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PROCESSO EDUCATIVO: UMA PARCERIA ENTRE A FAMÍLIA E A ESCOLA

Antonia Aparecida Romagnoli1

Adrian Alvarez Estrada2

RESUMO: Considerando que a escola, segundo o entendimento dos educadores, enfrenta problemas quanto à participação e ao envolvimento das famílias no acompanhamento da vida escolar dos filhos, este trabalho procurou estimular o envolvimento e a participação das famílias dos alunos da 5ª série, promovendo uma parceria família/escola, com ênfase num trabalho efetivo com os pais, passando informações, trocando ideias e refletindo sobre a função de cada um no processo de ensino-aprendizagem, com algumas orientações simples para os pais, como: acompanhar as lições de casa e mostrar interesse pelos assuntos estudados na escola. Foi desenvolvido mediante encontros com as famílias, palestras, apresentação de vídeos, com realização de dinâmicas e análise de textos com discussões sobre a relação família/escola. Paralelamente às atividades desenvolvidas com as famílias, foi realizada uma proposta de trabalho com os alunos na sala de aula, uma organização das tarefas e das responsabilidades em núcleos de base com média de 4 a 5 alunos. Essa atividade tinha a intenção de atingir a organização coletiva e pessoal de estudo, bem como a divisão de tarefas e outras providências. A sala foi dividida em cinco grupos de alunos, cada um responsável por um núcleo de trabalho: Grupo1 (Equipe de Comunicação: tarefa de ajudar na organização da sala, fixar quadro de horário de provas e trabalhos na parede e ficar atentos para avisar colegas que perdessem provas e trabalhos); Grupo 2 (Equipe da Secretaria: que era responsável para fazer chamada do dia e anotar, entregar bilhetes para os colegas, colar nos cadernos para os pais acompanharem sobre provas, trabalhos e tarefas); Grupo 3 (Equipe de Tarefas e Materiais: tarefas de registrar alunos que esqueceram materiais necessários para o bom andamento das aulas, como livros e cadernos, bem como esquecimento de tarefas); Grupo 4 (Equipe de Disciplina: observar se os alunos estavam respeitando as regras, como: não ficar no corredor, esperar o professor na sala de aula durante troca de professores, alunos que demoravam em retornar do intervalo) e Grupo 5 (Equipe Amigos do Ensino: tarefa de fazer cartões para os aniversariantes, também homenagem a professores, cartazes para a sala com incentivos aos estudos, etc. Essas equipes foram importantes para o desenvolvimento do trabalho, pois houve o envolvimento de todos. Havia uma pasta para que os registros fossem feitos, que ficava na equipe pedagógica, e o aluno responsável pela atividade naquele dia retirava no início das aulas e devolvia no final do período de aula. Essas pastas mudavam de aluno a cada dois dias. A cada 20 dias mudava a fila de função. Dessa forma todos os alunos puderam exercer papéis diferentes e contribuir com o grupo. Esses dados eram repassados aos pais e ou responsáveis nas reuniões no período noturno.

Palavras-chave: Escola; Família; Parceria

1 Artigo Final PDE

, Colégio Estadual "Humberto de Alencar Castelo Branco" – EFMP

2 Orientador, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.

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1 Introdução

A relação entre escola e família, nas últimas décadas, passa por um

conflito muito grande. Até a década de 1950, os papéis eram bem claros e

definidos, situação em que cada parte sabia bem sua função, tanto a escola

como as famílias. A escola cuidava da transmissão dos conteúdos e a família,

dos ensinamentos de valores, de atitudes e de hábitos.

A forma como a escola pensava e agia vinha também ao encontro dos

anseios das famílias e, com isso, havia certa harmonia entre escola/família.

Hoje existe, na verdade, uma guerra entre escola/família, segundo Rosely

Sayão3, porque um acusa o outro. Ex.: “Vocês não acham que as escolas estão

exigindo demais das crianças?” Essa fala é de um pai ou de uma mãe. “Vocês

não acham que os pais estão perdidos?” É um professor que fala isso. É uma

guerra porque um acusa o outro.

