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PROCESSO AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº: 0809422-18.2020.4.05.8300T- (REFERENTE A AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL 0809020-34.2020.4.05.8300) AUTOR: ASSOCIACAO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FED DE PE RÉU: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DECISÃO 1.Trata-se de Ação Civil Pública proposta pela ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - ADUFEPE em face da UNIÃO FEDERAL e da UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE). 2. Aduz, em síntese, que: a) pautando-se no estado de emergência em saúde pública objeto da Lei n. 13.979/2020, que visa conter a propagação da pandemia do COVID-19, bem como na Instrução Normativa nº 19 de 12 de março de 2020 e na Instrução Normativa nº 21 de 16 de março de 2020, o Secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia, publicou a Instrução Normativa n. 28, de 25 de março de 2020, estabelecendo regras a serem aplicadas por todas as instituições que compõem o SIPEC (Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal), dentre elas a UFPE; b) em face da IN nº 28/2020, suspendeu para todos os servidores e empregados públicos em teletrabalho e para aqueles que estão afastados de suas atividades presenciais, salvo aos servidores e empregados que desempenhem atividades de segurança pública, saúde e demais serviços considerados essenciais, enquanto perdurar o mencionado estado de emergência em saúde pública em alusão, a autorização e o pagamento dos seguintes benefícios: horas extras; auxílio transporte; adicionais ocupacionais de insalubridade e periculosidade; gratificação por atividades com raios-x ou substâncias radioativas e do adicional de irradiação; adicional por trabalho noturno, exceto para aqueles que comprovarem a prestação do serviço noturno remoto das 22 horas às 5 horas. Para além, vedou o cancelamento, a prorrogação e a modificação de férias já programadas pelos servidores e empregados públicos abrangidos pelo referido normativo, bem como a reversão de jornada para os servidores que optaram por jornada reduzida. Quanto aos servidores em regime de turnos de revezamento, as regras da normativa se aplicam nos dias em que o servidor não se deslocar ao trabalho, mantidas as regras no tocante a vedação de modificação de férias e reversão de jornada de trabalho reduzida; c) a suspensão do pagamento de benefícios trará sérias implicações à subsistência dos substituídos - considerando que haverá a supressão de verbas de natureza alimentícia; d) a vedação da prorrogação, modificação e do cancelamento das férias ocasiona danos não só ao direito dos substituídos, como à saúde, já que na presente ocasião de enfrentamento ao COVID-19, considerando que os servidores não estão de férias, nem sequer este momento de isolamento/afastamento os permite usufruir adequadamente de tal benefício; e) em razão do o artigo 3º, §3º, da Lei 13.979/2020, o afastamento dos servidores se trata ato emanado de autoridade pública como medida de enfrentamento de uma pandemia, o que denota que a falta justificada por Lei se deu por motivo de força maior; f) como o Superior Tribunal Federal - STF - reconheceu que o fato de o trabalhador ser contaminado por Covid-19 é considerado como doença ocupacional, o afastamento do servidor para realização de teletrabalho neste período de pandemia tem por finalidade a concessão de proteção bilateral, resguardando tanto ao empregado quanto ao empregador, buscando evitar, de um lado que se Processo Judicial Eletrônico: https://pje.jfpe.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.sea... 1 de 17 26/05/2020 17:03

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PROCESSO AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº: 0809422-18.2020.4.05.8300T- (REFERENTE AAÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL 0809020-34.2020.4.05.8300)

AUTOR: ASSOCIACAO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FED DE PE

RÉU: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DECISÃO

1.Trata-se de Ação Civil Pública proposta pela ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DAUNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - ADUFEPE em face da UNIÃOFEDERAL e da UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE).

2. Aduz, em síntese, que: a) pautando-se no estado de emergência em saúde pública objeto daLei n. 13.979/2020, que visa conter a propagação da pandemia do COVID-19, bem como naInstrução Normativa nº 19 de 12 de março de 2020 e na Instrução Normativa nº 21 de 16 demarço de 2020, o Secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia,publicou a Instrução Normativa n. 28, de 25 de março de 2020, estabelecendo regras a seremaplicadas por todas as instituições que compõem o SIPEC (Sistema de Pessoal Civil daAdministração Federal), dentre elas a UFPE; b) em face da IN nº 28/2020, suspendeu paratodos os servidores e empregados públicos em teletrabalho e para aqueles que estão afastados desuas atividades presenciais, salvo aos servidores e empregados que desempenhem atividades desegurança pública, saúde e demais serviços considerados essenciais, enquanto perdurar omencionado estado de emergência em saúde pública em alusão, a autorização e o pagamentodos seguintes benefícios: horas extras; auxílio transporte; adicionais ocupacionais deinsalubridade e periculosidade; gratificação por atividades com raios-x ou substânciasradioativas e do adicional de irradiação; adicional por trabalho noturno, exceto para aqueles quecomprovarem a prestação do serviço noturno remoto das 22 horas às 5 horas. Para além, vedouo cancelamento, a prorrogação e a modificação de férias já programadas pelos servidores eempregados públicos abrangidos pelo referido normativo, bem como a reversão de jornada paraos servidores que optaram por jornada reduzida. Quanto aos servidores em regime de turnos derevezamento, as regras da normativa se aplicam nos dias em que o servidor não se deslocar aotrabalho, mantidas as regras no tocante a vedação de modificação de férias e reversão de jornadade trabalho reduzida; c) a suspensão do pagamento de benefícios trará sérias implicações àsubsistência dos substituídos - considerando que haverá a supressão de verbas de naturezaalimentícia; d) a vedação da prorrogação, modificação e do cancelamento das férias ocasionadanos não só ao direito dos substituídos, como à saúde, já que na presente ocasião deenfrentamento ao COVID-19, considerando que os servidores não estão de férias, nem sequereste momento de isolamento/afastamento os permite usufruir adequadamente de tal benefício; e)em razão do o artigo 3º, §3º, da Lei 13.979/2020, o afastamento dos servidores se trata atoemanado de autoridade pública como medida de enfrentamento de uma pandemia, o que denotaque a falta justificada por Lei se deu por motivo de força maior; f) como o Superior TribunalFederal - STF - reconheceu que o fato de o trabalhador ser contaminado por Covid-19 éconsiderado como doença ocupacional, o afastamento do servidor para realização deteletrabalho neste período de pandemia tem por finalidade a concessão de proteção bilateral,resguardando tanto ao empregado quanto ao empregador, buscando evitar, de um lado que se

