52
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO Relator: PINTO HESPANHOL Descritores: NULIDADE DE ACÓRDÃO CATEGORIA PROFISSIONAL DANOS NÃO PATRIMONIAIS ASSÉDIO MORAL CADUCIDADE DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR INQUÉRITO Data do Acordão: 03/05/2013 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Privacidade: 1 Meio Processual: REVISTA Decisão: NEGADAS AS REVISTAS Área Temática: DIREITO CIVIL - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / FONTES DAS OBRIGAÇÕES. DIREITO DE PROCESSO DO TRABALHO - INTEGRAÇÃO DE LACUNAS. DIREITO DO TRABALHO - CONTRATO DE TRABALHO / SUJEITOS ( IGUALDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO) / INCUMPRIMENTO DO CONTRATO / CESSAÇÃO DO CONTRATO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSO DE DECLARAÇÃO / SENTENÇA (NULIDADES) / RECURSOS. Legislação Nacional: CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 483.º, N.º1, 494.º, 496.º, N.ºS 1 E 3. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 660.º, N.º2, 668.º, N.º1, ALÍNEA D), 713.º, N.º 2, 716.º, 726.º. CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO (CPT): - ARTIGO 1.º, N.º2, ALÍNEA A). CÓDIGO DO TRABALHO (CT) / 2003: - ARTIGOS 24.º, N.º2, 372.º, N.ºS 1 E 2, 411.º, N.º4, 412.º. CÓDIGO DO TRABALHO (CT) / 2009: - ARTIGO 29.º, N.º1. 11:52:57] http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (1 of 52) [23-12-2014

Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de JustiçaProcesso: 1361/09.1TTPRT.P1.S1Nº Convencional: 4ª SECÇÃORelator: PINTO HESPANHOLDescritores: NULIDADE DE ACÓRDÃO

CATEGORIA PROFISSIONAL DANOS NÃO PATRIMONIAIS ASSÉDIO MORAL CADUCIDADE DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR INQUÉRITO

Data do Acordão: 03/05/2013Votação: UNANIMIDADETexto Integral: SPrivacidade: 1Meio Processual: REVISTADecisão: NEGADAS AS REVISTASÁrea Temática:

DIREITO CIVIL - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / FONTES DAS OBRIGAÇÕES. DIREITO DE PROCESSO DO TRABALHO - INTEGRAÇÃO DE LACUNAS. DIREITO DO TRABALHO - CONTRATO DE TRABALHO / SUJEITOS ( IGUALDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO) / INCUMPRIMENTO DO CONTRATO / CESSAÇÃO DO CONTRATO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSO DE DECLARAÇÃO / SENTENÇA (NULIDADES) / RECURSOS.

Legislação Nacional: CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 483.º, N.º1, 494.º, 496.º, N.ºS 1 E 3. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 660.º, N.º2, 668.º, N.º1, ALÍNEA D), 713.º, N.º 2, 716.º, 726.º. CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO (CPT): - ARTIGO 1.º, N.º2, ALÍNEA A). CÓDIGO DO TRABALHO (CT) / 2003: - ARTIGOS 24.º, N.º2, 372.º, N.ºS 1 E 2, 411.º, N.º4, 412.º. CÓDIGO DO TRABALHO (CT) / 2009: - ARTIGO 29.º, N.º1.

11:52:57]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (1 of 52) [23-12-2014

Page 2: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Sumário : 1. O aresto recorrido, ao condenar a ré a atribuir ao autor «todas as funções próprias, de gerente de balcão, para as quais foi contratado, repondo-lhe todas as condições decorrentes do exercício das mesmas, à excepção da atribuição de uma hora de isenção de horário de trabalho, que lhe foi retirada», não só se cinge ao pedido formulado, como expressamente se pronuncia relativamente à questão pertinente às funções alegadamente de «gerente administrativo» com que a ré pretendeu justificar a retirada, ao autor, de funções próprias de gerente de balcão, para que foi contratado, pelo que não ocorre a invocada nulidade por excesso de pronúncia. 2. A actividade contratada de gerente bancário nada tem a ver com a função de «gestor de cliente» ou «gestor de negócios», que a ré atribuiu ao autor, em Janeiro de 2007, sendo que as funções confiadas ao autor, a partir de Setembro de 2007, as quais a ré qualificou como sendo de «gerente administrativo», não integram a actividade para que foi contratado, nem se configuram como funções afins ou funcionalmente ligadas às próprias da actividade contratada. 3. Configurando-se a violação do dever de cometer funções correspondentes à actividade contratada, justifica-se a atribuição, ao autor, de uma compensação pelos danos não patrimoniais gerados por tal violação. 4. Não se provando a prática, pela empregadora, de qualquer acto discriminatório, consubstanciador de assédio moral, não se aplica a disciplina contida nos artigos 24.º e 29.º, respectivamente, do Código do Trabalho de 2003 e de 2009. 5. O exercício da acção disciplinar compete ao empregador ou, por delegação deste, a superior hierárquico do trabalhador, nos termos por aquele estabelecido. 6. Compete ao trabalhador o ónus da prova de que a entidade com poder disciplinar teve conhecimento da infracção há mais de sessenta dias.

11:52:57]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (2 of 52) [23-12-2014

Page 3: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Decisão Texto Integral: Acordam na Secção Social do Supremo Tribunal de Justiça: I 1. Em 2 de Setembro de 2009, no Tribunal do Trabalho do Porto, Juízo Único – 4.ª Secção, AA intentou acção declarativa, com processo comum, emergente de contrato de trabalho contra BANCO BB, S. A., em que formulou os pedidos que se passam a discriminar: (a) se declarasse a caducidade do procedimento disciplinar contra ele instaurado pela ré, cuja nota de culpa lhe foi entregue em 21 de Janeiro de 2009, e na sequência do qual lhe foi aplicada a sanção disciplinar de repreensão registada, considerando-se esta sanção inexistente; (b) se assim não se entendesse, que fosse declarado que não praticou qualquer infracção disciplinar, revogando-se a decisão proferida naquele procedimento; (c) se assim não se entendesse, que a dita sanção fosse alterada para repreensão simples; (d) se condenasse a ré a atribuir-lhe «as funções para as quais foi contratado, ou seja, funções de gerente de balcão, repondo-lhe todas as condições remuneratórias e as demais condições equivalentes ao exercício das funções que lhe foram atribuídas na sua admissão como trabalhador [da ré] na área do Porto»; (e) se condenasse a ré a abster-se de praticar novos actos discriminatórios ou persistir directa ou indirectamente nos praticados, dando-lhe o mesmo tratamento que confere aos demais trabalhadores que exercem funções equivalentes; (f) se condenasse a ré a pagar-lhe € 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e (g) € 30.000, relativamente aos danos não patrimoniais adrede invocados. A ré contestou, impugnando a alegada prática de assédio moral, aduzindo que o autor, desde o início da relação laboral, tem demonstrado inépcia e desinteresse em atingir bons resultados, que a redução da retribuição por isenção de horário de trabalho de duas para uma hora foi legal e que a sanção disciplinar aplicada é válida, porque se justifica face à violação de deveres laborais por parte do autor e visto que a Comissão Executiva do Conselho de Administração, o único órgão da ré que detém o poder disciplinar, só teve conhecimento dos factos em 23 de Dezembro de 2008.

11:52:57]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (3 of 52) [23-12-2014

Page 4: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Realizado o julgamento, exarou-se sentença que julgou a acção parcialmente procedente, declarando a caducidade do procedimento disciplinar instaurado ao autor e ilícita a sanção disciplinar de repreensão registada aplicada ao autor, condenando a ré a pagar-lhe a quantia de € 1.050, referente ao prémio de prestação extraordinária dos anos de 2008 e 2009, e absolvendo a ré quanto ao mais peticionado. 2. Inconformados, o autor e a ré interpuseram recurso de apelação, sendo o primeiro independente e o outro subordinado, tendo o Tribunal da Relação do Porto julgado parcialmente procedente o recurso do autor, condenando a ré a atribuir-lhe «todas as funções próprias, de gerente de balcão, para as quais foi contratado, repondo-lhe todas as condições decorrentes do exercício das mesmas, à exceção da atribuição de uma hora de isenção de horário de trabalho, que lhe foi retirada» e a pagar-lhe € 10.000, a título de indemnização pelos danos não patrimoniais sofridos, e concedido provimento ao recurso da ré, revogando a sentença recorrida na parte em que condenou a ré a pagar ao autor € 1.050, respeitante ao prémio de prestação extraordinária dos anos de 2008 e 2009, absolvendo a ré desse pedido. É contra esta deliberação que a ré e o autor se insurgem, mediante recursos de revista, o primeiro independente e o segundo subordinado, concluindo o seguinte: A RÉ: «Quanto à categoria profissional: A - Tendo sido contratado como gerente de balcão, em Dezembro de 2004, foi confiada ao Autor, no exercício da competência hierárquica e funcional que lhe foi superiormente delegada pela hierarquia, a gestão comercial e administrativa de um estabelecimento. B - Porque o resultado das avaliações de desempenho mostraram insuficiências graves a nível de gestão, o Autor foi convidado a assumir funções de Gestor de Negócios num grande balcão.

11:52:57]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (4 of 52) [23-12-2014

Page 5: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

C - O que ele aceitou. D - Quando, porém, se passou à fase da formalização da baixa de categoria, o Autor exigiu que o valor que ele então recebia como retribuição especial por i.h.t. lhe fosse transformada em prestação fixa e regular, independente do regime de i.h.t. que ele, pelo menos oficialmente, vinha praticando. E - Tendo-se gorado, por tal motivo, o acordo, o Banco reconduziu o Autor à categoria de gerente, mas, agora, para tratar apenas da gestão administrativa do Balcão, continuando, ele, não obstante, com procuração e na comissão local de crédito. F - Porque o Autor não justificava a i.h.t. de duas horas de trabalho suplementar, o seu superior hierárquico reduziu-lhe a i.h.t. para uma hora. G - Porque se veio a verificar que o Autor, em violação do que por norma interna, estava estabelecido, registava um período de trabalho que não correspondia à realidade, falseando, por essa forma, o registo dos tempos de trabalho, o seu chefe hierárquico, por uma questão de confiança, retirou-lhe a procuração e afastou-o da comissão local de crédito, H - Tendo o Autor ficado apenas com a gestão administrativa do Balcão …, no Porto, que é o maior balcão do BB no Norte. I - Com isso, o Réu de modo algum violou qualquer norma legal ou contratual de protecção do Autor, J - Uma vez que, se por um lado — envolvendo tais funções o exercício de mandato — a entidade empregadora poderá, a todo o tempo, retirar-lhas sempre que o Autor, por qualquer motivo, deixe de merecer a confiança que está implícita no exercício das mesmas, tais tarefas, K - Por outro, tendo sido, com a entrada em vigor do Código do Trabalho de 2003, claramente ampliado o objecto do contrato de trabalho — que passou a abranger as funções afins ou funcionalmente ligadas às próprias da actividade contratada — é-lhe (à entidade empregadora) sempre lícito exigir do trabalhador, em simultâneo ou exclusivamente, o exercício das funções que fazem parte do “halo” que, necessariamente, circunda as funções próprias da actividade contratada.

11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (5 of 52) [23-12-2014

Page 6: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

L - Tanto mais que as funções de gerente administrativo que ao Autor foram confiadas integram a actividade compreendida na mesma carreira profissional e no mesmo Grupo, e ao Autor foi mantido o mesmo nível remuneratório (Nível 12) e a mesma posição hierárquica, na dependência directa do Director da Área, como até ali. M - O douto Acórdão recorrido violou, assim, o

disposto na al. e) do art. 122.º, o art. 111.º, n.os 1 e 2, o art. 151.º,

n.os 1, 2 e 3, e o art. 313.º do CT/2003, bem como os arts. 265.º, n.º 2 e 1170.º, n.º 1 do Cód. Civil. Quanto à indemnização por danos não patrimoniais: N - E também se não vê, salvo o devido respeito, qualquer fundamento para a condenação em indemnização por danos não materiais. O - Desde logo, porque, nem no período de Setembro/2007 a Setembro/2009 (os dois últimos anos a que se faz referência no douto Acórdão) nem antes, o Banco Ré cometeu na esfera jurídica do Autor qualquer acto ilícito que justifique a indemnização. Com efeito, P - A colocação do Autor como gestor de negócios do Balcão ... no Porto (o que teve lugar em Janeiro/2007, em data anterior, pois, àquele período) ficou a dever-se, como se viu, ao inaceitável, por deficiente, desempenho dele na função de gerente e teve o seu acordo expresso. Por outro lado, Q - A sua nomeação como “gerente administrativo” constitui para ele, bem vistas as coisas, uma promoção em relação à sua situação anterior, em que ele se encontrava, como se disse, por com ela ter concordado. Assim, R - Ao, depois, retirar ao Autor as funções comerciais e ao retirá-lo da comissão de crédito do balcão, atribuindo-lhe funções de gerente administrativo, o Réu limitou-se a actuar o seu poder de direcção, nenhum agravo, pelo menos indemnizável, tendo feito ao Autor. Com efeito, S - A hierarquia não podia continuar a ter confiança num seu “gerente” que tão pouco caso fazia das normas internas

11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (6 of 52) [23-12-2014

Page 7: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

sobre o registo de tempos de trabalho, falseando até tal registo, de modo a fazer constar do mesmo, factos — tempo de trabalho — que não correspondiam à realidade. De resto, T - As funções levadas a efeito por um trabalhador no uso do mandato e representação da entidade empregadora podem por esta ser, a todo o tempo, removidas, sem que o trabalhador se possa opor a tal decisão. Ainda assim, U - O Autor não ficou de modo algum esvaziado das funções, pois, como se viu, o cargo de gerente administrativo, para mais num balcão de tão grande importância como o é o de ..., no Porto, implica o exercício de funções exigentes, de grande responsabilidade, que preenchem perfeitamente o tempo de trabalho, mesmo de um trabalhador isento de h.t. V - O Réu não cometeu, assim, ao longo de todo o seu relacionamento com o Autor qualquer acto ilícito para com ele que fundamente a condenação em danos morais, nem deste, nem de qualquer montante. W - O douto Acórdão recorrido violou, nesta parte, o art. 363.º do Código Trabalho/2003 (art. 323.º/1 do Cód.

