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Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 298/07.3TTPRT.P3.S1 Nº Convencional: 4ª SECÇÃO Relator: MÁRIO BELO MORGADO Descritores: MATÉRIA DE FACTO PODERES DA RELAÇÃO DESPEDIMENTO EXTINÇÃO DE POSTO DE TRABALHO PRINCÍPIO DA IGUALDADE ASSÉDIO MORAL Data do Acordão: 10/29/2013 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Privacidade: 1 Meio Processual: REVISTA Decisão: NEGADA A REVISTA Área Temática: DIREITO CIVIL - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / FONTES DAS OBRIGAÇÕES / RESPONSABILIDADDE CIVIL. DIREITO CONSTITUCIONAL - DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS / PRINCÍPIOS GERAIS - DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS DOS TRABALHADORES. DIREITO DO TRABALHO - CONTRATO DE TRABALHO / SUJEITOS / DIREITOS DA PERSONALIDADE / IGUALDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO - PRESTAÇÃO DE TRABALHO - VICISSITUDES CONTRATUAIS - CESSAÇÃO DO CONTRATO / CESSAÇÃO POR INICIATIVA DO EMPREGADOR / DESPEDIMENTO POR EXTINÇÃO DO POSTO DE TRABALHO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSO DE DECLARAÇÃO / SENTENÇA / RECURSOS. Legislação Nacional: CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGO 496.º, N.º3. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 660.º, N.º 2, 684.º, N.º4, 712.º, 713.º, N.º 2, E 726.º, 722.º, N.º3. CÓDIGO DO TRABALHO (CT): - ARTIGOS 18.º, 23.º, N.º1, 24.º, NºS 1 E 2, 150.º, 151.º, N.ºS1, 2 E 5, 314.º, N.º1, 397.º, N.º2, 402.º, 403.º, N.ºS1, ALÍNEA B), E 3. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA (CRP): - ARTIGOS 13. º, 53.º, 59.º, N.º1. LEI Nº 41/2013, DE 26-6: - ARTIGO 7.º, N.º 1. 11:51:44] http://www.dgsi.pt/JSTJ.NSF/954f0ce6ad9dd8b980256b5...fa814/90dc1de51631884d80257c14004e2568?OpenDocument (1 of 47) [23-12-2014

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Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de JustiçaProcesso: 298/07.3TTPRT.P3.S1Nº Convencional: 4ª SECÇÃORelator: MÁRIO BELO MORGADODescritores: MATÉRIA DE FACTO

PODERES DA RELAÇÃO DESPEDIMENTO EXTINÇÃO DE POSTO DE TRABALHO PRINCÍPIO DA IGUALDADE ASSÉDIO MORAL

Data do Acordão: 10/29/2013Votação: UNANIMIDADETexto Integral: SPrivacidade: 1Meio Processual: REVISTADecisão: NEGADA A REVISTAÁrea Temática:

DIREITO CIVIL - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / FONTES DAS OBRIGAÇÕES / RESPONSABILIDADDE CIVIL. DIREITO CONSTITUCIONAL - DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS / PRINCÍPIOS GERAIS - DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS DOS TRABALHADORES. DIREITO DO TRABALHO - CONTRATO DE TRABALHO / SUJEITOS / DIREITOS DA PERSONALIDADE / IGUALDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO - PRESTAÇÃO DE TRABALHO - VICISSITUDES CONTRATUAIS - CESSAÇÃO DO CONTRATO / CESSAÇÃO POR INICIATIVA DO EMPREGADOR / DESPEDIMENTO POR EXTINÇÃO DO POSTO DE TRABALHO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSO DE DECLARAÇÃO / SENTENÇA / RECURSOS.

Legislação Nacional: CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGO 496.º, N.º3. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 660.º, N.º 2, 684.º, N.º4, 712.º, 713.º, N.º 2, E 726.º, 722.º, N.º3. CÓDIGO DO TRABALHO (CT): - ARTIGOS 18.º, 23.º, N.º1, 24.º, NºS 1 E 2, 150.º, 151.º, N.ºS1, 2 E 5, 314.º, N.º1, 397.º, N.º2, 402.º, 403.º, N.ºS1, ALÍNEA B), E 3. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA (CRP): - ARTIGOS 13.º, 53.º, 59.º, N.º1. LEI Nº 41/2013, DE 26-6: - ARTIGO 7.º, N.º 1.

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Jurisprudência Nacional: ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA: -DE 14-05-2008, P. N.º 07S3519, WWW.DGSI.PT ; -DE 01-10-2008, P. N.º 8/08; -DE 05-02-2009, P. N.º JSTJ000; -DE 22-04-2009, P. N.º 08P3040, WWW.DGSI.PT; -DE 09-09-2009, P. N.º 08S4021; -DE 10-01-2011, P. N.º 1452/04.5TVPRT.P1.S1; -DE 12-10-2011, P. N.º 343/04.4TTBCL.P1.S1, WWW.DGSI.PT; -DE 14-02-2012, P. 6823/09.3TBBRG.G1.S1; -DE 29-03-2012, P. N.º 429/09.9TTLSB.L1.S1, WWW.DGSI.PT; -DE 05-06-2012, P. N.º 5534/04.5 TVLSB.L1.

Sumário : I - No uso dos poderes relativos à alteração da matéria de facto, conferidos pelo art. 712.º do Código de Processo Civil, a Relação deverá formar e fazer reflectir na decisão a sua própria convicção, na plena aplicação do princípio da livre apreciação das provas, nos mesmos termos em que o deve fazer a 1.ª instância, sem que se lhe imponha qualquer limitação, relacionada com convicção que serviu de base à decisão impugnada, em função do princípio da imediação da prova. II - A par de razões que se prendem com necessidades de ajustamento no quadro de pessoal das empresas, o despedimento por extinção de posto de trabalho obedece à verificação cumulativa dos requisitos elencados no art. 403.º, n.º 1, do Código do Trabalho, nomeadamente a circunstância de ser praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho [alínea b)]. III - A avaliação da impossibilidade de subsistência da relação de trabalho, por não dispor o empregador de posto de trabalho compatível com a categoria do trabalhador, está circunscrita à estrutura empresarial do empregador, ainda que esteja este inserido num grupo de empresas, a menos que se justifique o levantamento da personalidade colectiva por a mesma ter sido usada de modo ilícito ou abusivo para prejudicar terceiros. IV - Resultando provado que a ré, após a integral implementação do processo de identificação e marcação de válvulas, não tinha trabalho para dar ao autor e que não o conseguiu recolocar em qualquer outro posto de trabalho compatível com a sua categoria,

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está demonstrada a verificação do requisito referido em II. V - O princípio da igualdade, na sua específica aplicação aos trabalhadores, corresponde a uma genérica proibição de práticas discriminatórias, segundo a qual não é lícito ao empregador conferir estatutos jurídicos diferenciados ou desigual tratamento dos trabalhadores sem motivo justificativo; inversamente, não constituem discriminação os comportamentos distintivos que encontram a sua justificação à luz da relação laboral, das exigências da sua execução e, em geral, com a adequada condução empresarial. VI - Não se apurando materialidade que suficientemente permita concluir no sentido de uma intencional conduta persecutória da entidade empregadora, dirigida a atingir os valores da dignidade profissional e/ou da integridade física ou psíquica do trabalhador, não pode considerar-se integrada a figura do assédio moral.

Decisão Texto Integral: Acordam na Secção Social do Supremo Tribunal de Justiça:

I.

1.1. AA instaurou a presente ação declarativa condenatória, emergente de contrato de trabalho, contra BB - …, SA, peticionando que esta seja condenada a:

- Reconhecer-lhe a categoria profissional de gestor de construção e a atribuir-lhe o exercício de funções e objetivos anuais equivalentes aos dos restantes gestores de construção;

- Permitir ao autor o acesso à formação promovida para os demais gestores de construção;

- Nivelar a remuneração do autor com a do outro gestor de construção com a mesma antiguidade;

- Anular a sanção disciplinar de repreensão registada aplicada ao autor;

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- Pagar-lhe a indemnização global de € 15.000,00 por danos não patrimoniais;

- Pagar uma sanção pecuniária compulsória em valor não inferior a €75,00 por dia, pelo incumprimento de cada uma das imposições judiciárias.

1.2. Para tanto - invocando assédio moral por parte da R. -, alegou, em síntese:

- Desde o início de 2004 que a R. passou a considerar o A. – que desempenha as funções de “gestor de construção” - como pessoa não grata na empresa, fazendo questão de o demonstrar, quer diretamente, quer publicamente, perante os seus colegas de trabalho, com o intuito de influir nas suas condições de trabalho e sossego psicológico, de forma a despoletar um autodespedimento. - Em meados de 2004, a R. sugeriu ao A. a “rescisão do contrato” por acordo, o que não aceitou, na sequência do que foi despromovido, passando a desempenhar funções “eminentemente de manutenção”, embora formalmente tenha continuado a ser “gestor de construção” (deixou as funções de “Gestor da Construção/com área atribuída” e passou a exercer as de “Gestor da Construção/garantia da qualidade da rede, ramais e localização de válvulas ocultas”). - O A. não tem qualquer zona geográfica de trabalho atribuída, ao contrário de todos os seus colegas, apenas lidando com válvulas da rede de gás da via pública. - Sendo-lhe, consequentemente, traçados objetivos profissionais mais modestos, o A. tem tido, desde 2004, bónus salariais reduzidos, quer em comparação com os seus colegas, quer com o que o próprio auferia antes. - Também passou a auferir um salário inferior ao dos seus colegas, bem como a usar viatura de serviço de qualidade inferior.

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- Ao contrário do ocorrido com os seus colegas, desde 2004 que o A. não participa na definição dos objetivos que lhe são impostos pela R., tal como não participa no processo de avaliação do desempenho. - Injustificada e propositadamente, ao A. não é sequer comunicada a formação contínua ministrada pela R. aos gestores de construção, relacionada com a rede de distribuição e as restantes áreas de intervenção. - Desde 2004 que o seu local de trabalho foi alterado: deixou de estar junto dos seus colegas e passou a ocupar outro espaço. - Incorretamente, a R. moveu-lhe um processo disciplinar em 2006, por alegada utilização indevida de um identificador de Via Verde que lhe fora atribuído, o qual redundou na aplicação da sanção de repreensão registada. - Para além de não ter cometido qualquer infração, quando foi rececionada a nota de culpa, o procedimento disciplinar encontrava-se prescrito.

