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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS GISELA AZEVEDO MENEZES BRASILEIRO PRODUÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA DURABILIDADE DE COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS COM PARTÍCULAS DE PÓ DE COCO São Cristóvão, SE Agosto de 2013

Produção, Caracterização e Avaliação Da Durabilidade de Compósitos Cimentícios Com Partículas de Pó de Coco

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA E

    ENGENHARIA DE MATERIAIS

    GISELA AZEVEDO MENEZES BRASILEIRO

    PRODUO, CARACTERIZAO E AVALIAO DA

    DURABILIDADE DE COMPSITOS CIMENTCIOS

    COM PARTCULAS DE P DE COCO

    So Cristvo, SE

    Agosto de 2013

  • ii

    GISELA AZEVEDO MENEZES BRASILEIRO

    PRODUO, CARACTERIZAO E AVALIAO DA

    DURABILIDADE DE COMPSITOS CIMENTCIOS

    COM PARTCULAS DE P DE COCO

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao

    em Cincia e Engenharia de Materiais da

    Universidade Federal de Sergipe como parte dos

    requisitos necessrios para a obteno do ttulo de

    Doutora em Cincia e Engenharia de Materiais.

    Orientadora: Dra. LEDJANE SILVA BARRETO

    So Cristvo, SE

    Agosto de 2013

  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    Brasileiro, Gisela Azevedo Menezes B823p Produo, caracterizao e avaliao da durabilidade de

    compsitos cimentcios com partculas de p de coco / Gisela Azevedo Menezes Brasileiro ; orientadora Ledjane Silva Barreto.

    So Cristvo, 2013.

    168 f. : il. Tese (doutorado em Cincia e Engenharia de Materiais) Universidade Federal de Sergipe, 2013.

    O 1. Engenharia de materiais. 2. Compsitos cimentcios. 3.

    Partculas de p de coco. 4. Propriedades fsicas e mecnicas. 5. Durabilidade. I. Barreto, Ledjane Silva, orient. II. Ttulo

    CDU: 620:666.9.022

  • iii

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus. S por Ele tudo e foi possvel.

    Aos meus pais, Guiomar e Gildo, pelo apoio incondicional em tudo na minha vida. A

    minha irm, Geisa, pela confiana que sempre depositou em mim. A meu marido,

    Luciano, pelo amor, pacincia e compreenso.

    A Prof. Ledjane Silva Barreto, minha orientadora, por ter me aceitado como orientanda,

    pelo apoio, confiana e dedicao a este trabalho.

    Ao IFS pela liberao parcial das atividades, que me permitiu tempo para me dedicar a

    esta jornada, principalmente, a Iracildes e Jnia, pelo suporte com a carga horria de

    aulas.

    A amiga Ana Patrcia pelo apoio constante. Teria sido mais difcil sem voc.

    Aos bolsistas, Jhonatas, Isabela, Rodrigo e Alexandro, pelos trabalhos no laboratrio.

    A Silvando pela calma, pacincia e eterna disponibilidade para a realizao dos meus

    ensaios mecnicos.

    A todos os tcnicos que realizaram anlises para este trabalho, Shirlei, Adriana, Aline e

    Raquel.

    Aos colegas do laboratrio de cermica, mestrandos, doutorandos, mestres e doutores,

    Gabi, Edu, Anglica, Genelane, Talita, Eduardo, Thiaguinho, Srgio e Michella.

    Aos colegas do IFS que tambm fazem doutorado, David e Carlos Henrique, pela

    companhia nesta jornada. Alm de Resende, pelas boas conversas e emprstimo de

    acessrios para a caracterizao fsica dos compsitos.

    A Michelle pela ajuda na cmara de envelhecimento.

    A Kaka, Emanuel, Geocelly e Thais pelo apoio, pacincia e prontido.

    A Elza e Josivan pelo apoio com o texto.

    A Indufibras Indstria de Fibras Ltda. pela doao das fibras de coco.

    A todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste trabalho.

  • v

    Resumo da Tese apresentada ao P2CEM como parte dos requisitos necessrios para a

    obteno do grau de Doutora em Cincia e Engenharia de Materiais (D.Sc.)

    PRODUO, CARACTERIZAO E AVALIAO DA

    DURABILIDADE DE COMPSITOS CIMENTCIOS

    COM PARTCULAS DE P DE COCO

    Gisela Azevedo Menezes Brasileiro

    Agosto de 2013

    Orientadora: Ledjane Silva Barreto.

    Programa de Ps-Graduao em Cincia e Engenharia de Materiais

    Este trabalho teve como objetivo desenvolver compsitos cimentcios com a adio de

    partculas de p de coco, CCC. Inicialmente, foi avaliada a viabilidade da substituio

    dos agregados midos pelas partculas de p de coco para produo dos compsitos.

    Para melhorar a compatibilidade do p de coco com o cimento Portland, foram

    realizados tratamentos qumicos das partculas. Foram produzidos compsitos

    cimentcios com as partculas tratadas a fim de avaliar a influncia dos pr-tratamentos

    nas propriedades fsicas e mecnicas dos compsitos. Posteriormente, avaliou-se o

    efeito da granulometria das partculas nas propriedades fsicas e mecnicas dos

    compsitos. A durabilidade dos compsitos foi avaliada pelos mtodos de

    envelhecimento natural externo e interno por at 6 meses e pelo envelhecimento

    acelerado em cmara de envelhecimento acelerado por ao de raios UV e condensao

    por at 180 ciclos. Da anlise geral dos resultados, observou-se que foi possvel utilizar

    as partculas de p como substituto total da areia nos compsitos cimentcios. A adio

    das partculas de p de coco pasta de cimento resultou em mudanas nas propriedades

    mecnicas e fsicas dos compsitos. Os compsitos produzidos apresentaram resistncia

    mecnica e densidade aparente que permitem sua utilizao como materiais leves. Os

    tratamentos qumicos das partculas de p de coco com pH alcalino e a diminuio da

    granulometria influenciaram positivamente a compatibilidade com o cimento e os

    compsitos ficaram mais resistentes e mais densos, comparados com os compsitos

    com partculas in natura e com granulometria como recebida. Na avaliao da

    durabilidade, verificou-se que compsitos com partculas tratadas tambm tiveram

    melhor desempenho e que os resultados do envelhecimento natural interno indicaram a

    utilizao dos compsitos como material para a produo de elementos construtivos de

    vedao interna.

  • vi

    Abstract of Thesis presented to P2CEM as a partial fulfillment of the requirements for

    the degree of Doctor in Materials Science and Engineering (D.Sc.)

    PRODUCTION CHARACTERIZATION AND EVALUATION OF THE

    DURABILITY OF CEMENTITIOUS COMPOSITES

    WITH COIR PITH PARTICLES

    Gisela Azevedo Menezes Brasileiro

    August 2013

    Advisor: Ledjane Silva Barreto, D.Sc.

    Department: Materials Science and Engineering

    This study aimed to develop cementitious composites with the addition of coir pith

    particles (CCC). Initially the feasibility of use coir pith particles as a replacement of fine

    aggregates for the production of composites was evaluated. Chemical treatments were

    conducted on coir pith particles to improve the compatibility with Portland cement.

    Cement composites were produced with the treated particles in order to evaluate the

    influence of pre-treatment on the physical and mechanical properties of the composites.

    Subsequently, the effect of coir pith particle size in physical and mechanical properties

    of the composites was evaluated. Composites durability was measured by methods of

    external and internal natural aging for up to 6 months and accelerated aging in a

    chamber of UV and condensation for up to 180 cycles. From the overall results, using

    coir pith particles as a total substitute of sand in cementitious composites was possible.

    The addition of coir pith particles to cement paste resulted in changes in mechanical and

    physical properties of composites. The composites produced had an apparent density

    and mechanical strength that allowed their use as lightweight construction materials.

    The chemical treatments of coir pith particles with alkaline pH and the decrease of the

    coir pith particle size positively influenced the compatibility with cement and the

    composites had higher strength and they were denser, compared with the composites

    with in natura and "as received" particles. For the evaluation of durability, the

    composites with treated particles also had a better performance and the results from

    internal natural aging procedure indicated the use of these composites as material for

    production of non-structural building elements for interior walls.

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Partes do coco, 1 epicarpo; 2 mesocarpo; 3 endocarpo;

    4 endosperma................................................................................... 4

    Figura 2.2 Partculas de p de coco na frao como recebida.......................... 5

    Figura 2.3 a) Esquema de componentes do material lignocelulsico e

    b) Arranjo tridimensional da parede vegetal...................................... 6

    Figura 2.4 Estruturas parciais dos componentes lignocelulsicos....................... 7

    Figura 2.5 a) Estrutura qumica da cadeia de pectina, b) Estrutura caixa de ovo

    (pectato de clcio) formada por clcio ligado a ons oxignio em duas

    cadeias de pectinas adjacentes, c) Ampliao do detalhe 1 em (b)......... 8

    Figura 2.6 Representao da reao de hidratao do cimento Portland pelo

    processo de dissoluo-precipitao, em que Ea representa a

    energia de ativao para a formao das fases hidratadas (hidratos)

    e G representa a variao da energia livre durante a reao............ 16

    Figura 2.7 Desenvolvimento da microestrutura durante a hidratao do cimento 17

    Figura 2.8 Hidratao do cimento, a) fases aluminato e b) fases silicato............ 18

    Figura 2.9 Ligaes de hidrognio entre a partcula de p de coco e o C-S-H... 19

    Figura 3.1 Fluxograma do delineamento experimental....................................... 25

    Figura 3.2 Absoro de gua das partculas de p de coco por 24 h................... 28

    Figura 3.3 Quadro de envelhecimento natural externo........................................ 33

    Figura 3.4 Equipamento para ensaios de intemperismo acelerado (modelo

    BASS-UUV)....................................................................................... 34

    Figura 3.5 Dispositivo para leitura da variao dimensional.............................. 35

    Figura 4.1 Curvas granulomtricas da areia natural e do p de coco, onde

    LUI limite utilizvel inferior; LOI limite timo inferior;

    LOS limite timo superior; LUS limite utilizvel superior.......... 40

    Figura 4.2 Microscopia eletrnica de varredura das partculas de p de coco,

    a) aumento de 50 X; b) aumento de 500 X e das partculas de areia,

    c) aumento de 100 X; d) aumento de 500 X...................................... 41

    Figura 4.3 Efeito da adio de partculas de p de coco nas propriedades

    mecnicas dos compsitos, a) resistncia compresso, b) mdulo

    de ruptura, c) mdulo de elasticidade, d) tenacidade. Letras iguais

    indicam grupos homogneos.............................................................. 42

    Figura 4.4 Efeito da adio de partculas de p de coco na deformao para a

    tenso mxima dos compsitos..........................................................

