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PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL Evandro André Frederick Kirsten Glayton Robert Ferreira Fontoura Lindacir Ruchinski Rosa Mafra RESUMO O presente trabalho visa tratar dos princípios norteadores do Direito Ambiental. Inicia-se trazendo o conceito deste novo ramo do Direito, segundo as palavras dos doutrinadores e segue adiante na apresentação dos princípios gerais que fundamentam o Direito Ambiental, tido hoje como um direito fundamental difuso. Logo em seguida são apresentados aspectos da intersecção dos

Princípios Gerais Do Direito Ambiental

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Este ensaio traz a apresentação dos mais importantes princípios do Direito Ambiental e ressalta a importância de seu conhecimento na atualidade.

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Page 1: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL

Evandro André

Frederick Kirsten

Glayton Robert Ferreira Fontoura

Lindacir Ruchinski

Rosa Mafra

RESUMO

O presente trabalho visa tratar dos princípios norteadores do Direito

Ambiental. Inicia-se trazendo o conceito deste novo ramo do Direito,

segundo as palavras dos doutrinadores e segue adiante na apresentação dos

princípios gerais que fundamentam o Direito Ambiental, tido hoje como um

direito fundamental difuso. Logo em seguida são apresentados aspectos da

intersecção dos princípios adotados por nossa Carta Magna com relação à

política global do meio ambiente proposta pela Organização das Nações

Unidas – ONU – e encerra-se com a apresentação dos princípios citados em

nossa Lei Maior.

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PALAVRAS-CHAVE:

Direito Ambiental. Princípios Gerais.

1 CONCEITO

O Direito Ambiental classifica-se como um dos mais recentes ramos

do Direito, resultantes da evolução sofrida pela sociedade. Tal evolução,

não obstante todo o progresso tecnológico e toda a comodidade que traz ao

homem, impõem-nos também um preço a ser cobrado pela indisciplina com

que foram utilizados os meios e recursos naturais no decorrer do tempo,

forçando-nos a regular a relação homem-natureza a partir de patamares

legais com a formulação de normas e a imposição de pesadas sanções

contra as suas eventuais violações. Nesse sentido, escreve Ricardo Barbosa

Alfonsin que:

Visando regular a relação do homem e seus meios de produção com a

natureza, como forma de permitir o equilíbrio dessa relação, dando

sustentabilidade ao desenvolvimento e minimizando os efeitos

degradantes sobre o meio ambiente. Pode-se dizer que é um direito

indutor de um novo paradigma de relação entre o homem e o meio

ambiente.

Assim, segundo Sérgio Ferraz (apud Toshio Mukai, 2004), o Direito

Ambiental classifica-se como um “conjunto de técnicas, regras e

instrumentos jurídicos organicamente estruturados, para assegurar um

comportamento que não atente contra a sanidade mínima do meio

ambiente”. Mukai (2004) cita também Carlos Gomes de Carvalho para

quem o Direito Ambiental é um “conjunto de princípios e regras destinados

à proteção do meio ambiente, compreendendo medidas administrativas e

judiciais, com a reparação econômica e financeira dos danos causados ao

Page 3: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

ambiente e aos ecossistemas, de uma maneira geral” e conclui ressaltando

que “O direito ambiental (no estágio atual de sua evolução no Brasil) é um

conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do

Direito, reunidos por sua função instrumental para a disciplina do

comportamento humano em relação ao seu meio ambiente”.

Por fim, para que se fixe a exata noção do conceito de Direito

Ambiental, citamos o Professor Michel Prieur (apud BIAGIO JUNIOR,

2000), da Universidade de Limoges, França, que escreve:

o Direito Ambiental é constituído por um conjunto de regras jurídicas

relativas à proteção da natureza e à luta contra as poluições. Ele se

define, portanto, em primeiro lugar pelo seu objeto. Mas é um direito

tendo uma finalidade, um objetivo: nosso ambiente está ameaçado, o

Direito deve poder vir em seu socorro, imaginando sistemas de

prevenção ou de reparação adaptados a uma melhor defesa contra as

agressões da sociedade moderna. Então, o direito do ambiente mais

do que a descrição do direito existente é um direito portador de uma

mensagem, um direito do futuro e da antecipação, graças ao qual o

homem e a natureza encontrarão um relacionamento harmonioso e

equilibrado.

Biagio Junior (2000) cita ainda o Professor Tycho Brahe Fernandes

Neto que conceitua Direito Ambiental como “o conjunto de normas e

princípios editados objetivando a manutenção de um perfeito equilíbrio nas

relações do homem com o meio ambiente”.

2 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

Em primeiro lugar, é importante ressaltarmos a imprescindibilidade

dos princípios para a tutela ambiental. De acordo com os ensinamentos de

Álvaro Mirra (1996, p.51):

Page 4: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

Os princípios prestam importante auxílio no conhecimento do sistema jurídico, no sentido de uma melhor identificação da coerência

e unidade que fazem de um corpo normativo qualquer, um verdadeiro

sistema lógico e racional. E essa circunstância é ainda mais

importante nas hipóteses daqueles sistemas jurídicos que – como o

sistema jurídico ambiental – tem suas normas dispersas em inúmeros

textos de lei, que são elaborados ao longo dos anos, sem critério

preciso, sem método definido.

Os princípios têm caráter fundamental no sistema de fontes, pois são

normas que têm papel essencial no ordenamento, devido à sua posição

hierárquica, ou porque determinam a própria estrutura do sistema jurídico.

Exercem função precípua na falta de leis, conforme reza o artigo 4º da

LICC: "quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a

analogia, os costumes e os princípios gerais de direito".

No campo do Direito Ambiental os princípios exercem as mesmas

funções de interpretação das normas legais, de integração e harmonização

do sistema jurídico e de aplicação ao caso concreto.

Os princípios do Direito Ambiental desempenharam um papel

fundamental no reconhecimento desse Direito enquanto ramo autônomo da

Ciência Jurídica. Nesse sentido, Antônio Herman de Vasconcellos e

Benjamin (apud Mirra, 1996, p. 52) apontam as quatro principais funções

dos princípios do Direito Ambiental para facilitar a sua compreensão e

aplicação:

a) são os princípios que permitem compreender a autonomia do

Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito;

b) são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação

da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que

compõem o sistema legislativo ambiental;

c) é dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem

compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista

Page 5: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

na sociedade;

d) e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e

inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as

normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição

indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área.

Dá-se aos princípios no Direito Ambiental uma importante

relevância em relação aos demais ramos da ciência Jurídica, posto haver

uma grande gama de leis e até hoje não existir um código ambiental,

estando, conseqüentemente, todas as normas dispersas, o que dificulta em

muito o trabalho do operador do direito.

Durante muito tempo, aplicava-se apenas o Código Florestal na

proteção do meio ambiente, atualmente essa lei é apenas um dos inúmeros

elementos e de uma série de normas objetivando a proteção específica de

um bioma ou de uma espécie de flora. Com isso, como existe uma

competência legislativa concorrente entre os diversos entes federativos, é

possível encontrar além das convenções e tratados internacionais, uma série

de leis e decretos federais, estaduais, distritais e municipais regulando essa

matéria que muitas vezes são mal elaboradas, com redação de difícil

compreensão gerando conflitos normativos que devem ser resolvidos por

meio da aplicação dos princípios do Direito Ambiental.

Acentua-se, ainda, que tais princípios sirvam também para aqueles

casos em que não existe legislação específica auxiliando na interpretação

jurídica.

