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PREFÁCIO
O que é ação revisional em contratos bancários? Qual o
seu embasamento legal? Quais as orientações do STJ
sobre o assunto? Como saber se é viável propor esta ou
aquela ação revisional? A capitalização dos juros não é
permitida pela MP 2.170/2001? E se o consumidor pagou
70% das parcelas do contrato? Cabe se valer da teoria do
adimplemento substancial? Ainda assim o veículo será
apreendido? Se for ajuizada a ação o consumidor não
conseguirá mais financiar um veículo? Como redigir a
peça apontando as cláusulas abusivas? Como apresentar
a planilha de cálculos e qual o juros devem ser aplicados?
Como agir durante a ação frente à Busca e apreensão,
nome no SPC/SERASA, a permanência do veículo, etc..
Enfim, essas são algumas perguntas que deixam os
consumidores, advogados na dúvida de buscar a melhor
formatação para a propositura e o êxito dessas ações.
Pensando nisso é que disponibilizamos 10 anos de
experiência no assunto para que o leitor possa reduzir
seu tempo, sem ter que ficar na incerteza da chamada
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“insegurança jurídica”, das promessas mirabolantes,
dentre elas do velho chavão – É causa ganha!
Certamente, sem falsa modéstia, podemos dizer: A
enorme maioria das instituições de crédito que fazem
financiamentos e cobram taxas ilegais e abusivas,
onerando as prestações pactuadas. Valendo-se do
desconhecimento dos consumidores.
O poder judiciário está decidindo pela ilegalidade dessas
cobranças e determinando o reajustamento dos contratos,
reduzindo as taxas ilegais praticadas e,
conseqüentemente, o valor das parcelas a serem pagas.
Assim, não resta dúvida que as ações Revisionais não
são “um bom negócio”, e sim, um direito do
consumidor que bem elaborada a demanda é certa!
Esse é a síntese do nosso trabalho. O consumidor,
advogado, terá um roteiro prático com breves
explicações, bem como, alguns modelos, fruto de nossa
experiência em dezenas de ações favoráveis.
O Autor.
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ÍNDICE
Ação revisional definição. O que pode ser
revisado.................................................................... 4 a 26
Embasamento legal................................................ 26 a 32
Quais as orientações do STJ sobre o assunto........33 a 43
Teoria do adimplemento substancial.......................44 a 47
Prática................................................................... 47 a 163
Recursos..............................................................163 a 172
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AÇÃO REVISIONAL DEFINIÇÃO
Ação Revisional contratual é um processo judicial em que
se busca a revisão de cláusulas de um contrato de
financiamento objetivando a redução ou eliminação de
seu saldo devedor, bem como a modificação de valores
de parcelas, prazos e até mesmo o recebimento de
valores já pagos indevidamente.
As ações revisionais de contrato mais comuns são as de
financiamentos de veículos; consórcios; alienação
fiduciária, de imóveis, crédito pessoal, cheque especial,
cartões de crédito, etc.. Cabe dizer que muitas vezes em
uma ação revisional analisamos mais de um tipo de
contrato. A título de exemplo: Ação revisional contratual
onde se revisa o cheque especial, o cartão de crédito e o
financiamento.
O que pode ser revisado em um contrato?
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Vejamos as ocorrências mais comuns:
● Abusividade da taxa de juros remuneratórios
Taxa de juros remuneratórios de um contrato é a taxa de
juros paga pelo cliente durante o período da contratação,
sem inadimplência.
Considera-se abusiva sempre que a taxa de juros de um
contrato quando ela estiver acima da taxa média
praticada no mercado.
Para verificar na prática se a taxa de juros de um contrato
é abusiva ou não deve se comparar a taxa de juros do
contrato com a taxa média de juros do mercado ou
apenas fazendo um simples cálculo matemático.
Sobre esse assunto já decidiu o STJ:
DECISÃO Quarta Turma considera abusiva taxa de juros da Losango e do HSBC A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em decisão unânime, considerou abusiva a taxa de
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380,78% ao ano cobrada pela Losango Promotora de Vendas Ltda e pelo HSBC Bank Brasil S/A num financiamento de R$ 1.000,00 feito por Maria de Fátima Dutra, dona-de-casa de Porto Alegre. Com base em voto do ministro Antônio de Pádua Ribeiro, decano do Tribunal, a Turma decidiu que a taxa de juros remuneratórios cobrada da mutuária pelas duas instituições financeiras encontra-se acima do triplo da taxa média do mercado para a modalidade do negócio bancário, sendo, portanto, flagrantemente abusiva. Para o ministro Antônio de Pádua Ribeiro, relator do processo, a taxa de juros cobrada da dona-de-casa representa, no final, uma taxa mensal de cerca de 14%, manifestamente excessiva, já que, pelos R$ 1.000,00 que tomou emprestados, Maria de Fátima teria de pagar 10 prestações mensais sucessivas de quase R$ 250,00. O ministro argumentou que, de acordo com a jurisprudência vigente no STJ, a taxa deve ser reduzida ao patamar médio do mercado para essa modalidade contratual, no caso, 67,81% ao ano, conforme os dados divulgados pelo Banco Central do Brasil. Para ele, beira o absurdo a afirmação constante do recurso especial de que “não se visualiza, no presente caso, qualquer abusividade que possa ensejar a revisão do contrato”. As recorrentes alegavam que a legislação específica não impõe limitação para as taxas de juros firmadas pelas instituições financeiras, devendo prevalecer, nesses casos, aquilo que foi pactuado no contrato de empréstimo, não havendo, portanto, qualquer abuso ou
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excesso capaz de ensejar a revisão das cláusulas ajustadas de comum acordo. Mas, para o ministro Pádua Ribeiro, embora o STJ entenda que não se podem presumir como abusivas as taxas de juros remuneratórios que ultrapassem o limite de 12% ao ano, pode ser declarada, mesmo nas instâncias ordinárias, com base no Código de Defesa do Consumidor, a abusividade da cláusula contratual que fixe cobrança de taxa de juros excessiva, acima da média do mercado para a mesma operação financeira. Por isso, reformou parcialmente o acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul apenas para afastar a limitação de 12% ao ano imposta à taxa de juros remuneratórios, mas baixando a taxa abusiva de 380,78% para 67,81%, a média cobrada pelo mercado na data da contratação do empréstimo, conforme os índices levantados pelo Banco Central. Votaram acompanhando o entendimento do ministro Pádua os ministros Aldir Passarinho Junior, Hélio Quaglia Barbosa, presidente da Turma, e Massami Uyeda. Não participou do julgamento o ministro Fernando Gonçalves.
A decisão tem aplicação somente para as partes interessadas.
Fonte: http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=84952
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● Capitalização (cobrança de juros sobre juros /
anatocismo)
A legalidade ou não da capitalização dos juros no Brasil
é hoje um assunto tumultuoso, pois até o ano de 2000 a
não ser em alguns casos de contrato a capitalização dos
juros era absolutamente vedada, no entanto no ano de
2000 foi editada a Medida Provisória nº 1.963-17/2000,
atualmente reeditada sob o nº 2.170-36/2001 a
qual tratava do tema sem muita importância, entretanto
trouxe no seu artigo 5º a permissão para a ocorrência da
capitalização.
Tal medida provisória, com todo o nosso respeito, é
inconstitucional por lhe faltar o requisito da urgência e por
se tratar de matéria reservada à lei complementar, não
podendo ser disciplinada por medida provisória, conforme
reza o art.62, §1º, inciso III, da Constituição Federal. A
Emenda Constitucional nº 32/2001 é expressa em vedar a
edição de medidas provisórias para regulamentar matéria
reservada à lei complementar, conforme a nova redação
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dada ao Artigo 62, §1º, inciso III, da Constituição Federal.
Vale dizer que, neste ponto, a norma veio apenas
expressar o que já era evidente, no sentido de que lei
ordinária ou norma que lhe faz às vezes, como é o caso
da medida provisória, não pode regular matéria de lei
complementar.
O debate a respeito do tema já foi objeto de apreciação,
por ocasião do julgamento da Argüição de
Inconstitucionalidade do art.5º da Medida Provisória n.º
2170-36, agitada pelo eminente Desembargador Sérgio
Rocha, na Apelação Cível n.º 2003.01.1.000707-5.
Confira-se:
Desta forma, “[...] com respeitosa venia ao entendimento
do e. STJ sobre a possibilidade de capitalização de juros,
em face da MP 2.170-36/01, nota-se que essa não pode
ser aplicada sem distinção a qualquer contrato bancário,
pois o referido texto legal foi editado visando à
administração dos recursos de caixa do Tesouro
Nacional, além do que o sistema financeiro nacional
somente pode ser regulado por lei complementar.
Ademais, o art. 5º e o parágrafo único, ambos da MP
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2.170-36/01, que tratam da capitalização de juros por
período inferior ao anual, são objetos da ADI
2.316/DF, cujo pedido de suspensão cautelar foi
deferido pelos votos do Relator Min. Sydney Sanches
e do Min. Carlos Veloso, sob o fundamento de que
inexiste o requisito da urgência para a edição de
Medida Provisória e de ocorrência de perigo de
demora inverso”. (20060110906904APC, Relator VERA
ANDRIGHI, 1ª Turma Cível, julgado em 18/07/2007, DJ
09/08/2007 p. 73).
A referida ADI no STF já tem 06 (seis) votos proferidos,
sendo que 04 (quatro) concederam a liminar para declarar
inconstitucional e suspender os efeitos da MP 2.170-
36/2001., significando a tendência da Corte pela
inconstitucionalidade da capitalização dos juros via MP, O
julgamento foi suspenso em dezembro de 2008 por falta
de quórum. Aguarda-se designação de nova data.
Contudo, frente ao Código do Consumidor, se um
contrato prever juros anuais de 21,79%, quando o
percentual mensal é de 1,66% que multiplicado por doze
11
(meses) resulta em 19,92% ao ano., certamente esta
prática é vedada por afrontar o princípio da transparência
(clareza).
Apenas a título elucidativo: um financiamento será quitado
em 36 meses. Desse modo, por mero cálculo aritmético,
deduz-se que a taxa média anual, constante
expressamente do contrato, mesmo nos casos de
capitalização anual de juros, não corresponderá
ao duodécuplo da taxa de juros mensal, pois, após o
decurso de cada ano, incidirá a capitalização dos juros do
período, elevando, por consequência, a taxa média anual.
Assim, mesmo para aqueles dotados de profundo
conhecimento acerca da matéria, a simples visualização
das taxas de juros não é suficiente para compreensão
adequada de qual periodicidade de capitalização está
sendo ofertada ou imposta ao consumidor.
A periodicidade da capitalização, por sua vez, é dado
relevante para a apuração da taxa de juros real incidente
no contrato, bem como para o acompanhamento da
evolução do saldo devedor.
12
De regra os juízes e tribunais brasileiros consideram ilegal
a ocorrência da capitalização em contratos e determinam
o seu afastamento.
Um exemplo é a aplicação da Tabela Price (sistema
francês de amortização) utilizada nos contratos de
financiamento.
Pelo sistema francês de amortização, o devedor
compromete-se a pagar periodicamente uma importância,
utilizada para liquidar os juros produzidos pelo saldo
devedor, durante aquele lapso temporal, e amortizar uma
parte deste saldo, de maneira que, no final do prazo
estipulado, a dívida se reduza a zero. Pergunta-se: como
há capitalização mensal se há o pagamento mensal dos
juros produzidos no período?
A título de exemplo elaboramos a tabela abaixo nos
moldes do sistema francês de amortização num hipotético
empréstimo de R$ 1.000 (mil reais) para ser pago em 12
(doze) meses e taxa de juro mensal de 3,5 %:
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Vê-se abertamente que a utilização da Tabela Price,
enquanto manobrar matemática, não passa de ilusão para
a cobrança de juros capitalizados mensalmente, pois se
parte do valor da prestação liquidar os juros acumulados
naquele mês (R$ 35,00) e o restante (R$ 68.00) amortizar
o capital devido (R$ 1.000,00), ter-se-á o mesmo
resultado numérico de se amortizar o capital com a
parcela total (R$ 1.000,00 - R$ 103,00 = R$ 897,00) e
capitalizar os juros produzidos naquele período (R$
897,00 + R$ 35,00 = R$ 932,00).
14
Portanto, a "Tabela Price" é utilizada pelos bancos para
ludibriar a cobrança ilegal de juros compostos,
capitalizados mensalmente, pois o pagamento mensal
dos juros causa a diminuição do valor a ser amortizado na
dívida principal, conseqüentemente, o saldo devedor
sobre o qual incide a taxa de juro do mês seguinte deixa
de diminuir o montante dos juros pagos no mês anterior,
capitalizando-os a cada incidência da taxa de juro
sobre o saldo devedor, pois este foi indevidamente
amortizado ou ilegalmente acrescido de juros
mensais.
Sobre este sistema, vale a transcrição do voto proferido
pelo Superior Tribunal de Justiça, da lavra do eminente
Ministro José Delgado, que abordou a matéria nos
seguintes termos, confira-se:
“[...], no sistema em que é aplicada a Tabela Price, os
juros crescem em progressão geométrica, caracterizando,
portanto, juros sobre juros (anatocismo). Sobre o tema,
tenho como elucidativa a manifestação do Des. Adão
15
Sérgio do Nascimento Cassiano, do RS, em 23.10.2002,
na Apelação Cível nº 70002065662, onde afirma (fls.
138/148): ‘[...] o que é relevante não é propriamente a
taxa de juros contratada, mas sim o prazo, pois, quanto
maior o prazo, maior será a quantidade de vezes que os
juros se multiplicarão por eles mesmos, o que demonstra
e configura o anatocismo como traço inerente e imanente
à Tabela Price. [...] adotando-se a fórmula dos juros
simples o crescimento é apenas aritmético e, adotando-se
a fórmula da Tabela Price, o crescimento se dá em
progressão geométrica (juros capitalizados ou compostos,
inerentes à formula da Tabela Price). [...] A primeira
ilegalidade contida no cálculo da Tabela Price é a do
crescimento geométrico dos juros que configura
anatocismo ou capitalização, que é legalmente proibida
em nosso sistema, nos contratos de mútuo, estando
excetuados da vedação apenas os títulos regulados por
lei especial, nos termos da Súmula n.º 93 do STJ. [...] Na
Tabela Price, percebe-se que somente a amortização é
que deduz do saldo devedor. Os juros jamais são
abatidos, o que acarreta amortização menor e pagamento
de juros maiores em cada prestação, calculados e
16
cobrados sobre saldo devedor maior em decorrência da
função exponencial contida na Tabela, o que configura
juros compostos ou capitalizados, de modo que o saldo
devedor é simples e mera conta de diferença. Além disso,
tratando-se, como antes visto, de progressão geométrica,
quanto mais longo for o prazo do contrato, mais elevada
será a taxa e maior será a quantidade de juros que o
devedor pagará ao credor’.[...]É evidente que, conforme
demonstrado, há cobrança de juros capitalizados ou
compostos quando para fixá-los, obedece-se à Tabela
Price. Esta caracteriza sistema em que há sucessivas
reaplicações de juros”. (Recurso Especial n.
572.210/RS)
Em suma: Mesmo aqueles que conhecem o significado,
dificilmente saberiam demonstrar os labirínticos cálculos
envolvidos e prever o alcance dos aumentos que serão
carreadas às parcelas em decorrência da aplicação da
Tabela Price.
Sendo assim, ainda que a Tabela Price não contivesse
juros compostos, restaria inviável sua utilização no âmbito
17
das relações de consumo em virtude do princípio da
transparência esposada pelo Código de Defesa do
Consumidor.
● Comissão de permanência
É vedada a cumulação da cobrança de comissão de permanência com outros encargos moratórios/ remuneratórios, em observância ao entendimento que se encontra amplamente pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, sob pena de bis in idem.
Colha-se, a respeito, o seguinte julgado:
“AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO. JUROS
REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO. INAPLICABILIDADE.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA POSSIBILIDADE DE
COBRANÇA DESDE QUE NÃO CUMULADA COM OS
DEMAIS ENCARGOS MORATÓRIOS.
I - Os juros remuneratórios cobrados pelas instituições
financeiras não sofrem as limitações da Lei da Usura, nos
termos da Súmula 596 do STF, dependendo eventual
redução de comprovação do abuso, não caracterizado
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pelo simples fato de os juros serem pactuados em
percentual superior a 12% ao ano.
II - É admitida a cobrança da comissão de permanência
no período da inadimplência, desde que não cumulada
com correção monetária, juros moratórios, multa
contratual ou juros remuneratórios, calculada à taxa
média de mercado.
III - Agravo Regimental improvido”.
(AgRg no REsp 1066206/MS, Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/08/2010,
DJe 10/09/2010)
Comissão de permanência é a taxa de juros a qual o
cliente em submetido quando esta inadimplente. O que
ocorre é que esta taxa só pode ser cobrada pela taxa
média de mercado e limitada a taxa de juros
remuneratórios do contrato, mas de regra os bancos
cobram na comissão de permanência uma taxa de juros
acima da taxa contratada e ainda cumulada com correção
monetária o que é ilegal.
19
A jurisprudência de todo Brasil é uníssona em
reconhecer a ilegalidade da comissão de permanência
cobrada de forma abusiva.
●Vendas Casada
O art. 39, I, do Código de Defesa do Consumidor veda a prática de venda casada ao dispor:
Art. 39 – É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
I – condicionar o fornecimento de produtos ou de serviços ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como sem justa causa, a limites quantitativos; (...).
A venda casada de seguro com qualquer outro produto ou serviço oferecido pelos bancos enquadra-se na vedação prevista no inc. I do art. 39 do CDC. No entanto, o seu reconhecimento em ação revisional exige prova da contratação abusiva no caso concreto. E, não comprovada, não há o que ser revisionado.
