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CoordenadorJosé Roberto Neves Amorim
C o leção sucesso
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Miguel Horvath Júnior
Direito Previdenciário
Manole
C o l e ç ã o s u c e s s o
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Direito Previdenciário
CoordenadorJosé Roberto Neves Amorim
C oleção sucesso 1 1|
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Miguel Horvath Júnior
Direito Previdenciário
Copyright © Editora Manole Ltda., 2011,
por meio de contrato com o coordenador e com o autor.
Capa Hélio de Almeida
Projeto gráfico Departamento Editorial da Editora Manole
Este livro contempla as regras do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Horvath Júnior, Miguel
Direito previdenciá rio/Miguel Horvath Júnior. -
Barueri, SP: Manole, 2011.
[Coleção sucesso concursos públicos e OAB/José
Roberto Neves Amorim (coordenador)]
Bibliografia.
ISBN 978-85-204-2998-3
I. Amorim, José Roberto Neves. II. Título. III. Série.
09.11666 CDU 34:368.4(81)
índices para catálogo sistemático:
1. Brasil: Direito previdenciário 34:368.4(81)
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida,
por qualquer processo, sem a permissão expressa
dos editores. E proibida a reprodução por xerox.
A Editora Manole é filiada à ABDR - Associação Brasileira
de Direitos Reprográficos.
Edição-2011
Editora Manole Ltda.
Av. Ceei, 672 - Tamboré
06460-120 - Barueri - SP - Brasil
TeL: (11) 4196-6000 - Fax: (11)4196-6021
www.manole.com.br
Impresso no Brasil
Printcd in Brazil
Sobre o coordenador
José Roberto Neves AmorimDesembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Mestre e douto
rando pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP. Vice-diretor e
Professor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da Fundação Arman
do Alvares Penteado - Faap. Coordenador do curso de pós-graduação lato sensu
em Processo Civil da Faap. Professor de pós-graduação lato sensu de Processo Ci
vil da Universidade Presbiteriana Mackenzic. Professor convidado de pós-gradua
ção lato sensu da Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo.
V
Sobre o autor
Miguel Horvath Jr.Doutor em Direito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Pau
lo - PUC/SP. Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Especialista em
Processo Civil pela Universidade Faculdades Metropolitanas Unidas - UniFMU.
Procurador Federal. Professor do programa de pós-graduação da PUC/SP. Profes
sor universitário.
VI
Sumário
Apresentação do coordenador.......................................................................................................... XIX
1. Origem e evolução histórica da proteção previdenciária................................................................11. Principais marcos evolutivos.............................................................................................................12. A previdência social no Brasil - fases da evolução....................................................................... 3
2 . Fontes do direito previdenciário...........................................................................................................71. Fontes primárias ou principais do direito previdenciário.................................................................82. Fontes secundárias ou subsidiárias do direito previdenciário....................................................... 9
3. As relações do direito previdenciário com os demais ramos jurídicos.................................101. O direito previdenciário e o direito constitucional........................................................................ 102. O direito previdenciário e o direito tributário...............................................................................123. 0 direito previdenciário e o direito administrativo......................................................................124. O direito previdenciário e o direito do traba lho.......................................................................... 125. 0 direito previdenciário e o direito c iv il........................................................................................136. O direito previdenciário e o direito empresarial.......................................................................... 137. O direito previdenciário e o direito penal......................................................................................138. O direito previdenciário e o direito internacional público.............................................................13
4. Regimes previdenciários.....................................................................................................................141. Regime geral de previdência so c ia l.............................................................................................. 142. Regimes jurídicos próprios..............................................................................................................153. Previdência complementar............................................................................................................15
5. Conceito de seguridade social...........................................................................................................16
VII
VIII Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
1. Conceituação..................................................................................................................................162. Assistência social...........................................................................................................................173. Saúde............................................................................................................................................. 184. Previdência social........................................................................................................................... 19
6. Princípios constitucionais de seguridade so cia l............................................................................ 201. Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento.......................................................202. Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações
urbanas e rurais............................................................................................................................... 213. Princípio da seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços....................224. Princípio da irredutibilidade no valor dos benefícios.....................................................................235. Princípio da equidade na forma de participação no custe io.......................................................236. Princípio da diversidade da base de financiamento.....................................................................237. Princípio do caráter democrático e descentralizado da Administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentadose do Governo nos órgãos colegiados.............................................................................................24
8. Regras constitucionais de seguridade social................................................................................25
7. Beneficiários da previdência s o c ia l.................................................................................................261. Segurados obrigatórios..................................................................................................................262. Segurados facultativos..................................................................................................................323. Dependentes previdenciários.........................................................................................................34
3.1 Regras da dependência previdenciária................................................................................353.2 Dependência econômica...................................................................................................... 363.3 Perda da qualidade dos dependentes................................................................................37
8. Classificação das prestações previdenciárias: benefícios e serviços........................................38
9. C arência................................................................................................................................................. 391. Prestações dispensadas da carência........................................................................................... 42
10. Renda mensal in icial............................................................................................................................441. Alíquotas........................................................................................................................................ 452. Salário de benefício........................................................................................................................ 453. Regra geral do art. 29 da Lei n. 8.213/91 .................................................................................. 464. Regra de transição do art. 3o da Lei n. 9.876/99 .......................................................................465. Fator previdenciário...................................................................................................................... 47
11. Manutenção, perda e restabelecimento da qualidade de segurado....................................... 491. Perda da qualidade de segurado..................................................................................................50
12. Prestações previdenciárias em espéc ie ...................................................................................... 521. Aposentadoria...............................................................................................................................52
1.1 Aposentadoria por tempo de contribuição.........................................................................521.1.1 Conceito................................................................................................................ 521.1.2 Carência................................................................................................................ 521.1.3 Alterações decorrentes da Emenda Constitucional n. 20/98 ............................ 531.1.4 Comprovação do tempo de serviço..................................................................... 541.1.5 Requisitos legais.....................................................................................................551.1.6 Destinatários da proteção.....................................................................................551.1.7 Marco inicial da aposentadoria por tempo de contribuição.................................551.1.8 Valor da prestação. Quantificação da proteção soc ia l....................................... 561.1.9 Aposentadoria do professor.................................................................................. 56
1.2 Aposentadoria por idade...................................................................................................... 571.2.1 Conceito................................................................................................................ 571.2.2 Fundamento da proteção.....................................................................................571.2.3 Carência................................................................................................................ 581.2.4 Requisitos legais.....................................................................................................581.2.5 Início da proteção.................................................................................................. 581.2.6 Término.................................................................................................................. 581.2.7 Destinatários......................................................................................................... 581.2.8 Quantificação do benefício...................................................................................581.2.9 Aposentadoria compulsória.................................................................................. 59
1.3 Aposentadoria especial.........................................................................................................591.3.1 Conceito................................................................................................................ 591.3.2 Carência................................................................................................................ 591.3.3 Fundamento da proteção.....................................................................................591.3.4 Início da prestação/momento da entrega............................................................601.3.5 Cessação da prestação......................................................................................... 601.3.6 Requisitos para a entrega da prestação.............................................................. 601.3.7 Sujeitos protegidos................................................................................................621.3.8 Quantificação da prestação.................................................................................. 63
1.4 Aposentadoria por invalidez..................................................................................................631.4.1 Conceito................................................................................................................631.4.2 Fundamento da proteção.....................................................................................631.4.3 Carência................................................................................................................ 631.4.4 Requisitos legais.....................................................................................................631.4.5 Hipóteses de suspensão do benefício...................................................................631.4.6 Hipóteses de cancelamento do benefício............................................................641.4.7 Mensalidade de recuperação................................................................................ 641.4.8 Início da prestação/momento da entrega............................................................64
Sumário I X
1.4.9 Destinatários........................................................................................................ 661.4.10 Quantificação do benefício..................................................................................661.4.11 Grande invalidez....................................................................................................66
2. Auxílio-doença............................................................................................................................... 672.1 Conceito............................................................................................................................... 672.2 Fundamento...........................................................................................................................672.3 Carência............................................................................................................................... 672.4 Requisitos lega is ................................................................................................................. 682.5 Início da prestação............................................................................................................... 692.6 Cessação do benefício.........................................................................................................692.7 Destinatários........................................................................................................................ 692.8 Quantificação do benefício..................................................................................................702.9 Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário - ntep........................................................... 70
3. Salário-maternidade.......................................................................................................................713.1 Carência............................................................................................................................... 723.2 Análise da norma jurídica: salário-maternidade biológico................................................733.3 Análise da norma jurídica: salário-maternidade adoção.................................................... 753.4 Prazo prescricional do benefício.........................................................................................77
4. Salário-família............................................................................................................................... 774.1 Fato gerador da prestação..................................................................................................774.2 Segurados que têm direito ao salário-família.................................................................... 784.3 Valor do benefício................................................................................................................. 784.4 Conceito de baixa renda...................................................................................................... 784.5 Valor das c o ta s ....................................................................................................................794.6 Sistemática de entrega do salário-família...........................................................................794.7 Cumulação de benefícios....................................................................................................794.8 Hipótese de cessação do salário-família........................................................................... 79
5. Auxílio-acidente............................................................................................................................. 805.1 Conceito..............................................................................................................................805.2 Fundamento da proteção....................................................................................................805.3 Requisitos lega is ..................................................................................................................815.4 Auxílio-acidente e perda da audição.................................................................................. 815.5 Sujeitos protegidos................................................................................................................815.6 Início da proteção.................................................................................................................. 815.7 Suspensão do auxílio-acidente...........................................................................................825.8 Hipóteses de extinção do auxílio-acidente.........................................................................825.9 Quantificação da prestação..................................................................................................825.10 Competência para apreciar e julgar litígio envolvendo auxílio-acidente........................... 83
6. Acidente do trabalho...................................................................................................................... 836.1 Conceito............................................................................................................................... 83
X Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Sumário X I
6.2 Fundamento da proteção.................................................................................................... 846.3 Espécies de acidente do traba lho ..................................................................................... 84
6.3.1 Acidente-tipo........................................................................................................846.3.2 Doença profissional ou tecnopatia...................................................................... 846.3.3 Doença do trabalho ou mesopatia......................................................................85
6.4 Situações de equiparação a acidente do trabalho por determinação le g a l.....................866.5 Competência para apreciar os litígios decorrentes de acidente do traba lho...................886.6 A empresa e sua responsabilidade com a segurança do trabalhador..............................88
6.6.1 Responsabilidade pela prevenção dos acidentes do trabalho............................ 886.6.2 Instrumentos estratégicos de prevenção dos trabalhadores............................. 896.6.3 Informação como forma eficaz de prevenção....................................................936.6.4 Novos métodos de prevenção e proteção do trabalhador..................................936.6.5 Instrumento da ação regressiva...........................................................................956.6.6 Comunicação de Acidente do Trabalho (c a t) ...................................................... 97
6.7 Sujeitos protegidos............................................................................................................... 986.8 Gradação da incapacidade laborai e as prestações acidentárias.....................................98
7. Abono anual................................................................................................................................... 998. Seguro-desemprego......................................................................................................................99
8.1 Características marcantes da prestação do seguro-desemprego...................................1008.2 Requisitos legais para acesso ao seguro-desemprego da Lei n. 7 .998/90...................1008.3 Hipóteses de suspensão do seguro-desemprego............................................................ 1018.4 Hipóteses de cancelamento do seguro-desemprego........................................................1018.5 Período aquisitivo................................................................................................................1028.6 Prescrição em relação às prestações recebidas indevidamente.....................................1028.7 Número de parcelas do seguro-desemprego devidas.....................................................1028.8 Trabalhadores que têm direito ao seguro-desemprego (várias espécies).....................1038.9 Valores do seguro-desemprego.........................................................................................1038.10 Local para requerimento e prazo para fazê-lo.................................................................. 104
9. Pensão por morte.........................................................................................................................1049.1 Modalidades de pensão por morte.....................................................................................1069.2 Carência............................................................................................................................. 1069.3 Início do benefício..............................................................................................................1069.4 Término do benefício.........................................................................................................1069.5 Valor do benefício pensão por m orte................................................................................1079.6 Sistemática do pagamento da pensão por m orte ........................................................... 1079.7 Cumulação de duas pensões por morte............................................................................1079.8 Ex-mulher e direito à pensão por morte........................................................................... 108
10. Auxílio-reclusão............................................................................................................................ 10910.1 Conceito..............................................................................................................................10910.2 Fundamentos da proteção.................................................................................................. 109
10.3 Carência.............................................................................................................................10910.4 Requisitos lega is ............................................................................................................... 10910.5 Início da prestação/momento da entrega.........................................................................11010.6 Hipóteses de suspensão do benefício............................................................................. 11010.7 Hipóteses de extinção do benefício..................................................................................11010.8 Destinatários da proteção.................................................................................................. 11110.9 Quantificação do benefício................................................................................................111
11. Serviço social................................................................................................................................. 11112. Habilitação e reabilitação profissional..........................................................................................112
12.1 Funções básicas dos processos de habilitação e reabilitação...................................... 113
13. Reajustamento dos benefícios previdenciários...........................................................................1141. Acumulação de benefícios............................................................................................................ 1142. Regras protetivas dos benefícios previdenciários........................................................................ 115
14. Plano de custeio da seguridade social......................................................................................... 117
15. Contribuições sociais na Constituição Federal de 1988 - da natureza jurídicadas contribuições previdenciárias................................................................................................. 119
16. Salário de contribuição.....................................................................................................................1211. Contribuições do empregador..................................................................................................... 122
17. Decadência e prescrição das contribuições previdenciárias e benefícios.......................... 1211. Decadência das contribuições previdenciárias.......................................................................... 1272. Prescrição das contribuições previdenciárias........................................................................... 128
2.1 Causas interruptivas da prescrição tributária................................................................. 1292.2 Causas suspensivas da prescrição tributária................................................................. 129
3. Quadro-síntese da evolução histórica da decadência das contribuições previdenciárias____ 1294. Quadro-síntese da evolução histórica da prescrição das contribuições previdenciárias____ 1305. Decadência e prescrição em matéria de benefícios.................................................................. 130
18. Regras de incidência e não incidência das contribuições previdenciárias..........................132
19. Relação jurídica de custe io .............................................................................................................1351. Obrigação tribu tá ria ..................................................................................................................... 135
20. Crimes contra a seguridade social................................................................................................ 1401. Apropriação indébita previdenciária............................................................................................ 1402. Sonegação de contribuição previdenciária.................................................................................142
X I I Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Sumário XIII
3. Falsificação de documento previdenciário (art. 297, §§ 3o e 4o, do Código Penal)...............1444. Inserção de dados falsos ou modificação em sistema de informações.................................1455. Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações...................................1476. Do art. 95, § 2o, da Lei n. 8.212/91......................................................................................... 1487. Estelionato contra a previdência social - art. 171 do Código P ena l..................................... 148
Referências bibliográficas................................................................................................................ 150índice alfabético-remissivo.............................................................................................................. 151
Apresentação do coordenador
A produção da Coleção Sucesso Concursos Públicos e OAB, escrita por pro
fessores selecionados, experientes e dotados de especial didática, tem a finalidade
de preparar o operador do Direito, de qualquer nível, para concursos públicos e
também para o exame da OAB.
Numa linguagem objetiva, traduz todo o entendimento doutrinário e juris-
prudencial, mostrando a relevância de cada tema abordado.
A sistemática adotada facilita o aprendizado, fazendo com que o leitor fique
detido nas primordiais colocações.
A Coleção Sucesso Concursos Públicos e OAB não pode faltar na biblioteca
do estudioso do Direito, quer pela sua completude, quer pela sua atualidade.
No site www.univcrsidadcmanolc.com.br/dircito, o leitor poderá avaliar seus
conhecimentos com questões dos principais concursos públicos e dos exames da
Ordem.
José Roberto Neves Amorim
XIV
1
Origem e evolução histórica da proteção previdenciária
1. PRINCIPAIS MARCOS EVOLUTIVOS
A proteção social está relacionada com o período de grandes modificações das
relações sociais (de trabalho, familiares, de formatação do Estado) ocorridas no
mundo a partir da metade do século xix - mais especificamente a partir de 1850,
fenômeno que ficou conhecido como segunda fase da Revolução Industrial. Os paí
ses que comandaram a segunda fase da Revolução Industrial foram Inglaterra, Fran
ça e Prússia (atual Alemanha). Até esse momento histórico, a proteção em face dos
riscos que a humanidade sempre esteve exposta era efetivada com a utilização de
mecanismos de direito privado (mutualismo, proteção familiar, corporações de ofí
cio etc.).
A proteção social surge como fruto da pressão dos trabalhadores urbanos, daí
por que estes foram seus primeiros destinatários. Essa pressão estava alinhada às no
vas teorias socioeconômicas pregadas nesse período. Como expressão maior das dou
trinas socioeconômicas há a do socialismo pregada por Karl Marx na sua obra-pri
ma O capital, bem como a teoria de Engcls.
O modelo de proteção social como dever e responsabilidade do Estado surge
primeiramente na Alemanha em 1883, fruto do projeto legislativo de autoria do
Chanceler alemão Otto Von Bismarck. O projeto revela a sensibilidade social e po
lítica de seu autor, pois para ele chega o momento de o Estado determinar a prote
ção social aos trabalhadores, uma vez que o seu não reconhecimento aumentaria a
pressão dos trabalhadores que transformaram a Europa, nesse momento, em uma
verdadeira panela de pressão prestes a explodir.
O modelo de proteção social desenvolvida por Bismarck foi denominado de
seguro social. As principais características desse modelo são:
1
2 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
• proteção exclusiva dos trabalhadores urbanos;
• modelo contributivo - adotava a fórmula tripartite de custeio (financiamen
to compartilhado entre trabalhadores, empregadores e Estado);
• gestão estatal.
Esse modelo de proteção social passa a ser fonte de inspiração aos demais paí
ses não só da Europa, mas também de outros continentes. Será o modelo que per
meará a proteção social até a Segunda Guerra Mundial.
No momento que antecede a finalização do segundo conflito bélico mundial,
na Inglaterra é encomendado um relatório a William Henry Beveridge (inglês com
formação em economia e profundo conhecedor da realidade social de seu país) para
apresentar a situação da Inglaterra naquele momento e entregar um modelo capaz
de possibilitar a recuperação social em curto espaço de tempo. O modelo propos
to por Lord Beveridge funda-se no princípio da universalidade, ou seja, na exten
são da proteção social a todos os integrantes da sociedade. Daí a famosa síntese de
seu programa: “proteção do berço ao túmulo.”
Esse modelo, denominado de seguridade social, é apresentado aos demais paí
ses na Convenção da o i t (Organização Internacional do Trabalho) na Filadélfia em
1944. Em 1948, a proteção social é erigida como uma das partes componentes dos
direitos humanos. Tal proteção é prevista nos arts. 20 e 21 da Declaração Univer
sal dos Direitos do Homem, de 10 de dezembro de 1948.Em 28 de junho de 1952 é aprovada a Convenção n. 102 da o i t , a qual tra
ta da norma mínima de seguridade social. Cuida a norma mínima das prestações
de assistência médica, de proteção aos desempregados, de proteção contra os ris
cos da doença, da velhice, da invalidez, da morte, de acidentes do trabalho e doen
ças profissionais, das prestações familiares e de maternidade. Essa norma prevê, as
sim, uma proteção generalista (aplicação do princípio da universalidade).
O mínimo exigível em termos de seguridade social é composto por nove ele
mentos. A cobertura desses elementos configura o “ ideal de cobertura”. A norma
mínima da o i t prevê que o Estado-membro signatário proteja pelo menos três, den
tre eles a proteção contra desemprego, velhice e acidente do trabalho (benefícios
de incapacidade laborativa). Os nove elementos são:
• serviços médicos;
• prestações pecuniárias de doença;
• prestações de desemprego;
• prestações de velhice (idade);
• prestações em caso de acidente do trabalho e de doenças profissionais;
• prestações familiares;
• prestações de maternidade;
• prestações de invalidez;
• prestações de sobreviventes (dependentes).
1 Origem e evolução histórica da proteção previdenciária 3
Cada prestação é considerada sob os seguintes aspectos: caracterização, con
dições de qualificação, condições para concessão, valor, condições de manutenção
e outras. O Brasil ratificou a Convenção n. 102 da o i t por meio do Decreto Legis
lativo n. 269, de 19 de setembro de 2008.
2. A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL - FASES DA EVOLUÇÃO
1923-A Lei Eloy Chaves (Decreto Legislativo n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923)
é considerada o marco inicial da proteção previdenciária no Brasil. Essa lei autori
zava as empresas ferroviárias a criarem suas caixas de aposentadoria e pensão. Nes
se modelo embrionário, a proteção se efetivava cm relação aos riscos de doença,
invalidez, idade e morte. A administração da proteção previdenciária era privada,
sendo realizada pela própria empresa que criara sua caixa de aposentadoria e pen
sões.
1931 - Após o início do governo Vargas, foi determinada a intervenção nas caixas
previdenciárias até então existentes, em face de problemas de gestão e de efetiva
ção da proteção, e composta uma comissão de notáveis que elaboraria o novo mo
delo previdenciário brasileiro. Esse modelo veio a lume com a edição do Decreto
n. 20.465, de I o de outubro de 1931, o qual previa um amplo leque de proteção
cobrindo os riscos de invalidez, velhice e morte, bem como concedendo as seguin
tes prestações: auxílio-funcral, assistência médica hospitalar e aposentadoria ordi
nária (condicionada a tempo de serviço e à idade). Nesse modelo a gestão passa a
ser estatal (por meio de autarquias previdenciárias) e a proteção por segmentos pro
fissionais (por categorias profissionais).
1933 - A partir de 1933, esse modelo passou a ser implementado com a criação dos
institutos de aposentadoria e pensões.
Segue o cronograma de criação dos institutos de aposentadoria e pensões:
• 1933 - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos ( i a p m ). Decre
to n. 22.872, de 29 de junho;
• 1934 - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários ( i a p c ). De
creto n. 24.273, de 22 de maio; Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancá
rios ( i a p b ). Decreto n. 24.615, de 9 de julho;
• 1936 - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários ( i a p i ). Lei n.
367, de 31 de dezembro;
• 1938 - Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado
(União). Decreto-lei n. 288, de 23 de fevereiro; Instituto de Aposentadoria c Pen
sões dos Empregados em Transporte e Cargas (Iaptcc). Decreto-lei n. 651, de 26 de
agosto.
1 9 6 0 - O processo de unificação da previdência social brasileira é iniciado com a
edição da Lops (Lei Orgânica da Previdência Social), Lei n. 3.807, de 26 de agos
4 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
to de 1960. Essa lei representa a unificação legislativa do sistema previdenciário
brasileiro.
1966- Com a edição do Decreto-lei n. 72, de 21 de novembro, ocorreu a unifica
ção administrativa do sistema previdenciário. Da fusão dos principais institutos
previdenciários surge o i n p s (Instituto Nacional de Previdência Social).
1977 -Criação do Sinpas (Sistema Integrado Nacional de Previdência e Assistência
Social) com as seguintes atribuições: concessão e manutenção das prestações pre-
videnciárias, custeio de atividades e programas, e gestão administrativa, financeira
e patrimonial. O Sinpas era integrado pelos seguintes órgãos:
• Dataprev - Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social;
• inps - Instituto Nacional de Previdência Social;
• Funabem - Fundação Nacional do Bem-estar do Menor;
• Inamps - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social;
• Ceme - Central de Medicamentos;
• lapas - Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social;
• l b a - Fundação Legião Brasileira de Assistência.
1988 - A Constituição Federal inseriu o conceito de seguridade social no Brasil ao
determinar um sistema de proteção social mais amplo que alcançasse todos os in
tegrantes da sociedade brasileira, e não mais apenas os trabalhadores. A seguri
dade social está prevista no Título vii - “Da Ordem Social” e o seu sistema nos
arts. 194 a 204 da Carta da República.
1998 - Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro. Foi a primeira reforma
de índole constitucional do sistema previdenciário brasileiro após a promulgação
da Constituição Federal de 1988. Essa emenda reformou o regime geral de previ
dência social e estabeleceu diretrizes para os demais regimes de proteção previden
ciária.
2003 - Emenda Constitucional n. 41, de 19 de dezembro. Foi a segunda reforma de
índole constitucional do sistema previdenciário brasileiro. Essa emenda tratou da
reforma dos regimes próprios de previdência social, atingindo colateralmente o re
gime geral de previdência social.
2005- Emenda Constitucional n. 47, de 5 de julho. Foi a terceira reforma de índo
le constitucional. Essa emenda regulamentou aspectos pendentes da Emenda Cons
titucional n. 41/2003. Foi a aprovação daquilo que ficou conhecido como Projeto
de emenda constitucional paralela.
2007-A Lei n. 11.457, de 16 de março, criou a Receita Federal do Brasil unifican
do a Secretaria da Receita Federal e a Secretaria da Receita Previdenciária.
2008- Foi ratificada a Convenção n. 102 da o i t que trata da norma mínima de se
guridade social.
1 Origem e evolução histórica da proteção previdenciária 5
A Lei n. 11.718, de 20 de junho de 2008, criou o contrato de trabalhador ru
ral por pequeno prazo, estabeleceu normas transitórias sobre aposentadoria do tra
balhador rural e alterou as Leis ns. 8.212/91 e 8.213/91.
A Lei Complementar n. 128, de 19 de dezembro de 2008, alterou a Lei Com
plementar n. 123/2006 e as Leis ns. 8.029/90, 8.212/91, 8.213/91 e 10.406/2002 -
Código Civil. O segurado contribuinte individual que tenha contribuído com a alí
quota de 11%, e pretenda contar o tempo de contribuição correspondente para fins
de obtenção de aposentadoria por tempo de contribuição ou de contagem recípro
ca do tempo de contribuição a que se refere o art. 94 da Lei n. 8.213/91, deverá
complementar a contribuição mensal mediante o recolhimento de mais 9% , acres
cido dos juros moratórios de que trata o § 3o do art. 61 da Lei n. 9.430/96. Essa
contribuição poderá ser exigida a qualquer tempo, conforme alteração feita pela
Lei Complementar n. 128/2009.
2 0 0 9 - 0 Decreto n. 6.727, de 12 de janeiro de 2009, incluiu o aviso prévio inde
nizado no rol de verbas integrantes do salário de contribuição e revogou a alínea
f do inciso v do § 9° do art. 214, o art. 291 e o inciso v do art. 292 do Decreto
n. 3.048/99.
A Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009 - fruto da conversão da Medida Pro
visória n. 449/2008 -, previu o reparcelamento dos créditos fiscais federais, dispôs
sobre a remissão de créditos fiscais e criou o Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais.
O Decreto n. 6.939, de 18 de agosto de 2009, alterou a forma de cálculo do
salário de benefício nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez,
previstos no Decreto n. 3.048/99, determinando que o salário de benefício consis
ta na média aritmética simples dos maiores salários de contribuição corresponden
te a 80% do período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994
até a data do início do benefício.
A redação original do Decreto n. 3.048/99 previa que, contando o segurado
com salários de contribuição em número inferior a 60% do número de meses de
corridos desde julho de 1994 até a data do início do benefício, o salário de benefí
cio corresponderia à soma dos salários de contribuição dividido pelo número de
contribuições mensais apurado.
A Lei n. 12.023, de 27 de agosto de 2009, em seu art. 1°, determinou que as
atividades de movimentação de mercadorias em geral, exercidas por trabalhadores
avulsos, são aquelas desenvolvidas em áreas urbanas ou rurais sem vínculo empre-
gatício, mediante intermediação obrigatória do sindicato da categoria, por meio de
Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho para execução das atividades.
A grande inovação desta Lei está prevista no art. 6°, que inseriu como dever
do tomador de serviços o recolhimento dos valores devidos ao Fundo de Garantia
6 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
por Tempo de Serviço, acrescido dos percentuais relativos ao décimo terceiro salá
rio, férias, encargos fiscais, sociais c previdenciários, observando o prazo legal.
Por sua vez, o art. 8° desta Lei estabeleceu que as empresas tomadoras do tra
balho avulso respondem solidariamente pela efetiva remuneração do trabalho con
tratado e são responsáveis pelo recolhimento dos encargos fiscais e sociais, bem
como das contribuições ou de outras importâncias devidas à seguridade social, 110 limite do uso que fizerem do trabalho avulso intermediado pelo sindicato. A lei en
trou em vigor em 27 dc setembro de 2009.
A Lei n. 12.154, de 23 dc dezembro dc 2009, criou a Superintendência N a
cional de Previdência Complementar - Prcvic e dispôs sobre o seu pessoal; incluiu
a Câmara de Recursos da Previdência Complementar na estrutura básica do xVli-
nistério da Previdência Social; e alterou as disposições referentes a auditores-fiscais
da Receita Federal do Brasil, além das Leis ns. 11.457/2007 e 10.683/2003.
O Decreto n. 7.054, de 28 de dezembro de 2009, estabeleceu os seguintes se
gurados que passam a ser enquadrados como segurados facultativos:
• o presidiário que não exerce atividade remunerada nem esteja vinculado a
qualquer regime dc previdência social;
• o brasileiro residente ou domiciliado no exterior, salvo se filiado a regime
previdenciário dc país com o qual o Brasil mantenha acordo internacional; c
• o segurado recolhido à prisão sob regime fechado ou semiaberto que, nes
ta condição, preste serviço, dentro ou fora da unidade penal, a uma ou mais em
presas, com ou sem intermediação da organização carcerária ou entidade afim, ou
que exerce atividade artesanal por conta própria.
2Fontes do direito previdenciário
Etimologicamente, o vocábulo “fonte” vem do latim fons, fontis, nascente,
traduzindo como seu signo tudo aquilo que origina, que produz algo. Logo, é pos
sível entender a fonte do Direito como o local de onde surge o Direito ou como os
meios pelos quais se formam as regras jurídicas. A principal fonte do direito previ
denciário é a norma jurídica, estabelecida pela Constituição Federal e pelas leis.
A teoria tradicional entende que somente ao Poder Legislativo compete a cria
ção de normas jurídicas. Isso em face dos princípios democrático e da separação
de poderes.
O tema fontes revela uma indagação de índole constitucional, no sentido de
identificar quem tem o poder constitucional para exercer a função legislativa.
A Constituição Federal de 1988 determina em seu art. 22, xxm, que compe
te privativamente à União legislar sobre seguridade social (saúde, assistência social
e previdência social - regime geral). A competência privativa pode ser delegável.
Por sua vez, o art. 24, x i i , determina que compete à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios concorrcntemente legislar sobre: previdência so
cial, proteção e defesa da saúde. Quanto às matérias de competência concorrente,
cabe à União estabelecer normas gerais e aos demais entes federativos a tarefa de
suplementar as normas gerais editando leis específicas no âmbito de cada matéria.
No que tange à matéria previdenciária, a competência concorrente incidirá em re
lação aos regimes próprios de previdência.
O direito previdenciário, enquanto ramo do direito público, é regido por nor
mas de direito público de caráter cogente, ou seja, não passíveis de mútuas conces
sões entre as partes. Essas normas para serem válidas devem originar-se do proces
so legislativo, regrado no art. 59 da Constituição Federal:
7
8 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
0 processo legislativo compreende a elaboração de:
1 - emendas à Constituição;
n - leis complementares;
iii - leis ordinárias;
iv - leis delegadas;
v - medidas provisórias;
vi - decretos legislativos;
vii - resoluções.
A lei complementar prevista no parágrafo único do art. 59 da Carta Política,
que dispõe sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis, é a Lei
Complementar n. 95/98.
Portanto, para inovação, alteração, modificação e supressão de normas pre
videnciárias é possível a utilização de qualquer uma das formas do processo legis
lativo constitucional.
As fontes podem ser classificadas em primárias ou principais e secundárias ou
subsidiárias. As secundárias visam desenvolver, unificar e facilitar a correta aplica
ção da lei.
1. FONTES PRIMÁRIAS OU PRINCIPAIS DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A fonte principal por excelência é a lei. A lei deve ser entendida como todas
as normas jurídicas originadas de um processo legislativo. Já as fontes secundárias
ou subsidiárias nada mais são do que atos administrativos normativos (os que con
têm um comando geral do Poder Executivo com a finalidade de propiciar a corre
ta aplicação da lei).
São fontes principais do direito previdenciário:
• emenda à Constituição. Decorre do Poder Constituinte derivado. O legisla
dor sofre limitações impostas pelo próprio texto constitucional, que traz um nú
cleo imodificável previsto em seu art. 60, § 4o. A eliminação de riscos e contingên
cias sociais é vedada no ordenamento jurídico de forma sistemática, daí se dizer
que constitui cláusula pétrea implícita.
• lei complementar. Prevista pelo constituinte para regular matérias relevan
tes de forma taxativa. Para aprovação de lei complementar é necessária maioria ab
soluta, ou seja, o primeiro número inteiro subsequente à divisão dos membros da
Casa Legislativa por dois.
• lei ordinária. Qualquer matéria pode ser objeto de lei ordinária com exce
ção das reservadas à lei complementar. Há duas leis ordinárias fundamentais em
matéria previdenciária: a Lei n. 8.212/91 (plano de custeio da seguridade social) e
a Lei n. 8.213/91 (plano de benefícios).
2 Fontes do direito previdenciário 9
• lei delegada. É elaborada pelo Presidente da Republica em virtude de auto
rização do Poder Legislativo e nos limites estabelecidos por este. Pode haver dele
gação com o objetivo de assegurar maior eficiência e agilidade nas atividades esta
tais. Não há registro de delegação cm matéria previdenciária.
• medida provisória. É editada pelo Presidente da República em caso de rele
vância e urgência, com força de lei, devendo ser submetida de imediato ao Con
gresso Nacional. A medida provisória vigora por sessenta dias, podendo ser reedi
tada uma única vez por igual período.
• decreto legislativo. É destinado a matérias de competência exclusiva do Con
gresso Nacional, previstas, basicamente, 110 art. 49 da Constituição Federal. O de
creto legislativo é utilizado, por exemplo, para ratificação de tratados internacio
nais.
• resolução. Fssa norma regula matéria de competência do Congresso Nacio
nal ou de qualquer de suas Casas. De modo geral, tem efeitos internos.
2. FONTES SECUNDÁRIAS OU SUBSIDIÁRIAS DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO
As fontes secundárias 011 subsidiárias têm como finalidade a regulamentação
do texto legal visando sua correta aplicação. Os atos administrativos normativos
mais utilizados são:
• decreto regulamentar. É previsto no art. cS4, iv, da Constituição Federal. Des
tina-se a regulamentar a lei e nela encontra seu limite. Sendo assim, o decreto não
pode ir além da previsão legal (naquilo que ultrapassar a previsão legal é conside
rado ilegal). O regulamento atual da previdência social é o Decreto n. 3.048/99,
que regulamentou as Leis ns. 8.212/91 e 8.213/91. O decreto é publicado pelo che
fe do Poder Executivo.
• instruções ministeriais (portarias). Estão previstas no art. 87,11, da Consti
tuição Federal. Essas portarias são elaboradas pelos Ministros de Estado e têm a
finalidade de expedir instruções para execução de leis, decretos e regulamentos.
• atos normativos internos. São classificados de acordo com a autoridade que
os expediu. Existem várias espécies de atos, dentre elas a resolução ou instrução
normativa, a orientação normativa e a circular.
3As relações do direito previdenciário com os demais ramos jurídicos
A previdência social é um serviço público de ripo novo destinado a amparar
a população economicamente ativa (segurados obrigatórios) ou não (segurados fa
cultativos), que se encontra em situações de riscos ou contingências sociais previs
tas em lei, essencialmente com benefícios e serviços, mediante a adoção da fórmu
la tripartite de custeio (Estado, empregadores, trabalhadores e/ou facultativos).
Previdência social é o seguro social que substitui a renda do segurado ou segurada
contribuinte quando perde sua capacidade de trabalho por motivo de doença, aci
dente de trabalho, velhice, maternidade, morte ou reclusão.
A Constituição Federal, em seu art. 201, determina que a previdência social
seja organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, mantendo-se o equilíbrio financeiro-atuarial.
O direito previdenciário sob a ótica dicotomista é ramo de direito público,
que relaciona-se com vários outros ramos do Direito, notadamente com o direito
constitucional, direito tributário, direito administrativo, direito do trabalho, direi
to civil, direito empresarial, direito penal e direito internacional público.
1. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO CONSTITUCIONAL
Em inúmeras previsões da Carta Magna são encontradas previsões relativas
à previdência social, por exemplo:
Art. 3o Constitui como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a
construção de uma sociedade livre, justa e solidária (inciso i), bem como a redução
das desigualdades sociais e regionais (inciso m , parte final).
Art. 6o Determina dentre os direitos sociais o direito à saúde, previdência social e
assistência aos desamparados.
Art. 7o Estabelece os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, assegurando:
10
3 As relações do direito previdenciário com os demais ramos jurídicos 11
• seguro-desemprego (inciso n);
• décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da
aposentadoria (inciso vm);
• salário-família pago em razão do dependente do trabalhador dc baixa ren
da nos termos da lei (inciso xn);
• licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de
120 dias (inciso xvm);
• aposentadoria (inciso xxiv);
• seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que está obrigado, quando incorrer em culpa ou dolo (inciso xxvm).
O parágrafo único do art. 7° assegura aos trabalhadores domésticos os seguintes
direitos: salário-mínimo; irredutibilidade de salário, salvo o disposto em convenção ou
acordo coletivo; décimo terceiro salário; repouso semanal remunerado; gozo de férias
anuais, remuneradas com 1/3 a mais do que o salário normal; licença à gestante; licen-
ça-paternidade; aviso-prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo de no mínimo
trinta dias; aposentadoria; bem como sua integração à previdência social.
