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05/04/2020
Número: 1006056-69.2020.4.01.3200
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL
Órgão julgador: 3ª Vara Federal Cível da SJAM
Última distribuição : 05/04/2020
Valor da causa: R$ 2.000.000,00
Assuntos: Saúde
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Justiça Federal da 1ª RegiãoPJe - Processo Judicial Eletrônico
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTERIO PUBLICO FEDERAL (AUTOR)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - MPT (AUTOR)
DEFENSORIA PUBLICA DA UNIÃO (AUTOR)
UNIÃO FEDERAL (RÉU)
ESTADO DO AMAZONAS (RÉU)
MUNICIPIO DE MANAUS (RÉU)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data daAssinatura
Documento Tipo
213597877
05/04/2020 15:42 ACP MPF-MPT-DPU - Pop-Rua - versao 05.04.2013h00
Inicial
AO JUÍZO PLANTONISTA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS
URGENTE – COVID-19 – POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO e a DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por intermédio do Procurador da
República, da Procuradora do Trabalho e do Defensor Público Federal signatários, vêm
respeitosamente perante esse juízo, com fundamento nos incisos I e II do artigo 5º da Lei 7.347/1985,
propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
LIMINAR
em face da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representada pela Procuradoria da União no
Estado do Amazonas, com endereço na Av. Tefé, 611 – Praça 14 de Janeiro, CEP 69020-090,
Manaus/AM, do ESTADO DO AMAZONAS, pessoa jurídica de direito público, representada pela
Procuradoria Geral do Estado, com endereço na Rua Emílio Moreira, 1308 – Praça 14 de Janeiro,
69020-040, Manaus/AM, e do MUNICÍPIO DE MANAUS, pessoa jurídica de direito público,
representada pela Procuradoria Geral do Município, com endereço na Av. Brasil, 2971 – Compensa,
69036-110, Manaus/AM, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.
1. DOS FATOS
É fato notório a crise sanitária internacional decorrente do alastramento da infecção
humana pelo novo coronavírus (Covid-19), o que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a
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declarar situação de pandemia e a recomendar a todos os Estados a adoção das precauções e das
medidas correlatas.
Nesse sentido, o Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 06, de 20 de
março de 2020, reconheceu a existência de estado de calamidade pública no País, com efeitos até 31 de
dezembro de 2020, nos termos de solicitação encaminhada pelo Presidente da República (Mensagem
nº 93, de 18 de março de 2020).
Por sua vez, o Estado do Amazonas e o Município de Manaus, respectivamente, pelo
Decreto n° 42.061, de 16 de março de 2020, e pelo o Decreto nº 4.780, de 16 de março de 2020,
declararam situação de emergência, notadamente na saúde pública, ante os prognósticos de colapso do
sistema público de saúde como consequência da alta transmissibilidade da moléstia, que afeta de forma
ainda mais severa idosos, portadores de doenças crônicas e demais pessoas que se enquadram nos
chamados grupos de risco. Novo Decreto estadual ainda mais restritivo quanto à circulação de pessoas
está em vias de expedição neste fim de semana, conforme fala do Governador do Estado, na data de
ontem (04/04/2020).1
Mundo afora, são sugeridas como medidas indispensáveis para evitar o contágio, entre
outras, lavar as mãos e o rosto com frequência, evitar aglomerações e manter-se em isolamento
social. Segundo cartilha do Ministério da Saude2, as recomendações para se proteger do novo
Coronavírus (COVID-19) são:
a) Lave as mãos com frequência até a altura dos punhos, com água e
sabão, ou então higienize com álcool em gel 70%
b) Ao tossir ou espirar, cubra nariz e boca com lenço ou com o braço, e
não com as mãos;
c) Evite tocar os olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas. Ao tocar,
lave as mãos como indicado;
d) Mantenha uma distância mínima de 2 metros de qualquer pessoa
tossindo ou espirando;
e) Evite abraços, beijos e apertos de mãos. Adote um comportamento
amigável sem contato físico, sempre com um sorriso no rosto;
f) Não compartilhe objetos de uso pessoal, como talhares, toalhas, pratos
e copos; 1 https://d24am.com/coronavirus-no-amazonas/wilson-lima-amplia-medidas-restritivas-no-combate-ao-coronavirus-no-am/ 2 http://www.saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/02/Cartilha-Informacoes-Coronavirus.pdf
Num. 213597877 - Pág. 2Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
g) Mantenha ambientes limpos e bem ventilados;
h) Se estiver doente, evite contato físico com outras pessoas,
principalmente idoso e doentes crônico, e fique em casa;
i) Durma bem e tenha uma alimentação saudável.
A população em situação de rua se insere nos agrupamentos de maior vulnerabilidade
à Covid-19, dadas à má nutrição, as péssimas condições de higiene e as doenças pré-existentes a que
invariavelmente se encontram submetidas. Além disso, sua própria condição nas ruas torna
praticamente impossível a adoção de medidas como o isolamento social e a higienização frequente, o
que demanda atuação especial por parte do Poder Público.
Nessa linha, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União, em
25/03/2020, expediram a Recomendação Legal nº 03/2020 5º OFÍCIO/PR/AM e DRDH DPU/AM,
(DOC. 01) elencando dezenove medidas a serem adotadas pelo Estado do Amazonas e pelo Município
de Manaus como forma de assegurar dignidade e proteção à população em situação de rua no contexto
da atual pandemia, quais sejam (grifos nossos):
I - elaborem Plano de Contingência Emergencial Intersetorial,
prevendo um conjunto de medidas de proteção às pessoas em situação
de rua, diante da pandemia do novo coronavírus – COVID-19,
encaminhando-o no prazo de 72 (setenta e duas) horas às instituições
signatárias da presente Recomendação;
II - garantam o regular e continuado funcionamento dos equipamentos e
serviços públicos que atendam à população em situação de rua, em
diálogo com a Secretaria Nacional de Assistência Social, com o
Ministério da Saúde;
III - disponibilizem, nos equipamentos e serviços que atendam à
população em situação de rua, insumos para proteção dos trabalhadores
e da população, tais como: álcool gel, máscaras faciais de proteção
descartáveis, copos descartáveis nos bebedouros, produtos de higiene
pessoal, além de outros que sejam indicados pelos gestores de saúde
pública e órgãos integrantes do Sistema Único de Saúde;
IV - adotem medidas imediatas para assegurar proteção social com
abrigamento protegido, em condições de dignidade, das pessoas em
situação de rua, fornecendo local adequado, recursos ou subsídios para
pagamento de pensão ou aluguel social, hotel ou outras medidas que
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viabilizem os direitos à moradia adequada e à saúde dessa parcela da
população, garantindo-se o período mínimo de 6 (seis) meses, facultada
a prorrogação;
V - destinem espaço prioritário de moradia às pessoas que se
enquadram no grupo de risco decorrente da pandemia do novo
coronavírus – COVID-19, tais como pessoas idosas, pessoas com
doenças crônicas, pessoas imunossuprimidas (diabéticos e pessoas com
HIV, p. ex.), bem como portadores de doenças respiratórias e outras
comorbidades preexistentes que possam conduzir a um agravamento do
estado geral de saúde a partir do contágio de COVID-19, assim como
gestantes e mulheres em condições históricas de vulnerabilidade social
e em risco quanto às suas maternagens;
VI - reduzam o número de pessoas por quarto nas unidades de
acolhimento institucional, de maneira a evitar a rotatividade,
assegurando-se a disponibilização de cama fixa para cada pessoa
determinada, além de garantir uma distância recomendada entre as
mesmas, a partir de recomendações emitidas da área da saúde;
VII - disponibilizem imediatamente pontos de água potável em praças e
logradouros públicos, iniciando-se pelos mais frequentados pelas
pessoas em situação de rua, franqueando, outrossim, imediato acesso
aos banheiros públicos já existentes, sem prejuízo da implantação de
