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PREFEITURA MUNICIPAL DE CACHOEIRINHA · A Família Brambilla e a Casa do Leite ... Apresentação Este livro é o resultado de um longo trabalho de ... os Sete Povos das Missões

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PREFEITURA MUNICIPAL DE CACHOEIRINHA

DA COLONIZAÇÃO À EMANCIPAÇÃO DE CACHOEIRINHA

MARCOS LEANDRO GREFF MONTEIRO

GUILHERME DIAS DA SILVA

CACHOEIRINHA, OUTUBRO DE 2017

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bibliotecária responsável: Graziela Mônaco Vargas CRB10/2024

M775f Monteiro, Marcos Leandro Greff, 1972- Fragmentos: da colonização à emancipação de Cachoeirinha / Marcos Leandro Greff Monteiro e Guilherme Dias da Silva. – Cachoeirinha, RS: Prefeitura Municipal de Cachoeirinha, 2017. 104 p. ISBN 978-85-54848-00-2 1. História do Rio Grande do Sul. 2. História de Cachoeirinha. I. Silva, Guilherme Dias da. II. Título.

CDU 94(816.5)

PREFEITO MUNICIPAL

Volmir José Miki Breier

VICE-PREFEITO MUNICIPAL

Maurício Rogério de Medeiros Tonolher

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE CULTURA, ESPORTE,

LAZER E TURISMO

Patricia Beatriz de Macedo Vianna

DIRETOR DE CULTURA

Matheus da Rosa Lima

PESQUISA, TEXTOS E REVISÃO

Guilherme Dias da Silva

Marcos Leandro Greff Monteiro

AGRADECIMENTOS

Adriano Sempé Pedroso

Beatriz Bittencourt Andrade

Carlos Henrique Ritter Beiser

Eugênio Leonardo de Oliveira

Jacqueline Chaves

João Brambilla

Márcia Saraiva

Maria Claudete Régio Gonçalves

Milton Souza

FONTES ICONOGRÁFICAS

Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul

Arquivo Público do Rio Grande do Sul

Câmara Municipal de Vereadores de Cachoeirinha

Casa do Leite

Cúria Metropolitana de Porto Alegre

Museu Municipal Agostinho Martha

Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa

Os documentos aqui transcritos seguem a sua grafia original.

6

Sumário

Apresentação .................................................................. 8

1 Os Donos da Terra ................................................. 12

As Reduções do Tape e os Sete Povos ............................ 12

A Capitania de Rio Grande de São ................................. 17

Pedro do Sul ..................................................................... 17

2 João Baptista Soares da Silveira e Souza e o início

da ocupação da região .................................................. 18

A Ponte ............................................................................. 20

Os sobrinhos .................................................................... 23

A escravidão ..................................................................... 25

O Testamento ................................................................... 25

A Casa dos Baptista ......................................................... 38

3 A Ponte da Cachoeira na virada do século XIX

para o XX. ...................................................................... 50

A Ponte de Ferro .............................................................. 53

Alberto Bins ..................................................................... 54

Frederico Ritter ................................................................ 64

7

A Família Brambilla e a Casa do Leite ........................... 68

4 A divisão das terras do Cel. Baptista e o início da

expansão urbana de Cachoeirinha ............................... 72

Capelas e Igrejas .............................................................. 75

Cachoeirinha: de vila à cidade ........................................ 79

Considerações Finais .................................................... 90

Referências Bibliográficas ........................................... 94

8

Apresentação

Este livro é o resultado de um longo trabalho de

pesquisa.

É uma iniciativa no sentido de tornar mais

difundida a história de Cachoeirinha, ampliando o

acesso a uma exposição que serviu, durante quase uma

década, como o principal meio de apresentação da

história do município.

A exposição "Fragmentos: da colonização à

emancipação de Cachoeirinha" foi idealizada em 2006, ano

do quarto decênio da emancipação. Idealizada pelos

técnicos em Cultura da então SMC (Secretaria

Municipal de Cultura), obteve o apoio e financiamento

da Caixa Econômica Federal para sua realização.

"Fragmentos" consistia em dezessete pôsteres,

apresentando desde os inícios da colonização do

Estado, e suas consequências para a construção da

região onde agora se encontra Cachoeirinha, até as

então recentes realizações na defesa do patrimônio

histórico municipal, com a reforma do prédio da Casa

9

do Leite e sua revitalização como museu e espaço de

exposições. Exposta no próprio prédio, a exposição foi

inaugurada em 08 de novembro de 2007, obtendo

grande sucesso, e passando a fazer parte do circuito de

visitações das redes municipal, estadual e particular de

ensino. Calcula-se que a exposição tenha sido visitada

por mais de 10.000 pessoas, desde então.

***

O trabalho de pesquisa histórica é

necessariamente fragmentário. O historiador tem que

lidar com os vestígios do passado. Nem sempre

encontra aqueles que gostaria, mas sim aqueles que o

acaso, as vicissitudes do tempo, ou o cuidado

pouparam. É através destes vestígios que ele formula

suas hipóteses e explicações sobre os acontecimentos.

Muitas vezes as informações de que precisamos

estão nos lugares mais improváveis. Listas. Nomes.

Tabelas. Fotografias. Registros. O trabalho do

historiador se assemelha, neste aspecto, ao do detetive

que interroga os textos, em busca da informação

pretendida. O pormenor, o detalhe, aquilo que escapa à

percepção imediata, é o foco sobre o quais nos

detivemos, muitas vezes reconhecendo-os como sinal

de processos e acontecimentos de grande porte. Como

10

um detetive, médico ou crítico de arte, o historiador

deve estar atento ao detalhe, tópico aliás de um célebre

artigo de Carlo Ginzburg: "Sinais: raízes de um paradigma

indiciário".

A preocupação que guiou a redação deste

projeto, tanto em sua forma inicial de exposição quanto

em sua atual versão, revisada, é a de escrever uma

história do município baseada nos vestígios que ela

deixou, seus fragmentos. É evidente que não

pretendemos escrever a história do município, pois

entendemos que a busca da memória, da identidade e

da história é sempre um processo em andamento e,

portanto, nunca é definitivo. Pretendemos, em lugar

disso, inspirar, instigar e estimular o pensamento dos

leitores, sejam eles cachoeirinhenses ou não, à reflexão

sobre a história da sua cidade e à questão principal que

ela levanta: a preservação da memória e do patrimônio,

requisito fundamental para a construção da cidadania.

11

12

1 Os Donos da Terra

Antes da chegada dos espanhóis e portugueses

ao Rio Grande do Sul, a região era habitada por

populações indígenas. O principal grupo que aqui vivia

era o dos guaranis, "também chamados de tapes, arachanes

ou carijós" (KUHN, 2004, p.10).

O norte do estado foi ocupado por um grupo de

origem Jê, designado por alguns autores como

Guaianás, mas também era chamado de Botocudos ou

Coroados e, por último, de Kaingángs (KUHN, 2004,

p.16). Os Guaranis que habitavam os Vales do Taquari e

do Jacuí eram designados de Tape.

Os Guaranis do litoral norte ficaram conhecidos

como Carijós e os que viviam nas áreas da várzea da

Laguna dos Patos, conhecidos como Arachane. Os

Minuanos e Charruas viviam no sul do estado (KUHN,

2004, p.21).

As Reduções do Tape e os Sete Povos

As terras do Rio Grande do Sul estavam a oeste

13

do Tratado de Tordesilhas, portanto, pertenciam à

Coroa Espanhola, a qual não possuía um projeto claro

de interiorização para suas colônias. Por isso, a

importância do trabalho dos padres jesuítas na

formação das Missões dos Trinta Povos, entre 1610 a

1641 na região do Rio da Prata, sendo construídas

dezesseis reduções em território sul-riograndense.

Nesta época, o Brasil estava sob domínio espanhol

(1580-1640), sendo este período também conhecido

como União Ibérica.

Com isso, o Tratado de Tordesilhas tinha perdido

o sentido, o que abriu muitas possibilidades aos colonos

portugueses de enriquecer, principalmente aos

pauperizados moradores da Vila de São Paulo de

Piratininga, núcleo irradiador dos bandeirantes. Os

bandeirantes corriam os sertões atrás de ouro,

diamantes e esmeraldas, porém, o único negócio certo e

rentável naquele momento era a caça ao índio,

tornando as missões jesuíticas o principal alvo dos

bandeirantes.

Após inúmeras incursões militares, as missões

jesuíticas acabaram abandonadas, sendo dezenas de

milhares de índios escravizados para suprir a falta de

escravos africanos nas lavouras de cana-de-açúcar no

nordeste do Brasil, principalmente durante a ocupação

14

holandesa. Após a destruição dos Trinta Povos, as terras

gaúchas foram praticamente abandonadas,

possibilitando a formação de sua maior riqueza natural:

o gado xucro. Além disso, tensões políticas entre os

governos português e espanhol, relativas à fundação

portuguesa da Colônia de Sacramento em 1680,

levaram a que ambos procurassem afirmar a posse

efetiva de suas terras. Sendo assim, motivou-se o

retorno dos jesuítas, os quais reorganizaram sete

missões no estado, entre 1682 e 1706, formando assim

os Sete Povos das Missões. Na mesma época, os

portugueses retomavam suas incursões em terras

gaúchas, visando a preação do gado xucro, iniciando

assim o tropeirismo.

Os tropeiros necessitavam de ranchos que

servissem de apoio durante o período de prea do gado

vacum, cavalar e muar, por isso, houve a formação de

diversas benfeitorias como ranchos e casebres junto às

poucas fazendas que existiam na rota dos tropeiros.

Assim iniciou a ocupação do Vale do Gravataí, que

remonta à primeira metade do século XVIII, quando a

Coroa Portuguesa iniciou a política de concessão de

sesmarias, a qual se intensificou com a chegada dos

açorianos a partir da segunda metade do século XVIII.

Em 1750, as Coroas de Portugal e Espanha

15

firmaram o Tratado de Madri, o qual previa a entrega

das Missões aos portugueses pelos espanhóis, em troca

da Colônia de Sacramento (Uruguai). Porém, a

resistência dos índios guaranis e dos padres jesuítas

desencadeou a Guerra Guaranítica (1750 - 1753) contra

as Coroas Ibéricas (PESAVENTO, 1985, p.21). Ao final

do conflito, os padres jesuítas foram expulsos de

Portugal e de suas colônias, e a grande maioria dos

índios que sobreviveu à guerra foi conduzida pelos

espanhóis para a outra margem do Rio Uruguai, no

lado espanhol. Entretanto, um grupo de famílias

guaranis permaneceu em Rio Pardo sob a tutela

portuguesa. Em 1762, estes índios foram trazidos para a

aldeia de Nossa Senhora dos Anjos, pois os portugueses

temiam uma invasão castelhana e que estes índios se

tornassem um contingente militar contra Portugal

(FLORES, 1990, p.38).

Os primeiros anos na Aldeia foram um tempo de

fome e pobreza para os guaranis, os quais provocaram

muitos problemas aos colonos e prejuízos à Fazenda

Real da Província que respondia pelo seu sustento

(FLORES, 1990, p.39). A situação foi revertida com a

chegada de José Marcelino de Figueiredo no cargo de

governador da Província de Rio Grande de São Pedro,

que buscou organizar a Aldeia de Nossa Senhora dos

Anjos e o sustento dos guaranis, visando sua auto-

16

suficiência.

