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Emergência AGOSTO / 2012 36 ARTIGO ARQUIVO ESDEC Prevenindo desastres Estado do Rio de Janeiro desenvolve o seu Mapa de Ameaças Naturais, cumprindo metas estabelecidas no Marco de Ação de Hyogo MAH (Marco de Ação de Hyo- go) é o instrumento mais im- portante para a implementação O da redução de riscos de desastres que 168 Estados Membros da ONU, inclu- indo o Brasil, adotaram em 2005. Seu objetivo geral é aumentar a resiliência das nações e comunidades frente aos de- sastres ao alcançar, para o ano de 2015, uma redução considerável das perdas que ocasionaram os desastres, tanto em termos de vidas humanas quanto aos bens sociais, econômicos e ambientais das comunidades e dos países. O MAH oferece cinco áreas prioritá- rias para a tomada de decisões, em iguais desafios e meios práticos para aumen- tar a resiliência das comunidades vulne- ráveis aos desastres, no contexto do de- senvolvimento sustentável. Entre estas prioridades, destaca-se nes- te estudo a segunda: co- nhecer o risco e tomar me- didas. Com o propósito de reduzir suas vulnerabilidades frente às ameaças na- turais, os países e comunidades devem conhecer o risco que estão enfrentando e tomar medidas com base neste conhe- cimento. Esta compreensão do risco precisa de investimentos nas capacida- des científicas, técnicas e institucionais para observar, registrar, investigar, ana- lisar, prever, modelar e elaborar mapas de ameaças naturais. O estudo da variável ‘ameaça’ tem por objetivo identificar e caracterizar os acontecimentos e eventos adversos que podem ocorrer numa região ou cenário determinado, permitindo-se, com o es- tudo do grau de vulnerabilidade dos cor- pos e sistemas receptores, a avaliação, a hierarquização dos riscos de desastres e a definição das áreas de maior risco. O estudo das ameaças de desastres está in- serido no contexto da Avaliação de Ris- cos de Desastres, que, por sua vez, é um dos eixos principais do aspecto global de Prevenção de Desastres. Portanto, o objetivo deste trabalho é apresentar o Mapa de Ameaças Natu- rais do Estado do Rio de Janeiro e disse- minar informação estatística e epide- miológica visando à redução dos riscos de desastres. METODOLOGIA A Secretaria de Estado de Defesa Ci- vil do Rio de Janeiro (SEDEC-RJ), por meio da ESDEC (Escola de Defesa Ci- vil), com o apoio das REDEC (Regio- nais de Defesa Civil), ambas vinculadas ao DGDEC (Departamento Geral de Defesa Civil), realizou, no primeiro se- mestre de 2012, o I Workshop Estadual sobre o Marco de Hyogo. O workshop se caracterizou pela rea- lização de 13 encontros regionais, con- templando todo o Estado do Rio de Ja- neiro. Em março, aconteceu o encontro da REDEC Metropolitana, em Niterói, que envolveu Niterói, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí, Tanguá e Rio Bonito. Também em março, a REDEC Sul se reuniu em Barra Mansa, abrangendo os municípios de Barra Mansa, Itatiaia, Re- sende, Porto Real, Quatis, Volta Redon- da, Pinheiral e Rio Claro. Ainda neste mês, a REDEC Sul voltou a se encon- trar, em Vassouras, reunindo os muni- cípios de Piraí, Barra do Piraí, Engenhei- ro Paulo de Frontin, Mendes, Vassouras, Valença, Paty do Alferes, Rio das Flores e Miguel Pereira. A REDEC Costa Verde também se reuniu em março, em Angra dos Reis, envolvendo Itaguaí, Mangaratiba, Angra Paulo Renato Martins Vaz – Tenen- te-coronel BM e diretor da Escola de Defesa Civil do Estado do Rio de Ja- neiro [email protected] Este artigo foi apresentado no IX Fórum Nacional de Defesa Civil, ocorrido em Angra dos Reis/RJ, de 4 a 6 de junho, na categoria Trabalhos Científicos, com o título original: Mapa de Ameaças Naturais do Estado do Rio de Janeiro. Secretário de Estado de Defesa Civil e comandante geral do CBMERJ, coronel Sérgio Simões, assiste à exposição do Mapa de Ameaças Naturais do Estado do Rio de Janeiro no IX Fórum Nacional de Defesa Civil