outros sanitários para uso público, com plano para sua devida
higienização, observado sempre o caráter urgente de tais medidas;
VIII - adotem e intensifiquem, nas respectivas esferas de atribuição e em
todas as divisões, circunscrições e mecanismos de regionalização de sua
atuação administrativa, programas e serviços de redução de danos para
pessoas em uso prejudicial de drogas, de modo a evitar condutas de
risco, ampliando-se as equipes dos Consultórios de Rua do município de
Manaus, implementando, outrossim, tais mecanismos onde ainda não
existam;
IX - ampliem, nas respectivas esferas de atribuição, o número de
profissionais vinculados a programas de enfrentamento à AIDS;
X - garantam, nas respectivas esferas de atribuição, fornecimento das 3
(três) alimentações diárias em restaurantes populares e/ou locais de
estadia temporária em caráter emergencial, atendendo à população em
situação de rua gratuitamente durante todos os dias da semana,
Num. 213597877 - Pág. 4Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
independentemente de inscrição no CAD-Único;
XI - identifiquem imóveis públicos ou privados ociosos que apresentem
infraestrutura adequada para que possam ser utilizados como moradia
temporária em caráter urgente e imediato; bem como verifique a
viabilidade de destinação de espaços com infraestrutura, em caráter
emergencial, além das pessoas em situação de rua, também para estadia
temporária emergencial de servidores públicos que atuem em atividades
com maior risco de contaminação e que, de forma voluntária, optem por
habitar em caráter temporário e emergencial em tais espaços, como
forma de proteção a familiares e pessoas próximas, conforme solicitação
de alguns servidores em diálogos com o MPF;
XII - antecipem as campanhas de vacinação necessárias para
imunização da população em situação de rua e os trabalhadores da rede
pública que lhe prestem atendimento;
XIII - garantam atendimento emergencial pelo SAMU, assim como
acesso à medicação e aos devidos cuidados;
XIV - em caso de suspeita de contaminação, assegurem espaço adequado
de repouso e cuidados na Rede Pública de Saúde;
XV - em caso de necessidade de internação hospitalar, assegurem à
população em situação de rua leitos em unidades de saúde;
XVI - liberem recursos para serviços de proteção e para a produção de
informações especializadas voltadas à população em situação de rua;
XVII - suspendam imediatamente quaisquer ações de retirada de
pertences da população que se encontre na rua;
XVIII - produzam materiais informativos voltados à população em
situação de rua, em linguagem clara, objetiva e acessível, de maneira a
comunicar efetivamente todos os equipamentos, telefones e outros meios
de contato, a fim de assegurar o pleno exercício do direito à informação
e à saúde da população em situação de rua;
XIX - abstenham-se, a pretexto de efetivar prevenção ao COVID-19, de
qualquer política indiscriminada de internação compulsória de pessoas
em situação de rua.
Num. 213597877 - Pág. 5Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
Cabe ressaltar que essas medidas foram articuladas com movimentos sociais,
especialistas em saúde pública e assistência social, sendo diversas delas sugeridas por servidores e
técnicos dos órgáos governamentais. Ademais, tiveram como fundamento recomendação com teor
semelhante expedida em Minas Gerais por MPT, MPF, DPU e DPE, bem como carta da Arquidiocese
de Manaus (Igreja Católica) – (DOC. 02), inclusa a Pastoral do Povo da Rua, na qual elenca
proviências a serem adotadas pelo Poder Público e colocando à disposição apoio e espaços físicos da
própeia Arquidiocese. Outros grupos religiosos e da sociedade civil também se colocaram à disposição
para apoio aos órgáos públicos neste momento emergencial e extremamente sensível, em especial para
o público cujos direitos são aqui defendidos.
No texto da Recomendação é possível verificar que outros dos fundamentos foram as
medidas já adotadas em diversos estados do Brasil sobre o tema, antes de qualquer instigação dos
órgáos fiscais:
CONSIDERANDO que outros Estados e municípios da federação já
vêm adotando medidas específicas mais robustas e efetivas em relação
às pessoas em situação de rua, seja com Notas recomendatórias aos
equipamentos e serviços socioassistenciais (como o Espírito Santo), seja
disponibilizando pias e banheiros coletivos, espaços adequados em
estádios ou em outros locais, como por exemplo no Pará, Rio de Janeiro,
São Paulo, Porto Alegre, entre outros, conforme se pode observar nas
notícias seguintes:
https://www.oliberal.com/esportes/futebol/estadio-mangueirao-recebera-
moradores-de-rua-na-luta-contra-o-coronavirus-1.251237
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-
noticias/redacao/2020/03/21/rio-instalara-pias-e-acolhera-morador-de-
rua-no-complexo-do-sambodromo.htm
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/03/22/prefeitura-de-sp-
cria-abrigos-para-receber-moradores-de-rua-com-suspeita-de-
coronavirus.ghtml
https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2020/03/prefeitura-
de-porto-alegre-disponibiliza-predio-para-abrigar-moradores-de-rua-
ck84ky4k806y201pqgy35xz9e.html
Ainda no dia no dia 25/03/2020, o Governador do Estado do Amazonas anunciou nas
redes sociais e para veículos de comunicação que a Arena Amadeu Teixeira seria ponto de apoio para
atendimento da população em situação de Rua (local para realização de higiene pessoal, banho,
Num. 213597877 - Pág. 6Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
pernoite e refeições), com capacidade para 200 pessoas.3
No dia seguinte ao anúncio, várias pessoas em situação de rua ocuparam o lado de fora
da Arena, sendo que muitos não teriam a possibilidade de ser acolhidos no local tendo em vista a
realização de triagem para atendimento das pessoas de maior vulnerabilidade, segundo informações
prestadas pela Secretaria de Estado e Assistência Social, Márcia Saado, em entrevista a veículo
televisivo.4
No dia 27/03/2020, o MPT instaurou procedimento próprio (PA-PROMO
000468.2020.11.000/9) para acompanhar a situação e ratificou as medidas recomendadas pelo MPF e
pela DPU. Contudo, até 01/04/2020 (primeira reunião de MPF/MPT/DPU com os órgáos públicos e
sociedade civil após a expedição da Recomendação) sequer uma pessoa tinha sido acolhida na Arena,
sob alegações de dificuldades sanitárias e outras. Ou seja, do dia 25/03 ao dia 01/04, o Estado
estimulou uma situação de aglomeração ainda pior, sem sequer acolher as pessoas amontoadas ao lado
de fora da Arena, sem acesso à água, sem banheiros. Após a reunião, timidamente, começaram a ser
acolhidos os primeiros, cerca de 30 pessoas apenas, mas ainda permanecendo do lado de fora a
maioria dos que para lá se deslocaram, situação que permanece até agora.
Além disso, até a presente data, o Estado do Amazonas e o Município de Manaus
falharam em apresentar ao MPF, ao MPT e à DPU resposta integrada, informativa e efetiva do
cumprimento das providências recomendadas, com justificativas em relação àquelas que não poderiam
ser atendidas, e limitaram-se a apresentar respostas parciais, por meio de suas respectivas secretarias
de assistência social (SEAS e SEMMASC), e planos de trabalho genéricos e isolados, a demontrar
falta de planejamento e articulação.
De modo, então, a incentivar o diálogo e a colaboração entre os entes públicos e o
cumprimento da Recomendação, o MPF, o MPT e a DPU realizaram, no dia 01/04/2020, reunião por
videoconferência com representantes da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e
Cidadania (SEJUSC), da Secretaria de Estado de Assistência Social (SEAS), da Secretaria Municipal
da Mulher, Assistênciacia Social e Cidadania (SEMMASC), Secretaria Municipal de Assistencia a
Saude (Consultório na Rua) e de organizações da sociedade civil, dentre elas Arquidiocese de Manaus,
3 https://www.facebook.com/WilsonLimaAM/videos/265975921070136/ 4 https://globoplay.globo.com/v/8435336/
Num. 213597877 - Pág. 7Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
Pastoral do Povo de Rua, Pastoral do Migrante, Cáritas do Brasil, Cáritas de Manaus e Associação de
Redução de Danos no Amazonas - Ardam.
