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Processualística Pericial INTRODUÇÃO É preciso que o perito tenha exata noção do enquadramento e direcionamento jurídico que o resultado do seu trabalho - o laudo pericial - irá ter no contexto investigatório/judicial. O que pudemos constatar, nos diversos contatos com colegas de outros Institutos no Brasil, é uma série de dúvidas sobre a processualística aplicada à perícia. Em muitos situações, o perito não tem consciência da importância e conseqüências que as informações contidas em seu laudo irão ter no desenrolar de um inquérito policial ou processo judicial. Nota-se, ainda, entre os colegas uma série de conceitos e abordagens diferentes do ponto de vista jurídico, podendo- se observar inúmeras interpretações - algumas até equivocadas, s.m.j. - para fatos jurídicos/periciais iguais. Diante dessas constatações e, principalmente, porque não há uma preocupação sistematizada das autoridades administrativas, salvo algumas exceções, em uniformizar conceitos jurídicos para aplicação na perícia oficial, resolvemos tentar desenvolver um trabalho nesse campo, visando apresentar o nosso ponto de vista acerca desses fatos e interpretações jurídicas, com o objetivo de iniciarmos as discussões nesse campo. IMPORTÂNCIA DA PERÍCIA Vamos mostrar nesse tópico o quanto a perícia é importante dentro do conjunto probante, cujos fatos ficam evidentes na preocupação do legislador, por intermédio de dispositivos

Processualística Pericial

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Processualística Pericial

INTRODUÇÃO 

É preciso que o perito tenha exata noção do enquadramento e direcionamento jurídico que o resultado do seu trabalho - o laudo pericial - irá ter no contexto investigatório/judicial. 

O que pudemos constatar, nos diversos contatos com colegas de outros Institutos no Brasil, é uma série de dúvidas sobre a processualística aplicada à perícia. Em muitos situações, o perito não tem consciência da importância e conseqüências que as informações contidas em seu laudo irão ter no desenrolar de um inquérito policial ou processo judicial. 

Nota-se, ainda, entre os colegas uma série de conceitos e abordagens diferentes do ponto de vista jurídico, podendo-se observar inúmeras interpretações - algumas até equivocadas, s.m.j. - para fatos jurídicos/periciais iguais. 

Diante dessas constatações e, principalmente, porque não há uma preocupação sistematizada das autoridades administrativas, salvo algumas exceções, em uniformizar conceitos jurídicos para aplicação na perícia oficial, resolvemos tentar desenvolver um trabalho nesse campo, visando apresentar o nosso ponto de vista acerca desses fatos e interpretações jurídicas, com o objetivo de iniciarmos as discussões nesse campo. 

IMPORTÂNCIA DA PERÍCIA 

Vamos mostrar nesse tópico o quanto a perícia é importante dentro do conjunto probante, cujos fatos ficam evidentes na preocupação do legislador, por intermédio de dispositivos que assim ressaltam diretamente, como também pela interpretação indireta do que a legislação procurou assegurar. 

O artigo 157 do Código de Processo Penal - CPP diz que "o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova". Isso nos mostra que o juiz deverá considerar todo o contexto das provas carreadas para o processo judicial, sendo - no entanto - livre para escolher aquelas que julgar convincentes. É claro que ele, em sua sentença, irá discutir o por quê de sua preferência. 

Portanto, não há hierarquia de provas. Todas, em princípio, tem o mesmo valor probante. Todavia, o que temos observado ao longo de muitos anos é que a prova pericial acaba tendo prevalência sobre as demais. 

Certamente o legislador, nesse artigo, quis assegurar ao magistrado o seu livre

convencimento diante do conjunto das provas, pois anteviu que, se assim não o fizesse, a prova pericial acabaria prevalecendo, tanto técnica quanto juridicamente, sobre as demais. 

E é muito simples explicar essa preferência. Ocorre que a prova pericial é produzida a partir de fundamentação científica, enquanto que as chamadas provas subjetivas dependem do testemunho ou interpretação de pessoas, podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em relatar determinado fato, até a situação de má fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos para não se chegar à verdade. 

Claramente o artigo 158 do CPP determina: "quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado". 

Essa determinação legal evidencia, de forma direta, a importância e a relevância que a perícia representa no contexto probatório, referindo-se, taxativamente, sobre a sua indispensabilidade, sob pena de nulidade de processos, conforme veremos mais adiante. 

Infelizmente, essa previsão legal deixa de ser cumprida em muitas situações, ocasionada pela falta de estrutura suficiente para atender a demanda, pela carência de equipamentos adequados e pelo reduzido quadro de peritos, que não conseguem realizar todos os exames. Também outro fator agravante é a falta de estrutura no interior da maioria dos Estados brasileiros, comprometendo a execução dessa tarefa. 

Além dos problemas estruturais, existem ainda os malefícios de ingerências e omissões por parte das autoridades responsáveis pela requisição da perícia que, não a requerendo, estão a comprometer o esclarecimento do fato delituoso. 

O cumprimento do artigo 158, independente dos motivos, deveria ser uma rotina para os Promotores de Justiça e os Magistrados, quando encontrassem no processo situações em que haviam vestígios e não foram realizados os competentes exames periciais. Temos certeza que, se houvesse essa consciência crítica e de cumprimento de ofício dessas duas autoridades, na cobrança sistemática dessas omissões, as estruturas periciais estariam em estágio bem mais desenvolvido, pois o Poder Executivo sentir-se-ia pressionado a tomar providências. 

Inteligentemente, também está previsto no artigo 182 do CPP, que "o juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte". 

Sem dúvida, já em 1941 o legislador vislumbrou a importância da prova científica, pois mesmo prevendo no artigo 157 que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova, deixa claro no texto que o laudo não deverá ser apreciado como uma verdade absoluta. 

Mais uma vez nota-se a importância da prova científica, tamanha foi a preocupação do legislador em criar mecanismos para que o laudo não fosse usado exclusivamente, em detrimento de outros meios de prova. 

Nestas ressalvas do legislador, podemos entender duas preocupações básicas. Primeiro, que é importante reunirmos o maior número de provas possível acerca de qualquer delito, seja ela objetiva (científica) ou subjetiva (empírica), a fim de que o juiz tenha o maior número de informações e, com isso, formar a sua convicção com total segurança. E, segundo, a falta de estrutura dos órgãos periciais que - àquela época - não tinham condições de atender a todas as perícias nos mais diversos municípios de nosso país. 

Tanto é verdade essa segunda preocupação, que em 1979 uma comissão de juristas, nomeados pelo Ministro da Justiça, Doutor Petrônio Portela (Portaria MJ nº 680 de 11/07/79), para estudar alternativas que viessem a diminuir a violência e a criminalidade, constatou que em sete estados a perícia simplesmente não existia e em outros oito eram precários e sem material humano eficiente. 

Imagina-se, portanto, como deveria ser a perícia em 1941. Certamente, quase inexistente do ponto de vista estrutural. Não obstante toda essa falta de estrutura, já naquela época (1941) foi reservada tamanha importância para a perícia no contexto investigatório/processual criminal. 

