Prática Profissional do AS

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    Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 13, n. 2, p. 355 - 365, jul./dez. 2014 |

    Reflexes Sobre a Prtica Profissional do Assistente Social: relaoteoria-prtica, historicidade e materializao cotidiana

    Reflections on the Professional Practice of Social Workers: theory-practice relationship, historicityand materializing everyday

    ARNALDO XAVIER

    REGINA CLIA TAMASO MIOTO

    RESUMO Este ensaio traz um estudo exploratrio de cunho bibliogrfico acerca do debate em torno daprtica profissional dos assistentes sociais. O objetivo refletir sobre o conceito de prtica profissionaltratando especificamente de trs caractersticas: sua historicidade; a relao teoria/prtica; suamaterializao no cotidiano, as trs ancoradas, sobretudo, em autores como: Heller (1992), em relao aocotidiano; Iamamoto (2007), sobre a historicidade; e Santos (2006) no debate em torno da relao teoria.Neste mbito, busca-se refletir sobre as potencialidades profissionais almejando contribuir para o debate dacategoria e a produo de conhecimento.

    Palavras-chavePrtica profissional. Servio Social. Teoria-prtica. Cotidiano profissional.

    ABSTRACT This essay reports an exploratory study of bibliographical character concerning the debate on

    the professional practice of social workers. The goal here is to reflect about the concept of professionalpractice dealing specifically with three characteristics: its historicity; the relationship betweentheory/practice; its materialization on daily. The three were anchored, mainly, on authors such as Heller(1992), in relation to daily life; Iamamoto (2007), about the historicity; and Santos (2006) on the debateabout the theorys relationship. On this context, it was sought to reflect on the professional potentialit ies,aiming to contribute to the debate on the category and the knowledges production.

    KeywordsProfessional practice. Social Work. Theory/practice. Daily responsibilities.

    Mestre em Servio Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor junto ao Departamento de ServioSocial e Tutor da Residncia Multiprofissional no Hospital Universitrio da Universidade Federal de Santa Catarina,FlorianpolisSC, Brasil. E-mail:[email protected]

    Doutora em Sade Mental pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora voluntria da UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC), onde integra o Ncleo de Pesquisa Interdisciplinar Sociedade, Famlia e Polticas Sociais.Professora no Programa de Ps-Graduao em Poltica Social da Universidade Catlica de Pelotas (UCPel), Pelotas RS,

    Brasil. E-mail:[email protected] em: setembro/2014. Aprovado em: novembro/2014.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Ns vos pedimos com insistnciaNo digam nunca: isto natural!

    Diante dos acontecimentos de cada dia

    Numa poca em que reina a confuso,

    Em que corre o sangue,

    Em que o arbitrrio tem fora de lei,Em que a Humanidade se desumaniza,

    No digam nunca: isso natural!

    Para que nada possa ser imutvel!

    (Bertold Brecht)

    Este artigo nasce de um estudo exploratrio de cunho bibliogrfico acerca da prtica profissionaldo assistente social, realizado durante o curso de mestrado junto ao Programa de Ps-Graduao emServio Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

    Nosso objetivo aqui refletir sobre o conceito de prtica profissional1 entendendo que para isso necessrio conect-la dentro de um horizonte cujo norte a construo de um sujeito profissional quetenha

    [...] competncia para propor, para negociar com a instituio os seus projetos,para defender seu campo de trabalho, suas qualificaes e atribuiesprofissionais [que v] alm das rotinas institucionais para buscar apreender, nomovimento da realidade, as tendncias e possibilidades, ali presentes, passveisde serem apropriadas [...], desenvolvidas e transformadas em projetos detrabalho (IAMAMOTO, 2005, p. 21).

    Assim, o conceito de prtica profissional pode ser entendido como um componente especficopresente dentro da prtica social,2 esta que, por sua vez, uma categoria terica que permitecompreender e explicitar a constituio e as expresses do ser social e a dinmica social na qual se

    insere. A prtica profissional, assim, resultante da especializao do trabalho coletivo, previamentedeterminada pela diviso sociotcnica do trabalho, situando-se no mbito das relaes sociais concretascom uma dimenso historicamente determinada, que vai se particularizar em diversos campos detrabalho vinculados ao todo social (BAPTISTA, 2009).

    Dessa forma, podemos afirmar que o Servio Social, enquanto profisso que ocupa um espao nadiviso sociotcnica do trabalho, desenvolve uma prtica profissional que encontra respaldo paraatuao na sociedade e, ao estabelecer relaes prprias do seu processo de interveno que soespecficas ao seu campo de ao, conecta-se e constri vnculos na sociedade na qual est inserido.

    Nas palavras de Raichelis (1988, p. 62), a profisso ao longo de sua trajetria assume aatribuio de realizar a intermediao entre o poder institucional que executa as polticas oficiais e a

    populao receptora dessas polticas e como produto histrico condicionado pela configuraoestrutural da sociedade na qual se desenvolve e pelo movimento tenso e conflitual das conjunturasparticulares de cada perodo (idem). Partimos ento destes breves apontamentos para refletir sobre oconceito de prtica profissional, com a inteno de contribuir para o debate profissional.

