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NATHÁLIA LOPES VIANA Pró-Reitoria de Graduação Curso de Relações Internacionais Trabalho de Conclusão de Curso O INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO E A INOVAÇÃO NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO (1990-2012) Autor: Nathália Lopes Viana Orientador: Dr. Ironildes Bueno Brasília - DF 2013

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NATHÁLIA LOPES VIANA

Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Relações Internacionais

Trabalho de Conclusão de Curso

O INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO E A INOVAÇÃO NO SETOR

AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO (1990-2012)

Autor: Nathália Lopes Viana

Orientador: Dr. Ironildes Bueno

Brasília - DF

2013

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O INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO E A INOVAÇÃO NO SETOR

AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO (1990-2012)

Monografia apresentada ao Programa de

Graduação em Relações Internacionais

da Universidade Católica de Brasília,

como requisito parcial para obtenção

de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof Dr. Ironildes Bueno

Brasília – DF

2013

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Dedico aos meus pais, meu irmão e,

principalmente, àqueles que sempre me

apoiaram e estiveram ao meu lado em

todos os momentos de mais esta etapa.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, devo agradecer a Deus, por ter me abençoado, iluminado

e protegido e, principalmente, por ter colocado pessoas em meu caminho que

sempre me deram forças para continuar e alcançar meus objetivos.

Aos meus pais, Roberto e Claudia, por ter me proporcionado a possibilidade

de estudar e ensinado a alcançar meus objetivos por meio do esforço e

dedicação. Agradeço também ao meu irmão, Paulo, que nestes últimos meses foi

meu parceiro e um dos meus melhores amigos e me ajudou na elaboração deste

trabalho.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Ironildes Bueno, por ter contribuído ao

meu estudo quanto ao meu crescimento profissional, por suas palavras de carinho e

incentivo, por sua empolgação durante meus momentos de desânimo e,

principalmente, à sua dedicação, não somente durante o processo de elaboração

deste trabalho, mas também durante toda a minha vida acadêmica. Sem dúvidas,

eu não poderia ter escolhido alguém melhor e mais capacitado para me guiar neste

estudo.

A todos os colegas e docentes do curso de Relações Internacionais da UCB,

que contribuíram para o meu crescimento acadêmico e que acompanharam minha

trajetória até aqui, e que me aconselharam e me apoiaram nesse momento mais

feliz da minha vida bem como o mais difícil que passei. Vocês são as pessoas mais

especiais que encontrei na minha vida.

Enfim, agradeço a todos que contribuíram de alguma forma para a realização

deste estudo e à conclusão de mais esta etapa em minha vida.

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Se você não estiver preparado para errar,

nunca fará nada original. (Sir Ken

Robinson)

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RESUMO

Referência: VIANA; Nathalia L. O INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO E A

INOVAÇÃO NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO (1990-2012).

Monografia (Relações Internacionais) – Universidade Católica de Brasília, Brasília,

2013

Este estudo discorre sobre o investimento externo direto e a inovação no setor

automobilístico brasileiro. A pesquisa consiste, essencialmente, na análise da

entrada de investimento externo direto (IED) no setor automobilístico brasileiro, e

suas consequências para a produção de inovação do setor, no período 1990-2012.

Para tanto, foram analisadas as políticas governamentais criadas para atrair IED

para a indústria automotiva, bem como ocorreu a entrada de investimentos no país.

Foi estudado também, os impactos desse IED para o desenvolvimento da indústria

automobilística nacional, e como ele afetou o processo de inovação da cadeia

automotiva brasileira.

Palavras-chave: Investimento Externo Direto. Setor Automobilístico Brasileiro.

Inovação.

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ABSTRACT

The present study is about the foreign direct investment and innovation in the

Brazilian automobile industry. It consists in its essence in the analysis of incoming

foreign direct investment (FDI) in the Brazilian automotive industry, and its

consequences for the production sector innovation in the period 1990-2012. To

accomplish this, was analyzed the government policies designed to attract FDI to the

automotive industry, as well as the entry of investments occurred in the country. It

was also studied the impacts that FDI to developing the domestic auto industry, and

how it affected the innovation process of the Brazilian automotive industry.

Keywords: Foreign Direct Investment. Brazilian Automotive Industry. Innovation.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ABIPLAST – Associação Brasileira do Plástico

ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

BACEN – Banco Central do Brasil

BNDES– Banco Nacional do Desenvolvimento

ETN’s - Empresas Trasnacionais

IED– Investimento Externo Direto

IBGE– Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDIC– Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

P&D – Pesquisa e desenvolvimento

PDP- Política de Desenvolvimento Produtivo

PITCE- Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

UNCTAD -United Nations Conference on Trade and Development

FMI – Fundo Monetário Internacional

MNE’s- Empresas multinacionais

GM- General Motors

ODIP- Organisational decomposition of the innovation process

SOBEET- Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e

Globalização Econômica

KIBS – Knowledge intensive business services

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Faturamento líquido e participação no PIB industrial – 1996/2011 ...........03

Figura 2. Cadeia do setor automobilístico .................................................................04

Figura 3 - IED e Inovação do Setor Automobilístico Brasileiro 1990- 2012..............07

Figura 4 - Complexo Automotivo................................................................................21

Figura 5 - Panorama do Setor Automotivo Brasileiro.................................................22

Figura 6 - Política de Desenvolvimento Produtivo.....................................................29

Tabela1. Taxas de inovação e esforços inovativos no setor automotivo, por categoria

de empresa (Empresas com mais de 30 pessoas ocupadas): 2005 ........................13

Tabela 2. Balança Comercial do Setor Automotivo ..................................................23

Tabela 3. Principais Países Investidores do Brasil 1999-2009 ................................37

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1

1.1 O PROBLEMA E A SUA IMPORTÂNCIA .............................................................................. 1

1.2HIPÓTESE ................................................................................................................................... 7

1.3 OBJETIVOS ................................................................................................................................ 7

1.3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................ 7

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 8

1.4 METODOLOGIA ........................................................................................................................ 8

2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 10

2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................... 10

2.2 MARCO TEÓRICO .................................................................................................................. 15

3. O SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO ................................................................... 21

3.1 CARACTERIZAÇÃO ............................................................................................................... 21

3.2 POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS PARA A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA 1990-

2012 .................................................................................................................................................. 23

4. A ENTRADA DE INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO ENTRE 1990-2012 ...................... 35

4.1 INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO E O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA E

INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA BRASILEIRA. ............................................................................... 38

5. IED E A INOVAÇÃO NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO ............................. 47

6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ....................................................................................... 56

6.1 RECOMENDAÇÕES ............................................................................................................... 57

6.2 DESAFIOS PARA O SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO .................................. 58

6.3 OPORTUNIDADES PARA O SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO ................... 61

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1. INTRODUÇÃO

1.1 O PROBLEMA E A SUA IMPORTÂNCIA

A primeira fase de implementação do setor automobilístico brasileiro teve seu

início no governo Juscelino Kubitschek1. Nesse período (1956 – 1960) foi lançado o

Plano de Metas Cinquenta Anos em Cinco, que tinha como objetivo acelerar o

desenvolvimento econômico do país. Para isso, o governo incentivou a expansão de

setores considerados estratégicos, como a indústria da produção de aço, alumínio,

metais não-ferrosos, cimento, álcalis, papel e celulose, borracha, construção naval,

maquinaria pesada, equipamento elétrico e automobilístico.

Foi através da criação do Grupo Executivo da Indústria Brasileira (GEIA) que

o desenvolvimento do setor automobilístico ganhou impulso. No decorrer dos anos

1957 até 1980, foram instaladas no Brasil as grandes montadoras de automóveis

Volkswagen (1956), GM (1968), Ford (1968) e Fiat (1976) (CORRÊA, Ricardo,

2012).

Durante o desenvolvimento do setor automobilístico brasileiro, ocorreu na

segunda metade dos anos 1970 um debate em âmbito internacional, que ficou

marcado pela Conferência da ONU sobre Ciência e Tecnologia de 1979. Nela ficou

claro que países em desenvolvimento que quisessem aumentar a competitividade de

suas indústrias deveriam aumentar a capacidade das mesmas em absorver e

produzir tecnologia. Ou seja, a partir da década de 1970, os países em

desenvolvimento passaram a tomar políticas que iriam aumentar a produção de

ciência, tecnologia e inovação no país, que consequentemente iriam colocá-los

dentro do comércio internacional.

Este pensamento influenciou as políticas dos governos brasileiros, pois com o

objetivo de desenvolver a economia e aumentar a participação brasileira no

comércio internacional, procurou-se melhorar a capacidade inovativa da indústria

1 Em 1919 e em 1925, as montadoras FORD e GM se instalaram no país, contudo essas empresas só montavam

os veículos e não produziam suas peças. Foi durante o governo JK que se iniciou a preocupação e se deu o impulso necessário à implantação definitiva da indústria automotiva no País.

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nacional. Uma das formas utilizadas por alguns governos para realizar esse objetivo

foi através da atração de investimentos externos diretos.

Investimento externo direto (IED) é todo aporte de dinheiro vindo do exterior

que é aplicado na estrutura produtiva doméstica de um país, isto é, na forma de

participação acionária em empresas já existentes ou na criação de novas empresas

(WOLFFENBÜTTEL, Andréa, 2007). Esse tipo de investimento é o mais interessante

porque os recursos entram no país, ficam por longo tempo e ajudam a aumentar a

capacidade de produção. Quando esse tipo de investimento entra em um país,

ocasiona um spillover2 na produção de inovação. Ou seja, o IED influencia as

empresas domésticas a darem um upgrade tecnológico, para concorrerem com as

empresas estrangerias. Pode ocorrer também, um aumento da demanda por

produtos intermediários, o que permite que as empresas locais se beneficiem de

economias de escala (JAVORCIK, 2004). Segundo Araújo (2005), a presença

estrangeira aumenta a inovação de um país, devido ao fato de seus gastos com

P&D em relação à receita líquida de vendas serem altos, as empresas

transnacionais inovam mais, em comparação com as firmas domésticas.

Nos anos 1990, segunda fase da implementação da indústria automobilística,

o Brasil passou por um grande processo de liberalização financeira, comercial, e

privatizações de empresas estatais. Isso tornou o país um dos principais destinos do

fluxo de investimento externo, ficando atrás somente da China. Segundo Franco

(1998), a atração de IED tornou-se peça-chave para a política econômica do

governo brasileiro nos anos 1990, o governo acreditava que o IED seria capaz de

permitir o ingresso no mundo produtivo de alta competitividade e de crescente

capacidade exportadora.

Em 1995, com a meta de consolidar e atrair novos investimentos em um setor

considerado altamente sensível na economia brasileira, o governo lança um

programa para atrair multinacionais do setor automobilístico: Novo Regime

Automotivo, que tinha como objetivos principais atrair novas companhias e estimular

a construção de novas plantas e marcas; manter em funcionamento as grandes

2 O conceito de spillover: um dos efeitos da integração de determinada função seria a integração de outras

funções, por meio de um efeito de transbordamento que levaria à intensificação dos processos de integração em curso. Esse processo ocorreria, a partir, da percepção dos atores envolvidos, em relação aos benefícios econômicos de uma integração e cooperação (HAAS, 1964).

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montadoras e as grandes indústrias de autopeças já instaladas no país; abrir a via

da reestruturação das empresas brasileiras do setor, facilitando os processos de

fusão, associação e aquisição; consolidar o Mercado Comum do Sul.

Segundo Arbix (2000), como resultado desse programa, entraram no Brasil

dezesseis grandes montadoras, 150 empresas de autopeças e 29 firmas de outros

setores produtivos. Atualmente o setor é o que mais investe no país e o que vai mais

crescer, estima-se que entre o período 2013 - 2016 serão investidos mais de R$ 60

bilhões.

Com os incentivos do governo e a grande entrada de investimentos na

indústria automobilística, a sua participação no PIB Industrial brasileiro é bastante

relevante. Segundo um estudo conduzido pela professora Roeche (2013), para o

jornal Estadão, a participação do setor automobilístico saltou 45,6% em 11 anos, em

2000 representava cerca de 12,5% e em 2011 já passava dos 18%. Na figura abaixo

é possível perceber a importância da indústria automobilística para o

desenvolvimento industrial brasileiro.

Figura 1- Faturamento líquido e participação do setor automobilístico no PIB industrial brasileiro

Fonte: Anfeva 2012

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Outra importância da indústria automobilística para o Brasil ocorre pelo fato

desse setor movimentar outros setores da indústria brasileira. Na figura abaixo

podemos averiguar algumas das empresas que fazem parte da cadeia do setor

automotivo, a maioria são interligadas entre si, e são os setores principais da

indústria da brasileira. Dentro da cadeia automotiva, vale ressaltar a participação de

duas indústrias importantes para a economia brasileira: a indústria do aço e

derivados e a indústria do plástico.

O setor de aço e derivados é um dos materiais essenciais para todos os

setores da cadeia automotiva. Segundo um estudo publicado pelo Instituto do Aço

Brasil, o setor tem uma participação 4% no PIB brasileiro, sendo o setor automotivo

um dos principais destinos dos bens produzidos no setor, 24% dos materiais

produzidos pela indústria de aço é consumida pela indústria automobilística.

Já indústria de transformação de plástico é outra fonte de produção de

insumos para o setor automobilístico, que também exerce uma grande influência na

Figura 2 - Cadeia do setor automobilístico

Fonte: ABDI- Estudo Setorial da Indústria Automotiva.

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economia brasileira, como a indústria de aço, a do plástico faz parte da cadeia de

vários setores da indústria brasileira. De acordo com o estudo da Associação

Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), o setor automobilístico consome 15%

de toda a produção gerada pela Indústria do Plástico.

O setor automotivo é um dos maiores setores da indústria brasileira, diante da

natureza da cadeia da indústria automotiva, este setor é capaz de influenciar o

desempenho de vários outros setores da indústria brasileira, o crescimento na sua

produção pode, por meio de sua cadeia de fornecimento, impulsionar o crescimento

de vários outros setores da indústria (ABDI, 2008).

Em relação ao comércio exterior, o Brasil é o quarto principal mercado

automobilístico internacional, em 2012 foi vendido no país 3.801.859 automóveis,

um crescimento de 4,6% sobre 2011(MIOTTO, Rafael, 2012). O país só ficou atrás

da China, Estados Unidos, Japão. Segundo o estudo Global Automotive Executive

Survey 2012, os 200 principais executivos do mercado automotivo mundial

acreditam que o país em 2016 será o terceiro mercado automobilístico internacional,

o sócio-líder da Industrial Markets e Audit da KPMG 3 no Brasil, afirma que o

resultado do estudo indica que o mercado automobilístico de todo o mundo se

projeta para o Brasil.

O Brasil tornou-se, aos olhos dos investidores estrangeiros, uma opção para

atuação em um novo mercado e desenvolvimento de produtos, graças às políticas

atrativas de incentivos fiscais como; benefícios tributários, redução do IOF e IPI; e

uma economia forte e estável. Propiciando um ambiente ideal trazendo

oportunidades de participação e crescimento no 4° maior mercado consumidor de

automóveis do mundo. (ANFAVEA, 2010).

A indústria automotiva é uma das mais internacionalizadas cadeias produtivas

que se conhece e o Brasil têm ganhado, nos últimos anos, uma relevância gradativa

neste setor. Segundo o Estudo Automotivo da ABDI, isso se dá tanto pelo potencial

de seu mercado, quanto por sua competência tecnológica que pode ser considerada

3 A sigla KGPM deriva dos nomes dos quatro sócios que se fundiram as suas próprias empresas de

contabilidade independentes: Piet Klynveld, William Barclay Peat, James Marwick e Reinhard Goerdeler

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a maior entre os países que não possuem montadoras nacionais de porte. Isso torna

o setor automobilístico brasileiro o sexto maior produtor de automóveis.

Desde a década de 1990, e principalmente com a implementação do Novo

Regime Automotivo em 1995, os investimentos no setor automobilístico brasileiro

aumentaram, além dos investimentos das indústrias que já existiam no país. Ocorreu

a entrada e a construção de novas fábricas, mudando assim a dinâmica do setor,

gerando, nesse período, uma corrida entre as empresas para aumentar sua

competitividade, aumentando os investimentos em pesquisa e desenvolvimento que

resultaram na criação de novos produtos que agradassem os consumidores.

O setor automotivo é, em termos mundiais, um setor bastante inovador,

possuindo investimentos em P&D e em atividades inovadoras maiores do que a

média do restante da indústria mundial (ABDI, 2007).

