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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNICURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA ALESSA ROYER AMANDA BISSONI JULIANA JOAQUIM LARISSA BRASIL PROCESSOS DE MOSCOU E OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO RUSSO 3

PROCESSOS DE MOSCOU E OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO RUSSO

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CENTRO UNIVERSITRIO UNICURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA ALESSA ROYER AMANDA BISSONI JULIANA JOAQUIM LARISSA BRASIL

PROCESSOS DE MOSCOU E OS CAMPOS DE CONCENTRAO RUSSO

CURITIBA 2010 3

ALESSA ROYER AMANDA BISSONI JULIANA JOAQUIM LARISSA BRASIL

PROCESSOS DE MOSCOU E OS CAMPOS DE CONCENTRAO RUSSO

Trabalho apresentado para a disciplina de Direito e Histria, com orientao do professor Marcelo Mendes.

CURITIBA 2010 4

RESUMO

Este trabalho objetiva analisar os principais processos de Moscou durante o perodo do terror stalinista, bem como o funcionamento dos campos de concentrao e do sistema judicirio russo. A anlise deste assunto de extrema importncia porque assim conseguimos identificar at que ponto de crueldade um homem pode chegar para atingir seus objetivos, escondendo-se atrs de uma ideologia, assim como Stlin fez. Palavras-chave: processos de Moscou, campos de concentrao, crueldade, Stlin.

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SUMRIO

RESUMO ...................................................................................................... 3 1 INTRODUO ............................................................................................ 5 2 PROCESSOS MAIS IMPORTANTES DE MOSCOU .................................10 3 PRINCIPAIS JULGAMENTOS ...................................................................19 3.1 SERGEI KIROV ........................................................................................19 3.2 GRIGORI ZINOVIEV .................................................................................20 3.2 LEON TROTSKY ...................................................................................... 21 3.3 LEON SEDOV ...........................................................................................21 3.4 LEV KAMENEV .........................................................................................22 3.5 MIKHAIL TUKHACHEVSKY ......................................................................22 3.6 NICOLAI BUKHARIN .................................................................................23 3.7 KARL RADEK ............................................................................................24 3.8 ALEXEI RYKOV .........................................................................................24 3.9 GERINKH YAGODO ................................................................................ .25 4 GULAG .........................................................................................................25 5 REFERNCIAS ............................................................................................36

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INTRODUO HISTRICA

A Rssia do sculo XIX, mais conhecida como Rssia Czarista, era caracterizada por possuir uma base econmica agrria e feudal, onde a maior parte das relaes de trabalho era de ordem servil. Essa monarquia autocrtica foi marcada pelo autoritarismo da direo de Czares, os quais possuam poder absoluto e ditatorial, alm do auto ndice de corrupo junto com uma enorme incapacidade administrativa gerando um governo arcaico e repressor. Em 1861, o Czar Alexandre II aboliu a servido e abriu a possibilidade de compra de terras por parte desses camponeses, estimulando a ocupao de novas reas. Contudo, nenhuma dessas reformas produziu os resultados esperados. Foi apenas no final do sculo XIX em que a industrializao ocorreu de fato na regio. Com o intuito de reduzir a insatisfao social, o governo promoveu incentivos industrializao, mas mesmo atingindo altos nveis de desenvolvimento industrial, no houve uma melhora significativa na condio de vida dos operrios1. Como o Estado, por seu regime autoritrio, no permitia a organizao e participao de partidos polticos, eles comearam a se formar aos poucos na clandestinidade.2

Entretanto, com o tempo acabaram se

formando alas terroristas dentro dessas organizaes, o que mais tarde resultou no assassinato do czar Alexandre II em 1881. Aos poucos a corrente marxista acabou penetrando na Rssia, e no final do sculo o movimento intelectual j exercia um papel significativo na vida do pas. Em 1898 surge o Partido Operrio Social-Democrata Russo (POSDR), onde Jorge Plekhnov, Martov, Lnin e Leon Trotski eram os principais lderes na poca. Contudo, em 1903 o partido acabou se separando em duas alas distintas devido a divergncias internas com relao a alguns aspectos a serem decididos. Criaram-se os bolcheviques, que eram compostos pela maioria e liderados por Lnin, os quais acreditavam em um partido forte e unicamente voltado para a revoluo, acreditando na derrubada violenta da monarquia; e os mencheviques, que eram a minoria e eram liderados por Martov, acreditavam em um partido aberto voltado mais para o apoio intelectual,1 2

FERREIRA, Jos Roberto Martins. Histria. Ed. Reform. So Paulo: FTD, 1997. p. 14. NEVES, Joana. Histria geral: a construo de um mundo globalizado. 1.ed. So Paulo: Saraiva,2002. p. 417.

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propondo um caminho para o comunismo atravs de um lento processo de reformas. Em 1904, a Rssia acabou se envolvendo em uma guerra contra o Japo pela disputa de terras no nordeste da China, a Manchria. Aps a esmagadora derrota, com o fracasso militar e a humilhao que se originou, o governo acabou acentuando ainda mais a oposio a seu governo, e com isso os partidos de oposio acabaram ganhando cada vez mais fora. Foi ento que em 9 de janeiro de 1905, a populao se organizou em uma manifestao pacfica para a reivindicao de direitos ao povo, em frente ao palcio onde se encontrava o czar Nicolau II. Aps receber ordens, um dos guardas do czar atirou contra a populao, deixando centenas de mortos, o que acabou gerando indignao da populao. Esse episdio at hoje conhecido como Domingo Sangrento. Com isso, a crise social e poltica agravaram-se, e inmeras greves se iniciaram. A fim de ganhar tempo, o czar cria em agosto a Duma (Assemblia Legislativa). J os operrios decidiram criar os sovietes (conselhos) onde eram discutidas e votadas todas as aes polticas. Em 17 de outubro de 1905, o czar divulgou o decreto no qual a Rssia se transformava em uma monarquia constitucional, episdio mais conhecido como Manifesto de Outubro. 3 Mais tarde com a ecloso da Primeira Guerra Mundial, a entrada do pas no conflito acarretou em insatisfao da populao civil e dos militares. Acredita-se que em dois anos e meio de guerra, aproximadamente quatro milhes de soldados tenham morrido em combate, devido subalimentao e o fraco contingente de armas de fogo. Motins militares, falta de alimentos, greves nas indstrias, queda da produo e baixos salrios foram s alguns dos motivos que levaram a estourar o movimento revolucionrio. Com esperana de salvar o trono, o czar abdica ao cargo em favor de seu irmo, que acaba por recusar assumi-lo. A primeira fase conhecida como Revoluo de Fevereiro, ocorreu quando manifestantes e parte do exrcito invadiram edifcios pblicos. Com isso surgiram o Soviete de Deputados Operrios e o Comit Provisrio da Duma.

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NEVES, Joana. Histria geral: a construo de um mundo globalizado. 1.ed. So Paulo: Saraiva,2002. p. 419.

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Entrou em cena um Governo Provisrio, o qual decretou a priso de Nicolau II e anistia aos presos polticos que foram retornando ao pas aos poucos. Essa primeira fase ficou caracterizada pela dualidade do poder, o soviete e a Duma, isto , burguesia versus operariado. Nessa poca a fora poltica russa estava dividida em trs grandes plos: o Partido os Kadetes (que defendia a permanncia do pas na guerra), o Partido Bolchevista (que era contrario permanncia do pas na guerra e queria uma profunda reforma social) e o Partido Menchevista (que eram contrrios permanncia na guerra, mas queria medidas reformistas ao invs de mudanas drsticas). Apenas atendendo aos interesses da burguesia, os membros do governo provisrio adotaram algumas medidas liberais onde nem operrios, nem camponeses ficaram satisfeitos. Assim, rapidamente os bolcheviques se tornaram o principal porta-voz destas reivindicaes. Em abril o partido bolchevista aprovou as Teses de Abril, que eram defendidas por Lnin onde o proletariado deveria tomar o poder, depondo o governo provisrio e retirando o pas da guerra.

