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Prestaçao Contas Consolidadas Municipio da Trofa- ( A Verdade dos Numeros)

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Prestaçao de Contas Consolidadas do Municipio da Trofa - ano 2011

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1 CAPTULO I 1. INTRODUO 5 2. ENQUADRAMENTO MACROECONMICO 6 2.1- SNTESE ECONMICA DE CONJUNTURA 6 2.2 - CONJUNTURA NACIONAL . 7 2.3 - APRECIAO GLOBAL 9 2.4 - RISCOS MACROECONMICOS E FINANCEIROS. 23 2.5 PROJEES PARA A ECONOMIA PORTUGUESA:2012-2013 44 3. CONTABILIDADE ORAMENTAL 58 3.1- EXECUO ORAMENTAL 59 3.2- DESPESA. 66 3.3- RECEITA 68 3.4- EXECUO DO PLANO PLURIANUAL DE INVESTIMENTOS 71 3.5- EXECUO DO PLANO DAS ACTIVIDADES MAIS RELEVANTES 73 4. CONTABILIDADE PATRIMONIAL 75 4.1- ANLISE DA SITUAO ECONMICA-FINANCEIRA 75 4.1.1- COMPONENTE ECONMICA 75 4.1.1.1- PROVEITOS 76 4.1.1.1.1- PROVEITOS OPERACIONAIS. 76 4.1.1.1.2- PROVEITOS FINANCEIROS 77 4.1.1.1.3- PROVEITOS EXTRAORDINRIOS 77 4.1.1.2- CUSTOS 78 4.1.1.2.1- CUSTOS OPERACIONAIS 78 4.1.1.2.2- CUSTOS FINANCEIROS 79 4.1.1.2.3- CUSTOS EXTRAORDINRIOS 80 4.1.1.3- RESULTADO LQUIDO DO EXERCCIO 81 4.1.2- COMPONENTE FINANCEIRA 82 4.1.2.1- ACTIVO. 82 4.1.2.2- FUNDOS PRPRIOS. 83 4.1.2.3- PASSIVO 84 4.2 - ANLISE DE INSTRUMENTOS DE GESTO FINANCEIRA. 85 AUTRQUICA Municpio da Trofa 2 4.3- DVIDA DO MUNICIPIO 86 4.3.1- ENDIVIDAMENTO LQUIDO 86 4.4- PROPOSTA DE APLICAO DE RESULTADOS 93 5- DISPOSIO FINAL 95 6- BALANO 96 7- DEMONSTRAO DE RESULTADOS 101 8- PLANO PLURIANUAL DE INVESTIMENTOS 103 9- PLANO DE ACTIVIDADES MUNICIPAIS 129 10- ORAMENTO (RESUMO) 179 11- ORAMENTO 180 12- CONTROLO ORAMENTAL DA DESPESA 190 13- CONTROLO ORAMENTAL DA RECEITA 197 14- EXECUO DO PLANO PLURIANUAL DE INVESTIMENTOS 203 15- EXECUO DO PLANO DE ACTIVIDADES MUNICIPAIS 220 16- FLUXOS DE CAIXA 260 17- CONTAS DE ORDEM 268 18- OPERAES DE TESOURARIA 270 19- CARACTERIZAO DA ENTIDADE 272 20- NOTAS AO BALANO E DEMONSTRAO DE RESULTADOS 293 21- MODIFICAES AO ORAMENTO - RECEITA 307 22- MODIFICAES AO ORAMENTO - DESPESA 311 23- MODIFICAES AO ORAMENTO - PPI 317 24- MODIFICAES AO ORAMENTO - PAM 336 25- CONTRATAO ADMINISTRATIVA SITUAO DOS CONTRATOS 373 26- TRANSFERNCIAS CORRENTES - DESPESA 378 27- TRANSFERNCIAS DE CAPITAL - DESPESA 382 28- SUBSDIOS CONCEDIDOS 383 29- TRANSFERNCIAS CORRENTES - RECEITA 384 30- TRANSFERNCIAS DE CAPITAL - RECEITA 385 31- SUBSDIOS OBTIDOS 386 32- ACTIVOS DE RENDIMENTO FIXO 387 33- ACTIVOS DE RENDIMENTO VARIVEL 388 Municpio da Trofa 3 34- EMPRSTIMOS 389 35- OUTRAS DVIDAS A TERCEIROS 393 36- RESUMO DIRIO DE TESOURARIA 409 37- SINTESE DAS RECONCILIAES BANCRIAS 410 38- MAPA DE FUNDOS DE MANEIO 423 39- RELAO DE EMOLUMENTOS NOTARIAIS E CUSTAS DE EXE.FISCAIS 424 40- RELAO DE ACUMULAO DE FUNES 425 41- RELAO NOMINAL DOS RESPONSVEIS 427 RELATRIO DE GESTO CONSOLIDADO 430 Municpio da Trofa 2 CAPTULO I RELATRIO DE GESTO Municpio da Trofa 3 RELATRIO DE GESTO DO ANO 2011 O Executivo Municipal apresenta, nos termos legais, o Relatrio de Gesto e Documentos de Prestao de Contas1 referentes ao ano financeiro de 2011, conforme o preceituado na alnea e) n. 2 do artigo 64 da Lei n. 169/99, de 18 de setembro, com as alteraes subsequentes impostas pela Lei n. 5-A/2002, de 11 de janeiro2. Cabe Assembleia Municipal a sua apreciao e votao, em conformidade com o disposto na alnea c) do n2 do artigo 53 do referido diploma legal3. O documento agora apresentado foi elaborado em conformidade com o Decreto Lei n. 54-A/99, de 22 de fevereiro, com as alteraes introduzidas pela Lei n. 162/99, de 14 de setembro, Decreto-Lei n 315/2000, de 2 de dezembro e pelo Decreto-Lei n. 84-A/2002 que aprovou o novo sistema contabilstico das autarquias locais. Os Documentos de Prestao de Contas (DPC) so apresentados conforme estabelece a Resoluo n. 04/2001 2. Seo4 - Tribunal de Contas, de 12 julho de 2001. 1 POCAL: 1 - Os documentos de prestao de contas englobam os mapas de execuo oramental, a execuo anual do plano plurianual de investimento, o mapa de fluxos de caixa, bem como os anexos s demonstraes financeiras. 2 - Como documentos de prestao de contas das autarquias locais que remetem as contas ao Tribunal de Contas consideram-se: Balano; Demonstrao de resultados; Mapas de execuo oramental; Anexos s demonstraes financeiras; Relatrio de gesto. 2 Elaborar e aprovar a norma de controlo interno, bem como o inventrio de todos os bens, direitos e obrigaes patrimoniais e respectiva avaliao, e ainda os documentos de prestao de contas, a submeter apreciao e votao do rgo deliberativo; 3 Apreciar o inventrio de todos os bens, direitos e obrigaes patrimoniais e respectiva avaliao, bem como apreciar e votar os documentos de prestao de contas; 4 Resoluo n. 04/2001 2. Seco Instrues N 01/2001 2 S Instrues Para A Organizao E Documentao Das Contas Das Autarquias Locais E Entidades Equiparadas, Abrangidas Pelo Plano Oficial De Contabilidade Das Autarquias Locais (Pocal). O Tribunal de Contas, em sesso de 12 de julho de 2001, nos termos do disposto na alnea b) do art 6 e alnea e) do n 1 do art 78 da Lei n 98/97, de 26 de Agosto, deliberou que as contas das autarquias locais e entidades equiparadas sujeitas ao POCAL devero ser organizadas e documentadas de acordo com as presentes Instrues: I - Documentos de prestao de contas 1. Os documentos de prestao de contas so os que se encontram definidos no POCAL nessa qualidade, outros igualmente ali constantes, bem como um terceiro conjunto no previsto naquele, todos discriminados no ANEXO I das presentes Instrues. 2. Consideram-se integradas no Grupo 1 do ANEXO I as autarquias locais e entidades equiparadas cujo movimento anual da receita seja igual ou superior a 5.000 vezes o ndice 100 da escala indiciria das carreiras do regime geral da funo pblica, arredondado de acordo com as normas legais. 3. Consideram-se integradas no Grupo 2 aquelas cujo movimento anual da receita seja inferior ao limite estabelecido no nmero anterior. II - Documentao a remeter ao Tribunal de Contas 1. As autarquias locais e entidades equiparadas integradas no Grupo 1 do ANEXO I, apenas devero enviar ao Tribunal de Contas os documentos ns. 1, 2, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 17, 26, 28, 29, 30, 31, 33 e 37. Municpio da Trofa 4 DOCUMENTOS DE PRESTAO DE CONTAS N. DESIGNAO DESIGNAO CDIGO GRUPO 1 1 Balano 5 X 2 Demonstrao de Resultados 6 X 3 Plano Plurianual de Investimentos 7.1 X 4 Oramento (Resumo) 7.2 X 5 Oramento 7.2 X 6 Controlo oramental da despesa 7.3.1 X 7 Controlo oramental da receita 7.3.2 X 8 Execuo do Plano plurianual de investimentos 7.4 X 9 Fluxos de caixa 7.5 X 10 Contas de ordem 7.5 X 11 Operaes de tesouraria 7.6 X 12 Caracterizao da entidade 8.1 X 13 Notas ao balano e demonstrao de resultados 8.2 X 14 Modificaes do oramento receita 8.3.1.1 X 15 Modificaes do oramento despesa 8.3.1.2 X 16 Modificaes ao Plano plurianual de Investimentos 8.3.2 X 17 Contratao administrativa Situao dos contratos 8.3.3 X 18 Transferncias correntes despesa 8.3.4.1 X 19 Transferncias de capital despesa 8.3.4.2 X 20 Subsdios concedidos 8.3.4.3 X 21 Transferncias correntes receita 8.3.4.4 X 22 Transferncias de capital receita 8.3.4.5 X 23 Subsdios obtidos 8.3.4.6 X 24 Activos de rendimento fixo 8.3.5.1 X 25 Activos de rendimento varivel 8.3.5.2 X 26 Emprstimos 8.3.6.1 X 27 Outras dvidas a terceiros 8.3.6.2 X 28 Relatrio de gesto 13 X OUTROS DOCUMENTOS 29 Guia de remessa X 30 Acta da reunio em que foi discutida e votada a conta X 31 Norma de controlo interno e suas alteraes 2.9 X 32 Resumo dirio de tesouraria 12.2.9 X 33 Sntese de reconciliaes bancrias X 34 Mapas de fundos de maneio X 35 Relao dos emolumentos notariais X 36 Relao de acumulao de funes X 37 Relao nominal de responsveis X 2. As integradas no Grupo 2 e que no tenham sido dispensadas da remessa de contas devero enviar ao Tribunal de Contas os documentos ns. 6, 7, 9, 10, 11, 12, 26, 28, 29, 30, 31, 33 e 37. Municpio da Trofa 5 Em cumprimento com o regulamentado no Decreto-Lei n. 54-A/99, de 22 de Fevereiro que aprova o POCAL, o Executivo Camarrio apresenta o Relatrio de Gesto referente ao ano financeiro de 2011. Documento que constitui um dos elementos de prestao de contas, conforme o ponto n. 135 do POCAL e n. 28 das Instrues n. 1/2001 2. Seo Resoluo n. 4/2001, do Tribunal de Contas, atrs referidas. 1. INTRODUO O relatrio de gesto um documento de prestao de contas que, semelhana das demonstraes financeiras, tem por objectivo disponibilizar informao de carcter econmico, financeiro e social sobre a entidade a que respeita a um conjunto alargado de destinatrios e utilizadores dessa informao6. Atravs dos mapas, diagramas e demais indicadores de anlise apresentados procura-se espelhar aquela que foi a actividade desenvolvida pelo executivo na afectao de valor ao domnio pblico de uma forma geral e aos Muncipes da Trofa em particular, devidamente emoldurada no quadro de competncias das Autarquias Locais7. A conta de Gerncia do ano 2011 foi elaborada segundo o Decreto-Lei n. 54-A/99, de 22 de fevereiro. Encontra-se desagregada em dois captulos: contabilidade oramental e contabilidade patrimonial. Este relatrio inicia-se com um enquadramento macroeconmico, de forma a possibilitar a percepo, ainda que de uma forma ampla, do contexto em que foram desenvolvidas todas as actividades de gesto do executivo Municipal, com base nas projees do Banco de Portugal e do Departamento de Estatsticas Macroeconmicas do Instituto Nacional de Estatstica. Depois desse enquadramento segue-se a informao financeira e a proposta para a aplicao de resultados. 5 13 Relatrio de Gesto 6 OROC, Revisores & Empresas, Out/ DEZ/2001, pg, 46. 