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20 ANOS DA EXPO 98, 0 ACONTECIMENTO QUE MUDOU LISBOA PARA SEMPRE O país viveu uma época de euforia com a Expo 98. Leia o dossiê que conta tudo o que mudou e as memórias de quem a viveu por dentro //PAGS. 12-22

Press Review page - ulisboa.pt · do-para celebrar os 500 anos dos Des-cobrimentos portugueses. Ainda assim, o evento recebeu menos quatro milhões ... cujo tema foi "Os oceanos,

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20 ANOS DAEXPO 98, 0ACONTECIMENTO

QUE MUDOULISBOA PARASEMPRE

O país viveuuma épocade euforia coma Expo 98.Leia o dossiê

que conta tudoo que mudoue as memóriasde quem a viveupor dentro//PAGS. 12-22

Expo9B

Na zona orientalda cidade, a antiga Docados Olivais tinha dado

origem a uma "novacidade" dentro da cidade

As obras quecomeçaram do zeronuma zona degradadatransformaram -nanum caso de estudointernacional

Nos anos antes da Expo,o espaço era ocupadopor depósitosde contentores,refinarias, matadourose terrenos abandonados

Expo 98. Um eventoque mudou para sempre

o rosto de Lisboa

A 22 de maio de 1998,Portugal conheceu aquela

que viria a ser uma daszonas mais modernas e

nobres da capital. Nessaaltura, o país estava bem

longe dos grandesacontecimentos europeus,

como o Euro 2004 ou, maisrecentemente, a Eurovisão.

Lisboa mudou para sempre

SÔNIA PERES PINTO

sonia.pinw(d!,ionline.pt

Lisboa tem um antes e um depois da

Expo 98. A Exposição Internacional - umdos maiores eventos que o país já rece-beu - mudou para sempre o rosto da

capital. A zona oriental, onde até essaaltura havia depósitos de contentores,refinarias de petróleo, armazéns, lixei-ras a céu aberto e matadouros, deu lugara uma das zonas mais nobres e privile-giadas - uma verdadeira revolução e a

maior intervenção feita na capital des-

de o terramoto de 1755. A torre da refi-naria da Petrogal, única estrutura con-

servada, ficou como lembrança do espa-

ço antes da intervenção. A verdade é quehouve um grande cuidado para que qua-se todos os equipamentos do recinto tives-

sem utilização posterior, evitando assimo seu abandono e degradação, como acon-

teceu em exposições anteriores, nomea-damente em Sevilha, em 1992.

O evento abriu portas faz amanhã 20

anos sob o mote "Os oceanos: um patri-mónio para o futuro I

'. Até 30 de setem-bro desse ano passaram pelo recinto cer-

ca de 10 milhões de visitantes - entreeles Bill Gates ou Ringo Starr, reis e rai-nhas e as mais variadas figuras de Esta-

do - para celebrar os 500 anos dos Des-

cobrimentos portugueses. Ainda assim,

o evento recebeu menos quatro milhõesdo que era esperado.

A ideia, aparentemente megalómana,surgiu quase dez anos antes da cabeçade António Mega Ferreira e Vasco Gra-

ça Moura. Só no último dia, a Expo 98recebeu mais de 200 mil pessoas - umaverdadeira enchente que levou a queexistissem falhas de comunicações, ao

ponto de ninguém conseguir falar com

ninguém por telemóvel.E as entradas? Havia soluções para

todos os gostos. Um bilhete para um diacustava 25 euros (cinco mil escudos);

para três dias, pouco mais de 62 euros

(12 500 escudos); e um passe livre comacesso ilimitado à exposição durante três

meses, 250 euros (50 mil escudos), ou

seja, quase o equivalente ao salário míni-mo nacional pago nessa altura e que ron-dava os 300 euros. Para quem só queriaaproveitar a noite bastaria desembolsar12,50 euros (2500 escudos).

A exposição fechou portas já ao nascerdo dia 1 de outubro e, durante 15 dias, orecinto esteve fechado ao público. Rea-briu já como Parque das Nações, rece-bendo nesse primeiro fim de semanamais de 100 mil visitantes.