A importância é tamanha que o CPP vai mais além, quando trata das NULIDADES, prevendo em seu artigo 564, inciso III, alínea "b", que "a nulidade ocorrerá nos seguintes casos: ... por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: ... o exame do corpo de delito nos crimes que deixem vestígios,...". 

É inegável a relevância do laudo pericial para o processo criminal, demostrado por todos estes dispositivos legais. Chegar ao ponto de dizer que o processo criminal poderá ter atos nulos por conta da falta do laudo pericial, é ressaltar sobremaneira a sua necessidade no conjunto probante. 

Tristemente devemos constatar que, passados quase sessenta anos da edição do CPP, onde tamanha importância foi reservada à perícia, as autoridades políticas e administrativas não souberam (ou não tiveram o interesse) em dar as condições necessárias para que os órgãos periciais oficiais se desenvolvessem à altura de sua importância. Em quanto já avançou a ciência

nesses anos todos, ao passo que a perícia ficou quase paralisada, não sabendo aproveitar todo esse conhecimento científico que poderia vir a dar maiores subsídios à investigação policial e aos magistrados no seu livre convencimento. 

Podemos afirmar com toda a certeza que o desenvolvimento técnico-científico que a perícia atingiu nesses últimos anos, é por obra e iniciativa - quase exclusiva - dos seus próprios peritos, que procuram elevar cada vez mais a qualidade do mister pericial. 

RESPONSABILIDADE DO PERITO 

A responsabilidade do perito no exercício da sua função deve ser dividida em duas partes distintas. Aquela do ponto de vista legal, onde lhe são exigidas algumas formalidades e parâmetros para a sua atuação como perito; e as de ordem técnica, necessárias para desenvolver satisfatoriamente os exames técnico-científicos que lhe são inerentes. 

EXIGÊNCIAS FORMAIS 

O artigo 112 do CPP trata das incompatibilidades e impedimentos legais que o os peritos devem declarar nos autos do processo, quando for o caso. 

In verbis: O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser argüido pelas partes, seguindo-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição." 

Vejam que os peritos devem cumprir estas exigências desde a fase de execução no âmbito dos Institutos de Criminalísticas, no momento que recebem a determinação de seu Diretor para realizar alguma perícia. 

Os artigos 275 ao 280 tratam de formalidades aplicáveis aos peritos e intérpretes, destacando-se os principais a seguir.

Art. 275. O perito, ainda que não oficial, estará sujeito á disciplina judiciária. 

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juizes. 

Como se vê claramente no artigo 275, apesar dos peritos, através dos Institutos de Criminalística - na sua grande maioria, ainda estarem

administrativamente vinculados aos organismos policiais, são antes de tudo regidos por dispositivos inerentes aos juizes e demais auxiliares da justiça. 

O exercício da função pericial é regido por estatutos judiciais e não policiais. É errado, portanto, a vinculação dos órgãos periciais às estruturas policiais. É sabido que o exercício da função pericial começa simultaneamente na fase policial de investigação dos delitos, todavia estende-se até o processo judicial, seu destino final e principal. 

Portanto, do ponto de vista legal, é necessário que os órgãos periciais tenham estrutura administrativa autônoma, a fim de que possam atender a todos os segmentos que dela necessitam, conforme determina o próprio Código, quais sejam: a Polícia Judiciária, o Ministério Público e a Justiça, além das partes envolvidas no processo. 

Nota-se, ainda, uma preocupação relevante com o perito não oficial, o chamado perito "ad hoc", perfeitamente compreensível para aquela época, pois certamente o número de Institutos de Criminalística e de Medicina Legal eram muito poucos em todo o Brasil. 

O artigo 280, tratando da suspeição dos peritos, remete-nos aos artigos 254 e 255 onde estão elencadas as situações de suspeição dos juizes e que, por força desse dispositivo, aplicam-se também aos peritos. Vejamos: "Art. 254. O juiz (leia-se perito) dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz (leia-se perito) o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo. 

Vê-se, portanto, que tanto o perito oficial quanto os próprios diretores dos Institutos devem ficar atentos a essas exigências e enquadramentos para o exercício da função pericial, sob pena de darem causa para nulidades de laudos periciais. 

REQUISITOS TÉCNICOS 

Nível Superior 

Com o advento da Lei 8862/94 e demais legislações correlatas, para ser perito oficial (perito criminal ou perito médico legista) é necessária a formação acadêmica. 

O caput do artigo 159 não expressa textualmente o requisito de formação superior para ser perito oficial, todavia nem seria necessário, tendo em vista a extensa legislação periférica determinando tal requisito. 

O próprio parágrafo primeiro do artigo 159 (§ 1º - não havendo peritos oficiais, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame) deixa clara essa exigência para o perito "ad hoc", o que dizer então ao perito oficial. Certamente muito mais exigível será. 

Nesta mesma linha de interpretação, devemos analisar as diversas leis que regulam as profissões de nível superior (contador, engenheiro, farmacêutico, biólogo, geólogo, etc.), onde cada uma delas elenca todas as atividades que são de competência exclusiva daqueles profissionais. P.ex.: Uma perícia contábil jamais poderá ser feita por um engenheiro que seja perito oficial, sob pena de ser declarada nula mediante argüição de qualquer das partes envolvidas no processo, sujeitando o autor a responder a processo por exercício ilegal da profissão. 

O Código de Processo Civil, no seu artigo 145, § 1º, com a redação determinada pela Lei 7.270/84 diz que "os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, ...", aplicando-se por analogia no caso do processo criminal. 

Por fim, para sanar qualquer dúvida da aplicação desses dispositivos que foram comentados, destacamos o artigo 3º do CPP que textualmente diz: "a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito". 

É importante ressaltarmos que esta exigência de nível superior é - principalmente - uma necessidade técnica, pois a perícia é calcada na pesquisa científica, e, portanto, imprescindível termos profissionais capacitados e com formação acadêmica para esse mister pericial, sob pena de vermos a perícia cair em descrédito no contexto do processo penal. 

Dois Peritos 

O artigo 159 do CPP, com a nova redação determinada pela Lei 8862/94, exige que as perícias sejam feitas por dois peritos oficiais: "Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por dois peritos oficiais". 

A exigência de dois peritos criminais para realizarem exames periciais, veio regular situação que já foi objeto até de Súmula do Supremo (Súmula 361: No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado, anteriormente, na diligência de apreensão.), bem como adequar situações de fato que já vinham ocorrendo em algumas Criminalísticas. Foi de grande valia essa alteração porque em muito ganhará a perícia e, consequentemente, o processo criminal, pois certamente qualquer exame feito "a quatro olhos" será muito mais eficiente. Com isso elevaremos o padrão de qualidade da perícia. É necessário, no entanto, que cada presidente de associação de peritos e os Diretores da Criminalística, envidem esforços no sentido de adequar o efetivo de peritos criminais ao novo mandamento legal. Evidentemente passaremos por uma fase de adequação de quantitativo de peritos, onde haverá necessidade do sacrifício de todos os profissionais, até efetivarmos a contratação de novos peritos. 

