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Agrupamento d Process A perceção d de Escolas Camilo Castelo Branco Pedro Albert Curso Técnic sos Relacionais dos “Outros” to da Costa Maia co de Restauração s

Processos Relacionais

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Processos relacionais

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Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco

Processos RelacionaisA perceção dos “Outros”

Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco

Pedro Alberto da Costa Maia

Curso Técnico de Restauração

Processos RelacionaisA perceção dos “Outros”

Pedro Alberto da Costa Maia

Curso Técnico de Restauração

Processos Relacionais

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Índice

1. Introdução..................................................................................................................... 3

2. A perceção dos “Outros”................................................................................................ 4

2.1. Cognição social e atitudes.................................................................................... 4

2.1.1. O conceito e as componentes da atitudes......................................................... 6

2.1.2. Formação e desenvolvimento de atitudes......................................................... 8

2.1.3. A mudança de atitudes..................................................................................... 8

2.2. Perceção social e categorização........................................................................... 8

2.2.1. Formação de impressões.................................................................................. 8

2.2.2. As expectativas................................................................................................. 11

2.2.3. Representações sociais..................................................................................... 12

2.2.4. Os estatutos e os papéis sociais........................................................................ 13

2.2.5. Estereótipos e preconceitos.............................................................................. 14

3. Conclusão....................................................................................................................... 18

4. Webliografia................................................................................................................... 19

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1. Introdução

"Num frio dia de Inverno, alguns porcos-espinhos juntaram-se para

se aquecerem com o calor dos seus corpos, para não enregelarem.

Mas depressa viram que se estavam a picar e afastaram-se.

Quando de novo ficaram com frio e se juntaram, repetiu-se a

necessidade de se manterem separados até descobrirem a distância

adequada a que se podem tolerar. Assim é na sociedade, onde o

vazio e a monotonia fazem com que os homens se aproximem, mas

os seus múltiplos defeitos, desagradáveis e repelentes, fazem com

que se afastem."

Em 1851, o filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, expôs esta fábula do porco-espinho, que retrata

claramente a depêndencia que, como seres vivos, temos uns dos outros. Somos seres sociais,

vivemos em sociedade e, portanto, a relação com os “Outros” torna-se um elemento fulcral na

nossa vida.

É importante estudar as relações interpessoais em psicologia, porque muitos dos nossos

comportamentos dependem do modo como nos comportamos em sociedade, como nos

relacionamos com os outros.

Deste modo, a comunicação interpessoal, entendida como um processo de interação social

recíproca entre duas ou mais pessoas, cuja relação poderá influenciar no comportamento, na

motivação e no estado emocional do emissor ou do receptor, ocorre nas relações das pessoas

como sujeitos membros de um determinado grupo social e cultural. Este processo, pelo qual ideias

e sentimentos se transmitem de indivíduo para indivíduo é sem dúvida fundamental para o

homem, enquanto ser social e cultural

Deste modo, pretendo, com este trabalho, abordar a temática das relaões interpessoais, na

perspetiva da perceção dos “Outros”, procurando dar respostas às seguintes questões:

Que processos medeiam a nossa relação com o mundo social? Como se organizam? Quais as suas

funções?

Que processos estão implicados na cognição social? Como é que cada um desses processos

contribui para aquilo que pensamos, sentimos e agimos? De que forma influenciam as nossas

relações com o Mundo e com os outros?

O que são atitudes? Que relação existe entre atitudes e comportamentos?

Como se constroem as atitudes? Por que é que mudamos de atitudes? Que processos estão

implicados nestas mudanças?

Como formamos impressões das pessoas com quem nos encontramos pela primeira vez? Como se

transmitem as expectativas e as representações sociais? Qual o papel dos estereótipos na vida

social?

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2. A Perceção dos “Outros”

2.1. Cognição Social e atitudes

2.1.1. O conceito e as componentes das atitudes

Cognição é o conjunto de processos mentais relativos ao conhecimento que se manifestam em diferentes

formas: perceção, aprendizagem,

memória, consciência, atenção,

imaginação, entre outras.

O termo social refere-se a uma interação

de organismos com outros organismos e

da sua coexistência coletiva

independentemente deles terem ou não

consciência disso e de o fazerem ou não

de forma voluntária.