● T.A.C. - Taxa de administração de contratos, e
outras taxas
Os bancos cobram taxas na elaboração de contratos, no
entanto a cobrança de uma tarifa contratual para
20
acobertar as despesas administrativas com o
financiamento, apesar de não encontrar vedação na
legislação expedida pelo BACEN, se mostra abusiva, pois
se traduz num em verdadeiro bus in idem, na medida que
o lucro do banco, o qual serve para cobrir todas suas
despesas advém de suas taxas de juros, de seu spread,
logo a cobrança destas taxas “não se destina, assim,
evidentemente, a remunerar um serviço prestado ao
cliente”, como citado pelo eminente Desembargados
Carlos Alberto Etcheverry, ao tratar do tema enquadrando
dita cobrança como abusiva, nos termos do art. 51, IV do
Código do Consumidor.
Quanto à Tarifa de emissão de carnê – TEC, o Superior Tribunal de Justiça, em julgado proferido pela Quarta Turma nos autos do REsp 794.752/MA, de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, firmou recente entendimento no sentido de que a cobrança de tarifa pela emissão de boleto bancário é abusiva e constitui vantagem exagerada dos bancos em detrimento dos consumidores, razão pela qual deve ser declarada abusiva a sua cobrança.
Vale mencionar que o fato das aludidas taxas não estarem inseridas no rol das cobranças consideradas vedadas pelo Banco Central, tal fato, por si só, não afasta a apreciação da legalidade pelo Poder Judiciário.
21
● Consórcios - Taxa de administração superior a
(10% / 12%)
O decreto 70.951/72 estabeleceu que a taxa de
administração de um consórcio não pode ser superior a
doze por cento (12%) do valor do bem, quando este for de
preço até cinqüenta (50) vezes o salário-mínimo local e a
dez por cento (10%) quando de preço superior a esse
limite, sendo que caso os bens adquiridos sejam de
fabricação ou comércio das próprias administradoras
estas taxas não poderão ser superiores a (6%) / (5%).
Muitos contratos apresentam taxas de administração dos
consórcios superiores a 20% o que é absolutamente
ilegal.
● Consórcios - Valor da Carta x lance
Muitas vezes quando se faz um consórcio a pessoa da
um lance (atenção este é o pior negócio que alguém pode
fazer). Pelo lance a pessoa abre mão de receber, por
22
exemplo, os cinqüenta mil reais da carta de crédito e
aceita receber só vinte e cinco mil, e assim passa a frente
dos demais. O que ocorre, e ninguém explica para o
consorciado é que todas as taxas: de administração,
fundo de reserva, correção, continuam incidindo sobre o
valor original, qual seja - no exemplo sobre os cinqüenta
mil, assim na prática uma taxa de administração que de
regra já era ilegal de 20% passa na prática para uma taxa
de administração de 40%.
● Parcelas mensais superiores a 30% da renda
Com o surgimento dos contratos consignados e créditos
para aposentados se limitou o valor máximo a ser pago
por prestações de contratos com desconto em folha a
30% dos vencimentos do contratante. Ocorre que na
prática os bancos burlam a lei efetuando contratos por
fora, ou seja, no contra cheque descontam até 30% e o
resto o fazem por meio de descontos na conta corrente
onde o aposentado recebe a sua aposentadoria.
Tal prática é abominável e tem sido rechaçada pela
justiça que afirma que o total de descontos mensais na
23
aposentadoria realizado de forma direta (desconto em
folha) ou indireta (contratos de empréstimo) não pode ser
superior a 30% do salário.
● Amortização negativa
A ocorrência de amortização negativa sempre se dá
quando em uma determinada situação, apesar do
pagamento da prestação mensal de um contrato o saldo
devedor do mesmo acaba por aumentar no mês seguinte.
Isto é muito comum nos contratos de financiamento
habitacional, pois muitas vezes a correção monetária do
mês no saldo devedor acaba por ser maior do que o valor
da parcela.
A amortização negativa é mais um fenômeno indesejado
no contrato do que uma ilegalidade em si, mas o fato é
que ela fere o princípio geral da amortização pelo qual
sempre que ocorre o pagamento de uma conta o saldo
devedor deve diminuir e cria saldos devedores
impagáveis.
24
O poder judiciário tem sempre determinado a revisão
dos contratos em caso de ocorrência de amortização
negativa.
Para saber se o seu contrato apresenta amortização
negativa basta verificar se em algum momento apesar do
pagamento da prestação mensal o saldo devedor
aumentou no mês seguinte. Se isto ocorreu o seu
contrato apresenta amortização negativa.
● Desobediência a cláusula P.E.S. (Plano de
Equivalência Salarial - SFH)
Nos contratos de financiamento habitacional, muitas
vezes existe a chamada cláusula PES, pela qual as
prestações dos contratos só poderiam subir de acordo
com os reajustes dos salários dos mutuários, e, deveriam
ficar limitadas a 30% do valor do salário. Ocorre que os
agentes financeiros via de regra não respeitam tal
determinação, e assim as prestações sobem mais do que
o salário e acabam por ficar impagáveis.
25
● O CUB só pode ser utilizada como indexador em
imóveis em construção
O STJ entende que o CUB e o INCC só podem ser
utilizados como indexadores para contratos de imóveis
em construção vez que tais índices refletem a variação
dos custos de materiais e insumos utilizados na
construção civil, sendo inadequados para regular relações
nas quais não estejam sendo utilizados tais insumos,
situações nas quais o índice poderá ser substituído por
outro que reflita a desvalorização da moeda / inflação
geral de mercado.
● Taxas de juros e condições especiais para
aposentados
Os empréstimos com desconto em folha para
aposentados, bem como os cartões de créditos especiais,
são contratos diferenciados no sistema jurídico e por tanto
possuem taxas de créditos especiais, limitadas por lei.
Desta forma se um empréstimo para aposentado possui
26
uma taxa de juros igual ou superior a média praticada no
mercado com certeza ele apresenta ilegalidade, pois se
submetem a lei 10.820/2003 e às normas do INSS.
● Contratos de Financiamento Estudantil – FIES
Os contratos de financiamento estudantil via de regra
possuem como ilegalidade a capitalização em prazo
inferior ao anual, não obstante encontramos outras
espécies de abusos - especialmente quando ocorrem
renegociações - novações nos contratos.
DA AÇÃO REVISIONAL EMBASAMENTO LEGAL
A previsão legal das ações revisionais é
prevista na LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE
1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
outras providências.
Temos no Artigo 6°, V:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
27
V - a modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão
em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas;
A revisão contratual pode-se dar por dois
motivos: quando prestações excessivamente onerosas
são inseridas ao contrato, para um dos contratantes, no
momento de sua formação, ou quando fatores
supervenientes à contratação tornam prestações,
anteriormente ajustadas, excessivamente onerosas para
uma das partes. Em ambos os casos, a revisão do
negócio visa o justo equilíbrio entre direitos e obrigações
das partes.
Em síntese, O Código do Consumidor
priorizou os princípios da boa-fé objetiva, do equilíbrio
contratual, da transparência e da vulnerabilidade do
consumidor, possibilitando, assim, com a regra do art. 6º,
inciso V, "...a revisão judicial da cláusula de preço, que
era eqüitativa na época da celebração do contrato e se
tornou excessivamente onerosa para o
28
consumidor"..."Com efeito não há nesse artigo as
palavras imprevisibilidade ou extraordinariedade da
situação, consideradas pela doutrina e jurisprudência
indispensáveis na relação entre particulares para a
incidência da teoria da imprevisão. É mencionado apenas
‘fatos supervenientes’. Em sendo assim, não há
necessidade de o acontecimento ser imprevisível ou
extraordinário para a modificação ou revisão da cláusula.
Basta, para tanto, que a prestação seja desproporcional
ou excessivamente onerosa, provocando um desequilíbrio
no contrato. Com essa norma, o Código tem por objetivo
tornar o contrato de consumo mais equânime,
restabelecendo sua comutatividade, evitando que
distorções financeiras, econômicas ou sociais afetem e
desequilibrem o contrato de consumo" (Rogério Ferraz
Donnini, A Revisão dos Contratos no Código Civil e no
Código de Defesa do Consumidor, Editora Saraiva, pág.
206).
Como visto, na linguagem do Código do
Consumidor, para que haja a revisão contratual, basta
que as circunstâncias posteriores sejam "excessivamente
29
onerosas" para o consumidor, independentemente de
serem imprevisíveis ou extraordinárias. "A bem da
verdade, a norma se faz aplicável, de modo cogente,
pela simples ocorrência de fato superveniente que
quebre o equilíbrio econômico do contrato, tornando
excessivamente onerosa a prestação imposta ao
consumidor", (Agravo de Instrumento 0050061-8 – 4ª
Câmara Cível – Agravante FIAT Leasing S/A –
Arrendamento Mercantil – Relator Des. Jones Figueiredo
– TJPE).
Por outro lado, conforme os
ensinamentos de CLÁUDIA LIMA MARQUES, conhecida
professora e especialista da matéria, ao contrario do que
disse a ré, a onerosidade excessiva caracteriza-se pela
simples quebra da base negocial, tornando-se
indispensável citar o seguinte trecho de sua obra:
"Cabe frisar, igualmente, que o art. 6º, inciso V, do CDC
institui, como direito do consumidor, a modificação das
cláusulas contratuais, fazendo pensar que não só a
nulidade absoluta serviria como sanção, mas também que
seria possível ao juiz modificar o conteúdo negocial.”
30
Repita-se: A norma do art. 6º avança ao não exigir que o
fato superveniente seja imprevisível ou extraordinário,
apenas exige a quebra da base objetiva do negócio, a
quebra do seu equilíbrio intrínseco, a destruição da
relação de equivalência entre prestações, ao
desaparecimento do fim essencial do contrato. Em outras
palavras, o elemento autorizador da ação modificadora do
Judiciário é o resultado objetivo da engenharia contratual
que agora apresenta a mencionada onerosidade
excessiva para o consumidor, resultado de simples fato
superveniente, fato que não necessita ser extraordinário,
irresistível, fato que podia ser previsto e não foi". (in
Contratos no Código de Defesa do Consumidor - 2ª ed. -
pág. 297/299)
Deste modo, sem nenhuma outra interpretação, o Código
do Consumidor prevê duas hipóteses em que a revisão
contratual poderá ocorrer:
a) se a excessiva onerosidade se deu no momento da
formação do contrato;
31
b) se a excessiva onerosidade se deu no momento da
execução do contrato, independente da imprevisibilidade
das circunstâncias que a ocasionaram.
Em harmonia com o disposto acima, temos a clareza das
regras imposta pelo Código Civil. Senão vejamos:
“Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim
na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.”
E, na esteira do que dispõe o artigo 422 do Novo Código
Civil, o Centro de Estudos Judiciários do Conselho da
Justiça Federal, por ocasião da realização da Jornada de
Direito Civil, entre os dias 11 e 13 de setembro de 2002,
aprovou os enunciados números 25, 26 e 27, abaixo
transcritos:
Enunciado 25 do CEJ: “O art. 422 do Código Civil não
inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-
fé nas fases pré e pós-contratual.”
32
Enunciado 26 do CEJ: “A cláusula geral contida no art.
422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e,
quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a
boa-fé objetiva, entendida como a exigência de
comportamento leal dos contratantes”.
Enunciado 27 do CEJ: “Na interpretação da cláusula geral
de boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código
Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos
normativos e fatores metajurídicos”.
Merece, também, transcrição o artigo 423 do Código Civil:
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas
ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a
interpretação mais favorável ao aderente.
33
QUAIS AS ORIENTAÇÕES DO STJ SOBRE O
ASSUNTO
Orientação do STJ:
ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS É
possível a estipulação de juros remuneratórios superiores
a 12% ao ano, sem que isso implique cláusula abusiva, o
que significa dizer que as instituições financeiras não se
sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada
na Lei de Usura (Decreto 22.626/33). Somente será
admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em
situações excepcionais, desde que comprovada
cabalmente a abusividade, que será verificada caso a
caso.
ORIENTAÇÃO 2 - CONFIGURAÇÃO DA MORA
Havendo encargos abusivos exigidos no período da
normalidade contratual (juros remuneratórios e
capitalização), a mora não estará caracterizada. Contudo,
a mora não poderá ser afastada com a mera constatação
34
de que foram exigidos encargos abusivos ou o simples
ajuizamento de Ação Revisional.
ORIENTAÇÃO 3 - JUROS MORATÓRIOS Nos
contratos bancários, não-regidos por legislação
específica, os juros moratórios poderão ser
convencionados até o limite de 1% ao mês.
ORIENTAÇÃO 4 - INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO
EM CADASTRO DE INADIMPLENTES Somente será
vedada a inscrição/manutenção do nome do devedor em
cadastro de inadimplentes, se houver, cumulativamente:
(a) interposição de Ação Revisional; (b) demonstração de
que a alegação de cobrança indevida se funda na
aparência do bom direito e jurisprudência do STF ou STJ;
e (c) depósito da parcela incontroversa ou prestação de
caução fixada pelo Juiz da causa. Correta a
inscrição/manutenção do nome do devedor em cadastro
de inadimplentes decidida na sentença ou no acórdão,
quando constatada a mora, no mérito do processo.
35
ORIENTAÇÃO 5 - DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO É
vedado aos Juízes de 1º e 2º graus de jurisdição
conhecer de ofício, isto é, sem pedido expresso do
consumidor, a abusividade de cláusulas nos contratos
bancários.
Duas notas necessárias
Recentemente, o STJ elaborou Súmula 381:
"Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer,
de ofício, da abusividade das cláusulas."
Um estudo dos julgados do STJ sobre o tema revela que
o referido verbete sumular surgiu após intenso debate
sobre a possibilidade de reconhecimento de nulidades
contratuais (direito material) de ofício pelos órgãos a
quo (destinatários dos recursos), quando inexistir
manifestação do juízo ad quem (recorrido) a respeito.
Essa sim é a discussão existente.
Confiram-se os processos que serviram de base para o
enunciado:
36
ERESP 702524-RS; RESP 54114-RS; ERESP 64590-RS;
AGRG NO RESP 824847-RS; RESP 1064594-RS; RESP
1042803-RS; AGRG NO RESP 782895-SC; RESP
1007561-RS; AGRG NOS ERESP 80142-RS.
Outro ponto que merece atenção é a falta de rigor técnico
quanto à extensão do verbete sumular. Ele refere-se
estritamente a contratos bancários. Ora, nem todo
contrato bancário encerra relação de consumo,
lembrando que os precedentes citados - todos eles -
versam sobre relações de consumo, envolvendo
situações em que mais se apresentam violações aos
direitos consumeristas: contratação de bancos.
Não é difícil enxergar que o teor da Súmula foi muito além
da orientação inserida nesses julgados, os quais se
restringem à questão de revisão, pelos Tribunais, de
matéria não discutida em 1º grau. Tal enunciado merece
revisão, uma vez que dá a entender que qualquer
37
julgador, inclusive o juiz de 1º grau, está impedido de
reconhecer de ofício cláusulas abusivas, o que é um
absurdo. A doutrina repele esse pensamento. Nelson
Nery Júnior assim ensina:
"Atendendo aos reclamos da doutrina, o CDC enunciou
hipóteses de cláusulas abusivas em elenco
exemplificativo. (...) Sempre que verificar a existência de
desequilíbrio na posição das partes no contrato de
consumo, o juiz poderá reconhecer e declarar abusiva
determinada cláusula, atendidos os princípios da boa-
fé e da compatibilidade com o sistema de proteção do
consumidor. (...) Como a cláusula abusiva é nula de
pleno direito (CDC, art. 51), deve ser reconhecida essa
nulidade de ofício pelo juiz, independentemente de
requerimento da parte ou interessado." (Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentados
pelos Autores do Anteprojeto. [et al.]. 8ª ed. rev. ampl.
e atual., Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária,
2004; p. 693)
38
Seguindo o mesmo raciocínio, leciona Cláudia Lima
Marques:
"O Poder Judiciário declarará a nulidade absoluta
destas cláusulas, a pedido do consumidor, de suas
entidades de proteção, do Ministério Público e
mesmo, incidentalmente, ex officio. A vontade das
partes manifestada livremente no contrato não é mais o
fator decisivo para o direito, pois as normas do Código
instituem novos valores superiores, como o equilíbrio e a
boa-fé nas relações de consumo. Formado o vínculo
contratual de consumo, o novo direito dos contratos opta
por proteger não só a vontade das partes, mas também
os legítimos interesses e expectativas dos consumidores."
(Comentários ao Código de Defesa do Consumidor.
[et al.]. 2ª ed. rev. atual. e ampl., São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006; p. 561)
No foco da questão, está o art. 51 do CDC, o qual permite
a atuação oficiosa dos juízes, ao se depararem com
39
cláusulas contratuais prejudiciais à parte consumidora. O
dispositivo está assim redigido:
"Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as
cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:"
Ademais, a própria jurisprudência do STJ corrobora esse
entendimento:
"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SFH.
CONTRATO DE MÚTUO. TABELA PRICE.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO
STF. ART. 6°, "E", DA LEI Nº 4.380/64. LIMITAÇÃO DOS
JUROS. JULGAMENTO EXTRA PETITA. MATÉRIAS DE
ORDEM PÚBLICA. ARTS. 1º E 51 DO CDC. 1. A matéria
relativa à suposta negativa de vigência ao art. 5º da
Medida Provisória 2.179-36 e contrariedade do art. 4º do
Decreto 22.626/33 não foi prequestionada, o que impede
o conhecimento do recurso nesse aspecto. Incidência das
Súmulas 282 e 356 do STF. 2. O art. 6°, "e", da Lei nº
40
4.380/64 não estabeleceu taxa máxima de juros para o
Sistema Financeiro de Habitação, mas, apenas, uma
condição para que fosse aplicado o art. 5° do mesmo
diploma legal. Precedentes. 3. Não haverá julgamento
extra petita quando o juiz ou tribunal pronunciar-se de
ofício sobre matérias de ordem pública, entre as quais
se incluem as cláusulas contratuais consideradas
abusivas (arts. 1º e 51 do CDC). Precedente. 4.