Também para os casos de perito "ad hoc" deve ser realizado por dois profissionais, fato este já exigido desde a edição do CPP em 1941. 

Com a alteração do artigo 159, exigindo - também para o caso de perito oficial - que os exames sejam realizados por dois peritos, abre-se a possibilidade jurídica - em tese - de utilizar as orientações do artigo 180, (art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignados no auto do exame (grifo nosso) as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos) antes restrito só aos peritos "ad hoc". 

A figura tradicional do segundo perito, como mero revisor do laudo deixou de existir. Agora os dois peritos realizam juntos o exame, deixando-se, por facilidade redacional, que um deles seja o encarregado de redigir o laudo, todavia o outro deve participar ativamente e, não concordando com interpretações científicas do outro colega, em princípio, poderiam cada um redigir o seu laudo. 

Dizemos em princípio, pois se verificarmos no mencionado artigo, o legislador se refere a auto de exame, expressão só utilizada quando se trata de perito "ad hoc". Além do mais, o espírito do legislador ao redigir este artigo, tinha como objetivo somente a aplicação para os casos de perito "ad hoc". Portanto, apesar da dupla interpretação, preferimos ficar com esta original, de que o

artigo 180 só se aplica ao perito "ad hoc". 

Este é um recurso que devemos evitar ao extremo, porém, sendo necessário, a legislação deverá ser profundamente analisada para ver se é possível aquele primeiro enquadramento. Em se tratando de peritos oficiais, o ideal é incentivarmos a discussão científica sobre as interpretações divergentes, promovendo - inclusive - reunião com outros peritos do setor. Alertamos, no entanto, que o perito só deve assinar um laudo em que tenha plena convicção das afirmações ali contidas. Devemos esgotar todas as formas de discussão científica, no entanto, jamais assinarmos um laudo porque a maioria do grupo entendeu de um forma diferente da sua. Teremos de estar convencidos cientificamente dos fatos. 

Das Assertivas Técnicas 

É importante o perito ter sempre presente em suas atitudes, no exercício da função pericial, a grande responsabilidade que pesa em seus ombros pelo trabalho que desenvolve. 

O laudo pericial poderá, dada a sua importância, ser a peça principal e fundamental para condenar ou inocentar um réu. Disso decorre nossa grande responsabilidade em realizar um trabalho bem feito, buscando utilizar todas as ferramentas científicas que a ciência dispõe e, ao mesmo tempo, exigir dos administradores as condições de trabalho adequadas, especialmente no aporte de equipamentos e materiais necessários aos exames periciais. 

O perito teve ter o cuidado de somente concluir ou afirmar qualquer coisa em seu laudo, se puder lastrear tal assertiva com uma justificativa científica. Para afirmar determinado fato, deve ter apenas uma possibilidade para o evento em estudo. 

Essa única possibilidade só a encontraremos em duas situações. A primeira é quando tivermos um vestígio determinante que, por si só, já é conclusivo para aquele evento. A segunda situação que reuniremos apenas uma possibilidade científica, é quando tivermos mais de um vestígio que, por si só não são determinantes, mas que analisados conjuntamente nos direcionem a somente uma possibilidade. 

Não se caracterizando essas duas situações que venham a proporcionar uma única possibilidade científica para o evento, poderemos estar diante de algumas outras hipóteses que merecem a nossa análise mais detalhada, porém, jamais de conclusão. 

Encontraremos situações em que nem mesmo o conjunto dos vestígios nos

proporcionará condições de conclusão da forma como falamos. Porém, poderemos ter condições técnicas de chegar a excluir determinada hipótese (que também será uma espécie de conclusão), diminuindo assim o universo de situações que a polícia judiciária terá que investigar. Se numa ocorrência de morte violenta pudermos, p.ex., eliminar a hipótese de acidente e morte natural, nos restarão somente as possibilidades de homicídio e suicídio, o que será de grande ajuda no conjunto das investigações. 

Poderemos ter ainda situações que, mesmo não sendo possível concluir, teremos uma das hipóteses com maior probabilidade de ter ocorrido, baseados sempre na análise do conjunto de vestígios do evento. Nesses casos é imprescindível que os peritos sejam mais explicativos em seu laudo, no sentido de registrar o máximo de informações que venham a evidenciar aquela maior probabilidade para tal possibilidade, contribuindo - também - para a investigação criminal. 

DA REQUISIÇÃO DE PERÍCIA 

No modelo brasileiro, vigente em nosso Código de Processo Penal, cabe à Autoridade Policial (Delegado de Polícia), presidente do Inquérito Policial, requisitar a perícia, conforme determina o inciso VII do artigo 6º (determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias). 

Também podem determinar a realização de perícias, o Promotor de Justiça e o Juiz. Todavia, na grande maioria das ocorrências, onde o Delegado de Polícia primeiro toma conhecimento e por ser o presidente do inquérito, é quem mais exerce essa obrigação. 

Há também os casos de crimes militares (Polícias Militares ou Forças Armadas) onde o oficial que preside o IPM poderá requisitar os respectivos exames periciais ao Instituto de Criminalística ou Instituto de Medicina Legal. 

A requisição é obrigatória para a realização da perícia, conforme observamos no artigo 158 do CPP: "Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado." 

Apesar de ser obrigatória a requisição e realização da perícia, a realidade no Brasil ainda nos mostra que inúmeras infrações que deixam vestígios não são periciadas. As razões são inúmeras, desde a falta de pessoal para atender a toda a demanda, passando pela falta de condições técnicas (principalmente equipamentos), até por simples má fé, onde a verdade não interessa ser esclarecida. 

Também as partes, especialmente por intermédio dos advogados que lhe representam, poderão requerer exames periciais. Esta prerrogativa caracteriza-se pela ausência de dispositivo contrário a esse procedimento e, em especial, pelo que orienta o artigo 184 do CPP ("Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade."). 

Nota-se, portanto, que o mencionado artigo é enfático ao determinar somente os casos de exceção para o não atendimento de tais requerimentos, ou seja, quando a autoridade policial ou judiciária entender que tal solicitação não é necessária para o esclarecimento dos fatos. E vai mais além, ao determinar que os casos de exame de corpo de delito não podem ter negadas as suas requisições. A expressão "corpo de delito" aqui utilizada, está em seu significado original, referindo-se apenas às pessoas. Modernamente quando falamos de "corpo de delito", estamos nos referindo a qualquer objeto passível de um exame pericial. 

Para essas situações de exames periciais requeridos pelas partes, seus advogados deverão se dirigir ao Delegado de Polícia se estiver na fase do Inquérito Policial e, ao Magistrado, se já for processo. 

Fato importante a ressaltar é que a requisição da perícia é feita pelo Delegado de Polícia, Promotor de Justiça ou mesmo pelo próprio Juiz; no entanto, sendo perito oficial, a nomeação do profissional que irá executá-la, deve ser feita pelo diretor do Instituto de Criminalística ou de Medicina Legal, conforme determina o artigo 178 do CPP: "No caso do art. 159, o exame será requisitado pela autoridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo assinado pelos peritos." 