Art. 10. Assegura a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados
dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam
objeto de discussão e deliberação.
Art. 22, xxm. Estabelece competência privativa da União para legislar sobre segurida
de social.
Art. 24, xn. Determina que compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios legislar concorrentemente sobre previdência social, proteção e defesa
da saúde.
Art. 149. Estabelece competência exclusiva da União para instituir contribuições so
ciais.
Art. 193. Determina que a ordem social tenha como base o primado do trabalho e
como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.
Art. 194. Conceitua seguridade social e determina seus objetivos.
Art. 195. Determina o financiamento da seguridade social (forma direta e indire
ta).
Arts. 196 a 200. Estabelecem os parâmetros da saúde.
Art. 201. Estabelece os parâmetros da previdência social - regime geral.
Art. 202. Estabelece os parâmetros da previdência complementar (privada).
Arts. 203 e 204. Estabelecem os parâmetros da assistência social.
Art. 248. Estabelece parâmetros para o pagamento de benefícios previdenciários -
valores máximos.
Arts. 249 e 250. Estabelecem a possibilidade de criação de fundos previdenciários
para os regimes jurídicos próprios (dos servidores públicos) e para o regime geral
( i n s s ), respectivamente.
12 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
2. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO TRIBUTÁRIO
Há uma forte conexão entre os ramos do direito previdenciário e direito tribu
tário tendo em vista o caráter contributivo do sistema previdenciário. Como a natu
reza jurídica das contribuições sociais é tributária, as relações entre esses direitos es
tão inexoravelmente inter-relacionadas. Logo, é de fundamental importância o estudo
do conceito de tributo e obrigações tributárias principal e acessórias (ou instrumen
tais); dos institutos da decadência, prescrição, lançamento e denúncia espontânea; e
da apreensão do conceito de sujeito ativo, sujeito passivo, fato gerador, incidência
e não incidência, imunidade, isenção, dentre outros. Nessa relação aplica-se a lei de
custeio - Lei n. 8.212/91, e subsidiariamente o c t n - Código Tributário Nacional.
3. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO ADMINISTRATIVO
As prestações previdenciárias são serviços públicos e cabe a uma autarquia
federal seu processamento, concessão e pagamento. Há necessidade de provocação
da Administração, em regra, para entrega das prestações previdenciárias. Essa pro
vocação é efetivada via procedimento administrativo, logo, em um ambiente de di
reito administrativo. A previdência social é regida internamente por atos adminis
trativos normativos.
O in s s (Instituto Nacional do Seguro Social) - autarquia federal integrante
da Administração Indireta Federal - está sujeito ao cumprimento dos princípios
constitucionais do art. 37 da Carta Política, a saber: legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência, o famoso l im pe . Da mesma forma, a autarquia
se sujeita ao cumprimento dos direitos e garantias individuais do art. 5°, lv , da
Constituição Federal, que asseguram aos litigantes em processo judicial ou admi
nistrativo o direito ao contraditório e ampla defesa, com todos os meios e recursos
a ela inerentes. O in s s ainda deve se submeter aos comandos da lei de licitações e
contratos (Lei n. 8.666/93) e da Lei n. 9.784/99, que regula o processo administra
tivo no âmbito da Administração Pública Federal.
4. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO DO TRABALHO
Os ramos do direito previdenciário e direito do trabalho nascem como direi
tos de conquista e de reivindicação. Estão intimamente ligados, notadamente quan
to aos conceitos de empregador (art. 2° da c l t ); empregado (art. 3o da c l t ); remu
neração (art. 457 da c l t ); salário (art. 457, §1°, da c l t ); salário-utilidade (art. 458
da c l t ); trabalhador doméstico (art. 1° da Lei n. 5.859/72); trabalhador temporá
rio (art. 16 do Decreto n. 73.841/74); verbas indenizatórias; e interrupção e sus
pensão dos efeitos do contrato de trabalho.
3 As relações do direito previdenciário com os demais ramos jurídicos 13
5. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO CIVIL
O direito civil é o ramo do direito que regula os direitos e obrigações de or
dem privada concernente às pessoas, aos bens e suas relações. Assim, inexoravel
mente surgem pontos de conexão entre o direito civil e o previdenciário como a
análise dos conceitos de emancipação, ausência, casamento, união estável, separa
ção, divórcio, dentre outros.
6. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO EMPRESARIAL
O direito empresarial é um conjunto de normas jurídicas que regulam as re
lações derivadas das atividades privadas de produção e circulação de bens e servi
ços destinados ao mercado. Percebe-se um elo entre esses ramos cm relação ao con
ceito de falência (instituto de ordem pública que visa atender ao interesse coletivo).
Fundamenta-se na necessidade de:
• garantir aos credores igualdade (princípio da par condictio creditorum);
• afastar o devedor de suas atividades e preservar e otimizar a utilização pro
dutiva dos bens ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis.
Outro ponto de conexão entre esses direitos refere-se à recuperação de em
presas no tocante à restituição e habilitação de créditos previdenciários de empre
sas que tiveram suas falências decretadas.
7. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO PENAL
O direito penal visa a proteção de bens jurídicos. Por meio dele o Estado aplica
o seu ius puniendi. O direito penal visa proteger os bens jurídicos mais relevantes, daí
por que os tipos penais previdenciários encontram-se inseridos no Código Penal.
8. 0 DIREITO PREVIDENCIÁRIO E 0 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
O direito internacional público, enquanto conjunto de normas que regem as
relações jurídicas no que se refere aos tratados, convenções e acordos entre as na
ções (sendo conhecido também como “direito das gentes”), mantém estreito rela
cionamento com o direito previdenciário, em face da tendência de internacionali
zação deste último ramo, bem como em face da crescente mobilidade populacional
(fenômenos migratórios e livre circulação de trabalhadores). O ponto de contato
de maior relevo diz respeito aos acordos internacionais de previdência social que
estabelecem uma relação de prestação de benefícios previdenciários, não implican
do modificação da legislação vigente no país. O Brasil mantém acordos de previ
dência com os seguintes países: Argentina, Cabo Verde, Espanha, Grécia, Chile, Itá
lia, Luxemburgo, Uruguai e Portugal.
4Regimes previdenciários
A previdência social é uma das subáreas que integram o grande sistema de se
guridade social (saúde, assistência social e previdência social). O sistema previden
ciário brasileiro é composto por três subsistemas, a saber: o regime geral de previ
dência social ( i n s s ), os regimes jurídicos próprios (previdência do servidor público)
e a previdência complementar (previdência privada, aberta e fechada).
1. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
O r g p s (regime geral de previdência social) é administrado pela autarquia fe
deral in s s - Instituto Nacional do Seguro Social. É de caráter obrigatório para aque
les que exercem atividade remunerada e facultativo (por força do princípio da uni
versalidade de atendimento) para pessoas que não exercem atividade remunerada
ou que não estejam abrangidas por regime próprio de previdência social. O r g p s
é regido pelas Leis ns. 8.212/91 (lei de custeio) e 8.213/91 (lei de benefícios previ
denciários).
O r g p s tem o objetivo de atender os beneficiários em todas as situações pre
vistas no art. 1° da Lei n. 8.213/91, o qual prevê que:
A previdência social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus be
neficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desem
prego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou
morte de quem dependiam economicamente.
14
4 Regimes previdenciários 15
2. REGIMES JURÍDICOS PRÓPRIOS
Os regimes próprios de previdência visam dar cobertura previdenciária aos
servidores públicos. O regime próprio é de filiação obrigatória e adota o caráter
contributivo. Está fundado no princípio da solidariedade entre os integrantes do
mesmo grupo. A União possui dois regimes próprios de previdência, um dos mili
tares e outro dos servidores civis. Todos os Estados brasileiros já possuem regimes
próprios para atender seus servidores; entretanto, nem todos os Municípios têm re
gime próprio previdenciário. Os servidores de Municípios que não tenham regime
próprio estão vinculados ao regime geral de previdência social.
3. PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
O regime previdenciário complementar ou previdência privada tem suas ca
racterísticas determinadas no art. 202 da Constituição. É regido pelas Leis Com-
plementares ns. 108 e 109, ambas de 29 de maio de 2001. As características mar
cantes da previdência privada são: caráter facultativo, autonomia em relação ao
regime geral, funcionamento calcado na constituição de reservas financeiras e ca
ráter contratual privado.
A previdência privada pode ser aberta ou fechada. A previdência privada aber
ta é acessível a qualquer pessoa, sendo operada por instituições financeiras por meio
de títulos de capitalização, fiscalizadas pelo Ministério da Fazenda por intermédio
da Susep - Superintendência de Seguros Privados. Já a previdência privada fecha
da é acessível apenas para funcionários de uma empresa ou grupo de empresas. É
fiscalizada pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar - Previc,
criada pela Lei n. 12.154/2009.
5Conceito de seguridade social
1. CONCEITUAÇÃO
A expressão seguridade social tem significado mais amplo em alguns países
do que em outros, mas no essencial, pode-se conceituá-la como a proteção que a
sociedade proporciona a seus membros, mediante uma série de medidas públicas.
Tais medidas destinam-se a evitar privações econômicas e sociais que derivam do
desaparecimento ou de uma forte redução dos recursos econômicos cm razão de
doença, maternidade, acidente do trabalho ou doença profissional, desemprego, in
validez, idade avançada e morte; e também se destinam à proteção em forma de as
sistência à saúde e de assistência social.
O conceito de seguridade social, como hoje é concebido, lança suas raízes 110 Relatório Beveridge, apresentado ao Parlamento Britânico, em novembro de 1942,
por Sir William Henry Beveridge.
Tal conceito somente foi implantado 110 sistema jurídico brasileiro com a pro
mulgação da Constituição Federal de 1988. Até então, era adotado o de seguro so
cial. A inserção do novo conceito trouxe inúmeras mudanças e uma das mais rele
vantes diz respeito aos destinatários deste instrumento de política social. Antes da
atual Carta Política, somente os trabalhadores tinham direito à proteção previden
ciária; após a Constituição Federal de 1988, a todos os integrantes da sociedade
brasileira foi facultada a proteção social, desde que cumpridos os requisitos cons
titucionalmente exigidos.
A seguridade social é tratada na Constituição Federal 110 Título vm que cuida
da Ordem Social. A Ordem Social tem como base o primado do trabalho e como
objetivo o bem-estar e a justiça sociais. A seguridade social vem definida no art. 194
da Magna Carta como o “conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Pú
16
5 Conceito de seguridade social 17
blicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previ
dência social e à assistência social” .
O objetivo do sistema e eliminar as necessidades sociais ou minimizar seus
efeitos. Essas necessidades são previamente selecionadas e a seguridade social per
mite que o Estado assegure aos seus integrantes cobertura frente às necessidades
sociais determinadas e delimitadas pelo próprio Estado.
O que justifica a existência da seguridade social é o fato de ela tutelar um in
teresse geral, conferindo aos seus titulares o direito de exigir a ação estatal. O sis
tema da seguridade social abrange a assistência social, a saúde e a previdência so
cial.
2. ASSISTÊNCIA SOCIAL
A existência digna deve ser algo comum a todas as pessoas. Aqueles que não
conseguem subsistir com seus próprios recursos e do seu núcleo familiar devem ter
o amparo da coletividade e do Estado.
A Constituição Federal tratou do direito à assistência social em seus arts. 203
e 204, garantindo prestações assistenciais a todos que necessitarem, independente
mente de contribuição. Nesse sentido, pode ser feita a primeira distinção em rela
ção aos subsistemas previdenciário e assistencial: a previdência social atende aque
les que contribuem, enquanto a assistência não requer participação contributiva.
O art. 203 da Constituição Federal traça os objetivos da assistência social, a
saber:
i - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência c à velhice;
ii - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
m - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
iv - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a pro
moção de sua integração à vida comunitária;
v - a garantia de um salário-mínimo dc benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manu
tenção ou dc tc-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
No subsistema assistencial, os riscos representam a incapacidade das famílias
em assegurar o necessário apoio às crianças, aos adolescentes, aos idosos, aos por
tadores de deficiência e às mães. As ações assistenciais, conforme preceito constitu
cional, serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, que estão
determinados no art. 195 da Carta Política, ressalvada a possibilidade de criação
de outras fontes.
A assistência social está organizada sob as diretrizes da descentralização po-
lítico-administrativa e da participação popular (art. 204, ct/88). A Lei n. 8.742/93
(Loas - Lei Orgânica da Assistência Social) regulamentou as disposições constitu
cionais de assistência social.
3. SAÚDE
A Constituição Federal em seu art. 196 afirma que:
A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recu
peração.
A Carta Política reservou, ainda, os arts. 197 a 200 para o regramento da ma
téria.
O termo saúde, como utilizado pelo constituinte, é muito mais abrangente que
a simples ausência de doença. José Jayme de Souza Santoro1 ensina que a expres
são “saúde” tem três sentidos diferentes: no sentido comum é a ausência de enfer
midade; no sentido acadêmico é o estado em que o organismo exerce normalmen
te suas funções; c no sentido adotado internacionalmente, é o estado completo de
bem-estar físico, mental e social.
Esse último sentido é o que traduz melhor a vontade do constituinte. As dire
trizes básicas do subsistema saúde encontram-se dispostas no art. 198, i a m . São
elas:
i - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
ii - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
m - participação da comunidade.
A Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, regulou as ações e serviços públi
cos de saúde que constituem o denominado sus - Sistema Único de Saúde. De acor
do com o § I o do art. 198 da Constituição Federal, as prestações de saúde são fi
nanciadas com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
Sueli Gandolfi Dallari enfatiza que existem três formas de política sanitária
de prevenção, a saber:
18 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
1 Manual de direito previdenciário, p. 8.
5 Conceito de seguridade social 19
(...) a primária, que se preocupa com a eliminação das causas e condições de apareci
mento das doenças, agindo sobre o ambiente (segurança nas estradas, saneamento bá
sico, por exemplo) ou sobre o comportamento individual (exercício e dieta, por exem
plo); a secundária ou prevenção específica, que busca impedir o aparecimento de
doença determinada, por meio da vacinação, dos controles de saúde, da despistagem;
e a terciária, que visa limitar a prevalência de incapacidades crônicas ou de recidi-
vas.2
4. PREVIDÊNCIA SOCIAL
A previdência social é disciplinada nos arts. 201 e 202 da Magna Carta. É or
ganizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obriga
tória. Logo, em face do caráter contributivo, só terão direito às prestações previ-
denciárias aquelas pessoas que contribuírem para o sistema. Devem contribuir de
forma obrigatória todas as pessoas que exercem atividade remunerada, observado
o enquadramento em lei.
Os eventos (riscos e contingências sociais) a serem cobertos, segundo estabe
lece a Constituição Federal, são:
• doença, invalidez, morte e idade avançada;
• proteção à maternidade, especialmente à gestante;
• proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
• salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de bai
xa renda;
• acidente de trabalho.
Nenhum benefício que substitua a remuneração ou salário de contribuição
pode ser inferior a um salário-mínimo (art. 201, § 2°, da c f /88 ) . É vedada a filia
ção ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado facultativo, de
pessoa participante de regime próprio de previdência (art. 201, § 5°, c f /88 ) . As Leis
ns. 8.212/91 (lei de custeio) e 8.213/91 (lei de benefícios) regulamentaram as pre
visões constitucionais de previdência social.
2 “ Direito sanitário e saúde pública”, p.42.
6Princípios constitucionais de seguridade social
Os princípios que regem a seguridade social estão arrolados nos incisos do
art. 194 da Constituição Federal de 1988, a saber: princípio da universalidade da
cobertura e do atendimento; princípio da uniformidade e equivalência dos benefí
cios e serviços às populações urbanas e rurais; princípio da seletividade e distribu-
tividade na prestação de benefícios e serviços; princípio da irredutibilidade no va
lor dos benefícios; princípio da equidade na forma de participação no custeio;
princípio da diversidade da base dc financiamento; c princípio do caráter democrá
tico e descentralizado da Administração, mediante gestão quadripartite com parti
cipação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos
órgãos colegiados.
1. PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO
A seguridade social se distancia da ideia de um seguro porque busca atender
a todas as pessoas que cm determinado momento da vida dela necessitem (caráter
universalizante).
O princípio da universalidade apresenta duas facetas: uma objetiva e outra sub
jetiva. A faceta objetiva diz respeito à previsão da universalidade de cobertura dos
riscos e contingências sociais. O constituinte pressupõe o que é a cobertura uma vez
que não a conceitua. A cobertura, por sua vez, pressupõe o conceito de sinistro, se
guro e risco.
As prestações previdenciárias devem abranger o maior número possível de si
tuações geradoras de necessidades sociais, levando em consideração a realidade
econômico-financeira do Estado. No entanto, é importante observar que nenhum
sistema de seguridade social poderá dar cobertura a todas as necessidades sociais
2 0
6 Princípios constitucionais de seguridade social 21
surgidas por absoluta impossibilidade fática. Assim, a Constituição Federal, par
tindo de um núcleo básico de proteção, buscou expandir a proteção social, na me
dida da evolução da capacidade econômica do Estado. Note-se a conexão da uni
versalidade objetiva com o princípio da seletividade.
No art. 201 da Magna Carta encontra-se o elenco de eventos protegidos. Os
eventos selecionados constitucionalmente são:
• doença, invalidez, morte e idade avançada;
• proteção à maternidade, especialmente à gestante;
• proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
• salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de bai
xa renda;
• acidente do trabalho.
A faceta subjetiva refere-se ao alcance da proteção em relação aos sujeitos
protegidos. O constituinte garantiu a todos, atendidos os requisitos legais, a vincu-
lação ao sistema previdenciário. Com a universalidade de atendimento ampliou-se
a cobertura social uma vez que ela passou a ser acessível não somente aos traba
lhadores, mas a todos os integrantes da sociedade.
Decorre do princípio da universalidade do atendimento a criação do segura
do facultativo, previsto no art. 13 da Lei n. 8.213/91. A lei considera segurado fa
cultativo toda e qualquer pessoa maior de 16 anos (Emenda Constitucional n. 20/98)
que se filie voluntariamente ao sistema previdenciário, desde que não se enquadre
como segurado obrigatório.
2. PRINCIPIO DA UNIFORMIDADE E EQUIVALENCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS
A Constituição Federal vedou o tratamento desigual às populações urbana e
rural, corrigindo uma distorção histórica. A discriminação existente em relação aos
trabalhadores rurais foi uma das principais causas do êxodo rural ocorrido na dé
cada de 1970.
O seguro social, enquanto direito de conquista, surgiu no período da segun
da fase da Revolução Industrial como resposta aos anseios da classe operária. Pro
tegia apenas e tão somente os trabalhadores urbanos (operários).
A Lei n. 3.807, de 26 de agosto de 1960 (Lops), excluía expressamente os tra
balhadores rurais do regime geral de previdência social (art. 3o, n), mas determina
va a realização de estudos a cargo do Ministério do Trabalho visando a elabora
ção de projeto de lei a ser encaminhado ao Poder Legislativo para estender aos
trabalhadores rurais e aos empregados domésticos a proteção previdenciária. O
primeiro diploma legal brasileiro a efetivar a proteção ao trabalhador rural foi a
Lei Complementar n. 11, de 25 de maio de 1971. Por meio desta Lei foi criado o
22 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (Prorural). Não havia tratamento
igual para o trabalhador rural e urbano, mesmo com a edição de tal diploma. A
proteção previdenciária da população rural no regime geral somente se deu com a
edição da Lei n. 8.213/91.
Enquanto a uniformidade diz respeito aos riscos e contingências sociais que
serão cobertas, a equivalência está relacionada com o aspecto pecuniário ou com
o atendimento dos serviços. Esses serviços devem ser rigorosamente iguais, porém
equivalentes levando em consideração o tempo de contribuição, coeficientes para
cálculo etc. Os benefícios são prestações in pecunia que serão pagas ao segurado
ou beneficiário. Os serviços são prestações imateriais colocadas à disposição dos
segurados ou dependentes. Pode-se dizer que a uniformidade é um princípio essen
cial da seguridade social, pois impede tratamento desigual e, como conseqüência,
leva a maior justiça no sistema.
3. PRINCÍPIO DA SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DE BENEFÍCIOS E SERVIÇOS
A seletividade permite a realização de legítima estimativa acerca dos tipos de
prestações que, em conjunto, concretizam as finalidades da Ordem Social. A sele
tividade deve ser entendida como uma adaptação à busca da universalidade, obser
vada na montagem e evolução do sistema de seguridade social a capacidade eco
nômica do Estado.
A seletividade consiste na eleição dos riscos e contingências sociais a serem
objeto da proteção pela seguridade social. O constituinte se desincumbiu dessa ta
refa no art. 201 da Carta Política. Porém, outros riscos poderão ser contemplados
via legislação infraconstitucional (por exemplo, a extensão do salário-maternidade
às guardiãs e adotantes pela Lei n. 10.421/2002).
A distributividade refere-se ao estabelecimento de critérios para o acesso ao
sistema visando atingir o maior número de pessoas, o que proporciona uma cober
tura mais ampla. Esse princípio é dirigido ao legislador ordinário, que em sua ati
vidade deve eleger critérios de acesso que favoreçam um contingente populacional
maior e que efetivamente necessite da proteção social. O ritmo de implementação
da dinâmica da proteção social é determinado pelo legislador ordinário, de acordo
com os parâmetros políticos. Cabe aos governantes determinar o momento de avan
çar ou recuar.
O legislador deve levar em conta o fato de que nem todas as pessoas possuem
as mesmas necessidades. Deverão ser atendidos aqueles que mais necessitem do am
paro da seguridade social, pois a seguridade visa proporcionar condições dignas de
existência àqueles que venham dela carecer. A distributividade, no atual momento,
é efetivada pela Lei n. 8.213/91 (plano de benefícios da previdência social).
6 Princípios constitucionais de seguridade social 23
4. PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE NO VALOR DOS BENEFÍCIOS
A irredutibilidade tem por objetivo a manutenção do poder real de compra,
resguardando os benefícios da corrosão causada pela inflação. Ressalte-se que os
benefícios previdenciários não estão atrelados ao salário-mínimo em virtude das
regras adotadas pelo atual sistema previdenciário. A Constituição Federal assegu
ra que os benefícios sofrerão reajuste periódico que preserve o valor real ou o po
der de compra do benefício. A periodicidade e os critérios de reajustamento são as
pectos que devem ser estabelecidos pelas normas infraconstitucionais.
Ao longo do tempo de vigência da lei de benefícios, o índice de atualização
variou diversas vezes. Assim, cabe pontuar que o índice de atualização originaria-
mente era o índice Nacional de Preços ao Consumidor (i n p c ) calculado pelo i b g e ;
depois foi substituído pelo índice de Reajuste do Salário-Mínimo ( i r s m ) por força
da Lei n. 8.542/92, art. 9o, § 2o; depois passou-se a utilizar a variação da Unidade
Real de Valor (u r v ) por força da Lei n. 8.880/94, art. 21, § I o; posteriormente ado
tou-se o índice de Preços ao Consumidor série r (ipc-r) por força da Lei n. 8.880/94,
art. 21,§ 2o; em 1995 novamente utilizou-se o i n p c por força da Medida Provisó
ria n. 1.053/95, art. 8°, § 3o; e, em maio de 1996, instituiu-se o índice Geral de Pre
ços - Disponibilidade Interna ( i g p -d i ) por força da Medida Provisória n. 1.415/96,
art. 10, convertida na Lei n. 9.711/98. A partir de dezembro de 2006, o índice de
atualização novamente passou a ser o in p c : por força da Lei n. 11.430/2006 que
acrescentou o art. 41-A a Lei n. 8.213/91.
Hnfim, é um princípio que visa garantir ao contribuinte e dependentes a irre
dutibilidade do valor do benefício, o que significa a manutenção do poder real de
compra.
5. PRINCIPIO DA EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇA0 N 0 CUSTEIO
Esse princípio é um desdobramento do princípio da igualdade. A participação
do trabalhador não pode ser a mesma da empresa, assim como a contribuição da
empresa não se confunde com a participação do F'stado. Trata-se de um princípio
que tem o objetivo de justiça na delimitação da forma de participação de todos
aqueles que devem contribuir para o sistema. Todos os membros da sociedade con
tribuem para manutenção do sistema de acordo com sua capacidade contributiva.
6. PRINCIPIO DA DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO
O custeio da seguridade social não vem de fonte única. A Constituição Fede
ral, constatando que as fontes clássicas dc financiamento estavam em processo dc
exaurimento, previu a diversidade da base de financiamento, a qual se encontra
expressamente prevista no art. 195, caput, e incisos i a iv. Com isso, o constituin
te garantiu que a seguridade social teria suporte financeiro direto e indireto, nos
termos da lei, com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados,
do Distrito Federal c dos Municípios e, também, das seguintes contribuições so
ciais:
• dos empregadores, incidente sobre a folha de salários e demais rendimentos
do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, a pessoa física que lhe preste
serviço, mesmo sem vínculo empregatício, a receita ou o faturamento e o lucro;
• dos trabalhadores e demais segurados da previdência social;
• sobre a receita de concurso de prognóstico;
• do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei equiparar.
A previsão de outras fontes encontra-se no § 4° do art. 195 da Magna Carta,
que diz: “A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção
ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, i.” Essa pre
visão na realidade apresenta-se como uma porta de emergência ao sistema de se
guridade social ao permitir a criação de outras fontes destinadas a garantir a sua
manutenção ou expansão. O art. 154, i, determina que a instituição de outros im
postos pela União deve ser feita por lei complementar, não podendo ser cumulati
vos e nem terem fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na
Constituição Federal.
7. PRINCÍPIO DO CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA ADMINISTRAÇÃO, MEDIANTE GESTÃO QUADRIPARTITE, COM PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES, DOS EMPREGADORES, DOS APOSENTADOS E DO GOVERNO NOS ÓRGÃOS COLEGIADOS
Caráter democrático: a seguridade social deve ter a participação dos traba
lhadores, empregadores, aposentados e Governo nos órgãos colegiados.
A participação de toda sociedade leva a uma aproximação maior entre o Go
verno e a comunidade. Assim, a discussão das necessidades sociais sai do campo
abstrato. Ninguém melhor que o representante da comunidade, o qual vive na co
munidade, para dizer quais são as necessidades concretas, quais são os reais anseios
que devem ser atendidos pelo Poder Público. Os negócios da seguridade social de
vem contar com a participação de todos, desde a fase do planejamento orçamen
tário, passando pela aplicação dos recursos, até o acompanhamento dos progra
mas estabelecidos.
A composição dos órgãos deve se dar de forma igual para todos os membros.
Os representantes dos trabalhadores, aposentados e empregadores são indicados
24 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
6 Princípios constitucionais cie seguridade social 25
cretiza-se com a instituição dos conselhos nacionais de previdência social, assistên
cia social e saúde.
O sistema de previdência social é descentralizado administrativamente. Des
centralização administrativa significa a transferência de competência de uma pes
soa jurídica de direito público interno para outra pessoa jurídica. No caso do sub-
sistema previdenciário, a União criou pelo Decreto n. 99.350, de 27 de junho de
1990, com base na Lei n. 8.029, de 12 de abril de 1990, a autarquia Instituto Na
cional do Seguro Social ( i n s s ) para gerir o sistema previdenciário brasileiro.
A gestão quadripartite é efetivada pela previsão de participação de represen
tantes dos trabalhadores, empregadores, aposentados e Governo.
8. REGRAS CONSTITUCIONAIS DE SEGURIDADE SOCIAL
Além dos princípios constitucionais, existem duas regras importantes:
• regra da contrapartida: estabelece o prévio custeio. Nenhum benefício ou
serviço de seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a cor
respondente fonte de custeio. Busca-se o equilíbrio financeiro (§ 5o do art. 195 da
c f /88 );
• regra nonagesimal ou da trimestralidade na cobrança das contribuições so
ciais: as contribuições previdenciárias só poderão ser exigidas depois de decorridos
noventa dias da publicação da lei (§ 6° do art. 195 da c:f /88).
7Beneficiários da previdência social
Beneficiários são pessoas que têm direito às prestações (benefícios e serviços)
previdenciárias. E um gênero que comporta duas espécies: segurados (obrigatórios-
art. 11 da Lei n. 8.213/91; e facultativos - art. 13 da Lei n. 8.213/91) e dependentes
(incisos i, ii e i i i do art. 16 da Lei n. 8.213/91).
1. SEGURADOS OBRIGATÓRIOS
Segurados obrigatórios são aqueles que, por determinação legal (ex lege), vin
culam-se à previdência social pelo fato de exercerem alguma atividade remunerada
de natureza urbana ou rural, em caráter efetivo ou de forma eventual. O art. 11 da
Lei n. 8.213/91 determina e especifica quem são os segurados obrigatórios: empre
gados, empregados domésticos, avulsos, contribuintes individuais e segurados espe
ciais.
É importante a classificação dos beneficiários, pois, de acordo com ela, have
rá acesso ou direito às prestações previdenciárias tendo em vista a distributividade
das prestações (ver princípios constitucionais).
Arr. 11. São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas fí
sicas:
i - como empregado:
a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter
não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor
empregado;
26
7 Beneficiários da previdência social 2 7
Notadamente, encontra-se na alínea a do inciso i os trabalhadores com as ca
racterísticas do art. 3o da c l t .
b) aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, definida em le
gislação específica, presta serviço para atender a necessidade transitória de substitui
ção de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços de ou
tras empresas;
c) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado c contratado no Brasil para traba
lhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior;
d) aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição con
sular de carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas mis
sões e repartições, excluídos o não brasileiro sem residência permanente no Brasil e o
brasileiro amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplo
mática ou repartição consular;
e) o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, cm organismos ofi
ciais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá
domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do
domicílio;
f) o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar
como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votan
te pertença a empresa brasileira de capital nacional;
g) o servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vínculo efetivo com
a União, Autarquias, inclusive em regime especial, e Fundações Públicas Federais.
Em relação à alínea g do inciso i, o texto legal possui uma atecnia, uma vez
que o servidor público sempre terá vínculo com a Administração Pública. A figura
determinada, nessa alínea, é a do exercente de função pública nos termos do art. 37
da Constituição Federal.
b) o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não
vinculado a regime próprio de previdência social;
A alínea h do inciso i encontra-se suspensa por força da Resolução do Sena
do Federal n. 26/2005, em virtude de declaração de inconstitucionalidade em deci
são definitiva do Supremo Tribunal Federal, nos autos do Recurso Extraordinário
n. 351.717-1.
i) o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funciona
mento no Brasil, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social;
28 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
j) o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não
vinculado a regime próprio de previdência social;
O teor da alínea / do inciso i é igual ao da /?, porém está em plena vigência e
aplicação, uma vez que sua inclusão ocorreu após a edição da Emenda Constitu
cional n. 20/98. A emenda determinou que os exercentes de mandato eletivo teriam
proteção previdenciária vinculada ao regime geral de previdência social como re
gra, salvo no caso do exercente já pertencer anteriormente a um regime próprio de
previdência por ser servidor público.
u - como empregado doméstico: aquele que presta serviço de natureza contínua
a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, cm atividades sem fins lucrativos;
São exemplos 110 inciso II: empregada doméstica, jardineiro, vigia, motorista,
enfermeira particular, governanta, mordomo, piloto de helicóptero particular etc.
1 1 1 - (revogado);iv - (revogado);
v - como contribuinte individual:1
a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a
qualquer título, cm caráter permanente ou temporário, cm área superior a 4 módulos
fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 módulos fiscais ou atividade pesquei
ra, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóte
ses dos §§ 9° e 10 deste artigo;
O módulo fiscal, previsto na alínea a do inciso v, tem seu conceito determina
do pelo Estatuto da Ferra, Lei n. 4.504/64, em seu art. 50. Módulo fiscal é uma uni
dade de medida expressa em hectares, fixada para cada Município, considerando
os seguintes fatores: tipo de exploração predominante no Município; renda obtida
com a exploração predominante; outras explorações existentes no Município que,
embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou área utili
zada e do conceito de propriedade familiar (aspectos gerais); bem como as parti
cularidades do imóvel (aspecto particular). Esses fatores estão previstos no art. 50,
§§ 3o e 4o, do Estatuto da Terra.
de trabalhadores que tinham enquadramento diferenciado até então. Esses contribuintes têm
como característica comum o fato de prestarem serviços de forma independente, com caráter
eventual e sem vínculo empregatício. Os segurados que integram tal modalidade estão elen-
cados no art. 11, v, da Lei 1 1 . 8.213/91 com detalhamento 1 1 0 art. 9°, v, do Decreto n. 3.048/99
(Regulamento da Previdência Social).
7 Beneficiários da previdência social 29
O módulo fiscal serve como parâmetro para classificação do imóvel rural
quanto ao tamanho, na forma da Lei n. 8.629/93. Assim, nos termos dessa Lei, pe
quena propriedade é o imóvel rural de área compreendida entre 1 e 4 módulos fis
cais; c media propriedade é o imóvel rural com área superior a 4 e ate 15 módulos
fiscais. Além disso, serve para definição dos beneficiários do Pronaf (Programa Na
cional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que são pequenos agricultores
de economia familiar, proprietários, meeiros, posseiros, parceiros ou arrendatários
de até 4 módulos fiscais.
Não se deve confundir módulo rural com módulo fiscal. O módulo rural é
calculado para cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o tipo de explora
ção predominante no imóvel rural segundo sua região dc localização. Por sua vez,
o módulo fiscal é estabelecido para cada Município e reflete a área mediana dos
módulos rurais dos imóveis rurais do Município.
b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade dc extração mine
ral - garimpo, cm caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio
de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ain
da que de forma não contínua;
c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada,
de congregação ou de ordem religiosa;
d) (revogado);
e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacio
nal do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo
quando coberto por regime próprio dc previdência social;
f) o titular dc firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o
membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o só
cio de indústria, o sócio-gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorren
te de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de di
reção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem
como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condomi-
nial, desde que recebam remuneração;
g) quem presta serviço dc natureza urbana ou rural, cm caráter eventual, a uma
ou mais empresas, sem relação de emprego;
b) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de nature
za urbana, com fins lucrativos ou não;
Segundo o art. 9o, v, do Decreto n. 3.048/99, são também considerados con
tribuintes individuais:
30 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
n) o cooperado de cooperativa de produção que, nesta condição, presta serviço
à sociedade cooperativa mediante remuneração ajustada ao trabalho executado;
o) (revogado pelo Decreto n. 7.054/2009);
p) o Microempreendedor Individual - m e i dc que tratam os arts. 18-A c 18-C
da Lei Complementar n. 123, dc 14 de dezembro dc 2006, que opte pelo recolhimen
to dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos
mensais.
São exemplos de contribuintes individuais previstos no inciso v, entre ou
tros:
• pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de nature
za urbana com fins lucrativos ou não;
• titular de firma individual de natureza urbana ou rural;
• diretor não empregado e membro do conselho de administração da socie
dade anônima;
• sócios nas sociedades cm nome coletivo c de capital e industrial;
• sócio-gerente e sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu
trabalho na sociedade por cotas de responsabilidade limitada, urbana ou rural;
• associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou enti
dade de qualquer natureza ou finalidade;
• síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condomi-
nial desde que recebam remuneração;
• profissional liberal;
• pintores, eletricistas, bombeiros hidráulicos, encanadores e outros que pres
tam serviços em âmbito residencial de forma não contínua sem vínculo empregatí-
cio;
• cabeleireiro, manicure, esteticista e profissionais congêneres quando exerce
rem suas atividades em salão de beleza por conta própria;
• comerciante ambulante;
• membro de conselho fiscal de sociedade anônima;
• trabalhador associado à cooperativa de trabalho que, por intermédio dessa,
presta serviços a terceiros;
• trabalhador diarista que presta serviços de natureza não contínua na resi
dência dc pessoa ou família sem fins lucrativos;
• feirante-comerciante que compra para revender produtos hortifrutigranjei-
ros e assemelhados;
• piloto de aeronave quando habitualmente exerce atividade remunerada por
conta própria;
• corretor ou leiloeiro sem vínculo empregatício;
7 Beneficiários da previdência social 31
• notário ou tabelião e oficial de registros ou registrador, titular de cartório,
que detêm a delegação do exercício da atividade notarial e de registro não remu
nerados pelos cofres públicos admitidos a partir de 21.11.1994;
• titular de serventia da justiça não remunerado pelos cofres públicos a par
tir de 25.07.1991;
• condutor de veículo rodoviário, assim considerado o que exerce atividade
profissional sem vínculo empregatício, quando proprietário, coproprietário, bem
como auxiliar de condutor contribuinte individual em automóvel cedido em regi
me de colaboração;
• médico residente;
• vendedor, sem vínculo empregatício, de bilhetes ou cartelas de loterias, li
vros, produtos de beleza etc.;
• pescador que trabalha em regime de parceria, meação ou arrendamento em
barco com mais de duas toneladas brutas de tara;
• incorporador conforme o art. 29 da Lei n. 4.591/64;
• bolsista da Fundação Habitacional do Exército contratado em conformida
de com a Lei n. 6.855/80;
• prestador de serviços de natureza eventual em órgão público, inclusive o in
tegrante de grupo-tarefa, desde que não sujeito a regime próprio de previdência so
cial;
• trabalhador rural que exerce atividade eventual sem subordinação (doma-
dor, castrador de animais, consertador de cercas etc.);
• árbitro e auxiliares de jogos desportivos;
• pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou
pesqueira diretamente ou por intermédio de outros e com auxílio de empregados,
utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;
• pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mine
ral (garimpo), em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermé
dio de outros, com ou sem auxílio de empregados, ainda que de forma não contí
nua;
• ministro de confissão religiosa e membro do instituto de vida consagrada e
de congregação ou ordem religiosa quando mantido pela entidade a que perten
cem, salvo se filiados obrigatoriamente à previdência social ou outro sistema pre
videnciário;
• presidiário que exerce atividade remunerada mediante contrato celebrado
ou intermediado pelo presídio;
• brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo internacional do
qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quan
do coberto por regime próprio de previdência social.
