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“Práticas de Cuidado no Tratamento Diretamente Observado da Tuberculose: o Caso do Bairro da Rocinha/RJ” por Raquel Barros de Almeida Araujo Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Marly Marques da Cruz Segunda orientadora: Prof.ª Dr.ª Eliane Portes Vargas Rio de Janeiro, agosto de 2015.

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“Práticas de Cuidado no Tratamento Diretamente Observado da Tuberculose:

o Caso do Bairro da Rocinha/RJ”

por

Raquel Barros de Almeida Araujo

Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências

na área de Saúde Pública.

Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Marly Marques da Cruz

Segunda orientadora: Prof.ª Dr.ª Eliane Portes Vargas

Rio de Janeiro, agosto de 2015.

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Esta dissertação, intitulada

“Práticas de Cuidado no Tratamento Diretamente Observado da Tuberculose:

o Caso do Bairro da Rocinha/RJ”

apresentada por

Raquel Barros de Almeida Araujo

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

1 Prof.ª Dr.ª Kátia Maria Braga Edmundo

Prof.ª Dr.ª Rosely Magalhães de Oliveira

Prof.ª Dr.ª Marly Marques da Cruz – Orientadora principal

Dissertação defendida e aprovada em 05 de agosto de 2015.

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2

A663p Araújo, Raquel Barros de Almeida

Práticas de cuidado no tratamento diretamente observado

da tuberculose: o caso do bairro da Rocinha/RJ. / Raquel

Barros de Almeida Araújo -- 2015.

118 f. : il. color. ; mapas

Orientador: Marly Marques da Cruz

Eliane Portes Vargas

Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde

Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2015.

1. Tuberculose. 2. Terapia Diretamente Observada. 3.

Atenção Primária à Saúde. 4. Estratégia Saúde da Família.

5. Assistência à Saúde. 6. Prática Profissional. I. Título.

CDD – 22.ed. – 616.995098153

Catalogação na fonte

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

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3

Dedico este trabalho

À minha avó Lais Thereza, ao meu esposo Peter Daniel e ao meu filho Pietro.

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4

AGRADECIMENTOS

À Deus, por abençoar a minha vida, por não me deixar desistir diante das dificuldades,

por iluminar todos os meus passos e orientar as minhas escolhas.

À minha família, marido e filho pelo amor, carinho, paciência, apoio e preocupação

incondicionais.

Às professoras Marly Cruz e Eliane Vargas, por terem me acolhido e conduzido, por

toda a atenção e paciência, por confiarem na minha capacidade e estimularem o meu

crescimento individual em todos os momentos.

À professora Rosely Magalhães de Oliveira pelas contribuições na construção deste

estudo desde o início.

À equipe da Biblioteca de Saúde Pública da ENSP, da DENSP e da SECA por toda a

atenção e dedicação que tiveram comigo.

A toda equipe do CMS Dr. Albert Sabin e em particular, a diretora Maria Helena, que

sempre me apoiou e me incentivou a investir na minha formação profissional e se colocou

totalmente disponível para colaborar com a realização do trabalho de campo estudo nesta

unidade de saúde.

À equipe da antiga Coordenação de Saúde da Família, onde trabalhei de setembro de

2011 à janeiro de 2013, especialmente à Paula Brandão que me estimulou e me auxiliou no

preparatório para o processo seletivo do Mestrado Acadêmico da ENSP.

E à equipe da Gerência do Programa de Saúde do Adolescente da SMS-RJ que me

apoiou e suportou minhas ausências durante o curso do mestrado.

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5

“... o ser humano é, na essência, alguém de relações ilimitadas. O eu

somente se constitui mediante a dialogação com o tu. (...) mas o tu não

é qualquer coisa indefinida. É concretamente um rosto com olhar e

fisionomia. O rosto do outro torna impossível a indiferença. O rosto do

outro me obriga a tomar posição porque fala, pro-voca, e-voca e con-

voca. (...) O rosto e o olhar lançam sempre uma pro-posta em busca de

uma res-posta. (...) Cuidar do outro é zelar para que esta dialogação,

esta ação de diálogo eu-tu, seja libertadora, sinergética e construtora de

aliança perene de paz e de amortização.”

(Leonardo Boff)

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6

RESUMO

Este estudo problematiza a forma como se organiza a prática de cuidado à tuberculose (TB) por

meio do Tratamento Diretamente Observado (TDO), no que tange ao Programa de Controle da

Tuberculose (PCT) na Estratégia Saúde da Família (ESF), buscando dar voz aos profissionais

de saúde como agentes produtores do cuidado e usuários portadores e seus familiares como

sujeitos deste cuidado. A relevância do estudo está em trazer elementos para subsidiar as

intervenções necessárias à melhoria da qualidade do cuidado e a qualificação das equipes de

saúde da família deste território. Buscou-se caracterizar as práticas de cuidado no TDO da TB

na ESF em uma das unidades do bairro da Rocinha, descrevendo os limites e potencialidades

e a organização destas práticas a partir da visão dos sujeitos. É um estudo de caso único que

conjugou, a partir de uma abordagem qualitativa, diferentes estratégias de coleta dos dados que

ocorreu de outubro de 2014 a fevereiro de 2015. As técnicas de coleta de dados foram análise

de documentos (oficiais e gerenciais) do PCT no Centro Municipal de Saúde (CMS) e utilizados

na ESF para portadores de TB em TDO; observação direta do TDO junto aos profissionais de

saúde e usuários portadores de TB nos domicílios e na USF e realização das entrevistas semi-

estruturadas gravadas com profissionais de saúde, usuários e seus familiares. Foram

entrevistados onze profissionais de saúde, dez usuários e cinco familiares. O TDO para os

profissionais foi valorizado sendo a supervisão da medicação vista como garantia da conclusão

do tratamento. Os usuários aprovaram o TDO por receber a medicação em casa, por terem suas

consultas marcadas e encaminhamentos, mas indicaram dificuldades: inadequação entre os

horários (usuários, CMS e trabalho dos ACS); duração do tratamento e quantidade/tamanho dos

comprimidos. Os familiares são um apoio importante no sucesso do tratamento: alimentação,

ambiente da residência, respeito ao horário da medicação, acompanhamento às consultas (e

exames) e realização dos exames dos comunicantes. O estudo indicou a realização de um

cuidado integral à saúde, ainda que limites tenham sido observados. O tratamento da TB por

meio do TDO aproxima os sujeitos envolvidos, proporcionando o vínculo e a responsabilização

no cuidado. O usuário e a sua família se sentem acolhidos e cuidados pela equipe de saúde da

família, apesar das dificuldades apontadas.

Palavras-chave: tuberculose, tratamento diretamente observado, atenção primária à saúde,

estratégia saúde da família, práticas de cuidado em saúde.

ABSTRACT

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This study discusses how the practise of tuberculosis´ care (TB) is organized by the Directly

Observed Treatment (DOT) based on the Tuberculosis Control Program (PCT) of the Family

Health Strategy (ESF), considering the health professionals as care providers agents while user

and theirs relatives as subjects to this care. The aim of this study is to suggest ways to improve

the quality of care and further training of the family health personnel on this matter. This thesis

presents the care practices of TB in the DOT of ESF carried out in one of the unit of Rocinha´s

district, describing the limitations and benefits of these practices from users point of view. This

is a unique case study based on a qualitative research and different strategies of data collection

from October 2014 to February 2015. The data collection was perfomed by the analysis of

documents (official and management) of Tuberculosis Control Program in the Health Center

and used in the Family Health Strategy by TB patients in DOT; Direct Observation in DOT of

the health professionals in collaboration with users in theirs homes and in the Family Health

Unit and interviews with health professionals, users and their families. Eleven health

professionals were interviewed, ten patients and five families. According to the opinion of the

health professionals, the DOT was entitled as being the supervision of the medication

considered as a guarantee of the end of the treatment. DOT users appreciate receiving the

medication in their home, planned consultations and referrals, but they indicated difficulties as

Health Unit working hours (Patients, Health Center and Work of community health workers);

duration of treatment and quantity / size of pills. Families are an important support for reaching

the treatment success: food, home environment, following of the medication schedule, follow-

up consultations and exams. The study indicated a commitment with the health care despite of

some limitations. The treatment for TB with DOT approaches the persons involved, providing

the bond and the accountability of care. The users and their families feel welcomed and taken

care by the Family Health professionals, despite the difficulties identified.

Key-words: Tuberculosis, Directly Observed Treatment, Primary Health Care, Family Health

Strategy, Health Practices Care.

Lista de Figuras

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Figura 1: Entrada da CF Mara do Socorro no CIAS.............................................................p. 26

Figura 2: Mapa do território da Rocinha com a divisão dos sub-bairros..............................p. 27

Figura 3: Foto do cartaz da TB – Estrada da Gávea, abaixo da Rua 2.................................p. 28

Figura 4: Estrada da Gávea, escadão da Rua 01...................................................................p. 29

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Lista de Quadro

Quadro 1: Caracterização dos sujeitos ………………………….........................................p. 52

Quadro 2: Resumo dos Limites e Potencialidades................................................................p. 82

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SUMÁRIO

Resumo

Abstract

Lista de figuras

Lista de quadro

1. Introdução......................................................................................................................... 13

1.1 Relevância do Estudo...................................................................................................... 20

1.2 Pressupostos................................................................................................................... 22

1.3 Perguntas do Estudo...................................................................................................... 23

2. Objetivos.......................................................................................................................... 24

2.1 Objetivo Geral............................................................................................................... 24

2.2 Objetivos Específicos....................................................................................................... 24

3. Caracterização do território da Rocinha................................................................................ 25

3.1 Rede de Atenção à Tuberculose na Rocinha..................................................................... 29

4. Referenciais Teóricos........................................................................................................ 31

4.1 A tuberculose na Atenção Primária à Saúde: a ESF e o TDO............................................ 31

4.2 O cuidado integral na Atenção Primária à Saúde e à Tuberculose....................................... 34

4.3 O cuidado integral ao usuário portador de TB no TDO na ESF......................................... 41

5. Metodologia................................................................................................................ 44

5.1 Caracterização do estudo................................................................................................ 44

5.2 O Trabalho de campo: a chegada ao CMS Dr. Albert Sabin................................................ 45

5.3 Técnicas de coleta de dados............................................................................................. 46

5.3.1 Análise documental....................................................................................................... 46

5.3.2 Observação direta.......................................................................................................... 48

5.3.3 Realização das entrevistas com os profissionais de saúde, usuários em TDO para a TB e

seus familiares.............................................................................................................

48

5.4 Critérios para inclusão e exclusão da unidade de saúde e dos sujeitos do estudo.................. 49

5.4.1 Critérios de seleção da USF: CMS DR. Albert Sabin........................................................ 49

5.4.2 Critérios para inclusão e exclusão dos sujeitos do estudo.................................................... 49

5.4.3 O Processo de seleção dos Sujeitos.................................................................................. 50

5.4.4 Caracterização dos Sujeitos do Estudo............................................................................ 51

5.5 Aspectos Éticos do Estudo............................................................................................. 52

6. Resultados e Discussão................................................................................................. 54

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6.1 As Práticas de Cuidado no Tratamento Diretamente Observado (TDO) da Tuberculose (TB)

em uma Unidade de Saúde da Família (USF)...........................................................

54

6.2 As práticas de cuidado no TDO da TB numa Unidade de Saúde da Família a partir da visão

dos profissionais de saúde, dos usuários portadores de TB e seus familiares..............

56

6.2.1 Os núcleos temáticos e suas dimensões nas práticas de cuidado no TDO da TB................... 57

6.2.1.1 A relação de vínculo usuário-profissional de saúde............................................................ 57

6.2.2.2 O Tratamento Diretamente Observado enquanto prática de cuidado.................................... 61

6.2.2.3 O lugar da família............................................................................................................ 76

6.2.4 Associação da TB ao HIV/AIDS.................................................................................... 78

6.3 Os limites e as potencialidades das práticas de cuidado no TDO da TB em uma unidade de

saúde da família da Rocinha............................................................................................

79

7. Considerações Finais........................................................................................................... 84

8. Recomendações para a USF CMS Dr. Albert Sabin........................................................... 87

9. Referências Bibliográficas.................................................................................................. 88

Anexos......................................................................................................................... 93

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

AA – Auto administrado

AB – Atenção Básica

ACS – Agente Comunitário de Saúde

AP - Área de Planejamento

APS – Atenção Primária à Saúde

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CF – Clínica da Família

CIAS – Centro Integrado de Atenção à Saúde

CMS - Centros Municipais de Saúde

DOT - Directly Observed Treatment

DOTS - Directly Observed Treatment Short-course

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

ESF – Estratégia Saúde da Família

HIV – Human Immunodeficiency Virus / Vírus da Imunodeficiência Humana

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MRJ – Município do Rio de Janeiro

MS - Ministério da Saúde

OMS - Organização Mundial da Saúde

OPAS – Organização Pan Americana de Saúde

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PACS - Programa de Agente Comunitário de Saúde

PCT - Programa de Controle da Tuberculose

PE – Prontuário Eletrônico

PNCT - Programa Nacional de Controle da Tuberculose

PS – Posto de Saúde

PSF – Programa Saúde da Família

SUS – Sistema Único de Saúde

SIDA - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SMS-RJ – Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro

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TB - Tuberculose

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TDO - Tratamento Diretamente Observado

TS – Tratamento Supervisionado

UACPS – Unidade de Atenção e Cuidados Primários de Saúde

UBS – Unidade Básica de Saúde

UPA – Unidade de Pronto Atendimento

USF - Unidades de Saúde da Família

ZT – Zona de Trabalho

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1. INTRODUÇÃO

O interesse em realizar esta pesquisa surgiu a partir da minha trajetória como enfermeira

da Unidade de Atenção e Cuidados Primários de Saúde (UACPS) Dr. Albert Sabin, onde fiz

parte da equipe de funcionários a partir de 2001, onde tive a oportunidade de acompanhar a

implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde na Rocinha o PACS-Rocinha em

2003 e pude participar da transição para 100% de cobertura de saúde da família neste bairro em

2010. Antes de 2010, esta unidade era a única instituição pública de saúde no bairro da Rocinha,

que não possuía equipe da saúde da família, mas que desenvolvia várias ações pertinentes à

Estratégia Saúde da Família (ESF). Apesar de apresentar algumas limitações estruturais, esta

unidade realizava o primeiro atendimento ao sintomático respiratório1, que era encaminhado ao

Centro Municipal Saúde (CMS) Píndaro de Carvalho Rodrigues, na Gávea, para a confirmação

do diagnóstico de tuberculose (TB), tratamento e acompanhamento, caso fosse necessário.

A partir de 2003 as ações de controle da TB se intensificaram neste bairro, quando a

Rocinha foi selecionada como sede para execução do estudo piloto do Tratamento Diretamente

Observado - TDO2 comunitário através do PACS-Rocinha. Desde então meu interesse em

relação às ações de controle da TB aumentou, principalmente a partir da mudança do modelo

de atenção à saúde no território do bairro da Rocinha em 2010, com a inauguração de duas

Unidades de Saúde da Família (USF). No período do final do ano de 2009 a meados de 2010,

participei do processo de transição das unidades Posto de Saúde (PS) Dr. Albert Sabin3 e PACS-

Rocinha para 25 equipes de saúde da família, com a preocupação de que em cada equipe

permanecesse, pelo menos, um Agente Comunitário de Saúde (ACS), para que desta forma

trouxesse a expertise do TDO comunitário para o processo de trabalho da ESF.

Na busca de garantir a continuidade do trabalho desenvolvido com a população da

Rocinha, em 2010 assumi o cargo de gerente técnico da Clínica da Família (CF) Rinaldo de

Lamare. Em setembro de 2011, iniciei minhas atividades na Coordenação de Saúde da Família

da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ), onde permaneci até janeiro de

2013. Pude portanto, acompanhar o processo de expansão da Estratégia Saúde da Família no

bairro da Rocinha e no Município do Rio de Janeiro, respectivamente, o que aguçou o meu

desejo pela realização do presente estudo.

1 Sintomático respiratório: pessoa com tosse por tempo igual ou superior a três semanas (BRSIL 2011ª, p.37). 2O TDO é um dos componentes da estratégia Directly Observed Treatment Short-course (DOTS) proposta pela Organização Mundial de

Saúde – OMS para controle da TB. 3 Mudança de nome da Unidade UACPS para PS que ocorreu em 2004.

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Então, a partir desta experiência profissional, do vínculo não desfeito com a população

da Rocinha e do meu compromisso pessoal em contribuir para a melhoria da atenção à saúde

aos usuários dos serviços de saúde deste bairro, decidi ingressar no mestrado acadêmico da

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - ENSP/Fiocruz para que pudesse, através da

construção do conhecimento a partir de uma prática de saúde, compreender as práticas de

cuidado do Tratamento Diretamente Observado (TDO) da Tuberculose (TB) na ESF na Rocinha

considerando a visão dos sujeitos envolvidos e assim pontuar seus limites e potencialidades,

principalmente pelo histórico deste agravo à saúde neste território.

A tuberculose é uma doença infecto-contagiosa, causada pelo bacilo de Koch4 ou

Mycobacterium tuberculosis, cuja localização mais frequente são os pulmões. Sua transmissão

é feita por via aerógena através da eliminação dos bacilos no ar. Após a infecção, entre 5% e

10% destes indivíduos apresentam formas evolutivas da TB e os demais permanecem

assintomáticos (KIRITSKI & SOUZA, 1998).

A TB apresenta determinados mecanismos de transmissão e o seu contágio está

relacionado ao contato entre uma pessoa infectada e uma suscetível. Este momento, da

produção das novas infecções, está relacionado diretamente com a taxa de contato social, que é

elevada pela densidade populacional, pela aglomeração dos espaços confinados e pela

circulação nos espaços urbanos. Dentre os indivíduos infectados, apenas uma parcela

desenvolverá a doença, e assim poderá ser uma fonte de transmissão. Entretanto, em virtude da

complexa relação entre o bacilo e o hospedeiro humano, o bacilo pode ficar latente por anos ou

décadas (SABROZA, 2001).

Os doentes, cuja baciloscopia5 do escarro é positiva, são a principal fonte de infecção

da doença. Duas importantes medidas para interromper a cadeia de transmissão da TB é a

descoberta precoce, através da busca ativa do sintomático respiratório, e o tratamento correto

do indivíduo contaminado. Cabe lembrar que cerca de 90% dos casos de tuberculose no Brasil,

são da forma pulmonar e destes, 60% são bacilíferos, ou seja, transmitem o bacilo de Koch

(BRASIL, 2011 b).

Com o advento da AIDS ou SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), a TB é

a doença que mais mata no mundo entre os portadores de HIV/AIDS, com 4.500 mortes por dia

ou 1,6 milhões de mortes por ano, o que vem contribuindo negativamente para o controle da

tuberculose em todo o mundo (WHO, 2009). Estimava-se que 10% das pessoas que viviam com

4 Bactéria descoberta por Robert Koch, em 1882. 5 “A baciloscopia direta do escarro é o método principal no diagnóstico da tuberculose pulmonar por permitir a descoberta das fontes de

infecção, ou seja, os casos bacilíferos” ( BRASIL, 2011b, p. 43 ).

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TB fossem HIV-positivas e que aproximadamente 20% das pessoas portadoras de HIV e AIDS

desenvolviam tuberculose pulmonar. A existência de ambas as doenças aumenta

consideravelmente o risco de morte desses portadores. (BRASIL, 2005). Em 2012 no Brasil,

53,3% dos casos novos de TB diagnosticados realizaram o teste anti-HIV e neste mesmo

período o percentual de coinfecção TB-HIV foi de 9,7% (BRASIL, 2013). Frente a necessidade

de ampliar o acesso da população ao diagnostico da infecção pelo HIV, é preconizada a

solicitação imediata do teste anti-HIV aos usuários com o diagnóstico de TB confirmado. O

diagnóstico laboratorial da infecção pelo vírus HIV pode ser realizado pelos ensaios

denominados Elisa, imunofluorescencia indireta, imunoblot, western blot e mais recentemente,

a partir de julho de 2005, por meio da realização dos testes rápidos (BRASIL, 2011a).

Para Sabroza (2001), a tuberculose possui uma perspectiva de dupla polaridade, onde a

coinfecção com os vírus da AIDS alcança diferentes grupos integrados além desta doença se

encontrar vinculada à miséria e ser mais prevalente entre os excluídos. Esta questão também é

apontada pelo Ministério da Saúde (2012), que reconhece a pobreza como condição que

colabora para a aquisição, adoecimento e disseminação da tuberculose. Esta é uma

vulnerabilidade que exerce influencia durante todo o tratamento do paciente portador de

tuberculose, o que indica que apenas as ações de saúde não são suficientes para o êxito do

tratamento.

Nesta mesma perspectiva, Neto (2011) aponta, a partir da experiência de Vila do

Rosário6, que a tuberculose não pode ser combatida apenas através do tratamento da doença,

mas a estratégia de controle deve englobar o combate à miséria. Desta forma, este autor (2011,

p.15) sugere a “tuberculose da miséria” como sendo a “categoria social da tuberculose”,

elemento relevante a ser considerado para a eliminação do agravo.

Apesar da TB ser uma doença tratável e curável, sua produção depende de diversos

fatores que estão associados a questões biológicas e a questões socioambientais e de condições

de vida. Neste sentido Fasca (2008), refere que nos centros urbanos os grupos mais vulneráveis

e os excluídos são os que estão mais propensos a contrair a infecção e a desenvolver a

tuberculose, o que está intimamente relacionado às condições de vida a que estão submetidos.

A TB enquanto uma das doenças infecciosas mais antigas e conhecidas mantém-se

como um dos agravos relevantes não só em âmbito nacional como também internacional

(BARREIRA & GRANGEIRO, 2007). A TB tem sido considerada um agravo emergente ou

reemergente em alguns países europeus e até nos Estados Unidos da América, entretanto no z

6 Vila do Rosário é um sub-bairro do Município de Duque de Caxias (RJ) onde foram desenvolvidas ações de combate à TB pela Sociedade

QTROP-FAP (Química Fina para Combate a Doenças Tropicais em parceria com a Fundação Ataupho de Paiva).

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é caracterizada por Ruffino-Netto (2002) como “um problema presente e ficante há longo

tempo” (p.51).

A partir do aumento considerável do número de casos de TB no mundo, em 1993 a

Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou este agravo como uma urgência e propôs a

estratégia DOTS (Directly Observed Treatment Short-course) para seu controle, cujas metas

eram alcançar 85% de casos tratados e 70% de detecção de casos (WHO, 2012).

O Brasil é um dos 22 países, priorizados pela OMS, onde se concentram 80% de todos

os casos de TB no mundo. A taxa de incidência da TB no Brasil, em 2011, foi de 36,0/100.000

habitantes (BRASIL, 2012). Neste mesmo período o estado do Rio de Janeiro apresentou uma

taxa de incidência de 72,3/100.000 habitantes representando uma das maiores taxas de

incidência do país (RIO DE JANEIRO, 2013). A capital do estado do Rio (região metropolitana

I, conforme divisão politico-administrativa), em 2011 apresentou 50% dos casos registrados no

estado com uma taxa de incidência de 89,0/100.000 habitantes, o que atribuiu ao município do

Rio de Janeiro a 6ª posição entre as capitais do país e a 3ª entre os municípios do estado. Neste

município estão concentradas comunidades cujas condições de vida da população são precárias

e com grandes aglomerações, entre elas o Complexo do Alemão e Maré, Jacarezinho e a

Rocinha, comunidade esta onde a incidência é de 386/100.000 habitantes (RIO DE JANEIRO,

2013).

O Ministério da Saúde (MS), em 1996, lançou o Plano Emergencial para o Controle da

Tuberculose (BRASIL, 2004) que recomendava, entre outras questões, a implantação do

tratamento diretamente observado. No processo de descentralização do Programa de Controle

da Tuberculose (PCT) para os municípios brasileiros, algumas dificuldades ocorreram e o

acompanhamento do portador de TB se manteve em muitos ambulatórios especializados, o que

retardou a expansão das ações de controle da TB para a rede básica de atenção à saúde

(RUFFINO-NETTO & VILLA, 2006).

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) foi criado no Brasil, no ano

de 1998, quando a TB foi definida como prioridade entre as políticas governamentais de saúde

e a partir deste momento a estratégia DOTS começou a ser implantada gradativamente nos

municípios brasileiros (RUFFINO-NETTO & VILLA, 2006). Neste sentido iniciou-se uma

tentativa de reorganização do controle da TB através de ações descentralizadas para os estados

e municípios que avançaram com a implementação da estratégia DOTS pelo MS.

Ao seguir as recomendações da OMS, o Ministério da Saúde, em 2003, adotou algumas

medidas importantes para o controle da endemia da TB no país, entre elas a adoção de todos os

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elementos da estratégia do Stop TB7, principalmente o TDO, enquanto um dos componentes da

estratégia DOTS (BRASIL, 2011 a). Desde então, a estratégia DOTS permanece com uma das

prioridades para o PNCT, cujo objetivo é atingir a meta de cura de 85% dos doentes e diminuir

a taxa de abandono para menos de 5%.

A Estratégia DOTS e Tratamento Diretamente Observado (TDO)

A estratégia DOTS pode ser entendida como um conjunto de boas práticas para o

controle da TB e apresenta os seguintes componentes: compromisso político com

fortalecimento de recursos humanos e garantia de recursos financeiros, elaboração de planos de

ação e mobilização social; diagnóstico de casos por meio de exames bacteriológicos de

qualidade; tratamento padronizado com a supervisão da tomada da medicação e apoio ao

paciente; fornecimento e gestão eficaz de medicamentos e sistema de monitoramento e

avaliação ágil que possibilite o monitoramento dos casos, desde a notificação até o

encerramento (WHO, 2009 apud BRASIL, 2011 a).