Então, cognição social é o conjunto

de processos que estão subjacentes

ao modo como encaramos os outros,

a nós próprios e a formo como

interagimos. A cognição social refere-

se, assim, ao papel desempenhado

por fatores cognitivos no nosso

comportamento social, procurando

conhecer o modo como os nossos

pensamentos são afetados pelo

contexto social imediato e

como afetam o nosso

comportamento social. A

cognição social é uma forma

de conhecimento e de relação

com o mundo e os outros,

com o mundo social.

Como temos uma capacidade

limitada de processamento

de informação relativa ao

mundo social, recorremos a

esquemas que representam o

nosso conhecimento sobre

nós, sobre os outros e sobre

os nossos papéis no mundo

social.

Os processos da cognição

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social são: formação de impressões, expectativas, estereótipos, atitudes, preconceitos e

representações sociais, que serão abordados mais à frente.

A atitude é uma tendência ou predisposição para responder a um determinado objeto social

(pessoa, situação) de uma forma positiva ou negativa. A atitude não é, portanto, um

comportamento, mas uma predisposição, uma tendência relativamente estável para uma pessoa

se comportar de determinada maneira. As atitudes não são diretamente observáveis: inferem-se

dos comportamentos.

As componentes das atitudes são:

- Componente cognitiva – refere-se às ideias e crenças sobre um objeto social (pessoa, situação,

grupo social).

- Componente afetiva – refere-se aos sentimentos e ao sistema de valores: a pessoa desenvolve

sentimentos positivos ou negativos, agradáveis ou desagradáveis, relativamente ao objeto social.

- Componente comportamnetal – conjunto de respostas do sujeito face ao objeto social e que

depende das ideias e crenças bem como dos valores.

É a partir de uma informação ou convicção, a que se atribui um sentimento, que se desenvolve

um conjunto de comportamentos.

Ex.: Atitude face à sida

- componente cognitiva – crenças de que a sida é fatal;

- componente afetiva – é assustador contrair sida;

- componente comportamental – mudança de práticas sexuais.

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2.1.2. Formação e desenvolvimento de atitudes

Em praticamente todos os aspetos da nossa vida social estamos continuamente à procura das

atitudes dos outros, a manifestar os nossos pontos de vista e a tentar mudar a opinião de alguém.

Discordamos dos outros, sobre as atitudes mais apropriadas face a qualquer questão. As atitudes

são importantes para compreendermos os estereótipos, os preconceitos, as intenções de voto, o

comportamento dos consumidores ou a atração interpessoal. As atitudes também são

importantes porque estão presentes naquilo que pensamos, sentimos e na forma como agimos

face a objetos, pessoas, face a nós próprios.

Se virmos uma pessoa a requisitar sistematicamente filmes de artes marciais, um

comportamento, podemos deduzir que essa pessoa gosta de artes marciais, uma atitude. Existe

uma diferença entre atitudes e características pessoais. Da atitude "gostar de artes marciais",

podíamos inferir um traço de personalidade, "é uma pessoa agressiva e violenta". As atitudes são

tendências para pensarmos, sentirmos e nos comportarmos que se distinguem dos traços de

personalidade, que são mais estáveis, e dos estados emocionais, que são mais passageiros.

São as nossas crenças que suportam as atitudes. As crenças são aquilo que acreditamos ser

verdade acerca do mundo. Por exemplo, se acreditamos em Deus, esta verdade é central nas

nossas vidas e influencia o nosso comportamento. As crenças são muito resistentes à mudança.

Os valores também influenciam as atitudes. Os valores são os nossos códigos éticos e morais,

dependentes das normas e dos grupos a que pertencemos. Influenciam o modo como conduzimos

a nossa vida, o que valorizamos numa relação, o que devemos fazer numa situação. Também os

valores são muito resistentes à mudança.

É muito difícil não termos atitudes face às pessoas, às coisas e aos acontecimentos. Por exemplo,

abordar a despenalização do consumo de drogas leves sem manifestar atitudes, se é certo ou se é

errado, é quase impossível.

As atitudes têm um papel importante na nossa vida porque orientam a forma como nos

relacionamos com os outros, as causas políticas que apoiamos, as posições que tomamos face a

questões sociais, os produtos que compramos ou quaisquer outras decisões do quotidiano.