Na nossa atitude perante a guerra, que por parte da Rssia continua a ser indiscutivelmente uma guerra imperialista, de rapina, tambm sob o novo governo de Lvov e C., em virtude do carcter capitalista deste governo, intolervel a menor concesso ao defensismo revolucionrio.4

Nessa poca Trotski adere ao partido bolchevista e se elege presidente do soviete de Petrogrado, um dos mais influentes na poca. Percebendo que um confronto armado se aproximava para a derrubada do governo, ele organiza a Guarda Vermelha para enfrentar todos aqueles que eram favorveis Duma. Ento se inicia a segunda fase da Revoluo, a Revoluo de Outubro.4

LNIN, Vladimir Ilitch. Teses de abril. Petrogrado, 1917. Disponvel . Acesso em: 02. nov. 2010.

em:

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A grande fora dos grupos comunistas estava nos sovietes, organizaes que agrupavam e representavam os interesses dos trabalhadores. [...] Lnin, apoiado pelos sovietes e por uma milcia popular, conquistou a capital, obrigando o governo provisrio a renunciar. Em outubro de 1917, os bolcheviques assumiram o poder.5

Uma vez no poder, chefiado por Lnin, o grupo instalou o chamado comunismo de guerra, visando acabar com a propriedade privada promoveu mudanas como a desapropriao das terras da igreja, da nobreza e da burguesia, alm de tornar propriedade do Estado fbricas, lojas, bancos, etc. Aos poucos, as foras que se opunham revoluo comearam a formar guerrilhas fortemente armadas que eram sustentadas com o apoio outros pases como Frana e Inglaterra, originando uma Guerra Civil em 1918. Trotski decide transformar a Guarda Vermelha em algo permanente, e por isso criou o conhecido Exrcito Vermelho. Com a guerra, toda a ateno do Estado estava voltada para ela, trazendo enormes conseqncias para a populao, que se viu no papel de apenas sustentar as tropas, fornecendo-lhes comida que era confiscada a fora. A desorganizao da economia, o despreparo dos trabalhadores frente direo e organizao das fbricas e a guerra civil enfrentada resultaram no desmoronamento da economia comunista, e a sociedade com a qual os revolucionrios sonhavam estava cada vez mais distante de ser atingida. Em maro de 1921, Lnin adota uma srie de medidas conhecida como NEP (Nova Poltica Econmica), a qual era composta por uma mistura entre princpios capitalistas e comunistas, privatizando alguns setores e conseguindo sutilmente restaurar a economia e a produo industrial. Um ano mais tarde instituda a Unio das Repblicas Socialista Soviticas, mais conhecida como Unio Sovitica (URSS). Infelizmente, o lder do governo e grande mentor de toda a revoluo no viveu tempo suficiente para melhor organizar a casa, morrendo em 1924. Aps o episdio, a disputa pelo poder se focaliza em dois plos: Trotski e Stlin (que era apoiado pelos velhos lderes bolchevistas), sendo o segundo aquele que assumiu, e restando a Trotski o exlio.5

FERREIRA, Jos Roberto Martins. Histria. Ed. Reform. So Paulo: FTD, 1997. p. 17.

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Ao assumir, Stlin centralizou o poder rigidamente, suspendeu as medidas da NEP, promoveu uma intensa industrializao e no setor agrcola fez a coletivizao das terras. Promovendo um sistema totalitrio atravs de um forte embasamento militar e de policiamento, fez a inverso da ditadura do proletariado em a ditadura sobre o proletariado. Com a criao de uma estrutura rgida, em meados de 1939 a URSS j detinha a posio de terceiro lugar no ranking de plos industriais no mundo, e sem depender de emprstimos internacionais. Para quem observava de fora, Stlin estava fazendo um milagre transformando a URSS daquela maneira, um pas que era economicamente um fracasso e onde a maioria da populao era analfabeta e vivia em condies mnimas, agora se tornando uma das potncias industriais da poca. Porm, as medidas adotadas para se alcanar tais fins que foram muito questionadas. Dono de um temperamento forte, Stalin acabou com qualquer oposio em potencial ou no, indo muito alm de apenas terras nacionais, com o objetivo de consolidar sua autoridade, mandando eliminar todos aqueles que eram contra seu governo e medidas, tendo como o caso mais marcante o assassinato de Trtski em 1940 no Mxico. Esse perodo de terror vivido pela URSS de perseguio e represso poltica, principalmente de 1934 1938, at hoje conhecido como o Grande Expurgo. A maioria dos acusados, os quais quase que unanimente inocentes, aps uma srie de torturas sofridas acabavam confessando crimes que jamais cometeram, apenas para cessar com o horror. Algo que chama ateno com relao a essas medidas tomadas, que no s aqueles que faziam parte da oposio que acabaram sendo perseguidos, mas at mesmo os membros do prprio partido de Stlin. Os julgamentos de Moscou ocorreram em trs fases distintas, e mais uma secreta, conhecidas todas como ensaios. A primeira fase de julgamento ocorreu em agosto de 1936, e teve 16 rus, dos quais estava presente dois dos mais importantes acusados, Grigori Zinoviev e Lev Kamenev. Aps confessarem culpa (por crime que jamais vieram a cometer), todos foram condenados morte e executados. J em janeiro de 1937 se deu inicio a segunda fase de julgamentos em Moscou, com 17 rus, sendo todos acusados de conspirao conjunta com Trtski. Nessa fase, pode-se considerar de mais relevante o fato de 13 dos 17 terem sido 11

acusados e mortos, dentre eles Karl Radek. Ainda em junho do mesmo ano, houve uma srie de julgamentos secretos, os quais corresponder a priso de uma enorme quantia dos oficiais do Exrcito Vermelho, entre eles, 13 dos 15 generais do exrcito, entre eles Mikhail Tukachevski. A terceira e ultima parte dos julgamentos aconteceu em maro de 1938, que acabou ficando mais conhecido como o Julgamento dos vinte e um. Como o prprio nome j sugere, eram 21 rus, tendo como Genrikh Yagoda e Alexei Rykov. Nessa fase todos os principais lderes que estavam presentes foram executados. PROCESSOS MAIS IMPORTANTES DE MOSCOU

Os grandes processos que o autor se refere no podem ser entendidos de forma autnoma, mas sim no plural. Processos de Moscou eram realizados em julgamentos pblicos e as portas fechadas e so os smbolo da tirania de Stlin. As sentenas eram previamente decididas e os julgamentos eram uma espcie de teatro, em que os rus contribuam com alegaes e confisses que os condenavam. No havia investigao preliminar, essa era a instruo, que era baseada na tortura. Esses processos aconteceram durante o perodo do Grande Expurgo. Expurgo poca em que havia perseguio aos inimigos polticos, a determinadas classes da sociedade. Baseado no marxismo, Stlin queria instituir a ditadura do proletariado e Hitler foi aprender na Unio Sovitica como eliminar milhes de pessoas. A diferena dos dois regimes era, basicamente, o nazismo pretendia exterminar uma nacionalidade e a URSS pretendia exterminar classes. Eram datilografados, o que agilizava, no havendo necessidade de ver o acusado. OSO (Conferncia Especial ligada a GPU, polcia secreta que fazia a administrao do Estado.) no tinha muito trabalho.

- Processo das Notcias Russas

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O processo das Notcias Russas tratou da liberdade de expresso. O jornal condenado por tentativa de influir nos espritos. O redator, Igorov, condenado a trs meses de priso, incomunicvel.

- Processo dos Trs Comissrios do Tribunal Revolucionrio de Moscou (abril de 1918)

Beridze foi preso e sua mulher comeou a indagar quais os meios para resgatar o marido, conseguiu uma ligao com um conhecido dos comissrios. Organizaram um encontro secreto, exigia da esposa 60 mil rubulos, metade adiantado, pago atravs do advogado. Se a esposa no tivesse tanto apreo ao dinheiro, pagando apenas 15 mil adiantados e se no tivesse decido que o advogado no era boa gente, nunca teriam descoberto. Penas de seis meses de priso para cada um dos comissrios e uma multa em dinheiro ao advogado.

