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Temáticas transdisciplinares Sessões especiais de orientação acadêmica ÉTICA E POLÍTICA Este texto de trabalho foi elaborado pelo Grupo SOA com vistas exclusivamente ao debate no âmbito do Pré-Vestibular Social Foto: Zsuzsanna Kilian. Disponível em: http://www.sxc.hu/photo/980459 Pré-Vestibular Social Grupo SOA • Suporte à Orientação Acadêmica

Pré-Vestibular Social - pvs.cederj.edu.br · Em A Cidade de Deus, o autor defende sua visão da história humana como um conflito entre a cidade 2 Os sofistas eram mestres que viajavam

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Temáticas transdisciplinaresSessões especiais de orientação acadêmica

Ética e política

Este texto de trabalho foi elaborado pelo Grupo SOA com vistas exclusivamente ao debate no âmbito do Pré-Vestibular Social

Foto: Zsuzsanna Kilian. Disponível em: http://www.sxc.hu/photo/980459

Pré-Vestibular SocialGrupo SOA • Suporte à Orientação Acadêmica

Prólogo Seguindo a mesma proposta de desenvolvimento de temáticas transdisciplinares para as sessões de orien-

tação acadêmica que nos levou a produzir os três textos anteriores a este, consideramos importante tratar de alguns aspectos que possam ajudar aos alunos do PVS nos debates sobre outra temática que assume impor-tância cada vez maior, tanto no enfoque das provas do Enem e vestibulares quanto na nossa vida cotidiana: a relação entre ética e política.

Na sociedade brasileira, é muito comum, ouvirmos nas conversas entre amigos, na mídia ou em outros espa-ços, diversas posições acerca das conexões entre estes dois elementos. Em polos opostos percebemos posições mais alienadas e outras consideradas engajadas. Os mais desencantados e descrentes tendem a reforçar a ideia de que as práticas do “mundo da política” nada têm de ético, que os princípios que orientam os dois cam-pos são autoexcludentes e que, de fato, não há o que fazer sobre isso. Por outro lado, há quem defenda que a política deve se basear na ética, orientar-se por ela e, assim, resgatar o valioso papel que deve desempenhar em qualquer sociedade livre e democrática.

É realmente possível que a polarização entre essas perspectivas se explique pelas experiências ruins ou boas vividas individualmente. Entretanto, acreditamos que, muitas vezes, as opiniões derrotistas sejam alimentadas pela mera reprodução do senso comum. Por isso, buscaremos refletir sobre algumas ideias que envolvem esta temática e que se tornaram cristalizadas apenas pela ausência de reflexão e de informação. Assim, precisamos nos questionar: o que é ética? O que entendemos por política? Como a ética e a política se fazem presentes no nosso cotidiano? Há neutralidade na ética e na política?Quais as interseções entre estes temas? Por que, afinal, este assunto parece pertencer a um “outro mundo” que se distancia do nosso dia a dia?

Um aspecto comum à ética e à política é que ambas são construídas a partir da existência da vida em sociedade. Na verdade, são a ética e a política que definem os diferentes padrões de sociabilidade que já conhecemos ou aqueles que almejamos enquanto possibilidades a serem socialmente construídas. Por isso, o homem é considerado um ser essencialmente político, conforme afirmava o filósofo grego Aristóteles. Assim, é preciso pensar sobre o tipo de sociedade que queremos construir, que achamos mais justa e melhor, o que, por sua vez, pressupõe o reconhecimento e a defesa de determinados valores morais.

Afinal, a responsabilidade dessa escolha pertence a cada um de nós e deve ser exercida cotidianamente, de forma coletiva? Ou será que podemos e devemos conferir a outros o poder de decidir e falar por nós? Ética e política fazem parte do nosso dia a dia e constituem conteúdos práticos dos quais não devemos abrir mão. Afinal, é exatamente na medida em que nos posicionamos de forma passiva, acrítica e alienada diante destes campos que nos tornamos alvos de manipulação.

Para melhor qualificar as referências sobre este assunto, enfocaremos nas próximas páginas conceituações filosóficas e argumentos que nos permitem responder às questões anteriormente levantadas, assim como proble-matizar diversos temas históricos e contemporâneos que perpassam os calorosos debates acerca desta temática.

1. Pensamento filosófico e literário: construções históricas dos valores éticos e políticos

Os antigos filósofos ocidentais entendiam a ética como um campo do saber que permitia aos indivíduos esta-belecer o melhor modo de viver e conviver, tanto em sua vida privada quanto na vida pública. Autores contem-porâneos1 também afirmam que a ética está diretamente relacionada à necessidade de ajustar o comportamen-to individual aos interesses de determinada coletividade. A partir desse objetivo, e produzida na experiência de convívio cotidiano, a construção da ética leva a sociedade a refletir sobre aquilo que entende como bom e sobre o que considera ruim. A partir disto, definem-se padrões de sociabilidade que devem orientar as condutas e relações entre indivíduos. Tais padrões podem estimular, por exemplo, práticas individualistas e imediatistas ou ações com referência coletivas e de longo prazo; podem naturalizar condutas de submissão e escravidão de outros seres ou visar condições efetivamente emancipatórias e igualitárias para o conjunto dos seus integrantes.

No entanto, para muitas pessoas a noção de ética não está atrelada à sua construção social. Assim, conce-bem a ética, a moral e o conjunto de valores e regras de comportamento que as orientam como determinadas por forças maiores, como Deus ou a “natureza instintiva” dos homens. Essas interpretações naturalizam a existência moral e negam sua dimensão histórico-cultural. Na medida em que colocam a origem dos valores éticos acima das relações humanas, afastam a possibilidade de reflexão e de intervenção do homem sobre seus códigos.

A concepção que adotamos reconhece a existência deste vínculo essencial entre a constituição da ética e a vida em coletividade. É exatamente porque a constituição da ética pressupõe a dinâmica das relações sociais que ela estabelece uma conexão direta com a política, entendida aqui no seu sentido mais amplo, enquanto exercício individual ou coletivo de formular necessidades e interesses sociais, visando à realização dos mesmos.

Entretanto, como não costumamos dedicar muito do nosso tempo à observação e à análise destas nossas práticas diárias, somos levados a pensar que nossas escolhas são “neutras” e que “política” é apenas aquilo que acontece nos atos da presidenta, nas assembleias legislativas, nas campanhas eleitorais, nas associações de moradores e nos grêmios escolares, por exemplo.

Outra distorção que encontramos frequentemente é a ideia de que política é “coisa suja” e, por isso, reali-zada por aqueles que querem obter “vantagens pessoais” a partir do poder que outros lhes conferem. Assim, não havendo possibilidades de mudanças, restaria às “pessoas de bem” uma única alternativa: distanciar-se desta arena, abdicando de exigir um posicionamento ético dos representantes e abrindo mão de agir em prol da transformação da sociedade em que vive. Nosso propósito neste texto é justamente apresentar diversos ar-gumentos e informações que permitam rever algumas destas noções preestabelecidas, entendendo que ética e política são dinâmicas e, exatamente por isso, sempre passíveis de disputas e transformações.

O sentido político das atitudes e escolhasA política não está presente na vida social apenas na época das eleições, todos os aspectos da vida

humana têm relação com a política, pois esta se materializa cotidianamente em nossas atitudes e escolhas. Segundo o filósofo Wolfgang Maar, a política é multifacetada e está presente quando se relaciona com o Estado, com o poder, com a representatividade, com as ideologias, com a participação, com a violência. Também se encontra em qualquer espaço: sindicatos, igrejas, tribunais, escolas, sala de jantar ou reuniões de partidos. Dessa forma, a política é tanto o conjunto de atividades a que se dedicam os homens para coexistir, quanto o estudo objetivo dessas mesmas atividades, como afirmou o filósofo Francis Wolff.

Assim, as relações políticas não se dão apenas com a política institucionalizada, ou seja, com o Estado. Nós, seres humanos, produzimos e executamos política no nosso dia a dia, visto que, seja na esfera institu-cional, seja nas relações cotidianas, exercemos relações de poder uns sobre os outros, influenciando o que acontece em nossa volta. As expressões “Você precisa ser mais político” e “Você precisa se politizar mais” demonstram diferentes sentidos que a política assume em nosso cotidiano, como relação interpessoal ou enquanto exercício institucional.

1 Vazquez (1983) e Chauí (1995)

É importante ressaltar que as escolhas que fazemos ou deixamos de fazer (diariamente ou em processos eleitorais) repercutem em todas as esferas de nossas vidas e modelam a sociedade em que vivemos. Mesmo o ato de se omitir (institucionalmente ou cotidianamente) é um ato político, que pode derivar de uma ide-ologia ou da indiferença. A questão é saber quando isso resulta em que os outros escolham por você. As trajetórias de militância de Henri Thoureau, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Malcon X e Martin Luther King exemplificam a ação política de indivíduos mesmo quando as instituições eram extremamente contrá-rias às suas posições. Esses personagens históricos atuaram conscientemente no seu cotidiano, contagiando outras pessoas e levando ao enfrentamento da ordem vigente.

