Upload
dokhanh
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Pedagogia
Trabalho de Conclusão de Curso
O PEDAGOGO E A ESCUTA SENSÍVEL NA CLASSE
HOSPITALAR
Autora: Suellen Amaral de Andrade
Orientador: Prof. MSc. Adriano José Hertzog Vieira
Brasília - DF
2013
SUELLEN AMARAL DE ANDRADE
O PEDAGOGO E A ESCUTA SENSÍVEL NA CLASSE HOSPITALAR
Trabalho apresentado ao curso de graduação
em Pedagogia da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para obtenção
do Título de Licenciada em Pedagogia.
Orientador: Prof. MSc. Adriano José Hertzog
Vieira
Brasília
2013
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha família pelo
apoio dedicado em todos os momentos, aos
meus amigos pelo companheirismo e ao meu
orientador e demais professores pelo auxílio
durante essa jornada.
AGRADECIMENTO
Ao Criador, Deus, que está acima de todas as coisas deste mundo, concebendo
sempre os nossos desejos e vontades, mesmo quando de forma oculta.
À minha mãe, que é a maior guerreira que conheci na vida e que sempre deu a
sustentação necessária para que eu conseguisse superar os obstáculos e vencer. Ao meu pai,
que é minha vida e uma inspiração para que eu chegasse até aqui.
A todos os meus amigos e colegas de sala, que com certeza plantaram um pedaço de
si em meu coração e que direta ou indiretamente me deram apoio e contribuíram para que este
momento chegasse. E, além disso, tornaram parte de minha família e tornaram as aulas mais
divertidas e inesquecíveis.
A todos os professores que tive o prazer de conhecer ao decorrer desse período, pela
paciência, ensino, e confiança e que levarei com muito carinho para o resto de minha vida.
Enfim obrigado a todos que fazem parte da minha vida!
EPÍGRAFE
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua produção ou
a sua construção.”
Paulo Freire
6
RESUMO
ANDRADE, Suellen Amaral de. O pedagogo e a escuta sensível na Classe Hospitalar.
2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Pedagogia) - Universidade Católica de Brasília,
Taguatinga-DF, 2013.
A Pedagogia Hospitalar surgiu para atender às necessidades cognitivas, afetivas e sociais de
crianças e adolescentes hospitalizados, proporcionando uma recuperação mais aliviada, além
de prevenir o fracasso escolar, garantindo às crianças a continuidade dos conteúdos regulares.
Dessa forma, os pedagogos hospitalares devem ter uma visão humanista, levando em
consideração a criança em sua totalidade, priorizando o fator emocional, social e cognitivo,
estimulando a aprendizagem e recuperação, apoiados na escuta sensível. Nesse contexto, esta
pesquisa procura identificar o papel do pedagogo no exercício da escuta sensível na classe
hospitalar. Para obtenção dos resultados foi realizada uma entrevista, com pesquisa de campo,
junto a uma pedagoga hospitalar, do Hospital Regional de Taguatinga – HRT (DF). Os dados
obtidos evidenciam a importância da escuta sensível nas classes hospitalares, mostrando que
não é necessário que haja apenas procedimentos terapêuticos para recuperação dos pacientes,
ou seja, a escuta sensível e a classe hospitalar tem fundamental relevância na melhora das
crianças e adolescentes hospitalizados.
Palavras-chave: Pedagogia hospitalar. Classe Hospitalar. Escuta Sensível.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo trata da escuta sensível na classe hospitalar, propondo-se a esclarecer
questões pertinentes à relevância desse processo. Sabe-se que, no atual mundo globalizado, a
educação é um fator essencial, ressaltando a importância da continuação dos estudos e do
atendimento pedagógico inclusive no ambiente hospitalar. Portanto, faz-se necessário este
estudo a respeito da escuta sensível como recurso de adequação do aluno/paciente à nova
realidade no hospital e realidade de vida.
De acordo com Costa et al. (2005), são identificados, no hospital, aspectos que podem
desencadear o sofrimento psíquico na criança decorrente da forma de organização do trabalho,
7
observa-se que a criança pode vir a apresentar danos psicológicos, pois além de ter que
conviver com a doença, precisa se adaptar ao novo ambiente e às situações nele presentes.
Com base nos expostos identifica-se que a hospitalização está relacionada com a dimensão
emocional e afetiva da criança e do adolescente.
Conforme Quintana et al.(2007, p. 415), “é no familiar significativo que a criança
busca apoio, orientação e proteção para a situação desconhecida e para o sofrimento”. Dessa
forma, “se a criança pode contar com a assistência desse familiar será mais capaz de suportar
o sofrimento e a ansiedade decorrentes da hospitalização”.
Ainda de acordo com o que afirma Quintana há grande importância na presença ativa
dos familiares, que possuem laços estreitos com a criança, para que esta possa enfrentar os
desafios da internação, que muitas vezes refere-se ao estranhamento da instituição, da dor, etc.
Ainda conforme os autores, as crianças internadas “vivenciam situação de pânico quando
colocadas diante de pessoas vestidas de branco ou com uniformes de enfermeiras, o que
denota o medo frente a tais situações” (QUINTANA et al., 2007, p. 415).
Nessa mesma linha de pensamento Machado e Martins (2002) entendem que, a
humanização do ambiente hospitalar utilizando-se de brincadeiras em enfermarias pediátricas
é um tema bastante estudado. Ainda conforme os autores, em situações críticas como a
hospitalização, é necessária uma grande elaboração das brincadeiras, visto que geram
ansiedade e medo em relação aos acontecimentos.
Devem ser considerados, segundo Machado e Martins (2002), no trabalho com
pacientes infantis, conceitos referentes à humanização do ambiente hospitalar, pois são
necessários esforços para diminuir o sofrimento físico e psíquico da criança. Dessa forma “O
trabalho pedagógico em hospitais apresenta diversas interfaces de atuação e está na mira de
diferentes olhares que o tentam compreender, explicar e construir um modelo que o possa
enquadrar.” (FONTES, 2005, p. 121).
Segundo com Faquinello; Higarashi; Marcon (2007), o cuidar humanizado sugere a
compreensão e a valorização da pessoa humana enquanto sujeito histórico e social. Dessa
forma, “é primordial que haja sensibilização com relação à problematização da realidade
concreta, a partir da equipe multidisciplinar” (FAQUINELLO; HIGARASHI; MARCON,
2007, p. 610).