A evolução da sociedade e o aparecimento de novas tecnologias

fazem com que a cada dia surjam novas situações capazes de interferir na

qualidade do meio ambiente e por isso não podem deixar de ser reguladas

pelo Direito Ambiental.

A maior parte dos princípios trazidos pela Declaração Universal

sobre o Meio Ambiente foi consagrada explícita ou implicitamente pela

Page 6: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

Constituição Federal de 1988 e pela legislação ambiental de uma forma

geral. Assim, todo o emaranhado de normas, princípios, instituições, que

emanam não só do Estado, como também dos princípios gerais do Direito,

do costume, de organizações, movimentos sociais, dentre outras,

instrumentalizam o Meio Ambiente como ramo autônomo do Direito.

Serão destacados, a seguir, alguns princípios que compõem o Direito

Ambiental.

2.1 PRINCÍPIO DO DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL

O princípio do direito humano fundamental informa que o meio

ambiente é um direito subjetivo fundamental do ser humano, essencial à

sua sadia qualidade de vida. Paulo Affonso Leme Machado (1994) relata à

questão da analogia dos direitos ambientais como direitos humanos e suas

conseqüências ressaltando a afirmação de Maguelonne Déjant-Pons que

afirma que: “o direito ao meio ambiente é um dos maiores direitos

humanos do século XXI, na medida em que a humanidade se vê ameaçada

no mais fundamental de seus direitos – o da própria existência”.

O direito ao meio ambiente protegido é um direito difuso, já que

pertence a todos, e é um direito humano fundamental consagrado nos

Princípios 1 e 2 da Declaração de Estolcomo em 1972 e reafirmado na

Declaração do Rio de Janeiro em 1992.

O primeiro e o segundo principios da Declaração do Meio Ambiente,

adotados na Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo buscou

assegurar que:

O ser humano tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e a

uma vida com condições adequadas de sobrevivência, num meio

ambiente que permita usufruir de uma vida digna, ou seja, com

qualidade de vida, com a finalidade também, de preservar e melhorar

o meio ambiente, para as gerações atuais e futuras.

Page 7: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

A proteção ambiental referenciada em Estocolmo faz com que todos

os povos comecem a pensar de maneira diferente, ou seja, de que junto com

o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, deve ser consagrado o

direito fundamental da vida humana na terra visando, com isto, a melhora

do meio ambiente em benefício do homem atual e seus descendentes.

Reforça-se, assim, a preocupação com a vida futura.

O que se almeja é que o crescimento econômico respeite sempre a

natureza, de forma a não ocasionar sacrifícios e prejuízos ao meio

ambiente. Assim, o desafio que se impõe a todos, é que se devem encontrar

meios de desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente, visando, com

isto, não violar também os direitos fundamentais da vida. Ademais, a

previsão expressa no art. 5º, LXXIII, que se refere aos direitos e garantias

fundamentais, faz concluir que a ação constitucional visando à defesa do

meio ambiente, ratifica que este é um direito fundamental do ser humano:

Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação

popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de

entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao

meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,

salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da

sucumbência. (grifo nosso)

A Conferência de Estocolmo influenciou a elaboração da matéria

destinada ao meio ambiente na Constituição Federal de 1988. O princípio

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito humano

fundamental ganhou status constitucional no Brasil ao ser contemplado no

caput do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, onde se lê:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o

dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações. (grifo nosso)

Page 8: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

Do artigo 225 da Constituição Republicana Federativa de 1988 e dos

Tratados Internacionais, extraem-se os princípios fundamentais do direito

ambiental como diretrizes básicas para a manutenção do equilíbrio

ecológico em todo o planeta. Nesse sentido, Fiorillo (2007) ensina que:

Aludidos princípios constituem pedras basilares dos sistemas

político-jurídicos dos Estados civilizados, sendo adotados

internacionalmente como fruto da necessidade de uma ecologia

equilibrada e indicativa do caminho adequado para a proteção

ambiental, em conformidade com a realidade social e os valores

culturais de cada Estado.

Na Convenção do Rio de Janeiro, no ano de 1992, foi realizada a

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento – ECO / 92, que reafirmou os princípios da Declaração

de Estocolmo e introduziu outros sobre o desenvolvimento sustentável, ou

seja, de que o ser humano tem direito à uma vida saudável e em harmonia

com a natureza, devendo ainda, estar no centro do desenvolvimento. Com

essa nova mentalidade e diante da constante e impunível agressão ao meio

ambiente e aos recursos naturais pelo homem, operou-se uma resposta

eficaz dos governantes, com a edição de leis rígidas.

No Brasil, são promulgadas as Leis da Política Nacional do Meio

Ambiente (N° 6.931/81) e de crimes Ambientais (N°. 9.605/98), as quais

refletem a tendência mundial da proteção ambiental.

A Organização das Nações Unidas lançou, em março de 1991, na

cidade de Genebra, o Programa das Nações Unidas para O Meio Ambiente

– PNUMA – que ratificou a enorme seriedade dos problemas ambientais e

sua relação com a qualidade de vida, sendo importante constituir-se o meio

ambiente à categoria de direito fundamental. Nesse sentido, o conjunto de

leis e acordos internacionais sobre o meio ambiente e direitos humanos

surgidos na década de cinqüenta do século passado, tem sido surpreendente

Page 9: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

envolvendo o mundo todo nessa questão fundamental.

2.2 PRINCIPIO DO ACESSO EQÜITATIVO AOS RECURSOS

NATURAIS

O princípio ao acesso eqüitativo aos recursos naturais integra os bens

ao meio ambiente como água, ar e solo, aos quais devem satisfazer as

necessidades comuns de todos os habitantes da Terra. O meio ambiente é

um bem de uso comum do povo, isto é, todos podem utilizar. O acesso aos

bens ambientais podem ser pelo consumo do bem (utilização dos recursos

hídricos, a caça e pesca), o acesso causando poluição (lançamento de

poluentes no ar, ou água, ou solo) e acesso para a contemplação da

paisagem.

José Joaquim Gomes Canotilho (1996) destaca a idéia de:

Um Estado de Justiça Ambiental, um regime estatal caracterizado

pela vedação da distribuição não eqüitativa dos benefícios e

malefícios da extração e do aproveitamento dos recursos naturais.

Dentro desse panorama ganha importância o princípio do acesso

eqüitativo aos recursos naturais, segundo o qual os bens ambientais

devem ser distribuídos de forma equânime entre os habitantes do

planeta.

O princípio vem afirmar que não basta um modelo de

desenvolvimento ser passível de reprodução indefinidamente

(desenvolvimento sustentável), impondo-se, também, que os frutos do

desenvolvimento sejam equilibradamente distribuídos.

Paulo Affonso Leme Machado emprega a terminologia desse

principio como “a equidade deve orientar a fruição ou o uso da água, do ar

e do solo. A equidade dará oportunidades iguais diante de casos iguais ou

semelhantes”, ao precisar o conteúdo do princípio põe em evidência a

necessidade de fruição eqüitativa dos recursos naturais, observando-se que

Page 10: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

o acesso com equidade aos recursos naturais deve ser utilizado sem o seu

esgotamento, pensando nos usuários das gerações futuras.

O acesso dos recursos naturais tem sido discutido em encontros

internacionais sobre o meio ambiente como a Convenção para a Proteção e

Utilização dos Cursos de Água Transfronteiriços e dos Lagos

Internacionais, de Helsinque, 1992 que preconiza que os recursos hídricos

são geridos de modo a responder às necessidades da geração atual sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias

necessidades.

O Princípio 5 da Declaração Universal sobre o Meio Ambiente

dispõe que “Os recursos não renováveis do globo devem ser explorados de

tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as vantagens

extraídas de sua utilização sejam partilhadas a toda a humanidade”.