2. Contestou a R., alegando factos que no saneador se considerou integrarem matéria de exceção perentória (reestruturação, operada pela R., na categoria de gestor de construção, que passou a incluir o acompanhamento da atividade de identificação e marcação de válvulas, realizada por empresas de construção que para a mesma trabalham) e por impugnação.

3. Respondeu o A., alegando factos tidos no saneador como consubstanciando novas causas de pedir (tentativa de extinção do posto de trabalho do A., já após a citação da R. na presente ação; comunicação interna, datada de 12/4/07, informando que a função de gestor de construção era cindida em 3 novas categorias, permanecendo o A. como único gestor de construção e passando os seus colegas a ser apelidados de “Gestor de GPL” e “Gestor de Zona”; e imposição ao A. da obrigação de justificar deslocações e portagens, bem como ausências a reuniões obrigatórias, ao

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contrário do que se verifica quanto aos demais).

4. A R. apresentou contrarresposta.

5. O A. apresentou articulado superveniente – alegou, no essencial, que a R. procedeu ao seu despedimento, por extinção do respetivo posto de trabalho, com efeitos a 13 de outubro de 2007, extinção dolosamente promovida pela mesma, de molde a contornar os requisitos legais –, na sequência do que, cumulando os pedidos iniciais, peticionou:

- A declaração de ilicitude do despedimento por extinção do posto de trabalho,

- A sua reintegração no posto de trabalho,

- O pagamento das prestações retributivas que lhe são devidas desde 13 de outubro de 2007 até final ao trânsito em julgado da presente ação;

- A condenação da R. a facultar-lhe a utilização de uma viatura automóvel semelhante às utilizadas pelos restantes seus colegas gestores de construção, bem como de telemóvel;

- A condenação da R. a pagar-lhe uma indemnização pela privação da utilização do uso do automóvel e do telemóvel, a fixar oportunamente, em sede de liquidação de sentença.

6. O A. apresentou um segundo articulado superveniente, alegando que: na pendência do processo de despedimento por extinção do seu posto de trabalho, a R. instaurou-lhe procedimento disciplinar (tendo em vista o seu despedimento); este processo não chegou ao fim por, entretanto, ter sido despedido por extinção do posto de trabalho; fê-lo com o único propósito de perseguir o A., o que agravou os danos resultantes do assédio moral.

Em consequência, requereu a ampliação do pedido por danos não

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patrimoniais, no montante de, pelo menos, mais € 3.750,00.

7. A R. respondeu aos articulados supervenientes e, em reconvenção, pediu a condenação do A. na dedução da quantia de € 19.197,16, a este paga no âmbito do processo de extinção do posto de trabalho (em caso de procedência dos pedidos aludidos em supra n.º 5).

8.1. Na sequência de recurso de apelação interposto pela R., foi anulada a primeira sentença proferida nos autos (em 19/5/2009) e parcialmente repetido o julgamento.

8.2. Em 21/2/2012, foi proferida nova sentença (em tudo igual à anterior, na sua parte dispositiva), que:

a) Julgou improcedente a pretensão indemnizatória (por danos não patrimoniais) correspondente aos factos alegados no articulado superveniente referenciado em supra n.º 6, decisão neste ponto transitada em julgado (apesar de o dispositivo da sentença não abordar expressamente este segmento da decisão, ele consta dos pontos 5.1. a 5.3. da mesma, bem como dos dois primeiros parágrafos do ponto 5.4.). b) Declarando a ilicitude do despedimento do A., condenou a R.:

- A reintegrar o A. no seu posto de trabalho, sem prejuízo da sua retribuição e antiguidade;

- A pagar ao A. as prestações retributivas que lhe são devidas desde 13.OUT.07 até ao trânsito em julgado da presente ação;

- A facultar ao A. a utilização de uma viatura automóvel semelhante às das utilizadas pelos restantes seus colegas gestores de construção, bem como de telemóvel;

- A pagar ao A. uma indemnização pela privação da utilização do uso do automóvel e do telemóvel, a fixar oportunamente, em sede

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de liquidação de sentença.

- A reconhecer ao A. a categoria profissional de gestor de construção;

- A atribuir ao A. o exercício de funções e objetivos anuais equivalentes e idênticos aos restantes gestores de construção;

- A permitir ao A. o acesso à formação promovida para os restantes gestores de construção;

- A nivelar a remuneração do A. com os restantes gestores de construção, com a mesma antiguidade da do autor;

- A anular a sanção disciplinar de repreensão registada que lhe foi aplicada;

- A pagar ao A. a indemnização global de € 7.500,00 (por danos não patrimoniais alegados na petição inicial).

De modo a assegurar o cumprimento do assim determinado, foi estabelecida uma sanção pecuniária compulsória no valor de 50 euros diários.

9. Arguida a nulidade da sentença pela R., por não se ter pronunciado sobre o pedido reconvencional deduzido na resposta ao segundo articulado superveniente apresentado pelo A., foi determinado – suprindo tal nulidade – que à parte dispositiva da sentença fosse aditado o seguinte:

Julga-se de igual modo procedente o pedido reconvencional deduzido pela ré contra o autor, pelo que às quantias que foi condenado a pagar-lhe deverá ser deduzido o montante de € 19.197,16 resultante da compensação que lhe foi paga (…) por força da extinção do posto de trabalho daquele que a ré promoveu.

10. Interposto recurso de apelação pela R., o Tribunal da Relação

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do Porto (TRP), julgando parcialmente procedente o recurso, decidiu:

- Aditar um facto à factualidade provada (n.º 57 dos factos provados).

- Alterar para € 1.000,00, a indemnização por danos não patrimoniais [neste âmbito, a Relação desconsiderou todos os factos valorados na 1ª instância, à exceção dos atinentes ao processo disciplinar aludido nos dois últimos parágrafos de supra n.º 1.2., em virtude de ter considerado que a questão da ilicitude da ação disciplinar transitara em julgado (por a ré/apelante não a ter suscitado nas alegações do recurso, pese embora a circunstância de a ter mencionado nas conclusões) – segmento decisório que não foi impugnado pela ré].

- Quanto ao mais, manter a sentença apenas na parte em que anulou a sanção disciplinar de repreensão registada aplicada ao autor.

11. O A. interpôs recurso de revista, sustentando essencialmente, e em síntese, nas conclusões das suas alegações:

- Deve anular-se a alteração da decisão de facto sobre os quesitos 65.°, 67.° e 68.° da base instrutória. - O Tribunal da Relação desrespeitou o comando do art. 712.°, n° 1, al. a) do CP Civil (e do art. 690.°-A) quando alterou diametralmente a matéria de facto que vinha fixada pela primeira instância. - A garantia do duplo grau de jurisdição não pode subverter o princípio da livre apreciação das provas. - Na formação dessa convicção entram, necessariamente, elementos que em caso algum podem ser importados para a gravação da prova - seja áudio, seja mesmo vídeo - por mais fiel

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que ela seja das incidências concretas da audiência. - Relevam para a formação da convicção do julgador "elementos intraduzíveis e subtis", tais como a mímica e todo o aspeto exterior do depoente" e "as próprias reações, quase impercetíveis, do auditório" que vão agitando o espírito de quem julga. - Permitir um segundo julgamento sem a riqueza de um tal cenário de análise seria o mesmo que deliberadamente retirar ao novo julgador um considerável número de instrumentos para uma conscienciosa formação da respetiva convicção, amputando-se o processo decisório da possibilidade de crítica dos elementos genéticos globalmente nele influentes, com um natural e acrescido risco de erro para o resultado final. - O que ao tribunal de segunda jurisdição compete é apenas apurar da razoabilidade da convicção probatória da primeira instância, não devendo ir à procura de uma nova convicção que lhe está vedada, exatamente pela falta desses elementos intraduzíveis na gravação da prova. - No acórdão recorrido é afirmado que "a recorrente desenvolveu diligência no sentido de encontrar um posto de trabalho onde pudesse ser enquadrado o recorrido”, sem nada se referir sobre o que foi feito em concreto. - Deve declarar-se que a extinção do posto de trabalho é ilícita, por não se verificar o pressuposto da impossibilidade prática da subsistência da relação de trabalho da al. b), do n.° 1, do art.° 403.° do CT. - O A. poderia ter sido transferido para uma das empresas do vasto grupo EDP. - Esta modalidade de despedimento visa cobrir as situações de inexigibilidade do vínculo ao empregador por razões atinentes ao funcionamento da empresa, ou seja, por motivos económicos tanto podem ser de mercado, como estruturais ou tecnológicos, em termos idênticos aos previstos para o despedimento coletivo. - A EDP Gás nunca demonstrou nos autos qualquer debilidade estrutural ou financeira que estivessem na origem da extinção do posto de trabalho do recorrente. - Tal como nunca referenciou a necessidade de alterar estruturas produtivas ou de serviços.