Recurso especial provido em parte."
(STJ - Recurso Especial 1013562/SC - 2ª Turma - Rel.
CASTRO MEIRA; J: 07/10/2008)
Depois de vistos tais argumentos, pensar que os
julgadores encontram-se impedidos de analisar cláusulas
de contratos bancários de ofício em favor do consumidor
significa desconhecer o espírito do Código do
Consumidor! E mais: afronta a própria idéia de isonomia,
uma vez que, de acordo com a Súmula, o consumidor não
terá a especial proteção empreendida pelos julgadores
nos contratos firmados com bancos, mas terá nos demais.
Ademais, o assunto discutido nos precedentes daquela
41
corte superior é de natureza estritamente processual e
refere-se às disposições processuais não do CDC, mas
sim do CPC, notadamente, o art. 515, o qual encerra a
norma do tantum devolutum quantum appelatum, que
estipula que o órgão a quo está autorizado a examinar
apenas aquilo que as partes já debateram e levantaram
em seus recursos.
Não se discute a propriedade desse entendimento e sim a
adequação da Súmula 381 do STJ aos julgados que lhe
deram origem.
Sob o ponto de vista do contraditório entre as partes, a
regra do art. 515 do CPC é interessante, uma vez que
permite ampla manifestação sobre o objeto da lide
apenas no lugar próprio, que é o 1º grau de jurisdição, no
qual há abertura para dilação probatória e extenso
debate. Além do que, a regra em apreço promove a
celeridade e a economia processual. Essa é a regra.
Porém, é possível vislumbrar uma exceção quando, já em
2º grau, o reconhecimento da nulidade versar sobre
direitos cujo reconhecimento esteja completamente
42
pacífico nos tribunais superiores. Neste caso, o disposto
no art. 515 do CPC deveria ceder espaço para o óbvio e
para o bom-senso.
Além disso, mesmo estando vedado qualquer
reconhecimento de nulidades em 2º grau, é possível à
parte lesada ingressar com um novo processo no
Judiciário para discutir tais vícios legais, e é o
recomendável.
Diante de tais argumentos, não existe alternativa senão
proceder a correção da Súmula, uma vez que a mesma
contraria a legislação vigente e encontra-se dissonante
tanto da doutrina pátria, quanto da jurisprudência do
próprio STJ.
A respeito da capitalização de juros, muito debatida
em vários recursos especiais, o STJ entendeu que tal
recurso não constitui via adequada para o exame e
discussão desse tema, sob pena de usurpar competência
do STF, vez que se trata de questão constitucional.
43
Aliás, encontra-se tramitando no STF a Ação
Declaratória de Inconstitucionalidade – Adin n. 2316/DF,
cujo objeto é a declaração de inconstitucionalidade da
Medida Provisória n. 2.170/01, que autorizou a
capitalização mensal de juros nos contratos bancários.
Discute-se a possibilidade ou não de se editar
Medida Provisória para tratar de matéria do direito
financeiro, reservada à lei complementar, em face da
expressa vedação constitucional, prevista nos artigos 62,
§1º, III e 192, ambos da Constituição Federal.
Destaca-se que ainda não foi concluído o
julgamento da referida Adin. Contudo, até o presente
momento, já foram proferidos seis votos, sendo que
quatro concederam a liminar para declarar
inconstitucional e suspender os efeitos da supracitada
MP.
Fonte: Recurso Especial STJ Nº 1061530 – RS
44
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
A jurisprudência tem reconhecido
casos de adimplemento substancial, para não se extinguir
o contrato e tão só cobrar o efetivo cumprimento da
obrigação, após satisfeita boa parte do contratado. Trata-
se da teoria do adimplemento substancial fundamentada
nos princípios da boa-fé objetiva (art. 422), da função
social dos contratos (art. 421), da vedação ao abuso de
direito (art. 187) e ao enriquecimento sem causa (art.
884). Visa garantir aos devedores de boa-fé a esperança
para saldar suas dívidas sem sofrer privações e medidas
coercitivas no caso concreto.
Através do adimplemento substancial, não se permite, por
exemplo, a resolução do vínculo contratual se houver
cumprimento significativo, expressivo das obrigações
assumidas, chegando-se muito próximo do resultado final
(total adimplemento).
45
Dentre os Enunciados Aprovados - IV Jornada de
Direito Civil. Portal Jurídico Investidura, Florianópolis/SC,
20 Nov. 2008, temos:
“361 – Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial
decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer
preponderar a função social do contrato e o princípio da
boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.”
Na prática se algum consumidor já
pagou 70% das prestações de um contrato, o judiciário
não tem aceitado a ação de Reintegração de Posse,
cabendo ao credor buscar as vias ordinárias para
cobrança.
Confira-se os julgados:
“DIREITO CIVIL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO
MERCANTIL PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO
(LEASING). PAGAMENTO DE TRINTA E UMA DAS
TRINTA E SEIS PARCELAS DEVIDAS. RESOLUÇÃO
DO CONTRATO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
46
POSSE. DESCABIMENTO. MEDIDAS
DESPROPORCIONAIS DIANTE DO DÉBITO
REMANESCENTE. APLICAÇÃO DA TEORIA DO
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. (STJ, REsp
1051270/RS, 4ª T., rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
04/11/2008)”
0015822-15.2009.8.19.0000 (2009.002.24353) - AGRAVO DE INSTRUMENTO 3ª Ementa DES. CUSTODIO TOSTES - Julgamento: 12/08/2009 - DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL
AGRAVO INTERNO. RATIFICAÇÃO DA DECISÃO MONOCRÁTICA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. "BUSCA E APREENSÃO. BEM OBJETO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CONTRATO CUMPRIDO EM QUASE SUA TOTALIDADE. JURISPRUDÊNCIA DO STJ NO SENTIDO DO NÃO CABIMENTO DA MEDIDA LIMINAR PREVISTA NO DECRETO LEI 911/69 EM APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS PARA REFORMA DA DECISÃO QUE DEFERE OU INDEFERE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, POR NÃO SE CONFIGURAR TERATOLÓGICA, CONTRÁRIA À LEI OU À EVIDENTE PROVA DOS AUTOS. SÚMULA 59 DO TJERJ. RECURSO AO QUAL
47
SE NEGA SEGUIMENTO."DESPROVIMENTO DO RECURSO.
PRÁTICA
Apresentamos a seguir duas peças sobre ações
revisionais. A primeira abrange várias teses aceitas em
nossos tribunais. Versa sobre revisional de veículos. Já a
segunda abrange Cartão de Crédito; Cheque especial,
etc.
Nossa recomendação é que não se deve descartar de
pronto nenhuma tese abordada nas peças frente a outras
posições jurisprudenciais. A razão é simples. Ainda há
muita divergência nos tribunais da federação. Somente no
STJ existem pouco mais de 3000 mil julgados sobre o
assunto. Portanto, a boa argumentação jurídica ainda
prevalece sobre a “insegurança jurídica que ronda o
nosso judiciário” que tenta tumultuar o direito do
consumidor, numa verdadeira guerra entre Golias e Davi.
Guarde sempre essa frase:
48
"O advogado deve sugerir por forma tão discreta os argumentos que lhe dão razão, que deixe ao juiz a convicção de que foi ele próprio quem os descobriu” (Piero Calamandrei)
AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CÍVEL DE VILA VELHA – ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
“A justiça pode caminhar sozinha; a injustiça precisa sempre de muletas, de argumentos.”
Iorga, Nicolae
DEMANDANTE:
PATRONO:
DEMANDADO:
49
DEMANDA: AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO C/C REVISÃO CONTRATUAL
GARANTIDA POR ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA COM
PEDIDO CAUTELAR DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA,
PELO RITO ORDINÁRIO.
FULANO DE TAL, nacionalidade,
estado civil, profissão, CPF 000.000.000-00, CI 000/,
residente e domiciliado na Rua Valada de Cavalinhos, s/n,
CEP 00000-000, Vitória, Estado do Espírito Santo, por
meio de seus advogados signatários (m.j. – doc. 01),
ambos com escritório indicado no timbre final desta
página, onde recebem intimações, vem, respeitosamente,
à presença de Vossa Excelência para propor a presente
50
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO C/C
REVISÃO CONTRATUAL GARANTIDA POR
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA COM PEDIDO CAUTELAR
DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, PELO RITO
ORDINÁRIO,
em desfavor do BANCO, pessoa jurídica de direito
privado, CNPJ ......., com sede na......., Barueri - São
Paulo., pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos:
1 – PRELIMINARMENTE
1.1 - DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:
O DEMANDANTE afirma em
declaração, que é carecedor de recursos que o possibilite
51
suportar as custas processuais e os honorários
advocatícios sem prejuízo de seu sustento, nos termos
artigo 4º da Lei 1.060/50, com redação introduzida pela
Lei 7.510/86, conseqüentemente, fazendo jus à
concessão da gratuidade de Justiça, e, informando desde
já, o patrocínio gratuito dos profissionais infra- assinado.
(Doc. 2 – Declaração).
2 - DOS FATOS QUE MOTIVARAM A PROPOSITURA
DA PRESENTE AÇÃO:
O DEMANDANTE firmou com o
DEMANDADO, contrato nominado de (Leasing)
Arrendamento Mercantil, assim definido pela Lei n
7.132, de 26/10/1983:
"Art. 1º -
................................................................................
Parágrafo único - Considera-se arrendamento mercantil,
para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado
52
entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e
pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e
que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos
pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária
e para uso próprio desta. “.
Como se nota, o conceito é vago, mais
precisamente, possui um significado vago, situando-se,
em termos de linguagem, na zona de penumbras das
referências semânticas, sede dos símbolos imprecisos,
tornando assim, indefinidas as regras a serem aplicadas a
este instituto.
E mais: Sua natureza jurídica sendo
mista ou complexa, apesar de trazer aspectos de outros
contratos típicos é autônoma, resulta da combinação de
elementos de diferentes contratos, formando nova
espécie contratual não prevista em lei.
“in passant”: Só nas arestas de alguns artigos do Código
Civil é que se nota a chamada propriedade fiduciária
53
(artigos 1.361 e 1.368, e, no, art. 1.368-A (acrescentado
pela Lei n. 10.931/2004).
EM SÍNTESE: O DEMANDANTE
ficou condicionado à aceitação unilateral de um serviço,
sem especificação clara (de fácil percepção); precisa
(sem prolixidade); e adequada (sem adequação justa);
prostrado, sem que igual direito lhe fosse conferido para
discutir ou modificar substancialmente o conteúdo da
prestação de serviço - contrato. Não restando dúvida que,
o panorama delineado é diametralmente oposto aos
diretos básicos e ínfimos do CONSUMIDOR -
DEMANDANTE, bem como, na espécie, por tratar-se de
fornecimento de serviço que envolve concessão de
financiamento ao consumidor, em que, por obrigação
legal, deveria o DEMANDADO – FORNECEDOR, atender
ao que impõe o Artigo 52 do Código Consumerista e seus
incisos, senão, veja-se:
54
Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que
envolva outorga de crédito ou concessão de
financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre
outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente
sobre:
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente
nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de
juros;
III - acréscimos legalmente previstos;
IV - número e periodicidade das prestações;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento.
(Destaques nossos)
Observe-se que o caput do dispositivo
tem caráter meramente enumerativo, não taxativo. Impõe
o dever do DEMANDADO - FORNECEDOR de informar
55
sobre certos requisitos mínimos no fornecimento de
produtos e serviços. Lista-os, “entre outros”.
Consequentemente, todo e qualquer fornecedor de
produto ou serviço tem que respeitar o dever de informar
previamente os requisitos mínimos, e, entre outros
requisitos, pertinentes ao sistema jurídico a que pertence.
Não se tratando, deste modo, de listagem facultativa. E
sim obrigatória.
EXCELÊNCIA
Um oportuno parêntese para uma
breve reflexão sobre os comentários do
EXCELENTÍSSIMO MINISTRO ARI PARGENDLER,
proferido no RECURSO ESPECIAL N° 185.287 - RIO
GRANDE DO SUL. PAUTA: 02/03/2000 JULGADO:
14/11/2000, acerca do assunto em pauta:
56
“Diversamente do que ocorre nos financiamentos em
geral, no arrendamento mercantil o custo do dinheiro não é
identificado por institutos jurídicos, v.g., juros
remuneratórios ou capitalização de juros. No empréstimo
de dinheiro, pode-se discutir a taxa de juros (se limitada ou
não) e a sua capitalização (se permitida, ou não). No
arrendamento mercantil, o custo do dinheiro, aí não
incluída a correção monetária, está embutido nas
contraprestações, sendo impossível, por exemplo, discutir
juros e capitalização de juros - estranhos ao contrato, que
só prevê o montante das prestações, o respectivo número,
o valor residual garantido, a correção monetária e, no caso
de inadimplemento, comissão de permanência, multa e
juros moratórios. De fato, como distinguir o que, no custo
do dinheiro, representa juros e o que corresponde à sua
capitalização?”. (Destaques Nossos)
Por outro lado, pergunta-se: Que
comentários teceria o DEMANDANTE – vulnerável e
hipossuficiente, enquanto consumidor, frente a relação
contratual existente?
57
Saberia previamente alcançar em qual
ou quais cláusulas estariam informados: Tributos,
CET - Taxa de Juros da Operação; Tarifas; Seguros;
Outras despesas cobradas relacionadas à operação de
crédito? E, entre outros dispositivos: Saberia apontar as
cláusulas surpresas, obscuras, abusivas, nulas de pleno
direito?
Certamente, não! Com licença poética
do acadêmico Monteiro Lobato: “Triste como o Curiango”,
procurou o DEMANDADO para saber o custo do dinheiro
embutido nas prestações para uma razoável
renegociação. Entretanto, foi informado que não haveria
nenhuma possibilidade de acordo, em vista de ter lido e
assinado o contrato. Leia-se: Contrato de adesão: Aquele
que se caracteriza por permitir que seu conteúdo seja
preconstruído por uma das partes, eliminada a livre
discussão que precede normalmente à formação
dos contratos. ( GOMES, Orlando. Contratos. Rio de
Janeiro: forense, 16, Ed. 1995. P. 109).
58
E mais: Toda essa
parafernália complexa inserida na criação do inglês
Richard Price conhecida por “Tables of Compound
Interest” ou Tabelas de Juro Composto.
Pelo sistema francês de amortização,
o devedor compromete-se a pagar periodicamente uma
importância, utilizada para liquidar os juros produzidos
pelo saldo devedor, durante aquele lapso temporal, e
amortizar uma parte deste saldo, de maneira que, no final
do prazo estipulado, a dívida se reduza a zero. Pergunta-
se: como há capitalização mensal se há o pagamento
mensal dos juros produzidos no período?
A título de exemplo elaboramos a
tabela abaixo nos moldes do sistema francês de
59
amortização num hipotético empréstimo de R$ 1.000 (mil
reais) para ser pago em 12 (doze) meses e taxa de juro
mensal de 3,5 %:
60
Vê-se abertamente que a utilização da
Tabela Price, enquanto manobrar matemática, não passa
de ilusão para a cobrança de juros capitalizados
mensalmente, pois se parte do valor da prestação a
liquidar os juros acumulados naquele mês (R$ 35,00) e o
restante (R$ 68.00) amortizar o capital devido (R$
1.000,00), ter-se-á o mesmo resultado numérico de se
amortizar o capital com a parcela total (R$ 1.000,00 - R$
103,00 = R$ 897,00) e capitalizar os juros produzidos
naquele período (R$ 897,00 + R$ 35,00 = R$ 932,00).
Portanto, a "Tabela Price" é utilizada
pelos bancos para ludibriar a cobrança ilegal de juros
61
compostos, capitalizados mensalmente, pois o
pagamento mensal dos juros causa a diminuição do valor
a ser amortizado na dívida principal, conseqüentemente,
o saldo devedor sobre o qual incide a taxa de juro do mês
seguinte deixa de diminuir o montante dos juros pagos no
mês anterior, capitalizando-os a cada incidência da
taxa de juro sobre o saldo devedor, pois este foi
indevidamente amortizado ou ilegalmente acrescido
de juros mensais.
Sobre este sistema, vale a transcrição
do voto proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, da
lavra do eminente Ministro José Delgado, que abordou a
matéria nos seguintes termos, confira-se:
“[...], no sistema em que é aplicada a Tabela Price, os juros
crescem em progressão geométrica, caracterizando, portanto,
juros sobre juros (anatocismo). Sobre o tema, tenho como
elucidativa a manifestação do Des. Adão Sérgio do Nascimento
Cassiano, do RS, em 23.10.2002, na Apelação Cível nº
62
70002065662, onde afirma (fls. 138/148): ‘[...] o que é relevante
não é propriamente a taxa de juros contratada, mas sim o
prazo, pois, quanto maior o prazo, maior será a quantidade de
vezes que os juros se multiplicarão por eles mesmos, o que
demonstra e configura o anatocismo como traço inerente e
imanente à Tabela Price. [...] adotando-se a fórmula dos juros
simples o crescimento é apenas aritmético e, adotando-se a
fórmula da Tabela Price, o crescimento se dá em progressão
geométrica (juros capitalizados ou compostos, inerentes à
formula da Tabela Price). [...] A primeira ilegalidade contida no
cálculo da Tabela Price é a do crescimento geométrico dos
juros que configura anatocismo ou capitalização, que é
legalmente proibida em nosso sistema, nos contratos de
mútuo, estando excetuados da vedação apenas os títulos
regulados por lei especial, nos termos da Súmula n.º 93 do
STJ. [...] Na Tabela Price, percebe-se que somente a
amortização é que deduz do saldo devedor. Os juros jamais
são abatidos, o que acarreta amortização menor e pagamento
de juros maiores em cada prestação, calculados e cobrados
sobre saldo devedor maior em decorrência da função
exponencial contida na Tabela, o que configura juros
compostos ou capitalizados, de modo que o saldo devedor é
simples e mera conta de diferença. Além disso, tratando-se,
como antes visto, de progressão geométrica, quanto mais
63
longo for o prazo do contrato, mais elevada será a taxa e maior
será a quantidade de juros que o devedor pagará ao
credor’.[...]É evidente que, conforme demonstrado, há cobrança
de juros capitalizados ou compostos quando para fixá-los,
obedece-se à Tabela Price. Esta caracteriza sistema em que
há sucessivas reaplicações de juros”. (Recurso Especial n.