- Processo de Kossriev (15 de fevereiro de 1919)

Kossriev e seus amigos Libert, Rottenberg e Solviov tinham trabalhado na comisso de abastecimento da frente oriental. Foram convidados a constituir o Colgio de Reviso e de Controle da Tchek da Unio, que tinha plenos poderes para verificar a conformidade com a lei dos atos da Tchek. Kossriev concordou em receber pequena porcentagem pelos casos descobertos. O ru foi pego em uma de suas conversas secretas para acertar o preo do resgate do marido de uma moa. Iaklov denunciou o caso ao Tribunal Revolucionrio. Isso mostra que tambm havia corrupo no uniforme azul da Tchek. Durante os depoimentos a figura de Kossiriev foi enaltecida, como se fosse um tchekista de ferro. Kossiriev tinha sido julgado por fraude e passado longos anos deportado. Tchek foi privada de seus direitos judiciais, mas no por muito tempo. Kossriev foi condenado ao fuzilamento.

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- Processos dos clericais (11-16 de janeiro de 1920)

Krilenko era o acusador principal, em todos. Primeira culpa: O Conselho Moscovita das Parquias Unidas constituiu uma guarda revolucionria para o patriarca, desarmada. O acusador indaga que perigo sofre o patriarca. Segunda culpa: em todo o pas procedia-se requisio dos bens da igreja, confisco de terras. Terceira culpa: envio de queixas ao Conselho de Comissrios do Povo. Contra os vexames que os funcionrios locais faziam sofrer a igreja. Tribunal condenou Samrin e Kznetsov ao fuzilamento, embora os fazendo beneficiar a anistia: internado em um campo de ocncentrao at a completa vitria sobre o imperialismo mundial. Esses processos executam bispos, frades, freiras que nada so culpados, simplesmente por acusaes infundadas.

- O Processo do Centro Ttico (16-20 de agosto de 1920)

Vinte e oito rus mais outros julgados a revelia. A massa intelliguntsia, referindo-se no ao crebro da nao, mas ao seu esgoto. Em vrios lugares emergem centros ora de engenheiros, ora de mencheviques, ora de trotskistas. O centro ttico desse processo no tinha estatutos, nem membros que pagavam cotas, nem programa. No podiam se encontrar, no tinham como fazer isso. A concluso das provas apresentou a correspondncia e a unidade de pontos de vista entre os presentes e Denkin. Acusados de traio para com o poder sovitico. Em seus autos constava: escreveram trabalhos, elaboraram notas, estabeleceram projetos. Professor Kotliarvski sobre a organizao federativa da Rssia, Stempkvski sobre o problema agrrio, Muralvitch da instruo pblica na futura Rssia e Vinogrdski da economia. Krilenko queria inicialmente o fuzilamento, mas apena foi atenuada para campo de concentrao at o fim da guerra civil.

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E ainda que, acusados aqui em Moscou, no tenham feito absolutamente nada ( e parece que foi assim), de todos os modos... no momento atual, o simples fato de conversar atrs de uma xcara de ch sobre qual ser o regime que deve substituir o sovitico, que ir pretensamente desmoronar-se, um ato contrarevolucionrio...Durante a guerra civil no s a atividade contra o poder que criminosa... criminosa a prpria inatividade.6

- O Processo da Direo Central dos Combustveis (maio de 1921)

Esse processo englobava os engenheiros. Eram culpados de tudo, pela situao catica que no tinham como resolver. Entretanto o tribunal aplicalhes penas leves, pois dependem do trabalho desses engenheiros.

- O Processo sobre o Suicdio do Engenheiro Oldenborguer (fevereiro de 1922)

Oldenborguer mais dez pessoas formavam um centro. Tinha sido engenheiro-chefe por dez anos no Servio de Canalizao de gua em Moscou, dedicou toda sua vida a isso. Em 1905 no permitiu que as tropas tivessem acesso as canalizaes porque os soldados podiam estragar os canos ou as mquinas. Queria continuar fazendo a gua correr mesmo em meio a revoluo, no aderiu a greve que os outros funcionrios estavam fazendo contra o golpe dos bolcheviques. Por essa postura foi rotulado como inimigo. Foi acusado de sabotador, o partido tomou suas medidas: destituir o engenheiro-chefe e cria-lhe uma situao de vigilncia permanente. Oldenborguer refutou todas as acusaes, denunciaram-no a Tchek. Decidiu suicidar-se. O governo prope que os padres alimentam a regio do Voga: Se recusam so acusados de toda a fome, se concordam o governo limpa os templos. A verdadeira razo para a fome era o fato de uma poltica de Stlin para acabar com as pessoas de determinadas regies, enquanto a Rssia6

SOLJENTSIN, O Arquiplago de Gulag. So Paulo: Difel, 1973. p. 321

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exportava muitos de gros, sua populao definhava. Outro fato que contribuiu para a fome Foi a diminuio da produtividade, pois as pessoas estavam com as mos ocupadas empunhando armas.

- Processo Clerical de Moscou (26 de abril-7 de maio de 1927)

Dezessete rus acusados de distribuir o apelo do patriarca. O tribunal decide instaurar um processo contra o patriarca que era uma testemunha, que foi preso logo depois.

- Processo Clerical de Petrogrado (9 de junho-5de julho de 1922)

Os rus so acusados de resistncia entrega dos valores da igreja, entre eles estavam professores de teologia, sacerdotes, leigos. De um processo ao outro fica cada vez, mais aparente a falta de liberdade dos advogados, que eram ameaados de priso. Metropolita Venimin acusado de ter chegado mal intencionadamente a um acordo com o poder sovitico pra conseguir uma atenuao no confisco dos bens. Foram ouvidas unicamente testemunhas de acusao, ou seja, a defesa no pode exercer seu papel. Toda igreja era considerada uma organizao contra-revolucionria, portanto deveria prender toda a igreja. O Tribunal condenou dez morte. O Cdigo Penal foi elabora as pressas para o processo dos socialistasrevolucionrios, foi ampliando o mbito do fuzilamento, a pedido de Lnin.

- Processo dos Socialistas-Revolucionrios (8 de julho-7 de agosto de 1922)

No havia advogados, os rus se defendiam quando atacados.

Se eu e os leitores no soubssemos que o essencial em qualquer processo judicial, no a acusao, a chamada culpa, mas sim a convenincia, talvez no aceitssemos de nimo to fcil esse processo. Mas a convenincia vai se delineando sem falhas

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diferentemente dos mencheviques, os socialistas revolucionrios continuavam a ser considerados perigosos, no tendo ainda sido dispersos ou liquidados, e para o fortalecimento da nova ditadura (a do proletariado) era conveniente acabar com eles. 7

Os socialistas-revolucionrios eram considerados um partido vizinho, que lutava pela derrubada do czarismo. Mas agora estavam sendo acusados de iniciarem a guerra civil, cavarem o abismo da guerra civil. Realmente foram eles que iniciaram a guerra civil, juntamente com os bolcheviques ofereceram resistncia. Foram acusados tambm de traio ao Estado e de arrast-lo para a guerra e de formarem uma organizao criminosa de destruio da propriedade do povo. Dessas acusaes derivam outras, como, a de que eram espies da Entente, recebendo dinheiro da mesma, aliana com a burguesia, recebendo dinheiro. Uma cadeia de acusaes articuladas pelo governo. Foi-lhes concedida anistia, perdoando as lutas travadas contra os bolcheviques, com a condio de no reincidirem no delito. Mas nos prximos anos enfrentariam eleies para os sovietes, com liberdade de propaganda para todos os partidos, o Governo decidiu prender todos aqueles que poderiam fazer propaganda contra o partido, todo o Comit Central dos socialistas-revolucionrios foi detido. Foram acusados de incitar o exrcito vermelho a no participarem das expedies punitivas contra os camponeses. Muitos dos que estavam sentados no banco dos rus no estariam nessas condies se no fosse a acusao de atos terroristas, que no abrangida pela anistia. Durante o julgamento Krilenko fazia comentrios sobre os depoimentos das pessoas, de tal forma que poderiam ser aplicados a qualquer depoimento, existia um processo de falsificao do depoimento. No eram culpados dessas acusaes, no momento em que ficavam fracas Krilenko tirava uma carta da manga, acusando os rus de no-denncia. O partido revolucionrio era culpado por no ter denunciado a si prprio, por isso tudo constituem uma ameaa ao poder sovitico e devem ser condenados. O Tribunal condenou catorze pessoas ao fuzilamento, no todos. A sentena utilizada como diretriz seguida em outros tribunais. No existia7

SOLJENTSIN, 1973, p. 343.

