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1 Primeira Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas para Desarmamento e Segurança Internacional - CDSI DISEC Disarmament and International Security Committee Primeira Comissão inicia os debates sobre o desarmamento e os itens relacionados à segurança internacionais na agenda da sessão 67º da Assembleia. (Outubro de 2012) UN Photo / Eskinder Debebe Tema do comitê: Estratégias de combate ao financiamento e armamento de grupos extremistas na África e no Oriente Médio.

Primeira Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas ... · Apesar de 193 países participarem da ... Os problemas oriundos da disponibilidade de armas ... bom preço no mercado

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Primeira Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas

para Desarmamento e Segurança Internacional - CDSI

DISEC – Disarmament and International Security Committee

Primeira Comissão inicia os debates sobre o desarmamento e os itens relacionados à segurança internacionais na agenda da sessão 67º da Assembleia. (Outubro de 2012) UN Photo / Eskinder Debebe

Tema do comitê:

Estratégias de combate ao financiamento e armamento de grupos extremistas na África e no

Oriente Médio.

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Senhores delegados,

Sejam bem-vindos a simulação da Primeira Comissão das Nações Unidas para Desarmamento e

Segurança Internacional.

É um honra dirigir-me aos participantes desta Comissão tão importante, com desafios que atingem

inequivocamente a vida de milhares de pessoas no Oriente Médio e no continente africano, envoltas em

situações de guerra ou mesmo de ameaça constante por grupos radicais armados.

Sabemos que o comércio de armas é uma terrível realidade e que o seu controle passa por decisões

difíceis, que precisam transpor a dura barreira dos interesses estratégicos e econômicos de muitos

governos e conglomerados empresariais. Sabemos também que o problema com o desenvolvimento

irresponsável de armas e sua transferência para áreas de conflito não é uma questão recente. Remonta a

vários episódios da história humana até o final do século XIX e foi agravado no contexto das guerras

mundiais e da Guerra Fria, entre 1945 e 1991.

No contexto das disputas pós-45, inclusive, a corrida armamentista chegou a ameaçar diretamente a

humanidade, a ponto de ter moldado a opinião pública mundial e parte das relações internacionais por

mais de quarenta anos.

Certa vez, perguntado acerca de uma possível 3º Guerra Mundial, o físico Albert Einstein teria dito:

“Eu não sei com que armas a Terceira Guerra Mundial será disputada, mas a Quarta Guerra Mundial

será travada com paus e pedras”.

Mas o comentário de Einstein traduzia uma ansiedade com uma guerra de proporção nuclear.

Nossos desafios neste comitê serão de outro tipo, mas não de menor valor. Teremos por desafio debater e

pensar em estratégias conjuntas para a redução do fornecimento de armas, em sua grande parte de

pequeno porte, para grupos extremistas na África e no Oriente Médio. Grupos que paradoxalmente atuam

em nome da liberdade, ou de princípios religiosos, supostos ideais revolucionários, fundamentalistas,

separatistas, ou meramente por pretensões de disseminar o terror e minar a capacidade dos Estados em se

afirmarem dentro de um território conturbado.

Todas as delegações aqui presentes têm a ciência de seus compromissos. Muitos são de ordem econômica

e política; outros remontam a questões históricas. Contudo, acima de nossas particularidades estão

populações civis reféns destes grupos extremistas, bem como de determinados indivíduos e governos que

os financiam.

Esperamos que todos possam aproveitar da melhor maneira possível às sessões de debate. Venham

preparados para construírem um excelente comitê.

Bom trabalho a todos.

Atenciosamente,

Délcio Garcia Gomes. Professor Conselheiro da VII SIMUNA.

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SUMÁRIO

1. HISTÓRICO DO COMITÊ ................................................................................. 04

1.1 Delegações presentes

2. SITUAÇÃO-PROBLEMA ................................................................................... 06

2.1 Oriente Médio e África

2.2 Os grupos armados

2.3 Convenções e tratados

3. RECOMENDAÇÕES AOS DELEGADOS ........................................................ 16

4. GLOSSÁRIO ..................................................................................................... 17

5 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 19

6. ANEXOS ........................................................................................................... 20

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1. Histórico do Comitê

“A Assembleia Geral poderá considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais, inclusive os princípios que disponham sobre desarmamento e a regulamentação dos armamentos, e poderá fazer recomendações relativas a tais princípios aos Membros ou ao Conselho de Segurança, ou a este a àqueles conjuntamente”.

ARTIGO 11. Carta das Nações Unidas. Capítulo IV: Assembleia Geral.

“Enquanto o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembleia Geral não fará nenhuma recomendação a respeito desta controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança a solicite”.

ARTIGO 12. Carta das Nações Unidas. Capítulo IV: Assembleia Geral.

Tendo em vista as condições geopolíticas nas quais a Organização das Nações Unidas foi

criada, após a Segunda Guerra Mundial, os temas relacionados à manutenção da paz e a

segurança internacional sempre fizeram parte dos princípios e da agenda desta instituição.

Durante a Guerra Fria, por exemplo, o foco das preocupações estava na corrida

armamentista, especialmente o constante aprimoramento das armas nucleares, usadas uma

única vez em guerra durante os ataques estadunidenses às cidades japonesas de Hiroshima e

Nagasaki, em agosto de 1945. Não obstante, os testes nucleares aumentaram

substancialmente nos anos 50 e havia um perigo real de conflito direto entre a União Soviética

e os Estados Unidos, situação que poderia, uma vez utilizando-se em larga escala os novos

armamentos desenvolvidos, levar a destruição do planeta.

Sendo assim, desde cedo a ONU preocupou-se em criar comissões voltadas para a

segurança internacional e a contenção de armamentos, tais como, por exemplo, a Comissão

de Energia Atômica criada em 1946 e a Comissão para Armamentos Convencionais, de 1947.

Este processo de amadurecimento nas relações internacionais - acerca do controle armas e da

segurança – aprimorou-se durante os anos 50 e 60, inclusive com a aprovação de tratados

internacionais e acordos bilaterais, culminando no ano de 1978 com a criação, durante uma

sessão especial da Assembleia Geral, da Primeira Comissão para Desarmamento e

Segurança Internacional (CDSI).