“Atualmente, a Pedagogia Hospitalar como processo pedagógico é uma realidade no
vasto leque de atuação do pedagogo na sociedade contemporânea” (WOLF, 2007, p. 49).
Segundo Wolf (2007), a prática do pedagogo na Pedagogia Hospitalar tem o objetivo de
oferecer assessoria e atendimento emocional e humanístico tanto para o paciente como para os
8
familiares. Ainda conforme a autora, a prática do pedagogo é baseada em atividades lúdicas e
recreativas como a arte de contar histórias, brincadeiras diversas, jogos, desenhos,
continuação dos estudos no ambiente hospitalar entre outras atividades.
As práticas da Pedagogia Hospitalar são estratégias utilizadas para auxiliar na
adaptação, motivação e recuperação do paciente, que estará ocupando seu tempo ocioso,
conforme Wolf (2007).
Nesse contexto, o objetivo da pesquisa foi identificar o papel do pedagogo no
exercício da escuta sensível na classe hospitalar, definir a escuta sensível no âmbito da classe
hospitalar, associar a escuta sensível ao desenvolvimento pedagógico do aluno/paciente,
analisar a visão do pedagogo acerca da escuta sensível, identificar os sentimentos que os
alunos/pacientes apresentam quanto ao ambiente hospitalar, apresentar o resultado do
processo da escuta sensível tanto para o pedagogo como para o aluno paciente, contextualizar
a classe hospitalar. Todas estas questões serão respondidas ao longo dessa pesquisa,
ponderando sobre a real importância da escuta sensível na classe hospitalar.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A fim de fundamentar este trabalho, será utilizado referencial teórico sobre pedagogia
hospitalar, classe hospitalar e escuta sensível, temas escolhidos para melhor esclarecer os
objetivos do estudo.
O referencial teórico estará dividido da seguinte forma: Pedagogia Hospitalar, Classe
Hospitalar, Reações e Sentimentos no Ambiente Hospitalar e Escuta Sensível na Classe
Hospitalar .
2.1. PEDAGOGIA HOSPITALAR
Segundo Libâneo (2005, apud Rodrigues, 2012), a Pedagogia refere-se aos processos
educativos, métodos e modos de ensinar, que abrange um campo de conhecimentos sobre a
problemática educativa, tornando-se uma diretriz orientadora da ação educativa. Neste
9
sentido, conforme Rodrigues (2012, p. 32), “a Pedagogia é a parte normativa do conjunto de
saberes que precisamos adquirir e manter se quisermos desenvolver uma boa educação (...)”.
A Pedagogia Hospitalar surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, quando as crianças
e adolescentes ficaram impossibilitados de comparecer às escolas, fazendo com que médicos e
educadores se unissem para auxiliar na recuperação dos jovens, conforme Cardoso; Silva;
Santos (2012).
No Brasil, a primeira classe hospitalar foi criada em 1950, no Hospital Municipal Bom
Jesus, no Rio de Janeiro, pela professora Lacy Rittmeyer, porém, o termo classse hospitalar
foi reconhecido somente em 1994 pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC),
objetivando atender as crianças internadas, tornando a recuperação mais rápida, socialização
dos pacientes e aproveitamento do tempo ocioso, para que os pacientes/alunos retornem à
escola regular com mais facilidade.
Nesse sentido, segundo Cardoso; Silva; Santos (2012) a pedagogia vem, a cada dia,
aumentando o seu espaço de atuação, tornando-se necessário que os pedagogos estejam
preparados para atuar em diversos locais, além do ambiente escolar. No hospital, conforme os
autores, os pedagogos se inserem de forma integral, procurando estimular a aprendizagem.
Conforme Rodrigues (2012, p. 42) “a Pedagogia Hospitalar é um ramo de educação
que proporciona à criança e ao adolescente hospitalizado uma recuperação mais aliviada, por
meio de atividades lúdicas, pedagógicas e recreativas”, prevenindo a redução do rendimento
escolar, causado pelo afastamento da sala de aula. Ainda conforme a autora, a Pedagogia
Hospitalar é uma inovação no ambiente hospitalar, atendendo às novas exigências da
educação e mostra que há possibilidade de educar fora da sala de aula.
2.2. CLASSE HOSPITALAR
Conforme Fonseca; Ceccim (1999) as necessidades médicas e de enfermagem são
importantes em termos de hospitalização, porém as necessidades psicológicas e pedagógicas
também são extremamente relevantes, desdobrando-se em apoio às crianças e às famílias.
Nesse sentido, as classes hospitalares foram criadas devido à necessidade de garantir às
crianças e adolescentes a continuidade da escolarização, de acordo com Rocha e Passegi
(2010). A intenção é que o ambiente seja um espaço de socialização e valorização da
autoestima das crianças, possibilitando que o enfrentamento a essa situação seja o menos
10
traumático possível, evitando prejuízos, tanto de conhecimento, como emocionais. Ainda
conforme os autores, a criação das Classes Hospitalares foi resultada da identificação de que
as crianças e adolescentes, mesmo hospitalizados, têm direito e necessidade de escolarização
ininterrupta.
De acordo com o Ministério da Educação (1994, apud ROCHA; PASSEGI, 2010), a
Classe Hospitalar é um ambiente que propicia o atendimento educacional a crianças e
adolescentes que precisam de educação, formalmente especializada, durante o período de
internação e enfrentamento às doenças. Porém, conforme Fontes (2005, apud ROCHA;
PASSEGI, 2010), não significa apenas trabalhar conteúdos formais do currículo escolar da
criança ou jovem, nesse contexto, há necessidade de garantir à criança o conhecimento,
levando em consideração a sua adaptação ao ambiente hospitalar.
A classe hospitalar, conforme Rocha e Passegi (2010), deve funcionar como um elo
entre “o mundo que ficou do lado de fora” e o “mundo do lado de dentro do hospital” para
que, no momento de saída da internação, a criança esteja preparada para se reinserir nas
atividades cotidianas.
2.3. REAÇÕES E SENTIMENTOS NO AMBIENTE HOSPITALAR
De acordo com Rocha e Passegi (2010), as doenças em qualquer idade, provocam
sofrimentos físicos e emocionais, em especial na fase da adolescência e infância. As
hospitalizações aludem a procedimentos invasivos e dolorosos, pois as crianças são privadas
da convivência com a família, dos amigos, dos professores, das diversões, entre outras
atividades que representam uma ruptura brusca na vida dos pacientes.