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justia nos processos de Moscou, os depoimentos eram manipulados, os tribunais eram de portas fechadas, as sentenas eram baseadas na convenincia.

- O Processo das Minas (18 de maio-15 de julho de 1928)

Cinqenta e trs acusados e cinqenta e seis testemunhas. Esse processo tratava-se da indstria e da extrao carbonfera, novamente pode-se observar a perseguio aos engenheiros. Piotr Akimvitch Paltchinski foi apontado como principal ru desse processo, suportou todos os meios de torturas aplicadas pela GPU e morreu sem assinar nada, mostrando que possvel manter-se firme a seus ideais.

- Processo do Partido Industrial (25 de novembro-7 de dezembro de 1930)

Foi uma sesso extraordinria, em que o acusador foi Krilenko. Os rus eram toda a indstria do pas, e contra eles no havia um papel sequer, pois a maior prova a confisso de culpa por parte dos acusados. Seus supostos crimes eram: planejavam a diminuio do ritmo de desenvolvimento, retardavam o ritmo de extrao de combustvel, tinham um comportamento anti-sovitico nos curso que davam, instalavam mquinas antiquadas, projetavam aes de sabotagem. fato que os rus confessavam essas acusaes, mas qualquer um o faria depois de passar pelo calabouo, pela caixa de percevejos, pela privao do sono, ou qualquer outro meio de tortura. Porm os crimes mais importantes so: preparar uma interveno estrangeira, receber dinheiro dos imperialistas, exercerem espionagem, ter distribudo as pastas do futuro governo. Ainda eram acusados de acabar com a indstria txtil, no entanto, nenhuma indstria foi realmente danificada. preciso retomar que era extremamente conveniente para o governo liquidar com essa classe de intelectuais: os engenheiros, por isso foi preciso inventar essas acusaes. Como era uma classe bastante numerosa, a cada 7 prendia 1 e deixavam o restante assustados.

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Esse partido industrial mobilizava a classe dos engenheiros a lutar pelo poder, o total de membros desse partido era desconhecido, o que faz com que no julgamento Krilenko humilhe os rus, metralha-os com perguntas sugestivas. Alguns nomes podem ser citados: Ramzin, Lartchev, tchkin, Professor Kalnnikov, Fidotov, Tcharnvski. O perfil dos engenheiros mostrava que no tinha como eles prepararem a interveno. Porm como os engenheiros no querer a Repblica democrtica, como poderia querer a ditadura do operariado. Mas essa classe no pode ter opinio poltica. Os engenheiros no s eram vistos como uma camada socialmente suspeita que no tinha sequer o direito de instruir seu filhos, no s eram pagos com salrios incomensuravelmente mais baixo do que a sua contribuio para a produo, como tambm se exigia deles que assegurassem o sucesso da produo e a disciplina da mesma. A nova poltica econmica era uma farsa, no tinha como chegar a esses nmeros anunciados, era impossvel, mas a culpa caia sobre os engenheiros. Mas no podia dizer a verdade em 1930, era a certeza do fuzilamento. Mas por que eles confessavam tudo? O que mais eles poderiam fazer! Krilenko poderia escolher entre milhares de engenheiros os que ele acreditava que tinha mais apreo a vida e iria confessar tudo para preserv-la. Paltchinski no se deixou dobrar e foi fuzilado, Khrnnikov tambm no cedeu e morreu durante a instruo do processo. Tudo isso porque Stlin estava convencido que entre a classe dos engenheiros estavam escondidos anti-soviticos, logo os funcionrios do governo deveriam ach-los. Como? Torturando os que eles acreditavam que cederia.

Foram alcanados todos os objetivos dos processos: Todas as deficincias que existem no pas, a fome, o frio, a falta de roupas, a desorganizao e as mais rematadas tontices tudo isso foi atribudo aos engenheiros sabotadores; O povo ficou assustado com a iminente interveno e disposto a novos sacrifcios; Os crculos de esquerda do Ocidente ficaram advertidos quanto s mquinas dos seus governos; A solidariedade dos engenheiros foi abalada, toda a intelectualidade, assustada e dividida. E para que no restassem dvidas de que era este o objetivo do processo, uma vez mais ele foi proclamado, com clareza por Ramzin: Eu queria que, como resultado do atual processo do partido industrial, sobre o sombrio e

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vergonhoso passado de toda a intelectualidade... fosse traada uma cruz para sempre.8

Por isso que a classe da intelliguntsia firmou-se como um insulto.

- Processo do Escritrio Central dos Mencheviques (1-9 de maro de 1931).

Sesso extraordinria do Supremo Tribunal com catorze rus. O principal ru desse processo Mikhail Petrvitch Iakubvitch. A GPU tinha a funo de demonstrar que os mencheviques se infiltraram em muitos postos do governo, o que no era verdade. Se eram espies ou no isso no interessa a GPU, ou seja as opinies polticas no interessavam. Vladimir Gustavovitch Groman foi um ru que ajudou a montar o processo, pois foi-lhe oferecido uma anistia. Iakubvitch foi o mais novo membro do partido menchevique, mas no golpe de outubro props que seu parido apoiasse os bolcheviques, ou seja, no era propriamente um menchevique, mas foi preso. Durante a instruo Krilenko fala para Iakubvitch que acredita na sua inocncia, mas obrigado pelo partido (e por Stlin) a continuar o processo e props que o ru o ajudasse e ele aceitou. Diante disso no seria necessrio torturar Iakubvitch, mas recebeu o tratamento completo: calabouo gelado cela ardente, pancadas nos rgo genitais. Torturaram-no de tal maneira que Iakubvitch e seu companheiro Abram Guinzburg cortaram os pulsos de desespero9. Depois de tudo isso o deixaram sem dormir por duas semanas. Ser que Iakubvitch iriam fazer um escndalo no processo, devido a todas as torturas que sofrera e as coisas que teve que engolir, mas isso iria contra o poder sovitico e seria a negao do objetivo de sua vida, alm de que no o fuzilariam, mas iria tortur-lo at ficar louco.

8 9

SOLJENTSIN, 1973, p. 384. SOLJENTSIN, 1973, p. 389.

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Na falta de mencheviques a GPU recrutava pessoas voluntrias. Os processos de Moscou eram uma vergonhosa comdia judicial, estruturada com depoimentos de provocadores e de infelizes rus, forados pelo terror.10 Krilenko pediu o fuzilamento de Iakubvitch, o que gerou a felicidade do condenado, pois no foi humilhado e o fuzilamento colocaria fim em todo o sofrimento. Os principais inimigos de Stlin eram falsos. As atas dos julgamentos mencionados no correspondiam com exatido ao que foi o julgamento. Os prprios integrantes do governo eram condenados dessa maneira, um exemplo disso foi Bukharin, que redigiu a Constituio e tinha uma relao boa com Stlin, mas conspiraram contra ele tambm. O problema era que nessa Constituio suavizava a ditadura. Os mais clarividentes suicidavam-se antes da deteno. A imprensa publicava apenas o que a NKVD aprovava.

PRINCIPAIS JULGAMENTOS DE MOSCOU

SERGEI KIROV Nasceu de uma famlia pobre em Urjum, ficando rfo muito cedo sendo criado pela sua av, e formado em engenharia na Escola Tcnica de Kazan. Com a crise vivida pela Rssia no inicio do sculo XX torna-se marxista e se alia ao Partido Operrio Social-democrata Russo (POSDR) em 1904. Aps ter se unido ao POSDR adquiriu maior conhecimento a respeito da literatura revolucionria, sendo preso em 1906 por impresso ilegal de literatura, diversos de seus amigos foram presos e executados, diferentemente dele que passou trs anos em crcere privado onde encontrou um acervo muito grande de livros que pode aprimorar seu conhecimento durante o perodo de estadia forada. Obteve grande participao na Revoluo Russa de 1917, lutando a favor do Exrcito Vermelho. Sendo explicito o seu apoio e lealdade a Joseph Stalin, Kirov fora recompensado ao ser nomeado chefe da organizao do partido em Leningrado. Sua atuao era de tamanha significncia que muitos acreditavam que Kirov estava sendo preparado para liderar o partido10

SOLJENTSIN, 1973, p. 391.

