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TATIANA MARUJO MENDES
PRTICAS E CONFLITOS NO CONSUMO DE ALIMENTOS NATURAIS:
UM ESTUDO EXPLORATRIO
Orientadora: Letcia Moreira Casotti, Ph.D.
Rio de Janeiro
2010
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em Administrao,
Instituto COPPEAD de Administrao,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessrios obteno do
ttulo de Mestre em Administrao.
Mendes, Tatiana Marujo.
Prticas e Conflitos no Consumo de Alimentos Naturais: Um Estudo
Exploratrio / Tatiana Marujo Mendes Rio de Janeiro, 2010.
165 f.
Dissertao (Mestrado em Administrao) Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administrao, Rio de Janeiro, 2010.
Orientador: Letcia Moreira Casotti, UFRJ/COPPEAD
1. Marketing 2. Comportamento do Consumidor. 3. Alimentos Naturais 4. Administrao - Teses. I. Casotti, Letcia Moreira (Orient.).
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de
Administrao. III. Ttulo.
TATIANA MARUJO MENDES
PRTICAS E CONFLITOS NO CONSUMO DE ALIMENTOS NATURAIS:
UM ESTUDO EXPLORATRIO
Aprovada por:
_________________________________________
Letcia Moreira Casotti, D.Sc. - Orientador
(COPPEAD/UFRJ)
_________________________________________
Renato Cotta de Mello, D. Sc.
(COPPEAD/UFRJ)
_________________________________________
Claudia Pereira, D. Sc.
(PUC-RJ)
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em Administrao,
Instituto COPPEAD de Administrao,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessrios obteno do
ttulo de Mestre em Administrao.
Ao Bruno,que trs magia a todos os meus dias
Aos meus pais,meus maiores exemplos
AGRADECIMENTOS
Uma dissertao de mestrado no apenas formada por centenas de pginas impressas, mas
tambm por muitas dvidas, descobertas e angstias. Apesar de muitas vezes a construo
deste trabalho ter sido uma tarefa solitria, tenho certeza que a sua concluso no teria sido
possvel sem o apoio e o incentivo de algumas pessoas s quais eu dedico e agradeo por esse
trabalho.
Em primeiro lugar, Deus, que sempre guiou o meu caminho, me deu serenidade e paz nos
momentos mais difceis, e que se faz presente na minha vida atravs de constantes bnos.
Ele tem sonhos para mim muito maiores do que os meus prprios.
Aos meus pais Aluisio e Celeste, meus maiores incentivadores e grandes responsveis por
todas as minhas conquistas. Exemplos de companheirismo e dedicao, agradeo por estarem
sempre ao meu lado, disponveis para me ajudar, no importa aonde ou quando. minha
famlia devo tudo o que sou e que um dia serei.
Ao meu namorado Bruno, minha maior conquista, pela pacincia com as minhas angstias,
por compreender muitas vezes as minhas ausncias e pelas constantes palavras de incentivo e
carinho. Ao amor da minha vida, agradeo por fazer de mim a mulher mais feliz do mundo.
Aos meus amigos e a minha famlia, que compartilharam comigo os momentos bons e ruins,
meus sorrisos e minhas lgrimas e sem os quais a minha vida teria muito menos graa. Em
especial Paulinha, Lola, Bubu e Lal, amigas to especiais que considero parte da minha
famlia. Agradeo por terem me escolhido para fazer parte de suas vidas, cada uma me
ensinou muito mais do que pode imaginar.
A minha orientadora, Letcia Casotti, pelos conselhos, apoio e pela pacincia com a sua aluna
engenheira super ansiosa. Agradeo pela orientao e pelos nossos encontros que j me
fazem sentir saudades de mergulhar com voc em um mundo novo, cheio de descobertas, que
resultaram nessa dissertao.
s entrevistadas por abrirem as portas de suas casas e fornecerem informaes to valiosas.
Por ltimo, agradeo a todos que conheci no COPPEAD. O perodo de tempo que passamos
juntos no capta a intensidade dos momentos que vivemos. Foram inmeros momentos felizes
e inesquecveis que lembrarei pra sempre.
RESUMO
MENDES, Tatiana Marujo. Prticas e Conflitos no Consumo de Alimentos Naturais: Um
Estudo Exploratrio. Rio de Janeiro, 2010. Dissertao (Mestrado em Administrao)
Instituto COPPEAD de Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2010.
O segmento de alimentos ditos naturais tem apresentado um crescimento expressivo, sendo
considerado um dos setores de maior crescimento na indstria de alimentos. No entanto,
diferentemente dos alimentos orgnicos, no h nenhuma lei ou rgo regulatrio que defina
as caractersticas de um alimento natural. Este estudo, de carter exploratrio, investiga as
principais caractersticas associadas pelos consumidores aos alimentos naturais e orgnicos, a
partir do discurso de 15 mulheres, de 44 a 57 anos, moradoras do Rio de Janeiro. O estudo
procurou compreender ainda como os consumidores diferenciam os conceitos de natural e
orgnico; as principais motivaes e barreiras para a compra de alimentos naturais; os
principais canais de distribuio utilizados na compra de alimentos naturais. As informaes
foram coletadas a partir de 15 entrevistas em profundidade com roteiro semi-estruturado e
com inspirao no mtodo dos itinerrios. Os relatos e as fotografias do espao domstico
tiradas durante as entrevistas foram interpretados tomando como base o referencial terico
construdo a partir de autores de Comportamento do Consumidor e outras reas referentes a
alimentos. Foi possvel observar nos relatos que, enquanto os alimentos orgnicos so
associados apenas a ausncia de agrotxicos, os alimentos naturais parecem ter recebido
diversas definies particulares com base nas prticas cotidianas de cada uma das
entrevistadas. A pesquisa sugere que o conceito de natural se associa mais a ausncia do que a
presena de determinada caracterstica e que apesar da grande dificuldade em descrever a
diferena entre o alimento orgnico e natural, segundo as entrevistadas os alimentos orgnicos
estariam inseridos na categoria dos alimentos naturais.
Palavras-chave: Comportamento do Consumidor. Alimentos Naturais. Alimentos Orgnicos.
ABSTRACT
MENDES, Tatiana Marujo. Practices and Conflicts in Natural Food Consumption: An
Exploratory Study. Rio de Janeiro, 2010. Masters Dissertation in Business Administration
Instituto COPPEAD de Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2010.
The food segment called "natural" has shown significant growth in the recent years, being
considered one of the fastest growing sectors in the food industry. However, differently from
organic foods, there is no law or regulatory body that defines the characteristics of a natural
food. This exploratory study, aims to investigate the main characteristics associated by
consumers with natural and organic food, based on the interviews of 15 women, aged from
44-57 years old, living in Rio de Janeiro. The study also sought to understand how consumers
differentiate the concept of natural and organic; the main motivations and barriers to the
purchase of natural food; the main distribution channels used to purchase natural foods.
Information was collected from 15 interviews with semi-structured routes and inspired by the
method of itineraries. The reports and photographs taken during the household interviews
were interpreted by taking as basis the theoretical framework constructed from authors of
Consumer Behavior and other areas related to food. It was observed trough the interviewees
discourse that while organic food is associated only with the absence of pesticides, natural
food seem to have received several private definitions based on the daily practices of each of
the interviewees. Research suggests that the concept of natural is more associated with the
absence than the presence of certain characteristic, and that despite the great difficulty in
describing the difference between organic and natural food, according to the interviewed
organic foods would be inserted in the category of natural food.
