Presbiteros e Diaconos - SBC - Abril 2011

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SumrioIntroduo: ______________________________________________________________________ 2 I O DICONO: __________________________________________________________________ 13 Introduo: ___________________________________________________________________ 13 A) Terminonogia: _____________________________________________________________ 13 B) Dicono na Literatura Secular: _______________________________________________ 13 1) Na Literatura grega: ________________________________________________________ 13 2) Na Literatura judaica: _______________________________________________________ 13 C) Dicono no Novo Testamento: _______________________________________________ 14 1. Origem do Ofcio de Dicono: ________________________________________________ 15 2. Definio: __________________________________________________________________ 18 3. Requisitos para o Ofcio de Dicono: ____________________________________________ 18 3.1. Ser vocacionado: _________________________________________________________ 18 3.2. Ser Discpulo de Cristo: ____________________________________________________ 21 3.3. Ter boa reputao: ________________________________________________________ 21 3.4. Ser cheio do Esprito Santo: _________________________________________________ 22 3.5. Ser Cheio de Sabedoria: ____________________________________________________ 22 3.6. Ser respeitvel: ___________________________________________________________ 23 3.7. Ter uma s palavra: _______________________________________________________ 24 3.8. No deve ser inclinado a muito vinho: (1Tm 3.8) _________________________________ 24 3.9. No cobiosos de srdida ganncia: _________________________________________ 25 3.10. Deve conservar o mistrio da f com a conscincia limpa:_________________________ 25 3.11. Sejam primeiramente experimentados:________________________________________ 26 3.12. Seja marido de uma s mulher: _____________________________________________ 27 3.13. Que governe bem seus filhos e sua prpria casa: _______________________________ 27 4. Recompensas de uma Diaconia Fiel: ____________________________________________ 28 1. A honra concedida por Deus:__________________________________________________ 28 2. A lembrana graciosa de Deus: ________________________________________________ 28 3. O reconhecimento da Igreja: __________________________________________________ 28 4. Maior firmeza na f: _________________________________________________________ 29 II O Presbtero: _________________________________________________________________ 31 Introduo: ___________________________________________________________________ 31 A) Terminologia: ______________________________________________________________ 31 B) Presbtero na Literatura Clssica: ______________________________________________ 31 1) No Antigo Testamento: ______________________________________________________ 31 2) No Novo Testamento: _______________________________________________________ 32 1. O Ofcio de Presbtero: _______________________________________________________ 33 2. Requisitos para o Ofcio de Presbtero: ________________________________________ 36 2.1. Negativamente Considerando: _______________________________________________ 36 2.2. Positivamente Considerando: ________________________________________________ 41 Consideraes Finais: ____________________________________________________________ 65

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Presbteros e Diconos:Servos de Deus no Corpo de CristoA comunidade de Jesus vive sob a inspirao do Esprito Santo; este o segredo de sua vida, de sua comunho e de seu poder Emil Brunner.1

Os cristos no s professam crer no Esprito Santo, mas so tambm os receptores de Seus dons Charles Hodge.2

.... Deus geralmente supre aqueles a quem imputa a dignidade de possuir esta honra a eles conferida com os dons indispensveis para o exerccio de seu ofcio, a fim de que no sejam como dolos sem vida Joo Calvino.4 3

Trabalhar no reino o nosso estilo de vida Cornelius Plantinga Jr.

INTRODUO:A Igreja a comunidade de pecadores regenerados, que pelo dom da f, concedido pelo Esprito Santo, foram justificados, respondendo positivamente ao chamado divino, o qual fora decretado na eternidade e efetuado no tempo, e agora vivem em santificao, proclamando, quer com sua vida, quer com suas palavras, o Evangelho da Graa de Deus, at que Cristo venha. A Igreja obra de Deus. Sem o Esprito ela no existiria; isto, porque no haveria crente em Cristo. A Igreja composta por pessoas que confessam o Senhorio de

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H. Emil Brunner, O Equvoco da Igreja, So Paulo: Novo Sculo, 2000, p. 53. Charles Hodge, Teologia Sistemtica, So Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 391. Joo Calvino, O Livro dos Salmos, So Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 4.3), p. 96. Cornelius Plantinga Jr., O Crente no Mundo de Deus, So Paulo: Cultura Crist, 2007, p. 111.

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Cristo. Esta confisso s possvel pela ao poderosa do Esprito (Cf. 1Co 5 12.3/Rm 10.9-10). Davi escreve declarando ter Deus como herana: Outro bem no possuo, seno a ti somente (...). O Senhor a poro da minha herana e do meu clice; tu s o arrimo da minha sorte. Caem-me as divisas em lugares amenos, mui linda a minha herana (Sl 16.2,4,5). De modo semelhante, o salmista Asafe exclama: Quem mais tenho eu no cu? No h outro em Quem me compraza na terra (...). Deus a fortaleza do meu corao e a minha herana para sempre (Sl 73.25,26). A Palavra de modo surpreendente nos mostra que aqueles que tm a Deus por herana so herana de Deus; em outras palavras, Deus tem a Sua Igreja como o Seu povo peculiar e especial; por isso, ningum pode nos abater ou destruir; somos o povo escolhido de Deus, somos a Sua herana eterna, conquistada por Cristo Jesus. Deus nos preserva para Si mesmo. Da Davi clamar: Salva o teu povo, e abenoa a tua herana; apascenta-os, exalta-os para sempre (Sl 28.9). Do mesmo modo, o salmista: ....O Senhor no h de rejeitar o seu povo, nem desamparar a sua herana (Sl 94.14). Portanto, o salmista pode declarar de forma confiante: Feliz a nao cujo Deus 6 o Senhor, e o povo que ele escolheu para a sua herana (Sl 33.12). Deus nos predestinou para Si mesmo, a fim de que nos tornssemos Seus filhos, para louvor da glria de sua graa que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redeno, pelo seu sangue, a remisso dos pecados, segundo a riqueza da sua graa.... (Ef 1.6-7). Isto magnfico. Ns em nossa pequenez, pecadores que somos, por graa, somos tomados por Deus como Sua herana para sempre. Deus Se alegra em ter a Igreja como Sua propriedade santificada para sempre. Esta verdade escapa nossa compreenso e imaginao; somente podemos aprender isso por meio da Palavra de Deus. Somos herdeiros de Deus e, o mais fascinante de tudo: somos herana de Deus. A Igreja a herana do Senhor constituda por todos aqueles de todos os lugares e de todos os tempos que creram no Seu nome (Rm 8.17; Ef 2.4-7). Aqui h algo de excelsa magnitude: Somos herana de Deus e, ao mesmo tem7 po, feitura dele (Ef 2.10). A igreja o reflexo dos atos da Trindade. O Deus Trino atua de tal forma que a Sua igreja foi constituda e preservada at a consumao5

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Por isso, vos fao compreender que ningum que fala pelo Esprito de Deus afirma: Antema, Jesus! Por outro lado, ningum pode dizer: Senhor Jesus!, seno pelo Esprito Santo (1Co 12.3). Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu corao, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, sers salvo. Porque com o corao se cr para justia e com a boca se confessa a respeito da salvao (Rm 10.9-10). Sobre Israel como herana de Deus, Vejam-se: Dt 4.20; 1Sm 10.1; 2Sm 21.14; Sl 33.12; 74.2; 78.62; 94.5,14; 106.40; Is 19.25; 47.6; 63.17; Jr 12.14; Jl 2.17; 3.2. Deus disciplina a sua herana: Jr 12.7-9; Jl 2.17; os filhos como herana do Senhor: Sl 127.3; herana dada por Deus: Sl 135.12; 136.21-22; Jr 3.18; proteo: Is 54.17; 58.14.

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Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemo preparou para que andssemos nelas (Ef 2.10).

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definitiva da obra de Cristo, quando Ele ser glorificado na Igreja e a Igreja nele: Quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vs o nosso testemunho). Por isso, tambm no cessamos de orar por vs, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocao e cumpra com poder todo propsito de bondade e obra de f, a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vs, e vs, nele, segundo a graa do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo (2Ts 1.10-12). Sem dvida, a Igreja de Deus a herana de Cristo confiada pelo Seu Pai. A Igreja uma comunidade de pecadores regenerados. A regenerao efetua8 da pelo Esprito (Cf. Jo 3.3,5; Tt 3.5). Logo, sem a ao regeneradora do Esprito, no existiriam cristos nem Igreja. O Esprito a alma da Igreja, Quem lhe d nimo e vitalidade. o Esprito Quem 9 dirige os homens porta de salvao que Cristo (Jo 10.9). Ao longo da Histria o Esprito tem estabelecido a Igreja, chamando por meio da Palavra os homens para constiturem a Igreja de Deus. Do mesmo modo que o Esprito Santo formou o corpo fsico de Jesus Cristo na encarnao, assim tambm forma o corpo 10 mstico de Jesus Cristo, ou seja, a igreja. ja: Boanerges Ribeiro (1919-2003) acentua a especificidade e especialidade da Igre-

A Igreja resulta de uma ao especial, no rotineira, de Deus entre os homens. O que organiza a Igreja, o que faz dos indivduos de outra forma dispersos uma comunidade a presena permanente de uma pessoa 11 certa e determinada, o Santo Esprito Divino. A Igreja a comunidade daqueles que foram chamados do mundo para Deus pela operao do Esprito, daqueles que tem a mesma fonte gentica, o sangue 12 de Cristo, o novo nascimento. A igreja uma, porque o Esprito habita em todos os crentes. A igreja multifacetada, porque o Esprito distribui diferentes dons aos crentes. De forma que o dom do Esprito (que Deus nos d) cria a unidade da igreja, e os

A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se algum no nascer de novo, no 5 pode ver o reino de Deus (...) Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem no nascer da gua e do Esprito no pode entrar no reino de Deus (Jo 3.3,5). No por obras de justia praticadas por ns, mas segundo sua misericrdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Esprito Santo (Tt 3.5).9

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Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Edinburgh: El Estandarte de la Verdade, (s.d.), Edio Revista, p. 198.11 12

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Eu sou a porta. Se algum entrar por mim, ser salvo; entrar, e sair, e achar pastagem (Jo 10.9).

Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, So Paulo: O Semeador, 1989, p. 36. Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, p. 46.

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dons do Esprito (que o Esprito d) diversifica o ministrio da igreja. A Igreja uma comunidade carismtica porque todos os seus membros receberam dons (xa/risma) para o servio de Deus na Igreja. Os dons concedidos pelo Esprito, longe de servirem para confuso ou vanglria, devem ser utilizados com humildade 14 (1Co 4.7), para a edificao e aperfeioamento dos santos (1Co 12.1-31/Ef 4.1115 14/Rm 12.3-8). Calvino (1509-1564) acertadamente diz que se a igreja edificada por Cristo, prescrever o modo como ela deve ser edificada tambm 16 prerrogativa dEle. Do mesmo modo acentua Kuyper (1837-1920): Os carismata ou dons espirituais so os meios e o poder divinamente ordenados pelos 17 quais o Rei habilita a Sua Igreja a realizar sua tarefa na terra. O Carisma tem 18 sempre um fim social: a Igreja; a comunho dos santos. E tambm, como elemen19 to de ajuda na proclamao do Evangelho (Hb 2.3-4). Calvino trabalha insistentemente com este princpio: As Escrituras exigem de ns e nos advertem a considerarmos que qualquer favor que obtenhamos do Senhor, o temos recebido com a condio de que o apliquemos em benefcio comum da Igreja. Temos de compartilhar liberalmente e agradavelmente todos e cada um dos favores do Senhor com os demais, pois isto a nica coisa que os legitima.