7 Lei n. 169/99, de 18 de setembro com a redaco que lhe foi conferida pela Lei n. 5-A/2002 de 11 de janeiro. Municpio da Trofa 6 2. ENQUADRAMENTO MACROECONMICO 2.1 SNTESE ECONMICA DE CONJUNTURA8 Em janeiro de 2012, a produo industrial mundial abrandou ligeiramente para 3,6% em termos homlogos (3,7% em dezembro de 2011), devido desacelerao das economias emergentes e em desenvolvimento, especialmente dos pases asiticos. Pelo contrrio, a produo industrial das economias avanadas melhorou, tendncia que abrangeu os EUA, Japo e a rea do euro. Os ndices bolsistas internacionais evoluram favoravelmente at meados de maro de 2012, traduzindo, em parte, a divulgao de indicadores macroeconmicos mais favorveis do que o esperado para os EUA e refletindo as expectativas quanto obteno de uma soluo duradoura para a crise da dvida soberana na rea do euro. Nos EUA, os indicadores de confiana dos consumidores e dos empresrios, especialmente dos servios, evoluram favoravelmente no conjunto dos meses de janeiro e fevereiro de 2012. Nesse perodo, a taxa de desemprego desceu para 8,3% (8,7% no 4. trimestre de 2011) e a taxa de inflao homloga diminuiu para 2,9% (3,3% no 4. trimestre de 2011). No conjunto dos meses de janeiro e fevereiro de 2012, o indicador de sentimento econmico subiu tanto na Unio Europeia (UE) como na rea do Euro (AE), em resultado da melhoria da generalidade dos indicadores de confiana, com exceo do comrcio a retalho. Em janeiro de 2012, a taxa de 8 Extratos retirados de: a) Gabinete de Estratgia e Estudos - Ministrio da Economia e do Emprego; Gabinete de Planeamento, Estratgia, Avaliao e Relaes Internacionais - Ministrio das Finanas; Boletim Mensal de Economia Portuguesa, N. 3, Maro de 2012. Nota: elaborado com a informao disponvel at ao dia 23 de maro de 2012. b) Instituto Nacional de Estatstica, Sntese Econmica de Conjuntura Fevereiro de 2012. Nota: elaborado com a informao disponvel at ao dia 16 de maro de 2012. Municpio da Trofa 7 desemprego aumentou tanto na AE como na UE, para 10,7% e em 10,1%, respetivamente (10,6% e 10% em dezembro de 2011). Em fevereiro de 2012, a taxa de inflao homloga da AE, manteve-se em 2,7% e subiu para 2,8% em termos de variao dos ltimos 12 meses (2,7% nos ltimos 3 meses). Em maro de 2012 e, at ao dia 22, as taxas de juro de curto prazo diminuram tanto na rea do euro como nos EUA, mas a descida foi muito mais acentuada para o primeiro caso. Com efeito, a taxa Euribor a 3 meses situou-se em 0,86% (1,05%, em fevereiro) e a dos EUA em 0,47% (0,50%, em fevereiro). O preo spot do petrleo Brent subiu em maro, tendo a mdia do preo do Brent, at ao dia 22 deste ms, registado o valor de 124 USD/bbl (94/bbl). O ndice de preos de matrias-primas, denominados em dlares, do The Economist, apresentou uma reduo homloga de 16,5% em fevereiro (variao de -12,9% em janeiro), mantendo o acentuado perfil descendente iniciado em maio. 2.2 CONJUNTURA NACIONAL9 De acordo com a estimativa rpida do INE o PIB contraiu 2,8% em termos reais no 4. trimestre, motivando uma quebra anual de 1,6%. O indicador da atividade econmica do INE recuperou marginalmente em fevereiro face ao ms anterior, com o indicador do consumo privado e o indicador da FBCF a apresentar igualmente ligeiras melhorias. O indicador de clima econmico do INE manteve a tendncia descendente em fevereiro com novo agravamento. Os fluxos de comrcio internacional, em janeiro, registaram um crescimento quer das exportaes quer das importaes portuguesas (13,1% e 3,8% respetivamente), recuperando face ao ms anterior. 9 Gabinete de Estratgia e Estudos - Ministrio da Economia e do Emprego; Gabinete de Planeamento, Estratgia, Avaliao e Relaes Internacionais - Ministrio das Finanas; Boletim Mensal de Economia Portuguesa; Maro de 2012. Elaborado com a informao disponvel at ao dia 23 de maro de 2012. Municpio da Trofa 8 Em fevereiro de 2012 registou-se uma ligeira acelerao do ndice de Preos do Consumidor (IPC), com uma variao homloga de 3,6%, 0,1 p.p. superior do ms anterior. A variao mdia dos ltimos 12 meses aumentou 0,1 p.p. para os 3,7%. At fevereiro, o saldo global provisrio das Administraes Pblicas incluindo as empresas pblicas reclassificadas (EPR) e considerando o universo real na Administrao Local, na tica da contabilidade pblica, foi de 589,1 milhes de euros. Excluindo as EPR e a Administrao Local, o saldo foi de 466,1 milhes de euros, correspondendo a uma diminuio de cerca de 444,1 milhes de euros face a idntico perodo de 2011. Este resultado reflete, no essencial, o comportamento do dfice global do Estado, o qual aumentou em 425,0 milhes de euros face ao perodo homlogo, situando-se nos 798,6 milhes de euros. Os Servios e Fundos Autnomos (SFA), excluindo as EPR, registaram um excedente de 835,0 milhes de euros, mais 102,2 milhes de euros que face ao mesmo perodo do ano anterior. O excedente de execuo oramental da Segurana Social foi de 413,4 milhes de euros, menos 67,8 milhes de euros do que o registado em fevereiro de 2011. A Administrao Regional diminuiu o excedente oramental em 53,5 milhes de euros, para 16,2 milhes de euros. A Administrao Local, considerando o universo comparvel, registou, neste perodo, um saldo provisrio da execuo oramental de 32,9 milhes de euros, o que corresponde a um agravamento de 5,2 milhes de euros relativamente ao ms anterior. A execuo financeira consolidada provisria do Servio Nacional de Sade (SNS), at fevereiro, resultou num dfice de 21,9 milhes de euros, que compara com um excedente de 45,4 milhes de euros no perodo homlogo. Municpio da Trofa 9 2.3 APRECIAO GLOBAL10 Ao longo dos ltimos seis meses, a materializao dos riscos sobre a estabilidade financeira intensificou-se substancialmente, quer a nvel mundial quer em Portugal, refletindo a deteriorao do enquadramento macroeconmico e financeiro, num contexto de generalizao das tenses nos mercados de dvida soberana da rea do euro. Este agravamento das condies econmicas e financeiras repercutiu-se numa deteriorao da rendibilidade do sistema bancrio portugus, bem como numa maior materializao do risco de crdito e de mercado. No curto prazo, esta tendncia de agravamento dos riscos dever persistir. No entanto, no quadro do Programa de Assistncia Econmica e Financeira, existem diversos instrumentos que permitem mitigar o impacto destes choques sobre o sistema financeiro portugus, nomeadamente em termos de eventuais necessidades adicionais de capital. Para alm disso, a desalavancagem do sistema financeiro portugus est a ser acompanhada de forma permanente pelo Banco de Portugal, de modo a assegurar um processo ordenado e gradual, no comprometendo o financiamento da economia portuguesa. Nesta edio do Relatrio de Estabilidade Financeira introduzem-se dois mapas que apresentam de forma esquemtica a evoluo das principais dimenses dos riscos sobre a estabilidade financeira (Grficos 1.1 e 1.2). Estes mapas permitem ter uma perspetiva global sobre a evoluo de cada dimenso de risco, agregando um conjunto abrangente de indicadores econmicos, financeiros, prudenciais e contabilsticos. Refira-se que os valores de cada mapa so definidos com base na posio relativa das variveis face a referenciais histricos, ou seja, no correspondem necessariamente a uma comparao com nveis timos ou de equilbrio de longo prazo, nem permitem desenvolver uma anlise prospetiva dos riscos. Em termos globais, a anlise dos mapas de estabilidade financeira permite concluir que os riscos subjacentes ao sistema bancrio portugus e ao seu enquadramento macroeconmico e financeiro se situam em nveis bastante elevados face aos respetivos 10 Banco de Portugal, Relatrio de Estabilidade Financeira, Novembro de 2011. Elaborado com informao disponvel at meados de novembro de 2011 (os quadros e grficos apresentados com informao at 4 de novembro do mesmo ano). Municpio da Trofa 10 referenciais histricos, destacando-se os riscos relativos ao enquadramento macroeconmico e financeiro domstico e situao financeira de particulares e empresas. A necessidade de ajustamento dos desequilbrios macroeconmicos e financeiros, que inclui o processo de consolidao oramental, dever exercer uma forte presso descendente sobre a procura interna no curto prazo. Apesar de a magnitude dos riscos ser maior no plano interno, o mapa de estabilidade financeira tambm evidencia uma assinalvel deteriorao do enquadramento macroeconmico e financeiro internacional, em particular a partir do vero de 2011 (Grfico 1.1). Grfico 1.1 Municpio da Trofa 11 De facto, neste perodo assistiu-se a uma deteriorao das perspetivas de crescimento a nvel global, em particular na rea do euro, num contexto de agravamento das tenses associadas crise da dvida soberana, o que constitui uma das principais diferenas face aos riscos para a estabilidade financeira identificados na edio anterior do Relatrio de Estabilidade Financeira. Esta situao adensa os desafios enfrentados pela economia portuguesa, bem como pelo sistema financeiro portugus, dado que o ajustamento dos desequilbrios da economia ter de ser efetuado num enquadramento bastante mais adverso, em particular no que diz respeito evoluo expectvel da procura externa. A intensificao dos mecanismos de interao e reforo entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia real tem vindo a afetar um conjunto cada vez mais alargado de pases, acentuando a natureza sistmica da atual crise. Neste contexto de aumento da volatilidade e incerteza e de persistncia de dvidas em torno dos mecanismos de resoluo institucional da crise da dvida soberana, assistiu-se a dificuldades cada vez mais generalizadas dos bancos da rea do euro em garantir o acesso a financiamento nos mercados de dvida por grosso, em particular em maturidades mdias e longas. Estes desenvolvimentos tm-se refletido num aumento dos custos de financiamento na emisso de dvida a mdio e longo prazo e em dificuldades na emisso de dvida nos mercados primrios, mesmo no mercado de obrigaes hipotecrias (covered bonds). No segmento de dvida a curto prazo, as dificuldades so menos agudas. De facto, apesar de tambm existirem algumas perturbaes no funcionamento do mercado monetrio interbancrio na rea do euro, o acesso a financiamento junto do BCE tem permitido mitigar estas dificuldades, assistindo-se, de novo, a um aumento da intermediao do financiamento dos bancos europeus por parte do Eurosistema. Neste contexto, no final de outubro foram anunciadas diversas medidas no mbito da cimeira de chefes de estado e de governo da Unio Europeia. Estas englobam nomeadamente o reforo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, o aumento do capital regulamentar do sistema bancrio europeu e um novo acordo para o envolvimento voluntrio do setor privado na reestruturao da dvida pblica grega. Contudo, num contexto de