Desse artigo tiramos duas preocupações do legislador. A primeira tem o objetivo de obstruir qualquer relação direta entre o requisitante e os peritos que irão efetuar o exame pericial, evitando-se ingerências, preferências ou recusas sobre determinados peritos, por parte do requisitante. A segunda preocupação, diz respeito a questão da especialização necessária que o perito deve ter para realizar o tipo de exame que está sendo requerido, onde somente o diretor do órgão saberá quem melhor desempenhará aquela tarefa. 

ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL 

Com o advento da Lei 8862/94, passamos a ter uma garantia legal para a preservação e o isolamento de locais de infrações penais, pela Autoridade Policial, sob pena de responsabilização futura pelo Juiz. 

No artigo 6º, incisos I e II, ficou expressamente determinado tal obrigatoriedade, senão vejamos: "Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;" 

O isolamento e a conseqüente preservação do local de infração penal é uma garantia que o perito terá de encontrar a cena do crime conforme fora deixada pelo(s) infrator(es) e vítima(s) e, com isso, ter condições técnicas de analisar todos os vestígios. É também uma garantia para a investigação como um todo, pois teremos muito mais elementos a analisar e carrear para o inquérito e, posteriormente, para o processo criminal. 

Certamente não será uma determinação legal que irá - de imediato - resolver o grande problema da falta de preservação de local aos peritos, todavia, este é um início, criando a obrigatoriedade ao delegado de polícia em providenciar tais condições. 

A falta de preservação de local ou de qualquer outro corpo de delito, começa pela falta de preparo dos próprios policiais em geral. Assim, é preciso que todos nós, especialmente os diretores das Criminalísticas, busquem a conscientização dos dirigentes das academias de polícia (civil e militar), para que intensifiquem a formação dos policiais para este importante quesito. O local de crime e corpo de delito devem ser rigorosamente preservados, a fim de contribuir com o sucesso da investigação. 

Ao mesmo tempo que o artigo 6º e seus incisos I e II determinam ao delegado de polícia que preserve o local e o corpo de delito, também exige que o perito relate em seu laudo se a preservação deixou de ser feita ou ocorreu com falhas, conforme expresso no artigo 169: 

"In verbis": Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. 

Parágrafo Único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos.". 

Este dispositivo atualizado pela Lei 8862/94, veio trazer uma responsabilidade enorme ao perito criminal. Devemos compreender que esta exigência visa resguardar o local de crime, para que tenha o devido isolamento e

preservação, assegurando a idoneidade dos vestígios a serem analisados. Portanto, não devemos nos omitir. Sabemos que é mais uma responsabilidade sobre o perito, já atribulado nas suas precárias condições de trabalho, porém não cabe mais discutir, uma vez que se trata de exigência legal. 

É importante salientar que o perito não deve deixar de realizar o exame solicitado por falta de preservação ou qualquer outra alteração. Deve examinar da forma como encontrou e ter o cuidado de registrar tudo em seu laudo. 

Haverá, o perito, de ter muito bom senso nessa análise, e, se for absolutamente impossível realizar qualquer exame, deve, pelo menos, registrar, no livro de ocorrência e encaminhar relatório ao seu diretor, descrevendo como se encontrava o local. 

O perito criminal deve ter o cuidado de agir o mais tecnicamente possível, sem entrar no campo da fiscalização do trabalho de outros segmentos policiais. Cada um tem a sua responsabilidade no processo. Se o perito constatou que o local não foi preservado e isso trouxe conseqüências para o seu exame, deve simplesmente relatar em seu laudo como uma informação técnica. 

Dentro desse assunto de isolamento e preservação de locais, há um grave problema quanto aos locais de acidentes de trânsito que encontra respaldo na legislação, quanto a autorização para desfazer esse tipo de local, conforme preceitua a Lei 5.970/73. 

"Art. 1º - Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exame do local, a imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego." 

Como podemos observar esta é uma lei autorizando o descumprimento de outra (o CPP). 

Esse dispositivo tem prejudicado sobremaneira os exames periciais em locais de acidente de trânsito, uma vez que a exceção virou regra, onde inúmeras situações que não justificariam tal medida, acabam tendo os locais desfeitos pelas Polícias Militares e, principalmente, pelas Polícias Rodoviárias. 

À vista disso (supomos) e desobedecendo as determinações contidas no Código de Processo Penal, o Governo Federal atribuiu à Polícia Rodoviária Federal a tarefa de realizar "perícias" nos acidentes de tráfego ocorridos nas rodovias federais. Nesse sentido editou o Decreto nº 1.655, de 03/10/95, inserindo no artigo 1º, o inciso V (V - realizar perícias, levantamentos de locais,

boletins de ocorrências, investigações, testes de dosagem alcoólica e outros procedimentos estabelecidos em leis e regulamentos, imprescindíveis à elucidação dos acidentes de trânsito), numa clara afronta ao CPP, que determina expressamente que todas as perícias criminais sejam realizadas por peritos oficiais, abrindo somente a exceção ao perito "ad hoc" com formação universitária quando não houver perito oficial. 

Outra variável dentro desse assunto é quanto a preservação dos corpos de delito, apreendidos pela autoridade policial e encaminhados para o competente exame pericial, que necessitam - em alguns casos, tanto quanto o local de infração penal - serem preservados na sua forma original, evitando-se qualquer destruição ou alteração de vestígios. 

Nesse mister, mais uma vez valendo-se do artigo 3º do CPP, podemos invocar o artigo 169 e, principalmente, o seu parágrafo único, para descrever como fora recebido o corpo de delito e, se qualquer alteração na sua forma original tiver ocorrido, o perito deve constar em seu laudo, discutindo as suas conseqüências para o resultado do seu exame pericial. 

NOVA PERÍCIA 

É comum vermos autoridades em geral levantando dúvidas sobre exames realizados por alguns peritos e/ou Institutos de Criminalística, principalmente quando o caso envolve pessoas influentes da sociedade ou que tenham grande repercussão na imprensa. 

Irresponsavelmente as autoridades - algumas vezes - desacreditam as próprias Instituições responsáveis pela realização da perícia oficial, no afã de dar uma satisfação para a mídia, quando deveriam se preocupar em dar as condições ideais de trabalho às diversas Criminalísticas do Brasil. 

Exemplo dessa natureza ocorreu em Fortaleza (1996), com um detido nas celas da Polícia Federal, em que os Peritos do Instituto de Medicina Legal do Ceará constaram a morte em conseeqüência de tortura, no entanto, não foi suficiente para convencer as autoridades policiais federais naquele Estado, quando foi chamada a Unicamp para refazer o exame, tendo chegado ao mesmo resultado. 

Também em Brasília, no caso do preso Benjamin como ficou conhecido (1996), em que o Perito Legista constatou a tortura sofrida numa delegacia, porém as autoridades da Polícia Civil de Brasília - não aceitando o resultado - requisitaram uma nova perícia por outros médicos do IML/DF e, estranhamente, o Diretor daquele Órgão curvou-se a uma ilegalidade. Um ano depois o Diretor da Polícia Civil à época, foi condenado pela Justiça por ter

levantado suspeitas inverídicas contra o trabalho daqueles primeiros peritos. 