Trab./2009), bem como os arts. 483.º, n.os 1 e 2, 799.º, n.º 1 e 496.º, n.º 1 do Código Civil. X - Na medida em que condenou o Réu para além do pedido formulado pelo Autor, o douto acordo recorrido incorreu na nulidade prevista na 2.ª parte da al. d) do n.º [1] do art. 668.º do CPC.» Termina defendendo que, «[d]ando-se provimento à revista e reconhecendo--se que o Banco Réu, ao atribuir ao Autor as funções de gerente administrativo de um Balcão, nenhum acto ilícito cometeu, não se verificando fundamento para a condenação em indemnização por danos não patrimoniais, far-se-á JUSTIÇA». O AUTOR: «1. O recorrente foi, desde a data da sua admissão ao serviço do recorrido, alvo de um tratamento discriminatório por parte do BB, que muito o afectou, quer ao nível do exercício das suas funções, quer ao nível do seu equilíbrio psíquico e emocional.

11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (7 of 52) [23-12-2014

Page 8: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

2. O recorrido, na sequência da recusa do recorrente em dar o seu acordo à alteração de funções para gestor de negócios, deu início à prática de uma série sucessiva de atos que tiveram como único objectivo discriminar o recorrente relativamente aos demais gerentes em funções no banco. 3. Dificultando o exercício da sua actividade profissional e o sucesso e ascensão na sua carreira profissional. 4. O comportamento do recorrido determinou que o recorrente se visse confrontado com uma situação que lhe provocou graves danos do foro psíquico e lhe retirou toda a auto--estima profissional e lhe reduziu significativamente a sua capacidade de trabalho. 5. O carácter repetitivo e assediante, com a clara intenção persecutória da atuação com que o recorrido atuou desde o início de 2007 e que se mantém até à presente data, faz com que essa actuação caia na alçada da previsão legal do citado art. 29.º [do Código do Trabalho de 2009]. 6. Os comportamentos ilícitos imputados ao recorrido fazem-no incorrer na responsabilidade de indemnizar o apelante pelos danos não patrimoniais por si sofridos. 7. Danos esses que devem ser quantificados na quantia peticionada na alínea g) do pedido formulado na [petição inicial]. 8. Os factos imputados ao Apelado chegaram ao conhecimento da Directora dos Recursos Humanos do recorrido em 31.01.2008. 9. Os Inspetores que, por instruções daquele departamento (DRH), averiguaram os factos imputados ao recorrente, concluíram as suas investigações em 13.02.2008, tendo elaborado a respectiva informação apenas em 14.10.[2008]. 10. Por sua vez, esta informação chegou ao conhecimento do Director-Geral do banco recorrido em 29.10.2008. 11. Este Director-Geral tinha poderes delegados pela Comissão executiva do banco recorrido e foi em sua representação que teve conhecimento da informação da Inspecção em 29.10.2008.

11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (8 of 52) [23-12-2014

Page 9: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

12. Tendo em consideração que o recorrido apenas foi notificado da Nota de Culpa em 21.01.2009, o poder disciplinar da sua entidade patronal já tinha prescrito nessa data. 13. De qualquer modo, entende o recorrente que não pode relevar para conhecimento da prescrição apenas a data em que os factos imputados ao apelante chegaram ao conhecimento da Comissão Executiva. 14. Desde logo porque não se encontra demonstrado nos autos que o poder disciplinar do recorrido estava conferido exclusivamente a este órgão do banco. 15. E já se viu que não, pois, pelo menos um Director-Geral do banco detinha esses poderes através de delegação efectuada pelo Presidente da Comissão Executiva. 16. A data em que os factos imputados ao recorrente chegaram pela primeira vez ao conhecimento da Comissão Executiva não releva para o afastamento da alegada prescrição. 17. Se a competência disciplinar pertence à Comissão Executiva e algum departamento inicia uma investigação tendente ao apuramento de ilícitos laborais é porque essa comissão executiva delegou nesse órgão os respectivos poderes e, nesse sentido, o conhecimento dos factos por esse órgão com competência delegada estende-se igualmente ao órgão que delegou os poderes, ou seja, a Comissão Executiva. 18. O douto acórdão “a quo”, ao ter absolvido o recorrido dos pedidos formulados nas alíneas d) e g), não fez uma correcta aplicação do disposto nos art. 29.º e 329.º do CT.» O autor e a ré contra-alegaram, propugnando a confirmação do julgado nos segmentos decisórios não impugnados nos correspectivos recursos de revista. Na respectiva contra-alegação, a ré defendeu, igualmente, que «[t]endo a 1.ª instância entendido que, no caso, se não verificou qualquer assédio moral e tendo a 2.ª instância confirmado tal entendimento, formou-se dupla conforme sobre tal matéria, pelo que o recurso [de revista interposto pelo autor], nessa parte, nem sequer pode ser admitido, sob pena de ser violado o […] n.º 3 do art. 721.º do CPC».

11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (9 of 52) [23-12-2014

Page 10: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Ora, o regime recursório aplicável aos presentes autos, quanto à interposição e alegação do recurso de revista, atenta a data de instauração da acção, é o contido nos artigos 684.º-B, 685.º, 685.º-A e 721.º a 725.º do Código de Processo Civil, na redacção introduzida pelo Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24 de Agosto, versão a que pertencem os demais preceitos a citar adiante, sendo que o n.º 3 do artigo 721.º do Código de Processo Civil estabelece que «[n]ão é admitida revista do acórdão da Relação que confirme, sem voto de vencido e ainda que por diferente fundamento, a decisão proferida na 1.ª instância, salvo nos casos previstos no artigo seguinte». E tal como se evidenciou supra, ocorre uma situação de «desconformidade» entre as decisões das instâncias proferidas nos presentes autos, sendo que a parcial conformidade entre tais decisões, no respeitante a determinadas matérias, não torna inadmissível a revista, nesses segmentos, termos em que improcede a questão prévia, levantada pela ré, da pretensa inadmissibilidade parcial do recurso do autor. Registe-se, ainda, que o tribunal recorrido apreciou a invocada nulidade do acórdão recorrido, nos termos do estipulado nos conjugados artigos 716.º, 668.º e 670.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, tendo-a considerado improcedente.

Neste Supremo Tribunal, a Ex.ma Procuradora-Geral-Adjunta sustentou que ambos os recursos deviam improceder, parecer que não motivou resposta das partes. 3. No caso vertente, as questões suscitadas são as que se passam a enunciar, segundo a ordem lógica que entre as mesmas intercede: – Se o acórdão recorrido padece de nulidade, por excesso de pronúncia, nos termos da segunda parte da alínea d) do n.º 1 do artigo 668.º do Código de Processo Civil (conclusão X da alegação do recurso de revista da ré); – Se a empregadora atribuiu ao autor funções correspondentes à actividade para que este foi contratado

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (10 of 52) [23-12-201

Page 11: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

(conclusões A a M da alegação do recurso de revista da ré); – Se não há lugar a indemnização por danos não patrimoniais fundada na violação do dever de cometer funções correspondentes à actividade para que o autor se encontrava contratado (conclusões N a W da alegação do recurso de revista do réu); – Se o autor, desde a data de admissão pela ré, foi alvo de um tratamento discriminatório, consubstanciador de assédio moral [conclusões 1) a 5) da alegação do recurso de revista do autor]; – No caso positivo, se a indemnização por danos não patrimoniais fundada no alegado assédio moral devem ser fixados em 30.000 euros [conclusões 6) e 7) da alegação do recurso de revista do autor]; – Se ocorre a caducidade do procedimento disciplinar instaurado pela ré e que determinou a aplicação da sanção disciplinar de repreensão registada ao autor [conclusões 8) a 18) da alegação do recurso de revista do autor]. Adite-se que o autor, no corpo da alegação do recurso de revista, também se insurge contra o tipo de sanção disciplinar que lhe foi aplicada, sustentando que «tal castigo é desproporcionado à gravidade da infracção imputada» e que deveria ter sido aplicada a sanção de repreensão e não a de repreensão registada; porém, essa questão mostra-se objectivamente excluída das conclusões que o autor formulou na alegação de recurso, pelo que dela não se pode conhecer, nos termos dos artigos 684.º, n.º 3, e 685.º-A, n.º 1, do Código de Processo Civil. Corridos os «vistos», cumpre decidir. II 1. A ré arguiu a nulidade do acórdão recorrido, expressa e separadamente, no requerimento de interposição do recurso, alegando, para tanto, que o autor, na alínea d) do pedido formulado na petição inicial se limitou a peticionar que a ré fosse condenada a atribuir-lhe funções de gerente de balcão, sendo que o aresto recorrido a condenou a «atribuir ao Autor… todas as

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (11 of 52) [23-12-201

Page 12: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

funções próprias de gerente de balcão, para as quais foi contratado», o que configuraria excesso de pronúncia, vício previsto na segunda parte da alínea d) do n.º 1 do artigo 668.º do Código de Processo Civil. De harmonia com o n.º 1 do artigo 668.º do Código de Processo Civil, é nula a sentença, «quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento» [alínea d)]. Esta norma aplica-se aos acórdãos proferidos pela Relação, por força do disposto no artigo 716.º do mesmo Código, sendo que o aludido complexo normativo se projecta, subsidiariamente, nos processos de natureza laboral, em conformidade com o disposto no artigo 1.º, n.º 2, alínea a), do Código de Processo do Trabalho. Relativamente à arguida nulidade, o tribunal recorrido explicitou o seguinte: «No caso, e no que ora importa, o A. pedia que o Réu fosse condenado a atribuir-lhe “as funções para as quais foi contratado, ou seja funções de gerente de balcão, repondo-lhe todas as condições remuneratórias e as demais condições equivalentes ao exercício das funções que lhe foram atribuídas na sua admissão como trabalhador do réu na área do Porto”. E, para tanto, em síntese e para além do mais que referiu, alegou que a Ré, a partir de setembro de 2007, lhe retirou todas as funções de caráter comercial, atribuindo-lhe funções meramente administrativas, passando o autor a ser uma espécie de “faz tudo”, sem quaisquer funções atribuídas. Defendendo-se, a Ré, no que ora importa, sustentou a tese da dicotomia entre gerente da parte administrativa e gerente da parte comercial do balcão, referindo terem sido ao A. incumbidas as funções de gerente administrativo, tese esta que veio a ser sufragada na sentença recorrida, que também entendeu que estas se enquadram nas funções de gerente de balcão. Como se diz no ponto IV.4 do acórdão ora posto em crise a propósito da questão “4. Da alteração das funções do A. e se lhe devem ser atribuídas as funções de gerente”, “tem esta