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aps a morte de Stalin. O lder comunista estava preocupado tentando prever se seu fiel aliado esperaria a sua morte para substitu-lo no poder, sem mais demora enviou Leon id Nikoalaev, a 01 de dezembro de 1934, para liquidar seu futuro oponente com um tiro no pescoo, o qual nunca assumiu a autoria do crime e segundo evidncias comea os Expurgos de Moscou. GRIGORI ZINOVIEV Nasceu de uma famlia judia, filiou-se ao POSDR, como um importante militante e grande colaborador de Lnin. Em 10 de outubro de 1917 ele e Liev Kamenev foram os nicos que votaram contra a proposta de Lnin de iniciar uma luta armada na Revoluo de 1917. Zinoiev sempre se opondo a Lnin e posteriormente a Stalin, no possua muito prestigio, tendo que se desculpar inmeras vezes diante o pblico, humilhando-se para permanecer como um bolchevique. Fora preso diversas vezes, expulso do partido, forado a assumir culpa moral sobre o assassinato de Kirov. Em 1936, contudo, Zinoviev foi novamente julgado, desta vez em um dos julgamentos pblicos que, durante o stalinismo, foram usados como farsas espetaculares: os opositores de Stlin eram obrigados a confessar os crimes mais absurdos, como por exemplo, envenenamento, terrorismo, sabotagem. Zinoviev foi executado em 25 de agosto de 1936. LEON TROTSKY

Descendente de famlia judaica, com seus 18 anos, jovem ainda, fora preso em virtude de seu envolvimento com lderes revolucionrios. Depois de ser deportado para vrios pases e s vezes at foragido, soube da notcia que havia estourado uma revoluo dos proletrios na Rssia e tratou de retornar ao seu pas de origem para se unir a eles. Recm chegado Rssia participou do golpe de Estado e a instaurao da ditadura do proletariado ao lado de Lnin e Stalin. A morte de Lnin propiciou uma corrida pelo poder entre vrios aliados em vida a ele, dentre os concorrentes estavam Trotsky e Stalin. Stalin imps diversas difamaes a respeito de Trotsky impedindo-o de falar em

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pblico. Expulso da Unio Sovitica, Trotsky transitou por inmeros pases, por fim, fixou-se no Mxico. Porm, Stalin sempre acreditou que ele seria sempre uma ameaa ao seu governo, em virtude de seus atos de militncia, ento decidiu enviar um agente, chamado Ramn Mercader, para o novo endereo de Trotsky matando-o a golpes de picareta em 1940, mas Mercader nunca assumiu que o matou a mando de Stalin.

Os julgamentos de Moscou so perpetuados sob a bandeira do socialismo. No vamos admitir este banner para os mestres da mentira! Se a nossa gerao passa a ser fraco demais para estabelecer o socialismo, sobre a terra, que vai entregar a bandeira imaculada para nossos filhos. A luta que se prev para breve transcende, de longe, a importncia dos indivduos, faces e partidos. a luta para o futuro da humanidade. 11

LEON SEDOV Leon Sedov era filho de Leon Trotsky, e apoiou o pai em sua luta contra Stlin, vindo se a tornar o principal lder do movimento Trotskista. Aps o exlio de seu pai, Sedov decide acompanh-lo e deixar a Rssia. Muda-se para Paris e l, mesmo sem perceber passa um longo tempo sendo observado por agentes secretos de Stlin. Alguns documentos afirmam que nos meados de 1936, ele marca uma viagem para Mulhouse, na qual era esperado por uma emboscada logo na estao de trem, mas com muita sorte do destino acabou nunca embarcando. 12 Infelizmente, em 16 de fevereiro de 1938, aps um suposto ataque de apendicite, Sedov foi internalizado em um hospital particular de Paris, o qual se acredita no tendo fornecido o tratamento devido aps o paciente apresentar complicaes ocorridas no ps-operatrio, vindo a falecer. Se a morte foi por causas naturais ou se ele foi envenenado para apresentar tais aspectos, no se sabe ao certo, mas muitos historiadores11

TRTSKY, Leon. Eu aposto a minha vida. Discurso de abertura da Comisso Dewey. Fevereiro de 1937 12 SERGE, Victor. Obituary Leon Sedov. 21. fev. 1938. Disponvel em: . Acesso em: 06. nov. 2010.

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afirmam que no h dvida quanto o envolvimento de agentes de Stlin para garantir a sua morte. LEV KAMENEV Kamenev e seus colaboradores mais prximos foram expulsos do Partido Comunista e presos em dezembro de 1934. assassinato de Kirov. Em agosto de 1936, aps meses de cuidadosa preparao e ensaios em prises da polcia secreta sovitica, Kamenev e outras 14 pessoas, na sua maioria velhos bolcheviques , foram levados a julgamento novamente. Desta vez, em virtude das despesas na formao de uma organizao terrorista que supostamente matou Kirov e tentou matar Stalin e outros lderes do governo sovitico. Os bolcheviques confessaram a elaborao de monstruosos crimes, envenenamento, espionagem, sabotagem. A execuo de Zinoviev, Kamenev e seus colaboradores foi um evento sensacional notcia na Unio Sovitica e no mundo, abrindo caminho para as prises em massa e execues de terror de 1937-1938. MIKHAIL TUKHACHEVSKY Mikhail Nikolayevich Tukhachevsky foi um comandante militar sovitico, chefe do famoso Exrcito Vermelho criado por Trotsky, e uma das vtimas de maior renome do Grande Expurgo de Stlin na dcada de 30. Nascido de famlia nobre se formou na Academia Militar Alekzanderskoe tornando-se um oficial do exrcito, incumbido de defender Moscou. Aps ter lutado na Guerra Civil (1918), Guerra Polaco-sovitica, entre outras, acabou sendo promovido Marechal da Unio Sovitica. Em janeiro de 1936, Tukhachevsky visitou a GrBretanha, Frana e Alemanha. Posteriormente, foi alegado que, durante estas visitas ele contatou exilados russos anti-Stalin, e comeou uma espcie de conspirao contra ele. Tukhachevsky foi preso em 22 de maio de 1937, e acusado de organizao de conspirao militar-trotskista e espionagem para a Alemanha nazista. Ele foi morto pelo capito da NKVD, Vassilly Blochin. Quando estava 24 Foram julgados em Janeiro de 1935 e foram forados a admitir "cumplicidade moral" no

em sua cela, Blochin gritou "camarada Tukhachevsky procurado na sesso plenria do bir poltico!", E depois atirou em Tukhachevsky nas vrtebras cervicais (estilo de execuo), causando a morte imediata. 13 NICOLAI BUKHARIN Nasceu em Moscou onde estudou economia. Em 1906 entrou para o Partido Social-Democrata Russo onde se tornou dirigente dos bolcheviques. Foi exilado, e em 1917 voltou Rssia e liderou a ala dos Comunistas de esquerda dentro do Partido Comunista. Aps a morte de Lnin, apoiou Stalin contra Trotski e a Oposio de esquerda, mas Stalin a partir de 1928 o considerou possvel rival e lder da oposio. Com uma reconciliao foi nomeado redator-chefe, mesmo assim foi preso em 1937 e um ano depois condenado a morte. Bukharin era prximo de Stlin, sempre o escrevendo cartas, chamandoo de Querido Koba. Foi o redator da Constituio vigente (para ingls ver) da URSS. Pensava ter derrotado Stlin por ter colocado na Constituio normas que suavizavam a ditadura. O maior medo dele era ser expulso do partido. Quando seus amigos foram presos, Zinoivev, Kmeniev, Pitakov e Smrnov, fizeram-lhes dizer que Bukharin estava contra o governo e forjaram provas. As acusaes eram publicadas nos jornais gerando a indignao das pessoas, preparando-as para o julgamento pblico. Ao que consta em documentos ele no chegou a ser torturado, porm, foi humilhado pelo partido que dependeu a via inteira, se humilhou para Stlin para que no fosse tirado do partido, seu trabalho durante todos os anos de luta no foi reconhecido, assim, podendo considerar esse a maior tortura que poderia ter recebido.