Keywords: Consumer Behavior. Natural Food. Organic Food.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Modelo Geral do Comportamento do Consumidor ............................................................... 14
Figura 2 Percepo, memria e aprendizado....................................................................................... 18
Figura 3 Componentes e manifestaes da atitude ............................................................................. 20
Figura 4 - Fatores que Influenciam a Compra de Alimentos Orgnicos ............................................... 36
Figura 5- Modelo Conceitual ................................................................................................................ 51
Figura 6 - Contnuo Construdo por Carolina ....................................................................................... 70
Figura 7 - Contnuo Construdo por Eduarda ........................................................................................ 72
Figura 8 - Contnuo Construdo por Antonia ........................................................................................ 75
Figura 9 - Contnuo Construdo por Flvia ........................................................................................... 78
Figura 10 - Contnuo Construdo por Rose ........................................................................................... 82
Figura 11 - Contnuo Construdo por Juliana ........................................................................................ 85
Figura 12 - Contnuo Construdo por Silvia .......................................................................................... 88
Figura 13 - Contnuo Construdo por Jlia ............................................................................................ 92
Figura 14 - Contnuo Construdo por Cristina....................................................................................... 95
Figura 15 - Contnuo Construdo por Maria .......................................................................................... 98
Figura 16 - Contnuo Construdo por Diana ........................................................................................ 101
Figura 17 - Contnuo Construdo por Luciana .................................................................................... 104
Figura 18 - Contnuo Construdo por Raquel ...................................................................................... 107
Figura 19 - Contnuo Construdo por Glria ....................................................................................... 110
Figura 20- Contnuo construdo a partir das 15 entrevistas ................................................................. 126
Figura 21- Modelo Conceitual ............................................................................................................ 147
Figura 22- Modelo Conceitual Revisitado .......................................................................................... 147
Dissertao%20Tatiana%20Mendes%20agradecimentos.doc#_Toc277614916
4
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Perfil dos Respondentes ........................................................................................................ 58
Tabela 2 - Definies do Conceito de Alimento Natural .................................................................... 121
Tabela 3 - Reunio dos Contnuos Construdos pelas Entrevistadas .................................................. 131
Dissertao%20Tatiana%20Mendes%2022082010.doc#_Toc270874212
5
SUMRIO
1. INTRODUO 8
1.1 CONTEXTUALIZAO DO ESTUDO 8
1.2 RELEVNCIA DO ESTUDO 11
1.3 ORGANIZAO DO ESTUDO 11
2. REVISO DA LITERATURA 13
2.1 INTRODUO AO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 13
2.2 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE ALIMENTOS 21
2.3 CONCEITO DE NATURAL E ORGNICO 26
2.4 O CONSUMIDOR DE PRODUTOS ORGNICOS 30
2.5 FATORES QUE INFLUENCIAM A COMPRA DE ALIMENTOS ORGNICOS 34
2.6 ALIMENTOS ORGNICOS: ATITUDES E MOTIVAES PARA A COMPRA 36 2.6.1 Alimentos Orgnicos So Mais Saudveis 37
2.6.2 Alimentos Orgnicos Possuem Gosto Superior 39
2.6.3 Alimentos Orgnicos Ajudam Ao Meio Ambiente 40
2.6.4 Alimentos Orgnicos Oferecem Menor Risco 41
2.6.5 Alimentos Orgnicos Protegem Os Animais 42
2.6.6 Outras Motivaes Para O Consumo De Alimentos Orgnicos 43
2.7 ALIMENTOS ORGNICOS: RESTRIES COMPRA 45 2.7.1 Preo Superior Dos Alimentos Orgnicos 45
2.7.2 Pouca Disponibilidade Dos Alimentos Orgnicos 46
2.7.3 Ceticismo Em Relao Aos rgos Regulatrios E s Empresas De Alimentos 47
2.7.4 Informao E Promoes Sobre Os Alimentos Orgnicos 47
2.7.6 Aparncia Do Alimento 49
2.8 MODELO CONCEITUAL 49
3. METODOLOGIA 51
3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA 52
3.2 ESCOLHA DO MTODO DE PESQUISA 53
3.3 COLETA DE DADOS 58
3.4 ANLISE E INTERPRETAO DAS INFORMAES 61
6
3.5 LIMITAES DO MTODO 63
4. DESCRIO DOS RESULTADOS 65
4.1 ENTREVISTADA 1 MARTA 66
4.2 ENTREVISTADA 2 CAROLINA 68
4.3 ENTREVISTADA 3 EDUARDA 71
4.4 ENTREVISTADA 4 ANTONIA 73
4.5 ENTREVISTADA 5 FLVIA 76
4.6 ENTREVISTADA 6 ROSE 79
4.7 ENTREVISTADA 7 JULIANA 83
4.8 ENTREVISTADA 8 SILVIA 86
4.9 ENTREVISTADA 9 JLIA 90
4.10 ENTREVISTADA 10 CRISTINA 93
4.11 ENTREVISTADA 11 MARIA 96
4.12 ENTREVISTADA 12 DIANA 99
4.13 ENTREVISTADA 13 LUCIANA 102
4.14 ENTREVISTADA 14 RAQUEL 104
4.15 ENTREVISTADA 15 GLRIA 108
5. ANLISE DOS RESULTADOS 112
5.1 BREVE HISTRICO ALIMENTAR 112
5.2 HBITOS E RITUAIS DA FAMLIA NO CONSUMO DE ALIMENTOS 116
5.3 CONCEITO DE NATURAL E ORGNICO 120
5.4 CATEGORIAS DE ALIMENTOS ASSOCIADAS AOS CONCEITOS DE NATURAL E ORGNICO126
7
5.5 MOTIVAES E BARREIRAS A COMPRA DE ALIMENTOS NATURAIS 132
5.6 CANAIS UTILIZADOS NA COMPRA DE ALIMENTOS NATURAIS 137
5.7 O INESPERADO 140
6. CONCLUSES 143
6.1 CONSIDERAES FINAIS 143
6.2 IMPLICAES GERENCIAIS 148
6.3 SUGESTES PARA PESQUISAS FUTURAS 149
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 151
ANEXO I- ROTEIRO DE ENTREVISTA 158
8
1. INTRODUO
A proposta deste estudo exploratrio compreender as diferentes definies e caractersticas
que consumidores associam aos alimentos naturais e orgnicos. Alm disso, este estudo
procura conhecer as principais categorias de alimentos associadas ao conceito de natural e as
principais motivaes e barreiras para a compra desse tipo de alimento. Os canais utilizados
para a compra dos alimentos naturais tambm foram investigados. Com essa finalidade,
utilizou-se de metodologia qualitativa atravs de 15 entrevistas em profundidade com
mulheres de classe mdia alta em suas residncias na Barra da Tijuca e na zona sul da cidade
do Rio de Janeiro.
1.1 CONTEXTUALIZAO DO ESTUDO
O segmento de produtos ditos naturais tem apresentado um crescimento expressivo, sendo
considerado um dos setores de maior crescimento na indstria de alimentos (HUGHNER et
al., 2007). O que comeou como um nicho de mercado, formado por consumidores
preocupados com os malefcios dos produtos qumicos para a sade e o meio-ambiente, vem
se transformando em uma tendncia mundial e tem sido notcia na mdia de massa (BRASIL,
2008). A tendncia do consumo de produtos naturais no se restringe apenas indstria de
alimentos, mas tambm se refere a produtos dos setores de higiene, limpeza, moda,
cosmticos, rao e flores (AARSET et al., 2004).
Reconhecendo tal tendncia, muitas empresas, principalmente no ramo de alimentos, utilizam
o termo natural nas embalagens de seus produtos e na sua comunicao. Assim, segundo a
pesquisa realizada nos Estados Unidos pela Mintels Global New Products Database (apud
Tufts University Health & Nutrition Letter, 2008), o termo natural foi a terceira palavra
mais encontrada nas embalagens dos produtos lanados no ano de 2007.
O crescimento do consumo de produtos naturais no Brasil tambm pode ser exemplificado
pelo grande sucesso das empresas do setor. A empresa brasileira Mundo Verde, por exemplo,
com 112 unidades varejistas em 2009, a maior rede de franquias de produtos naturais da
Amrica Latina, vendendo produtos que vo desde alimentos naturais CDs e livros1.
1 http://www.franchisekey.com/br/franquia/MUNDO-VERDE.htm
9
Apesar do crescimento expressivo das redes de produtos naturais, no existe consenso ou
definio prevista em lei das caractersticas que tornam um produto natural, sendo difcil a
mensurao do mercado de produtos naturais. Alm disso, no h no Brasil nenhum rgo
regulatrio que certifique se um determinado produto possa se auto-intitular natural. O
conceito de natural quando associado a produtos controverso, tanto pela inexistncia de
definio oficial quanto pelos diversos potenciais sinnimos utilizados, como: orgnico,
biodinmico, sustentvel, ecolgico, biolgico, integral, alternativo entre outros (ORMOND
et al., 2002).
A definio de alimento orgnico, diferentemente de natural, prevista em lei (BRASIL,
2003) e possui selo de certificao que atesta a adoo do sistema orgnico de produo.
Assim como o Brasil, diversos pases tambm possuem uma definio legal das caractersticas
dos produtos orgnicos e selo de certificao, possibilitando a mensurao do mercado.
Na Europa, o crescimento das vendas do setor de alimentos orgnicos foi estimado em 20%
ao ano (HUGHNER et al., 2007). Segundo uma pesquisa realizada em 2000, as frutas e
verduras respondem por 36% das vendas do setor enquanto os laticnios representam 32% das
vendas, os demais vegetais e as carnes detm respectivamente 28% e 1% das vendas (HILL e
LYNCHEHAUN, 2002).
O mercado de produtos orgnicos americano tem apresentado um crescimento semelhante ao
europeu. Em relao ao setor de alimentos orgnicos, as vendas cresceram de $1 bilho, em
1990, para cerca de $20 bilhes em 2007. Assim, o segmento de alimentos orgnicos
representou, em 2006, 2,8% das vendas totais de alimentos e bebidas nos Estados Unidos
crescendo 20,6% no mesmo ano. A projeo para 2008 de que as vendas de alimentos e
bebidas orgnicas no mercado americano ultrapassem os $23 bilhes. O setor de produtos
orgnicos no alimentares obteve um crescimento de 26% nas vendas de seus produtos em
2006, alm disso, esperado um crescimento para o segmento de cosmticos naturais de 40%
at 2010 (ORGANIC TRADE ASSOCIATTION, 2007).
No entanto, apesar do crescimento das vendas dos produtos naturais e orgnicos, e da
existncia de uma definio legal do conceito de alimento orgnico, o consumidor no parece
10
conhecer as caractersticas e benefcios dos alimentos orgnicos ou sabe diferenciar os
conceitos de orgnico e natural, utilizando-os por muitas vezes como sinnimos (MOMESSO
et al., 2009; HUGHNER et al., 2007; SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998; AARSET et al.,
2004; FOTOPOULOS e KRYSTALLIS, 2002; HILL e LYNCHEHAUN, 2002; HUTCHINS
e GREENHALGH,1995).
Por conta da tendncia do consumo de alimentos naturais e da desinformao do consumidor,
muitas empresas utilizam o termo natural na embalagem de seus produtos mesmo os
mesmos possuindo conservantes e ingredientes sintticos. Uma pesquisa realizada na
Inglaterra com 670 produtos apontou que 79% dos anncios de alimentos naturais eram
questionveis. Alm disso, apenas 9% dos rtulos e 6% da propaganda poderiam ser
considerados como legtimos. A pesquisa tambm indicou que a utilizao de termos como
cheio de benefcios naturais, naturalmente melhor e escolha natural no tinham sentido e
poderiam induzir o consumidor ao erro2.
Ento, o que consumidores entendem por alimentos naturais? No h uma resposta nica para
essas questes. Na ausncia de definio legal ou mesmo de uma definio aceita de forma
geral por consumidores, empresas ou mdias, o conceito de natural parece ser percebido de
diferentes maneiras pelos consumidores. Assim, cada consumidor pode ter uma viso distinta
das caractersticas que tornam um alimento natural (VERHOOG et al., 2003).
Assim, o objetivo deste estudo exploratrio investigar primeiro, a prpria definio do
termo natural e orgnico quando associados a alimentos, de forma a compreender melhor as
possveis confuses e contradies envolvendo os dois termos. Pretende-se atravs da anlise
de diversas definies individuais dos termos investigados, previstas por Verhoog et al.
(2003), a melhor compreenso das caractersticas comuns e distintas associadas aos alimentos
naturais e orgnicos.
O estudo utilizou metodologia qualitativa, sendo a entrevista em profundidade o mtodo de
coleta de dados escolhido. Como mtodo complementar de coleta de dados foi utilizado a
observao participante, com inspirao no mtodo dos itinerrios (DESJEUX, 2000/2006
apud CAMPOS, SUAREZ e CASOTTI, 2006). Foram entrevistadas 15 mulheres em seu
2 Disponvel em http://acd.ufrj.br/consumo/leituras/ld_lec_alimnaturais.htm>
11
ambiente domstico que revelaram seus conhecimentos, opinies e dvidas em relao aos
alimentos naturais e orgnicos.
1.2 RELEVNCIA DO ESTUDO
A relevncia do presente estudo pode ser apresentada sob dois aspectos distintos: a relevncia
acadmica e a relevncia gerencial.
