenta um prazer praticamente solitário em

classificar, organizar e delimitar espaços e territórios. No entanto, o progresso trazido por este pensamento,

nada mais é do que um acréscimo dessa racionalidade, que tem origem nos primórdios da civilização

ocidental. Contudo, aos poucos foi se percebendo que esta dita racionalidade disciplinadora é geradora de

realidades irracionalizantes. Hoje, razão é designada apenas pelo „cálculo utilitário das consequências‟,

organizando-se de forma a levar a um objetivo previamente definido. Essa racionalidade funcional não se

pergunta pelos seus pressupostos e nem pelo seu sentido, agindo na esfera do como, sem se perguntar pelo

porquê. Isso determina um nível de ação teleológica exclusivamente técnica, interesseira, em que predomina

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a dominação do sujeito sobre o real; ao sujeito cabe estabelecer os fins e eleger os meios de toda a ação.

Weber descreve a burocracia como empenhada em funções racionais, no contexto peculiar de uma sociedade

capitalista, centrada no mercado e cuja racionalidade é funcional (Silva, 2005).

A razão, com o advento da modernidade, não consegue possuir tudo o que se propõe, e “[...] a própria

razão técnica, longe de garantir um domínio cada vez maior sobre a natureza [...] tinha perdido a capacidade

de guiar com competência e responsabilidade o progresso histórico” (Bruseke, 2001, p. 9). Surge então uma

instabilidade na sociedade moderna em meio a surtos irracionalizantes. A razão que se propõe a ser

constituidora de felicidade, na verdade, gera o oposto: medo e incerteza. “A falta de critério é que aflige o

homem livre da alta modernidade.” (op. cit., p. 15). Então, buscam-se estruturas mais sólidas, uma vez que

muitas haviam desmoronado, “[...] uma ciência experimental nunca poderá ter como tarefa a descoberta de

normas e ideais de caráter imperativo, dos quais pudessem deduzir-se algumas receitas para a práxis”

(Weber, 2003, p. 5). Outra marca da modernidade, que Max Weber apresenta, é o processo de

desencantamento do mundo, “Entzauberung der Welt”, que integra o processo de racionalização. Nele o

mundo é visto “nu”, e o ser humano, nessa perspectiva, não vê mais o mundo como dominado por forças

impessoais:

Significa principalmente, portanto, que não há forças misteriosas incalculáveis, mas que podemos, em princípio, dominar todas as coisas pelo cálculo. Isto significa que o mundo foi

desencantado. Já não precisamos recorrer aos meios mágicos para dominar ou implorar aos

espíritos, como fazia o selvagem, para quem esses poderes misteriosos existiam. Os meios técnicos e os cálculos realizam o serviço. (WEBER, 1982, p. 165).

Assim, o véu de mistério que cobria a realidade é retirado. Pois, o saber científico avança sem confiar

em qualquer valor misterioso ou transcendental, uma vez que tudo pode ser dominado pelo cálculo e, assim,

a ciência procura libertar a humanidade de qualquer elemento religioso, e

[...] deixa de ver a vida como algo dominado por forças impessoais e divinas para enxergar a

natureza e a sociedade como passíveis de completo domínio pelo homem. Antes, eram os

deuses que controlavam a vida do homem. Agora é o homem, através da ciência e da técnica, que desdiviniza a natureza e a sociedade e passa a controlá-las. (Op. cit., p. 128).

Por esse mister, a técnica parece querer substituir as certezas religiosas. Dessa maneira, a hegemonia

nessa área do conhecimento perde espaço: “Cada esfera de valor, ao se racionalizar, se justifica por si

mesma: encontra em si sua própria lógica interna – uma legalidade própria” (Pierucci, 2003, p. 138). Mas

essa fragmentação pode produzir um Dândi, que tem como símbolos a superioridade aristocrática, com certa

originalidade, possuindo um caráter de oposição e revolta contra a trivialidade, a banalidade, o tédio:

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O dandismo surge, sobretudo nas épocas transitórias em que a democracia não é ainda todo-poderosa, em que a aristocracia está enfraquecida e desvalorizada apenas

parcialmente. Na confusão dessas épocas, alguns homens, deslocados de sua classe,

descontentes, destituídos de uma ocupação, mas todos ricos de uma força inata, são capazes de conceber o projeto de fundar uma nova espécie de aristocracia, tanto mais difícil de

abater quanto estará baseada nas mais preciosas, nas mais indestrutíveis faculdades, e nos

dons celestes que nem o trabalho nem o dinheiro podem conferir. O dandismo é o último rasgo de heroísmo nas decadências, e o tipo do dândi encontrado pelo viajante na América

do Norte não invalida, de maneira alguma, essa ideia: pois nada impede que se pense que as

tribos que denominamos selvagens sejam os resquícios de grandes civilizações

desaparecidas. O dandismo é um sol poente, como o astro que declina, é soberbo, sem calor e pleno de melancolia. Mas desgraçadamente, a maré montante da democracia – que invade

tudo e tudo nivela – afunda diariamente esses últimos representantes do orgulho humano e

lança vagas de olvido sobre os traços desses prodigiosos mirmidões. (BAUDELAIRE, 2008, p.68).

Paradoxalmente, é diante de uma sociedade cada vez mais técnica e disciplinada que emerge

a contingência e, por conseguinte a liberdade, nascendo o pesquisador interdisciplinar, que está a princípio

fortemente desligado de toda forma de institucionalização, uma vez que esses são independentes de qualquer

mecanismo regular de organização, diante de uma sociedade composta de especialistas. a

contemporaneidade é marcada por uma sinergia entre o antigo, ou melhor, aquilo que é considerado arcaico,

e o desenvolvimento tecnológico e esse fenômeno é identificado em diversas leituras, que podem ser

consideradas anacrônicas, que quer dizer fora de contexto, no entanto, ele as adapta, contextualizando-as

(Maffesoli, 2004). Mas o que é sinergia para Maffesoli? Cabe lembrar que a palavra sinergia tem origem

grega que quer dizer synergía, ou melhor, cooperação (sýn), conjuntamente com a ideia de trabalho (ergon).

Esse fenômeno pode ser considerado como vários agrupamentos que trabalham coordenadamente realizando

uma tarefa considerada complexa, onde vários dispositivos procuram executar determinadas funções e que

buscam um mesmo fim. Pode ser entendido como sendo uma forma de rompimento com o relato antigo ou

arcaico, atualizando-o para o atual contexto, inserindo-o no mundo técnico. Portanto, o paradoxo e um

cosmos belicoso se tornam as principais marcas do drama contemporâneo, criando condições para o

surgimento do pesquisador interdisciplinar, que é chamado para a decisão, reencantando o mundo. Contudo,

esse reencantamento patrocinado por essa nova modalidade de pesquisa pode apresentar-se ambivalente. Por

um lado, se têm a exaltação do tempo presente, abandonando a linearidade do tempo, na busca por êxtases

contemporâneos e efêmeros, seja de ordem técnica, afetiva, cultural ou musical, como forma de resistência

ao desencantamento do mundo, patrocinado pelas várias racionalizações do mundo ocidental:

É no quadro tribal que se vai sair de si, explodir-se e, através desse êxtase, comungar com forças cósmicas ou, muito simplesmente, navegar nas redes da internet. Onde havia

separação, corte e diferenciação, e isso em que todos os domínios, renascem uma

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perspectiva global, dando ênfase a “religação” das pessoas e das coisas, da natureza e da

cultura, do corpo e da alma. (MAFFESOLLI, 2004, p.149).