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- O n.º 3 do artigo 403.° objetiva o conceito de impossibilidade prática da subsistência da relação de trabalho, reconduzindo-a à situação do empregador não dispor de outro lugar que seja compatível com a categoria do trabalhador. - A referência da Lei à categoria deve entender-se como reportada à categoria interna e não à categoria funcional do trabalhador, ou seja, não está em causa a manutenção da mesma função, (ou seja, a aceção horizontal da categoria ou categoria funcional), sob pena de total inoperacionalidade do preceito. - Pretendendo-se operar a extinção do posto de trabalho, mas existindo outras funções compatíveis e disponíveis que poderão ser exercidas pelo trabalhador, deverão ser-lhe atribuídas, facultando-lhe previamente a possibilidade de as aceitar. - A EDP Gás nem sequer alegou não ter postos de trabalho alternativos para a atividade do A. - Há que ter sempre presente o princípio constitucional da segurança no emprego estabelecido no art. 53.° da CRP, cujo conteúdo se consubstancia na proibição de despedimentos arbitrários. - Foi violado o princípio da igualdade da retribuição do recorrente em relação aos restantes gestores de construção e o direito â categoria profissional, uma vez que o seu nível salarial era o mais baixo na equação antiguidade/remuneração, pelo que deve a R. nivelar a sua retribuição pelos colegas com igual antiguidade, permitir-lhe o uso de uma viatura automóvel ligeira e telemóvel, igual ao dos seus colegas gestores de construção (ou categoria equivalente), e atribuir-lhe funções equivalentes aos restantes gestores de construção. - Também existiu mobbing sobre o trabalhador. - É devida indemnização por danos não patrimoniais, tal qual foi fixada pela primeira instância.

12. A R. contra-alegou, pugnando pela improcedência do recurso.

13. O Ex.m.º Procurador-Geral-Adjunto pronunciou-se no sentido

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de ser negada a revista, em parecer a que as partes não responderam.

14.1. Inexistindo quaisquer outras de que se deva conhecer

oficiosamente (art. 660.º, n.º 2, in fine, do CPC[1]), em face das conclusões das alegações, as questões a decidir são as seguintes:[2]

A. - Se deve anular-se a alteração da decisão de facto efetuada na Relação (alegadamente, sobre os quesitos 65.°, 67.° e 68.° da base instrutória). B. - Se no despedimento (por extinção do posto de trabalho) em causa se verifica o requisito previsto no art. 403.º, n.º 1, alínea b), do CT (impossibilidade prática da subsistência da relação de

trabalho).

C. - Se o A. tem direito a ver nivelada a sua remuneração com os demais gestores de construção com a mesma antiguidade, por ter sido violado o princípio da igualdade da retribuição. D. - Se o A. tem direito à atribuição de funções equivalentes às dos seus colegas, por ter sido violado o direito à categoria profissional.

E. – Montante da indemnização por danos não patrimoniais (alegadamente decorrentes da violação dos princípios da igualdade retributiva e do direito à categoria profissional e de assédio moral).

XXX

14.2. Quanto às razões subjacentes aos concretos termos em que ficam elencadas as questões a decidir, impõe-se a explicitação de dois pontos:

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14.2.1. Quanto aos requisitos do despedimento por extinção do posto de trabalho, expressis verbis se refere na sentença da 1ª instância, que “não se questiona a decisão da ré em extinguir o (...) posto de trabalho (…). O que se questiona é que (…) não fosse possível à ré reconvertê-lo”. O decidido no tocante à primeira destas duas questões transitou em julgado, como bem assinalou o acórdão recorrido, nos seguintes termos: “ (…) [O] Acórdão da Relação do Porto proferido em 2010.02.08 [como já mencionado, anulou a primeira sentença proferida nos autos] enunciou que a sentença da 1.ª instância “transitou” na parte em que reconheceu desde logo a verificação do requisito para o despedimento por extinção do posto de trabalho previsto no artigo 403.º, n.º 1, alínea a) do Código do Trabalho. E explicitou que a “única controvérsia” residia na verificação, ou não, do requisito da alínea b) (…). E continua a sua apreciação sobre (…) o único [requisito] que decidiu não estar preenchido, (…), afirmando que ré devia “ter-se esforçado no sentido de achar no quadro das suas funções um posto de trabalho compatível com as habilitações do demandante, uma vez que sendo o único gestor de construção com funções exclusivas de piquetagem de válvulas, a extinção dessas funções implicava naturalmente que ficava sem tarefas para executar”, não fazendo a sentença mais referências aos demais requisitos legais da extinção do posto de trabalho. Aliás, o próprio recorrido nas suas alegações dá como “adquirido (…) que as motivações de ordem empresarial/economicista não são questionáveis” (...). Por isso se não compreendem as referências que o recorrido faz a que a ré não indicou os motivos determinantes da medida aplicada e que os factos provados não permitem saber as razões concretas, económicas, tecnológicas ou estruturais, que a levaram a fazer a reestruturação, pelo que não provou que os motivos integram a justa causa objetiva que constitui o fundamento do

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despedimento (…). A verdade é que tal questão se mostrava já definitivamente decidida e, ainda que o não estivesse, para ver apreciado tal fundamento sempre teria o recorrido que requerer a ampliação do objeto do recurso nos termos previstos no artigo, 684.º-A do Código de Processo Civil, o que não fez expressamente”.

Não obstante, mais uma vez extemporaneamente, o recorrente volta a invocar na presente revista (nas conclusões das alegações) que “a EDP Gás nunca demonstrou nos autos qualquer debilidade estrutural ou financeira que estivessem na origem da extinção do [seu] posto de trabalho”, tal como “nunca referenciou a necessidade de alterar estruturas produtivas ou de serviços”, questão que, mostrando-se já definitivamente decidida, não pode, naturalmente, ser conhecida (retomada) neste momento processual (cfr. art. 684º, nº 4, CPC).

14.2.2. O STJ é um tribunal de revista e não um tribunal de 3.ª instância, pelo que, como se sabe, o erro na apreciação das provas e na fixação dos factos não pode ser objeto de revista, salvo havendo ofensa de uma disposição expressa da lei que exija certa espécie de prova para a existência de certo facto ou que fixe a força de determinado meio de prova (art. 722.º, n.º 3, CPC).

Sendo certo que pelo recorrente não foi referenciada qualquer infração enquadrável nas duas hipóteses contempladas nesta disposição legal, no plano da decisão de facto, ele apenas solicita (explicitamente) a anulação das alterações a que, neste âmbito, se procedeu na Relação.

Não obstante, tendo em conta as longas citações/invocações de depoimentos de testemunhas a que procede nas suas alegações, circunstância que não permite uma clara perceção da finalidade assim visada, é oportuno reafirmar que neste momento processual se encontra excluída qualquer tipo de valoração da prova testemunhal produzida no processo, nos termos do art. 712º, nº 6, CPC.

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XXX

15. Cumpre decidir, sendo aplicável à revista o regime processual anterior àquele que no CPC foi introduzido pelo DL n.º 303/2007, de 24 de agosto (a ação deu entrada em 23 de fevereiro de 2007, tendo o acórdão recorrido sido proferido em 4 de Março de 2013) - cfr. art. 7º, nº 1, da Lei nº 41/2013, de 26/6.

E decidindo.

II.

16. Foi fixada no acórdão recorrido a seguinte matéria de facto:

1. O A. foi admitido pela ré em 12.MAI.97, desempenhando atualmente as funções de Gestor de construção, com a remuneração mensal ilíquida de € 1.456,88 acrescida de € 7,65 de subsídio de alimentação, tendo ainda atribuído um automóvel ligeiro de passageiros para sua utilização e profissional, sendo suportadas pela ré as despesas com combustível, seguro e manutenção, de acordo com plafonds comunicados anualmente ao trabalhador.

2. As habilitações literárias de um gestor de construção são as de licenciatura ou bacharelato em engenharia mecânica ou civil e 3 anos de experiência profissional; 12.º ano de escolaridade e experiência mínima de 5 anos em construção/inspeção de projetos de construção de empreendimentos ou obras de infraestruturas; curso de projetista de redes de gás.

3. Enquanto gestor de construção, o A., desde 2000, e até ao final de 2003, exerceu as seguintes funções:

- monitorizar a construção de redes primárias, secundárias, ramais, mercado existente e redes de gás, realizando visitas frequentes às frentes de trabalho, assegurando a observação das normas e

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procedimentos;

- definir os traçados das redes de construção, analisando os custos envolvidos de modo a que sejam otimizados;

- negociar as condições de execução, junto das entidades gestoras do subsolo;

- assegurar o projeto de mudanças de gás: planeamento, acompanhamento e controlo dos investimentos;

- definir, acompanhar e controlar a execução do orçamento de investimento de infraestruturas de redes de gás, rececionar os trabalhos, validando a aceitação dos investimentos;

- realizar a receção provisória e definitiva da obra com os empreiteiros e restantes entidades envolvidas;

- verificar e aprovar os documentos gerados no decorrer da obra;

- promover a articulação entre todas as entidades envolvidas na implementação da rede de gás;

- garantir o acesso à informação relevante que permita aos decisores da ré apreciar e decidir sobre os pedidos de informação e reclamações, dinamizando as ações necessárias para a sua resolução nos prazos definidos.

4. A ré determinou que fosse efetuada - a partir de data não apurada, mas não anterior a 2002 e em virtude da amplitude e dispersão geográfica das redes de gás da sua responsabilidade – a identificação e marcação das válvulas, tarefa que foi cometida a alguns gestores de construção, entre os quais (a partir de 2004) o autor.

5. Tal decisão foi acelerada pelo facto da não renovação do contrato de empreitada com a CC – ..., S.A.

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6. Desde 2004 o autor percorre as ruas dos municípios de Matosinhos, V. Nova de Gaia, Braga, Barcelos, Gondomar e Valongo, no desempenho das tarefas de identificação e marcação das válvulas da rede de gás da responsabilidade da ré.

7. O A., tal como o gestor DD, não têm área geográfica de trabalho atribuída, sendo que os demais gestores de construção têm uma área geográfica de trabalho atribuída, em virtude de deverem acompanhar as empreitadas de construção das redes de gás, as quais são executadas em áreas previamente definidas.

8. Sugeriram os responsáveis da R. ao autor, em meados de 2004, a rescisão do seu contrato de trabalho, o que não foi aceite por este; tal proposta surgiu na sequência de descontentamento manifestado pelo autor a partir do momento (2004) em que lhe foi determinado pela ré que efetuasse as tarefas de identificação e marcação das válvulas da rede de gás da responsabilidade da ré.

9. Os representantes da ré deram indicações ao A., em 2004, para concluir a obra de atravessamento de linha de água na freguesia de Perafita (Matosinhos).