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John Stott. Batismo e Plenitude do Esprito Santo, 2. Ampli., So Paulo: Vida Nova, 1986, p. 64.

Obviamente, no estamos trabalhando aqui com as categorias de Max Weber, que define Carisma como .... uma qualidade pessoal considerada extracotidiana (...) e em virtude da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extracotidianos especficos ou ento se a toma como enviada por Deus, como exemplar e, portanto, como lder. [Max Weber, Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva, Braslia, DF.: Editora Universidade de Braslia, 1991, Vol. 1, p. 158-159]. Como o prprio Weber explica, O conceito de carisma (graa) foi tomado da terminologia do cristianismo primitivo (Ibidem., p. 141). Weber tomou a palavra emprestada em Rudolph Sohm, da sua obra Direito Eclesistico para a Antiga Comunidade Crist (Cf. Ibidem., p. 141). A anlise das questes relativas ao domnio carismtico, esto no centro das reflexes de Weber (Julien Freund, A Sociologia de Max Weber, Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 184).16

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Ningum possui coisa alguma, em seus prprios recursos, que o faa superior; portanto, quem quer que se ponha num nvel mais elevado no passa de imbecil e impertinente. A genuna base da humildade crist consiste, de um lado, em no ser presumido, porque sabemos que nada possumos de bom em ns mesmos; e, de outro, se Deus implantou algum bem em ns, que o mesmo seja, por esta razo, totalmente debitado conta da divina graa (Joo Calvino, Exposio de 1 Corntios, So Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 4.7), p. 134-135).

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Joo Calvino, Efsios, So Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 125. A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja (Joo Calvino, Glatas, So Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 1.1), p. 22). Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chattanooga: AMG Publishers, 1995, p. 196. Veja-se. Frederick D. Bruner, Teologia do Esprito Santo, So Paulo: Vida Nova, 1983, p. 229. Veja-se: Joo Calvino, Exposio de Hebreus, So Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p. 56.

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Todas as bnos de que gozamos so depsitos divinos que temos 20 recebido com a condio de distribu-los aos demais. O Esprito soberano na distribuio dos dons; eles no podem ser reivindicados (1Co 12.11,18), antes, devem ser recebidos como manifestao da graa de Deus e utilizados para a glria de Deus. A Igreja a comunidade formada pelo prprio Deus, sendo constituda por pessoas que tiveram e tm, pela graa de Deus, a f salvadora depositada unicamente em Jesus Cristo. No Novo Testamento, ningum vinha Igreja simplesmente para ser salvo e feliz, mas para ter o privilgio de servir ao Senhor. E ns deveramos ter diante de ns, o benefcio que recebemos de servir e trabalhar na Igreja, a21 centua Karl Barth (1886-1968). Todos ns cristos, recebemos do Senhor, talentos para servir nessa igreja; e os dons recebidos tm muito a ver com as habilidades com as quais nascemos, mas que na realidade, foram dadas tambm por Deus. .... sejam quais forem os dons que possuamos, no devemos ensoberbecer-nos por causa deles, visto que eles nos pem sob as mais profundas obrigaes 22 para com Deus. O que quero enfatizar, que a raiz da palavra graa, a mesma da palavra dom, no grego xa/rij, da podermos falar da Igreja, como uma comunidade carismtica, visto ser ela constituda daqueles que receberam a graa da f e o dom para servir. Mas, o que significa graa? Bem, podemos defini-la, operacionalmente, como um favor imerecido, manifestado livre e continuamente por Deus aos pecadores que se encontravam num estado de depravao e misria espirituais, merecendo justo cas23 tigo pelos seus pecados (Rm 4.4/Rm 11.6; Ef 2.8,9).20

Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostles Creed according to Calvins Catechism, Great Britain: Fontana Books, 1960, p. 116.22 23

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Joo Calvino, A Verdadeira Vida Crist, So Paulo, Novo Sculo, 2000, p. 36. Qualquer habilidade que um fiel cristo tenha, deve dedic-la ao servio de seus companheiros crentes, como tambm submeter, com toda sinceridade, seus prprios interesses ao bem-estar comum da Igreja (Joo Calvino, A Verdadeira Vida Crist, p. 36).

Joo Calvino, Efsios, (Ef 4.7), p. 113.

Vejam-se outras definies em: A.W. Pink, Os Atributos de Deus, p. 69; Idem., Deus Soberano, So Paulo: Fiel, 1977, p. 24; A. Booth, Somente pela Graa, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1986, p. 31; Joo Calvino, Exposio de Romanos, (Rm 5.15), p. 193; R.P. Shedd, Andai Nele, So Paulo: ABU., 1979, p. 15; William Hendriksen, 1 Timteo, 2 Timteo e Tito, So Paulo: Cultura Crist, 2001, (Tt 2.11), p. 452; L. Berkhof, Teologia Sistemtica, Teologia Sistemtica, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 74; W. Barclay, El Pensamiento de San Pablo, Buenos Aires: La Aurora, 1978, p. 154; L. Boettner, Predestinacin, Grand Rapids, Michigan: S.L.C., [s.d.], p. 258; D.M. Lloyd-Jones, Por que Prosperam os mpios, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1983, p. 103; J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, So Paulo: Mundo Cristo, 1980, p. 120; Tom Wells, F: Dom de Deus, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1985, p. 101; Samuel Falco, Predestinao, So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p.100-101; James Moffatt, Grace in the New Testament, New York: Ray Long & Richard R. Smith. Ind., 1932, p. 5; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemtica, p. 146, 147; John Gill, A Complete Body of Doctrinal and Practical Divinity, The Collected Writings of: John Gill, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 2000), I.13. p. 195-196.

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No captulo 4 da Epstola aos Efsios, Paulo est tratando de modo especial da unidade da Igreja dentro da variedade de funes. Assim, est implcita a figura to cara a Paulo, a da Igreja como Corpo de Cristo, mostrando que o segredo do bom funcionamento do corpo a boa utilizao de todas as suas partes. Organicamente, cada membro, por mais insignificante que nos possa parecer, tem um papel importante a desempenhar dentro do equilbrio do todo. Certamente, existem diferenas de beleza e elegncia entre nossos rgos, todavia, todos so essenciais. Do mesmo modo, na Igreja de Cristo, ainda que haja diferenas entre ns, e no sejamos considerados pelos homens como dignos de algum valor, o fato que todos somos essenciais no servio do Reino: Devemos frisar no entanto, que no somos ontologicamente essenciais; antes, Deus, por graa nos tornou essenciais no Seu Reino e, por isso, agora o somos. A nossa essencialidade por graa. Assim, Deus mesmo e no outro, Quem nos concede talentos para servi-Lo (Ef 4.7,11/1Co 12.11,18), portanto a nossa atitude de consciente e real humildade (1Co 4.7; 1Co 15.10), visto que Deus nos concedeu os talentos para o servio do Reino: A manifestao do Esprito concedida a cada um, visando a um fim proveitoso (1Co 12.7). Paulo continua: Para que no haja diviso no corpo; pelo contrrio, co24 operem os membros, com igual cuidado (merimna/w = preocupao), em favor uns dos outros (1Co 12.25). O Senhor nos colocou juntos na Igreja, e destinou cada um ao seu posto, de tal maneira que, sob a nica Cabea, venhamos a nos auxiliar uns aos outros. Lembremo-nos tambm de que to diferentes dons nos tm sido concedidos para podermos servir ao Senhor humilde e despretensiosamente, e aplicar-nos ao avano da glria daquele que nosA palavra tem o sentido de solicitude, preocupao e inquietao. Ela ocorre 18 vezes no NT. O seu uso no Novo Testamento no tem um sentido apenas negativo; Paulo a emprega positivamente, como por exemplo, no texto citado (1Co 12.25). Do mesmo modo, quando se refere a Timteo: Porque a ningum tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide (Merimnh/sei) dos vossos interesses (Fp 2.20) e, tambm quando descreve as suas lutas em favor da Igreja: Alm das cousas exteriores, h o que pesa sobre mim diariamente, a preocupao (Me/rimna) com todas as Igrejas (2Co 11.28). O termo tambm usado negativamente: Jesus, o emprega duas vezes neste sentido: No andeis ansiosos (merimna=te) pela vossa vida.... (Mt 6.25). A Marta, inquieta com os seus afazeres e diante da aparente inrcia de Maria, diz: Marta! Marta! andas inquieta (Merima=j) e te preocupas com muitas coisas (Lc 10.41). Paulo, tambm trata dessa questo, dizendo aos filipenses: No andeis ansiosos (Merimna/w) de cousa alguma.... (Fp 4.6). No entanto, esta exortao pode parecer incua sem a indicao de um caminho eficaz para a canalizao de nossas ansiedades existentes... Paulo ento, prope a soluo para o problema: .... Em tudo, porm, sejam conhecidas diante de Deus as vossas peties, pela orao e pela splica, com aes de graa (Fp 4.6). A orao oferece-nos um abrigo onde podemos nos ocultar das preocupaes mundanas, um lugar onde ficamos a ss com Deus, um refgio onde renovamos a esperana, onde nossos cuidados com as coisas deste sculo ficam amortecidas. A orao o caminho pelo qual iniciamos a caminhada indicada por Pedro; o meio fornecido por Deus para que possamos combater a ansiedade: Lanando sobre ele toda a vossa ansiedade (Me/rimnan), porque Ele tem cuidado de vs (1Pe 5.7) (Ver: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansiedade, So Paulo: Editora Cultura Crist, 2001, especialmente, p. 27-38). Quando assim procedemos, experimentamos o resultado indicado por Paulo no texto de Filipenses: E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardar os vossos coraes e as vossas mentes em Cristo Jesus (Fp 4.7). A paz de Deus porque dEle procede e, tambm, porque o modelo da paz temos em Deus, Aquele que no vive em ansiedade. (Veja-se: F.F. Bruce, Filipenses, Florida: Editora Vida, 1992, (Fp 4.7), p. 154).24

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tem dado tudo quanto temos. Deste modo, os talentos recebidos, foram-nos concedidos para que os usssemos para a edificao da Igreja, no para a disseminao de discrdias, ou para usar de nossa influncia para dividir, denegrir, solapar ou mesmo para a nossa projeo pessoal: Deus no desperdia os dons por na26 da e nem os destina para que sirvam de espetculo. Mas, para a edificao. 27 O objetivo claro: Com vistas ao aperfeioamento (katartismo/j = preparar, equipar para o servio) dos santos (Ef 4.12). Ainda que de passagem, deve ser acentuado que, sempre que os homens so chamados por Deus, os dons so necessariamente conectados com os ofcios. Pois Deus no veste homens com mscara ao design-los apstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons, sem os quais no tm eles como desincumbir-se adequadamente de 28 seu ofcio. Observemos que estes ofcios (Ef 4.11), foram institudos para o aperfeioamento dos santos a fim de que estes cumpram o seu servio na Igreja; ou seja: o trabalho no apenas pastoral ou dos Presbteros Regentes e Diconos, tambm e fundamentalmente comunitrio. Toda a Igreja responsvel: Lutero falou do Sacerdcio Universal dos Crentes; pois bem, este texto nos fala do ministrio universal dos crentes. O carisma traz implicaes de responsabilidade com a edificao de nossos irmos. Na Igreja de Cristo no pode haver a diviso entre aqueles que trabalham e os que apenas ouvem comodamente... Todos somos chamados e capacita29 dos ao trabalho cristo. Notemos tambm, que Paulo est dizendo que todos os membros da Igreja so santos. Isso aponta para o nosso privilgio (somos santificados em Cristo Jesus) e nossa responsabilidade (devemos progredir em santidade). Neste ponto, a Igreja sofre tremendamente, porque ela abandonou a sua realidade e a sua meta de santi25 26 27

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Joo Calvino, Exposio de 1 Corntios, (1Co 4.7), p. 134. Joo Calvino, Exposio de 1 Corntios, (1Co 12.7), p. 376.

