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As aventuras do Cavaleiro Andante em uma versao bem brasileira

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4 A P R E S E N TA Ç Ã O

A literatura é sonho. Quem nunca desejou ser um personagem de uma

obra literária? Esse é um dos sonhos que move o escritor e um dos maiores

prazeres que o leitor encontra nessa travessia de sua vida às muitas vidas que

pode experimentar por meio da leitura.

Um dia, Alonso Quijano decidiu deixar de ser só um leitor passivo, e de ficar

sonhando e viajando — com Tirant, Amadís e todos os seus heróis preferidos

— pelas páginas dos enormes e belos volumes de sua biblioteca, e assumiu a

vida de um cavaleiro andante.

Quem de nós, ainda hoje, não sofre de vez em quando a tentação de vestir a

armadura da justiça, desempoeirar a lança da ética, munir-se de coragem e sair

pelo mundo “endireitando os malfeitos”?

Quatrocentos anos de sonho. Aquilo que era a “loucura” do bom Alonso

converteu-se em um sonho de todos nós. São 400 anos de milhares de

leituras, como deve ser. Cada leitura renova o Quixote, o reinventa, o reescreve,

o redescobre, como Jorge Luis Borges já sabia. O Quixote reinventa o

romance, pela multiplicidade de gêneros e registros, com deliciosas mostras

de ditos populares, de contos, de fábulas, de novelas mouriscas, de poemas, de

lendas e muito mais.

A nova e surpreendente leitura que apresentamos é As aventuras de Dom Quixote

em versos de cordel, de autoria do cearense Antônio Klévisson Viana. É curioso

observar como o Quixote “combina” com o cordel. Parece até que o poeta foi

conversar com Sancho Pança, para beber da exuberante fonte popular que

encontramos na obra relida.

Convidamos o leitor a usar sua imaginação e construir uma história na qual

Klévisson Viana é um juglar (jogral) ou trovador que, certo dia, chegava a

uma estalagem de um perdido povoado espanhol, quando presenciou Dom

Quixote sendo armado cavaleiro. Ficou tão impressionado com aquele

homem fascinante que saiu, escondido, seguindo-o e a Sancho Pança em suas

andanças, e foi registrando, em versos e primorosos desenhos, suas aventuras.

Podemos até tentar vê-lo, escondido, entre os brincantes que Dom Quixote

desafia. Nossa ficção termina com o poeta andando pelas praças do mundo

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contando as peripécias de Quixote e Sancho, até que, séculos depois, a obra

chega a nossas mãos.

Como diz o poeta na oitava estrofe, quem ler esse livro perceberá, em seus

versos, que o sonho é imutável e que “Quixote está vivo em nossas vãs

ilusões”. Mas, quando for apreciar as deliciosas ilustrações, outro talento do

Klévisson que o leitor talvez desconheça, cuidado! Dom Quixote e Sancho

Pança podem, a qualquer momento, saltar delas, habitar dali em diante o seu

quarto e a sua vida, e você — nunca mais! — será a mesma pessoa.

Cleudene Aragão

Formada em Letras (Português e Espanhol)

pela Universidade Estadual do Ceará (UECE),

professora de Língua e Literatura Espanhola da UECE,

e doutoranda na Universitat de Barcelona, Espanha.

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7AS A V E N T U R AS D E D O M Q U I XOT E E M V E R SO S D E C O R D E L

Oh, mundo velho, o que fazSeguindo neste compasso?Transportando tanta gente,Sem se queixar de cansaço,Como um pião sem ponteiraGirando, louco, no espaço?...

Eu às vezes também souUm errante viramundo,Mas o bom Deus me iluminaCom o seu saber profundo,Pois, quando escrevo ou desenho,Sonho o melhor para o mundo!

Roguei às musas que outroraIluminaram Cervantes,Que me levassem nos braçosA outros tempos distantesE lá encontrei o últimoDos cavaleiros andantes...

Espanha, belo país,Foi lá que viveu MiguelDe Cervantes, que escreveu,Com nanquim, pena e papel,A história de Dom Quixote – Que eu refiz em cordel.

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8 Pois esta história é repletaDe humor e fantasiaQue uma mente iluminadaConcebeu, um certo dia:É uma sátira aos antigosLivros de Cavalaria.

Essa novela engraçadaMiguel tirou da cachola(Reescrevi em cordel,Nossa popular escola):Este clássico maior daLiteratura Espanhola.

Quem foi este Dom Quixote?Foi um louco, um sonhador?Visionário ou lunático,Em um mundo enganador?Ou foi alguém que buscavaPra vida um real valor?

Quem ler este livro tiraAlgumas boas lições:Quão imutável é o sonhoPara muitas gerações!Dirá: “Quixote está vivoEm nossas vãs ilusões!”.

Pois numa aldeia da ManchaResidia, antigamente,Um fidalgo sonhador,Curioso, inteligenteQue lia dias e noitesDe modo surpreendente.

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9Seu nome: Alonso Quijano.Figura magra e esguia,Com cinquenta e poucos anosGastava o que possuía,Comprando livros e livrosDe heróis da Cavalaria...

Se alguém disto reclamasse,Dizia: “A vida só prestaQuando se faz o que gosta.Como uma porção modesta,Compro livros e o meu luxoÉ um só traje de festa!”.

Dividia sua casa,Seu almoço e sua jantaCom uma velha abusadaQue era sua governanta,Um criado e uma sobrinha(Esta, ainda, quase infanta).

Naquela pequena aldeia(Desfrutando a fidalguia),Fez grande bibliotecaE o povo o reconheciaComo grande especialistaNo tema Cavalaria.

Quando dormia, sonhavaCom dragões e com gigantes,Com princesas encantadas,Com espadas cintilantes:Via-se o mais venturosoDos Cavaleiros Andantes...

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