Entre 1769 e 1780, desenvolveram-se lavouras e

benfeitorias como moinho, forno, padaria, armazém,

olaria, açougue, engenho e duas escolas (uma para

meninas e outra para meninos guaranis). Além disso, os

guaranis tinham uma estância em Mostardas com

aproximadamente 10.500 cabeças de gado vacum e

dezenas de cavalos e mulas (PEREIRA, 2011, p.67).

Rapidamente, a Aldeia Nossa Senhora dos Anjos

se tornou um núcleo agropastoril produtivo e

competitivo, despertando a preocupação dos colonos e

a ambição das autoridades. Com o fim da Era

Pombalina, e a demissão de José Marcelino, a

população guarani declinou grandemente. No intervalo

entre 1779 e 1784, baixou aproximadamente pela

metade, de 2.563 para 1.362 índios. Em 1814, restavam

apenas 300 índios na Aldeia.

A partir de 1781, os índios guaranis foram

paulatinamente expropriados de suas terras,

benfeitorias e rebanhos. Em 1803, a Real Fazenda

extinguiu a administração da Aldeia Nossa Senhora dos

Anjos, coincidindo com o momento em que os

portugueses consolidaram sua presença nas Missões,

estendendo seus domínios até as margens do Rio

17

Uruguai, onde se instalavam inúmeras estâncias e

charqueadas que careciam de mão-de-obra (FLORES,

1990, p.41).

A Capitania de Rio Grande de São

Pedro do Sul

Em 1809, a província de Rio Grande de São

Pedro era dividida administrativamente em quatro

vilas: Rio Grande, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha

e Porto Alegre, sendo Nossa Senhora dos Anjos, atual

Gravataí, uma das freguesias pertencentes a Porto

Alegre. Em função do próprio tamanho dos municípios,

as áreas de terras concedidas a cada proprietário eram

muito maiores dos que as atuais, o que torna

compreensível que, em 1814, o jovem João Baptista

Soares da Silveira e Souza (aprox. 1801-1870) tenha

recebido uma área de terras que era limitada pelo Rio

Gravataí, a estrada de Sapucaia, as terras dos Pachecos

e o Arroio Brigadeiro. A área desta propriedade batia

aproximadamente com o território e os limites atuais do

Município de Cachoeirinha.

18

2 João Baptista Soares da Silveira e

Souza e o início da ocupação da

região

João Baptista, no requerimento de sesmaria que

enviou ao General D. Diogo de Souza (DUARTE, 2002,

p.360, 372), diz ter chegado à região dezoito meses

antes, em fevereiro/março de 1813. Segundo Duarte

(2002), o futuro empreiteiro teria nascido por volta de

1801, o que o faria ter pouca idade ao chegar ao Brasil;

no entanto, é plausível supor que esta data seja passível

de correção por alguns anos. Ao dirigir-se ao general,

João Baptista afirma ter nascido na Freguesia de Nossa

Senhora do Rosário da Vila de Velas, na Ilha de São

Jorge, Arquipélago dos Açores (DUARTE, 2002). Ainda

no requerimento, faz menção às terras sem posse

situadas entre a área de Mateus da Silveira e Souza e

outros proprietários.

O sobrenome em comum não acontece por acaso.

O padre Mateus da Silveira e Souza (? - 16/01/1813), foi

ordenado no Rio de Janeiro em 23/12/1783. Foi pároco

de Cachoeira entre 1792 e 1798, sendo depois

promovido a pároco de Gravataí. (RUBERT, 2004,

19

p.108). O pároco era tio de João Baptista, e é de se supor

que as informações acerca da requisição de terras de

João tenham derivado da própria atuação do padre, que

havia recebido 1/4 de légua em quadro na Serra Geral

de Sapucaia pouco antes (RAMOS, 2011, p.43).

Uma vez estabelecido na região, João Baptista

começou a ocupar algumas posições administrativas. A

partir de 1825, ocupou o ofício de Aprovador de

Testamento da Aldeia Nossa Senhora dos Anjos. Em

1829, elegeu-se como suplente de Juiz de Paz de

Gravataí, porém, com a morte do titular, assumiu

efetivamente o cargo em 1833, elegendo-se novamente

em 1837. Em Porto Alegre, foi vereador no período

entre 1853-1856 (DUARTE, 2002, p.359).

Já na década de 1840, João Baptista passou a

atuar como empreiteiro de diversas obras municipais

em Porto Alegre, como a da Ponte de Pedra, atual

patrimônio histórico da Capital. A ponte foi construída

no decorrer da administração do Conde de Caxias

(mais tarde Duque) como Presidente da Província, logo

após a Revolução Farroupilha. Em 1848, a ponte,

embora inacabada, começou a ser usada. Outras obras

importantes da Capital da Província foram: o prédio da

Sociedade Bailante, do Teatro São Pedro (1850-1858), da

Casa de Correção (iniciada em 1852) e de outras obras

20

particulares importantes como o edifício Malakoff, que

foi o primeiro prédio de quatro andares de Porto Alegre

(DUARTE, 2002).

A Ponte

Além disso, a tradição diz que o empreiteiro

realizou ainda as obras da primeira ponte sobre o

Gravataí (a Ponte da Cachoeira), nas proximidades da

cachoeira que daria mais tarde o nome ao nosso

município. É difícil precisar na documentação a data da

construção da primeira ponte. Nos Relatórios do

Governo da Província, dá-se conta, em 1859, de que a

ponte foi concluída no espaço de tempo entre 1835-

1859, sem maiores explicações (RELATÓRIO, 1859,

p.163).

A ponte era um ponto de referência na estrada

que seguia de Porto Alegre a Conceição do Arroio, atual

Osório. Em função da ligação que estabelecia entre

estas localidades importantes, a estrada era bastante

usada (RELATÓRIO, 1852, p.30). O governo provincial

estabeleceu, na Ponte da Cachoeira, uma barreira/posto

de arrecadação de impostos, de pequeno rendimento,

tanto que em 1856 a administração provincial não

conseguiu achar licitante para a supervisão do ponto.

21

O agente da ponte retinha 40% do que

conseguisse arrecadar, mas isso não amenizava as

dificuldades de arrecadação provenientes da situação

natural da área (RELATÓRIO, 1856, p.35).

Os rendimentos arrecadados pela barreira,

descontada a participação do fiscal, eram destinados à

manutenção da ponte e da estrada. Como não se

conseguia renda suficiente, tanto o estado da ponte

quanto da estrada eram frequentemente lamentados

(RELATÓRIO, 1852, p.27).

As aguas do rio Gravatahy engrossadas no

inverno pelas copiosas chuvas, não se podendo

conter no leito natural, extravasão-se e deixão

alagadas as suas margens em grande extensão.

Junto à ponte da Cachoeira, distante 3 legoas

desta Capital, e na sua principal e mais

frequentada estrada, faz o rio um espraiamento

que por mezes se torna de incommodo e perigoso

transito (RELATÓRIO, 1853, p.37).

(...) nos últimos 5 meses até Fevereiro produzio

apenas a quantia de 75$200rs, porque a maior

parte dos passageiros preferem vadear o rio ao

pagamento da taxa; e nos mezes invernosos nada

se cobra em razão de ficar inundado todo o terreno

22

adjacente à ponte (RELATÓRIO, 1856, p.35).

O problema das inundações era evidente. Em

sucessivas comunicações, o governo provincial relatou

as dificuldades ocasionadas pelas inundações

frequentes da chamada Várzea do Gravataí, região que

margeia o rio, e, neste sentido, usado principalmente

com relação a onde hoje estão, em Porto Alegre, os

bairros Sarandi, Anchieta e Humaitá, e, em

Cachoeirinha, os bairros Imbuí, Jardim América, Eunice

Velha e Carlos Wilkens.

Já na década de 1850 se cogitaram obras de

aterramento destas regiões mais inundáveis, com o

intuito de colocar a estrada que seguia de Porto Alegre

até Conceição do Arroio em condições melhores de

trânsito:

Para que em todas as estações do anno possa-se

offerecer transito a varzea da Cachoeira seria

necessaria uma considerável despeza com aterros

de muita altura, desde a ponte sobre o Gravatahy,

que tem aquelle nome, até o lugar do Sangradouro,

aonde se construiria uma outra ponte. Não sendo

possível por agora cuidar-se nesse aterro, foi a

presidencia autorisada a effectuar qualquer obra

23

capaz de evitar no verão os atoleiros, que impedem

a passagem das carretas e cauzão sensiveis

prejuizos (RELATÓRIO, 1856, p.45).

Os sobrinhos

Em fins da década de 1850, João Baptista ajuda

seu sobrinho José Baptista Soares da Silveira e Souza a

constituir-se como empreiteiro, servindo como fiador

dele em algumas obras contratadas pelo Governo

Provincial como, por exemplo, a construção de um lote

de aterro na Várzea do Gravataí (RELATÓRIO, 1859,

p.54). José (1835 -1913) e seu irmão João Baptista Soares

da Silveira e Souza (Sobrinho) (1841-1924) nasceram,

assim como o tio, na ilha de São Jorge, nos Açores.

Tendo vindo para o Brasil em 1855 (Correio do Povo,

08/10/1913, p.10), estabeleceram-se próximos ao tio,

inicialmente na Aldeia dos Anjos (Gravataí) e

posteriormente em Porto Alegre e São Leopoldo Os

dois naturalizaram-se brasileiros em 1879.

O surgimento de João Baptista Sobrinho na

documentação gerou um problema curioso nas

primeiras descrições da história municipal. Em função

do século XIX ter critérios menos definidos que os

nossos para a nomenclatura de pessoas e lugares, o tio e

24

o sobrinho são frequentemente confundidos, e é difícil

distingui-los nas notícias e documentos, sendo apenas

possível inferir a esfera de atuação de cada um pelo

cálculo das suas respectivas idades. Pode-se perceber o

efeito do nome igual no primeiro livro sobre a história

de Cachoeirinha, "Memória de Cachoeirinha" (1991),

onde são atribuídas ao Coronel João Baptista (o

sobrinho) obras realizadas pelo empreiteiro João

Baptista (o tio). Este equívoco pode ser resolvido

através da distinção de título: João Baptista Sobrinho

era tenente-coronel da Guarda Nacional.

A área de atuação preferencial de José Baptista,

que recebeu uma comenda em função de sua atuação

como empreiteiro, era a Capital. Já João Baptista

Sobrinho estabeleceu-se inicialmente na Aldeia dos

Anjos (emancipada como Gravataí em 1880) e

posteriormente em São Leopoldo.

O empreiteiro João Baptista casou-se duas vezes.

Primeiramente com D. Maria Baptista Felicia da Silveira

e Souza (falecida em 1841), e em segundas núpcias com

Ana Joaquina de Jesus (falecida em 1857), sem ter tido

filhos. Em função disso, ao ditar seu testamento em

1870, pouco antes de falecer, deixa a maior parte de

suas terras e bens para seus sobrinhos João e José

Baptista.

25

A escravidão

Uma das particularidades do empreiteiro João

Baptista que chegou até nós por intermédio da tradição

oral é o fato de que ele tinha muitos escravos: o

"homem dos mil escravos", por exemplo.

