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PRESENÇA REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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UNIVEUNIVEUNIVEUNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA RSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA RSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA RSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA ———— UNIR UNIR UNIR UNIR
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS MODOS DE VIDAS E CULTURAS AMAZÔNICAS-GEPCULTURA
LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA HUMANA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL
PRESENÇAPRESENÇAPRESENÇAPRESENÇA ---- ISSN 1413ISSN 1413ISSN 1413ISSN 1413----6902690269026902
Revista de Educação, Cultura e Meio Ambiente
Vol. VIII - n° 28 - Maio — 2004 — Porto Velho/RO
PROVADO PELO CONSEPE/UFRO RESOLUÇÃO N°0122/1994
E d i t o r : JOSUÉ COSTA
Foto:
Josué da Costa
Leiaute e Diagramação:
Eliaquim T. da Cunha
Sheila Castro dos Santos
CONSELHO EDITORIAL
Arneide Bandeira Cemin – antropóloga/UNIR
Carlos Santos – geógrafo/UNIR
Clodomir Santos De Moraes - sociólogo/UNIR
Liana Sálvia Trindade – antropóloga/USP
Maria Das Graças Silva Nascimento Silva – geógrafa/UNIR
Mariluce Paes De Souza –administradora/UNIR Miguel Nenevé – letras/UNIR
Nídia Nacib Pontuschka – geógrafa/USP Theóphilo Alves De Souza Filho – administrador/UNIR
www.revistapresença.unir.br
PRESENÇAPRESENÇAPRESENÇAPRESENÇA.... Revista de Educação, Cultura e Meio Ambiente. Porto Velho, fundação Universidade Federal de Rondônia.
Trimestral
1. Educação-Periódica 2. Meio Ambiente — Periódico
CDU 37(05)
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO
EDITORIAL.....................................................................................................04 A SOCIEDADE NA TEORIA DOS SISTEMAS DE NIKLAS LUHMANN...05 ARMIN MATHIS CONSULTORIA EMPRESARIAL: A FUNÇÃO DO CONSULTOR NAS EMPRESAS.........................................................................................................24 JUDITE BELFOR POLÍTICA DA INCLUSÃO DO ALUNO PNE................................................43 MARIA CONSUELO OLIVEIRA FERNANDES A ETNOPSIQUIATRIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.................51 MARCOS DE NORONHA ORGANIZACIÓN DE ASENTAMIENTOS………………………………….65 CLODOMIR SANTOS DE MORAIS RIBEIRINHOS, DESENVOLVIMENTO E A SUSTENTABILIDADE POSSÍVEL...........................................................................................................72 JOSÉLIA NEVES.
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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EDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIAL
A revista Presença vem marcar mais uma publicação colocando como centro da discussão teór ica aspectos vol tados a comunicação, imaginário e significação para o homem em suas relações sociais. Neste sentido, as matérias aqui apresentadas vislumbram contribuir de forma significativa para a discussão sobre a pesquisa que utiliza a oralidade como referência em formar interpretações da realidade que têm, no entrevistado uma visão prioritária para essa aproximação, bem como a construção mítica e cultural que os rituais que trazem símbolos e códigos textuais que dizem muito mais do que o ato de realização cultural em si. E m u ma d i n â mi c a q ue é p ec u l ia r ao c ará te r e e x is t ênc i a dessa revista, propomos uma expansão da leitura do meio ambiente, sob o ponto de vista ético. Pensamos todas as discussões articuladas com o conhecimento da realidade amazônica (compromisso irrefutável, imbricado com o próprio existir da revista), publicando fatos acerca da construção histórica deste lugar, enquanto entidade federativa assim como espaço urbano. Ambos sob a égide da dependência política. Por certo não poderíamos deixar de contribuir com a discussão sobre o ensino superior refletindo sobre a seleção do conhecimento que lhe vem sendo inquirida através das reformas curriculares. Essas reflexões, neste número, enriquecerão e certamente contribuirão para o debate por todos aqueles que são interessados pelo tema. Isto nos estimula a confiar que no próximo número a disputa por um espaço nesta revista continuará acirrado.
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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A SOCIEDADE NA TEORIA DOS SISTEMAS A SOCIEDADE NA TEORIA DOS SISTEMAS A SOCIEDADE NA TEORIA DOS SISTEMAS A SOCIEDADE NA TEORIA DOS SISTEMAS DE NIKLAS LUHMANNDE NIKLAS LUHMANNDE NIKLAS LUHMANNDE NIKLAS LUHMANN
Armin MathisArmin MathisArmin MathisArmin Mathis1111
RESUMO: Este artigo apresenta as concepções de Niklas Luhmann acerca da teoria dos sistemas utilizando para tanto, o conceito de sociedade para discorrer acerca da visão do referido autor sobre como se processa a relação entre o homem e o meio que habita. PALAVRAS-CHAVE: Teoria dos sistemas, Sociedade; Sistema social; Homem; Ciências humanas. ABSTRACT: This article presents Niklas Luhmann's conceptions concerning the theory of the systems using for so much, the society concept to discourse concerning the referred author's vision on as the relationship is half processed between the man and the that inhabits. KEYWORD: Theory of the systems, Society; Social system; Man; Humanities.
"O que o Senhor está fazendo, está tudo errado, mas tem qualidade." (J. Habermas sobre Niklas Luhmann) "E, o quê, tem atrás disso? Atrás disso, tem nada!"(N. Luhmann sobre a teoria dos sistemas sociais) "As seguintes investigações arriscam a transição a um conceito de sociedade radicalmente anti-humanista, radicalmente anti-regionalista e anti-radical construtivista"
(N. Luhmann: Gesellschaft der Gesellschaft).
Introdução
O presente trabalho é uma tentativa de apresentar para as ciências sociais no Brasil alguns
aspectos da teoria dos sistemas de Niklas Luhmann. Luhmann (1927-1998), professor da
Universidade de Bielefeld entre 1966 e 1993 , é considerado hoje, junto com Jürgen Habermas, o
1 Cientista Político, Prof. Adjunto do NAEA/UFPA. Endereço Eletrônico: [email protected]
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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mais famoso representante da sociologia alemã2. Considerando o caracter introdutório desse texto,
a maneira que escolhi de apresentar o pensamento de Luhmann foi através do conceito da
sociedade. Decisão esta, que não se explica pela importância da referida categoria na arquitetura
de sua teoria, mas pelo seu caráter emblemático de poder mostrar as singularidades do seu
pensamento dentro da teoria sociológica. Justamente esta singularidade e a complexidade da
teoria elaborada por Luhmann, que torna a sua leitura inicialmente muito difícil. O texto aqui
apresentado se coloca como facilitador dessa aproximação com a teoria dos sistemas sociais, que
hoje ocupa um lugar de destaque nas 'grandes' teorias da sociologia.
Luhmann iniciou sua carreira acadêmica como sociólogo no início dos anos 60 com um
estágio em Harvard, onde foi aluno de Talcott Parsons. Nessa época trabalhava como assessor
jurídico3 no ministério de educação e cultura do Estado da Baixa Saxônia. Após sua volta dos
Estados Unidos começou a lecionar na escola superior de administração de Speyer, para depois
assumir uma cátedra de sociologia na recém criada Universidade de Bielefeld, onde trabalhou
durante trinta anos no seu "único" projeto de pesquisa: uma teoria da sociedade. Em 1984
Luhmann publicou o "capítulo introdutório", a obra: Soziale Systeme. Grundriß einer allgemeinen
Theorie4. Depois seguiram-se vários estudos sobre sistemas funcionais específicos da sociedade
moderna5 e, em 1997, ele apresentou com Die Gesellschaft der Gesellschaft6 o ponto final desse
projeto gigantesco.
"A teoria da sociedade conforme o pensamento a ser elaborado a seguir é a teoria do sistema
social mais abrangente, aquele que inclui todos os outros sistemas sociais" (GdG 78). Isso é o
ponto de partida na descrição da sociedade de Luhmann. Nesta visão estão implícitos alguns
pressupostos que merecem um esclarecimento prévio, para que possamos seguir o caminho a que
ele se propõe.
Sociedade como sistema
Luhmann interpreta a sociedade como um sistema: isto é, ela é observada através da
distinção sistema / meio. Sendo assim, cabe inicialmente recorrer aos instrumentos da teoria geral
dos sistemas, sobretudo às mudanças paradigmáticas que ocorreram nos anos 70 e 80, em função
2 Diferente de Habermas, poucas obras de Luhmann foram traduzidos para o português. Embora Luhmann publicou quase 60 livros. 3 A formação acadêmica de Luhmann é de direito. 4 Tradução espanhol: Sistemas sociales. Lineamentos para uma teoría general. Barcelona: Anthropos; México: Universidade Iberoamericana; Santafé de Bogotá: CEJA. 1998. 5 Até agora ela apresentou monografias sobre os seguintes sistemas funcionais: a direito (1993), a arte (1997b), a ciência (1990), a economia (1988), a educação, os meios de comunicação de massa (1996b) No espólio de Luhmann encontram se ainda vários manuscritos, cujo destino ainda não está definido. 6 Essa obra, cujo título programático: "a sociedade da sociedade", ficará mais claro após leitura do texto, ainda não foi traduzido.
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de novas descobertas nas ciências exatas e biológicas. A teoria geral dos sistemas apresenta-se
hoje como teoria de sistemas auto-poiéticos, auto-referenciais e operacionalmente fechados.
Mudanças paradigmáticas na teoria geral dos sistemas
Como marco inicial dessa mudança paradigmática, considera-se On Self-Organizing Systems
and their environment de Heinz von Foerster, publicado em 1960, uma obra ainda fortemente
influenciada pela cibernética e pelos conceitos de informação de Shannon.
Quase no mesmo tempo, um químico, Ilya Prigogine, que trabalhava em Bruxelas sobre
processos da termodinâmica não-linear, formula pela primeira vez o conceito das estruturas
dissipativas: descrevendo processos de auto-organização longe do equilíbrio termodinâmico,
usando energia, e produzindo entropia. Mas a termodinâmica não-linear não ficou restrita aos
trabalhos de Prigogine e Glansdorff em Bruxelas. Também na Europa oriental, sobretudo em
Berlim (Ebeling), Moscow e Kiew, trabalhavam químicos e físicos com fenômenos da auto-
organização - nem sempre bem vistos pela ciência oficial dos antigos regimes socialistas.
Também durante os anos 60, um físico alemão, Hermann Haken, usou o conceito de auto-
organização para elaborar uma teoria sobre o laser. Essa teoria, em seguida mais aprofundada,
ficou conhecida como sinergética, e logo foi ampliada para outros processos de formação
espontânea de ordem na física, química ou biologia.
Manfred Eigen, um biólogo cujo interesse de pesquisa era uma teoria da seleção no nível
molecular, publicou em 1971 Molecular self-organization of matter and the evolution of biological
macromolecules, onde interpreta a origem da vida e a evolução como resultado de um processo de
auto-organização, ou a transformação do caos molecular em vida ordenada.
No campo da ecologia, Holling, através da introdução dos conceitos stability e resilience,
tentou fornecer uma explicação nova sobre os processos dinâmicos de sistemas ecológicos frente
a uma perturbação externa.
Embora a maioria das teorias sobre auto-organização nas diversas disciplinas ter nascido
durante os anos 60, somente na primeira metade dos anos 70 foi dado o seu reconhecimento
mútuo, o que levou a uma discussão mais profunda sobre as categorias e a tentativa de
formalização.
Autopoiesis e fechamento operacional
Como mencionado, Luhmann assimila em sua teoria as mudanças que aconteceram no plano
da teoria geral dos sistemas. Uma das mudanças principais foi a substituição do conceito sistema
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aberto / fechado pelo conceito de autopoiesis7. Autopoiesis significa que um sistema complexo
reproduz os seus elementos e suas estruturas dentro de um processo operacionalmente fechado
com ajuda dos seus próprios elementos8. Enquanto Maturana / Varela restringem o conceito da
autopoiesis a sistemas vivos, Luhmann o amplia para todos os sistemas em que se pode observar
um modo de operação específico e exclusivo, que são, na sua opinião, os sistemas sociais e os
sistemas psíquicos. As operações básicas dos sistemas sociais são comunicações e as operações
básicas dos sistemas psíquicos são pensamentos. As comunicações dos sistemas sociais se
reproduzem através de comunicações, e pensamentos se reproduzem através de pensamentos.
Fora dos sistemas sociais, não há comunicação e fora dos sistemas psíquicos não há pensamento.
Ambos os sistemas operam fechados, no sentido que as operações que produzem os novos
elementos do sistema, dependem das operações anteriores do mesmo sistema e são, ao mesmo
tempo, as condições para futuras operações. Esse fechamento é a base da autonomia do sistema.
Ou em outras palavras, nenhum sistema pode atuar fora das suas fronteiras. É válido ressaltar que
o conceito da autopoiesis em nenhum momento vem negar a importância do meio para o sistema,
pois, lembrando, sem meio não há sistema. Autopoiesis refere-se à autonomia, o que não significa
autarquia.
Essa diferença se expressa na categoria acoplamento estrutural, que denomina a relação de
dois sistemas auto-poiéticos, que precisam para seu funcionamento da presença de outros
sistemas. Como exemplo podemos citar a relação entre sistemas sociais e sistemas psíquicos;
comunicação não é possível sem a presença de sistemas psíquicos. A relação sistema meio
caraterizada por um acoplamento estrutural significa que sistemas autopoiéticos - isto é, sistemas
de estrutura determinada e autoregulativos - não podem ser determinados através de
acontecimentos do meio, esses acontecimentos somente podem estimular operações internas
próprias do sistema, cujo resultado, na maneira como ele se mostra para o meio, não é previsível,
mas contingente. As estruturas semânticas internas organizam as operações comunicativas
internas de maneira recursiva ou autoreferencial. Desta maneira, podemos chamar aquele sistema
de autônomo - que baseado em regulação autopoiética - mantém relações com o seu meio guiado
pela sua diferenciação principal e por seu modus de operação. Assim, um sistema autônomo é
independente do seu meio, o que diz respeito a estrutura básica de sua orientação interna, e a
forma de processar complexidade, mas dependente do seu meio no que diz respeito a dados e
constelações que servem como base de informação para o sistema.
7 Luhmann não foi o único cientista social que se utilizou da idéia da autopoiesis. Para uma adaptação diferente veja por exemplo Görlitz (1995: 106ff) 8 A negação de autopoiesis é allopoiesis, categoria usado por Neves (1996) para caraterizar o sistema do direito no Brasil, devido as interferências externas que o sistema sofre.
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Sociedade como sistema social
A teoria dos sistemas sociais é a teoria que tem como objeto de estudo sistemas
autopoiéticos sociais. Isso faz necessário definir a operação básica através da qual o processo
autopoiético separa esse sistema dentro do seu meio. Além da sociedade, organizações e
interações fazem parte dos sistemas sociais e assim têm caraterísticas comuns e são comparáveis
entre si.9 O principal fator em comum entre os sistemas sociais é o fato de que a sua operação
básica é a comunicação. A comunicação é a (única) operação genuinamente social, e ela é
autopoiética porque pode "ser criada somente no contexto recursivo das outras comunicações,
dentro de uma rede, cuja reprodução precisa da colaboração de cada comunicação isolada" (GdG
83).
Sistemas sociais como forma de reduzir a complexidade do mundo
Sistemas sociais se formam autocatalíticamente para reduzir a complexidade do mundo. O
mundo que representa a unidade entre sistema e meio, e que contém todos os sistemas e todos os
meios. A função principal dos sistemas sociais é a de reduzir a complexidade do mundo de tal
maneira que ela possa ser entendida pelas pessoas ou sistemas psíquicos - na linguagem da
teoria dos sistemas. Complexidade é assim definida: um conjunto de elementos que devido a
restrições imanentes à capacidade de enlace, torna impossível combinar cada elemento ao mesmo
tempo com cada elemento (SozSys 46). Ou em outras palavras, complexidade é o conjunto dos
possíveis estados e acontecimentos de um sistema. Assim, a complexidade do mundo é sempre
maior do que a complexidade de um sistema, que por outro lado, precisa de um grau de
complexidade que lhe permita a redução da complexidade no seu meio. Para sistemas sociais a
redução da complexidade do mundo se traduz no problema de como enfrentar a dupla
contingência.
Redução da complexidade do mundo é enfrentar a dupla contingência
Contingência, nas palavras de Luhmann, é “algo que não é necessário nem impossível, algo
então que é (era ou será) assim como é mas também poderia ser diferente” (SozSys 152).
Traduzido para sistemas psíquicos ou sociais, o problema da dupla contingência se transforma no
dilema que Ego não sabe como Alter reagirá em resposta a um dada atuação do Ego. Alter e Ego
dispõem de vários alternativas de atuação. Um sistema social, ou um indivíduo, tende a interpretar
o problema da contingência, isto é, da variedade de alternativas de atuação como um grau de 9 Nas suas últimas publicações Luhmann mostra a tendência de adicionar um quarto tipo de sistema social, os movimentos sociais, sem aliás fornecer um referencial teórico de comparável complexidade como fez para as organizações ou para a sociedade. Veja por exemplo (Luhmann 1996)
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liberdade: liberdade de escolher entre várias alternativas de atuação. No papel de observador de
um outro indivíduo ou sistema social, o problema da contingência se coloca totalmente diferente, a
liberdade de escolha do sistema se transforma para o observador desse sistema em fonte de
inseguranças e surpresas. A existência e o relacionamento das contingências dos diversos
sistemas ao seu redor constitui para o sistema focal a complexidade do seu meio. Para poder
enfrentar essa complexidade no seu meio, o sistema é obrigado a corresponder com a elaboração
de estruturas complexas, que por sua vez, podem aumentar a contingência do sistema e assim
iniciar um processo evolutivo10.
Sentido como fator ordenador do mundo
A complexidade interna do sistema possibilita através do uso de critérios de relevância a
redução da complexidade do seu meio, onde dados relevantes estão sendo selecionados. Esses
dados estão sendo processados internamente de forma a gerarem várias alternativas de atuação.
Isso faz necessário a seleção interna de uma alternativa de atuação frente ao meio do sistema.
Resta agora saber, qual é o critério (ou a força interna) que regula esse procedimento. Ou, em
outras palavras, o que substitui o instinto e a mera vontade de sobreviver? A resposta da nova
teoria dos sistemas é simples e complexa ao mesmo tempo. Conforme essa teoria, o critério que
regula os sistemas sociais e os sistemas psíquicos é o sentido11, ou seja, eles se organizam
baseados no sentido.
A noção comum de sentido é o critério que define os limites do sistema, um entendimento
comum sobre um sentido divide o mundo em algo com sentido e algo sem sentido. Mas sentido
como a razão da seleção não é suficiente, ele precisa do apoio de outros fatores como normas,
valores, metas; um conjunto que crie uma ordem de preferências de uma sistema social, um
complexo de mecanismos regulativos constituído simbolicamente e com sentido. Desta forma
podemos então responder a pergunta de uma maneira diferente: a regulação da seleção de dados
do meio, por via de uma ordem de preferência formada por critérios de sentido, é a condição da
possibilidade da formação de um sistema. Como já foi dito, sistemas não-triviais têm a capacidade
de reflexão, o que significa capacidade para elaborar internamente um modelo do seu meio e uma
identidade própria. Sendo assim, o sistema também tem a capacidade de definir e redefinir interna-
10 Vale ressaltar que complexidade e contingência não são diretamente relacionadas dentro de uma administração pública - altamente formalizada e complexa - as relações internas não são de pouca contingência enquanto a relação entre Robinson e Sexta-Feira no seu primeiro encontro foi de pouca complexidade mas de alta contingência (Willke 1993: 32) 11 Sentido (Sinn) é uma categoria chave na teoria de Luhmann e em várias partes da sua obra ele faz referência a ela. Veja por expemplo Luhmann (1984: 92-148), (1997: 44-59), (1971 25-100). Sobre a importância da categoria sentido para a teoria de Luhmann e as diferenças em relação a Husserl e Habermas ver Horster (1997: 78 ff) e mais geral ( Baraldi / Corsi / Esposito 1997)
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mente o que é o sentido, que depois se torna a base da seleção para redução da complexidade do
meio e da contingência interna. Sistemas sociais são assim constituídos por sentido e constituem
sentido ao mesmo tempo12.
Auto-referência / hetero-referência como re-entry da diferença sistema / meio no sistema
A interpretação de sistemas sociais como sistema constituído por sentido e como algo que ao
mesmo tempo constitui sentido, expressa a mudança paradigmática na teoria geral dos sistemas,
onde a distinção parte / todo foi substituído pela diferença sistema / meio, e a distinção sistema
aberto / sistema fechado cedeu lugar ao modelo da autopoiesis. Isso fica claro quando nos
enfocamos a operações que usam e produzem sentido. São aquelas que permitem distinguir o
sistema do meio ou distinguir entre auto-referência e hetero-referência. A diferença sistema / meio
aparece duplamente; primeiro como diferença produzida pelo sistema, e segundo como diferença
observada dentro do sistema. Introduzir a distinção (no nosso caso meio / sistema) naquilo que foi
distinguida por ela (no nosso caso sistema), é chamado re-entry usando uma expressão de Georg
Spencer Brown13. O re-entry tem como conseqüência lógica que o sistema não é mais calculável
por si mesmo, ele se encontra em um estado de indeterminação que tem como base não a
imprevisibilidade da influência externa (variável independente), mas o próprio sistema, que pode
sair dessa situação somente através de uma memória. Uma memória que disponibilize para ele,
resultados de seleções feitas no passado (GdG: 45).
Isso modifica radicalmente a visão de mundo, que deixa de ser algo composto por coisas,
objetos, idéias, etc. : "Ao contrário, o mundo é um potencial imenso para surpresas, é informação
virtual, que necessita de sistemas para gerar informação, ou mais preciso: atribuir às irritações
escolhidas o sentido de informação." (GdG 46). Referências feitas em direção ao passado, isto é,
algo que se mostrou como sentido com sentido, referem-se a operações contingentes, e não a
origens fundamentadas. Da mesma forma, referências que visam o futuro, referem-se ao imenso
do mundo virtual, no entanto sem saber se, e quais das possibilidades de observação o sistema,
através das suas operações de observação introduz no sistema.
Sociedade como sistema social mais abrangente
O ponto de partida da abordagem de Luhmann sobre a sociedade é a constatação de que
cada tentativa de descrever a sociedade acontece dentro da sociedade. Sendo assim, teoria da
12 Essa definição de sentido deixa claro o lado construtivista da teoria, que se distancia assim da visão ontológica da tradição européia de pensamento. Veja sobre o construtivismo radical os trabalhos de Ernst von Glasersfeld e Siegfried S. Schmidt. 13 Uma discussão mais profunda sobre o trabalho de Spencer Brown encontra-se em Baecker (1993a, 1993b.)
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sociedade como descrição da sociedade é auto-lógica, isto é, a descrição da sociedade tem que
incluir uma descrição da própria teoria, que é a base da descrição da sociedade. A descrição da
sociedade é um fenômeno social e sendo assim, faz parte da sociedade. A sociedade é da
sociedade. Esse componente auto-lógico em conjunto com a falta de metodologias adequadas
para analisar sistema de alta complexidade é, na opinião de Luhmann, a razão da escassez de
uma teoria da sociedade na sociologia contemporânea. Na sociologia comum, o obstáculo
epistemológico que impede a descrição da sociedade, tem como base quatro hipóteses (GdG
23ss.):
− A sociedade é composta de seres humanos concretos e das relações entre eles;
− e, por isso, sociedade somente pode ser constituída ou integrada como resultado de um
consenso entre os seres humanos, através da concordância de suas opiniões e objetivos;
− sociedades existem como unidades regionais ou territoriais;
− sociedades podem, como grupos, ser observados de fora.
