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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE FÍSICA Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS em Arqueologia e Geologia Marinha Kita Chaves Damasio Macario Tese apresentada ao Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciências. Orientador: Prof. Dr. Roberto Meigikos dos Anjos Niterói 2003

Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

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Page 1: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE FÍSICA

Preparação de Amostras de

Radiocarbono e Aplicações de AMS

em

Arqueologia e Geologia Marinha

Kita Chaves Damasio Macario

Tese apresentada ao Instituto de

Física da Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial à

obtenção do título de Doutor em

Ciências.

Orientador:

Prof. Dr. Roberto Meigikos dos Anjos

Niterói

2003

Page 2: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Autora: Kita Chaves Damasio Macario

Título: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS em

Arqueologia e Geologia Marinha

Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em

Ciências

Universidade Federal Fluminense

Orientador: Roberto Meigikos dos Anjos

Niterói, 16 de Janeiro de 2003

(versão com referências atualizadas)

i

Page 3: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

To Mary Ann

ii

Page 4: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Agradecimentos

Às populações pré-históricas que, com seu esforço, ergueram os sambaquis e sem os quais

parte desse trabalho não seria possível.

À CAPES pelas bolsas de doutorado e doutorado-sanduíche.

Ao pessoal da Biblioteca, sempre gentil e disponível, especialmente à Rita, por todo trabalho

que dei a ela.

Ao João e à Luana, da pós.

À Valéria, da PROPP.

Ao Alberto, da Geociências pelas explicações sobre foraminíferos.

Ao Jeferson, da Geociências.

À Rosana Najjar por nos ter apresentado aos grupos de arqueólogos.

À Angela, Márcia e Tânia, pelas aulas de Arqueologia.

Ao Paulo, pela co-orientação.

iii

Page 5: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Ao pessoal que foi e que é do grupo: Simone, Marco Aurélio, Eduardo, Helena, Ciro, João,

Ivan, Bernardo, Alessandro e Lubian.

A todo pessoal do PRIME Lab: Elmore, Linda, Lu, Pankaj, Sharif, Tom, Brad,

especialmente o Ken e a Mary Ann.

À Melayne, por toda a ajuda com o PRIME Lab.

Ao Roberto pela orientação e amizade.

A Dinha, Luzia, Papai, e, especialmente, Mamãe, por todas as formas de ajuda possíveis.

A Dani e Bu pela presença constante, mesmo quando longe.

A vó Doínha, pelos diabinhos.

Ao Mi, pelo carinho e compreensão.

A Léo, pelo amor e apoio.

A Giovanna, por existir.

iv

Page 6: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Resumo

O presente trabalho de tese apresenta o projeto de implantação de um laboratório de

preparação de amostras de radiocarbono no Instituto de Física da Universidade Federal

Fluminense, para serem medidas pela técnica de Espectrometria de Massa com Aceleradores.

Foi realizado um estágio científico de doze meses no Laboratório de Medida de Isótopos

Raros – PRIME Lab – da Universidade de Purdue, em Indiana, nos Estados Unidos. Durante

esse período foram preparadas amostras para projetos de pesquisa em Arqueologia e

Geociências. As técnicas de preparação e medida destas amostras são descritas, bem como os

cálculos e as correções necessárias para se obter a idade de uma dada amostra natural de

carbono.

Os principais resultados dos projetos de pesquisa envolvidos nesta tese foram

reavaliações da cronologia dos assentamentos pré-históricos do litoral brasileiro e a forma

intermitente de ocupação destes assentamentos. Também foi determinada a taxa de

sedimentação da plataforma continental brasileira na bacia de Campos e estudada sua

correlação com flutuações do nível do mar.

v

Page 7: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Abstract

This work presents the implantation project of a sample preparation laboratory for

radiocarbon samples at the Physics Institute of Universidade Federal Fluminense, to be

measured by Accelerator Mass Spectrometry. A twelve-month apprenticeship was realized at

the Purdue Rare Isotope Measurement Laboratory – PRIME Lab – in Indiana, United States.

During this period, samples from Archaeology and Geosciences research projects were

prepared. The sample preparation and measurement techniques are described, as well as the

calculations and corrections for obtaining a given natural carbon sample age.

The main results of the research projects involved in this thesis were the reevaluation

of pre-historical settlements chronology on the Brazilian Coast and the intermittence of this

occupation. It was also determined the Brazilian Continental Slope sedimentation rate in the

Campos basin and its relation to sea level fluctuations was studied.

vi

Page 8: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Índice

Página

Capítulo 1 Introdução 1

1.1 A Datação Radioativa 2

1.1.1 A Técnica Convencional 3

1.1.2 A Datação de Radiocarbono 5

1.2 A Espectrometria de Massa 6

1.2.1 A Técnica de Espectrometria de Massa com Aceleradores – AMS 7

1.2.2 AMS no Brasil 10

Capítulo 2 Materiais e Métodos 13

2.1 A Preparação das Amostras 13

2.1.1 Pré-tratamento 15

2.1.2 Amostras Orgânicas em Geral 17

2.1.3 Amostras de Tecido Ósseo 20

2.1.4 Combustão de Amostras Orgânicas 24

2.1.5 Amostras Inorgânicas 25

2.1.6 Grafitização das Amostras de Carbono 25

2.2 Medida das Amostras: Aparato Experimental 29

2.2.1 Fonte de Íons 31

2.2.2 Analisador Magnético de Injeção 33

2.2.3 O Acelerador 34

vii

Page 9: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Página

2.2.4 Analisador Magnético de Alta Energia 37

2.2.5 Sistema de Detecção 37

2.2.6 Seleção dos Feixes Estáveis e Radioativo 42

2.2.7 Sistema de Controle do Acelerador e Aquisição de Dados 43

Capítulo 3 Cálculo da Idade 45

3.1 A Idade em função da concentração isotópica 45

3.1.1 A Concentração Isotópica 46

3.1.2 Fracionamento Isotópico 47

3.1.3 Idade Convencional de Radiocarbono 50

3.2 Idades Calibradas 53

3.2.1 Calibração de Amostras Atmosféricas 54

3.2.2 Calibração de Amostras Marinhas 58

Capítulo 4 Projeto de um Laboratório de Preparação de Amostras de Carbono

para AMS no IF-UFF

62

4.1 Instalação do Laboratório 62

4.2 Equipamento 65

4.3 Avaliação do Laboratório 67

4.3.1 Níveis de fundo 67

4.3.2 Reprodutibilidade das datações 68

viii

Page 10: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Página

Capítulo 5 Resultados de Aplicações de AMS em Arqueologia e Geologia

Marinha

70

5.1 Taxa de Sedimentação na Bacia de Campos e Correlação com

Flutuações Locais no Nível do Mar

71

5.2 A Ocupação Pré-Histórica da Costa Sudeste Brasileira pelo Estudo

de Sambaquis

78

5.2.1 Sambaquis da Baia da Ribeira 82

5.2.2 Intermitência de Ocupações Sambaquianas no Núcleo da Boa Vista 87

5.2.3 Os sítios Corondó e Malhada 94

5.3 Sítios Cerâmicos do Estado do Rio de Janeiro 96

5.3.1 Aldeia Tupinambá de Morro Grande 97

5.3.2 Toca dos Urubus 100

Capítulo 6 Conclusões 102

Apêndice A Procedimentos de Limpeza 107

A.1 Vidrarias de pyrex em geral 108

A.2 Tubos para medida de 13C/12C por MS 109

A.3 Recipientes Plásticos 110

A.4 Peças da linha de grafitização e outras peças de aço inox 110

A.5 Válvulas da linha de grafitização 111

A.6 O-rings 112

A.7 Pinos usados para pressionar a grafite no catodo 113

ix

Page 11: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Página

Apêndice B Listagem de Equipamento 114

Apêndice C Preenchimento do balão de reservatório de CO2 126

Apêndice D Resultados das Datações realizadas no PRIME Lab 129

Referências Bibliográficas 133

x

Page 12: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Índice das Figuras

Página

2.1 Gráfico da composição da amostra e do colágeno puro relativa aos

aminoácidos testados

22

2.2 Esquema da montagem de uma linha de grafitização 26

2.3 Ilustração do sistema acelerador Tandem do PRIME Lab 30

2.4 Ilustração de uma fonte de íons negativos do tipo sputter 31

2.5 Esquema de um acelerador do tipo Tandem 35

2.6 Ilustração de um stripper a gás 36

2.7 Ilustração de uma câmara de ionização multi-anodo 39

2.8 Espectro das contagens em função da energia total x energia final 40

2.9 Espectro total das contagens em função da energia final e “janela” na

energia correspondente ao 14C

41

3.1 Seção da curva de calibração atmosférica 55

3.2 Faixa da curva de calibração atmosférica: estrutura irregular 56

3.3 Exemplo de calibração de amostra atmosférica: faixa da curva de

calibração, distribuição Gaussiana da Idade convencional e distribuição

Bayesiana da Idade calibrada

57

3.4 Seção da curva de calibração marinha 59

xi

Page 13: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Página

3.5 Exemplo de calibração de amostra marinha: faixa da curva de calibração,

distribuição Gaussiana da Idade convencional e distribuição Bayesiana da

Idade calibrada

60

4.1 Planta prevista para o laboratório de preparação de amostras de carbono no

IF-UFF

63

4.2 Foto da linha de grafitização do PRIME Lab 66

5.1 Mapa da região da Bacia de Campos 72

5.2 Foraminífero plantônico Globigerinoides ruber 73

5.3 Foraminífero bentônico Uvigerina peregrina 74

5.4 Gráfico das idades x profundidade das amostras de foraminífero 75

5.5 Densidade aproximada de sambaquis no território brasileiro 79

5.6 Sambaqui de Garopaba, SC 80

5.7 Frequência de datações radiocarbônicas para sambaquis no Brasil 81

5.8 Mapa da Baia da Ribeira, Angra dos Reis, RJ 82

5.9 Estratigrafia do Sambaqui do Algodão 83

5.10 Agrupamentos São João e Tamoios 88

5.11 Topografia do Sambaqui IBV 4 89

5.12 Datações do núcleo Boa Vista e nível do mar ao longo do tempo 92

5.13 Urna funerária do sítio Aldeia Tupinambá de Morro Grande 98

5.14 Tigelas associadas ao enterramento 100

xii

Page 14: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Índice das Tabelas

Página

2.1 Quantidade de material necessário para obter cerca de 2 mg de grafite 16

5.1 Idade das amostras por profundidade 76

5.2 Taxas de sedimentação em cada período (anos de radiocarbono) 77

5.3 Taxas de sedimentação em cada período (idade calibrada) 77

5.4 Datações radiocarbônicas do núcleo IBV anteriores ao presente trabalho 90

5.5 Datações de amostras do IBV 4 91

B.1 Lista de equipamento para laboratório de preparação de amostras de

carbono

115-125

D.1 Resultados da medida das amostras no PRIME Lab 130

D.2 Tipos de amostras e calibrações das idades 132

xiii

Page 15: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Capítulo 1

Introdução

A necessidade de se conhecer a idade dos materiais encontrados em sítios

arqueológicos fez surgir a técnica de datação radioativa. Utilizando a característica que os

isótopos instáveis têm de decair de forma específica com o tempo, é possível estimar a idade

de uma dada amostra natural.

Essa técnica foi proposta por Libby no final da década de 40 para medir amostras de

carbono [Libby et alii, 1949]. Utilizando um medidor Geiger-Müler para detectar a radiação β

emitida pelo 14C, e conhecendo a atividade específica deste isótopo, foi possível calcular a

idade de amostras arqueológicas. Com o passar do tempo, outras aplicações foram surgindo

para a datação de radiocarbono.

Na década de 70, com a evolução dos aceleradores usados para o estudo de reações

nucleares, foi desenvolvida a técnica de AMS (Accelerator Mass Spectrometry) [Muller,

1977]. A Espectrometria de Massa com Aceleradores possibilita a contagem direta dos

átomos de uma amostra. A razão entre o isótopo radioativo e os estáveis é medida no

acelerador, cuja alta energia permite a separação das massas dos isótopos.

A técnica de AMS possibilita a diminuição do tamanho das amostras da ordem de 104

e o tempo de medida da ordem de 102 em relação à espectroscopia β, abrindo espaço para

1

Page 16: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

diversas novas aplicações. Ela permite também a generalização da datação radioativa para

outros elementos de meia vida longa, para os quais é impossível o uso da técnica

convencional.

A seguir serão abordados os conceitos de datação radioativa e os possíveis métodos

de medida, culminando com a apresentação da técnica de AMS e suas vantagens. Esta

proposta tem o objetivo de ressaltar a relevância científica e tecnológica do presente trabalho

de tese, onde a técnica de AMS é utilizada como ferramenta essencial em estudos

arqueológicos e de Geociências, bem como a importância da instalação de um laboratório de

preparação de amostras para a medida por AMS no Brasil.

1.1 A Datação Radioativa

A datação radioativa se baseia na diferença da concentração isotópica de uma amostra

ao longo do tempo, ou seja, na variação da razão entre isótopos radioativos e estáveis de um

elemento. A concentração inicial C0 se refere ao momento em que o sistema fica isolado e

cessam as trocas de matéria com o meio ambiente. A concentração após um tempo t depende

apenas do decaimento radioativo:

(1.1.1) ( ) teCtC λ−= 0

onde a constante de decaimento λ é característica de cada radioisótopo e se relaciona com a

sua vida média τ e meia vida t1/2 da seguinte forma:

2ln1 2

1t==

λτ

(1.1.2)

2

Page 17: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Conhecida a concentração isotópica atual, a idade da amostra pode ser então determinada:

(1.1.3) ( )

−=

0

lnC

tCt τ

Desta forma, a datação radioativa pode ser realizada medindo-se a concentração

isotópica de uma amostra ou sua atividade. A atividade específica A de uma amostra é o

número de decaimentos por unidade de tempo por unidade de massa, ou seja:

(1.1.4) ( ) teAdtdCtA λ−=−= 0

onde A0 é a atividade inicial.

Portanto, a idade da amostra pode ser determinada a partir de sua atividade:

(1.1.5) ( )

−=

0

lnA

tAt τ

A técnica convencional de datação radioativa utiliza a atividade da amostra para

calcular sua idade.

1.1.1 A Técnica Convencional

A medida da atividade de uma amostra pode ser feita utilizando, por exemplo,

detectores a gás ou cintiladores. Os detectores a gás são câmaras contendo um gás, a baixa

3

Page 18: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

pressão, que é ionizado pela radiação. Os pares elétron-íon são coletados em eletrodos,

gerando um impulso elétrico no circuito a cada partícula detectada. Nos cintiladores a

radiação é absorvida por um material orgânico ou cristal com capacidade de emitir luz. Os

fótons produzidos são proporcionais às partículas absorvidas. Utilizando uma

fotomultiplicadora é possível contar as partículas detectadas.

A eficiência de um sistema de contagem de decaimentos é dada por:

21

2ln

2ln1 21

tte

NN t

t

∆≈

−=

∆∆

(1.1.6)

onde N é o número de átomos no contador e ∆N o número de decaimentos contados durante o

período de tempo ∆t. A aproximação é válida para ∆t muito menor que a meia-vida t1/2.

Em geral é necessário um tempo de medida bastante grande para atingir uma boa

precisão. No caso do 14C, por exemplo, cuja meia vida é 5730 anos, é necessário medir a

atividade de uma amostra de 1 g durante doze horas para obter a contagem de 10000 eventos

e, com isso, alcançar 1% de precisão.

Em virtude desta limitação, outros elementos radioativos de meia-vida muito superior

à do 14C não poderiam ser medidos pela técnica convencional. Assim, a datação radioativa foi

desenvolvida visando apenas à medida de amostras de carbono.

4

Page 19: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

1.1.2 A Datação de Radiocarbono

O carbono é um elemento de grande utilidade já que está presente em quase todas as

amostras de interesse arqueológico, entre outras aplicações, e possibilita datações de até

50000 anos.

Métodos de datação radioativa dependem do conhecimento da concentração ou

atividade inicial. Esse valor pode ter sido medido ou pode ser estimado a partir das taxas de

produção e redução do isótopo radioativo.

O 14C é produzido na atmosfera por interação de átomos de 14N com nêutrons

secundários, originários da radiação cósmica, através da reação 14N(n,p)14C, formando 14CO

pela reação com oxigênio [Korff e Mendell, 1980]. A taxa média global é de 2.2

átomos/cm2/seg. Outros fatores contribuem para a produção do 14C como o decaimento de

elementos pesados (U e Th), a interação de raios cósmicos secundários com a litosfera e, mais

recentemente, a ação do homem em ciências e tecnologia nucleares.

O 14CO é oxidado pelo radical OH-, produzido pela dissociação fotolítica do ozônio

seguida pela reação do oxigênio excitado com vapor d’água, gerando 14CO2. Desta forma, o

14C se mistura aos isótopos estáveis 13C e 12C e entra no ciclo global do carbono, sendo

consumido pelos seres vivos ao longo de sua existência. A partir de sua morte, as trocas de

carbono com o meio ambiente são interrompidas e o sistema passa a estar isolado. Assim,

enquanto no meio ambiente a produção de 14C continua, naquele sistema o decaimento

radioativo é o único fator a alterar a razão isotópica do carbono. Como essa redução se dá a

uma taxa conhecida, característica do radioisótopo, pode-se aferir o período de tempo

decorrido medindo-se a atividade final, como visto, ou a concentração isotópica final.

5

Page 20: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Para medir diretamente a concentração isotópica em uma amostra de carbono é

necessário separar os átomos de 12C, 13C e 14C e contá-los. Diferindo apenas por suas massas,

os isótopos podem ser separados utilizando-se a técnica de espectrometria de massa.

1.2 A Espectrometria de Massa

Na espectrometria de massa, um ímã é utilizado para fazer a separação entre partículas

de massas diferentes. A técnica se baseia no fato de que uma partícula carregada sofre uma

deflexão em sua trajetória, em função de sua massa, ao passar por um campo magnético.

Íons de carga q são extraídos de uma amostra, acelerados a uma energia E e então

direcionados a um campo magnético uniforme B, transversal ao seu movimento. O raio de

curvatura r, do qual a partícula é desviada, é função desses parâmetros e de sua massa:

( )22 Br

qME

∝ (1.2.1)

A corrente produzida pelos íons de massa selecionada é medida num copo de

Faraday. A energia dos íons em espectrômetros de massa tradicionais é da ordem de 10 keV e

a sensibilidade de um sistema desses não ultrapassa 10-11, não sendo suficiente para

discriminação do 14C do 12C, já que a abundância do 14C na natureza é da ordem de 10-12 em

relação ao carbono total. Para se ter resolução suficiente de forma a separar estes isótopos por

suas massas, é preciso utilizar energias da ordem de milhões de elétron-volts (MeV). Energias

dessa ordem são obtidas em aceleradores de partículas desenvolvidos para o estudo de reações

nucleares.

6

Page 21: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

1.2.1 A Técnica de Espectrometria de Massa com Aceleradores – AMS

A associação de um acelerador de partículas ao espectrômetro de massa possibilitou

que os íons fossem detectados com energias de ordem de MeV [Muller, 1977]. Desta forma, a

interferência de isótopos e isóbaros pôde ser eliminada usando técnicas de Física Nuclear.

Ao sair da fonte de íons, o feixe é selecionado em função de sua massa e então

acelerado num potencial de alguns milhões de volts (MV). Em seguida, um segundo

analisador magnético, de alta energia, seleciona o estado de carga desejado e os íons são

detectados sem ambigüidades em detectores desenvolvidos para o estudo de reações

nucleares.

A sensibilidade de um sistema como esse permite a medida da abundância de um

determinado átomo numa amostra em até uma parte em 1015. Em relação à técnica β

convencional, o tamanho necessário de uma amostra de carbono é reduzido por um fator de

104 e o tempo de medida de 102 para a contagem direta dos átomos da amostra por AMS.

Miligramas de material são suficientes para se preparar uma amostra de carbono.

Tamanha redução no tamanho da amostra torna possível a datação de preciosas peças

arqueológicas, além de materiais que são encontrados em quantidades muito reduzidas. No

estudo de sítios arqueológicos, freqüentemente é usado o método de associação de amostras

para datar aquelas insuficientes para serem diretamente datadas. Um grão de milho

encontrado em uma fogueira, por exemplo, pode ter sua idade associada àquela medida para o

carvão da fogueira. Ou no caso de um esqueleto encontrado em uma urna de cerâmica,

7

Page 22: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

também estes seriam considerados contemporâneos. Este método pode ser inadequado em

certas situações, enquanto a datação direta de um simples grão de milho pode significar a

determinação do princípio da agricultura numa região, como foi o caso da domesticação do

milho no México central, que havia sido datado por associação a madeira e carvão de 7000

anos AP e quando medido diretamente por AMS resultou em 5500 anos AP [Long et alii,

1989].

A técnica de AMS também abre espaço para novas aplicações como, por exemplo, na

área biomédica. O uso do radiocarbono como traçador em seres vivos é de grande importância

já que todo tecido orgânico é composto de carbono. A adição de uma ínfima quantidade de

carbono radioativo é suficiente para rastrear um alimento, um tumor ou um tecido, por

exemplo, através da medida de pequenas amostras de pele, órgãos, secreções ou mesmo o ar

exalado. A quantidade de material radioativo é pequena demais para produzir qualquer dano

ao indivíduo, possibilitando diversas pesquisas em seres humanos.

Além do tamanho reduzido das amostras, a característica mais importante da técnica

de AMS é, sem dúvida, a desassociação do tempo de medida com a meia-vida do elemento.

Incontáveis são as aplicações, distribuídas em quase todos os campos da ciência, da contagem

direta de elementos de meia-vida longa como o 10Be (1.5 x 106 anos), o 26Al (7.1 x 105 anos),

o 36Cl (3.01 x 105 anos), o 41Ca (1.04 x 105 anos) e o 129I (1.7 x 107 anos), entre muitos outros,

além da possibilidade do uso de isótopos estáveis, que são utilizados como traçadores em

materiais semicondutores.

Elementos de meia-vida longa também podem ser utilizados em pesquisas biomédicas,

como o 41Ca e o 26Al. O 41Ca é utilizado para estudar o metabolismo do cálcio pelo

8

Page 23: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

organismo, sendo muito importante para se conhecer doenças como a osteoporose [Resnick e

Greenspan, 1989]. O uso do 26Al para rastrear o efeito do alumínio no cérebro e rins,

causando várias doenças, também se deve à pequena quantidade de amostra utilizada em

AMS [Flack e Elmore, 1996].

Uma revisão feita por Fifield [1999] aborda as diversas aplicações dos isótopos de

meia-vida longa em várias áreas, como Geociências e Ciências Ambientais. O 36Cl e o 129I,

por exemplo, são usados em Hidrologia e como traçadores de lixo nuclear. O 10Be é muito

usado para se estudar processos do solo, deposição de sedimentos no oceano e origem de

rochas vulcânicas. O 14C é também muito utilizado nas Geociências e Ciências Ambientais,

como traçador e na cronologia de eventos como queimadas [Santos, 1999] e variações nas

condições climáticas [Souza, 2000]. A datação de foraminíferos, por exemplo, pode trazer

muita informação sobre as condições ambientais de uma região.

Este trabalho se concentrou na preparação e medida de amostras de carbono por AMS,

em projetos de grupos de pesquisa brasileiros. A necessidade de implantação de um

laboratório especializado nesta técnica no Brasil acarreta a necessidade de se capacitar pessoal

para desenvolvê-la.

9

Page 24: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

1.2.2 AMS no Brasil

Embora a técnica de AMS ainda não esteja totalmente implantada nos aceleradores do

Brasil, seu uso é muito difundido entre pesquisadores brasileiros de diversas áreas, que

enviam suas amostras para serem datadas no exterior a um custo bastante elevado. Grupos de

Pesquisa como os de Arqueologia do Museu Nacional, na Universidade Federal do Rio de

Janeiro, e os de Geociências, na Universidade Federal Fluminense, que participaram deste

projeto de tese, dependem periodicamente de laboratórios estrangeiros para a datação de

amostras de carbono, fundamentais para o desenvolvimento de seus trabalhos.

Parte do custo da datação está relacionado com o uso do acelerador de partículas, um

equipamento bastante sofisticado, orçado em cerca de alguns milhões de dólares. No Brasil,

dispõe-se de quatro aceleradores do tipo Tandem, adequados para a instalação da técnica de

AMS. Dois deles devem vir a ser utilizados para este fim, um na Universidade de São Paulo e

outro na Universidade Federal do Rio de Janeiro. No entanto, esses sistemas têm que ser

adaptados de forma a serem usados como espectrômetros de massa, representando um certo

investimento financeiro e de desenvolvimento técnico. Por outro lado, a maior parte do valor

cobrado para a datação por AMS, cerca de 75% do total, é relativa ao preparo das amostras.