Ao seguir o processo de descentralização das ações de controle da TB para os estados e

municípios, a implantação do DOTS no município do Rio de Janeiro, teve início em 1999

quando a tuberculose foi considerada uma prioridade dentro da Secretaria Municipal de Saúde.

A equipe do Programa de Controle da Tuberculose considerou características do território e a

situação epidemiológica no município para organização dos serviços de saúde e implementação

da estratégia DOTS. Este processo foi gradual e se iniciou através de uma experiência piloto na

Área de Planejamento (AP) 1.0, sendo expandida em seguida, para a AP 5.1 e para a AP 4.0

(RUFFINO-NETTO & VILLA, 2006).

Nestas primeiras experiências de implantação do DOTS no município do Rio foram

identificados alguns fatores limitantes como a carência de recursos humanos nas unidades de

saúde para a realização do tratamento supervisionado e os custos com vale-transporte e refeição

que eram oferecidos aos usuários com TB em tratamento. Na busca por minimizar estes limites,

a Gerência do Programa de Controle da Tuberculose do município adotou um modelo “misto”

de supervisão. Neste novo modelo a tomada do medicamento era realizada tanto na unidade de

saúde como no domicílio deste usuário com TB. Com essas mudanças incorporadas, em 2002

o TDO chegou à Área de Planejamento (AP) 2.1, zona sul do município (RUFFINO-NETTO

& VILLA, 2006).

7 Em 2006, a estratégia Stop-TB/OMS é lançada visando ao alcance das metas globais (WHO, 2009). Esta estratégia apresenta seis componentes, sendo que a estratégia DOTS continua sendo central (BRASIL, 2011a).

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19

O tratamento padronizado com a supervisão da tomada da medicação e apoio ao

paciente, denominado tratamento diretamente observado (TDO), representa uma mudança na

forma de administração dos medicamentos do tratamento da tuberculose no mundo. Uma das

justificativas da adoção dessa estratégia no Brasil ocorreu em virtude da taxa de cura no país

que se encontra inferior a 85% e a taxa de abandono que é superior a 5% (BRASIL, 2011a)

O componente “tratamento padronizado com a supervisão da tomada de medicação e

apoio ao paciente” tem como foco a observação direta da tomada da medicação anti-TB. O

objetivo principal deste componente é a adesão do paciente ao tratamento e redução dos casos

de abandono e como consequência a prevenção do surgimento de cepas resistentes às

medicações e assim o aumento das chances de cura (BRASIL, 2011 a).

O TDO apresenta quatro modalidades de supervisão: a domiciliar onde ocorre a

observação realizada na residência do usuário ou em local por ele solicitado; na unidade de

saúde onde a observação é realizada em unidades de estratégia de saúde da família, unidades

básicas de saúde; no serviço de atendimento de HIV/AIDS ou hospitais e na unidade prisional

onde a observação ocorre no sistema prisional e a compartilhada, quando o doente recebe a

consulta médica em uma unidade de saúde e faz o TDO em outra unidade de saúde, mais

próxima em relação ao seu domicílio ou trabalho (BRASIL, 2011a).

De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de

Janeiro – SES (2013), o TDO foi realizado em 33,7% dos casos de tuberculose do estado do

Rio de Janeiro registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) em

2011 e a região metropolitana I, onde está inserido o município do Rio de Janeiro, o TDO foi

realizado em 35,3% dos casos de TB. No entanto, cabe ressaltar que este dado ainda é pouco

alimentado pelos municípios.

No contexto da implantação deste modelo misto do TDO nos Centros Municipais de

Saúde da AP 2.1 em 2003, o PACS-Rocinha iniciou suas atividades com o objetivo do controle

da TB no bairro da Rocinha. Esta primeira experiência com os Agentes Comunitários de Saúde

(ACS) foi objeto do estudo comparativo sobre dois modelos de DOT (Directly Observed

Treatment) (CAVALCANTE, 2007). Os resultados deste estudo apontaram que o modelo do

DOT ou TDO (em português) realizado na comunidade, a partir da integração da estratégia

DOTS com o PSF/PACS, contribuiu de forma significativa para a melhoria dos resultados de

tratamento da TB na comunidade da Rocinha. Neste estudo houve comparação dos modelos do

DOT baseado na comunidade com o DOT baseado na clínica e demonstrou que o sucesso do

tratamento (cura e conclusão) no DOT baseado na comunidade foi de 90,4% contra 78,2% do

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baseado na clínica. Neste mesmo sentido, a taxa de abandono foi de 4,7% no DOT realizado

pelo PACS-Rocinha, enquanto no outro modelo esta taxa foi de 12,7%.

Cabe destacar que o processo de trabalho do PACS engloba, entre outras atribuições, o

conhecimento do território onde o usuário vive e a visita domiciliar. Estes dois elementos

proporcionam aos profissionais de saúde uma aproximação com o domicílio, com a família e

com modo de vida do usuário. Nesta perspectiva, os profissionais que fazem parte da ESF tem

a chance de realizar mais do que a observação da tomada da medicação anti-TB, eles têm a

oportunidade de realizar um cuidado integral ao usuário e á sua família.

A relação e a integração dos profissionais de saúde com os usuários da ESF são

requisitos necessários para a realização do cuidado. Neste sentido, Acioli (2006) afirma que é

fundamental que nas práticas desenvolvidas pelos profissionais de saúde esteja incorporado o

conceito de que os sujeitos trazem o seu saber, os seus pensamentos e também os seus sonhos.

Desta forma, as práticas de cuidado que são construídas entre estes sujeitos, recebem um

significado a partir do contexto onde estão inseridos, o que deve promover a aproximação dos

que cuidam que do são cuidados.

Neste sentido, focalizamos as práticas de cuidado relacionadas ao TDO da TB

desenvolvidas em uma Unidade de Saúde da Família pelos profissionais, junto aos usuários

portadores de tuberculose e de suas famílias. A partir destas práticas poderemos identificar

limites e potencialidades na busca de contribuir para a qualificação do cuidado prestado a estes

sujeitos.

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1.1 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A tuberculose ainda se apresenta enquanto grave problema de saúde pública, sendo a

segunda causa de morte por doenças infecciosas no mundo. Conforme preconizado pela OMS,

no Brasil, incluindo o município do Rio de Janeiro, o tratamento da TB pode ser realizado

através tanto da forma auto administrada como também do TDO. Esta forma de administrar os

medicamentos não altera o esquema terapêutico e o usuário pode, teoricamente, ser

acompanhado desde o início até a cura. Conforme o acordo entre o usuário e o profissional de

saúde, o TDO pode ser realizado no serviço de saúde ou no domicílio. (BRASIL, 2011 b).

Para Raviglione & Uplekar (2006; DE COCK & CHAISSON, 1999 apud

CAVALCANTE, 2007), a estratégia DOTS contribuiu de forma significativa para o controle

da TB mundialmente, entretanto os números referentes ao controle deste agravo indicam que a

execução isolada desta estratégia é ineficiente para se alcançar metas do Milênio para 2015,

principalmente nos países em desenvolvimento e no contexto da infecção do HIV.

No município do Rio de Janeiro, a partir de 1999, o programa de controle da TB,

seguindo as diretrizes do PNCT, desejava iniciar a implementação da estratégia DOTS em áreas

piloto no município e em seguida ampliaria para o restante do território. Este processo de

expansão apenas se concretizou a partir do terceiro trimestre de 2002, já que apenas 16% da

população tinha acesso ao DOTS ou DOT até aquele momento (SOARES et al, 2013). Após

algumas experiências em outras AP e a necessidade de alguns ajustes no modelo do DOTS

implantado neste município, foi criado em 2003 o PACS- Rocinha, na AP 2.1, que assumiu,

enquanto ações a serem desenvolvidas, exclusivamente o TDO para o controle da tuberculose.

Este modelo conseguiu superar a taxa de cura de 85% na Rocinha (CAVALCANTE, 2007) e

vigorou até 2010, quando se iniciou o processo de implantação da ESF neste bairro. Em 2013,

o bairro apresenta 100% de cobertura da ESF e possui 25 equipes de saúde compostas por

médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, ACS e agentes de vigilância em saúde.

No estudo retrospectivo realizado por Soares et al (2013) no município do Rio de

Janeiro, no período de 01/01/2000 à 30/12/2001, foram comparadas as taxa de sucesso do

tratamento da TB nos usuários que se encontravam em DOT e dos usuários em tratamento auto

administrado (AA). Uma das conclusões a que este estudo chegou foi da eficácia e viabilidade

do TDO num centro urbano de grande porte, como o Rio de Janeiro. Na seleção dos sujeitos do

estudo, foi observado que entre os usuários que se encontravam em tratamento AA, os

principais motivos que os fizeram recusar o DOT foram os horários incompatíveis do trabalho

com o funcionamento da unidade onde o DOT seria realizado e as dificuldades em comparecer

à unidade de saúde diariamente devido à idade. Questões sociais e a violência urbana foram

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outros limites identificados na execução do DOT, pois alguns usuários em DOT não

conseguiram concluir o tratamento supervisionado pela impossibilidade de deslocamento para

a unidade de saúde.

Enquanto potencialidades desta estratégia, a tomada regular da medicação anti-TB foi

sugerida a partir da constatação do crescimento substancial dos resultados negativos das

baciloscopias de escarro de controle dos usuários em TDO. Da mesma forma, a melhoria nos

cuidados prestados aos usuários em DOT de TB também foi indicada a partir do aumento de

baciloscopias realizadas durante o tratamento. Numa perspectiva mais ampla, estes autores

concluíram que a adoção da estratégia DOTS contribui de forma significativa para a melhoria

do programa de controle da tuberculose do município do Rio de Janeiro.

No contexto da implantação da ESF enquanto novo modelo de reorientação da Atenção

Primária á Saúde (APS) no município do Rio de Janeiro e em virtude da experiência da

estratégia DOTS no PACS – Rocinha no controle da TB, o presente estudo se justifica pela

necessidade de conhecer a visão dos usuários portadores de TB e seus familiares quanto às

práticas de cuidado realizadas pelos profissionais de saúde responsáveis por seus

acompanhamentos e a visão destes profissionais de saúde na realização das práticas de cuidado

no controle da tuberculose.

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1.2 PRESSUPOSTOS

Diante do exposto, o estudo partiu dos seguintes pressupostos:

(1) O primeiro é de que, apesar dos avanços, as ações preconizadas pelo PCT para o

controle da TB, principalmente o TDO, ainda se encontram centradas nos determinantes

biológicos, baseando assim as práticas de cuidado no fornecimento das medicações e na

supervisão da tomada dos mesmos.

(2) Segundo que a ESF, enquanto modelo de reorientação de Atenção à Saúde na APS,

traz elementos em suas atribuições, que podem contribuir de forma positiva para o cuidado

integral ao usuário portador de TB, mas que necessitam ser potencializadas.

(3) Em terceiro e por último que as práticas de cuidado no TDO nos serviços de saúde

da ESF para o controle da TB ainda não estão organizadas suficientemente para contemplar as

reais necessidades dos usuários e familiares que compartilham de contexto social adverso onde

residem. Bem como os limites dos profissionais de saúde, no que se refere às práticas de cuidado

do TDO da TB, com relação ao entendimento do TDO enquanto a principal forma de cuidado

ao usuário portador de TB.

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1.3 PERGUNTAS DO ESTUDO

a) Como são as práticas de cuidado no TDO da TB em uma unidade de saúde da família na

Rocinha a partir das recomendações previstas nas normativas do PNCT e em outros documentos

oficiais?

b) Quais são os limites e as potencialidades das práticas de cuidado do TDO da TB em uma

unidade de saúde da família na Rocinha ?

c) Como são as práticas de cuidado no TDO da TB realizadas uma unidade de saúde da família

na Rocinha, na visão dos seus profissionais de saúde, dos seus usuários portadores de TB e seus

familiares?

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2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Caracterizar as práticas de cuidado no TDO da TB na Estratégia Saúde da Família (ESF) no

Bairro da Rocinha no Município do Rio de Janeiro.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Descrever as práticas de cuidado no TDO da TB em uma Unidade de Saúde da Família

considerando o que está previsto nas normativas do PNCT e em outros documentos oficiais;

Descrever as práticas de cuidado no TDO da TB em uma Unidade de Saúde da Família a

partir da visão dos profissionais de saúde, dos usuários portadores de TB e seus familiares.

Identificar os limites e as potencialidades das práticas de cuidado no TDO da TB em uma

Unidade de Saúde da Família da Rocinha.

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3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DA ROCINHA

O bairro da Rocinha, localizado entre os bairros de São Conrado e da Gávea, iniciou no

século XVIII, a partir da fazenda Quebra Cangalha e a Companhia Imobiliária Castro de

Guidon, nos anos de 1925 e 1926 loteou as terras desta fazenda. Em meados de 1930, o único

acesso, hoje denominado Estrada da Gávea, foi pavimentado e recebeu energia elétrica. Até

meados dos anos 50, a Rocinha acompanhou o desenvolvimento dos bairros vizinhos, como

Leblon e Ipanema. O aumento expressivo da população em virtude do aumento de emprego na

construção civil, bem como, a migração do Nordeste e do interior do Estado do Rio de Janeiro,

se tornando a maior favela do Rio de Janeiro. O aumento desta população foi acompanhado por

vários serviços, comércio e instituições e os barracos de madeira foram substituídos

gradativamente por casas de alvenaria a partir das sobras do material de construção dos

condomínios de São Conrado e Barra da Tijuca (RIO DE JANEIRO, 2012).

Entre as décadas de 70 a 90, foram conquistadas as poucas instituições públicas neste

território e o movimento comunitário começou a apresentar outra conformação, quando houve

uma crescente incorporação das lideranças locais por partidos políticos, aumento do poder

paralelo8 em determinados espaços como a Associação de Moradores e o aumento das

Organizações Não-Governamentais que “buscavam ser interlocutoras dos pobres e favelados”

(RIO DE JANEIRO, 2012 p. 36). Em março de 1980, a partir das reivindicações dos moradores

e lideranças comunitárias, foi inaugurada a UACPS Dr. Albert Sabin e criada em 1986, a XXVII

Região Administrativa na Rocinha. Em 1993, a Rocinha foi instituída Bairro pela Prefeitura do

Rio de Janeiro.

Em 2004, quando conflitos internos na Rocinha interferiram no restante da rotina da

cidade do Rio de Janeiro, iniciou-se outra configuração. As lideranças comunitárias, junto com

as Associações de Moradores dos bairros de São Conrado e da Gávea passaram a se reunir e

contaram também com o Vice-Governador Luiz Paulo Conde. Este processo então deu origem

ao Plano Setorial da Rocinha, onde as principais reinvindicações eram a de ampliação do posto

de saúde, áreas de lazer, saneamento, espaço cultural, urbanização, segurança, mais escolas

entre outras. Em 2005 o projeto do arquiteto Luiz Carlos de Menezes Toledo, cuja equipe era

composta por muitos moradores da Rocinha, foi vencedor do concurso para a urbanização da

Rocinha. Em 2006, que era um período eleitoral, o candidato ao governo do Estado do Rio de

Janeiro, Sr. Sérgio Cabral se comprometeu a dar continuidade ao Projeto de urbanização deste

8 “Poder Paralelo”: expressão utilizada na publicação para referência da bandidagem do bairro.

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bairro com sua vitória teve início a história do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

no bairro da Rocinha (RIO DE JANEIRO, 2012).

Com o início do trabalho da equipe do projeto de urbanização, se iniciou o “processo de

planejamento consistente junto à sociedade” com a realização de reuniões da comunidade com

uma Equipe de Levantamento. Assim começaram a serem mapeados os becos e construções, a

posição das valas e dos túneis. Essas informações foram agregadas à base de dados de outras

organizações que atuavam na Rocinha, como a Fundação Bento Rubião e a Fiocruz, que

tratavam das fundiárias e sanitárias. Nesta perspectiva sanitária, a Fundação Oswaldo Cruz em

parceria com o Posto de Saúde Dr. Albert Sabin elaborou uma pesquisa sobre a incidência dos

casos de tuberculose na Rocinha e este estudo apontou que a rua quatro, localizada no sub-

bairro da Cidade Nova, era a região de maior gravidade (RIO DE JANEIRO, 2012).

No Grupo Temático sobre a Saúde, promovido pelo Trabalho Social do PAC, foram

discutidas as questões relativas a oferta, ao acesso e a qualidade dos serviços de saúde no bairro,

que ainda apresentavam entraves como a estrutura física precária e a escassa oferta de

especialidades médicas que não conseguiam atender á demanda da população local. Entre os

equipamentos de saúde que foram construídos pelo PAC está a Clínica da Família Maria do

Socorro Silva de Souza (figura 1), enquanto serviço da atenção básica de saúde (RIO DE

JANEIRO, 2012).

Figura 1: Entrada da CF Mara do Socorro no CIAS.

Fonte: Acervo fotográfico da CMS Dr Albert Sabin, 2010.

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A Rocinha é uma Região Administrativa desde 1986 e um bairro desde 1993 e é

composta por 20 sub-bairros (figura 2), com nomes conforme a tradição local. De acordo com

o Censo 2010 do IBGE, este bairro tem uma área de 847.629 m², uma população de 69.161

habitantes, distribuídos em 24.491 domicílios, resultando em 2,80 pessoas por domicílios e uma

densidade demográfica de 815,9 habitantes/hectare (considerando 10000m² = 1 hectare) que é

alta comparada ao da Cidade que é 110,7 habitantes/hectare (INAE, 2013).

Figura 2. Mapa do território da Rocinha com a divisão dos sub-bairros.

Fonte: CIESPI -Cartografia da Rocinha. Mapa Espaços Abertos.

Conforme mencionado, 89% dos domicílios são de alvenaria, porém ainda são

encontrados barracos de madeira com péssimas condições de habitação, principalmente no sub-

bairro Macega, que apresenta 20% dos domicílios nestas condições. Observa-se uma vasta

verticalização dos imóveis causada pelo adensamento populacional, com grande extensão

territorial e a falta de áreas livres. Esta verticalização teve como consequências a carência de

espaço, de iluminação e ventilação natural (RIO DE JANEIRO, 2012).

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Outra característica é a dificuldade na mobilidade dentro da Rocinha, com acesso difícil

aos domicílios por conta do relevo, com becos, escadarias e ruelas onde não há passagem de

carros (RIO DE JANEIRO, 2012). A verticalização dos domicílios, a carência de espaço, de

iluminação e de ventilação natural são elementos geralmente presentes em aglomerados

subnormais, são considerados as maiores barreiras para a circulação de ar e chegada da luz

natural e luz solar entre as residências e contribuem para a formação de umidade, ou seja, são

os responsáveis a nível ambiental, pela propagação e manutenção da TB.

Ao considerar a cobertura de serviços urbanos de saneamento básico, como água e

esgoto, constatou-se que na Rocinha o déficit de esgotamento sanitário é maior que o de

abastecimento de água. Assim, do total de domicílios, 28 não têm banheiro ou sanitário e dos

23.347 domicílios em que os residentes declararam ter banheiro, 86% são adequados e em

13,9% os residentes declararam que não tinham acesso à rede geral ou a uma fossa séptica.

Quanto aos domicílios ligados à rede geral de água, 98,7% dos residentes dos domicílios

declararam ter um abastecimento adequado de água (INAE, 2013). O Censo de 2010 também

indicou a necessidade de expansão da oferta dos serviços de água, esgoto, iluminação pública,

energia elétrica e coleta de lixo domiciliar. Foram identificadas valas negras abertas e ligações

clandestinas no sistema de esgoto. O lixo foi citado como um dos grandes problemas da

Rocinha, e a tuberculose como uma das doenças infecciosas com alto índice (RIO DE

JANEIRO, 2012), preocupação que foi retratada em um cartaz na figura 3.

Figura 3. Foto do cartaz da TB – Estrada da Gávea, abaixo da Rua 02.

Fonte: Acervo fotográfico da CMS Dr Albert Sabin, 2010.

Quanto à coleta de lixo, do total de domicílios permanentes, em 98,2% os residentes

declararam ter tipo de destino do lixo adequado, o que foi considerado coleta realizada pelo

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serviço de coleta porta a porta ou fazendo o uso de caçambas colocadas pela Comlurb (INAE,

2013), como pode ser exemplificado na figura 4.

Figura 4. Estrada da Gávea, escadão da Rua 01.

Fonte: Acervo fotográfico da CMS Dr Albert Sabin, 2010.

3.1 Rede de Atenção à Tuberculose na Rocinha

A rede de atenção à saúde no bairro da Rocinha, que está inserido na Área de

Planejamento 2.1 do município do Rio de Janeiro, é composta por 05 unidades: CF Maria do

Socorro Silva e Souza, CAPS Maria do Socorro Santos, UPA Rocinha, o CF Rinaldo de Lamare

e o CMS Dr. Albert Sabin. As unidades Clínica da Família Maria do Socorro Silva e Souza, o

CAPS Maria do Socorro Santos e a (UPA) Rocinha, compõem o CIAS – Centro Integrado de

Atenção à Saúde que foi inaugurado em 08 de março de 2010.

O processo de implantação da ESF no bairro da rocinha iniciou em 2010, a partir do

trabalho realizado pelo PACS-Rocinha. A equipe do PACS-Rocinha que era composta por duas

enfermeiras e 40 ACS, cujo principal objetivo era reduzir a morbimortalidade por tuberculose

através da estratégia DOTS neste bairro. A equipe trabalhava com a lógica de divisão do

território em 15 zonas de trabalho (ZT), com 2 ou 3 ACS por ZT. Para implantação de 100%

de cobertura da Estratégia de Saúde da Família, foi utilizado o Censo Domiciliar do Trabalho

Social do PAC (2008/2009), que contabilizou 101.000 habitantes em 34.576 domicílios (RIO

DE JANEIRO, 2012, p. 25). A partir desta fonte, foram previstas 25 equipes de saúde da

família.

No bairro da Rocinha, estas 25 equipes de saúde da família, que foram alocadas em três

USF, realizam o Tratamento Diretamente Observado no domicílio e nas próprias unidades

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(TDO misto). As 25 equipes estão distribuídas da seguinte forma: CMS Dr Albert Sabin possui

06 equipes, CF Rinaldo de Lamare possui 08 equipes e a CF Maria do Socorro Silva e Souza

possui 11 equipes. Os profissionais de saúde que fazem parte destas equipes são: os Agentes

Comunitários de Saúde (06 por equipe), os Agentes de Vigilância em Saúde (01 por equipe), o

Enfermeiro (01 por equipe), o Médico (01 por equipe) e o Técnico de enfermagem (01 por

equipe). Cabe ressaltar que duas destas unidades têm médicos residentes em Saúde da Família

e Comunidade.

A partir do que é preconizado e da importância do entendimento da organização das

práticas de cuidado nas ações de controle da tuberculose no TDO e junto aos usuários e seus

familiares, neste estudo será descrito a dinâmica da organização do serviço para o TDO no CMS

Dr. Albert Sabin.

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4. REFERENCIAIS TEÓRICOS

4.1 A tuberculose na Atenção Primária à Saúde: a ESF e o TDO

A TB enquanto uma doença grave e transmissível é uma das principais causas de morte

no mundo, podendo atingir não qualquer pessoa, mas principalmente as que se encontram em

situações de vulnerabilidade como as que se encontram em condições precárias de vida

(FUNDO GLOBAL, 2010). Tendo como ponto de partida a visão da produção da TB e da sua

relação com as condições de vida dos indivíduos e seus contextos sociais, este agravo deve

valorizado pelos profissionais de saúde, principalmente os que trabalham na ESF, entendendo

a ESF enquanto modelo da reorientação da APS no Brasil. A APS deve ser a porta de entrada

do Sistema de Saúde, onde a maior parte dos problemas de saúde é resolvido, onde é oferecido

além do primeiro nível de cuidado outros cuidados mais abrangentes que são coordenados e

adequados ao longo do tempo e cujo foco e a base do planejamento são as famílias e a

comunidade em que estão inseridas (OPAS, 2007).

Em 2004 o PNCT incluiu no controle da TB a ESF no intuito de consolidar suas ações

na Atenção Básica9 e desta forma propôs algumas ações como capacitar os profissionais de

saúde da Atenção Básica nas ações de vigilância, prevenção, controle e ações assistenciais

adequadas para o diagnóstico e o tratamento da tuberculose e ampliar o TDO a todas as

Unidades de Saúde dos municípios prioritários do PNCT10. Na ESF as equipes de saúde da

família realizam ações de prevenção, promoção, recuperação, reabilitação e cuidados paliativos

na concepção da integralidade da assistência à saúde. Estas ações são direcionadas para a

unidade familiar, quando são considerados o contexto socioeconômico, cultural e

epidemiológico da comunidade onde a família está inserida (ANDRADE, BARRETO &

BEZERRA, 2009, p.804).

A implantação da Estratégia Saúde na Família se deu a partir de 1991 com a criação das

Equipes de Agente Comunitário de Saúde e ampliou-se em 1994 com as equipes de saúde da

família no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os profissionais de saúde que compõe

estas equipes, principalmente o ACS, apresentam a possiblidade de atuar diretamente nos

espaços comunitários e nos domicílios onde se encontram os doentes com TB e suas famílias

(BRASIL, 1997). Marcolino et al (2009), referem que a estratégia saúde da família vem sendo

evidenciada como estratégia reorganizadora do sistema de saúde e nesta direção, vem sendo

proposto que as equipes incorporem em suas atividades as ações de controle da tuberculose.

9 Neste estudo a terminologia Atenção Básica tem o mesmo sentido de Atenção Primária à Saúde, como ocorre na Política Nacional da

Atenção Básica ( BRASIL, 2012 a p. 22). 10 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ProgramaTB.pdf Acesso em 27 de setembro de 2013.