Evidentemente, João Baptista não tinha mil escravos:

para se ter uma idéia, a população total da Freguesia de

N. Sa. dos Anjos em 1870 era de 5855 pessoas, sendo

destas apenas 1161 escravos (BRASIL, 1872, p.18). No

entanto, a idéia de que João Baptista tinha muitos

escravos é razoavelmente correta: no seu inventário,

realizado em 1874, são mencionados 72 escravos, dos

quais libertou 13 condicionalmente em testamento.

(RIO GRANDE DO SUL, 2010, p.447). Isso fazia do

empreiteiro um proprietário de razoável importância

na região.

O Testamento

Em 1870, João Baptista sentia já alguns

problemas de saúde. Temendo a morte, decidiu redigir

seu testamento. Uma vez que não tinha herdeiros, a

distribuição de seus bens se tornava um assunto

relevante:

26

Em nome da Santíssima Trindade

Eu João Baptista Soares da Silveira e

Souza morador ora na cidade de Porto Alegre,

ora morador no primeiro districto da Freguesia

de Nossa Sra dos Anjos, ordeno o meu

testamento pela maneira seguinte. Sou natural

da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário

termo da Villa das Vellas da Ilha de São Jorge,

filho legitimo de Manoel Silveira Soares e de

Catharina de Jesus. Fui cazado em primeiras

núpcias com D. Maria Baptista Felícia da

Silveira e Souza, e em segundas com D. Anna

Joaquina de Jesus, não tenho filho legitimo, nem

illegitimo e todos os meus ascendentes são hoje

falecidos, e por isso posso livremente dispor de

meus bens. Por morte de minhas consortes de

quem fui herdeiro e testamenteiro; i.e da

[ilegível] somente da terça, cumprindo (?) os

testamentos de q dei contas em juízo, assim

como das tutorias q tive a meu cargo o q tudo

cumpri a mínima omissão, e toda a reclamação q

a este respeito aparecer é falsa. O meu enterro

será feito sem ostentação. No dia do meu

falecimento se for possível e em todos os outros

se celebrarão Missas por minha alma as que de

poder em dizer até o septimo dia. Celebrar-se-

hão mais quatrocentas missas a saber cem pelas

27

Almas de meus Pais e de meus dois Tios o Pe.

Matheus da Silva e Souza e Frei João Baptista,

cem pelas Almas de minhas mulheres, cem pelas

Almas de meus escravos, e cem por minha

Alma, todas de esmola de costume. Entreguei a

nossos afilhados João, e Maria os dois escravos q

lhes damos, substituídos por outros q é mto

sabido .

Deixo libertos os meus escravos Severino

creoulo com direito aos meus bens q possue com

minha licença, e uzofructo do citio e campo

entre a estrada Geral antiga q seguia do Bernabé

para a Brigadeira e pela entrada da cidade do

Boqueirão até a encruzilhada q segue em duas

estradas, hua para o Bernabé, outra p

Itacolomim e Sapocaia, e pela estrada que segue

para Sapocaia devidindo-me do campo q foi do

Contracto, em quanto lhe viver. Deixo libertos

os escravos João (ilegível) e sua mulher Izabel e

dez mil réis mensaes por toda a sua vida. Deixo

os creoulos Constantino, e Delfina para

servirem a meus herdeiros quinze annos

servindo bem, e servindo mal, o dobro do tempo.

Deixo minha escrava parda de nome Roza o

uzofructo das minhas casas citas na rua do

Senhor dos Passos e beco do Rozário com

obrigação de suprir em tudo repartidamente a

28

sua Mãi, a minha escrava Joaquina, e o meu

escravo Severino, e por morte dos três nomeados

ficarão as ditas cazas pertencendo aos filhos, que

ella tiver e se falecer sem filhos depois da morte

da dita parda Rosa que agora deixo liberta, de

sua dita mãe a escrava Joaquina que deixo

liberta e do escravo Severino acima liberto

passarão as ditas casas para meus herdeiros.

Deixo liberta a parda Leopoldina. Deixo

para servirem meus herdeiros até completarem

vinte e cinco annos, mais dés annos, servindo

mal, as duas pardas Rafaela e Cicilia, Justiniana

creoula, Virgilina, Innocencio, Clara e João

pardos, e José creoulos. As crias dessas escravas

servirão somente vinte e cinco annos para

receberem educação e pagarem a creação. O

pardo Felisbino, e o creoulo Manoel Maria

servirão meus herdeiros vinte annos, e servindo

mal servirão trinta annos. O pardo Bernardo

filho da escrava Joaquina servirá tão bem aos

meus herdeiros como os acima vinte e cinco, ou

trinta e cinco annos. A creoula Anna fica

liberta. Deixo a cada hum de meus Afilhados de

baptismo cem mil réis. Deixo a minha afilhada

Innocencia filha de meu compadre Jozé Silveira

Soares de Bitancurt o usofructo do citio em q

mora seu Pae e por sua morte a seus filhos, e

29

não os tendo a sua irmã Maria, e na falta d´esta

a seus Irmaons. Deixo a minha sobrinha Maria

filha de meu compadre Jozé Silveira Soares de

Sou digo de Bitancourt a quantia de hum conto

de reis. O citio de que assima falei e deixo a

minha Affª Innocencia e o que esta dentro dos

antigos vallos da estrada que seguia pa Fregª.

Nsª dos Anjos, para o lado do Sul, e por outro

pelos vallos antigos que servião de devisa entre

mim e Jozé Francisco Pacheco. Deixo a meu

primo Innocencio Jozé de Souza o rendimento

de três contos de reis em Appolices da divida

publica e por sua morte a seu filho Claro Jozé de

Souza as mesmas Appolices no sobredito valor.

Deixo aos três filhos de meu falecido primo

Thimoteo da Silveira e Souza de nomes Manoel

Thimoteo, D. Mª Francisca, e D. Dorothea a

cada hum huma Appolice da Divida Publica de

hum conto de réis. Deixo a meu sobrinho

Manoel quatro escravos dos que possuo, por elle

escolhidos. Instituo por meus testamenteiros em

primeiro lugar a meu sobrinho José Baptista

Soares da Silva e Souza, em segundo a meu

sobrinho João Baptista Soares da Silveira e

Souza Sobrinho, e em terceiro ao Snr Jozé

Innocencio Pereira e lhes peço q. por servisso de

Deos e amizade para comigo aceitem e cumprão

30

este meu testamento e aquele q. aceitar alem de

sua vintena deixo hum conto de reis. Deixo a

quatro orfans pobres da Freguesia de N. Snrª

dos Anjos quinhentos mil réis para ajuda de

dote p/ o [ilegível] do casamento e a quatro

orfans pobres da cidade de Porto Alegre

quinhentos mil réis na ocasião do casamento,

quatrocentos mil réis aos pobres da cidade de

Porto Alegre e quatrocentos mil réis aos pobres

da Freguesia de N. Sª dos Anjos: todas essas

esmollas serão dadas á elleição de meu

testamenteiro, e acreditado o juramento delle

no acto da conta do testamento, sem maior

exigência ou documento. Deixo à pessoa,

enfermeiro, que mais bem me servir na ultima

enfermidade, seja livre ou escravo, hum conto de

reis. Dos bens de que acima não dispus se fará

hum calculo de devisão em cinco partes tres das

quaes somente o uzofructo deixo a meu primeiro

testamenteiro e sobrinho José Baptista Soares da

Silveira e Souza, e as outras duas partes o

uzofructo a meu sobrinho segundo

testamenteiro João Baptista Soares da Silva e

Souza Sobrinho, pois a ambos instituo na dita

proporção meus universais herdeiros com

condição de somente gozarem do uzo fructo, e

por morte delles ficarão a seus filhos, porem se

31

falecerem sem filhos os ditos bens passarão aos

outros netos de meu Irmão Manoel Silveira

Soares, e na falta da descendência de meu Irmão

passarão aos descendentes de minha meia Irmã

em conformidade de q dispoem as Leis. Dou aos

meus testamenteiros o tempo de sete annos para

cumprirem este meu testamento, e nenhum dos

meus legatários, os poderão obrigar a entrega de

couza alguma antes desse prazo: ficando a

consciência delles o faze-lo antes se lhes for

possível. Se entre aos q se julgarem com direito

a minha herança houver algum q. por má

índole, ou perversidade obre couzas que não

devesse obrar seja p. isso privado da herança ou

legado a q aliás teria direito. Hé minha vontade

que meus bens se augmentem e continuem a

existir na família de meu Irmão Manoel Silveira

Soares por isso recomendo a todos os meus

herdeiros que vivão honrada e virtuozamente

fieis a Religião de nossos Pais para que os bons

costumes se perpetuem em nossa Família. Este é

o meu testamento que quero tenha todo o vigor e

completa execussão tendo da melhor forma que

em Direito valer possa, e se poder o escreverei

em duplicado, ou triplicado para evitar o

transtorno que de sua perda poderá seguir-se, o

que em nada influirá para sua validade, e basta

32

ser por mim escripto para que por falta de

formulas que podem mudar-se sem minha culpa

elle deixe de ser valido, e rogo as Justiças a cujo

Autoridade fique affecto o fação valer como se

não tivesse falta nascida da minha ignorância,

do esquecimento ou do pouco tempo de que

nesta ocasião posso dispor. 1O Distrito da

Freguesia de Nossa Senhora dos Anjos, 18 de

Janeiro de 1870. João Baptista Soares da Silveira

e Souza.

A redação de um testamento era, na época, um

ato de grande importância. Nela, o testador dava contas

de sua vida, de suas crenças, de seus bens, realizando

uma espécie de "acerto de contas" terrestre, vista a

proximidade da morte e da "prestação de contas" aos

céus, segundo a religião católica. A importância do

testamento na sociedade ocidental data desde a

Antiguidade. Em Portugal, as leis que regulamentavam

os testamentos surgiram com as Ordenações Afonsinas

(1446-1448), baseadas no Direito Romano. Mais tarde,

as Ordenações Filipinas (1595-1603), promulgadas no

período da União Ibérica entre Espanha e Portugal,

continuaram a valer para o reino português após a sua

separação da Espanha, em 1640.

As Ordenações Filipinas constituíram a base do

33

sistema jurídico português e brasileiro mesmo após a

Independência, apenas sendo substituídas no País com

o Código Civil de 1916. Portanto, o testamento redigido

pelo Comendador João Baptista em 1870 ainda segue

suas diretrizes.

Segundo as Ordenações, podiam testar

livremente aqueles que não tivessem herdeiros diretos

(filhos, netos) ou ascendentes (pais ou avós). Aqueles

que tivessem herdeiros nesta condição podiam apenas

legar sobre um terço (a terça parte) da herança. A

herança do esposo ou esposa era dividida de acordo

com o regime de casamento (ARAÚJO, 2005). Como o

comendador era viúvo de duas esposas, podia testar

livremente, como o mesmo o refere. É interessante

notar que o comendador refere-se à terça que herdou de

suas mulheres, assim como ao fato de ter sido executor

de testamentos de terceiros, ocorrência ligada à sua

atuação como Aprovador de Testamentos em N.Sa da

Aldeia dos Anjos em 1825. A preocupação com o além-

túmulo, característica da mentalidade católica com

relação à morte, afina-se com o que Michel Vovelle

disse sobre o tema:

"Para reencontrar o movimento, resta a

possibilidade de se confiuar nos indicadores de

uma outra pesquisa 'sobre os vestígios': os

34

testemunhos dos gestos ou das atitudes, pobres

possivelmente, em geral anônimos, mas

essenciais. São dessa natureza, se me permitem

recordar minhas pesquisas, os testamentos

provençais do século XVIII, que examinei às

dezenas de milhares. Eles nos oferecem, em um

momento em que não se escamoteia a morte, o

balanço das atitudes coletivas enquanto o

testamento espiritual ainda se mantém como

elemento maior do ritual da morte (VOVELLE,

2004, p.140).

