4
Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Mercado - Seção: - Assunto: Economia - Página: A13 - Publicação: 10/04/20 URL Original: Preço de alimentos sobe em março e pressiona inflação de quarentena Preço de alimentos sobe em março e pressiona inflação de quarentena Com baixa em transportes, IPCA de março ficou em 0,07%; refeição em casa, porém, subiu 1,4% O preço dos alimentos disparou em março, fechando o mês em alta de 1,13%, contra 0,11% registrados em fevereiro, informou nesta quinta (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os aumentos ocorrem em um momento de dificuldades para famílias afetadas pela crise do coronavírus. Segundo o IBGE, os maiores aumentos se deram em produtos relacionados à alimentação em domicílio, que acelerou de 0,22% para 1,40% em março. As maiores altas foram registradas em produtos como cenoura (20,39%), cebola (20,31%), tomate (15,74%), batata-inglesa (8,16%) e ovo (4,67%). Foram responsáveis por manter a inflação no terreno positivo, apesar da queda dos preços dos combustíveis e das passagens aéreas. Em março, o IPCA, índice oficial de inflação do país, ficou em 0,07%, contra 0,25% do mês anterior. Foi o menor resultado para março desde o Plano Real. O grupo Alimentos e bebidas teve impacto de 0,22 ponto percentual na inflação de março. "Houve uma aceleração disseminada no preço dos alimentos", disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov. "Os números sugerem que as pessoas estão comprando mais para comer em casa." O custo da alimentação em domicílio teve a maior alta desde dezembro de 2019, quando o preço da carne bovina disparou. Kislanov disse que alguns produtos, como cenoura e tomate, já vinham registrando alta. Mas outros, como a cebola a batata, caíam e passaram a subir em março. Após os primeiros aumentos, supermercados jogaram a responsabilidade nos fornecedores. A Abras (Associação Brasileira dos Supermercados) falou em "elevações injustificadas de preços" e diz hoje trabalhar com a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) para evitar aumentos abusivos. No Rio, sindicatos ligados aos comerciantes chegaram a divulgar "carta de esclarecimento" responsabilizando fornecedores por retirar descontos nos preços quando os estoquescomeçaram a cair após aumento na procura no início das medidas de isolamento social. Economistas afirmam que a elevada procura teve impacto nos primeiros momentos da crise, mas esperam que os preços se ajustem com a normalização da demanda após a corrida aos supermercados no fim de março. Naquele momento, segundo levantamento feito na semana passada pelo economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Andre Braz, houve alta em diversos itens da cesta básica, como tomate (13,34%), ovo (9,04%) batata-inglesa (5,20%) e batata inglesa (5,20%). "Além do aumento da demanda, pois todas as refeições estão sendo feitas em residência, houve aumento da estocagem, por receio de que o vírus se propague mais e expanda o período de confinamento social", analisou o economista André Braz, da FGV. "Continuando a quarentena, devemos continuar tendo alta dos alimentos. Mas tem um limite", avalia Kislanov. "Temos uma crise e, a partir do momento em que as pessoas têm menos dinheiro para consumir, os mercados não poderão subir tanto os preços." Especialista em preços no atacado, o consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios, acha, porém, que a pressão ainda não acabou e os preços devem subir mais antes de voltar à normalidade. "O varejo assumiu parte da alta até agora, colocando estoques em um valor mais baixo", diz. "Quando a reposição vier, ainda veremos novos aumentos. Vai piorar antes de melhorar", completa. Segundo dados compilados por ele, o preço do feijão no atacado acumula alta de 71,1% em 30 dias, o trigo subiu 13,6% e o arroz, 7,6%. O café tem aumento acumulado de 6,9% no período. Responsável por garantir a regularidade do abastecimento e apoiar os produtores, a Conab? (Companhia Nacional de Abastecimento) diz que alguns aumentos são provocados por questões climáticas, como as chuvas na principal região produtora de cenouras no país.

Preço de alimentos sobe em março e pressiona inflação de ... · cenário de alta retrata bem as mudanças de hábito do consumidor, que passou a realizar as refeições em domicílio

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Preço de alimentos sobe em março e pressiona inflação de ... · cenário de alta retrata bem as mudanças de hábito do consumidor, que passou a realizar as refeições em domicílio

SemOpção

Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Mercado - Seção: - Assunto: Economia -Página: A13 - Publicação: 10/04/20URL Original:

Preço de alimentos sobe em março e pressionainflação de quarentenaPreço de alimentos sobe em março e pressiona inflaçãode quarentenaCom baixa em transportes, IPCA de março ficou em 0,07%; refeição emcasa, porém, subiu 1,4%O preço dos alimentos disparou em março, fechando o mês em alta de 1,13%, contra 0,11% registrados em fevereiro, informounesta quinta (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os aumentos ocorrem em um momento de dificuldadespara famílias afetadas pela crise do coronavírus.Segundo o IBGE, os maiores aumentos se deram em produtos relacionados à alimentação em domicílio, que acelerou de 0,22%para 1,40% em março. As maiores altas foram registradas em produtos como cenoura (20,39%), cebola (20,31%), tomate(15,74%), batata-inglesa (8,16%) e ovo (4,67%).Foram responsáveis por manter a inflação no terreno positivo, apesar da queda dos preços dos combustíveis e das passagensaéreas. Em março, o IPCA, índice oficial de inflação do país, ficou em 0,07%, contra 0,25% do mês anterior. Foi o menorresultado para março desde o Plano Real.O grupo Alimentos e bebidas teve impacto de 0,22 ponto percentual na inflação de março. "Houve uma aceleração disseminadano preço dos alimentos", disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov. "Os números sugerem que as pessoas estão comprandomais para comer em casa."O custo da alimentação em domicílio teve a maior alta desde dezembro de 2019, quando o preço da carne bovina disparou.Kislanov disse que alguns produtos, como cenoura e tomate, já vinham registrando alta. Mas outros, como a cebola a batata,caíam e passaram a subir em março.Após os primeiros aumentos, supermercados jogaram a responsabilidade nos fornecedores. A Abras (Associação Brasileira dosSupermercados) falou em "elevações injustificadas de preços" e diz hoje trabalhar com a Senacon (Secretaria Nacional doConsumidor) para evitar aumentos abusivos.No Rio, sindicatos ligados aos comerciantes chegaram a divulgar "carta de esclarecimento" responsabilizando fornecedores porretirar descontos nos preços quando os estoques começaram a cair após aumento na procura no início das medidas deisolamento social.Economistas afirmam que a elevada procura teve impacto nos primeiros momentos da crise, mas esperam que os preços seajustem com a normalização da demanda após a corrida aos supermercados no fim de março.Naquele momento, segundo levantamento feito na semana passada pelo economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas) AndreBraz, houve alta em diversos itens da cesta básica, como tomate (13,34%), ovo (9,04%) batata-inglesa (5,20%) e batata inglesa(5,20%)."Além do aumento da demanda, pois todas as refeições estão sendo feitas em residência, houve aumento da estocagem, porreceio de que o vírus se propague mais e expanda o período de confinamento social", analisou o economista André Braz, daFGV."Continuando a quarentena, devemos continuar tendo alta dos alimentos. Mas tem um limite", avalia Kislanov. "Temos umacrise e, a partir do momento em que as pessoas têm menos dinheiro para consumir, os mercados não poderão subir tanto ospreços."Especialista em preços no atacado, o consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios, acha, porém, que a pressãoainda não acabou e os preços devem subir mais antes de voltar à normalidade. "O varejo assumiu parte da alta até agora,colocando estoques em um valor mais baixo", diz."Quando a reposição vier, ainda veremos novos aumentos. Vai piorar antes de melhorar", completa. Segundo dados compiladospor ele, o preço do feijão no atacado acumula alta de 71,1% em 30 dias, o trigo subiu 13,6% e o arroz, 7,6%. O café temaumento acumulado de 6,9% no período.Responsável por garantir a regularidade do abastecimento e apoiar os produtores, a Conab? (Companhia Nacional deAbastecimento) diz que alguns aumentos são provocados por questões climáticas, como as chuvas na principal região produtorade cenouras no país.

Page 2: Preço de alimentos sobe em março e pressiona inflação de ... · cenário de alta retrata bem as mudanças de hábito do consumidor, que passou a realizar as refeições em domicílio

No caso do feijão, diz o presidente da estatal, Guilherme Bastos, o produto sofre com a alta demanda em um momento dequebra de safra. Já o arroz tem produção muito próxima do consumo, o que ajudou a elevar os preços com o aumento daprocura.Outros produtos, como frutas e hortaliças, vêm em tendência de baixa, com menor demanda de restaurantes e restrições afeiras livres após o início das medidas de isolamento social. O presidente da Conab não vê riscos de abastecimento. "De maneirageral, as centrais não têm nos reportado nenhuma ruptura no fornecimento", disse.Ele também espera menos pressão sobre os preços nos próximos meses. Dados da estatal apontam, por exemplo, que aproximidade com a segunda safra do feijão já reverteu a curva de alta dos preços em algumas praças na última semana.Ainda assim, considerando a variação acumulada do ano, o produto já subiu até 60%, no caso do Paraná. Em São Paulo, oaumento acumulado é de 52%.?Procurada, a Abia (Associação Brasileira da Indústria do Alimento) disse em nota apenas que não discute preços, "uma vez queas negociações entre as empresas do setor e as cadeias de varejo contextualizam-se em um cenário de livre mercado".Na ponta negativa da inflação de março, todos os combustíveis apresentaram retração: etanol (-2,82%), óleo diesel (-2,55%),gasolina (-1,75%) e gás veicular (-0,78%). As passagens aéreas também mantiveram queda, de 16,75%. Assim, o grupoTransportes caiu 0,90%.No acumulado do ano, o IPCA soma 0,53%. Em 12 meses, 3,30%, abaixo do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4%.Na semana passada, economistas ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central, reduziram para 2,72% a projeção do IPCA parao ano, diante da expectativa de fortes impactos econômicos da crise gerada pela pandemia do coronavírus. A estimativaanterior era de 2,94%.