    Para tanto, este ensaio prope algumas reflexes em torno da prtica profissional, destacandosuas potencialidades a partir de um recorte especfico, expressos aqui pela discusso em torno de trsquestes: sua historicidade; a relao teoria/prtica; sua materializao no cotidiano, as trs ancoradas,sobretudo, em autores como: Heller (1992), em relao ao cotidiano; Iamamoto (2007), sobre ahistoricidade; e Santos (2006) no debate em torno da relao teoria-prtica.

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    Questes em torno da prtica profissional: sua historicidade

    A primeira questo que apontamos como presente nas aes profissionais sua historicidade.

    Nesse sentido, as aes profissionais no podem ser compreendidas sem levarmos em conta as relaesconcretas da sociedade em que se situam, uma vez que seu present e est cotidianamente sendo criadoe recriado com a construo e incorporao seletiva de saberes, a mobilizao e recriao do passado e aproduo e experimentao de novas abordagens (BAPTISTA, 2009, p. 19).

    A legitimidade da prtica profissional pauta-se tambm nas interpretaes normativas, cognitivase de controle social que se estabelecem no seu processo de historizao e objetivao na sociedade.Desta maneira, ela passa a se sustentar por meio de complexos mecanismos institucionais/legais que vomoldando seu corpo e forma, como as leis que regulamentam a profisso, o currculo mnimo paraformao profissional, o cdigo de tica dos assistentes sociais, entre outros instrumentos, ressaltandoassim, que a constituio da prtica profissional no se estabelece ou se define apenas pela simplesvontade de grupos determinados, mas sim num complexo jogo de relaes presentes em determinado

    momento histrico.Porm, a discusso no se esgota aqui. Para Netto, h uma importante diferenciao que precisa

    ser levada em conta quando discutimos projetos societrios e projetos profissionais. Segundo ele, osprojetos societrios so projetos coletivos, que se constituem como projetos macroscpicos, comopropostas para o conjuntoda sociedade. Somente eles apresentam esta caracterstica (NETTO, 1999, p.143, grifos do autor) e, portanto, no devem ser confundidos com projetos profissionais que, segundo oprprio autor, so:

    [...] a autoimagem de uma profisso, elege os valores que a legitimamsocialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funes, formulam osrequisitos (tericos, prticos e institucionais) para o seu exerccio, prescrevem

    normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suasrelaes com os usurios de seus servios, com as outras profisses e com asorganizaes e instituies sociais privadas e pblicas (NETTO, 1999, p. 144).

    Nicolau (2004, p. 86), ao discutir o exerccio profissional, apresenta-o como sendo um compostode processos de trabalho [...] historicamente construdos e socialmente determinados pelo jogo deforas, que articulam uma dada totalidade social. Insere-se num mbito maior na produo ereproduo material e espiritual da fora de trabalho, incidindo sobre a cons cincia dos outrosindivduos sociais e de si prprio, objetivando a mudana de atos e comportamentos (NICOLAU, 2004, p.87). Ao enunciarmos essa particularidade, caminhamos para pensar a prtica profissional do assistentesocial dentro de especficos espaos institucionais.

    Um tocante relacionado ao trabalho desempenhado pelo assistente social repousa naespecificidade deste no contexto da sociedade capitalista. Por meio da apropriao privada dos meios deproduo e das formas pelas quais os homens materializam a reproduo da vida social, o trabalho passaa se configurar como uma negao das potencialidades emancipadoras do ser social, impondo aostrabalhadores um processo de alienao tanto em relao atividade realizada como de si mesmo e nasua relao com os outros. Esse processo de produo e reproduo social, que podemos chamar deatividades humanas, contm em si valores, e os de carter econmico, devido centralidade da produoem nossa sociedade apoiada na busca pelo lucro, sobrepem-se aos outros. Como resultado, todos osdemais valores ticos, estticos se expressam como valores de posse, de consumo, reproduzindosentimentos, comportamentos e representaes individualistas (BARROCO, 2005, p. 35).

    Assim, um trao comum a todos os espaos institucionais nos quais os assistentes sociais atuam

    diz respeito s questes relacionadas ao corpo coletivo da categoria, uma vez que o Servio Social umadas especializaes do trabalho, parte da diviso social e tcnica do trabalho social (IAMAMOTO, 2007,

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    p. 415). Nessa condio, implica reconhecer que o assistente social, enquanto trabalhador que vende suafora de trabalho em troca de um valor monetrio (valor de troca), tambm participa como parte daalquota do trabalho total produzido. Seu trabalho possui tanto a dimenso de trabalho abstrato quantode trabalho concreto.

    Na dimenso de trabalho concreto exige-se que este seja, ao mesmo tempo, um produtouniversal, vazio de individualidade, padronizado, que possa ser trocado por qualquer outro, fato essepresente somente em nossa sociedade mercantil. Na dimenso de trabalho abstrato exigido que este seapresente de forma quantificada e medida pelo tempo de trabalho socialmente necessrio para a suaproduo (IAMAMOTO, 2007).

