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Direito Processual Penal - Aula 1 Inquérito Policial Considerações iniciais: O direito processual penal ira estudar a persecução penal, ou seja, a perseguição do crime, disposto em duas etapas: 1. Inquérito Policial 2. Processo Penal OBS: Polícia (art. 144 da CF): a. Polícia administrativa (ostensiva): tem o papel de prevenção: - Polícia Militar - Polícia Rodoviária - Polícia Ferroviária - Polícia Aeroportuária b. Polícia Judiciária: tem o papel de investigação, nos âmbitos Estadual e Federal: - Polícia Civil Estadual - Polícia Civil Federal OBS: Estrutura da Polícia Civil: A Polícia Judiciária é estruturada em carreira, sendo seus delegados necessariamente bacharéis em Direito e concursados. OBS2: Função da Polícia Judiciária:

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Direito Processual Penal - Aula 1

Inquérito Policial

Considerações iniciais: O direito processual penal ira estudar a persecução penal, ou seja, a perseguição do crime, disposto em duas etapas:1. Inquérito Policial2. Processo Penal

OBS: Polícia (art. 144 da CF):

a. Polícia administrativa (ostensiva): tem o papel de prevenção:- Polícia Militar- Polícia Rodoviária- Polícia Ferroviária- Polícia Aeroportuária

b. Polícia Judiciária: tem o papel de investigação, nos âmbitos Estadual e Federal:- Polícia Civil Estadual- Polícia Civil Federal

OBS: Estrutura da Polícia Civil:

A Polícia Judiciária é estruturada em carreira, sendo seus delegados necessariamente bacharéis em Direito e concursados.

OBS2: Função da Polícia Judiciária:

1. Auxiliar o poder judiciário (cumprir diligências, conduzir coercitivamente, etc)2. Elaborar Inquérito Policial

Conceito e Finalidade do Inquérito PolicialÉ um procedimento administrativo preliminar de caráter informativo e presidido pela autoridade policial (delegado), que tem por objetivo apurar a autoria e a materialidade do delito (ou seja, quem cometeu o crime, e se de fato o crime ocorreu).

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O inquérito ainda tem como finalidade, contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação (ou seja, convencer o Ministério Público para o início ou não do processo).

OBS: Finalidade Secundária do inquérito policial:

O inquérito serve ainda para contribuir na tomada de medidas cautelares pelo Juiz.

Ex: Busca e apreensão domiciliar

Natureza Jurídica do Inquérito PolicialConceito de Natureza Jurídica: é a classificação do instituto (no caso o inquérito policial), dentro do nosso ordenamento jurídico (neste caso, art. 5º do Código de Processo Penal)

O direito processual penal engloba 2 esferas, o procedimento administrativo (inquérito) e o próprio processo.

Então, o Inquérito policial é um mero procedimento administrativo de caráter informativo (não tem contraditório nem a ampla defesa), e as normas dos atos administrativos lhe serão aplicadas.

Natureza jurídica do inquérito Procedimento administrativo

Características do Inquérito Policial

1. InquisitivoO inquérito é administrado com concentração de poder em uma só autoridade (delegado de polícia)

OBS: Existem outros tipos de inquéritos (não policiais) em que existem o contraditório e a ampla defesa.Ex: Inquérito de extradição de estrangeiro

2. DiscricionárioCabe ao delegado conduzir o inquérito da forma que entender mais eficiente, adaptando a investigação à realidade do caso concreto.

OBS: As diligências requeridas (pedidas) pela vítima ou pelo suspeito podem ser negadas se o delegado as entender impertinentes, salvo o exame de corpo de delito sempre que o crime deixar vestígios (art. 158 do CPP)

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OBS2: As diligências requisitadas (requisição = ordem) pelo Ministério Público ou de um Juiz serão obrigatoriamente cumpridas, por imposição normativa, mesmo não havendo hierarquia entre delegado, juízes e promotores.

Conclusão 1: Se a requisição é manifestamente ilegal, o delegado não estará obrigado a cumpri - lá.