persistncia de restries no acesso a financiamento, caso os bancos europeus optem por mitigar o aumento de capital atravs de desalavancagem Municpio da Trofa 12 podero ocorrer restries significativas na oferta de crdito, com consequncias para a evoluo da economia europeia. No caso da economia portuguesa, dados os elevados nveis de endividamento atingidos, mantm-se a prioridade em prosseguir o esforo de ajustamento da situao financeira, a nvel de todos os setores institucionais. Nesse contexto, os bancos portugueses tero de dar continuidade ao processo de desalavancagem ordenada e de reestruturao de algumas linhas de negcio que permita convergir a mdio prazo para uma estrutura de financiamento dos bancos e da economia portuguesa mais sustentvel e menos sensvel a alteraes na perceo de riscos por parte dos investidores internacionais. Num cenrio de perspetivas de forte contrao da procura interna e do rendimento permanente, expectvel um abrandamento da procura de crdito, sobretudo por parte dos particulares, assim como um forte movimento de reafetao do crdito entre empresas e setores de atividade. Adicionalmente, a adversidade atual e futura do enquadramento econmico conduz a um aumento do risco do tomador de crdito e a um maior rigor e, por consequncia, maior seletividade na aprovao de emprstimos. O princpio essencial o de promover um processo gradual e ordenado de desalavancagem do sistema bancrio que no comprometa, antes redirecione, o financiamento para os setores e empresas mais competitivos da economia. Nesse sentido, as estratgias de desalavancagem dos bancos devem privilegiar a venda de ativos no estratgicos, o aumento do recurso a financiamento estvel e o reforo do capital. O processo de ajustamento dos bancos portugueses est a ser acompanhado e monitorizado regularmente pelo Banco de Portugal, no mbito do Programa de Assistncia Econmica e Financeira, tendo em vista conciliar a desalavancagem ordenada e gradual com o financiamento da economia. Nomeadamente, os oito maiores grupos bancrios portugueses tm vindo a submeter trimestralmente ao Banco de Portugal os respetivos planos de financiamento e de capital para um horizonte de mdio prazo. Estes planos tm subjacente um conjunto de princpios e restries, incluindo a convergncia para um rcio entre crdito e depsitos de 120 por cento no final de 2014. A informao fornecida pelos bancos aponta para que uma parte do ajustamento continue a apoiar-se numa reduo da carteira de crdito. Esta reduo poder ser obtida por Municpio da Trofa 13 diversas vias e afetar de forma diferenciada o financiamento da economia portuguesa. Uma das possibilidades consiste na venda de crditos, o que no implica restries ao financiamento da economia portuguesa. Em termos prospetivos, os bancos planeiam sobretudo operaes adicionais de venda de crditos a no residentes, que podem assumir tambm a forma de reduo de atividade nalguns mercados. Uma outra possibilidade est associada reduo da concesso de novos emprstimos. Em articulao com a amortizao programada dos crditos j existentes, tal implica uma reduo mais gradual da carteira de crdito dos bancos. Neste contexto, e de acordo com os planos apresentados pelos bancos, tal tender a ser particularmente relevante no caso dos crditos a particulares para aquisio de habitao, num contexto de expectvel abrandamento significativo da procura. Por seu turno, a concesso de crdito a empresas no financeiras privadas dever registar diminuies pouco expressivas, acompanhadas por uma reduo significativa da exposio a administraes e empresas pblicas. Adicionalmente, de acordo com os planos de financiamento e de capital, os depsitos devero continuar a evidenciar uma evoluo positiva ao longo do respetivo horizonte de projeo, refletindo dinmicas de recomposio da carteira de ativos financeiros dos particulares e perspetivas de recuperao da economia no final do horizonte do programa. No decurso de 2011, os bancos portugueses prosseguiram o esforo de ajustamento do balano iniciado no ano anterior, conseguindo estabilizar o seu financiamento junto do Eurosistema, embora em nveis absolutos e relativos ainda elevados, o que contrasta com a evoluo observada para o conjunto dos bancos da rea do euro, onde se observou o aumento do recurso a essa forma de financiamento. Refira-se que tal ocorreu num contexto de agravamento e generalizao das tenses nos mercados de dvida, de manuteno de fortes restries quantitativas no acesso a financiamento nos mercados de dvida por grosso e de queda nos depsitos de no residentes. A carteira de crdito a clientes em base consolidada registou uma variao negativa no primeiro semestre de 2011, refletindo um volume significativo de vendas de crditos. Estas operaes foram constitudas, essencialmente, por vendas da carteira domstica de crdito a empresas (essencialmente vendas de papel comercial) e da carteira de crdito das filiais e sucursais estrangeiras. Descontando o efeito destas Municpio da Trofa 14 vendas de ativos, que no afetam o financiamento da economia portuguesa, ter-se-ia observado uma relativa estabilizao do stock de crdito. Em termos setoriais, observou-se uma reduo gradual dos emprstimos concedidos ao setor privado no financeiro residente, em especial dos emprstimos concedidos a particulares, e, paralelamente, um aumento do financiamento do setor pblico (incluindo empresas pblicas). Importa realar que a evoluo dos agregados de crdito consistente com o expectvel no atual enquadramento econmico recessivo, ou seja, a evidncia disponvel aponta para a ausncia de restries excessivas ou abruptas na oferta de crdito (fenmeno geralmente descrito como credit crunch). O processo de ajustamento em curso do sistema bancrio portugus tem beneficiado tambm da evoluo positiva dos depsitos de clientes residentes, com destaque para os particulares. De facto, os bancos portugueses tm efetuado esforos significativos na captao de recursos de clientes, designadamente atravs do aumento da sua remunerao relativa, procurando tambm integrar no balano recursos de clientes que se encontram fora do permetro de consolidao bancrio, como os montantes aplicados em fundos de investimento ou em instrumentos de poupana geridos pelas companhias de seguro dos respetivos grupos financeiros. Dado que esta evoluo tem subjacente, em parte, ajustamentos da carteira dos particulares, refletidos numa diminuio das aplicaes na generalidade dos restantes instrumentos de poupana, num contexto de crescente averso ao risco, expectvel que venha a observar-se um abrandamento no atual ritmo de crescimento destes depsitos. No decurso de 2011 assistiu-se apenas a uma ligeira diminuio da margem total em operaes com clientes, apesar do esforo acrescido de captao de depsitos de clientes por parte dos bancos. No perodo mais recente, as taxas de juro dos depsitos aumentaram para valores significativamente superiores s taxas de juro do mercado interbancrio, o que justificou uma interveno prudencial do Banco de Portugal no sentido de mitigar os riscos para a estabilidade financeira de estratgias excessivamente agressivas de captao de depsitos11. Apesar do impacto negativo sobre a margem financeira do aumento da remunerao dos recursos de clientes, a aplicao de spreads 11 Em termos concretos, foram definidas novas exigncias de fundos prprios para depsitos contratados com taxas de remunerao elevadas, isto , superiores em 300 pontos base taxa de referncia do mercado interbancrio para o prazo correspondente. Para mais detalhes ver a Instruo n. 28/2011 do Banco de Portugal. Municpio da Trofa 15 mais elevados na generalidade dos novos emprstimos concedidos compensou virtualmente este efeito, observando-se uma estagnao do diferencial entre as taxas de juro implcitas no crdito e nos depsitos, bem como uma estabilizao da margem financeira avaliada em percentagem do ativo mdio. A mdio prazo, no contexto do processo gradual de desalavancagem do setor bancrio, a reduo gradual do recurso ao Eurosistema e a reduo do rcio entre crdito e depsitos devero condicionar negativamente a evoluo da margem financeira, a principal componente do produto bancrio. Em contrapartida, a substituio de financiamento nos mercados internacionais de dvida por grosso por depsitos e a adoo de uma poltica de concesso de crdito mais seletiva por parte dos bancos tendero a ter efeitos positivos sobre a margem financeira, em linha com o observado recentemente. Apesar da relativa estabilizao da margem financeira, os indicadores de rendibilidade dos bancos portugueses foram significativamente afetados pelo atual enquadramento econmico e financeiro, encontrando-se em mnimos histricos (conforme ilustrado no Grfico 1.2). No decurso de 2011, a rendibilidade foi particularmente afetada pela diminuio dos resultados em operaes financeiras (refletindo perdas registadas em operaes de venda de ativos e desvalorizaes de ttulos) e pelo aumento das provises e imparidades associadas ao crdito, num contexto de forte materializao do risco de crdito (Grfico 1.2). A tendncia de aumento da materializao do risco de crdito transversal aos vrios segmentos de mercado, assumindo, contudo, nveis e ritmos mais acentuados nos emprstimos a particulares para consumo e outros fins e nos emprstimos a sociedades no financeiras. No crdito habitao, os indicadores de incumprimento situam-se em nveis historicamente elevados, mas substancialmente inferiores aos registados nos outros segmentos. O novo rcio de crdito em risco situava-se, em setembro de 2011, em cerca de 6.8 por cento do crdito total concedido pelo sistema bancrio, o que compara com um valor de 5.1 por cento no final de 201012. 