Contra esse entendimento de sociedade, Luhmann apresenta a sua descrição da sociedade
como sistema social que envolve a totalidade das comunicações. Sem comunicação não há
sociedade, e fora da sociedade não há comunicação. Os limites da sociedade são os limites da
comunicação; limites estes, que variam historicamente. Baseado nesse entendimento, a sociedade
moderna se constitui como sociedade global; não é mais possível isolar dentro da sociedade
socialmente comunicação. Tudo que não é comunicação, não faz parte do sistema, passando a ser
alocado fora do contorno deste. Não sendo comunicação, os seres humanos - enquanto sistemas
psíquicos - não fazem parte da sociedade, e sim do seu meio. Na sociedade eles estão presentes
apenas como pessoas, pontos de endereçamentos para a comunicação. O que existe é um
acoplamento estrutural entre a sociedade como sistema social e os indivíduos como sistemas
psíquicos. Um não pode existir sem o outro.
A concepção teórica de interpretar o ser humano como algo fora da sociedade foi, e ainda é,
um dos pontos mais criticados, ou menos entendidos da teoria dos sistemas. Sem entrar em
detalhes nesta polêmica, somente alguns esclarecimentos: nós estamos falando de uma
construção teórica, e não de uma manifestação ontológica14. O valor de uma teoria tem que se
mostrar na sua capacidade explicativa, não cabendo um julgamento partindo de uma visão
moralista15. A diferença sistema / meio não implica numa preferência dada para um dos lados, pelo
14 "Tal diferença (sistema - meio, A.M.) não é ontológica, e aí residem as dificuldades da compreensão. Ela não divide a realidade global em duas partes: aqui sistema e lá meio. A alternativa não é absoluta, ela se aplica somente relativa ao sistema, mas, não obstante, objetivamente. É o correlato da operação observar, que introduz essa distinção (como todos as outras) na realidade." (SozSys 244) 15 "Desta maneira, a afirmação que seres humanos pertencem ao meio de sistema sociais, não contém nenhuma atribuição valorativa sobre a importância de seres humanos para si mesmo ou para outros. Somente a sobrestimação,
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contrário, o sistema e meio, somente existem juntos16. Somente a alocação do indivíduo fora da
sociedade possibilita uma análise da sociedade, sem necessidade de interpretá-la através de
comportamentos desviantes dos indivíduos, e das influências da sociedade sobre estes.
A interpretação de Luhmann da sociedade como sistema social que envolve toda a
comunicação, fica mais clara quando se leva em consideração o significado da categoria
comunicação, dentro da teoria dos sistemas.
Comunicação como elemento da sociedade
Luhmann define comunicação como a síntese de três seleções: mensagem, informação e
compreensão da diferença entre mensagem e informação. Comunicação é o fato que Ego
compreende que Alter transmitiu uma informação, e que essa informação pode ser atribuída ao
Alter. Vamos ilustrar isso através de um exemplo17.
Alter diz: Está chovendo. Isto é a mensagem, que é resultado de uma seleção. Ele poderia ter
dito outro coisa, ou poderia ter ficado calado. Está chovendo, a informação, é "também uma
seleção, porque divide o mundo entre aquilo que foi dito, e aquilo que está excluído (está fazendo
sol). Essa informação não é resultado de uma transmissão - como no entendimento comum da
comunicação - que passou de um (que deixou de tê-la) para outro (que passou a tê-la) , mas sim,
produto da construção de uma seleção específica. A compreensão da diferença entre mensagem
(Alter diz) e a informação (está chovendo) realiza a comunicação, que se torna um acontecimento
de curto duração. Tudo o que aconteça em seguida, já não faz parte da unidade da seleção do ato
comunicativo18. A comunicação sobre a comunicação (uma pergunta de esclarecimento por
exemplo) já é outra comunicação. No processo de comunicação, comunicação produz
constantemente comunicação e mantém assim o sistema social. No mesmo lado, comunicação é
sempre comunicação dentro do sistema social. Ela é operação interna e, por isso, não há
comunicação entre sistemas sociais e o meio, assim como o sistema não recebe informação do
meio. O que existe é comunicação do sistema, tendo como referência o seu meio. Nesse caso, o
sistema constrói internamente - através da observação - a sua informação sobre o seu meio19.
que está inclusa na categoria de sujeito, expressa na tese da subjetividade da consciência, está sendo revisada. Sistemas sociais têm como base não 'o sujeito', mas o ambiente; e ter como base significa então somente que existem condições da diferenciação de sistemas sociais (entre outras pessoas como portadoras de consciência) que não estão sendo diferenciados" (SozSys 244). Veja sobre a mesma discussão os artigos em Fuchs / Göbel (1994). 16 "O conceito de ambiente não deve ser entendido como uma categoria residual. Antes a relação com o ambiente é constitutiva para a formação do sistema." (SozSys 242) 17 O exemplo segue Baraldi / Corsi / Esposito (1997: 89ss) 18 Um quarta seleção: aceitar ou não das seleções feitas no ato de comunicação como condição da atuação própria é algo fora do ato comunicativo (SozSys 203). 19 As conseqüências disso para a discussão ecológica não são nada animadoras, como Luhmann tenta mostrar (Luhmann 1986), uma crítica dessa visão em Metzner (1993).
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Comunicação como acontecimento é algo improvável de acontecer20. Isso devido a três
razões. Primeiro, é improvável que a comunicação se realize através da compreensão da diferença
entre mensagem e informação; segundo, é improvável que a mensagem atinga o destinatário;
terceiro, é improvável que a comunicação esteja sendo aceita. Para enfrentar as três
improbabilidades e tornar a comunicação provável existem meios. A língua para reduzir o problema
da compreensão, os meios de difusão, para facilitar o alcance do destinatário e os meios de
comunicação simbolicamente generalizados, para facilitar a aceitação da comunicação.
Meios de comunicação como facilidadores da comunicação
Luhmann substitui o uso da categoria transmissão na sua teoria de comunicação pela
diferenciação de meio e forma (GdG 190). Luhmann usa as categorias meio e forma na tradição de
Heider (1926). Meio e forma corresponde a diferenciação entre elementos desapertadamente
acoplados e elementos rigorosamente acoplados. Certos meios de percepção como luz ou ar,
podem condensar em uma forma através de um organismo que o percebe. Um outro exemplo seria
a areia (elementos = grãos de areia desapertadamente acoplados) como meio e a escultura ou a
impressão de um pé na areia como forma (=elementos = grãos de areia rigorosamente acoplados).
No caso da comunicação, a língua é um meio (palavras como elementos desapertadamente
acopladas) que condensa na forma de frases (palavras rigorosamente acopladas) sem, aliás,
destruir o meio. O meio de comunicação é assim definido como o uso operacional da diferença de
meio como substrato e forma. Comunicação é o processamento dessa diferença. Enquanto o meio
fica constante a forma se atualiza em cada operação de comunicação.
A comunicação na sociedade produz dentro do seu processo evolutivo formas diferentes de
meio / forma, conforme o problema que a comunicação enfrenta. Meios de difusão aumentam o
número dos destinatários de uma comunicação. Aumentando o grau da difusão da comunicação,
aumenta também a redundância da informação. A informação pode ser usada como confirmação
de conjunção social, mas não serve mais como informação de um ato comunicativo, porque
sempre se pode esperar que a informação já seja conhecida. Nesse estágio, os meios de
comunicação podem surgir e assumir para si a tarefa de produzir informação. Em geral, o aumento
da capacidade de difusão de informação leva a um aumento dos endereços da comunicação, e
cada vez fica mais aumenta a dificuldade para se saber o que motiva uma comunicação, para quê,
e quais as comunicações que estão sendo aceitas na sociedade. Uma saída para essa situação é
a elaboração de um novo tipo de meio de comunicação: os meios de sucesso - meios de
comunicação simbolicamente generalizados. Esses meios de comunicação conseguem juntar
20 Veja sobre isso: Luhmann (1981).
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condicionamento e motivação. Eles estabelecem, na esfera da sua vigência, condições que
aumentam a probabilidade da comunicação. Poder, por exemplo, é um meio de comunicação
simbolicamente generalizado, que aumenta a aceitação de uma comunicação dentro da política; o
mesmo se aplica para o dinheiro na economia.
Sem mais aprofundamentos no pensamento de Luhmann sobre os meios de comunicação
simbolicamente generalizados, resta somente lembrar, que a constituição da sociedade como
sistema auto-poiético, operacionalmente fechada na base de comunicação, coloca para Luhmann a
evolução da sociedade como o problema da evolução da autopoiesis da comunicação, uma
evolução que por si, é influenciada pela evolução da sociedade.
A evolução da sociedade
Teorias de evolução trabalham em geral com os conceitos de variação, seleção e
re-estabilização. O contorno que separa um conceito do outro é o acaso. É o acaso - a negação da
causalidade - que define se variações levam a uma seleção negativa ou positiva de uma novidade,
e é imprevisível se a re-estabilização de um sistema após uma seleção positiva ou negativa será
possível. Seleção não garante bons resultados. A teoria de evolução não é uma teoria do
progresso, nem de intervenção, e não há como fazer prognósticos.
Evolução de sistemas auto-poiéticos significa que qualquer mudança nas estruturas do
sistema tem que acontecer em conseqüência de operações internas do sistema. Isso modifica a
antiga visão da evolução de que sistemas se adaptam ao seu meio. Pelo contrário o sistema tem
que ser adaptado para poder evoluir. O meio somente tem a capacidade de perturbar o sistema
que conforme suas estruturas percebe essa perturbação e modifica dentro da sua própria
auto-poiesis as suas estruturas. Que essa modificação aconteça não é uma necessidade, mas sim
uma possibilidade. A seleção das variações geradas em conseqüência de uma perturbação externa
somente terá como resultado uma nova re-estabilização do sistema, se as novidades podem ser
incorporadas dentro das caraterísticas estruturais do sistema.
Para a sociedade como sistema social na sua relação com o seu meio, a evolução se coloca
da seguinte maneira (GdG 454): a variação modifica a comunicação como elementos do sistema.
Traduzido para a sociedade isso significa a comunicação (=elemento) comunica (=processo)
comunicação nova e surpreendente (= elemento variado). A seleção diz respeito às estruturas do
sistema, no caso da sociedade, às expectativas que conduzem a comunicação. A seleção procura
os sentidos que prometem capacidade de formar estruturas, que são capazes de ser usado
novamente, que são capazes de formar e condensar expectativas. A re-estabilização define o
estado de um sistema em evolução após uma seleção, seja positiva ou negativa. Como exemplos
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dessas mudanças evolutivas no nível da sociedade podemos citar a formação da agricultura
permanente, ou a sua não-formação em povos nômades. No entanto, a evolução da sociedade
como sistema social único não conseguiu se assegurar como único meio de garantir a capacidade
de reduzir o crescente aumento da complexidade no seu meio. Um outro meio que se mostrou
capaz de assumir essa função foi a diferenciação interna da sociedade. A diferença sistema / meio
que formou a sociedade, começou a ser aplicado dentro da própria sociedade na formação de
sistemas dentro do sistema.
Diferenciação da sociedade como re-entry
Cada diferenciação de um sistema, isto é a constituição da diferença sistema / meio dentro de
um sistema, cria novos sistemas e novos meios dentro do sistema. A diferenciação de um sistema
em sub-sistemas substitui na nova teoria dos sistemas a diferença partes / todo. O sistema se
diferencia não em várias partes, mas sim em diversas diferenças sistema / meio. Para cada
sub-sistema se forma dentro do sistema original, meios diferentes, tendo como limites finais o limite
do sistema original. A modificação de um sub-sistema se constitui assim sincronicamente como
mudança de meio para vários outros sub-sistemas dentro do sistema original. Uma mudança que
por si pode iniciar um processo evolutivo nesses sub-sistemas. Os sub-sistemas estabelecem
acoplamentos estruturais entre si e co-evoluem. O acoplamento estrutural entre os sub-sistemas é
o que define estrutura da sociedade como sistema social mais amplo e o que constitui a forma da
diferenciação do sistema21.
As formas de diferenciação do sistema significam estados e possibilidades diferentes na
evolução do sistema. Cada forma de diferenciação do sistema incorpora somente restritas
possibilidades de desenvolvimento. Esgotadas essas possibilidades, a continuidade da evolução
requer uma nova forma de diferenciação. Dentro de uma dada forma de diferenciação nenhum
sub-sistema pode ser substituído por um outro, isso devido a necessária diferença entre os
sub-sistemas como fator constitutivo. Para que, apesar disso, evolução se torna possível, precisa-
se dentro do sistema, formas latentes de uma possível nova ordem. Formas que no decorrer da
formação da sociedade podem se tornar dominante. Isso significa que evolução precisa várias
formas de diferenciação ao mesmo tempo, para germinar opções de seleção. Embora a evolução
coloque a necessidade de várias formas de diferenciação ao mesmo tempo, existe sempre uma
forma de diferenciação principal. Essa forma de diferenciação primária, se destaca pela sua
capacidade de regular as possibilidades das demais formas de diferenciação.
21
A definição dada por Luhmann é "Falamos então de forma da diferenciação do sistema, quando - partindo da visão de um
sub-sistema - consegue se distinguir um outro sub-sistema, e quando o sub-sistema se determina através dessa diferença." (GdG
610)
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Historicamente, quatro formas de diferenciação são demonstráveis.
− Diferenciação segmentária; os sub-sistemas da sociedade são iguais entre si, por exemplo
grupos tribais, que vivem sem muito contato entre si.
− Diferenciação através da diferença centro /periferia; agora existe um caso de desigualdade (=
centro), mas o princípio da segmentação se mantém (vários segmentos no centro e na
periferia).
− Diferenciação estratificada; a sociedade é dividida em camadas e existe um diferenciação
hierárquica. Normalmente existem pelo menos três camadas diferentes.
− A quarta forma de diferenciação, que começa se formar no século 16 e desde o século passado
se constitui como forma completa, é a diferenciação funcional. Diferenciação funcional
significa que a sociedade se divide em sub-sistemas que assumem uma função específica na
reprodução da sociedade e do seu meio.
Essas formas não constituem uma seqüência linear, pelo contrário, a história mostra a
convivência das diversas formas ao mesmo tempo.
A sociedade moderna como sistema de diferenciação funcional
Na sociedade global, interpretada como sistema mais amplo de comunicações, diferenciação
do sistema significa também, diferenciação da comunicação. Os sub-sistemas se diferenciam
através da elaboração de uma estrutura própria para sua comunicação, usando para isso
aquisições específicas da evolução: meios de comunicação simbolicamente generalizados e
códigos binários. Podemos enumerar alguns sistemas funcionais22 e seus códigos binários23:
− a política que usa o código binário poder / não-poder ou governar / não-governar;
− a ciência com o código binário verdade / não-verdade,
− a economia com o código binário pagar / não-pagar ou propriedade / não-propriedade,
− a arte com o código binário bonito / feio ou
− direito com o código binário lícito / ilícito.
A introdução do código binário tem várias conseqüências para o sistema funcional. Através do
código binário, o sistema consegue a duplicação do mundo, tudo que é colocado em um lado do
código, carrega consigo, o outro lado como possibilidade. A atribuição de uma comunicação a um
dos lados do código binário é regulamentada através de programas. No sistema funcional da
ciências as teorias científicas formam os programas que estabelecem as regras para poder decidir
sobre a verdade / não-verdade de uma comunicação científica. "Através da diferenciação de código
22 Grande parte da produção científica de Luhmann se refere a analise de sistemas funcionais. Veja referência 5. 23 Mais detalhes sobre codificação binária em Luhmann (1986: 75-88).
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e programa o sistema ganha então a possibilidade de operar ao mesmo tempo como sistema
fechado (= código binário A.M) e sistema aberto (= programas possibilitam modificações das
estruturas, A.M.)". (Ökom 91).
O código representa uma visão totalitária do mundo, que passa a ser observado, pelo sistema
funcional somente através da diferença específica que o seu código estabelece.24 A visão do
mundo de um sistema funcional é aquela que o seu código lhe permite ver. E como cada sistema
funcional tem um código específico, cada sistema funcional tem sua versão específica do mundo, e
consegue no máximo observar que existem no seu meio - nos outros sistemas funcionais - visões
diferentes do mundo. A unidade da sociedade se constitui como poli-contexturalidade dos mundos
específicos dos sistemas funcionais25. Não há mais um lugar que possa representar a identidade
do sistema. Os sistemas funcionais são iguais na sua diferença. A unidade da sociedade se
constitui no nível do sistema funcional como unidade da auto- e hetero-referência da sua
observação.
Observando os sistemas funcionais observar
Observar é uma operação com dois momentos: distinguir e designar (SozSys 596) 26. Usando
a distinção homem - mulher, bonito - feio ou sistema - meio podemos designar um dos dois lados
da distinção e chamar isso de observação. O que nós é vedado, é designar os dois lados ao
mesmo tempo. Somente na próxima operação, e isto significa usando o tempo, podemos designar
o outro lado.
Essa definição de observação tem conseqüências epistemológicas27. Cada observação
depende da distinção que se usa para observar. A observação somente pode observar aquilo que
ela enxerga com a distinção por ela escolhida. Ela não consegue ver o que ela não consegue ver
com a distinção por ela escolhida. A escolha da distinção é contingente, ou existem várias
possibilidades de distinguir, e assim de observar.
A observação é uma operação dentro do sistema que combina auto-referência (por exemplo
teorias científicas) com referência externa, isto é, a sua referência a seu meio (por exemplo o
objeto de uma pesquisa). Cada observação tem uma mancha obscura. O observador, no nosso
exemplo, sistema da ciência, usa uma distinção, que ele não pode indicar qual a distinção que ele
24 Luhmann usa - na tradição da lógica de Spencer-Brown e Gotthard Günther - para esse fenômeno o categoria da contextura. Uma contextura é um espaço bivalente, perfeitamente contingente, formado por uma distinção binária. Ver por exemplo Fuchs (1997: 98ss) 25 As visões diferentes do sistemas funcionais não podem ser juntados para formar um todo. 26 Essa definição de observação Luhmann toma emprestado de George Spencer Brown que formula dessa maneira: "We take as given the idea of distinction and the idea of indication, and that we cannot make any indication without drawing a distinction. We take, therefore, the form of distinction for the form." (Spencer Brown 1972: 1). 27 Veja por exemplo Kneer / Nassehi (1997: 97), Sutter (1997).
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usa. Mas, como sem distinção não existe observação, o observador não é capaz de observar a
distinção, que ele usa para observar28.
Enquanto é impossível observar a sua própria observação, a observação de uma observação
é possível. Em referência à cibernética, essa observação é chamada observação de segunda
ordem. Como observação de segunda ordem também é observação, ela também tem a sua
mancha obscura, e não representa uma visão privilegiada. Mas ela tem uma vantagem. O
observador pode, observando um outro observador observar, deduzir algo para sua observação.
Primeiro, ele pode ver a mancha obscura da observação observada, e assim deduzir, que a sua
própria observação também tem uma mancha obscura ou em outras palavras: ele pode ver que
não pode ver o que não pode ver. Embora nós falemos de observador, vale lembrar que nós
estamos falando de sistema, observando sistemas. Sistemas cuja maneira de observar o seu meio
é determinada pela sua auto-referência.
Modernização regional
Vamos fechar a nossa abordagem com uma reflexão sobre o processo da modernização no
Brasil, sob a luz da teoria acima apresentada. Concentramos em dois aspectos a integração do
sistema e a integração social.
O primeiro aspecto se traduz na linguagem da teoria dos sistemas na forma da diferenciação
da sociedade e o segundo abrange a relação sistema psíquico, sistema social, e será tratado pela
distinção inclusão / exclusão.
Na sociedade moderna a ordem social é resultado da autonomia dos sistemas funcionais, que
exercem funções exclusivas dentro de um meio, que é formado pelo conjunto dos outros sistemas
funcionais, que desta maneira restringem a atuação e a abrangência das suas funções. Integração
se apresenta, assim, no nível do sistema funcional como redução de grau de liberdade, em função
da existência de outros sistemas funcionais. Devido ao acoplamento estrutural entre os sistemas
funcionais, um aumento da integração da sociedade, representa não somente ordem, mas também
um risco. A sociedade é extremamente irritável frente a inexistência de uma instância controladora
e as múltiplas conseqüências da atuação dos sistemas funcionais estruturalmente acoplados.
Enquanto no nível global da sociedade a ordem é colocada em risco devido a sobre-integração dos
sistemas funcionais, no nível regional dessa mesma sociedade a ordem não se estabelece devido
a sub-integração dos sistemas funcionais.
A modernização se processa como instituição da diferenciação funcional da sociedade
global no nível regional. Ela se implanta assim com caratateristicas regionais e conforme a maneira
28 O mesmo se aplica para nós e a nossa teoria. Veja sobre as manchas escuras da teoria dos sistemas Schulte (1993)
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como o Estado nacional se comporta na concorrência das nações. O Estado nacional se coloca
assim entre o nível regional e o nível global29, sem muita liberdade de ação, porque a diferenciação
funcional da sociedade global define as estruturas em que o Estado nacional pode condicionar a
região para o seu ingresso na modernidade. A modernização, no nível regional, se processa dentro
das estruturas da sociedade funcionalmente diferenciada, e vale lembrar que na sociedade global
não há uma distância de coordenação, nem a necessidade de uma evolução para um equilíbrio.
Isso tem diversas conseqüências para a forma da modernização no nível regional.
O que se observa no nível regional é um duplo obstáculo que impede a formação de ordem.
Primeiro, a formação dos sistemas funcionais é resultado de um processo evolutivo, e por isso não
há como planejar, ou repetir no nível regional o que aconteceu no nível global durante o processo
da formação da sociedade moderna. Evolução no nível regional significa que a modificação da
estrutura da sociedade, sempre é modificação de estruturas antigas, através da seleção de
alternativas que se incluam dentro dessas estruturas antigas. O novo sempre carrega consigo o
velho. Nada garante que a improvável formação de sub-sistemas como funções exclusivas
aconteça. Muito mais provável que se formam sistemas funcionais corruptos, no sentido de não
conseguirem para si a exclusividade de uma função dentro da sociedade regional. Expressão clara
disso é a meta-diferenciação inclusão / exclusão que corta verticalmente os sistemas funcionais e
que transforma a sua competência, que devia ser universal – em algo sujeito de uma decisão
contingente dos sistemas sociais da sociedade30. Desta maneira não há uma contenção mútua dos
sistemas funcionais, a sua integração é muito baixa. A formação corrupta dos sistemas funcionais é
mais acentuada naqueles sistemas que ainda conseguem evitar a sua integração total nas regras
do jogo do sistema funcional da sociedade global. O sistema funcional da política com a sua
segmentação em Estados Nacionais é por isso, muito mais propício do que a economia ou a
ciência. Mas a integração também não é uma garantia de ordem ou de modernização. Pelo
contrário, tudo indica, que para os sistemas funcionais manterem as diferenças no nível global é de
grande vantagem e interesse. Bom lembrar, que o código da economia é pagar / não-pagar; não-
propriedade é tão importante para a autopoiesis da economia como a propriedade.