As atitudes são formas relativamente estáveis de avaliar ideias, objetos, pessoas ou situações. Ter

uma atitude significa ser a favor ou contra. O objecto social é avaliado como verdadeiro ou falso,

bom ou mau, desejável ou indesejável. Temos atitudes face ao armamento nuclear, à

despenalização de drogas leves, à homossexualidade, à adopção, ao aborto. Porque temos

atitudes diferentes, também interpretamos o mundo social de formas diferentes.

Também podemos agrupá-Ias em áreas consoante o seu objeto. Assim, temos atitudes sociais,

como as relativas às minorias étnicas e políticas, como as relativas aos impostos, ou atitudes

organizacionais, como as relativas à satisfação com a escola que frequentamos, atitudes relativas

a pessoas específicas, como gostar ou não gostar de alguém, e atitudes relativas a nós próprios, a

autoestima.

As atitudes têm as seguintes características:

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1. Dirigem-se sempre a um objeto específico; estes objetos podem ser concretos, "não gosto

daquelas calças", pessoas, "o professor de Português é excelente", grupos, "os psiquiatras são

malucos", ideias abstratas, "a tolerância é importante na relação entre as pessoas", ou

comportamentos, "beber em excesso é condenável”;

2. São aprendidas; é através da nossa experiência e daqueles que estão à nossa volta,

especialmente as pessoas que são importantes para nós, que construímos as atitudes;

3. São inferidas do comportamento; não sabemos qual é a atitude de uma pessoa até a vermos

expressar-se ou comportar-se de determinada forma;

4. Influenciam o comportamento; a atitude face a um objecto é a razão pela qual nos

comportamos face a ele de determinada forma.

As atitudes vão sendo construídas ao longo da nossa vida por processos de aprendizagem,

resultantes da interação social e modificam-se conforme temos acesso a novas informações ou

experiências. Por isso, diferentes pessoas podem ter diferentes atitudes e a mesma pessoa pode ir

mudando as suas atitudes ao longo da tempo.

Ninguém põe em causa que as atitudes são aprendidas na relação com os outros. Por isso, aqueles

com quem temos relações afetivas mais fortes, os que mais gostamos e os que não gostamos de

todo, são os que têm mais influência em nós e servem-nos de referência positiva ou negativa. Em

diferentes momentos da nossa vida temos relações privilegiadas com pessoas diferentes. Se

durante a infância os pais são essas figuras, durante a adolescência ou a idade adulta as nossas

referências são certamente outras, embora inscritas no pano de fundo constituído pelas relações

significativas da infância.

Os pais e as familiares mais próximas

são a primeira fonte de construção

das nossas atitudes, visto que são os

modelso que as crianças imitam e com

os quais se pretendem identificar.

Mas conforme vamos crescendo e

desenvolvendo surgem outras fontes

de influência, tais como a escola e o

grupo de pares (pessoas de idade

aproximada com quem os jovens

convivem) e os mass media (grandes

veículos de informação na sociedade

contemporânea e que têm uma

grande importância na formação de novas atitudes e no reforço das que já existem).

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2.1.3. A mudança de atitudes

A mudança de atitudes depende de novas

informações e/ou afetos relativos ao objeto. De

facto, apesar da relativa estabilidade das atitudes,

estas podem mudar ao longo da vida. A

propaganda e a publicidade têm por objetivo

influenciar as nossas atitudes e comportamentos.

São transmitidas mensagens que visam persuadir

as pessoas a formar uma atitude e,

consequentemente, a comportarem-se de

determinada maneira.

2.2. Perceção social e categorização

Somos constantemente confrontados com imensa informação. E apesar da nossa capacidade de

gestão ser muito limitada, conseguimos fazê-lo com eficácia. Para isso utilizamos várias

estratégias das quais a categorização é a mais importante.

Então, categorizar consiste em agrupar objetos em diferentes classes com base num conjunto de

características. Todos os elementos desse grupo são equivalentes relativamente a um ou vários

critérios.

Perante a complexidade da realidade, o ato de categorizar simplifica as semelhanças e as

diferenças. Um jovem de cabeça rapada e vestido com peças de roupa que lhe dão um aspeto

militar é remetido para uma categoria, para um grupo, o dos skinheads. A caracterização, além de

simplificar a realidade, também permite organizar o mundo que nos rodeia e identificar

socialmente os outros.

