129

Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Depois de escapar da Penitenciária Feminina Brenda T. Trumbull e roubar a identidade de uma rica socialite, Ariana Osgood finalmente achou que estava no caminho que ela sempre acreditou merecer. Mas seu passado a alcançou e ela é forçada a voltar para a sua antiga vida, tornando tudo o que ela deseja parecer cada vez mais longe. E alguns rostos familiares estão de volta para tornar tudo ainda pior para ela. A série Privilege chega ao final com todo o suspense, romance, drama e assassinato que você espera.

Citation preview

Page 1: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian
Page 2: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

KATE BRIAN

Page 3: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian
Page 4: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Depois de escapar da Penitenciária Feminina Brenda T.

Trumbull e roubar a identidade de uma rica socialite, Ariana

Osgood finalmente achou que estava no caminho que ela

sempre acreditou merecer. Mas seu passado a alcançou e ela é

forçada a voltar para a sua antiga vida, tornando tudo o que

ela deseja parecer cada vez mais longe. E alguns rostos

familiares estão de volta para tornar tudo ainda pior para ela. A

série Privilege chega ao final com todo o suspense, romance,

drama e assassinato que você espera.

Page 5: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

udo ao redor de Ariana Osgood, os sons da sala de emergência esmaeceram em um zumbido maçante. As luzes vermelhas piscando do lado de fora da janela de espessura grossa apagavam e acendiam. Uma máquina de café

antiga no canto assobiou quando borbulhou um líquido marrom quente em uma caneca. Algumas gotas de sangue vermelho e fresco salpicavam os azulejos como se alguém tivesse se cortado por ali. Uma criança chorou. Uma mãe gritou. Alguém, em algum lugar, implorou por ajuda. Mas Ariana não prestava atenção. Para ela, o tempo havia parado.

Para ela, não havia nada no mundo, além de Reed Brennan. Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... O mantra bateu na base de seu crânio, como uma batida, uma chamada às

armas, uma marcha de batalha. Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... Ariana focou na boca de Reed. Em seus lábios. Os lábios mentirosos, traidores,

que roubaram o amor da sua vida, que balbuciavam de longe para um policial. Vomitando mais mentiras, sem dúvida. Explicando coisas. Alegando inocência. Pobre, pobre Reed. Sempre, sempre, sempre a vítima. Gradualmente, o mantra cresceu mais rapidamente.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem... Houve um estrondo sobre a mesa da entrada e de repente o mundo havia

retornado de volta ao foco. Ruídos, cor, luz e dor caíram sobre Ariana de todos os lados.

— ...não sei o que aconteceu — Reed estava dizendo. Ela abraçou seus braços magros em volta da cintura esbelta. — Eu pensei que ela tinha arranjado uma carona para casa. Eu tinha certeza que ele estava levando-a para casa...

Uma lágrima caiu dos olhos de Reed e ela a enxugou com a mão. Ariana inclinou a cabeça. Era realmente incrível como a garota não havia mudado. As mesmas roupas disformes, exceto, curiosamente, o casaco que parecia ser um leve Kenneth Cole, em vez de um Old Navy leve. O mesmo cabelo marrom escuro. As mesmas características angulares degradáveis. Os mesmos olhos castanhos apagados. Ela não era tão alta quanto Ariana lembrava. Certamente não era tão forte. Na verdade, Ariana estava certa de que, se caminhasse para lá agora, envolvesse seus dedos ao redor do pescoço magro de Reed e o apertasse, ela poderia matá-la dentro de um minuto.

T

Page 6: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... Os dedos de Ariana se contorceram. Sua boca começou a salivar. Era isso. Sua

oportunidade. O momento que ela estava aguardando durante três longos anos. Teria sido maravilhoso se ela tivesse sido capaz de executar seu plano original e empurrado Reed telhado abaixo na Casa Billings há muito tempo. Teria sido dramático, confuso e o melhor de tudo, estaria acabado. Mas isso... isso seria muito mais poético. Ela olharia Reed nos olhos enquanto ela morria. Assistiria a luz e a vida saindo dela. Sentiria sua agonia, seu desespero, seu medo. Ela iria testemunhar o momento em que Reed reconheceria que estava acabada — que Ariana tinha vencido. Que ela tinha finalmente, finalmente vencido.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... — Eu tenho que ligar para a companheira de quarto dela. Ela deve estar

pirando — disse Reed. Ela puxou um celular do bolso e começou a se virar. Em meio segundo, ela

estaria encarando Ariana. Seus olhos se encontrariam. Ariana não conseguia respirar.

— Ana. Eu preciso falar com você. Alguém agarrou o braço de Ariana. Ela olhou para o rosto abatido e pálido de

seu futuro ex-namorado, Palmer Liriano. Seus olhos verdes estavam em carne viva e seu cabelo castanho despenteado, como se ele tivesse mexido as mãos sobre ele umas mil vezes. Atrás dele, Soomie Ahn chorava no ombro de Maria Stanzini, os cabelos pretos e lisos grudando às lágrimas em seu rosto. Jasper Montgomery falava em voz baixa com Landon Jacobs e Adam Lazzerri, todos eles aparentado medo e pavor. Tahira Al-Mahmood chorava silenciosamente enquanto seu namorado, Rob Mellon, tentava consolá-la. Todo mundo que ela conhecia estava reunido ao redor, vestindo suas roupas formais, com os cabelos bem cuidados, e maquiados cuidadosamente enquanto sussurravam, soluçavam e oravam. Oravam por Lexa Greene, a melhor amiga de Ariana, que havia tentado se matar pulando através do telhado de vidro da estufa na mansão de Maria.

E assim, a batida parou. O mundo de Ariana voltou ao foco. Seu mundo real. O mundo em que ela vivia agora. Um que não incluía Reed Brennan. Um em que ela não podia ser incluída. Reed se voltou para Ariana, e Ariana escondeu o rosto no peito de Palmer. Ela tomou algumas respirações irremediavelmente ofegantes, fechou os olhos, e fechou a mão em torno de seu antebraço.

Mantenha o controle, Ariana. Mantenha o controle. Ela agarrou seu próprio braço tão forte quanto pode, suas unhas cravando na

pele. — Ana? Ana? Você está bem? As mãos fortes de Palmer fecharam-se sobre os ombros dela. Ele a puxou para

trás um pouco, para que pudesse olhar em seus olhos. Ariana piscou para ele. Em sua visão periférica, ela viu que Reed tinha ido embora. Talvez fora fazer sua ligação. Talvez tivesse ido ao banheiro. Talvez tivesse retornado para o campus de Georgetown, onde Ariana sabia que ela vivia atualmente. Seja qual fosse o caso, naquele momento o perigo havia passado.

Lentamente, Ariana começou a respirar novamente. Ela assentiu com a cabeça trêmula. — Desculpe. Eu só... fiquei tonta por um

segundo... só de pensar em todo o... o sangue — ela improvisou.

Page 7: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Tudo bem. Está tudo bem agora? — perguntou Palmer, seu tom de voz completamente sério.

Ariana olhou para seu braço. Ela estava sangrando. Suas unhas haviam arranhado a pele. Ela cobriu as feridas com a palma da mão, tentando não estremecer, e acenou com a cabeça novamente.

— Alguma novidade sobre Lexa? — ela perguntou. Palmer balançou a cabeça. — Não. — Mantendo as mãos em seus ombros, ele

abaixou o queixo para olhá-la nos olhos. — Ana, você tem passado mais tempo com ela do que ninguém. Você tem alguma ideia do por que ela estava pensando em... fazer isso?

— Não — disse Ariana. — Quero dizer, todos nós sabemos que ela estava agindo um pouco fora de controle ultimamente, mas...

Lexa vinha agindo mais do que um pouco fora de controle. Desde que Ariana havia assassinado Kaitlynn Nottingham na frente de Lexa, ela não tinha sido mais ela mesma. Ela estava tendo TOC e andava propensa a súbitas e inesperadas mudanças de humor e comportamento. Nas últimas noites, Ariana estava nutrindo a menina com Valium para ajudá-la a dormir, e parecia ter funcionado, mas naquela noite Jasper tinha dito algo sobre saber algum segredo de Ariana e Lexa, e Lexa tinha assumido o pior — por engano. Antes que Ariana pudesse dizer a Lexa que elas estavam a salvo, Lexa jogou-se contra o teto de vidro.

— Mas se você soubesse alguma coisa, você teria dito a alguém, certo? — Palmer exigiu, seus olhos intensos. — Você sabe que você deveria dizer a alguém? Que você deveria pedir ajuda a alguém.

Ariana olhou para ele, tentando processar suas palavras — seu tom paternalista. — Palmer... Se eu tivesse pensado que Lexa ia se matar, é claro que eu teria feito alguma coisa.

— Quero dizer, você é supostamente a melhor amiga dela, certo? Você deveria saber essas coisas — a voz de Palmer ficou mais alta com cada palavra. — Ou talvez vocês não estavam tão próximas quanto você estava sempre dizendo que estavam.

O rosto de Ariana estava em chamas. Todos os seus amigos se viraram para olhar.

— Palmer, por favor. Acalme-se. Você só está chateado — disse Ariana. — Claro que estou chateado — disse Palmer, trazendo o punho à boca. —

Lexa está lá, lutando pela própria vida, e você está me dizendo que não havia nada que pudesse fazer para detê-la.

— Palmer, isso é o suficiente — disse Jasper, colocando a mão no ombro de Palmer por trás. — Isso não é culpa de Ana.

— Me larga, cara — disse Palmer, empurrando o braço de Jasper para longe e começando a andar como um animal raivoso. — Tudo o que eu sei é que Ana e Lexa passaram cada minuto de cada hora juntas, durante as duas últimas semanas. Quantas vezes você desmarcou encontros comigo, porque você tinha que sair com sua melhor amiga? — disse ele sarcasticamente. — Bem, vocês não podem ser tão grandes amigas se você a permitiu fazer algo parecido com isso!

— Palmer, pare! — Maria suspirou. De repente, Palmer congelou. Ele olhou em volta para os rostos boquiabertos

dos seus amigos, como se percebendo pela primeira vez que eles estavam lá. E,

Page 8: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

então, ele olhou para Ariana. Seus olhos ardiam com lágrimas não derramadas e seu peito arfava debaixo de seu enorme colar de diamantes. Quem diabos ele pensava que era? Ela era a única cuja melhor amiga estava a centímetros da morte. Ele deveria estar consolando-a, não acusando-a.

Eu deveria ter terminado com você antes da festa, ela pensou, cerrando os dentes. Eu deveria ter feito isso dias atrás.

Mas ela tinha medo. Medo de perder seu status de A Garota Popular do campus Atherton-Pryce Hall. Então, agora, aqui estava ela, sendo repreendida publicamente em uma das piores noites de sua vida. Mais uma cutucada e ela ia perder o controle. Ela podia sentir isso em suas veias quentes e trêmulas.

— Foda-se, Palmer — disse Ariana através de seus dentes. Sua testa franziu. — O quê? — Nós terminamos — ela retrucou. Todos olharam para Palmer. Ariana podia ver toda a mágoa, dor e confusão

girando em seus olhos e, pela primeira vez, ela não tinha absolutamente nenhuma ideia do que ele ia fazer a seguir.

De repente, ele agarrou o casaco da cadeira e levantou-se em linha reta. — Tudo bem — disse ele. — Se é isso que você realmente quer, então tudo

bem. Estamos terminados. Ele deu-lhe um olhar de soslaio e Ariana tinha certeza que havia algo mais que

ele queria dizer, mas pensou melhor e limpou a garganta, saindo da sala de emergência.

Ariana olhou para Jasper, seu verdadeiro amor, e só assim, as lágrimas transbordaram. Ele se moveu em direção a ela como se estivesse indo carregá-la em seus braços, mas Maria e Soomie chegaram nela primeiro. O que foi tão bom. Ninguém sabia que ela e Jasper estavam se vendo pelas costas de Palmer, e agora não parecia ser o momento certo para entrar nesse drama.

— Ele não te culpa de verdade — disse Soomie, segurando as mãos de Ariana, enquanto Maria retirava os cabelos do rosto manchado de lágrimas. — Ele está apenas pirando como o resto de nós.

— Sim, mas ele foi o único que sentiu a necessidade de sair acusando Ana — disse Maria sarcasticamente. — Os homens são uns canalhas — disse ela em voz baixa.

Ariana descansou a cabeça no ombro de Maria. — Você sabe que isso não foi culpa sua, não é? — disse Soomie, apertando as

mãos de Ariana. — Nenhum de nós esperava que isso acontecesse. Nenhum de nós. Ariana assentiu. — Eu sei — ela disse, com a voz grossa. Mas eu deveria ter esperado. Eu deveria ter visto o que estava acontecendo, ela

pensou. E agora Lexa está lá morrendo por minha causa. Ela olhou para os policiais que havia tomado a declaração de Reed Brennan

sobre o que quer que seja que ela estivesse chorando. Ela inspirou e expirou, tentando fazer com que as lágrimas ficassem sob controle. Tentando dar algum sentido a tudo o que tinha acontecido. Como era possível que a única pessoa no mundo que ela teria gostado de ver morta havia acabado de sair pela porta, e a única pessoa no mundo que ela teria gostado de ver viva estava praticamente morta no quarto ao lado?

Às vezes a vida era tão injusta.

Page 9: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves la tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... Em algum lugar entre o hospital e as portas dianteiras do campus Atherton-Pryce Hall, o mantra retornou. Ariana olhou para fora da janela, enquanto os

faróis piscavam e tentou fortemente bloqueá-los. Ela cantou músicas em sua mente, ela recitou todos os estados e suas capitais, ela tentou se lembrar os primeiros, os do meio e os últimos nomes de todos da sua classe em Atherton-Pryce.

Nada funcionou. No momento em que o táxi que ela tinha compartilhado com Jasper, Tahira e

Rob parou em frente das torres de vigilância da Casa Privilege, ela estava exausta de corpo, mente e alma.

— Eu me pergunto se todo mundo já sabe — disse Tahira, olhando para as janelas no momento que Rob pagava o taxista. — Essa não é uma história que eu queira contar inúmeras vezes.

— Eu digo que nós simplesmente devemos ignorar todos — disse Rob, apertando seu ombro. — É o que costumamos fazer de qualquer maneira.

Ele e Tahira trocaram um sorriso cansado e, juntos, todos eles saíram do carro. O ar noturno estava gélido e Ariana colocou os braços em torno de si mesma, se perguntando por que ela não tinha pensado em usar um casaco sobre seu vestido cinza. Jasper automaticamente colocou o braço em volta dela e Ariana se encolheu. Rob e Tahira estavam ali. Mas então ela se lembrou: Ela havia terminado com Palmer. Ela e Jasper poderiam fazer o que quisessem agora.

— Eu preciso de café — Tahira anunciou no momento em que eles entraram no lobby. Seus ombros estavam caídos, sua maquiagem normalmente perfeitamente aplicada não tinha sido retocada toda a noite, e seu vestido preto sem alças estava em necessidade desesperada de ser puxado para cima. Mas sua aparência, pela primeira vez, era claramente a última coisa em sua mente. — Vocês querem ir sentar-se no café?

Jasper largou Ariana e eles trocaram um olhar. — Não, obrigada. Estou bastante exausta — disse Ariana. — Eu só quero ir me deitar e fingir que este dia nunca aconteceu.

— Eu também — disse Jasper, esfregando a testa. — Eu poderia dormir até a próxima terça-feira.

— Ok, então. — Tahira puxou Ariana para um abraço. — Ela vai ficar bem, sabe.

E

Page 10: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Espero que sim — disse ela, sem rodeios. — Ela vai. Ela é Lexa — disse Tahira com um sorriso confiante. — Ela é

imparável. Ariana limitou-se a sorrir, mas ela não conseguiu fazer genuinamente. Se as

últimas semanas provaram alguma coisa, foi que Lexa não era tão forte, como algumas pessoas pensavam que ela fosse.

— Vejo você de manhã — disse ela. Rob ergueu a mão para Jasper e Ariana enquanto colocava seu outro braço

em torno de Tahira. Juntos, eles se dirigiram para o café do outro lado da sala comunal. Jasper enfiou as mãos nos bolsos da calça do terno e deu um meio sorriso.

— Vamos? Ele apertou o botão para subir do elevador que levava ao dormitório das

meninas. Com um ping as portas se abriram. Juntos, eles entraram. Assim que as portas se fecharam, Ariana estava nos braços de Jasper. Nenhum dos dois disse uma palavra enquanto o elevador os levava para o piso superior. Ariana simplesmente inspirou o perfume picante e reconfortante dele.

O volume do mantra esmaecia levemente. Desaparecia em um ligeiro tamborilar em vez de uma batida pulsante.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... No andar de cima, Jasper levou Ariana de volta para seu quarto. Ela parou por

um momento no limiar, olhando para a pequena desordem deixada para trás enquanto ela arrumava-se para o fabuloso evento formal da Pedra e Sepultura, que eles compareceram naquela noite. Os tubos de rímel e gloss ainda estavam em sua mesa. A bolsa que ela decidira não levar, aos pés de sua cama, e um par de Christian Louboutins preto continuava suspenso perto do armário. Ariana havia agonizado durante todo o dia sobre qual sapato ela iria usar. Só de pensar nisso agora — a terrível superficialidade de tudo — a fez querer jogar os sapatos para fora da janela. Em vez disso, ela os chutou, bateu a porta, e foi direto para seu armário. Ela puxou um suéter de Atherton-Pryce Hall por cima de sua cabeça e abriu seu vestido, deixando-o cair no chão. Quando ela deslizou em um par de calças de ioga e subiu na cama, seu colar de diamantes ainda brilhava em torno de seu pescoço. Jasper se despiu da sua camiseta e calças e deitou ao seu lado. Ele colocou seus braços em volta dela e Ariana descansou a bochecha em seu peito. O mantra agora era quase inaudível.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... — Eu ainda não posso acreditar — Jasper sussurrou, acariciando os cabelos de

Ariana. — Lexa Greene. Ela é a definição de ter tudo. Eu acho que isso só prova que você nunca sabe o que está acontecendo dentro das mentes das pessoas.

Ariana apertou os olhos com força. Eu sabia, ela pensou. Eu sabia como ela estava perturbada. Palmer estava certo. Eu deveria ter feito algo. Eu deveria saber...

— Podemos falar de outra coisa? — Ariana sussurrou. Sua voz era um mero guincho. Ela odiava o quão fraca e com medo que ela soou.

— Sim. Claro. Sinto muito. — Jasper beijou o topo de sua cabeça. Ariana pressionou sua orelha mais perto de seu peito, ouvindo o som confortavelmente rítmico do seu batimento cardíaco. Pela primeira vez em uma hora, seu cérebro estava em silêncio. — Eu tenho uma pergunta para você, na verdade.

Ela inclinou a cabeça para trás para que ela pudesse ver seu rosto. — Tem?

Page 11: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Sim. — Ele se mexeu um pouco, entortando o braço livre por trás de sua cabeça. — No início desta noite... O que você achou que eu ia dizer? Qual foi o segredo que você pensou que eu descobri?

O coração de Ariana pulsou tão forte que ela teve certeza de que ia parar de bater completamente. De repente, as imagens aterrorizantes atravessaram seu cérebro. Imagens dela empurrando Jasper contra uma parede forrada de prateleiras no galpão de envasamento. Dela segurando um par de tesouras de jardim enferrujadas e sujas em direção ao seu pescoço. E o medo em seus olhos quando ele pediu-lhe para parar.

Como diabos ela deveria explicar isso? Ariana apertou os lábios e vasculhou seu cérebro. O “segredo” que Jasper havia descoberto era que Briana Leigh Covington, a menina que Ariana fingia ser, tinha dado uns amassos em uma professora da sua antiga escola. Que outros segredos Briana Leigh poderia ter? Segredos que poderiam merecer uma reação tão drástica?

Quando ela olhou ao redor de seu quarto, seus olhos caíram sobre uma foto emoldurada da casa da fazenda onde Briana Leigh tinha crescido. Ariana se lembrou da última vez que ela esteve lá, e seus encontros com a rica e excêntrica avó idosa de Briana Leigh. — Eu pensei que você descobriu que eu comprei a minha entrada em Atherton-Pryce — disse Ariana, pensando rapidamente. — Lexa é a única pessoa que sabe, então quando você disse que nós duas estávamos sendo muito malvadas... eu achei que você descobriu sobre o suborno e que ela estava mantendo esse segredo para mim.

Ela fez uma pausa e lambeu os lábios. Era fraco, ela sabia, mas era tudo o que ela tinha agora.

— Eu não queria que os outros membros da Pedra e Sepultura descobrissem, especialmente os ex-alunos, porque mesmo que eu tenha entrado por meio de um acordo às escuras, eu dei duro desde que entrei aqui — ela divagou. — Eu gostaria de ser julgada com base em meus feitos, em vez do fato de que minha avó sentiu a necessidade de comprar a mesa de admissão.

Jasper não disse nada. Ariana pegou alguns fiapos de sua camiseta e os esmagou entre o polegar e o indicador. Ele não estava acreditando. Ela podia sentir isso.

— Eu só quero que todos acreditem que eu mereço estar aqui — disse ela, finalmente.

Porque eu mereço, ela acrescentou. Depois de tudo que passei, eu simplesmente, simplesmente mereço estar aqui.

— Bem, qualquer um pode ver isso — disse Jasper. Ariana olhou para ele, sentindo uma emoção descer pelas suas costas. —

Sério? — Você está brincando? Você tira a melhor nota em todas as suas aulas, você

foi a estrela da nossa classe de potenciais, você esteve aqui cerca de cinco segundos e já criou amizade com o pessoal de Lexa. — Jasper fez uma careta e zombou. — Você merece estar aqui mais do que ninguém que eu conheço.

Ariana sorriu e se inclinou para beijá-lo. Sua mão fechou-se em torno do seu pescoço e ela o puxou para mais perto. Ariana sentiu uma agitação dentro dela, mas ela socou-a para baixo. Este não era o momento de contatos íntimos. Não com Lexa no hospital. Ela interrompeu o beijo e mordeu o lábio.

Page 12: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Você sabe que eu nunca teria realmente machucado você, certo? — ela mentiu. Ela estava a ponto de machucá-lo. Ela estava prestes a matá-lo, na verdade. Qualquer coisa para manter seus segredos. Fazer aquilo também a mataria, mas uma garota em fuga tinha que fazer o que uma garota em fuga tinha que fazer. — Eu estava apenas brincando.

— Eu sei — disse Jasper, tocando seu ombro com um sorriso. — Além disso, eu gosto de uma garota que pode cuidar de si mesma. Menos trabalho para mim.

Ariana revirou os olhos, mas riu. — Lembra do outro dia quando eu te convidei para o jantar de ação de graças

na minha casa? — perguntou Jasper. O coração de Ariana vibrou. — Sim. — Bem? A oferta ainda está de pé e meus pais gostariam de conhecê-la —

disse ele. — Você pensou mais sobre isso? Com tudo o que tinha acontecido ao longo dos últimos dias, Ariana tinha

esquecido completamente o convite. Mas depois do drama terrível da noite, correr para Louisiana com Jasper e deixar Atherton-Pryce para trás por alguns dias parecia um sonho.

— Eu pensei e estou dentro — Ariana respondeu. — Eu mal posso esperar para conhecer sua família.

Jasper sorriu. — Eu vou reservar-lhe um bilhete pela manhã. Ariana sorriu e eles se abraçaram novamente, ela descansou na dobra entre o

braço e o peito dele, enquanto imaginava o retrato de uma família grande e pitoresca em um jantar de ação de graças — algo que ela não experimentava há anos. Ela estava mais que agradecida por ter Jasper, mais do que por qualquer coisa ou qualquer outra pessoa em sua vida. Se ela tivesse apontado um par de tesouras de jardim para Palmer, ele provavelmente teria terminado com ela, enojado, e a teria denunciado para a polícia por tentativa de homicídio, de tão bonzinho que ele era. Tudo com ele era preto e branco, mas Jasper sabia que havia outros tons no mundo. Enquanto ela inalava o aroma limpo de sua camiseta, de repente lhe bateu com força total a ideia de que ela poderia tê-lo perdido esta noite. O horror abateu-se sobre ela como uma onda de maré, ameaçando varrê-la para longe e ela encontrou-se se agarrando à frente de sua camisa.

Não me deixe, ela pensou. Por favor, nunca, nunca me deixe. — Ana? Você está bem? — perguntou Jasper. Ariana forçou os dedos a abrirem e largou sua camisa. Um pequeno monte de

algodão branco levantou-se no centro do seu peito. — Você pode simplesmente... ficar comigo? Até eu dormir? — ela perguntou. — Eu estava pensando em ficar a noite inteira — ele respondeu. Ele se inclinou e beijou-a sempre tão suavemente e, em poucos minutos,

Ariana adormeceu.

Page 13: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

estindo sua túnica preta da Pedra e Sepultura, Ariana ficou em seu lugar designado entre Tahira e Landon. A sala, parecendo uma caverna abaixo da biblioteca, onde todas as reuniões oficiais ocorriam, estava tão imóvel

quanto a noite. Velas tremeluziam ao longo das paredes de pedra, situadas em arandelas e candelabros de várias alturas e tamanhos, mas, com exceção do ocasional farfalhar de um sino, a sala estava estranhamente silenciosa. Ariana olhou para os lugares vazios no lado oposto do círculo. Lexa, a presidente, estava faltando, é claro. Mas o lugar ao lado dela, geralmente ocupado por Palmer, estava vazio, assim como o local próximo a April Coorigan, geralmente ocupado pelo namorado de Lexa, Conrad Royce. Sem dúvida ambos estavam estacionados obedientemente na cabeceira de Lexa.

O atual e o ex-namorado de Lexa estavam cada um reivindicando um lugar exclusivo na vigília. Ariana se perguntou se eles ainda estavam brigados. Ela esperava que, se ainda tivessem, que Conrad tivesse dado uma surra em Palmer.

Finalmente, April levantou o capuz de sua cabeça, expondo sua massa de cachos vermelhos. — Nós somos a Pedra e Sepultura — ela entoou.

— Nós somos a Pedra e Sepultura — o resto da irmandade respondeu. — Vocês podem se sentar — disse April. Túnicas arrastaram-se e gargantas foram limpas enquanto os membros se

estabeleceram no chão de pedra fria. Ariana cruzou as pernas e sentou-se em linha reta.

— Eu me pergunto para que é tudo isso — Tahira sussurrou. — Estamos fazendo alguma cerimônia para Lexa ou algo assim?

Ariana se encolheu e April começou a falar. — Eu vou dispensar a cerimônia por esta noite — disse ela claramente, seu

sotaque irlandês manifestando-se. — Todos nós passamos por muita coisa nas últimas vinte e quatro horas, e temos alguns negócios a resolver, mas primeiro eu queria dar-lhe toda uma atualização sobre a nossa presidente.

Ariana deslocou as pernas quando todos ao redor do círculo ajustavam-se e se contorceram, trocando olhares nervosos, assustados.

— Eu falei com a mãe de Lexa esta tarde e não houve, infelizmente, nenhuma mudança — disse April, piscando rapidamente como se estivesse tentando conter as lágrimas. Ainda assim, sua voz saiu cristalina. — Lexa passou por três cirurgias para parar alguma hemorragia interna, e seu corpo sofreu um monte de traumas.

V

Page 14: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela está atualmente inconsciente, mas respirando sozinha. Eles não têm certeza de quando... ou mesmo se... ela vai acordar.

— Ela vai acordar — Soomie estalou, se inclinando para frente. — Não diga isso.

Os membros congelaram. Raramente, ou nunca, Soomie levantava a voz e definitivamente nunca em uma reunião da Pedra e Sepultura. Ariana engoliu um nó frio na garganta.

— Peço desculpas, irmã Emma Woodhouse. Eu estava apenas repetindo os fatos como eles foram ditos a mim — disse April calmamente.

— Bem, é tudo bobagem. — Soomie cruzou os braços sobre o estômago e olhou para o chão. — Ela vai acordar. Ela vai ficar bem.

April respirou fundo. — Existe alguma coisa que alguém gostaria de dizer? Sobre Lexa, a situação ou... qualquer coisa?

Ninguém disse uma palavra. — Tudo bem, então — continuou April, lançando um olhar cauteloso para

Soomie. — Como o membro mais graduado da ordem agora presente, é o meu dever promulgar o estatuto social da nossa fraternidade antiga. Esse estatuto social estabelece que se o nosso presidente estiver incapacitado de cumprir os seus deveres, somos obrigados a eleger um presidente interino.

Soomie zombou, revirou os olhos, mas não disse nada. Landon levantou a mão.

— Sim, Irmão Pip — April aceitou com um aceno de cabeça. — Não seria Palmer... quer dizer, o irmão Starbuck não seria convertido em

novo presidente? Já que ele é o V.P.? — Isso tornaria a vida mais fácil, mas, infelizmente, não é assim que funciona

— respondeu April. — Até onde eu sei, o irmão Starbuck não tem nenhuma atuação como

presidente, de qualquer maneira — Tahira resmungou. Algumas pessoas trocaram olhares confusos, mas Ariana observou que

aqueles que estavam presentes na sala de emergência na noite anterior viraram para encará-la, suas expressões sombrias.

— É sério — disse Maria, amarrando rapidamente seu longo cabelo castanho em um coque frouxo. — O cara é um grande babaca.

Ariana escondeu um sorriso por trás de sua mão. — Ei! — Landon protestou. Maria lançou-lhe um olhar mortífero do outro lado do círculo. — Um idiota

que não consegue lidar com a crise — ela acrescentou. — Esse é realmente o tipo de pessoa que queremos que lidere a nossa sociedade?

— Olha, o cara estava pirando, ok? — disse Landon. — Você não pode usar isso contra ele.

— Seja como for — Soomie continuou, revirando os olhos. — Não importa, de qualquer maneira. Lexa vai ficar melhor e ela vai estar de volta antes de sabermos. Quem for eleito, provavelmente, só ficará no cargo durante algumas semanas.

Sua afirmação foi recebida com total tranquilidade. Ariana olhou para Tahira e soube que elas estavam pensando a mesma coisa, que todos na sala estavam pensando a mesma coisa — Soomie estava em negação. Claro, ninguém tinha realmente visto Lexa. Ninguém sabia em primeira mão como seus ferimentos eram

Page 15: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

graves. Mas qualquer pessoa com um conhecimento sobre a realidade tinha que saber que, mesmo se Lexa ficasse melhor, ela não voltaria para a escola por um tempo, no mínimo.

— Talvez devêssemos ter indicações — disse April, olhando ao redor do círculo. — Alguém?

Naquele momento, o celular de Ariana emitiu um toque alto. Tahira vacilou e Ariana olhou ao redor se desculpando enquanto tentava pegar o celular do seu bolso traseiro.

— Eu sinto muito. Eu sei que supostamente devemos desligá-los. Mas eu pensei que, dadas às circunstâncias...

Ariana deslizou o telefone e verificou a tela. Ela tinha uma nova mensagem de texto. Seu coração acelerou quando ela viu que era de Conrad.

— É do irmão Lear — disse Ariana, o dedo trêmulo enquanto abria a mensagem. Ela olhou para as palavras por um momento, sua mente em total branco e seu crânio leve.

— Bem? O que ele disse? — Soomie exigiu. Ariana olhou para cima. A luz da vela bruxuleante parecia escurecer e clarear,

escurecer e clarear. — Lexa acordou.

Page 16: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

luz rosa da aurora estava apenas esquentando as vidraças da sala de espera da UTI quando a Sra. Greene finalmente saiu do quarto de Lexa. Ariana e seus amigos levantaram a cabeça em uníssono, como um balé macabro. Em

seu suéter verde amarrotado e calças cinzentas, a mãe de Lexa parecia exausta, mas também com esperança. O delineador em volta dos seus olhos estava manchado, e ela não usava batom, mas havia um pequeno sorriso em seus lábios secos.

— Ana — ela disse, entrelaçando os dedos. — Lexa está chamando por você. O coração de Ariana pulou uma batida animada enquanto todos os olhos se

voltavam para ela. E ela se conteve para evitar lançar um olhar triunfante na direção de Palmer. Ele já estava ali quando Ariana e seus amigos tinham chegado, mas tinha ficado sentado num canto, longe do resto da multidão. Ao longo das últimas horas ele não moveu um músculo e não havia dito uma única palavra a ninguém.

Achou que a nossa amizade era falsa, não é? Ariana pensou enquanto ela alisava a frente de seu suéter de cashmere. Idiota.

Jasper a alcançou e deu um aperto em sua mão. Ela ergueu o queixo, enquanto seguia a mãe de Lexa pelo corredor. Era uma honra, ser a primeira pessoa chamada por Lexa, e ela sentiu esse orgulho desde a ponta dos dedos até as pontas de seus pés.

Ariana fez uma pausa fora da porta. Ela olhou hesitante para a mãe de Lexa. — Ela está... eu quero dizer, ela está... bem?

De nenhuma maneira ela poderia perguntar o que ela realmente queria perguntar, que era quão grotesca Lexa estava. Ela queria estar preparada, mas ela estava certa de que seria descortês e indelicado pressionar sua mãe para obter mais detalhes.

— Eu não vou mentir, minha querida, é um pouco chocante no começo — disse a Sra. Greene, mexendo com suas pérolas. — Mas você vai se acostumar com isso.

Ariana acenou com a cabeça, colocou a mão na maçaneta da porta de aço frio, e entrou. Ela meio que esperava que a mãe de Lexa fosse com ela, mas a porta fechou-se devagar e silenciosamente atrás dela. No momento que Ariana viu Lexa ela congelou, ao perceber o quão estúpida sua pergunta para a Sra. Greene tinha sido. Nada poderia tê-la preparado para isso. Lexa estava com o rosto parcialmente virado contra ela, mas Ariana podia ver que de um lado do rosto de Lexa havia um

A

Page 17: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

enorme hematoma roxo, tão inchado que Ariana mal podia ver a abertura do seu olho. Havia pontos pretos irritados perto de um enorme corte ao longo de sua bochecha, e seu rosto maltratado estava coberto com centenas de pequenos cortes.

Lentamente, Lexa virou a cabeça para enfrentar Ariana. O outro lado de seu rosto parecia relativamente intocado, exceto por alguns arranhões vermelhos. Seu cabelo tinha sido raspado por cima da orelha e uma bandagem envolvia sua cabeça. Apenas uma de suas mãos estava visível, com todas as intravenosas e monitores ligados a ela, e ela estava mole em cima do cobertor azul do hospital.

— Eu sei, certo? — disse Lexa, sua voz áspera. — Eu poderia ter minha própria franquia de um show de horror.

Ariana soltou uma pequena risada e deu um passo hesitante em direção a sua amiga. — Você está com muita dor? Você precisa de alguma coisa?

Lexa fechou os olhos por alguns instantes, enquanto ela engolia em seco, como se o simples ato necessitasse de concentração. — Não. Eu estou bem. Estou tão cheia de analgésicos que não sinto nada.

Cuidadosamente, Ariana abaixou-se para a borda da cadeira ao lado da cama de Lexa. Ela sentia como se ela tocasse ou movesse alguma coisa poderia disparar um alarme.

— Ana, escuta... eu pedi para você vir aqui porque eu queria te dizer... eu decidi que eu vou dizer aos meus pais sobre o que aconteceu com Lily.

De repente, Ariana sentiu como se o chão abrisse debaixo dela. Ela estendeu a mão e agarrou a grade de segurança de metal ao redor da cama de Lexa com sua visão escurecida com manchas cinzentas.

— Não — foi tudo o que ela conseguiu dizer. — Eu tenho que dizer, Ana — disse Lexa, sua voz soando metálica e muito

longe. — Vai ficar tudo bem. Foi tudo feito em legítima-defesa. Tenho certeza que meu pai vai garantir que nada aconteça com você. Mas eu tenho que dizer a eles. Claramente, eu tenho que dizer — ela acrescentou, olhando para seu corpo quebrado. — Eu não aguento mais. Você tem que entender.

A temperatura na sala pareceu ficar mais quente a cada momento que passava. Ariana estendeu a mão e puxou a gola do seu suéter, tentando respirar. Tentando pensar. Tentando ver além das manchas cinzentas. Isso não poderia acontecer. Ela não podia deixar isso acontecer. Isso significaria o fim de tudo.

E então ela viu. Em uma bancada no lado oposto da cama de Lexa. A bandeja de prata forrada com equipamentos médicos. Um par de tesouras. Um rolo de gaze. Um bisturi. Uma seringa. Lentamente, Ariana empurrou-se e caminhou em torno do fim da cama de Lexa.

— Você quer falar com eles por mim? — perguntou Lexa, seguindo Ariana com os olhos. — Se nós contarmos a história juntas... exatamente como isso aconteceu... poderia sair melhor.

Ariana olhou para o tubo no braço esquerdo de Lexa. Ele estava cheio de sangue vermelho escuro. Ela estava recebendo uma transfusão enquanto elas conversavam.

— Claro — ela disse, sua voz calma. — Claro, eu vou fazer isso com você. — Sério? — A cabeça de Lexa levantou um centímetro de seu travesseiro, em

seguida caiu para trás novamente. Aparentemente, o esforço foi demais para ela.

Page 18: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela fechou os olhos e respirou para fora através de sua boca. — Obrigada, Ana. Eu sabia que você ia entender.

Ariana puxou um par de luvas de plástico de uma caixa de papelão em cima do balcão e as colocou, tomando cuidado para não apertar os pulsos. Ela levantou a seringa, mantendo-a voltada para Lexa. Lentamente, ela chupou uma bela e grande bolsa de ar para dentro da seringa.

— É claro que eu entendo. Não podemos deixar você tentar se matar de novo — disse Ariana.

Lexa respirou mais uma vez e lágrimas caíram debaixo de seus olhos fechados. — Eu só... Eu não conseguia ver nenhuma outra saída — disse ela. — Essa noite eu apenas... eu não poderia me imaginar fazendo meus pais sofrerem por esse escândalo. Possivelmente vamos acabar na cadeia. Tudo parecia tão sombrio. Eu simplesmente... eu não aguentava mais.

— Eu entendo — disse Ariana com calma. Ela virou-se e usou a ponta da seringa para picar o pequeno tubo que

transportava o sangue na veia de Lexa. E então, rapidamente, ela empurrou para baixo o êmbolo, esvaziando o ar dentro do tubo.

Os olhos de Lexa abriram, com foco no rosto de Ariana enquanto ela deixava cair as mãos para baixo dos lados e atrás das costas, colocando a seringa fora de vista.