KARL RADEK Nasceu em Lemberg em uma famlia de judeus poloneses. Participou da revoluo de 1905 em Varsvia como membro do Partido Social-Democrata13

CONQUEST, Robert. O Grande Terror. 1. ed. 1968.

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Trabalhador Russo. Durante a primeira guerra envolveu-se em negociaes secretas com o Estado-Maior alemo sobre o financiamento aos bolcheviques. Acabou mediando, entre Lnin e os alemes, um acordo que autorizava a passagem do lder revolucionrio em um trem sob a promessa de tirar a Rssia da guerra. Entrou para o partido bolchevique em 1917 e dez anos depois foi expulso. No Grande Expurgo foi acusado de traio, e mediante tortura acabou confessando ser culpado pelos crimes. ALEXEI RYKOV

De origem camponesa se tornou um importante revolucionrio. Em 1898 entrou para o Partido Social-Democrata Russo. Participou da Revoluo de Outubro e posteriormente esteve exilado na Sibria retornando em 1917. Prximo de Lnin fez parte do Comit Militar revolucionrio que preparou a tomada do poder em Moscou. Aps a morte de Lnin foi nomeado Primeiro Comissrio do povo do interior. Apoiou Stalin contra Trotski, mas em 1937 foi expulso do partido. Um ano depois acusado de ser Trotskista, de traidor e terrorista foi executado.

GERINKH YOGODO Nasceu em uma famlia judaica e aderiu aos bolcheviques em 1907. H indcios que sob ordens de Stalin assassinou o seu superior, na Tcheka (policia secreta), Menjinsky, bem como Serguei Kirov. Supervisionou o primeiro dos processos de Moscou e a execuo dos lderes condenados como Gregory Zinoviv. Em 1936 foi substitudo por Nikolai Yajov na liderana da policia secreta. Foi acusado de conspirar contra o governo no ultimo dos processos e foi declarado culpado, vindo a ser fuzilado. GULAG

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A Unio Sovitica, no perodo de 1918 a 1956, desenvolveu um sistema prisional para abrigar os inimigos polticos, crimes comuns, todos aqueles que podiam ou no conspirar contra o governo, at mesmo aqueles que defendiam o governo. Gulag uma sigla para Glvnoie Upravlinie Lguerei, ou seja, Administrao Geral dos Campos. Eram campos de trabalhos forados espalhados por toda a Unio Sovitica, como um arquiplago, interligados. O que era esse campo no seria possvel exprimi-lo com simples palavras, nem analis-lo com silogismos: era um campo aonde se ia para morrer e quem no morria devia tirar certa concluses14 Lnin foi o primeiro a utilizar esse sistema, depois Hitler e depois Stlin. As condies em que viviam os condenados eram desumanas, pois passavam fome, adoeciam e algumas celas no passavam de quatro metros quadrados, no podiam dormir e eram constantemente vigiados, como se fossem escravos. Em um lugar como esse s triunfa aquele que renunciar a tudo, famlia, bens, sem esperana de liberdade. Alm de entrar em contato com esse ambiente hostil, os condenados eram torturados para confessar as acusaes. As pessoas chegam os Gulag por meio da MVD (Ministrio do Interior), depois pela GPU(Os rgos unificados), NKVD(Comissariado do Povo do Interior). So uma espcie de polcia secreta. A deteno uma reviravolta em sua vida, os presos so obrigados a ajudar a prender seus amigos e vizinhos. Existem trs tipos de deteno: noturnas ou diurnas, domiciliares ou no lugar em que trabalham isoladas ou em grupo. Tudo depende do grau de resistncia que a pessoas possa oferecer. Geralmente ocorre durante a noite, pois assim os guardas conseguem surpreender a vtima, longe dos olhos dos vizinhos, por isso o relato de que muitas pessoas simplesmente somem de um dia para o outro.

A deteno isto: o brusco som noturno da campainha ou a brutal pancada na porta; a brava investida dos briosos agentes com as botas sujas; a assustada testemunha que os segue[..] preciso que testemunha esteja sentada toda a noite e pela manh ponha sua assinatura. 15

14 15

SOLJENTSIN, Alexsandr. Arquiplago Gulag. So Paulo: Difel, 1973. p. 216 SOLJENTSIN, 1973. p. 16.

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A maioria das pessoas detidas so realmente inocentes, logo acreditam que tudo ser esclarecido e que a verdade aparecer, por isso no oferecem resistncia, no gritavam, pelo contrrio, tinham um comportamento nobre e faziam tudo o que os guardas mandavam. Muitas vezes tratava-se apenas de causalidade: Um simples colecionador tinha guardado uma lista de funcionrios do governo, quando isso foi descoberto, foi condenado ao fuzilamento. Os guardas estavam disfarados em todos os lugares: eletricistas, ciclistas, motoristas de txi, as pessoas se sentiam vigiadas todas as horas do dia. No incio havia represso sem julgamento, com a finalidade da limpeza da terra russa de toda e qualquer inseto nocivo. Com essa viso de profilaxia social os Gulags comeam a crescer. Quando Stlin percebeu que em muitos lugares as pessoas iriam morrer de fome, o nmero de detenes diminuiu. Eram feitas perseguies a vrios setores da sociedade sovitica, como sacerdotes, mulheres nobres, pessoas com familiares no estrangeiro, sociedade filosfica, professores que discordavam do mtodo de ensino, intelectuais,colaboradores da Cruz Vermelha, padres(segredos de confisso), estrangeiros. Vrias torrentes enviavam pessoas aos Gulags, em 1937 perseguiam os espalhadores de boatos, os alemes, traidores da ptria, criminosos de guerra e dos verdadeiros inimigos do poder. Nos anos de 48 a 50 podem ser citadas: a dos espies imaginrios, dos crentes, simples intelectuais e homens de pensamentos. A nica diferena entre as torrentes dos dois perodos que a severidade e a pena aumentou. A maioria das acusaes era baseada no artigo 58 do Cdigo Penal de 1924, pois seu texto foi formulado de uma maneira muito ampla e as interpretaes extensivas contriburam para que cerca de 66 milhes de pessoas tenham passado pelos Gulags. Na realidade no existe debaixo dos cus infrao, inteno, ao ou inao, que no possa ser castigada pela mo de ferro do artigo 58.16 Esse artigo era composto por catorze pargrafos. Em nenhum momento l-se algo sobre delitos polticos, mas sim crimes contra o Estado. O crime de traio ptria e colaborao com o inimigo poderia condenar quase toda a populao, com uma interpretao extensiva, mas bastava dez mil pessoas para sustentar os campos de concentrao dando o exemplo. Pode-se observar que milhes de homens e o povoamento do Gulag16

Ibid., p. 70.