Ainda conforme os autores, cada pessoa reage de maneira diferente em relação ao
ambiente hospitalar e à experiência da internação. Dessa forma, de acordo com Ortiz e Freitas
(2005, apud, Rocha; Passegi, 2010), a atenção à saúde das crianças não deve estar relacionada
apenas a questões biológicas, mas também à questões sociais, psicológicas e emocionais.
Conforme Spitz (1945, apud, Foncesa; Ceccim, 1999), crianças hospitalizadas por muito
tempo sem um acompanhamento especial para atender às suas necessidades podem apresentar
atraso considerável em seu desenvolvimento.
Dessa forma, conforme Rocha e Passegi (2010), quando a fragilidade dos pacientes
não é levada em consideração, aumenta a possibilidade de traumas, pois as crianças e jovens
11
são expostos a condições muito diferentes das que já conhecem, podendo acarretar reações de
medo e tristeza.
2.4. ESCUTA SENSÍVEL NA CLASSE HOSPITALAR
Conforme Ceccim (1997), o termo escuta sensível, também denominada, escuta
pedagógica, é proveniente da psicanálise e diferencia-se da audição, pois a audição refere-se à
apreensão e compreensão de vozes e sons, já a escuta sensível refere-se à apreensão e
compreensão das expectativas e sentidos, ou seja, é uma maneira de escutar além do que é
dito, ouvindo e interpretando expressões, gestos e diferentes posturas. De acordo com Barbier
(2002), a escuta sensível é apoiada na empatia, onde o pesquisador deve saber sentir o
universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro. Dessa forma, a escuta não é limitada ao
campo do que é falado, buscando adentrar nos fatores que constituem a subjetividade das
pessoas e interpretar a singularidade de cada ser humano.
Segundo Fontes (2005, apud AROSA, 2007) a escuta pedagógica diferencia-se dos
outros tipos de escutas realizadas no serviço social, pois adéqua e aplica o aspecto cognitivo
ao ambiente hospitalar, às informações médicas e às doenças de maneira didática, fazendo
brotar o diálogo, base da educação.
Fontes (2004, apud Cardoso; Silva; Santos, 2012) destaca a importância da escuta
pedagógica no ambiente hospitalar:
A escuta pedagógica surge, assim, como uma metodologia educativa própria do que
chamamos de pedagogia hospitalar. Seu objetivo é acolher a ansiedade e as dúvidas
da criança hospitalizada, criar situações coletivas de reflexão sobre elas, construindo
novos conhecimentos que contribuam para uma nova compreensão de sua
existência, possibilitando a melhora de seu quadro clínico.
Nesse sentido, para que isso aconteça, a Pedagogia Hospitalar utiliza-se de
brinquedotecas e projetos diversificados, contribuindo para a melhora das crianças e jovens
hospitalizados.
Barbier (2002) afirma que a escuta sensível é caracterizada por um movimento de
“escutar-ver”, com o objetivo de compreender o ser humano em sua totalidade. Desse modo, é
necessário que o pesquisador consiga perceber e sentir o universo imaginário, afetivo e de
conhecimento para identificar e compreender as posturas adotadas pelo observando.
12
Conforme Barbier (2002) a escuta sensível é apoiada nos cinco sentidos humanos:
audição, tato, olfato, visão e gustação. Dessa forma, percebe-se a necessidade de adentrar
numa relação de totalidade com o outro.
A escuta sensível na área de saúde, conforme Ceccim (1997), não é igual à escuta
psicanalítica, é, porém, mais genérica e mais específica. Nesse sentido, a escuta é voltada à
promoção de saúde e não apenas ao tratamento, além de acompanhar as condutas infantis e os
processos assistenciais.
Conforme Cardoso; Silva; Santos (2012) é essencial que o Pedagogo Hospitalar seja
uma pessoa emocionalmente equilibrada para lidar com as diferentes situações apresentadas.
Nesse sentido, segundo os autores, para que haja êxito no tratamento, não basta que haja
diagnósticos e procedimentos terapeuticos corretos, é necessário compreender que as crianças
hospitalizadas têm outras necessidades, como por exemplo, emocionais, sociais e intelectuais,
alertando para a necessidade de ações que gerem atenção integral aos pacientes.
A escuta pedagógica, de acordo com Ceccim (1997) pretende lançar uma nova forma
de atenção de saúde da criança hospitalizada, decorrendo da preocupação em analisar a
criança de diversos pontos de vista e necessidades, proporcionando uma assistência hospitalar
que acolha o ser humano em sua totalidade. Nesse sentido, a escuta sensível no ambiente
hospitalar deve objetivar uma nova maneira de tratar a pessoa doente, voltando para o centro
das atenções o aspecto cognitivo.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Como base teórica para tratar e abordar os métodos de coleta de dados e informações
foi utilizada a interpretação metodológica de Vergara (2009), que consiste em apresentar o
meterial utilizado e os procedimentos realizados no desenvolvimento da pesquisa.
3.1. TIPOS DE PESQUISA
3.1.2. Quanto aos meios
13
A pesquisa realizada é classificada como pesquisa de campo e bibliográfica. Segundo
Vergara (2007), a pesquisa de campo é uma investigação empírica realizada onde ocorre um
determinado fenômeno, incluindo entrevistas, questionários, testes entre outros. Neste estudo
foi utilizada a pesquisa de campo com a realização de entrevista. Já a pesquisa bibliográfica é
um estudo baseado em material acessível ao público, como jornais, revistas, livros, internet
entre outros. Neste estudo foi utilizada a pesquisa bibliográfica, consultando livros e artigos,
buscando embasamento teórico.
3.1.3. Universo, amostra e seleção dos sujeitos
O universo desta pesquisa de campo é determinado pelas pedagogas de 08 hospitais
públicos de Brasília (DF), totalizando 13 pedagogas. Sendo assim divididas:
3 pedagogas no Hospital de Base
3 pedagogas no Hospital Materno Infantil de Brasília
2 pedagogas no Hospital Regional da Asa Norte
1 pedagoga no Hospital Regional do Paranoá
1 pedagoga no Hospital Regional de Sobradinho
1 pedagoga no Hospital Regional do Gama
1 pedagoga no Hospital Regional de Ceilândia
1 pedagoga no Hospital Regional de Taguatinga
A pesquisa não trabalhará com a totalidade do universo considerado, apenas com uma
pedagoga, devido à dificuldade de acessibilidade às demais.