Em 2008, o Instituto Brasileiro de Geografia divulgou seu último estudo sobre

a inovação tecnológica da indústria brasileira; Pesquisa de Inovação Tecnológica

(Pintec), esta pesquisa demostrou que o setor automobilístico da indústria brasileira

é o que mais inova. A inovação produzida no setor automobilístico brasileiro

representa cerca de 83,2% , tendo a maior taxa em comparação com outros setores.

As empresas investiram 4,2% do faturamento em atividades inovativas, e ficaram

entre as dez mais altas. Elas também se destacaram pelo alto índice de

investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que representou 2,01% do

faturamento no período4.

Atualmente, o setor brasileiro é bastante internacionalizado, as principais

empresas são estrangeiras. Segundo a ABDI (2008), o setor automotivo brasileiro

tem 62 empresas que exercem papel de liderança tecnológica no setor automotivo,

onze dessas empresas são montadoras de veículos e trinta e sete empresas do

setor de autopeças. Existe também mais de 400 empresas seguidoras, e todas

essas empresas líderes e seguidoras são competitivas internacionalmente, sendo

todas exportadoras. Dentro desse contexto, todas as empresas líderes são

responsáveis pela introdução de novos produtos ou processos produtivos no

4 O IBGE utiliza o conceito do Manual de Oslo para a classificação de atividades inovadoras.

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IED

Setor Automobilístico Brasileiro •Transbordamentos

(spillover)

Crescimento da produção de inovação no Setor Automobilístico Brasileiro

mercado brasileiro; são elas que direcionam os processos de inovação e as

trajetórias tecnológicas.

Diante das projeções futuras apresentadas na introdução, a pergunta mais

geral que orienta a presente pesquisa é: como tem ocorrido a relação entre IED e o

aumento da inovação do setor automobilístico brasileiro entre os anos 1990 e 2012?

Figura 3 - IED e Inovação do Setor Automobilístico Brasileiro 1990- 2012

Fonte: Elaboração própria

1.2HIPÓTESE

Entre 1990-2012, o IED que adentrou no Brasil, direcionado para o setor

automobilístico, ocasionou um spillover na geração de inovação nesse setor.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 OBJETIVO GERAL

O presente trabalho tem como objetivo geral descrever como o investimento

externo direto influenciou o processo de inovação do setor automobilístico brasileiro,

no período 1990 até 2012.

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1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

i. Analisar o posicionamento do governo federal brasileiro em relação ao

uso do investimento externo direto para financiar o setor

automobilístico brasileiro;

ii. Analisar as mudanças da política econômica brasileira e seus impactos

na produção de inovação, ocorridas na década de 1990 até 2012 que

afetaram o setor automobilístico brasileiro;

iii. Analisar o processo de P&D e inovação da indústria automobilística

brasileira.

1.4 METODOLOGIA

Método é o um conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, a serem

vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar

determinado fim. De forma geral e resumida, o método pode ser encarado como a

linha ou caminho que contribuirá para que se alcance um determinado fim desejado,

seja ele teórico ou prático (Galliano, 1979).

Segundo Laville e Dionne (1999), são três os grupos de categorias de

pesquisa que levam em consideração seus objetivos são eles: as exploratórias, as

descritivas e as explicativas. Para o presente trabalho foi decidido que a pesquisa

descritiva seria a melhor opção para elucidar o tema.

Uma pesquisa descritiva busca estudar o objetivo, descrever determinada

população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis,

utilizando técnicas padronizadas de coletas de dados. Para se fazer uma pesquisa

descritiva pode-se usar diversas formas como: a pesquisa documental, de campo,

de opinião, de motivação, estudos exploratórios, estudos descritivos, estudo

correlacional, estudo de caso e pesquisa histórica.

Diante disso, foi escolhido como métodos para o presente trabalho o estudo

correlacional e descritivo. Segundo Sampieri, um estudo correlacional tem como

objetivo avaliar a relação entre dois ou mais conceitos, categorias e ou variáveis. Já

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um estudo descritivo especifica as propriedades, as características e os perfis

importantes de pessoas grupos, comunidades ou qualquer outro fenômeno que se

submeta a análise, por meio da seleção de uma série de questões e coletas de

informações.

Devido a grande entrada de IED no período 1990-20125, houve um aumento

significativo da produção de produtos inovadores no setor automobilístico brasileiro.

Sendo assim, a presente pesquisa baseou-se a princípio, nas pesquisas de

documentos oficiais do governo brasileiro, pesquisas e estudos sobre o tema.

O motivo para a análise de documentos oficiais do governo brasileiro; dados

do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Banco Central,

BNDES, IBGE, entre outros; baseia-se no objetivo principal do presente trabalho,

pois pesquisar e estudar as ações e posições que o governo tomou diante do tema

ajudará a responder de que forma ocorreu IED influenciou a inovação do setor

automobilístico. Também serão estudadas, pesquisas que descrevem as ações as

empresas e investidores estrangeiros, que entraram no país. Para compreender

como ocorreu o processo de spillover da produção de inovação que ocorreu na

indústria automobilística brasileira.

Através dessa investigação será possível explicar, como os investimentos

externos influenciaram a produção de inovação do setor, esclarecendo, através de

exemplos, como ocorre o processo de inovação na indústria automobilística.

5 Foi escolhido fazer a anáise do IED e Inovação no Setor Automobilístico Brasileiro nesse período por dois

motivos. O primeiro se deve ao fato de ser o período após a queda do Muro de Berlim. E o segundo motivo, é que em 1990, depois de quase três décadas de interrupção do processo eleitoral democrático, é iniciado no Brasil um governo que foi eleito pelo povo. Sendo que esse um período, foi marcado pela liberalização, tanto no Brasil, quanto no mundo.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Na década de 1990, o governo brasileiro acreditava que a atração de

investimento externo direto seria capaz de desenvolver a economia e indústria

brasileira, permitindo dessa forma o maior acesso brasileiro no comércio

internacional. Durante esse período foram feitos diversos estudos sobre os impactos

do IED para a economia brasileira.

Sarti e Laplane (1999), afirmam que o IED que adentrou no Brasil aumentou

de modo expressivo a eficiência e competitividade em setores defasados da

indústria a padrões internacionais. Contudo isso era fomentado pela importação,

sem ter em contrapartida o aumento das exportações, pois a estratégia das

empresas estrangeiras era voltada para o mercado interno. De acordo com os

autores, esse modelo de desenvolvimento agravava ainda mais o déficit comercial,

de serviços e de renda do Brasil.

Em contra partida, Barros e Goldenstein (1997), em seu estudo sobre os

desafios da transformação econômica do Brasil, viam de forma positiva a entrada de

IED no país. Acreditavam que o déficit comercial ocasionado pelo IED, cessaria ao

longo prazo, diminuindo a necessidade de importação. E que o crescimento do

mercado interno proporcionava um aumento das escalas de operação da indústria

local, o que incentivava futuramente novos investimentos para a produção de

componentes, naquele momento importados.

Segundo Arbix (2000), no setor industrial, durante o período 1995-2000, os

investimentos foram depositados em sua maioria no segmento automotivo. Em 1994,

com o Plano Real, o governo Fernando Henrique Cardoso assentaria as premissas

que aprofundariam a internacionalização da economia, ao mesmo tempo em que

privilegiava alguns setores produtivos, com destaque para a indústria de

automobilística.

De acordo com os estudos do BNDES (2008) sobre o setor automotivo, com

as instalações das montadoras a década de 1990, se tinha como expectativa

manutenção do crescimento exponencial da demanda, nos moldes do que ocorria na

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China e na Índia. A capacidade instalada da produção de veículos pulou de 2

milhões/ano para 3,5 milhões/ano. Contudo essa expectativa não foi realizada, pois

em 1997 iniciou-se uma crise econômica na Ásia, que acabou afetando o Brasil, os

investidores estavam relutantes em emprestar e investir dinheiro nos países em

desenvolvimento, o que resultou na retração do mercado automobilístico brasileiro.

Ainda de acordo com o BNDES (2008), nos anos 2000, os investimentos na

indústria automobilística se voltaram para a modernização e lançamento de novos

veículos, visto que a capacidade ociosa se mantinha em nível bastante elevado. O

desafio das empresas era ocupar as suas fábricas para tentar diluir seus custos fixos

e reduzir seus prejuízos. A partir de 2008, setor enfrentou um grande crescimento, o

que tornou possível investindo em novos produtos, aumento de capacidade de

produção e ainda no aumento de capacidade de engenharia e desenvolvimento.

Foram desenvolvidas novas tecnologias para a produção de motores, demonstrando

dessa forma uma aposta generalizada no crescimento sustentado da indústria.

Durante o período 1996 – 2008, uma parte dos investimentos aplicados no

setor foi feito pelas novas montadoras que adentraram no país. De acordo com o

estudo da ABDI (2008), sobre os investimentos aplicados no setor até 2000, as

montadoras locais aumentaram seus investimentos procurando desse modo, manter

uma posição competitiva frente às novas montadoras. Garantindo dessa forma,

vantagens competitivas sobre os novos entrantes através das economias de escala

e da expansão da produção. Os investimentos feitos foram voltados para a

atualização dos produtos já ofertados e a ampliação da variedade de modelos, tendo

como base os carros populares e de tamanho médios, sem perder economias de

escala.

Segundo Clark e Fugimoto (1991), o processo de desenvolvimento de novos

produtos pode ser dividido em quatro etapas. A primeira fase é a definição do

conceito do produto, ou seja, serão definidas as principais características do

produto, suas funções, tecnologias e mercado alvo. Na segunda fase ocorre o

planejamento do produto (design, dimensões e características). Já na terceira é feita

a engenharia do produto, são feitos os protótipos, o projeto do produto e os testes.

Por fim, na quarta fase a engenharia do processo é definida, será decidido como o

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12

produto será construído e quais são os materias e equipamentos necessários. Todo

esse processo pode levar de três a quatro anos.

O setor automotivo brasileiro é dominado por empresas estrangeiras, o

processo de inovação, e o desenvolvimento de novos produtos dessas empresas

aqui no Brasil dependerá da política de P&D que é adotada pela empresa.

Normalmente a produção de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, é feita pela

matriz no próprio país de origem, e somente depois e repassada para as filiais

(UNCTAD, 2005).

Pode-se afirmar que, a estrutura de P&D na indústria automotiva brasileira é

atualmente dual: os novos entrantes têm pouca autonomia, enquanto os

consolidados a têm de forma relativa. Ou seja, os entrantes apresentam uma

estrutura de P&D em Hub. Entretanto, a possibilidade de aumento de autonomia

parece estar vinculada principalmente as perspectivas de crescimento interno do

mercado (ABDI, 2008).

Conforme Pearce (1999), até recentemente, as atividades de P&D das

multinacionais eram vistas como sendo destinadas, primordialmente, para a

adaptação de produtos e processos produtivos aos mercados locais. Sendo as

atividades ―mais nobres‖ de pesquisa conduzida pela matriz da corporação.

Segundo a ABDI, os investimentos em inovação pelas multinacionais estão

condicionados a três fatores. O primeiro está relacionado com as estratégias globais

da multinacional e com fatores organizacionais específicos de cada uma delas ou do

setor em que atua. O segundo conjunto de fatores está relacionado com

características específicas das subsidiárias – tamanho, poder de mercado,

condições de financiamento, experiência em atividades tecnológicas etc. – e o papel

da mesma na corporação. O terceiro conjunto de fatores, por sua vez, diz respeito

às ―vantagens locacionais‖ específicas de cada país de destino do investimento

direto (DE NEGRI, 2007).

Em relação ao setor automotivo brasileiro, foram identificados alguns motivos

que levam as subsidiárias a desenvolver tecnologia. Segundo Dias (2003), a

primeira motivação está relacionada com a necessidade de adaptações do produto

às condições locais.

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13

O envolvimento da filial brasileira no desenvolvimento de produtos globais varia

conforme os diferentes nichos de mercado, sendo maior para o segmento de

entrada, que é o principal no Brasil e o segmento no qual são necessárias mais

adaptações (Dias, 2003 p.303).

O segundo motivo é influenciado pela experiência da filial em atividades de

engenharia, como também a sua capacidade de ter em disponibilidade mão-de-obra

qualificada e mais barata e a existência de políticas e incentivos específicos podem

contribuir para que as atividades de P&D sejam realizadas fora da matriz.

No Brasil, a taxa de inovação (número de empresas inovadoras em relação

ao total) do setor automotivo, em 2009 era de 37%, levemente acima da média da

indústria, 34%. Em relação à inovação de produto e de produto novo para o

mercado, o setor automotivo revela uma diferença pouco significativa em relação à

indústria brasileira como um todo (ABDI, 2008).Contudo se compararmos com outros

países os níveis de inovação do setor e bastante pequeno. Pode-se ver na figura

abaixo os níveis de produção de inovação do setor automobilístico nas diferentes

categorias

Tabela 1. Taxas de inovação e esforços inovativos no setor automotivo, por categoria de empresa (Empresas com mais de 30 pessoas ocupadas): 2005.

Número de inovadoras e taxa de inovação

Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Total

Número de Empresas

62 416 434 28 940

100% 100% 100% 100% 100%

Inovadoras

62 271 151 27 511

100% 65% 35% 94% 54%

Inovadores de Produto

61 135 71 27 293

98% 32% 16% 94% 31%

Inovadoras de produto novo para o mercado

59 4 12 23 98

95% 1% 3% 82% 10%

Inovadoras de processo

53 244 118 22 437

85% 59% 27% 79% 46%

Inovadoras de processo novo para o mercado

33 26 7 2 68

53% 6% 2% 7% 7%

Inovadoras de produto novo para o mercado mundial

14 0 0 16 29

22% 0% 0% 56% 3%

Esforços Inovativos (R$ Milhões da RLV)

Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Total

RLV (R$ milhões) 73.587 54.188 2.359 808 130.942

Gastos em atividades inovativas (R$ milhões e % da

RLV)

3.201 2.170 44 104 5.519

43% 4% 1.9% 12,90% 4,20%

Gastos em P&D interno e externo (R$ milhões e % da

RLV)

1.175 641 4 74 1.894

1,60% 1,18% 0,16% 9,14% 1,45%

Fonte: ABDI- Estudo Setorial da Indústria Automotiva

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Segundo a ABDI (2008), para compreender melhor a taxa de inovação do

setor automobilístico brasileiro, é necessário analisar os investimento em atividades

inovadoras e em P&D. Estes são fatores que sofrem menos influencia do número

elevado de empresas. Ao analisar os investimentos das empresas brasileiras nessas

atividades, é gasto 2,8% do faturamento em atividades inovadoras, investimento

maior que os das empresas francesas e espanholas, que investem 1,4% e 2,1% de

seu faturamento. Contudo ao estudar os investimento em P&D, investe muito

menos, cerca de 0,7% do faturamento. Esse fato demonstra que as atividades

inovadoras das empresas brasileiras são dependentes da aquisição de tecnologias,

especialmente tecnologia incorporada em máquinas e equipamentos e menos de

atividades de P&D propriamente ditas (ABDI, 2008).

Ainda de acordo com o Estudo da ABDI (2008) o setor automotivo brasileiro

investe o mesmo percentual do faturamento que o setor automotivo espanhol e

italiano e investe muito mais do que esses dois países em outras atividades

inovadoras. O setor responde, ainda, por 24% dos gastos em P&D da indústria

brasileira ou aproximadamente R$ 1,9 bilhão6.

Para Love e Roper (1999), as empresas podem produzir inovação por meio

de esforços internos de P&D, pela transferência de tecnologia entre empresas do

mesmo grupo e; redes ou transferências de tecnologia entre empresas de grupos

diferentes. Essas três formas são relevantes para a inovação, mas que essas

diferentes estratégias parecem ser substitutas uma à outra.

Conforme a pesquisas da ABDI (2008), as filiais brasileiras ganham

experiência na adaptação de seus produtos ao mercado consumidor, ganhando

também espaço junto às matrizes para realizar atividades mais complexas e, por

vezes, assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento de novos modelos. Esse

foi o caso do Fox, por exemplo, que foi um modelo desenvolvido majoritariamente no

país. Nesse sentido, a maior importância do mercado brasileiro no contexto mundial,

pode contribuir para que as matrizes desloquem cada vez mais atividades de

engenharia para a subsidiária local. Ainda de acordo com o estudos, 30% das

montadoras brasileiras afirmaram que seus esforços em P&D é uma outra empresa

do grupo no exterior.