Pode-se dizer que as mudanças econômicas, sociais, políticas e

tecnológicas que ocorreram nas últimas décadas levaram as famílias a

assumirem posições competitivas no mercado de trabalho, não conseguindo

com isso estarem presentes efetivamente na vida dos filhos, assim deixando de

desempenhar as funções educativas que, até então, influenciavam

decisivamente na educação das crianças. Como em todo país, o município de

Jesuítas tem uma geração de educadores que acompanhou transformações na

sociedade e continua vivenciando um mundo em constante transição. Todas

essas mudanças ocorreram de forma acelerada nas últimas décadas e hoje se

sentem os impactos dessa transformação no trabalho pedagógico. Nesse

trabalho o professor se depara com muitos casos em que os pais delegam à

escola a educação geral dos filhos. Esses alunos apresentam comportamentos

e atitudes relacionados aos estudos diferentes se comparados aos alunos de

alguns anos atrás, com os quais os professores estavam acostumados a lidar.

Em decorrência dessa transferência de funções familiares para a

escola, comprometeu-se o trabalho da escola e a deixou numa situação limite,

3 Rosely Sayão, em evento promovido pelo Objetivo de Sorocaba em 24/2/2011. Reuniu cerca de 400 pessoas, em Bate-Papo Aberto entre pais, educadores, autoridades, formadores de opinião e membros da comunidade e provocou reflexão crítica sobre o papel da família e da escola na educação de crianças e adolescentes. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=su_E7kZnS58&feature=related>.

Page 4: PROCESSO EDUCATIVO: UMA PARCERIA ENTRE A FAMÍLIA E A …€¦ · Em decorrência dessa transferência de funções familiares para a escola, comprometeu-se o trabalho da escola e

pois não consegue desempenhar de maneira significativa a formação humana

e tampouco dar conta da socialização dos conteúdos científicos acumulados

pela humanidade. Entende-se atualmente que as famílias exercem um papel

de suma importância na formação e na educação de seus filhos e, por isso,

não podem delegar essa tarefa somente às instituições de ensino.

Diante dessas expectativas surge o grande desafio em buscar parceria

junto às famílias para o enfrentamento aos problemas existentes,

restabelecendo uma relação de confiança onde cada um assuma seu

compromisso de forma significativa e encontre maneira de agir juntos com o

mesmo objetivo, ou seja, o sucesso do filho/aluno.

O Projeto PROCESSO EDUCATIVO: UMA PARCERIA ENTRE A

FAMÍLIA E A ESCOLA foi desenvolvido no segundo semestre de 2011,

atendendo a 22 alunos matriculados na 5ª série, período da tarde. Esses

alunos, ao passarem da 4ª para a 5ª série, depararam-se com mais disciplinas

e também com uma nova etapa de vida, “a adolescência”, que deve ser olhada

com muita atenção pela escola e pela família, para que não venha a intervir

negativamente no processo de ensino-aprendizagem.

Na época em que o trabalho foi iniciado, a turma estava apresentando

sérios problemas de ordem disciplinar e também pedagógica. Havia conflitos

que se originavam pelo esquecimento de materiais, indisciplina dos alunos e

pelo baixo rendimento escolar, entre outros.

Para tanto, foram desenvolvidas atividades educativas tanto para os

pais como para os alunos, procurando promover uma parceria saudável com as

famílias de forma que pudesse refletir diretamente no processo de ensino-

aprendizagem dos alunos.

Nesse sentido, foram realizados cinco (5) encontros com as famílias

para refletir e analisar a relação família e escola, e suas implicações no

processo de ensino-aprendizagem, analisando papéis, tanto da família quanto

da escola, visando à melhoria da qualidade de ensino. Esses encontros

aconteceram regularmente com horários definidos no período noturno, de

acordo com o calendário escolar. Partiu-se de uma proposta de interação entre

a família e a escola de tal forma que as tarefas referentes ao processo de

ensino-aprendizagem fossem codivididas, pois família e escola exercem papéis

distintos e complementares. Por essa razão é que concordamos com Zagury

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(2008, p. 13), quando diz que:

[…] tentar promover o reencontro, a parceria, a confiança mútua, já que o essencial é compreender que ambas zelam e perseguem o mesmo objetivo: a formação integral das novas gerações, seja do ponto de vista cultural e de saber, seja do ponto de vista da formação pessoal, da ética, da cidadania.