Por outro lado, pode dar origem ao fenômeno fundamentalista dos diversos grupos de especialistas,

que pode ser interpretado como sendo uma forma de resistência à perda de prestígio dos diversos valores

éticos e a constante profanização das camadas consideradas tradicionais da sociedade, que implica a uma

recusa do que podemos chamar de modernidade líquida, ou reflexiva, ou ainda pós-modernidade. Por isso, o

pesquisador interdisciplinar deve se relacionar com a imagem de um peregrino, um nômade, um Dândi, um

ser que se abre à vida contingente. Portanto, de um ponto de vista antropológico, existem várias definições

para o peregrino, ou seja, é um conceito de múltiplas faces e não se pretende, aqui, neste momento, dar conta

de todas essas facetas. Pois bem, antes de qualquer coisa é bom deixar claro que a palavra peregrinação nos

remete à ideia de viagem, na andança por terras distantes, em uma romaria por lugares santos, ou seja, um

estrangeiro que possui uma bondade de beleza rara. É justamente esse aspecto que nos interessa analisar na

interdisciplinaridade, tendo como imagem, um Dândi, um filósofo, um místico, um líder que, com o seu

carisma, sustenta que a irracionalidade da vida, em que estamos imersos, pode promover a transformação da

vida humana:

Sua ociosidade é um trabalho e seu trabalho, um repouso, ele é, alternadamente, elegante e

desleixado, veste, a seu bel-prazer, a camisa do operário, e decide-se pelo fraque trajado

pelo homem da moda, não está sujeito a leis: ele as impõe... ele é a expressão de um grande pensamento, ele tem elegância e vida própria, porque nele tudo reflete a sua inteligência e a

sua glória. (BALZAC, 2008, p.79)

O peregrino é um aventureiro, é um sujeito extremamente viciado, drogado pela vida, está sempre em

busca do desconhecido, se volta para o passado e quer parar para salvar os mortos, mas a todo o momento é

empurrado por uma tempestade em direção ao futuro, e essa tempestade é o que chamamos de progresso. E

assim podemos delinear o mundo do peregrino: “Em resumo, há uma confrontação com uma verdadeira

procura mística desempenhando de um modo mais amplo aquilo que foi, stricto sensu, a experiência mística

própria de alguns eleitos, ascetas e outros pesquisadores do absoluto que nos falam a história humana. Para

retomar aqui uma análise de Cioran, que é um tema recorrente em toda a sua obra, podem-se estabelecer

uma relação entre o espírito cavalheiroso, o amor da aventura e a aventura mística” (Maffesoli, 2004, p.151).

No entanto, o peregrino constata que o homem moderno e burguês perdeu essa capacidade de rememoração

e, nesse mundo em que está imerso, vive agora vegetando na mera presentificação da vivência. O homem se

tornou um autômato, sem memória, perdendo a sua história. Para o homem que peregrina, quem não pode

experienciar o passado, nunca poderá sonhar com o futuro, e não pode criticar o presente. É sob essa

perspectiva que o pesquisador interdisciplinar passa a ser visto como um peregrino que se coloca como

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crítico da noção dura de progresso, que disciplina, classifica, organiza, discrimina, o que é visto como uma

ação de decadência. Para o peregrino, é preciso citar os mortos, como se estivesse citando um texto e como

uma forma de trazer o passado para o presente, de dar uma nova vida aos diversos objetos que são retirados

de seu contexto, promovendo a sinergia entre o arcaico e o contemporâneo.

Na falta de um lugar seguro que o proteja, ele leva a casa nas costas. Como em um acampamento, ele

leva seus apetrechos, a sua barraca e o colchão de dormir; esse comportamento é o que fazem dele o ser

mais próximo de um caramujo. Ele tem inveja dos animais que, por sua irracionalidade, estão no paraíso,

enquanto o ele está no inferno da racionalização. Anda por longas distâncias à procura de novos ares ou

novas pastagens e, como na obra Quixotesca, ele avança, percorrendo vários territórios, como algumas

espécies viajantes das florestas que povoam a nossa imaginação. De vez em quando parece tentar voltar as

suas origens primitivas. O medo, para o peregrino, faz parte do processo, mas a sua principal virtude é a

coragem. Em toda parte a covardia é desprezada; em toda parte a bravura é estimada. As formas podem

variar, assim como os conteúdos: cada civilização tem seus medos, cada civilização suas coragens. Mas o

que não varia, ou quase não varia, é a coragem, que é compreendida como sendo a capacidade de superar o

medo. A coragem é a virtude dos heróis; e quem não admira os heróis? Com o seu espírito empreendedor,

como muita raiva do mundo, da realidade, e com baixíssimo medo, o peregrino, este Dândi, assume o real

com um sentimento verdadeiro, e uma atitude interdisciplinar. Sentimento esse que se equivale ao amor

direcionado à vida, embora muitas vezes necessite andar de quatro apoios para subir superfícies muito

íngremes.