A escolha desta pedagoga justifica-se pelo fato de que esta é conhecedora das ações
adotadas nas classes hospitalares e entende sobre a pedagogia hospitalar e escuta sensível.
3.1.4. Técnica e instrumentos de Coleta de Dados
Conforme Vergara (2009, p. 2) “um dos métodos mais utilizados quando se trata de
coletar informações no campo, de interagir com o campo, é a entrevista”, que pode conduzir o
14
pesquisador às conclusões mais adequadas. Dessa forma, a entrevista foi o método
selecionado para colher e tratar as informações necessárias para este trabalho.
A entrevista, segundo Vergara (2009) é uma forma de interação verbal com o objetivo
de produzir conhecimento sobre um determinado assunto. A entrevista pode ser realizada
pessoalmente, permitindo que o pesquisador obtenha, também, informações não verbais, e até
mesmo por telefone ou outro meio de comunicação que permita a conversa.
Ainda conforme Vergara (2009), a entrevista pode ser classificada do ponto de vista
do número de pessoas (individual e coletiva). Dessa forma, observando a classificação
proposta por Vergara (2009), foi utilizada a entrevista individual, estabelecida entre um
entrevistador e um entrevistado.
4. ANÁLISE DOS DADOS
A entrevista foi realizada com a Pedagoga Sandra que é a pedagoga hospitalar do
Hospital Regional de Taguatinga a entrevista seguiu um roteiro que tinha por base os
objetivos específicos deste trabalho.
Em relação às reações e aos sentimentos dos alunos/pacientes a Pedagoga Sandra diz:
A família mudou muito e hoje a criança não acha tanto amparo na família… e você
pode fazer uma entrevista aqui e muitos preferem ficar aqui a voltar pra casa. Então
assim tem toda uma mudança de sociedade, de acolhimento, os pais não estão
ficando em suas casas, as crianças ficam em creches quando vem aqui e o pai está
acompanhando eles se sentem mais protegidos do que quando voltam. (Entrevista,
2013).
Conforme Rodrigues (2012, p. 77), é na família que o aluno/paciente busca o seu
primeiro apoio para enfrentar essa nova situação, pois cabe à família auxiliar no processo de
recuperação do mesmo. Nesse sentido é importante o envolvimento da família com a criança
hospitalizada já que a internação e o próprio ambiente hospitalar causam angústia e medo ao
paciente.
Muitas vezes o afeto familiar só chega até a criança por meio da internação, a família
tende a se aproximar para acompanhar o desenrolar desse processo e devido a isso a criança
se sente protegida e amparada pela família.
Ainda nesse mesmo sentido a Professora Sandra relata a questão onde a casa da
criança hospitalizada vem pra dentro do hospital: “Então assim vem pra baila todo sistema da
15
família!”. De acordo com Rocha e Passegi (2010), a doença por si só já trás um sofrimento
físico e emocional ao paciente. Existem questões biológicas, mas também as questões sociais,
psicológicas e emocionais que cercam essa criança hospitalizada.
Deve haver uma parceria entre a família e a equipe que acompanha a criança, pois um
deve estar do lado do outro buscando a melhora do paciente da melhor forma possível.
Sobre o seu trabalho pedagógico na classe hospitalar a Professora diz que todas as
atividades desenvolvidas fazem parte de projetos e que a base de tudo é um projeto sócio
ambiental de sua autoria, que também é um trabalho arte terapêutico, mostrando que além de
sondar o psicológico das crianças, há um trabalho com a autoestima.
Quanto ao espaço de socialização que deve haver no ambiente hospitalar, a pedagoga
afirma que existem atividades para estimular a valorização da autoestima, possibilitando o
enfrentamento, de maneira menos dolorosa. Segundo os autores citados no referencial teórico,
o processo pedagógico tem um significado bem mais amplo no contexto hospitalar que
abrange processos educativos, métodos e modos de ensinar.
Em relação ao processo de internação e reação das crianças a professora Sandra afirma
que:
A hospitalização faz a criança voltar no tempo e regredir, pois a carência emocional
que ela é exposta aqui faz regredir e trás ela para o colo. Acabei de presenciar um
bebê gigante no colo da mãe! E ainda falei: Você é um bebê gigante! Ele estava
literalmente deitado no colo da mamãe como se fosse um bebê. A criança volta para
o instinto maternal, ela se volta pra quem está mais próximo dela devido à questão
emocional, o chão se abre então é só a gente se colocar no lugar dela: Você
internado, num lugar sem amparo emocional né, então o meu projeto foi buscando
também esse aspecto. (Entrevista, 2013).
Essa fala indica que o ambiente hospitalar altera as reações das crianças e adolescentes
e que a sensibilidade e a fragilidade são aumentadas. Segundo Rocha e Passegi (2010), se a
fragilidade dos alunos pacientes não for levada em consideração, há maior possibilidade de
traumas, pois as crianças e adolescentes são expostos a situações bem diferentes do cotidiano,
podendo acarretar medo e tristeza. Dessa forma, de acordo com a professora entrevistada é
necessário que haja essa observação das reações das crianças, com o objetivo de evitar
maiores danos cognitivos, sociais e psicológicos.
Acerca da escuta sensível a entrevistada coloca que: “A escuta sensível no âmbito da
classe hospitalar, figura como especial ferramenta, visto que a mesma é o eixo sensitivo pelo
qual o pedagogo irá transitar através desse conjunto cognitivo dos sentidos.” De acordo com
Ceccim (1997) a escuta pedagógica deve analisar a criança hospitalizada sobre diversos
16
pontos de vista e necessidades, acolhendo o ser humano em sua totalidade objetivando uma
nova maneira de cuidar da pessoa doente sem deixar o aspecto cognitivo.
Outra consideração importante que a Pedagoga faz é acerca dos recursos humanizados
onde ressalta a importância do pedagogo da classe hospitalar:
Utilizar recursos humanizados no processo de internação que por vezes se inicia de
maneira traumática com o afastamento brusco das relações familiares e
ambientais ajuda no rompimento do estranhamento inicial da criança. É da
competência do pedagogo hospitalar ser a plataforma mais segura que o aluno
paciente encontra no ambiente novo ao qual ele momentaneamente esta inserido.