Com a sua criação, a CDSI somou-se a um universo de órgãos subsidiários da Assembleia

Geral, cada qual voltado para uma temática específica, entre conselhos, comissões, painéis e

grupos de trabalho. Em sua totalidade, estes órgãos possuem caráter recomendatório, de

pesquisa, apreciação de determinadas questões e discussão, sem poder efetivo de “fazer-

cumprir”, prerrogativa que cabe ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Assim, caberá aos senhores delegados presentes neste comitê debater, em caráter

recomendatório, possíveis soluções para a contenção do fornecimento de armas para conflitos

armados, promovendo a cooperação, o estudo e pesquisas acerca da temática. A CDSI poderá

tratar de temas nacionais ou internacionais que ameacem a segurança internacional, sendo

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constituída por todos os Estados membros das Nações Unidas1, e as resoluções propostas

na Comissão precisam de maioria simples para aprovação.

É importante destacar que a Comissão de Desarmamento e Segurança trabalha em

consonância com a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança, propondo ou apreciando

temas sugeridos. Entretanto, conforme definido pelo artigo 12 da Carta das Nações Unidas (ver

introdução deste tópico), a CDSI não poderá incorporar em sua agenda questões que estejam

sendo debatidas ao mesmo tempo no CSNU, a não ser que o mesmo faça formalmente a

solicitação.

1.1 Delegações presentes na VII SIMUNA

Apesar de 193 países participarem da

CDSI, o comitê que será modelado

dentro da VII edição da SIMUNA

contará com a presença de apenas 22

delegações, além das três

organizações do terceiro setor. Elas

foram dispostas abaixo:

África do Sul Alemanha Arábia Saudita Brasil China Colômbia

Egito Equador Estados Unidos Etiópia Federação Russa

França Iêmen Índia Irã Israel Líbano

Nigéria Noruega Paquistão Qatar Venezuela.

Terceiro Setor: GLOBAL SECURITY INSTITUTE (GSI) INSTITUTO SOU DA PAZ (Brasil) e a

IANSA (International Action Network on Small Arms)on Small Arms

A seleção destas delegações e das organizações não governamentais teve como objetivo

disponibilizar um grupo de atores que fosse pertinente à temática do comitê e ao mesmo tempo

diverso, a ponto possibilitar excelentes debates. Era necessário também criar um grupo de

delegações que fosse capaz de representar, ainda que em uma quantidade menor, o universo

de interesses e particularidades presentes nos encontros anuais da Comissão de

Desarmamento.

1 Atualmente a Organização das Nações Unidas é composta oficialmente por 193 países, numero que sofreu sua

última alteração com a incorporação em 2011 do Sudão do Sul.

Na foto ao acima, vemos a sala do Conselho de Direitos Humanos, durante a VI edição da SIMUNA, em 2013. Foto: Délcio G. Gomes.

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2. Situação-Problema

O que é preciso ser feito para se combater o armamento contínuo e até progressivo de grupos extremistas pelo mundo, especialmente em áreas de conflito na África e no Oriente Médio?

A questão acima, que figura entre os principais desafios da atualidade, precisará ser o ponto-

chave das deliberações dentro deste comitê, o que, de antemão, coloca nossos delegados em

uma situação delicada. Cada país precisará então se perguntar: até que ponto meus interesses

internos estão implicados no financiamento e transferência destas armas? Grupos extremistas

atuam no território do Estado que represento? Quais os interesses estão em jogo?

As perguntas acima traduzem um pouco da complexidade de um problema que foi

potencializado durante a segunda metade do século XX e após a queda da União Soviética,

com o fim da Guerra Fria. Isto se deve não somente pela expansão de grupos armados

extremistas, durante as décadas de 1990 e 2000, mas também pela ampliação considerável no

comércio de material bélico, com destaque para as small arms (veja o Glossário).

Segundo o estudo do Small Arms Survey, um projeto de pesquisa independente do Instituto

de Pós-Graduação de Estudos Internacionais e Desenvolvimento (Genebra, Suíça), quando se

trata de armas de pequeno porte, apesar de o risco maior a segurança encontrar-se nas

atividades ilegais, a maior parte do comércio ocorre de forma legalizada, por meio dos

governos, intermediários legalizados, firmas privadas de segurança ou mesmo por

cidadãos. Por exemplo, as transferências internacionais autorizadas corresponderam em 2011

a aproximadamente 8,5 bilhões de dólares. Em muitos casos estes armamentos são

comprados como forma de substituir antigos arsenais, os quais vão parar em mãos de

interceptadores e autoridades corruptas na política, nos governos e Forças Armadas.

E os problemas não param por aí. Consideremos, por exemplo, um comércio bem específico

que envolve a recompra de material bélico de situações pós-conflito. Para ser mais exato,

armamentos que deixaram de se utilizados em larga escala devido a acordos de paz e a

finalização de determinado conflito armado. Casos como estes ocorreram no século XX com

certa frequência, e ainda ocorrem, como verificamos recentemente no encerramento das

inúmeras guerras envolvendo a ex-Iugoslávia (Anos 90) ou mesmo com o fim de algumas

guerras civis africanas, como a de Angola, que durou 27 anos, entre 1975-2002.

Nestes casos o perigo de transferência indevida das armas tende a ser enorme, fugindo

facilmente do controle da comunidade internacional. No livro “Atlas dos Conflitos Mundiais”,

Dan Smith e Ane Braein comentam que:

“Em 1997, o caos na Albânia liderou milhares de armas das forças armadas do país, muitas das

quais usadas por combatentes nas proximidades de Kosovo. A queda da URSS em 1991 liberou

grande quantidade de armamento de todos os portes na zona que se estende da costa ocidental

do mar Negro até a Ásia Central.

Os problemas oriundos da disponibilidade de armas de pequeno porte são em geral piores logo

após a guerra do que durante o período em que ela acontece. A paz significa um extenso

repentino de armamento fora de uso. Espingarda são frequentemente vendidas a baixo preço –

uma Kalashnikov em boas condições deve alcançar cerca de US$ 20 a US$ 25 à vista, ou o

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equivalente em comida – e então revendidas, mesmo em outra zona de guerra, ou para

criminosos. Armamentos de Moçambique, onde a paz foi celebrada em 1992, foram utilizadas no

submundo da África do Sul e em guerras da África central.

Programas de recompra de espingardas dos combatentes são com frequência contraproducentes.

A corrupção é predominante entre aqueles que procuram recomprar armamento; e quase sempre

o revendem por metade do preço somente para “fazer dinheiro”. Além disto, o fato de atingir um

bom preço no mercado atrai armamento de países vizinhos, o que dificulta saber exatamente

quem está sendo desarmado pelo programa de recompra.