Conclusão 2: Se o delegado não cumpre uma requisição legal feita pelo MP ou por um juiz, ele responderá por prevaricação, apenas se atuou com dolo específico.

Se não atuou com dolo, o fato é atípico, apenas poderá ocorrer sanção perante a corregedoria incorrerá em mera falta administrativa.

Prevaricação: deixar de praticar ato de ofício para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.Atenção, não confundir com concussão: exigir vantagem de terceiro para deixar de fazer ou retardar ato de ofício.

3. SigilosoO inquérito não se submete ao princípio da publicidade, sendo sigiloso por força do desejo de eficiência da investigação, cabendo ao delegado velar por este sigilo.

OBS1: Classificação do sigiloa. Externo: é aquele aplicado para terceiros desinteressados (imprensa), e visa

evitar o julgamento social

b. Interno: é aquele aplicado aos interessados: MP, Juiz e Advogado do suspeito.

Este sigilo é frágil, pois ele não atinge o acesso aos autos.Ou seja, o Promotor, o Juiz e o Advogado do suspeito têm o direito de acessar os autos, por força de lei e súmula vinculante

Porém, o advogado do suspeito só tem direito de acessar os autos já cumpridos. Diligências que ainda serão cumpridas não são acessíveis ao advogado do suspeito.

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Caso haja descumprimento do acesso aos autos pelo advogado do suspeito, cabem 2 remédios (pois há previsão em lei federal e súmula), que são:1. Lei federal Mandado de Segurança2. Súmula Vinculante Reclamação Constitucional

Ainda há uma terceira alternativa caso o suspeito esteja preso e o advogado não consiga acessar os autos Habeas Corpus, já que pode estar preso ilegalmente.

OBS2: Foco na vítima

Pode o Juiz decretar o segredo de justiça do inquérito, para que as informações não sejam partilhadas com a imprensa de forma alguma, preservando-se a vítima nos seguintes bens jurídicos: intimidade, vida privada e a família.

4. Procedimento Escrito

Prevalece a forma documental.Os atos produzidos oralmente serão reduzidos a termo (descritos)

OBS: Inovação

As novas ferramentas tecnológicas podem ser utilizadas para documentar o inquérito policial, como a captação de som e imagem, e a estenotipia, que nada mais é do que a redução de palavras por símbolos.

5. IndisponívelEm nenhuma hipótese poderá o delegado arquivar o inquérito, já que toda investigação iniciada deve ser concluída e remetida à autoridade competente.

OBS: Juízo negativo de admissibilidade

Pode o delegado deixar de instaurar um inquérito ao perceber que o fato não ocorreu ou é atípico.

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6. Dispensável Para que o processo comece, não é necessária a realização de inquérito (lembre-se, inquérito é mero procedimento, sendo dispensável), já que não existe dependência lógica entre eles.

OBS1: Inquéritos não policiais (extra policial)

Outras autoridades poderão presidir investigação criminal e estes inquéritos (não policial) conviverão harmonicamente com o inquérito policial.

São eles:

a. Inquérito Parlamentar: Presididos pelas comissões Parlamentares de Inquérito (CPI).Ex: CPI de Carlinhos Cachoeira CPI investiga, sem prejuízo da investigação da PF

b. Inquérito Militar: Ele tem por objetivo a apuração da infrações militares e será presidido por um oficial de carreira

c. Inquérito Presidido pelo Procurador Geral do MP: Investiga membros do ministério público (promotores)

d. Quando um Juiz é investigado a presidência da investigação será exercida pelo presidente do tribunal ao qual o juiz investigado está vinculado.

e. Demais Autoridades com Foro Privilegiado: Neste caso a presidência da investigação será realizada por um desembargador ou por ministro do tribunal em que a autoridade goza de foro privilegiado

f. Inquérito Ministerial: Segundo o STF em decisão de turma, já concluiu que o ministério público pode presidir investigação criminal, que conviverá harmonicamente com o inquérito policial.

