16
expediente. equipe 2007/1: Ana Celia Alvim, Bruna Gatti, Clerisson Souza, Davi Gentilli, Douglas Lisbôa, Érica Vaz, Gabriela Conti, Kamila Rangel Costa, Laila Magesk, Lunélia Amaral Lima, Lygia Bellotti, Lyvia Justino, Maria Ines Dieuzeide, Maurício Batalha, Mônica Oliveira, Nádia Vaccari, Tatiana Arruda, Tatiany Volker, Thalita Dias, Vanessa Pizzol, Wanderson Mansur. professora orientadora: Eliana Marcolino. diagramação: Ceciana França, Daniella Zanotti, Leticia Orlandi. gráfica: Grafitusa. tiragem: 1000 exemplares. o PrimeiraMão é um jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari s/n°, Goiabeiras,Vitória - ES, Cep: 29060-900. Tel: (27) 4009 2603. email: [email protected]. edição 109 . ano XII . setembro 2007 pr i me i - mão . MAO Jornal Experimental de Comunicação Social primeira No espelho da academia, o relexo de Narciso .4 e 5 Poemas ao vento .8 e 9 Conheça a vida de quem cuida da limpeza da cidade .6 e 7 +

Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

Embed Size (px)

DESCRIPTION

2007. Edição número 109 do jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo.

Citation preview

Page 1: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

expediente. equipe 2007/1: Ana Celia Alvim, Bruna Gatti, Clerisson Souza, Davi Gentilli, Douglas Lisbôa, Érica Vaz, Gabriela Conti, Kamila Rangel Costa, Laila Magesk,

Lunélia Amaral Lima, Lygia Bellotti, Lyvia Justino, Maria Ines Dieuzeide, Maurício Batalha, Mônica Oliveira, Nádia Vaccari, Tatiana Arruda, Tatiany Volker, Thalita

Dias, Vanessa Pizzol, Wanderson Mansur. professora orientadora: Eliana Marcolino. diagramação: Ceciana França, Daniella Zanotti, Leticia Orlandi. gráfica: Grafitusa.

tiragem: 1000 exemplares. o PrimeiraMão é um jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari

s/n°, Goiabeiras,Vitória - ES, Cep: 29060-900. Tel: (27) 4009 2603. email: [email protected].

ediç

ão 1

09 .

ano

XII

. se

tem

bro

200

7primei-mão.MAOJornal Experimental de Comunicação Social

primeira

No espelho da academia, o relexo de Narciso .4 e 5

Poemas ao vento .8 e 9

Conheça a vida de quem cuida da limpeza da cidade.6 e 7 +

Page 2: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

2.P

mão

set

embr

o 20

072histórias do busão

nnnnnnnnnnnnnnn

Essa história aconteceu em 1975, quando meus pais, que moravam em Vitória, trabalhavam em Guarapari. Minha mãe, Valdice Zardini, trabalhava na antiga Telest, e meu pai, Wilians José Ribeiro, tra-balhava no Banco Real. Na verdade, eles trabalhavam em Vitória mesmo, mas naquela época, coincidentemente, estavam temporaria-mente nas filiais em Guarapari. Eles viajavam todos os dias no mesmo horário, até que, meu pai, que a observava de longe, resolveu puxar assunto com a moça do

lado. Ficaram uns 15 dias conversando até ele tomar coragem de convidá-la para sair. Foi aí que começou um relacionamento. Em um ano, 1976, eles estavam casados, eu nasci três anos depois, e agora em agosto, eles vão fazer 31 anos de casamento.

História dos pais de Fabíola Zardini, professora da Ufes

Ônibus, busão, coletivo, bus, busu. Não importa como é chamado, esse é um meio de transporte usado por milhares de pessoas todos os dias, seja para economizar uma grana, porque não tem outro meio de transporte ou, até mes-mo, porque gostam de andar com muita gente (podem acreditar, isso acontece!).

Para ir ao trabalho, escola, faculdade, praia, festas ou a qualquer lugar. Vazio ou lotado, sempre há uma linha disponível para os lugares mais inusitados e para aqueles que ninguém nunca ouviu falar. Além de ser o meio de transporte mais utilizado no dia-a-dia do trabalhador brasileiro, o ônibus é palco de vários episódios diferentes, românticos, engraçados e até trágicos. Quem nunca viveu uma cena daquelas dentro do coletivo de todos os dias ou dos passeios de fim de semana?

E o número de histórias é diretamente proporcional ao número de viagens, sendo que quanto mais tempo dentro do ônibus, maiores são as suas chances de presenciar aquelas cenas que você jamais pensou que fosse ver. As futuras jorna-listas aqui resolveram ficar num certo vai-e-vem pelos ônibus da Grande Vitória para saber o que as pessoas tinham para contar. Algumas dessas histórias você conhece agora em Primeira Mão.

casamento no onibus

Uma passageira mandou a gente parar no pon-to, aí eu falei:-A gente pára no ponto que você quiser, aqui sua “ordem é uma palavra”, eu falei a frase ao contrário, na verdade é sua palavra é uma ordem.Aí, um passageiro ao lado achou tão engraçado que deixou a chapa [dentadura] rolar pela por-ta e cair na rua. Eu tive que mandar o motoris-ta, parar o ônibus para procurar a chapa dele. Ele ficou gritando “minha chapa caiu, minha chapa caiu!” Eu achei a chapa dele e ele colo-cou de novo na boca.

Adilson Lima de Souza – cobrador Pelinha

Dentadura

nnnnnnnnnnnnnnn

Gabriela Conte, Lyvia Justino e Nadia VaccariCharges: Marcio Vaccari

Page 3: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

p.

3A menina entrou no carro, na Vila Rubim. Ela veio tomando o lugar dos idosos, sentada na frente. Chegou uma senhora idosa e ela não queria dar o lugar e eu comecei a discutir com ela. Falei que tinha que passar a roleta, ir para trás, e que não podia ficar ali.Aí, ela brigou. Falou que não tinha dinheiro para pagar a passagem e que ia ficar na frente. Não quis descer e ficou discutindo comigo dentro do ônibus, falando que ia descer onde ela quisesse e que não sabia onde estava. Quando chegou na Av. Adalberto Simão Nader, ela falou que queria descer e eu disse:- Você não queria descer em Jardim Camburi? Então é lá que você vai ficar, na DPM de Jardim Camburi, é lá que eu vou te deixar. Ela disse:- Motivo você não tem para me deixar na DP.Aí eu falei:- Motivo eu tenho sim, você tá querendo ir de graça, tá tomando lugar do idoso e ainda está discutindo comigo. Do nada ela começou a tirar a roupa na frente de todo mundo, a roupa toda mesmo, ela ficou peladinha no carro, não sobrou uma peça. Eu não fiquei olhando porque o ônibus estava lotado e eu tinha que dirigir. Eu só pedia para ela vestir a roupa. No final das contas ela desceu em Camburi, deitou na grama e vestiu a roupa.