Finalmente, o fato de ética e política serem dois campos entrelaçados sugere que as escolhas que toma-mos podem ou não influenciar uma sociedade mais justa. Ao escolher se posicionar contra ou a favor de determinado projeto, engajar-se ou não em uma causa, interferir ou não em determinada ação preconcei-tuosa, estamos exercendo política e defendendo aquilo que acreditamos. Se a política é liberdade, como apontou a filósofa Hannah Arendt, devemos buscar garantir não apenas a liberdade individual (tão valo-rizada nos dias de hoje), mas aquela relacionada ao conjunto, à comunidade em que estamos inseridos.

1.1. Pensamento filosófico: da democracia ateniense à sociedade capitalistaÉtica é um campo de estudo e debate dentro da Filosofia, que

se corporifica em um conjunto de normas que constitui a base moral das sociedades humanas. Assim, a noção ocidental de ética atual foi fruto de uma construção histórica que contou com as reflexões de diversos pensadores. Essas reflexões, no entanto, só foram sistemati-zadas em normas de conduta social graças à ação política do con-junto de indivíduos. Nesse sentido, será importante acompanharmos um pouco da história do pensamento filosófico para conhecermos algumas das reflexões que mais se disseminaram nas sociedades ocidentais, incluindo a brasileira, construindo noções morais que são internacionalmente aceitas e que orientam a ação política.

Desde a Antiguidade clássica, muitos filósofos se debruçaram sobre o tema. Para Platão, um dos principais estudiosos do assun-to, as ideias fundamentais como o bem e o mal são imutáveis e deveriam ser alcançadas através da reflexão filosófica. Já alguns filósofos sofistas2 afirmavam a relatividade desses conceitos, acre-ditando que o julgamento de todas as coisas é feito pelo próprio homem. Por outro lado, em Ética a Nicômaco, Aristóteles defende que o objeto da Ética é o estudo sobre o Sumo Bem, noção que deve orientar todas as ações humanas, como finalidade suprema. A busca da felicidade, para o indivíduo ou para a comunidade po-lítica, se encontraria no justo meio entre os extremos, na prudência e nos hábitos gerados pelo seu exercício. Assim, percebemos que a noção ética, mesmo entre os gregos, não era um consenso.

Distintas interpretações também foram formuladas durante a Idade Média, época em que predominaram tratados sobre ética e política de teólogos da Igreja católica, marcando o pensamento europeu com uma noção de moral baseada em princípios cristãos. Agostinho de Hipona afirmou que o mal não era criação de Deus e que o livre-arbítrio dava ao homem a escolha de praticar o bem e levar uma vida virtuosa. Em A Cidade de Deus, o autor defende sua visão da história humana como um conflito entre a cidade

2 Os sofistas eram mestres que viajavam de cidade em cidade, na Grécia Antiga, realizando discursos públicos para atrair estudantes, de quem cobravam pela educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no discurso e estratégias de argumentação. Os mestres sofistas acreditavam que a “virtude” seria passível de ser ensinada aos seus discípulos. Protágoras (481-420 a.C.), Górgias (483-376 a.C.), e Isócrates (436-338 a.C.) são alguns dos mais conhecidos filósofos da escola sofística.

Santo Agostinho (c. 1480), afresco de Sandro Botticelli na Igreja de Ognissanti, Florença, Itália.

Fonte: The Yorck Project: 10.000 Meisterwerke der Malerei.DVD-ROM, 2002. ISBN 3936122202.

Distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sandro_Botticelli_050.jpg – Acesso:

27/08/2013

divina, representando a luz, e a cidade dos homens, representando as trevas. Sua ideologia baseada no ma-niqueísmo3, afirmava que este conflito estava destinado a terminar com o triunfo daqueles que se dedicam à verdade eterna sobre aqueles que se dedicam aos prazeres mundanos.

Agostinho de Hipona é considerado santo na Igreja Católica, na Igreja Anglicana e na Igreja Ortodoxa, mas também influenciou decisivamente os reformadores protestantes. Martinho Lutero foi sacerdote agostiniano antes de romper com o Vaticano, e João Calvino reconheceu em Agostinho de Hipona uma de suas principais influências. Sua obra representa, dessa maneira, uma referência à moral cristã de um modo geral. Diz-se que Carlos Magno considerava A Cidade de Deus sua obra favorita. A ética agostiniana não só influenciou gover-nos desde então, como também inspirou estudos de muitos outros filósofos, como Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Albert Camus e Hannah Arendt.

Sandro Botticelli foi apenas um dos muitos pintores de sua época a retratarem Agostinho de Hipona, con-siderado um modelo de intelectual cristão durante o Renascimento. Todavia, se a política esteve submetida à ética religiosa ao longo da Idade Média, o pensamento renascentista traria novas perspectivas sobre a relação entre ética e política. O mais criativo e influente teórico do século XVI foi Nicolau Maquiavel, cujos escritos submeteram a ética religiosa à experiência política.

Maquiavel não se prendeu à análise da política a partir de valores cristãos e destacou a importância da Fortuna (deusa pagã) e da virtù do governante. Afastando-se do maniqueísmo presente nas concepções religio-sas de “bem” e “mal”, a virtù representa para o autor a capacidade do governante de oscilar entre os extremos da moral, agindo de acordo com a circunstância. A virtude cristã não poderia ser adotada como modelo para a política e o vício também fatalmente levaria o governante à perda do poder. É fácil perceber os motivos que levaram a Igreja católica a incluir O Príncipe na lista de livros proibidos, o que não impediu que este se tornasse uma referência obrigatória na Ciência Política.

A Utopia de Thomas MoreMuito diferente da reação causada pela teoria de Maquiavel,

houve uma ampla aceitação da Igreja católica e da sociedade cris-tã à obra de seu contemporâneo, Thomas More. Considerado um exemplo de vida virtuosa, regida pela moral religiosa, o chanceler britânico manteve-se fiel ao catolicismo durante a reforma angli-cana. Foi condenado por Henrique VIII à morte por decapitação após negar-se a fazer um juramento reconhecendo a legitimidade do “Decreto da Sucessão”, o que implicava reconhecer o divórcio de Henrique VIII e Catarina de Aragão. Por manter-se fiel à sua consciência e ser martirizado por causa de sua fé, Thomas More foi beatificado em 1886 e canonizado em 1935.

Em Utopia, More descreve as instituições da sociedade de uma ilha fictícia que teria sido conhecida pelo navegante Rafael Hitiodeu e que serviria como modelo para o esclarecimento e regeneração das cidades, reinos e nações da Europa. À época da fundação do

império, Utopus havia decretado a liberdade religiosa, proibindo qualquer utopiano de prejudicar alguém por sua religião como meio para acabar com as guerras religiosas. O fundador da mítica república de Utopia considerou tirânico e absurdo constranger alguém a adotar uma religião por pensar que talvez Deus tivesse inspirado aos homens as diversas crenças. No entanto, os materialistas que não acreditassem na vida eterna seriam castigados, não receberiam o título de cidadão nem poderiam assumir cargos públicos, uma vez que não teriam respeito pelas instituições sociais.

Este livro está disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/utopia.htmlFonte da imagem: Rudi Palla – Die Kunst Kinder zu kneten, Frankfurt am Main: Eichborn Verlag 1997 S. 35 ISBN 3-8218-4468-X

Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Insel_Utopia.png (Acesso: 01/09/2013)

3 Doutrina fundada pelo profeta persa Manes (conhecido no ocidente como Maniqueu – 216-276 d.C.), que está baseada na oposição entre os princípios de Bem e Mal.

Um dos fundadores do liberalismo político, John Locke defendeu – como vimos no texto Direitos Humanos e Cidadania – a soberania popular e o direito de depor um governante que desrespeitasse os direitos e liber-dades naturais do homem, entre os quais figurava a liberdade religiosa. Para Locke, as religiões cristã, judaica e muçulmana deveriam ser aceitas na Inglaterra. Porém ele, do mesmo modo que Thomas More, repudiava os adeptos do ateísmo por não os considerar comprometidos com as práticas de conduta moral. Nesse sentido, reproduzia um princípio disseminado na sociedade protestante da época: em 1644, a legislação inglesa obri-gava as autoridades a reunir os vadios, vagabundos e pedintes em igrejas durante o culto de domingo.

Dois autores nascidos no século XIX, cujas ideias são também importantes de serem conhecidas para a rea-lização das provas do Enem, contribuíram em grande medida para as reflexões a respeito da ética protestante e da política. O nobre francês Alexis de Tocqueville, ao visitar os EUA na década de 1830, escreveu o livro Da Democracia na América, em que descreveu os costumes da sociedade nova-iorquina, seu sistema prisional, sua economia e política. Tocqueville afirmou que a opinião pública americana era particularmente dura com a falta de moral, que prejudicaria a harmonia doméstica e o sucesso nos negócios. Nos EUA, ser casto seria uma questão de honra e um requisito para a prosperidade pessoal. Da mesma forma, um desvio moral de um representante seria prejudicial para os negócios públicos. Em 1998, tivemos a oportunidade de verificar a permanência desses valores na opinião pública estadunidense quando o presidente Bill Clinton foi duramente criticado por manter relações sexuais com a estagiária Monica Lewinsky. O escândalo levou o presidente a júri e causou grande desgaste de sua imagem, além de pedidos de renúncia por parte da oposição.