A categorização tem como funções simplificar e justificar. Simplifica pelo facto de que todos os

jovens de cabeça rapada e com um certo aparato militar são skinheads ou todas as senhoras de

"uma certa idade» são amáveis e simpáticas. Justifica a atribuição de um carácter violento ou

amável já que os skinheads e as senhoras velhotas são conhecidos por serem assim. Estamos a

atribuir-lhes uma identidade social. O efeito da categorização divide as pessoas em "nós” e "eles”,

os que pertencem ao grupo dos skinheads ou das "senhoras de uma certa idade" e os que não

pertencem.

2.2.1. Formação de impressões

As impressões que construímos quando encontramos uma pessoa pela primeira vez permitem-

nos categorizá-Ia, inserindo-a num determinado grupo social. Conforme as características que

atribuímos a esse grupo, esperamos dele um tipo de comportamento. Tudo isto tem como pano

de fundo um esquema preconcebido, um estereótipo, modelado culturalmente, que confere ao

grupo características tipificadas.

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Então, impressões refere-se a uma noção que se cria no contacto com as pessoas e que nos dão

um quadro interpretativo para as avaliarmos.

As nossas impressões dos outros são construções cognitivas baseadas em vários esquemas,

conjuntos organizados de expectativas sobre o comportamento do outro no seu todo. Se

acreditamos que alguém é sociável, esperamos que seja falador. Pode ser ou não ser, mas o

padrão que percebemos é parcialmente imposto pelo esquema de pessoa sociável. Estes

esquemas chamam-se muitas vezes teorias implícitas da personalidade e todos nós estamos

continuamente a utilizá-los. As primeiras impressões formam-se rapidamente, mudam muito

devagar e têm uma grande influência no nosso comportamento.

Formamos impressões através da

observação do outro, e avaliamo-lo

através de indicíos, que se

assemelham à pessoa. Esses indícios

são físicos, verbais, não verbais e

comportamentais.

- Indícios físicos – remetem para o

facto de a pessoa ser alta, baixa,

gorda, magra, loira ou morena.

Algumas destas características podem

remeter para determinado tipo de

personalidade ou categoria social

Se a pessoa for muito magra, posso associar-lhe uma personalidade muito irritável, se for gorda,

posso associá-la à boa disposição, à amabilidade, etc. Aqui também se podem incluir as

expressões faciais e os gestos.

- Indícios verbais – o modo como a pessoa fala surge como um indicador, por exemplo, de

instrução. Se a pessoa utiliza um vocabulário preciso e uma adjetivação variada, posso considerá-

la como dotado de um pensamento claro, culto e instruído. Se na sua expressão reconhecer um

sotaque de uma determinada região, poderei avaliá-la a partir da caracterização que faço dos

habitantes dessa zona.

- Indícios não verbais – estes indícios remetem para elementos, sinais, que interpretamos como

indicadores: o modo como a pessoa se veste, se usa fato e gravata ou calças de ganga, se usa

sapatilhas ou sapatos de tacão alto, são elementos que nos levam a inferir determinadas

características.

A forma como a pessoa gesticula enquanto fala, o modo como se senta, são também indicadores

que nos levam a inferir determinadas características sobre o outro.

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- Indícios comportamentais – é o conjunto de comportamentos que se observam na pessoa, o

que nos permite classificá-la. O modo como os comprtamentos são interpretados varia de pessoa

para pessoa e remetem para as experiências passadas, para as necessidades daquela que as

interpreta. Daí que um mesmo comportamento possa ter significados diferentes para diferentes

pessoas: uma mulher que se apresente com muita maquilhagem pode ser encarada, por uns,

como uma pessoa cuidada, e, por outros, como fútil.

É a partir destes indícios que

formamos uma impressão

global acerca de uma pessoa

a quem atribuímos uma

categoria socioeconomica e

cultural, um determinado

estatuto social. Os mesmos

estatutos podem ser

interpretados de maneira

diferente, de acordo com os

valores e atitudes, e pelos

esquemas cognitivos e

afetivos de cada pessoa.

Num primeiro contacto com

alguém avaliamos essa pessoa, remetendo-a para uma categoria.

Esta categorização avaliativa é de três tipos:

- afectiva, gostar ou não gostar,

- moral, bom ou mau

- instrumental, competente ou incompetente.