572.210/RS)
Em suma: Mesmo aqueles que
conhecem o significado, dificilmente saberiam demonstrar
os labirínticos cálculos envolvidos e prever o alcance dos
aumentos que serão carreadas às parcelas em
decorrência da aplicação da Tabela Price.
Sendo assim, ainda que a Tabela
Price não contivesse juros compostos, restaria inviável
sua utilização no âmbito das relações de consumo em
virtude do princípio da transparência esposada pelo
Código de Defesa do Consumidor.
64
Por outro lado, da simples leitura do
instrumento contratual (cláusula 10°), depreende-se que
estão sendo praticadas, respectivamente, taxas de juros
mensais e anuais de 1,60% e 20,94%, que comprovam a
cobrança de juros capitalizados a lastrear a concessão do
crédito ao DEMANDANTE, onerando sobremaneira a
operação financeira avençada, prática que, ressalvadas
exceções previstas em lei, é vedada no ordenamento
jurídico pátrio, em face do artigo 4º do Decreto n.º
22.626/33, tratando-se, inclusive, de matéria sumulada
pela Corte Suprema (Enunciado n.121), segundo a qual
“É vedada a capitalização de juros, ainda que
expressamente convencionada”, sendo permitida, tão-
somente a capitalização anual, consoante também
disposto no art.591 do NCC que afirma que nos mútuos
com fins econômicos os juros remuneratórios são os
mesmos do art. 406, ou seja SELIC ou art. 167 do CTN,
de 1% a.m. (entendimento das Jornadas de Direito Civil
do CJF) e que não poderão exceder a taxa a que se
refere o art. 406, permitida a capitalização anual. Para
mútuos com fins econômicos, portanto, os juros seriam de
1% a.m., ou, na hipótese de se usar a SELIC, não poderia
65
ser acrescentada a correção monetária, que já está
embutida na taxa, conforme entendimento pacificado no
STJ. E tudo visto num simples cálculo matemático.
Confira-se: Na cláusula 10° prevê juros
de 1,60% ao mês e 20,94% ao ano! Entretanto,
multiplicando-se os juros de 1,60% ao mês por 12
(meses) chegaríamos a 19.20% ao ano e não a 20,94%
como quer o DEMANDADO, incluindo valores não
conhecidos no momento da contratação pelo
DEMANDADO.
Em suma: O limite constitucional de
12% a.a foi revogado, mas o NCC em seu art. 591
mantém os 12% a.a para estes tipos de contrato, se
interpretado o art. 406 do Novo Código Civil como se
referindo a 1% a.m. ( Doc. 3 e 4 - Contrato – Cláusula 10)
CABE AQUI DESTACAR AS DIFERENÇAS ENTRE AS
SÚMULAS 596 STF E 121 STF
66
( LIMITAÇÃO DOS JUROS E A CAPITALIZAÇÃO DOS
JUROS)
No entendimento de alguns julgadores
a súmula 596 do STF invalida a eficácia da Súmula 121
STF “É vedada a capitalização de juros, ainda que
expressamente convencionada”.
A Súmula 596 STF poderia até
representar que o Decreto n.º 22.626/33, não se aplica as
instituições públicas e privadas que integram Sistema
Financeiro Nacional, se não fosse a nota de rodapé da
referida súmula, que indica o artigo do decreto a que
ela se refere, no caso, somente o artigo 1º do Decreto
n. 22.626/1933:
Confira-se:
67
Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei,
estipular em quaisquer contratos taxas de juros
superiores ao dobro da taxa legal (Código Civil, art.
1062).
§ 1º. Essas taxas não excederão de 10% ao ano si os
contratos forem garantidos com hipotecas urbanas, nem
de 8% ao ano se as garantias forem de hipotecas rurais
ou de penhores agrícolas.
§ 2º. Não excederão igualmente de 6% ao ano os juros
das obrigações expressa e declaradamente contraídas
para financiamento de trabalhos expressa e
declaradamente contraídas para financiamento de
trabalhos agrícolas, ou para compra de maquinismos e de
68
utensílios destinados a agricultura, qualquer que seja a
modalidade da dívida, desde que tenham garantia real.
§ 3º. A taxa de juros deve ser estipulada em escritura
publica ou escrito particular, e não o sendo, entender-se-á
que as partes acordaram nos juros de 6% ao ano, a
contar da data da propositura da respectiva ação ou do
protesto cambial. (Retificado)
Reprodução da Súmula 596 STF:
STF Súmula nº 596 - 15/12/1976 - DJ de 3/1/1977, p. 7;
DJ de 4/1/1977, p. 39; DJ de 5/1/1977, p. 63.
Juros nos Contratos - Aplicabilidade em Taxas e Outros
Encargos em Operações por Instituições Públicas ou
Privadas que Integram o Sistema Financeiro Nacional.
69
Note-se que as disposições do Decreto
22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos
outros encargos cobrados nas operações realizadas por
instituições públicas ou privadas, que integram o sistema
financeiro nacional.
Podemos concluir sem qualquer
dificuldade que a redação da Súmula 596 refere-se
unicamente à limitação das taxas de juros ou a sua
dimensão. Não prejudicando em nada a continuidade da
proibição do ANATOCISMO imposto pela Súmula 121
STF e que se refere à manutenção do art. 4º do
Decreto nº 22.626/1933: “Art. 4º - É proibido contar
juros dos juros; esta proibição não compreende a
acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos de
ano a ano”.
OUTRA POLÊMICA INCOERENTE - MEDIDA
PROVISÓRIA N. º 2.170-36/2001
No que é pertinente à Medida
Provisória n. º 2.170-36/2001, que contém autorização
70
para a capitalização de juros em periodicidade inferior a
um ano, o entendimento lógico é de que se trata de
matéria reservada à lei complementar, não podendo ser
disciplinada por medida provisória, conforme reza o
art.62, §1º, inciso III, da Constituição Federal. A Emenda
Constitucional nº 32/2001 é expressa em vedar a edição
de medidas provisórias para regulamentar matéria
reservada à lei complementar, conforme a nova redação
dada ao Artigo 62, §1º, inciso III, da Constituição Federal.
Vale dizer que, neste ponto, a norma veio apenas
expressar o que já era evidente, no sentido de que lei
ordinária ou norma que lhe faz às vezes, como é o caso
da medida provisória, não pode regular matéria de lei
complementar.
O debate a respeito do tema já foi objeto
de apreciação, por ocasião do julgamento da Argüição de
Inconstitucionalidade do art.5º da Medida Provisória n.º
2170-36, agitada pelo eminente Desembargador Sérgio
Rocha, na Apelação Cível n.º 2003.01.1.000707-5.
Confira-se:
71
Desta forma, “[...] com respeitosa venia
ao entendimento do e. STJ sobre a possibilidade de
capitalização de juros, em face da MP 2.170-36/01, nota-
se que essa não pode ser aplicada sem distinção a
qualquer contrato bancário, pois o referido texto legal foi
editado visando à administração dos recursos de caixa do
Tesouro Nacional, além do que o sistema financeiro
nacional somente pode ser regulado por lei
complementar. Ademais, o art. 5º e o parágrafo único,
ambos da MP 2.170-36/01, que tratam da capitalização
de juros por período inferior ao anual, são objetos da
ADI 2.316/DF, cujo pedido de suspensão cautelar foi
deferido pelos votos do Relator Min. Sydney Sanches
e do Min. Carlos Veloso, sob o fundamento de que
inexiste o requisito da urgência para a edição de
Medida Provisória e de ocorrência de perigo de
demora inverso”. (20060110906904APC, Relator VERA
ANDRIGHI, 1ª Turma Cível, julgado em 18/07/2007, DJ
09/08/2007 p. 73).
No que diz respeito à comissão de
permanência o contrato prevê expressamente, em sua
72
Cláusula 5ª, que, na hipótese de impontualidade no
cumprimento das obrigações pecuniárias decorrentes do
contrato, haverá incidência de juros moratórios de 1% ao
mês, mais juros remuneratórios às taxas previstas no
pacto ou às taxas de mercado, a que for maior, e multa
moratória de 2%.
Ocorre que é vedada a cumulação da
cobrança de comissão de permanência com outros
encargos moratórios/remuneratórios, em observância ao
entendimento que se encontra amplamente pacificado no
âmbito do Superior Tribunal de Justiça, sob pena de bis in
idem.
Colha-se, a respeito, o seguinte julgado:
“AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE
BUSCA E APREENSÃO. JUROS
REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO.
INAPLICABILIDADE. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA POSSIBILIDADE DE
COBRANÇA DESDE QUE NÃO
73
CUMULADA COM OS DEMAIS
ENCARGOS MORATÓRIOS.
I - Os juros remuneratórios cobrados pelas
instituições financeiras não sofrem as
limitações da Lei da Usura, nos termos da
Súmula 596 do STF, dependendo eventual
redução de comprovação do abuso, não
caracterizado pelo simples fato de os juros
serem pactuados em percentual superior a
12% ao ano.
II - É admitida a cobrança da comissão de
permanência no período da inadimplência,
desde que não cumulada com correção
monetária, juros moratórios, multa contratual
ou juros remuneratórios, calculada à taxa
média de mercado.
III - Agravo Regimental improvido”.
(AgRg no REsp 1066206/MS, Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 24/08/2010, DJe 10/09/2010)
74
Quanto à Tarifa de emissão de carnê – TEC, o Superior Tribunal de Justiça, em julgado proferido pela Quarta Turma nos autos do REsp 794.752/MA, de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, firmou recente entendimento no sentido de que a cobrança de tarifa pela emissão de boleto bancário é abusiva e constitui vantagem exagerada dos bancos em detrimento dos consumidores, razão pela qual deve ser declarada abusiva a sua cobrança.
Vale mencionar que o fato das aludidas taxas não estarem inseridas no rol das cobranças consideradas vedadas pelo Banco Central, tal fato, por si só, não afasta a apreciação da legalidade pelo Poder Judiciário.
Esse é o quadro fático, preliminar, em que o DEMANDANTE, simplesmente, firmou com o DEMANDADO, Contrato de Arrendamento Mercantil com Garantia Fiduciária, definido no Direito ao Consumidor, por Adesão, àquele que constitui uma oposição à idéia ao contrato paritário, inexistindo, a liberdade de convenção, posto que exclui o debate e transigência entre os contratantes. Àquele em que um contratante se limita a aceitar ou apenas aderir às cláusulas e condições previamente redigidas e impressas pelo outro. Ressalte-se se tratar de um clichê contratual, segundo normas rigorosas, que alguém adere, aceitando os termos como postos, atrelado ao “PACTA SUNT SERVANDA” em detrimento do “REBUS SIC STANTIBUS”, ou seja, a
75
proteção do bem comum, o equilíbrio contratual, a igualdade entre as partes e a certeza de que o interesse particular não predominará sobre o social.
Abaixo a descrição do produto/serviço - firmado entre as partes, seguindo anexo os respectivos documentos :
Descrição do Produto/Serviço
Contrato de Alienação Fiduciária - número:
........................
Fiduciário: Banco S/A
Fiduciante: ...................
Valor do Veículo: R$ 73.600,00
Entrada: R$ 22.500,00
Prazo: 60 (Sessenta) meses
76
Prestação inicial: R$ 1.385,56 + (taxa) 3,90 = 1389,46 (mil
trezentos e oitenta e nove reais e quarenta e seis
centavos)
Objeto: veículo – marca/modelo –
.......................................
Chassi número: ..................
Combustível:
Cor: Preto
Fab/ Mod. ......................
Ora, sem muito esforço matemático,
podemos chegar a seguinte conclusão: Se o
DEMANDANTE financiou o produto no valor nominal de
R$ 73.600,00 (Setenta e três mil e seiscentos reais), com
entrada de R$ 22.500,00 ( Vinte e dois mil e quinhentos
77
reais), em 60 (sessenta) meses, com prestação inicial
incluindo VRG diluído nas prestações e taxa de boleto
bancário, temos: R$ 1.389,46 ( Mil trezentos e oitenta e
nove reais e quarenta e seis centavos),e, o valor efetivo
do financiamento com encargos de R$ 83.367,60 (
Oitenta e três mil, trezentos e sessenta e sete reais e
sessenta centavos). Sem contar que se considerada
entrada de R$ 22.500,00 (vinte e dois mil e quinhentos
reais) teríamos um valor de nominal de R$ 51.100,00
(Cinquenta e um mil e cem reais)! Como se nota, uma
diferença muito além do alcance e apuração da
percepção e do discernimento do cidadão comum; repita-
se: do chamado hipossuficiente e vulnerável protegido
pelas leis substantiva civil e consumerista, se destacando,
sobretudo nos dispositivos que regulam as relações
contratuais, especialmente, a determinação de que o
negócio jurídico bilateral terá como base principal a sua
função social.
Por derradeiro, o DEMANDANTE, tentou
um acordo, demonstrando literalmente a sua boa fé. Mas,
78
não sabendo que o peso de suas palavras não reduziria a
um tostão, frente à chamada “fanfarra financeira
brasileira”, novamente lhe foi negado qualquer tratativa.
Consequentemente , ficou e está “inadimplente”! Leia-
se: inadimplente com seu sustento e seus
compromissos, enfim, moralmente inadimplente!
Finalmente, por ser a única esperança que lhe resta, pede
o abrigo de Têmis – A Deusa da Justiça, filha de Urano e
de Gaia, confiando restabelecer a ordem jurídica
usurpada, dentro dos parâmetros de equidade e de
justiça.
Frise-se, Excelência, que o
DEMANDANTE não esta se esquivando do pagamento,
mas quer pagar um valor justo, compatível com a boa-fé.
3 – DOS DISPOSITIVOS LEGAIS QUE AMPARAM A
REVISÃO JUDICIAL DO CONTRATO EM EXAME:
Reza com muito clareza o Artigo 6.° do
Código do Consumidor: V – a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais
79
ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas.
Para o Código Consumerista, o
consumidor tem direito à revisão do contrato, bastando
que haja onerosidade excessiva, em decorrência de fato
superveniente. Não há necessidade de que esses fatos
sejam extraordinários nem que sejam imprevisíveis.
Controvérsias, tais como, cláusulas que gerem excessiva
onerosidade, etc., possibilitam ocorrer a revisão de
contratos em curso.
Portanto, o Código do Consumidor
prevê duas hipóteses em que a revisão contratual poderá
ocorrer:
a) se a excessiva onerosidade se deu no momento da
formação do contrato;
80
b) se a excessiva onerosidade se deu no momento da
execução do contrato, independente da imprevisibilidade
das circunstâncias que a ocasionaram.
Em síntese, O Código do Consumidor
priorizou os princípios da boa-fé objetiva, do equilíbrio
contratual, da transparência e da vulnerabilidade do
consumidor, possibilitando, assim, com a regra do art. 6º,
inciso V, "...a revisão judicial da cláusula de preço, que
era eqüitativa na época da celebração do contrato e se
tornou excessivamente onerosa para o
consumidor"..."Com efeito não há nesse artigo as
palavras imprevisibilidade ou extraordinariedade da
situação, consideradas pela doutrina e jurisprudência
indispensáveis na relação entre particulares para a
incidência da teoria da imprevisão. É mencionado apenas
‘fatos supervenientes’. Em sendo assim, não há
necessidade de o acontecimento ser imprevisível ou
extraordinário para a modificação ou revisão da cláusula.
Basta, para tanto, que a prestação seja desproporcional
ou excessivamente onerosa, provocando um desequilíbrio
no contrato. Com essa norma, o Código tem por objetivo
81
tornar o contrato de consumo mais equânime,
restabelecendo sua comutatividade, evitando que
distorções financeiras, econômicas ou sociais afetem e
desequilibrem o contrato de consumo" (Rogério Ferraz
Donnini, A Revisão dos Contratos no Código Civil e no
Código de Defesa do Consumidor, Editora Saraiva, pág.
206).
Como visto, na linguagem do Código do
Consumidor, para que haja a revisão contratual, basta
que as circunstâncias posteriores sejam "excessivamente
onerosas" para o consumidor, independentemente de
serem imprevisíveis ou extraordinárias. "A bem da
verdade, a norma se faz aplicável, de modo cogente,
pela simples ocorrência de fato superveniente que
quebre o equilíbrio econômico do contrato, tornando
excessivamente onerosa a prestação imposta ao
consumidor", (Agravo de Instrumento 0050061-8 – 4ª
Câmara Cível – Agravante FIAT Leasing S/A –
Arrendamento Mercantil – Relator Des. Jones Figueiredo
– TJPE).
82
Por outro lado, conforme os
ensinamentos de CLÁUDIA LIMA MARQUES, conhecida
professora e especialista da matéria, ao contraio do que
disse a ré, a onerosidade excessiva caracteriza-se pela
simples quebra da base negocial, tornando-se
indispensável citar o seguinte trecho de sua obra:
"Cabe frisar, igualmente, que o art. 6º,
inciso V, do CDC institui, como direito do consumidor, a
modificação das cláusulas contratuais, fazendo pensar
que não só a nulidade absoluta serviria como sanção,
mas também que seria possível ao juiz modificar o
conteúdo negocial.”