O peregrino é um líder que assume o medo como parte de sua vida, assim como assumimos o

sofrimento como parte de nossa existência, possuindo a incrível capacidade de controlá-lo e de superá-lo.

Sua carapaça muda conforme o ambiente ou o terreno. São espécies andróginas, são híbridas. E por isso são

as mais interessantes. Eles possuem a capacidade de transformar qualquer objeto em extensão do seu corpo,

unindo o que se tem de mais arcaico no mundo com a alta tecnologia. Esse Ser, que peregrina longas

distâncias, quer apenas chegar a um determinando ponto, para simplesmente apreciar e contemplar. A

melhor forma de compreendermos o verdadeiro espírito interdisciplinar é a sua capacidade de vivenciar o

real não desprezando os mortos, pois os vivos, ou seja, os peregrinos se veem ao meio-dia, numa passagem,

numa travessia, em um caminho, onde são obrigados constantemente a oferecer um banquete ao passado,

convidando os mortos para a sua mesa (Maffesoli, 2004). Portanto, o conceito de recordação nos remete à

compreensão que se deve articular, lembrando constantemente do que se passou na historia e isso não

significa reconhecê-lo como ele de fato ocorreu mais se apropriar de uma reminiscência, atualizando-a

através de uma sinergia entre o arcaico e o novo.

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O homem moderno é um ser incapaz de recordar. A recordação possui a categoria de um organon

para o conhecimento histórico e a noção de História equivale ao papel exercido pela revolução copernicana.

O peregrino assume a recordação não como profecia, como é o caso da noção de progresso que possuímos

na atualidade. O peregrino assume uma historia materialista, imanente e panteísta, onde a sua arké está na

recordação. E como ele faria isso? Levando o niilismo a sério. A filosofia niilista é a desvalorização de todos

os valores, um verdadeiro movimento de desencantamento e desconstrução do conhecimento humano. O

pesquisador interdisciplinar assume a anarquia como projeto político, compreendendo a história enquanto

declínio, decadência, obedecendo à lógica do pior. O peregrino apenas aplaina o terreno. O caráter de

violência, que é imposto pela atitude interdisciplinar, quebra com todos os cânones e valores da civilização,

abrindo espaço para uma nova ordem.

Para o pesquisador interdisciplinar é necessário assumir a vida como sendo uma grande viagem. Uma

forma de adquirir uma visão de conjunto desse processo, sem sacrificar a sua dinâmica, é tentar nos

aproximar com um breve resumo do movimento do real. Cabe lembrar que a interdisciplinaridade, que se

apresenta do ponto de vista antropológico, como sendo um peregrino, é antes de tudo uma passagem. Pois

bem, as passagens são como símbolos, arquétipos inconscientes, os quais não possuem nenhuma técnica.

Antes disso, são totalmente dominados pelo mito, pelos sonhos, pelo imaginário, pelas fantasias mais

inconfessáveis em que a realidade se transfigura e se transcendem na materialidade do mundo. É aí que

aparece a noção da utopia, da terra prometida, que se apropria do sonho. Mas cabe lembrar que, devido a sua

incapacidade de transformar o sonho em realidade, a utopia pode surgir como catástofre. Por isso, a

interdisciplinaridade possui duas formas de lidar com o real, que são ambíguas: o panorama, uma forma

alucinatória de trazer a história e a natureza para um mundo exilado da história e da natureza, como sendo

uma antecipação de uma reconquista real dessas duas dimensões perdidas, e a ciência, o conhecimento, que

são agentes desencantadores da realidade, da cultura e do símbolo, abolindo as promessas de um mundo

liberto.