(Entrevista, 2013).
Conforme os autores, citados no referencial teórico, é de suma importância o
equilíbrio emocional do Pedagogo Hospitalar, pois o mesmo vivencia situações diversas no
ambiente hospitalar. É fundamental compreender que existem outras necessidades além do
diagnóstico e dos procedimentos terapêuticos e que o aluno/paciente necessita de uma atenção
integral a suas questões emocionais, sociais e intelectuais.
A entrevistada traz a relação que o aluno/paciente faz da classe hospitalar e da escola e
o sentimento que isso gera no mesmo: “A correlação com o ambiente escolar de onde a
criança é oriunda traz para esta um alívio emocional, fator de suma importância no seu
processo de restabelecimento.” Devido à classe hospitalar se assemelhar com o ambiente
escolar regular o aluno/paciente se sente melhor acolhido do que no leito do quarto e nesse
ambiente ele tende a se socializar e com a ajuda da pedagoga buscando uma maneira de
compreender esse novo momento da sua vida. Dessa forma, é possível perceber que a teoria
da escuta sensível se aplica na prática, pois a escuta sensível tem o objetivo de acolher a
ansiedade da criança hospitalizada, de maneira reflexiva, gerando uma melhora no quadro
clínico dos pacientes.
A Professora Sandra preza muito o trabalho humanizado e sempre comenta sobre a sua
importância trazendo à tona fortes elementos e a sua caracterização por meio da escuta
sensível. Esse fator fica claro na seguinte fala:
O processo de educar no hospital se faz pelo acolhimento, o braço coletivo, a visão
macro e atuação individualizada para formar o ser fazedor de seu próprio caminho,
de mãos dadas com seus mentores, configurando a cada dia as sutilezas que fazem
bela a vida. (Entrevista, 2013).
Nesse sentido, a escuta sensível é caracterizada por um movimento de “escutar-ver”
afirma Barbier (2002) e nesse movimento observa-se o ser humano em sua totalidade. O
pedagogo hospitalar deve identificar e compreender o universo imaginário e afetivo do
17
aluno/paciente e nesse universo que será apresentado buscar trabalhar aproveitando-o em sua
totalidade e analisando de todas as formas as posturas adotadas pelo aluno paciente, para que,
dessa forma, haja uma possibilidade de recuperação mais acelerada. A escuta sensível é
funtamental no trabalho do pedagogo hospitalar, pois apartir dela o mesmo tem condições de
potêncializar a melhora do aluno/paciente e perceber situações que fazem parte da vida dessas
crianças e adolecentes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho permitiu uma percepção mais pragmática da atividade pedagógica
e da escuta sensível na classe hospitalar. Observa-se que diante da impossibilidade do
aluno/paciente de frequentar as aulas na classe regular de ensino, o papel do pedagogo
hospitalar perpassa a simples função de realizar atividades escolares, passando a mesmo a ser
uma ponte entre o hospital e a escola, possibilitando o progresso escolar do aluno/paciente.
A escuta sensível deve nortear o trabalho do pedagogo hospitalar, permitindo assim
uma visão mais completa do indivíduo. O processo de internação é algo que desestrutura por
completo a criança e o adolescente e por esse motivo eles necessitam de cuidados especiais,
pois não são apenas pacientes, mas, sim seres humanos em processo de formação. A escuta
sensível realizada pelo pedagogo hospitalar busca no aluno/paciente suas particularidades e
potencialidades visando a melhora no seu quadro clinico e no âmbito pedagogico.
Através das análises de campo observa-se que, para crianças e adolescentes, a
internação é um processo complexo e sofrido, exigindo dos pedagogos hospitalares
sensibilidade suficiente para perceber as necessidades de cada paciente, tratando-os de
maneira unificada. Nesse sentido, a escuta sensível é uma ferramenta pedagógica de grande
importância, pois permite que o pedagogo analise e compreenda cada criança de acordo com
suas necessidades individuais.
De acordo com as declarações feitas pela Pedagoga Hospitalar do Hospital Regional
de Taguatinga Sandra Lucena Lima, podemos observar a importância do pedagogo dentro do
ambiente hospitalar, pois segundo ela este é a plataforma mais segura que o aluno paciente
encontra no ambiente de internação.
Segundo os resultados obtidos, pode-se afirmar que a Pedagogia Hospitalar é
extremamente importante no auxílio para a recuperação de crianças e adolescentes
18
hospitalizados, alinhando o fator cognitivo com os fatores emocionais e sociais. Com isso,
pode-se concluir também que, a escuta sensível na classe hospitalarer é fundamental para
observar e compreender o ser humano em sua totalidade e criar maneiras para adequar a
criança e adolescente hospitalizado ao novo ambiente e ao retorno a casa, escola regular e ao
social existente antes da internação.
As contribuições desta pesquisa são de grande importância na construção do trabalho
do pedagogo hospitalar, pois o mesmo não deve buscar apenas dar continuidade nos estudos
das crianças e adolescentes hospitalizados mas, sim procurar trabalha-los por completo. Sem
contar com as contribuições pessoais, pois os expostos buscam trabalhar os dois lados
envolvidos nesse processo: o pedagogo e o aluno/paciente, sabemos que esse é um trabalho
em parcerias visando a melhora de todo um conjunto que faz parte desse processo.
6. REFERÊNCIAS
AROSA, Armando C. Da escuta sensível ao diálogo “dodiscente”. In AROSA, Armando C.;
SCHILKE, Ana Lúcia (organizadores). A escola no hospital: espaço de experiências
emancipadoras. Niterói: Intertexto, 2007. Disponível em:
<http://quandoaescolaenohospital.blogspot.com.br/2009/04/da-escuta-sensivel-ao-dialogo.html>.
Acesso em: 13 maio 2013.
BARBIER, René. Escuta sensível na formação de profissionais de saúde. Conferência na
Escola Superior de Ciências da Saúde Conferência na Escola Superior de Ciências da Saúde.
Brasília, 2002. Disponível em: < http://www.barbier-rd.nom.fr/>. Acesso em: 11 maio 2013.
CARDOSO, Cristiane Aparecida; SILVA, Aline Fabiana; SANTOS, Mauro Augusto do.
Pedagogia Hospitalar: a importância do pedagogo no processo de recuperação de crianças
hospitalizadas. Cadernos da Pedagogia. São Carlos, Ano 5 v. 5 n. 10, p. 46-58, jan-jun 2012.