6 Dados de 2008

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2.2 MARCO TEÓRICO

Teoria das Relações Internacionais

A visão ou imagem ―(KAUPPI; VIOTI, 1998) de relações internacionais na

qual se insere o estudo é a pluralista. Isso porque a teoria parte do pressuposto de

que os Estados continuam sendo importantes para a dinâmica das relações

internacionais, contudo o Pós-Guerra fria fortaleceu o surgimento de novos atores

que não podiam ser ignorados. O Estado passa a ser visto como uma entidade

fragmentada e interdependente:

O Estado não é uma entidade reificada. É composto por burocracias individuais, grupos de interesse e indivíduos que tentam formular ou influenciar a política externa. As decisões são resultados da combinação dos interesses de vários Estados. Desta forma, organizações e/ou Estados diferentes terão opiniões diferentes sobre um mesmo assunto, e competições, coalizões e acordos resultarão frequentemente em uma decisão. Viotti (1998, p.7)

No contexto atual os Estados não podem mais serem os atores supremos,

ocorre uma dinâmica entre outros atores, suas ações devem satisfazer os interesses

e expectativas de grupos internos ou externos. Segundo Viotti(1998), as agendas

econômica e comercial ganham mais relevância, tornando-se os principais temas a

serem debatidos na politica internacional.

Viotti e Kauppi (1998) afirmam que os pluralistas acreditam que a agenda da

política internacional é extensa, não tendo como tema principal apenas questões

de segurança internacional, já que a agendas de negócio estrangeiro tem

expandido e se diversificado nas últimas décadas, de forma que têm

presença atestada em vários debates de política externa.

O realismo ainda que ―imagem‖ predominante no campo de Relações

Internacionais, não é a mais adequada para os propósitos deste trabalho. Isso

porque, de acordo com Mingst (2008), a teoria acredita que o Estado é um

protagonista autônomo, uma entidade soberana que goza de autoridade para reger

assuntos que estão dentro das suas próprias fronteiras. Buscando sempre alcançar

o interesse nacional, definidos em termos de poder, principalmente o poder militar.

Sarfati (2007) afirma que diferente do pensamento pluralista, os realistas

abordam que a agenda do Estado é hierárquica tendo como tema número um

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questões relacionadas à segurança. Qualquer assunto diferente é tratado em um

segundo plano.

Para os realistas, o Estado no sistema internacional sempre buscará atuar de

forma racional, procurando aumentar o seu poder para garantir a sua segurança e

chances de sobrevivência, já que a ameaça de uma guerra é constante. Existe a

possibilidade de formação de alianças entre os Estados para a manutenção do

equilíbrio de poder, contudo essas alianças podem ser desfeitas segundo os

interesses individuais de cada um7.

Com o advento da globalização e o aumento da integração politica,

econômica, social e cultural entre os Estados, e com a maior participação e

influencia de atores não estatais no sistema internacional, fez com que as teorias

realista e neo-realista não fossem capazes de explicar a nova realidade

contemporânea.

Diante do novo arranjo do sistema internacional, surgiu a teoria globalista que

tem como objetivo explicar as novas formas de interações entre os Estados e os

diversos atores. De acordo com Held (1999), a teoria globalista é dividida entre as

vertentes cética, hiperglobalista e transformacionalista. Para o desenvolvimento do

presente trabalho, será usado a vertente trasnformacionalista para explicar a

interação entre IED e inovação.

Para Held (1999), a teoria trasnformacionalista parte do pressuposto de que a

globalização é uma força transformadora, e que é o principal motivo pela mudança

de interação entre sociedades, economias, instituições de governança global. A

globalização faz com que ocorra um aumento das relações e fluxos, o Estado-nação

continua sendo um ator fundamental das relações internacionais, contudo a nova

realidade é menos estadocêntrica e mais pluralista, surgindo uma nova ordem Pós-

Vestefália. Essa nova ordem, segundo Gómez (2000), é caracterizada pelo

deslocamento da noção tradicional de soberania como ilimitada, indivisível, e

exclusiva do poder político, para um conceito de soberania que é dividido entre

nacionais, regionais e internacionais, sendo assim, limitada pela própria natureza

dessa pluralidade.

7 OWENS, PATRICIA; SMITH, STEVE; BAYLIS, JOHN. The Globalization Of World Politics. Oxford

University Press, 2008.

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Surge uma nova sociedade, baseada no capitalismo e onde esse aumento

dos fluxos e relações faz com que não tenha uma divisão clara entre doméstico e

internacional. Para Gómez (2000), o processo de globalização desestabiliza as

identidades coletivas. A política doméstica e as relações internacionais estão cada

vez mais interligadas. Segundo Putman (2010), em sua teoria dos jogos de dois

níveis, existe a necessidade de satisfazer o interesse nacional. Os tomadores de

decisão precisam encontrar um meio para conciliar os objetivos domésticos e

internacionais.

Diante destes novos temas e atores que têm constituído o sistema e a agenda

internacional contemporânea, há que se falar dos fluxos de IED e inovação. Com a

maior interação do mercado internacional, é necessário que os países encontrem

formas de aumentar a sua competitividade industrial. Uma das formas para

aumentar a competitividade e pelo aumento da inovação, a busca pelo

desenvolvimento de produtos cada vez mais revolucionários é um objetivo constante

entre as empresas no mundo. Para incentivar a produção de inovação na indústria,

os Estados podem utilizar o IED como fonte para propulsora para a realização desse

objetivo.

Conceitos Norteadores

São quatro os elementos norteadores do presente estudo, a saber: (a)

globalização; (b) fluxos de investimentos (IED); (c) spillover; (e) inovação.

Globalização: Segundo Held (2003), globalização é o processo (ou conjunto

de processos) que envolve uma transformação na organização espacial das

relações e transações sociais — avaliada em termos de sua extensão, intensidade,

velocidade e impacto —, gerando fluxos e redes de atividades, interações e

exercício de poder de dimensões transcontinentais ou inter-regionais.

Para Antônio Corrêa, a globalização é caracterizada pela interdependência

econômica e comercial entre os Estados, pela interpenetração das economias

nacionais e mercados globais e a pressão da concorrência. A criação de mercados

globais faz com que ocorra um aumento no processo de expansão da atuação das

empresas transnacionais para outros países, sempre procurando a maximização dos

lucros.

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Essa expansão das empresas transnacionais gera um aperfeiçoamento do

comércio internacional aumento e consequentemente dos fluxos de investimentos.

Elas são os principais atores responsáveis pela circulação e aplicação do

investimento externo direto.

Fluxos de investimentos (IED): As últimas duas décadas ficaram marcadas

pelo alto fluxo mundial de investimento, consequência direta da liquidez do mercado

internacional, da desregulamentação das economias nacionais e das estratégias das

empresas transnacionais (LACERDA,ANTÔNIO CORRÊA. 2004) .

Segundo a Receita Federal Brasileira, existem duas formas do investimento

estrangeiro ser aplicado, a primeira por investimentos em carteira e a segunda por

investimentos direto. Investimento de carteira é um grupo de ativos que podem ser:

ser ações, fundos, títulos públicos, debentures, aplicações imobiliárias, entre outros.

Estes ativos pertencem a um investidor, pessoa física ou pessoa jurídica, é

considerado investimento de carteira quando o investidor detém menos de 10 % dos

direitos ao voto ou das ações ordinárias. Já um investimento estrangeiro é

considerado direto quando o índice é superior a 10%.

Em relação ao IED, ele é dividido em participação de capital, que é os

ingressos de recursos de bens, moeda, utilizados para programa de privatizações,

relacionados com a aquisição/subscrição/aumento de capital, total ou parcial do

capital social de empresas residentes. E empréstimos intercompanhias, que são os

créditos concedidos pelas matrizes, sediadas no exterior, a suas subsidiárias ou

filiais estabelecidas no país.

De acordo com a Apex Brasil, desde a Segunda Guerra Mundial, o Brasil é o

principal destino dos investimentos externos direto, em 2008 a agência de

classificação Standard & Poors classificou o Brasil com o status de grau de

investimento, essa é a melhor nota que um país pode receber. No ano de 2012, a

quantidade de investimento eterno direto que entrou no Brasil foi acima dos US$ 59

bilhões. No ranking do "Global Venture Capital and Private Equity Country

Attractiveness", índice que mede a atração exercida por diversos países com relação

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a investimentos internacionais, o Brasil ocupou a 36 ª posição entre o período 2011

e 20128.

Muitos países se esforçam para atrair o investimento estrangeiro direto (IED),

pois é um investimento de longo prazo, que traz benefícios como melhoria da

infraestrutura, produção de emprego. Outro benefício do IED é a possibilidade do

conhecimento trazido pelas multinacionais se alastrem à indústria nacional,

provocando um spillover na produção de tecnologia e inovação.

Spillover (transbordamento): O conceito de spillover a um primeiro

momento faz parte da teoria de integração, que argumenta que um dos efeitos da

integração de determinada função seria a integração de outras funções, por meio de

um efeito de transbordamento que levaria à intensificação dos processos de

integração em curso (HAAS, 1970). David Miltrany também tem um conceito para

spillover:

Hábitos de cooperação seriam constituídos em áreas mais técnicas, nas esferas

econômica e social, nas quais o interesse comum pode emergir mais facilmente.

Mais tarde, o hábito de interação, a construção de valores comuns e instituições

permitiram que a prática da cooperação transbordasse para a arena política.

(HERZ,HOFFMANN.2004,p.58)

Contudo esse conceito pode ser utilizado em outras áreas, para explicar um

processo de cooperação, interação ou integração. No caso da presente pesquisa, o

conceito será utilizado para explicar o processo de spillover provocado pelos

investimentos externos na produção de inovação no setor automobilístico brasileiro.

No caso do presente estudo, o pensamento principal é de que com o

aprofundamento da integração do setor automobilístico brasileiro, acarretará num

processo de cooperação entre os diferentes segmentos do setor, resultando numa

melhoria do processo de inovação da indústria.

O spillover na inovação pode ocorrer de duas formas; a primeira ocorre

quando as empresas nacionais resolvem se internacionalizar para se defender da

entrada de empresas estrangeiras concorrentes ou para a busca de novos mercados

8 Pequenas Empresas Grandes Negócios. Brasil é o 36º em atração de investimentos, diz pesquisa.

Disponível em< http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI319303-17180,00-BRASIL+E+O+EM+ATRACAO+DE+INVESTIMENTOS+DIZ+PESQUISA.html>. Acesso em 13 de maio 2013.

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no sistema internacional. E a segunda forma ocorre quando os investidores

estrangeiros fazem acordos de cooperação com empresas locais para aperfeiçoar o

seu processo de produção, o que faz com que ocorra um repasse de conhecimento

e tecnologia.

Inovação: Para atingir o propósito da presente pesquisa foram utilizados os

seguintes conceitos sobre o que é considerado inovação. O primeiro conceito

utilizado foi o Manual de Oslo, que define a inovação como sendo o melhoramento

de um produto, como a implementação ou comercialização de um produto novo com

características de desempenho aprimoradas em relação aos anteriormente

produzidos.

Consoante com o conceito acima, inovação é um processo que diz respeito à

implementação de processos de produção ou métodos de entrega novos ou

significativamente aprimorados – o que pode envolver mudanças nos equipamentos,

recursos humanos, métodos de trabalho ou uma combinação de todos eles (OCDE,

1997).

Outro conceito que embasou o trabalho foi o de Freeman (2008), que acredita

que inovação é o processo que inclui as atividades técnicas, concepção,

desenvolvimento, gestão e que resulta na comercialização de novos (ou

melhorados) produtos, ou na primeira utilização de novos (ou melhorados)

processos.

Por fim, Freudenberg (2003) considera inovação como sendo o

desenvolvimento, implantação e utilização econômica de novos produtos, processos

e serviços, tornando cada vez mais um importante auxílio para o crescimento

económico sustentado e sustentável, tanto nos níveis microeconômicos a níveis

macroeconômicos.

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3. O SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO

3.1 CARACTERIZAÇÃO

O setor automotivo é formado pela indústria da manufatura de veículos leves,

camionetas e utilitários, caminhões e ônibus, máquinas agrícolas e rodoviárias,

autopeças e diversos outros produtos e serviços que compõem os elos da cadeia

produtiva automotiva. Cerca de 200 mil empresas brasileiras têm suas atividades

ligadas ao setor automotivo. Por ser um setor muito complexo, ele interfere em

vários setores da economia brasileira, apresentando dessa forma uma cadeia

produtiva bastante diversificada desde as matérias-primas até os serviços. Na figura

abaixo se pode ver todos os setores que participam do setor automotivo, desde a

sua fase inicial até a conclusão.

Figura 4 - Complexo Automotivo

Fonte: CNI, 2012.

O Brasil é o 4° maior mercado e o 7° maior produtor automotivo mundial

(2012). Estão estabelecidos no país 20 fabricantes de veículos (automóveis,

comerciais leves, caminhões e ônibus) e 7 produtores de máquinas agrícolas

(tratores, colheitadeiras, outros produtos) e 5.116 concessionárias. Em 2012, o setor

automotivo brasileiro empregou ao todo 1,5 milhões de pessoas e faturou US$ 106,8

bilhões (ANFAVEA, 2013).

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Nos últimos 12 anos o setor automotivo brasileiro apresentou um crescimento

na sua participação no PIB Industrial brasileiro, em 1992 representava 10,6 e em

2012 passou para 18,7, seu faturamento líquido também aumentou nesse período,

passou de R$ 33.833 milhões para R$ 93.977 milhões, apresentando um

crescimento de 281% em 12 anos (ANFAVEA, 2013).

A balança comercial do setor nos últimos quatro anos foi deficitária, como

pode ser visto na tabela abaixo. Em 2012 o déficit foi de US$ 10,5 bilhões, isso

ocorre principalmente devido ao grande volume de importações de autoveículos e

autopeças. Contudo o setor apresentou um índice superavitário, em sua maioria, na

balança comercial de máquinas agrícolas e rodoviárias (ANFAVEA, 2013).

Figura 5 - Panorama do Setor Automotivo Brasileiro

Fonte: ANFAVEA

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Tabela 2. Balança Comercial do Setor Automotivo

Fonte: Elaboração própria, com base em ANFAVEA, 2012 – US$ Milhões.

Os principais destinos das exportações brasileiras de veículos montados são

para países da América Latina, principalmente para a Argentina, Chile e Uruguai.

Em segundo ficam os países do continente Africano, a maioria dos veículos são

destinados à África do Sul. Os países da América do Norte ficam em terceiro, sendo

o principal comprador de veículos brasileiros o México. E a Europa representa o

quarto principal comprador de veículos brasileiros, nesse caso, Alemanha e Reino

Unido são os principais consumidores (ANFAVEA, 2013).

3.2 POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS PARA A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA 1990-2012

ANO

EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃOIMPORTAÇÃOEXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO

2001 2.640,10 2017 3910,7 4416,5 167,2 30,7

2002 2633,4 1093,5 4163 4147,3 263,8 12,1

2003 3566,5 828 5137,3 4503,9 502,2 13,5

2004 4950,7 880,4 6431,5 5824,8 810,7 65,2

2005 7076,8 1350,6 7855 7070,2 827 38

2006 7320,7 2633,6 9314,6 7236,8 701,7 35

2007 7800,3 4083,5 9939,8 9772,2 1018,2 103,1

2008 8409,6 6865,3 10880,5 13557,9 1369,6 195,6

2009 4621,1 6971,1 7071,7 9508,1 654,2 136,3

2010 6909,6 10869,5 10691,7 14855,3 948,7 177,9

2011 7656,8 14709,4 12537,5 17999,3 1048,5 280,8

2012 6784,6 12701,3 11625,5 18129 906 483,8

ANO

EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃOIMPORTAÇÃOEXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO

2001 315,3 94,6 428,4 84,6 7461,7 6643,4

2002 352,2 93 379,4 16,5 7791,8 5362,4

2003 467,9 169,9 482 5,1 10155,9 5517,4

2004 954,5 149,1 648,8 21,2 13796,2 6940,7

2005 1320,9 302,9 993,8 73,8 18073,6 8835,5

2006 1540,4 502,5 1129,7 28,1 20007,1 10436

2007 1646,2 362,1 1257,8 68,8 21662,3 14389,7

2008 1870,1 931,6 1483,8 38,4 24013,6 21588,8

2009 618,1 861,5 788,4 46,6 13753,5 17523,6

2010 1384,6 1144,8 1050,7 116,5 20985,3 27164

2011 2215,1 1507,4 1323,6 166,9 24781,4 34663,8

2012 2258,2 1658,5 1155,4 196,3 22729,7 33168,9

*Total refere-se ao somatório de todo os setores de Autoveículos, Autopeças, Máquinas Agrícolas, Máquinas Rodoviárias e Outros

AUTOVEÍCULOS AUTOPEÇAS MÁQUINAS AGRÍCOLAS

MÁQUINAS RODOVIÁRIAS OUTROS TOTAL*

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Durante a década de 1990 o setor automotivo foi um dos principais focos do

governo federal. No período 1990-1998 foram colocados em pratica ações que vão

desde a redução de alíquotas de impostos (ICMS e IPI) até os planos de política

industrial: Acordos Emergenciais e do Regime Automotivo. Um exemplo dessas

ações foi a redução das tarifas de importação e dos índices de nacionalização

exigidos para a indústria automobilística que era de 85% passou para 60% (DE

NEGRI, J. A , 1999).

