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A VISÃO BASEADA EM RECURSOS E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL: ESTUDOS DE CASOS COM COMUNIDADES FLORESTAIS NA AMAZÔNIA Raimundo Cláudio Gomes Maciel Projeto de Tese de Doutorado em Economia Aplicada apresentado à Disciplina HO-300 Seminário de Tese, sob orientação do Prof. Dr. Bastiaan Philip Reydon. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP INSTITUTO DE ECONOMIA – IE DOUTORADO EM ECONOMIA APLICADA

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A VISÃO BASEADA EM RECURSOS E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL:

ESTUDOS DE CASOS COM COMUNIDADES FLORESTAIS NA AMAZÔNIA

Raimundo Cláudio Gomes Maciel

Projeto de Tese de Doutorado em Economia Aplicada apresentado à Disciplina HO-300 – Seminário de Tese, sob orientação do Prof. Dr. Bastiaan Philip Reydon.

Campinas, Dezembro de 2003.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMPINSTITUTO DE ECONOMIA – IEDOUTORADO EM ECONOMIA APLICADA

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A Visão Baseada em Recursos e a Certificação Ambiental 2

SUMÁRIO

1. Introdução.......................................................................................................................32. Objetivos.........................................................................................................................4

2.1 Geral..............................................................................................................................42.2 Específicos....................................................................................................................4

3. Problema.........................................................................................................................44. Revisão Bibiliográfica.....................................................................................................5

4.1 A Visão Baseada em Recursos (VBR) e a Certificação Ambiental..............................54.2 A Certificação Ambiental e as Comunidades florestais................................................9

5. Hipótese........................................................................................................................116. Metodologia..................................................................................................................117. Sumário preliminar da Tese..........................................................................................148. Cronograma de execução..............................................................................................149. Referências Bibliográficas............................................................................................15

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A VISÃO BASEADA EM RECURSOS E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL:

ESTUDOS DE CASOS COM COMUNIDADES FLORESTAIS NA AMAZÔNIA

Raimundo Cláudio Gomes Maciel

1. Introdução e Justificativa

As formas de desenvolvimento na Amazônia, nas últimas décadas, vêm causando

sistematicamente uma intensa degradação ambiental na região, cuja face mais visível é o

desmatamento. E, portanto, sérios impactos sócio-ambientais decorrem desse modelo tais

como perda da biodiversidade e o desaparecimento de populações tradicionais. Alguns

deles até mesmo irreversíveis.

Neste cenário, os grandes beneficiários são os médios e grandes empreendimentos

oriundos da exploração ilegal de madeira e da pecuária extensiva em detrimento das

comunidades e das florestas, uma vez que aquelas atividades geram poderosos lucros sob a

ótica privada e justificam, dessa forma, sua hegemonia.

Algumas alternativas sustentáveis surgem, essencialmente na década de 90, como

contraponto às atividades preponderantes da região, consistindo numa forma de garantir

tanto a manutenção das comunidades quanto da floresta. No entanto, do ponto de vista

privado, não conseguem competir com os lucros das atividades insustentáveis, visto que

seus principais atributos estão na manutenção das funções econômicas e ecológicas das

florestas e os benefícios sociais associados, cujos valores não são capturados pelo mercado.

Neste sentido, a certificação ambiental surge como um mecanismo que pode

capturar os fluxos econômicos das funções ambientais florestais, auxiliando no sustento das

famílias e da conservação das florestas.

A presente pesquisa pretende contribuir no conhecimento sobre a discussão do

papel da certificação ambiental na região amazônica e seus impactos sobre as comunidades

florestais. Assim, busca-se uma compreensão teórica da certificação ambiental adequada ao

tema que esteja além da visão do mainstream, ou seja, enquanto um instrumento de

mercado (market-based), caminhando para um estudo que integre múltiplas abordagens que

discutem as estratégias que permitem estabelecer as vantagens competitivas sustentáveis

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entre as empresas e comunidades, tendo como referência a Visão Baseada em Recursos

(Resource-Based View - RBS). Busca-se, também, a possibilidade de internalização dos

benefícios oriundos da pesquisa às comunidades estudadas. Além disso, os resultados

poderão subsidiar políticas públicas na região para implementação de um desenvolvimento

sustentável efetivo.

2. Objetivos

2.1 Geral

Estudar a certificação ambiental enquanto estratégia de manutenção de vantagens

competitivas sustentáveis na dinâmica do processo concorrencial capitalista, em particular

na região amazônica.