    O exerccio profissional na perspectiva descrita acima assume sua dimenso de trabalhoconcreto, qual seja: uma atividade programtica e de realizao que persegue finalidades e orienta -sepor conhecimentos e princpios ticos, requisitando suportes materiais e conhecimentos para a suaefetivao (IAMAMOTO, 2007, p. 418) com seu valor de uso social devidamente reconhecido.

    Neste mbito constatamos uma importante questo que caracteriza o exerccio profissional dosassistentes sociais: o fato de que, enquanto profissionais que possuem um direcionamento por meio doprojeto tico-poltico hegemnico da categoria, tm de lidar com os limites impostos pela condio deassalariamento na qual se encontram.

    Nesse contexto que podemos dizer que os assistentes sociais esto condicionados pelasrelaes capitalistas no seu exerccio profissional, mesmo que enquanto sujeitos detenham umaautonomia relativa, pautada por seus valores, projetos profissionais e societrios que determinam, emparte, a sua ao (XAVIER et al., 2014, p. 78).

    A relativa autonomia certamente impe uma dinmica de enfrentamento em relao sdemandas do cotidiano. nesse sentido que verificamos uma tenso, pela qualidade intrnseca presentena relao de objetivos delimitados pelo projeto tico-poltico versusa condio de assalariamento. Almdisso, a autonomia profissional, para alm do processo de assalariamento, tambm ameaada pelos

    embates institucionais que muitas vezes possuem objetivos e metas diferentes dos contidos no projetotico-poltico profissional, produzindo tenses entre esses polos. Iamamoto (2007, p. 416) explicita essatenso, afirmando sobre o

    projeto profissional, que afirma o assistente social como um ser prtico-socialdotado de liberdade e teleologia, capaz de realizar projees e buscarimplement-las na vida social; e a condio de trabalhador assalariado, cujasaes so submetidas ao poder dos empregadores e determinadas por condiesexternas aos indivduos singulares, s quais socialmente forjadas a subordinar-se,ainda que coletivamente possam rebelar-se.

    Em consonncia com a autora, entendemos que essas especificidades do exerccio profissional no

    bojo de uma sociedade classista, na qual o trabalhador necessita vender a sua fora de trabalho, estopresentes em todos os espaos institucionais nos quais os assistentes sociais atuam, seja em maior oumenor grau, de forma explcita ou camuflada por outras relaes mais latentes. De todo modo, elas sofundamentais para pensar a atuao profissional cotidiana.

    Ainda nesta direo, Netto (1999) afirma que a composio das categorias profissionais no se fazde forma isolada, mas num espao de disputas coletivas. Nesse sentido, o Servio Social est perpassadopor lutas coletivas que imprimem profisso caractersticas especficas e reconhecidas socialmente, quede certa maneira condicionam a prtica profissional. Um olhar mais amplo para o conjunto das profissestambm nos mostra a construo coletiva como um importante fator presente nas suas conquistas,garantias, avanos e retrocessos, todos esses como produtos da dinmica social.

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    Questes em torno da prtica profissional: a relao teoria/prtica

    Outra questo importante sobre a prtica profissional diz respeito relao teoria/prtica,

    entendida aqui como uma unidade. Para Santos (2006), muitos profissionais ainda carregam umacompreenso equivocada da relao teoria/prtica. Dentre os equvocos nessa formulao podemosenumerar, segundo a autora, trs que contriburam em nossas anlises em relao prtica profissional.

    A primeira delas ancora-se na ideia de que a teoria de ruptura igual prtica de ruptura. Oprocesso de ruptura a que a autora se refere nessa formulao aquele que considera a teoriaapropriada pelo Servio Social que contribuiu para o movimento de reconceituao ocorrido a partir dasegunda metade da dcada de 1970 e se firmou em meados dos anos de 1980, a qual negou as vertentesconservadoras, dando origem concepo terica hegemnica para a profisso desde ento.

    Nessa compreenso de que teoria de ruptura igual prtica de ruptura h uma passagemdireta da teoria para a prtica, como num processo de transformao imediato. O entendimento aqui de transposio no qual a teoria que vai orientar a ruptura com o conservadorismo culminar numaprtica tambm de ruptura com a ordem conservadora. Porm, como tal transposio no se d deforma automtica e nem direta no mbito da realidade social, como concebe tal enunciado, o argumentoutilizado ser o de que na prtica a teoria ser outraou que a teoria no serve de fato para a prticacotidiana. Nota-se ainda que os adeptos dessa concepo no necessariamente compreendem que huma teoria de ruptura; com isso abre-se espao para a segunda concepo apresentada por Santos(2006).

    Para Santos (2006) essa segunda concepo vai, por assim dizer, na contramo da primeira. Dessaforma, seus defensores entendem que a ao prtica gera de imediato uma teoria por meio de suasistematizao. O corpus terico aqui seria ento a prpria sistematizao da prtica apreendida peloexerccio profissional. A frase consagrada de que na prtica a teoria outra tambm se encaixa aqui,

    porm agora com um cunho muito mais de conformao no sentido de conferir para a ao prtica maiordestaque do que para a teoria.