Para que haja uma efetiva colaboração da família, no sentido de

estimular e acompanhar o processo de ensino-aprendizagem dos filhos, se fez

necessário assessorar os pais com informações sobre o processo de ensino-

aprendizagem. Assim, foram desenvolvidos os encontros com os pais para

prover essas informações, com palestras, exposição de vídeos, dinâmicas de

grupo e leitura de textos para análise e discussão da relação dos pais com a

escola, refletindo sobre os papéis de cada um, promovendo uma discussão

levando em consideração a pertinência e a viabilidade dos mesmos papéis

para a família e a escola.

Foi realizado também um levantamento junto aos professores que

atuam nessa série, sobre quais procedimentos ou ações os pais e/ou

responsáveis deveria adotar com seus filhos em relação ao processo de

ensino-aprendizagem para poder ajudar e intervir diretamente no resultado

referente à sua disciplina.

Paralelamente às atividades desenvolvidas com as famílias, foi

proposta para os alunos uma forma de organização das tarefas e

responsabilidades dentro da sala.

2 Desenvolvimento Nunca houve, na história da humanidade, uma evolução tecnológica tão

intensa e rápida, principalmente nos meios de comunicação (rádio, TV,

internet...), como o que vem ocorrendo nos últimos tempos. De acordo com

Setton (1999, p. 80):

Vivemos em um mundo com uma variedade crescente de instituições produtora de saberes, valores e comportamentos. O ritmo das mudanças tecnológicas, as atitudes de reserva e de defesa dos indivíduos, o não envolvimento com questões que nos rodeiam levam a um isolamento de experiência, levam

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a transformações na intimidade, nos contatos com nossos semelhantes mais próximos. As influências antigamente generalizadas de agentes solidamente constituídos como a tradição (nos papéis da família e da escola) passam aos poucos a ser fragmentadas e dispersas.

Não podemos negar que essas mudanças têm grande impacto nas

relações intra- e extrafamiliares e escolares. No espaço escolar, observam-se

grandes mudanças, comparadas a alguns anos atrás. Ainda, de acordo com

Setton (1999, p. 82):

Se anteriormente a escola era vista como detentora das informações, responsável pela transmissão de conhecimento, hoje sabemos que ela está em desvantagem em relação à mídia ou à internet. A função da escola atual está ainda por ser definida.

O ambiente familiar também não ficou imune à modernidade, pois o

modelo familiar que existia há décadas vem sofrendo grandes transformações.

Constatam-se várias formações familiares independentemente da classe social,

como pode ser constatado no Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil (1998, v. 1, p. 76):

Além da família nuclear que é constituída pelo pai mãe e filhos, proliferam hoje as famílias monoparentais, nas quais apenas a mãe ou o pai está presente. Existem, ainda, as famílias que se reconstituíram por meio de novos casamentos e possuem filhos advindos dessas relações. Há, também, as famílias extensas, comuns na história brasileira, nas quais convivem na mesma casa várias gerações e/ou pessoas ligadas por parentescos diversos. É possível ainda encontrar várias famílias coabitando em uma mesma casa.

Segundo a Constituição Federal em vigor desde 1988, “[...] entende-se

também como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e

seus descendentes” (Art. 226, §4, p. 43).

Se nas décadas anteriores as famílias sabiam exatamente sua função e

os papéis, tanto da mulher como do homem, eram bem definidos, hoje é visível

a inversão de funções em consequência da necessidade de a mulher trabalhar

fora para aumentar a renda familiar. Com isso, muda a criança e,

consequentemente, o aluno que chega à escola. Atualmente, as crianças e os

adolescentes, em sua maioria, são cuidados pelos avós, tios, empregadas ou

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babás e só veem os pais à noite.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, “Toda criança tem

direito de ser criada e educada no seio de sua família” (ECA, 2006, p. 10). O

momento é tão controverso que exige que a família e escola trabalhem em

conjunto, pois várias tarefas que outrora foram da família, hoje são

desempenhadas pela escola.

Os educadores do Colégio "Humberto de Alencar Castelo Branco" estão

se deparando com alunos que apresentam pensamentos, interesses,

comportamentos e atitudes diferentes daqueles com os quais estavam

acostumados a trabalhar até então. Mesmo assim não cabe adotar uma atitude

saudosista e ficar pensando no aluno que era “melhor” no passado, porque isso

gera certa frustração e insatisfação no professor. O que cabe é direcionar um

olhar mais profundo e atencioso para a realidade, procurando compreender

“[...] as condições sociais, econômica e cultural atuais, nas quais são entregues

as crianças, adolescentes e jovens, ao abandono, à fome e à miséria,

deixando-os no limite da sobrevivência e sem perspectiva de vida, sem

horizontes” (ARROYO, 2004, p. 39).