Após essas reflexões sobre a integração do sistemas vamos agora seguir com o outro
aspecto: a integração social. O processo de modernização acontece como mudança de uma
diferençiação estratificada para a diferenciação funcional. A diferenciação estratificada que define o
destino de um indivíduo é a sua camada de origem. Isso em um duplo sentido. A origem que marca
a posição dentro da sociedade não existe - fora do conto de fadas - a transição de uma camada
29 Eu mostrei isso em um trabalho anterior, tomando por exemplo a garimpagem como forma de valorização da Amazônia, mas usando as categorias espaços funcionais (Mathis 1995), Mathis (1997). 30“Para os amigos tudo que é possível, para os inimigos o rigor da lei”.
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social para outra camada. Não há possibilidades de formação de carreiras individuais. Na
comunicação isso se expressa em uma valorização da dimensão social acima da dimensão
objetiva, importante é quem diz algo e não o que foi dito. A camada de origem marca também a
visão da sociedade, que é vista através da diferenciação principal acima / embaixo. Por outro lado, o
conhecimento da própria camada social em conjunto com o conhecimento do 'seu lugar' na
sociedade - em conjunto com o papel da religião como interpréte exclusivo do mundo - oferece
para o indivíduo segurança no sentido de capacidade de entender a sociedade em que vive.
Inclusão / exclusão existe e se processa no nível da camada social e dentro da unidade familiar ou
da categoria de trabalho. Diferente das sociedades tribais exclusão não é mais possível com
exclusão total do indivíduo através da liberação por morte ou desterro. A diferença inclusão /
exclusão é reconstruída dentro da sociedade.
E como a sociedade moderna resolve o problema da inclusão / exclusão? A primeira vista,
não há mudanças profundas com a transição para a diferenciação funcional. Os sub-sistemas
(agora em vez das camadas, os sistemas funcionais) ficam responsáveis pela inclusão na
sociedade. Para que isso possa funcionar a sociedade parte de um pressuposto: a possibilidade de
que todos os indivíduos possam participar de cada sistema funcional. Inclusão, e muito ligado a
isso a formação da individualidade31, se forma através da participação das possibilidades de
comunicação que cada sistema funcional oferece. Esse mecanismo nutre a ilusão de inclusão sem
exclusão. Mas isso é somente ilusão, porque na realidade se formam esferas de exlusão. Exclusão
que normalmente não é somente exclusão de um sistema funcional porque a exclusão de um
sistema funcional normalmente leva à exclusão de outros sistemas32.
Exclusão social hoje é quantitativamente diferente (maior) e qualitativamente diferente
daquela de outras formações da sociedade. Na sociedade moderna, exclusão é consequência
direta da diferenciação funcional da sociedade33, e ao mesmo tempo inclusão somente é possivel
com a existência de sistemas funcionais, que funcionam. Esse fenômeno se mostra em toda a sua
dramática na regiões periféricas do mundo, onde a variável inclusão / exclusão se estabelece como
uma meta-diferença acima dos códigos dos sistemas funcionais (GdG 632). Isso não significa
somente exclusão do acesso a um sistema funcional, mas também a decisão sobre a sua inclusão
no sistema funcional. Na prática isso se traduz, por exemplo, nas decisões sobre o uso ou não do
31 Cada indivíduo agora é responsável por sua carreira, como resultado da sua formação própria. E isso no sentido duplo de formação dentro do sistema educativo, e de formação conforme um plano e desejos individuais. A camada social de origem não determina (claro que ainda tem influência que diz respeito ao acesso a educação por exemplo) mais o lugar na sociedade, nem a carreira alcançada diz algo sobre a origem da pessoa. O indivíduo agora tem que mostrar para a sociedade quem ele é. Veja mais exemplos em Fuchs (1997) 32 Não precisa-se de muita fantasia para ilustrar isso. 33 Não há espaço para aprofundar esse argumento e mostrar as ligações entre exclusão/inclusão e integração / desintegração. Veja sobre inclusão / exclusão Luhmann (1997: 619-634), Fuchs (1997c), Nassehi / Nollmann (1997).
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sistema de direito para decidir um litigioso. Claro que essa decisão de não entrar em um sistema
funcional requer recursos para impor a sua vontade sem recorrer a autoridade do Estado, seja
porque faz parte dela (caso da polícia, das forças armadas), seja porque não há presença ou
vontade política de atuação do Estado34.
Diferente das sociedades estratificadas que possuíram mecanismos de integração ao lado
da exclusão (por exemplo caridade, mosteiros, a marinha, as províncias, a pirataria nos navios) a
sociedade não conhece mais esses mecanismos, isso devido a falta de uma 'instância central' que
pode representar a sociedade como um todo. Enquanto nos países centrais, um sistema de
assistência social tenta assumir essa função, nos países periféricos não há uma equivalência
funcional para isso. O problema da inclusão se coloca meramente como problema individual.
Exclusão pode ser interpretada também como perda de endereço social35. O indivíduo não é mais
notado como pessoa, ele está sem papel social e em geral, sem os laços sociais das sociedades
estratificadas (oikos, família) que foram desestruturadas logo no início do processo da
modernização. Despido da sua sociabilidade ele é somente corpo, e o corpo e suas necessidades
básicas determinam o seu comportamento na sociedade, que se reduz a mera reprodução desse
corpo, a sobrevivência (Luhmann 1996b: 189). Reduzido ao corpo, a única maneira de regressar
na sociedade, de inclusão nos sistemas funcionais, é o uso desse corpo, seja na prostituição, seja
como modelo, seja como vendedor de seus órgãos ou das suas crianças, seja como jogador de
futebol.
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24
CONSULTORIA EMPRESARCONSULTORIA EMPRESARCONSULTORIA EMPRESARCONSULTORIA EMPRESARIAL: A IAL: A IAL: A IAL: A FUNÇÃO DO CONSULFUNÇÃO DO CONSULFUNÇÃO DO CONSULFUNÇÃO DO CONSULTOR NAS TOR NAS TOR NAS TOR NAS
EMPRESASEMPRESASEMPRESASEMPRESAS36363636
Judite BelfortJudite BelfortJudite BelfortJudite Belfort37373737
RESUMO: Com o intuito de contribuir para a disseminação da função do consultor e de suas principais atribuições, elaborou-se esse trabalho onde se fala da implantação de uma consultoria e utilizando diversas fontes de pesquisa sobre o assunto como bibliografias, revistas especializadas, artigos científicos e análise de dados. A partir de entrevistas e reuniões de acompanhamento na empresa-caso concluiu-se que a presença humana é capaz de alterar o comportamento de uma pessoa e principalmente da organização que deverá modificar seu modo de ser e agir e que é o consultor empresarial que tem essa responsabilidade. É ele que após apresentações, entrevistas e acompanhamentos, identifica as dificuldades, as necessidades, os pontos fortes e fracos e sugere as mudanças a serem implementadas na organização. PALAVRAS-CHAVES: Organização; Comportamento; Pensamento Sistêmico; Motivação; Mudanças. ABSTRACT: With the intention of contributing for the disseminação of the consultant's function and of your principal attributions, that work was elaborated where it is spoken about the implantation of a consultoria and using several research sources on the subject as bibliographies, specialized magazines, scientific goods and analysis of data. Starting from interviews and accompaniment meetings in the company-case was ended that the human presence is capable to alter a person's behavior and mainly of the organization that should modify your way of to be and to act and that is the managerial consultant that has that responsibility. It is him that after presentations, interviews and accompaniments, it identifies the difficulties, the needs, the strong and weak points and he/she suggests the changes they be implemented her/it in the organization. KEYWORD: Organization; Behavior; Thought Sistêmico; Motivation; Changes.
Introdução
A consultoria é a prestação de serviço que mais tem se destacado e tem sido objeto de
estudo devido controvérsias, principalmente por se tratar de matéria não regulamentada e de
vulnerabilidade quanto a princípios, filosofias e controle. 36 Artigo apresentado em curso de Administração da Universidade Federal de Rondônia-UNIR que tem como orientadora a Profª Msc. Mariluce Paes de Souza, como requisito para conclusão do curso 37 Judite Belfort de Jesus é acadêmica do 8º período do curso de Administração da Universidade Federal de Rondônia – UNIR, 2003.
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O consultor, nome dado ao profissional que presta o serviço tem a função de identificar as
origens e propor soluções para os problemas, dificuldades e necessidades de uma organização em
muitos casos não possui a qualificação apropriada para exercer a função. E, como tem sido
crescente a prática desta função por não especialista e não credenciados, os interessados, o
consumidor, o cliente, o usuário junto a quem os consultores atuam, ou seja, empresários,
executivos e funcionários em geral, precisam está atentos para não contratar mão-de-obra não
qualificada e entregar sua organização nas mãos de qualquer curioso.
Do latim consultare, “aconselhar” é aquilo que um consultor realiza. É um processo interativo
e um agente de mudanças externo à empresa, o qual assume a responsabilidade de auxiliar os
executivos e profissionais da referida empresa nas tomadas de decisão, não tendo, entretanto, o
controle direto da situação. Embora, no início muitos não se considerassem consultores, a verdade
é que diariamente, um número cada vez maior de profissionais resolvem atuar nesta área. Todas
as vezes que você aconselha alguém que esteja diante de uma escolha, você está dando uma
consultoria.
Descrever é caracterizar, apresentar características de alguém, coisa ou lugar enquanto
sujeito, desenvolvendo a percepção e a sensibilidade (MARTINS, 2001). O propósito desse artigo é
avaliar a função do consultor nas empresas, identificando sua formação, habilidades técnicas,
áreas de atuação e métodos aplicados na prestação dos serviços.Utilizou-se para pesquisa
empírica uma empresa-caso que contratou os serviços de consultoria. A metodologia aplicada foi a
pesquisa descritiva com revisão bibliográfica e de coleta e análise de dados secundários, a partir
de questionários e entrevistas com os funcionários, efetuados pela consultoria com o intuito de
proceder o levantamento de atividades e proceder às mudanças necessárias na empresa-caso.
A empresa-caso estudada é uma entidade de natureza jurídica de direito privado sem fins
lucrativos que tem por objetivo, promover e apoiar a pesquisa científica, tecnológica, filosófica e
cultural em todos os seus aspectos e fases, propiciando as instituições contratantes, todo apoio e
meios necessários à consecução dos seus objetivos. É responsável por realizar os estudos no
campo da produtividade e qualidade empresarial, visando a integração empresa-estado além da
elaboração de estudos, projetos, pesquisas e prestação de serviços para órgãos públicos e
privados em todas as áreas do conhecimento.
A empresa-caso possui sede própria, sistemas de informática interligados em rede, parque
gráfico e profissionais qualificados, colocando à disposição dos interessados os mais variados tipos
de prestação de serviços como cursos de pós-graduação “Lacto Sensu” e “Stricto Sensu”,
treinamentos e capacitações, realização de vestibulares e concursos públicos, assessoria e
consultoria, serviços de cerimonial e na organização de eventos, além de prestar serviços gráficos.
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O administrador e o consultor
A princípio defendia-se que para ser um consultor, o profissional deveria ser formado em
Administração de Empresas, isto por que acreditava-se que este já traz consigo algumas
referências do comportamento de grandes líderes e experiência nas tomadas de decisão. O curso
de administração é amplo, nele é generalista; nele aprende-se de tudo um pouco principalmente a
ter uma visão ampla do presente e avaliar as tendências futuras, além de saber lidar com pessoas,
ser responsável pela organização, planejar e fazer “funcionar” uma empresa, pública ou privada. O
administrador tem como principal meta atingir o máximo de qualidade, produtividade e
rentabilidade. Podendo atuar como executivo com uma visão abrangente ou em setores como
marketing, finanças, produção, recursos humanos, comércio exterior (XAVIER, 1998). Tem um
amplo leque de atividades, que engloba desde acompanhamento e avaliação de recursos
humanos, com a elaboração de planos de carreiras até o montante e distribuição dos
investimentos, definindo cronogramas e quais equipamentos serão necessários em cada etapa dos
projetos em andamento.
Segundo Tragtenberg (1974), a necessidade de gerenciamento teve início já nas incipientes
organizações públicas criadas pelos monarcas locais do antigo Egito, China, Mesopotâmia, e até
na América dos Incas, com o fim de construir e manter operando canais nas margens cultiváveis
dos grandes rios e, naturalmente, para arrecadar impostos dos lavradores na forma de grãos do
excedente agrícola não consumido na alimentação. Para gerenciá-las, foram então, nomeados
funcionários letrados, os antecedentes dos administradores atuais. Existe uma interação muito
grande entre a administração e as ciências sociais, particularmente o direito, a ciência política,
economia, sociologia, psicologia social e antropologia. Sob o impacto e a influência das ciências
sociais, a administração evoluiu da engenharia humana, com ênfase em como executar
racionalmente coisas, para a ciência social aplicada, em que a decisão racional constitui a variável
fundamental.
O crescimento das empresas privadas na segunda metade do século XX estendeu-se para
as Forças Armadas, universidades, repartições governamentais, igrejas, hospitais, de sorte que
todas essas organizações passaram a necessitar de administradores profissionais. A função do
administrador é dirigir negócios. Entre suas atribuições está um amplo leque de atividades, que
engloba desde o acompanhamento e avaliação de recursos humanos, com a elaboração de planos
de carreira, até o montante e distribuição dos investimentos, definindo, por exemplo, cronogramas
e equipamentos necessários para cada uma das etapas do projeto em andamento (LOBO, 1994).
Para Chiavenato (2000) a administração, tal como se encontra atualmente, é o resultado
histórico e integrado da contribuição cumulativa de numerosos precursores, filósofos, economistas,
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estadistas, e empresários que, no decorrer dos tempos, foram cada qual no seu campo de
atividades, desenvolvendo e divulgando suas obras e teorias.
Observa-se que profissionais formados em Administração em função do currículo e do
conhecimento adquirido durante o curso estão mais aptos a exercerem a função de consultor não
somente pelo aspecto histórico, mas também pelo vasto aprendizado e vivências adquiridas.
Porém, nada impede que um economista, um engenheiro ou qualquer outro profissional seja um
consultor. É necessário apenas que ele tenha uma formação acadêmica e que detenha alguma
experiência no seu ramo de atuação, aliada a práticas e vivências da Administração,
principalmente no que diz respeito à tomada de decisão. Ser capaz de conduzir uma empresa ao
alcance de seus objetivos, com o comprometimento de todos os envolvidos, tem se tornado o
diferencial entre o consultor excelente e os demais. Portanto, mais do que nunca, hoje as
empresas buscam profissionais que consigam conciliar resultados com gestão das pessoas.
Para Drucker apud Bonaparte e Flaherty (1976) o consultor além de ser aquele com quem o
cliente possa falar sobre problemas e dificuldades, ele é quem diz aquilo o que o cliente não quer
ouvir, mas que precisa ser dito. Se para melhorar o desempenho de uma determinada área é
necessário dizer “Que apesar do extraordinário esforço, o João não é competente” ele terá que
dizer, pois tendo identificado o foco de um problema precisará de mecanismos para começar a
saná-lo mesmo que demore algum tempo.
“A consultoria é uma espécie de psiquiatria não licenciada. Em primeiro lugar ouve-se uma quantidade inaudita de coisas a respeito das vidas particulares do cliente, muitas das quais de fato não se escuta, porém em alguns casos os fatos são tão espantosos que sem que se perceba já se está tendo um relacionamento pessoal com o cliente o que é de grande valia, pois se estabelece uma relação confiante e agradável”(Drucker,1976, p. 310).
Com base nos conceitos de Drucker (1976), Mocsányi (1997) e Block (2001) descreve-se
quais as principais atividades executadas pelo consultor. Para Drucker (1976) o consultor é aquele
que identifica as necessidades e sugere as mudanças. Para Mocsányi (1997) ser consultor é uma
forma especial de exercer a própria profissão. Para Block (2001) é quando uma pessoa está em
posição de exercer alguma influência sobre um indivíduo, grupo ou organização, mas que não tem
poder direto para produzir mudanças ou programas de implementação. Percebe-se que embora o
tema pareça ser novo, a consultoria enquanto profissão e estilo de vida já existe no mercado há
mais de 15 anos.
A década de 90 foi marcada pela falta de emprego. Após a demissão, muitos profissionais,
apesar da grande quantidade de trabalhos a serem realizados, não conseguiam sua recolocação
no mercado. Muitos foram os motivos que dificultaram novas admissões de pessoal, mas
principalmente, a árdua tarefa de selecionar um novo profissional e os altos custos que isto
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proporcionava às empresas. Assim, os profissionais que eram demitidos ou pediam demissão,
investiam tudo o que tinham num negócio próprio, fosse uma franquia, ou algo especializado.
No entanto, nem sempre o negócio era sinal de sucesso. Isso não quer dizer que abrir uma
empresa seja uma má opção profissional, tampouco quer dizer que vai dar lucros imediatos.
Segundo Mocsányi (1997) parte dos profissionais que optaram por essa forma de ganhar a vida,
começaram a se sentir frustrados por não gozarem mais de todas as atenções e mordomias que
outrora possuíam, acabaram perdendo sua satisfação pessoal e profissional.
É nesse momento que surge uma outra forma alternativa de trabalho, ser independente,
trabalhando com autonomia, assim como ocorre num negócio próprio, porém, este profissional
trabalhará na área que se formou e sempre atuou. Essa é uma das principais características da
consultoria, sendo talvez esse o motivo que tem atraído cada vez mais os profissionais.
O papel do consultor
O consultor é um agente externo alguém que soma sua “visão de fora”, sua neutralidade e
suas vivências à competência da empresa para planejar e realizar ações efetivas. Pode-se
caracterizar suas principais atividades na seqüência abaixo.
O processo interativo é o conjunto estruturado de atividades seqüenciais que desenvolvem
ações recíprocas, lógicas e evolutivas, visando atender, preferencialmente, suplantar as
expectativas e necessidades dos clientes. O agente de mudanças externos é o profissional capaz
de desenvolver comportamentos, atitudes e processos que possibilitem à empresa transacionar
pró-ativa e interativamente com os mais diversos fatores do ambiente empresarial. A
responsabilidade de auxiliar as pessoas enquanto o consultor salvo raras exceções, estar
direcionado a proporcionando metodologias, técnicas e processos que determinem a sustentação
para os executivos das empresas a tomarem suas decisões com qualidade. Na tomada de decisão
é escolhida dentre vários caminhos alternativos que levam a determinado resultado. É uma parte
do processo decisório, o qual tem a seguintes partes: o dado, o tratamento, a informação, a
alternativa, o recurso e o resultado.
A consultoria empresarial é um dos segmentos de prestação de serviços que mais têm
crescido no mundo, inclusive no Brasil, onde com o crescimento do parque industrial e a
necessidade de atualização do conhecimento, das técnicas e metodologias de gestão empresarial,
resultante da globalização, foram fatores impulsionantes para esse crescimento.
Os serviços de consultoria podem ser prestados de duas maneiras: por empresas de porte,
especializadas em Consultoria de grandes proporções e pelo consultor individual onde o que
predomina é seu nome, seu currículo e relacionamento pessoal.
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Conforme Block (2001), num sentido mais amplo, o termo consultoria define qualquer ação
que você adota em relação a um sistema do qual você não faz parte. Assim, acima de tudo, para
se falar sobre algo é necessário que se saiba do que se está falando, precisa-se ser especialista no
assunto e não um mero conhecedor, do contrário, as pessoas não irão pedir conselhos. E, para
lidar com pessoas é necessário ter algumas habilidades interpessoais como ouvir, apoiar, sugerir
ou criticar suavemente – que possam basicamente manter um relacionamento.
O ambiente organizacional compreende tanto o ambiente externo quanto o interno. Conforme
Neves (1998), o ambiente externo ou macroambiente é formado por algumas variáveis que
exercem muita ou pouca influência nas empresas. Variáveis políticas, tecnológicas, econômicas e
sociais compõe esse ambiente. Já o ambiente interno representa as potencialidades desenvolvidas
pela instituição abrangendo não só seus sistemas, mas também os recursos humanos, materiais,
físicos, etc. Do mesmo modo é importante salientar que existe dois tipos de consultores: os
internos e os externos. Os primeiros agem de forma mais introspectiva, pois, estão inseridos no
universo da empresa de forma constante, e por mais profissional que sejam, tenderão a não
enxergar eventuais problemas. O segundo tipo, os externos são aqueles que não tem ligação com
a empresa, são contratados para prestar a consultoria e, após a realização do trabalho acabam
com seu vínculo, sua ligação. Ambos são importantes, mas dependendo da situação ou do tipo de
trabalho a ser realizado, dá-se preferência ao consultor externo.(BLOCK, 2001).
Para Mocsányi (1997), o consultor interno é alguém que está encaixado diretamente na
hierarquia da empresa. Possui um gerente e até certo ponto precisa satisfazê-lo; geralmente age
mais por ordem do que por vontade ou escolha própria. Assim, se ele “camuflar” resultados visando
à ordem ou mesmo tentando amenizar situações que não condizem com o esperado, corre-se o
risco da consultoria não gerar os resultados almejados. Já os consultores externos não enfrentam
esse problema, pois estando de fora da empresa, não detém compromisso, laços ou “amizade”
com os gestores, podendo opinar e interagir após o diagnóstico dos problemas. O mercado é
potencialmente mais amplo para eles.
A consultoria faz parte das inúmeras transformações pela qual passa o mundo moderno,
Neves (1998) diz que a última década do século está marcada pela aceleração das mudanças e
pela organização.
A definição do produto ou serviço que o consultor vai oferecer ao mercado representa o
principal item para a sua consolidação no mercado. Ele representa o elo de ligação entre a sua
consultoria e a empresa-cliente. Porter apud Montgomery (1998) defende que existem diferenças
marcantes nos padrões de competitividade em cada país; nenhuma nação conseguirá ser
competitiva em todos ou mesmo na maioria dos setores industriais. De modo semelhante acontece
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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com os consultores. Os profissionais que não definirem o produto de sua atividade de consultoria,
ou seja, o que realmente estão vendendo para o mercado, não devem ser chamados de
consultores, pois apesar de ser visível o crescimento desse tipo de prestação de serviços no país,
deve-se está atento que ninguém pode ser especialista em tudo, por isso os contratantes devem
desconfiar se o contratado afirmar ter competência em várias áreas.
A vantagem competitiva do consultor é definida num tripé que contempla três componentes a
especialidade que está sendo oferecida; a competência e o nível de conhecimento do consultor; e,
o estilo e a amplitude de atuação.
Mocsányi (1997), defende que para se firmar no mercado, o consultor não pode sair por aí
oferecendo e vendendo seus serviços, o que ele pode é tornar seu produto conhecido através de
algumas técnicas de mercado, como: palestras, publicações, ou rede de relacionamentos. Ele deve
elaborar sua proposta e plano de trabalho de acordo com uma estrutura de projetos, para facilitar a
análise e o acompanhamento pela empresa-cliente, bem como a própria realização dos serviços de
consultoria.
A competência é o pré-requisito fundamental para um consultor. Para Resende (2000), a
competência é um atributo que melhora a capacidade de atuação das pessoas e das organizações,
aumentando as possibilidades de êxito. Desta forma, para se obter êxito nas atividades a serem
desenvolvidas, faz-se necessário elaborar um planejamento estratégico procurando ajustar a
empresa ao seu ambiente, tentando resolver seus problemas e limitações, passando assim a
destacar uma estratégia para alcançar os objetivos almejados.
Segundo Drucker (1980), as principais funções de quem está no comando são: planejamento,
organização, direção e controle.