A grande sensibilidade da técnica de AMS, o tamanho reduzido da amostra e a

necessidade de levá-la ao acelerador em uma forma conveniente, implicam num complexo

tratamento do material. Para tanto, um laboratório específico, destinado à preparação de

amostras para AMS deve ser instalado. A implantação de um laboratório desse tipo

representa, aproximadamente, um investimento de 50 mil dólares. Tratadas e reduzidas a

grafite, as amostras poderão ser medidas no Brasil, ou mesmo enviadas para o exterior para

10

Page 25: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

serem medidas por um valor muito mais acessível, enquanto os aceleradores de laboratórios

nacionais não estiverem operacionais para esta técnica.

Dentro dos objetivos do presente trabalho está a capacitação de pessoal para projetar o

Laboratório de Preparação de Amostras de Carbono para AMS no Instituto de Física da

Universidade Federal Fluminense. Para tanto, foi realizado um estágio de um ano no PRIME

Lab, Laboratório de Medida de Isótopos Raros da Universidade de Purdue, em Indiana, nos

Estados Unidos.

Todo o trabalho foi realizado visando uma fundamental integração os com diversos

grupos de Pesquisa interessados na instalação de um laboratório de AMS no Brasil. Foram

preparadas e datadas, gratuitamente, amostras de carvão, vegetal, tecido ósseo, cerâmica,

concha e foraminífero de interesse de grupos de arqueólogos e geocientistas das

Universidades Federais do Rio de Janeiro e Fluminense, respectivamente. Posteriormente, os

resultados obtidos foram interpretados em conjunto com os pesquisadores envolvidos.

As amostras coletadas em sítios arqueológicos da Tradição Tupi e de Sambaquis do

litoral do Estado do Rio de Janeiro contribuíram para o posicionamento cronológico desses

sítios na pré-história do Brasil [Barbosa, 2002]. Inclusive uma amostra de resultado

surpreendente, modificando a compreensão das rotas de ocupação do litoral Brasileiro pelo

homem pré-histórico [Lima, 2002; 2003; 2004]. As amostras de foraminíferos coletadas na

Bacia de Campos, também no Rio de Janeiro, contribuíram para o estudo das variações do

nível do mar neste local, além de ajudarem na estimativa de paleotemperaturas [Macario,

2004]. Esses resultados são discutidos no Capítulo 5.

11

Page 26: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

No Capítulo 4 é feita a descrição do projeto do laboratório de preparação de amostras

de radiocarbono do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense, já em fase de

aquisição de material.

O Capítulo 3 se destina ao tratamento dos dados obtidos na medida das amostras. As

idades são calculadas a partir da concentração isotópica determinada no acelerador. São

considerados, também, aspectos relevantes à datação radioativa, como o fracionamento

isotópico e a calibração dos resultados, visando à maior acurácia das datações.

No Capítulo 2, todo o processo de preparação das amostras de carbono é descrito,

desde seu pré-tratamento, sua passagem pelo acelerador, até o resultado medido para a

concentração isotópica.

12

Page 27: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Capítulo 2

Materiais e Métodos

Esse capítulo aborda a técnica de preparação e medida das amostras de carbono por

AMS, desde a forma em que são encontradas em sítios arqueológicos ou coletadas no fundo

do oceano, como foi o caso, passando pelo tratamento químico a que são submetidas, até a

medida da concentração isotópica no acelerador.

Os procedimentos têm por base aqueles utilizados para as amostras medidas. Todo o

processo foi realizado no PRIME Lab – Laboratório de Medida de Isótopos Raros da

Universidade de Purdue – em Indiana, nos Estados Unidos.

2.1 A Preparação das Amostras

Para ser levada ao acelerador e medida, a amostra deve se encontrar numa forma

conveniente, de modo que, a partir dela, se possa produzir um feixe de íons. Assim, o carbono

pode ser utilizado sob a forma de grafite ou gás carbônico, de acordo com a fonte de íons de

que se dispõe.

A amostra deve passar por um tratamento químico a fim de ser convertida à forma

desejada. É necessário, porém, muito cuidado para desprezar átomos de carbono que tenham

aderido à amostra posteriormente e cuja idade não represente sua idade real. Porções de outros

13

Page 28: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

materiais ou mesmo frações da própria amostra podem interferir no resultado. É fundamental,

portanto, um rigoroso pré-tratamento, onde todos os componentes indesejáveis sejam

removidos.

Para cada tipo de material a ser datado deverá ser utilizado um procedimento distinto,

em se tratando de amostras orgânicas ou inorgânicas. Em cada caso é preciso isolar a parte da

amostra que contém o carbono original e cuja datação seja considerada fidedigna.

Vários são os materiais disponíveis que podem ser usados em projetos envolvendo a

técnica de AMS. Alguns se apresentam de forma abundante, enquanto outros são bastante

raros ou encontrados em pequenas quantidades. Para algumas formas de material, o

tratamento pode ser complexo e dispendioso. Deve-se levar em conta que, em certos casos,

mais de um tipo de amostra pode ser utilizado para uma mesma datação. Portanto, é preciso

que se avalie o esforço envolvido na preparação da amostra em cada procedimento.

O carvão é um exemplo de material orgânico de muito interesse para datação. Ele é

encontrado em sítios arqueológicos, formando fogueiras, que muito podem dizer dos

habitantes locais [Lima et alii, 2002]. Também pode ser utilizado pela geoquímica para datar

queimadas [Santos et alii, 2000; Gomes et alii, 2001]

Ossos têm um grande potencial para datação arqueológica. São encontrados em grande

parte dos sítios e sua datação representa a idade real de uma espécie que teria passado pelo

local, e não apenas a de uma amostra contemporânea associada. Além disso, permitem

relacionar a idade com aspectos culturais, raças, dieta e muitas outras informações que podem

ser obtidas a partir da análise do osso.

14

Page 29: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

O carbonato de cálcio encontrado em conchas e carapaças de foraminíferos é um

exemplo de material inorgânico cuja datação é também de grande importância. Seu uso vai

desde associações com fenômenos sociológicos, ocorridos em sítios arqueológicos, até a

medida de paleotemperaturas oceânicas [Souza, 2000].

Outros materiais, como turfa, cerâmica, corais, etc, também são largamente utilizados

para datação por radiocarbono. De cada material devem ser removidos átomos de carbono

considerados contaminantes e isolado o carbono de interesse. Feito isso, a amostra é

transformada em gás carbônico, passando então por uma linha de vácuo, onde é purificada,

sendo, posteriormente, convertida a grafite. A partir da grafite, é produzido um feixe de íons

do elemento a ser medido. Acelerado a altas energias, o feixe pode ser separado em função de

sua massa e os isótopos podem ser medidos. A seguir, serão descritos, em linhas gerais, os

principais passos da preparação de amostras.

2.1.1 Pré-tratamento

A preparação das amostras de carbono para medida por AMS requer tratamento

específico para cada tipo de material. Todos os procedimentos específicos aqui descritos têm

como base aqueles utilizados no laboratório de preparação de amostras de carbono natural do

PRIME Lab [Mueller, 2000], embora sejam usuais em diversos laboratórios.

O pré-tratamento das amostras tem como objetivo remover contaminantes que possam

alterar os resultados das datações. Esses contaminantes podem vir de outros materiais que, em

algum momento do processo de preparação (coleta, manuseio, estocagem, etc.), tenham

15

Page 30: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

aderido à amostra, ou podem ser parte da própria amostra, uma fração cuja composição

propicie a troca de carbono com o ambiente ou que, por algum motivo, não represente a idade

que se deseja medir.

A remoção dos contaminantes inicia-se com o pré-tratamento físico, ou seja,

observação da amostra com microscópio e retirada manual de impurezas utilizando-se

ferramentas como pinça, lâmina ou escova de aço. Dependendo do estado em que se encontra

o material pode ser necessária uma lavagem em água deionizada ou até mesmo limpeza ultra-

sônica. Limpas as amostras, e livres de impurezas aparentes, realiza-se o pré-tratamento

químico, uma seqüência de tratamentos com reagentes, para separar a fração a ser medida. De

acordo com o tipo de material estima-se a quantidade necessária a ser utilizada de modo a

produzir grafite suficiente:

Tabela 2.1

Quantidade de material necessário para obter cerca de 2 mg de grafite [Mueller, 2000].

Material Peso (mg)

Sementes 5 a 20

Madeira 10 a 25

Carvão 20 a 30

Turfa 50 a 100

Plantas 80 a 150

Terra 150 a 300

Carbonato 20 a 60

16

Page 31: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Essa quantidade vai depender do tipo de processo químico pelo qual a amostra deve

passar e da composição da fração final a ser obtida desse processo.

É importante notar que a composição de alguns materiais pode variar bastante. Por

exemplo: quantidades iguais de amostras de carvão de diferentes procedências podem

produzir uma amostra grande demais e outra de quantidade insuficiente para ser medida.

Outros, como a turfa, aparentemente homogêneos, podem apresentar grandes variações na

composição e produzir diferentes quantidades de carbono a partir de massas iguais de um

mesmo pedaço do material.

Separada a quantidade de amostra a ser preparada, realiza-se o pré-tratamento

químico. Com o objetivo de isolar o carbono original em cada tipo de material, amostras

orgânicas e inorgânicas são tratadas diferentemente.

2.1.2 Amostras Orgânicas em Geral

Amostras orgânicas podem ser extraídas de diversos materiais, como turfa, carvão,

madeira, ossos, etc. O pré-tratamento químico é realizado de forma a separar a fração da

amostra mais bem preservada, ou seja, cuja datação represente sua idade real, a época em que

o sistema biológico trocava carbono com o ambiente. Para tanto, deve-se utilizar apenas a

matéria orgânica presente, removendo, com um tratamento ácido, carbonatos que façam parte

da amostra. No entanto, nem todo carbono derivado de compostos orgânicos estará no sistema

desde sua morte. Ácidos húmicos e fúlvicos originários do processo de decomposição são

considerados contaminantes e devem ser removidos, e isso é feito através de tratamento com

17

Page 32: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

uma base. Esse tratamento, porém, pode acarretar a aderência de carbonatos contemporâneos

à amostra e, portanto, deve-se repetir o tratamento ácido para que estes sejam removidos.

Para a maior parte das amostras de sólidos orgânicos, o tratamento denominado ABA

(ácido-base-ácido) é o mais indicado. Após a limpeza física, as amostras devem ser reduzidas

a partículas menores (1 a 2 mm) de forma a aumentar a superfície de ação dos reagentes. A

quantidade necessária do material é medida diretamente no tubo de ensaio que será usado

durante todo o processo.

Para o primeiro tratamento, utiliza-se cerca de 3 ml de ácido clorídrico na

concentração de 1M (molar). A amostra deve ser mantida num banho seco a cerca de 95o C

por um período de 2 horas e agitada periodicamente de forma a manter o reagente em contato

com todo o material. Ao final do tratamento, centrifuga-se a amostra para que se possa

remover o líquido com uma pipeta. Outros tratamentos com ácido devem ser realizados, de

forma semelhante, até que o ácido permaneça límpido e nenhum gás evolva.

Removido o líquido, adiciona-se água destilada deionizada até a metade do tubo e

agita-se para que o precipitado se misture à água. Centrifuga-se e retira-se o líquido. Repete-

se esta lavagem duas vezes mais.

Em seguida, a amostra deve ser tratada com cerca de 3 ml de hidróxido de sódio, cuja

concentração pode variar de 1 M a diluições maiores para materiais muito delicados. O tubo

de ensaio é mantido a cerca de 95o C por períodos de 1 hora. Durante esse tempo os tubos

devem ser agitados periodicamente. Ao final de cada período, eles devem ser centrifugados e

18

Page 33: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

o sobrenadante removido com pipeta. Os tratamentos com base devem ser realizados até que o

líquido atinja uma coloração quase transparente.

Para amostras que requerem muitos tratamentos, pode-se optar por períodos de no

mínimo 15 minutos, desde que o último tratamento dure 1 hora. Assim mesmo, podem ser

necessários mais do que um dia de tratamentos com base. Neste caso, deve-se realizar duas

lavagens e a amostra deve ser mantida em ácido clorídrico 0.1 M durante a noite. No dia

seguinte, pode-se continuar o tratamento após duas outras lavagens. Esse cuidado é tomado

para minimizar o tempo em que a amostra estará exposta à base, diminuindo assim a absorção

de contaminantes do ar. Terminado o tratamento, é preciso lavar a amostra por um mínimo de

três vezes ou até que a água saia límpida.

O último tratamento ácido é semelhante ao primeiro. É seguido de cinco lavagens,

sendo que na terceira, o tubo com água é mantido a cerca de 95o C por 15 minutos antes de ser

centrifugado.

Ao final do processo o tubo de ensaio é mantido no banho seco a cerca de 95o C até

que a amostra esteja completamente seca e pronta para a combustão.

O tratamento ABA pode sofrer variações para alguns tipos específicos de amostras

orgânicas. É preciso que se defina que fração do material deve ser eliminada e que fração

deve ser medida. É possível que se deseje medir a fração húmica, e, para tanto, o processo vai

até o tratamento básico onde o líquido que seria descartado é exposto ao ácido, precipitando a

fração desejada. No caso da medida de solo ou sedimentos compostos de uma mistura de

diferentes materiais orgânicos, apenas o primeiro tratamento ácido é realizado. Para a datação

19

Page 34: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

de uma peça em cerâmica, por exemplo, deve-se avaliar que parte da amostra se relaciona à

idade da peça. É possível datar várias frações, como restos de alimento, pintura, ácidos

húmicos, lipídios, ou plantas da confecção do barro [Hedges et alii, 1992].

Em alguns casos, para obter uma datação mais confiável, pode ser necessário não

apenas separar o carbono orgânico e retirar contaminantes externos, mas isolar uma molécula

específica, abrindo mão do restante da amostra. A preservação daquela espécie química

isolada garante que o carbono em sua composição é original. Nesses casos será preciso uma

quantidade maior de material. Esse é o caso de amostras de tecido ósseo, das quais se deseja

isolar a fração de colágeno.

2.1.3 Amostras de Tecido Ósseo

A preparação de amostras de tecido ósseo é um caso especial em que se deseja isolar

uma molécula específica para ser medida. 80% da composição do tecido ósseo é carbonato de

hidróxido de apatita. A apatita tende a trocar carbono com o ambiente, inviabilizando o

isolamento da fração do carbonato original de carbonatos secundários (considerados

contaminantes). Deste modo, a datação da parte inorgânica do tecido ósseo não é considerada

confiável. Os 20% restantes são matéria orgânica, da qual 88% é colágeno. O colágeno é uma

proteína composta de aminoácidos, como glicina (33%), 4-hidroxiprolina (9%) e prolina

(11%), entre outros. [Stafford et alii, 1991]

Um tecido ósseo moderno contém 176 mg de colágeno por grama de material. Com a

idade, porém, o colágeno original se degrada. Seu estado de preservação depende, também,

das condições do ambiente em que esteve o osso ao longo do tempo. A quantidade de

20

Page 35: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

colágeno que permanece intacto vai diminuindo, no entanto a sua composição apresenta um

padrão que se mantém durante a diagenese, até que reste aproximadamente 5% da proteína

original. Portanto, a fração de colágeno é considerada preservada, já que pode ser reconhecida

e isolada.

Uma amostra que contenha 20% ou mais do colágeno original é considerada ideal para

ser medida. Quanto mais degradada a amostra, maior é a chance de contaminação e maior será

a quantidade necessária de amostra a ser utilizada. Para um osso bem preservado, 20 a 25 mg

de amostra são suficientes, ao passo que, para um osso em estado ruim de preservação, 1 g do

tecido pode não conter a quantidade de carbono requerida. No caso do osso estar em péssimo

estado de preservação (menos que 5% do colágeno original), é possível isolar aminoácidos

específicos para serem medidos [Stafford et alii, 1991] Para tanto, a quantidade necessária de

material pode passar a dezenas de gramas. Estimar o estado de preservação de uma peça é de

fundamental importância para determinar a viabilidade de uma datação.

Conhecendo-se a composição da amostra é possível reconhecer os aminoácidos

característicos do colágeno e calcular a fração de colágeno na amostra, bem como a

quantidade necessária de material para produzir o carbono desejado (2 mg). Para tanto, pode-

se utilizar a técnica de cromatografia líquida. Uma pequena parte da amostra é preparada para

a análise e enviada a um laboratório externo.

Essa avaliação é feita a partir de 2 ou 3 mg de material, visando preservar ao máximo

a peça. Afinal, sua datação pode vir a ser considerada impossível, caso o estado de

preservação seja muito ruim ou a quantidade de amostra seja insuficiente. O pré-tratamento

físico é feito para toda a amostra visto que não é destrutivo. Raspas feitas com uma lâmina

21

Page 36: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

fornecem quantidade suficiente para o estudo dos aminoácidos. A amostra de teste é

desmineralizada com ácido clorídrico 1 M à temperatura ambiente. A parte líquida –

correspondente à fração inorgânica – é descartada após centrifugação e, em seguida, é feita

uma lavagem com água deionizada. A amostra é, então, hidrolisada em ácido clorídrico 6 M a

cerca de 95o C.

Reagentes são adicionados à amostra de forma a converter aminoácidos primários e

secundários em derivativos fluorescentes estáveis. Os aminoácidos presentes na amostra são

então reconhecidos em função do comprimento de onda de sua fluorescência. A quantidade de

colágeno por grama de osso é, então, calculada, sendo igual à soma das massas dos

aminoácidos característicos de sua composição. A Figura 2.1 mostra o gráfico da composição

de aminoácidos, de uma amostra relacionada à do colágeno puro, resultado da análise por

cromatografia líquida.

Figura 2.1 Gráfico da composição da amostra (azul) e do colágeno puro (vermelho) relativa

aos aminoácidos testados.

22

Page 37: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Se o tecido ósseo em questão encontra-se razoavelmente preservado e a quantidade de

amostra disponível é suficiente, prepara-se a amostra para datação. O osso deve ser triturado

para permitir a penetração dos reagentes. No caso de uma peça grande, ela pode ser perfurada

com uma broca, de forma que o pó produzido seja usado e sua forma seja preservada. Nesse

caso, as brocas não devem ser reutilizadas antes de uma limpeza completa, como descrito no

Apêndice A.

A amostra é então desmineralizada em ácido clorídrico 1 M, substituído a cada meia

hora. São necessários pelo menos 6 tratamentos. Ao fim de cada um deles, algumas gotas de

oxalato de amônia 1.5 M são adicionadas ao líquido descartado para verificar se há

precipitação de cálcio. Dois testes negativos certificam a completa desmineralização do osso e

indicam o fim do tratamento com ácido. Após 3 lavagens em água deionizada, utiliza-se uma

base para remover ácidos fúlvicos e húmicos. Tratamentos de 1 hora com hidróxido de sódio

devem ser repetidos até que o líquido permaneça incolor. Diferentemente das demais amostras

orgânicas, os tratamentos com ácido e base são feitos à temperatura ambiente, de forma que a

molécula do colágeno permaneça intacta. Novamente a amostra é lavada com água deionizada

por 3 vezes. Prossegue-se com o processo de gelatinização: acrescenta-se água deionizada à

amostra e, então, adiciona-se ácido clorídrico até que o pH do líquido se aproxime de 3. A

amostra é mantida aquecida a 58o C [Brown et alii, 1988] até que a gelatina se dissolva. O

líquido é filtrado a 0.45 µm para que se descarte partículas com tamanho superior ao da

molécula do colágeno. Em seguida é purificado numa coluna de troca de íons [Law e Hedges,

1989]. A gelatina é colocada na resina hidratada, onde é lavada com 18 ml de água a 1 ml/min

e então retirada com NH4OH 1.5 M.

23

Page 38: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Ao final do processo, como para as demais amostras orgânicas, o tubo de ensaio é

mantido no banho seco a cerca de 95o C até que a amostra esteja completamente seca e pronta

para a combustão.

2.1.4 Combustão de Amostras Orgânicas

O processo de combustão é utilizado para extrair dióxido de carbono de amostras

orgânicas. Depois de secas, serão colocadas em tubos de quartzo previamente preparados. O

tubo de combustão deve ter, aproximadamente, 15 cm de comprimento, 7 mm de diâmetro

interno e 9 mm de diâmetro externo. Uma de suas extremidades é selada com maçarico e a

outra é deixada aberta, sendo afunilada a cerca de 3 cm da abertura, de aproximadamente 6

mm de espessura.

No tubo são adicionadas 0.50 g de óxido cúprico e uma tira de folha de prata de 5 mg.

Ele é aquecido a 900o C por 30 minutos para queimar qualquer contaminante orgânico

presente, e então, mantido em cabine de hidratação até que seja usado.

A amostra é colocada no tubo de combustão, que é evacuado e selado. A combustão

ocorre aquecendo-se o tubo em mufla, a 900o C, por 3 horas. O óxido cúprico é utilizado

como agente oxidante e a folha de prata para remover compostos sulfúricos liberados durante

o processo de oxidação.

Cada tubo de combustão contendo CO2 é levado à linha de vácuo numa sanfona.

Assim, o tubo é quebrado e o gás é purificado e transferido para o tubo de grafitização.

24

Page 39: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

2.1.5 Amostras Inorgânicas

No caso de amostras inorgânicas, como conchas e carapaças de foraminíferos, supõe-

se a composição de 100 % carbonato de cálcio. Qualquer outra fonte de carbono é

considerada contaminante. Durante o período de tempo indeterminado em que as amostras

estiveram submersas, é possível ter havido trocas de carbono entre o carbonato da superfície

do material e o meio ambiente.

O pré-tratamento químico para essas amostras inorgânicas resume-se a um tratamento

ácido para remover a parte superficial da amostra. Calcula-se então a quantidade de carbono

proporcionalmente à da molécula de CaCO3. Dependendo da quantidade de amostra

disponível serão utilizadas concentrações e quantidades diferentes de ácido clorídrico.

A amostra é lavada em água deionizada por 2 ou 3 vezes e seca. Os tubos de ensaio

são então fechados com uma rolha de borracha e conectados à linha de vácuo através da

agulha, sendo evacuados e então removidos. Utilizando seringa de vidro, é injetado ácido

fosfórico em quantidade suficiente para liberar todo o CO2 contido na amostra, não havendo

necessidade de combustão. O tubo é, então, novamente levado à linha de grafitização onde o

CO2 é separado e transferido para um tubo de grafitização.

2.1.6 Grafitização das Amostras de Carbono

A razão dos isótopos do carbono será medida no acelerador de partículas a partir do

CO2 extraído das amostras. O dióxido de carbono pode ser levado diretamente a uma fonte de

25

Page 40: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

íons apropriada. A abordagem mais comum, no entanto, é a conversão a grafite por redução

catalítica do gás.

Obtido o CO2, seja por combustão de amostras orgânicas ou pela dissolução em ácido

de amostras de carbonato, o gás é injetado numa linha de vácuo de forma a ser purificado e

transferido ao tubo onde será grafitizado. A Figura 2.2 apresenta a ilustração de uma linha de

grafitização.

Figura 2.2 Esquema da montagem de uma linha de grafitização [Mueller, 2000].

A estrutura da linha considerada é de aço inox e tubos de quartzo. Todas as partes são

previamente limpas e então mantidas em vácuo permanentemente por uma bomba de vácuo

turbomolecular. Uma descrição dos métodos de limpeza da linha de grafitização pode ser

vista no Apêndice A.

26

Page 41: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Na Figura 2.2 as letras correspondem às válvulas que separam os segmentos da linha.

Apenas aquelas no caminho utilizado devem estar abertas, as demais devem permanecer

fechadas para proteger da contaminação as partes que não estão em uso, e que devem estar em

vácuo. Quando um segmento contiver uma fração contaminada ou estiver em contato com o

ar, deve-se manter duas válvulas fechadas no caminho da amostra.

Intervalos de 5 minutos com uma válvula aberta são suficientes para a evacuação de

um segmento ou a transferência de gás. Intervalos de 30 minutos com todas as válvulas

internas abertas e a pressão mantida abaixo e 10-3 Torr visam à limpeza da linha de vácuo

entre o processamento de cada amostra.