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contraia doença infectocontagiosa, e de outro protegendo ao empregador de ter desfalques emseu quadro, ou ainda, de ser responsabilizado por eventual adoecimento; g) a colocação dostrabalhadores em regime de teletrabalho, tem função de equiparação a uma prévia de concessãode licença para tratar da própria saúde, por aplicação analógica, invocando a regra do artigo 4°,parágrafo único, IV, do Decreto-Lei n° 1.873/1981, art. 4º, "b", da Lei nº 1.234/50 e art. 2º, II doDecreto 81.384/78, que tratam da previsão de pagamento de adicional ocupacional para servidorque está de licença para tratar da própria saúde; h) é inconcebível que se pretenda a retirada deadicionais ocupacionais dos servidores que, por razões alheias as suas vontades da qual estessequer possuem o controle, estão em regime de trabalho remoto, atuando diuturnamente paraque não haja a paralização das atividades públicas, essenciais a população e a comunidadeacadêmica; i) a Lei n. 13.979/2020 não autorizou nenhuma medida que ensejasse a suspensão debenefícios que compõem a remuneração dos servidores implementada pela IN n. 28/2020,matéria, aliás, que só pode ser regulada por Lei; j) a IN n. 28/2020 contém ilegalidades quecomprometem a sua validade e eficácia, já que editada em flagrante excesso de poderregulamentar, uma vez que extrapola a sua função normativa subordinada e regula matéria quecompete à Lei e que não foi regrada pela Lei n. 13.979/2020.

3. Requer, em sede liminar, que as rés se abstenham abstenha de aplicar as regrasprevistas Instrução Normativa n. 28, de 25.03.2020, do Ministério da Economia, emrelação aos substituídos, determinando que se abstenha de suspender o pagamento dosbenefícios e vedar o exercício dos direitos regulados pela normativa impugnada.

Sucessivamente, requer que a parte demandada, se abstenha de aplicar aos substituídos asdisposições dos artigos 1º, incisos II e III, 4º, 5º, 6º e 8º da IN n. 28/2020, ora impugnadasna presente ação, em relação aos substituídos, determinando se abstenha de suspender opagamento dos benefícios e vedar o exercício dos direitos regulados pela normativaimpugnada (adicionais ocupacionais de insalubridade, periculosidade, adicional noturno,auxilio transporte e férias).

Requer, ainda, em sede de liminar, que seja expedido édito judicial que impeça a UFPE deproceder quaisquer descontos na folha de pagamento dos servidores, relativos aoressarcimento dos adicionais ocupacionais pagos na folha de pagamento.

4. Defende, desde logo, a existência de conexão deste feito com o de nº0809020-34.2020.4.05.8300, em trâmite na 6ª Vara Federal/PE. Diz que em ambas as demandaspleiteiam a suspensão dos efeitos da Instrução Normativa n. 28/2020 do Ministério daEconomia, razão pela qual requer seja reconhecida a prevenção por reiteração do pedido, oupela possibilidade de decisões conflitantes, com apoio do art. 286, incisos I e III, c/c o § 3.º doart. 55 e o art. 59, ambos do CPC/2015.

5. O Juiz da &ª Vara-PE, analisando o objeto da presente demanda, distribuída perante esta 7ªVara Federal/PE, bem como o objeto do processo nº 0809020-34.2020.4.05.8300, em tramitaçãona 6ª Vara Federal/PE, percebeu-se uma evidente conexão por prejudicialidade,recomendando-se a reunião dos feitos a fim de evitar decisões conflitantes. Senão vejamos.

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6. A questão de fundo (causa de pedir) que embasa as Ações Civis Públicas supracitadas éexatamente a mesma, qual seja, impugnar o conteúdo da Instrução Normativa n. 28, de25.03.2020, do Ministério da Economia, sustando seus efeitos, mormente no que toca àconcessão e ao pagamento de determinados benefícios funcionais, tais como: férias, horasextras, adicionais e outros.A título ilustrativo, transcrevo excerto da decisão de id. 14519786,proferida pelo Juízo da 6ª Vara Federal/PE, em 21/05/2020, no bojo do processo nº0809020-34.2020.4.05.8300, que, deferindo parcialmente o pleito liminar, determinou "asuspensão dos efeitos previstos nos artigos 4º e 5º da Instrução Normativa nº. 28/2020,mantendo-se, deste modo, o pagamento do adicional noturno, dos adicionais ocupacionais (deinsalubridade, periculosidade, irradiação ionizante), bem como da gratificação por atividadecom Raio-X, tendo em vista o caráter remuneratório das referidas rubricas.".

7. Assim, evidente a comunhão de causa de pedir, bem como a identidade do resultado práticopretendido nas duas demandas, razão pela qual é forçoso reconhecer a existência de conexão, ajustificar a reunião dos processos, a teor do disposto no artigo 55 do CPC, bem como noparágrafo único do art. 2º da Lei 7.347/85.

8. Nessa linha de raciocínio e tendo em vista que a primeira ação ajuizada foi a de nº0809020-34.2020.4.05.8300, perante a 6ª Vara Federal da SJPE, impõe-se concluir pelaincompetência absoluta deste Juízo da 7ª Vara Federal/PE, devendo o processo ser redistribuídopara o juízo prevento para conhecimento da matéria, qual seja, o Juízo da 6ª Vara Federal/PE.

9. A propósito do tema, trago julgados do Superior Tribunal de Justiça e dos TRF's da 1ª e da 5ªRegiões:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CIVISPÚBLICAS. IRRESIGNAÇÃO CONTRA A SUPRESSÃO DA FRANQUIA MÍNIMA DEBAGAGEM, NO TRANSPORTE AÉREO. RESOLUÇÃO 400/2016, DA ANAC. CAUSA DEPEDIR COMUM. ART. 109, I, DA CF/88. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.CONEXÃO ENTRE OS QUATRO FEITOS. TEMA DE GRANDE REPERCUSSÃO SOCIAL.NECESSIDADE DE JULGAMENTO UNIFORME PARA A QUESTÃO. PRINCÍPIO DASEGURANÇA JURÍDICA. PREVENÇÃO. ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 7.347/85.APLICAÇÃO. PRECEDENTES. ART. 55, § 3º, DO CPC/2015.REEXAME, NO CONFLITO DECOMPETÊNCIA, DO MÉRITO DAS DECISÕES PROFERIDAS PELO JUÍZO DESIGNADOPARA, EM CARÁTER PROVISÓRIO, APRECIAR MEDIDAS URGENTES.IMPOSSIBILIDADE. CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZOFEDERAL DA 10ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO CEARÁ.

I. Cuida-se de Conflito de Competência suscitado pela Agência Nacional de Aviação Civil -ANAC, em razão do ajuizamento de quatro Ações Civis Públicas contra a autarquia, com apretensão de afastar a supressão da franquia mínima de bagagem, a ser despachada pelascompanhias aéreas, implementada com a entrada em vigor da Resolução 400, de 13/12/2016,da referida agência reguladora, sob o fundamento da existência de conexão entre os feitos e afim de evitar decisões conflitantes sobre a matéria.