    43

    Figura 4.5 Efeito da adio de partculas de p de coco nas propriedades

    mecnicas especficas dos compsitos, a) resistncia compresso

    especfica, b) mdulo de ruptura especfica, c) mdulo de

    elasticidade especfica, d) tenacidade especfica. Letras iguais

    indicam grupos homogneos.............................................................. 44

  • viii

    Figura 4.6 Efeito da adio de partculas de p de coco nas propriedades

    fsicas dos compsitos, a) densidade aparente, b) absoro de gua,

    c) porosidade aparente. Letras iguais indicam grupos homogneos. 45

    Figura 4.7 a) Imagens de microscopia eletrnica de varredura da argamassa

    cimento-areia (SCM) aos 28 dias, com aumento de 250 X. Pontos

    indicam regies da anlise de EDS (regio 1 = partcula de areia e

    regies 2 e 3 = matriz cimentcia); b) Mapeamento do elemento

    clcio (Ca) e c) Mapeamento do elemento silcio (Si)....................... 46

    Figura 4.8 Composio qumica elementar estimada dos compsitos (MEV-EDS) 47

    Figura 4.9 Seo transversal do compsito cimento-p de coco (CCC),

    20 x 20 mm2....................................................................................... 47

    Figura 4.10 Imagens de microscopia eletrnica de varredura dos compsitos

    aos 28 dias, com aumento de 200 X e 500 X: compsito cimento-

    p de coco , CCC (a, b); compsito cimento-areia-p de coco,

    CSCC (c, d). Regies da anlise por EDS sinalizadas pelos pontos.

    Em ambas, as regies 1 e 3 = partcula de p de coco e regies 2 e

    4 = matriz cimentcia.......................................................................... 48

    Figura 4.11 Imagem de microscopia eletrnica de varredura do compsito

    cimento-areia-p de coco (CSCC) aos 28 dias, com aumento de

    200 X.................................................................................................. 50

    Figura 4.12 Espectro de FTIR das partculas de p de coco................................. 50

    Figura 4.13 Expectros de FTIR, a) areia natural, b) cimento Portland anidro...... 51

    Figura 4.14 Espectros de FTIR das amostras CP, SCM, CCC e CSCC................ 52

    Figura 4.15 Difratograma de raios-X da areia natural, onde Q = quartzo............. 53

    Figura 4.16 Difratograma de raios-X das partculas de p de coco, onde

    Q = quartzo......................................................................................... 53

    Figura 4.17 Difratograma de raios-X do cimento anidro, onde: 1 C3S;

    2 C2S; 3 C3A; 4 C4AF; 5 C H2; 6 CaCO3......................... 54

    Figura 4.18 Difratograma de raios-X dos compsitos aos 28 dias, onde:

    1 C3S; 2 C2S; 3 C3A; 4 C4AF; 5 C H2; 6 CaCO3;

    7 etringita; 8 Ca(OH)2; 9 C-S-H e Q = quartzo......................... 55

    Figura 4.19 Espectros de FTIR das partculas de p de coco in natura (CN) e

    das partculas de p de coco tratadas, CW, CPH3, CPH7, CNC,

    CCL e CCH, a) nmeros de onda de 1800 a 1160 cm-1

    e

    b) nmeros de onda de 1160 a 700 cm-1

    ............................................. 58

    Figura 4.20 Difratogramas de raios-X das partculas de p de coco in natura

    (CN) e tratadas, CW, CPH3, CPH7, CNC, CCL e CCH, onde

    Q = quartzo......................................................................................... 59

    Figura 4.21 Anlise trmica das partculas de p de coco in natura e tratadas,

    respectivamente, CN, a) CW, CPH3, CPH7 e b) CNC, CCL e CCH. 60

  • ix

    Figura 4.22 Perda de massa na termogravimetria para as partculas de p de coco

    in natura (CN) e tratadas, CW, CPH3, CPH7, CNC, CCL e CCH..... 61

    Figura 4.23 Deconvoluo das curvas DTG (modelo Gaussiano) das partculas

    de p de coco in natura e tratadas, a) CN, b) CW, c) CPH3,

    d) CPH7 e) CNC, f) CCL e g) CCH................................................... 62

    Figura 4.24 reas relativas dos picos dos componentes na deconvoluo das

    partculas de p de coco in natura (CN) e tratadas, CW, CPH3,

    CPH7, CNC, CCL e CCH.................................................................. 63

    Figura 4.25 Diagrama de predominnia para os ons hidrogenofosfatos em

    diferentes valores de pH..................................................................... 65

    Figura 4.26 Efeito do tratamento qumico das partculas de p de coco na a)

    resistncia compresso e no b) mdulo de ruptura dos

    compsitos. Letras iguais indicam grupos homogneos.................... 68

    Figura 4.27 Efeito do tratamento qumico das partculas de p de coco nas

    propriedades fsicas dos compsitos, a) densidade aparente;

    b) absoro de gua e c) porosidade aparente. Letras iguais

    indicam grupos homogneos.............................................................. 69

    Figura 4.28 Curva TG/DTG do cimento no-hidratado........................................ 70

    Figura 4.29 Anlise termogravimtrica (TG/DTG) de CP, CCCN e a) CCCW,

    CCCPH3, CCCPH7 e b) CCCNC, CCCCL e CCCCH..................... 71

    Figura 4.30 rea abaixo do pico de Ca(OH)2 na curva DTG................................ 73

    Figura 4.31 Temperatura mxima de decomposio dos picos de Ca(OH)2,

    CaCO3 (calcita) e do ombro das fases silicato e aluminato

    carbonatadas na curva DTG............................................................... 74

    Figura 4.32 Deconvoluo das curvas de DTG (modelo Gaussiano), a) Cimento

    anidro e b) Pasta de cimento............................................................... 74

    Figura 4.33 Deconvoluo das curvas de DTG (modelo Gaussiano) dos:

    a) CCCN; b) CCCW; c) CCCPH3; d) CCCPH7; e) CCCNC;

    f) CCCCL; g) CCCCH....................................................................... 75

    Figura 4.34 a) reas relativas abaixo dos picos das fases silicato e aluminato

    carbonatadas e da fase calcita na deconvoluo das curvas DTG...... 76

    Figura 4.35 Difratogramas de raios-X dos compsitos com partculas de p de

    coco tratadas quimicamente, pasta de cimento e cimento anidro,

    onde: 1 C3S; 2 C2S; 5 gesso; 6 calcita; 7 etringita;

    8 Ca(OH)2 e 9 C-S-H, a) 2 = 5-30 e b) 2 = 30-55................. 78

    Figura 4.36 Espectros de FTIR dos compsitos cimento-p de coco, pasta de

    cimento e cimento anidro na regio de 2000 a 650 cm-1

    ....................

    80

  • x

    Figura 4.37 a) Imagem em microscopia eletrnica de varredura (MEV) da amostra

    do compsito cimentcio com partculas de p de coco in natura

    (CCCN) com aumento de 200X; b) Ampliao da amostra CCCN,

    aumento de 500X. Regies da anlise por EDS sinalizadas pelos

    pontos (1 e 2 = partcula de p de coco, 3-5 = matriz cimentcia)..........

    81

    Figura 4.38 Imagens em microscopia eletrnica de varredura (MEV) e regies

    da anlise por EDS sinalizadas pelos pontos, a) CCCW (1 e

    2 = matriz cimentcia, 3 e 4 = partcula de p de coco),

    b) CCCPH3 (1, 2 e 4 = partcula de p de coco, 3 e 5 = matriz

    cimentcia), c) CCCPH7 (1-5 = partcula de p de coco, 6 e

    7 = matriz cimentcia), d) CCCNC (1-3 = partcula de p de coco,

    4-6 = matriz cimentcia), e) CCCCL (1-3 = partcula de p de coco,

    4-6 = matriz cimentcia) e f) CCCCH (1-3 = partcula de p de

    coco, 4 e 5 = matriz cimentcia)......................................................... 82

    Figura 4.39 Resultados das anlises de EDS das regies sinalizados nas

    imagens de MEV: CCCN (1 e 2 = partcula de p de coco,

    3-5 = matriz cimentcia); CCCW (1 e 2 = matriz cimentcia, 3 e

    4 = partcula de p de coco); CCCPH3 (1, 2 e 4 = partcula de p

    de coco, 3 e 5 = matriz cimentcia); CCCPH7 (1-5 = partcula de

    p de coco, 6 e 7 = matriz cimentcia); CCCNC (1-3 = partcula de

    p de coco, 4-6 = matriz cimentcia); CCCCL (1-3 = partcula de

    p de coco, 4-6 = matriz cimentcia); CCCCH (1-3 = partcula de

    p de coco, 4 e 5 = matriz cimentcia)............................................... 83

    Figura 4.40 Relao entre densidade aparente e propriedades mecnicas em

    compsitos cimento-p de coco com diferentes granulometrias e

    tratamentos das partculas de p de coco, a) resistncia

    compresso; b) mdulo de ruptura e c) mdulo de elasticidade........ 87

    Figura 4.41 Retrao livre (a) e perda de massa (b) em compsitos cimento-p

    de coco com diferentes tratamentos das partculas de p de coco..... 88

    Figura 4.42 Relao entre deformao por retrao e perda de massa em

    compsitos cimento-p de coco com diferentes tratamentos das

    partculas de p de coco..................................................................... 89

    Figura 4.43 Retrao (a) e perda de massa (b) em compsitos cimento-p de coco

    com diferentes tratamentos das partculas de p de coco aps estufa.... 90

    Figura 4.44 Comparao entre os resultados de MOR aps o envelhecimento

    natural externo, interno e envelhecimento acelerado para as

    amostras a) CCCN, b) CCCNC e c) CCCCH.................................... 92

    Figura 4.45 Comparao entre os resultados de MOE aps o envelhecimento

    natural externo, interno e envelhecimento acelerado para as

    amostras a) CCCN, b) CCCNC e c) CCCCH....................................