Repita-se: A norma do art. 6º avança ao
não exigir que o fato superveniente seja imprevisível ou
irresistível, apenas exige a quebra da base objetiva do
negócio, a quebra do seu equilíbrio intrínseco, a
destruição da relação de equivalência entre prestações,
ao desaparecimento do fim essencial do contrato.” Em
outras palavras, o elemento autorizador da ação
modificadora do Judiciário é o resultado objetivo da
83
engenharia contratual que agora apresenta a mencionada
onerosidade excessiva para o consumidor, resultado de
simples fato superveniente, fato que não necessita ser
extraordinário, irresistível, fato que podia ser previsto e
não foi". (in Contratos no Código de Defesa do
Consumidor - 2ª ed. - pág. 297/299)
Em harmonia com o disposto acima,
temos a clareza das regras imposta pelo Código Civil.
Senão veja-se:
“Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim
na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.”
E, na esteira do que dispõe o artigo 422
do Novo Código Civil, o Centro de Estudos Judiciários do
Conselho da Justiça Federal, por ocasião da realização
da Jornada de Direito Civil, entre os dias 11 e 13 de
setembro de 2002, aprovou os enunciados números 25,
26 e 27, abaixo transcritos:
84
Enunciado 25 do CEJ: “O art. 422 do Código Civil não
inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-
fé nas fases pré e pós-contratual.”
Enunciado 26 do CEJ: “A cláusula geral contida no art.
422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e,
quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a
boa-fé objetiva, entendida como a exigência de
comportamento leal dos contratantes”.
Enunciado 27 do CEJ: “Na interpretação da cláusula geral
de boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código
Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos
normativos e fatores metajurídicos”.
Merece, também, transcrição o artigo 423
do diploma substantivo civil:
85
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas
ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a
interpretação mais favorável ao aderente.
Do cotejo da “ quaestio facti “com as
alegações jurídicas ora apresentadas é que se respalda o
direito do DEMANDANTE, e, pontuando,
INDAGA-SE:
A mora é do devedor ou do credor?
Frente ao quadro apresentado, com todo
o nosso respeito, quando há abusos e situações de
irregularidades na hipótese, através de pesados
encargos, taxas e multas, além de uma exigência superior
aos limites legais, assim considerados tanto normativos
como éticos, a mora deixa de ser do devedor e passa a
ser do credor.
86
Quando o adimplemento torna-se
impossível por força da excessiva onerosidade
imposta, que exige da outra parte gasto absurdo, que o
sacrifica inteiramente, sujeitando-o a perda material
intolerável, não ocorre mora por parte do devedor. O art.
394 do Código Civil nos traz o conceito legal da mora, a
qual seria o inadimplemento de obrigação de pagamento
no prazo, tempo, forma e lugar estipulado, tanto para o
devedor como para o credor. A princípio poder-se-ia
imaginar que somente inadimplida a obrigação nos
termos do mencionado artigo estaria configurada a mora.
Ledo engano. Isto não quer dizer que não devamos
investigar a incidência de culpa na mora.
Como diz o mestre civilista J. M.
CARVALHO DOS SANTOS:
"Em qualquer das hipóteses (mora do devedor e do
credor), a culpa é elemento essencial da mora, pois se
verifica, com a mora, a violação de um dever
preexistente" (in CCB Interpretado, vol. XII).
87
Em alguns contratos bancários não
ocorre a mora face à ausência de culpa do contratante no
eventual atraso nas prestações, posto que esta se dá
ante a oneração excessiva do contratado, com lucros
absurdos e cobranças abusivas por parte da instituição
financeira, considerando também, que as condições
impostas nesses contratos não são antevistas quando da
realização do pacto, eis que mascaradas através de
fórmulas ininteligíveis inclusive para os “expert”.
No caso em tela, ao contrário do que
seria de se esperar, a mora é do próprio DEMANDADO,
e não do DEMANDANTE. Somente para ilustrar, traz-se à
colação o questionamento e lição conferida pelo insigne
mestre J. M. CARVALHO DOS SANTOS, a tratar sobre a
mora e as obrigações assumidas pelo credor:
"Como não? cabe indagar. Então o credor não assumiu
obrigação alguma? Pode não assumir uma obrigação
explícita, mas implícita sempre assumirá, qual a de
88
cooperar e facilitar o que depender de si, para que o
devedor execute normalmente a sua obrigação. Nem se
conceberia que o credor a isso não se obrigasse, embora
sem cláusula expressa, por isso que a lealdade e boa-fé
que devem inspirar e regular o modo de cumprir
exatamente os contratos criam essa obrigação implícita,
que uma vez violada estabelece uma presunção de
culpa" (Ob. Cit.)).
Daí por que, como é a lição
de ORLANDO GOMES (Obrigações, Forense, 8ª ed., pág.
175), não se pode falar em mora ou inadimplemento, vez
que se tornou inexigível a obrigação, decorrente
de agravação imoderada da prestação que se leva em
conta para incluir a situação no conceito jurídico de
impossibilidade.
Por todas estas razões explanadas,
deseja o DEMANDANTE, cumprir com sua obrigação,
pelo meio hábil instruído pelo artigo 890 e seguintes do
Código de Processo Civil, apresentando no item abaixo,
argumentação sobre a sua pertinência:
89
4 - DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO:
Antes, porém, de adentrarmos a
exposição do Direito, cabe-nos tecer pequeno
comentário sobre o cabimento da ação consignatória
para discussão de valores divergentes. A ação de
consignação em pagamento é cabível a toda e
qualquer questão que seja útil à investigação do valor
devido, podendo versar até, inclusive, sobre nulidade
de cláusula contratual. Sob esse prisma tem relação à
orientação jurisprudencial do STJ, que acolheu o
entendimento no sentido de que a ação de
consignação em pagamento, como ação de natureza
especial que é não se presta à indagação e discussão
de matéria outra que não a liberação de obrigação.
“Todavia, para o desempenho de tal “desideratum”
muitas vezes faz necessário ampliar-se-lhe o rito para
questionar temas em torno da relação material ou
acerca de quem seja o consignato, qual o valor da
90
obrigação ou perquirir desta”. Outros aspectos para
esclarecimentos. (STJ – 3ª T, Rel. Min. Waldemar
Zveiter, LEX 52/188).
De tal modo, temos materializada a
síntese desse raciocino sob os comandos dos artigos
334 e 335, V, do Código Civil. Senão veja-se:
“Art. 334 considera-se pagamento, e extingue a
obrigação, o depósito judicial ou em
estabelecimento bancário da coisa devida, nos
casos e forma legais.”
(Destaques nossos)
“Art. 335 a consignação tem lugar:
V – se pender litígio sobre objeto do pagamento.”
(Destaques nossos)
4.1 DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO
91
Pela leitura do Artigo 890 do
Código de Processo Civil, localizamos a
solução da presente ação:
“Art. 890. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor
ou terceiro requerer, com efeito, de pagamento, a
consignação da quantia ou da coisa devida."
Portanto, levando-se em consideração
que a regulamentação do Código de Defesa do
Consumidor, enquadrou toda a atividade bancária,
inclusive a concessão de crédito, no âmbito de sua
incidência, o que foi posteriormente corroborado pelo
Egrégio Superior Tribunal de Justiça, e, a afronta a Lei
Consumerista no que diz respeito à contratação
unilateral, ausência de prévia pactuação dos encargos,
etc., pelo DEMANDADO, e, combinando as
disposições do direito processual e material,
supracitados, conclui-se pelo total cabimento, da
92
consignação da quantia devida, ou seja,
incontroversa.
4.2 - DOS EFEITOS DA CONSIGNAÇÃO:
Quanto aos efeitos do instituto da
Consignação em Pagamento, devemos nos pautar nas
disposições do Código Civil, e, do mesmo modo, aos
artigos 337 e 891, “caput”, do Código de Processo
Civil, na finalidade de se verificar os efeitos
necessários da ação.
“Art. 337. A parte, que alegar direito municipal,
estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-
lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o
juiz.”
Art. 891. Requerer-se-á a consignação no lugar do
pagamento, cessando para o devedor, tanto que se
93
efetue o deposito, os juros e os riscos, salvo se for
julgada improcedente.
Parágrafo único. Quando a coisa devida for corpo deva ser entregue no lugar em que está, poderá o devedor requerer a consignação no foro em que ela se encontra.” (Destaques nossos)
Destarte, como se verifica, o depósito tem a faculdade de liberar o DEMANDANTE dos juros da divida e de demais riscos, como se houvesse pagado o valor devido diretamente ao DEMANDADO.
Ademais, não se pode olvidar o disposto no Artigo 343 do Código Civil, no que diz respeito às despesas com o depósito do valor consignado:
“Art. 343. As despesas com o depósito, quando
julgado procedente, correrão à conta do credor, e,
no caso contrário, a conta do devedor.” (Destaques
nossos)
4.3 - DAS PRESTAÇÕES PERIÓDICAS:
94
Há que se avaliar que frente à recusa do
DEMANDADO em fazer qualquer tratativa com o
DEMANDANTE, deste modo, e de lógica iderrogável,
que se trata de prestações periódicas, abrangidas pela
presente ação de consignação, nos termos do Artigo
892 do Código Processo Civil. Senão veja-se:
“Art. 892. Tratando-se de prestações periódicas,
uma vez consignada a primeira, pode o devedor
continuar a consignar, no mesmo processo e sem
mais formalidades, as que se forem vencendo,
desde que os depósitos sejam efetuados até 5
(cinco) dias, contados da data do vencimento.”
(Destaques nossos)
Consequentemente, atendendo o
disposto no artigo 50 e seus parágrafos, da Lei de nº.
10.931/2004, segue discriminado abaixo, o valor que o
DEMANDANTE pretende controverter, quantificando
95
o valor incontroverso da mesma forma pactuada pelo
DEMANDADO, desta feita, formatado dentro do que
estabelece o artigo 52 da legislação Consumerista, que
será pago no tempo e modo a critério de Vossa
Excelência.
O valor incontroverso, ou seja, o valor
nominal do produto é R$ 73.600,00 (setenta e três mil e
seiscentos reais). Como o DEMANDANTE deu de
entrada R$ 22.500,00 (Vinte e dois mil e quinhentos
reais), quitando 33 (trinta e três) prestações das 60
(sessenta), no valor mensal de R$ 1.389,46 (Mil
trezentos e oitenta e nove reais e quarenta e seis
centavos), chegamos ao total de prestações pagas de
R$ 45.852,18 (quarenta e cinco mil, oitocentos e
cinquenta e dois reais e dezoito centavos). Esse valor
subtraido do valor nominal diminuindo da entrada,
temos: R$ 5.247,82 (Cinco mil, duzentos e quarenta e
sete e oitenta e dois centavos). Desse total, divididos
pelo número de prestações restantes, quais sejam 27
(Vinte e sete); repita-se: considerando que já foram
96
pagas 33 (trinta e três) das 60 (sessenta) prestações,
e, atualizado de acordo com a taxa de juros cobradas
pelo mercado, representada pela Taxa Selic - 11.75%,
divulgada pelo COPOM na 157ª Reunião. Endereço
eletrônico:
http://www.bcb.gov.br/textonoticia.asp?codigo=2956&
idpai=NOTICIAS), conhecido como Sistema Especial
de Liquidação e de Custódia (SELIC), chegamos a
média de R$ 220,74 (Duzentos e vinte reais e setenta e
quatro centavos), perfazendo um total de R$ 5.960,07 (
Cinco mil novecentos e sessenta reais e sete
centavos) – Valor final a ser financiado.
Dessa forma, seguindo o disposto na
Lei N.º 8.078/90 - Artigos 52 e seus incisos e Lei N°
10.931/2004, Artigo 50 e parágrafos, e, aplicando a
média anual da taxa Selic fornecida pelo COPOM
(157ª Reunião ), segue a tabela anexa, com o valor
que o DEMANDANTE pretende controverter,
quantificando o valor incontroverso.
Anexo, tabela completa – Doc. 5
97
Assim é visto a vista desarmada na
tabela que os juros aplicados pelo DEMANDADO estão
muito acima do mercado. Repita-se: Segundo a Súmula
nº 296 do STJ os juros remuneratórios, não cumuláveis
com comissão de permanência, são devidos no período
de inadimplência à taxa média de mercado estipulada
pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual
contratada.
Já a Súmula nº 294 tem o seguinte teor:
Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a
comissão de permanência, calculada pela taxa média de
mercado, apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à
taxa do contrato (no ponto, de observar que na prática os
bancos cobram os juros da inadimplência sob o título
comissão de permanência).
Ora, por taxa média de mercado
estipulada pelo Banco Central do Brasil se entendeu de
aplicar a Taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e
98
de Custódia), que reflete as condições instantâneas de
liquidez no mercado monetário e se compõe em taxa de
juros reais e taxa de inflação. Tal índice é utilizado nas
operações realizadas com títulos públicos.
Partindo deste prisma, examinando o
caso concreto nota-se, pelo demonstrativo de
pagamentos (Docs. 6 e 7), que nas prestações estão
embutidos juros acima do mercado, taxa de boleto
bancário e outras taxas não perceptíveis. Neste
diapasão, incide o disposto no art. 51, inc. IV, que comina
de nulidade as cláusulas contratuais que “estabeleçam
obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam, incompatíveis com a boa-fé e a eqüidade”.
O § 1º, inc. III, do mesmo art. 51, do
CDC, por sua vez, afirma que “presume-se exagerada,
entre outros casos, a vantagem que (III) se mostra
excessivamente onerosa para o consumidor,
99
considerando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o
interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao
caso”.
E, com efeito, tomando-se como
parâmetro o teor de tais enunciados, uma vez
reconhecidos a abusividade contratual impõe-se a revisão
contratual, fixando-se os juros remuneratórios da
normalidade com base no percentual da Taxa SELIC do
período.
5 – DA TUTELA ANTECIPADA
5.1 - RAZÕES PARA A CONCESSÃO DA
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (Artigo 273 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL):
I - Da verossimilhança: Confrontando-se os fatos ao
caso concreto, chagamos a um juízo de valor nos limites
100
da probabilidade, ou seja, a preponderância dos motivos
convergentes à aceitação sobre os motivos divergentes.
II – Do dano irreparável ou de difícil reparação: Pelo
arrazoado, não resta dúvida quanto ao dano irreparável
ou de difícil reparação a que foi e está submetido o
DEMANDANTE. A prova inequívoca está na disparidade
dos valores acrescidos pelo DEMANDADO no valor do
financiamento que o levou o DEMANDANTE a tentar um
acordo sem êxito, e, consequentemente, a bancarrota.
Em suma, por consequência da conexão
dos fatos, exsurge a urgência do provimento antecipatório
da tutela e, na forma do Artigo 461, Parágrafos 3⁰. e 5⁰.,
pelo seu deferimento em caráter liminar.
5.2 – RAZÕES PARA A CONCESSÃO DA LIMINAR:
101
I - "fumus boni iuris"
A “fumaça do bom direito” encontra-se
no direito cristalino e constitucional do DEMANDANTE
de discutir sua divida sem sofrer nenhuma coação ou
ameaça.
II -"periculum in mora"
O “perigo da demora” se apresenta
inconteste, no fato de ter o DEMANDANTE, a
necessidade de quitar valores que de fato entende de
direito. Ao mesmo tempo, que se mostra totalmente
contra as normas cogentes da legislação consumerista,
notadamente, àquelas que norteiam os princípios
da boa-fé e do equilíbrio contratual nas relações de
consumo.
102
6 – Requer, portanto, sejam atendidos os seguintes
tópicos, caso seja deferida liminar da tutela
antecipada:
• Não-inscrição e/ou abstenção de nome do
DEMANDANTE dos órgãos de proteção ao
crédito, possibilitando, assim, o exercício do direito
de acesso ao crédito, haja vista que estão
presentes os requisitos estabelecidos pelo STJ,
quais sejam, a existência da ação contestando a
existência integral ou parcial do débito, a
demonstração de que a insurgência encontra-se
pautada em jurisprudência consolidada do STF ou
do STJ e o requerimento de depósito nos valores
tidos como incontroversos.
• Que qualquer tipo de constrangimento ou ameaça
(CDC, art. 42, caput), seja aplicada multa diária
nos termos do artigo. 461, § 4º, do Código de
Processo Civil, no valor R$ 1.000,00 (Mil reais).
103
• A consignação, no valor de R$ 220,74 (Duzentos e
vinte reais e setenta e quatro centavos) (média
apurada na Tabela SELIC acima apresentada),
das parcelas números 34/60 a 60/60, com
vencimento de 30 (trinta) em 30 (trinta) dias a
partir da consignação da primeira e as demais nos
seus respectivos vencimentos;
7 - DO MÉRITO:
Que prevaleça o princípio
da isonomia consagrado no art. 5º, caput, da CF “todos
são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza”, tratando-se os desiguais com
igualdade, ao avesso, estaríamos endossando a
desigualdade flagrante, e não a igualdade real."
Que seja declarada a ilegalidade e
expurgado do valor incontroverso, a cobrança de R$ 3,90
(Três reais e noventa centavos) por lâmina do carnê,
104
totalizando R$ 128,70 (Cento e vinte e oito reais e setenta
centavos), pois, como é sabido, os custos acrescidos à
dívida é remuneração interbancária (compreendido
necessariamente no custo da operação), por óbvio a
cobrança de boleto bancário, não pode ser transferida ao
DEMANDANTE.
Que se limite às regras impostas pelo
DEMANDADO na cobrança de juros muito superiores as
taxas de mercado, em total desrespeito ao Código de
Defesa do Consumidor e legislação correlata.
Que se expurgue a cobrança de juros
capitalizados, praticada pelo DEMANDADO, em total
desrespeito da Súmula de nº. 121 do Supremo Tribunal
Federal, que veda terminantemente a capitalização de
juros como acima exposto.