Joo Calvino, Efsios, (Ef 4.11), p. 119. Em outro contexto, falando sobre o chamado de Davi para ser rei de Israel, faz comentrio semelhante: Ora, Deus geralmente supre aqueles a quem imputa a dignidade de possuir esta honra a eles conferida com os dons indispensveis para o exerccio de seu ofcio, a fim de que no sejam como dolos sem vida (Joo Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 4.3), p, 96). No h crescimento em igrejas que dependem de algumas poucas pessoas e os demais membros so espectadores. Sempre existe progresso e multiplicao em igrejas cujos membros so vibrantes e intentam servir a Cristo (Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: F para Hoje, So Jos dos Campos, SP.:Fiel, n 6, 2000, p. 20).29

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O termo grego utilizado por Paulo, no campo cirrgico, era usado para consertar um osso quebrado. Ajustar em conjunto num s corpo (D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Crist, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas,1994, p. 172). A ideia fundamental do termo de pr nas condies em que devem estar j uma coisa ou uma pessoa (William Barclay, Efsios, Buenos Aires: La Aurora, 1973, p.156). Calvino diz que o termo grego significa literalmente a mtua adaptao [= coaptitionem] de coisas que devem ter simetria e proporo; assim como, no corpo humano, h uma combinao apropriada e regular dos membros; de modo que o termo tambm usado para perfeio. Mas como a inteno de Paulo aqui expressar um arranjo simtrico e metdico, prefiro o termo constituio [= constitutio]. Pois, estritamente falando, o latim indica uma comunidade, ou reino, ou provncia, como constituda, quando a confuso d lugar ao estado regular e legtimo (Joo Calvino, Efsios, (Ef 4.12), p. 124).

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dade (separao) e cada vez mais intensamente se parece com o mundo na sua forma de pensar, de falar, de sentir, de vestir e de fazer. Ao invs desse comportamento aprendido por osmose sugerir maturidade, , na verdade, um sintoma de infantilidade crnica: temos com demasiada frequncia, falado, sentido e pensado como meninos; enquanto que o propsito de Deus para o Seu povo o inverso: que pensemos, sintamos e falemos como pessoas maduras na f (1Co 13.11/1Co 3.1-2; Hb 5.11-14; 2Pe 3.18). Paulo contrasta aqui os meninos (nh/pioj = beb, imaturo, criana pequena) (Ef 4.14) com a perfeio (te/leioj maduro) (Ef 4.13). Calvino, comenta: Crianas so aqueles que ainda no deram um passo no caminho do Senhor, seno que hesitam, que no determinaram ainda que rumo devem tomar, mas que se movem s vezes numa direo e s vezes 30 noutra, sempre duvidosos, sempre ziguezagueando. As crianas devido a sua ingenuidade, so mais influenciveis, dadas instabilidade. Os pagos apresentam este comportamento, sendo conduzidos por qualquer 31 nova doutrina. Em Listra, conduzidos por suas lendas, pensaram que Paulo e Barnab fossem Jpiter e Mercrio, querendo a todo custo oferecer-lhes sacrifcios. Pouco depois, influenciados pelos judaizantes, apedrejaram a Paulo, deixando-o quase morto (At 14.8-20). Por sua vez, o progresso da igreja marcado por um crescimento da infncia at a maturidade, na em medida que ela as32 sume o carter de sua cabea, Cristo. Paulo para descrever esta inconstncia infantil, usa um termo nutico que se refere a uma pequena embarcao que, em mar aberto no consegue manter o curso certo (Kludwni/zomai = ser arrastado, levado pelas ondas)(Ef 4.14). Metaforicamente tem o sentido de ser agitado mentalmente. A idia a de andar em crculos, diante da variedade de ensinamentos. Ele os compara com as palhas ou outros elementos leves, os quais so rodopiados pela fora do vento a soprar em 33 crculo ou em direes opostas. De fato, muito mais fcil e cmodo, deixarnos levar pelas ondas e pela correnteza do que nadar contra a mar. Os ventos assumem direes diferentes em cada poca; preciso que nos apeguemos com firmeza Palavra para que no nos comportemos como pequenos galhos sendo leva34 dos de um lado para o outro sem nenhum compromisso com a verdade. Tomando as figuras usadas por Paulo, podemos observar que a criana gosta de entretenimento, novidade e indisciplina; se no tivermos firmeza doutrinria, se no estivermos ancorados na Palavra, seremos conduzidos de forma constante e sem direo. Este exemplo negativo, temos nos glatas, aos quais, Paulo escreve: Admira-me que estejais passando to depressa daquele que vos chamou na graa de30 31 32 33 34

Joo Calvino, Efsios, (Ef 4.14), p. 127. Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Eu Creio, So Paulo: Parakletos, 2002, p. 250-251.

Ralph P. Martin, Efsios: In: Comentrio Bblico Broadman, Rio de Janeiro: JUERP., 1985, Vol. 11, p. 190. Joo Calvino, Efsios, (Ef 4.14), p. 128. Veja-se: John R.W. Stott, A Verdade do Evangelho: um apelo Unidade, Curitiba, PR./So Paulo, SP.: Encontro/ABU., 2000, p. 129.

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Cristo, para outro evangelho (Gl 1.6). Vs correis bem; quem vos impediu 35 (e)gko/ptw) de continuardes a obedecer verdade? (Gl 5.7). Retornando ao nosso objetivo, devemos enfatizar que a Igreja uma comunidade carismtica porque constituda pelo povo redimido pela graa de Deus e, tambm, porque atua comunitariamente com os carismas concedidos por Deus para a edificao do Corpo de Cristo. (Veja-se: Ef. 4.13-16). Nesta Igreja, os pastores, presbteros e diconos, so constitudos por Deus pa37 ra a preservao do rebanho. A eleio feita pela igreja, deve ser vista como um reconhecimento pblico de que os referidos oficiais foram escolhidos por Deus; a 38 eleio nos fala do processo no da fonte da autoridade dos eleitos. Desta forma, 39 a autoridade deles derivada de Deus, no do povo que os elegeu; por outro lado, eles precisam ter em mente que prestaro contas dos seus atos a Deus. O Novo Testamento nos chama a ateno para o ministrio universal dos crentes: todos somos responsveis pelo desempenho do servio de Deus em Sua Igreja (Ef 4.1112).36

35

Quanto responsabilidade dos pastores, Vejam-se: Joo Calvino, As Pastorais, So Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 3.15), p. 97-98; Joo Calvino, Exposio de 1 Corntios, (1Co 3.5ss), p. 101ss.37

36

No seu emprego militar tinha a palavra tinha o sentido de cortar uma rvore para causar um impedimento ou, abrir uma vala que obstaculizasse temporariamente o caminho do inimigo, da a palavra tomar o sentido de impedimento, empecilho, obstculo.

38

Calvino, falando com a autoridade e a experincia de um eficiente pastor, escreve em 1548: Os pastores piedosos e probos tero sempre que manter esta luta de desconsiderar as ofensas daqueles que querem desfrutar de vantagem em tudo. Pois a Igreja ter sempre em seu seio pessoas hipcritas e perversas, as quais preferem suas prprias cobias Palavra de Deus. E mesmo as pessoas boas, quer por alguma ignorncia quer por alguma fraqueza, so s vezes tentadas pelo diabo a ficar iradas com as fiis advertncias de seu pastor. nosso dever, pois, no ficar alarmados por quaisquer gneros de ofensas, contanto, naturalmente, que no desviemos de Cristo nossas dbeis mentes (Joo Calvino, Glatas, (Gl 1.10), p. 36-37). A tarefa dos mestres consiste em preservar e propagar as ss doutrinas para que a pureza da religio permanea na Igreja (Joo Calvino, Exposio de 1 Corntios, (1Co 12.28), p. 390).

39

O Esprito tambm chama os homens para o ministrio na Igreja e os dota com as qualidades necessrias para o exerccio eficaz de suas funes. O ofcio da Igreja, neste assunto, simplesmente o de determinar e verificar o chamamento do Esprito. Assim, o Esprito Santo o autor imediato de toda a verdade, de toda a santidade, de toda a consolao, de toda a autoridade e de toda a eficincia nos filhos de Deus, individualmente, e na Igreja, coletivamente (Charles Hodge, Teologia Sistemtica, So Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 396).

Bavinck enfatiza: Os pastores e mestres, os presbteros e diconos, tambm devem seu ofcio e sua autoridade a Cristo, que instituiu esses ofcios e que continuamente os sustenta, que d s pessoas os seus dons e que os apresenta para o ofcio atravs da Igreja (1Co 12.28; Ef 4.11). Mas esses dons e essa autoridade lhes so dados para que sejam empregados para o benefcio da Igreja e para que sejam teis no aperfeioamento dos santos (Ef 4.12) (Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4 ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 537-538). Louis Berkhof acentua que Os oficiais da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e no dos homens, mesmo que a congregao sirva de instrumento para instal-los no ofcio (L. Berkhof, Teologia Sistemtica, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 599). Ver tambm: Samuel Miller, O Presbtero Regente: Natureza, Deveres e Qualificaes, So Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 15.

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A Segunda Confisso Helvtica (1562-1566), no captulo XVIII, falando sobre os ministros da Igreja, declara: verdade que Deus poderia, pelo Seu poder, sem qualquer meio, congregar para Si mesmo uma Igreja de entre os homens; mas Ele preferiu tratar com os homens pelo ministrio de homens. Por isso os ministros devem ser considerados no como ministros apenas por si mesmos, mas como ministros de Deus, visto que por meio deles Deus realiza a salvao de homens A Constituio da IPB. caracteriza bem o que o presbtero e a sua funo (Arts 50 e 51), o mesmo fazendo em relao ao dicono (Art 53). Como sabemos, a Igreja Presbiteriana do Brasil comemora o seu aniversrio na data da chegada do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867), em 12/08/1859. No entanto, a Primeira Igreja Presbiteriana a ser organizada no Brasil, foi no dia 12 de janeiro de 1862, na Capital do Imprio, Rio de Janeiro, Rua Nova do Ouvidor n 31, com as duas primeiras Profisses de F: Um comerciante, norte-americano, Henry E. Milford (com cerca de 40 anos), natural de New York, que veio para o Brasil como agente da Singer Sewing Machine Company e Camilo Cardoso de Jesus 40 (com cerca de 36 anos), que posteriormente mudou o seu nome para Camilo Jos 41 Cardoso. Ele era natural da cidade do Porto, Portugal, sendo padeiro e, ex42 foguista em barco de cabotagem. Ambos eram assduos desde o incio dos traba43 lhos promovidos por Simonton. Nesta ocasio foi celebrada a Santa Ceia pela primeira vez, sendo ministrada 45 pelo Rev. F.J.C. Schneider (1832-1910) e pelo Rev. A. G. Simonton, em ingls e 46 portugus. No entanto, os primeiros oficiais da Igreja Presbiteriana no Brasil s foram eleitos em 1866:40 44

41 42

Ashbel G. Simonton, Dirio, 1852-1867, So Paulo: CEP/O Semeador, 1982, 14/01/1862; Rev. Antonio Trajano, Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: lvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano, Rio de Janeiro: Casa Editora Presbyteriana, 1902, p. 7-8.