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A discussão da Atenção Primária à Saúde é reforçada pela Organização Pan Americana

de Saúde - OPAS/OMS no documento “Renovação da Atenção Primária em Saúde nas

Américas” (OPAS, 2007). Nesta publicação é apresentada uma nova visão no desenvolvimento

dos sistemas de saúde cuja base estaria na Atenção Primária à Saúde. A proposta é a

transformação dos sistemas de saúde, para que adotem a APS como seu fundamento.

Um sistema de saúde com base na APS deve ser capaz de responder às necessidades em

saúde da população e fomentar a “qualidade, responsabilidade governamental, justiça social,

sustentabilidade, participação e intersetorialidade (p.8). Este sistema precisa garantir a

cobertura universal, garantir a equidade e o acesso e aos serviços, além da oferta de amplos

cuidados, priorizando a prevenção e a promoção da saúde. As famílias e as comunidades se

apresentam como as bases deste planejamento e das ações em saúde. Estes princípios são como

uma ponte entre valores sociais mais amplos e os elementos estruturais e funcionais do sistema

de saúde. Ao desenvolver a capacidade de responder às necessidades de saúde das pessoas, o

sistema de saúde é centrado em pessoas e tenta atender suas necessidades da forma mais

abrangente possível.

Barbara Starfield em 2002 (p. 314) trouxe conceitos importantes para a redefinição da

APS:

”A atenção primária é o ponto de entrada para a atenção à saúde

individual, o locus da responsabilidade continuada pelos pacientes em

populações e o nível de atenção na melhor posição para interpretar os

problemas apresentados no contexto histórico e meio social do paciente.

Assim, a forma pela qual é formulada para prestar os serviços e de como

fazê-lo de forma adequada são componentes-chave de uma estratégia

para melhorar a efetividade e a equidade dos serviços de saúde.”

Neste sentido, Andrade, Barreto & Bezerra (2009) ressaltam a ESF como proposta para

o desenvolvimento de ações primárias em saúde para a ampliação do acesso aos serviços da

APS e como direção para superação das iniquidades de saúde.

Como exemplo de sucesso da descentralização das ações de controle da TB na ESF, um

estudo comparativo entre as ações do TDO comunitário (PACS-Rocinha) e as ações do TDO

em uma unidade básica de saúde sem ESF, foi realizado em parceria com a SMS-RJ, Fundação

Oswaldo Cruz e Universidade John Hopinks (USA), no período de janeiro de 2003 a dezembro

de 2004. Neste estudo foram comparados os resultados do DOT (TDO) administrados pelos

ACS em comunidade com os resultados do DOT baseados na clínica. A autora apontou o êxito

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do modelo de integração entre o TDO da TB e o Programa Saúde da Família - PSF/PACS,

numa favela urbana do Rio de Janeiro, a Rocinha. (CAVALCANTE, 2007).

A ESF parece contribuir para a descentralização das ações do PCT na Atenção Básica

e, a partir das suas atribuições e do seu processo de trabalho, possibilita desenvolver o TDO

também em domicílio, o que pode contribuir para o êxito do tratamento da TB. Neste sentido,

Sá et al (2012), reconhecem que a estratégia DOTS não pode ser resumida às ações de

observação da ingesta da medicação específica. É necessário que, além do preparo técnico dos

profissionais de saúde, estas equipes utilizem tecnologias leves na busca de uma atenção

integral e resolutiva, o que favorece o processo terapêutico e a construção de vínculo com o

paciente de tuberculose.

No entanto, o TDO enquanto um dos componentes da estratégia DOTS é considerado

uma das principais formas, além do diagnóstico precoce e tratamento, de controle da TB.

Alguns outros estudos, ao mesmo tempo que referem o TDO como uma estratégia

potencialmente relevante no controle deste agravo, também apontam alguns dos seus limites.

No estudo realizado no município de São Paulo, por Queiroz et al (2012), foram identificadas

pelos profissionais de saúde algumas potencialidades e alguns limites no tratamento

supervisionado da TB.

Entre as potencialidades foram apontados o apoio familiar, a atuação dos ACS e o

estabelecimento de vínculo com os usuários, o que possibilita conhecer a singularidade e as

necessidades de saúde do usuário. Já os usuários apontaram a melhora dos sinais e sintomas da

TB, o recebimento do lanche, a facilidade para o agendamento das consultas de

acompanhamento e o bom atendimento recebido nas unidades básicas de saúde. Dentre os

limites indicados, os profissionais de saúde referiram a falta de tempo e a quantidade

insuficiente de funcionários para a execução desta modalidade de tratamento, o fornecimento

irregular dos incentivos, como o vale alimentação e vale transporte, a dificuldade de conciliação

entre a equipe de supervisão do tratamento e o horário de trabalho do usuário, além do

despreparo e desmotivação dos próprios profissionais. Já os usuários referiram a questão de ter

que sair do trabalho para ir à unidade de saúde para a supervisão da tomada do medicamento e

a vergonha ou constrangimento em não parecer confiável diante do profissional de saúde para

ingerir a sua medicação sozinho.

No estudo de Silva et al (2007), realizado em uma USF na capital João Pessoa, os

enfermeiros foram os sujeitos entrevistados e destacaram duas potencialidades principais do

TDO: a descentralização do tratamento supervisionado para as unidades de saúde da família, o

que representou uma maior proximidade com o usuário e sua família e a integração da equipe

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de saúde no cuidado ao usuário, onde o ACS foi destacado como o elo entre a equipe, a

instituição e a família. Neste mesmo trabalho foram relatados obstáculos e fragilidades quanto

à execução do TDO. Entre as fragilidades foi apontada a dificuldade do profissional de saúde

que realiza o TDO em lidar não apenas com o problema etiológico da TB, mas com outros

elementos que influenciam a evolução da doença, como a situação familiar, as carências

pessoais, a dependência química, a miséria e o estigma da doença que o usuário vivencia,

principalmente quando o TDO ocorre no domicílio, pois desta forma há possibilidade da

comunidade ter ciência de que ele é portador desta doença e assim ser vítima de preconceito.

Nesses estudos, onde os sujeitos e os municípios eram distintos, foi possível reconhecer

semelhanças e diferenças tanto nos limites quanto nas potencialidades. Contudo o TDO foi

percebido de maneira diferente quando realizado na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou no

domicílio. No discurso dos sujeitos foi possível identificar a relação direta das questões

positivas ou negativas com o tipo do TDO e consequentemente com as práticas de cuidados que

são realizadas em cada uma das modalidades.

4.2 O Cuidado Integral na Atenção à Saúde e à Tuberculose

As práticas de saúde contemporâneas veem se deparando com limitações na busca de

dar respostas efetivas às complexas necessidades de saúde dos indivíduos e das populações

(Ayres, 2004). Enquanto alternativa para a organização das práticas de atenção à saúde no

Brasil, as propostas de humanização e integralidade no cuidado em saúde, têm sido apontadas

como estratégias para o enfrentamento desta crise.

Alguns autores do campo da saúde coletiva descrevem diferentes concepções de

integralidade do cuidado, ou cuidado integral à saúde e a apresentação destas proposições tem

por objetivo apoiar a discussão sobre o cuidado ao usuário portador de tuberculose em TDO a

partir de uma perspectiva crítica. Na análise conceitual da temática integralidade, Mattos

(2009), apresenta três conjuntos de sentidos: a integralidade como princípio orientador das

práticas dos profissionais de saúde, o sentido da integralidade que está relacionado à

organização do trabalho nos serviços de saúde e por último o sentido que está relacionado às

respostas governamentais a determinados problemas de saúde e/ou necessidades de grupos

populacionais específicos.

No primeiro sentido, a integralidade se apresenta enquanto “valor a ser sustentado e

defendido nas práticas dos profissionais de saúde” (p. 52) e que se expressa na forma como

estes profissionais respondem aos usuários que os procuram. Um exemplo apresentado pelo

autor foi a possibilidade dos profissionais médicos estarem dispostos a atender outras

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necessidades dos usuários que não tenham relação direta com alguma doença, como a

necessidade de conversar. Nesta perspectiva o autor refere que a “busca pela compreensão das

necessidades das ações e dos serviços de saúde apresentadas por um usuário seria uma

característica marcante da integralidade”. No sentido da percepção mais abrangente destas

necessidades, Mattos (2009) sugere que a integralidade pode ser concebida como uma das

dimensões das práticas e assim assume a forma do encontro entre o profissional de saúde e o

usuário, o que indica que a integralidade seja quase que na sua totalidade de responsabilidade

deste profissional e, consequentemente de suas posturas.

Nesta mesma direção, Cecilio (2009) refere que a integralidade da atenção (do cuidado)

necessita ser percebida a partir de duas dimensões, na qual a primeira é denominada

integralidade focalizada, que seria o resultado dos diversos saberes da equipe multiprofissional

de saúde, no encontro com o usuário nos espaços “concretos e singulares dos serviços de saúde”

(p. 119). O autor ressalta a importância de prevalecer, nesses encontros (profissional/equipe de

saúde com o usuário do serviço de saúde), o comprometimento pelos profissionais de saúde em

realizar a melhor escuta das necessidades de saúde. A abordagem dos sentidos da integralidade

nas práticas dos profissionais de saúde remete ao segundo conjunto dos sentidos que está

relacionado à organização do trabalho nos serviços de saúde. Neste, o princípio da integralidade

se refere a crítica da dissociação entre as práticas de saúde pública com as práticas assistenciais,

o que indica a necessidade da “horizontalização” dos programas de saúde. Assim as equipes de

saúde pensariam suas práticas a partir das populações que atendem e de suas necessidades,

evitando a inserção destes usuários em algum programa específico (MATTOS, 2009).

Esta questão traz para a discussão as tensões entre as demandas de consultas espontâneas

e as consultas programadas que respondem às necessidades dos usuários, mas que não são

percebidas por eles e denominadas por Mattos (2009, p.59) como as “necessidades apreendidas

epidemiologicamente”. Desta forma, a organização do processo de trabalho nos serviços de

saúde também aproveitaria os momentos gerados pela demanda espontânea, quando seriam

utilizados “os protocolos de diagnóstico precoce e identificação de situações de risco para a

saúde” (MATTOS, 2009, p. 59). Este autor traz para a reflexão o fato de que o serviço de saúde

não deve estar organizado apenas para melhorar os indicadores epidemiológicos de uma

população, o atendimento a demanda espontânea também deve fazer parte desta organização,

já que contribui, da mesma forma, para o conhecimento das necessidades da população. A

integralidade se apresenta enquanto “princípio da organização contínua do processo de trabalho

nos serviços de saúde”, onde são ampliadas as formas (demandas espontânea e programada)

pelas quais podem ser conhecidas e apreendidas as necessidades de um grupo populacional

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(MATTOS, 2009). Nesta mesma abordagem, Cecilio (2009) aponta como segunda dimensão

da integralidade, a integralidade ampliada. Esta seria o resultado da articulação dos diversos

serviços de saúde, que compõem uma rede mais complexa, que é complementar e deve dialogar

entre si. Na busca da garantia da integralidade do cuidado, a responsabilidade deve ser de todo

o sistema de saúde e não de esforços individuais dos usuários.

O terceiro conjunto de sentidos a que se refere Mattos (2009) está relacionado às

respostas governamentais a determinados problemas de saúde e/ou necessidades de grupos

populacionais específicos e para exemplificar este sentido da integralidade, utilizou-se o

Programa de Assistência à Saúde da Mulher (PAISM). Os avanços que este programa trouxe

para a integralidade para a atenção à saúde da mulher foram enormes, entretanto na perspectiva

da integralidade, limites foram identificados, principalmente pelo fato desta política ter

assumido a forma de um programa. Este tratou dos problemas de saúde da mulher referentes ao

útero gravídico e não-gravídico, às mamas e ao planejamento familiar, mas foram

negligenciados as questões do adoecimento da mulher cujas causas seriam de ordem cultural e

relacionadas ao gênero. Ainda neste conjunto de sentidos, o autor destaca o sentido da

integralidade nas questões voltadas às respostas governamentais através das políticas que

deveriam incorporar as ações voltadas à prevenção e as voltadas às ações assistenciais. Como

um exemplo positivo, Mattos (2009) cita o exemplo da resposta governamental à AIDS, pois

foi a que mais se aproximou do princípio da integralidade, já que foi conseguido atender tanto

as ações preventivas quanto as assistenciais. O governo assumiu o compromisso de distribuir

as medicações anti-retrovirais aos usuários com AIDS mas continuou com as práticas

preventivas.

Da mesma forma que os autores anteriormente citados, Ayres (2006, p.50), afirma que

para se transformar as práticas de saúde é preciso que os critérios biomédicos utilizados na

avaliação e validação das ações de saúde sejam entendidos de forma mais crítica, pois mesmo

compreendendo sua relevância neste processo, ainda são insuficientes. Assim, o autor aponta a

importância do cuidar nas práticas de saúde, onde ocorre “o desenvolvimento de atitudes e

espaços de genuíno encontro intersubjetivo e do exercício da sabedoria para a prática da saúde”

(AYRES 2006, p 56). Estas práticas devem ter as dimensões técnicas como base, mas não

podem se encerrar nelas, pois precisam estar interligadas às dimensões não-técnicas.

Assim, é apontada como uma condição básica das ações de saúde no sentido do cuidado

a capacidade de diálogo, que deve estar presente no momento do encontro entre os dois sujeitos:

os profissionais de saúde e os usuários. Esta capacidade de escuta e diálogo é relacionada por

Ayres (2006, p. 70) a um dispositivo presente nas propostas de humanização da saúde: o

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acolhimento. Este deve estar presente em todos os momentos onde usuários interagem com os

profissionais de saúde/ serviço de saúde. Além do acolhimento, outra questão é relatada pelo

autor e que se faz necessária na efetivação do cuidado e que se encontra intimamente

relacionado a “decisão de escutar”: a responsabilidade. Esta se torna relevante para o cuidado

em vários níveis, desde a construção do vínculo profissional/serviço – usuário até a gestão dos

serviços. Ao tomar a decisão de escutar o outro, o profissional de saúde assume a

responsabilidade de um cuidador, o que permite a ele fazer além do que é preconizado

tecnicamente.

Alguns destes aspectos da integralidade do cuidado também são abordados por Merhy

(2002, p.49), quando este se refere ao trabalho em saúde, o qual não pode ser apreendido na

lógica dos equipamentos e “saberes tecnológicos estruturados”, pois suas tecnologias de ação

operam como tecnologias de relações, de encontros e subjetividades. Estas tecnologias são

classificadas em: leves, que podem era exemplificadas pelas “tecnologia de relações do tipo de

produção de vínculo, autonomização, acolhimento...”, as leves-duras, “no caso de saberes bem

estruturados que operam no processo de trabalho em saúde” e as duras que seriam

“equipamentos tecnológicos, normas e estruturas organizacionais”.

Para este mesmo autor (2002, pp. 50-1), a tecnologia leve do trabalho vivo em ato na

saúde é efetivado através do:

“processo de produção de relações interseçoras em uma das suas

dimensões-chave, que é o seu encontro com o usuário final, que

representa em ultima instância, necessidades de saúde como sua

intencionalidade (...). É neste encontro do trabalho vivo em ato com o

usuário final, que se expressam alguns componentes vitais da

tecnologia leve do trabalho em saúde: as tecnologias articuladas à

produção dos processos interseçores, as das relações que se configuram,

p.ex., por meio das práticas de acolhimento, vínculo, autonomização,

entre outros.”

Da mesma forma que foram pontuados aspectos não-técnicos ou as tecnologias leves do

trabalho em saúde, os aspectos técnicos do cuidado ao usuário portador da TB, presentes na

Linhas de Cuidado da Tuberculose, não podem ser negligenciados. Na atenção ao usuário

portador de TB, o TDO enquanto aspecto técnico é considerado uma das principais formas de

cuidado na APS.

Dentro das Linhas de Cuidado da Tuberculose, o Ministério da Saúde (2011a) aponta o

Tratamento Diretamente Observado (TDO) como um elemento-chave, que compõe a estratégia

Direcly Observed Treatment Short Course (DOTS), cujo principal objetivo é a adesão do

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usuário portador de tuberculose (TB) ao tratamento (2011b). Outros objetivos relevantes do

TDO são reafirmados pelo MS (2011 a): melhorar a atenção ao doente por meio do acolhimento

humanizado; possibilitar a adesão, garantindo a cura; reduzir a taxa de abandono; reduzir a

mortalidade; reduzir o sofrimento humano, uma vez que se trata de uma doença transmissível

e de alto custo social e realizar uma educação em saúde mais efetiva, de forma individualizada

voltada para orientar e corresponsabilizar o indivíduo, a família e a comunidade nas ações de

saúde.

O PNCT preconiza que a observação da tomada da medicação seja diária, de segunda a

sexta-feira, podendo ser até três vezes, caso seja a necessidade do usuário. Para conclusão do

tratamento, cuja duração é de no mínimo 6 meses, a convenção é que o usuário tenha 24 tomadas

observadas na fase de ataque, ou seja, nos dois primeiros meses de tratamento e 48 tomadas

observadas na fase de manutenção que corresponde aos últimos 4 meses (2011b). De acordo

com o MS, a escolha da modalidade do TDO deve ser decidida entre a equipe de saúde e o

usuário portador de TB, a partir da realidade e da estrutura de atenção à saúde. A primeira opção

é a de que o TDO seja diário, de segunda a sexta-feira. No entanto, há uma segunda opção para

o usuário, quando o TDO é realizado três vezes por semana, se for a única possível, o que indica

uma adaptação do tratamento à realidade do usuário e da sua família. Na escolha desta

modalidade é preciso que seja explicada a necessidade da tomada diária, incluindo os dias em

que o tratamento não será observado. É relevante destacar que “nos casos em que o TDO não

for realizado por profissionais da equipe de saúde, não será considerado TDO para fins

operacionais (inclusive para fins de notificação no SINAN)” (BRASIL, 2011 b, p. 90).

Para realização do TDO enquanto parte da atenção integral ao usuário portador de

tuberculose, o MS (2011a, 2011b) aponta que este pode ser realizado tanto em domicílio quanto

na UBS e pressupõe uma determinada organização dos serviços de saúde e alguns

procedimentos padrões, os quais devem estar inseridos no processo de trabalho das equipes de

saúde. No que se refere a organização dos serviços, a unidade de saúde deve ser a mais próxima

da residência do usuário, o TDO deve ser disponibilizado ao usuário que for inscrito no

programa de controle da tuberculose, o fluxo para realização dos exames de escarros, anti-HIV

e os demais necessários devem ser viabilizados para o usuário. A medicação deve ser

administrada com o auxílio de um profissional de saúde que pode ser o enfermeiro, o técnico

de enfermagem e o agente comunitário de saúde, que deverá ser identificado e aceito pelo

usuário. Neste sentido, também é recomendado que dois profissionais se responsabilizem pelo

TDO, pois pode haver necessidade de licenças ou férias de um destes durante o tratamento. Se

houver necessidade de internação do usuário esta deve estar garantida, bem como a referência

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e contra referência para outra unidade de saúde. Deve haver também uma organização dos

registros e informações dos usuários que estão sob investigação ou tratamento para tuberculose

(BRASIL, 2011a).

Cabe destacar a necessidade da oferta ao usuário portador de TB do aconselhamento

para diagnóstico da infecção pelo HIV, prática que deve ocorrer nos diversos cenários onde o

usuário do SUS está inserido, mas é imprescindível no que se refere ao usuário portador de TB

em virtude da magnitude da coinfecção pelo HIV e o impacto no controle destes dois agravos

(BRASIL, 2011a).

Dentro do processo de trabalho das equipes de saúde alguns procedimentos específicos

são preconizados na execução do TDO (2011a). Quando este ocorre na UBS, o usuário portador

de TB deve ser acolhido em local previamente identificado e encaminhado para um local

ventilado e com privacidade, onde a tomada da medicação será observada pelo seu profissional

de referência. O usuário deve receber as medicações junto com água potável em um copo

descartável.

Em todas as visitas do usuário em tratamento na UBS ou do profissional ao seu

domicílio, além da observação da tomada das medicações, outras atividades são necessárias,

como os instrumentos de registro como a ficha de controle do TDO e o cartão de

acompanhamento do usuário que devem ser preenchidos. Em todos esses encontros, o

profissional de saúde que está realizando o TDO, deve questionar ao usuário se há ocorrência

de efeitos colaterais, se existe algum dúvida em relação a doença e ao próprio tratamento

confirmando sempre os nomes dos medicamentos, além de encorajá-lo a dar continuidade a

este tratamento. As marcações de consultas, médica ou de enfermagem, devem ser agendadas

previamente e comunicadas durante o TDO. Ao final deste encontro, o próximo dia do TDO

deve ser confirmado com o usuário, respeitando a sua necessidade e reforçando que o TDO

deve ser, de preferência, diário. (BRASIL, 2011a, 2011b).

Neste sentido, o MS (2011 b, p. 94) destaca que a clínica humanizada requer dos

profissionais de saúde uma avaliação constante dos próprios valores e do compromisso ético

com o usuário. “No decorrer do diagnóstico é preciso saber, além do que o sujeito apresenta de

singular, conhecer o conjunto de sinais e sintomas que nele se expressam, abrindo

possibilidades de intervenção para um tratamento mais adequado com a participação das

pessoas envolvidas” e assim o profissional de saúde se torne capaz de auxiliar os usuários a

cuidarem dos seus agravos e a se transformarem por meio desse cuidado.

O TDO é apresentado enquanto momento oportuno para conversar com o usuário

portador de TB sobre a sua doença, a forma de transmissão, duração do tratamento que ele está

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fazendo, a importância da regularidade na tomada do medicamento, as consequências do

abandono do tratamento, os medicamentos que estão sendo utilizados e os possíveis efeitos

adversos e o estímulo para o controle dos seus contatos. Desta forma o serviço de saúde, na

concepção do tratamento da TB, se adéqua às necessidades do usuário, apoiando-o,

estabelecendo a relação de vínculo, acolhimento e corresponsabilidade, que são elementos

fundamentais na busca da integralidade da assistência ao usuário portador de TB (BRASIL,

2011 b).

Assim, a busca pelo o cuidado integral ao usuário portador de TB requer conhecimentos

e procedimentos técnicos quanto à doença e ao tratamento, entretanto esta dimensão deve estar

integrada às questões não técnicas (AYRES, 2006) como a capacidade de escuta e de diálogo

dos profissionais de saúde e a responsabilidade do cuidado nas práticas de saúde.

A valorização apenas das questões técnicas no cuidado ao usuário portador de TB pode

conferir à realização do TDO um aspecto reducionista, onde apenas a supervisão da tomada da

medicação é entendida como relevante para o controle da TB. Considerando este aspecto, Silva

et al (2007) afirmam que mesmo entendendo o TDO como uma ação pontual, este faz parte do

processo de descentralização das ações de controle da tuberculose e neste sentido, espera-se

que as equipes de saúde da família incorporem, além da supervisão medicamentosa, as ações

de diagnóstico, acompanhamento do usuário, avaliação dos comunicantes e ações educativas

nos seus territórios.

Entretanto, não são apenas os profissionais de saúde os implicados na construção

reducionista do TDO na APS. Barreto et al (2012) apontam que também os gestores reduzem a

estratégia DOTS ao TDO, ao fornecimento da medicação e aos benefícios da cesta básica ou

do café da manhã nas USF. Esta prática conduz a uma fragilização do cuidado integral à pessoa

com tuberculose, reforçando a exclusão social e um modelo de atenção baseado nos aspectos

biomédico. A gestão tem um papel importante na construção e ordenação das estratégias que

incentivem o comprometimento dos profissionais de saúde na produção do cuidado dos

usuários que se encontram sob sua responsabilidade. Outro estudo que também abordou as

questões reducionistas do TDO foi o realizado por Muniz, Villa e Pedersolli (1999), onde foi

investigado a visão da equipe executora do tratamento supervisionado (TS), no município de

Ribeirão Preto. Assim, alguns profissionais se mostraram preocupados apenas com a

observação da ingesta medicamentosa, o que refletiu a redução do cuidado do usuário portador

de TB ao tratamento e cura da doença.

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4.3 O cuidado integral ao usuário portador de tuberculose no TDO na Estratégia de Saúde

da Família

Tendo em vista as concepções de integralidade assinaladas e alguns aspectos relevantes

na Linha de Cuidado da TB, principalmente no que se refere ao usuário portador de tuberculose

em TDO, a realização do cuidado integral a este usuário na ESF pode se efetivar de várias

maneiras.

Muniz, Villa e Pedersolli (1999), salientam em seu estudo, anteriormente citado, a

valorização do comparecimento do profissional ao domicílio do usuário, pois estes encontros

possibilitam o conhecimento da realidade do usuário e de sua condição de vida, além da

realização de outras atividades com sua família, como avaliação do estado vacinal e de outras

necessidades de saúde. Estes autores (1999, p.38) destacam discursos onde o “estar presente” e

“participar do cotidiano” são frequentes, fazem parte da construção de uma nova forma de

contato dos profissionais com os usuários e onde os executores do Tratamento Supervisionado

(TS) são responsabilizados por aquele cuidado, estabelecem vínculo e os acolhem. Neste

momento e espaço, as relações com os usuários e suas famílias se “tornam menos desiguais,

exigindo que o profissional adote uma nova postura em relação ao paciente, tais como ouvir,

conhecer, estar aberto ao diálogo” (MUNIZ, VILLA & PEDERSOLLI 1999 p.38).

As propostas de humanização e integralidade no cuidado em saúde, referidas por Ayres

(2005) apontam o Programa Saúde da Família (PSF) como uma nova estrutura que possibilita

as articulações intersetoriais e assim promove a entrada de novos elementos no âmbito da

assistência, de forma com que haja “sensibilidade para os aspectos socioculturais do processo

saúde-doença” (p.107). No entanto, o cuidado a que Ayres (2004; 2006) se refere e que deveria

estar presente nas ações da saúde pública, ainda se encontram incipientes quando se abordam

as questões relativas ao controle da TB.