Marcos Paulo Barbieri – Motorista

Uma vez entrou uma mulher com dois picolés dentro do ônibus e falou assim comigo:- Quer um picolé?- Ai, eu falei: não obrigado - Eu estava dirigindo, né?!Ai ela chupou o picolé todo e veio me dizer: - Trouxe o palito para você.Quando eu fui ver, o palito estava com telefone dela.

Dionísio Lyra – Motorista instrutor Unimar

Teve um outro caso, no Transcol, na linha 500, na pracinha de Vila Velha. Um cara forte e bonito deu sinal e eu parei. Ele entrou, eu fechei a porta e disse algo que eu não entendi, então eu pedi para ele repetir, aí ele falou:- Seus olhos são lindos!Aí eu falei:- O que?Ele disse:- Seus olhos são encantadores.Ele passou a roleta e foi sentar lá trás. Daí, eu continuei trabalhando normalmente. Toda vez que eu tinha que olhar o retrovisor para ver os passageiros saltando, ele fixava os olhos no retrovisor para olhar o meu rosto. No momento em que ele saltou em Jucutuquara, ele jogou um monte de beijinhos com a mão para mim.

Dionísio Lyra – Motorista instrutor Unimar

3Pmão. setembro 2007.

strip te

ase para

pagar passagem

o famoso roger

Cantadas

p.

Um dia eu estava no 214, indo para o shopping, e entrou um cara dizendo ser cantor. Ele ofereceu seu CD – Roger e seu Violão, dizendo ser um CDO: CD Original e não um CDP: CD Pirata. Custava R$10. E ainda tocou violão e cantou uma música de sua própria autoria! Ninguém comprou o CD, mas todo mundo riu da situação. Um cara engraçado, fazendo um show no ôni-bus e tentando se equilibrar! A cada movimento brusco do ônibus ele errava as notas e começava de novo! Uma figura!

Monick Ribeiro – estudante de Publicidade da Ufes

nnnnnnnnnnnnnnn

nnnnnnnnnnnnnnn

Page 4: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

Pesos. Levantar, puxar, empurrar. Carregar pesos.Movimentar. Braço e perna. Corpo e mente. Sãos?Correr. Para todos os lugares. Para lugar nenhum. Fantasmas correndo atrás daquilo que não se sabe bem o que é, que passaantes de chegar, que está mais adiante.Espelhos e Narcisos. Tudo aí, no reflexo. É isso?

Maria Ines Dieuzeide

O QUE VOCe FAZ,4

.Pm

ão. s

etem

bro

2007

Page 5: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

p.

Fotos feitas na Life Academia

te FAZ ?5Pmão. setembro 2007.

Page 6: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

.Pmão setembro 20076

Chegamos afiadas no “barracão” (local onde os garis da Prefeitura de Vitória fazem suas refeições), dispostas a des-pertar todas as insatisfações dos trabalhadores em relação a tudo e fazer uma grande matéria de denúncia.

Quando o grupo chegou para almoçar, nós já estávamos es-perando por eles. Todos tímidos com a presença de duas me-ninas com lápis e papel na mão e um cara com uma enorme máquina fotográfica em punho. Com um pouco de conversa, eles ficam mais à vontade com a nossa presença e até fazem piadinhas com a presença feminina no barracão. Na hora da foto, um deles diz: “Não tira não senão vai queimar o filme todo!”. Quando vê que a foto aparece na hora na tela de LCD, abre um sorrisão desconcertado e ao mesmo tempo feliz em se ver retratado e diz: “Agora eu vou ficar famoso!”.

A intenção era fazer uma matéria de denúncia, mostrar as dificuldades enfrentadas na profissão de gari, os baixos salá-rios, a relação com a prestadora de serviço e com a prefeitura e os perigos de trabalhar nas ruas. Mas a alegria deles, a fe-licidade em serem entrevistados, de se sentirem importantes e o fato de gostarem mesmo do que fazem não nos deixou seguir com o que queríamos.

Não deu, mas acabou sendo melhor assim. Afinal, nossa matéria se tornou uma pequena história de vida e uma lição de humildade.

A história de dois trabalhadores nos chamou a atenção: a do senhor Jair da Conceição e do Seu João Januário. Duas pessoas batalhadoras, simples, que insistem em ser felizes diante da vida. Dois vencedores.

Seu João Januário deixou a vida dura de agricultor e veio tentar a vida na cidade. Trabalhou durante quatro anos como vigilante noturno. Todos os dias enquanto trabalhava, via os garis trabalhando e pensava: “Um dia vou trabalhar com

eles”. Procurou a vaga e conseguiu: há dez anos ele é gari da Prefeitura de Vitória.

João sai todos os dias de Nova Rosa da Penha, em Caria-cica, para sua jornada, que começa às 6h20 da manhã. Se o trabalho é pesado? “Não. Eu vou com meus amigos, sem problemas”. Ele gosta tanto do que faz que hoje é também o Diretor suplente do Sindicato que representa sua classe.

Seu maior feito foi conseguir para ele e seus companheiros um local - o barracão - onde pudessem fazer suas refeições, há cinco anos. “Antes, a gente carregava a marmita no car-rinho e almoçava sentado nas calçadas mesmo. Aí a gente reivindicou e conseguiu com a Prefeitura esse barracão, que tem estufa pra comida, banheiro, mesas e cadeiras pra gente almoçar”.

Ele não consegue se imaginar fazendo outra coisa. “Foi com esse trabalho que consegui tirar meu sustento criar meus cinco filhos com dignidade”.

Um olhar diferenciado do dia-a-dia dos trabalhadores da limpeza pública

Gari? siM, sENHOr!

Clerisson Souza, Laila Magesk e Vanessa Pizzol

Fotos: Clerisson Souza

Page 7: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

.Pmão setem

bro 200717

Acompanhado de sua filha chegaram a terras capixabas. “Com dois ou três meses como gari eu já tava acostumado, e isso já faz nove anos”. Perguntei mais de uma vez se tinha algo ruim na profissão? E ele olhava para o seu João Januário, seu colega de tan-to tempo, e balançava a cabeça dizendo que não. Seu Jair o trabalho é pesado?” Não, a gente acostuma.” Só dizia que o dia mais pu-xado é a segunda-feira, pois no domingo não tem varrição. Mas mesmo assim não parecia se importar. O barracão que nós visitamos tem toda infra-estrutura para eles, porém, muitos garis do Estado têm que almoçar na rua, pois as empresas não fornecem locais apropriados. No mais, saí daquele lugar ad-mirando a força e a humildade desses traba-lhadores. Para descontrair, tiramos uma foto com o seu João Januário e nos despedimos desses homens alegres e receptivos. Não sei quanto a todos, mas eu fui embora olhando essa profissão de uma maneira especial.