O pesquisador interdisciplinar é dominado pelo fetichismo, em múltiplas figuras, contendo em si o

desastre e a redenção. O mundo se apresenta como uma residência ou um quarto mobiliado com objetos de

todos os séculos. O peregrino ou o pesquisador interdisciplinar se torna um colecionador, que mata os

objetos retirando-os do seu contexto, salvando-os, porque esse contexto era em si mortal. O pesquisador

interdisciplinar se torna um espectador da multidão condenado a ser um observador. O pesquisador que

peregrina, que assume o projeto dionisíaco, o projeto da ruína, no que ela tem de destrutivo e de construtivo,

percorre o espaço e o tempo e é nesse percurso que se percebe que o tempo se apresenta na forma de um

eterno retorno. Assim:

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“O peregrino vive o trágico no ponto mais alto, ponto em que a insatisfação jamais encontra uma solução, um lugar, uma situação em que possa ser absorvida. Poder-se-ia dizer que a tensão

do peregrino sobre a terra é um estado, um estado de alma sem dúvida, uma sensibilidade

incitando a errar, a sucumbir, a viver o excesso e a escassez, mas, graças a isso, a reencontrar ou encontrar uma plenitude do ser: plenitude que dá a intensidade vivida no presente, outra

maneira de dizer eternidade”. (Maffesolli, 2004, p.160).

Mas também se apresenta como um presente tenso, capaz de liberar o novo aprisionado, o arcaico,

momento em que o sonho se extingue e as fantasmagorias se dissipam, sem que o fim do sonho signifique a

rejeição do saber do sonho, e sem que o fim das fantasmagorias signifique a negação da verdade que elas

continham. No entanto, no diálogo que vem travando com a Educação, a partir dos estudos da hermenêutica

filosófica, as “ciências humanas” insistem em importar o referencial das ciências causais explicativas, como

única visão para deduzir a realidade, e como forma de “fazer progredir” o campo teórico humanístico.

Metaforicamente, a “ciência” é uma simples janela. Há muito a ser dito sobre o que vislumbramos por esta

janela, porém, fica ainda muito por ser dito. Esse pensamento remete-nos à ideia de binariedade, a separação

entre o que pode ser dito e o que não pode ser dito, ou seja, a binariedade é um pensamento nefasto que

percorre toda a História da Filosofia, na busca pela certeza e pela segurança metódica – pensamento esse que

se origina na Dialética e posteriormente na Ciência, mesmo crendo que o dito não esgota o tema pautado.

Diante desta última atitude, a hermenêutica é promissora, pois esclarece esses limites, mas ainda

permanece delimitando, organizando, e discriminando espaços. Dizer algo, em primeiro lugar, nunca esgota

o tema, ou seja, o diálogo, não termina – somente se interrompe. Quando dizemos algo, e esperamos a

interlocução, temos ainda um mundo de coisas a serem ditas. Esse é o radical limite da finitude. Tentar

cercar o ideal, atrás de uma suposta segurança de uma torrente de argumentos, não nos garante nada.

Precisamos falar, mas precisamos também ouvir, para que o acontecer da vida aconteça. Porém, nessa linha

de raciocínio, abrem-se clareiras, onde no encontro de questões essenciais, já podemos vislumbrar, no caso

da educação, a indissociabilidade entre projeto social e projeto pedagógico. No entanto, não se pode

esquecer que a realidade é una e indivisível, e o pensamento obedece ainda a binariedade que é herdada da

tradição filosófica ocidental. Por isso, a manifestação de tais projetos, no mundo da vida, vem permeada por

racionalidades que engessam e dominam a realidade social.

Pensar a questão da interdisciplinaridade é um desafio que a Educação vem se esforçando para fazer.