2.2 Específicos

2.2.1. Comparar os valores sócio-ambientais capturados pela certificação ambiental com

os fluxos previstos pela avaliação econômica total da floresta amazônica, verificando-se

a existência de uma representatividade efetiva.

2.2.2. Verificar a possibilidade da determinação de um sobre-valor que represente

qualquer produto de origem florestal obtido de forma sustentável.

2.2.3. Subsidiar as políticas públicas para a região.

3. Problema

3.1. Qual o potencial da certificação ambiental na obtenção de sobre-lucros e vantagens

competitivas sustentáveis em organizações econômicas, em particular nas comunidades

florestais da Amazônia?

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4. Revisão Bibiliográfica

4.1 A Visão Baseada em Recursos (VBR) e a Certificação Ambiental

Várias abordagens teóricas procuram decifrar a origem e manutenção das

vantagens competitivas que faz certas empresas sobreviverem no processo concorrencial

capitalista em detrimento de outras1. Conforme Hoskisson et al. (1999), apud Lockett e

Thompson (2001, p. 726), “from the 1960s, until the late 1980s, the subject was dominated

by consideration of external (i.e., product market) sources of competitive advantage”,

notadamente a visão do mainstream. No entanto, a partir do final da década de 1980 e,

essencialmente, nos anos 1990, ganha crescente destaque a Visão Baseada em Recursos -

VBR (Resource-Based View – RBV) que preconiza justamente o oposto ao mainstream, ou

seja, “that the growing popularity of the RBV since the late 1980s has refocused attention

on internal sources of competitive advantage” (idem). Ademais, de acordo com Wilk

(2003), esse destaque da VBR deve-se “principalmente por unificar; ao invés de tentar

suplantar, as principais abordagens anteriores”.

Embora a VBR tenha ganhado destaque nas últimas décadas, as raízes dos

principais trabalhos dessa abordagem estão nos insights do trabalho de Edith Penrose

(1959) que enfatiza os diferenciais dos ativos intangíveis das empresas (notadamente sua

marca e imagem) e suas competências (habilidades e idéias que as pessoas têm na cabeça),

e que, segundo Hamel (2003), é de onde sai a base real do crescimento e da inovação.

Destarte, segundo Russo e Fouts (1997), para a VBR “competitive advantage is rooted

inside a firm, in assets that are valuable and inimitable”.

Barney (2001) argumenta “that sustained competitive advantage derives from

the resources and capabilities a firm controls that are valuable, rare, imperfectly imitable,

and not substitutable. These resources and capabilities can be viewed as bundles of

tangible and intangible assets”.

1 Conner (1991) discute cinco teorias da firma que são significantes na evolução da organização industrial.

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Segundo Russo e Fouts (1997),

Tangible resources include financial reserves and physical resources such as plant, equipment, and stocks of raw materials. Intangible resources include reputation, technology, and human resources; the latter include culture, the training and expertise of employees, and their commitment and loyalty. As these resources are not productive on their own, the analysis also needs to consider a firm's organizational capabilities - its abilities to assemble, integrate, and manage these bundles of resources.

No entanto, os autores, para seus propósitos, formulam uma nova combinação

para os ativos e capacidades da firma: “(1) physical assets and the technologies and skills

required to use them, (2) human resources and organizational capabilities, which include

culture, commitment, and capabilities for integration and communication, and (3) the

intangible resources of reputation and political acumen”(idem).

Essa formulação interessa ao presente trabalho, uma vez que se pode ligar a

certificação ambiental diretamente ao terceiro item acima descrito. Claro que nesta ligação

tem que se considerar todo o conjunto de ativos, pois, conforme Barney (1989), apud Wilk

(2003), “o conjunto de recursos de uma empresa não é meramente uma lista de fatores, mas

também, o efeito de sua interação em maior ou menor complexidade”.

Não obstante, o ponto que se quer destacar é que a certificação ambiental está se

tornando central para as estratégias competitivas das empresas, ou seja, a política ambiental

das empresas joga um importante papel em gerar amplas vantagens organizacionais que

permitem uma firma capturar lucros extras. (Russo e Fouts, 1997)

Conforme Russo e Fouts (1997), “as a firm develops an environmental policy, it

must also develop a reputation for that policy, since such a reputation is in itself a source

of market advantages. (…) Once gained, a pro-environment reputation is itself a valuable

inimitable resource”.

Ainda segundo os autores, “one intangible asset that has received little previous

attention in resource-based theory development is an organization's political acumen,

which we define as the ability to influence public policies in ways that confer a competitive

advantage”.

Esta afirmação é importante não somente para as empresas, mas particularmente

para as comunidades florestais que desenvolvem parcerias com aquelas. Sabe-se o quanto

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decisivo foi o movimento seringueiro para uma efetiva política ambiental para a Amazônia.