10. Os objetivos de um gestor de construção em 2006 eram, entre outros:

- assegurar o volume de ligações (ponderação de 20 %);

- reduzir o prazo de ligação das redes secundárias e de loteamentos (ponderação de 25 %);

- garantir o cumprimento do prazo entre o término da obra e a aprovação dos desenhos como contraído e o envio do relatório final para DREN (ponderação de 25 %);

- início da distribuição de gás natural em Paredes/Penafiel (ponderação de 10 %);

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- garantir o tempo médio de resposta a oportunidades (ponderação de 10 %).

11. Os objetivos atribuídos ao A. foram:

- melhorar o cadastro da rede BB (ponderação de 70 %), tratando-se de identificar as válvulas em V. Nova de Gaia (50 %) e em Matosinhos (35 %);

- elaborar e aprovar quatro especificações técnicas (ponderação de 30 %).

13. Os restantes gestores de construção da ré são chamados a intervir direta e dialectamente no seu processo de avaliação final.

14. Do processo avaliativo depende a obtenção de bónus anuais.

15. Foram os seguintes os resultados globais da avaliação de desempenho de 2003 dos 7 gestores de construção da ré:

- DD (3,30);

- EE (3,05);

- FF (3,15);

- AA (2,56);

- GG (3,07);

- HH (3,07);

- II (3,50).

16. Desde 2004 que os bónus do A. têm sido reduzidos, quer em comparação com os restantes gestores de construção, como relativamente ao seu desempenho anterior a 2004; a referida redução dos bónus resultou da avaliação efetuada pela ré do

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desempenho, pelo autor, das suas funções.

17. A remuneração de cerca de € 1.750,00 é aquela atualmente auferida pelos gestores de construção com as habilitações e antiguidade do autor.

18. O salário do A. (€ 1.456,88) era o mais baixo relativamente aos restantes gestores de construção.

19. Desde 2005 que todos os gestores de construção têm direito ao uso de uma viatura automóvel de cinco lugares, ultimamente um R....

20. Ao A. continua adstrito um veículo comercial ligeiro de dois lugares, ultimamente um R....

21. Todos os gestores de construção receberam uma viatura nova.

22. Aos outros gestores é permitido o acesso à manutenção sistemática do automóvel.

23. O A. reclamou da situação referida nos documentos de fls. 35/38 dos autos (…), tendo a ré respondido que cumpriria todas as suas obrigações legais e contratuais, reconhecendo a alteração das suas tarefas, que situou dentro do objeto do contrato.

24. Por vezes a R. teve necessidade de mais disponibilidade de gestores de construção, devido a acontecimentos delimitados no tempo.

25. Quando, em 2004, a gestora de construção GG esteve na situação de licença de maternidade e outro gestor de construção foi deslocado para a instalação da rede de gás natural em Fafe, a R. contratou ao Instituto de Soldadura e Qualidade profissionais externos à BB.

26. O A., em nome e em representação da ré, sempre tinha

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contactado com entidades públicas e privadas.

27. Foi ordenado ao A. que fizesse arquivo dos documentos que utiliza nas funções que lhe foram cometidas a partir de 2004.

28. A ré introduziu alterações ao descritivo de funções da categoria de gestor de construção ao longo dos anos de 2002 a 2007 e, em 12.ABR.07, na sequência da intervenção da Inspeção Geral do Trabalho, referida no ponto 41., a R. decidiu cindir a categoria de gestor de construção em 3 categorias, gestor de GPL – DD -, gestor de zona - JJ, EE, GG, HH e II – e gestor de construção, tendo-se mantido o autor com a referida categoria.

29. O autor, a partir de 2004, passou a desempenhar as suas funções em uma sala contígua àquela onde até então esteve colocado.

30. A ré, por comunicação escrita datada de 26.JAN.06, levou ao conhecimento do autor que lhe era movido processo disciplinar, e para o A., em 10 dias, apresentar a sua defesa escrita ou ser ouvido, juntar documentos e requerer quaisquer diligências probatórias (…).

31. Acompanhava tal comunicação a nota de culpa, na qual a ré descreveu os factos imputados ao A., que se reportavam à alegada utilização, pelo mesmo, do identificador da Via Verde entre 28.JUN.05 e 05.JUL.05, fora das condições para as quais havia sido entregue àquele, deste modo sendo acusado da violação do dever de velar pela utilização e boa conservação dos bens relacionados com o seu trabalho e de obediência às ordens do empregador (cfr. doc. de fls. 42/45 dos autos …).

32. O A. respondeu a tal nota de culpa por escrito de 13.FEV.06, tendo impugnado a relevância disciplinar dos factos que lhe foram imputados e alegando também a caducidade do procedimento disciplinar em virtude de a ré ter instaurado o processo em questão muito depois de decorrido o prazo legal para a sua promoção;

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concluiu assim pelo arquivamento dos autos (cfr. doc. de fls. 47/48 dos autos …).

33. A ré, por comunicação datada de 09.MAR.06, levou ao conhecimento do autor que lhe aplicava a sanção de repreensão registada, pela prática dos factos que lhe haviam sido imputados na nota de culpa e que considerou como provados, por configurarem a prática da violação do dever de velar pela utilização e boa conservação dos bens relacionados com o seu trabalho e de obediência às ordens do empregador (cfr. doc. de fls. 50/56 dos autos …).

34. A sanção de repreensão registada foi do conhecimento de alguns dos colegas de trabalho do autor.

35. As portagens a que se refere o processo disciplinar reportam-se ao período entre 28.JUN.05 e 05.JUL.05 foram pagas pela ré.

36. A ré tolerava o uso da viatura automóvel referida no ponto 1 dos factos provados em deslocações pessoais, sendo que o autor e demais trabalhadores ao serviço da ré deviam justificar essa utilização pessoal, sempre que a mesma se afigurasse à ré como anormal e exagerada.

38. A ré determinou ao autor e aos demais seus trabalhadores que justificassem a utilização do telefone e portagens (Via Verde) sempre que o tal utilização se afigurasse à ré como anormal e exagerada.

39. A informação da utilização detalhada da Via Verde só foi descarregada pela ré do site da Internet da Brisa em inícios de dezembro de 2005, tendo o tratamento dessa informação relativa ao veículo automóvel de matrícula -UN acontecido em 09.DEZ.05.

40. Rececionou o A. uma comunicação da ré datada de 07.MAR.07, dando-lhe conta da extinção do seu posto de trabalho (cfr. doc. de fls. 352/354 dos autos …).

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41. O A. requereu a intervenção da Inspeção-Geral do Trabalho, a qual concluiu pela maior antiguidade do A. relativamente a outros gestores de construção em funções na ré (cfr. doc. de fls. 355/361 dos autos …).

42. A R. comunicou ao A. em 04 de abril de 2007 ficar sem efeito o procedimento por extinção do seu posto de trabalho (cfr. doc. de fls. 372 dos autos …).

43. O A. rececionou uma comunicação escrita da ré, datada de 17.JUL.07, pela qual lhe era dado conhecimento da intenção de extinção do respetivo posto de trabalho (cfr. doc. de fls. 562/564 dos autos, parte integrante do presente despacho e cujo teor se dá aqui por reproduzido para os legais efeitos).

[Comunicação da qual consta:

“(…)

Na base da presente decisão de extinção estão razões de ordem tecnológica, efeito dos avultados investimentos feitos (…) ao nível da gestão do sistema do cadastro da rede pública de distribuição de gás natural.

Desde 1 de Janeiro de 2004 que a função de gestão do processo de marcação e identificação de válvulas é efetuada por V. Exa. Este processo inclui a localização de válvulas de rede, a identificação das cotas no terreno, o planeamento e coordenação dos trabalhos com as empresas e a garantia da qualidade da instalação (…).

Trata-se de uma atividade (…) extremamente onerosa (…).

(…) a BB decidiu investir na implementação de um sistema informático de gestão do cadastro da rede e de clientes; para tanto adquiriu o chamado Sistema de Informação Geográfica (SIG) – o SIG é uma ferramenta informática apta a receber e

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tratar informação georreferenciada, que indica com exatidão a localização concreta de objetos (no caso, infraestruturas de gás e clientes), através de coordenadas absolutas.

Acresce que a utilização conjugada da informação contida no SIG com ferramentas informáticas móveis (…), permite (…) conhecer (…) a localização exata das infraestruturas de gás (…), independentemente de as mesmas estarem ou não assinaladas no terreno. (…)”.]

44. O A. requereu a intervenção da Inspeção-Geral do Trabalho, e deu conta à ré da sua oposição à pretendida extinção do seu posto de trabalho (cfr. doc. de fls. 565/566 dos autos …).

45. No relatório da Inspeção-Geral do Trabalho, datado de 08.AGO.07, refere-se que “…Na concretização do posto de trabalho a extinguir a entidade empregadora está a observar, os critérios previstos e ordenados no n.º 2 do art.º 403.º do Código do Trabalho …” (cfr. doc. de fls. 600/602 dos autos, parte integrante do presente despacho e cujo teor se dá aqui por reproduzido para os legais efeitos).

46. Por comunicação datada de 07.AGO.07 e rececionada pelo A. em 13.AGO.07, a ré levou ao conhecimento do autor que: “… vem pela presente e nos termos do art.º 425.º do Código do Trabalho, notificar V. Exa. da decisão de despedimento por extinção do posto de trabalho inerente à função de gestão do processo de identificação e marcação de válvulas da Direção Técnica; a presente decisão de extinção abrangerá o posto de trabalho ocupado por V. Exa, em virtude de ser totalmente impossível a subsistência da relação laboral. Como efeito da decisão supra mencionada, o contrato de trabalho de V. Exa. cessará no prazo de 60 dias, contado da receção da presente carta; contudo, uma vez que o posto de trabalho já se encontra efetivamente extinto, V. Exa. deixará de prestar trabalho a partir da data de receção da presente carta …” (cfr. doc. de fls. 617/618 dos autos, parte integrante do presente despacho e cujo teor se dá

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aqui por reproduzido para os legais efeitos).

47. Por força da extinção do posto de trabalho, o A. teve que entregar à ré o automóvel ligeiro e o telemóvel que a ré lhe facultava para uso profissional e pessoal.

