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JV – Quando e por que você decidiu fazer Medicina? Maykon – Desde pequeno eu queria fazer. Uma vez, aos seis, sete anos, tive um probleminha, acabei desmaiando, acordei no hospital. Lembro da atenção que o médico me deu, cresci com essa visão de uma pessoa que estava ali para ajudar, para cuidar de mim. Outras coisas foram se associando. Assisti ao parto da minha irmã quando estava no 1º colegial, foi lindo. Fui me empolgando. E uma história real, no filme Quase deuses, me deixou ainda mais apaixonado pela carreira. Você é de Cotia. Como veio estudar aqui? Vim por indicação do tio do meu cunhado e de várias pessoas que tinham passado no vestibular e me falavam do Etapa. Eu já tinha prestado vestibulares duas vezes tentando entrar em Medicina. A primeira vez foi quando terminei o Ensino Médio, no fim de 2006. Prestei Fuvest direto, fiz 35 pontos e a nota de corte foi 71. Você fez menos da metade dos pontos necessários para chegar à 2ª fase. Como encarou esse resultado? Estudei em escola pública em Cotia e não tinha muita noção da dificuldade que era Medicina. Mas não encarei como fato negativo ter ido mal. Não era caso de desistir. Se você tem um sonho, tem de acreditar nele, tem de batalhar, ir atrás. Como estava seu ânimo ao entrar no Etapa? Estava disposto a estudar muito. Se não desse, pelo menos não teria do que me arrepender. Que dificuldades você enfrentou no ano passado? Eu ficava no trânsito três horas por dia. Era um tempo em que poderia estar estudando. Também havia o cansaço. Para chegar aqui por volta das 6h30min, eu acordava às 4h40min todo dia. Além do Extensivo de manhã, eu ainda tinha o Medicina Total, com aulas durante a tarde. Como era seu método de estudo? Eu prestava muita atenção nas aulas e tinha facilidade em reproduzir a lousa no papel. Foi uma coisa importante para mim, porque eu ganhava tempo. Depois eu ia estudar a teoria. Em que local você estudava? Alguns dias eu ficava aqui até 7, 8 horas da noite. Dependia do dia. Quando conseguia carona para voltar mais cedo para casa, aproveitava. Dormia uma hora, uma hora e meia, depois começava a estudar. Estudava durante quatro, cinco horas. Às vezes até mais. Dava 10 e meia, eu ia dormir. Você estudava no fim de semana? Quando entrei aqui, eu passei a morar na casa da minha irmã, que era mais perto. No final de semana, eu ia para a casa dos meus pais e ficava estudando lá. Às vezes, saía com os amigos. Como você treinava redação? Para redação você precisa de leitura. Não lia todo dia, mas uma vez por semana eu lia os editoriais dos jornais. Eu achava que era um dos pontos em que tinha de melhorar para conseguir passar. Com que frequência você fazia redação? Variou. No primeiro semestre era uma a cada duas, três semanas. No segundo semestre foi quase uma por semana. Depois da 1ª fase eu fiz muitas. Você levava suas redações ao plantonista? Normalmente eu ia ao plantonista. As redações que não levei para corrigir eu mostrava para colegas. Na sala, sempre um lia a redação do outro. Isso me ajudou muito, eu pegava meio que o esquema de escrita que as outras pessoas usavam. Você ia ao Plantão de Dúvidas das outras matérias? Biologia eu frequentava bastante. História, fui algumas vezes. Em matérias de Exatas, praticamente não fui, porque eu tinha comigo o seguinte: “Preciso tentar ao máximo fazer esses exercícios aqui, não vou desistir.” Eu sempre pensava: “Tenho de criar um raciocínio comigo mesmo, porque na hora o plantonista não vai estar lá.” Se conseguisse pensar e resolver o exercício, na prova eu lembraria como tinha feito. Se não dava certo, tentava em outro dia. Se realmente não conseguia resolver, aí ia ao plantonista. Quais eram seus resultados nos simulados? Lembro de alguns números: fiz 24 A, 7 B, 24 C mais e 26 C menos. No Extensivo, ficava em C mais, B e A. No geral do MT ficava em C menos e C mais. Qual foi a importância dos simulados para você e como avaliava suas notas? O simulado é importante, você aprende, isso faz diferença na hora da prova. Mas a nota em si não reflete muito. Depende de como você está na hora. Tem uma história legal de uma

praticamente não fui, porque eu tinha comigo parto da minha irmã quando estava no 1º colegial, foi lindo. Fui me empolgando. E uma história real, no filme Quase deuses, me deixou

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Page 1: praticamente não fui, porque eu tinha comigo parto da minha irmã quando estava no 1º colegial, foi lindo. Fui me empolgando. E uma história real, no filme Quase deuses, me deixou

JV – Quando e por que você decidiu fazerMedicina?