Amostras de fundo são periodicamente grafitizadas para monitorar uma possível

contaminação da linha. Utiliza-se para isso o balão de reservatório de dióxido de carbono,

cujo preenchimento é descrito no Apêndice C.

A ordem em que as amostras serão passadas pela linha de grafitização deve ser

estipulada visando minimizar a contaminação de uma amostra pela outra. De acordo com a

idade estimada, ordena-se as amostras da menor para a maior concentração isotópica.

Os tubos de combustão selados são colocados numa sanfona de aço inox onde são

quebrados. Os tubos de ensaio de carbonato, fechados com rolha de borracha, são evacuados

por uma agulha.

Uma mistura de gelo seco triturado e álcool etílico é utilizada como armadilha para

reter a água presente na amostra, enquanto o CO2 segue pela linha de vácuo. Outra armadilha,

27

Page 42: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

de nitrogênio líquido, congela o CO2, enquanto os demais gases presentes na amostra (cujos

pontos de solidificação sejam mais elevados que a temperatura do nitrogênio líquido) são

descartados.

Parte do CO2 é coletada para a medida da razão isotópica 13C/12C em espectrômetro de

massa convencional. Espectrômetros de massa com aceleradores, em geral, não têm resolução

suficiente para medir essa razão, da ordem de 10-2, com precisão suficiente.

O tubo de grafitização consiste de um tubo de quartzo de 6 mm com,

aproximadamente, 30 cm de comprimento contendo um outro tubo de quartzo de 3 mm.

Devido a uma pequena bolha na lateral interna do tubo maior, o tubo menor não encosta no

fundo, onde é colocado zinco metálico. No interior do tubo pequeno coloca-se ferro. Já em

vácuo, a parte do tubo que contém ferro é aquecida à cerca de 725o C para se remover

qualquer impureza. O zinco é então aquecido à cerca de 550o C causando sua evaporação e

posterior condensação nas paredes do tubo de grafitização. A parte do tubo abaixo da

calosidade é selada com maçarico e removida. O CO2 é, então, transferido e aprisionado com

a ajuda de nitrogênio líquido, envolvendo o tubo de grafitização. Este é selado, retirado da

linha e levado ao forno.

O tubo é mantido a 700o C por 10 horas, deixado no forno para esfriar até a

temperatura ambiente e aquecido novamente a 700o C por mais 10 horas. A esta temperatura o

dióxido de carbono é reduzido a monóxido de carbono pela reação:

CO2 + Zn ⇒ CO + ZnO (2.1.1)

28

Page 43: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

O monóxido de carbono decompõe-se formando grafite na reação catalisada pelo

ferro:

2CO ⇒ CO2 + C (2.1.2)

Sendo a quantidade de zinco suficiente, todo CO2 produzido por essa reação é

convertido em grafite, em repetidos ciclos até que não haja mais CO2.

Quando a grafitização está completa, observa-se a formação de uma gota metálica no

topo do tubo. Se esta não estiver presente, deve-se repetir o processo de aquecimento.

Por fim, quebra-se, cuidadosamente, o tubo de grafitização e retira-se o tubo pequeno,

contendo a grafite produzida e o ferro. A mistura deve ser pressionada num cadinho de cobre,

que será levado à fonte de íons. É importante que fique bastante compacta para não causar

flutuações na corrente que será produzida. Para isso, utiliza-se um pino e um martelo.

Preparadas as amostras, já em forma de grafite, elas podem ser levadas ao acelerador

para que suas concentrações isotópicas sejam determinadas. O equipamento necessário, bem

como a forma de realizar as medidas, são descritos a seguir.

2.2 Medida das Amostras: Aparato Experimental

O sistema utilizado para medida de amostras pela técnica de AMS é semelhante àquele

utilizado pela Física Nuclear para estudar mecanismos de reações nucleares na região de

baixas energias de bombardeio. Assim, podem ser utilizados tanto aceleradores eletrostáticos

29

Page 44: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

de até 20 MV (originalmente instalados para medidas de Física Nuclear e que tenham sido

adaptados para uso de AMS) como pequenos aceleradores que operam com tensões de 0.5 a 3

MV (construídos especialmente para AMS).

No PRIME Lab utiliza-se um acelerador eletrostático de dois estágios do tipo Tandem,

que permite chegar a uma tensão terminal de 7.5 MV. Para medida de amostras de carbono a

tensão de terminal foi fixada em 4 MV, permitindo obter uma energia de feixe ideal para a

separação energética dos seus isótopos. A Figura 2.3 apresenta uma ilustração do seu sistema

acelerador. Ele consiste, basicamente, de uma fonte de íons, uma pré-aceleração, um injetor

magnético, um acelerador de partículas, analisadores magnéticos e eletrostáticos e um

detector. A seguir, será descrito o funcionamento destes componentes.

Figura 2.3

Ilustração do sistema acelerador Tandem do PRIME Lab [Elmore et alii, 1997].

30

Page 45: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

2.2.1 Fonte de Íons

Aceleradores eletrostáticos do tipo Tandem requerem uma fonte de íons negativos,

estando o terminal de cargas do acelerador a um potencial positivo em relação à fonte.

As mais utilizadas são as do tipo sputter [Middleton, 1983], ou seja, fontes de íons negativos

ejetados da amostra pelo bombardeio de íons positivos de um elemento pesado. Geralmente o

césio é utilizado por ser alcalino (fácil de produzir íons positivos) e pesado (alta seção de

choque de sputtering). A Figura 2.4 mostra o esquema de uma fonte de íons deste tipo.

Figura 2.4 Ilustração de uma fonte de íons negativos do tipo sputter [Middleton, 1983].

Um reservatório contendo césio é aquecido, e um jato do vapor é jogado na superfície

de um eletrodo metálico ionizador, que produz o feixe de Cs+ por ionização térmica. O

eletrodo tem formato apropriado, visando gerar uma alta intensidade de corrente. Geralmente

cilíndrico, posicionado próximo à amostra permite que os íons Cs+ sejam focalizados pelo

campo eletrostático num pequeno ponto no centro da amostra. Esta, sob a forma de grafite, é

31

Page 46: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

compactada num cadinho de cobre com aproximadamente 1 mm de diâmetro interno, que

servirá de catodo na fonte de íons.

Em AMS, é importante substituir amostras sem interromper o funcionamento da fonte

de íons e do acelerador. Utiliza-se, assim, um sistema giratório na forma de um disco, que

pode conter até 120 catodos. Este sistema funciona como o tambor de um revólver, de modo

que, a cada vez, uma amostra seja transferida para o ponto de foco do feixe de Cs+. Durante

as medidas, as demais amostras do sistema são isoladas em vácuo, através de válvulas

especiais. A fonte de íons utilizada no PRIME Lab comporta 8 catodos.

Nos catodos são colocadas, além das amostras cujas razões isotópicas se deseja medir,

uma amostra que praticamente não contenha 14C. Esta amostra tem a finalidade de

proporcionar medidas de níveis de fundo, cujo resultado deve ser subtraído dos demais. Além

desta, também se usa uma amostra padrão de razão isotópica conhecida, para a normalização

das amostras medidas.

Muito cuidado deve ser tomado para evitar efeitos de “memória” (ou seja,

contaminação de uma amostra pela outra) limpando-se regularmente todos os componentes da

fonte de íons. Níveis de fundo devem ser constantemente monitorados.

A escolha da disposição das amostras no disco de catodos minimiza possíveis

interferências entre elas. Assim, como no processo de preparação, é interessante ordenar as

amostras de acordo com suas idades estimadas, de forma a medi-las em ordem crescente de

concentração de 14C.

32

Page 47: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Alguns laboratórios utilizam fontes de íons a gás que medem diretamente o CO2

produzido da amostra [Bronk e Hedges, 1990], simplificando o processo de preparação. No

entanto, esse tipo de fonte apresenta maior efeito de “memória”, além de produzir feixes

menos intensos, em relação às fontes que utilizam amostras em forma de grafite.

Ao deixar a fonte de íons, o feixe negativo passa por uma pré-aceleração antes de

entrar no analisador magnético. A energia de injeção deve ser de 50 a 150 KeV. A focalização

do feixe é feita por lentes eletromagnéticas, direcionando-o ao longo do percurso até o

detector.

2.2.2 Analisador Magnético de Injeção

O analisador magnético é responsável pela seleção dos íons que devem entrar no

acelerador em função de sua massa. Ao passar por ele, o feixe é defletido do ângulo

determinado pelo seu valor de ME/q2, sendo E a energia fornecida ao feixe na pré-aceleração,

q a carga negativa obtida na fonte de íons e M a massa de cada íon. Ajustando-se o campo

magnético do imã analisador é possível defletir, do ângulo desejado, íons com uma

determinada massa, selecionando assim a massa do isótopo desejado.

Por exemplo, para feixes de íons oriundos de uma amostra de carbono, pode-se ajustar

o campo magnético do imã de tal forma que apenas elementos de massa 14 sejam

direcionados para a entrada do tubo acelerador. Com isso, os isótopos estáveis 12C e 13C

seriam defletidos por um ângulo diferente desta direção e não entrariam no acelerador.

Ajustando-se novamente o imã pode-se selecionar outro isótopo e descartar os demais.

Automatizando-se uma seqüência de ajustes do imã pode-se ir trocando de isótopo, um a um,

33

Page 48: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

e realizando a sua medida correspondente. Este procedimento é conhecido como injeção

seqüencial.

Para que dois isótopos sejam direcionados simultaneamente para a entrada do tubo

acelerador, é necessário que um deles seja defletido para o acelerador (em geral, o 14C) e o

segundo (por exemplo, 13C) tenha a sua trajetória corrigida por um conjunto de lentes de

óptica iônica (dipolos e quadrupolos eletrostáticos) para que este feixe estável também seja

injetado no acelerador. Este procedimento é conhecido como injeção simultânea. Ambos os

procedimentos (seqüencial e simultâneo) serão discutidos adiante.

Entretanto, estes sistemas de injeção do feixe de íons apresentam um inconveniente.

Íons de alta energia podem se formar na fonte de íons e, tendo massa pequena, originar

produtos massa-energia de valor próximo ao selecionado, sendo também injetados no

acelerador. Também íons moleculares de massa igual à do isótopo selecionado e outros íons

isóbaros podem vir a entrar no acelerador. Contudo, grande parte dessa interferência será

eliminada mais adiante, seja pela instabilidade dos íons moleculares ao passar pelo stripper,

pela seleção do analisador magnético de alta energia ou pela capacidade de separação dos íons

no detector.

Assim, o feixe de interesse é desviado e segue na direção do acelerador.

2.2.3 O Acelerador

No acelerador, o feixe de íons ganha a energia necessária para possibilitar a separação

das massas no analisador magnético e a discriminação de isóbaros e isótopos. A Figura 2.5

mostra um esquema de um sistema com um acelerador do tipo Tandem.

34

Page 49: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Figura 2.5 Esquema de um acelerador do tipo Tandem.

O acelerador é montado num tanque de aço contendo um gás isolante (SF6) a alta

pressão. A finalidade deste gás é evitar descargas entre o terminal e o meio externo. Uma

coluna de isolamento sustenta os tubos de aceleração, no interior do tanque, por onde passa o

feixe.

O acelerador do tipo Tandem consiste de dois tubos de aceleração separados por um

stripper. Sua finalidade é quebrar as moléculas e arrancar os elétrons dos íons incidentes,

deixando-os em estados de carga positivos. Essa característica faz com que esse tipo de

acelerador seja ideal para a técnica de AMS, já que cria um obstáculo para íons moleculares

que causariam interferência. De uma forma geral, o stripper pode ser gasoso ou pode ser

composto de uma fina folha de carbono.

Assim, no primeiro tubo, de baixa energia, o feixe de íons negativos é acelerado numa

diferença de potencial. Passando pelo stripper, os íons perdem elétrons e o feixe torna-se

positivo, obedecendo a uma distribuição de estados de carga. Posteriormente, o feixe continua

35

Page 50: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

a ser acelerado no tubo de alta energia numa diferença de potencial de sentido contrário. O

controle de estabilidade da tensão do terminal deve ser feito através de um voltímetro gerador

(GVM) devido à baixa intensidade de corrente dos feixes de elementos raros utilizados em

AMS.

No caso da medida de amostras de carbono, no PRIME Lab utiliza-se o stripper

gasoso [Bonani et alii, 1990]. Este consiste de um canal metálico em cujo centro um gás

(Argônio, por exemplo) é despejado lentamente, como ilustra a Figura 2.6. A alimentação do

gás é feita por uma válvula controlada. Uma bomba turbomolecular o remove das

extremidades do canal injetando-o novamente no centro, fazendo com que ele circule. Ao

passar pelo gás, os íons perdem elétrons e saem positivos do canal do stripper.

Figura 2.6 Ilustração de um stripper a gás [Bonani et alii, 1990].

Ao longo da trajetória do feixe, desde a fonte de íons até o detector, existem copos de

Faraday e fendas, necessários para a ajustar os parâmetros dos elementos ópticos.

36

Page 51: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

2.2.4 Analisador Magnético de Alta Energia

Ao sair do acelerador, o feixe de íons é composto de átomos com variados estados de

carga devido à interação com o stripper. Um segundo analisador magnético seleciona um

estado de carga específico. A escolha do estado de carga é feita de modo a otimizar a

transmissão do feixe bem como minimizar a interferência de moléculas de mesma massa que

possam ser confundidas com o íon que se deseja medir.

O 14C pode sofrer a interferência das moléculas de 7Li2, 12CH2 e 13CH. A escolha do

estado de carga 3+ minimiza essa interferência [Gove et alii, 1980]. A molécula de 7Li2 que se

dissocia no stripper em 7Li2+ só causaria interferência no estado de carga 4+. As moléculas de

12CH2 e 13CH não resistem ao estado de carga 3+. O isóbaro 14N não representa um problema

já que o íon negativo formado, o 14N-, é instável demais para sobreviver à aceleração no

Tandem [Purser et alii, 1977].

Ao deixarem o acelerador, os feixes de alta energia são medidos. Os isótopos estáveis

são desviados e têm suas correntes medidas em copos de Faraday. O feixe do radioisótopo,

por sua vez, segue para o detector.

2.2.5 Sistema de Detecção

Existem vários tipos de detectores de partículas carregadas. Entre eles, podem ser

citados detectores semicondutores de barreira de superfície, telescópios E-∆E e de tempo de

vôo.

37

Page 52: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

O copo de Faraday também funciona como detector, medindo apenas a intensidade da

corrente do feixe, sem identificar a massa ou o número atômico dos íons que o compõem.

Como na técnica de 14C -AMS é necessário obter a relação entre o número de átomos de 14C e

o de 13C (ou 12C) presentes na amostra, este dispositivo é usado como detector de um isótopo

estável. Em geral, ele é posicionado logo após o segundo ímã analisador, no ângulo em que o

isótopo estável é defletido. Interferências causadas por isóbaros não são significantes perante

a intensidade de corrente do isótopo estável, que no caso de amostras de carbono, é da ordem

de µA.

Já na medida do radioisótopo, a baixa intensidade de corrente permite que qualquer

interferência seja relevante. É nesse momento que a sensibilidade da técnica de AMS se torna

evidente. Graças à alta energia fornecida pelo acelerador ao feixe de íons, é possível

discriminar isótopos e isóbaros, eliminando qualquer interferência na medida do radioisótopo.

Para tanto, são utilizados detectores desenvolvidos para o estudo de reações nucleares. Esses

detectores medem energia e perda de energia do íon e os utilizam como parâmetros para

determinar número atômico e massa.

Vários tipos de detectores podem ser usados em AMS. Um Detector de Barreira de

Superfície, por exemplo, determina apenas a energia de cada íon, enquanto uma câmara de

ionização distingue os íons pelo número atômico. Detectores de Tempo de Vôo separam os

íons em função de sua massa. Também é possível utilizar sistemas combinados de dois tipos

de detectores para isolar completamente o radioisótopo. Dependendo da interferência causada

por isóbaros ou isótopos, esses fatores podem ser suficientes para separar o íon de interesse.

De todos os isótopos utilizados para AMS, o 14C é o mais fácil de ser separado de seus

contaminantes.

38

Page 53: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Em aceleradores projetados para uso exclusivo de 14C em AMS é comum utilizar um

detector de barreira de superfície. Para a detecção de outros isótopos radioativos, como 36Cl e

26Al, por exemplo, o sistema de detecção tem que ser mais complexo, devido ao grave

problema de contaminação de isóbaros. Normalmente são utilizados filtros de velocidade

antes do detector. Recentemente foi construído pelos grupos da UFF e USP [Santos et alii,

1999; 2000] um detector de Bragg de excelente performance, capaz de separar completamente

o 36Cl do seu contaminante 36S.

No PRIME Lab, que trabalha com vários isótopos radioativos além do 14C, é utilizada

uma câmara de ionização com múltiplos anodos [Knies e Elmore, 1994] semelhante à

esquematizada na Figura 2.7.

Figura 2.7

Ilustração de uma

câmara de ionização

multi-anodo.

O feixe entra no detector por uma janela de Mylar de 2.5 µm de espessura e atravessa

uma região contendo um gás (P10 – 90 % de argônio e 10 % de metano) a baixa pressão (50

Torr). Os íons vão ionizando o gás e perdendo energia até parar. Os pares elétron-íon

39

Page 54: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

formados vão sendo capturados pelo campo elétrico transversal, produzindo um sinal elétrico.

Assim, são obtidas a taxa de perda de energia ∆E e a energia total E, que se relacionam da

seguinte forma:

E

MZE

2

∝∆ (2.2.1)

Observando os valores de perda de energia em função da energia total, fica

determinado o número atômico de cada elemento que chega ao detector. A distinção entre

isótopos é feita em função da energia total já que, atravessando as mesmas condições de

potencial, o de maior massa terá menos energia. Isso pode ser visto no espectro de energia

apresentado na Figura 2.8.

Figura 2.8 Espectro

das contagens em

função da energia

total x energia

residual

[Shapira et alii,

1975].

40

Page 55: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A partir da energia fornecida ao radioisótopo é possível prever em que região do

espectro de energia vão se distribuir as contagens relativas a ele. Assim, determina-se uma

“janela” de energia para o radioisótopo, dentro da qual, todas as contagens computadas são

associadas a ele. A Figura 2.9 mostra o espectro de energia total e aquele com a “janela” na

energia esperada para o 14C.

Figura 2.9

Espectro total das contagens em função

da energia residual e “janela” na energia

correspondente ao 14C [Shapira et alii,

1975].

41

Page 56: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Com isso reduz-se, automaticamente, o espectro a um número de eventos. Esse valor,

que corresponde ao número de átomos de 14C na amostra, será dividido pelo número de

átomos do isótopo estável, obtido da intensidade de corrente medida no copo de Faraday.

2.2.6 Seleção dos Feixes Estáveis e Radioativo

A injeção dos feixes estáveis e radioativo pode ser simultânea ou seqüencial. Na

injeção simultânea, o radioisótopo e um ou dois isótopos estáveis são selecionados no

analisador magnético e por um conjunto de lentes de óptica iônica (conforme mencionado

anteriormente). Um atenuador pode ser posto no caminho do isótopo mais intenso, reduzindo

sua intensidade de um fator conhecido. A intensidade de corrente do isótopo estável pode ser

constantemente monitorada num copo de Faraday fixado fora da linha do feixe principal,

enquanto as contagens do radioisótopo são medidas no detector. Os parâmetros do acelerador

permanecem constantes.

Na injeção seqüencial o feixe estável é selecionado no analisador magnético e tem sua

corrente medida por um copo de Faraday como dispositivo detector. Em seguida, é

selecionado o feixe radioativo e o número de contagens durante um determinado período é

medido no detector. A injeção seqüencial deve ser rápida e pode ser feita variando os

parâmetros do acelerador. Esse processo não exige que copos de Faraday estejam fixos fora

da linha do feixe principal, permitindo a utilização do sistema para medida de vários

elementos distintos. Este é o modo de injeção do feixe de íons adotado no PRIME Lab. No

caso da medida de carbono, são detectados o 14C, na câmara de ionização, e o 13C, no copo de

Faraday. A escolha deste isótopo estável requer uma variação menor no campo do analisador

magnético.

42

Page 57: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A medida de cada amostra é feita em ciclos. Um ciclo corresponde a um período de

contagem do radioisótopo e uma medida da corrente do feixe do isótopo estável. São

realizadas seqüências de ciclos até que se atinja a precisão desejada.

A medida em ciclos é de grande importância para a acurácia dos resultados, tanto para

amostras padrão quanto para as amostras de idade desconhecida, corrigindo flutuações na

performance do sistema.

2.2.7 Sistema de Controle do Acelerador e Aquisição de Dados

No PRIME Lab [Michlovich e Elmore, 1993], assim como em quase todos os

laboratórios que trabalham com AMS, o controle de todo o sistema acelerador é

automatizado. Todos os parâmetros do equipamento são inseridos no computador, que

controla o ímã injetor, o atenuador, o analisador magnético, os copos de Faraday. As

seqüências de ciclos de medida são programadas e todas as medidas, o controle de feixe, as

correntes e o sinal do detector são digitalizados.

As contagens para uma “janela” de energia esperada são associadas ao radioisótopo.

Os níveis de fundo medidos são subtraídos dos resultados. A concentração isotópica é

calculada tanto para a amostra desconhecida quanto para a amostra padrão. O resultado final é

a razão entre a concentração isotópica medida para a amostra desconhecida e aquela para a

amostra padrão, sem correções.

43

Page 58: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Erros internos e externos são levados em conta para cada seqüência de ciclos. Os erros

internos são calculados a cada ciclo de medida e propagados no cálculo do erro da seqüência

de ciclos. O erro externo é o desvio padrão da média. A reprodutibilidade do sistema no

PRIME Lab é de 1%.

Desta forma, são obtidas as razões entre o radioisótopo e o isótopo estável presentes

na amostra a ser datada. No próximo capítulo serão descritos os principais passos para a

determinação da idade da amostra analisada por este processo.

44

Page 59: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Capítulo 3

Cálculo da Idade

A partir da razão entre a concentração isotópica medida para a amostra desconhecida e

aquela para a amostra padrão, pode-se calcular a idade de radiocarbono da amostra em

questão. É preciso, porém, obedecer às convenções de modo a produzir um resultado que

possa ser comparado com qualquer outra datação, de qualquer laboratório e a qualquer tempo.

Por outro lado, deve-se buscar a maior fidelidade possível para as datações. O efeito de

enriquecimento de um isótopo em relação aos demais, que acontece naturalmente ou devido

ao processo de preparação e medida, é corrigido no cálculo da idade convencional. No

entanto, outras convenções adotadas comprometem a acurácia da datação e, portanto, os

resultados devem ser corrigidos posteriormente. A calibração dos resultados, usando como

base amostras de idades conhecidas, visa corrigir estes problemas. Assim, neste capítulo,

serão apresentados os cálculos e as correções necessárias para se chegar à idade propriamente

dita.

3.1 A Idade em função da concentração isotópica

A idade de uma amostra pode ser calculada em função da variação de sua

concentração isotópica ao longo do tempo, CA(t), e da taxa de decaimento do radioisótopo, a

vida média τ, como visto no Item 1.1.

45

Page 60: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

( )

( )

=

−=0

lntC

tCt

A

Aτ (3.1.1)

3.1.1 A Concentração Isotópica

A concentração isotópica é a razão de 14C por carbono total e pode ser aproximada à

razão de 14C por 12C a menos de 1 parte em 104:

(3.1.2) CC

CCCCC 12

14

121314

14

≈++

=

Como visto no capítulo anterior, ela pode ser medida diretamente através da separação

e contagem dos isótopos no acelerador de partículas.

Em alguns laboratórios, como no PRIME Lab e naquele do NSF (National Science

Foundation) no Arizona [Donahue et alii, 1990], é medida a razão 14C/13C, em uma amostra

A, sendo relacionada a 14C/12C pela equação:

AAA CC

CC

CC

=

12

13

13

14

12

14

(3.1.3)

A razão dos isótopos estáveis é determinada por espectrometria de massa

convencional. A partir da medida da concentração isotópica de uma amostra, calcula-se a sua

idade através da equação (3.1.1).

46

Page 61: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Para tanto, porém, é necessário conhecer não apenas a concentração isotópica atual,

mas a inicial, correspondente ao tempo t=0 em que o organismo trocava carbono com o

ambiente e as taxas de produção e decaimento de 14C estavam em equilíbrio. Supondo que a

concentração isotópica do reservatório atmosférico de carbono, Catm, tenha se mantido

constante ao longo do tempo, pode-se igualar esse valor à concentração isotópica inicial da

amostra, em equilíbrio com o meio ambiente.