— Obrigada, Ana. Eu não sei o que eu faria sem você. De repente, os olhos de Lexa foram para longe. Sua boca se abriu enquanto

ela engasgava de dor. A mão dela se agitou no colchão como se estivesse tentando tocar o peito, mas não houve tempo. Ela afundou contra os lençóis de novo, e a linha em seu monitor cardíaco ficou plana.

Rapidamente, Ariana colocou a seringa em seu devido lugar, arrancou as luvas, e empurrou-as em seus bolsos. Em seguida, ela se lançou para a porta, como qualquer outro visitante em pânico e surpreso poderia fazer nestas circunstâncias. Ela estava justo puxando a maçaneta quando a porta se abriu, quase levando-a para baixo.

— O que aconteceu? — gritou uma voz masculina para ela. — Eu... eu não sei — Ariana gaguejou, apoiando-se contra a parede, enquanto

um carrinho de aparelhos médicos passava pela porta. — Ela só... um segundo ela estava falando e então ela suspirou e fechou os olhos e... ela vai ficar bem?

— Você precisa ir. — Uma enfermeira colocou as mãos nos braços de Ariana e empurrou-a para fora da porta. A Sra. Greene estava saindo do elevador com uma xícara de café e quase colidiu com Ariana. Seu rosto ficou frouxo e o café caiu no chão.

— Lexa? — disse ela, hesitante. Quando ela viu o que estava acontecendo dentro do quarto, ela gritou. — Lexa!

Os amigos de Ariana levantaram-se e se reuniram em torno da entrada da área de espera, agarrando-se um ao outro, esforçando-se para ver o que estava acontecendo. Jasper se aproximou e puxou Ariana para trás, longe da agitação.

— O que aconteceu? — perguntou Soomie entre lágrimas. — Ana? O que aconteceu?

Ariana engoliu em seco. Pela primeira vez nos últimos minutos, o mundo inteiro estava em foco. Ela podia ver as sardas no rosto de Maria, a barba por fazer

Page 19: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

no queixo de Palmer, as estrias nos lábios de Tahira. Todos pareciam tão assustados. Tão devastados. Tão tristes.

E ela causou isso. Desta vez, foi tudo ela. Mas o que ela deveria fazer? Ela não podia deixar Lexa revelar todos os seus

segredos. A menina teria arruinado tudo. Ela teria destruído a vida que Ariana tinha trabalhado tão incansavelmente para construir. Se o corpo de Kaitlynn fosse exumado, não passaria mais do que cinco minutos para as autoridades descobrirem que ela era, na verdade, uma fugitiva, depois mais dez minutos antes de eles perceberem que Briana Leigh Covington era Ariana Osgood. Ariana teria sido mandada de volta para a cadeia antes que ela pudesse piscar.

Não havia maneira de Ariana deixar Lexa fazer isso com ela. Se Lexa queria ferrar com a sua própria vida, era problema seu, mas Ariana não deixaria Lexa acabar com a dela.

Agora não. Não quando ela estava tão perto de ter cada pequena coisa que ela sempre quis.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... As faces de Lexa e de Reed começaram a se mesclar na sua visão. Seu cérebro

começou a formigar e ela fechou os olhos. Por um momento, elas eram a mesma pessoa, o queixo redondo de Lexa, as maçãs do rosto acentuadas de Reed, os olhos verdes de Lexa, o cabelo quebrado de Reed.

— Ana? — Jasper estava dizendo. — Ana? Você está bem? Você precisa sentar-se?

Ariana abanou a cabeça. Ela respirou fundo e abriu os olhos. — Não — ela disse, com a voz áspera. — Não. Eu estou b...

De repente, o tumulto no quarto de Lexa terminou. O silêncio reinou. O monitor cardíaco foi desligado, acalmando o tom incessante.

— Não! — A mãe de Lexa gritava, agarrando-se à ombreira da porta enquanto o médico tentava alcançá-la. — Nãããããão!

— Oh meu Deus — sussurrou Maria. Soomie escondeu o rosto no peito de Adam. Palmer deixou escapar um grito

estrangulado. Conrad virou-se e afastou-se por si mesmo, as mãos sobre o rosto. Ariana simplesmente olhou.

Olhou para os olhos do médico enquanto ele olhava para a mãe em luto de Lexa.

— Eu sinto muito — disse ele em voz baixa. — Ela se foi.

Page 20: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

oomie, você ficou acordada a noite toda. Você tem que tentar dormir um pouco — disse Maria suavemente. Ariana estava parada na porta do dormitório individual de Soomie — que ela acabou tendo desde

que sua companheira de quarto Brigit Rhygstead havia morrido há quase dois meses. Ela nunca tinha visto Soomie tão despenteada, tão exausta, tão fora de foco. Ela sentou-se no centro de sua cama, ainda vestindo a mesma roupa que ela vestia durante toda a noite, jeans skinny, uma blusa preta de malha grossa e botas pretas de salto baixo. O suéter foi puxado para baixo sobre os joelhos até os tornozelos e os joelhos foram empurrados até o queixo. Ela tinha os braços firmemente em torno de suas pernas enquanto ela se balançava para frente e para trás, olhando para baixo e direto para a base da parede ao lado de sua cama.

Ariana foi até a mesa de Soomie, colocou o saco cheio de comida que ela tinha acabado de trazer do café e olhou para Maria. Os olhos castanhos de Maria estavam aflitos enquanto ela esfregava as costas de Soomie com a mão plana. — O que está... acontecendo?

— Ela estava acordada. — A voz de Soomie estava plana e sem tom. — Ela estava acordada e ela ia ficar bem. Ela estava acordada e estávamos todos indo vê-la.

— Eu sei, Soom, mas só porque ela tinha acordado... isso não significava que ela estava completamente curada — disse Maria, inclinando-se na cadeira da mesa de Soomie em direção à cama. — Os médicos devem ter perdido alguma coisa.

Sim, como uma grande bolha de ar mortal em sua veia, Ariana pensou, observando Soomie de perto. Seus olhos estavam vermelhos e seu nariz estava inchado. Seu cabelo preto estava solto ao redor de seus ombros e ela ficava batendo com os dedos sobre suas pernas, como se estivesse tocando piano ou batendo nas teclas de seu BlackBerry.

— Mas ela estava acordada, e eu ia entrar para vê-la — disse Soomie. Uma lágrima caiu de seus olhos sobre seu joelho.

Maria olhou para Ariana, seu próprio rosto triste e cansado. Era incrível como a dor parecia envelhecer as pessoas. Bastava olhar para Maria agora, e Ariana

—S

Page 21: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

poderia perfeitamente imaginar como ela ficaria aos 30 anos de idade. Ainda bonita, mas de uma forma entorpecida.

— Ela só ficou falando isso, e só isso, durante a última meia hora — disse Maria, mantendo a voz baixa.

A cabeça de Soomie levantou. — Não fale sobre mim como se eu não estivesse aqui! — ela gritou.

Ambas, Ariana e Maria deram um salto. Maria levantou as mãos e empurrou a cadeira para trás. — Eu sinto muito. Eu estava começando a pensar que você estava catatônica.

— Bem, eu não estou. Eu não sou louca, ok? Eu não sou Lexa — Soomie estalou.

Ela empurrou-se para fora da cama e cruzou para a parede oposta. A escola há muito tempo havia removido a cama de Brigit e seu mobiliário, um favor que ainda não haviam concedido à Ariana, embora ela estivesse sem uma companheira de quarto desde o dia das bruxas. Soomie soltou um gemido.

— Eu simplesmente não entendo — disse ela, girando para enfrentar as outras. — Lexa nunca tinha ficado deprimida um dia sequer em sua vida. Por que ela fez isso? O que poderia ter acontecido que faria com que ela se matasse? Por que ela apenas não nos contou sobre isso?

— Eu não sei — disse Maria em voz baixa, caindo em sua cadeira. — Eu acho que nunca saberemos.

Ariana engoliu contra sua garganta seca. — Ela estava agindo um pouco estranha ultimamente, no entanto — ela disse, sabendo muito bem porque a menina enlouqueceu completamente. Ela sentia como se devesse ter alguma explicação razoável para tudo isso, alguma maneira de fazer Soomie se sentir melhor. — Sei lá... Quer dizer, poderia haver uma história de doença mental na família dela ou algo assim?

— Os Greene? Por favor — Soomie zombou, cruzando os braços sobre o peito. — Eles são como a família mais perfeita da América.

— Bem, exceto pela infidelidade — Maria apontou. — E as constantes lutas de poder.

— E o superego, e os jogos mentais — acrescentou Ariana. — Eles têm uma coisa com o comportamento extremo.

Soomie olhou para elas como se elas estivessem perdendo pontos de QI a cada momento. — Eles estão na política! Olá?

— Tudo bem. Um ponto razoável para eles — disse Maria. Ela apertou as mãos magras contra suas coxas enquanto ela se levantava e ia até a janela com vista para as águas geladas do Potomac. — Eu simplesmente não posso acreditar que ela se foi. Lexa Greene. Morta. Nós nunca vamos ver Lexa novamente.

Ariana e Soomie caminharam lentamente e ficaram ao lado de Maria. Ao longe, uma gaivota grande voou sobre a água, mergulhando e pousando, antes de finalmente parar em uma rocha plana baixa na margem oposta. Silenciosamente, o estômago de Ariana resmungou. Ela se perguntou quanto tempo elas ficariam ali naquela contemplação silenciosa. Havia um croissant de presunto e queijo na bolsa do outro lado do quarto, chamando seu nome. Ela olhou de soslaio para Maria e Soomie e disse a si mesma para suportar. Elas eram suas amigas, afinal de contas. As únicas que ela tinha, além de Jasper e, possivelmente, Tahira.

Page 22: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Qual foi a última coisa que ela disse para você, Ana? — perguntou Soomie, com a voz abafada, mas esperançosa.

Ariana pensou, perguntando-se se deveria mentir. Mas o que poderia ser mais poético do que as verdadeiras palavras finais de Lexa?

— Ela disse: “O que eu faria sem você?” Os olhos de Soomie se encheram de lágrimas. Maria cobriu a boca com uma

mão. Ariana soltou um suspiro melancólico. — Eu acho que agora todos nós vamos ter que descobrir o que vamos fazer

sem ela — disse ela. Soomie começou a chorar copiosamente e Maria se voltou para ela,

envolvendo-a em seus braços. — Eu não acho que eu possa fazer isso, meninas — Soomie gaguejou, seu

corpo todo tremendo. — Eu acho que não aguento mais isso. Outro funeral, outro caixão, ver seus pais...

— Shhhh. — Maria acariciou seus cabelos. Ariana colocou um braço em volta dos ombros de Soomie e descansou sua bochecha contra o topo de sua cabeça. Em pouco tempo, Maria estava chorando também, e logo Ariana sentiu as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, enquanto todas choravam por sua amiga falecida.

Page 23: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

medida que o caixão branco descia devagar, meticulosamente abaixado na terra, a Sra. Greene caiu de joelhos no chão. O som que escapou de sua garganta foi como algo de alguém torturado, alto, estridente e gutural de

uma só vez. Uma mulher alta, que só poderia ser sua irmã se agachou ao lado dela em seus saltos altos, tentando em vão levantá-la. Um par de fotógrafos correu para fazer sua melhor foto, mas o senador Greene voltou seus ombros largos em direção a eles, barrando o seu caminho. No caminho para o serviço fúnebre na igreja, os paparazzi conseguiram ser respeitosos, mas aparentemente esse espetáculo desenfreado de emoção era mais do que podiam resistir.

— Lexa! Lexa! — a Sra. Greene gritava, chegando em direção ao buraco enorme na frente dela.

Ariana finalmente virou a cabeça, pressionando o rosto no ombro de Jasper. Ele segurou-a com força e sussurrou em seu cabelo, mas ela não conseguia distinguir as palavras. Ao lado dela, Maria chorava copiosamente. Aqui e ali, por toda a grande multidão, gemidos dolorosos e choros fortes subiam em direção ao céu azul brilhante, à medida que vários dos enlutados não conseguiam esconder a sua dor.

— Podemos sair daqui? — Ariana choramingou. — É claro — disse Jasper. Várias pessoas também começaram a sair. Ariana olhou em volta e viu que

muitos de seus colegas estavam trocando olhares hesitantes, sem saber o que fazer.

Do outro lado, de mãos dadas com April estava Kassie Sharpe. Conrad olhou para o caixão, uma rosa na mão, completamente imóvel e com os olhos turvos. Tahira e Rob se abraçaram enquanto Tahira tentava controlar sua respiração. Atrás dela, Reed Brennan colocou um par de óculos escuros sobre os olhos e se virou para a fila de espera dos carros.

O coração de Ariana parou. Reed? Não. Não. Não. O que ela estava fazendo ali? Ela deu um passo em direção ao caixão — em direção de Reed — e quase tropeçou quando Jasper começou a puxá-la para o outro lado.

— Ana? Onde você está...? Reed não poderia estar ali. Ela não tinha o direito. Nenhum direito. Os dedos

de Ariana se apertavam nos punhos enquanto sua visão começou a formigar com

À

Page 24: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

manchas cinzentas. De repente, a batida que tinha sido silenciosa pelos últimos dois dias zumbiu dentro de seu crânio.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... Então Reed virou-se e olhou diretamente para Ariana. Mas não era Reed. O

rosto da menina era mais largo, o nariz mais largo, e ela estava em um vestido preto da Calvin Klein melhor do que Reed se vestiria certamente. Lentamente, os olhos de Ariana voltaram ao normal e sua temperatura corporal começou a esfriar. A batida acalmou em um baque surdo.

— Ana? Você está bem? — perguntou Jasper. Ariana virou, o vento jogando seu cabelo na frente do rosto. Ela viu que alguns

de seus outros amigos se reuniram para esperar por ela. Adam estava lá com Quinn e Jessica, dois dos alunos do segundo ano que costumavam servir Lexa cegamente. Soomie, no entanto, estava longe de ser encontrada. Ariana mal podia acreditar que a amiga perderia o funeral. Ariana pensou no outro dia — Soomie balançando para frente e para trás em seu quarto — e sentiu um baque de mau agouro. A ausência de sua amiga só podia significar que algo estava errado, muito errado.

— Sim... sim, eu... — Ela olhou por cima do ombro, mas a menina que parecida com Reed tinha ido embora. Palmer estava andando na direção oposta entre seus pais, com a cabeça abaixada. Conrad ficou parado em frente a sepultura, olhando para ela, uma rosa vermelha pendurada frouxamente em seus dedos. — Vamos embora.

Ela passou o braço em volta de Jasper e Maria pegou sua outra mão. Juntos, eles começaram a caminhar lentamente em direção ao estacionamento. Tahira e Rob seguiram juntamente com eles conforme eles fizeram o seu caminho sobre a grama cortada, contornando lápides antigas e pisando em torno de um túmulo recentemente coberto.

— Para onde todo mundo vai para a Ação de Graças? — perguntou Maria, fungando.

— Meus pais estão voando para cá e vamos todos para a casa dos meus primos — disse Rob, segurando Tahira apertado ao seu lado.

— E como minha família está nos Emirados Árabes Unidos, eu vou com Rob — disse Tahira.

— Estou pegando um trem em menos de uma hora — disse Adam, puxando um par de luvas de algodão de suas mãos. — Por isso que eu tinha que trazer isso. — Ele fez um gesto em direção à mochila de Atherton-Pryce saltando contra seu quadril. Saindo do bolso exterior havia uma cópia de um jornal local, e um título menor chamou a atenção de Ariana.

ESTRELA DE FUTEBOL DE GEORGETOWN FERIDA EM UM ACIDENTE. — Adam, você se importa se eu...? Com as mãos trêmulas, Ariana tirou o jornal do bolso. — Claro — disse Adam. — Vá em frente. Ariana abriu com cuidado, mantendo o ritmo com as amigas enquanto

examinava o artigo. Seus olhos encontraram imediatamente o nome de Reed e sua boca ficou seca. Aparentemente, uma de suas companheiras de equipe tinha ficado bêbada e tentou dirigir para casa de uma festa. Foi por isso que Reed estava no hospital na noite passada.

Page 25: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Quais eram as chances? Ariana pensou agora, cuidadosamente dobrando o jornal e entregando de volta para Adam. Quais eram as chances de que nós duas acabássemos na mesma UTI na mesma noite porque as nossas amigas estavam feridas?

Era o destino. Tinha que ser. Alguém tinha colocado Reed na frente dela naquela noite por uma razão. Tudo isso era culpa de Reed, afinal de contas. Se Reed nunca tivesse ido para a Academia Easton em primeiro lugar, Thomas Pearson ainda estaria vivo. Se Thomas estivesse vivo, Ariana nunca teria ido para a Brenda T. e encontrado Kaitlynn Nottingham. Se ela nunca conhecesse Kaitlynn, ela nunca teria conhecido Briana Leigh Covington. A morte de Briana Leigh era culpa de Reed. Assim como a de Brigit Rhygstead e de Lexa Greene. Claramente, Reed tinha sido colocada nessa UTI nessa mesma noite, porque o universo estava tentando equilibrar-se. O universo queria Reed morta.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... — Vamos. Vamos deixá-lo na estação em nosso caminho de volta ao campus

— Jasper ofereceu para Adam. — Legal, obrigado — disse Adam, sorrindo agradecido. Ariana forçou-se a olhar para frente e não para o jornal agora enrolado em um

tubo nas mãos de Adam. O universo havia tentado lhe dizer alguma coisa, e ela já tinha recebido a mensagem alta e clara.

Tudo voltou a Reed Brennan. Matando Reed todas essas mortes seriam vingadas. Matando Reed, haveria

finalmente, finalmente justiça. Quando ela abriu a porta de seu Porsche prata, Ariana sentia-se muito mais

calma e completamente resolvida. Ela iria voltar para seu dormitório, terminar de arrumar sua bagagem, e passar o resto da tarde até sua saída trabalhando no problema Reed. O pior já tinha passado. Era hora de se concentrar. Ariana Osgood tinha um trabalho a fazer.

Page 26: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Lua Moreira

io Jazz! Tio Jazz! Olha o que eu fiz para você! O adorável sobrinho de cabelos claros de Jasper, Ben, entrou

correndo na sala de jantar imensa na mansão do sul de Montgomery, orgulhosamente carregando uma mistura de Play-Doh. Ao redor da mesa, os adultos ainda permaneciam com o café e torta. Ariana sentou ao lado de Jasper em um lado da mesa festivamente decorada, com sua irmã mais velha Jacqueline à sua esquerda. Do outro lado, os pais de Ben sentaram-se, observando sua progênie com orgulho. A Irmã mais velha de Jasper, Jessica, estava grávida mais uma vez, e seu marido, Sherman, não soltou sua mão por mais de trinta segundos a noite toda. Nas cabeceiras da mesa estavam os pais de Jasper: O Sr. Montgomery empurrou-se para trás de seu prato para dar mais espaço para a sua ampla barriga; a Sra. Montgomery estava empoleirada na borda de sua cadeira enquanto tomava um gole de café. Ben há muito havia saído da sala de jantar, incapaz de ficar parado, e tinha se ocupado com o Play-Doh na sala de estar pela última meia hora.

— Uau! — Jasper exclamou, puxando Ben em seu colo. — Esse é o monstro mais assustador que eu já vi!

Ariana sorriu. Jasper era tão fofo com Ben que fez seu coração doer. O rosto de Ben, no entanto, caiu como uma pedra. — Não é um monstro —

disse ele, brincando com um dos botões da camisa Ralph Lauren de Jasper. — É você!

Jasper hesitou por um segundo, enquanto Jessica encobria uma risada, mas ele se recuperou rapidamente.

— E, como todos sabem, eu sou o monstro mais assustador ao sul da linha Mason-Dixon! — disse ele, abrindo os olhos e deixando escapar um rosnado.

Ben meio gritou, meio riu, e se contorceu do colo de Jasper, correndo de volta para a sala. Jasper começou a persegui-lo, deixando Ariana sozinha na mesa com a família. Ela suspirou contente e acrescentou um pouco de açúcar no café. Fora da janela de sacada enorme, uma colina gramada descia em direção a uma lagoa, sua água reluzindo ao declínio da luz solar de novembro. Havia várias cadeiras de Adirondack organizadas em torno de um enorme forno de pedra, onde Jasper tinha prometido a família que iria permanecer até mais tarde naquela noite para assar marshmallows e contar histórias. Ariana não poderia ter imaginado uma forma mais perfeita de terminar um dia perfeito.

—T

Page 27: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Bem, Jessie, se o que tem na sua barriga é apenas metade barulhento que aquele ali, as coisas estão prestes a ficar muito animadas por aqui — disse o Sr. Montgomery, erguendo as sobrancelhas espessas.

Jessica sorriu e passou a mão sobre sua barriga. — Bem, ela não para de me chutar, então eu acho que será uma diabinha.

Todo mundo riu levemente. Ariana sentiu os olhos da Sra. Montgomery em seu rosto e olhou para sua torta de nozes intocada.

— Você tem estado bastante tranquila desde que o jantar foi servido, Ana — disse a mãe de Jasper. — Está tudo bem?

— Oh, sim. Claro. Obrigada — disse Ariana, corando um pouco. Ela sentiu o brilho das velas no seu rosto. — É só que... faz um longo tempo desde que eu tive um Dia de Ação de Graças em família.

Ariana viu quando os membros da família de Jasper trocaram olhares desconfiados. Ela soube imediatamente que haviam discutido a história de Briana Leigh e que, muito possivelmente, Jasper tinha lhes advertido contra dizer qualquer coisa que pudesse fazê-la se sentir desconfortável ou triste.

Era típico de Jasper. — O que você e seus pais costumavam fazer no dia de Ação de Graças? —

perguntou Jessica. Sua mãe lhe lançou um olhar de advertência, mas Ariana de repente percebeu

que ela não se importaria de relembrar seus pais um pouco. Normalmente, ela se recusava a deixar-se até mesmo pensar sobre eles, mas algo hoje a tinha deixado em um clima nostálgico, e ela se sentia segura entre a família de Jasper.

— Eu não tenho uma enorme família, mas minha mãe sempre convidava todos os vizinhos — disse Ariana. — Qualquer um que não tivesse um lugar para ir era bem-vindo em nossa casa.

— Isso soa bem — disse Jacqueline. — É o modo como o dia de Ação de Graças realmente deveria ser.

— Era bom — disse Ariana com um sorriso suave. — A única coisa que eu não gostava era que a minha mãe não cozinhava naquela noite. Ela sempre contratava alguém. Eu entendo por que, ela queria ser capaz de passar um tempo com a gente, em vez de na cozinha, mas ela era uma cozinheira maravilhosa. Ela costumava fazer galinha no alho, alecrim com purê de batatas e biscoitos do sul. Essa sempre foi a minha refeição favorita enquanto eu crescia.

— Agora você está me deixando com fome de novo — brincou Sherman, acariciando seu estômago plano com a mão livre.

Todos riram e Ariana corou. — Desculpe. Eu estou divagando. — Não, Ana — disse a Sra. Montgomery com um sorriso amável, seu cabelo

loiro penteado tão cheio de produto que ficou imóvel enquanto ela acenava para Ariana. — E eu quero que você saiba que, tanto quanto eu tenho certeza que você sente falta da sua família, estamos todos muito felizes em tê-la aqui.

— Jazz me liga para se gabar de você todos os dias na escola — Jacqueline informou com um sorriso. — Ele irrita bastante a minha companheira de quarto.

O peito de Ariana inflou com felicidade. Até recentemente, ela não tinha ideia de que as irmãs de Jasper sequer soubessem que ela existia. Significava muito que ele falasse com elas sobre ela com tanta frequência.

Page 28: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

O Sr. Montgomery limpou a garganta e se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na toalha branca pura.

— Eu lembro de ter lido sobre a morte de seu pai na época — disse ele, apertando as mãos. — Foi um negócio horrível. Um negócio horrível.

— Sim — disse Ariana, lançando os olhos para baixo novamente. — Espero que tenham acabado com o psicopata que fez isso — disse ele. — Thurston! — a Sra. Montgomery repreendeu. — O quê? Eu só estou oferecendo meu apoio — ele disse, virando suas

enormes palmas para cima. — Está tudo bem — disse Ariana, mexendo lentamente seu café e tentando

com todas as forças não sorrir. — Vamos apenas dizer que ela foi devidamente punida.

Ela pensou em Kaitlynn Nottingham apodrecendo no chão frio e duro atrás da mansão Greene em Washington e imaginou se a verdadeira Briana Leigh e seu pai concordariam.

— Bom. Estou sempre satisfeito em saber que a justiça foi feita — disse o Sr. Montgomery.

Agora Ariana sorriu enormemente. Ela sabia que gostava do pai de Jasper. De repente, ela se sentiu ainda mais à vontade com a ideia de compartilhar o longo fim de semana com ele e sua família.

— Obrigada pela moderação de vocês, gente — disse Jasper suavemente da porta, cruzando os braços sobre o peito. — Vocês aguentaram todas as 24 horas antes de abordar o assunto exato que eu pedi para não abordar.

O pai de Jasper começou a virar em seu assento para retrucar, mas Ariana o cortou.

— Está tudo bem, Jasper — disse Ariana. — Eu não me importo. Com um rolar de olhos discreto, Jasper se sentou ao lado de Ariana

novamente, colocando o guardanapo de volta em seu colo e segurando a mão de Ariana na sua debaixo da mesa. Ariana apertou seus dedos, e uma onda de contentamento aqueceu cada centímetro de sua pele. Ela o amava tanto por ele tentar protegê-la, mesmo sabendo que ele não precisava. Ele sabia que ela podia cuidar de si mesma, mas ele ainda queria cuidar dela. Olhando em volta para sua família, para o olhar brincalhão e repreensivo que a mãe dele estava atirando em seu pai, para a forma como Sherman e Jessica sussurravam constantemente um com o outro, ela podia ver como ele tinha crescido tão atencioso e dedicado.

Pela primeira vez em muito tempo, Ariana se sentia como parte de uma família. Era uma sensação que ela queria mais do que qualquer coisa se agarrar, e ela tinha Jasper para agradecer por isso.

Page 29: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

frio que emanava do banco de pedra há muito já havia penetrado nos ossos de Ariana. O latte que ela tinha comprado em um carrinho de café, poucos minutos atrás, era o quinto do dia, e já estava ficando morno em suas mãos.

A pele ao redor da sua boca e dos seus olhos já estava tão seca que ela podia senti-la rachar, enquanto tentava imaginar-se em uma praia quente, em qualquer outro lugar. Tentando colocar sua mente sobre o problema.

Esta não era uma maneira de passar um domingo à noite. — Onde diabos ela está? — disse Ariana baixinho. Dois jovens passaram, arrastando pequenas malas de rodinhas, lançando-lhe

um olhar confuso. Ela supôs que ela parecia um pouco estranha, sentada com um boné de beisebol novíssimo de Georgetown e enormes óculos de sol Gucci, depois de escurecer, falando sozinha. Ariana tomou um longo gole de seu café, cobrindo o máximo de seu rosto quanto pôde, e fingiu não notar. Ela não deveria chamar a atenção para si mesma. Mas ela supôs que lapsos de julgamento eram de se esperar depois de cinco horas ainda sentada em um dia gélido, e sem sol, de novembro.

Ariana e Jasper haviam retornado ao campus naquela manhã, depois de três dias seguidos de comida, risos e festas com a família dele. Tinha sido um turbilhão de boa comida, boa música, e de criação de laços com a mãe e as irmãs de Jasper, e, no momento que eles tinham chegado na Casa Privilege, tudo o que ela tinha vontade de fazer era se enrolar e dormir um pouco. Mas ela tinha coisas mais importantes para fazer. Esta noite seria a noite perfeita para identificar onde no campus Reed vivia, tendo a certeza de que ela havia voltado de algum terrível e pobre jantar de Ação de Graças em Backwater, PA.

Agora, horas depois, Ariana estava bastante certa de que tinha visto cada estudante retornar do feriado, exceto Reed. Onde diabos ela estava? O Dia do Peru, no meio do nada, estava realmente tão divertido que ela queria prolongá-lo o máximo de tempo possível?

Ariana inspirou e expirou calmamente, relaxando. Ela havia reduzido os possíveis lugares que poderiam ser a residência de Reed a três dormitórios em um raio de meio milha um do outro. Infelizmente, as portas da frente dos edifícios eram todos virados em direções opostas, de modo que Ariana não tinha sido capaz de escolher um ponto de vantagem. Ela havia começado o seu dia fora do primeiro dormitório e tinha visto dezenas de meninas calouras indo e vindo, mas Reed não estava entre elas. Por volta das cinco da tarde, Ariana tinha decidido ir ao

O

Page 30: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

dormitório número dois. Em um momento, Ariana tinha visto um grupo de meninas em jaquetas de futebol, mas Reed não estava lá. Finalmente, às sete, congelada e frustrada, Ariana havia assumido seu cargo atual fora do terceiro e último dormitório. E neste momento, ela estava com fome, nervosa com toda a cafeína, e sentindo-se tão frustrada que estava pronta para estrangular a primeira morena alta que cruzasse seu caminho.

E se ela a tivesse perdido? E se a garota, agora, estivesse voltando ao primeiro dormitório, fora de vista? Se Ariana tivesse que voltar novamente pela manhã e começar todo o processo de novo, ela teria um colapso nervoso!

De repente, seu celular tocou, assustando-a. Ariana colocou o copo de café ao lado dela e puxou o celular do bolso, tendo o cuidado de manter um olho na porta do dormitório. A mensagem era de Jasper.

VOLTE LOGO. ESTÁ FRIO AQUI SEM VOCÊ. Ariana sorriu. Ele havia enviado pequenas mensagens românticas durante

toda a tarde, mas nunca perguntava onde ela estava ou o que estava fazendo. Era tão bom ter um namorado que não era intrometido, exigente ou controlador. Tudo o que ele queria era estar com ela.

EU VOU VOLTAR LOGO. PROMETO. Ariana clicou em enviar e colocou o celular de volta no bolso. Ela estava

praticamente arruinada ali, de qualquer maneira. Claramente, uma mera vigilância não ia ser suficiente. Ela ia ter que descobrir outra forma mais eficiente para determinar onde Reed estava hospedada. Talvez ela pudesse encontrar uma maneira de invadir o sistema da escola. Ou simplesmente voar para aquela horrível cidade de onde Reed viera e perguntar aos pais dela. Eles eram provavelmente apenas caipiras — burros o suficiente para dizer a ela.

Com um suspiro, Ariana forçou-se a ficar de pé, seus músculos e ossos congelados rachando e protestando. Ela estava prestes a ir para o grupo de visitantes, quando ela ouviu uma risada que a deteve.

Lentamente, Ariana olhou para cima, e lá estava ela. Reed Brennan em carne e osso. Ela estava caminhando com três amigas, cerca de vinte metros de distância, puxando no caminho uma mala de rodinhas, indo em direção ao dormitório. E no caso da mente de Ariana estar perturbando-a de novo, Reed vestia uma jaqueta de vinil com seu sobrenome estampado nas costas, em letras enormes.

De repente, a boca de Ariana salivou. Ela engoliu em seco, enojada. Era incrível o efeito que Reed tinha sobre ela. Ariana controlou-se para não correr através do lugar e lançar-se sobre a menina como um animal selvagem. A batida primal iniciada dentro dela retornou, desta vez mais sonora do que nunca.

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... Na porta da frente do dormitório, Reed parou e puxou um cartão-chave do

bolso. Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... Reed colocou o cartão na frente do bloco eletrônico, em seguida, estendeu a

mão e abriu a porta para as amigas. Ela tinha que morrer... Ela tinha que morrer... Ela tinha que morrer... Todas entraram, Reed por último, e fecharam a porta atrás delas. Ariana piscou, acordando de seu transe. Reed tinha ido embora, e isso era

tudo. Ariana respirou, longa e lentamente, e sentiu seu pulso começa a desacelerar.

Page 31: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Reed tinha a chave do edifício, de modo que este era claramente o lugar onde ela morava. Agora tudo que Ariana tinha que fazer era vigiá-la, monitorar seus horários, e descobrir o momento ideal para atacar.

Em breve, tudo estaria acabado. Logo, o equilíbrio seria restaurado. Todas as mortes — Thomas, Briana Leigh, Brigit, Lexa — todas seriam vingadas.

Erguendo o queixo, Ariana virou e calmamente caminhou em direção ao estacionamento. Sua frequência cardíaca estava perfeitamente calma. Sua respiração, perfeitamente normal. Dessa vez, ela teria um plano. Um plano infalível. Dessa vez, ela não deixaria nada ao acaso, como quando tinha matado aquela garota, Mel, em Easton, ou o pobre Sergei no lago, ou a primeira vez que ela tentou matar Kaitlynn em seu quarto de hotel em Dupont Circle, ou a terrível noite fatídica, quando ela tinha chegado tão perto de empurrar Reed do telhado da Casa Billings.

Era sempre muito melhor quando havia um plano. E isso era importante demais para deixar algo ao acaso.

Page 32: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

u agora abro a palavra para as nomeações oficiais para o cargo de Presidente da sociedade de Atherton-Pryce Hall, Pedra e Sepultura.

As palavras de April trouxeram um frio sobre a sociedade, e por um longo momento, ninguém disse uma palavra. Era como se ninguém quisesse ser o primeiro a sugerir que alguém poderia realmente substituir Lexa. Os olhos de Ariana examinaram o círculo, que estava, novamente, destituído de Palmer e Conrad, e desta vez Soomie também. Ninguém tinha sido capaz de entrar em contato com Soomie nas férias de Ação de Graças, mas Maria tinha a esperança de que ela iria voltar para o campus naquele dia, assim como todos os outros. Infelizmente, ela nunca aparecera, e quando Ariana e Maria tinham ido ao quarto dela antes de sair para a reunião, só para ter certeza, tudo estava escuro. Os membros da Pedra e Sepultura estavam diminuindo lentamente e parecia que nada mais seria o mesmo.

Finalmente, Landon pigarreou. Foi tão inesperado, e tão perto do ouvido de Ariana que ela se afastou.

— Eu indico o irmão Starbuck — disse Landon, olhando desafiadoramente para Maria do outro lado do círculo. Ariana suspirou. Aparentemente, eles estavam retomando as coisas onde haviam deixado.

— Eu também — Christian Thacker falou. — Tudo bem. — April fez uma anotação em um livro de pano preto que ela

tinha aberto em seu colo. — Quaisquer outras indicações? — Eu indico a Irmã Miss Temple — disse Maria, sorrindo para April. Kassie foi a segunda, mas April sacudiu a cabeça. — Desculpe, mas eu recuso a nomeação — disse ela. — Tenho coisas demais

em minhas mãos para aceitar algo como isso agora. Tahira levantou a mão. — Irmã Irmã Carrie? — April a chamou. No outro lado de Ariana, Landon bufou. Ariana sorriu. A repetição do nome de

Tahira na Pedra e Sepultura era meio engraçada. Ela estava feliz que ela não tinha sido selada com ele.

— Eu indico a irmã Portia — disse Tahira, recostando-se para sorrir para Ariana.

— O quê? — Ariana arfou, chocada.

—E

Page 33: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ariana olhou para Jasper, enquanto uma rodada de sussurros movia-se rapidamente através da sala, ecoando no teto abobadado. Ele sorriu de volta para ela e levantou a mão.

— Apoiado — ele disse em voz alta. — Mas ela é um membro novato — disse April, sua caneta sobre o livro. O rosto de Ariana endureceu. — Desculpe. Eu apenas estou surpresa — disse April rapidamente,

percebendo a reação de Ariana. — É só que... isso nunca aconteceu. — Bem, há uma primeira vez para tudo — Adam saltou. — E Ana... quero

dizer, a irmã Portia, foi a mais ativa da nossa classe promissora. — Ele ergueu a mão, inclinando-se para frente no círculo, para que pudesse ver Ariana. — Eu sou a favor da segunda indicação, também. Ou da terceira. Seja como for.

Houve um murmúrio entre alguns dos veteranos, mas ninguém se opôs. — Tudo bem, então — disse April, com um sorriso. — Irmã Portia foi

nomeada. Ariana prendeu a respiração quando a ponta da caneta riscava sobre o papel.

Ela sorriu para Tahira, seu rosto, ela tinha a certeza, estava queimando em um vermelho brilhante. Ela não podia acreditar que tinha acabado de ser nomeada para ser a presidente da Pedra e Sepultura. Não era apenas a mais alta posição na sociedade secreta, mas considerando quão exclusiva era a Pedra e Sepultura, basicamente era a posição mais alta em toda a escola. E Tahira, Adam e Jasper pensavam que ela merecia ter.

— Quaisquer outras indicações? — perguntou April Landon suspirou. Christian estalou os dedos. De repente, a caverna estava

silenciosa como uma tumba. — Tudo bem, então. Vamos realizar uma eleição especial em nossa próxima

reunião — disse April, fechando o livro. — Obrigada a todos por virem em tão pouco tempo. Reunião encerrada.

Enquanto todos os outros se esforçavam para sair, Jasper, Tahira, Maria, Rob e alguns outros membros se reuniram em torno de Ariana para felicitá-la. Ariana tentou parecer calma, tentou parecer como se aquilo tudo fosse uma responsabilidade muito grande — a ideia de substituir a sua melhor amiga. Mas por dentro, ela nunca tinha estado tão animada. Quando ela olhou nos olhos orgulhosos de Jasper, admirando-a, e apertou a mão dele, ela sentiu como se todos os seus sonhos estivessem se tornando realidade.

Page 34: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

riana atravessou o campus em direção à sala de jantar, antes do almoço na segunda-feira à tarde, sentindo como se as pessoas já estivessem começando a olhá-la de forma diferente. Durante toda a manhã, as meninas

da Pedra e Sepultura tinham vindo até ela, jurando sua lealdade, prometendo votar nela no encontro da meia-noite de quarta-feira. A cada nova promessa, Ariana sentiu seu peito inflar um pouco mais. Ela olhou em volta para os edifícios de tijolos vermelhos do campus, as pilhas de folhas coloridas estampadas nas paredes, a bandeira azul e cinza do APH chicoteando no mastro de cada corredor, e sentiu como se o ar de outono estivesse enchendo-a, trazendo todos os tipos de possibilidades.

Eu irei comandar este lugar, Ariana pensou, parando os passos perto do prédio da administração. Tudo que eu preciso é de mais alguns votos e esta escola, esses alunos, o mundo... Pode muito bem me pertencer.

