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Processo: 11000097912 TJ/RS - Comarca de Alvorada Prolator da decisão: Juiz Jose Pedro de Oliveira Eckert Vistos, etc. Merece acolhida o pedido de aditamento à inicial, formulado pelo Ministério Público às fls. Isso porque, depreende-se da leitura dos autos que não sobreveio o recebimento da presente demanda, encontrando-se a mesma na fase preliminar de oferta de manifestação preliminar dos réus. Por conseguinte, RECEBO o aditamento à exordial. No que pertine aos pleitos liminares arrolados e requeridos pelo MP, entendo que os mesmos devem vingar em parte, na forma que segue. As ilegalidades dos processos licitatórios envolvendo o Município de Alvorada e a empresa Planning Propaganda e Marketing restaram apuradas através de auditoria empreendida pelo Tribunal de Contas, relativo ao exercício de 2010 (período de verificação de 28/06 à 09/07 e 30/08 à 10/09/2010). Imperioso dizer que a matéria não é nova para este magistrado, considerando que manifestei-me no processo nº 003/2.11.0002604- 6, desvendando o modo operandi do desvio de dinheiro público da forma que segue: Segundo relatório de Auditoria Ordinária Tradicional - Acompanhamento de Gestão n.º 02/2009, Processo n.] 1194-0200/09-6, do Executivo Municipal de Alvorada, exercício 2009, lavrado pelo Serviço de Auditoria Municipal do Tribunal de Contas do estado, fls. 21/45, restaram constatadas irregularidades nas

Processo Brum

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Operação Cartola

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Page 1: Processo Brum

Processo: 11000097912

TJ/RS - Comarca de Alvorada

Prolator da decisão: Juiz Jose

Pedro de Oliveira Eckert

Vistos, etc. Merece acolhida o pedido de aditamento à inicial,

formulado pelo Ministério Público às fls. Isso porque, depreende-se da

leitura dos autos que não sobreveio o recebimento da presente

demanda, encontrando-se a mesma na fase preliminar de oferta de

manifestação preliminar dos réus. Por conseguinte, RECEBO o

aditamento à exordial. No que pertine aos pleitos liminares arrolados

e requeridos pelo MP, entendo que os mesmos devem vingar em

parte, na forma que segue. As ilegalidades dos processos licitatórios

envolvendo o Município de Alvorada e a empresa Planning

Propaganda e Marketing restaram apuradas através de auditoria

empreendida pelo Tribunal de Contas, relativo ao exercício de 2010

(período de verificação de 28/06 à 09/07 e 30/08 à 10/09/2010).

Imperioso dizer que a matéria não é nova para este magistrado,

considerando que manifestei-me no processo nº 003/2.11.0002604-

6, desvendando o modo operandi do desvio de dinheiro público da

forma que segue: Segundo relatório de Auditoria Ordinária

Tradicional - Acompanhamento de Gestão n.º 02/2009, Processo n.]

1194-0200/09-6, do Executivo Municipal de Alvorada, exercício 2009,

lavrado pelo Serviço de Auditoria Municipal do Tribunal de Contas do

estado, fls. 21/45, restaram constatadas irregularidades nas

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contratações relativas a serviços gráficos e de comunicação,

envolvendo a empresa Planning Propaganda e marketing contratada

pelo Município de Alvorada. Conforme apurado pelo TCE, entre o

exercício de 2006 e 2009, houve 'uma evolução significativa nos

gastos com publicidade, demonstrando-se um acréscimo de

326,37%, no comparativo entre os dois exercícios (...)' (fl. 39). Veja-

se que os valores empenhados no exercício de 2006 restou

consolidado em R$ 937.812,06, sendo que em 2009, totalizou R$

3.572.169,16. Somados os quatro exercícios (2006 a 2009), chega-

se a vultuosa importância de R$ 9.148.077,85. Ademais, ultimou-se a

ocorrência de burla do devido processo legal licitatório, haja vista que

a '(...) empresa Planning Propaganda e Marketing procedeu a

contratação e intermediação de toda produção de materiais gráficos

para o Executivo Municipal. Todas as contratações dos serviços

gráficos foram através de duas empresas: Gráfica Santos e Real

Graphics. (...)' (fl. 39). Nesse sentido, registro os apontamentos dos

técnicos do TCE, com relação aos seguintes empenhos efetivados

pelo Executivo Municipal: Empenhos n.ºs 9887 (fl. 24), 11660 (fl.