32 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
vi - como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo
empregatício, serviço de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento;
vil - como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em
aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou cm regime dc eco
nomia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição dc:
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou
meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:
1. agropecuária em área de até 4 módulos fiscais;
2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos
do inciso xn do caput do art. 2° da Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas
atividades o principal meio de vida;
b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual
ou principal meio dc vida; c
c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 anos de idade ou a este
equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprova-
damente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.
§ 1° Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o traba
lho dos membros da família c* indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimen
to socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependên
cia c colaboração, sem a utilização dc empregados permanentes.
2. SEGURADOS FACULTATIVOS
O art. 13 da Lei n. 8.213/91 apresenta o conceito de quem pode ser segurado
facultativo. Com a Emenda Constitucional n. 20/98, ficou estabelecido no art. 201,
§ 5o, da Magna Carta, que c proibido ao servidor público filiar-se ao regime geral
de previdência social como forma de aumentar sua renda no momento da aposen-
tação.
A Constituição Federal adotou como corolário da proteção social, no âmbi
to da seguridade social, o princípio da universalidade de atendimento (aspecto sub
jetivo) em seu art. 194, parágrafo único, i.
O princípio da universalidade de atendimento visa efetivar a inclusão social,
facultando a possibilidade de filiação e assegurando, dessa forma, o acesso à pro
teção previdenciária. O sistema previdenciário e aberto, não podendo excluir o mal
segurado. A legislação põe a salvo, apenas, que os segurados que se filiam já com
a capacidade laborai atingida não terão direito a auxílio-doença, aposentadoria por
invalidez ou auxílio-acidente. A previdência social é seguro social e, como tal, visa
dar cobertura cm face de riscos sociais (eventos futuros e incertos).
7 Beneficiários da previdência social 33
Não deve ser confundida a figura do segurado facultativo (figura inovadora
da Lei n. 8.213/91) com a do contribuinte em dobro (já prevista na Lei Eloy Cha
ves de 1923). O contribuinte em dobro pressupunha vínculo anterior com o siste
ma previdenciário e a qualidade pretérita de trabalhador. Já a figura do segurado
facultativo não pressupõe vínculo anterior com o sistema previdenciário e alcança
qualquer pessoa maior de 16 anos mesmo que nunca tenha sido ou que nunca ve
nha a ser trabalhadora.
Com a alteração da Emenda Constitucional n. 20/98, o segurado facultativo é
toda e qualquer pessoa maior de 16 anos que voluntariamente se vincule ao sistema
previdenciário, desde que não seja segurado obrigatório ao mesmo tempo (exceto
na condição dc segurado especial2, por força do art. 25, § I o, da Lei n. 8.212/91 -
lei dc custeio).
São exemplos de segurados facultativos:
• dona de casa;
• síndico de condomínio quando não remunerado e sem isenção de cota con-
dominial;
• cônjuge que acompanha o outro no exterior;
• ex-segurado da previdência social (desempregado);
• estudante;
• bolsista estagiário nos termos da lei própria;
• membro de conselho tutelar (art. 132 da Lei n. 8.069/90) não vinculado a
outro regime de previdência social;
• presidiário;
• brasileiro residente no exterior não vinculado a regime previdenciário do
país.
O segurado facultativo tem como base de cálculo das contribuições previden
ciárias, por força da Lei n. 9.876/99 que alterou a Lei n. 8.212/91, o salário decla
rado’ (que variará entre o valor do salário-mínimo e o valor máximo do salário de
contribuição) e a alíquota dc 20% . É importante observar que as contribuições do
segurado facultativo não têm natureza tributária, posto que decorrem da vontade
de se inscrever no sistema e de nele permanecer. Isso decorre do direito constitucio
nal consagrado a uma previdência social ampla (acessível a todos), porém dotada
de caráter contributivo (para todos).
A periodicidade do pagamento das contribuições é mensal (até o dia quinze
do mês subsequente ao da competência); porém poderá optar o segurado faculta
2 Para o segurado especial, mesmo contribuinte individual, serão observadas as regras de segu
rado obrigatório quanto à perda da qualidade de segurado (art. 15, i a v, da Lei n. 8.213/91).
3 Salário declarado significa que o facultativo ao pagar as contribuições todo mês ratifica sua
vontade dc permanecer no sistema previdenciário.
34 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
tivo, após inscrição ou reingresso, pelo recolhimento trimestral (código 1406), nos
termos do art. 28, § 3o, do Decreto n. 3.048/99. Se o pagamento inicial for antes
do dia quinze, o mês antecedente será sua data de aquisição da qualidade de segu
rado; caso o primeiro pagamento seja feito depois do dia quinze, a mensalidade ini
cial será referente a esse mesmo mês.
O segurado obrigatório que, durante o período de graça, filiar-se como facul
tativo, ao deixar de contribuir nessa condição, terá direito de usufruir o período de
graça ou período restante de sua condição anterior (segurado obrigatório). Para o
segurado facultativo, o período de carência apenas é iniciado com o recolhimento
da primeira contribuição sem atraso.
A inscrição indevida de segurado, a partir dc 25 de julho dc 1991, por quem
não preenchia as condições de filiação obrigatória, acarretará a necessidade de con-
validação para categoria de facultativo no período correspondente ao da inscrição
indevida. Tal convalidação estará condicionada à tempestividade dos recolhimen
tos e à concordância expressa do segurado.
Por força do princípio da distributividade das prestações, cabe ao legislador in-
fraconstitucional repartir a proteção previdenciária no universo de protegidos. As
sim, de acordo com essa distribuição, o facultativo tem direito a todas as prestações
compatíveis com sua condição de não exercente de atividade profissional, a saber:
• aposentadoria por tempo dc contribuição;
• aposentadoria por idade;
• salário-maternidade;
• auxílio-doença;
• aposentadoria por invalidez;
• auxílio-acidente de qualquer natureza.
O segurado facultativo não tem direito a aposentadoria especial, benefícios
decorrentes de acidente do trabalho e salário-família.
3. DEPENDENTES PREVIDENCIÁRIOS
O rol de dependentes para fins previdenciários encontra-se no art. 16 da Lei
n. 8.213/91. A relação jurídica previdenciária não deve, portanto, ser confundida
com a cível no tangente aos direitos entre familiares na condição de ascendentes e
descendentes. Por se tratar de proteção social, há regramento próprio que se dis
tancia das relações de dependência tanto para fins civis como tributários.
Dispõe o referido art. 16:
São beneficiários da previdência social na condição dc dependentes do segurado:
i - o cônjuge, a companheira, o companheiro c o filho não emancipado, de qual
quer condição, menor dc 21 anos ou inválido;
ii - os pais;
7 Beneficiários da previdência social 35
ni - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou in
válido.
A união estável estará configurada se cumpridos os requisitos que a legisla
ção civil determina para sua existência. Portanto, os conviventes devem ser pessoas
solteiras, viúvas, divorciadas, separadas judicialmente ou separadas de fato. Por
força da Ação Civil Pública n. 2.000.71.00.009.347-0, da 3a Vara Previdenciária
da Seção Judiciária de Porto Alegre, o in s s considera os convivcntcs do mesmo sexo
dependentes previdenciários.
A idade de 21 anos como limite máximo para percepção de benefícios previ
denciários aos dependentes, como regra geral, permanece mesmo com a maiorida
de civil ocorrendo a partir dos 18 anos por força do Código Civil de 2002. A lei
previdenciária estabelece a idade de 21 anos de forma taxativa não se referindo à
maioridade.
O emancipado nos termos da lei civil perde a condição de dependente, salvo
sc a emancipação decorrer dc conclusão dc curso superior. O enteado c o menor tu
telado cquiparam-sc a filho mediante declaração do segurado c comprovação dc de
pendência econômica. A Medida Provisória n. 1.523/96, convertida na Lei n. 9.528/97,
retirou o menor sob guarda do rol de dependentes. Por força de ações civis públi
cas, o in s s editou a Instrução Normativa n. 9, de 8 de agosto de 2006, determinan
do a abstenção do indeferimento dos pedidos de benefícios feitos por menor sob
guarda.
Atualmente, a decisão judicial que determina considerar-se o menor sob guar
da como dependente previdenciário está suspensa. O Ministro do Superior Tribunal
dc Justiça, Jorge Mussi, admitiu o incidente de uniformização apresentado pelo i n s s ,
no qual sc requer a harmonização dc entendimento, alem da concessão dc medida
cautelar para determinar a suspensão dos processos em que a controvérsia esteja es
tabelecida. A liminar foi concedida nos autos da petição n. 7.436/pr (2009/0153110-
3), com determinação de expedição de ofícios à Turma Nacional de Uniformização
da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais e às Turmas Recursais comuni
cando a admissão do incidente de uniformização para que sejam suspensos os pro
cessos até o final do julgamento do incidente.
A invalidez do dependente filho ou equiparado a filho é confirmada por perí
cia c se refere à incapacidade do dependente para o trabalho.
3.1 Regras da dependência previdenciária
Regra vertical: a lei divide os dependentes cm classes (i, ii e m ), sendo que a
existência de dependentes da classe superior exclui da percepção do benefício os
dependentes das classes inferiores.
36 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Regra horizontal: os dependentes que se encontram na mesma classe são tra
tados da mesma forma, pois o benefício é rateado entre todos. Auxílio-reclusão ou
pensão por morte (benefícios devidos aos dependentes) não poderão ser inferiores
a um salário-mínimo. Cada fato gerador dá origem a uma prestação que será divi
dida proporcionalmente (rateada) entre os dependentes da mesma classe. Assim, o
valor de cada cota da pensão por morte poderá ser inferior ao mínimo.
Regra concessória: a qualidade de dependente é verificada no momento da
concessão do benefício.
Regra de manutenção: significa o direito de um dependente acrescer à sua cota
a parte de outro que tenha perdido a condição de dependente.
3.2 Dependência econômica
A dependência econômica dos dependentes da classe i é presumida, bastando
somente comprovar a condição de cônjuge, companheiro ou filho. Quanto às demais
classes, a dependência econômica deve ser comprovada, não necessitando, contudo,
ser uma dependência total. Devem comprovar a dependência econômica, ainda que
parcial, pais (classe n), irmãos (classe m), enteados e menores sob tutela.
Para comprovação do vínculo e da dependência econômica, conforme o caso,
devem ser apresentados, no mínimo, três dos seguintes documentos previstos no § 3o
do art. 22 do Decreto n. 3.048/99:
i - certidão de nascimento de filho havido em comum;
ii - certidão dc casamento religioso;
iii - declaração do imposto dc renda do segurado, cm que conste o interessado
como seu dependente;
iv - disposições testamentárias;
v - (revogado);
vi - declaração especial feita perante tabelião;
vn - prova de mesmo domicílio;
viu - prova de encargos domésticos evidentes e existência de sociedade ou co
munhão nos atos da vida civil;
ix - procuração ou fiança reciprocamente outorgada;
x - conta bancária conjunta;
xi - registro em associação de qualquer natureza, onde conste o interessado como
dependente do segurado;
xii - anotação constante de ficha ou livro de registro de empregados;
xiii - apólice de seguro da qual conste o segurado como instituidor do seguro e
a pessoa interessada como sua beneficiária;
7 Beneficiários da previdência social 37
xiv - ficha de tratamento em instituição de assistência médica, da qual conste o
segurado como responsável;
xv - escritura de compra e venda de imóvel pelo segurado em nome de depen
dente;
xvi - declaração dc não emancipação do dependente menor dc 21 anos;
xvn - quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a comprovar.
3 .3 Perda da qualidade dos dependentes
A perda da qualidade de dependente no caso do cônjuge se dá por separação
judicial ou divórcio sem previsão de prestação de alimentos ou enquanto a presta
ção não for determinada, bem como por anulação do casamento, óbito ou senten
ça judicial transitada em julgado, nos termos do § 2° do art. 17 da Lei n. 8.213/91.
Sobre esse tema, a Súmula n. 336 do Superior Tribunal de Justiça editada em 25 de
abril de 2007 dispõe: “A mulher que renunciou aos alimentos na separação judi
cial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a
necessidade econômica superveniente.”
Para companheiro ou companheira, a perda da qualidade de dependente ocor
re por cessação da união estável sem pagamento de pensão alimentícia ou enquan
to ela não for determinada; para filho e irmão, por completarem 21 anos ou se
emanciparem, por cessação da invalidez ou por falecimento; e para os pais, por fa
lecimento.
8Classificação das prestações previdenciárias: benefícios e serviços
A previdência social é um serviço público de tipo novo destinado a amparar
a população economicamente ativa (segurados obrigatórios) ou não (segurados fa
cultativos), que se encontram em situações de riscos ou contingências sociais pre
vistas em lei, essencialmente com benefícios e serviços, mediante a adoção da fór
mula tripartite de custeio (Estado, empregadores, trabalhadores ou facultativos).
As prestações previdenciárias como serviço público dc tipo novo (na nomen
clatura de Gérard Lyon-Caen) são classificadas em benefícios e serviços. Benefícios
são prestações pagas em dinheiro aos beneficiários (segurados e dependentes). Os
benefícios (art. 18 da Lei n. 8.213/91) são: aposentadoria por idade, aposentado
ria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez, aposentadoria espe
cial, auxílio-doença, auxílio-acidente, salário-família, salário-maternidade, pensão
por morte e auxílio-reclusão. Serviços sao as prestações de assistência e amparo
dispensadas pela previdência social aos beneficiários em geral, constituindo-se em
serviço social c reabilitação profissional.
38
9Carência
O instituto da carência está previsto no art. 24, caput, da Lei n. 8.213/91. É
o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário
faça jus ao benefício, considerado a partir do transcurso do primeiro dia dos me
ses de competência das contribuições. A carência está ligada ao fato de o modelo
previdenciário ser contributivo visando ao alcance do equilíbrio financeiro-atua-
rial exigido pela Constituição Federal no art. 201. A carência exigida sempre há de
ser a determinada na legislação no momento em que o segurado tenha implemen
tado todas as condições para o acesso ao benefício (direito adquirido), ainda que
após tal momento temporal venha a perder a qualidade de segurado.
Reza o art. 33, § 5o, da lei de custeio (Lei n. 8.212/91), que o desconto de con
tribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume feito oportu
na e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão
para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância
que deixou dc receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei. Nesse
§ 5°, há o acatamento do princípio doutrinário da automaticidade das prestações.
Tal presunção de recolhimento das contribuições previdenciárias alcança o segura
do empregado e o trabalhador avulso.
O art. 35 da Lei n. 8.213/91 concede ao segurado empregado e trabalhador
avulso que, cumpridos os requisitos para concessão do benefício, não possam com
provar o valor de seus salários de contribuição no período básico de cálculo, o di
reito ao benefício de valor mínimo, devendo a renda mensal inicial ser revista (re
calculada) na apresentação de provas dos salários de contribuição (por exemplo, a
relação de salários de contribuição). No que tange aos segurados empregados do
mésticos, a presunção de recolhimento não se aplica; no entanto, a lei põe a salvo
o direito ao benefício no valor de um salário-mínimo até que haja a apresentação
da prova do recolhimento das contribuições (pagamento).
39
4 0 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Por força da Lei n. 10.666/2003, que cria a obrigação do tomador de servi
ços de reter as contribuições de fatura ou nota fiscal, aplica-se, também, em rela
ção ao contribuinte individual - prestador de serviço - a presunção de recolhimen
to das contribuições nos mesmos moldes do empregado e do trabalhador avulso.
Cabe destacar que o Decreto n. 3.048/99, nesse particular, foi modificado pelo De
creto n. 4.729, de 9 de junho de 2003.
Em relação aos trabalhadores rurais - empregados, segurados especiais ou
contribuintes individuais -, a carência para efeito de concessão da aposentadoria
por idade, no valor de um salário-m ínimo, prevista no art. 39, i, da Lei
n. 8.213/91, por força da regra de transição do art. 143 também desta Lei, eqüiva
le à comprovação do exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento, em número de meses idênti
co à carência do benefício.
Por força do art. 27 da Lei n. 8.213/91, conta-se, para efeito de carência, as
contribuições:
• para os segurados empregados e trabalhadores avulsos, a partir da data da
filiação ao regime geral de previdência social;
• para os segurados empregados domésticos, contribuintes individuais, espe
ciais e facultativos, a partir do efetivo pagamento da primeira contribuição sem
atraso, não sendo consideradas para este fim as contribuições recolhidas com atra
so referentes às competências anteriores.
A parte final do art. 24 e a previsão do art. 27 da lei de benefícios inauguram
uma celeuma na seara da carência, uma vez que, à luz do disposto legal, somente
se consideram as contribuições para efeito de carência a partir do pagamento da
primeira contribuição. É o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, atual
mente, que:
É da data do efetivo pagamento da primeira contribuição sem atraso que se ini
cia a contagem do período de carência quando se tratar de empregado doméstico, con
tribuinte individual, especial c facultativo, empresário e trabalhador autônomo. Isso
segundo a exegese do art. 27, i i , da Lei n. 8.213/91 (excerto do REsp n. 642.243/p r , j. 21.03.2006, 6“ T.).
Assim, a título de exemplo, um segurado contribuinte individual que iniciou
suas atividades, e somente cinco anos depois passou a contribuir efetivamente, pode
pagar as contribuições atrasadas desde o início das atividades para efeito dc tem
po de contribuição. No entanto, em relação aos primeiros cinco anos, aquelas con
tribuições não contam para efeito de carência.
O art. 25 da Lei n. 8.213/91 estabelece a carência nas seguintes prestações
previdenciárias:
9 Carência 41
i - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez comum: doze contribuições
mensais;
ii - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição e apo
sentadoria especial: 180 contribuições mensais [regra geral válida para os que se vin
cularam à previdência após a edição da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991];
Com relação ao inciso II, para os segurados que já estavam vinculados ao sis
tema antes dc 24 de julho dc 1991, aplica-se a regra de transição de carência pre
vista no art. 142 da Lei n. 8.213/91, ou seja, aplica-se uma carência diferida de
acordo com o ano em que o segurado implementar os requisitos para acesso à pres
tação previdenciária.
Art. 142. Para o segurado inscrito na previdência social urbana até 24 de julho
de 1991, bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela previdên
cia social rural, a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e espe
cial obedecerá à seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado imple
mentou todas as condições necessárias à obtenção do benefício:
Ano de implementação das condições
Meses de contribuição exigidos
1991 60 meses
1992 60 meses
1993 66 meses
1994 72 meses
1995 78 meses
1996 90 meses
1997 96 meses
1998 102 meses
1999 108 meses
2000 114 meses
2001 120 meses
2002 126 meses
2003 132 meses
(continua)
4 2 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
2004 138 meses
2005 144 meses
2006 150 meses
2007 156 meses
2008 162 meses
2009 168 meses
2010 174 meses
2011 180 meses
in - salário-maternidade para as seguradas de que tratam os incisos v e vn do
art. 11 e o art. 13 [seguradas individuais, especiais e facultativas]: dez contribuições
mensais, respeitado o disposto no parágrafo único do art. 39 desta I.ei [para a segura
da especial é garantida a concessão do salário-maternidade no valor de um salário-mí
nimo, desde que comprove o exercício dc atividade rural, ainda que dc forma descon
tínua, nos doze meses imediatamente anteriores ao do início do benefício].
No que tange a carência no salário-maternidade prevista no inciso i i i , a le
gislação determina que, sc ocorrer a antecipação do parto, haverá a redução pro
porcional da carência. Assim, se a segurada tiver o filho aos sete meses, a carência
que seria de dez meses passa a ser de oito meses.
1. PRESTAÇÕES DISPENSADAS DA CARÊNCIA
O legislador, antevendo o grande impacto de alguns riscos sociais, determi
nou a exclusão da carência para eles. O art. 26 da Lei n. 8.213/91 determina as
prestações que têm a carência dispensada:
i - pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente;
ii - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qual
quer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos
dc segurado que, após filiar-se ao rgps - regime geral dc previdência social - for aco
metido dc alguma das doenças ou afccçõcs especificadas cm lista elaborada pelos M i
nistérios da Saúde e da Previdência Social a cada três anos, de acordo com os crité
rios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira
especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado;
9 Carência 43
Pela leitura do inciso n, observa-se que não há carência para qualquer pres
tação previdenciária adjetivada de acidentária. Atualmente, há duas espécies aci-
dentárias: acidente do trabalho e acidente de qualquer natureza.
A lista de doenças que dispensam a carência para efeito de entrega de auxí-
lio-doença e aposentadoria por invalidez foi determinada pela Portaria Interminis-
terial m p a s / m s n. 2.998/2001. As doenças são: tuberculose ativa, hanseníase, alie
nação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante,
cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da de
ficiência imunológica adquirida (Aids), contaminação por radiação com base em
conclusão da medicina especializada e hepatopatia grave.
m - os benefícios concedidos na forma do inciso i do art. 39, aos segurados es
peciais referidos no inciso vn do art. 11 desta í.ei;
O inciso i i i trata da aposentadoria por idade para o trabalhador rural, com
valor fixo de um salário-mínimo, independentemente do cumprimento da carência,
com a aplicação da regra de transição de carência do art. 143 da Lei n. 8.213/91.
Destaque-se que o art. 2o da Lei n. 11.718, de 20 de junho de 2008, prorrogou o
prazo dessa regra até 31 de dezembro de 2010.
iv - serviço social;
v - reabilitação profissional;
vi - salário-matcrnidade para as seguradas empregadas, trabalhadoras avulsas
e empregadas domesticas.
As seguradas previstas no inciso vi não precisam cumprir carência tendo em
vista o previsto na Convenção n. 103 da o i t que, ao prever a proteção da mulher,
determina aos países signatários, entre eles o Brasil, a concessão do salário-mater-
nidade, bem como a efetivação de medidas no sentido de evitar a discriminação da
mulher no mercado de trabalho.
Importante regra está prevista no art. 24, parágrafo único, da Lei n. 8.213/91,
a qual determina que, perdida a qualidade de segurado, as contribuições já verti
das para o sistema previdenciário ficam apenas suspensas virtualmente, podendo
ser aproveitadas, para todos os fins, inclusive para efeito de carência, após o cum
primento de 1/3 da carência exigida para o benefício a ser requerido, a partir da
reaquisição da qualidade de segurado. Por exemplo: o segurado que contribuiu por
dez anos e perdeu a qualidade de segurado; ao readquirir essa qualidade, precisa
rá contribuir apenas por quatro meses (1/3 de doze contribuições) para ter direito
ao auxílio-doença comum.
10Renda mensal inicial
Com a utilização da fórmula da renda mensal inicial, quantifica-se o valor dos
benefícios previdenciários (prestações pagas em pecúnia). A renda mensal inicial
ganha importância no atual estágio do direito previdenciário, pois todos os bene
fícios são de cunho continuativo. Atualmente, não há benefício previdenciário de
pagamento único (una tantum). Da análise da legislação previdenciária (art. 28 da
Lei n. 8.213/91), verifica-se que apenas o salário-família e o salário-maternidade
terão fórmula própria de cálculo da prestação inicial.
A renda mensal inicial não terá valor inferior ao salário-mínimo (quando subs
tituir o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado) nem su
perior ao limite máximo do salário de contribuição (salvo no caso de grande inva
lidez, prevista no art. 45 da Lei n. 8.213/91). No entanto, a renda mensal dos
benefícios por totalização, concedidos com base na legislação internacional (acor
dos bilaterais ou multilaterais de previdência), pode ter valor inferior ao salário-mí-
nimo. A fórmula da renda mensal inicial (r m i ) pode ser assim grafada:
RMI = % x SB
Em que:
RMI = renda mensal inicial;
% = alíquota ou percentual definido cm lei para cada benefício;
SB = salário de benefício.
Há, então, uma fórmula básica com dois binômios, alíquota e salário de be
nefício.
Inicialmente, serão verificados os percentuais (alíquotas) aplicáveis a cada uma
das prestações que adotam a renda mensal inicial como matriz de quantificação.
44
10 Renda mensal inicial 45
1. ALÍQUOTAS
A renda m ensa l d o bene fíc io p re v id e n c iá r io de p re s tação c o n t in u a d a será c a l
c u la d a , se g u ndo o a rt. 39 d o D ec re to n . 3.048/99, ap licando-se sobro o s a lá r io dc
bene fíc io os segu in tes percen tua is :
i - auxílio-doença - 91% do salário de benefício;
ii - aposentadoria por invalidez - 100% do salário dc benefício;
m - aposentadoria por idade - 70% do salário de benefício, mais 1 % deste por
grupo de doze contribuições mensais, até o máximo de 30%;
iv - aposentadoria por tempo de contribuição [integral]:
a) para a mulher - 100% do salário de benefício aos trinta anos de contribui
ção;
b) para o homem - 100% do salário de benefício aos 35 anos de contribuição; e
c) 100% do salário de benefício, para o professor aos trinta anos, e para a pro
fessora aos 25 anos de contribuição e de efetivo exercício em função de magistério na
educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio;
v - aposentadoria especial - 100% do salário dc benefício; c
vi - auxílio-acidente - 50% do salário de benefício.
[...]
§ 3° [pensão por morte e auxílio-reclusão] C) valor mensal da pensão por mor
te ou do auxílio-reclusão será de 100% do valor da aposentadoria que o segurado re
cebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de
seu falecimento [ou prisão], observado o disposto no § 8° do art. 32.
2. SALARI0 DE BENEFICIO
Salário de benefício é o valor básico utilizado para o cálculo da renda men
sal dos benefícios dc prestação continuada. É obtido a partir dos salários de
contribuição. O conceito dc salário dc benefício é próprio do direito previden
ciário.
O art. 29 da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.876/99, deter
mina a regra geral aplicável aos beneficiários que se vincularam ao sistema a par
tir da edição da lei alteradora; e o art. 3o da Lei n. 9.876/99 determina a regra de
transição para os segurados já vinculados ao sistema até o dia anterior à data da
publicação da lei alteradora (28 de novembro de 1999).
46 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
3. REGRA GERAL DO ART. 29 DA LEI N. 8 .213/91
O salário de benefício consiste:
• para as aposentadorias por idade e por tempo de contribuição, na média
aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% dc
todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário;
• para as aposentadorias por invalidez e especial, auxílio-doença e auxí-
iio-acidente, na média aritmética simples dos maiores salários de contribuição
correspondentes a 80% de todo o período contributivo.
4. REGRA DE TRANSIÇÃO DO ART. 3o DA LEI N. 9 .8 7 6 /9 9
Para o segurado Hliado à previdência social até o dia anterior à data dc pu
blicação da Lei n. 9.876/99, que cumprir as condições exigidas para concessão dos
benefícios do regime geral de previdência social, no cálculo do salário de benefício,
será considerada a média aritmética simples dos maiores salários de contribuição
correspondentes a 80% dc todo o período contributivo decorrido desde a compe
tência julho de 1994 até a data de entrada do requerimento.
Quadro síntese do salário de benefício.
Regra geral Regra de transiçãoDa Lei n. 9.876/99 Filiados a partir de 29.11.1999 Filiados até o dia 28.11.1999
Aposentadoria (tempo de contribuição)
Aposentadoria por idade (70% do salário de benefício + 1 % a cada doze contribuições)
Aposentadoria por invalidez (100% do salário de benefício)
Aposentadoria especial (100% do salário de benefício)
Auxílio-doença (91% do salário de benefício)
Auxílio-acidente (50% do salário de benefício)
Média aritmética simples de 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo multiplicados pelo fator previdenciário (opcional na aposentadoria por idade)
Média aritmética simples de 80% dos maiores salários de contribuição do período contributivo decorrido desde iulho/1994 até a data de entrada do benefício multiplicados pelo fator previdenciário (opcional na aposentadoria por idade)
10 Renda mensal inicial 4 7
O salário de benefício relativo a cada espécie corresponderá às formas discri
minadas na tabela a seguir.
Espécie Filiados até 28.11.1999 Inscritos a partir de 29.11.199931 (auxílio-doença previdenciário)32 (aposentadoria por invalidez previdenciária)46 (aposentadoria especial)91 (auxílio-doença por acidente do trabalho)92 (aposentadoria por invalidez acidentária)41 (aposentadoria por idade - opcional)
Média aritmética de 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo desde julho/1994 corrigidos mês a mês
Média aritmética de 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo corrigidos mês a mês
42 (aposentadoria por tempo de contribuição)57 (aposentadoria por tempo de serviço de professores)41 (aposentadoria por idade - opcional)
Média aritmética de 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo desde julho/1994, corrigidos mês a mês, multiplicada pelo fator previdenciário
Média aritmética de 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo, corrigidos mês a mês, multiplicada pelo fator previdenciário
31 (auxílio-doença previdenciário)32 (aposentadoria por invalidez previdenciária)91 (auxílio-doença acidentário)92 (aposentadoria por invalidez acidentária)
Contando o segurado com menos de 60% do número de meses desde julho/1994, até a data inicial do benefício, corresponderá à média aritmética simples
Por força do Decreto n. 6.939, de 18 de agosto de 2009, em todas as situações o salário de benefício corresponderá a 80% do período contributivo
41 (aposentadoria por idade)42 (aposentadoria por tempo de contribuição)46 (aposentadoria especial)57 (aposentadoria por tempo de serviço dos professores)
1) Contando o segurado com menos de 60% de contribuição no período de julho/1994 até a data inicial do benefício, o divisor a ser considerado no cálculo da média aritmética não poderá ser inferior a 60% desse mesmo período2) Contando com 60 a 80% de contribuições no período de julho/1994 até a data inicial do benefício, aplica-se a média aritmética simples
5. FATOR PREVIDENCIÁRIO
O fator previdenciário é uma fórmula atuarial utilizada de forma obrigatória
no cálculo da aposentadoria por tempo de contribuição e de forma facultativa na
4 8 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
aposentadoria por idade. Foi inserido no ordenamento jurídico pela Lei n. 9.876/99.
É critério de cálculo das prestações referidas.
O fator previdenciário é calculado considerando-se idade, expectativa dc so-
brevida e tempo de contribuição do segurado ao sc aposentar, mediante a seguinte
fórmula:
f =l c a
Es 1 + ( Id + T c - a )100
Em que: f = fator previdenciário;Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria; Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria; Id = idade no momento da aposentadoria; e a = alíquota de contribuição correspondente a 0,31.
A expectativa de sobrevida do segurado no momento da aposentadoria será
obtida a partir da tábua completa de mortalidade construída pela Fundação Insti
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística - i b g e , para toda a população brasileira,
considerando-se a média nacional única para ambos os sexos e publicada no dia
I o de dezembro de cada ano.
Os benefícios previdenciários requeridos a partir da vigência da nova tábua de
expectativa de sobrevida serão por ela regidos. Por força do Decreto n. 6.939, de 18
de agosto de 2009, a sistemática de cálculo dos benefícios auxílio-doença e aposen
tadoria por invalidez foi alterada e o salário de benefício consistirá na média arit
mética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% do pe
ríodo contributivo, independentemente do número de contribuições existentes. A
nova sistemática vale para benefícios concedidos a partir de 19 de agosto de 2009.
Todos os salários de contribuição utilizados no cálculo do salário de benefício
serão corrigidos, mês a mês, de acordo com a variação integral do índice Nacional
de Preço ao Consumidor - in p c : referente ao período decorrido a partir da primei
ra competência do salário de contribuição que compõe o período básico de cálculo
até o mês anterior ao do início do benefício, de modo a preservar seu valor real.
Observe-se que foi aprovado pelo Congresso Nacional o Projeto de Lei de
Conversão n. 2/2010, que extinguiu o fator previdenciário. No entanto, essa extin
ção foi vetada pelo presidente da República ao sancionar a Lei n. 12.254, de 15 de
junho de 2010. Ressalte-se que tal veto ainda estará sujeito à rejeição pelo Congres
so Nacional. O fim do fator previdenciário representaria um aumento no valor das
prestações da aposentadoria por tempo dc contribuição c acarretaria a busca por
meio do Poder Judiciário pelas revisões das aposentadorias concedidas no período
no qual o fator foi aplicado.
11Manutenção, perda e restabelecimento da qualidade de segurado
A qualidade de segurado é mantida, em regra, pela continuidade 110 pagamen
to das contribuições, uma vez que o subsistema previdenciário fulcra-se na contri-
butividade. Essa foi a opção do constituinte buscando manter o equilíbrio finan-
ceiro-atuarial. Com isso, para ter acesso às prestações, faz-se necessário verter
contribuições para o sistema. No entanto, como se trata de uma relação de direito
social (seguro social), o legislador previu algumas circunstâncias nas quais, sempre
que nelas se encontrar, o segurado tem garantida a qualidade de segurado pelo tem
po determinado em lei, independentemente do pagamento de contribuições. Esse
período foi denominado pela doutrina de período de graça.
O art. 15 da Lei n. 8.213/91 expressa as hipóteses de período de graça:
Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribui
ções:
i - sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;
11 — até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que dei
xar de exercer atividade remunerada abrangida pela previdência social ou estiver sus
penso ou licenciado sem remuneração;
iii - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido dc doen
ça de segregação compulsória;
iv - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
v - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças
Armadas para prestar serviço militar;
vi - até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultati
vo.
49
5 0 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
No art. 15, §§ I o e 2o, o legislador trouxe previsões de prorrogação dos pra
zos transcritos. Para o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abran
gida pela previdência, tendo recolhido mais de 120 contribuições sem nunca ter
perdido a qualidade de segurado, o período de graça será estendido para 24 meses.
E, se comprovada a condição de desempregado pelo registro no órgão do Ministé
rio do Trabalho e Emprego, o prazo do inciso i será aumentado em doze meses. O
prazo previsto no inciso n do citado artigo se estende ao segurado que se desvin
cular do regime próprio de previdência social.
Por força da Lei n. 10.666/2003, a perda da qualidade de segurado não será
considerada para concessão das aposentadorias por tempo de contribuição e espe
cial. No caso da aposentadoria por idade, a perda da qualidade dc segurado não
será considerada desde que o segurado comprove o número mínimo de contribui
ções exigido para efeito de carência na data do requerimento do benefício.
Não será concedida a pensão por morte aos dependentes do segurado que fa
lecer após a perda dessa qualidade, salvo se já tiverem sido cumpridos os requisi
tos para concessão de aposentadoria (direito adquirido) ou se comprovarem que
no momento do óbito o segurado estava incapacitado laboralmente.
Durante o período de graça, nos prazos concedidos pelo legislador, o segura
do conserva todos seus direitos perante a previdência social, nos termos do art. 15,
§3 °, da Lei n. 8.213/91.
1. PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO
O art. 15, § 4°, da Lei n. 8.213/91 determina o momento legal da caracteriza
ção da perda da qualidade de segurado. Esse momento está ligado ao mecanismo
legal de pagamento das contribuições determinadas na lei de custeio (Lei n. 8.212/91),
a qual estabelece que os fatos geradores das contribuições de um mês serão pagos
no mês seguinte. Assim, traduzindo a previsão legal, a caracterização da perda da
qualidade de segurado ocorre a partir do 16° dia do segundo mês após o término
do período de graça.
Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa
data só serão computadas para efeito de carência depois do segurado contar, na
nova filiação à previdência social, com, no mínimo, 1/3 do número de contribuições
exigidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido.
É o que está previsto no art. 24, parágrafo único, da Lei n. 8.213/91. Portanto, quan
do ocorrer a perda da qualidade de segurado, deve haver nova filiação.
Em suma, sc o período de graça não for observado pelo segurado, haverá a
perda dessa qualidade, o que significa a caducidade de seus direitos. Assim, à gui
sa de exemplo, quando o segurado não conseguir retornar ao mercado de trabalho
(situação de desemprego) para garantir a continuidade da proteção previdenciária,
I I Manutenção, perda e restabelecimento da qualidade de segurado 51
após a expiração do período de graça, deverá passar a contribuir como segurado
facultativo.
() segurado facultativo com filiação obrigatória anterior à filiação facultativa
terá direito, quando deixar dc contribuir, independentemente de declarar o encer
ramento, ao período de graça correspondente à filiação anterior. Tal situação so
mente se aplica ao segurado que se filiou como obrigatório e depois como faculta
tivo sem que, na passagem entre essas categorias, tenha ocorrido a perda da
qualidade de segurado.
O segurado especial que recolhe facultativamente (ver art. 25, § I o, da Lei
11. 8.212/91) manterá a qualidade de segurado pelos mesmos prazos previstos no
art. 15, i a v, da Lei n. 8.213/91, ou seja, serão aplicadas as regras do segurado
obrigatório.
A partir da regulamentação da Lei n. 8.213/91, fica assegurada a manutenção
da qualidade de segurado quando, entre uma atividade e outra, não houver inter
rupção que acarrete a perda dessa qualidade no tangente a trabalho de natureza
urbana ou rural.