Zoom // Expo 98

Muitas zonas foram sendo gradualmen-te vendidas para habitação e escritórios

e, no fim do processo de venda de terre-

nos, as receitas tinham superado o cus-

to da exposição em oito vezes.

verdadeira REVOLUÇÃO A opinião é unâ-

nime junto dos mais variados especia-listas: a zona oriental de Lisboa é hoje o

bairro mais moderno da cidade, concen-

trando áreas comerciais, culturais e de

lazer com uma vista privilegiada para o

rio Tejo. Esta zona acabou por atrairuma série de instituições e grandes empre-sas, nomeadamente multinacionais, como

a Vodafone, Microsoft, Sonaecom SGPS

e Sony, entre outras.Também o mercado habitacional atraiu

muitos portugueses e estrangeiros. Cer-ca de 28 mil pessoas habitam nas áreasresidenciais norte e sul, integrando a fre-

guesia do Parque das Nações - criada no

âmbito de uma reorganização adminis-trativa que entrou em vigor após as elei-

ções autárquicas de 2013. Os preços sem-

pre acompanharam este sucesso e, coma explosão do mercado imobiliário, con-tinuam a sofrer um agravamento de pre-ços. Atualmente, a freguesia do Parquedas Nações -juntamente com a da Mise-ricórdia - é uma das mais caras de Lis-boa em matéria de arrendamento, como preço por metro quadrado a fixar-se

nos 11,6 euros, de acordo com os últimos

dados do Instituto Nacional de Estatís-tica (INE). Feitas as contas, arrendar umimóvel com 80 metros quadrados no Par-

que das Nações custa cerca de 940 euros.

Para quem pretende comprar, os valo-

res são ainda mais significativos. Nesta

freguesia, os preços por metro quadra-do fixam-se em 3253 euros.

HISTÓRIAS DE SUCESSO E TAMBÉM DE

FRACASSO Como consequência da expo-

sição, Lisboa ganhou uma nova ponte

As imagens de bebés a

nadar e de várias pessoassubmersas e vestidas

com os trajes nacionaisencantaram Poraigal

A Expo é a zona maismoderna da cidade,concentrando áreas

comerciais, culturais e delazer com vista para o Tejo

sobre o Tejo, mais estações de metro e

uma nova interface de transportes, aGare do Oriente. Também o teleférico,uma das várias inovações mais emble-máticas que atraíram milhões de por-tugueses e estrangeiros, continua a cati-

var a atenção dos visitantes que pas-sam por aquela zona.

Nos 131 dias que durou a Expo 98, o

teleférico transportou três milhões de

pessoas, o que deu uma média de 1600

por dia. Fazer uma viagem a 30 metrosde altura custava, a data, 500 escudos

para adulto e 250 escudos para crian-ça. Hoje, os bilhetes variam entre os 2

euros e os 3,95 euros.A esta atração juntam-se ainda os edi-

fícios do Oceanário, Teatro Camões,Pavilhão do Conhecimento - CiênciaViva (que era o do Conhecimento dos

Mares), Pavilhão Atlântico (tambémdesignado Pavilhão da Utopia e recen-temente rebatizado Meo Arena) e Casi-

no de Lisboa (antigo Pavilhão do Futu-

ro) (ver páginas seguintes).Mas nem tudo foi um caso de suces-

so. A marina é um dos exemplos con-trários e atualmente tem mais proble-mas do que barcos - isto porque, segun-do especialistas, a obra foi concebidac executada de forma deficiente. A sua

localização, num trecho da margemdo rio Tejo conhecido pela elevada taxade envasamento com lodos, leva a que

haja assoreamentos constantes até aos

dias de hoje.Também a Parque Expo - empresa

criada em 1993 para construir, explorare desmantelar a Expo 98, tendo depoisalargado as suas competências à esca-la nacional e internacional - foi extintano final de dezembro de 2016, cinco anos

depois ter anunciado a sua liquidaçãolace às dívidas avultadas que tinha.A decisão foi tomada durante o gover-no de Passos Coelho, ao apresentar dívi-das de quase 225 milhões de euros.

Ao longo dos anos, a empresa de capi-tais públicos foi aumentando compe-tências à escala nacional, tendo sido

responsável, por exemplo, pela gestãode projetos do Programa Polis em diver-sas cidades c participado em 27 proje-tos de reabilitação de centros históri-

cos, como Mafra, Vila Nova de Gaia,Viseu, Évora, Marvão e na Baixa pom-balina, em Lisboa, e na recuperação ou

construção de equipamentos públicos,como a Casa das Artes, no Porto, ou a

fortaleza de Sagres.Fora de Portugal, também geriu a par-

ticipação portuguesa em exposições inter-

nacionais após a Expo 98, como na expo-sição de Saragoça ou na de Xangai, e par-ticipou em projetos internacionais emAngola, Argélia, Brasil, Cabo Verde, Egi-to, Espanha, Marrocos, Moçambique,São Tomé e Príncipe e Tunísia.