48. A ré remeteu comunicação escrita ao A., datada de 01.OUT.07, pela qual lhe dava conhecimento que era sua intenção proceder ao seu despedimento com justa causa, com fundamento nos factos constantes da nota de culpa que anexou a tal comunicação; nessa comunicação era-lhe concedido o prazo de 10 dias úteis para consultar o processo, responder à nota de culpa e requerer a produção de prova e juntar documentos que considerasse relevantes para a sua defesa (cfr. doc. de fls. 664 dos autos …).

49. Acompanhava essa comunicação uma nota de culpa, na qual a ré descrevia os factos que imputava ao autor, que, em seu entender, constituíam a violação dos deveres de zelo e diligência, de obediência, de lealdade para com o empregador e de promoção e execução dos atos tendentes à melhoria da produtividade da empresa, previstos no art.º 121.º, al.s c), d), e) e g) do C. do Trabalho, e que justificariam o despedimento do autor com justa causa (cfr. doc. de fls. 665/669 dos autos …).

50. O A. apresentou resposta a tal nota de culpa, por comunicação escrita datada de 17.OUT.07, na qual negou a prática dos factos que lhe são imputados, rejeitou as conclusões extraídas pela R. desses factos e concluiu pela inexistência de motivo para o seu despedimento, com o consequente arquivamento dos autos (cfr. doc. de fls. 670/676 dos autos …).

51. A R., por comunicação escrita datada de 29.OUT.07, levou ao conhecimento do A. que fora proferido despacho pela instrutora no procedimento disciplinar movido pela R. ao A., no qual se refere que:

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“… a Nota de Culpa, datada de 01.10.2007, foi rececionada pelo trabalhador no dia 02.10.2007. No seguimento da informação veiculada pela empresa (cfr. página 34 do processo disciplinar), o vínculo contratual com o trabalhador em questão cessou no passado dia 13.10.2007, por força do disposto no n.º 2 do art.º 398.º do Código do Trabalho. Atento ao supra descrito e à previsão legal constante do n.º 1 do art.º 365.º do Código do Trabalho, encontro-me impedida de dar andamento ao presente processo disciplinar.” (cfr. doc. de fls. 677/678 dos autos …).

52. Foi rececionada pelo autor, em 30.OUT.07, a comunicação escrita da ré referida no ponto anterior.

53. A R. pagou ao A., em 16.AGO.07, a quantia global de €19.197,16 a título de compensação pela extinção do posto de trabalho (€15.575,12), de proporcionais do subsídio de Natal (€1.178,46), de proporcionais de férias vincendas (€1.221,79) e de proporcionais de férias vencidas (€1.221,79).

54. O autor - em virtude do sucedido a partir de 2004 na sua relação laboral com a ré, e em especial com a extinção do seu posto de trabalho, em 2007 - passou a sentir-se triste, desmotivado e deprimido, com reflexos desfavoráveis no seu desempenho profissional e com perturbação na sua vida familiar.

55. Quando a ré decidiu, em março/abril de 2007, dar sem efeito a extinção do posto de trabalho do autor, fê-lo, mesmo consciente do esvaziamento da função de gestão do processo de identificação e marcação de válvulas no curto prazo (isto é, que imediatamente à integral implementação do SIG, ficaria a ré sem trabalho para dar ao autor).

56. Volvidos quatro meses sobre o encerramento do primeiro processo de extinção do posto de trabalho do autor (pontos 40. a 42.), o SIG foi dado como concluído.

57. Sem que a R. tivesse conseguido recolocar o A. em posto de

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trabalho compatível com a sua categoria. (facto aditado pelo TRP)

III.

A. – Se deve anular-se a alteração da decisão de facto efetuada na Relação, no tocante aos quesitos 65.°, 67.° e 68.° da base instrutória.

17. O recorrente propugna pela anulação das respostas dadas pela Relação do Porto aos quesitos 65º, 67º e 68º da base instrutória (se bem se entende o sentido das suas alegações/conclusões, não peticiona a alteração das respostas, alteração que, naturalmente, não seria possível, nos termos já consignados em supra nº 14.2.2), sustentando, em síntese, que - no plano dos factos - a 2ª instância não pode proceder a um “novo julgamento” (“não devendo ir à procura de uma nova convicção que lhe está vedada”), sob pena de subversão do princípio da livre apreciação das provas. Sem razão, como se passa a demonstrar.

(a) – Considerações preliminares:

18. Os quesitos 65.°, 67.° e 68.° da base instrutória, têm o seguinte teor:

65.º A Ré, quando decidiu, em março/abril de 2007, dar sem efeito a extinção do posto de trabalho do autor, fê-lo, mesmo consciente do esvaziamento da função de gestão do processo de identificação e marcação de válvulas no curto prazo (isto é, que imediatamente a seguir à integral implementação do SIG, ficaria a ré sem trabalho para dar ao autor), preferiu manter o autor ao seu serviço, na expectativa de ainda lhe poder encontrar um posto de trabalho compatível nesse período de tempo?

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67.º

Sem que a R. tivesse conseguido recolocar o A. em posto de trabalho compatível com a sua categoria?

68.º

Pelo que a única alternativa que se lhe apresentou foi iniciar um novo processo de extinção de posto de trabalho? 19. O tribunal de 1ª instância deu as seguintes respostas a estes quesitos:

- Quesito 65.º: Provado, apenas, que quando a ré decidiu, em março/abril de 2007, dar sem efeito a extinção do posto de trabalho do autor, fê-lo, mesmo consciente do esvaziamento da função de gestão do processo de identificação e marcação de válvulas no curto prazo (isto é, que imediatamente à integral implementação do SIG, ficaria a ré sem trabalho para dar ao autor).

- Quesito 67.º: Não provado.

- Quesito 68º: Não provado. 20. Por seu turno, relativamente aos mesmos quesitos, o tribunal da Relação do Porto:

- manteve a resposta ao quesito 65º;

- dado o seu caráter conclusivo, considerou irrespondível o quesito 68º, antes objeto da resposta “não provado”, modificação, pois, sem qualquer alcance prático;

- apenas alterou a resposta atinente ao quesito 67º, considerando-o provado.

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Deste modo, e antes do mais, há a constatar que a “diametral” alteração da matéria de facto, contra a qual se insurge o recorrente, se reconduz, afinal, a um único quesito…

XXX

(b) – Se, no plano dos factos, a Relação pode formar e fazer refletir na decisão a sua própria convicção: 21. Quanto à sustância da questão suscitada: Ao contrário do sustentado pelo recorrente, e como reiteradamente vem decidindo este Supremo Tribunal, “no uso dos poderes relativos à alteração da matéria de facto, conferidos pelo art. 712.º do CPC, a Relação deverá formar e fazer refletir na decisão a sua própria convicção, na plena aplicação e uso do princípio da livre apreciação das provas, nos mesmos termos em que o deve fazer a 1.ª Instância, sem que se lhe imponha qualquer limitação, relacionada com convicção que serviu de base à decisão impugnada, em função do princípio da imediação da prova” [sumário do Ac. de 14-02-2012 (Alves Velho), P. 6823/09.3TBBRG.G1.S1].

Como se refere neste aresto[3]: “(…) é fácil verificar que foi intenção do legislador, aliás expressamente confessada no relatório do DL 39/95 e reafirmada no preâmbulo do DL 329-A/95, criar um verdadeiro duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto … desiderato (que) só pode ser completamente conseguido se a Relação, perante o exame e análise crítica das provas produzida a respeito dos pontos de facto impugnados, puder formar a sua própria convicção (coincidente ou não com a formada pelo julgador da 1ª instância), no gozo pleno do princípio da livre apreciação da prova, sem estar, de modo algum, limitada pela convicção que serviu de base à decisão recorrida. (…)

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O que a Relação não deve é limitar-se a procurar determinar se a convicção (alheia) formada pelo julgador da 1ª instância tem suporte na gravação, ou limitar-se a apreciar, genericamente, a fundamentação da decisão de facto, para concluir, sem base suficiente, não existir erro grosseiro ou evidente, na apreciação da prova, tudo em homenagem ao princípio da imediação das provas, erigido em princípio absoluto (…). Uma tal prática impede o real controlo da prova pela 2ª instância, transformando a garantia do duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto numa garantia puramente virtual, praticamente inútil”. 22. Mais um exemplo, também com uma consistência

argumentativa que não deixa margem para dúvidas[4]: “Conforme (…) tem sido (…) insistentemente repetido por este Tribunal, a garantia do duplo grau de jurisdição em matéria de facto implica necessariamente, como se vê do disposto no artº 712º, nº 2, do CPC, que a Relação, depois de reapreciar as provas apresentadas pelas partes, afirme a sua própria convicção acerca da matéria de facto questionada no recurso, não podendo limitar-se a verificar a consistência lógica e a razoabilidade da que foi expressa pelo tribunal recorrido. Esta doutrina está bem resumida no sumário do acórdão deste STJ de 6/7/11 (Revª 1877/03TBCBR.C1.S1) […], de que salientamos os seguintes pontos: - Foi intenção do legislador, com o art. 690º-A do CPC, introduzido pelo DL n.º 39/95, de 15/2, depois alterado pelo DL n.º 183/2000, de 10/8, criar um duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto (…). - Se a Relação deve reapreciar as provas indicadas pelas partes, o que, no caso da gravação de depoimentos, passa pela respetiva audição, podendo, inclusive, recorrer oficiosamente a qualquer outro elemento de prova que haja servido de fundamento à decisão sobre pontos de facto impugnados […] sendo-lhe ainda permitido ordenar a renovação dos meios de prova produzidos em 1ª instância que se mostrem absolutamente necessários ao apuramento da verdade […], logo se conclui que a Relação há de

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formar a sua própria convicção, no gozo pleno do princípio da livre apreciação da prova, sem estar de modo algum limitada pela convicção que serviu de base à decisão recorrida.