Tal afirmação é possível graças a educadores e educandos que se aventuram em desafiar e transgredir a

miopia, a ditadura do método e do pensamento binário. Portanto, interdisciplinaridade, numa primeira

aproximação conceitual, podemos dizer que é um esforço de promover uma sinergia entre diversas

disciplinas, em um único momento de convergência, em uma total imersão na presentificação do Ser. Tal

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cooperação entre essas disciplinas proporciona intercâmbios, possibilitando reciprocidades e

enriquecimentos mútuos. Com esse esforço, pode-se aspirar a transdisciplinaridade como etapa posterior,

com vistas à construção de um sistema, que incorpore as várias diferenças. Nesse sentido, podemos chegar a

uma teoria geral de sistemas ou de estruturas generalíssimas, que inclua estruturas operacionais, estruturas

de regulamentação e sistemas probabilísticos. Nesse desafio de buscar uma estrutura transdisciplinar, deve-

se ter como aliado o diálogo, pois este provoca e consegue ainda formular autênticas e pertinentes perguntas,

tendo em vista sua conexão com o mundo, que não pode ser negado pela visão maniqueísta e dicotômica.

Assim, o diálogo pode ser um instrumento de transformação do real.

A interdisciplinaridade exige uma postura que não seja apenas dialógica; exige um espaço de

abertura, onde possam ocorrer diversos encontros e agenciamentos. Para que isto ocorra é necessária a

democratização do conhecimento, mas em completa sinergia com a “técnica”; porém, cabe lembrar que o

conhecimento não pode passar de um movimento meramente instrumental. Na busca pela compreensão, se

faz abrir possibilidades promissoras para a Educação, pois o compreender vai além da “entrega” do

conhecimento. O acontecer da compreensão não pode ser mapeado epistemologicamente. Mas se entende

que a retomada da Bildung (formação) é um dos caminhos de acesso para a recuperação da compreensão

como categoria fundamental para a Educação. A compreensão abre o caminho para a articulação do

conhecimento, que só pode ocorrer com a pergunta sendo constantemente posta em evidência. A pergunta

indica sentido, coerência, caminho, abertura, possibilidades, nos move, gera enfrentamento, questiona, tira-

nos da inércia, rompe com a massificação, só para citar algumas consequências deste processo. A pergunta

move o diálogo e este nos transforma. Depois do diálogo, já não seguimos sendo quem éramos. Os pretensos

intelectuais partem do princípio de que o mundo divide-se em generalistas e especialistas; e que estamos

diante de uma escolha entre um e outro, tornando-nos reféns de suas consequências. Tal questão – um

suposto embate entre o generalista e o especialista – pode ser um falso problema, enquanto criação de um

modo banalizado de pensar a vida, orquestrada pela visão binária da realidade. Mas se estamos diante de um

falso problema, então por que tratar dessa querela entre generalistas e especialistas? Para se pensar além

deste dualismo é necessário analisar os acontecimentos catastróficos advindos dessa visão de mundo.

No processo de fragmentação do conhecimento, as “ciências da administração” tornaram-se a voz

recorrente no debate entre as “vantagens” ou “desvantagens” de tornar-se um especialista ou generalista.

Descartes ofereceu o arcabouço filosófico para o desenvolvimento da “nova ciência”, e a visão de “domínio

da natureza”, promovida por Francis Bacon, alastrou-se de forma a tornar-se uma referência para o

desenvolvimento e o progresso da humanidade. A título de alerta, não se deve confundir a visão grega de

técnica (teckne) com a visão de técnica que foi difundida na modernidade ocidental. Enquanto na Grécia se

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pensava a técnica como possibilidade restritiva de se produzir algo, a partir de um método que podia ser

ensinado e repetido, na modernidade, a técnica torna-se a representação e o desvelamento do mundo. No

horizonte da técnica pautada pela modernidade, esta se tornou a única via de acesso por onde toda a

realidade poderia ser deduzida. A humanidade, seduzida pela possibilidade de ser redimida do pecado

original, rende-se sem reservas à técnica moderna, acreditando que o homem será reconduzido ao jardim

encantado.

