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P07 Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel

Atas Proceedings

ISBN 978-989-8550-19-4

3316 | ESADR 2013

P07 Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel

CoordenadoresPedro Henrique Zuchi da Conceio (UnB) [email protected] Jorge Madeira Nogueira (UnB) [email protected] Francis Lee Ribeiro (EA / UFG) [email protected] Jnia Cristina Peres Rodrigues da Conceio (IPEA) [email protected]

A preocupao com o meio ambiente despertou, nas ltimas dcadas, a busca incessante por alternativas energticas capazes de substituir a crescente utilizao de combustveis de origem fssil. Contudo, a utilizao crescente de biocombustveis aumenta a preocupao com os impactos sobre reas agricultveis em todos os pases. A substituio de reas produ-tores de alimentos, assim como novas incorporaes, por plantaes de bioenergticos pode gerar impactos sobre os produtos agrcolas O recente aumento dos preos dos alimentos um desses impactos e acirra o debate entre aqueles que argumentam que, no longo prazo, o aumento nos preos dos alimentos agravaria a insegurana alimentar e seria ampliado pela produo de bioenergticos. Por outro lado, existem autores que argumentam que apenas uma pequena parcela da elevao nos preos dos alimentos provocada pela demanda por biocombustveis, o que no justifica todo alarde feito em relao (in)segurana alimentar.

Diante deste cenrio o mundo se v frente a decises complexas: Qual o papel do setor agrcola e qual a sua contribuio para a sustentabilidade global diante do cenrio de cri-se de preos de alimentos, de necessidade de conservao de recursos naturais e de con-tribuio na matriz energtica. Existe equilbrio possvel?

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OS IMPACTOS DOS BIOCOMBUSTVEIS NAS TRAJETRIAS DOS

CAMPONESES DA AMAZNIA

MARCLIO DE ABREU MONTEIRO Doutorando do Programa de Desenvolvimento do Trpico mido

Ncleo de Altos Estudos da Amaznia Universidade Federal do Par

Brasil [email protected]

Resumo

O avano do plantio de dend (Elaeis guineensis) e a produo do leo de palma na Amaznia oriental brasileira causam impactos na agricultura tradicional. O plantio do dend introduz um novo processo agrcola por meio de cultivo permanente, que necessita de um gerenciamento intensivo, o que altera os hbitos laborais dos agricultores, afastando-os da prtica da lavoura de subsistncia. O avano do plantio do dend tem levado no s a um processo de concentrao fundiria, mas tambm a uma grande redistribuio da mo de obra local, principalmente na faixa etria entre 18 e 39 anos. As grandes empresas contrataram mais de 5.500 empregados para suas reas agrcolas, transformando em assalariados os filhos dos agricultores, que deixaram de trabalhar com suas famlias, o que representa uma perda em sua trajetria de agricultores tradicionais. Com base em um estudo realizado no Vale do Acar, Par, Brasil, o presente texto busca indicar que est em curso um processo de alterao da dinmica de reproduo social dos camponeses em virtude da implantao dos projetos de biocombustveis por meio do plantio do dend.

PALAVRAS-CHAVE: Biocombustvel. leo de palma. Campons. Amaznia.

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1 Introduo

Em contexto global, a ampliao da demanda e a elevao dos preos de biodiesel

impulsionam o incremento do plantio do dend e o embate de posies e foras sociais e

econmicas favorveis e contrrias a tal expanso. O presente texto tem o objetivo de tecer

algumas consideraes sobre a expanso da produo de leo de palma na Amaznia

oriental brasileira.

Na seo 2, situa-se o atual estgio da produo do dend (Elaeis guineensis) no

mbito mundial, identificando-se os eventos que tm estimulado a expanso da produo

do leo de palma em diversas reas tropicais do planeta. Busca-se identificar as foras

sociais e econmicas que favorecem as tendncias atuais de expanso.

A seo 3 descreve o atual estgio e as projees de plantio no Estado do Par e a

complexidade do embate entre as trajetrias tecnolgicas expansionistas e as camponesas;

em seguida, apresenta o recorte espacial da rea onde ocorreu o estudo de caso, o Vale do

Acar.