Ela lambeu os lábios, imaginando que tipo de vantagens o presidente da Pedra e Sepultura podia desfrutar. Lexa nunca tinha falado muito sobre isso, de jeito nenhum. Ela tinha tomado sua posição de poder e prestígio no tranco, como se fosse simplesmente parte de quem ela era, e não algo a ser exercido ou mostrado. Pensando na atitude madura de Lexa agora, Ariana prometeu a si mesma que seria da mesma forma. Ela não iria abusar de seu poder, nem iria causar em ninguém o sentimento de inveja ou de cobiça da sua posição. Ela seria uma líder boa e benevolente.

Se, é claro, ela ganhasse. Ariana sorriu para Quinn, que acenou enquanto ela passava. Ela puxou o

celular de sua bolsa para ver se Soomie tinha respondido a qualquer uma das muitas mensagens que ela havia enviado naquela manhã entre as classes. Havia algumas mensagens novas, mas todas elas eram de Jasper, Maria e Tahira.

Mordendo o lábio, Ariana discou o número de Soomie. O correio de voz já havia atendido no momento que ela levou seu celular ao ouvido.

— Você sabe o que fazer após o bip! — disse Soomie brilhantemente. — Soomie, é Ana — disse Ariana, girando e fazendo uma caminhada vagarosa,

apreciando a sensação do sol em seu rosto. — Tenho certeza que você está cansada de Maria e eu perseguindo você, mas nós duas estamos realmente preocupadas. Apenas... Ligue de volta assim que puder. Nós não precisamos de algo longo, ou falar por muito tempo, nem nada. Nós só queremos saber que você está bem.

A

Page 35: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

E também, seria bom se você pudesse voltar ao campus e votar em mim na quarta-feira, ela acrescentou silenciosamente.

Ela procurou em seu cérebro uma maneira de dizer isso sem realmente dizê-lo, mas ele estava em branco.

— Ok, bem. Espero ver você em breve! Ela desligou o telefone sentindo-se frustrada e preocupada. Claro, Soomie

estava chateada. Primeiro sua melhor amiga Brigit tinha falecido, e agora Lexa. Nem todo mundo podia levar tais tragédias terríveis sem perder o equilíbrio. Ariana só esperava que, onde quer que ela estivesse, ela não fizesse nada estúpido.

A última coisa que ela precisava era de mais uma morte para vingar. De repente, o latido de um cão dividiu o ar frio. O pulso de Ariana congelou

completamente, em seguida, bateu de volta até um ritmo assustador. Ela virou-se, procurando no campus a fonte do ruído.

O latido soava familiar. Muito familiar. Cada centímetro da pele de Ariana formigava. E os minúsculos pêlos na parte de trás de seu pescoço se arrepiaram. De onde ele estava vindo? O som parecia ecoar de cada parede, vindo para ela de todos os ângulos. Ela tinha que ver o cão. Ela tinha que ter certeza de que não era...

E então, de repente, o latido parou. Ariana estreitou os olhos, escaneando o campus, mas não havia caninos à

vista. O medo que tomou conta do coração de Ariana afrouxou ligeiramente. Ela estava apenas ouvindo coisas, é claro. Todos esses pensamentos sobre Reed, Briana Leigh e mortes vingadas estavam começando a brincar com a sua mente. Isso é tudo o que era.

Ariana levantou o queixo enquanto retornava seus passos para trás, em direção ao refeitório.

Tudo o que ela tinha a fazer era livrar-se de Reed e toda essa insanidade iria parar. Livrando-se de Reed, tudo ficaria bem.

Page 36: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana la tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer...

Ariana seguia vinte passos atrás de Reed na terça-feira enquanto ela fazia seu caminho de volta de sua segunda aula do dia rumo a seu dormitório.

Depois de se dizer doente — logo ela havia recebido uma mensagem de voz da enfermeira — ela tinha escapado da Casa Privilege, corrido para o carro e atravessado os portões. Ela chegou a Georgetown em meia hora, exatamente às 05:30 da manhã, justo a tempo de ver Reed sair pela porta da frente de seu dormitório e iniciar uma corrida de uma hora. Depois disso, ela voltou para seu dormitório e saiu duas horas depois, passeando ao longo do caminho com um casaco bege, acompanhada de suas duas amigas, bem cuidadas e saudáveis. Agora era uma hora, e Reed não tinha nenhuma vez sequer olhado por cima do ombro, não tinha olhado em volta, desconfiada, não tinha suspeitado que estava sendo vigiada. A menina não tinha instintos. Não tinha intuição. Um grande defeito, na opinião de Ariana.

Reed usou seu cartão de acesso e entrou no dormitório. Ariana encostou-se no tronco de uma árvore de carvalho perto e puxou o pequeno caderno que ela tinha comprado na livraria do campus naquela manhã, enquanto Reed estava na aula. Ali estavam suas notas meticulosas.

05:30-06:32: Corrida em torno do campus. Volta ao dormitório via beco escuro (POSS1); 08:30-08:34: Vai para o refeitório; 8:34-09:15: Café da manhã com amigos; 09:15-09:20: Chegada à aula de Inglês, caminhando por um caminho público ao redor da quadra (NB2); 9:25-10:30: Suporta a palestra mais chata sobre Shakespeare jamais vista; 10:30-10:37: Caminha ao ginásio, corta caminho por um estacionamento deserto (POSS); 10:45-11:30: Levanta pesos (ECA); 11:30-11:45: Banho e troca de roupa, não há muitas pessoas no ginásio essa hora (BANHO, POSS?); 11:45-11:55: Rumo à aula de biologia, outro caminho público (NB);

1 POSS: Possibilidade. 2 NB: Nada Bom.

E

Page 37: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

12:00-12:43: Faz exame de biologia. Quinta aluna a terminar; 12:43-00:52: Caminha para o dormitório, caminha por atrás do prédio de biologia, passando apenas um ou outro estudante (POSS?).

Ciente de que suas notas eram concisas e claras, Ariana guardou o caderno e

olhou para o celular. Havia uma mensagem de Tahira. FEZ UMA PAUSA P/ 1 BAGEL? ONDE VC TÁ? MATANDO AULA? QUER COMPANHIA? Ariana pensou em responder a mensagem de texto de volta, mas decidiu não

fazer. Ela estava pensando em passar todo o seu dia em Georgetown. Ela tinha um monte de trabalho a fazer.

Tahira mandou uma mensagem novamente. ONDE VC TÁ??? Ariana gemeu e guardou o celular. Talvez ela dissesse à Tahira que ela passou

todo o dia no cinema e desligou o celular. A porta da frente do dormitório se abriu e Reed saiu, conversando em seu

celular. Em vez de virar para a direita, como tinha feito todas as outras vezes naquele dia, Reed subiu o caminho diretamente em frente a ela. O caminho que a levaria direto para a árvore de Ariana. Com o coração na garganta, Ariana virou-se para o lado e se inclinou contra a casca áspera do tronco da árvore. Ela pegou uma cópia gasta do livro Ardil 22 e segurou-o em seu rosto, fingindo estar concentrada em uma leitura.

— Você está brincando? — disse Reed ao telefone com uma risada. — Meus pais estão empolgados para passar o Ano Novo em Cape. Minha mãe não tem que se preocupar em fazer planos e meu pai só fala do tiro ao alvo com seu pai. Ele comprou um colete e tudo.

Ariana mordeu a língua. Mordeu até sentir o gosto de sangue. Reed estava passando a poucos metros de distância. Meros centímetros. O que ela não daria para simplesmente estender a mão e agarrá-la. Cobrir sua boca e apertar o nariz. Arrastá-la para trás da árvore e sufocá-la até que ela parasse de se debater.

— Josh! Cale a boca! Não, nós não vamos dividir um quarto — Reed gritou, rindo como uma hiena.

Um calafrio correu pela nuca de Ariana. Reed estava conversando com Josh Hollis? Fazia sentido, ela supôs. Seus pais tinham uma linda e elegante casa em Cape Cod. Mas esses dois ainda estavam juntos? Como isso era possível? Josh era um bom rapaz. Inteligente, amável e de grande coração. Como Reed havia conseguido não irritá-lo o suficiente até agora?

— Eu sei, eu sei — disse Reed. — Eu também te amo. Ela desligou o celular e continuou andando em direção ao refeitório. Enquanto

Ariana ia para longe de sua árvore, ela sentiu uma pontada estranha de profunda simpatia dentro de seu peito. Pobre Josh. Ele ficaria tão triste quando soubesse que Reed estava morta.

Mas, em seguida, ela lembrou que era culpa dela mesma. Havia sempre um preço a pagar por se envolver com a garota errada.

Page 38: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

uando Ariana saiu do café da Casa Privilege, ela abriu a parte de cima de seu latte de baunilha e deu uma bela e longa baforada no aroma doce e reconfortante. Lentamente, seus músculos do ombro começaram a relaxar.

Tinha sido um dia frio e longo. Ela teve um dia de muito sucesso, é claro — anotando os horários de Reed, e tendo algumas ideias a respeito de onde, quando e como ela iria agir, mas no momento em que acabou, ela se sentiu congelada de dentro para fora. Agora que ela estava de volta a casa, ela merecia um pouco de tempo de descanso.

Na metade do caminho da sala comum para o saguão, Ariana teve um vislumbre dos cachos vermelhos de April dentro da sala de estar. Ela estava sentada em um dos sofás com a TV sintonizada em um canal de notícia, que parecia estar cobrindo uma das histórias de caridade da temporada — todas as crianças necessitadas com presentes embrulhados carinhosamente. Ariana sorriu, vendo uma oportunidade perfeita para firmar o voto até agora duvidoso de April na Pedra e Sepultura. Aparentemente, o tempo de descanso teria que ser adiado um pouco.

Mas no momento em que ela estava chegando na porta da sala, ela parou em seu caminho. Sentados no sofá na frente da segunda TV de tela plana estavam Palmer, Christian, Rob e Landon em um jogo estridente de Call of Duty. A última coisa que ela queria era estar perto de Palmer, e ela quase conseguiu sair despercebida, mas, em seguida, ele se virou e a viu. Seu rosto estava com a barba sem fazer e ele usava uma camisa com gola em V toda amarrotada, mas ainda estava irritantemente lindo. Ele lhe lançou um olhar superficial de desprezo e voltou sua atenção para o jogo. O rosto de Ariana queimou. Por mais que ela quisesse, ela não poderia sair agora. Ela não podia deixá-lo ter a satisfação.

— Oi, April — disse ela alegremente, andando ao redor do sofá. Ela se sentou ao lado da garota, derrubando o fichário que estava aberto em seu colo e fazendo cair alguns papéis. — Oh, eu sinto muito. Eu não sabia que você estava estudando.

— Eu não estou — respondeu April com um suspiro. — Estou tentando organizar todas estas propostas para a revista de literatura. — Ela levantou um maço de papéis na mão. — Ninguém na escola ouviu falar de e-mail?

Ariana sorriu e tomou um gole de café com leite. — Precisa de ajuda? — Sim, por favor, obrigada — disse April em uma respiração. Ela entregou

uma pilha desorganizada de papéis a Ariana. — Estou começando, classificando-as

Q

Page 39: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

conforme seu tema. Aqui é poesia, e essa outra é ficção — disse ela, apontando para duas pilhas separadas colocadas no sofá ao lado.

Ariana colocou o café em cima da mesa de café de vidro, e notou outra pilha de folhas soltas e papel da impressora lá. — O que é isso? — perguntou ela, quando os garotos do outro sofá gritaram por cima do som de uma enorme explosão.

April revirou os olhos por trás de seus óculos de tartaruga. — Tema desconhecido.

Ariana riu. — Eu não quero nem saber. — E agora, uma notícia de última hora da capital da nossa nação — disse o

apresentador na televisão. Ariana e April olharam para cima, e Palmer olhou por cima do sofá oposto. — Esta tarde, uma estranha descoberta foi feita nas margens do rio Potomac, quando o corpo de uma jovem foi arrastado até a costa.

A parte de trás da cabeça de Ariana pareceu perder o peso e ficar nebulosa. Não podia ser. Não podia ser.

— Pausa o jogo — Palmer ordenou. Rob fez o que lhe foi dito e Palmer levantou-se, em seguida, abaixou-se sobre

o braço do sofá, de frente para a TV de April. Na tela, uma meia dúzia de policiais carregava um saco preto para a parte de trás da ambulância, às margens de um rio.

— Os restos foram identificados como os da modelo de moda internacional, Kiran Hayes — o apresentador continuou. O sangue de Ariana congelou enquanto a imagem do rosto sorridente de Kiran Hayes sorria para ela em sua memória.

— Oh meu Deus — ela gritou, a mão voando para sua boca. — O quê? — disse April. — Ana? Você está bem? — Estou bem — Ariana murmurou, enquanto sua vida passava diante de seus

olhos. Como eles haviam encontrado o corpo dela? Como? Fazia semanas desde que ela empurrou uma Kiran muito bêbada de cima de uma ponte para o Potomac na noite de Halloween. Ariana tinha pensado que a cada dia que passava era mais seguro e mais seguro de que o corpo de sua ex-amiga nunca ia ser encontrado.

E agora, lá estava Kiran em pessoa, parecendo até mais alta do que era em vida, atravessando a passarela da Fashion Week, posando com outras modelos para um anúncio de maquiagem, saindo de uma limusine com algum ator de filme B de Hollywood.

— Grande promessa, reconhecida como uma das estrelas em ascensão da alta costura, a senhorita Hayes não havia sido vista ou dado sinais de vida desde a noite do Halloween, quando ela ligou para uma velha amiga da sua ex-escola preparatória, Academia Easton.

Agora, os garotos estavam totalmente interessados, murmurando e conjecturando, já que Kiran era alguém de seu próprio meio social.

— Shhh! — disse Ariana, estendendo a mão. Ela viu alguns olhares confusos, mas todo mundo se acalmou. Na tela brilhava

uma fotografia de Kiran e Noelle tirada em frente ao Billings durante o primeiro ano de Kiran. A foto havia sido cortada, mas ainda se via uma mão pendurada em torno do ombro de Kiran no centro da imagem. Ariana quase desmaiou ao vê-la. Era sua própria mão, magra e pálida. Se eles tivessem mostrado a foto inteira...

Se eles tivessem mostrado a foto inteira, todos na sala teriam visto. Cada um deles a teria reconhecido.

Page 40: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— E enquanto isso se parece com um possível acidente, a polícia ainda não descarta um crime, também — a locutora dizia. — Para as notícias do WDCW, eu sou Melinda Chang.

Ariana levantou-se trêmula, espalhando papéis por todo o chão a seus pés. Ela afastou-se da tela e cambaleou para trás em direção ao corredor. Crime. Eles não haviam descartado a possibilidade de um crime. Será que ela tinha deixado algum tipo de evidência em Kiran? Uma impressão digital? Uma fibra? Um fio de cabelo?

— Aonde você vai? — Palmer perguntou. Ariana congelou. Sua coluna parecia como se fosse de gelo. — O quê? — disse

ela, virando-se para ele. — Essa é a maior emoção que eu vi em você desde que a sua dita “melhor

amiga” morreu — disse ele em um tom agressivo, aproximando-se dela. — Como é que você está chorando por alguma modelo morta quando eu nunca te vi derramar uma lágrima por Lexa?

— Me deixe em paz — disse Ariana através de seus dentes. Ela não podia lidar com Palmer e seus sentimentos machucados agora. Ela começou a ir novamente, mas ele agarrou seu braço.

— Não. Eu acho que não — disse Palmer. — Você foi a última a vê-la viva. O que ela disse para você? O que você fez? Você a irritou ou algo assim? O que aconteceu naquele quarto?

— Palmer — disse April, sua voz horrorizada. — Você realmente não pode pensar estas coisas...

— Eu não tenho que lhe dizer nada — Ariana respondeu, cerrando os dentes tão forte quanto podia para não explodir, para manter-se sob controle. — Mas mesmo que nós tivéssemos tido uma conversa perturbadora, isso não poderia causar um aneurisma.

— Como você pode brincar com isso? — Palmer cuspiu. — Você não se importa com ninguém além de si mesma. Nem mesmo com sua melhor amiga morta.

— Cara — disse Landon. Ariana olhou para ele por cima do ombro de Palmer. Até mesmo Palmer se

encolheu. Se Landon pensava que ele estava fora da linha, ele deve ter feito algo muito errado. Antes que algo mais pudesse ser dito, Ariana girou nos calcanhares, levantando o queixo para cima, e se afastou. Mas quando ela finalmente chegou aos elevadores, ela estava tremendo da cabeça aos pés.

Palmer havia chegado muito perto da verdade. Será que ele realmente suspeitava de alguma coisa? E esta alegação de que haveria a possibilidade de ter acontecido um crime que a mulher disse no noticiário? A polícia suspeitava que Kiran na verdade tinha sido assassinada? Se sim, quanto tempo ela ainda tinha antes que eles aparecessem em sua porta?

Quando as portas se abriram, Ariana entrou e tentou respirar. O corpo de Kiran havia passado cinco semanas no fundo de um rio. Não havia

a menor possibilidade de que algo ali os levasse a Briana Leigh Covington ou Ariana Osgood.

Ou havia?

Page 41: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

riana soltou um grito catártico enquanto ela batia a pequena bola azul com a raquete usada e velha do raquetebol. A bola bateu contra a parede branca e pulou contra o piso de madeira brilhante, ricocheteando em

direção ao outro lado da quadra fechada de dois andares de altura. Ariana correu para alcançá-la, seus tênis batendo na madeira, com a respiração rápida e pesada. Ela estendeu a mão para trás e fez um retorno perfeito, enviando a bola de volta para a parede. Lá em cima, as luzes fluorescentes piscaram, mas ela ignorou e devolveu a bola novamente. Agora, ela estava concentrada, e nada poderia distraí-la.

Então, a porta para a quadra abriu, e sua bola saiu voando para o saguão. — Uou! — Maria deixou escapar, pulando para fora do caminho da bola. —

Sinto muito. — Está tudo bem — disse Ariana, tentando recuperar o fôlego. Ela caminhou até sua bolsa, limpou o rosto suado com uma toalha, e pegou o

tubo de bolas que ela tinha comprado na loja de ginásio antes de iniciar o seu jogo. Não havia raquetes femininas à venda, por isso ela usava aquela raquete velha, mas pelo menos ela poderia extravasar naquele jogo.

— Se importa se eu me juntar a você? — perguntou Maria, empunhando sua própria raquete. Ela estava vestindo um short curto de algodão e um top cinza e já tinha uma mancha de suor em seu estômago e outra sobre seu peito. Seu cabelo estava em um rabo de cavalo bagunçado, e ela segurava um iPod em sua mão. Claramente ela já tinha feito exercícios por um tempo, quando ela tinha notado Ariana na quadra de raquetebol.

— Nem um pouco — disse Ariana, ainda recuperando o fôlego. Maria colocou seu iPod em cima da bolsa de Ariana e correu um pouco, seu

rabo de cavalo dançando de ombro a ombro. — Eu não acho que eu já tenha visto você dentro do ginásio antes —

comentou ela, olhando para os tênis brancos de Ariana, que vestia também uma polo branca de manga comprida com uma saia plissada e tênis Nike.

— É porque eu nunca estive aqui antes — disse Ariana enquanto ela saltava a bola em cima de sua raquete. — Mas esta noite, eu senti uma extrema necessidade de bater em alguma coisa, e as luzes não estão acesas nos campos de tênis, por isso aqui estou eu.

A

Page 42: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— É, eu acho que quando faz trinta graus lá fora eles pensam que ninguém vai pensar em jogar tênis depois de escurecer — brincou Maria, juntando-se à Ariana na linha de serviço.

— Pensaram errado — Ariana respondeu, sem um traço de alegria. Desde que ela tinha visto o rosto de Kiran naquela notícia mais cedo naquela noite, ela não conseguia mais ter um pensamento positivo, uma centelha de alegria, ou felicidade que passasse por sua mente. Tudo agora se resumia ao pânico, hipóteses, preocupação e medo. Razão pela qual ela estava ali, suando, tentando limpar sua mente. — Jogo a quinze? — ela perguntou à Maria.

— Claro — disse Maria, dobrando na cintura e mudando seu peso de uma perna para a outra.

Ariana sorriu. Maria era supermagra, uma bailarina frágil. Não havia nenhuma maneira de ela jogar raquetebol em uma base regular. Essa ia ser uma vitória fácil.

Ela jogou a bola para cima e fez o saque. Maria devolveu com uma defesa formidável. E a bola bateu na parede, em seguida no chão e passou zunindo direto na direção de Ariana, mas cerca de três metros acima de sua cabeça. Ela se levantou e arremessou um retorno, mas parecia curto.

— Meu saque — disse Maria, recuperando a bola. — Bela defesa — disse Ariana, impressionada, mas também um pouco

irritada. Maria inclinou a cabeça modestamente. — Obrigada. Ela deixou a bola quicar algumas vezes a seus pés. — Estou preocupada com

Soomie. Eu não acho que alguma vez tenhamos ficado tanto tempo sem falar, ou enviar e-mails, ou mensagens de texto ou algo assim.

Com um lance rápido, ela sacou a bola. Ariana devolveu limpamente, tão rápido que Maria não teve tempo de reagir, e a bola ricocheteou em sua coxa.

— Ai! Isso vai deixar uma marca — disse Maria, esfregando o local com a palma da sua mão.

— Desculpe — disse Ariana, correndo para pegar a bola. — Perigos do esporte, eu acho — disse Maria com ânimo leve. — Então você

ainda não ouviu falar dela? — Não. Estou preocupada também. Não é normal dela simplesmente

desaparecer e nem mesmo deixar um bilhete. Ela é muito... — TOC? — Maria brincou. Ariana riu, surpreendendo a si mesma. — Essa é a sigla que eu estava

procurando. Maria sorriu e Ariana sacou. Elas ficaram em silêncio por alguns minutos,

enquanto corriam em volta da quadra atrás da bola, abaixando-se, correndo para as paredes. Eventualmente, Ariana pegou um ângulo perfeito e ganhou o ponto.

— Uau! Bela jogada! — disse Maria, levantando a mão para um rebote. Ariana nunca tinha jogado assim com ninguém há muito tempo. Agora, ela

encolheu os ombros e bateu na mão de Maria. As duas riram. Elas olharam nos olhos uma da outra e, de repente, Ariana não conseguia parar de sorrir.

— Eu vejo o que você quer dizer sobre a necessidade de bater em alguma coisa — disse Maria, ficando pronta para mais uma volta. — Eu já me sinto melhor.

Ariana tomou um gole rápido de água da sua garrafa, em seguida, voltou para a linha de serviço. — Então, nós devíamos fazer isso mais vezes.

Page 43: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Maria sorriu. — Por mim tudo bem. Ariana sorriu de volta, sentindo de repente como se fosse uma loucura temer

que alguma coisa poderia realmente dar errado, e ela jogou a bola para cima para sacar.

Page 44: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Lua Moreira

riana sentou em uma mesa no refeitório de Georgetown na quarta-feira de manhã, com o nariz enterrado em seu livro de química de Atherton-Pryce, que era definitivamente difícil o suficiente para passar por um livro

universitário. Para qualquer transeunte casual, ela pareceria uma estudante que tinha virado a noite e agora estava bebendo café e tentando estudar para um teste nos últimos minutos restantes. Na verdade, cada grama de sua atenção estava sintonizada com a conversa que tomava lugar na mesa atrás dela.

— Eu não posso acreditar que ela está realmente morta — disse Reed, fungando. — Nós imaginamos que ela só havia conhecido um cara quente e desaparecido para o Taiti por algumas semanas.

Ariana sorriu tristemente. Isso soava como Kiran. — Eu sinto muito, Reed — um de seus amigos disse. Ariana tinha visto Reed entrar, de nariz vermelho, vestindo um moletom

folgado de Georgetown e sem maquiagem, cercada por rapazes. Ela imaginou um deles colocando um braço em torno dela agora, dando-lhe um aperto de apoio. Como se Kiran e Reed tivessem sido realmente amigas. Ariana tinha conhecido Kiran por muito mais tempo, e se Reed pudesse ter ouvido algumas das porcarias que Kiran tinha falado sobre ela e seu guarda-roupa pelas suas costas, ela não estaria tão triste agora.

— Eu me pergunto como isso aconteceu — outro amigo falou perto. As orelhas de Ariana se animaram quando Reed zombou com ironia. — Minha amiga Noelle ouviu que ela estava realmente bêbada na festa de

Halloween em que ela estava — disse ela. — Clássico de Kiran. Aparentemente, a polícia acha que ela devia estar tão bêbada que tropeçou e caiu na água — ela acrescentou, com um tom amargo.

Ariana soltou um suspiro de alívio como nenhum outro. Se isso fosse verdade, ela estava livre de culpa. Obrigada, Kiran, por seus modos hedonistas. Mas, então, um gosto amargo encheu sua boca, temperando a sua felicidade quando o comentário de Reed sobre Noelle realmente a atingiu. Então, Reed e Noelle ainda eram amigas.

— Merda. Eu tenho que ir para a aula — um dos acompanhantes de Reed disse. Uma cadeira foi arrastada. — Ei... vocês vão para aquele almoço em equipe na sexta-feira, certo?

Houve um coro de murmúrios de assentimento.

A

Page 45: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Eu não posso — disse Reed. — Eu estou muito atrasada em biologia, e tenho que ir ao laboratório na sexta-feira de manhã. Vou passar cada segundo livre no laboratório até começar a primeira aula.

— Você vai para o calabouço, sozinha, antes da aula na sexta-feira? — um dos amigos perguntou, incrédulo. — Você está louca?

— Eu sei. Aquele lugar me assusta, até mesmo no meio do dia — Reed respondeu. — Mas eu tenho que fazer essa prática no laboratório. É, tipo, cinquenta por cento da minha nota final.

Um chiado de antecipação disparou os alarmes de Ariana. Esse laboratório-calabouço soava como um local perfeito para seus propósitos. E pelo tom de voz do amigo, estaria completamente deserto em uma manhã de sexta-feira, o que fazia todo o sentido. A noite de quinta-feira era a noite de festa oficial nos campus universitários. Apenas uma perdedora sem vida social iria se arrastar para fora da cama antes do amanhecer de sexta-feira e ir para um laboratório. Uma perdedora como Reed. Ariana teria de verificar isso que chamavam de “calabouço” depois que Reed fosse para a aula de hoje. Mas se fosse tão frio, escuro, silencioso e sem janelas quanto ela imaginava... ela acabava de encontrar o que estava procurando.

Page 46: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por L. G.

ocê está nervosa? — Jasper perguntou a Ariana, deslizando na cadeira ao lado dela no refeitório naquela noite.

A própria palavra “nervosa” enviou uma nova onda de formigamento irritante sobre os ombros de Ariana que desceu até os braços. Em apenas algumas horas a votação da Pedra e Sepultura finalmente iria acontecer. Ela não havia pensado em outra coisa o dia todo, mas ele não precisava saber disso. Ariana respirou fundo e deu de ombros casualmente.

— Nem um pouco — disse ela, pegando um pão quente da cesta no centro da mesa. O garçom ainda tinha que vir para anotar o seu pedido, mas não importava. Ela estava certa de que não seria capaz de comer muito de qualquer maneira.

— Mentirosa. — Jasper deu um beijo em sua bochecha enquanto ele colocava sua bolsa carteiro de couro em baixo da mesa. — Pessoalmente, eu acho que sua vitória já está garantida.

As sobrancelhas de Ariana se elevaram. — Você acha? O que você ouviu? — Na verdade nada. Mas por que alguém não votaria em você? — Jasper

respondeu, sacudindo o guardanapo em seu colo. Ariana abanou a cabeça com um sorriso. — Você é o meu namorado. Você

tem que dizer isso — ela sussurrou, olhando para Palmer e Landon enquanto eles caminhavam por perto. Landon levantou a mão brevemente em saudação, mas Palmer nem sequer lançou um olhar na direção deles.

— Bastardo arrogante. Ele merece ser derrubado — Jasper murmurou. Ariana cerrou os dentes, recordando a expressão nos olhos de Palmer quando

ele a acusou na noite anterior. — Eu não poderia concordar mais. April caiu na cadeira em frente à Jasper, lutando para desembaraçar as alças

da bolsa de lona, mala e mochila que ela carregava. Ela finalmente organizou tudo, empurrou as bolsas para baixo de sua cadeira, e respirou fundo.

— Pronta para hoje à noite? — ela perguntou a Ariana. — Tão pronta como poderia estar — Ariana respondeu. April tocou os talheres enfileirados ao lado de seu prato, endireitando em

ângulos retos. — Eu tenho que admitir Ana, até ontem à noite eu ainda estava em cima do muro sobre o voto — disse ela, sentando-se em linha reta e sacudindo os cachos do rosto. — Quero dizer, você é novata e tudo mais. Mas não há nenhuma maneira de votar em um idiota como ele — ela disse, lançando um olhar de escárnio

—V

Page 47: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

na direção de Palmer enquanto ele se sentava em uma mesa perto do fim da fila. — E a forma como você lidou com isso? Perfeição.

— Obrigada — disse Ariana, corando quando ela olhou para seu colo. — Espere um minuto. O que aconteceu ontem à noite? — perguntou Jasper,

virando em sua cadeira na direção de Ariana. — O que o idiota fez? — Nada — disse Ariana rapidamente, sacudindo a cabeça. — Ah, besteira. Não foi nada — disse April. Ela colocou os cotovelos sobre a

mesa e inclinou-se em direção a Jasper. — O idiota basicamente deu a entender que Ana tinha feito algo para causar a morte de Lexa.

— O quê? — Jasper deixou escapar, ficando vermelho instantaneamente. — Você está falando sério?

— Não foi nada — disse Ariana baixinho, não querendo se debruçar sobre este assunto em particular por mais tempo do que o estritamente necessário. — Ele está apenas chateado.

— Assim como todo mundo na escola! — Jasper atirou de volta. — Isso não lhe dá o direito de...

Ele começou a se levantar, mas Ariana colocou a mão sobre sua coxa e empurrou-o de volta para baixo tão forte quanto podia. — Jasper, por favor. Eu só quero esquecer isso. Não vamos fazer nada que distraia a eleição esta noite, está bem?

— Ela está certa. Se você chutar sua bunda patética, ele poderia conseguir votos de simpatia — disse April, pegando um pão.

Ariana sorriu. Por mais que ela amasse Jasper, ela tinha certeza de que o astro atleta Palmer Liriano triunfaria em uma briga. Mas a confiança de April foi um bom golpe no ego para Jasper e isso pareceu acalmá-lo.

— Tudo bem — disse ele, soprando um suspiro. — Mas agora você tem que ganhar hoje à noite.

— Oh, não se preocupe — disse April, erguendo seu copo de água. — Eu tenho dito a todas as meninas da P e S como Palmer vem tratando Ana. Eu não acho que há uma única menina que não vá votar nela.

— É? — perguntou Ariana esperançosa. Seu coração ficou todo quente e leve. Isso poderia realmente acontecer? Ela poderia realmente ser a próxima presidente da Pedra e Sepultura?

— Sim. Você definitivamente vai ganhar — disse April, inclinando o copo em direção a Ariana em um brinde. — E ganhar é a melhor vingança.

Page 48: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

odos nós sabemos o porquê de estarmos aqui — disse April, depois de convocar uma reunião da Pedra e Sepultura. — Antes de continuar com a reunião, todos vocês devem saber que o nosso

atual vice-presidente, o irmão Starbuck, pediu que, desde que fui eu quem iniciou o processo, eu devo realizar as eleições.

April lançou um olhar sarcástico na direção de Palmer, e Ariana soube exatamente o que aquilo queria transmitir. April acreditava que Palmer não estava apto para ser presidente de sua irmandade, e sua incapacidade ou falta de vontade de liderar as votações esta noite havia confirmado. Palmer, por sua vez, sentava-se contra a parede, seus jeans e tênis saindo debaixo do seu manto preto. Ele olhava para a chama de uma vela à sua direita, a sua expressão em branco, como se não houvesse nada e ninguém mais na sala.

— Mas, primeiro, vamos todos ter um momento de silêncio para a nossa irmã, Lexa Greene — disse April. — Para sempre em nossos corações.

— Para sempre em nossos corações — a irmandade respondeu como um só. Ariana olhou para o chão. Seu coração batia forte, uma batida animada de

antecipação, e ela sentiu uma desconfortável vontade de fazer xixi. Por mais que ela quisesse honrar Lexa, ela precisava continuar com o voto. Cada minuto do dia que passou lentamente tinha significado um aumento no seu nível de tensão. No momento em que ela, Tahira e Maria tinham deixado a Casa Privilege para caminhar até as Tumbas juntas, ela sentiu como se mal pudesse respirar. Mesmo com a total certeza de April de que ela iria ganhar, Ariana sentiu como se as fichas estivessem contra ela. Com Lexa morta e Soomie ainda desaparecida, havia menos meninas do que rapazes na Pedra e Sepultura. Mesmo que ela obtivesse cada voto feminino, não seria o suficiente. Ela precisava de pelo menos três caras para ganhar. Ela esteve fazendo a matemática várias vezes toda a noite, dando-lhe uma torturante dor de cabeça no processo. Agora, independentemente do resultado, ela só queria acabar com aquilo. Ela queria saber.

E sim, ela queria ganhar. — Obrigada — disse April. Em torno da sala, dezenas de rostos levantaram. —

E agora, eu vou ler a lista de candidatos. — Irmão Starbuck, você aceita a sua nomeação? — ela perguntou.

—T

Page 49: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Todos os olhos na sala se voltaram para Palmer. Ele acenou com a cabeça. Um movimento tão minúsculo que Ariana não teve certeza se era real ou um truque de luz.

— Voto dado — disse April, com um suspiro de frustração. Ela fez uma marca em seu caderno.

— Irmã Portia, você aceita a sua nomeação? — perguntou April. De repente, a cabeça de Palmer suspendeu. Seu olhar encontrou Ariana no

círculo, e ele sentou-se em linha reta, empurrando-se para longe da parede e em direção ao círculo. Claramente, ninguém lhe tinha dito que ela havia sido nomeada. Ariana encontrou seu choque óbvio altamente gratificante.

— Eu aceito — disse ela claramente, sua voz forte. — Obrigada — disse April. Ela fez uma anotação, em seguida, olhou em volta.

— Neste momento, é meu dever dar a palavra para quaisquer indicações de última hora — disse ela. — Deixe-me lembrá-los da gravidade desta decisão. Hoje à noite vamos eleger a pessoa que vai ser o nosso presidente pelo restante do ano letivo. — Ela fez contato visual com cada irmão e irmã no círculo, dirigindo a sua mensagem para todos. — Vocês devem escolher a pessoa que acham que melhor exemplifica os valores da Pedra e Sepultura. E a pessoa que vocês gostariam de nos representar para os alunos. Agora. Existem outras indicações?

Christian Thacker levantou a mão. — Sim, irmão Darcy? O coração de Ariana estava em sua garganta. Palmer parecia decepcionado.

Christian realmente iria nomear alguém? Agora? O que ele estava tentando fazer, dar-lhe um ataque cardíaco?

— Eu indico o Irmão Lear — disse Christian. — Não. — A voz de Conrad encheu a sala tão completamente que Ariana se

encolheu. — Eu sinto muito, Irmão Darcy, mas confie em mim, eu não sou a melhor pessoa para o trabalho agora. — Ele mudou de posição, puxando as pernas para cima sob seu manto e lançando um olhar de soslaio para Palmer.

A pulsação de Ariana acelerou superficial e rapidamente. O que aquele olhar significava? Ele não estava competindo, a fim de lançar o seu apoio para Palmer? Ou será que ele achava que Palmer deveria retirar sua nomeação, uma vez que ambos estavam de luto? Ariana engoliu em seco, esperando que fosse o último.

Por favor, por favor, por favor, deixe Conrad estar do meu lado, ela pensou de repente. Com Conrad do meu lado, eu realmente tenho uma chance.

— Tudo bem, então — disse April. — Para aqueles de vocês que são novos nisso, nós temos uma votação aberta na Pedra e Sepultura. Não há segredos entre a irmandade. Eu vou chamar cada um dos seus nomes e vocês irão responder com o nome da pessoa para quem gostariam de votar.

Ariana agarrou os lados de seu manto com as duas mãos. Votação aberta? Então ela saberia quem votaria nela e quem não. Ela seria capaz de manter o controle. De repente, seu pulso pulsava tão forte que ela mal podia ouvir-se pensar. O que ela deveria dizer na sua vez? Ela deveria votar em si mesma, ou se fazer de valente e madura e votar em Palmer?

Ela olhou para seu antigo amor do outro lado do círculo. Sua mandíbula estava fechada em um beicinho infantil, seus punhos fechados sob seus braços. Ela lembrou-se da forma como ele a atacou no hospital, na frente de todos, e depois

Page 50: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

novamente na sala comunal. De repente, ela se sentiu tão desgostosa que não estava certa de que seria capaz de pronunciar o nome dele se tentasse. E havia uma boa possibilidade de que ela se engasgasse primeiro.

— Começamos com os mais novos membros para que não possam ser influenciados pelos votos dos mais velhos — continuou April, olhando para Jasper. — Então vamos começar. Irmão Amory Blaine?

Jasper pigarreou. — Irmã Portia. Palmer emitiu um olhar implacável através do círculo até Jasper. Ariana estava

certa de que ele havia contado com o voto masculino da mesma maneira que ela estava contando com o voto feminino.

— Irmão Oliver Twist? Adam desviou os olhos de Palmer, olhando para o chão de pedra. Ele pegou

um fio solto na borda do seu manto. — Irmã Portia. A exalação raivosa de Palmer foi audível em toda a sala. O coração de Ariana

disparou. Mesmo que Adam houvesse destacado a sua nomeação, ela não tinha certeza que ira ganhar o seu voto. Ele e Palmer se conheciam antes, e Palmer fora uma parte da razão que Adam, um estudante bolsista, solicitara um lugar em Atherton-Pryce em primeiro lugar. Ainda assim, Ariana deveria saber que Adam votaria com sua consciência. Ele sempre foi um cara corajoso e honrado.

April fez uma nota em seu livro, e Ariana começou a sentir como se ela já tivesse ganhado a coisa. Dois caras tinham votado nela. Se todas as meninas ficassem do lado dela e ela tivesse mais um cara, seria tudo o que ela precisava.

Landon era o próximo. Sentado ao lado de Ariana, de repente ele ficou estranhamente quieto.