12 A Instruo n. 23/2011 do Banco de Portugal alarga o conjunto de indicadores de qualidade de crdito que as instituies devem reportar sempre que divulgam informao quantitativa sobre este assunto. O novo conceito de crdito em risco mais abrangente do que o de crdito com incumprimento, incorporando, nomeadamente, a possibilidade dos devedores com prestaes em atraso continuarem a no cumprir as suas responsabilidades de crdito, estando mais em linha com as prticas internacionais neste domnio. A divulgao destes novos indicadores cumpre um dos requisitos do Programa de Assistncia Econmica e Financeira. Municpio da Trofa 16 Grfico 1.2 Apesar da forte deteriorao do enquadramento macroeconmico domstico condicionar negativamente a evoluo da atividade e, sobretudo, da rendibilidade do sistema bancrio portugus, a atividade internacional dos bancos dever continuar a exercer um efeito em sentido oposto. No primeiro semestre de 2011, a atividade internacional representou mais de metade dos resultados do sistema bancrio. No mdio prazo, as perspetivas favorveis para a atividade econmica de pases onde os grupos bancrios portugueses detm posies importantes (Angola, Brasil, Moambique) devero continuar a suportar o crescimento da atividade internacional e, consequentemente, o aumento do seu peso nos resultados do sistema bancrio portugus. Ainda assim, a tendncia de concentrao da atividade internacional em torno de um nmero cada vez mais reduzido de mercados considerados estratgicos adiciona alguma incerteza evoluo futura deste agregado. Municpio da Trofa 17 A evoluo recente da situao financeira dos particulares e das sociedades no financeiras d indcios claros de que est em curso o inadivel processo de reduo do endividamento, tendo em vista alcanar um nvel sustentvel. No caso dos particulares, os nveis do consumo e da taxa de poupana devero ajustar-se a um nvel de rendimento permanente mais baixo. Por seu turno, as sociedades no financeiras, sobretudo as que evidenciam um elevado nvel de endividamento e baixo grau de eficincia, tero de proceder a ajustamentos estruturais, de forma a atingirem uma estrutura de financiamento mais equilibrada e menos sensvel a choques negativos, bem como para potenciarem a sua competitividade. de salientar, em especial, a importncia da reestruturao das empresas pblicas dada a sua elevada dimenso e grau de endividamento. De facto, a evoluo mais recente dos rcios de endividamento sugere que, ao contrrio do observado para as empresas privadas, as empresas pblicas ainda no tero iniciado o necessrio processo de desalavancagem. Este pressupe a reestruturao do setor, que no s facilitar o processo de desalavancagem ordenada do sistema bancrio, como beneficiar a competitividade da economia. Refira-se que existem alguns fatores que podero mitigar o impacto do enquadramento macroeconmico desfavorvel sobre a situao financeira do setor privado no financeiro. Em primeiro lugar, de esperar que, num contexto de enfraquecimento da situao macroeconmica na rea do euro, as taxas de juro do mercado monetrio mantenham uma tendncia de ligeira reduo. Adicionalmente, importa recordar que o processo de desalavancagem definido no Programa de Assistncia Econmica e Financeira dever ocorrer de forma gradual e ordenada, sem condicionar de forma excessiva o financiamento da economia, em especial das empresas mais produtivas e com melhores perspetivas de crescimento. Complementarmente, o Cdigo de Insolvncia encontra-se em reviso, o que dever permitir que se identifiquem mais rapidamente empresas viveis que possam ser alvo de planos de reestruturao de dvida. Os rcios de solvabilidade dos bancos portugueses continuaram a evidenciar uma evoluo positiva, apesar do enquadramento macroeconmico e financeiro adverso e do processo de ajustamento da economia portuguesa, convergindo para os novos mnimos regulamentares definidos pelo Banco de Portugal, no mbito do Programa de Assistncia Municpio da Trofa 18 Econmica e Financeira. De facto, estes fatores exerceram presso sobre os rcios de adequao de fundos prprios dos bancos portugueses, em particular por via da reduo da rendibilidade, refletindo imparidades decorrentes da materializao do risco de crdito, bem como perdas na carteira de ativos financeiros. Perante condies de mercado desfavorveis realizao de aumentos de capital, e na sequncia de uma recomendao efetuada pelo Banco de Portugal no incio do ano, os principais bancos portugueses adotaram uma poltica de distribuio de dividendos bastante moderada, o que permitiu o reforo dos capitais prprios, por via da incorporao dos resultados retidos. Para alm disso, alguns bancos reforaram os seus fundos prprios atravs de operaes de troca de dvida subordinada por capital e de recompra de obrigaes prprias. No perodo mais recente, a intensificao e generalizao das tenses nos mercados financeiros internacionais originaram presses adicionais sobre os rcios de capital dos bancos. Neste contexto, as autoridades europeias tomaram algumas medidas para reforar o capital do sistema bancrio europeu, com o intuito de recuperar a confiana dos participantes nos mercados na capacidade dos bancos para absorver choques negativos, incluindo os associados reestruturao da dvida pblica grega e a diminuies no valor de mercado de ttulos de dvida de outros emitentes soberanos13. Estas medidas iro implicar um reforo do capital de alguns bancos portugueses. Adicionalmente, a eventual transferncia parcial dos fundos de penses dos bancos portugueses para a Segurana Social poder resultar em necessidades de capitalizao acrescidas. Por ltimo, os resultados das inspees on-site qualidade dos ativos dos bancos podero eventualmente implicar o registo de imparidades adicionais com impacto no capital regulamentar. Em sntese, apesar do reforo dos rcios de solvabilidade dos bancos portugueses ao longo dos ltimos anos, em particular desde o final de 2008, a perspetiva de materializao acrescida de riscos no futuro prximo consentnea com uma necessidade de reforo adicional dos capitais dos bancos portugueses, de forma a assegurar a estabilidade do sistema financeiro, dado que estes enfrentam um conjunto de 13 Em meados do ano tambm foi implementado, sob orientao da Autoridade Bancria Europeia, um exerccio de stress test na Unio Europeia. No mbito deste exerccio, os bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques negativos previstos no cenrio adverso. Municpio da Trofa 19 riscos e desafios sem precedentes. Conforme ilustrado no Grfico 1.2, os riscos para o sistema bancrio assumem uma magnitude historicamente elevada no que se refere rendibilidade, que se situa em valores mnimos. Por seu turno, os indicadores de risco de crdito e de mercado situam-se em nveis historicamente elevados, tendo-se assistido a uma progressiva deteriorao ao longo dos ltimos trimestres. Adicionalmente, o risco de liquidez apresenta nveis elevados desde meados de 2007. Os bancos comearam a implementar os planos de desalavancagem, o que dever conduzir a uma situao mais sustentvel do financiamento da economia portuguesa no mdio prazo. essencial, contudo, que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva convergncia para um novo equilbrio de longo prazo. Refira-se que este processo se enquadra numa tendncia a nvel europeu, num contexto de necessidades generalizadas de reforo de capital e dos rcios de liquidez, sendo este processo consistente com a convergncia para o cumprimento de requisitos regulamentares mais exigentes a curto e mdio prazo. Dada a posio de partida globalmente slida do sistema bancrio portugus, a implementao destas medidas dever contribuir a prazo para a recuperao da confiana dos investidores internacionais nos bancos portugueses e para um regresso gradual ao financiamento nos mercados internacionais de dvida por grosso. Em paralelo, a prossecuo dos esforos de consolidao oramental determinante para assegurar a sustentabilidade das finanas pblicas, sendo essencial tambm para assegurar a estabilidade financeira em Portugal. No obstante, estes esforos tm necessariamente de ser complementados com medidas que permitam ultrapassar algumas debilidades estruturais da economia portuguesa, promovendo a sua competitividade e o seu crescimento potencial. Municpio da Trofa 20 Municpio da Trofa 21 Municpio da Trofa 22 Municpio da Trofa 23 2.4. RISCOS MACROECONMICOS E FINANCEIROS14 Ao longo dos ltimos meses, os riscos macroeconmicos e financeiros agravaram-se substancialmente, quer a nvel domstico, quer a nvel internacional. Deste modo, apesar de o conjunto de riscos identificados no Relatrio de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal de Maio de 2011 permanecer globalmente inalterado, a sua probabilidade e impacto potencial agravaram-se de forma significativa, tendo-se assistido a alguma materializao dos riscos identificados. Uma das principais diferenas face anlise de riscos macroeconmicos e financeiros publicada no Relatrio de Maio prende-se com a deteriorao das perspetivas quanto ao enquadramento macroeconmico e financeiro internacional. Enquanto h seis meses este enquadramento era globalmente favorvel, o que deveria contribuir para mitigar o impacto do processo de ajustamento econmico em Portugal, durante o vero de 2011 assistiu-se a uma deteriorao das perspetivas de crescimento a nvel global, em particular na rea do euro, num contexto de agravamento das tenses associadas crise da dvida soberana. Esta situao adensa os desafios enfrentados pela economia portuguesa, bem como pelo sistema financeiro portugus, dado que o ajustamento dos desequilbrios da economia pode ter de ser efetuado num enquadramento bastante mais adverso, em particular no que diz respeito evoluo expectvel da procura externa. Neste contexto, o enquadramento macroeconmico e financeiro da atividade do sistema bancrio caracteriza-se por uma elevada incerteza, nomeadamente devido persistncia de dvidas em torno dos mecanismos de resoluo institucional da crise da dvida soberana na rea do euro, bem como sobre a trajetria futura da economia mundial e, consequentemente, da economia portuguesa. Neste enquadramento particularmente difcil, os principais riscos para a estabilidade financeira em Portugal continuam a estar fortemente relacionados entre si, sendo de destacar as seguintes dimenses: 14 Banco de Portugal, Relatrio de Estabilidade Financeira, novembro de 2011. Elaborado com informao disponvel at meados de novembro de 2011 (os quadros e grficos apresentados com informao at 4 de novembro do mesmo ano). Municpio da Trofa 24 i) a intensificao dos mecanismos de interao e reforo entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia a nvel internacional e domstico, que podem condicionar a capacidade de recuperao das economias e ameaar a estabilidade financeira