PROCEDIMENTOS DE MONTAGEM DO PAQUÍMETRO FAMILIAR PARA MEDIÇÃO DE FRUTOS EM ESTUDOS DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS

Tatiana R. Santana1; Alex C. Barbosa1; João P. S. Sousa2; Anderson N. Vasco2; Daniel O.

Ribeiro3; Evandro A. Tupinambá4; Edson D. Tavares4; Luis C. Nogueira4 1 Estagiários da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Estudantes de Engenharia Florestal da UFS, 2

Estagiário da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Estudante de Eng. Agronômica da UFS, 3 Estagiário da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Estudante de Eng. Agronômica da UESC, 4 Pesquisadores da

Embrapa Tabuleiros Costeiros. Contato: lcnogueira@gmail.com. RESUMO Os Sistemas Agroflorestais (SAF) tem sido vistos como alternativas potencialmente rentáveis para os agricultores familiares. A participação efetiva dos membros da família do produtor é um dos fatores que contribuirão para o sucesso das atividades e poderá ter efeito multiplicador junto aos demais produtores da comunidade. Para evitar a perda de dados e garantir um melhor acompanhamento e avaliação da área de SAF, os familiares do produtor poderão controlar a produtividade e a medição dos produtos antes de serem consumidos ou vendidos. Para a medição do tamanho dos produtos, pode-se utilizar réguas e trenas de baixo custo, entretanto, erros de medição de diversos graus podem ocorrer. Na medição do comprimento e diâmetro dos frutos, erros podem ocorrer em função da pessoa que realiza a medição, especialmente se diferentes pessoas realizam a tarefa ao longo do tempo, sendo o “erro de paralaxe” um dos principais. Neste trabalho, são apresentados os procedimentos de montagem de um paquímetro prático para realizar essas medições na propriedade do produtor familiar e garantir a precisão das medições de frutos, independente da pessoa que mede. O paquímetro foi desenvolvido com materiais simples e baratos e foi testado com frutos colhidos no SAF implantado no Campo Experimental de Itaporanga, da Embrapa Tabuleiros Costeiros. O instrumento foi denominado de “Paquímetro Familiar” e os seus testes provaram sua eficiência e constância da precisão na medição de dimensões de frutos. Sugere-se a montagem de pelo menos uma unidade do “Paquímetro Familiar” para cada família que conduza um SAF. Isso irá contribuir para haver acompanhamento, avaliação e melhoria, de forma contínua, do sistema agroflorestal. Palavras-chave: Agrofloresta, Agricultura Familiar, Erro de Paralaxe, Precisão de Medições. 1. INTRODUÇÃO Sistema agroflorestal (SAF) é uma forma de cultivo múltiplo em que pelo menos duas espécies de plantas interagem biologicamente, pelo menos uma das espécies é arbórea e pelo menos uma das espécies é manejada para obter produção agrícola (Somarriba, 1992). Como técnica alternativa de uso da terra, o SAF visa proporcionar um rendimento sustentável ao longo do tempo, introduzindo espécies anuais nos primeiros anos, seguidas de frutíferas semi-perenes e perenes e, por fim, as espécies produtoras de madeira, podendo ainda consorciar com animais em uma mesma área (Ferreira, 2006). Com o aumento da importância de estudos que busquem alternativas para a agricultura familiar e considerando a sustentabilidade sócio-ambiental, os Sistemas Agroflorestais têm despertado maior atenção de instituições de ensino e pesquisa. A implantação de áreas de SAF em campos experimentais permite aprimorar e adaptar técnicas de estudo que poderão ser adotadas em áreas de experimentação participativa em propriedades de produtores familiares. A participação dos diversos membros de cada família em atividades mais sistemáticas e tecnológicas, dentro das ações da experimentação participativa, deverá gerar um salto nos níveis de treinamento das pessoas. As participações em diversas atividades servirão de estímulo ao crescimento pessoal e profissional dos membros das famílias, pois realizarão tarefas cada vez mais complexas e importantes, como medições, acompanhamento de produtividade, avaliações de crescimento etc. De acordo com Cardoso et al. (2004), a experimentação participativa permite ao agricultor aprender com os erros e acertos sobre uma tecnologia e sua adaptação às suas condições. O paquímetro é o instrumento de precisão mundialmente conhecido para tomar medidas de espessura e diâmetro de peças diversas, porém com tamanho reduzido. Para o caso medição de tamanho de frutos como mamão, melão, melancia etc., para acompanhamento da melhoria de produtividade em agroflorestas familiares, é necessário um tipo de paquímetro de maior porte e com características mais apropriadas a esses casos. Neste trabalho, são apresentados os materiais e os procedimentos de montagem de um instrumento simples, denominado “Paquímetro Familiar”, que visa dar um maior suporte às medições de campo