( ) ( )00)( ==== tCtCtC Aatmatm (3.1.4)

Para que isso seja possível, nenhum outro fator pode influenciar a razão do

radioisótopo pelos isótopos estáveis. No entanto, ao trocar carbono com o meio ambiente, a

absorção dos isótopos se dá de forma diferenciada para cada organismo. Assim, pode haver

um enriquecimento ou diminuição da quantidade de átomos de 13C e 14C em relação ao 12C,

alterando a concentração isotópica. Este processo é chamado fracionamento isotópico.

3.1.2 Fracionamento Isotópico

O fracionamento isotópico permite que os organismos estejam em equilíbrio com o

meio ambiente sem que eles tenham a mesma concentração isotópica. Assim, concentrações

isotópicas de organismos contemporâneos podem ser relacionadas, mas desde que se leve em

conta o fracionamento.

A diferenciação se dá em função da massa do átomo. Portanto, a razão entre os

isótopos 14/12, cuja diferença de massa é de 2 unidades, é proporcional ao quadrado da razão

dos isótopos 13/12, diferentes por uma unidade de massa [Craig, 1954]. Com base nesse

47

Page 62: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

padrão de comportamento, é possível usar a razão dos isótopos estáveis, independente do

tempo, para determinar o fator de fracionamento isotópico que vem alterar a razão 14/12. A

concentração, medida após o fracionamento é:

2

][12

13][

12

13

][12

14

][12

14

=

antesA

depoisA

antesAdepoisA

CC

CC

CC

CC

(3.1.5)

E, no caso da medida da razão 14C/13C, parte da correção se anula:

2

][12

13][

12

13

][12

13

][13

14

][12

13

][13

14

=

antesA

depoisA

antesAantesAdepoisAdepoisA

CC

CC

CC

CC

CC

CC

(3.1.6)

][12

13

][

13

][13

][13

antesA

depoisA

antesAdepoisA

CC

C

CC

=

⇒121414 CCC

(3.1.7)

Este processo de absorção diferenciada ocorre naturalmente, em virtude das reações

químicas através das quais os diferentes organismos interagem com o meio ambiente em que

vivem. Também durante a preparação das amostras pelo tratamento com reagentes químicos,

e na medida no acelerador, pode haver fracionamento isotópico.

Seja qual for a origem do fracionamento isotópico, seu efeito total pode ser observado

e corrigido, medindo-se a razão dos isótopos estáveis 13C/12C, já que os isótopos 13C e 14C

48

Page 63: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

reagem a ele de forma semelhante, e com uma razão constante, de acordo com as equações

(3.1.5) e (3.1.7). Se a razão dos isótopos estáveis for medida por espectrometria de massa

convencional, de forma independente, o fracionamento isotópico relativo à medida no

acelerador fica indeterminado. A escolha de se medir o isótopo 13C ao invés do 12C minimiza

esta contribuição para o fracionamento.

A concentração corrigida, livre do efeito de fracionamento, é calculada a partir dos

valores medidos:

2

12

13

12

13

=

medida

naturalabundânciamedidacorrigida

CC

CC

CC

(3.1.8)

Feita a correção para o fracionamento isotópico, pode-se igualar a concentração

isotópica inicial de uma amostra A àquela da atmosfera, como na equação (3.1.4). Da mesma

forma, a concentração atmosférica pode ser calculada a partir da medida da concentração de

uma amostra padrão atual Cpa, também corrigida para o fracionamento isotópico:

2

12

13

12

13

=

medidaA

medidapa

medidapa

medidaA

corrigidapa

corrigidaA

CC

CC

CC

CC

(3.1.9)

Convencionou-se expressar a razão dos isótopos estáveis também em função de um padrão de

referência [Craig, 1957] de forma a facilitar comparações:

49

Page 64: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

PDB

A

A CCC

CC

+=

12

1313

12

13

10001

δ (3.1.10)

Denomina-se δ13CA o valor de 13C/12C medido para uma amostra A, expresso em

relação ao padrão de referência PDB, a razão isotópica 13C/12C de uma amostra de carbonato

de cálcio de Belemnitella america de uma formação da Carolina do Sul, EUA, em partes por

mil (‰):

1000

12

13

13

12

13

13

=

PDB

PDBA

CC

CC

CC

Cδ12

A

(3.1.11)

3.1.3 Idade Convencional de Radiocarbono

A idade convencional de radiocarbono de uma dada amostra A, por definição, está

relacionada com a sua concentração isotópica CA e com a concentração isotópica de uma

amostra padrão do ano de 1950 C(1950), representando a concentração isotópica hipotética da

atmosfera desse ano [Goodwin, 1962b], ambas normalizadas para δ13C= -25‰,

correspondente ao valor médio postulado para a madeira terrestre [Stuiver e Polach, 1977]:

C AT]25[1950

25[

CIdade ]ln−= (3.1.12)

onde T = 8033 anos é a vida média do 14C, determinada por Libby, correspondente à meia-

vida de 5568 anos. Embora o valor revisado de 5730 anos seja mais correto, a chamada

50

Page 65: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

“meia-vida de Libby” foi adotada por convenção internacional para facilitar comparações

entre resultados atuais e anteriores à revisão [Goodwin, 1962a]. Essa diferença produz um

erro de aproximadamente 3% que pode ser facilmente corrigido quando necessário.

O padrão utilizado para a medida, internacionalmente aceito, é uma amostra de ácido

oxálico. Especialmente preparada, sua atividade foi definida depois de comparação com

amostras de madeira da era pré-industrial (1890 DC), e corrigida para o ano de 1950, de modo

a eliminar perturbações na composição atmosférica referentes à industrialização [Wigley e

Muller, 1981]. Por definição, a madeira pré-industrial tem δ13C= -25‰ e, portanto, todas as

concentrações são normalizadas por esse valor, independentemente do meio ambiente.

Logo, o valor medido 14C/13C deve ser corrigido pelo seu δ13CA medido para dar:

+

=

10001

100025113

][13

14

]25[13

14

AAA CCC

CC

δδ

(3.1.13)

Como a atividade do padrão internacional se refere ao ano de 1950, desde que as

medidas do padrão e da amostra de idade desconhecida sejam realizadas simultaneamente, a

idade obtida será relativa a esse ano. Ou seja, será expressa em “anos antes do presente” (anos

AP), onde o “presente” se refere ao ano de 1950.

Ao longo do tempo, outras amostras padrão de ácido oxálico foram produzidas, mas

suas atividades são sempre relativas ao padrão internacional estipulado. A amostra padrão de

51

Page 66: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

ácido oxálico usada nos experimentos foi a NBS SRM 4990C, que se relaciona com a amostra

padrão de 1950 através de:

]8.17[13

14

]25[195013

14

7404.0−−

=

NOXCC

CC

(3.1.14)

Assim, a razão entre as concentrações inicial e final de uma amostra, denominada

“fração moderna” F, pode ser escrita em termos dos valores medidos:

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

+

=

==

−−

10001

1000251

7404.013

8.1713

14

13

14

25195013

1425

13

14

251950

25

A

NOX

AAA

CCC

CC

CC

CC

CC

δ (3.1.15)

A idade convencional de radiocarbono (expressa em anos AP) é então calculada:

+

−=−=

−1000

1

1000251

7404.0ln8033ln 13

]8.17[13

14][

13

14

A

NOX

A

CCC

CC

FTIdadeδ

δ (3.1.16)

onde os valores medidos, da maneira descrita no Capítulo 2, para cada par de amostras padrão

e desconhecida, são, respectivamente, ]8.17[

13

14

NOXCC e

][13

14

δACC

, além de seu δ 13CA,

medido por espectrometria de massa convencional.

52

Page 67: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

É importante ressaltar que a idade de radiocarbono deve ser calculada obedecendo às

convenções estabelecidas de modo a facilitar comparações interlaboratoriais a qualquer

tempo. O uso do padrão de ácido oxálico relacionado à amostra do ano de 1950, o uso desse

ano como “presente” e a normalização das concentrações isotópicas para δ13C= -25‰ em

relação ao padrão PBD estão implícitos no termo “idade convencional de radiocarbono”. Da

mesma forma, são mantidos a suposição de que o nível atmosférico de 14C tenha sido sempre

constante e o uso do valor desatualizado de 5568 anos para a meia vida do 14C, apesar desses

fatores comprometerem a acurácia da datação. Portanto, buscando corrigir a idade calculada, é

feita a calibração dessas datações a partir de idades conhecidas.

3.2 Idades Calibradas

A calibração das idades de radiocarbono calculadas tem como objetivo corrigir os

resultados para qualquer forma de erro introduzido pelo modelo teórico e pelas convenções

estabelecidas. Essa correção é feita de forma empírica, observando-se os valores medidos para

amostras de idades conhecidas.

A diferença entre as idades de radiocarbono e as idades calculadas por

dendrocronologia, datação em função dos anéis de crescimento dos troncos das árvores,

apresenta flutuações. Além de aumentar com o tempo, o que já era esperado devido ao uso da

meia-vida de 5568 anos, essa diferença apresenta um comportamento senoidal do presente até

em torno de 10 mil anos AP.

Esse padrão reflete o fato de que o nível de 14C atmosférico sofreu variações ao longo

do tempo, decorrentes de alterações no campo geomagnético da terra, além de flutuações na

53

Page 68: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

radiação galáctica cósmica e, mais recentemente, da queimada de combustíveis fósseis e de

testes nucleares. A concentração de 14CO2 na atmosfera está diretamente ligada com a

produção do radical OH-, como foi visto no Item 1.2. Mesmo que o 14CO seja produzido a

uma taxa aproximadamente constante, a concentração do radical hidroxila varia com a

intensidade da luz solar, e é através do CO2 que o carbono é absorvido pelos seres vivos.

Como a datação pela medida da razão isotópica atual da amostra se baseia na premissa

de que a concentração isotópica atmosférica tenha se mantido constante ao longo do tempo e,

com ela, a concentração isotópica dos seres vivos, que trocavam carbono com o meio

ambiente, essa variação deve ser considerada.

Para organismos formados em outros reservatórios, como lagos e mares, a situação é

ainda mais complicada, já que a concentração isotópica inicial pode ser diferente daquela da

atmosfera contemporânea. A dissolução de carbonatos antigos e a menor velocidade de troca

de gás carbônico nesses meios causa uma idade aparente mais antiga.

3.2.1 Calibração de Amostras Atmosféricas

Independentemente das causas da diferença isotópica no reservatório de carbono, as

idades de radiocarbono calculadas podem ser calibradas a fim de buscar maior acurácia das

datações. A calibração se baseia na comparação de idades calculadas por dendrocronologia

para anéis de árvore com suas respectivas datações radiocarbônicas. Utilizando árvores que

tenham vivido ao mesmo tempo e na mesma atmosfera que as amostras datadas, elimina-se o

obstáculo de não se conhecer a concentração isotópica atmosférica real ao longo do tempo.

54

Page 69: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Amostras são tiradas de sequóias e carvalhos de até 10 mil anos AP. Parâmetros mais

antigos são calculados a partir de comparações entre medidas da razão 234U/230Th de corais e

suas idades de radiocarbono. A curva utilizada para calibração, exibida na Figura 3.1, é

constituída de pontos experimentais, que são tratados estatisticamente de forma a considerar

as interpolações e barras de erro.

Figura 3.1 Seção da curva de calibração atmosférica [Stuiver et alii, 1998].

Observando-se o distanciamento da curva para uma simples reta y = -x fica clara a

importância da calibração. Devido ao caráter irregular da curva de calibração não é possível

converter uma distribuição gaussiana em torno de uma idade de radiocarbono calculada numa

distribuição gaussiana da idade calibrada. Como mostra a Figura 3.2, uma única idade

convencional pode representar dois pontos distintos. Este problema mostra a necessidade do

uso de outro método de calibração que não simplesmente a interceptação da curva, gerando

55

Page 70: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

uma imagem no eixo x. É utilizada, então, uma distribuição Bayesiana [Dehling e van der

Plicht, 1993], gerando um intervalo de tempo com distribuição de probabilidade de ocorrência

da idade calibrada.

Figura 3.2 Faixa da curva de calibração atmosférica: estrutura irregular.

O desvio padrão médio dos pontos da curva é utilizado para calcular o desvio padrão

que dá origem ao intervalo de confiabilidade. Outras fontes de erro podem ser introduzidas

neste momento, como multiplicadores de erro do laboratório ou no caso em que seja estimada

a correção para fracionamento isotópico [Stuiver e Reimer, 1993].

Programas de computador, contendo um banco de dados com os pontos experimentais

que determinam a curva, são utilizados para calibrar as idades convencionais. No presente

trabalho, as calibrações foram feitas com o programa OxCal 3.1 da Universidade de Oxford

56

Page 71: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

[Bronk Ramsey, 2000; 1995]. A Figura 3.3 apresenta o exemplo da calibração de uma

amostra atmosférica datada em (4500 ± 80) anos AP. Os intervalos de calibração, com 1σ e

2σ de erro, correspondem a 68.2% e 95.4% de confiabilidade, respectivamente.

Figura 3.3 Exemplo de calibração de amostra atmosférica: faixa da curva de calibração

(azul), distribuição Gaussiana da Idade convencional (vermelho) e distribuição Bayesiana da

Idade calibrada (preto).

Idades calibradas são geralmente expressas por arqueólogos em anos do calendário

Cristão (AC/DC) ao invés de anos antes do presente. Aqui as curvas são ajustadas para anos

AP de forma a facilitar a visualização da discrepância entre idade convencional e calibrada.

O reservatório de carbono atmosférico apresenta, além das oscilações verificadas ao

longo do tempo, uma diferença na concentração isotópica dos hemisférios. Como o banco de

57

Page 72: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

dados de idades de radiocarbono para amostras de idades conhecidas utilizado para a

calibração tem por base medidas de amostras coletadas no hemisfério Norte, a calibração de

idades de amostras coletadas no hemisfério Sul deve ser feita após uma correção para a

diferença de 14C atmosférico entre os hemisférios.

Um estudo comparativo entre amostras de idades conhecidas, abrangendo o período de

950 a 1850 DC [McCormac et alii, 2002], propõe uma correção de (– 41 ± 14) anos de

radiocarbono para amostras do hemisfério Sul. Essa correção deve ser aplicada antes da

calibração da idade e sua incerteza incorporada à da idade da amostra.

3.2.2 Calibração de Amostras Marinhas

No caso de amostras marinhas a calibração visa corrigir as idades não apenas para

variações na concentração isotópica atmosférica, que afeta a concentração isotópica no

reservatório marinho, mas também para diferenças causadas pela diluição de carbonatos

antigos na água. Esse processo compete com o decaimento radioativo, diminuindo a

concentração de 14C e gerando datações mais antigas do que deveriam. Amostras da superfície

apresentam uma diferença de 400 anos de 14C em relação a amostras atmosféricas e essa

diferença aumenta com a profundidade.

Não sendo possível obter datações de amostras marinhas de idades conhecidas com a

mesma continuidade que a medida de anéis de árvores fornece, é utilizada uma curva de

calibração específica, desenvolvida a partir de modelos computacionais para reservatório de

carbono. O modelo usa como base os dados atmosféricos, estimando a resposta do

58

Page 73: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

reservatório marinho a essas variações. A curva de calibração para reservatório marinho,

apresentada na Figura 3.4, não apresenta as mesmas estruturas locais que a curva atmosférica.

Figura 3.4 Seção da curva de calibração marinha [Stuiver et alii, 1998].

Para amostras marinhas um fator de correção local também deve ser aplicado [Stuiver

e Braziunas, 1993], antes de submeter a data à curva de calibração. Nesse caso, não há apenas

uma diferença entre os hemisférios, mas também diferenças entre cada região em particular.

As correções necessárias são obtidas a partir de medidas feitas por diversos grupos de

pesquisa em todo o mundo, comparando amostras marinhas e atmosféricas. Os valores

atualizados, tabelados para cada região, estão disponíveis para consulta [Reimer, 2002].

59

Page 74: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

O exemplo apresentado na Figura 3.5 pode ser comparado ao exemplo da Figura 3.3,

mostrando a calibração no caso de uma amostra marinha datada em (4500 ± 80) anos AP. Os

resultados calibrados, com 95.4% de confiabilidade, são, respectivamente, (5450 – 4850) anos

AP e 4850 – 4440 anos AP, para uma amostra atmosférica e uma amostra marinha com a

mesma idade convencional de radiocarbono.

Figura 3.5 Exemplo de calibração de amostra marinha: faixa da curva de calibração (azul),

distribuição Gaussiana da Idade convencional (vermelho) e distribuição Bayesiana da Idade

calibrada (preto).

Esta comparação mostra a necessidade de se divulgar o tipo de material datado, para

que se possa avaliar a idade real das amostras de forma a se fazer comparações entre elas.

Devido ao caráter empírico das curvas de calibração e aos possíveis tratamentos

estatísticos dados aos pontos, às interpolações e às barras de erro, as datas calibradas podem

sofrer variações. Já a idade de radiocarbono, convencionalmente calculada de uma forma

60

Page 75: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

padronizada em função de uma razão isotópica medida, é absoluta. Portanto, é importante

relatar a idade calibrada visando a maior acurácia da datação, mas é fundamental apresentar a

idade convencional, possibilitando qualquer comparação futura.

No Capítulo 5 serão apresentados os resultados das medidas realizadas, onde os

conceitos descritos neste capítulo serão aplicados.

61

Page 76: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Capítulo 4

Projeto de um Laboratório de Preparação

de Amostras de Carbono para AMS no IF-

UFF

Como visto no Capítulo 2, a preparação das amostras de carbono, para que possam ser

datadas por AMS, é parte fundamental do processo e necessita cuidados muito específicos.

Um dos objetivos deste trabalho foi a obtenção dos conhecimentos necessários para a

elaboração do projeto de montagem de um laboratório destinado à preparação dessas

amostras. Tal laboratório foi projetado e está sendo instalado no Instituto de Física da

Universidade Federal Fluminense.

Durante o estágio no PRIME Lab foram preparadas amostras de carbono de materiais

diversos que fazem parte do presente trabalho, além de amostras de fundo e amostras padrão,

e grafitizadas mais de 200 amostras. O projeto do laboratório para o IF-UFF se baseia nas

técnicas de preparação utilizadas para estas amostras.

4.1 Instalação do Laboratório

A instalação do Laboratório de Preparação de Amostras de Carbono para medida por

AMS já está em andamento no Instituto de Física da UFF. Parte do equipamento necessário à

62

Page 77: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

construção da linha de grafitização para purificação do dióxido de carbono proveniente das

amostras já foi adquirido, como pode ser visto na listagem do Apêndice B e, tão logo novos

recursos financeiros estejam disponíveis, o restante do material será comprado.

O laboratório será montado nas dependências do laboratório do Grupo de Física

Nuclear Experimental da UFF. Ele ocupará parte de uma de suas salas, com dimensões de

aproximadamente 6m x 9 m.

A proposta de organização do espaço foi determinada de forma a evitar a

contaminação das amostras, separando os estágios do processo de preparação de forma a

isolar o local de tratamento químico do local onde são analisadas as amostras brutas. Além

disso, foi levada em conta a localização das saídas de água e da capela em relação ao prédio.

A Figura 4.1 mostra a distribuição do equipamento no laboratório e a infra-estrutura

necessária.

Figura 4.1

Planta prevista para o laboratório de preparação de amostras de carbono no IF-UFF.

63

Page 78: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Legenda da Figura 4.1

1. Saída de gás combustível para

uso do maçarico

2. Saída de oxigênio para uso do

maçarico

3. Linha de grafitização

4. Bomba de vácuo da linha de

grafitização

5. Liquidificador para moer gelo

seco

6. Bacia e ferramentas para moer

gelo seco

7. Forno (900o C) para combustão,

grafitização e limpeza de peças

8. Forno para secagem (100o C)

9. Bancada

10. Mesa de granito para a linha de

grafitização

11. Bancada para amostras brutas

12. Estante para tubos de grafitização

13. Armário para amostras brutas

14. Prateleiras para reagentes

15. Bancada com armário

16. Microscópio para análise física de

amostras

17. Balança de precisão, para

pesagem de amostras e reagentes

18. Pias

19. Cabines de hidratação para

preparação de tubos de

combustão e estocagem de

amostras

20. Armário para amostras

preparadas

21. Aquecedor de tubos de ensaio

22. Vortex para tubos de ensaio

23. Bancada com armário

24. Centrífuga

25. Limpador Ultra-sônico

26. Capela

27. Bancos

28. Armário para armazenamento de

catodos

O laboratório se divide em quatro ambientes distintos. O primeiro, na entrada, será

usado para a primeira limpeza de amostras brutas e sua estocagem. O limpador ultra-sônico

deve ficar nesta sala já que será usado na limpeza de peças contaminadas e amostras muito

sujas.

A seguir, a sala com fornos e linha de grafitização. A linha é utilizada para evacuar

tubos de combustão, purificação de gás carbônico das amostras e transferência para tubos de

grafitização. O material relacionado a ela deve estar neste ambiente: gelo seco e equipamento

para o preparo das armadilhas, maçarico e cilindros de gás para selagem dos tubos, forno de

grafitização para imediata disposição dos tubos. As amostras já grafitizadas, ainda nos tubos,

64

Page 79: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

serão armazenadas nesta sala. O forno para secagem de peças também ficará nesta sala de

modo que possa ficar próximo ao local da limpeza de peças, mas fora da área mais suja.

O terceiro ambiente será o laboratório de química propriamente dito. Todo o pré-

tratamento das amostras, desde sua observação em microscópio, pesagem, tratamento químico

até a secagem será feito nesta sala. Os tubos de grafitização e combustão serão preparados no

local, bem como os reagentes utilizados, justificando a necessidade de uma capela.

O quarto ambiente pode ser uma pequena sala, destinada apenas à preparação dos

catodos. Basta uma mesa ou bancada com as ferramentas para pressionar a grafite na cavidade

dos catodos e um armário para armazenamento dos mesmos até que sejam levados ao

acelerador para a medida da razão isotópica. Esta sala deve ser mantida com umidade elevada

para facilitar a manipulação da grafite e do ferro em pó.

4.2 Equipamento

O equipamento necessário à instalação do laboratório foi determinado a partir do que é

utilizado no PRIME Lab, visando atingir os padrões de qualidade deste laboratório, mas de

forma a reduzir ao máximo os custos. O Apêndice B mostra uma listagem detalhada do

equipamento e material para a montagem e utilização de um laboratório de preparação de

amostras de carbono para AMS.

A obtenção de todo o material necessário se divide em etapas: instalação de pias e

capela; aquisição de mobília (mesas e armários), para proporcionar a organização do processo

e a estocagem das amostras; compra do equipamento de laboratório (linha de grafitização,

65

Page 80: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

balança, centrífuga etc.), para a preparação propriamente dita das amostras, como foi descrito

no Capítulo 2; e material de consumo (tubos de quartzo, luvas, tubos de ensaio etc.), essencial

para evitar a contaminação das amostras.

A Figura 4.2 apresenta uma fotografia da linha de grafitização do PRIME Lab, com o

objetivo de permitir a visualização dos componentes necessários para a sua montagem. Ela

dispõe (da esquerda para a direita) de agulha para tubos de carbonato, medidor de pressão

para monitoração da linha, balão de dióxido de carbono “morto” para amostras de fundo,

sanfona para quebra de tubos de combustão, duas armadilhas para nitrogênio e gelo seco, tubo

para envio de parte da amostra para medida de razão dos isótopos estáveis por Espectrometria

de Massa convencional, tubo de volume conhecido para fracionamento calculado da amostra

em função da pressão, duas saídas de tubos de grafitização para acelerar o processo já que a

preparação dos tubos é demorada e pode ser simultânea, saída para evacuação de tubos de

combustão.

Figura 4.2 Foto da linha de grafitização do PRIME Lab

66

Page 81: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Válvulas separam cada segmento da linha de grafitização de modo que o gás pode ser

medido e direcionado da forma desejada, utilizando as armadilhas de nitrogênio e gelo seco e

um aquecedor portátil.

4.3 Avaliação do Laboratório

Depois de montado, o laboratório terá que ser testado antes que possa ser utilizado

para preparação de amostras desconhecidas. Dois objetivos devem ser atingidos visando o

sucesso do laboratório: evitar contaminação e isolar o carbono original, relacionado à idade da

amostra. Para a verificação do bom desempenho do laboratório devem ser testados os níveis

de fundo e a acurácia das datações.