A relevncia acadmica diz respeito a existncia de uma lacuna na literatura em relao ao
tema da presente dissertao. Muitos estudos sobre alimentos orgnicos foram realizados,
tanto no Brasil como no resto do mundo. No entanto, o mesmo no ocorreu no segmento de
alimentos naturais. Ainda, Hughner et al. (2007) identificaram na literatura relacionada aos
alimentos orgnicos, que existe uma carncia de estudos que dizem respeito motivao e s
caractersticas dos consumidores eventuais de produtos orgnicos. Alm disso, h necessidade
de se desenvolverem estudos utilizando mtodos qualitativos para entender com uma maior
profundidade os principais motivos que levam os consumidores a adquirirem produtos
orgnicos.
A relevncia gerencial diz respeito crescente importncia do segmento de produtos naturais
e orgnicos na economia mundial. Assim, importante que as empresas que atuam no
segmento de produtos naturais e orgnicos conheam as caractersticas associadas pelo
consumidor aos seus produtos. Hughner et al. (2007) afirma que mesmo com a tendncia no
consumo de alimentos mais saudveis, se a diferena entre produtos naturais e artificiais no
for facilmente percebida pelos consumidores, no seria surpreendente que a troca pelos itens
naturais no ocorresse.
1.3 ORGANIZAO DO ESTUDO
A presente dissertao est dividida em seis captulos. O captulo seguinte apresenta a reviso
de literatura sobre temas que se relacionam com o presente estudo. Assim, explorada a
literatura do campo do Comportamento do Consumidor, englobando tanto os estudos mais
gerais quanto os relacionados especificamente aos alimentos. Alm disso, uma discusso
sobre o conceito de natural e orgnico foi retirada da literatura bem como os trabalhos
12
relacionados aos alimentos orgnicos: perfil do consumidor, motivaes e barreiras a compra.
Por fim, proposto um modelo conceitual dos fatores que influenciam a compra de alimentos
naturais e orgnicos baseado na reviso de literatura.
O terceiro captulo apresenta a metodologia empregada no estudo exploratrio. So
apresentadas as perguntas de pesquisa, principal e secundrias, os mtodos de coleta e anlise
de dados utilizados. Alm disso, so descritas algumas caractersticas do paradigma
interpretativista e da metodologia qualitativa. Os mtodos utilizados na coleta de dados so
apresentados, entrevista em profundidade e mtodo dos itinerrios, juntamente com o relato
das etapas da pesquisa de campo e como as informaes foram analisadas e interpretadas.
No quarto captulo, as entrevistas realizadas so descritas utilizando 7 categorias, algumas
retiradas da literatura e outras que emergiram durante o processo de coleta de dados. As
categorias utilizadas na descrio foram: (1) Breve Histrico Alimentar; (2) Hbitos e rituais
da famlia no consumo de alimentos; (3) Conceito de alimento natural e orgnico; (4)
Categorias de alimentos associadas aos conceitos de natural; (5) Motivaes e barreiras a
compra de alimentos naturais; (6) Canais utilizados para a compra de alimentos naturais; (7)
O inesperado.
O quinto captulo traz a anlise das informaes a partir das categorias expostas no captulo
de descrio, estabelecendo uma comparao entre os resultados do estudo exploratrio e a
reviso de literatura.
O sexto captulo apresenta uma discusso final sobre o tema e os achados da pesquisa,
possveis implicaes, decorrncias gerenciais alm de sugestes para pesquisas futuras.
Ao final podem ser encontradas as referncias bibliogrficas utilizadas na presente dissertao
e o anexo, que traz o roteiro utilizado para a conduo das entrevistas em profundidade.
13
2. REVISO DA LITERATURA
Este captulo apresenta a reviso de literatura realizada de forma a apoiar o presente estudo
sobre o consumo de alimentos naturais. Assim, este captulo se divide em 7 grandes temas.
Inicialmente, so apresentados alguns conceitos e discusses gerais relacionados aos estudos
de Comportamento do Consumidor. O comportamento do consumidor de alimentos tambm
constitui um tema relevante para o presente trabalho, e assim, so apresentados estudos de
diferentes autores e reas de conhecimento a respeito do tema.
Em seguida, uma discusso acerca das possveis interpretaes do significado dos termos
natural e orgnico explorada atravs de diferentes origens. Diversos autores
(MOMESSO et al., 2009; HUGHNER et al., 2007; SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998;
AARSET et al., 2004; FOTOPOULOS e KRYSTALLIS, 2002; HILL e LYNCHEHAUN,
2002; HUTCHINS e GREENHALGH,1995) identificam que os termos natural e
orgnico so, muitas vezes, utilizados como sinnimos. Apesar de no terem sido
encontradas na literatura pesquisas sobre o comportamento do consumidor de alimentos
designados como naturais muitos estudos foram realizados a respeito dos alimentos orgnicos.
Assim, so apresentados os principais estudos no campo de alimentos orgnicos que
investigaram as caractersticas do consumidor de alimentos orgnicos; os principais motivos
para a compra; os principais entraves bem como os fatores que influenciam a compra.
Por fim, proposto um modelo conceitual baseado na reviso de literatura, reunindo as
principais contribuies dos diversos autores pesquisados, relacionando diferentes fatores s
atitudes e compra de alimentos orgnicos e naturais.
2.1 INTRODUO AO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
O Comportamento do Consumidor constitui um dos campos de estudo mais complexos da
teoria de Marketing pois, ele recebe contribuies de diversas reas de conhecimento como a
Psicologia, a Sociologia, a Antropologia Social e a Economia (SOLOMON, 2008; ROCHA e
CHRISTENSEN, 1999). Hawkins et al. (2007) ressaltam a complexidade do tema por sua
14
falta de estrutura e organizao, ou seja, o comportamento no mecnico, consciente ou
linear.
J na dcada de 1960, Engel (1968) identificou as dificuldades no estudo do comportamento
do consumidor relacionadas s particularidades do comportamento, que sofre influncias
distintas de indivduo para indivduo, e aos processos mentais que no so observveis.
Mais recentemente, Solomon (2008) descreve o campo do comportamento do consumidor
como referente a todos os processos que envolvem da seleo ao descarte de produtos.
Hawkins et al. (2007) definem o campo do Comportamento do Consumidor como o estudo
de indivduos, grupos ou organizaes e o processo que eles usam para selecionar, obter,
usar e dispor de produtos, servios, experincias ou idias para satisfazer necessidades e o
impacto que esses processos tm sobre o consumidor e a sociedade (p. 4). A Figura 1
apresenta de forma grfica o modelo geral do comportamento do consumidor.
Figura 1- Modelo Geral do Comportamento do Consumidor
Fonte: Adaptado de Rocha e Christensen (1999), Hawkins et al. (2007) e Churchill e Peter (2005)
Conforme ilustra a Figura 1, durante o processo de deciso de compra, o consumidor sofre
diversas influncias tanto internas quanto externas. Hawkins et al.(2007) identificaram os
fatores externos como sendo relativos a cultura, aos grupos de referncia e a prpria
influncia das atividades de marketing, enquanto as influncias internas incluem as atitudes,
as emoes e a personalidade. Os conjuntos de influncias internas e externas, por sua vez,
interagem entre si alm de estarem em constante mudana atravs das experincias
adquiridas.
15
O estudo e investigao dos motivos que levam um indivduo a consumir so de suma
importncia para o entendimento do processo de aquisio, uso e descarte de produtos e
servios (MOWEN e MINOR, 1998). Segundo Churchill e Peter (2005), quando um indivduo
percebe que possui uma necessidade que no est sendo atendida surge nele um impulso
interior para que a atenda: a motivao. Assim, a motivao a fora motriz, ou a razo, que
gera todo o comportamento humano. Segundo Karsaklin (2004), o processo de motivao se
inicia com a identificao de uma necessidade, que advm da discrepncia entre um estado
desejado e o estado atual do indivduo. Quanto maior for tal discrepncia maior a motivao
para atender a necessidade em questo. A necessidade a ativadora da motivao e do
comportamento (ENGEL, 1968).
Hawkins et al. (2007) identificaram que os termos necessidade e motivao so comumente
utilizados como sinnimos, j que a necessidade precede a motivao. Kotler e Keller (2006)
definem motivo como sendo uma necessidade que atingiu uma intensidade elevada o bastante
para impulsionar o indivduo a agir. Assim, quando uma necessidade aumenta de importncia
ela se transforma em um motivo. Ao adquirir um produto o consumidor, na realidade, est
comprando a satisfao de uma srie de motivos (HAWKINS et al. ,2007).
A motivao j foi estudada por diversos pesquisadores de escolas de pensamento distintas.
Assim, com o objetivo de compreender e explicar as motivaes que impulsionam o
comportamento, as teorias behaviorista, cognitivas, psicanaltica e humanista foram utilizadas
em pesquisas anteriores (KARSAKLIN, 2004).
Na teoria behaviorista a motivao tem o conceito de impulso, derivado das necessidades
primrias. Assim, todo o comportamento seria determinado exclusivamente pelo impulso,
levando o organismo cegamente a ao. J a teoria cognitivista difere da teoria behaviorista
em relao a todo o comportamento ser automtico. Na abordagem cognitiva a motivao
varia de acordo com a percepo do individuo em relao ao estado de fatores que
influenciam o seu comportamento, envolvendo, portanto, tanto escolhas conscientes quanto
acontecimentos externos dos quais o individuo no tem controle. A teoria psicanaltica
descreve a motivao como sendo inconsciente, fruto da interao conflituosa entre o id
(reservatrio de tenses internas), o ego (influencia moralizadora social) e o superego (rbitro
16
entre o id e o ego). Por fim, a teoria humanista considera a motivao como resultado de
necessidades internas e externas que podem se manifestar tanto de maneira fisiolgica quanto
psicolgica (KARSAKLIN, 2004).
O campo da antropologia tambm contribuiu para o estudo do Comportamento do
Consumidor e das motivaes. Assim, conforme observou McCraken (1986), a motivao
para compra de bens de consumo no se relaciona apenas ao carter utilitrio ou o valor
comercial do bem, mas tambm a apropriao e comunicao de um significado cultural.
Assim, os bens materiais permitem aos indivduos se auto-definerem atravs da apropriao
sistemtica de suas propriedades simblicas.
Hawkins et al. (2007) apontam para a existncia de trs tipos de conflitos motivacionais. O
primeiro tipo de conflito, aproximao-aproximao, ocorre quando um consumidor deve
optar entre dois produtos atraentes. J o segundo tipo de conflito, aproximao-afastamento,
se relaciona a ponderao entre motivos positivos e negativos da compra de um mesmo
produto. O ltimo tipo de conflito, afastamento-afastamento, produzido por uma escolha que
necessariamente ter um resultado indesejado. Segundo Sheth et al. (2001), o grande desafio
das empresas nos conflitos motivacionais de atenuar as caractersticas que causam
afastamento e evidenciar aquelas que causam a aproximao do consumidor.