Bastam pequenos indícios para formularmos

rapidamente um juízo acerca dela, mesmo

quando nos são revelados aspetos do seu

comportamento que contrariam a nossa

impressão. A partir do momento em que fica

estabelecida a avaliação positiva ou negativa,

mesmo sem mais informação, é fácil traçarmos um retrato psicológico dessa pessoa, se é

inteligente, honesta, ambiciosa ou qualquer outra característica.

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A partir destes elementos constituímos o que se designa por “teoria implícita da personalidade”,

isto é, a ideia geral que formamos sobre a pessoa.

Dado que estamos implicados quotidianamente em centenas de interações sociais

frequentemente utilizamos os nossos “atalhos” cognitivos para lidarmos com grandes

quantidades de informação. No entanto, às vezes estes atalhos fazem-nos distorcer a visão dos

comportamentos e cometemos erros.

2.2.2. As expectativas

Imaginemos duas pessoas que se,

encontram pela primeira vez. Este

encontro é regulado por

expectativas mútuas de cada uma

em relação à outra. Baseando-se

numa série de indícios, cada uma

das pessoas prevê a identidade

social da outra. Nesta base, criam-

se expectativas que são

confirmadas, ou não, pela

continuidade da relação.

As expectativas são formas de representarmos, de categorizarmos os outros, através de

informações ou de indícios, no sentido de prever o seu comportamento e as suas atitudes.

Por exemplo, se entrarmos num hospital e virmos uma pessoa num corredor, essa pessoa poderá

dar-nos indícios que nos façam prever se será um doente, um enfermeiro ou um médico. Todos

nós, em todas as situações, fazemos previsões acerca do comportamento dos outros com base

nestas informações ou indícios. A partir

da nossa experiência anterior vamos

incluí-los numa categoria, “doente”,

“enfermeiro” ou “médico”. Isto

significa que, num primeiro tempo, não

percecionamos a pessoa singular mas a

categoria a que pertence.

Um exemplo muito claro da

importância das expectativas na vida

social é-nos dado pelas relações

duradouras que se estabelecem entre

pessoas como, por exemplo:

marido/mulher, pais/filhos,

professores/alunos, etc.

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Ao exercer estas funções respetivas desenvolvem-se expectativas mútuas, isto é, o outro com

quem nos relacionamos também vai desenvolver expectativas em relação a nós.

Muitos fatores influenciam a formação de expectativas, desde a nossa história pessoal, a família,

os pares, as normas sociais gerais ou institucionais, as nossas crenças ou valores, a comunicação

social, a escola, etc.

2.2.3. Representações sociais

É um tipo de conhecimento que se

distingue do conhecimento científico.

As representações sociais são uma

forma de conhecimento também

designada por senso comum ou

conhecimento prático que é elaborado a

partir de modelos culturais e sociais de

uma determinada época, sociedade e

cultura, aceites coletivamente. Podem ser geradoras de preconceitos. Contudo, permitem aos

membros de um grupo comunicarem entre si e compreenderem-se, são indispensáveis nas

relações humanas.

Designam-se por sociais porque são forjadas na comunicação ou interação entre pessoas, são

partilhadas por elas e são uma espécie de programa de ação para a comunidade.

Tomemos como exemplo a representação social da mulher nas sociedades ocidentais

contemporâneas: Para além de mãe, desenvolve uma atividade profissional fora de casa, onde

procura ser bem sucedida. Esta representação social, que aparece como desejável junto das

mulheres, seria impensável no início do séc.XX, cuja representação social da mulher era ser dona

de casa responsável pelos trabalhos domésticos e pela educação dos filhos.

A elaboração das representações sociais

Como já vimos, as representações sociais são

idispensáveis nas relações humanas. Fazem

parte da ionteração social, permitindo aos

membros de um grupo comunicarem e

compreenderem-se.

Na base das representações sociais situam-se

dois processos: a objetivação e a ancoragem.

A objetivação consiste em tornar

representações complexas e abstratas em

representações simples e concretas, excluir e

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esquecer alguns elementos de modo a valorizar e desenvolver outros e no reagrupamento de

ideias em torno de um determinado assunto.

Podemos, então, identificar 3 fases no processo de objetivação:

- Construção seletiva – seleção dos elementos mais representativos. É mantida apenas a

informação mais relevante.