Já os Princípios 1 e 3 da Declaração do Rio de Janeiro de 1992 sobre

o Meio Ambiente e o Desenvolvimento dispõem que:

Principio 1: Os seres humanos constituem o centro das preocupações

relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma

vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza.

Principio 3: O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo

a permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessidades de

gerações presentes e futuras.

A Convenção para a Proteção e Utilização dos Cursos de Água

Transfronteiriços e dos Lagos Internacionais, de Helsinque de 1992, em

suas disposições gerais dispõe que: “os recursos hídricos são gerados de

modo a responder às necessidades da geração atual sem comprometer a

capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”

(art. 5º, 5, c).

A Convenção sobre os Usos dos Cursos de Água Internacionais para

Fins Distintos da Navegação diz em seu art. 5, inciso 1 que:

Page 11: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

Os Estados do curso de água utilizam, em seus territórios respectivos,

o curso de água internacional de modo eqüitativo e razoável. Em

particular, um curso de água internacional será utilizado e valorizado

pelos Estados do curso de água com o objetivo de chegar-se à

utilização e às vantagens ótimas e duráveis – levando-se em conta os

interesses dos Estados do curso de água respectivos – compatíveis

com as exigências de uma proteção adequada do curso de água.

A Convenção da Diversidade Biológica, que foi ratificada por meio

do Decreto Nº 2.519/98, estabelece no seu artigo 15, inciso 7 que:

Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislativas,

administrativas ou políticas, conforme o caso e em conformidade

com os arts. 16 e 19 e, quando necessário, mediante o mecanismo

financeiro estabelecido pelos arts. 20 e 21, para compartilhar de

forma justa e eqüitativa os resultados da pesquisa e do

desenvolvimento de recursos genéticos e os benefícios derivados de

sua utilização comercial e de outra natureza com a Parte Contratante

provedora desses recursos. Essa partilha deve dar-se de comum

acordo.

Encontra-se esse imperativo do acesso eqüitativo aos recursos

naturais também na legislação ordinária. É o caso da Lei Nº 9.433/97 que

determina que o objetivo da Política Nacional dos Recursos Hídricos no

inciso I do art. 2º é o de “assegurar à atual e às futuras gerações a

necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos

respectivos usos” e no artigo 11 estabelece que: “O regime de outorga de

direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o

controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício

dos direitos de acesso à água”.

A Lei Nº 10.275/01, conhecida como o Estatuto da Cidade, é mais

explícita nesse sentido ao dispor no inciso IX do art. 2º que a “justa

distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização”

é uma diretriz da política urbana, tendo em vista a ordenação do pleno

Page 12: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana.

A mais importante referência ao princípio do acesso eqüitativo aos

recursos naturais no ordenamento jurídico brasileiro é a classificação do

meio ambiente pelo caput do art. 225 do texto constitucional como “bem de

uso comum do povo”, equidade essa que é considerada também no que diz

respeito às gerações futuras.

Ademais, da mesma maneira que os direitos civis e sociais, trata-se

de um direito fundamental cuja fundamentação se encontra no princípio da

dignidade da pessoa humana, que está previsto no inciso III do art. 1° da

Constituição Federal.

Essa apropriação privada dos recursos ambientais coletivos, e

conseqüente imposição dos riscos ambientais a uma parcela não

privilegiada da população, consistem em uma afronta direta ao direito

fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado da mesma

maneira que à isonomia apregoada pelo texto constitucional em relação a

todos os cidadãos:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes

no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e

liberdades fundamentais;

O art. 170 da Constituição Federal dispõe que a ordem econômica

tem por fim assegurar a todos os cidadãos a existência digna conforme os

ditames da justiça social, consagrando como princípios da atividade

econômica nos incisos VI e VII a “defesa do meio ambiente, inclusive

mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos

Page 13: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação” e a

“redução das desigualdades regionais e sociais”.

Os mencionados dispositivos constitucionais serviram para consagrar

definitivamente no ordenamento jurídico nacional o conceito de

desenvolvimento sustentável e forma eqüitativa, uma maneira de resolver o

crescimento econômico, o bem-estar social e a proteção do meio ambiente,

com ênfase tanto nas gerações presentes quanto nas futuras.

2.3 PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR E POLUIDOR-PAGADOR

Com a instituição dos princípios do usuário-pagador e poluidor-

pagador, recomendação inicialmente feita pela Organização de Cooperação

e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) em 1972, estabeleceu-se que ao

poluidor devem ser imputados os custos necessários ao combate à poluição,

custos esses determinados pelo Poder Público para manter o meio ambiente

em estado aceitável, bem como promovendo a sua melhoria. Henri Smets

(apud Machado, 2002, p.47) assinala que:

Em matéria de proteção do meio ambiente, o princípio usuário-

pagador significa que o utilizador do recurso deve suportar o

conjunto dos custos destinados a tornar possível a utilização do

recurso e os custos advindos de sua própria utilização. Este princípio

tem por objetivo fazer com que estes custos não sejam suportados

nem pelos Poderes Públicos, nem por terceiros, mas pelo utilizador.

De outro lado, o princípio não justifica a imposição de taxas que

tenham por efeito aumentar o preço do recurso ao ponto de

ultrapassar seu custo real, após levarem-se em conta as externalidades

e a raridade.

Desta forma, a cobrança pelo uso e/ou pela poluição dos recursos

naturais constitui instrumento de gestão a ser implantado para induzir o seu

usuário e/ou poluidor a uma racionalização no uso desse recurso, mantendo

um equilíbrio entre as disponibilidades e demandas bem como a proteção

Page 14: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

ao meio ambiente.

O princípio do poluidor-pagador obriga quem poluiu a pagar pela

poluição causada ou que pode vir a ser causada e está assim descrito no §

3º do artigo 225 da Constituição Federal: “as condutas e atividades

consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas

físicas ou jurídicas, à sanções penais e administrativas, independentemente

da obrigação de reparar os danos causados”. O objetivo desse princípio é

forçar a iniciativa privada a internalizar os custos ambientais gerados pela

produção e pelo consumo na forma de degradação e de diminuição dos

recursos ambientais e estabelece, ainda, que quem utilizar o recurso

ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na

imposição de taxas abusivas de maneira que nem o Poder Público nem

terceiros sofram com tais custos.

A exploração dos recursos naturais, sempre foi feita de maneira

irracional e desordenada, não havia a preocupação que um dia a ‘fonte

poderia secar’. Os países desenvolvidos, no decorrer dos tempos,

cometeram verdadeiros crimes contra a natureza, na busca de riquezas.

A globalização tem aberto as fronteiras para o mundo. A sociedade

cresce, avança e se desenvolve necessitando explorar cada vez mais todos

os espaços fomentando a economia e a demanda de emprego mas a ordem

natural dos fatos, nos mostra que para cada ação corresponde uma

reação/conseqüência, ou seja, impondo à sociedade um alto preço a pagar

em decorrência desse fenômeno. Uma das graves conseqüências que estão

se evidenciando é o aumento da taxa de desemprego, situação, até bem

pouco tempo, quase "exclusiva" dos países subdesenvolvidos e que hoje faz

parte do cenário mundial.

Porém, se de um lado aumenta o número de desempregados, por

outro lado a produção cresce na mesma velocidade. Entretanto, no decorrer

do processo produtivo, são deixados para trás lixos, poluição, resíduos etc

Page 15: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

que refletem direta e negativamente no meio ambiente. Corroborando com

o tema da poluição Machado (2002) afirma: “ao causar uma degradação

ambiental o indivíduo invade a propriedade de todos os que respeitam o

meio ambiente e afronta o direito alheio”.