J na seo 4, investiga-se o avano da monocultura do dend e a mudana

provocada no padro de produo dos camponeses na Amaznia alm da concentrao

fundiria, altera-se a utilizao da mo de obra. Uma parte significativa de camponeses que

antes atuava na agricultura familiar passa a ser empregada nas empresas agrcolas do

dend, colocando em risco a reproduo social das trajetrias campesinas tradicionais.

Por fim, a concluso, na seo 5, menciona que a produo da monocultura do

dend em larga escala tende a afetar as trajetrias camponesas da Amaznia.

2 A produo mundial de leo de palma

O leo de palma, extrado do dendezeiro (Elaeis guineensis), usado na elaborao

de produtos alimentares, de detergentes, de cosmticos e, cada vez mais, de

biocombustveis. Alm de sua versatilidade, o leo de palma tem grande produtividade, a

quantidade produzida por hectare/ano muito maior do que a de outros leos vegetais,

tendo custos de produo mais baixos (Colbran & Eide, 2008; FAO, 2008).

A produo mundial de leo de palma dobrou na ltima dcada. Em 2000, o leo

de palma respondia por 40% de todos os leos vegetais comercializados

internacionalmente. Em 2006, esse percentual subiu para 65%. Nos ltimos 20 anos, a rea

cultivada de dend cresceu e j ultrapassa 14 milhes de hectares. A maioria das rvores de

leo de palma do mundo cultivada em algumas ilhas da Malsia e da Indonsia onde se

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Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

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localizam florestas tropicais com uma das maiores biodiversidades encontradas no planeta

(USDA, 2008).

Em 2011, foram produzidas, mundialmente, 56.000 mil toneladas de leo de palma.

A produo ficou bastante concentrada na sia: a Indonsia com 52%, a Malsia com 35%

e a Tailndia com 3%, juntas, foram responsveis por 90% dessa produo. Na Amrica, o

maior produtor a Colmbia, com 2% da produo mundial (Index Mundi, 2012a).

Na ltima dcada, vrios pases firmaram compromissos para o uso de

biocombustveis. A Unio Europeia determinou que seus membros aumentem,

gradualmente, o consumo de biocombustveis no dispndio total para transportes e

alcancem pelo menos 10% de biocombustveis em 2020. Nos Estados Unidos, a meta

estabelecida foi o uso obrigatrio de 48 bilhes de litros de biocombustveis de 136 bilhes

de litros de biocombustveis em 2022. No Brasil, desde 2010, obrigatria a adio de 5%

de biodiesel ao diesel (Biodieselbr.com, 2012; FAO, 2008).

Esse conjunto de medidas para ampliar o consumo de biocombustveis tem estreita

ligao com o debate sobre as mudanas climticas. Foi no mbito dessa discusso que

ganhou fora a prescrio do uso de biocombustveis. Esse contexto favorece a expanso

dos biocombustveis como uma fonte de energia alternativa e uma oportunidade para o

desenvolvimento rural no mundo. At 2020, o leo de palma dever duplicar a sua

produo; o mercado estima que, para atender a demanda mundial, para os prximos anos,

precisar de 20 milhes de hectares plantados (Colchester et al., 2006).

3 Argumentos e foras favorveis s tendncias atuais de expanso

Os principais argumentos favorveis adoo dos biocombustveis so: estimularia

a eficincia econmica; seria um trunfo para os pases mais pobres, pois permitiria a

formao de um mercado mundial no qual essas naes teriam vantagem em relao aos

pases mais ricos, possibilitando a incluso de agricultores; representaria uma juno de

vrias polticas pblicas de incentivos; seria um empreendimento vantajoso em

comparao com os combustveis fsseis, por tratar-se de uma fonte renovvel de energia

com menores nveis de emisso de gases de efeito estufa.

Dessa forma, a produo de leo de palma cresce sob uma forte influncia dos

biocombustveis, porque a ampliao de sua rea de plantio traria ganhos econmicos,

sociais, polticos e ambientais para a sociedade.

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3.1 Ganhos econmicos: um mercado em expanso

A tonelada do leo de palma cru (CPO), que h menos de dez anos era cotada

abaixo de 300 dlares, chegou a ultrapassar a barreira de 1000 dlares, o que faz do dend

uma das principais espcies agrcolas em expanso no plantio mundial. O CPO teve seu

ponto de incremento na curva de crescimento em 2006 e, desde ento, o seu preo mdio

manteve-se sempre como uma commodity de alto valor no mercado. Mesmo com a crise

mundial ocorrida no final dos anos 2000, seu valor teve um pequeno recuo, recuperando-se

logo em seguida (Figura 1).