Em seguida, aparecem as disposições com

relação aos escravos. Alforrias, legados, e cláusulas

condicionais de libertação, segundo as quais o escravo

liberto deveria ainda servir enquanto não se

cumprissem as estipulações da alforria.

Nota-se ainda que existem duas áreas de terra

nomeadas no testamento. São: a área dada em usufruto

a Severino, liberto de João Baptista, que consiste, supôe-

se, na parte Norte do atual município; e a área dada a

Inocência, filha de José Silveira Soares de Bittencourt,

que consiste na área seguinte: "O citio de que assima falei

a afª Innocencia e o que esta dentro dos antigos vallos da

estrada que seguia pa Fregª. Nsª dos Anjos, para o lado do

35

Sul, e por outro, pelos vallos antigos que servirão de devisa

entre mim e José Francisco Pacheco(...)". Esta área situa-se

atualmente no final da rua Aparício Soares da Cunha,

filho de Inocência com Manoel Basílio da Cunha e que

foi proprietário da região por muitos anos. Nela

situava-se a segunda casa mais antiga do Município,

construída em 1875.

Destaca-se a divisão feita pelo comendador: 3/5

para José e 2/5 para João. Supõe-se que isso retrate a

parceria estabelecida entre João Baptista e seu sobrinho

José na realização de obras em toda a região. A partir

das informações contidas no testamento, depreende-se

que seu irmão Manoel Silveira Soares de Souza,

também instalado na Aldeia dos Anjos, já houvesse

falecido. Manoel Silveira também foi responsável por

algumas obras de construção na região, na década de

1860 (1865).

Com relação às terras de José Baptista, presume-

se que tenham sido negociadas em período pouco

posterior à sua herança. Este se estabeleceu em Porto

Alegre, em terras que haviam pertencido ao tio (e que

ele também tinha herdado), principalmente no que hoje

é o bairro Azenha, assim como a fábrica de tijolos e

louça situada na Rua da Olaria, atual Gen. Lima e Silva

(FOLHINHA, 1857). As rendas que José obtinha eram

36

principalmente oriundas dos rendimentos de seus

negócios e dos arrendamentos e aluguéis de terras e

imóveis, num meio predominantemente urbano.

João, por sua vez, estabeleceu-se nas terras que

havia herdado em Gravataí e São Leopoldo. Vale

lembrar que, no final do século XIX, as divisões

municipais não correspondiam às hoje existentes. O

município de Gravataí, por exemplo, apenas foi elevado

a tal em 1880, antes sendo uma subdivisão regional.

João Baptista Sobrinho foi vereador em São

Leopoldo entre 1900 e 1908 (SILVA & HARRES, 2006),

vindo a falecer em fevereiro de 1924. Seu filho Lydio

Baptista Soares (1883-1942) é dado como morador na

Fazenda da Cachoeira, durante a década de 1910-1920

(A Federação, 28/12/1918; 10/10/1923). Após o

falecimento de Lydio Soares em 1942, as terras onde se

localiza a casa foram ocupadas pelos seus filhos Júlio

Baptista Soares e irmãs. É a partir de Júlio Baptista que

a área, já inserida no Município de Cachoeirinha

urbanizado, fica conhecida como "Mato do Júlio".

37

Figura 1. Cel. João Baptista S. da Silveira e Souza.

Acervo Casa do Leite

38

A Casa dos Baptista

No seu testamento, o comendador Baptista diz

ser morador ora da Freguesia de N. Sa. dos Anjos, ora

de Porto Alegre. Na área da Freguesia, correspondente

a Gravataí e hoje Cachoeirinha, o comendador

estabeleceu-se na casa que hoje é conhecida como "Casa

dos Baptista", ou ainda como Casa do Júlio.

O primeiro registro moderno da Casa dos

Baptista é um artigo publicado pelo historiador

Francisco Riopardense de Macedo na coletânea "Rio

Grande do Sul: Terra e Povo (1964)" Nela, define-se a

"Estância do Baptista" como representativa da

arquitetura luso-brasileira no Rio Grande do Sul,

característica da chamada "segunda pulsação" do

processo de urbanização do Estado, de 1809 a 1832,

onde se dividem três localidades do RS (Rio Grande,

Rio Pardo e Porto Alegre) em treze novos municípios

(MACEDO, 1964, p.97). A construção de estâncias, nas

localidades mais fronteiriças, destinavam-se a fortalecer

a presença portuguesa neste território recém-ocupado:

"Estância, era a instalação rural dedicada à

pecuária onde vivia a família do grande

proprietário de terra, seus escravos e alguns

trabalhadores livres. A apropriação de grandes

39

áreas, feitas pelo sistema de concessão de

sesmarias aos que tivessem reunido ponderável

quantidade de gado alçado, criou verdadeiros

feudos que tiveram efetiva importância na

conservação do território para a coroa portuguesa,

o que, afinal, era o verdadeiro sentido de tais

concessões (MACEDO, 1987, p.76).

A produção do charque era uma determinante na

construção das estâncias mais antigas. Segundo

Riopardense de Macedo (1964, p.80), as estâncias

construídas mais tardiamente (no final do século 18 e

começos do 19) tendem a substituir a casa de charque

característica pela atafona, voltada para a produção de

farinha e que ganhava em rendimento no caso da

proximidade a centros consumidores. É o caso da

"Estância" do Baptista, situada a 19km de Porto Alegre.

Riopardense de Macedo apresenta a Estância do

Baptista nos seguintes termos:

"A Estância do Batista deve ter sido instalada no

fim do século XVIII ou começos do XIX, visto que

em 1821 já é apresentada em um dos inventários

como "um sítio com casa de morar, dita com

atafona, cozinha e senzala, tudo coberto de telha

contendo outros estabelecimentos no mesmo

terreno". No bloco da atafona que, como dissemos,

40

próximo dos centros de consumo começa a

predominar sobre a casa do charque, encontramos

um outro compartimento - tulha- grande depósito

de produtos agrícolas destinados ao comércio que,

evidentemente, não se justificaria nas estâncias

mais antigas, principalmente nas mais afastadas

das cidades. A ligação direta da senzala com a

atafona comprova a estreita participação dos

escravos nos trabalhos da farinha e divide o pátio

de serviço em duas partes, das quais uma é

relacionada com o pátio íntimo através de um

portão. Este pátio, onde estaria o pomar, garante

maior recolhimento à família e, por isso mesmo,

era todo amurado e recebia as portas de serviço da

casa. A residência corresponde perfeitamente às

observações que já fizemos a respeito a moradia

antiga do Rio Grande; além das portas de serviço

e da porta principal, possuía outra, na grande

sala, que ligava à atafona, por que em parte desta

era guardada a carruagem. A casa do charque era

de dimensões reduzidas e o seu destino, para

atender principalmente ao consumo doméstico,

denuncia-se pela ligação direta ao pátio interno.

Um dos aspectos mais curiosos desta estância é o

jardim lateral, que se desdobra avançando sobre a

fachada." (MACEDO, 1964, p.103-104).

41

No tocante à história da Casa do Baptista com

relação ao Município de Cachoeirinha, a principal fonte

é o livro "Memória de Cachoeirinha", publicado em

1990 pela Prefeitura Municipal, sob organização da

prof. Isabel Mombach. Trata-se de um trabalho

realizado por um grupo, voltado para os Estudos

Sociais, da então Secretaria de Educação e Cultura. A

obra tem o mérito de consistir na primeira abordagem

da ocupação das terras pelos Silveira e Souza, com o

uso de fotos e uma descrição do interior da residência:

"Trata-se de uma casa grande, com alicerce alto

e também de grande altura no interior: foi

construída com diversos tipos de pedra. Entre elas

a chamada pedra cupim. A largura das paredes é

de mais ou menos 60cm. A entrada, pela lateral,

dá acesso a uma ampla sala de onde se tem 2

acessos para o norte ( frente da casa). São quartos

com o mobiliário antigo, contendo cristais e

louças de porcelana. Para o sul, os acessos levam a

um possível quarto e um corredor, onde, à direita,

há um banheiro e, no fundo deste, uma cozinha

que conserva o antigo fogão de barro.

Da janela, ao lado da porta de entrada, avista-se

uma construção baixa, comprida, com janelas

pequenas, a dependência de empregados que , no

42

passado, foi uma senzala. Ao lado da casa, um

galpão muito alto com as tesouras do telhado de

espessa madeira, foi uma atafona. Entre os objetos

aí guardados, uma charrete, rodas de carreta,

automóveis, etc." (MOMBACH, 1991, p.20-21).

Ambas descrições concordam nos principais

aspectos, destacando a presença da senzala e da

atafona. Mombach ainda alongou-se na descrição do

mobiliário da casa, a partir de informações de seu então

morador, Júlio Baptista Soares. A partir destas

informações, é possível aventar a data de aquisição da

mobília existente na casa como sendo na década de

1910.

Afora as numerosas menções que situam a casa

como indício da primitiva ocupação da região, destaca-

se ainda a importância que esta pode vir a adquirir na

formação da consciência patrimonial da população.

Joachim Hermann diz, em artigo de 1989, que "uma

consciência histórica é estreitamente relacionada com os

monumentos arqueológicos e arquitetônicos e que tais

monumentos constituem importantes marcos na transmissão

do conhecimento, da compreensão e da consciência histórica"

(HERMANN apud FUNARI 2003).

43

Figura 2. Casa dos Baptista.

Acervo Casa do Leite

44

Figura 3. Planta da Casa dos Baptista.

IN: MACEDO, 1969, p.12

45

Em se tratando de edifícios e monumentos

existentes há muito tempo, pode-se dizer que estes são,

de certa forma, pontos de referência históricos, sociais,

afetivos, da sociedade que o cerca. Estes servem como

apoios onde os discursos sobre o passado se

estabelecem. Numa sociedade mutável, e

principalmente numa cidade nova como Cachoeirinha,

a existência da Casa dos Baptista cumpre muitos

propósitos: uma função de vinculação cultural aos

primeiros períodos da ocupação da região; uma

testemunha do período de formação do município,

onde a casa era o principal ponto de referência; e, num

âmbito geral, situa a região dentro da história do Rio

Grande do Sul colonial e imperial.

O sociólogo Maurice Halbwachs levantou

importantes considerações sobre um conceito que

subjaz a estas conclusões: o conceito de memória

coletiva. Regina Pelegrini, ao comentar sobre as

implicações entre memória e identidade, diz:

"A memória individual, como afirmou o sociólogo

Maurice Halbawchs, constitui um ponto de vista

da memória coletiva, porque muitos dos seus

referenciais são sociais. Segundo o autor, a

memória social ou coletiva é alimentada por

recordações moldadas por formas de linguagem,

46

pessoas e datas que se encontram presentes, e

ainda predominantes, na vida moral e material

das sociedades que integramos. Essas

reminiscências se fundamentam numa série de

marcos sociais que se concretizam num dado

espaço, tempo e linguagem, por isso ele assegura

que “não há memória coletiva que não se

desenvolva num quadro espacial” (PELEGRINI,

2007, p.90).