4.3.1 Níveis de fundo

É preciso que o ambiente e todo o equipamento estejam livres de qualquer

contaminação. Numa primeira etapa devem ser monitorados os níveis de fundo do laboratório.

Devem ser preparadas amostras de carbono “morto”, ou seja, que não contenham qualquer

14C. Quatro tipos de amostras de fundo devem ser medidas, de forma a avaliar o ambiente e

todo o processo de preparação.

O ambiente do laboratório deve ser preservado de qualquer contaminação, não

podendo ser usado um local por onde se transita com amostras dopadas por 14C, como

amostras biomédicas. Os níveis de fundo devem ser testados inicialmente e monitorados

periodicamente. Para tanto, utilizam-se filtros de lã de vidro umedecidos com metanol. Deve-

67

Page 82: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

se recolher material do chão, paredes e superfícies de equipamentos. Essas amostras devem

passar diretamente pelo processo de combustão.

Para testar a linha de vácuo devem ser preparadas amostras de dióxido de carbono

produzidas na própria linha. Para tanto, utiliza-se o CO2 originado da reação de calcita com

ácido fosfórico. Os procedimentos para se preencher o balão da linha de grafitização com CO2

“morto” estão detalhados no Apêndice C. O preenchimento é feito eventualmente e o gás fica

armazenado para ser utilizado quando necessário, para a monitoração dos níveis de fundo da

linha.

O processo de preparação de amostras de qualquer tipo, orgânicas ou inorgânicas,

pode ser testado preparando-se amostras de grafite “morto”. Basta seguir todos os passos de

cada tipo de preparação, utilizando grafite que não contenha 14C. Assim, qualquer

contaminação será revelada.

Para testar o preenchimento dos catodos deve-se utilizar também o grafite “morto”,

porém não preparado, pressionando-o simplesmente nos catodos.

4.3.2 Reprodutibilidade das datações

A capacidade de se reproduzir datações de amostras preparadas no laboratório irá

demonstrar a eficiência no processo de preparação. Nesta etapa serão preparadas amostras

orgânicas e inorgânicas, de idades conhecidas, fornecidas pelo IAEA. Uma série dessas

amostras, com idades variadas, devem ser preparadas no laboratório e enviadas para medida

em um laboratório conceituado e bem estabelecido.

68

Page 83: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Caso haja alguma discrepância nos resultados, deve-se avaliar em que estágio do

processo de preparação podem estar acontecendo problemas. Para isso, prepara-se uma

seqüência de amostras de idade conhecida, interrompendo o tratamento em diversos pontos

estratégicos. As amostras seriam então enviadas ao laboratório externo para seguir com o

processo de preparação até a sua medida, e a comparação dos resultados revelaria a origem da

discrepância.

Para finalizar a avaliação do laboratório, de forma a fazê-lo constar no meio científico

como confiável, é preciso participar de comparações multilaboratoriais oficiais. Trata-se da

preparação de amostras de idade conhecida, porém não revelada, enviadas a laboratórios em

todo o mundo que se submetem voluntariamente a este teste. A avaliação é feita pelo NIST

(National Institute of Standards and Technology) e os resultados das datações devem ser

entregues para comparação e publicação do desempenho dos diversos laboratórios. Com isso,

o laboratório de preparação de amostras de carbono para AMS do IF-UFF estará habilitado a

fornecer serviço a pesquisadores de diversas áreas, minimizando os custos das datações

radiocarbônicas.

O laboratório será de grande utilidade para o meio científico, representando a

possibilidade de datar maior número de amostras e desenvolver trabalhos interdisciplinares

mais completos, como aqueles resultantes do presente trabalho, descritos no Capítulo 5.

69

Page 84: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Capítulo 5

Resultados de Aplicações de AMS em

Arqueologia e Geologia Marinha

Diversos projetos tiveram como base resultados obtidos através da datação de

radiocarbono por AMS no presente trabalho. Estes projetos envolvem grupos de pesquisa nas

áreas de Arqueologia e Geologia Marinha.

No total foram preparadas 27 amostras entre ossos humanos e de animais, cerâmica,

carvão, sementes, conchas de moluscos e foraminíferos. Os resultados das datações e razão de

isótopos estáveis podem ser vistos no Apêndice D. Alguns trabalhos ainda estão em

andamento e seus resultados estão em fase de interpretação, como amostras de sítios

cerâmicos da região de Araruama, RJ da pesquisadora Angela Buarque, do Museu Nacional,

Universidade Federal Fluminense e amostras de osso humano e cerâmica do Instituto de

Arqueologia Brasileira.

Os trabalhos relatados a seguir se referem a amostras de foraminíferos coletados na

Bacia de Campos, e amostras de carvão e sementes coletados em sítios arqueológicos do

litoral fluminense.

70

Page 85: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

5.1 Taxa de Sedimentação na Bacia de Campos e Correlação com

Flutuações Locais no Nível do Mar

Esse trabalho foi feito em conjunto com o grupo de Geologia Marinha da

Universidade Federal Fluminense, e usa a técnica de AMS para estudos paleoambientais.

A circulação no Atlântico Sul é parte importante do processo global de circulação

[Andree et alii, 1984; Bard et alii, 1989; Bard, 1988; Bond et alii, 1997; Schneider et alii,

1996; Vergnaud-Grazzini et alii, 1983], embora seja um assunto ainda pouco estudado. Esse

trabalho faz parte de uma pesquisa sobre variações no nível do mar produzidas por mudanças

climáticas rápidas e paleotemperatura da superfície e do fundo do oceano Atlântico Sul. A

temperatura dos oceanos é fundamental para regular o clima nos continentes e no

conhecimento dessas temperaturas no presente e no passado está a chave para a compreensão

do comportamento e evolução das massas de água. Já o conhecimento das variações do nível

do mar é fundamental para a ocupação humana do litoral e industrias costeiras de exploração.

Para estudar essas variações é preciso saber se o fundo do mar é estável nessa região e, caso

seja, qual a taxa de acumulação de sedimento e como ela se relaciona com o nível do mar.

A Bacia de Campos está localizada além da costa do Estado do Rio de Janeiro e

compreende os maiores campos de petróleo do Brasil. Desde a formação da bacia a

acumulação de sedimentos na região depende essencialmente do nível do mar. A formação de

reservatórios e a estabilidade do fundo do mar são de grande importância para a indústria de

petróleo e estão relacionados com as flutuações de nível do mar.

71

Page 86: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Nesse trabalho foram datadas cinco amostras de foraminíferos coletadas durante o

programa REVIZEE no talude superior ao largo de Cabo Frio, no sudeste brasileiro, como

mostra o mapa na Figura 5.1. O quadrado vermelho indica o local de onde foram retiradas as

amostras, a 23,51o S e 41,16o W na estação REVIZEE 6760 a 393 m de profundidade. A

coluna sedimentar de 34 cm foi dividida em intervalos de 2 cm e as amostras medidas eram

referentes a 2 cm, 10 cm, 16 cm, 20 cm e 30 cm de profundidade em relação ao fundo do

oceano.

Figura 5.1 Mapa da região da Bacia de Campos [Souza, 2000].

72

Page 87: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Foraminíferos secretam uma carapaça calcárea em equilíbrio físico-químico com a

água, registrando as condições oceanográficas contemporâneas a sua existência. Desta forma,

o carbonato proveniente desses animais é um biomarcador marinho muito eficiente, sendo

representativo da superfície no caso dos planctônicos, exemplificados na Figura 5.2, que

vivem na coluna d’água, e do fundo do oceano no caso dos bentônicos, exemplificados na

Figura 5.3, que vivem em águas profundas.

O pré-tratamento das amostras foi feito no Laboratório de Micropaleontologia do

LAGEMAR. Após uma lavagem com água, as amostras foram passadas por peneiras de

mecha 0.500 a 0.062 mm a fim de eliminar barro e lodo, deixando apenas areia fina e

foraminíferos. As amostras foram secas e então os foraminíferos foram separados por

flotagem em tetraclorato de carbono e então decantados em filtro de papel.

Figura 5.2 Foraminífero planctônico Globigerinoides ruber [Kallmayer, 1998].

73

Page 88: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Figura 5.3 Foraminífero bentônico Uvigerina peregrina [Fontanier, 2000].

Amostras de foraminíferos bentônicos e planctônicos misturados foram levadas para o

PRIME Lab para serem preparadas e medidas pela técnica de AMS. Cada amostra tinha em

torno de 15 a 20 mg. As carapaças de foraminíferos foram tratadas com ácido clorídrico,

como discutido no Item 2.1.5, a fim de remover a camada externa, que poderia ter sofrido

alguma contaminação por troca de carbono mais recente com o meio ambiente. Lavadas em

água deionizada e secas, as amostras foram evacuadas em tubos de ensaio, onde foi injetado

ácido fosfórico para dissolver o carbonato. O CO2 extraído foi purificado na linha de vácuo e

transferido para os tubos de grafitização. Depois de grafitizadas as amostras foram

pressionadas em catodos de cobre e levadas ao acelerador.

O acelerador Tandem de 7.5 MV FN foi utilizado para as medidas. A tensão de

terminal foi ajustada em 4 MV e os feixes de 13C e 14C, com estado de carga 3+, foram

74

Page 89: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

selecionados no analisador magnético de alta energia e detectados. A amostra padrão utilizada

foi a NBS SRM 4990C.

O cálculo das idades foi feito como descrito no Capítulo 3, chegando-se à idade

convencional de radiocarbono e à calibrada pelo programa OxCal [Ramsey, 2000], utilizando

a curva de calibração para amostras marinhas de Stuiver e Braziunas [1998], depois de uma

correção de (0 ± 40) anos de radiocarbono estimada para a diferença regional na idade

aparente da costa brasileira, para onde não se tem informação experimental da correção

necessária.

Das cinco amostras datadas, quatro tinham idades que aumentavam com a

profundidade, como esperado, e uma é mais recente, como mostram a Tabela 5.1 e a Figura

5.4.

Figura 5.4 Gráfico das idades x profundidade das amostras de foraminífero.

75

Page 90: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Tabela 5.1 Idade das amostras por profundidade.

Intervalo de profundidade a

partir do fundo do oceano

(cm)

Plid Idade de Radiocarbono

(anos AP)

Idade Calibrada (2σ)

(anos AP)

2 – 4 00 0691 2560 ± 80 2450 –1980

10 – 12 00 0692 4540 ± 80 4960 – 4480

16 – 18 00 0693 5180 ± 80 5710 – 5310

20 – 22 00 0694 (3840 ± 80) (4050 – 3560)

30 – 32 00 0695 7260 ± 80 7910 – 7560

A taxa média de sedimentação para a coluna foi calculada em (6.2 ± 0.7)cm/1000 anos

considerando quatro das amostras que obedecem a um padrão linear de acordo com a

equação:

Anos de Radiocarbono (anos AP) = (162 ± 18) x + (2374 ± 326)

onde x(cm) é a profundidade a partir do fundo do oceano.

O valor de (2374 ± 326) anos AP para a camada superficial corresponde

provavelmente ao efeito causado pelo deslocamento de sedimento em algum local próximo.

Uma explicação plausível para a idade recente da amostra de 20-22 cm poderia ser

contaminação por carbono moderno durante o processo de preparação.

76

Page 91: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Utilizando idades calibradas ao invés da idade convencional, a taxa média de

sedimentação para a coluna resulta em (5.3 ± 0.7)cm/1000 anos. Calculando as taxas de

sedimentação para os intervalos de tempo correspondentes a cada par de amostras, obtém-se

valores distintos, apresentados nas Tabelas 5.2 e 5.3. As flutuações em torno do valor médio

não são muito grandes, considerando as barras de erro, mas retratam as variações na dinâmica

do fundo do oceano ao longo dos últimos 7000 anos, e, provavelmente, se devem ao fato de

que a plataforma continental nessa região tem, em sua superfície, ondas de areia que se

movem nos temporais, interferindo no transporte de sedimentos e, consequentemente, na taxa

de sedimentação.

Tabela 5.2 Taxas de sedimentação em cada período (anos de radiocarbono).

Período (anos de

radiocarbono)

Intervalo de profundidade a partir do fundo do oceano

(cm)

Taxa de Sedimentação (cm/1000anos)

4620 – 2480 2 – 12 4.0 ± 0.7

5260 – 4460 10 – 18 9.4 ± 2.8

7340 – 5100 16 – 32 6.7 ± 0.8

Tabela 5.3 Taxas de sedimentação em cada período (idade calibrada).

Período (idade calibrada)

Intervalo de profundidade a partir do fundo do oceano

(cm)

Taxa de Sedimentação (cm/1000anos)

4960 – 1980 2 – 12 3.2 ± 0.7

5710 – 4480 10 – 18 7.6 ± 3.5

7910 – 5310 16 – 32 6.3 ± 1.0

77

Page 92: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A grande maioria das curvas de nível do mar para a costa brasileira se baseia em

conchas de moluscos e corais coletados em terra e apenas algumas amostras do fundo do mar.

No presente trabalho, além de utilizar amostras do fundo do mar, é datada uma estratigrafia de

fina escala (cm), revelando a taxa de sedimentação e a dinâmica sedimentar dos últimos 7000

anos [Macario, 2004]. Os resultados mostram flutuações da taxa de sedimentação ao longo do

tempo, correspondendo a variações na dinâmica do fundo do oceano nesse período.

Apesar de se tratar de uma estreita área de recife, cortada por cânions, os resultados

apontam uma encosta estável, com sedimentos na mesma ordem em que foram depositados.

Numa área próxima, datações revelaram [Souza, 2000] perturbações do fundo do oceano. A

indicação de estabilidade do fundo é crucial para a instalação de equipamentos submarinos e

plataformas da industria de petróleo na Bacia de Campos.

Dando continuidade a essa pesquisa, outras amostras serão datadas de forma a

melhorar a estatística dos resultados e possibilitar a determinação de um padrão das flutuações

da taxa de sedimentação ao longo do tempo. A medida da razão isotópica do oxigênio 18O/16O

será feita, pois em função dela determina-se a temperatura em que viviam aqueles

foraminíferos. Desta forma, fica determinada a temperatura da água em função do tempo.

5.2 A Ocupação Pré-Histórica da Costa Sudeste Brasileira pelo Estudo

de Sambaquis

Especialmente rica em moluscos, crustáceos e peixes, a costa centro-sul brasileira

favoreceu o assentamento de caçadores-coletores pré-históricos [Lima, 1997; 2000] vindos

78

Page 93: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

provavelmente das terras altas do interior. Ao chegar na costa eles se tornaram pescadores e

coletores de moluscos, já que estes eram os recursos mais fartos e fáceis de se obter da região.

Os moluscos tinham grande importância em sua alimentação e a proximidade a eles

determinava a escolha dos assentamentos. A partir da acumulação intencional dos seus restos

alimentares – conchas e ossos de animais – eles construíam montes, que hoje evidenciam sua

rotina e ritos funerários. Esses montes são chamados Sambaquis, da palavra de origem Tupi

(Tamba = concha + Ki = empilhar).

Na costa sudeste do Brasil há uma grande densidade desses sambaquis, encontrados

do Norte da costa do Rio Grande do Sul (510 W, 300 S) ao Estado da Bahia (380 W, 150 S),

como esboça a Figura 5.5, sendo mais concentrados no Estado de Santa Catarina (470 W, 280

S), onde são também maiores.

Figura 5.5 Densidade aproximada de sambaquis no território brasileiro.

79

Page 94: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A Figura 5.6 mostra o maior deles, o Sambaqui de Garopaba, SC, com 30 metros de

altura e 200 m de extensão.

Figura 5.6 Sambaqui de Garopaba, SC.

O tipo de cultura recuperada nesses sítios consiste de artefatos feitos de conchas e

ossos de pássaros, peixes e mamíferos, como pontas de projétil, ornamentos e outras

ferramentas. Devido à abundância de peixes e moluscos, um substancial crescimento

demográfico foi possível. A fartura de alimento ao longo de todo o ano permitia uma

interação extremamente favorável com seu sistema de subsistência. Com o passar do tempo, o

crescimento populacional fez com que a distância entre os assentamentos diminuísse

resultando numa grande densidade de sambaquis nessas áreas lagunares.

80

Page 95: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A datações radiocarbônicas dos sambaquis são fundamentais para a compreensão da

ascensão e colapso desse tipo de assentamento, que se manteve por, pelo menos, quatro mil

anos, até o início da era Cristã, quando suas evidências desaparecem. Nesse momento,

chegam à costa os bem sucedidos horticultores vindos do interior. Capazes de produzir seu

próprio alimento, com uma organização social diferente e mais complexa, mais avançados

tecnologicamente e em maior número, eles acabaram por absorver ou extinguir os pescadores-

coletores.

Existem, atualmente, cerca de 300 datações radiocarbônicas de sambaquis Brasileiros,

atestando a ocupação inicial da costa por volta de 6500 anos AP [Lima, 2000]. A distribuição

de freqüência dessas datas apresentada na Figura 5.7 mostra que essa cultura atingiu seu ápice

entre 5000 e 3000 anos AP.

cas

Freq

uenc

ia d

e da

taçõ

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dioc

arbô

ni

0

5

10

15

20

25

30

35

0-500

750-1000

1250-1500

1750-2000

2250-2500

2750-3000

3250-3500

3750-4000

4250-4500

4750-5000

5250-5500

5750-6000

6250-6500

6750-7000

7250-7500

7750-8000

Período (anos AP)

Figura 5.7 Freqüência de datações radiocarbônicas para sambaquis no Brasil.

81

Page 96: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

5.2.1 Sambaquis da Baia da Ribeira

Este trabalho foi feito em conjunto com o grupo de Arqueologia da professora Tânia

Andrade Lima, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e teve como

objetivo classificar cronologicamente quatro sambaquis da Baía da Ribeira em Angra dos

Reis, RJ. Amostras de carvão de fogueiras foram coletadas nos Sambaquis do Algodão,

Caieira, Major e Peri em ilhas dessa região, muito próximas entre si, como mostra a Figura

5.8.

Figura 5.8 Mapa da Baía da Ribeira, Angra dos Reis, RJ.

O Sambaqui do Algodão, localizado na pequena ilha de mesmo nome, apresenta

dois níveis estratigráficos distintos, como mostra a Figura 5.9.

82

Page 97: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Figura 5.9 Estratigrafia do Sambaqui do Algodão.

O inferior indica abundante captura de moluscos; o superior apresenta um claro

aumento no consumo de peixes, compensando a pequena disponibilidade de moluscos. Este

último, datado anteriormente de (3350 ± 80) anos AP (WSU 3359) [Lima, 1991]. A amostra

83

Page 98: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

datada no presente trabalho foi coletada da camada inferior, a 60 cm de profundidade. O

resultado esperado para essa datação corresponderia a uma ocupação diferente e mais antiga.

A amostra do Sambaqui da Ilha de Caieira foi coletada a 40 cm de profundidade e a

amostra do Sambaqui Peri a 1 m de profundidade na Ilha Comprida. A amostra do sambaqui

da Ilha do Major é de 40 cm de profundidade. A datação dessas três amostras tinha por

objetivo verificar a contemporaneidade desses sítios com a última ocupação do Algodão.

Todas as amostras foram coletadas no período de 1985 a 1987, utilizando pinça de

metal, durante a escavação dos sítios. Foram embrulhadas em papel de alumínio e

armazenadas em bolsas plásticas até serem mandadas para o PRIME Lab para preparação,

onde passaram pelo processo usual para amostras orgânicas.

Observadas no microscópio e reduzidas a 1 ou 2 mm de tamanho, foram tratadas

com ácido clorídrico para remover a fração inorgânica. Lavadas com água deionizada, as

amostras passaram por até 20 tratamentos de uma hora com hidróxido de sódio até que a

coloração do líquido se tornasse clara, removendo assim os ácidos fúlvicos e húmicos.

Lavadas novamente com água deionizada, um outro tratamento com ácido clorídrico foi feito

antes de lavar, secar e submeter as amostras à combustão em tubos evacuados contendo óxido

cúprico e prata, à 900o C. O CO2 foi introduzido na linha de grafitização a fim de ser

purificado e transferido para os tubos de grafitização. Essa parte do processo foi feita da

mesma forma para todas as amostras, já que todas são amostras naturais de carbono. As

condições de medida foram as mesmas que aquelas descritas para os foraminíferos no Item

5.1. O cálculo das idades foi feito como descrito no Capítulo 3, utilizando para calibração o

84

Page 99: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

programa OxCal [Ramsey, 2000] com a curva de calibração atmosférica de Stuiver et alii

[1998] após a correção regional de – (41 ± 14) anos de radiocarbono [McCormac et alii,

2002] para o hemisfério Sul.

Para as amostras do Peri (PLID T00-0678) e Caieira (PLID T00-0680) os resultados

foram respectivamente (1420 ± 80) AP ou cal DC (530 – 890) (2σ) e (1520 ± 80) AP ou cal

DC (400 – 690) (2σ). Por um lado esses resultados corroboram a ideia de contemporaneidade

entre esses dois sítios. Por outro lado os distancia da cronologia obtida para o nível superior

do Algodão, que é bem mais antigo [Lima 2003].

A amostra do Major (PLID T00-0679) foi datada em (190 ± 80) AP ou cal DC (1630 –

1950) (2σ). Essa data foi considerada recente demais e parece corresponder à ocupação

colonial encontrada na camada superior do sítio.

O nível inferior do Algodão (PLID T00-0677) foi datado em (7860 ± 80) AP ou cal

AC (7050 – 6450) (2σ). Uma data tão antiga seria considerada improvável se não houvesse

três outras datações tão fora do período aceito para a ocorrência dos sambaquis e tão

impressionantemente contemporâneas [Lima et alii, 2002; 2003; 2004]

Essas datações foram feitas décadas atrás para dois sambaquis diferentes. Por serem

tão fora da média das datações de sambaquis elas foram contestadas. Em 1956, Laming e

Emperaire [1968] obtiveram duas datas: (7803 ± 1300) AP e (7327 ± 1300) AP em Gif-sur-

Yvette, França, para o Sambaqui de Maratuá, localizado na região de Santos, São Paulo. Essas

datações foram refutadas [Garcia, 1979]. Em 1981, Kneip[1981] obteve uma segunda datação

85

Page 100: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

similar: (7958 ± 224) AP (SPC 207), para o Sambaqui de Camboinhas, no Rio de Janeiro, que

foi contestada pela suposição, que posteriormente foi provada estar errada [Muehe e Kneip,

1995], de que as faixas de areia sobre as quais estavam os sambaquis teriam se formado mais

recentemente que a idade presumida dos mesmos. Até o momento, ambas as datações eram

vistas com grande descrédito. Esses sítios, juntamente com o Algodão, possuem grande

proximidade geográfica, estando no eixo Rio/São Paulo, muito longe do núcleo de Santa

Catarina.

Até o presente, seria admissível assumir que as datações mais antigas da costa

estariam entre os gigantescos sambaquis de Santa Catarina. Entretanto, é surpreendente que

essas datas apareçam no Rio de Janeiro e São Paulo. Isso demonstra que os assentamentos

iniciais não correspondem àqueles em que a cultura alcançou os mais altos níveis de

expressão.

A origem e os caminhos pelos quais os caçadores-coletores atingiram a costa e se

tornaram os primeiros pescadores-coletores são perguntas a serem respondidas, já que não há

evidência de caçadores-coletores nas terras altas do Rio de Janeiro. Do presente resultado

pode-se cogitar que tais pescadores-coletores poderiam ter se originado no Platô de São

Paulo, não muito longe do Sambaqui do Algodão. Consideramos que o Vale da Ribeira, em

São Paulo, é uma das possibilidades de comunicação da costa com o campo na barreira

constituída pelas montanhas da Serra do Mar. Essa hipótese é reforçada pela existência de

sítios com moluscos fluviais ao longo do curso do Rio da Ribeira, havendo uma datação de

9000 anos AP [Blasis, 2001].

86

Page 101: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Desta forma, o presente resultado nos faz reconsiderar as outras três datações

previamente questionadas, alterando a cronologia tradicionalmente aceita para a ocupação da

costa Brasileira em pelo menos dois mil anos [Lima, 2002; 2003; 2004]. Este é um resultado

extremamente importante para a Arqueologia brasileira e do continente americano.