II. Conflito conhecido, porquanto se trata de controvérsia instaurada entre Juízes vinculados aTribunais distintos, a teor do que preceitua o art. 105, I, d, da Constituição da República.

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III. O fato de ser a Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC - cuja natureza jurídica é deautarquia federal de regime especial - ré, nos feitos, atrai a competência da Justiça Federalpara processar e julgar os processos, a teor do disposto no art. 109, I, da CF/88.

IV. Nos termos do parágrafo único do art. 2º da Lei 7.347/85 e do art. 55, § 3º, do CPC/2015,há necessidade de reunião dos processos, por conexão, quando lhes for comum o pedido ou acausa de pedir, assim como daqueles feitos em que possa haver risco de prolação de decisõesconflitantes ou contraditórias, caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles,em homenagem ao postulado da segurança jurídica.

V. No caso, conclui-se pela existência de conexão entre os feitos, pois, apesar de o pedidoformulado nas duas primeiras Ações Civis Públicas, de nºs 0816363-41.2016.4.05.8100 e0810187-28.2016.4.05.8300, ser mais abrangente, todos os quatro feitos têm a mesma causa depedir, relacionada à insurgência contra a supressão da franquia mínima de bagagem, a serdespachada pelas companhias aéreas, determinada pela Resolução 400/2016, da ANAC, que sepretende afastar.

VI. No presente caso, impõe-se o julgamento conjunto das Ações Civis Públicas em tela, umavez que a norma incidente sobre o transporte aéreo de bagagens é única, para todos osconsumidores do país, revelando a abrangência nacional da controvérsia e sua granderepercussão social, recomendando-se o julgamento uniforme da questão, a fim de se evitarinstabilidade nas decisões judiciais e afronta ao princípio da segurança jurídica.

VII. Na forma da jurisprudência, "em se tratando de ações civis públicas intentadas em juízosdiferentes, contendo, porém, fundamentos idênticos ou assemelhados, com causa de pedir epedido iguais, deve ser fixado como foro competente para processar e julgar todas as ações,pelo fenômeno da prevenção, o juízo a quem foi distribuído a primeira ação" (STJ, CC22.693/DF, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, DJU de 19/04/99).

VIII. Mais recentemente, a Primeira Seção do STJ entendeu, em consonância com o disposto noart. 5º, § 3º, da Lei 4.717/65 (Lei da Ação Popular), que a propositura da ação prevenirá ajurisdição do juízo para todas as ações que forem posteriormente intentadas contra as mesmaspartes e sob os mesmos fundamentos, orientação aplicável, mutatis mutandis, ao caso dos autos(STJ, CC 145918/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de17/05/2017).

IX. Interpretando o parágrafo único do art. 2º da Lei 7.347/85 - que dispõe que "a propositurada ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas quepossuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto" - , o Superior Tribunal de Justiça temorientação no sentido de que, "havendo na Lei de Ação Civil Pública norma específica acercada conexão, competência e prevenção, é ela que deve ser aplicada para a ação civil pública.Logo, o citado parágrafo substitui as regras que no CPC definem a prevenção (artigos 106 e219)" (STJ, CC 126.601/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRASEÇÃO, DJe de 05/12/2013).

X. A primeira Ação Civil Pública ajuizada, de nº 0816363-41.2016.4.05.8100, foi distribuída à10ª Vara Federal da Seção Judiciária do Ceará, às 14:30h do dia 20/12/2016, anteriormente àsdemais três Ações Civis Públicas, de forma a firmar a prevenção do Juízo Federal da 10ª Varada Seção Judiciária do Ceará para processar e julgar todas as Ações Civis Públicas quepossuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto, em face da aplicação do disposto no art.2º, parágrafo único, da Lei 7.347/85, norma de caráter especial, que prevalece sobre a geral,na forma da jurisprudência do STJ, e no art. 55, § 3º, do CPC/2015; XI. A remessa, em

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30/01/2017, da segunda Ação Civil Pública 0810187-28.2016.4.05.8300 - ajuizada no dia20/12/2016, às 16:57h, na 9ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco e ainda nãosentenciada -, à 10ª Vara Federal da Seção Judiciária do Ceará, em face da conexão com outraAção Civil Pública ali distribuída em 20/12/2016, às 14:30h, deu-se antes da prolação dasentença, em 10/03/2017, no primeiro feito distribuído. Ainda que se aplicasse, no caso, aSúmula 235/STJ, a prevenção, em relação às terceira e quarta Ações Civis Públicasdistribuídas, dar-se-ia em relação à aludida segunda Ação Civil Pública0810187-28.2016.4.05.8300, ainda não sentenciada, pelo Juízo Federal da 10ª Vara da SeçãoJudiciária do Ceará. De qualquer sorte, ao julgar situação análoga, na qual a controvérsiatinha abrangência nacional - como no caso -, a Primeira Seção do STJ afastou a aplicação daSúmula 235/STJ, mesmo quando, no Juízo prevento, a lide já havia sido julgada: "Conformeenunciado Sumular 235/STJ 'A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles jáfoi julgado'. Porém, se o conflito decorre de regra de competência absoluta (art. 93, inciso II,do CDC), como no presente caso, não há restrição a seu conhecimento após prolatada asentença, desde que não haja trânsito em julgado" (STJ, CC 126.601/MG, Rel. MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 05/12/2013).

XII. Mesmo na hipótese de se afastar a conexão da primeira Ação Civil Pública0816363-41.2016.4.05.8100 em relação às demais, nos termos do art. 55, § 1º, do CPC/2015 eda Súmula 235/STJ, por nela já ter sido prolatada sentença, em 10/03/2017, justifica-se aprevenção do Juízo Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do Ceará pela distribuição dasegunda Ação Civil Pública 0810187-28.2016.4.05.8300 à 9ª Vara Federal da Seção Judiciáriade Pernambuco, em 20/12/2016, às 16:57h, posteriormente encaminhada, em 30/01/2017, à 10ªVara Federal da Seção Judiciária do Ceará, anteriormente às terceira e quarta Ações CivisPúblicas, de nºs 0000752-93.2017.4.01.3400 e 0002138-55.2017.4.03.6100, distribuídas em11/01/2017 e em 07/03/2017, respectivamente, em face da disposição do art. 55, § 3º, doCPC/2015, a fim de evitar decisões conflitantes e insegurança social e jurídica.

XIII. Em face da aplicação do disposto no art. 2º, parágrafo único, da Lei 7.347/85 à hipóteseem exame, norma de caráter especial, que prevalece sobre a geral, na forma da jurisprudênciado STJ, e no art. 55, § 3º, do CPC/2015, encontra-se prevento o Juízo Federal da 10ª Vara daSeção Judiciária do Ceará para processar e julgar todas as Ações Civis Públicas que possuama mesma causa de pedir ou o mesmo objeto, em face de sua prevenção.