Além disto, o promotor que investiga não é suspeito e nem impedido de atuar na fase processual.

Embasamento: Neste caso, o STF utilizou a teoria dos poderes implícitos (ou seja, quem pode fazer mais, pode fazer menos também). Afinal, se o

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promotor tem poder para processar (mais) art. 129, I da CF, poderá ele também implicitamente investigar (menos).

7. AutoritariedadeO inquérito será presidido por autoridade pública, vale dizer, o delegado.

8. OficialidadeO inquérito será conduzido por meio de órgão oficial do Estado.

9. OficiosidadeEm regra o inquérito deve se iniciar de ofício, vale dizer, sem a necessidade de autorização da vítima, já que o interesse público está em jogo.

Prazo do Inquérito Policial

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Direito Processual Penal - Aula 2

Valor Probatório do Inquérito Policial

Conceito: O inquérito tem valor probatório relativo (superficial) pois ele serve de base para a propositura do processo, mas não se presta sozinho a sustentar uma condenação, já que seus elementos foram colhidos sem contraditório ou ampla defesa.Ou seja, o inquérito em regra não serve como prova

OBS: Elementos Migratórios (exceção)Conceito: É aquele extraído do inquérito, introduzido no processo e que eventualmente pode ser utilizado como apoio de uma futura sentença condenatória. (servem como prova)

Hipóteses:

a. Provas irrepetíveis: é aquela de fácil perecimento e que não tem como ser refeita na fase processual.Ex: Exame de aferição de embriaguez ao volante (bafômetro).

b. Provas cautelares: São imediatamente colhidas devido à necessidade e urgência. Caso se não forem colhidas rapidamente irão perder a relação com o crime ou desaparecer.Ex: interceptação telefônica, busca e apreensão.

OBS: Provas irrepetíveis e Cautelares, quando adicionadas no processo serão necessariamente submetidas ao contraditório (diferido posterior) e a ampla defesa.

c. Incidente de produção antecipada de prova: ele é instaurado perante o juiz, mesmo durante a fase do inquérito policial, e já conta com a intervenção das futuras partes do processo e com o respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa.Ou seja, o suspeito será chamado para responder diretamente ao juiz (com contraditório e a ampla defesa) e confrontar diretamente as partes contrárias na fase do inquérito. Desta forma, a oitiva do suspeito já poderá servir como base para futura condenação processual.

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Vícios / irregularidades do inquérito policial

Conceito: é aquele inquérito conduzido irregularmente sem seguir as bases da lei ou dos princípios estabelecidos na constituição federal.

Consequência: Para o STF e o STJ os vícios do inquérito estão contidos no próprio inquérito e não contem a força para contaminar o futuro processo.

Logo, os vícios são endoprocidementais:Os vícios do inquérito ficam no PRÓPRIO inquérito! Não contaminam nada de jeito nenhum!

A contaminação não acontece, segundo o STF e o STJ, mesmo se for aplicado a teoria dos frutos da árvore envenenada.

Atribuição / competência do inquérito policial

Conceito: é o poder conferido por lei à determinada autoridade, e que vai delimitar a sua margem de atuação. (circunscrição do delegado)

Critérios:

a. Territorial: Por ele, a atribuição é definida pela circunscrição da consumação do crime.

OBS: circunscrição nada mais é do que a delimitação territorial da atuação do delegado.

OBS2: Comarca não se confunde com circunscrição. Uma comarca pode ter várias circunscrições com vários delegados. Um delegado em uma comarca com varias circunscrições, para cumprir diligências em outra circunscrição não precisa de autorização! (estão dispensadas as chamadas cartas precatórias entre delegados)

b. Critério Material: Por ele, teremos delegacias especializadas no combate a determinado tipo de crime.Ex: Delegacia de homicídios

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OBS: é pelo critério material é que teremos uma setorização da polícia judiciária na órbita estadual e federal, já que a polícia federal materialmente investigará os crimes federais

OBS2: o artigo 144 da CF autoriza que a polícia federal investigue crimes estaduais que exijam retaliação uniforme por sua repercussão interestadual ou internacional.A intervenção da Polícia Federal não inibe a atuação da polícia estadual, e o futuro processo a ser deflagrado será iniciado na justiça estadual, afinal o delito é estadual. (lei 10.446/02)Ex: caso a Juíza Patrícia Acioli

c. Critério Pessoal: Por ele, a atribuição da polícia é definida em razão da figura da vítima.Ex: delegacia da mulher, do idoso, do turista, do adolescente, etc.