Que se aplique a multa de mora a dois
por cento do valor da prestação, conforme estabelece o
artigo 52, parágrafo primeiro, do Código do Consumidor.
105
Que se proíba também à cobrança de
juros remuneratórios após a caracterização da
anormalidade ou inadimplência, por caracterizar cobrança
excessiva e o “bis in idem”. E, em caso de
anormalidade não seja cobrada a comissão de
permanência.
Que se afaste, por ser conflitante e
alienígena ao direito do DEMANDANTE, a aplicabilidade
da tabela “PRICE”, que incorpora juros capitalizados de
forma composta, (juros sobre juros ou juros
exponenciais), só admitida em tese, nos casos de lei que
expressamente permita sua aplicação.
Que se norteiem os cálculos na chamada
“Lei da Usura”, em pleno vigor, consoante entendimento
de nossos tribunais que entende não revogado Decreto-
Lei 22626/33, bem como, o pleno vigor da Súmula 121 do
STF, repita-se: distinta da Súmula 596 do STF:
106
"Juros sobre juros. O Decreto-Lei 22626/33 não foi
revogado pela Lei n.º 4.595/64 (RTJ 108/277, 82/919) a
capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo
nosso direito, mesmo quando expressamente
convencionada, não tendo sido revogada a regra do
Decreto-Lei n.º 22626, 4º, pela Lei n.º 4595/64. O
anatocismo, repudiado pelo STF 121, não guarda
relação com o STF 596 (RSTJ 22/197)."
(Destaques Nossos)
No mesmo sentido:
Apelações Cíveis nºs 191150515 e 191535519
(Segunda Câmara Cível, julgadas em 19.12.91, Relator
o Dr. João Pedro Pires, JULGADOS 81/314 e 327),
191036920 (Terceira Câmara Cível, julgada em
15.05.91, Relator o Desembargador Arnaldo Rizzardo,
JULGADOS 78/298), 191123942 (Terceira Câmara
Cível, julgada em 16.10.91, Relator o Desembargador
Arnaldo Rizzardo, JULGADOS 80/315) e 192166437
107
(Nona Câmara Cível, julgada em 25.08.92, Relator o
Dr. João Adalberto Medeiros Fernandes, JULGADOS
84/324).Apelações Cíveis nºs 190028993 (Segunda
Câmara Cível, julgada em 02.08.90, Relator o hoje
Desembargador Waldemar Luiz de Freitas Filho),
191181171 (Oitava Câmara Cível, julgada em
30.06.92, Relatora, vencida, a Dra. Maria Berenice
Dias), 192000610 e 192000586 (Sexta Câmara Cível,
julgadas em 16.04.92, Relator o Dr. Moacir Adiers),
191033182, 191033190 e 191036128 (Sexta Câmara
Cível, julgadas em 03.10.91, Relator o Dr. Moacir
Adiers), 191092295 (Sétima Câmara Cível, julgada em
02.10.91, Relator o hoje Desembargador Flávio
Pâncaro da Silva, JULGADOS 80/200), 191069590
(Sexta Câmara Cível, julgada em 26.09.91, Relator o
Dr. Moacir Adiers, JULGADOS 80/357 - ementário),
(Quarta Câmara Cível, julgada em 06.05.93, Relator o
Dr. Moacir Leopoldo Haeser, JULGADOS 86/350),
191033190 (Sexta Câmara Cível, julgada em 03.10.91,
Relator o Dr. Moacir Adiers, JULGADOS 81/136),
191111798 (Sétima Câmara Cível, julgada em
18.09.91, Relator o Dr. Antonio Dall´Agnol Júnior,
108
JULGADOS 81/176), 191129287 (Sexta Câmara Cível,
julgada em 28.11.91, Relator o Dr. Moacir Adiers,
JULGADOS 81/207), 191150515 e 191535519
(Segunda Câmara Cível, julgadas em 19.12.91, Relator
o Dr. João Pedro Pires, JULGADOS 81/314 e 327),
Embargos Infringentes nº 191066273 (Primeiro Grupo
Cível, julgados em 08.05.92, Relator o Dr. Juracy Vilela
de Sousa, JULGADOS 84/356), 191122019 (Primeiro
Grupo Cível, julgados em 14.08.92, relator designado o
Dr. Juracy Vilela de Sousa. JULGADOS 85/132), e
Agravo de Instrumento nº 190083691 (Primeira
Câmara Cível, julgado em 04.09.90, Relator o hoje
Desembargador Luiz Felipe Azevedo Gomes,
JULGADOS 75/156).
(Destaques Nossos)
Caso se entenda pela sua
aplicabilidade em pedido subsidiário, deve-se aplicar a
taxa SELIC na forma do Artigo 406 do Código Civil.
Por fim, portanto, como deixar de
visualizar a possibilidade do reconhecimento do direito do
109
DEMANDANTE – CONSUMIDOR, em face do
enriquecimento ilícito do DEMANDADO.
8 - DOS PEDIDOS:
DO EXPOSTO, Requer:
• A concessão da gratuidade da justiça nos termos
do artigo 4º da Lei 1.060/50, com redação
introduzida pela Lei 7.510/86.
• A concessão liminar da consignação, no valor de
R$ 220,74 (Duzentos e vinte reais e setenta e
quatro centavos) (média apurada na Tabela SELIC
acima apresentada), das parcelas números 34/60
a 60/60, com vencimento de 30 (trinta) em 30
(trinta) dias a partir da consignação da primeira e
as demais nos seus respectivos vencimentos;
• Que seja declarada a ilegalidade cobrança do
boleto bancário no valor de R$ 3,90 (Três reais e
noventa centavos) embutidos nas prestações,
110
totalizando R$ 128,70 (cento e vinte e oito reais e
setenta centavos).
• Que seja estimado na perícia contábil a restituídos
em dobro dos valores já pagos em excesso a
contar da data do pagamento indevido das 33
(trinta e três parcelas), incluindo a cobrança
indevida de Boleto Bancário, (Art. 42, Parágrafo
único do CDC), e/ou incorporados para abater nas
prestações vincendas. E ainda, que seja
determinado a aplicação do artigo 52 e seus
incisos, do Código de Defesa do Consumidor,
como parâmetro para os cálculos.
• Que Vossa Excelência reconheça de ofício a teor
do art. 168, Parágrafo único, do Código Civil, o
reconhecimento de nulidade da cláusula apontada
acima, bem como, outras contratuais consideradas
abusivas nos termos do Código do Consumidor.
Dentre elas, a CAPITALIZAÇÃO DE JUROS, pois,
inexistindo previsão legal, é incabível a
111
capitalização mensal de juros em contrato de
financiamento garantido por alienação fiduciária,
devendo incidir a anual, de acordo com art. 591 do
Código Civil. ENCARGOS MORATÓRIOS. -
Comissão de Permanência. É vedada a cumulação
de comissão de permanência com correção
monetária, juros remuneratórios, juros de mora e
multa contratual. TAXA DE ABERTURA DE
CRÉDITO. Essa cobrança não se reveste de
fundada razão, já que não se apresenta qualquer
serviço prestado para o consumidor, devendo,
portanto, ser suportada pela instituição financeira,
a qual não pode colocar o consumidor em
desvantagem exagerada. MULTA. Por
inadimplência, reduzida em 02% (dois por cento),
conforme estabelecida no Parágrafo primeiro, do
artigo 52 do Código do Consumidor;
• A concessão dos pedidos da Tutela Antecipada
em caráter liminar em homenagem ao princípio da
isonomia.
112
• Que os juros sejam ajustados no patamar previsto
pela “Lei de Usura” e caso se entenda pela sua
aplicabilidade em pedido subsidiário, deve-se
aplicar a taxa SELIC na forma do Artigo 406 do
Código Civil, e/ou as taxas de juros que respeitem
os ditames do Código de Defesa do Consumidor,
utilizando-se do arbítrio e do bom senso de Vossa
Excelência;
• Que seja expurgada a aplicabilidade da tabela
“PRICE” que incorpora juros capitalizados de
forma composta.
• Que seja determinado ao DEMANDADO a Não-
inscrição e/ou abstenção de nome do
DEMANDANTE dos órgãos de proteção ao crédito,
possibilitando, assim, o exercício do direito de
acesso ao crédito, haja vista que estão presentes
os requisitos estabelecidos pelo STJ, quais sejam,
a existência da ação contestando a existência
113
integral ou parcial do débito, a demonstração de
que a insurgência encontra-se pautada em
jurisprudência consolidada do STF ou do STJ e o
requerimento de depósito nos valores tidos como
incontroversos.
• Que qualquer tipo de constrangimento ou ameaça
(CDC, art. 42, caput), seja aplicada multa diária
nos termos do artigo. 461, § 4º, do Código de
Processo Civil, no valor R$ 1.000,00 (Mil reais).
• A citação do DEMANDADO, para, se quiser, para,
se quiser, oferecer defesa em qualquer de suas
espécies, na pessoa de seu representante legal,
sob pena de revelia, e que, ao final, seja a mesma
julgada procedente em todos os seus termos,
dando por definitivo a tutela antecipada pleiteada
aplicando ao DEMANDADO às condenações de
honorários advocatícios e pagamento das custas
processuais.
114
• Protesta por todas as provas em direito admitidos,
pericial, documental, testemunhal, e outras que se
fizerem necessárias no decorrer da demanda,
especialmente pelo depoimento pessoal do
representante legal do DEMANDADO, sob pena de
confesso.
Dá-se a causa o valor de R$ ........
Nesse contexto, pede deferimento.
Vitória, ........................
115
Observações
1. Não há necessidade de prolixidade nas condições
financeiras do autor, pois o foco da questão é a
inadimplência do Banco como já explanado.
2. Não há dificuldades nos cálculos. Basta subtrair
todos os valores pagos e desconhecidos do autor e
seguir o raciocínio exposto acima.
3. De resto, com nossa experiência a ação tramita da
seguinte forma:
• O Banco contesta. Réplica, Audiência.
(Nela, pelo menos aqui em nosso estado, o
Banco apresenta um acordo).
• Na remota hipótese do magistrado não
deferir a liminar, peça a reconsideração do
pedido depositando o valor integral.
116
• Em caso do Autor ter sofrido a Busca e
Apreensão do veículo, existem duas
hipóteses: A primeira o veículo não se
encontra na posse do Autor. O Banco tendo
conhecimento da Revisional quer acordo.
Na segunda, mesmo com o veículo
apreendido cabe a revisional, pois o que se
discute é o pagamento do indébito.
• Atenção: Nunca aceite o primeiro acordo
com o banco. Caso ofereçam valores,
aconselhamos a reduzi-lo dentro dos
parâmetros dos cálculos da petição.
• Caso o Autor entre com a Revisional e o
Banco com a Busca e apreensão e no caso
remoto do juiz não conceder a liminar, basta
pedir a Exceção de Incompetência. Ou
Conexão das Ações.
117
4. Documentos a serem juntados na inicial:
• Declaração que é carecedor de recursos que o
possibilite suportar as custas processuais e os
honorários advocatícios sem prejuízo de seu
sustento, nos termos artigo 4º da Lei 1.060/50,
com redação introduzida pela Lei 7.510/86,
conseqüentemente, fazendo jus à concessão
da gratuidade de Justiça. Apesar de a lei ser
clara quanto ao assunto, há juízes que
indeferem o pedido por entenderem sem
justificativa que o autor não é carecedor de
recursos. Portanto, qualquer documento, tais
como, Imposto de Renda, gastos com o
sustento com a família, etc, são bem vindos.
Isso não passa de uma redundância,
entretanto, para evitar agravo de Instrumento,
prudente verificar como transcorrem os pedidos
de justiça gratuita no estado de origem.
• Nota Fiscal do Veículo
118
• Renavam
• Contrato (quanto tiver) ou basta solicitar ao
Banco.
• Carnê com cópia das prestações pagas e a
última.
• No mais a nossa equipe está à disposição para
quaisquer outros esclarecimentos em nosso
portal: www.linhadiretadoconsumidor.com
O modelo abaixo pode ser utilizado para Cartão de
crédito, cheque Especial, etc. A formatação pouco
difere. Contudo é mais objetivo dependendo da
situação.
AO EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA 1° VARA
CÍVEL DE VILA VELHA – ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO.
119
“A justiça pode caminhar sozinha; a injustiça precisa sempre de muletas, de argumentos.” Iorga, Nicolae
Fulano, brasileiro, casado, Operador de Guindaste, CPF
....., residente e domiciliado à Rua........., 28, CEP .......,
Santos Dumont, Vila Velha, estado do Espírito Santo, por
meio de seu advogado signatário (documento - 01 -
Procuração), com escritório à Rua do Rosário, 79, sala
64, CEP 29016-095, Edifício Nossa Senhora de Fátima,
Centro, Vitória, Espírito Santo, telefone (27) 9799-4551 –
email: [email protected], vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência para
propor a presente
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO C/C
REVISÃO CONTRATUAL COM PEDIDO CAUTELAR DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, PELO RITO ORDINÁRIO,
120
em desfavor da DA S/A, pessoa jurídica de direito
privado, com endereço na Avenida Santa Leopoldina,
1440/loja 2, Coqueiral de Itaparica, Vila Velha, estado do
Espírito Santo, pelos motivos de fato e de direito a seguir
narrados:
1 – PRELIMINARMENTE
1.1 - DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:
O DEMANDANTE afirma em
declaração, que é carecedor de recursos que o possibilite
suportar as custas processuais e os honorários
advocatícios sem prejuízo de seu sustento, nos termos
artigo 4º da Lei 1.060/50, com redação introduzida pela
Lei 7.510/86, bem como, nos termos do art. 11, inciso IV
da Constituição Estadual, o qual assegura ao consumidor
assistência judiciária, quando solicitada,
121
independentemente da sua situação financeira. Ademais,
atendendo o princípio da igualdade do pleno acesso à
justiça, junta documentos que provam que a sua renda
está comprometida a tal ponto que não pode arcar
com o pagamento das custas judiciais. ( Documentos:
02 – Declaração; 03 – Transporte escolar do Filho; 04
– Mensalidade da escola do filho; 05 – Mensalidade da
casa própria; 06 – Pensão alimentícia a ex-mulher; 07
– ajuda de custo a sogra; 08 – Conta de Luz; 09 -
Conta de água; 10 – contracheque).
2 - DOS FATOS QUE MOTIVARAM A PROPOSITURA
DA PRESENTE AÇÃO:
O DEMANDANTE firmou contrato de
empréstimo com a DEMANDADA no valor de R$
20.000,00 (Vinte mil reais), que, com formulação de
cálculos desconhecidos, totalizam o valor final do
financiamento de R$ 34.269,00 (Trinta e quatro mil,
duzentos e sessenta e nove reais).
122
Que, após a terceira parcela paga
buscou a DEMANDADA para obter a cópia do contrato,
em vista de não ter conhecimento de sua da integra. A
título de exemplo: Se houve comissão de permanência
cumula ou não com juros remuneratórios, correção
monetária, etc., que elevaram quase ao dobro o capital
financiado. Enfim, sem êxito!
Em suma: Das 15 prestações somente
conseguiu pagar três. ( Documentos: 11 – Prestação
01/15; 12 – Prestação 02/15; 13 – Prestação 03/15).
Um breve parêntese: É sabido que se
tratando de matéria complexa como verificação de juros,
incidência de correção monetária, etc., é imprescindível a
realização da prova pericial, o que afasta a analise em
tese. E o que não dizer da DEMANDADA que em
linguagem subliminar coloca em seu Portal o chamariz: “
Principais vantagens: * Menores taxas do mercado!?”,
123
sem oportunizar ao DEMANDANTE o direito de saber o
que paga.
Fonte: http://www.da.com.br/emprestimopessoal.html
O que se tem conhecimento é que o
“tal” contrato é de adesão, ou seja, aquele redigido longe
da compreensão do “homem comum”.
Ripert, em sua obra "La Règle Morale
dans les Obligations Civiles – A Regra Moral nas
Obrigações Civis, pág. 105, já em 1925, analisando a
concepção da vontade soberana das partes, exaltando
suas virtudes, mas desnudando suas mazelas, lançou seu
protesto e perplexidade sobre tal tipo de contrato, dizendo
que há sempre uma espécie de vício permanente do
consentimento, revelado pela própria natureza
do contrato. O ilustre mestre francês dizia que "O único
ato de vontade do aderente consiste em colocar-se em
situação tal que a lei da outra parte é soberana. E,
124
quando pratica aquele ato de vontade, o aderente é
levado a isso pela imperiosa necessidade de contratar. É
uma graça de mau gosto dizer-lhe: tu quiseste. A não ser
que não viaje, não faça um seguro, que não gaste água,
gás ou eletricidade, que não use transporte comum, que
não trabalhe ao serviço de outrem, é-lhe impossível
deixar de contratar."
EM SÍNTESE: O DEMANDANTE ficou
condicionado à aceitação unilateral de um serviço, sem
especificação clara (de fácil percepção); precisa (sem
prolixidade); e adequada (sem adequação justa);
prostrado, sem que igual direito lhe fosse conferido para
discutir ou modificar substancialmente o conteúdo da
prestação de serviço - contrato. Não restando dúvida que,
o panorama delineado é diametralmente oposto aos
diretos básicos e ínfimos do CONSUMIDOR -
DEMANDANTE, bem como, na espécie, por tratar-se de
fornecimento de serviço que envolve concessão de
financiamento ao consumidor, em que, por obrigação
125
legal, deveria o DEMANDADO – FORNECEDOR, atender
ao que impõe o Artigo 52 do Código Consumerista e seus
incisos, senão, veja-se:
Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que
envolva outorga de crédito ou concessão de
financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre
outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente
sobre:
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente
nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de
juros;
III - acréscimos legalmente previstos;
IV - número e periodicidade das prestações;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento.