Por sua vez, o economista e sociólogo alemão Max Weber também contou com uma viagem aos EUA, por ocasião da Exposição Universal de St. Louis em 1904, para produzir a segunda parte de sua obra mais lida, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Para Weber, um aspecto que diferencia os protestantes dos ca-tólicos seria a preferência pela educação técnica em lugar da formação humanista. Isto estaria relacionado à mudança da concepção de “vocação” por Lutero, retirando o sentido de chamado ao sacerdócio e introduzindo o sentido de chamado de Deus para o exercício de uma profissão. Além disso, a ética econômica do capitalismo seria derivada da noção de predestinação do calvinismo. Diante da angústia de não saber se estaria conde-nado ou escolhido por Deus a ser salvo, o trabalho e o sucesso econômico apareciam como compromissos do crente e indícios de sua salvação. Ainda hoje, a defesa da propriedade individual pelo Estado aparece como um elemento fundamental da tradição política dos EUA, buscando incluir socialmente os cidadãos a partir da vinculação entre democracia e possibilidades econômicas individuais.

1.2. Abordagens literárias brasileiras: identidade nacional e subjetividade de valores“O mito é o nada que é tudo”. Uma das leituras desse verso de Fernando Pessoa é a de que quando a

História não alcança suas respostas, o homem recorre à literatura, à ficção. É no processo artístico que seres humanos, dotados de suas paixões, buscam resolver questões que extrapolam conceitos objetivos. Desse modo, os temas da política e da ética são recorrentes nas artes e, em especial, na literatura.

Em nosso país, por longos anos, a produção da literatura do cânone nacional esteve restrita a homens inti-mamente ligados às elites econômicas e políticas que dividiram seu tempo com o fazer literário e, consequente-mente, encontraram nesta forma um meio legítimo de expressarem seus ideais políticos. Inúmeros autores, como Gregório de Matos em relação à Bahia colonial, destinaram longos versos à crítica da sociedade brasileira. Da condição de colônia, que pagava altos impostos à metrópole, à luta pelo fim da escravidão, como podemos ver na poesia de Castro Alves, muitas foram as demandas políticas, econômicas e sociais expressas em nossa literatura. Assim, há de se destacar o papel que a literatura desempenhou na busca da formação da identidade nacional dos brasileiros, ainda que seu alcance tenha sido historicamente restrito aos segmentos letrados da população, exercendo menor influência entre os setores analfabetos e pauperizados.

No período que entendemos como o Romantismo, a identidade nacional estava, através da poesia e de diver-sos romances, atrelada a uma visão subjetiva tanto da natureza de nossa pátria quanto da figura idealizada do ín-dio. Essa imagem de que os solos do Brasil são extremamente férteis e que a fauna e a flora são exuberantes, não havendo no globo outra terra como esta, ainda permanece no ideário nacional e, mais do que isso, se tornou um forte “marketing” do país no exterior, atraindo para cá, por exemplo, inúmeros imigrantes no início do século XX.

Por outro lado, também no contexto do início do século XX, autores, como Lima Barreto, buscaram questionar a identidade nacional que estávamos formando através de fortes críticas às desigualdades sociais. Inclusive, o

referido autor lança a obra O triste fim de Policarpo Quaresma que, dentre outras questões, levanta os malefí-cios do nacionalismo ufanista. Nesse mesmo sentido, e já influenciado pelas mudanças sociais ocorridas pela chegada dos imigrantes nesse período, Graça Aranha escreve o livro Canãa e, de forma original, levanta o debate sobre as tensões entre as diferentes etnias que formam o país. Assim, nessa mesma perspectiva crítica, os intelectuais e poetas responsáveis pela organização da Semana de Arte Moderna, em 1922, buscaram construir uma identidade nacional que refletisse a realidade e o cotidiano do brasileiro. Eles foram responsáveis por trazer, por exemplo, para a literatura e para os círculos acadêmicos a valorização da língua brasileira, do português como por aqui falamos.

Segundo o filósofo Jean Paul Sartre, “A prosa é utilitária por excelência; eu definiria de bom grado o pro-sador como um homem que se serve das palavras. [...] O escritor é um falador; designa, demonstra, ordena, recusa, interpela, suplica, insulta, persuade, insinua”. Nesse sentido, o autor pensa que ao criar um narrador / personagem este assume uma postura e com ela desvenda as coisas do mundo. Para ele, esse processo de desvendar, de refletir sobre o mundo apenas se completa quando o leitor lança mão da obra e a partir dela traça um novo olhar sobre o mundo. Assim, no processo de produção da literatura - que não é destinado apenas ao autor, mas também ao leitor, reside a reflexão e a construção subjetiva de valores morais e éticos. É nessa perspectiva que propomos a leitura de quatro textos da literatura brasileira que trazem em si a temática da ética como aspecto central: a crônica sobre o escravo Pancrácio, de Machado de Assis; o conto O homem da cabeça de papelão, de João do Rio; o conto A nova Califórnia, de Lima Barreto; e a crônica de título Mineirinho, de Clarice Lispector.

No dia 19 de maio de 1888, ou seja, seis dias após a abolição da escravidão, no jornal Gazeta de Notí-cias, Machado de Assis publica a crônica sobre o escravo Pancrácio e, com a ironia que é peculiar aos seus narradores, põe em discussão o futuro dos homens livres e, sobretudo, a moral e a ética dos antigos donos.  Às vésperas da abolição, o senhor de Pancrácio se adianta e entrega ao escravo a alforria. Para a circunstância, prepara um jantar, manda chamar alguns homens da alta sociedade e faz a manumissão para que seu ato sirva de exemplo. Com o desenrolar da narrativa, percebemos que tanto a condição de Pancrácio não muda “De lá pra cá, tenho-lhe dado alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas. E o chamo de besta quando lhe não chamo filho do diabo; Coisas que ele recebe humildemente, e – Deus me perdoe! – creio que alegre.”, como os interesses do senhor são individuais “Tracei um plano. Quero ser deputado”. Esse senhor assume na crônica o papel metonímico da elite brasileira, que é criticada pela postura hipócrita diante da manutenção de comportamentos próprios da escravidão em nosso país.

Nessa mesma perspectiva, a relação entre indivíduos e sociedade é criticada por João do Rio em seu conto O homem da cabeça de papelão. De início, a personagem é apresentada como um ser “sem importância social” em oposição àqueles que podem ser classificados como seres importantes: príncipe, deputado, rico e jornalista. Ao colocar essas pessoas na mesma enumeração, podemos fazer a leitura de que, de alguma forma, esses homens estão intimamente associados ao poder. Além de opor a personagem a essas figuras, Antenor é com-pletamente diferente dos demais concidadãos em um aspecto importante: ele só dizia a “verdade verdadeira”. Da mesma maneira, agia para o bem “— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...” e isso causava o espanto dos demais cidadãos, que estavam preocupados apenas com seus próprios interesses.

Cansado de ser criticado, de ser rejeitado por suas posições, de ser expulso de diversas ocupações por dedicar-se demais ao trabalho e de ser pressionado pela mulher que amava, Antenor decide trocar sua cabeça. Em um processo metafórico, ele troca sua cabeça por uma de papelão e, assim, ganha respeito e começa a galgar postos mais elevados na sociedade, chegando a ser eleito para um cargo legislativo.

Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsifi-cava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posi-ção, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. [...] Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.

Adaptado de: RIO, João do. O homem da cabeça de papelão. São Paulo: Hedra, 2012.

Com esse texto, podemos fazer a reflexão de que valores morais se modificam com as sociedades. Porém, é necessário notarmos que o exagero de valores tão opostos àqueles que no Brasil se convencionou como posi-tivos trazem à tona duas importantes críticas: até que ponto há o respeito aos valores individuais quando estes se opõem ao pensamento vigente e até que ponto os valores sociais são postos em prática ou não passam de discursos marcados pela hipocrisia.

A nova Califórnia, cria uma situação extremamente peculiar: um alquimista é capaz de transformar ossos em ouro. A princípio, apenas os homens da elite local sabem disso, porém, interessados no ouro e na manutenção de seu poder, começam a roubar os ossos dos mortos da cidade e, assim, chamam a atenção dos demais cida-dãos. Sem saber o motivo dos furtos, homens e mulheres organizam escalas para proteger o cemitério, uma vez que os ossos dos mortos devem ser respeitados. Porém, tudo muda de figura quando todos tomam conhecimento da técnica de transmutação. Os valores são deixados de lado e uma grande disputa pelos ossos começa. Fica--nos a reflexão: quanto valem os valores dos indivíduos?

Em uma sociedade cujas relações sociais estão intimamente atreladas ao dinheiro e valorização do poder, não podemos deixar que valores maiores como o respeito aos mortos, como a honestidade, como o direito à liberdade dos indivíduos sejam sobrepujados por interesses sejam eles coletivos ou individuais que levem à corrupção e que acirrem ainda mais as diferenças sociais entre os indivíduos. E é essa última reflexão que en-contramos na crônica Mineirinho, de Clarice Lispector.