realizadas em áreas de sistema agroflorestal no âmbito da agricultura familiar. O propósito desse paquímetro, como o próprio nome indica, é estimular cada vez mais a participação dos produtores e seus familiares em atividades que irão aumentar o conhecimento sobre esses sistemas produtivos. 2. METODOLOGIA O Campo Experimental de Itaporanga (CEI), pertencente à Embrapa Tabuleiros Costeiros, está localizado no município de Itaporanga d'Ajuda, Sergipe, um abiente típico de paisagem Baixada Litorânea, com solos arenosos, do tipo Neossolo Quartzarênico, onde encontram-se atividades de manejo em áreas de Sistema Agroflorestal (SAF), implantadas a partir de 2005, como local de experimentação preliminar, com a finalidade de coletar informações diversas que possam contribuir no ganho de conhecimento sobre esses sistemas nesse tipo de ambiente. Na área de SAF em estudo, as fruteiras como banana e mamão entraram em produção (Figura 1A). Com o início das medições dos frutos de mamão, verificou-se a necessidade de padronizar o processo de tomada de medidas, visando evitar erros que poderiam prejudicar as avaliações regulares desse sistema de cultivo. Para a medição da dimensão dos frutos, podem-se utilizar réguas e trenas de baixo custo. Entretanto, erros de medição de diversos graus poderão ocorrer na medição do comprimento (Figura 1B) e diâmetro (Figura 1C), em função da pessoa que realiza a medição, especialmente se diferentes pessoas realizam essa tarefa ao longo do tempo. Nesse caso, o principal erro que pode ocorrer é chamado de “erro de paralaxe”, que está em função, principalmente, da posição de colocação da régua em relação ao fruto, combinada com a posição de visualização da pessoa que faz a leitura.

(A) (B) (C)

Figura 1 – Aspectos do mamoeiro do SAF em frutificação (A) e da medição de comprimento (B) e diâmetro (C) dos frutos de mamão usando régua, quando ocorrem erros de paralaxe. (Fotos: Luis Carlos Nogueira).

A criação do paquímetro visou evitar a dependência do posicionamento da régua e também evitar o problema do ângulo de visão da pessoa que mede, o que geraria erros de precisão na tomada das medidas. Na construção do protótipo, houve a preocupação em usar materiais simples e baratos, mas que também permitissem boa resistência ao manuseio, além de fácil uso e manutenção. Na Figura 2 são mostradas as peças em madeira e a sequência de montagem do protótipo do “Paquímetro Familiar”. Foram utilizadas peças reaproveitadas de madeira de pinho, que foram serradas e lixadas com dimensões apropriadas para montar um paquímetro de 45 cm de comprimento por 30 cm de largura. A base de madeira foi feita com uma tábua de 2 cm de espessura (Figura 2A) e as laterais foram feitas com barras de 5 x 8 cm (Figura 2B). Abaixo da base, foram fixadas duas ripas de 1.5 x 3.0 cm, que servirão de pés para o paquímetro (Figura 2C). Todas as peças foram unidas usando parafusos para poder permitir fácil desmontagem, se necessário. As peças complementares do paquìmetro são as corrediças (tipo gaveta) em ferro galvanizado, a barra de alumínio (25,0 mm x 3,0 mm) e a régua plástica graduada em centímetro (com divisões em milímetro). As corrediças servem de trilhos para a movimentação do cursor (parte móvel), que deve tangenciar o fruto que está sendo medido. Foram utilizadas duas corrediças metálicas, uma em cada lado da base de madeira, para dar estabilidade ao cursor do paquímetro. Esse tipo de corrediça foi escolhida entre os modelos disponíveis no comércio por ser do tipo “prisioneira”, em que a parte interna não se destaca da parte externa (Figura 2D). A régua plástica foi cuidadosamente furada e parafusada na parte superior da barra lateral mais longa (Figura 2E). Para montagem do cursor do paquímetro, uma barra de alumínio foi dobrada em ângulo de 90° e perfurada nas extremidades para fixação nas duas corrediças laterais (que são os trilhos para o cursor). Foram usados dois parafusos em cada extremidade da barra de alumínio para maior firmeza e para garantir a posição do cursor em ângulo reto com a corrediça. Para completar a peça que servirá de cursor, um pequeno pedaço de tábua foi fixado à barra de alumínio para permitir o tangenciamento do fruto e apontar para o ponto de leitura na régua graduada.