    A semelhana entre essas duas primeiras concepes o tom reducionista que ambas imprimemaos tipos de conhecimento, privilegiando ora um, ora outro. Em sntese, as duas reduzem os dois tipos deconhecimento a apenas um: o terico. Assim, conhecimento ser sempre sinnimo de conhecimentoterico; por outro lado, a prtica ser tomada de forma indistinta, criando uma confuso entre prticaprofissional e prtica social. Alm disso, a relao teoria/prtica tomada como dissociada, perdendo suacaracterstica de unidade.

    Passemos para a terceira concepo apontada por Santos (2006) como sendo equivocada naleitura sobre a relao teoria/prtica. Essa terceira concepo nos remete tambm primeira, pois nelatemos a afirmativa de que a teoria social de Marx no instrumentaliza para a ao (SANTOS, 2006, p.116).

    Assim como na primeira, tal afirmativa procura denunciar que a teoria no se transforma emprtica, a diferena que aqui a crtica se destina diretamente teoria social de Marx, ou seja, a teoriacrtica no est se transformando em prtica crtica (SANTOS, 2006, p. 117). o mesmo que dizer que ateoria de ruptura empreendida pelo Servio Social no resultou em uma ao prtica nos mesmosmoldes, com o agravante de esperarmos da teoria a traduo quase que simultnea de instrumentos deao extrados diretamente dela. Santos (2006) pontua que nesse caso o equvoco est em reduzirmos ateoria a algo que se encaixa na prtica e, mais uma vez, a prtica social se confunde com a prticaprofissional. Como resultado, tem-se uma prtica profissional que se reduz utilizao de instrumentosde interveno. E novamente, sem a transformao da teoria em prtica como se deseja, tem-se um

    abandono da teoria e uma priorizao da prtica (SANTOS, 2006).

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    Dessa forma, Santos (2006) demonstra a partir dessas trs concepes a maneira equivocada quea relao teoria/prtica apropriada no Servio Social, causando uma confuso no entendimento de suaunicidade, que acaba por resultar em uma compreenso deficitria concernente prtica profissional. importante registrar que a problematizao em torno da interao teoria/prtica no exclusiva dateoria crtica; outros paradigmas tericos da modernidade3se apropriam tambm dessa discusso.

    Tendo como parmetro a teoria social de Marx,4 importante pontuar que esse debate pauta-seprimeiro numa concepo de mundo guiada pelo materialismo histrico-dialtico, que significa aprecedncia da realidade em relao ao pensamento, ou seja, significa dizer que a coisa em si j existeantes de existir qualquer ideia sobre ela. Segundo, um debate dialtico porque ao explicar o Ser talteoria apreende-o em toda a sua totalidade, num permanente movimento. Terceiro, tambm histrico,pois a anlise da realidade vinculada sociedade, onde o Ser no tomado de forma isolada, mas comoum Ser social, pertencente ao processo histrico presente na sociedade, encontrando-se assim emmovimento. Dessa forma, os indivduos so um produto social, a sociedade muda, as ideias mudam(SANTOS, 2006, p. 117). Nessa perspectiva que podemos dizer que o Ser estabelece uma relao com omeio em que vive, a qual fundamental para sua existncia enquanto tal.

    Para a autora citada, a preocupao de Marx repousa em perceber como o sujeito apreende oobjeto em sua realidade, diferente de outros filsofos, que buscavam justamente entender como oobjeto era tomado pela conscincia. Assim, inaugura-se a concepo de mtodo que no pode ser, sobhiptese alguma, descolado da teoria (SANTOS, 2006, p. 118), sobretudo porque o mtodo marxistaconstitui-se justamente no processo de entendimento de como o sujeito apreende o objetoracionalmente. Em outras palavras, seria o mesmo que dizer que o objeto assume a forma de teoria apspassar pela organizao do processo racional.

    No entanto, como o prprio Marx esclarece, esse processo racional de apreenso do realconcreto no pode ser tomado como o prprio concreto. O mtodo que consiste em elevar-se doabstrato ao concreto no seno a maneira de proceder do pensamento para se apropriar do concreto,para reproduzi-lo espiritualmente como coisa concreta (MARX, 1984, p. 410). Desse modo, o que opensamento realiza apenas a reconstruo do objeto, o que no modifica ou altera a existncia ulteriordo mesmo.

    Se o objeto pode existir sem o sujeito, no podemos dizer o mesmo em relao ao conhecimento,pois este depende da existncia do sujeito para se realizar. Assim, para Santos (2006), Marx diferencia ateoria da prtica, porm assegura sua unicidade, ao mesmo tempo em que o prtico toma destaque.Nesse sentido, apropriar-se do concreto pelo pensamento um ato terico, enquanto o concreto, em si, um ato prtico que est vinculado s necessidades e aes prticas dos homens, portanto existe fora dopensamento (SANTOS, 2006, p. 119).

