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Copyright, 1997 © Dale Carnegie & Associates, Inc.
Prevenção do suicídio e outros comportamentos autolesivos nas Forças de Segurança
Das
Jorge Costa Santos
Secretaria de Estado da Administração Interna
31 de janeiro de 2017
Sumário
• Suicídio e tentativas de suicídio em Portugal
• Suicídio nas Forças de Segurança:
• O que se sabe
• O que mudou desde 2006
• O que fizemos
• O que encontrámos
• O que propusemos
Suicídio e tentativas de suicídio (TS) • O suicídio é um fenómeno complexo, plurifacetado e multideterminado
• É um importante problema de saúde pública (suicidam-se todos os
anos cerca de um milhão de pessoas em todo o mundo, estimando-se
que as lesões autoinfligidas representem, em 2020, a 10ª causa de
morte e a 14ª causa de perda de anos de vida saudável)
• Estas estimativas não traduzem, todavia, a realidade, pois é
conhecida a subnotificação do suicídio (muito elevada em Portugal)
• As condutas suicidas têm um importante impacto emocional nos
familiares, amigos e colegas de trabalho das vítimas (sobreviventes)
Fontes: PNPS, DGS, 2013, e Estatísticas da Saúde, INE
Suicídios e tentativas de suicídio (TS)
Le suicidé, Édouard Manet (1832-1883)
A taxa de mortalidade por suicídio
passou para 11,8 por 100 mil
habitantes, em 2014 (1223 suicídios),
quando em 2012 e 2013 tinha sido de
10,1, por 100 mil habitantes.
Fonte: DGS, 2016
A prevalência estimada das TS é 10 a
20 vezes superior. Fonte: PNPS, DGS, 2013)
Escassez de informação relativa às circunstâncias
do suicídio e ausência de registos sobre as
circunstâncias, natureza das TS e de lesões/dano
destas resultantes
Suicídio nas FS: o que se sabe
• A variabilidade das fontes e dos resultados publicados torna difícil
avaliar a sua verdadeira dimensão
• Todavia, o suicídio nas FS deve ser considerado como um problema
• A população das FS não espelha a população em geral no que se
refere ao género, idade e atividade profissional, o que enviesa a sua
comparação
• O consumo de álcool associado a depressão e stresse crónico
representa a tríade mais comum nos suicídios consumados nas FS
• A “cultura policial”, a exposição à violência e o uso de armas são
fatores relevantes
• Os elementos das FS têm maior dificuldade em admitir problemas
psicológicos e desenvolvem competências para mascarar os sinais e
sintomas de perturbação (o estigma da doença mental)
Prevenção do suicídio nas FS: o que se fez
• A Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS) apresentou, em 2006,
um plano de prevenção do suicídio para as FS
• O Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017 (PNPS)
contempla medidas específicas para as FS
• A PSP e a GNR dispõem de planos de prevenção próprios
• Foram celebrados protocolos (2009 e 2016) entre o MAI e o MS,
visando facilitar o acesso dos profissionais das FS aos serviços
médicos e de saúde mental do SNS, nomeadamente através de um
sistema de referenciação e de encaminhamento mais expedito dos
elementos em risco
O que fizemos
• Avaliação das mudanças operadas desde 2006 (relatório da SPS)
• Avaliação dos dispositivos e dos recursos humanos e logísticos
alocados à área da saúde mental na GNR e na PSP
• Estudo retrospetivo de todos os casos de suicídio de elementos das
FS no ativo, entre 1 de janeiro de 2007 e 31 dezembro de 2015 (89
sujeitos)
• Comparação dos dados obtidos com os de uma amostra anonimizada
de igual número de elementos de ambas as corporações, emparelhada
por sexo, idade, categoria profissional e tempo de serviço
• Supervisão e monitorização de autópsias psicológicas
• Elaboração de um relatório final
Implementação das medidas propostas em 2006
Medidas preventivas GNR PSP
Plano para a prevenção do suicídio Sim Sim
Programa de seleção e reavaliação dos efetivos Sim Sim
Procedimentos de restrição e uso de armas de fogo Sim Sim
Linha telefónica SOS/24 horas (resposta imediata) Sim Sim
Controlo do consumo de álcool e substâncias psicotrópicas Sim Sim
Formação em temas de saúde mental, gestão do stresse e condutas autodestrutivas
Sim Sim
Estudo e investigação sistemáticos dos suicídios consumados - +/-
Porquê a investigação retrospetiva?
Porque permite:
• A investigação de uma série contínua de suicidas numa
área, região ou população bem definidas
• A obtenção de elementos de informação não acessíveis
por outros métodos
• O esclarecimento de mortes equívocas
• Estatísticas mais fiáveis
• Um melhor conhecimento do fenómeno
• A eventual (re)definição de estratégias de prevenção
Investigação retrospetiva e autópsia psicológica: objetivos
Responder às seguintes questões:
• Qual o tipo de morte mais provável?