Um olhar diferenciado do dia-a-dia dos trabalhadores da limpeza pública

Gari? siM, sENHOr!Eu insisti e perguntei se não tinha

nada que ele achasse ruim. Ele parou, pensou, demorou pra lembrar e dis-se: “Só algumas pessoas que tratam a gente com muito desrespeito. A gente pede um copo d’água e eles inventam que só tem da torneira, que a gela-deira tá quebrada, e ainda mandam a gente trazer o próprio copo para be-ber. Mas nem todo mundo é assim”.

A minha insistência como jornalista em tirar dele algo de que não gostasse foi grande, mas a vontade dele de ser feliz é muito maior. Me venceu pelo cansaço, mas afinal quem ganhou o dia fui eu.

Impossível de não se deixar con-tagiar pela energia deles, realmente imaginávamos que era muito pesado, varrer a rua, cansativo. Afinal, a jor-nada de sete horas e vinte minutos é grande, e não importa se tem sol ou chuva, eles estão na luta. Não sei, tal-vez desse um pouco de vergonha? Que nada. Eles são felizes. Usam do pou-co que tem para viver e vivem muito bem. A princípio, um certo receio de todos, quem são essas pessoas? Mas um deles, logo foi demonstrando sua simpatia com toda simplicidade. Não sei explicar, mas aquele rosto sofrido e sorridente do senhor Jair me con-quistou.

Nos aproximamos dele, e ele, não se importou em nos contar um pe-dacinho de sua história.” Eu era aju-dante de pedreiro em Belo Horizonte, mas tava meio ruim de emprego, aí eu vim pra cá”.

Clerisson Souza, Laila Magesk e Vanessa Pizzol

Fotos: Clerisson Souza

p.

Page 8: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

8.Pm

ão. s

etem

bro

2007

Em meio ao corre cor

re diário, momentos de

inspiração. Recorre-s

e ao primeiro ped

aço de papel e

caneta que houv

er por perto. A

ssim surgem os vers

os

de poetas anônim

os espalhados p

or aí. Para alg

uns

a inspiração é

visita regular. P

ara outros, vem

de

forma esporádica e d

eixa gosto de qu

ero mais.

Reunimos algumas poesi

as de pessoas qu

e não

se denominam poetas,

mas que fazem da escr

ita um

passatempo. Lucas M

onteiro é um deles. D

esse

hábito surgiram

poesias que fo

ram premiadas e que

lhe renderam a inclu

são numa antolo

gia poética

como um dos cem melhores

jovens escritores

do País.

Josué Patuzzi, estudan

te de história e

amante da

escrita, começou a

escrever em 2005 e já pen

sa na

possibilidade de

publicar as poe

sias e histórias

de seus

personagens D

emoniazes, Zephyrus

e a Camponesa.

Deixe a imaginaçã

o te levar pra lo

nge e, se a

inspiração vier,

não hesite em se torn

ar um poeta

também. Thalita Dias

Poetizando

Apuração: A meça da Justiça Quando apuroEstou em apurosTentando ser puroEm minha apuração Contemple a justiçaTão bela, porém, cega.O que digo a elaPara que possa comovê-la? Não há mentiras eu JuroQuem me acusa é impuroSeparados por MuroQue sofreu tantos furos......Na esperança de me ver. Inúmeras palavras

A mente jamais se calaO pensamento iguala-sePara a justiça prevalecer Quem menteUsa a menteHumanos tornam-se dementesE a mente destrói genteQuando tudo está ausentePensamos na gente.

O Poeta de Demoniazes, personagem de Josué Patuzzi – História/ Ufes

Inventar a paz Querem inventar a pazPaz que eu não conheçoPaz que eu não mereçoPaz que eu desaprovoPaz que eu não suportoPaz sem paz

Paz que mataPaz que calaQue fere direitosDestitui a moral

Paz de guerrasPaz de ferasPaz de horrores

Querem vingar a pazVencer derrotasDerrotar vencedoresExcluir os que da paz violência não fazem Querem me condenarMe dar moldes de pazMe ensinar a ser como elesMe dar cabresto e cordaMe querem mudo, cego, surdo

Querem reinventar a pazPaz sem pazQue paz?

Lucas Schulthais dos Anjos Monteiro

Andando entre as sombras do passado

Imagens amorfas que surgemDe um real mundo irrealLoucura da nossa clivagemDescobri que sou imortalA mente fantasia a vidaO passado esconde a dor

O presente que já foi vividoO futuro que já se passouGritos ecoam no vácuoAlucinação, angustia é amor

O vento não sopra no espaçoO fogo consome a florOdiar o dia que nasceTer prazer quando o crepúsculo chegar

Não espere que o tempo passeFelicidade é não te ver chegarEscurece a mente cansadaFeches os olhos, não queria acordarEntre as sombras do nosso passadoViveremos sem despertar. Zephyrus (o poeta morto), personagem

de Josué Patuzzi – História -Ufes

A fogueira aquém marA queimarUm diaHá que serPara iluminarE aquecerO aquém mar

Thalita Dias - 6º período de Jornalismo na Ufes

Page 9: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

9Pmão. setembro 2007.

Eu sou o brilho dos teus olhos ao olhar,

sou teu sorriso ao ganhar um beijo meu,

eu sou teu corpo inteiro ao se arrepiar,

quando em meus braços você se acolher.

Eu sou o teu segredo mais oculto,

teu desejo mais profundo teu querer,

tua fome de prazer sem disfarçar,

sou tua fonte de alegria sou o teu sonhar.

Eu sou a tua sombra eu sou teu guia,

sou teu luar em plena luz do dia,

sou tua pele proteção sou teu calor,

sou o teu cheiro a perfumar o nosso amor.

Eu sou a tua saudade reprimida,

sou teu sangrar ao ver minha partida.

Sou teu peito a apelar gritar de dor,

Ao se ver ainda mais distante do nosso

amor.

Sou teu ego, tua alma, sou teu céu,

teu inferno, tua calma,

Eu sou teu tudo, sou teu nada,

minha pequena, és minha amada,

Eu sou teu mundo, sou teu poder,

sou tua vida, sou meu eu em você.