O homem no horizonte da especialização torna-se sagaz para as coisas próximas, ao lado de uma

grande miopia para o longínquo. O especialista está imerso no pântano da especialização e na

desimportância do pensamento e do conhecimento que ele produz. O especialista é o natural adversário do

gênio. Os livres-pensadores têm que lidar com empecilho dos cientistas que atrapalham seu caminho. O

termo “especialista”, vinculado à tradição metafísica, é o especialista que atrapalha Zaratustra em seu

caminho. Formar-se por uma teleologia metafísica é o trabalho que tem sido proposto pela maioria das

instituições e aceito pela maioria dos alunos. A decisão por uma formação interdisciplinar é a maneira de

romper contra com o utilitarismo das especializações. É interessante ainda ressaltar, que as diversas

“especializações” terão que ser pautadas por meio do diálogo. Como em tudo na vida, há os perigos dessa

iniciativa. Aquele que não estiver atento será tragado para o manto da “pretensa segurança metódica”,

transformando-se em consciência de rebanho, numa programação que rouba sua vida e humanidade. A

sedução do método estará a espreitá-lo com o doce discurso das “certezas das ciências causais explicativas”.

Por sua vez, o generalista, por definição, seria alguém que têm um o conhecimento interdisciplinar.

Pensar a mudança do especialista para o generalista esbarra em uma inexorável resistência do humano. Na

circularidade, ou no círculo hermenêutico – círculo deve ser entendido no sentido virtuoso e não vícios –

existe uma possibilidade positiva do conhecimento mais originário, que, evidentemente, só será

compreendido de modo adequado quando se compreende que sua tarefa primeira, constante e última,

permanece sendo a de não receber de antemão, por meio de uma feliz ideia ou por meio de conceitos

populares, nem a posição prévia, nem a visão prévia, nem a concepção prévia, mas em assegurar o tema

científico na elaboração desses conceitos, a partir da coisa, ela mesma. Em última análise, é preciso estar

circunscrito na dinâmica da compreensão, para que não percamos o foco. Assim, a regra da hermenêutica,

onde tudo deve ser entendido a partir do individual, e do individual ao todo, procede da retórica antiga. Em

ambos os casos nos encontramos com uma relação circular. O movimento da compreensão discorre assim,

do todo para a parte e novamente ao todo. A tarefa é ampliar, em círculos concêntricos, a unidade do sentido

compreendido. A confluência de todos os detalhes no todo é o critério para a correta compreensão. A falta da

confluência significa o fracasso da compreensão. Heidegger faz uma descrição fenomenológica plenamente

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correta, quando descobre, na suposta leitura que consta, a estrutura prévia da compreensão. Para explicitar a

situação hermenêutica da questão do ser com relação à intenção prévia, antecipação e pré-compreensão,

examina criticamente a pergunta que ele dirige à Metafísica em momentos decisivos de sua história.

A compreensão, guiada por uma intenção metodológica, não buscará confirmar simplesmente suas

antecipações, mas tentará tomar consciência delas para (controlá-las e) obter, assim, a reta compreensão a

partir das coisas mesmas. Isso seria a forma de assegurar o tema científico. A estrutura circular se manteve

dentro do quadro de uma relação formal entre o individual e o global ou seu reflexo subjetivo. A anterior

teoria da compreensão culminava no ato divinatório que dava acesso direto ao autor, e, a partir daí, dissolvia

tudo que era estranho e chocante no texto. Entretanto, é preciso entender que o sentido interno do círculo

entre o todo e a parte, que está na base de toda a compreensão, deve ser completado com uma determinação

ulterior que ele denomina “antecipação da completude”. Quando compreendemos, pressupomos a

completude e o sentido do objeto de nosso esforço compreensivo. A antecipação da completude, que dirige

toda a nossa compreensão, aparece, ela mesma, respaldada por um conteúdo. Não se pressupõe apenas uma

unidade de sentido imanente que orienta o leitor, mas que a compreensão deste é guiada constantemente por

expectativas transcendentes, que derivam da relação com a verdade do conteúdo intencionado.