A crônica foi publicada em 1969, a partir de um fato policial verídico, ocorrido em 1962, data em que os jornais cariocas noticiavam a morte do assaltante Mineirinho, apelido pelo qual era conhecido o fugitivo José Miranda Rosa. Há dias procurado por mais de trezentos policiais, Mineirinho havia escapado do Manicômio Judiciário e jurado nunca mais voltar ao cárcere para cumprir sua pena de 104 anos. Acuado pela polícia, aca-bou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Nessa crônica, Clarice Lispector discute a ética envolvendo o assassinato de Mineirinho e a relação com os crimes cometidos por esse homem. Antes de tudo, traz à tona a reflexão de como o sujeito pode se posicionar diante deste fato, em suas palavras, tem-se:

Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me fez ouvir o primeiro tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina - porquê eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.

Adaptado de: LISPECTOR, Clarice. “Mineirinho”. In: A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964.

Nesse sentido, esse texto coloca a dualidade que há entre o eu e o outro. Julgar o outro de uma perspectiva afastada é diferente de julgar a si mesmo. Só mudamos nossa postura quando nos entendemos como o outro, ou seja, quando nos colocamos na posição do outro. É esse o exercício proposto pela autora. De modo que afirma, já no fim de seu texto, que é necessária outra justiça.

Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro ho-mem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento. Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso - nesse instante está sendo morto um inocente.

Adaptado de: LISPECTOR, Clarice. “Mineirinho”. In: A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964.

Assim, com a breve análise dos textos propostos, entendemos que a literatura é capaz de satisfazer lacunas sociais no que tange ao exercício da reflexão de valores muitas vezes tidos como previamente consagrados, ou seja, temos o costume de pensar que os valores são elementos anteriores às sociedades e não sofrem a influên-cia dos homens no seu cotidiano. Propomos, portanto, a seguinte reflexão: em muitos casos, reproduzimos em nosso discurso e atitudes alguns valores, sem nos questionarmos se esses valores realmente são os nossos, se

eles são frutos de uma reflexão coletiva ou individual. Apenas os reproduzimos. Como visto, em outros momen-tos deste texto, os valores éticos se transformam ao longo dos diversos contextos sociais, assim, cabe s diversas gerações questionar os valores e modificá-los. Nesse sentido, a literatura pode ser uma grande aliada.

2. Conflitos contemporâneos: interlocuções da ética e da política.

As informações apresentadas até aqui devem ter sido suficientes para, ao menos, melhorar a percepção de um importante elemento da conexão entre ética e política, em qualquer que seja o contexto analisado: a disputa por poder. Podemos mesmo afirmar que a trajetória humana está repleta de embates ético-políticos. A maioria deles tem raízes históricas, ainda que apresentem novas características agregadas às antigas condições que os desencadearam.

A compreensão e o posicionamento crítico diante dos inúmeros conflitos contemporâneos desta natureza nos demandam amplo conhecimento da realidade que nos circunda. Entretanto, o entendimento de alguns mecanismos que desencadeiam diferentes lutas por poder é relativamente simples. Quando há desigualdade de condições de existência entre integrantes de uma mesma coletividade, ou entre distintos grupos, a tal ponto que uma parcela dos envolvidos nesta relação se entende como em situação de desvantagem, instala-se uma conjuntura propícia à contestação de tal situação.

Assim, tanto o questionamento de tais condições, por parte dos desfavorecidos, quanto a resistência para que elas sejam mantidas, por parte dos privilegiados, expressam disputas pelo poder. Disputas que se dão pelo poder de reconfigurar, transformar ou perpetuar as relações sociais estabelecidas e os padrões de vida que elas produzem. Uma vez que são amparados por distintas noções de certo e errado, bom e ruim, bem e mal, importante e supérfluo, esses confrontos revelam a permanente interlocução entre ética e política. Esta é media-da por mecanismos que ora buscam a construção de acordos, ora utilizam explicitamente a força e a coação como meios para alcançar os objetivos esperados.

Enfocaremos aqui esse tema a partir da referência concreta a algumas passagens contemporâneas que integram o extenso acervo de experiências deste tipo que, no nosso entender, expressam de forma clara a articulação entre ética e política. Nesse sentido, daremos especial atenção ao nazismo, período que Hannah Arendt chama de “tempos sombrios”, entre outros da história humana, quando a barbárie, embora explícita, não era realmente vista por tantos; recordaremos os diversos movimentos libertários e pacifistas que marcaram a década de 1960, confrontando guerras e ditaduras truculentas e sanguinárias no mesmo contexto; destacare-mos aspectos relevantes que perpassam a multiplicidade dos protestos populares que, com distintas intensidades e consequências, vemos eclodir desde 2011 em praticamente todos os continentes, conforme David Harvey.

Se, como foi dito, muitas destas manifestações têm raízes profundas e remissivas a contextos de disputas históricas longínquas, também é fato que o acirramento recente destes conflitos deu-lhes maior visibilidade. Movimentos antes enfocados por suas particularidades passaram a ser analisados através de questões e con-traposições que denunciam em comum, posto que são também reproduzidas de forma global: a polarização entre miséria e riqueza, democracia e autoritarismo, liberdade emancipatória e conservadorismo excludente.

Paradoxalmente, num mundo globalizado que muitos julgavam estar radicalmente transformado e condena-do ao distanciamento face-a-face, resultante do implacável e quase tirânico impacto da tecnologia informacio-nal que prioriza as relações virtuais entre pessoas e espaços, as ruas de grandes e médias cidades voltaram a ser palco privilegiado de intensos confrontos, onde as profundas contradições que caracterizam as sociedades, em pleno século XXI, se materializam e reassumem feições humanas.

2.1. A suspensão dos direitos e os limites da ética em estados de exceção, guerras civis e internacionais

Embora haja uma relação íntima entre os conceitos de ética e política, também não podemos deixar de destacar as tensões naturais existentes entre estes campos. Um dos aspectos que podemos considerar mais tenso na relação entre estes temas diz respeito ao uso da violência pelo Estado.

O monopólio da força e o uso legítimo (quer dizer, ético) da violência são ideias defendidas por grande parte dos cientistas políticos e sociais como pré-requisitos para a defesa do conjunto da sociedade e manuten-ção da ordem. Um erro que vemos ser cotidianamente repetido é, no entanto, o abuso e o excesso no uso da violência, justificado em nome da maior eficácia dos resultados pretendidos. Vemos assim porque a questão da violência é um conflito natural entre ética e política: a primeira não é operacional, não visa resultados, embora seja um meio para atingirmos a harmonia social; a segunda é prática, objetiva e visa à eficiência máxima dos meios empregados.

Durante o regime nazista na Alemanha (1933-45), em nome do desenvolvimento industrial e da resolução da crise econômica, foram praticados terríveis abusos da violência por parte do governo. A falta de sentimento nacionalista e de comprometimento com o Estado totalitário, acusação feita pelos nazistas a ciganos, judeus e testemunhas de Jeová, entre outros grupos minoritários, serviu como argumento para que se desconsiderassem princípios morais e se abusasse da força. Os trabalhos forçados e a pena de morte impostas aos perseguidos nos campos de concentração permaneceram, todavia, ocultos à maior parte da população alemã da época. Transparência política é uma exigência da ética. A violência praticada de forma oculta e negada nunca pode ser aceita pela moral, mas a pena de morte ainda é adotada e justificada eticamente em muitos países.

Baseado nas ideias de uma raça superior, o regime nazista realizou inúmeros experimentos, ditos científicos, com grupos considerados impuros ou inferiores, como as minorias perseguidas a que nos referimos ou anões, pessoas com Síndrome de Down, etc. O médico Josef Mengele, conhecido como o Anjo da Morte, e outros médicos como Carl Clauberg, Aribert Heim, cometeram diversas atrocidades com suas cobaias humanas. Na tentativa de criar a raça perfeita, por exemplo, injetavam tinta azul no olho de suas vítimas.

Alguns experimentos resultaram em importantes contribuições para o conhecimento cientifico. Podemos citar a descoberta da relação entre o tabagismo e alguns tipos de câncer, o desenvolvimento de fertilizantes, bem como de drogas contra bactérias e vírus. Porém, a maneira como esses resultados foram obtidos não foi orienta-da no que há de mais importante na ciência, o respeito à ética. No estudo sobre o efeito do frio no corpo (hipo-termia), por exemplo, prisioneiros eram colocados em tanques com água gelada por 3 horas. Sentiam seu corpo congelando até que a morte chegava. Alguns eram reanimados e colocados novamente a temperaturas baixas.

A ciência nazista era pautada na higiene racial e pregava a eliminação de genes não arianos do povo alemão. Mas devemos ressaltar que os médicos que realizavam esses experimentos eram pessoas formadas em escolas tradicionais e respeitadas da Europa. Cabe então perguntar: Afinal, esses resultados são válidos? A ciência pautada sob um regime tão desumano tem credibilidade?