Em 1990, o discurso do então presidente da época, Fernando Collor de Melo

era de modernização e renovação do Brasil. Para alcançar esse objetivo e

principalmente conter a inflação, foi lançado um pacote que garantiria a

modernização do Brasil, os principais pontos desse pacote eram: a) volta do

Cruzeiro como moeda; b) congelamento de preços e salários; c) bloqueio de contas

correntes e poupanças no prazo de 18 meses; d) demissão de funcionários e

diminuição de órgãos públicos.

Fernando Collor utilizou-se dos princípios neoliberais para fundar as politicas

do seu governo. Acreditava que era necessária a redução do Estado para fazer com

que o Brasil desenvolvesse economicamente e socialmente. Diante desse

pensamento implementou o início das privatizações estatais e à redução das tarifas

alfandegárias. Com isso os produtos importados entravam no Brasil com os preços

menores, fazendo com que a indústria nacional sentisse a necessidade de se

modernizar para poder concorrer com os produtos importados.

Durante o governo de Collor foi abolida a lista de restrição à importação de

1.300 produtos, dentro desses produtos que tiveram a sua entrada liberada estava

os automóveis. Com a entrada facilitada, no fim de 1995, o país contava com a

presença de mais de 30 importadoras atuando no Brasil, e quatorze fabricas

produzindo em território nacional.

Entre 1992-1993, o governo destinou os seus esforços para a restruturação

da indústria automotiva. O governo em âmbito a Câmera Setorial Automotiva e o

setor privado destinaram metas para o setor. Ficou acordado então a redução de

carga tributária (IPI e ICMS), a redução de margens de lucro das montadoras, dos

fabricantes de autopeças e das concessionárias, a redução de preço dos

automóveis, a manutenção do emprego, a ampliação do financiamento para

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caminhões e ônibus e a implementação de financiamento para carros de passeio

(MEDEIROS, Ângela; BURITY, Priscila, 1998).

Em 1994, durante o governo de Itamar Franco, ocorreu à implantação do

Plano Real o que possibilitou a intensificação da liberalização econômica brasileira.

Mais uma vez o governo procurou reduzir as taxas de importação, houve a

diminuição das alíquotas do imposto de importação para 0% e 2%. Implicando dessa

forma na entrada de investimentos externos diretos no setor automotivo brasileiro,

principalmente depois da implementação do Plano de Metas.

As medidas desse Plano de Metas englobavam diversos setores da

economia, eram politicas de natureza macroeconômica, medidas para redução do

Custo Brasil; programas e ações do Brasil em Ação; plano de Investimentos do

Avança Brasil; e medidas relacionadas à Política Industrial, destacando-se dentro

dessa o Regime Automotivo que tem como objetivos a atração de investimentos

para o setor, estimular a exportação de autoveículos e autopeças; e aumentar a

produção de veículos de 1,8 milhões para 2,5 milhões até o ano 2000.

O principal objetivo da Politica Industrial do governo FHC seria a

reestruturação da indústria nacional, através da abertura comercial,

desregulamentação e estabilização macroeconômica. As principais politicas eram: a)

Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior: Ministério da Indústria,

Comércio e Turismo (MICT), 1995; b) ações Setoriais para o Aumento da

Competitividade da Indústria Brasileira, MICT, 1997.

A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) tinha como

foco a consolidação de um novo padrão de expansão para o sistema industrial

brasileiro, criando dessa forma concisões para que as indústrias criem uma postura

mais ofensiva baseada no crescimento da capacidade de produção e de inovação

tecnológica. Como resultado a indústria nacional teria um aumento nos

investimentos; a aceleração da capacitação tecnológica; a ampliação do fluxo de

comércio exterior.

A PITCE enumera uma série de instrumentos — políticas de investimento, de

capacitação tecnológica, de comércio exterior, de capacitação de recursos humanos

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e de apoio às microempresas e empresas de pequeno porte — para viabilizar seus

objetivos (IPEA, 2007).

A politica de investimento tem como finalidade aumentar o investimento geral

em indústrias consideradas estratégicas e com poder competitivo, incluindo a

reestruturação e a expansão empresarial e produtiva. Para isso, eram eliminadas as

restrições ao investimento privado nacional ou estrangeiro e reduzidos os preços de

insumos e de bens de capital. A importação de tecnologia deveria ser apoiada,

assim como a disponibilidade e melhoria das condições de financiamento a longo

prazo.

Já a política de capacitação tecnológica, tinha como foco a inovação e a

infraestrutura tecnológicas, tendo metas para a capacitação em pesquisa e

desenvolvimento, gestão de tecnologia e design.

O Regime Automotivo de 1995 foi um programa de investimento e de

exportação com regime especial de importação. Isto é, a empresa industrial

instalada no País ou que queira se instalar (newcomers) e que assuma junto ao

governo o compromisso de investir/exportar terá, em contrapartida, a autorização

para importar bens de capital, insumos e veículos com redução do Imposto de

Importação (MDIC, 1999).

De acordo com o Decreto nº 2.072/96 ficam definidas como newcomers as

montadoras e fabricantes de autopeças que venham a se instalar no país, as

fábricas novas das montadoras e fabricantes já instalados, e as linhas de produção

novas e completas, adicionais às existentes, aqui definidas como aquelas que

introduzam no país modelo novos ou família nova de modelos, com investimentos

em conjunto completa de ferramentais novos para a confecção de nova carroceria

(Brasil, 1996).

Como resultado, o Regime Automotivo fez com que houvesse um aumento

dos investimentos e a instalação de 43 novos empreendimentos no país; melhoria da

qualidade dos produtos fabricados; desconcentração regional das empresas; déficit

comercial de US$ 3,6 bilhões das empresas signatárias do regime no período 1996-

98, sendo um déficit comercial de US$ 5,9 bilhões das montadoras e um superávit

de US$ 1,8 bilhões do segmento de autopeças; índice de nacionalização médio de

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80%; relação bens de capital nacional e importados 45% acima do nível mínimo

exigido; subutilização do limite máximo permitido de insumos importados e uma

relação matérias-primas nacionais e importadas muito acima do mínimo acordado;

elevação dos preços dos veículos e da margem de lucro das montadoras (De Negri,

1999).

A instalação do Regime Automotivo foi importante na década de 1990, pois

criou meio para modificar os modos de produção, ampliar os investimentos e

modernizar a indústria automobilística brasileira e consequentemente a sua cadeia

de produção. O total de investimentos chegou a US$ 27 bilhões, no período de 1995

a 2005 (ANFAVEA, 2006; Sindipeças, 2006). Parte desses recursos foi empregada

na reestruturação de antigas fábricas, tendo em vista atualizá-las frente às

exigências e padrões competitivos globais ( ANFAVEA, 2006).

Outra política importante para o setor, e que foi implantada na década de

1990, foi a política tributária do carro popular, que isentou os veículos com

motorização de até 1.000 cilindradas, ou seja, carros 1.0 foram isentos das alíquotas

de IPI, resultando na redução significativa dos preços desses carros no mercado

brasileiro. A partir dessa medida, foi possível que uma parcela maior de brasileiros

tivessem um acesso maior a um carro 0 km (CONSONI, F., 2004)

Luiz Inácio Lula da Silva durante o seu governo procurou manter as políticas

econômicas que foram herdadas do seu antecessor FHC. O governo continuaria

com uma orientação neoliberal, contudo buscou-se fazer algumas alterações em

algumas politicas econômicas e sociais.

Em relação à política macroeconômica o governo Lula manteve as metas da

gestão anterior, que tinha como objetivos o controle da inflação e a política de

geração de superávit fiscal primário. Contudo, no tocante da Política Industrial, foram

feitas alterações, iniciando a formulação da Política Industrial, Tecnológica e de

Comércio Exterior (PITCE).

A PITCE do governo Lula tem como objetivo o aumento da eficiência

econômica e do desenvolvimento e difusão de tecnologias com maior potencial de

indução do nível de atividade e de competição no comércio internacional. Foi focado

no aumento da eficiência da estrutura produtiva, aumento da capacidade de

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inovação das empresas brasileiras e expansão das exportações. Esta foi

considerada a base para uma maior inserção do país no comércio internacional,

estimulando os setores onde o Brasil tem maior capacidade ou necessidade de

desenvolver vantagens competitivas, abrindo caminhos para inserção nos setores

mais dinâmicos dos fluxos de troca internacionais (MDIC, 2003).

O PITCE foi criado para sustentar o desenvolvimento da indústria brasileira,

através do estímulo à eficiência produtiva, ao comércio exterior, à inovação e ao

desenvolvimento tecnológico. Para isso foram criados programas de investimentos

das empresas voltados para a pesquisa, desenvolvimento e engenharia (P&D&E). O

principal destino dessas políticas são as cadeias produtivas, setores, arranjos

produtivos, redes ou grupos de empresas e cada firma-alvo de medidas específicas.

PITCE atuou em três eixos: linhas de ação horizontais (inovação e

desenvolvimento tecnológico, inserção externa/exportações, modernização

industrial, ambiente institucional), setores estratégicos (software, semicondutores,

bens de capital, fármacos e medicamentos) e em atividades portadoras de futuro

(biotecnologia, nanotecnologia e energias renováveis) (ABDI, 2013).

Durante o seu segundo mandato, o Presidente Lula deu continuidade às

políticas adotadas pelo PITCE, contudo em 2008 foi lançado a Política de

Desenvolvimento Produtivo (PDP). O PDP tem como objetivo principal a promoção

da competitividade de longo prazo economia brasileira, consolidando a integração

das politicas existentes, com isso fortalecer a coordenação entre instituições de

governo e aprofundamento da articulação com o setor privado.

O programa conta com cinco objetivos considerados estratégicos: Liderança

Mundial; manter ou posicionar o sistema produtivo ou empresa brasileira entre os

cinco principais players mundiais; a Conquista de Mercados; que consiste em

manter ou posicionar o sistema produtivo local entre os cinco maiores exportadores

mundiais; a Focalização; construção e consolidação da competitividade em áreas

estratégicas, de alta densidade tecnológica; a Diferenciação; posicionar empresas e

marcas brasileiras entre os cinco principais em seu mercado de atuação; e a

Ampliação do Aceso; ampliar o acesso da população a bens e serviços básicos para

melhorar a qualidade de vida (MDIC, 2008).

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Além dos objetivos, o PDP tinha definido quatro macrometas, Ampliação do

Investimento Fixo, Elevação dos Gastos Privados em P&D, Ampliação da

Participação das Exportações Brasileiras e Dinamização das Micro e Pequenas

Empresas. Essas macrometas têm como finalidade indicar com clareza, os

resultados do PDP, indicando o seu alcance e permitindo o acompanhamento

periódico dos resultados obtidos para obter maior eficiência do programa. Ao todo

foram criados 35 programas para realizar as quatro macrometas, a divisão desses

programas foi representada na figura abaixo.

Para o Complexo Automotivo o PDP estipulou seis ações e dez medidas, que

almejavam a consolidação e ampliação da participação do país na produção mundial

de veículos. Nesse período foram destacados, pelo governo, como desafios a serem

conquistados a ampliação da capacidade de produção, o adensamento e

modernização da cadeia, o fortalecimento da engenharia de projeto e a ampliação

do volume exportado. As metas definidas para o setor estão voltadas para o

aumento da produção, dos gastos das empresas privadas em P&D e das

exportações. O governo tinha como objetivo produzir 4,3 milhões de veículos em

Figura 6 - Política de Desenvolvimento Produtivo

Fonte: Portal do PDP

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2010 e 5,1 em 2013, aumentar os gastos em P&D 2% do faturamento em 2010 e 2,5

em 2013 e ampliar as exportações de veículos para 930 mil em 2010(MDIC, 2008).

As principais ações destinadas para o fortalecimento da competitividade do

setor automobilístico foram o de financiamento à ampliação e consolidação do setor

de autopeças, a desoneração tributária, financiamento às exportações,

financiamento à engenharia automotiva, defesa comercial latu sensu, ampliação de

mercados. O comprimento e o planejamento das medidas e das ações foram

divididas entre os principais órgãos do governo federal e empresas privadas, como o

BNDES, MDIC, Ministério da Fazenda, COFIG, Mercado de Capitais e ANFAVEA.

Das medidas estabelecidas para o setor automotivo, somente a criação do

FDIC não foi implementada. A meta de produção para 2010 de 4,3 milhões não se

concretizou devido à crise de 2008, que encolheu as exportações brasileiras de

veículos, foram produzidos 3.381.728 milhões de veículos no país em 2010. O

objetivo de exportar 930 mil também não se concretizou, exportamos cerca de 510

mil veículos em 2010, apresentando um déficit na balança comercial, já que no

mesmo período importamos 660.141 mil veículos (MDIC, 2011).

Mesmo não tendo realizado todas as metas para o setor automotivo, a

Política de Desenvolvimento da Produtividade foi importante para o setor, com a

ajuda dos programas implantados foi possível diminuir as consequências da crise

econômica internacional de 2008 no complexo automotivo, apesar dos efeitos

negativos na nossa econômica o setor automotivo continuou apresentando um

crescimento em relação ao ano anterior.

Com o advento do governo Dilma Rousseff em 2011, o país passa a ter um

novo programa industrial, o Plano Brasil Maior9, que tem como objetivo sustentar o

crescimento econômico inclusivo num contexto econômico adverso e sair da crise

internacional em melhor posição do que entrou o que resultaria numa mudança

estrutural da inserção do país na economia mundial.

O principal foco do plano é a inovação e o adensamento produtivo do parque

industrial brasileiro. Para isso, foram adotadas medidas de desoneração dos

investimentos e das exportações, de avanço do crédito e aperfeiçoamento do marco

9 O Novo Regime Automotivo entrou em vigor no ano de 2013.

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regulatório da inovação, de fortalecimento da defesa comercial e ampliação de

incentivos fiscais e facilitação de financiamentos para agregação de valor nacional e

competitividade das cadeias produtivas. Este plano foi dividido em duas dimensões

a Setorial e a Sistêmica. Na dimensão Setorial foram definidas cinco diretrizes

estruturantes que serão a bases dos projetos e programas acordados entre o

governo e o setor privado que serão construídos.

A primeira dimensão estrutural é o fortalecimento das cadeias produtivas, nele

se busca aumentar a eficiência produtiva das empresas nacionais, aumentar a

agregação de valor no próprio país e coibir práticas desleais de competição. Dessa

forma será possível criar meio para combater a substituição da produção nacional

em setores industriais intensamente atingidos pela concorrência das importações. A

segunda dimensão está relacionada com a ampliação e Criação de Novas

Competências Tecnológicas e de Negócios, serão incentivadas empresas que

apresentam potencial para ingressar em mercados dinâmicos e com elevadas

oportunidades tecnológicas, e o uso do poder de compra do setor público para criar

negócios intensivos em conhecimento e escala. Já a terceira dimensão estrutural é

o desenvolvimento das cadeias de suprimento em energias, que seria o

aproveitamento das oportunidades ambientais que o país oferece e dos negócios na

área de energia, para colocar o Brasil numa posição privilegiada entre os

fornecedores mundiais de energia e de tecnologias, bens de capital e serviços

associados.

A quarta dimensão é a diversificação das exportações (mercados e produtos)

e internacionalização corporativa, com foco na promoção de produtos

manufaturados de tecnologias intermediárias e de fronteira intensivos em

conhecimento, no aprofundamento do esforço de internacionalização de empresas

via diferenciação de produtos e agregação de valor, e a construção de empresas

estrangeiras e estímulo à instalação de centros de pesquisa e desenvolvimento

(P&D) no país. A quinta é ultima dimensão, está voltada para consolidação de

competências na economia do conhecimento natural, que seria a o uso dos avanços

feitos pela economia do conhecimento para ampliar o conteúdo científico e

tecnológico dos setores intensivos em recursos naturais, permitindo que o país

aproveite as vantagens na produção de commodities para avançar na diferenciação

de produtos.