O facultativo que estiver em percepção de benefício por incapacidade não terá
o período de graça dilatado por doze meses após sua cessação, em razão do prazo
para manutenção da qualidade de segurado estabelecido para esta categoria. A
ocorrência de percepção de benefício por incapacidade, após a interrupção das con
tribuições, suspende a contagem do prazo para perda da qualidade de segurado,
reiniciada após a cessação do benefício.
Tratando-se de segurado em gozo de período de graça, caso seja ele recolhi
do à prisão, será suspensa a contagem do prazo para perda da qualidade; porém,
se houver fuga, a contagem reinicia-se a partir daí.
O período de graça pode ser utilizado inúmeras vezes, sempre que o segurado
estiver em uma das hipóteses previstas em lei. No entanto, deve ser ressaltado que
o período de graça não conta como carência nem como tempo de contribuição.
12Prestações previdenciárias em espécie
1. APOSENTADORIA
O vocábulo aposentadoria significa retirada a seus aposentos. Esse termo vem
de retraite, retirement, retiro, taishoku, que são traduções de aposentadoria e indi
cam todas uma saída da força de trabalho.
1.1 Aposentadoria por tem po de contribuição
Essa aposentadoria está regulamentada nos arts. 52 a 56 da Lei n. 8.213/91
e 56 a 63 do Decreto n. 3.048/99.
1.1.1 ConceitoPrestação previdenciária na modalidade benefício devida aos segurados que
completam os requisitos legais relativos à contributividade: 35 anos de contribui
ção, sc homem, c trinta anos de contribuição, sc mulher, independentemente da
idade (para aposentadoria integral). Já para aposentadoria por tempo dc contri
buição proporcional, além do período contributivo (trinta anos de contribuição,
se homem, e 25 anos de contribuição, se mulher), somam-se o requisito etário -
53 anos de idade (homens) e 48 anos de idade (mulheres) - e o tempo de contri
buição adicional (pedágio) correspondente a 40% do tempo de serviço que falta
va para a aposentadoria cm 15 dc dezembro de 1998 (data da promulgação da EC
n. 20/98).
1.1 .2 CarênciaO benefício exige carência. No entanto, tanto a carência (pré-requisito legal)
quanto o requisito legal (tempo de contribuição) lastreiam-se no pagamento. As
52
12 Prestações previdenciárias em espécie 53
sim, um requisito está contido no outro, ou seja, já está embutido o período de ca
rência 110 período de contribuição.
Os segurados filiados à previdência social a partir dc 25 de julho de 1991 de
vem cumprir a regra de carência geral do art. 25 da Lei n. 8.213/91 (180 contribui
ções mensais). Já os segurados filiados antes da Lei n. 8.213/91, ou seja, até 24 de
julho de 1991, terão direito à regra de carência de transição do art. 142 desta Lei.
Esses segurados precisam comprovar, por exemplo, o pagamento de 74 contribui
ções mensais (quatorze anos e meio de contribuição) e que completaram os requi
sitos para concessão do benefício no ano de 2010.
1.1 .3 A lterações decorrentes da Emenda Constitucional n. 2 0 /9 8A aposentadoria por tempo de contribuição sofreu significativa alteração com
o advento da Emenda Constitucional n. 20/98, que alterou a base para entrega da
prestação, mudando de tempo de serviço para tempo de contribuição. O tempo de
serviço está ligado ao tempo no qual o segurado esteve vinculado ao sistema pre
videnciário, contado a partir de sua filiação, sem conversão ou outras deduções; e
vale enquanto houver atividade ou vontade do segurado em permanecer vincula
do. Estão inclusos no conceito de tempo de serviço os períodos de férias anuais ou
licenças remuneradas.
Já o tempo de contribuição consiste cm uma exigência de o segurado aportar
mensalmente as contribuições necessárias para obter a cobertura previdenciária. Es
tá ligado ao aspecto econômico e financeiro do sistema. Assim, o tempo de contri
buição corresponde às mensalidades recolhidas ou devidas, efetiva ou presumida-
mente aportadas. A Emenda Constitucional n. 20/98 mudou o suporte da entrega
de tempo de serviço para tempo de contribuição visando apresentar uma ferramen
ta capaz de garantir o equilíbrio atuarial e financeiro do regime previdenciário.
Determina o art. 4o da Emenda Constitucional n. 20/98 que uma lei regula
mentará o que seria contado como tempo de contribuição em relação ao período
pretérito cujo fundamento era o tempo de serviço. Tal lei ainda não foi editada,
logo, continuam sendo aplicáveis as regras do art. 55 da Lei n. 8.213/91. Por sua
vez, o art. 60 do Regulamento da Previdência Social (Decreto n. 3.048/99), em seus
22 incisos, ampliou o rol das situações de incidência de contribuição previdenciá
ria, abrangendo situações de legislação especial, de contagem recíproca e de tempo
fictício.
Para os segurados já vinculados ao sistema previdenciário até 15 de dezem
bro de 1998, data da promulgação da referida emenda constitucional, continua
existindo o direito à aposentadoria proporcional e integral. No entanto, para os se
gurados que se vincularam ao sistema a partir de 16 de dezembro de 1998, há o di
reito apenas à aposentadoria integral. Essa regra decorre da previsão do art. 201,
§ 7°, i, da Constituição Federal, razão pela qual são válidos os requisitos adicio
5 4 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
nais (critério etário e tempo de contribuição adicional) para acesso à aposentado
ria por tempo de contribuição proporcional.
1.1 .4 Comprovação do tem po de serviçoA comprovação do tempo de serviço é dada na forma do art. 55 da Lei
n. 8.213/91:
Art. 55. O tempo dc serviço será comprovado na forma estabelecida no Regula
mento, compreendendo, além do correspondente às atividades de qualquer das cate
gorias de segurados de que trata o art. 11 desta Lei, mesmo que anterior à perda da
qualidade de segurado:
i - o tempo de serviço militar, inclusive o voluntário, e o previsto no § 1° do
art. 143 da Constituição Federal, ainda que anterior à filiação ao regime geral de pre
vidência social, desde que não tenha sido contado para inatividade remunerada nas
Forças Armadas ou aposentadoria no serviço público;
n - o tempo intercalado cm que esteve cm gozo dc auxílio-doença ou aposenta
doria por invalidez;
in — o tempo de contribuição efetuada como segurado facultativo;
iv - o tempo de serviço referente ao exercício de mandato eletivo federal, esta
dual ou municipal, desde que não tenha sido contado para efeito de aposentadoria por
outro regime de previdência social;
v - o tempo de contribuição efetuado por segurado depois dc ter deixado de
exercer atividade remunerada que o enquadrava no art. 11 desta Lei;
vi - o tempo dc contribuição efetuado com base nos artigos 8° c 9° da Lei n. 8.162,
dc 8 dc janeiro dc 1991, pelo segurado definido no artigo 11, inciso i, alínea g, desta
Lei, sendo tais contribuições computadas para efeito de carência.
§ 1° A averbação de tempo de serviço durante o qual o exercício da atividade
não determinava filiação obrigatória ao anterior regime de previdência social urbana
só será admitida mediante o recolhimento das contribuições correspondentes, confor
me dispuser o Regulamento, observado o disposto no § 2°.
§ 2° O tempo de serviço do segurado trabalhador rural, anterior à data de iní
cio dc vigência desta Lei, será computado independentemente do recolhimento das
contribuições a ele correspondentes, exceto para efeito de carência, conforme dispu
ser o Regulamento.
§ 3° A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive me
diante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no art. 108, só pro
duzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova
exclusivamente testemunhai, salvo na ocorrência dc motivo de força maior ou caso
fortuito, conforme disposto no Regulamento.
12 Prestações previdenciárias em espécie 55
§ 4° Não será computado como tempo de contribuição, para efeito de conces
são do benefício de que trata esta subseção, o período em que o segurado contri
buinte individual ou facultativo tiver contribuído na forma do § 2° do art. 21 da
Lei n. 8.212, de 24 de julho dc 1991, salvo sc tiver complementado as contribuições
na forma do § 3° do mesmo artigo.
1.1 .5 Requisitos legaisPara aposentadoria integral por tempo dc contribuição: atualmente, fundado
em entendimento cristalizado no Poder Judiciário e acatado pelo in s s , e reconhe
cido o direito à aposentadoria integral com o cumprimento do tempo de contribui
ção básico determinado na Constituição e na Lei n. 8.213/91 de 35 anos de contri
buição para homens e trinta anos de contribuição para mulheres.1
Com relação a aposentadoria por tempo de contribuição proporcional, que
continua existindo apenas para os segurados vinculados ao sistema previdenciário
até 15 de dezembro dc 1998, é necessário o cumprimento concomitante dos seguin
tes requisitos determinados no art. 9° da Emenda Constitucional n. 20/98:
• tempo de contribuição: a partir dc trinta anos dc contribuição para homens
e 25 anos para mulheres;
• idade mínima de 53 anos para homens e 48 anos para mulheres;
• contribuição adicional correspondente a 40% do tempo que faltava para a apo-
sentação na data da promulgação da Emenda Constitucional n. 20 (15.12.1998).
1.1 .6 Destinatários da proteçãoTodos os segurados da previdência social; quer sejam os segurados obrigatórios,
quer sejam os segurados facultativos que tenham cumprido os requisitos legais.
1.1 .7 M arco inicial da aposentadoria por tem po de contribuiçãoPara o segurado empregado, inclusive o doméstico, o marco inicial é a data
do desligamento do emprego quando requerida a aposentadoria até noventa dias
após o desligamento. Ultrapassados os noventa dias, a aposentadoria por tempo de
1 Não se exigem mais os requisitos adicionais determinados no art. 9° da Emenda Constitucio
nal n. 20/98 para aposentadoria integral, a partir da edição da Instrução Normativa inss/dc
n. 57/2001. O Poder Judiciário fixou entendimento dc que os requisitos adicionais tem natu
reza de regra de transição e não podem ser aplicados, pois o Congresso Nacional na tramita
ção do projeto de emenda constitucional rejeitou a regra geral (que seria atrelar a aposenta
doria por tempo de contribuição a uma idade mínima, 60 anos para homens e 55 para
mulheres). Acrescente-se que a regra de transição deve ser sempre regra mais benéfica, o que
não ocorre no caso em comento. Por esse motivo, não se exige mais o cumprimento do crité
rio etário - 53 anos de idade (homens) e 48 anos de idade (mulheres) - e nem o período de
contribuição adicional (pedágio) correspondente a 20% do tempo que faltava para a aposen-
taçao na data da promulgação da Emenda Constitucional n. 20 (15.12.1998).
56 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
contribuição será devida a partir da data de entrada do requerimento. Para os de
mais segurados, contribuintes individuais, segurados especiais e segurados faculta
tivos, a aposentadoria por tempo de contribuição é devida a partir da data dc en
trada do requerimento.
1.1 .8 Valor da prestação. Quantificação da proteção socialA aposentadoria por tempo de contribuição integral corresponde a 100% do
salário de benefício (média aritmética simples dos maiores salários de contribui
ção, todos eles atualizados monetariamente, correspondentes a 80% de todo o pe
ríodo contributivo a partir de julho de 1994) multiplicado pelo fator previdenciá
rio (cuja aplicação c obrigatória). O valor dessa prestação, por substituir a renda
do trabalhador, não pode ser inferior ao salário-mínimo e não pode ultrapassar o
limite máximo do salário de contribuição.
Já a aposentadoria por tempo de contribuição proporcional corresponde a
70% do salário de benefício, acrescida de 5% por ano de contribuição que supere
a soma do tempo de contribuição necessário para a entrega da prestação (art. 9°,
§ I o, ii, da Emenda Constitucional n. 20/98), multiplicado pelo fator previdenciá
rio (sobre o fator previdenciário, sugere-se a leitura do Capítulo 10 da presente
obra), conforme tabela a seguir:
Homens Alíquota Mulheres(anos de contribuição) (porcentagem) (anos de contribuição)
30 70 25
31 75 26
32 80 27
33 85 28
34 90 29
35 Aposentadoria integral 30
1.1 .9 Aposentadoria do professorÉ concedida aposentadoria por tempo de contribuição ao professor nos ter
mos do art. 201, § 8o, da Constituição Federal e do art. 56 da Lei n. 8.213/91.
Art. 201.
[...]
§ 8° Os requisitos a que se refere o inciso i do parágrafo anterior serão reduzidos
em cinco anos, para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exer
cício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental c médio.
12 Prestações previdenciárias cm espécie 57
Art. 56. () professor, após trinta anos, e a professora, após 25 anos de efetivo
exercício em funções de magistério poderão aposentar-se por tempo de serviço, com
renda mensal correspondente a 100% do salário de benefício, observado o disposto
na Seção m deste Capítulo.
Por força da Lei n. 11.301/2006, são consideradas funções de magistério as
exercidas por professores e especialistas em educação, no desempenho de ativida
des educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica nos seus
diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, o dc dire
ção de unidade escolar e coordenação e assessoramento pedagógico.
A Procuradoria Geral da República ajuizou uma ação direta de inconstitucio-
nalidade (ADIn n. 3.772) contra a Lei n. 11.301/2006, que trata da extensão de be
nefício de aposentadoria especial para a carreira de magistério. A Lei n. 11.301/2006
estendeu o benefício de aposentadoria especial dos professores para os diretores
das unidades escolares, coordenadores pedagógicos e supervisores de ensino. A Pro-
curadoria-Geral da República considerou esse dispostivo inconstitucional por am
pliar o conceito dc função dc magistério, que é o fundamento da aposentadoria es
pecial do professor. O Supremo Tribunal Federal julgou improcedente a referida
ação direta de inconstitucionalidade.
1.2 Aposentadoria por idade
A partir da Constituição Federal, o benefício previdenciário que tem por ob
jetivo a proteção do inevitável e irreversível processo de envelhecimento passou a
denominar-se aposentadoria por idade em contraposição à denominação anterior
aposentadoria por velhice.
1.2.1 ConceitoPrestação previdenciária na modalidade benefício que visa dar cobertura quan
do o segurado, ou ex-segurado, está diante do risco social idade.
A aposentadoria por idade está regulamentada nos arts. 48 a 51 da Lei n. 8.213/91
e 51 a 54 do Decreto n. 3.048/99.
1.2 .2 Fundam ento da proteçãoO risco idade encontra-se previsto, expressamente, no art. 201, i, e § 7o, i, da
Constituição Federal. O risco idade é do tipo incertus an, certus quando; ou seja,
conhece-se a data da eventualidade, já que depende apenas do decurso de tempo,
mas ignora-se se ela ocorrerá, pois pode sobrevir outra eventualidade como a mor
te antes do atingimento da idade prevista na lei. O benefício é concedido a título
de invalidez presumida legalmente. Com o aumento da expectativa de vida dos in
5 8 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
tegrantes da sociedade brasileira, dentro de algum tempo o parâmetro legal pode
ser objeto de revisão ou alteração. Observe-se que a invalidez é presumida por lei,
logo, não há no mundo físico a necessidade de sua comprovação. Por esse motivo,
e dispensada a realização dc perícia.
1.2 .3 CarênciaO benefício exige carência nos termos dos arts. 25 e 142 da Lei n. 8.213/91.
A carência é de 180 contribuições mensais para os segurados que se filiaram ao sis
tema previdenciário após a edição da Lei n. 8.213/91. Para os segurados já vincu
lados ao sistema previdenciário até 24 de julho de 1991, aplica-se a tabela de tran
sição prevista no art. 142 desta Lei.
1.2 .4 Requisitos legaisAtingir a idade determinada na lei. Para os trabalhadores urbanos: 65 anos
para homens e 60 anos para mulheres. Para os trabalhadores rurais: 60 anos para
homens e 55 anos para mulheres. Para requerer a prestação, o segurado não preci
sa comprovar que se afastou das atividades.
1.2 .5 Início da proteçãoPara os segurados empregados, inclusive o doméstico, o marco inicial é a data
do desligamento se for ao in s s até os noventa dias que sucederem o desligamento;
ou da data de entrada do requerimento quando não houver desligamento do em
prego ou quando for requerida após noventa dias do desligamento. Para os demais
segurados, a partir da data de entrada do requerimento.
1.2 .6 Térm inoCom a morte do segurado.
1.2 .7 DestinatáriosTodos os segurados (obrigatórios e facultativos), bem como os ex-segurados a
partir da edição da Medida Provisória n. 83/2002 convertida na Lei n. 10.666/2003.
1.2 .8 Quantificação do benefícioAlíquota: 70% + 1% para cada grupo de doze contribuições até 100% do sa
lário de benefício. Por exemplo: o segurado urbano que completar 65 anos em 2010
e tiver apenas as 174 contribuições mensais exigidas a título de carência terá 84,5%
como alíquota a ser aplicada no cálculo da renda mensal, pois a fórmula do bene
fício prevê 70% + 1 % para cada grupo de doze contribuições até o limite de 100%.
Assim: 70% + (14,5 1174/121) = 84,5%, até o limite máximo de 100%.
12 Prestações previdenciárias em espécie 59
1.2 .9 Aposentadoria compulsóriaPrevê o art. 51 da Lei n. 8.213/91 a aposentadoria compulsória, que nada mais
é do que uma espécie de rescisão indireta do contrato de trabalho materializada na
faculdade dada pela lei ao empregador de requerer a aposentadoria por idade de
seu empregado que tenha mais de 70 anos de idade, se homem, e mais de 65 anos,
se mulher, desde que cumprida a carência. Funciona como uma rescisão indireta do
contrato de trabalho, sendo devida a indenização na forma da legislação trabalhis
ta. Será considerada como data da rescisão do contrato de trabalho a data imedia
tamente anterior a do início da aposentadoria.
A aposentadoria por idade é definitiva, ou seja, uma vez concedida c tendo se
iniciado o recebimento, não há como se reverter ao status quo ante. A aposentado
ria compulsória põe fim ao contrato de trabalho posto que é uma rescisão indireta.
A concessão dos demais tipos de aposentadoria não põe fim ao contrato de
trabalho. O Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário n. 449.420, en
tendeu que o exercício do direito à aposentadoria não extingue o contrato de tra
balho. A Corte Constituicional fundamentou-se no fato de que a lei previdenciária
não exige o desligamento do segurado para concessão da aposentadoria, bem como
na garantia contra a despedida arbitrária esculpida no art. 7o, 1, da Constituição
Federal. Com base no entendimento do Supremo, o Tribunal Superior do Trabalho
cancelou a Orientação Jurisprudencial n. 177, que tinha conteúdo contrário ao cris
talizado no Supremo.
1.3 Aposentadoria especial
1.3.1 ConceitoPrestação previdenciária na modalidade benefício devida aos segurados em
pregado, trabalhador avulso ou cooperado, que tenham trabalhado quinze, vinte
ou 25 anos, sujeitos a condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
A aposentadoria especial está regulamentada nos arts. 57 e 58 da Lei n. 8.213/91
e 64 a 70 do Decreto n. 3.048/99.
1.3 .2 CarênciaO art. 25 da Lei n. 8.213/91 estabelece carência de 180 contribuições mensais
(regra geral aplicável aos segurados vinculados ao sistema previdenciário a partir
dc 24 de julho dc 1991, data da edição da Lei n. 8.213/91). Os segurados já vincu
lados ao sistema previdenciário até a edição da Lei n. 8.213/91 têm regra de carên
cia de transição estabelecida no art. 142 desta Lei.
1.3 .3 Fundamento da proteçãoProteger a saúde ou integridade física do trabalhador, permitindo sua saída
do mercado de trabalho mais cedo antes de ser atingida sua saúde. Assim, de for
60 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
ma sintética, a aposentadoria especial tem caráter protetivo e preventivo. O que de
termina o direito à prestação é a exposição do trabalhador ao agente nocivo pre
sente no meio ambiente laborai e no processo produtivo em nível de concentração
superior aos limites de tolerância estabelecidos.
Desse modo, a aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria por tem
po de contribuição com requisitos peculiares. Logo, não há necessidade do segura
do estar em situação de incapacidade laborativa total e permanente (inválido).
1.3 .4 Início da prestação/m om ento da entregaPara o segurado empregado, o marco inicial da prestação é a data do desliga
mento do emprego quando a aposentadoria especial for requerida até noventa dias
após o desligamento. Ultrapassados os noventa dias, a aposentadoria especial será
devida a partir da data de entrada do requerimento. Para os demais segurados pro
tegidos, é devida a partir da data de entrada do requerimento.
1.3 .5 Cessação da prestaçãoOcorre com a morte do segurado. Por força da previsão do art. 57, § 8o, da Lei
n. 8.213/91, o retorno ou a continuidade da atividade ou operação que sujeite o se
gurado aos agentes nocivos considerados para a entrega da aposentadoria especial é
motivo de cancelamento da prestação. No entanto, tendo em vista que, nessa situa
ção, o segurado preencheu os requisitos legais para acesso à prestação, entende-se
que o retorno a tais atividades deveria apenas causar a suspensão da prestação.
1.3 .6 Requisitos para a entrega da prestaçãoA concessão da aposentadoria especial depende da comprovação pelo segu
rado de exposição às condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integrida
de física. A exposição aos agentes nocivos deve ser permanente, não ocasional, nem
intermitente.
O art. 65 do Decreto n. 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social) estabe
lece que trabalho permanente é aquele exercido de forma não ocasional nem intermi
tente, no qual a exposição do empregado, do trabalhador avulso ou do cooperado ao
agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço.
Para análise e enquadramento dos agentes nocivos, é indispensável a consul
ta ao anexo iv do Decreto n. 3.048/99 (classificação dos agentes nocivos), bem
como das seguintes normas regulamentares expedidas pelo Ministério do Traba
lho e Emprego: Norma Regulamentadora n. 6 (Equipamentos de Proteção Indi
vidual - e p i ); Norma Regulamentadora n. 7 (Programa dc Controle Médico da
Saúde Ocupacional - p c m s o ); Norma Regulamentadora n. 9 (Programa de Pre
venção de Riscos Ambientais - p p r a ); e Norma Regulamentadora n. 15 (Ativida
des e Operações Insalubres).
12 Prestações previdenciárias em espécie 61
São considerados agentes nocivos:
• físicos: ruído (Nível de Pressão Sonora Elevado - n p s e ), vibrações, calor,
pressões anormais, radiações ionizantes e não ionizantes etc.;
• químicos: manifestados por névoas, neblinas, gases, vapores de substâncias
nocivas presentes no ambiente de trabalho, absorvidos pela via respiratória, assim
como os passíveis de absorção por outras vias;
• b io ló g ic o s : b ac té r ia s , fu n g o s , p a ras ita s , v írus etc.
A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos, atualmen
te, é feita mediante formulário denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário - ppp ,
na forma estabelecida pelo in s s , sendo emitido pela empresa ou seu preposto, com base
em laudo técnico dc condições ambientais do trabalho e expedido por médico do tra
balho ou engenheiro dc segurança do trabalho. Entre outras informações, deve conter
registros ambientais, resultados de monitoração biológica e dados administrativos.
O ppp é d o c u m e n to h is tó r ico- labo ra l q ue reúne d ad o s a d m in is tra t iv o s , regis
tros a m b ie n ta is e re su ltado s de m o n ito r a ç ã o b io ló g ic a d u ran te to d o o p e r ío d o em
que o tr a b a lh a d o r exercer suas a tiv idades . É o b r ig a tó r io desde 1° de jane iro de 2004
p a ra os tr a b a lh a d o re s s u b m e t id o s ao s agen tes n o c iv o s . O ppp deve ser e m it id o :
q u a n d o o c o n tr a to de t r a b a lh o é e n ce rrad o ; q u a n d o o se g u rad o o reque rer p a ra
d a r e n tra d a n o p e d id o de a p o s e n ta d o r ia ; o u q u a n d o so lic ita d o pe la pe r íc ia m é d i
ca d o in s s p a ra fins de concessão de bene fíc io s de in c a p a c id a d e .
Além do p p p , as empresas estão obrigadas a manter laudos técnicos atualiza
dos sob pena de multa, por força dos arts. 58, caput, e §§ 3o e 4°, da Lei n. 8.213/91
e 283 do Decreto n. 3.048/99.
Qualquer que seja a data de entrada do requerimento dos benefícios do regi
me geral de previdência social, as atividades exercidas em condições especiais de
vem ser analisadas da seguinte forma:
PERfODO DE TRABALHO ENQUADRAMENTO
Até 28.04.1995 Anexos i e n do Decreto n. 83.080/79.Anexo ao Decreto n. 53.831/64.Lei n. 7.850/89 (telefonista).Sem apresentação de laudo técnico, exceto para ruído.
De 29.04.1995 a 05.03.1997 Anexo i do Decreto n. 83.080/79.Código 1.0.0 do Anexo ao Decreto n. 53.831/64.Com apresentação de laudo técnico.A partir de 06.03.1997, Anexo iv do Decreto n. 2.172/97 substituído pelo Decreto n. 3.048/99.Com apresentação de laudo técnico.
A partir de 01.01.2004 Anexo iv do Decreto n. 3.048/99. Com a apresentação do ppp.
62 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
É possível converter o tempo trabalhado em condições especiais em comum,
sendo vedada a conversão do tempo comum em especial. O tempo de trabalho exer
cido sob condições especiais prejudiciais à saúde ou à integridade física será soma
do, após a conversão, ao tempo trabalhado em atividade comum. Para conversão
de tempo especial em comum, aplica-se a seguinte tabela prevista no art. 70 do De
creto n. 3.048/99:
Tempo a converter Multiplicadores
Mulher (para 30 anos) Homem (para 35 anos)
De 15 anos 2 2,33
De 20 anos 1,5 1,75
De 25 anos 1,2 1,4
Para fins de enquadramento da atividade e conversão, aplica-se a lei vigente
no momento da exposição aos agentes nocivos, ou seja, aplica-se o princípio tem-
pus regit actum. No caso do agente nocivo físico ruído, a Turma Nacional de Uni
formização — t n u editou a Súmula n. 32, a qual expressamente indica os atos que
regem a conversão.
Súmula n. 32. O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considera
do especial, para fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 deci
béis, na vigência do Dccrcto n. 53.831/64 (1.1.6); superior a 90 dccibéis, a partir de 5
dc março dc 1997, na vigência do Decreto n. 2.172/97; superior a 85 dccibéis, a partir
da edição do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003 (DJ 04.08.2006, p.750).
Exemplificando: segurado com onze anos de atividade especial exposto ao
agente nocivo químico chumbo (anexo iv do Decreto 3.048/99, Código 1.0.8) e
mais doze anos de atividade comum. Para achar meses e dias, basta trabalhar com
o número após a vírgula, assim:
11 x 1,40 = 15,4;
0,4 x 12 = 4,8;
0,8 x 30 = 24.
Tempo convertido: quinze anos, quatro meses e 24 dias + doze anos, 0 mês e
0 dia = 27 anos, 4 meses e 24 dias.
1.3 .7 Sujeitos protegidosPrestação exclusiva dos segurados empregados, trabalhadores avulsos e coo
perados de trabalho e produção (contribuintes individuais por força do art. 1° da
12 Prestações previdenciárias cm espécie 63
Lei n. 10.666/2003). Segundo o art. 3o desta Lei, a perda da qualidade de segura
do não será considerada para concessão da aposentadoria especial.
1.3 .8 Quantificação da prestaçãoO valor da renda mensal é de 100% do salário de benefício.
1.4 Aposentadoria por invalidez
1.4.1 ConceitoPrestação previdenciária de caráter continuado na modalidade benefício de
vida aos segurados que sc encontrem cm situação dc incapacidade laborativa total
c permanente.
A aposentadoria por invalidez está regulamentada nos arts. 42 a 47 da Lei
n. 8.213/91 e 43 a 50 do Decreto n. 3.048/99.
1.4 .2 Fundamento da proteçãoOcorrência da invalidez que pode ser definida como agravo físico ou psíqui
co que acarrete a incapacidade laborativa de forma permanente. A invalidez pode
ser física ou mental. A incapacidade para o trabalho é a impossibilidade do desem
penho das funções específicas de uma atividade ou ocupação em conseqüência de
alterações morfopsicológicas provocadas por doença ou acidente.
1.4 .3 CarênciaPara aposentadoria por invalidez acidentária do trabalho e de qualquer natu
reza, não há carência. Para aposentadoria por invalidez comum, a carência é de
doze contribuições mensais. Os segurados especiais foram isentados do cumpri
mento da carência devendo, no entanto, comprovar o exercício de atividade rural
nos doze meses imediatamente anteriores ao requerimento do benefício.
1.4 .4 Requisitos legaisEssa prestação é devida quando houver a constatação, mediante exame mé-
dico-pericial a cargo da previdência social, da incapacidade para o trabalho e da
impossibilidade de reabilitação para o exercício de atividade que garanta a subsis
tência do segurado, estando ou não em gozo de auxílio-doença. A aposentadoria
será mantida enquanto perdurar a incapacidade.
Doenças e lesões preexistentes à filiação ao regime não dão direito ao benefí
cio, salvo sc a invalidez decorrer do agravamento de lesão ou doença preexistente.
1.4 .5 Hipóteses de suspensão do benefícioO benefício poderá ser suspenso caso haja recusa em realizar o exame médi-
co-pericial ou em participar de processo de reabilitação profissional ou de trata
64 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
mento gratuito, não cirúrgico e que independa de transfusão sanguínea, conforme
previsão do art. 101 da Lei n. 8.213/91.
1.4 .6 Hipóteses de cancelam ento do benefícioO benefício será cancelado nos casos de retorno voluntário ao trabalho, mor
te, recuperação da capacidade laborai e abandono ou recusa de tratamento de rea
bilitação.
1.4 .7 M ensalidade de recuperaçãoConstatada a recuperação para o trabalho total ou parcial, desaparece o fun
damento da manutenção de entrega da aposentadoria por invalidez. Prevê a legis
lação previdenciária um mecanismo gradual de redução de entrega da prestação pre
videnciária até que a aposentadoria seja definitivamente cessada. A esse mecanismo
dá-se o nome de mensalidade de recuperação, posto que não é racional pagar-se apo
sentadoria por invalidez para quem já recuperou a capacidade laborativa.
Determina o art. 47 da Lei n. 8.213/91 que, verificada a recuperação da ca
pacidade de trabalho do aposentado por invalidez, será observado o seguinte pro
cedimento:
i - quando a recuperação ocorrer dentro dc cinco anos, contados da data do iní
cio da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem inter
rupção, o benefício cessará:
a) de imediato, para o segurado empregado que tiver direito a retornar à função
que desempenhava na empresa quando sc aposentou, na forma da legislação traba
lhista, valendo como documento, para tal fim, o certificado dc capacidade fornecido
pela previdência social; ou
b) após tantos meses quantos forem os anos de duração do auxílio-doença ou
da aposentadoria por invalidez, para os demais segurados;
n - quando a recuperação for parcial, ou ocorrer após o período do inciso i, ou
ainda quando o segurado for declarado apto para o exercício de trabalho diverso do
qual habitualmente exercia, a aposentadoria será mantida, sem prejuízo da volta à ati
vidade:
a) no seu valor integral, durante seis meses contados da data em que for verifi
cada a recuperação da capacidade;
b) com redução de 50%, no período seguinte de seis meses;
c) com redução de 75%, também por igual período de seis meses, ao término do
qual cessará definitivamente.
1.4 .8 Início da prestação/m om ento da entregaQuando o benefício é decorrente da conversão do auxílio-doença, a aposen
tadoria por invalidez será devida a partir do dia imediatamente posterior à cessa
12 Prestações previdenciárias em espécie 65
ção do auxílio-doença. No entanto, pela dicção legal, não é necessário, em todas
as situações, primeiro ser concedido auxílio-doença para depois converter-se a pres
tação cm aposentadoria por invalidez, posto que reza o art. 42 da Lei n. 8.213/91:
“a aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência
exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença
Quando a aposentadoria não for precedida de auxílio-doença será devida:
• para o segurado empregado, a partir do 16° dia do afastamento da ativida
de ou da data do requerimento - os primeiros quinze dias de afastamento são de
responsabilidade da empresa;
• para o segurado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso, es
pecial ou facultativo, da data do início da incapacidade ou do requerimento admi
nistrativo se decorridos mais de trinta dias do marco anterior.
Quando se discute em juízo o direito à aposentadoria por invalidez, cabe des
tacar que, para o Superior Tribunal de Justiça, a aposentadoria será devida a par
tir da data de apresentação do laudo médico-pericial. Portanto, em momento pos
terior à data de entrada do requerimento administrativo e ao laudo da perícia
médica do in s s .
Decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema é colacionada a se
guir:
Previdenciário. Aposentadoria por invalidez. Termo inicial da concessão do be
nefício. Data da juntada do laudo médico-pericial em juízo. 1 - É pacífica a jurispru
dência desta Corte no sentido dc que, cm sc tratando de bcncfício dccorrcntc dc in
capacidade definitiva para o trabalho, ou seja, aposentadoria por invalidez, o marco
inicial para a sua concessão, na ausência de requerimento administrativo, será a data
da juntada do laudo médico-pericial em juízo. 2 - Recurso especial provido (REsp
n. 478.206/SP, 2002/0.148.360-9, 5a T., rel. M in. Laurita Vaz, j. 13.05.2003, DJ
16.06.2003, p.385).
Destaca-se, no entanto, que a Turma de Uniformização dos Juizados Especiais
Federais, ao analisar o caso de um benefício assistencial, determinou que, se a pro
va pericial realizada em juízo dá conta de a incapacidade já existir na data do re
querimento administrativo, esta data é o termo inicial do benefício assistencial.
Súmula n. 22. Se a prova pericial realizada em juízo dá conta de que a incapaci
dade já existia na data do requerimento administrativo, esta é o termo inicial do be
nefício assistencial (Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juiza
dos Especiais Federais, j. 31.08.2004, DJ 07.10.2004).
6 6 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
1.4 .9 DestinatáriosPrestação devida, exclusivamente, aos segurados (obrigatórios e facultativos)
da previdência social.
1 .4 .10 Quantificação do benefícioO valor do benefício consiste em uma renda mensal correspondente a 100%
do salário de benefício, podendo haver acréscimo de 25% caso o segurado neces
site de assistência permanente de outra pessoa (grande invalidez). Quando o aci
dentado do trabalho estiver em gozo de auxílio-doença, o valor da aposentadoria
por invalidez será igual ao do auxílio-doença sc este lhe for superior.
1.4.11 Grande invalidezE uma incapacidade total e permanente de tal proporção que acarreta a ne
cessidade permanente do auxílio de terceiros para o desenvolvimento de atividades
cotidianas. A grande invalidez é de caráter personalíssimo e seu pagamento cumu
lado com a aposentadoria por invalidez pode ultrapassar o limite máximo do sa
lário de benefício.
Esse instituto está regrado no art. 45 da Lei n. 8.213/91:
Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da
assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25%.
Parágrafo único. O acréscimo dc que trata este artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo le
gal;
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;
c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor da pen
são.
O Anexo i do Regulamento da Previdência Social (Decreto n. 3.048/99) arro
la as situações que configuram a grande invalidez, a ser verificada pela perícia mé
dica oficial do in s s .
Anexo I
Relação das situações em que o aposentado por invalidez terá direito à majora
ção dc 25% prevista no art. 45 deste Regulamento.
1 - Cegueira total.
2 - Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta.
3 - Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.
4 - Perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a prótese for impos
sível.
12 Prestações previdenciárias em espécie 67
5 - Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese seja possível.
6 - Perda de um membro superior e outro inferior, quando a prótese for impos
sível.
7 - Alteração das faculdades mentais com grave perturbação da vida orgânica c
social.
8 - Doença que exija permanência contínua no leito.
9 - Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.
2. AUXÍLIO-DOENÇA
2.1 Conceito
Prestação previdenciária na modalidade benefício devida aos segurados que
se encontrem em situação de incapacidade laborai temporária total ou parcial. Hoje,
há duas espécies dc auxílio-doença: o comum (ou previdenciário) c o acidentário
(laborai c o dccorrcntc dc acidcnte dc qualquer natureza).
Em relação ao auxílio-doença acidentário, a Lei n. 11.430/2006, regula
mentada pelo Decreto n. 6.042/2007 que foi recentemente alterado pelo Decre
to n. 6.939/2009, inseriu no ordenamento pátrio a figura do Nexo Técnico Epi-
demiológico dc Prevenção - n te p . Tal figura presume a natureza acidentária
laborai quando constatado o nexo técnico entre o trabalho e a incapacidade de
corrente da relação determinada na Lista B do Anexo n do Decreto n. 3.048/99,
e entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacida
de prevista na c i d - Classificação Internacional de Doenças.
O auxílio-doença está regulamentado nos arts. 59 a 63 da Lei n. 8.213/91 c
71 a 80 do Decreto n. 3.048/99.
2.2 Fundamento
Protege-se o segurado cm face da incapacidade temporária total ou parcial
para o trabalho ou atividade habitual por mais de quinze dias e enquanto durar a
incapacidade laborativa.
2.3 Carência
A carência para o auxílio-doença comum é de doze contribuições mensais.
O auxílio-doença acidentário não tem carência, bem como não há carência para
os portadores de doenças graves relacionadas na Portaria Interministerial m p a s /
m s n. 2.998, de 23 de agosto de 2001.
68 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
2 .4 Requisitos legais
Estar o segurado incapacitado para o trabalho ou atividade habitual por mais
dc quinze dias para os segurados empregados; e a partir da data da incapacidade
para os demais segurados.
Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao regime geral de
previdência social já portador de doença ou lesão invocada como causa para con
cessão do benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progres
são ou agravamento dessa doença ou lesão.