Alguns cientistas querem usar os dados obtidos nesse período em suas pesquisas atuais. Robert Pozos, por exemplo, estuda o efeito do frio no corpo humano a fim de elaborar a melhor maneira de reanimar pessoas congeladas. Porém, encontra um problema: seus voluntários podem morrer se a temperatura corpórea baixar demais. Assim, a única fonte de dados conhecidas sobre pessoas nessas condições são os experimentos nazis-tas. Seria ético utilizá-los? Muitos defendem a ideia que não, pois esses experimentos causaram dor, humilha-ção, mortes terríveis e careceram de parâmetros científicos. Pozos acredita que para salvar vidas esses dados devam ser usados sim.

O que se sabe é que as revelações e os julgamentos dos experimentos nazistas provocaram debates que culminaram na criação do Código de Nuremberg. Ele norteia as diretrizes éticas na experimentação com seres humanos preservando a dignidade, a autonomia e a integridade física dos voluntários envolvidos nas pesquisas, evitando abusos.

Einstein, moral e políticaEinstein foi um cientista que se destacava por estar sempre à frente de seu tempo. Podemos afirmar isso

porque ele não estava interessado meramente em fazer ciência, mas também se encontrava envolvido com questões políticas e sociais, principalmente aquelas que envolviam grandes tabus da humanidade como a coexistência pacífica entre povos diferentes e a garantia dos direitos humanos.

Einstein considerava-se socialista e pacifista, tendo participado diversas vezes de movimentos contra a guerra e pelo desarmamento nuclear. Seu trabalho “Teoria Especial da Relatividade”, de 1905, foi autogra-fado e leiloado para ajudar as vítimas da Segunda Guerra Mundial.

Afirmava ainda que todas as religiões, artes e ciências funcionavam como ramos de um tronco, e que deveriam levar o ser humano ao desenvolvimento e à busca pela perfeição, mas que na prática, acabavam por levar a um quadro de terror. A opressão, a criação de leis arbitrárias e a perseguição de indivíduos por motivos religiosos acabam sendo aceitas em diversos países e tratadas como algo natural, que não pode ser evitado por se tratar da vontade divina.

Para Einstein, todas essas questões estavam levando o mundo a um período de decadência, que ficava mais claro na maneira como os homens reagiam às injustiças. Ele defendia o espírito de desenvolvimento das faculdades mentais de acordo com as capacidades individuais. A liberdade interior, condição para independência de pensamento, só seria alcançada com a educação.

Com a ascensão do governo nazista e a caça aos judeus, Einstein teve seus escritos queimados, e come-çou a criticar o regime com vigor. Um ponto polêmico de sua biografia é a Carta Einstein-Szilárd, em 1939, dirigida ao então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt. No documento assinado por Einstein e redigido pelo húngaro Leó Szilárd, os físicos informavam sobre a possibilidade de construção de bombas atômicas na Alemanha, país que era líder na Física Nuclear. Sugeriam que os EUA também tomassem a dianteira nestas pesquisas. A carta é considerada uma das origens do Projeto Manhattan, através do qual foram construídas as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki. Einstein não trabalhou no projeto, mas morreria arrependido de ter assinado a referida carta.

Portal do professor Carlos A. Santos, do Curso de Física da UFRG: http://www.if.ufrgs.br/~cas/BIERMANN, Richard. Gigantes da Física. Rio de Janeiro, Zahar, 1998.

No Brasil, também temos um histórico de abusos da violência por parte do Estado, que, em determinados contextos, procura justificar parte de suas ações (aquelas que não são cometidas de maneira escondida) em nome do bem público e da ordem social. Assim, a tortura e a execução foram praticadas pelos governos mi-litares em larga escala, embora não de maneira assumida pelos carrascos. A justificativa para estes atos foi política: a necessidade de reprimir a “ameaça comunista” no país. Uma vez que os comunistas eram taxados de ateus, a repressão violenta aos grupos políticos de esquerda teve uma justificação moral, a defesa dos valores cristãos da sociedade brasileira.

Se a política brasileira e sul-americana das décadas de 1960 e 1970 foi marcada pelos excessos no uso da violência por parte das ditaduras civis e militares, este também foi um período de grande mobilização paci-fista internacional. Justamente em crítica aos excessos cometidos pelos EUA na Guerra do Vietnã, organizou-se a sociedade estadunidense e mundial em defesa da paz e do fim das atrocidades. A guerra é o domínio da antiética, pois não há ética nenhuma na guerra, cujo único objetivo é a derrota do inimigo, custe o que custar.

Nesse sentido, é necessário que o governo de um país apresente à sua população uma grande justificativa para declarar guerra a outro país, ou seja, a suspensão da ética na suas relações com outra nação. O fantas-ma do comunismo foi um discurso muito popular à época, sendo apresentado nos EUA como ameaça interna (caso também do regime militar brasileiro) e como ameaça mundial, cabendo à nação capitalista hegemônica defender o mundo desse mal.

Os massacres de civis vietnamitas, a destruição das florestas do país com bombardeios de napalm, a conta-minação do solo e dos rios da região com armas químicas foram alguns dos elementos que levaram a opinião pública mundial e dos EUA a criticarem duramente o governo estadunidense pela manutenção da guerra. Além disso, o fato da violência não atingir apenas o estrangeiro, ou seja, a constatação das famílias americanas de que seus filhos em idade militar continuariam a ser enviados para o front, também foi importante para a mobi-lização pacifista. Uma geração inteira de jovens americanos foi exposta aos horrores da guerra e voltou para casa com traumas psicológicos, com lesões graves que os incapacitaram, com dependência química, quando não voltaram em um caixão coberto com a bandeira americana.

Movimento hippie, arte contemporânea e pacifismo“Make Love, not war!” – Esse lema do mo-

vimento hippie representa bem como o corpo humano foi trabalhado de maneira política por uma geração de jovens ocidentais. Ao defen-der o amor livre, a juventude da época fazia, ao mesmo tempo, um repúdio à guerra e uma libertação de alguns princípios éticos que re-giam a sociedade em meados do século XX. Assim, a pregação de “paz e amor” revela um repúdio à guerra e à rigidez moral.

O casal John Lennon e Yoko Ono se desta-cou na luta pacifista dos anos 1960 e 1970. Em 1969, aproveitaram-se da repercussão na mídia do seu casamento para organizarem em sua lua-de-mel uma manifestação contra o alis-tamento para a Guerra do Vietnã. O “Bed-in for Peace”, como ficou conhecido, consistiu em receberem a imprensa mundial na suíte em que

estavam hospedados (primeiro em Amsterdã, depois em Montréal) para defenderem que em lugar dos jo-vens dos EUA irem se alistar, que estes ficassem em suas camas – “Don’t go to war! Stay in bed!”

Além de compor a canção “Imagine”, considerada um manifesto pacifista e uma das canções mais gravadas e tocadas em todo o mundo, John Lennon produziu muitas outras composições com esta temática após romper com os The Beatles e ir morar com Yoko Ono no EUA. Uma das canções produzidas na frutífera parceria do casal foi “Happy Xmas (War is over)”, lançada no Natal de 1971. Essa foi a culminação de dois anos de ativismo pacifista do casal, que organizou manifestações em doze cidades do mundo com outdoors que diziam “WAR IS OVER! If You Want It – Happy Christmas from John & Yoko”.

2.2 Xenofobia e nacionalismo: perseguições a minorias étnicas e religiosasA despeito das dificuldades relacionadas à elaboração de um conceito, a Subcomissão para a  Prevenção

da Discriminação e a Proteção das Minorias da Organização das Nações Unidas (ONU) define minoria como: “Um grupo numericamente inferior ao resto da população de um Estado, em posição não dominante, cujos membros - sendo nacionais desse Estado - possuem características étnicas, religiosas ou linguísticas diferentes das do resto da população e demonstre, pelo menos de maneira implícita, um sentido de solidariedade, dirigido à preservação de sua cultura, de suas tradições, religião ou língua. ” Dessa forma, o termo minoria diz respei-to a determinado grupo social que está em inferioridade numérica ou em situação de subordinação socioeconô-mica, política ou cultural, em relação a outro grupo, que é majoritário ou dominante em uma dada sociedade.

Atualmente, muitos conflitos e guerras civis em destaque envolvem as minorias, sobretudo as étnicas e religio-sas. O Brasil foi constituído por grupos étnicos distintos, cuja convivência social foi atravessada por conflitos e preconceitos, propiciando o desaparecimento de alguns grupos indígenas, sobretudo. Mas essa é uma situação comum a outras nações em diferentes contextos históricos.

No pós-Guerra Fria, emergem conflitos de origem étnica e religiosa que adquirem importância no sentido de explicar disputas por territórios ou por uma determinada ordem política. Esses conflitos podem envolver dois ou mais Estados – como a Guerra entre Armênia e Azerbaijão pela posse de Magorno-Karabakh, en-tre os anos de 1988 e 1994. Às vezes caracterizam-se como separatistas quando uma minoria ambiciona um território específico do país ao qual pertence. Um exemplo disso é o movimento separatista basco na Espanha, que foi comandado pela organização clandestina ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou “Pátria Basca e Liberdade”), criada em 1959. No ano de 2011, o ETA divulgou uma nota oficial declarando o fim de suas atividades armadas.