Figura 1 Preo do leo cru de palma cotao internacional no ms de janeiro (2000-2012).

Outro aspecto que influencia a procura de dend para a produo do biodiesel diz

respeito s suas vantagens agronmicas, pois a produo mdia do seu leo por hectare

nove vezes mais do que a da soja (Tabela 1). Alm da alta produtividade, o dendezeiro tem

uma vida til de 25 anos, comea a produzir j no terceiro ano e pode chegar

produtividade de 25 toneladas/ano de cachos de frutos frescos (CCF) por hectare, o que

representa um rendimento mdio de 4,5 toneladas de leo/ano por hectare (Marzulo, 2007).

BIODIESEL

Lb

0200400600800

100012001400

Pre

o U

S$ (d

lar

es)

Ms/anos Fonte: Elaborao prpria, com base nos dados do Index Mundi (2012b).

BIODIESEL

BIODIESEL

Preo US$/t

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Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

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Tabela 1 Comparao produo de leo: soja e dend.

Oleaginosa Teor mdio de leo (%)

Rendimento mdio (tonelada leo/ha)

Ciclo

Soja (gros) 19 0,5 4 meses

Dend (cachos de frutos frescos) 20 4,5 25 anos (perene)

Fonte: Elaborao prpria, com base nos dados da Embrapa (2010a).

O preo e a alta produtividade constituram um incentivo para a expanso das

plantaes do dend. Nos ltimos 15 anos, a produo do leo cru de palma segue uma

curva de crescimento contnuo; em 2012, a produo mundial ultrapassou 50.000 toneladas

(Figura 2).

Figura 2 Expanso da produo do leo cru de palma em toneladas.

Fonte: Elaborao prpria, com base nos dados do Index Mundi (2012a).

A destinao para o biodiesel apenas um dos mltiplos usos do leo de palma,

que passou a incrementar a demanda mundial j existente. Com efeito, o crescimento

econmico da ndia e, principalmente, da China fez com que aumentasse a procura de leo

vegetal, paralelamente ao aumento da preferncia por alimentos sem gordura trans.

Ao aumento da demanda, soma-se a grande produtividade do dend: trata-se de um

produto com alto rendimento, baixos custos de produo e um vasto domnio mundial da

tecnologia do cultivo e do processamento. Essa alta rentabilidade pode ser demonstrada

pelas projees das grandes margens das taxas internas de retorno (TIR) do investimento

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Produo mundial

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da planta agroindustrial. A apurao da TIR iguala-se ao valor presente dos futuros fluxos

de caixa; dessa forma, em todos os cenrios, a implantao da agroindstria apresenta-se

como um investimento com uma taxa de atratividade de capital superior a 12% (Tabela 2).

Tabela 2 TIR da agroindstria do dend no Par.

Cenrio Produo para o biodiesel

Pessimista 12,76%

Neutro 15,84%

Otimista 18,06%

Fonte: Elaborao prpria, com base em Castro Junior (2012).

Outro aspecto econmico favorvel ao biodiesel oriundo do dend o fato de sua

implantao no requerer grandes investimentos a longo prazo, em especial, com

equipamentos, se comparada com a indstria petrolfera. Alm disso, o retorno do capital

empregado imediato, e existe um incentivo produo agrcola, agroindstria e aos

demais segmentos da sua cadeia produtiva.

4. O estgio atual de expanso e a Amaznia como nova fronteira

Desde 2008, tem havido uma acelerao nas taxas de crescimento das reas

plantadas. O Estado do Par passou a ser a porta de entrada da expanso do dend na

Amaznia oriental. Em quatro anos, houve um incremento de 135% em rea plantada:

eram 65 mil hectares em 2008; em 2012, j existem 153 mil hectares plantados para a

produo de leo de palma no Par1. Estima-se que haver, em 2016, 347 mil hectares

plantados e, no final da dcada, aproximadamente 750 mil de hectares (Figura 3).

1 A maior parte da rea plantada encontra-se no Vale do Acar, com aproximadamente 135 mil hectares.

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Figura 3 rea para a produo de dend no Estado do Par.

Fonte: Elaborao prpria, com base em informaes coletadas nas empresas e no MDA (2012).