a nvel global; ii) a intensificao e generalizao de dificuldades no acesso dos bancos europeus a financiamento nos mercados internacionais de dvida por grosso; iii) os desafios enfrentados pelos bancos portugueses num cenrio de desalavancagem da economia, enquadrados por um contexto macroeconmico e financeiro particularmente adverso e por restries no acesso a financiamento externo (incluindo para grandes empresas no financeiras, pblicas e privadas), apesar do Programa de Assistncia Econmica e Financeira e do acesso a financiamento junto do Eurosistema; iv) o impacto de um enquadramento econmico adverso sobre a atividade, rendibilidade e solvabilidade dos bancos, em particular sobre a qualidade de crdito. Conforme referido, estes riscos encontram-se profundamente interligados e tendem a reforar-se mutuamente. Neste sentido, torna-se imprescindvel atuar para mitigar a probabilidade e o impacto destes riscos, tanto a nvel internacional como nacional. A nvel internacional subsistem bastantes dvidas quanto aos mecanismos de resoluo da crise da dvida soberana na rea do euro, o que tem vindo a exercer presses significativas sobre os bancos europeus. O aumento do risco de contgio neste perodo motivou a implementao de um conjunto de medidas em julho, com o intuito de reforar os mecanismos de estabilidade financeira na Unio Europeia. Durante o vero, a atuao do BCE nos mercados financeiros, atravs da aquisio de ttulos de dvida no mbito do Securities Market Programme, foi bastante importante para conter a exacerbao das perturbaes na rea do euro. Contudo, assistiu-se generalizao e intensificao das tenses durante o vero, o que exigiu medidas adicionais. Neste contexto, no final de outubro foram anunciadas diversas medidas no mbito da cimeira de chefes de estado e de governo da Unio Europeia. Estas medidas englobam nomeadamente o reforo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, medidas de Municpio da Trofa 25 reforo do capital de bancos europeus e um novo acordo para o envolvimento voluntrio do setor privado na reestruturao da dvida pblica grega. Apesar de estas medidas terem sido inicialmente avaliadas de forma positiva pelos participantes nos mercados financeiros, alguns dias aps a cimeira as preocupaes em torno da sustentabilidade da dvida pblica italiana agudizaram-se, num contexto de instabilidade poltica na Grcia e em Itlia. Mais recentemente, aquelas preocupaes generalizaram-se Espanha e, em menor grau, a um nmero adicional de pases da rea do euro. Deste modo, a situao atual continua a ser marcada por uma elevada incerteza e por riscos significativos para a estabilidade financeira. Para alm da instabilidade poltica, persiste alguma incerteza sobre a implementao e eficcia de algumas das medidas anunciadas na cimeira do final de outubro, bem como sobre o impacto negativo no crescimento econmico europeu que pode estar subjacente a um reforo significativo e simultneo do capital dos bancos europeus. Em Portugal, o Programa de Assistncia Econmica e Financeira definido na sequncia do pedido de apoio financeiro Unio Europeia, aos pases membros da rea do euro e ao FMI contribui para mitigar alguns dos riscos acima referidos, ainda que apresente inevitveis desafios no curto prazo, indissociveis do necessrio processo de desalavancagem da economia portuguesa e, em particular, do sistema bancrio portugus. Em termos concretos, no que se refere estabilidade do sistema financeiro, o Programa de Assistncia Econmica e Financeira inclui quatro eixos fundamentais: i) assegurar que os bancos portugueses dispem da liquidez necessria (incluindo o reforo do colateral disponvel e a possibilidade de emisso de obrigaes com garantia estatal); ii) definio de planos de financiamento e capital especficos de mdio prazo para assegurar a desalavancagem gradual e ordenada do setor bancrio e a reduo gradual do financiamento junto do Eurosistema; iii) reforo das exigncias anteriormente impostas pelo Banco de Portugal sobre os rcios de solvabilidade (impondo-se um rcio Core Tier 1 mnimo de 9 por cento a partir do final de 2011 e de 10 por cento a partir do final de 2012); Municpio da Trofa 26 iv) intensificao do acompanhamento do sistema bancrio e da sua regulao e superviso, incluindo inter alia o reforo da metodologia de avaliao da solvabilidade e desalavancagem, a incluso de um novo rcio de crdito em risco no conjunto de indicadores prudenciais regularmente publicados e a definio de um programa especial de inspees on-site nos oito maiores grupos bancrios portugueses15. Adicionalmente, o Programa de Assistncia Econmica e Financeira prev algumas alteraes e aperfeioamentos nos fundos de garantia de depsitos e nos mecanismos de interveno precoce e de resoluo dos bancos. Para alm disso, o enquadramento legal encontra-se em reviso para facilitar os processos de reestruturao da dvida de empresas e particulares. Esta reviso inclui alteraes ao Cdigo de Insolvncia e tem vindo a ser complementada por uma intensificao do acompanhamento da situao das empresas e dos particulares, incluindo o desenvolvimento de planos de contingncia para gerir de forma eficiente eventuais problemas decorrentes do endividamento excessivo destes setores. A implementao deste conjunto de medidas encontra-se em progresso, de acordo com os calendrios definidos no mbito do Programa de Assistncia Econmica e Financeira16. O sistema bancrio portugus enfrenta um conjunto de desafios crticos, exigindo um assinalvel esforo de reestruturao de alguns modelos de negcio. Neste sentido, a necessidade de desalavancagem e de convergncia a mdio prazo para uma estrutura de financiamento mais sustentvel iro condicionar a evoluo da atividade dos bancos portugueses nos prximos anos. Num cenrio de forte contrao da procura interna, expectvel um correlativo abrandamento da procura de emprstimos por parte das empresas e, sobretudo, dos particulares. Para alm disso, ambos os setores tero de prosseguir o esforo de ajustamento da sua situao financeira, dados os elevados nveis de endividamento atingidos. Adicionalmente, a adversidade atual e futura do enquadramento econmico justificaria, em qualquer circunstncia, critrios mais restritivos na aprovao de emprstimos. No obstante, o processo de desalavancagem do sistema bancrio no dever comprometer o financiamento dos setores e empresas mais 15 Este programa de inspees on-site engloba uma anlise das carteiras de crdito com o objetivo de confirmar a adequao dos nveis de imparidade, uma reviso transversal do processo de clculo de requisitos de fundos prprios para risco de crdito, e a validao das metodologias e parmetros utilizados nos exerccios de stress test. 16 Para mais detalhes sobre a implementao destas medidas ver Programa de Assistncia Econmica e financeira no sitio do Banco de Portugal. Municpio da Trofa 27 competitivos da economia. Para tal, as estratgias de desalavancagem devem privilegiar a venda de ativos no estratgicos, o aumento do recurso a financiamento estvel e o reforo do capital. Adicionalmente, este processo deve assumir uma natureza gradual e ordenada, estando a ser acompanhado e monitorizado de forma permanente pelo Banco de Portugal, no mbito do Programa de Assistncia Econmica e Financeira. No obstante, a gesto deste delicado equilbrio constitui um dos mais importantes desafios para o sistema bancrio portugus. Forte deteriorao das perspetivas de crescimento econmico a nvel global, num quadro de crescente incerteza Ao longo dos ltimos meses observou-se alguma desacelerao da atividade econmica a nvel global. Adicionalmente, as previses de crescimento econmico tm vindo a ser revistas em baixa, sobretudo para 2012, e tem aumentado o grau de incerteza em torno destas projees. Esta deteriorao do enquadramento macroeconmico centra-se essencialmente nas economias avanadas, ainda que as previses de crescimento para as economias de mercado emergentes tambm tenham vindo a ser afetadas negativamente (Grficos 2.1 e 2.2). Por um lado, nos Estados Unidos a procura interna continua a evidenciar uma recuperao bastante moderada e a probabilidade de recesso aumentou ligeiramente. No entanto, a implementao de medidas oramentais expansionistas pode ter um efeito positivo sobre o crescimento econmico no curto prazo, exigindo, contudo, um plano de consolidao oramental que garanta a sustentabilidade da dvida pblica norte-americana a mdio e longo prazo. Por outro lado, na rea do euro os efeitos de interao entre as tenses associadas dvida soberana e ao sistema bancrio tm inevitveis impactos sobre a atividade econmica. Tal ocorre num contexto de esforos generalizados de correo de desequilbrios oramentais (e de dvidas quanto sua sustentabilidade nalguns casos), de alguma desalavancagem do setor financeiro e, sobretudo, de uma elevada incerteza, que se agravou no perodo mais recente (Grficos 2.3 e 2.4). Estas perturbaes tambm tiveram algum impacto nas economias de mercado emergentes, ainda que estas continuem a registar nveis de crescimento elevados. Nestas economias os efeitos negativos da contrao da procura externa podero ser Municpio da Trofa 28 compensados pela tendncia de expanso da procura interna, apesar de existirem efeitos endgenos que exercem alguma presso sobre este crescimento (nomeadamente o facto de nalguns pases terem vindo a ser implementadas polticas econmicas menos acomodatcias, com o objetivo de evitar um sobreaquecimento da procura interna). Existem alguns elementos de risco que podem condicionar a evoluo destas economias, nomeadamente os riscos para a estabilidade financeira associados ao forte crescimento do crdito e dos preos dos ativos, assim como o risco de uma quebra dos fluxos internacionais de capital, que se pode traduzir num ajustamento abrupto dos desequilbrios macroeconmicos globais. Grfico 2.1 Grfico 2.2 Municpio da Trofa 29 Grfico 2.3 Grfico 2.4 Em termos globais, os riscos para a evoluo da atividade econmica a nvel internacional so claramente enviesados no sentido descendente. Neste contexto, essencial um esforo concertado de atuao que limite os efeitos de interao entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia. Adicionalmente, as vulnerabilidades observadas nalgumas economias de mercado