Disponível em:
<http://www.cadernosdapedagogia.ufscar.br/index.php/cp/article/viewFile/372/172>. Acesso
em: 24 maio 2013.
CECCIM, Ricardo Burg. Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto
Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1997. Disponível em:
19
<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=2&ved=0
CDgQFjAB&url=http%3A%2F%2Fxa.yimg.com%2Fkq%2Fgroups%2F26986402%2F16562
380%2Fname%2Fok%252BCrian%25C3%25A7...doc&ei=deKSUeSACq3K4APSr4HgDQ&
usg=AFQjCNHaM2cM0Ff98IqpeSyOLR9xLo4S2Q&sig2=IkblveRFyxI5iAGbJS5aBg&bvm
=bv.46471029,d.dmg>. Acesso em: 14 maio 2013.
COSTA, Jaquilene Barreto et al. A criança hospitalizada e o sofrimento psíquico
decorrente da hospitalização. 2º Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais no Brasil –
2005. Disponível em: < http://cac-
php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario2/trabalhos/saude/msau02.pdf >. Acesso em: 02
fev. 2013.
FAQUINELLO, Paula; HIGARASHI, Ieda Harumi; MARCON, Sonia Silva. O atendimento
humanizado em unidade pediátrica: percepção do acompanhante da criança hospitalizada.
2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/tce/v16n4/a04v16n4.pdf>. Acesso em: 15
mar. 2013.
FONSECA, Eneida Simões da.; CECCIM, Ricardo Burg. Atendimento pedagógico-
educacional hospitalar: promoção do desenvolvimento psíquico e cognitivo da criança
hospitalizada. Temas sobre Desenvolvimento, v.7, n.42, p.24-36, 1999. Disponível em:
<http://www.cerelepe.faced.ufba.br/arquivos/fotos/62/atendpedagpromocaopsiquicocog.pdf>.
Acesso em: 14 maio 2013.
FONTES, Rejane de S. A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da
educação no hospital. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n29/n29a10.pdf>. Acesso em: 06 mar. 2013.
MACHADO, Mariana Monici de Paula; MARTINS, Dinorah Gioia. A criança
hospitalizada: espaço potencial e o palhaço. Boletim de Iniciação Científica em Psicologia -
2002. Disponível em:
<http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/boletins/3/3_a
_crianca_hospitalizada.pdf >. Acesso em: 01 fev. 2013.
20
QUINTANA, Alberto Manuel et al. A vivência hospitalar no olhar da criança internada.
Ciência Cuidado e Saúde, 2007, out/dez. Disponível em:
<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=1&ved=0
CCQQFjAA&url=http%3A%2F%2Feduem.uem.br%2Fojs%2Findex.php%2FCiencCuidSaud
e%2Farticle%2Fdownload%2F3679%2F2678&ei=u72rUM7ZMoWm9AT87oDwBg&usg=A
FQjCNG-GLFuxU26WuKyfnz1rv5gYBPUiQ>. Acesso em: 28 jan. 2013.
ROCHA, Simone Maria da; PASSEGI, Maria da Conceição. Classe hospitalar: um espaço
de vivências educativas para crianças e adolescentes em tratamento de saúde. São Paulo:
2010. Disponível em:
<http://www.cidadesp.edu.br/old/revista_educacao/pdf/volume_3_1/simone.pdf>. Acesso em:
03 abr. 2013.
RODRIGUES, Janine Marta Coelho. Classes hospitalares: o espaço pedagógico nas
unidades de saúde. Rio de Janeiro: Wak, 2012.
VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de coleta de dados no campo. São Paulo: Atlas,
2009
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2007.
WOLF, Rosângela Abreu do Prado. Pedagogia hospitalar: a prática do pedagogo em
instituição não escolar. 2007. Disponível em:
<http://www.uepg.br/revistaconexao/revista/edicao03/artigo11.pdf >. Acesso em: 27 fev.
2013.
21
APÊNDICE A
Pesquisa Acadêmica - Entrevista
Esta é uma pesquisa de Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia da
Universidade Católica de Brasília - UCB, desenvolvida pela universitária Suellen Amaral de
Andrade. A presente pesquisa tem por objetivo identificar o papel do pedagogo no
exercício da escuta sensível na classe hospitalar.
Entrevista realizada entre a pesquisadora e a Pedagoga Hospitalar, Sandra Lucena
Lima:
Suellen
- Eu gostaria que a senhora falasse sobre a realidade da classe hospitalar do Hospital Regional
de Taguatinga.
Pedagoga
- (…) Ai ela falou pra enfermagem que lá é uma enfermeira e não uma auxiliar de
enfermagem destacada para a equipe, uma psicóloga destacada para a equipe, uma orientadora
educacional destacada, uma pedagoga destacada para a equipe dentro do hospital, mas lá é um
hospital escola são cinco profissionais em sala só para a realização das atividades. Essa é uma
realidade bem diferente do HRT.
- Aqui não tem nem a brinquedista ou psicóloga, quanto mais alguém pra fazer um chá se
tiver morrendo tem que ir atrás de um parecer ou marcar pra acontecer isso… É o ideal, na
pesquisa tem que mostrar o que é ideal. Falta muita coisa… Brasília está muito atrasada, ela
saiu na frente na Secretaria de Educação, mas a Secretaria de Saúde não acompanha, então a
educação está na frente, ela manda, ela paga, ela empresta um salário normal de professor,
você está desviada, você é capacitada é treinada, você recebe toda a escolarização necessária
no ensino especial, nós somos capazes. Só que cadê uma equipe? Chega aqui você tem que se
deparar sozinha, a saúde falha, a própria instituição de saúde não vê a importância desse
ambiente, até que falam que é a enfermaria pediátrica, não vê o setor de humanização como
um setor de importância, eles entregam as injeções… mal o pessoal da enfermagem que está
até carente… a gente vê que Brasília está num retrocesso total porque a saúde está quebrada.
22
Ontem eu passei à tarde com a minha secretária no P.S. e não fomos atendidas, saí de lá e hoje
já levei ela para outro canto porque aqui é uma vergonha… é um verdadeiro descaso com o
ser humano! Agora também eu não sei de que ano são essas pesquisas e não sei o campo
dessas pessoas que escrevem, a sociedade mudou muito, a família mudou muito e hoje a
criança não acha tanto amparo na família… e você pode fazer uma entrevista aqui muitos
preferem ficar aqui a voltar pra casa. Então assim tem toda uma mudança de sociedade, de
acolhimento, os pais não estão ficando em suas casas, as crianças ficam em creches quando
vem aqui e o pai está acompanhando eles se sentem mais protegidos do que quando voltam.