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obedeciam uma fria e premeditada lgica, bem como uma tenacidade permanente.17

O Tribunal no deve eliminar o terror. [...] H que fundament-lo e legaliz-lo, claramente, sem falsidades e sem adornos. A formulao dever ser mais ampla possvel, pois s a conscincia e o sentido revolucionrio da justia decidiro das condies de sua aplicao prtica mais ou menos ampla. 18

O primeiro pargrafo condenava qualquer ao que tendesse a debilitar o poder como contra-revolucionria. Nele est contido traio a ptria que era punida com fuzilamento, em casos atenuantes, dez anos. O segundo pargrafo trata da insurreio armada, tomada do poder local ou central e a separao das Repblicas Socialistas Soviticas, a pena poderia chegar ao fuzilamento. O terceiro pargrafo refere-se a ajuda prestada por qualquer forma a um Estado estrangeiro em guerra com a URSS. O quarto pargrafo condenava a ajuda prestada burguesia internacional, fantasiosa na opinio do autor, com pena de dez anos ou fuzilamento. Quinto pargrafo referia-se incitao a que um Estado estrangeiro declare guerra a URSS. Pargrafo sexto tratava da espionagem, que se dividia em presuno de espionagem e espionagem no demonstrada. Pargrafo stimo condenava as atividades nocivas indstria, aos transportes, ao comrcio, circulao fiduciria e s cooperativas. O oitavo pargrafo tratava do terror, intenes terroristas. O pargrafo nono condenava a destruio ou deterioraes causadas por exploso ou incndio devido ao objetivo contra-revolucionrio, denominado como diversionismo. O dcimo pargrafo referia-se a propaganda ou agitao contento um apelo derrubamento, abalo ou enfraquecimento do poder sovitico.

17 18

SOLJENTSIN, 1973, p. 101. Ibid., p. 342

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O pargrafo dcimo primeiro referia-se a um agravante a qualquer um dos pargrafos anteriormente mencionados, se a ao deu-se de forma organizada. Dcimo segundo pargrafo condena a no denncia de qualquer das aes mencionadas nos pargrafos anteriores, a pena no tinha um limite mximo. O dcimo terceiro pargrafo tratava dos que tinham pertencido a algum servio de informao, polcia secreta czarista. Por fim, o dcimo quarto pargrafo punia o no cumprimento consciente de determinadas obrigaes ou a negligncia premeditada no seu cumprimento, a punio estendia-se at o fuzilamento. A lei concedia a pena de fuzilamento para: propaganda e agitao, incitando a resistncia contra o governo; no cumprimento das obrigaes militares; no pagamento de impostos; regresso do estrangeiro sem autorizao; deportao. Mais tarde Lnin props que essa pena se estendesse para as aes em favor da burguesia internacional. D-se a legalizao do medo. Podemos observar que havia uma ausncia de justia em todos os processos de Moscou, existia uma represso extrajudicial, a Tchek e um jovem cdigo criado as pressas para o processo dos socialistasrevolucionrios, alm dos processos precoces que muitas vezes acontecia de portas fechadas e tinham seus depoimento manipulados e sentenas previamente decididas. O prprio fato da deteno revela j uma culpabilidade! Se os rus no so culpados, para que ento prend-los? Uma vez que foram presos, isso significa que so culpados.19 Isso justifica o fato de a pessoa ser presa primeiro e depois ser instrudo o processo A instruo do processo no tinha a finalidade de revelar a verdade, mas sim de esgotar o preso fisicamente, para que ele confesse qualquer coisa. No eram feitas investigaes preliminares para ver se a pessoa inocente, se devem proceder com a instruo. O que interessava nas acusaes no era a chamada culpa, mas a convenincia, se conveniente que uma pessoa seja presa, ou at mesmo morta, assim ser, independentemente se realmente19

SOLJENTSIN, 1973, p. 381.

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culpada. Dem-nos um homem, o caso ns criaremos!20Stlin no acreditava que houvesse um bairro sem inimigos, logo,os oficiais eram obrigados a fazer aparecer confisses, para no serem prejudicados e continuarem no poder.

E ainda que, acusados aqui em Moscou, no tenham feito absolutamente nada ( e parece que foi assim), de todos os modos... no momento atual, o simples fato de conversar atrs de uma xcara de ch sobre qual ser o regime que deve substituir o sovitico, que ir pretensamente desmoronar-se, um ato contrarevolucionrio...Durante a guerra civil no s a atividade contra o poder que criminosa... criminosa a prpria inatividade.21

Os oficiais faziam tudo isso devido ao poder e ao dinheiro, do contrrio poderiam passar para o lado dos rus. Tinham o poder de fazer a pena dos acusados. O dinheiro faz sumir a noo de humanidade e igualdade de um homem, alm da ideologia, que fornece a justificao para maldade, assim foi no nazismo, na inquisio. As pessoas eram obrigadas, atravs de torturas, a assinar e confessar coisas que nunca tinham feito, como participao de uma organizao. Quanto mais fantasiosa uma acusao, mais cruel deve ser a investigao, para obrigar as confisses.22

Para os soviticos duas pessoas j poderiam ser

enquadradas em uma organizao contra-revolucionria. Milhares de inocentes foram torturados, perderam dez ou vinte anos de suas vidas em campos de trabalhos forados e at mesmo foram fuzilados. Existiam 52 tipos diferentes de torturas realizadas nessa faze dos processos. Quando as pessoas eram tiradas de suas casas no sabiam que,

Durante a instruo do processo, lhes apertaria o crnio com um anel de ferro, submergiriam uma pessoa num banho de cidos, que se ataria um homem nu para o expor s formigas e aos percevejos, que lhes introduziriam uma baioneta em brasa pelo orifcio anal (a marca secreta), que se lhe comprimiriam lentamente com uma bota os rgos sexuais e que, como tratamento mais suave, se torturaria algum durante uma semana, sem o deixar dormir, sem lhe dar de beber, espancando-o at deixar-lhe o corpo em carne viva todos os seus heris teria ido parar no manicmio.2320 21

SOLJENTSIN, 1973, p. 151 Ibid., p. 321. 22 Ibid., p 106. 23 SOLJENTSIN, 1973, p. 102.

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Durante as torturas a pessoa controla a medida das torturas, se no tiver alguma coisa a oferecer ser torturado at a morte, do contrrio no deve entregar to facilmente, pois podem pensar que tem mais alguma coisa e continuaram a tortura. No havia algo que regulamentasse os tipos de torturas, usava-se a criatividade. Se resistir a tudo, pegam a famlia. Sistemas de ar condicionado serviam para exalar um odor desagradvel, as celas eram muito quentes. Muitas pessoas no resistiam aos interrogatrios e nem ao regime de trabalhos nos Gulags. Existiam torturas pelo mtodo psquico e fsico, normalmente comeavam com mtodos leves para no deixar marcas, porm no eram necessrios mais mtodos para levar a pessoa loucura. A instruo do processo dava-se durante a noite, justamente pelo fato de atrapalhar o sono dos acusados, utilizavam a persuaso, insultos grosseiros, choques provocados pelo contraste psicolgico, humilhao, a mentira envolvendo os familiares do preso, tortura de familiares, queimar com cigarros, mtodo luminoso, sonoro. A priso inicia-se em uma sala muito pequena, mais prximo de uma caixa, muitas delas no tm espao para sentar-se, obrigando o condenado a permanecer em p por horas, um turbilho de sentimentos, uma reviravolta psicolgica antes de iniciar a instruo, bem como as torturas. s vezes colocavam nessas caixas percevejos ou formigas, outras deixavam a pessoa a cu aberto por dias, obrigando-a a fazer suas necessidades ale mesmo. Existia o calabouo agravado pela fome e pelo frio. Obrigavam os presos a ficarem de joelhos ou ento permanecer em p por dias sem bebida. Tudo est ligado a privao do sono, considerada uma forma superior de tortura porque no deixa vestgios. H ainda um espancamento sem deixar vestgios, atravs do uso de cassetetes de borracha, malhetes e sacos de areia. Havia ainda a fratura da espinha dorsal e pancada no nervo citico, que faz doer a cabea. Injetavam gua salgada em clisteres pela garganta e depois o torturavam de sede, ou introduziam agulhas pelas unhas e injetavam gua at incharem, isso aconteceu com o Rdolf Pintsov.Irmo! No censure aqueles que caram em tais situaes, que lhes mostraram fracos e assinaram