O segurado em gozo de auxílio-doença está obrigado a submeter-se a exame
médico a cargo da previdência social, a processo de reabilitação profissional e a
tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue,
que são facultativos.
O exame médico-pericial fixará a Data do Início da Doença ( d i d ) e a Data
do Início da Incapacidade (d i i ). A d i d é a data aproximada em que se iniciaram os
sinais e sintomas maiores da doença em questão, e não a data aproximada do iní
cio biológico da doença. Assim, uma neoplasia maligna, quando percebida, pode
ter meses ou anos de seu início biológico, e essa data de início biológico da doen
ça não é apreciada pela perícia médica. Aprecia-se, ao contrário, a data aproxima
da 11a qual foram procurados recursos médicos para diagnóstico e tratamento, ou
na qual sc perceberam os sinais da doença. A d i i é a data aproximada em que os
sinais c sintomas se tornaram tão significativos que impediram a continuidade da
atividade laborativa. No exame médico inicial, os peritos estão obrigados a deter
minar a d i d e a d i i de cada caso quando o parecer for concessivo. Assim, configu-
ram-se diversas situações do tipo:
• d i d depois da primeira contribuição e d i i depois da 12a contribuição. Nes
se caso, há o direito à prestação, posto que a incapacidade sobreveio por motivo
de progressão ou agravamento da doença ou lesão;
• d i d posterior à primeira contribuição e d i i posterior à 12a contribuição in
dicam que o segurado cumpriu integralmente seu período de carência. Nesse caso,
havendo incapacidade laborativa, o benefício é concedido naturalmente;
• no caso de d i d posterior à primeira contribuição e d i i antes de completar
a carência, o benefício só será concedido se a doença causadora da incapacidade
for uma das constantes da Portaria Interministerial m pas/m s n. 2.998/2001;
• d i d antes da primeira contribuição e d i i após a 12a contribuição indicam
que a doença era pregressa ao ingresso 11a previdência social, mas completou-se o
período dc carência. Se houver agravamento da doença preexistente, o benefício é
devido por força do art. 59, parágrafo único, da Lei 11. 8.213/91;
• d i d antes da primeira contribuição e d i i antes da 12a contribuição indicam
concessão indevida, pois a doença seria preexistente ao ingresso na previdência so-
12 Prestações previdenciárias em espécie 6 9
ciai e se agravou antes de completada a carência. Nesse caso, o art. 59, caput, da
Lei n. 8.213/91 não fica contemplado, muito embora seu parágrafo único possa dar
a entender o contrário.
2.5 Início da prestação
Para o segurado empregado, a partir do 16° dia do afastamento da atividade
quando requerido o benefício até trinta dias a contar da data de seu afastamento
da empresa. Após trinta dias, o benefício será devido a partir da data de entrada
do requerimento. Nesse caso, quando o acidentado não se afasta do trabalho no
dia do acidente, os quinze dias de responsabilidade da empresa serão contados a
partir do afastamento. No caso do segurado empregado, o salário durante os pri
meiros quinze dias são pagos pela empresa, o que caracteriza a hipótese de suspen
são dos efeitos do contrato de trabalho, havendo a incidência de contribuições pre
videnciárias no período de interrupção.
Para os demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e en
quanto permanecerem incapazes quando requerido o benefício até trinta dias do
início do afastamento. Depois de decorridos trinta dias do afastamento, o benefí
cio será devido a partir da data de entrada do requerimento.
No caso de afastamento do empregado por doze dias, esse lapso temporal não
faz gerar o direito ao auxílio-doença. No entanto, se dentro de sessenta dias vier o
segurado a se afastar pelo mesmo motivo, a empresa terá de pagar apenas três dias
(totalizando, no período, quinze) e a partir do quarto dia o segurado estará em gozo
de auxílio-doença.
2.6 Cessação do benefício
O benefício cessará nas seguintes hipóteses:
• recuperação da capacidade para o trabalho;
• conversão em aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente de qualquer
natureza;
• habilitação do segurado para o exercício de outra atividade que lhe garan
ta a subsistência após passar por processo de reabilitação profissional.
Se dentro de sessenta dias o segurado estiver novamente em situação de inca
pacidade laborai decorrente da mesma doença, a empresa não terá de suportar o
pagamento dos primeiros quinze dias contados do afastamento.
2.7 Destinatários
Todos os segurados da previdência social (obrigatórios e facultativos). Caso
o segurado exerça dupla atividade e se encontre incapacitado para uma e não para
7 0 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
outra, entrará em gozo de auxílio-doença apenas em relação à atividade em que
está em situação de incapacidade. Constatada a impossibilidade de recuperação, fi
cará em gozo de auxílio-doença indefinidamente ate a extensão da incapacidade
para outra atividade ou concessão dc outra espécie dc aposentadoria.
Por força do art. 101 da Lei n. 8.213/91, o segurado em gozo de auxílio-doen
ça ou de aposentadoria por invalidez e o pensionista inválido estão obrigados, sob
pena de suspensão, a submeter-se a exame médico periódico, a processo de reabili
tação profissional e a tratamento prescrito e custeado pelo in s s , exceto o tratamen
to cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos.
O segurado que gozou auxílio-doença acidentário, em seu retorno - não im
portando a duração do benefício -, terá direito à estabilidade provisória dc doze
meses prevista no art. 118 da Lei n. 8.213/91.
2.8 Quantificação do benefício
O auxílio-doença consiste em uma renda mensal correspondente a 91% do
salário de benefício. O valor não pode ser inferior ao salário-mínimo nem superior
ao teto do salário de benefício.
Em algumas convenções coletivas de trabalho, existe uma cláusula que deter
mina que o segurado empregado em gozo de auxílio-doença faz jus à diferença en
tre o valor do benefício (pago pelo in s s ) e o valor de seu salário.
2.9 Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário - ntep
O Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário presume ocupacional o bene
fício por incapacidade requerido quando o atestado médico apresenta um código
de doença que tenha relação com a Classificação Nacional de Atividade Econômi
ca - c n a e da empresa empregadora do trabalhador requerente.
Com vigência a partir dc I o de abril de 2007, a caracterização do acidente do
trabalho será realizada pelo denominado n t e p , que consiste na relação entre tra
balho e agravo, considerando, para tanto, a relação entre o ramo de atividade eco
nômica da empresa, expressa pela c n a e , e a entidade mórbida motivadora da in
capacidade, relacionada na Classificação Internacional de Doenças - c i d (art. 6°,
§ 3°, da Instrução Normativa in s s /p r e s n. 31/2008).
A relação das atividades que determinam a caracterização do acidente do tra
balho (nexo epidemiológico) consta da Lista B do Anexo ii do Decreto n. 3.048/99.
As espécies dc n t e p :
• nexo técnico profissional ou do trabalho;
• nexo técnico por doença equiparada a acidente do trabalho ou nexo técni
co individual;
12 Prestações previdenciárias em espécie 71
• nexo técnico epidemiológico (c i d e c n a e ).
Os benefícios com nexo técnico previamente estabelecidos são:
• auxílio-doença acidentário (B-91);
• aposentadoria por invalidez acidentária (R-92);
• auxílio-acidente (B-94);
• pensão por morte acidentária (B-93).
Os benefícios cujo nexo com trabalho não foram previamente estabelecidos
são o auxílio-doença comum (B-31) e a aposentadoria por invalidez comum (B-
32).
O n t e p não dispensa o exame por parte da perícia médica do in s s , que pode
confirmar ou descaracterizar o n t e p havendo elementos para tanto. A perícia mé
dica pode estabelecer o nexo causai com base em outros elementos que não o n t e p
e a c a t - Comunicação de Acidente do Trabalho. Cabe ao médico perito a análise
do conjunto probatório, devendo a a p s (Agência da Previdência Social) comunicar
o resultado da análise à empresa e ao segurado. Da decisão, proferida pela perícia
médica, caberá recurso, pelo prazo de trinta dias, para as partes interessadas, com
efeito suspensivo. O benefício somente será alterado após o julgamento final pelo
c r p s - Conselho de Recursos da Previdência Social. Assim, o n t e p não garante au
tomaticamente o benefício acidentário, que depende da constatação de incapacida
de por parte da perícia médica do in s s .
A empresa pode questionar o reconhecimento do n t e p . Para tanto, ela terá dc
provar que o evento não tem nexo com a atividade desenvolvida pelo segurado.
Quando a empresa conhece o diagnóstico, terá quinze dias após a entrega da g f ip
(Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações
à Previdência Social) do mês de competência do afastamento para fazer o questio
namento. Quando a empresa não conhece o diagnóstico, terá quinze dias após a
entrega da g f ip do mês de competência da perícia que aplicou o n t e p para ques
tionar.
O n t e p , para o trabalhador, representa um avanço, pois determinou a inver
são do ônus da prova diante do acidente do trabalho. Por conseqüência, propicia
a concessão da prestação na modalidade acidentária do trabalho, o pagamento das
contribuições para o f g t s durante o período de percepção do auxílio-doença, o di
reito à estabilidade do art. 118 da Lei n. 8.213/91 e a possibilidade de ajuizamen-
to de ação indenizatória em face da empresa com base no art. 7o, xxvm, da Cons
tituição Federal.
3. SALÁRIO-MATERNIDADE
O benefício salário-maternidade é uma prestação previdenciária de caráter
continuado de curta duração que visa a proteção da mulher e do filho (colateral-
7 2 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
mente). No entanto, a titular do benefício é somente a segurada da previdência so
cial. Esse benefício visa, ainda, a garantia da igualdade de tratamento entre homens
c mulheres no mercado de trabalho (decorrência das diretrizes da Convenção
n. 103 da o i t ). Quanto a sua denominação, melhor seria sc a legislação denomi
nasse essa prestação previdenciária de auxílio-maternidade, uma vez que não se
trata de salário, principalmente no atual estágio do sistema protetivo brasileiro, que
prevê a concessão do benefício a todas as seguradas, independentemente de sua mo
dalidade.
A proteção à maternidade sofreu acréscimo com a edição da Lei n. 10.421/2002,
que estende a guardiães e mães adotivas o salário-maternidade. A atuação do legis
lador foi necessária tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal, como guar
dião da Constituição Federal, havia interpretado que a previsão do art. 201, i i , da
Carta Magna alcançava apenas as mães biológicas. Esse acréscimo altera o pano
rama da proteção à maternidade, posto que, hodiernamente, há duas prestações
maternais: o salário-maternidade biológico e o salário-maternidade adoção.
O salário-maternidade está regulamentado nos arts. 71 a 73 da Lei n. 8.213/91
e 93 a 103 do Decreto n. 3.048/99.
3.1 Carência
A prestação salário-matcrnidadc exige carência dc forma híbrida, pois a lei
exige carência para algumas modalidades de seguradas e dispensa para outras. O
referencial adotado é a possibilidade ou não de discriminação no mercado de tra
balho.
Nos termos do inciso m do art. 25 da Lei n. 8.213/91, têm de cumprir carên
cia de dez contribuições mensais as seguradas contribuintes individuais, seguradas
especiais e seguradas facultativas. Destaca-se que, no salário-maternidade biológico,
diante das situações de parto antecipado, o número dc contribuições será reduzido
proporcionalmente ao número de meses em que houve a antecipação do parto.
Nos termos do inciso vi do art. 26 da Lei n. 8.213/91, estão dispensadas do cum
primento da carência as seguintes seguradas: empregadas, empregadas domésticas e
trabalhadoras avulsas. Observe-se que a isenção de carência para algumas seguradas
não fere o princípio da isonomia. A ausência de carência para a empregada visa a pro
teção do emprego, pois, sem tal tratamento diferenciado, os empregadores só contra
tariam as empregadas após o cumprimento da carência para evitar o risco de arcar
com o ônus. Essa necessária distinção visa atender aos ditames das Convenções da
Organização Internacional do Trabalho que tratam do assunto (ns. 3,103 c 183), no-
tadamente a de n. 103, em vigência no momento no Brasil.
12 Prestações previdenciárias em espécie 73
3.2 Análise da norm a jurídica: salário-m aternidade biológico
Antecedente normativo Critério m aterial
• parto: antecipado, prematuro ou a termo.
Pela previsão da Classificação Internacional dc Doenças - c i d , são conside
rados parto os eventos ocorridos a partir da 23a semana gestacional. Mesmo no
caso de natimorto (o nascimento sem vida após seis meses de gestação), é devido o
benefício salário-maternidade de 120 dias, devendo ser juntado atestado médico
com informação do c i d específico.
No caso de aborto natural ou aborto não criminoso, a prestação previdenciá
ria é de duas semanas. O art. 128 do Código Penal prevê duas hipóteses de aborto
legal: o terapêutico (para salvar a vida da mãe) c o humanitário (previsto para os
casos de gravidez decorrente de estupro).
Critério tem poral• duração do benefício: 120 dias.
A Lei n. 11.770/2008, ao criar o Programa Empresa Cidadã, facultou, às em
presas aderentes, a prorrogação da licença-maternidade mediante a concessão de
incentivo fiscal. A possibilidade da extensão é uma faculdade da empresa e não um
direito da gestante, inclusive porque somente ocorrerá em relação às seguradas em
pregadas de médias e grandes empresas. Tal prorrogação sc aplica tanto à mater
nidade biológica quanto à adotiva. As Administrações Públicas Direta, Indireta e
Fundacional ficam autorizadas a instituir programas que garantam a prorrogação
da licença-maternidade. Observe-se que a prorrogação já pode ser aplicada no exer
cício de 2010, a partir de janeiro.
• início da prestação: 28 dias antes do parto e término 91 dias depois, poden
do ser aumentado em duas semanas antes ou depois do parto, ou 120 dias após o
parto.
A segurada que ficar incapacitada para o trabalho antes dos 28 dias que an-
teccdcrem ao parto fará jus ao auxílio-doença. Persistindo a incapacidade após a
cessação da licença-maternidade, será retomado o auxílio-doença.
Critério espacial• território nacional e, quando cabível, aplicação do princípio da extraterri-
torialidade.
7 4 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Conseqüente normativo Critério pessoal
• sujeito ativo: seguradas da previdência social: obrigatórias (empregadas, em
pregadas domésticas, trabalhadoras avulsas, contribuintes individuais, seguradas
especiais) e facultativas.
Destaque-se que, por força do art. 4o-A da Lei n. 11.324/2006, foi garantida
a estabilidade provisória da empregada doméstica gestante: “É vedada a dispensa
arbitrária ou sem justa causa da empregada doméstica gestante desde a confirma
ção da gravidez até cinco meses após o parto.”
• sujeito passivo: Autarquia Federal - in s s .
Não se deve confundir a obrigação imposta pela Lei n. 10.710/2003, que impõe
o dever de as empresas adiantarem os valores devidos a título de salário-maternida-
de, com o dever de pagar e suportar ao final o ônus do pagamento da prestação pre
videnciária, que é da previdência social. O pagamento do salário-maternidade é fei
to pela empresa e abatido da guia de recolhimento à previdência social por meio de
reembolso. O dever legal da empresa de adiantar os valores do salário-maternidade
somente se aplica no caso de salário-maternidade biológico. As demais seguradas de
vem requerer o benefício diretamente no in s s . O salário-maternidade adoção, em
qualquer situação, deve ser requerido diretamente no in s s . A empresa deve guardar
atestados, certidões e quitações de pagamento pelo período de dez anos.
O Decreto n. 3.048/99 prevê a concessão do salário-maternidade à aposenta
da que retornar à atividade. Tal previsão é ilegal, pois contraria o art. 18, § 2°, da
Lei n. 8.213/91, o qual prescreve que o aposentado que retornar à atividade somen
te terá direito ao salário-família e à reabilitação profissional. Não há questiona
mento formal, posto que se trata de uma ilegalidade benéfica.
Critério quantitativo• segurada empregada e trabalhadora avulsa: renda mensal do benefício igual
à remuneração integral.
Por força do art. 393 da c l t , se a empregada tiver renda variável, o valor do
benefício corresponderá à média dos últimos seis meses. Conquanto o salário-ma
ternidade não tenha limitação no que se refere ao valor máximo do salário de be
nefício, não se pode esquecer do limite estabelecido no art. 248 da Constituição Fe
deral, o qual determina que a previdência não pagará benefício superior ao valor
dos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
• segurada empregada doméstica: o valor do último salário de contribuição,
logo sujeito à limitação do salário de benefício.
• segurada especial: 1/12 do valor sobre o qual incidiu sua última contribui
ção anual, não podendo ser inferior a um salário-mínimo.
12 Prestações previdenciárias em espécie 75
• segurada contribuinte individual e facultativa: o valor da renda mensal do
benefício corresponde a 1/12 da soma dos doze últimos salários de contribuição
apurados cm um período não superior a quinze meses, não podendo ser inferior a
um salário-mínimo.
No caso de empregos concomitantes, a empregada fará jus ao salário-mater
nidade relativo a cada um. Durante o período de percepção do salário-maternida
de, é devida a contribuição previdenciária (parte do empregador e parte do empre
gado). No caso do empregador doméstico, cabe recolhimento da contribuição
apenas de sua parte; e, ao in s s , o desconto da parte relativa às contribuições pre
videnciárias quando do pagamento do benefício.
3 .3 Análise da norm a jurídica: salário-m aternidade adoção
Antecedente normativo Critério m aterial
• adoção: se houver adoção, deve ser concedida a prestação previdenciária.
Benefício previsto no caso de adoção de crianças com até 8 anos de idade. A
Lei n. 10.421/2002 alcança os eventos ocorridos a partir de 16 de abril de 2002.
Cabe destacar que a legislação previdenciária prevê a guarda para fins de ado
ção como fato gerador da prestação em comento. Conquanto possa vir a ser revo
gada, a guarda é fato gerador do início da prestação. Portanto, não há se falar em
restituição de valores caso a guarda seja revogada e a adoção não se efetive por
qualquer motivo. Observe-se que tal adoção é a do Estatuto da Criança e do Ado
lescente.
Critério tem poral• início da prestação: com a outorga da guarda judicial ou com a efetivação
da adoção judicial.
O legislador brasileiro adotou o critério etário para determinar o período dc
duração do benefício. A extensão do período de fruição varia de acordo com a ida
de da criança no momento da guarda ou adoção. O salário-maternidade adoção é
devido à segurada que adotar ou obtiver a guarda judicial a partir de 16 de abril
de 2002 de crianças:
• até 1 ano de idade - 120 dias;
• a partir de 1 até 4 anos de idade - sessenta dias;
• a partir de 4 até 8 anos dc idade - trinta dias.
Critério espacial• território nacional e, quando cabível, aplicação do princípio da extraterri-
torialidade.
76 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Conseqüente normativo Critério pessoal
• sujeito ativo: seguradas da previdência social: obrigatórias (empregadas, em
pregadas domésticas, trabalhadoras avulsas, contribuintes individuais, seguradas
especiais) e facultativas.
Cabe destacar que, finalmente, o art. 97 do Decreto n. 3.048/99 foi modifica
do, restando assegurada a concessão do salário-maternidade às seguradas que es
tejam em gozo do período de graça, uma vez que a qualidade de segurado resta in
tacta nessa situação, por força do art. 15, § 3o, da Lei n. 8.213/91.
• sujeito passivo: Autarquia Federal - in s s .
No caso do salário-maternidade adoção, todas as seguradas devem requerer
o benefício diretamente no in s s .
Critério quantitativo• segurada empregada e trabalhadora avulsa: renda mensal do benefício igual
à remuneração integral.
Por força do art. 393 da c l t , se a empregada tiver renda variável, o valor do
benefício corresponderá à média dos últimos seis meses. Conquanto o salário-ma-
ternidade não tenha limitação no que se refere ao valor máximo do salário dc be
nefício, não se pode esquecer do limite estabelecido no art. 248 da Constituição Fe
deral, o qual determina que a previdência não pagará benefício superior ao valor
dos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
• segurada empregada doméstica: o valor do último salário de contribuição,
logo sujeito à limitação do salário de benefício.
• segurada especial: 1/12 do valor sobre o qual incidiu sua última contribui
ção anual, não podendo ser inferior a um salário-mínimo.
• segurada contribuinte individual e facultativa: o valor da renda mensal do
benefício corresponderá a 1/12 da soma dos doze últimos salários de contribuição,
apurados em um período não superior a quinze meses, não podendo ser inferior a
um salário-mínimo.
No caso de empregos concomitantes, a empregada fará jus ao salário-mater
nidade relativo a cada um. Durante o período de percepção do salário-maternida
de, é devida a contribuição previdenciária (parte do empregador e parte do empre
gado). No caso do empregador doméstico, cabe recolhimento da contribuição
apenas dc sua parte; e, ao in s s , o desconto da parte relativo às contribuições pre
videnciárias quando do pagamento do benefício.
12 Prestações previdenciárias em espécie 7 7
3.4 Prazo prescricional do beneficio
Prazo de cinco anos. A segurada tem cinco anos para requerer o benefício e
dez anos para requerer a revisão do ato de concessão a contar da data da percep
ção da primeira prestação.
4. SALÁRIO-FAMÍLIA
O salário-família é previsto no art. 201, iv, da Constituição Federal tendo na
tureza de benefício por contingências sociais:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial, nos termos da lei, a:
[...]iv - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de bai
xa renda.
O salário-família é um típico benefício previdenciário familiar. É benefício que
visa atenuar o encargo econômico decorrente da criação e educação dos filhos ou
dos equiparados a filho.
O art. 65 da lei dc benefícios (Lei n. 8.213/91) estabelece os requisitos para a
entrega dessa prestação:
O salário-família será devido, mensalmente, ao segurado empregado, exceto ao
doméstico, c ao segurado trabalhador avulso, na proporção do respectivo número dc
filhos ou equiparados nos termos do § 2° do art. 16 desta Lei, observado o disposto
no art. 66.
Parágrafo único. () aposentado por invalidez ou por idade e os demais aposen
tados com 65 anos ou mais de idade, se do sexo masculino, ou 60 anos ou mais, se do
feminino, terão direito ao salário-família, pago juntamente com a aposentadoria.
4.1 Fato gerador da prestação
Ter filhos ou equiparados a filho menores de 14 anos ou inválidos. A partir
da Emenda Constitucional n. 20/98 (que determina que o ingresso no mercado de
trabalho exige como regra a idade de 16 anos salvo na condição dc aprendiz), há
78 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
necessidade de adequação da legislação para o atingimento da ratio legis desse be
nefício, qual seja, pagar-se o salário-família até que o dependente filho ou equipa
rado possa ingressar no mercado de trabalho.
A prestação é condicionada à apresentação de alguns documentos. Para iní
cio da entrega do benefício é necessária a certidão de nascimento do filho ou do
cumentação relativa ao equiparado. Para manutenção do salário-família, posto que
é benefício dc prestação continuada, são necessárias a apresentação anual de ates
tado de vacinação obrigatória, até 6 anos de idade (110 mês de novembro de cada
ano), e a comprovação semestral de frequência à escola do filho ou equiparado a
partir dos 7 anos de idade (nos meses de maio a novembro de cada ano).
4 .2 Segurados que têm direito ao salário-fam ília
Nos termos da lei de benefícios e no exercício do princípio da distributivida
de das prestações, o legislador infraconstitucional expressamente determinou que
terão direito ao salário-família:
• os segurados empregados, exceto os domésticos;
• os trabalhadores avulsos;
• os aposentados por invalidez ou idade e os demais aposentados com 65 anos
ou mais de idade, se do sexo masculino, ou 60 anos ou mais, se do feminino, a ser
pago juntamente com a aposentadoria.
4 .3 Valor do benefício
Esse benefício é pago por cotas em relação ao número de segurados e por filhos.
Assim, se o pai e a mãe são segurados de baixa renda e têm dois filhos menores de
14 anos, cada um terá direito a receber duas cotas de salário-família. Deve-se obser
var que, para aferição do conceito de baixa renda, será considerada a renda indivi
dual e não a da família. Nesse caso, o pai receberia duas cotas c a mãe duas cotas.
4 .4 Conceito de baixa renda
Esse conceito foi inserido 110 ordenamento pela Emenda Constitucional
n. 20/98. Segurado de baixa renda é aquele que percebe remuneração de até
R$ 798,30, conforme Portaria Interministerial mps/mf 11. 350/2009, indepen
dentemente da quantidade de contratos c atividades exercidas. Considera-se
como remuneração do segurado o valor total do respectivo salário dc contri
buição (base de cálculo das contribuições previdenciárias) ainda que resultan
te da soma dos salários de contribuição correspondentes a atividades simultâ
neas.
12 Prestações previdenciárias em espécie 79
4 .5 Valor das cotas
A partir da Lei n. 10.888/2004 (conversão da Medida Provisória n. 182/2004),
foram estabelecidos dois patamares de cotas de salário-família. Os valores atuais
foram fixados pela Portaria Interministerial m p s /m f n. 350/2009. A cota do salá
rio-família será de R$ 27,24 por filho de até 14 anos incompletos ou inválido para
quem ganhar até R$ 531,12. A cota do salário-família para o trabalhador que re
ceber de R$ 531,13 a 798,30 por filho de até 14 anos incompletos ou inválido será
de RS 19,19.
As cotas do salário-família não se incorporam à remuneração do trabalhador
para qualquer efeito, nem a qualquer benefício previdenciário. Não há incidência
previdenciária, do f g t s o u do Imposto de Renda em relação aos valores pagos a
título de salário-família.
4 .6 Sistem ática de entrega do salário-fam ília
Para o segurado empregado, determina o art. 68 da Lei n. 8.213/91 que cabe
à empresa o pagamento do salário-família, mensalmente, junto com o salário, até
o quinto dia útil do mês seguinte ao da prestação do serviço. Para o trabalhador
avulso, a regra está estabelecida no art. 69 desta Lei, a qual determina que o paga
mento do salário-família será efetuado pelo sindicato ou órgão gestor de mão dc
obra mediante convênio. O salário-família do avulso independe do número de dias
trabalhados no mês, devendo seu pagamento corresponder ao valor integral da
cota.
Para os segurados aposentados que tenham direito ao salário-família, o paga
mento será feito diretamente pelo in s s . Será pago diretamente, ainda, pelo in s s na
situação de segurado em gozo de auxílio-doença.
4 .7 Cumulação de benefícios
O salário-família é devido conjuntamente com aposentadoria, auxílio-doen
ça e salário-maternidade.
O salário-família pode ser pago diretamente àquele a cujo cargo ficar o sus
tento do menor ou a outra pessoa se houver determinação judicial para essa me
dida.
4 .8 Hipótese de cessação do salário-fam ília
• morte do filho ou equiparado, a contar do mês seguinte ao do óbito;
• implementação da idade, a contar do mês seguinte ao da data do aniver
sário;
8 0 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
• cessação da invalidez, com comprovação a cargo da perícia médica do in s s ,
a contar do mês seguinte ao da cessação da incapacidade;
• desemprego do segurado. Essa hipótese, conquanto prevista na legislação,
gera polêmica, posto que contraria a estrutura do sistema previdenciário brasilei
ro de entrega da prestação quando ocorrido o ato gerador e enquanto há a quali
dade de segurado (em regra).
5. AUXÍLIO-ACIDENTE
5.1 Conceito
Prestação previdenciária paga de forma continuada na modalidade benefício.
Esse benefício visa indenizar a capacidade laborai perdida em virtude de acidente
do trabalho ou de qualquer natureza. Na dicção do parágrafo único do art. 30 do
Decreto n. 3.048/99:
Entende-se como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem trau
mática por exposição a agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarre
te lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda, ou a redução
permanente ou temporária da capacidade laborativa.
O Regulamento da Previdência Social não faz menção às doenças não ocupa-
cionais, concluindo-se que estas não integram o conceito legal de “acidente de qual
quer natureza” .
O auxílio-acidente está regulamentado nos arts. 7o, xxn e xxvm , e 201, i e
§ 10, da Constituição Federal; art. 86 da Lei n. 8.213/91; e art. 104 do Decreto
n. 3.048/99.
5 .2 Fundamento da proteção
Indenizar a parcela da capacidade laborai perdida pelo segurado. Não visa, ne
cessariamente, indenizar a seqüela, mas a perda de ingressos (diminuição da renda)
causada pela redução da capacidade laborai. Esse benefício tem como característi
ca a perda da capacidade laborai parcial e definitiva do segurado, posto estar-se dian
te da presunção absoluta da incapacidade laborai. Assim, ainda que o segurado re
cupere sua capacidade laborai total, o benefício não cessará.
12 Prestações previdenciárias em espécie 81
5 .3 Requisitos legais
Comprovação por meio de perícia médica oficial da incapacidade laborai de
forma parcial e definitiva, para o trabalho que habitualmente exercia o segurado,
por acidente de qualquer natureza ou laborai.
O anexo m do Decreto n. 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social)
elenca as situações que geram o direito ao auxílio-acidente. O rol é meramente
exemplificativo desde que o segurado demonstre a redução da capacidade labo
ra ti va.
5 .4 Auxílio-acidente e perda da audição
Reza o § 4°, art. 86, da Lei n. 8.213/91:
A perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do
auxílio-acidente, quando, além do reconhecimento de causalidade entre o trabalho e
a doença, resultar, comprovadamcnte, na redução ou perda da capacidade para o tra
balho que habitualmente exercia.
Sobre o tema, dipõe a Súmula n. 44 do Superior Tribunal de Justiça: “A defi
nição, cm ato regulamentar, de grau mínimo de disacusia, não exclui, por si só, a
concessão do benefício previdenciário.”
5 .5 Sujeitos protegidos
São beneficiários do auxílio-acidente laborai: o empregado, o avulso e o se
gurado especial, nos termos dos arts. 18, § I o, e 11, i, vi e v i i , da Lei n. 8.213/91.
Já no caso de auxílio-acidente de qualquer natureza, todos os segurados têm direi
to. É exigida a condição de segurado para a entrega da prestação.
5 .6 Início da proteção
O segurado fará jus ao benefício a partir do dia seguinte ao da cessação do
auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento au
ferido pelo acidentado (art. 86, § 2o, da Lei n. 8.213/91). Caso o segurado não te
nha gozado do auxílio-doença, o benefício será devido a partir da constatação, pela
perícia médica, da consolidação dc lesão parcial c definitiva.
8 2 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
5 .7 Suspensão do auxílio-acidente
A suspensão se dá com a reabertura do auxílio-doença que originou o auxí
lio-acidente. O benefício ficará suspenso até a cessação do auxílio-doença reaber
to, quando será reativado se não sobrevier a aposentadoria.
5 .8 Hipóteses de extinção do auxílio-acidente
O benefício se extingue com:
• o início de qualquer aposentadoria do regime geral;
• a concessão de outro auxílio-acidente com valor superior;
• o óbito do segurado.
Observe-se que a Súmula n. 44 da Advocacia-Gcral da União, dc 14 de setem
bro de 2009, determina que é permitida a cumulação do benefício de auxílio-aci
dente com benefício da aposentadoria quando a consolidação das lesões decorren
tes de acidentes de qualquer natureza, que resulte em seqüelas definitivas, nos termos
do art. 86 da Lei n. 8.213/91, tiver ocorrido até 10 de novembro de 1997, inclusive,
dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória n. 1.596-14,
convertida na Lei n. 9.528/97, que passou a vedar tal acumulação.
5 .9 Quantificação da prestação
O auxílio-acidente corresponde a 50% do salário de benefício que deu ori
gem ao auxílio-doença do segurado. Seu valor pode ser inferior ao salário-mínimo,
não sendo aplicada a disposição do art. 201, § 2°, da Constituição Federal, posto
que o auxílio-acidente não tem caráter substitutivo da renda ou do salário do tra
balhador.
Conforme a previsão do art. 31 da Lei n. 8.213/91, o valor mensal do auxí
lio-acidente integra o salário de contribuição do segurado para fins de cálculo do
salário de benefício de qualquer aposentadoria.
A partir do advento da Lei n. 9.528/97, o auxílio-acidente deixou de ser vita
lício e passou a ser devido até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até
a data do óbito do segurado. Tal sistemática é prejudicial ao segurado que teria va
lor da aposentadoria no teto ou próximo ao teto, posto que a integração determi
nada pela Lei n. 9.528/97 não se efetivaria na totalidade, causando prejuízo ao tra
balhador.
Sobre o tema, colaciona-se a Súmula n. 44 da a g u , dc 14 de setembro de
2009:
12 Prestações previdenciárias cm espécie 83
É permitida a cumulação do benefício de auxílio-acidente com benefício da apo
sentadoria quando a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer na
tureza, que resulte em seqüelas definitivas, nos termos do art. 86 da Lei n. 8.213/91,
tiver ocorrido ate 10 dc novembro dc 1997, inclusive, dia imediatamente anterior à
entrada cm vigor da Medida Provisória n. 1.596-14, convertida na Lei n. 9.528/97,
que passou a vedar tal acumulação.
O beneficiário do auxílio-acidente que iniciou a percepção dc seu benefício
ate 11 dc dezembro dc 1997, data da entrada cm vigor da Lei n. 9.528, ou no caso
do fato gerador de seu benefício (acidente) ter se dado nesta mesma data, por for
ça do direito adquirido, continuará recebendo-o em caráter vitalício.
Para o segurado especial, o auxílio-acidente corresponde a 50% do salário-mí-
nimo, salvo se recolher facultativamente para o sistema, nos termos do art. 25, § 1°,
da Lei n. 8.212/91. Nesse caso, o salário de benefício será calculado com base no sa
lário de contribuição.
O auxílio-acidente pode scr cumulado com salário-maternidade, pensão por
morte ou outro auxílio-doença que não decorra do mesmo motivo. É inacumulá-
vel com outro de igual espécie, mesmo que decorrente de sinistro diferente, e com
qualquer tipo de aposentadoria a partir de 10 de novembro de 1997.
5 .10 Com petência para apreciar e ju lgar litígio envolvendo auxílio-acidente
Para apreciar os litígios decorrentes de auxílio-acidente de qualquer nature
za, a competência é da Justiça federal, nos termos do art. 109 da Constituição Fe
deral. Sobre o tema, o Juizado Especial Federal de São Paulo já sc manifestou no
Enunciado/je fs p n. 11: “A Justiça federal é competente para apreciar o pedido dc
concessão de auxílio-acidente decorrente de acidente não vinculado ao trabalho”.
Para apreciar os litígios decorrentes de auxílio-acidente laborai, a competência é
da Justiça estadual, nos termos do art. 129, i i , da Lei n. 8.213/91.
6. ACIDENTE D0 TRABALHO
6.1 Conceito
Segundo o art. 19 da Lei n. 8.213/91, acidente do trabalho é aquele que ocor
re pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho
dos segurados referidos no art. 11, v il, desta Lei, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause morte, ou perda ou redução, permanente ou tem
porária, da capacidade para o trabalho.
8 4 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
O acidente do trabalho está regulamentado nos arts. 7o, xxvm, e 201, i e § 10,
da Constituição Federal; e arts. 19 a 23 da Lei n. 8.213/91.
6 .2 Fundamento da proteção
As prestações de acidente do trabalho são entregues com base na teoria do
risco social. A atual legislação enfrenta o acidente do trabalho como risco social,
pondo em voga o princípio da solidariedade social. O risco se diz social porque o
trabalho é um valor da sociedade e, portanto, protegido pelo direito social (segun
do terminologia atual adotada pela maioria dos doutrinadores, embora todo direi
to seja social). O risco social engloba risco gcncrico (incapacidade ou morte que
não sc originaram da atividade laborai) e risco profissional (incapacidade, redução
da capacidade ou morte decorrentes da atividade laborai).
6 .3 Espécies de acidente do trabalho
Acidente do trabalho é um gênero que comporta três espécies: acidcnte-tipo,
doença profissional e doença do trabalho. Será discorrido a seguir sobre cada uma
delas.
6.3.1 Acidente-tipoO acidente-tipo se caracteriza pela:
• exterioridade. Causa não inerente à constituição orgânica da vítima (sinis
tros causados por ferramentas ou máquinas, podendo, excepcionalmente, derivar
do esforço do trabalhador, como no caso das hérnias);
• subitaneidade. Esse critério está ligado à rapidez do acontecimento, o que
não implica instantaneidade da lesão no organismo humano. Quando a lesão se
produz no organismo humano imediatamente após o evento do acidente, o nexo
ctiológico ou dc causalidade não precisa ser provado, posto que a lesão terá ocor
rido no local do trabalho e no curso deste. Caso contrário, o referido nexo deverá
ser provado.
• violência. É o fato que se exterioriza de modo material, deixando vestígios,
como uma explosão ou queda. No entanto, algumas lesões são imperceptíveis físi
ca e materialmente, por exemplo, a lesão do aparelho auditivo (um choque sono
ro que provoque lesão também caracteriza acidente do trabalho).
6 .3 .2 Doença profissional ou tecnopatiaH a que decorre de atividade, função ou profissão exercida pelo segurado, e
acompanha o trabalhador durante toda sua vida laborai, inclusive em outras em
presas. Alcança apenas os obreiros que tenham uma ocupação qualificada, tendo
12 Prestações previdenciárias em espécie 85
natureza subjetiva. Tem como característica o atingimento da capacidade laborati
va de forma lenta, gradual e constante, sendo quase imperceptível (microtrauma)
ate o momento da eclosão do macrotrauma (situação que torna perceptível o atin
gimento dá capacidade laborai).