BEATRIZ MARTINHO (Texto)

BRUNO GONÇALVES (Fotografia)

beatriz. marlinho(ci/online.pt

bruno.gov.cahes(íi>ionline.pí

Com mais de oito mil organismos, entreanimais c plantas, de mais de SOO espé-cies diferentes, o Oceanário de Lisboa per-mite-nos fazer uma viagem ao mundo

subaquático. Aquilo que os olhos vêemjunta-se o que os ouvidos captam. A visi-

ta aos vários aquários é sempre acom-panhada por sons que nos remetem paraos diferentes habitats que vamos conhe-cendo. Foi neste ambiente que o / Talou

com João Falcato, CEO do Oceanário de

Lisboa, sobre a celebração dos 20 anosde existência do aquário.

Inaugurado em 1998 com a Expo -cujo tema foi "Os oceanos, um patri-mónio para o futuro" -, o Oceanárioeternizou a ligação de Lisboa com o

oceano e tornou-se um dos espaços cul-turais mais emblemáticos da cidade."Além do objetivo de trazer o mar de

volta a Portugal, a ideia era tambémreformular toda uma área da cidade.Esses dois objetivos, em conjunto, pas-savam muito pelo equipamento do ocea-

nário", conta João Falcato.De acordo com o biólogo marinho - que

acompanhou o projeto do oceanário des-

de o início -, quando se pensou em revi-talizar a área do agora chamado Parquedas Nações concluiu-se que era neces-sário construir um equipamento quefizesse o pós-Expo funcionar, continuan-do a trazer visitantes todos os dias.

O Oceanário nasceu também com esse

propósito e, para João Falcato, o objeti-vo foi cumprido. "Foi um grande suces-so. Fechámos durante 15 dias (depois de

a Expo terminar), voltámos a abrir c tive-

mos logo mais de um milhão de visitan-tes no primeiro ano. Isso fez com quetoda esta área nunca morresse e tornoua Expo em Portugal, do que eu sei, o

maior sucesso histórico. Não há nenhu-ma Expo que tenha tido tanto sucesso

no pós-Expo. A estratégia de criar umequipamento que trouxesse a esta zonada cidade muita gente c revitalizasse avida aqui funcionou", explica.

João Falcato conta que o início foi umgrande desafio e teve as dificuldades ine-rentes à construção de um projeto des-

ta dimensão. "Os desafios passaram, porexemplo, pelo transporte dos animais,como um tubarão que está cá desde 1998

c já era grande. Agora está só um boca-dinho maior. Pensámos: 'Como é que eu

o trago do outro lado do mundo?' Era

preciso ter em conta toda a tecnologia e

todas as ferramentas necessárias paraque o transporte corresse bem, para queos animais estivessem bem e para que oseu bem-estar estivesse garantido", des-

creve o CEO.

Seis meses antes da abertura foram pos-tos os primeiros peixes no aquário do

Oceanário de Lisboa, algo que João Fal-cato afirma que não aconteceu nos outros

projetos deste tipo espalhados pelo mun-do. O CEO refere que foi tudo muito bem

planeado na criação do Oceanário de Lis-

boa e que o bom funcionamento se man-

Cerca de 60 a 70% dosvisitantes do oceanáriosão airistas e 27% dos

turistas que vêm aLisboa visitam o aquário

Hoje em dia, todosos lucros do oceanário

são aplicados naconservação dos oceanos

e na literacia azul

tem. "Hoje olhamos para estes animaise estão perfeitos. Passados 20 anos, estão

aqui extremamente saudáveis e com com-

portamentos completamente naturais.Toda a planificação para trazer para aquium ecossistema novo e trazer animaisdos quatro oceanos para que o públicoque nos visita possa perceber a beleza

que existe debaixo de água funcionoumuito bem", afirma.

TURISMO O oceanário tem um pape!importante no panorama turístico dacidade de Lisboa. Cerca de 60 a 70% dosvisitantes do oceanário são turistas e 27%dos turistas que vêm à capital visitam ooceanário. Segundo João Falcato, o ocea-nário sempre foi mais visitado por estran-

geiros do que por portugueses.Atualmcnte está prestes a atingir o pata-

mar dos 23 milhões de visitantes e é con-siderado pelo site Trip Advisor o melhor

aquário do mundo. "É um equipamentoque honra a cidade. Sendo considerado

o melhor aquário do mundo, acho quecontribui para um aumento da qualida-de e reconhecimento da oferta turísticada cidade. Contribui também, eventual-mente, para que visitem a nossa cidade

por ser considerado um equipamentoque é muito bom e que se ajusta a todas

as idades e que, para além de nos diver-

tir, envolver e emocionar, nos ensina acontribuir para um mundo melhor ama-nhã", refere o CEO.