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (12 of 52) [23-12-201

Page 13: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

questão por objeto a validade da alteração das funções do A., para gestor de negócios e, depois, para “gerente administrativo”, e se lhe devem ser atribuídas, novamente e na sua plenitude, as funções de gerente. Na sentença recorrida considerou-se, em síntese, que ao A. foram cometidas funções de “gerente administrativo” e que estas se enquadram nas funções de gerente de balcão.”. Decorre do pedido, e da respetiva causa de pedir, que o que o A. pretendia era a condenação da Ré a atribui-lhe “as funções para as quais foi contratado, ou seja funções de gerente de balcão”, funções essas que são as referidas no n.º 2 dos factos provados, e não tendo, o A., limitado o pedido a parte ou a apenas algumas das funções de gerente de balcão. O pedido reporta-se e tem como objeto a reposição de todas as funções para que o A. foi contratado; e por outro lado, a questão colocada no recurso tinha por objeto a atribuição não apenas das funções alegadamente de “gerente administrativo”, mas também as de “gerente comercial”. O acórdão, pelos fundamentos que dele constam, que nos dispensamos de reproduzir e para onde se remete, conheceu, pois, de questão que lhe foi colocada e de que tinha que conhecer, não tendo extravasado nem a causa de pedir, nem o pedido (aliás, se tivesse condenado em quantidade superior ou em objeto diverso do pedido a nulidade não seria a invocada, mas sim a constante da al. e) do n.º 1 do art. 668.º do CPC). Acrescente-se que, no contexto do pedido e da defesa ou seja, em suma, do objeto da ação, a condenação da ré a atribuir ao A. “todas” as funções próprias de gerente de balcão para as quais foi contratado não só se insere no pedido, como não pode deixar de ser dissociada da questão relativa às funções alegadamente de “gerente administrativo” com que a Ré, na dicotomia que invocou, pretendeu justificar a retirada, ao A., de funções próprias de gerente de balcão, para as quais foi contratado. Não descortinamos, pois, qualquer nulidade do acórdão que, assim, se indefere.» Ora, tal como bem resulta do trecho acima transcrito, o aresto recorrido, ao condenar a ré a atribuir ao autor «todas as funções próprias, de gerente de balcão, para as quais foi contratado,

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (13 of 52) [23-12-201

Page 14: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

repondo-lhe todas as condições decorrentes do exercício das mesmas, à exceção da atribuição de uma hora de isenção de horário de trabalho, que lhe foi retirada», não só se cinge ao pedido formulado, como expressamente se pronuncia relativamente à questão pertinente às funções alegadamente de gerente administrativo com que a ré pretendeu justificar a retirada, ao autor, de funções próprias de gerente de balcão, para que foi contratado. Não ocorre, pois, o vício de nulidade imputado ao acórdão recorrido, termos em que improcede a conclusão X da alegação do recurso de revista da ré. 2. O tribunal recorrido deu como provados os factos seguintes: 1) O autor foi admitido ao serviço do réu, em Dezembro de 2004, tendo sido contratado entre as partes o exercício de funções de gerente do balcão de ..., conforme documento de fls. 56 a 57, que aqui se dá por reproduzido; 2) As funções de gerente de balcão traduziam-se na gestão comercial e administrativa do balcão, designadamente: a) Identificação das necessidades dos clientes; b) Promoção de venda de serviços; c) Gestão das relações entre os colaboradores do balcão e entre estes e os clientes; d) Visitas e reuniões com clientes; e) Tomada de decisões sobre a organização do balcão e avaliação dos respectivos colaboradores; 3) O autor era o responsável máximo pelo balcão, respondendo directamente perante o respectivo director de área; 4) Foi atribuída ao autor a categoria de gerente, auferindo como remuneração base o vencimento de € 1.445,10, acrescido de subsídio de refeição, subsídio de transporte, diuturnidades e retribuição complementar; 5) Para além daquela remuneração, o autor receberia os prémios instituídos no BB, designadamente, o prémio SIM, a prestação extraordinária e a RVA (remuneração variável em acções); 6) Foi-lhe ainda concedida a isenção de duas horas de horário de trabalho, que equivalia ao pagamento de uma remuneração extra

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (14 of 52) [23-12-201

Page 15: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

no valor de € 670,94, mensal, à data de Janeiro de 2005; 7) O autor, à data em que foi contratado pelo banco réu, tinha já 13 anos de experiência como bancário, dos quais 3 como gerente de balcão no Banco CC. 8) O autor exerceu funções como gerente comercial do balcão de ... até 17.01.2005, data em que foi transferido para o balcão do A..., no Porto; 9) Em Setembro de 2005, foi novamente deslocado para o balcão de V... e, em 17.10.2005, para o balcão de ...; 10) Apesar destas constantes alterações, o autor manteve sempre as funções de gerente dos balcões por onde passou; 11) Em Janeiro de 2007, o director de área, Sr. DD, e o director central, Dr. EE, comunicaram ao autor que lhe iam ser atribuídas as funções de gestor de negócios no balcão de ..., no Porto, para onde iria ser transferido, e, em Janeiro de 2007, o autor passou a exercer funções de gestor de negócios no balcão de ...; 12) Durante os dois anos em que o autor exerceu as suas funções como gerente, nunca lhe foi imputada qualquer falta ou comportamento incorrecto da sua parte; 13) Em Fevereiro de 2007, o réu solicitou ao autor que o mesmo desse o seu acordo à alteração de funções de gerente para responsável de cliente no balcão de ..., ao que o autor respondeu que só daria tal acordo desde que o seu estatuto remuneratório não fosse alterado, conforme documento de fls. 58, que aqui se dá por reproduzido; 14) Em Setembro de 2007, o réu retirou ao autor todas as funções de carácter comercial, atribuindo-lhe funções administrativas, tendo, em Novembro de 2007, alterado as funções indicadas no seu recibo de vencimento para «Gerente administrativo»; 15) Em Janeiro de 2008, o director de área informou o autor que lhe iria ser retirada uma hora de isenção de horário de trabalho, o que veio a ser concretizado nesse mês e teve como consequência uma redução no valor recebido pelo autor, no valor de € 390,03; 16) Posteriormente, em Junho de 2008, em confirmação da alteração de funções, foi retirada ao autor a procuração que lhe dava poderes para representar o banco réu em determinado tipo de operações, bem como foi retirado da comissão de crédito do

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (15 of 52) [23-12-201

Page 16: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

balcão; 17) Tendo-lhe sido igualmente retirada a autorização informática que lhe permitia efectuar, por instruções de clientes, pagamentos de cheques, realizar transferências bancárias e outro tipo de operações; 18) No Banco Réu está instituído um Sistema de Incentivos e Motivação – SIM; existe um prémio anual que se denomina de Remuneração Variável – RV – de que a Remuneração Variável em Acções – RVA – é (pode ser) uma componente e, desde há três anos a esta parte, existe uma Prestação Extraordinária – PE; 19) O SIM […] é um prémio trimestral que é atribuído aos balcões, sendo que o facto de um balcão ter direito ao SIM não significa que o colaborador em concreto tenha direito ao mesmo prémio, conforme regulamento, cuja cópia consta a fls. 223 a 227, que aqui se dá por reproduzido; 20) A Retribuição Variável é uma gratificação extraordinária que tem sido atribuída anualmente (normalmente em Março, por referência ao ano anterior) aos colaboradores que pelo seu desempenho a mereçam, dependendo da avaliação do desempenho; da pontuação no SIM — o que não significa que o colaborador tenha tido direito ao SIM, mas apenas que atingiu a pontuação mínima que lhe permitiria o acesso ao mesmo; e do crescimento da carteira do Balcão; 21) A RVA — Retribuição Variável em Ações — é uma componente da RV atribuível em função da categoria profissional — quando o colaborador tem a categoria de subdirector ou superior — ou do montante da RV — quando a RV é superior a € 2.500, parte dela é atribuída em acções e opções, conforme documentos de fls. 228 a 238, que aqui se dão por reproduzidos; 22) A Prestação Extraordinária — PE — foi instituída há 3 anos e é uma gratificação extraordinária que é atribuída aos colaboradores que, nesse ano, não foram contemplados com a RV, nos termos do documento de fls. 239 a 240, que aqui se dá por reproduzido; 23) Em 2005 (avaliação feita em 2006, mas que se refere a 2005), o Autor: – Em nenhum item ultrapassou o estritamente requerido;

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (16 of 52) [23-12-201

Page 17: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

– Em 20, atingiu o estritamente requerido; e – Em 5, teve resultado negativo: – No item III: Gestão e Desenvolvimento de outros: subitems: – «Team Building» e motivação: – Liderança e Direção; e – Formação da Equipa; e – No item IV: Competências Gerais – os subitems: – Adaptabilidade e flexibilidade; e – Saber ouvir; 24) No ano de 2006, o Autor piorou a sua performance, apresentando 7 subitems negativos (sempre em relação ao número exigível): – No item I: os subitems: – Gestão da Relação; e – Pensamento inovador e antecipação; – No item III: os subitems: – «Team Building» e motivação; – Liderança e Direção; – Dar «feedback» e – Formação da Equipa; e – No item IV: o subitem – Comunicação Oral; 25) Não obstante a redução de tarefas, o Autor, no ano de 2007, apresentou uma avaliação de desempenho insatisfatória — 72% — com sete pontos negativos e nenhum positivo; 26) No início de 2009, teve lugar a Avaliação de Desempenho de 2008 e o resultado do Autor foi negativo: das 25 items em nenhum houve um desvio positivo; em 12, o desvio foi negativo e atingiu o mínimo exigível apenas em 13; 27) A DRH — Dra. FF — solicitou a intervenção da DAI — na pessoa do seu Director Central; 28) Este exara, então, em 31/01/2008, despacho no sentido de dois inspectores averiguarem «in loco» qual a hora efectiva de saída do Autor — cfr. PD — Inf. n.º 10 849 720/AI/08 — Anexo I, conforme documento de fls. 204, que aqui se dá por reproduzido; 29) Tendo-se os referidos inspectores deslocado ao Balcão de ..., cerca das 18H00 dos dias 13, 14 e 15 de Fevereiro de 2008,

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (17 of 52) [23-12-201

Page 18: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

constataram que o Autor já se não encontrava ao serviço; 30) Os inspectores chegaram à conclusão de que o Autor, no dia 13.02, tinha saído às 16H45m; no dia 14.02 às 16H30 e no dia 15.02 às 17H15; 31) Mais constataram que o registo da hora de saída era pelo Autor levado a efeito não no próprio dia e quando efectivamente deixava o serviço — como está estabelecido — mas no dia seguinte e sempre com o mesmo tempo: início às 08H30M e termo às 18H30M, constando, assim, do registo como tendo [trabalhado] 9 horas por dia; 32) O registo da hora de saída dos dias que a seguir se indicam, na Coluna (1) foi pelo Autor levado a efeito nos dias e horas que constam da Coluna (4): (1) (2) (3) (4) 1.1 1.2 1.3 4.1 4.2 Dia Início Fim Horas trabalho User Data Registo 21-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 22.01.2008 12:21 22-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 23.01.2008 08:59 23-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 24.01.2008 10:34 24-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 25.01.2008 08:26 25-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 29.01.2008 09:23 28-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 29.01.2008 09:23 28-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 29.01.2008 09:23 29-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 30.01.2008 12:02 30-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 31.01.2008 10:36 31-01-2008 8:30 18:30 9:00 190934 01.02.2008

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (18 of 52) [23-12-201

Page 19: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

08:51 01-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 04.02.2008 12:24 04-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 06.02.2008 15:26 06-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 11.02.2008 13:57 07-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 11.02.2008 13:57 08-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 11.02.2008 13:57 11-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 13.02.2008 09:37 12-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 13.02.2008 09:37 13-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 14.02.2008 12:05 14-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 15.02.2008 09:25 15-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 18.02.2008 10:50 18-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 19.02.2008 12:47 19-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 21.02.2008 10:49 20-02-2008 Aus. Aus. 0:00 190934 21.02.2008 10:48 21-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 22.02.2008 08:39 22-02-2008 8:30 18:30 9:00 190934 25.02.2008 16:12 33) Tendo procedido às averiguações que entenderam pertinentes, os técnicos da DAI, que para o efeito foram designados, com data de 14.10.2008, elaboraram a já referida Informação 10 849 720/AI/08, a qual, tendo sido analisada pelo Director Central, em 29.10.2008, foi presente à Comissão Executiva do Conselho de Administração — CECA —, em 23 de Dezembro de 2008,

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (19 of 52) [23-12-201

Page 20: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

conforme documento de fls. 138, e esta, perante tal Informação, deliberou instaurar ao Autor processo disciplinar, tendo nomeado a respectiva Instrutora; 34) No dia 21.01.2009, em reunião ocorrida entre o autor e os Srs. DD e Dr. GG, ambos directores de área do BB, foi entregue ao autor a Nota de Culpa elaborada no âmbito do processo disciplinar n.º 24/2008 que tinha sido instaurado contra si, conforme documento de fls. 144 a 146, que aqui se dá por reproduzido; 35) Só nesta data o autor teve conhecimento formal da existência deste processo disciplinar; 36) Concluído o processo, o réu decidiu aplicar ao autor a sanção de repreensão registada, com os fundamentos constantes do relatório final do processo disciplinar, conforme documento de fls. 185 a 189, que aqui se dá por reproduzido; 37) Um colaborador do réu com a categoria de Director-Geral, com poderes delegados pelo Presidente da Comissão Executiva, em representação desse órgão, tomou conhecimento do relatório da DAI, em 29.10.2008,conforme documento de fls. 197, que aqui se dá por reproduzido [facto alterado pelo Tribunal da Relação]; 38) O valor da remuneração do autor, por força da isenção de horário de trabalho que lhe tinha sido atribuída pelo réu, não dependia do número de horas de trabalho prestadas; 39) O autor sempre foi um trabalhador que cumpriu o seu horário de trabalho e, ao longo dos anos em que desempenhou funções como trabalhador do réu, nunca deu qualquer falta injustificada ao trabalho; 40) O procedimento do autor foi imediatamente corrigido quando, após a 1.ª inquirição na DAI, em 13.03.2008, foi informado, pela primeira vez, que o seu procedimento não estava correcto e, a partir desse momento, o autor passou a registar com todo o rigor as horas de entrada e saída do trabalho; 41) Pelo facto do réu ter decidido instaurar o processo de averiguações que desembocou no processo disciplinar e ter aplicado ao autor a sanção de repreensão registada, o autor deixou de receber o prémio de Prestação Extraordinária [de] € 750,00, em 2008, e o prémio de € 300,00, em 2009; 42) A hierarquia do autor avaliou-o nos anos de 2007 e 2008,