Conforme Allegretti, 2002, apud Gonçalves (2003), “embora sem poder político e

econômico, as comunidades de seringueiros do Acre conseguiram transformar ‘um

problema local em questão de Estado e em tema internacional’”2. Além disso, as primeiras

experiências de certificação ambiental comunitária na região ocorreram justamente

naquelas áreas com ampla “perspicácia” (acumen) política, notadamente na região de

Xapuri-Ac, terra do líder seringueiro Chico Mendes.

Ademais, a certificação ambiental se conecta com o argumento que tem sido

feito pelo The Economist que afirma que a sociedade está entrando na “era of corporate

image, in which consumers will increasingly make purchases on the basis of a firm's whole

role in society: how it treats employees, shareholders, and local neighborhoods”. (Apud

Russo e Fouts, 1997)

Agora, tendo em vista que a VBR é uma abordagem ainda em construção e que

vários trabalhos indicam a aplicação desta visão juntamente com outras disciplinas e/ou

abordagens3, ressalta-se o desafio de pesquisa para se estudar empresas e comunidades

usando abordagens múltiplas (Barney et al., 2001).

Uma primeira contribuição do presente trabalho será relacionar a VBR com os

teóricos de Marketing, pois a certificação ambiental é normalmente associada como uma

estratégia especificamente de marketing (Stewart et. al., 2003, ASIA, 2000). Assim,

conforme Srivastava et al. (2001, p. 779),

any application of RBV to marketing is aided considerably if we can identify resources that are both marketing specific (i.e., are generated and leveraged in large part through marketing activities) and potentially manifest at least some of the desired RBV attributes (i.e., appear to be difficult to imitate, are rare, etc.). Market-based assets, (see Srivastava, Shervani & Fahey, 1998) meet both criteria.

Srivastava et al. (2001) definem Ativos Baseados no Mercado em dois tipos

principais: relacional e intelectual. Basicamente, pode-se enquadrar a certificação ambiental

como sendo do primeiro tipo, visto que “are based on factors such as trust and reputation”

e, portanto, “the potential exists for any organization to develop intimate relations with

2 Sobre o tema ver também (Cavalcanti, 2002)3 Ver Journal of Management, V. 27, n. 6, nov./dec., 2001. Disponível em:

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customers to the point that they may be relatively rare and difficult for rivals to

replicate”(p. 779).

Outra contribuição do presente trabalho é o relacionamento entre a VBR e Nova

Economia Institucional (NEI). Neste sentido, Mahoney (2001, p. 665) argumenta que

“resource-based theory is a theory of firm rents, and transaction costs theory is a theory of

the existence of the firm. Thus, resource-based theory and transaction costs theory are

complementary”. Ademais, Combs and Ketchen (1999), apud Lockett e Thompson (2001),

apontam também a positive theory of agency, outro ramo da NEI, como relevante para a

VBR.

Segundo Lockett e Thompson (2001, p. 729), “we would contend that there are

occasions when it is desirable to combine insights from the RBV with those from TCE or

PTA in analyzing choices faced by firms”. Por exemplo, “it is sometimes impossible to

separate decisions over the use of resources from decisions over their governance

arrangements (or mode)” (idem).

De acordo com os trabalhos citados anteriormente, a aplicação da VBR ao

referencial da NEI está vinculada mais diretamente à Economia dos Custos de Transação

(ECT), que é uma corrente que trabalha com Instituições de Governança (Arranjo

Institucional), abordando as diferentes formas contratuais enquanto estruturas de

governança dessas transações e têm como referência os trabalhos de Williamson (1985,

1991) (Farina, Azevedo e Saes, 1997).

Pode-se melhor perceber a relação entre ambas abordagens e a certificação

ambiental através da três principais dimensões das transações, consideradas pela ECT: a)

especificidade de ativos, b) freqüência e c) incerteza (Farina, Azevedo e Saes, 1997).

Para Williamson (1985, p. 56), “não há dúvida (…) que a especificidade de

ativos é a grande locomotiva que a economia dos custos de transação possui para seu

conteúdo preditivo” (apud Farina, Azevedo e Saes, 1997, p. 86). Ressalta-se que um tipo de

especificidade de ativos é a que se materializa na marca de uma empresa. Ademais,

segundo Farina, Azevedo e Saes (1997, p. 87), “do ponto de vista teórico, a ECT não

distingue entre os efeitos das diferentes especificidades, o que permite que o mesmo

arcabouço teórico seja usado para todos os tipos de especificidade”. Destarte, pode-se

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relacionar diretamente com a VBR, uma vez que a coleção de ativos de cada empresa e

inerentemente específico.