No planejamento é possível identificar quais são os objetivos de uma organização, quais são
os meios disponíveis para atingi-los e qual a melhor forma de utilizá-los. Na organização são
identificados os problemas internos à empresa e inerentes ao seu ambiente externo, buscando
ajustar as variáveis controladas a estas condições. O resultado desta avaliação servirá de base
para a retomada do processo de planejamento em um ciclo contínuo.Na direção são tratados a
manutenção das rotinas operacionais e o estímulo às iniciativas inovadoras, garantindo um alto
grau de motivação e uma permanente troca entre o cumprimento dos objetivos da organização e
dos indivíduos que nela trabalham. Por fim, realiza-se a avaliação que consiste em implementar o
plano estratégico, alocando os recursos disponíveis de forma otimizada sendo possível controlar os
resultados.
Uma organização é um grupo de pessoas trabalhando em conjunto para o cumprimento de
uma missão, propósito, objetivo ou meta comum. Trata-se de uma associação humana,
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formalmente constituída, com desenvolvimento de atividades/tarefas inter-relacionadas, para
alcance de objetivos previamente determinados. Habilidades são conhecimentos específicos que
resultam de entendimento, informação, prática e aptidão. Dessa forma o consultor não é um
simples curioso ou conhecedor de causas e causos, e sim alguém que de fato detém um grande
conhecimento no que diz respeito a diagnóstico, planejamento, tomada de decisão e gestão de
pessoas. Um consultor precisa de três tipos de qualidade. As qualidades básicas que apóiam a
produção das pessoas; as fundamentais, que estão ligadas aos processos e produtos; e, as
complementares ou finais, onde estão inseridos os serviços e o atendimento aos clientes. Resende
(2000) defende que todos são dotados de aptidões mentais e intelectuais, mas que alguns
desenvolvem mais que os outros. Assim, o consultor empresarial deve se destacar desenvolvendo
algumas capacidades como: compreensão, análise, síntese, discernimento, além dos raciocínios:
lógico, dedutivo, numérico e espacial. A qualidade e a criatividade são outras duas características
importantes. Elas devem estar presentes em todas as atividades a serem desenvolvidas tendo em
vista o êxito nos resultados almejados.
O processo de consultoria na empresa-caso
Considerando a necessidade de estar preparada para enfrentar os desafios do mundo atual,
como qualidade na prestação de serviços e inovação nos aspectos tecnológicos, a empresa-caso
contratou o serviço de uma consultoria a fim de apoiar seus novos projetos, bem como analisar as
propostas e identificar as dificuldades que pudessem estar ocasionando a baixa produtividade do
quadro funcional. O consultor contratado possuía vasta experiência no ramo, com formação
profissional em Administração de Empresas; pós-graduado (MBA) em Recursos Humanos e mestre
em Engenharia da Produção. Possui formação técnica em Planejamento, Avaliação de
Treinamento, Legislação Trabalhista, Tecnologia da Gestão, Desenvolvimento Estratégico,
Terceirização de Serviços, Liderança e Gestão Estratégica, possuindo as habilidades necessárias
construídas ao longo dos anos como: gerente de empresa de grande porte; coordenador de
Programa de Desenvolvimento Gerencial; e, assessor empresarial. Atua como palestrante em
Congressos, Seminários, Simpósios, Workshops, sendo ainda pesquisador e professor
universitário de Gestão Empresarial, Planejamento Estratégico e Administração de Recursos
Humanos, confirmando a visão de Bateman/Snell (1998), onde os Administradores necessitam de
uma gama de habilidades para realizar as atividades com êxito e sucesso e confirma também os
conceitos de Resende (2000), que defende que os consultores necessitam de competências
essenciais e pessoais para a realização de suas atividades.
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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Para se obter sucesso e reconhecimento, muitas pessoas que desejam ou já são consultores,
buscam técnicas e procedimentos para alcançar a eficácia na profissão. Porém, não bastam
apenas às técnicas, mas também conteúdo, responsabilidade e confiança.
Não existe um modelo eficiente ou um manual passo a passo de como realizar uma
consultoria eficiente. O que existe são cinco fases importantes para a obtenção dos resultados
almejados:
Figura 1. Etapas da Consultoria.
Fonte: Composição da autora, 2003.
Cabe salientar que o consultor é uma mão-de-obra extra contratada para realizar um trabalho
específico, mas quem, com efeito, decide se acata ou não as sugestões propostas pelo consultor é
o gerente ou aquele que está no comando. É ele que detém o controle total. O consultor deve
aplicar seus conhecimentos especializados para implementação dos planos de ação que atinjam as
metas propostas.
Na ocasião, com pouco mais de cinco anos de existência e composta por quarenta e dois
funcionários, a empresa-caso necessitava se reorganizar de modo a obter qualidade na prestação
dos serviços, velocidade na transmissão das informações e na inovação dos aspectos
tecnológicos. Para o início das atividades, foi elaborado um plano de trabalho dividido em cinco
etapas distintas.
A primeira etapa consistiu em levantar e proceder análise da documentação da estrutura
organizacional da empresa. Em seguida, elaborou-se o instrumento para a coleta de dados
utilizando-se questionários e roteiro de entrevista, sendo realizado um pré-teste com o mesmo.
Após a coleta e a verificação dos dados, que permitiu levantar as atividades executadas na
empresa, foi feita a análise e a interpretação dos resultados obtidos, reforçando a importância do
estudo da estrutura interna de uma organização permite identificar seus elementos constitutivos,
suas inter-relações e disposições. Por fim, elaborou-se um relatório com o resultado da análise e
as propostas de mudanças (SOUSA, 2001).
Coleta de
Dados Válidos
Diagnóstico Tomada de
Decisão
Implementação
RESULTADOS
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Figura 2: Etapas do Plano de Trabalho
1ª Etapa 2ª Etapa 3ª Etapa 4ª Etapa 5ª Etapa
Levantamento
da
Documentação.
Elaboração e
Pré-Teste do
Instrumento
de Coleta de
Dados
Coleta de
Dados
Análise e
Interpretação
dos Dados
Elaboração
de Relatório.
Fonte: Composição da autora, 2003.
Segundo Chiavenato (2000), as organizações constituem a forma dominante de instituição na
sociedade. Elas permeiam todos os aspectos da vida moderna e envolvem participação de
numerosas pessoas. Porém, ela é limitada por recursos escassos, devendo determinar a melhor
alternativa de alocação visando atingir os melhores resultados.
A estrutura ou forma de organização de uma empresa possui três aspectos principais,
conforme seqüência abaixo.
A divisão do trabalho que consiste na designação de tarefas específicas a cada uma das
partes da empresa; a autoridade que é o poder derivado da posição ocupada pela pessoa
(autoridade oficial) devendo ser combinado com inteligência, experiência, valor moral da pessoa
(autoridade pessoal); e, a hierarquia ou cadeia escalar que é a linha de autoridade existente em
cada empresa, pode-se dizer que é o caminho por onde percorre uma ordem a ser executada, do
escalão mais baixo, passando por todos os escalões intermediários até chegar ao ponto onde deva
ser executada Bateman/Snell (1998). Com base nessa premissa, identificou-se a necessidade de
reorganizar a estrutura organizacional da empresa-caso, o que foi feito após a coleta de dados,
onde foram aplicados os questionários e realizadas as entrevistas, sendo identificadas as
atividades executadas em cada setor da empresa.
Foi proposta uma estrutura organizacional para a empresa-caso sendo composta da seguinte
forma:
� Organograma;
� Missões básicas dos órgãos;
� As interações entre os projetos e gerências;
� Regimento Interno.
Para Sousa (2001), existe vários tipos de organogramas, alguns simples, outros sofisticados
e até complexos, mas sempre refletem a realidade empresarial, ou seja, a estrutura organizacional.
Observa-se que o modelo de organograma implantado na empresa-caso é do tipo linear-
matricial, o qual apresenta algumas vantagens que se adequam ao tipo de serviço prestado pela
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empresa, predominantemente projetos, podendo ser coordenados por especialistas funcionais
flexibilizando a empresa no que se refere às mudanças.
Na composição da estrutura também foi elaborado o Regimento Interno que reúne as
principais atividades das Gerências, contendo a Estrutura Administrativa Geral e a Administração
Superior.
Seguindo o Plano de Trabalho proposto, as atividades que se seguiram foram:
� A Elaboração do PGRH – Programa de Gestão de Recursos Humanos;
� O Mapeamento e Elaboração dos Fluxos dos Processos;
� A Elaboração das Instruções Normativas
� A Informatização da Gestão Empresarial.
Clima e cultura organizacional
Segundo Luz (2003), a cultura organizacional influencia o comportamento de todo indivíduo e
grupo dentro da organização por que ele impacta o cotidiano da organização, suas decisões, as
atribuições de seus funcionários, formas de comportamento, punições e relacionamento.
Os desafios da consultoria no que diz respeito à aplicação dos questionários, entrevistas para
levantamento das atividades, tiveram início com a convocação de uma reunião extraordinária com
todos os funcionários da empresa-caso para que tomassem conhecimento do trabalho que havia
de ser feito. Muitos se preocuparam imaginando que a consultora seria uma espécie de espiã que
estaria em constante ronda atrás de um descuido, um erro que poderia acarretar a demissão do
praticante. Para acabar com o temor e a desconfiança, foi estabelecido uma relação de causa-
efeito com os colaboradores onde foi bastante difundido que o sucesso do trabalho dependeria da
responsabilidade e da cooperação de cada um, tendo sempre o cuidado de não se contradizer nas
atitudes que estariam por vir, pois falar sobre colaboração e comporta-se de forma diferente causa
confusão e é auto-enganador (BLOCK, 2001).
Embora o clima seja afetado por fatores externos à organização, como por exemplo,
condições de saúde, educação, lazer, etc., a cultura organizacional é uma de suas principais
causas. A empresa-caso possuía um perfil muito tradicional e conservador; na verdade isso está
pressuposto na teoria pois na prática estava acontecendo o inverso.
O que chamava à atenção era como aqueles profissionais se comportavam; sendo uma
empresa que prestava auxílio a outras instituições, deveriam apresentar um perfil que fosse
condizente com sua posição, mas isso não estava acontecendo. Observou-se que parte dos
colaboradores, na faixa etária dos 25-35 anos de idade, estavam com o que Chiavenato (2000)
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chamou de Síndrome do Homo Economicus que seria o conceito de que toda pessoa só é
motivada a trabalhar pelo medo da fome e da miséria e pela necessidade de dinheiro para se
sustentar. Assim fazia-se necessário modificar os conceitos e a cultura organizacional, que
representa o conjunto de suposições importantes partilhadas pelos membros da empresa a
respeito da organização, suas metas e práticas na empresa-caso.
Foram definidas as primeiras medidas a serem tomadas no que diz respeito à gestão de
pessoas. É importante destacar por que a alta direção deve sempre ouvir seus funcionários, pois
desta forma a mão-de-obra, ao perceber o apoio e atenção que está recebendo, poderá se motivar
ou ficar satisfeita. O papel dos Recursos Humanos enquanto administrador de pessoal é
justamente o de apoiar a Direção e no caso da consultoria, proporcionar o elo de ligação entre os
funcionários e o condutor das mudanças através dos seus anseios e desejos. Para Lopes (2003), a
Administração de Pessoal deve conciliar os interesses complementares da empresa, traduzidos em
eficiência, produtividade, lucro, continuidade do negócio, com os interesses individuais refletidos
em realização pessoal, possibilidade de desenvolvimento, participação, aceitação e bem-estar
pessoal. Ambas devem caminhar juntas.
Antes de apresentar os resultados das atividades realizadas com o intuito de modificar o
comportamento e a visão dos funcionários da empresa-caso, é preciso entender o que é
motivação. Para Soto (2002), é a pressão interna surgida de uma necessidade, também interna,
que exercita as estruturas nervosas e origina um estado energizador que impulsiona o organismo à
atividade iniciando, guiando e mantendo a conduta até que alguma meta (objetivo, incentivo) seja
conquistada. Percebe-se como os interesses e necessidades, tanto por parte da alta direção
quanto da parte operacional, devem caminhar para a mesma direção, pois uma vez não
compatíveis não há como serem atingidas as metas propostas.
Figura 3: O Processo de Motivação
Fonte: Composição da autora, 2003.
Estruturas Nervosas
Pressão
Necessidade
Interna
Estado
Energizador
Conduta
Meta
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A necessidade é uma sensação pessoal de carência. Algumas pessoas sentem-se
impulsionadas pela necessidade de ter êxito, outras pela necessidade de serem apreciadas, de se
sentir seguras no trabalho. Assim, se o indivíduo consegue reduzir sua sensação de deficiência,
isso reduz também a intensidade da força motivadora. Identificou-se uma profunda apatia por parte
dos funcionários da empresa-caso.
Como foi dito anteriormente, a síndrome de Homo Economicus predominava nessa Empresa.
E isto levou a buscar uma resposta para uma pergunta implícita, o que fazer para melhorar o
comportamento dos funcionários? Como motivá-los? Conforme Teles (1994), não basta aumentar
os salários, participação nos lucros ou vantagens adicionais. É necessário também os elementos
incentivadores os quais Herzberg chamou de fatores higiênicos pois sua presença não alicerça as
bases mas sua ausência produz insatisfação.
Durante a realização das entrevistas em cada uma das Gerências para mapear os processos,
essa questão ficava evidente. Ao término das entrevistas, foram realizadas reuniões Gerenciais
para discutir as necessidades e apresentar as propostas de melhorias. Para o início das atividades
de motivação, foi aprovada a realização do Workshop Vivencial cujo objetivo era desenvolver o
comportamento dos funcionários e estando todos presentes, poderiam manifestar suas críticas,
opiniões, desejos e sugestões de forma bem clara, objetiva e descontraída. Identificou-se com isso
as principais dificuldades encontradas por cada funcionário no cumprimento de suas atividades.
Percebeu-se como muitos agiam que isoladamente, só se preocupando em cumprir suas
obrigações. No final do evento, foi apresentada proposta de melhorias.
É importante destacar que nesse Workshop, cuja participação foi de 93% do quadro
funcional, foram utilizados os conceitos do pensamento sistêmico, a quinta disciplina que segundo
Senge (1999), as empresas mais bem sucedidas são aquelas que aprendem. Para ser uma
organização que aprende, é necessário desenvolver as cinco disciplinas essenciais.
A primeira delas é o pensamento sistêmico. Nela as empresas e os outros feitos humanos
são como sistemas, conectados por fios invisíveis de ações inter-relacionadas, que muitas vezes
levam anos para manifestar seus efeitos umas sobre as outras. O pensamento sistêmico é um
quadro de referência conceitual, um conjunto de conhecimentos e ferramentas desenvolvido ao
longo dos anos para ajudar a modificá-lo efetivamente. Faz-se necessário ter uma visão global da
empresa e seus problemas e não apenas de uma área isolada. Em seguida vem o domínio pessoal
cuja disciplina esclarece e aprofunda a visão pessoal dentro da empresa. É através dela que se
estimula o crescimento pessoal dos colaboradores fazendo ele se sentir parte importante da
empresa.
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Destacam-se também os modelos mentais que são os pressupostos profundamente
arraigados que influenciam o modo de ver e agir no mundo. É necessário desmistificar alguns
conceitos que impedem alguns colaboradores de mudar ou de provocar mudanças de
comportamento na organização. A visão compartilhada é quando existe uma visão genuína, as
pessoas dão tudo de si e aprendem não por que são obrigadas, mas por que querem. A prática da
visão compartilhada envolve as habilidades de descobrir “as imagens do futuro” que estimulem o
compromisso e o envolvimento de todos. Por fim, a aprendizagem em equipe onde a principal
ferramenta desta disciplina é o diálogo, pensar em conjunto. A disciplina do diálogo também
envolve o reconhecimento dos padrões de interação que dificultam a aprendizagem em equipe.
Pôde-se perceber que na empresa-caso buscava-se o aprimoramento constante seja
nas atividades internas seja nas externas. Porém, fazia-se necessário pensar
sistematicamente, ou seja, todos deveriam pensar como uma equipe, como um todo onde
cada funcionário desempenhasse suas atividades com responsabilidade levando em conta
que outro necessitaria de suas informações. É na quinta disciplina de Senge que os
gestores devem estar atentos. Hoje não se foca mais o indivíduo e sim a equipe. As
empresas devem evitar que o colaborador aja pensando somente nele, em seus objetivos e
projetos, mas terá que pensar coletivamente, fazendo da empresa uma organização em
constante processo de aprendizagem uns com os outros.
Após a realização do workshop foram realizados outros eventos como: picnic festivo,
palestras motivadoras, Semana Interna de Prevenção a Acidentes, dentre outros.
Gerenciando os recursos humanos
A gestão de pessoas consiste em várias atividades, como descrever e analisar os cargos,
planejar os recursos humanos, recrutamento, seleção, orientação e motivação das pessoas,
remuneração e treinamento (CHIAVENATO, 1999). Assim, para a elaboração do plano, a
consultoria procedeu da seguinte forma:
Primeiro, foi elaborado e aplicado os questionários para levantamento das atividades
realizadas e o perfil dos funcionários. Em seguida, realizou-se entrevistas com os funcionários para
avaliação de desempenho, perspectivas, nível de motivação e/ou dificuldades e por fim, tabulou-se
os resultados, procedendo análise e apresentação dos resultados em reunião gerencial. A gestão
dos Recursos Humanos da empresa-caso foi adequadamente instrumentalizada para coordenar e
controlar seu quadro funcional através de suas Políticas de Recursos Humanos, onde contém a
análise, a descrição e o desenho dos cargos, o recrutamento e a seleção pessoal, administração
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de cargos e salários, incentivos e benefícios sociais, avaliação de desempenho dos funcionários,
treinamento e desenvolvimento pessoal e organizacional.
Identificando e mapeando os processos
O fluxograma, de maneira geral, procura apresentar o processo passo a passo, ação por
ação. Sabe-se que o processo é formado pelos movimentos de papéis entre pessoas e unidades
da organização e tem, sempre, um início e um fim claramente delimitados. Segundo Oliveira
(2000), o objeto do estudo de processo é o de assegurar a fluidez dessa movimentação e manter
os limites de cisão dentro de princípios que não permitam a ineficiência e ineficácia de todo o
processo. Foram realizadas entrevistas em cada uma das Gerências da empresa-caso para
levantar as atividades desenvolvidas e possíveis necessidades.
Para efeito de pesquisa, apresenta-se o processo de mapeamento passo a passo de uma das
Gerências da empresa-caso.
Foram identificados quatro setores principais nesta Gerência. A primeira delas é o Setor de
Recursos Humanos que tem por funções principais executar o recrutamento e seleção, garantindo
o cumprimento das Leis Trabalhistas, controle do Registro de Ponto e a capacitação dos
funcionários; o Setor de Patrimônio tem como principais funções administrar o Ativo Permanente,
procedendo ao tombamento dos bens patrimoniais e a elaboração dos Termos de Comodato,
Posse e Guarda e Doações; o Setor de Material que tem por funções principais, administrar o
almoxarifado, efetuando pesquisa de preços, negociando com os fornecedores e adquirindo
materiais e equipamentos; e, ainda, o Setor de Serviços Gerais que tem por funções principais, a
utilização e o controle dos veículos, providenciando a manutenção preventiva e corretiva dos
carros, cuidando da limpeza dos prédios e mantendo os serviços da copa, bem como controlando a
entrada e a saída de pessoas, veículos e bens patrimoniais.
Foram realizadas entrevistas com o gerente responsável e os funcionários da área e após
identificar quais as principais necessidades elaborou-se proposta de melhorias.
Pesquisas apontam que para obter sucesso em um projeto uma das condições essenciais é a
cultura predominante em cada empresa, que determina a atividade ou reação diante de novas ou
melhores idéias para solucionar problemas. É importante que cada pessoa na empresa, tenha
oportunidade para desempenhar seu papel, com inteligência e interesse, buscando a satisfação no
seu trabalho. É só se chega à qualidade com constância dos propósitos e coerência nas
informações.
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Com relação à promoção, a única forma de ser praticada na empresa-caso está veiculada a
produtividade, ou seja, ao desempenho positivo durante o período considerado para avaliação
obedecendo ao interstício de dois anos.
O termo norma compreende as instruções escritas, visíveis e invisíveis. As normas modulam
a forma como o indivíduo desempenha seu papel na organização, refletindo a burocracia e toda a
cultura organizacional, (FIORELLI, 1996). Toda organização necessita de normas não somente
para se cumpridas, mas principalmente, compreendidas, uma vez que sua se função é regular e
moldar o trâmite dos documentos e projetos.
Com base nos fluxogramas desenvolvidos, elaborou-se as instruções normativas cuja
finalidade é orientar os colaboradores e interessados em obedecer ao trâmite estabelecido (em
caso de materiais, móveis) ou decisões em caso de questionamentos pontuando cada etapa e
Gerência envolvida.
A informatização da gestão empresarial
É importante destacar que uma das propostas de melhoria na realização das atividades
chaves na empresa-caso foi a implantação da informatização da gestão empresarial. A informática
foi introduzida nas organizações, com o objetivo de aumentar a produtividade e a redução do
quantitativo e pessoal alocado à área administrativa. Os sistemas deveriam gerar diversos
relatórios para serem analisados e tratados pelo pessoal do administrativo
(LOPES/GASPARINI,1997). Sob essa visão, a consultoria percebeu que para alcançar os objetivos
almejados, a empresa-caso teria que informatizar suas áreas fazendo com que todas as Gerências
estivessem interligadas. Após a compra dos equipamentos, foram contratados profissionais
altamente qualificados e em seguida adquiriu-se um software que atendesse as necessidades.
Após a apresentação, a apreciação e aprovação o sistema pela Diretoria o mesmo foi
implementado na empresa-caso.
A fase mais importante e mais complexa do projeto era adequar as necessidades às
limitações do sistema. Há cada quinze dias eram realizados testes e reuniões para discutir as
principais dificuldades encontradas e as propostas e sugestões de melhoria, onde após análise as
mesmas eram implementadas sendo avaliados os resultados. Apto o mesmo era implantado sendo
feito um acompanhamento do seu desenvolvimento. Quando era identificado alguma dificuldade,
eram realizadas novas reuniões com as Gerências.
Feito os ajustes iniciais, percebeu-se que o sistema conseguiu processar as informações
chaves conseguindo satisfazer as necessidades das gerências envolvidas.
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Ações estratégicas
Segundo Snell (1998), planejamento é o processo consciente e sistemático de tomar decisões
sobre objetivos e atividades que uma pessoa, um grupo, uma unidade de trabalho ou uma
organização buscarão no futuro. Assim, o planejamento não constitui uma resposta informal ou
casual a uma crise; constituí-se um esforço com um propósito. Planejar a organização significa
estabelecer critérios viáveis para que a empresa encontre o caminho do sucesso em suas
operações, pela aplicação de idéias capazes de trazer a eficácia no desempenho global de suas
áreas como um todo, pela avaliação de ameaças e oportunidades, pontos fortes e pontos fracos e,
diminuindo perigos e acidentes na busca da melhoria dos principais resultados.
A atividade de Desenvolvimento Organizacional (DO) é um desafio. Fiorelli (2000), defende
que ele é uma espécie de linha de trabalho que se vale da psicologia e da sociologia para enfrentar
os problemas humanos em uma empresa, que tem por objetivo identificar as necessidades dos
departamentos, desenvolver o trabalho em equipe, diagnosticar o ambiente da empresa e tentar
reformular o comportamento das pessoas e grupos. Com essa premissa, realizou-se junto às
Gerências da empresa-caso, entrevistas, reuniões e atividades a fim de serem identificadas as
necessidades, as ações, as metas e os principais objetivos de cada uma. Realizado o processo de
identificação dessas necessidades, o resultado foi tabulado e apresentado em um evento externo a
todos os funcionários onde puderam avaliar suas funções e metas a serem alcançadas. Com base
nas informações, organizou-se um Plano de Ação e na oportunidade foi desenvolvido um Programa
de Treinamento em parceria com diversas instituições com o intuito de desenvolver o capital
humano.
