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Prtica Processual Empresarial
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Prtica Processual Empresarial
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SUMRIO
Seo I. Noes bsicas de prtica processual 41. A dinmica processual 4
1.1 A lide 4
1.2 O processo 5
1.2.1 Pressupostos processuais: capacidade de parte e capacidade processual 6
1.2.2 Espcies de processo 8
1.3 O procedimento 8
1.3.1 Procedimento sumrio 9
1.3.2 Procedimento ordinrio 9
Seo II. Prtica processual empresarial I 101. Introduo 10
2. O empresrio e o registro 11
2.1 Empresrio 11
2.1.1 O empresrio individual 12
2.1.2 A sociedade empresria 13
2.1.3 Microempresas e empresas de pequeno porte 13
2.2 O registro 14
2.2.1 O registro do ruralista 15
2.2.2 O DNRC e a junta comercial 16
2.3 Prtica jurdica do registro empresarial 18
2.3.1 Mandado de segurana 18
3. Sociedades empresariais 19
3.1 Consideraes gerais 19
3.2 Espcies de sociedades empresariais 20
3.2.1 Sociedade em nome coletivo 20
3.2.2 Sociedade em comandita simples 21
3.2.3 Sociedade limitada 21
3.2.4 Sociedade annima 22
3.3 Prtica jurdica societria 23
3.3.1 Petio inicial de dissoluo de sociedade cumulada com liquidao judicial 23
3.3.2 Petio inicial de retirada ou excluso de scio 24
3.3.3 Petio inicial de reparao de danos por ato de
administrador de sociedade annima 25
Seo III. Prtica processual empresarial II 261. Nota prvia 26
2. Princpio da livre iniciativa e concorrncia desleal 26
3. Propriedade industrial 30
3.1 Marca e nome empresarial 30
3.1.1 Marca 30
3.1.2 Nome empresarial 34
3.2 Ttulo do estabelecimento 35
3.3 A propriedade intelectual 35
3.4 Patente 36
3.5 Prtica jurdica de proteo concorrncia e propriedade industrial 36
3.5.1 Petio inicial de contrafao de propriedade industrial 36
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SUMRIO
3.5.2 Petio inicial de nulidade de marca/patente/desenho industrial 37
4. Estabelecimento e locao empresarial 37
4.1 Estabelecimento empresarial 37
4.1.1 Alienao do estabelecimento 38
4.2 Ponto empresarial e sua proteo 38
4.3 Prtica jurdica de proteo ao ponto e ao estabelecimento empresarial 40
Seo IV. Prtica processual empresarial III 411. Consideraes iniciais sobre recuperao e falncia 41
1.1 rgos de administrao 42
2. Recuperao judicial 43
2.1 Generalidades 43
3. Recuperao extrajudicial 44
4. Falncia 44
4.1 Generalidades 44
5. Prtica jurdica falimentar e recuperacional 45
5.1 Pedido de recuperao judicial 45
5.2 Pedido de autofalncia 46
5.3 Petio inicial declaratria de falncia 46
Seo V. Prtica processual empresarial IV 461. Noes gerais dos ttulos de crditos 46
2. Prtica jurdica cambial 47
2.1 Petio inicial de execuo 47
2.2 Embargos a execuo 48
2.3 Petio inicial de cautelar inominada de sustao de protesto 48
2.4 Petio inicial de reparao de danos cheque pr-datado 49
3. Ao monitria 49
Referncias 50
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SEO I. NOES BSICAS DE PRTICA PROCESSUAL
1. A dinmica processual
1.1 A lide
Fonte: http://www.google.com.br/url?q=http://robertodearaujocorreia.wordpress.com
A vida em sociedade implica em um eterno ajuste de interesses entre as pessoas. Todos tm necessidades a
satisfazer. No entanto, quando a satisfao delas depende da conduta do outro, deparamo-nos com situaes que se
resolvem espontaneamente e outras que se transformam em um verdadeiro conflito.
A lide justamente esta disputa, este conflito de interesses que se forma em razo de uma pretenso resistida,
conforme conceitos clssicos de Francesco Carnelutti trazidos por Fernanda Tartuce, Luiz Dellore e Marco Aurlio Marin
(2008, p. 28):
Em suas relaes jurdicas, os indivduos tm interesses, posies favorveis satisfao de uma
necessidade. Quando uma delas visa a satisfazer seu interesse e no consegue faz-lo pela conduta do outro
envolvido, surge a pretenso: exigncia que a outra parte se sujeite ao cumprimente do interesse alheio. A
partir de tais conceitos, podemos chegar clssica definio de lide: conflito de interesses qualificado por
uma pretenso.
Diante da formao da lide, nasce a necessidade de resoluo dela a fim de que no se instale o caos nas relaes
sociais. Neste sentido, Duarte (2010, s/p) aponta que
A lide abala as estruturas da sociedade, instalando uma verdadeira crise. Diante dessa situao, foi e
necessrio, historicamente, o emprego de meios que solucionem, da melhor forma possvel, esse conflito para
que a desordem e o caos no se instalem completamente e comprometam a prpria manuteno e existncia
do grupo social.
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Apontamos como meios de resoluo de conflitos a autotulela ou autodefesa permitida por lei em alguns casos, a
mediao, a conciliao, a arbitragem, nos termos da Lei 9.307/96, e a soluo jurisdicional.
Vale mencionar que atualmente h uma forte tendncia s medidas alternativas de soluo de conflito. Como
exemplo, citamos a Resoluo 125 do CNJ, que dispe sobre a Poltica Judiciria Nacional de tratamento adequado
dos conflitos de interesses no mbito do Poder Judicirio e determina a criao de ncleos permanentes de mtodos
consensuais de soluo de conflitos:
Art. 7. Os Tribunais devero criar, no prazo de 30 dias, Ncleos Permanentes de Mtodos Consensuais de
Soluo de Conflitos, compostos por magistrados da ativa ou aposentados e servidores, preferencialmente
atuantes na rea, com as seguintes atribuies, entre outras [...]
Por outro lado, a Constituio Federal, em seu artigo 5, XXXV, garante ao indivduo, mesmo antes de esgotadas
as possibilidades de resoluo alternativa de conflito, buscar a soluo judicial. Estamos diante do princpio da
inafastabilidade do controle jurisdicional, que:
[...] assegura a todos a possibilidade de acesso ao Judicirio, donde, toda vez que, por algum motivo, o
cidado no conseguir obter, espontaneamente, a satisfao de um interesse, poder socorrer-se do Poder
Judicirio e deduzir pretenso. (ROCHA, 2010, s/p).
Note-se que a autotutela s pode ser exercida em casos expressamente previstos em lei e, assim, diante da proibio
da vingana privada, conclumos que a soluo dos conflitos se verifica, em regra, por meio do Estado. Sabemos que o
Estado, entretanto, inerte e precisa da provocao da parte para iniciar sua atuao. A instrumentalizao deste direito
de ao acontece atravs do processo.
1.2 O processo
atravs do processo que o Estado, aps a provocao da parte, inicia sua atuao para sanar a situao conflituosa.
O processo o meio pelo qual se exerce o direito tutela jurisdicional.
Fonte: http://www.reporternews.com.br/noticia.php?cod=312155
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Nas lies de Cndido Rangel Dinamarco (2002, p. 25), vemos que o processo [...] uma srie de atos interligados
e coordenados ao objetivo de produzir a tutela jurisdicional justa, a serem realizados no exerccio de poderes ou
faculdades ou em cumprimento a deveres ou nus.
Conforme a pretenso que o autor busca satisfazer, o legislador disponibilizou trs espcies de processo para a
soluo do litgio: de conhecimento, de execuo e cautelar. Na mesma linha se d o entendimento de Tartuce, Dellore
e Martin (2008, p. 30): H trs tipos de processo, conforme o tipo de prestao jurisdicional pedida pelo autor, ao
exercer o direito de ao: processo de conhecimento, de execuo e cautelar. imperioso mencionar, no entanto,
que o conhecimento da demanda pelo judicirio exige o preenchimento de certos requisitos de admissibilidade: os
pressupostos processuais e as condies da ao.
Entendemos ser de grande relevncia o tratamento dos pressupostos processuais, mesmo que em apertada sntese,
pois so eles os requisitos necessrios para o desenvolvimento vlido e regular do processo.
1.2.1 Pressupostos processuais: capacidade de parte e capacidade processual
O processo deve preencher certos requisitos para que possa se desenvolver de forma vlida e regular. So requisitos
de existncia e validade chamados de pressupostos processuais [...] o rgo julgador competente e imparcial, a petio
inicial tecnicamente formulada, a citao do ru e a capacidade das partes. (TARTUCE; DELLORE; MARTIN, 2008, p.
53).
Dentre os mencionados acima, trataremos da capacidade das partes, lembrando que tal pressuposto decorre da
capacidade de direito prevista no artigo 1 Cdigo Civil: Toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil.
No Brasil, podem figurar como parte as pessoas fsicas e jurdicas, bem como a massa falida e o condomnio, que
so entes despersonalizados.
No que tange capacidade de ser parte e o empresrio individual, oportuno citar o entendimento de Alessandro
Sanchez (2009, p. 1):
O registro demonstra apenas o incio da atividade empresarial, sendo que mesmo antes de se falar em
registro, devemos falar em capacidade de direito, pois responder pelos atos empresariais em nome prprio,
em vista da atividade empresarial que eventualmente tenha iniciado antes do registro.
Depreende-se do entendimento acima esposado que, tendo em vista que o empresrio individual (excluindo-se a
EIRELI) exerce a atividade empresarial em nome prprio, responder pelos atos praticados, inclusive podendo ser parte
na demanda.
A capacidade processual a aptido para estar em juzo sem o auxlio de outrem, ou seja, a aptido pessoal para o
exerccio de direitos e obrigaes processuais.
Ainda conforme Sanchez, no que se refere capacidade para estar em juzo dos empresrios individuais: Obtendo o
registro empresarial, em regra, alm da capacidade de direito, o empresrio individual adquire no somente capacidade
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para ser parte, mas tambm capacidade de agir e naturalmente capacidade para estar em juzo. (SANCHEZ, 2009, p.
3).
J em se tratando da capacidade para estar em juzo das pessoas jurdicas, importante destacar que elas atuam
e so representadas pelas pessoas naturais. Assim como ocorre com a capacidade para ser parte, tm capacidade
processual tambm alguns entes despersonificados, como o condomnio, a massa falida, o esplio, as sociedades
despersonificadas e outros.