- Esquematização figurativa – organização das ideias selecionadas em esquemas figurativos

simples, concretos, que podem ser convertidos para imagens.

- Naturalização – transformação do abstrato em concreto. Formação de imagens simples e

concretas ou metáforas, resultantes da associação das ideias ou teorias da pessoa que a

representa.

A ancoragem é o enraizamento e assimilação de imagens criadas pela objetivação. As novas

representações integram-se nas anteriores, que o sujeito já possui, formando um todo que

orienta o comportamento. Uma vez ancorada, a representação social funciona como um filtro

cognitivo, isto é, as informações novas são interpretadas segundo os quadros de representação

preexistentes.

De referir que aobjetivação e a ancoragem funcionam como um todo no processo de apropriação

do real.

Tal como já foi refrido, as representações sociais estão muito marcadas pela cultura, pela

sociedade: a cada época, a cada sociedade, correspondem representações próprias.

Podemos concluir que as representações sociais dão sentido ao que pensamos, orientam e

regulam o nosso comportamento. Apesar de não termos, muitas vezes, consciência da sua

existência, estão subjacentes ao modo como encaramos o mundo e os outros, e, portanto, ao

nosso comportamento.

De entre as várias funções das representações podem destacar-se:

- Função de saber – explicação, compreensão e desenvolvimento de ações sobre o real.

- Função de orientação – guia de comportamento. Precede o desenvolvimento da ação.

- Função identitária – construção de identidade social e posicionamento em relação a grupos.

- Função de justificação – explicação e justificação de opiniões e comportamentos.

2.2.4. Os estatutos e os papéis sociais

O Homem é um ser social. É através da socialização que o sujeito aprrende e assimila

comportamentos, regras, normas, valores, rituais, formas de estar e de se relacionar com os

outros.

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Neste contexto, o estatuto surge como um conjunto de comportamentos e atitudes que se espera

da parte dos outros, tendo em conta a posição que se ocupa na hierarquia social, no interior dos

grupos sociais.

Os estatutos podem ser adquiridos, quando a pessoa contribui para a sua obtenção (ex.

Professor), ou atribuídos, como o sexo, a idade e a etnia.

Por sua vez, os papéis sociais correspondem ao conjunto de comportamentos e atitudes que os

outros esperam de uma pessoa tendo em conta a posiçãoque ela ocupa no grupo.

O desempenho em simultâneo dos vários papéis sociais pode ser egrador de conflitos no indivíduo

que os desempenha. Distinguem-se dois tipos de conflitos:

- conflito interpapéis – conflito que pode ocorrer quando uma pessoa, para responder a um papel,

fica impossibilitada de responder a outro:

Ex.: Uma mãe quer salvar um filho, mas a sua religião impede-a de recorrer a certas práticas

médicas.

- conflito de descontinuidade de papéis – conflito que pode ocorrer quando um indivíduo passa a

desempenhar funções inferiores às anteriormente ocupadas. Corresponde geralmentea uma perda

de poder e prestígio.

Ex.: A reestruturação

de uma empresa leva a que

um diretor passe a ocupar um

lugar subalterno na hierarquia

da mesma.

O papel depende do estatuto

da pessoa e esta desempenha

tantos papéis quanto os

estatutos. Daí afirmar-se que

o estatuto e papel são

conceito complementares, e

que se iterligam igualmente

com as expectativas

2.2.5. Estereótipos e preconceitos

Numa primeira abordagem dos estereótipos, podemos caracterizá-los como "imagens que as

pessoas têm na cabeça" comparáveis a moldes. Os moldes são objetos que servem para repetir o

mesmo objeto indefinidamente. Moldes de vasos originam vasos todos iguais, ou colheres, muitas

colheres, também todas iguais. Os estereótipos são moldes de uniformizar pessoas. Um grupo de

pessoas entra no estereótipo e saem pessoas com as mesmas características, "os portugueses são

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hospitaleiros", alguns o serão, outros nem por isso. "Os suíços são pontuais", também alguns dos

ingleses e dos franceses o são. "Os alemães são arrogantes", assim como alguns dos portugueses

e dos espanhóis.