Gustavo Barachi - 6º período de

Publicidade na Ufes

Por que eu vivo procurando um motivo de viver, Se a vida às vezes parece de mim esquecer? Procuro em todas, mas todas não são você. Eu quero apenas viver, se não for para mim que seja pra você. Mas às vezes você parece me ignorar, sem nem ao menos

me olhar, Me machucando pra valer. Atrás dos meus sonhos eu vou correr. Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.

Se a vida dá presente pra cada um, o meu, cadê? Será que esse mundo tem jeito? Esse mundo cheio de preconceito. Quando estou só, preso na minha solidão,

Juntando pedaços de mim que caíam ao chão, Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou. Talvez eu seja um tolo, Que acredita num sonho. Na procura de te esquecer, Eu fiz brotar a flor. Para carregar junto ao peito, E crer que esse mundo ainda tem jeito.

E como príncipe sonhador... Sou um tolo que acredita, ainda, no amor. PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - Apae)Nota: Este poema foi escrito por um aluno da Apae chamado, pela

sociedade, de excepcional. Excepcional é a sua sensibilida-

de! Ele tem 28 anos, com idade mental de 15, e peço que

divulguem para prestigiá-lo. Se uma pessoa que encontra as

barreiras que ele encontra acredita tanto no amor, porque a

maioria das que se dizem normais procuram, ao contrário,

negar sua existência?

Ilusões do Amanhã

Os homens da lua são criaturas vistas constantemente.Estão sempre misturados a nós,Ocupando poderosos cargos eInvejáveis posições sociais.

Os homens da lua se acham donos do mundo,Pensam ter visão avançada sobre tudo.E esquecem que vivem num mundoApenas semelhante ao nosso.

Os homens da lua criam antídotos para seu próprio veneno.Fazem do mundo um grande quintalOnde testam suas fórmulas mirabolantes.E assistem ao espetáculo de horrores por eles criado.Os homens da lua pareciam ser bons. Pareciam.Mas, este adjetivo não se encontra em seu vocabulário.Eles têm boa aparência, apresentam boas propostas,Mas não passam de fingidores da verdade.

E nós, seus súditos marionetes,Nos quais a ganância é praticada sob os olhosAbertos e cegos da sociedade,Cruzamos os braços esperandoAnsiosamente pelo próximo grande feito dos homens da lua. Lucas Schulthais dos Anjos Monteiro - 7º período de Jornalis-mo (Faesa) e 5º período de Ciências Sociais (Ufes)

Os homens da lua

Tudo

p.

Poetizando Inventar a paz Querem inventar a pazPaz que eu não conheçoPaz que eu não mereçoPaz que eu desaprovoPaz que eu não suportoPaz sem paz

Paz que mataPaz que calaQue fere direitosDestitui a moral

Paz de guerrasPaz de ferasPaz de horrores

Querem vingar a pazVencer derrotasDerrotar vencedoresExcluir os que da paz violência não fazem Querem me condenarMe dar moldes de pazMe ensinar a ser como elesMe dar cabresto e cordaMe querem mudo, cego, surdo

Querem reinventar a pazPaz sem pazQue paz?

Lucas Schulthais dos Anjos Monteiro

Page 10: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

.Pmão setembro 200710

Erica Vaz, Tatiany Volker e Wanderson Mansur

E agora José?

Capítulo 1

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: “Vai José! Ser ninguém na vida”. E carregava comigo essa lembrança. Mais anjos tortos apareciam. O imperativo de ser ninguém me assombrava. Vende bala. Cata latinha. Limpa chão. Levanta paredes. Faz cimentos.Os anjos da minha escola tentaram me fazer crer que preto-pobre não serviria para estudar. Os ofícios de ser ninguém seria o meu destino. Ser ninguém era uma realidade de muitos perseguidos por anjos. Busquei minha vida inteira recusar os anjos e suas idéias, talvez preferiria os apelos dos demônios, esses mostravam um caminho mais promissor, diziam inclusive, que com força de vontade poder-se-ia tudo, coisas do tipo “vencer na vida é questão de insistência e capacidade”.Foi em uma dessas conversas, que me percebi querendo ser alguém, daqueles que muitos buscam ser, que são por todos visíveis.

Quando decidi tentar o vestibular, gargalhadas eram ouvidas ao longe. A desesperança em meio às chacotas tomava conta de mim. Por um momento o que parecia comédia a todos, foi se tornando tragédia. A baixa estima própria de meus pais parecia uma tradição a ser seguida. A descrença se colocava enquanto algo a ser herdado. Pois desde que se têm notícias, não havia ninguém na família que tivesse esse privilégio. O direito de sonhar lhes fora amputado. Só restavam-lhes apenas a busca por direitos animais, que garantissem nossa sobrevivência. Comer, beber e se abrigar, estavam acima de qualquer sonho, inclusive, de entrar numa universidade...

E agora José? Fora o que ouvi de um novo educador que acabara de entrar em minha escola. Ele conhecia minha vida, sem mesmo me conhecer, na verdade conhecia a realidade vivida por todos da sala. Isso me inquietava. Os estímulos de que precisava, eu encontrava em suas palavras. Meu sonho era mais uma vez alimentado. Entre anjos e demônios eu perseverava. Os livros e cadernos eram quase que extensão do meu próprio corpo, estavam sempre me acompanhando, inclusive no trabalho, onde eu mal podia vê-los. Era ano de vestibular e o tempo para a dedicação aos estudos era escasso.

Diferente da escola pública de ensino médio do meu bairro, abandonada e pichada, onde quase todos os jovens da minha comunidade estudaram, mas poucos aprenderam a escrever o próprio nome, a Universidade é uma espaço de perpetuação da minha realidade e da realidade dos estudantes

do cursinho particular. Já no vestibular, a Ufes diz na cara dura, que tipo de alunos a instituição deseja. Que tipo de sociedade ela está inserida. A quem ela deve satisfação. É o seu método de exclusão, que põe em pé de igualdade alunos de escolas públicas e particulares. Que vença o melhor. Ou quem marcar mais pontos.

Passou-se um, dois e só no terceiro ano eu pude conhecer o campus. A beleza vinda do jardim me recordava as casas que um dia minha mãe já havia trabalhado. E não era apenas o jardim que me suscitava a lembrança daqueles tempos; os carros, as pessoas, as conversas, os gostos, o comportamento, tudo me fazia recordar os tempos de criança, quando aos sábados eu a acompanhava no serviço. Uma melancolia estranha, pois nunca me senti parte daquele cenário. E o sentimento de pertencer a um lugar tão bem cuidado, ao lado de pessoas supostamente inteligentes, me enchia de orgulho e medo.