    93

  • xi

    Figura 4.46 Comparao entre os resultados de TE aps o envelhecimento

    natural externo, interno e envelhecimento acelerado para as

    amostras a) CCCN, b) CCCNC e c) CCCCH.................................... 94

    Figura 4.47 Evoluo do MOR de CCCN aps os ciclos e idades de:

    a) envelhecimento acelerado, b) envelhecimento natural externo e

    c) envelhecimento natural interno...................................................... 96

    Figura 4.48 Evoluo do MOR de CCCNC aps os ciclos e idades de: a)

    envelhecimento acelerado, b) envelhecimento natural externo e c)

    envelhecimento natural interno.......................................................... 97

    Figura 4.49 Evoluo do MOR de CCCCH aps os ciclos e idades de: a)

    envelhecimento acelerado, b) envelhecimento natural externo e c)

    envelhecimento natural interno...................................................... 98

    Figura 4.50 Comparao entre os resultados de DA aps o envelhecimento

    natural externo, interno e envelhecimento acelerado para as

    amostras a) CCCN, b) CCCNC e c) CCCCH.................................... 100

    Figura 4.51 Comparao entre os resultados de AA aps o envelhecimento

    natural externo, interno e envelhecimento acelerado para as

    amostras a) CCCN, b) CCCNC e c) CCCCH.................................... 101

    Figura 4.52 Comparao entre os resultados de PA aps o envelhecimento

    natural externo, interno e envelhecimento acelerado para as

    amostras a) CCCN, b) CCCNC e c) CCCCH.................................... 102

    Figura 4.53 Difratogramas de raios-X das amostras do compsito cimento-p de

    coco in natura expostas ao envelhecimento acelerado, onde: 1

    C3S; 2 C2S; 6 CaCO3; 7 etringita, 8 Ca(OH)2; 9 C-S-H........ 104

    Figura 4.54 Difratogramas de raios-X das amostras do compsito cimento-p de

    coco in natura expostas ao envelhecimento externo, onde: 1 C3S; 2

    C2S; 6 CaCO3; 7 etringita, 8 Ca(OH)2; 9 C-S-H................... 105

    Figura 4.55

    Difratogramas de raios-X das amostras do compsito cimento-p de

    coco in natura expostas ao envelhecimento interno, onde: 1 C3S;

    2 C2S; 6 CaCO3; 7 etringita, 8 Ca(OH)2; 9 C-S-H................ 106

    Figura 4.56 Imagens de MEV de CP aos a) 28 dias, b) 180 ciclos, c) 6 meses

    externo, d) 6 meses interno e de CCCN aos e) 28 dias,

    f) 180 ciclos, g) 6 meses externo, h) 6 meses interno........................ 108

    Figura 4.57 Imagens de MEV de CCCNC aos a) 28 dias, b) 180 ciclos, c) 6 meses

    externo, d) 6 meses interno e de CCCCH aos e) 28 dias, f) 180 ciclos,

    g) 6 meses externo, h) 6 meses interno.................................................. 109

    Figura 4.58 Resultados da anlise de EDS das regies indicadas nas imagens

    para as amostras expostas aos envelhecimentos, a) CP, b) CCCN,

    c) CCCNC e d) CCCCH..................................................................... 110

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 3.1 Tratamento qumico das partculas de p de coco, compsitos

    produzidos.......................................................................................... 29

    Tabela 3.2 Compsitos produzidos para avaliar o efeito da granulometria das

    partculas de p de coco nos compsitos............................................ 31

    Tabela 4.1 Resultados de temperaturas (C) da anlise de TG/DTG................... 60

    Tabela 4.2 Resultados da anlise de fluorescncia de raios-X das partculas de

    p de coco (%).................................................................................... 66

    Tabela 4.3 Temperaturas nas curvas TG/DTG no intervalo de 20-400 C.......... 72

  • xiii

    LISTA DE SIGLAS

    A Seo transversal do corpo de prova

    AA Absoro de gua

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AC Cimento Portland anidro

    a/c Fator gua/cimento

    ANOVA Anlise de varincia

    APTS Aminopropiltri-etoxisilano

    ASTM American Society For Testing Materials

    B Largura do corpo de prova

    C2S Silicato biclcico (belita)

    C3A Aluminato triclcico

    C3S Silicato triclcico (alita)

    C4AF Ferro-aluminato tetraclcico

    C6H8O7 cido ctrico

    Ca(OH)2 Hidrxido de clcio (portlandita)

    CaCl2 Cloreto de clcio

    CaCO3 Carbonato de clcio (calcita)

    CC ou cc Ciclos do envelhecimento acelerado

    CCC Compsito cimento-p de coco

    CCC#100 Compsito cimento-p de coco retido na peneira 100

    CCC#30 Compsito cimento-p de coco retido na peneira 30

    CCC#50 Compsito cimento-p de coco retido na peneira 50

    CCCCH Compsito cimento-p de coco tratado com hidrxido de clcio

    CCCCH100 Compsito cimento-p de coco tratado com hidrxido de clcio retido

    na peneira 100

    CCCCH30 Compsito cimento-p de coco tratado com hidrxido de clcio retido

    na peneira 30

    CCCCH50 Compsito cimento-p de coco tratado com hidrxido de clcio retido

    na peneira 50

    CCCCL Compsito cimento-p de coco tratado com cloreto de clcio

    CCCCL100 Compsito cimento-p de coco tratado com cloreto de clcio retido na

    peneira 100

    CCCCL30 Compsito cimento-p de coco tratado com cloreto de clcio retido na

    peneira 30

    CCCCL50 Compsito cimento-p de coco tratado com cloreto de clcio retido na

    peneira 50

    CCCN Compsito cimento-p de coco in natura

    CCCN100 Compsito cimento-p de coco in natura retido na peneira 100

    CCCN30 Compsito cimento-p de coco in natura retido na peneira 30

  • xiv

    CCCN50 Compsito cimento-p de coco in natura retido na peneira 50

    CCCNC Compsito cimento-p de coco tratado com carbonato de sdio

    CCCNC100 Compsito cimento-p de coco tratado com carbonato de sdio retido

    na peneira 100

    CCCNC30 Compsito cimento-p de coco tratado com carbonato de sdio retido

    na peneira 30

    CCCNC50 Compsito cimento-p de coco tratado com carbonato de sdio retido

    na peneira 50

    CCCPH3 Compsito cimento-p de coco tratado soluo tampo pH 3 de

    fosfato dissdico e cido ctrico

    CCCPH7 Compsito cimento-p de coco tratado soluo tampo pH 7 de

    fosfato dissdico e cido ctrico

    CCCW Compsito cimento-p de coco tratado com gua destilada ou

    deionizada

    CCCW100 Compsito cimento-p de coco tratado com gua destilada ou

    deionizada retido na peneira 100

    CCCW30 Compsito cimento-p de coco tratado com gua destilada ou

    deionizada retido na peneira 30

    CCCW50 Compsito cimento-p de coco tratado com gua destilada ou

    deionizada retido na peneira 50

    CCCxy Compsitos cimento-p de coco tratado com x e retidas na peneira y,

    onde x = N, W, NC, CL ou CH e y = 30, 50 ou 100

    CCH Partculas de p de coco tratadas com hidrxido de clcio

    CCL Partculas de p de coco tratadas com cloreto de clcio

    CN Partculas de p de coco in natura

    CNC Partculas de p de coco tratadas com carbonato de sdio

    CP Pasta de cimento

    CPH3 Partculas de p de coco tratadas com soluo tampo pH 3 de fosfato

    dissdico e cido ctrico

    CPH7 Partculas de p de coco tratadas com soluo tampo pH 7 de fosfato

    dissdico e cido ctrico

    CSCC Compsito cimento-areia-p de coco

    C-S-H Silicato de clcio hidratado

    CW Partculas de p de coco tratadas com gua destilada ou deionizada

    D ou d Dias

    DA Densidade aparente

    DRX Difrao de raios-X

    EDS Espectroscopia de energia dispersiva de raios-X

    Etapa 1 Estudo da substituio da areia pelo p de coco

    Etapa 2 Estudo da influncia do tratamento qumico das partculas de p de

    coco nas propriedades dos compsitos cimento-p de coco

  • xv

    Etapa 2.1 Tratamento qumico das partculas de p de coco

    Etapa 2.2 Compsitos cimentcios com partculas de p de coco tratadas

    Etapa 3 Estudo da influncia da granulometria das partculas de p de coco

    nos compsitos cimento-p de coco

    Etapa 4 Estudo da durabilidade dos compsitos cimento-p de coco

    EXT Envelhecimento natural externo

    F Carga mxima atingida

    FRX Fluorescncia de raios-X

    FTIR Espectroscopia vibracional na regio do infravermelho

    INT Envelhecimento natural interno

    JCPDS-ICDD Joint Committee On Powder Diffraction Standards-International

    Center For Diffraction Data

    L Vo utilizado

    Lo Comprimento dos corpos de prova inicial aps 24 horas de moldagem

    LV Variao da dimenso longitudinal do compsito (retrao)

    Lt Comprimento lido a cada data (retrao)

    M ou m Meses

    mi Inclinao da reta correspondente curva carga-deslocamento

    MEV Microscopia eletrnica de varredura

    Mi Massa imersa em gua

    Mo Massa dos corpos de prova inicial aps 24 horas de moldagem

    MOE Mdulo de elasticidade

    MOR Mdulo de ruptura

    MPTS Metacriloxipropiltri-metoxisilano

    Ms Massa seca em estufa

    Msss Massa saturada com superfcie seca

    Mt Massa lida a cada data (perda de massa)

    Mu Massa mida

    Na2CO3 Carbonato de sdio

    Na2HPO4 Fosfato dissdico

    NBR Norma brasileira

    PA Porosidade aparente

    PC Policarbonato

    PET Polietileno tereftalato

    RC Resistncia compresso

    SCM Argamassa cimento-areia

    TE Tenacidade

    TG/DTG Anlise termogravimtrica

    UV, UVA Ultravioleta

    VM Perda de massa devido retrao

    W Espessura do corpo de prova

    WA Absoro de gua das partculas de p de coco

  • xvi

    SUMRIO

    1 INTRODUO...................................................................................... 1

    1.1 OBJETIVOS............................................................................................. 2

    1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO............................................................. 3

    2 REVISO DE LITERATURA.............................................................. 4

    2.1 P DE COCO.......................................................................................... 4

    2.2 QUMICA DOS MATERIAIS LIGNOCELULSICOS........................ 5

    2.3 SUBSTITUIO DA AREIA NATURAL EM MATERIAIS

    CIMENTCIOS........................................................................................ 8

    2.4 COMPSITOS A BASE DE CIMENTO COM MATERIAIS

    VEGETAIS.............................................................................................. 9

    2.4.1 Compatibilidade cimento e materiais lignocelulsicos........................ 10

    2.4.1.1 Pr-tratamento do material lignocelulsico.............................................. 11

    2.4.1.2 Incorporao de aditivos aceleradores da reao de hidratao............... 14

    2.4.1.3 Substituio parcial do cimento por adies minerais............................. 14

    2.5 CIMENTO PORTLAND: FASES E HIDRATAO............................ 15

    2.5.1 Cimento Portland e as adies minerais............................................... 20

    2.5.1.1 Mecanismos de retardamento/inibio da reao de hidratao.............. 21

    2.6 DURABILIDADE DOS COMPSITOS COM MATERIAIS

    LIGNOCELULSICOS.......................................................................... 22

    3 MATERIAIS E MTODOS.................................................................. 25

    3.1 PRODUO DOS COMPSITOS......................................................... 26

    3.1.1 Materiais.................................................................................................. 26

    3.1.1.1 Caracterizao prvia dos materiais........................................................ 26

    3.1.2 Compsitos cimento-p de coco............................................................ 27

    3.1.2.1 Etapa 1 Estudo da substituio da areia pelo p de coco...................... 27

    3.1.2.2 Etapa 2 Estudo da influncia do tratamento qumico das partculas de

    p de coco nos compsitos cimento-p de coco ..................................... 28