XIV. Descabimento, em sede de Conflito de Competência, de reexame do mérito das decisõesproferidas pelo Juízo designado para apreciar, em caráter provisório, as medidas urgentes.Precedentes.

XV. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo Federal da 10ª Vara da SeçãoJudiciária do Ceará. (STJ - CC 151.550/CE, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/04/2019, DJe 20/05/2019) - (Destaquei).

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO POPULAR. PREVENÇÃO. REUNIÃO DEFEITOS. ART. 5.º, PARÁGRAFO 3.º, DA LEI N.º 4.717/65. PROVIDÊNCIA OBRIGATÓRIA.INCOMPATIBILIDADE ENTRE SISTEMAS ELETRÔNICOS. MOTIVO NÃO SUFICIENTEPARA EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. REFORMA PARCIALDA SENTENÇA APELADA PARA REMESSA DO FEITO AO JUÍZO PREVENTO.

1. Em face da natureza coletiva da tutela jurisdicional buscada pela ação popular e da amplalegitimação extraordinária para sua propositura, a regra do art. 5.º, parágrafo 3.º, da Lei n.º4.717/65 ("parágrafo 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas asações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos

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fundamentos") é de aplicação cogente e não, apenas, facultativa, restando, em face daespecialidade da norma e de sua teleologia, afastada possibilidade de simples juízo deconveniência sobre a reunião dos feitos populares.

2. Contudo, a jurisprudência desta Turma tem se manifestado no sentido de que "A teor do quevem sendo decidido pelo Superior Tribunal de Justiça e por este Tribunal, a incompatibilidadedo sistema adotado pelo Órgão Jurisdicional de destino não deve conduzir à extinção doprocesso, devendo assim serem remetidos os autos ao Juizado competente, em mídia digital,para fins de cadastramento e inserção no respectivo sistema de processo eletrônico. (STJ, 2ª T.,REsp 1526914/PE, rel. Min. Diva Malerbi - Desembargadora Convocada, DJ 28/06/16; TRF5,3ª T., PJE 08063680420164058100, rel. Des. Federal Carlos Rebêlo Júnior, julg. 10/11/16)"(PROCESSO: 08001449220174058204, AC/PB, DESEMBARGADOR FEDERAL ROGÉRIOFIALHO MOREIRA, 3ª Turma, JULGAMENTO: 19/12/2017, PUBLICAÇÃO: ), razão pelaqual merece reforma parcial a sentença apelada para afastar a extinção do processo semresolução do mérito e determinar a remessa dos autos ao Juízo prevento para conhecimento daação popular (20.ª Vara da SJDF - ação popular n.º 1007839-83.2017.401.3400).

3. Provimento, em parte, da apelação. (TRF5 - PROCESSO: 08106678720174058100, AC/CE,DESEMBARGADOR FEDERAL EMILIANO ZAPATA LEITÃO (CONVOCADO), 3ª Turma,JULGAMENTO: 16/02/2018, PUBLICAÇÃO) - (Destaquei).

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APELAÇÃO. CONEXÃODE FEITOS. OBJETO COMUM. SIMILITUDE. JULGAMENTO UNIFICADO.POSSIBILIDADE. OPERAÇÕES FINANCEIRAS REALIZADAS PELO BANCO CENTRAL DOBRASIL. MERCADO FUTURO DE CÂMBIO. RISCO SISTÊMICO. COMPROVAÇÃO.LAUDOS PERICIAIS. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. ALEGAÇÃO DE ILEGALIDADESNAS CONDUTAS. RESSARCIMENTO DE SUPOSTO PREJUÍZO. AUSÊNCIA DECOMPROVAÇÃO. DESCABIMENTO DE CONDENAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA DOSPEDIDOS. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. INAPLICABILIDADE. RECURSOSPROVIDOS. SENTENÇA REFORMADA. 1. O art. 103 do CPC/73 estatui as condições paraque se declare a conexão e a reunião dos feitos - mesmo objeto e causa de pedir -, pararealização de julgamento conjunto, medida que atende ao princípio da economia processual eevita a possibilidade de prolação de decisões contraditórias. Precedentes. 2. Existência deconexão entre a ação popular e a ação civil pública, uma vez que todas objetivam adeclaração de nulidade das operações de venda de moeda estrangeira - dólares - no mercadofuturo, ocorridas nos dias 11 e 12 de janeiro de 1999, bem como a respectiva condenação dosresponsáveis pelos prejuízos decorrentes das operações a ressarcirem os cofres públicos. 3. OBanco Central do Brasil possui atribuição legal (art. 11 da Lei 4.595/64 e DL 581/69) de zelarpelo regular funcionamento do mercado de compra, sendo-lhe facultado, para esse fim, realizaroperações de crédito no exterior, comprar e vender ouro e moedas estrangeiras, inclusive, nomercado de câmbio futuro. 4. Inexistiu atuação ilegal do BACEN no que toca às atividades ouaos contratos firmados. Perícia técnica constatou que as operações de venda de contratos dedólar futuro seguiram os procedimentos normativos, em observância às leis e normas vigentes àépoca, que atribuíam à autarquia a competência para atuar no mercado de moeda estrangeira,efetivamente observada. 5. Inexistiu desvio de finalidade na atuação dos dirigentes daautarquia. Provas dos autos demonstram a observância das atribuições inerentes aos cargos,do princípio da legalidade estrita e vinculada, dentro da competência atribuída por lei para aprática dos atos e em conformidade com as normas cogentes para atuação no mercado decâmbio. 6. As operações cambiais objeto das ações foram realizadas e autorizadas por quemdetinha poder e conhecimento técnico para tanto, não configurando ato discricionário, mas, aocontrário, de conduta vinculada aos ditames da lei e dos princípios basilares da administração.