Esses casos são expressamente proibidos pelo artigo 181 e seu parágrafo único, que faculta somente ao magistrado o poder de determinar a revisão do laudo ou fazer um novo exame. 

Vejamos o que diz o citado artigo: "Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. 

Parágrafo Único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente." 

Portanto, depois que o perito expediu o seu laudo, somente o juiz poderá determinar a sua revisão ou mesmo a feitura de um novo exame por outros peritos. O Delegado de Polícia, se entender que ocorreu algumas das falhas citadas no caput do artigo 181, deverá levantá-las em seu relatório e sugerir ao Magistrado que tome as providências necessárias.

Especificamente para os IMLs, quando tratar-se de lesões corporais, assim ressalva o artigo 168: 

"Art. 168 - Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. 

§ 1º - No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo." 

No caso exemplificado do IML/DF, este dispositivo não poderia ser usado, uma vez que o exame realizado pelos dois primeiros peritos estava completo, consubstanciado com tantos vestígios e informações, que os peritos puderam afirmar, categoricamente, ter ocorrido tortura contra aquele preso. 

Além do mais, necessariamente, os peritos que fizeram o segundo exame deveriam ter em mãos o primeiro laudo, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo, conforme determina o parágrafo primeiro do artigo 168. Nada disso foi observado, tendo os peritos - no segundo exame - apenas se limitado a feitura de um exame pericial rotineiro. 

Aliás, chamar de exame rotineiro, seria uma injustiça para os tantos peritos anônimos que realizam seu trabalho com profissionalismo; pois, naquele caso,

os peritos não foram capazes de - sequer - constatar lesões que depois de dezesseis dias ainda permaneciam no periciando, conforme ficou provado durante a realização de uma terceira perícia. 

Todavia, durante o exame pericial até antes da expedição do laudo, o Delegado, o Promotor, o Juiz e as partes (estas por meio de petição ao Delegado de Polícia ou ao Juiz, feita pelo advogado), poderão formular quesitos aos peritos, a fim de que eles respondam em seu laudo, conforme previsto no artigo 176 (A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência). 

Esta prerrogativa das autoridades e partes formularem quesitos, é confirmada no artigo 160 (Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados), onde expressa a obrigatoriedade ao perito em respondê-los. 

Julgamos importante esses dispositivos, a fim de agilizar - principalmente - a investigação policial, complementando informações entre o presidente do inquérito e os peritos. 

Devemos analisar o que seria até o ato da diligência, para podermos delimitar até onde o perito poderá atender tal solicitação, sem ferir os dispositivos do artigo 181. Entendemos que os diretores das Criminalísticas e respectivos peritos signatários poderão receber tais quesitos até o momento do fechamento do laudo. 

Saliente-se que os quesitos jamais poderão ser formulados depois de analisado o conteúdo do laudo, sob pena de infringir o artigo 181. É normal dúvidas prévias das autoridades e das partes, especialmente do delegado que está presidindo o inquérito e que, em razão da função, possui outras informações subjetivas que ele necessite confirmar através de quesitos técnicos aos peritos. 

PRAZO PARA ELABORAÇÃO DO EXAME E DO LAUDO 

Prazo para elaboração do laudo: 

O prazo anteriormente de cinco dias, passou para dez, que têm os peritos para elaborarem o laudo, conforme determina o parágrafo único do artigo 160 (O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 (dez) dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.), cuja nova redação veio através da Lei 8862/94. Há que se considerar ainda outros prazos menores, de acordo com o tipo de delito, os quais estão previstos indiretamente, por intermédio de remessa das peças investigativas ao

Judiciário. 

A dilatação do prazo para dez dias, à primeira vista não parece significativo, todavia é salutar que analisemos alguns aspectos. 

Muitas perícias requerem exames complementares de laboratório, além de outras análises e que o perito só poderá começar a sua análise global e respectiva confecção do laudo, após ter todos esses resultados em mãos, o que demandará tempo. 

Evidentemente que na prática os peritos quase nunca utilizam o prazo de dez dias para a confecção de cada laudo, tendo em vista o acúmulo do serviço, onde enquanto estão aguardando os resultados de uma ocorrência, eles já começam a elaborar o laudo de outras perícias. 

No dia-a-dia esse dispositivo legal não é muito utilizado pelos peritos, haja vista as condições de trabalho sempre aquém do ideal. Por isso, os peritos - num trabalho intenso - procuram liberar seus laudos o mais rápido possível. Entretanto, devemos ter guardado este recurso legal, inclusive do pedido de prorrogação, como uma garantia mínima para mantermos a qualidade da perícia. 

Essa questão de prazo deve ser olhada paralelamente do ponto de vista administrativo, onde os respectivos Diretores dos Órgãos Periciais deverão analisar as devidas condições de trabalho de seus peritos e emitirem normas internas regulamentando tal dispositivo, sempre procurando preservar o pronto atendimento, o fluxo e a qualidade do trabalho pericial. 

Quanto a essa questão, lamentavelmente alguns magistrados alheios à realidade porque passam os Institutos de Criminalística e Medicina Legal, chegam ao absurdo de determinar a prisão de diretores desses Órgãos porque determinado não fora entregue dentro do prazo legal. 

Hoje, em razão do constante aumento da demanda, dificilmente os peritos conseguem liberar laudos dentro do prazo de dez dias, pois terá que confeccionar outros de datas mais antigas. 

Nesses casos de acúmulo justificado do serviço, é importante que os respectivos institutos mantenham rigoroso controle administrativo, no sentido de registrar todas as datas e quantidades de laudos a serem confeccionados, a fim de servir de comprovação e/ou justificativa. Portanto, numa situação dessas, o prazo legal deve começar a contar no momento que o perito começar a redigir o laudo. 

Prazo para elaboração dos exames: 

Aproveitaremos esse tópico para comentar os termos do artigo 161 (O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora), por ser uma orientação temporal para a realização dos exames. 

O mandamento legal aqui analisado não determina expressamente que os exames devam ser realizados em qualquer hora e dia, mas admitem essa possibilidade. Tem como objetivo apressar a realização dos exames e eliminar possíveis omissões na agilidade desse mister. No entanto, devemos entender que a única razão de não realizarmos imediatamente qualquer exame, deva ser aquela de ordem técnica. 

Existem casos de exames, especialmente em áreas externas, que somente à luz do dia pode-se realizar com mais precisão. Nesse caso, deveremos averiguar "in loco" e, constatada a dificuldade, determinar o completo isolamento do local até o momento ideal para realizá-la. 

Tratando diretamente dos exames médico-legal, o artigo 162 (A autópsia será feita pelo menos 6 (seis) horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto) estipula claramente um período mínimo de seis horas para que os peritos legistas comecem a realização da necrópsia. 

No entanto, o próprio caput desse mesmo artigo estabelece os casos de exceção para se realizar o exame antes daquele prazo, ou seja, se os peritos estiverem diante de um corpo que apresente lesões externas capazes de não deixar nenhuma dúvida sobre o óbito daquela vítima. 