Portanto, estereótipo é o

conjunto de ideias feitas que

resultam de generalizações e/

ou especificações, tendentes

a considerar que todos os

membros de um grupo se

comportam do mesmo modo

ou têm as mesmas

caraterísticas. É um conjunto

de crenças que uniformizam

os membros de um

determinado grupo social. O

estereótipo ignora a

individualidade e dá um

entendimento dos outros, reduzindo-os a características iguais, simplificando, por isso, a

complexidade social.

Como construímos os estereótipos?

Uma das perspetivas teóricas mais aceites afirma que os estereótipos são oriundos da cultura em

que vivemos e são transmitidos pelas estruturas sociais em que estamos inseridos, a família, a

escola. Como também o são pela repetida exposição a informações veiculadas pelos livros, pelos

jornais, pela rádio, pela televisão. Uma das provas a favor desta perspetiva é a persistência dos

estereótipos ao longo do tempo.

Uma segunda perspetiva sugere que os comportamentos que caracterizam um grupo diferente do

nosso, ou circunstâncias socioeconómicas como recessão, desemprego ou instabilidade social,

poderão ser o terreno propício para que os estereótipos se desenvolvam.

Vamos supor que um determinado grupo étnico ocupa uma posição economicamente

desvantajosa. Os seus membros têm salários baixos, estão sujeitos a uma taxa de desemprego

superior à dos outros grupos, vivem em casas degradadas e têm insucesso escolar a níveis

alarmantes. Não será difícil de entender que este grupo seja alvo de entendimentos por parte de

outros grupos como sendo «pobres», «preguiçosos», «desleixados» e «pouco inteligentes».

Nesta perspetiva, os estereótipos formam-se a partir do exagero de algumas das características

deste grupo social e a diminuta valorização das outras que também o identificam enquanto grupo

social. Porquê? Parece que alguns estereótipos derivam da observação direta dos

comportamentos. O estar desempregado ou viver em habitações degradadas dá a impressão que

as pessoas são preguiçosas ou desleixadas e é isto que é observado.

No contexto desta perspetiva, existe ainda uma outra justificação sociocultural para a origem dos

estereótipos. O desenvolvimento do estereótipo acompanha sentimentos de superioridade e de

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valorização da própria pessoa e do seu grupo de pertença, quando comparado com outro grupo.

Este reforço do valor próprio pode traduzir-se em maior autoconfiança, sentimentos de coesão e

de pertença que permitem a cada membro do grupo atribuir a si próprio as qualidades que ele

atribui ao seu grupo.

A existência de grupos que ocupam posições de maior poder e que têm mais privilégios do que

outros sugere uma terceira perspetiva sobre os estereótipos. Neste contexto, os estereótipos têm

a função de justificar ou de criticar o estatuto ocupado por um grupo.

Deste modo, há 3 aspetos a considerar sobre os estereótipos:

- Formam-se mediante o processo de generalização;

- Assinalam em grande média o triunfo da aparência sobre a realidade objetiva;

- Baseiam-se em generalizações inadequadas, de excessiva amplitude e escasso fundamento.

Estas ideias simplificadas são transmitidas como ideias “feitas” pelo meio cultural e social. São

assimiladas sem que o indivíduo tenha consciência, apresentando-se como verdades indiscutíveis.

No processo de formação de estereótipos relativamente a grupos sociais há uma relação entre o

tipo de interação que se estabelece entre os grupos. Se os grupos têm uma relação de competição

entre si, a tendência é dominar um estereótipo negativo. Se a relação é de cooperação a

tendência é para dominar um esterótipo positivo. Muitas vezes as pessoas que estereotipam as

outras fazem-no para satisfazer a sua necessidade de estatuto de superioridade. É um mecanismo

de defesa para proteção da autoimagem.

Os preconceitos são conceitos formados antecipadamente e sem fundamento sério ou razoável.

Referem-se a uma atitude que deriva de prejulgamentos e que conduz os sujeitos a avaliarem, na

maior parte das vezes, de forma negativa, pessoas ou grupos sociais, comportamentos que

conduzem à discriminação.

O preconceito é uma

atitude fundamentalmente

negativa constituída por

três componentes:

- Componente cognitiva

(estereótipos) – ideias e

crenças negativas acerca

de membros de um grupo

social.

- Componente emocional –

sentimentos de desprezo,

ódio, medo.

- Componente comportamental – predisposição para agir de forma discriminatória, em relação a

membros de um grupo.