A cognio um processo complexo que inclui a percepo, a memria e o julgamento
(ROCHA e CHRISTENSEN, 1999). Hawkins et al. (2007) intitulam o processo de percepo
e memria como processamento de informao para a tomada de deciso que resulta no
processo de aprendizagem.
Rocha e Christensen (1999) afirmam que dos componentes da cognio a percepo tem
especial importncia por ser responsvel pela seleo, organizao e a interpretao dos
estmulos sensoriais. Atravs da percepo o indivduo constri o seu quadro cognitivo do
mundo. A percepo pode ser desmembrada em trs estgios (SOLOMON, 2008; HAWKINS
et al., 2007; SHETH, MITTAL, NEWMAN, 2001): exposio, ateno e interpretao. A
exposio ocorre quando um estmulo atinge os nervos sensoriais de recepo de um
indivduo. A ateno ocasionada pela ativao dos nervos sensoriais de recepo, resultando
em uma mensagem de processamento para o crebro. Tanto a exposio quanto a ateno so
17
seletivas, assim um indivduo tem maior conscincia em relao aos estmulos referentes s
suas necessidades atuais (ENGEL, 1968). J a interpretao relaciona significados aos
estmulos recebidos. Hawkins et al. (2007) afirmam que os processos de exposio, ateno e
interpretao ocorrem praticamente de maneira simultnea e so interativos.
Rocha e Christensen (1999) caracterizam a percepo como individual e seletiva, e
identificam a influncia de fatores culturais e sociais na percepo. Hawkins et al. (2007)
afirmam que os indivduos no so receptores passivos, assim os consumidores determinam,
na maioria das vezes, as mensagens que merecem ateno e atribuem significados particulares
s mesmas. Engel (1963) identificou que as necessidades, atitudes e valores de um indivduo
influenciam a sua percepo de um determinado objeto ou comportamento.
Assim como a percepo, a memria tambm seletiva e influenciada por fatores culturais e
sociais. Assim, quando ocorre uma falha cognitiva difcil determinar se foi ocasionada por
deficincias de memria ou percepo, ou seja, se o indivduo no recebeu os estmulos
necessrios ou se apenas no os memorizou (ROCHA e CHRISTENSEN, 1999). Solomon
(2008) define a memria como um processo de aquisio e armazenagem de informaes de
modo que estas estejam disponveis quando necessrio (p.117).
Solomon (2008) afirma que as informaes no so armazenadas na memria de maneira
aleatria, elas so associadas a outros dados armazenados formando estruturas de
conhecimento. A recuperao das informaes armazenadas sofre influncia de diversos
fatores tanto fisiolgicos como situacionais. O nvel de familiaridade com um item, seu
destaque na memria e tipo de estmulo afetam a probabilidade de recuperao de um item na
memria.
A aprendizagem uma mudana no contedo da memria de um indivduo (SHETH,
MITTAL, NEWMAN, 2001) ou do comportamento de longo prazo (HAWKINS et al., 2007).
Solomon (2008) define a aprendizagem como um processo contnuo e que introduz uma
mudana relativamente permanente no comportamento causada pela experincia (p.104).
Assim, o processo de aprendizagem um assunto relevante no estudo do comportamento do
consumidor, j que o comportamento em si , em grande parte, aprendido (HAWKINS et al.,
2007).
18
Figura 2 Percepo, memria e aprendizado
Fonte: Adaptado de Hawkins et al. (2007)
Conforme ilustra a Figura 2, a percepo e a memria esto intimamente relacionadas ao
processo e resultados da aprendizagem (HAWKINS et. al, 2007). Assim, a percepo e a
memria de curto prazo so essenciais para o processo de aprendizagem, pois enquanto o
sistema perceptivo processa as informaes, a memria de curto prazo as retm
temporariamente para serem interpretadas e transferidas para a memria de longo prazo. A
memria de longo prazo, por sua vez, fornece as informaes que so recuperadas nos
momentos de deciso.
O processo de aprendizagem j foi estudado por escolas de pensamento distintas que
propuseram diferentes teorias (SOLOMON, 2008; SHETH, MITTAL, NEWMAN, 2001). As
teorias behavioristas relacionam estmulos com respostas, baseando-se nos aspectos
observveis do comportamento. As duas principais teorias behavioristas de aprendizagem so:
o condicionamento clssico e o condicionamento instrumental ou operante. O
condicionamento clssico ocorre quando h uma forte associao entre dois estmulos
(SHETH, MITTAL, NEWMAN, 2001), um que normalmente provoca resposta e outro que
no possui tal caracterstica, com o tempo o segundo estmulo provoca resposta mesmo na
ausncia do primeiro (SOLOMON, 2008). No condicionamento instrumental ou operante, o
indivduo aprende a relacionar um determinado comportamento a um estmulo positivo ou
recompensa. Em oposio s teorias behavioristas, a teoria cognitiva da aprendizagem se
baseia nos processos mentais internos, assim o aprendizado cognitivo ocorre em dois nveis: a
19
memorizao mecnica e a soluo de problemas (SHETH, MITTAL, NEWMAN, 2001). Um
exemplo de aprendizagem cognitiva a aprendizagem por observao (SOLOMON, 2008).
No contexto do comportamento do consumidor, Bayton (1958) identificou o processo de
recompra gerado pela satisfao que se repete at constituir um hbito. O hbito diminui a
atividade cognitiva do consumidor no momento da compra, tornando a compra quase
automtica. Rocha e Christensen (1999) identificaram que a lealdade a marca constitui um
hbito incorporado a vida do consumidor. Assim como o hbito, as atitudes tambm so fruto
do processo de aprendizagem (ENGEL, 1968). Uma atitude pode ser definida como a
avaliao geral de um consumidor a respeito de um objeto, comportamento ou conceito
(CHURCHILL, PETER, 2005, p.151). Assim, a atitude uma tendncia psicolgica, expressa
por um indivduo ao avaliar um determinado objeto com uma predisposio favorvel ou
desfavorvel (EAGLY e CHAIKEN, 1993 apud HONKANEN et al., 2006).
Segundo Kotler e Keller (2006), uma atitude no apenas uma avaliao geral, mas tambm
envolve sentimentos e tendncias de ao duradouras, sendo elas favorveis ou no a um
determinado objeto ou idia. Com isso, as atitudes podem aproximar uma pessoa de um
determinado objeto ou afast-la, visto que as atitudes esto relacionadas predisposio de
um indivduo a gostar ou no de um objeto.
As atitudes que possuem funo de conhecimento so aquelas que organizam as crenas de
um indivduo acerca de produtos, marcas, atividades e compras. Essas atitudes podem ser
condizentes ou no com a realidade, sendo elas mais determinantes para o comportamento do
consumidor do que a realidade em si (HAWKINS et al., 2007). J as atitudes com funo de
expresso de valor se referem a expresso da auto-imagem refletindo os valores centrais do
individuo. A funo utilitria ou instrumental ajustativa baseada nos benefcios ou
malefcios que uma pessoa acredita conseguir extrair de um determinado objeto. Assim as
atitudes de um indivduo tendem a ser favorveis a objetos e atividades recompensadoras e
desfavorveis queles que no so. As atitudes com funo de defesa do ego tm como
objetivo defender a auto-imagem do indivduo contra possveis ameaas e falhas
(KARSAKLIAN, 2004).
20
Alguns autores sugerem que as atitudes podem ser desmembradas em trs componentes
principais, conforme ilustra a Figura 3, so eles os componentes cognitivo, afetivo e
comportamental (SOLOMON, 2008; HAWKINS et al., 2007; Karsaklian, 2004; SHETH,
MITTAL, NEWMAN, 2001). Apesar dessa diviso da atitude, os trs componentes que a
constituem tendem a ser coerentes entre si. Por conta disso, qualquer mudana em um dos
componentes da atitude pode produzir alteraes relacionadas nos demais componentes.
Figura 3 Componentes e manifestaes da atitude
Fonte: Adaptado Hawkins et al. ( 2007)
O componente cognitivo da atitude consiste no conjunto de crenas de um consumidor a
respeito das diversas caractersticas de um determinado produto. Segundo Sheth et al.(2001),
existem trs tipo de crenas: descritivas (relacionam um objeto a uma qualidade), avaliativas
(envolvem preferncias pessoais) e normativas (envolvem juzos ticos e morais). Assim,
essas crenas podem estar relacionadas tanto aos benefcios emocionais de se consumir o
produto quanto s caractersticas fsicas do mesmo. Dessa forma, o componente cognitivo
total da atitude ser mais favorvel a um determinado produto ou marca quanto mais positiva
forem as crenas associadas ao produto ou marca e quanto mais fcil for para o consumidor
de lembrar-se de tais crenas.
O componente afetivo de uma atitude se refere aos sentimentos ou reaes emocionais de um
indivduo em relao a um determinado objeto. Assim, quando um consumidor declara que
gosta de uma marca ou produto ele est expressando os resultados de uma avaliao afetiva
positiva. No entanto, essa avaliao afetiva de um produto pode tanto ser constituda por um
21
sentimento vago e genrico desenvolvido sem que o consumidor tenha tido informaes
cognitivas relevantes ou tambm pode ser o resultado de seguidas avaliaes de desempenho
de vrios dos atributos do produto.
J o componente comportamental de uma atitude pode ser definido como a tendncia de uma
pessoa reagir de certo modo em relao a um objeto ou atividade (HAWKINS et al., 2007,
p.204). Este componente comportamental da atitude pode se refletir nas decises tomadas por
um consumidor em relao compra de um determinado produto. Assim, as intenes
comportamentais e as provveis reaes so proporcionadas pelo componente
comportamental da atitude.
Karsaklin (2004) afirma que na linguagem cotidiana os termos atitude e comportamento so
freqentemente utilizados como sinnimos, embora h grandes diferenas entre os dois
conceitos. Primeiramente, o comportamento pode ser observado enquanto a atitude no. Alm
disso, a criao de uma atitude favorvel em relao a um produto, servio ou marca constitui
uma etapa anterior a formao da inteno de compra, porm no necessariamente a formao
de uma atitude positiva resulta na compra efetiva do produto ou servio. Assim, segundo
Hawkins et al. (2007), um indivduo pode optar por no comprar determinado produto ou no
aderir a uma atividade mesmo possuindo atitudes positivas em relao aos mesmos.
Hawkins et al. (2007), identifica sete fatores que podem explicar a aparente incoerncia entre
as crenas e atitudes de um consumidor e seu comportamento, so eles: falta de necessidade,
falta de recursos, no considerar atitudes em relao a produtos substitutos, crenas e
sentimentos fracos, no considerar a influncia interpessoal, fatores situacionais e dificuldade
na medio dos componentes da atitude.