Conforme Farina, Azevedo e Saes (1997), a freqüência das transações tem uma

importância em particular pela possibilidade de construção de reputação por parte dos

agentes envolvidos na transação. Além disso,

A repetição de uma transação possibilita também 1) que as partes adquiram conhecimento uma das outras – o que reduz a incerteza; 2) que se construa uma reputação em torno de uma marca – o que cria um ativo específico; e, ainda mais importante, 3) que se crie, em alguns casos, um compromisso confiável (Credible Commitment) entre as partes em torno do objetivo comum de continuidade da relação. (idem, p. 89)

Freqüentemente, a construção da reputação se traduz no valor de uma marca.

Dessa forma,

O papel primário de uma marca é a redução dos custos de coleta de informações sobre o produto a ser negociado. O consumidor, ao se defrontar com uma marca de boa reputação, adquire sem custos parte da informação relevante para seu processo de escolha. Em outras palavras, a ‘reputação – ou marca – serve para garantir que o produto é – e permanecerá – uniformemente bom’ (Barzel, 1982: 36). A reputação economiza, portanto, custos de transação. (ibidem, p. 89)

4.2 A Certificação Ambiental e as Comunidades florestais

A Certificação tem se tornado crescentemente numa característica comum nos

mercados nacional e global como um modo de reconhecer produtos e práticas que cumprem

padrões e requerimentos específicos. Enquanto alguns programas de certificação, como

ISO, são orientados para a indústria, outros têm particular relevância para as comunidades

rurais. Sistemas de agricultura orgânica e certificação florestal promovem o gerenciamento

ético de recursos naturais. (Stewart et. al., 2003)

Atualmente, a certificação está sendo promovida por várias razões – de razões

de gerenciamento florestal a razões de mercado. (Stewart et. al., 2003, ASIA, 2000)

Conforme Molnar et al. (2003), a ligação entre certificação ambiental e

comunidades florestais é importante porque as comunidades são os principais responsáveis

pelo manejo das florestas mundiais. Estima-se que ¼ (700-800 milhões de ha) das florestas

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do mundo subdesenvolvido são gerenciados ou de propriedades das comunidades. Ressalta-

se que essa quantia dobrou nos últimos 15 anos e, provavelmente, irá dobrar novamente nos

próximos 15 anos. No entanto, menos de 1% das florestas comunitárias estão certificadas.

O Forest Stewardship Council é responsável por 98% das certificações

comunitárias, principalmente pela objetivação da eficiência sócio-ambiental. (Molnar et al.,

2003)

Segundo Molnar et al. (2003), moradores e comunidades florestais têm tido

alguns importantes benefícios indiretos da certificação florestal tais como emprego e

melhores condições de trabalho, além do auxílio na legitimação dos direitos de propriedade

da terra.

Ressalta-se que em relação ao sobre-preço oriundo da certificação, que é um

benefício direto e amplamente desejável, poucas comunidades já conseguiram obtê-lo. No

entanto, comunidades que se encontram em áreas remotas onde os mercados não estão

desenvolvidos para produtos certificados ainda não recebem o sobre-preço, o que dificulta

inclusive os custos adicionais da certificação. (Molnar et al., 2003)

A certificação florestal foi pensada exclusivamente para madeira, mas uma

discussão essencial para esse tipo de certificação é a certificação de produtos florestais não

madeireiros (PFNM), dado que a coleta de madeiras ocorre apenas durante quatro meses do

ano e que as famílias dependem dos PFNM nos meses restantes do ano. (Jones, 2003)

Ademais, segundo Pierce, Shanley e Laird (2003), os PFNM jogam um importante papel no

sustento das comunidades rurais em termos mundiais e os recentes esforços para certificar

os PFNM levantaram questões sobre os impactos deste tipo de certificação sobre os

produtores e comunidades.

Segundo Walter et. Al (2003), alguns estudos de caso mostram que o comércio

de PFNM certificados é ainda marginal comparado com o comércio de produtos não

certificados.

Ademais, conforme Walter et al. (2003), relevantes esquemas de certificação

para o uso e comércio de PFNM não focalizam somente em certificação de gerenciamento

florestal, mas também incluem esquemas de certificação principalmente usados na

agricultura tais como certificação orgânica e social (fair and ethical trade).