Yoko Ono e John Lennon no Amsterdam Hilton Hotel, em 25 de março de 1969. Fonte: Nationaal Archief, Den Haag, Rijksfotoarchief: Fotocollectie Algemeen Nederlands Fotopersbureau (ANEFO), 1945-1989 - negatiefstroken zwart/wit, nummer toegang 2.24.01.05, bestanddeelnummer 922-2302 Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Bed-In Acesso: 27/08/2013.

Existem ainda as guerras civis ou movimentos guerrilheiros objetivando a mudança de regime em inúmeros países. Recentemente, temos o caso da Argélia, em que os fundamentalistas islâmicos reivindicam a implanta-ção do Estado teocrático. Outros conflitos e guerras civis têm como pano de fundo a oposição entre segmentos da religião muçulmana (entre os principais, se encontram os sunitas, xiitas, alauítas e salafistas). Destacam-se como mais sangrentos os casos da Síria e do Egito. Os interesses religiosos em disputa ficam, no entanto, ofus-cados na mídia, posto que as revoltas nesses países são apresentadas somente a partir de seus questionamentos ao autoritarismo político, como parte da chamada “Primavera Árabe”.

Importante ressaltar que tais conflitos não ocorrem apenas entre povos com distintas religiões, mas também podem surgir entre grupos de uma mesma religião. Assim como presenciamos embates entre cristãos católicos e protestantes desde a Europa moderna até o Brasil contemporâneo, o mundo islâmico também é marcado por embates entre minorias e grupos religiosos majoritários. Desde 2011, a Síria vive uma guerra civil com forte com-ponente religioso. Bashar al-Assad, presidente do país, é alauíta, enquanto a maioria da população é sunita. O conflito no Egito não é explicado apenas pela questão religiosa, pois há quatro grupos distintos em luta: as forças armadas, os liberais, os salafistas e a irmandade muçulmana. Em 2011, o ditador militar Hosni Mubarak foi deposto, seguindo-se a eleição de Mohammad Morsy, da irmandade muçulmana. Em 2013, o governo de Morsy também foi destituído, contando com a mobilização dos três primeiros grupos, e assumiu o poder uma junta militar. A irmandade muçulmana tem exercido desde então um papel desestabilizador em relação ao regime implantado pelas forças armadas.

Armas Químicas na SíriaA presente guerra civil na Síria já deixou pelo menos 100 mil mortos, destruiu boa parte da infraestrutura

do país e gerou uma crise humanitária regional. O presidente sírio Bashar al-Assad enfrenta uma rebelião armada que tenta derrubá-lo.

Desde então, diversas acusações de uso de armas químicas por parte do exército de Assad têm sido noticiadas. Recentemente, um vídeo amador muito chocante foi disponibilizado no YouTube, mostrando pessoas, principalmente crianças, agonizando e sendo socorridas. Supostamente, são civis atacados com este tipo de armamento, que pode ter sido utilizado tanto pelo regime de Assad como por seus opositores.

Ao que se indica, utilizou-se o gás “Sarin”, um composto organofosforado altamente tóxico. O contato com o gás causa vômito, sudorese, dificuldade respiratória, náuseas, dores de cabeça, fraqueza e espas-mos musculares (enfraquecimento dos músculos), além da incapacidade de sustentar funções básicas como respiração e batimentos cardíacos, levando a óbito. É absorvido através dos olhos, pele, e também pela ingestão ou inalação. Em concentrações de 200 mg de sarin/m³,  age muito rápido no organismo causando a morte em poucos minutos.

Para que se tenha ideia da potencialidade dessa arma química, o Brasil é signatário de um acordo internacional que proíbe a fabricação ou utilização de tal substância, inclusive para fins científicos, em seu território. A questão da proibição do uso de certos compostos, mesmo que para fins científicos,  pode acarretar certa vulnerabilidade do país. Em contrapartida, gera uma imagem de país politicamente correto, frente ao cenário mundial.

De todo modo, cabe o seguinte questionamento: qual seria o limite da ética científica no uso de compos-tos extremamente letais em prol do desenvolvimento ou socorro da sociedade?

Outra fonte de conflitos que envolvem religião e etnia no interior de comunidades nacionais é o fenômeno da xenofobia, palavra de origem grega que significa antipatia ou aversão a pessoas e objetos estrangeiros, estranhos à realidade de determinado grupo social. Como o preconceito, a xenofobia acontece quando há ra-cismo ou aversão em relação à cultura, à opção sexual etc. O apartheid na África do Sul (1940/1990) resultou de um movimento de segregação racial, no qual limitaram-se os direitos da maior parte da população, que é negra. Mesmo após o término desse regime, verificam-se na África do Sul, os movimentos xenofóbicos, agora não somente devido à cor da pele, mas também contra imigrantes de países vizinhos.

Com o advento da globalização, em que o intercâmbio de pessoas e mercadorias se intensifica, os mo-vimentos xenofóbicos contra imigrantes são frequentes em países desenvolvidos, principalmente na Europa e

Estados Unidos, posto que esses migrantes, em geral muito pobres, são vistos como concorrentes no mercado de trabalho e nos benefícios sociais que esses países podem oferecer. Além disso, a aversão aos imigrantes árabes, sobretudo os mulçumanos, deve-se ao fato que estes são portadores de uma religião e de costumes que não correspondem à cultura ocidental.

No Brasil pode-se também observar a xenofobia em sua história. Desde a Independência, por exemplo, esse sentimento de certa aversão era comum em relação aos portugueses. Com a entrada de outros imigrantes no final do século XIX e início do XX, a discriminação atingia também outros grupos: espanhóis, italianos, sírios, japoneses etc., que disputavam o mercado de trabalho com os brasileiros. As acusações contra estrangeiros ditos perturbadores da ordem da República levaram a medidas repressoras, como as sucessivas leis do sena-dor Adolfo Gordo, a partir de 1907, determinando a deportação de militantes anarquistas quando de origem imigrante. Hoje, com os fluxos globalizados a discriminação que sofrem os trabalhadores estrangeiros é forte, mesmo quando se trata de segmentos mais qualificados. Isso se evidenciou com a reação que tiveram as as-sociações médicas em torno da importação de médicos cubanos para preencher vagas no interior do Brasil.

Muitas vezes, a aversão ao estrangeiro tem origem num discurso nacionalista ou está associada a este. O nacionalismo consiste em uma ideologia e movimento político, baseados na consciência da nação, que expri-mem a crença na existência de certas características comuns em uma comunidade, nacional ou supranacional, e o desejo de modelá-las politicamente. Não existe nada de amoral no amor à sua terra pátria ou ao seu povo, manifesto atualmente de maneira muito forte nas Copas do Mundo de futebol, por exemplo. Porém, quando este nacionalismo leva a práticas xenofóbicas, não pode ser tolerado do ponto de vista ético. No início do século XX, o ultranacionalismo emerge associado com teorias racistas, como na Alemanha (afinal, o nazismo a que nos referimos anteriormente apresentava-se ao povo alemão como nacional-socialismo), na Itália (fascismo) e no Japão. Desse ultranacionalismo, decorreram os mais variados abusos, que observamos no item 2.1.

2.3 – Democracia e corrupção: a ética em conflito na sociedade brasileiraA concepção de política e de ética e seus desdobramentos histórico-sociais até aqui desenvolvidos nos dão

as bases necessárias para analisar a forma como essas questões vêm sendo tratadas no atual cenário brasileiro. Este é o momento de olharmos para a história recente do país em busca das causas dos problemas políticos e da crise ética por que passam as instituições nacionais, assuntos regularmente tratados pela mídia.

A luta dos movimentos sociais pela redemocratização, no início da década de 80, tomou as ruas das prin-cipais cidades do país. O movimento das “Diretas Já!” exigiu o retorno das eleições diretas para a presidência da república. Nesse sentido, o direito de livre escolha de candidatos nas eleições, motivado por razões políticas e ideológicas, apareceu, naquele momento, como um necessário contraponto às obscuras práticas institucionais alimentadas até então pelo Estado sob o regime militar.

Esse desejo de mudança culminou na instalação de uma assembleia constituinte para a formulação de uma nova Constituição que correspondesse às inovações sociais, econômicas, jurídicas e políticas necessárias ao país. A partir da Constituição de 1988, da educação às garantias trabalhistas, várias conquistas têm sido alcan-çadas, como a diminuição da taxa de analfabetismo e o aumento dos direitos dos trabalhadores domésticos. Entretanto, precisamos reconhecer que o Brasil ainda não consolidou em plenitude uma tradição democrática que, efetivamente, garanta os direitos individuais e a pluralidade de opiniões.

Recentemente, a pressão popular vem evidenciando diversas distorções éticas na condução política dos inte-resses democráticos da sociedade brasileira. O país tem sido palco de denúncias que enfocam a ruptura com o respeito à ética por parte do Estado diante da população, dando visibilidade aos abusos repressivos, tanto no período da ditadura militar, quanto no contexto posterior. Temos visto a eclosão de movimentos e campanhas como Desaparecidos da Democracia; Marcha Nacional contra o Genocídio do Povo Negro; Rede de Comuni-dades e Movimentos contra a Violência, entre outros.

