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Em plena região semi-árida piauiense existe uma comunidade que se orgulha em preservar as sementes nativas, ou sementes crioulas como também podem ser chamadas as sementes que são retiradas e estocadas pelas próprias famílias preservando suas características naturais e adaptadas a cada região. A comunidade Santo Antônio dos Violas fica localizada a 19 quilômetros da cidade de São Miguel do Tapuio. Essa história começa na comunidade Angelca que fica distante cerca de 12 quilômetros do Santo Antonio dos Violas. Nela morava o seu Francisco Alves dos Reis, mais conhecido como Chico Viola. Seu Chico conhecia desde pequeno a dona Luisa Nogueira de Macedo que morava na comunidade Canabrava. Então, já crescidos, os dois decidiram casar e formar uma família, mas como “quem casa quer casa”, não podiam ficar morando com os pais. Foi quando o pai do seu Chico deu uma força para que eles saíssem dali, e, em 1973, ele comprou uma terra de 532 hectares e deu início à comunidade Santo Antonio dos Violas e a uma imensa família. Atualmente a comunidade é formada por onze famílias sendo todos parentes de seu Chico e de dona Luisa. No início, um dos maiores desafios enfrentado pelo casal foi a falta de água para o consumo e para os animais. Tinham que buscar água com jumento e cavalo a uma distância de seis a oito quilômetros, no açude Uberlândia, e quando chegava, ainda dividiam com as abelhas que vinham do mato, pois elas invadiam por ser uma região muito seca. Essa situação de escassez de água foi amenizada com a perfuração de um poço tubular para a comunidade e melhorou com a chegada do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) através da construção de cisternas para beber e cozinhar. E agora irá melhorar ainda mais com a chegada do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da ASA Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA Brasil) com a construção de cisternas destinadas à produção de alimentos. Na comunidade, as famílias sobrevivem da agricultura familiar através do cultivo de culturas anuais como milho, abóbora, feijão, melancia, mandioca, gergelim, fava, amendoim, e três variedades de mandiocas: naja, roxinha e Piauí Ano 1 | nº 06 | outubro | 2008 São Miguel do Tapuio - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Preservar para não acabar Apesar da seca, sementes brotam vida e esperanças de melhores dias na região semi-árida 1 Família Viola e a preservação das sementes crioulas Criação de caprinos no fortalecimento da renda familiar Projeto Piloto

Preservar para não acabar

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Page 1: Preservar para não acabar

Em plena região semi-árida piauiense existe uma comunidade que se orgulha em preservar as sementes nativas, ou sementes crioulas como também podem ser chamadas as sementes que são retiradas e estocadas pelas próprias famílias preservando suas características naturais e adaptadas a cada região. A comunidade Santo Antônio dos Violas fica localizada a 19 quilômetros da cidade de São Miguel do Tapuio.

Essa história começa na comunidade Angelca que fica distante cerca de 12 quilômetros do Santo Antonio dos Violas. Nela morava o seu Francisco Alves dos Reis, mais conhecido como Chico Viola. Seu Chico conhecia desde pequeno a dona Luisa Nogueira de Macedo que morava na comunidade Canabrava. Então, já crescidos, os dois decidiram casar e formar uma família, mas como “quem casa quer casa”, não podiam ficar morando com os pais. Foi quando o pai do seu Chico deu uma força para que eles saíssem dali, e, em 1973, ele comprou uma terra de 532 hectares e deu início à comunidade Santo Antonio dos Violas e a uma imensa família. Atualmente a comunidade é formada por onze famílias sendo todos parentes de seu Chico e de dona Luisa.

No início, um dos maiores desafios enfrentado pelo casal foi a falta de água para o consumo e para os animais. Tinham que buscar água com jumento e cavalo a uma distância de seis a oito quilômetros, no açude Uberlândia, e quando chegava, ainda dividiam com as abelhas que vinham do mato, pois elas

invadiam por ser uma região muito seca.