Alm da alta produtividade por hectare, as condies agronmicas das reas de

florestas tropicais so compatveis com a produo do dend: a) a palmeira de leo

tolerante a solos cidos (ph 4.0), como so os da Amaznia; b) o clima na regio, com

temperaturas altas, propcio; c) o bom nvel de chuvas torna quase 230 milhes de

hectares apropriados para o cultivo do dend; d) a topografia plana facilita a implantao

da infraestrutura para a produo; e) o avano tecnolgico permitiu o desenvolvimento de

mudas hbridas resistentes a doenas patognicas, como a mangra (doena do amarelo).

Todos esses fatores aliados alta rentabilidade do investimento e poltica de incentivo

produo do governo brasileiro criam um ambiente favorvel expanso da plantao

dos dendezais na Amaznia (Butler & Laurance, 2008).

4.1 A dimenso rural e as trajetrias tecnolgicas

Dada a relevncia da dimenso rural que, pelos seus atributos econmicos,

ambientais e sociais, faz parte integrante das dinmicas do desenvolvimento da Amaznia,

o presente texto usa a noo de paradigma tecnolgico na produo rural da Amaznia

como categoria explicativa para a decodificao da prpria Amaznia.

0100000200000300000400000500000600000700000800000900000

rea

em

hec

tare

s

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Com base na noo de trajetria tecnolgica, Costa (2009a, 2009b, 2012)2 busca

interpretar a diversidade estrutural, uma vez que, dentro de uma trajetria tecnolgica,

existe um padro usual de atividades, segundo o qual os agentes resolvem seus problemas

produtivos e reprodutivos.

Seguindo a mesma orientao terica da trajetria tecnolgica de Dosi (1982),

Costa aplica a noo de paradigma tecnolgico produo rural da Amaznia e analisa as

diferentes combinaes entre o uso do capital fsico e o uso do capital natural nas formas

de produo camponesas e patronais.

No campo epistemolgico, as trajetrias tecnolgicas diferenciam-se da teoria

neoclssica - de que os indivduos buscam maximizar as oportunidades e que a economia

tenderia ao equilbrio dos agentes e dos mercados - em que a produo agrcola teria como

base de desenvolvimento exclusivamente a tecnologia, fruto da induo pelo prprio

mercado. Dessa forma, reduz-se a explicao da sociedade como expresso em estruturas;

negligencia-se o tratamento das diferenas fundamentais de produtividade entre agentes da

mesma regio ou entre regies, que seguem distintas trajetrias.

Mesmo sendo um conceito abstrato, as trajetrias tecnolgicas desenvolvem-se em

espaos concretos, assumindo configuraes prprias. Por meio da delimitao territorial

dos sistemas agrrios, verificam-se interaes cooperativas, ou competitivas, tendo em

vista recursos naturais ou recursos institucionais. Costa (2009a, 2012) ressalta que esse

processo de negao ocorre tambm dentro de cada paradigma, confrontam-se trajetrias

que se embatem nas estruturas dos processos produtivos e em suas instituies de suporte,

pela disputa de recursos intangveis (conhecimento e inovao) ou de recursos tangveis

(terra e trabalho).

O uso das trajetrias tecnolgicas possibilita evidenciar a relao na cadeia de

produtos, na medida em que a trajetria tem um fundamento organizador que demonstra

como se produz, identificando a estrutura interna do processo produtivo. Dessa forma,

possvel obter um detalhamento do resultado final do produto comercializado, pois

consegue-se ir alm da produo: possvel especificar mais do que o produto, mas a

origem da sua trajetria e qualific-la na produo rural.

As trajetrias tecnolgicas partem do entendimento de que toda produo faz parte

de alguma trajetria, portanto, os produtos so considerados como fenmenos de

2 Francisco Costa tem dedicado as ltimas duas dcadas a pesquisas sobre o desenvolvimento da Amaznia. Indicaes de obras com seu arcabouo terico podem ser encontradas na Coleo Economia Poltica da Amaznia ().

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trajetrias. Da a necessidade de qualificar as trajetrias, que so mediadas pelas formas de

produo (patronal ou camponesa), que passam a ser o caminho para chegar

compreenso das tecnologias que lhes so subjacentes.