Todos na família se orgulhavam de mim. O que eu tinha conquistado eles mal podiam mensurar, mas sabiam que era algo importante. Inédito. Único em toda a comunidade. Agora, eu era a esperança materializada em carne, um sopro de vida, uma referência até para aqueles que nunca tinham me notado. Dali em diante, todos os meus passos entre os jardins da Universidade seriam os passos daqueles que sonhavam em um dia também pisar ali. Esperanças acumuladas de todas as gerações passadas agora pesavam sobre os meus ombros. Mas uma dúvida me perseguia: Eu abri uma porta ou passei por uma fresta?

Não havia semelhantes. Ninguém morava no meu bairro. Sem constrangimentos, alguns até admitem que nem sabiam que tal lugar existia. Muitos pegavam ônibus, mas poucos iam até o ponto final. E quase como um choque, percebi que dentro da Universidade havia praticamente um sistema de castas. Por renda. Por mérito. Por tonalidade de pele. Ingenuidade pensar que seria diferente. Finalmente eu percebi porque os meus vizinhos, pais e amigos não tinham o sentimento de pertencer a esse universo. Ficou fácil perceber porque muitos sequer nunca almejaram estar ali. Aquilo não lhes pertencia, não era público, não era gratuito.

A universidade ia aos poucos se desabrochando diante de mim, algumas disciplinas, e professores se propunham reveladores, críticos, se colocavam

Page 11: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

enquanto vanguarda quando comparados àqueles que aqui não estavam. Isso levava a uma visão um tanto grosseria, de que minha origem, minha cultura, os contos, as fábulas, as histórias populares, os ditados, que cresci ouvindo, que me constituíam enquanto sujeito, que evidenciavam de onde eu vinha, tudo isso não passava de senso comum, de cultura periférica, segundo o crivo de alguns desses “intelectuais”.

Nisso percebi que ser alguém não era “grandes coisas”, para ser esse alguém eu deveria negar tudo o que eu havia sido até então, para entrar na lógica que me impunham eu precisava me encaixar em um molde, o qual eu não me identificava. Era uma sensação de morte. Reconhecer esse ser alguém era negar minha origem, meu passado, meu povo, minha história. O desafio era então encontrar uma forma de ser referência, que valorizasse toda essa subjetividade que estava incrustada em mim.

As pedras no meio do caminho não deixaram de existir. À medida que eu afastava algumas, outras apareciam. Vender passe para tirar xérox. Depender da boa vontade de um colega para emprestar um livro que não se encontra entre os acervos da biblioteca. Depender exclusivamente do

RU para almoçar, quando podia almoçar. Se fechado, o dia ficava longo demais para me manter só com o café da manhã.

Um longo período ainda se passara desde a minha primeira melancolia. A sensação de não pertencer a este lugar me perseguiria por muito tempo. Até ouvir falar de um lugar que não compreendia direito como era, inicialmente. Pessoas parecidas comigo, se reuniam em um único espaço, bem diverso por natureza. Pela primeira vez, enxerguei a diversidade na universidade.

O conceito de universidade passou a fazer mais sentido para mim. O popular era valorizado e reconhecido ali. Seu objetivo era ser ponte entre o acadêmico e o popular, era formar cidadãos conscientes de seu papel, multiplicadores sociais, pessoas capazes de ser referência na sua comunidade, de fazer a diferença.

Você é de origem popular? Mesmo não entendendo o que significava, eu queria ser aquilo. Pelo menos quem dizia ser, parecia feliz. Eu nunca havia visto um lugar onde ser preto e pobre era algo positivo.

Embora não seja um grupo homogêneo, há três características que definem qualquer estudante de origem popular, os EOP´s: são alunos cujos pais possuem renda de até três salários mínimos, estudantes de escolas públicas e residentes em bairros de origem popular.

De acordo com uma pesquisa realizada por estudantes do projeto Conexões de Saberes e publicado no artigo “Diferenças e desigualdades no mundo Ufes: retratos de raça e gênero dos estudantes de origem popular em 2005\02”, do total de 10487 alunos regularmente matriculados na UFES naquele semestre, apenas 317 são de origem popular, ou seja, um percentual ínfimo de 3,02 % dos alunos.

Destes, apenas 183 são negros ou indígenas. A grande maioria desses estudantes mora

em bairros periféricos da Grande Vitória e desloca-se diariamente até a Universidade, utilizando, como meio de transporte básico, ônibus do sistema Transcol que interliga os cinco municípios da Região Metropolitana (Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão).

Ainda segundo o artigo, “A presença dos EOP’s nos cursos de menor prestígio da universidade sugerem, também, o lugar social a ser ocupado após a graduação: em sua maioria desempenharão funções que, apesar de estratégicas para a completude do tecido social, são menos reconhecidas e possuem

uma remuneração menor se comparadas às profissões escolhidas pelos não EOP’s, tais como Medicina, Engenharias e Ciências Tecnológicas em geral.”.

*Fonte: O artigo “Diferenças e desigualdades no mundo Ufes: retratos de raça e gênero dos estudantes de origem popular em 2005\02” foi escrito em conjunto pelos estudantes Cleberson de Deus Silva, Elisângela Passos Alves, Fernanda da Silva de Freitas, Renata Beatriz Rodrigues da Costa, Terezinha Moreira dos Santos e Walquiria Ana Soares, sob a orientação de Lavínia Coutinho Cardoso.

Quem são os estudantes de origem popular (EOP)?*

p.

11.Pm

ão setembro 2007

Ilustrações: Fernanda Freitas do projeto Conexão dos Saberes

Page 12: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

.Pmão junho 2007

ACESSIBIL IDADE ?dia-a-dia de por tadores de deficiência

A sobrevivência diária depende de ações como locomoção, audição,

visão e entendimento, para, além disso, a interação entre os diversos

atores sociais é fundamental para o desenvolvimento psico-social do

sujeito. O mundo, de estruturas planejadas para atender pessoas

“perfeitas” física e mentalmente, torna-se uma grande barreira para

cidadãos com mobilidade reduzida, deficiência física e/ou mental.