    A dificuldade em se compreender a prioridade que a prtica possui em relao conscinciarepousa na prpria realidade, por ser esta composta pela unio da essncia e da aparncia. A realidade,

    como resultado desta sntese, no se manifesta em sua totalidade de modo imediato, por isso paracompreend-la faz-se necessrio um esforo de apreenso de ambas as caractersticas: essncia eaparncia conjuntamente.

    O conhecimento no pode se esgotar na apreenso da aparncia, no imediato, pois ela seconfigura apenas como o ponto de partida. Portanto, o caminhar para o conhecimento deve prosseguirat a apreenso da essncia. O que nos leva a dizer que asua prioridade no pode ser entendida comoum fim em si mesmo, uma vez que ela apenas uma parte da realidade, que s pode ser tomada em suatotalidade unicidade aps o exerccio de compreenso realizado pelo processo racional, teorizado.No obstante, se o objetivo que pretendemos a apreenso do objeto e sua compreenso, ele no apenas o ponto de partida, mas tambm o ponto de chegada. Em posse dessa compreenso que nosvoltamos para o objeto, agora no mais apenas em sua aparncia, mas como um concreto pensado,compreendido em sua unicidade entre aparncia e essncia.

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    Vale ainda ressaltar que tal processo no acabado,

    [...] mas um processo de aproximao sucessiva do real, uma vez que no seesgotam as determinaes encontradas no concreto, [...] nesse processo posto

    pela prtica na medida em que o concreto resultado das vrias prticashumanas e apreendido teoricamente pelo pensamento, teoria e prtica seencontram (SANTOS, 2006, p. 121).

    dentro desses moldes que podemos afirmar a unicidade da relao teoria/prtica, na qual, pormais que ambas representem momentos diferenciados, formam o mesmo todo, numa relao dialticade totalidade. A prtica profissional assim constitui um importante momento de materializao dessateoria que, por sua vez, a retroalimenta.

    Questes em torno da prtica profissional: sua materializao no cotidiano

    A terceira questo que ressaltamos como presente na prtica profissional sua materializao nocotidiano. Esta nos leva a refletir sobre as caractersticas do cotidiano e a nos questionarmos como osassistentes sociais se inserem nele e ali constroem sua prtica.

    O cotidiano tomado como uma categoria de anlise formado por dimenses como aorganizao do trabalho, da vida privada, do espao do lazer, do descanso e da vida social como um todo,configurando-se como um locus heterogneo e hierrquico (HELLER, 1992). Enraizado no tempopresente, ele constitui um espao no qual o homem5 se coloca por inteiro, participando com todos osaspectos de sua individualidade e personalidade. Nesse espao so colocadas todas as suas capacidadesintelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, suas paixes, ideias, ideologias (HELLER,1992, p. 17). Pensar os sujeitos aqui , portanto, romper com a viso de que o indivduo biolgico a

    unidade mnima e bsica em termos de significado e va lor (VELHO, 1989, p. 86) e pens-lo como partede um processo histrico-social perpassado assim por questes objetivas e subjetivas de tal contexto(VELHO, 1989, p. 86).

    Dito isso, nossa reflexo caminha sobre o conceito de cotidiano exposto por Heller (1992),quando apresenta uma de suas particularidades: nenhum ser humano est alheio a ele; em outraspalavras, todos j nascemos inseridos na cotidianidade e, por meio do processo de socializao a quesomos submetidos ao longo de nossa vida, vamos aprendendo e internalizando as habilidadesimprescindveis para viver em sociedade; s adulto quem capaz de viver por si mesmo a suacotidianidade (HELLER, 1992, p. 18). No entendimento da autora, a cotidianidade do cotidiano, porassim dizer, vivida em todos os mbitos sociais, sejam eles quais forem. E suas caractersticas prprias,

    como a heterogeneidade, a imediaticidade e a superficialidade extensiva, so indelveis do nosso dia adia; si o siteremos que lidar com elas diariamente.

    Sendo assim, essas particularidades tambm esto presentes no cotidiano profissional doassistente social, permeando a sua prtica e condicionando-a. Se no podemos fugir dessas qualidadescomuns a todos, o diferencial repousa na forma de como as vivenciamos na busca por sua suspenso, nostermos de Heller (1992). Ainda segundo a autora, a heterogeneidade, por exemplo, constitui-se como umprocesso imutvel; portanto, por mais que busquemos a superao dessa condio, sempreretornaremos a ela, porm sempre de forma modificada (HELLER, 1992).

    Olhando com essa lgica para a prtica profissional, podemos afirmar que ela compostaheterogeneamente de mltiplas determinaes; afinal, cotidianamente no realizamos ou nos dedicamosunicamente a uma atividade por vez, mas a mltiplas, sejam elas de natureza biolgica, social,

    organizacional, profissional etc. Na cotidianidadedo cotidiano ocorre tudo junto e misturado, agora e aomesmo tempo, imprimindo, como buscamos destacar, condicionantes prtica profissional.

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    Eis uma importante pergunta: estaramos todos, portanto, condicionados e por que no? amaldioados pelas amarras do cotidiano?