Para Costa (2009a, 2009b), a realidade agrria da Amaznia pode ser explicada

luz da dinmica de sete trajetrias baseadas nos paradigmas agropecurio e extrativista,

com diferentes relaes si, que organizam a economia rural como um todo. Assim, o

campesinato, identificado pela produo agrria de origem familiar, assume vrias formas

tecnolgicas de produo na Amaznia. Costa (2012) aponta trs trajetrias camponesas

T1, T2 e T3 e quatro de base empresarial as trajetrias patronais T4, T5, T6 e T7

(Quadro 1).

Quadro 1 Trajetrias tecnolgicas e as dimenses do rural na Amaznia. Trajetria Descrio

T1 Trajetria camponesa Resultou da formao de estruturas camponesas baseadas predominantemente na atividade intensiva agrcola e na pecuria leiteira.

T2 Trajetria camponesa Trata-se da mais antiga formao camponesa da Amaznia, baseada em sistemas que convergem para a agloflorestania por dois caminhos: a passagem da (quase) exclusiva valorizao de bens e servios do bioma para uma economia mista, com a incorporao crescente do manejo florestal, da agricultura e da aquicultura; uma atividade agrcola que incorpora elementos florestais e reconstitutivos de funes do bioma.

T3 Trajetria camponesa Rene o conjunto de estabelecimentos camponeses que convergem para sistemas com dominncia da pecuria de corte.

T4 Trajetria patronal Rene um conjunto de sistemas de produo em operao em estabelecimentos patronais, que convergem para a pecuria de corte; esses sistemas so marcados pelo uso extensivo do solo, com homogeneizao da paisagem.

T5 Trajetria patronal Rene o conjunto de sistemas patronais que convergem para plantaes de culturas permanentes em forma de plantation; esses sistemas so marcados pelo uso intensivo do solo, com homogeneizao da paisagem.

T6 Trajetria patronal Agrupa o conjunto de sistemas patronais de silvicultura, que so marcados pelo uso extensivo do solo, com homogeneizao da paisagem.

T7 Trajetria patronal Rene o conjunto de sistemas patronais que convergem para plantaes de culturas de ciclo curto em forma de plantation, em especial soja e milho; esses sistemas so marcados pelo uso extensivo do solo, com homogeneizao da paisagem.

Fonte: Elaborao prpria com base em Costa (2012).

4.2 A caracterizao do Vale do Acar

O recorte espacial aqui utilizado composto de oito municpios, sete dos quais se

situam no vale do rio Acar, uma regio localizada entre a margem esquerda do rio Capim

e o rio Moju. A exceo o municpio de Abaetetuba: embora seja uma rea contgua aos

demais municpios e sofra as mesmas influncias regionais, no pertence a essa

conformao geogrfica de vale; a sua ligao com a regio do Acar feita no por rios,

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mas pelas rodovias PA-150 e PA-256. Por isso, o municpio de Abaetetuba, para efeito do

presente trabalho, foi incorporado denominao geogrfica de Vale do Acar.

Para uma anlise da regio pesquisada, adotou-se a descrio, realizada por Costa

(2012), da composio do valor bruto da produo rural (VBPR) da mesorregio Nordeste

Paraense, na qual a referida rea do Vale do Acar est inserida. Dessa forma, possvel

verificar que, antes da expanso do dend, o Vale do Acar tinha qualidades bem

especficas, na forma de uma ampla base produtiva local.

Segundo levantamento feito Costa (2012) abrangendo o perodo de 2004 a 2006, o

sistema agrrio da mesorregio Nordeste Paraense era o quinto mais importante sistema

agrrio da Regio Norte, produzindo 6,6% do seu VBPR, e as trajetrias camponesas

dominavam a produo rural. A liderana era dos camponeses vinculados trajetria

camponesa T2, com 44% do VBPR, que atuavam em especial nas reas de vrzea uma

formao de camponeses de origem bastante antiga e em terra firme uma formao

mais recente. Os agricultores da trajetria camponesa T1 representavam 24% do VBPR, e

os da T3 eram responsveis por 9%. No que se refere s trajetrias patronais, a T4

respondia por 16% e a T5, por 7% da produo rural. O vale do Acar esta dentro de uma

mesorregio com caractersticas de produo familiar; as trs trajetrias camponesas

familiares juntas eram responsveis por 77% do valor bruto da produo rural (Figura 4).