    3.1.2.2.1 Etapa 2.1 Tratamento qumico das partculas de p de coco............... 29

    3.1.2.2.2 Etapa 2.2 Compsitos cimentcios com partculas de p de coco

    tratadas..................................................................................................... 29

    3.1.2.3 Etapa 3 Estudo da influncia da granulometria das partculas de p

    de coco nos compsitos cimento-p de coco........................................... 30

    3.1.2.3.1 Separao das fraes de granulometrias do p de coco........................ 30

    3.1.2.3.2 Tratamento qumico das partculas de p de coco................................... 30

    3.1.2.3.3 Preparao dos compsitos..................................................................... 31

    3.1.2.4 Etapa 4 Estudo da durabilidade dos compsitos cimento-p de

    coco.......................................................................................................... 31

    3.1.2.4.1 Tratamento qumico das partculas de p de coco.............................. 31

    3.1.2.4.2 Preparao dos compsitos..................................................................... 32

  • xvii

    3.1.2.4.3 Envelhecimento natural.......................................................................... 32

    3.1.2.4.4 Envelhecimento acelerado...................................................................... 33

    3.1.2.4.5 Avaliao dimensional dos compsitos................................................... 34

    3.2 CARACTERIZAO DOS MATERIAIS E COMPSITOS.............. 36

    3.2.1 Caracterizao mecnica....................................................................... 36

    3.2.2 Caracterizao fsica.............................................................................. 37

    3.2.3 Caracterizaes qumicas, trmica e microestrutural........................ 37

    3.4.3.1 Difrao de raios-X (DRX)...................................................................... 37

    3.4.3.2 Espectroscopia vibracional na regio do infravermelho (FTIR)............. 38

    3.4.3.3 Anlise Termogravimtrica (TG/DTG).................................................... 38

    3.4.3.4 Microscopia eletrnica de varredura (MEV) e espectroscopia de

    energia dispersiva de raios-X (EDS) ....................................................... 38

    3.4.3.5 Fluorescncia de raios-X (FRX) .............................................................. 39

    3.3 ANLISE ESTATSTICA....................................................................... 39

    3.3.1 Anlise de varincia (ANOVA) de dois fatores................................... 39

    4 RESULTADOS E DISCUSSES......................................................... 40

    4.1 AVALIAO DA SUBSTITUIO DA AREIA PELO P DE

    COCO....................................................................................................... 40

    4.1.1 Propriedades mecnicas e fsicas dos compsitos................................ 42

    4.1.2 Anlise da fratura dos compsitos........................................................ 46

    4.1.3 Espectroscopia vibracional na regio do infravermelho (FTIR)....... 50

    4.1.4 Difrao de raios-X (DRX).................................................................... 52

    4.2 INFLUNCIA DO TRATAMENTO QUMICO DAS PARTCULAS

    DE P DE COCO NOS COMPSITOS CIMENTO-P DE

    COCO....................................................................................................... 57

    4.2.1 Caracterizao das partculas de p de coco tratadas........................ 57

    4.2.1.1 Espectroscopia vibracional na regio do infravermelho (FTIR) ............. 57

    4.2.1.2 Difrao de raios-X (DRX)...................................................................... 58

    4.2.1.3 Anlise Termogravimtrica (TG/DTG).................................................... 59

    4.2.1.4 Fluorescncia de raios-X (FRX)............................................................... 66

    4.2.2 Caracterizao dos compsitos cimentcios com partculas de p de

    coco tratadas........................................................................................... 67

    4.2.2.1 Propriedades mecnicas e fsicas............................................................. 67

    4.2.2.2 Anlise Termogravimtrica (TG/DTG).................................................... 70

    4.2.2.3 Difrao de raios-X (DRX) ..................................................................... 77

    4.2.2.4 Espectroscopia vibracional na regio do infravermelho (FTIR).............. 79

    4.2.2.5 Microscopia eletrnica de varredura (MEV) e espectroscopia de

    energia dispersiva de raios-X (EDS)....................................................... 81

    4.3 INFLUNCIA DA GRANULOMETRIA DAS PARTCULAS DE P

    DE COCO NOS COMPSITOS CIMENTO-P DE COCO.................

    85

  • xviii

    4.4 AVALIAO DA DURABILIDADE DOS COMPSITOS

    CIMENTO-P DE COCO....................................................................... 88

    4.4.1 Avaliao dimensional dos compsitos................................................. 88

    4.4.2 Relao entre os envelhecimentos acelerado, natural externo e

    natural para os compsitos cimentcios com partculas de p de

    coco tratadas........................................................................................... 91

    4.4.2.1 Propriedades mecnicas e fsicas ............................................................ 91

    4.4.2.2 Difrao de raios-X............................................................................. 103

    4.4.2.3 Microscopia eletrnica de varredura (MEV) e espectroscopia de

    energia dispersiva de raios-X (EDS)....................................................... 107

    5 CONCLUSES...................................................................................... 113

    6 TRABALHOS FUTUROS..................................................................... 115

    REFERNCIAS........................................................................................................ 116

    APNDICE A Frequncias vibracionais na regio do infravermelho para o

    p de coco, cimento Portland e pasta de cimento.................................................. 126

    APNDICE B Anlise estatstica, ANOVA dois fatores e ANOVA um fator,

    da Etapa 3 Estudo da influncia da granulometria das partculas de p de

    coco nos compsitos cimento-p de coco................................................................ 129

    APNDICE C Anlise estatstica, ANOVA dois fatores e ANOVA um fator,

    da Etapa 4 Estudo da durabilidade dos compsitos cimento-p de

    coco............................................................................................................................. 133

    APNDICE D Resultados da anlise de DRX da Etapa 4 Estudo da

    durabilidade dos compsitos cimento-p de coco.................................................. 142

  • 1

    1 INTRODUO

    Atualmente, a busca por novos materiais conduz utilizao de recursos

    provenientes de fontes renovveis para reduzir o impacto ambiental e/ou os custos de

    produo. As atividades agroindustriais implantadas em vrias regies do Brasil geram

    grandes quantidades de resduos que, na maioria das vezes, no tm valor comercial e no

    tm destino apropriado para seu descarte, sendo encaminhados para lixes e aterros

    sanitrios. Esses resduos podem se converter em matria-prima, com possibilidades de

    aproveitamento na produo de elementos direcionados construo civil (KHEDARI et

    al., 2001, SAVASTANO JR., 2000). Assim, uma alternativa interessante para o desafio

    de disposio dos resduos agrcolas pode ser o seu uso como matria-prima para

    substituir agregados minerais em matrizes cimentcias, possibilitando a reduo da

    utilizao desse recurso natural no renovvel.

    Alm da agricultura, a indstria madeireira gera resduos que, tambm sem valor

    econmico, podem ser lanados na natureza ou queimados. Uma alternativa para os

    resduos de serrarias so os painis de cimento-madeira, que so amplamente utilizados

    em construo civil nos pases da Europa, sia e Amrica do Norte, devido ao baixo

    custo e fcil produo, alm de reunir propriedades desejveis da madeira e do cimento,

    como resistncia ao ataque de fungos e cupins, bom isolante trmico e acstico,

    virtualmente incombustvel, fcil trabalhabilidade (PAINIS..., 2003). A produo de

    painis de cimento-madeira no Brasil, ainda inexiste em escala industrial, devido

    cultura de priorizar construes em alvenaria. Entretanto, esse cenrio pode ser mudado

    gradativamente, por meio de polticas governamentais voltadas para construo de

    habitaes sociais e das iniciativas dos profissionais da rea de engenharia civil,

    florestal e de materiais.

    O processamento do coco maduro (Cocos nucifera L.) para extrao das fibras

    longas gera como subproduto o p de coco e as fibras curtas, que representam

    aproximadamente 70% da casca do coco. Este material usualmente utilizado como

    substrato agrcola (FONTENELE, 2005). Apesar das partculas de p de coco se

    constiturem como o principal resduo, at o momento no foi localizada literatura sobre

    sua utilizao em matrizes cimentcias.

    Devido sua forma e pequenas dimenses (0,075 a 1,2 mm), o p de coco pode

    ser considerado como um material particulado. A literatura apresenta diversos estudos

  • 2

    com materiais lignocelulsicos na forma de partculas em matrizes cimentcias para a

    produo de painis leves de cimento-madeira (AAMR-DAYA et al., 2008, ALMEIDA

    et al., 2002, COATANLEM et al., 2006, OLORUNNISOLA, 2009). No trabalho do

    OLORUNNISOLA (2009), o material utilizado, partculas da casca de coco,

    resultante da moagem das fibras longas e foi adicionado em matrizes cimentcias para a

    produo de compsitos leves. No trabalho de ASASUTJARIT et al. (2007), foram

    utilizadas fibras de coco cortadas no intervalo de comprimento de 1 a 4 mm para a

    produo de painis cimentcios.

    Este estudo props agregar valor ao subproduto da cadeia produtiva do Cocos

    nucifera L., o p de coco, disponvel e renovvel, atravs da sua incorporao matriz

    cimentcia, como matria-prima para substituir os agregados minerais convencionais (a

    areia natural, renovvel) para a produo de compsitos verdes base de cimento com

    partculas de p de coco e para a reduo de custos de materiais de construo na

    produo de construes populares.

    1.1 OBJETIVOS

    Este trabalho teve como objetivo geral desenvolver compsitos cimentcios com a

    adio de partculas de p de coco para aplicao em engenharia civil. Como objetivos

    especficos, tomaram-se:

    a) Avaliar a viabilidade de uso do p de coco como agregado em compsitos

    cimentcios;

    b) Analisar o efeito dos tratamentos qumicos nas propriedades das partculas de

    p de coco;

    c) Analisar a influncia da adio das partculas de p de coco tratadas nas

    propriedades dos compsitos-cimento-p de coco;

    d) Avaliar a influncia da granulometria das partculas no desempenho dos

    compsitos cimento-p de coco;

    e) Avaliar a durabilidade dos compsitos cimento-p de coco atravs de

    processos de envelhecimento;

    f) Caracterizar os compsitos produzidos pelas propriedades mecnicas, fsicas,

    qumicas, trmicas e microestruturais.

  • 3

    1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO

    O trabalho est dividido em seis captulos. O captulo 1 apresentou a justificativa

    para o desenvolvimento do trabalho e seus objetivos. O captulo 2 apresenta uma breve

    reviso de literatura de temas relacionados com o trabalho, destacando-se: o p de coco

    como resduo; os componentes dos materiais lignocelulsicos; a substituio da areia

    em materiais cimentcios; os compsitos a base de cimento com resduos vegetais,

    enfocando a compatibilidade entre cimento e materiais lignocelulsicos e as estratgias

    de processamento para melhorar essa compatibilidade; introduo sobre a hidratao do

    cimento e as fases produzidas, abordando tambm as adies minerais, os mecanismos

    de retardamento da reao de hidratao. O captulo finalizado com a apresentao de

    aspectos da durabilidade dos compsitos cimento-materiais lignocelulsicos.