Na oportunidade a Pastoral do Povo de Rua e a Associação de Redução de Danos do
Amazonas informaram que a população em situação de rua que se encontra na Arena Amadeu Teixeira
foi atraída pelos anúncios realizados e que, apesar de receberem alimentação, estavam passando, mais
uma vez, por uma série de violações: não recebem e nem tem acesso a água potável; não possuem
acesso as instalações sanitárias, tendo que fazer suas necessidades fisiológicas no mato nas
proximidades; que por não acessarem banheiros não conseguem realizar higienização pessoal; que
ficam expostas às intempéries, sol e chuva e aglomeram-se em filas para receber alimentação.
No encontro, frise-se, realizado uma semana após a expedição da Recomendação, os
autores constataram a insuficiência das iniciativas adotadas pelo Poder Publico Estadual e Municipal
em prol da população em situação de rua, especialmente no que tange a acolhimento, informação
quanto aos riscos da Covid-19 e necessidade de proteção e oferta dos serviços necessários para evitar o
contágio, tais como higienização e equipamentos de proteção.
Na ocasião, receberam o Plano Emergencial da Secretaria de Assistência Social do
Estado, o qual trazia metas excessivamente genéricas, com prazos para implementação que já haviam
sido superados e descumpridos pelos próprios órgãos elaboradores. (DOC 03)
Diante do ocorrido, o Ministério Público do Trabalho, acompanhado de representante
da Pastoral do Povo de Rua realizou, na mesma data (01/04/2020), verificação na Arena Amadeu
Teixeira. (DOC.04)
Na oportunidade o que se percebeu foi a total insuficiência da iniciativa, e ao contrário
do que fora alardeado, submetia as pessoas que lá se encontravam a graves violações, tais como:
aglomeração em filas nos locais de distribuição de refeições, sem a observância da distância mínima
necessária a evitar o contágio; longas e demoradas filas para a realização de triagem, sendo a
capacidade de atendimento dentro da arena inferior à divulgada; ausência de local adequado para
proteção contra intempéries, estando a população que aguarda atendimento e que utiliza os serviços de
higienização (banho) e refeições desprotegida; ausência de oferta de banhos e uso dos sanitários pelas
pessoas que aguardam na área externa; trabalhadores (servidores e voluntários) sobrecarregados;
Num. 213597877 - Pág. 8Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
atendimento realizado de forma que compromete a saúde e a segurança dos trabalhadores e dos
usuários; ausência de sinergia entre os entes públicos entre si e com as organizações da sociedade civil
atuantes na temática.
No dia seguinte, 02/04/2020, o MPT e a Pastoral do Povo de Rua realizaram
verificação no CECI-Aparecida, local em que o Município de Manaus, em parceria com a SEAS,
iniciou, no dia 01/04/2020, a oferta de apenas uma refeição (almoço) e higienização das mãos, com
capacidade para 250 pessoas, tão somente de segunda a sexta. Ou seja, sem qualquer tipo de
acolhimento com um teto para dormir, bem como sem acesso nos finais de semana (seriam dias de
jejum para a população em situação de rua?).
No local havia pouco movimento, tendo em vista ser recente a iniciativa. À ocasião,
foram feitas sugestões pontuais para facilitar o atendimento, evitar aglomerações e levar informação
adequada e acessível àquele público sobre prevenção à COVID-19, não servindo a entrega de panfletos
que estava sendo realizada. Foi relatado que estava sendo estudada a possibilidade de oferta de banhos,
mas que não possuíam mudas de roupas, nem kits de higiene e nem toalhas para serem utilizadas.
Em ato contínuo, no mesmo dia, foi realizada nova inspeção nas dependências da
Arena Amadeu Teixeira. Na oportunidade, constatou-se que houve melhorias pontuais e atendimento
parcial do recomendado verbalmente no dia anterior, no sentido de permitir o abrigamento
momentâneo das pessoas sob a marquise da Arena, ter sido disponibilizado água potável (um
bebedouro) e acesso ao banheiro químico. Em que pese isso, não eram ofertados copos descartáveis ou
garrafas para captação e consumo da água, o acesso ao banheiro era insuficiente, havia aglomeração de
pessoas em longas e demoradas filas para percepção da alimentação, sem manutenção de
distanciamento mínimo para evitar contágio, recebimento dos alimenos sem viabilizar a higienização
das mãos e ausência de orientação geral e adequada para prevenção à Covid-19. O número de
acolhidos dentro da Arena passou para 55 pessoas, somente público com maiores vulnerabilidades
epidemiológicas (ressaltando ainda que portadores de doenças infectocontagiosas, como tuberculose
ou mesmo o COVID19, estavam sem qualquer local para acolhimento). (DOC.05)
Em vista deste quadro de inércia, os autores realizaram nova reunião por
videoconferência no dia 03/04/2020, com a participação, além dos órgãos que estiveram na reunião
anterior, da Secretaria de Estado da Saúde (SUSAM), da Secretaria Municipal da Saúde (SEMSA) e do
Num. 213597877 - Pág. 9Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
Comando Militar da Amazônia (CMA), convidado para informar se poderia oferecer suporte a ações
do Estado e do Município.
Mais uma vez, o MPF, o MPT e a DPU observaram a ausência de providências
necessárias a oferecer condições dignas à população em situação de rua no contexto atual de
agravamento da pandemia, notadamente no que diz respeito às soluções efetivas para o acolhimento
dessa população. Durante a videoconferência, a SEAS informou que tinha superestimado a capacidade
máxima da Arena Amadeu Teixeira e afirmou que no máximo conseguiriam atender 100 pessoas,
apenas as com maior grau de vulnerabilidade epidemiológica; que até o presente momento não possui
um lugar complementar para possibilitar o abrigamento, seja para pessoas com tuberculose ou com a
COVID-19, seja para o público restante, estimado em cerca de 2000 pessoas em situação de rua na
capital Manaus.
Ressalte-se que até mesmo o CMA se disponibilizou a apoiar as medidas para a
população em situação de rua na ocasião, sendo que foi informado durante a videoconferência pelo
representante do MPF, em contato com as agências da ONU (ACNUR e OIM), que estas poderiam
contribuir com medidas pontuais, como equipamentos de moradia necessários (barracas, entre outros),
dentro de suas possibilidades.
O Município, por sua vez informou que se encontra responsável pelo acolhimento de
mais de 500 venezuelanos da etnia Warao, não possuindo estrutura e nem equipe para acolher mais
pessoas (situação que já perdura desde 2017, ou seja, que não é novidade, e que em parte é fruto da
própria ausência de iniciativas por partes dos órgãos públicos no estímulo à geração de renda e
autonomia do povo Warao). Destacou que atende 25 pessoas, em sua maioria idosos, no Abrigo
Aminne Down Lindoso, mas que o mesmo já se encontra em sua capacidade máxima. Ou seja, o
município sequer apresentou proposta de nova estrutura de acolhimento (dormida, higiene e refeição,
ou seja, espaço de isolamento efetivo como recomendado pelo Ministério da Saúde), mesmo diante do
cenário caótico.
No que diz respeito aos demais serviços ofertados isoladamente pelo Município
(CENTRO POP) ou em conjunto com a SEAS (CECI DA APARECIDA), os mesmos não são
realizados diariamente, mas apenas durante os dias úteis da semana (repetindo-se a pergunta: fim de
semana é dia de jejum para pessoas em situação de rua?).