Rev. Antonio Trajano, Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: lvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano, p. 8. Rev. Antonio Trajano, Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: lvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano, p. 7-9; Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 24; Jlio A. Ferreira, Histria da Igreja Presbiteriana do Brasil, 2 ed. So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, Vol. I, p. 28. Dirio, 25/11/61; 31/12/61; Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, p. 24, Veja-se nota 131. Relatrio de Simonton apresentado ao Presbitrio do Rio de Janeiro no dia 10/07/1866, p. 4.

43 44 45

O Rev. Schneider chegou ao Brasil em 7/12/1861. Foi ele quem traduziu, entre outros, o livro de Charles Hodge, O Caminho da Vida, New York: Sociedade Americana de Tractados (s.d.), 300p., e o de seu filho, A.A. Hodge, Esboos de Theologia, Lisboa: Barata & Sanches, 1895, 620p.46

Dirio, 14/01/1862.

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Os Diconos em 02/04/1866; eram trs: Guilherme Ricardo Esher (de origem irlandesa), Camilo Jos Cardoso (de origem portuguesa) e Antonio Pinto de Sousa (brasileiro). Os Presbteros em 07/07/1866; eram dois: Guilherme R. Esher e Pedro Perestrello da Cmara (primo do futuro Rev. Modesto Carvalhosa) (de origem portuguesa). Todos foram ordenados no dia 09/07/1866, permanecendo Guilherme R. Esher 47 como Presbtero. Assim, temos os primeiros Presbteros Regentes e Diconos do Presbiterianismo nacional.

47

Vejam-se: Atas da Igreja do Rio de Janeiro; Relatrio de Simonton apresentado ao Presbitrio do Rio de Janeiro no dia 10/07/1866, p. 7-8; Vicente T. Lessa, Annaes da 1 Egreja Presbyteriana de So Paulo, Edio da 1 Egreja Presbyteriana Independente, 1938, p. 41; Rev. Antonio Trajano, Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: lvaro Reis, ed. Almanak Historico do O Puritano, p. 8; Jlio A. Ferreira, Histria da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. I, 28-29.

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I

O DICONO:

Introduo:A) TERMINONOGIA: O termo dicono e suas variantes, provm do grego dia/konoj, diakoni/a e diakone/w, palavras que significam respectivamente, servo, servio e servir. B) DICONO NA LITERATURA SECULAR: 1) NA LITERATURA GREGA: Essas palavras apresentam trs sentidos especiais, com uma pesada conotao depreciativa: a) Servir mesa; b) Cuidar da subsistncia; c) Servir: No sentido de servir ao amo. Para os gregos, servir era algo indigno. Os Sofistas chegavam a afirmar que o homem reto s deve servir aos seus prprios desejos, com coragem e prudncia. Partindo da compreenso grega de que nascemos para comandar, no para servir, Plato (427-347 a.C.) e Demstenes (384-322 a.C.), um pouco mais moderados, admitiam que o servio (diakoni/a) s tinha algum valor quando prestado ao Estado. Portanto, a ideia de que existimos para servir a outrem no cabe, em absolu48 to, na mente grega. 2) NA LITERATURA JUDAICA: Ainda que no judasmo o conceito no tenha sido explorado, encontramos a compreenso mais profunda a respeito daquele que serve. O pensamento oriental no considerava indigno o servio. A grandeza do senhor determinava a grandiosidade do trabalho. Quanto maior o senhor a quem se serve, mais o servio valorizado. O historiador judeu Flvio Josefo, usou o termo em trs sentidos: a) Servir mesa; b) Servir no sentido de obedecer; c) Prestar servios sacerdotais. O trabalho manual era altamente estimado; sendo profundamente respeitados aqueles que o praticavam, visto ser considerado este talento, uma ddiva de

48

Hermann W. Beyer, Servir, Servio: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, So Paulo: ASTE, 1965, p. 275. Vejam-se tambm: J. Stam, Dicono, Diaconisa: In: Merrill C. Tenney, org. ger., Enciclopdia da Bblia, So Paulo: Cultura Crist, 2008, Vol. 2, p. 151.

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Deus. O trabalho faz parte do propsito primevo de Deus para o homem e revela a sabedoria divina (Gn 1.28; 2.15; Ex 20.9; Sl 104.23; Is 28.23-29). Os rabinos, como exemplo desta perspectiva, alm do estudo metdico da Lei, aplicavam-se ao trabalho manual para suprir s suas necessidades (Vejam-se: Mc 6.3; At 18.3). Posteriormente, a ideia de servio foi perdendo a conotao de entrega de si em favor de outrem, assumindo a concepo de uma obra meritria perante Deus. Mais tarde, deteriora-se ainda mais, passando a ser considerado indigno o servio, especialmente no que se refere ao servir mesa. Numa orao registrada Talmude (sc. 1) feita pela perspectiva do escriba, podemos perceber como o conceito de trabalho se deteriorou: Eu te agradeo, Senhor, meu Deus, porque me deste parte junto daqueles que se assentam na sinagoga, e no junto daqueles que se assentam pelas esquinas das ruas; pois eu me levanto cedo, eles tambm se levantam cedo; eu me levanto cedo para as palavras da Lei, e eles, para as coisas fteis. Eu me esforo, eles se esforam: eu me esforo e recebo a recompensa, eles se esforam e no recebem recompensa. Eu corro e eles correm: eu corro para a vida do mundo futuro, e eles, para a fossa da 50 perdio. C) DICONO NO NOVO TESTAMENTO: Os substantivos Diaconia (33 vezes) e Diconos (30 vezes) e o verbo 53 54 Diaconar (34 vezes) so traduzidos por servio, ministrio, socorro, assistncia, dicono (neste caso, apenas transliterado), etc. Jesus Cristo deu uma grande lio aos seus ouvintes ao verbalizar a sua misso. Ele apresenta um contraste evidente com o conceito grego e, ao mesmo tempo, eleva de forma magnfica o pensamento judeu: .... O Filho do homem, que no veio para ser servido (diakone/w), mas para servir (diakone/w).... (Mt 20.28). Mais do49 51 52

49

50 51

Vejam-se: J.I. Packer, Carpinteiro: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. I, p. 364-365; Paul Johnson, Histria dos Judeus, 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1989, p. 174. Apud Joachim Jeremias, As Parbolas de Jesus, 3 ed. So Paulo: Paulinas, 1980, p. 144.

Diakoni/a * Lc 10.40; At 1.17,25; 6.1,4; 11.29; 12.25; 20.24; 21.19; Rm 11.13; 12.7; 15.31; 1Co 12.5; 16.15; 2Co 3.7,8,9 (2 vezes); 4.1; 5.18; 6.3; 8.4; 9.1,12,13; 11.8; Ef 4.12; Cl 4.17; 1Tm 1.12; 2Tm 4.5,11; Hb 1.14; Ap 2.19.52

53 54

Dia/konoj * Mt 20.26; 22.13; 23.11; Mc 9.35; 10.43; Jo 2.5,9; 12.26; Rm 13.4 (2 vezes); 15.8; 16.1; 1Co 3.5; 2Co 3.6; 6.4; 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Fp 1.1; Cl 1.7,23,25; 4.7; 1Ts 3.2; 1Tm 3.8,12; 4.6. Na realidade no existe este verbo em nossa lngua; ele foi apenas transliterado do grego e aportuguesado para dar o mesmo sentido fontico.

Diakone/w *Mt 4.11; 8.15; 20.28; 25.44; 27.55; Mc 1.13,31; 10.45; 15.41; Lc 4.39; 8.3; 10.40; 12.37; 17.8; 22.26,27 (2 vezes); Jo 12.2,26 (2 vezes); At 6.2; 19.22; Rm 15.25; 2Co 3.3; 8.19,20; 1Tm 3.10,13; 2Tm 1.18; Fm 13; Hb 6.10; 1Pe 1.12; 4.10,11.

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que simplesmente servir mesa, nosso Senhor nos ensina que o diaconato uma 25 disposio santa e abnegada de servir ao prximo com a sua prpria vida: Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preserv-la para a vida eterna. 26 Se algum me serve (diakone/w), siga-me, e, onde eu estou, ali estar tambm o meu servo (diakoni/a). E, se algum me servir, o Pai o honrar (Jo 12.25-26). Paulo demonstra que O ministrio (diakoni/a) do Esprito (2Co 3.8) que opera de forma eficaz por meio do Evangelho glorioso. Terminadas a srie de tentaes satnicas desferidas contra o Senhor Jesus, registra Mateus: ....e eis que vieram anjos e o serviram (diakone/w) (Mt 4.11/Hb 1.14). Paulo se declara dicono do Evangelho: Se que permaneceis na f, alicerados e firmes, no vos deixando afastar da esperana do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do cu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro (dia/konoj) (Cl 1.23). Bem como, dicono da Igreja: 24 Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vs; e preencho o que resta das aflies de Cristo, na minha 25 carne, a favor do seu corpo, que a igreja; da qual me tornei ministro (dia/konoj) de acordo com a dispensao da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento palavra de Deus (Cl 1.24-25). , como tambm Apolo, instrumento de Deus para que os homens creiam no Evangelho: Quem Apolo? E quem Paulo? Servos (dia/konoj) por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um (1Co 3.5).

1. Origem do Ofcio de Dicono:A origem deste ofcio eclesistico deve ser buscada no texto de At 6.1-7. Embo56 57 ra saibamos que nem todos concordem com isso e outros no se decidam, fi58 camos com aqueles que identificam o diaconato com At 6.55

55

56 57 58

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o nmero dos discpulos, houve murmurao dos helenistas contra os hebreus, porque as vivas deles estavam sendo esquecidas na distribuio (diakoni/a) di2 ria. Ento, os doze convocaram a comunidade dos discpulos e disseram: No razovel que ns 3 abandonemos a palavra de Deus para servir (diakone/w) s mesas. Mas, irmos, escolhei dentre vs sete homens de boa reputao, cheios do Esprito e de sabedoria, aos quais encarregaremos 4 5 deste servio; e, quanto a ns, nos consagraremos orao e ao ministrio (diakoni/a) da palavra. O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estvo, homem cheio de f e do Esprito Santo, 6 Filipe, Prcoro, Nicanor, Timo, Prmenas e Nicolau, proslito de Antioquia. Apresentaram-nos pe7 rante os apstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mos. Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalm, se multiplicava o nmero dos discpulos; tambm muitssimos sacerdotes obedeciam f (At 6.1-7). Kelly, T.C. Smith, Beyer, Bruce, Stam, Legrand, entre outros. Stagg, Latourette, Stott.

Irineu, Calvino, Bavinck, Vincent, Berkhof, Hendriksen (Fp 1.2), Ladd, R.B. Kuiper, Lloyd-Jones, Kistemaker, Grudem, entre outros.