emergentes, a volatilidade nos mercados financeiros e nos preos de matrias-primas e algumas tenses geopolticas tambm podem comprometer a evoluo da atividade econmica a nvel mundial. As projees de crescimento para a economia portuguesa em 2012 tambm tm vindo a ser revistas em baixa. A necessidade de ajustamento dos desequilbrios macroeconmicos e financeiros exerce uma forte presso descendente sobre a procura interna no curto prazo. Por um lado, a inadivel consolidao oramental implica uma reduo do consumo e investimento pblicos. Por outro lado, as perspetivas negativas quanto evoluo do rendimento e da procura, acompanhadas por condies de financiamento restritivas, devero contribuir de forma significativa para a contrao do consumo e investimento privados. Adicionalmente, a deteriorao das perspetivas quanto evoluo da economia mundial condiciona negativamente o contributo da procura externa para a evoluo da atividade econmica em Portugal. Municpio da Trofa 30 Neste cenrio de ajustamento, a economia portuguesa dever registar uma contrao significativa no futuro prximo, ainda que, a mdio e longo prazo, seja expectvel que a implementao adequada de medidas estruturais permita promover a competitividade, produtividade e o crescimento potencial, contribuindo tambm para a recuperao do acesso a financiamento nos mercados financeiros internacionais. No obstante, a convergncia para este novo equilbrio exige um processo de ajustamento com custos econmicos e sociais substanciais no curto prazo, sendo o seu sucesso condicionado no apenas pela satisfao estrita dos compromissos assumidos na sequncia do pedido de assistncia financeira, mas tambm pelo processo de resoluo institucional da atual crise de dvida soberana na rea do euro. As perturbaes associadas crise de dvida soberana na rea do euro tm vindo a afetar um nmero crescente de pases, exigindo um conjunto de medidas para conter o aumento e generalizao das tenses Ao longo dos ltimos meses, as tenses subjacentes crise da dvida soberana na rea do euro passaram a envolver um conjunto cada vez mais alargado de pases, reforando a sua natureza sistmica. Neste perodo, as perturbaes deixaram de assumir uma magnitude significativa apenas nos pases com programas de assistncia econmica e financeira (Grcia, Irlanda e Portugal), passando a afetar outros pases onde tambm existem receios quanto sustentabilidade das finanas pblicas (Blgica, Chipre, Eslovquia, Eslovnia, Espanha, Frana e Itlia). Neste contexto, assistiu-se a um forte aumento dos prmios de risco soberano, inter alia, na Itlia e em Espanha e, em menor escala, na Blgica e em Frana, assistindo-se tambm a uma pronunciada deteriorao das condies de acesso a financiamento nos mercados de dvida por grosso por parte de alguns bancos nestes pases (Grfico 2.5). A intensificao das tenses no vero de 2011 foi suscitada, pelo menos em parte, pela necessidade de negociao de um segundo pacote de ajuda financeira para a Grcia, em julho de 2011 (Grfico 2.6). O aumento do risco de contgio neste perodo motivou a implementao de um conjunto de medidas para reforar os mecanismos de estabilidade financeira na Unio Europeia. Em termos concretos, o Mecanismo de Estabilizao Europeu dever substituir o atual Fundo Europeu de Estabilidade Financeira Municpio da Trofa 31 (FEEF) em meados de 2013, passando a permitir: 1) intervenes preventivas nos mercados financeiros; 2) o reforo do capital de instituies financeiras atravs de linhas de crdito aos governos de pases que no estejam envolvidos em programas de assistncia financeira; 3) a interveno em mercados secundrios de dvida desde que o BCE reconhea a existncia de condies excecionais nos mercados financeiros e riscos para a estabilidade financeira. Adicionalmente, chegou-se, nessa data, a um acordo para o envolvimento voluntrio do setor privado na reestruturao da dvida grega, tendo implcito um haircut de 21 por cento. Para alm destas medidas, foi negociada a extenso das maturidades dos emprstimos concedidos a Portugal e Irlanda, bem como a reduo das taxas de juro aplicadas nos respetivos programas de assistncia financeira, o que contribui para melhorar a sustentabilidade da dvida nestes pases. Grfico 2.5 Grfico 2.6 Contudo, as medidas anunciadas durante o vero no foram suficientes para mitigar a instabilidade nos mercados financeiros, tendo-se assistido a um agravamento Municpio da Trofa 32 assinalvel dos prmios de risco da dvida grega a partir do final de agosto, com repercusses nos prmios de outros pases europeus. Tendo-se tornado clara a necessidade de implementar medidas adicionais a nvel europeu para conter os efeitos de feedback entre as tenses nos mercados de dvida soberana e os bancos europeus, na cimeira de chefes de estado e de governo da Unio Europeia realizada a 26 de outubro foram anunciadas diversas medidas, nomeadamente: uma reviso das condies associadas ao envolvimento voluntrio do setor privado na Grcia, tendo subjacente um haircut implcito de 50 por cento, acompanhada por um reforo do pacote de assistncia financeira internacional e por uma intensificao dos mecanismos de acompanhamento da implementao das reformas acordadas; planos para aumentar a alavancagem do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, de forma a ter capacidade adicional para mitigar o contgio entre emitentes soberanos da rea do euro; um plano coordenado a nvel europeu para melhorar o acesso a financiamento de longo prazo dos bancos europeus, facilitando a transio para estruturas de financiamento mais equilibradas; medidas de reforo de capital do sistema bancrio europeu, anunciadas pela Autoridade Bancria Europeia (European Banking Authority EBA) com o intuito de recuperar a confiana dos participantes nos mercados na capacidade dos bancos para absorver um conjunto de choques negativos, incluindo os associados reestruturao da dvida grega e a diminuies no valor de mercado de ttulos de dvida de outros emitentes soberanos. Por seu turno, o BCE continuou a ter um papel crucial para mitigar os efeitos de contgio na rea do euro. Em maio de 2010 o BCE implementou o Securities Market Programme, passando a adquirir ttulos de dvida da rea do euro nos mercados secundrios, com o objetivo de normalizar os mecanismos de transmisso da poltica monetria, atravs da estabilizao de segmentos de mercado disfuncionais. A partir de agosto de 2011, o BCE passou a adquirir, no mbito deste programa, ttulos de dvida Municpio da Trofa 33 pblica espanhola e italiana, o que contribuiu para conter a escalada das taxas de rendibilidade a longo prazo nestes pases, bem como em Portugal e na Irlanda. Foram tambm tomadas medidas para facilitar o acesso a financiamento em dlares por parte dos bancos europeus que tm registado dificuldades no acesso a este tipo de financiamento. No incio de outubro, o BCE anunciou ainda um novo programa de aquisio de obrigaes hipotecrias (covered bonds). Adicionalmente, o BCE reduziu as taxas de juro de referncia em 25 pontos base na reunio de 3 de novembro. Para alm disso, continuam a vigorar vrias medidas no convencionais de poltica monetria, incluindo operaes de refinanciamento com satisfao integral da procura (full allotment) e de longo prazo (cerca de doze meses). Apesar das medidas tomadas pelas autoridades europeias (em particular no mbito das cimeiras de julho e de outubro) e dos esforos significativos de consolidao oramental em vrios pases, as tenses relacionadas com a dvida soberana tm-se refletido numa elevada volatilidade nos mercados financeiros internacionais, evidenciando que o impacto destas tenses assume uma escala mundial. De facto, a averso ao risco assumiu recentemente valores prximos dos observados aps o colapso do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro de 2008 (Grfico 2.4), apesar de a volatilidade nos mercados acionistas no se encontrar em nveis to elevados (Grfico 2.7). Contudo, a atual capacidade de absoro de choques, incluindo o poder de resposta das autoridades nacionais e internacionais, encontra-se bastante mais condicionada em muitos aspetos. No perodo mais recente, apesar de os mercados financeiros terem registado inicialmente uma aparente reao positiva cimeira de outubro, esta foi rapidamente revertida, assistindo-se a um forte aumento da instabilidade financeira. A necessidade de clarificao de alguns aspetos das medidas anunciadas, os seus potenciais efeitos pr-cclicos (que podero implicar revises adicionais em baixa do crescimento econmico) e a instabilidade poltica nalguns pases contriburam para este recrudescimento das tenses, colocando em particular a Itlia no foco das preocupaes europeias. Neste contexto, os principais ndices acionistas registaram fortes quedas ao longo dos ltimos meses, as quais se intensificaram no perodo mais recente, afetando sobretudo os ttulos do setor financeiro (em particular de bancos europeus) (Grficos 2.8 e Municpio da Trofa 34 2.9). Refira-se que esta evoluo dificulta os esforos de reforo de capital que muitos bancos prosseguem atualmente, implicando um aumento significativo dos custos subjacentes aos aumentos de capital. Por seu turno, os prmios de risco das empresas no financeiras tambm aumentaram durante o vero, ainda que de forma menos significativa do que no setor financeiro. Grfico 2.7 Municpio da Trofa 35 Grfico 2.8 Grfico 2.9 Neste quadro de elevada averso ao risco, registou-se um aumento da procura de ativos de refgio, traduzindo-se, por exemplo, numa significativa valorizao do ouro e numa forte apreciao do franco suo, o que justificou a tomada de medidas especficas para conter esta evoluo por parte do Banco Nacional da Sua (fixando um limite para a taxa de cmbio do franco suo face ao euro). Simultaneamente, tornou-se mais evidente a segmentao nos mercados de dvida pblica das economias avanadas: enquanto nalguns pases se assistiu a uma escalada sem precedentes dos prmios de risco, noutros pases as taxas de juro a longo prazo atingiram valores muito reduzidos em termos histricos. Na rea do euro, esta ltima evoluo foi registada em pases como a Alemanha, Pases Baixos, Finlndia e ustria17. Para alm disso, no Reino Unido e nos Estados Unidos tambm se observaram evolues semelhantes, apesar da incerteza em torno da sustentabilidade da situao das finanas pblicas norte-americanas, o que implicou um downgrade por parte da S&P durante o vero de 2011. 