    O captulo 3 apresenta a metodologia utilizada, descrevendo tcnicas e

    procedimentos adotados para a caracterizao dos materiais utilizados, o tratamento das

    partculas de p de coco, a produo dos compsitos, os processos de envelhecimento, a

    caracterizao dos compsitos e a metodologia para a anlise estatstica.

    O captulo 4 apresenta os resultados, anlise e discusses do trabalho. Essa

    seco foi subdividida de acordo com os estudos realizados: avaliao da substituio

    da areia pelo p de coco; influncia do tratamento qumico nas caractersticas das

    partculas de p de coco e nas caractersticas dos compsitos cimento-p de coco;

    influncia da granulometria das partculas de p de coco nos compsitos cimento-p de

    coco e avaliao da durabilidade dos compsitos cimento-p de coco.

    No captulo 5, so apresentadas as concluses. As sugestes de trabalhos futuros

    esto no captulo 6. As referncias esto apresentadas em ordem alfabtica e os

    apndices mostram tabelas de frequncias vibracionais na regio do infravermelho dos

    materiais; tabelas e grficos resultantes da anlise estatstica e difratogramas de raios-X

    das amostras aps os processos de envelhecimento.

  • 4

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 P DE COCO

    A cultura do coco (Cocos nucifera L.) tem cerca de 80% da rea plantada

    localizada na sia, com ndia, Filipinas, Indonsia como os trs maiores produtores

    mundiais de coco. O Brasil se localiza na quarta posio, com uma produo de

    2,8 milhes de toneladas. As maiores produes de coco no Brasil se concentram na

    faixa litornea do Nordeste at parte da regio Norte, que detm 70% da produo

    brasileira de coco. Dos dez maiores estados produtores de coco no Brasil, sete esto na

    regio Nordeste. O estado de Sergipe o segundo maior produtor, antecedido pela

    Bahia, logo depois vem Cear, Par, Esprito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro,

    Paraba, Rio Grande do Norte e Alagoas (MARTINS e JESUS JUNIOR, 2011).

    Nos principais pases produtores, o coqueiro explorado para a produo de

    copra, que produzida com o endosperma slido (a parte comestvel) desidratado, e

    leo. No Brasil, a produo de coco utilizada para o consumo de endosperma fresco

    na produo de alimentos, bem como de gua de coco (endosperma lquido)

    (FONTENELE, 2005).

    As demais partes do coco no-comestveis, endocarpo, mesocarpo e epicarpo,

    Figura 2.1, podem se acumular e serem encaminhadas para lixes a cu aberto ou para

    aterros sanitrios.

    Figura 2.1 Partes do coco, 1 epicarpo; 2 mesocarpo; 3 endocarpo; 4 endosperma.

    Fonte: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA (2012).

    A casca do coco maduro e seco (o mesocarpo) pode ser aproveitada para a

    produo de fibras longas de coco, utilizadas para enchimento de bancos de carro,

  • 5

    tapetes, capachos, vassouras, combustvel para caldeiras, que constituem

    aproximadamente 30% da casca do coco (mesocarpo) (FONTENELE, 2005). Alm

    desses usos, a fibra de coco pode ser utilizada na produo de compsitos, pois

    verstil, renovvel e biodegradvel. A adio de fibras de coco reduz a condutibilidade

    trmica dos compsitos e produz materiais leves, uma vez que apresenta os menores

    valores de condutibilidade trmica e densidade aparente comparados com outras fibras,

    como sisal, juta e bambu (SEN e REDDY, 2011).

    Como subproduto do processamento da casca do coco, obtm-se as fibras curtas e

    o p de coco (Figura 2.2), que representam aproximadamente 70% da casca

    (FONTENELE, 2005). O p de coco utilizado como substrato agrcola

    principalmente, mas tambm h estudos em busca de novas aplicaes tecnolgicas

    (MACEDO et at., 2006).

    Figura 2.2 Partculas de p de coco na frao como recebida.

    2.2 QUMICA DOS MATERIAIS LIGNOCELULSICOS

    Os materiais lignocelulsicos, ou lignocelulose, so compostos principalmente por

    celulose, hemicelulose e lignina. Esses trs componentes esto associados uns aos

    outros para formar um complexo celulose-hemicelulose-lignina (LIAO et al., 2011),

    Figura 2.3a. Os materiais lignocelulsicos so formados por microfibrilas, ricas em

    celulose, que so aglomeradas por hemicelulose, a qual atua como uma conexo entre as

    microfibrilas de celulose e a lignina e d mais rigidez a toda rede celulose-hemicelulose-

  • 6

    lignina. A lignina atua como um agente enrijecedor do material. A lignina d suporte

    estrutural, impermeabilidade e resistncia contra o ataque microbiano.

    Alm da lignocelulose, so encontrados compostos inorgnicos e molculas de

    baixo peso molecular, extratveis com gua e solventes orgnicos, como pectinas,

    carboidratos simples, terpenos, alcalides, saponinas, polifenlicos, gomas, resinas,

    gorduras e graxas, entre outros, denominados extrativos (SILVA et al., 2009). A pectina

    est associada s celulose, hemicelulose e protenas para a constituio da parede

    celular. A lamela mdia, fina camada que separa duas clulas contguas, formada

    tambm por pectina, alm de lignina e hemicelulose (Figura 2.3b).

    Figura 2.3 a) Esquema de componentes do material lignocelulsico e b) Arranjo tridimensional da

    parede vegetal.

    Fonte: Adaptada de a) PINGALI et al., 2010 e b) SBIOLOGIA, 2013.

    A celulose um polissacardeo que se apresenta como um polmero de cadeia

    linear, constitudo por uma unidade repetitiva composta duas molculas de glicose

    eterificadas por ligaes -1,4-glicosdicas, chamada de celobiose, que contm seis

    grupos hidroxila que estabelecem interaes do tipo ligaes de hidrognio intra e

    intermolecular, assim, h uma forte tendncia da celulose formar cristais que a tornam

    completamente insolvel em gua e na maioria dos solventes orgnicos (Figura 2.4). A

    celulose hidroflica e tem duas regies, uma com estrutura cristalina e outra com

    estrutrura amorfa e os feixes de microfibrila esto fracamente ligados por ligaes de

    hidrognio (JUNGNIKL et al., 2008, LIAO et al., 2011, SILVA et al., 2009).

    A hemicelulose constituda por polissacardeos associados celulose em paredes

    celulares, que consistem em vrios monossacardeos polimerizados, incluindo pentoses,

    como xilose e arabinose, e hexoses, como galactose, glicose e manose, alm de cido

    4-O-metil glucurnico e resduos de cido galactornico (Figura 2.4). A unidade mais

    abundante na hemicelulose a xilose, que se une por ligaes glicosdicas nas posies

    1 e 4 e constitui a cadeia principal do xilano, que um tipo de hemicelulose. O

  • 7

    glucomanano, uma manose, outro tipo de hemicelulose. O xilano e o glucomanano so,

    preferencialmente, ligados lignina e celulose, respectivamente. As microfibrilas de

    celulose so envolvidas por glucomanano formando as fibrilas de celulose, que so

    incorporados na matriz de xilano e lignina. A hemicelulose hidroflica, contm

    considervel grau de ramificao entre suas cadeias, com natureza altamente amorfa

    (JUNGNIKL et al., 2008, LIAO et al., 2011, PINGALI et al., 2010, SILVA et al., 2009).

    Figura 2.4 Estruturas parciais dos componentes lignocelulsicos.

    Fonte: Adaptada de FERREIRA et al., 2009.

    A lignina um material hidrofbico com estrutura tridimensional, altamente

    ramificada, podendo ser classificada como um polifenol, que pode conter grupos

    hidroxila e metoxila como substituintes no grupo fenil propano (Figura 2.4). As

    ligaes teres dominam a unio entre as unidades da lignina, que apresentam um

    grande nmero de interligaes. A fora de adeso entre a celulose e a lignina

    ampliada pela existncia de ligaes covalentes entre as cadeias de lignina e os

    constituintes da celulose e da hemicelulose (LIAO et al., 2011, PINGALI et al., 2010,

    SILVA et al., 2009).

    As pectinas so polissacardeos constitudos por polmeros lineares de ligaes

    -(14) de cido galacturnico e resduos de ramnogalacturonanas I e II, que

    consistem em unidades de cido galacturnico alternadas com unidades especficas de

    ramnose (Figura 2.5). Os grupos carboxilato (COO-) carregados de cadeias de pectina

    vizinhas so liga, dos (inter e intramolecularmente) pelos ons clcio (Ca2+

    ), que

    formam um complexo estvel com a pectina, e do origem ao pectato de clcio,

  • 8

    formando uma rede de pontes de clcio, que responsvel pela estabilidade do

    complexo e, consequentemente, da parede celular (YAMAMOTO et al., 2011).

    Figura 2.5 a) Estrutura qumica da cadeia de pectina, b) Estrutura caixa de ovo (pectato de clcio)

    formada por clcio ligado a ons oxignio em duas cadeias de pectinas adjacentes, c) Ampliao do

    detalhe 1 em (b).

    Fontes: (a) BRANDAO e ANDRADE, 1999, (b,c) Adaptada de SEDAN et al., 2008.

    A composio qumica da fibra de coco 32,5 a 53% de celulose, 14,7 a 17,0%

    de hemicelulose, 33,5 a 40,8% de lignina e 3,5 % de extrativos. A fibra de coco

    apresenta teores de lignina elevados comparados com outros materiais lignocelulsicos

    e, consequentemente, menor teor de celulose (HAN, 1998, ROSA et al., 2010,

    SATYANARAYANA et al., 2007).

    2.3 SUBSTITUIO DA AREIA NATURAL EM MATERIAIS CIMENTCIOS

    Pesquisas foram realizadas a fim de avaliar a viabilidade da substituio do

    agregado mido natural por resduos de origem diversa. Agregados alternativos foram

    estudados, como resduos de atividades de pedreiras, resduos de construo e

    demolio, escria de cobre, partculas de cinza volante (RAMAN et al., 2011).

    Resduos de polmeros tambm tm sido utilizados como agregados. Uma

    consequncia da substituio da areia por estes agregados leves a reduo da

    densidade dos compsitos cimentcios produzidos, indicados para aplicaes que

  • 9

    requeiram materiais leves. Alm disso, h o aumento da porosidade, devido ligao

    muito fraca entre a matriz e o agregado plstico. A reduo das propriedades mecnicas,

    como resistncia compresso, mdulo de ruptura e mdulo de elasticidade pode ser

    um resultado conforme estudos de HANNAWI et al. (2010) e FRIGIONE (2010). No

    entanto, esses autores registraram um aumento da ductilidade nos compsitos, o que

    representa uma vantagem. Ambos os trabalhos utilizaram agregados de polmeros

    no-biodegradveis feitos de resduos de PC (policarbonato) e/ou PET (polietileno

    tereftalato) como substitutos parciais de agregados midos. HANNAWI et al. (2010)

    fez a substituio parcial de argamassas nas fraes volumtricas de 3%, 10%, 20% e

    50% e FRIGIONE (2010) produziu concreto com substituio de 5% em massa de

    agregado mido.