Maykon – Desde pequeno eu queria fazer.Uma vez, aos seis, sete anos, tive umprobleminha, acabei desmaiando, acordei nohospital. Lembro da atenção que o médico medeu, cresci com essa visão de uma pessoa queestava ali para ajudar, para cuidar de mim.Outras coisas foram se associando. Assisti aoparto da minha irmã quando estava no1º colegial, foi lindo. Fui me empolgando.E uma história real, no filme Quase deuses, medeixou ainda mais apaixonado pela carreira.

Você é de Cotia. Como veio estudar aqui?Vim por indicação do tio do meu cunhado ede várias pessoas que tinham passado novestibular e me falavam do Etapa. Eu já tinhaprestado vestibulares duas vezes tentandoentrar em Medicina. A primeira vez foi quandoterminei o Ensino Médio, no fim de 2006.Prestei Fuvest direto, fiz 35 pontos e a nota decorte foi 71.

Você fez menos da metade dos pontosnecessários para chegar à 2ª fase. Comoencarou esse resultado?

Estudei em escola pública em Cotia e não tinhamuita noção da dificuldade que era Medicina.Mas não encarei como fato negativo ter idomal. Não era caso de desistir. Se você tem umsonho, tem de acreditar nele, tem de batalhar,ir atrás.

Como estava seu ânimo ao entrar no Etapa?

Estava disposto a estudar muito. Se não desse,pelo menos não teria do que me arrepender.

Que dificuldades você enfrentou no anopassado?

Eu ficava no trânsito três horas por dia. Era umtempo em que poderia estar estudando.Também havia o cansaço. Para chegar aquipor volta das 6h30min, eu acordava às4h40min todo dia. Além do Extensivo demanhã, eu ainda tinha o Medicina Total, comaulas durante a tarde.

Como era seu método de estudo?

Eu prestava muita atenção nas aulas e tinhafacilidade em reproduzir a lousa no papel. Foiuma coisa importante para mim, porque euganhava tempo. Depois eu ia estudar a teoria.

Em que local você estudava?

Alguns dias eu ficava aqui até 7, 8 horas danoite. Dependia do dia. Quando conseguiacarona para voltar mais cedo para casa,aproveitava. Dormia uma hora, uma hora emeia, depois começava a estudar. Estudavadurante quatro, cinco horas. Às vezes até mais.Dava 10 e meia, eu ia dormir.

Você estudava no fim de semana?

Quando entrei aqui, eu passei a morar na casada minha irmã, que era mais perto. No final desemana, eu ia para a casa dos meus pais eficava estudando lá. Às vezes, saía com os amigos.

Como você treinava redação?

Para redação você precisa de leitura. Não liatodo dia, mas uma vez por semana eu lia oseditoriais dos jornais. Eu achava que era umdos pontos em que tinha de melhorar paraconseguir passar.

Com que frequência você fazia redação?

Variou. No primeiro semestre era uma a cadaduas, três semanas. No segundo semestre foiquase uma por semana. Depois da 1ª fase eufiz muitas.

Você levava suas redações ao plantonista?

Normalmente eu ia ao plantonista. As redaçõesque não levei para corrigir eu mostrava paracolegas. Na sala, sempre um lia a redação dooutro. Isso me ajudou muito, eu pegava meioque o esquema de escrita que as outras pessoasusavam.

Você ia ao Plantão de Dúvidas das outrasmatérias?

Biologia eu frequentava bastante. História, fuialgumas vezes. Em matérias de Exatas,

praticamente não fui, porque eu tinha comigoo seguinte: “Preciso tentar ao máximo fazeresses exercícios aqui, não vou desistir.” Eusempre pensava: “Tenho de criar um raciocíniocomigo mesmo, porque na hora o plantonistanão vai estar lá.” Se conseguisse pensar eresolver o exercício, na prova eu lembrariacomo tinha feito. Se não dava certo, tentavaem outro dia. Se realmente não conseguiaresolver, aí ia ao plantonista.

Quais eram seus resultados nos simulados?

Lembro de alguns números: fiz 24 A, 7 B, 24 Cmais e 26 C menos. No Extensivo, ficava em Cmais, B e A. No geral do MT ficava em Cmenos e C mais.

Qual foi a importância dos simulados paravocê e como avaliava suas notas?