O Colégio Estadual "Humberto de Alencar Castelo Branco", município de

Jesuítas, Estado do Paraná, conta com aproximadamente 800 alunos. Esses

alunos são filhos de comerciantes, de agricultores e dos demais trabalhadores

que prestam serviços no município e em outros municípios próximos. Grande

parte desses alunos pouco apoio recebem das famílias quanto à formação

escolar, uma vez que se percebe nos pais séria defasagem de qualidade no

que se refere à cultura escolar e pela necessidade financeira saem de casa

para trabalhar em horários que dificultam a comunicação e o acompanhamento

dos filhos.

Pais e/ou responsáveis não sabem mais que medidas tomar para

auxiliar seus filhos. Essa realidade é percebida constantemente no colégio

quando recebemos a família para reuniões e ou conversar e repassar

informações sobre o desempenho escolar dos filhos. Fica, portanto,

evidenciado que as famílias estão apresentando dificuldades de auxiliar e

orientar seus filhos nos processos educativos mais simples, como: tarefas de

casa, verificar horários de aula, controle do material adequado para as aulas,

acompanhar a frequência e o desempenho escolar, organizar horário e tempo

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de estudos em casa, entre outros.

Com isso a escola torna-se a única a realizar tais tarefas. Partindo dessa

realidade, o grande desafio foi articular um trabalho envolvendo as famílias e a

escola, pois ambos exercem papel de suma importância na formação e

educação das crianças e dos jovens – embora cada uma atuando em esferas

próprias e diferentes.

Diante desse contexto, o projeto “Processo Educativo: uma parceria

entre a família e a escola” buscou encontrar formas de enfrentamento dos

problemas existentes, tendo em vista o envolvimento das famílias com o

processo educativo dos filhos. Foram desenvolvidas atividades educativas

tanto para os pais como para os alunos, procurando promover uma parceria

saudável com as famílias de forma que pudesse refletir diretamente no

processo de ensino-aprendizagem dos alunos.

Importante é ressaltar que a maioria dos pais envolvidos nesse trabalho

se mostrou disposta a contribuir de alguma forma para com a escola no sentido

de motivar os filhos para estudar. Sentimos, no entanto, que uma grande parte

deles necessitava de algumas orientações, de como e o que fazer para ajudar

nesse processo e acontecer uma parceria de forma justa, onde cada parte

assumisse sua responsabilidade, sem sobrecarregar ninguém.

Como já acima informado, o trabalho foi realizado com uma turma de 5ª

série que apresentava problemas de comportamento, de aprendizagem (notas

abaixo da média) e também havia a questão de falta de valores e de falta de

respeito entre eles. Em decorrência desse quadro negativo ocorriam

reclamações frequentes por parte dos professores e também de alguns pais,

porque os alunos considerados “bons” também não conseguiam se concentrar

nas aulas.

Primeiramente foi comunicado a todos os professores da turma o

trabalho a ser realizado com eles e solicitado aos professores que estivessem

atentos a todos os aspectos da turma para poder auxiliar no desenvolvimento

dos trabalhos e encaminhamentos. Antes de iniciar um trabalho diretamente

com as famílias, foi realizado um trabalho com a turma. Um dia uma professora

deles estava em curso, então foi realizada uma conversa com a turma a

respeito de algumas reclamações por parte dos professores e também sobre

atitudes inadequadas da turma que estavam prejudicando a aprendizagem

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deles. Foi-lhes posta essa situação, mas com a proposta de que eles eram

capazes de revertê-la se estivessem dispostos e a escola daria o suporte para

acompanhá-los bem de perto.

Em seguida, foi realizada uma atividade de concentração com a turma,

com dinâmica da estátua, variando em diversas formas, até o momento em

que ficaram de braços cruzados nas carteiras e em silêncio por um longo

período. Foi solicitado que um aluno andasse pela sala, para eles poderem

perceber que, quando um aluno está andando pela sala, isso tira atenção de

muita gente.

Com essa brincadeira, eles puderam perceber também que a

concentração é necessária para que ocorra a aprendizagem.