Conclusão
Pensamento Sistêmico. Essa é a palavra-chave que descreve este trabalho. As empresas
passam por constantes alterações dentro do seu espaço interno e externo, a globalização criou
esta realidade que precisa ser acompanhada, de perto por estas organizações. Quem quiser
continuar no mercado têm que buscar qualidade, mas com coerência em suas atitudes sem, no
entanto, perder seu foco e principalmente pensar coletivamente. E isto só se consegue quando
seus valores e princípios passam a ser repetido e reforçado dia após dia.
O trabalho do consultor empresarial permitiu que as atividades e os processos na empresa–
caso fossem desenvolvidos e merecessem atenção uma vez que antes do mapeamento das
atividades das Gerências as mesmas não tinham um direcionamento coerente.
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Da sua contratação à implantação, pode-se destacar que a consultoria conseguiu desenvolver
o pensamento sistêmico que Senge (1999) tanto defendeu, ou seja, pensar no grupo, nas
necessidades do grupo. Isso foi de grande valia para a empresa-caso, pois, é importante que cada
pessoa tenha oportunidade para desempenhar seu papel, buscando a satisfação no seu trabalho e,
permitindo que se tenha acesso às informações para poder trabalhar e participar das reuniões com
sugestões e críticas.
A presença humana é capaz de alterar o comportamento de uma pessoa e principalmente da
organização que deverá modificar seu modo de ser e agir. O administrador tem por objetivo
conduzir as pessoas na organização e resolver os problemas utilizando os conhecimentos intuitivos
e científicos adquiridos ao longo do tempo. O consultor empresarial também tem essa
responsabilidade. É ele que após apresentações, entrevistas e acompanhamentos, identifica as
dificuldades, as necessidades, os pontos fortes e fracos e sugere as mudanças a serem
implementadas na organização. É como um conselheiro aquele com quem o cliente fala sobre
problemas e dificuldades, dizendo o que ele precisa ouvir mas não tem quem o faça.
Propôs-se avaliar os resultados da implantação de uma consultoria empresarial na empresa-
caso, através de uma pesquisa, onde houve o acompanhamento de todas as atividades
desenvolvidas, como participação e condução de reuniões, entrevistas e levantamento das
necessidades, elaboração das diretrizes estratégicas, reformulação de sua estrutura
organizacional, e, elaboração de programas de capacitação e de desenvolvimento humano.
Assim, conclui-se que o objetivo do trabalho foi atendido uma vez que consultoria conseguiu
não só resgatar a motivação dos funcionários através da reformulação no comportamento
organizacional, desenvolvendo a capacidade dos funcionários através da satisfação de suas
necessidades e na condução de suas atividades, como também conseguiu implementar as
mudanças no que se refere à estrutura organizacional da empresa.
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POLÍTICA DA INCLUSÃO DO ALUNO PNEPOLÍTICA DA INCLUSÃO DO ALUNO PNEPOLÍTICA DA INCLUSÃO DO ALUNO PNEPOLÍTICA DA INCLUSÃO DO ALUNO PNE
Maria Consuelo Oliveira FernandesMaria Consuelo Oliveira FernandesMaria Consuelo Oliveira FernandesMaria Consuelo Oliveira Fernandes38383838 RESUMO: O artigo a ser apresentado consiste numa revisão das bibliografias, a cerca do tema Política da Inclusão do Aluno PNE. Incluir alunos portadores de necessidades especiais na rede regular de ensino, é uma preocupação de todos segmentos envolvidos com deficientes. Portanto a educação deve ser, por princípio, liberal, democrática e não doutrinaria. Dentro dessa concepção ideológica, o educador é, acima de tudo digno de respeito em sua dignidade como pessoa. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão, PNE, Escola Pública, Sociedade,Gestão Democrática. ABSTRACT: The to be presented article consists of a revision of bibliographies, about the subject Politics of the Inclusion of Pupil PNE. To include carrying pupils of necessities special in the regular net of education, is a concern of all involved segments with deficient. Therefore the education must be, for principle, liberal, democratic and it would not doutrinaria. Inside of this ideological conception, the educator is, above of all worthy one of respect in its dignity as person. KEYWORD: Inclusion, PNE, Public School, Society, Democratic Management.
Introdução
A escola faz parte de um sistema organizado para entender a objetivos predeterminados, é
indispensável que a escola desenvolva projetos especiais onde ela busque integrar crianças
portadoras de necessidades especiais (PNE) independentes de quaisquer dificuldades ou
diferenças que seus alunos possam ter.
As escolas devem incluir, reconhecer e responder às diversas necessidades de seus alunos,
acomodando tantos estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma educação
de qualidade a todos por meio de currículo apropriado.
Dessa forma, o sistema de ensino não pode persistir em excluir sistematicamente os PNE,
segregando-os, rotulando-os com um sinal de inferioridade permanente, onde as mesmas
apresentam habilidades diferenciadas, onde os próprios professores, ou seja, o sistema
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Acadêmica do 4º Período de Pedagogia da UNICENTRO de Jaru, sob a orientação do professor Teófilo Lourenço de Lima.
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desconhece o seu potencial, porque não os estimula á buscar essa potencialidade que os PNE
possuem. Portanto dentro das escolas inclusivas, as crianças com necessidades especiais
deveriam receber qualquer apoio extra que possam precisar, para que lhes assegure uma
educação efetiva.
Em outras palavras, as implicações consistem no reconhecimento da igualdade de valores e
de direitos, se na conseqüente tomada de atitude, em todos os níveis, que reflitam uma coerência
entre o que se diz e o que se faz.
Ao pensarmos em uma política educacional transformadora, no sentido de oferecer uma
escola integrada, aberta a todos, e de tal qualidade a que possibilite a construção individual de
todos os seus alunos, temos de ter dois tipos de questionamentos.
Um dos tipos a serem pensados é o da implementação de classes especiais para integrada
ao PNE ao ensino regular viabilizando um atendimento de caráter psicológico.
Independente da sua diversidade para que os PNE participem de um processo educativo que
significa:- que buscamos a resposta em uma perspectiva sócio construtivo, baseado em Vygotsky
e outros. Pois, freqüentar uma escola significa para o individuo, a possibilidade de conviver com
seus pares e vivenciar uma dimensão social da qual necessita para desenvolver-se como qualquer
ser humano a busca de uma melhor realidade permeia este trabalho. Não devemos privá-los deste
direito que é de todos, fazendo-os se sentir excluídos perante a sociedade, segregando-os de um
direito que por lei foi lhes dado.
Por entender que toda educação tem sua práxis voltada a valorização e respeito a
individualidade do educando não se altera, mas sim, ao potencial do individuo em questão. Não
proponho um trabalho para PNE, mas para criança com capacidade intelectuais, que por si só
perceberão e tentarão transpor suas próprias limitações. Portanto, o objetivo da educação é
proporcionar aos alunos uma aprendizagem tanto quanto possível associada à realidade que o
cerca; possibilitando-os a desenvolver a habilidade de denominação eficazmente dentro do grupo
que o cerca.
A inclusão social constitui, então, em processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas,
e a sociedade, buscam, em parceria e questionam problemas à decidir sobre soluções e efetivar a
equiparação de oportunidades para todos.
Pelo modelo social da deficiência, os problemas da pessoa com necessidades especiais não
estão nela quanto estão na sociedade.
Assim, a sociedade é chamada a ver que ela cria problemas para as pessoas portadoras de
necessidades especiais, causando-lhes incapacidade (com desvantagem) no desempenho de
papéis sociais em virtude de seus ambientes restritivos; suas políticas discriminatórias e suas
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atitudes preconceituosas que rejeitam a maioria e todas as formas de diferenças, seus discutíveis
padrões de moralidades, seus objetivos e outros bens inacessíveis do ponto de vista físico; seus
pré-requisitos atingíveis apenas maioria aparentemente homogênea, sua quase total
desinformação sobre necessidades especiais e sobre direitos das pessoas que têm essas
necessidades; e suas práticas discriminatórias em muitos setores da atividade humana.
Cabe, à sociedade eliminar todas as barreiras físicas, programáticas e atitudes mais para que
as pessoas com necessidades especiais possam ter acesso aos serviços, lugares, informações e
bens necessários ao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional.
Para incluir todos os PNEs, a sociedade dever ser modificada a partir do entendimento de
que, ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros. O
desenvolvimento das pessoas com deficiência deve ocorrer dentro do processo de inclusão e não
como um pré-requisito para estas pessoas poderem fazer parte da sociedade, como se elas
“precisassem pagar ingressos para integrar a sociedade”.
A pratica da integração social repousa nos princípios considerados incomuns, tais como: a
aceitação das diferenças, a valorização de cada pessoa, a consciência dentro da diversidade
humana, dessa forma se dá a aprendizagem através da cooperação.
A integração social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo
de sociedade através de transformações pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços
internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios mobiliários e meio de transportes), nos
procedimentos técnicos e na modalidade de todas as pessoas, também da própria pessoa com
necessidades especiais. Assim, existe a inclusão no mercado de trabalho, na educação inclusiva,
no lazer, na recreação nos esportes e transportes, etc. Quando isso acontece, podemos falar em
empresa inclusiva, educação inclusiva, no lazer e recreação inclusivos e assim por diante.
Dessa forma, dizemos que há integração quando a escola não excluir alguns de seus alunos
ou crianças e jovens candidatos a matricula em razão de qualquer atributo individual do tipo:
gênero (sexo), cor, (etnias diversas), deficiências (físicas, mentais, visuais, auditivas ou múltiplas),
classe social (situação sócio-econômico), condição de saúde (vírus HIV, Epilepsia, síndrome de
Tourette, transtorno mental, etc.), e outros. Numa escola inclusiva, de todos os alunos, com ou
sem alguns desses atributos individuais, estudam juntos na mesma classe porque é garantido por
lei o direito à educação a todos na rede de ensino regular.
A escola é uma instituição destinada a promover o crescimento individual, tanto quanto o
social. É um laboratório da vida social em que a criança formula atitudes morais básicas,
desenvolve relações sociais apropriadas, adquire conhecimentos acadêmicos, cultiva habilidades
fundamentais necessários ao aprimoramento de sociedade democrática que idealizamos.
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Assim determina a lei 5692/71 que os alunos excepcionais sejam atendidos conforme suas
necessidades, pelos sistemas educacionais. Esse atendimento já era previsto anteriormente; mas,
não tem sido considerado na organização dos sistemas estaduais de ensino, pelas dificuldades de
ordem material e técnico que acarreta em alguns estados. Entretanto, o problema que há muito
vem sendo enfrentado, e várias medidas já têm sido tomadas no sentido de estabelecer normas
referentes ao assunto e de preparar professores, de maneira especial, para lidar com diferentes
tipos de excepcionais.
Em nenhum deles foi possível, ainda, realizar esse atendimento na medida da amplitude do
problema, mas os esforços nesses sentido tem sido crescentes, levando experiências já bem
estruturadas e um pleno desenvolvimento, como a do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo,
conduzida há vários anos pelo setor de Ensino Especial, Integrado à Secretária de Educação. A
ele estão afetadas a classificação e a orientação dos alunos excepcionais que constituem as
classes especiais integradas às escolas públicas de 1º grau, bem como o atendimento a crianças
cegas e ambíopes incorporadas a classes comuns.
O setor mantém ainda núcleo de surdos, pequenas classes de crianças surdas existentes em
algumas escolas, e a direção de classes hospitalares, que são encontradas em alguns hospitais,
onde professores devidamente especializados proporcionam educação elementar a menores ali
internados.
Dos diversos grupos de excepcionais por esse setor de ensino especial, o mais numeroso é o
dos retardados educáveis, chamados alunos (Atrasados Especiais). Eles são assim classificados
com o fim de receber atenção especial, em face de sua reação a testes coletivos de nível mental,
aos quais são submetidas por indicação do professor de classe. Essa indicação só é feita após
dois anos de freqüência regular da criança à escola, e se ela já tiver contemplado oito anos e seis
meses de idade cronológica. É preciso, ainda, que o professor tenha observado comportamentos
que justifiquem a suspeita e existência de deficiência acentuada, observações essas que têm de
ser registradas em fichas especiais.
Se, uma vez preenchida essas exigências, o aluno for submetido aos testes já referidos e
estes revelarem quociente intelectual e idade mental abaixo dos esperados, ele é então
classificado em uma classe especial, conforme foi mencionado anteriormente.
Com isso, o Governo Federal, voltado para o problema da Educação dos Excepcionais, criou
recentemente um Centro Nacional de Ensino Especial e determinou que fossem desenvolvidos
estudos relacionados ao assunto, a fim de tornar possível um planejamento de ação mais
objetivas, em relação ao problema de segregar, os alunos do direito que é dado a todos.
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No Brasil, a educação Especial de forma institucionalizada, teve seu início, de maneira tímida,
no fim do século XVII e começou do século XIX. Mas desde o Período Colonial, século XVII, já
havia uma instituição especializada, particular, na área de deficiência física, junto a irmandade da
Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo.
A preocupação com a educação das pessoas deficientes já estava em alguns movimentos
como: a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798), que reunia numa mesma luta
uma série de profissionais: médicos, advogados, professores, junto com alfaiates, soldados etc., a
Revolução Pernambucana (1817), e foram acentuadas sobretudo a partir da independência.
Em 1854, sob a provável influência do modelo europeu da época, foi criado o Instituto dos
Meninos Cegos, (hoje, Instituto Benjamim Constant) e em 1856 o Instituto dos Surdos-Mudos (hoje
Instituto Nacional de Educação de Surdos), ambos no Rio de Janeiro, por iniciativa do governo
imperial.
Até o final do Império e o advento da República (1889), havia no país seis instituições de
ensino, que atendiam deficientes físicos, auditivos e visuais. Por mais de um século, o atendimento
a portadores de deficiência foi quase inexistente do ponto de vista de iniciativas oficiais, no campo
educacional.
Foi neste e mais especificamente na década de 30 que a educação escolar dos portadores de
necessidades especiais ocorreu, pois neste período iniciou-se o conflito entre os princípios da
Escola Tradicional e os postulados da Nova Escola, com o advento de idéias de vários
educadores.
Em Minas Gerais, a partir de l.932, teve início a primeira experiência educacional
sistematizada para portadores de Deficiência Mental, com a Fundação da Sociedade Pestalozzi de
Belo Horizonte.
A partir da década de 50, começaram a surgir inúmeras entidades filantrópicas – assistenciais
e empresas prestadoras de serviço de reabilitação, isso devido à iniciativa de alguns familiares em
buscar alternativas educacionais para seus filhos portadores de deficiência mental.
O surgimento das APAES (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) ocorreu em
1954, no Rio de Janeiro, proliferando-se em todo o Brasil. Em 1980, surge a Federação Nacional
das APES, na época congregando mais de 200 entidades dedicadas à educação, reabilitação e
capacitação profissional das pessoas com necessidades especiais.
Durante as décadas de 50 e 60, houve campanhas nacionais promovidas pelo Instituto
Nacional de Educação de Surdos e do Instituto Benjamim Constante, pela educação dos cegos e
surdos brasileiros.
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Foi em 1961 que, pela primeira vez na legislação educacional contemplou com alguns artigos
da Lei nº 024/61, que estabelecia as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Nos anos 70, houve processo intenso de ampliação na rede pública, com alguns artigos
especiais, culminando com a criação de serviços de Educação Especial nas Secretarias Estaduais
de Educação, posteriormente transformado em Departamento de Educação Especial.
Com a Lei nº 5.692/71 o serviço de Educação de Excepcionais passa a ser denominado
Departamento de educação Especial, que constituem os serviços de Educação de Deficiência
Auditiva, Mental, Visual, Altas Habilidades e Conduta Típica e o Grupo de Apoio à
profissionalização.
Até meados da década de 70, a questão da deficiência no Brasil foi encaminhada pelos
técnicos ou responsáveis considerados especiais neste assunto. A meta principal desses
profissionais era o atendimento especializado aos portadores de deficiência dentro de instituições.
Em 1985, foi criada a FIBIEX (Federação Brasileira das Instituições de Excepcionais, de
Integração Social e de Defesa da Cidadania) com o objetivo de conscientização da sociedade,
prevenção, reabilitação, educação especializada, capacitação profissional e integração das
instituições na defesa dos direitos das pessoas com necessidades especiais.
Em 1986, foi concebida a idéia da CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência) e em 1987, o Presidente da República criou, por Decreto a
CORDE, que foi confirmada pelo Congresso em outubro de 1989 através da Lei nº 7.853.
Em 10 de setembro de 1986 foi criada a APAE em Jaru, e dentro da APAE (Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais) a Escola Especial “Preciso de Carinho”, para atender, orientar,
valorizar e minimizar as necessidades dessas crianças e famílias. A Escola presta o atendimento
no programa Estimulação Precoce, Pré – Escola, Pré-Alfabetização, Alfabetização e Preparação
para o Mercado Competitivo do Trabalho. O atendimento é gratuito.
Foi em 1987 que os portadores de paralisia cerebral, fundaram a Associação de Paralisia
Cerebral do Brasil (APCB), pois antes eles eram representados pelas entidades de deficientes
físicos ou mentais.
As décadas de 80 e 90 foram marcadas de postura em relação aos portadores de deficiência,
o paternalismo dá lugar à equiparação de oportunidades, a proteção amparo é substituída pela
cidadania plena.
Além destas conquistas no campo jurídico registrou-se também o aumento na produção
teórica, substituindo assim as práticas empíricas. É importante salientar que estamos hoje diante
de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB 9394/96, que reafirma, o referido
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direito à educação publica e gratuidade a pessoas com necessidades especiais, ampliando a
expressão política da Educação Especial no contexto geral da Educação.
E diante de uma nova Lei de Diretrizes e Bases, em decorrência dessa, novo paradigma na
qual assenta as educações brasileira, que é paradigma da INCLUSÃO, torna-se necessário
repensarmos as novas diretrizes da educação, e não segregadamente da educação ao especial,
pois se muda o contexto histórico, mudam-se os ideais.
Percebe-se então, que o conceito, de sociedade inclusiva vem, sendo gradualmente,
implantado em todas as nações e que este conceito é um processo constante e que precisa ser
continuamente revestido para que vise sempre, ampliar ao máximo a capacidade da criança na
escola comum.
Conclusão
O ideal, muitas vezes, se mostra distante do real ou do que pode ser realizado, mas é preciso
acreditar que há como interferir nesse processo, pois a inclusão de alunos portadores de
deficiências se faz presente, nas classes comuns do Ensino Fundamental da rede Pública das
Escolas brasileira.
Porém as Escolas precisam adequar-se ao “projeto de inclusão”, que deve iniciar-se com o
projeto pedagógico da Escola, envolvendo todos os segmentos, ou seja, capacitação de todos os
servidores, desde os gestores aos vigias, adaptação na estrutura física da Escola para que esses
alunos tenham plena liberdade de acesso para conviverem adequadamente, usando suas
limitações e superando os obstáculos.
Tarefa difícil, certamente. Mas na medida que a Escola adquirir qualificação, serão quebradas
as barreiras e as habilidades desenvolvidas oferecendo oportunidades mais amplas para esse
grande desafio: A INCLUSÃO.
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REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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A ETNOPSIQUIATRIA NA SOCIEDADE A ETNOPSIQUIATRIA NA SOCIEDADE A ETNOPSIQUIATRIA NA SOCIEDADE A ETNOPSIQUIATRIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEACONTEMPORÂNEACONTEMPORÂNEACONTEMPORÂNEA
Marcos de NoronhaMarcos de NoronhaMarcos de NoronhaMarcos de Noronha39393939 RESUMO: As práticas alternativas e as medicinas paralelas constituem o foco central de análise deste artigo, no qual é apresentado vários casos de como a população recorre a essas práticas, seus resultados e significados tanto para a medicina como as ciências humanas, como a sociologia e a antropologia. PALAVRAS-CHAVES: Etnopsiquiatria; Práticas alternativas; Medicina paralela; Crenças; Sociedade. ABSTRACT: The alternative practices and the parallel medicines constitute the central focus of analysis of this article, in which is presented several cases of as the population it runs over her/it those practices, your results and meanings so much for the medicine as the humanities, as the sociology and the anthropology. KEYWORD: Etnopsiquiatria; Alternative practices; Parallel medicine; Faiths; Society.
Introdução
A doença e o tratamento estão longe de serem exclusivos do campo da medicina científica no
seio da cultura ocidental. As medicinas paralelas eram ironizadas no passado, consideradas como
primitivas algumas delas, ou totalmente desprovidas de lógica ou consideradas como
charlatanismo. Até os anos 60 vários antropólogos chegaram a suspeitar que estas práticas
alternativas dependiam do subdesenvolvimento sócio-econômico, onde não havia o oferecimento
adequado de serviços médicos e hospitais (Métraux, 1958). Pensavam que com o progresso da
medicina haveria também o declínio das práticas mágico-religiosas de cultura, cuja utilização era
atribuída principalmente às classes populares. Porém a história não vem confirmando tal suspeita,
pois desde 1960, o que se observa é o aumento do número de pessoas na sociedade ocidental,
que recorrem a curandeiros, homeopatas, psicoterapêutas, acupunturistas e outros. Além disso,
39 Psiquiatra e Membro da Associação Brasileira de Etnopsiquiatria.
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observa-se até mesmo o aparecimento de novas seitas, de caráter carismático cristão ou oriental,
que na comunidade acabam exercendo um papel psicoterápico (Lanternari, 1987).
Analisando as práticas de cura de Nova Iguaçu, município densamente povoado na periferia
do Rio de Janeiro, Loyola (1984) também é da mesma opinião de que a medicina popular não é
uma remanescência do passado, ou então relegada apenas às comunidades rurais e atrasadas e
nem esta desaparecendo com o desenvolvimento humano e a urbanização. Pelo contrário, ela na
atualidade é muitas vezes uma concorrente da medicina científica, considerada como a única
prática legítima pelas classes dominantes.
Hoje na França 1 em cada 2 franceses recorrem as medicinas paralelas e pertencem tanto a
classe popular, como a classe culta do meio urbano. Outro dado é de que 1 em cada 4 médicos
utilizam-se de práticas alternativas exclusivamente ou associada, e é considerável o número de
terapeutas não médicos utilizando desta mesma prática (Laplantine e Rabeyron, 1989).
Em Santa Catarina, durante um novo surto de meningite em 1989, o crescimento do número
de casos em relação aos anos anteriores e a dificuldade dos serviços de saúde de resolverem o
problema, fizeram com que alguns municípios optassem por aplicações de vacinas homeopáticas
contra a meningite na população. Essas vacinas haviam sido testadas no interior do estado de São
Paulo, mas mesmo assim a decisão foi polemizada devido a reação de setores da classe médica,
através de sua associação. Apesar da polêmica gerada a vacina homeopática teve boa aceitação
pela população, que compareceu com um número considerável nos postos de aplicação.