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No incio da Igreja do Novo Testamento, competia aos apstolos a responsabilidade de gerenciar os donativos, distribuindo-os conforme a necessidade dos crentes (At 2.45/At 4.37; 5.2). Com o crescimento da Igreja, esta atividade tornou-se por demais pesada para eles. Abro aqui um parntese para fazer algumas observaes. Mesmo a igreja enfrentando dificuldades dentro de seu prprio seio, como o caso de Ananias e Safira (At 5.1-11) e perseguio (At 5.17-42), a igreja crescia. Outro ponto que a bno de Deus traz consigo a oportunidade para crescermos com novos desafios. Atos 6 registra uma dificuldade prpria da bno de Deus: a igreja crescia e, havia generosidade da parte dos crentes para ajudar aos necessitados que, como 59 o prprio Senhor dissera, sempre os teramos (Mc 14.7; Dt 15.11). Nesse contexto que se insere o dicono. O ofcio de dicono teve a sua origem como resultado de uma necessidade: As vivas dos helenistas (judeus de fala e cul60 tura grega provenientes da Disperso), estavam sendo habitualmente esquecidas na distribuio diria (At 6.1). Ao contrrio do que j foi suposto, o esquecimento no foi deliberado. A questo era mesmo de excesso de trabalho juntando a isso, a possvel situao de seve62 ra penria das vivas. Os apstolos manifestaram aqui grande discernimento. Havia muito que fazer. A Igreja estava fundamentada e perseverava na doutrina dos apstolos (At 2.42); o crescimento numrico de convertidos era evidente (At 6.1). Eles precisavam continuar ensinando, alimentando o rebanho. Isto era prioritrio. No poderiam se desviar de sua tarefa principal. Portanto, reconhecendo o problema e ao mesmo tempo no tendo como resolver tudo sozinho, encaminharam comunidade, de forma direta, a eleio de sete homens de boa reputao, cheios do Esprito e de sabedoria, aos quais encarregariam deste servio (At 6.3). A eleio foi feita. Os Apstolos, ento, se dedicaram mais especificamente a outra espcie de diaconia: orao e ao ministrio (diakoni/a) da Palavra (At 6.4), ofcio para o qual foram especialmente chamados: Pregar a Palavra de Deus buscando sempre em tudo o discernimento em Deus. Eles sabiam o quo necessria a orao para o desempenho de seu ofcio. Havia grandes desafios frente. Os apstolos, ainda que no somente, precisavam continuar pregando e orando.63 Deus haveria de dar-lhes discernimento. Estes homens sabiam de suas limitaes; da grandiosidade da mensagem e da condio humana de total ignorncia e averso ao Evangelho, estando todos mortos espi59 60 61 62 61

Porque os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes (Mc. 14.7) Pois nunca deixar de haver pobres na terra (Dt 15.11). O verbo paraqewre/w no imperfeito, sugere a ideia de algo frequente e habitual. Este verbo s ocorre aqui (At 6.1) no Novo Testamento.

Assim pensa Barclay. (William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1974, Vol. VII, p. 60).

Vejam-se: I.H. Marshall, Atos: Introduo e Comentrio, So Paulo: Mundo Cristo/Vida Nova, 1982, p. 123; John R.W. Stott, A Mensagem de Atos, So Paulo: ABU Editora, 1994, p. 133; Simon Kistemaker, Comentrio do Novo Testamento: Atos, So Paulo: Cultura Crist, 2006, Vol. 1, p. 295. Nossa orao a Deus deve ser no sentido de desimpedir nossa vista e nos capacitar para a meditao sobre suas obras (Joo Calvino, O Livro dos Salmos, So Paulo: Parakletos, 2002, Vol. 3, (Sl 92.6), p. 465).63

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ritualmente (Ef 2.1,5). Somente Deus poderia capacit-los a pregar com integridade, autoridade e poder, transformando os coraes de seus ouvintes. A questo no era simplesmente de comunicao, antes de poder. Paulo relembra aos tessalonicenses como foi o Evangelho por ele pregado: Porque o nosso evangelho no chegou at vs to-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Esprito Santo e em plena convico, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vs e por amor de vs (1Ts 1.5/1Co 2.1-5; 4.20). E deste modo, apenas para me valer de uma nica ilustrao, foi que Ldia foi convertida. Paulo que fora pregar em Filipos dirigido pelo Esprito, registra Lucas, Certa mulher, chamada Ldia, da cidade de Tiatira, vendedora de prpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu (dianoi/gw) o corao para atender s coisas que Paulo dizia (At 16.14). Sem a operao transformadora de Deus, podemos falar mente e ao corao, contudo, a transformao integral do homem, a regenerao, obra de Deus. Precisamos, de fato, de pregar e orar. Packer sintetiza isso: A pregao e a orao devem seguir juntas; nossa evangelizao no estar de acordo com o conhecimento, nem ser abenoada, se no agirmos dessa maneira. Cumpre-nos pregar, porque sem o conhecimento do evangelho nenhum homem pode ser salvo. E cumpre-nos orar, porque somente o soberano Esprito Santo em ns e nos coraes dos nossos ouvintes pode tornar eficaz a nossa pregao, visando a salvao dos pe65 cadores; e Deus no envia o Seu Esprito onde no h orao. O apostolado envolve essencialmente a tarefa de servir igreja com especificidade a Palavra. Os diconos prioritariamente alimentariam os fiis com o po material 66 cuidariam mais especificamente da administrao dos recursos , to essencial sua subsistncia; os apstolos administrariam de modo mais especfico o po da vida, espiritual, pregando e intercedendo por eles. Os diconos devem ser vistos como braos da misericrdia de Deus em favor do Seu povo carente; eles exercem, em parte, o socorro de Deus para com o Seu povo (1Co 12.28): Os diconos representam a Cristo em seu ofcio de misericrdia, e o exerccio da misericrdia est vinculado com o consolo dos afli67 tos. Nisto consiste o ofcio dos diconos: Devem demonstrar solicitude pe68 los pobres e atender s suas necessidades.64

64

65 66

muita proveitosa a exposio de Lloyd-Jones sobre a necessidade de orao declarada pelos apstolos. Veja-se: D. M. Lloyd-Jones, Cristianismo Autntico: Sermes sobre Atos dos Apstolos, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 2003, Vol. III, p. 364-381. J.I. Packer, Evangelizao e Soberania de Deus, 2 ed. So Paulo: Vida Nova, 1990, p. 84.

A palavra mesa utilizada em At 6.2 (tra/peza), de onde vem o nosso vocbulo trapzio, utilizada no NT para se referir mesa de alimentos (At 16.34), mesa de cmbio (Mt 21;12; Jo 2.15) e, simplesmente ao banco onde so feitas transaes financeiras (Lc 19.23).67 68

R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 141.

Joo Calvino, As Institutas da Religio Crist: edio especial com notas para estudo e pesquisa, So Paulo: Cultura Crist, 2006, Vol. IV (IV.13), p. 83.

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Historicamente este ofcio permaneceu e se expandiu geograficamente, conforme 69 atestam os documentos histricos.

2. Definio:Os diconos so homens constitudos pela igreja para distribuir as esmolas e 70 cuidar dos pobres, como procuradores seus. Analisando Atos 6, Calvino diz na primeira edio da Instituio (1536): Vede aqui o ministrio dos diconos: cuidar dos pobres e ajudar-lhes. Daqui lhes vem o nome; e por isso so tidos 71 como ministros. O Art. 53 e alneas da CI/IPB., apresenta uma definio que segue a mesma linha bblica de Calvino; porm, amplia a sua funo, adaptando-a s necessidades da Igreja no Brasil.

3. Requisitos para o Ofcio de Dicono:Devemos observar que os requisitos para o diaconato e para o presbiterato so, em geral, exigncias comuns aos membros da Igreja. Isto aponta para a seriedade proposta para a vida crist. No entanto, devemos estar atentos para o fato de que todos esses requisitos so muito mais importantes e exigidos num grau muito mais elevado daqueles a quem se confiou a inspeo e superviso espirituais da igreja. Assim como ocupam lugar de maior honra e autoridade que o dos outros membros da igreja, detm do mesmo modo uma posio de mui72 to maior responsabilidade. 3.1. SER VOCACIONADO: Na Igreja de Cristo ningum tem autonomia para se autonomear. Pastor, Presbteros e Diconos, todos, sem exceo, precisam ser vocacionados por Deus para estes ofcios (Hb 5.4). As nicas pessoas que tm o direito de ser ouvidas so aquelas a quem Deus enviou e que falam a palavra de Sua boca. Portanto, para qualquer homem exercer autoridade, duas coisas so requeridas: o chamamento [divino] e o desempenho fiel do ofcio por parte daque73 le que foi chamado.69

70 71 72 73

Vejam-se: Clemente de Roma, 1Corntios, 42.4; 44.5; 47.6; 54.2; 57.1; Incio, Cartas: Aos Efsios, 2.1; Aos Magnsios, 2.1; 3.1; 6.1; 13.1; Aos Tralianos, 2.3; 3.1; 7.2; 12.2; Aos Filadlfios, 10.2; Aos Esmirnenses, 8.1; Policarpo, 6.1; Irineu, Contra as Heresias, V.36.1; Eusbio de Cesaria, Histria Eclesistica, III.39.3-5,7; VI.19.19; 43.2; 43.11; VII.28.1; 30.2.12. Para uma viso histrica das transformaes de seu ofcio, vejam-se: Herv Legrand, Dicono: In: Jean-Yves Lacoste, dir., Dicionrio Crtico de Teologia, So Paulo: Paulinas/Loyola, 2004, p. 554-555; Hermann W. Beyer, Servir, Servio: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, So Paulo: ASTE, 1965, p. 288-290. J. Calvino, Institucin, IV.3.9. J. Calvino, Institucin de la Religion Cristiana, (1536), V.5. Veja-se tambm, As Institutas, IV.3.9. Samuel Miller, O Presbtero Regente: Natureza, Deveres e Qualificaes, p. 38. Joo Calvino, Exposio de 2 Corntios, So Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.1), p. 15.

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A CI/IPB., Art 108, prescreve isto, com uma perfeita compreenso bblica: Vocao para ofcio na Igreja a chamada de Deus, pelo Esprito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa conscincia e a aprovao do povo de Deus, por intermdio de um conclio. (Veja-se tambm, Art 109 e ). Calvino comenta: O que torna vlido um ofcio a vocao, de modo que ningum pode exerc-lo correta ou legitimamente sem antes ser eleito por Deus (...). Nenhuma forma de governo deve ser estabelecida na Igreja segundo o juzo humano, seno que os homens devem atender ordenao divina; e, ainda mais, que devemos seguir um procedimento de eleio preestabelecido, para que ningum procure satisfazer seus prprios desejos. (...) Segundo a promessa de Deus de governar sua Igreja, assim ele reserva para si o direito exclusivo de prescrever a ordem e forma de sua adminis74 trao. A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Portanto, 75 a vocao no pode ser legtima a menos que proceda dele. O servio que prestamos a Deus deve ser visto no como uma fonte de lucro ou projeo, mas como resultado de um chamado irrevogvel de Deus. O conceito de vontade de Deus me parece to vago no meio evanglico, que me estimula a fazer uma pequena digresso sobre este tema a fim de poder apresentar uma perspectiva bblica. Paulo em seu ministrio tinha esta conscincia, de ser apstolo pela vontade de Deus (Vejam-se: Rm 1.1; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1, etc.). O apostolado, portanto, sempre pressupe algum que o antecede, que o envia. Biblicamente ningum apstolo de si mesmo. Tambm, o apstolo no maior do que aquele que o envia, como nos ensina Jesus Cristo: Em verdade, em verdade vos digo que o servo no maior do que seu senhor, nem o enviado (apo/stoloj), maior do que aquele que o enviou (pe/mpw) (Jo 13.16). Por isso o enviado, busca a glria daquele que o enviou: Quem fala por si mesmo est procurando a sua prpria glria; mas o que procura a glria de quem o enviou (pe/mpw), esse verdadeiro, e nele no h injustia (Jo 7.18). A vontade de Deus revelada em seu apostolado no era mera abstrao, algo distante e apenas virtual, antes se materializava no seu sincero esforo por discernir a vontade de Deus em seus propsitos por mais santos que estes lhes parecessem. Ilustremos: Paulo desejava muito visitar a Igreja de Roma que ele mesmo no co74 75

Joo Calvino, Exposio de Hebreus, (Hb 5.4), p. 127-128. Joo Calvino, Glatas, (Gl 1.1), p. 22.