Durante a hora-atividade dos professores foram realizadas conversas e

acatadas sugestões deles para a melhoria da organização da sala. Uma das

sugestões foi a de fazer um mapeamento fixo na sala, pois os alunos estavam

acostumados a não parar no lugar e a mudar de carteira constantemente.

Com mapeamento bem definido, também foi decidido colocar calendário

de provas e trabalhos afixado na parede, para melhor organização das

atividades de ensino. Com os alunos organizados em filas fixas, foi possível

implantar as atividades com as equipes de trabalho. Para cada fila, uma equipe

de trabalho. Cada aluno da fila ficava com a pasta que deveria fazer as devidas

anotações por dois dias. Em seguida era passado para o próximo amigo da fila,

que continuava com as anotações. Havia uma pasta para que os registros

fossem feitos, que ficava na equipe pedagógica, e o aluno responsável pela

atividade naquele dia retirava no início das aulas e devolvia no final do período

de aula. Essas pastas mudavam de aluno a cada dois dias. A cada 20 dias

mudava a fila de função. Dessa forma todos os alunos puderam exercer papéis

diferentes e contribuir com o grupo. Esses dados eram repassados aos pais e

ou responsáveis nas reuniões no período noturno.

3 Organização do Trabalho com os Alunos

Grupo1: Equipe de Comunicação – tarefa de ajudar na organização da

sala, fixar quadro de horário de provas e trabalhos na parede e ficar atentos

para avisar colegas que perdessem provas e trabalhos; Grupo 2: Equipe da

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Secretaria – que era responsável para fazer chamada do dia e anotar, entregar

bilhetes para os colegas colar nos cadernos para os pais acompanharem sobre

provas, trabalhos e tarefas; Grupo 3: Equipe de Tarefas e Materiais – tarefas de

registrar alunos que esqueceram materiais necessários para o bom andamento

das aulas, como livros e cadernos, bem como esquecimento de tarefa; Grupo

4: Equipe de Disciplina – observar se os alunos estavam respeitando as regras,

como: não ficar no corredor, esperar o professor na sala de aula durante troca

de professores, alunos que demoravam em retornar do intervalo e Grupo 5:

Equipe Amigos do Ensino – essa equipe tinha a tarefa de fazer cartões para os

aniversariantes, também homenagem a professores, cartazes para a sala com

incentivos aos estudos, entre outros. Essas equipes foram importantes para o

desenvolvimento do trabalho, pois houve envolvimento de todos os alunos.

O envolvimento de todos os alunos foi bastante decisivo para o resultado

final, porém importante é destacar o trabalho realizado pela equipe “Amigos do

Ensino”. Fizeram cartões para os aniversariantes da sala, muitos cartazes com

incentivo para os estudos e fixavam na sala, homenagens para os professores

com cartões, mensagens orais e escritas. Com isso, fortaleceu-se o

relacionamento entre eles, proporcionando um clima de amizade e de menos

conflitos. Foi possível perceber que a autoestima e a confiança deles

aumentada. Os alunos foram questionados sobre o que mudou na turma. Os/as

alunos/as destacaram que:

“... respeitam mais, estão quietos, melhorou o comportamento, estão ajudando mais o outro, a organização da sala”.

Aluno A.

“... a turma está mais calma, ficam mais dentro da sala e presta mais atenção”.

Aluno B. “... está fazendo mais atividades dentro da sala, respeitando os professores, não estão esquecendo materiais, menos xingamento e discussão”.

Aluno C.

Também foi questionado a cada aluno que atitude ele percebeu que

melhorou nele.

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“Passei a estudar mais para as provas, estou mais comportado na sala, trago atividades prontas”.

Aluno D. “... eu melhorei nas brigas, não bato boca mais, parei de esquecer materiais e respeito os professores”.

Aluno E.

As reuniões com os pais foram sempre no período noturno, para facilitar

o comparecimento dos pais que trabalham durante o dia. Nos dias que

antecediam os encontros, era solicitado aos alunos que produzissem textos ou

desenhos relacionados ao tema do encontro. Os pais eram recepcionados com

desenhos ou textos dos próprios filhos, materiais que, no final do encontro, os

pais poderiam levar embora.

Para o primeiro encontro, os pais foram recepcionados com uma frase

de Paulo Freire, além dos desenhos e textos dos alunos: “NÃO HÁ SABER

MAIOR OU SABER MENOR. EXISTEM SABERES DIFERENTES” (Obs.: Com

essa frase a escola recebeu os pais deixando claro que não é a única

detentora do conhecimento. Muitas vezes, os integrantes de algumas famílias,

por não terem estudo escolar, sentem que não têm nada a contribuir com a

escola).