Na sociedade contemporânea a utilização das medicinas paralelas se estabelece de diversas
formas. Algumas pessoas complementam o tratamento alopático já instituído; outras são radicais,
procurando se valer exclusivamente das medicinas paralelas, como uma reação (recusa) ao
tratamento oficial ou como um ideal de vida, se valendo também de alimentação, habitação e
costumes alternativos. Laplantine e Rabeyron (1989) analisaram o sucesso das medicinas
paralelas no contexto social atual: “...uma reação a uma mutação das sociedades industriais
avançadas...”. Esses autores observam um significativo movimento nestas sociedades de recusa
do racionalismo científico e técnico por um saudosismo; uma recusa da tendência a globalização e
unificação social por uma diferenciação e individualização dos hábitos alimentares e indumentária;
recusa de uma cultura elitista patriarcal por um redimensionamento da relação de poder entre
médicos e pacientes, e assim por diante, uma recusa de uma cultura intelectual pela revalorização
do corpo e uma recusa do espaço urbano poluído, por uma vida natural no campo.
De fato a eficácia do tratamento alternativo não é o único fator determinante do crescimento
dessa prática. Os fatores sociais acima apontados criaram facilidades para essa propagação e não
poderiam ser aqui negligenciados. Portanto as medicinas paralelas às vezes consideradas como
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uma sobrevivência folclórica do passado, passam a servir de instrumento de contestação dos
abusos e injustiças da sociedade atual e serve também como instrumento de divulgação de uma
nova idéia sobre o mundo, sobre uma nova forma de viver.
As medicinas paralelas em confronto com as medicinas científicas
Em 1978 um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda aos países em
vias de desenvolvimento, que incentivassem a população a recorrer a curandeiros e parteiras
tradicionais, para desta forma, serem supridas as carências dos sistemas sanitários oficiais. O fato
acaba chamando a atenção do mundo, pois num órgão como a OMS, com respaldo oficial e
científico, reconhecia a utilidade das medicinas paralelas: medicina selvagem; charlatanismo;
medicina primitiva e outros. O próprio termo curandeirismo, tem a conotação pejorativa de
charlatanismo. Porém essa rejeição não tem somente um sentido, pois alguns segmentos da
sociedade, adeptos de uma postura humanística, também recusam qualquer procedimento
terapêutico da medicina oficial, que é criticada como repressiva, paliativa e iatrogênica.
No Brasil em 1986 a divulgação de que o famoso cientista Augusto Ruschi recebia tratamento
de dois pajés, repercutiu pela imprensa através de declarações entusiásticas a respeito das
práticas naturalistas e por outro lado, recebia manifestações duras e irônicas da classe médica
(Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e O Globo entre janeiro e junho de 1986).
No cenário do confronto entre a prática da medicina oficial e paralela, esta última, ocupa na
maioria dos países, um lugar de desvantagem perante a lei. Em algumas comunidades, a
perseguição aos curandeiros é mais rigorosa do que em outros lugares, respaldando-se os
perseguidores na legislação existente. Na Suíça, o Cantão de Appenzel, tem sua própria lei que
protege os curandeiros. Na Alemanha eles têm seus diplomas reconhecidos e nos estado de Nova
York o programa de ensino do toque terapêutico tem a aprovação American Medical Association
(Laplantine e Rabeyron, 1989).
A ilegalidade lançada a medicina popular serve ao saber legítimo (a medicina científica) ,
como instrumento de dominação. Quanto à prescrição de medicamentos, outros fatos mostram
estratégia de domínio de uma prática sobre a outra. Há medicamentos que não merecem a
atenção dos médicos por não serem considerados científicos, mesmo que sua composição seja de
elementos com efeitos comprovados. A população distingue bem os remédios que médico
receita e os que médico não receita (Costa, 1980). Esse desprezo à farmacopéia popular pela
medicina científica é mais uma tentativa de assegurar a legitimidade da medicina oficial diante de
sua concorrente.
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Mesmo com todas as dificuldades que o não reconhecimento e a ilegalidade possam trazer
sobre a prática dessa medicina, ela sobrevive na nossa sociedade, criando formas de se proteger
da opinião pública e dos órgãos oficiais de controle. Usando o exemplo de Queiroz (1980) “...este
curandeiro nunca cobrou por uma consulta, embora o caiçara reclame que o preço de seus
remédios se mostre sempre superior ao da farmácia...”. Alguns curandeiros se apegam a uma
doutrina e instituições religiosas para legitimarem sua ação curativa, como no caso de um
renomado frei de Santo Amaro da Imperatriz em Santa Catarina. O frei é reconhecido
nacionalmente pelo seu trabalho de cura através da imposição das mãos e num programa de TV
(Rede Bandeirantes de Televisão em Novembro de 1989) sentiu necessidade de esclarecer que
sua prática é uma proposta a todos os homens do que já fora escrito na Bíblia Sagrada. Além
disso, que sua ação na cidade era gratuita e seu trabalho, complementar ao da medicina oficial.
A eficácia das medicinas paralelas
Embora consideremos as diversas linhas, tanto na medicina oficial, como nas medicinas
paralelas, algumas características grosso modo, são distintas entre elas. A medicina científica é de
base predominantemente analítica, enquanto que as medicinas paralelas são de base dialética, ou
seja, a primeira separa, dissocia para determinar sua ação, e a segunda associa os sintomas e os
fenômenos. O sincretismo e a adaptação ao contexto cultural, quanto à comunicabilidade e
identificação de valores é mais evidente entre as medicinas paralelas. A medicina oficial visa
diagnosticar e esfacelar os sintomas apresentados e sua ação é fundamentalmente superficial,
temporária, enquanto que as medicinas paralelas procuram, com maior profundidade, atuar nas
causas das doenças, que conseqüentemente necessitam de uma ação individualizada (o doente
sobrepondo a doença). Nesta visão de base qualitativa, fatores sociais e culturais são
considerados na gênese da doença. As medicinas paralelas, ao invés de tentarem resolver os
sintomas e as doenças com seus procedimentos terapêuticos, procuram recuperar no indivíduo seu
equilíbrio, para que ele próprio exerça o combate à doença.
Quanto às medicações utilizadas de uma prática a outra, a medicina oficial é considerada
mais agressiva e imediatista e seus medicamentos causam geralmente maiores efeitos colaterais
que as medicações de sua concorrente. É interessante o estudo de Lefèvre (1983 e 1987) sobre a
função simbólica das medicações fazendo parte da exploração mercantil da saúde/doença.
Nestes artigos o autor mostra como a medicina oficial encara esse binômio, saúde/doença e o que
faz para adaptar os fatos a essa visão.
Ele escreve :
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... o medicamento, como mercadoria capaz de, numa sociedade imatura como a brasileira, encurtar a distância entre o concreto e o abstrato, entre o desejo e sua realização, necessita para executar essa tarefa, que a saúde e a doença sejam reduzidas a seu aspecto orgânico, com a omissão dos fatores causais de natureza social e comportamental...
Lefèvre vai mais longe na dimensão político-ideológica do problema e propõe uma pesquisa
da oferta e procura dos bens simbólicos que satisfaçam o desejo de saúde imediata da população.
Até mesmo o “formidável” aparato visual das cirurgias é lembrado como tipo de mercadorias-
símbolos conquistando a opinião e o desejo do cidadão comum.
Medir a eficácia de uma prática de cura não é uma tarefa simples, pois a saúde é algo
complexo envolvendo aspectos diversos do homem, como sua integridade biológica, psicológica e
sociocultural. Os fatores que influenciam o tratamento do doente vão desde aspectos pessoais à
aspectos étnicos e socioculturais (Noronha, 1990). Loyola (1987) trabalha sobre a noção de
doença do corpo e a doença da alma que possui a população. De modo geral a doença é algo
que foge ao controle do homem, que corre em busca de recursos para se recuperar. As doenças
espirituais têm origem que não podemos verificar na prática, mas compreendidas segundo a
crença individual, como exemplifica a autora: mau-olhado, espírito encostado, mediunidade não
desenvolvida ou castigo divino. Algumas doenças são consideradas de competência dos médicos,
enquanto que outras, qualificadas como “leves” são para os rezadores ou pais e mães de santo,
como as doenças causadas por medo, susto, friagem, quebra de resguardo e outros, que os
médicos, segundo o pensamento popular não conseguem compreender por não ter crença.
As condições do encontro entre o praticante da cura e aquele que a busca, a qualidade de
comunicação dos pensamentos e sentimentos durante a entrevista, irão influenciar os resultados
terapêuticos. E não é somente a barreira lingüística ou a de classe social que exercerá essa
influência, pois os curandeiros de modo geral e em diversos continentes, crêem na dupla natureza
da doença, ou seja, consideram aspectos materiais e espirituais, se aproximando da própria
maneira que a população encara a doença (Noronha, 1990).
A etnopsiquiatria e os sistemas de representações da sociedade brasileira
A doença mental manifesta-se diferentemente nas sociedades, que por sua vez, tem
diferentes formas de lidar com ela. Na nossa prevalece o controle institucional da doença e a
atribuição da responsabilidade para resolver o problema ao profissional de saúde. Algumas
sociedades não usam da instituição para controlar a doença e nem atribui excesso de
responsabilidade ao profissional. Elas também não se utilizam de argumentos científicos para
trabalhar com o doente, mas sim, do conhecimento tradicional que é compartilhado por todos. O
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“psiquiatra tradicional” se utiliza deste conhecimento e do apoio de toda a comunidade para realizar
sua função.
O propósito da Etnopsiquiatria é o de estabelecer uma linguagem susceptível de ser
compreendida por todos, valorizar o meio onde vive o enfermo e utilizar-se deste mesmo meio
como fator de recuperação. No trabalho etnopsiquiátrico, a participação do enfermo e familiares no
tratamento é ativa com o objetivo de entender a etiologia do problema e buscar soluções para o
caso (NORONHA, 1986). A Etnopsiquiatria não pretende ser mais uma subdivisão de uma
especialidade, mas chamar atenção para os componentes socioculturais em torno do doente
mental, que no decorrer desses anos, foi subjugado por uma visão reducionista de seu problema
sofrendo, por isso, sérias conseqüências (COLLOMB, 1975).
No nordeste do Brasil uma experiência em “terapia comunitária sistêmica”, considerando uma
técnica original e adaptada àquele contexto, se consolidou trazendo os mais significativos
resultados, transformando conflitos sociais em recursos necessários para a comunidade encontrar
seu equilíbrio e encorajando a busca de soluções criativas. Trata-se do trabalho de Adalberto
Barreto na favela de Fortaleza, que hoje serve como um modelo de uma ação humanitária de
recuperação e prevenção, se espalhando pelo país (CONTINI, 1995).
Os sistemas de representações da doença da população tradicional no Brasil , não são muito
diferentes dos africanos, formadores do povo brasileiro. Dentre esses povos o curandeiro não
somente detém conhecimento técnico de como utilizar plantas, gestos e ritual, mas também
sensibilidade para detectar a ansiedade do indivíduo e da coletividade para lidar com ela (Noronha,
1988).
A ação do curandeiro tem que ter o respaldo e a participação da comunidade. Os ritos
simbólicos têm a função de reintegrar o indivíduo doente ou expulsão da violência para fora do
grupo, com objetivo de restabelecer a paz e a ordem. Dentre os índios Siona, na América do Sul a
realidade cotidiana e o mundo são controladas por forças sobrenaturais. Os espíritos são tanto
responsáveis pelas coisas boas como pelos transtornos que acometem a comunidade. O xamã, o
intermediário entre a comunidade e os espíritos, são dotados de ambos os poderes, do mal e do
bem. O xamã desta população pode fazer uso de um alucinógeno para entrar em transe, e cumprir
sua função, ou então, pode apenas estar atendendo o desejo de um espírito que só pode se
manifestar através de seu intermédio (Langdon, 1988).
Para a medicina ocidental (oficial) reconhecer sua incompetência em diagnosticar e intervir
sobre patologias “imbricadas” na sua etiologia, nos sistemas de representações acima descritos, é
ao mesmo tempo reconhecer um outro sistema causal para as doenças, que o modelo linear
unifatorial persistente aos nossos dias. Mas os sistemas representativos compondo as causas das
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doenças espirituais, não só fogem a compreensão dos médicos e da religião erudita, como também
os exclui. A partir dessa exclusão, a reação através da classificação pejorativa dada pela
sociedade, de magia e superstição às praticas paralelas é melhor compreendida por nós (Loyola,
1987).
Comparando o papel dos xamãs entre as tribos Kayapó e Kamayurá, observamos que o
xamã Kayapó não desempenha papel tão relevante como nas sociedades alto-xinguanas (Barbosa
e Pereira, 1989). A organização de uma sociedade é diferente da outra: a cultura Kayapó conta
com instâncias bem definidas para a resolução dos conflitos públicos, enquanto que a cultura
Kamayurá depende fundamentalmente do sistema de crença e da ação dos xamãs. A adesão da
comunidade ao jogo dramático (ritual de cura) promovido pelo xamã é crucial para a eficácia do
processo nessa sociedade. O ritual relembra as regras sociais para a boa convivência ao indivíduo
comprometido e toda a coletividade que participa.
Lévi-Strauss (1985) lança o termo eficácia simbólica relacionando-o com a cura xamanística e
faz uma comparação da ação do xamã, com a ação do psicanalista. Tanto um como o outro
ajudam o indivíduo a extravasar e superar seus conflitos, tornando inteligíveis seus componentes e
reordenando-os. Para a cura xamânica o xamã oferece ao doente uma linguagem onde ele possa
expressar seu conflito que ainda não havia sido formulada. O xamã ajuda o doente a recorrer as
representações da sua doença e adaptá-las as representações da sociedade em que vive. Para a
cura psicanalítica é necessário que o terapeuta trabalhe as resistências inconscientes do indivíduo,
mas em ambos os casos o envolvimento ( a relação transferencial ) é fundamental. Merleau Ponty
disse num artigo intitulado: De Mauss à Lévi-Strauss” (Folha de São Paulo/22 de outubro de 1989)
que a neurose é um mito individual. Pelas palavras de Nathan (1986), Lévi-Strauss propõe a idéia
pela qual, a eficácia tanto de uma, como da outra cura tenderá a ordenação do caos afetivo
(portanto inferior), segundo a lógica das estruturas místicas, portanto lingüísticas (por
conseqüência superior) – o que ele chama a função simbólica.
Para problemas emocionais em nosso país, não é de se estranhar, que independente da
classe sociocultural, se recorre a “terreiros” de Umbanda ou Candomblé, ou a outras práticas
espirituais. A corrente religiosa baseada na mediunidade faz do Brasil o maior país espírita do
mundo. Surgido através de pesquisa de um educador francês, o espiritismo Kardecista ou de
“mesa branca” - pois se costumavam reunir os médiuns à volta de mesas habitualmente cobertas
por toalhas brancas – iniciou tentando explicar os fenômenos, como aparição de fantasmas,
levitação e estranhas movimentação de objetos. Ao médium, muitas vezes perseguido pela
sociedade, é atribuído o poder de entrarem em comunicação com os mortos para confortá-los,
como também atender os anseios de parentes. Muitos ficaram famosos pelas experiências
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espetaculares, ou ações bondosas para com a sociedade como Chico Xavier distribuindo
gratuitamente mensagens psicografadas e alimentos para os pobres.
Sociedade Africana
Sabemos da importância dos africanos na formação étnica do povo brasileiro, e estudando
essa sociedade em seu meio natural observamos que a África é um vasto continente formado por
diversas etnias com características peculiares e distintos troncos lingüísticos. Trazidos ao Brasil em
meados de 1850, os africanos foram obrigados a misturarem seus deuses, impedidos de serem
cultuados, aos santos da Igreja Católica, religião predominante entre os “senhores de escravos”.
Nesta sincretização, onde o culto aos orixás parecia subordinado a Igreja dominante, surgiram a
umbanda e o candomblé.
Neste Brasil do passado, a socialização da criança branca pela “ama de leite” africana era ato
corriqueiro. Desta condução, deste relacionamento herdamos, em nossa cultura, a sensibilidade
para conduzirmos nossos afetos e a curiosidade pelos hábitos africanos. Surgiram desse
envolvimento de africanos e europeus no Brasil o samba (ritmo), a capoeira (luta disfarçada em
dança) e a feijoada (prato típico). Ao povo brasileiro é atribuído um temperamento coletivista;
tendência a se divertir; sistemas religiosos peculiares (inclusive particularidades no catolicismo)
que os negros africanos foram um dos principais a influenciar.
Diferentemente de outros países da América que sofreram imigração do negro, no Brasil
observa-se maior facilidade de mistura das raças. No Brasil não se observa uma cisão étnico-
religiosa como a da separação da igreja para brancos e negros como nos Estados Unidos. A
intimidade existente entre senhores e escravos no Brasil era assegurada considerando as várias
categorias de negros, com posições sociais diversas, pois alguns eram escravos antigos, outros
recentes. Também o gradativo processo de abolição, onde os nascidos a partir de uma data eram
livres, não resultou como nos Estados Unidos, em uma violenta guerra civil e um racismo
insuperável até os nossos dias. Quando houve a abolição da escravatura no Brasil, muitos negros
livres já interagiam com os brancos. Vale ressaltar, que os índios, mais difíceis de serem
submetidos ao regime da escravatura, puderam mesclar com os negros suas crenças (DaMatta,
1987).
Na África, a tradição cultural reconhecida pelo curandeiro é a crença de que uma doença é
conseqüência de um ataque, de algo externo ao indivíduo. O agressor pode ser um homem vivo ou
até mesmo um espírito de um ancestral e as causas variam de afetivas a materiais. Pode ser o
ataque de um indivíduo para o outro (feitiçaria-antropofagia), a “devoração” imaginária da vítima. O
agressor pode utilizar também um intermediário, como por exemplo, o macumbeiro no Brasil que
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pode ser requisitado para fazer um “trabalho” contra uma determinada vítima. O feiticeiro, tanto tem
o poder de realizar um trabalho maléfico, como o de neutralizar uma outra macumba, ou promover
o bem. Vale ressaltar a comparação que Nathan (1986) faz do uso da palavra “trabalho” pelo
psicanalista, no sentido de elaboração psíquica, estabelecimento de ligações e o uso da mesma
palavra pelo feiticeiro sugerindo implícita ou explicitamente uma relação estreita. Tanto um, como
outro, psicanalista e feiticeiro, teriam por objetivo analisar, ou seja, desfazer o nó (a ligação) que
prende ou limita o indivíduo quando estas leis são ameaçadas (Collomb, 1978).
O psiquiatra ocidental é um médico, e pela sua formação faz da loucura uma doença
individual, que torna o doente, provisória ou definitivamente inapto para uma vida social. Já o
psiquiatra tradicional reconhece a complexidade psicossocial do problema, quando mostra ter
consciência da agressividade e do conflito obrigatório que envolve a doença mental, e num sistema
simbólico próprio, lida amplamente com o doente. Enquanto no sistema ocidental geralmente se
aborda a doença dando uma conotação de responsabilidade e culpa exclusivamente ao doente, o
sistema africano localiza fora desse a agressão que levou-o ao quadro. Tanto pode estar em
questão a agressão de um indivíduo, feita direta ou indiretamente pelas feitiçarias, quanto pela
agressão de um espírito ancestral. Dentro deste modelo, como a culpa não é a principal questão,
há facilidade de aceitação e participação, tanto do doente, como de sua família, no processo de
recuperação (COLLOMB, 1972).
Um outro fator que implica numa verdadeira participação de todos no tratamento é que a
linguagem do psiquiatra tradicional não é de sua exclusividade, ou seja, é compreendido e utilizado
por toda a comunidade. Esse curandeiro exerce uma função de mediador e suas decisões são
sempre um reflexo do que pensa e sente a comunidade. O paciente nunca tem que ser manipulado
com o pretexto do tratamento, preservando-se com isso a autenticidade da relação, o que facilita o
papel do psiquiatra tradicional para a possibilidade de re-união entre o doente e o grupo
(COLLOMB, 1972).
No Senegal, África, 80% dos doentes são tratados por métodos tradicionais e quase a
totalidade faz pelo menos um contato com o curandeiro. Entre esse povo há uma idéia que o
médico, de formação ocidental, acalma e o curandeiro cura. Essa preferência é justificada, pelo
fato do psiquiatra ocidental não considerar os sistemas de representação da doença daquele povo
e de ter uma atuação centrada no indivíduo, sem atuar considerando os aspectos socioculturais
implicados. Vale lembrar que a incidência de distúrbios psiquiátricos crônicos, como a
esquizofrenia, é baixíssimo neste país, na população tratada por curandeiros, e as vezes esta
patologia é inexistente. Não ocorre o mesmo com um senegalense vivendo num país ocidental
Diminui-se a eficácia do tratamento do curandeiro com o esfacelamento cultural e o processo de
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urbanização ambos fragmentando a vida coletiva (DEVEREUX, 1977). Mas vamos discorrer sobre
o modelo cultural africano para entendermos melhor o grande desfalque provocado pela
aculturação.
A Etnopsiquiatria, ou seja, neste caso a psiquiatria das etnias africanas, se articula
estreitamente com a cultura africana; muito mais que isso, faz parte dessa cultura. O curandeiro
não somente detém conhecimentos técnicos de como utilizar plantas, gestos, palavras do ritual,
como também, muitas vezes é dotado de sensibilidade capaz de detectar o problema e maturidade
que o permite lidar e respeitar a ansiedade de toda a coletividade. Esta nessa relação, ou seja , na
adesão da coletividade ao problema do paciente, a condição para a eficácia do sistema africano
(COLLOMB, 1974).
Esse sistema reconhece e se utiliza da tradição cultural para combater e resolver problemas.
Portanto a Etnopsiquiatria é a atuação do curandeiro (psiquiatra tradicional) somando-se a:
• um conjunto de conceitos e representações próprios de toda a comunidade, que
torna a doença mental compreensível para todos;
• a forma coletiva de vida onde o contato é facilitado e consequentemente a
comunicação se dá entre o doente e a comunidade e vice-versa.
Os procedimentos terapêuticos contam necessariamente com a utilização destas
representações, acima citadas, e a comunidade comporta-se, em relação ao doente, de uma forma
a não reduzi-lo e nem excluí-lo do grupo, mantendo com ele os canais de comunicação e respeito.
Na tradição africana crê-se que uma doença é decorrente do ataque de um feiticeiro, e
quando esse ataque não leva a morte da vítima, estaríamos diante de um distúrbio mental ou
psicossomático. Doenças ditas crônicas, como a esquizofrenia , são raras nesse meio,
prevalecendo crises ansiosa agudas, distúrbios somáticos, fenômenos alucinatórios ou até mesmo
bouffées delirantes da nomenclatura francesa (COLLOMB, 1974).
Apesar das diferentes etnias que formam as sociedades africanas, podemos considerar que
as sociedades primitivas têm unificadas algumas características desse sistema. Dentre elas ,
considera-se que nem a família ou mesmo o doente são responsáveis exclusivamente pelo
problema, então o agressor veio de fora; a agressão pode estar relacionada a causas afetivas ou
materiais, do passado ou da atualidade, porém o agressor é um homem vivo ou um espírito
ancestral.