Suellen
- Nos artigos falam da questão do sofrimento da criança internada, só que alguns sofrem só
em relação ao processo da doença, mas, em questão de abandono dos pais, eu vejo que tem
pais que se aproximam muito mais dos filhos durante a internação do que no dia a dia, tem
um afeto maior…
Pedagoga
- Ou vêm as brigas inteiras pra cá! Porque vem a família inteira pra cá! Ontem mesmo teve
uma mãe de um paciente e eu tive que interferir. Estávamos fazendo umas pulseiras de
garrafas e tal… passamos a tarde inteira fazendo e ela chegou e falou – Você não é boiola! Na
frente de todo mundo! O menino chega abaixou a cabeça assim… E diabético… Então você
sabe que o negocio deve ter ido lá no céu e voltado aqui na terra. Aí eu tive que falar mesmo,
eu poderia ter chamado a mãe no canto, mas, como ela colocou a situação assim, eu tive que
interferir… Aí falei dessa questão de gênero, que essas atividades não escolhem o masculino e
o feminino, mas, se acolhe o grau da criatividade, pois é uma atividade comum a todos eu não
faço distinção de sexo e nem de idade sempre procuro trabalhar com todos nesse sentido. Aí
eu falei mãe, e outra ele falou aqui na mesa que era senhora. Aí ela falou assim: “- Eu não uso
isso, eu não uso isso!” Ela tentou se sair da situação e acabou piorando. Nessas situações eu
tenho que interferir porque a criança já esta internada e ainda tem situações como esta que
vem para abalar ainda mais o paciente. Então assim vem pra baila todo sistema da família!
Não me revoltei com a mãe, acredito que você tem que ir pelo lado da orientação, até porque
você vê várias situações aonde a casa vem pra dentro do hospital.
Suellen
23
- Pelo que eu percebi ao longo do tempo que permaneci dentro do hospital, pude observar que
o trabalho da pedagoga vai além do pedagógico, onde se criam vários vínculos com o
aluno/paciente e a realidade que ele trás para o hospital...
Pedagoga
- Essa criança ele é até um incluído, tem uma capacidade mental prejudicadíssima, ele já é um
menino de 12 anos e esta com deficiência absurda, absurda nesse âmbito, segunda-feira já esta
até marcada as atividades dele até, ele está até na semana de prova, mas ele está numa
defasagem e o que eu vejo é que a escola não consegue melhorar, é uma criança muito frágil.
Sem contar que o trabalho em sala de aula hoje em dia também está muito difícil há um
descaso muito grande com a educação…
E aqui no hospital você tem que parar o seu trabalho pra estar interferindo em todo processo
até o ambiental e na maioria, são questões que fogem do pedagógico. Ou melhor, elas não
fogem, mas não deveria ser eu que deveria estar tentando resolver todas as situações que
aparecem na enfermaria pediátrica.
Eu fico envolvida em várias atividades que acontecem aqui, acho isso bom, pois lutei por esse
reconhecimento, antes parecia que eu era um E.T. aqui dentro principalmente pelo povo da
enfermagem e um dos fatores é a questão da formação. Até você conquistar esse povo todo e
mostrar que o seu trabalho está além de fazer a criança realizar as tarefas escolares, que atrás
de todo projeto que eu desenvolvo tem algo além foi bem complicado. Se você não souber
conquistar a equipe do local que você fica num atraso monstruoso…
Suellen
- Pra colocar na pesquisa eu preciso saber como a senhora desenvolve o seu trabalho
pedagógico.
Pedagoga
- Ontem na minha aula, minha aula dessa semana, no meu projeto dessa semana. Você pode
escrever que o meu trabalho acontece por meio de projetos, te mostro do inicio ao fim como
eu construí, porque a minha base é o meu projeto sócio ambiental, acho que eu tenho até a
cópia aqui no hospital, mas eu trabalho por semana em projetos, essa semana foi o “projeto
casa” eu trabalhei uma casa de boneca e dentro da construção da casa trabalhei todos os
aspectos, comecei na segunda e fechou ontem (quinta-feira) o meu trabalho, que eu consigo
fazer pedagogicamente aqui são projetos que eu monto, porque no solto eu não consigo
24
acompanhar, porque eu não tenho… por exemplo, vou marcar tal hora com fulano, então vou
ficar só com aquele aluno não tem como me isolar, até porque a sala é totalmente misturada, é
a brinquedoteca, é a ludoteca, é a biblioteca, é a legoteca é tudo ao mesmo tempo, o barulho é
muito intenso, tudo é muito rápido, tudo é ao mesmo tempo do 0 aos 15 anos você tem que
trabalhar ao mesmo tempo, então se eu parasse para dar aula e disser agora acabou, entra
meninos de 01 ano, vamos fechar as portas e agora só vou dar aula pra meninos de 10 anos…
não sei, seria impossível isolar e tirar o direito da criança freqüentar a sala, a classe, então
tudo tem que acontecer ao mesmo tempo e estar com eles no tapetes dos menores, na bancada
da lego e aquela mesa que é a mesa das artes então eu faço três estações, a mesa das artes eu
trabalho o trabalho pedagógico, lincado ao projeto sócio ambiental e também arte terapêutico,
porque ao mesmo tempo que você está ali está sondando o psicológico, trabalhando a auto
estima. Acompanhando alunos/pacientes mais velhos da diabetes que estão fazendo trabalhos
escolares e às vezes não querem participar das atividades que estão acontecendo na classe,
empresto os materiais necessários e acompanho o desenvolvimento dos trabalhos escolares.