O art. 20, i, da Lei n. 8.213/91 define doença profissional como a produzida
ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e cons
tante da relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social (Anexo ii do De
creto n. 3.048/99). O nexo causai nas doenças profissionais é presumido (ex vi le-
gis). São exemplos de doenças profissionais: doença osteomuscular relacionada ao
trabalho (d o r t ) que acomete digitadores, pianistas e montadores de peças; farin-
gite, no caso dc professores; e artrose, para sedentários.
A Instrução Normativa in s s / d c n. 98/2003 conceitua l e r (lesões por esfor
ços repetitivos) ou d o r t como uma síndrome relacionada ao trabalho, caracteri
zada pela ocorrência de vários sintomas, concomitantes ou não, tais como dor, pa-
restesia, sensação de peso, fadiga, aparecimento insidioso, geralmente nos membros
superiores, mas podendo acometer membros inferiores. São entidades neuro-orto-
pédicas definidas como tenossinovites, sinovites, compressões de nervos periféricos,
síndromes miofaciais, que podem ser identificadas ou não. Frequentemente são cau
sa de incapacidade laborai temporária ou permanente. Essa síndrome é resultado
da combinação da sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscu-
lar com a falta dc tempo para sua recuperação.
6 .3 .3 Doença do trabalho ou m esopatiaE a que decorre do meio ambiente laborai, dos instrumentos utilizados, sen
do própria dc determinadas empresas que exploram a mesma atividade econômi
ca. Alcança obreiros qualificados e sem qualificação laborai porque é objetiva. Tem
como característica o atingimento da capacidade laborativa de forma lenta, gra
dual e constante, sendo quase imperceptível (microtrauma) até o momento da eclo
são do macrotrauma (situação que torna perceptível o atingimento da capacidade
laborai).
O art. 20, n , da Lei n. 8.213/91 define doença do trabalho ou mesopatia
(doença profissional atípica) como a adquirida 011 desencadeada em função de
condições especiais nas quais o trabalho é realizado, e que com ele se relacione
diretamente, constante da relação elaborada pelo Ministério da Previdência So
cial (Anexo 11 do Decreto 11. 3.048/99). A doença do trabalho está relacionada ao
meio ambiente laborai, ou seja, às condições especiais ou excepcionais em que o
trabalho é realizado. O nexo causai nas doenças do trabalho deve ser comprova
do mediante vistoria do local do trabalho (perícia).
São exemplos de doenças do trabalho: epilepsia decorrente de estímulo visual
fotoelétrico e ruídos elevados; tuberculose dos trabalhadores de fiação; pneumopa-
86 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
tias, bronquites, sinusites, cardiopatias, hipertensão, silicose em decorrência da ex
posição à sílica nas atividades desenvolvidas nas pedreiras, cerâmicas, vidrarias, ja-
tcamcnto dc areia cm marmoraria c fundições; asbestosc cm decorrência da
exposição ao amianto ou asbesto; benzenismo ou leucopenia (diminuição dos gló
bulos brancos) em decorrência da exposição ao benzeno; e hidrargirismo em decor
rência da exposição ao mercúrio nas fábricas de termômetros.
Não são considerados acidente do trabalho, nos termos do art. 20, § 1°, da
Lei n. 8.213/91:
a) a doença degenerativa;
b) a inerente a grupo etário;
c) a que não produza incapacidade laborativa;
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto de
terminado pela natureza do trabalho.
6 .4 Situações de equiparação a acidente do trabalho por determ inação legal
A equiparação das doenças profissionais e do trabalho a acidentes do traba
lho é um passo fundamental para o aperfeiçoamento do sistema dc proteção do aci-
dente do trabalho. As situações equiparadas a acidente do trabalho estão arrola
das e descritas no art. 21 da Lei n. 8.213/91:
i - o acidcntc ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua ca
pacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua re
cuperação;
Trata a lei dc bcncfício, no inciso i do art. 21, da concausalidade, entendida
como a somatória de causas que, por dicção legal, são determinadas como aciden
te do trabalho. A concausalidade pode ser antecedente, concomitante ou superve
niente. O ordenamento adota a concausalidade desde que o trabalho propicie con
dições, sem as quais, o dano não se realizaria, configurando-se, assim, o acidente
do trabalho.
Tipos de concausa:
• antecedente ou anteveniente - causa cxtralaborativa inicial a que se segue
causa acidentária ocasionando o dano. Exemplo: hemofílico que, no trabalho, so
fre corte causando-lhe gangrena e perda de um membro de locomoção inferior;
• simultânea ou concomitante - nela há um acidente do trabalho (causa la
borai) e uma causa extralaboral ao mesmo tempo. Exemplo: trabalhador com cer
12 Prestações previdenciárias em espécie 8 7
ta idade (o ser humano vai apresentando déficit auditivo conforme a idade avan
ça) que labora em ambiente que o expõe a ruído excessivo acima dos 85 decibéis;
• superveniente - nela há um acidente do trabalho e, em momento futuro,
ocorre fato cxtralaboral que lhe acarreta dano. Exemplo: indivíduo que sofre aci
dente do trabalho levado de ambulância ao hospital e, no percurso, a ambulância
sofre acidente de trânsito causando-lhe outras lesões.
n - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, cm con
seqüência de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou compa
nheiro de trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacio
nada ao trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de compa
nheiro de trabalho;
d) ato dc pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de
força maior;
iii - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercí
cio de sua atividade;
iv - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de tra
balho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da em
presa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuí
zo ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por
esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemen
te do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qual
quer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
Há no inciso iv do art. 21 da Lei n. 8.213/91 a equiparação a acidente do tra
balho da figura do acidente de percurso, de trajeto ou acidente in itinere, que eti-
mologicamente, significa “no caminho”. Assim, o acidente ocorrido no trajeto de
casa para o trabalho ou deste para casa enquadram-se, cm tese, como acidente do
trabalho. A lei afirma que caracterizará o acidente qualquer que seja o meio dc lo
comoção (inclusive a pé). Pequenas interrupções ou desvios do trajeto, em tese, não
têm o condão de descaracterizar o evento como acidentário laborai. Assim, para
88 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
das para compras em farmácias, supermercados, loja de calçados, entre outras, no
trajeto, por si só, não descaracterizam o acidente de itinerário.
6 .5 Com petência para apreciar os litígios decorrentes de acidente do trabalho
Compete à Justiça estadual o julgamento de ações indenizatórias relativas a
benefícios devidos pelo in s s (auxílio-doença acidentário, auxílio-acidente e apo
sentadoria por invalidez acidentária). Acerca da competência das ações acidentá-
rias movidas em face do in s s , a Súmula n. 501 do Supremo Tribunal Federal dis
põe que:
Compete à Justiça ordinária estadual o processamento e o julgamento, em am
bas as instâncias, das causas de acidente de trabalho, ainda que promovidas contra a
União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.
A competência para julgamento das ações de indenização por danos moral e
material, decorrentes de acidente do trabalho, dirigidas aos empregadores em vir
tude de culpa (subjetiva) ou dolo, nos termos do art. 7°, xxvm, da Constituição Fe
deral, de acordo com a Emenda Constitucional n. 45/2004 e, antes dela, por força
de entendimento dos tribunais superiores, e da Justiça do trabalho. O Supremo Tri
bunal Federal, antes da Emenda Constitucional n. 45/2004, já havia editado a res
peito a Súmula n. 736: “Compete à Justiça do trabalho julgar as ações que tenham
como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à seguran
ça, higiene e saúde dos trabalhadores.”
6 .6 A em presa e sua responsabilidade com a segurança do trabalhador
6.6.1 Responsabilidade pela prevenção dos acidentes do trabalhoA responsabilidade pela prevenção dos acidentes do trabalho e tanto da em
presa quanto do empregado. O art. 157 da c l t descreve as atribuições preventivas
a cargo das empresas; enquanto, no art. 158 do mesmo texto normativo, há as atri
buições preventivas de responsabilidade dos empregados.
Art. 157. Cabe às empresas:
i - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;
n - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções
a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;
m - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional com
petente;
12 Prestações previdenciárias em espécie 89
iv - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.
Art. 158. Cabe aos empregados:
i - observar as normas dc segurança c medicina do trabalho, inclusive as instru
ções de que trata o item ii do artigo anterior;
i i - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo.
Parágrafo único. Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada:
a) à observância das instruções expedidas pelo em pregador na form a do item ii
do artigo anterior;
b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa.
A Constituição Federal de 1988 deu ênfase à responsabilidade do emprega
dor, mais exatamente no art. 7°, xxn e xxvm. No entanto, a c l t , em seu art. 157,
já determinava a responsabilidade do empregador no tocante às medidas de pre
venção que foram regulamentadas pela nr-1 (veiculada pela Portaria n. 3.214/78,
do então Ministério de Estado do Trabalho).
Art. 7° São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que vi
sem à melhoria de sua condição social:
xxn - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio dc normas de saúde,
higiene c segurança;
[...]xxvm - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem ex
cluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
A Lei n. 8.213/91 determina também, cm seu art. 19, §§ 1°, 2° e 3o, a respon
sabilidade da empresa por adoção e uso de medidas coletivas e individuais de pro
teção e segurança na saúde do trabalhador.
§ 1° A empresa e responsável pela adoção c uso das medidas coletivas c indivi
duais de proteção e segurança da saúde do trabalhador.
§ 2° Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cum
prir as normas de segurança e higiene do trabalho.
§ 3° É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da
operação a executar e do produto a manipular.
6 .6 .2 Instrum entos estratégicos de prevenção dos trabalhadoresO sistema jurídico prevê alguns instrumentos estratégicos de prevenção dos tra
balhadores como o p p r a - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, a c ip a -
9 0 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e o s e s m t - Serviço Especializado em
Engenharia da Segurança e Medicina do Trabalho.
ppra - Programa de Prevenção dc Riscos Ambientais. É regulamentado na n r -
9 (Portaria n. 3.214/78 atualizada pela Portaria n. 25/94), que o define como o pro
grama de higiene ocupacional de elaboração obrigatória para cada estabelecimen
to, independentemente do número de empregados. Consubstancia-se em um plano
de ação visando a melhoria da qualidade do meio ambiente laborai de responsabi
lidade do empregador. O plano de ação base deve ser discutido ou apresentado pe
rante às autoridades competentes (auditores do trabalho/DRT).
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Está prevista 110 art. 163
da c l t e regulamentada na nr-5 (Portaria n. 3.214/78 atualizada pela Portaria
n. 8, dc 23 dc fevereiro de 1999), que determina sua constituição obrigatória para
empresas públicas ou privadas com mais de cinqüenta empregados.
A c ipa , com a atualização da nr-5, passou a ser constituída como uma comis
são de saúde, trabalho e meio ambiente, totalmente eleita pelos trabalhadores, que
terá como função identificar, analisar e negociar a melhoria dos ambientes de tra
balho. É composta por representantes do empregador e dos trabalhadores, parita-
riamente. Seus integrantes têm estabilidade provisória, nos termos do art. 10,11, tf, do a d c t - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e do art. 164 da c l t .
O item 5.1 da nr-5 dispõe que
a Comissão Interna dc Prevenção de Acidentes - c ip a - tem como objetivo a pre
venção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível
permanentemente o trabalho com a preservação da vida c a promoção da saúde do
trabalhador.
As atribuições da c ip a estão discriminadas 110 item 5.16 da nr-5, a saber:
a) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com
a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do sesmt, onde hou
ver;
b) elaborar plano dc trabalho que possibilite a ação preventiva na solução dc
problemas de segurança e saúde no trabalho;
c) participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de pre
venção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de tra
balho;
d) realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho
visando a identificação dc situações que venham a trazer riscos para a segurança e saú
de dos trabalhadores;
12 Prestações previdenciárias cm espécie 91
e) realizar, a cada reunião, avaliação do cumprimento das metas fixadas em seu
plano de trabalho e discutir as situações de risco que foram identificadas;
f) divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no tra
balho;
g) participar, com o sesmt, onde houver, das discussões promovidas pelo empre
gador, para avaliar os impactos de alterações 110 ambiente e processo de trabalho re
lacionados à segurança e saúde dos trabalhadores;
h) requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de má
quina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos
trabalhadores;
i) colaborar no desenvolvimento e implementação do pcmso e ppra e de outros
programas relacionados à segurança c saúde no trabalho;
j) divulgar e promover o cumprimento das normas regulamcntadoras, bem como
cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho, relativas à segurança e saúde
no trabalho;
l) participar, em conjunto com o sesmt, onde houver, 011 com o empregador, da
análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução
dos problemas identificados;
m) requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que te
nham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores;
n) requisitar à empresa as cópias das c a t emitidas;
o) promover, anualmente, em conjunto com o sesmt, onde houver, a Semana In
terna de Prevenção de Acidentes do Trabalho - sipat;
p) participar, anualmente, em conjunto com a empresa, de campanhas de pre
venção da AIDS.
sesm t - Serviço Especializado em Engenharia da Segurança e Medicina do Tra
balho. Tem por objetivos a promoção da saúde e a proteção da integridade física
do trabalhador em seu local de trabalho. Está previsto no art. 162 da c l t e regu
lamentado pela n r -4, aprovada pela Portaria n. 3.214/78. É composto por uma
equipe de multiprofissionais (engenheiro de segurança do trabalho, médico do tra
balho, enfermeiro do trabalho, auxiliar de enfermagem do trabalho e técnico de se
gurança do trabalho), a serviço das empresas.
Empresas privadas c públicas e órgãos públicos da Administração Direta c In
direta e dos Poderes Legislativo e Judiciário que possuam empregados regidos pela
c l t manterão, obrigatoriamente, Serviços Especializados em Engenharia de Segu
rança e em Medicina do Trabalho com a finalidade de promover a saúde e prote
ger a integridade do trabalhador no local de trabalho. O item 4.12 da NR-4 deter
mina as seguintes competências aos profissionais integrantes do s e s m t :
Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
a) aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança e de medicina do traba
lho ao ambiente de trabalho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equi
pamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalha
dor;
b) determinar, quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação
do risco e este persistir, mesmo reduzido, a utilização, pelo trabalhador, de Equipamen
tos de Proteção Individual - epi, de acordo com o que determina a nr-6, desde que a
concentração, a intensidade ou característica do agente assim o exija;
c) colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas ins
talações físicas e tecnológicas da empresa, exercendo a competência disposta na alí
nea a\
d) responsabilizar-se tecnicamente, pela orientação quanto ao cumprimento do
disposto nas nr aplicáveis às atividades executadas pela empresa c/ou seus estabeleci
mentos;
e) manter permanente relacionamento com a cipa , valcndo-se ao máximo de
suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a nr-5;
f) promover a realização de atividades de conscientização, educação e orienta
ção dos trabalhadores para prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacio-
nais, tanto através de campanhas quanto de programas de duração permanente;
g) esclarecer c conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho c doen
ças ocupacionais, estimulando-os cm favor da prevenção;
h) analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes ocorri
dos na empresa ou estabelecimento, com ou sem vítima, e todos os casos de doença
ocupacional, descrevendo a história e as características do acidente e/ou da doença ocu-
pacional, os fatores ambientais, as características do agente e as condições do(s)
indivíduo(s) portador(es) de doença ocupacional ou acidentado(s);
i) registrar mensalmente os dados atualizados de acidentes do trabalho, doenças
ocupacionais e agentes de insalubridade, preenchendo, no mínimo, os quesitos descri
tos nos modelos dc mapas constantes nos Quadros m , iv, v c vi, devendo a empresa
encaminhar um mapa contendo avaliação anual dos mesmos dados à Secretaria dc Se
gurança e Medicina do Trabalho até o dia 31 de janeiro, através do órgão regional do
MTb;
j) manter os registros de que tratam as alíneas b e i na sede dos Serviços Espe
cializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho ou facilmente al
cançáveis a partir da mesma, sendo de livre escolha da empresa o método de arquiva
mento e recuperação, desde que sejam asseguradas condições de acesso aos registros
c entendimento dc seu conteúdo, devendo scr guardados somente os mapas anuais dos
dados correspondentes às alíneas b c ; por um período não inferior a cinco anos;
l) as atividades dos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em En
genharia de Segurança e em Medicina do Trabalho são essencialmente prevencionis-
12 Prestações previdenciárias em espécie 93
tas, embora não seja vedado o atendimento de emergência, quando se tornar necessá
rio. Entretanto, a elaboração de planos de controle de efeitos de catástrofes, de
disponibilidade de meios que visem ao combate a incêndios e ao salvamento e de ime
diata atenção à vítima deste ou dc qualquer outro tipo de acidente estão incluídos cm
suas atividades.
6 .6 .3 Inform ação como form a eficaz de prevençãoUma das melhores formas dc proteção e o investimento em informações. So
mente com a atuação preventiva, pró-ativa, c possível conseguir, de maneira eficaz,
prevenir e evitar os acidentes. Essa ê a melhor forma de garantir a proteção inte
gral do trabalhador.
Baldur Schubcrt, representante da oiss (Organização Ibero-americana de Se
guridade Social) no Brasil, em palestra proferida na Pontifícia Universidade Cató
lica de São Paulo, no dia 13 de maio de 2008, destacou que, no Brasil, o novo pa
radigma de segurança e saúde no trabalho, inexoravelmente, passa por prevenção
do dano e promoção de condições saudáveis no ambiente do trabalho. O seguro
contra acidentes do trabalho constitui-se o mais importante instrumento de prote
ção social do trabalhador, assegurando trabalho decente e sem risco. Para tanto,
aponta Baldur as seguintes premissas: cobertura nacional, enfoque preventivo, in-
tegralidade dc ações, enfoque epidemiológico, gestão diferenciada (realizada com
a participação de integrantes do Governo e da sociedade) e participação social.
6 .6 .4 Novos métodos de prevenção e proteção do trabalhadorNo Brasil, com a edição da Lei n. 10.666/2003, positivou-se o sistema bonusl
malas que, aqui, foi denominado f a p - Fator Acidentário Previdenciário. O siste
ma premiará a empresa que reduzir seu índice de sinistralidade dc acidente do tra
balho e imporá aumento de alíquotas às que tiverem aumentados seus índices de
geração de benefícios de incapacidade laborai do trabalho. O f a p impacta direta
mente a relação jurídica de custeio, de natureza tributária.
O sistema bonus/malus é utilizado no Chile há mais de trinta anos. A legisla
ção espanhola também o prevê, conquanto ainda não esteja regulamentado.
Dentro da relação jurídica previdenciária de benefício, não se pode esquecer
do n t e p - Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário. A implantação do n t e p é
importante na medida cm que desestimula a subnotificação dos acidentes do tra
balho; pois, mesmo que o empregador não cumpra sua obrigação legal de emitir a
Comunicação de Acidente do Trabalho - CAT, decorre da lei a presunção de que
aquela lesão é acidente do trabalho. Essa é a razão pela qual, a partir de abril de
2007, verificou-se aumento no registro de doenças ocupacionais, em média 134%,
segundo os dados oficiais do Ministério da Previdência Social.
9 4 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
A necessidade do estabelecimento de mecanismos de notificação obrigatória
de acidente do trabalho decorre, inclusive, de diretrizes internacionais. Na XIV Reu
nião Ordinária do scrr 10 do Mercosul, ocorrida na cidade dc Montevidéu, no dia
15 dc março de 2001, foram deliberadas c aprovadas diretrizes de segurança e saú
de no trabalho no âmbito do Mercosul. O art. 4° dessas diretrizes prevê:
O sistema dc segurança c saúde no trabalho deverá dispor de mecanismos de no
tificação obrigatória dos acidentes c doenças do trabalho que permitam a elaboração
de estatísticas anuais sobre o tema, devendo estar disponíveis para o conhecimento do
público interessado.
O ntep é a metodologia que consiste em identificar quais doenças e acidentes
estão, provavelmente, relacionados com a prática de uma determinada atividade
profissional. Com o ntep, quando o trabalhador contrair uma enfermidade freqüen
te no ramo de atividade da empresa em que trabalha, ficará caracterizada a condi
ção de doença ocupacional, isto é, havendo correlação estatística entre a doença ou
lesão e o setor de atividade econômica do trabalhador, o n tep caracterizará, auto
maticamente, que se trata de benefício acidentário e não de benefício previdenciá
rio normal. A expectativa é que, com a entrada em vigor do ntep , as estatísticas de
acidentes e doenças do trabalho no Brasil sejam profundamente alteradas com a
diminuição da subnotificação.
Tal expectativa já se concretiza, posto que o jornal Folba de São Paulo, do dia
1 1 de maio de 2008, divulgou dados do Ministério da Previdência Social destacan
do que as notificações de acidentes e doenças do trabalho cresceram 107% entre
2006 e 2007. Os registros passaram de 112.668 para 231.288. Esses dados foram
levantados pela coordenadora do laboratório de saúde do trabalhador da UnB,
Anadergh Barbosa-Branco, com base em números do Ministério da Previdência So
cial. Destaca a reportagem que o aumento é decorrente do sistema do n t ep ; pois,
com a metodologia, os diagnósticos estatisticamente relacionados à atividade têm
ligação automática com o trabalho, mesmo que o empregador não emita a cat . O
aumento, assim, não reflete necessariamente um maior número de casos, mas o
acréscimo das notificações ao in s s . As doenças do trabalho e osteomusculares fo
ram destaques nas notificações em 2007. As primeiras tiveram um acréscimo de
1.324% nos registros; enquanto as segundas tiveram um acréscimo de 893%. Bar
bosa-Branco na reportagem analisou que são doenças muito relacionadas ao tra
balho, mas difíceis de serem caracterizadas como tal individualmente.
Como instrumento refletidor do ntep, na relação dc custeio, há o Fator Aci
dentário Previdenciário - fap, previsto no art. 10 da Lei n. 10.666/2003 e com las
tro no art. 195, § 9°, da Constituição Federal. O fap determina o sistema bonusl
malus, ou seja, quanto mais acidentes do trabalho o empregador gerar, maior terá
12 Prestações previdenciárias em espécie 95
de ser sua participação no custeio das prestações acidentárias, sendo certo que a
base de cálculo é a folha de salários.
Art. 195 [...]
§ 9° As contribuições sociais previstas no inciso i do caput deste artigo poderão
ter suas alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômi
ca, da utilização intensiva dc mão dc obra, do porte da empresa ou da condição estru
tural do mcrcado dc trabalho.
Esse novo sistema (f a p ), acompanhado pelo n t e p , resulta na inversão do ônus
da prova cm matéria acidcntária, que passa a ser, então, do empregador. Essas al
terações se mostraram absolutamente necessárias cm face da forte subnotificação
das Comunicações de Acidente do Trabalho. Apesar da redução do número de aci
dentes do trabalho, as estatísticas continuam indicando um número elevado de mor
tes decorrentes deles. A instituição do n t e p vem pôr fim a essa situação até então,
infelizmente, consolidada no país.
6 .6 .5 Instrum ento da ação regressivaUm dos instrumentos jurídicos postos à disposição para combater o câncer
social da perda dc vidas produtivas, sem dúvida, é a ação regressiva em ação aci
dcntária. Essa ação tem natureza indenizatória, visando reparar o dano causado
pelo empregador ou por terceiro, e é de direito comum. Ressalte-se que a Justiça
comum abrange tanto a Justiça federal quanto as Justiças ordinárias dos Estados.
O direito de regresso do inss é direito próprio e independe do trabalhador ter
ajuizado ação de indenização contra o empregador causador de acidente do traba
lho. Não é possível compensar a verba recebida na ação acidentária com a devida
na ação civil, pois as verbas têm naturezas distintas. As indenizações são autôno
mas c cumuláveis. A responsabilidade civil que fundamenta a ação regressiva sur
ge cm virtude do não cumprimento (omissivo ou comissivo) das normas dc preven
ção, caracterizando o ato ilícito (aquele praticado em desacordo com a norma
jurídica destinada a proteger interesses alheios; é o que viola o direito subjetivo in
dividual causando prejuízo a outrem, criando o dever de reparar tal lesão). O ato
ilícito caracteriza-se por ação ou omissão voluntária.
A proteção contra acidentes do trabalho, ao ser transferida para a sociedade,
transformou-se em seguro social. Cabe ao in s s propor ação regressiva - reconhe-
cc-sc que a autarquia previdenciária, como órgão da Administração Pública Indi
reta, age sempre visando ao bem da coletividade -, não podendo utilizar-se do prin
cípio da disponibilidade do patrimônio público. A Constituição Federal elenca como
um dos fundamentos da Ordem Social (art. 193), da Ordem Econômica (art. 170,
capiit) e da própria República (art. Io, m e iv), o direito ao trabalho. São de suma
importância as ponderações feitas pelo Professor Wagner Balera:
Deveras, só se pode cogitar de uma sociedade livre quando, mediante políticas
sociais e econômicas, as forças vivas do país, perseguem, a todo custo, o ideal do ple
no emprego. [...] O trabalho, sobre ser um valor social fundamental na República
(art. 1°, iv) possui uma categoria superior aos demais valores que a Ordem Social sal
vaguarda (art. 193). Essa primazia não significa outra coisa, em nosso entender, que
aquela mesma ideia tão bem expressa pelo magistério social cristão e ainda agora rea
firmada pelo Romano Pontífice. De feito, na Carta Encíclica Laborem Exercens, O
Papa João Paulo n sublinha: “o trabalho humano é uma chave, provavelmente a cha
ve essencial de toda a questão social normal.”2
O art. 170 da Constituição Federal prescreve, ainda, que a todos é assegura
do o trabalho que possibilite existência digna. E finaliza o artigo afirmando que o
trabalho é uma obrigação social, consistindo em um direito individual e um dever
para com a sociedade.
Um mesmo fato pode gerar várias relações jurídicas. Assim, a ocorrência de
um acidente do trabalho pode gerar mais de uma ação, a saber: ação requerendo
concessão do benefício acidentário ao in s s ; ação indenizatória contra o emprega
dor sc o acidente foi causado por culpa ou dolo do empregador; e ação regressiva
do in ss contra o empregador que descumpriu as normas de segurança e higiene do
trabalho e deve arcar com a responsabilidade penal. O art. 7o, xxvm , da Consti
tuição Federal reza que o empregador é obrigado a indenizar o empregado caso o
acidente seja provocado por culpa ou dolo.
Os arts. 120 e 121 da Lei n. 8.213/91 tratam acerca das ações regressivas:
Art. 120. Nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e hi
giene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva, a previdência social
proporá ação regressiva contra os responsáveis.
Art. 121. O pagamento, pela previdência social, das prestações por acidente do
trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou dc outrem.
Ainda que não houvesse a previsão do art. 120, seria possível o ajuizamento
da ação regressiva, tendo em vista as previsões dos arts. 159 e 1.521, m c/c 1.523
e 1.524 do Código Civil de 1916, e dos arts. 927, 932 e 933 do Código Civil de
2002. A Súmula n. 229 do Supremo Tribunal Federal leciona: “A indenização aci-
96 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
2 “O valor social do trabalho”, p.1.167.
12 Prestações previdenciárias em espécie 9 7
dentária não exclui a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empre
gador.”
Sobre as ações regressivas e sua importância vital para o sistema previdenciá
rio brasileiro, para os trabalhadores e toda a sociedade brasileira, colaciona-se a
notícia divulgada no site da a g u - Advocacia-Geral da União sobre o tema:
Empresa vai devolver ao in ss R$ 600 mil pagos em pensão por morte devida à
negligência com normas dc segurança do trabalho.
A empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda terá de devolver à previdência so
cial RS 600 mil, pagos em pensão por morte aos dependentes de um funcionário, de
vido a um acidente de trabalho que ocorreu por negligência da madeireira, no cum
primento de normas de segurança. A atuação pró-ativa da Procuradoria Federal
Especializada junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (inss) em Manaus (a m ),
que moveu uma ação contra a madeireira, permitiu o ressarcimento do valor aos co
fres da previdência. Na ação, a pfe alega que a empresa explora a extração e a comer
cialização dc madeira na floresta amazônica c o trabalhador cra operador dc motos-
serra. Ele morreu porque foi atingido pelo efeito dominó de uma árvore cortada por
outra equipe da empresa, que não respeitou a distância mínima de 250 m entre os gru
pos, como determinam as Normas e Procedimentos de Segurança na Exploração Flo
restal da própria madeireira. A perícia constatou que a distância entre as equipes era
de apenas 33 m. A decisão ressaltou que “quando não há dolo ou culpa pelo empre
gador, exclui-se a responsabilidade, não tendo ele que indenizar o inss”, mas quando
é comprovada a culpa pelo não cumprimento de normas de segurança e higiene, “o
empregador deve arcar sozinho com o pagamento dos benefícios previdenciários” .
Ncssc caso, “não seria justo que a dívida fosse repartida com a sociedade”.
Projeto. O pedido de ressarcimento faz parte de um projeto da PFE junto ao inss,
que visa cobrar judicialmente de empresas particulares indenizações pagas pelo insti
tuto aos parentes de vítimas de acidentes de trabalho, causados pelo descumprimento
de normas de segurança previstas nas leis brasileiras. As ações envolvem R$ 16 bilhões
pagos pelo inss em benefícios como pensão por morte, aposentadoria por invalidez e
auxílio-doença. Elas estão sendo propostas em Manaus (a m ), Vitória (es), Londrina
(pr), São Josc do Rio Preto (sp), Marília (sp), Salvador (ba) c Santa Maria (rs). Nas
ações, alem de pedir o ressarcimento do valor pago pelo inss em benefícios, a procu
radoria também vai requerer a responsabilização da empresa no pagamento de inde
nizações vitalícias que já foram iniciadas. Fonte: Site da agu , 16.06.2008.
6 .6 .6 Comunicação de Acidente do Trabalho (cat)
Dispõe a Lei n. 8.213/91:
9o Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
Art. 22. A empresa deverá comunicar o acidente do trabalho à previdência so
cial ate o I o (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de ime
diato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o
limite máximo do salário dc contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidên
cias, aplicada c cobrada pela previdência social.
§ 1° Da comunicação a que se refere este artigo receberão cópia fiel o acidenta
do ou seus dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua categoria.
§ 2° Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o pró
prio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o as
sistiu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo previs
to neste artigo.
§ 3° A comunicação a que sc refere o § 2o não exime a empresa dc responsabi
lidade pela falta do cumprimento do disposto neste artigo.
§ 4° Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão acompanhar a
cobrança, pela previdência social, das multas previstas neste artigo.
§ 5° A multa de que trata este artigo não se aplica na hipótese do cafmt do
art. 21-A.
Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou
do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da ativida
de habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia cm que for realizado o diag
nóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro.
6 .7 Sujeitos protegidos
Os segurados empregados (exceto os domésticos), trabalhadores avulsos e os
segurados especiais.
6 .8 Gradação da incapacidade laborai e as prestações acidentárias
De acordo com o nível de atingimento da capacidade laborai, o segurado tem
direito a uma determinada prestação, conforme mostrado na tabela a seguir:
Incapacidade laborativa Prestação acidentáriaTemporária/ total ou parcial Auxílio-doença acidentário
Definitiva/parcial Auxílio-acidentePermanente/total Aposentadoria por invalidez acidentária
12 Prestações previdenciárias em espécie 99
7. ABONO ANUAL
Não é, na realidade, um benefício previdenciário; é um acréscimo, um com
plemento dos benefícios dc prestação continuada. Funciona como gratificação na
talina de aposentados e pensionistas nos termos do art. 201, § 6°, da Constituição
Federal. H devido ao segurado e ao dependente da previdência social que durante
o ano recebeu auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria, pensão por morte
ou auxílio-reclusão.
Será calculado, no que couber, da mesma forma que a gratificação de Natal dos
trabalhadores, tendo por base o valor da renda mensal do benefício no mês de dezem
bro de cada ano. Caso o segurado perceba o benefício durante um período inferior a
doze meses, terá direito ao abono dc forma proporcional. Para efeito de abono anual,
o período igual ou superior a quinze dias é considerado como mês integral.
O abono anual corresponde ao valor da renda mensal do benefício no mês de
dezembro ou no mês da alta ou da concessão do benefício, para o segurado que re
cebeu auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria, pensão por morte ou auxí
lio-reclusão.
O abono anual está regulamentado nos arts. 40 da Lei n. 8.213/91 e 120 do
Decreto n. 3.048/99.
8. SEGURO-DESEMPREGO
O seguro-desemprego é a prestação de natureza previdenciária entregue ao se
gurado da previdência social que se encontra desempregado (desemprego involun
tário). O art. 201, m , da Constituição Federal determina como responsabilidade da
previdência social - regime geral - a proteção ao trabalhador em situação de de
semprego involuntário. Conquanto seja benefício previdenciário, o seguro-desem
prego é uma prestação atípica, pois não é regido pela lei de benefícios, mas por lei
própria (Lei n. 7.998, de 11 de janeiro de 1990), bem como é pago com recursos
do Fundo de Amparo ao Trabalhador (f a t ) e não com recursos decorrentes das con
tribuições previdenciárias.
O desemprego pode ser classificado como estrutural (decorre da crise econô
mica, recessão e fuga de capitais, impactando diretamente a geração e a manuten
ção de empregos); de inaptidão (decorre da falta de mão de obra qualificada e da
falta de mobilidade geográfica - muitos profissionais cm uma região e escassez em
outras); sazonal ou estacionai (decorre da impossibilidade do exercício de ativida
de profissional por circunstâncias climáticas ou por determinação legal de exercí
cio profissional por um período de tempo, por exemplo, no período de defeso); e
tecnológico (decorre da substituição maciça dc mão de obra por tecnologia).
100 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
8.1 Características m arcantes da prestação do seguro-desem prego
• temporariedade - a prestação é paga de forma continuada, mas limitada no
tempo; no caso brasileiro, o seguro-desemprego é pago por ate cinco meses, salvo
cm situações excepcionais;
• substitutividade - o benefício é substituidor da renda do trabalho, daí a re
gra da suspensão do benefício quando o trabalhador obtém nova colocação no mer
cado de trabalho. Por conta dessa característica, o benefício do seguro-desempre
go, em atendimento ao art. 201, § 2o, da Constituição Federal, não pode ter valor
inferior ao salário-mínimo (nacional);
• necessidade de provocação do segurado - para a prestação ser entregue, é
necessário requerimento administrativo;
• pessoalidade - o benefício tem caráter personalíssimo (intuitu personae). As
sim, se o segurado não requereu o benefício e veio a falecer, os dependentes ou her
deiros não têm legitimidade para fazê-lo.
A Lei n. 7.998/90 regulamenta o Programa do Seguro-Desemprego:
Art. 2° O Programa dc Scguro-Descmprcgo tem por finalidade:
i - prover assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em vir
tude de dispensa sem justa causa, inclusive a indireta, e ao trabalhador comprovada-
mente resgatado de regime de trabalho forçado ou da condição análoga à de escravo;
n - auxiliar os trabalhadores na busca ou preservação do emprego, promovendo,
para tanto, ações integradas de orientação, recolocação e qualificação profissional.
Na presente obra, será analisado especificamente o benefício do seguro-desem
prego da Lei n. 7.998/90. Além desse tipo, há outras espécies de seguro-desempre
go: o seguro-desemprego para o trabalhador resgatado da condição análoga à de
escravo (Lei n. 10.608/2002); o seguro-desemprego durante o período de defeso
(Lei n. 10.779/2003); e o seguro-desemprego para os empregados domésticos’ (Lei
n. 10.208/2001).
8 .2 Requisitos legais para acesso ao seguro-desem prego da Lei n. 7 .9 98 /90
O fato gerador da prestação do seguro-desemprego é o desemprego involun
tário. Nos termos do art. 3o da lei do seguro-desemprego, tem direito à percepção
da prestação o trabalhador dispensado sem justa causa que comprove:
3 N a realidade, aqui há uma potestade legal, uma vez que o empregado doméstico somente terá
direito a esse benefício caso seu empregador opte pelo recolhimento para o hundo dc Garan
tia por Tempo de Serviço; opção que, depois de feita, é irretratável para aquele empregado.
12 Prestações previdenciárias em espécie 101
i - ter recebido salários de pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada, re
lativos a cada um dos seis meses imediatamente anteriores à data da dispensa;
i i - ter sido empregado de pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada ou
ter cxcrcido atividade legalmente reconhecida como autônoma, durante pelo menos
quinze meses nos últimos 24 meses;
m - não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de prestação con
tinuada, previsto no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, excetuado o
auxílio-acidente e o auxílio suplementar previstos na Lei n. 6.367, de 19 de outubro
de 1976, bem como o abono de permanência em serviço previsto na Lei n. 5.890, de
8 de junho de 1973;
iv - não estar em gozo do auxílio-desemprego; e
v - não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente à sua manutenção
e dc sua família.
O trabalhador terá direito, ainda, ao seguro-desemprego no caso de falência
da empresa ou diante de rescisão indireta.
8.3 Hipóteses de suspensão do seguro-desem prego
O pagamento do benefício do seguro-desemprego será suspenso nas seguin
tes situações, previstas no art. 7o da lei do seguro-desemprego:
i - admissão do trabalhador em novo emprego;
i i - início de percepção de benefício de prestação continuada da previdência so
cial, exceto o auxílio-acidente, o auxílio suplementar e o abono de permanência em
serviço;
iii - início de percepção de auxílio-desemprego.
8.4 Hipóteses de cancelam ento do seguro-desem prego
O art. 8° da Lei n. 7.998/90 estabelece as hipóteses em que o benefício do se
guro-desemprego será cancelado:
i - pela recusa, por parte do trabalhador desempregado, de outro emprego con
dizente com sua qualificação e remuneração anterior;
Na hipótese do inciso I, por emprego condizente deve-se entender a vaga ofer
tada com perfil semelhante ao perfil profissional do trabalhador declarado no ato
de cadastramento do benefício. Para definição do salário compatível, deve ser to
mado como base o ultimo salário recebido pelo trabalhador.