Enquanto as armas de pequeno porte continuarem a ser manufaturadas em tão grande escala e os

principais países fabricantes exercerem um controle negligente, o problema persistirá." Fonte:

Dan Smith2

Será importante também que os estudantes-delegados da Comissão para Desarmamento e

Segurança Internacional reflitam acerca destas questões.

De uma forma geral, o comércio de armas cresceu consideravelmente no período de 2007 e

2011, em torno de 24%, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de

Estocolmo (SIPRI). Os dados, contudo, podem variar dependendo do relatório consultado ou

mesmo do intervalo de tempo delimitado, até porque nem todos os Estados disponibilizam seus

dados para análise, ou ainda, possuem o mesmo grau de confiabilidade nas informações. Este

é um problema que existe quando tratamos do comércio de armamentos.

No entanto, quando consideramos os armamentos de uma forma geral, parece haver um

consenso quando o assunto são os maiores produtores/exportadores: “Os EUA seguem como

o maior fornecedor global nos últimos cinco anos, com 30% das exportações, seguidos por

Rússia (26%), Alemanha (7%), França (6%) e China (5%)”3 (veja o anexo 6.1, com a reportagem

completa da Carta Capital). Vale a pena destacar a ascensão da China como produtora de armas,

ocupando a 5º colocação.

Por outro lado, os maiores

consumidores de armas convencionais

encontram-se no continente asiático, a

ponto de muitos analistas

considerarem que acontece na Ásia

neste momento uma espécie de

corrida armamentista entre suas

principais potências regionais. De

forma mais clara, os cinco principais

importadores são: Índia (12%), China

(6%), Paquistão (5%), Coreia do Sul

(5%) e Cingapura (4%), considerando

o período de 2007 a 2012.

2 SMITH, Dan; BRAEING, Ane. Atlas dos Conflitos Mundiais. SP: Companhia Editora Nacional, 2007, p.30.

3 Segunda a reportagem da Carta Capital. Veja o anexo 6.1

Caça Su-30MKI, produzido pela Índia sob licença da Rússia,

proprietária da tecnologia. Foto Dr. Jaus.

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Poder-se-ia argumentar que a posse de tais armamentos, por si só, não corresponde a um

comércio ilegal ou mesmo a provável situação de guerra. Entretanto, as armas convencionais

são grandes “vilãs” quando o assunto é a expansão da violência em situação de paz ou mesmo

o prolongamento dos conflitos armados, como vemos, por exemplo, no caso mais recente da

Síria, no Oriente Médio.

Não podemos desconsiderar também as intrínsecas relações existentes entre o

desenvolvimento social, a segurança e o desarmamento. Os três precisam ser apreciados

e debatidos de forma conjunta dentro de um fórum como a CDSI. Afinal, tanto a redução de

armas pode contribuir para uma melhor preservação da paz e das condições de segurança

internas em um país, como também a falta de oportunidades econômicas, a exclusão de

populações inteiras do sistema político e dos benefícios sociais, pode desencadear uma escala

de violência e outros tantos problemas relacionados a segurança, os quais certamente se

desdobrarão no comércio ilegal e no uso intensivo de armamentos, especialmente os de

pequeno porte. Não se trata de criticar as armas de forma isolada, mas sim de pensa-las como

partes integrantes de um contexto social específico, como é o caso das frágeis instituições

democráticas do Oriente Médio e da África.

2.1 Oriente Médio e África.

A ocupação de mais de metade do território do Mali por combatentes islâmicos, a violência crescente do

Boko Haram no norte da Nigéria e anos de violência por motivos religiosos na Somália vieram chamar de

novo a atenção para o fenómeno do extremismo islâmico em África. Entretanto, multiplicaram-se no Sahel

e no Cifre de África os confrontos violentos entre grupos rebeldes e forças governamentais, as

organizações extremistas desenvolveram a sua capacidade bélica, aumentaram os ataques terroristas

contra civis, incluindo atentados suicidas, foram impostos pelos extremistas às populações os seus

rígidos códigos morais — com práticas da lapidação e amputação —, locais históricos sagrados foram

destruídos e centenas de milhares de civis deslocados. A capacidade mostrada pelos extremistas de

conquistar e dominar por longos períodos vastas extensões de território tem adiado e posto em causa a

construção do Estado na Somália. No Mali, separou o norte do sul e exacerbou o impasse político em

Bamako. Existe igualmente o risco de a prolongada instabilidade em regiões do Sahara-Sahel contaminar

toda a região. A perspectiva de uma propagação do extremismo islâmico e de uma escalada de violência

noutras partes do continente também constitui motivo de alarme.

A Militância Islâmica na África. Terje Ostebo4.

As preocupações envolvendo grupos armados radicais e a transferência de armamentos não é

um problema recente no continente africano e no Oriente Médio. Em muitos casos, remonta ao

período entreguerras ou mesmo aos movimentos de libertação nacional, bem como aos

conflitos ideológicos entre capitalismo e socialismo durante a Guerra Fria (1945-1991). Na

Palestina, por exemplo, grupos como o Jihad Islâmico, o Hezbollah e o Hamas surgiram entre o

final dos anos 70 e a década de 1980 impulsionados pelo crescimento do fundamentalismo

4 A Militância Islâmica na África. Terje Ostebo. In. Resumo de Segurança na África. Nº 23, novembro de 2012.

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religioso, visto por muitos palestinos como uma alternativa para organizações mais tradicionais

como a OLP que assumiam progressivamente feições mais moderadas nas relações com

Israel. Contudo, até mesmo as lideranças da Organização pela Libertação da Palestina e do

Fatah, no início destes movimentos na década de 60, assumiam a luta armada e a prática de

atentados como um recurso que depois se disseminou em outras organizações.

No continente africano não é diferente. Muitas organizações armadas atuantes hoje possuem

direta ou indiretamente relação com algum conflito de ordem militar ou divergência política

estabelecida antes de 1991. Outros são mais recentes, formados nas décadas de 1990 e 2000,

em alguns casos respaldados por organizações maiores e de atuação internacional como a Al

Qaeda, liderada até pouco tempo pelo saudita Osama Bin Laden, ou ainda, os Talibãs do

Afeganistão.