Num. 213597877 - Pág. 10Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
Neste contexto, em que se propõe o acolhimento de 100 (cem) pessoas em situação de
rua pelo Estado (apenas os com maior vulnerabilidade triados), sem qualquer nova proposta pelo
município, e com uma estimativa de cerca de 2000 pessoas nesta situação, fácil é perceber que as
contas não fecham. Neste caso, as contas não fecharem dão como resultado certo mortes e mais
mortes, não só desta população, mas de todos os amazonenses. Explica-se em tópico separado, dada a
gravidade do tema.
2. DO IMINENTE COLAPSO DO SISTEMA DE SAÚDE AMAZONENSE. DAS MORTES
ANUNCIADAS
As pessoas em situação de rua encontram-se precocemente inseridas como um grupo
de risco devido à fragilidade de condições de alimentação e higiene, conforme será detalhado mais à
frente. Muitos na faixa dos 40 ou 50 anos já possuem características e fragilidades idênticas à
população idosa.
Isto significa que o contágio pela COVID-19, nesta população, será mais severo, pois
há índices maiores de comorbidades, o que se alia à omissão do Poder Público ou, no mínimo, à
adoção de medidas extremamente tímidas, incapazes de conter o caos que se anuncia, com a ausência
de possibilidade de isolamento e higienização adequada desta população, fatalmente trazendo mais
casos graves da pandemia para o SUS amazonense. Tal fato, como consequência, trará mais
necessidade de leitos e respiradores ocupados no Hospital de referência em Manaus, Delphina Aziz.
Estes leitos e respiradores são para toda a população amazonense, inclusive do interior do Estado,
como indígenas, quilombolas e ribeirinhos (uma vez que, segundo informações recebidas da SUSAM,
cada calha de rio teria um pólo-cidade com apenas 03 (três) respiradores disponíveis, sendo os casos
além deste número trazidos para a capital Manaus... que já está sem vagas para sua própria população).
Em síntese, a não prevenção com o isolamento social imediato, seja em qual
parcela da população for, acarretará mais casos graves, mais necessidade de respiradores, e
fatalmente muito mais mortes em toda a população amazonense. Esta é uma conta simples que
qualquer cidadão pode realizar, em especial em face do colapso iminente e certo da saúde pública no
Amazonas nos próximos dias (em clara explicação: colapso neste caso significa que não haverá vagas
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nos hospitais e respiradores suficientes a todos, e muitos de nós, nossos pais, amigos e irmãos mais ou
menos próximos, como as pessoas em situação de rua, morrerão por simples falta de tais vagas e
equipamentos).
Um detalhe importante: quem afirma isto da frase acima, não é o Ministério Público
ou a Defensoria Pública, mas o próprio Ministro da Saúde e o Governador do Estado do Amazonas.
Vejamos.
O Ministro da Saúde deu entrevista relatando o colapso iminente da saúde pública no
Amazonas há 02 dias (https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/04/03/ministerio-da-saude-teme-que-
amazonas-seja-primeiro-estado-a-entrar-em-colapso).
O Governador do Estado, ontem (04/04), repetiu o mesmo fato, inclusive com
assertivas específicas e graves (ressaltou até que já foi contratada câmara frigorífica para colocar os
mortos pela COVID-19 no Hospital Delphina Aziz, dado o alto número de mortes esperadas e o
colapso iminente da saúde, não havendo sequer a possibilidade de velório ou despedida física dos
parentes e amigos diante do cenário de guerra anunciado)5.
Interessante ressaltar algumas falas do Governador no vídeo, as quais se esclarecem
por si mesmas:
1) 2min13s: "a partir de segunda-feira a polícia toda estará na rua para garantir as
medidas tomadas" (ou seja, fechar comércio e garantir que a população permaneça
em casa, exceto para situações essenciais)
2) 4min55s "daqui uma semana irá colapsar o sistema de saúde do AM"
3) 6min36 "os números da doença são muito incertos, não sabemos como ela vai se
comportar no estado do AM" ... "quanto mais as pessoas ficarem em casa, maior a
possibilidade de conter o vírus "
4) 14min00 "por isto temos alertado tanto as pessoas a ficarem em casa, para
5 https://www.youtube.com/watch?v=kMxMQBI15VI
Num. 213597877 - Pág. 12Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
preservar o máximo de vida que pudermos"
5) 21min "fique em casa para evitar que o vírus se propague com mais rapidez”
O Chefe do Executivo ainda realizou live na data de ontem (04/04/2020), para
informar sobre o quadro da pandemia no Estado (vídeo em anexo). O Governador falou dos problemas
crescentes do novo coronavírus no Amazonas e destacou que “não há outro jeito de interromper a
cadeia de transmissão a não ser o isolamento domiciliar. Não existe, no mundo inteiro, nenhum outro
método eficaz, ainda”. Finalizou dizendo que em razão disso, e da proximidade do esgotamento do
sistema de saúde estará editando ainda no mesmo dia outras medidas mais restritivas para diminuir a
circulação de pessoas.
Ou seja, enquanto os representantes do Poder Público enfatizam e imploram à
população para ficar em casa, quase nada é feito por qualquer ente federativo para disponibilizar um
espaço seguro às pessoas em situação de rua. Ressalte-se: não se fala aqui de um hotel 05 estrelas, mas
de um mero espaço num ginásio, escola, igreja, ou seja o que for, com as distâncias adequadas, para
fins de isolamento social horizontal como preconizado pelo Ministro da Saúde, com a possibilidade de
alimentação, higienização e repouso noturno por um pequeno e emergencial período de tempo, de
semanas ou poucos meses.
Lembremos que grande parte das mortes na Itália ocorreu justamente por falta de
respiradores suficientes, ou seja, muitas pesssoas morriam simplesmente com falta de ar, por ausência
do equipamento que poderia salvá-las em face do gigantesco número de casos simultâneos.
A disponibilização de estruturas com alojamento, refeitório e instalações sanitárias
mostra-se de fundamental importância e deve ter em conta a heterogeneidade dessa população, sendo
recomendável, portanto, que haja espaços diversos para que se respeite essa característica (ou seja,
espaços específicos à população em situação de rua para homens, mulheres com crianças, idosos,
pessoas já com suspeita de infecção pelo COVID, etc). Ressalte-se, também, que nesta população se
encontram também migrantes, indígenas expulsos ou distantes de seus territórios natais e outros
públicos diversos.
Até este momento, contudo, apenas um local de abrigamento foi ofertado pelo Estado,
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com capacidade total absolutamente abaixo do que é necessário (segundo a estimativa, estão ofertando
acolhimento para 5% apenas da população em situação de rua, ou seja, 100 vagas para um público de
2000 pessoas) e nenhuma proposta foi apresentada pelo município para servir de abrigo.
Destaque-se que uma das medidas recomendadas aos entes públicos foi a identificação
de imóveis públicos ou privados ociosos que apresentem infraestrutura adequada para que possam ser
utilizados como moradia temporária em caráter urgente e imediato. Não houve, entretanto, qualquer
resposta quanto a sua adoção.
Assim, vê-se um quadro em que a populção em situação de rua em Manaus se
encontra sem qualquer possibilidade de proteger-se do contágio, o que é de extrema gravidade,
especialmente diante das notícias de iminente colapso do sistema público de saúde amazonense. Vale
ressaltar de novo: a população em situação de rua, deixada como está a sua própria sorte, em breve
contribuirá para a sobrecarga do sistema de saúde local, demandando leitos e equipamentos que a cada
minuto se tornam mais escassos.
Cabe ressaltar que foi realizado contato (telefônico, mensagens e aplicativos) destes
signatários com as assessorias diretas do Vice-Governador e do Prefeito de Manaus, por mais de uma
vez, ressaltando a urgência na adoção de medidas, mas sem resposta adequada.