- Se fosse intenção do legislador instituir um regime de simples controle da razoabilidade da convicção formada na 1.ª instância, negando à Relação a procura livre da sua própria convicção, então parece que seria mais adequado configurar o recurso sobre a matéria de facto de acordo com o modelo da cassação: a verificar-se a aludida falta de razoabilidade da convicção formada na 1.ª instância, anular-se-ia a decisão e remeter-se-ia o processo à 1.ª instância para corrigir a sua primeira convicção, repetindo o julgamento e proferindo nova decisão de facto. - O poder da Relação de alterar a matéria de facto, que lhe é conferido pelos arts. 690.º-A e 712.º, n.º 2, do CPC, não se limita aos casos de erro manifesto ou grosseiro ou a situações de ausência de suporte probatório. Pode acontecer que exista suporte probatório, relativamente à matéria de facto em causa, que seja incorretamente valorado, sem que essa incorreta valoração se traduza em erro ostensivo ou manifesto. (…) No mesmo sentido, o acórdão de 25/11/08 (Rev. 08A3334) […], assim sumariado: - […] - A reponderação das provas cometida à Relação implica que esta deva ter em conta, além do mais, o conteúdo das gravações, valorando-o de harmonia com o princípio da liberdade de julgamento fixado no art.º 655º, e possibilitando a formação duma convicção diversa da que a instância inferior expressou, isto apesar de a apreciação de provas constante de depoimentos gravados apresentar dificuldades e limitações que necessariamente diferenciam as condições em que a 1ª e a 2ª instâncias julgam. - Por consequência, assim como qualquer alteração introduzida pela Relação terá de basear-se sempre numa nova e diferente convicção formada pelos seus juízes, assim também a confirmação

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do decidido pela 1ª instância há de significar que aqueles magistrados aderiram à convicção subjacente à decisão recorrida, e não, simplesmente, que a tiveram por adquirida e exteriorizada em moldes razoáveis e lógicos pelo tribunal inferior. […]”. 23. Na sua totalidade sufragamos estas orientações jurisprudenciais, improcedendo, pois, a questão em apreço.

www B. - Se no despedimento (por extinção do posto de trabalho) em causa se verifica o requisito previsto no art. 403.º, n.º 1, alínea b), do CT (impossibilidade prática da subsistência da relação de trabalho).

24. Como é sabido, no despedimento por extinção do posto de trabalho está basicamente em causa a aplicação das regras do despedimento coletivo, sendo muito idênticas as razões que lhes subjazem: necessidades de ajustamento no quadro de pessoal das empresas. Vale por dizer que a extinção do posto de trabalho justifica o despedimento, verificados determinados motivos económicos, tanto de mercado como estruturais ou tecnológicos, relativos à empresa, nos termos previstos para o despedimento coletivo (cfr. art. 402º, CT/2003). Segundo o art. 397.º, n.º 2, do mesmo diploma, consideram-se (“nomeadamente”):

- Motivos de mercado: redução da atividade da empresa provocada pela diminuição previsível da procura de bens ou serviços ou impossibilidade superveniente, prática ou legal, de colocar esses bens ou serviços no mercado;

- Motivos estruturais: desequilíbrio económico-financeiro, mudança de atividade, reestruturação da organização produtiva ou

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substituição de produtos dominantes;

- Motivos tecnológicos: alterações nas técnicas ou processos de fabrico, automatização dos instrumentos de produção, de controlo ou de movimentação de cargas, bem como informatização de serviços ou automatização de meios de comunicação.

25. Sobre a forma como devem ser entendidos estes “motivos”,

refere, expressivamente, Bernardo da Gama Lobo Xavier[5]:

“Supomos que o legislador (...), longe de estabelecer um critério taxativo (...), quis dar integral cobertura à racionalidade económica na fixação a cada momento dos postos de trabalho necessários à empresa. Queremos com isto dizer que a indicação legal dos motivos da extinção do posto de trabalho não dever ser entendida em termos absolutamente rígidos, de forma a impedir a extinção sempre que as razões invocadas pelo empregador não correspondam exatamente à descrição que lei faz desses motivos.

As possibilidades de controlo jurisdicional (...) devem ser aproveitadas com cautela e centrarem-se na efetiva eliminação do posto de trabalho. (...) [O] tribunal não pode substituir-se às decisões de gestão, nem é por si idóneo para julgar a gestão empresarial no sentido do dimensionamento da empresa.”

26. Para além destes motivos/razões, a extinção do posto de trabalho obedece à verificação cumulativa dos requisitos elencados no art. 403.º, n.º 1, CT, nomeadamente a circunstância de ser praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho [alínea b)], dispondo o seu n.º 3 que a subsistência da relação de trabalho se torna praticamente impossível desde que, extinto o posto de trabalho, o empregador não disponha de outro que seja compatível com a categoria do trabalhador

(categoria interna, normativa, e não em sentido funcional[6]).

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27. É apenas este requisito que se encontra em discussão na presente revista, encontrando-se ultrapassadas – para além do mais – as questões atinentes aos motivos/razões da extinção do posto de trabalho, pelas razões já explicitadas anteriormente (cfr. supra n.º 14.2.1.). 28. Posto isto - e tendo presente que a “avaliação da impossibilidade de subsistência da relação de trabalho por não dispor o empregador de posto de trabalho compatível com a categoria do trabalhador está circunscrita à estrutura empresarial do empregador, ainda que esteja este inserido num grupo de empresas, a menos que se justifique o levantamento da personalidade coletiva por a mesma ter sido usada de modo ilícito

ou abusivo para prejudicar terceiros”[7] -, refira-se que neste âmbito, o acórdão recorrido sustentou o seguinte:

“(…) Ficou provado nestes autos que: «55. Quando a ré decidiu, em Março/Abril de 2007, dar sem efeito a extinção do posto de trabalho do autor, fê-lo, mesmo consciente do esvaziamento da função de gestão do processo de identificação e marcação de válvulas no curto prazo (isto é, que imediatamente à integral implementação do SIG, ficaria a ré sem trabalho para dar ao autor). 56. Volvidos quatro meses sobre o encerramento do primeiro processo de extinção do posto de trabalho do autor (pontos 40. a 42.), o SIG foi dado como concluído. 57. Sem que a R. tivesse conseguido recolocar o A. em posto de trabalho compatível com a sua categoria.»

Perante estes factos, é patente a conclusão de que a ré demonstrou não dispor de outro posto de trabalho compatível com a categoria profissional do A. (Gestor de Construção), provando, como lhe competia, a impossibilidade da subsistência da relação de trabalho (…). Se em Agosto de 2007, quando o SIG foi dado como concluído

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(volvidos quatro meses sobre o encerramento do primeiro processo de extinção do posto de trabalho do autor – facto 42.), a R. não conseguiu recolocar o A. em posto de trabalho compatível com a sua categoria e se, imediatamente a seguir à integral implementação do SIG, a ré ficou sem trabalho para dar ao autor, impõe-se a conclusão de que se tornou então praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho.

Aliás, é de notar que na missiva datada de 7 de Agosto de 2007 dirigida pela ré ao autor e que este recebeu no dia 13 seguinte, é comunicada ao autor a decisão de despedimento por extinção do posto de trabalho inerente à função de gestão do processo de identificação e marcação de válvulas da Direção Técnica e refere-se que o contrato de trabalho cessará no prazo de 60 dias a contar da receção da carta mas que o autor deixará de prestar trabalho a partir da data da sua receção uma vez que o posto de trabalho já se encontra efetivamente extinto, o que está em conformidade com a conclusão de que de que nenhumas outras funções havia na empresa para atribuir ao trabalhador (vide o facto 46. e cfr. o documento de fls. 617-618 dos autos).

(…)”.

Por inteiro se subscrevem estas considerações, sendo ainda de notar que o constante do n.º 57 dos factos provados foi alegado pela R., não sendo pois certo, contrariamente ao invocado pelo recorrente, nas suas alegações, que “A EDP Gás nem sequer alegou não ter postos de trabalho alternativos para a atividade do A.”. Por outra banda, também se deixa expresso que o que consta da fundamentação de facto do acórdão recorrido, no sobredito n.º 57 dos factos provados, é “sem que a R. tivesse conseguido recolocar o A. em posto de trabalho compatível com a sua categoria”, e não que a R. "desenvolveu diligência no sentido de encontrar um posto de trabalho onde pudesse ser enquadrado o recorrido”, como parece afirmar-se (embora sem qualquer relevância) nas

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conclusões das alegações da revista. 29. Finalmente, quanto ao princípio da segurança no emprego (art. 53º da CRP), também invocado pelo recorrente, há apenas a relembrar (como é pacificamente considerado na doutrina e

jurisprudência[8]) que “o princípio da estabilidade no emprego não deve interferir com a possibilidade de pôr fim ao vínculo de trabalho por razões objetivas, ou ligadas à gestão (como sucede no caso do despedimento por extinção do posto de trabalho) ou atinentes ao próprio trabalhador (como é o caso do despedimento

por inadaptação)”[9]. Tudo considerado, conclui-se, pois, no sentido da verificação do requisito previsto no art. 403.º, n.º 1, alínea b), do CT/2003.

www

C. – Prejudicialidade da apreciação das questões referidas em C. e D. de supra n.º 14.1.:

30. As questões elencadas em C. e D. de supra n.º 14.1. (eventual direito do A. a nivelar a sua remuneração com os demais gestores de construção com a mesma antiguidade e, por outro lado, à atribuição de funções equivalentes às dos seu colegas) pressupunham, naturalmente, a manutenção da relação jurídico-laboral entre as partes ora em conflito. Tendo em conta que concluímos no sentido da licitude do despedimento por extinção do posto de trabalho do A., fica deste modo prejudicada a apreciação destas duas questões, nos termos dos arts. 660.º, n.º 2, 713.º, n.º 2, e 726.º, CPC.

www D. - Montante da indemnização por danos não patrimoniais

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(alegadamente decorrentes da violação dos princípios da igualdade retributiva e do direito à categoria profissional, bem como de assédio moral). (a) – Se foram violados os princípios da igualdade retributiva e do direito à categoria profissional por parte da R. 31. O princípio da igualdade está básica e genericamente consagrado no art. 13.º da CRP. Quanto à sua específica aplicação aos trabalhadores, encontra-se desenvolvido no seu art. 59.º, n.º 1, e concretizado nos arts. 22.º a 25.º do CT/2003. Essencialmente, corresponde a uma genérica proibição de práticas discriminatórias, segundo a qual não é lícito ao empregador conferir estatutos jurídicos diferenciados ou desigual tratamento dos trabalhadores sem motivo justificativo, princípio do qual também decorre, inversamente, que não constituem discriminação os comportamentos distintivos que encontram a sua justificação à luz da relação laboral, das exigências da sua execução e, em geral, com a adequada condução empresarial.