25), 6129 (fl. 25), 9397 (fl. 28), 4190 (fl. 28), 9398 (fl. 29), 4189 (fl.

30), 6410 (fl. 31), 1067 (fl. 32), 2532 (fl. 33), 8307 (fl. 34), 6072 (fl.

34), 6073 (fl. 35) e 6611 (fl. 36), todos vinculados ou a empresa Real

Graphics, ou a Gráfica Santos. As ilegalidades licitatórias constatadas

pelos técnicos do TCE, assoma-se a noticia criminis, empreendida

pelo ex-funcionário da Prefeitura de Alvorada, Sr. Marcos Roberto

Caduri de Almeida, perante o Procurador-Geral do TCE, fls. 17/20, de

esquema de corrupção e desvio de dinheiro público no Executivo

local, decorrente de contratos de publicidade e propaganda

superfaturados com a empresa Planning (cujos sócios são ADYR

BARBOSA NOGUEIRA e JORGE LUIZ THOMAZ DE SOUZA). Esta, por

seu turno, subcontratou, mediante o artifício de licitação dirigida, as

empresas GRÁFICA SANTOS (de JEFERSON TEIXEIRA DOS SANTOS,

seu proprietário de fato) e REAL GRAPHICS (de propriedade de KELLY

DE FÁTIMA RODRIGUES NUNES, esposa de Jeferson), previamente

escolhidas por integrantes do Poder Executivo local, que emitiam

notas fiscais adulteradas e superfaturadas contra a Prefeitura de

Alvorada. Os tentáculos da organização criminosa atingem servidores

da municipalidade, dentre os identificados, DARLENE REGINA PAGANI

que teria recebido de propina uma camionete HILUIX, placas ILD

8364 [nesse sentido, vide os termos do Relatório de Investigação n.]

016/2010 ¿ fl. 73].¿ Posteriormente, em nova auditoria, desta feita

ordinária tradicional, Processo nº 426-0200/10-0, demonstrou a

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continuidade da prática ilegal por parte dos requeridos em burla

evidente aos postulados dos princípios regentes da Administração

Pública, com infringência especial aos ditames da eficiência e da

economicidade, de modo semelhante ao já descrito por mim no feito

criminal anteriormente apontado. O TCE é conclusivo no sentido de

que o objeto das despesas realizadas, quase que exclusivamente

referiu-se a aquisição de materiais impressos e serviços gráficos,

compras que deveriam ser realizadas pela Auditada por meio de

regular procedimento licitatório, haja vista o significativo valor das

despesas. No entanto, foi realizada por meio de intermediação de

empresa de publicidade, com o pagamento de comissão no

percentual de 10%, em completa burla à Lei de Licitações e Contratos

Administrativos, e sem a comprovação do atendimento ao princípio

da isonomia e seleção da proposta mais vantajosa à Administração

Pública, elencado no art. 3º da Lei Federal n.º 8.666/93. No quadro

abaixo, se demonstram os valores passíveis de recomposição ao

Erário, no montante de R$ 99.432,94 (noventa e nove mil

quatrocentos e trinta e dois reais e noventa e quatro centavos),

correspondente ao valor da intermediação pago à empresa Planning

Propaganda e Marketing Ltda. No caso em apreço, tenho que a

matéria probatória pré-processual é farta, apontando indícios da

ocorrência de afronta aos princípios constitucionais da moralidade,

legalidade, impessoalidade e competitividade previstos para as

contratações entabuladas pela Administração Pública. Fábio Medina

Osório1, ao conceituar o que seria improbidade administrativa,

preleciona que ¿a improbidade decorre da quebra do dever de

probidade administrativa, que descende, diretamente, do princípio da

moralidade administrativa, traduzindo dois deveres fundamentais aos

agentes públicos: honestidade e eficiência funcional mínima. Nesse

norte, imperioso reconhecer que se encontra presente, no caso em

comento, o fumus boni juris, requisito essencial para o acolhimento

do pleito liminar, o qual consiste na probabilidade de os fatos

imputados ao agente público serem verossímeis. Veja que, não é

necessário, por óbvio, que o ato ímprobo esteja cabalmente provado,

já que tal pressuposto será averiguado por ocasião da sentença, mas

que haja indicativos de que os fatos elencados na inicial sejam

plausíveis de terem ocorrido conforme narrados pelo autor, conforme

ocorre neste feito. No mesmo sentido, cumpre destacar que se

encontra preenchido o periculum in mora, na exata medida em que a

necessidade e urgência se mostram presentes em razão de que ao

ser deflagrada a presente ação, presumível que os demandados

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possam dilapidar seus patrimônios ou transferi-los a terceiros