OBS: o desrespeito a esses critérios fixadores de atribuição, é um mero vício, que não contamina a fase processual.

Incomunicabilidade do preso

Era a possibilidade do preso não ter contato com terceiros em prol da eficiência da investigação. O ato de dependia de decisão do juiz, pelo prazo de 3 dias e sem prejuízo do acesso do advogado.

OBS: com o advento do art. 136 da Constituição Federal que não tolera a incomunicabilidade nem mesmo no Estado de Defesa, resta concluir que o art. 21 do Código de Processo Penal não foi recepcionado (revogado tacitamente).

OBS2: em Estado de Sítio pode haver. Em estado de sítio tudo pode acontecer, até mesmo os direitos fundamentais podem ser temporariamente suspensos.

OBS3: não há incomunicabilidade nem mesmo no regime disciplinar diferenciado (RDD). Art. 52 da lei 7.210/84.

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Indiciamento

Conceito: é a comunicação ao suposto autor do crime que as investigações convergem na sua pessoa. Logo sairemos de um juízo de mera possibilidade para outro, de probabilidade.O suspeito torna-se o principal suspeito, e as investigações serão baseadas nesta hipótese.

OBS: Momento: Qual é o momento em que o delegado deve indiciar?Não há norma legal prevista, mas a sugestão doutrinária é de que o sujeito seja indiciado o quanto antes. Normalmente após a oitiva do suspeito.Atenção: Se o suspeito esta preso, ele estará imediatamente indiciado!

OBS2: Menor: o nosso código considerava as pessoas entre 18 e 21 anos como relativamente capazes, e por isso ao serem indiciadas o delegado deveria nomear curador. Com o advento do art. 5º do Código civil, estas pessoas são consideradas absolutamente capazes, não mais havendo curador, de forma que o artigo 15 do CPP está tacitamente revogado.

Procedimento do inquérito policial (parte mais importante!!! Vai cair!!!)

1ª Etapa: Início

Abertura, pelo delegado, através de uma portaria.Portaria: é a peça escrita que demarca o início do inquérito policial

Conteúdo:a. Indicação do Fatob. Indicação dos possíveis envolvidosc. Indicação das diligências a serem imediatamente cumpridasd. Desfecho da portaria: determinará a instauração do inquérito policial

Notícia Crime: “notitia criminis”É a comunicação da ocorrência do delito à autoridade que possui atribuição para agir. (é a chamada erroneamente de “queixa”. Não se chama queixa! É notícia crime!)

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Legitimidade:a. Destinatário: posso noticiar o crime:

- ao delegado, que irá:1. Oferecer denúncia (se a notícia crime já possui indício de autoria e da materialidade)2. Arquivar a notícia crime (em caso da notícia crime não ser fato típico, por exemplo: incesto).

- ao ministério público, e o promotor irá:1. Fazer requisição para o delegado investigar (instaurar o inquérito) 2. Oferecer denúncia (se a notícia crime já possui indício de autoria e da materialidade)3. Arquivar a notícia crime (em caso da notícia crime não ser fato típico, por exemplo: incesto).

OBS: caso a notícia crime seja noticiada ao juiz, o juiz poderá requisitar a instauração do inquérito policial ou, segundo a doutrina, abrir vistas ao ministério público, para que o promotor delibere quanto ao que fazer.