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As ações da Dimensão Sistêmica estão voltadas para as áreas do comércio

exterior, incentivo ao investimento e inovação, formação e qualificação profissional,

produção sustentável, competitividade de pequenos negócios, ações especiais em

desenvolvimento regional, bem-estar do consumidor, condições e relações de

trabalho. Todas as medidas tomadas para incentivar essas áreas têm como objetivo

principal a redução dos custos, o aumento da produtividade e a promoção de bases

mínimas de isonomia para as empresas brasileiras em relação a seus concorrentes

internacionais; e consolidação de um sistema nacional de inovação por meio da

ampliação das competências científicas e tecnológicas e de sua inserção nas

empresas.

Dentro do Plano Brasil Maior, foi adotado o Novo Regime Automotivo que

ficou conhecido com INOVAR-AUTO. O principal objetivo desse regime é o aumento

da produção e trazer inovação do setor automobilístico brasileiro, criando dessa

forma mais empregos no Brasil, e o desenvolvimento da inovação tecnológica no

país e aumentando a competitividade da indústria automobilística. São beneficiárias

do novo regime as empresas que produzem veículos no país, as que não produzem,

mas comercializam, e as empresas que apresentem projeto de investimento no setor

automotivo.

Uma das ações desse regime foi a redução do IPI, para automóveis

produzidos no país há a previsão de um desconto de até 30 pontos porcentuais no

IPI para automóveis. As empresas também terão um crédito presumido de IPI

referente a gastos em Pesquisa e Desenvolvimento e a investimentos em tecnologia

industrial básica, engenharia de produção e capacitação de fornecedores. Para

receber esses benefícios às empresas precisam se comprometer com um conjunto

de metas no período de 2013-2017.

As metas estão voltadas para duas áreas, a eficiência energética e a melhoria

dos requisitos de segurança dos automóveis brasileiros. Para alcançar as meta do

governo de consumo de 14 km/l para 17,26 km/l (gasolina) e de 9,71 km/l para 11,96

km/l (etanol), as empresas terão necessariamente de investir em tecnologias mais

modernas de produção: motores mais eficientes, menos poluentes, peças mais

leves, elevando padrão nacional. Quem produzir carros que consumam 15,46%

menos terão direito a um abatimento de um ponto percentual de IPI, e Carros que

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consumam 18,84% menos terão direito a um abatimento de dois pontos percentuais

de IPI. As ações para a melhoria dos requisitos de segurança, é para o governo

federal uma forma de produzir inovação no setor automobilístico brasileiro. Espera-

se que as empresas direcionem a maior parte de seus investimentos em P&D e

Tecnologia Industrial.

Para habilitarem-se ao novo regime, as fabricantes de automóveis e veículos

comerciais leves movidos à gasolina e/ou etanol instalados no Brasil terão ainda de

realizar seis das doze etapas fabris necessárias à produção dos veículos no Brasil.

Esse patamar é válido para 2013, mas subirá para sete etapas, em 2014 e 2015, e

para oito etapas, em 2016 e 2017. Esses fabricantes terão ainda de escolher dois

dos três requisitos a seguir para ter direito aos benefícios do Inovar-Auto:

investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), investimento em engenharia,

tecnologia industrial básica e capacitação de fornecedores e participação no

Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (Inmetro) (MDIC, 2012).

Já as empresas que não produzem no país e querem participar do INOVAR-

AUTO deverão se comprometer de importar carros mais econômicos segundo os

parâmetros do decreto; e realizar dispêndios em pesquisa e desenvolvimento,

engenharia, tecnologia industrial básica e capacitar os fornecedores

correspondentes, além de aderir ao programa de etiquetagem veicular do Inmetro.

Contudo o novo regime automotivo brasileiro é uma política transitória, de

acordo com o ministro Fernando Pimentel, o INOVAR- AUTO é um regime de

transição, usado para atrair um investimento de caráter permanente para o país,

depois que esse objetivo for alcançado ele passa a não ser necessário. Ainda de

acordo com o ministro, o regime foi um sucesso, pois conseguiu internalizar a

produção de veículos em todos os segmentos no Brasil, caso não tivesse sido

implantado metade do mercado brasileiro estaria ocupado por carros importados, o

que não tem sentido num país que tem uma indústria automobilística instalada,

sólida e antiga. Após o anuncio do novo regime automobilístico brasileiro em 2012

nove montadoras já se instalaram no país.

Essas foram as políticas adotadas pelos governos durante 1990-2012 para o

setor automobilístico. Através dessas políticas, o governo brasileiro conseguiu atrair

a entrada de firmas para o setor, e consequentemente o desenvolvimento da cadeia

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automobilística brasileira. Contudo, apesar de todo investimento e do crescente

desenvolvimento, o setor automobilístico brasileiro ainda precisa aumentar a sua

participação nas exportações brasileiras, e consequentemente do mercado

internacional. Para isso é necessário que ele aumente sua capacidade de produzir e

absorver tecnologia e inovação.

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4. A ENTRADA DE INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO ENTRE 1990-2012

A partir da década de 1990, o Brasil volta a ser um dos principais destinos do

investimento externo direto. Como nesse período o país estava passando por um

processo de liberalização econômica, parte do IED que adentrou no país foi

direcionado para o desenvolvimento da indústria brasileira. Para o governo brasileiro

o IED seria um dos principais meios para fomentar a estabilização econômica e a

reestruturação produtiva no país.

Em busca da estabilização econômica e a reestruturação produtiva, o governo

brasileiro adotou medidas para atrair e facilitar a entrada do IED no Brasil, as

primeiras medidas foram explicadas no capítulo anterior, são aquelas que têm como

objetivo reduzir o nível de proteção da economia brasileira: a redução tarifária e a

eliminação de restrições não tarifárias a importações. Foi também modificada a

regulação sobre o capital estrangeiro, com o fim da diferença entre empresa de

capital nacional e capital estrangeiro, permitindo ao capital multinacional o acesso

tanto aos setores de atividade, como ao crédito das agências oficiais de fomento,

incentivos e subsídios governamentais. Foi controlado à saída de capitais

estrangeiros, tais como a vedação das remessas de lucro, regime tributário e

contratos de transferência de tecnologias.

Como consequência da liberalização da economia brasileira, houve um

aumento da entrada de produtos importados, o que acabou gerando uma

necessidade de aprimoramento das empresas e produtos fabricados em âmbito

interno. A necessidade de melhorar a produção da indústria brasileira com o objetivo

de reduzir os custos e aumentar a sua competitividade, para poder competir com os

produtos importados e com as novas multinacionais que estavam se instalando no

país, fez com que o IED fosse direcionado para esse propósito, e também para a

conquista de novos mercados futuramente.

Durante a década de 1990, entre as economias em desenvolvimento, o Brasil

foi o principal destino do fluxo de IED ficando atrás somente da China. Nesse

período, o país recebeu cerca de US$ 45 milhões de IED (UNCTAD, 2013). O

principal destino desses investimentos foi para o processo de privatizações de

empresas públicas brasileiras, como companhias de energia elétrica, correio e

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telecomunicações, em 1999 foi direcionado cerca de US$ 8,7 bilhões, representando

30,7% do valor total do IDE líquido nesse ano (BACEN, 2010).

Além da compra de empresas públicas, o IED foi conduzido para outros

segmentos da economia brasileira, como os setores da Intermediação Financeira,

Comércio Atacadista e Varejista. Já na indústria, destacam-se os setores

Automobilístico, Química, Alimentos e Bebidas, Equipamentos de Comunicações e

Máquinas e Equipamentos (SARTI e LAPLENE, 2004).

A partir do ano 2001, o fluxo de IED no mundo sofre uma redução de 40%,

ocasionada pelos atentados terroristas nos EUA, guerras, e descobertas de fraudes

de grandes empresas americanas. Essa redução no Brasil foi cerca de 33%, além

dos motivos anteriores o Brasil sofria com a desconfiança das consequências da

troca de governo em 2002, Luís Inácio Lula da Silva iniciaria o seu mandato o que

ocasionou um temor nos investidores em relação a sua posição esquerdista. Mesmo

diante a redução o Brasil nesse período se manteve entre os quatro principais

países receptores de IED, posição que ele mantem até os dias atuais. No período

2000 – 2009, os setores que mais receberam IED no Brasil foi o de serviços, em

segundo a indústria e em seguida a agricultura. No setor de serviços as áreas que

mais receberam investimento em 2009 foram: Atividades de serviços financeiros;

comércio por atacado e seguros, resseguros, previdência complementar e planos de

saúde. Já na indústria as áreas que mais receberam investimento foram: metalurgia;

fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias e fabricação de coque,

de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis. E no setor da agricultura

receberam investimentos as seguintes áreas: extração de petróleo e gás natural;

extração de minerais metálicos e agricultura, pecuária e serviços relacionados. Os

principais países que aplicaram IED no período 1999- 2009 foram os Países Baixos,

Estados Unidos, Espanha, Alemanha e França (BACEN, 2009)

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Fonte: Elaboração própria, com base em BACEN, 2010-US$ milhões.

De acordo com o Censo de Capitais Estrangeiros no País - Anos base: 2010

e 2011 do BCB, no censo quinquenal foram encontradas 13.858 empresas

receptoras de IED, nesse período o estoque total de IED, em 2010, atingiu US$670

bilhões, equivalente a 31% do PIB. Do estoque total de IED, US$587,2 bilhões

referem-se ao estoque de IED - participação no capital, correspondentes a 27% do

PIB, e os restantes US$82,8 bilhões, ao estoque de IED - empréstimos

intercompanhias, correspondentes a 4% do PIB. Sendo as economias americana,

espanhola e belga as principais fontes finais de investimento direto no país. Nesse

período os setores da Infraestrutura, recebeu um total de US$ 10 bilhões e foram os

principais destinos do IED, principalmente os seguimentos das Telecomunicações,

Eletricidade e Gás,

Em 2012, 44% do fluxo de IED mundial foram recebidos por somente cinco

países, a China atraiu US$ 253 bilhões, os Estados Unidos US$ 175 bilhões, o Brasil

US$ 65 bilhões, o Reino Unido US$ 63 bilhões e a França US$ 62 bilhões. Os

Tabela 3. Principais Países Investidores do Brasil 1991-2009

Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Países Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo  Fluxo 

Alemanha 151.042 76.215 103.985 393.525 5.828,04 212,02 195,93 412,79 480,83 374,56 1.047,46 628,29 507,61 794,73 1.269,32 848,27 1.756,78 1.036,57 2.459,22

Argentina 142 4.921 15.418 14.611 393,58 30,06 186,89 113,32 87,79 112,71 56,77 88,47 76,16 80,50 112,23 124,96 71,07 125,62 80,09

Bélgica 208,00 -4.919,00 51.677,00 30.046,00 558,23 111,48 135,61 950,41 62,15 384,49 113,08 45,25 18,26 8,10 685,58 271,53 83,13 72,58 91,73

Canadá 33.454 158.592 1.866.766 206.841 1.818,98 118,51 66,20 278,63 445,37 192,82 441,10 989,35 116,78 592,54 1.435,32 1.285,51 818,35 1.438,02 1.371,41

China _ _ _ _ _ _ _ _ _ 37,74 28,08 9,74 15,51 4,35 7,56 6,65 24,30 38,42 82,01

Coréia do Sul 303 67 77 2.039 3,81 63,33 91,34 54,00 47,07 25,00 24,97 4,12 12,19 23,74 168,01 109,53 265,13 631,01 131,88

Espanha 18.563 29788 107.891 -10.310 251,01 586,63 545,79 5.120,23 5.702,20 9.592,86 2.766,58 586,90 710,47 1.054,93 1.220,43 1.513,74 2.163,52 3.787,47 3.415,19

Estados Unidos 546.230 1.448.558 3.028.815 4.465.922 10.852,18 1.975,38 4.382,33 4.692,47 8.087,61 5.398,71 4.464,93 2.614,58 2.382,75 3.977,83 4.644,16 4.433,68 6.039,19 6.917,95 4.878,32

França 180.867 64.112 239.976 315.431 2.031,46 969,94 1.235,25 1.805,39 1.982,13 1.909,71 1.912,82 1.814,97 825,23 485,86 1.458,41 744,59 1.214,40 2.856,13 2.136,48

Itália -7.028 -134.224 523.022 90.940 1.258,56 12,30 57,40 646,60 408,51 488,02 281,27 472,50 390,44 429,21 345,68 200,73 258,98 326,27 214,69

Japão 270.314 73.314 -16.703 93.530 2.658,52 192,19 342,11 277,77 274,27 384,74 826,60 504,48 1.368,35 243,17 779,08 647,52 464,63 4.098,78 1.672,57

Países Baixos 84.981 253.342 472.315 -192.565 1.545,80 526,77 1.487,87 3.364,99 2.042,47 2.228,04 1.891,85 3.372,46 1.444,88 7.704,85 3.207,92 3.494,94 8.116,13 4.623,68 5.721,78

Portugal 2.175 1.373 61.335 197.742 106,61 202,68 681,01 1.755,12 2.409,40 2.514,80 1.692,26 1.018,76 201,20 570,20 334,62 300,31 468,08 1.025,91 376,97

Reino Unido -35.776 307.911 982.059 1.161.979 1.862,61 91,46 182,52 127,90 1.268,83 393,74 416,23 474,36 254,22 275,36 153,26 395,18 1.003,54 641,00 1.025,17

Uruguai 9.738 32.313 14.412 52.595 874,15 81,19 56,14 80,60 40,97 199,50 180,62 237,46 154,69 160,59 169,21 229,48 212,52 421,98 194,98

Principais Investidores do Brasil - 1991/2009

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BRICS seguem como destino cada vez mais preferencial de IDE. A participação

destes nos fluxos globais de IDE passou dos 10% em 2007, para 19,5%, sendo que

nove dos 20 receptores de IED no Mundo são economias emergentes (OCDE,

2013).

O Brasil é o principal país receptor de IED da América Latina, no ano passado

entraram no país cerca de US$ 65,3 bilhões o que representa 41% dos fluxos

regionais. O setor manufatureiro brasileiro recebeu uma parte significativa dos IED

que adentrou no país, cerca de 38% foi para setor. O que difere do restante da

América Latina e Caribe, onde a grande maioria do IED é destinada para o setor de

matérias primas 51%, principalmente minérios. (Cepal, 2013).

Há dois anos, o IED adentrava ao país por meio da aquisição de participação

acionária de filiais instaladas no país por parte de empresas estrangeiras, cerca de

96% do IED que adentrou no país em 2010 foi por esse tipo de investimento.

Atualmente o investimento em projetos específicos das filias brasileiras que existem

no país vem sofrendo um aumento de entrada de IED (SOBEET, 2012).

A entrada de empresas transnacionais é importante para a atração de

investimentos, e melhoria da produção da indústria brasileira. É por meio das

transnacionais que o Brasil se insere no comércio internacional, pois estas são mais

integradas ao comércio internacional do que as empresas nacionais. Contudo no

Brasil a entrada das ETNs gerou um déficit na balança comercial. As empresas que

se instalaram no país mantinham como estratégia a compra de seus componentes

de produção para o seus fornecedores estrangeiros, reduzindo o índice de

nacionalização dos bens produzidos no país, favorecendo dessa forma a importação

(DE NEGRI, 2003).

4.1 INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO E O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA BRASILEIRA.

A indústria brasileira foi uns dos principais destinos do IED que adentraram no

país. Durante o período 1995-2000, ficou atrás somente do setor de serviços, que

devido ao processo de privatizações de empresas públicas brasileiras, acabou

recebendo a maior parte dos investimentos, no ano 2000 o setor de serviços atraiu

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cerca de 80% de todo o IED, sendo que no mesmo ano 16% do IED foram

destinados para o setor da indústria (BACEN,2010).

Com o fim do processo de privatizações das empresas públicas brasileiras,

ocorreu uma redistribuição do IED, o setor de serviços continuou sendo o principal

receptor, contudo a indústria brasileira aumentou a sua participação na absorção do

IED. Em 2009, a indústria atraiu cerca de 36% do IED contra os 42% que o setor de

serviços recebeu, diminuindo dessa forma, a diferença nos investimentos nesse

setores e afetando a produção da indústria brasileira. As atividades que receberam

mais investimentos no período 2007-2009 foram: o automobilístico (10,5%),

alimentos (9%), metalurgia (29,7%) e químicos (5%) (BACEN, 2010).