5.2.2 Intermitência de Ocupações Sambaquianas no Núcleo da Boa Vista

Esse trabalho faz parte de um estudo feito com o grupo da professora Maria Dulce

Gaspar, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e integrou a

dissertação de mestrado da professora Márcia Barbosa [Barbosa, 2001]. Com interesse

particular na compreensão da estrutura funcional, organização espacial e interação com o

meio ambiente das populações pré-históricas que habitavam os sambaquis [Gaspar, 1991;

1995; 1998], o núcleo da Boa Vista é estudado. Localizado na planície fluvial entre os rios

Una e São João, distrito de Búzios, Rio de Janeiro, o grupo de nove sambaquis, chamado

grupo São João, ocupa uma área de aproximadamente 25 km2. Quatro deles estão

concentrados num intervalo de 1900 m e formam o núcleo Boa Vista. A Figura 5.10 mostra a

localização geográfica e distribuição dos sambaquis. Trata-se de pequenos sambaquis

semelhantes, de formato elíptico, com dimensões da ordem de 50m x 40m e 2m de altura.

A planície costeira do Rio São João se formou no período Pleistoceno e se

desenvolveu de acordo com as variações climáticas e de nível do mar. Lagos e lagoas se

formaram de faixas isoladas do mar, havia mangues e regiões alagadas até 20 km da costa,

representando a principal fonte de recursos dos sambaquis [Lamego, 1974].

87

Page 102: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A distribuição espacial dos sambaquis na área do Rio de Janeiro mostra que eles não

ocorriam como assentamentos isolados, mas como grupos, formando unidades com

significado sociológico, entre os quais é verificado um padrão de assentamento nucleado.

Figura 5.10 Agrupamentos São João e Tamoios [Barbosa, 2001].

88

Page 103: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

O sambaqui IBV 1 foi largamente analisado por Gaspar e os demais foram pouco

estudados [Gaspar, 1991; 1995; 1998]. Nesse trabalho foram datadas amostras do sambaqui

IBV 4, possibilitando uma interpretação global da ocupação do grupo como um todo[Barbosa,

2001; 2002].

A Figura 5.11 mostra a topografia do Sambaqui IBV 4, cuja base está 8 metros acima

do nível do mar e 2.5 km da costa. Para esse trabalho foram realizadas vinte escavações nas

partes periféricas e central do sambaqui. Centenas de artefatos foram analisados numa

abordagem estatística e sistemática, de forma a contribuir para a investigação das semelhanças

e diferenças internas entre o grupo São João, a fim de verificar o modelo macroespacial

proposto por Gaspar [1998] após o estudo do IBV 1.

Figura 5.11 Topografia do Sambaqui IBV 4 [Barbosa, 2001].

As amostras foram classificadas em quarto grupos: orgânicas (elementos botânicos e

faunísticos), inorgânicas (rochas e minerais), industriais e ossos humanos. A parte central do

sambaqui apresenta grande concentração de atividades, artefatos industriais variados, restos

89

Page 104: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

de comida, cinzas e carvão de fogueiras, ossos humanos e vestígios de casas. Algumas

fogueiras associadas com enterramentos, outras com restos de sementes e conchas calcinados.

Na região periférica pouca atividade foi identificada.

Estudos da região externa aos sambaquis mostram não haver qualquer evidência de

ocupação humana fora dos sítios. O modelo proposto por Gaspar [1991; 1998] sugere que as

populações dos grupos interagiam entre si e que os maiores sambaquis estavam localizados

em posições estratégicas e tinham um status elevado no grupo. O período de ocupação de um

sambaqui também está relacionado com suas dimensões. As nove datações anteriores,

disponíveis para o grupo Boa Vista, são apresentadas na Tabela 5.4.

Tabela 5.4 Datações radiocarbônicas do núcleo IBV anteriores ao presente trabalho

[Gaspar, 1998].

Sítio Identificação Material Idade Convencional (anos

AP)

Idade Calibrada

(anos AP)(95.4%)

IBV1 Orstom-1116 Carvão 3110 ± 60 3400 – 3070

IBV1 Orstom-1069 Carvão 3210 ± 50 3550 – 3260

IBV1 Orstom- 1073 Carvão 3410 ± 60 3830 – 3460

IBV1 Orstom- 1077 Carvão 3480± 100 4000 – 3450

IBV2 Beta - 94622 Carvão 3670 ± 80 4160 – 3690

IBV2 Beta - 94621 Carvão 2060 ± 60 2130 – 1820

IBV3 Beta - 95596 Carvão 2820 ± 200 3450 – 2350

IBV4 Beta - 94624 Carvão 3740 ± 110 4450 – 3700

IBV4 Beta - 94625 Carvão 1920 ± 60 1950 – 1630

90

Page 105: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A maioria encontra-se na faixa de 3000 a 4500 anos AP e duas datações correspondem

a um período mais recente. Gaspar [1998] propôs que os quatro sambaquis haviam sido

ocupados simultaneamente e por um período de 2000 anos. No entanto, o tamanho desses

sambaquis não corresponderia a uma ocupação tão longa e, sendo assim, essas datações foram

vistas com descrédito.

Foram, então, datadas 4 amostras do Sambaqui IBV 4. Duas Amostras de carvão

foram medidas no laboratório Beta Analytic e 2 amostras de sementes calcinadas foram

enviadas ao PRIME Lab como parte deste projeto. As amostras foram preparadas e medidas

da mesma forma descrita no Item 5.2 por se tratarem de amostras orgânicas.

A Tabela 5.5 apresenta os resultados das datações, que confirmam a ocupação mais

antiga do núcleo IBV em torno de 4500 anos AP, mas também a ocupação recente em torno

de 2000 anos AP. Esse resultado também poderia reafirmar a longa ocupação do núcleo.

Entretanto, o presente trabalho vem propor uma interpretação diferente. Como tal período de

ocupação é incompatível com a média dimensional dos sambaquis IBV, a indicação é de uma

ocupação descontínua dos mesmos.

Tabela 5.5 Datações de amostras do IBV 4.

Identificação Material Idade Convencional (anos AP) Idade Calibrada (anos AP)

(95.4%)

PLID 0689 Semente 3740 ± 160 4550 – 3600

PLID 0690 Semente 1620 ± 80 1690 – 1300

Beta - 151849 Carvão 3680 ± 40 4090 – 3830

Beta - 151848 Carvão 3850 ± 140 4650 – 3650

91

Page 106: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A análise distribucional das datações disponíveis para esses sambaquis leva à

interpretação de que eles foram ocupados em dois períodos distintos: o primeiro, mais denso,

com uma população maior, entre 4500 e 3000 anos AP; e o mais recente, na faixa de 2000

anos AP. Há ainda a probabilidade de que os sambaquis não estivessem ativos

concomitantemente, de forma que a ocupação do IBV 4 fosse seguida da ocupação do IBV 1 e

o retorno para o IBV 4. A proximidade temporal nas datações do IBV2 e do IBV4 sugere que

suas ocupações fossem concomitantes e ainda que, possivelmente, o mesmo aconteceria com

o IBV1 e o IBV3, levando a um padrão de ocupação de pares de sambaqui. Porém, para esse

tipo de conclusão seriam necessárias mais datações.

É interessante comparar essas conclusões com os estudos de variação do nível do mar

durante o Holoceno [Martin e Suguio, 1992], como é apresentado na Figura 5.12.

Figura 5.12 Datações do núcleo Boa Vista e nível do mar ao longo do tempo (curva azul).

92

Page 107: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Na Figura são apresentadas idades calibradas para os sambaquis a fim de se

trabalhar com resultados mais acurados. A curva de variação do nível do mar, no entanto, se

baseia em datações não calibradas de materiais variados, o que gera um erro sistemático.

Trata-se de uma curva aproximada que visa analisar as tendências de variação de nível do mar

ao longo do tempo. Três períodos podem ser observados: (i) Entre 6000 e 4200 anos AP o

nível do mar estava de 2 a 3 metros acima do nível atual, atingindo 5 metros há 5100 anos AP.

A área sobre a qual está o grupo IBV se formou depois desse período. No período de emersão,

de 5100 a 3900 anos AP, com a formação das lagoas e mangues, ocorreram os primeiros

assentamentos na região. (ii) Entre 3900 e 3600 anos AP o nível do mar aumentou

rapidamente, atingindo 4 metros acima do nível atual. Com isso formaram-se lagoas e grandes

áreas alagadas e ocorreu a imersão de áreas de baixa topografia. Esse período corresponde ao

assentamento do grupo Boa Vista (IBV2 e IBV4) e sua ocupação mais densa. (iii) De 3600

anos AP até o presente houve um declínio contínuo do nível do mar, afora uma oscilação de

origem climática entre 3000 e 2500 anos AP, secando pequenas lagoas. A ocupação mais

recente do grupo Boa Vista corresponde ao período relativamente curto de alto nível do mar.

Assim, pode-se concluir que os períodos de nível do mar elevado, em que as vastas regiões

alagadas se formaram, aumentando os recursos naturais vindos do mar, estão intimamente

ligados às ocupações dos pescadores-coletores na região.

Ainda, a análise de vestígios faunísticos e botânicos do IBV4, em diferentes

camadas estratigráficas, mostra que eles estão associados a recursos provenientes de água

doce, o que significa que o IBV4 foi mais intensamente ocupado em períodos de alto nível do

mar e durante estações de chuva, quando a fauna lacustre é mais abundante.

93

Page 108: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

5.2.3 Os sítios Corondó e Malhada

Estudados em conjunto com o grupo do Instituto de Arqueologia Brasileira, os sítios

Malhada e Corondó estão localizados no município de Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro,

e são associados à Tradição Itaipu (região central do Rio de Janeiro até a região central do

Espírito Santo) de coletores generalizados. Apresentam um vasto material conchífero e ósseo

(restos alimentares e artefatos), material lítico, estruturas alimentares, habitacionais e

cerimoniais, inúmeros sepultamentos, além de cerâmica e poucos restos vegetais. A cerâmica

é simples, vinculada à fase Una da Tradição homônima, bastante rara e restrita à camada mais

superficial. Uma amostra de cerâmica do sítio Malhada foi coletada na camada superficial e

datada, neste trabalho, com o objetivo de verificar se esta camada está relacionada a uma

reocupação.

O sítio Malhada está assentado na extremidade de uma colina suave, adentrando uma

antiga lagoa, hoje drenada. Lagoas salgadas ou salobras são características dessa área do

litoral fluminense, sendo resultado do rebaixamento do nível do mar, após sua elevação

durante o ótimo climático, encontrando-se, atualmente, separadas por faixas de restingas

arenosas. O solo do campo contíguo à antiga lagoa encontra-se na cota de 5.30 m enquanto o

sítio eleva-se até a cota de 8.50 m. Até o presente trabalho a data mais antiga deste sítio era de

(4020 ± 80) anos AP, para a camada IV, não havendo datações para sua base. Uma amostra de

concha foi datada neste trabalho.

O expressivo número de restos ósseos animais, entre os quais se destacam os roedores,

é uma significativa diferença entre os sítios Itaipu e os tradicionais sambaquis, uma vez que

evidenciam uma economia bem mais diversificada. Duas outras amostras de material ósseo,

94

Page 109: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

humano e animal, do sítio Malhada tiveram sua composição de aminoácidos analisada,

revelando alto grau de degradação e material insuficiente para datação.

O sítio Corondó, distante cerca de 4 km do Malhada e a 8 km do mar, em linha reta, é

uma colina baixa, no sopé de um cordão de elevações suaves, no bordo de antigas lagoas,

agora colmatadas e em processo de transformação em pasto. O sítio é formado por dois

montículos: o A com 60 m de comprimento por 44 m de largura, elevando-se 1.40 m do nível

da antiga lagoa; o B com 45 m de comprimento por 36 m de largura, e 1.60 m de altura. A

base do sítio assenta-se sobre terreno arenoso, cuja periferia está sobre praia fóssil, com

montículos da bivalve Anomalocardia sp. Sobre esta base podem-se observar antigos

acampamentos formativos do sítio, com fogueiras, gastrópodes, artefatos e enterramentos,

associados à camada IV, datada entre (3720 ± 95) e (4260 ± 75) anos AP. Uma amostra de

carvão do montículo A foi datada neste trabalho, com o objetivo de testar a

contemporaneidade das ocupações.

As amostras foram preparadas de acordo com os procedimentos apresentados no

Capítulo 2, sendo a amostra de concha, constituída de material inorgânico, conforme o Item

2.1.5 e tendo as amostras de carvão e cerâmica, isoladas a fração orgânica, conforme os Itens

2.1.2 e 2.1.4. Foram grafitizadas e medidas no acelerador do PRIME Lab.

Os resultados das datações possibilitaram comparações entre os sítios. A base do sítio

Malhada, representada pela amostra de concha (PL00-0671), foi datada em (4400 ± 80) anos

AP ou (4810 – 4330) anos AP, levando-se em conta a calibração para reservatório marinho,

com 95.4% de confiabilidade (Item 3.2.2), mostrando que o sítio é ainda mais antigo do que

se supunha.

95

Page 110: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A amostra de carvão do sítio Corondó (PL00-0672) foi datada em (3520 ± 80) anos

AP, ou (3980 – 3480) anos AP, levando-se em conta a calibração atmosférica, com 95.4% de

confiabilidade (Item 3.2.1), mostrando que as ocupações dos montículos A e B são

contemporâneas.

A amostra de cerâmica do sítio Malhada (PL00-0670) foi datada em (2500 ± 110) anos

AP. Essa data se refere ao material orgânico extraído da amostra, relacionado a plantas,

utilizadas na confecção do barro, que representam uma fração muito reduzida do material

total. A amostra não foi suficiente para ter sua idade corrigida para o fracionamento isotópico,

o que é equivalente a estimá-la igual a δ13C= -25‰. A idade calibrada é de (2800 – 2300)

anos AP, com 95.4% de confiabilidade. Essa datação é bem mais antiga do que se esperava

para essa camada de ocupação.

5.3 Sítios Cerâmicos do Estado do Rio de Janeiro

Os assentamentos em sítios cerâmicos ocorreram numa fase posterior aos sambaquis,

em sua maioria no período de 2000 anos AP até a chegada do Europeu, que muito contribuiu

para sua extinção. Ocupados principalmente por grupos de horticultores, esses sítios

apresentam uma organização social diferente daquela partilhada pelos pescadores-coletores

do litoral (sambaquieiros). Urnas funerárias e tigelas em cerâmica são encontradas em

profusão, muitas vezes dispostas de forma ritual. Devido ao contato com os europeus em sua

fase final, há muitos relatos que descrevem esses sítios e seus ocupantes, auxiliando na

interpretação do material encontrado em sítios com características similares.

96

Page 111: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Foram datadas amostras dos sítios Aldeia Tupinambá de Morro Grande e do sítio Toca

dos Urubus, ambos no Estado do Rio de Janeiro.

5.3.1 Aldeia Tupinambá de Morro Grande

O sítio cerâmico Aldeia Tupinambá de Morro Grande está localizado no município de

Araruama, Região dos Lagos, RJ, e foi estudado em conjunto com a pesquisadora Angela

Buarque, do Museu Nacional. Esse tipo de assentamento se refere a grupos com maior

complexidade social e tecnológica que possivelmente tiveram influência na desestruturação

do sistema sociocultural dos pescadores-coletores do litoral, os grupos sambaquieiros.

Das três datações, anteriores a este trabalho, disponíveis para este sítio, duas

apresentavam problemas. Além de uma data de (1740 ± 90) anos AP (Beta Analytic 84333),

contextualizada e compatível com as características do sítio, foi datada uma amostra de

carvão em (2200 ± 70) anos AP (Gyf-sur-Ivette). Esta última foi feita a partir de amostra de

carvão disperso, o que poderia colocá-la sob questionamento, pela falta de contextualização

arqueológica. Uma terceira datação, de uma urna funerária de cerâmica, feita por

termoluminescência, resultou numa idade extremamente recente: (315 ± 50) anos AP [Latini,

1998]. Esta data é questionada pelo fato de não terem sido encontrados neste sítio vestígios de

contato com o europeu. Além disso, a amostra é proveniente de camada superficial e a

cerâmica datada poderia ter tido sua idade alterada por uma queimada mais recente no local,

resultado de seguidas atividades de plantio na região.

Como o objetivo de esclarecer essa questão, foram enviadas duas novas amostras para

serem datadas no PRIME Lab, ambas de carvão. A primeira, retirada de uma fogueira

97

Page 112: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

encontrada a 40 cm de profundidade. A fogueira é uma estrutura mais confiável para coleta de

amostras do que um pedaço de carvão isolado, cuja procedência não se pode assegurar. A

segunda, coletada no interior da mesma urna funerária datada por TL, apresentada na Figura

5.13.

Figura 5.13 Urna funerária do sítio Aldeia Tupinambá de Morro Grande.

O sítio foi escavado em 1995, quando as amostras foram coletadas com pinça,

colocadas diretamente em sacos plásticos e estocadas, até serem enviadas ao PRIME Lab.

Elas foram preparadas e medidas da mesma forma descrita para as amostras do Item 5.2.1, por

serem orgânicas.

A datação das amostras veio reforçar os resultados anteriores. O carvão retirado da

fogueira foi datado em (2600 ± 160) anos AP (Plid 00 0688), ou seja, é ainda mais antigo que

aquele datado anteriormente. O resultado mostra uma interseção dos períodos em viveram os

98

Page 113: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

grupos sambaquianos e ceramistas, sendo forte indicador de que a desestruturação dos

sambaquianos estaria ligada à presença dos Tupi, grupo tecnologicamente mais qualificado. A

idade calibrada é de (3100 – 2150) anos AP (2σ).

Confirmando a idade da urna datada por TL, o carvão de seu interior foi datado em

(510 ± 160) anos AP (Plid 00 0686). Apesar da grande barra de erro, esta data pode ser um

indicador da amplitude do período total de ocupação. A julgar pela falta de evidências de

contato com portugueses, é bastante provável que a idade real da amostra, cuja idade

calibrada é de (750 – 0) anos AP (2σ), se encontre no período pré-colonial.

A distância temporal entre os resultados encontrados sugere uma reocupação do sítio.

Pesquisas em outras regiões indicam que um mesmo sítio pode ter sido reocupado após

centenas de anos. Como as características ambientais priorizadas pelos Tupinambá obedeciam

a características bem específicas (encosta, proximidade de corpos d´água, de floresta, áreas

propícias para horticultura), haveria uma constante reocupação desses espaços. As datações

existentes para a aldeia de Morro Grande podem estar comprovando esta hipótese.

O que se pode perceber na análise da cerâmica dos diferentes sítios pesquisados na

região é que ela tem características materiais constantes e variáveis formais estabelecidas

dentro de um padrão estilístico rigidamente normatizado, submetido a regras tecnológicas

reproduzidas na longa duração. Há uma repetição de formas, com características específicas

para servir a funções definidas ainda que com alguma variabilidade no uso cotidiano. Tanto as

formas cerâmicas quanto os motivos decorativos presentes nas peças cerimoniais têm uma

variabilidade muito pequena e esse dado se repete quando se compara peças de norte a sul do

país. A Figura 5.14 mostra as tigelas associadas ao enterramento, encontradas junto à urna.

99

Page 114: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Figura 5.14 Tigelas associadas ao enterramento.

Esse padrão de cerâmica, assim como o tipo de lugar escolhido para os assentamentos,

mostram que o sítio poderia ter sido reocupado, depois de muito tempo, por outros grupos,

mas todos pertencentes aos Tupinambá.

5.3.2 Toca dos Urubus

Foi datada uma amostra de osso humano coletada no sítio Toca dos Urubus, no

município de Santa Maria Madalena, Rio de Janeiro. Neste assentamento, estudado em

conjunto com o grupo do Instituto de Arqueologia Brasileira, foram encontradas faixas

tecidas, urnas de cerâmica com restos humanos, além de vários artefatos. O material foi

associado à Fase Mucuri, da Tradição Una, grupo horticultor-ceramista da Serra Fluminense.

100

Page 115: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A Tradição Una é encontrada no Noroeste (datações mais antigas) e Sul de Minas Gerais,

Serra Fluminense, Região dos Lagos e Baixada de Campos, no Rio de Janeiro, além da Serra

do Espírito Santo (datações mais recentes). No entanto, para a Fase Mucuri, encontrada neste

sítio, não se dispunha de qualquer datação.

A amostra, uma falange proximal de mão de um indivíduo adulto, com resquícios de

pele, retirada do interior de uma urna, teve sua composição analisada. O material foi

preparado de acordo com os procedimentos do Item 2.1.3, passando então pelo processo de

combustão (Item 2.1.4) e grafitização (2.1.6).

Problemas com o acelerador durante a medida causaram uma grande barra de erro para

o resultado. Datada em (1430 ± 400) anos AP (PL 00-0669), a calibração do resultado gerou

um intervalo de (2350 – 550) anos AP, abrangendo um longo período de tempo. Apesar da

grande barra de erro, o resultado mostrou que a ocupação era mais antiga do que se

imaginava. Nesse caso, uma nova medida da amostra será necessária.

101

Page 116: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Capítulo 6

Conclusões

Este trabalho de tese teve como objetivos, além do aprendizado das técnicas de

preparação de amostras de radiocarbono para medida por AMS, o desenvolvimento de vários

estudos em diferentes áreas de pesquisa e a elaboração do projeto de um laboratório de

preparação de amostras de carbono no Instituto de Física da UFF, para medidas externas por

AMS. Para tanto, foi realizado um estágio de doze meses no Laboratório de Medida de

Isótopos Raros da Universidade de Purdue (PRIME Lab), em Indiana, nos Estados Unidos.

Esse estágio foi financiado pelo programa de doutorado sanduíche da CAPES.

No período de estágio no PRIME Lab foram preparadas 27 amostras de carbono de

diversos materiais, como carvão, sementes, cerâmica, ossos, conchas de moluscos e

foraminíferos. A orientação estrangeira dos trabalhos foi feita pelo professor Dr. David

Elmore, diretor do laboratório, e todo o aprendizado das técnicas de preparação de amostras

de carbono foi auxiliado pelo Dr. Ken Mueller, responsável pelo setor de amostras naturais de

carbono.

Esta fase do trabalho foi dividida em duas etapas. A maior parte do tempo foi

destinada à aprendizagem das técnicas de preparação, integração nos projetos de pesquisa do

laboratório, preparação de amostras de fundo e padrões, e, posteriormente, participação na

preparação do todas as amostras naturais de carbono do laboratório. Numa segunda etapa,

depois de adquirida toda a experiência necessária, foram preparadas as amostras dos grupos

de pesquisa brasileiros.

102

Page 117: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A etapa de aprendizagem possibilitou ainda a participação ativa no desenvolvimento e

implantação da técnica de preparação de ossos no PRIME Lab. Esta técnica não era oferecida

neste laboratório anteriormente e foi disponibilizada em função da necessidade de preparar as

oito amostras de dentes e ossos que faziam parte de nosso projeto, e em troca dessa

colaboração.

Com base nas técnicas de preparação de amostras e nos equipamentos utilizados no

PRIME Lab foi possível desenvolver um projeto de implantação do Laboratório de

Preparação de amostras de Carbono para AMS no Instituto de Física da UFF. O local, já

disponível para a instalação do mesmo, no laboratório de física nuclear, será equipado de

forma a atender às necessidades para seu funcionamento. A compra do equipamento está

sendo feita de forma racional, visando minimizar os custos, mas sem prejudicar a qualidade

do serviço que será prestado. Parte do material já foi adquirido, priorizando a construção da

linha de grafitização.

A finalização do laboratório depende apenas de questão orçamentária e, tão logo esteja

pronto, passará pela avaliação necessária para verificação de níveis de fundo e

reprodutibilidade de datações, incluindo comparações multilaboratoriais oficiais promovidas

pelo NIST (National Institute of Standards and Technology). Estando apto a oferecer o

serviço de preparação de amostras de carbono para serem datadas por AMS, o laboratório

atenderá aos diversos grupos de pesquisa que fazem uso desta técnica e, freqüentemente,

enviam amostras para serem datadas por laboratórios estrangeiros.

103

Page 118: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A interdisciplinaridade é a base deste projeto, que em todo seu desenvolvimento teve

como objetivo interagir com esses grupos de pesquisa, entre arqueólogos e geocientistas,

datando gratuitamente, 20 amostras de carbono e, futuramente, oferecendo o precioso serviço

de preparar suas amostras e convertê-las em grafite, reduzindo em muito o custo das datações.