As unidades de saúde da família também foram as apontadas por Vieira et al (2008)

como as unidades que possibilitam a aproximação entre o serviço/sistema de saúde com os

usuários/famílias/necessidades, o que direciona o processo de trabalho a partir do diálogo e da

construção do vínculo com os usuários (portadores de TB) e seus familiares com a equipe de

saúde. A partir deste contexto, seja no diagnóstico de situação ou no planejamento de ações e

monitoramento de processos, a busca por “respostas sanitárias”, num sentido amplo, requer

uma “abordagem sócio-sanitária”, no que tange o cuidado (AYRES, 2004, p. 27).

Alguns aspectos positivos do TDO realizados na EFS, foram destacados por Gonzales

et al (2008), que consideram que para a busca de um desempenho satisfatório do TDO no

domicílio seja necessário que as equipes de saúde tenham uma estrutura mínima e uma

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integração entre os responsáveis pelo controle da TB. Desta forma, as equipes que realizam o

TDO no domicílio, ao se depararem com questões sociais, culturais e econômicas, como o

desemprego e o alcoolismo da população atendida, necessariamente devem reorganizar suas

atividades e o planejamento de suas ações de acordo com estas características.

No sentido de conhecer as práticas de cuidado dos profissionais de saúde no TDO da

ESF, Sá et al (2012) investigaram a percepção das enfermeiras de equipe da ESF quanto ao

cuidado ao doente de tuberculose num município do estado da Paraíba. O estudo mostrou que

as ações de controle da TB não são feitas pela equipe, pois as ações de controle da TB ocorrem

de modo fragmentado. É o enfermeiro quem “dá a primeira atenção” ao doente, além de liderar

as ações de cuidado, pois é quem realiza o maior número de ações. Entretanto, as enfermeiras

não se referiram às necessidades individuais de cada ser humano, ou foi dada qualquer

consideração ao contexto familiar dos doentes de TB, suas condições de vida ou condições

econômicas, o que evidenciou o foco destes profissionais de saúde nas intervenções técnicas e

biológicas da TB.

Apesar destas fragilidades identificadas, alguns profissionais de saúde conseguem se

destacar no cuidado ao paciente com TB. É o que refere Nogueira et al (2012), num estudo que

objetivou analisar as ações de controle da TB no âmbito da ESF sob o ponto de vista dos

usuários com TB. Neste estudo os usuários entrevistados se declararam satisfeitos com os

cuidados recebidos, principalmente os realizados pelos enfermeiros e pelos ACS. Este fato foi

favorecido tanto pela aproximação com a realidade dos usuários quanto pelo fortalecimento das

relações envolvidas no processo terapêutico, incluindo o processo de adoecimento e cura.

É preciso incluir no TDO outras tecnologias que permitam transformar e potencializar

os saberes da história de vida desses sujeitos. É necessária então a mudança do modelo focado

na doença e no indivíduo, “para um modelo dialógico que reconheça o sujeito como portador

de um saber e que, embora diferente do conhecimento técnico-científico, não pode ser

deslegitimado pelos serviços” (FREITAS et al, 2012, p. 647).

Nesta mesma direção, Ayres (2004, p.31) refere que o usuário do serviço de saúde ao

ser compreendido como um cidadão, não apenas como um consumidor deste serviço e nas

práticas destas instituições deve prevalecer “a postura ética, o respeito ao outro, o acolhimento

ao desconhecido”, caracterizando a atenção à saúde humanizada, cujo dispositivo é o

acolhimento. Este pode ser entendido como a preocupação com uma escuta de qualidade nos

encontros entre usuários e profissionais de saúde, onde deve ser privilegiada a “dimensão

dialógica”.

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Quando a capacidade de escuta e diálogo está presente nos momentos de interação do

profissional com o usuário, o acolhimento ocorre no sentido da efetivação do cuidado (AYRES,

2006). Entretanto este mesmo autor aponta que para o sucesso deste cuidado, não basta esta

escuta de qualidade, é preciso estar atento também à decisão de escutar. Ao se decidir por algo

que possa acontecer também se está abandonando algo em favor do “outro poder-ser” (p.73).

Essa decisão do dialogar com o outro, diante desse outro é a responsabilidade que os sujeitos

deste diálogo assumem.

Ao assumir as responsabilidades de um cuidador, é oportunizado ao profissional de

saúde ultrapassar os limites técnicos do seu trabalho ao mesmo tempo que é possível haver

investimento de esforços na reconstrução das relações junto ao usuário ou comunidade. Na

concepção de Vieria (2008, p.20), no contexto onde há um desequilíbrio no estado saúde-

doença, as ações entre os profissionais e usuários devem superar a lógica da técnica e perpassar

pelos “campos das relações e comportamentos”, onde há uma diversidade de possibilidades do

uso das tecnologias em saúde, inclusive o da construção de vínculo entre estes sujeitos.

Assim, tendo como ponto de partida os referenciais teóricos expostos e a relevância das

dimensões selecionadas para a efetivação do cuidado integral no processo de trabalho das

equipes de ESF, principalmente na atenção ao usuário portador de TB, as categorias temáticas

selecionada para se compreender as práticas de cuidado no TDO da TB foram o acolhimento,

o vínculo, a responsabilização e a relação dialógica entre os sujeitos da ação do cuidar.

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5. METODOLOGIA

5.1 Caracterização do estudo

O presente estudo foi desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa, onde os

sujeitos da pesquisa foram os profissionais de saúde da ESF do CMS Dr. Albert Sabin, unidade

de saúde da família localizada no bairro da Rocinha, os usuários deste serviço de saúde que se

encontravam em TDO da TB (domicílio e USF) e seus familiares.

Na concepção de Flick (2009) a abordagem qualitativa visa captar o mundo que se

encontra fora dos contextos especializados e assim compreender, descrever e até explicar os

fenômenos sociais. Este processo ocorre através da análise das experiências de indivíduos ou

grupos e das interações e comunicações que estejam presentes. A observação e o próprio

registro das práticas dessas interações são utilizados como base para as análises. Cabe destacar

a importância do trabalho de campo na pesquisa qualitativa, pois este possibilita não só uma

aproximação com o objeto do estudo mais cria um diálogo com a realidade dos atores sociais

(NETO, 1995). Assim, na busca em alcançar os objetivos deste estudo os dados foram coletados

através da análise documental, da observação direta e de entrevistas semi-estruturadas. Como

recurso complementar foi utilizado um diário de campo para que outras informações, que não

foram contempladas nos demais instrumentos, fossem coletas. A coleta de dados teve início em

outubro de 2014 e término em fevereiro de 2015.

Para análise dos dados foram utilizados os referenciais teóricos com a abordagem focada

na integralidade do cuidado, que foram somados ao processo de leitura dos discursos dos

sujeitos. Esse processo teve início com uma primeira leitura superficial, seguida da leitura

exaustiva e com a finalização da interpretação dos achados a partir das categorias temáticas do

acolhimento, do vínculo, da relação dialógica e de responsabilidade.

O acolhimento é um dispositivo da atenção humanizada que se caracteriza por

aproveitar todos os momentos de encontro para que ocorra a escuta do usuário, nos espaços de

interação entre ele e o serviço de saúde/profissionais de saúde. Durante estes encontros entre

os usuários e os profissionais deve ocorrer a valorização da dimensão dialógica, estar presente

“um autêntico interesse em ouvir o outro” para que as ações de saúde sigam na direção do

cuidado. Para a efetivação deste cuidado, é preciso que haja, além do interesse, a decisão de

escutar o outro, atitude que é compreendida a partir da responsabilidade assumida por um

cuidador no momento do cuidado e a partir da própria construção do vínculo “usuário-serviço”

(AYRES 2006, p.70).

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Estas quatro categorias temáticas, o acolhimento, o vínculo, a responsabilização e a

relação dialógica entre os sujeitos da ação do cuidar, contribuíram para a compreensão das

práticas de cuidado no TDO da TB na ESF e junto com a interpretação dos achados empíricos,

culminou com a delimitação dos núcleos temáticos e suas dimensões propostos na apresentação

e discussão dos resultados deste estudo.

5.2 O trabalho de campo: a chegada ao CMS Dr. Albert Sabin

O início do trabalho de campo no CMS Dr. Albert Sabin ocorreu em meados do mês de

outubro e a minha presença causou certa estranheza nos profissionais e até em mim mesma, já

que eu estava ali como pesquisadora, uma posição diferente de quando fazia parte do quadro de

funcionários da unidade de saúde. Apesar de não estar trabalhando lá desde 2011, conhecia

quase todos os profissionais de saúde, já que estive presente durante a transição para ESF. O

fato de não ter trabalhado diretamente com esses profissionais, me fez sentir muito á vontade

para iniciar a coleta de dados, para apresentar o estudo e assim solicitar a participação das

equipes. No início, o sentimento foi de que estavam achando que a minha presença ali era para

“monitorar” o trabalho deles, mas ao longo da permanência no dia a dia do serviço, a interação

e a confiança deles foi aumentando. Alguns profissionais até vieram a discutir casos de alguns

usuários, pedindo orientações. Outro exemplo de boa integração com a equipe de saúde, foi

quando pude perceber nas entrevistas com os usuários e familiares, que muitas vezes eles se

referiam a mim enquanto parte da equipe do CMS Dr. Albert Sabin.

Também foi possível vivenciar a dificuldade que os profissionais de saúde enfrentam

durante o trabalho no território, pois estive envolvida num episodio de troteio no horário de

trabalho. Voltávamos de uma visita domiciliar, eu e uma dupla de ACS, após a realização do

TDO e de duas entrevistas e escutamos dois momentos de tiroteio intenso, próximos ao caminho

que estávamos passando. A sensação foi de desespero e medo de morrer. Os ACS também

ficaram desnorteados, procuraram alguma residência para pedir abrigo, mas sem sucesso. A

tentativa foi de seguir na direção contrária ao barulho dos tiros e após o segundo momento,

conseguiram me levar para uma rua calma, onde peguei um moto táxi e voltei à unidade de

saúde. Aquela experiência que vivi me mostrou um pouco das situações inusitadas pelas quais

os profissionais de saúde da ESF, estão sujeitos na realização das práticas de cuidado.

Acredito que toda essa minha “intimidade” com o território, com o serviço de saúde,

com os profissionais de saúde e até com alguns usuários, facilitou a realização do trabalho de

campo, mas ao mesmo tempo eu estava muito mais envolvida e assim talvez o meu olhar de

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pesquisadora estivesse carregado de impressões pessoais, ou seja, não estava completamente

imparcial, já que havia um envolvimento profissional e até emocional com todo o cenário.

5.3 Técnicas de Coleta de Dados:

Para a coleta de dados foram utilizados quatro técnicas: a análise documental, a

observação direta, a entrevista semi-estruturada e registro no diário de campo. Cabe ressaltar

que a observação direta do TDO seguiu um roteiro (Anexo 1) e os resultados foram registrados

no diário de campo. Durante a minha permanência na unidade de saúde outros elementos foram

observados para além do TDO e do roteiro utilizado.

Por meio desta observação que pude compreender a dinâmica da organização das ações

de controle da TB na USF e a dinâmica do processo de trabalho desde a direção da unidade de

saúde até as equipes de saúde da família. Foi possível ter acesso às informações que

ultrapassaram as questões abordadas nos instrumentos de coleta de dados e que foram

relevantes para a caracterização das práticas de cuidado do TDO da TB nessa USF.

A observação direta e a interpretação dos achados no trabalho de campo foram possíveis,

principalmente, em decorrência da minha familiaridade com a unidade de saúde, com o

território e com a equipe de profissionais nos diversos espaços da unidade, como os guichês de

atendimento, sala dos ACS, corredores, salas das equipes de saúde, administração e direção.

5.3.1 Análise documental

Nesta etapa foram coletados elementos para a descrição da organização das práticas de

cuidado do TDO da TB no CMS Dr. Albert Sabin. Estes elementos foram coletados a partir de

documentos oficiais do PCT na unidade de saúde e de outros documentos gerenciais e que são

utilizados pelas ESF no acompanhamento dos usuários portadores de TB em TDO. Esta técnica

também foi utilizada para identificação dos usuários portadores de TB que estivessem dentro

dos critérios de inclusão dos sujeitos do estudo. Foram consultados os seguintes documentos e

suas respectivas variáveis:

Documento preconizado pelo PNCT: Livro de Registro de pacientes e

acompanhamento de tratamento dos casos de tuberculose – Programa Nacional

de Controle de Tuberculose: nome, número do SINAN, resultados da 1ª. e 2ª.

baciloscopias, resultado do Raio X de tórax, resultado do exame anti-HIV,

forma clínica, tipo de entrada, Esquema do tratamento, data do início do

tratamento, forma de tratamento, baciloscopias de acompanhamento, número de

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contatos (pessoas que coabitam com pacientes com TB) e a quantidade destes

que foram examinados na unidade de saúde e a equipe de saúde e o

ACS/microárea no campo das observações.

Documento preconizado pelo PNCT: Livro de Registro e Investigação de

Contatos de Casos de Tuberculose. É utilizado um livro por equipe de saúde.

Variáveis observadas: número do SINAN, prontuário, nome do caso índice, data

do início do tratamento, nome do contato, idade, sexo, grau de parentesco, PPD

(aplicação e resultado), Raio X (aplicação e resultado), 1ª. BAAR (aplicação e

resultado), 2ª. BAAR (aplicação e resultado), Teste Anti-HIV (aplicação e

resultado), destino (TTO -tratamento TB, QUI-quimioprofilaxia, REC-recusa e

ORI- orientação) e data final.

Documento preconizado pelo PNCT: Livro de Registro de Sintomáticos

Respiratórios – Secretaria do Estado de Saúde do Rio de Janeiro. É utilizado um

livro por equipe de saúde. Variáveis observadas: número de ordem, data de

identificação do sintomático respiratório, nome completo (sem abreviações),

idade, sexo, endereço, resultado do exame de escarro para diagnóstico (datas

dos resultados da 1ª.e 2ª amostras), e observações (ACS e microárea).

Documento preconizado pelo PNCT: Ficha de Notificação / Investigação de

tuberculose (Sistema de Informação de agravos de Notificação). Neste

documento específico foi observada o fluxo dentro da USF.

Documento criado e utilizado no CMS Dr. Albert Sabin: Livro de Registro de

pacientes que se encontram em Quimioprofilaxia (documento específico do

CMS Dr Albert Sabin). É utilizado um livro para todas as equipes. Variáveis

observadas: número de ordem, nome completo (sem abreviações), idade, data

de nascimento, equipe de saúde do usuário, se é ou não contato de caso índice,

data de início e alta do tratamento, peso, prescrição da dose e nas observações

também o nome do ACS/microárea.

Documento digital utilizado pela SMS-RJ: Prontuário Eletrônico do paciente e

Cartão espelho de acompanhamento da realização do Tratamento Diretamente

Observado (TDO). Variáveis observadas: Registro da confirmação da TB,

número do SINAN, Data de Inicio do tratamento, Tipo de Entrada, Resultado

do Raio X de Torax, Form. de Tratamento, Esquema Solicitação do Teste rápido

de HIV, Resultados das 1ª.e 2ª. amostras de baciloscopia, Forma clínica,

Contatos examinados e solicitação de exames, Registro das consultas médicas,

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Registro das consultas do enfermeiro, Registro do acompanhamento. ACS –

Ficha B de TB , Registro diário do TDO, Registro dos demais membros da

Equipe de Saúde.

,

5.3.2 Observação Direta do TDO

Esta etapa foi constituída pelo acompanhamento e observação do TDO junto aos

profissionais de saúde e aos usuários portadores de TB, nos domicílios e na USF. Esta técnica

contribuiu tanto para a descrição da organização das práticas de cuidado no TDO no CMS Dr.

Albert Sabin, como também para a identificação dos limites e das potencialidades das práticas

de cuidado no TDO nesta USF.

A técnica da observação direta foi realizada pela pesquisadora principal durante o TDO

a partir do “roteiro da observação direta” (Anexo 1) além de outras informações registradas no

diário de campo. Os participantes do TDO (profissionais de saúde, usuários portadores de TB

e seus familiares) foram informados verbalmente, antes do início do TDO, de que estavam

sendo observados, mas que não haveria qualquer tipo de intervenção por parte da pesquisadora

durante todo o procedimento.

De acordo com Lakatos (2003) a observação é uma técnica de coleta de dados onde as

informações são obtidas através do ver, ouvir e examinar os aspectos da realidade, que são

objetos de estudo. O autor afirma que a observação, do ponto de vista científico, permite a

coleta de dados sobre um conjunto de atitudes comportamentais e possibilita a evidência de

dados não abordadas no roteiro das entrevistas. Neste sentido, Minayo (1996) refere que a

estratégia de observação é uma forma de contemplar a captação da realidade empírica e

necessária para a compreensão da mesma.

5.3.3 Realização das entrevistas com os profissionais de saúde, com os usuários em TDO

para TB e seus familiares.

Nesta etapa foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com base nos roteiros para

os profissionais de saúde (Anexo 2), com os usuários em TDO para TB (Anexo 3) e seus

familiares (Anexo 4). As entrevistas ocorreram a partir destes roteiros e foram gravadas em dois

dispositivos em momentos diferentes: um celular e um netbook. A transcrição das entrevistas

ocorreu a partir de dezembro de 2014 e se estendeu até março de 2015. De acordo com a

Resolução 466/12, os arquivos de voz e das transcrições serão armazenados com a autora do

estudo por até 05 anos.

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No momento das entrevistas, foi entregue e explicado a cada participante do estudo o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde estavam descriminados os objetivos do

estudo, os riscos e os benefícios referentes à participação (Anexos 5, 6 e 7).

A identidade dos sujeitos participantes do estudo, conforme descrito no TCLE, foi

ocultada através da substituição do nome pela categoria de cada sujeito (profissionais de saúde,

usuários em TDO para a TB e seus familiares) acrescido por um número e idade dos usuários e

familiares.

Conforme relatado anteriormente, o diário de campo, enquanto recurso complementar,

foi utilizado com o objetivo de não perder informações importantes e que poderiam não estar

previstas nos demais instrumentos.

5.4 Critérios de inclusão e exclusão da unidade de saúde e dos sujeitos do estudo

5.4.1 Critérios de Seleção da USF: CMS Dr. Albert Sabin.

A USF selecionada para ser realizado o trabalho de campo foi o CMS Dr. Albert Sabin

que é a unidade mais antiga do bairro da Rocinha, que realiza o TDO da TB, tanto em domicílio

como na própria unidade de saúde. Possui 06 equipes de saúde da família, o que facilitou a

descrição da organização das práticas de cuidado no TDO da TB, da observação direta e da

coleta de dados. As outras duas USF, que compõe a ESF do bairro, são unidades maiores e que

apresentam estruturas físicas mais complexas, como a Clínica da Família (CF) Rinaldo de

Lamare com 08 (oito) equipes distribuídas em 05 andares no CMC Rinaldo de Lamare e a CF

Maria do Socorro Silva e Souza com 11 equipes que divide o espaço com a Unidade de Pronto

Atendimento (UPA)-Rocinha e com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III Maria do

Socorro Santos Silva. Estas características, relacionadas ao número de equipes de saúde da

família e a localização da outras duas USF poderiam dificultar a realização do trabalho de

campo, já que a CF Rinaldo de Lamare possui 08 equipes de saúde da família e se encontra no

bairro de São Conrado e a CF Maria do Socorro Silva e Souza possui 11 equipes de saúde da

família e está localizado no CIAS.

5.4.2 Critérios para inclusão e exclusão dos sujeitos no estudo

Para participação neste estudo, foram selecionados participantes com idade igual ou

superior a 18 anos.

(1) Profissionais de saúde: profissionais de uma das seis equipes de SF do CMS Dr

Albert Sabin, que realizam ou participam do TDO da TB tanto na USF como no domicílio ou

são reconhecido pelo usuário como um profissional vinculado ao TDO da TB. Os critérios de

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exclusão dos profissionais de saúde foram a não execução do TDO e a entrada recente em uma

das equipes da unidade de saúde. Foram entrevistados 11 (onze) profissionais de saúde, entre

agentes comunitários de saúde e enfermeiras.

(2) Usuários: usuários portadores de TB em TDO na USF e/ou no domicílio, que

estivessem inscritos no Livro de Registro de pacientes e acompanhamento de tratamento dos

casos de Tuberculose, em tratamento regular, faltosos recorrentes e usuários em recidivas e que

estivessem em tratamento há pelo menos 01 (um) mês no CMS Dr. Albert Sabin. Os usuários

que não foram selecionados para o estudo se encontravam em abandono, em tratamento auto

administrado ou injetável e os que estiverem sido transferidos para acompanhamento de TB em

outra unidade de saúde. Foram entrevistados 10 (dez) usuários portadores de TB,

acompanhados pelas 06 (seis) equipes de saúde da família que compõem a USF.

(3) Familiares ou rede de apoio dos usuários (acompanhantes): pessoas que estivessem

acompanhando o usuário em TDO desde o início do tratamento e que fazem parte da rede de

apoio do usuário, podendo ser algum familiar ou não. Não foram selecionados para o estudo os

familiares ou indivíduos da rede de apoio dos usuários que não acompanham o tratamento ou

que os usuários manifestem o desejo contrário a participação dos mesmos no estudo. Foram

entrevistados 05 (cinco) familiares (ou acompanhantes) dos usuários portadores de TB em

virtude da não aceitação em participar do estudo, da não existência desses

familiares/acompanhantes ou do não cumprimento dos critérios de incluso do estudo.

5.4.3 O processo de seleção dos sujeitos

A seleção dos sujeitos do estudo teve início a partir do levantamento exploratório

realizado na unidade de saúde selecionada aproximadamente quatro meses antes do período de

coleta de dados. Sua continuidade ocorreu no mês de outubro de 2014, com a utilização do

Livro de Registro de pacientes e acompanhamento de tratamento dos casos de Tuberculose e

com o auxílio da enfermeira responsável pela Linha de Cuidados da Tuberculose no CMS Dr.

Albert Sabin. A pesquisadora principal também participou de uma reunião geral da unidade de

saúde, que ocorre todas às 5as. Feiras no horário de 14 às 17h. Este foi um momento estratégico,

onde a maioria dos profissionais de saúde estava presente e assim foi possível explicar no que

consistia o estudo, seu objetivo, sua importância para a unidade de saúde e solicitar a

colaboração de todos. Outro momento relevante para a seleção dos sujeitos foi o contato com

os agentes comunitários de saúde na sala deles, já que o TDO é realizado quase que

exclusivamente por este profissional nesta USF. Muitos se colocaram à disposição para

participar do estudo (de acordo com os critérios de inclusão e exclusão) e indicaram os usuários

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portadores de TB em TDO e seus familiares que estavam dentro dos critérios e que poderiam

ser sujeitos em potencial.

5.4.4 Caracterização dos sujeitos do estudo

De acordo com os critérios de inclusão e exclusão dos sujeitos e da disponibilidade dos

mesmos durante o trabalho de campo, foram entrevistados 26 (vinte e seis) sujeitos, dentre os

quais 5 (cinco) foram familiares dos usuários portadores de TB que se encontravam em TDO,

10 (dez) usuários portadores de TB em TDO domiciliar ou na unidade de saúde e 11(onze)

profissionais de saúde entre ACS e enfermeiros.

Dentre os familiares, quatro eram do sexo feminino e um do sexo masculino. A

idade variou entre 39 e 78 anos e entre o grau de parentesco eram duas avós, um pai, uma irmã

e uma mãe. Dos cinco familiares, apenas um referiu já ter tido TB anteriormente e quatro moram

na mesma residência que seus familiares que se encontram em tratamento da TB.

Quanto aos próprios usuários portadores de TB e em TDO, foram entrevistados 6 (seis)

do sexo masculino com idade entre 18 e 52 anos e 4 (quatro) do sexo feminino com idade entre

21 e 36 anos. Destes 10 (dez) usuários, 4 (quatro) tiveram seus familiares participando do

estudo.

No que se refere aos profissionais de saúde, dos 11 (onze) entrevistados, 02 (duas) são

enfermeiras e 9 (nove) são ACS, ocorrendo a participação de profissionais de todas as equipes

desta unidade de saúde. Dos 9 (nove) ACS, 5 (cinco) são do sexo feminino e 4 (quatro) do sexo

masculino. Dentre todos os profissionais, o com menos tempo de trabalho nesta unidade é uma

das enfermeiras que está há um pouco mais de um ano nesta unidade de saúde.

Quadro 1: caracterização dos sujeitos

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53

Total de

indivíduos

entrevistados

Sexo Intervalo

da Idade

Categoria

Profissional

Parentesco

Profissionais

de

Saúde

11 07 Feminino

04 Masculino

------------

------------

02 Enfermeiras

09 ACS

------------

Usuários 10 04 Feminino

06 Masculino

21 à 36 anos

(F)

18 à 52 anos

(M)

---------------- -------------

Familiares 05 04 Feminino

01 Masculino

39 à 78 anos

52 anos

--------------- 02 avós

01 mãe

01 pai

01 irmã

5.5 Aspectos éticos do estudo

Após a qualificação do Projeto de Dissertação, o mesmo foi submetido ao Comitê de

Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública Sergio Arouca e ao Comitê de Ética em Pesquisa

da SMS-RJ, já que a pesquisa propôs a realização de entrevistas com profissionais se saúde e

usuários de unidade de saúde desta instituição. Foi utilizado o Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido (TCLE) para a realização das entrevistas com os profissionais de saúde (Anexo

5), usuários portadores de tuberculose (Anexo 6) e seus familiares ou indivíduos da rede de

apoio ( Anexo 7). O Termo de Anuência (Anexo 8), foi entregue para assinatura do Diretor da

Unidade de Saúde onde o estudo foi realizado, para que o trabalho de campo fosse autorizado.