— Irmão Pip? — disse abril. — Irmão Starbuck — ele disse claramente. Ariana arranjou forças para não olhar para ele. Ela sabia que ela nunca iria

ganhar o seu voto, mas por alguma razão, ouvi-lo em voz alta parecia algo como uma traição.

— Irmã Portia? — disse April. Ariana prendeu a respiração. Ela sabia que votar em Palmer seria a coisa

honrada a fazer, especialmente com todo mundo ouvindo, mas nesta eleição ela não podia perder um voto. Ela não tinha nenhum interesse em perder essa batalha para si mesma.

— Irmã Portia — ela disse, com a voz firme. Felizmente, ninguém se encolheu. April passou para Tahira, que votou em

Ariana, em seguida, continuou ao redor do círculo com os membros mais experientes. Como Maria havia previsto, cada menina votou em Ariana. Ela manteve um registro ativo em suas mãos, curvando o dedo para esquerda, em cada um de seus votos, à sua esquerda para cada um de Palmer, em seguida, começar tudo de novo, tentando manter o controle dos incrementos de cinco votos em sua mente. As coisas estavam terminando. Por fim, o voto passou a Rob Mellon. Durante todo o dia, Ariana tinha ficado indecisa sobre Rob, se perguntando se ele iria contra Palmer. Sua namorada, Tahira, tinha sido a pessoa a nomear Ariana, afinal de contas, mas ele também era um dos melhores amigos de Palmer.

— Irmão Von Hardwigg? — disse April.

Page 51: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Rob olhou para Tahira, e então para longe. — Irmão Starbuck. Merda, Ariana pensou. Só faltava Maria, Conrad, Palmer e April. O que significava que só Conrad

poderia salvá-la. Ele e Palmer sempre tinham sido amigos. E se a morte de Lexa os tinha ligado, ao invés de separá-los? E se a sua dor compartilhada tinha solidificado a sua fraternidade?

Se tivesse, Ariana perderia. Mas ela não podia perder. A presidência da Pedra e Sepultura era algo grande. Iria abrir oportunidades que ela mal conseguia sequer imaginar. Se ela pudesse ganhar isto, ela estaria preparada para a vida. Ela nunca teria que se preocupar com nada nunca mais. Sua boca estava seca e úmida enquanto a votação prosseguia com Maria.

— Irmã Estell... — Irmã Portia — Maria interrompeu, não deixando April terminar o seu nome. A anotação foi feita. A votação chegou a Conrad. — Irmão Lear? Ariana olhou para Conrad. Ele apertou as mãos e apoiou o queixo contra elas.

Apoiou os cotovelos sobre os joelhos, se inclinou para frente e soltou um suspiro. Por favor, diga Irmã Portia, por favor, diga Irmã Portia, por favor, diga... — Eu voto em... — ele fez uma pausa e olhou para Palmer. Palmer olhou de

volta com segurança. Lentamente, o coração de Ariana afundou. A relação entre eles era muito forte. Conrad iria votar em Palmer. — Irmã Portia — disse ele finalmente.

Jasper soltou um grito, e algumas pessoas riram, enquanto outros sussurravam nervosamente. Parecia que Ariana não era a única a calcular em silêncio. E acaso April votasse nela, ela acabaria ganhando a presidência da Pedra e Sepultura.

— Irmão Starbuck? — perguntou April. — Irmão Starbuck — disse Palmer através de seus dentes. Abril fez uma anotação, em seguida, levantou o rosto do livro. — E eu, Irmã

Miss Temple, dou o meu voto para a Irmã Portia. O que significa... que a nova presidente da Pedra e Sepultura é a Irmã Portia.

Um sorriso iluminou o rosto de Ariana quando Tahira a laçou em um abraço. Houve o mais breve punhado de aplausos, mas ele foi rapidamente cortado.

— Você tem que estar brincando comigo! — Palmer deixou escapar, em pé. — Ela é uma novata! Ela acabou de ser transferida para aqui, pelo amor de Deus — ele gritou, jogando um braço na direção de Ariana. — O que há de errado com vocês?

— Irmão Starbuck! — Admoestou April. Palmer ficou da cor de uvas maduras. Suas narinas estavam amplas quando ele

se virou. — Dane-se essa porcaria — disse ele. — Eu vou dar o fora daqui. Ao cruzar o círculo, ele abriu o manto e o deixou deslizar até o chão. As portas

de metal pesadas bateram tão alto atrás dele que a reverberação parecia que duraria dias. Por um longo momento, ninguém se atreveu a se mover.

— Então, devemos... hum... comemorar? — disse Tahira finalmente. Todo mundo olhou para Ariana. Ela mordeu o lábio inferior. Eles estavam

olhando para a sua presidente, ela percebeu com um sobressalto. Eles já estão olhando para mim.

Page 52: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Rapidamente, ela ficou de pé. — Não. Sem celebração. Ainda é muito cedo. Vamos nos encontrar de volta aqui na terça-feira, meia-noite. Por enquanto, devemos estar de luto por nossa amiga.

E antes que se estendessem acenos de concordância em torno da sala, a maioria dos membros — até mesmo os rapazes — parou para felicitar Ariana. Ela controlou-se para não gritar e cantar, fazendo uma dança feliz. Porque, apesar do que ela havia dito ao grupo, ela tinha vontade de celebrar.

Ela, Ariana Osgood, era a presidente da sociedade secreta mais exclusiva em uma das mais prestigiadas escolas particulares no mundo.

Celebrar era a única coisa lógica a fazer.

Page 53: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

ós temos um pouco de pesadelo logístico — disse April, apressando-se para acompanhar os passos largos de Ariana, enquanto os membros da Pedra e Sepultura faziam o seu caminho

de volta até a colina para a Casa Privilege. Como sempre, eles haviam deixado as Tumbas em duplas, no espaçamento de cinco minutos de distância, para evitar chamar a atenção como uma multidão. Não que alguém estivesse fora de seu dormitório, a uma da manhã, em uma gélida manhã de dezembro, mas ainda assim. Sempre havia a possibilidade de alguém olhar para fora da janela, e o objetivo principal de qualquer boa sociedade secreta era permanecer em segredo. Ariana havia começado a atravessar a porta com Jasper em seu braço, mas April insistira em acompanhá-la, para que pudessem conversar sobre a transferência de poder. Ariana teria que se conformar em ver Jasper pela manhã. Tais eram os sacrifícios que um presidente tinha que fazer. — Tudo o que você precisa — os arquivos, o estatuto social, o pino presidencial... tudo isso estava na posse de Lexa. Não podemos deixar que seus pais os encontrem, então basicamente nós vamos ter que roubar suas coisas antes que alguém finalmente chegue a esvaziar o quarto dela.

— Eu vou cuidar disso — disse Ariana com um aceno. — É a primeira coisa que farei de manhã. Maria pode me ajudar a procurar nas coisas dela. Ela pode até saber onde Lexa mantinha tudo isso.

— Ótimo. Todo o resto é sempre armazenado no interior das Tumbas para ficarem seguros, de modo que não será um problema — disse April. Ela deu algumas respirações profundas. — Você se importa em andar mais devagar? Correr não é realmente a minha praia.

— Desculpe — disse Ariana, concentrando-se para retardar seus passos. — Eu ando rápido quando estou animada. — Ela percebeu que havia metido os pés pelas mãos no momento em que as palavras escaparam de seus lábios. Ela não deveria estar animada. Ela deveria estar deprimida, séria e pensativa.

April sorriu, seus olhos azuis brilhando por trás de seus óculos. Ela fez uma pausa e virou o rosto para Ariana.

— É emocionante, não é? — disse ela em voz baixa, olhando por cima do ombro para a escuridão. — Eu sei que ainda estamos de luto e tudo mais, mas eu tenho que dizer... eu estou muito orgulhosa e impressionada com o seu feito, Ana, começando tão cedo sua carreira na Pedra e Sepultura. E eu estou feliz que a presidência continuará sendo mantida por uma mulher.

—N

Page 54: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Obrigada — disse Ariana, radiante. — Estou orgulhosa demais, para ser honesta.

— E deveria estar. Um vento forte açoitava as torres da Casa Privilege, uivando

ameaçadoramente. — Agora vamos entrar antes de encontrarmos a nossa morte — disse April,

abraçando-se. Seu rosto empalideceu ao luar e ela se encolheu. — Hum. Desculpe. Eu não posso acreditar que eu disse isso.

— Está tudo bem — disse Ariana, andando à frente. — Vamos. No interior, a Casa Privilege estava deserta, as luzes de segurança no lobby

verde brilhavam sobre o piso de madeira. Ariana mal podia se conter quando o elevador a levava com April em direção ao topo da torre das meninas. April desejou-lhe boa noite, quando chegou ao seu andar, e saiu. No segundo em que as portas se fecharam e ela estava finalmente sozinha, Ariana soltou um grito de alegria. Ela dançou ao redor do pequeno espaço quadrado vertiginosamente, até as portas se abrirem novamente. Mas então, ela se recompôs, apenas para o caso de alguém estar passando por ali.

Mas os corredores estavam silenciosos. Ariana fez seu caminho de volta para seu quarto, entrou e fechou a porta atrás dela. Por um momento, ela era apenas sorrisos triunfantes. Mas, conforme ela olhava ao redor de seu quarto, seu senso de alegria rapidamente esvaziou naquele espaço deprimente, com um lado completamente desocupado, e o outro como um quarto espartano.

Não era exatamente a celebração que ela esperava. Sentindo-se de repente solitária, Ariana arrastou-se até a cama e sentou-se na

borda, puxando o cachecol de caxemira em torno de seu pescoço. Era tão injusto, realmente. Ela tinha certeza de que, quando Lexa fora eleita presidente, houvera uma grande festa em sua homenagem. Mas, para Ariana, nada. Tudo por causa de circunstâncias fora de seu controle. Esta era uma grande noite para ela, mas quando ela olhasse para o passado, a partir deste momento, não haveria memórias de rostos sorridentes e parabéns, garrafas de champanhe ou fotos de souvenirs para acalentar.

Não haveria nada, exceto a lembrança... disto. Uma batida leve na porta a assustou. Ariana levantou-se e abriu-a. Jasper

agarrou a mão dela. — Senhora Presidente, é uma honra — disse ele com um aceno formal. Ariana esboçou um sorriso. — Obrigada, Jasper. — Ok, eu sei que devemos estar frios como um túmulo, mas eu não posso

permitir isso — disse ele, agarrando o cachecol da mão dela e o colocando em torno de seu pescoço. — Precisamos comemorar.

Ariana sorriu de verdade. Jasper a conhecia tão bem. — O que você tem em mente?

Ele pegou as suas duas mãos e puxou-a para fora da porta. — Apenas me siga.

Page 55: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

ós vamos para a casa de barcos? — Ariana sussurrou sem fôlego. O vento frio pegou suas palavras e as chicoteou quase antes dela dizê-las. Lá em cima, a lua brilhava cheia e brilhante, o seu reflexo

luminoso ondulando na superfície gelada do Potomac, conforme ela e Jasper corriam pela orla para a água.

— Não exatamente — respondeu ele com um sorriso. Juntos, eles iluminaram o pátio de madeira que rodeava o enorme e reluzente

ancoradouro de carvalho, onde a equipe de remo levantava pesos, socializava, e trabalhava em seus barcos de corrida.

Mas em vez de ir para a porta dos fundos, Jasper virou seus passos, esmagando o cascalho que cercava o edifício. Ariana o seguiu, mantendo um olho em seus pés sob a luz fraca. Na beira da água, Jasper caminhou ao longo de um caminho coberto de concreto quebrado, indo para o norte em direção às luzes brilhantes de Washington, DC.

— Ok, para onde estamos indo? — Ariana sussurrou novamente, seu coração batendo com tanto esforço e emoção.

Jasper olhou por cima do ombro para ela, com um olhar de provocação. — Você realmente vai me fazer dizer isso?

— Dizer o quê? — ela perguntou, sua testa enrugando. — O que você tem que descobrir sozinha? — ele disse. Em seguida, ele revirou

os olhos. — Meu Deus, você vai me fazer dizer isto. Ele pegou a mão dela na sua e Ariana riu. Seus dedos estavam frios e secos,

mas ela não se importou nem um pouco. Jasper contornou em torno de uma curva e de repente apareceu outra casa de barcos. Esta era claramente muito mais antiga. As tábuas de madeira das paredes estavam desgastadas e com fissuras, e os vidros ao redor das janelas superiores inclinados em ângulos perigosos. Havia letreiros laranja gastos que diziam “MANTENHA DISTÂNCIA!” pendurados nas portas de estilo garagem sobre a água, e uma vidraça inferior estava rachada e tinha sido tapada com papelão. Ao todo, aquele não era o lugar mais acolhedor de todos.

— Deixe-me adivinhar — disse Ariana. — A velha casa de barcos. — Muito astuta, Madame Presidente — respondeu ele, liderando o caminho

para uma porta lateral. Ariana riu. — Pare de me chamar assim.

—N

Page 56: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Você ama isso — Jasper brincou. Ele parou com a mão na maçaneta da porta. — Está vendo? Você está corando!

Ariana levantou os dedos para seu rosto. — Oh, Deus. Eu estou. Sinto muito. — Não sinta. É cativante — disse Jasper. Ele se inclinou e lhe deu um beijo

demorado nos lábios. — E agora, para a sua festa surpresa. Com um floreio e um rangido alto, Jasper abriu a porta. Uma luz inundava de

dentro, e Ariana deu um passo hesitante para frente. O que ela viu a deixou sem fôlego.

Jasper tinha decorado a casa de barcos do chão ao teto, canto a canto, com dezenas de balões coloridos. Fios de luzes cintilantes cobriam as paredes, iluminando todo o espaço. No centro da enorme sala arejada, havia uma mesa, carregada com bandejas de doces — chocolates, pastéis, mini bolos e tortas. Um banner do outro lado da parede distante dizia PARABÉNS, ANA! em grandes letras de forma.

— Jasper — Ariana deu um passo para dentro da sala e girou em um círculo, olhando tudo de todos os ângulos. — Isso é espetacular! Quando é que você teve tempo para fazer tudo isso?

Jasper fechou a porta atrás dele e desabotoou o casaco de lã. — Eu tenho os meus meios.

— Sim, eu suponho que você tem — disse ela. Jasper atirou o casaco sobre uma das cadeiras à mesa e abriu os braços. —

Voilà. Ariana sorriu. — O que você teria feito se eu não tivesse vencido? Ele caminhou até ela e passou os braços ao redor da cintura dela. Seu cabelo

loiro foi jogado pelo vento e seu nariz estava vermelho por causa do frio, mas ele ainda era o cara mais bonito que ela já vira. — Isso não era uma possibilidade.

Ela inclinou a cabeça. — Sem essa! — Tudo bem. — Jasper levantou as mãos. Ele caminhou até o banner, puxou-

o para baixo, e girou-o, segurando-o pelas extremidades para que ela pudesse ver. Ela estendeu a mão sobre sua boca para cobrir uma risada. No lado oposto do banner lia-se MAIS SORTE NO PRÓXIMO ANO!

— Você é ridiculamente doce — disse Ariana, inclinando-se para beijar sua bochecha.

Jasper levantou um ombro. — Eu faço o que posso. — Ele jogou o banner de lado e puxou uma cadeira para ela. — Então? O que você deseja?

— Hmmm... — Ariana estava tão tonta quando se sentou que mal conseguia parar de rir em voz alta. Ela bateu no queixo com as pontas dos dedos enquanto considerou suas opções de sobremesa, em seguida, pegou um pedaço de torta de framboesa da camada superior de uma das bandejas e deu uma mordida. Toda a sua boca se encheu de doçura suculenta e perfeita. — Oh meu Deus, Jasper. Isso é tão bom.

— Interessante escolha — respondeu ele quando ele se sentou em frente a ela. — Eu sempre pensei que você fosse uma amante de chocolate.

— Eu sou uma amante de todos os doces — Ariana respondeu, sacudindo uma migalha de seu lábio com a ponta da sua língua. — Eu não discrimino.

Jasper sorriu. — Uma gulosa. Eu gosto disso.

Page 57: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ariana corou e deu outra mordida na torta. Quanto mais a água batia suavemente ao longo das paredes da casa de barcos e o vento soprava contra as vidraças, mais ela se sentia confortável e quente dentro da sala colorida e brilhante com Jasper. Por mais que ela quisesse ter tido uma festa elaborada e cheia de gente, esta era muito mais perfeita.

— Então, Briana Leigh Covington, você acaba de ser nomeada presidente da Pedra e Sepultura. O que você vai fazer agora? — perguntou Jasper na voz de um repórter.

— Eu não sei. Acho que vou pesquisar os estatutos locais... ver se há alguma coisa que precisa de uma segunda olhada — disse Ariana, limpando algumas migalhas de seus dedos com um guardanapo. — Estou definitivamente interessada em saber como os novos membros serão escolhidos para entrarem. Acho que essa é uma área que precisa ser melhorada.

Especialmente se eles estavam dispostos a aceitar pessoas como Lillian Oswald, uma menina que não tinha sequer um passado.

Jasper riu, com um som alto, e Ariana fez uma pausa. — O que foi? — Você deveria dizer “Eu vou para a Disney World” — ele disse a ela. Os olhos de Ariana se estreitaram. — O quê? Por que eu diria isso? Jasper riu tanto que se dobrou. — Porque... você sabe... no Super Bowl?

Sempre que perguntam ao melhor jogador “O que você vai fazer agora?”, ele sempre diz...

— Eu vou para a Disney World? — Ariana interrompeu, perplexa. — Mas, por quê? Por que todos querem fazer a mesma coisa?

Jasper balançou a cabeça. — Esqueça isso. — Quero dizer, a Disney World é um parque ruidoso, imundo, para a grande

massa do universo. Por que alguém tão rico e bem-sucedido como um vencedor do Super Bowl iria querer...

— Esqueça isso — disse Jasper com um suspiro exagerado. — É evidente que você não é uma perita da cultura pop.

Ariana tentou empurrar de lado seu constrangimento por ter sido ridicularizada. Ela nunca tinha tido vergonha pelo fato de que não conseguia entender qualquer referência à reality shows ou comerciais ditos por seus amigos. Ela sempre se sentiu superior, de fato, por não saber. Ela tinha coisas mais importantes a fazer com seu tempo do que perder horas com a revista OK! e assistindo MTV.

— Não. Claramente não — respondeu ela. Jasper pegou uma cereja com cobertura de chocolate em uma tigela e colocou

na boca. — O comitê de admissões de Princeton vai te amar. O coração de Ariana pulou uma batida rápida. Princeton. Ir para uma

faculdade da Ivy League tinha sido o sonho de Ariana desde a aurora dos tempos, e agora que ela fora oficialmente eleita a Presidente da Pedra e Sepultura, ela estava a um passo de entrar.

— Para quais você vai solicitar admissão? — perguntou Ariana, pegando um bolinho de chocolate.

— Eu ouvi dizer que a Cornell e a Brown são os mais fáceis das Ivys, então eu vou começar por elas — disse ele com um sorriso.

Page 58: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ariana sorriu. Quando ela e Jasper tinham começado a conhecer um ao outro, ele professou a sua aspiração de uma vida de lazer. Mas era esperado que um cara como ele fosse para uma faculdade da Ivy League. Aparentemente, esta era a sua forma de encontrar um meio termo.

— Mas eu também estou pensando na Tulane e LSU — acrescentou Jasper. — Mamãe ficaria feliz se eu acabasse perto de casa.

— Então Princeton está fora da lista? — perguntou Ariana, tentando soar casual. Ela e Jasper estavam no segundo ano, afinal de contas. Qualquer coisa podia acontecer entre agora e seu primeiro ano de faculdade. Ainda assim, se ela tivesse que escolher agora, ela queria que ele fosse com ela.

— Estava — disse ele casualmente, pegando outra cereja. Ele a colocou na boca e lentamente sorriu, um sorriso que a fez querer se enrolar em seus braços. — Até você aparecer.

Page 59: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

enhum de nós poderia ter imaginado o nível da tragédia que se abateria sobre este campus nos últimos dois meses — a Diretora Jansen disse, sua voz ecoando através da capela silenciosa naquela

quinta-feira pela manhã. Ela usava uma saia lápis preta com uma jaqueta combinando e uma blusa de seda cinza, e pela primeira vez desde que Ariana tinha chegado a Atherton-Pryce Hall, sua pele escura estava sem nenhuma maquiagem. Suas mãos delicadas tremiam enquanto ela apoiava ambas nos lados do púlpito e olhava para a multidão. A escola tinha adiado o serviço de funeral em memória de Lexa até depois do feriado, e agora os alunos e professores sentados nos bancos da igreja estavam tão imóveis como pedra, com os olhos brilhantes de lágrimas não derramadas.

— Lexa Greene era uma de nossas mais brilhantes estrelas. Ela tinha um futuro incrível pela frente. Só podemos imaginar o que poderia ter acontecido para fazê-la se sentir tão desesperada, para fazê-la sentir que não havia outra saída.

Ariana agarrou seu braço e apertou. Você vai consertar as coisas, ela se lembrou. Você vai consertar as coisas.

— Nós podemos nunca saber a resposta para essa pergunta. Mas há uma coisa de que estou certa — disse a diretora, saindo de trás do púlpito. — Lexa gostaria que seguíssemos em frente. Ela gostaria que todos vocês honrassem sua memória, fazendo o seu melhor, realizando seus sonhos e vivendo sua vida ao máximo. Que era exatamente o que ela faria.

Trêmula, Maria estendeu a mão para a mão de Ariana. Ariana soltou seu aperto em seu próprio braço para que ela pudesse agarrar os dedos da amiga. Maria apertou os lábios em um sorriso triste, com os olhos bastante marejados. Pela décima vez naquele dia, Ariana se perguntou onde estava Soomie e também se Palmer e Conrad estavam ali em algum lugar. Eles retornaram ao campus, ou foram para algum lugar, lamentar a sua perda em particular?

— Todos, por favor, abaixem a cabeça em um momento de silêncio para a nossa amiga, Lexa Greene.

Um soluço sufocado escapou da garganta de Maria. Ela estava praticamente esmagando os dedos de Ariana. Ariana fechou os olhos, e imaginou o rosto sorridente de Lexa.

—N

Page 60: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Eu vou matar Reed Brennan, Lex. Eu finalmente vou fazê-lo. Eu vou fazer isso por você.

Na mente de Ariana, o sorriso de Lexa se ampliou, e uma sensação de paz e certeza se estabeleceu em cima dos ombros de Ariana. Onde quer que Lexa estivesse, ela estava orgulhosa da decisão de Ariana. Onde quer que ela estivesse, ela estaria aprovando.

— Obrigada — disse a diretora. — Que ela descanse em paz. Ariana levantou a cabeça. Ela se conteve para não dar um sorriso de

satisfação. — Agora, na prática — a Diretora Jansen começou em um tom mais formal. —

A escola contratou um conselheiro que vai fazer um escritório permanente aqui no campus. O médico estará disponível para todos vocês durante o dia na escola, e uma linha telefônica direta será criada para depois da hora escolar. Este número de emergência será postado em torno do campus e no site da escola. Ele é um profissional premiado, altamente considerado em seu campo, por isso, façam uso de sua experiência, sempre que vocês sentirem a necessidade de falar com alguém fora do seu círculo. Mas também aviso que cada um de vocês vai ser obrigado a falar com ele em um momento esta semana. Sessões de meia hora foram agendadas para todos os alunos. Vocês devem se informar no prédio da administração a hora marcada para cada um. Sem exceções.

Ariana olhou através do corredor para Jasper. Ele revirou os olhos. Pela primeira vez durante toda a manhã, as vozes podiam ser ouvidas entre a população estudantil, e nenhum deles parecia feliz.

— Eu pedi a ele para assistir aos serviços desta manhã, de modo que todos possamos conhecê-lo e recebê-lo na comunidade Atherton-Pryce Hall — a diretora Jansen continuou. — Alunos, professores, eu gostaria de apresentar a vocês o Dr. Victor Meloni.

A mão livre de Ariana segurou o fim do banco, enquanto o mundo inteiro parecia inclinar embaixo dela. As bordas de sua visão ficaram escuras, e tudo o que ela podia ver era o homem levantando-se do banco da frente diante de um punhado de aplausos. Ariana reconhecia cada detalhe daquele homem, seus ombros largos, seu cabelo ralo, seu blazer remendado no cotovelo, sua mandíbula quadrada. Seus sapatos com sola de borracha baratos rangeram quando ele caminhou em direção ao púlpito. Quando ele se virou em direção à capela, ele tinha um sorriso afetado, muito preocupado e falsamente amigável. Ariana afundou tão baixo em sua cadeira que seu traseiro doeu.

Isso não era possível. Por que ele? Por que agora? Como isso pode estar acontecendo com ela?

— Ana! Ai. Solta — Maria sussurrou. Ariana olhou para a mão dela, apertando em torno dos dedos finos de Maria.

Ela pensou ter ouvido um leve estalo. — Desculpe — ela murmurou, soltando sua amiga. Maria apertou a mão dela, e Ariana podia ver os contornos distintos de seus

próprios dedos, branco contra o vermelho de dor da pele de Maria. — Obrigado a todos por essa recepção calorosa — disse o Dr. Meloni bem

alto.

Page 61: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

O estrondoso tom de sua voz causou arrepios violentos no interior de Ariana. De repente, ela ouvia aquela voz como se estivesse dentro de sua própria mente, gritando em um decibel não natural, como se estivesse segurando um megafone aos lábios no centro de seu crânio.

Você jamais seria capaz de mudar. Se você fosse liberada dessa instalação, eu estou categoricamente certo de que você mataria novamente.

— Ana? Ana? Ela podia ver os lábios em movimento de Maria, podia sentir o banco duro

atrás de suas costas, mas ela não estava lá. Ela estava de volta no escritório de Meloni na Brenda T., agarrando-se aos braços da cadeira desconfortável, seu pulso vibrando em seus próprios ouvidos.

Então, não, senhorita Osgood, você nunca vai sair daqui. Nem hoje, nem amanhã, nem daqui a cinco anos. Ou dez. Ou vinte. Não enquanto seja eu quem assina seu laudo médico.

— Ana? — disse Maria de novo. Em algum lugar na capela, um livro pesado caiu no chão. Ariana se encolheu.

Ela respirou e tossiu, sentando-se em linha reta enquanto Maria agarrava-se a seu braço.

— Você está bem? — a voz de Tahira entrou na conversa, vindo de trás. — Eu tenho que sair daqui — Ariana murmurou, recuperando o fôlego. — O quê? Você não pode simplesmente sair dos serviços matinais — Tahira

protestou, olhando para ela enquanto Ariana levantava de seu banco. Ariana ficou de costas para o púlpito enquanto ela recolhia seu casaco e bolsa.

— Eu preciso de um pouco de ar. Eu tenho... Eu tenho que ir. — Eu vou com você — disse Maria, começando a se levantar. — Não — grunhiu Ariana, assustando Maria. Ela já podia sentir as pessoas

começando a olhar. Podia sentir os olhos de Meloni na parte de trás do pescoço dela enquanto ela estava no corredor.

— Desculpe. Eu só... eu gostaria de ficar sozinha por um tempo. — Tudo bem — disse Tahira. — Mas nos mande um SMS se você precisar de

alguma coisa. — Você tem certeza que está bem? — perguntou Maria. — Eu vou ficar bem — disse Ariana com confiança. Assim que eu colocar a maior distância possível entre Meloni e eu, ela

acrescentou silenciosamente. Ela lançou um olhar para um preocupado Jasper, então andou rapidamente pelo corredor. Eu vou ficar bem assim que eu estiver sozinha e ter algum tempo para pensar.

— Tenham certeza de que eu estarei aqui para todos vocês, sempre que vocês precisarem de mim — o Dr. Meloni estava dizendo, quando Ariana chegou à saída. — Eu já ajudei a curar centenas de almas atormentadas no passado, e eu estou ansioso para ajudar a todos vocês.

Ariana abriu a porta, saiu para a frígida manhã cinzenta, e começou a correr.

Page 62: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

e volta ao seu quarto, Ariana empurrou frenética e ilogicamente sua cadeira contra a porta, e em seguida, sentou-se em sua cama, agarrando os lençóis. Sua garganta fechou-se e ela sufocou um soluço. Ela olhou ao redor em seu

quarto freneticamente, como se houvesse respostas entre os livros bem organizados, as caixas enumeradas de sapatos em seu armário aberto, as obras de arte e cartazes pregados nas paredes em ângulos retos perfeitos.

O que eu vou fazer? O que eu vou fazer? Meloni estava ali. Ele tinha invadido sua cuidadosamente construída vida nova

perfeita. Ele estava ali e ela ia ter que vê-lo. A diretora tinha deixado isso muito claro. Ela ia ser obrigada a se apresentar para uma sessão de aconselhamento, e se ela fizesse isso, ela seria mandada de volta para a Brenda T. antes que ela pudesse dizer as palavras “cadeira elétrica”. O estômago de Ariana apertou de repente e ela se dobrou.

Isso não pode estar acontecendo. Isso não pode estar acontecendo. De joelhos no chão de madeira frio de seu quarto, as paredes pareciam fechar-

se lentamente sobre ela. Não era real. Não era possível. Como ele poderia tê-la encontrado?

Ela cobriu o rosto com as mãos e chorou com a injustiça de tudo isso. Nada no mundo poderia curar sua raiva, sua dor. Nada no mundo curaria esse medo incandescente dentro de seu peito. Ela tinha trabalhado tão duro, sacrificado tanto, feito coisas inexplicáveis em nome da autopreservação, e para quê? Para que o idiota arrogante aparecesse de repente e tirasse tudo dela?

Ariana levantou o rosto manchado de lágrimas. A primeira coisa que seus olhos viram foi o jornal dobrado saindo do bolso exterior de sua bolsa.

A ESTRELA DO FUTEBOL FEMININO DE GEORGETOWN, foram as únicas palavras que ela viu.

— Não — Ariana gritou. Ela tirou o jornal de sua bolsa e encontrou o nome de Reed escrito no artigo. — É você! — ela cuspiu com os dentes cerrados, esmagando o jornal em sua

palma. — A culpa é sua. Você é a razão de eu estar aqui. Você é a razão por que tudo isso aconteceu.

Ela levantou, focando toda a sua ira, toda a sua dor, tudo dentro dela, na bola de papel de jornal. — Se não fosse por você, eu teria me formado em Easton e eu estaria em Princeton agora. Se não fosse por você eu nunca teria conhecido Victor

D

Page 63: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Meloni. Thomas ainda estaria vivo. Briana Leigh ainda estaria viva. Você os matou! Você me mandou para aquela maldita prisão e você colocou Kaitlynn Nottingham no meu caminho. Brigit morreu por sua causa. Lexa morreu por sua causa. Até a última gota do sangue deles é por sua culpa!

Ariana virou e dirigiu o punho segurando o jornal na parede tão duro quanto ela podia.

Sua mão explodiu em dor. A pele em suas juntas se abriu e seus dedos queimaram. Mas, ainda assim, não era o suficiente. Soltando um grito de raiva, Ariana rasgou os cartazes na parede acima de sua cama em pedaços. Ela pegou o espelho de maquiagem e atirou-o pelo quarto como um Frisbee, quebrando-o em um bilhão de pedaços brilhantes. Nada estava a salvo em seu caminho. Ela rasgou suas roupas de grife dos cabides de seda, jogou seu computador no chão, arrancou as cortinas livres de suas varas. Ela destruiu, bateu, quebrou e gritou até que nada no quarto ficasse intacto.

E então, com o peito arfando, ela caiu no chão e se enrolou em uma bola, apertando a testa em seus joelhos. Os olhos de Reed, o sorriso de Meloni, o sorriso de Reed, o desprezo condescendente de Meloni. As imagens passavam por sua mente, com uma velocidade impressionante, uma após a outra, se contorcendo em uma máscara macabra assustadora. Ariana agarrou seu cabelo, sacudiu a cabeça violentamente, querendo tirar seus inimigos para fora de sua mente, fora da sua existência.

Respire, Ariana. Apenas respire. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Logo, seu pulso começou a acalmar. Sua respiração voltou ao normal. Seu

cérebro começou a clarear. Logo tudo foi deixado para trás em uma batida simples e rítmica.

Ela tem que morrer... ele tem que morrer... ela tem que morrer... ele tem que morrer...

De repente, ela escutou uma batida educada, mas firme em sua porta. Ariana sentou-se, com o coração na garganta, pressionando a ponta dos dedos no chão.

Meloni. Tinha que ser. Ele a tinha visto e agora ele veio aqui para levá-la de volta para a cadeia. Ariana levantou-se rapidamente e virou-se, procurando algo que pudesse servir como uma arma, mas havia muita destruição, muito caos. Ela levou as mãos às têmporas e apertou.

Era isso. Era isso. Este era o fim. — Ana? Sou eu. Palmer. Ariana congelou. Ela podia sentir o seu batimento cardíaco em seu rosto,

irradiando calor em todo o quarto. O que era que Palmer estava fazendo ali? Ela fez um movimento em direção à porta, sentindo-se subitamente boba e excessivamente dramática, quando ela viu as costas da cadeira empurradas contra a

Page 64: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

maçaneta da porta. Ela puxou e empurrou contra a parede, em seguida, abriu a porta apenas uma fresta.

— Oh, ei — disse Palmer, parecendo surpreso por ela realmente estar ali. — Ei — Ariana respondeu. Ela abriu a porta um pouco mais, firmando seu

corpo entre a porta e a parede, para bloquear sua visão da bagunça atrás dela. — Olha, eu sinto muito pela maneira que eu tenho agido... — disse Palmer

inesperadamente. De repente ouviu-se uma batida em algum lugar no corredor e ele olhou em volta. — Eu realmente preciso falar com você. Posso entrar?

Em vez de esperar por uma resposta, Palmer colocou a mão plana contra a porta e passou por ela. Ariana não teve sequer uma chance de dizer uma palavra ou segurar a mão para detê-lo. No segundo em que ele entrou, sua mandíbula ficou frouxa. Ariana ficou lá com os braços ao redor da cintura, olhando. Ela observou-o mexer nos cartazes rasgados, nos livros rasgados, no vidro quebrado. Ele cutucou uma pilha de roupas amarrotadas e quadros rachados. Quando ele se virou, muito lentamente, perplexo, Ariana silenciosamente fechou a porta.

— O que você fez? — Palmer perguntou finalmente. — Eu só... eu acho que eu meio que perdi a noção — disse Ariana, com a testa

franzida. — Perdeu? Você está falando sério? Isso é muito além de perder a noção, Ana.

— Ele levou a mão à testa. — Meu Deus. Você está realmente louca. Quer dizer, isso não é normal. Não é o tipo de coisa que uma pessoa normal faz.

— Cale a boca — Ariana estalou. — Calar a boca? Você está falando sério? — Ele a olhou de cima a baixo como

se ela fosse o lixo podre de ontem. — Eu não posso acreditar que eu vim aqui para me desculpar com você. Você está completamente fora de controle! Honestamente? Estou começando a me perguntar se você realmente fez algo para causar a morte de Lexa.

Os braços de Ariana endureceram e seus dedos se apertaram em punhos em seus lados. De repente, as quatro paredes ao seu redor começaram a fechar, apertando, tornando impossível respirar. Tudo o que ela podia ver era o rosto de Palmer. Sua face acusadora, horrível, implacável. E tudo o que ela queria fazer era arrancar sua cabeça.

— Por que você está de pé aí? — Palmer gritou. — Diga alguma coisa, aberração.

Ariana sabia que ele estava com dor. Ela sabia que estar em luto poderia mexer com uma pessoa e fazê-la agir como um idiota. Mas ela nunca tinha imaginado que o calmo, recolhido e maduro Palmer Liriano poderia ser tão abertamente cruel. De repente, ela se viu cambaleando para frente e batendo nele. Ela se viu pegando sua cadeira com as duas mãos e balançando tão forte quanto podia. Ela se viu gritando no topo de seus pulmões e correndo com tanta força, tão rápido, e de forma tão inesperada que ele perdeu o equilíbrio e saiu voando através da vidraça, lançando cacos de vidro por toda a grama abaixo e caindo de cabeça no chão, com traumatismo craniano instantâneo.

Mas ela não podia fazer nada disso. É claro que ela não podia. Já haviam tido muitas mortes, e tudo dentro de seu círculo de amigos. Se Palmer morresse no seu próprio quarto, as perguntas certamente iriam começar.

Respire, Ariana. Apenas respire.

Page 65: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Inspire, um... dois... três... Expire, um... dois... três... — Sabe de uma coisa, Palmer? Eu tenho algo a dizer — disse ela, voltando-se

para a porta novamente. Sua palma da mão estava tão suada que escorregou da maçaneta antes que ela conseguisse segurar e abrir a porta. — Saia.

Palmer zombou, balançando a cabeça de forma condescendente. Mas ele caminhou para perto dela, e parou na porta. Ele cobriu a boca com as duas mãos por um momento, sorrindo o tempo todo.

— Graças a Deus nós terminamos — disse ele, olhando-a nos olhos. — E aqui vai um aviso razoável: eu vou cuidar para que todas as pessoas na Pedra e Sepultura saibam exatamente que tipo de psicopata eles elegeram como sua presidente. Disfrute do seu poder enquanto dura, Ana. Seus dias estão contados.

E então, com um último olhar de escárnio, ele virou as costas e foi embora. Ariana nunca tinha batido a porta com tanta força em sua vida.

Page 66: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Lua Moreira

riana agarrou o volante enquanto procurava nas ruas do centro lotadas por um espaço vago. Ela percebeu tarde demais que tinha acabado de passar por um e pisou no freio. O cara atrás dela buzinou e desviou, mas Ariana

ignorou tanto ele quanto o gesto rude que ele fez em seu caminho. Rangendo os dentes, ela rapidamente e habilmente entrou com o carro no local paralelo.

Ok, você está aqui. Acalme-se. Palmer não pode machucá-la. Nada que ele diga a ninguém será escutado. Tudo vai ficar bem.

Ariana olhou no espelho, respirou profunda e suavemente. Antes de sair do campus, ela arrumou meticulosamente o quarto dela, certificando-se que não havia traço de evidência de seu surto deixado para trás. Então ela enfiou as peças de seu disfarce atual em sua bolsa de couro Louis Vuitton e pegou a estrada. Durante toda a manhã ela tinha estado executando tarefas e orientações claras de Atherton-Pryce, tudo com o objetivo de evitar o senhor Dr. Victor Meloni. Mas agora, ela tinha chegado à parada final do dia.