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7. A atuação do Estado, no caso, da Autoridade Monetária, configura uma questão de opçãopolítica, de matiz ideológico, relativa à formulação da política econômica, que deve prezar pelamanutenção da saúde das instituições financeiras saudáveis, aspecto essencial para o bomfuncionamento do sistema econômico. 8. A prática inquinada de ímproba pelo MPF,encontra-se numa esfera de discricionariedade técnica e se deu dentro da banda diagonalendógena, ou seja, independentemente do que acontecesse, o contrato estava inserido - ipsislitteris, ipsis verbis - naquilo que o Banco Central se propôs a fazer, e, naturalmente, na suaprópria gestão do sistema financeiro e monetário. Nessa operação, não existiu uma venda dedólar acima ou abaixo, desenvolvendo-se rigorosamente dentro das regras. 9. Diversos estudoscientíficos produzidos acerca do período compreendido entre o final dos anos 1990 e o iníciodos anos 2000 comprovam a vulnerabilidade dos mercados à época, em face de um iminenterisco sistêmico, além de destacarem o papel preponderante das instituições bancárias comointermediárias e sustentáculos do mercado financeiro. 10. Diante do real risco de falência dasinstituições bancárias e da insegurança do sistema econômico e financeiro à época, as decisõestomadas pelo setor técnico do Banco Central do Brasil se justificam, pautando-se pelarazoabilidade e estrita legalidade para evitar danos sociais e econômicos maiores. 11. Provapericial negou a existência dos alegados danos ao erário em decorrência das operaçõescambiais, indicando que as perdas no mercado futuro corresponderam aos ganhos, também emreais, proporcionados pela manutenção das reservas em dólar não vendidas no mercado àvista, sem implicar prejuízo ao Banco Central do Brasil. 12. A instrução processual indicou alegalidade dos atos administrativos, praticados dentro dos limites da autonomia e dadiscricionariedade técnica do Bacen, restando comprovado que a opção de permitir a venda decontratos de dólar futuro decorreu de decisão técnica razoável e que efetivamente não geroudano ao erário. 13. Inexiste responsabilidade sem culpa. Não ficou comprovado nos autosnenhum equívoco derivado de imprudência, imperícia, negligência, tampouco dolo. 14. .Consoante entendimento jurisprudencial do TRF1 e do STJ, no bojo de ação civil pública nãocabe a condenação do Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios em razãoda sucumbência, salvo hipótese de litigância de má-fé, o que não ocorre (ex vi do art. 18 da Lei7347/85). 15. Apelações providas. (AC 0010168-18.1999.4.01.3400, JUIZ FEDERALMARCIO SÁ ARAÚJO (CONV.), TRF1 - TERCEIRA TURMA, e-DJF1 27/03/2018 PAG.) -(Destaquei).

10. Diante do exposto e a fim de evitar decisões conflitantes, determino a remessa deste feito aoJuízo da 6ª Vara do Federal/PE, por força da conexão acima elucidada.

11. Em consequência da presente decisão, deixo de examinar os agrupadores sugeridos pelosistema PJE, evidenciando, a teor da certidão retro, a eventual necessidade de inclusão daUNIÃO FEDERAL no polo passivo, tal como indicado na petição inicial.

12. Os autos vieram conclusos ao JUiz da 6ª Vara-PE.

É O RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR.

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13. Trata-se de ação civil pública proposta pela ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DAUNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - ADUFEPE em face da UNIÃOFEDERAL e da UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE), objetivando,liminarmente, a suspensão dos efeitos da Instrução Normativa nº.28/2020, no que toca àregulamentação do pagamento de adicional noturno, dos adicionais ocupacionais e do auxílio-transporte aos servidores e empregados públicos, que executam suas atividades remotamente ouque estejam afastados de suas atividades presenciais.

14. A parte autora, na qualidade de substituto processual, esclarece que, neste caso, atua nadefesa dos interesses da categoria dos servidores ocupantes dos cargos TécnicosAdministrativos da UFPE, cuja carreira se encontra regulamentada pela Lei nº. 8.112/90, quedispõe acerca do Estatuto do Servidor Público Federal.

15. DE INÍCIO, RECONHEÇO A CONEXÃO APONTADA ENTRE AS AÇÕES AQUIEM QUESTÃO.

16. Acerca da Instrução Normativa nº. 28/2020, destacam-se os seguintes dispositivos:

3.1 O artigo 2º vetou aos órgãos e entidades integrantes do SIPEC autorizar a prestação dosserviços extraordinários constantes dos art. 73 e art. 74 da Lei nº 8.112, de 1990, aos servidorese empregados públicos que executam suas atividades remotamente ou que estejam afastados desuas atividades presenciais pela aplicação do disposto na Instrução Normativa nº 19, de 2020.

1 Instrução Normativa nº. 20/2020 do Secretário de Gestão e Desempenho Pessoal da

Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, do Ministério da

Economia.

3.2 Os artigos 3º, 4º e 5º estabelecem, respectivamente, ficar vedado o pagamento de auxílio-transporte, adicional noturno (art. 75 da Lei 8.112/90) 2 e dos adicionais ocupacionais deinsalubridade, periculosidade, irradiação ionizante e gratificação por atividades com Raios X ousubstâncias radioativas, para os servidores e empregados públicos que executam suas atividadesremotamente ou que estejam afastados de suas atividades presenciais, pela aplicação dodisposto na Instrução Normativa nº 19, de 2020.

3.3 De acordo com o artigo 6º, fica vedado o cancelamento, a prorrogação ou a alteração dosperíodos de férias já programados para os servidores que exerçam, remotamente, as suasatividades, ou que estejam afastados de suas atividades presenciais, por força da Instruçãonormativa nº. 19/2020.

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3.4 Conforme o artigo 7º, enquanto perdurar o estado de emergência de saúde pública deimportância internacional, decorrente do coronavírus (COVID-19), fica vedada a reversão dajornada reduzida de trabalho, nos termos do artigo 5º da MP 2.174-28/01.

17. Por força da Ocorrência 387 (Trabalho Remoto Coronavírus - COVID 19), ficam suspensos,de forma automática, os pagamentos das rubricas de serviço extraordinário, auxílio-transporte eos adicionais noturnos e ocupacionais, e também ser a referência para o controle gerencial elevantamento de informações de servidores que estão em trabalho remoto, nos termos da IN nº19, de 12 de março de 2020. O registro é obrigatório para todos os casos de trabalho remotocontemplados na referida Instrução Normativa.

18. Conforme o parágrafo único do art. 4º da IN 28/2020, não se aplica o disposto no caput aoscasos em que for possível a comprovação da atividade, ainda que remota, prestada em horáriocompreendido entre vinte e duas horas de um dia e cinco horas do dia seguinte, desde queautorizada pela chefia imediata.

19. Em seus fundamentos, o autor aduz, em síntese, que:

(...) sob o falso pretexto de estabelecer meras orientações sobre os servidores e empregadoscujas atribuições estejam sendo executadas remotamente ou que estejam afastados de suasatividades presenciais em razão da propagação do vírus do vírus SARS-CoV-2, causador dadoença respiratória infecciosa COVID-19, os atos administrativos supracitados destinam-se,verdadeiramente, a suprimir direitos cuja concessão é assegurada pela ordem constitucional einfraconstitucional. (GRIFO NOSSO).