2.2 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE ALIMENTOS
O comportamento do consumidor de alimentos influenciado por aspectos sociais,
econmicos, histricos e psicolgicos. Assim, no mera coincidncia que os alimentos
sejam preparados e consumidos de maneiras distintas entre povos e indivduos. O ato de
comer e alimentar , portanto, repleto de significados e contradies (CASOTTI, 2002; BELL
e VALENTINE, 1997).
22
O estudo de Bell e Valentine (1997) explora os aspectos culturais e sociais relacionados aos
alimentos, refletindo sobre a identidade de um indivduo, famlia e lugar atravs dos
alimentos. Assim, a compra, o preparo e o consumo dos alimentos tm um papel fundamental
nas mudanas ocorridas ao longo do ciclo de vida, sendo possvel relacionar os hbitos
alimentares de um indivduo com a sua identidade. J a pesquisa realizada por Casotti (2002),
a partir de 29 entrevistas em profundidade com mulheres, salienta a grande complexidade
envolvendo o consumo de alimentos. So motivaes, influncias, hbitos, preferncias e
riscos percebidos, que se somam e se misturam, tornando o consumidor de alimentos, o ato
de cozinhar e o ato de comprar atitudes de mltiplos significados alm do objetivo bsico
de matar a fome (p.128).
A cultura tem grande influncia no consumo de alimentos, j que antes do ato de comer
necessrio que se reconhea, identifique e entenda o papel daquele alimento na sociedade,
sendo o mesmo classificado como apropriado (CASOTTI, 2002). Assim, mesmo empresas
globais como a Coca-Cola e o McDonalds encontram grandes diferenas no consumo de seus
produtos em pases distintos (FISCHELER, 1996). Na Frana os refrigerantes apenas so
considerados apropriados a uma determinada faixa etria, sendo raro consumi-los durante as
refeies, enquanto nos Estados Unidos seu consumo usual sem restries de idade ou sexo.
J o Mcdonalds que percebido como um restaurante popular para os americanos,
considerado de luxo em Moscou e Pequim. A importncia dada ao momento da refeio
tambm varia de acordo com a cultura. Enquanto os americanos vem na alimentao uma
fonte de energia, sendo o tempo destinado s refeies flexvel e desestruturado, os europeus
consideram a refeio como um momento repleto de rituais.
Segundo Fischeler (1996), apesar das diferenas regionais na alimentao, o crescimento
global da indstria alimentcia auxilia a eliminao de diferenas e particularidades locais ao
mesmo tempo em que envia aos cinco continentes determinadas especialidades regionais e
exticas, adaptadas ou padronizadas (p.859). Neste contexto, as culinrias regionais se
integraram ao patrimnio comum permitindo que todos possam consumir de tudo, anulando
tendencialmente as diferenas regionais. Com isso, a preservao da identidade cultural e o
elogio da diferena no se referem a um tema ultrapassado e sim recente e futuro.
23
Em relao unidade familiar, segundo Bell e Valentine (1997), o alimento tem um papel
fundamental na construo das relaes e da identidade familiar. Assim, a refeio um
evento social cercado de regras e padres. Nesse evento deve ser servida uma refeio
adequada, que segundo pesquisas dentro da rea de sociologia, significa alimentos quentes e
naturais que exigiram tempo e esforo para serem preparados, reunindo os membros da
famlia. Assim, a mesa das refeies pode ser identificada como um local educador, no
apenas em relao aos alimentos que podem ser consumidos, mas tambm no que tange ao
comportamento que socialmente aceitvel. A importncia das refeies em famlia pode ser
evidenciada pelo papel que os alimentos assumem nas lembranas dos indivduos em relao
ao seu lar, provocando saudade e nostalgia. Neste contexto, a transmisso de receitas atravs
de geraes uma maneira que a unidade familiar encontra para reproduzir a sua identidade
atravs do tempo.
Bell e Valentine (1997) sugerem que o consumo de alimentos entre os membros de uma
famlia pode ocorrer de trs formas distintas: consumo coletivo que rene toda a famlia em
torno do alimento; consumo individual que ocorre sem a presena de demais membros;
consumo individual que ocorre na presena de demais membros da famlia, porm que no
dividido com os mesmos. A mudana nos hbitos alimentares de um dos membros da famlia,
porm, nem sempre aceita pelos demais membros, que podem perceber o ato de realizar
refeies em horrios distintos do resto dos familiares como uma forma de rejeio. No
entanto, os autores identificaram uma grande dificuldade em conciliar os horrios dos
habitantes da casa para que as refeies sejam realizadas em conjunto.
O surgimento de novas tecnologias domsticas, como o forno de microondas e as comidas
congeladas, possibilitou que indivduos sem habilidades culinrias pudessem preparar suas
prprias refeies os libertando das refeies em famlia. Outra questo apontada por
Fischeler (1996) diz respeito comercializao dos alimentos-servio, que deslocaram o
trabalho culinrio das cozinhas para as fbricas. Assim, no momento que a alimentao se
torna um mercado de consumo de massa ela se identifica cada vez menos necessariamente
com o universo domstico (p.850).
Segundo Casotti (2002), a alimentao da famlia ainda de responsabilidade da mulher, seja
esposa ou me. O ato de alimentar a famlia envolve tanto a compra como o preparo dos
24
alimentos, sendo percebido pelas mulheres como uma demonstrao de cuidado com os filhos
e maridos. Alm disso, a responsabilidade de alimentar a famlia confere certo poder, j que
os atos de cozinhar, servir e comer podem ser vistos como rituais de domnio e deferncia
(p. 130). Portanto, apesar da crescente presena do homem nas tarefas domsticas, esse ainda
o faz como hobby ou atividade de recreao. Bell e Valentine (1997) e Fischeler (1996)
afirmam que a participao do homem no preparo dos alimentos no sofreu grandes alteraes
nas ltimas dcadas e o mesmo considerado incompetente na realizao de tarefas
domsticas. Assim, a participao masculina se limita a poucas e seletas ocasies como
churrascos e preparao de bebidas alcolicas. Em relao s crianas, a comida um meio
encontrado pelos pais para exercer poder em relao aos filhos, controlando ou premiando a
criana atravs da alimentao.
Essa multiplicidade de papis femininos faz emergir diversas contradies (CASOTTI, 2002).
Ao mesmo tempo em que a mulher passa a trabalhar em tempo integral, delegando muitas
vezes o papel de cozinhar para a empregada domstica, ela no deseja demonstrar falta de
cuidado com a sua famlia. Com isso, se a mulher decide se dedicar a carreira profissional ela
est negligenciando a sua famlia e os cuidados com o lar. No entanto, se ela escolhe adotar o
papel feminino tradicional e se dedicar apenas aos cuidados com a sua famlia, a mulher
considerada como dependente financeiramente do marido e fracassada profissionalmente. Por
fim, ficam estressadas e exaustas.
Casotti (2002) identificou a existncia de uma relao entre esttica, prazer, sade e o
consumo de alimentos. Com isso, surgem mais contradies envolvendo o ato de comer.
Assim, ser magro significa ter sade e aceitao social, no entanto, para isso necessrio
restringir o consumo de determinados alimentos, que normalmente so aqueles que conferem
maior prazer. Este comportamento, no entanto, encarado com certo conformismo pelas
mulheres que no vem alternativa seno aceitar, muitas vezes com sofrimento, o sacrifcio
necessrio para se manterem magras. A linguagem religiosa assim muitas vezes utilizada
para se referir a alimentos. Palavras como culpa, conscincia, indulgncia, privao e
recompensa so comumente mencionadas ao se falar de alimentos pouco saudveis, porm
prazerosos (BELL e VALENTINE, 1997). A preocupao com o peso e a sade se estende
aos filhos, que por sempre desejarem frituras e guloseimas, afligem as mes que se
25
consideram responsveis pela sua alimentao e assim, desejam que os mesmos possuam uma
dieta mais saudvel (CASOTTI, 2000).
A relao entre o alimento e a esttica tambm abordada por Bell e Valentine (1997) que
questionam como a forma fsica das celebridades se tornou um assunto corriqueiro na mdia
mundial, seja porque esto acima ou muito abaixo do peso ideal. Assim, apesar das pesquisas
mostrarem que a mulher moderna, tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, est cada
vez mais gorda, a idia do que seria o corpo ideal se torna cada vez mais magro. Neste
contexto, Bell e Valentine salientam a ironia contida nas propagandas de alimentos vinculadas
em revistas femininas que enfatizam mais a dieta do que o prprio ato de comer. Porm, tal
presso pelo corpo magro no se restringe as mulheres, o que pode ser evidenciado pelo
crescimento das revistas masculinas que abordam questes relacionadas dieta e exerccios.
Assim, conseguir alcanar um corpo magro ou em forma para muitos motivo de orgulho,
pois demonstra disciplina e sucesso enquanto que o corpo gordo visto como sinal de
indisciplina, doena, preguia e indisposio. Neste contexto, a mente e o corpo podem ser
vistos como inimigos, sendo a mente responsvel por privar o corpo de seu desejo por
alimento.
Segundo Fischeler (1996), para se compreender o comportamento relacionado a alimentos
preciso observar as relaes estreitas entre dois plos aparentemente opostos: a
funcionalidade e o prazer. Assim, o autor afirma que possvel prever o sucesso de um novo
produto alimentcio ao se analisar trs dimenses, alm do preo, so elas: o sabor, o valor
sade e a comodidade de utilizao. No entanto, as duas primeiras dimenses sofrem fortes
variaes culturais.
O estudo de Casotti (2002) indica que embora as mulheres entrevistadas possuam
conhecimento acerca de quais alimentos so mais saudveis ou nutritivos, na prtica, os
fatores que mais determinam a alimentao familiar dizem respeito s preferncias e as
combinaes rotineiras aprendidas (p. 134). Assim, atender s preferncias dos membros da
famlia, mesmo que essas no sejam por alimentos saudveis, considerado um sinal de
carinho e cuidado. Na pesquisa de Bell e Valentine (1997), as entrevistadas afirmaram que
existe uma grande diferena entre o que sabem ser uma alimentao saudvel e a sua rotina
26
alimentar. Muitas vezes na escolha dos alimentos que sero servidos, as mulheres privilegiam
as preferncias do marido e filhos em detrimento de seu prprio gosto.