Prevenindo desastres

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Emergência AGOSTO / 201236

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Prevenindo desastres◗Estado do Rio de Janeiro desenvolve o seu Mapa de AmeaçasNaturais, cumprindo metas estabelecidas no Marco de Ação de Hyogo

MAH (Marco de Ação de Hyo-go) é o instrumento mais im-portante para a implementaçãoO

da redução de riscos de desastres que168 Estados Membros da ONU, inclu-indo o Brasil, adotaram em 2005. Seuobjetivo geral é aumentar a resiliênciadas nações e comunidades frente aos de-sastres ao alcançar, para o ano de 2015,uma redução considerável das perdasque ocasionaram os desastres, tanto emtermos de vidas humanas quanto aosbens sociais, econômicos e ambientaisdas comunidades e dos países.

O MAH oferece cinco áreas prioritá-rias para a tomada de decisões, em iguaisdesafios e meios práticos para aumen-tar a resiliência das comunidades vulne-ráveis aos desastres, no contexto do de-senvolvimento sustentável. Entre estas

prioridades, destaca-se nes-te estudo a segunda: co-nhecer o risco e tomar me-

didas. Com o propósito de reduzir suasvulnerabilidades frente às ameaças na-turais, os países e comunidades devemconhecer o risco que estão enfrentandoe tomar medidas com base neste conhe-cimento. Esta compreensão do riscoprecisa de investimentos nas capacida-des científicas, técnicas e institucionaispara observar, registrar, investigar, ana-lisar, prever, modelar e elaborar mapasde ameaças naturais.

O estudo da variável ‘ameaça’ tem porobjetivo identificar e caracterizar osacontecimentos e eventos adversos quepodem ocorrer numa região ou cenáriodeterminado, permitindo-se, com o es-tudo do grau de vulnerabilidade dos cor-pos e sistemas receptores, a avaliação, ahierarquização dos riscos de desastres ea definição das áreas de maior risco. Oestudo das ameaças de desastres está in-serido no contexto da Avaliação de Ris-cos de Desastres, que, por sua vez, é umdos eixos principais do aspecto globalde Prevenção de Desastres.

Portanto, o objetivo deste trabalho éapresentar o Mapa de Ameaças Natu-rais do Estado do Rio de Janeiro e disse-minar informação estatística e epide-miológica visando à redução dos riscosde desastres.

METODOLOGIAA Secretaria de Estado de Defesa Ci-

vil do Rio de Janeiro (SEDEC-RJ), pormeio da ESDEC (Escola de Defesa Ci-vil), com o apoio das REDEC (Regio-nais de Defesa Civil), ambas vinculadasao DGDEC (Departamento Geral deDefesa Civil), realizou, no primeiro se-mestre de 2012, o I Workshop Estadualsobre o Marco de Hyogo.

O workshop se caracterizou pela rea-lização de 13 encontros regionais, con-templando todo o Estado do Rio de Ja-neiro. Em março, aconteceu o encontroda REDEC Metropolitana, em Niterói,que envolveu Niterói, São Gonçalo,Maricá, Itaboraí, Tanguá e Rio Bonito.Também em março, a REDEC Sul sereuniu em Barra Mansa, abrangendo osmunicípios de Barra Mansa, Itatiaia, Re-sende, Porto Real, Quatis, Volta Redon-da, Pinheiral e Rio Claro. Ainda nestemês, a REDEC Sul voltou a se encon-trar, em Vassouras, reunindo os muni-cípios de Piraí, Barra do Piraí, Engenhei-ro Paulo de Frontin, Mendes, Vassouras,Valença, Paty do Alferes, Rio das Florese Miguel Pereira.

A REDEC Costa Verde também sereuniu em março, em Angra dos Reis,envolvendo Itaguaí, Mangaratiba, Angra

Paulo Renato Martins Vaz – Tenen-te-coronel BM e diretor da Escola deDefesa Civil do Estado do Rio de [email protected]

Este artigo foi apresentado no IX Fórum Nacional de Defesa Civil,ocorrido em Angra dos Reis/RJ, de 4 a 6 de junho, na categoriaTrabalhos Científicos, com o título original: Mapa de AmeaçasNaturais do Estado do Rio de Janeiro.