Ora, a Casa dos Baptista situa-se na principal

avenida do município, dominando a paisagem em parte

significativa da extensão da mesma, em meio à

principal área verde de Cachoeirinha, imediatamente ao

lado da Prefeitura Municipal. Trata-se, logo, do

referencial geográfico mais evidente para os habitantes

da região. Em função disso, a população local

necessariamente lida com o imaginário destas terras e

da casa.

A importância da preservação, não apenas deste

patrimônio, mas também de todos os demais imóveis

de interesse histórico do Município foi percebida em

algumas instâncias do Poder Público. Por exemplo, o

Ministério Público, através de ação intentada em 1997,

tentou responsabilizar o Município e os proprietários

dos imóveis em questão pela ausência de medidas em

47

preservá-los com vistas a eventual tombamento. Alguns

imóveis, lamentavelmente, foram retirados

posteriormente desta listagem por já haverem sido

irreparavelmente danificados (TEIXEIRA (coord.), vol.

2, p.84).

O Plano Ambiental, concluído em 2007 pela

PUCRS em parceria com a Prefeitura Municipal,

também ressaltou a importância da Casa dos Baptista

para a história municipal:

a) Casa do Júlio

Situa-se em suave colina, cercada por uma ampla

área que preserva um aspecto rural. Este imóvel é

o bem de maior relevância histórica e cultural

para o Município, pois foi a casa do Coronel João

Baptista e é da segunda metade do século XIX.

Em 1998, incluía prédio da senzala, da atafona e

um fogão de barro dispostos em 256 hectares

florestados e de campo (Figura 8.1). Em uma

situação ideal, poderia se transformar em um

parque de eventos para o Município, em uma

situação mais realista, mediante negociação com

incentivos fiscais, perdão de dívida, permuta ou

outros meios, poderiam garantir a integridade de

parte mais relevante do imóvel. Além das

48

estruturas arquitetônicas remanescentes notáveis,

há de se pensar no seu valor para a arqueologia

histórica e o quanto de informações relevantes

neste sentido podem ser coletadas. (TEIXEIRA

(coord.), vol. 2, p.84).

Tendo em vista a relevância do imóvel e os

desafios que se apresentam com vistas à sua

preservação, é urgente que se tomem medidas eficazes

para a manutenção deste patrimônio e sua eventual

disponibilização à sociedade mediante sua aquisição

por parte do Poder Público.

49

50

3 A Ponte da Cachoeira na virada do

século XIX para o XX.

A ponte da Cachoeira não era somente um posto

de cobrança de impostos do governo estadual. Também

servia de porto para o embarque de mercadorias entre

N.Sa. dos Anjos e Porto Alegre. Em fins do século XIX,

o coronel Baptista tinha construído um pequeno

armazém junto à ponte, com a finalidade de vender aos

tropeiros que vinham pela estrada de Gravataí. Estes

pernoitavam no armazém e saíam pela madrugada para

evitar o pagamento de impostos no posto de cobrança,

situado na outra margem do rio (OLIVEIRA, 2012,

p.10).

No entanto, haviam duas dificuldades de

navegação: a primeira era a queda d´água (a

Cachoeirinha); a segunda era o tamanho das arcadas da

ponte velha, construída pelos Silveira e Souza. O

trabalho da dinamitação das pedras do rio e da

destruição da ponte velha visava a facilitação da

navegação, tanto para o transporte de farinha de

mandioca (Correio do Povo, 2/08/1903), quanto para

aproveitar uma descoberta realizada na década de 1920:

51

a existência de jazidas de carvão em Gravataí. A

abertura do rio para a navegação facilitaria o transporte

para os navios na ponte de ferro de Canoas. No entanto,

o carvão não teve os resultados esperados nesta jazida,

apenas apresentando rendimentos em 1921 e 1922.

Além do armazém, existiam outras casas em

redor da ponte. O coronel Baptista doou algumas casas

para seus genros e descendentes, como o prédio do

próprio armazém, doado para Carlos Wilkens, casado

com Olivia Baptista. Estima-se que o prédio tenha sido

doado aos Wilkens em 1917 (OLIVEIRA, 2012, p.10),

que passaram a administrar o comércio, que prosperou,

dando ensejo a que a família construísse um novo

imóvel pouco depois. Trata-se do Armazém dos

Wilkens, situado ainda hoje na entrada da cidade.

Embora não tenhamos como precisar a data exata de

sua construção, presume-se, a partir de suas

características arquitetônicas, que date do final da

década de 1920 ou começo da década de 1930.

Além dos Wilkens, Lydio Baptista, filho do

coronel, e João Brochado Smith, outro genro do mesmo,

possuíam imóveis adjacentes à estrada. Lydio Baptista e

seus cunhados Brochado Smith e Wilkens tinham

grande atuação política. Lydio foi vereador em Gravataí

na década de 1920 e vice-presidente da Câmara em

52

duas ocasiões.

Ocasionalmente estes personagens aparecem em

notícias jornalísticas em reuniões políticas em Gravataí

e Porto Alegre. Um exemplo pode ser dado pela

reunião de 30 de setembro de 1912, realizada por João

Brochado Smith em sua casa na Ponte da Cachoeira e

atendida pelos principais chefes políticos da região (A

Federação, 1/10/1912, p.7).

Somente a existência de um pequeno

aglomerado de casas justificaria a indicação de uma

professora normalista para a cadeira mista de 1º grau

na Ponte da Cachoeira, em 1889/1890 (A Federação,

9/10/1889, p.1; 5/06/1890 p.2). Durante o início do

século XX a turma foi mantida com algumas alterações.

O prédio onde se localizaram as aulas, pelo

menos durante o final da década de 1910, pertencia a

Lydio Baptista Soares, e era alugado ao Estado. (A

Federação, 28/12/1918, p.ilegível) Isabel Mombach (1990,

p.41) também refere-se à Aula Pública Mista da Ponte

da Cachoeira, inclusive nomeando alguns de seus

primeiros professores e dando sua primeira localização,

ao lado do Armazém dos Wilkens.

Existem outros indicativos da ocupação da

53

região na virada do século. Em meados da década de

1920, temos alguns indicativos da existência de um

pequeno núcleo habitacional nas imediações da Ponte

da Cachoeira. Uma pequena nota da "Federação"

(19/08/1927, p. 4) dá conta da vacinação efetuada pela

Diretoria de Higiene do Estado contra a varíola, na

Ponte e na Granja Progresso, totalizando 148 pessoas.

A Ponte de Ferro

Um dos principais símbolos que ainda

permanecem na memória da população de

Cachoeirinha é a antiga ponte de ferro.

A construção da ponte fazia parte de uma série

de melhorias que o Governo do Estado planejava na

área desde o fim da década de 1910. Inicialmente foi

planejada a desobstrução dos baixios do rio Gravataí,

através da remoção planejada de cerca de 6400 m3 de

rocha e de 1600 m3 de terra do leito do rio em suas

áreas mais estreitas (A Federação, 11/11/1920).

A ponte, planejada em concomitância com as

obras de dragagem, foi inaugurada em 1925. É

importante ressaltar que esta foi a segunda ponte no

mesmo lugar; a primeira sendo construída na primeira

54

metade do século XIX por João Baptista Soares da

Silveira e Souza.

Esta primeira ponte era de pedra, e possuía três

arcos. Como estes arcos não tinham altura suficiente

para a navegação, decidiu-se pela sua demolição.

Alberto Bins

Alberto Bins, filho do alemão Matias José Bins,

que tinha uma alfaiataria na Rua da Praia, nasceu em

Porto Alegre em 02/12/1869. Estudou em São Leopoldo

e na Alemanha, trabalhando como aprendiz industrial

na Siderúrgica Krupp. Após a morte do pai em 1886,

sua mãe assumiu os negócios da família,

posteriormente tornando-se diretora da Bins &

Friedrichs (FAUSEL, s.d, p.2-3).

Assim o jovem Alberto Bins iniciou suas

atividades comerciais como sócio de Miguel

Friederichs, que negociava artigos de ferro. Também

trabalhou na cervejaria Christoffel, de seu sogro.

Em inícios da década de 1890, passou a atuar

como diretor da Fábrica Berta, que produzia fogões e

cofres para bancos (SPALDING, 1969, v.3, p.20). Em

55

1897, funda a União de Ferros, associando a empresa de

sua família com a companhia Bromberg e Daudt. Bins

deixou a União em 1904, quando assume sozinho a

direção da Fábrica Berta (FAUSEL, s.d, p.8). A fábrica

veio a se tornar uma referência na área: "A fábrica que

além de caixas-fortes, seu principal produto, produzia ainda

camas, fogões, e prensas, tornou-se com o decorrer do tempo a

maior do gênero em todo o Brasil e a mais bem instalada da

América do Sul."(FAUSEL, s.d, p.9).

Em 1905, Bins investe na atividade agropecuária,

nas margens do rio Gravataí:

"(...) auxiliado por seu cunhado Oscar Loewen,

fundou a Granja Progresso, granja em que se

cultivavam 750 hectares de terra ou, conforme as

concepções da época, 30 colônias. O terreno da

granja era plano e de fácil irrigação: destarte,

plantaram-se 400 hectares de arroz (FAUSEL,

s.d, p.19).

Além do arroz, atividade principal da granja,

foram plantados 300 ha de eucaliptos com finalidade

comercial; 10 ha de videiras e árvores frutíferas, e o

restante foi destinado à criação de gado. Alberto Bins

também foi um pioneiro na atividade agropecuária,

pois instalou o primeiro banheiro carrapaticida do tipo

56

de aspersão no Estado e introduziu gado das raças

européias Devon e Holstein na região, melhorando a

produção leiteira da área (FAUSEL, s.d, p.20-21).

Bins filiou-se ao Partido Republicano em 1901,

mas era relacionado ao mesmo desde inícios da década

de 1890, recebendo então de Júlio de Castilhos o posto

honorário de Major da Guarda Nacional (SPALDING,

1969, v.3, p.21). Posteriormente, é eleito vereador em

Porto Alegre entre 1908 e 1913, e deputado estadual nas

legislaturas de 1913, 1917, 1921 e 1926. (FAUSEL, s.d,

p.37).

A Granja Progresso e sua vida social nas

décadas de 1910-1920.

Já em 1916, Bins começou a divulgar os

resultados da Granja Progresso. Primeiramente, os

vinhos, de tipo Merlot/Bourdeaux/Malbec, e depois os

vinhos brancos (Rheno) a partir da uva Traminer. O

ponto de encomenda destes produtos era a fábrica de

cofres Berta, em Porto Alegre (A Federação, 15/04/1916;

08/08/1916; 06/03/1918). Em seguida a estas

propagandas, Bins começa a divulgar seus vinhos em

exposições, tais como a 3a Exposição Agropecuária,

ainda em setembro de 1916.

57

Figura 4. Revista “O Criador Brasileiro” - 1922 - Granja

Progresso.

58

Figura 5. Propaganda da Granja Progresso na Revista “O Criador

Brasileiro” de 1922.

59

Na Granja Progresso havia ainda a venda de

mudas de eucaliptos (A Federação, 30/03/18), assim como

de gado da raça Devon (A Federação, 26/06/19) e de aves

(A Federação, 29/10/19).