Toda atividade produtiva ou de exploração dos recursos, gera

impactos ambientais. Tais prejuízos geram custos sociais ou danos não

compensáveis e denominam-se externalidades. O valor social dos

benefícios decorrente da atividade proporcionada é inferior aos custos. É

este uso não pago do ambiente que gera desequilíbrio resultando a

necessidade de se atribuir valores monetários.

Reforçando a responsabilidade do poluidor, António Carvalho

Martins (1990) ensina que:

Estando em causa, numa apreciação correcta e previdente em relação

ao futuro, investimentos de facto justificados, com um interesse

económico e consequentemente de bem-estar superior aos custos

ambientais, a teoria revela que a entidade poluidora deve compensar

todos os que ficam prejudicados. Assim se obriga a que haja a

segurança de que os benefícios sejam de facto superiores aos

prejuízos, havendo ainda um ganho líquido para o investidor. Num

mundo capitalista, em que as decisões económicas dependem dos

custos e da rentabilidade prevista das empresas, parece lógico que os

custos da prevenção e da eliminação da poluição fossem tomados em

conta pelo empresário.

Desse modo, enfatiza-se mais uma vez que a reparação não pode

minimizar a prevenção do dano. É importante ressaltar que a conduta mais

acertada seria prevenir o dano, mas se não for possível, pelo menos que

seja garantida a reparação, não esquecendo, porém que em determinadas

situações o dano chega a atingir proporções tais, que até mesmo aferir o

quantum torna-se difícil.

Esse princípio do pagador-poluidor foi inicialmente concebido pela

Comunidade Européia, in verbis:

Page 16: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

As pessoas naturais ou jurídicas, sejam regidas pelo direito público

ou privado, devem pagar os custos das medidas que sejam

necessárias para eliminar a contaminação ou para reduzi-las ao limite

fixado pelos padrões ou medidas equivalentes que assegurem a

qualidade de vida, inclusive os fixados pelo Poder competente.

O núcleo desse princípio tem o intuito de evitar o dano ambiental e

não permitir que alguém polua o meio ambiente mediante o pagamento de

certa quantia em espécie, sendo certo que o meio ambiente é de valor

inestimável para a sociedade e para as futuras gerações.

Esse princípio possui caráter preventivo, indenizatório, reparatório e

busca fazer com que os recursos naturais sejam utilizados de modo mais

racional, de forma sustentável.

Sustentando que não se pode poluir mediante paga, Ednilson

Fernandes Rodrigues (2005) tece suas considerações afirmando que:

Não se permite que ocorra pagamento para poder despejar esgoto

sem tratamento num rio, e nem para que se possa praticar qualquer

outra infração as leis ambientais. Acrescenta-se que só é permitida a

cobrança, desde que haja respaldo legal, pois do contrário poderia se

incorrer na permissão de permitir que alguém adquirisse o direito de

poluir. Tem-se que caso alguém polua, este irá ter que pagar os

danos, mas não poderá pagar para poder poluir.

No Brasil, a Lei N° 6.938, de 31.08.1981, rege que a Política

Nacional do Meio Ambiente visará “a imposição, ao usuário, da

contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos” e

“a imposição ao poluidor e ao predador” da obrigação de recuperar e/ou

indenizar os danos causados (art. 4, VII, sendo complementado pelo art. 14,

§1º). Destarte, Guilherme Cano (apud Machado, 2002) afirma que:

Quem causa a deterioração paga os custos exigidos para prevenir ou

corrigir. É óbvio que quem assim é onerado redistribuirá esses custos

entre os compradores de seus produtos (se é uma indústria, onerando-

a nos preços), ou os usuários de seus serviços (por exemplo, uma

Page 17: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

Municipalidade, em relação a seus serviços de rede de esgotos,

aumentando suas tarifas). A equidade dessa alternativa reside em que

não pagam aqueles que não contribuíram para a deterioração ou não

se beneficiaram dessa deterioração.

Alguns autores não concordam com esta transferência de encargos,

repassando ao consumidor final o custo referente ao risco de causar dano

ao meio ambiente. Machado (2002) cita também Ludwig Kramer dizendo

que:

A coletividade não deve suportar o custo das medidas necessárias

para assegurar o respeito da regulamentação ambiental em vigor ou

para evitar os atentados contra o meio ambiente. Acrescenta que esse

custo deve ser um ônus do fabricante ou do utilizador do produto

poluente, que poderá repassá-lo aos utilizadores posteriores.

A adoção deste princípio no território brasileiro proporcionou a

inserção da teoria do risco-proveito, que acarretou enormes mudanças na

teoria da responsabilidade civil, proporcionando a responsabilização. Este

instituto do Direito Civil obriga o poluidor a indenizar e/ou reparar os

danos causados ao meio ambiente e a terceiros prejudicados pela atividade

poluidora, existindo ou não culpa do poluidor, de acordo com o inciso VII,

do art. 4, da Lei N° 6938/81.

Dessa forma, a responsabilidade objetiva atinge as grandes

corporações e os Estados que são os maiores poluidores do meio ambiente

atualmente e que dificilmente tem suas respectivas culpas comprovadas.

2.4 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

O Princípio da Precaução é reflexo do Princípio 15 da Declaração do

Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 13 de junho

de 1992, estabelecendo que: “Com o fim de proteger o meio ambiente, o

princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de

Page 18: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou

irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada

como razão para adiamento de medidas economicamente viáveis para

prevenir a degradação ambiental”.

2.4.1 O princípio da precaução no ordenamento jurídico brasileiro

A Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro

das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, inseriram respectivamente

em seu preâmbulo e no Princípio 3, o princípio da precaução, diplomas

estes que foram assinados, ratificados e promulgados e que fazem hoje

parte do ordenamento jurídico brasileiro.

A Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de

Janeiro em 05.06.92, ratificada pelo Congresso Nacional pelo Decreto

Legislativo nº 2, de 03.02.94, entrou em vigor no Brasil em 25.09.94,

contendo em seus considerandos, no Preâmbulo, o seguinte:

As Partes Contratantes, (...) Observando também que quando

exista ameaça de sensível redução ou perda de diversidade

biológica, a falta de plena certeza científica não deve ser

usada como razão para postergar medidas para evitar ou

minimizar essa ameaça. Observando igualmente que a exigência

fundamental para a conservação da diversidade biológica é a

conservação in situ dos ecossistemas e dos habitats naturais e a

manutenção de populações viáveis de espécies no seu meio

natural.

Por outro lado, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a

Mudança do Clima, assinada em Nova York em 09.05.92 e ratificada pelo

Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo Nº 1, de 03.02.94, entrou em

vigor para o Brasil em 25.09.94, dispondo em seu Princípio 3 que:

Page 19: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

As partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou

minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos

negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios ou

irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada

como razão para postergar essas medidas, levando em conta que

as políticas e medidas adotadas para enfrentar a mudança do

clima devem ser eficazes em função dos custos, de modo a

assegurar benefícios mundiais ao menor custo possível.

Com relação à tipologia acima mencionada Machado (2002) faz uma

comparação do significado desses princípios nas duas convenções,

concluindo que “Na Convenção da Diversidade Biológica, basta haver

ameaça de sensível redução de diversidade biológica ou ameaça sensível de

perda de diversidade biológica. Não se exigiu que a ameaça fosse de dano

sério ou irreversível, como na Convenção de Mudança do Clima”.