O maior critrio de classificao das sociedades aquele que trata da personificao jurdica. As sociedades
contratuais ou institucionais tm o incio de sua personalidade jurdica a partir do registro. As sociedades empresrias
arquivam seus atos constitutivos no Registro Pblico de Empresas Mercantis e as sociedades simples matriculam-se no
Cartrio de Registro das Pessoas Jurdicas.
O artigo 12, em seu inciso VI, trata das pessoas jurdicas regularmente constitudas, ou seja, dos entes personificados.
Vejamos: Art. 12. Sero representados em juzo, ativa e passivamente: [...] VI - as pessoas jurdicas, por quem os
respectivos estatutos designarem, ou, no os designando, por seus diretores [...]
Para Alessandro Sanchez (2009, p. 5), [...] a pessoa jurdica regularmente constituda possui capacidade processual,
porm, fica impossibilitada de estar em juzo a no ser representada pelas pessoas naturais que o seu contrato ou
estatuto designa
Alm do tratamento s sociedades personificadas, o artigo 12, VII do Cdigo Civil trata da representao das
sociedades despersonificadas que se verificar por meio da pessoa a quem couber a administrao de seus bens.
Apesar de obrigatrio o registro do empresrio, conforme artigo 967 do Cdigo Civil, algumas sociedades no
possuem ato constitutivo ou este no registrado no Registro Pblico de Empresas Mercantis. So as sociedades
comuns aquelas que so assim classificadas porque ainda no foram registradas, embora haja inteno disso mais
adiante, ou aquelas que por opo dos scios de no registrar sua atividade.
Neste tipo societrio h o patrimnio especial, que tem por titular todos os scios e que dever ser esgotado antes
do patrimnio deles em caso de cobrana de dvidas. Conforme o Enunciado 210 do CJF, O patrimnio especial a que
se refere o art. 988 aquele afetado ao exerccio da atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade dos scios em
comum, em face da ausncia de personalidade jurdica.
Ainda com relao s sociedades despersonificadas, temos a sociedade em conta de participao prevista no artigo
991 do Cdigo Civil. Neste tipo de sociedade, temos a presena do scio ostensivo, que a administra e em nome de quem
ela exercida. Na sociedade em conta de participao, o ato constitutivo, ainda que levado a registro, no conferir
personalidade jurdica. Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os scios, e a eventual inscrio de seu
instrumento em qualquer registro no confere personalidade jurdica sociedade.
O scio ostensivo quem suporta as aes, j que ele o nico que se obriga perante terceiros, tendo em vista que
o scio participante apenas investidor.
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1.2.2 Espcies de processo
Conforme j dissemos, o legislador disponibilizou trs tipos de processo que so definidos com base na finalidade
almejada pelo autor da pretenso resistida. So o processo de conhecimento, o de execuo e o cautelar.
O processo de conhecimento, tambm chamado cognitivo, aquele por meio do qual se verifica a existncia ou no
do direito pretendido no caso concreto. Este processo pode ser meramente declaratrio, constitutivo ou condenatrio.
No processo de execuo, o autor busca a satisfao de seu crdito representada por um ttulo executivo. Vale
destacar que, aps a alterao trazida pela Lei 11.232/05, tal ttulo ser necessariamente um ttulo extrajudicial, pois a
execuo de ttulo judicial agora parte do processo de execuo, perdendo a autonomia que lhe era peculiar.
O processo cautelar aquele utilizado pela parte em situaes de urgncia para evitar algum dano que possa
prejudicar sua pretenso no deslinde de outro processo.
A autora Elisabete Vido dos Santos, em sua obra Prtica empresarial, arremata de maneira muito objetiva e didtica:
No processo de conhecimento, o autor busca a certeza sobre uma determinada relao jurdica, a
constituio ou desconstituio de uma relao jurdica ou, ainda, a condenao do ru.
No processo de execuo, o autor busca a satisfao de um ttulo que a lei elevou condio de ttulo
executivo extrajudicial (lembrando que no existe mais execuo de ttulo judicial, j que a execuo de um
processo de conhecimento realizada por meio do cumprimento de sentena, no qual o juiz fixa no corpo da
sentena o prazo para que o ru cumpra o consignado no ttulo judicial).
No processo cautelar, o objetivo do autor assegurar a efetividade de outro processo, das provas ou das
pessoas envolvidas (por esse motivo, sempre incidental ou preparatrio do processo de execuo ou do
processo de conhecimento). (SANTOS, 2012, p. 126).
1.3 O procedimento
Apesar de etimologicamente no haver diferena entre processo e procedimento, que vm do latim pro cedere
(caminhar para frente), para a doutrina ambos no se confundem. Vejamos:
O prestigiado autor Luiz Rodrigues Wambier (2011) entende que a distino entre processo e procedimento que o
primeiro tem cunho finalstico.
Na viso de Alexandre Freitas Cmara (2012, p. 136), [...] o processo uma entidade complexa, de
que o procedimento um dos elementos formadores.
Fernanda Tartuce, Luiz Dellore e Marco Aurlio Martin (2008, p. 30) entendem que [...] a forma
material pela qual o processo se verifica, por meio de uma sequncia de atos processuais, denominada
procedimento.
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Processo o instrumento para o exerccio do direito de ao e procedimento a maneira como este instrumento se
manifesta.
De maneira breve, relembraremos agora os procedimentos sumrio e ordinrio e os procedimentos especiais.
1.3.1 Procedimento sumrio
Como j sabemos, o processo de conhecimento pode seguir pelo procedimento comum ou pelo especial.
O procedimento comum pode ser sumrio ou ordinrio, sendo certo que o primeiro se aplica s causas cujo valor
no ultrapassem sessenta salrios mnimos, conforme artigo 275 do CPC, e o ordinrio quelas em que no se aplicam
o sumrio e nem os procedimentos especiais.
O procedimento comum mais rpido, mais enxuto, de tal forma que no possvel em sua estrutura a interveno
de terceiros, com exceo da assistncia, recurso de terceiros interessados, denunciao da lide em casos de seguro,
conforme se depreende da leitura do artigo 280 do CPC:
Art. 280. No procedimento sumrio no so admissveis a ao declaratria incidental e a interveno
de terceiros, salvo a assistncia, o recurso de terceiro prejudicado e a interveno fundada em contrato de
seguro.
1.3.2 Procedimento ordinrio
O procedimento ordinrio o mais amplo e, como j dissemos, tem aplicao residual e subsidiria. Tal procedimento
se divide em quatro fases, conforme a Prof Elisabete Vido dos Santos (2012, p. 137):
1 Fase - Postulatria (que compreende a petio inicial, a citao do ru e as defesas do ru);
2 Fase - Saneadora (que compreende o perodo no qual o juiz determina as providncias preliminares,
aprecia as nulidades, realiza a audincia preliminar e profere o despacho saneador);
3 Fase - Instrutria (que se destina atividade probatria iniciada na petio inicial e que tem seu fim na
audincia de instruo);
4 Fase - Decisria (em que o juiz profere a sentena).
1.3.3 Procedimentos especiais
Os procedimentos especiais so assim denominados porque possuem caractersticas diferentes do procedimento
ordinrio. Tais procedimentos esto previstos no artigo 890 e seguintes do CPC, bem como em leis especiais.
Dentre os procedimentos especiais, h aqueles que no dizem respeito ao direito empresarial. O nosso estudo se
restringir queles de matria empresarial que sero abordados em momento oportuno.
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Neste primeiro momento relembramos alguns conceitos do direito processual civil, de extrema importncia para o
estudo da prtica processual empresarial, o objeto de nosso estudo.
Ao longo de nossa disciplina abordaremos a estrutura de cada ao, trazendo as principais informaes sobre sua
elaborao diante de cada processo e procedimento.
Daremos incio na prxima seo ao tratamento das aes anulatrias em vista do registro.
SEO II. PRTICA PROCESSUAL EMPRESARIAL I
1. Introduo
O Cdigo Civil de 2002, entre outras inovaes, trouxe em seu artigo 966 a caracterizao da figura do empresrio,
inaugurando no Brasil a chamada teoria da empresa que abandonou por completo a teoria dos atos de comrcio do
Cdigo Comercial, de 1850.
Fonte: http://www.affectum.com.br/.
Percebemos neste momento histrico a incluso no texto da lei civilista da maior parte das regras pertinentes
empresa, fato este que reacendeu inmeras inquietudes em parte da doutrina brasileira sobre a unificao do direito
privado.
No entanto, tal posicionamento no se sustentou. A unificao formal legislativa nada tem a ver com o aspecto
substancial de cada ramo do direito.
H que se observar, alm da juno formal no mesmo cdex, o objeto e os princpios norteadores de cada ramo.
Neste sentido o entendimento de Vera Helena Mello Franco (2004, p. 33):
A tese da perda de autonomia do direito comercial decorrente do processo de unificao legislativa do direito
brasileiro, felizmente no vingou. Afinal, o fenmeno econmico, objeto da disciplina do direito comercial e de
suas normas, tm exigncias tcnicas e econmicas particulares que pressupem uma organizao prpria e
normas especficas de atuao.
Prtica Processual Empresarial
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No livro II da Lei 10.406 de 2002, no apenas o empresrio e seus elementos caracterizadores foram abordados, mas
tambm as obrigaes inerentes ao sujeito do direito empresarial, tais como a necessidade de sua inscrio no registro
de empresas mercantis, conforme preconiza o artigo 967 do mencionado dispositivo legal: Art. 967. obrigatria a
inscrio do empresrio no Registro Pblico de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do incio de sua atividade.
A seguir, faremos uma abordagem mais profunda sobre o registro do empresrio e, para tanto, necessrio se faz uma
breve explanao do conceito de empresrio e suas obrigaes.
2. O empresrio e o registro
No h como abordar a regularizao da atividade empresria sem tratar do sujeito desta atividade trazido pela
teoria da empresa incorporada na legislao brasileira pelo Cdigo Civil em 2002.
2.1 Empresrio
A teoria traz como principal caracterstica o conceito de empresrio, antes denominado comerciante. Aquele que se
encaixar nas caractersticas trazidas pela lei civilista em seu artigo 966 e no for impedido legalmente ser considerado
empresrio.