Secretário de Estado de Defesa Civil e comandante geral do CBMERJ,coronel Sérgio Simões, assiste à exposição do Mapa de Ameaças Naturaisdo Estado do Rio de Janeiro no IX Fórum Nacional de Defesa Civil

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Emergência 37AGOSTO / 2012

dos Reis e Parati. Por fim, a REDECBaixada Fluminense se reuniu ainda emmarço, em Duque de Caxias, trazendoos municípios de Nova Iguaçu, Duquede Caxias, Belford Roxo, Mesquita, Ni-lópolis, São João de Meriti, Magé e Gua-pimirim.

Em abril, a REDEC Baixada Flumi-nense voltou a se encontrar, em Quei-mados, reunindo os municípios de Para-cambi, Japeri, Seropédica e Queimados.Também em abril, foi a vez da REDEC

Serrana se reunir em Teresópolis, reu-nindo Teresópolis, Petrópolis, Paraíbado Sul, Areal, Três Rios, ComendadorLevi Gasparian, São José do Vale do RioPreto, Sapucaia, Sumidouro e Carmo. AREDEC Serrana contou com um segun-do encontro, em Nova Friburgo, movi-mentando Nova Friburgo, Cachoeirasde Macacu, Bom Jardim, Duas Barras,Cordeiro, Trajano de Morais, Macuco,Cantagalo, São Sebastião do Alto e San-ta Maria Madalena.

Em maio, a REDEC Litorânea se reu-niu em Cabo Frio, com os municípiosde Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Ar-raial do Cabo, Armação dos Búzios,Iguaba, Silva Jardim, Araruama e Saqua-rema. A REDEC Litorânea contou comum segundo encontro, em Macaé, envol-vendo Macaé, Rio das Ostras, Quissamã,Carapebus, Conceição de Macabu e Ca-simiro de Abreu.

Já a REDEC Norte/Noroeste tam-bém se encontrou em maio, em Cam-pos dos Goytacazes, envolvendo os mu-nicípios de Campos dos Goytacazes, SãoJoão da Barra, Cambuci, São Francisco

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Emergência AGOSTO / 201238

ARTIGO

de Itabapoana, Cardoso Moreira e SãoFidélis. Logo depois, a REDEC Nor-te/Noroeste reuniu, em Itaperuna, osmunicípios de Itaperuna, Bom Jesus doItabapoana, Italva, Varre-sai, Nativida-de, Porciúncula, Laje do Muriaé,Miracema, São José de Ubá, Santo Antô-nio de Pádua, Aperibé e Itaocara.

No final de maio, a REDEC capitalse reuniu na cidade do Rio de Janeiro eem junho foi realizada a modelagem eelaboração do Mapa de Ameaças Natu-rais do Estado do Rio de Janeiro.

Durante as sessões do workshop fo-ram apresentados à plateia, compostapor secretários e coordenadores munici-pais de Defesa Civil, além de outros re-presentantes dos Poderes Executivos eLegislativos municipais, todos com po-der de decisão e convidados previamen-te pelas REDEC por meio de ofício, ostrês objetivos estratégicos e as cinco pri-oridades de ação do MAH.

Na ocasião da explanação sobre a pri-

oridade dois do MAH, o facilitador, te-nente-coronel BM Paulo Renato MartinsVaz, convidou os coordenadores dasREDEC anfitriãs para que apresentas-sem as cinco principais ameaças natu-rais de desastre de cada município dasua área, com o intuito de dar publicida-de a elas e validá-las.

As ameaças naturais foram previa-mente identificadas e hierarquizadaspelas Defesas Civis municipais segun-do critérios de probabilidade estatísticade concretização do evento e de prová-vel magnitude de sua manifestação, con-forme orientação da ESDEC. As RE-DEC correspondentes selecionaram ascinco principais ameaças naturais de de-sastre dos municípios que optaram pornão participar do estudo. Como critériode desempate entre as ameaças que apre-sentaram a mesma prevalência regional,utilizou-se a hierarquização decrescente.

Para a tabulação dos dados foi utiliza-do o programa EPI-Info, de domíniopúblico, versão 3.5.3/2011, criado peloCDC (Centers for Disease Control and Pre-vention), em português, Centro para oControle e Prevenção de Doenças, do

Departamento de Saúde e Serviços dosEstados Unidos.