Assim, as práticas interdisciplinares buscam ter uma visão unidimensional da condição do homem,

assumindo a postura de abertura, colocando-se à disposição do diálogo com as diversas disciplinas

existentes. Compreender algo através de uma disciplina tem relação com escolhas metodológicas. A

interdisciplinaridade implica em uma escolha em outra dimensão, não abandonando o horizonte

metodológico – ou seja, reconhecendo que ela também tem seus limites. Mas, se ampliarmos o círculo

concêntrico da compreensão, ao optarmos pela interdisciplinaridade, saímos do limite demarcado pela

disciplina para “ouvirmos” a outra disciplina, enfim, para dialogarmos. É necessário ficar claro que, para

que a interdisciplinaridade ocorra, é preciso que haja uma linguagem comum. Convém considerar que a

compreensão entre as pessoas criam uma linguagem, que possibilita a troca, o intercâmbio. O

distanciamento entre as pessoas manifestam-se no fato que elas não falam mais a mesma linguagem. Não

podemos escapar do fato de que o entendimento se torna difícil onde falta uma linguagem comum. É aqui

que a criatividade contribui para a interdisciplinaridade, pois tem a função de criar uma fantástica platônica,

ou um platonismo invertido. A interdisciplinaridade é uma criação fantástica, onde ela surge como

acontecimento.

Para que ocorra essa proposta, é preciso que se crie uma linguagem que seja ao mesmo tempo

referente e aberta, que seja necessária e contingente. Uma linguagem que tenha a capacidade de criar a todo

o momento “palavra-valise”. O que é “palavra-valise”? Para uma aproximação de entendimento do que seja

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uma palavra-valise, é interessante entender o que significa o conceito de complexidade. A linguagem

interdisciplinar, que precisa ser uma síntese disjuntiva entre as disciplinas, tem como tarefa criar espíritos

equilibrados. É aqui, que o pensamento interdisciplinar se aproxima da literatura, da poesia e por sua vez da

linguagem cinematográfica. O ato criativo nasce no esforço pelo diálogo, ou melhor, na busca por uma

linguagem comum, diante da fragmentação do pensamento científico, em uma busca constante por uma

linguagem interdisciplinar, e por que não dizer esotérica. Porém, cabe o alerta: ao criarmos uma linguagem

comum entre as disciplinas não podemos tirar toda e qualquer forma de dinamicidade e criatividade da ação

interdisciplinar, criando uma nova disciplina. Afinal, as palavras-valise são problemáticas e

problematizantes. O que isto significa?

Significa que as palavras-valise são respondidas sem serem resolvidas, ou seja, são determinadas

como problema, sem deixarem de serem problematizadas, ou melhor, são referentes e abertas, portanto,

esotéricas. Aqui, esoterismo deve ser compreendido como sendo aquele que guarda um segredo, certo

mistério, conferindo às palavras uma dimensão de profundidade, produzindo um reencantamento, sugerindo

que a compreensão de um mito ou do real se dá através do esforço da linguagem que produz um

acontecimento, uma espécie de hermenêutica. Talvez, a grande característica da linguagem esotérica e

interdisciplinar seja as correspondências simbólicas e reais entre todas as disciplinas das Ciências Humanas

e Naturais, em um princípio de interdependência universal. A linguagem que fala do real é o reflexo de um

universo como sendo um grande teatro de espelhos, tendo como referência o signo e o mistério. O princípio

do terceiro excluído, do pensamento linear, do princípio da causalidade, passa a ser uma visão incompleta do

real, onde a referência passa a ser a do terceiro incluído. O primeiro passo, para a interpretação do mundo, é

compreender que o real é um fenômeno linguístico. A prática interdisciplinar é a prática da concordância; é

possuir o ato de criar, ou de encontrar ou reencontrar denominadores comuns, palavras-valises, entre duas,

três ou todas as disciplinas possíveis, na busca por um conhecimento, de uma qualidade superior. Não se

trata de simplesmente tolerar ou respeitar os territórios disciplinares, mas trata-se de concordância criativa,

para adquirir um conhecimento que abrace e abrase as diversas disciplinas, em um conhecimento

verdadeiramente interdisciplinar.

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