Vale destacar que o artigo em comento no elencou o registro como elemento caracterizador do empresrio. Esta
obrigao apenas regulariza situao j existente: a existncia da figura do empresrio. Tendo em vista que estudaremos
a diante mais detidamente o registro, deixaremos para a ocasio os comentrios sobre a sua natureza.
Mas quem o empresrio?
O empresrio o sujeito que exerce a empresa, que, como j sabemos, [...] atividade econmica organizada para
produo e circulao de bens ou servios. (COELHO, 2002, p. 19). No entanto, para que seja caracterizado o sujeito
da atividade empresarial, necessria se faz a juno de outros requisitos.
Neste momento, percebemos uma divergncia doutrinria que Marlon Tomazette apresenta de forma sucinta em sua
obra Curso de direito empresarial e que agora transcrevemos:
Asquini, alm da condio de sujeito de direito, destaca a atividade econmica organizada, a finalidade
de produo para o comrcio de bens e servios e a profissionalidade. Giampaolo dalle Vedove, Francesco
Ferrara Junior e Francesco Galgano no destoam da orientao de Asquini, destacando a organizao, a
economicidade da atividade e a profissionalidade.
Remo Fransceschelle indica como elementos do empresrio a produo para o mercado, a organizao e o
fato do empresrio suportar o risco do empreendimento, como elementos essenciais do conceito. Tullio Ascarelli
destaca os elementos do prprio conceito legal, a atividade econmica organizada, exercida profissionalmente
e dirigida produo ou circulao de bens ou servios. (TOMAZETTE, 2009, p. 43).
Assim, temos que os elementos caracterizadores de empresrio so o exerccio de uma atividade de natureza
econmica organizada, com profissionalismo, e a finalidade de produo ou circulao de bens ou de servios.
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2.1.1 O empresrio individual
Empresrio individual aquele que desenvolve atividade econmica organizada para produo ou a circulao
de bens ou servios em nome prprio, isoladamente, assumindo todos os riscos da atividade. Ou seja, empresrio
individual aquele que exerce atividade descrita pelo artigo 966 e que tenha plena capacidade civil (maior de 18 anos
e que esteja em plenas condies mentais).
Os incapazes (menores de 18 anos, no emancipados e os incapacitados) devero ser representados ou assistidos.
Alm disso, preciso que no haja nenhum impedimento legal ao desenvolvimento dessa atividade. So impedidos de
exercer a atividade empresarial
os leiloeiros e corretores os falidos, no reabilitados;
servidores pblicos e militares na ativa;
magistrados e membros do Ministrio Pblico;
deputados e senadores (art. 54, II, CF);
vereadores (art. 29, IX, CF);
mdicos, no exerccio simultneo de farmcia e drogaria;
estrangeiros e sociedades sem sede no Brasil para algumas atividades (arts. 176 e 222, CF).
Entretanto, conforme dispe o artigo 973 do Cdigo Civil, aquele que exercer atividade empresarial, estando
impedido, responder por todas as obrigaes contradas.
Quanto ao empresrio individual, cabe uma breve explanao sobre a EIRELI (empresa individual de responsabilidade
limitada), alterao trazida pela Lei 12.441/11 ao artigo 980 do Cdigo Civil. Observemos:
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada ser constituda por uma nica pessoa titular
da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que no ser inferior a 100 (cem) vezes o maior
salrio-mnimo vigente no Pas.
A empresa individual de responsabilidade limitada pessoa jurdica formada por uma nica pessoa, um nico scio
que detm a totalidade do capital social. O capital social da EIRELI deve ser integralizado na instituio da empresa e
no montante de no mnimo cem salrios mnimos.
Prtica Processual Empresarial
13
A utilizao da expresso EIRELI no nome empresarial ao final da firma ou da denominao social (para diferenci-
la das demais empresas) imprescindvel e h limitao participao de cada pessoa em apenas uma EIRELI. Quem
for scio de uma EIRELI pode ter outras empresas individuais ou ser scio em empresas de outras espcies no mais
de EIRELI.
As caractersticas e requisitos apresentados acima no causam discusses ou entraves na doutrina, porm, quando
o assunto composio da EIRELI, deparamo-nos com muita divergncia. Afinal, a EIRELI pode ser constituda apenas
por pessoa natural?
Ao admitir que apenas as pessoas naturais podem constitu-la, no direito brasileiro a nica forma de sociedade
unipessoal continua sendo a subsidiria integral, de acordo com o artigo 251 da Lei n 6.404/76 (Lei das S/A).
Por outra banda, se for admitido que a EIRELI seja formada por uma pessoa jurdica, ela poder ser tanto um
empresrio individual (se o seu nico scio for pessoa natural) quanto uma sociedade empresria unipessoal (se
composta por uma pessoa jurdica).
2.1.2 A sociedade empresria
A sociedade empresria pessoa jurdica que se forma por meio de um contrato entre duas ou mais pessoas que se
obrigam a conjugar esforos e recursos para atingir fins comuns.
Conforme os ensinamentos de Waldo Fazzio Jnior (2012, p. 112),
Identifica-se como sociedade empresria a pessoa jurdica de direito privado, implementada por um
contrato, cujo objeto social a explorao de atividade empresarial, ou que, independentemente de seu
objeto, adota a forma societria por aes.
O nascimento de uma sociedade legalizada se d pela inscrio no registro competente: a junta comercial, o cartrio
de registro civil de pessoas jurdicas e a OAB (sociedade de advogados). O registro das sociedades confere a elas
personalidade jurdica.
Assim, temos que as sociedades se dividem em duas grandes classes: as sociedades no personificadas e as
sociedades personificadas. As sociedades despersonificadas so aquelas que no tm registro e, portanto, no possuem
personalidade jurdica. So as sociedades comuns e as sociedades em conta de participao.
Por outro lado, as sociedades personificadas so aquelas dotadas de personalidade jurdica adquirida por meio do
registro. So elas as sociedades simples, a sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade
limitada, a sociedade annima, a comandita por aes e a cooperativa.
2.1.3 Microempresas e empresas de pequeno porte
A Lei Complementar 123/2006 instituiu o Novo Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte,
considerando como microempresrio aquele que aufere receita bruta de at R$360.000,00 por ano e como pequeno
empresrio aquele cujo faturamento bruto anual seja maior a R$360.000,00 e at R$3.600.000,00 por ano.
Prtica Processual Empresarial
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Ambas podem ser consideradas empresa individual, EIRELI, sociedade empresria ou sociedade simples devidamente
registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurdicas, conforme dispe o artigo 3
da Lei 123/2006:
Art. 3 Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno
porte a sociedade empresria, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o
empresrio a que se refere o art. 966 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Cdigo Civil), devidamente
registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurdicas, conforme o caso,
desde que: (Redao dada pela Lei Complementar n 139, de 10 de novembro de 2011) (Produo de efeitos
vide art. 7 da Lei Complementar n 139, de 2011) [...]
O legislador constitucional garantiu, no artigo 179, tratamento favorecido simplificado microempresa e empresa
de pequeno porte, entendendo que ambas estimulariam o desenvolvimento econmico. Assim, a ME e a EPP gozam de
privilgios registrrios, trabalhistas, fiscais e previdencirios, alm de condies mais favorveis relativamente ao seu
acesso a certames licitatrios e aos mercados de crditos e capitais, entre outros.
2.2 O registro
Conforme j sabemos, o registro uma das principais obrigaes do empresrio, que dever se realizar conforme a
Lei 8.934/94, que regulamenta o registro pblico de empresas mercantis e atividades afins.
O Cdigo Civil, no artigo 1.150 tambm trata do registro, dispondo que os empresrios se vinculam ao registro
pblico de empresas mercantis por meio das juntas comerciais, a quem atribuda funo de realizar efetivamente o
registro. Vejamos:
Art. 1.150. O empresrio e a sociedade empresria vinculam-se ao Registro Pblico de Empresas Mercantis
a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurdicas, o qual dever
obedecer s normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade
empresria.
Prtica Processual Empresarial
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Fonte: http://www.folhavitoria.com.br/economia/noticia/
O registro se faz necessrio para garantir a divulgao da inteno de se desenvolver a atividade empresria. Nas
lies de Gladston Mamede (2009, p. 64),
[...] com o registro, ele exteriorizou o intuito empresrio, a inteno de empresa: disse do seu horizonte
que estabelecer, ainda, que passo a passo, uma atividade econmica organizada, por mais que nfima em
seu nascedouro.
O registro mercantil tem como funo principal declarar a existncia do empresrio (no caso dos ruralistas, constituir
na condio de empresrios). No entanto, funciona tambm como forma de guardar e manter as informaes importantes
sobre ele.
atravs do registro que se mantm a segurana nas relaes interindividuais, haja vista o artigo 1 da Lei de
Registro Pblico de Empresas Mercantis:
Art. 1 [...] I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurana e eficcia aos atos jurdicos das empresas
mercantis, submetidos a registro na forma desta Lei
Vale mencionar que, quanto ao registro do micro e pequeno empresrio, cujas caractersticas j foram acima citadas,
preciso que tal condio seja comunicada junta comercial por meio de declarao de microempresa ou de empresa
de pequeno porte.
2.2.1 O registro do ruralista
So muito comuns no Brasil empreendimentos familiares, principalmente empreendimentos rurais familiares.
Alguns, entretanto, tiveram seu incio como uma pequena atividade desenvolvida da propriedade da famlia e depois se
transformaram em grandes empreendimentos, chegando at o mercado externo.
Em vista dessa caracterstica do mercado nacional, o legislador civilista possibilitou a equiparao desses produtores
a empresrios, se assim desejarem.
Prtica Processual Empresarial
16
Art. 971. O empresrio, cuja atividade rural constitua sua principal profisso, pode, observadas as
formalidades de que tratam o art. 968 e seus pargrafos, requerer inscrio no Registro Pblico de Empresas
Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficar equiparado, para todos os efeitos, ao
empresrio sujeito a registro. (grifo nosso).
Conforme observamos da leitura da norma, h uma faculdade ao ruralista, e no uma obrigatoriedade, como para os
empresrios. Desta feita, enquanto o registro do empresrio caracterizado pelo artigo 966 CC tem natureza declaratria,
o registro daqueles que desenvolvem atividade rural tem natureza constitutiva.
Enunciado n 202: - O registro do empresrio ou sociedade rural na Junta Comercial facultativo e de
natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurdico empresarial. inaplicvel esse regime ao empresrio ou
sociedade rural que no exercer tal opo. (BRASIL, 2003).