O conservadorismo em relao rotina alimentar est relacionado ao risco de mudana
percebido, sendo o maior deles o no gostar, ou seja, o sabor. Assim, conferida uma
sensao de conforto famlia ao consumir o feijo com arroz ou o macarro com carne
moda. Contudo, tal comportamento padronizado em relao rotina alimentar, dentro e
fora de casa, trs insatisfao j que existe um desejo por mudanas. Neste contexto, a
tradio inibe a adoo de novidades, que apesar de atrarem dificilmente so incorporadas
aos hbitos de compra e consumo (p. 140).
Apesar das mulheres serem as principais responsveis pelas decises acerca da alimentao
familiar, este consumo pode ser caracterizado como um fenmeno de grupo. Assim, o
controle sobre a alimentao da sua famlia bem como o cardpio que deve ser preparado pela
empregada domstica limitado. Casotti (2002) afirma que muitas vezes quem determina os
hbitos alimentares da famlia so os filhos, que apesar de existirem em menor nmero devido
a queda da taxa de natalidade vem crescendo de importncia.
Portanto, o prazer em comer muitas vezes se mistura com a preocupao com a sade no que
tange o consumo de alimentos. Assim, as emoes e demonstraes de afeto se chocam com o
conhecimento relativo s caractersticas nutricionais dos alimentos. Por fim, Casotti (2002)
afirma que o cuidado em relao aos alimentos, envolve carinho, histria, cultura alm da
preocupao com a sade.
2.3 CONCEITO DE NATURAL E ORGNICO
Apesar de o termo natural ser facilmente encontrado em rtulos de produtos dos mais
variados segmentos, no h um consenso ou definio oficial acerca das caractersticas que
tornam um produto natural. J o segmento de produtos orgnicos, que tambm apresenta um
crescimento expressivo principalmente no setor de alimentos (HUGHNER et al., 2007),
possui caractersticas definidas em lei e selo de certificao que comprova a adoo do
sistema orgnico de produo. No entanto, diversos estudos demonstraram que o consumidor
no sabe diferenciar os dois conceitos, utilizando por muitas vezes o termo orgnico como
27
sinnimo de natural (MOMESSO et al., 2009; HUGHNER et al., 2007; AARSET et al.,
2004; FOTOPOULOS e KRYSTALLIS, 2002; HILL e LYNCHEHAUN, 2002;
SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998; HUTCHINS e GREENHALGH,1995). Uma pesquisa
realizada em cinco pases europeus sobre o significado do termo orgnico constatou que em
quatro deles (Frana, Alemanha, Noruega e Espanha) a palavra natural foi a mais associada
com o termo orgnico (AARSET et al., 2004).
A confuso acerca dos termos orgnico e natural agravada ainda mais pelo constante
aparecimento de novos termos nas embalagens de diferentes produtos como: vegetariano,
integral, saudvel, ecolgico, alternativo e sustentvel (MOMESSO et al., 2009;
AARSET et al., 2004; SCHIFFERSTEIN e OPHUIS, 1998; HUTCHINS e GREENHALGH,
1995).
O estudo realizado por Verhoog et al.(2002), atravs de pesquisas qualitativas com
fazendeiros e consumidores de alimentos orgnicos identificou algumas possveis
interpretaes do termo natural e a sua associao com a agricultura orgnica. O autor
afirma que muitos crticos defendem que o termo natural possui apenas dois significados. O
primeiro se refere a todos os objetos ou seres a que podem ser aplicadas as leis da fsica,
qumica e biologia. Assim, todos os tipos de agricultura seriam naturais, inclusive as que
utilizam organismos geneticamente modificados, e no se poderiam diferenciar os diversos
mtodos existentes. O segundo possvel significado se refere natureza mais primitiva, ou
seja, natural seria tudo aquilo que no sofreu qualquer interferncia humana. Neste
contexto, nada do que o homem produz poderia ser considerado natural. Com isso, parece
haver um paradoxo em relao s duas interpretaes: tudo ou nada que o homem produz
natural.
A pesquisa de Verhoog et al.(2002) indica que o termo natural encontra no uso cotidiano
outros significados e definies diferentes da ausncia completa de interveno humana ou
aplicao das leis universais da fsica, qumica e biologia. A existncia de definies
alternativas para o termo natural pode ser encontrada, inclusive no dicionrio Aurlio no
qual a palavra natural quando relacionada a alimentos encontra a seguinte definio:
28
Diz-se de alimento que no contm preservativos nem aditivos artificiais, mas que foi
submetido a medidas higinicas. (AURLIO, 9 edio)
A Administrao de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA) utiliza uma definio
similar apresentada no dicionrio. Assim, o rgo aconselha que um produto intitulado
natural no contenha ingredientes sintticos ou artificiais. No entanto, no Brasil no h
nenhuma definio oficial ou rgo que estabelea as caractersticas de um produto para que o
mesmo possa se intitular natural, diferentemente do que ocorre com os produtos orgnicos.
A definio oficial brasileira de alimento orgnico est presente na Lei 10.831 de 23 de
dezembro de 2003, referente agricultura orgnica que foi transcrita a seguir.
Art. 1: Considera-se sistema orgnico de produo agropecuria todo aquele em que se
adotam tcnicas especficas, mediante a otimizao do uso dos recursos naturais e
socioeconmicos disponveis e o respeito integridade cultural das comunidades rurais,
tendo por objetivo a sustentabilidade econmica e ecolgica, a maximizao dos
benefcios sociais, a minimizao da dependncia de energia no-renovvel, empregando,
sempre que possvel, mtodos culturais, biolgicos e mecnicos, em contraposio ao uso
de materiais sintticos, a eliminao do uso de organismos geneticamente modificados e
radiaes ionizantes, em qualquer fase do processo de produo, processamento,
armazenamento, distribuio e comercializao, e a proteo do meio ambiente.
Assim, a definio de natural relacionada a alimentos que foi encontrada fora do Brasil se
assemelha a definio oficial brasileira de alimentos orgnicos, em relao ausncia de
produtos qumicos. Segundo Verhoog et al.(2002), a forte associao entre os termos natural e
orgnico pode ser explicada pelas prprias caractersticas da agricultura orgnica. Os
consumidores de alimentos orgnicos utilizam freqentemente o termo natural para
descrever a agricultura orgnica, acreditando que os processos utilizados na mesma so de
fato mais naturais do que os utilizados na agricultura tradicional.
Verhoog et al.(2002) obtiveram como resultado de sua pesquisa trs possveis interpretaes
para o termo natural. A primeira relaciona o termo com a natureza viva, ou seja, os seres
que crescem de maneira autnoma (orgnica) podem ser considerados naturais. J a segunda
interpretao est relacionada com a natureza e a cultura, assim o termo natural se refere
29
aos aspectos ecolgicos do cultivo. A terceira interpretao est relacionada ao
reconhecimento das caractersticas da prpria natureza das plantas, animais, seres humanos e
ecossistemas. Neste contexto, para uma agricultura ser natural ela deve respeitar a harmonia e
integridade entre os seres vivos.
Essas possveis interpretaes do termo natural podem corresponder a trs diferentes
abordagens relacionadas agricultura orgnica (VERHOOG et al.,2002). A primeira
abordagem se relaciona com a ausncia de produtos qumicos, adubo sinttico e alimentos
geneticamente modificados. Assim, essa primeira abordagem normalmente o primeiro passo
para a converso da agricultura convencional para a orgnica. A segunda abordagem da
agricultura orgnica se refere a sua dependncia em relao natureza. Assim, enquanto a
agricultura convencional busca ser independente da natureza, utilizando tecnologias e
ambientes artificiais, a agricultura orgnica segue a tendncia oposta, integrando as suas
atividades agropecurias natureza. A terceira a abordagem da integridade, que identifica
que os fazendeiros responsveis pelo cultivo de orgnicos devem se envolver com os seus
respectivos animais ou plantas, respeitando a integridade do ecossistema. Assim, o autor
defende que embora a ausncia de produtos qumicos seja a caracterstica da agricultura
orgnica mais difundida, a mesma deve explorar as trs abordagens.
No Brasil, desde 27 de dezembro de 2007 a agricultura orgnica passou a ter critrios para o
funcionamento de todo seu sistema produtivo, desde a propriedade rural at o ponto de venda
(BRASIL, 2007). interessante observar que a prpria lei utiliza o conceito de natural
como sinnimo de orgnico: conceito de sistema orgnico de produo agropecuria e
industrial abrange os denominados: ecolgico, biodinmico, natural, regenerativo biolgico,
agroecolgicos, permacultura e outros que atendam os princpios estabelecidos por esta
Lei.
Segundo o mesmo decreto, a partir de 27 de dezembro de 2007, todos os produtos orgnicos
comercializados devem receber um selo de certificao atestando a precedncia do produto,
assim como a ausncia de fertilizantes e agrotxicos no cultivo dos mesmos. Alm disso, o
selo de certificao tambm se refere s condies de trabalho e remunerao presentes no
cultivo dos produtos em questo.
30
A existncia do selo de certificao, no entanto, no soluciona a dificuldade dos consumidores
em diferenciar os produtos orgnicos dos demais. Isto porque, apesar de a maioria dos
consumidores possurem um entendimento bsico das caractersticas dos produtos orgnicos,
os mesmos no reconhecem os selos existentes nos rtulos dos produtos certificados
(HUTCHINS e GREENHALGH, 1995). Alm disso, apesar de existir um consenso sobre as
principais caractersticas dos alimentos orgnicos, h uma variao significativa entre os
rgos reguladores de pases diferentes (HONKANEN et al., 2006; AARSET et al., 2004).
Segundo Aarset et al. (2004), existem 7 rgos reguladores na Inglaterra, 3 na Frana, 17 na
Espanha e 9 na Alemanha. Para os autores, as diferenas nos requisitos necessrios a um
alimento para que lhe seja concedido o selo de orgnico contribui na criao de interpretaes
distintas do termo na mente dos consumidores. Assim, um produto pode ser considerado
orgnico por um consumidor e no orgnico por outro, ou ainda a interpretao do termo
orgnico pode diferir entre consumidores e rgos reguladores e produtores.
2.4 O CONSUMIDOR DE PRODUTOS ORGNICOS
Quem so os consumidores de produtos orgnicos? Diversos estudos parecem nos fornecer
um perfil aproximado dos consumidores de alimentos orgnicos: nvel de escolaridade, renda
e o tipo de dieta seguida pelo indivduo (PIMENTA e VILAS BOAS, 2008; VSQUEZ et al.,
2008; KIRCHNER, 2006; MCEACHERN e MCCLEAN, 2002; FOTOPOULOS e
KRYSTALLIS, 2002; CHINNICI et al., 2002; O`DONOVAN e MCCARTHY, 2002). O
consumidor tpico de alimentos orgnicos pode ser caracterizado por ser predominantemente
formado pelo sexo feminino, com filhos, possui alguma atividade profissional e est inserido
entre a classe econmica mdia e alta da populao (KIRCHNER, 2006; CHINNICI et al.,
2002; HILL e LYNCHEHAUN, 2002; MCEACHERN e MCCLEAN, 2002; DAVIES, 1995).