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nhecera ainda que tivesse muitos irmos ali congregados. Ele orava j h algum tempo sobre este assunto: Porque Deus, a quem sirvo em meu esprito, no evangelho de seu Filho, minha testemunha de como incessantemente fao meno de vs em todas as minhas oraes, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade (qe/lhma) de Deus, se me oferea boa ocasio de visitar-vos (Rm 1.9-10). Quando Paulo estava em Corinto acredita ter uma boa oportunidade de visitar Roma. Contudo, antes deve passar pela Judia para levar as ofertas para os santos dali. Sua trajetria seria arriscada visto ter muitos inimigos na regio. Ele ento pede 30 aos crentes romanos: Rogo-vos, pois, irmos, por nosso Senhor Jesus Cristo e tambm pelo amor do Esprito, que luteis juntamente comigo nas oraes a Deus a meu favor, 31 para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judia, e que este meu servio em Jerusalm seja bem aceito pelos santos; 32 a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade (qe/lhma) de Deus, chegue vossa presena com alegria e possa recrear-me convosco (Rm 15.30-32). Ainda que nossos propsitos sejam santos, nem sempre fcil discernir a vontade de Deus. Paulo cria ter boa ocasio para conhecer os irmos de Roma, acreditava ter uma mensagem para eles, contudo, deseja saber se esta era a vontade de Deus naquelas circunstncias. Ele s pde ter esta certeza depois de preso, quando o prprio Senhor lhe garantiu que assim se sucederia. Todavia, no como Paulo, 76 possivelmente desejava ou esperava (At 23.11). Retomando o nosso assunto, destacamos que o dicono deve ser eleito pela Igreja (At 6.5). A eleio uma evidncia de que Deus vocacionou aquele irmo para o respectivo ofcio. Por isso, a Igreja deve buscar a orientao de Deus com f e submisso, certa de que Deus tambm manifesta a Sua vontade por intermdio da assemblia. O ato da ordenao confirma isso; os apstolos, orando, impuseram as mos so77 bre os diconos eleitos, processando assim esta solenidade (At 6.6). Aproveito para fazer um breve comentrio sobre a ordenao. Gramaticalmente ordenar o ato por meio do qual admitimos algum a funes ministeriais ou sacerdotais. Em Israel os sacerdotes, profetas e reis eram ordenados para os seus respectivos ofcios por meio de determinados ritos que testemunhavam publicamente o seu chamado e a divina capacitao para desempenh-lo com eficincia. A ordenao pressupe sempre o chamado divino ainda que nem sempre as Escrituras apresentem com clareza se e de que modo houve a cerimnia de consagrao. Deste modo, os apstolos foram chamados e ordenados por Cristo (Jo 15.16), Paulo, consciente de sua vocao reconhece-se como apstolo de Cristo (Gl 1.1). Os setenta discpulos foram designados por Cristo ainda que tambm no saibamos se houve alguma cerimnia formal para o seu envio. (Lc 10.1ss).

Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalm, assim importa que tambm o faas em Roma (At 23.11).77

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Veja-se: CI/IPB., Art 109 e

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A vocao interna, ou seja, a conscincia do chamado de Deus no implica necessariamente em atos extraordinrios de Deus, antes, em:78 a) A conscincia de estar sendo conduzido a desenvolver alguma tarefa no reino de Deus por amor a Deus e Sua Igreja; b) A convico da capacitao da parte de Deus para o desempenho dessa tarefa; c) A constatao de que os meios para a consecuo destes objetivos estejam sendo formalizados. Esta ltima observao evidencia-se na manifestao da Igreja por meio de nossa escolha por intermdio dos meios competentes tais como: nomeao, eleio, designao, etc. A ordenao pressupe a vocao e o exame criterioso do candidato ao ofcio (1Tm 4.14). Este ato acompanhado pela imposio de mos (At 6.6; 13.3; 1Tm 4.14. 5.22). No Novo Testamento a imposio das mos implicava que a pessoa foi separada para determinado ofcio e que o dom espiritual para o desempenho do mesmo lhe era transmitido. A compreenso Reformada de que nesta prtica temos uma demonstrao simblica da separao de algum para o desempenho de seu ofcio. 3.2. SER DISCPULO DE CRISTO: Ora, naqueles dias, multiplicando-se o nmero dos discpulos, houve murmurao dos helenistas contra os hebreus, porque as vivas deles estavam sendo esquecidas na distribuio diria. (...) 3Mas, irmos, escolhei dentre vs sete homens de boa reputao, cheios do Esprito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste servio (At 6.1,3). Os diconos seriam escolhidos pela Igreja, entre os seus membros, entre os discpulos de Cristo. O diaconato no pode ser terceirizado. Os diconos servem a Igreja como, na realidade so, servos de Cristo. No segundo sculo, Incio (30-110 AD), bispo de Antioquia da Sria, em carta endereada 79 Igreja de Trales, diz: .... os que so diconos dos mistrios de Jesus Cristo agradem a todos em tudo. Pois no de comidas e bebidas que so dico80 nos, mas so servos da Igreja de Deus. 3.3. TER BOA REPUTAO: Mas, irmos, escolhei dentre vs sete homens de boa reputao.... (At 6.3).78 79 80

Ver: Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, p. 591-592. Cidade que distava uns 50 km de feso.

Incio, Carta aos Tralianos, 2. In: Cartas de Santo Incio de Antioquia, Petrpolis, RJ.: Vozes, 1970, p. 58.

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O dicono precisava ter o reconhecimento pblico de uma vida digna. Ele trataria com situaes delicadas envolvendo necessidades de irmos, dinheiro, alimento e bens da igreja. No deveria pairar suspeita sobre ele, sobre a sua conduta. (Vejamse comparativamente: At 10.22; 16.2; 22.12 1Tm 5.10; Hb 11.2,4). 3.4. SER CHEIO DO ESPRITO SANTO: Mas, irmos, escolhei dentre vs sete homens de boa reputao, cheios do Esprito.... (At 6.3). pelo Esprito que nos tornamos verdadeiros seres humanos no emprego correto e intenso de nossa capacidade. O Esprito no nos aliena, antes conduz-nos percepo mais aprimorada e intensa da Palavra de Cristo que habita ricamente em ns. O Esprito nos estimula e capacita espiritual e intelectualmente a entender e obedecer a Palavra de Deus. Os diconos precisavam ser cheios do Esprito como todo o cristo, Ef 5.18 , para poderem, de modo especial, desempenhar as suas atividades dignamente, com discernimento, demonstrando amor, alegria, paz, longanimidade, mansido... que so subprodutos do amor, que o fruto do Esprito (Gl 5.22,23). O Esprito 82 Santo nos coloca em um relacionamento correto com Deus e as pessoas. 3.5. SER CHEIO DE SABEDORIA: Mas, irmos, escolhei dentre vs sete homens de boa reputao, cheios do Esprito e de sabedoria.... (At 6.3). Esta sabedoria tem pouco ou nada a ver com conhecimento. Os diconos precisariam ter a sabedoria concedida pelo Esprito para saberem como resolver os problemas que j existiam e outros novos, que no tardariam a aparecer. Precisavam 83 ter a sabedoria do alto (Tg 1.5-6) para seguirem os melhores meios para atingir os fins mais nobres de sua vocao. Somente o Deus perfeitamente sbio pode lhes 84 conceder esta sabedoria.81

81 82 83

Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Uma Famlia Cheia do Esprito Santo, So Paulo: 2001.

John R.W. Stott, Batismo e Plenitude do Esprito Santo, 2 ed. ampl. So Paulo: Vida Nova, 1986, p. 44.5

Se, porm, algum de vs necessita de sabedoria, pea-a a Deus, que a todos d liberalmente e 6 nada lhes impropera; e ser-lhe- concedida. Pea-a, porm, com f, em nada duvidando; pois o que duvida semelhante onda do mar, impelida e agitada pelo vento (Tg 1.5-6).84

A sabedoria de Deus Sua capacidade de selecionar os melhores meios para a obteno do alvo mais elevado (William Hendriksen, Romanos, So Paulo: Cultura Crist, 2001, (Rm 11.33), p. 510). Do mesmo modo Murray: A sabedoria fala sobre o arranjo e a adaptao de todas as coisas para o cumprimento de seus santos propsitos (John Murray, Romanos, So Jos dos Campos, SP.: Fiel, 2003, (Rm 11.33-36), p. 469).

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Sem esta sabedoria possivelmente a sua constituio seria um problema que sobrecarregaria ainda mais os apstolos. Se os diconos no tivessem uma certa autonomia para resolver as questes, valendo-se da sabedoria divina, seria, na realidade, mais um peso do que ajuda. Se, por exemplo, houvesse entre eles disputas e partidarismo, a igreja estaria j no seu incio organizacional em srias dificuldades. Isto serve de alerta para ns. melhor no promover a eleio precipitada de diconos, presbteros ou de quem quer se seja, se no tivermos homens capazes e dispostos a submeterem os seus coraes e mentes a Deus. Tambm, de forma geral, contra uma prtica no to estranha em alguns grupos, no devemos oferecer cargos a pessoas apenas para segur-las na igreja. As consequncias de tal comportamento podem ser muito graves para o reino de Deus. 3.6. SER RESPEITVEL: Semelhantemente, quanto a diconos, necessrio que sejam respeitveis (semno/j).... (1Tm 3.8). Semno/j (honestidade, dignidade, gravidade, seriedade). (*Fp 4.8; 1Tm 3.8,11; Tt 2.2). Na literatura clssica a palavra era empregada para os deuses e as coisas divinas demonstrando a sua magnificncia e majestade. O dicono deve ter um procedimento srio; nobre, digno de todo respeito e admirao, como resultado da submisso dos seus sentimentos e pensamentos a Deus. A palavra grega confere o sentido de graa, dignidade e honradez. A respeitabilidade aqui exigida combina de forma bela e harmoniosa a simplicidade com a nobre 85 honradez. Incio (30-110 AD), na referida carta aos Tralianos, diz que todos devero res86 peitar os diconos como a Jesus Cristo. Em outro lugar, ordena: Acatem os 87 88 diconos, como lei de Deus. No Didaqu (c. 120 AD), lemos: Elegei, ento, para vs mesmos bispos e diconos dignos do Senhor, vares mansos e no amantes de dinheiro, verdadeiros e aprovados, porque tambm eles vos ministram os servios dos profetas e mestres. No os desprezeis, pois, porque 89 so dignos de igual honra, como os profetas e mestres.

Ver: Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, 7 ed. rev. enlar. London: Macmillan and Co. 1871, xcii, p. 325-329; William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1988 (reimpresso), p. 178-181.86 87 88

85

Incio, Carta aos Tralianos, 3. In: Cartas de Santo Incio de Antioquia, p. 58. Incio, Carta aos Esmirnenses, 8. In: Cartas de Santo Incio de Antioquia, p. 81.

89

Obra amplamente aceita nos primeiros sculos da Era Crist devido a sua pretenso no verdadeira , de ter sido redigida pelos apstolos, da o seu nome completo: Didaqu: Ensino do Senhor Atravs dos Doze Apstolos. Didaqu, XV. In: J.G. Salvador, ed. O Didaqu, So Paulo: Imprensa Metodista, 1957, p. 76.