CONSERVAÇÃO DOS OCEANOS Depois das

infraestruturas construídas e das várias

01 Cerca de oito mil

organismos, entre animaise plantas, habitam nosdiferentes aquários doOceanário de Lisboa

02 No Oceanário de Lisboaé possível conhecer maisde 500 espécies diferentesde seres vivos

03 João Falcato, CEO doOceanário de Lisboa,acompanhou o processode criação do aquáriodesde o primeiro dia

Zoom // Expo 98

OCEANÁRIODE LISBOA.HÁ 20 ANOSA DARÁCONHECERO FUNDODOSOCEANOS

É uma das atrações maisemblemáticas da Expo 98e continua a deslumbrar os¦visitantes como no primeirodia. O i falou com o CEOdo Oceanário de Lisboasobre os 20 anos deexistência do aquário.João Falcato refere que,agora, a principal missão éa conservação dos oceanos

espécies adquiridas - apesar de conti-nuarem sempre em busca de novos ani-mais que "tenham uma história paracontar" -, a principal missão do oceaná-rio baseia-se agora na literária azul e na

preservação dos oceanos. "Não faria sen-tido um equipamento deste género exis-

tir sem ter essa missão c esse objetivofinal", explica João Falcato.

Para isso usam ferramentas como a

sensibilização do público que visita oOceanário de Lisboa e promovem um

programa educativo ambiental. "Temosde tocar cada vez mais gente e temosde ter cada vez mais visitantes paralhes mostrar como é bonito o mar, comoé importante garantir que esta belezac estes recursos se mantêm para o futu-

ro. Para além disso, temos um progra-ma educativo que julgo ser o maiorprograma educativo do país a nívelambiental. O ano passado chegámos a168 mil crianças e adultos com o nos-

so programa educativo", refere o bió-

logo marinho.Este ano, o oceanário está ainda a desen-

volver um projeto de educação ambien-tal em movimento que promove ativi-dades lúdico-pedagógicas gratuitas "forade portas". O "Vaivém Oceanário" já visi-

tou mais de 200 municípios de todos osdistritos de Portugal continental c regiõesautónomas» com impacte em mais de

240 mil pessoas,Depois, atuam também no terreno.

João Falcato considera que é importan-

te não se focarem apenas no principalproblema - que somos nós, os sereshumanos -, educando e sensibilizando,mas também atuar diretamente nosoceanos. "É fundamental ir para o ocea-no tentar contribuir para que algumasespécies sejam conservadas e continuema existir no nosso planeta quando estãoem risco. É isso que temos vindo a fazer,financiando inúmeros projetos normal-mente desenvolvidos por universidades.São elas que vão para o terreno, finan-ciadas e desafiadas por nós, para desen-volver alguns projetos. No ano passadofinanciámos alguns relacionados comtubarões e raias, mas desde 2007 quefinanciamos muitos projetos de tarta-rugas-marinhas, peixes-lua e tubarões.De certeza que hoje há muitos animaisque estão a nadar nos oceanos porquenós existimos", explica.

Para o futuro, há uma grande ambi-

ção. João Falcato afirma que, desde quea Fundação Oceano Azul adquiriu o ocea-

nário, em 2015, a capacidade de atua-ção nos oceanos é completamente dife-rente do passado. "Atualmcntc, todas as

nossas receitas e todos os nossos lucrossão aplicados 100% na conservação dos

oceanos e na literacía azul, o que nãoera a realidade quando éramos um equi-pamento público. Nessa altura, os nos-

sos resultados eram distribuídos em divi-dendos. Hoje são totalmente aplicadosna conservação, ou seja, estamos a ini-ciar - começámos em 2016 - um novo

percurso com uma capacidade de atua-ção, fora daqui, muito superior", refere.