Essa situação de escassez de água foi amenizada com a perfuração de um poço tubular para a comunidade e melhorou com a chegada do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) através da construção de cisternas para beber e cozinhar. E agora irá melhorar ainda mais com a chegada do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da ASA Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA Brasil) com a construção de cisternas destinadas à produção de alimentos.

Na comunidade, as famílias sobrevivem da agricultura familiar através do cultivo de culturas anuais como milho, abóbora, feijão, melancia, mandioca, gergelim, fava, amendoim, e três variedades de mandiocas: naja, roxinha e

Piauí

Ano 1 | nº 06 | outubro | 2008São Miguel do Tapuio - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Preservar para não acabarApesar da seca, sementes brotam vida e esperanças

de melhores dias na região semi-árida

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Família Viola e a preservação das sementes crioulas

Criação de caprinos no fortalecimento da renda familiar

Projeto Piloto

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casteliana; além do plantio do caju e também da criação de animais como bodes, gado, ovelhas, galinhas, perus e capotes.

Dessas atividades a que mais chama atenção é o cuidado com a preservação das sementes crioulas que já existe na região a mais de 50 anos. Por causa dos cuidados dos moradores as sementes vêm mantendo suas características genéticas devido ao longo processo de seleção herdado de seus antepassados. Atualmente as famílias cultivam dois tipos de feijão e espécie diferentes: o feijão ligeiro e o tardão. É considerado como feijão ligeiro aqueles plantados no início do inverno como: Quarentinha ou CR, Santo Inácio, Aparecido e Verdinho; o feijão tardão são aqueles plantados com a continuidade do inverno como: Quebra-cadeira, Verdão, Cojó e Barrigudinho, além da fava branca e a corujinha. Completando essas diversidades de sementes, existem ainda quatro variedades de milho: milho branco, dente de cavalo, milho ligeiro, milho massa. A semente selecionada para o armazenamento é colhida antes de pegar muita chuva e muito sol, pois assim mantém as características normais sem alteração da cor natural. Cada tipo de semente é plantado em pedaços separados pra não misturar. Após a colheita as sementes são armazenadas em vasilhames de plástico com capacidade de 2, 20, 50 e 200 litros. Antigamente esse armazenamento era feito em cabaças que eram retiradas da própria comunidade.

E esse trabalho não fica restrito aos homens. Todo o trabalho é desenvolvido em conjunto com as mulheres que além da luta de casa, entre o período do plantio e da colheita elas ajudam os maridos na roça. Além disso, elas se dedicam também ao artesanato como costura, bordado e pintura em tecido.

As onze famílias que residem na comunidade são: Francisco Alves dos Reis (Chico Viola) e Luisa Nogueira de Macedo; Izael Alves dos Reis e Francisca Alves Lima; Maria Alves Mota e Seu Valter; João Nogueira Alves e Antonia Maria Ferreira da Silva (Totonha); Ancanjo Soares dos Reis e Maria Alves dos

Reis (Mariá); Rufino Nogueira Alves e Lucimar Jonas da Silva Nogueira (Lucia); Mateus Nogueira Alves e Maria das Candeias da Silva; Carlos Ferreira Calisto (Carlinhos) e Maria do Socorro Alves; Antonio Alves dos Reis e Maria Gorete Nogueira Alves; e Williames Nogueira Alves.

Pessoas que, apesar das dificuldades que vivem, mantém as tradições e preservam a sua sabedoria popular. E as perspectivas da comunidade são as melhores, pois além de continuar mantendo a tradição do armazenamento de sementes para garantir a safra do ano seguinte, eles trabalham dia após dia para ter uma casa boa, ter muita fartura na mesa e continuar preservando a natureza que tudo lhes dá.

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Seleção que promove a continuidade da espécie

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O PROJETO PILOTO DO P1+2 ESTÁ SENDO DESENVOLVIDO COM OS SEGUINTES APOIOS:

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

e Nutricional

CENTRO REGIONAL DE ASSESSORIA E CAPACITAÇÃO

O banco de sementes fortalece a segurança alimentar e a soberania das famílias