102 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
ii - por comprovação de falsidade na prestação das informações necessárias à
habilitação;
iii - por comprovação de fraude visando à percepção indevida do benefício do
seguro-desemprego;
iv - por morte do segurado.
8 .5 Período aquisitivo
O seguro-desemprego pode ser utilizado sempre que o trabalhador se encon
trar em situação de desemprego involuntário, observado o período aquisitivo en
tre os benefícios. O art. 4" da Lei n. 7.998/90 determina a extensão do período aqui
sitivo e seus termos.
O período aquisitivo para nova prestação do seguro-desemprego é de dezes
seis meses, contados da data da dispensa que deu origem à primeira habilitação ou
habilitação anterior. O benefício do seguro-desemprego pode ser retomado a cada
novo período aquisitivo, satisfeitas as condições arroladas no art. 3° da lei do se
guro-desemprego, à exceção de seu inciso i i .
8 .6 Prescrição em relação às prestações recebidas indevidam ente
Em relação aos valores recebidos indevidamente pelo segurado trabalhador,
tem o f a t - Fundo de Amparo ao Trabalhador o prazo de cinco anos para imple
mentar os atos visando a sua recomposição. O prazo prescricional tem sua conta
gem deflagrada a partir do recebimento indevido do benefício.
8 .7 Número de parcelas do seguro-desem prego devidas
A quantidade de parcelas do seguro-desemprego varia de acordo com o perío
do trabalhado. No entanto, o período de gozo do benefício sofreu majoração por
força da Lei n. 8.900/94, que deu nova redação à Lei n. 7.998/90.
Período trabalhado Número de prestações devidas
De 6 a 11 meses 3 parcelas
De 12 a 23 parcelas 4 parcelas
24 meses e seguintes 5 parcelas
12 Prestações previdenciárias em espécie 103
Observe-se que, a critério do Codefat - Conselho Deliberativo do Fundo de
Amparo ao Trabalhador, excepcionalmente, o período de gozo do benefício pode
ser prorrogado em até dois meses para grupos específicos de segurados. É o caso
da Resolução n. 595, dc 30 de março de 2009, que contemplou os trabalhadores
dos setores atingidos pela crise internacional e demitidos em dezembro de 2008.
8 .8 Trabalhadores que têm direito ao seguro-desem prego (várias espécies)
• o e m p re g ad o reg ido pe la c l t ;
• o empregado temporário;
• o avulso que trabalha por meio dc intermediação do sindicato ou dc órgão
gestor de mão de obra;
• o pescador profissional que exerça atividade de forma artesanal ou em re
gime de economia familiar;
• o e m p re g a d o d o m é s t ic o desde que o e m p re g a d o r te nha o p ta d o pe lo re co
lh im e n to a o FGTS.
8 .9 Valores do seguro-desem prego
Os valores do seguro-desemprego são atualizados anualmente por ocasião do
reajustamento dos benefícios previdenciários e do salário-mínimo. A Resolução
Codefat n. 623/2009, publicada no Diário Oficial da União de 28 de dezembro de
2009, estabelece os valores do seguro-desemprego a partir de 1° de janeiro de 2010.
O valor de cada parcela do seguro-desemprego é feita considerando-se as médias
das três últimas remunerações do empregado. De acordo com o valor da média,
será aplicada a tabela a seguir:4
Faixa de salário médio (média das três últimas remunerações)
Valor da parcela mensal
Até RS 841,88 Multiplica-se o salário médio por 0,8 (80%)
Mais de R$ 841,89 até RS 1.403,28
Para apurar o valor devem-se seguir os seguintes passos: 1o) Multiplicar 841,88 por 0,8 (80%);2o) Subtrair o valor do salário médio de RS 841,88;3o) Multiplicar o resultado da subtração por 0,5 (50%);4o) Somar os resultados do 1o e do 3o passos
Acima de RS 1.403,28 0 valor da parcela será de RS 954,21, invariavelmente
4 Tabela e exemplo extraídos do site Nota dez informação.
1 0 4 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
Exemplo: empregado cuja média salarial dos últimos três meses foi apurada com
valor de R$ 950,50. O valor do seguro-desemprego será calculado como se segue:
1°) R$ 841,88 x 0,8 = R$ 673,50;
2°) R$ 950,50 - RS 841,88 = RS 108,62;
3°) R$ 108,62 x 0,5 = R$ 54,31;
4°) Valor do seguro-desemprego: RS 673,50 + RS 54,31 = RS 727,81.
O valor do benefício não pode ser inferior ao valor do salário-mínimo
(art. 5o, S 2o, da Lei n. 7.998/90).
8 .10 Local para requerim ento e prazo para fazê-lo
O seguro-desemprego pode ser requerido junto às Delegacias Regionais do
Trabalho (d r t ), Subdelegacias do Trabalho (s d t ), Postos Regionais do Trabalho
(p r t ), Postos Locais do Trabalho (plt ), Postos Estaduais do Sistema Nacional de
Emprego (s in e ), e entidades sindicais cadastradas pelo m t e (Ministério do Traba
lho e Emprego).
O prazo para o requerimento do benefício se inicia no sétimo dia e termina
no 120° subsequente à data da dispensa. Esse prazo é do tipo decadencial.
9. PENSÃO POR MORTE
A pensão por morte é um benefício de prestação continuada devida aos de
pendentes dos segurados da previdência social. O fato gerador da prestação é a
morte, que caracteriza um risco social, como evento gerador de necessidade social.
O evento morte do segurado acarreta a perda dos recursos que garantem a subsis
tência dos dependentes. Os beneficiários que têm direito à pensão por morte são os
dependentes dos segurados (obrigatórios c facultativos) da previdência social.
Verifica-se a qualidade de dependente no momento do óbito, momento este
da verificação do risco social coberto, em que a morte do segurado acarreta uma
necessidade social a seus dependentes. Esse benefício é exclusivo dos dependentes.
A hipótese de incidência não ocorre se o segurado não deixar dependentes.
O óbito deve ser registrado em Cartório de Registro Civil. Em algumas situa
ções excepcionais, mesmo que o óbito tenha ocorrido após a perda da qualidade
do segurado, a pensão por morte será devida, desde que:
• o instituidor do bcncfício tenha implementado todos os requisitos para ob
tenção de uma aposentadoria até a data do óbito (hipótese de direito adquirido);
• fique reconhecida a existência de incapacidade permanente ou temporária,
dentro do período de graça, por meio de parecer médico-pericial do in s s , com base
12 Prestações previdenciárias em espécie 105
em atestado ou relatórios médicos, exames complementares ou outros documen
tos equivalentes, referentes ao ex-segurado.
Questão indispensável diz respeito à possibilidade de regularização das con
tribuições previdenciárias cm atraso pelos dependentes visando a concessão da pen
são por morte. Colaciona-se decisão da tnu - Turma Nacional de Uniformização
dos Juizados Especiais Federais (majoritária) na qual extrai-se que o pagamento
post mortem das contribuições pelos dependentes não dá direito à concessão da
pensão por morte. Do art. 30, n, da Lei n. 8.212/91 depreende-se que o contribuin
te individual que não recolher as contribuições no prazo legal sofrerá como conse
qüência a perda da qualidade de segurado após o decurso do período de graça.
Previdenciário. Pensão por morte. Contribuinte individual. Perda da qualidade de
segurado. Inscrição post mortem. Regularização das contribuições após o óbito. Impos
sibilidade. i - O contribuinte individual está obrigado a recolher a contribuição aos co
fres da previdência por iniciativa própria, sendo certo que a qualidade de segurado de
corre exclusivamente, no caso dos citados contribuintes individuais, da prova do
recolhimento das referidas contribuições previdenciárias nos moldes do art. 30, ii, da Lei
n. 8.212/91. n - O simples exercício da atividade remunerada não mantém a qualidade
de segurado do de cujus, sendo necessário, no caso, o efetivo recolhimento das contri
buições respectivas pelo próprio segurado quando em vida para que seus dependentes
façam jus ao benefício de pensão por morte, m - Não é possível a concessão do benefí
cio pensão por morte aos dependentes do segurado falecido, contribuinte individual, que
não efetuou o recolhimento das contribuições respectivas à época, não havendo ampa
ro legal para a dita inscrição post mortem ou para que sejam descontadas as contribui
ções pretéritas, não recolhidas pelo de cujus, do benefício da pensão por morte percebi
da pelos herdeiros (Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal n.
2005.72.95.013310-7, rel. Juiz Marcos Roberto Araújo dos Santos, />/(/ 21.05.2007).
A I a Turma Recursal do Juizado Especial Federal do Paraná também não ad
mite a contribuição post mortem para fins de pensão por morte de contribuinte in
dividual, entendendo ser imprescindível à contribuição anterior ao óbito, já que o
objetivo desse benefício é cobrir a imprevisibilidade. Salienta a turma recursal que,
caso se admitisse entendimento diverso, o dependente do segurado, após a morte
deste, indevidamente, poderia escolher o salário de contribuição e, consequente
mente, o valor do benefício. Nesse sentido: t n u , Pedido de Uniformização de In
terpretação de Lei Federal n. 2005.70.950.150.393, rel. Juiz federal Pedro Pereira
dos Santos, j. 03.09.2007, d j 17.03.2008.
Em sentido contrário, a 5a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região
reconheceu que, embora o trabalhador autônomo esteja obrigado a recolher suas
contribuições por iniciativa própria, em lapso de tempo não superior ao período
106 Sucesso Concursos Públicos c OAB - Direiro Previdenciário
de graça para que não haja a perda da qualidade de segurado, nada impede que o
dependente proceda ao pagamento das contribuições atrasadas após a sua morte,
pois sc trata de mera regularização dos valores devidos (Ap. n. 2003.70.090.153.999,
rel. Luiz Antonio Bonat, j. 06.11.2007).
A pensão por morte está regulamentada nos arts. 74 a 79 da Lei n. 8.213/91
e 105 a 115 do Decreto n. 3.048/99.
9.1 Modalidades de pensão por morte
A pensão por morte pode ser: definitiva, decorrente da morte real; e provisó
ria, decorrente da morte presumida.
9 .2 Carência
A pensão por morte independe de carência por força do art. 26, i, da Lei
n. 8.213/91.
9 .3 Início do benefício
• da data do óbito atestado quando requerido até trinta dias depois desta data;
• do requerimento quando requerido após trinta dias do óbito;
• da data da sentença declaratória dc ausência no caso de morte presumida;
• no caso de desaparecimento súbito decorrente de acidente, desastre ou ca
tástrofe, os dependentes do segurado farão jus à pensão provisória, a contar da data
da ocorrência, mediante prova hábil.
Não corre prescrição contra absolutamente incapazes por força do art. 198
do Código Civil de 2002.
9 .4 Térm ino do benefício
• com a morte do pensionista;
• para o filho, pessoa a ele equiparado ou irmão, de ambos os sexos, pela
emancipação ou ao completar 21 anos de idade, salvo se for inválido;
• para o pensionista inválido, pela cessação da invalidez.
O art. 16 da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.032/95, estabe
lece que são dependentes do segurado: o cônjuge, a companheira, o companheiro e
o filho não emancipado, dc qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido.
Após a edição da Lei n. 9.032/95, o cônjuge que voltar a se casar não perde
mais a qualidade de dependente. Depreende-se essa regra da leitura do art. 124, vi,
da Lei n. 8.213/91, que prescreve:
12 Prestações previdenciárias em espécie 107
Art. 124. Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento con
junto dos seguintes benefícios da previdência social:
U]vi - mais dc uma pensão deixada por cônjuge ou companheiro, ressalvado o di
reito dc opção pela mais vantajosa.
A redação originária da lei de benefícios expressava serem dependentes do se
gurado: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho, dc qualquer condição,
menor de 21 anos ou inválido. A emancipação, como forma de extinção do víncu
lo de dependência, surgiu no sistema em 28 de abril de 1995, alcançando apenas as
pessoas mencionadas antes da conjunção alternativa “ou”, não se aplicando aos in
válidos. Corrobora esse entendimento a redação originária do art. 114 do Decreto
n. 3.048/99 (regulamentador da previdência social) ao prescrever: “o pagamento
da cota individual da pensão por morte cessa: [...] i i - para o pensionista menor de
idade, pela emancipação ou ao completar 21 anos, salvo sc for inválido.”
9 .5 Valor do benefício pensão por morte
A pensão por morte tem o mesmo valor da aposentadoria do segurado fale
cido. Se o segurado ainda não estiver aposentado, calcula-se uma aposentadoria
por invalidez com início na data do óbito. A pensão por morte deixada por traba
lhadores rurais é de um salário-mínimo.
9 .6 Sistem ática do pagam ento da pensão por morte
A pensão por morte, no caso de haver mais de um dependente na mesma clas
se, será rateada entre eles. Nesse caso, o valor da pensão que é una não poderá jamais
ser inferior ao salário-mínimo; no entanto, o valor de cada cota-parte poderá ser in
ferior ao salário-mínimo. A regra de proteção do art. 201, § 2°, da Constituição Fe
deral aplica-se somente em relação ao valor do benefício tomado em sua totalidade.
9 .7 Cumulação de duas pensões por morte
O Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial n. 666.749, considerou
possível a cumulação de duas pensões por morte, a serem pagas pelo in s s , por te
rem fontes de custeio e origem distintas. A decisão é da 5a Turma, relatoria da Min.
Laurita Vaz, que negou provimento ao recurso especial do inss determinando o res
tabelecimento do pagamento da pensão por morte do marido que exercia atividade
rural, mesmo após o início da percepção da pensão por morte do filho em virtude
de acidente do trabalho. No caso, a dependente ingressou com uma ação requeren
108 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
do o restabelecimento da pensão, fundamentando seu direito 110 art. 20 do Decreto
n. 89.312/84 que permitia a cumulação. A autora ganhou em primeira instância. So
breveio apelação do in s s , mantida a decisão do juízo a quo pelo Tribunal Regional
Federal da 3a Região, argumentando que “nos termos do art. 20 do Decreto
n. 89.312/84, assim como do art. 6°, § 2°, da Lei Complementar n. 16/73, é possí
vel a cumulação de duas pensões por morte, por terem fontes de custeio e origens
distintas”. No recurso especial, o in s s alegou violação dos arts. 287, § 4°, e 333 do
Decreto n. 83.080/79, sustentando a impossibilidade de cumulação de pensões re
gidas pelos regimes rural e urbano. A 5a Turma do STJ não reconheceu do recurso:
Com efeito, é cediço que o fato gerador para a concessão do benefício de pen
são por morte é o óbito do segurado, devendo ser aplicada a lei vigente à época de sua
ocorrência. Assim, consoante a legislação que estava em vigor à época da morte do
descendente da parte autora, não há qualquer tipo de vedação ao percebimento de
duas pensões por morte, uma de natureza rural c outra dc natureza urbana.
9 .8 Ex-m ulher e direito à pensão por morte
Colacionam-se duas decisões 110 sentido da concessão da pensão por morte,
mesmo após a separação.
A Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais
Federais decidiu por unanimidade garantir à ex-companheira de segurado falecido do
inss o recebimento dc pensão por morte sob o entendimento dc que ela, mesmo após
a separação, mantinha dependência econômica em relação a ele. No caso cm tela, o
segurado manteve um relacionamento de onze anos com a autora sobrevindo dois fi
lhos desta união (dependentes que já percebiam pensão por morte). Antes de o segu
rado falecer, separou-se constituindo novo relacionamento, vindo a matar a segunda
companheira e em seguida suicidando-se. Antes de suicidar-se o segurado nomeou a
ex-companheira sua procuradora ( t n u , Pedido dc Uniformização de Interpretação de
Lei Federal n. 2004.51.51.031 .897-9/rj, rel. Juiz federal Hélio Silvio Ourem Campos,
Dju 11.09.2006).
O cônjuge divorciado, separado judicialmente ou de fato, que não percebia
pensão alimentícia na data do óbito terá direito à pensão por morte se compro
var a dependência econômica em relação ao de cujus por ocasião do falecimento
ou demonstrar a necessidade superveniente do benefício (trf 4a Região, Ap. cível
n. 2001.04.01.059.215-9/sc, rel. Des. Celso Kipper, dju 14.12.2005).
Por fim, a Súmula n. 336 do Superior Tribunal de Justiça dispõe sobre o tema:
“A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão
12 Prestações previdenciárias em espécie 109
previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica su
perveniente.”
10. AUXÍLIO-RECLUSÃO
10.1 Conceito
O auxílio-reclusão é a prestação previdenciária, na modalidade benefício pre
videnciário, paga exclusivamente aos dependentes do segurado de baixa renda que
esteja preso em regime fechado ou semiaberto.
O auxílio-reclusão está regulamentado no arts. 80 da Lei n. 8.213/91 e 116 a
119 do Decreto n. 3.048/99.
10.2 Fundamentos da proteção
Prisão do segurado de baixa renda que acarrete a perda da remuneração ou
dos meios de subsistência dos dependentes, ou seja, a comprovação do estado de
necessidade social por parte dos dependentes do segurado de baixa renda privado
de sua liberdade.
A internação dos maiores de 16 e menores de 18 anos prevista no art. 121 do
Estatuto da Criança c do Adolescente, por constituir medida privativa de liberda
de, também dá direito à concessão do auxílio-reclusão aos dependentes do menor
internado. A medida de segurança e o período de prisão civil por dívida de alimen
tos ou do depositário infiel também dão direito à concessão de auxílio-reclusão aos
dependentes do internado ou do preso.
Não será devida a prestação se o segurado recolhido à prisão receber remu
neração de empresa ou estiver em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abo
no de permanência. Não cabe auxílio-reclusão, ainda, em relação aos segurados em
livramento condicional ou que cumpram pena em regime aberto.
10.3 Carência
Trata-se de benefício que independe de carência por força do art. 26, i, da Lei
n. 8.213/91.
10.4 Requisitos legais
• prisão do segurado de baixa renda;
• inexistência de remuneração paga por empresa ou percepção de aposenta
doria ou auxílio-doença.
1 1 0 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
O segurado (de baixa renda), para fazer jus a esse benefício, deve ter salário
de contribuição igual ou inferior a RS 798,30 (Portaria m p s / m f n. 350, de 30 de
dezembro dc 2009). Não estando o segurado cm atividade no mes da reclusão ou
nos meses anteriores, será considerado como remuneração seu último salário dc
contribuição. Essa regra provoca distorções, posto que os dependentes de um se
gurado cujo último salário de contribuição tenha excedido o limite de baixa renda
por ter recebido horas extras ocasionais serão excluídos da proteção; enquanto ou
tro segurado cujo último salário de contribuição tenha ficado no limite de baixa
renda por ter faltado (mas que, historicamente, recebesse acima desse valor) pro
porcionaria o benefício a seus dependentes.
O benefício auxílio-rcclusão traz algumas particularidades, como o fato dc o
casamento dc um detento durante o período dc prisão gerar, para seu cônjuge, a
prestação. Caso haja o nascimento de um filho após a data da prisão, o benefício
também será devido.
10.5 Início da prestação/m om ento da entrega
O benefício se inicia a partir do recolhimento do segurado para unidade pri
sional, se o requerimento for feito até trinta dias desse evento. Se posterior, a par
tir da data do requerimento.
10.6 Hipóteses de suspensão do benefício
• fuga (se, quando da recaptura, ainda tiver a qualidade de segurado, o bene
fício será restaurado);
• recebimento de auxílio-doença no período de privação de liberdade (cessa
do o auxílio-doença, retoma-se o auxílio-reclusão);
• não apresentação do atestado dc prisão firmado por autoridade competen
te trimestralmente;
• livramento condicional, cumprimento de pena em regime aberto ou prisão
albergue.
10.7 Hipóteses de extinção do benefício
• extinção da última cota individual;
• concessão dc aposentadoria no período dc privação da liberdade;
• óbito do segurado;
• soltura do preso;
• emancipação ou atingimento de 21 anos para filhos e irmãos, salvo se invá
lido;
12 Presrações previdenciárias em espécie 111
• cessação da invalidez dos dependentes inválidos.
10.8 Destinatários da proteção
Os dependentes do segurado de baixa renda. A limitação da entrega da pres
tação aos dependentes do segurado de baixa renda ocorreu com a Emenda Cons
titucional n. 20/98. O Supremo Trtibunal Federal, em decisão proferida em 25 de
março de 20Ü9, ao analisar os Recursos Extraordinários ns. 587.365 e 486.413,
decidiu que é a renda do segurado preso que deve ser considerada para a conces
são do auxílio-reclusão. Assim, o Supremo invalida a jurisprudência de instâncias
inferiores que determinavam que a renda a ser observada deveria ser a do conjun
to de dependentes.
O dependente menor de 16 anos ou incapaz pode requerer o benefício até trin
ta dias após atingir essa idade; será garantida, nos termos da lei civil, o pagamen
to com data retroativa ao do efetivo recolhimento à prisão do segurado.
Por força da Ação Civil Pública n. 2000.71.00.009.347-0, do Tribunal Regio
nal Federal da 4a Região, foi reconhecida a qualidade de dependente dos compa
nheiros homossexuais, o que possibilita a entrega e o acesso ao auxílio-reclusão e
à pensão por morte.
10.9 Quantificação do benefício
O valor da renda mensal corresponde a 100% do salário de benefício que o
segurado recebia ou teria direito a receber se estivesse aposentado por invalidez na
data da prisão. Para o segurado especial, o valor será de um salário-mínimo, a me
nos que contribua também como facultativo.
11. SERVIÇO SOCIAL
Serviço social, em sentido geral, é conjunto de serviços que permitem conser
var o equilíbrio e o desenvolvimento de indivíduos e grupos. Em sentido estrito, é
o serviço prestado diretamente pelo órgão previdenciário por meio de assistentes
sociais, visando resolver problemas de adaptação dos beneficiários em face da so
ciedade em evolução.
O serviço social está regulamentado nos arts. 88 da Lei n. 8.213/91 e 161 do
Decreto n. 3.048/99.
Art. 161. O serviço social constitui atividade auxiliar do seguro social e visa pres
tar ao beneficiário orientação e apoio no que concerne à solução dos problemas pes
soais e familiares e à melhoria da sua inter-relação com a previdência social, para a so-
1 1 2 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
1 lição de questões referentes a benefícios, bem como, quando necessário, à obtenção
dc outros recursos sociais da comunidade.
O serviço social se realiza por meio de ajuda material, intervenção técnica, as
sistência jurídica, inclusive mediante celebração de convênios, acordos e credencia
mentos. As ações profissionais resumem-se à socialização das informações previ
denciárias, ações de fortalecimento do coletivo e assessoria.
Os instrumentos técnicos a serem utilizados pelo serviço social são:
• parcccr social: opinião do assistente técnico com base em observação c es
tudo de uma dada situação, fornecendo elementos para concessão de um benefício.
Os elementos básicos do parecer são dependência econômica, satisfação das neces
sidades vs. pobreza e implicações sociais da doença. O conteúdo é sigiloso e somen
te a conclusão é enviada para os setores próprios;
• recursos materiais: instrumento destinado ao atendimento de algumas de
mandas do usuário na sua relação com a previdência social;
• pesquisa social: recurso fundamentado na realização do saber c do fazer
profissional do assistente social na busca da superação do pragmatismo c ativismo
baseado no senso comum por uma prática conseqüente e reflexiva.
12. HABILITAÇÃO E REABILITAÇÃO PROFISSIONAL
É prestação previdenciária devida aos segurados e dependentes. Tem caráter
de direito público subjetivo em relação aos segurados, inclusive aposentados e de
pendentes. A prestação visa propiciar os meios para reingresso no mercado de tra
balho no contcxto em que vivem.
A assistência reeducativa e dc readaptação profissional têm como objetivo
proporcionar aos beneficiários incapacitados parcial ou totalmente para o traba
lho e aos portadores de deficiência os meios necessários para seu reingresso no mer
cado de trabalho e no contexto em que vivem. O objetivo não finda no reingresso
no mercado de trabalho; é importante a reintegração das pessoas na sociedade.
Habilitação e reabilitação profissional estão disciplinadas nos arts. 89 a 93 da
Lei n. 8.213/91 e têm um capítulo próprio no Decreto n. 3.048/99. Os arts. 136 a 141
deste Decreto tratam do tema. O professor Wladimir Novaes Martincz diferencia ha
bilitação dc reabilitação.5 A habilitação é a preparação para o exercício dc atividades
pelo inapto em decorrência de incapacidade física adquirida ou deficiência hereditá
ria; a reabilitação pressupõe que a pessoa perdeu a aptidão em razão de doença ou
acidente.
5 Curso dc direito prcvidcnciário, p.746.
12 Prestações previdenciárias em espécie 113
A prestação previdenciária dispensa carência por força do art. 26, v, da Lei
n. 8.213/91.
Habilitação e reabilitação profissional tem como público-alvo os beneficiários
incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho e os portadores dc deficiência.
12.1 Funções básicas dos processos de habilitação e reabilitação
São quatro as funções básicas do processo de habilitação e reabilitação pro
fissional:
• avaliação do potencial laborativo;
• orientação e acompanhamento da programação profissional;
• articulação com a comunidade viabilizando o reingresso 110 mercado de tra
balho;
• acompanhamento e pesquisa da fixação no mercado de trabalho.
Essas funções serão exercidas por uma equipe multidisciplinar. Entre os pro
fissionais estão pessoas especializadas em medicina, serviço social, psicologia, so
ciologia, fisioterapia e terapia ocupacional.
Determina o art. 93 da Lei 11. 8.213/91 que a empresa com cem 011 mais em
pregados está obrigada a preencher de 2 a 5% de seus cargos com beneficiários rea
bilitados ou pessoas portadores de deficiência habilitadas 11a seguinte proporção:
i - até 200 empregados - 2%;
11 - de 201 a 500 - 3%;
i i i - dc 501 a 1.000-4%;
iv - dc 1.001 em diante - 5%.
Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego, especificamente a Diretoria de
Relações do Trabalho, gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preen
chidas por reabilitados e deficientes habilitados. Essas estatísticas deverão ser forneci
das, quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados.
A obrigação da previdência social extingue-se com a conclusão do processo de
habilitação ou reabilitação social e profissional desenvolvidas mediante cursos ou tra
tamento na comunidade. Será expedido certificado individual de habilitação ou rea
bilitação com indicação da função para a qual o reabilitando foi capacitado profis
sionalmente, sem prejuízo do exercício de outra para a qual se julgue capacitado.
As empresas não devem ter receio de participar de treinamento de reabilitan-
dos, pois não há qualquer tipo de vínculo empregatício ou funcional entre o reabi
litando e a empresa, bem como entre ele e o in s s , que não tem o dever de recolo-
cação do reabilitando no mercado de trabalho. A Autarquia Nacional tem apenas
o dever de providenciar meios para recuperação da capacidade laborai.
13Reajustamento dos benefícios previdenciários
As regras de reajustamento dos benefícios previdenciários estão previstas no
art. 41-A da Lei n. 8.213/91, que determina:
• o reajuste anual dos benefícios previdenciários, na mesma data do reajusta
mento do salário-mínimo. O reajustamento não poderá exceder doze meses, porém
pode haver antecipação se o salário-mínimo aumentar em periodicidade menor;
• a aplicação do índice pro rata, de acordo com a data do início do benefício
ou do último reajustamento com base no in p c : (índice Nacional de Preços ao Con
sumidor) do IBGE.
As regras de reajustamento decorrem do princípio constitucional da irreduti
bilidade das prestações. O reajuste tem como finalidade a preservação do valor real
de compra dos benefícios. Os benefícios serão pagos do primeiro ao quinto dias
úteis do mês seguinte ao da competência, observada a distribuição proporcional do
número de beneficiários por dia de pagamento.
1. ACUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS
O art. 124 da Lei n. 8.213/91 e o art. 167 do Decreto n. 3.048/99 estabele
cem que, salvo direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos se
guintes benefícios da previdência social:
Art. 124.
[...]i - aposentadoria e auxílio-doença;
n - mais de uma aposentadoria [exceto com data de início de benefício anterior
a janeiro de 1967];
1 1 4
13 Reajustamenro dos benefícios previdenciários 115
ni - aposentadoria e abono de permanência em serviço [este último, extinto pela
Lei n. 8.870/94];
iv - salário-maternidade e auxílio-doença;
v - mais dc um auxílio-acidente;
vi - mais dc uma pensão deixada por cônjuge ou companheiro, ressalvada a op
ção pela mais vantajosa;
Parágrafo único. É vedado o recebimento conjunto do seguro-desemprego com
qualquer benefício de prestação continuada da previdência social, exceto pensão por
morte, auxílio-reclusão ou auxílio-acidente.
A Lei n. 9.528/97 alterou a redação do art. 86, § 1°, da Lei na 8.213/91 para
retirar a natureza vitalícia do auxílio-acidente. No § 2° há a vedação da acumula
ção de auxílio-acidente com qualquer aposentadoria. Agiu bem o legislador ao ve
dar a acumulação de auxílio-acidente com qualquer aposentadoria, uma vez que o
auxílio tem caráter indenizatório da parcela da capacidade laborai perdida. Não sc
justifica a permanência do pagamento após a aposentadoria, sob pena dc bis in
idem, principalmente pelo fato de os valores recebidos a título dc auxílio-acidente
serem integrados no cálculo do salário de contribuição.
2. REGRAS PROTETIVAS DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS
Segundo a previsão do art. 114 da Lei n. 8.213/91, o benefício previdenciá
rio, por seu caráter alimentar, não pode ser objeto de penhora, arresto ou seqües
tro. São nulas de pleno direito sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer
ônus sobre ele, bem como a outorga de poderes irrevogáveis ou em causa própria
para seu recebimento, salvo quanto a valor devido à providencia social e a descon
to autorizado por esta Lei, ou derivado da obrigação de prestar alimentos reconhe
cida em sentença judicial.
Por sua vez, nos arts. 115 da Lei n. 8.213/91 e 154 do Decreto n. 3.048/99,
encontram-se situações nas quais há autorização para o desconto dos benefícios:
Art. 154.
[...]i - contribuições devidas pelo segurado à previdência social;
ii - pagamento de benefícios além do devido;
iii - Imposto de Renda retido na fonte;
iv - alimentos dccorrcntcs dc sentença judicial;
v - mensalidade dc associações c demais entidades dc aposentados legalmente
reconhecidas, desde que autorizadas por seus filiados, observado o disposto no § I o
[desde que haja conveniência administrativa].
116 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Na hipótese do inciso n, o desconto será feito em parcelas devidamente atua
lizado, devendo cada parcela corresponder a, 110 máximo, 30% do valor do benefí
cio em manutenção e ser descontado cm número de meses necessários à liquidação
do debito. Caso o recebimento tenha sido feito com dolo ou má-fé, o desconto será
efetuado de uma só vez, não ilidindo as repercussões penais (tipificação de crime
contra a previdência social).
Além dos descontos mencionados, outros poderão ser efetivados:
• o desconto dos valores recebidos a maior pelo beneficiário, em virtude do
arredondamento para unidade de real imediatamente superior dos benefícios de
prestação continuada pagos mensalmente aos seus beneficiários. Esse desconto será
efetivado no pagamento do abono anual ou do último valor do pagamento do be
nefício, na hipótese dc sua cessação (Decreto n. 4.032/2001);
• pagamento de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento
mercantil concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento mer
cantil, públicas ou privadas, quando expressamente autorizado pelo beneficiário.
14Plano de custeio da seguridade social
A denominada lei de custeio é exercício da competência legislativa privativa
da União, determinada e prevista no art. 22, xxm , da Constituição Federal, para
legislar sobre seguridade social. A competência privativa não se confunde com a
exclusiva. José Afonso da Silva ensina que
a diferença que se faz entre competência exclusiva e privativa é que aquela é in-
delegável e esta é delegável. Então, quando se quer atribuir competência própria a uma
entidade ou órgão com possibilidade de delegação dc tudo ou parte, declara-se que
compete privativamente a ele a matéria indicada1.
Plano de custeio é um conjunto de normas que codificam as receitas que dão
suporte para que o sistema previdenciário obtenha recursos para cumprir com suas
obrigações. É uma previsão de dispêndio do sistema de seguridade social. Dessa
forma, um plano de custeio consiste em um conjunto dc normas e previsões de des
pesas e receitas fundamentadas cm avaliações atuariais2 destinadas à planificação
econômica do regime e seu conseqüente equilíbrio financeiro-atuarial. Os fins de
1 SILVA, José Afonso da. Curso dc direito constitucional positivo, p.419.
2 “Atuaria c a ciência do seguro da avaliação dos riscos do cálculo dos prêmios. E meio dc con
trolar o risco do cálculo dos prêmios. Normalmente sc divide cm ‘ramo vida’ c ‘ramo não
vida’. O primeiro trata das contingências da vida: morte, doença, invalidez, desemprego, apo
sentadoria etc. Aqui entra a previdência. O outro ramo trata da proteção contra riscos dc da
nos a bens materiais. Em previdência social, critérios atuariais significam estabelecer o equi
líbrio entre o valor presente esperado dc contribuições e o valor presente esperado dos
benefícios. Em linguagem leiga isto quer dizer: o equilíbrio entre aquilo que sc espera pagar
e aquilo que se espera receber.” a n d ra d e , José Bonifácio. Parecer da consultoria jurídica do Ministério da Previdência Social n. 1979, de 13 de dezembro de 1999, itens 20 e 21.
1 1 7
1 1 o Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
um plano de custeio são a planificação econômica do regime e a busca do equilí
brio técnico-financeiro do sistema.
Embora se apresente como instituidora do plano de custeio, tecnicamente a
Lei n. 8.212/91 não tem tais características, já que não é lastreada em estudos eco
nômicos, demográficos e atuariais. O plano de custeio brasileiro é, na realidade, um
emaranhado de contribuições, muitas das quais já existentes no sistema anterior e
em um rol de verbas orçamentárias.
É importante ressaltar que sem previsão não há proteção. Essa assertiva con
forma o princípio doutrinário da necessidade de planejamento, pois sua falta pro
voca distorções e desequilíbrio financeiro ao sistema, tal como a chamada crise da
previdência da década de 1980.
A previsão do art. 195, § 5o, da Constituição Federal repete a regra da con
trapartida. Essa previsão está ligada à busca do equilíbrio financeiro-atuarial e de
termina que “nenhum benefício ou serviço poderá ser criado, majorado ou esten
dido sem a correspondente fonte de custeio total” .
15Contribuições sociais na Constituição Federal de 1988 - da natureza jurídica das contribuições previdenciárias
A Constituição Federal de 1988, a partir de seu art. 145, estabelece os parâme
tros do Sistema Tributário Nacional e determina, ainda, a divisão da competência tri
butária entre os entes que compõem a Federação brasileira (União, Estados, Municí
pios e Distrito Federal). O Supremo Tribunal Federal reconheceu a natureza tributária
das contribuições previdenciárias no Recurso Extraordinário n. 146.733/sp, cujo re
lator foi o Ministro Moreira Alves.
Conquanto, inicialmente, tenha surgido a dúvida sobre sc a Constituição Fe
deral adotara a classificação tripartida de custeio (impostos, taxas e contribuições
de melhoria) ou a quinquipartida (impostos, taxas, contribuições de melhoria, em
préstimos compulsórios e contribuições sociais), o Supremo acatou entendimento
doutrinário majoritário da segunda classificação. A seguir, a decisão considerando
a classificação tributária quinquipartida:
Os tributos, nas suas diversas espécies, compõem o Sistema Constitucional Tri
butário brasileiro, que a Constituição inscreve nos seus arts. 145 a 162. Tributo, sabe
mos todos, encontra definição no art. 3° do c t n , definição que se resume, cm termos
jurídicos, no constituir cie uma obrigação que a lei impõe às pessoas de entrega de uma
ccrta importância cm dinheiro ao Estado. As obrigações são voluntárias ou legais. As
primeiras decorrem da vontade das partes, assim, do contrato; as legais resultam da
lei, por isso são denominadas obrigações ex lege e podem ser encontradas tanto no di
reito público quanto no direito privado. A obrigação tributária, obrigação ex lege, a
mais importante do direito público, “nasce de um fato qualquer da vida concreta, que
antes havia sido qualificado pela lei como apto a determinar o seu nascimento” (Ge
raldo Ataliba, “Hermenêutica e Sistema Constitucional Tributário”, in Diritto e pratica tributaria, volume L, Padova, Cedam, 1979). As diversas espécies tributárias, deter
minadas pela hipótese de incidência ou pelo fato gerador da respectiva obrigação (c tn ,
119
120 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
art. 4°), são a) os impostos (c f , art. 145, i, arts. 153,154,155 e 156), h) as taxas (c f ,
art. 145, n), c) as contribuições, que são c.l) dc melhoria (c f , art. 145, m), c.2) sociais
(c f, art. 149), que, por sua vez, podem ser c.2.1) de seguridade social (c f , arts. 195, c f ,
195, § 4“) c c.2.2) salário educação (c f , art. 212, § 5°) c c.3) especiais: c.3.1) dc inter
venção no domínio econômico (c f , art. 149) c c.3.2) dc interesse de categorias profis
sionais ou econômicas (c f , art. 149). Constituem, ainda, espécie tributária, d) os em
préstimos compulsórios (c f , art. 148) ( s t f , ADIn n. 447, rel. M in. Octávio Gallotti,
voto do Min. Carlos Velloso, j. 05.06.1991, DJ 05.03.1993).