• Porque é que o indivíduo cometeu o suicídio?
• Como morreu o indivíduo, e porquê naquele momento?
• Necessitam os familiares e outros próximos do falecido de medidas de apoio, e, em caso afirmativo, quais?
Estudo dos suicídios nas FS Investigação retrospetiva dos antecedentes pessoais e profissionais dos 89 elementos (51 da GNR e 38 da PSP) que se suicidaram entre 1 de janeiro de 2007 e 31 de dezembro de 2015, com recurso às seguintes fontes:
• Ficha biográfica completa dos militares da GNR e agentes da PSP
• Dossiês médicos
• Dossiês psicológicos
• Entrevistas com técnicos (psicólogos, médicos e assistentes sociais)
• Entrevistas com militares da GNR e agentes da PSP
• Entrevistas com familiares de falecidos
• Cartas ou notas de despedida de falecidos (raras)
• Notícias publicadas em jornais
• Outras
Resultados: Distribuição por anos (2007-2015)
5
11
9
5
4
3
6
1
7
2
4
5
3
7
0
3
6
8
0
2
4
6
8
10
12
1 2 3 4 5 6 7 8 9
GNR
PSP
2007 2008 2010 2009 2011 2012 2013 2014 2015
Taxas entre
6.7 por 100.000, em 2012, e 33.4 por 100.000,
em 2008 e 2015
Perfil dos que consumaram o suicídio
• Homem
• 31-35 e 46-50 anos (média: 38 anos)
• Guarda, com funções operacionais
• 9º ano de escolaridade
• 11-15 anos de serviço (média: 16 anos)
• Casado, com filhos
• Vivendo com a família
• Consulta médica no ano anterior
• Sem antecedentes psiquiátricos conhecidos
• Sem hábitos alcoólicos conhecidos
• Com problemas pessoais e/ou familiares
• Suicídio na residência
• Arma de fogo (pessoal ou de serviço)
• Homem
• 41-50 anos (média: 43 anos)
• Agente Principal, com funções operacionais
• 12º ano de escolaridade
• 11-25 anos de serviço (média: 18 anos)
• Casado, com filhos
• Vivendo com a família
• Consulta médica no ano anterior
• Com antecedentes psiquiátricos conhecidos
• Sem hábitos alcoólicos conhecidos
• Com problemas pessoais e/ou familiares
• Suicídio na residência
• Arma de fogo (serviço)
O que distingue os que se mataram
• Mais divorciados
• Maior número de processos legais (disciplinares e judiciais)
• Maior número de dívidas e penhoras (judiciais ou fiscais)
• Maior absentismo por doença
• Maior frequência de perturbações mentais conhecidas
• Maior frequência de consultas de psicologia/psiquiatria
Antecedentes pessoais e profissionais:
Prevenção do suicídio: o que fazer
• Selecionar criteriosamente e reavaliar periodicamente
• Sensibilizar os sujeitos desde a incorporação para os problemas de saúde mental
• Alertar para os sinais e sintomas de sofrimento psicológico
• Combater o estigma (informar e divulgar)
• Assegurar uma resposta imediata aos pedidos de ajuda (triar, encaminhar, acompanhar)
• Intervir nos incidentes críticos (violência e outros)
• Aumentar o controlo aleatório de álcool e substâncias psicotrópicas
• Reforçar a articulação entre serviços médicos, psicológicos e psiquiátricos, e de apoio social
O que propusemos
• Reforço dos recursos técnicos próprios, visando ampliar o apoio psicológico
e psiquiátrico de proximidade (a especificidade das funções dos elementos
das FS justifica um apoio diferenciado e a melhoria de condições dos técnicos)
• Divulgação dos resultados dos rastreios periódicos e aleatórios do consumo
de álcool e de substâncias psicotrópicas aos serviços médicos e de saúde
mental
• Revisão das medidas cautelares de desarmamento
• Criação de uma equipa multidisciplinar que monitorize os casos de
absentismo prolongado
• Reavaliação dos efetivos após dez anos de serviço (burnout)
• Treino de pares para reconhecer, apoiar e sinalizar os sujeitos em sofrimento
• Estudo retrospetivo sistemático dos casos de suicídio (equipas treinadas)
• Incentivo à investigação científica das condutas autodestrutivas nas FS
Prevenção do suicídio: a realidade inquietante
• É possível e importante prevenir o suicídio
• Não é possível evitar todos os suicídios
OBRIGADO. [email protected]
As estratégias preventivas implicam interações e sinergias multissetoriais, multiculturais e multiprofissionais… (PNPS, p. 5)