Com um olhar perspicaz, Ariana examinou seu olhar de todos os ângulos. Sua peruca loira formava um rabo de cavalo, que fora preso pelo buraco na parte de trás do boné de beisebol surrado do Washington Nationals que Palmer havia deixado em seu quarto. Seu casaco de lã preto era muito suave e ela decidiu por jeans e tênis para completar seu look de garota-da-vizinhança. No geral, ela parecia bem esquecível.

— Isto é só por precaução — ela disse a si mesma com firmeza. — Você sempre precisa ter um plano B.

Ela alisou o rabo de cavalo, saiu do carro e caminhou em direção ao prédio com colunas de mármore do outro lado da rua. No interior do banco, o ambiente estava silencioso e profissional. Os pisos de granito marrom brilhavam, e o segurança não tomou conhecimento dela quando ela foi até o balcão de atendimento ao cliente.

— Posso ajudar? — a mulher atrás do balcão perguntou, olhando para cima com um sorriso. Sua maquiagem era cerca de três tons mais escuros do que a pele em seu pescoço, e Ariana tentou não se encolher.

— Sim, eu gostaria de abrir uma nova conta — respondeu ela, desviando os olhos para não encarar.

— Claro. O Sr. Lawrence pode te ajudar com isso.

A

Page 67: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela indicou uma mesa próxima, onde estava um senhor idoso sentado na frente de uma tela de computador brilhando, sua gravata vermelha decorada com bastões de doces.

Perfeito, Ariana pensou. Esse cara vai comer da minha mão. E pelo menos ela não teria que ficar com o olhar fixo naquela linha pelos próximos quinze minutos.

— Olá! — disse Lawrence, de pé enquanto ela se aproximava. — Então você gostaria de abrir uma conta conosco senhorita...?

— Walsh. Emma Walsh — disse Ariana. — Tudo bem, senhorita Walsh, sente-se. Eu só vou precisar ver uma carteira

de motorista e outra forma de identificação. Ariana pegou sua carteira da bolsa e tirou sua licença de Emma Walsh do bolso

pequeno. Também tirou seu passaporte e deu para ele. O Sr. Lawrence cantarolava canções de Natal para si mesmo enquanto inseria

suas informações, utilizando o endereço da licença. — Ok, e seu número de telefone — ele perguntou. Ariana recitou o número do novo celular que ela tinha acabado de comprar

para si mesma no shopping naquela manhã, o mesmo shopping onde ela comprou a peruca. Os dedos rechonchudos de Lawrence voaram sobre as teclas.

— Tudo bem. Agora, nós temos muitos tipos diferentes de contas — disse ele, empurrando seu borrão sobre a mesa em sua direção. Nele havia três espaços grandes, um branco, um azul e um dourado, cada um mostrando os diferentes níveis de contas e quanto dinheiro era necessário para abrir cada uma. — Você está interessada em guardar objetos... poupanças...?

— Bem, a minha avó queria que eu colocasse a maior parte na poupança, desde que ela fosse vinculada a uma conta corrente que eu pudesse acessá-la se eu precisasse.

Ariana se certificou de que suas mãos tremessem enquanto ela retirava o cheque amassado de sua bolsa.

— Sua avó? — ele questionou. — Sim, ela... ela me escreveu esse cheque antes de ela... morrer. Ariana levou a mão livre para o rosto, cobrindo tanto a boca quanto seu nariz. — Oh! Eu sinto muito! — O Sr. Lawrence pegou um lenço de papel de uma

caixa sobre a mesa e entregou a ela. — Isso foi recente? Ariana acenou com a cabeça, apertando o lenço no nariz. — Há poucos dias. Ela colocou o cheque sobre a mesa e achatou com as duas mãos. Ela tinha na

verdade escrito ela mesma esta manhã, em seguida deixou-o repousar, e o amassou no fundo de sua bolsa, então estaria bom e surrado quando ela chegasse no banco. O Sr. Lawrence engoliu duas vezes quando viu a enorme quantidade. Ele limpou a garganta e alisou a gravata.

— Bem. Eu diria que você definitivamente se qualifica para as nossas contas em nível dourado — disse ele. — O que é perfeito, porque você vai ser capaz de transferir dinheiro de sua conta corrente, sem o pagamento de uma taxa, desde que o saldo total combinado permaneça acima de cinquenta mil dólares. — Ele olhou para o cheque novamente. — O que... eu acho que você não vai ter nenhum problema.

— Tudo bem — disse Ariana com lágrimas. — Isso parece bom.

Page 68: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— O que você acha de colocar a maior parte disso em poupanças de alto rendimento, e... vamos ver... vinte mil ficaria bem na conta corrente?

Sua voz falhou um pouco sobre o “vinte” e seu sorriso se contorceu. Ariana tinha a sensação de que ele estava pensando em como ele nunca iria ver tanto dinheiro em sua vida, e ainda assim, aqui estava ela, uma adolescente, possuindo tudo isso. Assim é a vida, Sr. L.

— É melhor fazer isso com os cinquenta — Ariana respondeu, tocando o lenço nos cantos dos olhos. — Eu acho que foi isso que a vovó Covington disse.

— Ok — ele respondeu com um aceno de cabeça. — Que seja cinquenta. — Ele afastou o teclado, em seguida, abriu uma gaveta para remover dois talões de depósito separados. — Você só precisa preencher isto e assiná-los, e nós vamos estar prontos para abrir as contas e emitir um cartão.

— Ótimo — Ariana respondeu. — Se você não se importar, senhorita Walsh, eu gostaria de chamar minha

gerente e apresentá-la a você. Ela gosta de conhecer todos os nossos novos e estimados titulares de contas novas.

E com estimados você quer dizer podres de ricos, Ariana pensou. — Não, eu prefiro que não — disse Ariana, sabendo que quanto menos

pessoas se lembrassem dela aqui depois de hoje, melhor para ela seria. — Eu não estou realmente preparada... não agora...

Ela obrigou-se a dissolver-se em lágrimas e cobriu todo o rosto com o lenço. — Não, não. Claro que não. Está tudo bem — disse o Sr. Lawrence,

estendendo a mão para acariciar-lhe o braço. — Por favor, não chore. Você pode encontrá-la na próxima vez que vier. Isso seria preferível?

Ariana fungou enormemente. — Da próxima vez. Perfeito. Claro, não haveria uma próxima vez. Se ela tivesse que deixar o país, ela nunca

mais colocaria os pés neste lugar novamente. E se ela não tivesse que sair, ela tinha a intenção de manter esta conta aberta e completa como um fundo de emergência durante o tempo que ela sentisse que precisava.

— Muito obrigada por sua ajuda, Sr. Lawrence — disse Ariana quando assinou o depósito deslizando com uma reverência.

— Claro, minha querida. Claro. — Ele deslizou o cheque e os talões de depósito em sua mão e levantou-se da cadeira. — Eu só preciso levar isso até um contador para fazer os depósitos. Eu já volto.

— Obrigada. Quando o Sr. Lawrence saiu correndo e dirigiu-se para a longa mesa de caixas

na parte de trás do banco, Ariana respirou fundo e olhou em volta. O lema do banco estava estampado em praticamente tudo à vista, desde o borrão na mesa de papel timbrado até a janela da frente.

Confiança internacional. Para sua paz de espírito. Ariana sorriu. Para sua paz de espírito, de fato.

Page 69: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

riana chegou à porta do refeitório naquela noite com Tahira e Maria com o rosto escondido sob enormes óculos de sol Donna Karan, um chapéu de lã puxado para baixo sobre suas orelhas, a gola do casaco preto sobre suas

bochechas. Tudo o que ela podia pensar era em entrar no refeitório e passar despercebida. O Dr. Meloni nunca havia comido a comida do refeitório na Brenda T., preferindo suas refeições em restaurantes gourmet excessivamente caros e comendo na privacidade de seu escritório. Ela só podia esperar que suas tendências culinárias esnobes continuassem durante o seu mandato em Atherton-Pryce.

— Ok, porque você está usando óculos de sol à noite? — Tahira perguntou à Ariana, com a testa enrugada com o que só poderia ser preocupação séria.

Felizmente, Ariana há muito havia preparado a resposta para a pergunta. — Eu tive uma dor de cabeça o dia todo. Eu mal posso olhar para uma luz — ela explicou. — Eles parecem ajudar.

— Bem, só não deixe que se torne um hábito — disse Tahira, segurando a gola do casaco de peles sobre sua garganta.

— Ela está certa — Maria concordou. — As pessoas vão começar a pensar que o seu sucesso transformou você em uma excêntrica, e excentricidade é desaprovado por aqui.

— Bom ponto — Ariana respondeu. Ela olhou para a porta do refeitório, desejando poder sair correndo dali. Mas

ela supôs que também seria um comportamento excêntrico. Ela tinha que tentar manter o mínimo de interação, especialmente agora que Palmer estava aparentemente empenhado em destruí-la para todos os seus amigos. Por um momento, ela pensou em perguntar à Maria e Tahira se ele tinha dito alguma coisa para elas hoje, ou se elas tinham ouvido qualquer coisa no círculo de fofoca do APH, mas ela decidiu se calar. Perguntar sobre um boato só dava a ele credibilidade.

— Então, alguém sabe de Soomie? — perguntou Tahira, sua respiração fazendo nuvens de vapor no ar frio.

Ariana abanou a cabeça. — Nem uma palavra. — Vamos todas ligar para ela agora — sugeriu Maria, parando para tirar o

celular de sua bolsa. Ariana parou dois passos à frente. — Eu já liguei para ela duas vezes hoje.

Podemos apenas entrar?

A

Page 70: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Se for para o correio de voz como sempre faz, isso só vai levar dois segundos — Maria disse a ela, apertando um botão de discagem rápida e levantando o telefone ao ouvido. — Eu só não quero que ela pense que alguém se esqueceu dela.

Ariana estalou a língua com impaciência, o que suas amigas não pareceram notar, e abraçou os próprios braços enquanto ela esperava.

— Correio de voz — disse Maria, revirando os olhos. — Ei, Soomie. É Maria — disse ela ao telefone. — Estou aqui com Ana e Tahira e nós estamos apenas... nós só queremos falar com você. Queremos saber que você está bem. E também queria te dizer... estamos aqui por você. Tudo vai ficar melhor. Eu prometo. Se há algo que possamos fazer, por favor, apenas... ligue para nós.

Ela terminou a chamada e guardou o celular. — Deus. Onde ela poderia estar? — Tahira meditou, empurrando as mãos nos

bolsos. — Eu simplesmente não entendo — disse Maria, inclinando a cabeça para trás

e soprando uma nuvem de vapor em direção ao céu. — Eu sei — Ariana entrou na conversa, olhando por cima do ombro para o

refeitório. — Os pais dela pelo menos poderiam ter ligado para nós e nos dito onde ela está. Será que eles não percebem que existem pessoas aqui que se importam com a sua...

As palavras morreram em sua língua quando o latido de um cão, alto e persistente, encheu o ar. De repente, o mundo inteiro se contraiu a uma pequena e sólida alfinetada. Passando por elas, a menos de três metros de distância, estavam o Dr. Meloni e seu cão fiel, Rambo. O cão ficou tenso em sua coleira, cambaleando em sua direção, como se ele tivesse reconhecido o cheiro dela. Ariana afastou-se do cão, mas ela podia ouvir o Dr. Meloni persuadindo o Doberman baixinho, ordenando para ele se comportar.

— Vamos lá, Rambo. Vamos, rapaz. Você sabe fazer melhor do que isso. Enquanto ele passava, ele lançou um olhar para Ariana e suas amigas. Os

joelhos de Ariana ficaram fracos. Ela evitou ligeiramente seu olhar, angulando seu rosto para que ele não ficasse visível atrás do ombro de Maria.

— Ana? Você está bem? — perguntou Maria, olhando para ela. — Você parece que vai desmaiar.

— Você está tendo outro... ataque? — perguntou Tahira baixinho. Ariana abanou a cabeça, mas não conseguiu formular uma resposta. Ataque?

Suas amigas achavam que ela estava tendo ataques? Isso não era bom. E se Palmer tivesse dito algo... bem, então isso era ainda pior. O Dr. Meloni e Rambo continuavam se movendo para longe, caminhando lentamente em direção ao Prédio da Administração, mas mesmo com a distância entre eles, Ariana não conseguia fazer-se respirar.

— Ana? — disse Maria. Tahira agarrou seu braço. — Ana? Você está ficando roxa. Vamos, Ariana. Apenas respire! Mas ele está aqui. Ele está ali. Ele vai me destruir. Ariana se dobrou, apoiando as mãos acima dos joelhos. — Oh meu Deus! Ela não está respirando — disse Maria. — Nós temos que

chamar um médico. Eu tenho que correr. Eu tenho que dar o fora daqui. Eu tenho que... correr!

Page 71: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Sua mente começou a embaçar mais. Seu cérebro flutuava no espaço. Ela ia desmaiar. Se ela não conseguisse um pouco de oxigênio em breve, ela perderia os sentidos.

Respire, Ariana. Apenas respire. — Eu vou entrar — disse Tahira. — Eu vou chamar a enfermeira! Ou o novo

psiquiatra. Psiquiatras sabem fazer respiração boca a boca, certo? — Não! — a palavra saltou da garganta de Ariana. Tahira congelou. Respire, Ariana. Apenas respire. Ariana fechou os olhos, concentrou-se o mais forte que podia, e respirou

fundo. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Tahira colocou a mão nas costas de Ariana de forma reconfortante, segurando

até que ela finalmente foi capaz de ficar em pé novamente. Até que ela finalmente foi capaz de ver claramente.

— Deus, Ana. Você está bem? — perguntou Maria, parecendo apavorada. — Está tudo bem por aí, senhoritas? — Meloni perguntou. — Diga a ele que estou bem — disse Ariana com os dentes cerrados. — Mas você... — Diga a ele — ela sussurrou. — Nós estamos bem! — Tahira gritou estridentemente. — Tudo bem, então. Melhor vocês entrarem. Vai ficar abaixo de zero esta

noite — ele respondeu. — Nós vamos. Obrigada — gritou Maria. Ela colocou o braço em torno do

ombro de Ariana. — Você está bem? — Eu estou bem — disse Ariana. — Eu não... eu não sei o que aconteceu. — Parecia um ataque de pânico para mim — disse Tahira. — Meu irmão

costumava tê-los... bastante, e a qualquer momento quando meu pai estava presente.

Maria conseguiu rir. — Deveríamos ter ligado para ele — disse ela, olhando para Meloni recuando. — Ele poderia ter ajudado.

— Como eu disse, eu estou bem — disse Ariana, olhando para a amiga como olharia para seu pior inimigo.

Ele está aqui. Ele está aqui no campus. Ele me encontrou. A única pessoa que poderia me enviar de volta para a Brenda T. era ele. E ele está aqui. Ele está aqui. Ele está aqui.

— Sabem de uma coisa? Eu acho que eu vou pular o jantar — disse ela. — Tem certeza? — perguntou Maria. — Sim. Eu meio que só preciso dar uma caminhada — disse Ariana. Ela recuou

para o caminho em direção a Casa Privilege. Tudo o que ela podia pensar era em fugir. — Talvez vocês possam me trazer algo do refeitório?

— Claro — disse Tahira. — Nós vamos tentar comer rápido. — Obrigada, meninas — disse Ariana, tentando sorrir, para deixá-las à

vontade. Quando ela virou as costas, ela saiu em alta velocidade, dirigindo-se para a segurança de seu quarto privado. Mas, mesmo quando o pulso dela começou a

Page 72: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

normalizar, ela percebeu que não seria capaz de se esconder para sempre. E ela não podia continuar a ter ataques de pânico na frente de suas amigas, especialmente com Palmer para arruiná-la. Mais cedo ou mais tarde, ela ia ter que descobrir uma maneira de lidar com isso. Mais cedo ou mais tarde ela ou Meloni teriam que desaparecer.

Page 73: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

or que ele tinha que ter aparecido logo agora? Era tão injusta toda essa situação com Meloni. Justo quando Ariana tinha finalizado seu plano em relação à Reed Brennan, justo quando ela estava à beira de executar a vadia

que havia arruinado sua vida, Victor Meloni tinha que aparecer e distraí-la. Por que ele não podia ter chegado na semana seguinte, quando Reed já estaria morta e enterrada? Quando ela teria tempo para consertar todos os problemas do mundo de uma vez só? Por que ela não podia, só por uma vez, ter uma pausa?

Ariana levantou-se da cadeira e começou a andar. Victor Meloni tinha que morrer. Esta era a única solução. Mesmo se ele fosse

demitido, mesmo que ele deixasse o campus, Ariana sempre teria que olhar por cima do ombro, sempre estar se perguntando quando e onde ele iria aparecer em seguida. Ela simplesmente não podia ter um inimigo como ele lá fora, andando pelas ruas, movendo-se em seus círculos. Ele tinha que morrer. Ele simplesmente tinha que morrer.

Mas como? O estômago de Ariana resmungou de fome, seu rosto estava apertado e seco

de exaustão e frio, e sua cabeça latejava de dor depois de seu ataque de pânico, mas ela ignorou tudo. Ela precisava descobrir a melhor maneira de lidar com Meloni, e ela precisava fazer isso rápido.

A ideia de uma arma era bem satisfatória. Todo mundo havia morrido de maneira tão limpa. Batido a cabeça, ou se afogado em um lago ou deitado em uma cama de hospital. Mas Meloni... Meloni era especial. Ele era verdadeiramente mal. Ele merecia uma morte seriamente conturbada. Ariana fez uma pausa no centro de seu quarto, seu coração pulsando em uma batida animada. Uma arma, sim. Mas como ela iria conseguir uma? E se ela conseguisse uma, não seriam capazes de relacioná-la com ela?

Ela mordeu o lado de seu polegar, estreitando seus olhos quando ela executou um giro lento em seu tapete. Talvez... Talvez ela não precisasse de uma. O Dr. Meloni tinha que ter uma arma em sua própria posse. Ele era justamente esse tipo de homem. Ele havia trabalhado por anos dentro de uma instalação para criminosos insanos. Claro que ele havia comprado uma arma para se proteger caso algum de seus ex-pacientes ou seus familiares viesse a importuná-lo. Ele era esse tipo de narcisista. Sentia-se tão superimportante. Para pensar que alguém um dia iria procurá-lo por vingança.

P

Page 74: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ariana pressionou as mãos. Ela teria que entrar na casa de Meloni e analisar o local. E ela tinha que fazer isso logo. Antes que um dia esbarrasse nele no campus, ou pior, antes que sua reunião obrigatória fosse agendada.

Uma batida repentina na porta parou seu coração. O sangue de Ariana gelou. E se Tahira ou Maria ignorou seu pedido e tivesse dito ao Dr. Meloni que sua amiga estava doente?

E se ele tivesse vindo até aqui para ter certeza que ela estava bem? Ela poderia se esconder no armário? Fingir que não estava?

— Eu sei que você está aí! — a voz de Jasper brincou através da porta. Todo o interior de Ariana relaxou. Ela se lançou para a porta e puxou-o para

dentro, fechando-a com firmeza atrás de si. — Ei — ele disse com um sorriso. Ele beijou-a rapidamente, seus lábios frios e

secos. — Você deve ser psíquica. — O quê? Por quê? — perguntou Ariana. — Eu nos trouxe o jantar — disse ele, deixando cair um saco de viagem sobre

a mesa. Ele retirou sua jaqueta de seus ombros e a jogou sobre a cama vazia de Kaitlynn. — Quando eu fui para o refeitório te pegar e vi que você não estava lá, eu achei que você houvesse tido algum tipo de premonição que você não deveria se encher de rosbife gorduroso quando eu ia aparecer com comida chinesa gourmet.

Ariana inalou os aromas doces e picantes que flutuavam do saco aberto. Ela nunca poderia ter imaginado que iria se sentir tão grata a alguém por lhe trazer rolinhos primavera e arroz. Claramente, ele é quem era o vidente. Ele sempre parecia saber exatamente o que ela precisava.

— Você pode ser o melhor namorado de todos os tempos — disse ela. Jasper passou o braço em volta da cintura dela e sorriu. — Meu objetivo é

agradar. Em seguida, ele a beijou, e pela primeira vez, durante todo o dia, Ariana

esqueceu tudo sobre Victor Meloni. Ela esqueceu tudo sobre Reed e Palmer e que o amanhã poderia trazer. Tudo o que importava era o lugar onde ela pertencia naquele momento.

Com Jasper.

Page 75: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

sol estava começando a clarear no céu cinzento da manhã quando Ariana entrou no porão do prédio de biologia de Georgetown que mais parecia um porão, através de uma entrada de serviço na parte de trás. O corredor

cheirava a formol e lixo podre, e ela cobriu o nariz com o lenço de caxemira para evitar asfixia. Respirando fundo através de sua boca, ela parou por um momento e escutou. Tudo estava silencioso e escuro. A única luz real no corredor subterrâneo emanava da placa de saída vermelha que brilhava atrás de sua cabeça.

Em algum lugar neste porão estava Reed Brennan, e onde quer que ela estivesse, ela estava sozinha. Adrenalina corria nas veias de Ariana, e seus dedos se curvaram em garras. Ela mal podia esperar para afundar as unhas na pele daquela cretina.

Andando nas pontas dos pés, Ariana rastejou para a primeira porta e espiou pela janela longa e fina. A sala estava escura. Ela verificou o laboratório do outro lado do corredor. Uma luz brilhava na mesa do professor, mas parecia ter sido deixada ligada durante a noite. Não havia nenhum sinal de vida. Fora da terceira porta, Ariana teve sucesso. Havia uma prancheta pregada na parede, exibindo a programação do laboratório. Abaixo de SEIS HORAS, SEXTA-FEIRA, Reed Brennan, e só Reed Brennan, havia assinado seu nome.

De repente, houve um clique — o som de um trinco sendo aberto — e Ariana ouviu a porta ranger no andar de cima. Tinha que ser Reed. Ela estava cinco minutos atrasada, mas ela estava aqui. Com o coração na garganta, Ariana atirou-se para dentro do laboratório e pressionou as costas contra a parede de blocos de concreto. As únicas janelas na sala úmida eram no alto da parede oposta, e todas estavam fechadas contra o frio.

Tudo a favor de evitar que alguém de fora possa ouvir seus gritos, Ariana pensou, sorrindo em antecipação.

Todas as luzes do teto estavam desligadas, o que deixava o local totalmente escuro.

Tudo a favor para surpreendê-la, Ariana acrescentou. Ela ouviu um barulho nas escadas e mordeu o lábio para não rir de pura

alegria. Mas, em seguida, ela ouviu uma voz. E não era a de Reed. — Eu não posso acreditar que você me fez levantar tão cedo. Alguma vez eu

disse que gostava de madrugar?

O

Page 76: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

O entusiasmo triunfante que emanava do coração de Ariana congelou no ar e rompeu. Era Noelle Lange.

— Eu não posso acreditar que você realmente veio — Reed respondeu. — Espere. Eu tinha alguma escolha? — disse Noelle. O coração de Ariana estava confuso. Ela não tinha posto os olhos em Noelle

Lange desde o seu funeral falso no verão passado. O que ela estava fazendo aqui? Será que ela estava estudando em Georgetown também?

Mas não. Não era possível. Se Noelle fosse uma estudante daqui, Ariana, sem dúvida, a teria visto em algum lugar. E Noelle sempre sonhou em ir para Yale. E não havia dúvidas na mente de Ariana que Noelle conseguiria arranjar um jeito de entrar lá. Isso não fazia sentido. Não havia sentido em nada.

— Eu já mandei um e-mail para o professor dizendo que eu não iria para aula por causa do funeral — disse Reed. — Eu só tenho que imprimir o relatório que eu terminei ontem à noite, e então nós podemos sair daqui.

— Tudo bem. E então você vai me pagar com um enorme copo de café — Noelle repreendeu.

Elas estavam bem do lado de fora da porta. Ariana olhou em volta em desespero. Ela caiu atrás da primeira mesa de armazenamento e puxou a porta do armário, mas era cheio de béqueres e bicos de Bunsen. A maçaneta começou a girar. Ariana virou e viu um armário de quatro portas. Rezando para que não estivesse trancado, ela puxou a maçaneta. Ele se abriu, despejando vários jalecos no chão, sobre seus pés. Ariana pegou-os nos braços, saltou para dentro e fechou a porta atrás dela, colidindo os dedos no processo. A dor explodiu tão de repente que ela viu estrelas.

— Droga — ela sussurrou baixinho. Ela levou os dedos à boca e os chupou, meio para aliviar a dor e meio para

manter-se quieta. As luzes no laboratório cintilaram quando foram acesas e Ariana pôde ver um pedaço da sala no momento em que Noelle e Reed entraram. Ela teve um vislumbre dos cabelos longos e escuros de Noelle enquanto ela passava pelo armário e fazia uma pausa. Seu casaco preto. Seus brincos de diamante. Seu coração parecia que ia explodir de saudade.

Noelle. Noelle estava bem ali. Se Ariana estendesse a mão ela poderia agarrar sua manga.

De repente, sua visão começou a formigar novamente. Ela encostou-se nos ganchos cheios de jalecos atrás dela, fechou os olhos e respirou.

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... — Eu não acredito que nós temos que voar para o Texas para isso —

lamentou Noelle, caindo sobre um tamborete de laboratório alto. — Será que a mãe de Kiran não sabe que ela vivia por Nova York? Se ela vai ser lembrada, deveria ser lá.

— Ela quer fazer isso em casa, onde Kiran cresceu. Eu entendo isso — disse Reed.

Ariana ouviu um zumbido de impressora. — Só para você saber, minha mãe vai estar lá, e eu tenho certeza que ela vai

te atormentar sobre ir para St. Barth este ano.

Page 77: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Os braços de Ariana apertaram a pilha de jalecos em seus braços. St. Barth. Então a turma de Easton ainda estava passando o Natal por lá. E agora, Reed era uma parte dela. Reed provavelmente conhecera Upton Giles, Poppy Simon e os Hathaway. Ela provavelmente tinha passado a manhã de Natal com Noelle e as outras famílias. Ela era realmente um deles agora. E Ariana não era.

Uma fúria quente começou a borbulhar nas veias de Ariana. Aquilo era tão injusto. Ela deveria estar matando Reed agora. Estrangulando-a até a sua última respiração. Experimentando o momento mais perfeito de sua vida. Mas em vez disso, ela era obrigada a ouvir isso.

— Eu só vou lhe dizer a mesma coisa que eu disse a ela da última vez — disse Reed. — Obrigada pelo convite, mas eu e St. Barth não nos misturamos.

Noelle riu levemente. — Ela não pode argumentar contra isso. — Ninguém pode — Reed respondeu. — Além disso, Scott está indo para Vail

com sua nova namorada e Josh me convidou para ver a casa de seus pais, em Vienna. Então eu vou passar o Natal em Croton, e depois irei para o Continente por uma semana antes de voltar para Cape para o Ano Novo.

Ela usou uma voz arrogante sobre a palavra “Continente”, como se a palavra “Europa” fosse algum tipo de piada. Ariana cerrou os dentes. Reed nunca iria pôr os pés no Continente se ela fizesse algo a respeito.

— Deus. Quem diria que você iria se transformar em uma pessoa que viaja tanto? — disse Noelle.

— Eu sei, certo? — Reed respondeu com uma risada irritante. — Tudo bem. Terminei. Vamos sair daqui.

— Finalmente — disse Noelle, de uma maneira dramática. Ariana pressionou-se contra a parede quando viu primeiro o casaco de Reed

passar, seguido então pelo de Noelle no espaço aberto entre as duas portas. A pulsação de Ariana parou. Noelle estava indo embora. Era tão injusto. Era

para ela ser a melhor amiga para sempre dela, não Reed. Por um breve momento, ela se perguntou o que Noelle faria se ela se revelasse agora. Será que ela ficaria feliz em vê-la? Aliviada por encontrá-la viva e bem? Será que ela iria abraçá-la e convidá-la para St. Barth para o feriado?

Era uma bela fantasia. Mas, quando Reed apagou as luzes e as duas saíram, Ariana sabia que nunca poderia se tornar realidade. Ela nunca poderia revelar-se a qualquer pessoa de sua antiga vida. Nem mesmo a Noelle. De repente, seu coração doeu com uma gravidade que ela nunca tinha imaginado antes. Era tão errado que Reed estivesse com Noelle — rindo com ela, sabendo seus segredos, fazendo viagens com ela. Noelle tinha sida a melhor amiga de Ariana primeiro. Confidente de Ariana. Ela era apenas mais uma das muitas coisas que Reed tinha roubado dela. Apenas uma outra razão pela qual Reed merecia morrer.

A porta do laboratório fechou e seus passos desapareceram. Ariana prendeu a respiração, contou até cem, então empurrou as portas do armário. Seu corpo parecia pesar mais de 500 quilos, seu peito cheio de uma massa sufocante. Ela deixou os jalecos escorregarem para o chão tão irritada e decepcionada que lágrimas encheram seus olhos.

Ela viera aqui para finalmente acabar com Reed. Finalmente acabar com toda a miséria e sofrimento. Finalmente fazer justiça para todos aqueles que tinham morrido. Mas ela tinha sido impedida por sua própria melhor amiga. Por que essas

Page 78: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

coisas continuavam acontecendo com ela? Por que ela não poderia ter uma pausa? Por que ela não poderia, apenas uma vez, ter o que ela merecia?

Page 79: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

qui está o seu café com leite e o bolinho de canela, Ana — Quinn colocou o copo e prato na mesa de mármore na frente de Ariana na manhã de sábado e deu um passo para trás com um sorriso, alisando

seus longos cabelos loiros morango sobre um ombro. Jéssica parou atrás também, pronta para receber ordens. Ariana olhou para o rosto ansioso e decidiu lançar-lhe um osso. — Está frio aqui, não está? — disse ela, olhando em volta como se estivesse olhando para uma janela aberta ou alguma outra fonte de frio.

— Você quer que eu pegue um suéter? — perguntou Jessica, levantando-se nas pontas dos pés.

— Isso seria fabuloso — Ariana respondeu. — O cashmere cinza, eu acho. — Eu já volto. — E foi assim que Jessica se foi, em um borrão de cachos

negros e saia azul. — Há mais alguma coisa que eu possa fazer por você? — perguntou Quinn. —

Caso contrário, eu tenho uma sessão de estudo para o teste de economia esta manhã.

— Não, obrigada, Quinn. Você está dispensada. — Ariana deu um rápido aceno com a mão para pontuar o comunicado.

— Tudo bem. Mande uma mensagem se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa — disse Quinn, enquanto ela recolhia suas coisas.

— Oh, eu mando. Ariana sorriu para si mesma quando Quinn correu. Não havia melhor maneira

de superar uma falha grave do que passar uma manhã sendo aguardada por uma equipe de funcionários antecipando cada necessidade sua. Quando ela acordou, esta manhã, parte dela queria ficar só na cama e chafurdar-se sobre seu fracasso em Georgetown, mas ela se forçou a se levantar e sair para o mundo, para lembrar-se das coisas que ela tinha que viver. Como as vantagens de ser a presidente da Pedra e Sepultura. Ao longo dos últimos dois dias, Ariana recebera dezenas de telefonemas de felicitações dos ex-alunos de prestígio, e presentes começaram a chegar de todos os cantos do mundo. Pousada ao lado de seu prato estava uma pilha de convites que tinha chegado na sua caixa de correio apenas naquela manhã, desde um convite para um evento de caridade em um jardim botânico, dado por uma ex-aluna de prestígio da Pedra e Sepultura, um pedido de presença em um almoço no Capitólio, e até um ingresso para a festa de Ano Novo da MTV, em Nova

—A

Page 80: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

York. Ariana sorriu só de olhar para eles. Briana Leigh Covington realmente era uma estrela.

Uma estrela que não podia sequer executar o plano mais simples, uma vozinha dentro de sua mente repreendeu.

O coração de Ariana afundou no momento em que a memória de como ela chegara tão perto de ser apanhada ontem emergiu de volta a sua mente. Ela descansou o copo de café e cerrou os dentes. Por que Reed não poderia ter estado lá sozinha, como ela havia dito que estaria? Por que todo mundo sempre tinha que ser tão malditamente não confiável? Quando Ariana dizia que iria fazer alguma coisa, ela fazia isso. De que outra forma as pessoas deveriam fazer planos?

— É tão irritantemente impertinente — ela murmurou baixinho. Se Reed não houvesse mudado sua agenda para o dia, no último minuto, ela

estaria morta agora, e Ariana poderia seguir com sua própria vida — tramando seu próximo passo com Meloni e garantindo o seu futuro. Mas não. Ela tivera que ir terminar seu relatório na noite anterior. Apesar de que não teria sido tão ruim se ela simplesmente não aparecesse. Ariana teria esperado por um tempo antes de desistir, iria para casa e voltaria com um novo plano. Mas isso não foi possível, também. Reed tivera que aparecer no laboratório, para imprimir o seu trabalho e, apenas para adicionar insulto à injúria, havia levado Noelle junto com ela. Era como se a menina soubesse que Ariana estava escondida lá e tinha descoberto exatamente como machucá-la.

Atrás dela, algumas meninas riram e Ariana virou-se para elas. Eram as colegas de quarto de Tahira, Allison Rothaus, e sua amiga Zuri. Elas estavam amontoadas em um celular, vendo fotos. As duas eram, é claro, estritamente de segunda linha por ali. Zuri estava em uma das outras sociedades e Allison não conseguira entrar na Pedra e Sepultura. Mas ainda assim, a visão delas juntas, se divertindo, fez o espírito de Ariana cair ainda mais baixo. Elas podiam ser perdedoras, mas, pelo menos, elas tinham uma à outra.

Ariana virou em seu assento e olhou para as cadeiras vazias em torno da mesa, sentindo-se subitamente e irremediavelmente só. Algumas semanas atrás, Brigit estaria sentada ao lado dela, tagarelando sobre a próxima grande festa. Soomie estaria mandando mensagens de texto em seu BlackBerry obsessivamente. Lexa estaria descansando sobre a mesa, folheando a Vogue e apontando as roupas que ficariam melhores nela. Maria estaria sentada à sua esquerda, bebericando seu café expresso e cuidadosamente evitando carboidratos. Mas agora, Brigit e Lexa estavam mortas, Soomie estava fora do mapa, e Maria estava tirando a sua dor no estúdio de dança. Ariana podia ser a nova Garota Popular do campus, mas essa posição deveria vir com um séquito. O dela era praticamente inexistente.

— Nós precisamos conversar. Tahira caiu na cadeira em frente a Ariana e só com isso, Ariana animou-se

completamente. Pelo menos ela não estava sentada no café parecendo mais uma solitária.

— O que foi? — perguntou Ariana. — Você quer alguma coisa para comer? Porque eu posso pedir para Quinn voltar aqui com dois shakes — disse ela, pegando o telefone.

— Não, obrigada. — Tahira apoiou os cotovelos sobre a mesa, suas dezenas de pulseiras brilhantes tilintando alegremente. Ela usava uma blusa azul royal, com

Page 81: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

decote em V e seu cabelo escuro estava pendurado em ondas soltas sobre seus ombros. — Tem uma coisa que eu tenho que te perguntar. É meio grave.

O coração de Ariana pulou em uma batida conturbada. Isto era sobre Palmer? Ele havia finalmente chegado ao limite de espalhar boatos sobre ela?

— Você tem a minha atenção — disse Ariana, tentando soar otimista. — Tudo bem, desde que você chegou aqui, todas essas coisas estranhas vem

acontecendo — Tahira começou. — Eu não vou nem falar nos roubos — disse ela, fazendo com que o estômago de Ariana revirasse. — Estamos bem além disso.

Ariana pigarreou. Ela tinha esquecido sobre os furtos. Só Tahira sabia sobre eles, mas isso, junto com qualquer coisa que Palmer poderia dizer, não ia ajudá-la. Ela sentou-se em linha reta quando Jessica voltou com seu suéter.

— Aqui está, Ana. Existe alguma coisa que eu possa... — Não, obrigada, Jessica. Pode ir — Ariana estalou. O rosto de Jessica se enrugou e ela correu. Ariana estalou a língua, mas a

última coisa que ela se sentia capaz de lidar, naquele momento, era acariciar o ego de uma subalterna.

Por que Tahira mencionou o pequeno crime que Ariana havia cometido no início do ano letivo?

— Mas, primeiro Palmer rompe com Lexa do nada para ficar com você, e no ano passado os dois eram totalmente mais propensos a contratar Colin Cowie — Tahira continuou em voz baixa. — Então Brigit morre, Lillian desaparece, e agora Lexa...

O coração de Ariana pulsou doentiamente em sua garganta. Ela agarrou o suéter de cashmere por baixo da mesa, sua mente girando em dez mil direções. Tahira havia se dado conta de tudo. Ela sabia que tudo estava ligado, e conectado por meio dela. A pergunta era: o quanto ela sabia? Será que ela havia descoberto a verdadeira identidade de Ariana? Era isso que a mantinha acordada a noite toda? E o que Ariana teria que fazer para mantê-la quieta?

— Eu só preciso saber... — disse Tahira, inclinando-se tão à frente que Ariana podia ver cada centímetro de seu decote. — Como você faz tudo isso?

Ariana lambeu os lábios secos. — Faço tudo o quê? — De alguma forma, com todas essas coisas acontecendo ao seu redor, você

conseguiu manter sua cabeça no lugar e se sair como a abelha rainha! — Tahira exclamou, sentando-se reta, com os olhos castanhos arregalados. — Quero dizer, além do ligeiro ataque de pânico na outra noite, mas todo mundo tem um ou dois desses em suas vidas. Então me diga. Como você aguenta tudo isso?

Ariana soltou uma lufada de ar. Sua tensão esvaziou tão rapidamente que ela realmente caiu para frente, por um momento, descansando os cotovelos sobre a mesa e sua cabeça em suas mãos, seu suéter envolto em seus joelhos. Tahira não estava acusando-a de planejar as mortes, desaparecimentos e rompimentos. Ela não ia dizer que pensava que ela era louca, também. Ela estava dizendo que achava que ela era incrível.

— Tome seu tempo — disse Tahira. Ela estendeu a mão para o bolinho de Ariana e arrancou um pedaço. — Oh meu Deus! É um convite para a festa de ano novo da MTV? — Ela pegou o envelope brilhante do topo da pilha. Em seguida, seus olhos se arregalaram com a grande pilha de convites abaixo dela. — Uau. Deve ser bom ser presidente.

Page 82: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ariana suspirou. — Acho que sim — disse ela com modéstia. — Inacreditável — disse Tahira em reverência, passando os dedos ao longo da

borda do convite. — Sério, Ana. Você deve dar, tipo, uma palestra sobre o sucesso ou algo assim. Neste momento, todas as garotas nesta escola querem ser você.