RESULTADOSO workshop foi oferecido às 92 pre-

feituras do Estado do Rio de Janeiro eobteve um total de 495 participantes,com 80 (87%) municípios presentes.

Após finalizar todas as etapas do IWorkshop Estadual sobre o Marco deAção de Hyogo, foi possível registrar aprevalência das principais ameaças na-turais de desastre do Estado do Rio deJaneiro (ver Gráficos 1 a 9).

Após a inserção e tabulação dos da-dos, elaborou-se o Mapa de AmeaçasNaturais do Estado do Rio de Janeiro,por municípios e por REDEC (ver Fi-gura 1). O mapa completo, com as 460ameaças distribuídas pelos 92 municípi-os fluminenses está no site da RevistaEmergência (Figura 2 – Mapa de Ame-aças Naturais do Estado do Rio de Janei-ro por municípios).

DISCUSSÃOO Estado do Rio de Janeiro ocupa

uma área de 43.696,054 Km², sendopouco maior que a Dinamarca. Apesarde ser, efetivamente, o terceiro menorestado do Brasil, (ficando à frente ape-nas dos estados de Alagoas e Sergipe,respectivamente, em segundo e primei-ro lugar), concentra 8,4% da populaçãodo país, figurando, consequentemente,como o estado com maior densidade de-mográfica (366 hab/Km²). É o terceiroestado mais populoso, com 15.993.583habitantes, população pouco menor quea da Holanda. Tem a maior taxa de urba-nização (96,71%) e o segundo maior PIB.

Deslizamentos (18%), enchentes

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(15,4%), alagamentos (14,6%), enxurra-das (13%) e incêndios florestais (10,2%)são as ameaças naturais mais prevalentesno Estado do RJ, respondendo por71,2% das citações dos municípios.

A ameaça natural mais prevalente noterritório fluminense são os deslizamen-tos, figurando em primeiro lugar nasREDEC Metropolitana, Sul, Costa Ver-de, Baixada Fluminense, Serrana e Capi-tal, em terceiro na Norte/Noroeste e emquarto na Baixada Litorânea.

Faz-se necessário algumas considera-ções para a compreensão da manifesta-ção desta ameaça peculiar, que apesarde apresentar origem natural, possui umainterferência antrópica importante. Nas

últimas décadas, o número de registrosde deslizamentos em várias partes doEstado do Rio de Janeiro, do Brasil e domundo vem aumentando consideravel-mente. Isto se deve, principalmente, aoaumento da população, à ocupação de-sordenada do solo e ao intenso processode urbanização e industrialização.

Outro registro importante é em rela-ção à ameaça incêndios florestais, po-dendo ser concretizada por causa natu-ral, como raios, ou pelo homem, inten-cionalmente ou por negligência, rece-bendo nestes casos outra classificaçãono CODAR (Codificação de Desastres,Ameaças e Riscos). Além de ser a quin-ta ameaça de maior prevalência no esta-

do, figura em segundo lugar na REDECBaixada Litorânea e em quarto lugar nasREDEC Serrana e Metropolitana. Ade-mais dos danos ambientais, há que seconsiderar ainda o latente potencial queos incêndios florestais apresentam decausar danos materiais e humanos e con-sequentes prejuízos socioeconômicos.Assim, esta ameaça demanda que se ado-tem medidas preventivas e mitigadorasespecíficas para a situação de risco.

Prevenir desastres é avaliar seus riscose reduzi-los. Contudo, é imprescindíveltransversalizar a prevenção de desastresnos outros eixos governamentais, taiscomo meio ambiente e recursos natu-rais, desenvolvimento social e econômi-co, saúde, educação, planejamento ter-ritorial e urbano e investimentos públi-cos. Somente assim será possível fazerda prevenção de desastres uma priori-dade.

O Mapa de Ameaças Naturais do Es-tado do Rio de Janeiro fornece subsídi-os primários para que se possa conhecero risco e tomar medidas. Baseados nes-ta pesquisa, os municípios poderão ela-borar seus planos de contingência, de-senvolver os sistemas de alerta/alarmee colocá-los em prática com a realizaçãodos exercícios simulados, aumentandoa resiliência das comunidades e promo-vendo a redução do risco, estabelecidosno MAH da Estratégia Internacional paraa Redução de Desastres da ONU.