    Alm dos agregados citados acima, a utilizao de agregados vegetais crescente

    na literatura em estudos sobre compsitos cimento-material lignocelulsico. O uso de

    cinza do bagao da cana-de-acar como substituio de 30% e 50% da areia natural em

    concretos foi pesquisado por SALES e LIMA (2010) que concluram que a cinza do

    bagao da cana-de-acar pode ser utilizada como um substituto parcial da areia em

    concretos com resistncia mecnica de projeto at 30 MPa.

    2.4 COMPSITOS A BASE DE CIMENTO COM MATERIAIS VEGETAIS

    Os compsitos com materiais lignocelulsicos e aglomerantes inorgnicos, como

    o cimento Portland, contm entre 10 a 70% em massa de matria vegetal e

    reciprocamente 90% a 30% de aglomerante inorgnico (CAI e ROSS, 2010).

    Os chamados compsitos cimento-madeira so uma argamassa de cimento

    Portland, na qual parte ou toda a frao do agregado mineral foi substituda por material

    orgnico vegetal, obtidos pela fragmentao mecnica do tecido lenhoso de vegetais

    superiores ou atravs da coleta de resduos da indstria madeireira (MACEDO et al.,

    2011), como serragem, aparas ou flocos, que so utilizados para produzir painis

    (ENGLISH et al., 1994).

    As fibras lignocelulsicas de origem agrcola, como casca de arroz e palha de

    trigo, podem ser facilmente fragmentadas em partculas ou chips, que so semelhantes

    s partculas de madeira e podem ser utilizadas como substitutos em compsitos

    cimento-madeira (YANG et al., 2003).

  • 10

    Alm disso, os compsitos cimentcios com materiais lignocelulsicos podem ser

    produzidos com fios, fibras ou partculas vegetais, misturados com cimento Portland e

    tambm so fabricados na forma de painis, alm de tijolos e telhas (OKINO et al., 2004).

    Nesses compsitos, o material lignocelulsico faz o papel de agregado e de agente

    de reforo, enquanto que o cimento de Portland o aglomerante (OKINO et al., 2004).

    Devido baixa densidade, os compsitos com materiais lignocelulsicos tm

    vrias aplicaes potenciais como isolamento acstico e trmico, revestimento de

    resistncia ao fogo (AAMR-DAYA et al., 2008, MACEDO et al., 2011).

    STANCATO (2000) apresentou uma argamassa leve com agregado mido vegetal

    substituindo em 100% a areia natural. O agregado vegetal leve utilizado foi o p de serra

    de madeira. Os compsitos cimento-agregado vegetal produzidos com traos 1:0,4 ou

    1:0,6 (cimento:agregado vegetal) apresentaram baixa densidade, 0,73-0,97 g/cm3, baixa

    condutividade trmica, 0,203-0,265 W/mK, comparadas com a argamassa convencional.

    As mdias de resistncia compresso variaram de 2,35 a 8,86 MPa e de resistncia

    trao de 0,37 a 1,41 MPa. Estudo semelhante foi realizado anteriormente por GRANDI

    (1995) para produzir placas de argamassa de cimento e p de serra.

    Entretanto, esses compsitos so sensveis absoro de gua e, na presena de

    umidade relativa varivel, observa-se a instabilidade dimensional (AAMR-DAYA et al.,

    2008).

    2.4.1 Compatibilidade cimento e materiais lignocelulsicos

    A associao de materiais lignocelulsicos em aplicaes com cimento, muitas

    vezes, apresenta desempenho no satisfatrio. A durabilidade do material lignocelulsico

    na matriz cimentcia, bem como a compatibilidade entre as fases, comprometem a

    eficincia dos compsitos cimentcios com fibra ou partcula vegetal (OKINO et al.,

    2004, OLORUNNISOLA, 2008).

    Os acares solveis, amidos, extrativos, hemicelulose e lignina presentes nas

    partculas lignocelulsicos so substncias inibidoras da reao de hidratao do

    cimento (WEI et al., 2000). O principal efeito inibitrio sobre o cimento o atraso no

    processo de cura. O termo compatibilidade, quando aplicado a compsitos

    cimento-material lignocelulsico, refere-se ao grau de endurecimento do cimento aps a

    mistura com gua e fibras ou partculas. Se, devido presena das fibras ou partculas,

    no houver alterao no processo de cura do cimento, ou se essa alterao for pouco

  • 11

    significativa, esses materiais so compatveis. Entretanto, se a cura for retardada ou

    inibida pela presena das fibras ou partculas vegetais, h incompatibilidade entre o

    cimento e o material lignocelulsico (JORGE et al., 2004).

    O modo usual para avaliar a compatibilidade entre o cimento e o material

    lignocelulsico pelo mtodo do calormetro, que mede o calor de hidratao. A reao

    de hidratao do cimento libera calor (reao exotrmica) e o monitoramento da

    temperatura da reao utilizado como parmetro para se determinar o ndice de

    inibio da cura decorrente da adio do material vegetal que sem tratamento reduz o

    calor de hidratao da mistura cimento-material vegetal, quando comparado com a pasta

    de cimento de referncia. Uma temperatura de hidratao baixa e um tempo prolongado

    para alcanar a temperatura mxima so manifestaes do atraso ou inibio da reao

    de hidratao (WEI et al., 2000, KARADE, 2010).

    A eficincia de compsitos cimentcios com material lignocelulsico depende

    principalmente da capacidade de transferncia de tenso entre fibra ou partcula e a

    matriz. Essa transferncia de tenso tem um papel importante na determinao das

    propriedades mecnicas do compsito. A baixa compatibilidade entre fibras ou

    partculas e a matriz reduz as propriedades mecnicas, o que se constitui num obstculo

    para o uso do material lignocelulsico em matrizes cimentcias (HERRERA-FRANCO

    e VALADEZ-GONZLEZ, 2005).

    A melhoria da compatibilidade entre cimento e material lignocelulsico pode ser

    obtida por meio de tratamentos realizados nas partculas ou fibras vegetais com a

    finalidade de reduzir a presena das substncias inibidoras da reao de hidratao. A

    literatura apresenta diversas estratgias de processamento dos compsitos cimentcios

    com resduos lignocelulsicos para melhorar a compatibilidade cimento-materiais

    lignocelulsicos: a) pr-tratamento do material lignocelulsico por meio da remoo de

    substncias inibidoras da cura do cimento; b) incorporao de aditivos aceleradores da

    pega; c) substituio parcial do cimento por adies minerais etc. (KARADE, 2010,

    FRYBORT et al., 2008).

    2.4.1.1 Pr-tratamento do material lignocelulsico

    Vrias abordagens tm sido propostas na literatura para a remoo de extrativos,

    lignina e hemicelulose. A depender das condies de tratamento, pode ser possvel

    alterar a porosidade do material original e a cristalinidade das fibrilas de celulose,

  • 12

    remover hemicelulose e reduzir a quantidade de lignina presente (LIAO et al., 2011,

    PINGALI et al., 2010).

    No tratamento alcalino, o material lignocelulsico imerso em soluo alcalina e

    posteriormente lavado e seco. Segundo TROEDEC et al. (2008), o tratamento alcalino

    promove a remoo parcial de constituintes amorfos, como a hemicelulose, lignina e

    leos solveis em solues alcalinas, assim, melhora as caractersticas de adeso da

    superfcie, produzindo desse modo uma topografia rugosa da superfcie.

    O tratamento de imerso das fibras de coco em gua quente reduziu os teores de

    acares, taninos, resina, fenis, compostos qumicos inibidores da cura do cimento, o

    que melhorou algumas propriedades fsicas e mecnicas da fibra de coco, formando

    uma superfcie spera, com grande nmero de vazios, intensificando a extenso da

    adeso fibra-matriz, e proporcionando melhor ancoragem mecnica entre a fibra de coco

    e a matriz cimentcia (ASASUTJARIT et al. 2007, 2009). Comportamento semelhante

    ocorre quando h a quebra do feixe das fibras (fibrilao), que tambm uma

    consequncia dos pr-tratamentos (GU, 2009, KLJUN et al., 2011, RAHMAN e

    KHAN, 2007).

    A solubilizao dos componentes lignocelulsicos depende da temperatura, pH,

    umidade e tambm das caractersticas qumicas do precursor de lignocelulose nativa.

    HENDRIKS e ZEEMAN (2009) fizeram uma reviso extensa sobre este assunto, e

    afirmaram que o xilano da hemicelulose pode ser extrado efetivamente em um meio

    cido ou alcalino, enquanto que o glucomanano dificilmente pode ser extrado em um

    meio cido e precisa de um ambiente alcalino mais forte do que o xilano. A

    solubilizao de hemicelulose e lignina na gua, em condies neutras, comea em

    torno de 150-180C. A solubilidade da lignina fortemente dependente do precursor

    (lcool p-coumaril, lcool coniferil e lcool sinapil etc.), que determina a condio de

    pH necessria (cido, neutro ou alcalino). Sabe-se que a lignina, em condies cidas,

    se condensa e precipita, especialmente em meio cido forte. No entanto, o meio cido

    facilmente solubiliza a hemicelulose (PINGALI et al., 2010, YANG e WYMAN,

    2004). Esses autores observaram que o sistema experimental em fluxo remove mais

    hemicelulose e lignina do que o sistema em banho (imerso), devido condensao e

    precipitao de lignina.

    Estudos de compatibilidade mostram que h um aumento na compatibilidade dos

    materiais lignocelulsicos com o cimento aps extrao em gua fria, em gua quente a

    50C, em soluo aquosa de cloreto de clcio (CaCl2) e em soluo aquosa saturada de

  • 13

    hidrxido de clcio [Ca(OH)2] (alcalina) (OLORUNNISOLA, 2008, OKINO et al.,

    2005).

    FAN et al. (2002), atravs da anlise de difrao de raios-X (DRX), mostraram

    que os compsitos cimento-madeira tiveram a intensidade dos picos de Ca(OH)2

    reduzida significativamente. Esse fato foi atribudo presena de extrativos na madeira,

    o que resultou na reduo da formao de Ca(OH)2, que confirmou a inibio das

    partculas de madeira no processo de hidratao das misturas. Tal comportamento

    tambm foi observado por VAICKELIONIS e VAICKELIONIENE (2006). Quando a

    incompatilidade entre o material lignocelulsico e o cimento muito forte, o processo

    de hidratao do cimento pode ser paralisado, os picos de Ca(OH)2 no so detectados e

    as fases de cimento no hidratado, C3S e C2S, permanecem inalteradas na mistura

    curada (WEI et al., 2004).