Limitações e diferenças entre as pessoas sempre irão existir, e é

rigorosamente por isso que, por exemplo, para cada escada construída

em locais de acesso público, sendo eles privado ou não, deve haver uma

rampa adequada. Obstáculos arquitetônicos, sociais e culturais afligem

todos os dias cerca de 20% da população brasileira, e põem essas

pessoas, também pagadoras de impostos, à margem do processo de

desenvolvimento da nação. A boa notícia é que já existe uma mobilização

desses brasileiros, que têm colocado o tema Acessibilidade na pauta das

organizações públicas, e privadas, o fruto da luta desses movimentos,

muitas vezes organizados por meio de fóruns e com estatuto próprio,

é a Lei de Acessibilidade. O lado sombrio dessa história é que essa

legislação, raras vezes é cumprida, e quando é, só com muita teimosia

desses movimentos organizados, portanto, os avanços só ocorrerão

quando houver maior aplicabilidade da lei. Há mais de três anos existe

na Ufes o Fórum de Acessibilidades, criado a partir das dificuldades

enfrentadas por alunos portadores de necessidades especiais no acesso

e permanência do Campus Universitário. O fórum também promove a

inclusão desses cidadãos que buscam seus direitos à educação, saúde,

emprego e ao lazer, por meio de encontros mensais realizados na Pró-

Reitoria de Extensão, que cede o espaço. Dados de 2006 demonstram

que há na Ufes cerca de 20 estudantes portadores de necessidades

especiais, incluindo graduandos e pós-graduandos. A Pró-Reitoria de

Graduação (Prograd) foi procurada por nossa equipe de reportagem

para atualização desse número, mas até o fechamento desta matéria

não obtivemos respostas. O Governo Federal vem buscando propostas

de políticas voltadas para o tema, com o Programa Incluir, numa

iniciativa das Secretarias de Educação Especial e Superior. No início

deste mês foi lançado o edital nº 03 Incluir 2007 – Programa Incluir:

Acessibilidade na Educação Superior, que terá resultado divulgado no

site do Ministério da Educação (portal.mec.gov.br/sesu), até 25 deste

mês. Com essa ação o Governo Federal pretende recolher propostas

enviadas pelas IFES ( Instituições Federais de Ensino Superior), que

indiquem a criação ou reestruturação de núcleos de Acessibilidade

que farão a promoção do acesso pleno, por parte das pessoas com

deficiência, em todos os espaços, ambientes, materiais, ações e

processos desenvolvidos da instituição para inclusão educacional e

social desses cidadãos.

Mônica Oliveira

foto: Clérisson Souza

.Pmão setembro 200712

Page 13: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

.Pmão junho 2007

13Desafios de quem precisa de intérpretes

Todos nós sonhamos quando estamos na escola em entrar para uma universidade. Para alguns, o sonho simplesmente não é o suficiente. Assim acontece com as pessoas que têm baixa mobilidade e aqueles com alguma deficiência física. Assim como os indívíduos portadores de deficiência auditiva que entram na universidade e muitas vezes continuam sonhando. Não é suficiente para eles um professor à frente da sala de aula. É necessário alguém que interprete suas palavras em sinais, pois esta é a língua dos surdos. Língua Brasileira de Sinais. Ou simplesmente, Libras.

Por muito tempo, o esforço das escolas no Brasil foi de inserção dos surdos no mundo da nossa oralidade deixando de lado seu próprio modo de interagir com o mundo. São duas maneiras diferentes de interação. Um gesto para eles tem vários significados. Se o gesto vier acompanhado de uma expressão facial quer dizer exatamente uma coisa. Sua interação com o mundo se dá por meio de sinais, gestos, expressões faciais, enquanto nós, ouvintes, nos preocupamos excessivamente com palavras, vozes e nos fazer ouvir. A cultura do surdo é muito mais ampla e não nos cabe forçá-lo a se comunicar pela fala. É importante entender que o principal em sua cultura não é falar, e sim, se comunicar pela sua própria maneira, com os sinais. A forte ligação da nossa sociedade com a oralidade não nos permite aceitar ou ver como normal outra forma de comunicação que não a palavra falada. Podemos pensar que a fala não passa de expressões, pois eles apenas nos vêem falando.

Desde quando iniciada, a educação dos surdos deve ser diferenciada. A primeira língua a ser ensinada deve ser a língua de sinais, pois é através de sinais que eles iniciam seu contato com o mundo. A palavra falada não faz parte da cultura deles, o que não interfere no ensino do Português. Estamos tão ligados na nossa oralidade que esquecemos que a língua portuguesa é muito mais que a fala. O

ideal é a criança, com déficit de audição, aprender libras e o português desde a infância. E continuar sua educação normalmente com um intérprete em sala de aula equiparando assim suas chances e oportunidades com os outros estudantes.

Assim, é possível a eles entrar na universidade e tornar seu sonho realidade, requisitando intérprete para suas aulas. A lei 10.436 reconhece a Libras como sistema lingüístico dos surdos e a portaria 3284 assegura o direito ao intérprete quando solicitado à universidade ou escola. A portaria inclusive esclarece que deve ser criado o respectivo cargo nas instituições federais.

A Ufes possui poucos alunos que são surdos, não há nenhuma base de dados da universidade para fornecer um número certo, portanto, poucos intérpretes e nenhum ensino de Libras. Ademar Miller Júnior é um estudante do curso de Pedagogia que transferiu seu curso de uma faculdade particular para a Ufes para ter o direito de um intérprete. Não foi fácil. Ele teve que recorrer à coordenação do curso de Letras para conseguir. E conseguiu. Três intérpretes se revezam para que ele possa estudar como todos na universidade. Um deles é Jefferson Bruno, estudante de Letras-Português na Ufes, que observa que os intérpretes necessitam de valorização profissional em relação a profissionais de outras línguas e a sobrecarga de trabalho.

A luta que os surdos vêm travando por seus direitos tem trazido avanços. Está previsto a criação do curso de Letras-Libras na modalidade de Ensino a Distância, também a inserção da disciplina Fundamentos da Língua de Sinais, primeiramente, no currículo do curso de Pedagogia e depois no curso de Letras-Português. (Com o tempo, espera-se a criação dos cargos previstos em lei para os intérpretes.)

“O surdo é um sujeito eficiente que possui uma língua, uma cultura inter-relacionada com outras culturas”. Jefferson Bruno, intérprete de Libras.

Ana Célia Alvim

Lei 10.436

Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação

e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros

recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais -

Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema

lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical

própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de

idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do

Brasil.

Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais

estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão

nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia

e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da

Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação

vigente.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá

substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.

Portaria nº 3284

III - quanto a alunos portadores de deficiência auditiva,

compromisso formal da instituição,

no caso de vir a ser solicitada e até que o aluno conclua o curso:

a) de propiciar, sempre que necessário, intérprete de língua de

sinais/língua portuguesa,

especialmente quando da realização e revisão de provas,

complementando a avaliação

expressa em texto escrito ou quando este não tenha expressado o

real conhecimento do

aluno;

b) de adotar flexibilidade na correção das provas escritas,

valorizando o conteúdo

semântico;

c) de estimular o aprendizado da língua portuguesa, principalmente

na modalidade

escrita, para o uso de vocabulário pertinente às matérias do curso

em que o estudante

estiver matriculado;

d) de proporcionar aos professores acesso a literatura e informações

sobre a

especificidade lingüística do portador de deficiência auditiva.