As duas Convenções apontam, da mesma forma, as finalidades do

emprego do princípio da precaução: evitar ou minimizar os danos ao meio

ambiente. Do mesmo modo, as duas Convenções são aplicáveis quando

houver incerteza científica diante da ameaça de redução ou de perda da

diversidade biológica ou ameaça de danos causadores de mudança do

clima.

Em matéria constitucional, foi o princípio da precaução recepcionado

pela Carta Magna no art. 225, § 1º, inciso V que assim dispõe:

Art. 225. (...)

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de

técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a

vida, a qualidade de vida e ao meio ambiente;

Dentro desse raciocínio, o Princípio 15 da Declaração do Rio de

1992 também possui sua imperatividade jurídica e foi expresso nas

palavras de Álvaro Luiz Valery Mirra (1996) com o seguinte fundamento:

Page 20: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

Nesses termos, parece incontestável que, embora não

mandatórios, os princípios emanados da Declaração do Rio de 1992

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e, entre eles,

obviamente, o princípio da precaução, são, na expressão de

Antonio Augusto Cançado Trindade, juridicamente relevantes e

não podem ser ignorados pelos paises na ordem internacional, nem

pelos legisladores, pelos administradores públicos e pelos tribunais

na ordem interna.

Como se vê, o princípio da precaução, estabelecido no item 15 da

Declaração do Rio de Janeiro de 1992, é, efetivamente, um dos princípios

gerais do Direito Ambiental Brasileiro, integrante, assim, do nosso

ordenamento jurídico vigente. Por via de conseqüência, é norma de

observância obrigatória entre nós, inclusive na aplicação judicial do direito

e da legislação protetiva do meio ambiente.

Observa-se também que, pela sua redação, o Princípio 15 da

Declaração do Rio indica um alcance mais restritivo ao conteúdo

precaucional exigindo que a ameaça seja um dano sério ou irreversível

como no modelo da Convenção de Mudança do Clima.

Em decorrência do exposto, conclui-se que o Estado, através de sua

administração, tem o dever, portanto, de acordo com os artigos dispostos na

Convenção sobre Diversidade Biológica, Convenção-Quadro das Nações

Unidas sobre a Mudança do Clima, Princípio 15 da Declaração do Rio de

1992, art. 225 da Constituição Federal, art. 54, § 3º da Lei 9.605, de 12 de

fevereiro de 1998 e juntamente no cumprimento de seus princípios

elencados no art. 37 da Constituição Federal, cumprir seu poder de polícia,

embasado no princípio da precaução, gerindo os riscos e tornando-se

ineficaz quando “não procurando prever danos para o ser humano e o meio

ambiente, omite-se no exigir e no praticar medidas de precaução,

ocasionando prejuízos, pelos quais será co-responsável”.

Casos de dúvida ou incerteza, tipo de risco ou de ameaça, bem como

Page 21: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

o custo das medidas de prevenção, deverão antecipadamente estar sob

análise, pois, caso ocorra o dano em potencial, o processo poderá ser

irreversível e a recuperação do bem atingido tornar-se-á praticamente

impossível. A implementação imediata das medidas de prevenção,

portanto, contribui para que haja uma precaução do dano ambiental.

2.4.2 Fatores que desencadeiam o recurso ao princípio da precaução

O recurso ao princípio da precaução pressupõe: a) a identificação de

efeitos potencialmente nocivos decorrentes de um fenômeno, de um

produto ou de um processo e b) uma avaliação científica dos riscos que,

devido à insuficiência dos dados, ao seu caráter inconclusivo ou ainda à sua

imprecisão, não permitem determinar com suficiente certeza o risco em

questão.

A avaliação dos riscos consiste na análise de quatro componentes, a

saber: a identificação do perigo, a caracterização do perigo, a avaliação da

exposição e a caracterização do risco. Nesse estágio, a Comunicação da

Comissão relativa ao princípio da precaução recomenda que, antes da

tomada de alguma decisão, a opção de atuar só se concretize após a

satisfação destas quatro etapas.

2.5 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

Conforme já exposto, prevenção, do verbo prevenir, em sua

conotação genérica, significa o ato ou efeito de antecipar-se, chegar antes,

com um intuito conhecido. No Direito Ambiental a prevenção é a

prioridade que deve ser dada a medidas que evitem o dano ambiental; é o

agir antecipadamente em face de um problema conhecido de maneira a

reduzi-lo ou eliminá-lo não alterando a qualidade ambiental.

Page 22: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

Na lição de José Rubens Morato Leite e Patrych de Araújo Ayala

(2002):

A prevenção se justifica pelo perigo potencial de que a atividade

sabidamente perigosa possa produzir efetivamente os efeitos

indesejados e, em conseqüência, um dano ambiental, logo,

prevenindo de um perigo concreto, cuja ocorrência é possível e

verossímil, sendo, por essa razão, potencial. Constata-se, nessa

operação, que sua aplicação procura evidenciar que é provável que a

atividade perigosa demonstre-se de fato perigosa, ou seja,

concretamente perigosa, evidenciando que é possível que venha a

produzir os efeitos nocivos ao ambiente.

Machado (2002) dividiu em cinco itens a aplicação do princípio da

precaução justificando-se na seguinte frase: “sem informação organizada e

sem pesquisa não há prevenção”, a saber: a) Identificação e inventário das

espécies animais e vegetais de um território, quanto a conservação da

natureza e identificação das fontes contaminantes das águas e do mar,

quanto ao controle da poluição; b) Identificação e inventário dos

ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; c) Planejamentos

ambiental e econômico integrados; d) Ordenamento territorial ambiental

para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; e) Estudo de

Impacto Ambiental.

2.5.1 O princípio da prevenção no ordenamento jurídico brasileiro

O princípio da prevenção também entrou no Ordenamento Jurídico

Brasileiro pela Convenção sobre Diversidade Biológica que em seus

considerandos do Preâmbulo expressa: “As Partes Contratantes,(...);

Observando que é vital prever, prevenir e combater na origem as causas da

sensível redução ou perda da diversidade biológica;(...);”.

A Declaração do Rio de Janeiro à Conferência das Nações Unidas

Page 23: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 também em seu

Princípio 8 assim invoca o princípio da prevenção, no sentido de

previdência, como “uma chance para a sobrevivência”: A fim de conseguir-

se um desenvolvimento sustentado e uma qualidade de vida mais elevada

para todos os povos, os Estados devem reduzir e eliminar os modos de

produção e de consumo não viáveis e promover políticas demográficas

apropriadas.

Em nível nacional, recepcionada pela Constituição Federal de 1988,

a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei Nº. 6.938/81, em seu art.

2º, incisos IV e IX, contempla também o dever de se evitar danos ao meio

ambiente, consolidando mais uma vez a essência desse princípio, ou seja:

Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia

à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento

sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção

da dignidade da vida humana, atendido os seguintes princípios: (...);

IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas

representativas; (...);

IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação;(...).

Medidas precaucionais e preventivas devem ser aplicadas nos

estudos de impacto ambiental, pois pretende se conhecer se o problema

existe e, em existindo, qual a sua extensão e as providências possíveis para

tentar evitá-lo ou mitigá-lo.

A Matriz Referencial de Impacto Ambiental construída a partir de

um diagnóstico ambiental da Área de Influência e da Área diretamente

afetada, pode apresentar aspectos subjetivos quanto à escolha da relação

dos componentes que constituem os meios físico, biótico e sócio-

econômico como também uma discricionariedade quando se avalia se

Page 24: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

determinados impactos são positivos, negativos, nulos ou ausentes. Um

impacto omisso no diagrama de significância de impactos ambientais e,

portanto, não analisado quanto à sua significância, pode ser potencialmente

causador de significativa degradação ambiental.