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Por fim, a tabela 3 explicita os ganhos econômicos mediante sobre-preço pago a

um produto certificado que é amplamente conhecido no Brasil, mas obtido por produtores

da Bolívia:

Apud Walter et. al. (2003, p. 9)

5. Hipótese

Em decorrência da vantagem competitiva auferida, a Certificação Ambiental

bem sucedida com “selos verdes” gera sobre-preço apropriado pelos produtores, que

participa da melhora da sua manutenção e da floresta se estes participarem de sua gestão e

se encontrarem nichos de mercado sustentáveis.

6. Metodologia

Para a consecução dos objetivos deste trabalho será realizada numa primeira

etapa uma ampla revisão bibliográfica sobre a questão ambiental, depois sobre a Visão

Baseada em Recursos relacionando-a à certificação ambiental e seu contexto, bem como

sua aplicação juntamente com outras abordagens. E, por fim, revisar, também, sempre com

base em informações secundárias, suas aplicações e perspectivas na questão ambiental.

Na discussão sobre o arranjo institucional serão levantadas as instituições que

auxiliam tanto no processo bem como no acompanhamento da certificação e seus

respectivos papéis, em particular nos casos a serem estudados. Ademais, será levantado os

tipos de certificação e identificado qual esquema ou conjunto de esquemas que melhor se

encaixam à realidade estudada e ao desenho institucional, sempre tendo em vista as

estratégias que proporcionem vantagens competitivas sustentáveis.

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Na última etapa do trabalho será realizado um estudo de caso com intuito de

relacionar as discussões teóricas sobre certificação ambiental com os possíveis impactos na

realidade concreta.

Na tabela 2, são exemplificados tipos de certificação ambiental entre as

comunidades florestais da Amazônia. Destaca-se que se está considerando como produtos

certificados aqueles que têm rotulagens tanto formais (vide selos do FSC - Forest

Stewardship Council - e IBD – Instituto Biodinâmico) quanto tácitos (estabelecidos por

uma determinada região ou por uma empresa parceira).

Assim, para efeitos de estudo de caso, pode-se estabelecer para trabalho de

pesquisa pelo menos uma referência de cada tipo de certificação ambiental descrito na

tabela 2.

No estudo será realizado uma avaliação econômica mediante levantamento de

medidas de resultado econômico – tais como: Renda Bruta e Renda Líquida (RB –

Despesas Efetivas) – e índices de eficiência econômica, com base na metodologia no

projeto ASPF do departamento de economia da UFAC (Rêgo, 1996). Com base nos

resultados serão propostas possíveis correções, se preciso for, para obtenção de melhores

resultados econômicos.

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Tabela 2 – Tipos de Certificação Ambiental que ocorrem em comunidades florestais na Amazônia

Exemplos de Certificação

Determinantes da Certificação  Produto

Inovação Organização Social

Certificação Internacional Empresa Governo Estadoin-natura semi-

processado processado

Produto                  Madeira x       x x     ACUrucum Orgânico   x     x x Aveda?   ACPalmito   x     x x ?   PA

                   Região                  

Farinha de Mandioca   x     x    AN

AC AC                   Empresa                  Borracha x       x   Pirelli   ACCouro Vegetal     x x x   Treetap   ACBreu x       x   Natura   AP                   Governo                  Castanha x       x     ANAC AC                   Site                  ISO (14000; 18000)           x x    Obs.: ANAC – Agência de Negócios do AcreFonte: IMAFLORA (2003); IBD (2003); Gonçalves (2003);

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7. Sumário preliminar da Tese

Introdução

Cap. 1 – A Questão Ambiental, a Floresta Amazônica e suas Comunidades

Cap. 2 – A Visão Baseada em Recursos (VBR) e a Certificação Ambiental

2.1 – A VBR e Marketing

2.2 – A VBR e a Economia de Custos de Transação

Cap. 3 –Tipologia da Certificação Ambiental

3.1 - Arranjos institucionais Locais

Cap. 4 – Estudo de Caso: Impactos da Certificação Ambiental na(s) comunidade(s)

estudada(s)

Cap. 5 – Conclusões

8. Cronograma de execução

Atividades Meses (2003/2004)10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Projeto de Pesquisa da Tese x x xRevisão Bibliográfica – Problemática Ambiental

x x x x

Revisão Bibliográfica – Microeconomia da Certificação

x x x x x x

Revisão Bibliográfica – Arranjo Inst. e Tipos de Certificação Ambiental

x x x x x x

Definição do objeto de estudo x x xPesquisa de campo x x xProcessamento e Análise dos dados x xDiscussão dos resultados com a comunidade

x x

Primeira Versão da Tese x x x

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9. Referências

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Projeto de Tese de Doutorado – Raimundo Cláudio Gomes Maciel

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