Nesse mesmo sentido, a luta contra a corrupção aparece como bandeira bastante ampla na sociedade bra-sileira. Desse modo, diversos setores têm se organizado para fiscalizar a gestão do dinheiro público e denunciar a conduta de maus administradores. O Poder Judiciário vem absorvendo essas demandas ao aumentar o rigor de mecanismos que visem à transparência da Administração Pública, como a proibição do nepotismo.

Vale destacar, ainda, que movimentos dessa natureza originaram um projeto de lei, de iniciativa popular, que tenta barrar ou dificultar a candidatura de pessoas com antecedentes criminais ou que estejam responden-

do a processo judicial. Surgiu, então, a Lei da Ficha Limpa4, julgada constitucional pelo plenário do Supre-mo Tribunal Federal (STF), em fevereiro de 2012, e que passou a valer nas eleições municipais do mesmo ano. É importante dizer que a lei foi um grande avanço para o processo eleitoral no nosso país, mas ela, sozinha, não consegue garantir a organização de eleições totalmente limpas. Por isso, é necessário que toda a socieda-de fiscalize a atuação dos ocupantes de cargos públicos e investigue a vida pregressa do candidato em quem pretende votar.

Outra questão presente nos noticiários brasileiros são as denúncias de autoridades acusadas de impro-bidade administrativa. Trata-se de uma imoralidade qualificada, isto é, uma conduta antiética praticada apenas por quem ocupa cargo público, seja servidor efetivo ou não, contra a gestão pública. A lei de impro-bidade administrativa5 especifica as punições aplicáveis ao agente que, no exercício da sua função ou cargo, viole os princípios básicos da administração estatal, tais como moralidade, impessoalidade, publicidade dos atos administrativos e legalidade, descritos no artigo 37 da Constituição Federal.

Um elemento relacionado à improbidade administrativa é o nepotismo. Como vimos, a moralidade deve ser uma das qualidades inerentes a qualquer administração do bem público, especialmente quando a política é o pano de fundo das relações entre os indivíduos. Por definição, o nepotismo ocorre quando um gestor público aproveita a sua posição e nomeia parentes para funções qualificadas na cúpula da gestão. É o exemplo mais do que conhecido de um prefeito que nomeia o seu irmão para o cargo de secretário de obras do município ou a esposa para a secretaria de educação etc.

Cabe, assim, destacar o aumento da importância do papel da mídia como mediadora dos grandes debates de interesse público. Em alguns casos, essa mediação é positiva, quando os desvios de comportamento de políti-cos e autoridades são denunciados pelos diversos veículos de comunicação. Por outro lado, as grandes corpora-ções do meio da comunicação social, muitas vezes, exploram esses escândalos políticos não, necessariamente, para prestar um serviço de interesse da população, mas para respaldar interesses de grupos dominantes. Isso fica claro quando, não raro, constatamos o modo como jornais e emissoras de TV, diante das manifestações recentes, vêm qualificando os ativistas brasileiros como vândalos, enquanto que tratam as manifestações em outros países de forma positiva. Essa tensão passou a ser mais evidenciada a partir da intervenção de diversas formas de mídias alternativas que ganham espaço com a divulgação de pensamentos alternativos e veiculação imediata da informação através dos meios virtuais.

Nesse sentido, é preciso que se note a importância do papel daqueles que trabalham na mídia: a simples escolha da pauta a ser publicada pode ser considerada um ato político. Há no Brasil, uma falsa ideia de que a boa imprensa é neutra. Porém, essa neutralidade é uma ilusão, já que essa área também é atravessada por relações de poder que nos impõe o consumo de notícias previamente selecionadas. Ao longo de nossa história, a grande mídia foi responsável por influenciar diversas decisões políticas importantes. Na imprensa, e até mes-mo no nosso dia a dia, a escolha das palavras remete a diversos posicionamentos políticos. Há, portanto, uma grande diferença entre dizer “Fui assaltado por um trombadinha” ou “Fui assaltado por um menor em situação de rua”. Não se trata de nos adequarmos ao politicamente correto, mas de perceber que nossas posições polí-ticas, como as da mídia, passam pelo discurso.

Em função de distorções, muitas vezes, alimentadas pelo discurso midiático, é comum a reprodução da opinião generalizada e apressada por grande parte das pessoas sobre governantes e representantes: “todo político é corrupto”. É claro que esse julgamento não reflete a realidade, pois existem pessoas eticamente comprometidas na política. Contudo, as inúmeras denúncias de corrupção, que envolvem desvio de dinheiro público, apropriações indevidas, superfaturamento de contratos com empreiteiras e fornecedores, pagamento de propina a autoridades, tráfico de influência, etc., reforçam a ideia de que não existe seriedade na forma de fazer política no Brasil. A crise ética instalada atualmente no meio social encontra base numa cultura política marcada por práticas patrimonialistas, coronelistas e clientelistas, que sempre apregoou o hábito da preserva-ção do privilégio e do querer “se dar bem” em qualquer situação.

Associada à ideia de falta de honestidade, a corrupção é uma realidade que, obviamente, supera os limites geográficos da capital federal e alcança a vida de qualquer pessoa, seja no trânsito ou no “jeitinho” para se conseguir uma vantagem, por exemplo. Este quadro fica agravado, quando o mesmo sujeito reproduz no seu dia a dia, a má-fé que tanto critica nas ações dos políticos. Consequentemente, além do problema ético nas

4 Lei Complementar nº 135/20105 Lei nº 8429/1992

relações interpessoais, uma parcela da população do nosso país também é marcada por um comportamento que prefere não enxergar as pequenas “exceções” ao modelo ideal de honestidade, desde que ninguém fique sabendo.

O “jeitinho brasileiro” e o indivíduo frente à ética nacionalVocê provavelmente já foi ou conhece alguém que tenha sido parado numa blitz e, diante dessa situ-

ação, conseguiu negociar com o policial para que não fosse penalizado devido ao descumprimento de alguma lei de trânsito. Essa forma de agir nos revela uma conduta comum no Brasil: o chamado “jeitinho brasileiro”. Esta prática é vista como um meio de solucionar alguns casos através da abertura de exceções devido às relações pessoais entre os envolvidos, como no exemplo acima, em que se burla a fiscalização. O crítico literário Roberto Schwarz ressalta que o “jeitinho” é também a forma como é conhecido “o favor”, que tem orientado as relações interpessoais no Brasil, sendo parte de nossa cultura política. Segundo esse autor, em termos políticos, fazer uso do favor implica abdicar de relações pautadas em direitos. O jeitinho, também pode ser entendido como resultado da criatividade ou habilidade do brasileiro em conseguir uma alternativa para “dar um jeitinho” frente a situações adversas. Por outro lado, a mesma atitude pode ser interpretada como uma forma de corrupção, ao passo que o indivíduo não se vale da ética para solucio-nar problemas. Como resultado desse modo de resolver problemas cotidianos, revela-se a “malandragem” como uma opção individual de proceder perante a sociedade.

A postura do indivíduo frente à ética nacional muitas vezes não está em consonância com as leis prescri-tas para o país. A sociedade brasileira possui matriz aristocrática, ainda que as posições de poder possuam certa relatividade no país. Para exemplificar, podemos tomar a interrogativa autoritária clássica: “Você sabe com quem está falando?”, mecanismo que distingue pessoa onde antes só havia o indivíduo e define suas posições no sistema social, revelando uma separação radical e autoritária entre duas posições sociais real e teoricamente diferenciadas. Essa expressão foi discutida com propriedade pelo antropólogo Roberto DaMatta em sua obra Carnavais, Malandros e Heróis (1997).

http://www.youtube.com/watch?v=MZZdNxETx8g Acesso em: 21 ago. 2013.http://www.ceap.br/material/MAT20082012200620.pdf Acesso em: 21 ago. 2013.

Considerações finaisÉ bem verdade que as tensões naturais entre ética e política, como os excessos de violência e a corrupção,

sempre acompanharam o desenvolvimento tecnológico e material da humanidade. Por sua vez, as utopias sur-gidas das reflexões de filósofos, transformadas em bandeiras sociais, serviram como princípios morais para as regras de sociabilidade, viabilizando grandes avanços, e ainda podem nos servir de inspiração para ousarmos forjar novas utopias que nos orientem na luta pela redução ou eliminação dos desvios verificados ainda hoje.

A atualidade de se pensar a ética está em buscar essa orientação, em construir um farol que nos indique o caminho que precisamos percorrer em meio às tormentas e à escuridão para construirmos uma política e uma economia amparadas em princípios morais universalmente reconhecidos. Nesse sentido, não podemos abrir mão da esperança, dos sonhos e de acreditar em utopias.

Por mais que a política a que estamos habituados pareça muito afastada de qualquer princípio ético, não po-demos deixar de lutar por uma política pautada na transparência e que rejeite a corrupção como um elemento natural das relações de poder. Os acordos parlamentares são parte integrante da democracia brasileira, uma vez que a composição de uma maioria legislativa é condição necessária ao funcionamento do nosso sistema presidencialista.