2.6 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO

Segundo a Declaração do Rio de Janeiro de 1992, notadamente em

seu princípio 13,

os Estados deverão desenvolver legislação nacional relativa à

responsabilidade e à indenização das vítimas da poluição e outros

danos ambientais. Os Estados deverão cooperar da mesma forma, de

maneira rápida e mais decidida, na elaboração das novas normas

internacionais sobre responsabilidade e indenização por efeitos

adversos advindos dos danos ambientais causados por atividades

realizadas dentro de sua jurisdição ou sob seu controle, em zonas

situadas fora de sua jurisdição.

Apesar de não fazer menção direta no que tange a reparação das

áreas de biomassa degradadas, a Declaração do Rio de Janeiro serviu de

ferramenta na ampliação do Direito Ambiental internacional.

Parte desta evolução diz respeito à criação de meios mais efetivos de

responsabilização de entes privados e públicos, causadores de danos

ambientais. Estes meios, frutos do princípio da reparação, tem por

prerrogativa a obrigação de reparação do dano causado ao meio ambiente, e

não apenas aos particulares e aos bens privados.

Um dos casos mais famosos ocorridos e motivadores na mudança de

direção do Direito Ambiental foi o naufrágio do navio Amoco-Cadiz em

1976, nas costas da França. Responsável pelo derramamento de quase

230.000 toneladas de petróleo, a empresa norte-americana foi condenada

por um tribunal daquele país ao pagamento das despesas administrativas e

de recuperação do litoral e de portos, sem que contudo os danos severos ao

Page 25: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

biomassa fossem levados em conta.

A legislação interna brasileira, principalmente com a Lei Federal N°

6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) e posteriormente

recepcionada pela CF/88, veio a declarar a responsabilidade objetiva

ambiental, considerando imprescindível a obrigação de reparação aos danos

ambientais.

O Princípio da reparação encontra-se explícito em inúmeros

dispositivos legais, tomando, por exemplo, o art. 225, § 3º, da CF/88, que

expressa:

as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente,

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais

e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os

danos causados.

O próprio art. 4º, VII, da Lei 6.938/85, obriga o agente poluidor a

efetivar a recuperação e/ou indenização dos danos causados ao meio

ambiente.

Apesar do oposicionismo ferrenho de vários Estados influentes no

cenário econômico, os princípios ambientais são cada vez mais influentes

na elaboração das legislações.

2.7 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O termo desenvolvimento sustentável foi utilizado inicialmente na

Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em 1972 em

Estocolmo, na Suécia. Internamente, exemplificando, a Lei Federal

6.938/81, a Constituição Federal de 1988 e as inúmeras conferências afetas

ao Direito Ambiental como a ECO 92 e a RIO + 10, recepcionaram a

referida expressão.

Segundo Bruno Campos Silva (2004, p. 65):

Page 26: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

desenvolver e conservar: este é o resumo do princípio do

desenvolvimento sustentável, que tem por conteúdo a manutenção

das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas

atividades, garantido igualmente uma relação satisfatória entre os

homens e destes com seu ambiente, para que as futuras gerações

tenham a oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos a

nossa disposição.

Segundo o Centro Nacional para Desenvolvimento Sustentado das

populações Tradicionais do IBAMA, desenvolvimento sustentável significa

o processo de transformação e no qual a exploração dos recursos, a direção

dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a

mudança institucional se harmonizam, reforçando o potencial presente e

futuro do meio ambiente, suporte das atividades econômicas das

populações, a fim de melhor atender a suas necessidades e aspirações,

respeitando a livre determinação sobre a evolução de seus perfis culturais.

Este princípio tem por objetivo central a manutenção do meio

ambiente saudável sem, no entanto, obstar o desenvolvimento econômico,

assegurando às futuras gerações uma relação harmoniosa entre ambas, sem,

portanto, sobrepor uma em relação a outro.

O surgimento deste princípio deve-se principalmente ao fato de que o

meio ambiente não é fonte inesgotável de recursos naturais, sendo que, se

utilizada de forma irracional, logo irá se extinguir. Conseqüentemente, o

Direito Ambiental, mais especificadamente o princípio do desenvolvimento

sustentável, surge como mediador entre os interesses da economia e a

capacidade do meio ambiente em suprir os recursos necessários à demanda.

O legislador Constituinte de 1988, atento as mudanças ocorridas no

cenário político e econômico interno e externo, principalmente no que

tange a coexistência pacífica entre a preservação ambiental e o

desenvolvimento econômico, tomaram o cuidado de promulgar uma

Constituição voltada ao bem estar social, e não apenas ao puro liberalismo

Page 27: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

que visava apenas ao progresso sobrepondo-se ao meio ambiente.

Podemos exemplificar dois artigos preconizados na Constituição

Federal de 1988, que fazem menção ao desenvolvimento sustentável:

art. 170 especifica que a ordem econômica, fundada na valorização

do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a

todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,

observados os seguintes princípios: ... VI – defesa do meio ambiente

e art. 225: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado... para as presentes e futuras gerações

A CF/88 não pretende impedir o aproveitamento da natureza, muito

menos o desenvolvimento da sociedade ou da economia. O que se pretende

é a utilização racional e equilibrada dos recursos naturais, e não a pura

degradação destes em detrimento da evolução.

O Plano Diretor vem a ser importante ferramenta para o

desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma figura jurídica obrigatória

para alguns municípios e facultativa a outros, devendo ser aprovado por lei

e tem, dentre uma de suas funções a definição da função social a ser

atingida propriedade urbana.

2.8 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

Parte constante do princípio 10 da Declaração do Rio:

No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a

informações relativas ao meio ambiente de que disponham as

autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e

atividades perigosas em suas comunidades.

A Convenção sobre o Acesso à Informação, a Participação do

Público no Processo Decisório e o Acesso à Justiça em Matéria de Meio

Ambiente prevê, no art. 2º, item 3:

Page 28: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

A expressão “Informações sobre meio ambiente” Designa toda

informação disponível sob forma escrita, visual, oral ou eletrônica ou

sob qualquer outra forma material, sobre: a) o estado do meio

ambiente, tais como o ar e a atmosfera, as águas, o solo, as terras, a

paisagem e os sítios naturais, a diversidade biológica e seus

componentes, compreendidos os OGMS, e a interação desses

elementos; b) fatores tais como as substâncias, a energia, o ruído e as

radiações e atividades ou medidas, compreendidas as medidas

administrativas, acordos relativos ao meio ambiente, políticas, leis,

planos e programas que tenham ou possam ter, incidência sobre os

elementos do meio ambiente concernente a alínea a,

supramencionada, e a análise custo/benefício e outras análises e

hipóteses econômicas utilizadas no processo decisório em matéria de

meio ambiente: c)o estado de saúde do homem, sua segurança e suas

condições de vida, assim como o estado dos sítios culturais e das

construções na medida onde são, ou possam ser, alterados pelo estado

dos elementos do meio ambiente ou, através desses elementos, pelos

fatores, atividades e medidas visadas na alínea b, supramencionada.

A informação ambiental, ou seja, todos aqueles dados envolvendo

planos, decisões e atividades que influenciem no manejo de políticas

ambientais internas ou externas, ou mesmo em fatos afetos a determinadas

localidades devem ser repassados a comunidades em geral, e não apenas

entre os Estados ou organizações.

Apesar da resistência por parte de governos e empresas em revelar

informações acerca de eventos ambientais significativamente danosos ao

bioma e a população em geral, a sofisticação e ampliação dos meios de

comunicação, inserindo-se a internet; jornais e televisivos, bem como os

avanços legislativos internos e os tratados internacionais, dificultaram estas

práticas criminosas.