Bins procurou implementar na Granja Progresso

outros mecanismos agropecuários inovadores, tais

como o banheiro carrapaticida (A Federação, 16/07/1920),

um curioso "freio prophylatico curativo" para permitir que

os animais tomassem medicamentos (1924), ou ainda os

tratores "Fordson", desde 1919. Os resultados destas

iniciativas eram divulgados entre outros produtores,

nos círculos usuais como o Sindicato Agrícola Rio-

grandense (A Federação, 07/12/1923).

A Granja Progresso era relativamente conhecida

no cenário agropecuário gaúcho. Para a Exposição do

Centenário da Independência, realizado no Rio de

Janeiro em 1922, a empresa "Patria Film" realizou um

documentário sobre a granja, entre outros

empreendimentos de Alberto Bins (A Federação,

04/03/1922). Ainda em 1922, a revista agropecuária "O

Criador Brasileiro" realizou uma reportagem de capa

com a Granja e seus produtos. (A Federação, 21/12/1922;

também NOBLE, 1922). Curiosamente, ainda outro

filme viria a ter cenas gravadas localizado na Granja

Progresso: o filme de ação "Revelação" em 1929 (A

60

Federação, 06/05/1929).

A partir da década de 1920, Bins começa a

receber visitantes ilustres na Granja Progresso. Na sua

atuação, primeiro como deputado estadual, e depois

como intendente de Porto Alegre, Bins valia-se da

proximidade da Granja com o centro da Capital para

confraternizar com políticos e as camadas superiores da

sociedade gaúcha e nacional, como os ministros do

Trabalho (1932) e da Agricultura (1935).

Um exemplo desta atuação é dado pela visita do

presidente da República eleito, Washington Luís, em

1926. O presidente, em vinda ao Rio Grande do Sul,

passou o dia 06 de junho daquele ano na Granja

Progresso. Acompanhado do governador Borges de

Medeiros e de sua comitiva, visitou as ações

desenvolvidas por Bins na granja, como o banheiro

carrapaticida, o depósito dos vinhos ali produzidos, a

plantação de arroz e o sistema de irrigação. Washington

Luis também visitou a invernada do Estado nas

proximidades. Outro futuro presidente, Getúlio Vargas,

então governador do Estado, visitou a Granja Progresso

em 1929.

Em junho de 1926, como presidente da

Associação Comercial de Porto Alegre e arrozeiro,

61

atuou de forma decisiva para fundação do Sindicato

Arrozeiro do Rio Grande Sul, que reunia os arrozeiros

para melhor defender suas reivindicações junto ao

Governo Estadual (FAUSEL, s.d, p.21). Como

representante do Sindicato, atuou de forma vigorosa na

tentativa de solução de uma crise na produção de arroz

no Estado, no final da década de 20.

Em 1927, o Sindicato Arrozeiro do Rio Grande do

Sul tenta classificar o arroz exportado mediante a

cobrança de uma taxa, a qual foi declarada ilegal. Por

isso, a entidade foi transformada no Instituto do Arroz

do Rio Grande do Sul, sendo oficialmente reconhecida

pelo Governo Estadual em maio de 1938. Neste mesmo

ano de 1927, Alberto Bins trazia para a Granja

Progresso um técnico e orizicultor de Cachoeira do Sul,

para fundar e organizar uma Estação Experimental, a

qual foi incorporada ao patrimônio da entidade,

visando o desenvolvimento técnico da orizicultura no

Estado.

Em 1928, Bins, então vice-intendente de Porto

Alegre, assume a intendência em função do falecimento

de Otávio Rocha, tendo recebido a notícia de sua

ascensão enquanto executava alguns trabalhos na

Granja Progresso (FAUSEL, s.d, p.44). A saída de

Borges de Medeiros do Governo Estadual e da direção

62

do PRR fez com que Bins e outros políticos apoiassem

Getúlio Vargas em 1930.

Bins implantou na Capital uma série de

melhorias na administração pública e na organização

da cidade. Durante o período que esteve à frente da

administração de Porto Alegre, Alberto Bins concluiu a

abertura da Avenida Borges de Medeiros, pavimentou

com cimento as faixas de acesso entre os bairros e o

centro da cidade, ampliou o serviço de saneamento

básico e abastecimento de água, canalizou a rede de

esgotos e abastecimento de água, bem como a rede de

águas pluviais e expandiu a iluminação elétrica pública

aos bairros de Belém Velho, Belém Novo e Tristeza, os

quais continuavam ainda com a iluminação de

querosene. Contudo, o maior feito de Alberto Bins

enquanto intendente de Porto Alegre foi a organização

e realização da Exposição do Centenário Farroupilha

em 1935, que atraiu visitantes de todo Brasil e de

diversas partes do mundo. No entanto, aconteceram

problemas com a contabilidade da Exposição, e o

interventor federal Daltro Filho, nomeado para o RS em

função da implantação do Estado Novo,

responsabilizou Bins pelo ocorrido. Igualmente, em

1937, Bins retira-se da intendência de Porto Alegre.

(SPALDING, 1969, v.3, p.23). Para o ponto de vista de

Walter Spalding sobre o ocorrido, ver (SPALDING,

63

1969, v.3, p.25).

A queda de prestígio de Bins com o novo status

quo político o tornou alvo de uma campanha de

acusação e perseguição política. Embora tenha provado

sua inocência, o peso das demandas financeiras e

judiciais fizeram com que Bins tivesse de se desfazer da

Granja Progresso em fins da década de 1930, vendendo-

a por 1.500 contos de réis. Este fato o abalou fortemente

(FAUSEL, s.d, p.21; p.62-65). Pode-se estabelecer então

uma relação entre a venda da Granja Progresso com a

questão da prestação de contas da Exposição

Farroupilha. Bins vinculava-se politicamente ao Gen.

Flores da Cunha, tendo auxiliado na fundação do

Partido Republicano Liberal em 1932, e o rompimento

deste com Getúlio Vargas em fins de 1937 refletiu no

tratamento de Bins por parte do interventor

(SPALDING, 1969, v..3 p.23).

Finalmente, o Instituto do Arroz do Rio Grande

do Sul foi transformado em uma autarquia estadual e

todo seu patrimônio foi entregue ao Governo Estadual,

inclusive a Estação Experimental. Em 1940, o Instituto

do Arroz do Rio Grande do Sul passou a designar-se

Instituto Rio Grandense do Arroz - IRGA.

64

Frederico Ritter

Frederico Augusto Kessler Ritter (1879-1951)

nasceu em São Lourenço do Sul/RS. A família de Ritter

havia imigrado para o Brasil logo após o término da

Revolução Farroupilha, em 1846, estabelecendo-se no

que hoje é o atual município de Linha Nova.

O pai de Frederico Ritter, Henrique Ritter,

transferiu-se à Porto Alegre com a família depois de

dissociar-se de um empreendimento comercial em São

Sebastião do Caí (BEISER, 2009, p.11), iniciando uma

cervejaria, em 1894, na rua Esperança (atual rua Miguel

Tostes) no bairro Moinhos de Vento. Segundo Ana

Cristina Beiser, o nome dado à Granja Esperança por

Frederico Ritter tem sua possível origem neste fato

(BEISER, 2009, p.13).

O jovem Frederico Ritter fugiu de casa no fim da

adolescência, indo trabalhar como mágico de um circo

itinerante. Após passar alguns anos distante da família,

tendo trabalhando também em cervejarias de Minas

Gerais e São Paulo, foi contatado pelo tio, que lhe

ofereceu em nome de seu pai uma oportunidade para

estudar na Europa o ofício de mestre cervejeiro

(BEISER, 2009, p.14- 16).

65

Após um longo percurso, Frederico Ritter

desembarcou na Europa em 1901. Ao chegar na

Alemanha trabalhou em diversas cervejarias como

estagiário. Em 1902, Ritter conclui o curso de mestre

cervejeiro na Brauerakademie München (Escola de

Cervejaria de Munique), permanecendo na Europa e se

aperfeiçoando até fins de 1903. Chegando ao Brasil,

Ritter iniciou um processo de modernização da fábrica

da família, reestruturando-a, juntamente com seu pai,

sob o nome de Cervejaria Henrique Ritter & Filhos, em

1906 (BEISER, 2009, p.17).

Frederico Ritter planejava estabelecer-se como

empresário sem a necessidade de vincular-se a outros

sócios. Com esta finalidade, afastou-se da Cervejaria

Ritter & Filhos, considerada uma das maiores fábricas

do Estado na época, para estabelecer-se em Gravataí

com sua família. Para isso, adquiriu em 1918 uma área

de terras nas imediações do arroio Brigadeiro. No ano

seguinte, 1919, transferiu-se para esta área, nomeando-a

"Granja Esperança" e iniciando a fábrica de alimentos

Ritter (BEISER, 2009, p.18).

A Granja Esperança

Cachoeirinha, nessa época, era uma região rural,

sendo suas principais atividades econômicas a criação

66

de gado leiteiro e produção de laticínios.

A Granja Esperança dedicou-se, num primeiro

momento, justamente à produção leiteira para a região.

No entanto, a dificuldade de acesso a Porto

Alegre e Gravataí, principalmente no período anterior à

construção da faixa de cimento em 1936, oferecia

obstáculos ao escoamento dessa produção. Nas

primeiras décadas do empreendimento, a Granja

Esperança empenhou-se em tentar mantê-la, mas os

produtos frequentemente danificavam-se no transporte

(BEISER, 2009, p.20).

A solução encontrada por Frederico Ritter para

este problema foi a diversificação das atividades,

principalmente na produção de conservas e doces que

não fossem alterados pelas dificuldades de manuseio e

transporte. Algumas áreas de terras foram

transformadas em pomares para a colheira das frutas

que seriam utilizadas nesse processo. Além disso, a

fábrica também comprava a produção das chácaras e

propriedades adjacentes. (BEISER, 2009, p.22).

Um dos fatores que também contribuiu para a

diversificação das atividades da fábrica foi a

irregularidade das remessas de insumos da Europa

67

durante o período da Segunda Guerra Mundial. Além

disso, o período de tensão contra a população de

origem germãnica durante o periodo da 2a Guerra

motivou Frederico Ritter a tomar medidas de

reestruturação administrativa, como a transformação da

Fábrica Ritter, em 1951, numa sociedade por quotas.

Depois de sucessivas trocas de razão social, em 2005 a

empresa passou a denominar-se Ritter Alimentos S.A

(BEISER, 2009, p.27).

A importância da Ritter Alimentos S.A para a

formação do município é elevada. Primeiramente, por

que sua instalação em 1919 representa o início do

desenvolvimento da região que mais tarde viria a ser

Cachoeirinha. A estrada aberta para o escoamento da

produção da fábrica é ainda uma das principais vias de

acesso da cidade. Com o desenvolvimento da indústria,

o aumento da demanda por funcionários auxiliou no

povoamento do município e seu desenvolvimento

econômico. Além disso, pode-se afirmar que se trata da

empresa no Município com a maior visibilidade

nacional.

A relevância desta empresa já foi reconhecida

numerosas vezes por parte do município, das quais a

mais destacada foi a nomeação da estrada de acesso à

fábrica, em 1971, como Av. Frederico Augusto Ritter,

68

popularmente "Estrada do Ritter".