Na data de ontem, em grupo de Whatsapp formado pelas Secretarias municipais e
estaduais envolvidas, sociedade civil e os autores da presente ação, foi encaminhada ontem
(04/04/2020) como tentativa derradeira de solução extrajudicial, a seguinte mensagem com perguntas
simples e objetivas (na verdade, uma síntese do que gostaríamos de respostas em face da
Recomendação expedida por DPU e MPF/AM mais de uma semana atrás):
Considerando que as respostas apresentadas SEMASC e SEAS a
RECOMENDAÇÃO LEGAL Nº 3/2020 (5º OFÍCIO/PR/AM e DRDH DPU/AM)
expedida no dia 24 de março de 2020 foram insuficientes;
Considerando as informações prestadas pelo Secretário de Saúde de Manaus,
na live transmitida ao vivo no dia 03.04.2020, dão conta da proximidade do
esgotamento do sistema de saúde na próxima semana e que o pico do surto de
coronavírus, no Amazonas, segundo estimativa da FVS-AM está previsto para
Num. 213597877 - Pág. 14Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
a segunda semana de abril até a primeira quinzena de maio;
Considerando a fala do Exmo. Governador do Estado do Amazonas, em
entrevista transmitida ao vivo na rede CNN Brasil, na manhã do dia
04.04.2020, informando que : o sistema público de saúde do Amazonas não
possui condições de atender toda a população, que o sistema privado também
possui limitações, sendo duas unidades não possuem mais leitos; que acredita
que em breve o sistema atingirá o seu limite de atendimento; que o Estado
passa por dificuldades severas na obtenção de respiradores, devido ao contexto
de pandemia e práticas adotadas por outros países; que expedirá decreto que
aumenta a limitação de circulação de pessoas, no intuito de evitar que mais
pessoas se contaminem; que é necessário que o estado fale uma linguagem só
para atender a população de maneira adequada e salvar vidas;
CONSIDERANDO A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA QUE SE ENCONTRA NO ENTORNO DA ARENA
AMADEU TEIXEIRA E ESPALHADA PELOS SEUS TERRITÓRIOS
(MAPEADOS PELOS ÓRGÃOS DE ASSISTÊNCIA);
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO E A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NOTIFICA OS
REPRESENTANTES DAS SECRETARIAS SEMASC, SEJUSC, SEAS, SUSAM E
SEMSA A APRESENTAREM, COM URGÊNCIA, AINDA NA DATA DE HOJE
E DE MANEIRA SUSCINTA AS SEGUINTES INFORMAÇÕES:
1) Qual a capacidade máxima de atendimento no acolhimento dentro da Arena
Amadeu Teixeira?
2) Quantas pessoas já estão acolhidas e qual o perfil delas?
3) Qual é a previsão para preenchimento de todas as Vagas, a data limite para
funcionamento pleno?
4) o que está sendo feito ou será feito para acolhimento e isolamento de pessoas
em situação de rua já com sintomas/suspeita de covid19 ou doenças
infectocontagiosas?
5) No item anterior deverá ser informado o local de atendimento, resumo de
estrutura ofertada, capacidade máxima de atendimento. E previsão de início
dos serviços e data limite para funcionamento pleno?
6) O que está sendo feito ou será feito em relação ao acolhimento, dormida,
Num. 213597877 - Pág. 15Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
banho, alimentação e higiene das pessoas em situação de rua do lado de fora
do Amadeu? número máximo de pessoas que podem ser atendidas? Qual a
data limite para funcionamento pleno?
7) o que está sendo feito ou será feito em relação às pessoas em situação de
rua do centro e outros locais de maior aglomeração? Em especial sobre local
para dormida, banho, alimentação e higiene? Foram pensadas e esta sendo
viabilizada soluções alternativas, tais como barracas em áreas de concentração
no centro da cidade (no porto? Proximidade da igreja matriz? Utilização da
estrutura do colégio militar? Na matriz?) Caso sim, informar o local, estrutura
que sera instalada, capacidade de atendimento e data para inicio do
atendimento e a data limite para funcionamento pleno?
CONSIDERANDO A ESPECIFICIDADE DA SITUAÇÃO GERADA PELA
PANDEMIA, A URGÊNCIA DA SITUAÇÃO VIVENCIADA
EXCEPCIONALMENTE AS RESPOSTAS DEVERÃO SER ENVIADAS POR
WHATSAPP, COMO GARANTIA DE UTILIZAÇÃO DE MEIO
TECNOLÓGICO QUE VIABILIZE A PRONTA RESPOSTA PELOS ÓRGÃOS.
Não houve qualquer resposta pelos entes citados.
Enfim, como forma de ampla transparência do cenário atual percebido pelos autores, e
de modo a auxiliar com o conhecimento do juízo, convém destacar que recebemos vídeos gravados
hoje, 05.04.2020, na Arena Amadeu Teixeira, enviados pela Pastoral do Povo de Rua. Nos registros,
percebe-se que houve algumas melhorias no atendimento da população em situação de rua que se
encontra na área externa da Arena, com a disponibilização de cinco barracas (colaboração do
Exército), banheiros químicos e cadeiras, mas ainda bastante insuficientes diante de todo cenário
apresentado. Não foi possível verificar material para higienização dos objetos de uso coletivo e nem
esclarecimentos sobre os cuidados que devem ser adotados para evitar a contaminação. Ainda assim,
permanecem todas as dúvidas quanto às demais pessoas, ou seja, aos cerca de 80% ou 90% da
população em situação de rua sem qualquer possibilidade de acolhimento (que, obviamente, é
voluntário, ou seja, somente serão acolhidos os que assim desejarem; contudo, o que se percebe é que
há um número muito maior de pessoas querendo acolhimento do que vagas disponíveis atualmente).
Tal situação de inércia do Poder Público, como é transparente, vem ocasionando já
muita apreensão por parte das pessoas em situação de rua, organizações e sociedade civil, com
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potencial contaminação em massa já ocorrendo nas ruas, e respectivas mortes associadas. Diante deste
cenário, o dano moral coletivo é totalmente demonstrado e merece ser acolhido pelo juízo em sede de
mérito final.
Desse modo, os autores veem-se compelidos a propor a presente ação, como a única
via capaz de mobilizar o Estado do Amazonas e o Município de Manaus para os direitos das pessoas
em situação de rua e evitar uma tragédia de proporções inimagináveis a essa população, tão
historicamente marginalizada.
3. DA LEGITIMIDADE. DA COMPETÊNCIA. DA POSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO
ATIVO
Em breve síntese, os signatários possuem plena legitimidade constitucional para a
defesa dos direitos aqui pleiteados. MPF e DPU em suas atuações amplas nos temas de cidadania,
ressaltando ainda a presença de migrantes e indígenas dentro desta população, e MPT especificamente
em face do agravamento das condições de vida de crianças e adolescentes em situação de trabalho
infantil e outros trabalhadores autônomos marcados pela pobreza extrema e ainda, pela necessidade de
garantir que os trabalhadores que realizam o atendimento da população em situação de rua, tenham
protegidas a sua saúde e segurança.
A competência federal também pode ser sinteticamente afirmada. Seja em face da
atuação tripartite dos entes federativos no tema da saúde pública, seja em face do cofinanciamento
federal das políticas públicas para as pessoas em situação de rua. Seja, enfim, em face das medidas
federais anunciadas de combate à pandemia.
O litisconsórcio ativo dos três entes também é amplamento aceito por doutrina e
jurisprudência, não demandando maiores esclarecimentos.
4. DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE E À ASSISTÊNCIA SOCIAL.
A Constituição Federal elenca em seu artigo 6º, como direitos sociais, a saude e a
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assistência aos desamparados, integrantes dos direitos fundamentais disponíveis a todos e todas, no
território brasileiro.
Além disso, a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei n.º 8.743/93) estabelece
normas destinadas a todos os entes federativos e tem por objetivo a proteção e defesa de direitos,
garantindo mínimos sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais (art. 2º, incisos I, III e
parágrafo unico).