Assim, apenas diante da opo pelo registro, o ruralista se equipara ao empresrio em todos os direitos e deveres,
e o entendimento dos Tribunais tem esse sentido:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TRIBUTRIO. SALRIO-EDUCAO. PRODUTOR RURAL PESSOA
FSICA. INEXIGIBILIDADE DA EXAO.
1. A orientao das Turmas que integram a Primeira Seo/STJ firmou-se no sentido de que a contribuio
para o salrio-educao somente devida pelas empresas em geral e pelas entidades pblicas e privadas
vinculadas ao Regime Geral da Previdncia Social, entendendo-se como tais, para fins de incidncia, qualquer
firma individual ou sociedade que assuma o risco de atividade econmica, urbana ou rural, com fins lucrativos
ou no, conforme estabelece o art. 15 da Lei 9.424/96, c/c o art. 2 do Decreto 6.003/2006.
2. Assim, a contribuio para o salrio-educao tem como sujeito passivo as empresas, assim entendidas
as firmas individuais ou sociedades que assumam o risco de atividade econmica, urbana ou rural, com fins
lucrativos ou no (REsp 1.162.307/RJ, 1 Seo, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 3.12.2010 - recurso submetido
sistemtica prevista no art. 543-C do CPC), razo pela qual o produtor rural pessoa fsica, desprovido de
registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica (CNPJ), no se enquadra no conceito de empresa (firma
individual ou sociedade), para fins de incidncia da contribuio para o salrio educao.
Nesse sentido: REsp 711.166/PR, 2 Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 16.05.2006; REsp 842.781/RS,
1 Turma, Rel. Min. Denise Arruda, DJ de 10.12.2007.
3. Recurso especial provido. (REsp 1.242.636/SC [2011/0054205-50], Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, 2 Turma, julgado em 06.12.2011 (1141), DJe 13.12.2011).
2.2.2 O DNRC e a junta comercial
O sistema do registro de empresas se organiza a partir do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio
Exterior por meio de seu rgo Departamento Nacional de Registro do Comrcio (DNRC).
Prtica Processual Empresarial
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Ao DNRC compete normatizar, supervisionar e controlar o registro de empresas efetivamente executado pelas juntas
comerciais, que apenas analisam os aspectos formais concernentes aos servios de registro, estando impedida da
anlise do mrito dos atos postos a arquivamento, bem como de interferncia no que tange as questes envolvendo
scios ou acionistas.
Neste sentido j decidiu o STJ:
[...] a junta comercial no cuida de examinar eventual comportamento irregular de scio, motivador de sua
excluso, devendo limitar-se ao exame das formalidades necessrias ao arquivamento (REsp 151.838/PE, Rel.
Ministro Carlos Alberto Menezes, 3 Turma, julgado em 04.09.2001).
Por outro lado, ao Judicirio compete o exame do mrito no que se refere ao registro. Entretanto, a celeuma gira em
torno do foro competente para o ingresso de aes desta natureza.
Sabemos que, no que tange a matria comercial, a competncia legislativa da Unio, enquanto a organizao do
servio das juntas comerciais de competncia dos Estados e do Distrito Federal.
No entanto, a questo tormentosa na doutrina e na jurisprudncia. Marlon Tomazette, em sua obra Curso de Direito
Empresarial, trata da questo e arremata:
O STJ entende que nas questes relativas matria comercial em si, o foro competente a Justia Federal,
uma vez que as juntas comerciais efetuam o registro do comrcio por delegao federal. Entretanto, no que
tange s questes do funcionamento interno da Junta e a sua administrao, a competncia ser da justia
comum estadual. (TOMAZETTE, 2009, p. 68).
Assim tambm o entendimento de Fbio Ulhoa Coelho (2009, p. 69):
Se o registro de uma sociedade limitada , por exemplo, negado, a pretexto de que o contrato social no
atende aos requisitos da lei, a discusso sobre a pertinncia, ou no, do indeferimento caberia ser feita,
de acordo com esse entendimento, perante os juzes federais, porque a Junta, no caso, atuou como rgo
executante das normas emanadas pelo DNRC, integrante da estrutura administrativa da Unio. J na hiptese
de a Junta, por exemplo, ter inabilitado um licitante, na concorrncia pblica para construo de sua sede, o
conhecimento da matria seria da competncia do juiz estadual, tendo em vista que o objeto da lide, agora,
ato administrativo.
O STJ tem pacificamente afirmado ser a Justia Federal a competente para o julgamento de mandado de segurana
contra ato praticado pelo presidente da junta comercial.
No entanto, quanto a aes ordinrias, o STJ j decidiu no sentido de ser de competncia tambm da Justia Federal:
As juntas comerciais esto, administrativamente, subordinadas aos Estados, mas as funes por elas
exercidas so de natureza federal. Conflito conhecido para declarar competente o Juzo Federal da 3 Vara de
Londrina - SJ/SP. (CC 43.225/PR, Rel. Ministro Ari Pargendler, julgado em: 25.10.2005, DJ 01.02.2006).
Prtica Processual Empresarial
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Contudo, recentes precedentes do prprio STJ so no sentido de que competente a Justia Estadual.
Assim, pacfico entendimento de que o mandado de segurana contra ato do presidente da junta comercial, a ao
de nulidade de marca e a ao de nulidade de patente devem ser propostos na Justia Federal. J aes ordinrias
devem ser propostas na Justia Estadual.
Nesta esteira o entendimento de Gladson Mamede (2009, p. 67-68):
Isso no quer dizer, todavia, que todos os processos que digam respeito junta comercial sejam da
competncia da Justia Federal; se o objeto da demanda a relao entre os scios ou qualquer outro
litgio afim, para o qual o rgo no seja tomado especificamente na sua condio de delegatrio de funes
federais, a competncia ser da Justia Comum Estadual. Assim, julgando o Recurso Especial 678.405/
RJ, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justia afirmou: a jurisprudncia deste Superior Tribunal de
Justia tem decidido pela competncia da Justia Federal, nos processos em que figuram como parte a
Junta Comercial do Estado, somente nos casos em que se discute a lisura do ato praticado pelo rgo, bem
como nos mandados de segurana impetrados contra o seu presidente, por aplicao do art. 109, VIII, da
Constituio Federal, em razo de sua atuao delegada. Em casos em que particulares litigam acerca de
registros de alteraes societrias perante a Junta Comercial, esta Corte vem reconhecendo a competncia
da justia comum estadual, posto que uma eventual deciso judicial de anulao dos registros societrios,
almejadas pelos scios litigantes, produziria efeitos secundrios para a Junta Comercial do Estado, fato que
obviamente no revela questo afeta validade do ato administrativo e que, portanto, afastaria o interesse da
Administrao e, consequentemente, a competncia da Justia Federal para julgamento da causa.
importante ressaltar, ainda, que a competncia estadual residual, ou seja, no sendo competente a Justia
Federal, ser competente a Justia Estadual, j que no h endereamento para justia especial em matria empresarial.
Aps uma breve anlise do registro e dos rgos que compem o Sistema Nacional de Registro de Empresas
Mercantil, o SINREM, passemos agora a uma anlise mais detida das medidas processuais relacionadas ao registro.
2.3 Prtica jurdica do registro empresarial
2.3.1 Mandado de segurana
O mandado de segurana tem como fundamento legal a Constituio Federal e seu artigo 5, LXIX e o artigo 1,
caput da Lei 12.016/2009.
A competncia da Justia Estadual ou Federal de acordo com a hierarquia da autoridade que praticou o abuso,
lembrando que, se a autoridade pertence a um rgo ligado Unio ou suas autarquias, a competncia ser da Justia
Federal (art. 109, CF).
No caso de ato do presidente da junta comercial, conforme j estudado, a competncia da Justia Federal, em
razo da submisso hierrquica das juntas comerciais ao DNRC no que tange a matria empresarial.
Prtica Processual Empresarial
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Excelentssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ Vara Cvel da Comarca de ________________________ do
Estado de ___________.
Ou, ainda,
Excelentssimo Senhor Doutor Juiz Federal da _______ Vara Cvel da Seo Judiciria de _____________.
O mandado de segurana cabvel quando houver violao de direito lquido e certo, com prova previamente
constituda.
No que tange as partes, impetrante aquele que ingressa com o mandado de segurana e impetrada a autoridade
coatora.
Devemos nos ater ao prazo decadencial de 120 dias para a propositura, contado do dia da cincia, pelo interessado,
do ato impugnado, conforme artigo 23 da Lei 12.016/09.
O pedido precisa conter:
a concesso da liminar para suspender o ato que motivou o pedido;
1. a procedncia do pedido do impetrante e consequente confirmao da liminar;
2. a notificao da autoridade coatora para prestar informaes;
3. a intimao do MP para apresentar parecer no prazo legal;
4. a cincia da pessoa jurdica a qual pertence a autoridade coatora, para que, querendo, ingresse no feito;
5. indicao do endereo para envio das intimaes.
O valor da causa dever ser calculado conforme os critrios do artigo 259 do CPC.
Alm disso, vale lembrar que no h condenao em honorrios de sucumbncia e no que se refere s provas. Como
j dissemos, elas devero ser previamente constitudas e instruir a exordial.
3. Sociedades empresariais
3.1 Consideraes gerais
Trataremos agora das aes societrias. Para tanto, abordaremos conceitos bsicos do direito societrio.
Ricardo Negro (2008, p. 244) ensina que
[...] sociedade o contrato celebrado entre pessoas fsicas e/ou jurdicas (art. 1.039), por meio do qual
estas se obrigam reciprocamente a contribuir, com bens ou servios, para o exerccio de atividade econmica
e a partilhar, entre si, os resultados.
As sociedades empresariais se diferenciam basicamente pela responsabilidade dos scios. No entanto, vale lembrar
que a doutrina diverge quanto ao critrio de classificao delas.
Prtica Processual Empresarial
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Alm da classificao quanto personalidade jurdica, as sociedades se dividem quanto ao seu objeto em duas
grandes categorias: sociedade empresria e sociedade simples.
As sociedades simples so aquelas que tm por objeto social atividades distintas de empresrio. So as que esto
na exceo do artigo 966 do Cdigo Civil, mais precisamente em seu pargrafo nico:
Pargrafo nico. No se considera empresrio quem exerce profisso intelectual, de natureza cientfica, literria ou
artstica, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exerccio da profisso constituir elemento de
empresa. (grifo nosso).