    Antes de responder a essa questo e considerar um pouco mais suas implicaes sobre a prticaprofissional oportuno salientar que, ao tratarmos sobre o cotidiano, tambm nos vinculamos

    discusso das formas de vivenciar nossa cotidianidade. Isso ocorre justamente porque a sociedadecapitalista leva, mediante a fora e a estrutura social, classes inteiras a lutarem cotidianamente pelasatisfao das necessidades essenciais para sua existncia pura e simples (HELLER, 1992), condicionandodeterminados modos de vida. Sendo assim, as necessidades fundamentais sobrevivncia humana nopodem ser definidas simplesmente como naturais, independentemente do momento histrico, nemmesmo a necessidade de alimentar-se pode ser definida com exatido biolgica [...], pois os modos desatisfao fazem social a necessidade mesma (HELLER, 1992, p. 58).

    Como animais polticos6 que somos, o ser humano cria os objetos de sua necessidade e aomesmo tempo cria tambm os meios para satisfaz-la (HELLER, 1992, p. 59). J para os animais, tanto asnecessidades como seus objetos de satisfao so previamente dados por sua condio biolgica. Nessesentido, o que essencial ao homem no apenas a busca por sua sobrevivncia, mas qualidades como o

    trabalho e sua objetivao, a sociabilidade, a universalidade, a autoconscincia e a liberdade. Essasqualidades essenciais j esto dadas na prpria hominizao, como meras possibilidades, tornam-serealidade no processo indefinido da evoluo humana (HELLER, 1992, p. 78). E justamente no espaocotidiano que buscamos a materializao de tais possibilidades.

    Em tempo voltemos nossa ateno novamente para a pergunta acima em relao scondicionalidades impostas pelo cotidiano prtica profissional: estaramos presos s amarras docotidiano? De acordo com Heller (1992), outra importante caracterstica proeminente desse espao social sua vertente hierrquica mutvel, que difere da heterogeneidade, pois est ancorada nos diferentesmomentos histricos, podendo ser entendida como os processos de valorao que constitumos a partirda sociabilidade pautados nas estruturas econmico-sociais. Dessa maneira, a partir da realidade scio-histrica apreendida pelos valores que elegemos, enquanto indivduos no espao micro e coletivamentenum espao macro, o que tem maior centralidade ou no na configurao do nosso cotidiano(HELLER, 1992).

    Nesse direcionamento, na caracterstica hierrquica mutvel que valoramos nosso cotidiano. tambm nesse processo de valorao hierrquico, mutvel por processos individuais e coletivos, dentrode limites impostos pelas estruturas econmicas, sociais e histricas, que vamos imprimindo nossaprtica profissional aquilo que ter maior relevncia em nossa cotidianidade e influenciando, de umamaneira ou de outra, nos rumos da vida, o que ressalta a importncia dos processos de mediao 7existentes no prprio cotidiano profissional.

    Tendo como base essa definio e levando em conta os apontamentos de Heller (1992), podemosafirmar que as mediaes presentes no cotidiano, valoradas por nossas escolhas hierrquicas, que

    poderiam elevar o sujeito da sua condio individual genericidade,8muitas vezes no so apreendidasnem colocadas em ao de forma consciente e crtica no cotidiano. Tais aes perdem-se no mbito daimediaticidade, ou seja, os sujeitos acabam por no perceber o vnculo imediato entre pensamento eao, pois esto absortos na repetio automtica de modos de comportamento (BARROCO, 2005, p.38).

    Esse ocultamento se d pela aparncia imediata dos fatos apreendidos de maneira fluida eespontnea, bem como pela forma alienada como so tratados, podendo ser entendidos tambm comouma condio prpria do processo de profissionalizao. De modo geral, os comportamentos, os valorese as motivaes so tomados pela conscincia do sujeito como autnomos e independentes, tratadosassim como uma soma de fenmenos sem relao ou vnculos sociais que os conectem (BARROCO, 2005).

    Na fluidez da vida cotidiana os sujeitos se percebem somente por sua via singular. neste espaoque o assistente social coloca em pauta grande parte da sua bagagem sociocultural apreendida de

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    Reflexes Sobre a Prtica Profissional do Assistente Social: relao teoria-prtica, historicidade ematerializao cotidiana

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    diversas formas ao longo de sua vida, inclusive aquela adquirida durante seu processo de formaoprofissional, assim como tambm a apresentada pelo projeto hegemnico da profisso na qual o dever-ser profissional est teoricamente referenciado. A partir dessas construes expressa sua particularidade,seu modo singular, pela conscincia de indivduo, sob a forma das necessidades do eu, e parasatisfazer a essas necessidades,9como vimos, que a individualidade humana se move.

    Neste campo carregado de determinaes, sejam elas profissionais ou no, que somos,conforme argumenta Heller (1992), simultaneamente particulares e genricos, uma vez que em nossasaes individuais tambm est, de certa forma, nossa genericidade, mesmo que em algumas atividadesas primeiras motivaes sejam de origem particular, como a atividade do trabalho, por exemplo, efundadas nas emoes e sentimentos.