Números

23milhões de pessoasjá visitaram o Oceanáriode Lisboa desde 1998,ano da abertura

1,3milhões de pessoasvisitaram o Oceanário deLisboa só no ano de 201 7

8mil organismos - entre animaise plantas - de mais de 500

espécies diferentes vivemno Oceanário de Lisboa

550quilos de alimento sãoadministrados por semanaaos organismos que habitamno oceanário

200mil euros foram investidos

pela Fundação Oceano Azul

em dez projetos de

conservação dos oceanosem 2017

168mil crianças e adultos

participaram no programade educação ambiental doOceanário de Lisboa em 201 7

240mil pessoas, de 200municípios de Portugal,já participaram nas atividades

promovidas pelo "VaivémOceanário"

Espaços emblemáticos.Os que sobreviveram 20 anose os que entretanto surgiram

Altice ArenaA maior sala de

espetáculos do país nasceudurante o evento comoPavilhão da Utopia.O edifício, projetado peloarquiteto português ReginoCruz em parceria com um

gabinete internacional, foi

buscar alusões às navesquinhentistas e a um

pequeno caranguejo--ferradura, que existiu no

periodo Jurássico.O espaço foi pensado parater funções multiusos, paraque pudesse ser

comercialmente rentável.Mais tarde deu lugar aoPavilhão Atlântico até tersido comprado, em 2012,pelo consórcio ArenaAtlântico por 21 ,2 milhões,

passando a chamar-seMeo Arena. Recentementevoltou a mudar de nome

para Altice Arena.

Sport

A primeira vez que o PeterCafé Sport saiu dos Açores- altura em que ganhourenome mundial por ser um

ponto de paragem no meio

do Atlântico para os muitos

tripulantes de iates queaportavam no Faial e

depois de ter sido

considerado, em 1986, pelarevista "Newsweek" comoum dos melhores bares domundo - foi quando abriu

portas na Expo 98. Neste

espaço foi montado uma

réplica do Peter Café Sport.Conhecido pelo seu gintónico - ícone absoluto doPeter -, mantém as portasabertas desde essa altura.

Peter Café

PavilhãoPortugal

Desenvolvido por Siza Vieira,o Pavilhão de Portugal -umdos mais emblemáticos da

Expo 98, cuja pala foi

considerada uma das dezmelhores estruturas de betãodo mundo - foi o edifício

responsável por abrigar arepresentação nacional

portuguesa naquele evento.

Mas desde que a Expofechou portas, o pavilhãotem estado ao abandono e

passa a maior parte do

tempo sem uso. As

propostas para a sua

ocupação foram várias,

desde sede da presidênciado conselho de ministros amuseu da arqurtetura, masnenhuma dessas alternativas

avançou. Em 2015 foi

entregue pelo governo àUniversidade de Lisboa paraser usado para eventoscientíficos e exposições.

Garedo Oriente

Projetada pelo arquiteto eengenheiro espanholSantiago Calatrava, a Garedo Oriente ficou concluídaem 1 998 para servir a Expo98, e, posteriormente, o

Parque das Nações.A abertura desta gare foi

acompanhada tambémpela inauguração de novaslinhas de metro: Oriente,Cabo Ruivo, Olivais,Cheias, Bela Vista, Olaias eAlameda (linha vermelha).Tudo pensado com omesmo objetivo: facilitara chegada dos cerca de 10milhões de visitantes aorecinto e contribuir parauma nova centralidadeda capital.

Pavilhão doConhecimento

Da autoria do arq.° Carrilhoda Graça e do eng.° AntónioAdão da Fonseca, o Pavilhãodo Conhecimento mostrava a

relação do homem com osoceanos ao longo dos

tempos. Entre os atrativos à

época contavam-se ummostruário com hologramasminiatura, numerososmodelos de barcos esubmarinos e um modelo emtamanho real de umsubmarino idealizado porLeonardo da Vinci. Com o fim

do evento, o espaço foi

remodelado como Pavilhãodo Conhecimento e abertoao público em julho de 1999,constituindo-se no maiorcentro interativo de ciência e

tecnologia da rede de centrosCiência Viva no país. Recebe,em média, mais de 850visitantes por dia.

Da Expo 98, apenas os pavilhões temáticos sobrevivem para contar a históriada Exposição Internacional de Lisboa. Ainda assim, um deles foi transformadoem casino e o de Portugal viu o seu futuro tremido por muitos anos.Ao mesmo tempo foram surgindo novos espaços que já se transformaramem verdadeiras atrações da cidade, localizados numa zona nobre da capitalque se estende ao longo do rio Tejo, numa faixa de cinco quilómetros

SÔNIA PERES PINTO [email protected]

Torre Vascoda Gama

Com cerca de 1 40 metrosde altura, esta torre foi

construída para o eventocom o objetivo de ter noseu topo um restaurante deluxo com vista panorâmicasobre o rio Tejo. O espaçofoi inicialmenteconcessionado a JoséManuel Trigo, do T Clube, eainda permaneceu abertodurante cerca de três anos

após a exposição. Desdenovembro de 2012, a torrefunciona como hotel deluxo da cadeia SANAHotéis, tendo-seadicionado ao conjuntoinicial um edifício da autoriado arq.° Nuno Leónidas

cuja construção se iniciouem agosto de 2009.