[laranjas], com o nítido propósito de frustrar a aplicação da lei

vigente, bem como em face a gravidade dos fatos elencados na

exordial e o montante do proveito angariado indevidamente, o qual

ultrapassa a cifra de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Nessa

seara, a Constituição Federal de 1988 que, em seu art. 37, § 4º,

assentou que: Art. 37 (...) § 4º - Os atos de improbidade

administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda

da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao

erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação

penal cabível. Grifos. No tocante aos requisitos ensejadores do

deferimento do pleito liminar, Fábio Medina Osório2, ao comentar a

indisponibilidade de bens nas ações de improbidade administrativa,

conquanto equiparando-a ao sequestro (lembrando-se que tais

medidas cautelares não se confundem), preleciona que: (...) não se

mostra crível aguardar que o agente público comece a dilapidar seu

patrimônio para, só então, promover o ajuizamento de medida

cautelar autônoma de seqüestro dos bens. Tal exigência traduziria

concreta perspectiva de impunidade e de esvaziamento do sentido

rigoroso da legislação. O periculum in mora emerge, via de regra, dos

próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em

tese, dos prejuízos causados ao erário. A indisponibilidade patrimonial

é medida obrigatória, pois traduz conseqüência jurídica do

processamento da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º, da

Constituição Federal. Esperar a dilapidação patrimonial, quando se

tratar de improbidade administrativa, com todo respeito às posições

contrárias, é equivalente a autorizar tal ato, na medida em que o

ajuizamento de ação de seqüestro assumiria dimensão de `justiça

tardia¿, o que poderia se equiparar a denegação de justiça. Com

efeito, o periculum in mora repousa, no caso dos autos, no dano em

potencial que decorre da demora natural no trâmite da ação, em face

o inúmero de demandados, caso em que se não indisponibilizados os

bens, os requeridos podem deles se desfazer, tornando-se ineficaz os

pedidos formulados na peça inicial. Nesse sentido, colaciono o

seguinte precedente, in verbis: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO

DOS EFEITOS DA TUTELA - INDISPONIBILIDADE DE BENS - FATOS

GRAVES ENVOLVENDO CORRUPÇÃO EM OBRA PÚBLICA - PROPINA

PAGA PELAS EMPRESAS AOS ADMINISTRADORES PÚBLICOS - PROVA

SUFICIENTE A JUSTIFICAR UMA RESPOSTA IMEDIATA DO

JUDICIÁRIO, A FIM DE QUE NÃO PAIRE SOBRE O PAÍS A SENSAÇÃO

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DE IMPUNIDADE A QUEM AGRIDE OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - POSSIBILIDADE LEGAL (CPC, ART. 273,

I) NÃO EXCLUÍDA PELO ART. 7º DA LEI 8.429/92 - CASO EM QUE O

PATRIMÔNIO DOS RÉUS NÃO É EXPRESSIVO - RISCO EFETIVOO DE,

EM NÃO HAVENDO A INDISPONIBILIDADE, A SENTENÇA FINAL, UMA

VEZ ACOLHIDA A POSTULAÇÃO, PERDER AS CONDIÇÕES DE

EFETIVIDADE NO QUE TANGE ÂS CONSEQUÊNCIAS PATRIMONIAIS.

RECURSO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70045329760,

Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Irineu

Mariani, Julgado em 07/12/2011) Os cartéis em licitações prejudicam

substancialmente os esforços do Estado em empregar seus recursos

no desenvolvimento do país, ao beneficiar indevidamente empresas

que, por meio de acordo entre si, fraudam o caráter competitivo das

licitações. Ainda que a Administração busque racionalizar suas

compras por meio de controles orçamentários mais estritos e de

melhoria nas formas de contratação como por meio do uso do pregão

eletrônico, isso não impede a ação dos cartéis, que provocam

transferência indevida de renda do Estado para as empresas pré-

determinadas. A política brasileira de defesa da concorrência é

disciplinada pela Lei n.º 8.884, de 11 de junho de 1994, que visa

justamente assegurar que o Estado empregue seus recursos de

maneira apropriada, contribuindo para que suas compras sejam feitas

pelo menor preço possível e sem favorecer qualquer empresa,

respeitando-se elevados padrões de isonomia, qualidade e eficiência.