Em virtude de pendências sinalizadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da SMS-

RJ, mesmo após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública

Sergio Arouca, cujo parecer consubstanciado do CEP foi emitido em 09/04/2014 sob o número

610.621, o projeto de pesquisa precisou ser submetido novamente em ambos os comitês. O

último parecer do CEP da Escola de Saúde Pública Sergio Arouca foi emitido em 01/08/2014

sob o número 727.230 e do CEP da SMS-RJ, enquanto instituição co-participante, foi emitido

em 01/09/2014. Ambos os pareceres se encontram em anexo.

Cabe destacar que a presente pesquisa possui riscos e benefícios para os sujeitos

participantes, os quais foram explicitados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os

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benefícios serão o da contribuição para a identificação dos limites e potencialidades das práticas

de cuidado no tratamento diretamente observado da tuberculose no CMS Dr Albert Sabin e

desta forma fornecer subsídios para intervenções necessárias na melhoria da qualidade do

cuidado e qualificação das equipes de saúde da família deste território.

Dentre os riscos oferecidos, poderia ocorrer algum tipo de constrangimento ou

desconforto durante a etapa de entrevista ou da observação direta, que seriam minimizados,

caso necessário, com a interrupção imediata do procedimento.

Em virtude de o presente estudo ter sido realizado em uma unidade de saúde da SMS-

RJ, o Projeto de Pesquisa precisou ser submetido também ao Comitê de Ética em Pesquisa da

SMS-RJ, que na Plataforma Brasil foi identificado como instituição co-participante. O Projeto

de Pesquisa foi submetido a Plataforma Brasil no dia 14/02/2014 , para ser analisado pelos CEP

das duas instituições, ENSP e SMS-RJ. O CEP da ENSP me listou três pendencias que foram

atendidas de imediato e o parecer consubstanciado de aprovação foi liberado em 09/04/2014.

Com mais de três meses de espera e insistência por uma resposta da CEP da SMS-RJ,

no dia 27/05/2014 foi emitido o parecer consubstanciado do CEP da SMS-RJ com diversas

pendências incomuns, denominadas no documento como inadequações como por exemplo

requerimento de autorização da unidade de saúde, através de autoridade competente (direção)

que é responsável pela guarda e manutenção dos documentos, sendo esta uma autorização

específica e independente do Termo de Autorização da Unidade. No total foram sete itens de

pendência, que foram atendidos através da Plataforma Brasil em meados de julho de 2014.

Após esta nova submissão, o CEP da ENSP solicitou para esclarecimento quanto aos

novos documentos, pois o documento das pendências do CEP da SMS-RJ não havia sido

disponibilizado. Desta forma, foi emitido um novo parecer consubstanciado pelo CEP da ENSP

em 24/07/2014 e o parecer consubstanciado pelo CEP da SMS-RJ só foi emitido em

01/09/2014. Tínhamos planejado iniciar a coleta de dados em maio de 2014, antes do

nascimento do meu filho, que estava previsto para início de agosto. Assim, a coleta de dados

teve início em outubro de 2014, com a presença do meu filho, lactante, com dois meses de

idade.

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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 As Práticas de Cuidado no Tratamento Diretamente Observado (TDO) da

Tuberculose (TB) em uma Unidade de Saúde da Família (USF)

A descrição das práticas de cuidado no TDO da TB foi baseada em elementos coletados

nas três etapas: a observação direta, a análise documental e as informações registradas do diário

de campo. Essas técnicas permitiram entender o papel do setor da farmácia e da farmacêutica

nas práticas de cuidado, a dinâmica de gerenciamento da direção da USF e de sua a equipe

administrativa, além da organização interna das equipes de saúde da família, que tem o

enfermeiro como o responsável junto ao ACS pelo “cuidado normativo”11 no acompanhamento

dos usuários portadores de TB. As práticas de cuidado do TDO são práticas que estão incluídas

nas ações de controle da TB na APS, que seguem as normativas do PNCT e as normas do PCT

da SMS-RJ, através Linhas de Cuidado da Tuberculose.

No CMS Dr Albert Sabin, além da equipe da direção da unidade que coordena as ações

de controle da TB, uma das enfermeiras das seis equipes de saúde da família é a responsável

por conduzir, junto às demais equipes a Linha de Cuidados da TB. O gerenciamento da Linha

de Cuidados da TB se inicia pela direção da unidade de saúde, que mantém o controle das

Fichas de notificações do SINAN. Toda ficha de notificação é retirada na direção para

preenchimento pelo profissional que fez o primeiro atendimento do usuário portador de TB.

Esta ficha é retirada mediante assinatura do profissional responsável, que é o enfermeiro ou

médico de equipe. O original da Ficha do SINAN retorna para a direção da unidade, mas uma

cópia fica nos arquivos da própria equipe e outra é direcionada para o setor da farmácia, onde

há um controle e acompanhamento através de planilha de toda a medicação que é dispensada

durante o tratamento.

A dispensação da medicação da TB é liberada ao enfermeiro de cada equipe

semanalmente às terças-feiras. A medicação é separada por usuário em tratamento, conforme a

fase em que se encontra. Desta forma, os usuários portadores de TB, que se encontram em TDO

também são acompanhados pela equipe da farmácia.

Na análise documental foi observado como os profissionais/equipes de saúde utilizam

os documentos recomendados pelo PNCT e PCT da SMS-RJ. Conforme descrito na

metodologia, os documentos e sistemas analisados foram: Livro de Registro de pacientes e

11 Utilizando como referência as tecnologias de saúde de Merhy (2002) onde o “cuidado normativo” seriam as tecnologias duras,

como as normas e as estruturas organizacionais.

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acompanhamento de tratamento dos casos de tuberculose – Programa Nacional de Controle de

Tuberculose, Livro de Registro e Investigação de Contatos de Casos de Tuberculose, Livro de

Registro de Sintomáticos Respiratórios – Secretaria do Estado de Saúde do Rio de Janeiro,

Ficha de Notificação / Investigação de tuberculose (Sistema de Informação de agravos de

Notificação), Livro de Registro de pacientes que se encontram em Quimioprofilaxia

(documento específico do CMS Dr Albert Sabin) e Prontuário Eletrônico do paciente e Cartão

espelho de acompanhamento da realização do Tratamento Diretamente Observado (TDO).

Alguns desses documentos são utilizados por todas as equipes e possuem um exemplar por

unidade de saúde como o Livro de Registro de pacientes e acompanhamento de tratamento dos

casos de tuberculose (“Livro Verde da TB”), o Livro de Registro e Investigação de Contatos de

Casos de Tuberculose e o Livro de Registro de pacientes que se encontram em Quimioprofilaxia

(documento específico do CMS Dr. Albert Sabin). Dentre todos esses documentos o que estava

mais completo e atualizado era o Livro de registro de pacientes, mesmo faltando alguns dados

que devem ser inseridos após o início do tratamento. Os demais documentos apresentaram um

déficit maior no preenchimento.

Os outros registros, com exceção da Ficha do SINAN, do prontuário eletrônico e do

cartão espelho, são individualizados por equipe e desta forma se encontram com as mesmas,

em suas salas. Nestes documentos individualizados por equipes, os registros das informações

apresentaram uma frequência menor que nos documentos gerais e uma importante

desatualização dos dados. Somado a estes achados, também foi possível verificar que cada

equipe se organiza internamente de uma forma diferente para conseguir acompanhar os seus

usuários portadores de TB, uns com pastas individualizadas por usuários, outros ACS tinham

as pastas individuais com todos os registros.

Outro fato que despertou a atenção foi o registro no cartão espelho do usuário. Este

documento deve ser atualizado diariamente na medida em que o TDO é realizado e deve ficar

ao alcance de toda a equipe para possível conferência quanto às doses de TDO que o usuário já

fez. Foi observado que não há uma uniformidade na conduta dos ACS com o cartão espelho,

pois a maioria fica na sala da equipe, mas alguns profissionais guardam em seu material e

muitos se encontravam desatualizados.

O Prontuário Eletrônico (P.E.) é o sistema de registro de todas as atividades realizadas

na ESF no MRJ. Todos os procedimentos que os profissionais realizam precisam ser registrados

no P.E., pois são contabilizados para a produtividade do profissional, da equipe e da unidade

de saúde, além de ser a fonte de informações sobre as famílias e os usuários. O seu

preenchimento pode ser realizado nos computadores das equipes ou nos computadores da sala

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dos agentes de saúde. Todos os profissionais que participaram do estudo utilizam o P.E. e

registram as ações pertinentes à TB, como a visita domiciliar para o TDO, já que há um campo

específico para os registros do acompanhamento da TB.

A observação direta do TDO e o diário de campo puderam contribuir com outras

questões relevantes para a descrição das práticas de cuidado do TDO da TB. Quando o TDO é

realizado na unidade de saúde, os usuários se apresentam no guichê da sua equipe e o ACS

responsável pelo TDO é chamado, caso esteja na unidade, ou o próprio ACS que está atendendo

no guichê realiza o TDO ali mesmo ou no corredor, próximo ao filtro de água. O TDO (na USF

ou no domicílio) é realizado quase que exclusivamente pelos ACS, conforme a residência dos

usuários, de acordo com a lógica da ESF e a adscrição do território da equipe de saúde da família

e da microárea do ACS.

As enfermeiras só realizam o TDO quando precisam conversar com o usuário, com a

sua família ou quando há alguma impossibilidade do ACS fazer. Os técnicos de enfermagem

não participam das práticas de cuidado do TDO da TB, pois são os profissionais escalados nas

salas de procedimentos, imunização, esterilização e curativo. Uma vez por semana, as

enfermeiras são responsáveis por pegar com a farmacêutica a medicação anti-TB, para todos os

usuários de suas equipes e em seguida distribuir para os ACS.

Alguns ACS utilizam uma estratégia para garantir a execução do TDO, independente da

ausência do ACS de referência por motivo de férias, licenças, folga e escalas dentro ou fora da

unidade. O TDO é a realizado em dupla ou trio, para que os usuários conheçam os demais ACS

e estes sejam recebidos pelos usuários. O horário de funcionamento da unidade tem uma

importante influencia na realização do TDO, pois os profissionais só iniciam o TDO após às

08h (horário de abertura), tendo como horário limite às 17h (horário de fechamento). Esta é

uma das questões que pode interferir neste modelo de tratamento pois pode ser incompatível

com a rotina do usuário e sua família.

6.2 As práticas de cuidado no TDO da TB numa Unidade de Saúde da Família a partir da

visão dos profissionais de saúde, dos usuários portadores de TB e seus familiares

Para a descrição das práticas de cuidado no TDO da TB considerou, através dos

depoimentos coletados nas entrevistas que retrataram a visão dos três sujeitos do estudo: o

profissional de saúde, o usuário portador de TB e seus familiares. Por meio da visão desses

sujeitos foi possível organizar núcleos temáticos relativos às práticas de cuidado no TDO da

TB e dimensões relacionadas a estes conforme apresentado a seguir.

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6.2.1 Os núcleos temáticos e suas dimensões nas práticas de cuidado no TDO da TB

Os quatro núcleos temáticos e suas respectivas dimensões propostos para descrever as

práticas de cuidado do TDO da TB, foram delineados a partir dos referenciais teóricos no que

concerne ao cuidado integral e consubstanciados pelos achados empíricos a partir dos discursos

dos sujeitos.

Estes núcleos correspondem a: 1) a relação de vínculo usuário-profissional de saúde; 2)

o TDO enquanto prática de cuidado; 3) o lugar da família e 4) a associação da TB ao HIV/AIDS.

6.2.1.1. A relação de vínculo usuário- profissional de saúde

O primeiro núcleo temático reúne aspectos relacionados à relação de vínculo construída

entre o usuário portador de TB e seus familiares com os profissionais de saúde, a partir das

seguintes dimensões: a) a construção do vínculo, b) a construção do vínculo a partir do TDO e

c) atitude passiva dos usuários portadores de TB durante o TDO.

A ESF traz a possibilidade de aproximação entre o serviço de saúde/profissional e o

usuário e as suas necessidades, num contexto de diálogo entre ambos os sujeitos (profissional

de saúde e usuário), onde são utilizadas ferramentas e tecnologias em saúde, como o vínculo

(VIEIRA et al , 2008). No tratamento da TB, em particular, no TDO, o vínculo tem um papel

de destaque, pois é através deste contato diário e do grau deste contato, dependendo do

comprometimento do profissional ou da sua responsabilização pelo cuidado com o usuário e

sua família, que as ações de controle da TB e as ações voltadas para um cuidado integral têm a

possibilidade de se concretizarem.

Neste sentido, Campos (2003) chama atenção para o vínculo como a circulação de afeto

entre as pessoas, sendo o resultado da disposição de acolher de alguns e da decisão de solicitar

apoio de outros. Esse vínculo é propiciado desde o primeiro contato estabelecido, que pode ser

com o diagnóstico, uma ação educativo, o início do tratamento ou busca ativa.

a) A construção do vínculo

Tanto na visão dos profissionais de saúde quanto dos usuários o vínculo pode ser algo

muito importante na relação por ambas as partes. Uma das usuárias reconhece que se sente

acolhida e que pode confiar na sua equipe de saúde, o que indica o TDO como o indutor para o

fortalecimento das relações entre os usuários e os profissionais de saúde. O vínculo é construído

conforme a disponibilidade dos profissionais, dos usuários e familiares e pode ser traduzido de

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forma positiva para o cuidado integral, transcendendo as questões relativas à doença TB ou

pode ser traduzido de forma negativa, com relação truncada e não receptiva. A demonstração

de como o vínculo vem sendo construído com os profissionais de saúde da equipe de saúde é

percebido na fala da usuária:

“nossa, o pessoal do posto foi tudo. Foi fundamental mesmo... me passaram

muita confiança, né. Então, me trataram super bem, eu chego lá, elas veem ,

elas me abraçam, sou super bem tratada. Eu me sinto à vontade,

entendeu.”(Usuária 7 de 36 anos)

Esta sensação de confiança e de uma “relação de mão dupla” entre usuário e

profissionais de saúde também foi relatada no estudo de Nogueira et al (2012), onde a satisfação

com a atenção, principalmente dos enfermeiros e ACS foi observada nos discursos dos

usuários. Durante o trabalho de campo essa relação de confiança e compromisso entre

profissionais-usuários foi, de forma recorrente, atribuída principalmente à proximidade que o

profissional de saúde tem com o contexto de vida do usuário.

Um dos profissionais de saúde também se sente valorizado quando um usuário se

manifesta positivamente, reconhecendo a importância do trabalho que ele desenvolve. O

profissional de saúde pode perceber a existência deste vínculo com o usuário quando este o

procura por alguma necessidade de saúde e assim ele tem a chance de fazer a diferença

positivamente. Isso não só no tratamento da TB, mas também pela possibilidade de agir sobre

outras necessidades de saúde que o usuário possa estar apresentando. Ambas as situações foram

referidas por profissionais participantes do estudo conforme os discursos a seguir:

“... e eu já tive relatos de pacientes que falaram isso para mim: eu só estou

tomando porque você está aqui. Então eu me senti muito importante naquele

momento.” (ACS 4)

“Porque o paciente chega e fala para você. Esse contato diário te mostra

milhões de problemas que a família tem e acaba te mostrando várias coisas. E

aí você acaba fazendo outras ações realmente.” (Enfermeira 6)

Ao entrar em contato com os diferentes problemas enfrentados pelo usuário ou mesmo

de sua família, os profissionais interagem com a dinâmica da vida do usuário e com os diferentes

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fatores que facilitam ou dificultam o seu tratamento. De qualquer forma prece ser marcante para

o usuário a presença do profissional fora do espaço do serviço e mais próxima do cotidiano de

vida do usuário e com postura mais ativa de promoção de saúde.

No estudo de Nogueira et al (2012), tanto o ACS como o enfermeiro foram os

profissionais que se destacaram pelo fato dos usuários desenvolverem uma relação maior de

vínculo. Nesta perspectiva, cabe ressaltar que geralmente é o ACS quem realiza o TDO (no

domicílio ou na USF), ou seja, é o profissional que passa a maior parte do tratamento em contato

com o usuário. Ele tem a oportunidade de fortalecer o seu vínculo (e o do serviço de saúde)

com o usuário e perceber outras necessidades de saúde que precisam ser atendidas.

b) Construção do vínculo a partir do TDO

O tratamento da TB muitas vezes é o indutor da utilização do SUS pelo usuário portador

de TB e sua família. Entretanto é necessário refletir a respeito do papel da APS enquanto

coordenadora do cuidado e porta de entrada do sistema de saúde. Enquanto diretriz, a ESF

apresenta a adscrição da população de um território, por equipe de saúde da família e por

microárea para cada ACS, independente de algum agravo que possa acometer algum membro

da família.

O trabalho de campo mostrou que alguns usuários só tiveram seus primeiros contatos

com a unidade de saúde da família a partir do início do TDO, pois antes disso eles não

conheciam sua equipe de saúde ou até mesmo tinham ido à unidade de saúde. Isto nos leva a

refletir que a ocorrência da tuberculose não deveria ser o motivo para o usuário conhecer sua

equipe de saúde da família, pois esse contato já deveria ter ocorrido previamente. Entretanto as

falas a seguir mostram que foi a TB e o TDO os responsáveis por estes usuários entrarem em

contato com a unidade de saúde e suas respectivas equipes de saúde.

“eu sempre recorri ao plano da empresa. Por isso até mesmo que eu nunca

precisei vir aqui, entendeu... eu ia para o plano. Quando não, eu ia para a UPA.

Nunca fui no posto assim não.” (Usuário 6 de 25 anos).

“Depois da doença que eu passei a conhecer ele. Esse pessoal todo aí.”(Usuário

5, de 43 anos).

Estes relatos indicam que pode estar havendo uma falha em relação ao processo de

trabalho e a produção do cuidado na ESF. Independente do agravo da TB, estes usuários já

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deveriam ter tido contato com os profissionais de saúde e com a USF. Entre os princípios da

Atenção Básica (ou APS), encontram-se o vínculo, a continuidade do cuidado, a integralidade

da atenção e a responsabilização, onde o usuário é considerado sujeito em sua singularidade,

em busca da produção de uma atenção integral.

De acordo com Campos & Matta, (2007) ”faz parte do processo de trabalho do PSF

cadastrar as famílias, os indivíduos, e realizar uma definição precisa do território de atuação,

fazendo o mapeamento e o reconhecimento da área adscrita, que compreende o segmento

populacional determinado” (p. 143). Ou seja, este processo deve ser realizado desde o início da

implantação da ESF num determinado território e que não está condicionado à presença de

algum agravo de saúde.

c) Atitude passiva dos usuários portadores de TB durante o TDO

A atitude passiva durante o tratamento por parte de alguns usuários portadores de TB

foi mencionado pelos profissionais de saúde como sendo um aspecto muito negativo do TDO,

pois este usuário precisa contribuir e ser mais participativo no tratamento que não se restringe

a tomada da medicação. Cabe destacar que o tratamento para a TB é longo (no mínimo seis

meses), as medicações podem causar reações adversas bastante desagradáveis, além do aspecto

da apresentação dos comprimidos que é um dificultador para a ingestão. Esses são fatores que

podem desestimular o usuário a dar continuidade ao tratamento, o que faz do profissional de

saúde, em especial o ACS, um aliado e parceiro no TDO. Entretanto esse papel do ACS pode

ser confundido pelo usuário, que tem atitudes passivas durante o tratamento. No entanto, o

relato a seguir do profissional, é de quem reconhece que precisa estar todo dia ali, ao lado do

usuário e diz como se vê realizando o TDO da TB:

“se não fosse a presença do agente ali, como despertador deles, eles não teriam

essa vontade de continuar o tratamento, principalmente porque se sentem

melhores.”....Eu não vejo como sendo uma babá deles. Eu vejo como sendo aqui

uma força do dia a dia. Que é um tratamento muito longo e desestimulante. (ACS

4 ).

Já no discurso de outro ACS, a espera por ele é grande e o usuário reage de forma

agressiva se ele não chega no horário:

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“desvantagem que eu vejo assim é que o paciente pode ficar um pouco

acomodado, aquele remédio em casa... às vezes quando a gente não consegue

ir, eles vêm com uma agressividade” (ACS 1).

Esta postura de agressividade também é identificada no discurso do usuário portador de

TB que se coloca insatisfeito com o fato de ter que ir tomar a medicação diariamente na unidade

de saúde, mesmo sendo esta modalidade do TDO (na unidade de saúde) uma escolha em

conjunto com o seu ACS:

“de ter que ir todo dia no posto beber o remédio. Pô já estava enchendo o saco.”

(Usuária 9 de 21 anos).

O vínculo que se constrói entre o profissional de saúde e o usuário portador de TB deve

ser benéfico para ambos, ou seja, deve ser positivo, conforme menciona Campos (2003). Desta

forma, a insatisfação do usuário pode ser em decorrência de uma relação de vínculo fragilizada.

Nestes momentos de encontro, das relações, o vínculo enquanto tecnologia leve do trabalho em

saúde, pode contribuir para a construção da autonomização deste usuário (Merhy, 2002).

O profissional de saúde poderia encontrar na realização do TDO uma oportunidade para

estimular o autocuidado, o ato de gestão do cuidado, o que é facilitado pela relação do vínculo.

A APS apresenta enquanto uma de suas diretrizes, estimular o usuário a participar na construção

do cuidado da sua própria saúde e da coletividade do seu território na busca da ampliação de

sua autonomia para o enfrentamento dos determinantes e condicionantes de saúde (BRASIL,

2012). Sem dúvida que, profissional de saúde desempenha um papel fundamental nesse

processo de construção do vínculo em busca também da autonomização desses usuários que

são sujeitos do cuidado e não meros “receptores” ou espectadores.

6.2.2.2 O Tratamento Diretamente Observado enquanto prática de cuidado

O segundo núcleo temático é o próprio TDO enquanto prática de cuidado cujas

dimensões identificadas foram: a) a incorporação do TDO ao processo de trabalho, b) o TDO

enquanto facilitador do cuidado integral, c) a vigilância e o cuidado no TDO, d) as interferências

na rotina do usuário portador de TB, e) a falta de autonomia dos usuários no TDO, f) a

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dificuldade na tomada da medicação anti-TB, g) o TDO enquanto única solução para o alcance

da cura da TB e h) as situações de violência no território durante o TDO.

A realização do TDO possibilita para o profissional de saúde a ampliação do seu contato

com o usuário portador de TB e sua família. São nestes encontros diários que surgem a

oportunidade de uma construção compartilhada dos “atos de cuidar”. Esta prática dentro do

tratamento da TB pode ser reduzida à observação da tomada da medicação ou pode ser ampliada

para além dos cuidados em TB.

Merhy (2002, p.57) aponta que a produção dos atos de cuidar é para onde o encontro

entre o trabalhador da saúde e o usuário converte. No processo de trabalho em saúde, o

trabalhador traz suas ferramentas, que são seus conhecimentos e tecnologias e o usuário ou

agente consumidor, apresenta suas intencionalidades e representações que são expressas em

como eles elaboram suas necessidades de saúde.

Mattos (2004,) ainda traz uma concepção mais ampliada do cuidado em saúde onde ele

refere que “na perspectiva da integralidade não devemos reduzir um sujeito à doença que lhe

causa sofrimento”, é preciso manter o sentido da intersubjetividade, considerando além dos

conhecimentos dos profissionais de saúde sobre as doenças, o conhecimento também sobre os

“modos de andar a vida” dos sujeitos com quem se mantém uma interação nos serviços de saúde

(p.1415).

A partir do diálogo que se mantém nesses espaços, é necessário buscar construir os

projetos terapêuticos individualizados que emergem da capacidade de compreender cada

contexto nos diferentes momentos. Nesta mesma percepção, mas com o foco no tratamento da

TB, Muniz et al (1999, p. 39) destacam que a proposta do TDO deve ser compreendida como

“um modo diferente de agir na saúde”, onde são ampliados os espaços e as maneiras de

intervenção no processo saúde-doença, tanto a nível do indivíduo quanto da coletividade.

a) A incorporação do TDO ao processo de trabalho

Os profissionais de saúde, principalmente o ACS, pois é quem realiza o TDO quase que

exclusivamente, ainda demonstraram ter dificuldades para incorporar o TDO em sua rotina de

trabalho. A visita domiciliar para realização do TDO é, na maioria das vezes, uma das primeiras

tarefas do dia do profissional para que não seja esquecida e não atrapalhe o restante do

planejamento do dia. Apesar da atenção ao usuário portador de TB em TDO e da sua família

fazer parte das atribuições da equipe de saúde da família, a realização do TDO ainda é

compreendida como uma tarefa a mais na rotina do dia, como é possível identificar no

depoimento de um ACS:

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“... esse processo...assim eu vou, costumo ir de manhã, é a primeira coisa que

eu vou fazer no dia, vou logo me livrar do “DOTS”, assim, digamos, mas

primeira coisa para não surgir outros trabalhos no serviço que eu acabe

esquecendo.” (ACS 1)

Entretanto, outros ACS conseguem incorporar o TDO no seu dia a dia, como parte das

visitas domiciliares que devem ser realizadas às famílias moradoras da sua microárea e desta

forma não só o usuário portador de TB recebe a atenção do ACS, mas a família toda. Assim o

TDO faz parte do processo de trabalho da equipe de saúde e o cuidado não cessa com término

do tratamento da TB. O entendimento do ACS da sua responsabilização pelo cuidado ao usuário

portador de TB e sua família, é verificado no relato abaixo:

“... depois do TDO a gente continua acompanhando o paciente ainda, mesmo,

por exemplo a fulana, a gente vai continuando acompanhando ela, a família,

entendeu? Até mais um tempo para ter certeza que tudo está bem. Ela tem uma

criança menor de dois anos que eu tenho que estar indo lá uma vez por mês,

então...” ( ACS 9)

Na compreensão deste ACS, o TDO vai acabar, mas aquela família precisa ser

acompanhada, principalmente pelo fato de ter uma criança menor de dois anos e este

acompanhamento faz parte das suas atribuições, deve fazer parte da sua rotina.

b) TDO enquanto forma de cuidado integral

Alguns profissionais de saúde conseguem fazer do tratamento da TB um momento

oportuno para cuidar da saúde do usuário em tratamento e da sua família, não apenas das

recomendações oficiais do PCT como a visualização da tomada da medicação ou a investigação

dos comunicantes, mas outras necessidades que eles possam apresentar durante o tratamento.