Nos últimos anos, progressivamente o radicalismo religioso ou separatista vêm ganhando

espaço em detrimento de conflitos ideológicos, como aqueles que se desenvolveram na

descolonização motivados pelo nacionalista e o socialismo. Veja o caso de Angola e

Moçambique, por exemplo, onde as organizações socialistas MPLA (Movimento Popular de

Libertação Nacional) e FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) questionaram

militarmente o domínio colonial português até 1975, quando conseguiram tomar o poder,

resultando em longas guerras civis com outros grupos armados, ideologicamente rivais.

Atualmente a situação é diferente. A luta política está mais fragmentada, o projeto

revolucionário perdeu força para as orientações religiosas, questões étnicas e interesses

econômicos. Não que tais elementos não existissem antes. Existiam. Contudo, não podemos

negligenciar que ganharam força nos últimos vinte anos.

Mas seria incorreto tentarmos compreender as motivações destas organizações apenas sob

o viés estadunidense do terrorismo. Para o governo dos Estados Unidos e seus aliados, as

organizações radicais árabes e africanas se limitam a disseminar o medo e atacar populações

civis inocentes, como aconteceu nos famosos atentados de 11 de Setembro de 2001. No

entanto, seria prudente analisar o problema de uma forma um pouco mais ampla, considerando

também fatores de ordem social, histórico-religiosa, além das já muito conhecidas disputas

pelo controle de recursos naturais, governos e fronteiras. Há décadas o continente africano

enfrenta pressões por parte de uma crescente população jovem e comunidades étnicas

marginalizadas, frustradas pela falta de serviços governamentais e pelo desemprego.

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Homem olha para as aeronaves militares que cruzam o céu sobre o vilarejo de Kurchi, no Sudão, em agosto de 2011. Foto: Carsten Stormer5.

Apesar das inegáveis melhorias ocorridas nos últimos vinte anos, a África ainda é um palco

de conflitos armados e Estados frágeis que inviabilizam um controle decisivo sobre o

comércio legal e ilegal de armas. Algo semelhante ocorre no Oriente Médio, que ainda é uma

região politicamente delicada, seja no Iraque (palco de grupos armados de resistência mesmo

com a retirada progressiva das tropas americanas), no Líbano (diretamente envolvido na

guerra civil síria e na resistência palestina), no impasse que se estende por mais de 60 anos

entre israelenses e os palestinos, além da guerra civil síria que já matou mais de 100 mil

pessoas desde os primeiros episódios de 2011, com mais de dois milhões de refugiados e seis

milhões de deslocados internos. (Veja o especial sobre a Síria no site da ONUBR)6.

O mapa abaixo, com informações do Programa de Dados de Conflitos de Upsala7, sintetiza

alguns conflitos em 2012:

5 Foto disponível no site da Anistia Internacional. In. https://www.amnesty.org/en/node/31431 Consulta: 20/03/2014.

6 Disponível em: http://www.onu.org.br/siria/ 7 Disponível em: http://uppsalaconflictdataprogram.files.wordpress.com/2013/09/armedconflicts_2012.jpg

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Fonte: http://uppsalaconflictdataprogram.files.wordpress.com/2013/09/armedconflicts_2012.jpg

2.2 Os GRUPOS ARMADOS

Abaixo foram disponibilizados alguns dos principais grupos radicais que atuam no Oriente

Médio e no continente africano. Alguns têm atuação nacional, outros são mais amplos, com

ramificações de nível continental e internacional. Seria interessante pesquisar não apenas as

particularidades de cada um deles, mas também as relações que travam entre si e o modo

como têm acesso a recursos financeiros e armas, temas de relevância neste comitê da CDSI.

AL FATAH ou Movimento Nacional de Libertação da Palestina, fundado no final dos anos 50 por Yasser

Arafat e outros palestinos como uma forma de lutar contra Israel. O Fatah é uma organização política e

militar, que tem como braço armado o Tanzim, criado em 1995 com o objetivo de compensar o

crescimento do poder dos grupos islâmicos palestinos. O Tanzim é uma organização muito popular, cujo

poder se baseia em sua liderança na comunidade. O grupo palestino tem vínculos ainda com as Brigadas

dos Mártires de al-Aqsa, maior das milícias. O atual líder do Fatah é o presidente da Autoridade Nacional

Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.

AL-QAEDA: A Al-Qaeda é uma organização fundamentalista islâmica internacional fundada em 1989 por

Osama Bin Laden, descendente de uma rica família saudita que nos anos 80 participou do movimento

dos mujahedins contra a ocupação soviética do Afeganistão. Até os famosos atentados de 11 de

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setembro de 2001, Bin Laden conseguiu se esquivar das agências de inteligência de todo o mundo. A

estrutura organizacional do grupo, apesar da notoriedade de sua rede integrada, é composta por

elementos desconhecidos. Indubitavelmente, este é o maior representante do terror mundial.

AL-QAEDA NO MAGREB ISLÂMICO (AQMI): a organização AQMI é derivada de um outro grupo atuante

no Magreb anteriormente: o Grupo Salafista para a Pregação e o Combate (GSPC). Manifestando

lealdade à Al-Qaeda desde 2007, possui inúmeras bases no norte do Mali, onde cometeu sequestros e

ataques a ocidentais no Sahel. Um de seus líderes, o argelino Abdelhamid Abou Zeid, foi morto em

combate no norte do Mali.

ANSAR AL ISLAM (Iraque): São conhecidos como uma filial da Al-Qaeda. Fazem uso rotineiro de tortura

e espancamentos ao interrogar prisioneiros, além da decapitação de presos. Em 22 de março de 2003, o

grupo detonou um carro bomba que gerou a morte do jornalista australiano Paul Moran e vários outros.

São liderados pelo ex-militar Abu ‘Abdallah al-Shafii, que já fez vários ataques suicidas a bases

americanas no Iraque. Contabilizam 2.500 mortes.

ANSAR DINE ou Defensores do Islã, trata-se de um grupo liderado por Iyad Ag Ghaly, ex-militar e ex-líder

das rebeliões tuaregues dos anos 1990 no Mali. O Ansar Dine apareceu em 2012 e faz parte dos grupos

ligados à AQMI que ocuparam o norte do Mali: o Movimento para a Unidade e a Jihad na África do Oeste

(MUJAO).

O MUJAO nasceu no final de 2011 de uma cisão com a AQMI e se tornou em 2012 um dos principais

grupos armados do norte do Mali. Ficou conhecido pelos sequestros e reivindicou ataques no Mali e na

Argélia. Em agosto de 2013, o MUJAO e os "Mulethemuns" --grupo liderado por Mokhtar Belmokhtar e

derivado da AQMI-- anunciaram, em um comunicado à agência mauritana ANI, sua fusão em um único

movimento, os Murabituns.