Como refere Pedro Romano Martinez[10], “o princípio da igualdade não pode ser visto em sentido retilíneo, sem atender à realidade subjacente. (...) A igualdade de tratamento nunca pode ser total (...). O problema reside na compatibilidade entre os princípios constitucionais, internacionais e comunitários, que apontam para a igualdade, por um lado, e a autonomia privada [bem como a livre iniciativa privada e o direito de gestão empresarial], por outro. (...) [P]arece poder encontrar-se o seguinte ponto de equilíbrio: as diferenciações (...), desde que assentes em critérios objetivos, não colidem com o princípio da igualdade de tratamento. O princípio da igualdade obsta a que a escolha seja determinada por critérios arbitrários e perversos”. Abordagem semelhante tem sido reiteradamente acolhida por este Supremo Tribunal. Alguns exemplos:

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O princípio da igualdade reporta-se a uma igualdade material, que não meramente formal, e concretiza-se na proscrição do arbítrio e da discriminação, devendo tratar-se por igual o que é essencialmente igual e desigualmente o que é essencialmente desigual; e, consequentemente, que o princípio do “trabalho igual, salário igual”, corolário daquele, pressupõe a mesma retribuição para trabalho prestado em condições de igual natureza, qualidade e quantidade, com proibição da diferenciação arbitrária, materialmente infundada, só existindo violação do princípio quando a diferenciação salarial assente em critérios apenas

subjetivos.[11] O direito de igualdade reporta-se a uma igualdade material que exige se tome sempre em consideração a realidade social em que as pessoas vivem e se movimentam, e não a uma igualdade meramente formal, massificadora e uniformizadora, devendo, pois, tratar-se por igual o que é essencialmente igual e desigualmente o que é essencialmente desigual; o que decorre do princípio para trabalho igual salário igual é a igualdade de retribuição para trabalho igual em natureza, quantidade e qualidade, e a proibição de diferenciação arbitrária (sem qualquer motivo objetivo) ou com base em categorias tidas como fatores de discriminação (sexo, raça, idade e outras) destituídas de fundamento material atendível, proibição que não contempla, naturalmente, a diferente remuneração de trabalhadores da mesma categoria profissional, na mesma empresa, quando a natureza, a qualidade e quantidade do trabalho não sejam equivalentes, atendendo, designadamente, ao zelo, eficiência e produtividade

dos trabalhadores.[12] As exigências do princípio constitucional da igualdade não significam a proibição em absoluto de toda e qualquer diferenciação de tratamento, mas apenas as diferenciações materialmente infundadas, sem qualquer justificação objetiva, razoável e racional; o princípio da igualdade implica, também, que se dê tratamento desigual para as situações de facto essencialmente

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desiguais; assentando o princípio da igualdade salarial num conceito de igualdade real com aplicação ao nível das relações estabelecidas, obedece a uma dinâmica valorativa cujo apuramento só pode ser aferido e concretizado casuisticamente: igualdade de tratamento nas situações concretas de identidade de circunstâncias

ou tratamento diferenciado em situações que o demandem.[13] 32. Quanto aos direitos inerentes à categoria, há desde logo a ter em conta que “o contrato de trabalho é um dos acordos mais

dinâmicos, mudando frequentemente durante a sua execução”[14], pelo que se impõe uma visão dinâmica, “elástica” e “porosa” do seu objeto, que permita a sua adaptação a modelos organizativos mais ágeis e flexíveis.

Como nota Monteiro Fernandes[15], “[u]ma compreensão rígida do objeto do contrato de trabalho, e da categoria como elemento delimitador absoluto da situação jurídica do trabalhador, entraria em conflito com os interesses de qualquer das partes”. Para além disso, agora na expressão de Pedro Romano Martinez[16], “o direito à categoria não pode constituir uma forma de impedir a adaptação das empresas a novas tecnologias”, pelo que não parece aceitável que, se “uma empresa, tendo em conta a tecnologia existente numa dada altura, celebrou contratos de trabalho que pressupunham o exercício de determinadas atividades, as quais se tornaram obsoletas em função da evolução tecnológica, não possa adaptar as atividades a novas situações, procedendo a uma reestruturação da empresa a nível, inclusive, da categoria dos trabalhadores”. Deste modo “a realidade das relações de trabalho, e o próprio jogo dos interesses das partes, apontam no sentido de uma certa flexibilidade funcional, isto é, para a possibilidade de se conceber a atividade contratada como um “núcleo central” da posição do trabalhador, sem que fiquem excluídas outras aplicações da sua força de trabalho, dentro de certos limites e de mediante

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determinadas condições”[17]. Nesta perspetiva, segundo o art. 151.º, n.º 2, CT/2003, a atividade contratada compreende as funções que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas, para as quais o trabalhador detenha a qualificação profissional adequada e que não impliquem desvalorização profissional (“polivalência funcional”).

Em termos de flexibilidade, quando o interesse da empresa o exija, o empregador pode ainda (art. 314º, nº 1, CT/2003), entre outras possibilidades, encarregar temporariamente o trabalhador de funções não compreendidas na atividade contratada, desde que tal não implique modificação substancial da posição do trabalhador (“mobilidade funcional”). 33. No plano da aplicação dos princípios expostos ao caso concreto, ponderou o acórdão recorrido (especificamente, quanto à invocada violação dos princípios da igualdade retributiva e do direito à categoria profissional por parte da R.): “(…) No que diz respeito à alteração de funções a partir de 2004, ficou provado que ao serviço da R. o A. tinha a categoria de Gestor de Construção (facto 1.) e que entre 2000 e 2003 exerceu as funções que se mostram descritas no ponto 3. da matéria de facto. A partir de 2004, contudo, a ré cometeu-lhe as tarefas de identificação e marcação das válvulas da rede de gás da sua responsabilidade (facto 4.). A sentença recorrida, a este propósito, entendeu que o que o autor passou a fazer – por ordem da ré – a partir de 2004 (pontos 4. e 6.), as funções de identificação e marcação das válvulas da responsabilidade da ré (vulgo piquetagem), não se insere no elenco das funções que a própria ré definiu como sendo as próprias de um Gestor de Construção, concluindo que assiste razão ao autor quando demanda da ré a atribuição de funções equivalentes às dos seus restantes colegas, gestores de construção. Analisados contudo os factos provados, e visto o regime jurídico aplicável, entendemos que assiste razão à [ré].

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Na verdade, provou-se nestes autos que a partir de data não apurada – mas não anterior a 2002 – a ré determinou que fosse efetuada a identificação e marcação das válvulas da rede de gás da responsabilidade da ré, tarefa que foi cometida a alguns gestores de construção e que em 2004 veio a ser cometida também ao autor, que era justamente gestor de construção. Assim, a tarefa não foi cometida exclusivamente ao autor, pois ficou provado que a mesma “foi cometida a alguns gestores de construção, entre os quais (a partir de 2004) o autor” (factos 4. e 6.). Além disso, tal decisão de execução desta nova tarefa e da sua atribuição aos gestores de construção não foi gratuita nem injustificada, pois que ficou provado ter a mesma sido tomada “em virtude da amplitude e dispersão geográfica das redes de gás” da responsabilidade da ré e que foi “acelerada pelo facto da não renovação do contrato de empreitada com a CC – ..., S.A.” (factos 4. e 5.). Sendo ainda de notar que no ano de 2004 os representantes da ré deram indicações ao A., em 2004, para concluir a obra de atravessamento de linha de água na freguesia de Perafita, Matosinhos (facto 9.), pelo que se não limitou ele, nesse ano, ao desenvolvimento das tarefas de identificação e marcação de válvulas da rede de gás. Acresce que a escolha do autor para realizar a tarefa em causa, que era necessário efetuar, se pode compreender pela razão invocada pela R.. É que, com base na avaliação do desempenho do ano de 2003, o A. foi efetivamente o gestor de construção que alcançou a avaliação menos boa entre os sete gestores de construção ao serviço da R (facto 15.). Além disso, não está demonstrado na ação um acervo completo de funções que integrem rigidamente a categoria profissional de gestor de construção e do qual a ré se tenha afastado (na matéria de facto apenas se faz referência às atividades que o A. desenvolveu entre 2000 e 2003) e, por outro lado, resulta dos factos provados que a R. já anteriormente cometia esta função a gestores de construção (facto 4.), nada indiciando que tenha infringido o direito à categoria profissional do trabalhador com a

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autonomização desta função. Cabe ter presente que, nos termos do artigo 150.º do CT, «[c]ompete ao empregador, dentro dos limites decorrentes do contrato e das normas que o regem, fixar os termos em que deve ser prestado o trabalho», sendo que «[o] trabalhador deve, em princípio, exercer as funções correspondentes à atividade para que foi contratado» (n.º 1 do artigo 151.º) e «[o] empregador deve procurar atribuir a cada trabalhador, no âmbito da atividade para que foi contratado, as funções mais adequadas às suas aptidões e qualificação profissional» (n.º 5 do artigo 151.º). Neste condicionalismo, e não estando demonstrado que tenha sido alterado o posicionamento hierárquico do trabalhador dentro da organização produtiva da ré, nem a sua designação categorial (facto 28.), a alteração de tarefas operada no tocante às funções atribuídas ao A. compreende-se no âmbito do legítimo poder de direção que é atribuído ao empregador. No que diz respeito aos objetivos fixados em 2006, compreende-se também que os objetivos do autor (facto 11.) não coincidam nesse ano com o da generalidade dos gestores de construção (facto 10.), pois que as tarefas de que especificamente foi incumbido a partir de 2004 não incluem a realização de ligações na infraestrutura da rede de gás, sendo que os objetivos desenhados para a generalidade dos gestores de construção e descritos no facto 10. pressupõem esta incumbência, ao passo que os objetivos descritos no facto 11. [melhorar o cadastro da rede BB (ponderação de 70 %), tratando-se de identificar as válvulas em V. Nova de Gaia (50 %) e em Matosinhos (35 %); elaborar e aprovar quatro especificações técnicas (ponderação de 30 %)] estão relacionados com a tarefa de identificação e marcação das válvulas da rede de gás da responsabilidade da ré e de que o A. nesse ano estava incumbido O mesmo se diga quanto à não atribuição de área geográfica ao autor, uma vez que tal fixação apenas se justifica quando os gestores de construção devam acompanhar as empreitadas de construção das redes de gás, as quais são executadas em áreas previamente definidas, o que não sucedia com o autor e com outro seu colega a partir de 2004 (facto 7.).