Os peritos legistas, em assim procedendo, deverão constar esse fato no corpo do laudo. O dispositivo aqui menciona "auto circunstanciado", porém aos peritos legistas oficiais deve-se entender como "laudo pericial". O termo "auto circunstanciado" traduz a linha de redação do Código quanto a preocupação da época (1941) em regulamentar ao máximo de detalhes quando pudesse haver o concurso de peritos "ad hoc", o que pressupõe desconhecimento das técnicas periciais. 

FOTOGRAFIAS E OUTROS RECURSOS 

A fotografia, antes opcional, passou a ser obrigatória para local de crime com cadáver, além de sugerir para outros casos. 

"Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e

vestígios deixados no local do crime. 

Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados." 

Eis aí um grande recurso visual que em muito auxiliará os peritos no seu trabalho pericial. Uma fotografia ou um desenho qualquer, podem - às vezes - esclarecer e convencer acerca de um fato, muito melhor que uma série de parágrafos escritos. É portanto uma garantia técnica que o legislador determinou, no sentido de melhor robustecer um laudo pericial dessa natureza. 

Mas o espírito da exigência contida no artigo 164, foi também o de garantir que o perito registre em seu laudo a forma como encontrou o local com cadáver, face a descabida curiosidade (desconhecimento técnico ou falta de profissionalismo) de muitos policiais que chegam ao local antes dos peritos e, no afã de identificar a vítima, acabam adulterando uma série de vestígios. 

A única obrigação do policial que primeiro chega a um local de crime, é certificar se a vítima ainda está viva. Se confirmou o óbito, nada mais há o que fazer, a não ser - exclusivamente - o de preservar os vestígios. Para tanto deve imediatamente isolar o local conforme determinam os incisos I e II do artigo 6º do CPP. 

Do ponto de vista técnico, também é muito importante que o perito procure utilizar-se o máximo dos recursos da fotografia e demais desenhos, a fim de apresentar um trabalho bem mais elaborado. 

Para os usuários do laudo pericial, os recursos visuais auxiliam sobremaneira na compreensão do conteúdo ali discutido, pois - às vezes - fica difícil o entendimento direto de determinadas colocações e termos técnicos. 

PRINCIPAIS PERÍCIAS ELENCADAS NO CPP 

Já em 1941 o legislador vislumbrou a importância da perícia para o processo criminal que chegou ao esmero técnico de determinar requisitos mínimos para determinados tipos de perícias. 

Evidentemente, hoje o universo de perícias que deveriam estar elencadas no CPP é bem maior. Só não está por falta de visão dos legisladores atuais, que apenas reconhecem a importância da perícia quando a mídia está por perto. 

Mesmo não estando previsto no Código, todas as perícias possíveis de serem realizadas do ponto de vista técnico-científico, devem - e são - realizadas por

muitas Criminalísticas do Brasil. Assim, devemos ampliar cada vez mais o universo de perícias, para que possamos cada vez mais colaborar para o esclarecimento dos fatos e com a justiça. 

Nesse aspecto, caberia uma revisão do Código de Processo Penal, a fim de analisar se o recomendado seria incluir todas as demais perícias ou retirar as existentes, deixando-se um artigo genérico que garanta a realização de qualquer tipo de perícia. 

Discutiremos as principais que estão elencadas no Código de Processo Penal Brasileiro. Não abordaremos aquelas que tratam especificamente da medicina legal. 

Perícias de Laboratório 

Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas. 

Como se vê, o próprio CPP deixa claro a necessidade de se guardar material para um segundo ou terceiro exames posteriores nas perícias de laboratório. No entanto, não especifica por quanto tempo deverá ser guardado esse material. Em nosso entender, deveremos guardá-los até o processo transitar em julgado na justiça. No entanto, considerando as condições dos laboratórios nos diversos Institutos de Criminalística e de Medicina Legal, não há como guardar essas amostras por tanto tempo. 

Também como em outros dispositivos, é dada uma valoração muito grande à fotografia e demais desenhos. Sem dúvida, todos nós peritos sabemos o quão é importante termos disponível esse tipo de recurso em nossos laudos. 

Dos Crimes Contra o Patrimônio 

Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado. 

Esse dispositivo trata, principalmente dos crimes de furto e roubo, onde o perito deve - além de outros requisitos técnicos - atentar para as situações de arrombamentos ocorridos, possíveis escaladas (por onde o delinqüente teve acesso ao local do furto ou roubo), que tipo de instrumento fora usado na prática do rompimento das vias de acesso, a forma como ocorreu e a época do

fato. 

O local de crime contra o patrimônio, nas modalidades de furto ou roubo, à primeira vista apresentam-se simples e, infelizmente, assim é visto pela grande maioria de nossos colegas. Em vista dessa visão simplista, o que acaba ocorrendo é que os peritos, às vezes, sequer cumprem os requisitos mínimos previstos no artigo 171. 

Outro fator que contribui para a falta de atenção necessária aos crimes dessa natureza, são as inúmeras perícias que as Criminalísticas têm que realizar diariamente, acabando por fazer uma espécie de seleção. Este fato é mais agravado ainda, quando sabemos que as polícias judiciárias não tem estrutura suficiente para investigar todos os crimes desse tipo, contribuindo para a impunidade e, por conseqüência, estimulando a violência. 

Avaliação Econômica/Contábil 

Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime. 

Parágrafo Único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências. 

Esta exigência de avaliar os bens subtraídos é necessária para servir de orientação ao juiz, principalmente na aplicação da pena ao réu. É também importante sobre tantos outros aspectos, constituindo em uma tarefa bastante intensa em muitas Criminalísticas do Brasil. 

O dispositivo prevê ainda que, se não for possível a avaliação direta, deverá ser feita indiretamente, por meio das informações que forem possíveis reunir. Nesse tópico a autoridade policial deverá ir mais além, usando o bom senso para determinados casos, requisitando exame indireto, no intuito de eliminar uma série de burocracias e tempos desperdiçados que só prejudicarão - ainda mais - a própria vítima daquele delito. 

Outro exame que entendemos estar incluído nesse artigo do CPP é a perícia contábil, pois apesar de não estar especificada diretamente, encaixa-se perfeitamente nas definições gerais ali contidas. É hoje um dos principais exames para determinar a avaliação dos prejuízos causados por fraudadores e corruptos, especialmente na administração pública. Exemplo disso foi o trabalho realizado pelos peritos do Instituto Nacional de Criminalística, nos casos da "Máfia do Orçamento", do "PC Farias" "Banco Nacional", "Banco Econômico", dentre tantos outros. 

Perícia de Incêndio 

Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato. 

Este é um tipo de perícia extremamente importante - como o são todos os demais - pois normalmente a extensão dos danos é bastante significativa. Podemos observar que o legislador já em 1941 se preocupou em elencar uma série de itens que os peritos teriam que observar. 