§ 2º A aplicação do requisito da alínea “a” do inciso III do parágrafo

anterior, no âmbito

das instituições federais de ensino vinculadas a este Ministério, fica

condicionada à

criação dos cargos correspondentes e à realização regular de seu

provimento..

13.Pmão setembro 2007

p.

Page 14: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

Retrato falado: A imprensa brasileira

em debate Vivemos um tempo em que, a cada dia, está mais difícil a mídia manter o véu da hipócrita idéia de defensora da causa republi-cana. Não, definitivamente, não. A mídia tem os seus interesses. E eles não são, necessariamente, os mesmos da maioria da população brasileira. Aliás, a intersecção entre esses dois pontos parece cada vez menor. Uma digressão no tempo garante a compreensão do que se afirma aqui. No planalto, por exemplo, já puseram um playboy arenista. Depois, tiraram-no sem dizer por que haviam posto. Em seguida, foi a vez do Príncipe, que torrou o patrimônio nacional, como se o Brasil lhe pertencesse. Foram oito anos de sólida aliança. Depois, a mesma mídia, tentou impedir a vitória de um Sapo. Não conseguiu.Mesmo assim, parte da imprensa brasileira continua sendo dona da agenda pública do Brasil. Assim, definem o que pode e o que não pode ser submetido ao debate público. Por isso, saímos pelo campus, para saber como a comunidade acadêmica avalia o papel de uma mídia cuja especialidade maior é a interdição dos debates que não lhe interessam.

“A impressão que eu tenho da mídia é que ela está estreitamente ligada ao grande capital, inclusive os grandes veículos de informação no Brasil são de proprie-dade de pessoas que detém grande volume de capital, logo essas pessoas

trabalham em prol desse capital. A gente percebe nas veiculações de matérias, no caso da Aracruz Celulose no ES por exemplo, como a mídia manipula o que é dito, a forma com que tem sido veiculada a matéria, as próprias entrevistas que são concedidas...Eles editam e ditam da forma que bem lhe convem. A impressão que eu tenho é que a mídia nasce do sentido de informar e tentar descrever ao máximo o que realmente aconteceu, e depois proferir uma opinião, mas que fossem opiniões de ambos os lados, que não fosse unilateral. Eles falam que a mídia é um meio formador de opinião, mas o que tenho percebido é que a mídia é uma grande ditadora de opinião, eles ditam o que as pessoas tê m que saber, e ditam como saber”.

Jonatas correia neves – Estudante de Economia

Como ponto negativo da imprensa brasileira temos o sensacionalismo, que é muito comum no Brasil.

Amanda Coutinho Maia – Estudante de Economia

A imprensa Brasileira tem que evoluir muito por que os interesses das autoridades de imprensa estão prevalecendo sobre as realidades dos fatos, das notícias. Eles pegam uma notícia e editam, a modificam para satisfazer o desejo deles, que é influenciar a população para o caminho que eles querem levar a situação em que o país se encontra.

Pedro Paulo Silva Moisés – Estudante de Administração

A imprensa brasileira poderia trabalhar melhor, prin-cipalmente na área política. Mas a política esconde o que? muita sujeira...e como eles trabalham? os políticos que nós colocamos lá, atrapalham eles a trabalhar e acabam com a gente, que somos pobres e ganhamos um salário mínimo. Essa é que é a verdade.

Marlucia Sá - Auxiliar de limpeza da Ufes

O papel da imprensa é fundamental para a gente estar ligado no cotidiano, no que está aontecendo no dia-a-dia. Só que acho que existe um desinteresse muito grande por parte das pessoas. O jornal impresso é mais importante do que o da televisão, porque quem não tem tempo de assistir sempre está com o jornal na mão, lendo e está por dentro do que está acontecendo. Só que as pessoas geralmente não tem muito interesse.

Laís Rezende – Estudante de Artes Visuais

.Pmão setembro 200714

Acho que a imprensa é bem coerente com a defesa da classe dela, a classe que ela pertence. Eu sou Estu-dante de letras e acho muito interessante como todos os jornais escritos ou falados usam os mesmos termos a partir de uma designação ideológica, por exemplo: todos os jornais vão dizer que o MST “invadiu” ao invés de “ocupou”, isso é uma opção ideológica que se faz a partir da língua e que todos eles usam a mesma.

Ruy Barbosa - Estudante de letras português

No tocante à imprensa televisiva eu acho que falta muita criativida-de. A TV tomou um formato muito comercial e a programação é muito ruim, tem pouca cultura. O canal que eu mais gosto é TVE, que lá ainda existem bons debates, gran-des intelectuais, e lá eles podem falar o que não falam nos outros canais. Na TV aberta, as questões importantes nunca são debatidas, aí vai uma crítica pra comunicação que é muito superficial e imedia-tista, que é muito imagem. Acho pra resolver isso é preciso sentar, debater, ouvir outras pessoas. A TV também deve servir como um canal aberto para a sociedade, que acho que está meio distante.

Marlon Porfilio - Estudante de Ciências sociais

Acho que a imprensa está mascarando a realidade. Às vezes acontecem várias coisas e eles, além de distorcer as in-formações, não mostram aquilo que realmente está acontecendo. Eles ten-tam enganar a população, acabam não mostrando a realidade e a população fica a par (o certo é : não fica a par) da-quilo que está acontecendo, alienada.

Loidi Novaes da Cruz – Estudante de Matemática

A imprensa é um instrumento que detém um poder grande de influenciar a sociedade. Porém esse poder poderia ser usado para o benefício da sociedade, mas por estar vinculado de maneira quase intrínseca ao funcionamento da ideo-logia econômica vigente, o neoliberalismo, acaba perdendo o que poderia dar de melhor à sociedade. Ela deixa de dar esse melhor em virtude do comércio intenso, ao qual ela se submete e submete o público leitor, o espectador.

José Domingos Rangel - Estudante de Letras Português

Davi Gentilli e Bruna Gatti

Page 15: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007

7

Retrato falado: A imprensa brasileira

em debate

O que a imprensa representa pra mim, a princípio, um dos principais instrumentos de dominação, de manipulação. É difícil acretidar numa imprensa imparcial, ela sempre terá uma tendência, pra um lado ou pra o outro. Eu penso que os meios de comunicação devem ser, em sua alma, imparcial. Sempre tem alguma coisa que a imprensa pode interferir com uma opinião própria, o jornalista parece que não consegue ser imparcial. Penso que a imprensa deveria ser informativa. Até o fato de esconder alguma informação pode ser tendencioso, representar uma parcialidade. A mídia deveria ser estatal. Não acho que um ou outro canal de televisão, emissora ou editora deve-ria ser de alguém, deveria ser de domínio público. Por ser tendenciosa, a mídia pode tirar e colocar as pessoas num lugar ou fabricar uma imagem, uma impressão.