(Destaques nossos)
126
Observe-se que o caput do dispositivo
tem caráter meramente enumerativo, não taxativo. Impõe
o dever do DEMANDADO - FORNECEDOR de informar
sobre certos requisitos mínimos no fornecimento de
produtos e serviços. Lista-os, “entre outros”.
Consequentemente, todo e qualquer fornecedor de
produto ou serviço tem que respeitar o dever de informar
previamente os requisitos mínimos, e, entre outros
requisitos, pertinentes ao sistema jurídico a que pertence.
Não se tratando, deste modo, de listagem facultativa. E
sim obrigatória.
EXCELÊNCIA
Um parêntese oportuno para uma
breve reflexão sobre os comentários do
127
EXCELENTÍSSIMO MINISTRO ARI PARGENDLER,
proferido no RECURSO ESPECIAL N° 185.287 - RIO
GRANDE DO SUL. PAUTA: 02/03/2000 JULGADO:
14/11/2000, acerca do assunto em pauta:
“Diversamente do que ocorre nos financiamentos em
geral, no arrendamento mercantil o custo do dinheiro
não é identificado por institutos jurídicos, v.g., juros
remuneratórios ou capitalização de juros. No
empréstimo de dinheiro, pode-se discutir a taxa de
juros (se limitada ou não) e a sua capitalização (se
permitida, ou não). No arrendamento mercantil, o
custo do dinheiro, aí não incluída a correção
monetária, está embutido nas contraprestações,
sendo impossível, por exemplo, discutir juros e
capitalização de juros - estranhos ao contrato, que só
prevê o montante das prestações, o respectivo
número, o valor residual garantido, a correção
monetária e, no caso de inadimplemento, comissão
de permanência, multa e juros moratórios. De fato,
como distinguir o que, no custo do dinheiro,
128
representa juros e o que corresponde à sua
capitalização?”. (Destaques Nossos)
Por outro lado, pergunta-se: Que
comentários teceria o DEMANDANTE – vulnerável e
hipossuficiente, enquanto consumidor, frente a relação
contratual existente?
Saberia previamente alcançar em qual
ou quais cláusulas estariam informados: Tributos,
CET - Taxa de Juros da Operação; Tarifas; Seguros;
Outras despesas cobradas relacionadas à operação de
crédito? E, entre outros dispositivos: Saberia apontar as
cláusulas surpresas, obscuras, abusivas, nulas de pleno
direito?
Certamente, não! Com licença poética
do acadêmico Monteiro Lobato: “Triste como o Curiango”,
procurou o DEMANDADO para saber o custo do dinheiro
embutido nas prestações para uma razoável
renegociação. Entretanto, foi informado que não haveria
129
nenhuma possibilidade de acordo, em vista de ter lido e
assinado o contrato. Leia-se: Contrato de adesão: Aquele
que se caracteriza por permitir que seu conteúdo seja
preconstruído por uma das partes, eliminada a livre
discussão que precede normalmente à formação
dos contratos. ( GOMES, Orlando. Contratos. Rio de
Janeiro: forense, 16, Ed. 1995. P. 109).
Volvendo a única fonte de informação do
DEMANDANTE – a lâmina do carnê.
Indaga-se:
Onde vislumbrar ou até concluir os
acréscimos legais previstos? Melhor dizendo: O disposto
no artigo 52 do Código Consumerista?
3 – DOS DISPOSITIVOS LEGAIS QUE AMPARAM A
REVISÃO JUDICIAL DO CONTRATO EM EXAME:
130
Reza com muita clareza o Artigo 6. °,
inciso V, do Código do Consumidor: V – a modificação
das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.
Para o Código Consumerista, o
consumidor tem direito à revisão do contrato, bastando
que haja onerosidade excessiva, em decorrência de fato
superveniente. Não há necessidade de que esses fatos
sejam extraordinários nem que sejam imprevisíveis.
Controvérsias, tais como, cláusulas que gerem excessiva
onerosidade, etc., possibilitam ocorrer a revisão de
contratos em curso.
Portanto, o Código do Consumidor
prevê duas hipóteses em que a revisão contratual poderá
ocorrer:
a) se a excessiva onerosidade se deu no
momento da formação do contrato;
131
b) se a excessiva onerosidade se deu no
momento da execução do contrato,
independente da imprevisibilidade das
circunstâncias que a ocasionaram.
Em síntese, o Código do Consumidor
priorizou os princípios da boa-fé objetiva, do equilíbrio
contratual, da transparência e da vulnerabilidade do
consumidor, possibilitando, assim, com a regra do art. 6º,
inciso V, "...a revisão judicial da cláusula de preço, que
era eqüitativa na época da celebração do contrato e se
tornou excessivamente onerosa para o
consumidor"..."Com efeito não há nesse artigo as
palavras imprevisibilidade ou extraordinariedade da
situação, consideradas pela doutrina e jurisprudência
indispensáveis na relação entre particulares para a
incidência da teoria da imprevisão. É mencionado apenas
‘fatos supervenientes’. Em sendo assim, não há
necessidade de o acontecimento ser imprevisível ou
extraordinário para a modificação ou revisão da cláusula.
Basta, para tanto, que a prestação seja desproporcional
132
ou excessivamente onerosa, provocando um desequilíbrio
no contrato. Com essa norma, o Código tem por objetivo
tornar o contrato de consumo mais equânime,
restabelecendo sua comutatividade, evitando que
distorções financeiras, econômicas ou sociais afetem e
desequilibrem o contrato de consumo" (Rogério Ferraz
Donnini, A Revisão dos Contratos no Código Civil e no
Código de Defesa do Consumidor, Editora Saraiva, pág.
206).
Como visto, na linguagem do Código do
Consumidor, para que haja a revisão contratual, basta
que as circunstâncias posteriores sejam "excessivamente
onerosas" para o consumidor, independentemente de
serem imprevisíveis ou extraordinárias. "A bem da
verdade, a norma se faz aplicável, de modo cogente,
pela simples ocorrência de fato superveniente que
quebre o equilíbrio econômico do contrato, tornando
excessivamente onerosa a prestação imposta ao
consumidor", (Agravo de Instrumento 0050061-8 – 4ª
Câmara Cível – Agravante FIAT Leasing S/A –
133
Arrendamento Mercantil – Relator Des. Jones Figueiredo
– TJPE).
Em harmonia com o disposto acima,
cita-se as regras imposta pelo Código Civil. Senão veja-
se:
“Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim
na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.”
E, na esteira do que dispõe o artigo 422
do Novo Código Civil, o Centro de Estudos Judiciários do
Conselho da Justiça Federal, por ocasião da realização
da Jornada de Direito Civil, entre os dias 11 e 13 de
setembro de 2002, aprovou os enunciados números 25,
26 e 27, abaixo transcritos:
Enunciado 25 do CEJ: “O art. 422 do Código Civil não
inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-
fé nas fases pré e pós-contratual.”
134
Enunciado 26 do CEJ: “A cláusula geral
contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz
interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o
contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a
exigência de comportamento leal dos contratantes”.
Enunciado 27 do CEJ: “Na interpretação da
cláusula geral de boa-fé, deve-se levar em conta o
sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com
outros estatutos normativos e fatores metajurídicos”.
Merece, também, transcrição o artigo 423
do diploma substantivo civil:
Art. 423. Quando houver no contrato de
adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
135
Do confronto da “ quaestio facti “com as
alegações jurídicas ora apresentadas é que se respalda o
direito do DEMANDANTE, e, pontua,
INDAGA-SE:
A mora é do devedor ou do credor?
Frente ao quadro apresentado, com todo
o nosso respeito, quando há abusos e situações de
irregularidades na hipótese, através de pesados
encargos, taxas e multas, além de uma exigência superior
aos limites legais, assim considerados tanto
normativos como éticos, a mora deixa de ser do
devedor e passa a ser do credor.
Quando o adimplemento torna-se
impossível por força da excessiva onerosidade
imposta, que exige da outra parte gasto absurdo, que o
sacrifica inteiramente, sujeitando-o a perda material
intolerável, não ocorre mora por parte do devedor. O art.
394 do Código Civil nos traz o conceito legal da mora, a
136
qual seria o inadimplemento de obrigação de pagamento
no prazo, tempo, forma e lugar estipulado, tanto para o
devedor como para o credor. A princípio poder-se-ia
imaginar que somente inadimplida a obrigação nos
termos do mencionado artigo estaria configurada a mora.
Ledo engano. Isto não quer dizer que não devamos
investigar a incidência de culpa na mora.
Nas palavras do mestre civilista J. M.
CARVALHO DOS SANTOS:
"Em qualquer das hipóteses (mora do devedor e do
credor), a culpa é elemento essencial da mora, pois se
verifica, com a mora, a violação de um dever
preexistente" (in CCB Interpretado, vol. XII).
Em alguns contratos bancários não
ocorre a mora face à ausência de culpa do contratante
no eventual atraso nas prestações, posto que esta se
dá ante a oneração excessiva do contratado, com
lucros absurdos e cobranças abusivas por parte da
137
instituição financeira, considerando também, que as
condições impostas nesses contratos não são
antevistas quando da realização do pacto, eis que
mascaradas através de fórmulas ininteligíveis
inclusive para os “expert”.
No caso em foco, ao contrário do que
seria de se esperar, a mora é da própria DEMANDADA,
e não do DEMANDANTE. Somente para ilustrar, traz-se à
colação o questionamento e lição conferida pelo insigne
mestre J. M. CARVALHO DOS SANTOS, a tratar sobre a
mora e as obrigações assumidas pelo credor:
"Como não? cabe indagar. Então o credor não assumiu
obrigação alguma? Pode não assumir uma obrigação
explícita, mas implícita sempre assumirá, qual a de
cooperar e facilitar o que depender de si, para que o
devedor execute normalmente a sua obrigação. Nem se
conceberia que o credor a isso não se obrigasse, embora
sem cláusula expressa, por isso que a lealdade e boa-fé
que devem inspirar e regular o modo de cumprir
exatamente os contratos criam essa obrigação implícita,
138
que uma vez violada estabelece uma presunção de
culpa" (Ob. Cit.)).
Daí por que, como é a lição
de ORLANDO GOMES (Obrigações, Forense, 8ª ed., pág.
175), não se pode falar em mora ou inadimplemento, vez
que se tornou inexigível a obrigação, decorrente
de agravação imoderada da prestação que se leva em
conta para incluir a situação no conceito jurídico de
impossibilidade.
Por todas estas razões explanadas,
deseja o DEMANDANTE, cumprir com sua obrigação,
pelo meio hábil instruído pelo artigo 890 e seguintes do
Código de Processo Civil, apresentando no item abaixo,
argumentação sobre a sua pertinência:
4 - DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO:
139
Antes, porém, de adentrarmos a
exposição do Direito, cabe-nos tecer pequeno
comentário sobre o cabimento da ação consignatória
para discussão de valores divergentes. A ação de
consignação em pagamento é cabível a toda e
qualquer questão que seja útil à investigação do valor
devido, podendo versar até, inclusive, sobre nulidade
de cláusula contratual. Sob esse prisma tem relação à
orientação jurisprudencial do STJ, que acolheu o
entendimento no sentido de que a ação de
consignação em pagamento, como ação de natureza
especial que é não se presta à indagação e discussão
de matéria outra que não a liberação de obrigação.
“Todavia, para o desempenho de tal “desideratum”
muitas vezes faz necessário ampliar-se-lhe o rito para
questionar temas em torno da relação material ou
140
acerca de quem seja o consignato, qual o valor da
obrigação ou perquirir desta”. Outros aspectos para
esclarecimentos. (STJ – 3ª T, Rel. Min. Waldemar
Zveiter, LEX 52/188).
De tal modo, temos materializada a
síntese do raciocino sob os comandos dos artigos 334
e 335, V, do Código Civil. Senão veja-se:
“Art. 334 considera-se pagamento, e extingue a
obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento
bancário da coisa devida, nos casos e forma
legais.”(Destaques nossos)
“Art. 335 a consignação tem lugar:
141
V – se pender litígio sobre objeto do pagamento.”
(Destaques nossos)
4.1 DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO
Pela leitura do Artigo 890 do Código de
Processo Civil, localiza-se a solução da presente ação:
“Art. 890. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor
ou terceiro requerer, com efeito, de pagamento, a
consignação da quantia ou da coisa devida."
Portanto, levando-se em consideração
que a regulamentação do Código de Defesa do
Consumidor, enquadrou toda a atividade bancária,
inclusive a concessão de crédito, no âmbito de sua
142
incidência, o que foi posteriormente confirmado pelo
Egrégio Superior Tribunal de Justiça, e, a afronta a Lei
Consumerista no que diz respeito à contratação
unilateral, ausência de prévia pactuação dos encargos,
etc., pela DEMANDADA, e, combinando as
disposições do direito processual e material,
supracitados, conclui-se pelo total cabimento, da
consignação da quantia devida, ou seja,
incontroversa.
4.2 - DOS EFEITOS DA CONSIGNAÇÃO:
Quanto aos efeitos do instituto da
Consignação em Pagamento, deve se pautar nas
disposições do Código Civil, bem como, aos artigos
337 e 891, “caput”, do Código de Processo Civil, na
143
finalidade de se verificar os efeitos necessários da
ação.
“Art. 337. A parte, que alegar direito municipal,
estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á
o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.”
Art. 891. Requerer-se-á a consignação no lugar do
pagamento, cessando para o devedor, tanto que se
efetue o deposito, os juros e os riscos, salvo se for
julgada improcedente.
Parágrafo único. Quando a coisa devida for corpo deva
ser entregue no lugar em que está, poderá o devedor
requerer a consignação no foro em que ela se
encontra.” (Destaques nossos)
Destarte, como se verifica, o depósito
tem a faculdade de liberar o DEMANDANTE dos juros
144
da divida e de demais riscos, como se houvesse pago
o valor devido diretamente a DEMANDADA.
Ademais, não se pode olvidar o disposto
no Artigo 343 do Código Civil, no que diz respeito às
despesas com o depósito do valor consignado:
“Art. 343. As despesas com o depósito, quando
julgado procedente, correrão à conta do credor, e,
no caso contrário, a conta do devedor.”
(Destaques nossos)
4.3 - DAS PRESTAÇÕES PERIÓDICAS:
Há que se ponderar que frente à recusa
da DEMANDADA em fazer qualquer tratativa com o
DEMANDANTE, consequentemente, e de lógica
iderrogável, aplicar-se-á a consignação judicial nos
145
termos do Artigo 892 do Código Processo Civil. Senão
veja-se:
“Art. 892. Tratando-se de prestações periódicas,
uma vez consignada a primeira, pode o devedor
continuar a consignar, no mesmo processo e sem
mais formalidades, as que se forem vencendo,
desde que os depósitos sejam efetuados até 5
(cinco) dias, contados da data do
vencimento.”(Destaques nossos)
Por conseguinte, atendendo o disposto
no artigo 50 e seus parágrafos, da Lei de nº.
10.931/2004 segue discriminado anexo ( Docs. 14 e
15), o valor que o DEMANDANTE pretende
controverter, quantificando o valor incontroverso da
mesma forma pactuada pela DEMANDADA, desta
feita, formatado dentro do que estabelece o artigo 51,
XV e 52 da legislação Consumerista, aplicada a média
146
Selic ((9.75%), que será pago no tempo e modo a
critério de Vossa Excelência.
Razões da aplicação da Selic e não a Taxa média
do mercado:
Segundo informe do próprio Banco
Central, “as taxas de juros representam a média do
mercado e são calculadas a partir das taxas diárias
das instituições financeiras ponderadas por suas
respectivas concessões em cada data. São divulgadas
sob o formato de taxas anuais e taxas mensais. As taxas
médias mensais são obtidas pelo critério de capitalização
das taxas diárias ajustadas para um período padrão de 21
dias úteis”. (Fonte: http://www.bcb.gov.br/?txcredmes)
Uma observação: em geral, as instituições praticam
taxas diferentes dentro de uma mesma modalidade de
crédito. Assim, a taxa cobrada de um cliente pode
diferir da taxa média. Diversos fatores como o prazo e o
147
volume da operação, bem como as garantias oferecidas,
explicam as diferenças entre as taxas de juros.
A título de exemplo, de acordo com a planilha divulgada
pelo Banco Central, em 27.05.2009, a taxa para contrato
de financiamento de aquisição de veículo, em abril de
2009, para pessoa física, seria de 29,88% a.a., ou seja, a
grosso modo, esta taxa anual implicaria em uma taxa
mensal 2,49% a.m.
Todavia, segundo planilha divulgada também pelo Banco
Central, para o caso de financiamento para aquisição de
veículo, as taxas para o período de 29.05.2009 a
04.06.2009, praticadas por 48 instituições de crédito,
constata-se que a menor taxa praticada foi de 1,27% a.m
pelo Banco GMAC e a maior taxa foi de 6.969% a.m,
praticada pelo Banco Azteca do Brasil.
Em suma:
148
a uma: A taxa média do mercado apresenta taxas
diferentes de juros dentro de uma mesma modalidade de
crédito, não apresentando um índice único de parâmetro.
a duas: A sua formatação é unilateralmente.
a três: Dessa forma, no exemplo acima apresentado, qual
a razão de um banco aplicar juros de 1,27% a.m.
(certamente obtendo lucro), enquanto outro banco aplica
6,96% a.m.?
Dessa forma, não resta dúvida que o assunto se encaixa
perfeitamente delineado no Código do consumidor:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as
cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente,
variação do preço de maneira unilateral;
Por outro lado, em respeito aos
princípios da boa fé e equidade, bem como, da segurança
149
jurídica, o DEMANDANTE apresenta as tabelas anexas
com base na taxa Selic, ou seja, índice pelo qual as
taxas de juros cobradas pelo mercado se balizam
no Brasil.
Confira-se:
A tabela demonstra a atualização do
capital emprestado pela Instituição Financeira, da qual
o DEMANDANTE já pagou 03 (três) parcelas.