A pesquisa de Vsquez et al. (2008), realizada no Brasil, indicou que 83% dos consumidores
de alimentos orgnicos so do sexo feminino. Os autores afirmam que tal resultado est de
acordo com as caractersticas do pas, aonde as mulheres so as maiores responsveis pelas
decises de compra. Devido aos preos superiores cobrados pelos alimentos orgnicos em
comparao com os alimentos convencionais, h pouca penetrao do produto nas classes
econmicas mais baixas (DAROLT, 2003; MCEACHERN e MCCLEAN, 2002;
O`DONOVAN e MCCARTHY, 2002).
31
No h um consenso, porm, em relao a faixa etria do consumidor tpico de alimentos
orgnicos. Segundo Davies et al. (1995) a idade estaria entre 30 e 45 anos enquanto para Hill
e Lynchehaun (2002) o consumidor tpico teria entre 45 e 54 anos. No Brasil, Momesso et al.
(2009) identificaram que a maior parte dos consumidores de alimentos orgnicos tem entre 36
e 50 anos de idade e consome apenas ocasionalmente produtos orgnicos, j a pesquisa de
Kirchner (2006) indicou que 87% dos consumidores de orgnicos possuem mais de 41 anos
enquanto que Vsquez et al. (2008) encontraram uma idade mdia de 52,5 anos. Uma
pesquisa realizada pelo DATACENSO, tambm no Brasil, identificou uma maior penetrao
dos alimentos orgnicos entre adultos e idosos (DATACENSO, 2002 apud DAROLT, 2003).
Segundo a pesquisa de Stobbelaar et al. (2007) os adolescentes apesar de possurem uma
atitude positiva em relao aos alimentos orgnicos, apresentam pouco conhecimento sobre o
assunto e inteno de compra. No entanto, os adolescentes podem ter um papel fundamental
no consumo de alimentos orgnicos. Apesar de no serem eles os responsveis pela compra
dos produtos, essa faixa etria influencia o comportamento de compra dos pais (DAVIES et
al., 1995)
Dentre os diversos estudos realizados para identificar o perfil, a atitude e o comportamento
dos consumidores de alimentos orgnicos, alguns deles focaram nos consumidores regulares
(CICIA et al., 2002; MAKATOUNI, 2002), intitulados RCOFs (regular consumers of
organic food). O perfil socioeconmico dos RCOFs muito semelhante ao encontrado nos
estudos sobre consumidores, mesmo que eventuais, de alimentos orgnicos. No entanto, o
segmento de RCOF indicou ser mais homogneo do que o segmento de consumidores de
alimentos orgnicos em geral. Assim, o consumidor regular tpico parece ser do sexo
feminino, tem por volta de 40 anos de idade, possui uma famlia composta por quatro
membros, tem grau de escolaridade alta e exerce alguma atividade profissional.
No entanto, os RCOFs possuem algumas caractersticas peculiares. Esses consumidores se
consideram responsveis pela prpria sade e acreditam que a alimentao tem relao direta
com a sua sade. De acordo com alguns estudos (CICIA et al., 2002; SCHIFFERSTEIN e
OPHIUS, 1998) muitos consumidores relacionam o consumo de alimentos orgnicos a um
32
estilo de vida mais alternativo e saudvel. Assim, muitos dos RCOFs so ambientalistas3,
vegetarianos, praticam algum tipo de medicina alternativa (CICIA et al., 2002) e esto
dispostos a sacrificar seu prazer em prol da sade (SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998).
Schifferstein e Ophius (1998) identificaram em seu estudo na Holanda que os RCOFs
possuem maior conhecimento relacionado s caractersticas nutricionais dos alimentos do que
os no consumidores e que costumam seguir dietas no prescritas por um nutricionista ou
mdico. Esses consumidores holandeses entrevistados definiram essa dieta no prescrita
como: vegetariana (32%), ecolgica/biolgica (22%) e macrobitica (15%). Assim, os
resultados da pesquisa indicaram que mais comum encontrar RCOFs abaixo do peso ideal4,
(30% dos respondentes), do que acima do peso (10% da amostra de RCOFs). A amostra de
no consumidores de alimentos orgnicos, no entanto, apresentou o resultado inverso, 11%
dos respondentes estavam abaixo do peso ideal enquanto 31% encontravam-se acima do peso
(SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998).
Hill e Lynchehaun (2002) dividem os consumidores do setor de alimentos orgnicos em dois
grandes grupos: os Ambientalistas5 e os Gastronmicos
6. Os Ambientalistas tm uma forte
preocupao com o meio ambiente, procuram por alimentos que no foram adulterados e
conhecem os benefcios dos produtos orgnicos para a sade do meio ambiente. Assim, os
Ambientalistas podem ser jovens mes motivadas pela moda a comprarem alimentos
orgnicos. J os Gastronmicos seguem uma dieta balanceada e so motivados por fatores
internos a comprarem alimentos orgnicos como, por exemplo, o fato de acreditarem que o
gosto dos mesmos superior ao de alimentos convencionais. possvel, no entanto, que um
consumidor adote o comportamento dos dois grupos, pois eles no so excludentes.
Segundo Hill e Lynchehaun (2002), ainda podem ser identificados dois grupos de
consumidores que os autores descrevem como essenciais para o crescimento do setor de
alimentos orgnicos, so eles os Iniciantes7 e os Potenciais
8. Os Iniciantes so os
consumidores eventuais responsveis pela compra de apenas alguns produtos orgnicos. Os
3 Segundo Cicia et al. (2002), foram considerados ambientalistas os respondentes que participam ou j
participaram de movimentos relacionados s questes ambientais . 4 O peso ideal foi medido utilizando a frmula do ndice de Massa Corporal (IMC = peso / altura
2) que pode
variar entre 20,00 e 24,90 (Schifferstein e Ophuis, 2002). 5 Traduo da autora. Original: Greenies
6 Traduo da autora. Original: Foodies
7 Traduo da autora. Original: Dabblers
8 Traduo da autora. Original: Potencials
33
Potenciais so consumidores que comprariam alimentos orgnicos se os preos fossem
ligeiramente mais baixos.
No Brasil, em uma pesquisa realizada por Vilas Boas (2008) junto a 61 consumidores de
legumes e verduras orgnicos na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, foram identificados
sete segmentos especficos de consumidores de alimentos orgnicos com base na estrutura de
valores dos mesmos.
O primeiro segmento intitulado Prticos- facilita a minha vida constitudo por
consumidores que consideram que o consumo de alimentos orgnicos constitui uma economia
financeira e de tempo. Isto porque, esses consumidores acreditam que por serem orgnicos
possvel dedicar um menor cuidado com a higienizao dos alimentos alm de terem um
maior prazo de validade.
O segundo segmento, intitulado Convvio Social, considera o momento da compra dos
alimentos orgnicos como um momento de socializao. Assim, a confiana do consumidor
em relao aos alimentos orgnicos se estende para a relao consumidor/comerciante de
alimentos orgnicos.
O terceiro grupo, Social e ambientalmente responsvel, constitudo por consumidores que
ao consumirem alimentos orgnicos alm de acreditarem estar cuidando de sua sade,
evitando doenas e riscos, tambm querem contribuir para o bem estar social e ambiental.
O quarto grupo de consumidores intitulados Sade economia acreditam que ao se
alimentarem com produtos orgnicos, esto evitando os riscos sade associados ao consumo
de alimentos de baixa qualidade e assim conseguem economizar na compra de remdios e
tratamentos de sade.
O quinto segmento, Alimentar com segurana, possui a segurana alimentar como elemento
diferenciador, acreditando que possvel sentir o sabor real do alimento orgnico,
diferentemente dos alimentos convencionais, reduzindo a predisposio do organismo
doenas.
34
O sexto e stimo segmento tem uma caracterstica em comum: o prazer da alimentao o
principal determinante para o consumo de alimentos orgnicos. O sexto grupo de
consumidores, denominados Prazer e nostalgia, relaciona o consumo de alimentos
orgnicos com um retorno s origens, os associando diretamente com valores como famlia,
vida no campo e se distanciando, assim, dos problemas encontrados nas grandes metrpoles.
J o stimo e ltimo segmento, denominado Prazer e energia, constitudo por
consumidores que atribuem grande importncia aos aspectos psicolgicos positivos de
consumir alimentos orgnicos como: bem estar, bom humor e disposio para enfrentar os
problemas do dia-a-dia.
2.5 FATORES QUE INFLUENCIAM A COMPRA DE ALIMENTOS ORGNICOS
Em diversos estudos (VILAS BOAS, 2008; CHINNICI ET AL., 2002; HILL e
LYNCHEHAUN, 2002; MAKATOUNI, 2002; MCEACHERN e MCCLEAN, 2002;
O`DONOVAN e MCCARTHY, 2002; SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998; DAVIES et al.,
1995; HUTCHINS e GREENHALGH,1995; ROODY et al., 1994; TREGEAR et al., 1994)
foram identificados os fatores que influenciam a compra de alimentos orgnicos. Cabe
destacar o estudo realizado por Hill e Lynchehaun (2002) sobre a atitude e os padres de
consumo de alimentos orgnicos, mais especificamente leite orgnico, que alm de identificar
os fatores influenciadores mais importantes para a compra do produto, props um modelo
conceitual.
Apesar de tal modelo conceitual ter sido desenvolvido a partir da anlise do processo de
compra de leite orgnico, os fatores influenciadores apontados so vlidos para os alimentos
orgnicos em geral, visto que vrios desses fatores foram identificados em estudos anteriores
como motivadores ou restries a compra de alimentos orgnicos ou como caractersticas do
consumidor tpico de alimentos orgnicos (CHINNICI et al., 2002; CICIA et al., 2002;
CHRYSSOCHOIDIS, 2002; FOTOPOULOS e KRYSTALLIS, 2002; O`DONOVAN e
MCCARTHY, 2002; SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998; DAVIES et al., 1995; TREGEAR
et al., 1994).
35
Os fatores influenciadores foram divididos por Hill e Lynchehaun (2002) em seis grupos:
fatores de conhecimento, fatores incontrolveis, fatores culturais e sociais, fatores pessoais,
fatores intrnsecos e fatores extrnsecos. No entanto, esses grupos de fatores interagem entre
si, possuindo diferentes influncias em cada consumidor.