Figura 4 Composio mdia do valor bruto da produo rural no Nordeste Paraense (de 2004 a 2006).

As trajetrias camponesas tm uma ampla participao no valor bruto da produo

rural, que condizente com o grande nmero de propriedades do Vale do Acar:

aproximadamente 92% so de agricultura familiar, mas ocupam apenas 42% da rea

agrcola daquela regio, na qual o tamanho mdio da unidade de produo inferior a 23

0

10

20

30

40

50

T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7

Fonte: Costa ( 2012, p. 277 ).

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hectares por famlia. Por outro lado, ocorre uma distribuio concentrada na estrutura

agrria os 9% restantes das propriedades totalizam 58% das reas agrcolas (Tabela 3).

Tabela 3 Dados da distribuio dos estabelecimentos por municpio.

Municpios

Agricultura familiar Lei n. 11.326/2006 Agricultura no familiar

Estabelecimentos rea (ha) Estabelecimentos rea (ha)

Abaetetuba 4.451 56.096 405 37.437 Acar 4.237 85.030 408 57.652 Aurora do Par 857 32.530 130 56.802 Bujaru 2.343 45.443 110 11.780 Concrdia do Par 784 29.660 67 19.889 Moju 3.617 110.745 228 85.926 Tailndia 130 6.243 90 105.438 Tom-Au 1.673 46.673 310 185.491 Vale do Acar 18.092 412.421 1.748 560.416 Fonte: Elaborao prpria, com base no Censo Agropecurio do IBGE (2006).

4.3 O avano do leo de palma e os impactos nas trajetrias camponesas

A expanso do plantio do dend d-se, com mais intensidade, no Vale do Acar,

regio Nordeste do Par. A matria-prima para a produo do leo de palma concentrada

em plantio prprio, o que exige uma grande quantidade de reas. Nessa produo, destaca-

se a empresa Belm Bioenergia Brasil (BBB), joint venture entre a petrolfera portuguesa

GALP e a Petrobras Biocombustveis (subsidiria da Petrobras Petrleo Brasileiro S/A),

com investimentos previstos de US$ 530 milhes. A BBB possui um plantio de 60 mil

hectares, e 70% da produo sero destinados a Portugal, onde se converter em biodiesel

para abastecer a Europa (Petrobras, 2010). Sobressai tambm a empresa Biopalma S/A,

pertencente majoritariamente mineradora Vale do Rio Doce S/A, que j tem uma rea de

mais de 140 mil hectares no Estado do Par e a estimativa de plantar 80 mil hectares de

palma. Grande parte da produo ser utilizada, sob a forma de B20 mistura de 20% de

biodiesel e de 80% de diesel fssil , em locomotivas, mquinas e equipamentos de grande

porte da mineradora Vale (Biodieselbr.com, 2012).

No que refere proporo de rea plantada, entre plantio empresarial e agricultura

familiar, mnima a participao das propriedades dos camponeses na expanso do dend.

Em 2012, no Vale do Acar, o plantio em reas de agricultura familiar representava 8.255

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hectares, o que equivale a 6% do total da rea plantada; em contrapartida 94%, ou seja,

126.445 hectares esto localizados em reas empresariais (Tabela 4).

Tabela 4 rea plantada de dend, em hectares, no Vale do Acar (2012).

Empresa Agricultura

familiar Agricultura empresarial Total

AGROPALMA 1800 43200 45000 BIOPALMA (VALE RIO DOCE) 4000 52000 56000 BBB (GALP/PETROBRAS) 2000 23200 25200 MARBORGES 455 5545 6000 NOVACOM 0 2500 2500 TOTAL 8255 126445 134700

Fonte: Elaborao prpria, com base em pesquisa realizada nas empresas.

Nas trajetrias camponesas, a base da atividade produtiva a agricultura,

destacando-se, no Par, o plantio da mandioca. A mandioca d origem farinha, um dos

principais alimentos da dieta na Amaznia, que contribui para minimizar a fome e constitui

um forte hbito cultural alimentar da populao.

No Estado do Par, est a maior produo brasileira de farinha e o maior consumo

per capita desse produto, chegando a 33 kg/ano (Groxko, 2011). No Brasil, o municpio de

Acar chegou a ter a maior produo de mandioca, mas, nos ltimos cinco anos, houve

uma reduo na rea de plantio em toda a regio (Tabela 5).