As sociedades empresrias, de outra banda, tm como caractersticas:
a economicidade, consistncia na criao de riquezas;
a organizao, representada por uma estrutura visvel de fatores objetivos e subjetivos de produo;
a profissionalidade ou habitualidade de seu exerccio (NEGRO, 2008, p. 245).
Ainda sobre a classificao das sociedades quanto ao regime de constituio e dissoluo, elas podem ser:
1. contratuais, cujo ato constitutivo o contrato social. So sociedades contratuais a sociedade em nome
coletivo, sociedade em comandita simples e a sociedade limitada.
2. institucionais, cujo ato constitutivo o estatuto social. So sociedades institucionais a sociedade annima
e a sociedade em comandita por aes.
Nas contratuais, a participao societria se concretiza por meio das quotas e nas institucionais por meio das aes.
O regime de dissoluo das primeiras est previsto no Cdigo Civil, enquanto o das segundas na lei das sociedades por
aes (Lei 6404/76).
As sociedades podem se dividir, ainda, em sociedades de pessoas ou sociedades de capital. Nesta classificao, o
que se verifica so as condies para a alienao da participao societria. Nas sociedades de pessoas, os atributos
pessoais dos scios so essenciais para a realizao do objeto social, e nas sociedades de capital o que importa o
capital subscrito, j que os atributos dos scios so indiferentes para a formao da sociedade.
Quanto responsabilidade dos scios, pode ser ilimitada, limitada ou mista. Nas sociedades ilimitadas, todos os
scios respondem com seus bens particulares pelas obrigaes da sociedade. Nas sociedades limitadas, todos os scios
respondem no limite de determinada contribuio e, em via de regra, no respondem com seus bens particulares pelas
obrigaes da sociedade. Por sua vez, nas sociedades mistas, alguns scios respondem de forma ilimitada e outros de
forma limitada, no respondendo com seus bens particulares.
3.2 Espcies de sociedades empresariais
3.2.1 Sociedade em nome coletivo
Essa espcie de sociedade est prevista entre os artigos 1.039 a 1.044 do Cdigo Civil. A maior caracterstica deste
tipo societrio a responsabilidade solidria dos scios pelas obrigaes sociais, subsidiariamente ao patrimnio social
e de forma ilimitada.
Prtica Processual Empresarial
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constituda por meio de contrato celebrado apenas entre pessoas naturais, e o nome empresarial se verifica na
modalidade firma social com a expresso companhia ou Cia acrescida ao nome de um dos scios.
3.2.2 Sociedade em comandita simples
Tem sua previso legal nos artigos entre o 1.045 ao 1.051 do Cdigo Civil e sua principal caracterstica existncia
de duas espcies de scios: os scios comanditrios (obrigados somente pelo valor de sua quota, podendo ser pessoa
natural ou pessoa jurdica) e os scios comanditados (pessoas fsicas de responsveis solidria e ilimitadamente pelas
obrigaes, de forma subsidiria ao patrimnio social).
Ao scio comanditrio vedada a prtica de atos de gesto e o uso de seu nome na composio da firma social.
Ausente uma das categorias de scio por mais de seis meses, a sociedade se dissolve (art. 1.051 do CC). Em caso de
morte do scio comanditado, h dissoluo parcial, a menos que o contrato social expressamente estipule o ingresso de
sucessores (art. 1.028, I do CC). Se ocorrer morte do scio comanditrio, a sociedade no se dissolve: continuar com
os sucessores, aos quais cabe indicar representante (art. 1.050 do CC), salvo disposio diversa no contrato.
3.2.3 Sociedade limitada
A sociedade limitada foi introduzida em nosso sistema em 1919 pelo Decreto 3.708 e era denominada sociedade por
quotas de responsabilidade limitada. No Cdigo Civil de 2002 est prevista nos artigos 1.052 a 1.087. o tipo societrio
de maior presena na economia brasileira, chegando a noventa por cento das sociedades empresariais registradas nas
juntas comerciais.
A sociedade limitada aquela cujo capital social se divide em quotas e a responsabilidade dos scios limitada ao
valor de suas quotas, uma vez que todos os scios respondem solidariamente do que falta para a integralizao do
capital social subscrito.
Conclui-se, portanto, que as principais caractersticas deste tipo societrio so a limitao da responsabilidade dos
scios ao valor de suas quotas, embora todos respondam pela integralizao do capital social (art. 1.052 do CC), e a
contratualidade, que permite maior relacionamento entre os scios, j que h margem para dispor sobre as clusulas
do contrato sem os rigores do regime legal das sociedades annimas.
Sobre a sociedade limitada, vale mencionar ainda que, em caso de omisso do Cdigo Civil, haver aplicao
supletiva das regras da sociedade simples (art. 997 a 1032 do CC) e da Lei 6404/76. Neste ltimo caso, h necessidade
de previso expressa no contrato social.
Dessa forma, para Fbio Ulhoa Coelho (2009, p. 376), surgem dois subtipos de sociedade limitada: a sociedade
limitada de vnculo instvel, sujeita regncia supletiva das sociedades simples, e a sociedade limitada de vnculo
estvel, sujeita regncia supletiva da lei das sociedades annimas.
A responsabilidade dos scios por suas obrigaes na sociedade limitada, como o prprio nome diz, limitada.
Desta forma, se o patrimnio social insuficiente para responder pelo valor total das dvidas que sociedade contrair na
explorao da empresa, os credores s podero responsabilizar os scios com bens de seu patrimnio individual at
certo montante. Depois desse valor, a perda do credor.
Prtica Processual Empresarial
22
Mas qual esse limite? Em conformidade com o artigo 1.052 do CC, a responsabilidade de cada scio restrita
ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralizao do capital social. Assim, o limite da
responsabilidade dos scios na sociedade limitada o total do capital subscrito e no integralizado.
Lembremo-nos que capital subscrito o montante de recursos que os scios se comprometem a entregar para a
formao da sociedade e capital integralizado a parte do capital que eles realmente injetaram na sociedade. Podemos
dizer, portanto, que capital subscrito aquele comprometido e integralizado aquele que efetivamente foi pago.
Conclumos que as responsabilidades dos scios na limitada subsidiria, limitada e solidria. Subsidiria ao capital
social, limitada ao valor no integralizado do capital social e solidria pela integralizao do capital.
3.2.4 Sociedade annima
A sociedade annima regida por lei especial, a Lei 6404/76. Entretanto, o Cdigo Civil apresenta suas caractersticas
em seu artigo 1.088 e trata da regncia supletiva no artigo 1.089.
Temos, portanto, como caractersticas principais das sociedades annimas:
empresarialidade;
capital dividido por aes;
responsabilidade dos acionistas limitada integralizao das aes subscritas, impessoalidade (sociedade
de capital);
exigncia mnima de dois acionistas (com exceo da subsidiria integral e qualquer SA por at um ano
de exerccio);
suas aes so negociadas livremente;
penhorabilidade das aes. Podem ser abertas ou fechadas, dependendo da possibilidade ou no de
negociao de suas aes na bolsa de valores ou no mercado de balco e a adoo do nome na modalidade
denominao seguida pelas expresses SA (sociedade annima) ou CIA (companhia).
No que tange s caractersticas principais das sociedades annimas, Waldo Fazzio Jnior (2008, p. 67) resume:
A sociedade annima um ser jurdico, cujo capital dividido em quinhes transferveis, adquiridos por
acionistas, cuja responsabilidade a eles se circunscreve. Distingue-se das outras formas societrias por um
conjunto de caractersticas invariveis. Trata-se, sobretudo, de uma sociedade de capital constituda por fraes
com titularidade mvel e impessoal, ou seja, seu capital dividido em aes suscetveis de transferncia, no
tendo relevncia a pessoa de seus detentores. Por isso, assina-se por uma denominao e no por uma razo
social. Tambm uma sociedade do tipo limitada, na medida em que a responsabilidade dos acionistas est
circunscrita ao preo de emisso das aes por eles subscritas ou adquiridas. A companhia tem natureza
empresarial outorgada por lei, independentemente de seu objeto social [...]
Aps uma breve anlise nas sociedades empresrias, passaremos agora ao estudo prtico do direito societrio,
abordando a estrutura das principais aes societrias.
Prtica Processual Empresarial
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3.3 Prtica jurdica societria
3.3.1 Petio inicial de dissoluo de sociedade cumulada com liquidao judicial
No que se refere s sociedades limitadas, assim como nas sociedades simples (art. 1087, CC), vale lembrar que a
dissoluo pode ser total ou parcial. A dissoluo total acontece por vontade dos scios, decurso do prazo determinado,
falncia, inexigibilidade do objeto social, unipessoalidade por mais de 180 dias ou em razo de causas determinadas
em contrato.
J a dissoluo parcial ou resoluo da sociedade nas limitadas ocorre por vontade dos scios, morte
dos scios1, retirada dos scios ou excluso de scio minoritrio (no caso de no integralizao das quotas,
cometimento de falta grave e, no caso de excluso judicial, pela falta grave ou incapacidade superveniente).
Nas sociedades annimas, a dissoluo pode ser parcial ou total. A primeira ocorre, unicamente, na hiptese de
reembolso de acionista dissidente2, uma vez que no possvel a excluso do scio e a morte de acionista no afeta
a existncia da sociedade. A dissoluo total, por outro lado, pode ocorrer pelo trmino do prazo de durao, deciso
judicial ou de autoridade competente, por ciso total, incorporao ou fuso.
Quanto ao propriamente dita, vamos abordar a dissoluo total de sociedade cumulada com liquidao judicial.
Importante se faz apontar a estrutura da mencionada petio iniciando pelo fundamento legal que est no artigo 1.218,
VII do CPC e nos artigos 655 e seguintes do CPC/1939.
Quanto competncia, a petio inicial de dissoluo ser endereada ao juiz da comarca do local da sede, se no
houver foro de eleio.
Excelentssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ Vara Cvel da Comarca de ________________________ do
Estado de ___________.
Quanto s partes, teremos como autor o scio que pretende a dissoluo e os rus os demais scios e a sociedade
(tendo em vista que a sociedade ser alterada e que seu patrimnio poder arcar com o ressarcimento ao scio, ela
parte imprescindvel na ao). Esta ao cabvel quando um scio quer a dissoluo total por quebra da affecto
societatis e pela impossibilidade da continuao da empresa:
Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos scios, quando:
I - anulada a sua constituio;
II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade.