CasinoO Pavilhão do Futuro eraum espaço subordinado aotema "O Futuro dosOceanos". A exposição eramaioritariamente

informativa, integrada numambiente envolvente e

moderno, e o seu maioratrativo era um filme emtrês dimensões projetadode início. A visita terminavacom uma descida ao fundodos oceanos, simbolizada

por uma passadeira emespiral, com ilustrações dodesenvolvimento do

planeta. Com o fim do

evento, o espaço manteve--se encerrado durantevários anos até que houvea decisão de utilizar a

estrutura para o novoCasino de Lisboa,

inaugurado em 2006.

Zero ZeroHá menos de um ano abriu

portas a Zero Zero, aconhecida pizzaria doPríncipe Real, do grupoMultifood. Localizada naAlameda dos Oceanos,promete aos clientes umaverdadeira visita aossabores de Itália, mas comuma vista privilegiada sobreo Tejo. O espaço tem doisfornos de lenha e contacom mesas no interior,onde pode ver toda apreparação das pizzas, ecom esplanada no exterior.A pizzaria dispõe tambémde um bar de proseccocom cocktails de assinatura

que podem ser pedidos emjarro de litro, para partilhar.

Centro Vascoda Gama

Com o fim da Expo 98,menos de um ano depoisfoi inaugurado no Parquedas Nações o CentroComercial Vasco da Gama(abril de 1999), gerido pelaSonae Sierra. O seu nomeé uma homenagem a Vascoda Gama, descobridor docaminho marítimo para aíndia, e o seu interior éinspirado no mar, compeixes e animais marinhosno teto, nos elevadores,nas casas de banho, nas

lojas, e com água aescorrer na cobertura.O espaço conta com 1 70lojas onde se incluem 33restaurantes, seis salas decinema e um health club.

Cantinhodo Avillez

O novo Cantinho doAvillez acaba de ser

inaugurado no Parque dasNações, no ano em que seassinalam os 20 anos daExposição Internacionalde Lisboa. Fiel à filosofiados oceanos e dosDescobrimentos, este 15."restaurante em Lisboa dofamoso chefe portuguêsconta com vista para o rio

Tejo e a ementa éinspirada na cozinhatradicional portuguesacontemporânea, sendoinfluenciada pelas viagensfeitas por Avillez. Oespaço foi decorado pelafamosa artista portuguesaJoana Astolfi.

Zoom // Expo 98

Memórias.Uma visita ao universo de quem

visitou e trabalhou na Expo 98

Isabel RibeiroVISITANTE

Isabel Ribeiro lembra-se de ter 1 9 anose correr todos os pavilhões paraconseguir o máximo de carimbos no

passaporte. "Ainda guardo o

passaporte. É um evento que Portugalnunca mais vai ver. Nas recordaçõesficam também filas intermináveis paraentrar nos pavilhões e a teimosia dequerer uma pintura do Pavilhão deMarrocos. Estive, à vontade, três horasà espera e uma semana cheia decuidados para não perder a pintura."Isabel gostou tanto do que viu no

primeiro dia que depressa arranjoumaneira de repetir a experiência."Inicialmente estava previsto só ir trêsdias, mas aproveitei bilhetes defamiliares e acabei por ir 20 vezes."

Solange MendesASSISTENTE FAVILHAO DA UTOPIA

Solange Mendes trabalhou no AlticeArena quando era Pavilhão da Utopia edescreve o ambiente desses temposcomo sendo o "melhor do mundo"."Tinha 23 anos e foi o meu primeiro

emprego. Adorava o ambiente. Eu eraassistente do pavilhão e ia a muitosconcertos sem pagar. Além disso,

quando estava à noite era uma festa."Também o ordenado era para Solangeum ponto positivo da Expo 98. "Foi o

meu primeiro emprego e ganhava 143contos (cerca de 71 5 euros). Não eraexcelente, mas para uma miúda de 23anos era bom."

Tiago Rodrigues

Tiago Lopes trabalhou um dia na Expo98, mas não esquece a experiência."Trabalhei na parte da comida. Nessedia cheguei a casa já passava das4hoo. Estava sempre tudo cheio degente." As multidões são, aliás, o quemais ficou na memória de quem viveuestes dias. "O último dia foi um caos.Estive duas horas à espera de táxi.Acabei por ter de telefonar aos meus

pais para me irem buscar."