17 Mais recentemente assistiu-se a um aumento dos prmios de risco dos Pases Baixos, ustria e Finlndia face Alemanha. Municpio da Trofa 36 Generalizao das dificuldades de acesso aos mercados internacionais de dvida por grosso por parte dos bancos europeus A par do aumento da volatilidade e incerteza nos mercados financeiros, tem-se assistido a dificuldades cada vez mais generalizadas de bancos da rea do euro em garantir o acesso a financiamento nos mercados de dvida por grosso, em particular em maturidades mdias e longas. Estas dificuldades tm-se refletido num aumento dos custos de financiamento na emisso de dvida a mdio e longo prazos e, para alguns bancos, em dificuldades na emisso de dvida nos mercados primrios, mesmo no mercado de obrigaes hipotecrias (covered bonds) (Grfico 2.10). Refira-se que estas dificuldades no se limitam a bancos de pases com programas de assistncia financeira (Grfico 2.11). Pelo contrrio, num contexto de incerteza e averso ao risco, os custos de financiamento aumentaram de forma generalizada para os bancos europeus e, nalguns casos, existem restries quantitativas no acesso a financiamento nos mercados de dvida por grosso em maturidades mdias e longas. No segmento de dvida a curto prazo as dificuldades so menos agudas. De facto, apesar de tambm existirem algumas perturbaes no funcionamento do mercado monetrio interbancrio na rea do euro, o acesso a financiamento junto do BCE tem permitido mitigar estas dificuldades, assistindo-se, de novo, a um aumento da intermediao do financiamento por parte do Eurosistema (Grfico 2.12). Contudo, conforme referido anteriormente, alguns bancos europeus tm vindo a enfrentar dificuldades no acesso a financiamento em dlares, o que justificou uma interveno coordenada do BCE, da Reserva Federal dos Estados Unidos, do Banco de Inglaterra e do Banco Nacional da Sua em setembro de 2011. Municpio da Trofa 37 Grfico 2.10 Grfico 2.11 Grfico 2.12 Municpio da Trofa 38 Deste modo, existem riscos significativos associados capacidade de refinanciamento dos bancos europeus nas maturidades mdias e longas nos mercados de dvida por grosso. Em particular, alguns dos ttulos de dvida emitidos com garantia estatal a partir do final de 2008 atingem a maturidade em 2012, podendo existir algumas dificuldades no refinanciamento destes passivos. As restries no acesso a financiamento podem constituir um elemento importante de restrio na oferta de crdito, contribuindo para uma desalavancagem do setor financeiro, mas condicionando tambm o acesso a crdito por parte das empresas e dos particulares, com consequncias para a evoluo da economia europeia. Os bancos portugueses enfrentam srios desafios num cenrio de desalavancagem, enquadrados por um contexto macroeconmico e financeiro particularmente adverso Os riscos para a estabilidade financeira associados interao entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia assumem uma relevncia crtica no caso portugus. Conforme discutido na Seco 4.2 Risco de mercado, deste Relatrio, os bancos portugueses no apresentavam uma exposio muito significativa ao risco soberano antes da ecloso da crise financeira. Contudo, a reduo da procura de dvida pblica portuguesa nos mercados financeiros internacionais implicou uma maior colocao destes instrumentos junto dos bancos portugueses que, por sua vez, podem utilizar estes ativos como colateral em operaes de mercado (designadamente repos) e junto do BCE (Grficos 2.13 e 2.14). No obstante, o aumento do risco soberano tem implicaes negativas para a valorizao do colateral dos bancos em operaes de refinanciamento. Os impactos da exposio a dvida pblica na rendibilidade e no capital regulamentar foram relativamente limitados at ao momento, dado que estes ttulos esto registados na sua maioria nas carteiras de ativos financeiros disponveis para venda ou detidos at maturidade. Contudo, as decises tomadas no mbito das cimeiras de julho Municpio da Trofa 39 e de outubro implicam que a exposio dos bancos portugueses a dvida pblica tenha um impacto negativo substancial sobre o seu capital regulamentar18. Grfico 2.13 18 Em concreto, no mbito da cimeira de outubro, a EBA determinou a criao de um buffer de capital refletindo a avaliao a valores de mercado das exposies a dvida soberana detidas em 30 de setembro de 2011, implicando a eliminao do filtro prudencial aplicvel aos ttulos de dvida soberana da carteira de ativos financeiros disponveis para venda e a avaliao, a preos de mercado, de exposies a dvida soberana nas carteiras de ativos detidos at maturidade e de crdito concedido. Municpio da Trofa 40 Grfico 2.14 Conforme referido anteriormente, assistiu-se recentemente intensificao e generalizao das dificuldades no acesso a financiamento nos mercados internacionais de dvida por grosso a mdio e longo prazo por parte dos bancos europeus. No caso dos bancos portugueses este acesso encontra-se vedado desde o final de abril de 2010, financiando-se essencialmente junto do BCE e do Banco Europeu de Investimento, bem como nos mercados de dvida a curto prazo. Em contrapartida, os bancos tm reforado a captao de depsitos junto da sua base de clientes, o que contribui para uma estrutura de financiamento mais equilibrada. De qualquer modo, nos meses mais recentes, os bancos portugueses enfrentaram dificuldades acrescidas de financiamento nos mercados de dvida a curto prazo, dado o recrudescimento das tenses nos mercados financeiros internacionais (Grfico 2.15). Ao mesmo tempo, algumas agncias de rating continuaram a rever negativamente as notaes atribudas a bancos portugueses (Quadro 2.1). Municpio da Trofa 41 Grfico 2.15 Quadro 2.1 Apesar do Programa de Assistncia Econmica e Financeira, da manuteno a nvel elevado do financiamento junto do BCE e da acrescida captao de depsitos, as restries no acesso a financiamento nos mercados internacionais de dvida por grosso e a necessidade de desalavancagem do sistema bancrio tm implicaes sobre a oferta de crdito economia portuguesa, podendo assumir uma natureza restritiva ativa para Municpio da Trofa 42 alguns agentes financeiros. Contudo, importante notar que a contrao da atividade econmica e do rendimento se traduz inevitavelmente numa substancial moderao da procura de crdito, em particular dada a necessidade de desalavancagem do setor privado no financeiro. Por outro lado, as atuais perspetivas negativas quanto ao enquadramento macroeconmico e financeiros justificam uma reavaliao dos riscos assumidos pelos bancos na concesso de crdito, traduzindo-se num aumento dos prmios de risco cobrados aos clientes. Neste sentido, existe um equilbrio muito sensvel entre o necessrio processo de desalavancagem do sistema bancrio portugus, conforme definido no mbito do programa de assistncia econmica e financeira, e a importncia de continuar a assegurar o financiamento dos setores mais produtivos e competitivos da economia portuguesa, a fim de no comprometer a sua trajetria de recuperao no mdio e longo prazo. Refira-se que este equilbrio requer que o processo de desalavancagem seja gradual e ordenado. Este processo est a ser acompanhado de perto pelo Banco de Portugal, nomeadamente atravs da anlise trimestral de planos de financiamento e de capital dos oito maiores grupos bancrios, sendo necessrio assegurar a sua consistncia com o cenrio macroeconmico e financeiro subjacente ao Programa de Assistncia Econmica e Financeira. O processo de desalavancagem poder ser efetuado por diferentes vias, com impactos diferenciados sobre a economia portuguesa. Com vista a reduzir esse impacto, os bancos devero privilegiar estratgias de reforo da sua base de capital, de venda de crditos e ativos no estratgicos face aos setores privado e pblico, e de reforo do financiamento estvel, nomeadamente dos depsitos captados junto de clientes. Refira-se que um processo de desalavancagem dos bancos assente na reduo da atividade internacional tender a afetar menos a economia portuguesa mas, em contrapartida, poder ter um efeito negativo na evoluo da rendibilidade e, consequentemente, na solvabilidade dos bancos, dado que os resultados obtidos por via da atividade internacional tm oferecido um importante contributo para a rendibilidade dos bancos portugueses ao longo dos ltimos anos. Por outro lado, a desalavancagem efetuada atravs da venda de ativos ter um efeito diferente sobre a economia do que se tiver lugar via reduo de novo crdito. Contudo, as vendas de ativos tambm podero, nalguns casos, originar perdas no curto prazo com consequncias negativas para a rendibilidade e solvabilidade dos bancos. Nalgumas situaes, estas vendas podem implicar a Municpio da Trofa 43 antecipao de perdas que poderiam ter de ocorrer ao longo da maturidade dos emprstimos. A estabilidade do sistema financeiro portugus encontra-se igualmente condicionada pela deteriorao das perspetivas sobre o crescimento econmico, com implicaes negativas sobre a atividade, rendibilidade e solvabilidade dos bancos portugueses conforme discutido no Captulo 4 Sistema Bancrio, deste Relatrio. Em particular, existe uma forte presso negativa sobre a qualidade de crdito, associada a perspetivas de aumento das imparidades decorrentes da contrao da atividade econmica. Os bancos tendero deste modo a registar uma presso sobre os seus requisitos de capital, que ter de ser contrariada com o reforo do capital regulamentar ou com a venda de ativos, no contexto de um processo gradual e equilibrado de desalavancagem, consistente com o no agravamento da situao macroeconmica. Estes desafios crticos exigem que os bancos portugueses tenham o capital necessrio para enfrentar possveis choques adicionais, de forma a continuar a assegurar a estabilidade do sistema financeiro19. Neste sentido, as recomendaes efetuadas pelo Banco de Portugal ao longo dos ltimos meses e as medidas integradas no Programa de Assistncia Econmica e Financeira contribuem para reforar a solidez do sistema bancrio. Os bancos comearam a implementar os planos de desalavancagem que devero conduzir a uma situao mais sustentvel do financiamento da economia portuguesa no mdio prazo. essencial, contudo, que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva convergncia para um novo equilbrio de longo prazo. Dada a posio de partida globalmente slida do sistema bancrio, a implementao destas medidas dever permitir a recuperao da confiana dos investidores internacionais nos bancos portugueses, contribuindo para um regresso gradual ao financiamento nos mercados internacionais de dvida por grosso. A prossecuo dos esforos de consolidao oramental determinante para assegurar a sustentabilidade das finanas pblicas, sendo essencial tambm para assegurar a estabilidade financeira em Portugal. No obstante, estes esforos tm necessariamente de ser complementados com medidas que permitam ultrapassar algumas debilidades 19 Refira-se que, no mbito do exerccio europeu de stress test conduzido pela EBA em meados do ano, os bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques negativos previstos no cenrio adverso. Municpio da Trofa 44 estruturais da economia portuguesa, promovendo a sua competitividade e o seu crescimento potencial. 