O governo federal brasileiro acreditava que através da entrada de IED de

empresas transnacionais (ETNs) no país iria desenvolver a indústria nacional

brasileira através do processo de spillover, resultando num aumento da

produtividade de competitividade a uma maior participação brasileira no comércio

internacional.

As ETNs podem atuar de diversas formas dependendo das suas motivações

em relação ao país que elas estão investindo e quais as atividades que elas irão

desenvolver. Seus interesses podem ser divididos em quatro grupos:resource

seeking , marketing seeking, efficiency seeking e strategic asset/capability

(Dunning,1993).

No resource seeking, a empresa tem uma orientação para o mercado externo,

principalmente para os países desenvolvidos. Ela tem como objetivo, a aquisição de

recursos específicos (mão de obra barata, matéria-prima, capacidade tecnologia)

com baixos custos. Já o market seeking, é um IED onde o foco principal das

empresas é o mercado interno do país que está recebendo o investimento, e

eventualmente países vizinhos, normalmente as empresas que tenham essa

orientação substituem as importações de bens das próprias empresas por meio da

fabricação dos mesmos no país inserido. Esse tipo de investimento é atraído pelo

crescimento econômico e por políticas comerciais e econômicas que são benéficas e

tragam lucros pra as empresas investidoras (DUNNING,1993).

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O IED efficiency seeking procura racionalizar a estrutura do resource-seeking

e marketing seeking, através de vantagens culturais, institucionais, econômicos,

políticos, de mercado. Os investimentos dentro dessa orientação pode-se ser

divididos em duas categorias, a primeira é caracterizada por empresas que

procuram tirar proveito de diferenças na disponibilidade e custo dos fatores em

países diferentes, distribuindo suas atividades entre eles. Já a segunda categoria é

caracterizada por empresas procuram explorar vantagens de escopo e do padrão de

preferências dos consumidores, resultando na replicação de estruturas horizontais

em países diferentes, normalmente a produção ocorre em economias com

características similares (Laplene et alii 2001).

Strategic asset/capability é o nome dado para o IED utilizado para a aquisição

de ativos de empresas em outros países como objetivos estratégicos a longo prazo.

Fazendo esse tipo de investimento a empresa aumenta o seu portfólio, e

consequentemente fortalece sua competitividade ou enfraquece seus concorrentes,

em mercados globais ou regionais. Os investimentos são feitos com o intuito de

abertura de mercado, criação de sinergias de P&D, aquisição de poder de mercado,

e redução dos custos, entre outros. (GONÇALVES, 2003)

Dependendo da orientação do IED aplicado ele pode influenciar de forma

diferente o processo de transbordamento (spillover) de tecnologia e inovação no

país receptor. O presente trabalho só irá analisar o processo de spillover vertical, já

que é o que ocorre com mais facilidade entre as empresas.

As ETNs procuram estabelecer suas atividades de P&D e inovação em suas

matrizes ou em localidades que apresentam vantagens para esse tipo de atividade,

ou seja, regiões que apresentam uma alta produção de conhecimento, tecnologia e

inovação. Dividindo dessa forma suas instalações e atividades em duas categorias.

A primeira são as regiões propicias ao desenvolvimento de tecnologia e a segunda

são as regiões montadoras dos produtos. Nessa segunda categoria normalmente as

empresas se localizam em países onde a indústria ainda é pouco desenvolvida,

esse tipo de relação favorece o aumento da produtividade de indústria do país

receptor em detrimento do desenvolvimento de uma indústria nacional que produz

tecnologia e das cadeias produtivas do país.

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O processo de spillover ocorre de duas formas, a primeira quando as

empresas nacionais resolvem se internacionalizar para se defender da entrada de

empresas estrangeiras concorrentes ou para a busca de novos mercados no

sistema internacional. Para isso, elas criam elos ETNs fornecedoras de insumos,

que acaba possibilitando o acesso a novos é melhores insumos e com menores

custos em relação aos insumos domésticos. O que pode resultar numa redução dos

custos de produção, melhoria dos produtos fabricados e consequentemente um

aumento na competitividade internacional. Os gastos das ETNs em P&D podem ser

também um incentivo para as empresas domésticas a investirem mais em atividades

inovadoras, pois irá criar o pensamento de que para se sobreviver no mercado

interno e externo é necessário o desenvolvimento de produtos mais competitivos.

Sobre esse pensamento, Meyer (2003) desenvolveu a seguinte proposição:

Knowledge spillovers within an industry are often expected from demonstration effects (also knownas contagion effects, or imitation effects). Demonstration effects work through the direct contact betweenlocal agents and an MNE operating at different levels of technology (Kokko 1992). After observing aproduct innovation or a novel form of organization adapted to local conditions, local entrepreneursmay recognize their feasibility, and thus strive to imitate them. Prior to such an encounter, localentrepreneurs have limited information about the costs and benefits of new methods. Therefore, theymay perceive the risk of investment as quite high. As local businesses come into contact with existingusers, information about the technology is diffused, the uncertainty is reduced, and imitation levelsincrease (Blomström and Kokko 1996). The learning through observation affects not only technologicalinnovation, but also new management techniques and new ways of inter-firm division of labor. FDIintroduces an ‗existing proof‘ of viable paths of development (Kogut 1996). This demonstration effect has quasi-public good characteristics as firms can observe the outcome of organizational innovationsby successful companies (Meyer, 2003, p.15).

Contudo, esse tipo de transbordamento é mais fácil de ocorrer onde as ETN`s

desenvolvem atividade de P&D voltadas para os para adaptação de produtos ou

processos às condições dos países receptores. Dessa forma irá incentivar as

empresas locais a procurarem a criação de produtos melhores ou similares em

relação das ETN`s, para que não ocorra a perca de mercado interno (IPEA,2009).

A segunda forma para a realização do processo de spillover ocorre quando as

ETNs instaladas no país fazem acordos de cooperação com empresas locais

(fornecedores) para aperfeiçoar o seu processo de produção, o que faz com que

ocorra um repasse de conhecimento e tecnologia. Pode ocorrer de três formas: (i)

transferência direta de conhecimento dos clientes estrangeiros para os fornecedores

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locais; (ii) maior exigência por parte da ETN quanto à qualidade do produto e ao

prazo de entrega; e (iii) entrada da ETN, podendo aumentar a demanda por produtos

intermediários, o que permite que empresas locais se beneficiem de economias de

escala (JAVORCIK,2004). Contudo esses transbordamentos não são automáticos e

irão depender de vários fatores que o país receptor apresentar, o país precisa ter

uma condição macroeconômica favorável que facilite a absorção e um melhor

direcionamento do IED.

Para destacar os benefícios da entrada de uma ETNs na produção de

tecnologia na indústria de um país, é preciso destacar os dois estágios da produção

de tecnologia. O primeiro estágio é o know-how, é quando a empresa adquire o

conhecimento para produzir um determinado produto, pode ser considerada

tecnologia nesse caso a instalação de uma nova planta industrial. O segundo

estágio é o know-why, e é quando a empresa passa a ter conhecimento de como o

produto é produzido quais são os seus processos, a partir desse conhecimento a

empresa pode fazer alterações e desenvolver novos produtos de acordo com as

suas necessidades (Lall, 1985).

Para atender as necessidades de algumas indústrias e atrair um IED que seja

melhor; onde a produção de tecnologia é alta; é necessário que um país desenvolva

e invista em inovação e P&D. Analisando a década de 1990 o Brasil não

apresentava uma condição favorável para fazer esses investimentos, interferindo

desse modo no tipo de ETNs que se instalaram no país. Em sua maioria foram

empresas onde a produção de P&D e inovação era de responsabilidade das

matrizes, ficando como dever das empresas aqui do Brasil, somente a montagem

desses bens.

O transbordamento de tecnologia ocorre com mais intensidade em países que

apresentam vantagens competitivas locais e competência para captar e inserir essas

tecnologias em suas empresas de forma mais efetiva. Em sua grande maioria são os

países desenvolvidos que apresentam essas características, concentrando o efeito

do transbordamento nessas regiões do mundo (BLOMSTRÕN e KOKO, 1994).

Para que ocorra também um transbordamento mais expressivo, além do país

apresentar essas vantagens, a diferença entre as empresas que entram num país e

as nacionais não pode se muito grande ou muito pequeno. É necessário um

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equilíbrio entre essas diferenças, pois se é muito grande as firmas domésticas não

tem como se beneficiar de novas tecnologias por não apresentarem um nível

tecnológico básico para embasar esse novo conhecimento. Quando a diferença é

muito pequena a empresa doméstica não teria muito conhecimento significativo para

absorver das empresas estrangeiras, o que não traria um avanço tecnológico

expressivo para e indústria nacional de um país (Flôres et ali, 2002).

O spillover vertical pode ocorrer em diversos setores da indústria desde o

processamento do produto, até a administração da empresa. Na área do

processamento do produto são transferidos conhecimentos relacionados ao design,

insumos, fornecedores, técnicas e P&D, e em alguns casos a instalação de

maquinários necessários à produção. Já o repasse de conhecimento administrativo,

está voltado para assistência financeira, aquisição de fornecedores, técnicas de

compras e marketing, entre outros conhecimentos que uma empresa precisa para

melhorar sua administração.

O IED é muito utilizado para captar tecnologia, porque às vezes é uma forma

mais barata para atingir esse objetivo quando uma empresa receptora de IED não

tem como financiar atividades para o desenvolvimento de inovação e tecnologia.

Outro motivo de utilizá-lo para esse fim, se dá por ser um modo mais rápido de

conseguir uma transferência de novas tecnologias em comparação aos outros

modelos comerciais, como por exemplo, os acordos de licenciamento (Mansfield e

Romeo 1980).

Com a liberalização da economia e com as políticas industriais criadas para

desenvolver e fortalecer a indústria nacional fez com que as empresas que se

localizam no país se focassem somente no mercado interno. Como não houve um

direcionamento dessas empresas para o mercado externo, tornou a indústria

brasileira com forte presença de capital estrangeiro, contudo com uma pouca

participação no comércio internacional.

Para que uma empresa se estabeleça no mercado internacional é necessário

que ela adote uma estratégia competitiva em relação ao preço ou a diferenciação do

produto. A estratégia voltada para a diferenciação do produto é a melhor escolha

que uma empresa pode fazer, pois ela afetará diretamente a lucratividade da

empresa, pois está estaria menos sujeita à concorrência via menores salários,

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maiores jornadas de trabalho ou derivada de recursos naturais (commodities) muito

sujeitos a flutuações de preços (IPEA, 2009). A diferenciação do produto seria o

melhor caminho para a produção de inovação dentro de uma empresa, é uma fator

necessário, caso uma empresa queira se tornar competitiva em relação aos seus

concorrentes.

O processo de transferência de tecnologia é recente no mundo, e é resultado

do processo da terceirização dos componentes críticos para a produção das

empresas iniciada em 1980. Essa terceirização criou uma cadeia de suprimentos

global, onde empresas e nações especialistas tiveram a comunicação facilitada,

diminuindo os custos da produção, por meio dos fornecedores globais que tem seus

produtos e serviços espalhados pelo mundo. Esse processo onde empresas

dependem dos recursos das outras originadas de outros países é o pilar da inovação

das indústrias, e faz aumentar a competitividade das empresas que realizam essa

terceirização. (PRAHALAD e KRISHNAN,2008).

Os ganhos em competitividade são os principais impactos promovidos pela

inovação, podendo ser identificados diretamente em alguns benefícios que estão

relacionados à atividade internacional, tais como: permitir a abertura de novos

mercados, ampliar a participação da empresa no mercado, enquadramento em

normas do mercado interno e externo (IBGE, 2010).

De acordo com o ultimo PINTEC lançado pelo IBGE, à taxa de inovação da

indústria de transformação brasileira aumenta de acordo com o seu crescimento. A

produção de inovação também ocorre com mais frequente naquelas indústrias que

já tem a predisposição para atividades tecnológicas. Foi destacado também nesse

estudo, que as empresas estrangeiras localizados no Brasil, utilizam as inovações e

tecnologias produzidas por suas filiais, fornecedoras, clientes e ou consumidores de

outros países como fonte de novas aquisições tecnológicas na sua produção.

Principalmente nas atividades de fabricação de máquinas e equipamentos, material

eletrônico e aparelhos de comunicação e veículos automotores. (IBGE, 2010).

No setor da indústria brasileira, as empresas se preocupam em voltar os seus

recursos para a produção de inovação no produto ou no processo de fabricação

destes, sendo que a grande maioria das empresas procuram a inovação no

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processo, cerca de 15,3% do total de 16,8. E somente 4,1% das empresas industrias

lançaram algum produto novo no mercado brasileiro (IBGE,2010).

Em relação às empresas transnacionais no Brasil, a taxa de produção de

inovação não é muito alta, segundo dois fatores, o primeiro está relacionado ao

interesse da empresa estrangeira no Brasil, que em sua maioria está voltado para a

busca de matérias-primas e mão-de-obra barata, afetando a produção de inovação,

pois estes fatores apresentam baixas possibilidades de inovação. E o segundo

motivo, é que as empresas que tem capacidade de produzir inovação dependem das

suas matrizes; ou seja; é ela que a um primeiro momento produz a inovação, e

depois repassa ou autoriza e manda recursos para as suas filiais produzirem

inovação. No Brasil, o principal foco das empresas estrangeiras é o mercado interno,

o que acarreta também, numa produção de inovação menor já que o objetivo dessas

empresas não é a exportação e, portanto, não estão interessadas em serem

competitivas no mercado internacional.

Para comparar os esforços inovativos das empresas nacionais brasileiras e

estrangeiras, é necessário fazer uma análise de duas formas. Primeiro se for feita a

comparação entre todas as empresas brasileiras e estrangeiras, vamos encontrar

um resultado onde as ETN`s gastam mais com atividades inovadoras que as

nacionais. Contudo, dentro dessas ETN`s estão grandes multinacionais, como é o

caso do setor automotivo, contra empresas brasileiras pequenas que não possuem o

mesmo poder aquisitivo que as grandes multinacionais, para direcionar na inovação

de suas empresas(PINTEC,2008).

Fazendo essa comparação, no ano de 2000, as empresas controladas por

capital majoritariamente nacional investiram, em média, R$ 161,3 mil em atividades

internas de P&D, ao passo que as estrangeiras investiram, em média, R$ 4,9

milhões. Quando essa estatística é feita apenas para as firmas que declararam ter

realizado algum tipo de inovação, as firmas nacionais investiram, em média, R$

527,9 mil e as estrangeiras, R$ 8,1 milhões (IBGE, 2010).

A segunda forma de analisar, e encontrar uma taxa de inovação mais

específica, é comparando separadamente cada firma. Segundo essa análise, as

empresas nacionais gastam em média internamente com P&D 0,75%, contra 0,62%

das empresas estrangeiras. Além desse resultado, foi encontrado também, ao fazer

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uma análise econométrica sobre o esforço inovativo das firmas nacionais e

estrangeiras em relação a diversas variáveis; como número de funcionários, setor,

inserção no comércio exterior etc; que os gastos em P&D interno como proporção do

faturamento das empresas nacionais foram 80,8% maiores do que aqueles

realizados pelas firmas de capital estrangeiro no período 1998-2000 (ARAÚJO,

2004).

Sobre os efeitos da a intensificação de investimentos em P&D pelas ETNs, os

setores da indústria nacional procuraram aumentar seus gastos, numa quantidade

maior que foi gasto pelas ETNs em P&D. Em um mesmo setor industrial, um

aumento de 1% na participação do mercado das estrangeiras induz um aumento de

9% do gasto total de P&D das nacionais; um aumento de 1% do gasto total de P&D

de um setor da indústria induz um aumento de 4% no gasto total das nacionais

(ARAÚJO, 2004).

Tradicionalmente os gastos com P&D feitos pelas filiais das empresas

transnacionais no Brasil são mais voltados para adaptação de produtos e processos

provenientes da matriz ou de outras filiais localizadas em países desenvolvidos ou

com sistemas nacionais de inovação mais evoluídos. Contudo, atualmente há a

tendência das filias das empresas transnacionais de financiarem seus próprios

projetos por meio do reinvestimento dos seus lucros, diminuindo dessa forma a

necessidade da matriz de mandar investimentos pra a sua filial, fazendo com que as

empresa transnacionais procurem aproveitar ao máximo os recursos já acumulados

nas suas filiais, para preservar suas operações no mercado doméstico (SOBEET,

2013).