Chamamos a atenção para um fator adicional que os peritos devem ficar atentos no exame pericial em local de incêndio, além, é claro, desses todos já determinados na legislação: O perito deve determinar em seu exame se o incêndio foi acidental (culposo), ou se foi provocado criminosamente (doloso ou intencionalmente). Muito importante os peritos informarem esse aspecto, pois é comum vermos incêndios que foram provocados intencionalmente pela suposta vítima. 

Nesse tipo de perícia, temos tido alguns problemas de ordem operacional, quanto à atribuição legal de qual profissional deverá realizar o exame pericial em local de incêndio. 

Especialmente no Distrito Federal, a perícia de incêndio vinha sendo realizada pelo Corpo de Bombeiro Militar, o que contraria frontalmente o CPP, pois os Bombeiros não são peritos oficiais e não possuem os conhecimentos gerais das técnicas criminalísticas de exame de local, necessários antes do conhecimento específico da perícia de incêndio. 

Entendemos que o Corpo de Bombeiros poderá realizar um estudo técnico sobre as causas dos incêndios, visando - exclusivamente - o estudo e a prevenção contra novas ocorrências dessa natureza, porém, esse trabalho não pode ser entendido como exame pericial, o qual está afeto aos peritos criminais oficiais. No entanto, nem isso seria necessário, pois o laudo elaborado pelos peritos será completo o suficiente para prestar todas essas informações. 

Perícias Documentoscópicas 

Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á o seguinte: I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for encontrada; II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa

reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida; III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados; IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever. 

Eis aqui um dos maiores setores de perícias em nossas Criminalísticas. Vejam que a perícia documentoscópica já era relativamente desenvolvida quando da feitura do CPP, que já previu uma série de procedimentos a serem observados. 

O dispositivo legal previu, basicamente, formalidades no campo da escrita manual - normal para a época, não estando incluído inúmeros outros tipos de exames que esse setor hoje realiza. 

Ao analisarmos as providências contidas nesse artigo, observa-se que todos ainda são aplicáveis nos dias atuais. Há de se chamar a atenção também para o fato de que tais providências são, na sua maioria, de competência da autoridade policial, o que as vezes causa certa confusão de atribuições, especialmente na colheita de padrões. 

A colheita de padrões deve ser feita pela autoridade policial e não pelos peritos. No entanto, em determinadas situações quando encontrarmos pessoas que oferecem dificuldades para oferecer os padrões, o delegado de polícia poderá pedir o auxílio dos peritos, conduzindo a pessoa até o Instituto de Criminalística para a colheita daqueles padrões. 

A documentoscopia hoje engloba uma série de modalidades, onde a perícia em escritos é somente uma parte delas. No Brasil está tão desenvolvida que já tem um seminário próprio para tratar das suas mais recentes técnicas, realizado nos anos pares, denominado Comitê Nacional de Documentoscopia. 

Exames de Eficiência em Objetos 

Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência. 

Este exame absorve razoável de tempo de dedicação, tendo em vista a quantidade de objetos oriundos das Delegacias que são encaminhados às Criminalísticas para o competente exame. 

Além disso, em inúmeros outros tipos de perícias, esse exame está presente para complementar o contexto geral de um trabalho mais abrangente feito pelos peritos, principalmente em locais de morte violenta e arrombamento onde os instrumentos utilizados na prática do crime, tais como armas de fogo, armas branca, ferramentas em geral, farão parte desse contexto. 

Necrópsia: 

O parágrafo único do artigo 162 (Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.) define procedimentos para os casos de necrópsia, visando dar uma maior agilidade nos exames periciais em cadáveres. Verificado pelo legista que os sinais da morte são aparentes e contundentes, a legislação deixa-o a vontade para que realize os exames apenas externamente. 

É claro que o legista deverá ter plena certeza científica desse fato, o que terá de mencionar e até discutir no seu laudo. Haverão casos em que seria um desperdício de tempo e de meios, proceder ao exame interno do cadáver, quando todos os vestígios podem ser constatados e analisados somente pelo exame externo. 

Portanto, caberá ao perito legista decidir tecnicamente da necessidade ou não de abrir o corpo de um cadáver para examinar internamente, lógico, desde que esteja respaldado pelos vestígios externos. 

OUTROS DISPOSITIVOS PROCESSUAIS 

Exumação: 

Artigo 163: Em caso de exumação para exame cadavérico (grifo nosso), a autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado. 

O artigo estabelece normas somente para os casos de exumação, cujo objetivo seja o de proceder a exame no próprio cadáver. Pode parecer redundância, mas não o é. Poderá haver exumação, cujo objetivo será o de verificar outros elementos que não seja o exame diretamente no cadáver. 

O artigo não requer diretamente a presença do perito legista, nem do perito criminal. No entanto, por questões de lógica, por tratar-se do manuseio de

cadáver, naturalmente se faz necessária a presença do perito legista, por força legal da profissão de medicina. 

O "auto circunstanciado" referido no caput do presente artigo deve ser analisado sob duas situações. 

A primeira é na situação em que estejam presentes à necrópsia, médicos funcionando como perito "ad hoc". Neste caso o "auto circunstanciado" deverá ser único, feito pela autoridade e pelos peritos nomeados, nele todos assinando. 

A segunda situação é quando estiverem atuando peritos oficiais médicos. Para este caso o auto circunstanciado será feito exclusivamente pela autoridade, dele constando as suas diligências; enquanto que os peritos oficiais médicos, elaborarão um laudo pericial da exumação e exame cadavérico, fazendo constar tudo o que examinaram no cadáver, onde deverão incluir, inclusive, qualquer informação coletada ainda durante a exumação. 

Uma outra dúvida que surge em relação aos casos de exumação, é se há a necessidade e/ou obrigatoriedade da presença de peritos criminais em tal evento. 

Essa é também uma situação que deve ser analisada sob dois aspectos distintos. 

Quando a exumação tem por objetivo exclusivo o exame cadavérico, entendemos que não há necessidade dos peritos criminais estarem presentes ao ato da exumação, uma vez que - pericialmente - nada há para eles realizarem. Tratar-se-á, nesse caso, de uma perícia médico-legal. 

Por outro lado, se a exumação tiver objetivando também - ou exclusivamente - a busca de outros vestígios externos ao cadáver, aí sim, necessariamente a autoridade deverá requisitar a presença dos peritos criminais, a fim de que eles façam o exame pericial do local, visando caracterizar os possíveis vestígios que estejam sendo buscados. 

No entanto, para qualquer caso de exumação é necessária a presença dos peritos legistas. 

Identificação de cadáver: 

A questão da identificação de cadáveres está prevista no Código de Processo Penal, somente para os casos de exumação em que a vítima não seja identificada, conforme podemos inferir do artigo 166. 

Art. 166 - Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações. 

Parágrafo único - Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver. 

No entanto, a partir desse dispositivo legal, procede-se rotineiramente ao reconhecimento de cadáveres, quando dão entrada nos IMLs sem a respectiva identificação. 

Dentro das rotinas administrativas dos Órgãos de perícia e de identificação no Brasil, poderemos ter a participação de três tipos de profissionais atuando nessa tarefa de identificação. 