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (20 of 52) [23-12-201

Page 21: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

pelos critérios e funções atribuídas à função de gerente de balcão; 43) O autor, conforme o regulamento da avaliação vigente no banco réu, em 14.01.2009, reclamou da avaliação efectuada relativa ao desempenho em 2008, conforme cópia do mail remetido à sua hierarquia, conforme documento de fls. 74 a 76, que aqui se dá por reproduzido; 44) No Banco réu vigora o normativo sobre registo de tempos de trabalho, conforme documento de fls. 217 a 222, que aqui se dá por reproduzido, no qual consta que, no caso de isenção de horário de trabalho, o colaborador terá que indicar os períodos em que efectivamente prestou o seu trabalho; 45) Bastava a mera consulta da plataforma informática do registo dos tempos de trabalho do autor e o confronto da mesma com as informações prestadas pela Gerente Comercial do Balcão e com a inquirição do próprio autor, para se chegar à conclusão que esse registo não coincidia com os tempos de trabalho efectivamente prestados pelo trabalhador em questão; 46) O autor, até 13/03/2008, registou sempre a mesma hora de entrada e de saída (entrada às 08:30 horas e saída às 18:30 horas), sem se preocupar em registar a hora real da entrada e da saída; 47) Nunca a DAI, os superiores hierárquicos do autor, incluindo o seu Director de Área, o departamento dos recursos humanos e a gerência do Balcão de ... para onde posteriormente foi deslocado e onde exercia funções à data do procedimento disciplinar o informaram directamente que deveria adoptar outro comportamento ou lhe chamaram a atenção para a não regularidade desse procedimento; 48) Outros colegas do autor adoptam procedimentos iguais ao seu, quanto a não registarem no próprio dia as horas de entrada e de saída do serviço; 49) Desde que trabalha na actividade bancária, sempre exerceu — e para além de funções administrativas, que também exerceu — funções comerciais; 50) As avaliações do desempenho do autor, efectuadas anualmente pela sua hierarquia, apresentaram resultados negativos; 51) A reclamação referida em 43) não mereceu qualquer resposta do réu;

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (21 of 52) [23-12-201

Page 22: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

52) Em consequência do comportamento do réu ao longo destes dois anos (com referência à data da propositura da acção), o autor deixou de se sentir um profissional realizado, competente e satisfeito; 53) O tratamento de que foi alvo fê-lo sentir-se muitas vezes como um profissional incompetente e incapaz de satisfazer as pretensões da sua entidade patronal; 54) A sua auto-estima caiu para valores muito baixos; 55) O autor entrou em estados de ansiedade e depressivos, que o forçaram a receber acompanhamento psicológico e psiquiátrico; 56) Deixou de dormir de forma saudável e todo o ambiente familiar sofreu reveses com o estado depressivo, triste e nervoso que o autor passou a apresentar; 57) A ida para o trabalho e a permanência do autor no local de trabalho deixaram de ser momentos de prazer e de realização pessoal, para serem momentos de sofrimento e de angústia; 58) O sentir que não pode exercitar as suas capacidades profissionais de forma plena é motivo de sofrimento e tristeza para o autor; 59) O Director Regional e o Director de Área tiveram com o Autor uma longa conversa em que lhe procuraram demonstrar que, dado o seu insucesso na função de Gerente, talvez que para ele fosse até conveniente passar a desempenhar funções menos exigentes e indicaram-lhe as funções de Gestor de Negócios no Balcão ..., no Porto; 60) O Autor ficava com funções administrativas e comerciais e não veria modificado o seu estatuto remuneratório; 61) O autor via-se livre da gestão e coordenação de uma equipa e seria uma maneira de ele ganhar novo fôlego e mostrar que era útil ao Banco e uma mais-valia para o Balcão em causa; 62) O A. concordou com a proposta, sendo que, nessa reunião, lhe foi dito que o seu estatuto remuneratório não seria alterado [facto alterado pelo Tribunal da Relação]; 63) Dada a concordância do autor — em passar a desempenhar as funções de Gestor de Negócios — e o apoio da Gerente de ..., o Sr. DD promoveu então a alteração da situação junto da DRH — Direcção de Recursos Humanos — para que este órgão

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (22 of 52) [23-12-201

Page 23: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

promovesse a regularização de tal solução; 64) Tendo-se-lhe pedido esclarecimentos sobre o que é que ele queria dizer com o que escreveu na cópia da carta que a DRH, com data de 28.02.2007, lhe tinha enviado, referida em 13), o autor respondeu conforme documento de fls. 249, que aqui se dá como reproduzido; 65) Eliminado pelo Tribunal da Relação; 66) O A., bem como a gerente que prestava funções no mesmo balcão do A., reportavam ambos ao Director de Área [facto alterado pelo Tribunal da Relação];

67) O A., até Junho de 2008, conforme referido nos n.os 16 e 17 dos factos provados, integrava a comissão local de crédito do balcão, com os respectivos poderes e continuando, até essa data, a ter a assinatura no banco como gerente [facto alterado pelo Tribunal da Relação]; 68) No terceiro trimestre do ano de 2007, o Director de Área constatou que o autor deixava o trabalho, normalmente, entre as 17:00 e as 17:30 horas; 69) O normativo sobre Registo de Tempo de Trabalho está e sempre esteve na INTRANET; 70) Para além do que consta do n.º 14 dos factos provados, a partir de Setembro de 2007, não foram atribuídas ao A. quaisquer funções administrativas específicas [aditado pelo Tribunal da Relação]; 71) O A. colaborava com a gerente, subgerente e com o gestor de empresas em tarefas administrativas [aditado pelo Tribunal da Relação]; 72) Sucessivas mudanças de balcão, em curto espaço de tempo, pelo menos dificulta o exercício, de forma satisfatória, das funções de gerente e a possibilidade de atingir os objectivos indicados pelo banco [aditado pelo Tribunal da Relação]. Os factos materiais fixados pelo tribunal recorrido não foram objecto de impugnação pelas partes, nem se vislumbra qualquer das situações referidas no n.º 3 do artigo 729.º do Código de Processo Civil, pelo que será com base nesses factos que hão-de ser resolvidas as questões suscitadas nos recursos de revista

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (23 of 52) [23-12-201

Page 24: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

interpostos. 3. A ré alega que, tendo o autor ficado incumbido da gestão administrativa do Balcão de ..., no Porto, que é o maior balcão do BB no Norte, com isso «o Réu de modo algum violou qualquer norma legal ou contratual de protecção do Autor», porquanto, «se por um lado — envolvendo tais funções o exercício de mandato — a entidade empregadora poderá, a todo o tempo, retirar-lhas sempre que o Autor, por qualquer motivo, deixe de merecer a confiança que está implícita no exercício das mesmas, tais tarefas», por outro lado, «tendo sido, com a entrada em vigor do Código do Trabalho de 2003, claramente ampliado o objecto do contrato de trabalho — que passou a abranger as funções afins ou funcionalmente ligadas às próprias da actividade contratada — é-lhe (à entidade empregadora) sempre lícito exigir do trabalhador, em simultâneo ou exclusivamente, o exercício das funções que fazem parte do “halo” que, necessariamente, circunda as funções próprias da actividade contratada», acrescentando «que as funções de gerente administrativo que ao Autor foram confiadas integram a actividade compreendida na mesma carreira profissional e no mesmo Grupo, e ao Autor foi mantido o mesmo nível remuneratório (Nível 12) e a mesma posição hierárquica, na dependência directa do Director da Área, como até ali», pelo que o aresto recorrido violou «o disposto na al. e) do art. 122.º, o art. 111.

º, n.os 1 e 2, o art. 151.º, n.os 1, 2 e 3, e o art. 313.º do CT/2003, bem como os arts. 265.º, n.º 2 e 1170.º, n.º 1 do Cód. Civil». Neste particular, o acórdão recorrido teceu as considerações seguintes: «4.1. O A. foi admitido ao serviço da ré em dezembro de 2004 com a categoria e para o exercício das funções de gerente; em janeiro de 2007, foram ao A. cometidas funções de gestor de negócios; em setembro de 2007, foi-lhe retirado o exercício de funções comerciais, passando-lhe a ser cometidas funções administrativas, sendo que, em novembro de 2007, passou a ser designado, no respetivo recibo de remunerações, como “gerente administrativo”.

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (24 of 52) [23-12-201

Page 25: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

4.2. A apreciação da validade de tais mudanças, tendo em conta a data em que ocorreram, deverá ser apreciada à luz do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 99/2003 de 27 de agosto , pois que, nos termos do disposto no art. 7.º, n.º 1, da Lei 7/2009, de 12.02, o Cód. Trab. por esta aprovado não é aplicável às condições de validade de factos passados anteriormente à sua entrada em vigor (ocorrida aos 17.02.2009), a menos que, após essa data, tenham ocorrido alterações a tal situação, as quais, no caso, não decorre dos factos provados que se tenham verificado. De todo o modo, o regime de ambos é idêntico. É também aplicável, como estão as partes de acordo nos articulados, o ACT para o setor bancário, publicado no Boletim do Trabalho e Emprego (BTE), 1.ª série, n.º 31, de 22.08.1990 , com texto consolidado, no BTE, n.º 4/2005, de 20.01. Dispõe do CT/2003: “Artigo 122.º Garantias do trabalhador É proibido ao empregador: (…) e) Baixar a categoria do trabalhador, salvo nos casos previstos neste Código. “Artigo 151.º Funções desempenhadas 1 - O trabalhador deve, em princípio, exercer funções correspondentes à atividade para que foi contratado. 2 - A atividade contratada, ainda que descrita por remissão para categoria profissional constante de instrumento de regulamentação coletiva de trabalho ou regulamento interno da empresa, compreende as funções que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas, para as quais o trabalhador detenha qualificação profissional adequada e que não impliquem desvalorização profissional. 3 – Para efeitos do número anterior, e salvo regime em contrário constante de instrumento de regulamentação coletiva de trabalho, consideram-se afins ou funcionalmente ligadas,

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (25 of 52) [23-12-201

Page 26: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

designadamente, as atividades compreendidas no mesmo grupo ou carreira profissional. 4- (…) 5- (…) “Artigo 313.º Mudança de categoria 1 - O trabalhador só pode ser colocado em categoria inferior àquela para que foi contratado ou a que foi promovido quando tal mudança, imposta por necessidades prementes da empresa ou por estrita necessidade do trabalhador, seja por este aceite e autorizada pela Inspeção do Trabalho. 2 – (…).” Por sua vez, o art. 314.º, reporta-se à mobilidade funcional, relativa esta ao exercício temporário de funções não compreendidas na atividade contratada, a esta figura se reconduzindo, verdadeiramente, o ius variandi e que, ao caso, não importa, uma vez que não está em causa, nos autos, o recurso, pela Ré, a esta figura, não havendo as alterações das funções sido determinadas ao seu abrigo, nem, aliás, sido invocado qualquer um dos requisitos previstos na norma de que dependeria a sua validade. Refira-se que em sentido idêntico dispõe o atual CT/2009, nos seus arts. 129.º, n.º 1, al. e), 118.º, 119.º e 120.º A categoria profissional tem a tripla função de definição do posicionamento hierárquico, funcional e salarial do trabalhador, de tal sorte que este deverá exercer as funções correspondentes à categoria profissional para que foi contratado, que lhe foi atribuída ou a que haja ascendido. Tal significa que, a não ser nos estritos limites do ius variandi, previsto no art. 314.º, o empregador não pode exigir ao trabalhador funções não compreendidas nessa categoria, assim como o trabalhador tem o direito a que as funções que exerce, a título definitivo, nela caibam. De referir que, através da tutela do direito ao exercício da atividade contratada (art. 151.º, n.º 1) e da categoria profissional protege-se, igualmente, indireta ou reflexamente, outros interesses do trabalhador associados à posição que ocupa na organização empresarial. É certo que, inovando relativamente à legislação