Ainda, a já referida Lei Orgânica da Assistência Social estabelece como competência
dos Municípios, em seu art. 15, a execução dos projetos de enfrentamento da pobreza (inciso III), o
atendimento as ações assistenciais de caráter de emergência (inciso IV) e a prestação dos serviços
socioassistenciais (inciso V). Vale lembrar que o Distrito Federal, ente federativo de natureza híbrida,
possui competências municipais e estaduais, nos termos do art. 32, §1º da CF/88.
Outrossim, a Política Nacional de Assistência Social tem como princípios a
universalização dos direitos sociais e a igualdade de direitos no acesso ao atendimento.
Ademais, estudo realizado na Universidade da Califórnia6 concluiu que condições
geriátricas que costumam afetar idosos de 70, 80 ou 90 anos são encontradas em pessoas sem teto por
volta da idade dos 58 anos. Ou seja, dadas as suas condições de vida, as pessoas em situação de rua
encontram-se precoce e preocupantemente inseridas como grupo de risco para o coronavírus.
Desse modo, além da situação biofisiológica, a população em situação de rua
encontra- se em extremo risco também em razão da impossibilidade de cumprimento das medidas
acauteladoras recomendadas pelo Ministério da Saude e pela Organização Mundial de Saude, ante a
ausência de domicílio próprio para o isolamento, da falta de acesso a água para lavar as mãos ou tomar
banho de modo a manter sua higiene pessoal de maneira apropriada, bem como da notória carência
nutricional.
Assim, considerando que, no atual cenário, é imprescindível que a higiene seja uma
prioridade individual e coletiva, como bem vem frisando o Ministério da Saude, urgindo uma
6 University of California – San Francisco. "Homeless people suffer geriatric conditions decades early, study shows."
ScienceDaily. Science Daily, 26 February 2016 https://www.sciencedaily.com/releases/2016/02/160226085720.html
Num. 213597877 - Pág. 18Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
necessidade ainda maior de que se assegurem aos cidadãos em situação de rua o necessário para que
possam proceder sua higienização, garantindo minimamente o seu direito a saude nesse contexto
pandêmico.
Considerando também o impacto desproporcional esperado do coronavírus na
população em situação de rua, bem como o fundado receio de que, diante das recomendações de
isolamento social, os serviços voluntários de distribuição de alimentos conduzidos pela sociedade
civil sejam reduzidos ou suspensos, o que deve ocorrer também quanto ao volume de pequenas
ofertas em dinheiro ou alimentos recebidas a título de caridade pelas pessoas em situação de rua
que sobrevivem de coleta ("esmolas").
Conclui-se que devem ser tomadas medidas que reduzam ao máximo o risco a que as
pessoas em situação de rua estão submetidas, acreditando-se que a utilização de equipamentos
publicos que se encontrem temporariamente ociosos e possuam alguma estrutura sanitária
podem servir como alternativa para abrigar e permitir a higienização daqueles que se
encontram na rua e sem locais suficientes para higiene adequada, bem como para fornecimento
de alimentação adequada, em caráter temporário e emergencial.
Além disso, poderia ser utilizada como alternativa a requisição administrativa de
hotéis para abrigamento da população. Registra-se que tais espaços, por serem dotados de vários
quartos, evitariam até a aglomeração de pessoas, podendo a alimentação ser realizada por turnos de
pequenos grupos, no ambiente de refeição. Tal alternativa já fora adotada em alguns estados, como o
Amapá, consoante já explanado.
Desse modo, os pedidos que se seguirão ao final são prioritariamente para abarcar
pontos já expendidos nas Recomendações da DPU/AM e MPF/AM, com integral concordância
posterior do MPT/AM, como abrigamento, alimentação e higiene da população em situação de rua na
cidade de Manaus e região metropolitana, que engloba hoje metade da população do estado do
Amazonas, com estrutura de forma organizada para não configurar aglomeração de pessoas.
5. DA TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER LIMINAR
No caso em tela, estão presentes os requisitos para a concessão de tutela de urgência
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em caráter liminar (art. 300, caput e §2º do CPC). O art. 12 da Lei n. 7.347/85 caminha no mesmo
sentido: “Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão
sujeita a agravo”.
A probabilidade do direito desponta de toda a argumentação de mérito expendida nos
articulados antecedentes. Os fatos alegados constam da documentação juntada. Flagrantes são as
ilegalidades apontadas, e o risco de muitas mortes atual e iminente.
Ressalte-se que, no temas mortes, podem ser tratados dois pontos: 1) as mortes
inevitáveis e decorrentes de uma pandemia mundial que estão ocorrendo e ocorrerão, fruto de
caso fortuito ou força maior em que não há qualquer medida a ser tomada quanto a isto, exceto
as já mencionadas pelas autoridades sanitárias e médicas; 2) as mortes decorrentes da omissão,
inércia e lentidão do Poder Público em adotar medidas que o próprio Poder Público recomenda
a todos os seus cidadãos, como o isolamento horizontal, a higienização e a alimentação adequada,
mas que pouco ou nada faz para disponibilizá-las a uma parcela extremamente vulnerável, social
e epidemiologicamente, qual seja, as pessoas em situação de rua que, fatalmente, irão
sobrecarregar ainda mais o SUS e ocupar vagas e respiradores já insuficientes em caso de
permanência desta inércia, em síntese: o Poder Público fomentando o próprio colapso do sistema
de saúde, além das causas naturais e inevitáveis citadas no item 1). Tratamos nesta ação apenas
sobre o item 2).
Em um momento de declaração de situação de emergência na saude publica o zelo
com a população em situação de rua deve ser prestado de modo a respeitar seus direitos básicos e a
evitar aglomerações.
O perigo de dano é inconteste, vez que, não sendo imediatamente disponibilizados
locais reservados e adequados para essas pessoas (com alimentação, higiene e abrigo), elas correm
sério risco de contágio e disseminação do novo coronavírus, o que aumenta a cada dia no país7.
A medida pleiteada é absolutamente razoável, tanto em termos financeiros quanto de
factibilidade. Isto porque, como se requer o emprego de espaços já construídos e sem utilização no
7 Segundo dados de 4 de abril de 2020, existem 10.278 infectados em todos os estados e 431 mortos: https://oglobo.globo.
com/sociedade/coronavirus-numero-de-mortos-no-brasil-sobe-para-432-casos-confirmados-10278-24351975
Num. 213597877 - Pág. 20Assinado eletronicamente por: LUIS FELIPE FERREIRA CAVALCANTE - 05/04/2020 15:40:17http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20040515401690300000209904938Número do documento: 20040515401690300000209904938
momento, não há que se ocupar a administração publica na contratação de quem quer que seja para
erguer local de abrigamento e as instalações sanitárias. Tudo que deve cuidar é de prover os insumos
de limpeza, alimentação e de vestuário se, e somente se, não os tiver em estoque, lembrando sempre
que algo do que será preciso já deve ter sido adquirido anteriormente a suspensão das aulas e dos
eventos esportivos, bastando redirecionar sua utilização. Ainda, que há campanhas fomentadas pelos
órgãos públicos e pela sociedade civil para aquisição de tais insumos no Amazonas, justamente para
este tema, como aqui pode ser visto:
https://www.acritica.com/channels/coronavirus/news/campanha-busca-arrecadar-roupas-
comida-e-materiais-para-moradores-de-rua
https://www.acritica.com/channels/coronavirus/news/arena-amadeu-teixeira-ja-recebe-
doacoes-para-moradores-de-rua-em-manaus
E enfim, que há uma gama de medidas em andamento para disponibilização de
renda, de recursos, bens, materiais, cestas básicas e afins, sendo criadas pelo governo federal e pelo
próprio governo do Amazonas, que podem suprir estas necessidades imediatas de uma população, ao
menos por algumas semanas e meses até o pico da contaminação acabar.
A considerar o tempo tomado pela burocracia, é difícil crer que a administração
publica seja capaz de providenciar todo o necessário em período razoável, o que expõe e agrava ainda
mais os riscos de um grupo de pessoas já extremamente vulnerável e fragilizado.