1 Enunciado 221 CJF: Diante da possibilidade de o contrato social permitir o ingresso na sociedade do sucessor de scio falecido, ou de os scios acordarem com os herdeiros a substituio de scio falecido, sem liquidao da quota em ambos os casos, licita a participao de menor em sociedade limitada, estando o capital integralizado, em virtude da inexistncia de vedao no Cdigo Civil. (BRASIL, 2012, p. 43).2 Dissidentes so aqueles scios que no concordam com algumas deliberaes que possam alterar o estatuto social. Esses scios tm o direito de se retirar da sociedade mediante reembolso do valor patrimonial das aes.
Prtica Processual Empresarial
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No pedido, necessrio conter:
1. a procedncia do pedido do autor para determinar a dissoluo da sociedade (art. 655 e ss. do CPC/39);
2. a liquidao nos moldes do artigo 1.102 e seguintes do CC;
3. a citao dos rus, para que, querendo, apresente sua contestao no prazo legal, sob pena de revelia;
4. a condenao ao pagamento das custas e honorrios advocatcios;
5. o endereo de recebimento das intimaes (art. 39, I do CPC);
6. a produo de provas.
3.3.2 Petio inicial de retirada ou excluso de scio
No que se refere ao direito de retirada ou recesso,
[...] mantemos a opinio de que, em qualquer sociedade limitada por prazo indeterminado, os scios
possuem o direito de recesso independentemente de motivao, em funo da natureza contratual da
sociedade e, sobretudo pela garantia constitucional de que ningum ser compelido a manter-se associado
(TOMAZETTE, 2009, p. 371).
Quanto excluso do scio, esta pode acontecer quando no h a integralizao das quotas pelo scio (scio
remisso), que dever ser notificado a pagar em trinta dias. Transcorrido tal prazo, os demais scios podero cobr-lo
judicialmente, reduzir sua quota ao valor que j foi integralizado ou exclu-lo, devolvendo a ele o que disponibilizou
para a sociedade, deduzidas as despesas, conforme entendimento do artigo 1.004 e 1.058 do Cdigo Civil. Pode, ainda,
acontecer a excluso do scio quando este praticar falta grave que coloque em risco a continuidade da empresa, desde
que previsto em contrato social e com a concordncia da maioria dos scios (1/2 do capital social).
A excluso pode acontecer judicialmente pelo cometimento de falta grave e por incapacidade superveniente, devendo
a maioria dos scios ingressar com a ao ora em estudo.
Na sociedade annima, como j dissemos, a dissoluo parcial somente pode se verificar em caso de reembolso de
acionista dissidente, pois a excluso do scio impossvel.
A estruturao da petio inicial de retirada e excluso de scio se verifica praticamente da mesma forma. O
fundamento legal da petio inicial de retirada de scio se encontra no artigo 282 do CPC e, no caso de excluso,
acrescido o artigo 1.030 do CC. A competncia para julgamento de ambas ser o local da sede, se no houver foro de
eleio.
Excelentssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da____Vara Cvel da Comarca de ________________________do
Estado de ___________
O autor, no caso da ao de retirada, o scio que pretende se retirar e os rus os demais scios e a sociedade. No
caso da ao de excluso, os autores so os scios que pretendem a excluso e os rus o scio que ser excludo e a
sociedade.
Prtica Processual Empresarial
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J tratamos, acima, das causas de excluso do scio, de tal forma, agora, de maneira resumida, podemos disser que
cabvel a excluso do scio que praticou um ato de inegvel gravidade e a retirada quando h a quebra da affectio
societatis.
No pedido, preciso conter:
1. a procedncia do pedido do autor, no sentido de determinar a retirada ou excluso do scio;
2. a apurao dos haveres, conforme artigo 1.031 do CC;
3. a citao dos rus, para que, querendo, apresente sua contestao no prazo legal, sob pena da revelia;
4. a condenao ao pagamento das custas e honorrios advocatcios;
5. o endereo de recebimento das intimaes (art. 39, I do CPC);
6. a produo de provas.
3.3.3 Petio inicial de reparao de danos por ato de administrador de sociedade annima
Na sociedade annima denomina-se administrador tanto os membros do conselho de administradores quanto os
membros da diretoria. Essa composio dplice da administrao obrigatria nas companhias abertas e nas de capital
autorizado. Nos demais casos, ficar a cargo do estatuto definir sobre a necessidade do conselho de administradores.
De qualquer modo, o administrador deve ser pessoa natural e idnea (que no tenha condenao definitiva pelos
crimes e infraes previstas no art. 147, 1 da Lei 6404/76). Alm destes requisitos, para a diretoria ainda h
exigncia de residncia no pas, no sendo necessria a condio de acionista. J para os componentes do conselho de
administradores exige-se a qualidade de acionista, e no a residncia no pas.
Para o administrador, a ao com dolo ou culpa e a violao da lei ou estatuto, causando danos a algum, acarretam
responsabilizao por meio de ao prpria:
No caso de danos causados companhia, compete a esta, mediante deliberao da assembleia, promover
a ao de reparao (art. 159 da Lei 6.404/76), admitindo-se subsidiariamente a legitimidade dos acionistas
para o ajuizamento de tal ao.
Causando danos a sociedade, desta o direito de promover a ao de responsabilidade do administrador.
Neste caso, ela se manifestar sua vontade por meio de uma assembleia geral, que decidir a favor ou contra
o ajuizamento da referida ao... o administrador ser afastado e substitudo por outro. Assim, competir aos
demais administradores ajuizar a referida ao, denominada ao social uti universi, porquanto promovida
pela prpria sociedade. (TOMAZETTE, 2009, p. 548).
A petio inicial de reparao de danos por ato do administrador de S. A. tem por fundamento legal o artigo 282 e
o artigo 159 da Lei 6404/76. A competncia para ingresso da ao relativa ao local onde os atos foram realizados
normalmente, na sede da empresa.
Excelentssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da____Vara Cvel da Comarca de ________________________do
Estado de ___________
Prtica Processual Empresarial
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Tal ao ter como autor a sociedade annima, a partir da deciso da assembleia geral ordinria. No entanto,
havendo deliberao pelo no ajuizamento da ao, pode ser proposta por qualquer acionista que represente aos menos
5% do capital social (ao social uti singuli) (TOMAZETTE, 2009, p. 549).
O ru o administrador que praticou o ato e o que sabia do ato lesivo e no informou a assembleia. Conforme j
sabemos, tal ao cabvel no caso de prejuzos causados sociedade por ato de ao ou omisso de administrador.
No pedido deve conter:
1. a procedncia do pedido do autor para determinar a responsabilidade do administrador a fim de ressarcir a
sociedade pelos prejuzos causados, com juros e correo monetria, conforme artigo 159 da Lei 6404/76;
2. a citao do ru, para que, querendo, apresente sua contestao, no prazo legal, sob pena de revelia;
3. a condenao ao pagamento das custas e honorrios advocatcios;
4. o endereo de recebimento das intimaes (art. 39, I do CPC);
5. a produo de provas.
Vale mencionar, ainda, que o valor da causa nesta ao ser o valor do prejuzo causado.
SEO III. PRTICA PROCESSUAL EMPRESARIAL II
1. Nota prvia
Ao longo desta seo trataremos dos meios de represso civis e penais concorrncia desleal nos seus mais diversos
aspectos, passando pela proteo propriedade industrial e intelectual. Abordaremos, ainda, a proteo ao nome e ao
estabelecimento empresarial.
Para tanto, fundamental para nosso estudo a abordagem, mesmo que breve, do princpio da livre iniciativa e da
concorrncia desleal.
2. Princpio da livre iniciativa e concorrncia desleal
Fonte:http://foto-montajes-famosos.blogspot.com.br/2013_09_11_archive.html
Prtica Processual Empresarial
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O princpio da livre iniciativa, corolrio da atividade empresarial, tem sua previso no artigo 170 do texto constitucional.
Conforme explica Fbio Ulhoa Coelho (2009), todos os princpios contidos no artigo em comento foram informadores da
ordem econmica, sendo a livre iniciativa um elemento estrutural da economia. Continua o autor afirmando que
[...] a Constituio, enquanto assegura aos particulares a primazia da produo e circulao dos bens
e servios, baliza a explorao dessa atividade com a afirmao de valores que o interesse egostico do
empresrio comumente desrespeita (COELHO, 2009, p. 187).
Citamos como exemplo as prticas concorrenciais ilcitas que o direito brasileiro reprime: a concorrncia desleal e
a infrao ordem econmica. Para uma maior compreenso do objeto de nosso estudo, importante a anlise da
concorrncia desleal. Entretanto, faremos em breve sntese a diferenciao entre ela e a infrao ordem econmica.
A concorrncia desleal tem por principal diferena da infrao ordem pblica o sujeito de passivo de sua atuao,
ou seja, a primeira atinge unicamente e diretamente os empresrios, ao passo que a segunda tem um alcance muito
maior, extrapolando os interesses dos empresrios e refletindo em toda estrutura econmica do mercado.
A dificuldade em conceituar a concorrncia desleal surge a partir da importncia que as prticas concorrenciais
lcitas tm no mercado. Entre a concorrncia saudvel e a desleal h um caminho muito curto, e disso que alguns
empresrios se valem na busca por espao no mercado de consumo.
De maneira clara e objetiva, a advogada Mrcia Elizabete Martins expe sobre a definio e os requisitos
caracterizadores da concorrncia desleal, em seu artigo sobre a concorrncia desleal e os pressupostos empresariais:
A doutrina tem considerado como definio de concorrncia desleal, todo ato de concorrente que,
valendo-se de fora econmica de outrem, procura atrair indevidamente sua clientela. Nesse sentido que,
na delimitao do campo de incidncia da concorrncia desleal, so fixados certos pressupostos por doutrina
e por jurisprudncia, para a identificao de sua existncia em concreto. So os seguintes os requisitos
assentados na doutrina universal: a) desnecessidade de dolo ou de fraude, bastando a culpa do agente; b)
desnecessidade de verificao de dano em concreto; c) necessidade de existncia de coliso; d) necessidade
de existncia de clientela; e e) ato ou procedimento suscetvel de repreenso. (MARTINS, s/d).