As amostras preparadas neste trabalho contribuíram em importantes trabalhos de

arqueologia e geociências. A datação de cinco amostras de foraminíferos coletados no fundo

do oceano na região da Bacia de Campos, pelo grupo de Geologia Marinha da UFF,

possibilitou a determinação de taxas de sedimentação ao longo dos últimos sete mil anos,

dando informações sobre o nível do mar e a estabilidade do fundo oceânico no local. Essas

datações também possibilitarão a associação das idades com as temperaturas contemporâneas,

que podem ser determinadas a partir da razão isotópica do oxigênio.

Vários sítios arqueológicos foram estudados a partir das datações realizadas. O sítio

cerâmico Aldeia Tupinambá de Morro Grande, em Araruama, RJ, estudado pela pesquisadora

Angela Buarque, do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro,

teve duas datações num intervalo de dois mil anos, revelando a longa duração de sua

ocupação e uma possível relação deste tipo de sítio com a extinção dos sambaquis.

Os sítios Malhada e Corondó, em Cabo Frio, RJ, estudados pelo grupo do pesquisador

Paulo Seda, do IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira), foram datados a partir de amostras

de cerâmica, carvão e concha. Essas datações contribuíram para uma análise comparativa dos

sítios. Uma amostra de tecido ósseo humano do sítio Toca dos Urubus, no município de Santa

Maria Madalena, RJ, estudado pelo mesmo grupo, foi datada, revelando uma ocupação mais

antiga do que se supunha.

104

Page 119: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Duas datações de um dos sambaquis do núcleo da Boa Vista, no distrito de Búzios, RJ,

estudado pela pesquisadora Márcia Barbosa, do Museu Nacional, permitiram a análise de que

essas ocupações, relacionadas entre si, davam-se de forma intermitente. As novas datas

contribuíram também para uma comparação entre o nível do mar ao longo dos últimos sete

anos e a ocorrência de ocupações nesses sambaquis.

Analisados pela Dr. Tânia Andrade Lima, também do Museu Nacional, dois dos

Sambaquis da Baia da Ribeira, Angra dos Reis, RJ, mostraram ter sido ocupados

simultaneamente, possibilitando futuros estudos de relações entre esses sítios, e num período

diferente do que se esperava a partir ocupações conhecidas no local, sugerindo intermitência

das ocupações. A maior contribuição deste trabalho, no entanto, está relacionada à datação da

camada inferior do Sambaqui do Algodão. Esta revelou que a ocupação do litoral brasileiro é

dois mil anos mais antiga do que se supunha, e ocorreu a partir dos atuais estados do Rio de

Janeiro de São Paulo, e não de Santa Catarina, onde a cultura dos sambaquis floresceu mais

fortemente.

As amostras de tecido ósseo que não puderam ser datadas devido à insuficiência de

material serão substituídas por outras, disponíveis em maior quantidade, que representem as

mesmas ocupações pré-históricas, de forma a dar continuidade aos trabalhos iniciados.

Amostras do sítio Serrano, no município de Araruama, RJ, estudado pela pesquisadora Angela

Buarque, do Museu Nacional e amostras do sítio Malhada, em Cabo Frio, RJ, estudado pelo

grupo do pesquisador Paulo Seda, do IAB, serão preparadas e datadas. Uma nova medida da

amostra de tecido ósseo do sítio Toca dos Urubus será feita a fim de diminuir o erro do

resultado.

105

Page 120: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Desta forma, pode-se concluir que este trabalho de doutorado atingiu seus objetivos,

não somente na capacitação em preparação de amostras de 14C para AMS, mas também

trazendo importantes informações para diversos trabalhos de ponta nas áreas de arqueologia e

ciências marinhas. Este trabalho aponta para a importância da continuidade do

desenvolvimento científico e tecnológico, através de um trabalho conjunto e interdisciplinar

entre diversas áreas de pesquisa.

106

Page 121: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Apêndice A

Procedimentos de Limpeza

Os procedimentos de limpeza são parte importante do processo de preparação de

amostras de carbono para AMS. Eles são destinados à limpeza de potes de vidro tipo pyrex,

plásticos, anéis de borracha para vedação (o-rings) e todo equipamento de aço inox, incluindo

as partes da linha de grafitização. Seguindo esses procedimentos, assegura-se de que não haja

contaminação entre amostras e na preparação de reagentes. É importante ressaltar que todo e

qualquer equipamento deve ser usado apenas para a preparação de amostras naturais, ou seja,

com baixo nível de 14C. A limpeza não é suficiente para remover contaminação por amostras

enriquecidas com altos níveis de radiocarbono.

Cada tipo de equipamento passará por um processo específico. De um modo geral, os

enxágües com água ultrapura devem ser feitos, individualmente, segurando a peça contra o

fluxo de água e não deixando as peças de molho num recipiente. Sobretudo para as sanfonas,

nas quais os tubos de amostra são quebrados, que ficam muito contaminadas pela amostra, e

para todas peças que entram em contato direto com as amostras.

O desengorduramento das peças deve ser feito, eventualmente, quando estas tiverem

sido lubrificadas ou usadas com materiais oleosos. Apenas o-rings necessitam ser

desengordurados como rotina. Em todos os procedimentos o tempo proposto para a limpeza

ultra-sônica é um período mínimo de 30 minutos. No entanto, como a solução de lauril sulfato

de sódio é corrosiva, não se deve ultrapassar 2 horas com a peça submersa.

107

Page 122: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Para simplificar, algumas abreviações serão utilizadas para reagentes e procedimentos

que aparecem com muita freqüência.

Água ultrapura = AUP

Água destilada = AD

Lauril sulfato de sódio = LSS

Tricloroetileno = TCE

Limpeza ultra-sônica = LUS

A.1 Vidrarias de pyrex em geral

O desengorduramento das peças de pyrex é feito colocando-as num béquer de vidro,

imersas em TCE, e submetendo-as à LUS a 50o C. O TCE deve ser, então, descartado e cada

peça lavada com uma pequena quantidade de LSS, diluído em AUP de modo a eliminar o

TCE, descartando a solução.

Após lavagem da peça com AUP, esta deve ser colocada num béquer de vidro com

LSS, e submetida à LUS com aquecimento.

Se a vidraria estiver muito contaminada por matéria orgânica deve-se lavar em AD e

deixar de molho em Aqua Regia (na estufa) por 15 minutos. Despejar a Aqua Regia de volta

no seu recipiente.

108

Page 123: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Após nova lavagem com AUP, deve-se lavar com AD e, imersa em AUP, submeter

novamente à LUS com aquecimento. Lavar novamente e por, pelo menos, três vezes com AD

e secar no forno a 105o C. Aquecer então a 540o C por 2 horas para remover contaminação

orgânica e cobrir com papel de alumínio.

A.2 Tubos para medida de 13C/12C por MS

Os tubos utilizados para a medida de δ13C por espectrometria de massa convencional

devem ser limpos separando-se a válvula do tubo. A válvulas devem ser limpas sem retirar a

rosca ou o o-ring. Devem ser colocadas num béquer de vidro com TCE e submetidas à LUS.

Deve-se descartar, então, o TCE e repetir a operação. Lava-se com LSS diluído em AUP e

descarta-se a solução. Lavam-se as válvulas com AUP e então se submetem novamente à

LUS, imersas em LSS, com aquecimento. Descarta-se a solução e lava-se o béquer com as

válvulas, em AUP. Mais uma vez submetem-se à LUS, imersas em AUP com aquecimento.

Lava-se por pelo menos três vezes com AUP e seca-se a 105o C por pelo menos 48 horas.

O desengorduramento dos tubos é feito enchendo-os com TCE, eliminando ao máximo

as bolhas de ar. Deve-se colocá-los num recipiente limpo, imersos em TCE e submetê-los à

LUS a 50o C. Descarta-se o TCE, cuidadosamente eliminando-o totalmente dos tubos. Lavam-

se com AUP, enchendo os tubos até a metade e agitando. Descartar a água e repetir por 2

vezes mais ou até que não restem vestígios do sabão.

Enchem-se os tubos com LSS de forma a eliminar as bolhas de ar e então se colocam

os tubos no recipiente com LSS. Submete-se à LUS com aquecimento. Lavam-se com AUP,

109

Page 124: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

enchendo os tubos até a metade e agitando. Descartar a água e repetir por 2 vezes mais ou até

que não restem vestígios do sabão.

Enchem-se os tubos com AUP até a metade, eliminando as bolhas de ar. Colocam-se

os tubos no recipiente com AUP, submetendo-o à LUS com aquecimento. Lavam-se com

AUP, enchendo os tubos até a metade e agitando. Descartar a água e repetir por pelo menos 2

vezes. Secar no forno a 105o C e então aquecer a 540o C por 2 horas para remover

contaminação orgânica.

Lubrificar os o-rings e reinstalar as válvulas. Cobrir com papel alumínio.

A.3 Recipientes Plásticos

Recipientes plásticos muito contaminados por matéria orgânica ou engordurados

devem ser simplesmente descartados. Para uma limpeza simples deve-se lavar com AUP e

então submeter à LUS, em um béquer de vidro com LSS, com aquecimento. Pode-se despejar

a solução de LSS de volta em seu recipiente para ser reutilizada. Lava-se com AD e submete-

se novamente à LUS com AUP com aquecimento. Lava-se com AD por três vezes e então se

deixa secar naturalmente, envolvido por papel alumínio. Depois de seco, cobre-se com papel

alumínio.

A.4 Peças da linha de grafitização e outras peças de aço inox

O desengorduramento das peças de metal é feito colocando-as num recipiente de inox,

imersas em TCE, e submetendo-o à LUS a 50o C. O TCE deve ser, então, descartado e a peça

110

Page 125: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

lavada com uma pequena quantidade de LSS diluído em AUP de modo a eliminar o TCE,

descartando a solução.

Após lavagem da peça com AUP, esta deve ser colocada no mesmo recipiente de inox

com LSS, e submetida à LUS com aquecimento. Se as peças não tiverem sido

desengorduradas pode-se despejar a solução de LSS de volta em seu recipiente para ser

reutilizada, caso contrário esta deve ser descartada.

Lavam-se peças e recipiente de inox em AUP. Colocar as peças no recipiente com

AUP e submetê-las à LUS com aquecimento. Lavar novamente e, por, pelo menos, três vezes,

com AUP e secar no forno a 105o C. Em uma bandeja de inox, cobrir as peças com papel de

alumínio e aquecê-las a 250o C por 3 horas para remover contaminação orgânica. Cobrir com

papel de alumínio.

A.5 Válvulas da linha de grafitização

Para limpar as válvulas é preciso desmontá-las cuidadosamente e separar as partes. O

corpo da válvula deve ser limpo de acordo com os procedimentos para peças de inox,

incluindo o desengorduramento.

Os plugs devem ser limpos separadamente removendo os excessos com toalha de

papel e então os submetendo à LUS num recipiente com TCE por 15 minutos a 50o C. Deve-

se descartar o TCE e repetir o procedimento por 2 ou 3 vezes. Lava-se com uma pequena

quantidade de LSS diluído em AUP de modo a eliminar o TCE, descartando a solução.

111

Page 126: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Após lavagem da peça com AUP, esta deve ser colocada no mesmo recipiente de inox

com LSS, e submetida à LUS com aquecimento. Lavam-se peças e recipiente de inox em

AUP. Colocar as peças no recipiente com AUP e submetê-las à LUS com aquecimento.

Lavar novamente e por, pelo menos, três vezes com AUP e secar no forno a 105o C, até o dia

seguinte.

Reinstalar o-rings limpos e lubrificados no plug cuidadosamente. Se necessário, usar

apenas ferramentas plásticas para não arranhar o plug de teflon. Lubrificar então o plug e os

o-rings. Reinstalar o plug de teflon no corpo da válvula limpa, rodando-o para não retirar o o-

ring do lugar. Segurar o o-ring do meio na cavidade para que ele não saia enquanto o plug

penetra. Completar a re-montagem da válvula.

A.6 O-rings

Limpar os excessos com toalha de papel e colocar os o-rings em um béquer de vidro

com TCE. Submetê-los à LUS a 50o C. Descartar o TCE e repetir. Lavá-los com uma pequena

quantidade de LSS diluído em AUP de modo a eliminar o TCE, descartando a solução.

Após lavagem dos o-rings com AUP, eles devem ser colocados num béquer de vidro,

limpo, com LSS, e submetidos à LUS com aquecimento por 1 hora. A solução deve ser

descartada e os o-rings novamente lavados com AUP. Colocados no mesmo béquer com

AUP, devem ser submetidos à LUS com aquecimento, e então lavados mais três vezes com

AUP. Secar no forno a 105o C por pelo menos 48 horas. Lubrificá-los apenas na hora de

serem instalados.

112

Page 127: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A.7 Pinos usados para pressionar a grafite no catodo

Os pinos utilizados para pressionar as amostras já em forma de grafite nos catodos de

cobre devem ser polidos em ambas as extremidades com lixa (400 silicon carbide).

Lavar os pinos em AUP e colocá-los em um béquer descartável de 200 ml. Submetê-

los à LUS por 15 minutos com aquecimento imersos em LSS, descartando a solução. Lavar

com AUP por três vezes e encher o béquer com AUP, submetendo-os à LUS por mais 15

minutos com aquecimento. Descartar a água do béquer e levá-lo ao forno a 105o C, deixando

até o dia seguinte.

113

Page 128: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Apêndice B

Listagem de Equipamento

A listagem de equipamento e material apresentada na Tabela B.1 se baseia nos

itens adquiridos pelo PRIME Lab para o laboratório de preparação de amostras naturais de

carbono. A especificação de cada um deles, bem como fabricante e código de catálogo

referem-se a esses itens.

Para o Laboratório de Preparação de Amostras de Carbono do Instituto de

Física da UFF o equipamento está sendo comprado buscando minimizar os custos e

simplificar a sua instalação, procurando similares nacionais quando possível. O fundamental é

que tal equipamento atenda às necessidades do processo de preparação de amostras,

permitindo o bom funcionamento do laboratório. Material de consumo como luvas

descartáveis, papel alumínio, reagentes e tubos de ensaio devem ser disponibilizados com

fartura, evitando contaminação entre amostras.

A coluna sete mostra a que parte do processo de preparação de amostras está

relacionado cada item para que estes possam ser adquiridos de forma racional. A coluna 8

indica aqueles já disponíveis, cuja aquisição teve como prioridade a montagem da linha de

grafitização.

114

Page 129: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Tabela B.1 Lista de equipamento para laboratório de preparação de amostras de carbono.

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

1 Acendedor Standard Single flint

light

1 McMastr 7907A1 grafitização,

combustão

2 Acessório p/

medidor de

pressão

compact TC gauge 1 Televac 2-3014-042 grafitização x

3 Acessório p/

medidor de

pressão

20 foot cable 1 Televac 2-9800-078 grafitização x

4 Acessório p/

medidor de

pressão

TC gauge Tube 1 Televac 2-2100-10 grafitização x

5 Acessório p/

medidor de

pressão

Red Line gauge (calib) 1 Televac 2-2100-237 grafitização x

6 Ácido

Clorídrico

37% reagente, 6 lb 1 pré-tratamento

7 Ácido Fosfórico 85% reagente, 500ml 1 pré-tratamento

carbonatos

8 Adaptador para

centrífuga

16 mm 2 Fisher 05-375-7 pré-tratamento

9 Agulhas 27 Ga X 3/4” 12 pré-tratamento

de carbonatos

10 Agulhas 22 Ga X 2” , septum 12 PGC 79-4145-09 pré-tratamento

de carbonatos

11 Alicate Premium Nippers 8” 1 McMastr 3738A3 geral

12 Aquecedor Heat Sink 1 Omega FHS-2 grafitização

13 Aquecedor Master PH 1200

Varitemp Proheat Gun

1 Allied 861-1200 grafitização,

combustão

14 Aquecedor de

tubos de ensaio

modular drybath,

thermolyne

1 Fisher 11-716-50 pré-tratamento

15 Aquecedor

lateral reserva

1 Fisher SPN83633 grafitização

16 Aquecedor

reserva de baixo

1 Fisher SPN83638 grafitização

17 Aquecedor

reserva p/ mufla

Ney 525 1 Fisher 9491040 combustão

18 Bacia plástica 1 grafitização

115

Page 130: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação fabricante cód catálogo etapa comprado quantidade

19 Balança analítica 0-200g @

0.1mg

1 Fisher 01-914-277 grafitização /

combustão /

pré-tratamento

20 Balança digital HP-320 1 Fisher 22-272940 pré-tratamento/

limpeza de

peças

x

21 Béquer descartável, 210 ml,

500/pqt

1 Fisher 14-375-127 pré-tratamento

22 Béquer Griffin 10, 20, 50, 100,

150, 200, 250 e 600 ml

5 de cada pré-tratamento /

limpeza

23 Béquer aço inox 600 ml 1 Fisher 02-583C pré-tratamento /

limpeza

x

24 Béquer aço inox 1200 ml 1 Fisher 02-583D pré-tratamento /

limpeza

x

25 Béquer aço inox 4000 ml 1 Fisher 02-583G pré-tratamento /

limpeza

26 Béquer Berzelius 2000 ml 1 pré-tratamento /

limpeza

27 Béquer Berzelius 1000 ml 1 pré-tratamento /

limpeza

28 Béquer Griffin 400 ml 2 pré-tratamento /

limpeza

29 Alvejante líquido, galão 1 limpeza de

peças

30 Bloco para o

aquecedor

modular block 13.75mm

holes

2 Fisher 11-716-56 pré-tratamento

31 Bloco para o

aquecedor

modular block 16.75mm

holes

1 Fisher 11-716-60 pré-tratamento

32 Blocos para

tubos de

combustão

12x12x1.5”machinable

aluminum silicate

ceramic

1 McMastr 8479K56 combustão

33 Blocos para

tubos de

grafitização

12x12x3/4”machinable

aluminum silicate

ceramic

1 McMastr 8479K48 grafitização

34 Bomba de

vácuo

molecular

drag/forepump

1 Daniels TD-030/016-HVP pré-tratamento

de carbonatos /

combustão/

grafitização

35 Brometo de

Zinco

99.9%, 1Kg 1 Alfa 40413 limpeza de

peças

36 Cabine de

hidratação

2 Fisher 08-647-24 combustão

116

Page 131: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

37 Caixa para

descarte de

vidro

6/pqt 1 Fisher 12-009-7A grafitização /

combustão

38 Caixa plástica 8-1/4X4-1/2X1-3/8 5 McMastr 4629T52 geral

39 Caixa plástica 11X6-3/4X1-3/4 5 McMastr 4629T53 geral

40 Caixa plástica 13-1/8X8-3/4X2-5/16 5 McMastr 4629T35 geral

41 Caixa plástica 4-1/2X2-3/4X1-1/8 5 McMastr 4629T13 geral

42 Calculadora

científica

HP-32SII RPN 1 HP WEB HEW HP-32SII grafitização

43 Caneta crucible marking pen 2 CEM 302070 combustão

44 Centrífuga 1 Fisher 04-977-8K pré tratamento

45 Cerâmica para o

forno de tubo

machinable aluminum

silicate ceramic 1.25”

rod

1 McMastr 8479K33 grafitização

46 Cilindro

graduado

10 ml 1 pré-tratamento

47 Cilindro

graduado

25 ml 1 pré-tratamento

48 Cilindro não

graduado

2000ml 1 Fisher 08-532E pré-tratamento x

49 Cloreto de

Sódio

técnico, 500 g 1 Alfa 14265 limpeza de

peças

50 Cloreto de

Zinco

cristal, reagente, 1 lb 1 limpeza de

peças

51 Computador pentium 4 1.2 GB 1 Compaq geral x

52 Computador

portátil

1 Compaq coleta de

amostras

x

53 Conector Flexa-frame hook

conector

5 grafitização

54 Controlador de

temperatura

pulse out 1 Omega CN9121A grafitização

55 Cortador 1/8 shank 5/16 high

speed cutter

3 TechniT 302Fl032 geral

56 Cronômetro 2 ColePar E-94416-20 pré-tratamento /

grafitização

57 Cx p/ papel tamanho carta, entrada

lateral

10 geral

58 Deionizador Barnstead E-pure 4

module D4641

1 Fisher 09-050-255 pré-tratamento/

limpeza de

peças

59 Dessecador plastic dessicator

Nalgene

1 Fisher 08-642-15 pré-tratamento

117

Page 132: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

60 Elemento de

aquecimento

para forno de

tubo

6X3/4ID Heating

element 57V, 250W

4 Mellen 18598 grafitização

61 Elemento de

aquecimento

para forno de

tubo

9X1-1/4ID Heating

element 115V, 500W

2 Mellen 12-155 grafitização

62 Escova tubo de ensaio, ½”, pqt

de 12

1 Fisher 03-576 pré-tratamento

63 Escova tubo de ensaio , média 5 pré-tratamento

64 Escova tubo de ensaio, grande 5 pré-tratamento

65 Escova para

balança

pelo de camelo 3/4X1/2 2 Fisher 03-642B geral

66 Espátula estutante 10/pqt 10 Fisher 10-280 pré-tratamento /

combustão /

grafitização

67 Espátula

plástica

1 grafitização

68 Estufa 1 Fisher 13-246-516G limpeza de

peças

x

69 Etanol USP 95%, 5 gal 1 grafitização

70 Fan fan, 4 inch Whisper XL,

Rotron

1 Allied 599-0200 grafitização

71 Ferro pó, 500 g, JT Baker

2228-01, FCC grade

1 VW&R JT2228-1 grafitização

72 Filtro de vidro Whatman 934-AH 2 Fisher 09-873A amostra de

controle

73 Filtro de vidro Whatman 934-AH Glass

Filter, 2.1cm

1 Fisher 09-873A amostras de

controle

74 Fita de vedação Teflon thread sealing

tape, 1/2”

1 grafitização

75 Folha de Prata 0.025mm, 99.998%,

50X250mm

3 Alfa 11498 combustão

76 Frasco 1000ml volumétrico 1 Fisher 10-198-50F pré-tratamento

77 Frasco 500ml volumétrico 1 Fisher 10-198-50E pré-tratamento

78 Funil pó 1 pré-tratamento

79 Funil 160mm superior 1 pré-tratamento

80 Garrafa carrier 1 Fisher 03-439 pré-tratamento

81 Garrafa de

polietileno

boca larga, superfície

fluorada, ½ gal

1 Fisher 02-925-5 pré-tratamento

82 Garrafa plástica 16oz 4 pré-tratamento

83 Garrafa plástica 32oz 4 pré-tratamento

118

Page 133: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

84 Garrafa plástica boca larga, ½ gal 2 Fisher 11-815-11A pré-tratamento

85 Geladeira

plástica portátil

1 grafitização

86 Hidróxido de

Sódio

reagente, 5 lb 1 pré-tratamento

87 Kit de elemento

de aquecimento

para Master PH 1200 1 Allied 861-3531 grafitização,

combustão

88 Kit p/ coleta de

amostras

1 coleta de

amostras

89 Kit p/

deionizador

D5023 1 Fisher 09-050-269 pré-tratamento /

limpeza de

peças

90 Lâmina Blade, Razor, single

edge 100/cx

10 VW&R 55411-050 pré-tratamento

91 Limpador ultra-

sônico

9.5 l 1 Fisher 15335-112 pré-tratamento/

limpeza de

peças

92 Lubrificante Dow Corning high

vacuum grease

1 Fisher 14-635-5D grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

93 Luvas média, cx 1 VW&R 32916-500 geral

94 Luvas peq, cx 1 VW&R 32916-506 geral

95 Luvas grande, cx 1 VW&R 32916-502 geral

96 Luvas anti-

estática

pqt c/ 100 10 Fisher 11-393-85B combustão x

97 Luvas de couro pqt c/ 12 1 Fisher 19-013475 grafitização

98 Maçarico hand torch, 3 tips 1 M-Tech MB-0015 grafitização,

combustão

99 Material de

referência

Ácido Oxálico 1 NIST SRM 4990C amostras de

controle

100 Material de

referência

mármore 0pMC 1 IAEA IAEA-C1 amostras de

controle

101 Material de

referência

Travertine 41pMC 1 IAEA IAEA-C2 amostras de

controle

102 Material de

referência

celulose 129pMC 1 IAEA IAEA-C3 amostras de

controle

103 Material de

referência

madeira 0.3pMC 1 IAEA IAEA-C4 amostras de

controle

104 Material de

referência

madeira 23pMC 1 IAEA IAEA-C5 amostras de

controle

105 Material de

referência

Sucrose 150pMC 1 IAEA IAEA-C6 amostras de

controle

119

Page 134: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

106 Material de

referência

Ácido Oxálico 49pMC 1 IAEA IAEA-C7 amostras de

controle

107 Material de

referência

Ácido Oxálico 15pMC 1 IAEA IAEA-C8 amostras de

controle

108 Medidor de

umidade /

temperatura

1 Fisher 11-661-13 grafitização

109 Medidor de

pressão

Digital Pressure Readout 1 Setra 2001-1 grafitização x

110 Medidor de

pressão

Pressure Transducer, 0-

25 PSIA

1 Setra 280E grafitização x

111 Meia estante p/

tubos de ensaio

30mm, azul 8 Fisher 14-809-119 pré-tratamento x

112 Meia estante p/

tubos de ensaio

30mm, verde 8 Fisher 14-809-125 pré-tratamento x

113 Meia estante p/

tubos de ensaio

30mm, vermelho 8 Fisher 14-809-129 pré-tratamento x

114 Microscópio micromaster I 1 Fisher 12-561B pré tratamento x

115 Misturador vortex mixer, Genie 2 1 Fisher 12-1812 pré-tratamento

116 Monitor GPS 1 coleta de

amostras

x

117 Mufla Ney 525

câmara:9x9x6.5” 1100C

120V 1500W

1 Fisher 10-550-190 combustão x

118 Mufla câmara:14x12x13”

1125C 208V 4600W

1 Fisher 10-650-126 grafitização

119 Óculos didymium upper, shade

6 lower

1 Wale 11-1126 grafitização /

combustão

x

120 o-rings 1/4 ID X 1/16W viton 100 Seal Pr 2-010-V884-75 grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