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (26 of 52) [23-12-201

Page 27: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

pretérita, o art. 150.º, n.os 2 e 3 do CT de 2003, veio conferir uma maior abrangência ao leque de funções que se poderão incluir na atividade contratada e que, por consequência, nem chegarão a cair no âmbito do ius variandi, podendo o empregador, sem necessidade de recurso à mobilidade funcional prevista no art. 314.º, determiná-las ao trabalhador. E, daí, que a atividade profissional contratada (art. 151.º, n.º 1) e categoria profissional constituam realidades que não tenham necessariamente que se confundir ou coincidir, sendo aquela mais ampla do que esta, já que abrange não apenas o núcleo essencial das funções correspondentes à categoria (normativa), mas também as que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas. Não obstante, e sob pena de se desvirtuar a tutela dos direitos à atividade contratada (art. 151.º, n.º 1) e ao exercício das funções correspondentes à categoria profissional, não nos parece que possa o empregador, a título definitivo, alterar as funções do trabalhador, privando-o do exercício das funções que constituem o núcleo essencial dessa atividade e da correspondente categoria, cometendo-lhe, por exemplo, tão-só a execução de determinadas funções apenas acessórias ou funcionalmente ligadas, mas sem que correspondam ao seu núcleo essencial. Assim, e desde já se adiante, que se um trabalhador é contratado para exercer a atividade de gerente (bancário), detendo por consequência a respetiva categoria, o núcleo essencial dessa atividade consiste em gerir um balcão/dependência bancária, não se comportando nessa atividade e categoria, exclusivamente, a mera execução de tarefas administrativas nesse balcão, mormente relativas ou enquadráveis em outras categorias profissionais de estatuto inferior. Por outro lado, e no que se reporta à contratação coletiva, dispõe o n.º 1 da Cl.ª 6.ª do ACT que: “Cláusula 6.ª Garantia de exercício de funções 1 – O trabalhador deve exercer uma atividade correspondente à categoria para que foi contratado, sendo vedado à instituição utilizar os seus serviços em atividades que não caibam nas funções do grupo em que ingressou ou para o qual foi

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (27 of 52) [23-12-201

Page 28: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

transferido, salvo o disposto no n.º 4 da cláusula 7.ª e na cláusula 25.ª” Tal clª tem por objeto o exercício funções diferentes das que correspondem à categoria profissional e, bem assim, o exercício de funções que caibam em diferentes Grupos Profissionais, estipulando-se, quanto à primeira parte, o princípio da correspondência entre a categoria profissional detida (originária ou a que ascendeu) e as funções exercidas. Tal significa que, a não ser nos estritos limites do ius variandi, previsto no citado art. 314.º, o empregador não pode exigir ao trabalhador funções não compreendidas nessa categoria, assim como o trabalhador tem o direito a que as funções que exerce, a título definitivo, nela caibam. Realça-se que, não se confundindo a atividade profissional contratada (art. 151.º, n.º1) com a categoria profissional, sendo aquela mais ampla do que esta, já que abrange não apenas o núcleo essencial das funções correspondentes à categoria (normativa), mas também as que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas, a cl.ª 6.ª, n.º 1, do ACT , que foi revisto já na vigência do CT de 2003, tutela expressamente, ao que nos parece, a correspondência entre as funções e a categoria e não já como, de modo mais amplo, o faz o art. 151.º, n.º 1, entre as funções e a atividade contratada. De acrescentar, ainda, que, nos termos do ACT, gerente é o trabalhador que, no exercício da competência hierárquica e funcional que lhe foi superiormente delegada, tem por função a gestão comercial e administrativa de um estabelecimento, estando enquadrado no nível 11. Por sua vez, gestor de cliente, é o trabalhador a quem são conferidos poderes delegados para vender, representar e negociar com pessoas que integram a carteira de clientes que lhe está atribuída, com o objetivo de satisfazer as necessidades financeiras destes e promover produtos e serviços da instituição, correspondendo-lhe o nível 6. 4.3. No caso, o A. tinha a categoria profissional de gerente e foi admitido ao serviço da Ré para o exercício das funções correspondentes a esta categoria, sendo, pois, a atividade contratada a própria de gerente, que nada tem a ver com a de

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (28 of 52) [23-12-201

Page 29: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

gestor de cliente ou “gestor de negócios” e que, face ao referido enquadramento, desde logo porque de nível muito inferior, implica uma desvalorização profissional. Não poderia, pois, a Ré alterar-lhe, de forma permanente, as funções para as de gestor de negócios, que não correspondem à atividade que foi contratada entre as partes. E, a essa impossibilidade, não obsta o acordo verbal inicialmente dado pelo A., nem a manutenção, em termos formais, pela Ré, da categoria de gerente. Em primeiro lugar, porque, devendo a categoria corresponder às funções efetivamente exercidas, verificar-se-ia um desfasamento entre ambas, sendo que, devendo verificar-se tal correspondência, o exercício das funções de gestor de negócios implicaria a alteração da categoria, alteração esta que representaria um abaixamento da categoria, que só seria possível se fosse aceite pelo A. e autorizada pela Inspeção-Geral do Trabalho. Ora, dos factos provados não resulta que o A. tenha aceite que a ré baixasse a categoria profissional, assim como não resulta que isso tivesse sido autorizado pela referida autoridade pública. Por outro lado, [o] acordo do A. foi dado no pressuposto de que a sua situação remuneratória não seria alterada, o que lhe foi transmitido pela ré. É certo que, e conforme adiante melhor se dirá, não resulta dos autos qualquer impedimento a que, deixando o A. de ter isenção de uma hora de horário de trabalho, a Ré lhe deixasse de pagar a retribuição a ela correspondente. Todavia, e para o que agora importa — acordo do A. quanto à alteração de funções — a “manutenção do estatuto remuneratório” foi uma condição que lhe foi transmitida pela Ré, pelo que não se pode ter como aceite, pelo A., essa alteração de funções com base em diferente pressuposto do que aquele que lhe foi transmitido, sendo que dos factos provados não resulta que aquele o teria aceite se soubesse que lhe seria (seja por essa ou outra razão) retirada uma hora de isenção de horário de trabalho. Aliás, o A., na carta que consta do documento de fls. 58, referida no n.º 13 dos factos provados, transmitiu à Ré que o não aceitaria. Quanto à mudança de funções para as correspondentes à designada categoria de “gerente administrativo”:

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (29 of 52) [23-12-201

Page 30: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Como se disse, o A. foi admitido para o exercício de funções de gerente, sendo esta a atividade contratada e que abrange as funções referidas no n.º 2 dos factos provados, funções essas que incluem não apenas as de natureza comercial (embora nos pareça assumirem estas, por corresponderem ao “core business” da atividade bancária, peso mais significativo do que as demais administrativas), como outras de natureza administrativa. Se é certo que não se vê razão para que não pudesse ser exigido a um gerente, de forma cumulativa com as demais que lhe competissem no âmbito da gerência comercial e administrativa de um balcão, tarefas de natureza administrativa correspondentes a outra categoria profissional inferior mas ainda assim afins ou

funcionalmente ligadas àquela (por via dos n.os 2 e 3 do art. 151.º) e ainda que, porventura e eventualmente, se pudesse aceitar a alegada figura do “gerente administrativo”, com funções meramente administrativas, sempre necessário seria, no mínimo, que essas tarefas tivessem correspondência nas tarefas administrativas próprias de um gerente de balcão e que tal não desvirtuasse o núcleo essencial da atividade e da categoria profissional contratadas. Ora, da matéria de facto provada nada resulta no sentido de que as funções meramente administrativas que a Ré, em setembro de 2007, cometeu ao A., retirando-lhe as de natureza comercial, tivessem alguma correspondência na atividade e categoria contratadas, que eram a de gerente (de um balcão). Com efeito, não fez a Ré prova de que lhe tivesse atribuído funções correspondentes às de “gerente administrativo” (apenas que nos recibos de vencimento fez constar esta designação), que as funções administrativas, únicas a que remeteu o A., tivessem afinidade, fossem compatíveis ou satisfizessem o núcleo próprio da atividade de gerente e, bem assim, que a gerência do balcão tivesse sido repartida entre o A. e a gerente HH, como decorre das respostas aos quesitos 26.º, 27.º e 28.º, por nós acima reapreciados [e da respetiva fundamentação, não se podendo, aqui, deixar de realçar, para além do mais que foi por aquela afirmado e como se refere em tal fundamentação, que o A. não exerceu qualquer das funções, de natureza administrativa,

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (30 of 52) [23-12-201

Page 31: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

referidas no ponto 2 dos factos provados, designadamente gestão das relações entre os colaboradores, decisões sobre a organização do balcão, avaliação de colaboradores]. Ademais, nem a Ré, tão pouco, cuidou de alegar qualquer concreta função administrativa que o A. tivesse passado a realizar, nem, muito menos, qualquer concreta função administrativa que constituísse competência própria de um gerente de balcão. Apenas se provou que o A. passou a exercer, apenas, funções administrativas, que não lhe foram atribuídas funções específicas e que, no âmbito das funções administrativas, colaborava com a gerente, sub-gerente e com um gestor de empresas. E, importa não esquecer que, posteriormente, também a ré lhe retirou a procuração que ao A., como gerente, lhe havia sido conferida, bem como a autorização para acesso informático às contas de clientes e tendo-o retirado da comissão de crédito do balcão, “ferramentas” estas próprias da atividade de um gerente e que não se vê que fossem incompatíveis com as de um “gerente administrativo”, o que, segundo a ré, mas não provado, seria o A. Aliás, o que a Ré alegava era que tal tinha ocorrido por ter perdido a confiança no A. em consequência do procedimento disciplinar, o que foi levado ao quesito 30.º e que foi tido como não provado. Factos esses que, convenhamos, não abonam no sentido da apregoada “gerência administrativa”. Acrescente-se que é irrelevante que, nos recibos de vencimento, tivesse a Ré passado a qualificar o A. como “gerente administrativo”, assim como não basta que o A. reportasse ao Diretor de Área, sendo certo que o que releva são as funções efetivamente exercidas pelo A. Tendo o A. sido contratado para o exercício da atividade de gerente e com essa categoria, com todo o leque de tarefas próprias e inerentes dessas atividade e categoria, cabia à Ré alegar e provar que as funções, meramente administrativas, a que remeteu o A., desde setembro de 2007, eram, ainda assim, funções próprias e compatíveis com as daquela atividade e categoria, sendo certo que, numa perspetiva de direito substantivo, é isso um pressuposto do seu direito de restrição do objeto da atividade contratada (art. 342.º, n.º 1, do Cód. Civil) e, numa perspetiva de

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (31 of 52) [23-12-201

Page 32: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

direito processual, é um facto impeditivo do direito, ao pleno exercício da totalidade das funções de gerente, para as quais foi contratado e de que o A. se arroga titular (n.º 2 do citado art. 342.º). Ora, e como se disse, a Ré não fez tal prova. Afigura-se-nos, pois e em conclusão, que assiste razão ao A., na pretensão de ser a Ré condenada a atribuir-lhe todas as funções próprias, de gerente de balcão, para as quais foi contratado, repondo-lhe todas as condições decorrentes do exercício das mesmas, à exceção da atribuição de uma hora de isenção de horário de trabalho, que lhe foi retirada, por, quanto a esta, não resultar dos autos fundamento legal ou contratual de que resulte estar a Ré a isso obrigada.» Tudo ponderado, subscrevem-se, no essencial, as considerações transcritas e, bem assim, o juízo decisório enunciado. Efectivamente, o autor foi admitido ao serviço da ré para exercer as funções de gerente, sendo esta a actividade contratada, a qual se traduz, de harmonia com o facto provado 2), «na gestão comercial e administrativa do balcão, designadamente: a) identificação das necessidades dos clientes; b) promoção de venda de serviços; c) gestão das relações entre os colaboradores do balcão e entre estes e os clientes; d) visitas e reuniões com clientes; e) tomada de decisões sobre a organização do balcão e avaliação dos respectivos colaboradores». Ora, a actividade contratada de gerente nada tem a ver com a função de «gestor de cliente» ou «gestor de negócios», que a ré atribuiu ao autor, em Janeiro de 2007 [factos provados 11), 13) e 59) a 64)], porquanto de nível profissional inferior, implicando a colocação do autor em categoria profissional inferior àquela para que foi contratado, sendo que, perante a matéria de facto provada, não se configuram os requisitos da figura da mudança de categoria, prevista no n.º 1 do artigo 313.º do Código do Trabalho de 2003, pelo que a ré não podia alterar, de forma permanente, as funções do autor para as de gestor de negócios, na medida em que tais funções não correspondem à actividade contratada entre as

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (32 of 52) [23-12-201

Page 33: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

partes. Doutra parte, quanto às funções de «gerente administrativo» ficou provado: «14) Em Setembro de 2007, o réu retirou ao autor todas as funções de carácter comercial, atribuindo-lhe funções administrativas, tendo em Novembro de 2007 alterado as funções indicadas no seu recibo de vencimento para “Gerente administrativo”; 16) Posteriormente, em Junho de 2008, em confirmação da alteração de funções, foi retirada ao autor a procuração que lhe dava poderes para representar o banco réu em determinado tipo de operações, bem como foi retirado da comissão de crédito do balcão; 17) Tendo-lhe sido igualmente retirada a autorização informática que lhe permitia efectuar, por instruções de clientes, pagamentos de cheques, realizar transferências bancárias e outro tipo de operações; 66) O A., bem como a gerente que prestava funções no mesmo balcão do A., reportavam ambos ao Director de Área;