Preço do ovo atinge recorde com maior demanda apósisolamentoFonte barata de proteína, produto subiu 17% em São Paulo em um mês,segundo CepeaCom aumento da demanda, o preço do ovo atingiu o maior valor desde o início da série histórica do Cepea (Centro de EstudosAvançados em Economia Aplicada), da USP, em 2013. O produto desponta como protagonista da alta nos preços dos alimentosapós o início da pandemia de coronavírus.O choque de preços dos alimentos, que já se reflete em índices de inflação, foi iniciado com a corrida aos supermercados antesdo começo do isolamento e se mantém em um período de empobrecimento da dieta em famílias de baixa renda mais afetadaspela crise.Proteína barata, de fácil preparo e durável, o ovo é usado por famílias de baixa renda como substituto de carnes mais caras. Ocenário de alta retrata bem as mudanças de hábito do consumidor, que passou a realizar as refeições em domicílio após oisolamento.Segundo os dados do Cepea, a caixa com 30 dúzias atingiu R$ 115,25 em São Paulo na semana passada, alta de 17% emapenas um mês. O movimento altista é percebido em todos os cinco polos pesquisados pelo instituto.A consultora do Cepea Juliana Ferraz diz que a demanda neste período é normalmente aquecida, por causa da quaresma,período em que algumas famílias evitam o consumo de carne vermelha."Só que esse ano, essa alta foi ainda maior por conta da pandemia, que gera uma certa apreensão no consumidor", conta ela."Houve demanda muito grande nas duas últimas semanas e acabou refletindo na alta de preços."O consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios, lembra que o consumo já vinha crescendo no fim do anopassado devido ao aumento do preço da carne bovina, mas acelerou novamente este ano. Em 2019, o consumo foi de 230 ovospor habitante. No primeiro trimestre, em taxa anualizada, chegaria a 235.Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o preço do ovo subiu 4,67% em março, o quinto maior aumentoentre os itens de alimentação no mês, quando o IPCA foi pressionado pela alta de 1,13% nos preços dos alimentos e bebidas.Levantamento feito na semana passada pelo economista da FGV (Fundação Getulio Vargas) André Braz com itens da cestabásica mostra que o ritmo de alta se intensificou no fim do mês, com alta de 9,04% apenas na última semana de março.Foi um dos produtos de maior aumento, ao lado de tomate (13,34%), batata-inglesa (5,20%) e batata inglesa (5,20%). Paraespecialistas, o consumidor ainda verá novos aumentos nos preços dos alimentos, antes que a situação se normalize.Mas a expectativa é que a demanda desaqueça com a perda de renda da população, que deve passar a priorizar compras decurto prazo. "Massa salarial caindo, desemprego informalidade, governo demora para reagir, isso tudo vai conter o preço dosalimentos", diz Cogo.No caso do ovo, porém, a expectativa é que os preços se mantenham em níveis altos durante um período maior. "O produtornão sinaliza interesse em ampliar a produção, porque ele sabe que é uma demanda pontual", diz. "Sob a ótica da oferta, a gentenão vai ver um aumento."Em nota, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) afirma que o principal fator de alta no preço do ovo é o custo deprodução em um cenário de elevados preços do milho e da soja no país. O crescimento da procura, diz, também é um fator de

Page 3: Preço de alimentos sobe em março e pressiona inflação de ... · cenário de alta retrata bem as mudanças de hábito do consumidor, que passou a realizar as refeições em domicílio

pressão."Apesar disto, é importante ressaltar que o ovo ainda é a proteína mais acessível ao consumidor das diversas classes sociais",completa a entidade, concluindo que não há risco de desabastecimento e que a tendência é de equilíbrio na oferta de produtosnas próximas semanas.

Page 4: Preço de alimentos sobe em março e pressiona inflação de ... · cenário de alta retrata bem as mudanças de hábito do consumidor, que passou a realizar as refeições em domicílio