Fatores de Conhecimento. Estes fatores tm grande influncia no comportamento de
compra do consumidor. Isto porque a maioria dos consumidores desconhece o significado e
os benefcios dos alimentos orgnicos. Assim, o conhecimento dos padres da agricultura
orgnica e dos seus benefcios, tanto para a sade como para o meio ambiente, pode
influenciar a disposio a pagar um preo superior pelo produto.
Fatores Incontrolveis. Os recentes escndalos relacionados s doenas transmitidas por
animais tm grande influncia na deciso de comprar alimentos orgnicos derivados de
animais, como o leite e a carne. Assim, h uma crescente preocupao entre os consumidores
acerca do que comem, ou seja, do risco percebido, os fazendo buscar alimentos que sejam
mais seguros para as suas famlias.
Fatores Culturais e Sociais. Existe uma tendncia social que estimula a alimentao
saudvel atribuindo, assim, ao prprio individuo a responsabilidade pela sua sade e bem
estar. Alm disso, a presena de crianas na famlia consiste em um grande influenciador na
deciso de compra de alimentos orgnicos.
Fatores Pessoais. As atitudes e o comportamento tm um papel fundamental no
comportamento de compra de alimentos orgnicos. Assim, conforme o consumidor forma
atitudes em relao a um determinado produto ele passa a ter uma viso positiva ou negativa
do mesmo, o fazendo comprar ou no o produto.
Fatores Intrnsecos. Estes fatores esto relacionados s caractersticas dos alimentos
orgnicos possuindo forte influencia no comportamento de compra dos mesmos. Segundo Hill
e Lynchehaun (2002) o preo o fator intrnseco chave seguido pelo gosto e pela qualidade.
Fatores Extrnsecos. Esses so fatores ambientais que podem ser controlados pelo
varejista. Assim, a importncia relativa desses fatores para a compra de alimentos orgnicos
36
pode variar consideravelmente de um consumidor para outro. No entanto, o autor aponta a
disponibilidade e o merchandising como fortes influenciadores na deciso de qual produto
comprar.
Fonte: Adaptado de Hill e Lynchehaun (2002)
2.6 ALIMENTOS ORGNICOS: ATITUDES E MOTIVAES PARA A COMPRA
Em relao aos alimentos orgnicos alguns estudos (MICHAELIDOU e HASSAN, 2008;
HONKANEN et al., 2006) identificaram uma relao positiva entre as atitudes e a inteno de
Fatores Intrnsecos
Preo
Embalagem
Gosto
Qualidade
Segurana
Fatores Pessoais
Personalidade
Valores e Estilo de Vida
Atitudes e
Comportamento
Fatores de Conhecimento
Educados sobre nutrio,
sade e meio ambiente
Fatores Culturais e Sociais
Idade
Raa
Renda
Classe Social
Filhos
Fatores Incontrolveis
Epidemias alimentares
(food scares)
Fatores Extrnsecos
Merchandising
Propaganda
Disponibilidade
Margem
Compra de Leite
Orgnico
Figura 4 - Fatores que Influenciam a Compra de Alimentos Orgnicos
37
compra, sendo a investigao das atitudes uma boa fonte para indicar o possvel
comportamento dos consumidores.
Hughner et al. (2007) atravs da sua anlise de diferentes estudos realizados sobre a atitude
dos consumidores em relao a alimentos orgnicos, identificou quinze temas centrais, que
podem ser divididos entre motivos e restries compra de alimentos orgnicos. Assim, os
motivos para a compra podem ser divididos em: mais saudvel, gosto superior, preocupao
ambiental, menor risco percebido, preocupao com os animais, apoio economia local,
salubridade, moda e curiosidade, nostalgia.
Diversos estudos indicaram que os motivos internos ou egostas, como a sade e o risco
percebido, tm maior impacto sobre a atitude dos consumidores em relao aos alimentos
orgnicos do que os motivos externos ou altrustas como, por exemplo, a preocupao com o
meio ambiente e o bem-estar dos animais (VILAS BOAS, 2008; MCEACHERN e
MCCLEAN, 2002; O`DONOVAN e MCCARTHY, 2002; SCHIFFERSTEIN e OPHIUS,
1998). No entanto, a pesquisa de Michaelidou e Hassan (2008) identificou uma possvel
mudana a favor dos motivos externos ou altrustas.
Quanto s restries compra de alimentos orgnicos foram identificados no estudo de
Hughner et al.(2007): preo superior, pouca disponibilidade, ceticismo em relao aos rgos
regulatrios, promoo insuficiente, satisfao com os alimentos utilizados e a aparncia do
alimento.
Vale lembrar que Davies et al. (1995) chamaram a ateno para o fato que esses motivos e
sua relativa importncia para os consumidores podem ser alterados com o passar do tempo.
Em seguida so descritos em mais detalhes os principais motivos associados compra de
alimentos orgnicos j apontados em diversos estudos encontrados na literatura.
2.6.1 Alimentos orgnicos so mais saudveis
A maioria dos estudos encontrados na literatura, tanto os realizados no Brasil (DATACENSO,
2002; KIRCHNER, 2006) quanto os realizados no restante do mundo (CHINNICI et al.,
38
2002; HILL e LYNCHEHAUN, 2002; MAKATOUNI, 2002; O`DONOVAN e
MCCARTHY, 2002; SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998; DAVIES et al., 1995; HUTCHINS
e GREENHALGH,1995; ROODY et al., 1994; TREGEAR et al., 1994), identifica como
principal motivao para compra de alimentos orgnicos a percepo de que os mesmos so
mais saudveis. A pesquisa de McEachern e McClean (2002) identificou que a sade
representa um maior motivador para compra de alimentos orgnicos para mulheres de 41 a 50
anos, enquanto os mais jovens tm o sabor superior como principal motivao. Apenas, uma
pesquisa aponta uma relao fraca entre benefcios para a sade e o consumo de alimentos
orgnicos (MICHAELIDOU e HASSAN, 2008).
Os consumidores acreditam que devido a no utilizao de pesticidas, antibiticos (em
animais) e aditivos qumicos na produo dos alimentos orgnicos, os mesmos no so
nocivos a sade. Uma consumidora chegou a afirmar que devido ao uso excessivo de
antibiticos em animais agora esto descobrindo que existem pessoas que esto ficando
imunes aos antibiticos receitados e por isso ser preciso criar novos remdios (HARPER e
MAKATOUNI, 2002, p.294).
H ainda a associao feita por consumidores dos alimentos orgnicos como mais nutritivos e
melhores para as crianas (CHINNICI et al., 2002; HUTCHINS e GREENHALGH,1995;
ROODY et al., 1994). Alguns autores observam, porm, que no h evidncia cientfica que
comprove que os alimentos orgnicos sejam de fato mais nutritivos ou contenham menos
pesticidas do que aqueles no orgnicos (DAROLT, 2003; HUTCHINS e
GREENHALGH,1995). Para Darolt (2003) as diferenas nutricionais encontradas entre os
alimentos orgnicos e convencionais foram insignificantes o que pe em dvida a percepo
de que os alimentos orgnicos so mais saudveis. Tufts (2008) descreve o exemplo de um
sorvete orgnico, que apesar de atender todos os padres necessrios aos produtos orgnicos
possui um alto valor calrico alm de conter gordura saturada. Este produto embora orgnico,
no poderia ser considerado saudvel.
No Brasil, o estudo de Pimenta e Vilas Boas (2008) sobre alimentos orgnicos encontrou,
aps a construo de um mapa hierrquico de valor a partir da entrevista de 30 consumidores
na cidade de Uberlndia, como principal associao, a sade ligada a ausncia de insumos
qumicos nos alimentos orgnicos o que levaria os mesmos a serem mais nutritivos. Segundo
39
os entrevistados tais atributos proporcionam uma alimentao adequada, melhor desempenho
no trabalho, melhor desenvolvimento intelectual e qualidade de vida, ou seja, a sade parece
vir acompanhada de outras conseqncias positivas. Ainda no Brasil, Darolt (2003) observa
que a associao dos alimentos orgnicos como mais saudveis no est relacionado com suas
caractersticas nutricionais e sim a mudana nos hbitos alimentares e estilo de vida que os
mesmos acarretam.
Schifferstein e Ophius (1998) observaram que os motivos associados compra de alimentos
orgnicos diferem entre consumidores regulares (RCOF) e consumidores eventuais. Assim, o
fato de os alimentos orgnicos serem mais saudveis constitui uma maior motivao para os
consumidores eventuais de alimentos orgnicos do que para os consumidores regulares
(RCOF), que consideram a questo ambiental como igualmente importante. No entanto, como
h uma maior presena de consumidores eventuais do que regulares, pesquisas realizadas com
grandes amostras concluem que a sade a maior motivao dos consumidores para comprar
alimentos orgnicos.
2.6.2 Alimentos orgnicos possuem gosto superior
Mesmo sendo o gosto algo que traz uma grande subjetividade implcita, diferentes estudos
(PIMENTA e VILAS BOAS, 2008; CHINNICI et al., 2002; HILL e LYNCHEHAUN, 2002;
MCEACHERN e MCCLEAN, 2002; SCHIFFERSTEIN e OPHIUS, 1998; DAVIES et al.,
1995; ROODY et al., 1994) mostram que a percepo de que os alimentos orgnicos tm um
gosto superior em comparao aos alimentos convencionais constitui um motivador para a
compra dos mesmos. O estudo de McEachern e McClean (2002) aponta o sabor superior dos
alimentos orgnicos como principal motivao compra de alimentos orgnicos,
principalmente nos respondentes com idades entre 18 e 25 anos e 31 e 40 anos.
No entanto, o sabor do alimento sofre influncia de caractersticas do solo, do clima, do ano
climtico, alm da forma de cultivo (DAROLT, 2003). Alguns autores observam que, a partir
das pesquisas comparativas entre o sabor dos alimentos orgnicos e convencionais, no foi
possvel comprovar que os alimentos orgnicos possuam um gosto superior, visto que todas as
pesquisas realizadas se mostraram inconclusivas (DAROLT, 2003; FOTOPOULOS e
KRYSTALLIS, 2002). Assim, a percepo de que o alimento orgnico tem um gosto mais
40
saboroso pode ser ocasionada pelo preo superior cobrado pelo mesmo o que o associa a um
produto de melhor qualidade (HILL e LYNCHEHAUN, 2002).
Outra hiptese levantada por Pimenta e Vilas Boas (2008), aps a construo do