TRABALHOU NA RESTAURAÇÃO

Marta GonçalvesMONrrORA PAVILHÃO DA ÁGUA DA UNICER

Marta Gonçalves trabalhou comomonitora no Pavilhão da Água erecorda que tinha 20 anos quandorecebeu uma bolsa de estágio parafazer parte do projeto. "A Expo 98 foi o

primeiro grande espetáculo portuguêsque os portugueses fizeram acontecerde forma extraordinária. Participar noexceoional foi profundamentegratificante e embebido de umsentimento de orgulho imenso."

Muitos foram os que trabalharam naquele que foi "o primeiro grandeespetáculo português". Desses tempos guardam-se os passaporteseas memórias das multidões. A verdade é que o recinto atraiu, durante1 32 dias, cerca de 1 0 milhões de visitantes

sofia.santos@i(mline.pt

SOFIA MARTINS SANTOS

Sofia CruzASSISTENTE PAVILHÃO DA UTOPIA

Sofia Cruz também guarda "muitassaudades" dos tempos em quetrabalhou como assistente no Pavilhãoda Utopia. "Tinha 26 anos e ainda hojetenho muitas saudades." Com cercade 210 assistentes apenas para aquelepavilhão, os números quer detrabalhadores quer de visitantes

surpreendiam qualquer um. "Tivemosuma formação especial antes do inícioda Expo. Lembro-me que me ficou aideia de que o recinto era maior do quea cidade de Leiria."

André EncarnaçãoVISITANTE

André Encarnação ainda se lembra deter viajado, de propósito, com a mãeda Madeira até Lisboa para podervisitar a EXPO 98. Não foi, aliás, aúnica família que o fez, ainda que as

viagens nesta altura fossem muito mais

caros do que hoje em dia. "Tinha 1 1

anos e foi um espetáculo. A minha mãeveio comigo e nunca me vou esquecer.Aquilo era outro mundo, nãoestávamos em Portugal. Fomos todosos dias porque era o grande evento doano e só se falava disso. Lembro-memuito bem do Gil e ainda o tenho emcasa".

Vítor GuedesVISITANTE

Vítor Guedes, com dez anos, viajou deTavira com o ATL, mas perdeu-se do

grupo. "Perdi-me por causa da loucurados passaportes. Fiquei para trás

porque queria o carimbo da África doSul. Fiquei duas horas com os

seguranças a jogar PlayStation. Jáestava quase a chorar quando fui salvo

por um grupo de espanhóis", relembra.Nunca mais se esqueceu também domomento em que reencontrou o grupoa que pertencia: "Encontrei-os noPavilhão do Conhecimento dosMares." Hoje ri-se do episódio e

reforça que, pelo menos, conseguiu ocarimbo do pavilhão que o fez ficar

para trás.

Daniela FerreiraVISITANTE

Daniela Ferreira tem hoje memórias dodia em que foi com a família até ao

espaço. "Tinha cinco anos", começapor dizer. No entanto, ser tão nova nãoa impede de ter recordações da altura.Muito pelo contrário. O que maisrecorda é o tamanho de tudo o que viu.

"Não tenho grandes memórias porqueera muito pequena, mas lembro-mebem de haver imensos pavilhões elembro-me do momento em que fiqueipetrificada com o tamanho dooceanário. Também me lembro bemque não queria sair de perto do Gil.Queria fotos com ele por ele ser tão

grande."

Mega Ferreira presidiu à comissão de promoção da candidatura de Lisboa a Expo 98 JOÃO BISCAIA

Mega Ferreira.O mentor da Expo 98que no máximo aceitaser "tio" do evento

O homem que há 20 anos pensou a Expo 98 já veioadmitir que esse foi o seu período mais intenso do pontode vista profissional. Mas minimizou o impacto que oevento teve na cidade

SÔNIA FERES PINTO

[email protected]