Classificação da notícia Crime

a. Notícia Crime Direta (notícia crime de cognição imediata)É aquela atribuída as forças policiais e a imprensa (furo de reportagem)

OBS: Notícia Crime Apócrifa ou Inqualificada (“denúncia anônima”)É o que vulgarmente conhecemos como “denúncia anônima”.Em que pese a constituição autorizar a livre manifestação do pensamento, mas vedar o anonimato, cabe ao delegado aferir a plausibilidade (verossiminância) da notícia para só então iniciar a investigação, sob pena de patente arbítrio.

b. Notícia Crime Indireta (notícia crime de cognição mediata)É aquela prestada por pessoa estranha à polícia e devidamente identificada.

Hipóteses de notícia crime indireta:1. Vítima ou representante legal da vítima (menos de 18 anos):

Presta a notícia crime por meio de requerimento (passível de ser negado) do inquérito policial.

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OBS: Negação por parte do delegado (recurso)Caso o requerimento seja negado pelo delegado, a vítima deve entrar com recurso administrativo ao superior do delegado:- delegado estadual: - delegado federal: delegado regional ou superintendente da PF

Outra forma de remédio, segundo a doutrina, é entrar com pedido no ministério público. Neste caso o Promotor irá fazer uma requisição (não passível de ser negada) ao delegado, e este é obrigado a cumprir por força de lei. (porém aqui não é recurso!!! É um pedido ao promotor)

OBS: Nos crimes de ação privada, como a injúria, e nos crimes de ação pública condicionada, como no estupro, a instauração do inquérito pressupõe a autorização da vítima, pois sem ela o inquérito não pode ser iniciado.

Direito Processual Penal - Aula 3 (continuação)

2. Emanada do Ministério Público ou Juiz: quando o juiz ou promotor almeja a instauração do inquérito, eles devem fazer por meio de requisição, e o delegado estará obrigado a investigar, mesmo não havendo vínculo hierárquico.

Lembrando:

OBS: Se a requisição é manifestamente ilegal, o delegado não estará obrigado a cumpri-lá.

OBS2: Se o delegado não cumpre uma requisição legal feita pelo MP ou por um juiz, ele responderá por prevaricação, apenas se atuou com dolo específico.

Se não atuou com dolo, o fato é atípico, apenas poderá ocorrer sanção perante a corregedoria incorrerá em mera falta administrativa.

Prevaricação: deixar de praticar ato de ofício para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.Atenção, não confundir com concussão: exigir vantagem de terceiro para deixar de fazer ou retardar ato de ofício.

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3. Delação: é a notícia crime prestada por qualquer um do povo e que só terá cabimento nos crimes de ação pública incondicionada, que são aqueles onde o interesse público prepondera.

4. Ação Pública Condicionada: Nesta hipótese, funcionam como notícia crime a representação da vítima e a requisição do ministro da justiça.

OBS1: “Delatio Criminis” com força postulatória: nada mais é do que a representação típica dos crimes de ação pública condicionada. Ou seja, é sinônimo de crimes de ação pública condicionada.

OBS2: “Delatio Criminis” com força coercitiva: é a notícia crime extraída da prisão em flagrante e pode ser direta ou indireta a depender de quem fez a prisão em flagrante, se policial (direta), se qualquer um do povo (indireta). Art. 301 do Código de Processo Penal.

O auto de prisão em flagrante, ou a requisição devidamente formalizada já funciona como se fosse a portaria, dispensando o delegado de baixar uma nova.

2ª Etapa: Evolução do inquérito policialO inquérito será cumprido através de diligências, que serão cumpridas de maneira discricionária (da maneira que o delegado entender mais eficiente).

OBS1: Os artigos 6º e 7º do CPP apontam as diligências que podem ou devem ser cumpridas pelo delegado para melhor aparelhar a sua investigação.

Conclusão 1: Os artigos 6º e 7º do CPP não esgotam o tema, e o delegado poderá adotar outras diligências previstas no CPP ou na legislação especial.

Conclusão 2: Destaques:

a. A reconstituição do crime é também conhecida como reprodução simulada do fato sendo que o suspeito não está obrigado a participar, pois ninguém pode ser coagido (obrigado) a se auto incriminar por força da constituição federal e do Pacto de São José da Costa Rica.