Vale lembrar que a busca por espao necessariamente implica em diviso dele, razo pela qual no h como
desvincular concorrncia de prejuzo. A concorrncia leal ou desleal implica em diminuio ou perda da rea de atuao
do empresrio concorrente, mesmo que esporadicamente.
Valiosa a lio de Fbio Ulhoa Coelho neste sentido: Como as motivaes e os efeitos da concorrncia leal e desleal
so idnticos, a diferena entre elas se encontra no meio empregado para conquistar a preferncia dos consumidores
(2009, p. 191).
Aprofundando-nos um pouco mais no tema proposto, a lei cuidou de reprimir a concorrncia desleal na esfera
cvel e penal. A represso civil implica ao empresrio um dever de reparao dos danos sofridos. A averiguao de
tais prejuzos inerente s condutas tipificadas como crime, conforme disposto no artigo 195 da Lei n 9.279/96, que
estudaremos adiante, no causa grande dificuldade.
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A celeuma se forma quando estamos diante de prticas da chamada concorrncia desleal genrica (COELHO, 2009,
p. 196) cujas condutas no fazem parte do tipo penal acima citado. O tratamento legal para este tipo de concorrncia
foi dado no artigo 209 da Lei de Propriedade Industrial:
Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de haver perdas e danos em ressarcimento de prejuzos
causados por atos de violao de direitos de propriedade industrial e atos de concorrncia desleal no previstos
nesta Lei, tendentes a prejudicar a reputao ou os negcios alheios, a criar confuso entre estabelecimentos
comerciais, industriais ou prestadores de servio, ou entre os produtos e servios postos no comrcio.
Com vistas teoria do ato ilcito, o Cdigo Civil tambm garante ao prejudicado o direito ao ressarcimento por
prejuzos decorrentes de concorrncia desleal de atos que maculem a reputao ou os negcios alheios, conforme se
verifica em no artigo 927 do CC.
A par da represso civil, o legislador brasileiro tambm se preocupou com os aspectos penais, conforme j dissemos.
A Lei de Propriedade Industrial, em seu artigo 195, tipifica como crime as condutas de concorrncia desleal especfica.
Coelho (2009, p. 192) comenta a questo:
[...] as prticas empresariais tipificadas como crime de concorrncia desleal (LPI, art. 195) so formas de
concorrncia desleal especfica; e as no tipificadas como crime, mas geradoras de direito indenizao por
perdas e danos (LPI, art. 209), so de concorrncia desleal genrica.
Vejamos o texto do citado artigo:
Art. 195. Comete crime de concorrncia desleal quem:
I - publica, por qualquer meio, falsa afirmao, em detrimento de concorrente, com o fim de obter vantagem;
II - presta ou divulga, acerca de concorrente, falsa informao, com o fim de obter vantagem;
III - emprega meio fraudulento, para desviar, em proveito prprio ou alheio, clientela de outrem;
IV - usa expresso ou sinal de propaganda alheios, ou os imita, de modo a criar confuso entre os produtos
ou estabelecimentos;
V - usa, indevidamente, nome comercial, ttulo de estabelecimento ou insgnia alheios ou vende, expe ou
oferece venda ou tem em estoque produto com essas referncias;
VI - substitui, pelo seu prprio nome ou razo social, em produto de outrem, o nome ou razo social deste,
sem o seu consentimento;
VII - atribui-se, como meio de propaganda, recompensa ou distino que no obteve;
VIII - vende ou expe ou oferece venda, em recipiente ou invlucro de outrem, produto adulterado
ou falsificado, ou dele se utiliza para negociar com produto da mesma espcie, embora no adulterado ou
falsificado, se o fato no constitui crime mais grave;
IX - d ou promete dinheiro ou outra utilidade a empregado de concorrente, para que o empregado,
faltando ao dever do emprego, lhe proporcione vantagem;
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X - recebe dinheiro ou outra utilidade, ou aceita promessa de paga ou recompensa, para, faltando ao dever
de empregado, proporcionar vantagem a concorrente do empregador;
XI - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorizao, de conhecimentos, informaes ou dados confidenciais,
utilizveis na indstria, comrcio ou prestao de servios, excludos aqueles que sejam de conhecimento
pblico ou que sejam evidentes para um tcnico no assunto, a que teve acesso mediante relao contratual
ou empregatcia, mesmo aps o trmino do contrato;
XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorizao, de conhecimentos ou informaes a que se refere o
inciso anterior, obtidos por meios ilcitos ou a que teve acesso mediante fraude;
XIII - vende, expe ou oferece venda produto, declarando ser objeto de patente depositada, ou concedida,
ou de desenho industrial registrado, que no o seja, ou menciona-o, em anncio ou papel comercial, como
depositado ou patenteado, ou registrado, sem o ser;
XIV - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorizao, de resultados de testes ou outros dados no divulgados,
cuja elaborao envolva esforo considervel e que tenham sido apresentados a entidades governamentais
como condio para aprovar a comercializao de produtos.
Pena - deteno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, ou multa.
Em resumo, a obteno de vantagem em detrimento do concorrente por meio de publicao de afirmao falsa, o
desvio de clientela empregando meio fraudulento, o uso indevido de nome empresarial, ttulo do estabelecimento ou
insgnia alheios, a divulgao, sem autorizao, de conhecimento ou dados confidenciais, entre outros, so prticas
tipificadas como crime.
Nesta esteira o entendimento dos tribunais:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AO ORDINRIA - VIOLAO DE MARCA E CONCORRNCIA
DESLEAL - PROPRIEDADE INDUSTRIAL - EMBALAGEM DOS PRODUTOS - SEMELHANAS - RISCO DE
CONFUSO ENTRE OS CONSUMIDORES - TUTELA ANTECIPADA - REQUISITOS - VEROSSIMILHANA DA
ALEGAO E RECEIO DE DANO GRAVE OU DE DIFCIO REPARAO - DEMONSTRAO - RECURSO NO
PROVIDO. A propriedade da marca adquire-se pelo registro vlido expedido, garantindo, ainda, ao seu titular
o uso exclusivo em todo o territrio nacional, bem como a possibilidade de ver seus direitos resguardados,
impedindo a prtica da concorrncia desleal. A proteo marca, prevista na Lei 9279/96, estende-se ao
direito de uso exclusivo da embalagem dos produtos, denominado trade dress, que pode ser definido como
os seus elementos distintivos, os quais, em conjunto, fazem com que sejam identificados pelos consumidores
no seguimento mercadolgico de atuao. Deve ser obstada a importao e comercializao de produto,
cuja embalagem lembra aqueles que so fabricados e comercializados pela parte autora, qual foi conferida
proteo aos smbolos distintivos de seus produtos, que so do mesmo seguimento mercadolgico, porque
essa situao pode levar o consumidor confuso quanto ao seu fabricante. (AI 1.0518.12.004276-8/001,
Rel. Des.(a) Evandro Lopes da Costa Teixeira, 17 Cmara Cvel, julgado em 14.06.2012, publicao em
26.06.2012).
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Conclumos, que na modalidade concorrncia desleal especfica, aquelas acima descritas, a fraude se verifica por
meio da obteno (segredo de empresa) ou veiculao (induo de consumidores a erro) de informaes sobre empresa
concorrente.
Referente ao segredo de empresa, importante mencionar que tal expresso foi trazida pela lei de propriedade
industrial em substituio s expresses segredo de fbrica e segredo de negcio.
O segredo de empresa normalmente se refere a informaes verdadeiras, enquanto no caso da veiculao geralmente
so falsas justamente para comprometer a imagem da vtima no mercado e influenciar a deciso do consumidor.
3. Propriedade industrial
No Brasil, a propriedade industrial tem proteo garantida constitucionalmente no artigo 5, XXIX e na legislao
infraconstitucional pela Lei 9279/96.
A lei de propriedade industrial regula a represso concorrncia desleal, como j estudamos, mas tambm a
concesso de patentes de inveno e de modelo de utilidade, o registro de desenho industrial, o registro de marcas e a
represso s falsas indicaes geogrficas.
Cuidaremos a seguir das marcas, patentes, seu registro, bem como das aes de proteo propriedade industrial
e intelectual.
3.1 Marca e nome empresarial
3.1.1 Marca
Fonte: http://olitigante.blogspot.com.br
A marca um sinal distintivo grfico colocado em um produto ou servio a fim de identific-lo, impedindo que o
consumidor o confunda com outro semelhante. Atravs de uma representao grfica utilizada para distinguir produtos
ou servios, a marca pode se verificar por meio de uma palavra, expresso, smbolo ou emblema.
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O artigo 122 da LPI dispe que o sinal deve ser distintivo e visualmente perceptvel. Como distintivo entende-se
aquele capaz de distinguir um produto ou servio de outro semelhante. Visualmente perceptvel aquele que pode ser
identificado pela viso. Neste sentido ilustra Tarcsio Teixeira (2011, p. 6):
Esse sinal pode compreender a uma expresso grfica, letra ou palavra; porm, ressalta-se que, para ser
objeto de registro como marca, deve estar revestida de suficiente forma distintiva, por exemplo, o M do
McDonalds, que um M estilizado de forma grande arredondado, maisculo e amarelo.
Fonte: http://marcaspacheco-pi.blogspot.com.br.
Neste ponto, cabe dizer que a lei veda a possibilidade de registro de letra ou palavra isoladamente, conforme se
depreende da leitura do artigo 124, II da LPI: Art. 124. No so registrveis como marca: II - letra, algarismo e data,
isoladamente, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva [...]
So requisitos para concesso da marca: novidade relativa (nova em determinado ramo de atividade princpio da
especificidade), no colidncia com marca notoriamente reconhecida e no impedimento.
No podemos deixar de mencionar a exceo ao princpio da especificidade que se mostra com relao proteo
a marca de alto renome. Esta, muito conhecida nacional e internacionalmente, tem proteo em todos os ramos de
atividade, quando registrada no Brasil.
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Fonte: http://www.wpcom.com.br/blog/que-cor-usar-na-hora-de-fazer-um-logotipo/logo-mcdonalds/
Fonte: http://blog.mallguide.me/tag/consumidor/.
A marca notoriamente reconhecida muito conhecida pelas pessoas que operam no mesmo ramo de atividade do
titular da marca. Assim, o alcance desta marca, apesar de grande, menor do que o da marca de alto renome. A marca
notoriamente reconhecida tem proteo no Brasil no mesmo ramo de atividade, independentemente do registro no
Brasil.