20. Quanto ao mérito, o autor formula o pedido de nulidade da referida IN nº. 28/2020, combase nos seguintes fundamentos: a) princípio da legalidade, conforme os artigos 37, X e 39 daConstituição Federal de 1988 c/c artigo 45 da Lei 8.112/90, de modo que qualquer ato, denatureza normativa, destinado a versar sobre o regime jurídico dos servidores públicos federais,deve ser veiculado através de lei específica, de iniciativa do Presidente da República; b) évedado à Administração Pública inovar no ordenamentojurídico, cabendo-lhe, tão somente, opoder regulamentar, devendo produzir disposições operacionais uniformizadoras necessárias àexecução da lei cuja aplicação demande atuação da Administração Pública; c) o conjuntonormativo, editado para fins de enfrentamento da COVID-19, salvaguarda os direitos dosservidores compulsoriamente em trabalho remoto ou em afastamento das atividades presenciais,o que faz ao equiparar a ausência à falta justificada e ao determinar que a adoção de medidasocorrerá sem a necessidade de compensação de jornada e sem prejuízo da remuneração (Lei13.979/20); d) as faltas justificadas, decorrentes de caso fortuito ou de força maior, como é ocaso do isolamento social, em razão da pandemia do COVID-19, poderão ser compensadas acritério da chefia imediata, a exemplo do trabalho remoto, sendo assim consideradas comoefetivo exercício (art. 44, parágrafo único, da Lei 8.112/90), o que justifica os pagamentos

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adicionais, afastados pela IN 28/2020; e) o artigo 80 da Lei 8.112/90 admite a possibilidade deinterrupção das férias por motivo de calamidade pública, logo igual raciocínio se aplica aoservidor que, ante uma calamidade pública, almeja postergar a fruição do seu direito às férias; f)de acordo com a Medida Provisória nº. 2.174-28/01, é facultada ao servidor a reversão dajornada de trabalho a qualquer tempo; g) o pagamento dos adicionais ocupacionais não se dá emfunção dos dias em que o trabalhador, efetivamente, foi exposto a perigos ou insalubridades,mas em decorrência da natureza da ocupação que ele desempenha.

21. Inicialmente, reconheço a legitimidade do autor para a propositura de Ação Civil Pública nadefesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais homogêneos à categoria profissional derepresentação do respectivo sindicato, nos termos do dos artigos 8º, III, e 37, VI. A legislaçãoinfraconstitucional ratifica o direito, a teor do art. 240, caput e alíneas, da Lei n. 8.112/90, art. 3ºda Lei n. 8.073/90 e art. 18 da Lei n. 13.105/15 (NCPC).

22. Discute-se, basicamente, a legalidade dos artigos 2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 7º da InstruçãoNormativa nº. 28/2020, buscando-se, liminarmente, a suspensão dos seus efeitos, bem como osefeitos da Ocorrência 387/2020.

23. No que tange à probabilidade do direito, tem-se que o corte dos adicionais (noturnos eocupacionais) pode, de fato, caracterizar afronta ao artigo 37, XV, da CF/88 c/c art. 41, § 3º, daLei 8.112/90, que estabelece a irredutibilidade da remuneração dos servidores e empregadospúblicos. Vejamos.

24. De acordo com o artigo 41 da Lei 8.112/90, a remuneração é o vencimento do cargo efetivo,acrescido das vantagens pecuniárias permanentes acrescidas em lei.

25. O artigo 49, I, II e III, da Lei 8.112/90, por sua vez, dispõe que se compreendem porvantagens as indenizações, gratificações e adicionais, ressaltando que as indenizações não seincorporam ao vencimento ou ao provento, para qualquer efeito (art. 49, § 1º, da Lei 8.112/90),enquanto que as gratificações e os adicionais incorporam-se ao vencimento ou provento (art. 49,§ 2º, da Lei 8.112/90).

26. Deste modo, os adicionais constituem verba remuneratória, salarial, cuja natureza nãopermite a sua redução por ausência de previsão constitucional. Em razão de o adicional deinsalubridade / noturno compor a remuneração do servidor, pois recebida habitualmente, produzefeitos reflexos sobre as horas extras e décimo terceiro salário, enquanto perdurarem ascondições anormais de prestação do serviço.

27. Consoante orientação jurisprudencial pacífica do Supremo Tribunal Federal e do SuperiorTribunal de Justiça, embora não haja direito adquirido de servidor público ao regime jurídico de

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composição de seus vencimentos, a alteração salarial ou da estrutura da carreira pode ocorrerdesde que não resulte em redução dos vencimentos, por força do art. 37, XV, da CF/88.

29. O não comparecimento dos servidores públicos aos seus respectivos postos de trabalho édecorrente do estado de calamidade pública, oficialmente reconhecido por meio do DecretoLegislativo nº. 6, de 20 de março de 2020.

30. Diante do reconhecimento oficial do estado de calamidade pública, a Lei 13.979/20estabeleceu medidas de proteção à coletividade. Os impactos da pandemia são amplos,destacando-se, entre outros, a imposição de máximo confinamento das pessoas, que devemevitar a circulação pública, sendo estimuladas a trabalharem e a desenvolverem as suasatividades profissionais em casa.

31. Nesta perspectiva, o serviço público continua sendo prestado, de modo que a remuneraçãodo servidor deve, de fato, contemplar as vantagens adicionais, que refletem a própria naturezado cargo ocupado, por determinação legal. Ora, a própria lei determinou que o desempenho dedeterminadas atividades, em condições de risco, expostos a agentes físicos e químicos, colocamo servidor em situação de vulnerabilidade, devendo, portanto, ser remunerado pelo riscoiminente.

32. O afastamento das atividades presenciais, entretanto, decorrente de caso de força maior, nãoautoriza a redução salarial, que depende, exclusivamente, de lei específica (art. 37, X, daCF/88). Assim, em respeito ao princípio da legalidade, apenas por meio de lei específica, quereconhecesse o desempenho da atividade como não insalubre, para autorizar, deste modo, asupressão do referido adicional de insalubridade / periculosidade.

33. O afastamento compulsório do servidor, em atendimento às políticas de prevenção àdisseminação do COVID-19, não é motivo capaz de ensejar a redução de verba salarial, cujadotação orçamentária já é prevista pela Administração.

35. A impossibilidade de prestação do serviço, presencialmente, em razão das medidasexcepcionais, decorrente da calamidade pública, por força da Lei 13.979/20, será consideradafalta justificada, nos seguintes termos:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacionaldecorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências,dentre outras, as seguintes medidas:

("Caput" do artigo com redação dada pela Medida Provisória nº 926, de 20/3/2020)

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I - isolamento;

II - quarentena;

(...)

§ 3º Será considerado falta justificada ao serviço público ou à atividade laboral privada operíodo de ausência decorrente das medidas previstas neste artigo.

36. A falta justificada, decorrente de caso fortuito ou de força maior, por sua vez, nos termos doparágrafo único do artigo 44 da Lei 8.112/90, poderá ser compensada, a critério da chefiaimediata, sendo assim consideradas como de efetivo exercício.

37. Logo, conclui-se que o servidor público faz jus às verbas adicionais (noturnos eocupacionais de insalubridade, periculosidade, irradiação ionizante e gratificação por atividadescom Raios X ou substâncias radioativas), que compõem a sua remuneração, em respeito aoprincípio da legalidade e da reserva legal.