ANSAR AL-SHARIA ou Partidários da Sharia (a lei islâmica) constitui-se como um grupo radical islâmico

ligado a Al-Qaeda com forte atuação na Túnica e ramificações em outras regiões do norte da África.

BOKO HARAM: grupo radical islâmico que surgiu em 2004 e atua na Nigéria, responsável por uma série

de ataques contra o governo nigeriano e instituições das Nações Unidas. Possivelmente ligado a ala da Al

Qaeda no Magreb africano, bem como aos militantes dos talebãs afegãos, o Boko Haram reivindica um

Estado islâmico no norte da Nigéria. b

O EXÉRCITO LIVRE DA SÍRIA (ELS): constituído em agosto de 2011 por militares desertores do regime

de Assad de maioria sunita, com bases na Turquia e regiões dentro da Síria. Estima-se que o ELS

contenha uma força de dez mil soldados que não são bem armados e possuem apenas treinamento

militar básico, e reconhecem que são incapazes de confrontar diretamente o Exército do Governo que

conta aproximadamente com duzentos mil soldados e controlam o território do país. Entretanto, um

grande número de deserções militares – causadas por divisões sectárias do governo Assad – vem

contribuindo para o crescimento do ELS. Em Abril de 2012, o Exército Livre da Síria ganhou apoio

substancial via financiamento de armas ‘não-letais’ e apoios de serviços de inteligência de países

Ocidentais. Especula-se que potências Ocidentais também tenham armado o ELS por meio do mercado

negro. Uma vez armados e munidos, o Exército Livre da Síria vem utilizando táticas de guerrilha e

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atacando pontos políticos e militares estratégicos na Síria com relativo sucesso objetivando levar o regime

a exaustão.

Porém, quando se trata da Síria, a quantidade de grupos armados é muito grande, sejam estes laicos ou

islâmicos. Seria interessante um levantamento mais detalhado acerca do tema.

FDLR ou Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda constitui-se como um grupo armado hutu que

atua no leste da República Democrática do Congo. Luta contra o governo tutsi de Ruanda, mas ao

mesmo tempo resiste em retornar ao país tendo de vista as acusações contra os hutus de práticas de

genocídio. No Congo, a FDLR entra em constante conflito com as forças amadas congolesas e outros

grupos armados locais.

HEZBOLLAH Apoiado pelo Irã e pela Síria, esse grupo terrorista baseada no Líbano emergiu da guerra

civil libanesa de 1982 e é considerado como o maior inimigo de Israel e países árabes sunitas. De acordo

com um relatório da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), esta organização abrange

41% da população libanesa e está envolvida em várias atividades sociais.

HAMAS ou Movimento de Resistência Islâmico, é um grupo extremista palestino fundado em 1987,

durante a primeira Intifada (1987-93). Esta organização foi fundada com o objetivo de libertar a Palestina

e resistir ao processo de ocupação militar israelense. Conhecido por seus militantes suicidas temerários,

esse grupo recebe apoio do Hezbollah em questões contra o governo de Israel.

JIHAD ISLÂMICO: Formada por jovens palestinos no Egito entre 1979 e 1981, o Jihad Islâmico é

apontado como uma das organizações palestinas mais radicais, opondo-se a ocupação de Israel sobre a

Cisjordânia e outros territórios. Os militantes da organização já participaram de vários atentados suicidas

com carros-bomba. Por exemplo, a organização foi responsabilizada pela morte de 18 soldados em um

ponto de ônibus em Beit Lid em 1995 e também por atentados suicidas em Tel Aviv em 1996, matando 20

pessoas.

M23 ou Movimento 23 de Março. Fundado em abril de 2012, atua principalmente na província de Kivu do

Norte, na República Democrática do Congo, lutando contra as Forças Armadas do país. O M23 afirma

luta por melhores condições de vida, mas sofre, em contrapartida, acusações de crimes de guerra,

recrutamento de crianças-soldado, entre outros crimes.

SHEBAB ou Al-Shabab, constitui-se como um grupo radical islâmico da Somália ligado a rede Al-Qaeda.

O grupo, já praticou inúmeros ataques como, por exemplo, os atentados na capital de Uganda em 2006 e

o mais recente, em Nairóbi, no Quênia, em retaliação a participação destes países em tropas

internacionais na Somália, especialmente aquelas da União Africana.

Na Somália, mergulhada no caos e na guerra civil desde a derrubada de Siad Barre, em 1991, os Shebab

- "juventude" em árabe - surgiu a partir de um movimento rebelde contra as tropas etíopes que entraram

na Somália em 2006 com o apoio dos Estados Unidos para derrubar a União das Tribos Islâmicas, que

controlava Mogadíscio. Recentemente foram forçados a abandonar todos os seus redutos na região

central e do sul, depois de serem expulsos de Mogadíscio em 2011 pela Força da União Africana

(Amisom) liderada pelas tropas do governo somali. Mas ainda controlam vastas áreas rurais e

conseguiram recentemente realizar grandes operações suicidas na capital.

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TALIBAN ou Talibã: Derivado da palavra ‘estudantes’, o grupo extremista religioso sunita Talibã surgiu

nas Madraças (escolas religiosas) do Paquistão e atua na fronteira e no território afegão desde o início

dos anos 90. Tornou-se conhecido pelo governo fundamentalista que desenvolveu no Afeganistão entre

1996 e 2001. Atualmente sua maior força ofensiva destaca-se contra a OTAN (Organização do Tratado

do Atlântico Norte) e os governos do Paquistão e Afeganistão.

TEHRIK-I-TALIBAN PAKISTAN ou Movimento dos Talibãs Paquistaneses: Organização terrorista

localizada em áreas tribais ao longo da fronteira com o Afeganistão. O Movimento dos Talibãs

Paquistaneses engloba vários grupos militantes islâmicos. Criado em dezembro de 2007, por Baitullah

Mehsud, um militante paquistanês notório falecido em 23 de Agosto de 2009, a organização tem como

alvo os elementos de Estado paquistanês, entretanto de acordo com várias agências de inteligência, são

várias as cidades dos Estados Unidos também concebidas como alvo.

No mapa abaixo visualizamos alguns grupos radicais islâmicos na África e suas respectivas

áreas de influências. Destacam-se as forças AQMI, o Boko Haram e o grupo somali Al-Shabab.