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Fonte: http://www.hypecetera.net/brasilit-telhas.
H trs espcies diferentes de marca que podem ser registradas:
Marca de produto ou servio - art. 123, I da LPI: distinguir produto/servio.
Marca de certificao - art. 123, II da LPI: atestar a conformidade de um produto/servio.
Marca coletiva - art. 123, III da LPI: identificar produtos/servios de entidade.
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A marca pode ser requerida por pessoas fsicas e jurdicas, conforme artigo 128 da LPI, e o titular dela tem direito de
ceder seu registro ou pedido do registro, licenciar seu uso e zelar pela integridade material ou reputao. Noutro passo,
o titular da marca no pode impedir:
o uso da marca do produto por empresrios na sua promoo ou comercializao;
o uso da marca por fabricantes de acessrios para indicar sua destinao;
a citao da marca em discurso e obras literria ou cientfica, (desde que sem conotao comercial);
a circulao de produto no mercado interno colocado por si ou por quem tenha seu consentimento.
O registro da marca vigorar por dez anos contados a partir da data de concesso, sendo prorrogvel por perodos
iguais e sucessivos.
A prorrogao deve ser requerida durante o ltimo ano de vigncia do registro. Caso isso no acontea, o titular
ainda pode faz-lo nos seis meses subsequentes.
A nulidade da marca pode ser pedida no INPI no prazo de 180 dias contados da data da expedio do certificado da
marca. A ao de nulidade da marca deve ser proposta na Justia Federal e o INPI deve necessariamente participar do
processo. O prazo para interposio da ao de cinco dias e o prazo de contestao de ru de sessenta dias.
3.1.2 Nome empresarial
O nome empresarial o elemento de identificao do titular da empresa: empresrio individual, EIRELI ou a sociedade
empresria.
Assim como o nome civil identifica a pessoa natural em suas relaes pessoais, o nome empresarial expresso do
empresrio em suas relaes negociais e pelo qual se obriga nos atos praticados nelas. O nome empresarial pode estar
nas modalidades firma ou denominao.
A firma formada pelo nome civil do empresrio que pode ser abreviado e/ou acrescido de elemento distintivo. Explica
Mamede (2009, p. 140) que [...] um tipo de nome empresarial que, mais do que dar individualidade e identidade,
informa ao mercado sobre a titularidade da atividade negocial e sobre as pessoas que so por ela responsveis. A firma
individual o nome utilizado pelo empresrio individual e a firma social ou razo social designa a sociedade contratual
(sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples e por opo a sociedade limitada e a comandita por
aes).
A espcie denominao aquela que permite aos scios o uso de palavras ou expresses, tambm chamadas
pela doutrina de elemento de fantasia. A denominao designa a sociedade annima ou companhia e, por opo, a
sociedade limitada e a comandita por aes.
Os princpios norteadores do nome so a veracidade e a novidade (art. 34 da Lei 8934/94). A veracidade nos remete
ideia de que o nome deve revelar a verdade do empresrio. O princpio da veracidade garante a proteo daqueles
que se relacionam com o empresrio na medida em que probe a transmisso de ideia falsa. A novidade indica que o
nome deve se distinguir de outros nomes no mesmo registro. J que o nome empresarial que identifica o empresrio,
no se admite nomes idnticos nem semelhantes.
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A proteo do nome empresarial decorre do registro, apesar de no se tratar de proteo absoluta, uma vez que,
em princpio, o nome protegido pelo registro na junta comercial, que atua em mbito estadual ou no Distrito Federal.
Conforme o artigo 1.166 do Cdigo Civil, pretendendo que o mbito de proteo seja ampliado, necessria se faz a
elaborao de pedido junta comercial do Estado onde queira estender a proteo.
Art. 1.166. A inscrio do empresrio, ou dos atos constitutivos das pessoas jurdicas, ou as respectivas
averbaes, no registro prprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.
Pargrafo nico. O uso previsto neste artigo estender-se- a todo o territrio nacional, se registrado na
forma da lei especial.
Ainda sobre a proteo legal, imperioso anotar a opinio de Fbio Ulhoa Coelho no que tange a prerrogativa
daquele empresrio que primeiro efetuar o registro na junta comercial, visto que este detm o direito de impedir que
outro adote nome igual ou semelhante administrativamente e judicialmente (COELHO, 2009).
A proteo ao nome empresarial aparece tambm nos artigos 195, V, LPI, onde seu uso indevido considerado
crime, e 209 do mesmo diploma legal, no qual se prescreve a responsabilizao civil.
3.2 Ttulo do estabelecimento
O ttulo do estabelecimento, assim como a marca e o nome empresarial, um sinal distintivo, uma vez que este o
elemento caracterizador do local onde se desenvolve a atividade empresarial. Tal ttulo identifica para o consumidor o
lugar onde o empresrio desenvolve sua atividade.
No sinnimo de marca nem mesmo de nome empresarial. Apesar de serem elementos de distino, so institutos
diferentes com caractersticas diferentes e, na prtica, podem ou no coincidir. O empresrio, por questes econmicas
e mercadolgicas, pode utilizar a mesma expresso lingustica para marca, ttulo de estabelecimento e at mesmo no
ncleo do nome empresarial. Entretanto, uma opo do empresrio, desde que respeitadas as peculiaridades de cada
um deles, conforme j analisamos.
No incomum verificar que se utiliza a marca registrada como ttulo de estabelecimento, at porque se garante a
proteo do sinal grfico por meio do registro da marca no INPI e, alm disso, uma forma eficaz de fixao de seu
produto ou servio.
Vale lembrar, entretanto, que o ttulo de estabelecimento no possui proteo legal especfica, como acontece com
a marca e o nome empresarial. Assim, a nica forma de se proteger o ttulo do uso indevido atravs da represso
concorrncia desleal normatizada pela LPI.
3.3 A propriedade intelectual
O Brasil experimenta nas ltimas dcadas um salto no desenvolvimento econmico. Tal avano vem repercutindo
no plano jurdico, em relao ao uso de criaes estticas no meio empresarial em face de interesses que interferem,
em especial, na proteo dos elementos de cunho intelectual que identificam, no mundo empresarial, a empresa, o
estabelecimento e o produto correspondente, tais como a marca, o nome, a insgnia, a embalagem e seus componentes
(propriedade industrial), bem como as obras cientficas, artsticas e literrias, entre outras (propriedade intelectual).
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Segundo Coelho (2009, p. 143), a propriedade intelectual imaterial e tem origem localizada no exerccio das
aptides de criatividade pelos titulares dos respectivos direitos. O autor ainda arremata: O direito intelectual, deste
modo, o gnero, do qual so espcies o industrial e o autoral (COELHO, 2009, p. 143).
Verificamos a presena de um conflito de interesse. De um lado, os criadores das obras intelectuais utilizadas
empresarialmente e, de outro, as empresas que, por via de contratos prprios, detm a respectiva titularidade de
direitos.
3.4 Patente
A inveno e o modelo de utilidade podem ser patenteados desde que possam ser produzidos em srie, ou seja, que
possam ser explorados pela indstria. A inveno se verificar quando houver uma novidade criativa, ao passo que o
modelo de utilidade implica em melhoria de algo que j existe.
Os requisitos para obteno da patente so: novidade, atividade inventiva, aplicao industrial e no ocorrncia
de impedimento (produto contrrio a moral e aos bons costumes, substncia resultante de transformao do ncleo
atmico e ser vivo, com exceo dos micro-organismos transgnicos).
A patente tem o prazo de durao de vinte anos para a inveno e de quinze anos para o modelo de utilidade,
contado do depsito do pedido (art. 40 da LPI). Tais prazos no podem ser prorrogados. Assim, aps o perodo de
proteo, a inveno e o modelo de utilidade sero de domnio pblico.
No prazo acima descrito, o produto no pode ser explorado por terceiro sem autorizao do titular da patente.
A nulidade da patente pode ser requerida ao INPI em at seis meses, contados a partir da data da concesso. A ao
de nulidade deve ser proposta na Justia Federal e o INPI deve necessariamente participar do processo.
O prazo para interposio da ao pelo interessado o perodo de vigncia da patente, e o para contestao do ru
ser de sessenta dias.
3.5 Prtica jurdica de proteo concorrncia e propriedade industrial
3.5.1 Petio inicial de contrafao de propriedade industrial
A petio inicial de contrafao tem por fundamento legal o artigo 282 do CPC, o artigo 209 da LPI e o artigo 927
do CC.
A competncia para ingresso da ao o local onde os atos foram realizados.
Excelentssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da____Vara Cvel da Comarca de ________________________do
Estado de ___________
Prtica Processual Empresarial
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No pedido deve conter:
1. a procedncia do pedido do autor no sentido de que se abstenha de usar a marca contrafatora e perdas
e danos, conforme artigo 209 de Lei 9279/96 cc artigo 927 do CC;
2. a citao do ru, para responder aos termos da presente ao, no sentido de que se abstenha de usar a
marca contrafatora, sob pena de pagar multa diria de R$______________;
3. a condenao ao pagamento das custas e honorrios advocatcios;
4. o endereo de recebimento das intimaes (art. 39, I do CPC);
5. a produo de provas.
3.5.2 Petio inicial de nulidade de marca/patente/desenho industrial
A petio inicial de nulidade de marca tem como fundamento legal os artigos 173 e seguintes da Lei 9279/96; a de
patente, os artigos 56 e seguintes da Lei 9279/96; a de desenho industrial, os artigos 118 e 56 e seguintes da mesma
lei. A competncia da Justia Federal e as partes so: o autor que pretende a nulidade, o ru titular da propriedade
industrial e o INPI.
Excelentssimo Senhor Doutor Juiz Federal da_______Vara Cvel da Seo Judiciria de_____________
A ao de nulidade cabvel quando se pretende que seja declarada nula a concesso da propriedade industrial,
para o no legitimado, para quem no cumpriu o procedimento para a concesso ou, ainda, para quem no tinha os
requisitos (SANTOS, 2012, p. 193).
No pedido deve conter:
1. a concesso de liminar para suspender os efeitos do registro e do uso da marca, da patente ou do desenho
industrial;
2. a procedncia do pedido do autor, a fim de declarar a nulidade do registro da marca/patente/desenho
industrial no INPI, confirmando os efeitos da l