O olhar do profissional que faz o TDO da TB e que está diariamente na residência do usuário e

da sua família é ampliado.

Outras necessidades para além da TB podem ser percebidas o que resulta nos

encaminhamentos pertinentes às demandas apresentadas, para dentro ou fora da unidade de

saúde. Esta preocupação em atender as demandas dos usuários que se encontram em TDO e

suas famílias foi identificada nos depoimentos que seguem:

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”a gente consegue observar muitas coisas, principalmente crianças, cadernetas

de vacina desatualizadas. Já encontrei casos de crianças com 1 ano sem

registro, sem vacina nenhuma, entendeu ?” (ACS 4)

Uma usuária também manifesta a satisfação em ter tido outras demandas relacionadas à

sua saúde atendida. Parece que neste período em que está em tratamento para TB, o acesso às

outras ações de saúde foi facilitado:

“o acompanhamento é ótimo. Passa mais coisa para fazer assim. Já tem até

dentista marcado, fiz preventivo já também.” (Usuária 2 de 33 anos)

Aproveitar a visita domiciliar do TDO para modificar o olhar do profissional de saúde,

para ampliar suas ações de saúde e avaliar as condições de saúde de toda a família, também foi

apontado por Muniz et al (1999), quando alguns profissionais se referiram à finalidade do

tratamento supervisionado da TB. O TDO da TB além de aproximar o profissional do usuário

e sua famílias, o que permite conhecer um pouco das suas condições de vida e de saúde,

também prioriza o atendimento dessa família, de acordo com as vulnerabilidades apresentadas,

no acesso às ações de saúde ofertadas por aquele serviço de saúde.

c) Vigilância e o cuidado no Tratamento Diretamente Observado

Alguns profissionais seguem á risca o que é preconizado pelo PNCT no TDO,

principalmente a observação da tomada da medicação, com o intuito de assim garantir a adesão

ao tratamento e consequentemente a cura da TB. No entanto, outros profissionais conseguem

compreender o TDO enquanto parte de um cuidado que precisa ser compartilhado pelos

sujeitos. Na fala de um ACS, a valorização da tomada da medicação se destaca quando diz que

o TDO:

“e ver ele tomando na minha frente. Eu vejo, eu boto o comprimido na mão dele,

para ele estar tomando. Peço para ele pegar o copo d’agua primeiro para ele

estar tomando.” (ACS 1)

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Em contrapartida, outro ACS parece compreender que o seu papel enquanto profissional

de saúde vai além de observar o usuário ingerindo a medicação anti-TB. No relato deste ACS,

é possível perceber a presença de uma relação dialógica entre os sujeitos do cuidado, o que

reflete aspectos de humanização e responsabilização na realização do TDO da TB.

“mas todos os pacientes que eu tenho DOTS eu sento com eles e converso antes

do tratamento e explico que o tratamento de DOTS é compartilhado. Eu tenho

a minha parte e ele tem a parte dele. A gente não pode confundir as coisas.”

(ACS 9)

Uma enfermeira tem outra opinião em relação ao TDO da TB. Apesar de achar que o

TDO é sim um “trabalho de babá”, pois tem que ver o usuário ingerir a medicação, numa

frequência diária, essa é uma responsabilidade dos profissionais de saúde que não podem

desistir do usuário quando este apresentar alguma resistência ou dificuldade durante o

tratamento. Este depoimento demonstra o quanto essa profissional se sente responsável pelo

cuidado a este usuário portador de TB que se encontra em TDO.

“É chato? É. Quem quer ficar atrás... “esse é trabalho de babá”(...) É o trabalho

de babá, mas é nossa responsabilidade sobre a saúde do povo. Então a gente

tem que fazer, não tem jeito.” (Enfermeira 6)

Os relatos divergentes quanto à prática do TDO da TB, nos levam a refletir que no dia-

a-dia do profissional de saúde o limite entre o cuidar do usuário portador de TB e ter que “vigia-

lo” para que não deixe de ingerir a medicação é bastante frágil, já que as ações de saúde junto

a esse usuário podem ser reduzidas a entrega da medicação no domicílio e à visualização da

tomada da medicação anti-TB.

Neste sentido, Barreto et al (2012) apontaram que a redução da estratégia DOTS à

entrega da medicação e ao benefício da cesta básica ou café da manhã, fragiliza a construção

do cuidado integral ao doente portador de TB, ao mesmo tempo que fortalece a concepção de

que os serviços estão focados apenas na cura da TB, reforçando um modelo biomédico de

atenção á saúde. No presente estudo também identifica-se na fala de uma enfermeira a

responsabilização sobre os usuários de um determinado território, questão essa que é referida

enquanto humanização e integralidade do cuidado. O profissional de saúde entende o seu papel

e se responsabiliza pelo cuidado com o usuário portador de TB.

Sob outra perspectiva, usuários e familiares entendem o cumprimento do horário, a ida

do profissional de saúde à residência, o fornecimento e a visualização do tomada da medicação

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anti-TB como a realização do trabalho e como parte do cuidado realizado pelos profissionais

de saúde. No discurso a seguir, sobressai a importância atribuída pelos familiares a visualização

da tomada da medicação, a ida dos profissionais ao domicílio e a marcação de consulta. Estes

procedimentos são compreendidos enquanto cuidado dos profissionais durante o TDO:

“ eles estão fazendo o trabalho deles, acho que direitinho... não tenho do que

me queixar...Sempre eles vem no horário, dão os remédios...Marcou a nova

consulta do Pedro, não tenho que me queixar nada deles não.” (Avó 3 de 78

anos).

Nesta outra fala, a irmã vai um pouco mais além da entrega da medicação e da

visualização da ingesta, pois destaca a “palavra amiga” e a amizade com os profissionais. Desta

forma o TDO pode fazer parte de um cuidado integral, onde há formação de vínculo e diálogo

entre o usuário e sua família e o profissional de saúde/serviço de saúde.

“assim, o cuidado que eles tem é até a palavra deles amiga, o cuidado com o

remédio para não faltar, ver ela tomar, entendeu? Isso é muito importante. No

final acaba tendo uma amizade para a família e vocês do posto.” (Irmã de 39

anos).

Neste terceiro relato, o usuário ainda se coloca como “um trabalho a mais” ou um fardo

para o profissional de saúde. Ele não compreende o seu papel de sujeito nessa relação com o

profissional e dentro do seu próprio tratamento.

“Ela vem trazer o remédio todo dia, se tivesse algum problema já era para ir

lá. Não tenho o que reclamar não...cuidado... para saber como é que eu estou,

ver eu tomando o remédio mesmo, né. Só isso. Está aqui todo dia me

aguentando.” (Usuário 1 de 19 anos)

A realização do TDO não é a garantia do sucesso do tratamento da TB e da sua cura. A

participação do usuário em seu próprio tratamento é fundamental. É importante que a equipe

de saúde conheça este usuário e saiba de outras questões de sua vida que possam interferir no

tratamento e até na sua relação com os profissionais de saúde. Para Vendramini (2001 p. 161)

ainda é um desafio para os serviços de saúde entender o enfoque de que “a tuberculose é um

produto social e está relacionado à qualidade de vida e à oportunidade de acesso ao trabalho”,

ao contrário do enfoque que prevalece que é o “da ação terapêutica da ingestão da medicação

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como garantia da cura”, concepção baseada no ciclo biológico da tuberculose, onde o

tratamento medicamentoso é aceito pelo doente como uma “necessidade imperiosa”, sem

alternativas ou opções.

d) Interferências do TDO na rotina do usuário portador de TB

A questão da interferência do TDO na rotina dos usuários foi referida tanto pelos

profissionais de saúde como pelos usuários e está relacionada principalmente com o horário

que é realizado, pois ocorre de acordo com o horário de funcionamento da unidade de saúde e

não com o horário de trabalho dos usuários portadores de TB. A princípio o TDO deve ser

realizado em comum acordo dos profissionais com os usuários, entretanto algumas normas

estabelecidas pelo PCT e pela própria SMS-RJ dificultam esse acordo, já que a medicação anti-

TB deve ser ingerida pela manhã em jejum e o horário de funcionamento das unidades de saúde

nem sempre são ajustadas às atividades dos usuários. Esse possível desencontro de horários

pode dificultar a adesão ao tratamento da TB e até comprometer a relação com o usuário e sua

família.

Esta incompatibilidade de horário unidade-profissional-usuário é considerada pelo

profissional como um ponto negativo que dificulta a realização do TDO da TB, como é

observado no relato abaixo:

”Para as pessoas que trabalham e a unidade ela tem um horário de

funcionamento e você tem um horário de trabalho, que é de 8 da manhã às 17

horas. O que acontece, nesse horário de 8 da manhã às 17 horas as pessoas

estão trabalhando ou estão no caminho do trabalho, que é a questão do fluxo

saí do trabalho até a residência ou da residência até o trabalho.” (ACS 9)

No relato de uma usuária, percebe-se sua indignação com o horário que o profissional

de saúde chegava na sua casa para lhe entregar a medicação anti-TB e que ela precisaria ainda

estar de jejum. Em decorrência da rotina de acordar muito cedo, o horário que o TDO era

realizado não era adequado às necessidades e realidade da usuária. Neste sentido, tanto a adesão

ao tratamento quanto a relação construída com o profissional de saúde poderiam ser

prejudicados.

“é... porque eu acordo cedo, aí ficava com fome e tinha que esperar 9 ou 10

horas, às vezes até quase meio dia pra tomar o remédio para poder

comer.”(Usuária 8 de 26 anos)

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Da mesma forma que identificamos as interferências do TDO na rotina dos usuários e

seus familiares, no estudo de Vedramini (2001) o tratamento supervisionado foi descrito como

um elemento que pode impedir ou interferir na capacidade dos indivíduos, que se encontram

em tratamento, em realizar as atividades do cotidiano, trazendo assim uma mudança no ritmo

da sua vida. Esta interferência é compreendida como um aspecto negativo, como pode ser

observado no depoimento anterior.

O fato do encontro do TDO ser diário também incomoda os usuários, já que estes

precisam estar disponíveis tanto para comparecer à unidade de saúde como para receber o

profissional de saúde em seu domicílio. Esta “obrigação diária”, pelo menos de segunda à sexta-

feira, confere ao tratamento uma conotação ruim, mesmo que por um período de duração do

tratamento. Este incômodo é nítido no depoimento de um usuário:

“Eu fico restrito...Tem que acordar todo dia a essa hora para vir tomar o

remédio. Porque as vezes eu saio ...Tenho que voltar no domingo por causa do

remédio na segunda.” (Usuário 6 de 25 anos) .

Outras interferências relevantes nas rotinas dos usuários estão relacionadas ao cuidado

com a própria saúde, onde alguns hábitos como a ingestão de bebida alcóolica e o fumo são

desaconselháveis durante o tratamento da TB. Principalmente no período do tratamento, há

necessidade de mudança de hábito, o que muitas vezes é difícil para os usuários, como está

explícito no relato a seguir:

”... ah, eu fiquei mal por ficar, por ficar... como é que se diz, tipo preso. Não

ter mais a liberdade que eu tinha de andar , de beber cerveja, de final de

semana.”(Usuário 6 de 25 anos)

Diferentemente do usuário anterior, no relato do usuário a seguir identificamos que não

houve mudança no seu horário de acordar e assim o profissional de saúde adaptou o TDO, no

sentido de quem vê a tomada da medicação pode não ser o profissional, mas sim o familiar que

está acompanhando o usuário:

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“Eles vem todo dia aqui dar o remédio. Quando ele não vem no horário certo,

geralmente ele deixa aqui. Eu acordo tarde, minha avó pega o remédio, traz. Aí

quando eu acordo, tomo.” (Usuário 10, de 18 anos).

Entretanto o TDO pode ser incorporado à rotina do usuário e assim ele consegue fazer

o tratamento e manter suas atividades sem maiores complicações, se adaptando bem á nova

rotina e ás medicações, como foi relatado por um familiar:

“O Pedro fez esse tratamento foi muito ótimo. Porque o Pedro reagiu muito

bem, porque do jeito que o Pedro fazia, tinha as atividades dele, ele tem as aulas

de dança dele por aí, Eu ficava agoniada. ... Pedro não teve nenhuma recaída,

não teve nenhuma, graças a Deus. Continuou sempre melhorando, melhorando,

até chegar agora.” (Avó 5 de 75 anos).

Alternativas para minimizar as interferências nas atividades dos usuários, é a

combinação do melhor horário para o profissional de saúde e o usuário:

“a gente marca o melhor horário para ir na casa do paciente, para também não

atrapalhar a vida dele”. (ACS 3)

O profissional de saúde deve buscar o máximo de alternativas possíveis para que o TDO

seja realizado, visto que o vínculo, a relação de diálogo, a responsabilização e

corresponsabilização do cuidado que se estabelece nestes momentos irão permanecer para

depois do término do tratamento da TB. O TDO tem prazo para terminar, mas os “atos de

cuidar” que serão construídos farão parte desta relação entre os sujeitos: profissional-usuário.

e) A autonomia dos usuários nas escolhas no TDO e seus limites

A lógica para fazer o TDO da TB, ou para a escolha da equipe de saúde responsável

pelo acompanhamento da família, segue a lógica da ESF, onde uma equipe de saúde da família

é responsável por uma determinada população adscrita em um determinado território. Este

território é dividido em seis microáreas, as quais cada uma está sob a responsabilidade de um

ACS. A responsabilidade de realizar o TDO acompanha esta lógica de trabalho da ESF, ou seja,

não há opção de escolha da equipe de saúde, de quem será o seu ACS ou quem fará o seu TDO

da TB, como relata um usuário:

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71

“Não (não escolheu com quem eu ia tomar o remédio). Isso foi de... de áreas.

Cada um tem a sua área então não tem como escolher quem vai entregar ou

não.” (Usuário 1 de 19 anos)

Talvez se houvesse a possibilidade de escolha da equipe de saúde ou do ACS para a

realização do TDO da TB, os encontros entre os sujeitos fossem mais promissores, já que

haveria o respeito pelos desejos e vontades de ambas as partes na durante as práticas de cuidado.

Vale ressaltar que nas situações onde não é valorizada a inclusão do usuário na produção do

seu próprio cuidado, nem o modelo de supervisão diária da tomada da medicação, como no

TDO da TB, a adesão ao tratamento poderá ser prejudicada, o que reflete o aspecto da

medicalização na busca da cura da TB, como é percebido no discurso de um profissional de

saúde a seguir:

“A ACS fulna pedia para abrir a boca, para ver se ela tinha tomado mesmo. Eu

não me lembro o nome da paciente, mas quando ela faleceu foi achado na casa

dela um saco de remédio. Quer dizer ela não tomava, ela só tomava quando a

acs ia lá na casa. Isso me impactou bastante.” (ACS 1)

A partir deste relato podemos refletir com base na literatura (ALVES et al, 2012) que a

participação do usuário no seu tratamento é fundamental para a efetivação das práticas de

cuidado e desta forma, bem como o usuário reconhecido enquanto sujeito do seu projeto

terapêutico, o que resulta na integralidade do seu cuidado.

f) As diferentes dificuldades presentes na tomada da medicação anti-TB

A tomada da medicação anti-TB foi uma das questões relatadas, tanto pelos usuários

portadores de TB em TDO quanto pelos próprios profissionais de saúde quando se referiram

aos aspectos negativos do TDO da TB. O tempo do tratamento de, no mínimo seis meses, a

quantidade de comprimidos e o tamanho dos mesmos, foram as questões apontadas como

negativas do tratamento da TB:

“... não sei se seria pedir demais botar tudo, todas as drogas numa só, para eles

não terem que tomar tanta medicação?” (Enfermeira 7).

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72

Com concepções convergentes, profissionais e usuários apontaram que a quantidade de

comprimidos que correspondem ao tratamento diário é grande e esta questão interfere na

aceitação do tratamento. O usuário também se queixa das reações que a medicação pode causar:

“Porque negativo... é a quantidade de comprimido. São quatro. Querendo ou

não é ruim. Então se eu não comer eu sinto enjoou. Meu corpo estranhou, né.

Às vezes eu passava mal, com diarreia.” (Usuário 1 de 19 anos).

O tamanho dos comprimidos foi outro aspecto lembrado como negativo no tratamento

da TB por mais um usuário:

“O tamanho do remédio, que é quase um... maior que a garganta.” (Usuário 6

de 25 anos).

Outro ponto que surgiu como negativo, relacionado às medicações, foram as reações

adversas da medicação anti-TB, que muitas vezes não eram explicadas pelo profissional de

saúde no início do tratamento. O TDO deveria ser o momento de encontro entre o usuário e o

profissional de saúde, momento que se repete todos os dias e que deveria ser aproveitado,

primeiramente, para esclarecer questões pertinentes ao tratamento e dúvidas que possam

ocorrer em todo o período, como uma prática de cuidado.

Quanto à necessidade de haver comunicação e orientação enquanto prática de cuidado,

Souza et al (2010) apontam a importância da equipe de saúde da família estimular a participação

do usuário em todas as etapas do seu tratamento para TB e lhes fornecer, através de uma

linguagem de fácil entendimento, informações relevantes. Não basta haver apenas a fala do

profissional de saúde, é preciso que haja a confirmação se houve um entendimento correto a

respeito dessas informações.

Esta prática deve fazer parte da rotina dos profissionais de saúde, pois a dificuldade na

comunicação entre o profissional e o usuário pode interferir de forma negativa no processo de

educação em saúde e consequentemente nas práticas de cuidado do TDO da TB. No depoimento

a seguir se destaca uma possível falha na comunicação entre os sujeitos quanto às reações

adversa da medicação do tratamento da TB:

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“Só que isso eles não me explicaram, então eu estava tomando o remédio, logo

no começo, aí fui fazer xixi, aí saiu vermelho aí eu fiquei com medo, eu fiquei

apavorada.” (Usuária 8 de 26 anos).

A falha na comunicação entre o profissional e o usuário portador de TB pode refletir

uma fragilidade no vínculo entre eles e na responsabilidade do profissional sobre o cuidado

com o usuário e com sua família. Apesar de ser referido como negativo por profissionais e

usuários, a tomada da medicação também é entendida por outro usuário como necessária para

o sucesso do tratamento e consequentemente para a cura da sua doença. Mesmo com todos os

efeitos que a medicação pode causar, os usuários aceitam e se acostumam com a rotina da

tomada dos medicamentos anti-TB, conforme é observado no relato a seguir:

“é a medicação que no começo é muito pesada, muito forte. Mas depois, é... se

acostuma. Entendeu ? É igual você sabe que tem que beber água, sabe mas não

fala. É igual quando você sabe que tem que tomar banho, escovar o dente todo

dia. Então você sabe que tem que tomar o remédio. Aí acaba se

adaptando.”(Usuária 7 de36 anos)

Entre as estratégias de manejo das dificuldades diárias para garantir a realização do

TDO, uma das estratégias mais relatadas foi a medicação sobressalente que muitos profissionais

de saúde deixam com seus usuários para que o tratamento não seja interrompido caso ocorra

algum imprevisto. Esta prática pode garantir o TDO da TB na situação da impossibilidade do

profissional ir ao domicílio ou do usuário ir à unidade de saúde. Estas outras alternativas, que

fogem das recomendações técnicas para realização do TDO, são importantes para a interação

do usuário com o profissional de saúde e consequentemente para as práticas de cuidado.

Podemos identificar nos discursos abaixo, que deixar uma quantidade de comprimidos com os

usuários visam garantir a não interrupção da tomada da medicação anti-TB:

“Às vezes eles dão remédio a mais, porque o morro fica meio bravo, para eles

descer.... Uma vez ficaram até aqui. Tinha tiroteio aqui em cima, não puderam

nem subir.”(Usuária 2 de 33 anos)

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O ACS, de acordo com as necessidades apresentadas na dinâmica da USF e no território,

como a violência armada, utiliza seus “manejos”, ou melhor, formas diferenciadas do que é

preconizado nas normativas do PCT ou nas normas internas da USF, sempre com o objetivo

maior de garantir a realização do tratamento e o seu término. Esta disponibilidade por parte do

profissional é notada no depoimento:

“Eu principalmente não gosto de pressionar algumas coisas. O que importa é

ele iniciar o tratamento e terminar. A forma que a gente vai fazer isso, são os

manejos. É o manejo. A gente tem esse manejo com o paciente.”(ACS 4)

É nesta perspectiva do manejo da realidade para garantir o TDO, que Pessôa et al (2011)

referem que quanto mais o trabalhador de saúde pautar suas ações no trabalho vivo, mais

criatividade e liberdade estarão presentes nas suas ações em saúde, o que também possibilita a

criação de vínculo. Assim, o profissional de saúde não é um mero reprodutor de normas e

condutas que se encontram estabelecidas nas Linhas de cuidado da TB, ele precisa utilizar tanto

as questões técnicas como as não técnicas ao se deparar com as intercorrências presentes no

cotidiano do território e do trabalho em saúde.

g) O TDO enquanto única solução para o alcance da cura da TB

Muitos profissionais de saúde acreditam que o TDO é a estratégia mais eficaz para a

obtenção da cura da TB e até de outras doenças. Nesta perspectiva é preciso entender a

observação da tomada da medicação como ação importante, mas também valorizar o momento

deste encontro, que é diário, como momento de encontro humanizado, oportuno para

fortalecimento do vínculo entre o profissional de saúde e o usuário e não apenas para

confirmação da tomada da medicação.

Esta concepção está intimamente relacionada à lógica do trabalho em saúde que ainda

privilegia a produção de procedimentos e a reprodução do modelo tecnicista e biologicista

(BRASIL, 2012). Nos depoimentos a seguir, a enfermeira e o ACS apostam no modelo de

tratamento do TDO como solução para tratar e curar outras doenças, nas quais os usuários

seriam pessoas com dificuldade de adesão ao tratamento normal e que estariam colocando em

risco seus companheiros, família e a comunidade.

” Mas o DOT é 100%, é 100%. Se sífilis fosse tratada com DOT, muita gente

estaria curada há muito tempo. Não teria mais essas questões de sífilis

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congênita, entendeu % Se a gente pudesse amarrar isso de uma forma que... oh,

saí toma uma, e aí a gente vai lá e “tum” dá a outra, não precisava do paciente

vir aqui, tomar o número de injeções que teve que fazer e aí não vem...se fosse

TDO... resolvido” (ACS 9).

O TDO é valorizado não apenas por seu aspecto “fiscalizador”, mas também pela

ampliação do contato entre o profissional de saúde/equipe de saúde – usuário/família que de

fato pode contribuir para o controle de determinado agravo. A realização do TDO deve estar

inserida em um conjunto de práticas de cuidado pertinentes à ESF. Este outro sentido do TDO

está subentendido na fala da enfermeira:

“eu fiz de infecção urinária, porque a paciente estava grávida e não queria

tomar o remédio. Então a gente fez o TDO da infecção urinária. Eu falei: você

vai vir, se você não vier, a gente vai atrás. Teve que ser assim. Ela não queria

tomar. A gente tem que dar um jeito de tomar. É fogo, entendeu. É fogo. Agora

eu estou começando a ficar adepta disso. A sífilis, a sífilis mesmo. A benzetacil.

Se eu não for para a área, eles não vem. Eu já tenho dois pacientes que eu tive

que ir atrás. Duas paciente com parceiro. Parceiro então é mais difícil ainda. É

até paciente do Sergio. O Sergio, me perguntou porque que tinha que... eu disse

você vai, você vai. Ah, você vai. (Enfermeira 6).

Em conformidade com os discursos dos profissionais de saúde, a valorização da

observação da tomada da medicação pelo TDO e a percepção desta prática enquanto modo de

cuidar, foram identificados também nas falas de uma usuária e uma mãe de usuário:

“eu acho que (cuidar dele) pela adaptação que eles vêm aqui, manda ele tomar

o remédio na frente deles. Porque tem muitos que jogam fora, né...mas eu não

deixo. Mandam ele tomar o remédio. Mas eles sempre ficam aí até a hora que

ele toma o remédio, dá uma “palavrazinha” e depois vão embora, porque eles

tem outras coisas ara fazer, né. Eles cuidam dele muito bem . Não tenho do que

me que me queixar deles.” (Mãe 1)

“a medicação assim é certo. Nunca falta assim a medicação. Todo dia ela vem

e não esquece de deixar. A dedicação. Muita responsabilidade. Você vê que a

pessoa quer está te ajudando também.” (Usuária 2 de 33 anos)

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76

Todos os depoimentos, dos profissionais, usuário e familiar, apresentados nesta

dimensão, convergem para uma das questões chaves deste estudo, que o TDO é compreendido

pelos sujeitos como a principal forma de cuidado nas ações de controle da TB, sendo o principal

responsável pela cura da TB através da adesão ao tratamento, onde o usuário portador de TB é

obrigado a ingerir a medicação na presença de um profissional de saúde.

h) Situações de violência no território durante o TDO

Em áreas de favela, algumas situações de violência armada que ocorrem no território,

interferem na realização do TDO, mudando a rotina e a forma com que acontece. O tiroteio

impede e interfere de forma negativa na realização do TDO. Os profissionais de saúde não

conseguem chegar às residências dos usuários, o que pode prejudicar além do tratamento da

TB, as outras atividades pertinentes à ESF. Nesse contexto, o usuário também não consegue

sair do seu domicílio e chegar até a unidade de saúde. Desta forma toda a atenção à saúde fica

comprometida, como é possível observar no depoimento da usuária:

“no meio do tiroteio ninguém vinha trazer, e eu é que ia ter que ir, eu “bala de

aço” (queria dizer peito de aço)...a diretora manda vocês ficarem presos aí

dentro e o povinho tem que ir no meio da bala...” (Usuária 8 de 25 anos).