Fonte: BBC Somali Service/Monitoring 8

2.3 Convenções e Tratados. Por mais que, em muitos aspectos, as ações das Nações Unidas tenham sido limitadas – seja

por resistência dos governos em aplicarem as normas ou mesmo pela impossibilidade no curso

prazo de resolvê-las – a ONU procurou ao longo dos últimos 70 anos tomar algumas iniciativas

no sentido de disciplinar a produção e disseminação de armamentos. No texto abaixo, retirado

da página oficial da ONUBR (ONU no Brasil), vemos um bom exemplo deste esforço:

“Desde o nascimento das Nações Unidas, as metas do desarmamento multilateral e da limitação de

armas foram consideradas centrais para a manutenção da paz e da segurança internacionais. Estas

metas vão desde a redução e eventual eliminação das armas nucleares, destruição de armas químicas e

8 Disponível no site da BBC: http://www.bbc.com/news/world-africa-24587491 Consulta: 20/03/2014.

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do fortalecimento da proibição contra armas biológicas, até a suspensão da proliferação de minas

terrestres e de armas leves e de pequeno calibre. (veja as definições no glossário).

Estes esforços têm o apoio de uma série de instrumentos-chave da ONU. O Tratado de Não-

Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o mais universal de todos os tratados multilaterais sobre

desarmamento, entrou em vigor em 1970. A Convenção sobre Armas Químicas entrou em vigor em

1997, e a Convenção sobre Armas Biológicas, em 1975. O Tratado Abrangente de Proibição de Testes

Nucleares foi adotado em 1996. A Convenção sobre Proibição de Minas entrou em vigor em 1999.

A ONU apoiou tratados regionais de proibição de armas nucleares na Antártida, América Latina e no

Caribe, no Pacífico Sul, Sudeste da Ásia, África e Ásia Central. Outros instrumentos adotados pela ONU

proíbem armas nucleares no espaço sideral e em alto mar.

Em resposta ao crescimento do terrorismo internacional, a Assembleia Geral adotou a resolução 57/83

criada para impedir terroristas de adquirirem armas de destruição em massa. Em 2004, o Conselho de

Segurança adotou a resolução 1540, proibindo o apoio do Estado para tais esforços. A Convenção

Internacional para a Supressão de Atos de Terrorismo Nuclear da Assembleia foi aberta para assinatura

em setembro de 2005 e entrou em vigor em julho de 2007.

A Assembleia Geral e o Conselho de Segurança abordaram as questões do desarmamento

continuamente. A Assembleia também realizou sessões especiais sobre o desarmamento em 1978 e

1988. Alguns órgãos da ONU se dedicam exclusivamente ao desarmamento. Entre eles está a

Conferência sobre o Desarmamento.”

Fonte: A ONU e o Desarmamento9.

Vale a pena os estudantes-delegados presentes neste comitê pesquisarem melhor os tratados

e convenções mencionados acima, além de outros, pois as decisões tomadas ajudaram a

construir um direito internacional acerca da proliferação de armamentos.

Neste processo vale destacar a Conferência sobre o Desarmamento de Genebra, “criada

em 1979 por uma resolução da Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas

(ONU), a Conferência de Genebra é hoje composta por 65 Estados-membros, entre eles os

cinco membros permanentes do Conselho de Segurança que possuem armas nucleares

(China, França, Rússia, Estados Unidos e Reino Unido)”10.

Apesar dos impasses nos últimos dez anos em se alcançar um amplo acordo sobre o

desarmamento, especialmente no que diz respeito as armas nucleares, a Conferência sobre

Desarmamento, enquanto um fórum multilateral para se discutir o tema, já produziu

instrumentos que hoje são referências, como, por exemplo, o Tratado de Não Proliferação

Nuclear (TNP), a Convenção sobre Proibição de Armas Químicas e o Tratado de Proibição

Completa de Testes Nucleares.

Atualmente os desafios giram em torno da contenção da produção de novos arsenais

nucleares – encontrando resistência em nações como o Paquistão, por exemplo – e a

contenção do uso das armas químicas, as quais voltaram a despertar a atenção da opinião

pública internacional com os excessos cometidos no Oriente Médio, na guerra civil síria, tanto

por integrantes do governo como dos grupos rebeldes.

9 Disponível no site da ONU Brasil, em http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-o-desarmamento/

10 Comentário retirado do site da agência de notícias italiana ANSA. http://ansabrasil.com.br/brasil/noticias/

italia/noticias/2014/02/19/Presidente-Conferencia-do-Desarmamento-italiano_7593704.html

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Genebra- Suíça, 21/01/2014.

“Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, durante sua declaração na abertura da Sessão da Conferência sobre o Desarmamento. Em seu discurso, ele exorta os Estados membros a não esperar para o ambiente de segurança perfeito para tomar medidas em matéria de desarmamento, mas para ser a força motriz para um mundo mais seguro e futuro melhor”. Fonte do texto11. Foto: Eskinder Debebe/ UM

3. Recomendações aos delegados

Caros delegados (as),

As sessões da Comissão de Desarmamento e Segurança Internacional se aproximam para

mais uma agenda difícil e ao mesmo tempo instigante. Nosso comitê é bastante diversificado,

haja vista sua finalidade: representar o máximo possível a comunidade internacional, tanto em

suas divergências como nos consensos. E esperamos mais consensos que divergências.

Não resta dúvida da urgência da agenda sobre a qual precisamos refletir. Afinal, várias são as

questões em jogo quando se trata do controle de armas e do financiamento a grupos armados

no Oriente Médio e no continente africano. Não se trata apenas de armamentos, mas também

da segurança de milhares de pessoas dentro de sociedades frágeis e constantemente

interrompidas por guerras civis, golpes militares, intervenções internacionais e atentados

terroristas. Conjuntamente com a segurança, somam-se também as ameaças para a paz

regional e o próprio desenvolvimento econômico e social destas localidades.

Muita coisa está em jogo e seria fácil simplesmente fecharmos os olhos diante do problema.

Mas nós não precisamos seguir o caminho mais fácil. Todos os Estados neste comitê são

indispensáveis, todos possuem o mesmo peso nas votações. Sendo assim, cada delegação,

independente do tamanho do território representado ou de seu poder econômico e militar,

precisará se preparar o máximo possível, possibilitando a fluidez necessária aos debates e a

eficácia das propostas apresentadas.