67) O A., até Junho de 2008, conforme referido nos n.os 16 e 17 dos factos provados, integrava a comissão local de crédito do balcão, com os respectivos poderes e continuando, até essa data, a ter a assinatura no banco como gerente; 70) Para além do que consta do n.º 14 dos factos provados, a partir de Setembro de 2007, não foram atribuídas ao A. quaisquer funções administrativas específicas; 71) O A. colaborava com a gerente, subgerente e com o gestor de empresas em tarefas administrativas.» Em suma, apenas se provou que o autor, desde Setembro de 2007, passou a exercer, exclusivamente, funções administrativas, que, no exercício destas funções, colaborava com a gerente, com o subgerente e com o gestor de empresas em tarefas administrativas e que, nesse contexto, não lhe foram atribuídas funções específicas. Assim, tal como é salientado no acórdão recorrido, «não fez a Ré prova de que lhe tivesse atribuído funções correspondentes às de

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (33 of 52) [23-12-201

Page 34: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

“gerente administrativo” (apenas que nos recibos de vencimento fez constar esta designação), que as funções administrativas, únicas a que remeteu o A., tivessem afinidade, fossem compatíveis ou satisfizessem o núcleo próprio da atividade de gerente e, bem assim, que a gerência do balcão tivesse sido repartida entre o A. e a gerente HH», não se descortinando «qualquer concreta função administrativa que o A. tivesse passado a realizar, nem, muito menos, qualquer concreta função administrativa que constituísse competência própria de um gerente de balcão», sendo irrelevante que, nos recibos de vencimento, a ré tivesse passado a qualificar o autor como “gerente administrativo” e que o autor, tal como a gerente HH, reportasse ao Director de Área. Tudo para concluir que, no caso vertente, a actividade contratada de gerente nada tem a ver com a função de «gestor de cliente» ou «gestor de negócios», que a ré atribuiu ao autor, em Janeiro de 2007, e que as funções confiadas ao autor, a partir de Setembro de 2007, as quais a ré qualificou como sendo de «gerente administrativo», não integram a actividade para que se achava contratado, nem se configuram como funções afins ou funcionalmente ligadas às próprias da actividade contratada, pelo que deve manter-se a condenação da ré a atribuir ao autor as funções de gerente de balcão, repondo todas as condições decorrentes do exercício das mesmas, à excepção da atribuição de uma hora de isenção de horário de trabalho, que lhe foi retirada. Nesta conformidade, improcedem as conclusões A a M da alegação do recurso de revista interposto pela ré. 4. A ré defende, também, que não descortina «qualquer fundamento para a condenação em indemnização por danos não materiais», visto que, «nem no período de Setembro/2007 a Setembro/2009 (os dois últimos anos a que se faz referência no douto Acórdão) nem antes, o Banco Ré cometeu na esfera jurídica do Autor qualquer acto ilícito que justifique a indemnização». E sustenta, ainda, que «[a] colocação do Autor como gestor de

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (34 of 52) [23-12-201

Page 35: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

negócios do Balcão ... no Porto (o que teve lugar em Janeiro/2007, em data anterior, pois, àquele período) ficou a dever-se, como se viu, ao inaceitável, por deficiente, desempenho dele na função de gerente e teve o seu acordo expresso» e que «[a] sua nomeação como “gerente administrativo” constitui para ele, bem vistas as coisas, uma promoção em relação à sua situação anterior, em que ele se encontrava, como se disse, por com ela ter concordado», sendo que «não ficou de modo algum esvaziado das funções, pois, como se viu, o cargo de gerente administrativo, para mais num balcão de tão grande importância como o é o de ..., no Porto, implica o exercício de funções exigentes, de grande responsabilidade, que preenchem perfeitamente o tempo de trabalho, mesmo de um trabalhador isento de h.t.». O artigo 483.º, n.º 1, do Código Civil dispõe que «[a]quele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação», sendo que o artigo 496.º do Código Civil prevê que «[n]a fixação da indemnização deve atender-se aos danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito» (n.º 1), rezando o seu n.º 3 que a indemnização por danos não patrimoniais será fixada equitativamente, devendo o tribunal atender, em qualquer caso, às circunstâncias referidas no artigo 494.º do mesmo Código, o qual determina, por seu turno, que na fixação do montante da indemnização se deve ter em conta «o grau de culpabilidade do agente, a situação económica deste e do lesado e as demais circunstâncias do caso». No tocante à obrigação de indemnizar os danos não patrimoniais invocados pelo autor, o acórdão recorrido explicitou as considerações seguintes: «8.1. Dispunha o art. 363.º do CT/2003, que “Se uma das partes faltar culposamente ao cumprimento dos seus deveres torna-se responsável pelo prejuízo causado à contraparte” e, em sentido idêntico, dispõe o art. 323.º, n.º 1, do atual CT/2009. Tais preceitos correspondem à reafirmação ou

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (35 of 52) [23-12-201

Page 36: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

transposição, para o contrato de trabalho, do que já se previa no demais direito contratual cível, em que o art. 798.º do Cód. Civil dispunha que “[o] devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor”. Por sua vez, de harmonia com o art. 496.º, n.º 1, do Cód. Civil, “[n]a fixação da indemnização deve atender-se aos danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito”. São, pois, quatro os requisitos da tutela dos danos não patrimoniais: (a) comportamento ilícito e culposo do agente; (b) existência de danos; (c) que esses danos, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito (não bastando um mero incómodo); (d) que se verifique um nexo causal entre aquele comportamento e o dano, por forma a que este seja daquele consequência. 8.2. No caso, comportamentos existem que o A. imputou à Ré, mas que não violam os deveres laborais desta para com o A., remetendo-se, quanto a estes, para o que já se disse no presente acórdão, designadamente ponto 6.1., relativo ao assédio moral. Porém, e como também já foi dito, outros existem que se nos afigura, na verdade, que violam os deveres laborais da ré, consubstanciando incumprimento do contrato de trabalho, quais sejam os relativos à violação do dever de cometer funções correspondentes ao objeto da atividade contratada e decorrente da atribuição, ao A., de funções meramente administrativas, retirando-lhe as de índole comercial, quando o objeto da atividade contratada foi a da execução da atividade de gerente, a qual, comportando embora tarefas de índole administrativa, tem como núcleo essencial e por excelência tarefas de natureza comercial. E não fez a Ré prova de que lhe tivesse atribuído funções correspondentes ao que designa de “gerente administrativo” e/ou que as funções administrativas, únicas a que o remeteu, tivessem afinidade, fossem compatíveis ou satisfizessem o núcleo próprio da atividade de gerente e/ou que a gerência do balcão tivesse sido repartida. Antes pelo contrário, a pertinente matéria constante dos quesitos 26.º e 27.º foi dada como não provada.

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (36 of 52) [23-12-201

Page 37: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

E, por outro lado, [a] ré retirou ao A. a procuração (com poderes de representação para determinados atos), bem como o retirou da comissão de crédito do balcão e, ainda, a autorização de acesso informático a operações nas contas de clientes. Não se vê que um gerente de balcão, na plenitude das suas funções (ou seja, incluindo as de natureza comercial), possa desempenhar as suas funções sem tais ferramentas e/ou que, ainda que apenas “formalmente” gerente, existissem razões justificativas de tal esvaziamento, o que ocorreu sem justificação ou sem que desta tivesse sido feita prova. Refira-se que, a justificá-lo, o que a Ré alegou foi, apenas, que por virtude do procedimento disciplinar, perdeu a confiança no A., justificação esta que, levada à B.I., foi dada como não provada, aqui se remetendo, também, para o que já acima se disse a esse propósito. Representando a referida factualidade incumprimento contratual, competia à ré o ónus de alegação e prova de que o mesmo não proveio de culpa sua (art. 799.º, n.º 1, Cód. Civil), o que não ficou demonstrado. Por outro lado, dos factos provados decorre que o A. sofreu danos que, pela sua gravidade, são merecedores da tutela do

direito, como decorre dos n.os 52 a 58 dos factos provados, quais sejam: em consequência do comportamento do réu ao longo destes dois anos (com referência à data da propositura da ação), o autor deixou de se sentir um profissional realizado, competente e satisfeito; o tratamento de que foi alvo, fê-lo sentir-se muitas vezes como um profissional incompetente e incapaz de satisfazer as pretensões da sua entidade patronal; a sua auto-estima caiu para valores muito baixos; o autor entrou em estados de ansiedade e depressivos, que o forçaram a receber acompanhamento psicológico e psiquiátrico; deixou de dormir de forma saudável e todo o ambiente familiar sofreu reveses com o estado depressivo, triste e nervoso que o autor passou a apresentar; a ida para o trabalho e a permanência do autor no local de trabalho deixaram de ser momentos de prazer e de realização pessoal, para serem momentos de sofrimento e de angústia; o sentir que não pode exercitar as suas capacidades profissionais de forma plena, é motivo de sofrimento e tristeza para o autor.

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (37 of 52) [23-12-201

Page 38: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Por fim esse comportamento da Ré, senão o único (na medida em que o A. invocava toda a restante factualidade justificativa do assédio), concorreu também para os referidos danos que, assim, entendemos deverem ser reparados. Atento o referido circunstancialismo, afigura-se-nos adequada, face à gravidade do incumprimento, ao tempo em que perdurou e à extensão dos danos, a indemnização de € 10.000,00.» Tudo ponderado, subscrevem-se, no essencial, as considerações transcritas e, bem assim, o juízo decisório enunciado. Na verdade, atendendo ao demonstrado nos factos provados 1), 2), 14), 16), 17), 52) a 58), 70) e 71), pelo menos no período entre Setembro de 2007 e Setembro de 2009, a ré violou o dever de cometer funções correspondentes à actividade para que o autor se encontrava contratado, tal como bem se evidenciou na terminante fundamentação do acórdão recorrido, tudo a justificar a atribuição, ao autor, de uma compensação pelos danos não patrimoniais gerados por tal violação, posto que se mostram preenchidos os pressupostos da invocada responsabilidade civil, a qual pressupõe a existência de um facto ilícito, a imputação do facto ilícito ao lesante, a verificação de um dano e a existência de nexo de causalidade entre o facto e o dano, sendo de manter a importância fixada no acórdão recorrido como compensação pelos danos não patrimoniais invocados pelo autor. Improcedem, pois, as conclusões N a W da alegação do recurso de revista interposto pela ré. 5. No atinente recurso de revista, o autor propugna, em primeira linha, que «foi, desde a data da sua admissão ao serviço do recorrido, alvo de um tratamento discriminatório por parte do BB, que muito o afectou, quer ao nível do exercício das suas funções, quer ao nível do seu equilíbrio psíquico e emocional», que a recorrida, «na sequência da recusa do recorrente em dar o seu acordo à alteração de funções para gestor de negócios, deu início à prática de uma série sucessiva de atos que tiveram como único objectivo discriminar o recorrente relativamente aos demais gerentes em funções no banco» e que lhe dificultaram «o exercício

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (38 of 52) [23-12-201

Page 39: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

da sua actividade profissional e o sucesso e ascensão na sua carreira profissional». E sustenta, igualmente, que «[o] comportamento do recorrido determinou que o recorrente se visse confrontado com uma situação que lhe provocou graves danos do foro psíquico e lhe retirou toda a auto-estima profissional e lhe reduziu significativamente a sua capacidade de trabalho», e que «[o] carácter repetitivo e assediante, com a clara intenção persecutória da atuação com que o recorrido atuou desde o início de 2007 e que se mantém até à presente data, faz com que essa actuação caia na alçada da previsão legal do […] art. 29.º [do Código do Trabalho de 2009]. A este propósito, o acórdão recorrido consignou a deliberação seguinte: «Defende o A. que, por virtude da sucessão dos factos que descreve, foi vítima de assédio moral, também designado de mobbing. No âmbito do CT/2003: Nos termos do art. 18.º, quer o empregador, quer o trabalhador gozam do direito à respetiva integridade física e moral, proibindo os arts. 23.º e 24.º a discriminação, direta ou indireta (baseada nomeadamente em algum dos fatores indicados no n.º 1 do art. 23.º), bem como o assédio (forma de discriminação), do trabalhador e preceituando o n.º 2 deste último preceito que “entende-se por assédio todo o comportamento indesejado relacionado com um dos factos indicados no n.º 1 do artigo anterior, praticado aquando do acesso ao emprego ou no próprio emprego, trabalho ou formação profissional, com o objetivo ou o efeito de afetar a dignidade da pessoa ou criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador”. A quem alegar a discriminação cabe fundamentá-la, indicando o trabalhador ou trabalhadores em relação aos quais se considera discriminado, incumbindo ao empregador provar que as diferenças de condições de trabalho não assentam em nenhum dos fatores indicados no n.º 1 — art. 23.º, n.º 3.