Os encontros foram sempre seguidos de boa acolhida, com dinâmicas,

vídeo e textos. No final de todos os encontros, sempre foi oferecido lanche para

uma pequena confraternização entre os participantes proporcionada pela

escola, que contribuiu muito para aproximação entre os próprios pais e também

com a escola.

A grande expectativa de resultados positivos concentrava-se no

processo de ensino-aprendizagem com reflexo no aproveitamento e na conduta

do aluno. Foi desenvolvido um trabalho intenso de acompanhamento

pedagógico por meio do Conselho de Classe, registros dos professores e

equipe pedagógica e das médias bimestrais dos alunos.

Os resultados observados apresentavam rendimento escolar

insatisfatório por uma grande parte dos alunos. Ficou claro neste estudo que

havia muitos alunos que não tinham dificuldades de aprendizagem. O que

faltava era interesse, dedicação e comprometimento com os estudos. É claro

que, para isso, é de fundamental importância que haja um compromisso efetivo

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da família em manter uma parceria equilibrada com a escola e

acompanhamento contínuo no desenvolvimento do aluno.

É importante ressaltar o crescimento significativo no resultado final do

ano no Conselho de Classe, onde todos conseguiram ser aprovados, com

notas ou por Conselho de classe. O colegiado da turma avaliou o avanço

significativo individual de cada aluno, tanto no rendimento escolar como na sua

conduta social na sala de aula e no espaço escolar. Todos os professores

foram unânimes em afirmar que os alunos que foram aprovados por Conselho

de Classe teriam condições tranquilamente de prosseguir os estudos na série

seguinte do próximo ano.

Um grande diferencial foi observado pelos professores que vivenciaram

o dia a dia da turma, destacando um clima amigável entre os alunos na sala de

aula e também no ambiente escolar. As pequenas confusões que ocorriam

diariamente diminuíram segundo registro dos professores e da equipe

pedagógica, o que contribuiu imensamente para estabelecer um clima

harmonioso de respeito entre alunos, professores e equipe pedagógica. Os

professores destacaram que:

“A partir dos trabalhos realizados, a turma melhorou no comportamento entre eles. Apresentou uma mudança até nas conversas, não se ouviu palavrões, onde eles se corrigiam. “A turma evolui muito, tanto no respeito quanto nas notas de Língua Portuguesa.”

Professora A, Língua Portuguesa. “Houve um envolvimento maior por parte deles em querer estudar, diminuiu significativamente o esquecimento de materiais das aulas, isso contribuiu para melhorar a sala num todo”.

Professora B, disciplina de Arte. “Melhorou no comportamento, no horário de chegada, estão mais participativos na aula, passaram a trazer o material correto para as aulas, uniformizado”.

Professor C, disciplina de Ensino Religioso.

Este trabalho priorizou o envolvimento dos pais na participação efetiva

na vida escolar dos filhos através das reuniões planejadas, entrega de

resultados bimestrais e do acompanhamento contínuo da aprendizagem e

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atitudes dos filhos, procurando estabelecer uma parceria firme e equilibrada,

pois a realidade social e cultural, apresentada anteriormente neste artigo,

contribuía para que muitos pais e ou responsáveis não se interessassem pela

vida escolar de seus filhos. Pelos registros da equipe pedagógica e pelo

controle realizado pela escola, percebeu-se uma participação crescente dos

pais nas reuniões. Não se atingiu o número desejado de participação de 100%,

mas houve um avanço e um grande aprendizado do caminho certo para a

melhoria dessa parceria fundamental com as famílias para o sucesso do

trabalho educacional. Segue gráfico comparativo da participação dos pais nas

reuniões.

1º 2º 3º 4º 5º

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

7

1112

14

17

15

11

10

8

5

Participação dos Pais nos Encontros

Presentes

Regressão linear

de Presentes

Ausentes

Regressão linear

de Ausentes

Encontros

Quantid

ade

Fonte: Registro e controle da Equipe Pedagógica do Colégio "Humberto de Alencar Castelo

Branco" – EFMP.