    Outro fator que cabe destacar que no prprio do espao cotidiano o acesso conscinciahumano-genrica, pois a intensidade da utilizao de suas capacidades est muito abaixo das atividadesvoltadas s objetivaes genricas. Heller (1992, p. 17) destaca esse ponto salientando que o fato deque todas as suas capacidades se coloquem em funcionamento determina tambm, naturalmente, que

    nenhuma delas possa realizar-se, nem de longe, em toda sua intensidade. como se esse sujeitocotidiano no tivesse nem tempo nem possibilidade de se absorver inteiramente em nenhum dosaspectos (HELLER, 1992, p. 18) presentes no cotidiano, no podendo agu-los em toda sua intensidade.

    Atingir a esfera do humano-genrico nos possibilitaria a construo de processos coletivos quecontribussem para uma reflexo da realidade posta. Ascender a tal esfera superando a cotidianidadeseria possvel, ao menos hipoteticamente, se unssemos trs fatores: concentrao de toda ateno sobreuma nica questo, suspendendo qualquer outra atividade; empregando a inteira individualidade naresoluo dessa questo; e, por fim, teramos de estar inteiramente conscientes enquanto indivduosneste processo de busca pela suspenso do cotidiano. Em contraponto ao processo heterogneo docotidiano, denominamos essa elevao especfica ao humano-genrico de homogeneizao (HELLER,1992).

    Podemos ainda acrescentar que o indivduo (singular e genrico) que se encontra na relaocom sua prpria individualidade particular e com sua prpria genericidade (HELLER, 1992, p. 22) dotado de relativa liberdade nesse processo para construir sua individualidade. Conquanto, esta sempre efetivada como uma tendncia, uma vez que a vida cotidiana caracterizada pela coexistncia daparticularidade e genericidade, pelo campo das possibilidades, mas tambm das condicionalidades.Todavia, vale sublinhar que mesmo que a elevao ao humano-genrico seja alcanada, pelos meiosdiscutidos aqui ou por outros,10no significa uma abolio da particularidade, uma superao definitivadesta, pois a elevao se configura por sua transitoriedade, uma vez que retornamos ao espao daparticularidade, modificados.

    O desnvel, por assim dizer, entre esses dois fatores (particularidade e genericidade) pode ser

    observado nas escolhas da vida diria, quando optamos pela superficialidade das aes cotidianasinternalizadas pela socializao, ou quando questionamos e rompemos, por meio da reflexo, com aatividade mecanizada. Desse modo que ressaltamos a fundamental contribuio de uma prticaprofissional construda cada vez mais de forma crtica e consciente, conectada com a realidade na qual seinsere, ao mesmo tempo em que dialoga com outros saberes crticos para realizar as mediaes entre osespaos macro e microssociais.

    Consideraes finais

    Diante dessas questes necessrio enfatizar o esforo de superao realizado pelos assistentessociais em problematizarem a sua prtica profissional cotidiana, pensando os rumos da profisso e asformas de interveno social tomando como base a teoria social crtica. As questes apresentadas nesta

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    Arnaldo Xavier; Regina Clia Tamaso Mioto

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    discusso sobre a prtica profissional permitem identificar alguns limites impostos nossa interveno,sejam elas de ordem tericas ou mesmo intrnsecas prpria especificidade intervencionista que aprofisso assume cotidianamente.

    Acreditamos que as reflexes sobre relao teoria-prtica, historicidade e materializao

    cotidiana, necessitam de maior aprofundamento, levando em conta que h uma interligao entre esseselementos, compondo e, de certa forma, condicionando nossa prtica.

    Para contribuir nesta direo retomamos aqui alguns conceitos discutidos ao longo dotexto, buscando explicitar a presena dessas trs questes. Para Baptista (2009), por exemplo, aprtica resulta da especializao do trabalho no mbito da relaes sociais concretas com umadimenso historicamente determinada. Ressaltando assim a importncia do conhecimento sobreas relaes sociais nas suas particularidades histricas, conectadas com o tempo no qual sematerializam.

    Ainda nesta direo, nos apoiamos tambm em Iamamoto quando aponta algumascompetncias postas ao assistente social. Para ela, a interveno profissional precisa ir para

    alm das rotinas institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade, astendncias e possibilidades (IAMAMOTO, 2005, p. 21). Para tanto, necessria, alm de umaapurada compreenso sobre os componentes tericos, a articulao dialtica desses com aprtica; ambas ensinam sobre as possibilidades e estratgias ao fazer profissional. Da mesmaforma, fundamental perceber as barreiras que a prpria rotina institucional, ou seja, ocotidiano na instituio impe para a interveno profissional, para que a partir dele seconstruam estratgias coletivas de superao desses mesmos limites.

    Por fim, vale pontuar que, conforme Netto (1999), a composio das categorias profissionais nose faz de forma isolada, mas num espao de disputas coletivas, o que imprime junto construo denossa prtica a possibilidade de um debate plural que vise construo de sadas ao ordenamento social

    presente.