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3.7. TER UMA S PALAVRA: Semelhantemente, quanto a diconos, necessrio que sejam respeitveis, de uma s palavra (mh\ di/logoj).... (1Tm 3.8) A construo negativa mh\ di/logoj, s ocorrendo aqui. A ideia de que o dicono no deve ter duas palavras. A expresso pode ser entendida de trs formas no excludentes: a) O dicono no deve ser um difamador, levando e trazendo casos dos lares onde visita (no deve ser mexeriqueiro); b) No deve ser algum que pense uma coisa e diga outra; c) No deve ser algum que diz uma coisa para uma pessoa e algo diferente para outra, falando conforme o interesse do seu interlocutor conforme as circunstncias. A respeitabilidade dos diconos se evidenciaria de modo especial em sua palavra digna, correta, de acordo com a Escritura, sabendo tambm manter discrio a respeito dos problemas aos quais teve acesso. 3.8. NO DEVE SER INCLINADO A MUITO VINHO: (1TM 3.8) Semelhantemente, quanto a diconos, necessrio que sejam respeitveis, de uma s palavra, no inclinados a muito vinho.... (1Tm 3.8) Aqui devem ser observadas algumas questes: a) A questo cultural; b) A provi90 so inadequada de gua; c) A atenuao do vinho com gua. (Cf. 2Mac 15.39); d) Essa orientao de Paulo indica o perigo da embriaguez, ao que parece, existente mesmo entre os crentes (1Co 11.21). Sobre o dicono pesava grande responsabilidade. Ele teria acesso aos lares, tomaria conhecimento de problemas ntimos e, tambm teria de administrar os bens da Igreja dedicados aos necessitados. Como confiar num bbado? Ou como ter respeitabilidade se corresse entre os fiis a fama de que dito dicono tima pessoa quando est sbrio, porm, quando bebe, um problema.... Os casos seriam inmeros a respeito de pessoas que em determinada situao contaram algo para ele e tiveram uma m experincia porque no perceberam que naquele dia ele estaria de fogo. As situaes adversas so por demais bvias para que gastemos mais tempo com isso. Notemos que Paulo no exige total abstinncia; ele fala de moderao (1Tm 3.3; Tt 1.7); todavia, cremos que a abstinncia seja recomendvel (Rm 14.21/1Ts 5.22).

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Como bem sabemos, os livros de Macabeus no so cannicos; isto , no fazem parte dos 66 Livros considerados inspirados por Deus. No entanto, eles tm um valor histrico-informativo, nos ajudando a entender melhor aspectos da histria dos judeus no segundo sculo a.C.

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A bebedice uma das caractersticas do modo gentio de viver (1Pe 4.3) como obra da carne (Gl 5.21).

3.9. NO COBIOSOS DE SRDIDA GANNCIA: Semelhantemente, quanto a diconos, necessrio que sejam respeitveis, de uma s palavra, no inclinados a muito vinho, no cobiosos de srdida ganncia (1Tm 3.8). Mh\ ai)sxrokerdh/j Tt 1.7/1Pe 5.2. Cobioso de lucro vergonhoso; isto , algum que lucra desonestamente, adaptando, modificando o ensinamento aos interesses de seus ouvintes a fim de ganhar dinheiro deles. Tambm pode se referir ao envolvimento em negcios escusos. O lucro em si no pecaminoso; contudo, ele pode se tornar vergonhoso se a sua obteno passar a ser o nosso objetivo primrio, em detrimento da glria de Deus. Pedro contrape este sentimento boa vontade (proqu/moj * 1Pe 5.2), que denota um zelo e entusiasmo devotados. No nos esqueamos do princpio bblico expresso em alguns textos, tais como 93 1Tm 6.10; Sl 62.10; Ec 5.10 e, do exemplo negativo j existente entre os falsos sacerdotes e profetas no Antigo Testamento e judaizantes contemporneos do a94 pstolo (Tt 1.10,11/Mq 3.5,11). 3.10. DEVE CONSERVAR O MISTRIO DA F COM A CONSCINCIA LIMPA: Conservando o mistrio da f com a conscincia limpa (1Tm 3.9). Calvino faz uma parfrase: Conservando pura a doutrina de nossa religio, e isso de todo o nosso corao e com sincero temor a Deus, os homens que so ricamente instrudos na f no devem ser ignorantes de nada que seja 95 necessrio a um cristo conhecer.91 92 93 91 92

Ai)sxro/j = indecoroso, torpe, indecente. * Tt 1.11 & ke/rdoj = lucro, ganho. No tenha srdida cobia por lucro. *1Tm 3.8; Tt 1.7.

A palavra usada por Pedro, s ocorre aqui: ai)sxrokerdw=j, que significa lucro vergonhoso, ambiciosamente. Ela da mesma raiz de ai)sxrokerdh/j.

Porque o amor do dinheiro raiz de todos os males; e alguns, nessa cobia, se desviaram da f e a si mesmos se atormentaram com muitas dores (1Tm 6.10). No confieis naquilo que extorquis, nem vos vanglorieis na rapina; se as vossas riquezas prosperam, no ponhais nelas o corao (Sl 62.10). Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundncia nunca se farta da renda; tambm isto vaidade (Ec 5.10).94

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Porque existem muitos insubordinados, palradores frvolos e enganadores, especialmente os da 11 circunciso. preciso faz-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que no 5 devem, por torpe ganncia (Tt 1.10-11). Assim diz o SENHOR acerca dos profetas que fazem errar o meu povo e que clamam: Paz, quando tm o que mastigar, mas apregoam guerra santa contra a11 queles que nada lhes metem na boca. (...) Os seus cabeas do as sentenas por suborno, os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao SENHOR, dizendo: No est o SENHOR no meio de ns? Nenhum mal nos sobrevir (Mq 3.5,11). Joo Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.9), p. 93.

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O dicono deve conservar-se firme na revelao graciosa de Deus (Rm 16.25,26): Jesus Cristo, manifestado em carne (1Tm 3.16; Cl 4.3) , com a conscincia pura, sem contaminao intelectual, moral e espiritual. Apenas a conservao do mistrio da f geraria um conhecimento rido, infrutfero e, por outro lado, apenas a conscincia limpa, acarretaria uma superficialidade doutrinria. [Paulo] quer que os diconos sejam bem instrudos no mistrio da f, porque, embora no desempenhem o ofcio docente, seria completo absurdo que exercessem um ofcio pblico na Igreja e fossem completamente ignorantes na f crist, especialmente porque mui amide ministram conselhos e conforto a outros, caso no queiram negligenciar seus deveres. Ele adiciona ainda: numa conscincia ntegra, a qual se estende por toda a sua vida, mas tem especial referncia ao seu conhecimento de como servir a 96 Deus. 3.11. SEJAM PRIMEIRAMENTE EXPERIMENTADOS: Tambm sejam estes primeiramente experimentados (dokima/zw); e, se se mostrarem irrepreensveis, exeram o diaconato (1Tm 3.10). Dokima/zw = Provar, examinar, experimentar. Esta palavra que era aplicada para se referir ao teste dos metais preciosos para avaliar a sua qualidade, ressalta o aspecto positivo de provar para aprovar, indicando a genuinidade do que foi testado (2Co 8.8; 1Ts 2.4). Calvino comenta: Numa palavra, a designao de diconos no deve consistir de escolha precipitada e fortuita de algum que se encontra mo, seno que a escolha deve ter por base homens que se recomendem por sua anterior maneira de viver, de tal forma que, depois de serem submetidos a um interrogatrio, sejam investigados profundamente antes que sejam declara97 dos aptos. A conduta do dicono deve ser to boa que ningum tenha do que o acusar; seja 98 irrepreensvel (a)ne/gklhtoj) (1Tm 3.10). Este reconhecimento deve ser por parte da Igreja e tambm dos de fora (1Tm 3.7). Na constituio de diconos no necessrio ter uma pressa que atropelaria todo o processo. O senso de urgncia proveitoso dentro do que pela sua prpria natureza urgente. Fora disso a nossa urgncia pode no passar de precipitao.

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Joo Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.9), p. 93. Joo Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.10), p. 94. *1Co 1.8; Cl 1.22; Tt 1.6,7.

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Muitas congregaes na pressa de se organizarem como igreja local, em busca de sua autonomia tm se precipitado. Elas tm propriedade adequada, nmero de pessoas e condies financeiras para se tornarem igrejas, contudo, no tm pessoas habilitadas para o diaconato, o presbiterato e para assumir a liderana da igreja em cargos chaves. Desta forma, h uma precipitao que vai comprometer a sua constituio. Deus sabe os prejuzos que isto poder trazer ao seu crescimento espiritual. Igrejas com pessoas imaturas espiritualmente independentemente de sua idade, funes e prestgio que tenham na sociedade , trazem males sem conta vida da igreja e, com frequncia, doenas crnicas dificilmente resolvidas ao longo da histria. Por vezes o fascnio pelas estatsticas ou desejos polticos de criaes de novos presbitrios contribuem para esse mal. Que Deus tenha misericrdia de todos ns. 3.12. SEJA MARIDO DE UMA S MULHER: O dicono seja marido de uma s mulher e governe bem seus filhos e a prpria casa (1Tm 3.12). Aqui no se estabelece uma regra dizendo que os diconos devem ser casados; o que se diz que eles, sendo casados, devem ser maridos de uma s mulher. Outra questo: Ento quer dizer que na Igreja Primitiva era possvel haver um homem casado com duas mulheres?! Lembremo-nos de que a poligamia ainda que no fosse comum, era praticada no primeiro sculo, inclusive entre os judeus. Alm do mais, no devemos nos esquecer de que os pecados sexuais eram comuns entre os judeus e gentios (Rm 1.27; 7.3; 1Co 5.1,8; 6.9-11; 7.2; Gl 5.19; 1Tm 4.3-8). O que Paulo est dizendo, que tanto o bispo (= presbtero) (1Tm 3.2) como o dicono (1Tm 3.12) deve ser um homem de moralidade inquestionvel, que seja inteiramente fiel e leal sua nica e exclusiva esposa; que, sendo casado, no se pe, segundo o cos99 tume dos pagos, em uma relao imoral com outra mulher. 3.13. QUE GOVERNE BEM SEUS FILHOS E SUA PRPRIA CASA: O dicono seja marido de uma s mulher e governe bem seus filhos e a prpria casa (1Tm 3.12). A maneira de o dicono governar a sua casa um sintoma da sua capacitao ou no para exercer o seu ofcio. Juntamente com sua famlia ele, deve se constituir num exemplo de vida crist.

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William Hendriksen, 1 Timteo, 2 Timteo e Tito, So Paulo: Cultura Crist, 2001, (1Tm 3.2-7), p. 153. Veja-se: Wayne A. Grudem, Teologia Sistemtica, So Paulo: Vida Nova, 1999, p. 769.