(A) (B) (C)

(D) (E) (F)

Figura 2 – Aspectos das peças e da montagem do “Paquímetro Familiar”: (A) tábua, barras e ripas, (B) fixação das barras laterais em “L”, (C) base de madeira pronta, (D) fixação da corrediça lateral (E) e da régua plástica (F) na base de madeira e (F) detalhe da fixação do cursor (com dois parafusos) na corrediça. (Fotos: Luis Carlos Nogueira).

3. RESULTADOS E REFLEXÃO Na Figura 3, são apresentados aspectos do “Paquímetro Familiar” pronto e do seu uso para medição de frutos de mamão do SAF em estudo. Os testes do paquímetro com diversos frutos provaram sua eficiência e constância da precisão na medição de dimensões de frutos, independente do operador. A corrediça utilizada possibilita um mecanismo de travamento (Figura 2A), que permite travar a parte móvel do paquímetro durante o transporte. O cursor (peça móvel) do paquímetro permite o tangenciamento adequado ao fruto para medição precisa do diâmetro (Figura 4B). A régua graduada em centímetro permite a precisão de 0,1 cm (1,0 mm) nas medidas, sem possibilidade de haver erro de paralaxe. O ponto exato de leitura é apontado pelo cursor diretamente na escala da régua. Do mesmo modo, para medição do comprimento do fruto, o mecanismo móvel permite o cursor tangenciar as duas extremidades do fruto e indicar o ponto de leitura na escala graduada (Figura 4C). Essas informações sobre dimensões dos frutos, em adição a dados de peso de frutos, além de resultados de análises físicas, químicas e sensoriais, darão as condições necessárias aos pesquisadores e técnicos, que dão assistência técnica aos produtores, para adotar as medidas de manejo necessárias para melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos do SAF.

(A) (B) (C)

Figura 4 – Aspectos do “Paquímetro Familiar” pronto: (A) detalhe do mecanismo de travamento da parte móvel (cursor) do paquímetro, (B) medição do diâmetro do mamão e (C) medição do comprimento do mamão, com ajuste perfeito ao fruto. (Fotos: Luis Carlos Nogueira).

Entende-se que quando a implantação de áreas de SAF for realizada na propriedade familiar, todos os familiares do produtor farão diversas ações de manejo da área cultivada, além da própria colheita dos produtos. Para evitar a perda de dados e garantir um melhor acompanhamento e avaliação do SAF, os familiares do produtor poderão controlar toda a contabilidade da produção e a medição desses produtos antes de serem consumidos ou vendidos. É provável que apenas algumas ações simples de treinamento e capacitação serão suficientes para garantir sucesso nessas atividades.

4. RELAÇÃO DO TRABALHO COM A SUSTENTABILIDADE O uso de instrumentos simples, como o Paquímetro Familiar, poderá contribuir para intensificar a participação do agricultor familiar nas atividades de avaliação do SAF. Com isso, será possível gerar a consciência da importância desses estudos para a otimização da produção. Com ajustes de manejo da área cultivada, há o potencial de melhorar a produtividade, aumentar a renda e, consequentemente, melhorar da qualidade de vida da família. 5. CONCLUSÕES E LIÇÕES APRENDIDAS O “Paquímetro Familiar” foi construído para medição de dimensões de frutos oriundos de agrofloresta e provou ser eficiente nas medições de diâmetro e comprimento de frutos. Com a utilização do instrumento, serão adicionadas modificações e melhorias, conforme a necessidade. Pretende-se que possa ser um instrumento usado pelo produtor e seus familiares nas atividades de avaliação de produtos em áreas implantadas e manejadas diretamente em suas propriedades. Pretende-se ainda que cada família disponha de pelo menos uma unidade do Paquímetro Familiar. Isso irá permitir a manutenção de acompanhamento e avaliação, de forma contínua, do sistema agroflorestal. 6. AGRADECIMENTOS Aos trabalhadores rurais Salvador Narciso dos Santos, Edinilson dos Santos (Dinho) e Júlio dos Santos Tavares, que prestam serviço no Campo Experimental de Itaporanga, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, onde está inserida a Reserva Ambiental do Caju, pela ajuda dedicada e participação eficiente nas diversas atividades de campo. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARDOSO, I.M.; SOUZA, H.N.; BONFIM, V.R.; SOUTO, R.L.; OLIVEIRA, G.B. Experimentação Participativa com Sistemas Agroflorestais por Agricultores Familiares: Espécies Arbóreas Utilizadas. In: Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2. Anais. Belo Horizonte: 2004. 9p. FERREIRA, L.M.M. Sistema Agroflorestal é alternativa sustentável para produção rural. Disponível em: http://www.agronline.com.br/artigos/artigo.php?id=230. Acesso: 30 out. 2006. SOMARRIBA, E., Revisiting the past: an essay on agroforestry definition. Agroforestry Systems, n.19, p.233-240, 1992.