Agora Ariana não pôde deixar de sorrir. Tahira não tinha ideia, mas esta pequena visita era exatamente o que ela precisava. Mas ainda assim, havia o problema da ameaça de Palmer, pendurada como uma guilhotina pronta para cair. Ariana estreitou os olhos e decidiu que ela podia confiar em Tahira, especialmente após a carícia no ego que a menina tinha acabado de lhe dar.

— T, posso perguntar uma coisa? — disse ela, apoiando os cotovelos casualmente sobre a mesa.

— Qualquer coisa. — Palmer disse algo sobre mim? Para você, Rob ou qualquer pessoa? —

perguntou Ariana. Tahira riu levemente. — Oh, você quer dizer aquela história ridícula sobre você

destruindo o seu quarto? Uh, sim. Ouvi falar sobre isso. — Você ouviu? — perguntou Ariana, com o rosto corado. Tahira pegou outro pedaço de bolinho. — Como se alguém fosse acreditar

nisso. Você é a segunda pessoa mais centrada que eu conheço, depois de Soomie — afirmou Tahira enquanto mastigava. — E, honestamente, mesmo que você tenha destruído o seu quarto, quem se importa? Todo mundo tem que desabafar de alguma forma, especialmente com tudo o que está acontecendo. No outro dia eu e Rob fomos ao campo de tiro de seu pai e fizemos tiro sobre os alvos com espingardas reais. Foi bem terapêutico.

Ariana piscou. — Hum. Uau. — É. Ninguém vai julgar você por quebrar as suas próprias coisas. Acredite em

mim — disse Tahira com firmeza. — E tudo isso que Palmer fez, trazendo o assunto do nada, só demonstra como ele é um mau perdedor e, honestamente? Um babaca.

Ariana riu baixinho. Era uma pena para Palmer. — É bom saber disso. Obrigada, Tahira.

— Eu simplesmente não posso acreditar que você tem que comandar a P e S com ele, como seu segundo em comando. Isso não vai ser estranho, nem nada? — disse Tahira sarcasticamente, revirando os olhos.

Ariana enrolou suas mãos ao redor de seu copo de café. Com tudo o que estava acontecendo, ela ainda não tinha pensado nisso. Palmer ainda era o vice-presidente de Pedra e Sepultura. E ele claramente a odiava. Seu primeiro jogo pelo poder não fora bem sucedido, mas isso não queria dizer que ele não iria continuar tentando. Talvez fosse hora de começar a pensar em maneiras de se livrar dele. Talvez fosse uma coisa boa se ele continuasse falando merdas sobre ela ao redor do campus. Se toda a gente começasse a pensar que ele era um mau perdedor e um idiota, seria muito mais fácil de obter apoio para a sua remoção.

O telefone de Tahira tocou e ela o puxou para fora de sua bolsa. — Merda. Eu deveria encontrar Rob e os pais dele no portão há dez minutos — disse ela enquanto se levantava novamente. — Eles estão voando de volta para a Flórida hoje e dissemos que iríamos tomar café da manhã com eles.

Ariana riu.

Page 83: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Ei, você quer fazer algumas compras amanhã? — perguntou Tahira, baixando a voz. — Eu, pessoalmente, acredito que a presidente da Pedra e Sepultura deveria ter um visual para ser invejado por todos. E eu não estou falando sobre usar óculos de sol à noite.

— Absolutamente — respondeu Ariana. — Nós podemos planejar mais tarde. — Perfeito — disse Tahira. Ela inclinou-se e deu beijos duplos no ar em Ariana.

— Então talvez eu possa arrancar de seu cérebro como você faz isso tudo. Ela piscou antes de girar em seus calcanhares e desaparecer através das

portas da Casa Privilege. Ariana observou-a ir, a sua confiança inteiramente recuperada. Aparentemente, Palmer não exercia tanto poder como ele pensava. E Tahira estava certa, afinal. Olhe para tudo o que ela tinha passado na vida, e ela sempre, sempre encontrava uma maneira de pousar em seus pés. O deslize de ontem com Reed tinha sido apenas isso: um deslize. Tudo o que ela precisava fazer era repensar, recuar, e ter um novo plano infalível. Em pouco tempo, Reed Brennan estaria morta, e Ariana estaria a um passo da vida perfeita que ela sempre quis.

Page 84: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

k, eu preciso de uma destas em todas as cores. Tahira pegou uma bolsa de couro com franjas Jimmy Choo e

atirou-a por cima do ombro, levantando-a na frente do espelho de corpo inteiro. Ariana já tinha feito alguns danos graves aos seus cartões de crédito, comprando um guarda-roupa totalmente novo para sua nova posição de poder. Ela tinha comprado tanto, na verdade, que ela tinha deixado todos as suas sacolas com o manobrista da loja para eles enviarem tudo para a escola, sabendo que não iria caber no porta-malas de seu pequeno carro.

— É muito você, a sua cara — Ariana respondeu enquanto olhava uma bolsa bege Michael Kors.

— O que você acha, Maria? — perguntou Tahira, girando de forma dramática. — Não é deliciosa?

Maria olhou por cima de uma mesa cheia de mercadoria Lucite à venda. — É — disse ela.

Os ombros de Tahira caíram e a bolsa deslizou para seu pulso. — É? Você tem que estar brincando comigo.

— Desculpe. Essas coisas não têm muito a ver comigo — disse Maria, levantando os ombros magros.

— Bem, eu adoro isso — Tahira replicou. Ela caminhou até o balcão e jogou a bolsa preta na frente da vendedora. — Vou levar a vermelha, a branca e a verde também.

Os olhos escuros da vendedora se arregalaram, provavelmente imaginando a comissão mensal tripla em uma só venda. Tahira acabara de comprar cerca de cinco mil dólares em bolsas.

— Você vai comprar isso? — Tahira perguntou para Ariana. Ariana devolveu a bolsa para a prateleira. — Eu acho que eu gastei o suficiente

por uma noite — disse ela, mesmo sabendo que ela poderia ter comprado um milhão de bolsas daquela com o dinheiro que ela tinha em sua conta bancária, graças à recente morte da vovó Covington.

— Bem, talvez o seu novo namorado dê para você no Natal — disse Tahira, com a voz cheia de segundas intenções. Ela bateu seu cartão de crédito no balcão enquanto a vendedora voltava do estoque com suas bolsas.

Ariana sorriu. Ela perguntou-se quando o assunto iria surgir. Agora que a ferida da morte de Lexa não era tão fresca e a presidência da Pedra e Sepultura

—O

Page 85: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

tinha sido decidida, é claro que Jasper seria a próxima fofoca para ocupar as mentes de todos.

— Sim, o que é que está rolando mesmo? — perguntou Maria, inclinando-se nas palmas das mãos para à frente de Ariana. — Um segundo você está dando um fora em Palmer, com o coração partido, e no segundo seguinte você está acariciando o loiro gato da Louisiana.

Ariana levantou um ombro. — Apenas... aconteceu. — Oh, por favor. Você não escapar tão facilmente — disse Tahira, observando

com um olho enquanto a vendedora colocava as compras em caixas. — Quero dizer, Jasper é uma gracinha, não me interpretem mal. Mas Palmer é... Palmer.

— E Palmer é um idiota — Maria rebateu. — Sim, mas apenas desde a separação — Tahira lembrou. — Eu não sei. Jasper e eu acabamos nos aproximando muito na iniciação e

havia sempre algo intrigante sobre ele — disse Ariana com um rubor leve na face. Ela arrastou seu dedo pelo chaveiro, deixando-os balançar e bater juntos. — Palmer sempre foi muito certinho, muito preto no branco e previsível. Mas Jasper é... surpreendente.

Maria sorriu e ergueu as sobrancelhas. — Parece delicioso. O rubor de Ariana se aprofundou. — Você não tem ideia. — Tudo bem. Agora eu estou intrigada — disse Tahira, jogando seu cabelo

escuro por cima do ombro. — E faminta. Eu gostaria de ouvir todos os detalhes sórdidos comendo tapas.

— Eu concordo com isso — disse Maria. — Eu também. Mas você tem que comer mais de um pedaço — disse Ariana,

levantando um dedo de advertência para Maria. — Quem disse que você é minha mãe? — disse Maria, bem-humorada. — Você

é a única que temos que ficar de olho por aqui, Senhorita Ataque de Pânico. A pele de Ariana arrepiou. Se ela pudesse voltar no tempo e mudar qualquer

coisa, nos últimos dias, seria o surto que ela teve na frente de suas amigas. Ela não queria que elas se preocupassem com ela. Mas, ainda mais importante, ela não queria que elas perdessem a confiança nela, especialmente com Palmer falando merdas sobre ela pelas suas costas. Talvez Tahira não se importasse, mas isso não significava que todo mundo seria tão mente aberta. Ela precisava passar uma imagem inabalável, sã, totalmente forte e saudável, e não a de uma fracote que poderia desmoronar a qualquer momento.

— Isso foi um golpe do acaso — ela disse para Maria, passando seu braço ao redor de sua amiga. — Não vai acontecer de novo, eu prometo. Eu estou bem.

— Prontas? — perguntou Tahira, juntando-se à elas com duas sacolas enormes penduradas em ambas as mãos.

— Prontas. Quando as meninas saíram da loja de departamento e seguiram pela rua

frígida e escura, Ariana pegou as chaves do carro de sua bolsa. Ela apertou o botão de destravar e os faróis de seu elegante carro esportivo prata brilharam. Com outro clique, ela abriu o porta-malas para guardar as sacolas de Tahira. Ela e Maria esperaram na calçada enquanto Tahira colocava suas sacolas dentro e batia a porta.

— Então, Ana, quanto tempo você achou que ia ser capaz de esconder algo de nós? — ela perguntou, inclinando-se contra o carro.

Page 86: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ariana piscou. — Esconder? O quê? Jasper? — Não. — Tahira colocou suas luvas de couro enquanto ela voltava na

calçada. — Eu estava na central de alunos do APH hoje e eles tinham uma lista de todos os próximos aniversários. Alguém que conhecemos está nela! — disse ela, cantando as últimas palavras.

A testa de Ariana enrugou, e de repente seu coração bateu disparado contra sua caixa torácica. O aniversário de Briana Leigh! Era dia 12 de dezembro. Como ela poderia ter esquecido?

— Ana! É o seu aniversário? — perguntou Maria, arregalando os olhos com prazer. — Quando?

Ariana finalmente se forçou a sorrir e olhou para seus pés. — Na próxima semana. Eu acho que eu realmente não me sinto bem em

celebrar — ela improvisou, desenhando um arco sobre o concreto com a ponta da bota de camurça. — Além disso, não seria um pouco egoísta agora? Tornar-me o centro das atenções?

— Dá um tempo — disse Tahira, revirando os olhos enquanto se dirigia para a porta do lado do passageiro. — Eu estou totalmente pronta para uma festa.

O coração de Ariana vibrou de emoção. Ela não tinha sido capaz de celebrar a sua eleição como presidente da Pedra e Sepultura, mas isso seria mais do que compensar tudo isso.

— Você não tem que fazer isso — disse ela. — Só tente me impedir — disse Tahira, estreitando os olhos. — Sim, eu não tentaria impedi-la — brincou Maria. — Sabem de uma coisa?

Talvez eu ajude. Isso vai me dar algo para me distrair da morte de Lexa e da situação de Soomie.

— Legal. Contanto que fique claro que todas as decisões finais são minhas — disse Tahira.

Maria sorriu. — Claro minha senhora, sim, senhora. Ariana deu-lhes um sorriso pequeno e modesto. — Tudo bem. Obrigada,

pessoal. Apenas... não vão exagerar. Tahira lançou para Maria um olhar que claramente dizia: — Sim, certo. —

Enquanto todas entravam no carro, Ariana mordeu o lábio para não rir em voz alta. Ela tinha certeza de que Tahira ia fazer a melhor festa, que superaria qualquer outra.

Ariana sentou no assento atrás do volante e seu telefone soltou um bipe alto. Ela o pegou no fundo da bolsa.

— Espere um segundo. Eu tenho uma mensagem de voz — disse ela. — Faça isso rápido. Estou começando a me sentir fraca — disse Tahira,

colocando o retrovisor para baixo para verificar a maquiagem dos olhos no espelho. Ariana ligou para o correio de voz e segurou o telefone no ouvido. A voz que a

saudou fez seu sangue congelar. — Olá, senhorita Covington, aqui é o Dr. Victor Meloni, ligando para informar

que a sua sessão obrigatória foi agendada para amanhã, segunda-feira, dia 08, às 10 horas da manhã em minha sala, no terceiro andar do prédio da administração. Estarei aguardando. Tenha uma boa noite.

Page 87: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

A mensagem terminou com um sinal sonoro alto, e Ariana se encolheu, sem conseguir se mover. Ela ficou lá por um longo momento, olhando para as luzes da rua, o celular preso ao seu ouvido.

— Ana? Ana, Olá? Você está aí? — perguntou Tahira, balançando a mão em frente ao seu rosto.

— Você está doente de novo. Foi uma má notícia? Era Soomie? — perguntou Maria, inclinando-se do banco de trás.

— Não. Não, não foi nada. Desculpe. Eu só me distrai por um segundo — disse Ariana. Ela apertou o botão EXCLUIR tão forte que ela ficou surpresa que o telefone não quebrou, em seguida, jogou o telefone entre seu assento e o de Tahira. — Então. Tapas?

Ela ligou o motor, colocou o carro em marcha, e seguiu para a rua. Seus dedos agarraram o volante enquanto sua mandíbula apertava com tanta força que ela sentiu uma dor em sua têmpora. Ouvir a voz insípida de Meloni ao telefone, o tom autoritário enquanto ele exigia a presença dela em seu escritório, tinha trazido de volta a urgência da situação. Ela não podia permitir que ele ficasse próximo dela ou tudo estaria perdido. Mas ela não podia evitá-lo, também. Como ele tão prestativamente mencionou, todas as sessões dos estudantes com o conselheiro de luto eram obrigatórias.

Quando Ariana fez uma curva em alta velocidade, provocando um grito de medo da garganta de Tahira, ela sabia com uma certeza fria que o plano ia ter que mudar. Ela queria acabar com Reed primeiro e depois lidar com Meloni, mas, obviamente, a morte de Reed teria que ser colocada em segundo plano por enquanto.

A partir deste momento, sua prioridade número um era livrar o mundo do Dr. Victor Meloni.

Page 88: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

o final da tarde de segunda-feira, Ariana correu para fora de sua reunião da revista literária ainda bem cedo, dizendo a April que ela estava atrasada para um grupo de estudo de química. Ela, de fato, estacionou o seu carro

atrás do prédio da Administração naquela tarde e planejava esperar ali até que o Dr. Meloni saísse de seu trabalho à noite. Ela precisava segui-lo, precisava descobrir onde ele estava vivendo, precisava começar a formular seu plano. Uma vez que Meloni tivesse sido resolvido, ela poderia voltar a Reed. E ela estava muito ansiosa para voltar a Reed.

Rapidamente, ela atravessou todo o campus coberto de neve, na esperança de que o Dr. Meloni ainda não tivesse saído. Ela finalmente entrou em seu carro, assim que o sol começou a desaparecer atrás das árvores, e ligou o motor, saboreando o calor dos aquecedores e mantendo os olhos atentos para a porta de trás do edifício da administração. Felizmente, não era tarde demais. Dentro de minutos, o Dr. Meloni apareceu. Soprando suas mãos, ele soltou Rambo de sua coleira e abriu a porta do lado do passageiro de um Lincoln Tahoe dourado para o cão. Momentos depois, ele estava ao volante, e eles estavam indo embora.

— Vamos ver que tipo de lugar que você comprou às custas da minha mensalidade — Ariana murmurou baixinho enquanto seguia a uma distância discreta.

Ela havia faltado à sessão obrigatória naquela manhã sem sequer dar um telefonema para inventar uma desculpa e manteve seu telefone desligado durante todo o dia, temendo a reação dele.

Agora, ela se perguntava se ele tinha ligado para ela, ou se ele deixaria para a diretora lidar com a repreensão e o castigo.

Ariana riu amargamente para si mesma. Não. De jeito nenhum. Meloni certamente teria o prazer de soltar toda a bronca e menosprezo por conta própria. Provavelmente foi escrito em seu contrato como cláusula.

Meloni dirigiu para longe da cidade e para as montanhas na Virgínia ao lado da capital. Isso não surpreendeu Ariana de maneira alguma. De volta à Brenda T., Dr. Meloni.

Meloni residia em uma pequena cabana recuada em uma estrada de terra. Ela estava certa de que ele certamente já havia conseguido uma tonelada de dinheiro e poderia viver em qualquer lugar que ele desejasse, mas ao invés disso ele tinha escolhido uma existência espartana, vivendo como um homem da montanha

N

Page 89: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

colonial. Sem dúvida, ele fez isso para provar algum ponto — que ele era um homem de verdade, ou que estava acima das armadilhas da sociedade moderna, ou alguma porcaria assim.

Ariana olhou contra a escuridão quando Meloni virou para uma estrada de duas pistas, estreita, cercada por árvores imponentes e sem folhas. Quando de repente ele estacionou em uma curva, o coração de Ariana atingiu sua garganta. Ela não podia continuar atrás dele. Pensando rápido, ela continuou dirigindo, mas ela xingou baixinho, ao perceber que ela não tinha conseguido dar uma boa olhada na casa.

— Tudo bem, tudo bem — ela disse a si mesma, ajustando as palmas das mãos suadas no volante. — Apenas vire e volte.

Ela dirigiu até uma pequena clareira na beira da estrada, contou lentamente até cem, e em seguida, deu meia-volta e voltou pelo caminho da casa de Meloni. Ela fez questão de dirigir a passo de caracol para que ela pudesse observar tudo nos mais mínimos detalhes. O Tahoe de Meloni já estava totalmente apagado na garagem, o único carro estacionado lá. Uma luz brilhava em uma das janelas da frente da casa larga e térrea. Era maior do que o lugar que ele vivia quando atendia na Brenda T., mas ainda assim era uma casa modesta. Ariana apagou as luzes do Porsche e estacionou. Parecia que não havia na casa nenhum sistema de segurança, e o poste de luz mais próximo estava a meia milha de distância. Ela ficou sentada por um longo tempo, olhando para a luz na janela, mas não vendo nenhum movimento.

Passou uma hora, depois outra. E em todo esse tempo, Ariana não viu nenhum outro carro passar.

Finalmente, a luz se apagou, e um momento depois, acendeu-se outra adiante. Claramente, Meloni ainda vivia sozinho. E em uma rua que dificilmente uma alma passasse.

Satisfeita, Ariana voltou lentamente para a estrada e dirigiu alguns metros antes de acender os seus faróis novamente e voltou para a cidade com um enorme sorriso feliz.

O bom e velho Dr. Meloni. Ele realmente não poderia ter deixado mais fácil para ela.

Page 90: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

raças ao seu passeio pelos bosques da Virgínia, Ariana chegou tão tarde para o jantar na segunda-feira à noite que seus amigos já estavam se arrumando para sair quando ela chegou.

— Estávamos nos preparando para ir para o Hill — disse Maria, jogando o lenço sobre o seu antebraço e sua bolsa no ombro. Atrás dela, Tahira segurava seu celular e alguns livros em sua bolsa. — Quer que a gente te espere? Podemos sentar com você, se quiser.

— Não, está tudo bem — Ariana respondeu. Após a excitação de sua missão de reconhecimento de território, ela saboreou a ideia de sentar-se calmamente e organizar seus pensamentos. — Eu encontro vocês lá quando eu terminar.

— Ótimo. Guardaremos um lugar para você — disse Tahira. As meninas saíram pelo salão principal, passando por um conjunto de portas

duplas pesadas na extremidade do refeitório. Ariana sentou-se, fazendo o seu pedido de última hora ao garçom. Ela viu várias pessoas olharem com curiosidade enquanto saíam, incluindo Palmer e seu pequeno bando de seguidores, mas ela os ignorou. Uma menina não podia se atrasar para o jantar mais sem se tornar alvo de fofoca?

Uma vez que sua refeição chegou, Ariana comeu devagar, meticulosamente revendo a rota que ela tinha feito para a casa de Meloni uma e outra vez, para que ela não se esquecesse de nada. Ela definitivamente ia ter que voltar lá novamente em breve, num momento em que ele não estivesse em casa, para fazer o levantamento do perímetro, para ver se havia alguns bons pontos de entrada e ter absoluta certeza de que ele não tinha uma namorada ou alguém que poderia aparecer de forma inesperada. Uma vez que ela decidisse como agiria, ela faria uma programação em seu telefone. Ela sabia que teria que agir rápido, antes que outra reunião “obrigatória” fosse marcada para ela. Quando ela olhou seu horário de aula, ela percebeu que ela ia ter que matar aula, não importava qual. O meio do dia de trabalho era a única hora que ela poderia garantir que Meloni não estaria por perto. Mas ela já tinha perdido tanto graças a Reed, e as provas finais estavam chegando... Ariana soltou um suspiro de frustração. Ela realmente estava fazendo malabarismos demais estes dias.

Finalmente, ela decidiu simplesmente faltar a aula de espanhol no dia seguinte e acabar logo com aquele assunto. Ela já tinha garantido uma nota A naquela matéria, então faltar mais uma aula não poderia fazer muito mal. Satisfeita, Ariana

G

Page 91: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

guardou o telefone de volta na bolsa, terminou sua refeição, e agradeceu ao garçom. Ela pegou seu casaco, cachecol, gorro, e bolsa em seus braços e atravessou o salão para se juntar a suas amigas no Hill.

Ela acabara de passar pela porta quando a Diretora Jansen apareceu ao lado dela. Era como se a mulher tivesse feito uma emboscada.

— Senhorita Covington? Ariana fechou os olhos por um momento, preparando-se, em seguida, virou-se

com um grande sorriso. — Oi, Diretora. Como a senhora está? — ela perguntou. — Eu estou bem, obrigada. Estou mais interessada em saber como você está.

— Ela estendeu a mão e agarrou o antebraço de Ariana rapidamente, sua expressão era a imagem da preocupação. — Ouvi dizer que você perdeu alguns dias de aulas e também a reunião obrigatória com o seu conselheiro de luto esta manhã.

— Sim, eu estava planejando reagendar isso. — Você estava? — disse a diretora severamente. Ariana sentiu a sua pele avermelhar. Como aquela mulher se atreveria a

duvidar dela? O que ela fez para merecer isso? — É claro — respondeu ela. — Foi uma semana difícil para mim. Eu perdi a

minha melhor amiga da forma mais horrível possível. — Mais uma razão para ver o conselheiro — disse a diretora. Algumas meninas seniores pararam atrás de Ariana, se encolhendo para

passar pela porta. Ela estalou a língua e deu um passo para longe da entrada, deixando-as passar completamente. Ela sabia que havia uma maneira de resolver isso. Ela só tinha que pensar nisso. Agora. Ela colocou seu lenço novo e insanamente caro em sua bolsa, e só assim, o pensamento surgiu.

Dinheiro. Tudo era à base do dinheiro. E Ariana, graças à recente morte da avó de Briana Leigh, tinha toneladas dele à sua disposição.

— Diretora, para ser honesta... eu estava esperando contratar o meu próprio conselheiro, se isso for possível — disse Ariana. — Eu estou mais do que disposta até a fazê-lo assinar algum tipo de documento que confirme que eu tenha passado por alguma sessão.

As sobrancelhas perfeitamente cuidadas da diretora curvaram. Ela cruzou os braços magros sobre seu terno elegante. — Por quê?

Ariana mordeu o lábio. — É só que... Eu já ouvi algumas coisas não tão agradáveis sobre este Doutor Meloni — ela mentiu, bile queimando no fundo de sua garganta quando ela pronunciou o nome. — Meus amigos que o viram... eles não tiraram nenhum proveito de suas sessões. E um deles sequer quis falar. Agora, eu não sei quanto a você, mas isso não parece ser o papel de um conselheiro de luto para mim.

— Isso é estranho. Eu tive apenas avaliações positivas dos alunos sobre o Dr. Meloni — disse a diretora.

Ariana cerrou os dentes. — Bem, talvez eles simplesmente não queriam incomodá-la.

Os olhos da diretora se estreitaram. — Eu entendo. O problema é, senhorita Covington, que o Doutor Meloni está muito interessado em conhecê-la.

Todo o salão começou a girar diante dos olhos de Ariana, e ela foi forçada a estender a mão e agarrar a parte de trás do sofá mais próximo. Ela trouxe a ponta

Page 92: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

dos dedos na testa por um momento e fechou os olhos. — Eu sinto muito. O quê? Por quê?

— Ele disse que sabe alguma coisa da sua história familiar — a diretora respondeu. — Para ser honesta, pela maneira como ele falou sobre você, eu tenho a impressão de que vocês dois já se conheciam.

— O quê? — Os olhos de Ariana alargaram, mas a sua visão se tornou nublada. Ela mal conseguia distinguir o rosto da diretora.

— Você foi paciente dele antes? — perguntou a diretora. — Não! Não, claro que não — Ariana respondeu, balançando a cabeça,

tentando limpar seus olhos, sua mente. Será que o Dr. Meloni a tinha visto naquela noite no campus com Maria e Tahira? Será que ele sabia que ela estava ali? Ele estava apenas lambendo os beiços, esperando que ela entrasse em seu escritório como uma espécie de cordeiro ferido?

Mas não. Não era possível. Ele a olhou por meio segundo naquela noite e havia uma escuridão enorme. Tudo o que ele teria visto era o chapéu preto de Ariana, seu cabelo ruivo, seus óculos escuros. Ele nunca a teria reconhecido nessas condições.

— Não há nenhuma vergonha nisso, Briana Leigh — disse a diretora. — Todo mundo precisa de alguém para conversar em algum momento de suas vidas.

— Eu estou dizendo a você que eu não o conheço — disse Ariana, com a voz tensa.

— Tudo o que sei é que quando ele viu o nome Briana Leigh Covington na lista dos alunos, ele disse que estaria extremamente disposto a lhe ajudar — a Diretora Jansen disse, levantando a mão.

De repente, Ariana sentiu uma lufada de ar fresco em suas costas. Briana Leigh Covington. Claro. O Dr. Meloni tinha tratado Kaitlynn Nottingham dentro da Brenda T., e Kaitlynn havia sido presa por ter assassinado o pai de Briana Leigh a sangue frio. O Dr. Meloni sabia algo sobre a história da família de Briana Leigh por causa de sua associação com Kaitlynn. Ele não tinha ideia de que Ariana estava disfarçada como Briana, cujo nome ele havia reconhecido.

Tomando uma respiração profunda e limpa, Ariana se levantou e encarou os olhos da diretora.

— Eu nunca ouvi falar dessa pessoa na minha vida, mas ele ainda assim afirma ter alguma conexão prévia e interesse em mim? Isso não levanta suspeitas para você? — disse Ariana.

A diretora piscou, claramente surpresa. — Eu não acho que... — E se é tão importante para você a minha saúde mental, você não devia

então me permitir ver alguém com quem eu me sinta confortável, em vez de um homem aleatório que pode vir a ser um assediador? — Ariana perguntou por entre os dentes.

— Eu não creio que... — Quando eu me inscrevi na escola, a minha avó fez uma generosa doação

para o fundo de educação geral, uma doação que eu pretendia duplicar após a minha formatura — continuou Ariana, — mas se eu começar a sentir que as minhas necessidades não estão sendo satisfeitas aqui, eu talvez tenha que repensar a coisa toda.

Page 93: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

De repente, a mandíbula da diretora caiu. Ela enxugou as palmas das mãos sobre a saia de seu terno e limpou a garganta. Ficou claro pela irritação nos olhos dela que ela sabia que estava sendo manipulada e que ela não gostou.

— É claro que eu nunca iria querer qualquer um dos meus alunos sentindo que suas necessidades não estão sendo atendidas — disse ela, suas palavras cortadas. — Se você acha que prefere ver alguém fora do campus, vamos ver o que podemos fazer.

Lentamente, Ariana sorriu. Eu realmente tenho todo o poder, ela pensou vertiginosamente. — Obrigada — disse Ariana secamente. — Agora, se me der licença.

— Claro. Ariana contornou a diretora, um sorriso triunfante quase dividindo seu rosto.

De repente, a situação com Meloni não parecia assim tão urgente. Ela não ia ter que se encontrar com ele, o que significava que ela tinha acabado de ganhar mais tempo para bolar o plano perfeito para a sua execução. Tudo o que ela tinha que fazer era evitá-lo no campus e ela ficaria bem. Este dia poderia ficar melhor?

Ela viu Maria e Tahira em uma mesa privilegiada, perto de uma das janelas da sacada e acenou, mas hesitou. Havia alguém faltando naquela imagem, e de repente ela sentiu-se mais forte do que nunca para fazer algo sobre isso. Ela levantou um dedo para suas amigas, dizendo-lhes que ela estaria lá em um segundo, em seguida, encontrou uma cadeira vazia e pegou seu telefone.

— Por favor, apenas atenda. Só desta vez — disse ela em voz baixa. Então ela marcou a discagem rápida no celular para Soomie.

Desta vez, a ligação não foi direto para o correio de voz. Na verdade, ele tocou três vezes e, de repente, Ariana ouviu um som tateante, então uma respiração, em seguida, uma voz.

— Ana. Oi. Soomie parecia cansada e distante. Como se ela estivesse falando de outra

galáxia. — Oi! Oh meu Deus, Soomie! É tão bom ouvir a sua voz! — disse Ariana sem

fôlego. Ela agarrou o telefone com força em seu ouvido, como se isso pudesse de alguma forma impedir Soomie de desligar.

— Sim, eu... eu recebi todas as suas mensagens. Me desculpe por não ligar de volta — disse Soomie.

— Tudo bem. Onde você está? Você está bem? — perguntou Ariana, encolhendo as pernas debaixo da cadeira.

— Eu estou... bem. Melhor, eu acho. Estou em Antígua com a minha mãe. Nós nos hospedamos em um spa, onde eles não permitem TV, telefone ou Internet — Soomie respondeu. — Eu estou me escondendo em um armário agora, na verdade.

Ariana teve uma imagem mental de Soomie enrolada em uma bola no chão de uma sala pequena e escura, com cabides de madeira pendurados em cima dela.

— Isso é intenso — disse ela. — Quanto tempo mais vocês vão ficar aí? — Eu não sei — disse Soomie. — É uma estadia em aberto. Minha mãe está

em cima de mim o tempo todo. Ela está, tipo, com medo que eu desmorone ou algo assim. Eu continuo dizendo que a única coisa que vai me fazer desmoronar é ela ficar o tempo inteiro em cima de mim, mas é como falar com uma parede.

Page 94: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ariana riu, e ela ouviu Soomie exalar uma risada também. Isso tinha que ser um bom sinal.

— Mas é bem legal, para ser honesta — disse Soomie. — Não saber o que está acontecendo no mundo real. Não há estresse, não há preocupação. Eu tenho dormido. Bastante.

Porque talvez haja algum “doutor do spa” te tratando com relaxantes musculares, Ariana pensou, mordendo o lábio.

— Isso não soa como você — disse Ariana cuidadosamente. — Você é a pessoa mais ocupada que eu conheço, normalmente.

— Eu sei — disse Soomie, meio triste e melancólica. — Parece que você sente falta disso — disse Ariana, prendendo a respiração. — Eu sei. Quer dizer, eu não... — Ariana ouviu alguns barulhos, e imaginou

Soomie levantando-se do chão. — Eu sinto falta da distração, eu acho. Sempre que eu não estou dormindo, eu estou pensando. Me perguntando o que foi que eu perdi. Algo que eu poderia ter feito.

— Eu passei muito tempo fazendo isso também — Ariana respondeu. Um grupo de meninos mais velhos sentou no sofá ao lado de sua cadeira, e ela virou-se um pouco para longe deles. Quando ela o fez, ela se viu olhando diretamente para Palmer, que estava sentado no canto mais distante, bebendo chá gelado engarrafado com alguns de seus amigos. De repente, uma ideia lhe ocorreu. Uma ideia brilhante que poderia beneficiar a si mesma e a Soomie. — Mas, Soomie, é inútil. Não há como voltar atrás. Sabe o que realmente me ajudou?

— O quê? — perguntou Soomie. — Focar no meu futuro — disse Ariana. Ela brincava com o fecho de sua bolsa,

abrindo e fechando uma e outra vez, a emoção coçando em suas veias. — Eu tenho recebido alguns folhetos de faculdades e tenho tentado fazer minhas escolhas... e eu não sei se você já ouviu falar, mas eu fui eleita a presidente da Pedra e Sepultura.

— Você foi? — Soomie de repente veio à vida. — Ana! Parabéns! — Obrigada — Ariana respondeu, corando. — E, bem, Palmer tem se afastado

muito de tudo, então eu acho que talvez seja necessário eleger um novo vice-presidente — ela continuou lentamente. — Eu acho que você seria perfeita para o cargo.

— Uau. Eu... isso seria genial — disse Soomie. — Você poderia ter tantas responsabilidades quanto quisesse — Ariana

acrescentou, esquentando o assunto. Ela observou Palmer com seus amigos enquanto ela falava, imaginando como ele ficaria surpreso quando ela lhe pedisse para deixar o cargo e sugerisse Soomie como sua substituta. — Eu aposto que se você voltasse aqui e se envolvesse... se você se dedicasse ao seu ano escolar... eu sei que você se sentiria muito melhor.

Houve uma longa pausa. Ariana podia ouvir a respiração de Soomie, e imaginou que ela pudesse ouvi-la considerando, também.

— Além disso, nós sentimos sua falta, Soomie — disse Ariana, baixando a voz um pouco, moderando seu tom. — Maria sente falta de você.... Eu realmente sinto que todas nós vamos passar por isso muito melhor se fizermos isso juntas.

— Ana, Eu... Ariana ouviu a voz de Soomie e achou que ela estava prestes a chorar. Mas,

em seguida, um sussurro furtivo veio.

Page 95: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Merda. É a minha mãe. Eu tenho que ir. — Espere, Soomie. Prometa que você vai pensar sobre o que eu disse —

Ariana sussurrou de volta. — Eu vou. Obrigada, Ana. Tchau. E assim, tudo estava acabado. Ariana terminou a chamada e ficou sentada por

um momento, ouvindo o burburinho das conversas em torno dela e sentindo-se altamente alerta. Ela esperava que Soomie não estivesse se metendo em problemas com sua mãe. Ela esperava que o que ela disse para a amiga tivesse conseguido surtir efeito. Porque ela realmente queria Soomie de volta em sua vida. Mas ela também queria muito substituir seu ex desagradável assim que fosse possível. E o mais importante, uma vez que ela descobrisse como lidar com Meloni, ela queria ter seu séquito firmemente no lugar.

Page 96: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por L. G.

riana ligou seu telefone depois de sua última aula do dia na terça-feira e ele imediatamente emitiu um sinal sonoro, indicando que ela tinha uma nova mensagem. Ela colocou sua bolsa no ombro e caminhou em direção à

biblioteca, segurando o telefone no ouvido. — Senhorita Covington, é o Doutor Victor Meloni. Ariana quase tropeçou em um tijolo irregular na passarela. Ela fez uma pausa

para recuperar o fôlego e olhou ao redor para se certificar de que ninguém tinha notado sua quase queda. Ao seu redor, os alunos corriam das classes em grupos e pares, dirigindo-se para os seus dormitórios, seus clubes ou seus treinos. Ariana respirou fundo e continuou andando, o Dr. Meloni falando sem parar em seu ouvido. Ela simplesmente não podia escapar deste idiota.

— Eu falei com a diretora e eu vou assumir pelo que você falou com ela em sua conversa que você de alguma forma sabe da minha conexão com a assassina do seu pai, Kaitlynn Nottingham — a mensagem continuou. — Eu acreditava que a minha perspectiva única sobre a sua história poderia me permitir ajudá-la de verdade, mas é evidente que você não concorda.

Ariana correu até os degraus de pedra que levavam à biblioteca e parou do lado de fora da porta, recostando-se contra a grade de ferro forjado. Kassie Sharpe passou por ali e lhe deu um rápido aceno, então Ariana fez o seu melhor para lhe dar um sorriso amigável.

Ela não podia acreditar no tom sabe-tudo e condescendente que o Dr. Meloni estava usando em seu correio de voz. Espere. Sim, ela podia. Era o Dr. Victor Meloni, afinal de contas. Alguma vez ele disse alguma coisa que não era sabe-tudo e condescendente?

— Então, a diretora decidiu permitir que você procurasse ajuda de fora e eu, contra o meu melhor juízo, concordei. Porque, senhorita Covington, a coisa mais importante é que você fale com alguém e receba alguma ajuda. Mesmo que este alguém possa não ser a pessoa mais qualificada para o trabalho. No caso de você sentir a necessidade de falar com alguém após esta consulta com outra pessoa, por favor, saiba que a minha porta estará sempre aberta, e eu ficaria mais do que feliz em falar com você por telefone, se isso lhe deixar mais confortável. Tenha um bom dia.

O bip soou, indicando o fim da mensagem. Ariana cerrou os dentes e pressionou o polegar no botão APAGAR até que ela pensou que o telefone pudesse

A

Page 97: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

rachar. Que imbecil. Que completo e indiscutível idiota. O mundo ia ser um lugar muito melhor sem um cara como Victor Meloni contaminando-o com a sua postulação tóxica e personalidade bajuladora.

Mas, pelo menos, o perigo imediato estava oficialmente acabado. Ela não seria forçada a se encontrar com o homem que poderia acabar com a sua existência instantaneamente. Isso era um grande alívio. Mas ele ainda tinha que morrer. Ele era uma ponta solta, um peso morto.

Com outra inspiração profunda, Ariana colocou seu curto cabelo ruivo atrás da orelha e entrou na biblioteca, com a cabeça erguida. Ela caminhou até a parte de trás dos cubículos de estudo e encontrou uma mesa vazia, onde ela rapidamente ligou seu laptop. Seu plano para a noite tinha sido começar a organizar suas anotações para seu teste final de química, mas agora ela sabia que de nenhum jeito seria capaz de se concentrar nesse tipo de tarefa servil. Não até que ela tivesse um plano para tirá-lo de seu caminho primeiro.

Ariana tirou seu casaco, sentou-se e puxou sua cadeira para frente até que sua caixa torácica estivesse pressionada firmemente contra a borda da mesa. Ela soltou um suspiro e empurrou o cabelo para trás de seu rosto com as duas mãos.