121 o-rings 3/8 ID X 1/16W viton 100 Seal Pr 2-012-V884-75 grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

122 o-rings 3/16 ID X 3/32W viton

(stem seal)

200 Seal Pr 2-106-V884-75 grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

123 o-rings 1/8 ID X 1/16W viton

(tip seal)

100 Seal Pr 2-006-V884-75 grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

120

Page 135: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

124 o-rings ½ ID X 1/16W viton 100 Seal Pr 2-014-V884-75 grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

125 o-rings 5/16 ID X 3/32W viton 100 Seal Pr 2-109-V884-75 grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

126 o-rings 7/16 ID X 3/32W viton 100 Seal Pr 2-111-V884-75 grafitizqação /

combustão/ pré-

tratamento de

carbonatos

127 Oxido de Cobre

II

fio, pote de 500g 1 Fisher C474-500 combustão x

128 Oxigênio cilindro 251 cu ft 5 grafitização

129 Papel p/ medir

pH

2-10, Vial 3 pré-tratamento

130 Papel p/ medir

pH

1-6 Hydrion 2 Fisher 14-850-12C pré-tratamento

131 Papel p/ medir

pH

3.0-5.5 Hydrion 2 Fisher 14-850-10E pré-tratamento

132 Papel alumínio 12”X75’ 24 geral

133 Papel alumínio 18”X25’ , firme 24 geral

134 Papel p/

pesagem

3X3”, pqt c/ 12 1 Fisher 09-898-12A geral

135 Papel p/

pesagem

6X6” pqt 5 geral

136 Peça p/ linha de

grafitização

Nupro Plug Valve, 1/2”,

verde

4 Ind-Val SS-8P6T-4789 grafitização x

137 Peça p/ linha de

grafitização

Nupro Plug Valve, 1/2”,

azul

4 Ind-Val SS-8P6T-4789-BL grafitização x

138 Peça p/ linha de

grafitização

Nupro Plug Valve, 1/2”,

vermelha

6 Ind-Val SS-8P6T-4789-RD grafitização x

139 Peça p/ linha de

grafitização

Nupro Plug Valve, 1/2”,

preta

3 Ind-Val SS-8P6T-4789-BK grafitização x

140 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr union 1/2” 18 Ind-Val SS-8-UT-6 grafitização x

141 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr union 1/2”-

1/4”

5 Ind-Val SS-8-UT-6-4 grafitização x

142 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr union 3/8” 2 Ind-Val SS-6-UT-6 grafitização x

143 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr union 1/4” 4 Ind-Val SS-4-UT-6 grafitização x

121

Page 136: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

144 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr tee 3/8” 2 Ind-Val SS-6-UT-3 grafitização x

145 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr tee 1/2” 25 Ind-Val SS-8-UT-3 grafitização x

146 Peça p/ linha de

grafitização

Adapter, 1/2 UT to 5/8

tube

5 Ind-Val SS-8-UT-A-10 grafitização x

147 Peça p/ linha de

grafitização

Adapter, 1/4 UT to 1/2

tube

10 Ind-Val SS-4-UT-A-8 grafitização x

148 Peça p/ linha de

grafitização

Adapter, 1/4 UT to 3/8

tube

2 Ind-Val SS-4-UT-A-6 grafitização x

149 Peça p/ linha de

grafitização

Adapter, 3/8 UT to 1/2

tube

5 Ind-Val SS-6-UT-A-8 grafitização x

150 Peça p/ linha de

grafitização

Weld connector 1/4

weld to 1/8 FPT

3 Ind-Val SS-4-TSW-7-2 grafitização x

151 Peça p/ linha de

grafitização

Weld connector 1/4 to

1/4 FPT

3 Ind-Val SS-4-TSW-7-4 grafitização x

152 Peça p/ linha de

grafitização

Filter, 7 micron, 1/2

swagelok ends

8 Ind-Val SS-8F-7 grafitização x

153 Peça p/ linha de

grafitização

Filter elements 10 Ind-Val SS-8F-K4-7 grafitização x

154 Peça p/ linha de

grafitização

Replacementgasket 10 Ind-Val SS-8F-K3 grafitização x

155 Peça p/ linha de

grafitização

bellows 1/2 tube ends X

6”

5 Ind-Val 321-8-X-6 grafitização x

156 Peça p/ linha de

grafitização

bellows 3/8 tube ends X

6”

1 Ind-Val 321-6-X-6 grafitização x

157 Peça p/ linha de

grafitização

bellows 1/4 tube ends X

24”

1 Ind-Val 321-4-X-24 grafitização x

158 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr sleeve 1/4” 5 Ind-Val SS-4-UTS grafitização x

159 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr sleeve 3/8” 5 Ind-Val SS-6-UTS grafitização x

160 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr sleeve 1/2” 10 Ind-Val SS-8-UTS grafitização x

161 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr nut 1/4” 2 Ind-Val SS-4-UTN grafitização x

162 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr nut 3/8” 2 Ind-Val SS-6-UTN grafitização x

163 Peça p/ linha de

grafitização

Ultratorr nut 1/2” 2 Ind-Val SS-8-UTN grafitização x

164 Peça p/ linha de

grafitização

316 SS tubing,

1/2X0.065 wall

3 McMastr 89785K56 grafitização x

122

Page 137: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

165 Peça p/ linha de

grafitização

316 SS tubing,

1/4X0.035 wall

1 McMastr 89785K51 grafitização x

166 Peça p/ linha de

grafitização

316 SS round 1/2” 1 McMastr 89325K25 grafitização x

167 Peça p/ linha de

grafitização

Popper & Sons 1/4NPT

– Luer Adapter

12 PGC Sci 6330 grafitização

168 Peneira de

metal

1 grafitização

169 Pipeta

descartável

500/pqt 1 Fisher 13-711-7 pré-tratamento x

170 Pote térmico dewar, 0.5 litro, aço inox 2 ColePar P-03763-10 grafitização

171 Pote térmico dewar, 1 litro, aço inox 2 ColePar P-03763-20 grafitização

172 Pote térmico dewar, 6 litros, aço inox 1 ColePar P-03763-60 grafitização

173 Pote térmico boca fina, 4.0 l 1 ColePar P-03773-50 grafitização

174 Suporte para

maçarico

1 Wale 1390 grafitização,

combustão

175 Garra p/ linha

de grafitização

clamp, extension, 2

prong

5 grafitização

176 Garra p/ linha

de grafitização

clamp, extension, 3

prong

2 grafitização

177 Garra p/ linha

de grafifização

clamp holder 5 Fisher 05-754 grafitização

178 Estante de

pipetas

50 posições 3 Fisher 13-712-10 grafitização

179 Estante p/ tubos

de ensaio

13mm, azul 8 Fisher 14-809-41 pré-tratamento x

180 Estante p/ tubos

de ensaio

13mm, verde 8 Fisher 14-809-46 pré-tratamento

181 Estante p/ tubos

de ensaio

13mm, vermelho 8 Fisher 14-809-60 pré-tratamento x

182 Estante p/ tubos

de ensaio

16mm, amarelo 1 Fisher 14-809-39 pré-tratamento x

183 Estante p/ tubos

de ensaio

16mm, azul 3 Fisher 14-809-43 pré-tratamento

184 Estante p/ tubos

de ensaio

16mm, verde 3 Fisher 14-809-47 pré-tratamento

185 Estante p/ tubos

de ensaio

30mm, azul 1 Fisher 14-809-44 pré-tratamento

186 Refil p/

acendedor

Flint 5 po pqt 3 McMastr 7907A3 grafitização,

combustão

187 Relay de estado

sólido

controle DC 25A 1 Omega SSR240DC25 grafitização

123

Page 138: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

188 Rolha cortiça, para pote

térmico de 0.5 l

2 ColePar P-03763-12 grafitização

189 Rolha cortiça, para pote

térmico de 1 l

1 ColePar P-03763-22 grafitização

190 Sacola plástica 2x3, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T47 pré-tratamento

191 Sacola plástica 3X5, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T58 pré-tratamento

192 Sacola plástica 4x6, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T59 pré-tratamento

193 Sacola plástica 5x8, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T61 pré-tratamento

194 Sacola plástica 6x9, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T62 pré-tratamento

195 Sacola plástica 9x12, 6 mil, pqt 25 1 McMastr 14555T14 pré-tratamento

196 Sacola plástica 12x15, 6 mil, pqt 25 1 McMastr 14555T16 pré-tratamento

197 Sacola plástica 18x24, 8 mil, pqt 10 1 McMastr 14545T21 pré-tratamento

198 Seringa de vidro 1 pré-tratamento

de carbonatos

199 Sódio Lauril

Sulfato

Pdr, Tec 1 lb 1 limpeza de

peças

200 Suporte pra

cilindro

1 grafitização

201 Tampa aço inox, para pote

térmico de 6 l

1 ColePar P-03763-62 grafitização

202 Tampa borracha n 14 2 Fisher 14-135T grafitização

203 Tampa borracha n 15 2 Fisher 14-135U grafitização

204 Tampas para

tubo de ensaio

vented 13mm, 1000/pqt 1 Fisher 14-957-91 pré-tratamento x

205 Tampas para

tubo de ensaio

vented 16mm, 1000/pqt 1 Fisher 14-957-92G pré-tratamento

206 Tampas para

tubo de ensaio

unvented 13mm,

1000/pqt

1 VW&R 60828-740 pré-tratamento

207 Tampas para

tubo de ensaio

unvented 16mm,

1000/pqt

1 VW&R 60828-764 pré-tratamento

208 TC furo centrado, 3/16 2 grafitização

209 TC furo centrado, 3/16 1 grafitização

210 Termopar tipo K, 10’ 1 Omega XCIB-K-1-4-10 grafitização

211 Termômetro dial de 100 a 540C 1 Fisher 15-060-31 pré-tratamento

212 Bilhas threading beads

0.17”OD X 0.06”ID

100 McMastr 87085K53 grafitização

213 Toalha de papel Kimwipe, 15C16-7/8 15 geral

214 Tricloroetileno Tec, tambor de 55 gal 1 limpeza de

peças

215 Triturador de

gelo

1 grafitização

124

Page 139: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado

216 Tubo de quartzo 7X9mm 35 Qtz Sci QT-7B combustão

217 Tubo de quartzo 6X8mm 10 Qtz Sci QT-6B combustão

218 Tubo de quartzo 9X11mm 20 Qtz Sci QT-9B combustão

219 Tubo de quartzo 4X6mm 80 Qtz Sci QT-4B grafitização

220 Tubo de quartzo 2X3.2mm 15 Qtz Sci QT-2A grafitização

221 Tubos com

rolha de

borracha

vacutainer BD#6442,

7ml, 100/pqt

5 Fisher 02-683-62 pré-tratamento

de carbonatos

x

222 Tubos de ensaio 13mm X 100mm ,

1000/pqt

1 pré-tratamento

223 Tubos de ensaio 16mm X 100mm ,

1000/pqt

1 Fisher 14-961-29 pré-tratamento

224 Válvulas para

linha de

grafitização

Kontes glass stopcock

valve, hi-vac inline,

9mm ODstems

25 Fisher 826450-0004 grafitização

225 Zinco granular, mecha 20,

ACS, 500 g

1 Alfa 36602 grafitização

125

Page 140: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Apêndice C

Preenchimento do Balão

de Reservatório de CO2

O balão na linha de grafitização deve ser preenchido com dióxido de carbono

produzido a partir da reação de calcita com ácido. Esse reservatório deve ser usado,

regularmente, como fonte de amostras de fundo da linha. O processo requer o uso exclusivo

da linha por um ou dois dias e só precisa ser repetido quando o reservatório se esgotar.

A calcita deve ser tratada em pedaços grandes. Num béquer de 50 ml pesam-se

aproximadamente 3 g de calcita, não ultrapassando 3.5 g. Adicionam-se 20 ml de ácido

clorídrico 0.1 M, medindo-se diretamente pela graduação do béquer. Cobre-se com filme ou

vidro limpo. Deve-se deixar no aquecedor de tubos até que a reação cesse, em geral até o

outro dia, pois a reação é lenta. Lava-se em água ultrapura por 3 vezes e deixa-se secar (pode

ser colocado no forno).

Embrulha-se a calcita em papel de alumínio grosso e batendo cuidadosamente com

martelo, quebra-se a calcita em pedaços, sem que vire pó. A calcita tratada deve ser pesada

dando em torno de 2.5 g a 3.0 g. Com a ajuda de uma folha de papel para pesagem enrolada,

coloca-se a calcita na perna maior do tubo de reação.

126

Page 141: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Antes de iniciar a reação é preciso remover da linha o adaptador da agulha e substituí-

lo por uma sanfona. Colocam-se 10 ml de ácido fosfórico a 85% num tubo de centrífuga de

onde se possa tirá-lo com pipeta e preencher a perna menor do tubo de reação até 1/3 do seu

volume. O tubo de reação deve ser então cuidadosamente colocado na linha, conectado à

sanfona e preso com grampos de forma que o braço contendo a calcita esteja quase horizontal.

Estando isolados os segmentos da linha que estejam fora do caminho da saída onde

está a sanfona, é aberta a válvula que liga este segmento à bomba de vácuo. O gás expelido no

ácido fosfórico deve ser todo evacuado, esquentando o tubo, de forma intermitente, com um

aquecedor manual, por cerca de uma hora, até que não se formem mais bolhas. A ligação com

a bomba deve ser mantida aberta até que a pressão seja menor que 1 militorr. A ligação com a

primeira armadilha deve ser então aberta e evacuada até menos de 1 militorr para a posterior

purificação do CO2.

O segmento que contém a sanfona e a primeira armadilha deve ser isolado. Segurando

cuidadosamente o tubo de reação, coloca-se o ácido na calcita, lavando a calcita das paredes

do tubo. Depois de 30 segundos de reação, descarta-se a primeira parte do CO2 produzido,

permitindo sua evacuação por mais 30 segundos. Isola-se novamente o segmento. Colocando

nitrogênio líquido na primeira armadilha o CO2 será removido, acelerando a reação. Quando a

reação começar a ficar lenta deve-se utilizar o aquecedor manual, de forma intermitente,

controlando para que a reação não se acelere demais. O processo leva de 2 a 3 horas, até que a

calcita se esgote. Isola-se então a sanfona e a primeira armadilha.

Evacuam-se cada segmento entre o balão e a armadilha, deixando que a pressão atinja

1 militorr. Isola-se esta parte da linha e, após 1 minuto, substitui-se a armadilha de nitrogênio

127

Page 142: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

por álcool e gelo seco. O balão deve estar aberto. Após 30 minutos todo o gás ocupará o

segmento, inclusive o balão, que deve ser isolado neste momento. Os segmentos devem ser

evacuados e a sanfona removida e limpa. Toda a linha deve ser evacuada por duas horas

depois que a pressão atinja 1 militorr.

128

Page 143: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Apêndice D

Resultados das Datações

Realizadas no PRIME Lab

Neste projeto 27 amostras foram preparadas no PRIME Lab, na Universidade de

Purdue em Indiana, USA. Entre elas amostras de ossos humanos e de animais, dentes,

cerâmica, sementes, carvão, conchas de moluscos e de foraminíferos. As amostras de tecido

ósseo tiveram uma pequena parte retirada para a verificação da composição do colágeno,

como descrito no Item 2.1.3. O resultado da análise revelou que, para a maioria delas, devido

ao seu estado de degradação, seria impossível a datação. Apenas uma amostra foi datada e em

condições precárias, levando a um grande erro estatístico.

A amostra de cerâmica foi preparada de forma a extrair o material orgânico,

presumidamente composto de plantas que teriam sido utilizadas na sua confecção. Sendo esta

fração muito reduzida, o CO2 resultante não foi suficiente para mandá-lo também para a

medida do δ13C.

A Tabela D.1 mostra a identificação das amostras no laboratório através do número

identificador do PRIME Lab (plid); o projeto do qual as amostras faziam parte, já que foram

datadas gratuitamente depois dos projetos serem submetidos e aprovados pela direção do

laboratório; o identificador pessoal (userid) para controle das amostras; a razão R/S, que

129

Page 144: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

indica o valor medido da razão isotópica da amostra, subtraído o fundo e dividido pelo valor

medido para a amostra padrão; o erro do valor R/S; o valor medido por espectrometria de

massa para o δ13C num laboratório externo; o valor da idade convencional calculado a partir

da razão R/S; o erro da idade; e observações sobre o destino das amostras.

Tabela D.1 Resultados da medida das amostras no PRIME Lab.

plid projeto userid R/S erro R/S

(10-15)

δ13C %0

idade convencional

(AP) erro obs

00 0669 I048 1 1010 50 -19 1430 400

00 0670 I048 2 878 12 * 2500 * 110 Quantidade insuficiente para medir δ13C

00 0671 I048 3 710 7 -1.3 4400 80 00 0672 I048 4 768 8 -31.2 3520 80

00 0673 I048 5 Colágeno insuficiente para datação

00 0674 I048 6 Colágeno insuficiente para datação

00 0675 I048 7 Colágeno insuficiente para datação

00 0676 I048 8 724 7 -2 4230 80 00 0677 I048 9 449 4 -27.5 7860 80 00 0678 I048 10 1000 10 -28.6 1420 80 00 0679 I048 11 1169 12 -25.9 190 80 00 0680 I048 12 990 10 -26.6 1520 80 00 0681 I048 13 772 8 0.4 3730 80 00 0682 I048 14 758 8 -1.2 3880 80 00 0683 I048 15 729 7 -2.1 4180 80

00 0684 I048 16 Colágeno insuficiente para datação

00 0685 I048 17 Colágeno insuficiente para datação

00 0686 I048 18 1122 23 -26.7 510 160

00 0687 I048 19 Colágeno insuficiente para datação

00 0688 I048 20 865 18 -27 2600 160 00 0689 I048 21 752 15 -24.7 3740 160 00 0690 I048 22 980 10 -23.7 1620 80 00 0691 I016 1 894 9 0 2560 80 00 0692 I016 2 699 7 1.3 4540 80 00 0693 I016 3 645 6 1.1 5180 80 00 0694 I016 4 763 8 1.2 3840 80 00 0695 I016 5 498 5 0.6 7260 80

130

Page 145: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

A amostra Pl00 0684, coletada no Sambaqui Duna Grande, em Niterói, RJ era de osso

de baleia carbonizado. Nenhum colágeno foi observado em sua análise cromatográfica.

Passando então pelo tratamento Ácido-Base-Ácido convencional, o material não resultou em

qualquer material orgânico além dos ácidos removidos. Assim, não se pôde datar tal amostra.

Na Tabela D.2 são apresentadas as amostras classificadas por grupo de pesquisa

associado: LMK – professora Lina Maria Kneip; MDG –professora Maria Dulce Gaspar;

TAL – professora Tânia Andrade Lima; os três grupos do Museu Nacional, vinculado à

Universidade Federal do Rio de Janeiro. IAB – Instituto de Arqueologia Brasileira;

LAGEMAR – Laboratório de Geologia Marinha da Universidade Federal Fluminense. Na

tabela, a coluna 3 mostra o material da amostra, a coluna 4 o sítio arqueológico ou local da

coleta de cada amostra e a coluna 5, detalhes da localização das amostras e informações

relevantes aos respectivos grupos de pesquisa. São apresentadas as correções regionais

aplicadas às idades das amostras (coluna 7), seja em função da diferença entre os hemisférios,

para amostras atmosféricas, ou da diferença regional para reservatório marinho, estimada para

a costa brasileira. As idades calibradas (coluna 8), de acordo com o tipo de material (a coluna

6 mostra o tipo de calibração necessário), como descrito no Item 3.2.

As idades foram calibradas utilizando o programa OxCal 3.1 da Universidade de

Oxford [Bronk Ramsey, 2000; 1995]. Com 2 σ de erro na distribuição dos pontos que

constituem a curva utilizada, gerando resultados com 95.4 % de confiabilidade da ocorrência

da idade real no intervalo. As idades são apresentadas em anos AP para facilitar a comparação

de resultados com e sem calibração.

131

Page 146: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

Tabela D.2 Tipos de amostras e calibrações das idades.

Plid Grupo de pesquisa

material da amostra sítio/local informação

adicional tipo de

calibração

correção regional

(anos14C)

Idade calibrada (2σ)

(anos AP)

00 0669 IAB Osso (falange)

Toca dos Urubús

RJ-MP-13 interior da

urna Atmosférica -41 +/-14 2350 –550

00 0670 IAB cerâmica Malhada RJ-JC-15 Atmosférica -41 +/-14 2800 – 2300

00 0671 IAB concha Malhada RJ-JC-15 reservatório marinho 0 +/- 40 4810 – 4330

00 0672 IAB carvão Corondó RJ-JC-64 Atmosférica -41 +/-14 3980 – 3480

00 0673 IAB osso (mandíbula) Malhada RJ-JC-15 Atmosférica -41 +/-14

00 0674 IAB osso (falange) Malhada RJ-JC-15 Atmosférica -41 +/-14

00 0675 LMK osso Camboinhas Atmosférica -41 +/-14

00 0676 LMK concha Camboinhas 20 cm Reservatório marinho 0 +/- 40 4560 – 4070

00 0677 TAL carvão Algodão 60 cm Atmosférica -41 +/-14 9000 – 8400 00 0678 TAL carvão Peri 1 m Atmosférica -41 +/-14 1420 – 1060 00 0679 TAL carvão Major 40 cm Atmosférica -41 +/-14 320 – 0 00 0680 TAL carvão Caieira 40 cm Atmosférica -41 +/-14 1550 – 1260

00 0681 LMK concha Manitiba I base reservatório marinho 0 +/- 40 3880 – 3430

00 0682 LMK concha Manitiba I camada VII reservatório marinho 0 +/- 40 4090 – 3600

00 0683 LMK concha Camboinhas superfície reservatório marinho 0 +/- 40 4490 – 3990

00 0684 LMK osso carbonizado Duna Grande superfície Atmosférica -41 +/-14

00 0685 MDG osso Serrano Atmosférica -41 +/-14

00 0686 MDG carvão Morro Grande

interior da urna Atmosférica -41 +/-14 750 – 0

00 0687 MDG dente Serrano Atmosférica -41 +/-14

00 0688 MDG carvão Morro Grande fogueira Atmosférica -41 +/-14 3100 – 2150

00 0689 MDG vegetal Ilha da Boa Vista 0 – 10 cm Atmosférica -41 +/-14 4550 – 3600

00 0690 MDG vegetal Ilha da Boa Vista 50 – 60 cm Atmosférica -41 +/-14 1690 – 1300

00 0691 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 2-4 cm reservatório marinho 0 +/- 40 2450 – 1980

00 0692 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 10-12 cm reservatório marinho 0 +/- 40 4960 – 4480

00 0693 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 16-18 cm reservatório marinho 0 +/- 40 5710 – 5310

00 0694 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 20-22 cm reservatório marinho 0 +/- 40 4050 – 3560

00 0695 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 30-32 cm reservatório marinho 0 +/- 40 7910 – 7560

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Page 147: Preparação de Amostras de Radiocarbono e Aplicações de AMS

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