Segundo Machado (2002):

A informação ambiental de ser transmitida de forma a possibilitar

tempo suficiente aos informados para analisarem a matéria e poderem

agir diante da Administração Pública e do Poder Judiciário. A

Page 29: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

informação ambiental deve ser prevista nas convenções

internacionais de forma a atingir não somente as pessoas do país onde

se produza o dano ao ambiente, como também as pessoas de países

vizinhos que possam sofrer as conseqüências do dano ambiental.

A liberação das informações ambientais que possam principalmente

surtir efeitos negativos ao ambiente e à população devem ser efetivamente

fiscalizadas tanto pelos entes públicos como pelos privados.

2.9 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE

Ao se falar do principio da responsabilidade, há de se ressaltar que

aquele que causar danos ao meio ambiente deve responder por suas ações

não sendo nada mais justo, já que assim é apresentada a teoria da

responsabilidade no direito brasileiro e, ao se tratar do direito ambiental e

seus princípios, a previsão legal nas Leis N° 9.605/98, que trata dos crimes

ambientais, e 6.938/81, artigo 14º, que trata da responsabilidade civil

objetiva do degradador fala que; “todo aquele que praticar um crime

ambiental, estará sujeito a responder, podendo sofrer não apenas na esfera

administrativa, como na penal e civil”.

O artigo 225 da Constituição Federal, em seu parágrafo 3º, prevê a

tríplice responsabilidade ao agente causador, tanto pessoa física quanto

jurídica. Observa-se que é consagrada a cumulatividade das sanções

justamente por proteger objetos distintos, ou seja, estão sujeitas a regimes

jurídicos diferentes.

A primeira parte do inciso VII do artigo 4º da Lei N°. 6938/81 prevê

o principio da responsabilidade, quando fala da indenização ou recuperação

dos danos causados, igualmente, o inciso IX do artigo 9º dessa Lei também

prevê com as devidas penalidades compensatórias.

Page 30: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

2.9.1 Das sanções administrativas

Nos dias atuais é comum, pela quantidade de atos praticados contra o

meio ambiente, as infrações que tem como resultado sanções

administrativas onde é exercido o poder de policia, previsto na Constituição

federal de 1988, pela lesividade dos referidos atos praticados contra meio

ambiente. Sendo irrelevante como conduta o dolo ou culpa, pois se trata da

teoria adaptada à ordem econômica do capitalismo e regras definidas pelos

artigos 170 e seguintes da Constituição de 1988.

E ainda, segundo Fiorillo (2007, p.57):

Embora a Lei n. 9.605/98 tenha procurado estabelecer um capítulo

especifico (Capítulo VI) para regrar de maneira geral infrações

administrativas ambientais, inclusive com a previsão de sanções

ambientais (processo administrativo), encontramos várias normas em

nosso ordenamento jurídico reservadas a estabelecer a denominada

responsabilidade administrativas em face dos bens ambientais

observados no plano do patrimônio genético, meio ambiente cultural,

meio ambiente artificial, meio ambiente do trabalho e meio ambiente

natural (...), trazendo definição de infração administrativa ambiental

ou com finalidade puramente “didática” (“ Art. 70. Considera-se

infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole

regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do

meio ambiente”), a Lei n. 9.605/98 aplica-se a qualquer poluidor, a

saber, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que por

ação ou omissão viole a tutela jurídica dos bens ambientais (uso,

gozo, promoção, proteção e mesmo recuperação dos aluídos bens).

Referido poluidor, visando defender-se em decorrência do processo

administrativo instaurado (art. 70, parágrafos 1º, 2º, 3º, 4º), tem

assegurado o contraditório bem como a ampla defesa (art, 5º, LV e

LVI), observando os prazos fixados no art, 73 e 75 da norma antes

referida. Os valores arrecadados em multas (....), são revertidos ao

Fundo Nacional do Meio Ambiente.

Page 31: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

2.10 PRINCIPIO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

O principio da gestão democrática do meio ambiente assegura ao

cidadão o direito à informação e a participação na elaboração das políticas

públicas ambientais, de modo que a ele devam ser assegurados os

mecanismos, judiciais, legislativos e administrativos que efetivam esses

princípios.

O referido principio, diz respeito para além da esfera ambiental, a

tudo que é de interesse público. O importante é que nessa esfera do direito

ambiental, trata-se de direito difuso, o qual não pertence a nenhuma pessoa

ou grupo individualmente considerado. Nesse sentido, trazendo esta parte

do direito à gestão democrática, visa contar com auxilio da sociedade civil,

por se tratar de meio ambiente, sendo de difícil controle, já previsto em lei,

no inciso I do artigo 2º da Lei 6.936/81 como bem público, sendo

amparado por lei devido ao uso coletivo.

O desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras, depende do

planejamento urbano que cada município adota, onde deve ser construído

através das necessidades de cada grupo, pela sociedade civil, não

colocando em risco o meio ambiente, visando, assim, o bem comum e o

interesse público, apresentado pelo Estatuto da Cidade (Lei N°.

10.257/2001), como a mais importante legislação brasileira em matéria de

tutela do meio ambiente artificial.

Pronuncia-se, aliás, a respeito Fiorillo (2007, p.29):

Artigo 225 da Constituição Federal de 1988, todos tem direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado..., impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações”.

Ademais aqueles pelos quais são sofredores futuros ou presentes dos

impactos causador pela falta de cuidados com o meio ambiente, têm o

Page 32: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

direito de se defender. É por isso que o inciso I do artigo 2 da Lei 6.938/81

classifica o meio ambiente como patrimônio público, a ser assegurado e

protegido, tendo em vista o uso coletivo, já os incisos V, VI e VII do artigo

5º do decreto 99. 247/90, que determina a participação da sociedade civil

por meio das entidades de classe de órgãos não governamentais e de

movimentos sociais no CONAMA.

O artigo 20 da resolução 237/97 do CONAMA, exige que para os

entes federativos poder exercer a competência licenciatória é necessário

que tenham implementado os Conselhos de meio ambiente com caráter

deliberativo e obrigatória a participação da sociedade civil.

O artigo 2º da Resolução n. 9/87 do CONAMA e o artigo 3º da

Resolução 237/97 do CONAMA, prevêem a realização de audiência

pública nos processos administrativos de licenciamento ambiental em que

for necessário o estudo do relatório do impacto ambiental, caso alguma

entidade civil, Ministério Público ou pelo menos cinqüenta cidadãos

requeiram.

O Estatuto da cidade traz de forma clara a preocupação quanto ao

bem estar dos habitantes ao conglomerado urbano, sem descuidar dos

futuros ocupantes. Contudo, para tanto é necessária a conscientização da

população.

2.11 PRINCIPIO DO LIMITE

Igualmente voltado à administração pública, justamente pelo dever

de fixar parâmetros, mínimos a serem seguidos, em casos de emissão de

gazes, partículas, sons/ruídos, lixo e resíduos hospitalar.