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (39 of 52) [23-12-201

Page 40: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Com esta matéria se poderá, também, relacionar, a garantia consagrada no art. 122.º, al. c), nos termos da qual é proibido ao empregador “exercer pressão sobre o trabalhador para que atue no sentido de influir desfavoravelmente nas condições de trabalho dele ou de companheiro”. O mobbing constitui fenómeno que tem vindo a vulgarizar-se e que, por isso, tem merecido atenção crescente, designadamente a nível doutrinal. Tal figura, a que poderão estar subjacentes diferentes razões ou propósitos, poderá manifestar-se por variadas formas ou práticas, designadamente através de comportamentos que, isoladamente, até poderão ser lícitos e parecer insignificantes, mas que poderão ganhar um relevo muito distinto quando inseridos num determinado procedimento e reiterados ao longo do tempo, consistindo o seu principal mérito na ampliação da tutela da vítima, ligando entre si factos e circunstâncias que, isoladamente considerados, pareceriam de pouca monta, mas que devem ser reconduzidas a uma unidade, a um projeto ou procedimento, sendo que a eventual intenção do agressor pode relevar para explicar a fundamental unidade de um comportamento persecutório. De referir, ainda, que a existência de consequências danosas a nível da saúde, física ou psíquica, do trabalhador, não sendo embora indispensável à integração de tal figura, é, no entanto, fator de relevo na indiciação da sua existência — cfr. Júlio Gomes, Direito do Trabalho, Volume I, Relações Individuais de Trabalho, pag. 425 e segs. (concretamente pag. 426, 437 e 438). Várias situações poderão estar subjacentes ao recurso ao mobbing, designadamente o propósito de levar o trabalhador à resolução, por sua iniciativa, do contrato de trabalho ou, tão-só, como mera forma de “retaliação” por algum comportamento daquele. E, como tem sido assinalado pela doutrina, as fórmulas mais frequentes do mobbing consistem na marginalização do trabalhador, no esvaziamento das suas funções, desautorização, ataques à sua reputação (cfr. Ac. RP de 02.02.09, Proc. 0843819). Tendo-se embora presente a dificuldade da sua

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (40 of 52) [23-12-201

Page 41: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

prova, é preciso, no entanto, usar da cautela necessária na apreciação do concreto circunstancialismo de cada caso, sendo certo que nem todas as situações de exercício arbitrário do poder de direção se reconduzem a tal figura. Importa ainda referir que as práticas de assédio psicológico, tal como previsto no art. 24.º, estão relacionadas com algum dos fatores previstos no n.º 1 do art. 23.º. No entanto, afigura-se-nos que a proibição do mobbing, como forma de pressão do trabalhador, designadamente no sentido de o levar à resolução do contrato de trabalho ou à alteração das condições de trabalho, encontra acolhimento quer no art. 18.º, quer na garantia consagrada no art. 122.º, al. c). No âmbito do CT/2009: A matéria em questão continua a ter consagração legal no âmbito do CT/2009, agora nos arts. 15.º, 24.º, 25.º, 29.º e 129.º, n.º 1, al. c), em termos essencialmente similares, ressalvando-se embora uma relevante diferença, qual seja a maior amplitude, relativamente ao conceito de assédio, que decorre da diferente redação do art. 29.º, n.º 1, nos termos do qual “Entende-se por assédio o comportamento indesejado, nomeadamente o baseado em fator de discriminação, praticado (…)”. [sublinhado do aresto recorrido]. Ou seja, ao contrário do que sucedia com o art. 24.º, n.º 2, do CT/2003, que associava o conceito de assédio à verificação de um fator de discriminação (estes previstos no art. 23.º, n.º 1), o atual art. 29.º, ao introduzir a expressão “nomeadamente”, veio “descolar” a, até então, associação entre o assédio e os fatores discriminatórios, podendo agora o assédio verificar-se em situação em que tais fatores não estejam presentes. 6.1. No caso, o A. sustentou o alegado assédio, em síntese, no seguinte circunstancialismo: mudanças sucessivas do local de trabalho; retirada, em setembro de 2007, das funções de gerente de balcão e, bem assim, posteriormente, da procuração, da sua participação na comissão de crédito do balcão e da autorização de acesso informático a operações nas contas de clientes; retirada de uma hora de isenção de horário de trabalho; processo de averiguações e sua delonga, subsequente procedimento disciplinar

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (41 of 52) [23-12-201

Page 42: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

e sanção disciplinar aplicada; avaliação referente a 2008, designadamente por critérios e funções de gerente, que não exercia, e falta de resposta da reclamação apresentada; não pagamento dos prémios SIM, Prestação Extraordinária e RVA em consequência do processo de averiguações e disciplinar. Relativamente às mudanças do local de trabalho: O A. foi admitido ao serviço da Ré em dezembro de 2004, com a categoria de gerente, iniciando as suas funções no balcão de ...; em 17.01.05, foi transferido para A... e, em setembro de 2005, para V...; em 17.10.05 foi novamente transferido para ... e, em janeiro de 2007, para .... Relativamente à mudança de A... para V..., verifica-se que o A. permaneceu naquela durante 8 meses e, de ... para ..., permaneceu naquela durante um ano e dois meses. Não se pode, pois, dizer, que tais permanências sejam de tal forma curtas que inviabilizassem o desempenho do A., que não correspondessem a efetivos interesses da Ré ou, até, do próprio A., e que consubstanciem ou tenham subjacente qualquer prática “persecutória”, “retaliadora” ou similar. Quanto à mudança de ... para A..., naquela tendo permanecido um mês, havendo o A. sido admitido em dezembro de 2004, bem como de V... para ... (naquela tendo também permanecido um mês), não vemos qualquer razão para que, logo nesse mês de admissão ou, mesmo, decorridos 5 meses desde essa admissão, a Ré iniciasse, contra o A., um “processo de perseguição” ou “retaliatório”, não fazendo sentido, nem tendo qualquer lógica, nesse curto espaço de tempo, uma tal intenção por parte da Ré. Nem a matéria de facto provada o indicia. Ademais, o A. alegava que a Ré nunca lhe deu qualquer justificação para tais alterações de balcão, o que, constando do quesito 7.º da BI, foi dado como não provado. Relativamente à alteração de ... para ..., ela ocorreu

no circunstancialismo previsto nos n.os 59 a 63 dos factos provados, não consubstanciando tal matéria comportamento alegadamente persecutório ou disso indiciador. Refira-se que o A. alegava que sempre privilegiou o exercício de funções comerciais, área para a qual se sentia especialmente vocacionado e no

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (42 of 52) [23-12-201

Page 43: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

exercício das quais privilegiou o relacionamento com os clientes, o que, tendo sido levado ao quesito 6.º da BI, foi dado como não provado na medida em que tal quesito mereceu a resposta restritiva vertida no n.º 49 dos factos provados. No que respeita à retirada de uma hora de isenção de horário de trabalho, remete-se para o que acima se disse a seu propósito, não resultando dos autos fundamento legal ou contratual que impusesse à Ré a manutenção dessa hora de isenção e/ou que a organização do trabalho o justificasse, sendo certo, ademais, que compete ao empregador a organização do trabalho. E, no caso, não demonstra o A. que tal manutenção fosse necessária, sendo que isso não decorre, nem se encontra provado que decorra, da mera circunstância de o trabalhador ter a categoria profissional de gerente. Quanto ao procedimento disciplinar e sanção aplicada, remete-se igualmente para o que se disse a esse propósito, sendo os mesmos justificados. E, por outro lado, quanto à delonga na averiguação por parte da DAI, nada resulta dos autos no sentido de que tal seja imputável a outra causa que não à falta de diligência desse departamento, designadamente que tal resultasse de comportamento intencional por parte dos superiores hierárquicos do A. e/ou dos membros do conselho de administração da Ré. Quanto ao não pagamento dos prémios SIM, RVA e Prestação Extraordinária: relativamente a este último, remete-se para o que, a seu propósito, já se referiu no presente acórdão, não sendo ele devido face ao procedimento e sanção disciplinar aplicada, como decorre do n.º 22 dos factos provados e do documento de fls. 239/240 aí referido. Quanto aos demais, como

referido na sentença recorrida, dos n.os 18 a 21 da matéria de facto provada não decorre que o A. tivesse provado encontrarem-se reunidos os pressupostos do direito à sua atribuição, sendo que, também quanto a esta matéria, nem o A., no recurso, alega ou justifica que assim não deveria ter sido decidido. Os fundamentos mencionados não justificam, nem indiciam, o alegado assédio moral. Resta apreciar dos demais invocados.

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (43 of 52) [23-12-201

Page 44: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Quanto à avaliação referente ao desempenho de 2008 com base em critérios correspondentes ao perfil e funções de gerente, onde se avaliariam tarefas que foram retiradas ao A., e falta de resposta à reclamação apresentada: Do documento de fls. 62 a 65, junto com a petição inicial, consta a dita avaliação, documento esse que não foi impugnado pela Ré. Dessa avaliação, entre outros parâmetros (que não vemos que não pudessem ser aplicados ao A.), constam os seguintes: “identificação das necessidades do cliente”, “Promover e Vender um Serviço”, “Orientação para o Cliente e para o Serviço”, “Perspicácia para os Negócios”, “Gestão de Relações” e “Comunicação com clientes (visitas e reuniões)”, sendo que, à exceção do primeiro, em todos os demais o A. obteve avaliação de “negativo”. Tais parâmetros estão, na verdade, direcionados para o exercício de funções de natureza comercial, sendo que o A., a essa data, as não exercia (por determinação da Ré), pelo que mal se compreende que tivesse sido o A. por elas avaliado, e de forma negativa. Mal andou, pois, a ré ao fazê-lo. E mal andou, também, ao não apreciar a reclamação que o A. apresentou, apreciação essa a que estava obrigada nos termos do ponto 5 do Manual de Gestão e Desempenho que consta do documento de fls. 67 a 73, para mais sem que tivesse sido feita prova de qualquer justificação para essa omissão. Todavia, por si só, demonstrando embora a ré desrespeito pelas normas por si próprias instituídas e pelo direito do trabalhador a ver apreciada a sua reclamação a uma avaliação que considera incorreta e/ou injusta, tal comportamento é insuficiente no sentido do pretendido assédio, não revelando ele que, com isso, tivesse a Ré pretendido atentar contra a dignidade do A. ou criar-lhe um ambiente degradante, humilhante ou desestabilizador. É um comportamento incorreto, até grave na medida em que estava em causa uma avaliação com base em parâmetros que, na verdade, não deveriam ter sido tomados em consideração, tanto mais quando é ela negativa. Todavia, daí a concluir-se por algum dos referidos intuitos, parece-nos

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (44 of 52) [23-12-201

Page 45: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

insuficiente. Quanto às funções de gestor de negócios: pese embora o que acima se disse a este propósito, a verdade é que o A., pelo menos inicialmente e no contexto mencionado, as aceitou, sendo que a mudança lhe foi explicada e ia, aparentemente, de encontro aos interesses que eram também do A. (não fosse a divergência relativamente à hora de isenção de horário de trabalho). Quanto a esta, não vemos que ocorra qualquer comportamento suscetível de consubstanciar assédio moral. Quanto à retirada, em setembro de 2007, das funções comerciais, é certo que tal ocorreu e que a ré atribuiu ao A. funções apenas administrativas, questão esta sobre a qual já nos pronunciámos acima e para cujas considerações remetemos. Dos factos provados não resulta que alguma dessas funções administrativas se enquadrassem ou fossem compatíveis com as funções administrativas próprias de um gerente (o que, como se disse, e para os efeitos então em causa, competia à ré provar), sendo que, por outro lado, lhe foram retiradas as funções comerciais próprias de um gerente de balcão, funções essas que são, por excelência, as funções dessa categoria profissional. Todavia, e para os efeitos ora em apreço, não nos parece que tanto baste no sentido da conclusão, ao menos com a necessária segurança, que esse comportamento tenha tido um intuito humilhante ou persecutório. Se não se provou, como não se provou, que funções concretamente passaram a ser exercidas pelo A., no âmbito agora em apreço — isto é, para aferição do alegado assédio moral — afigura-se-nos que competia ao A. a prova das concretas tarefas administrativas que lhe foram cometidas por forma a podermos concluir que seriam vexatórias, degradantes, humilhantes ou totalmente incompatíveis com o seu estatuto (por constituir, isso, fundamento do alegado assédio moral — art. 342.º, n.º 1, do Cód. Civil). E, por outro lado, tal factualidade não deverá ser

desenquadrada do restante contexto, que resulta dos n.os 23, 24 e 25, relativo às avaliações do A. referentes ao desempenho de 2005, 2006 e 2007 (não tendo sido feita prova de que as notações menos

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (45 of 52) [23-12-201

Page 46: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

boas tivessem decorrido das mudanças de balcões — cfr. resposta

ao quesito 11.º), e dos n.o 59, 60, 61 e 62, os quais indiciam um certo “desconforto” por parte do A. em relação ao desempenho, pelo menos, de algumas das tarefas de gerente. É certo, por outro lado, que ficou provado, também, que a ré, posteriormente, em junho de 2008, retirou ao A. a procuração (com poderes de representação para determinados atos), bem como o retirou da comissão de crédito do balcão e, ainda, a autorização de acesso informático a operações nas contas de clientes, sendo que, para tanto, a Ré o justificou com a perda de confiança no A. decorrente do procedimento disciplinar, justificação esta que foi levada ao quesito 30.º, mas que foi tida como não provada. Nem, diga-se, face ao contexto da factualidade relativa à infração disciplinar e à gravidade desta, aliás merecedora apenas de repreensão registada, se vê que fosse justificado tal “esvaziamento”; até porque a suspeita dos factos pelo superior hierárquico do A., DD (e que procedeu à decisão de retirar ao A. tais poderes), era de data muito anterior — pelo menos início de 2008 — ao do referido “esvaziamento”, ocorrido apenas em junho de 2008. Não vemos, pois, justificação para tais factos e reconhecemos que eles não são compatíveis com o estatuto de gerente (tanto mais face à alegação da Ré, embora não provada, de que o A. seria ou manteria o estatuto e categoria de “gerente administrativo”). Não obstante, e salvo melhor opinião, parece-nos, ainda assim, que daí não se poderá concluir, ao menos com a necessária segurança, ter sido propósito da Ré, com isso, afetar a dignidade do A. e/ou criar-lhe um ambiente degradante, humilhante ou desestabilizador, estes o substracto do assédio moral. Ou seja, e com o devido respeito por diferente opinião, não nos parece poder concluir-se, apreciando-se o comportamento da ré na sua globalidade, no sentido do alegado assédio moral, sendo certo que, com este ou a este, não se reconduzem, necessariamente, comportamentos violadores dos direitos do trabalhador e/ou atitudes mais ou menos “arbitrários” por banda do empregador.