Este achados convergem os do estudo realizado por Soares et al (2013) nos anos 2000-

2001 onde questões sociais e a violência urbana foram identificados como fatores limitantes na

execução do DOT. Em virtude da recorrência dos momentos de violência armada no território

adscrito da unidade de saúde, alguns profissionais utilizam uma estratégia para realização do

TDO e o usuário não fique sem a medicação, como refere uma ACS:

”eu deixo sempre uma reserva, um comprimido de emergência, para caso não

dê para subir, eu ligo para ela e ela toma. Caso quando a área estiver

impossibilitada de subir, aí ela toma. Aí não tendo isso, eu vou todo dia.” (ACS

3)

O ACS ao mesmo tempo que mora no território da unidade de saúde ele é um

profissional de saúde que realiza o seu trabalho no território onde mora. Este conhecimento real

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de como está o território, fornece ao ACS elementos para que tome determinadas decisões no

intuito de garantir o cuidado ao usuário.

6.2.2.3 O lugar da família

O terceiro núcleo temático identificado é a importância da família no acompanhamento

do tratamento do usuário portador de TB. A família geralmente está presente em todos os

momentos do tratamento, sempre em busca da melhora do seu familiar e assim contribui de

forma relevante para o sucesso do tratamento da TB. Neste núcleo estão inseridas as seguintes

dimensões: a) o apoio da família ao usuário portador de TB e b) o cuidado com a alimentação

do usuário portador de TB.

a) O apoio da família ao usuário portador de TB

A família é referida e valorizada pelo profissional de saúde como fundamental para a

continuidade e sucesso do tratamento pelo usuário portador de TB. A família desempenha o

papel de parceira do profissional de saúde, para o cumprimento do TDO da TB. Desta forma o

cuidado com o usuário é compartilhado com o familiar. A ausência de um familiar é relatado

até como “um problema” para o ACS, pois de acordo com a sua experiência o usuário vai dar

mais trabalho durante o seu tratamento sem a sua família para dar o suporte. O papel da família

apoiadora é um consenso de todos os sujeitos, conforme é verificado nos depoimentos a seguir:

“Porque eu acho que você tendo uma pessoa da família que se preocupa, sempre

vai estar chamando a atenção, ajudando, supervisionando e se for uma pessoa

sozinha, dependendo se ela não tiver aquela cabeça, aquela personalidade, “eu

quero me cuidar, eu quero me curar”, o acs vai ter mais trabalho, vai ser mais

complicado... não tinha uma estrutura familiar, que ajuda bastante, dependendo

da família, aquela família estruturada.”(ACS 1).

Os familiares também relataram que se sentem na obrigação de apoiar o seu familiar. O

período de doença é delicado e o seu parente precisa de apoio, tanto na questão de organização

da rotina para fazer o tratamento, quanto no apoio psicológico após a descoberta da doença.

“olha filha, eu tenho dado apoio a ele como se fosse meu filho, entendeu? Ele é

um pouco rebelde, mas eu entendo que é da idade, mas o que eu posso fazer por

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ele eu faço. É como um filho. (...) Pra mim adoeceu, tem que ter o apoio de

alguém” (Avó 3 de 78 anos)

“Todo mundo está dando apoio. Meu esposo, minha irmã mora aqui em cima...

está todo mundo junto...(a mãe ter vindo de outro estado), ajudou mais.

Engordei dois quilos....” ah, ótimo. Se não fosse a minha família e eles.... acho

que eu estava até em depressão. Porque no começo eu chorava muito, não

queria aceitar que... eu não dormia direito, não conseguia comer, fraca da

cabeça, começava a ficar tonta, a ficar tonta. Ele me ajudou muito.”(Usuária 2

de 33 anos)

Da mesma forma que ocorreu o destaque do papel desempenhado pelos familiares no

tratamento de usuários portadores de TB no presente estudo, Yamamura et al (2014), ao buscar

identificar, entre outras questões, a participação das famílias na gestão do cuidado do doente de

TB também verificaram que o envolvimento dos familiares foi reconhecido como importante

na recuperação do seu familiar, doente de TB em TDO. Reforçando a concepção da importância

do apoio familiar, Silva et al (2015), chamam atenção para o sentido atribuído pelos pacientes

à importância do papel da família na dimensão do suporte emocional, do cuidado e durante o

tratamento, principalmente, na TB, onde foi percebido um apoio da família maior.

b) Cuidado com a alimentação do usuário

O cuidado com a alimentação do seu familiar foi apontado pelos informantes da

pesquisa como uma das principais ações de apoio da família durante o TDO. A TB, muitas

vezes antes de ser diagnosticada e tratada, traz alguns prejuízos graves para a saúde do

indivíduo, como por exemplo o emagrecimento e a debilidade.

“Contei até 80, sucos de laranja, até 80 (...) eu ficava preocupada com a comida

dele, fica insistindo pra ele comer, não quer isso aqui não Pedro, quer isso

aqui.? Até ele comer, até ele conseguir comer e fazer o suco de laranja assim,

pra não tomar leite, pra não tomar leite perto do remédio.” ( avó 5)

Nestas circunstâncias, para o reestabelecimento da saúde e para suportar as medicações

anti-TB, a alimentação é a principal preocupação por parte dos familiares, o que é notado no

relato de uma avó que cuidou do seu neto durante o tratamento da TB. Nogueira et al (2012)

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referem a importância da suplementação alimentar dos usuários com TB, que já é recomendado

na busca da melhoria do estado nutricional deles. Na condução deste cuidado os familiares são

apontados como os principais responsáveis.

A inclusão da família na gestão do cuidado se apresenta como potencialidade das

práticas de cuidado no TDO da TB. É importante que o profissional de saúde entenda a dinâmica

familiar e assim identifique o familiar que possa ser seu parceiro e corresponsável, junto com o

profissional e o próprio usuário nas práticas de cuidado da TDO da TB. Souza et al (2010, p.

907) apontam que o desconhecimento da realidade familiar por parte da equipe de saúde leva a

fragilização do vínculo entre os sujeitos do cuidado mas quando este vínculo está fortalecido,

a relação entre eles envolve “confiança, respeito e solidariedade”. A partir destas características

é possível que haja produção do cuidado nos encontros intersubjetivos dos sujeitos: usuário,

sua família e o profissional de saúde.

6.2.4 Associação da TB ao HIV/AIDS

O quarto núcleo temático é a associação da TB ao HIV/AIDS, onde se destacou a

dimensão do estigma de quem tem TB tem HIV/AIDS. Alguns usuários demonstraram receio

em receber o agente de saúde em suas casas em virtude do que a vizinhança poderia pensar e

que associaria aquela visita diária à TB e consequentemente ao vírus do HIV e à AIDS.

”o paciente se sente invadido na sua residência, porque ele não quer que os

outros, pelo estigma ainda da doença, que os vizinhos saibam, porque associam

ainda que todo mundo que tem TB tem HIV. Para eles não é nem tanto o medo

de saber que tem TB mas sim saber se é soro positivo.”( Enfermeira 1)

Este foi um dos principais motivos pelo qual muitos usuários preferiram ir tomar a

medicação na unidade de saúde e não no domicílio. Isto é visto pelos profissionais enquanto

uma desvantagem do TDO, pois os usuários estariam sendo expostos aos seus vizinhos e à sua

comunidade. Ambos os agravos são estigmatizantes para os indivíduos portadores, seja de TB

ou HIV/Aids. Neste sentido, no estudo de Silva et al (2015), que procurou analisar os

significados atribuídos pelos pacientes a respeito da vivência da comorbidade TB/HIV, foi

possível perceber como o tratamento medicamentoso sofre influência por parte dos pacientes

que se preocupam em não tornar públicas suas doenças, o que revela o estigma como sendo

um motivo relevante relacionado à dificuldade de adesão ao tratamento

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6.3 Os limites e as potencialidades das práticas de cuidado no TDO da TB em uma unidade

de saúde da família da Rocinha

Diante das questões abordadas no trabalho de campo, descrevemos as práticas de

cuidado considerando as normativas do PNCT e de documentos oficiais e a visão dos

profissionais, usuários e seus familiares. A partir destes achados empíricos apontaremos os

limites e as potencialidades das práticas de cuidado no TDO da TB.

No primeiro momento, quando entramos em contato com os documentos oficiais

(descritos no item 5.3.1) utilizados na USF e realizamos a observação direta do TDO da TB,

identificamos como limites das práticas de cuidado a descontinuidade do acompanhamento do

TDO nos registros obrigatórios dos documentos oficiais do PCT, a falha no registro no

acompanhamento dos comunicantes como a solicitação e os resultados dos exames, a

organização interna das equipes para acompanhar os usuários em TDO da TB que diferem entre

as seis equipes de saúde da família, a dificuldade referida pela responsável pela Linha de

Cuidados da TB em trabalhar as questões relativas à TB com os profissionais das seis equipes,

ou por resistência dos mesmos ou pela escassez de tempo devido às constantes demandas do

serviço, visto que a linha de cuidado da TB é uma das linhas de cuidado que são de

responsabilidade da equipe de saúde da família.

A estrutura física da unidade de saúde também se mostrou inadequada para a realização

do TDO da TB, pois não há um espaço reservado (preservação do sigilo) para a interação entre

o profissional e o usuário no momento da tomada da medicação, que ocorre no próprio guichê

da equipe ou no corredor da unidade. Outro ponto negativo foi observado na dinâmica do

processo de trabalho que diz respeito às equipes de saúde da família, a participação quase que

nula dos técnicos de enfermagem nas práticas de cuidado do TDO da TB.

No entanto, muitas potencialidades também foram identificadas como a

descentralização de alguns documentos oficiais para controle pelas equipes como o livro de

registro dos sintomáticos respiratórios, o cartão espelho do registro do TDO e cópia da ficha de

notificação do SINAN, o envolvimento das equipes administrativas e do setor farmácia nas

práticas de cuidado do TDO da TB, o que dificulta a concentração de informações com poucos

profissionais, fato que poderia interferir na qualidade das ações de controle da TB.

Cabe ressaltar que apesar das informações e fluxos administrativos das ações de

controle da TB e do TDO serem amplamente compartilhado com os profissionais da unidade,

a responsabilidade da gestão é da direção junto com a responsável pelas Linhas de Cuidado da

TB. As equipes tem um turno na semana para realização das reuniões de equipe e um turno no

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qual é realizada a reunião geral, conforme é preconizado pela PNAB e pela SMS-RJ, com quase

todos os profissionais de saúde, salvo os que estão escalados no guichê do acolhimento e para

a realização de atendimento caso haja necessidade.

O fluxo de controle da ficha do SINAN (conforme descrição no item 6.1), também se

apresenta como ponto positivo nas práticas de cuidado, pois desta forma a subnotificação de

casos de tuberculose é minimizada, já que a direção da unidade tem esse controle sobre a

abertura e acompanhamento dos casos. Essa medida é reforçada pelo fato do setor da farmácia

só liberar a medicação mediante a apresentação da cópia da Ficha de notificação, que também

fica arquivada neste setor. Para finalizar as potencialidades apresentadas podemos citar uma

estratégia utilizada por alguns ACS que fazem o TDO (dupla ou trio), pois assim, quando o

ACS responsável estiver impossibilitado de fazer o TDO no domicílio ou na USF, o seu colega,

da mesma equipe, poderá fazer. Desta maneira o usuário já conhece o substituto do seu ACS de

referência e nestas circunstâncias poderá manter uma relação de diálogo e expor suas

ansiedades e dúvidas quanto ao tratamento ou outras questões que envolvam sua saúde e de sua

família.

No segundo momento, os limites e as potencialidades das práticas de cuidado do TDO

da TB foram apontadas mediante a visão dos profissionais de saúde, usuários e seus familiares

nas entrevistas realizadas. Os limites propostos estão diretamente relacionados aos núcleos

temáticos e suas dimensões (discutidos no item 6.2.).

Assim um dos primeiros limites apontados foi o comportamento de acomodação que o

usuário pode ter durante a realização do TDO da TB, como se ele não fosse corresponsável

pelas práticas de cuidado com a sua própria saúde, juntamente com o profissional de saúde que

realiza o seu TDO e a sua equipe de saúde. Neste contexto, Campos (2003, p. 29), refere que

este seria o vínculo onde é estabelecido um “padrão paternalista”, onde o usuário não consegue

gerir e superar situações adversas da sua vida e assim se coloca como dependente das ações de

cuidado dos profissionais de saúde.

Entretanto, Campos & Matta (2007) advertem para que a questão do estímulo de

vínculos e corresponsabilidade entre os profissionais e as famílias assistidas na busca da

parceria no cuidado à saúde seja vista com atenção, pois devem ser aproveitadas as

potencialidades encontradas nesta relação sem que recaia sobre as famílias, a culpa por não

conseguir cumprir as exigências que vão além dos limites de suas condições. No relato de

alguns usuários, o acompanhamento do TDO foi citado como o primeiro contato do usuário

com o serviço de saúde/profissionais, o que demonstra uma falha no acompanhamento das

famílias do território adscrito, a prática do TDO ainda é compreendida como uma tarefa a mais

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na rotina de alguns ACS, ou seja, como se o TDO não fizesse parte das atribuições de um

profissional de saúde da ESF.

Nesta perspectiva das diretrizes da ESF, podemos apontar a falta de autonomia de o

usuário escolher quem o acompanhará no TDO da TB, pois o seu acompanhamento segue a

lógica do local onde reside pertencer ao território de uma determinada equipe de saúde da

família e na microárea de um determinado ACS.

Outro limite do TDO é a conotação de “trabalho de babá” que lhe é atribuído, o que

reforça o entendimento de que o TDO apenas significa a observação da tomada da medicação

anti-TB diariamente. O TDO, por apresentar uma frequência diária e de depender de um

profissional para visualizar a tomada da medicação, tem como um dos seus limites a

incompatibilidade de horário de funcionamento da USF, incluindo o horário de trabalho dos

profissionais, com as atividades que os usuários realizam e até a sua rotina doméstica, como

por exemplo, acordar muito cedo e ter que esperar em jejum o profissional com a medicação

ou acordar tarde e o profissional deixar a medicação com um familiar porque não pode esperar.

E, por último destaca-se como limite do TDO as situações de violência armada que

ocorrem neste território onde coexistem o trafico de drogas e uma Unidade de Polícia

Pacificadora (UPP). No momento do conflito armado o profissional não pode sair da unidade e

o usuário não pode sair do domicílio para buscar a medicação contra a TB.

Na referência às potencialidades, identificamos o vínculo como uma potencialidade da

prática do TDO da TB, pois na medida em que é construído entre o profissional de saúde/equipe

de saúde com o usuário e sua família, se apresenta como um veículo para a realização de um

cuidado integral já que permite um contato e convívio maior entre os sujeitos. Neste encontro

que passa a ser diário durante o tratamento, é oportunizado ao profissional de saúde conhecer e

entender melhor as condições de vida da família e assim pode propor a construção de projetos

terapêuticos, onde outras necessidades de saúde são identificadas e atendidas.

Outra potencialidade que podemos apontar é a possibilidade dos profissionais

apresentarem estratégias ou “manejos” para garantir que os usuários tomassem a medicação

caso alguma intercorrência acontecesse no território ou na unidade de saúde que impedisse a

realização do TDO. Como última potencialidade identificamos que as famílias dos usuários são

incluídas no tratamento, sendo consideradas como parceiras dos profissionais de saúde,

contribuindo de forma significativa para o sucesso do TDO da TB.

Quadro 2: resumo das potencialidades e limites das práticas de cuidado do TDO da TB

no CMS Dr Albert Sabin.

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Limites das práticas de cuidado no TDO da TB

Potencialidades das práticas de cuidado no TDO da TB

1º. Momento:

documentos oficiais

utilizados na USF e

observação direta

do TDO da TB

Descontinuidade de acompanhamento do

TDO nos registros obrigatórios dos

documentos oficiais do PCT;

Falha no registro de acompanhamento

dos comunicantes como a solicitação e os

resultados dos exames;

Organização interna das equipes para

acompanhar os usuários em TDO da TB

que diferem entre as seis equipes de saúde

da família;

Dificuldade referida pela responsável pela

Linha de Cuidados da TB em trabalhar as

questões relativas à TB com os

profissionais das seis equipes, ou por

resistência dos mesmos ou pela escassez

de tempo devido às constantes demandas

do serviço;

A estrutura física da US inadequada para

a realização do TDO da TB, pois não há

espaço reservado (preservação do sigilo)

para a interação entre o profissional e o

usuário no momento da tomada da

medicação, que ocorre no próprio guichê

da equipe ou no corredor da unidade.

Dinâmica do processo de trabalho das

equipes de saúde da família;

Participação quase que nula dos técnicos

de enfermagem nas práticas de cuidado do

TDO da TB.

Descentralização de alguns documentos

oficiais para controle pelas equipes como o

livro de registro dos sintomáticos respiratórios,

o cartão espelho do registro do TDO e cópia da

ficha de notificação do SINAN;

o envolvimento das equipes administrativas e

do setor farmácia nas práticas de cuidado do

TDO da TB;

Apesar das informações e fluxos

administrativos das ações de controle da TB e

do TDO serem amplamente compartilhado

com os profissionais da unidade, a

responsabilidade da gestão é da direção junto

com a responsável pelas Linhas de Cuidado da

TB.

As equipes têm um turno na semana para

realização das reuniões de equipe e um turno

no qual é realizada a reunião geral;

O fluxo de controle da ficha do SINAN já que

a direção da unidade tem esse controle sobre a

abertura e acompanhamento dos casos (a

medicação mediante a apresentação da cópia

da Ficha de notificação, que também fica

arquivada neste setor);

Estratégia utilizada por alguns ACS que fazem

o TDO em dupla ou trio.

2º. Momento:

mediante a

visão dos

profissionais de

saúde, usuários

e seus

familiares nas

entrevistas

realizadas.

Acomodação que o usuário pode ter

durante a realização do TDO da TB;

Falta de autonomia do usuário em escolher

quem o acompanhará no TDO da TB;

Conotação de “trabalho de babá” que lhe

é atribuído, o que reforça o entendimento

de que o TDO apenas significa a

observação da tomada da medicação anti-

TB diariamente;

Incompatibilidade de horário de

funcionamento da USF, incluindo o

horário de trabalho dos profissionais, com

as atividades que os usuários realizam e

até a sua rotina doméstica;

Situações de violência armada que

ocorrem neste território onde coexistem o

trafico de drogas e uma Unidade de

Polícia Pacificadora (UPP).

Vínculo como um veículo para a realização de

um cuidado integral já que permite um contato

e convívio maior entre os sujeitos, sendo

oportunizado ao profissional de saúde

conhecer e entender melhor as condições de

vida da família e assim propor a construção de

projetos terapêuticos, onde outras necessidades

de saúde são identificadas e atendidas.

Possibilidade dos profissionais apresentarem

estratégias ou “manejos” para garantir que os

usuários tomassem a medicação caso alguma

intercorrência acontecesse no território ou na

unidade de saúde.

As famílias dos usuários são incluídas no

tratamento, sendo consideradas como parceiras

dos profissionais de saúde, contribuindo de

forma significativa para o sucesso do TDO da

TB.

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85

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo buscou-se caracterizar as práticas de cuidado do TDO da TB em uma

unidade de saúde da família, através da descrição destas práticas na visão dos profissionais de

saúde, dos usuários portadores de TB e de seus familiares, considerando também a análise

documental dos documentos oficiais do PNCT e da PCT da SMS-RJ utilizados na unidade de

saúde e os elementos obtidos no trabalho de campo por intermédio da observação direta, cujas

informações foram registradas no diário de campo.

A pergunta de investigação que orientou o desenvolvimento da pesquisa foi

devidamente respondida, na medida em que se descrevem as principais características das

práticas de cuidado do TDO da TB em uma unidade de saúde da família do bairro da Rocinha

somada à descrição da percepção destas práticas sob ponto de vista dos sujeitos que

efetivamente vivem esta experiência do cuidado. Contudo, o modelo de reorientação de

Atenção à Saúde na APS, que corresponde à ESF, pode contribuir de forma imperativa para o

cuidado integral ao usuário portador de TB, mesmo que os serviços de saúde da ESF ainda não

estejam devidamente organizados para contemplar as reais necessidades dos usuários e

familiares, no que se refere às práticas de cuidado do TDO da TB.

Para a caracterização das práticas de cuidado, partimos das dimensões de acolhimento,

relação dialógica, responsabilização e o vínculo que estão diretamente relacionadas com o

conceito de integralidade do cuidado e os princípios da Estratégia Saúde da Família, contexto

onde o TDO é realizado. Com base nestas dimensões analisadas, ainda se coloca o dilema entre

o cuidado mais humanizado e centrado no usuário e o cuidado medicalizado e centrado na

organização do serviço. Trata-se de uma tensão que promove uma dicotomia a ser superada,

pois ambas as dimensões do cuidado se sobrepõe de modo a orientar a lógica de ações dos

atores envolvidos.

As práticas de cuidado do TDO da TB se apresentam ainda centradas no fornecimento

diário das medicações e na visualização da tomada das mesmas. Nos discursos dos sujeitos

foram identificados limites e potencialidades importantes nas práticas de cuidado. Como limites

destacamos o comportamento de acomodação que o usuário pode ter durante a realização do

TDO da TB, como se ele não fosse corresponsável pelas práticas de cuidado com a sua própria

saúde, a prática do TDO compreendida como uma tarefa a mais na rotina de alguns ACS, ou

seja, como se o TDO não fizesse parte das atribuições de um profissional de saúde da ESF,

além da falta de autonomia do usuário em optar por quem o acompanhará no TDO da TB.

Alguns profissionais interpretam a realização do TDO como o “trabalho de uma babá”, o que

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86

reforça a concepção da observação da tomada da medicação anti-TB e as situações de violência

armada que ocorrem neste território. Dentre as potencialidades se encontram a importância do

vínculo para a realização de um cuidado integral que oportunizada ao profissional de saúde

conhecer e entender melhor as condições de vida da família e assim pode propor a construção

de projetos terapêuticos, possibilidade de estratégias ou “manejos” para garantir a tomada da

medicação em caso alguma intercorrência e a inclusão da família no tratamento, contribuindo

de forma significativa para o sucesso do TDO da TB.

Portanto, foi através destes depoimentos e da observação direta que foi possível

compreender um pouco melhor como as práticas de cuidado do TDO da TB estão ocorrendo de

fato no dia a dia da unidade de saúde. Ao serem questionados sobre o cuidado realizado durante

o TDO, os usuários e seus familiares enfatizaram elementos referentes à execução do TDO

como parâmetro de um “bom cuidado”, onde a ida do ACS à residência diariamente, a entrega

dos medicamentos e o ato de olhar a medicação ser ingerida pelo usuário em tratamento

bastasse. Em alguns discursos também identificamos a satisfação de usuários e familiares com

o estreitamento das relações com os profissionais/serviço de saúde, pois outras necessidades de

saúde estavam sendo atendidas durante esse período do tratamento da TB, como o agendamento

de um exame preventivo e de uma avaliação odontológica.

Na perspectiva da visualização da tomada da medicação anti-TB, as práticas de cuidado

do TDO da TB se apresentaram tendo como objetivo a garantia do sucesso do tratamento e a

cura da tuberculose. No serviço de saúde, desde a direção da unidade de saúde até os membros

das equipes de saúde, está organizado um fluxo interno para responder corretamente às

recomendações das ações de controle da TB preconizadas pelo PNCT e pelo PCT da SMS-RJ,

como por exemplo, o preenchimento imediato da Ficha de Notificação de Agravos da TB e do

Livro de Registro de pacientes e acompanhamento de tratamento dos casos de tuberculose –

PNCT. Apesar das recomendações não serem rigorosamente cumpridas, é identificado um

esforço por parte de toda a equipe da unidade em atendê-las.

Estas ações refletem a busca pelo cuidado integral nas práticas de cuidado do TDO, o

que é possível mediante a uma postura acolhedora, a construção de uma relação de vínculo,

onde o profissional mantém uma relação dialógica e se coloca disposto a escutar a demanda

apresentada pelo usuário e sua família, configurando a responsabilização pelo cuidado com a

saúde dos sujeitos. Alguns profissionais assumiram a necessidade de realizar o TDO e vigiar o

usuário na tomada da medicação e ao mesmo tempo se responsabilizar pelas ações de saúde

direcionadas ao usuário e sua família na busca de compartilhar o cuidado com eles. Os ACS

aparecem como os profissionais de saúde que realizam o TDO quase que exclusivamente, já

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87

que há pouca participação do enfermeiro e nenhuma do técnico de enfermagem. O papel

desempenhado pelo ACS remete à questão da ambivalência deste profissional: ser morador do

território de abrangência da unidade de saúde onde trabalha e ser profissional de saúde, agente

do cuidado até do próprio vizinho. Esta é uma temática que merece ser destacada em outras

pesquisas.

No contexto das práticas de cuidado o apoio familiar surgiu como um elemento

fundamental na realização do TDO. Alguns profissionais até relataram o quanto maior é o seu

trabalho com os usuários que não tem família ou amigos como apoio. A família é incluída no

acompanhamento do TDO e o cuidado também é compartilhado com ela. Este é outro tema que

vale ser aprofundado em outros estudos relativos aos cuidados envolvidos no tratamento não só

da TB, mas também de outros agravos e da atenção à saúde em sua totalidade.