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Vale destacar ainda que não haverá reconstituição que ofenda a moralidade ou a ordem pública.

b. Identificação Criminal: O delegado poderá, nos termos da lei, determinar a identificação criminal do agente que é composta por fotografia, impressão digital e até mesmo colheita de material genético para realização do exame de DNA.

3ª ETAPA: EncerramentoO inquérito será encerrado pela elaboração de um relatório.

Relatório

É a peça eminentemente descritiva que vai apontar as principais diligências realizadas, e eventualmente justificar as que não foram feitas por algum motivo relevante.

Conclusões:

1. Não cabe ao delegado emitir opinião no relatório, pois a peça é substancialmente descritiva.

2. Nada impede que o delegado aponte testemunhas com respectivo endereço que eventualmente deixou de ouvir, assim como outras diligências não realizadas.

3. No relatório o delegado poderá apontar os artigos de lei pelos quais indiciou o suspeito, o que não o vincula ao ministério público.

4. Lei de tóxicos: Segundo Luiz Flávio Gomes, o relatório na lei de tóxicos, possui um certo tom opinativo afinal o delegado deve justificar porque enquadrou o agente como traficante e não como usuário.

5. Havendo a apreensão dos instrumentos do crime, eles acompanharão os autos do inquérito juntamente com o relatório.

Ao fim do inquérito, os autos serão remetidos ao juiz:

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OBSERVAÇÕES:

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OBS 1: - Esfera FederalQuando o juiz federal invoca o art. 28 do CPP, remeterá os autos para a

câmara de coordenação e revisão do ministério público federal.

OBS 2: – Súmula 524 do STF X art. 18 do CPPO arquivamento do inquérito em regra não faz coisa julgada material

(julgado em ultima instância / transitada em julgado), tanto é verdade que se surgirem novas provas enquanto o crime não estiver prescrito, o MP terá poderá oferecer denúncia.

Prova nova: é aquela que não era conhecida no momento em que o promotor pediu o arquivamento.

O arquivamento: segue a cláusula “rebus sic stantibus ” (como as coisas estão). Ou seja, o inquérito ficará arquivado dependendo de como as coisas estão. Por exemplo, se aparecer novas provas, será oferecida denúncia.

Por sua vez, o art. 18 do CPP autoriza que a polícia realize diligências, mesmo durante o arquivamento, na esperança de colher prova nova que viabilize o oferecimento da denúncia.

OBS 3: – Hipóteses que justificam o arquivamento

O promotor irá pedir o arquivamento:

Em razão da negativa de autoria (não há indícios de o indivíduo ser criminoso) Em razão da inexistência do fato (crime não aconteceu) Em razão da atipicidade do fato (crime não existe. Ex: incesto) Em razão de uma excludente de ilicitude (art. 23 do CP) Havendo extinção da punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa

(art. 107 do CP)

OBS 4: – Definitividade do arquivamentoExcepcionalmente o arquivamento do inquérito pode acarretar em coisa

julgada material (transitado em julgado):Para o STF o arquivamento do inquérito faz coisa julgada material quando está pautado na certeza da atipicidade do fato de maneira que não cabe denúncia nem mesmo se surgirem novas provas. Por sua vez, a doutrina reconhece o mesmo fenômeno quando existe a extinção da punibilidade.

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OBS 5: – Arquivamento ImplícitoEle se caracteriza quando o promotor deixa de se manifestar

expressamente sobre todos os crimes (arquivamento implícito objetivo) ou sobre todos os criminosos (arquivamento implícito subjetivo) trazidos pelo inquérito policial.

Neste caso, deve o Juiz, ao analisar a denúncia incompleta, invocar o art. 28 do CPP, remetendo os autos ao Procurador Geral.

Por sua vez, se o promotor deseja aditar (complementar) a denúncia, o aditamento deve estar lastreado (amparado) por novas provas.

Conclusão: O STF e o STJ não adotam o arquivamento implícito, pois não há disciplina legal sobre o tema.