    Referncias

    BAPTISTA, M. V. Prtica social/prtica profissional: a natureza complexa das relaes profissionais cotidianas. In: ______;BATTINI, O. (Org.).A prtica profissional do assistente social:teoria, ao, construo de conhecimento. So Paulo: Veras, 2009.v. 1.

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    FERNANDES, Florestan. Introduo. In. ______ (Org.). K. Marx e F. Engels: histria. So Paulo: tica, 1984. (Coleo GrandesCientistas Sociais, 36).

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    NICOLAU, M. C. C. Formao e fazer profissional do assistente social: trabalho e representaes sociais. Servio Social &Sociedade, So Paulo, n. 79, p. 82-107, set. 2004.

    PEREIRA, P. A. Necessidades humanas:subsdios crtica dos mnimos sociais. So Paulo: Cortez, 2002.

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    PONTES, R. N. Mediao e Servio Social:um estudo preliminar sobre a categoria terica e sua apropriao pelo servio social. 2.ed. rev. So Paulo: Cortez, 1997.

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    VELHO, G. (Org.). Desvio e divergncia:uma crtica da patologia social. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.

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    1

    Neste contexto adotamos o conceito deprtica profissionalde forma a caracterizar a atuao cotidiana do assistente social.Ressaltamos que no nosso objetivo problematizar essa caracterizao buscando conceituar essa atividade profissionalcomo trabalho ou servio, ou mesmo situ-la no debate em torno dos processos de trabalho, mas, antes, partimos doentendimento de que o assistente social realiza uma atividade direcionada a um fim e para isso rene saberes, tcnicas eteorias para materializ-los. Estas, por sua vez, esto imbudas de contradies e ideologias prprias do momento histricoque vivemos.2 Segundo Baptista (2009), para realizarmos o estudo da prtica, tanto a social, como a profissional, necessrio que

    faamos uma diferenciao entre prxis e praticidade, de praticismo e de agir humano. Prxis seria o processo pelo qual seconstitui e se expressa o ser social e a dinmica da construo histrica do mundo humano-social. A praticidade uma formade expresso da prxis quando, sem a luta pelo reconhecimento (o momento existencial), a ltima se degrada ao nvel datcnica e da manipulao. O praticismo seria a ao prtica que no se indaga dos seus fundamentos, e o agir humanoprtico, a prtica necessria para a preservao da vida e das relaes no cotidiano (BAPTISTA, 2009, p. 13).3Santos (2006) cita as correntes do positivismo, pragmatismo, marxismo, sociologia compreensiva de Weber, entre outras,

    como estando entre as principais correntes do pensamento moderno.

    4Segundo Santos (2006, p. 117), esta a a direo terico-poltica que orienta o projeto hegemnico na profisso.5Para alm de uma relao de gnero, o termo homem, utilizado aqui repetidas vezes, sinnimo de ser humano.

    6Como [Marx] assinala nas suas linhas fundamentais da crtica economia poltica (GRUNDISSE, 1997, p. 7), o homem, que

    se satisfaz com garfo e faca, diferente dos animais que se satisfazem com carne crua; por isso, as necessidades existenciaisdaquele devero corresponder s formas de satisfaes sociais (PEREIRA, 2002, p. 59).7

    Segundo Pontes (1997, p. 78), as mediaes so as expresses histricas das relaes que o homem edificou com anatureza e consequentemente das relaes sociais da decorrentes, nas vrias formaes scio-humanas que a histriaregistrou. Sendo assim, no pode existir nem na natureza, nem na sociedade nenhum objeto que neste sentido [...] noseja mediado, no seja resultado de mediaes. Desse ponto de vista a mediao uma categoria objetiva, ontolgica, quetem que estar presente em qualquer realidade, independente do sujeito (LUKCS, 1979, p. 90).8Termo adotado por Heller (1992).9Na discusso apresentada por Pereira (2002), as necessidades humanas bsicas podem ser entendidas como autonomia e

    sade fsica; somadas a elas a autora elenca mais onze fatores intermedirios, os quais denomina de satisfadores

    universais e que so fundamentais para garantir a plena satisfao das necessidades humanas, quais sejam: 1) alimentaonutritiva e gua potvel; 2) habitao adequada; 3) ambiente de trabalho desprovido de riscos; 4) ambiente fsico saudvel;5) cuidados de sade apropriados; 6) proteo infncia; 7) relaes primrias significativas; 8) segurana fsica; 9)segurana econmica; 10) educao apropriada; 11) segurana no planejamento familiar, na gestao e no parto. Comomesmo salienta Pereira (2002, p. 76), esses indicadores ainda so insuficientes quando defrontados com necessidadeslocais, de pequenas comunidades ou de grupos. Nesse caso h que, secundariamente, identificar-se satisfadoresespecficos, os quais podero melhorar as condies de vida e de cidadania das pessoas em situaes sociais particulares,incluindo-se aqui as minorias sociais.10

    Heller (1992) defende que a arte e a cincia tambm so formas pelas quais podemos superar a particularidade presentena cotidianidade e nos elevarmos ao humano-genrico.