Os primeiros a atuarem em casos de cadáver não identificado, são os peritos criminais quando fazem o exame pericial do local do crime. Nesse momento, ao examinarem o cadáver e não encontrarem nenhuma identidade formal daquela vítima, deverão providenciar a busca de qualquer outra informação que venha a auxiliar nesse mister. 

Atuam também os datiloscopistas para a colega das impressões digitais naquele cadáver, a fim de tentar efetivar a identificação através do arquivo de dados cadastrais dos Institutos de Identificação. 

E, por fim, com mais intensidade, os peritos legistas (médicos e odontólogos) é que fazem grande parte dessas identificações, quando não foi possível pela impressão digital, ao descreverem em detalhe esse cadáver, associado a quaisquer outras informações que tenham sido coletadas pelos peritos criminais no local do crime e repassadas ao IML.

Neste ponto gostaríamos de chamar a atenção para determinados procedimentos administrativos adotados em alguns IMLs, para proceder a identificação de cadáveres, que, em nosso entender, é uma porta aberta à erros dolosos nesse processo de identificação. E isso não é simples conjectura, pois já são vários os casos noticiados pela imprensa, em que existem pessoas se valendo dessa fragilidade de procedimentos para cometer crimes. 

O procedimento adotado em vários IMLs começa pelo preenchimento de uma ficha parcialmente impressa, onde vão sendo anotados os dados do cadáver a ser identificado. Neste tópico há espaço para preencher tudo o que interessar

para a identificação. O tópico seguinte é reservado para a identificação formal da pessoa que se apresenta para identificar o cadáver. Esta pessoa pode ser um parente ou qualquer outra que tenha conhecido a vítima. 

É justamente nesse ponto que está o grande risco de falha, qual seja, a pessoa que se apresenta para identificar o cadáver. 

Entendemos que esta ficha, a qual nada mais é do que o "auto de reconhecimento" previsto no mencionado artigo 166, deva ser criteriosamente preenchida, onde venha a envolver dois profissionais em seu ato final. 

O primeiro tópico relativo ao cadáver, deverá ser preenchido diretamente pelo perito legista (jamais rascunhar para terceiros preencherem) e, o segundo tópico de identificação formal da pessoa que se apresente para o reconhecimento, diretamente pela autoridade policial. Essa autoridade policial deverá checar os dados a ela fornecidos pela pessoa, a fim de ter a certeza de que se trata daquela pessoa que a ele se apresenta. 

Outra necessidade dentro dessa rotina, é que este ato seja simultâneo, devendo ser realizado no IML, com a presença do perito legista e da autoridade policial, a fim de que cada um execute a sua parte e logo a seguir subscrevam o mencionado auto, juntamente com a pessoa que se apresentou para o reconhecimento. 

Desaparecimento dos vestígios: 

O artigo 167 nos diz: "Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta." 

Esse dispositivo deve ser analisado com critério, pois ele poderia vir a ser utilizado erroneamente como argumento para o descumprimento do artigo 158. 

O artigo 158 é enfático (Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.) quando diz que o exame é indispensável. Havendo vestígios, necessariamente deverá ser feito o competente exame pericial (corpo de delito, entenda-se qualquer tipo de perícia), sob pena de nulidade de processo conforme prevê a letra b do inciso III do artigo 564 (b - o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no art. 167;) 

Vejam que esse último dispositivo faz exatamente a ressalva da não nulidade, para a situação tipificada no art. 167. Por essa razão devemos entender em que circunstâncias estaria caracterizada tal situação. 

O "haverem desaparecido os vestígios", não é o caso do descumprimento do artigo 158, mas sim quando, por situações adversas da natureza ou do ponto de vista técnico que levem ao desaparecimento dos mencionados vestígios, não mais seja possível realizar o competente exame de corpo de delito. Também aqui entendido o "corpo de delito" para qualquer tipo de perícia, se bem que - na prática - a intenção do legislador (em 1941) era o de prever as situações para, principalmente, os casos de lesões corporais e exames cadavéricos. 

Propriedade imaterial: 

Os crimes cometidos contra a propriedade imaterial, previstos no Código desde 1941, nos últimos anos estão ocorrendo em maior quantidade, especialmente aqueles ligados a área de informática (software) e música em geral. 

O artigo 525 do CPP estabelece os critérios para o recebimento da queixa, desde que cumpridas as exigências de realização de perícia prévia, conforme podemos assim verificar. 

Art. 525, CPP: No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito. 

Conforme podemos observar, o mencionado artigo mantém coerência com o artigo 158, que trata das perícias em geral, ao definir a necessidade da realização de perícia para os casos em que o crime tenha deixado vestígio. 

Existem dois aspectos diferenciadores das demais formalidades, qual seja, a de que a (1) perícia deve ser realizada antecipadamente ao recebimento da queixa do ofendido e (2) que a perícia deverá servir de instrumento de respaldo á queixa do ofendido. 

Como vemos, a perícia nesses casos de crimes contra a propriedade imaterial, serve - antecipadamente ao processo - como comprovação prévia da existência do crime. 

O artigo 527 (A diligência de busca ou de apreensão será realizada por dois peritos nomeados pelo juiz, que verificarão a existência de fundamento para a apreensão, e quer esta se realize, quer não, o laudo pericial será apresentado dentro de 3(três) dias após o encerramento da diligência.) nos traz de volta o que já comentamos anteriormente sobre a redação do CPP. Este artigo tem sua redação mais voltada para os casos de nomeação de perito "ad hoc", tendo em vista a época do Código. 

No entanto, por tratar-se de crime capitulado no Código Penal, e de acordo com a interpretação do artigo 159, essas perícias deverão ser realizadas por dois peritos oficiais. Somente na falta de peritos oficiais, consoante o parágrafo primeiro do mesmo artigo 159, é que a autoridade poderá nomear peritos não oficiais (perito "ad hoc"). 

Outro aspecto a ser observado é quanto ao ato de nomeação dos peritos pelo juiz. Em se tratando de perito "ad hoc" a nomeação será efetivada diretamente pelo juiz, conforme entendimento claro do mencionado artigo 527, no entanto, em se tratando de nomeação de peritos oficiais, o juiz deverá obedecer o disposto no artigo 178, requisitando a competente perícia ao diretor do Instituto de Criminalística e este, por sua vez, é quem deverá nomear os peritos para aquela missão. 

CONCLUSÃO 

Nós, peritos, estamos acostumados em nosso mister a buscarmos, sempre que possível, a conclusão de todo trabalho pericial que realizamos. 

O presente trabalho, por ser uma interpretação deste signatário, por ser apenas um ensaio, em razão de que a perícia é infinitamente mais do que está no Código de Processo Penal, não há de termos a pretensão de concluí-lo... 

BIBLIOGRAFIA 

- Código de Processo Penal; 

- Código de Processo Civil; 

- Leis que regulamentam as profissões de nível superior; 

- Lei 8.862/94; 

- Lei 7.270/84; 

- Lei 5.970/73; 

- Decreto Federal 1.655/95. 

Brasília, ano de 1996.