À União, a Constituição Federal atribuiu a competência para instituir: im
postos de competência privativa (art. 153), residual (art. 154, i) e extraordinária
(art. 154, ii); taxas (art. 145, n); contribuições de melhoria (art. 145, m); emprés
timos compulsórios (art. 148); e contribuições especiais (art. 149, cap u t) . Assim,
apresenta-se o seguinte quadro tributário:
Tributos:
• impostos;
• taxas;
• contribuições de melhoria;
• empréstimos compulsórios;
• contribuições sociais - gerais de seguridade social: amplas e estritamente
previdenciárias.
16Salário de contribuição
Salário de contribuição é a base de cálculo das contribuições previdenciárias.
A Constituição Federal, no art. 201, § 3°, determina que todos os salários de con
tribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados
na forma da lei. O índice de atualização é o índice Nacional de Preços ao Consu
midor - in p c . Conforme dispõe o art. 214 do Decreto n. 3.048/99, entende-se por
salário de contribuição:
i - para o empregado e o trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma
ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou
creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qual
quer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma dc
utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efe
tivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de ser
viços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa;
n - para o empregado doméstico: a remuneração registrada na Carteira Profis
sional e/ou na Carteira dc Trabalho e Previdência Social, observados os limites mínimo
[salário-mínimo] c máximo [teto do salário dc contribuição determinado anualmente
por ocasião do reajustamento dos benefícios e dos valores dc incidência] previstos nos
§§ 3o e 5o;
m - para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais
empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, obser
vados os limites a que se referem os §§ 3° e 5° [mínimo - salário-mínimo e máximo -
teto do salário de contribuição determinado anualmente por ocasião do reajustamen
to dos benefícios e dos valores de incidência];
122 Sucesso Concursos Públicos c OAB - Direito Previdenciário
iv - para o dirigente sindical na qualidade de empregado: a remuneração paga,
devida ou creditada pela entidade sindical, pela empresa ou por ambas; e
v- para o dirigente sindical na qualidade de trabalhador avulso: a remuneração
paga, devida ou creditada pela entidade sindical;
vi - para o segurado facultativo: o valor por ele declarado, observados os limi
tes a que se referem os §§ 3° e 5° [mínimo - salário-mínimo e máximo - teto do salá
rio de contribuição determinado anualmente por ocasião do reajustamento dos bene
fícios e dos valores de incidência].
Quando a admissão, dispensa, afastamento ou falta do empregado, inclusive
o doméstico, ocorrerem no curso do mês, o salário de contribuição será proporcio
nal ao número de dias efetivamente trabalhados.
Segundo o § 3° do art. 214 do Decreto n. 3.048/99, o limite mínimo do salá
rio de contribuição corresponde:
i - para os segurados contribuintes individuais e facultativos, ao salário-míni-
mo; e
ii - para os segurados empregados, inclusive o doméstico, e trabalhador avulso,
ao piso salarial legal ou normativo da categoria ou, inexistindo este, ao salário-míni-
mo, tomado no seu valor mensal, diário ou horário, conforme o ajustado c o tempo
dc trabalho efetivo durante o mês.
O valor do limite máximo do salário de contribuição será publicado mediante
portaria do Ministério da Previdência Social sempre que ocorrer reajustamento do
valor dos benefícios. Por força da Portaria Interministerial m p s /m f n. 350/2009, o
salário de benefício e o salário de contribuição não podem ser inferiores a R$ 510,00
nem superiores a R$ 3.416,54.
1. CONTRIBUIÇÕES D0 EMPREGADOR
As contribuições do empregador, da empresa ou da entidade a ela equipara
da têm fundamento constitucional no art. 195, i, da Constituição Federal. A folha
dc salários e demais rendimentos do trabalho são a base de incidência previdenciá
ria determinada.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma di
reta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal c dos Municípios, e das seguintes contribui
ções sociais:
16 Salário de contribuição 123
i - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a
qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatí-
cio;
[...]
Por força do art. 15 da lei dc custeio (Lei n. 8.212/91), a pessoa física que uti
lize outra pessoa para consecução de suas atividades é equiparada a empresa, ten
do o dever jurídico de contribuir como empresa, além de sua contribuição como
contribuinte individual. Por exemplo, o dentista que tenha secretária é equiparado
a empresa. O art. 22 da Lei n. 8.212/91 regulamenta essa base de financiamento da
previdência social:
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à seguridade social, além
do disposto no art. 23, é de:
i - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas
a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos
que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua for
ma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma dc utilidades e os adianta
mentos dccorrcntcs dc reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados,
quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou senten
ça normativa.
Em relação ao inciso i do art. 22, as contribuições a cargo da empresa inci
dem sobre o décimo terceiro salário, férias pagas no curso do contrato, adicional
constitucional de 1/3 (férias) e horas extras. Por outro lado, essas contribuições não
incidem sobre as verbas de caráter indenizatório ou ressarcimentos, nos termos do
art. 28, §9 °, da Lei n. 8.212/91.
ii - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei n. 8.213,
de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de in
capacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das
remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e
trabalhadores avulsos:
a) 1% (um por cento) para as empresas cm cuja atividade preponderante o ris
co dc acidentes do trabalho seja considerado leve;
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse
risco seja considerado médio;
124 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse
risco seja considerado grave.
As alíquotas previstas no inciso n do art. 22 para financiamento das presta
ções de acidente do trabalho variam de acordo com a atividade preponderante da
empresa (aquela que ocupa o maior número de segurados empregados e trabalha
dores avulsos - nos termos do art. 202, § 3o, do Decreto n. 3.048/99). A relação de
enquadramento é encontrada no anexo v deste Decreto. O enquadramento é úni
co, ou seja, é o mesmo para todas as filiais da empresa.
Art. 195.
[...]§ 9° As contribuições sociais previstas no inciso i do caput deste artigo poderão
ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da
utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural
do mercado de trabalho.
Por força do art. 195, § 9°, da Constituição Federal, da Lei n. 10.666/2003
e do art. 22, § 3°, da Lei n. 8.212/91, a alíquota para financiamento das presta
ções acidentárias pode variar com base nas estatísticas de acidente do trabalho,
na intensidade da utilização da mão de obra, no porte da empresa e na condição
estrutural do mercado de trabalho. Essa é a origem do Fator Acidentário de Pre
venção - f a p regulamentado pelo Decreto n. 6.042/2007. Em razão do f a p , as
alíquotas para financiamento das prestações acidentárias poderão ser reduzidas,
em ate 50% , ou aumentadas, em até 100%, cm razão do desempenho da empre
sa em relação à sua atividade. Os elementos que balizarão o f a p são os índices
de frequência, gravidade e custo dos acidentes de trabalho. F'sses índices serão
calculados pelo Conselho Nacional de Previdência Social levando-se em conta,
conforme dispõe o art. 202-A, § 4o, do Decreto n. 3.048/99, alterado pelo Decre
to n. 6.957, de 9 de setembro de 2009:
i - para o índice de frequência, os registros de acidentes e doenças do trabalho
informados ao inss por meio de Comunicação de Acidente do Trabalho - c a t e de be
nefícios acidentários estabelecidos por nexos técnicos pela perícia médica do in ss , ain
da que sem c a t a eles vinculados;
ii - para o índice de gravidade, todos os casos de auxílio-doença, auxílio-aciden
te, aposentadoria por invalidez c pensão por morte, todos dc natureza acidentária, aos
quais são atribuídos pesos diferentes cm razão da gravidade da ocorrência, como se
gue:
a) pensão por morte: peso de cinqüenta por cento;
16 Salário de contribuição 125
b) aposentadoria por invalidez: peso de trinta por cento; e
c) auxílio-doença e auxílio-acidente: peso de dez por cento para cada um; e
iii - para o índice de custo, os valores dos benefícios de natureza acidentária pa
gos ou devidos pela previdência social, apurados da seguinte forma:
a) nos casos dc auxílio-doença, com base no tempo dc afastamento do trabalha
dor, em meses e fração de mês; e
b) nos casos dc morte ou de invalidez, parcial ou total, mediante projeção da ex
pectativa de sobrevida do segurado, na data de início do benefício, a partir da tábua
de mortalidade construída pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti
ca - ib g e para toda a população brasileira, considerando-se a média nacional única
para ambos os sexos.
Por força da Lei n. 9.732/98, foram criadas alíquotas de 6, 9 ou 12% para o
financiamento da aposentadoria especial, incidente sobre a remuneração dos segu
rados sujeitos às condições especiais que possibilitam o acesso à aposentadoria es
pecial. As alíquotas variam de acordo com o grau de risco de potencial dano à saú
de do trabalhador:
• grau de risco grave, aposentadoria especial após quinze anos de exposição
sobre alíquota de 12%;
• grau de risco médio, aposentadoria especial após vinte anos de exposição
sobre alíquota de 9%;
• grau de risco leve, aposentadoria especial após 25 anos de exposição sobre
alíquota de 6 % .
iii - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qual
quer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe pres
tem serviços;
Pela dicção do inciso iii do art. 22 da Lei n. 8.212/91, a empresa que toma
serviço de contribuintes individuais tem o dever jurídico de contribuir com 20%
sobre os valores da prestação de serviços.
iv - quinze por cento sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação
de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por inter
médio de cooperativas de trabalho.
No que se refere ao inciso iv do art. 22, o adicional para financiamento da
aposentadoria especial somente é devido no caso de cooperados de cooperativas de
produção. Tais cooperados, excepcionalmente, têm direito à aposentadoria espe
cial.
126 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
A incidência das alíquotas das contribuições previdenciárias sobre cooperati
va de trabalho é diferenciada, com acréscimo de 5, 7 ou 9% sobre a nota fiscal,
além dos 15% já devidos.
§ 1° No caso de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desen
volvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento,
sociedades dc crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras dc títulos c va
lores mobiliários, empresas dc arrendamento mercantil, cooperativas de crcdito, em
presas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados
e de crédito e entidades de previdência privada abertas e fechadas, além das contribui
ções referidas neste artigo e no art. 23, é devida a contribuição adicional de dois vír
gula cinco por cento sobre a base de cálculo definida nos incisos i e iii deste artigo.
A previsão do § I o do art. 22 da Lei n. 8.212/91, de instituição da alíquota de
2,5% sobre a folha de salários e demais rendimentos, fulcra-se no art. 195, § 9°,
da Constituição Federal, bem como no princípio da equidade na forma de partici
pação no custeio previsto no art. 194, parágrafo único, v. O Supremo Tribunal Fe
deral, ao analisar tal temática, decidiu por sua constitucionalidade.
O prazo para recolhimento é no dia dez do mês seguinte ao da ocorrência do
fato gerador, prorrogando-se para o primeiro dia útil seguinte na ausência de ex
pediente bancário, bem como no caso de repasse dos valores retidos por força de
lei. A cooperativa de trabalho tem dois prazos para recolhimento das contribuições
previdenciárias: dia dez, para a parte relativa à empresa, contribuições retidas de
empregados, avulso e contribuições individuais de não cooperados; e dia quinze
para os valores retidos de cooperados.
O recolhimento da contribuição incidente sobre o décimo terceiro salário é
feito em separado da competência dezembro e deve ser efetivado até o dia vinte de
dezembro, antecipando-se o pagamento para o dia útil imediatamente anterior na
ausência de expediente bancário.
No caso de rescisão de contrato de trabalho e no caso de trabalhadores avul
sos, o recolhimento é feito no mês do pagamento da rescisão ou dos valores devi
dos.
17Decadência e prescrição das contribuições previdenciárias e benefícios
1. DECADÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
O fundamento jurídico da decadência é o interesse público visando a estabi
lização das relações jurídicas e sociais (segurança jurídica).
A decadência é a perda do direito subjetivo (faculdade de agir do indivíduo)
pelo seu não exercício durante certo lapso temporal determinado em lei. No caso
das contribuições, é a perda do direito do Fisco dc praticar o ato jurídico adminis
trativo de lançamento, no lapso temporal determinado legalmente (cinco anos nos
termos do caput do art. 173 do c t n ).
Art. 173. O direito da Fazenda Pública constituir o credito tributário extingue-se
após cinco anos, contados:
i - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia
ter sido efetuado;
li - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício
formal, o lançamento anteriormente efetuado.
Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamen
te com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada
a constituição do credito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, dc qualquer
medida preparatória indispensável ao lançamento, [grifo nosso]
Destaca-se que na decadência tributária há uma hipótese de interrupção de
terminada no art. 173, i i , do Código Tributário Nacional, sendo o caso dc nulida-
de do lançamento por vício formal.
127
128 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
A Súmula vinculante n. 8 do Supremo Tribunal Federal declarou inconstitu
cional os caputs dos arts. 45 e 46 da Lei n. 8.212/91, os quais determinavam que
o prazo de decadência e prescrição das contribuições previdenciárias era dc dez
anos.
O Supremo ao editar a Súmula vinculante n. 8 o fez, com efeito, ex nunc, sal
vo para as ações judiciais propostas até 1 1 de junho de 2008, data em que a Corte
Constitucional declarou a inconstitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei n. 8.212/91.
O Supremo Tribunal Federal declarou tal inconstitucionalidade em virtude do re
conhecimento da reserva de lei complementar para tratar acerca de norma geral tri
butária relativa à decadência e prescrição, nos termos do art. 146, i i i, b, da Cons
tituição Federal. A Lei Complementar n. 128, de 19 dc dezembro de 2008, revogou
os arts. 45 e 46 da Lei n. 8.212/91.
O Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário n. 559.943 - um dos
que serviram de suporte para edição da súmula vinculante -, esclareceu que não se
pretendia nesse recurso traçar os limites da lei complementar sobre a definição de
fatos geradores, obrigação, lançamento e créditos tributários, por serem temas mais
amplos e complexos e, assim, comportarem maior discussão sobre o que seria ge
ral e o que seria específico. Todavia, para o Supremo não houve dúvida de que, re
lativamente à prescrição e à decadência tributárias, a Constituição de 1988 não
dota dc competência as ordens parciais da Federação. Portanto, não seria possível
afirmar em que consistiria uma norma geral sobre prescrição c decadência (sc é que
havia alguma) e o que não seria. Nesse sentido, para o Supremo ficou claro o ob
jetivo da norma constitucional de nacionalizar a disciplina, vale dizer, de a ela con
ferir tratamento uniforme em âmbito nacional, independentemente de ser ou não
norma geral.
O Código Tributário Nacional classificou a decadência e a prescrição como
formas de extinção do crédito tributário (art. 156, v).
2. PRESCRIÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
Prescrição tributária é perda do direito de ação do crédito tributário. A pres
crição tem natureza de direito substantivo processual. É a perda do direito da Fa
zenda Pública de ajuizar a ação de execução fiscal.
Reza o art. 174 do Código Tributário Nacional:
A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados
da data da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
i - pela citação pessoal feita ao devedor;
ii - pelo protesto judicial;
1 / Decadência e prescrição das contribuições previdenciárias e benefícios 129
ni - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
iv - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em reco
nhecimento do débito pelo devedor, [grifo nosso]
2.1 Causas interruptivas da prescrição tributária
• despacho judicial que ordenar a citação em execução fiscal;
• protesto judicial e qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
• atos inequívocos ainda que extrajudiciais os quais importem em reconheci
mento de débito pelo devedor.
2.2 Causas suspensivas da prescrição tributária
• concessão de moratória, remissão, parcelamento, isenção e anistia em cará
ter individual e mediante procedimento fraudulento do beneficiário (prazo suspen
so até a revogação do favor);
• causas suspensivas da exigibilidade do crédito tributário previstas no art. 151
do Código Tributário Nacional;
• a inscrição do crédito tributário em dívida ativa (prazo de 180 dias de sus
pensão ou até a distribuição da execução fiscal, no caso de esta ocorrer primei
ro);
• ordem judicial suspendendo o curso da execução fiscal, enquanto não loca
lizado o devedor ou seus bens (art. 40 da Lei de Execução Fiscal).
3. QUADRO-SÍNTESE DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DECADÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
1° Período: Da lops até o c t n . Omissão legislativa. Prevaleceu a tese do Prof. Moacyr Veloso Cardoso para quem se operava a imprescritibilidade dos créditos fazendários. Na visão do Prof. Wagner Balera nesse período não há se falar em decadência das contribuições previdenciárias por falta de definição legal.2o Período: Período pós-Código Tributário Nacional.A Súmula n. 108 do Tribunal Federal de Recursos (tfr) estabeleceu: “A constituição do crédito previdenciário está sujeita ao prazo de decadência de cinco anos.”Nessa linha foi emitido o Parecer n. 85/88 da Consultoria Jurídica do Ministério da Previdência e Assistência Social.3o Período: Período pós-Constituição Federal de 1988 e sua regulamentação.Com a edição da lei de custeio (art. 45 da Lei n. 8.212/91) foi estabelecido o prazo decadencial de dez anos.
4o Período: Período pós-Súmula vinculante n. 8, de 11 de junho de 2008.Aplicação do art. 173 do Código Tributário Nacional que determina prazo decadencial de cinco anos.
130 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
4. QUADRO-SÍNTESE DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRESCRIÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
1 ° Período: Período da l o p s.A Lei Orgânica da Previdência Social (Lei n. 3.807/60) estabelecia no art. 144 que o prazo para cobranças dos créditos previdenciários prescrevia em trinta anos.2o Período: Período pós-Código Tributário Nacional.A edição do Código Tributário Nacional não alterou o prazo trintenário da Lei Orgânica da Previdência Social, posto que o art. 217 da lei tributária afastou sua incidência sobre as contribuições sociais. Por sua vez, a Lei de Execuções Fiscais em seu art. 2o, § 9o, determinou que o prazo para a cobrança das contribuições previdenciárias continuava sendo o estabelecido no art. 144 da Lei n. 3.807/60 (lops). Após a Emenda Constitucional n. 8/77, o Supremo Tribunal Federal passou a adotar o entendimento de que o prazo das contribuições previdenciárias era o estabelecido na Lei Orgânica da Previdência Social, tendo em vista que a natureza das contribuições (nesse período) não era tributária.3o Período: Período pós-Constituição Federal de 1988 e sua regulamentação.Com a edição da Lei n. 8.212/91 (art. 46) o prazo de prescrição passou a ser de dez anos.
4o Período: Período pós-Súmula vinculante n. 8, de 11 de junho de 2008.Aplicação do art. 174 do Código Tributário Nacional que determina prazo prescricional de cinco anos.
5. DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA DE BENEFÍCIOS
Essas matérias são reguladas pelo art. 103 da Lei n. 8.213/91.
A decadência é a perda do direito ou da faculdade não exercida no prazo fa
tal estabelecido na lei.
A prescrição é definida como a extinção da obrigação por não a ter exigido o
credor ao devedor depois de seu vencimento, no prazo prescricional fixado em lei,
que se inicia a partir de quando a prestação deveria ter sido cumprida. No direito
previdenciário, tendo em vista a característica de se tratar de direitos indisponíveis,
o direito ao benefício em si não prescreve, mas sim às prestações pecuniárias.
A decadência ingressou no direito previdenciário por intermédio da Medida
Provisória n. 1.523-9, dc 27 dc junho de 1997, convertida na Lei n. 9.528, de 10
de dezembro de 1997, que deu nova redação ao art. 103 da Lei n. 8.213/91. O pra
zo inicial da decadência era de dez anos, sendo alterado posteriormente pela Me
dida Provisória n. 1.663-15, de 22 de outubro de 1998, convertida na Lei n. 9.711/98,
que o reduziu para cinco anos.
Uma nova alteração ocorreu no final de 2003 quando foi editada a Medida Pro
visória n. 138, de 19 de novembro de 2003, convertida na Lei n. 10.839, de 5 de fe
vereiro de 2004. Com essa última alteração, o prazo decadencial voltou a ser de dez
anos. Transcreve-se:
Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou
ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a
17 Decadência e prescrição das contribuições previdenciárias e benefícios 131
contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou,
quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória defi
nitiva no âmbito administrativo.
A decadência atinge o direito ou ação do segurado ou beneficiário de rever o ato
de concessão do benefício. Em relação aos benefícios, a decadência só pode ser invoca
da no caso de revisão da renda mensal, não podendo ser alegada cm outras hipóteses.
O art. 517 da Instrução Normativa n. 20/2007 do in s s traz o seguinte preceito:
É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do se
gurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do
dia primeiro do mês seguinte ao do rcccbimcnto da primeira prestação ou, quando for
o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitivo, no âm
bito administrativo, observando-se a seguinte série histórica:
Período Fudamentação legal Prazo
Até 27.06.1997 Não havia previsão legal sem prazo
De 28.06.1997 a 22.10.1998 M p n . 1.523-9 de 1997, convertida na Lei n. 9.528 de 1997
dez anos
De 23.10.1998a 19.11.2003 m p n. 1.663-15 de 1998, convertida na Lei n. 9.711 de 1998
cinco anos
A partir de 20.11.2003 m p n. 138 de 19.11.2003, convertida na Lei n. 10.839/2004, acrescenta o art. 103-A a Lei n. 8.213/91
restabelece o prazo de dez anos
Ainda sobre a decadência em matéria de benefícios, há entendimento do Tri
bunal Regional Federal da 2a Região no sentido de que “decai cm 10 anos o di
reito de pleitear a revisão do ato concessório dos benefícios concedidos anterior
mente a 28.06.1997 (data da edição da m p n. 1.523-9), sendo o termo inicial o
dia 01.08.1997” (Enunciado n. 16 do Foreprev - Fórum Regional de Direito Pre
videnciário da 2a Região).
Com relação ao prazo prescricional, este é de cinco anos, contado da data em
que deveriam ter sido pagas as prestações vencidas ou quaisquer restituições ou dife
renças devidas pela previdência social. Foram resguardados os direitos dos menores,
dos incapazes e dos ausentes do país em serviço público da União, dos Estados ou
dos Municípios, assim como os que se acharem servindo nas Forças Armadas em tem
po de guerra. Contra pessoas nessas condições não corre prescrição.
18Regras de incidência e não incidência das contribuições previdenciárias
Há incidência previdenciária sobre as verbas de natureza remuneratória; e so
bre as verbas de natureza indenizatória não há. Essa é a sistemática genérica.
Nos termos do art. 28, § 8o, da lei de custeio (Lei n. 8.212/91), integram o sa
lário de contribuição por seu valor total:
a) o total das diárias pagas, quando excedente a cinqüenta por cento da remu
neração mensal.
Nos termos do art. 28, § 9°, da lei de custeio, não integram o salário de con
tribuição:
a) os benefícios da previdência social, nos termos e limites legais, salvo o salá
rio-maternidade;
b) as ajudas de custo e o adicional mensal recebidos pelo aeronauta nos termos
da Lei n. 5.929, de 30 de outubro de 1973;
c) a parcela in natura recebida de acordo com os programas de alimentação apro
vados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, nos termos da I.ei n. 6.321,
dc 14 de abril de 1976;
d) as importâncias recebidas a título de férias indenizadas e respectivo adicional
constitucional, inclusive o valor correspondente à dobra da remuneração de férias de
que trata o art. 137 da Consolidação das Leis do Trabalho - c l t ;
e) as importâncias:
1. previstas no inciso i do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Tran
sitórias;
2. relativas à indenização por tempo de serviço, anterior a 5 de outubro de 1988,
do empregado não optante pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - fg ts ;
132
18 Regras de incidência e não incidência das contribuições previdenciárias 133
3. recebidas a título da indenização de que trata o art. 479 da c lt ;
4. recebidas a título da indenização de que trata o art. 14 da Lei n. 5.889, de 8
de junho de 1973;
5. recebidas a título dc incentivo à demissão;
6. recebidas a título dc abono de férias na forma dos arts. 143 e 144 da c lt ;
7. recebidas a título de ganhos eventuais e os abonos expressamente desvincula
dos do salário;
8. recebidas a título de licença-prêmio indenizada;
9. recebidas a título da indenização de que trata o art. 9° da Lei n. 7.238, de 29
de outubro de 1984;
f) a parcela recebida a título de vale-transporte, na forma da legislação pró-
pria;
g) a ajuda de custo, em parcela única, recebida exclusivamente cm decorrência
de mudança de local de trabalho do empregado, na forma do art. 470 da c lt ;
b) as diárias para viagens, desde que não excedam a 50% (cinqüenta por cento)
da remuneração mensal;
i) a importância recebida a título de bolsa de complementação educacional de es
tagiário, quando paga nos termos da Lei n. 6.494, de 7 de dezembro de 1977 [atual
mente, Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008];
j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou credita
da dc acordo com lei específica;
l) o abono do Programa de Integração Social - pis e do Programa de Assistên
cia ao Servidor Público - Pasep;
m) os valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos
pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de
sua residência, em canteiro de obras ou local que, por força da atividade, exija deslo
camento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas pelo Ministério do
Trabalho;
n) a importância paga ao empregado a título dc complementação ao valor do
auxílio-doença, desde que este direito seja extensivo à totalidade dos empregados da
empresa;
o) as parcelas destinadas à assistência ao trabalhador da agroindústria canaviei
ra, de que trata o art. 36 da Lei n. 4.870, de 1° de dezembro de 1965;
p) o valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a
programa de previdência complementar, aberto ou fechado, desde que disponível à to
talidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9° e 468
da CLT;
q) o valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico,
próprio da empresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com me
dicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médico-hospitalares e outras si
1 3 4 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
milares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da
empresa;
r) o valor correspondente a vestuários, equipamentos e outros acessórios forne
cidos ao empregado c utilizados no local do trabalho para prestação dos rcspccrivos
serviços;
s) o ressarcimento de despesas pelo uso de veículo do empregado e o reembolso
creche pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite máxi
mo de seis anos de idade, quando devidamente comprovadas as despesas realizadas;
t) o valor relativo a plano educacional que vise à educação básica, nos termos
do art. 21 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e a cursos de capacitação e
qualificação profissionais vinculados às atividades desenvolvidas pela empresa, desde
que não seja utilizado cm substituição dc parcela salarial c que todos os empregados
c dirigentes tenham acesso ao mesmo;
u) a importância recebida a título de bolsa de aprendizagem garantida ao ado
lescente até quatorze anos de idade, de acordo com o disposto no art. 64 da Lei n. 8.069,
de 13 de julho de 1990;
v) os valores recebidos em decorrência da cessão de direitos autorais;
x) o valor da multa prevista no § 8° do art. 477 da c lt .
19Relação jurídica de custeio
Em toda e qualquer relação jurídica, verifica-se a existência de pelo menos
duas pessoas, uma no polo ativo e outra no polo passivo, vinculadas por um con
teúdo. O sujeito ativo da obrigação tributária principal ou acessória c o ente que
pode exigir seu cumprimento (arts. 119 e 120 do c t n ).
No polo ativo (sujeito ativo) da relação jurídica de custeio da seguridade social,
há a Secretaria da Receita Federal do Brasil (União) que, por força da Lei n. 11.457/2007,
arrecada e fiscaliza os tributos federais e as contribuições sociais. No polo passivo,
há os contribuintes, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas (de direito privado ou
público quando não possuam regimes próprios de previdência social).
Sujeito ativo Sujeito passivo
Conteúdo Obrigação tributária
1. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
Hugo de Brito Machado define a obrigação tributária como a
relação juríd ica em virtude da qual o particular (sujeito passivo) tem o dever de pres
tar d inheiro ao Estado (sujeito ativo), ou de fazer, não fazer ou tolerar algo no interes
se da arrecadação ou da fiscalização dos tributos, e o Estado tem o direito de consti
tu ir contra o particular um credito1.
1 m a c h a d o , Hugo dc Brito. Curso de direito tributário, p.87.135
1 36 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direito Previdenciário
Nos termos do art. 113 do Código Tributário Nacional, a obrigação tributá
ria pode ser principal ou acessória. A obrigação principal diz respeito ao pagamen
to do tributo; enquanto a obrigação acessória sc refere aos instrumentos que a le
gislação tributária cria a fim de permitir ao Fisco um controle maior dc arrecadação
e fiscalização dos tributos (por isso também denominada deveres instrumentais ou
de contorno). Tanto a obrigação principal como a acessória estão abrangidas pela
reserva legal, ou seja, somente podem ser criadas ou extintas por lei.
Segundo o art. 113, § I o, do Código Tributário Nacional, a obrigação princi
pal surge com a ocorrência do fato gerador realizado pelo sujeito passivo e tem por
objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, extinguindo-se juntamen
te com o crédito dela decorrente. A obrigação tributária principal tem natureza dc
obrigação dc dar (dinheiro).
A principal forma de extinção do crédito tributário é o pagamento. O art. 156
da lei tributária determina as formas de extinção do crédito tributário: pagamento,
compensação, transação, remissão, prescrição e decadência, conversão de depósito em
renda, pagamento antecipado e homologação de lançamento ou consignação em pa
gamento, decisão administrativa irreformável, decisão judicial transitada em julgada
e dação em pagamento em bens imóveis na forma e condições estabelecidas em lei.
A obrigação tributária acessória atua sempre no interesse da arrecadação ou
da fiscalização. Ela visa dar os meios necessários para que o Fisco fiscalize o cum
primento da obrigação tributária principal c tem natureza de obrigação dc fazer ou
não fazer. As principais obrigações acessórias das empresas em relação às contri
buições previdenciárias estão previstas nos arts. 32 e 33 da Lei n. 8.212/91. Nos
termos do referido art. 32, a empresa é obrigada a:
Art. 32
[...]
i - preparar folhas de pagamento das remunerações pagas ou creditadas a todos
os segurados a seu serviço, de acordo com os padrões e normas estabelecidos pelo ór
gão competente da seguridade social;
Conforme dispõe o art. 225, § 9°, do Decreto n. 3.048/99, a folha de paga
mento, feita mensalmente, de forma coletiva por estabelecimento da empresa, por
obra de construção civil e por tomador de serviços, com a correspondente totali-
zação, deverá:
i - discrim inar o nome dos segurados, ind icando cargo, função ou serviço pres
tado;
ii - agrupar os segurados por categoria, assim entendido: segurado empregado,
traba lhador avulso, contribuinte ind iv idual;
19 Relação jurídica de custeio 137
iii - destacar o nome das seguradas em gozo de salário-maternidade;
iv - destacar as parcelas integrantes e n ão integrantes da remuneração e os des
contos legais; e
v - ind icar o núm ero dc quotas dc salário-fam ília a tribu ídas a cada segurado
empregado ou trabalhador avulso.
Art. 32
[...]
ii - lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma dis
crim inada, os fatos geradores de todas as contribuições, o m ontante das quantias des
contadas, as contribuições da empresa e os totais recolhidos;
Os lançamentos de que trata o inciso ii do art. 32, devidamente escriturados
nos livros Diário e Razão, serão exigidos pela fiscalização após noventa dias con
tados da ocorrência dos fatos geradores das contribuições, devendo, obrigatoria
mente, conforme dispõe o art. 225, § 13, do Decreto n. 3.048/99:
i - atender ao princ íp io contábil do regime de competência; e
ii - registrar, em contas indiv idualizadas, todos os fatos geradores de contribu i
ções previdenciárias de forma a identificar, clara c precisamente, as rubricas integran
tes c não integrantes do salário dc contribu ição , bem com o as contribuições descon
tadas do segurado , as da empresa e os to ta is reco lh idos, po r estabelecim ento da
empresa, por obra de construção civil e por tom ador de serviços.
Nos termos do art. 225, § 16, do Decreto n. 3.048/99, são desobrigadas de
apresentação de escrituração contábil:
i - o pequeno comerciante, nas condições estabelecidas pelo Decreto-lei n. 486,
de 3 dc março dc 1969, c seu Regulamento;
ii - a pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, dc acordo com a
legislação tributária federal, desde que mantenha a escrituração do Livro Caixa e Li
vro de Registro de Inventário; e
m - a pessoa jurídica que optar pela inscrição no Sistema Integrado de Pagamen
to de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, des
de que mantenha escrituração do Livro Caixa e Livro de Registro dc Inventário.
Art. 32
[...]
m - prestar à Secretaria da Receita Federal do Brasil todas as informações ca
dastrais, financeiras e contábeis de seu interesse, na forma por ela estabelecida, bem
como os esclarecimentos necessários à fiscalização;
1 3 8 Sucesso Concursos Públicos e OAB - Direiro Previdenciário
iv - declarar à Secretaria da Receita Federal do Brasil e ao Conselho Curador
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, na forma, prazo e condições esta
belecidos por esses órgãos, dados relacionados a fatos geradores, base de cálculo e va
lores devidos da contribuição previdenciária c outras informações dc interesse do inss
ou do Conselho Curador do FGTS.
Segundo o inciso iv do art. 225 do Decreto n. 3.048/99, a empresa também é
obrigada a informar mensalmente à Secretaria da Receita Federal do Brasil2, por
intermédio da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo dc Serviço
e Informações à Previdência Social - g f ip , na forma por ele estabelecida, dados ca
dastrais, todos os fatos geradores de contribuição previdenciária e outras informa
ções de interesse dessa Secretaria.
As informações da G FIP , que servem como base de cálculo das contribuições
previdenciárias, compõem a base de dados para fins de cálculo e concessão dos be
nefícios previdenciários, bem como se constituem em termo dc confissão de dívida
na hipótese do não recolhimento. A entrega da G F IP deve ser efetuada na rede ban
cária, conforme estabelecido pelo Ministério da Previdência, até o dia sete do mês
seguinte àquele ao qual se referirem as informações.
Além das obrigações anteriores, as empresas têm o ônus de efetivar a:
• inscrição dos segurados empregados e trabalhadores avulsos a seu serviço.
A inscrição do segurado empregado é feita no momento do registro na Carteira de
Trabalho e Previdência Social. Quanto aos trabalhadores avulsos portuários, a ins
crição é feita no Órgão Gestor de M ão de Obra (o g m o ) o u no sindicato de classe,
e para os demais trabalhadores avulsos, mediante cadastramento e registro do tra
balhador;
• inscrição dos contribuintes individuais dos trabalhadores que lhes prestem
serviço como pessoa física (prestadores de serviço) ou por cooperativas, se ainda
não tiverem o Número de Inscrição do Trabalhador - n it ;
• retenção e repasse das contribuições previdenciárias devidas pelos segura
dos empregados e trabalhadores avulsos para a Secretaria da Receita Federal do
Brasil e dos contribuintes individuais que lhes prestem serviços;
• retenção das empresas prestadoras de serviços, mediante cessão de mão de
obra, inclusive em regime de trabalho temporário, e mediante empreitada nas ati
vidades relacionadas na legislação, de 11 % do valor bruto da nota fiscal, da fatu
ra ou do recibo de prestação de serviços emitidos (nas notas fiscais ou faturas a em
2 A redação do inciso prevê o Instituto Nacional do Seguro Social, mas a Lei n. 11.457/2007,
ao criar a Secretaria da Receita Federal do Brasil, determinou a sua responsabilidade na arre
cadação e fiscalização das contribuições sociais.
19 Relação jurídica de custeio 139
presa prestadora de serviços deve destacar o valor da retenção para a previdência
social);
• fornecimento, ao contribuinte individual que lhes presta serviços, de com
provante do pagamento do serviço, discriminando a identificação completa da em
presa (inclusive com o número no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - c n p j ),
valor da remuneração paga, desconto da contribuição efetuado e número de ins
crição do segurado no r g p s ;
• efetivação de matrícula junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil, den
tro do prazo de trinta dias contados da data do início de suas atividades, quando
não inscrita no CNPJ;
• efetivação de matrícula junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil de
obra de construção civil executada sob sua responsabilidade no prazo de trinta dias
contados do início da execução;
• c o m u n ic a ç ã o a o in s s sobre a o co rrê n c ia de ac iden te de tr a b a lh o de segura
d o e m p re g a d o e t r a b a lh a d o r a vu lso a té o p r im e iro d ia ú t i l segu in te a o da o c o r rê n
c ia , o u , em caso de m o rte , de im e d ia to ;
• elaboração e atualização do Laudo Técnico de Condições Ambientais do
Trabalho - l t c a t ou do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - p p r a com
referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalha
dores;
• elaboração e entrega do Perfil Profissiográfico Previdenciário - p p p . Esse do
cumento somente será exigido em relação aos trabalhadores que exerçam suas ati
vidades laborais sujeitos à exposição a agentes nocivos. Essa obrigação deve ser
cumprida na solicitação do documento pelo trabalhador ou na rescisão do contra
to de trabalho com cópia autenticada do documento.
20Crimes contra a seguridade social
A partir da edição da Lei n. 9.983/2000, os crimes previdenciários passaram
a ser parte integrante do Código Penal. E importante destacar, no entanto, que as
disposições do art. 95, § 2o, da Lei n. 8.212/91 permanecem em vigor. Os crimes
específicos contra a seguridade social são: apropriação indébita previdenciária, so
negação de contribuição previdenciária, falsificação de documento previdenciário,
inserção de dados falsos ou modificação em sistemas de informações, modificação
ou alteração não autorizada dc sistema dc informações e estelionato contra a pre
vidência social.
1. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas
dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena - reclusão de 2 a 5 anos, e m ulta.
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
i - recolher, no prazo legal, contribu ição ou outra im portância destinada à pre
vidência social que tenha sido descontada de pagam ento efetuado a segurados, a ter
ceiros ou arrecadada do público;
ii - recolher contribuições indevidas à previdência social que tenham integrado
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de servi
ços;
n i - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores
já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2° É extinta a pun ib ilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e
efetua o pagam ento das contribuições, im portâncias ou valores e presta as informa-
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