A Família Brambilla e a Casa do Leite

Em 1934, João Brochado Smith construiu uma

casa próximo à estrada de Gravataí, em uma parte das

terras herdadas do Coronel João Baptista Soares da

Silveira e Souza, com intuito de arrendá-las. Em 26 de

maio de 1935, a propriedade foi arrendada para a

família Brambilla; aproximadamente 220 hectares do

lado esquerdo da faixa, atualmente Avenida Flores da

Cunha, e 80 hectares do lado direito. Moravam na casa

José Brambilla e sua esposa, Albina Bernardi,

juntamente com seus quatro filhos: Luís, Jacinto, João e

Danilo. O casal teve mais três filhas: Irene, Hilda e

Zilda, sendo esta última adotiva, porém, nenhuma

delas residiu na propriedade. Depois vieram os

empregados, por isso, foram construídos sete chalés,

alguns galpões e, finalmente, foi instalado o tambo de

leite.

Na propriedade, a família Brambilla plantava

melancia, melão, milho, repolho e uva, sendo grande

parte da produção destinada à Fábrica Ritter para

produção de doces e conservas. Além disso, plantavam

arroz nas terras mais úmidas da propriedade, que

ficavam próximas ao rio Gravataí.

69

A principal atividade econômica da propriedade

era a produção leiteira. Segundo depoimento de Luís e

João Brambilla, filhos de José Brambilla, a propriedade

chegou a produzir 1.450 litros de leite por dia com um

rebanho de quase 300 vacas leiteiras. O leite era

distribuído nos mais diversos estabelecimentos de Porto

Alegre, como hotéis, padarias e hospitais, inclusive na

Santa Casa de Misericórdia. Em pouco tempo, a Casa

da família Brambilla passou a ser denominada “Casa do

Leite”. Após a morte de José Brambilla, o arrendamento

da propriedade passou para seu filho João Brambilla.

Na época, a atividade leiteira tomou tão grande

proporção econômica que o Governo Estadual criou o

Departamento Estadual de Alimentos e Laticínios

DEAL, depois denominado de Companhia Rio-

Grandense de Laticínios e Alimentos Correlatos. Em

1967, a CORLAC assumiu a Casa do Leite, visando a

implantação de uma usina de beneficiamento de leite.

Neste período, em função disto, Cachoeirinha ficou

conhecida como “Cidade do Leite”. A partir da década

de 70, a falta de recursos e o acelerado processo de

urbanização e industrialização reduziu a Casa do Leite

à condição de um simples depósito. Na década de 80, a

CORLAC vendeu a propriedade para uma construtora,

que a deixou no abandono, reduzindo a Casa do Leite a

ruínas.

70

Figura 5. Casa do Leite em 1940.

Acervo Casa do Leite

Figura 6. Família Brambilla – década de 1950

Acervo Casa do Leite

71

Figura 7. Criação de Vacas Leiteiras. Família Brambilla –

década de 1950.

Acervo Casa do Leite

72

4 A divisão das terras do Cel. Baptista

e o início da expansão urbana de

Cachoeirinha

O estabelecimento de famílias como os Brambilla

nesta região é significativo de um grande movimento

na história de sua ocupação. O coronel João Baptista

Sobrinho falece em fevereiro de 1924 (A Federação,

06/02/1924), mas a execução de seu testamento foi

retardada pela necessidade de que a área de suas terras

fosse formalmente medida.

Esta medição ocorreu somente entre janeiro de

1929 e abril de 1934, sendo este trabalho coordenado

pelo Major Engenheiro Tito Marques Fernandes. A

partilha da Fazenda do Baptista, bem como outras

terras contíguas que foram adquiridas pelo Coronel

João Baptista Soares da Silveira e Souza entre 1872 e

1913, teve seus quinhões definitivamente distribuídos

entre Lydio Baptista, Carlos Wilkens, João Brochado

Smith, e os descendentes de Francisco Martins e

Melania Vieira Soares. Ficam aí expressos, por exemplo,

tanto os laços de parentesco direto (como o de Lydio

Baptista) quanto indiretos (Carlos Wilkens, João

73

Brochado Smith, Francisco Martins, e Melânia Vieira

Soares, seus genros e nora).

Com o término do inventário em 1934, os

herdeiros ficaram livres para dispor de suas partes.

Como vimos acima, João Brochado Smith arrendou sua

área para os Brambilla pouco depois, em 1936. Em sua

maior parte, os descendentes do coronel começaram a

se desfazer das terras, em função do tamanho da área

alocada para cada um, e é deste processo de loteamento

que surgem os primeiros pontos de urbanização em

Cachoeirinha. A exceção é a área de Lydio Baptista,

atual Mato do Júlio.

Nós podemos localizar dois pontos importantes

para o crescimento do povoado. O primeiro, mais

antigo, é situado nas imediações da Capela de N. Sa da

Boa Viagem, e da área do Armazém dos Wilkens. Como

pode-se notar, é nesta região imediata à ponte que se

localizaram os primeiros imóveis "urbanos" de

Cachoeirinha, nas primeiras décadas do século XX.

(1910-1930)

No início da década de 1930, o Governo do

Estado, juntamente com o Município de Gravataí,

constrói a faixa de cimento sobre a estrada que ligava o

município à Capital. Com este avanço, a construção de

74

loteamentos urbanos foi grandemente facilitada.

A inauguração da estrada se deu em 22 de abril

de 1934, com a presença do Gen. Flores da Cunha,

sendo Loureiro da Silva o administrador de Gravataí no

período. Este certamente foi um dos fatores para que a

ocupação do entorno da estrada ganhasse fôlego.

Outros empreendimentos realizados na década de 1930,

por exemplo, foram instrumentais para impulsionar o

processo de emancipação de outros municípios da

Região Metropolitana, como é o caso da Base Aérea de

Canoas, estabelecida em 1937 e que auxiliou no

movimento de emancipação desta de Gravataí.

O segundo ponto é marcado pelo loteamento das

terras recebidas pelos descendentes de Melânia Vieira

Soares, nora do coronel Baptista. Em 1941, abrem-se

quatro ruas transversais à Av. Flores da Cunha, assim

nomeada em função do interventor do Estado à época

do recapeamento da estrada. São: as ruas Tupi, Tamoio,

Tabajara e Tapajós. Estas estendiam-se até determinada

altura e então uniam-se numa pequena estrada que

levava às chácaras de alguns pequenos produtores

rurais (MOMBACH, 1990, p.45). Eventualmente, a rua

Tupi teve o nome trocado para Papa João XXIII.

Com a ocupação, inicialmente pequena, destas

75

ruas, também inicia-se a reivindicação por serviços

essenciais. Em 1944, por exemplo, abre-se o Grupo

Escolar Rodrigues Alves, anexado à pequena classe já

existente na Ponte da Cachoeira.

Capelas e Igrejas

Um dos sinais que acompanha o início do

crescimento populacional de uma dada área é o

estabelecimento de uma igreja ou capela. Em

Cachoeirinha, podemos ligar dois templos a este

processo.

O primeiro templo construído no município foi a

capela de N. Sa. da Boa Viagem, às margens do rio

Gravataí, na entrada da cidade.

No imaginário da população católica da cidade e

da região, costuma-se atribuir o nome da Igreja e o

culto à Nossa Senhora da Boa Viagem devido a sua

localização, isto é, próxima à ponte e ao Rio Gravataí.

Porém, mais do que se referir à viagem entre Conceição

do Arroio ou N. Sa dos Anjos a Porto Alegre, a "boa

viagem" é aquela entre Portugal e o Brasil.

O culto à Nossa Senhora da Boa Viagem remonta

76

ao século XVI no arquipélago dos Açores, sendo uma

devoção tradicional na ilha. Como o comendador e seus

sobrinhos eram açorianos, explica-se a existência desta

religiosidade na região.

As terras onde se edificou a Capela de N. Sa. da

Boa Viagem eram inicialmente de propriedade do

Coronel João Baptista. Como as imediações da ponte já

tivessem algumas casas, julgou-se apropriado construir

uma pequena capela. O coronel doou o terreno e

solicitou aos seus familiares, moradores das

imediações, que a construíssem. (OLIVEIRA, 2012,

p.12).

Em 4 de novembro de 1932, realizou-se uma festa

para o assentamento da pedra fundamental. A

construção foi custeada pelas festas realizadas pela

própria comunidade. Apesar da capela ter sido

rapidamente construída e ter missas e celebrações

desde 1934, a autorização para seu funcionamento veio

somente em 1938, dada pelo Arcebispo D. João Becker

(OLIVEIRA, 2012, p.13-18).

Em função do impulso de ocupação urbana que

se viu a partir da década de 1940, houve a demanda

pela construção de outra igreja.

77

A Capela da Nossa Senhora da Boa Viagem não

comportava o crescente número de fiéis na região e as

celebrações dependiam da disponibilidade do pároco

da Igreja Nossa Senhora dos Anjos, por isso, os

moradores se reuniram com a presença do cônego

Pedro Wagner, no Salão Danúbio Azul para formar uma

comissão, visando angariar fundos para construção da

igreja local. O cônego Pedro Wagner doou o terreno de

sua propriedade, onde a primeira missa campal foi

realizada no dia 25 de novembro de 1951 e a Igreja São

Vicente de Paulo foi construída. A segunda missa foi

celebrada no Salão Danúbio Azul no dia 30 de março de

1952.

Em 30 de dezembro de 1955, o Arcebispo

Metropolitano Dom Vicente Scherer, determinou a

criação da segunda paróquia do município de Gravataí,

assim, a Igreja São Vicente de Paulo foi desmembrada

da Paróquia Nossa Senhora dos Anjos. Com isso, o

Padre Pedro Wagner deixou de atender à Capela da Boa

Viagem. Em 2 de fevereiro de 1958, assumiu a Paróquia

São Vicente de Paulo o Padre Luiz Frederico Jeremias,

onde permaneceu até 16 de janeiro de 1966. Padre

Jeremias atendia também a Capela Nossa Senhora da

Boa Viagem, a qual foi transformada em paróquia

somente no dia 23 de fevereiro de 1972.

78

Com o dinheiro arrecadado da primeira festa e as

contribuições dos moradores iniciaram as obras. Em 30

de dezembro de 1955, o Arcebispo Metropolitano Dom

Vicente Scherer, institui a Igreja São Vicente de Paulo

como primeira paróquia da região, assumindo o Padre

Pedro Hugo Hort.

Em 1º de janeiro de 1956, a paróquia novamente

trocou de pároco com a chegada do Padre João Walter

Giehl. O Padre João com seu dinamismo e arrojo

construiu o espaçoso prédio para o colégio paroquial e

a casa canônica, e ainda cercou todo o terreno da Igreja

e conseguiu a extensão da rede elétrica pela rua Cel.

Batista Soares. Todos estes empreendimentos tiveram a

colaboração dos moradores e da Prefeitura Municipal.

No dia 2 de fevereiro de 1958, o Padre Luis Frederico

Jeremias assumiu a Paróquia São Vicente de Paulo,

dando continuidade ao trabalho iniciado pelo seu

antecessor. Padre Jeremias buscou reorganizar as

associações católicas da Paróquia, aumentando o

número de fiéis e colaboradores. Esse pároco iniciou

juntamente com a comunidade a construção de um

novo prédio para Igreja São Vicente Paulo, dando

origem assim a bela construção arquitetônica de nossa

Igreja Matriz. Ele ainda almejava a construção de um

ginásio e um hospital em Cachoeirinha.