As formas de ataque são diversas:
1. Ataque de um indivíduo para o outro
• diretamente: consiste numa “devoração” imaginária da vítima. Denominamos sistema
feitiçaria-antropofagia e todos sabem que tanto podem ser vítimas desse ataque, como também
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podem tornar-se feiticeiros-antropófagos, embora este último geralmente esta ligado a herança
familiar (COLLOMB, 1978);
• indiretamente: nesse sistema uma terceira pessoa é mobilizada, como o macumbeiro, ou
marabu dos muçulmanos. A macumba no Brasil é denominada de quimbanda, ou seja, feitiçaria a
serviço do mal, e poderia exemplificar esse tipo de sistema. Enquanto que o candomblé utiliza Exu
como mensageiro entre deuses e homens, o Exu da macumba é verdadeiramente diabólico. Nesse
sistema o feiticeiro é solicitado pelo seu cliente para fazer um trabalho (despacho) contra
determinado indivíduo. Nem sempre é uma solicitação para um trabalho maléfico, podendo o
macumbeiro realizar benefícios a pedido, como para combater um outro feitiço, fazer ganhar sua
equipe de esporte, para conquistar pessoas, ou sucesso econômico e profissional (QUEIROZ,
1983);
2. Ataque pelos espíritos : varia conforme a religião utilizada. O espírito esta ligado a
lei social e sua intervenção surge quando alguma coisa ameaça esta lei. Ele pode ser tanto um
falecido morador daquela comunidade, como espírito de determinada crença religiosa. Sua ação é
procurar lembrar o indivíduo com tendência a desrespeitar a lei, ou a tradição do grupo, através do
adoecimento do seu corpo. As vezes a lei geradora do conflito é apenas a lei religiosa ameaçada
(COLLOMB, mars, 1974).
O reconhecimento do saber, ou da tradição popular por esses sistemas, faz com que se
extrapole os limites da doença e se embrenhe em toda dinâmica social. Não se trata aqui de um
sistema simplesmente imaginário, mas de uma vivência de cada um , que permite uma real
elaboração do problema, tanto para o paciente como para os de seu meio. Em comparação com a
psiquiatria ocidental que visa exclusivamente detectar os sintomas para definir a doença e tratá-la
de forma paliativa ou individual, as diferenças são grandes em relação a psiquiatria tradicional
africana, que utiliza dos sintomas para detectar a causa e amenizá-la, para integrar o paciente
comprometido.
Os ritos
Como instrumento de Terapia Sociológica os ritos, que se diferenciam das festas
tradicionais, podem ter formas distintas de acordo com a etiologia do problema a ser trabalhado:
-Terapêutica Biológica: através do uso de extratos de plantas somados ao encantamento do
curandeiro (simpatia – benzimento – fitoterapia);
-Terapêutica Psicológica: o aconselhamento ao enfermo; a criação de um espaço que
venha a facilitar a expressão dos conflitos reprimidos, permitindo o indivíduo reorganizar suas
relações;
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-Terapêutica Sociológica: quando os doentes são assistidos por uma comunidade,
incluindo a participação dos familiares envolvidos, além do curandeiro e seus assistentes;
-Ritos Simbólicos: para reintegração do indivíduo doente ou expulsão da violência para
fora do grupo, para restabelecer a ordem e a paz. Podemos aqui reconsiderar a função
curativa do sistema feitiçaria-antropofagia sobre o indivíduo e a prevenção das tensões do
grupo com a expulsão da violência através do rito;
-Ritos De Passagens: que visam proteger o grupo da ansiedade, diante de mudanças
significativas previstas como o nascimento, o batismo, o desmame, a circuncisão, iniciação
sexual, o casamento e a morte. Essa tensão sobrevem da insegurança do indivíduo ao deixar
seu antigo “estatus “ para passar a um novo.
Na concepção dos selvagens africanos por exemplo, o recém nascido acaba de deixar o
mundo dos espíritos , porém ainda não faz parte do mundo dos vivos. O adolescente que partiu
para a escola após a circuncisão (Senegal) para ser iniciado, deixou de ser criança, mas ainda não
é considerado um adulto. Nestes ritos há um processo de formação onde o indivíduo deverá
aprender a se comportar na sua nova posição e para o grupo, de encará-lo respeitando seu novo
“estatus” (COLLOMB, mars, 1974).
A penetração do homem branco nestas sociedades e o enfraquecimento das tradições; a
desvalorização ou abandono dos ritos pelas comunidades selvagens, afetam os mecanismos
existentes para o reequilibro social. A Etnopsiquiatria tem por objetivo resgatar a tradição
esfacelada, ou então, permitir a criação de outros mecanismos de acesso amplo, quanto a
compreensão e participação, que permita a auto-regulação da sociedade comprometida.
Porque a população procura as medicinas paralelas ?
Na população estudada por Loyola (1987) os itinerários terapêuticos iniciam pela tentativa de
recorrer aos conhecimentos terapêuticos familiares. Se estes conhecimentos mostrarem-se
insuficientes ou ineficazes, o especialista religioso, o farmaceuta e o médico serão acionados, não
importa a ordem de preferência, ou se isolados, ou concomitante. Conforme o uso que o indivíduo
faz do seu corpo para a manutenção de suas atividades de sobrevivência, a doença é valorizada e
o tipo de assistência é eleito. Queiroz (1980) afirma que dentre os caiçaras (litoral paulista) a
escolha do terapeuta depende se a região oferece assistência médica, ou curandeiros; a
repercussão do trabalho de cada um e as condições econômicas que envolvem o trabalho. Os
índios resistem as terapias ocidentais por estas desprezarem a dimensão mística, psicológica e
social da doença, preferindo ser tratados pelas terapias tradicionais em muitos casos (Langdon,
1986).
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Outros fatores ajudam a determinar a preferência da população pelas medicinas paralelas,
como por exemplo, o fator tempo. Na assistência médica promovida pela Previdência Social no
Brasil e em alguns países, o tempo que o médico dispõe para atender o doente é muito pequeno e
insuficiente para absorver sua ansiedade e atender sua expectativa. Já a atenção do curandeiro
para com seu cliente pode ser bem maior. Outro fator, apontado por Boltanski (1979) é a distância
social entre o médico e o doente das classes populares. O médico usa geralmente um vocabulário
técnico, alheio ao vocabulário de seu cliente, e ainda assim, procura manter-se reservado quanto
as informações de seu quadro. A barreira lingüística e a reserva de informação conotam a
ignorância dos membros das classes populares, tornando desagradável a confrontação. A difusão
do saber médico (0 detentor legítimo de um saber legítimo) sofre um prejuízo considerável com
esta atitude, gerando dependência e insegurança na população.
Para Sontag (1984) “grande parte da natureza persuasiva da psicologia decorre do fato de
que ela é um espiritualismo sublimado: um modo leigo e pretensamente científico de afirmar o
primado do espírito sobre a matéria”. Nesta crítica a autora despreza a eficácia da ação das
psicoterapias que não se vale necessariamente da espiritualidade, e nem da sublimação dos
impulsos do indivíduo, mas sim da vivência psicoterápica gerando melhores condições para
elaboração e troca de suas emoções.
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ORGANIZACIÓN DE ASENTAMIENTOSORGANIZACIÓN DE ASENTAMIENTOSORGANIZACIÓN DE ASENTAMIENTOSORGANIZACIÓN DE ASENTAMIENTOS
Prof. Dr. Clodomir Santos de MoraisProf. Dr. Clodomir Santos de MoraisProf. Dr. Clodomir Santos de MoraisProf. Dr. Clodomir Santos de Morais
Asentamiento
El asentamiento constituye un instrumento esencial para la incorporación vertical de las
masas rurales al proceso de reforma agraria el asentamiento es una organización del grupo de
individuos y a la vez un laboratorio vivencial en que por la experimentación se buscan los
elementos adecuados necesarios para que, con base en el desarrollo económico, dicho grupo al
alcance el desarrollo social.
En el asentamiento se busca ajustar los sistemas de tenencia, las formas de tenencia y tipos
de cultivo a las actitudes y aspiraciones del grupo social. Es decir, se persigue la introducción de
modos y relaciones de producción que corresponderán al universo cultural y al comportamiento
ideológico del grupo de trabajadores agrícolas.
En el asentamiento sus miembros tienen la oportunidad de elegir el modus operandi en las
actividades económicas y el modus vivendi del propio grupo social.
Durante el período de asentamiento - de uno a tres ciclos agrícolas- se podrá saber las formas
más adecuadas de organización de la producción y de su comercialización misma. Asimismo, se
logra establecer los tipos de cultivas más convenientes.
Sin embargo, lo fundamental en este período es establecer el elemento permanente de
sobrevivencia de los individuos como grupo social y económico, es decir, los modos de producción,
ya que los tipos de cultivo constituyen un elemento temporario que puede cambiar según las
conveniencias de la planificación sectorial y global.
De esta manera, en el período de asentamiento se experimentaran principalmente los
siguientes modos de producción:
a) La Gran Empresa, o sea la Cooperativa de Producción Comunitaria
b) La Pequeña Empresa, o sea la parcela de explotación familiar y;
c) La Empresa Mixta, es decir las parcelas de explotación familiar acopladas a la
Cooperativa de producción comunitaria. En dos palabras: acoplar las pequeñas a la
gran empresa.
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Las asociaciones en el asentamiento
En un asentamiento pueden funcionar las más distintas asociaciones pues ellas constituyen
elementos de estímulo a la participación social. Estas asociaciones pueden ser de carácter
religioso, político, cívico, laboral, económico y financiero. Desde luego, el mejor sostén del
Asentamiento reside en la Asociación de carácter económico que genera empleo e ingresos a la
comunidad, o sea la cooperativa de producción.
Sin embargo, en una misma asociación, se puede crear elementos del desarrollo económico y
a la vez elementos del desarrollo social. Los primeros, son destinados a generar el flujo de empleo
e ingresos; los segundos, se destinan principalmente a mantener a las gentes reunidas en torno de
las reivindicaciones y motivaciones sociales que identifican el grupo a sus estratos.
Es el caso, por ejemplo, de un Comité de Asentamiento integrado de comisiones que animan
la parte social y otras que dirigen los sectores económicos del grupo.
El Comité de Asentamiento
La asociación inicial del grupo social es el Comité de Asentamiento que es fundado con la
elección directa por todos los asentados hombres y mujeres con más de 15 años de 5 ó 7
directivos. La elección debe ser secreta y enteramente libre.
Después de elegido el Comité de Asentamiento, la Comisión de Reforma Agraria pone a su
disposición uno o dos técnicos para ayudar a crear los organismos de producción y de servicios del
asentamiento. La actuación de los funcionarios de la Reforma Agraria debe ser apenas de carácter
técnico, pues la orientación política del Asentamiento es prerrogativa exclusiva de su Comité.
Con la aprobación de la Asamblea General del Comité de Asentamiento (organismo soberano
del Asentamiento) el promotor de la Reforma Agraria puede organizar la producción y servicios
según los datos arrojados por las encuestas socioeconómicas.
Primera Alternativa de la Organización Económica
Si los datas de las Encuestas demuestran que la expresiva mayoría del grupo social es
formada de obreros agrícolas, o sé de personas acostumbradas a participar de la Gran Empresa
(empresa de proceso productivo socialmente dividido) como asalariados, y pretenden seguir
trabajando bajo este modo de producción, fácilmente se puede empezar la cooperativa de
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producción comunitaria.
Pero, si la consulta de Asamblea General del Asentamiento presenta resultados contrarios a
los de la encuesta, o sea, las partes dan preferencia al desarrollo de la Pequeña Economía Familiar
- la parcelación - el promotor social tendrá que actuar con tacto y habilidad. La manera hábil es
reservar una pequeña área para uso de aquellos pocos que se interesan por la cooperativa de
producción comunitaria y la otra área se dividirá provisionalmente, asignado a cada familia una
parcela.
La postura ideológica misma del grupo se encargará de paulatinamente ir incorporando los
parcelarios a la Cooperativa de Producción.
Segunda Alternativa de la Organización Económica
Si el deseo favorable a la parcelación manifestada por el grupo social coincide con los datos
de las encuestas, no hay otro camino de inmediato que la de crear las Economías Familiares, pues
se trata de campesinos, o sea pequeños productores agrícolas, o se trata de artesanos rurales de
igual comportamiento ideológico.
Tercera Alternativa de la Organización Económica
Si el grupo social se manifiesta favorable a la parcelación y la encuesta comprueba una
predominancia de semi-obreros agrícolas, se debe proceder de igual modo que en la primera
alternativa, es decir, un área destinada a la parcelación y otra a la cooperativa de producción
comunitaria.
Elementos Auxiliares de Reajuste ideológico
Se sabe de antemano que el Asentamiento en forma/cooperativa arroja las siguientes
ventajas:
a) Mayor producción y mayores índices de productividad;
b) Menores costos en la producción; y
c) Menores costos y más eficiencia de los servicios de los asentados.
Ahora bien, aunque lo admita, el campesino típico no concibe con precisión la estructura de
producción diametralmente opuesta a la estructura de producción de la economía familiar. Por el
hecho de no concebirla bien - pues no la ha vivido - opera mal dentro de ella, o más bien, desde el
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inicio evita participar de dicha estructura de producción.
Los semi-obreros agrícolas, a su vez, aunque se nieguen a participar de la cooperativa, cuyo
proceso productivo es semejante al adoptado en la gran empresa capitalista que ellos ya conocen,
presentan mejores posibilidades de cambios de actitud que los campesinos típicos.
Sin embargo, la aspiración al trozo de tierra está más vinculada a la concepción de la
seguridad de tenencia de que al interés miso de dirigir la economía agrícola familiar. Es que la
seguridad de tenencia le da todos los elementos económicos y socio-políticos que conlleva la
propiedad o el dominio de la tierra: Crédito, “status”, etc.
De esta manera nada más conveniente de que utilizar distintos mecanismos que sirvan para
introducir al semi-obrero agrícola y al campesino en la forma de producción cooperativa. Estos
mecanismos funcionarán como elementos de reajuste de su comportamiento ideológico.
Por lo tanto, de modo general, se debe estimular toda forma de acción colectiva del grupo,
sea en la acción de carácter meramente social y principalmente, en la económica. De modo
particular se debe crear condiciones para que surjan inmediatamente la labor colectiva o
comunitaria aunque sea en sus formas más rudimentarias como el sistema ayuda mutua, corriente
en Centroamérica y las brigadas para la construcción de caminos riesgos y pozos, etc.
Estas formas rudimentarias se definen por su carácter espontáneo, por lo informal y la
temporalidad de su funcionamiento.
Concomitantemente se debe introducir en el Asentamiento las formas cooperativas de tipo
primitivo como sean:
a) Asociación de 3 ó más famillas para uso efectivo de yuntas de bueyes, o de
tractores.
b) La Asociación Mutualista para asistencia médica, funeraria, etc.
c) El patronato escolar, de riesgos, de mejora de viviendas, etc.
d) La cooperativa de ahorro y crédito, etc.
e) Cooperativas de consumo, de comercialización de transportes, etc.
Y así se preparan los asentados para que en su mayoría participen de las cooperativas de tipo
superior que son aquellas que abarcan en una estructura orgánica: la producción agrícola, la
industrialización, el transporte, el almacenamiento y la comercialización de los productos, el
consumo y los servicios esenciales de la comunidad.
Por cierto que una cooperativa de tipo superior puede inicialmente abarcar apenas la
producción agrícola para gradualmente incorporar las demás actividades, beneficio,
comercialización consumo, etc.
De igual modo, en un asentamiento de predominancia campesina o de semi-obreros agrícolas
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podrá ocurrir que una modesta cooperativa de tipo primitivo (de ahorro y crédito y de consumo) se
convierta en una cooperativa de tipo superior con la incorporación de la producción,
comercialización, almacenamiento, etc. De ahí que la cooperativa de tipo superior pueda ser
constituida desde el comienzo del asentamiento aunque apenas una de sus secciones (consumo, o
producción, o ahorro y crédito) funcione.
Esta puede tener el nombre de cooperativa agro-industrial, agro-comercial, etc., o adoptar el
nombre de sociedad agrícola industrial, o comercial, o algo por el estilo.
La administración
La organización administrativa del Comité de Asentamiento será reglamentada por la Ley de
Reforma Agraria, mientras que la sociedad agrícola industrial tiene organización administrativa
estatuida por Ley de Cooperativas.
De todos modos, la estructura orgánica sencilla o la compleja dependerá de la composición
social del Grupo, Los campesinos darán preferencia a la sencilla y los obreros agrícolas van a
preferir la estructura compleja
Criterios generales para el desarrollo del asentamiento
1. Para el éxito del Asentamiento la condición básica e inexorable es la plena libertad de
organizar y actuar en la organización Por lo tanto, el promotor u otro funcionario de la Reforma
Agraria puesto a la disposición del Asentamiento debe tener una formación técnica que ayude a los
asentados a utilizar al máximo su libertad para lograr los más elevados a los más adecuados
niveles de organización Sin observar esta condición los Asentados estarán imposibilitados a
desarrollar su capacidad creadora, ya sea nivel de organización o de producción.
2. El plan de asentamiento debe tener un cariz marcadamente económico y todos sus
objetivos sociales deben ser resultado del grado de desarrollo económico alcanzado por e propio
grupo social.
La inversión del proceso incurrirá inevitablemente en paternalismo, deformación ideológico del
grupo y enajenación de su postura social.
Es decir, que lo fundamental es crear tas unidades o mecanismos capaces de generar un flujo
permanente de empleo e ingresos. Un razonable nivel de empleo y de ingresos del grupo de
Asentados determinará, desde luego, nuevos patrones sociales.
Hay que tomar en cuenta que Las campañas de letrinización sanidad ambiental, mejoramiento
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de la dieta alimenticia, educación sanitaria, educación del hogar y cosa por el estilo, tiene
importancia muy secundaria en un programa de desarrollo rural. Lo esencial reside en la
implantación de una infraestructura económica con base en el empleo abundante e ingresos
suficientes. Esta infraestructura económica creará condiciones inmediatas para el desarrollo de
superestructuras culturales que involucrarán las nociones de higiene y otros hábitos del propio
desarrollo.
Obrar de manera inversa, o sea empezar por la introducción de superestructuras culturales en
vez de esperar que el desarrollo económico del grupo social las genere, significa someter a las
gentes a un proceso de domesticación y de catequesis. Ello implicará de inmediato en la
enajenación de la postura social del grupo o en la liquidación de su capacidad de iniciativa,
volviéndole abúlico una vez reducidos sus miembros a sujetos de compasión y a pordioseros.
3 La labor del asentamiento debe ser racional, centralizada y planificada “ in situ” o sea al nivel
de terreno mismo.
a) Racional, significa decir que esta labor no comporta dilentatismo. EL trabajador social
debe conocer de facto sus tareas y dominar bien los principales fenómenos del grupo social.
No debe confundir ese tipo de especialista con los aficionados de programas de
beneficencia que ven al campesino como un ser digno de compasión.
b) Centralizar, es decir que tan sólo el organismo de Reforma Agraria debe conducir la
labor del desarrollo de los Asentamientos. La interferencia de otros organismos diversificará
y confundirá las técnicas de trabajo; en algunos casos, además, destruye los progresos
alcanzados sobre todo cuanto la interferencia es basada en el paternalismo e inspirada en
puros sentimientos humanitaristas.
c) La planificación “in situ” es decir, en el Asentamiento mismo. Ella permitirá el mayor
aporte de ideas, de compromisos, de responsabilidades del grupo social. Asimismo, ello
evitará que el grupo social reciba de la Reforma Agraria planes de trabajo enforma de
ocnaciones, o de imosición, o que es más grave, dicho sea de paso.
DATOS ESENCIALES DE INVESTIGACIÓN DE LAS COMUNIDADES QUE CONSTITUYEN O
EN DONDE SE FORMAN LOS ASENTAMIENTOS
1. Diagnóstico económico de la Comunidad
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11. Relación Hombre-Tierra
1.2. Nivel de Empleo Rural
1.2.1 Mano de obra activa
1.2.2 Mano de obra ociosa
1.3 Ingreso y Gastos de la Familia Rural
1.4 Salarios
1.5 Inventario de los bienes de capital de la comunidad (individuales de los
artesanos) y por empresa familiar.
1.6 La comercialización de la producción
1.6.1 El valor y la cantidad de producción
1.6.2 Canales de Comercialización
1.7 Elementos de economía externa.
1.7.1 Interferencia
1.3. Diagnóstico social de la Comunidad
2. Diagnóstico Social de la Comunidad
2.1 Pirámide de edades por sexo
2.2 Determinación de las formas de tenencia o relaciones de producciones
2.2.1 Asalariados (%)
2.2.2 Semi-Asalariados (%)
2 2 3 Agricultor (%)
2.3 Determinar los artesanos, inclusive los domésticos.
2.4 Investigar los hábitos culturales de los agricultores y artesanos.
2.5 Investigar las artesanías decorativas y utilitarias locales.
2.6 Investiar los contra-motivos de los estratos-asalariado, patrón o administrador
2.7 Detectar los líderes naturales
2.8 Encuestas sobre aspiraciones
2.9 Grado de capacidad organizativa de los grupos
2.9.1 Porcentaje de personas que han participado en sindicatos.
2.9.2 Porcentaje de personas que han participado en cooperativas.
2.10 lnvestigación sobre los mecanismos sociales y económicos que el grupo
conoce. Patronatos, cofradías, cooperativas, empresas, etc.
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RIBEIRINHOS, DESENVOLVIMENTO E A RIBEIRINHOS, DESENVOLVIMENTO E A RIBEIRINHOS, DESENVOLVIMENTO E A RIBEIRINHOS, DESENVOLVIMENTO E A SUSTENTABILIDADE POSSÍVELSUSTENTABILIDADE POSSÍVELSUSTENTABILIDADE POSSÍVELSUSTENTABILIDADE POSSÍVEL
Josélia NevesJosélia NevesJosélia NevesJosélia Neves
RESUMO: Este texto pretende estabelecer uma reflexão sobre a população tradicional identificada como ribeirinha articulando a sua existência a possíveis alternativas de desenvolvimento, a partir do contexto em que está inserida e do que é possível produzir, num processo que leve em conta a sua relação com a natureza.
PALAVRAS-CHAVES: ribeirinho, desenvolvimento e sustentabilidade. ABSTRACT: This text intends to establish a reflection on the identified traditional population as riverside articulating your existence to possible development alternatives, starting from the context in that is inserted and of what it is possible to produce, in a process that takes into account your relationship with the nature. KEYWORD: riverine, development and sustentabilidade.
Por via prazerosa, o homem da Amazônia percorre pacientemente as inúmeras curvas dos rios, ultrapassando a solidão de suas várzeas pouco povoadas e plenas de incontáveis tonalidades de verdes, da linha do horizonte que parece confinar com o eterno, da grandeza que envolve o espírito numa sensação de estar diante de algo sublime... Loureiro, 1995, p. 59).
Contextualização:
Os ribeirinhos da Amazônia são trabalhadores que residem nas proximidades dos rios e, que
há muito caracterizam-se por ter como principal atividade de subsistência e econômica, a pesca.
Particularmente neste trabalho, a nossa referência de ribeirinho será dos homens e mulheres
que estabelecem uma relação com o Rio Madeira, ao longo do município de Porto Velho e dele
produzirão a sua sobrevivência, seja através da pesca ou do transporte.
Os povos ribeirinhos são descendentes dos migrantes nordestinos que ocuparam a Amazônia
na segunda metade do século XIX atraídos pela propaganda oficial para trabalharem na extração
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Mai.-N°28, Vol. VIII, 2004.
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do látex, os mais velhos – conhecidos como soldados da borracha – trabalhavam para abastecer a
indústria bélica dos países aliados, por ocasião da 2ª guerra mundial.
Estes nordestinos se transformaram em seringueiros. Entretanto, do alistamento até a
produção da referida atividade, vários percalços vão marcar os seus caminhos de vida: a começar
pelo desconhecimento da mata até as constantes explorações e difíceis relações de trabalho
estabelecidas com os seringalistas.
O processo de adaptação à floresta é lento e penoso. As condições de vida num ambiente
que os sertanejos desconheciam lhes trará grandes agruras, como afirma Silva (1994).