Assim, conhecido o valor o financiado -
R$ 20.000,00 (vinte mil reais); divididos pelo número de
parcelas - 15 (quinze), seguindo o modelo Price, temos:
o DEMANDANTE quitou 03 (três) prestações de R$
2.284,60 (dois mil, duzentos e oitenta e quatro reais e
sessenta centavos), perfazendo um total de R$ 6.853,80
(seis mil, oitocentos e cinquenta e três reais e oitenta
centavos), atualizados mês a mês o saldo e abatendo-se
as prestações pagas do valor financiado, resta o saldo
devedor total de R$ 13.581,83 (treze mil, quinhentos e
oitenta e um reais e oitenta e três centavos).
150
Seguindo o raciocínio temos na segunda tabela:
divididos o saldo devedor total acima encontrado pelo
número de prestações que o DEMANDANTE falta
pagar - 12 (doze) parcelas, e, atualizadas de acordo
com a taxa “SELIC”, chegaremos à prestação média de
R$ 1.193,41 (um mil, cento e noventa e três reais e
quarenta e um centavos).
Repita-se: Partindo deste prisma,
examinando o caso concreto, nota-se, pelo
demonstrativo, que nas prestações estão embutidos juros
acima do mercado, taxas não perceptíveis. Nesse
diapasão, incide o disposto no art. 51, inc. IV, que comina
de nulidade as cláusulas contratuais que “estabeleçam
obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
seja, incompatíveis com a boa-fé e a equidade”.
O § 1º, inc. III, do mesmo art. 51, do
CDC, por sua vez, afirma que “presume-se exagerada,
151
entre outros casos, a vantagem que (III) se mostra
excessivamente onerosa para o consumidor,
considerando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o
interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao
caso”.
E, com efeito, tomando-se como
parâmetro o teor de tais enunciados, uma vez
reconhecidos a abusividade contratual impõe-se a revisão
contratual, fixando-se os juros remuneratórios da
normalidade com base no percentual da Taxa SELIC do
período.
5 – DA TUTELA ANTECIPADA
Preliminarmente
152
As razões da tutela antecipada,
seguem em conformidade com a jurisprudência do
STJ, firmada no julgamento do REsp nº
1.061.530⁄RS, submetido à sistemática do art. 543-C
do CPC, em que a medida antecipatória somente
será deferida se, cumulativamente: a ação for
fundada em questionamento integral ou parcial do
débito; ficar demonstrado que a cobrança indevida
se funda na aparência do bom direito e em
jurisprudência consolidada do STF ou STJ; for
depositada a parcela incontroversa ou prestada
caução, conforme o prudente arbítrio do juiz.
5.1 – RAZÕES PARA A CONCESSÃO DA
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (Artigo 273 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL):
I – Da verossimilhança: Confrontando-se os fatos ao
caso concreto, chagamos a um juízo de valor nos limites
153
da probabilidade, ou seja, a preponderância dos motivos
convergentes à aceitação sobre os motivos divergentes.
II – Do dano irreparável ou de difícil reparação: Pelo
arrazoado, não resta dúvida quanto ao dano irreparável
ou de difícil reparação a que foi e está submetido o
DEMANDANTE. A prova inequívoca está na disparidade
dos valores acrescidos pela DEMANDADA no valor do
financiamento que o levou o DEMANDANTE a tentar um
acordo sem êxito.
Assim, por 153onseqüência da conexão
dos fatos, exsurge a urgência do provimento antecipatório
da tutela e, na forma do Artigo 461, Parágrafos 3⁰. E 5⁰.,
pelo seu deferimento em caráter liminar.
5.2 – RAZÕES PARA A CONCESSÃO DA LIMINAR:
154
I – “fumus boni iuris”
A “fumaça do bom direito” encontra-se
no direito cristalino e constitucional do DEMANDANTE
de discutir sua divida sem sofrer nenhuma coação ou
ameaça.
II –“periculum in mora”
O “perigo da demora” se apresenta
inconteste, no fato de ter o DEMANDANTE, a
necessidade de quitar valores que de fato entende de
direito. Ao mesmo tempo, que se mostra totalmente
contra as normas cogentes da legislação consumerista,
notadamente, àquelas que norteiam os princípios
da boa-fé e do equilíbrio contratual nas relações de
consumo.
155
6 – REQUER, PORTANTO, SEJAM ATENDIDOS OS
SEGUINTES TÓPICOS, CASO SEJA DEFERIDA
LIMINAR DA TUTELA ANTECIPADA:
• Não-inscrição e/ou abstenção de nome do
DEMANDANTE dos órgãos de proteção ao
crédito, possibilitando, assim, o exercício do direito
de acesso ao crédito, haja vista que estão
presentes os requisitos estabelecidos pelo STJ,
quais sejam, a existência da ação contestando a
existência integral ou parcial do débito, a
demonstração de que a insurgência encontra-
se pautada em jurisprudência consolidada do
STF ou do STJ e o requerimento de depósito
nos valores tidos como incontroversos.
• Que qualquer tipo de constrangimento ou ameaça
(CDC, art. 42, caput), seja aplicada multa diária
156
nos termos do artigo. 461, § 4º, do Código de
Processo Civil, no valor R$ 1.000,00 (Mil reais).
• A consignação, no valor de R$ 1.193,41 (um mil,
cento e noventa e três reais e quarenta e um
centavos). Média apurada na Tabela SELIC
acima apresentada, das parcelas números 04/15 a
15/15, com vencimento de 30 (trinta) em 30 (trinta)
dias a partir da consignação da primeira e as
demais nos seus respectivos vencimentos;
7 – DO MÉRITO:
Que seja observado o princípio
da isonomia consagrado no art. 5º, caput, da CF “todos
são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza”, tratando-se os desiguais com
igualdade, ao avesso, estaríamos endossado à
desigualdade flagrante, e não a igualdade real.”
157
Que se pontue limite às regras
impostas pela DEMANDADA na cobrança de juros
muito superiores as taxas de mercado, em total
desrespeito ao Código de Defesa do Consumidor.
Que se vede à cobrança de juros
remuneratórios após a caracterização da anormalidade
ou inadimplência, por caracterizar cobrança excessiva
e o “bis in idem”. E, em caso de anormalidade não
seja cobrada a comissão de permanência.
Que se afaste, por ser conflitante e
alienígena ao direito do DEMANDANTE, a
aplicabilidade da tabela “PRICE”, que incorpora juros
capitalizados de forma composta, (juros sobre juros ou
juros exponenciais), só admitida em tese, nos casos de
lei que expressamente permita sua aplicação.
Finalmente, não há, portanto, como
deixar de visualizar a possibilidade do reconhecimento
158
do direito do DEMANDANTE – CONSUMIDOR, em
face do enriquecimento ilícito da DEMANDADA.
8 – DOS PEDIDOS:
DO EXPOSTO, Requer:
• A concessão da gratuidade da justiça nos termos
do artigo 4º da Lei 1.060/50, com redação
introduzida pela Lei 7.510/86.
• A concessão liminar da consignação, no valor de
de R$ 1.193,41 (um mil, cento e noventa e três
reais e quarenta e um centavos). Média apurada
na Tabela SELIC acima apresentada, das parcelas
números 04/15 a 15/15, com vencimento de 30
(trinta) em 30 (trinta) dias a partir da consignação
159
da primeira e as demais nos seus respectivos
vencimentos;
• Que seja estimado na perícia contábil a restituídos
em dobro dos valores já pagos em excesso a
contar da data do pagamento indevido das 3 (três
parcelas), incluindo a cobrança indevida de Boleto
Bancário, (Art. 42, Parágrafo único do CDC), e/ou
incorporados para abater nas prestações
vincendas. E ainda, que seja determinado a
aplicação do artigo 52 e seus incisos, do Código de
Defesa do Consumidor, como parâmetro para os
cálculos.
• Que Vossa Excelência determine a apresentação
do contrato e reconheça de ofício com já
demonstrado mediante os valores apostos no
carnê, a teor do art. 168, Parágrafo único, do
Código Civil, a nulidade das cláusulas contratuais
160
consideradas abusivas, por se tratarem nulas de
pleno direito, nos termos do Código do
Consumidor.
• A concessão dos pedidos da Tutela Antecipada
em caráter liminar em homenagem ao princípio da
isonomia.
• Que os juros sejam ajustados no patamar da taxa
SELIC e/ou utilizando-se de outro ao arbítrio e
bom senso de Vossa Excelência.
• Que seja expurgada a aplicabilidade da tabela
“PRICE” que incorpora juros capitalizados de
forma composta.
• Que seja determinado a DEMANDADA a Não-
inscrição e/ou abstenção de nome do
161
DEMANDANTE dos órgãos de proteção ao crédito,
possibilitando, assim, o exercício do direito de
acesso ao crédito, haja vista que estão presentes
os requisitos estabelecidos pelo STJ, quais sejam,
a existência da ação contestando a existência
integral ou parcial do débito, a demonstração de
que a insurgência encontra-se pautada em
jurisprudência consolidada do STF ou do STJ e o
requerimento de depósito nos valores tidos como
incontroversos.
• Que qualquer tipo de constrangimento ou ameaça
(CDC, art. 42, caput), seja aplicada multa diária
nos termos do artigo. 461, § 4º, do Código de
Processo Civil, no valor R$ 1.000,00 (Mil reais).
• A citação da DEMANDADA, para, se quiser,
oferecer defesa em qualquer de suas espécies, na
pessoa de seu representante legal, sob pena de
162
revelia, e que, ao final, seja a mesma julgada
procedente em todos os seus termos, dando por
definitivo a tutela antecipada pleiteada aplicando a
DEMANDADA às condenações de honorários
advocatícios e pagamento das custas processuais.
• Protesta por todas as provas em direito admitidos,
pericial, documental, testemunhal, e outras que se
fizerem necessárias no decorrer da demanda,
especialmente pelo depoimento pessoal do
representante legal da DEMANDADA, sob pena de
confesso.
Dá-se a causa o valor de R$
34.269,00 (Trinta e quatro mil, duzentos e sessenta e
nove reais).
163
Nesse contexto, pede deferimento.
Vila Velha,..............................
RECURSOS
AGRAVO DE INSTRUMENTO
De acordo com o caput do artigo 522 do Código de
Processo Civil, o agravo de instrumento é cabível:
§ Contra decisão interlocutória que possa causar lesão
grave e de difícil reparação; ou
§ Contra decisão posterior a sentença que inadmita
apelação ou negue efeito suspensivo à apelação.
Prazo
Art. 522 - Das decisões interlocutórias caberá agravo,
no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando
164
se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão
grave e de difícil reparação, bem como nos casos de
inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida, quando será admitida a sua
interposição por instrumento
Art. 526, CPC - O agravante,no prazo de 3 (três) dias,
requererá juntada, aos autos do processo de cópia da
petição do agravo de instrumento e do comprovante de
sua interposição, assim como a relação dos documentos
que instruíram o recurso. (Redação dada pela Lei nº
9.139, de 30.11.1995)
Endereçamento
Pela nova sistemática estabelecida com a reforma de
2005/2007, o agravo de instrumento será interposto
diretamente perante o tribunal competente.
Requisitos
Conforme previsão no artigo 524 do Código de Processo
Civil, o agravo de instrumento deve conter ou informar:
§ Exposição dos fatos e do direito (inc. I do art. 524 do
CPC).
§ As razões para a reforma (inc. II do art. 524 do CPC).
165
§ Nome e endereço dos advogados (inc. III do art. 524
do CPC).
§ Cópia da decisão agravada (inc. I do art. 525 do
CPC). § Cópia da certidão de intimação da decisão (inc. I do
art. 525 do CPC). Aqui deve-se lembrar a lição de
Marinoni e Mitidiero:
A certidão da intimação da decisão serve para aferição da
tempestividade do recurso. Nesse sentido, já se decidiu
que, ‘a falta de certidão de intimação da decisão pode ser
suprida por outro instrumento que comprove a
tempestividade do recurso’, em homenagem à regra da
instrumentalidade das formas processuais (STJ, 3ª
Turma, AgRg nos EDcl nos EDcl no Resp 460.056/MT,
rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. em 26.10.2006,
DJ 18.12.2006, p. 360).
§ Cópia das procurações (inc. I do art. 525 do CPC).
§ Comprovante do pagamento do preparo (art. 525, par.
1º, do CPC).
Lembre-se ainda que a interposição do agravo de
instrumento deverá ser informada ao juízo da causa
166
dentro dos três dias seguintes à interposição, por força do
art. 526 do CPC, sob pena de inadmissibilidade (desde
que argüido e provado pelo agravado).
Procedimento do agravo de instrumento
Após a formação do agravo, caberá ao relator, no prazo
máximo de 30 dias, pedir dia para julgamento, conforme a
previsão do artigo 528 do CPC.
Na hipótese do juiz comunicar que reformou inteiramente
a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo (de
acordo com o art. 529 do CPC).
Efeito Suspensivo e Antecipação de Tutela Recursal
O relator, ao receber o recurso de agravo de instrumento,
de acordo com o art. 527, III, do CPC:
poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou
deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a
pretensão recursal (desde que preenchidos os requisitos
dispostos no art. 273 do CPC), comunicando ao juiz sua
decisão; (Redação dada pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001).
167
Conversão do agravo de instrumento em agravo
retido
O relator, ao receber o recurso de agravo de instrumento,
de acordo com o art. 527, II, do CPC:
´´converterá o agravo de instrumento em agravo retido,
salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à
parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos
casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos
efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter
os autos ao juiz da causa´´; (Redação dada pela Lei nº
11.187, de 2005).
Irrecorribilidade destas hipóteses
De acordo com o art. 527, parágrafo único, do CPC
A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III
do caput deste artigo, somente é passível de reforma no
momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio
relator a reconsiderar.
Recurso contra decisão singular do relator em sede
de Agravo de Instrumento
168
Segundo Elpídio Donizetti, o recurso interponível contra
decisão singular do relator de indeferimento, provimento
ou improvimento de recurso, é o agravo interno (art. 557,
§1º, do CPC).
APELAÇÃO
Regra geral
A Apelação pode ser interposta no processo de
conhecimento, cautelar e de execução, seguindo os
procedimentos comuns, isto seja ordinário ou sumário, ou
algum procedimento especial.
É um instrumento processual destinado a corrigir erro de
forma (vício no procedimento) ou reexaminar provas. É
um recurso de cognição ampla.
Prazo
A Apelação deve ser interposta no prazo de 15 dias
(conforme o art. 508, CPC), contados da ciência oficial
da sentença, ressalvados os casos de prazo especial por
privilégios da Defensoria Pública e do Ministério Público
(prazos em dobro) e da Fazenda Pública, que tem prazo
em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer
169
(art. 188, CPC) como também no litisconsórcio, desde
que o pólo ativo ou passivo tenha procuradores diferentes
(art. 191, CPC)
A parte contrária pode responder (contra-razoar) a
Apelação em 15 (quinze) dias (réplica)(vide art. 508 do
CPC).
Procedimento
A Apelação deve ser interposta mediante petição escrita,
não sendo aceita a forma oral. A petição deve ser dirigida
ao juiz de primeira instância que proferiu a sentença que
se pretende reformar (art. 514 do CPC). A parte que
interpõe o recurso deve indicar os nomes e a qualificação
das partes, os fundamentos de fato e de direito e fazer
pedido de nova decisão. A Apelação cível não pode ser
genérica, devendo especificar quais os pontos
da sentença devem ser anulados ou reformados
pelo Tribunal. O recurso deve ser subscrito por advogado
com mandato e instruído com o comprovante de
recolhimento das custas processuais.
170
O juiz de primeiro grau deve se manifestar analisando os
requisitos de admissibilidade que são o cabimento, a
legitimidade e o interesse recursal, a inexistência de fato
extintivo ou impeditivo, a tempestividade, a regularidade
formal e o pagamento das custas processuais. Deve
ainda o juiz declarar os efeitos que recebe o recurso. Em
regra, é recebida nos efeitos devolutivo (já que toda a
matéria de 1ª instância é devolvida á apreciação do
Judiciário) e suspensivo.
A Apelação deve conter o pedido para que seja remetida
ao Tribunal, onde será distribuída entre as Turmas ou
Câmaras Cíveis.
No Tribunal a Apelação é distribuída a um
dos Desembargadores que exercerá a função de relator e
este fará nos autos uma exposição dos pontos
controvertidos sobre que versar o recurso (art. 549,
parágrafo único do CPC). Após, o recurso é remetido ao
Desembargador revisor que deve sugerir ao relator
medidas ordinatórias do processo que tenham sido
omitidas, confirmar, completar ou retificar o relatório e
pedir dia para julgamento dos feitos nos quais estiver
171
habilitado a proferir voto (art. 551 do CPC). O processo é
incluído na pauta de julgamento que deve ser publicada
no órgão oficial de imprensa com antecedência mínima de
48 horas.
Após a leitura do relatório, o presidente da Turma ou
Câmara Cível concede a palavra aos advogados do
recorrente e recorrido para apresentarem sustentação
oral durante o prazo de 15 minutos (art. 554 do CPC).
No julgamento vota primeiro o Desembargador relator,
seguido do revisor e do Desembargador vogal. Em
seguida, o presidente da Turma ou Câmara divulga o
resultado do recurso. A decisão colegiada é registrada em
um acórdão.
É importante lembrar que o relator pode
monocraticamente rejeitar recursos manifestamente
inadmissíveis ou antecipar os efeitos do provimento (art.
557, caput e 1º-A, CPC). Em ambos os casos o recurso
cabível, no prazo de 5 dias, é o agravo interno (art. 557,
§1º, CPC).
172
Finalizando, é importante ter conhecimento do teor do art.
515, §3º, do CPC, que positivou a teoria da causa
madura: "Nos casos de extinção do processo sem
julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar
desde logo a lide, se a causa versar questão
exclusivamente de direito e estiver em condições de
imediato julgamento".