Recomendamos aos estudantes-delegados os seguintes pontos:

Não fugam do tema central: ações para solucionar/minimizar o problema do financiamento e armamento de grupos extremistas.

Estudem minimamente as demais delegações presentes no comitê, percebendo possíveis

aliados e adversários.

11 Texto e foto disponíveis no site Fotos Públicas. In. http://fotospublicas.com/secretario-geral-da-onu-ban-ki-moon-reune-se-com-representantes-da-uniao-europeia-na-suica/

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Elabore seu DPO (DOCUMENTO DE POSIÇÃO OFICIAL) de forma objetiva, sem extensões

desnecessárias sobre a história do país ou informações geográficas. O fundamental é o

posicionamento de sua delegação quanto ao problema e possíveis propostas de solução.

Conheça o máximo possível sobre o tema.

Pesquise também encontros anteriores sobre desarmamento e segurança internacional.

Quais tratados, conferências e acordos já foram feitos sobre o assunto? Em quais acordos

seu país foi signatário?

O Estado que você representa possui problemas com grupos extremistas? Defende

o livre comércio de armas? Fornece armamento a grupos considerados terroristas? Como

justificar-se diante desta situação? Construa argumentos e proposições.

Pesquise também a situação dos demais países presentes no comitê. Eles possuem

problema semelhante?

Elabore de antemão, junto a seus assessores, PROPOSTAS para o problema. Não deixe

para fazê-lo apenas com o comitê em andamento.

Construa um dossiê ou uma pasta com informações pertinentes aos debates. Procure

sempre antever possíveis posicionamentos das demais delegações. Prepare-se!

Por fim, lembre-se: não é o país que determina o desempenho dos seus delegados, mas

são os delegados que, com sua competência, desenvoltura, interesse e preparo

acadêmico que determinarão o desempenho de cada Estado.

4. Glossário

Armas biológicas. Armamentos construídos com o objetivo de transportar e disseminar

agentes vivos (vírus, bactérias). As mortes não são instantâneas como na utilização de armas

nucleares ou de fogo, mas podem causas grandes impactos sociais.

Armas brancas. São armas mais simples, que não se enquadram na categoria de armas de

fogo ou mesmo contêm projeteis, não efetuando disparo. São elas: facas, facões, katanas,

punhais, espadas, entre outras.

Armas leves (SALW - Small arms and light weapons – Armas leves e de pequeno calibre).

Armamentos portáteis por uma pessoa, tais como, revolveres, espingardas, pistolas,

escopetas, rifles, metralhadoras leves, submetralhadoras, armas manuais, semiautomáticas,

automáticas.

Armas nucleares. Armas construídas com o objetivo de causar impacto por meio da explosão,

destruindo potencialmente a área atingida, além de provocar graves incêndios, mortes

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instantâneas e altos índices de radioatividade. Isto se torna possível graças a fissão nuclear,

capaz de criar uma onda de impacto sonoro de grande intensidade, responsável pela

devastação.

Armas químicas. Armamentos construídos a partir da toxicidade de substâncias químicas,

geralmente feitas a base de ácidos. Podem ou não provocar morte instantânea; dependerá da

substância utilizada.

Calibre. Corresponde ao tamanho do diâmetro do projétil ou da arma.

Direito Humanitário: ao contrário dos Direitos Humanos, que é aplicado em tempos de paz e

pode ter algumas disposições suspensas durante guerras, o direito humanitário é aplicado

durante conflitos armados. Seu surgimento está ligado à criação do Comitê Internacional da

Cruz Vermelha, em 1863, e sua função é proteger pessoas que não participam ou deixaram de

participar do conflito, como a população civil, soldados feridos, rendidos ou presos, e médicos e

enfermeiros. Também é conhecido como “Direito dos Conflitos Armados” ou “Direito da

Guerra”.

Minas Terrestres. Explosivos acionados com o impacto do peso (de pessoas, veículos ou

qualquer outra coisa). Podem ou não conter fragmentos, dividindo-se em minas antitanques e

minas antipessoais, feitas com a intenção de atingir pessoas.

Mísseis. Tipo de armamento que segue uma trajetória previamente determinada e causa

enorme impacto. Existem vários tipos de mísseis, caracterizados conforme a capacidade de

alcance: mísseis de pequeno porte (alcançando aproximadamente 500 km), grande porte

(alcançando até 12.000km).

Mercados “negro” e “cinza”. Os mercados negros são aqueles em que as negociações são

clandestinas, não se adequando às normas nacionais ou internacionais. Já o mercado cinza

refere-se às transações entre governos onde as leis são contornadas por meio de trapaças e

furos legais que fazem com que as negociações tenham legalidade.

Munição. Todo material que carrega armamentos.

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5. Referências:

5.1 Endereços eletrônicos

http://www.un.org/disarmament/HomePage/DisarmamentCommission/UNDiscom.shtml (Site da ONU com as informações referentes ao Primeiro Comitê).

http://www.un-register.org/HeavyWeapons/Index.aspx (Detalhamento da quantidade de armas importadas e exportadas por cada país).

http://disarmament.un.org/treaties/ (Os tratados e acordos em torno do desarmamento).

http://www.smallarmssurvey.org/ (Página do Projeto Small Armas Survey).

http://www.ipsnews.net/2012/03/asia-accounts-for-worlds-five-largest-arms-buyers/ (Artigo da Inter Press Service acerca do comércio de armas nos últimos anos)

http://uppsalaconflictdataprogram.files.wordpress.com/2013/09/armedconflicts_2012.jpg (Site do Programa de Dados de Conflitos de Uppsala - UCDP)

http://www.onu.org.br/siria/ (Especial da Página Oficial da ONU no Brasil sobre a guerra civil síria)

http://www.corteidh.or.cr/tablas/r27125.pdf (Artigo “Principais Instrumentos Internacionais no Campo do Desarmamento e Controle de Armamentos (...)” de Sérgio

Duarte).

5.2 Livros:

SMITH, Dan; BRAEIN, Ane. Atas dos Conflitos Mundiais. SP: Companhia Editora Nacional, 2007.