    A modificao qumica da superfcie do material lignocelulsico pela incluso de

    novas substncias tambm um procedimento utilizado para melhorar a adeso da

    interface matriz-resduo vegetal. A superfcie do material vegetal tratada com um

    composto que forma uma ponte de ligaes qumicas entre o material lignocelulsico e

    a matriz. Diversos tratamentos podem ser utilizados, como copolimerizao de enxerto

    de monmeros, tratamentos com isocianatos e outros agentes de acoplamento. A

    absoro de umidade das superfcies tratadas reduzida significativamente pela

    hidrofobicidade promovida na superfcie pelas longas cadeias de hidrocarbonetos

    fixados, alm disso, os agentes de acoplamento penetram nas paredes celulares e se

    depositam restringindo o ingresso de umidade posterior (MISHRA et al., 2004). Este

    tipo de tratamento mais utilizado em matrizes polimricas, entretanto, TONOLI

    (2009) utilizou agentes de recobrimento silanos para reduzir o carter hidroflico da

    polpa de eucalipto para produo de compsitos cimentcios. Como resultado, foi

    observado que as fibras tratadas com o silano metacriloxipropiltri-metoxisilano (MPTS)

    estavam livres de produtos de hidratao no seu interior, diferentemente das fibras

    tratadas com o silano aminopropiltri-etoxisilano (APTS), o que permitiu um melhor

    desempenho mecnico, maiores valores de tenacidade, para os compsitos com aquelas

    fibras.

  • 14

    2.4.1.2 Incorporao de aditivos aceleradores da reao de hidratao

    Outro tipo de processamento dos compsitos para melhorar a compatibilidade

    utiliza os aceleradores de pega do cimento. So exemplos de substncias qumicas

    utilizadas como aceleradores da reao de hidratao: sais de ltio, silicatos, sais de

    clcio, compostos alcalinos, carbonatos e sulfatos (GARCIA et al., 2007).

    A inibio da reao de hidratao reduzida com a incorporao de CaCl2

    diludo na gua de mistura cimento-partculas vegetais (AAMR-DAYA et al., 2008).

    Ento a incorporao de aditivos aceleradores na gua de mistura dos compsitos tem a

    funo de neutralizar os efeitos inibitrios de muitas espcies vegetais durante a

    fabricao dos compsitos. Assim, atuam acelerando o tempo de pega, reduzindo o

    tempo de cura do cimento, melhorando a adeso das partculas da madeira ao cimento,

    (LATORRACA, 2003), melhorando a estabilidade dimensional dos compsitos

    (ALMEIDA et al., 2002) e, consequentemente, influenciando fortemente a resistncia

    dos compsitos cimento-madeira (WEI et al., 2000).

    2.4.1.3 Substituio parcial do cimento por adies minerais

    Alguns estudos apresentaram outra estratgia de processamento para os

    compsitos cimento-material lignocelulsico, que foi a incluso de adies minerais

    para substituir parcialmente o cimento Portland, como a slica ativa, a escria de alto

    forno e outros materiais pozolnicos.

    A substituio do cimento por slica ativa tem um efeito significativo nas

    propriedades de resistncia dos painis feitos com espcies de baixa compatibilidade

    (LATORRACA, 2003). Comportamento tambm observado por SILVA et al. (2006),

    ao estudar a adio de diferentes relaes de casca de madeira e slica ativa em

    compsitos cimento-madeira. Houve um aumento nas propriedades fsicas e mecnicas

    com a adio de 20% de slica ativa na composio dos painis.

    SAVASTANO JR. et al. (2000) utilizou escria de alto forno em substituio

    parcial e total do cimento Portland, com adio de gipsita e cal, para produzir

    compsitos com polpas vegetais. Ele observou que, mesmo com baixos nveis de

    hidratao, o cimento de escria proporcionou compsitos de comportamento similar

    queles com cimento Portland, especialmente, quanto ductilidade. Alm disso, a

  • 15

    hidratao menos pronunciada levou a uma menor mobilidade dos produtos de

    hidratao.

    A reviso de literatura mostrou que o principal mtodo de processamento dos

    compsitos cimentcios com partculas vegetais a incorporao de aditivos

    aceleradores da reao de hidratao que so utilizados para contornar os efeitos de

    atraso ou inibio da cura dos compsitos. Estudos sobre pr-tratamentos de partculas

    vegetais para uso em matrizes cimentcios so raros e h poucos estudos que abordam o

    uso de gua fria, gua quente e tratamento em meio alcalino para fibras vegetais

    adicionadas em compsitos cimentcios. Entretanto h um avano nos estudos de pr-

    tratamentos das fibras vegetais em matrizes polimricas (RAHMAN e KHAN, 2007,

    ROUT et al., 2001). Em geral, os estudos sobre compsitos cimentcios com fibras

    adotam o uso de fibras vegetais in natura e substituem parte do cimento por adies

    minerais para diminuir os efeitos do meio alcalino da matriz na durabilidade dos

    compsitos.

    2.5 CIMENTO PORTLAND: FASES E HIDRATAO

    A composio do clquer do cimento Portland contm como constituintes: silicato

    triclcico (C3S); silicato biclcico (C2S); aluminato triclcico (C3A); ferro-aluminato

    tetraclcico (C4AF) (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Para a produo do cimento

    Portland, na moagem do clnquer, o sulfato de clcio adicionado na forma de gesso

    (CaSO4.2H2O) ou sob outras formas para controle da hidratao inicial do cimento.

    A hidratao do cimento um conjunto de mudanas que ocorre quando o

    cimento anidro misturado com a gua, envolvendo reaes qumicas que superam a

    simples converso de espcies qumicas anidras em hidratos correspondentes

    (TAYLOR, 1997). Os principais produtos de hidratao do cimento Portland comum

    so os silicatos de clcio hidratado (C-S-H), o hidrxido de clcio [Ca(OH)2] e os

    aluminatos de clcio hidratados (etringita e monosulfato hidratado).

    De acordo com ROSSETTO (2007), o processo de hidratao do cimento Portland

    um processo de dissoluo-precipitao (Figura 2.6). Quando a partcula de cimento

    anidro entra em contato com a gua, a dissoluo dos ons clcio, Ca2+

    , e silcio,

    H2SiO42-

    , provenientes dos principais constituintes do cimento Portland, C3S e C2S, se

    inicia. Ao mesmo tempo, o C3A libera os ons Ca2+

    e Al(OH)4- em soluo.

  • 16

    Figura 2.6 Representao da reao de hidratao do cimento Portland pelo processo de dissoluo-

    precipitao, em que Ea representa a energia de ativao para a formao das fases hidratadas (hidratos) e

    G representa a variao da energia livre durante a reao.

    Fonte: Adaptada de GARCIA et al., 2007.

    Assim, so formados os embries das fases hidratadas de silicatos e aluminatos de

    clcio, devido diferena de solubilidades em relao da partcula de cimento ainda

    anidra. A soluo est supersaturada em relao ao embrio. Entretanto, para que esses

    embries passem condio de ncleos estveis eles precisam superar a energia de

    ativao (Ea), pela reduo na relao entre rea de superfcie e volume que

    proporcione a reduo da energia livre (G). Essa etapa da hidratao denominada

    pr-induo, nela a superfcie do prprio gro de cimento que se dissocia oferece uma

    grande alternativa para a nucleao heterognea, bem como o aumento da temperatura

    que favorece a ocorrncia de um maior nmero de choques (colises) entre os ncleos

    nascentes.

    A prxima etapa do processo de hidratao a induo, em que a continuidade do

    processo de dissoluo favorecida pela reduo dos ons em soluo, devido ao

    aumento do nmero de ncleos que precipitam e simultaneamente h um maior

    recobrimento da superfcie das partculas de cimento pelos precipitados que agora

    atuam como uma membrana (Figura 2.7). A hidratao prossegue e o final do perodo

    de induo marcado pelo momento em que a presso osmtica do sistema no

    suficiente para o rompimento das partculas de cimento anidro. H uma perda de

    trabalhabilidade ou aumento da viscosidade da suspenso e o tempo de hidratao

    decorrido at esse momento conhecido como tempo de pega. Em continuidade, dois

  • 17

    so os mecanismos responsveis pela reduo da energia livre de Gibbs (G): o

    crescimento das fases hidratadas e a densificao. Elevados valores de fator gua-

    cimento (a/c) favorecem o crescimento dos silicatos e aluminatos de clcio hidratados e

    o empacotamento elevado das partculas de cimento favorece a densificao, em funo

    da aproximao dos gros de cimento sobre cujas superfcies as fases hidratadas so

    nucleadas (ROSSETTO, 2007).

    Figura 2.7 Desenvolvimento da microestrutura durante a hidratao do cimento.

    Fonte: Adaptada de TAYLOR, 1997.

    A etringita, C3A.3CaSO4.32H2O, a primeira fase hidratada (hidrato) a cristalizar

    devido elevada relao sulfato/aluminato na fase aquosa durante a primeira hora de

    hidratao. Aps o consumo do sulfato da soluo, a concentrao de aluminato se

    eleva devido renovao da hidratao do C3A e do C4AF, a etringita se torna instvel e

    gradativamente convertida em monosulfato hidratado, C3A.CaSO4.12H2O.

    A hidratao do C4AF em presena de gipsita d origem formao de fases

    similares s obtidas na hidratao do C3A, as quais se distinguem pela substituio

    parcial do alumnio pelo ferro com composies qumicas variveis, mas com estruturas

    similares s da etringita e do monosulfato.

    Com a dissoluo do C3S, formam-se fases de C-S-H pouco cristalinas e de

    Ca(OH)2. Aps o contato imediato com a gua, ocorre uma intensa liberao de calor.

    Somente aps algum tempo, o C2S reage com gua e forma o C-S-H, contribuindo para

    o aumento da concentrao de ons Ca2+

    e OH- na fase lquida.

    As reaes qumicas simplificadas que expressam a hidratao dos aluminatos e

    dos silicatos so (MEHTA e MONTEIRO, 2008) (Figura 2.8):

  • 18

    AlO4- + 3 SO4

    -2 + 6 Ca

    +2 + meio aquoso etringita

    AlO4- + SO4

    -2 + 4 Ca

    +2 + meio aquoso monosulfatos hidratados

    2C3S + 6H2O C3S2H3 + 3 Ca(OH)2, onde: C3S2H3 = C-S-H

    2C2S + 4H2O C3S2H3 + 3 Ca(OH)2

    (2.1)

    (2.2)

    (2.3)

    (2.4)

    Figura 2.8 Hidratao do cimento, a) fases aluminato e b) fases silicato. Nota: Padres de setas

    indicam a coliso de duas espcies para formar um produto de hidratao, dis dissoluo, col coliso,

    nuc nucleao, * indica espcie em difuso, f([X]) indica que a nucleao ou dissoluo uma

    funo da concentrao ou da frao volumtrica da fase.

    Fonte: Adaptada de BENTZ, 1995.