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4. Recompensas de uma Diaconia Fiel:1. A HONRA CONCEDIDA POR DEUS: Se algum me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estar tambm o meu servo (dia/konoj). E, se algum me servir (diakone/w), o Pai o honrar (tima/w) (Jo 12.26). Jesus ensina que aqueles que O servem sinceramente, O seguindo, o Pai mesmo o honrar. Ainda que aqui no esteja falando especificamente do ofcio de dicono, a verdade que este, como todos aqueles que servem ao Senhor a palavra no Original a mesma (diakone/w) , ainda que nem sempre tenham o reconhecimento devido da parte dos homens, sero honrados por Deus. Obviamente, no devemos encontrar no texto nenhuma desculpa para a nossa falta de reconhecimento do servio prestado pelos servos de Deus, antes, um consolo para aqueles que no tm sido honrados devidamente por ns. 2. A LEMBRANA GRACIOSA DE DEUS: Porque Deus no injusto para ficar esquecido (e)pilanqa/nomai) do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes (diakone/w) e ainda servis (diakone/w) aos santos (Hb 6.10). Esta recompensa complementa a anterior. Deus no se esquece; no negligente para com as necessidades de Seus servos. Ele tem diante de Si os nossos servios, ainda que estes sejam devidos a Sua graa capacitante. Deus, mesmo parecendo, em algumas circunstncias, ter se esquecido de ns. Na realidade, Ele nos acompanha sempre com a Sua graa. E, Aquele que nos capacitou a fazer boas obras, por graa, nos recompensar. No haveria nada de pior para ns do que ser 100 esquecido por Deus. No entanto, a Sua lembrana mantenedora, confortadora e abenoadora. Diconos so os que servem. Lembrem-se sempre de que Deus estar sempre pronto a atend-los em suas necessidades. 3. O RECONHECIMENTO DA IGREJA: Pois os que desempenharem bem o diaconato alcanam para si mesmos justa preeminncia e muita intrepidez na f em Cristo Jesus (1Tm 3.13). A Igreja por vezes no justo receio de endeusar homens, criando monstrinhos espirituais, cheios de si com mania de grandeza e auto-suficincia, comete um equvoco oposto, se esquecendo de atribuir a quem de direito. Pedro instrui a igreja:100

No se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles est em esquecimento (e)pilanqa/nomai) diante de Deus (Lc 12.6).

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Tratai todos com honra (tima/w), amai os irmos, temei a Deus, honrai (tima/w) o rei (1Pe 2.17). Paulo recomenda aos romanos: Pagai a todos o que lhes devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra (timh/), honra (timh/) (Rm 13.7). Paulo na ilha de Malta depois de curar o pai de um importante habitante da ilha que o hospedara, realizou muitas outras curas (At 28-7-9). Tais homens, registra Lucas, .... nos distinguiram (timh/) (honrar, valorizar, dignificar, retribuir) com muitas honrarias (tima/w) ; e, tendo ns de prosseguir viagem, nos puseram a bordo tudo o que era necessrio (At 28.10) Paulo diz que aqueles que desempenharem bem o diaconato tero o justo reconhecimento da Igreja. De fato, justo que assim seja. Ainda que os diconos no trabalhem simplesmente para agradar a Igreja, visto que servem ao Senhor na Igreja, desejvel que honremos esses servos de Deus que dedicam parte quantitativa e qualitativamente importante de seu tempo no servio de Deus em nossa Igreja. O reconhecimento da Igreja um atestado da sua vocao e do desempenho eficiente do diaconato. Portanto, diconos no busquem honrarias e deferncias. Igreja honre os seus diconos. Eles foram chamados por Deus para desempenharem o seu ofcio do meio de sua comunidade. Eles tiveram o seu reconhecimento pblico por meio da assemblia para desempenharem a sua vocao: honrem-nos! O nosso servio prestado a Deus; a origem de nossa vocao est em Deus. Em ltima instncia Deus quem avaliar o nosso servio prestado com integridade ao povo que Ele mesmo nos confiou servir. Calvino comenta: Ao expressar-se assim, ele reala quo proveitoso para a Igreja que esse ofcio seja desempenhado por homens criteriosamente escolhidos, pois o santo desempenho desses deveres granjeia estima e reve101 rncia. Quando a Igreja no honra os diconos que desempenham bem a sua funo est furtando destes servos de Deus a honra, o justo reconhecimento que lhe devido. preciso que estejamos atentos para no cometermos este pecado de omisso. A quem honra, honra! 4. MAIOR FIRMEZA NA F: Pois os que desempenharem bem o diaconato alcanam para si mesmos justa preeminncia e muita intrepidez na f em Cristo Jesus (1Tm 3.13). Paulo tambm diz que aqueles que desempenham bem o diaconato alcanam muita intrepidez (parrhsi/a) na f em Cristo (1Tm 3.13). A palavra tem o sentido de destemor, franqueza, ousadia, confiana e sinceridade. O termo indica aquele101

Joo Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.13), p. 95.

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que fala com ousadia e francamente, exercendo com responsabilidade publicamente a sua funo. Os diconos no exerccio de seu ofcio adquirem uma maior ousadia em sua f, amparados na graa de Deus. Isso se manifesta na sua justa confiana em aproximar-se de Deus em orao (Ef 3.12; Hb 4.16; 10.19; 1Jo 5.14) e, ao mesmo tempo, na sua intrepidez para falar livre, confiada e ousadamente de Cristo (At 2.29; 4.13,29,31; 9.27,28; 13.46; 14.3; 18.26; 19.8; 28.31; 2Co 3.12; Ef 6.19; 1Ts 2.2). Lembremo-nos, no entanto, que essa intrepidez obra do Esprito Santo (At 4.13,29,31/1Ts 2.2). Calvino, por sua vez, analisa a contrapartida dessa fidelidade, dizendo: Da mesma forma, aqueles que tm fracassado em seus deveres tm tambm sua boca fechada e suas mos atadas, e so incapazes de fazer tudo satisfatoriamente, de modo a no ser possvel injetar-lhes qualquer 102 confiana, nem tampouco outorgar-lhes qualquer autoridade. O dicono, como no poderia deixar de ser, no fiel exerccio de seu ofcio, amadurece em sua f, tendo maior comunho com Deus e segurana na proclamao do Evangelho. praticamente impossvel desenvolver qualquer trabalho da igreja de forma eficiente sem, ao mesmo tempo, amadurecer em nossa f. O dicono no exerccio de seu ofcio, descobre de forma gradativa e intensiva o quanto depende da misericrdia divina. O fundamento desta firme ousadia a f.

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Joo Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.13), p. 95.

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II

O PRESBTERO:

Introduo:A) TERMINOLOGIA: A palavra Presbtero uma transliterao do grego Presbu/teroj que significa mais velho (em relao ao mais novo), ancio, indicando tambm um ofcio 103 eclesistico. Bispo a traduo da palavra grega e)pi/skopoj, passando pelo latim (episcopus) que significa supervisor, guardio, superintendente. B) PRESBTERO NA LITERATURA CLSSICA: Este vocbulo, que j era usado desde Pndaro (c. 518-c. 445 a.C.), parece ter 104 depois, o de maior importncia e, fipassado por trs sentidos: mais velho, nalmente, o mais honrado, no havendo nenhuma associao do mais velho como sendo, por exemplo, o mais fraco. A ideia presente de honra e respeito, da o 105 conceito de tomar o primeiro lugar; e, aquilo que, comparativamente, mais im106 portante ou imperativo. Partindo da, concebe-se a ideia de algum que assume determinadas funes oficiais, como embaixador e comandante de um exrcito, estando, portanto, embutida a ideia de algum que sustenta, cuida de e preocupa-se com os que esto sob a sua guarda; ou, ainda que no oficialmente constitudo, um conselheiro. 1) NO ANTIGO TESTAMENTO: O Antigo Testamento emprega a palavra no sentido literal, de mais velho (Gn 18.11; 19.4; 43.33; 1Sm 2.22; Sl 71.18; Is 20.4) e, tambm, referindo-se aos ancios do povo e ancios de Israel que algumas vezes representavam conclios locais , os quais tiveram grande relevncia na vida de Israel, participando inclusive da administrao pblica (Vejam-se: Ex 3.16; 4.29; 12.21; Dt 16.18; 21.2ss; 22.15; Js 20.4; Rt 4.2; 1Sm 4.3; 8.4; 30.26; Ed 5.9ss; 6.7; 10.14; Jr 29.1; Ez 14.1; 20.1). Notemos tambm, que este costume no era exclusivo de Israel; outros povos tambm tinham seus ancios (Gn 50.7 [ARA: principais (2 vezes) LXX: presbu/teroi]; Nm 22.7).

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*At 20.28; Fp 1.1; 1Tm 3.2; Tt 1.7; 1Pe 2.25. Plato, Defesa de Scrates, So Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. II), 1972, 31b. p. 22.

Vd. Guenter Bornkamm, Presbtero: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, So Paulo: ASTE, 1965, p. 219. Vejam-se: Herdoto, Histria, Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint, (s.d.), V.63, p. 444; Tucdides, Histria da Guerra do Peloponeso, Braslia, DF.: Editora da Universidade de Braslia, 1982, IV.61. p. 208; Plato, O Banquete, So Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. III), 1972, 218d, p. 55.

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Posteriormente, no perodo interbblico, conforme podemos ver os reflexos ainda no Novo Testamento, o ancio era o membro do Sindrio que, segundo compreenso corrente, tinha suas origens ligadas aos setenta ancios escolhidos por Moiss (Nm 11.16ss). O Presbtero era certamente o mais velho em contraste com o jovem. Quanto idade para ser considerado presbtero, no sabemos; tem sido sugerido entre 50 e 56 anos; no entanto, a comunidade de Qumran exigia a idade mnima de 30 anos 107 para exercer o ofcio de Presbtero. No Egito, documentos antigos indicam a exis108 tncia de presbtero de 45, 35 e 30 anos. 2) NO NOVO TESTAMENTO: a) Conforme o uso corrente: No Novo Testamento encontramos a associao dos ancios como aqueles que perseguiram a Jesus e aos apstolos (Mt 16.21; 27.1; At 6.12). Tambm so relacionados s tradies recebidas dos rabinos, que eram consideradas no 109 mesmo nvel da Palavra de Deus: tradio dos ancios (Mt 15.2; Mc 7.3,5). O Novo Testamento emprega o termo como j era habitual , referindo-se ao mais velho em relao ao mais moo (Lc 15.25/1Tm 5.1; 1Pe 5.5); gerao mais velha em contraste com a mais nova (At 2.17) e, tambm, aos nossos ancestrais (Hb 11.2). Entre os judeus, at o ano 70 A.D. quando o Templo de Jerusalm foi destrudo 110 , os oficiais da sinagoga de Jerusalm eram denominados de Presbteros. b) Na Incipiente Igreja: A palavra aparece 66 vezes no Novo Testamento. A primeira vez que o111 corre referindo-se Igreja em At 11.30, indicando a liderana destes irmos que receberiam os donativos das mos e de Barnab e de Saulo, enviados pelos discpulos que estavam em Antioquia. Os presbteros participam com os apstolos das decises conciliares de Jerusalm (At 15.2,4,22,23; 16.4); Paulo no podendo se dirigir feso, d as ltimas ori107 108 109 110 111

Veja-se: Ed. Glasscock, The Biblical Concept of Elder: In: Bibliotheca Sacra, Dallas: Dallas Theological Seminary, jan/mar., 1987, p. 67. Veja-se: Guenter Bornkamm, Presbtero: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, p. 221. Ver: William Hendriksen, Mateus, So Paulo: Cultura Crist, 2001, Vol. 2, (Mt 15-1-2), p. 150-151.

Cf. Presbu/teroj: In: William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Eearly Christian Literature, 2 ed. Chicago: University Press, 1979, p. 706b. O que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbteros (presbu/teroj) por intermdio de Barnab e de Saulo (At 11.30).

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entaes aos presbteros em Mileto (At 20.17), demonstrando a grande responsabilidade destes pelo cuidado da Igreja: Atendei por vs e por todo o rebanho sobre o qual o Esprito Santo