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Relativamente à questão da remuneração do autor e bónus de desempenho, é um facto que aquela era a mais baixa de todos os gestores de construção ao serviço da ré e que os bónus recebidos pelo autor se reduziram, tanto em relação aos anos anteriores a 2004 como relativamente aos outros gestores de construção; porém, tal deveu-se à avaliação do desempenho do autor levada a efeito pela ré (factos 14. a 18.), pelo que, como também assinala a sentença recorrida, também por aqui não é lícito concluir, sem mais, que a conduta da ré fosse motivada pelo propósito de apoucar o autor e de o discriminar. (…) No caso, ficaram provadas razões que justificam a redução dos bónus, pelo que não se pode afirmar a existência de discriminação do A. relativamente ao seu pagamento. E, quanto ao mais, não é possível, com os dados disponíveis (apenas se sabe que auferem retribuição superior os gestores de construção com as habilitações e antiguidade do autor) estabelecer o indispensável confronto entre a situação objetiva que conduziu a tal diferenciação, em ordem a apurar se o comportamento da ré se reveste de algum arbítrio. (…) Quanto ao automóvel do autor (diverso dos demais gestores de construção) não se mostra esclarecida a diferença, mas este facto só por si não permite concluir com segurança pela existência de mobbing pela ré relativamente ao autor, como também diz a sentença recorrida. No que respeita à tarefa de arquivo dos documentos que utiliza nas funções que lhe são cometidas e à sua colocação em uma sala contígua àquela onde desempenhava as suas funções, como as concretas funções a que ficou adstrito a partir de 2004 foram diversas das que até aí havia exercido, é natural que fizesse o arquivo e fosse colocado em local adequado ao desempenho dessas funções. É de notar que recebeu a resposta de “não provado” o quesito 24.º, em que se perguntava se nenhum gestor de construção tem responsabilidades de arquivo.

E, finalmente, nada ficou provado quanto à alegada não comunicação ao autor das ações de formação, à imposição não negociada dos objetivos a alcançar e da avaliação do seu

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desempenho (vide a resposta aos quesitos 9.º, 13.º e 15.º).

(…)”. Não suscitam qualquer reserva os termos em que (cabalmente) a segunda instância discorreu sobre as questões em análise, mantendo-se, assim, a correspondente decisão.

XXX

(b) – Se o A. foi vítima de assédio moral por parte da R.

34. Em linha com o preceituado no art. 18.º do CT/2003, nos termos do qual o trabalhador goza do direito à respetiva integridade física e moral, consagra o n.º 1 do seu art. 23.º, epigrafado proibição de discriminação, que “[o] empregador não pode praticar qualquer discriminação, direta ou indireta, baseada, nomeadamente, na ascendência, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, situação familiar, património genético, capacidade de trabalho reduzida, deficiência ou doença crónica, nacionalidade, origem étnica, religião, convicções políticas ou ideológicas e filiação sindical”.

O assédio constitui discriminação, entendendo-se como tal qualquer comportamento indesejado relacionado com um daqueles fatores, com o objetivo ou o efeito de afetar a dignidade da pessoa ou de criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador (cfr. art. 24.º, n.º 1 e 2, do mesmo diploma).

Em síntese, o assédio implica comportamentos do empregador real e manifestamente humilhantes, vexatórios e atentatórios

da dignidade do trabalhador[18].

Assim, como, por exemplo, se decidiu no Ac. de 29/3/2012 deste

Supremo Tribunal[19], não se apurando materialidade suficiente

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para se poder concluir por uma conduta persecutória intencional da entidade empregadora sobre o trabalhador, que visasse atingir os valores da dignidade profissional e/ou da integridade física ou psíquica, não se pode considerar integrada a figura do assédio moral.

Como pertinentemente se nota neste aresto, citando Júlio Gomes, “importa também advertir que nem todos os conflitos no local de trabalho são, obviamente, um “mobbing”, sendo, aliás, importante evitar que a expressão assédio se banalize. Nem sequer todas as modalidades de exercício arbitrário do poder de direção são necessariamente um “mobbing”, quer porque lhes pode faltar um carácter repetitivo e assediante, quer porque não são realizados com tal intenção”. Em face dos factos provados, é patente que no caso dos autos (também) não se encontra verificado qualquer quadro de assédio moral.

XXX

(c) – Montante da indemnização por danos não patrimoniais:

35. Apesar de se ter concluído – tal como o acórdão recorrido - no sentido da não violação dos princípios da igualdade retributiva e do direito à categoria profissional, bem como no da inverificação de assédio moral (pelo que, neste âmbito, não há que atribuir ao recorrente a peticionada indemnização por danos não patrimoniais), transitou em julgado, como já se referiu (supra nº 10), a decisão da 1.ª instância que declarou ilícita a ação disciplinar pela R. movida ao A. em 2006, por alegada utilização indevida de um identificador de Via Verde que lhe fora atribuído, processo que redundou na aplicação de uma sanção disciplinar (repreensão registada).

Considerou-se, então, que o A. não praticara ato suscetível de ser

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sancionado disciplinarmente (ato que em consequência foi anulado), sendo certo que o acórdão recorrido manteve esta decisão da 1.ª instância e que isso não está em causa agora.

Consta do n.º 54 dos factos provados que ”o autor - em virtude do sucedido a partir de 2004 na sua relação laboral com a ré, e em especial com a extinção do seu posto de trabalho, em 2007 - passou a sentir-se triste, desmotivado e deprimido, com reflexos desfavoráveis no seu desempenho profissional e com perturbação na sua vida familiar”.

Embora nada se tenha apurado relativamente à medida do específico contributo da aludida repreensão registada para a produção deste conjunto de sequelas “morais”, é apodítico, como bem refere o acórdão recorrido, que ele terá certamente sido (bem) menor do que o resultante da extinção do posto de trabalho.

Para além do dano que agora urge valorar, o recorrente alegou um vastíssimo leque de outros, que não logrou provar, danos que, conjuntamente, computou em € 15.000,00.

Tudo ponderado, e tendo presente os critérios legalmente consagrados no art. 496º, nº 3, do C. Civil, temos por equitativa a indemnização de € 1.000,00 (mil euros) arbitrada na segunda instância.

IV.

36. Em face do exposto, negando a revista, acorda-se em confirmar o acórdão recorrido.

Custas pelo recorrente.

Lisboa, 29 Outubro de 2013

Mário Belo Morgado (Relator)

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Pinto Hespanhol

Fernandes da Silva

____________________ [1] Todas as referências ao CPC são reportadas à versão mencionada no ponto n.º 15 do presente acórdão.

[2] O tribunal deve conhecer de todas as questões suscitadas nas conclusões das alegações apresentadas pelo recorrente, excetuadas as que venham a ficar prejudicadas pela solução entretanto dada a outra(s) [cfr. arts. 660.º, n.º 2, 684.º, n.ºs 2 e 3, 690.º, n.º 1, e 726.º, CPC], questões (a resolver) que, como é sabido, não se confundem nem compreendem o dever de responder a todos os argumentos, motivos ou razões jurídicas invocadas pelas partes, os quais nem sequer vinculam o tribunal, como decorre do disposto no art. 664.º, CPC.

[3] Citando o acórdão de 10-01-2011 deste STJ (proc. n.º 1452/04.5TVPRT.P1.S1).

[4] Ac. de 05-06-2012 (Nuno Cameira), P. 5534/04.5 TVLSB.L1.

[5] Direito do Trabalho, 2011, p. 768. [6] Maria do Rosário Palma Ramalho, Tratado de Direito do Trabalho, II, 4ª edição, p. 901. [7] Ac. de 09-09-2009 deste STJ (Sousa Grandão), P. 08S4021.

[8] V.g. Acs. STJ de 05-02-2009 (Bravo Serra), P. JSTJ000, e de 01-10-2008 (Mário Pereira), P. n.º 8/08. [9] Maria do Rosário Palma Ramalho, ob. cit., p. 772. [10] Direito do Trabalho, 6.ª edição, p. 351 e 353.

[11] Ac. STJ de 12-10-2011, P. n.º 343/04.4TTBCL.P1.S1 (Fernandes da Silva), www.dgsi.pt.

[12] Ac. S.T.J. de 22-04-2009, P. n.º 08P3040 (Vasques Dinis), www.dgsi.pt.

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[13] Ac. S.T.J. de 14-05-2008, P. n.º 07S3519 (Mário Pereira), www.dgsi.pt.

[14] Bowers, citado por Pedro Romano Martinez, ob cit., p. 372. [15] Direito do Trabalho, 16ª edição, 181. [16] Ob. cit., p. 376 - 377. [17] Monteiro Fernandes, ibidem, p. 182.

[18] Cfr. Pedro Romano Martinez (e outros), Código do Trabalho Anotado, 9ª edição, p. 187.

[19] P. n.º 429/09.9TTLSB.L1.S1 (Gonçalves Rocha), www.dgsi.pt.

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