38. Destaque-se, ainda, acerca do pagamento dos adicionais ocupacionais, o posicionamento daConsultoria Geral da União nº. 00026/2020/DEPCONSU/PGF/AGU, mencionados na petiçãoinicial:

(...) Logo de início, é possível perceber que a legislação pertinente ao pagamento de adicionaisocupacionais alarga ostensivamente o conceito de efetivo exercício com o objetivo de nãoreduzir a remuneração dos servidores que, em razão de sua ocupação profissional, sãohabitualmente expostos a perigos ou insalubridades.

Diferentemente de verbas indenizatórias de transporte, que são pagas ao trabalhador em funçãodos dias em que efetivamente vai ao trabalho, os adicionais ocupacionais são consideradosdevidos, em sua integralidade, àqueles que se exponham a perigos de modo habitual, ou mesmointermitente. O pagamento dos adicionais ocupacionais, portanto, não se dá em função dos diasem que o trabalhador efetivamente foi exposto a perigos ou insalubridades (pagamentoproporcional), mas em decorrência da natureza da ocupação que ele desempenha (pagamentointegral).

Nesse sentido, vale citar como referência a Sumula nº 364 do Superior Tribunal do Trabalho:Súmula nº 364 do TSTADICIONAL DE PERICULOSIDADE. EXPOSIÇÃO

EVENTUAL, PERMANENTE E INTERMITENTE (inserido 8 o item II)- Res. 209/2016,DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016I - Tem direito ao adicional de periculosidade oempregado exposto permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se a condições derisco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma eventual, assim considerado o fortuito,ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo extremamente reduzido. (ex-Ojs da SBDI-1 nºs 05-inserida em 14.03.1994 - e 280 - DJ 11.08.2003) II - Não é válida a cláusula de acordo ouconvenção coletiva de trabalho fixando o adicional de periculosidade em percentual inferior aoestabelecido em lei e proporcional ao tempo de exposição ao risco, pois tal parcela constitui

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medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantida por norma de ordem pública (arts.7º, XXII e XXIII, da CF e 193, §1º, da CLT)." No mesmo sentido, ainda, é o teor da Súmula n.47 do TST determina que o trabalho executado em condições insalubres, em caráterintermitente, não afasta, só por essa circunstância, o direito à percepção do respectivo adicional.Não há que se falar, portanto, em proporcionalização das parcelas versadas pela IN n. 28/2020em razão dos dias trabalhos.

39. No que toca ao auxílio transporte, ressalta-se o seu caráter indenizatório; ou seja, não temnatureza salarial, mesmo quando pago em pecúnia, nem se incorpora à remuneração paraqualquer efeito. Precedente do Superior Tribunal de Justiça Agravo Regimental no RecursoEspecial nº. 1.454.655/SC, sob relatoria do Ministro Og Fernandes.

40. Em complemento à Lei 8.112/90, conhecida como Regime Jurídico dos Servidores PúblicosFederais, a Medida Provisória 2.165-36/01 regulamentou a concessão do auxílio-transporte,destinado a custear as despesas com o transporte no percurso entre a residência e o local detrabalho do servidor.

41. O artigo 1º da MP 2.165-36/01 determina o pagamento da indenização, em pecúnia, para ocusteio parcial; das despesas realizadas com transporte coletivo municipal, intermunicipal ouinterestadual pelos militares, servidores e empregados públicos da Administração Federal direta,autárquica e fundacional da União, nos deslocamentos de suas residências para os locais detrabalho e vice-versa (...).

42. Neste contexto, de acordo com o princípio da razoabilidade, não há falar em indenização detransporte ao servidor que, embora momentaneamente, não se desloca para o seu local detrabalho, em face da prestação do serviço remoto.

46. Admitir o contrário acarretaria em enriquecimento ilícito por parte do servidor ouempregado público, que seria indenizado por um gasto não realizado, uma vez que o referidobenefício está vinculado à execução de atividade presencial.

47. Demonstrar a necessidade de indenização é requisito que se impõe para o pagamento doauxílio-transporte. Neste sentido, já se posicionou o Egrégio Tribunal Regional Federal da 5ªRegião, nos seguintes termos:

AUXÍLIO TRANSPORTE. UTILIZAÇÃO DE VEÍCULO PRÓPRIO. IMPOSSIBILIDADE.MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.165-36/2001. ART. 5º DA ORIENTAÇÃO NORMATIVA4/2011. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE QUE O TRANSPORTE UTILIZADO PELOSERVIDOR É O ÚNICO MEIO EXISTENTE PARA O SEU DESLOCAMENTO, EMRAZÃO DE SUAS FUNÇÕES. 1. O presente feito versa sobre a pretensão de servidores à

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percepção do auxílio-transporte, mesmo fazendo uso de veículo próprio, para que sejadeterminado ao Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região que se abstenha de exigircomprovantes de bilhetes de passagens como condição para a concessão do benefício, podendo,se for o caso, solicitar apenas comprovante de residência atualizado do servidor. 2. A MedidaProvisória 2.165-36/2001 foi objeto de regulação infra-legal pela Orientação Normativa nº 4, de8 de abril de 2011, que, em seu art. 5º, veda o pagamento de auxílio-transporte nosdeslocamentos residência/trabalho/residência, quando utilizado serviço de transporte regularrodoviário seletivo ou especial. 3. O auxílio-transporte tem natureza indenizatória, não seincorporando aos vencimentos do servidor (art. 49 , parágrafo 1º , da Lei 8.112 /90), e visa arcarcom os custos necessários para que o servidor se dirija de onde efetivamente tenha domicílio aolocal onde exerce suas funções. 4. Nessa senda, é perfeitamente compatível com uma gestãoadministrativa moralizada e eficiente exigir que o servidor demonstre a necessidade daindenização em decorrência da efetiva utilização do transporte coletivo entre sua moradia e otrabalho, haja vista que quem efetivamente suporta o encargo é a União. (grifo nosso). (TRF da5ª Região, 2ª Turma, APELREEX 0801620-40.2013.4.05.8000/AL, Desembargador FederalRelator, Dr. Raimundo Alves de Campos Júnior, DJ: 06.02.2016).

48. Em face do exposto, observa-se razoabilidade na suspensão do pagamento do auxílio-transporte aos servidores públicos que não estejam, presencialmente, desempenhando as suasatividades profissionais, haja vista a natureza indenizatória da verba.

49. Quanto à vedação da prestação dos serviços extraordinários, reversão da jornada reduzida detrabalho, bem como a impossibilidade de alteração dos períodos de férias já programados paraos servidores que exerçam, remotamente, as suas atividades, ou que estejam afastados de suasatividades presenciais, por força da Instrução normativa nº. 19/2020, observa-se a aplicabilidadedo princípio constitucional da supremacia do interesse público sobre o privado.

50. Somente será permitido serviço extraordinário para atender situações excepcionais etemporárias, respeitando o limite de duas horas diárias (Art. 74 da Lei nº 8.112, de 11.12.1990).