No início dos trabalhos houve certa resistência por parte de alguns pais

em participar dos encontros, como pode observar no gráfico acima, mas já no

segundo encontro a participação foi maior e assim sucessivamente. Os pais

apresentavam certa ansiedade para que chegasse o dia do encontro. Este

trabalho auxiliou também os educandos, que também melhoraram muito em

atitudes, comportamento social em sala de aula. Ainda não atingimos cem por

cento, mas a escola está satisfeita com os resultados. E, para o ano de 2112,

pretende dar continuidade a esse trabalho com essa mesma turma e iniciar

também com os alunos de 6º ano que a escola vai receber, para subsidiar as

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famílias no papel educativo de acompanhar, orientar e assessorar a vida

escolar dos filhos, cultivando neles hábitos e atitudes que possam contribuir na

e garantir a melhoria na aprendizagem.

4 A Visão dos Pais

A opinião dos pais dos alunos participantes é considerada muito

importante neste trabalho, pois foram eles que acompanharam de perto o

desenvolvimento dos filhos, e, melhor do que qualquer outro envolvido, podem

apontar mudanças significativas na vida escolar e social das crianças e ou dos

adolescentes. Na última reunião foi questionado sobre a relevância do trabalho

desenvolvido através dos encontros com os pais e com a turma e o que eles

observaram de mudanças nos filhos. Todos foram unânimes ao declarar que

consideraram um ótimo trabalho, realizado com muita qualidade. Os pais

destacaram que:

“Os encontros foram importante, pois os pais ficam mais informados”.

Mãe, de aluno A. “... que não precisa mais mandar para fazer tarefas, ele mesmo já está fazendo isso sozinho, sem que ela tenha que lembrar”.

Mãe, de aluno B. “... o filho melhorou bastante também em casa”.

Mãe, de aluno C.

“... disse que os filhos estão mais ativos”. (DOIS FILHOS NA SALA)

Pai, de aluno D/E. “... a filha passou mais informações para a família, ela conversa mais sobre os assuntos da escola”.

Mãe, de aluno F.

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5 Considerações Finais

A parceria entre escola e família hoje em dia se faz cada vez mais

necessária, pois ambas as instituições, apesar de seus tradicionais papéis bem

diferentes, zelam pelo mesmo objetivo, que é a formação integral das crianças

ou dos adolescentes, transformando-os em pessoas de bem, em pessoas

honestas, de quem pais, professores e sociedade se possam orgulhar no

futuro.

Podemos perceber e entender que os pais não podem ser excluídos

desse processo, como tampouco podem as famílias ser desoneradas dessa

responsabilidade de educar, transferindo a tarefa só para escola. Faz-se

necessária a parceria entre famílias e escola. E, para que haja um bom

envolvimento entre famílias/escola, devem-se levar em consideração as

mudanças que ocorreram na sociedade nos últimos tempos, mudanças que

provocaram alterações significativas nas partes envolvidas, tanto nas novas

formas de configurações familiares, como nos alunos e também na escola.

De acordo com Hülsendeger (2006, Revista Acadêmico, n. 67), “Pais e

mães devem comparecer à escola não apenas para entrega de avaliações ou

quando a situação já estiver fora de controle”. Assim, além de convocar a

participação dos pais, é preciso entender que essa tarefa “nada fácil” também é

função da escola, e ela pode assumir essa parte se proporcionar práticas

educativas que contribuam para a aproximação com as famílias de forma a que

as duas partes possam ser grandes aliadas nesse processo de educar.

Na verdade, não existe uma fórmula pronta que as escolas possam

implantar e dar resultados. O que se faz necessário é que cada escola reflita de

acordo com realidade de cada criança e ou adolescente e também cada

estrutura familiar, pois cada uma tem necessidades diferentes. Faz-se,

portanto, necessário refletir a realidade da escola, para encontrar maneiras

para o envolvimento com das famílias e também da comunidade em geral, pois

essa parceria tem demonstrado que é um componente importantíssimo para a

escola que quer desenvolver um trabalho com qualidade.

Enfim, quando a escola conseguir, segundo Hülsendeger (2006, Revista

Acadêmico, n. 67), “O comparecimento, o envolvimento permanente e, acima

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de tudo, construtivos, dos pais na escola, as crianças e os jovens se sentirão

amparados, acolhidos e amados”. É fundamental essa sintonia, pois, assim,

família e escola realmente estarão conquistando os reais objetivos da

educação: a realização humana e o exercício pleno da cidadania.

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