E, especificamente naquilo que toca aos custos, é inegável que a medida
recomendada pelo Ministério Público e pela Defensoria até mesmo do ponto de vista da
economicidade é mais adequada, considerando que os benefícios do abrigamento e possibilidade de
evitar o aumento de números de pessoas a ocuparem leitos de UTIs, com altíssimo custo, e onerando
ainda mais SUS (sem mencionar as mortes evitadas) em muito superam os custos do abrigamento,
higienização e alimentação aqui proposto.
Como já foi dito, há um universo em torno de duas mil pessoas sem moradia
adequada nas ruas de Manaus, contudo nem todos desejarão ficar nos espaços a serem disponibilizados
pelo Poder Público, parte deles pode ainda ter vínculos familiares e ter retornado a suas casas, outros
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permanecerão nas ruas em face de problemas comuns presentes nesta população, desde questões
mentais, até dependência de álcool e outras drogas.
Sendo assim, em termos práticos, poderíamos falar em provavelmente menos de
1000 (mil) pessoas que seriam abrigadas de maneira emergencial, para a prática do isolamento
horizontal recomendado pelo Ministério da Saúde e pelo próprio Governador do Estado, num
período de cerca de 02 ou 03 meses, ou menos até dependendo do avanço da pandemia.
Lembrando que sociedade civil, Exército e agências ONU já ofereceram apoio ao município e ao
Estado para a situação alarmante vivida.
Recorde-se, enfim, que o município de Manaus não ofertou ainda qualquer nova
estrutura de abrigamento, em que pese haver disponibilidade em ginásios, escolas e outros
espaços municipais atualmente sem uso e vazios, com estrutura para dormir, comer, higienizar
para esta população, limitando-se a expor medidas tímidas já em andamento, muito aquém do
necessário.
6. DA POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA SEM OITIVA DOS
ENTES PÚBLICOS
Embora o art. 12 da Lei da Ação Civil publica já preveja a possibilidade de
concessão de tutela de urgência sem oitiva prévia do ente publico, o art. 2º da Lei n. 8.437/92
menciona a necessidade de oitiva do representante legal da pessoa jurídica de direito publico antes da
concessão da tutela de urgência em caráter liminar:
Art. 2º No mandado de segurança coletivo e na ação civil publica, a
liminar será concedida, quando cabıvel, após a audiência do
representante judicial da pessoa jurıdica de direito publico, que deverá se
pronunciar no prazo de setenta e duas horas.
No entanto, a jurisprudência tem afastado a exigência de oitiva previa diante da
possibilidade de graves danos decorrentes da demora no cumprimento da liminar, uma vez observada a
referida norma.
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Talvez nunca antes na história do Judiciário brasileiro (apesar de parecer
exagero, pensamos assim de fato), uma situação ensejou tanto a liminar imediata quanto esta.
Vejamos:
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCESSÃO DE
LIMINAR SEM OITIVA DO PODER PÚBLICO. ART. 2° DA LEI
8.437/1992. AUSÊNCIA
DE NULIDADE. 1. O STJ, em casos excepcionais, tem mitigado a
regra esboçada no art. 2º da Lei 8437/1992, aceitando a concessão da
Antecipação de Tutela sem a oitiva do poder público quando
presentes os requisitos legais para conceder medida liminar em Ação
Civil Pública. 2. No caso dos autos, não ficou comprovado qualquer
prejuízo ao agravante advindo do fato de não ter sido ouvido
previamente quando da concessão da medida liminar. 3. Agravo
Regimental não provido. (AgRg no Ag 1314453/RS, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/09/2010,
DJe 13/10/2010)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROPOR
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TRATAMENTO DE SAÚDE. RAZÕES DO
AGRAVO QUE NÃO IMPUGNAM, ESPECIFICAMENTE, A
DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. MENOR.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA VARA DA INFÂNCIA E DA
JUVENTUDE. CONCESSÃO DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS
DA TUTELA, SEM A PRÉVIA OITIVA DO PODER PÚBLICO.
POSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ.
QUESTÃO DE MÉRITO AINDA NÃO JULGADA, EM ÚNICA OU
ÚLTIMA INSTÂNCIA, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. EXAME.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 735/STF. REQUISITOS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. SÚMULA
7/STJ. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. (...) V. A jurisprudência
do STJ, "em casos excepcionais, tem mitigado a regra esboçada no
art. 2º da Lei 8437/1992, aceitando a concessão da Antecipação de
Tutela sem a oitiva do poder público quando presentes os requisitos
legais para conceder medida liminar em Ação Civil Pública. (STJ,
AgRg no Ag 1.314.453/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe de 13/10/2010). (AgInt no AREsp
1238406/PE, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA
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TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe 27/06/2018);
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. LIMINAR CONCEDIDA, EXCEPCIONALMENTE,
SEM OITIVA PRÉVIA DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO
PÚBLICO. ART. 2º DA LEI N. 8.437/1992. POSSIBILIDADE.
SÚMULA 83/STJ. 1. Cinge-se a controvérsia dos autos se é possível a
concessão de liminar, sem oitiva previa do município, nos casos de ação
civil publica. 2. O entendimento jurisprudencial do Superior
Tribunal de Justiça permite, excepcionalmente, em especial para
resguardar bens maiores, a possibilidade de concessão de liminar,
sem prévia oitiva da pessoa jurídica de direito público, quando
presentes os requisitos legais para a concessão de medida liminar em
ação civil pública. Precedentes. AgRg no REsp 1.372.950/PB, Rel.
Min. HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA; AgRg no Ag
1.314.453/RS, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA;REsp 1.018.614/PR, Rel. Min. ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA; REsp 439.833/SP, Rel. Min. DENISE
ARRUDA, PRIMEIRA TURMA. 3. A iterativa jurisprudência desta
Corte é no sentido de que, para analisar os critérios adotados pela
instância ordinária que ensejaram a concessão ou não da liminar ou da
antecipação dos efeitos da tutela, é necessário o reexame dos elementos
probatórios, o que não é possível em recurso especial, dado o óbice da
Sumula 7 desta Corte. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no
AREsp: 580269 SE 2014/0231638-3, Relator: Ministro HUMBERTO
MARTINS, Data de Julgamento: 06/11/2014, T2 – SEGUNDA TURMA,
Data de Publicação: DJe 17/11/2014)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. PRESENÇA DOS REQUISITOS
ENSEJADORES DA MEDIDA. ILEGALIDADE NÃO
CONFIGURADA. LIVRE CONVENCIMENTO DO JULGADOR.
RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS. CONCESSÃO DE
LIMINAR SEM OITIVA DO PODER PÚBLICO.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. 1 - O agravo de instrumento é recurso
secundum eventum litis, devendo se limitar a atacar o que restou
soberanamente decidido pelo ato agravado, não sendo lícito, dessa
forma, antecipar-se incontinente ao exame da questão de fundo,
cabendo ao relator analisar, unicamente, o acerto ou desacerto da decisão
ferreteada. 2 - Os critérios de aferição para a antecipação da tutela estão
na faculdade do julgador que, exercitando o seu livre convencimento,
decide sobre a conveniência ou não do seu deferimento, observados os
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requisitos do artigo 273 do Código de Processo Civil. 3 - Não é ilegal a
decisão judicial proferida na ação civil pública sem a audiência do
representante judicial da pessoa jurídica de direito público, pois tal
ordem encontra-se mitigada no nosso ordenamento jurídico em face
da possibilidade de ocorrer graves danos decorrentes da demora no
cumprimento da liminar, mormente se há nos autos provas
suficientemente fortes. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO
E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 210629-
72.2013.8.09.0000, Rel. DES. NORIVAL SANTOME, 6ª CA MARA
CIVEL, julgado em 18/02/2014, DJe 1494 de 27/02/2014)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO O CIVIL PÚBLICA.