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6. Anexos

6.1 A GEOPOLÍTICA DAS ARMAS

Pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, a China está entre os cinco maiores exportadores de armas. Um crescimento que revela o início de uma corrida armamentista na Ásia Gabriel Bonis. 17/03/2013. Carta Capital. http://www.cartacapital.com.br/internacional/a-geopolitica-das-armas

Há ao menos três décadas, o rápido crescimento econômico chinês aponta para a futura

retomada de um cenário global com duas potências econômicas e militares: os Estados Unidos

e a China. E um sinal da consolidação deste quadro é a ascensão da China como o quinto

maior exportador de armas convencionais do mundo, segundo relatório do Stockholm

International Peace Research Institute (SIPRI), publicado na noite deste domingo 17, ao qual a

Carta Capital teve acesso com exclusividade no Brasil. Essa é a primeira vez desde o fim da

Guerra Fria que o top 05 não é formado apenas por EUA e outros quatro países europeus.

O estudo ainda mostra que o volume das transferências mundiais das principais armas

convencionais (aviões de combate, tanques, veículos armados, helicópteros, artilharia, mísseis,

entre outros) aumentou 17% entre os períodos de 2003-2007 e 2008-2012. Os EUA seguem

como o maior fornecedor global nos últimos cinco anos, com 30% das exportações, seguidos

por Rússia (26%), Alemanha (7%), França (6%) e China (5%). É a primeira vez que o Reino

Unido não está nesta lista desde 1950.

Entre os dois quinquênios analisados, as exportações de armas convencionais chinesas

subiram 162%, com acordos que têm estabelecido o país como um significativo fornecedor

mundial. A maior parte das vendas foi para a Ásia e Oceania (74%). Somente o Paquistão ficou

com 55% das exportações do país. “A China sempre foi uma grande exportadora de armas

leves, mas não tinha uma indústria militar muito desenvolvida. Mas há mais de uma década

existe um investindo forte para dar suporte a esse crescimento militar ajudado por um

desenvolvimento industrial e tecnológico”, explica Gunther Rudzit, especialista em segurança e

professor da Faculdade Rio Branco, em São Paulo.

Esse avanço militar chinês reflete uma possível corrida armamentícia em países asiáticos e da

Oceania, responsáveis por 47% das importações mundiais no setor nos últimos cinco anos, um

aumento de 35% em relação ao período anterior. Além disso, os cinco maiores importadores

são todos da Ásia: Índia (12%), China (6%), Paquistão (5%), Coreia do Sul (5%) e Cingapura

(4%).

Em grande parte, esses Estados compram armas chinesas para lidar com tensões e conflitos

de fronteiras marítimas com a própria potência asiática.

A busca por sistemas de defesa na região, acredita Paul Holtom, diretor do programa de

transferências de armas do SIPRI, pode ser uma compensação pela defasagem provocada na

crise asiática dos anos 90. Mas também está relacionada à ascensão militar chinesa. “Os

países sempre levam em conta como a China vai agir, o que também influencia fornecedores

como os EUA a comercializar mais equipamentos avançados que no passado.”

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No último quinquênio, diversos países da região encomendaram ou anunciaram planos de

adquirir armas de longo alcance e sistemas de suporte que os tornariam capazes de projetar

poder muito além de suas fronteiras. No ano passado, a Rússia entregou um submarino

nuclear à Índia, e a China inaugurou um porta aviões.

A Índia importou 59% mais armas no período, com compras de aviões de combate da Rússia e

EUA. No sudeste asiático, as importações cresceram 169%, devido a tensões por fronteiras

marítimas, especialmente entre China e Vietnã ou as Filipinas. “O mar ao sul da China é

disputado entre muitos países e essa tentativa de ter vantagem em termos navais prevalece na

lógica regional. Alguns pesquisadores chegam a comparar os atritos do sudeste asiático à

Europa do início do século XX”, Rudzit.

Enquanto isso, a China revelou no ano passado uma série de sistemas de armas domésticos

que diminuíram sua dependência externa, por isso suas importações caíram 47% entre 2008 e

2012. No mesmo período, houve aumento no volume de importação de armas das Américas

(34%) e África (104%) e queda de 20% na Europa (países como Portugal e Espanha estão

vendendo aviões de combate novos por não terem condições de mantê-los) e 7% do Oriente

Médio.

Vendas de armas

Os dados do SIPRI são prévios à decisão dos EUA no ano passado em realocar grande parte

de suas forças militares e marítimas rumo à Ásia, mas podem ser um indicativo da escolha

norte-americana. Antes mesmo da decisão, a indústria de defesa norte-americana era uma das

principais fornecedoras para a região. "Os EUA têm olhado a Índia como um mercado

potencial, um país antes dominado por exportações da Rússia e países europeus", explica

Holtom.

A China, que fornece enorme quantidades de sistemas básicos para países de menor

desenvolvimento, contudo, está entrando em mercados importantes para países europeus e os

EUA. “É interessante notar que, há alguns anos, a Rússia montou um grupo de estudos sobre

a indústria de defesa chinesa para saber se ela competiria com a russa em médio prazo",

lembra Holtom.

“A China está se desenvolvendo em áreas importantes, mas ainda há laços tradicionais muito

fortes neste tipo de comércio. Ninguém deixa de comprar armas de um país facilmente, porque

esse mercado é de relação política intensa e profunda”, completa Rudzit.

Maiores exportadores

Os EUA lideram a lista dos maiores exportadores de armas entre 2008 e 2012, com 30% do

comércio mundial. O país vendeu armas para ao menos 85 países, além da OTAN. A maior

parte destes equipamentos foi comprada por Estados da Ásia e Oceania (45%), Oriente Médio

(27%) e Europa (18%).

Segundo os dados, 62% das entregas foram de aeronaves, incluindo 49 aviões de combate

como o F-35.

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Em retirada do Iraque e do Afeganistão, os EUA venderam 4% de suas exportações para cada

um destes países. Os itens inclusos nas negociações variam de tanques a veículos armados

novos e de segunda mão.

A Rússia vem em segundo lugar na lista, com 26% das exportações no setor. Destas, 46% são

de aeronaves e 20% de mísseis. Ásia e Oceania também são os maiores compradores, 65%

do total. Além disso, o relatório mostra que o país foi responsável por 71% das exportações de

armas convencionais para a Síria nos últimos cinco anos, incluindo o período de guerra civil do

país do Oriente Médio.

Alemanha e França ocupam a terceira e quarta posições, respectivamente. Os dois países

registraram quedas de 8% e 18% no período analisado.

6.2 MAPAS

Dan Smith. Disponível em http://dansmithsblog.com/2014/02/27/the-conflict-horizon-1-untold-good-news/

Mapa com os principais conflitos entre 2010 e 2012.