Note-se, é de fundamental importância que as licitações sejam

transparentes e econômicas. Transparência e economicidade estão

intimamente relacionadas à concorrência em uma licitação. Licitações

com regras transparentes e amplamente conhecidas facilitam a

participação de maior número de licitantes, e, se houver efetiva

concorrência entre tais participantes, as contratações serão mais

econômicas, em benefício do cidadão. Assim sendo, subsistindo

veementes indícios da fraude nos contratos entabulados entre o ente

público e as empresas de propaganda já citadas, cabível se mostra o

deferimento do pleito de antecipação de tutela para o fim de tornar

indisponíveis os bens dos requeridos, com o fito de assegurar

eventual ressarcimento ao erário. A indisponibilidade de bens é meio

eficaz e seguro para garantir que os agentes satisfaçam futura

reparação aos cofres públicos, sem contudo retirar o direito dos

demandados de usufruírem de seu patrimônio, mas evitando que

dilapidem seus bens em prejuízo da coletividade. Com efeito, não se

está falando aqui de uma sanção propriamente dita, mas sim de uma

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providência cautelar, pois conforme frisado por Maria Sylvia Zanella

Di Pietro3, essa medida ¿tem nítido caráter preventivo, já que tem

por objetivo acautelar os interesses do erário durante a apuração dos

fatos, evitando a dilapidação, a transferência ou ocultação dos bens,

que tornariam impossível o ressarcimento do dano. Conceituado a

providência acauteladora vindicada, Wallace Paiva Martins Júnior

sustenta que tem por objetivo ¿assegurar a eficácia dos provimentos

condenatórios patrimoniais, evitando-se práticas ostensivas,

fraudulentas ou simuladas de dissipação patrimonial¿, concluindo, em

seguida, que Seu escopo é a garantia da execução da sentença que

condenar à perda do proveito ilícito ou ao ressarcimento do dano. A

propósito, como já se orientou o Superior Tribunal de Justiça, ¿A

indisponibilidade de bens na ação civil pública por ato de

improbidade, pode ser requerida na própria ação, independentemente

de ação cautelar autônoma¿.4 Por todo o exposto, no caso em

comento, a indisponibilidade de bens, em sede cautelar, visa

assegurar futuro ressarcimento aos cofres públicos em caso de

procedência da lide, salvaguardando os interesses da coletividade em

geral. Por outro lado, mostra-se inviável, em sede liminar o

deferimento da proibição de contratar da empresa PPG Planning

Propaganda e Marketing Ltda, visto que referido pedido exaure o

comando sentencial postulado e cabível dentre as sanções descritas

na lei nº 8.429/92. DIANTE DO EXPOSTO, DEFIRO PARCIALMENTE o

pleito formulado pelo Ministério Público em sede liminar para: A)

DECRETAR a indisponibilidade dos bens móveis, imóveis, valores e

semoventes por ventura existentes em nome de JOÃO CARLOS

BRUM, PLANNING PROPAGANDA E MARKETING LTDA, ADYR

BARBOSA NOGUEIRA e JORGE LUIZ THOMAZ DE SOUZA até o

montante de R$ 2.303.246,31 (dois milhões trezentos e três mil

duzentos e quarenta e seis reais e trinta e um centavos); B)

SUSPENDER a vigência e execução do contrato nº 042/2011,

entabulado entre o Município de Alvorada e a empresa PPG Plannig

Propaganda e Marketing Ltda. Oficie-se à CGJ solicitando a

comunicação a todos os Cartórios de Registros de Imóveis do Estado.

Oficie-se ao DETRAN e ao BACEN, informando os CPF's e CNPJ dos

requeridos, requisitando a indisponibilidade nos termos acima

referidos. Proceda, ainda, o Cartório na forma do art. 1.046, §2º5, da

CNJ. NOTIFIQUEM-SE os requeridos, novamente, para responder ao

aditamento à inicial, por escrito, facultada a juntada de documentos,

no prazo de 15 dias - art. 17, § 7.º, da Lei 8.429/92. Intimem-se.