Os projetos ambientais envolvem a família, que é o globo, eu falo que é as três peles, é
baseado num fundamento sócio ambiental, que é a nossa pele, olha são cinco peles, são as
peles do mundo: o mundo é uma pele, a casa é outra pele, a sua família é outra pele e você
tem outra pele então são as construções do macro pro micro, é pensar… Eu fiz um discurso no
encerramento do projeto, ao terminar a casinha fiz uma roda ao final e nós analisamos e
andamos por todos os assuntos possíveis e inimagináveis, inclusive o alimentar que é o que
está mais próximo deles, pois é um grupo que na sua grande maioria são diabéticos e é a
forma como eles se alimentam que os trazem pra cá, são pré-adolescentes e às vezes se negam
a cumprir os regimes alimentares de uma criança com diabetes que são vários, então na sucata
também trabalhei a alimentação com as garrafas de coca-cola, pois é algo que eles são
privados, mais questões vieram à baila e eles entregam uns aos outros devido à convivência e
falei que não era contra o refrigerante, mas que tínhamos que analisar antes de comer e qual o
aproveitamento disso, então nós viajamos em todos os aspectos: no aspecto ambiental, a casa,
a construção, os tipos de habitações, os hábitos necessários, a higiene da casa do corpo, aí
trabalhei os painéis de ciências sobre os esquemas do corpo humano que tinham na sala, então
trabalhei tudo que está em volta da casinha. E tudo isso é trabalhado com o grupo inteiro
desde o pequeno ao grande, então é todo um processo de mesa redonda, pois está todo mundo
ali e é muito dinâmico e você também enfrenta o afastamento e o preconceito por parte de
alguns alunos/pacientes e nesse contexto você tem que conquistar a criança pelo saber mesmo
e ter muita habilidade pra lidar com todos eles para ter a participação de todos. Tem que ter
25
essa habilidade de trazer e não renegar porque dentro da classe hospitalar não se deve excluir,
mas existem várias profissionais e cada uma delas tem a sua forma de conduzir a sua classe
hospitalar, mas sempre buscando trabalhar o lúdico e trabalhar as necessidades das crianças, a
hospitalização faz a criança voltar no tempo e regredir, pois a carência emocional que ela é
exposta aqui faz regredir e trás ela pro colo. Acabei de presenciar um bebê gigante no colo da
mãe! E ainda falei: Você é um bebê gigante! Ele estava literalmente deitado no colo da
mamãe como se fosse um bebê. A criança volta para o instinto maternal, ela se volta pra quem
está mais próximo dela devido à questão emocional, o chão se abre então é só a gente se
colocar no lugar dela: Você internado, num lugar sem amparo emocional né, então o meu
projeto foi buscando também esse aspecto. E esse link com os meus projetos principais que é
o bacana, pois engloba tudo, o conteúdo vai e volta. Tem gente que fala a professora da classe
não consegue ter o conteúdo desenvolvido e que não tem retorno eu digo que depende, muitas
vezes o retorno vem bem depois e é legal ver que eu plantei uma semente na criança e que
poderá dar frutos, então o hospital de plantação aqui é o lugar onde se vai plantar sementes
nos corações dessas crianças… Sementes da poesia, da leitura, do amor, do cuidado, da
reciclagem… E interage assim tudo misturado e trabalhando os conteúdos, então é um projeto
interdisciplinar e é impossível ficar parado num grupo tão diverso, num grupo tão diferente e
é tudo junto, aproveitamos tudo pra criar brinquedos, jogos, obras de arte…Ontem fizemos
sopradores, pulseiras, tudo feito de garrafa pet se você passar pelos quartos, está tudo
espalhado por aí, os sopradores são bons para os que tem problemas respiratórios e isso gera
um comprometimento, um com o outro, os maiores ficam responsáveis pelos menores,
construir brinquedos para os acamados, pois estou mais na classe do que nos quartos, então eu
faço um projeto sustentável, que eu chamo de sustentabilidade humana, eu mesma dou meus
nomes, porque sustentabilidade não é você estar no sólido, essa fase já passou, hoje é a
sustentabilidade social, humana, do pensamento, se você pensa no outro automaticamente
você vai dividir com o outro que é um processo total interativo que a sociedade melhoraria
muito se a gente educasse esses pequenos pra esse pensar mas, a gente vai conseguir mudar
esse é um processo de formiguinha. Então é um projeto integral a classe hospitalar é até a
oportunidade de se fazer um novo recomeço. O meu amparo pedagógico mais forte é o
projeto Lego e estou escrevendo um novo projeto para a segunda etapa desse projeto com a
Lego para uma nova doação. Agora essa banca de pessoas seria muito mais interessante, mas
seria um milagre que é muita coisa pra se fazer, tudo ao mesmo tempo, mas um seria ótimo e
uma equipe seria o céu, afinal o trabalho existe e com a equipe seria feito na sua totalidade,
pois haveria a troca de idéias entre profissionais, a divisão do trabalho e que o Brasil é muito
26
atrasado e Brasília em si é muito atrasada, não tem noção da importância de destacar pessoas
pra isso…
Suellen
- Como se dá o processo da escuta sensível na sua visão pedagógica e mediante a sua
experiência?
Pedagoga
- A escuta sensível no âmbito da classe hospitalar, figura como especial ferramenta, visto que
a mesma é o eixo sensitivo pelo qual o pedagogo irá transitar através desse conjunto cognitivo
dos sentidos. Alcançar a confiança e por assim dizer, a competência para atuar como
catalisador e facilitador do processo de ensino aprendizagem é fator vital no desenvolvimento
do projeto pedagógico da classe hospitalar. Utilizar recursos humanizados no processo de
internação que por vezes se inicia de maneira traumática com o afastamento brusco das
relações familiares e ambientais ajuda no rompimento do estranhamento inicial da criança. É
da competência do pedagogo hospitalar ser a plataforma mais segura que o aluno paciente
encontra no ambiente novo ao qual ele momentaneamente esta inserido. Normalmente é na
classe local de maior identificação, que a criança irá expressar seus sentimentos, que devem
ser mediados através de atividades seguras e permeadas de significação. A correlação com o
ambiente escolar de onde a criança é oriunda traz para esta um alívio emocional, fator de
suma importância no seu processo de restabelecimento. A escuta sensível que não se limita a
observação, mas antes trabalha com todos os sentidos, elabora uma refinada e intuitiva
maneira de ensinar. É preciso desvendar cada desafio com os olhos do coração, de um amor
exigente que leva em consideração as limitações, mas nunca se apóiam nas mesmas, para
diminuir as capacidades de aprendizagem do aluno paciente. O processo de educar no hospital
se faz pelo acolhimento, o braço coletivo, a visão macro e atuação individualizada para
formar o ser fazedor de seu próprio caminho, de mãos dadas com seus mentores,
configurando a cada dia as sutilezas que fazem bela a vida.