Geovani Soares – Estudante de Música

A imprensa desenvolve pepel importante em relação a todas as áreas do conhecimento. Mas principalmente em relação ao direito ela acaba tendo um problema. Não sei se por causa da linguagem, mas sempre que tenta passar uma informa-ção, essa informação acaba ficando um pouco defeituosa ou problemática pelo certo desconhecimento da área jurídica. Em si, o papel da imprensa é muito importante.

Rodrigo Carneiro Fonseca – Estudante de Direito

A minha visão é um tanto quanto contraditó-ria. Porque ao mesmo tempo que a imprensa é informativa, também acho que ela desvirtua tudo isso. É uma via de mão dupla. Da mesma forma que você quer assistir ao jornal por que vai te fornecer informações necessárias, você não quer por que você se nega a escutar coisas que vão te influenciar, vão te fazer mal. Eu cansei de ficar ouvindo violência, bateu, morreu! A imprensa é muito sensacionalista, e me parece que se utilizada disso para se manter.

Geane Luci - Estudante de Pedagogia

Está bom, eu acho que está tudo ótimo!

Manuel Elias Carvalho – Trabalhador Autônomo

Maurício BatalhaO ESQUARTEJAMENTO DA ÉTICA JORNALíSTICA

Recentemente, o Brasil ficou chocado com um caso brutal de violência. Refiro-me à tragédia, no Rio de janeiro, em que o menino João Hélio Fer-nandes, de apenas seis anos, foi arrastado durante vários quilômetros, preso a um cinto de segurança do automóvel que fora roubado de sua mãe. O triste desfecho, todos nós sabemos: a morte de uma criança, seguida de um clamor por justiça e parte da imprensa, de novo, como porta-voz da causa republicana, exigindo mudança na legislação penal brasileira.Pois bem. Creio que não haja nenhum problema no fato de setores da mídia mais conservadora quererem mudança na legislação. Até aí, uma mera disputa de interesses, digamos, própria do jogo democrático!O que nos chamou atenção foram os meios, as mensagens e suas repetições, personagens, propósitos e valores, de que a mídia se valeu para legiti-mar a defesa da redução da maioridade penal no Brasil, que não era, pelo menos naquele momento, do conjunto da população brasileira. Naquele cipoal de informações, não se exigiu o comparecimento e a permanência da ética como princípio balizador das coberturas jornalísticas. Isso ficou mais evidente quando vários jornais, no que se pode chamar de espetáculo dentro do espetáculo, defenderam a ida dos pais de João Hélio ao Senado Federal pedir mudança da legislação penal.É inegável que nos momentos de profunda tristeza não se tenha a serenidade necessária para posicionamento sobre uma questão de tão elevada complexidade. Mais. Quem perde um filho de forma brutal, cujos algozes tenham, entre si, um com menos de dezoito anos, naturalmente, tende a enxergar, antes da apartação nossa de cada dia, a necessidade de se punir aqueles identificados como os únicos responsáveis pelo advento do seu drama.No décimo sétimo aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente, talvez fosse razoável um movimento em favor de se começar, finalmente, o cumprimento de tal lei. Em vez disso, assistimos a um movimento cuja síntese foi (e continua sendo) a demonização da juventude, sobretudo negros, do sexo masculino, da periferia. No festival de besteiras que fomos obrigados a ouvir, o antropólogo Luiz Eduardo Soares fez uma sadia provocação que constitui uma excelente an-títese. Ele disse que o Brasil é o único país que não se envergonha de mudar uma lei antes de testá-la! Assim, podemos dizer que a atitude protagonizada por parte da mídia, na verdade, careceu de fundamentação. Ou seja, em vez de se recorrer a uma investigação empírica para justificar aquele posicionamento, optou-se pela socialização do drama. De maneira que, todos nos sentimos, pelo menos um pouco, pai ou mãe, irmão ou irmã, de João Hélio.Era óbvio que todo brasileiro, em estado de razoável saúde mental, tomaria como seu parte do sofrimento dos pais de João Hélio. Afinal, somos um país de forte tradição cristã, somos unidos por fortes e inexplicáveis laços de solidariedade. Em situações-limite, choramos com destemor da crítica machista, porque, mesmo quando não vemos e não construímos saídas, não aceitamos o sofrimento daqueles que a tradição cristã nos apresenta como irmãos. A mídia, por isso, apropria-se dos valores mais nobres, distorce-os, e lhes apresenta uma roupagem que nega, ou anula, seu propósito original. Enfim, a barbaridade do caso João Hélio, que se junta à estética de nossos horrores cotidianos, sugeria várias discussões. Mas, na mídia conserva-dora e racista do Brasil, prevaleceu a menos nobre. Assim, tivemos duas razões para chorar. Primeiro, pela trágica morte de João Hélio; depois, pelo esquartejamento da ética jornalística.

15.Pm

ão setembro 2007

A imprensa cumpre um papel fundamental na consolidação da democracia. Hoje eu vejo a impresa como o principal órgão fiscalizador do país em virtude do descrédito dos poderes judici-ário e lesgislativo que deveriam funcionar como fiscalizadores e executores de justiça.Vejo a imprensa ocupando de certa forma o espaço e o trabalho que deveria ser feito pelo legislativo e pelo judiciário. Acho que existem exageros, uma valorização muito grande das coisas negativas, e que a imprensa deveria trabalhar também na vertente de valorizar e destacar as coisas positivas da sociedade, não só mostrar as mazelas, roubalheira, corrupção, mas tam-bém as coisas positivas. A impressão que você tem é que você vive num país onde só existem pessoas desonestas, violentas. Mas acredito que a imprenssa hoje é um dos pilares da nossa sociedade.

Ricardo Trazzi - ONG Universidade Para todos

Vejo infeslismente a imprensa brasileira como forma de repro-dução do ideário capitalista, não só tomando como iniciativa meu curso, mas por ser telespectadora e ver que infelizmen-te hoje você abre o jornal e vê assassinato, diferenciação raça/cor, uma questão de preconceito mascarado.Coisas que expressam a nossa imprensa, infelizmente de estar diferen-ciando, estar servindo de manuntenção da lógica capitalista.

Maria de Souza Silva – Estudante de Serviço Social

p.

Page 16: Primeira Mão Ufes 109 setembro 2007