    O C-S-H o principal componente do cimento Portland hidratado, tem uma

    estrutura com baixa cristalinidade e com composio varivel, devido s variaes nas

    relaes Ca/Si e no teor de gua quimicamente combinada. O Ca(OH)2 o segundo

    produto de hidratao mais abundante, formando agregados cristalinos.

    Alm desses compostos, ainda h a carbonatao, devido difuso do CO2

    presente na atmosfera atravs dos poros insaturados da matriz cimentcia. Neste

    processo, o CO2 sofre dissoluo na fase aquosa presente nos poros transformando-se

    em cido carbnico (H2CO3) que, por sua vez, sofre dissociao como ons HCO3- e

    CO32-

    , juntamente com a dissoluo do Ca(OH)2 que libera ons Ca2+

    e OH-, os quais

    precipitam e formam fases de hidratadas de silicato carbonatadas (TONOLI, 2009).

    No processo de hidratao, enquanto existe gua disponvel para a hidratao das

    partculas anidras de cimento e a estabilidade entre a rea superficial e o volume dos

    ncleos ou embries no atingida, os ons so dissociados e transportados por osmose

    para regies onde a gua dos poros est menos saturada. A formao e precipitao dos

    ncleos ou embries naturalmente aproximam as superfcies dos gros adjacentes. A

    secagem ou o consumo da gua dos poros da matriz cimentcia cessa o processo de

    a) b)

  • 19

    dissoluo dos ons dos componentes do cimento (TONOLI, 2009). Nesse ponto, as

    molculas de gua confinadas ao redor dos gros de cimento hidratado proporcionam

    adeso ao material em funo de pontos discretos de contato, atravs de ligaes de

    hidrognio (ROSSETTO, 2007 e ROSSETTO et al., 2009).

    Os materiais lignocelulsicos, quando so adicionados ao cimento Portland na

    hidratao, tambm so aderidos matriz cimentcia por ligaes fsicas (ancoragens

    mecnicas) e por ligaes qumicas (ligaes de hidrognio, Figura 2.9). Uma interao

    qumica e fsica combinada formada, quando uma grande quantidade de ons, como

    clcio e silcio do cimento so rapidamente dissolvidos na soluo de cimento nos

    estgios iniciais da hidratao. Alguns ons penetram a parede celular do vegetal e

    promovem a afinidade da superfcie da partcula com o cimento, como uma ligao

    qumica. Ento, ligaes qumicas e fsicas se formam quando o cimento comea a se

    cristalizar e formar uma matriz em torno da partcula e finalmente a ligao fsica e

    pode continuar durante o perodo de vida do compsito (WEI et al., 2004, PEHANICH

    et al., 2004).

    Figura 2.9 Ligaes de hidrognio entre a partcula de p de coco e o C-S-H.

    Fonte: Adaptada de TAYLOR, 1997.

    Tanto o material vegetal quanto a matriz cimentcia so porosos. Quanto melhor a

    interface, ou seja, quanto menor a distncia entre a superfcie do material vegetal e a

    matriz, mais pontos discretos de ligao ocorrem. Superfcies mais prximas tm

    menores camadas de gua confinada, ento, h ligaes de hidrognio mais fortes

    (ROSSETTO et al., 2009).

  • 20

    2.5.1 Cimento Portland e as adies minerais

    O cimento Portland composto, na sua produo, contm a adio de pozolanas e

    de material carbontico (carbonato de clcio ou calcita, CaCO3).

    As pozolanas consomem parte do Ca(OH)2 para formar fases de C-S-H na matriz

    cimentcia. Estes hidratos adicionais aumentam a densidade da matriz cimentcia,

    refinam a estrutura dos poros e reduzem a permeabilidade. A pozolana aumenta a

    resistncia a longo prazo do material (MEHTA e MONTEIRO, 2008).

    As adies de material carbontico no cimento Portland produzem vrios efeitos

    no mecanismo e na cintica da hidratao do cimento. A solubilidade dos produtos

    um ponto importante para a estabilidade dos produtos de hidratao formados. A

    etringita (trisulfoaluminato) formada durante as primeiras 24 horas em pastas de

    cimento Portland comum (contendo apenas gesso como adio mineral) e em pastas de

    cimento Portland com material carbontico. Pequenas quantidades de etringita ainda

    esto presentes aps sete dias, mas praticamente desaparecem aos 28 dias. A converso

    de etringita em monosulfoaluminato ocorre devido falta de gesso na pasta. Entretanto,

    se h material carbontico presente, ons carbonatos (KspCaCO3 = 8,7 x 10-9

    ) ficam

    disponveis na pasta e a converso da etringita (Kspetringita= 1,1 x 10-40

    ) para

    monosulfoaluminato (Kspmonosulfoaluminato= 1,7 x 10-28

    ) atrasada ou interrompida. Os

    ons carbonatos deslocam os ons sulfatos e ons hidroxila na fase monosulfoaluminato.

    Esse fenmeno ocorre porque alguns ons sulfato ou ons hidroxila podem ser

    intercambiados por ons carbonato na hidratao do C3A. Assim, o CaCO3 favorece a

    substituio do monosulfato por monocarbonato (Ca4Al2(CO3)(OH2)12.5H20) e

    hemicarboaluminato (Ca4Al2(SO4)0,5(OH2)13.5,5H20), ento a proporo de monosulfato

    diminui e a proporo de monocarbonato (Kspmonocarboaluminato= 1,4 x 10-30

    ) aumenta,

    devido maior insolubilidade e maior estabilidade do carbonato. Ainda na formao

    inicial da etringita, ons sulfato podem ser substitudos por ons carbonatos sem

    modificar a sequncia da reao de hidratao, formando a etringita carbonatada,

    Ca6Al2(CO3)3(OH2)12.26H20 (BONAVETTI et al., 2001, DWECK et al., 2000, GOVIN

    et al., 2006, KAKALI et al., 2000, PRA et al., 1999).

    O efeito filler dado pelo material carbontico causa a acelerao da hidratao

    do cimento, principalmente do C3S para idades iniciais, melhora o empacotamento do

    sistema cimentcio, promove novos stios de nucleao e crescimento para o C-S-H e o

    Ca(OH)2, o C-S-H produzido incorpora um significante teor de ons carbonato na sua

  • 21

    estrutura, formando fases de C-S-H carbonatadas e carboaluminatos de clcio hidratado

    tambm so formados como resultado da reao entre o CaCO3 e o C3A do clnquer.

    Assim, carboaluminatos e carbosilicatos de clcio hidratados so formados nos

    primeiros dias (KAKALI et al., 2000, LOTHENBACH et al., 2008).

    2.5.1.1 Mecanismos de retardamento/inibio da reao de hidratao

    Em compsitos cimentcios com materiais lignocelulsicos, o ambiente alcalino

    da matriz cimentcia favorece a solubilizao dos componentes dos materiais vegetais

    durante a hidratao do cimento, quer se difundem e atuam como agentes retardantes.

    Os extrativos so geralmente cidos, tm pH entre 6,3-6,4 na fibra de coco

    (AGGARWAL e SINGH, 1990) e so os principais inibidores da reao de hidratao

    acares solveis, amidos e taninos, resinas e cidos graxos, terpenos e terpenides,

    sais, fenis e cidos hidroxi-carboxlicos. Parte da hemicelulose, como solvel em

    meio alcalino, tambm se desintegra e aumenta a quantidade de substncias difusas na

    soluo de hidratao do cimento (FRYBORT et al., 2008, GOVIN et al., 2006,

    VAICKELIONIS e VAICKELIONIENE, 2006, WEI et al., 2000).

    O mecanismo de retardamento da reao de hidratao foi explicado por GARCIA

    et al. (2007). Os cidos hidroxi-carboxlicos e seus sais causam o retardamento na

    hidratao do cimento devido natureza dos nions produzidos por esses compostos em

    soluo. Estes nions so formados por grupos RCOO- e ROH que possuem grande

    afinidade pelo clcio (Ca). Os nions hidroxi-carboxlicos complexam os ons Ca2+

    e

    produzem sais insolveis em pH alcalino, diminuindo a disponibilidade de ons Ca2+

    em

    soluo, o que diminui as concentraes dos ons Ca2+

    , deixando a nucleao e o

    crescimento dos hidratos de clcio mais lenta. Uma camada formada na interface

    slido-lquido que dificulta o prosseguimento da reao do cimento com a gua,

    retardando o estgio de saturao da soluo, pois se forma uma camada tanto pela

    precipitao do sal formado em soluo, como pela adsoro direta dos nions hidroxi-

    carboxlicos sobre a superfcie das partculas de cimento.

    Os carboidratos, principalmente os acares, tambm so retardantes que atuam

    de modo semelhante ao descrito acima. Uma barreira estrica e/ou eletroestrica

    formada ao redor das partculas de cimento anidro, impedindo a aproximao das

    mesmas e a consequente agregao, agindo como um agente defloculante, dificultando a

    aproximao das molculas de gua, assim, retardando a hidratao. Os compostos

  • 22

    cidos tambm retardam a hidratao, pois os ons H+ gerados por esses compostos

    podem se ligar aos grupos OH- dos hidratos, bloqueando o processo de nucleao, j

    que estes ctions se ligam fortemente a esse grupo dificultando novas ligaes entre o

    grupo OH e os tomos de Ca. Ento, quanto maior a dificuldade de formao de

    embries estveis, maior o tempo necessrio para que eles se formem e, assim, h um

    retardamento da entrada do sistema no processo de precipitao (GARCIA et al., 2007).

    2.6 DURABILIDADE DOS COMPSITOS COM MATERIAIS

    LIGNOCELULSICOS

    Para o desenvolvimento de novos materiais de construo, algumas condies bsicas

    devem ser atendidas, como: economia, viabilidade, segurana, trabalhabilidade e

    principalmente durabilidade (SENFF, 2004). Assim, estudos para estimativa da vida til

    do material devem ser realizados antes da sua insero no mercado.

    A norma de desempenho, NBR 15575 (ABNT, 2012), estabelece as definies de

    durabilidade e vida til e define requisitos e critrios para que o projeto leve em

    considerao as condies de durabilidade e vida til que devem ser asseguradas, visando o

    desempenho tcnico e econmico do empreendimento. Para a vida til global do edifcio,

    todos os materiais, componentes e sistemas construtivos precisam ter sua vida til

    caracterizada diante das condies de uso e manuteno a que estaro sujeitos.

    O estudo da durabilidade de um material deve ser iniciado a partir da identificao

    dos agentes agressivos relevantes em cada aplicao e dos mecanismos de degradao a

    eles associados. A identificao dos agentes requer conhecimento da qumica e da

    microestrutura do material. A ao conjunta entre os agentes de degradao tambm deve

    ser considerada como fator importante na previso da degradao do material. Em alguns

    casos, agentes que por si s no afetam o material, quando atuantes em sinergia com outros,

    podem levar a alteraes desfavorveis nas propriedades dos materiais (SILVA, 2002).

    Para a avaliao da durabilidade so empregados mtodos q