79

Padre Jeremias teve papel fundamental no

processo de emancipação de Cachoeirinha, atuando

ativamente como líder da campanha e membro da

comissão. Entretanto, Padre Jeremias não pode

permanecer à frente da Igreja São Vicente de Paulo

quando Cachoeirinha foi instalada como município,

pois foi transferido em 06 de fevereiro de 1966. Padre

Jeremias faleceu no dia 23 de março de 1989, sendo

sepultado no interior da Igreja Matriz de Cachoeirinha

São Vicente de Paulo.

Cachoeirinha: de vila à cidade

Nas três primeiras décadas do século XX, Ponte

da Cachoeira era a denominação que constava nos

registros de nascimento das pessoas que nasciam em

Gravataí, próximo à ponte sobre o rio Gravataí. Nesta

época, Cachoeirinha era um povoado formado por

algumas propriedades espalhads ao longo da estrada

de Gravataí, atualmente Avenida Flores da Cunha.

Estas famílias, através de muita luta, trabalho e

mobilização, foram as responsáveis pela fundação e

construção das mais importantes entidades e

instituições como o Rancho da Saudade, a Sociedade

Esportiva de Cachoeirinha – SEC, ,a Igreja da Boa

80

Viagem, a Igreja São Vicente de Paulo - Matriz, bem

como as primeiras escolas estaduais Rodrigues Alves,

Roberto Silveira, Daniel de Oliveira Paiva e

Mascarenhas de Moraes, e, ainda, os primeiros

loteamentos. Os descendentes dos colonizadores,

pioneiros e imigrantes, lideraram e participaram do

movimento de emancipação de Cachoeirinha.

Na década de 50, Cachoeirinha tinha um

comércio formado por armazéns, farmácias, padarias,

confeitarias, bares, churrascarias, sapatarias,

madeireiras, bem como um expressivo número de

profissionais liberais como advogados, corretores,

contadores, médicos e dentistas. O parque industrial

contava com duas grandes empresas: Conservas Ritter e

Liquid Carbonic, além de outras dezenas de pequenas

fábricas de funilarias, esquadrias, olarias e serralherias.

Na época, a atividade agrícola estava voltada para a

produção de hortifrutigranjeiros e a criação de gado

leiteiro e de corte, por isso, havia dois grandes

matadouros e alguns tambos de leite, sendo principal o

da Família Brambilla.

Ainda no início daquela década, um dos sinais

dessa expansão é a movimentação para a construção da

Igreja de São Vicente de Paulo, atual matriz do

Município. Em 25 de novembro de 1951, o pároco de

81

Gravataí, Pedro Wagner, celebrou a primeira missa no

lugar onde viria a ser construida a Matriz. No decorrer

do ano seguinte, viria a ser formada uma comissão para

angariar fundos para a construção da Igreja, que

reunia-se no Salão Danúbio Azul, antigo salão de bailes

e posteriormente primeiro cinema de Cachoeirinha.

Após o primeiro esforço de arrecadação, foram

reunidos Cr$ 15.464,10 para iniciar a construção da

igreja, em um terreno doado pela Prefeitura.

Um dos registros mais importantes desta época é

a edição do jornal "O Gravataiense", de 25 de dezembro

de 1958. O Gravataiense realizou uma edição especial

acerca dos distritos de Gravataí e dedicou uma parte

significativa ao recém-criado Distrito de Cachoeirinha,

destacando, entre outras características, seus

empreendimentos comerciais e industriais:

“No ramo industrial honra-se por ser a sede das

duas atuais mais importantes indústrias do

Município, como sejam a Fábrica de Conservas

Ritter e a Liquid Carbonic S.A, possuindo ainda

outras de menor monta como, fábricas de

esquadrias, funilarias, padarias e confeitarias,

dois importantes matadouros de gado ovelha e

suínos, olarias e outras"

(...)

82

"Deve-se assinalar ainda que possui florescentes

agremiações esportivas e sociais, um Grupo E.

Estadual, um G.E Municipal e diversas escolas

isoladas (O Gravataiense, 25/12/1958, p.1).

Pelas estimativas do Gravataiense, Cachoeirinha

contava à época com cerca de 2.000 casas.

A primeira iniciativa no sentido de transformar

Cachoeirinha em distrito de Gravataí foi realizada

ainda em 1954, não sendo aprovada pela Câmara de

Vereadores. Na legislatura seguinte, tendo em vista o

rápido crescimento da região, a questão foi novamente

apreciada e aprovada.

83

Figura 8. O Gravataiense, 25/12/1958.

Acervo Museu Municipal Agostinho Martha - Gravataí

84

Figura 9. O Gravataiense, 24/05/1961.

Acervo Museu Municipal Agostinho Martha – Gravataí

85

Figura 10. Construção da Igreja Matriz.

Acervo Casa do Leite

86

Diante do acelerado crescimento econômico e

populacional de Cachoeirinha, a Câmara Municipal de

Gravataí através da Lei N° 3, de 7 de junho de 1957,

criou o Distrito de Cachoeirinha, estabelecendo a

Subprefeitura de Cachoeirinha que já contava com uma

subdelegacia, um posto de controle e uma agência dos

Correios. Em 1959, as primeiras reuniões de estudos

pela emancipação de Cachoeirinha são realizadas na

Casa de José Teixeira. A Comissão era presidida por

Oscar Martinez, sendo formada por Libório Kramer,

Manoel Eugênio Monteiro Guimarães, José Teixeira,

Beno Niderauer, Nicanor Cardoso Alves, Albino

Marques de Souza e Rui Teixeira. O movimento não

teve adesão da população e esvaziou-se.

Entre 1960 e 1961, a segunda comissão iniciou

seus trabalhos, sendo presidida por Manoel Eugênio

Monteiro Guimarães e faziam parte da comissão Oscar

Martinez, Beno Niderauer, Nicanor Cardoso Alves,

Albino Marques de Souza, Rui Teixeira, Libório

Kramer, Cassul Figueredo de Andarade, Guilherme

Ullmann, José Garcia Rocha. Na primeira reunião

estiveram presentes os deputados estaduais Osmani,

Onil Xavier e Athaide Pacheco como convidados

especiais. Este movimento também não foi vitorioso.

Em 1965, criou-se o terceiro movimento pela

87

emancipação de Cachoeirinha. Na época, Cachoeirinha

tinha uma representação política expressiva na Câmara

de Vereadores de Gravataí, composta por três

vereadores: José Prior, do Partido Social Democrático -

PSD, Osvaldo Correia, do Partido Trabalhista Brasileiro

- PTB, Martinho Espíndola, da União Democrática -

UDN e o vice-prefeito, Rui Teixeira.

O vereador José Prior teve conhecimento que

estava se esgotando o prazo de entrada de processo de

aprovação e criação de novos municípios junto à

Assembléia Legislativa Estadual, por isso, procurou Rui

Teixeira e depois foi falar com o Padre Jeremias sobre a

importância da emancipação de Cachoeirinha. Com a

adesão do Padre Jeremias, o movimento tomou forma e

força, pois o pároco apresentou a proposta de

emancipação durante a missa e, à noite, reuniram-se no

porão da Igreja Matriz para formar a comissão.

A terceira comissão foi constituída da seguinte

forma: Rui Teixeira, presidente de honra; Natálio

Schlain, presidente e um dos primeiros loteadores do

município; José Prior, vereador e comerciante; Padre

Jeremias, líder da campanha e Guilherme Ulmann, líder

comunitário. O movimento contou com a participação

decisiva da Associação dos Vicentinos, Apostolado da

Oração e muitos outros moradores que se encarregaram

88

pelo abaixo assinado para a realização do plebiscito.

Realizado o pleito e elaborado o processo, este foi

encaminhado e aprovado pela Assembléia Legislativa

Estadual, criando assim, o município de Cachoeirinha

através da Lei N°5.090, de 9 de novembro de 1965.

89

90

Considerações Finais

Com a exceção de Porto Alegre, a história das

cidades da Região Metropolitana e de seu crescimento

ainda depende grandemente da produção

memorialista, e se apresenta como uma relevante área

de pesquisa e reflexão historiográfica por abordar.

Resta aos historiadores que se empenharem

neste ramo de pesquisa o interessante desafio de ler e

contextualizar a produção local. Existem algumas

características da produção memorialista que podem

servir como contrapontos, ou mesmo como bases para

que se abram caminhos de pesquisa reveladores para o

entendimento da história de suas cidades e regiões.

E um desses caminhos passa pela identificação

das famílias. Aqui em Cachoeirinha, principalmente no

período entre 1930-1950, podemos identificar, graças ao

trabalho realizado em Memória de Cachoeirinha, redes de

relações entre famílias que ajudam a traçar um

panorama da comunidade neste período. Ao analisar a

documentação da época, vemos redes de parentesco, de

compadrio, que remontam em grande parte a um

grande grupo familiar que é o da família Baptista

91

Soares e aos primeiros moradores da região.

Naturalmente, com o grande impulso de ocupação e

loteamento das terras dos Baptista, torna-se

progressivamente mais difícil traçar estas redes,

procedendo-se assim a uma transição entre o que é

história de uma pequena comunidade para a história de

uma cidade em formação.

Se pudéssemos escolher uma característica desse

nosso trabalho para enfatizar, esta seria a de encadear a

narrativa da história do Município. Compreendemos,

como é do ofício de historiador, que esta narrativa e este

encadeamento são decisões, mais do que imposições.

Torna-se necessário, porém, partir-se de algum lugar.

E o ponto de partida da historiografia de

Cachoeirinha contém um tropo já bastante conhecido

em História: a ênfase nos grandes personagens. É

importante explicar que esta ênfase - perceptível

mesmo nesta obra – deriva aqui de uma questão

geográfica: o Cel. Baptista, Alberto Bins e Frederico

Ritter possuíam, entre as décadas de 1920-1930, a maior

parte da área do Município, e, de um ponto de vista

territorial, a história de parte significativa dos bairros

de Cachoeirinha relaciona-se com estas áreas.

Como dissemos, contar a história de

92

Cachoeirinha no período pré-emancipatório tem como

fontes de grande relevãncia as histórias familiares e

memórias pessoais. Temos como exemplo disso a obra

do primeiro prefeito eleito de Cachoeirinha (antecedido

por dois interventores), Ruy Teixeira, Cachoeirinha e sua

história – reminiscências (1998), no qual a lembrança

pessoal traz consigo o relato do crescimento do

Município.

Evidentemente, devemos estar atentos às

características deste tipo de enfoque, tais como a ênfase,

perfeitamente natural, na ação pessoal e na valorização

da mesma, mas a via mais promissora de entendimento

destas trajetórias certamente implica em tomá-las como

significantes, representativas de processos históricos

mais extensos. A crônica da dissolução das terras dos

Baptistas, por exemplo, é facilmente interpretável como

o próprio recuo das grandes propriedades rurais (e de

seu estilo de vida) frente à implacável (e inexorável)

expansão urbana. Outros escritores, de tendência mais

literária e poética, tornaram processos semelhantes em

grandes sagas, que contam a história do Estado.

Mas não precisamos abrir um dos volumes de "O

Tempo e o Vento", para vermos retratado o nosso

passado. Basta tomar um ônibus na Av. Flores da

Cunha e passar pelo Mato do Júlio, essa janela para

93

uma Cachoeirinha que existiu, de cem ou duzentos

anos atrás. Mapas, documentos; fotos que se perdem,

trechos de terra que se mudam, a fazenda que se torna

cidade: são todos fragmentos, preciosos e importantes

para a nossa história, parte de nossa trajetória.

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