51. A partir da definição legal, compreende-se a discricionariedade da Administração emrequisitar atividade extraordinária, cuja legalidade poderia ser questionada mediante ausência demotivação, o que não ocorre no caso.

52. Ora, a Instrução Normativa nº. 28/2020, em comento, traz o fundamento necessário ajustificar a desnecessidade de serviço extraordinário. Em tempos de pandemia, buscou-seadaptar os trabalhos à realidade de cada servidor, para que houvesse a continuidade da prestaçãodo serviço público.

53. Neste momento de calamidade pública, busca-se manter o mínimo necessário para acontinuidade do serviço público, demonstrando-se, desnecessário, conforme entendimento

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discricionário da Administração, a contratação de serviço extra, considerando a natureza dasatividades remotas desempenhadas pelos servidores da UFPE, excetuando-se aquelesconsiderados essenciais, inclusive, para o combate da COVID-19.

54. O mesmo raciocínio se aplica à impossibilidade de, neste momento, reverte-se a jornadareduzida de trabalho, bem como cancelar, prorrogar ou alterar os períodos de férias jáprogramados, para os servidores que exerçam, remotamente, as suas atividades.

55. De acordo com o artigo 217 da Lei 8.112/90, a jornada de trabalho poderá ser revertida aqualquer tempo, de ofício ou a pedido do servidor, de acordo com o juízo de conveniência eoportunidade da administração.

56. Assim, vetar a alteração dos períodos de férias já marcados, no período de quarentena, nãoafronta a esfera de direitos do servidor, mas atende às necessidades e interesses daAdministração. Ser-lhe-á garantido o direito constitucional de repouso temporário, nas datas,inicialmente, apontadas pelo servidor e autorizadas pela Administração.

57. Ressalte-se, da mesma forma, a discricionariedade da Administração, cuja motivação estácalcada na ausência de interesse em aumentar jornadas de trabalhos reduzidas, neste período depandemia, para aqueles servidores que desempenham, remotamente, as suas atividades, com onítido propósito de se manter o mínimo necessário à prestação do serviço público.

58. Da mesma forma que a calamidade pública autoriza a interrupção das férias (art. 80 da Lei8.112/90), para atender aos interesses da Administração, 38. Da mesma forma que a calamidadepública autoriza a interrupção das férias (art. 80 da Lei 8.112/90), para atender aos interesses daAdministração, e, portanto, da coletividade, também a calamidade pública, que enseja oisolamento social e impõe o teletrabalho, corresponde a motivo suficiente para vetar a alteraçãodos períodos de férias já designados.

59. A Administração, com estas vedações, atua no âmbito de seu poder discricionário, sendo,em princípio, vedado ao Poder Judiciário se imiscuir no mérito de tais decisões administrativas.No entanto, em se verificando ilegalidade em tais decisões, ocorrendo violação à lei ou aosprincípios norteadores de toda a atividade oriunda da Administração Pública, pode aquelePoder, uma vez provocado, anular o ato administrativo.

60. No entanto, a Instrução Normativa nº. 28/2020 motiva, devidamente, o ato administrativoque veda tais reversões, neste estado de calamidade que enfrenta o país, inexistindo, portanto,no caso, ilegalidade.

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61. No tocante à análise das vedações impostas pela Administração, no que concerne àimpossibilidade de se reverter jornada reduzida, ou mesmo de alterar período de férias jádesignado, há de se considerar a supremacia do interesse público sobre o privado, cuja essênciaestá na própria razão de existir da Administração, ou seja, a Administração atua voltada aosinteresses da coletividade.

62. Para tais vedações, considerando o estado de calamidade pública, o administrador, nestaanálise prefacial, de fato, recorreu aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,ponderando, igualmente, o interesse individual.

63. Tomo como embasamento, entendimento exposto no âmbito do Supremo Tribunal Federal,onde foi evocada a didática distinção feita por Pedro Serrano entre estado de exceção elegalidade extraordinária. O estado de exceção é expressamente previsto pela ConstituiçãoFederal, em seus artigos 136 e 137, consubstanciando-se no estado de defesa e no estado desítio. Nessa excepcional hipótese distinta da presente do estado de exceção, o Poder Executivo éautorizado constitucionalmente a suspender o exercício de

garantias fundamentais visando à preservação da ordem pública interna. Enquanto, nalegalidade extraordinária, como a que estamos vivenciando, em razão da pandemia doCOVID-19, a integridade do Direito permanece inabalada, ou seja, os direitos previstos em leidevem ser garantidos aos servidores públicos.

ISTO POSTO, decido:

64. Defiro, parcialmente, o pedido de liminar requerida, sendo:

a) procedente para determinar a suspensão dos efeitos previstos nos artigos 4º e 5º da InstruçãoNormativa nº. 28/2020, mantendo-se, deste modo, o pagamento do adicional noturno, dosadicionais ocupacionais (de insalubridade, periculosidade, irradiação ionizante), bem como dagratificação por atividade com Raio-X, tendo em vista o caráter remuneratório das referidasrubricas;

b) improcedente quando aos pedidos de suspensão dos artigos 2º, 3º, 6º e 7º da InstruçãoNormativa nº. 28/2020, tendo em vista a legalidade da suspensão do pagamento das verbasindenizatórias, tal como o auxílio-transporte, haja vista a implantação do trabalho nãopresencial, sem deslocamento do servidor; considerando, ainda, a legitimidade das vedaçõesconcernentes à autorização dos serviços extraordinários, à prorrogação ou à alteração dosperíodos de férias já programadas, à reversão de jornada reduzida, neste período de calamidadepública.

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65. Deixo de designar audiência preliminar de conciliação, tendo em vista que o objeto dademanda é inconciliável, por se tratar de Direito Público, nos termos do artigo 334, § 4º, II, doNovo Código de Processo Civil.

66. Intimem-se a União e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para darem imediatoe efetivo cumprimento ao comando judicial que antecipou os efeitos da tutela jurisdicional.

67. Citem-se para, querendo, apresentarem contestação, no prazo de 15 (quinze) dias,contabilizados em dobro, nos termos do artigo 335 do NCPC.

Recife, 26 de maio de 2020

HÉLIO SILVIO OURÉM CAMPOS

JUIZ FEDERAL DA 6ª VARA-PE

Processo: 0809422-18.2020.4.05.8300Assinado eletronicamente por:VANIA NERES DE SOUZA - Diretor deSecretariaData e hora da assinatura: 26/05/2020 16:41:17Identificador: 4058300.14572699

Para conferência da autenticidade dodocumento:https://pje.jfpe.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam

Para acessar o processo originário:https://pje.jfpe.jus.br/pje/Processo/ConsultaProcessoOutraSecao/listProcessoCompletoAcessoExterno.seam

20052616400879600000014608307

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