A entrada de empresas estrangeiras e seus gastos com P&D resultou num

transbordamento positivo para a indústria brasileira, pois as empresas

transnacionais inovam com mais frequência que as nacionais. Contudo esse

transbordamento não deu origem à produção de produtos inovadores pelas

empresas domésticas, já que, se voltaram para a criação de produtos ou processos

similares aos das transnacionais do que para produtos superiores tecnologicamente,

caracterizando, assim, atitude mais imitativa do que propriamente inovadora (IPEA,

2009).

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5. IED E A INOVAÇÃO NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO

O setor automobilístico, como já foi discutido no presente trabalho, é um dos

principais setores da indústria brasileira, e um dos principais receptores de IED. A

partir da liberalização econômica iniciada na década de 1990, o setor recebeu novas

indústrias multinacionais, tornando-se o setor da indústria brasileira que mais conta

com a participação de ETN‘s. Para o período 2014-2017 as empresas do setor

automotivo devem investir R$ R$ 74 bilhões, este investimento será pelas

montadoras já instaladas no país e pela entrada de novas empresas no país.

Com o decorrer dos anos, economias emergentes como o Brasil iniciaram

uma transição em sua indústria, não seriam apenas montadoras, participariam

também do processo de inovação do mercado global, a produção de inovação

estava migrando para outras regiões do mundo. Suas indústrias passariam por

transformações para acompanhar a nova realidade global.

A fundamental change is currently occurring in the way innovation is organised. It tended to be centralised at or near headquarters but is now much more decentralised within the company. Equally significant, innovation activities that used to be carried out in-house by innovating firms themselves are carried out by independent suppliers of Knowledge Intensive Business Services (KIBS), or are transferred to key suppliers. (Schmitz, H. and Strambach, S., 2009).

Um dos principais motivos para a reestruturação da produção de automóveis

no mundo para as economias em desenvolvimento, se deve ao fato de que, em

1990, as economias desenvolvidas estavam passando por uma saturação e pelo

acirramento da concorrência (Almeida et. al, 2006) nos mercados desenvolvidos. A

relação de habitantes por nesse período alcançou um patamar relativamente

estável, reduzindo significativamente, as possibilidades de crescimento da demanda

nesses países.

De acordo com que foi escrito sobre inovação, pode-se defini-la como um

processo que ocorre entre vários atores diferentes, que participam desde o processo

de criação até a sua chegada ao consumidor. Organizações bem estabelecidos de

pesquisa dentro do amplo paradigma de sistemas de inovação têm prestado um

grande apoio na dimensão organizacional desse objeto. No entanto, a pesquisa

tende a se concentrar em relações a nível local (regional) ou nacional.

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48

Os centros de P&D e inovação tendem a ser localizadas na empresa ou perto

da sede, contudo isso começou a mudar com mais intensidade na década de 1990.

Essa descentralização tornou-se mais complexa quando novas formas de

organização para a criação do conhecimento emergiu. As comunidades de

conhecimento foram criadas a fim de encurtar os ciclos de inovação e lidar com o

aumento da complexidade do conhecimento (AMIN; COHENDENT, 2004). Esse

processo é conhecido como segmentação organizacional da inovação (sigla em

inglês - ODIP), é foi definida melhor no trecho abaixo:

We define ODIP as the process by which firms shift elements of their innovation processes from their headquarters and centralised R&D department to decentralised R&D departments, subsidiaries, contract research organisations and suppliers of products and knowledge intensive business services ( Lema;R., Quadros;R,Schmitz;H , 2010).

Há uma tendência mundial onde empresas globais, cuja estratégia

competitiva é fortemente baseada na inovação tecnológica e desempenho de P & D,

procurar aumentar a terceirização de P&D e parcerias. Isso está relacionado não só

à busca de custos e minimização do risco, mas também como uma estratégia para

explorar o conhecimento e as oportunidades tecnológicas, que são complementares

as suas próprias competências (UNCTAD, 2002).

A estratégia adotada pelas empresas do setor automobilístico tem sido a de

padronizar algumas partes centrais do automóvel e diferenciar outras por meio do

projeto em plataformas ou do projeto modular (DIAS, 2003). E é dentro dessas

plataformas que as firmas subsidiárias brasileiras, no decorrer dos anos, têm

ganhado cada vez mais espaço no mercado mundial. Uma plataforma é um conjunto

de componentes comuns presentes em vários produtos distintos, esses

componentes variam de acordo com a empresa, mas de modo geral, a plataforma é

constituída pela parte inferior do veículo, motor, caixas de câmbio, sistemas de

suspensão e de freios (BÉLIS-BERGOUIGNAN e LUNG, 1954).

O desenvolvimento de tecnologias das firmas do setor automotivo instaladas

no Brasil são resultados de um longo processo de consolidação de operações locais,

que esteve associado à necessidade de formulação de respostas para as demandas

locais. Portanto, toda capacidade tecnológica acumulada nesse setor, é resultado de

um processo continuo de aprendizagem e de experiências passadas em adaptar

veículos à condições locais (CONSONI, F. 2004).

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A partir da década de 1990, a indústria automobilística brasileira sentiu os

efeitos da liberalização. Após muitos anos de uma indústria fechada e protegida,

com a entrada de novas firmas estrangeiras no mercado interno surgiu a

necessidade de melhoria em todos os seus padrões, e o desenvolvimento de

tecnologia mais competitiva. A partir dessa constatação, o setor automobilístico

brasileiro inicia a sua modernização, utilizando-se do IED para alcançar os seus

objetivos.

A internacionalização da indústria automotiva brasileira se intensificou, a partir

da segunda metade da década de 1990, período este que ficou marcado pela

intensificação da importância das subsidiárias das grandes multinacionais do setor e

pelo IDE (Investimento Direto Esterno) na indústria de transformação brasileira.

Resultando na ampliação dos fluxos de comércio intra-firma e pela emergência de

alianças e joint ventures entre as empresas do setor (CARVALHO, 2005).

Estima-se que, entre 95 e 98 as empresas do setor investiram, em média,

US$ 2,12 bilhões ao ano. De fato, durante o período de vigência do Regime

Automotivo estavam previstos US$ 14,8 bilhões de investimentos das montadoras

amparados pelos incentivos do regime (IPEA, 2010).

Desde os anos 1990, a indústria automobilística brasileira ampliou o seu

papel e importância estratégica na cadeia de valor global. Subsidiárias brasileiras de

multinacionais, tanto montadoras e fornecedores, têm vindo a tornarem-se fontes de

produto global, processos e inovações organizacionais (QUADROS;Ruy, 2012). A

acumulação de experiência e competências de design que as subsidiárias

montadoras adquiriram, fizeram com que elas se tornassem parceiras de suas filias

no desenvolvimento de um produto global. Essa estratégia de produto

descentralizada tem sido associada com as políticas de produtos que são orientados

para as necessidades do mercado local ou regional. Este é um efeito da

internacionalização do P&D, que passou a utilizar algumas economias em

desenvolvimento. Esse processo é explicado melhor por Reddey (2000).

This is the increasing internationalization of R&D, based on design specialization of subsidiaries, and its integration in a global, networked organization. This process has already gone beyond the Triad countries (United States, Europe and Japan) and reached some developing economies like Brazil, India and China (Reddy, 2000).

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Esse processo de segmentação organizacional do processo de inovação

(ODIP- sigla em inglês) pode acontecer tanto na concessão de mandatos para

setores internos da própria empresa — como subsidiárias e unidades

descentralizadas de desenvolvimento de produtos — quanto para atores externos —

como fornecedores, firmas de engenharia, prestadores de serviços intensivos em

conhecimento (KIBS, na sigla em inglês), institutos de pesquisa e universidades.

(QUADROS;Ruy, 2012)

As empresas brasileiras têm participado, cada vez mais, dessa nova

realidade, onde o desenvolvimento de P&D e as atividades e das unidades centrais

de desenvolvimento de produtos para outras organizações, estão sendo repassadas

para as suas subsidiárias. O Brasil é uma plataforma atrativa para o

desenvolvimento e produção local, pois apresenta uma infraestrutura instalada,

situação político-econômica estável, potencial ampliação do mercado consumidor

interno e disponibilidade de mão-de-obra qualificada, tanto nas montadoras quanto

nas autopeças. E o país ainda consegue produzir autopeças com qualidade similar

ao das europeias em comparação com a produção de seus concorrentes chineses,

russos e indianos (ABDI, 2008).

Dentro de todas as empresas do setor automobilístico brasileiro, somente 62

exercem papel de liderança tecnológica, que vai desde custos até diferenciação de

produtos. Existem também dentro do setor brasileiro, mais de 400 empresas

seguidoras. Juntando esses dois universos, temos dois segmentos altamente

eficientes e competitivos internacionalmente. Contudo somente as empresas líderes

são responsáveis pela introdução de novos produtos ou processos produtivos no

mercado brasileiro: são elas que direcionam os processos de inovação e as

trajetórias tecnológicas seguidas pelo setor (IPEA, 2010).

O principal foco das montadoras brasileiras é o mercado emergente, nos

destacamos como uma das principais plataformas para esse segmento, e esse deve

continuar sendo o objetivo das montadoras instaladas no país e do governo

brasileiro, focando na criação de tecnologia voltada para biocombustíveis, veículos

populares e design de interiores. Segundo a ABDI (2008), os carros produzidos

dentro desse segmento divergem nas necessidades dos países desenvolvidos, pois

eles procuram atender necessidades relacionadas a mobilidade. Portando eles estão

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de acordo com a renda, ou seja, são fabricados carros populares; os avanços

tecnológicos são compatíveis ao conhecimento e necessidades locais; e atendem

aos requisitos específicos do mercado.

Mesmo com a participação de grandes multinacionais e dos incentivos dados

pelo governo federal, o setor automobilístico brasileiro em comparação com outras

economias ainda inova muito pouco. Apesar de, a indústria automobilística brasileira

investir menos que outras nações em P&D, se for feita uma análise de toda a

indústria de transformação, o setor automotivo é o principal ator responsável pelo

desenvolvimento e gastos com P&D da indústria brasileira. E nos últimos anos vem

crescendo substancialmente os gastos com P&D.

A participação do setor automotivo no gasto em pesquisa e desenvolvimento

da indústria brasileira é de 16%. Porém, se analisarmos só o setor de autopeças, a

situação é mais crítica (3,8%). Apenas um terço do que as empresas de autopeças

investem em pesquisa e desenvolvimento vai, de fato, para novas tecnologias. Nas

montadoras, essa fatia é de 50% ( SARTI,2000).

Na indústria automotiva brasileira os gastos com inovação e atividades

inovadoras, são feitos em todas as áreas desse segmento, desde a pesquisa

propriamente dita, até investimentos em máquinas e equipamentos para a inovação,

treinamento, projetos industriais e dispêndios utilizados para o lançamento do

produto no mercado. Já os gastos com P&D, engloba o trabalho criativo, feito em

bases sistemáticas e destinado a ampliar o estoque de conhecimentos e o uso

desse estoque em novas aplicações (IPEA,2010).

Entre 2000 e 2005, a indústria automobilística cresceu seus gastos em P & D

cerca de 246 por cento, atingindo R$ 1,9 bilhão (cerca de US$ 900 ) em 2005. Já os

gastos totais com P & D pela indústria de transformação brasileira cresceu 85 por

cento no mesmo período. Em 2005, a intensidade tecnológica, ou seja, a proporção

de gastos com P & D para as vendas na indústria automotiva foi de 1,4 por cento

(acima de 1 por cento em 2000). A participação da indústria automobilística no P & D

industrial em despesa total em R & D duplicou de 2000 a 2003, representando cerca

de um quarto do total de P & D da indústria de transformação. No entanto, é

importante acrescentar que as montadoras são responsáveis 80% dos gastos em P

& D (LEMA;R., QUADROS;R,SCHMITZ;H , 2010).

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Com os últimos incentivos criados para o setor no Plano Brasil Maior e com o

recente regime Inovar-Auto, e com a meta de aumentar o índice de nacionalização

dos automóveis produzidos no Brasil, as montadoras estão investindo mais em

inovação, e procurando atender às demandas específicas, desenvolvendo produtos

adequados às condições nacionais. Dessa forma o Brasil nos últimos anos está se

se solidificando como um novo espaço para inovação nessa cadeia industrial

mundial. O Brasil tem sido procurado por empresas para se instalarem e

aproveitarem os recursos do país e diversificarem sua cadeia industrial.

Além das montadoras de veículos, as firmas de autopeças no Brasil tem

procurado desenvolver suas capacidades em desenvolver P&D e inovação. Um

exemplo desse esforço pode ser visto nos investimento das quatro maiores

montadoras em operação no País que ampliaram sua capacidade de engenharia, a

partir do final da década de 1990, e voltaram seus esforços para o desenvolvimento

de produtos nas subsidiárias brasileiras. Por exemplo, a norte-americana General

Motors, em 2005, aumentou as competências de sua unidade de desenvolvimento

de produtos no Brasil, equiparando-a aos demais centros de inovação da marca nos

Estados Unidos, Alemanha, Coreia do Sul e Austrália. Com isso, aumentou a equipe

de engenharia de 400 profissionais, em 1999, para 1.300 engenheiros, em 2000

(QUADROS; Ruy, 2012).

Além dos esforços individuais, as montadoras brasileiras tem feito parcerias

com as universidades para sustentar e produzir inovações .Algumas montadoras

criaram ou estão instalando no país centros de design e engenharia destinados à

criação de carros que serão produzidos aqui e no exterior, além de protótipos que

vão influenciar o setor nos próximos anos. Entre 2000 e 2005, havia cerca de cerca

de 195 contratos entre firmas do setor automobilístico e universidades, sendo 127 de

serviços e 68 de pesquisas. Essas atividades se concentram nas regiões Sul e

Sudeste do país, e a maioria dos projetos são desenvolvidos por um pequeno grupo

de universidades: USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade

Estadual de Campinas), Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita

Filho), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), UFSCar (Universidade

Federal de São Carlos), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

(QUADROS, R.; CONSONI, F.; QUINTÃO, R., 2006)

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A FIAT, por exemplo, é uma grande empresa instalada no país, e é

responsável por pesquisas e inovações globais. Fora do mercado italiano, a

subsidiária brasileira é a principal filial italiana no mercado automobilístico. Aqui no

Brasil são desenvolvidos pesquisas e inovações nas seguintes áreas; tais como

sistemas de suspensão e sistemas eletrônicos de interferência magnética. Contudo

a filial brasileira não tem autorização para realizar estudos completos, o

desenvolvimento dos projetos é feito em conjunto com a matriz italiana. A Fiat Brasil

desenvolve pesquisas juntamente com órgãos de pesquisas do governo, um fato

que raro nessa área, entre 2004 e 2007, a Fiat desenvolveu um programa de

pesquisa multiprojeto, multinstitucional financiado pelo CNPq. Este programa visa o

desenvolvimento de tecnologias no campo da interferência magnética eletrônica e

envolveu um grupo de 12 pesquisadores externos, além de dois estagiários

residentes doutorados (QUADROS;Ruy, 2012)

Outra unidade localizada no Brasil, e que mantem uma atividade parecida no

Brasil, é a VW, fora da Alemanha a filial brasileira é a mais importante do mundo. No

Brasil, essa firma foi responsável por todo o desenvolvimento e criação do modelo

Fox. A unidade de P&D brasileira é especializada em carros de nível de entrada e

pode ser atribuído tarefas DP destinadas a outros mercados. A empresa além de

uma equipe de engenheiros montada pela matriz, ela conta com uma outra empresa

independente voltada para P&D, foram gastos US$ $ 2,5 milhões em uma

infraestrutura de realidade virtual, sala de projetos 3D. Nos próximos cinco anos, 10

carros novos da VW estão programados para serem projetados na unidade de S.

Bernardo PD, em comparação com 15 modelos que foram desenvolvidos ao longo

de toda a história da subsidiária ( QUADROS, Ruy; 2012) .

A Ford é outra empresa que se destaca na produção de tecnologia e inovação

no Brasil. A montadora conta com quatro fábricas e com o total de cerca de 1200

engenheiros, tornando o país um dos cinco centros mundiais de desenvolvimento do

produto da Ford mundial. Em 2013, foi anunciado o Ka Concept, projeto

desenvolvido somente por engenheiros brasileiros. Segundo a marca esse é um

modelo cujas características principais são: um hatch compacto elegante, com

design arrojado, engenharia avançada e tecnologias inovadoras.