Matar o Dr. Meloni ia ser diferente. O homem era mais velho, mais sábio e mais poderoso fisicamente do que qualquer um que ela já tinha lidado antes. Havia tido vezes no passado, tempos que ela precisamente não se orgulhava, quando o assassinato tinha saído do nada. Havia surgido de emoções súbitas e violentas, como quando ela tinha perdido a calma com Thomas Pearson. Ou uma simples e conveniente mudança de destino, como naquele dia em que ela deixou Sergei Tretyakov se afogar no lago perto do campus de Easton. Ela havia planejado o assassinato de Kaitlynn meticulosamente, mas tinha sido necessário. Kaitlynn, como Meloni, era inteligente e intuitiva com grandes reflexos, isso sem mencionar um instinto de sobrevivência assassino. Então Meloni, como Kaitlynn, exigia um plano.

Ariana abriu um novo documento do Word e começou a organizar sua lista de afazeres. Ela digitou rapidamente, olhando por cima do ombro de vez em quando para se certificar de que ninguém estava perto o suficiente para ver sua tela.

Conseguir sua agenda

Visitar sua casa novamente. Verificar: Sistema de segurança Pontos de entrada Evidências de outros residentes Horários de tráfego pesado (provavelmente nenhum) Lugar para estacionar o carro menos visível da estrada

Trabalhar em caligrafia

Aqui, Ariana fez uma pausa e fechou os olhos, pensando de novo na Brenda T. Ela não tinha problema em imaginar a assinatura do Dr. Meloni. Ele havia escrito em cada quadro, cada ordem de prescrição, cada relatório, cada demérito. Mas a maioria dos documentos foi digitado em um computador e depois assinado a mão. Mordendo o lábio inferior, ela abriu os olhos de novo. De jeito algum ela seria capaz de escrever um bilhete de suicídio completo. Mesmo que ela invadisse seu escritório

Page 98: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

no campus, ela estava bastante certa de que ela não seria capaz de encontrar suficientes amostras de escrita para aperfeiçoar sua caligrafia.

— Eu vou ter que digitar, imprimir e assinar em seguida — ela murmurou baixinho. — Isso é o que ele faria, de qualquer maneira.

Ela voltou para sua lista de coisas para fazer na casa dele, e acrescentou: Localização do seu computador? Então ela lembrou uma outra necessidade grave e acrescentou também.

Encontrar a arma dele Se não houver nenhuma arma, comprar uma.

Saber o que é preciso para comprar uma arma legalmente Considerar meios ilegais???

Comprar guloseimas/carne para Rambo para distração Ariana sentou-se na cadeira e soltou um suspiro. Ela estava se sentindo muito

mais calma, mais pacífica do que quando estava escutando a mensagem do doutor Meloni. Tudo isso ia dar certo. Ia ser perfeito, na verdade. A única questão era quando? Quando o Dr. Victor Meloni conhecerá o seu fim?

Sorrindo, Ariana imaginou como a coisa toda iria acontecer. Imaginou o olhar de choque em seu rosto quando ele a reconhecesse. Quão doce isso seria. Ela mal podia esperar.

— Mas você tem que esperar — ela sussurrou para si mesma. — Reed vem primeiro, depois Meloni. Você conseguiu mais tempo. Apenas lembre-se disso. Você tem tempo.

Ariana abriu seu calendário e o examinou. As próximas semanas iam ser tão ocupadas, estudando para as provas finais, com sua grande festa de aniversário, com os eventos da Pedra e Sepultura e se preparando para as férias de Natal. Ela estreitou os olhos enquanto examinava as datas, e finalmente decidiu que tudo poderia esperar pelo menos até depois de sua festa de aniversário na sexta-feira à noite. Ela merecia ter um pouco de diversão livre de estresse. Uma vez que todos os champanhes fossem estourados, todo o bolo fosse devorado, e todos os presentes abertos, então ela poderia lidar com as tarefas atuais.

Tanto a Reed Brennan quanto ao Dr. Meloni havia acabado de ser concedido um descanso temporal, e eles nem sequer sabiam disso. Ariana sorriu, salvou o documento e abriu suas notas de química, sentindo-se como uma santa benevolente — colocando suas próprias necessidades de lado e concedendo às suas vítimas alguns dias preciosos a mais de vida.

Page 99: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

nquanto Ariana levava seus colegas membros da Pedra e Sepultura para a caverna para seu primeiro encontro oficial como presidente, ela tentou aparentar tanta firmeza quanto podia para forçar uma expressão solene no

rosto. Ela fixou os olhos na vela mais próxima do lugar de honra que ela agora ocuparia e olhou para baixo, tentando pensar em coisas sombrias. Pensamentos sobre morte, responsabilidades e privilégios. Mas ela simplesmente não conseguia fazer isso. E parecia que bolhas vertiginosas dançavam dentro do seu peito por toda a tarde levando-a a ter vontade de dar uma gargalhada frenética, e por mais que ela tentasse, ela não conseguia tirar o sorriso ridículo do rosto.

Ela era a Presidente da Pedra e Sepultura. Ela era a Presidente da Pedra e Sepultura!

Agora que ela tinha começado a planejar a morte de Meloni, ela resolveu não pensar mais no Dr. Meloni ou em Reed Brennan. Pelo menos não hoje. Ela queria aproveitar este momento. Ela queria saboreá-lo. Ela não ia deixar que seus antigos inimigos arruinassem uma das maiores realizações de sua nova vida. Conforme ela fazia lentamente o circuito da sala, ela respirou fundo e deixou quaisquer pensamentos negativos se dissiparem rapidamente.

Aquela era a sua noite e somente dela. Ninguém poderia manchar aquela noite. E só para acrescentar mais festa à ocasião, Soomie tinha aparecido no último minuto, juntando-se a procissão. Parecia que as coisas estavam realmente começando a voltar à forma como deveriam ser.

No topo do círculo, Ariana fez uma pausa e olhou. Palmer deveria estar à sua esquerda, mas mais uma vez ele decidiu não aparecer — inconscientemente dando-lhe grande munição para ela começar sua campanha em tirá-lo da vice presidência da Pedra e Sepultura. Em vez disso, Soomie era a que estava à esquerda. Depois estavam April, Conrad, Maria, e assim por diante, até terminar finalmente em Jasper. Ariana olhou para Tahira e Landon, no ponto entre eles que ela costumava ocupar — um local para iniciados humildes e ela se segurou para não rir em voz alta.

Christian Thacker saiu do círculo para fechar as portas pesadas em silêncio. Quando ele voltou para o seu lugar, Ariana levou um momento para saborear a sua posição, antes de falar.

— Nós somos a Pedra e Sepultura! — Nós somos a Pedra e Sepultura! — o grupo respondeu. Ariana sorriu. — Todos podem se sentar.

E

Page 100: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Velas tremeluziam e as vestes brilhavam enquanto os membros se sentavam no chão. Ariana sorriu para Soomie e virou-se para o grupo.

— Antes de iniciarmos a sessão para os novos assuntos, eu só queria dizer obrigada a todos por me conceder a honra da presidência — Ariana começou, revirando os ombros para trás. — Eu aprecio a sua confiança em mim, e eu quero que vocês saibam que eu não vou decepcioná-los.

— Uhul, uhul! — Adam gritou, inspirando uma salva de palmas. Ariana sorriu timidamente e levantou a mão para silenciá-los. — Eu também

gostaria de dar as boas-vindas à irmã Emma Woodhouse de volta de suas férias — acrescentou Ariana. — Nós sentimos sua falta, irmã. Todo mundo está tão feliz em vê-la aqui e saudável.

Outra rodada de aplausos. Soomie corou e olhou para seu colo. — Eu não estaria aqui se não fosse por você, Irmã Portia, e você, Irmã Estella — disse Soomie para Ariana e Maria quando o barulho cessou. Ela olhou para cima e dirigiu-se à sala. — Durante as últimas semanas, as Irmãs Portia e Estella mostraram-me o que a amizade e a dedicação verdadeira realmente significam. Eu estou feliz que todos vocês tenham visto na Irmã Portia as mesmas coisas que eu já vi. E eu estou feliz por estar de volta — ela acrescentou, com os olhos brilhando.

— Estamos felizes em ter você! — disse Maria, se aproximando para um abraço.

— Ohhhh. É como um episódio ruim de The View — Rob brincou, ganhando uma rodada de risadas dos rapazes.

— Existem bons episódios de The View? — Jasper perguntou. — Tudo bem, tudo bem. Vamos encerrar o sentimentalismo — disse Ariana.

— Alguém tem qualquer novo assunto? — Eu, Irmã Portia — Christian disse, levantando a mão. Ele se levantou do

chão e cruzou o círculo para entregar-lhe um bilhete, escrito em um pesado papel de pergaminho de marfim. Ariana reconheceu a caligrafia de Palmer instantaneamente, e seu coração deu uma guinada.

— O que é isso? — perguntou Ariana. Christian deu de ombros. — O Irmão Starbuck pediu-me para dar a você no

início da reunião. Ele rapidamente voltou ao seu lugar. O papel tremeu ligeiramente no aperto

de Ariana enquanto ela sabia que cada par de olhos na sala estava voltado para ela. O que Palmer estava fazendo? Mandando seu amigo passar bilhetinhos no meio de sua primeira reunião oficial? Isto era mais uma tentativa de minar a sua autoridade? Fazendo-a parecer ridícula?

— Acho que ele queria que você lesse em voz alta — disse Christian. Ariana lhe lançou um olhar. Como se isso fosse acontecer. — Eu acho que vou

ler para mim mesma primeiro. Cuidadosamente, ela desdobrou o bilhete. Era bem curto, apenas cinco linhas

e o que ela leu fez seu queixo cair. — O que é isso? — perguntou Soomie. Ariana revirou os olhos e limpou a garganta. — Para a Irmandade da Pedra e

Sepultura — ela leu em voz alta. — Devido aos recentes acontecimentos eu acho que eu sou incapaz de, em sã consciência, continuar minha filiação nesta prestigiada

Page 101: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

sociedade. Por favor, aceitem minhas desculpas sinceras, e aqui reitero e confirmo o meu afastamento. Atenciosamente, Palmer Liriano.

De repente, a sala irrompeu em sussurros e conversas. — Quem renuncia à Pedra e Sepultura? — Ele tem que estar brincando. — Será que ele não percebe que ele se fez inimigo de todos os ex-alunos

membros? Ariana dobrou o bilhete, reforçando a dobra com um deslizamento violento de

seus dedos, em seguida, empurrou-o para April. — Eu acredito que você vai precisar para os nossos registros. April pegou o bilhete e jogou-o em seu caderno, fechando-o. Ariana sentiu sua

pressão arterial subindo lentamente, seu batimento cardíaco vibrando com raiva em seus ouvidos.

Palmer tinha feito isso para puni-la. Era evidente que ele estava tentando mostrar aos outros que ela era tão indigna que ele preferia renunciar à tudo da Pedra e Sepultura apenas para se opor à ela.

Bem, ele que estava perdendo. E, na verdade, ele tinha feito a ela um enorme favor. Palmer saiu. Ela nunca teria que lidar com ele novamente.

— Silêncio, por favor! — Ariana gritou. Demorou algum tempo, mas depois de alguns sussurros dos membros, a

caverna finalmente ficou em silêncio. Ariana respirou longa e profundamente e soprou para fora através de seu nariz. Ela não deixaria a irmandade vê-la suar. Palmer não tinha ideia do que ele estava falando. Ariana merecia estar aqui. Ela era uma sobrevivente. Uma estudante apenas nota A, um membro valioso da equipe de tênis e da revista literária, ela se destacou como candidata da sociedade, e Soomie tinha basicamente creditado ela e Maria por trazê-la de volta.

Ninguém nesta escola merecia ser Presidente da Pedra e Sepultura mais do que ela.

— Bem — disse Ariana, finalmente e calmamente. — Parece que vamos precisar de um novo vice-presidente.

Ela olhou para Soomie e sorriu, olhando para todo mundo como se o bilhete de Palmer e a opinião dele não pudesse ter importado menos.

— Alguém tem alguma indicação?

Page 102: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

em vinda de volta, Soomie! Maria ergueu o copo de água com gás em um brinde enquanto

Ariana e Tahira aplaudiam. Soomie corou e brindou com elas sentadas na mesa no centro de um dos locais favoritos de Soomie em DC, Busboys and Poets. Era um ambiente acolhedor, um grande bar iluminado apenas de um lado, e que tinha uma livraria independente bem abastecida do outro lado, um lugar frequentado por Soomie tantas vezes que ela conhecia os garçons pelo nome.

— Gostaríamos de ter feito algo muito maior e fabuloso se você tivesse nos avisado da sua volta com mais antecedência — lamentou Tahira, tomando seu refrigerante. Ela havia ficado frustrada quando ela tentou pedir um vinho tinto e o garçom começou a rir da sua identidade falsa. A menina ficava fazendo beicinho desde então.

— Na verdade, isso é ótimo — disse Soomie, colocando o copo para baixo. — É perfeito. — Ela respirou fundo. — É bom estar de volta.

— É bom ter você de volta — disse Ariana com um sorriso caloroso. — Obrigada. — Soomie sentou-se um pouco mais reta quando sua salada

chegou. Um grupo estridente de homens vestidos de terno na parte do bar riu alto, e o nível de decibéis no lugar parecia crescer. — E, além disso, parece que estas duas darão a festa da década amanhã, de modo que está tudo bastante fabuloso para mim — disse Soomie, erguendo a voz para ser ouvida acima do barulho.

— Festa da década, hein? — perguntou Ariana, olhando para Maria e Tahira com interesse. — Parece que vocês têm estado trabalhando arduamente.

— Você não tem ideia — disse Maria com um suspiro. Ela pegou uma azeitona da salada, colocou na boca e apontou para Tahira. — Essa aqui é uma máquina de trabalho escravo.

— Tudo por uma boa causa — Tahira respondeu alegremente. — Será que a presidente da Pedra e Sepultura não merece?

Ariana sorriu. Ela amava como todos continuavam relembrando sempre a sua nova posição de poder. Agora que ela fez sua primeira reunião, mais ligações telefônicas e presentinhos chegavam, tudo de antigos membros da Pedra e Sepultura de altos escalões. Depois de receber o caminhão carregado de caixas que o motorista da UPS veio entregar direto na sua porta, naquela manhã, ela era agora a orgulhosa proprietária de um conjunto completo de velas Tocca, dois iPads, um

—B

Page 103: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

novo laptop, um casaco de vison, toda a linha da primavera da Ralph Lauren, e mais bugigangas e joias que ela nem podia contar.

Enquanto suas amigas comiam suas saladas, o telefone de Ariana começou a vibrar ao lado de seu prato. Ela lançou para as meninas um olhar de desculpas e olhou para a tela. Afinal, uma mulher na sua posição não poderia simplesmente ignorar chamadas, mensagens e e-mails. E se fosse algo importante da Pedra e Sepultura? O e-mail era de um nome que ela reconheceu vagamente, e o assunto dizia “Parabéns!”.

Ariana sorriu e clicou na mensagem. Cara Srta. Covington, Estou escrevendo para parabenizá-la por sua ascendência inesperada, mas muito

merecida na posição mais alta da Pedra e Sepultura. Eu ouvi através de alguns comentários seguros que a Universidade de Princeton é sua faculdade escolhida. Como um membro valorizado e de alto escalão da Associação de Ex-Alunos de Princeton, estou escrevendo para que você saiba que eu ficaria feliz em ajudá-la ao longo da entrevista e do processo de candidatura e também escrevendo uma carta de recomendação, quando chegar a hora. Sinta-se livre para contatar-me a qualquer momento.

Atenciosamente, Geralyn Montrose, ESQ Ex-Aluna do Atherton Price Hall Graduada em Princeton — O que é isso? — perguntou Maria, mastigando uma torrada. — Você parece

ter sido liberada das provas finais. — Você foi? — perguntou Tahira, muito séria. — Não. Mas é tão bom quanto — disse Ariana, colocando seu telefone longe.

— Parece que eu não vou ter problemas para entrar em Princeton agora, graças a Pedra e Sepultura.

— E você tinha dúvidas? — Soomie perguntou, espetando um pepino com o garfo. — Você tem uma das mais altas notas da nossa classe.

Ariana levantou os ombros modestamente. — Cada pequena ajuda conta, não é? — Ela segurou uma risada e alisou as mãos sobre o guardanapo no colo. — Mas chega de falar de mim. Esta é a noite de Soomie.

— Então, onde você esteve todo esse tempo, afinal? — Tahira perguntou para Soomie. — No hospício?

— Tahira! — Maria repreendeu. Soomie riu. — Não, na verdade. Eu estava em um spa em Antígua com a minha

mãe. E gente? Nossa, definitivamente nós temos que voltar naquele spa, todas juntas. Aquele lugar era o paraíso.

Enquanto Maria e Tahira bombardeavam Soomie com perguntas sobre suas férias, Ariana leu novamente o e-mail de Geralyn Montrose, mantendo o telefone debaixo da mesa.

Page 104: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela se sentia aérea. Ela iria para Princeton. Ela iria se formar, iria para Princeton e teria a vida que ela sempre quis. A vida que ela merecia. Tudo o que ela tinha a fazer era se livrar de Meloni, e tudo estaria de volta aos trilhos.

Page 105: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

ocê sabia que o meu aniversário é amanhã — disse Ariana enquanto Jasper a levava, com os olhos vendados, através de uma porta e entrando em uma sala silenciosa. A partir dos sons que ela ouvira em

seu caminho, ela tinha certeza de que eles estavam em um hotel — pelo ruído do lobby, o ping suave do elevador e o clique que a chave eletrônica tinha dado — e ela se perguntava se algum dos clientes no andar de baixo havia alertado a polícia para sua situação. Claro que, se ela tivesse sido realmente sequestrada, ela provavelmente não estaria rindo todo o caminho através do lobby.

— Eu sei — disse Jasper em seu ouvido. — E você também sabe que um destes dias você vai ter que parar de me

vendar — ela brincou. Jasper passou as mãos levemente sobre seus ombros, empurrando seu casaco

para o chão. A respiração de Ariana parou quando o casaco roçou seus tornozelos. — Oh. Mas é muito mais divertido — Jasper sussurrou, enviando arrepios por

todo o corpo de Ariana enquanto ele levemente beijava seu pescoço. Ele virou-a e a levou mais alguns passos para a sala, em seguida, tirou a venda

de seus olhos. Demorou alguns segundos para os olhos de Ariana se adaptarem, mas quando o fizeram, sua respiração realmente parou. Em frente a ela havia uma enorme janela, com vista para a Colina de Capitol. A cúpula do edifício do Capitol brilhava à distância, iluminada como um farol branco brilhante. Mas aquela visão não era o único espetáculo. Disposta em frente da janela havia uma pequena mesa de jantar com uma toalha de mesa de linho e várias bandejas de prata, cobertas por cúpulas de cristal. Os aromas de alho e alecrim preencheram os sentidos de Ariana, e ela viu uma cesta de biscoitos e pães no centro.

— Como você...? — Minha mãe me disse o quanto você sente saudades da comida da sua mãe

— disse Jasper. — Eu sei que isso não é exatamente o mesmo, mas... — Jasper — disse ela, virando-se para encará-lo. — Isso é incrível. — Feliz aniversário — Jasper respondeu, inclinando-se para um beijo longo e

persistente. Ariana sorriu, seus lábios zumbindo. Ela não poderia ter pedido por uma noite

mais perfeita. Não havia lugar no mundo que ela preferia estar do que ali com Jasper. Mas, enquanto ele pegava suas mãos, seu coração bateu de repente com medo do desconhecido. No sábado ela ia começar a colocar seus planos em ação.

—V

Page 106: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Depois de tudo que foi dito e feito, ela tinha que estar a salvo, a salvo de ser descoberta, a salvo de Meloni, a salvo de tudo. A menos que algo desse errado. Se algo desse errado...

Ela não podia sequer pensar nessa alternativa sem estremecer. — Você está com frio? — perguntou Jasper, passando os braços em volta

dela. Ela balançou a cabeça e olhou para baixo, de repente oprimida, com medo de

sua voz se quebrar se ela tentasse falar. Ela simplesmente não podia suportar a ideia de ter que dizer adeus a Jasper.

Ariana deu um longo suspiro e soprou para fora. — Eu estou bem, de verdade. É só que... você não tinha que fazer tudo isso.

— Claro que tinha — disse ele levantando os ombros. — Eu te amo. Ariana engoliu em seco e olhou fixamente em seus olhos. — Quanto? Jasper piscou, surpreso, mas sorriu. — Eu faria qualquer coisa por você. Você

sabe disso. — Qualquer coisa? — perguntou Ariana. Ele ajustou os braços em sua cintura, puxando-a ainda mais perto. Sua testa

pressionou contra a dela. Seus narizes se tocaram. Ela podia sentir o cheiro de menta em seu hálito.

— Eu iria até o fim do mundo por você, Briana Leigh Covington. O coração de Ariana expandiu com o calor. Seu sorriso aumentou, assim como

as lágrimas que ameaçavam transbordar. Ele não poderia ter dito nada mais perfeito. Ela inclinou a cabeça e tocou seus lábios nos dele, a princípio lentamente. Mas ela logo descobriu que não podia controlar suas emoções e ela começou a pressionar cada vez mais, agarrando-se a ele tão firmemente quanto pôde. Esperando que nunca tivesse que deixá-lo.

A mão de Jasper moveu-se por suas costas e seu cabelo, segurando a parte de trás de sua cabeça. Ela empurrou sua jaqueta de seus ombros e ele a jogou no chão, levando-a para trás em direção à cama. Sem desprender os lábios dos dele, Ariana caiu de costas, puxando-o com ela, e chutou seus sapatos para fora dos pés. Jasper abriu o zíper de seu vestido, ela desabotoou a camisa dele, ele deslizou suas mãos debaixo de sua saia, ela agarrou sua cintura nua com os dedos famintos.

— Espere — Jasper disse de repente, se afastando. — O quê? — Ariana engasgou. Seus lábios estavam inchados e sua pele

latejava. — Você não quer parar, não é? — Não, eu só... a sua comida. Vai ficar fria — disse ele, com a testa franzida. — Dane-se a comida — Ariana respondeu. Jasper sorriu e ela puxou seu peito nu contra o dela, esquecendo todo o resto

— Meloni, Reed, o futuro — e entregando-se inteiramente a Jasper Montgomery.

Page 107: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

spere até você ver dentro! — Maria exclamou, praticamente arrastando Ariana e Jasper para as portas duplas do clube que Tahira tinha alugado para a festa de aniversário. — Nós nos superamos

completamente. Ariana tremeu com antecipação dentro do seu casaco de cashmere branco

enquanto Jasper apertava sua mão. Ela podia ouvir a batida da música pulsando de dentro, e um grito de emoção flutuava no ar frio da noite. Por um momento, ela parou no limiar, deixando Jasper chegar até a porta. Era isso. Aquele era o início da maior noite de sua vida. Ela olhou em volta, admirando o céu estrelado, as luzes cintilantes decorando as árvores no pátio do terraço, o cheiro fresco de pinho que pairava no ar, e era exatamente como ela gostava.

Essa iria ser uma boa noite. — Mademoiselle? — disse Jasper, arqueando as sobrancelhas e gesticulando

educadamente à porta aberta. — Sua festa a aguarda. Ariana sorriu e entrou. Passando por um guarda-volumes e algumas cortinas

de veludo grossas, o clube cavernoso se abriu diante deles. A respiração de Ariana imediatamente desapareceu. Cada singela superfície estava coberta de espelhos e cristais claros de todas as formas e tamanhos. Eles brilhavam nas paredes e estavam pendurados no teto em cabos e faixas. As mesas de coquetel, ao longo da sala, foram enfeitadas com toalhas de mesa prateadas e as centrais estavam cheias de joias cintilantes. Centenas de pessoas lotavam a pista de dança, segurando suas taças de champanhe no alto, divertindo-se com a enorme elegância de tudo.

— Feliz aniversário, Ana! — Soomie exclamou, correndo e jogando os braços em volta do pescoço de Ariana. Ela usava um vestido de saia rodada cinza escuro e saltos pretos e parecia relaxada e feliz quando se afastou. — Uau. Você está... radiante esta noite.

— Eu me sinto radiante — Ariana respondeu com uma risada. E era verdade. Esta noite nada e ninguém poderia tocá-la. Esta noite, ela era a estrela.

— Você gostou? — perguntou Tahira, aparecendo do outro lado de Ariana. Enquanto o vestido de Soomie era elegante, Tahira estava mais vestida para o tapete vermelho do MTV Video Awards. Ela usava um vestido prata decotado e curto, e os saltos mais altos que Ariana já tinha visto, os dedos dos pés incrustados com diamantes. — O tema é On the Rocks — Tahira anunciou, espalhando os dedos.

—E

Page 108: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Eu amei — exclamou Ariana. — É como se a festa fosse dentro de um diamante.

Jasper deslizou o casaco de seus ombros, expondo o chique vestido azul marinho por baixo. Maria tirou o próprio casaco de vison para revelar um vestido negro, que ia do seu pescoço e passava raspando pelos joelhos, os fazendo parecer incrivelmente magros. Jasper, como o cavalheiro que era, correu até o guarda-volumes com os casacos e bolsas das duas meninas.

— Essa era a ideia! — Tahira gritou, os olhos arregalados. — Feliz aniversário, Ana! — Ela agarrou Ariana em um abraço apertado e deu-lhe dois enormes beijos no ar.

— Muito obrigada, Tahira. E você, também, Maria — disse Ariana, pegando a mão de Maria. — Isto é como um sonho se tornando realidade.

— Me desculpe, eu não estava aqui para ajudar a planejar, mas é evidente que elas não precisaram de mim — disse Soomie.

— Estou feliz que você esteja aqui esta noite — Ariana assegurou. — Eu não poderia ter pedido um presente melhor.

Soomie sorriu, mas Tahira zombou. — Sim, espere até ver a mesa de presentes — disse Tahira, inclinando-se em direção a sua orelha. — Você vai pensar diferente.

— Sério? — perguntou Ariana com os olhos brilhantes conforme ela imaginava as pilhas e pilhas de presentes embrulhados elegantemente, todos com seu nome neles.

Obrigada, Briana Leigh, por ter nascido em dezembro, Ariana pensou feliz. A festa era exatamente o tipo de distração que ela precisava e o tipo de celebração que ela sabia que merecia.

— Bem? Você está pronta para receber o seu público? — perguntou Jasper, esfregando as mãos quando voltou para o lado dela. Seu elegante terno preto cabia-lhe perfeitamente, e a gravata azul claro fazia seus olhos parecem ainda mais azuis que o habitual. Ele penteou o cabelo para trás de seu rosto e parecia respeitável e sofisticado, o acompanhante perfeito para a noite perfeita.

— Prontíssima — Ariana respondeu. Maria empurrou seus longos cabelos castanhos para trás dos ombros. —

Então vamos fazer isso, aniversariante. Ariana sorriu e caminhou com as amigas para o salão principal. — Então permita-me dizer-lhe como funcionam as coisas — Maria ofereceu,

enganchando o braço em volta de Ariana. Ela acompanhou-a para dentro do salão, onde alguns dos amigos de Ariana da escola gritavam saudações e gritavam: — Feliz aniversário!

— Claramente, esta é a pista de dança, mas podemos ficar lá em cima também, se você quiser fugir do caos por alguns minutos. — Maria apontou para dois conjuntos de escadas na parte de trás do salão, que levavam em direções opostas, para uma área em cima da galeria. — Então, lá fora, nós temos o deque ao ar livre, com vista para a água. — Ela se moveu rapidamente para fora da pista de dança, arrastando Soomie, Tahira e Jasper em direção a uma parede de vidro com várias portas fechadas claras para impedir o frio de entrar. — Como você pode ver, há uma banheira de água quente lá fora. Nós já estamos fazendo apostas sobre quem vai ficar bêbado o suficiente para ser o primeiro a mergulhar profundo.

Page 109: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Aposte em mim! — Tahira gritou, erguendo o braço. — Eu não vou nem precisar estar bêbada.

Ariana rachou de rir. — Obrigada pelo aviso. — Esta festa fica melhor e melhor — Jasper brincou. — E espere até ver o seu bolo de aniversário! — Soomie exclamou,

levantando todos os dez dedos. — É incrível. — Eu mal posso esperar — Ariana respondeu. — Então? O que você quer fazer primeiro? — perguntou Jasper, colocando o

braço em volta da cintura dela. Ariana esquadrinhou o espaço, olhando todos os rostos felizes, os corpos

girando, as luzes cintilantes, os cristais brilhantes. Ela sentia-se tão tonta que poderia estourar como uma garrafa de Taittinger.

— De repente, tudo que eu quero fazer é dançar — disse ela com um sorriso. — Uuu-hul! — Tahira aplaudiu, jogando os braços sobre a cabeça. Jasper pegou a mão de Ariana, enquanto os outros riam. — Seu desejo é uma

ordem. Depois de mergulhar na multidão, Ariana descobriu que chegar ao centro da

pista de dança fora mais fácil que ela pensara. Todo mundo saiu do caminho da convidada de honra e sua comitiva, e em pouco tempo, ela estava se movendo na batida com seus melhores amigos e namorado ao seu redor. Logo, Adam, Landon e Rob se juntaram a eles, e Ariana sorriu mais cada vez que sua comitiva crescia. Ela podia sentir os olhos da multidão sobre ela, e ela nunca antes havia recebido tanta atenção. Tudo estava como deveria ser.

Esta era a sua noite. Ela era a garota mais sexy em uma das escolas de maior prestígio do mundo. Todo mundo sabia o nome dela. Todos queriam estar perto dela.

A vida era perfeita. Em seguida, ela abriu os olhos. E todo o mundo parou de girar. Ali, bem ali, de

pé no topo da pista de dança examinando a multidão, estava o Dr. Victor Meloni, em carne e osso. Ariana congelou e levou uma cotovelada de Tahira.

— Ai! — Ariana deixou escapar, mais alto do que o estritamente necessário. Ela agarrou o pulso de Tahira e puxou-a para longe dos outros, lutando contra a multidão para chegar à mesa de presentes que estava impressionantemente abastecida. Ela se escondeu atrás de uma enorme caixa da Kate Spade e pressionou suas costas contra a parede.

— Eu sinto muito! Deus! Qual é o problema? — Tahira assobiou. — O que ele está fazendo aqui? — perguntou Ariana, ficando na ponta dos

pés para ver por cima da pilha de presentes. Meloni estava se movendo lentamente em torno da parte baixa do salão agora, estudando todos os rostos das pessoas na pista de dança.

Tahira se virou, viu Meloni, e cerrou o rosto em desgosto confuso. — Eu não tenho ideia — disse ela. — É meio patético, não é? Ele entrando de penetra? Sendo que nem sequer há outros adultos aqui.

— Tahira, foco! — disse Ariana através de seus dentes. — Como é que ele poderia saber sobre isso?

Tahira ergueu os ombros e os deixou cair drasticamente. — Eu não sei! Eu poderia ter dito algo em nossa sessão de terapia sobre o planejamento da sua festa

Page 110: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— você sabe, para lidar com a minha dor, me jogando em um projeto. Ele parecia impressionado, na verdade. Eu...

Ariana gemeu e agarrou seu braço com força. Ela fechou os dedos e apertou, tentando o máximo que podia mantê-los juntos.

— Qual é o problema? Você quer que eu peça a ele para sair? — disse Tahira, voltando-se para o lado. — Porque o que a aniversariante quer, a aniversariante recebe!

Por uma fração de segundo Ariana quase concordou com o plano. Ela deixaria Tahira ser o segurança. Mas então ela percebeu que era inútil. O Dr. Meloni estava aqui porque sabia que iria finalmente obter um vislumbre da indescritível Briana Leigh Covington, e ele não iria sair até que o tivesse — e provavelmente a encurralaria depois.

— Não, está tudo bem — disse Ariana. Do outro lado da pista de dança, alguém tinha parado Meloni para conversar, e ele agora estava de costas para ela. — Eu só vou correr para o banheiro para me refrescar e, talvez, dizer olá para algumas pessoas. Eu já volto.

— Tudo bem — disse Tahira. Ela deu de ombros mais uma vez, voltando para a multidão de dançarinos.

Ariana levou um momento para respirar. Merda, ela pensou. Merda, merda, merda. Não era desse jeito que as coisas deveriam estar acontecendo. Ela deveria ter

mais tempo. Ela tinha todo um plano, que ela ainda iria executar. Ariana estreitou os olhos no momento que Meloni se separou de sua conversa e retomou a sua busca deliberada na festa.

— Dane-se — disse ela em voz baixa. — Eu posso fazer isso. Então, ela se virou e pegou a rota mais escura e camuflada para o guarda-

volumes, onde pegou sua bolsa e casaco. Ela fez o seu caminho para fora e entregou o bilhete para o manobrista.

— Espere. Meu carro está ali — disse ela, apontando para o Porsche. — Apenas me dê as chaves.

O rosto do manobrista hesitou. — Mas, eu ainda tenho que... — Apenas me dê as chaves! — Ariana exigiu. Ele entregou-lhe as chaves, com a mão trêmula. Ariana entrou no carro, mais

irritada em ter que deixar sua própria festa do que qualquer outra coisa. Assim que ela estava em segurança atrás do volante e o motor ligou, ela pegou o telefone e discou o número do telefone do Dr. Meloni.

Levou alguns toques para que ele atendesse, e quando o fez, a primeira coisa que ela ouviu foi a música. O Dr. Meloni estava em sua festa de aniversário agora e ela não estava. Que injustiça era essa?

— Olá? Ariana respirou fundo e fechou os olhos. — Dr. Meloni? — disse ela,

levantando sua voz e adicionando um sotaque texano. — É o Dr. Meloni? — Sim, é. — O ruído de fundo desaparecia gradativamente agora. Ele estava

se afastando da pista de dança. — Com quem estou falando? — Dr. Meloni, é Briana Leigh Covington — disse Ariana, infundindo sua voz

com emoção, elevando-a.

Page 111: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Senhorita Covington! Estou em sua festa de aniversário agora. Onde você está? — ele disse.

Ariana apertou sua mandíbula por um momento antes de responder. — Eu... Eu não podia fazer isso. Eu não poderia enfrentar todas essas pessoas. Hoje não. Eu preciso de alguém para conversar, doutor. Imediatamente. Hoje à noite.

— É claro! — Ele parecia feliz, o idiota. Exultante, na verdade. Porque ele tinha ganhado. Ele acabou sendo o certo. As unhas de Ariana cravaram na pele de sua coxa.

— Podemos nos encontrar em algum lugar privado? Em algum lugar longe do campus? Eu não posso mais ficar aqui. São muitas lembranças. Muitos fantasmas — disse Ariana, parecendo chorosa.

— É claro, é claro. Podemos nos encontrar na minha casa. Eu vou dar-lhe as instruções.

Houve um silêncio mortal por trás de sua voz agora. Ele provavelmente estava pegando seu casaco.

— Eu tenho um GPS — disse ela, sem rodeios. — Apenas me dê o endereço. Ele o fez, e Ariana olhou para a porta da frente do clube. Não era como se ela

precisasse anotar. Há muito tempo ela tinha memorizado a rota. Segundos depois, Meloni saiu pela porta da frente e entregou o seu bilhete para o manobrista.

— Eu estarei lá em meia hora — disse ela, olhando para ele através da janela lateral de seu Porsche.

— Ótimo. E senhorita Covington? Fico feliz que você ligou — disse ele. Aposto que sim, Ariana pensou. — Eu também — disse ela com um pouco de esforço. Então, ela terminou a

chamada. O manobrista trouxe o carro do médico para perto. Ele entrou e bateu a porta,

com um sorriso de gato Cheshire no rosto. Ariana desejou poder caminhar em direção a ele ali mesmo e atirar diretamente na parte frontal do crânio dele. Mas ela não tinha nenhuma arma, e, além do mais, havia muitas pessoas ao redor.

Ariana abaixou em seu banco, esperando o Dr. Meloni dirigir e ir embora. Quando seu SUV passou rugindo por ela, ela imaginou-se dirigindo o carro em marcha a ré e atingindo-o. Ela queria ver seu corpo atravessar o para-brisa, ou arrancar seu corpo sem vida para fora do vidro quebrado, jogá-lo no asfalto, e correr sobre ele várias vezes com seu próprio carro, deleitando-se com o barulho de cada osso, de seus órgãos vitais, os lagos e rios de sangue. Mas já que ela não possuía nenhuma força sobre-humana, e já que esse sonho era irrealista, ela decidiu simplesmente respirar.

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Em vez disso, ela se deu o conforto em saber que pelo menos o muito sem

noção Dr. Meloni estava indo em direção a sua morte, e, em cerca de uma hora, ela estaria voltando para a sua festa.

Page 112: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

o quintal atrás da casa do Dr. Meloni, Rambo latia, e cada grito estridente era como uma alfinetada nos nervos de Ariana. Ela ficou na frente da quarta janela na lateral da casa, fazendo uma oração silenciosa que essa daria em

algo diferente, ao contrário das três primeiras, então pressionou os dedos no vidro e o empurrou para cima. A janela deslizou, abrindo silenciosamente. Ariana sorriu. Finalmente. Ela estava dentro.

Ela adentrou pela janela e cuidadosamente baixou os pés no chão do que parecia ser um quarto de hóspedes. Lentamente, se arrastou até a porta e escutou. A voz de Meloni. Ele já estava no telefone. Ela havia lhe dado dez minutos para se instalar antes de sair de seu carro e rastejar ao redor da casa, mas é claro que ele não podia simplesmente esperar por ela. Aquele homem sempre tinha que estar fazendo alguma coisa, qualquer coisa, para se sentir importante. Ariana girou a cabeça ao redor e viu que, no final de um longo corredor, havia uma porta entreaberta, onde uma suave luz amarela saía de dentro.

Ariana respirou fundo e se preparou. Era isso. O momento da verdade. Ela, na ponta dos pés, caminhou até o fim do corredor e permaneceu em

frente a porta, saboreando o momento. Talvez não fosse desse jeito que era para acontecer, mas estava acontecendo. Ela poderia muito bem deixar-se apreciá-lo. O Dr. Meloni estava tão deliciosamente alheio. Ele não tinha ideia de que ela estava aqui. Ele não tinha ideia do que estava prestes a acontecer.

— Mas é exatamente por isso que você precisa tomar algum tempo para pensar — o Dr. Meloni disse urgentemente, do outro lado da porta de carvalho. — E não há nenhuma razão boa o suficiente para considerar tirar sua própria vida.