Visando sempre o bem comum, pois, a respeito desse principio,

entende-se que deve ser estabelecido um limite a ser tolerado na emissão de

partículas, poluentes presentes na água , deve encontrar-se em limite

tolerável, para que estejam dentro dos padrões fixados em lei,

Page 33: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

O inciso V do parágrafo 1º do artigo 225 da Constituição Federal

determina que para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, incumbe ao Poder Público controlar a produção,

comercialização e emprego de técnicas, métodos e substâncias que

comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

Voltado à administração pública, cujo dever é fixar parâmetros

mínimos a serem observados em casos como emissão de partículas, ruídos,

sons, destinação final de resíduos sólidos, hospitalares e líquidos, dentre

outros, visando sempre promover o desenvolvimento sustentável, dá-se um

acompanhamento, com a verificação do potencial de geração de poluentes

líquidos de resíduos e de emissões atmosféricas, assim como riscos de

explosões, e outros possíveis riscos de acontecimentos, como incêndio

poluição das águas e das marés, contaminação do ar, risco de inundações,

contaminação com produtos químicos e tantos outros.

Por derradeiro, observa-se que o judiciário deixa de proteger e apoiar

o meio ambiente, resguardando-o. A falta de observância a esses princípios

presentes no direito ambiental, atuando sob positivismo exagerado, deixa

de resguardar sob a observância de que os princípios exercem importante

função nesse meio.

3 PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS E POLITICA

GLOBAL DO MEIO AMBIENTE

A Constituição Federal de 1988, determina no art. 23, inciso VII, a

competência comum da União, dos Estados, dos municípios e do Distrito

federal para preservar as florestas, a fauna e a flora conferindo também no

art. 24, inciso VI, à União, Estados e Distrito Federal, poderes para legislar,

sobre florestas, caça e pesca, fauna, conservação do meio da natureza,

Page 34: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

defesa do solo e recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da

poluição além de trazer os princípios constitucionais da defesa do meio

ambiente no seu artigo 225.

No tocante a política global, pode-se dizer que o primeiro grande

marco internacional para conscientização ambiental, deu-se com a primeira

conferência mundial ambiental, ficando conhecida como conferencia de

ESTOCOLMO, realizada no ano de 1972, na Suécia e teve a participação

de vários Estados-membros, das organizações governamentais e não-

governamentais (ONGs). Tal conferência, adveio da necessidade para

providências acerca do desgaste causado após a segunda guerra mundial

que, com o advento da revolução industrial, acabou exigindo das

autoridades e representantes das entidades e Países providências a favor do

meio ambiente, como atitude para garantir a preservação das presentes e

futuras gerações tendo como resultado, a elaboração de um documento,

chamado Declaração de Estocolmo (declaração das nações unidas sobre o

meio ambiente).

O documento contém os 26 princípios precursores da consciência

ambiental internacional e originou um resultado concreto, qual seja, a

formulação do chamado Programa das Nações Unidas Sobre o Meio

Ambiente – PNUMA –para atuar junto a ONU.

Anos mais tarde, a preservação ambiental ganhou uma dimensão

universal, reafirmada com a ECO 92, ocorrida no Rio de Janeiro.

Como a poluição pode atingir mais de um país, além do que a

questão ambiental tornou-se uma questão planetária, assim como a

proteção do meio ambiente, a necessidade de cooperação entre as nações, o

princípio da cooperação internacional, tornou-se uma regra a ser obedecida,

estabelecendo-se assim mais um princípio norteador do Direito Ambiental.

Page 35: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

O direito ao meio ambiente sadio, está garantido na Constituição

Federal de 1988, onde já é mencionado num capítulo sobre o assunto, que

integra o título da ordem social, onde se estatui que todos têm direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo bem de uso comum do

povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e

a coletividade o dever de defendê-lo, preservá-lo para as futuras e presentes

gerações.

O artigo 225, é que integra na sua complexidade, a disciplina, se

revelando como social, sendo que para concretizá-lo, importa esforços pelo

poder público.

4.1 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO

A Carta Magna toma esse principio como importante na participação

conjunta, ao tratar do meio ambiente, no sentido de grupos e não

individualmente apenas, no tocante à defesa do meio ambiente. O artigo

225 caput, consagrou a presença do Estado e da sociedade civil. Sendo que

assim nos ensina Fiorillo (2007, p. 44):

Àquela ONG, na medida em que esta recebe dotação orçamentária e

há a previsão constitucional do art. 225, caput, que estrutura toda a

sociedade na defesa do meio ambiente, de que todos (pessoas físicas

e jurídicas) obrigam-se a tutelá-lo. Atende-se que não se trat de um

aconselhamento, mas de um dever da coletividade.

No entanto, observa-se que na omissão desta participação o resultado

para a coletividade é negativo, causando prejuízo, a sociedade pela qual,

apesar de haver previsão ao poder publico, não dispensa o poder do povo.

Segundo José Afonso da Silva (2007), “constituição é o conjunto de

normas que organiza os elementos constitutivos do Estado, figurando entre

Page 36: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

estes a forma do Estado e governo, os limites do poder e as liberdades

individuais.”. A norma constitucional difere da norma infra-constitucional,

pois esta primeira surge de um fenômeno próprio. Este fenômeno

denomina-se por poder constituinte originário. No Brasil este foi

manifestado na Assembléia Nacional Constituinte da constituição de 1988.

Este caráter peculiar da constituição pauta-se na hierarquia

normativa. Esta hierarquia é o fundamento do ordenamento jurídico

contemporâneo. Desta forma, as leis infra-constitucionais são subordinadas

aos mandamentos constitucionais. Isto é de fundamental relevância para o

Direito Privado.

4.2 PRINCIPIO DA UBIQUIDADE

Refere-se ao que trata de direitos humanos, ou seja, está no centro do

tratamento com fundamental importância. A este respeito se pronuncia

Fiorillo (2007,p. 49) escrevendo que:

Este princípio vem evidenciar que o objeto de proteção do meio

ambiente, está localizado no epicentro dos direitos humanos, deve ser

levado em consideração toda vez que uma política, atuação,

legislação sobre qualquer tema, obra, etc. tiver que ser criada e

desenvolvida, (...) na medida em que possui como ponto cardeal a

tutela constitucional a vida e a qualidade de vida, tudo que se

pretende fazer, criar ou desenvolver, deve antes passar por uma

consulta ambiental, enfim para saber se há ou não possibilidade de

que o meio ambiente venha a ser degradado.

Enfim, visa demonstrar o objeto de proteção do meio ambiente, qual

seja de proteção a vida, em sua qualidade, numa ação global e solidária,

com observância nos direitos humanos, não só em pensamentos mas

também em ações.

Page 37: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

5 CONCLUSÃO

A conclusão deste trabalho não poderia ser outra senão no sentido do

reconhecimento do Direito Ambiental como um dos mais importantes na

atualidade. Sem a proteção do meio ambiente, a implementação do

desenvolvimento auto-sustentável e uma política de preservação forte e

severa, em pouco tempo não haverá mais o que se preservar e, com isso,

não haverá mais o que se regular em sociedade simplesmente porque não

haverá vida possível.

Por se tratar de um direito difuso e, portanto, pertencente a todos, é

de suma importância que as políticas e a legislação voltada à defesa do

meio ambiente tenha um foco fortemente direcionado à educação das novas

gerações e outro voltado à repressão dos atos nocivos ao meio ambiente,

ações que, felizmente, parecem vir sendo executadas já há algum tempo e

que parecem começar a surtir efeitos, ainda que sensivelmente, na

sociedade com o surgimento de uma nova cultura do homem com relação

ao seu habitat.

Muito ainda há que ser feito e, para que efetivamente seja, a

participação da sociedade nos debates é de fundamental importância.

Pudemos acompanhar no último período eleitoral que alguns candidatos já

incluíam em suas campanhas o tema do meio ambiente.

Assim, encerramos este estudo com a firme convicção da

importância da matéria, não apenas no meio acadêmico, mas como

disciplina a ser estudada desde os primeiros anos da vida escolar.

Page 38: Princípios Gerais Do Direito Ambiental

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