Ao término deste estudo foi possível reafirmar alguns dos pressupostos propostos no

início. As ações preconizadas pelo PCT para o controle da TB, principalmente o TDO, se

encontram centralizadas no fornecimento das medicações e na supervisão da tomada dos

mesmos. A ESF, modelo de reorientação da APS, pode contribuir de forma positiva para o

cuidado integral ao usuário portador de TB, entretanto ainda prevalece a concepção de que o

TDO é a principal forma de cuidado ao usuário portador de TB e os serviços de saúde da ESF

ainda não se encontram organizados para contemplar as reais necessidades dos usuários e

familiares, que transcendem as questões biológicas e técnicas que envolvem o tratamento da

TB.

Espera-se que o presente trabalho contribua para estudos futuros no que se refere à

temática das praticas de cuidado no TDO da TB na ESF. Foram apresentados elementos

relevantes, principalmente no que concebe a uma escuta qualificada dos sujeitos do “ato de

cuidar”. A qualificação das práticas de cuidado converge para melhorar a atenção prestada aos

usuários que se encontram em tratamento para a tuberculose e estão inseridos na estratégia

saúde da família, que hoje se apresenta como modelo de reorientação da APS e porta de entrada

do Sistema Único de Saúde em todo o país.

A partir da caracterização das práticas de cuidados do TDO da TB no CMS Dr. Albert

Sabin, apresento a seguir algumas recomendações pertinentes ao serviço de saúde no intuito de

corroborar para a qualificação dos profissionais de saúde e do próprio serviço na busca da

integralidade do cuidado.

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88

8. RECOMENDAÇÕES PARA A USF CMS DR ALBER SABIN

A partir dos achados do estudo, considerou-se pertinente elencar algumas

recomendações, conforme descritas abaixo, como contribuição para o serviço de saúde no que

diz respeito às práticas de cuidado da TB no TDO. Entende-se que tais recomendações

envolvem uma série de ações a serem implementadas pelos diferentes atores com potencial de

mudanças na prática do TDO da TB e em outras práticas no serviço.

- Realizar capacitação para o preenchimento correto dos documentos de registro do PCT-RJ,

com destaque para a sua importância.

- Organizar, de forma padronizada, as equipes de saúde da família quanto aos documentos

referentes ao controle da TB, como o cartão espelho.

- Realizar capacitação quanto ás práticas de cuidado na APS, com ênfase na necessidade de

construção do Projeto Terapêutico, principalmente para as famílias que apresentem alguma

dificuldade ou vulnerabilidade.

- Fomentar a integração maior da enfermeira responsável pela linha de Cuidados da TB com as

demais equipes, para que o processo de trabalho no controle da TB possa ser acompanhado.

- Definir estratégias de participação dos técnicos de enfermagem e dos demais membros da

equipe da saúde da família nas práticas de cuidado da TB, inclusive o TDO.

- Realizar sensibilização dos profissionais da equipe da saúde da família quanto às questões de

produção da TB que não se encerram nas questões biológicas, com foco na necessidade da

realização de ações intersetoriais.

- Identificar um local adequado para a realização do TDO na unidade de saúde, onde haja

privacidade para o usuário portador de TB.

- Estimular a participação dos profissionais do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF)

nas práticas de cuidado da TB, principalmente na construção dos projetos terapêuticos dos

usuários e de suas famílias.

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9. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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ANEXOS

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95

Anexo 1

Roteiro da Observação Direta do TDO

Data: ________________________________________________________________

Horário de início: _____________ Horário de término: ______________

I. Caracterização do local de realização do TDO

1. Local de realização:____________________________

2. Usuário portador da TB (código):_________________

3. Profissional de Saúde (código):__________________

4. Local para sentar na sala de espera: ( ) Sim ( ) Não

5. Iluminação natural na sala de atendimento: ( ) Sim ( ) Não

6. Ventilação na sala: ( ) Sim ( ) Não proteção individual do profissional de saúde

7. Atendimento com porta fechada (privacidade): ( ) Sim ( ) Não

8. Existe no local/espaço apropriado para a realização do atendimento individual?

9. Insumos necessários para o TDO e a medicação anti-TB: ( ) sim ( ) não

II. Pontos a serem observados entre os profissionais de saúde durante o TDO:

- Forma como trata e recebe o usuário / Consegue escutar o usuário ?

- Apropriação do histórico do tratamento do usuário;

- Esclarecimento de dúvidas que o usuário possa apresentar;

- Continuidade no acompanhamento com o próprio profissional ou com a equipe de saúde/

Agendamento do próximo dia do TDO, ou de algum tipo de agendamento solicitado ou

necessário.

- Incentivo à continuidade do tratamento.

III. Pontos a serem observados no usuário durante o TDO:

- Demonstração de vínculo e contato anterior com o profissional

- Demonstração de confiança nas orientações realizadas pelo profissional;

- Demonstração da vontade de continuar com o tratamento.

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Anexo 2

Roteiro de Entrevista para o Profissional de Saúde

USF:___________________________________________________________

CÓDIGO: _______________________

Data:________________ Início:______________ Término:________________

1. Caracterização Profissional:

1.1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

1.2. Categoria Profissional: ________________________________________

1.3. Função que ocupa na Unidade: _________________________________

1.4. Equipe de Saúde da Família que pertence: _________________________

1.5. Há quanto tempo trabalha nesta USF ? ___________________________

1.6. Local que realiza o TDO: ______________________________________

2. Questões relativas às práticas de cuidado do TDO da TB:

2.1 Há quanto tempo você faz o TDO nos usuários portadores de TB (pacientes com TB) ?

2.2 Você teve alguma capacitação ou treinamento específico para que pudesse fazer o TDO

?

2.3 Como você faz o TDO da TB, ou seja, você poderia me explicar o passo a passo do

TDO?

2.4 Você acha importante realizar o TDO? Por quê? Se sim, teria alguma situação, em

especial, que você acha que o TDO é importante? Você pode dar algum exemplo da sua prática?

2.5 A partir da sua experiência quais as vantagens e desvantgens você vê neste tipo de

tratamento (TDO da TB)?

2.6 Você realiza outras ações, para além do tratamento da TB, com os usuários portadores

de TB e suas famílias? Quais seriam estas ações?

2.7 Quais os cuidados que você realiza no acompanhamento do TDO do usuário portador

da TB?

2.8 Você percebe diferença no tratamento da TB dos usuários entre os que recebem apoio

dos familiares e os que não recebem?

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Anexo 3

Roteiro de Entrevista para Usuário da Unidade de Saúde da Família

USF:___________________________________________________________

CÓDIGO:___________________________

Data:________________ Início:______________ Término:________________

Profissional de saúde que realiza o seu TDO (código):___________________

1. Caracterização do Usuário:

1.1 Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

1.2 Idade: _______ anos

1.3 Qual a sua cor/ raça (auto-declaração) ? ________

1.4. Classificação do pesquisador: ( ) branca ( ) parda ( ) preta

( ) amarela ( ) indígena

2. Questões relativas às práticas de cuidado do TDO da TB:

2.1 Como você descobriu que estava com tuberculose?

2.2 Quando soube do diagnóstico de tuberculose, você contou para alguém? Se sim, para

quem?

2.3 O que mais preocupa você em relação a ter tuberculose?

2.4 Alguém (parente/amigo) tem te apoiado no tratamento da TB ?

2.5 Você recebeu alguma orientação em relação a essa doença e ao seu tratamento? Se sim,

de quem ?

2.6 Você escolheu como e com quem tomar o medicamento da TB?

2.7 Quais os profissionais de saúde fazem o seu tratamento da TB ?

( ) ACS ( ) Técnico de Enfermagem ( ) Enfermeiro ( ) Médico

2.8 Há quanto tempo você trata de TB nessa unidade/USF?

( ) Menos de 1 mês ( ) Entre 1 mês e 6 meses ( ) Entre 6 e 9 meses ( ) Entre 9 e

12 meses ( ) Mais de 12 meses

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2.9 Como é o atendimento do profissional de saúde que te acompanha no tratamento da TB

e fornece o medicamento?

2.10 Quando você precisa de alguma ajuda, em relação a sua saúde ou da sua família, onde

você vai e quem você procura? .(Quando pré Isa de ajuda a quem recorre)

2.11 O que você acha do apoio que tem recebido no tratamento da TB?

2.12 Cite três pontos positivos e três pontos negativos do tratamento da TB que você recebe

?

2.13 Quais são os cuidados que o profissional de saúde que te acompanha no tratamento

observado da TB realizam com você?

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Anexo 4

Roteiro de Entrevista dos Familiares

CÓDIGO: ___________________

Usuário Portador de TB com parentesco (código):___________________________

Profissional de saúde que realiza o TDO do usuário (código):__________________

1. Caracterização da relação com o usuário familiar/amizade

1.1 Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

1.2 Idade: _______ anos

1.3 Qual a sua cor/ raça (auto-declaração) ? ________

1.4. Classificação do pesquisador: ( ) branca ( ) parda ( ) preta

( ) amarela ( ) indígena

1.5 Tipo de parentesco / relação com o usuário: ____________________________

1.6 Mora no mesmo domicílio?__________________________________

1.7 História pregressa de tuberculose ? ________________________________

2. Questões relativas às práticas de cuidado do TDO da TB:

2.1 Qual foi a sua reação ao saber que o seu parente/amigo estava com tuberculose ?

2.2 Você sabe em qual unidade o seu parente/amigo faz o tratamento para TB ?

2.3 O que você acha do tratamento que seu parente vem recebendo?

2.5 O que tem feito para dar apoio ao seu parente/amigo no tratamento da TB .?

2.6 Você conhece os profissionais de saúde da equipe que atende o seu parente/amigo no

tratamento da TB?

2.7 Como você e o seu parente/amigo são atendidos pelo profissional de saúde que fornece

o medicamento anti-TB ?

2.8 Você recebe alguma orientação ou outro tipo de apoio para acompanhar seu parente /

amigo no tratamento da TB?

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101

2.9 Quando você e o seu parente/amigo (que está em tratamento para a TB), tem algum

problema de saúde (relacionado ou não a tuberculose), onde vocês vão e quem vocês procuram

?

2.10 De que forma o profissional de saúde, que acompanha o tratamento da TB do seu parente

/ amigo cuida dele ? O que o profissional faz para cuidar do seu parente durante o tratamento

da TB?

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102

Anexo 5

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) DO PROFISSIONAL

DE SAÚDE

Prezado participante,

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa: “Práticas de Cuidado no

Tratamento Diretamente Observado da Tuberculose na Estratégia Saúde da Família do Bairro

da Rocinha no Município do Rio de Janeiro: a visão dos profissionais e dos usuários.” Esta

pesquisa está sendo desenvolvida por Raquel Barros de Almeida Araújo, aluna de Mestrado em

Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz

(ENSP/FIOCRUZ), sob orientação das Professoras Doutora Marly Marque Cruz

(DENSP/Fiocruz) e Doutora Eliane Vargas (IOC/Fiocruz).

O objetivo central do estudo é caracterizar os limites e as potencialidades das práticas de

cuidado no Tratamento Diretamente Observado (TDO) da Tuberculose (TB) na Estratégia

Saúde da Família (ESF) do Bairro da Rocinha no Município do Rio de Janeiro, considerando o

contexto organizacional onde estas práticas ocorrem e a visão dos profissionais de saúde e dos

usuários e seus familiares.

O convite a sua participação se deve ao fato de você fazer parte da equipe de profissionais de

saúde do CMS Dr. Albert Sabin e que está envolvido no Tratamento Diretamente Observado

da TB. Sua participação é voluntária e você tem plena autonomia para decidir se quer ou não

participar, bem como retirar sua participação a qualquer momento e não ser penalizado,

independente da sua decisão. Entretanto cabe ressaltar que a sua participação é muito

importante.

Página 1 de 3

Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das informações por você prestadas e

qualquer dado que possa identificá-lo será omitido na divulgação dos resultados da pesquisa. A

Page 104: “Práticas de Cuidado no Tratamento Diretamente Observado ... · 2 A663p Araújo, Raquel Barros de Almeida Práticas de cuidado no tratamento diretamente observado da tuberculose:

103

qualquer momento, durante ou após a pesquisa, você poderá solicitar do pesquisador

informações sobre sua participação e/ou sobre a pesquisa, o que poderá ser feito através dos

meios de contato explicitados o final deste Termo.

A sua participação consistirá em responder algumas perguntas do questionário durante a

entrevista que necessariamente será gravada e realizada pela autora do projeto, além de ser

observado, pela pesquisadora principal, durante a realização do TDO. O tempo de duração da

entrevista é de aproximadamente uma hora. É importante lembrar que as entrevistas serão

transcritas e armazenadas, em arquivos digitais, mas somente terão acesso às mesmas a

pesquisadora e suas orientadoras. Ao final da pesquisa, todo material será mantido em arquivo,

por pelo menos 5 anos, conforme Resolução 466/12 e orientações do CEP/ENSP.

O benefício relacionado com a sua participação nesta pesquisa é a de contribuição para a

identificação dos limites e potencialidades das práticas de cuidado no tratamento diretamente

observado da tuberculose no CMS Dr Albert Sabin e desta forma fornecer subsídios para

intervenções necessárias na melhoria da qualidade do cuidado e qualificação das equipes de

saúde da família deste território.

Os riscos que a pesquisa pode oferecer estão relacionados a algum tipo de constrangimento ou

desconforto que possa ocorrer durante a etapa de entrevista ou da observação direta. Estes riscos

serão minimizados, caso necessário, com a interrupção imediata do procedimento.

Os resultados deste estudo serão divulgados em apresentação no CMS Dr. Albert Sabin dirigida

aos profissionais de saúde, usuários em acompanhamento e tratamento da tuberculose e seus

familiares, além de artigos científicos e na dissertação.

Este termo está redigido em duas vias, que serão assinadas por você e pela pesquisadora, e você

receberá uma das vias do termo com ambas as assinaturas.

Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de Ética

em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo defender os

interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no

desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.

Página 2 de 3

Dessa forma o comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que

a pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da

autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade.

Tel e Fax - (0XX) 21- 2598-2863

E-Mail: [email protected]

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104

http://www.ensp.fiocruz.br/etica

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/ FIOCRUZ, Rua Leopoldo Bulhões, 1480 –

Andar Térreo - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 21041-210.

Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro

Rua Afonso Cavalcanti, 455 - 7 ° andar - sala 710 – Cidade Nova – Rio de Janeiro -

CEP 20211-901 - Tel: (21) 3971-1463 – e-mail: [email protected] e

[email protected]

Rio de Janeiro, _______ de _______________ de 2014.

________________________________________________________________

Raquel Barros de Almeida Araújo / ENSP/FIOCRUZ (pesquisadora de campo)

Contato com a pesquisadora responsável:

Tel.: 98384-9284 / 3419-4704

E-mail: [email protected]

Local: ___________________ Data:____ /____ /_____.

Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e concordo em

participar.

_________________________________________

(Assinatura do participante da pesquisa)

Nome do participante:

Página 3 de 3

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Anexo 6

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) DO USUÁRIO

Prezado participante,

Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa: “Práticas de Cuidado no

Tratamento Diretamente Observado da Tuberculose na Estratégia Saúde da Família do Bairro

da Rocinha no Município do Rio de Janeiro: a visão dos profissionais, dos usuários e seus

familiares.” Esta pesquisa está sendo desenvolvida por Raquel Barros de Almeida Araújo, aluna

de Mestrado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da

Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), sob orientação da Professora Doutora Marly

Marque Cruz (DENSP/Fiocruz) e da Doutora Eliane Vargas (IOC/Fiocruz).

O objetivo principal do estudo é mostrar os pontos fracos e os pontos fortes do tratamento

supervisionado da tuberculose na unidade de saúde onde você é atendido, considerando a

organização da unidade de saúde para o tratamento da tuberculose a partir da opinião dos

profissionais de saúde, da sua opinião e de quem acompanha você no seu tratamento.

O convite para sua participação se deve ao fato de você fazer parte do grupo de pacientes que

está em tratamento da tuberculose na unidade de saúde Dr. Albert Sabin. Você é quem escolhe

se quer ou não participar e poderá sair da pesquisa quando quiser.

Mas preciso informar que a sua participação é muito importante, pois a partir da sua opinião

podemos saber o que está bom no tratamento da tuberculose e o que está ruim e assim buscar

melhorar o acompanhamento da equipe de saúde com você e sua família e com todos os outros

pacientes da unidade de saúde onde você se trata.

Seu nome verdadeiro não será revelado e não estará relacionado ao que você disser no momento

da divulgação dos resultados da pesquisa. A qualquer momento, durante ou após a pesquisa,

você poderá solicitar da pesquisadora responsável, a Raquel, as informações sobre sua

participação e/ou sobre a pesquisa, o que poderá ser feito através dos telefones ou e-mails que

se encontram no final deste documento.

A sua participação será de responder as perguntas do questionário à pesquisadora responsável

na entrevista, que terá que ser gravada, e permitir que a pesquisadora observe o momento em

que você tem que tomar a medicação da tuberculose. O tempo de duração da entrevista será de

aproximadamente uma hora.

Página 1 de 3

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106

É importante lembrar que as entrevistas serão transcritas e armazenadas, em arquivos digitais,

mas somente a pesquisadora e suas orientadoras poderão ver esse material. Ao final da

pesquisa, todo material será mantido em arquivo, por pelo menos 5 anos, conforme Resolução

466/12 e orientações do CEP/ENSP.

O benefício relacionado com a sua participação nesta pesquisa é a de contribuir para mostrar os

pontos fracos e os pontos fortes do tratamento supervisionado da tuberculose na unidade de

saúde onde você é atendido e assim poder ajudar para a melhoria da qualidade do cuidado e

melhoria do trabalho das equipes de saúde da família na Rocinha.

Os riscos que a pesquisa pode oferecer estão relacionados a algum tipo de constrangimento ou

desconforto que possa ocorrer durante a etapa de entrevista ou do momento em que está

tomando a medicação da tuberculose. Estes riscos serão reduzidos, caso necessário, com a

finalização imediata da entrevista ou da observação da tomada da medicação.

Os resultados desta pesquisa serão apresentados na unidade de saúde Dr. Albert Sabin aos

profissionais de saúde, a você que está em acompanhamento e tratamento da tuberculose e seus

familiares, além de artigos científicos e na dissertação.

Este documento está escrito em duas vias, que serão assinadas por você e pela pesquisadora, e

você receberá uma das vias do termo com as duas assinaturas.

Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de Ética

em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo defender os

interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no

desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.

Dessa forma o comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que

a pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da

autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade.

Tel e Fax - (0XX) 21- 2598-2863

E-Mail: [email protected]

http://www.ensp.fiocruz.br/etica

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/ FIOCRUZ, Rua Leopoldo Bulhões, 1480 –

Andar Térreo - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 21041-210.

Página 2 de 3

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107

Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro

Rua Afonso Cavalcanti, 455 - 7 ° andar - sala 710 – Cidade Nova – Rio de Janeiro -

CEP 20211-901 - Tel: (21) 3971-1463 – e-mail: [email protected] e

[email protected]

Rio de Janeiro, _______ de _______________ de 2014.

________________________________________________________________

Raquel Barros de Almeida Araújo / ENSP/FIOCRUZ (pesquisadora de campo)

Contato com a pesquisadora responsável:

Tel.: 98384-9284 / 3419-4704

E-mail: [email protected]

Local: ___________________ Data:____ /____ /_____.

Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e concordo em

participar.

_________________________________________

(Assinatura do participante da pesquisa)

Nome do participante:

Página 3 de 3

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Anexo 7

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

FAMILIAR DO USUÁRIO

Prezado participante,

Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa: “Práticas de Cuidado no

Tratamento Diretamente Observado da Tuberculose na Estratégia Saúde da Família do Bairro

da Rocinha no Município do Rio de Janeiro: a visão dos profissionais, dos usuários e seus

familiares.” Esta pesquisa está sendo desenvolvida por Raquel Barros de Almeida Araújo, aluna

de Mestrado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da

Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), sob orientação das Professoras Doutora Marly

Marque Cruz (DENSP/Fiocruz) e da Doutora Eliane Vargas (IOC/Fiocruz).

O objetivo principal do estudo é mostrar os pontos fracos e os pontos fortes do tratamento

supervisionado da tuberculose na unidade de saúde onde seu familiar é atendido, considerando

a organização da unidade de saúde para o tratamento da tuberculose e a partir da opinião dos

profissionais de saúde, da opinião do seu familiar que está tratando a tuberculose e da sua

opinião.

O convite para sua participação se deve ao fato de você acompanhar um paciente que está em

tratamento da tuberculose na unidade de saúde Dr. Albert Sabin. Você é quem escolhe se quer

ou não participar e poderá sair da pesquisa quando quiser.

Mas preciso informar que a sua participação é muito importante, pois a partir da sua opinião

podemos saber o que está bom no tratamento da tuberculose e o que está ruim e assim buscar

melhorar o acompanhamento da equipe de saúde com o seu familiar que está com tuberculose

e também com toda a sua família e com todos os outros pacientes da unidade de saúde.

Seu nome verdadeiro não será revelado e não estará relacionado ao que você disser no momento

da divulgação dos resultados da pesquisa. A qualquer momento, durante ou após a pesquisa,

você poderá solicitar da pesquisadora responsável, a Raquel, as informações sobre sua

participação ou sobre a pesquisa, o que poderá ser feito através dos telefones ou e-mails que se

encontram no final deste documento.

A sua participação será a de responder as perguntas do questionário à pesquisadora responsável

na entrevista, que terá que ser gravada e de permitir que a pesquisadora observe o

Página 1 de 3

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109

momento em que você acompanhe seu familiar na hora da tomada da medicação da tuberculose

com o profissional de saúde. O tempo de duração da entrevista será de aproximadamente uma

hora. É importante lembrar que as entrevistas serão transcritas e armazenadas, em arquivos

digitais, mas somente a pesquisadora e suas orientadoras poderão ver o material. Ao final da

pesquisa, todo material será mantido em arquivo, por pelo menos 5 anos, conforme Resolução

466/12 e orientações do CEP/ENSP.

O benefício relacionado com a sua participação nesta pesquisa é a de contribuir para é mostrar

os pontos fracos e os pontos fortes do tratamento supervisionado da tuberculose na unidade de

saúde onde você e o seu familiar são atendidos e assim poder ajudar para a melhoria da

qualidade do cuidado e melhoria do trabalho das equipes de saúde da família na Rocinha.

Os riscos que a pesquisa pode oferecer estão relacionados a algum tipo de constrangimento ou

desconforto que possa ocorrer durante a etapa de entrevista ou do momento em que o seu

familiar estará tomando a medicação da tuberculose. Estes riscos serão reduzidos, caso

necessário, com a finalização imediata da entrevista ou da observação da tomada da medicação.

Os resultados desta pesquisa serão apresentados na unidade de saúde Dr. Albert Sabin aos

profissionais de saúde, para o seu familiar que está em tratamento da tuberculose e para você,

além de artigos científicos e na dissertação.

Este documento está escrito em duas vias, que serão assinadas por você e pela pesquisadora, e

você receberá uma das vias do termo com as duas assinaturas.

Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de Ética

em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo defender os

interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no

desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.

Dessa forma o comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que

a pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da

autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade.

Tel e Fax - (0XX) 21- 2598-2863

E-Mail: [email protected]

http://www.ensp.fiocruz.br/etica

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/ FIOCRUZ, Rua Leopoldo Bulhões, 1480 –

Andar Térreo - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 21041-210.

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Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro

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Rua Afonso Cavalcanti, 455 - 7 ° andar - sala 710 – Cidade Nova – Rio de Janeiro -

CEP 20211-901 - Tel: (21) 3971-1463 – e-mail: [email protected] e

[email protected]

Rio de Janeiro, _______ de _______________ de 2014.

________________________________________________________________

Raquel Barros de Almeida Araújo / ENSP/FIOCRUZ (pesquisadora de campo)

Contato com a pesquisadora responsável:

Tel.: 98384-9284 / 3419-4704

E-mail: [email protected]

Local: ___________________ Data:____ /____ /_____.

Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e concordo em

participar.

_________________________________________

(Assinatura do participante da pesquisa)

Nome do participante:

Página 3 de 3

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Anexo 8

TERMO DE ANUÊNCIA PRÉVIA

Declaramos para os devidos fins, que aceitaremos que a pesquisadora Raquel Barros de

Almeida Araújo desenvolva o seu projeto de pesquisa “Práticas de Cuidado no Tratamento

Diretamente Observado da Tuberculose na Estratégia Saúde da Família do Bairro da Rocinha

no Município do Rio de Janeiro: a visão dos profissionais, dos usuários e seus familiares” no

CMS Dr. Albert Sabin – SMS-RJ e que está sob a orientação das Professoras Doutora Marly

Marque Cruz e da Doutora Eliane Vargas (IOC/Fiocruz). O objetivo principal do estudo é

caracterizar os limites e as potencialidades das práticas de cuidado no Tratamento Diretamente

Observado (TDO) da Tuberculose (TB) na Estratégia Saúde da Família (ESF) do Bairro da

Rocinha no Município do Rio de Janeiro, considerando o contexto organizacional onde estas

práticas ocorrem e a visão dos profissionais de saúde, dos usuários e seus familiares.

A aceitação está condicionada ao cumprimento pela pesquisadora dos requisitos da Resolução

466/12 e suas complementares, comprometendo-se a utilizar os dados e materiais coletados,

exclusivamente para os fins da pesquisa.

Rio de Janeiro, 11/ 02/ 2014.

__________________________________________________________________

Maria Helena Carneiro de Carvalho

Diretora do CMS Dr. Albert Sabin – SMS-RJ

Matrícula 11/095.045-1

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Anexo 9

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Anexo 10