Ariana cerrou os dentes e revirou os olhos fechados. Ele estava ao telefone com um paciente. E isso era exatamente coisa dele, tentando dizer às pessoas o que eram boas razões e o que eram razões ruins — agindo como se ele soubesse tudo sobre tudo e tudo fosse preto e branco. O que ele realmente sabe sobre a pessoa do outro lado da linha? Os dedos de Ariana cerraram dentro de suas luvas de couro pretas.

Em quinze minutos, você estará voltando para seus amigos, para Jasper, para a sua festa e para sua vida, Ariana disse a si mesma, respirando longa e calmamente. Apenas enfrente isso e tudo ficará bem.

O Dr. Meloni desligou o telefone e soltou um suspiro. O pulso de Ariana acelerou a um ritmo alarmante, mas de repente, ela viu tudo ao seu redor de forma

N

Page 113: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

mais clara. Só assim, sua adrenalina trouxe foco. Ela apertou os lábios e empurrou a porta. Ela nem sequer tentou esconder o rosto.

O Dr. Meloni olhou para cima de sua mesa com um sobressalto. Seu queixo caiu e seus olhos se arregalaram em choque. Todo o sangue do seu rosto, das têmporas, para as bochechas até o queixo foi drenado. Mesmo com seu novo cabelo, e mesmo pelo fato de que ela deveria estar morta, ele claramente a reconheceu.

— Você — ele resmungou. Ariana deu um passo para dentro da sala e sorriu. — Sentiu minha falta? O médico pegou o telefone. Ariana saltou para frente, arrancou a luminária de

leitura do canto de sua mesa, derrubando um copo cheio de canetas e lápis, e virou tão rápido quanto pôde. A pesada base de metal atravessou sua mandíbula, lançando um jorro de sangue sobre a parede onde se exibia seus preciosos títulos — dispostos da mesma forma que haviam estado em seu escritório na Brenda T. — com grossas manchas vermelhas. O telefone escorregou de sua mão e ele caiu, batendo com o queixo na borda da mesa. Sua cabeça virou para trás e ela ouviu o estalo revelador de sua espinha se quebrando. No momento em que seu corpo pesado caiu no chão, seus olhos rolaram em seu crânio. No início, um braço dele entortou sobre o braço da cadeira de couro, mas depois, muito lentamente, ele escorregou e caiu sobre a madeira dura com um baque.

Com o peito arfando, Ariana caminhou lentamente em torno do fim da mesa. O Dr. Meloni estava enrolado em um ângulo não natural, sangue escorrendo de sua boca para o chão. Ela jogou a luminária e o segurou pelo pescoço, em seguida, se agachou sobre seus pés, deixando escapar um divertido bufo zombador.

— Isso foi quase decepcionante — disse ela com um sorriso de escárnio. De repente, os olhos do médico se abriram. Ele pegou um abridor de cartas

dourado no chão, soltou um grunhido molhado e gutural, e o balançou. Ariana sentiu a dor aguda em suas costas antes mesmo de registrar o fato de que ele tinha se movido. Ela gritou, levantou a luminária acima da cabeça com as duas mãos, e a levou para baixo com todo o seu peso corporal na parte frontal do crânio do Dr. Meloni. Instantaneamente, ele caiu novamente. Quando Ariana, trêmula, levantou a luminária, toda a frente de sua cabeça fora esmagada para dentro. Havia sangue por toda parte, e ele se fora. Verdadeira e totalmente se fora.

Ariana tentou respirar, mas seus pulmões falharam. Ela colocou a mão enluvada sobre a ferida e ela voltou coberta de sangue. Ela deveria fazer isso sem deixar qualquer evidência, mas agora... agora não havia nenhuma maneira de ter certeza de que um pouco do sangue sobre o chão não era dela.

Seus olhos se encheram de lágrimas de raiva, quentes, enquanto ela olhava em volta, trêmula, tentando decidir o que fazer. Ela teve um vislumbre do abridor de cartas dourado, brilhando com as luzes do teto. Estava embebido com seu sangue. Quando ela estendeu a mão para pegá-lo, ela sentiu a ferida abrir ainda mais e ela fez uma careta. Algumas gotas de sangue escorregaram de seu vestido e caiu no chão.

— Oh, Deus. Oh Deus, oh Deus, oh Deus — Ariana chorou. Ela empurrou o abridor de cartas no bolso do casaco e usou sua manga para tentar limpar as gotas. Ela só conseguiu espalhá-las para as tábuas de madeira granulosas.

Page 114: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Isso não está acontecendo — Ariana sussurrou com a voz rouca. — Isso não está acontecendo.

Estendendo a mão para agarrar a mesa, Ariana arrastou-se para ficar de pé. A dor em suas costas era insuportável, e ela estava começando a se perguntar se Meloni não tinha atingido algo importante. Ela lutou para respirar e tentar pensar. O que isso significava? O que ela precisava fazer?

Pense, Ariana. Apenas pense. Quando a polícia chegasse, como eles eventualmente iriam, não encontrariam

quaisquer impressões digitais, mas encontrariam sangue. Quando eles testassem o sangue, não seriam capazes de identificá-lo como sendo de Briana Leigh Covington, mas seriam capazes de combiná-lo com o arquivo criminal de Ariana Osgood. Isto iria, naturalmente, atrasá-los por um tempo. Era para Ariana estar morta. Mas o DNA não mentia e, eventualmente, eles iriam descobrir que Ariana tinha forjado sua própria morte. Descobririam que ela havia assumido uma nova identidade. Colocariam fotos dela em todos os lugares. Eles iriam procurá-la, e como Meloni havia trabalhado atualmente em Atherton-Pryce Hall, certamente seria a primeira parada.

Ela tinha que sair dali. Tão rápido quanto fosse possível. Ela tinha que dar o fora de Washington, fora dos Estados Unidos.

Era hora de dar no pé. Tomando alguns passos hesitantes em direção à porta, Ariana descobriu que

não podia se mover muito sem sentir dor. Ela pegou o cachecol de Meloni, que estava em um gancho ao lado da porta, e o apertou contra a ferida, estancando o fluxo de sangue. Ele a ajudou a se mover um pouco mais livremente, assim ela foi capaz de empurrar a porta com o pé. Ela abriu a conexão com a Internet em seu celular e navegou diretamente para a página do Aeroporto Internacional. Ariana já tinha reservado bilhetes para Emma Walsh e Jasper Montgomery em um voo às três horas para Portugal, além de um ótimo, mas sem ostentação, quarto de hotel em Lisboa. Tudo o que ela tinha que fazer era apertar em CONFIRMAR.

De pé no corredor, os olhos de Ariana pararam numa pilha de correspondência que estava sobre uma pequena mesa. O envelope no topo brilhou à luz, revelando o logotipo de Atherton-Pryce Hall. Seu coração apertou com tanta força que ela cambaleou para o lado, e teve que abraçar-se na parede distante. De repente, os últimos meses pareceram um sonho. Conseguir um lugar na prestigiosa escola. Fazer todos aqueles amigos incríveis. Ganhar o concurso da Semana de Boas-Vindas e se mudar para a Casa Privilege. Estar com o cara mais cobiçado no campus. Planejar com os potenciais membros e marcar pontos na sua sociedade secreta. Ser eleita presidente da Pedra e Sepultura. Apaixonar-se por Jasper. Ter uma forma de ingresso garantida para Princeton. Fazer tudo o que ela sempre quis. E agora, ela teria que deixar cada pedacinho ir.

Cada pedacinho disso, exceto Jasper, ela lembrou a si mesma conforme começava a descer o corredor, com as pernas tremendo. Você pode ter que desistir do futuro que sempre quis, mas, pelo menos, com Jasper, você vai ter algum tipo de futuro.

Ela caminhou pela porta da frente e saiu para o frio, onde os latidos de Rambo ainda dividiam o ar. Xingando o Dr. Meloni baixinho, pela última vez, ela mancou no caminho em frente à entrada o mais rápido que podia.

Page 115: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Manoel Alves

riana pisou nos freios de seu Porsche prata fora do clube e um dos manobristas saltou para abrir a porta. Ela se levantou e saiu, ainda segurando o cachecol de Meloni debaixo de seu casaco. Quando ela tentou

ficar de pé, um relâmpago de dor atravessou seu abdômen, e ela se viu desigual à tarefa. Ela inclinou-se com força na porta, praticamente se dobrou, e tentou parecer como se estivesse simplesmente relaxando.

— Boa noite, senhorita — disse o manobrista com um sorriso, segurando a porta do carro para ela.

— Eu não quero que você o estacione — disse ela, uma gota de suor escorregando pelo seu rosto. Ela dobrou o casaco por cima do vestido, o tecido dobrado estava completamente encharcado de sangue. A dor estava ficando insuportável. Ela tinha que encontrar Jasper e fazer com que ele cuidasse dela, ou ela iria acabar em um hospital, o que seria a coisa pior possível. — Eu preciso que você me faça um favor.

— Tudo bem — disse o rapaz, claramente confuso. Ela puxou o telefone e exibiu uma imagem de Jasper. — Tá vendo esse cara? Ele acenou com a cabeça. — Ótimo. Vá para dentro e traga-o para mim — ordenou Ariana. Em seguida,

ela caiu de costas no assento de couro. O manobrista hesitou. — Hum... Eu não estou realmente certo se eu deveria

deixar o meu posto. Ariana puxou uma nítida nota de cem dólares de sua carteira e entregou a ele.

Seus olhos se arregalaram em descrença. — Vá. — Sim, senhorita. Ele correu para dentro, deixando a porta bater atrás de si. Ariana recostou-se

na cadeira, as nuvens de vapor do escape subindo contra o ar da noite, e fechou os olhos. Imaginou todos os seus amigos lá dentro, dançando, comendo, bebendo, se perguntando onde ela tinha ido, supondo que ela estava em outra parte do clube. Imaginou o quão confuso seria quando finalmente percebessem que ela havia abandonando sua própria festa, quão devastador seria quando eles percebessem que ela tinha ido embora de APH inteiramente. Ela ainda não decidira se iria ou não deixar-lhes uma nota. Certamente seria a coisa certa a fazer — lhes dizer que ela simplesmente decidira desistir e mudar-se para a Europa. Isso os impediria de se preocuparem de que ela estava morta, e, provavelmente, manteria Soomie fora do

A

Page 116: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

hospício. Mas será que iria ajudar ou prejudicar a sua causa com a polícia? Parte dela pensava que iria ajudar, porque se ela simplesmente desaparecesse, eles iriam desconfiar dela. Mas parte dela pensava que iria doer, porque iria deixá-los saber do seu plano.

Talvez ela pudesse dizer-lhes que ela estava indo para a Austrália, ou Havaí ou África. Abandoná-los por um tempo, pelo menos.

— Ana? Os olhos de Ariana abriram ao som da voz de Jasper. Ele pairou ao lado de sua

porta, as bochechas rosadas com o frio. Ela nunca tinha visto nada tão perfeito antes em sua vida.

— Ei — ela disse fracamente. Jasper se agachou ao lado da porta aberta. — Você está bem? Você está

doente? — Eu... Ariana se moveu e o cachecol caiu debaixo de seu vestido, coberto de sangue. — Deus, Ana! Você está ferida — ele sussurrou asperamente. — Não é tão ruim quanto parece — ela disse a ele, empurrando-se para cima

em linha reta. — Nós temos que levá-la a um hospital. — Jasper se atrapalhou com seu

telefone. — Não. — Ela agarrou seu pulso com tanta força que ele congelou. — Jasper,

não. Lembra de ontem à noite? O que você me disse? A testa de Jasper franziu. — O que eu disse...? — Sobre você ir até o fim do mundo por mim? — Ariana rebateu. Seus olhos registraram uma perfeita clareza. — Claro. — Bem, eu tenho que ir. Eu tenho que sair do país. Agora. Hoje à noite —

disse ela furtivamente. — Eu vim aqui para pedir para... você vir comigo. Jasper se inclinou para trás em seus calcanhares. — Você... Você não pode

estar falando sério. Ariana sentiu suas palavras dentro de seu coração como mil pequenas adagas.

— Mortalmente sério. — Ela pegou sua mão e apertou. — Jasper... Por favor. Eu preciso de uma resposta. Você vem comigo ou não? Eu tenho um quarto de hotel em Lisboa. Nós podemos estar lá bem cedo amanhã. Poderíamos começar uma nova vida. Um lugar onde ninguém me conhece... nos conhece.

Ariana percebeu que ela estava divagando e mordeu o lábio inferior. — Então. Você vem? — Ok, você está me assustando — disse Jasper. — Apenas me diga o que está

acontecendo. A boca de Ariana endureceu em uma linha fina. Jasper quase nunca falava tão

coloquialmente. — Você está enrolando. Seus olhos se arregalaram. — O quê? Não? Eu só... você está sangrando e

falando de sair do país como uma espécie de fugitiva, e não tenho certeza que você está pensando direito. Deixe-me ajudá-la de alguma forma e nós...

Ele começou a se levantar, mas Ariana segurou sua mão e puxou-o de volta para baixo novamente.

Page 117: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Jasper, não há tempo. — Ela olhou diretamente em seus olhos. — Eu sei que isso é pedir muito, mas eu também sei que você me ama. E porque eu te amo, eu vou lhe dar algum tempo para pensar sobre isso. Só que... Não muito.

Ela deixou-o ir e ele levantou-se, apoiando-se o suficiente para ela bater a porta do carro. Seu dedo tremia quando ela apertou o botão para baixar a janela.

— Se você quiser ficar comigo, me encontre no Terminal A no Ronald Reagan Internacional em quatro horas. E traga o seu passaporte.

— Ana... por favor. Vamos falar sobre isso — disse Jasper, seu nariz ficando vermelho com o frio. — Diga-me o que está acontecendo.

— Eu não tenho tempo, Jasper — disse ela, balançando a cabeça, tentando impedir as lágrimas de transbordarem. — Você vai ter que decidir isso por conta própria. E, por favor, apenas... não diga a ninguém que me viu aqui fora.

Então, ela fechou a janela, colocou o carro em marcha, e se afastou. Ela deu a Jasper uma última olhada no espelho retrovisor quando chegou à beira do estacionamento.

A dor súbita no seu coração quase a sufocou. Esta não podia ser a última vez que ela o veria. Ela não conseguia lidar com a ideia de que este era o fim.

Venha comigo, Jasper, por favor, ela pensou desesperadamente. Eu não quero perder você também.

Page 118: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

riana cerrou os dentes enquanto limpava o sangue ao redor de seu ferimento com lencinhos antissépticos. Toda vez que o lencinho se aproximava um centímetro do corte, a dor era insuportável. A bancada em

torno da pia em seu banheiro particular estava toda suja de enormes pingos vermelhos de sangue. Seu peito arfava enquanto ela tentava respirar, e ainda assim Ariana terminou o trabalho e se olhou no espelho. O corte não era tão profundo como ela pensava. E o sangramento havia diminuído consideravelmente, e mesmo que a dor fosse a mais aguda que ela já teve na vida, ela estava segura de que ela sobreviveria.

Ela estendeu a mão para pegar a gaze e fita crepe, roubadas do kit de emergência no corredor. Rangendo os dentes, ela cobriu o ferimento com um grande pedaço de gaze e fita adesiva com força. Ela também usou uma bandagem ACE para cobrir seu abdômen e evitar que se movesse muito enquanto ela caminhasse. Quando finalmente terminou, Ariana deu alguns passos de teste por todo o banheiro. O corte ainda doía, assim como toda a lateral das suas costas, mas não era nada comparado a antes. Com isso ela conseguiria lidar. Isso não iria prejudicá-la.

Ariana jogou todas as gazes e lencinhos usados em um pequeno saco de lixo onde ela já havia escondido seu vestido destruído e o cachecol endurecido e manchado do sangue de Meloni. Então ela tirou mais dois lenços antissépticos e cuidadosamente, meticulosamente, esfregou cada centímetro da pia, do balcão, do espelho e também do chão em frente.

Ela jogou no saquinho de lixo e então o fechou, em um nó apertado. Mais tarde, ela iria jogar o saco em uma lixeira no aeroporto, onde aquilo certamente seria levado para longe antes que alguém sequer soubesse que ela havia partido.

De volta ao seu quarto, Ariana vestiu uma linda blusa de gola alta, preta e macia e colocou os utensílios de primeiros socorros em sua bolsa Louis Vuitton, a qual ela pretendia levar para o avião. Já escondido dentro da bolsa também estavam seu passaporte com o nome de Emma Walsh e sua carteira, dois mil dólares em dinheiro, seu laptop, uma muda de roupa, e bastante material de leitura.

Sua mala grande de viagens da Louis Vuitton estava cheia de roupas de inverno e casacos.

Ariana fechou sua mala grande de viagens e olhou ao redor do quarto. Seus olhos caíram em cima da pilha de convites abertos e alguns ainda fechados de

A

Page 119: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

diversas universidades, e seu coração sentiu uma pontada. O catálogo de Princeton estava no centro da mesa, brilhante, colorido e convidativo. Na prateleira acima de sua cama havia uma fotografia emoldurada com ela, Lexa, Maria, Soomie e Brigit que havia sido tirada na arrecadação de fundos em setembro. Num impulso, Ariana pegou a foto, colocou em sua bagagem de mão e fechou tudo. Ela respirou fundo e se conteve para não chorar, para não se perguntar o que ia acontecer agora, para não se arrepender. Agora, ela tinha que ser prática. Ela tinha que ter certeza de que não havia deixado nada para trás que a polícia fosse encontrar. Tudo parecia estar em ordem, e ela tinha tomado menos de vinte minutos para fazer as malas.

— Bem. É isso. Adeus, Briana Leigh Covington — disse Ariana, certificando-se de manter a voz firme.

Em seguida, ela endireitou sua postura, virou a maçaneta da porta com firmeza e saiu.

Page 120: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

riana estava na biblioteca de Georgetown, escondida atrás de uma enorme prateleira cheia de livros velhos e empoeirados de sociologia, enquanto Reed participava de um grupo de estudos sobre Literatura Americana. Sua

situação estava longe de ser ideal. Ela tinha passado as duas últimas semanas de sua vida perseguindo, observando e planejando isso e, agora, ela tinha sido forçada a trabalhar de maneira diferente do planejado. Mas pelo menos ela tinha visto Reed sair para a biblioteca no momento em que ela chegou. O que havia sido um golpe de sorte. Claro que teria sido mais conveniente se ela estivesse sozinha, mas não dava para ser tão exigente. Ela simplesmente teria que ficar ali e esperar. Aguardar até que a discussão longa e ridícula sobre a vida de Toni Morrison em plena sexta à noite finalmente acabasse.

Essa menina realmente não tinha vida. Pelo menos era quente dentro da biblioteca. E a dor debaixo daquela gaze

colocada tão apressadamente não passava de uma dor fina agora. Por enquanto, Ariana preferia olhar para o lado bom.

— Tudo bem, amanhã à tarde, vamos estudar sobre Sula e Jazz — um cara mal vestido que esteve estalando sua goma de mascar por praticamente toda a noite disse, fechando seu laptop. — Obrigado a todos por terem vindo em tão pouco tempo.

O peito de Ariana inundou com alívio e emoção quando Reed começou a arrumar suas coisas. E as outras duas meninas de seu grupo — as que haviam ido com ela à biblioteca mais cedo — disseram boa noite e caminharam para fora juntas, enquanto Reed e o cara mal vestido passavam pela porta. Ariana esperou até que eles estivessem quase à mesa de check-out antes de sair dentre as pilhas. Ela passou perto do quadro de avisos, enquanto eles vestiam seus cachecóis e luvas, se despediam e saiam. Com o coração batendo apressado, ela rapidamente os seguiu. No topo da escada, ela parou. O cara desalinhado tinha ido para a direita. Reed estava andando na direção oposta, em direção a seu dormitório, e ela estava sozinha.

Obrigada, obrigada, obrigada, Ariana pensou, praticamente pulando nas escadas. Ela fez questão de ficar uns bons cinquenta passos atrás de Reed enquanto essa seguia pela rua gelada, a caminho de seu dormitório.

Por favor, que ela vá para o dormitório. Que ela não pare em nenhum lugar ao longo do caminho, Ariana pediu em silêncio. Ela não conseguia conter-se por mais

A

Page 121: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

muito tempo. Ela precisava acabar logo com isso e ir para o aeroporto o mais rápido possível. Se Reed demorasse muito tempo, havia uma boa chance de Ariana ter que desistir de sua missão e partir — deixando Reed para trás e viva.

O simples pensamento fez bile subir para a sua garganta. A menina tinha que morrer. Ela simplesmente tinha que morrer.

Ariana prendeu a respiração quando Reed virou à esquerda e correu em direção a seu dormitório com a cabeça curvada contra o vento gelado. Ela esperou, sentindo-se tonta de ansiedade, enquanto Reed usava sua chave para entrar. Então, ela ficou de fora no frio por uns bons 45 segundos, até que alguém saiu e ela conseguiu agarrar a porta aberta.

As portas do elevador haviam acabado de se fechar. Ariana viu quando as luzes numeradas acima da porta pararam no terceiro andar. Então ela se virou para a escada e correu. Ela subiu os degraus de dois em dois, às vezes até de três em três, e logo saiu para o corredor do terceiro andar. Reed estava virando para um canto. Ariana se apressou para alcançá-la. Não faltava muito agora. Logo ela teria os dedos ao redor da garganta de Reed. Logo ela estaria apertando até o último suspiro ofegante dos pulmões da menina.

Ela parou na esquina quando Reed abriu a porta do quarto do dormitório, e logo saiu de seu esconderijo, enquanto ela estava começando a se fechar. Com um forte empurrão, ela parou a porta com a mão antes que Reed fosse capaz de fechar e trancar. Apertando os lábios para não rir em voz alta, ela abriu a porta e entrou no pequeno quarto do dormitório.

Reed se virou com um sorriso, sem dúvida esperando encontrar alguém que ela conhecia. E no momento em que ela viu Ariana, ela se transformou em pedra. Seus lábios ficaram sem cor, seu casaco caiu no chão, e ela gritou.

Ariana nunca tinha ouvido nada tão adorável em sua vida.

Page 122: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Ivana

s olhos de Reed correram para a esquerda, depois para a direita, e Ariana viu isso registrado em seus olhos. Ela ia morrer. Ela sabia que ia morrer.

Lentamente, Ariana sorriu. Era tão delicioso, tão perfeito, muito mais gratificante do que ela jamais imaginou. Cada coisa que Ariana tinha passado para chegar até ali, toda a morte, toda a dor, toda a fome, todo o medo, toda a perda, toda a paranoia, tudo isso — agora valia a pena.

— Olá, Reed — disse ela, inclinando a cabeça. — Você não vai dar um abraço na sua velha amiga?

— Você está morta. Você deveria estar morta — disse Reed, dando um passo para trás.

Sua bunda bateu contra a mesa e ela tropeçou de lado. Ela estava tão assustada, tão paralisada, tão trêmula, como um bebê inseguro. Ariana avançou devagar, saboreando cada momento. Ela tinha a sensação de que isto ia ser fácil demais, e de repente ela queria mais do que qualquer coisa fazer aquilo durar.

— É, veja bem. Não acredite em tudo que você lê — disse Ariana. Ela pegou uma foto emoldurada do alto da cômoda de Reed. Era uma foto de Reed, Noelle, Taylor e Kiran, tirada recentemente. — Ah. — Ela virou-se para enfrentar Reed. — E então haviam duas.

Então ela jogou a foto na parede e atacou. Quando seus dedos protegidos por luvas de couro se fecharam em torno do pescoço de Reed, Ariana sentiu cada pedacinho de sua raiva, cada pedacinho de sua frustração, cada pedacinho de seu veneno em suas mãos. Ela apertou a clavícula de Reed e pressionou o mais forte que podia. Seus dentes se apertaram juntos e seus olhos pareciam querer pular para fora de sua cabeça.

— Não — Reed berrou, agarrando os pulsos de Ariana. — Pare... por favor... — Sim, sim, sim. Implore — disse Ariana apertando mais os dentes. — Implore

para eu não fazer isso. Por favor, implore para mim. Ela afrouxou um pouco, dando à Reed espaço para falar. — Por favor, Ariana — ela sussurrou, segurando os pulsos. — Por favor... — Sim, é isso. Deus, você não tem ideia de quanto tempo eu esperei ouvir

você dizer isso — disse Ariana. Então ela apertou ainda mais, inclinando-se, batendo a parte de trás da cabeça de Reed contra a prateleira acima da escrivaninha.

Os olhos de Reed começaram a desfocar. Começaram a rolar lentamente de um lado para o outro. E tudo o que Ariana poderia fazer era se conter para não rir.

O

Page 123: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela tinha pensado que queria estar no APH. Ela tinha pensado que ela queria estar em Princeton. Ela tinha pensado que ela queria uma carreira, um lar com filhos e amor. Mas agora ela percebia que ela queria isso. Tudo o que ela queria era aquele momento.

Tudo o que ela realmente queria no mundo inteiro era ver Reed Brennan morrer.

E então, de repente, algo bateu com força na lateral de sua cabeça, e a visão de Ariana escureceu. Seus braços caíram ao lado do corpo e ela caiu contra a cama, em seguida escorregou para o chão. Seus dedos instintivamente correram para sua cabeça. Quando sua visão começou a clarear, ela olhou para seus dedos. Eles estavam cobertos de sangue.

Reed estava sentada tossindo. Em sua mão havia uma caneca branca e pesada. Ariana podia distinguir o logotipo da Academia Easton estampado em todo o lado.

— O que... como é que você...? — Ariana piscou e balançou a cabeça. Choques de dor estalaram em sua cabeça, e ela se sentiu momentaneamente atordoada. Eu não posso tirar os olhos dela nem por um segundo, Ariana pensou enquanto tentava se levantar. Aquele foi um erro que não se repetiria.

Quando Reed começou a recuperar o fôlego e se endireitou novamente, Ariana atacou. Ela empurrou a garota o mais forte que pôde com as duas mãos, batendo as costas contra a mesa. Reed cambaleou ao redor e acertou Ariana no rosto com o punho. A cabeça de Ariana se jogou para a direita, mas ela imediatamente se virou de volta e deu um soco ainda mais forte contra a têmpora esquerda de Reed. Reed caiu de lado na cama, e Ariana não hesitou. Ela se lançou sobre Reed, prensando-a na cama, com os joelhos pressionados com todo o seu peso nos ombros de Reed. As mãos de Reed estavam acima de sua cabeça e debaixo do travesseiro, em um gesto patético de rendição. Ariana fechou suas mãos em torno de sua garganta mais uma vez.

Desta vez, ela não ia parar até que a menina estivesse realmente morta. — É tudo por causa de você — disse Ariana, pressionando com força. — Toda

a minha vida é uma merda por causa de você. De repente, o joelho de Reed apontou para cima, e ela empurrou Ariana de

cima dela com uma força que Ariana sequer imaginava que Reed pudesse ter. Ela caiu na extremidade da cama enquanto Reed se sentava, colocando as mãos debaixo de seu travesseiro. E tirando de debaixo dele uma pequena arma preta.

Os olhos de Ariana se arregalaram. Ela cambaleou para trás, com o coração batendo um batimento irregular em seus ouvidos. Lentamente, Reed se levantou, segurando a arma com as duas mãos, como uma profissional, apontando diretamente no coração de Ariana.

— Mas o que...? — Ariana gaguejou, olhando para a arma. — Muita coisa mudou desde a última vez que você me viu, Ariana — Reed

retrucou, com a voz rouca. — E só para que fique claro, toda a sua vida é uma merda porque você é um ser humano patético.

Não. Não, não, não. Não era desse jeito que as coisas deveriam acontecer. Ariana iria ver Reed morrer. Ela deveria tirar a vida de Reed. Reed Brennan tinha tomado todas as coisas dela. Ela não podia permitir que ela lhe tomasse isso também.

Page 124: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela tem que morrer... ela tem que morrer... ela tem que morrer... Eu estou no controle aqui, Ariana pensou desesperadamente. Eu estou no

controle. — Agora, por que você apenas não fica ali contra a parede enquanto eu

chamo a polícia? — Reed sugeriu com autoridade, tirando uma das mãos da arma para alcançar o telefone.

Ariana se encolheu, vendo uma oportunidade. Ela soltou um grito do fundo de seus pulmões liberando nele cada última gota de fúria que havia dentro dela e se lançou para atacar Reed. Um tiro foi dado, ecoando em seus ouvidos, calando todo o resto ao redor. Ela viu Reed olhando para ela chocada e enojada, enquanto o sangue fluía de seu peito. Então ela caiu no chão aos pés de Reed Brennan, e tudo ficou preto.

Page 125: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Traduzido por Lua Moreira

u não posso acreditar que vamos nos graduar amanhã — disse Ariana, se aconchegando profundamente nos braços do seu namorado. Os galhos verdes acima balançaram preguiçosamente com a brisa

quando Thomas Pearson encostou no tronco grosso da árvore de carvalho. Em todo o pátio da Academia Easton, os alunos passavam o tempo, conversavam em celulares, e inclinavam o rosto em direção ao sol de início de verão.

— Eu não posso acreditar que eu estou dormindo com a oradora — Thomas respondeu, seus olhos azuis travessos.

— Thomas — Ariana protestou, seu queixo caindo em uma ofensa fingida enquanto ela ria.

— Ok, eca — disse Kiran Hayes, jogando um pedaço de cenoura na cabeça de Thomas. — É muito cedo para essa visão.

— Só estou me gabando — Thomas respondeu com um encolher de ombros. Ele acariciou o pescoço de Ariana e ela fechou os olhos, respirando profundamente — embebendo-se do cheiro quente e almiscarado dele.

— O que há mais de novo? — perguntou Dash McCafferty, cutucando a parte de trás do ombro de Thomas com o joelho enquanto ele e Noelle Lange circundavam a árvore.

Noelle enfiou a saia de babados por baixo das pernas enquanto se sentava na toalha de piquenique posta sob a árvore e jogou seu cabelo espesso e escuro por cima do ombro. Ela olhou em volta, sua expressão tipicamente irritada quando estendeu a mão para pegar um bagel.

— Onde está o café? — ela reclamou. — Eu preciso de café. — Como sempre, o seu desejo é uma ordem — Taylor Bell falou, chegando

com duas bandejas de bebidas geladas. Ela colocou-se na frente de Noelle e endireitou-se, afastando seus cachos loiros do rosto.

— Você ia se juntar a nós, ou você estava só passando? — perguntou Noelle, tomando um gole de café com leite.

Taylor estreitou os olhos azuis. — Eu não sei. Algo parece fora de lugar hoje, não é?

— Fora de lugar? — perguntou Ariana, colocando seu longo cabelo loiro atrás da orelha enquanto pegava um café. — É junho, o sol está brilhando, estamos todos aqui juntos. Este é o dia perfeito.

—E

Page 126: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Ela tomou um gole de café, então ofereceu a Thomas. Ele lhe deu um sorriso malicioso, o que lhe causou arrepios de felicidade por todo o seu corpo, então se inclinou e tomou um gole. Mas quando ele se recostou de novo, seu rosto parecia de repente pálido. Quase cinza.

— Thomas? — disse Ariana, preocupada. — Você está bem? — Eu não sei — disse ele, limpando a garganta. — Alguém está sentindo frio? — Eu estou congelando — Kiran respondeu, puxando uma jaqueta de couro

em torno de seus ombros magros. Ariana olhou para o sol brilhante, o céu azul lindo, mas de repente o sol

parecia muito brilhante, o céu de um azul muito vívido, e seu coração deu um pulo assustado.

Quando ela olhou para baixo de novo, levou um momento para que sua visão clareasse os pontos flutuantes e as manchas roxas causadas pelo brilho do sol. Quando ela conseguiu finalmente se concentrar novamente, ela viu que a pele de Kiran tinha ficado como cera. Ela parecia certamente doente. A caminho da morte, na verdade.

— Que diabos? — Dash disse de repente, suas bochechas cheias de pão sem mastigar. — Thomas. Você está sangrando.

Thomas estava branco como a neve agora. Ele ergueu a mão à cabeça e seus dedos voltaram cobertos de sangue. Um único filete de sangue vermelho escuro escorria através de sua orelha e descia para o queixo. — O quê?

— Oh meu Deus, Thomas! — Ariana gritou, recuando. — O que aconteceu? — Eu... eu não sei — ele gaguejou, os olhos cheios de traição, cheios de

tristeza. — Eu... eu pensei que você me amasse. — Mas eu amava — gritou Ariana. — Eu amo! Eu te amo mais do que qualquer

coisa. Eu não estou entendendo. Eu não entendo o que está acontecendo. — O que é esse barulho infernal? — perguntou Noelle, olhando para o céu. Ariana piscou rapidamente, olhando para o sol agora ofuscante. O sinal

sonoro rítmico e persistente encheu o céu, o ar, o mundo. Ela piscou mais forte, tentando ver além da luz. Tentando ver Thomas. Ela tinha que ter certeza que ele estava bem. Em menos de vinte e quatro horas eles iriam se formar em Easton, teriam sua foto tirada como o casal da turma, fugiriam para a Europa juntos no verão e, em seguida, iriam para Princeton no outono. Era como ela sempre sonhou. Ela não podia deixá-lo ir agora. Ela se recusava a deixá-lo ir.

E então, de repente, ela tomou uma dolorosa respiração ofegante e seus olhos se arregalaram. Ela não estava em Easton de forma alguma. E ela não estava piscando para o sol. Ela estava olhando para dentro da intensa luz branca de uma lâmpada operacional. E alguém estiva apertando a mão dela.

— Ana? Ana? Oh, meu Deus. Você está acordada! — Jasper — ela resmungou. Ela tentou se concentrar em seu rosto, sua boca,

seus olhos, mas tudo estava embaçado. — O nome dela não é Ana — disse a voz de Noelle de algum lugar ao pé da

cama. — Por que você continua a chamá-la assim? — Noelle? Noelle! Você está aqui — Ariana chorou, uma lágrima deslizando

pelo seu rosto. — Tente não se mover, querida — uma voz rouca ordenou, empurrando seu

ombro para baixo.

Page 127: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

— Ana, eu estava lá. Eu estava no aeroporto esperando por você. Eu... eu vi você no noticiário e vim direto para aqui — Jasper divagou. — Você vai ficar bem, ok? Você vai ficar bem.

Mas a face desagradável do médico pairava no outro lado do leito dizendo o contrário. O que havia de errado com ela? Ariana fez uma varredura mental de seu corpo e percebeu que ela não conseguia sentir nada. Não havia dores, nenhuma dor, nada. Nada, além de frio.

Fria, como Thomas. Fria como Kiran. Ela tinha acabado de estar com eles. Eles estavam bem aqui. Ariana piscou com os olhos ardendo, tentando conciliar a feliz e vívida lembrança de onde ela tinha estado com isso, a realidade dura e implacável.

— E então eu tentei chamar a polícia, e foi quando... quando ela pulou contra mim. E eu simplesmente disparei.

O sangue de Ariana coagulou. Reed Brennan. Era a voz de Reed Brennan. Ela virou a cabeça um pouco e a viu, de pé no corredor do lado de fora do quarto, perfeitamente viva e bem, dando seu depoimento a um oficial vestido de azul. De repente, tudo voltou a Ariana rapidamente. Ela seguindo Reed de volta para o quarto dela. Ela estrangulando-a e tirando a vida dela. Ela sendo chutada no intestino. E a arma. Oh, Deus. A arma.

— Noelle — perguntou Ariana. — Noelle, por favor, eu... Jasper soltou sua mão. Noelle aproximou-se da cama e olhou para Ariana. Seu

cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo apertado e seu rosto estava sombrio, seus olhos duros. Ariana estava com a garganta tão seca que quase engasgou.

— Ela não é sua amiga. Olha o que ela... ela... ela tentou me matar. Você não pode ser amiga dela. Você não pode. Eu sou sua melhor amiga, certo? Estávamos sempre... sempre... juntas.... Melhores amigas para sempre, certo?

Os olhos de Noelle olharam algo ou alguém do outro lado do quarto. Sua pele parecia verde sob as luzes. Ela apertou os lábios. Rangeu os dentes. E então, ela sorriu.

— Claro, Ariana. Você sempre será minha melhor amiga. Ariana deixou escapar um soluço sufocado de felicidade e pegou a mão de

Noelle, mas os dedos de Noelle se afastaram. Ariana piscou, mas antes que ela pudesse perguntar o que estava errado, um tom longo, lamentoso e alto encheu o ar. Ariana sentiu seu coração parar de bater. Seu peito apertou insuportavelmente. Sua visão ficou cinza, assim que Reed entrou no quarto e parou ao lado de Noelle.

Não. Eu não quero ir, Ariana pensou. Eu não quero. Eu estou no controle aqui. Eu estou no controle.

Mas a respiração se recusava a vir. Seu coração se recusava a responder. A última coisa que ela viu quando fechou os olhos foi Reed Brennan — seu horrível rosto, aqueles olhos castanhos odiosos olhando para ela — enquanto Noelle Lange a puxava para perto dela.

Page 128: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian

Querida Maria, Soomie e Tahira, Eu sei que isso vai vir como uma surpresa para todas vocês, mas eu

estou deixando o APH. Eu desejava ter tempo de dizer adeus, mas às vezes, quando você toma uma decisão como essa, você tem que seguir em frente o mais rápido possível, antes que você perca a coragem. Além disso, eu sei que se eu tivesse tentado olhar vocês nos olhos e explicar, eu nunca teria tido a força para ir, e eu preciso fazer isso. Eu preciso ir. É simplesmente a melhor coisa para mim agora.

Um dos meus maiores arrependimentos, além do triste fato de que eu não vou estar saindo com vocês três todos os dias, é estar deixando a Pedra e Sepultura sem um líder. É por isso que eu também gostaria de usar essa carta para nomear oficialmente Soomie Ahn como minha sucessora. Esperemos que os outros membros honrem os meus desejos de eleger Soomie a esta posição, uma posição estimada que eu acredito de todo o coração que você merece.

Obrigada, Tahira e Maria, pela festa incrível. Eu gostei muito durante o pouco tempo que eu estive lá. Eu não quero que nenhuma de vocês se preocupem comigo. Eu estou indo... para onde eu pertenço. E eu sei no fundo do meu coração que eu vou ser feliz lá.

Com todo o meu amor, Briana Leigh Covington

Page 129: Privilege - Livro 06 - Amor Cruel - Kate Brian