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Em suma, é uma disposição adquirida cujo objetivo é o estabelecimento de uma diferenciação

social. O preconceito pode conduzir à discriminação, isto é, traduzir-se em comportamentos

injustos que prejudicam os membros de um determinado grupo. O preconceito, na sua vertente

comportamental, unicamente sugere uma predisposição ou tendência para discriminar.

A discriminação é considerada a manifestação comportamental do preconceito.

A figura que se segue dá uma visão generalizada sobre discriminação.

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3. Conclusão Em jeito do conclusão, pode-se dizer que é muito importante estudar as relações interpessoais em

psicologia, porque muitos dos nossos comportamentos dependem do modo como nos

comportamos em sociedade, como nos relacionamos com os outros.

Os processos de cognição social são: impressões, expectativas, atitudes, estatutos, papéis sociais,

representações sociais e estereótipos e preconceitos.

As atitudes são tendências para responder positiva, ou negativamente a um objeto social:

situação, objetos, pessoas… Não se podem observar diretamente, pois não são comportamentos.

São o que está por detrás e explica os comportamentos, logo, observando os comportamentos

podemos descobrir as atitudes e conhecendo as atitudes podemos prever os comportamentos.

Podemos mudar as atitudes, se assim o quisermos, através de experiências vividas,

essencialmente traumáticas, ou através dos meios de comunicação social, publicidade,

propaganda.

As impressões são imagens ou ideias formadas a partir de algumas características decorrentes do

primeiro encontro. São facilitadoras da relação interpessoal, pois dão segurança e favorecem a

comunicação. Constroem-se, essencialmente, a partir das nossas interpretações da realidade,

tendo por base valores, crenças e conjunto de indícios. A primeira impressão é afetada pelos

indícios: físicos, verbais, não verbais e comportamentais. Temos particular atenção aos aspetos

físicos; cuidamos a linguagem porque a primeira impressão é a que perdura mais tempo.

As expectativas são modos de considerar as pessoas com base na categorização. Os indicadores e

informações de que dispomos levam-nos a prever atitudes e comportamentos. Afetam o nosso

comportamento e o comportamento dos outros para connosco. Permitem prever

comportamentos e atitudes, influenciando o nosso comportamento e vice-versa. Vão moldar o

comportamento durante a infância, particularmente, porque as crianças aprendem por

observação.

As representações sociais são uma forma de conhecimento também designada por senso comum

que é elaborado a partir de modelos culturais e sociais de uma determinada época ou grupo,

aceites coletivamente. Podem ser geradoras de preconceitos. Contudo, permitem aos membros

de um grupo comunicarem entre si e compreenderem-se, são indispensáveis nas relações

humanas

Na relação entre indivíduos e grupos são vulgares os estereótipos, resultantes da categorização social, os preconceitos, derivados da visão estereotipada da sociedade, e ainda os fenómenos de discriminação, manifestações visíveis dos preconceitos. Os estereótipos fixam-se e mantêm-se nos grupos, dado serem “verdades” facilmente corroboradas, possuírem elevado poder cognitivo e preditivo e serem uma espécie de hábitos sociais na coesão do grupo e na integração dos indivíduos. Os preconceitos encontram-se normalmente carregados de hostilidade, que na prática se traduz em atitudes discriminatórias lançadas contra minorias, geradoras de instabilidade e de conflitos sociais.

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4. Webliografia

http://pt.calameo.com/read/00099706960ae43706f58

http://www.slideshare.net/MarceloAnjos1/formao-e-mudana-de-atitudes

http://www.slideshare.net/MarceloAnjos1/os-processos-fundamentais-de-cognio-social

http://www.slideshare.net/MarceloAnjos1/a-categorizao-impresses-expectativas-esteretipos

http://www.apgina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4963

http://www.slideshare.net/CDuque/atitudes-presentation-753419

http://www.slideshare.net/rolandoalmeida/relaes-interpessoais-3002402

http://www.slideshare.net/jbarbo00/resumo-relaes-interpessoais-13158802

http://www.slideshare.net/SilviaRevez/relaes-interpessoais-7323963

http://www.slideshare.net/jbarbo00/comunicao-e-relaes-interpessoais

http://www.slideshare.net/VitorCarvalho1/relaes-interpessoais-5795226

http://www.slideshare.net/mafertoval/esteretipos-preconceitos-e-discriminao-5815701