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (46 of 52) [23-12-201

Page 47: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Assim, e nesta parte, improcedem as conclusões do recurso.» Tudo ponderado, subscrevem-se, no essencial, as considerações transcritas e, bem assim, o juízo decisório enunciado. Com efeito, tal como se evidenciou, detalhadamente, na fundamentação do acórdão recorrido, a matéria de facto provada não permite concluir, com a necessária segurança, que o autor tenha sido alvo de um qualquer tratamento discriminatório, «com o objectivo ou o efeito de afectar a dignidade da pessoa ou criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou destabilizador», nos termos do n.º 2 do artigo 24.º do Código do Trabalho de 2003, ou «com o objectivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afectar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou destabilizador», conforme estipula o n.º 1 do artigo 29.º do Código do Trabalho de 2009), pelo que improcedem as conclusões 1) a 5) da alegação do recurso de revista interposto pelo autor. E não se configurando a prática, pela ré, de qualquer acto discriminatório, consubstanciador do pretendido assédio moral, fica prejudicado o conhecimento da matéria contida nas conclusões 6) e 7) da alegação do recurso de revista do autor. De facto, o n.º 2 do artigo 660.º do Código de Processo Civil, aplicável aos acórdãos proferidos pelo Supremo Tribunal de Justiça, nos termos do disposto nos conjugados artigos 713.º, n.º 2, e 726.º do mesmo Código, estabelece que o tribunal deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras. 6. O autor alega, em derradeiro termo, que os factos que lhe são imputados «chegaram ao conhecimento da Directora dos Recursos Humanos do recorrido em 31.01.2008», que «[o]s Inspetores que, por instruções daquele departamento (DRH), averiguaram os factos imputados ao recorrente, concluíram as suas investigações em 13.02.2008, tendo elaborado a respectiva informação apenas

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (47 of 52) [23-12-201

Page 48: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

em 14.10.2008», que «esta informação chegou ao conhecimento do Director-Geral do banco recorrido em 29.10.2008» e que este «tinha poderes delegados pela Comissão executiva do banco recorrido e foi em sua representação que teve conhecimento da informação da Inspecção em 29.10.2008», donde, sendo o autor apenas notificado da nota de culpa, em 21 de Janeiro de 2009, «o poder disciplinar da sua entidade patronal já tinha prescrito nessa data». Mais aduz o autor que «não pode relevar para conhecimento da prescrição apenas a data em que os factos imputados ao apelante chegaram ao conhecimento da Comissão Executiva», porque «não se encontra demonstrado nos autos que o poder disciplinar do recorrido estava conferido exclusivamente a este órgão do banco», sendo que, «pelo menos um Director-Geral do banco detinha esses poderes através de delegação efectuada pelo Presidente da Comissão Executiva», logo «[a] data em que os factos imputados ao recorrente chegaram pela primeira vez ao conhecimento da Comissão Executiva não releva para o afastamento da alegada prescrição». Considera, assim, que, «[s]e a competência disciplinar pertence à Comissão Executiva e algum departamento inicia uma investigação tendente ao apuramento de ilícitos laborais é porque essa comissão executiva delegou nesse órgão os respectivos poderes e, nesse sentido, o conhecimento dos factos por esse órgão com competência delegada estende-se igualmente ao órgão que delegou os poderes, ou seja, a Comissão Executiva». O artigo 372.º do Código do Trabalho de 2003, diploma a que pertencem os demais preceitos a citar adiante, sem menção da origem, reza que «[o] procedimento disciplinar deve exercer-se nos 60 dias subsequentes àquele em que o empregador, ou o superior hierárquico com competência disciplinar, teve conhecimento da infracção» (n.º 1) e que «[a] infracção disciplinar prescreve ao fim de um ano a contar do momento em que teve lugar, salvo se os factos constituírem igualmente crime, caso em que são aplicáveis os prazos prescricionais da lei penal» (n.º 2),

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (48 of 52) [23-12-201

Page 49: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

sendo que o n.º 4 do artigo 411.º estabelece que «[a] comunicação da nota de culpa ao trabalhador interrompe a contagem dos prazos estabelecidos no artigo 372.º» e, por seu turno, o artigo 412.º determina que «[a] instauração do procedimento prévio de inquérito interrompe os prazos a que se refere o nº 4 do artigo anterior, desde que, mostrando-se aquele procedimento necessário para fundamentar a nota de culpa, seja iniciado e conduzido de forma diligente, não mediando mais de 30 dias entre a suspeita de existência de comportamentos irregulares e o início do inquérito, nem entre a sua conclusão e a notificação da nota de culpa». Neste plano de consideração, o acórdão recorrido deliberou o seguinte: «A competência disciplinar é um poder do empregador, a este competindo o seu exercício, a menos que o delegue em algum superior hierárquico do trabalhador e nos termos por aquele estabelecidos, como decorre do disposto nos

arts. 365.º, n.os 1 e 2, do CT/2003. E sendo o empregador pessoa coletiva/sociedade, no caso sociedade anónima, é ao seu conselho de administração que compete ab initio o exercício do poder disciplinar (arts. 405.º e 406.º do Cód. Soc. Comerciais), sem prejuízo da possibilidade de delegação da gestão corrente em um ou mais administradores ou numa comissão executiva (art. 407.º, n.º 3, do Cód. Soc. Comerciais). No caso, a ação disciplinar, tanto no que se reporta à decisão de instauração do procedimento disciplinar, como no que concerne à decisão disciplinar, foi exercida pela Comissão Executiva do Conselho de Administração como é referido nas deliberações que constam dos documentos de fls. 138 e 189 dos autos. Não decorre dos autos que a Comissão Executiva do Conselho de Administração não tivesse poderes para o exercício da ação disciplinar, sendo certo, também, que tanto o CT/2003 (art. 365.º, n.º 2), como o já referido Cód. Sociedades Comerciais (art. 407.º, n.º 3), não impedem a delegação desses poderes numa Comissão Executiva. Aliás, nem é essa falta de poderes o fundamento do pedido.

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (49 of 52) [23-12-201

Page 50: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Da matéria de facto provada não resulta que à DRH — Drª FF — e/ou à DAI, houvessem sido delegados poderes para o exercício do poder disciplinar, isto é, a competência para decidir seja da instauração, ou não, de procedimento disciplinar, seja da aplicação, ou não, de sanção disciplinar. Por outro lado, e como já referido, entendemos que é ao trabalhador que incumbia o ónus de alegação e prova dos factos determinantes da prescrição (ou caducidade, para quem assim o entenda) do exercício da ação disciplinar e da delegação dos correspondentes poderes disciplinares, pela Ré, nos referidos diretores/departamentos. E, no caso, tal prova não foi feita. Por outro lado, também esse conhecimento não decorre do disposto no n.º 37 dos factos provados, nem se poderá considerar, pela razão referida nesse número, que o conhecimento pelo Diretor Geral aí mencionado equivaleria ao conhecimento pela Ré ou determinaria o início da contagem do prazo de “caducidade”. É que, não obstante a delegação de poderes pelo Presidente da Comissão Executiva aí mencionada, não decorre que essa delegação tivesse por objeto ou abrangesse, também, poderes para determinar a instauração de procedimento disciplinar. Resulta, tão-só, que esse Diretor tinha poderes delegados. Aliás, nessa própria informação, refere-se que é proposta à CECA a instauração de processo disciplinar contra o A. Pese embora a demora na conclusão das averiguações feita pela DAI, sendo certo que nem os factos se revestiam de complexidade que a justificasse, não se nos afigura que, tal, determine a “caducidade” do direito a proceder disciplinarmente. Se é certo que, como se diz na sentença, haverá que evitar que os trabalhadores sejam punidos muito tempo após a prática da infração, eventualmente quando já formaram a convicção de que tal comportamento, face à passividade do empregador, era por este admitido, a verdade é que o instituto da prescrição da infração disciplinar prevista no art. 372.º, n.º 2, do CT/2003 (nos termos da qual a infração prescreve no prazo de um ano a contar do momento em que teve lugar) visa precisamente obviar ao aludido problema. Por outro lado, não nos parece, salvo melhor opinião,

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (50 of 52) [23-12-201

Page 51: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

que tenha aqui aplicação o disposto no art. 412.º, a contrario, do CT/2003, convocado pelo A., preceito esse que dispõe que a instauração do procedimento prévio de inquérito interrompe os prazos a que se refere o n.º 4 do artigo anterior, desde que, mostrando-se aquele procedimento necessário para fundamentar a nota de culpa, seja iniciado e conduzido de forma diligente, não mediando mais de 30 dias entre a suspeita da existência de comportamentos irregulares e o início do inquérito, nem entre a sua conclusão e a notificação da nota de culpa. É certo que a averiguação efetuado pela DAI foi conduzida de forma pouco diligente, não justificando a pequena complexidade dos factos tal delonga nessa averiguação. Todavia, dos autos não decorre que a intervenção da DAI tenha tido lugar com conhecimento da entidade que detém o poder disciplinar, ou seja, do Conselho de Administração da Ré ou da sua Comissão Executiva e, só com o conhecimento desta, se iniciaria o prazo de 60 dias de exercício da ação disciplinar. Não se pode, pois, falar da suspensão de prazo cujo início de contagem nem se havia, sequer, verificado, sendo que tal apenas ocorreria com o conhecimento da infração, ou da sua suspeita, por parte do titular do poder disciplinar. E daí não decorre, como diz o A./Recorrido, que possa o trabalhador estar, durante vários anos, com o espectro da responsabilidade disciplinar. Como se disse, o instituto da prescrição da infração disciplinar a isso obvia. Por fim, também não procede o argumento que o A./Recorrido pretende retirar da cl.ª 116.º do ACT, e da referência a que aí se faz à “instituição”. Tal cl.ª dispõe que “o procedimento disciplinar deve exercer-se nos 60 dias subsequentes àquele em que a instituição, ou o superior hierárquico com competência disciplinar, teve conhecimento da infracção”. Ora, o aí referido é idêntico ao que consta do art. 372.º, n.º 1, do CT/2003. A referência à “instituição” não tem outro sentido que não o de reportar-se ao “empregador” e, este, no âmbito das pessoas coletivas, é o seu órgão estatutário, no caso o Conselho de Administração/CECA.»

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (51 of 52) [23-12-201

Page 52: Processo: 1361/09.1TTPRT.P1.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO ...cite.gov.pt/asstscite/downloads/legislacao/proc136109_1TTPRT.pdf · 12.869,80, a título de danos patrimoniais, e

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Tudo ponderado, sufragam-se as considerações transcritas, pelo que, não se mostrando provada a instauração de procedimento prévio de inquérito pelo Conselho de Administração/CECA da ré, nem que este órgão tenha delegado a respectiva competência disciplinar, improcedem as conclusões 8) a 18) da alegação do recurso de revista interposto pelo autor. III Pelos fundamentos expostos, decide-se negar ambas as revistas e confirmar o acórdão recorrido. Custas de cada recurso de revista pelos respectivos recorrentes. Anexa-se o sumário do acórdão. Lisboa, 5 de Março de 2013 Pinto Hespanhol (Relator) Isabel São Marcos Fernandes da Silva

4 11:52:58]http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e61d7c65f2d550bd80257b280038dd27?OpenDocument (52 of 52) [23-12-201