2.5. PROJEES PARA A ECONOMIA PORTUGUESA: 2012-201320 A evoluo da economia portuguesa em 2011 foi decisivamente marcada pela interrupo do acesso a financiamento de mercado e pelo incio da aplicao do Programa de Assistncia Econmica e Financeira (PAEF), o qual constitui igualmente a referncia central na anlise das perspetivas de mdio prazo. O PAEF fornece um quadro de financiamento estvel para o perodo 2011-2014 e uma estratgia de ajustamento dos desequilbrios macroeconmicos da economia portuguesa e de aumento do seu potencial de crescimento assente em trs pilares: consolidao durvel das contas pblicas, estabilidade do sistema financeiro e transformao estrutural da economia portuguesa. Estes elementos so fundamentais para evitar o ajustamento abrupto e desordenado que ocorreria num contexto de ausncia de financiamento, bem como para criar condies de crescimento sustentado da economia portuguesa e de convergncia com os nveis de rendimento per capita observados em mdia na rea do euro. Este processo de ajustamento dos desequilbrios acumulados na economia portuguesa traduziu-se, em 2011, numa queda de 1.6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). O comportamento do PIB reflete uma contrao de todas as componentes da procura interna, parcialmente compensada por um crescimento robusto das exportaes de bens e servios. As atuais projees para 2012-2013 apontam para a continuao deste processo, projetando-se uma contrao da atividade de 3.4 por cento em 2012, seguida de uma estagnao em 2013 (Quadro 1). A reduo da procura interna dever prosseguir no corrente ano, traduzindo, em particular, a queda mais acentuada do consumo privado, num contexto de forte deteriorao do rendimento disponvel das famlias. Por seu turno, as exportaes devero manter um contributo determinante para 20 Banco de Portugal, Boletim Econmico primavera 2012. As projees para a evoluo da economia portuguesa consideram a informao disponvel at ao incio de maro de 2012. Municpio da Trofa 45 sustentar a atividade, ainda que se anteveja um significativo abrandamento face ao crescimento robusto observado em 2011, em virtude da deteriorao marcada das perspetivas de evoluo da procura externa. O ajustamento dos balanos do setor pblico e dos agentes privados tem vindo a traduzir-se numa reduo do desequilbrio externo, refletida na melhoria expressiva do saldo da balana corrente e de capital em 2011, cuja continuao se projeta para os prximos anos. Quadro 1 Abrandamento da procura externa em 2012 e manuteno das taxas de juro de curto prazo do mercado monetrio em nveis reduzidos A atual projeo tem subjacente um conjunto de hipteses relativas ao enquadramento externo da economia portuguesa, evoluo das finanas pblicas e s condies de financiamento internas da economia (Quadro 2). No que diz respeito evoluo do comrcio internacional, as atuais hipteses refletem a informao recentemente divulgada pelo Banco Central Europeu no Boletim Mensal de Maro de 2012, e traduzem perspetivas de uma moderao do crescimento da Municpio da Trofa 46 atividade ao nvel global em 2012. Em particular, o crescimento nas economias avanadas, incluindo a rea do euro, dever ser condicionado pela persistncia de tenses associadas crise da dvida soberana, bem como pelo impacto das medidas de consolidao oramental e pelo processo de desalavancagem do setor privado. Neste contexto, antecipa-se um abrandamento temporrio da procura externa dirigida economia portuguesa em 2012. Em 2013 esta dever apresentar um ritmo de crescimento prximo do registado em 2011. Estas hipteses implicam uma reviso em baixa do crescimento da procura externa face ao apresentado no anterior Boletim Econmico. Quadro 2 As hipteses para as taxas de cmbio, que pressupem a sua manuteno nos nveis mdios observados nas duas semanas anteriores data de fecho da informao, implicam uma depreciao nominal do euro em 2012, quer em termos efetivos quer face ao dlar. Estas hipteses pressupem um perfil para a taxa de cmbio do euro face ao dlar inalterado face ao Boletim Econmico do Inverno21. 21 As hipteses para a taxa de cmbio nominal efetiva do euro no so diretamente comparveis com as do Boletim Econmico do inverno, uma vez que esta srie foi revista em resultado de uma atualizao dos pesos de comrcio internacional subjacentes ao seu clculo. Para mais informaes, ver a nota metodolgica do BCE sobre esta reviso: http://www.ecb.europa.eu/stats/pdf/exchange/Methodological_note_MoBu_Jan2012.pdf Municpio da Trofa 47 No caso do preo do petrleo em dlares, a informao implcita nos mercados de futuros aponta para um aumento temporrio em 2012, j que para 2013 se antecipa um nvel prximo do observado em 2011. Este perfil contrasta com a trajetria de reduo do preo do petrleo subjacente ao anterior Boletim Econmico e est associado intensificao de tenses de natureza geopoltica. No que diz respeito s condies de financiamento, a hiptese tcnica considerada para a taxa de juro de curto prazo (taxa EURIBOR a 3 meses) implcita nos contratos de futuros pressupe a estabilidade da mesma ao longo do horizonte de projeo em nveis ligeiramente inferiores a 1 por cento, o que traduz uma reviso em baixa face ao Boletim Econmico do Inverno. No que diz respeito s condies de financiamento internas, tem vindo a observar-se um aumento da restritividade nas condies de acesso ao financiamento, traduzido, inter alia, num alargamento dos diferenciais das taxas de juro do crdito face s taxas de referncia do mercado monetrio22. No exerccio de projeo assume-se a continuao da trajetria de aumento destes diferenciais at ao incio de 2013, seguindo-se uma reduo moderada at ao fim do horizonte de projeo, embora para nveis ainda muito superiores aos observados antes da crise financeira. As hipteses para a taxa de juro de longo prazo da dvida soberana consideram, a partir do segundo trimestre de 2011, uma estimativa da taxa mdia do custo de financiamento externo no mbito do PAEF, o que implica uma reduo do mesmo em 2012 e uma estabilizao em 201323. A atualizao dos custos de financiamento internacionais das instituies financiadoras implica uma reviso em baixa destas hipteses face ao anterior Boletim Econmico. As hipteses relativas evoluo das finanas pblicas tm por base a regra adotada nos exerccios do Eurosistema, de acordo com a qual s so consideradas as medidas j aprovadas pelos parlamentos nacionais ou especificadas em pormenor pelos Governos e com elevada probabilidade de aprovao no mbito do processo legislativo. Como tal, as atuais projees incluem, em particular, o conjunto de medidas subjacentes 22 Para mais informaes, ver Inqurito aos Bancos sobre o Mercado de Crdito Resultados para Portugal: janeiro 2012. 23 Para mais informaes sobre o PAEF, ver http://www.bportugal.pt/pt-PT/OBancoeoEurosistema/ProgramaApoio EconomicoFinanceiro/Paginas/default.aspx. II Textos de Poltica e Situao Econmica Municpio da Trofa 48 ao Oramento de Estado para 2012. De acordo com estas hipteses, o volume de consumo pblico dever continuar a contrair-se ao longo do horizonte de projeo, embora a um ritmo mais moderado do que o registado em 2011. A reduo no consumo pblico nominal dever ser mais significativa, refl etindo o comportamento do respetivo deflator, sendo de destacar neste mbito a suspenso dos subsdios de frias e de Natal para os funcionrios pblicos em 2012, que assumir um carter diferenciado e progressivo. Contrao de 1.6 por cento da atividade econmica em 2011 O PIB apresentou uma reduo de 1.6 por cento em 2011, em resultado de uma contrao de todas as componentes da procura interna. Em particular, de destacar a evoluo do consumo privado e da Formao Bruta de Capital Fixo (FBCF), que acentuaram a sua tendncia de contrao em termos homlogos ao longo do ano. O impacto da evoluo da procura interna no PIB foi parcialmente compensado pela manuteno de um crescimento robusto das exportaes de bens e servios. Em comparao com o projetado no anterior Boletim Econmico, o crescimento do PIB em 2011 permaneceu inalterado, embora se tenha observado uma reviso em baixa de todas as componentes da procura interna, compensada por uma reviso no mesmo sentido das importaes de bens e servios. Estas revises traduzem em larga medida uma evoluo mais desfavorvel do que a projetada para a procura interna no quarto trimestre de 2011. Neste contexto, tambm de destacar a deteriorao das condies no mercado de trabalho registada em 2011, em particular no quarto trimestre, que se traduziu numa reduo do emprego idntica registada no ano anterior e num aumento muito significativo da taxa de desemprego. No que se refere s condies de financiamento das empresas, a evidncia disponvel sugere que no tenham ocorrido em termos agregados restries quantitativas abruptas do lado da oferta. Existem, no entanto, grandes diferenas entre empresas e entre setores. De facto, num quadro de forte contrao da procura interna, o risco de crdito tendeu a exacerbar-se em empresas de alguns setores de bens no transacionveis e tambm nas empresas de menor dimenso. Por outro lado, em contraste com a situao do soberano e dos bancos, um conjunto de empresas com Municpio da Trofa 49 melhor pos