Pode-se dizer que é preciso certo “jogo de cintura” para conseguir governar. A troca de votos de vereado-res, deputados e senadores por investimentos ou gastos públicos de interesse político pessoal pode merecer a aprovação da opinião pública, caso esta tenha conhecimento do preço e das condições acordadas. No entan-to, não podem ser aceitos acordos feitos às escondidas, uma vez que o encobrimento das transações só pode significar a não aceitação das condições do acordo pela moral.

Já foi dito que a política não acontece somente nos grandes espaços institucionais nem é realizada apenas por políticos profissionais. A falta de transparência nos acordos que fazemos com colegas no ambiente de trabalho, quando precisamos nos ausentar ou de uma substituição não permitida pelas regras contratadas, demonstram que uma visão mais elástica da moral não é privilégio da classe dirigente. É comum vermos ser reproduzida uma lógica segundo a qual a sociedade brasileira estaria naturalmente dividida entre “malandros” e “manés”, e caberia a cada um de nós escolher o que prefere ser.

Além disso, contribuímos para a falta de transparência no próprio meio político quando premiamos com o nosso voto aquele candidato que utiliza uma grande dose de mentira eleitoral. De fato, um candidato cujo ex-cesso de realismo e sinceridade beire o pessimismo não será capaz de arrebanhar muitos votos numa eleição. No entanto, não podemos deixar de exigir que as promessas de campanha sejam verdadeiras, fundadas em valores amplamente aceitos e utopias sonhadas coletivamente.

Outro aspecto a ser considerado na formulação de uma ética para o século XXI são os sistemas econômicos. Esses precisam ser projetados levando em conta a importante função de distribuição das riquezas geradas pelo conjunto da sociedade e não ter sua eficácia medida apenas enquanto capacidade de concentrar e multiplicar recursos nas mãos de poucos indivíduos. Não é justificável do ponto de vista ético uma política econômica que não se preocupe com a coletividade.

Uma das questões que mais chama nossa atenção e demanda uma mudança urgente de postura da comu-nidade internacional está relacionada ao consumismo. Os avanços tecnológicos da atualidade permitiriam que lutássemos por uma redução na jornada de trabalho, o que já ocorreu em outros momentos do desenvolvimento capitalista. Por exemplo, a redução da jornada de trabalho nas repartições públicas do México para 6 horas diárias (e 30 horas semanais) proporcionou um maior tempo livre para os trabalhadores. Cabe a cada um esco-lher o que fazer deste tempo conquistado: trabalhar mais para acumular mais ou dedicar-se ao “ócio criativo”, à formação intelectual e à educação moral. Além disso, a jornada de trabalho permitiu a criação de dois turnos nas repartições, que passaram a funcionar 12 horas diárias, atendendo mais pessoas e gerando mais empregos.

Vale ressaltar que na ilha de Utopia, conforme concebida por Thomas More, mesmo havendo um desen-volvimento muito menor das forças produtivas, a jornada de trabalho era de seis horas diárias. No entanto, esta luta fica em segundo plano na maioria das reivindicações trabalhistas contemporâneas. O hiperconsumo, estimulado desde a infância a partir de propagandas enganosas e apelativas em todos aqueles que têm como “educadora” e “babá” a televisão ou o computador, leva os homens a focarem a luta por um maior salário que os permita consumir mais.

Assim como os diversos pensadores da história ocidental fizeram em suas épocas, algumas pessoas se de-dicam atualmente a reflexões sobre princípios éticos que orientem a política no tempo presente. Um exemplo é o político e engenheiro econômico Roberto Saturnino Braga, que em um livro lançado recentemente, chamado Ética e política, procura pontuar algumas questões que sirvam como orientação para a construção de uma ética para o século XXI: a) o aperfeiçoamento da democracia a partir da participação direta do povo em decisões importantes e na fiscalização da política; b) a intolerância com relação a desigualdades estruturais, que geram humilhações e violências; c) o desenvolvimento de uma economia mista, que faça a mediação entre a com-petição e a cooperação; d) a eliminação do desemprego e da miséria; e) o resgate dos valores humanísticos para uma educação que não estimule apenas a produtividade e a eficácia; f) o fim do flagelo da guerra e da destruição humana e ambiental que ela provoca.

Não há como reverter o processo de globalização econômica: ele não só é definitivo em termos de tecnologia e informação como, no balanço final, é altamente positivo para os destinos da humanidade como um todo; impensável uma reversão. Esta realidade torna algo inócua a proposição de novos modelos para um só país, a não ser sob a forma de projetos limitados no seu alcance. A ideia de um projeto nacional brasileiro, tão cara até tempos recentes, vai-se tornando cada vez mais estreita. O novo modelo requer uma presença mais efetiva da política sobre o mercado, e a globalização do mercado demanda a mundialização da política.

BRAGA, Roberto Saturnino. Ética e política. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

AnexosO ensino de línguas estrangeiras na educação básica busca garantir o acesso à informação e a uma educa-

ção mais igualitária e democrática, fazendo com que todos os cidadãos possam dialogar num mundo moderno. A prática de leitura de textos autênticos do dia a dia tem o intuito de desenvolver no indivíduo sua capacidade de leitura crítica, de ter contato com diferentes culturas e de socializar conhecimentos.

A capacidade de desenvolver o pensamento crítico em diversas situações, inclusive através de textos em línguas estrangeiras faz com que as pessoas saibam lidar com os mais diferentes contextos e formas de pensar, além de apreender novas informações. Por isso, a necessidade de se aprender um idioma estrangeiro, pelo menos, sob a forma de leitura e compreensão de textos. A familiarização com este tipo de leitura poderá ajudar a desenvolver outras habilidades, como a compreensão das letras de músicas ou de diálogos de filmes estran-geiros, além de ser uma preparação para o estudo dos textos científicos em outros idiomas que são comuns a todos os cursos universitários.

Considerando o exposto, apresentamos a seguir dois textos de apoio, um em língua inglesa e o outro em língua espanhola, que abordam a relação entre ética e política e que complementam as referências feitas no desenvolvimento dessa temática. Enjoy your reading! ¡Que hagas buen provecho!

Anexo 1ImagineJohn Lennon (1971)

Imagine there’s no heavenIt’s easy if you tryNo hell below usAbove us only skyImagine all the peopleLiving for today...

Imagine there’s no countriesIt isn’t hard to doNothing to kill or die forAnd no religion tooImagine all the peopleLiving life in peace...

You may say I’m a dreamerBut I’m not the only oneI hope someday you’ll join usAnd the world will be as one

Imagine no possessionsI wonder if you canNo need for greed or hungerA brotherhood of manImagine all the peopleSharing all the world...

You may say I’m a dreamerBut I’m not the only oneI hope someday you’ll join usAnd the world will live as one

Anexo 2

O filósofo espanhol Fernando Savater é autor de inúmeros livros sobre a temática ética e política, incluindo Ética para Amador (1991) e Política para Amador (1992). Como parte das celebrações de 20 anos de publica-ção dessas obras, foram produzidos alguns vídeos que estão disponíveis nos endereços abaixo:

Ética para amador - http://www.fernandosavater.com/pensando-con-fernando-savater.php?cat=1 Política para Amador - http://www.fernandosavater.com/pensando-con-fernando-savater.php?cat=2A seguir você encontrará alguns trechos transcritos e adaptados dos vídeos em que o escritor e filósofo es-

panhol fala sobre seu livro Ética para amador.

Video 1 – Presentación: “Ética para amador”“El conjunto de esa necesidad de reflexionar sobre nuestras acciones y sobre lo que elegimos es lo que se

llama ética”. “Lo único que se recomienda es que hay que reflexionar, que hay que buscar valores, que hay que buscar

razones, para tomar unas decisiones u otras”.

Video 2 – Microlección 1: La relación entre libertad y culpa“Si no fuéramos libres, es decir, si no tuviéramos una determinada capacidad de elección, obviamente no

estaríamos hablando de ética ni pediríamos a nadie responsabilidades por sus acciones. Tener libertad no quiere decir, por supuesto, tener omnipotencia como hacer lo que queramos… que vivimos en un mundo sin necesidad y sin constituciones, quiere decir que dentro de unas condiciones que no hemos elegido, dentro de esas condiciones podemos elegir nos encontramos, con un cuerpo, en una historia, en un país, con una lengua, en unas circunstancias que no hemos elegido, pero dentro de esas circunstancias no elegidas, hay muchas cosas que sí podemos elegir hacer o no hacer, preferir o descartar”.

Video 5 - Microlección 4: La diferencia entre la ética y la política“La ética es aquello que depende de cada uno de nosotros. Para ser éticos o para desarrollar nuestra refle-

xión sobre nuestra libertad no necesitamos a nadie. En cambio la política es algo que necesita la complicidad de los demás. La política la negociamos entre todos. La ética cada uno la decide en la intimidad de su intención y de su voluntad”.

“La política está hecha por instituciones, la ética está hecha por... para las personas. Entonces por medio de la ética conseguimos mejores personas, por medio de la buena política conseguimos mejores instituciones”.

“Ese principio el ‘no hagas a los demás lo que no quieras que te hagan a ti y procura ayudar a los otros como quisieras que te ayudaran a ti’ es, en casi todas las culturas, la base o el fundamento de la ética”.

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