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o que no deviam...No lhes atire pedras24. Ningum est preparado para a deteno e instruo. Era primordial o isolamento do acusado, a tortura comea antes da instruo, quando se d o isolamento do preso, depois era colocado em caixas com percevejos ou em cela abarrotadas de presos. A superlotao era to intensa que o suor alheio causava eczema na pele, pois os corpos nus apertavam-se. A chegada de uma pessoa do interrogatrio, toda deformada e machucada devido s torturas, isso j serve de exemplo, isso j faz parte da tortura. No h sada, a pessoa tem que confessar tudo. Comandando todas essas torturas estava Abakmov. Esses processos de Moscou fundamentavam-se nas confisses arrancadas atravs das torturas. Planificou-se a tortura pela primeira vez, homens seguiam as ordens de Stlin, mas este no dava a ltima palavra, para manter sua postura angelical. Exigia que cada seo de instruo, num prazo fixo, enviasse apo tribunal determina nmero fixo de infelizes que tivessem confessado 25, trabalhavam em um sistema de cotas. O grande mistrio dos processos de Moscou era a seguinte pergunta: voc deseja viver? Toda a seo no tribunal era um teatro, os rus deveriam convencer as pessoas de que eram culpados para continuar vivendo, mas muitas vezes confessavam e eram condenados ao fuzilamento. Aqueles que no assinam eram fuzilados. O Grande expurgo trata-se de uma cruel guerra secreta em que s triunfa aquele que renunciou a tudo ao entrar na priso, sem esperana de liberdade. Houve pessoas que se recusaram a assinar algo que no fizeram, morreram na sala do interrogatrio, preferiram morrer ao denunciar um amigo ou vizinho. Os rgos poupavam-se do trabalho de procurar provas para os delitos que estavam acusando, o preso torturado que deve expor provas de que suas intenes eram as melhores, que no tem culpa, pois a instruo partia do princpio de que as pessoas so verdadeiramente culpadas, logo devem provar o contrrio. Os presos torturados ao sair tinham que assinar uma declarao de que no falariam o que aconteceu durante o processo de instruo, nem como eram os campos de concentrao.24 25

SOLJENTSIN, 1973, p. 124 Ibid., p. 110.

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Depois de todas essas torturas o encarceramento no era to ruim, pois na cela descobriam que no estavam sozinhos nessa situao. Nas celas as pessoas voltavam a ver um olhar humano, o que era confortante, percebiam que haviam outros na mesma situao.. No meio da cela havia uma mesa com livros a disposio. Para fazer as necessidades os presos eram levados a latrina. Comiam rao de po, aproximadamente 450 gramas por dia, um po redondo, esponjoso, poroso, parte de cima gordurosa e a de baixo torrado. Em cada cela existe um informante porque muito caro colocar microfones em todas as celas. Os presos tinham vinte minutos de passeio. Com o tempo as pessoas acostumam com a pouca alimentao: no almoo uma colherada de sopa e outra de papas aguadas sem gordura, na janta mais uma colherada de papas. Os presos eram transferidos, o maior medo era ser transferido para a Sibria e ser privado do sol por muito tempo. O transporte era ferrovirio, chamado de Stolpin e tinha cinco compartimentos destinados aos presos, separados por grades de ferro. Parecia mais um transporte de animais, a nica diferena era que os animais no ficavam to amontoados. Muitas vezes no recebia nada para beber nem comer, com a finalidade de no precisar lev-los a latrina no meio do caminho. Houve um tempo em que os presos faziam grave de fome para conseguir algum benefcio, mas na poca de Stlin isso no funcionava. Os funcionrios abriam os lbios dos detentos a fora enfiando um tubo de borracha com lquido nutritivo, foram elaborados outros mtodos como: clisteres colocados no nus e gotas pelo nariz. A greve de fome era considerada uma continuao das atividades contra-revolucionria que implicava uma nova condenao, alm de no ser contabilizado o tem em greve da pena. Artigo 136 do Cdigo de Processo Penal: O investigador no tem o direito de obter declaraes ou a confisso do acusado por meio de violncia ou ameaa Artigo111: O juiz da instruo obrigado a esclarecer as circunstncias suscetveis de conduzir no culpabilidade, bem como as atenuantes de culpa.

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Artigo 139: o acusado tem o direito de escrever declaraes pelo seu punho e pela sua letra e de exigir a introduo de emendas no auto escrito pelo comissrio de instruo. Artigo 206: O acusado deve folhear seu processo antes de assinar. Tem direito de se queixar por escrito em relao a qualquer irregularidade. O tempo de instruo de qualquer processo deve acontecer em, no mximo, dois meses, mas esse prazo sempre era prolongado. Na tentativa de limpar esse passado o Supremo Tribunal condenou apenas 10 pessoas. Na Alemanha foram condenados 86 mil, castigou seus malfeitores, ao contrrio da Rssia. O autor defende a reabertura desse processos e a condenao dos responsveis, no como vingana, mas como um mnimo de considerao com os inocentes que foram mortos e suas famlias. Muitos foram considerados traidores da ptria, mas na verdade foram trados pela ptria.

(Nunca os governos de qualquer poca foram de modo algum moralistas. Eles nunca prenderam ou castigaram as pessoas por algo. Eles prenderam e castigaram para que no fizesse algo! Se todos esses prisioneiros foram presos no foi por traio ptria, pois at mesmo para um idiota se tornava claro que s os vlassovistas podiam ser julgados por traio. Foi, sim, para que eles no falassem da Europa entre os seus conterrneos, na aldeia. Aquilo que no se v no d volta cabea...)26

Os tribunais soviticos tinham trs caractersticas principais: eram de portas fechadas, predeterminao das sentenas e a dialtica, ou seja, se a conduta do sujeito no se encaixa nos artigos do Cdigo Penal faz-se uma interpretao analgica e manda-o para os Gulags, ou pela sua origem ou por ter relaes com pessoas perigosas ( que pessoa pode ser perigosa? S o tribunal sabe). Quem julga so a instituies sociais.

Os julgamentos pblicos so simples montes de toupeiras a superfcie, quando o essencial da pesquisa se passa subterraneamente. Em tais processos s aparece uma pequena parte dos detidos: apenas aqueles que estiveram de acordo, contra sua

26

SOLJENTSIN, 1973. p. 24

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vontade, em se denunciarem a si e aos outros, esperanados numa maior indulgncia. 27

Existiam trs tipos de tribunais: populares, distritais e revolucionrios. Os tribunais revolucionrios levavam em conta os resultados mais desejveis para a classe operria, as pessoas s podem existir se for conveniente para a classe operria. Existi tambm a Tchek, uma milcia secreta que resolvia os casos de forma extrajudicial, por meio desta muitos foram fuzilados.

O tribunal sovitico era simultaneamente o criador do direito e o instrumento da poltica. Criador do direito na medida em que durante quatro anos no houve cdigo algum: os cdigos czaristas foram atirados fora e no tnhamos elaborado ainda os nossos. 28

Grande parte dos processos de Moscou se perdeu, pois muitos no estavam em ordem, estavam escritos apenas em estenogramas (anotaes), alguns de forma to ilegvel que foi necessrio eliminar pginas inteiras, por isso no d para descrever em detalhes os processos daquela poca. Os antigos arquivos da Lubianka foram queimados, os grandes processos que o autor se refere no podem ser entendidos de forma autnoma, mas sim no plural. Na atualidade existem sistemas prisionais que funcionam como os Gulags da Unio Sovitica, na Coria do Norte, onde as pessoas vivem em uma situao de escravatura. As punies estendem-se s outras geraes da famlia.

Gwang Il Jung ficou preso durante trs anos no campo de deteno de Yodok, na Coreia do Norte. Ele foi acusado de espionar para a Coria do Sul. Segundo o ex-empresrio, uma confisso falsa que teve que fazer depois de ser torturado por vrios meses. Quando foi libertado, sua casa e famlia

haviam desaparecido e ele decidiu fugir da Coria do Norte, indo primeiro para a China e depois para a Coria do Sul, em 2004. L ele criou, junto com outros ex-prisioneiros, uma organizao que luta contra a existncia destes campos de deteno secretos. Estima-se que 600 mil norte-coreanos sejam prisioneiros nestes gulags. 2927 28

SOLJENTSIN, 1973, p. 290 Ibid., p. 300. 29 DETERS, Sigrid. Ex-prisioneiro luta contra Gulag da Coia do Norte. RNW, jul.2010.Dispovvel em : http://www.rnw.nl/portugues/video/ex-prisioneiro-luta-contra-gulags-da-

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