Entre as longas caminhadas na floresta e a solidão nos tapiris rudimentares onde habitavam, esgotava-se sua vida, num isolamento que talvez nenhum outro sistema econômico haja imposto ao homem. Ademais, os perigos da mata e a dura jornada de trabalho encurtavam sua vida, principalmente em relação aos primeiros migrantes nordestinos ( p. 26)
Com a crise da borracha, no início da década de 50, e o esvaziamento que estava surgindo
em função deste fato, o governo federal no intuito de deter a saída deste povo, estabelece as
Colônias Agrícolas. Silva (2000).
Depois, com a concepção de vazio demográfico vai se produzir nos anos 70 um modelo de
ocupação da Amazônia, ineficaz caro e degradador do meio ambiente, uma grande alteração na
estrutura fundiária do então território de Rondônia que crescerá de forma muito rápida graças ao
fenômeno da migração, com sua população aumentando progressivamente, conforme registra
Bertha Becker (1990):
a estratégia estatal estimulada por intensa propaganda, combinada com a comunicação informal de parentes e amigos, provocou uma avalancha populacional para o Território, com ocupação desordenada da terra." (p. 149).
Esse acesso a tantas pessoas ocorria em função da BR-364, mesmo ainda não pavimentada
já que só aconteceria em 1984, contribuiu para a transformação da condição de Território em
Estado em 22 de dezembro de 1981, na administração do Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, o
último governador do Território e o primeiro governador do Estado.
A partir deste elevado índice populacional, pode-se verificar uma sucessão de fatos como: a
inauguração da BR-364, a Hidrelétrica de Samuel no meio da década de 1980 e a estrutura
atribuída a "mais nova estrela no azul da União" com generosos recursos federais e internacionais
(POLONOROESTE e PLANAFLORO) o que permitirá um desenvolvimento visível, principalmente
nas cidades, já com influência neste contexto do sul, em plena corrida ao garimpo do Rio Madeira
em Porto Velho.
Entretanto os ribeirinhos, particularmente os do município de Porto Velho, têm pouca
visibilidade para o poder oficial, e por essa razão ficam às margens das políticas públicas.
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Podemos constatar este fato, através dos documentos oficiais produzidos no Estado que
pretendem apresentar alternativas na perspectiva do desenvolvimento sustentado, que
desconsideram essas populações tradicionais.
Neste contexto, situamos o recente Projeto Úmidas, documento elaborado no período de
1997 a 1998 com recursos do PLANAFLORO – Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia,
através da cooperação técnica do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Este Relatório que pretende se constituir num diagnóstico referência de planejamento para o
desenvolvimento sustentável para o Estado de Rondônia, ao se reportar a questão das populações
indígenas e tradicionais, nesta última, limita o conceito do termo tradicional apenas à população
extrativista, não destinando portanto, uma linha sequer aos ribeirinhos.
Considerações sobre Desenvolvimento e Desenvolvimento Sustentável
Abordaremos a questão do desenvolvimento a partir do enfoque sociológico; não é pretensão
nossa colocarmos o registro literário existente acerca do tema explicitado neste trabalho, já que
levaremos em conta apenas aquelas contribuições que julgamos importantes e que se relacionam
com a temática posta.
Do ponto de vista sociológico, o termo desenvolvimento surgiu para explicar o processo
evolutivo das sociedades industrializadas e as de produção agrícola que apresentavam diferenças
significativas. Esta postura teórica defendia que as diferenças entre as sociedade não eram de
natureza, mas de grau de desenvolvimento. Costa (1994).
A corrente desenvolvimentista estabeleceu critérios pelos quais as sociedades eram
classificadas como o desenvolvidas, semi-desenvolvidas e pré-capitalistas. As nações que se
firmavam como centros de dominação política e econômica, passaram a constituir modelos aos
quais deveriam chegar às demais, portanto, o desenvolvimento é explicado segundo etapas do
crescimento econômico, através da caracterização de cinco tipos de sociedades.
Esta teoria é questionada por outros estudiosos, pois afirmam que há uma negação das
diferentes trajetórias históricas das sociedades.
Outro princípio defendido pelas teorias desenvolvimentistas é considerar como causa do
subdesenvolvimento, os entraves ao desenvolvimento das forças produtivas. Como causa do
subdesenvolvimento, o tradicionalismo - caracterizado pelas trocas de favores motivadas por
relações familiares e pessoais: o clientelismo. Outra vez esta posição é rebatida através do
exemplo dado pelo Japão, que se industrializou justamente com base na tradição.
Fator presente nas análises desenvolvimentistas, foi a questão étnica que para estes
explicava o 'atraso' das sociedades sul - americanas. O índio é visto com preguiçoso, e o negro, é
responsabilizado pelo atraso nacional. Essas teorias não consideram que a população indígena,
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extremamente reduzida, não pode ser a responsável pelo "atraso" de instituições dos quais nunca
participou; assim como os negros que, pelo contrário construíram a riqueza da Colônia e do
Império brasileiro, na condição de escravos. Portanto, esta teoria sustentava que, índios e negros,
seriam incapazes de atingir a "civilização" Costa (1994).
Assim, surge o termo periferia referindo-se a tudo aquilo que é secundário, irrelevante ao que
é central, importante e desenvolvido - é interessante lembrar que este conceito é utilizado apenas
para as regiões e setores "atrasados" no interior de uma sociedade ou nação "subdesenvolvida",
conforme assinala Costa (1994).
Outro conceito para designar os setores "não desenvolvidos" ou as regiões "atrasadas", foi o
de marginalidade. A esse respeito, Bresser Pereira afirma que:
o setor tradicional ou marginal é aquele que fica excluído dos processos de desenvolvimento tecnológico e de rápido aumento da produtividade que caracteriza o modelo "capitalista dominante".( A economia do subdesenvolvimento industrializado in Estudos Cebrap, 14. P. 38).
Ao procurar estudar a questão do desenvolvimento, é necessário nos situarmos
conceitualmente acerca do que o termo significa. Para tanto, nos apropriamos das palavras de
Bresser Pereira (1980) de que "o desenvolvimento é um processo de transformação econômica,
política e social, através da qual o crescimento do padrão de vida da população tende a tornar-se
automático e autônomo". Para este autor, o desenvolvimento deve resultar em crescimento do
padrão de vida da população.
Há um consenso dos estudiosos desta temática que, desenvolvimento e crescimento
econômico não são termos semelhantes, pois o PNB médio per capita de um determinado país ou
região pode crescer e simultaneamente o fenômeno da desigualdade também. Como afirma
Rosseti (1981):
o crescimento econômico enquanto processo é entendido como a elevação persistente do PNB ao longo do tempo e implica a reunião de um conjunto de pré-condições, sem os quais o crescimento não ocorre em caráter persistente ou é interrompido.
No entanto, diante das recentes preocupações ambientais, que estão acontecendo
fundamentalmente mediante a realização das grandes reuniões mundiais - como a Conferência de
Estocolmo/1972, Conferência de Tbilisi/Georgia/CEI/1977, Eco/92 entre outras, diferentes
concepções de desenvolvimento surgiram, como por exemplo o termo ecodesenvolvimento que
pretende definir um estilo de desenvolvimento adaptado às regiões rurais do 3º mundo.
O consenso que vai se construindo, é que a forma de desenvolvimento adotada até então
que consistia no "domínio da natureza", era insustentável, do ponto de vista ambiental.
É importante ressaltar, que o debate sobre o desenvolvimento, tornou-se mais exigente na
medida em que incluiu a sustentabilidade na dinâmica macroeconômica; daí a compreensão da
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complexidade que envolve a referida temática. Assim, a concepção do desenvolvimento
sustentável se inseriu na produção intelectual e na agenda política do mundo contemporâneo.
Para uma melhor visão de como foi sendo construída a expressão desenvolvimento
sustentável, registramos um breve histórico que ao nosso ver é importante para a compreensão do
processo.
O ano de 1945 constitui referência para o marco das questões ambientais, em função da
reflexão que a humanidade fazia por ocasião do término da 2ª guerra mundial, particularmente
sobre a desgraça que se abateu em Hiroshima e Nagasaki, quando expôs os perigos oriundos da
ciência e tecnologia. Neste período, surge a ONU - Organização das Nações Unidas, e com ela as
grandes declarações universais a respeito dos direitos humanos.
Outro fato de destaque foi o documento produzido em 1971 por um grupo de especialistas
sobre as condições ambientais na reunião de Founex na Suíça a pedido de empresários.
Conhecido como o relatório do Clube de Roma, enfocava os limites do crescimento, considerando
o alto índice populacional e ainda a recém-adquirida percepção da finitude do planeta, dada
principalmente pela conquista espacial. Este trabalho possibilitou a realização da Conferência de
Estocolmo, realizada pela ONU, inaugurando, portanto a idéia da sustentabilidade planetária que
mais tarde tomaria forma na expressão desenvolvimento sustentável.
As repercussões em âmbito global provocaram o surgimento do movimento ambientalista em
geral, principalmente o não governamental, voltado para a questão humana e ambiental. Em 1983,
a ONU cria a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento; sua primeira missão,
sob a presidência da 1ª ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, que preparou uma agenda
global de mudança, materializada sob a forma do famoso Relatório Brundtland ou Nosso Futuro
Comum, responsável pelas primeiras conceituações oficiais sobre desenvolvimento sustentável
que refere-se ao "atendimento das necessidades do presente, sem comprometer a do futuro,
articulando crescimento com conservação.
Portanto, a contradição Meio Ambiente x desenvolvimento, na visão deste relatório está
superada. A questão agora é como tornar o desenvolvimento sustentável exequível.
Elemento importante para a formulação e a evolução do conceito de desenvolvimento
sustentável foi e permanece as críticas feitas ao pensamento econômico e desenvolvimentista
convencional dominante que se contrapõe às novas idéias sobre um modelo de economia em
estado de equilíbrio, conforme afirma Almeida,(1994) "com respeito às limitações biofísicas do
ambiente, mas com crescimento moral da humanidade".
Considerando o avanço referente ao conflito crescimento econômico x preservação, o
significado de desenvolvimento sustentável para alguns autores e estudiosos do assunto, não é
muito tranqüilo; ao nosso ver, ainda há um percurso muito grande há ser trilhado haja vista o
debate estabelecido. A esse respeito, registramos o que assinala Costa, (1994) que sobre o
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desenvolvimento sustentável diz continuar "vago, pleonástico e ambíguo". Para o autor "resume-se
a rótulo, um ponto de vista que não possui suporte científico e nem conteúdo prático concreto".
Outros autores citados por Costa (1994), como Layrargues (1996), Calazans (1993) e Bruger
(1994) analisam o Brasil na condição de subordinado e, que justamente por isso acaba se
submetendo a "falácia do desenvolvimento sustentável pregado nos discursos ecológicos
contemporâneos". Estes autores entendem que o auto-sustento a que se referem os países ricos
principalmente significa mais o "sustento das próprias agências financeiras internacionais" do que o
desenvolvimento pensado para o conjunto do planeta. Adianta ainda, que modelos deste formato
contribuem para piorar a condição de países como o Brasil, que ficam mais "dependentes e
devedores".
Portanto, na visão capitalista, dificilmente a barbárie do mercado vai regular, com justiça, o
equilíbrio econômico, já que estes pensadores consideram a racionalidade ecológica para o
desenvolvimento sustentável como "pura retórica".
Entretanto como sugere o Informe da Comissão Amazônica de Desenvolvimento e Meio
Ambiente a respeito do termo desenvolvimento sustentável que "embora não se disponha de todos
os elementos de juízo para aplicá-lo, a melhor forma de promovê-lo é aprender andando (...) a falta
de conhecimentos não deve justificar a inação. A Amazônia aprenderá
caminhando"(BID/PNUD,1994).
Os Ribeirinhos e a sustentabilidade.
É ver as crianças e os adultos subirem nas palmeiras de açaí e descerem com um enorme
cacho de frutos negros e ver a palmeira intacta e o caboclo olhar para cima e dizer que na próxima
semana virá buscar o outro cacho. SILVA (1994).
A idéia da sustentabilidade na concepção e prática dos ribeirinhos pode ser compreendida se
percebermos o tempo em que estes vêm se relacionando com a natureza e a forma como
desenvolvem esta relação.
Por exemplo, o olhar neste sentido, deve ser do ponto de vista do olhar do ribeirinho,
procurando entender seu mundo a partir das suas criações de mitos e significados.
Sem compreender qual é a lógica que opera no seu meio, corremos o risco de produzir
interpretações estereotipadas, semelhantes àquelas presentes nos relatos fantásticos dos cronistas
viajantes e também na literatura brasileira.
Nesta perspectiva, o homem amazônico é apresentado de uma forma extremamente
preconceituosa – como um sujeito acomodado, preguiçoso, o inconstante, despreocupado,
desambicioso, desleixado, etc, características ocasionadas, no dizer de Loureiro (1995) pelo
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determinismo climático e pelas teorias raciais; portanto nesta visão discriminada são considerados
incapazes de assimilar os padrões da modernidade.
Este aspecto cultural, diria olhar cultural, é determinante na medida em que impõe uma
imagem imobilizadora, extremamente distanciada da lógica do desenvolvimento urbano,
caracterizado pela rapidez da informação, do on line, enfim da idéia do veloz, representações
completamente antagônicas ao tempo amazônico protagonizado pelo ribeirinho, que é um outro
tempo, um tempo considerado lento pela ótica da modernidade.
Vale acrescentar que corrobora para esta mentalidade também, o fato de que predomina
entre os ribeirinhos, a economia extrativista - atividade vista como marginal já que não possibilita
uma boa rentabilidade econômica. Loureiro (1995:30).
Outro aspecto que precisa ser incluído nesta reflexão é a educação, já que não dá pra se
refletir perspectivas de desenvolvimento sem incluí-la, considerado fator de impulso para o avanço
dos povos. E aí, o quadro que se apresenta neste contexto, no âmbito do povo ribeirinho, é de uma
precariedade sem tamanho.
Estivemos numa destas localidades – o distrito de Nazaré – por ocasião de uma das
atividades desenvolvidas pela equipe do Projeto Beradão, coordenado pelo Prof. Josué, no início
de novembro de 2000. Através das conversas com as pessoas do local, em relação a educação,
anotamos os seguintes pontos, que julgamos oportuno refletir neste texto, com enfoque a partir da
visão dos moradores a respeito de um ente social; a escola: O que nos foi relatado/denunciado
refere-se ao descaso do sistema municipal de educação, responsável pela universalização do
ensino fundamental, que acaba por favorecer as desigualdades sociais, uma vez que:
a) Não tem garantido os preceitos constitucionais assegurados quanto ao acesso e
permanência do aluno na escola. Fomos informadas de que apenas a classe da 1ª série do ensino
fundamental estava funcionando; isso graças ao compromisso profissional do professor, morador
há bastante tempo naquela localidade; Nas demais turmas, 2ª, 3ª e 4ª séries, os professores
estavam ausentes, as crianças, portanto sem aulas. O que fere violentamente a educação
enquanto direito público e subjetivo. Inclusive, foi nos colocado que um dos professores tinha se
deslocado até a cidade de Porto Velho para votar e ainda não havia retornado. Vale relembrar que
estávamos no início de novembro...
b) Restrição do sistema educacional: nível máximo de escolaridade oferecida – Ensino
Fundamental (1ª a 4ª séries) No Distrito de Nazaré, existe apenas uma escola que se limita a
oferecer o ensino fundamental – séries iniciais – 1ª a 4ª, quando as crianças concluem este nível
de ensino ou migram para a cidade - quando a família tem algum parente ou conhecido para
mantê-los - ou o que acontece por um certo tempo, as crianças e adolescentes não freqüentam a
escola, são alijadas do direito de estudar. Isso posteriormente vai acarretar uma série de
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consequências relacionadas ao baixo nível de escolaridade do conjunto da população, como uma
perda significativa para toda a coletividade.
c)Formação inicial docente deficitária. Conforme as anotações registradas, mediante as falas
dos moradores de Nazaré, a formação inicial dos docentes é de nível médio. Isso significa que há
um despreparo muito grande para uma tarefa complexa como essa, que exige tão grande demanda
por parte da sociedade. As atuais pesquisas sobre formação docente tem revelado que o fato dos
professores lidarem com o conhecimento e ainda pela dinâmica que este apresenta – de ser
reconstruído e recontextualizado permanentemente, há uma necessidade de que esta formação
não se limite apenas a inicial, mas que seja prolongada numa perspectiva continuada; é o que vem
propondo o Ministério da Educação – MEC, através dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
em Ação. De acordo com os relatos dos (as) moradores, esta importante estratégia governamental
junto a educação docente não acontece. Ora, a formação continuada representa a possibilidade
do(a) professor(a) continuar estudando e desta forma assegurar a aprendizagem do que precisa
saber para melhor ensinar seus alunos, inclusive conteúdos vinculados às práticas sociais que não
foram garantidos no seu processo inicial de formação, em função de não se constituírem como
demandas até então.
d)Calendário de aulas inadequado e desrespeitado – A ausência dos professores, o
distanciamento da sala de aula, além de desmotivar os alunos, demonstra a falta de controle do
poder público e o desrespeito para com estas populações uma vez que os dias letivos não estão
sendo cumpridos e o estudo não está sendo efetivado. Eles acrescentaram ainda que não há onde
reclamar, pois não tem feição nenhuma do poder público para assisti-los ou ouvir suas
reivindicações. Estão sozinhos(as)...
Portanto, estes são alguns dos aspectos do quadro educacional, que se apresenta no âmbito
das populações ribeirinhas. Quadro marcado pelo fracasso escolar que se manifesta através da
evasão, da repetência e, ainda do pseudo-sucesso escolar – aquela situação onde a criança é
aprovada sem ter construído as competências mínimas e necessárias que lhe permitam avançar
para outros níveis graduais de conhecimento.
Atitude tão criminosa quanto a reprovação e a evasão, esta última decodificada por Paulo
Freire como expulsão – já que diz respeito a um conceito ideológico, a ação anual da escola de
expelir para fora do seu sistema milhares de crianças, que posteriormente serão os candidatos ao
desemprego, a miséria, e a exclusão social, porque níveis baixos de escolaridade acarretam
obstáculos ao desenvolvimento social e econômico;
Há que se considerar também que para compreender a lógica do modo de vida e
consequentemente da produção dos ribeirinhos, é necessário construir percepções amplas, como
por exemplo, o entendimento do simbólico, que não é pensamento apenas dos poetas, loucos ou
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desequilibrados, ela é do ser humano, vem antes da linguagem e da razão discursiva ELIADE
(1988).
Nesta linha, há que se ressaltar o interessante trabalho de SILVA, (1984) Cuniã Mito e Lugar,
que parte justamente dos aspectos relativos ao imaginário e as representações manifestadas
principalmente nas histórias e relatos que explicam uma das lógicas que sustenta o modo de vida
ribeirinho – a natureza é reconstruída a partir das criações e dos novos significados, ou seja, é com
base nos mitos que eles agem sobre o meio - uma relação de simbiose.
Vale ressaltar que o trabalho mencionado acima trata do processo pelo qual passou a
comunidade de Cuniã sob a ameaça de órgãos oficiais que pretendiam implantar uma estação
ecológica sob o argumento da preservação ambiental. Para se defenderem, utilizam as narrativas
míticas com vistas a provar que já estavam há bastante tempo no local, isto é, eram descendentes
dos povos indígenas que lá habitavam anteriormente, além de reafirmarem a sua forma de se
relacionar e preservar o meio ambiente.
É interessante que a idéia que motiva o poder público para a decisão de retirar as pessoas de
Cuniã, pode ser explicada a partir das contribuições de Diegues (1996) sobre o mito moderno da
natureza intocada, isto é, uma decisão influenciada pelas correntes ambientalistas, identificadas
como preservacionistas puros, que entendiam que havia uma necessidade preemente de proteger
a natureza do próprio homem, além de privilegiar um modelo que levava em conta o interesse e
gosto estético das populações urbanas; que precisavam apreciar paisagens consideradas belas, ao
passo que mangues, capoeiras, e outras áreas não se incluíam nestes catálogos de beleza.
Nas concepções atuais, não prevalece mais esta idéia dicotômica de separação entre o
humano e a natureza e sim uma nova modalidade de conservação que defende tanto as áreas
como a permanência do direito das populações que habitam nestes territórios.
Entendemos que propostas de desenvolvimento em benefício dos ribeirinhos serão
construídas pelos próprios ribeirinhos, considerando o contexto local, e suas possibilidades. Sem
pretender correr o risco de dar receitas, ensaiamos alguns caminhos que talvez possam
contemplar os interesses desta população, a saber:
- o aproveitamento de áreas desmatadas;
- alternativas de renda (criação semiconfinada de pequenos animais como galinhas e porcos);
- processamento de frutas para produção de polpas;
- produção de alimentos – hortas comunitárias;
- parcerias/convênios com órgãos como a Embrapa – melhoramento da fabricação da farinha
de mandioca;
- instalação de casas de farinha; e beneficiadoras de arroz;
- crédito rural; produção de artesanato;
- metodologia de produção e secagem de plantas medicinais;
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- levantamento de plantas medicinais, cipós com potencial comercial;
- a organização em associações ou coletivos.
Ao refletir a atual condição das populações ribeirinhas, não podemos deixar de nos reportar a
Caio Prado Júnior, de lembrar que o nosso comportamento talvez, ainda nos dê pistas dos
resquícios coloniais que herdamos: “o regime político e administrativo que a metrópole impunha a
sua colônia, mesquinho, interessado apenas nos resultados, sem investimentos nas forças
produtivas bem como o sistema rudimentar de educação e instrução”; Ainda sobre estas questões,
assinala Prado (1998):
“Se não era simples educar os colonos e a população em geral para que pudesse aperfeiçoar os seus processos e melhorar sua técnica muito mais custoso será modificar um sistema, o que exigiria reformas profunda, econômicas e quiçá sociais”.
Talvez a imagem que paira, ao refletirmos a condição do ribeirinho, seja a de que ainda
trazemos nas memórias dos nossos corpos, a relação doentia de dependência entre o Brasil e o
Reino de Portugal na clássica posição vítima/tirano ou como no dizer de Paulo Freire, quando o
oprimido hospeda o seu opressor ao apropriar-se da sua fala do seu discurso e até as práticas;
quando assumimos a posição clássica de esperar, quem sabe que alguém nos descubra de novo,
e nos diga o que fazer...
Pensar modelos de desenvolvimento para as populações ribeirinhas significa antes de tudo
contemplá-los em todas as ações e, fundamentalmente ouvi-los para que não sejam reduzidos a
“meros objetos da ação libertadora que, assim, é realizada mais sobre e para eles do que com
eles, como deve ser”, como nos aponta a perspectiva de Paulo Freire, (1988, p. 54).
Bibliografia:
ALMEIDA, J. M. Desenvolvimento ecologicamente auto-sustentável: conceitos, princípios e implicações. In: Humanidades, v. 10, n. 14,284-299, 1995.
COSTA, Maria Cristina. Introdução a ciência da sociedade. São Paulo, Moderna, 1994.
DIEGUES, Antonio Carlos. O Mito da Natureza Intocada. São Paulo, Hucitec, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.
GONDIM, Neide. A Invenção da Amazônia. São Paulo. Marco Zero, 1994.
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica: uma poética do Imaginário. Belém/PA, CEJUP, 1997.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Cientifico. São Paulo, Cortez, 2000.
SILVA, Josué da Costa. Cuniã Mito e Lugar. Dissertação de Mestrado. Mimeog., FFLCH/USP, São Paulo, 1994.
SILVA, Maria das Graças S. N. O Espaço Ribeirinho. São Paulo, Terceira margem, 2000.