O simulado é importante, você aprende, issofaz diferença na hora da prova. Mas a nota emsi não reflete muito. Depende de como vocêestá na hora. Tem uma história legal de uma

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amiga minha. No meio do ano ela disse:“Maykon, não vai dar. Não vou conseguir,olha minhas notas, um monte de C menos.”Falei: “Não é assim. Não é a partir disso quevocê deve julgar se vai conseguir ou não.” Elacontinuou estudando e está lá na USP com agente. A ideia é você fazer sua parte e não sedesesperar com a nota.

Como você usava os simulados emseus estudos?

Eu revia todos. História e Geografia, eu via oque estava certo, aquilo que errei, por queerrei. Mais para o final do ano eu comecei arevisar os simulados do início do ano. Reviseiquase todos da 1ª fase. Isso foi importantetambém. A Fuvest não foge muito do padrão.Sempre caem questões parecidas.

Você assistiu às palestras sobre as obrasindicadas como leitura obrigatória?Leu os livros?

Os livros, tirando uma parte de Sagarana, litodos. A leitura é muito importante, mas euacho que assistir à palestra é quaseimprescindível.

Para você, qual foi o efeito das palestras?

O livro, cada pessoa pode avaliar de umaforma. Na palestra, você fica sabendo como éo jeito principal de avaliar aspectos da obra.Isso foi importante. Quando lê, você fixa maisa narrativa, e a palestra dá uma visão críticasobre a obra.

Você entrou no Medicina Total. Qual é suaavaliação do reforço?

O MT tem uma visão mais aprofundada. Eu viaalgumas coisas de Física muito difíceis e aquiloé importante porque desenvolve o raciocínio.Se você chegar na prova e encontrar uma coisaque nunca viu na vida, você tem o raciocínio.

Durante o ano, sua preocupação maior eracom a 1ª fase da Fuvest ou com a 2ª?

Minha principal preocupação era crescer na1ª fase e em Português na 2ª fase. Na 1ª fase euprecisava melhorar muito o tempo. No anoanterior eu não terminei nenhuma prova de1ª fase. Aqui, consegui fazer tempo bom.Resolvia prova em três horas e meia e revisava.Às vezes essa revisão fazia diferença, porqueconseguia acertar mais questões.

Na 1ª fase da Fuvest 2009, qual foi suapontuação?

Fiz 81 pontos. Com o Enem mais o bônus deescola pública fiquei com 88. O corte foi 77.

Você errou apenas 9 questões. Quais foram?

Errei quatro de Geografia, uma de História,uma de Química, duas de Português e uma deMatemática. Gabaritei Física, Biologia e Inglêse as Interdisciplinares.

Esse resultado trouxe alguma surpresa?

Foi como minha média nos simulados daFuvest. Eu esperava ir melhor em Geografia,uma matéria em que tinha bom desempenho,mas a nota foi compatível com a dificuldadeda prova. Surpresa positiva foi ter gabaritadoInglês. Apesar de a prova ser meio fácil, erauma das minhas maiores dificuldades.

Depois da 1ª fase você focou os estudos nasmatérias da 2ª fase da Fuvest?

Não, não deixei de estudar as outras, não tinhaa visão focada só na Fuvest. A Unicamp e aUnifesp eram opções importantes para mim.Mas estudei mais Português, por ser a minhagrande dificuldade.

Na 2ª fase, quais foram suas notas?

No prova de Português e Redação fiz 28,3pontos. Em Física, 40. Química, 39,5.Biologia, 38,5.

Na escala de zero a 1 000, qual foi suapontuação?

Fiquei com 982,7 pontos. Eu sabia que tinhaido bem, mas não esperava isso. Eu pensavaque ia entrar lá pelos 100 e alguma coisa. Aíveio a surpresa, as notas estavam muito altas.

Na carreira, como você se classificou?

3º lugar.

Você teve boa colocação em outrovestibular?

Na Unicamp eu entrei como 14º colocado. Foioutra surpresa. Terminei as provas achandoque tinha ido mal, que não ia dar. Estava emcasa e o João Francisco, que foi o 1º colocadona USP e na Unicamp, me ligou: “Moleque,você passou.” Não esperava nem entrar eacabei pegando uma boa colocação.

E alguma surpresa negativa?

Na Unifesp foi quase, fiquei na lista de esperapor 1,5%. Aí você percebe quanto umaquestão faz diferença. Por conta de estar umpouquinho nervoso nos dias da prova, issopode ter feito a diferença entre entrar ou não.Mas Medicina é isso, uma batalha por cadaquestão, cada parágrafo de uma redação, portudo.