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Esse será o novo carro compacto da marca e será comercializado e

fabricado globalmente, como o projeto foi desenvolvido pela Ford brasileira, a

montadora do país irá receber os royalties das outras subsidiárias, gerando receita

com exportação de serviços. Além do Ka Concept, a montadora brasileira foi

responsável pelo desenvolvimento e fabricação do atual modelo da Ecosport, que é

comercializado no Brasil, na Índia e na China e, que em breve, será vendido na

Rússia e em países europeus.

Outros destaques na produção de inovação ocorrem na cadeia automotiva

brasileira. Além da crescente importância das montadoras subsidiárias, algumas

firmas no Brasil de autopeças, foram além e se tornaram importantes centros

mundiais de produção de P&D e inovação. Foi o caso das empresas Eaton e Bosch,

que ao longo de sua trajetória no Brasil elevaram os seus status no mercado

internacional. Como foi explicado por Quintão e Quadros, no trecho abaixo.

Global suppliers like Eaton and Bosch have gone beyond in the process of regional specialization of Brazilian subsidiaries, by raising them to the status of global Centres of Excellence for certain types of components. For instance, as regards starter electrical engines, the Brazilian subsidiary of Bosch was given the global mandate for the design and manufacturing of starters applicable to vehicles up to 1.600 cc (Quintão and Quadros, 2005).

Apesar de algumas áreas de algumas firmas do setor automotivo brasileiro

ser bastante desenvolvidas na área de produção de P&D e inovação. Outras firmas

ou áreas de desenvolvimento de P&D e inovação precisam crescer, pois estão

presas as necessidades locais ou aos interesses e produção de P&D das suas

matrizes. Essa realidade foi descrita melhor no parágrafo abaixo.

―...some Brazilian multinational suppliers have already undergone such upgrading, technological research activities in Brazilian subsidiaries are scarce and mostly related to specific local demands of PD. There is no formal organizational place (organizational units, competencies and mandates) meant to carry out internal technological research, that is, the exploration of new technological solutions and applications, which require longer time than that of the product development cycle. The largest part of new technological knowledge adopted by assemblers and suppliers in Brazil is transferred from major R&D units located at the headquarters and/or developed at other country subsidiaries, which continue to be the major source of technology knowledge and information‖ ( Quadros, R; Consoni,F;Quintão,R, 2006)

O setor automobilístico brasileiro é dividido de duas formas, as empresas que

estão há mais tempo no Brasil, desde o início da implementação em 1950, tem uma

certa autonomia em produção de P&D. Já as empresas mais novas, que se

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instalaram no país a partir da década de 1990, apresentam uma estrutura de P&D

centralizada na matriz.

As empresas brasileiras nos últimos anos acumularam e adquiriram

conhecimento tecnológico para inovar uma determinada parte ou sub- sistema. No

entanto, as montadoras têm, e de fato necessitam, de desenvolver a capacidade de

integrar esse subsistema específico em seu sistema global e estratégia. Ou seja, as

empresas brasileiras ainda precisam aumentar a sua importância na estratégia de

produção das suas matrizes. Como as empresas brasileiras desenvolvem pesquisas

para resolverem problemas concretos, ou criar produtos para determinadas regiões,

acabam limitando o alcance dos produtos desenvolvidos ou ideias desenvolvidas no

Brasil. A deslocamento de atividades de desenvolvimento de produtos para o Brasil

cria oportunidades para fornecedores locais para participar do co-desenvolvimento,

mas também limita o alcance de tais atividades de inovação, pois estas acabam não

desenvolvendo técnicas para a produção de uma inovação global (LEMA;R.,

QUADROS;R,SCHMITZ;H , 2010).

Para melhorar a sua competitividade global, a indústria automobilística

brasileira deverá fazer alguns ajustes e focar na solução de problemas que as firmas

ainda apresentam dificuldades para a produção. Por exemplo, autopeças brasileiras

,de acordo com a ABDI (2009 ), deveria focar no desenvolvimento em soluções

voltadas ao mercado regional, com baixo custo e procurando integração e parceria

estratégica com as montadoras. Focando também, por meio de inovação, suas

estratégias em soluções de baixo custo, eletrônica e entretenimento (tendo em

mente as restrições de renda do mercado), bicombustíveis (etanol e biodiesel) e

tecnologias de motorização compatíveis. Além disso, deverá pensar na cadeia como

um todo, procurando parceiras a montante na cadeia, como com produtores de

resinas plásticas e aços, por exemplo.

Para o próximo período 2013- 2027, as montadoras instaladas no país

procurarão desenvolver tecnologias nas seguintes áreas estratégicas: Subsistemas,

geradores e acumuladores de energia, motor tração, sistemas de controle de

potência, sistemas auxiliares e infraestrutura para veículos elétricos híbridos plug-in.

O desenvolvimento dessas tecnologias será feito em cooperação com as

universidades brasileiras, órgãos do governo federal e as montadoras.

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6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

O principal objetivo deste estudo concentrou-se na análise na entrada de

investimento externo direto na economia brasileira, mais especificadamente, no

setor automotivo nacional, com vistas de saber as suas consequências na produção

de inovação deste setor. Para tanto, foram estudadas as políticas que o governo

federal brasileiro adotou, para atrair este IED e como ele foi utilizado para fomentar o

desenvolvimento da indústria do país. Por fim, foi analisado o processo de inovação

do setor automotivo brasileiro.

Primeiramente foram abordadas teorias que comportam o tema da inovação,

priorizando o enfoque econômico. Deste primeiro, foram traçadas as principais

características do processo de spillover ( transbordamento) , atração de

investimento externo direto, a cadeia automotiva e o processo de inovação.

Por meio da análise das politicas econômicas adotadas pelo governo federal

brasileiro, para o setor automobilístico, foi possível perceber que a atração de IED

para este setor foi uma das principais medidas para a modernização e

desenvolvimento da indústria automobilística, durante o período 1990-2012. A partir

da liberalização da economia brasileira, foram colocadas em práticas políticas que

facilitavam a entrada do IED no país, e incentivos para a atração de firmas da cadeia

automobilística no Brasil.

Diante disso o Brasil, nesse período se tornou um dos principais focos do IED

no mundo. Conforme os planos do governo brasileiro, grande parte deste IED foi

destinado para o setor automobilístico, gerando dessa forma um desenvolvimento da

cadeia automobilística brasileira.

Em um segundo momento, se buscou fazer uma análise do IED na economia

de um país e as possíveis formas de transbordamento tecnológico na indústria local.

Ficou claro que é difícil fazer uma relação entre IED e transbordamento, contudo

este processo pode ocorrer se o país tiver alguns fatores. O país não pode ter uma

indústria bastante defasada em tecnologia, ela tem que criar meios de atrair um IED

mais vantajoso para o processo de desenvolvimento de P&D e inovação. Além

disso, o possível transbordamento de tecnologia para a indústria local depende da

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orientação do IED que estiver entrando no país. Para que ele ocorra é necessário

que as firmas que estão entrando no país tenham capacidade de desenvolver e

repassar inovações.

No caso brasileiro, a indústria se beneficiou com a entrada de firmas

estrangeiras no país. Pois as empresas transnacionais inovam com mais frequência

que as nacionais. Apesar desses benefícios, isso não gerou a produção de produtos

inovadores pelas empresas domésticas, já que, as empresas domésticas tiveram um

foco mais de procurar desenvolver os mesmos produtos das ETN‘S do que um foco

propriamente inovador, de desenvolver produtos melhores em relação aos que

estavam entrando no país .

Por fim, se procurou analisar a entrada de IED no setor automobilístico

brasileiro, e seus efeitos para a produção de inovação do mesmo. Ficou comprovado

que este é um dos setores que mais inova na indústria de transformação brasileira.

Pelo fato de a cadeia automobilística ser bastante internacionalizada, a maioria das

inovações foram feitas por empresas que tem capital estrangeiro e empresas

fornecedoras para a cadeia automobilística. Contudo estas inovações são bastante

específicas, ou são voltadas para um problema ou região, isto acaba reduzindo a

possibilidade de criações de inovações globais mais ricas em tecnologia.

Apesar de ocorrer inovação no setor automobilístico brasileiro, e de ter

acontecido um transbordamento de tecnologia nas firmas domésticas, ele ainda é

muito pequeno se for comparado com o restante do mundo. E ainda é necessário

que as empresas instaladas no país conquistem autonomia em relação as suas

matrizes, é passem a produzir todo o processo de inovação, e não somente parte

dele.

6.1 RECOMENDAÇÕES

A prática de ter uma seção do trabalho acadêmico dedicada à

recomendações de políticas remete à tradição de alguns centros e instituições

americano. Tais recomendações apresentam limitações, não são absolutas e

reconhecidamente não se constituem em doutrinas de quaisquer natureza. O

principal objetivo delas é apresentar prescrições normativas, baseadas em

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conclusões, interferências e evidencias de um trabalho acadêmico desenvolvido sob

certo rigor metodológico. Apresentando dessa forma, novos insumos para o debate

crítico a respeito delas (BUENO; I 2012).

As recomendações foram divididas em duas partes, a primeira são os

desafios e a segunda parte as oportunidades para o setor automobilístico brasileiro.

Tais recomendações foram destinadas para todos os atores envolvidos nesse setor,

tanto para o governo federal brasileira quanto para as entidades privadas da

indústria automobilística.

6.2 DESAFIOS PARA O SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO

1. Taxa de Câmbio

Um desafio para o setor automobilístico brasileiro e para a indústria nacional

como um todo é a alta valorização do câmbio brasileiro, o que acaba prejudicando a

produtividade e competitividade de todos os setores da indústria. Caso o governo

brasileiro queira que o setor automobilístico brasileiro participe mais das exportações

do país será necessário criar medidas para desvalorizar o câmbio, que é um dos

principais responsáveis por prejudicar as exportações.

O grande problema da valorização do real é o seu impacto negativo na

estrutura produtiva da indústria brasileira, principalmente a diminuição da

competitividade brasileira em relação aos seus principais países concorrente na área

do comércio internacional, diminuindo dessa forma o desenvolvimento da economia

brasileira.

Outro problema do câmbio valorizado é que ele acaba favorecendo a

importação de bens e serviços, afetando a capacidade da indústria brasileira de

desenvolver meios, por recursos próprios, para o desenvolvimento de seus produtos.

Caso o governo brasileiro queira aumentar a produção de P&D e inovação das

empresas instaladas no país, é necessário que ele diminua o taxa de câmbio que

acaba favorecendo a importação de bens e serviços, e prejudicando o

desenvolvimento de tecnologia do país.

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As empresas do setor automotivo brasileiro não irão aumentar suas

participações, até a taxa de câmbio do real se tornar mais atrativa e favoreça essa

atividade, por enquanto compensa mais para as empresas se focar no grande

mercado consumidor brasileiro que está em crescimento.

.

2. Competitividade e a falta de um player nacional

Para o setor automotivo brasileiro participe mais do PIB do país e do mercado

internacional ele precisa melhorar a sua competitividade. O governo federal

brasileiro necessita investir mais em áreas que diminuam o custo de se produzir no

Brasil. Redução de impostos, da burocracia e melhoria da infraestrutura do país e

incentivos a produção de tecnologia nacional, através do apoio a centros de

pesquisas de universidades brasileiras e a criação de pólos tecnológicos no país.

As empresas do setor automotivo brasileiro necessitam diminuir sua

dependência do mercado interno e focar mais no mercado externo. Para isso é

necessário que diminuam a sua necessidade de proteção do governo brasileiro, e

passem a investir em meios para competir no mercado internacional. O

desenvolvimento de produtos que atendam as necessidades globais e não somente

locais seria uma forma de aumentar a competitividade e a produção de inovação do

setor automobilístico brasileiro.

Seria interessante para o desenvolvimento da indústria nacional, a criação de

empresas com o capital 100% nacional. As empresas do setor automotivo brasileiro

em sua grande maioria são empresas transnacionais, portanto a produção de P&D e

inovação dependem das estratégias de suas globais, essa realidade afeta a

produção de tecnologia do país e a sua capacidade de aumentar a competitividade

dos veículos produzidos no país. Caso o governo incentivasse a criação de

empresas nacionais na cadeia automotiva, isso afetaria a produção de tecnologia da

indústria brasileira, agregando valor na produção da indústria brasileira.

3. Investimentos em mobilidade Urbana

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Com o crescimento econômico da população brasileira e com o

desenvolvimento das cidades do país, cresce cada vez mais a necessidade de

meios que facilitam a locomoção de pessoas, bens e serviços dentro do país. É

necessário que o governo federal e estadual brasileiro, invista em recursos para a

criação de projetos de mobilidade urbana que atendam as necessidades da nova

realidade brasileira e principalmente fazer investimentos no transporte público do

país. As empresas do setor automobilístico também necessitam se adequar à essa

necessidade da sociedade brasileira, para isso é recomendado que sejam criados

inovações tecnológicas, para sustentar os desejos e necessidades dos novos

consumidores de veículos do Brasil.

Recomenda-se também o trabalho conjunto entre as esferas do governo

brasileiro e a indústria automobilística brasileira com o objetivo de desenvolvimento

de soluções eficientes e sustentáveis em mobilidade urbana. Todos esses

investimentos resultariam no desenvolvimento e a maior participação no PIB do

setor automotivo brasileiro.

4. Sustentabilidade ambiental e novas tecnologias de motorização

É crescente a preocupação com o meio ambiente e o aquecimento global.

Atualmente há uma corrida por criação de produtos que não afetem tanto o meio

ambiente. No caso do setor automotivo, nos países desenvolvidos cada vez mais as

indústrias estão procurando desenvolver produtos sustentáveis.

Caso a indústria brasileira queira aumentar a sua participação no mercado

internacional, é necessário desenvolver e novas tecnologias de motorização, que vai

muito além da utilização de biocombustíveis. Além dos incentivos feitos pelo governo

brasileiro no programa Inova- Auto, que cria metas de investimento em P&D,

redução de emissões e etiquetagem obrigatória indicando o consumo energético dos

veículos. Deveria ser incentivado também, o desenvolvimento e produção no país de

veículos elétricos.

O novo regime automotivo, ao incluir metas de investimento em P&D, redução

de emissões e etiquetagem obrigatória indicando o consumo energético dos

veículos, tende a incentivar inovação local em tecnologias mais limpas. O governo

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deve também incentivar de maneira mais incisiva o desenvolvimento e produção

locais de veículos elétricos, que além de serem mais eficientes do ponto de vista

energético, são fundamentais para manter a competitividade do produto nacional no

mercado global (MELLO; Adriana M. de., 2012).

6.3 OPORTUNIDADES PARA O SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO

1. Desenvolvimento de novo materiais e eletrônica Integrada

Com o aumento de novas firmas no setor automotivo, por pressão dos

consumidores, aumenta a necessidade de produtos diferenciados, que atendam as

necessidades individuais de seus usuários. Essa é uma oportunidade que o setor

automotivo brasileiro pode aproveitar, juntamente com o governo federal brasileiro e

universidades, institutos de pesquisa e fornecedores como indústria de aço, alumínio

e petroquímicas. Com o objetivo de aumentar a competitividade dos veículos e

autopeças brasileiros.

É necessário o desenvolvimento materiais alternativos, mais leves, com

melhor durabilidade e que sejam recicláveis e de baixo impacto ambiental. Portanto,

uma importante oportunidade tecnológica para o setor é o desenvolvimento de

novos materiais de construção para a indústria automotiva e novas aplicações para

materiais já utilizados. Uma importante área dentro de novos materiais é o uso da

Nanotecnologia, melhorando a funcionalidade e design das peças utilizadas ( ABDI,

2008).

O desenvolvimento de tecnologia na área de eletrônica para produção de

veículos, é uma área que apresenta bastante oportunidades para a indústria

nacional. Como não produzimos tecnologia na área eletrônica, isso representa uma

oportunidade a longo prazo para as firmas instaladas no país investir, dessa forma

agregaríamos mais valor nos veículos nacionais e a suas chances de se tornarem

mais adequados para o mercado internacional.

2. Produção Limpa

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A produção de produtos sustentáveis no setor automotivo representa um

desafio, mas também pode ser uma grande oportunidade para a indústria

automobilística brasileira. A indústria brasileira pode usar os seus conhecimentos em

tecnologias de motorização e o uso de o uso de materiais verdes como base para o

desenvolvimento de novas tecnologias que supram essa necessidade mundial de

consumo de produtos mais sustentáveis. Com a produção de veículos sustentáveis

o país poderia aumentar a sua participação em mercados mais exigentes.

Destacam-se nessas áreas a produção de veículos em dois segmentos: veículos

mais compactos; leves e eficientes no consumo de combustíveis, o desenvolvimento

de tecnologias de propulsão inovadoras.

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