O mentor da Expo 98 tem um rosto. A ideia

de organizar uma exposição internacio-nal em Portugal veio de António Mega Fer-

reira e Vasco Graça Moura. Os dois esta-

vam à frente da comissão para as come-

morações dos 500 anos dos Descobrimentos

portugueses, liderada por Francisco Faria

Paulino, diretor do Pavilhão de Portugalna Exposição de Sevilha. Para muitos,

Mega Ferreira é considerado o pai do

evento, mas em declarações ao i diz ape-nas que, "quando muito, terá sido tio da

Expo". "Não tenho filhos, só tenho sobri-

nhos. Quando muito serei tio, mas nun-

ca pai da exposição", refere.Mas a verdade é que a sua intervenção

não pode ser dissociada do evento e, porisso mesmo, foi agraciado com a Grã-Cruz

da Ordem Militar de Cristo, poucos dias

depois de o evento ter aberto portas. Numaentrevista ao "DN" no ano passado, admi-tiu que aquela altura foi "claramente o

período mais intenso do ponto de vista

profissional", mas ainda assim, minimi-zou o impacto do evento. "Não me aper-cebo de que a Expo tenha mudado assim

a cidade. Provavelmente porque ambicio-

nava que o impacto da Expo na cidadetivesse sido muito maior", disse, acres-centando ainda que "se algum impacto a

Expo teve na cidade foi sobre os compor-tamentos das pessoas e sobre um conjun-to de referências mentais".

ideia VEIO de UM ALMOÇO Mas o sonho

de realizar uma exposição mundial emLisboa nasceu muito anos antes. Diz-se

que foi em 1989 e à mesa do restauranteMartinho da Arcada. O tema começoupor ser o "Mercado do Oriente" mas, mais

tarde, a equipa de Mega Ferreira concluiu

que o tema dos oceanos era melhor.

Quatro anos depois, em Paris, Mega Fer-

reira, Torres Campos e Jorge Sampaioviam o sonho tornar-se realidade: a Expo-

sição Mundial de 1998 vinha parar a Por-

tugal e não ao Canadá, que até aí tinha

sido considerado o pais favorito (23 votos

a favor contra 18 atribuídos a Toronto).No ano seguinte, o projeto entrou numa

fase rápida de planeamento e desenvolvi-

mento, desde a estratégia de promoçãointernacional as campanhas de sensibili-

zação interna, passando pelas negociações

para a desocupação da área onde iria decor-

rer a exposição. É também nessa altura

que é criada a Parque Expo, responsável

por lançar e executar o empreendimento.A partir daí foram anos de consolidação

e construção. Aos poucos foram saindodo terreno as estruturas obsoletas que ai

se encontravam, foram ganhando forma,com as áreas internacionais norte e sul,

o Pavilhão de Portugal, o Pavilhão do Futu-

ro, o Pavilhão do Conhecimento dos Mares,

a Estação do Oriente. Começou-se a assis-

tir às primeiras campanhas de promoçãointernacional e definição de novo objeti-vo: a participação de 100 países e organi-zações (foram 160), com alargamento dorecinto. Ao mesmo tempo traçaram-se os

grandes sistemas de acesso viário, assim

como os trabalhos da nova linha de metro-

politano, rumo à exposição.

SETE OFÍCIOS Licenciado em Direito, Antó-

nio Mega Ferreira estudou ComunicaçãoSocial na Universidade de Manchester e

iniciou a sua carreira no jornalismo, no"Comércio do Funchal", em 1968, passan-do depois pelo "Jornal Novo", "Expresso",

ANOP, RTP e "Jornal de Letras". Fundou

a "Ler", para a qual Francisco José Vie-

gas entrou em 1987 como chefe de reda-

ção, tendo lançado em conjunto o primei-ro número da revista.

Em 2006, a convite da então ministrada Cultura, Isabel Pires de Lima (PS), assu-

me o cargo de presidente da Fundaçãodo Centro Cultural de Belém, sendo depoisreconduzido no cargo em janeiro de 2009.

Abandonou o CCB cm 2012.

"Ao abrir as suas

portas, a Expo 98torna-se um lugarde encontro de todosos povos, naextraordinária riquezada sua diversidade.É, assim, um símbolodo que queremos sejao próximo século:um tempo de diálogoentre civilizações,continentes, culturase religiões, um tempode cooperaçãointernacional,de solidariedadeentre o Nortee o Sul, entreo Leste e o Oeste"

"Ao eleger os'Oceanos - umpatrimónio para ofuturo', como seutema fundamental,a Expo 98 apelaàs novas geraçõespara que tenham umaconsciência que,muitas vezes,nos faltou"

"Portugalreencontrou, coma Revolução do25deAbrildel974,a democracia e osentido de abertura,modernidadee inovação.Reencontrou-setambém com acaracterística quemelhor define a suahistória e a suacultura: isto é, ouniversalismo, aabertura ao exterior,a comunicação comos outros. Estaexposição realiza-setambém na inspiraçãodesses valores"

Jorge SampaioPRESIDENTE DA REPÚBLICA EM 1998,22DEMAJO.AS1BH18