PERMUTA DE IMÓVEIS. LEI MUNICIPAL Nº 1483/2008.
PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE OITIVA PRÉVIA DO ENTE
PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART. 2º DA LEI Nº8437/92. AUSÊNCIA
DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO REPRESENTANTE LEGAL DO
MINISÉRIO PÚBLICO. APRESENTAÇÃO DAS CONTRARRAZÕES
ATEMPADAMENTE. NULIDADE NÃO CONFIGURADA.
DECISÃO ULTRA PETITA CONFIGURADA. I - Não é ilegal a
decisão judicial proferida na ação civil pública sem a audiência do
representante judicial da pessoa jurídica de direito público para
pronunciamento no prazo de setenta e duas (72) horas, pois tal
ordem encontra-se mitigada no nosso ordenamento jurídico em face
da possibilidade de ocorrer graves danos decorrentes da demora no
cumprimento da liminar, mormente se há nos autos provas
suficientemente fortes. II – É de se rejeitar a arguição de nulidade de
intimação do órgão ministerial ante a ausência de intimação pessoal se a
sua representante legal ofertou, dentro do prazo legal, a peça de defesa,
fato que supriu a suposta falha sem que houvesse prejuízo a quaisquer
das partes. III- Em sendo a decisão recorrida proferida além da
quantificação indicada na petição inicial pelo autor, deve-se reconhecer a
sua nulidade em relação ao excesso, cabendo ao órgão recursal extirpá-
lo, adequando-a ao pleito inicial. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E PROVIDO. (TJGO, AGRAVO DE
INSTRUMENTO 260359-57.2010.8.09.0000, Rel. DES. JEOVÁ
SARDINHA DE MORAES, 6ª CÂMARA CÍVEL, julgado em
05/04/2011, DJe 800 de 14/04/2011)
7. DOS PEDIDOS
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Diante do exposto, requerem:
a) A observação das PRERROGATIVAS dos membros do Ministério Público e da
Defensoria Publica, reconhecendo expressamente, ainda, a sua legitimação ad causam;
b) A DISPENSA do adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
outros encargos, respeitando o bom vezo do artigo 18 da Lei nº 7.347/85;
c) A concessão de TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER LIMINAR para o fim
de, sob pena de multa de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) por dia de descumprimento de cada item,
cumuladamente, solicitando desde já a incidência de multa sobre o patrimônio pessoal dos gestores
municipal e estadual em caso de recalcitrância no cumprimento da medida judicial determinada, bem
como no mesmo caso, bloqueio de publicidade institucional não emergencial e sequestro de verbas
para publicidade institucional dos dois entes federativos, se necessário, a Prefeitura de Manaus e o
Estado do Amazonas, de maneira imediata atuem no sentido de:
c.1) disponibilizar estruturas públicas esportivas ou educacionais, ou qualquer outro
equipamento público sem uso em razão da pandemia (ou ainda requisição administrativa de hotéis,
como já adotado em outros locais), como pontos de alojamento temporário com a disponibilização de
alimentação e higiene, para toda a população em situação de rua de Manaus e entorno que assim tenha
interesse (cerca de 2000 pessoas no total, mas com provável número inferior a serem acolhidos,
considerando os que não desejam abrigamento ou já conseguiram isolamento horizontal em outros
locais), até que se encerre definitivamente a decretação do Estado de emergência e/ou calamidade no
Amazonas, sendo os locais, caso possível, próximos aos territórios onde se encontram parcela
considerável das pessoas em situação de rua, já mapeados pelas secretarias de assistência social;
c.2) Nos locais disponibilizados para atendimento seja realizada a divisão adequada
entre os espaços, conforme as recomendações dos órgãos de saúde, adotando-se assim todas as
cautelas necessárias para se evitar aglomeração de pessoas;
c.3) Disponibilizar em todos os equipamentos, serviços e locais que atendam à
população em situação de rua, espaço específico para as pessoas que se enquadram em grupo de risco
da Covid-19 (pessoas idosas, gestantes e pessoas com doenças crônicas, imunossuprimidas,
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respiratórias e outros comorbidades preexistentes que possam conduzir a um agravamento do estado
geral de saúde a partir do contágio, com especial atenção para diabetes, tuberculose, doenças renais,
HIV e infecções), bem como com atenção especial às crianças, já identificadas no espaço externo da
Arena Amadeu Teixeira;
c.4) Disponibilizar local apartado para garantir o isolamento das pessoas em situação
de rua que apresentem suspeita de contaminação pelo COVID-19 ou apresente a doença em grau leve e
não precise de internação hospitalar;
c.5) Disponibilizar aos servidores, terceirizados e demais colaboradores que atendam
a população em situação de rua equipamentos de proteção individual (EPIs) e material para
higienização das mãos, adequados a diminuir o risco de contágio, de acordo com o Protocolo de
Manejo Clínico para o Novo corona vírus (2019-nCoV), expedido pelo Ministério da Saúde;
c.6) Promover a vacinação contra gripe dos usuários e funcionários dos
equipamentos socioassistenciais destinados às pessoas em situação de rua;
c.7) Disponibilizar pontos de água potável nos locais de maior concentração de
população em situação de rua;
c.8) Franquear pronto acesso aos banheiros públicos já existentes e implantem outros
sanitários para uso público, ao menos, nas proximidades dos locais referidos, com a presença de
vigilante em cada um deles;
c.9. Evitar, sob quaisquer circunstâncias, aglomerações das pessoas em situação de
rua no momento da distribuição de alimentos;
c.10) Promover a avaliação cotidiana dos processos de atendimento, considerando as
mudanças constantes no combate e prevenção à pandemia, para assegurar que a oferta dos serviços se
dê mediante condições que garantam a segurança e saúde dos profissionais e dos usuários, adotando
medidas de prevenção, cautela e redução do risco de transmissão, encaminhando resposta imediata
sobre o cumprimento da decisão liminar, as medidas adotadas, e relatórios semanais das medidas
adotadas no tema da população em situação de rua a este juízo federal, até o fim do estado de
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emergência.e/ou calamidade no estado do Amazonase no município de Manaus;
d) Citar a parte requerida para, nos termos do Código de Processo Civil e da Lei
7.347/1985, adotar as medidas que reputar convenientes;
e) Ao final:
e.1) julgar PROCEDENTES os pedidos formulados, confirmando-se assim os
pleitos liminares acima expostos;
e.2) Determinar a construção de um plano conjunto entre município de Manaus,
Estado do Amazonas e União, voltado à população em situação de rua, de combate a pandemias e
situações de calamidades / emergências, em diálogo com a sociedade civil, em especial o Comitê de
Políticas Públicas para a Atenção à População em Situação de Rua já existente e suas entidades
participantes, no prazo de 90 dias;
e.3) condenar o município de Manaus e o Estado do Amazonas ao pagamento de 02
(dois) milhões de reais (um milhão cada) em danos morais coletivos, considerando a inércia até agora
apresentada, a apreensão coletiva gerada, e as potenciais contaminações e mortes já em andamento
decorrentes da omissão, que só será possível ter noção maior após a passagem desta crise de
proporções ainda desconhecidas; referido valor deverá ser destinado a uma conta específica da Justiça
Federal, e analisada a sua forma de destinação às políticas para pessoas em situação de rua em
conjunto entre Estado, Município de Manaus e Comitê de Políticas Públicas para a Atenção
à População em Situação de Rua, por meio de projetos específicos a serem apresentados ao juízo, com
participação do Ministério Público e da Defensoria Pública no acompanhamento;
Dão a causa o valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais).
Termos em que,
Pedem deferimento.
Manaus, 5 de abril de 2020.
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Fernando Merloto Soave
Procurador da República
Alzira Melo Costa
Procuradora do Trabalho
Luís Felipe Ferreira Cavalcante
Defensor Público Federal
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