Como ficou sabendo de sua aprovação paraa Pinheiros?

Vim ver a lista aqui. Cheguei às 10 horas.Posso falar que foram as duas horas maistensas da minha vida. Fiquei ali fora suando,naquela expectativa. Até que deu 12 horas eeu subi para ver a lista. Quando vi meu nome,fiquei meio em torpor. Não comecei acomemorar nem nada. ”Será que passei mesmo?Será que não vi errado?” Logo depois volteipara conferir o código do curso. Só tinhaolhado meu nome. Vi que era Pinheiros. Veioa vida na cabeça. Veio tudo, o ano que passeiaqui, as dificuldades. Depois fomos comemorar.

Os veteranos da Pinheiros sempre vêmrecepcionar os calouros. Você já saiucom eles?Eles vieram e a gente foi lá na Atlética. Eu tinhadado um tempo aqui e quando saí os veteranosestavam cantando lá fora. Só que não tinhasaído ninguém da Medicina. Eles me viram,começaram, “vem, vem”. Saí, pulei com eles,gritei, cantei. Foi muito legal. E foi uma galeraque passou. Muitos amigos meus da salapassaram. Quase todo mundo que eu tinhacontato. Isso é legal para se ver que quempassa é quem está ali do seu lado, não énenhum ser do além que vai chegar lá e fazer aprova. É quem está ali, ralando, assistindo àaula, fazendo simulados, que vai passar.

Como foi o contato inicial com a faculdade?

Com relação às aulas, esquema de estudo, éum choque. Por exemplo, os professoresindicam os livros e você tem de se virar,escolher em qual vai estudar. Os professoresda faculdade são bons, têm currículo, mas faltadidática e você tem de se adaptar ao jeitodeles. Legal é quando tem Anatomia. Noprincípio é meio complicado, você tem umcerto sentimento por aquele corpo que está lá,mas depois se acostuma. Tem aula também emque a gente vai para uma UBS [Unidade Básicade Saúde] e há discussão de casos. A gente fazvisitas junto com os agentes comunitários e temum pouco de contato com as pessoas.Medicina é uma das carreiras mais humanas.

Você está lidando com o ser humano,com vidas.

Que matérias você teve no primeirosemestre?

Bioquímica, Fisiologia de Membranas, queseria equivalente a Biofísica em outrasfaculdades; já tive Biologia Celular, tenhoHistologia, Anatomia do Aparelho Locomotor,Atenção Primária em Saúde, Introdução aPráticas Médicas e Biologia Molecular. EmPráticas Médicas e Atenção Primária em Saúdevocê se sente um pouco mais no mundomédico. O resto é muito ciência básica.

Qual matéria é a mais complicada?

Anatomia, porque requer um certo esforço nosentido de você estar ali no laboratório. Gostomuito de Bioquímica e Biologia Molecular,mas também são complicadas. Posso falar quenenhuma é mais fácil. Mas é empolgante, éconhecimento. Você começa a estudar coisasnovas, começa a entender aquilo.Vale muito a pena.

Você tem alguma ideia da especialidade quepretende seguir como médico?

Gosto muito de cardiologia, também acholegal a área cirúrgica. Mas não sei. Nãoconheço muito e procuro não fechar minhavisão, não olhar nenhuma área compreconceito.

Quais dicas você daria a quem está nocursinho e vai ler esta entrevista?

Se você tem um sonho, tem de acreditar nele,mas não pode esperar que ele se realize por si.Você tem de ir atrás. Você pode achar que édifícil, mas não é impossível. E nunca é tardepara se empenhar mais no estudo. Você nãoprecisa ser perfeito em uma matéria. Você temde ser regular em todas.

O que mais você pode dizer a quem está sepreparando este ano para os vestibulares?

Um ponto importante é nunca olhar os colegascomo concorrentes. Eu nunca pensei emconcorrência, porque é você que faz sua parte.Não é o fato de o outro ir mal que faz vocêestar dentro. É o fato de você ir bem. Quandoalguém perguntava alguma coisa para mim, euajudava porque aprendia mais quando estavaensinando. Você tem de fazer o máximo paraajudar os outros.

O que você tira de lição dessa suaexperiência que o levou a estudar Medicina?

Fica uma lição para a vida, de lutar por algumacoisa, enfrentar as dificuldades e seguir emfrente. O candidato de Medicina tem umagrande barreira que é o vestibular. Mas essanão vai ser a única barreira de sua vida nem amaior. Uma das lições do vestibular é essa,saber enfrentar as dificuldades.