Tabela 5 rea plantada na agricultura familiar no Vale do Acar.

Ano rea plantada com mandioca, em hectares

2005 72.567,89 2006 66.961,44 2007 77.648,89 2008 57.900,00 2009 56.661,11 2010 48.255,56 2011 42.388,89

Fonte: Elaborao prpria, com base em IBGE (2012). Produtividade mdia de 18 t/ha, de acordo com dados da Emater (PA).

O declnio da produo da mandioca tem sido atribudo principalmente

substituio da cultura nas reas agrcolas o que antes era destinado mandioca passou a

ser plantio de dend. primeira vista, pode-se pensar que esse seja o fator determinante

para explicar o fenmeno da diminuio do plantio da mandioca, sobretudo quando se

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Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

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observa a inflexo na quantidade de hectares destinados produo agrcola a partir de

2008, com a curva de crescimento do plantio do dend sobrepondo-se de reduo da

mandioca (Figura 5).

Figura 5 Evoluo da rea plantada com mandioca e dend, no Vale do Acar (2005-2011).

Fonte: Elaborao prpria, com base no IBGE (2012) e em dados das empresas.

Essa hiptese de substituio da rea de plantio leva em conta a existncia de um

processo de um superadensamento fundirio: o dend cultivado em megapropriedades,

obtidas por meio de arrendamentos ou da compra de mdias e grandes propriedades rurais,

que, por sua vez, j tinham incorporado as pequenas propriedades existentes em seu

entorno.

O processo de concentrao fundiria, para atender ao avano do dend, foi

bastante expressivo. Mas, embora muitas propriedades de agricultores familiares tenham

sido apropriadas por empresas, preciso considerar outros fatores, que podem ter

contribudo para a substituio de reas de mandioca pelo plantio do dend e,

consequentemente, podem ter infludo na reduo da produo de mandioca no Vale do

Acar. Recorrer somente tica da concentrao fundiria para elucidar a drstica

alterao na rea plantada, em especial o declnio da produo de mandioca, , em nosso

entendimento, insuficiente.

Na verdade, a rea da agricultura familiar destinada ao plantio do dend mnima,

no ultrapassando 6% do total ocupado pela plantao do dend. Alm disso, no houve,

de fato, uma substituio da produo agrcola tradicional, que a mandioca, pelo dend.

A principal explicao para a curva ascendente relativa rea de plantio com dend estaria

na apropriao da mo de obra dos estabelecimentos camponeses pelas empresas, que

foram responsveis pela expanso da plantao de palma de leo.

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

rea

pla

ntad

a

Ano rea plantada de dend rea plantada mandioca

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Alm da incorporao de reas camponesas pelo setor empresarial, a expanso do

plantio do dend pode ser atribuda tambm captura da mo de obra agrcola. Esse fator

talvez seja indireto, mas de grande relevncia para entender a reduo da produo da

mandioca na regio do Vale do Acar.

O presente estudo passa a demostrar que existem evidncias de que o plantio do

dend causou um forte impacto na produo familiar na regio, e um dos fatores est

ligado a uma grande redistribuio da mo de obra local. Uma ampla parte dos empregados

nas reas agrcolas das empresas do dend teria origem na agricultura familiar da regio; os

filhos dos agricultores foram transformados em assalariados, deixaram de trabalhar com

suas famlias, abandonando a sua trajetria de agricultores tradicionais e reduzindo a mo

de obra na unidade camponesa, o que teve impacto na sua capacidade produtiva.

A primeira evidncia est na curva do crescimento do emprego formal na regioi,

que foi elevada com a absoro, nas reas de plantio do dend, da mo de obra agrcola

destinada zona rural, oriunda das famlias campesinas da regio (Figura 6). Tal situao

ainda reforada pelo fato de o IBGE no ter registrado nenhum grande fluxo migratrio na

regio.

Figura 6 Curva de crescimento do total geral de empregos e curva de crescimento dos empregos resultante do incremento do dend no Vale do Acar (PA) (2006-2011).

A curva representativa da tendncia do crescimento do emprego formal na regio

estudada teve um significativo incremento com a participao dos empregos agrcolas do

dend. Convm ressaltar que, a partir de 2009, houve um crescimento dos empregos

agrcolas acima da mdia dos demais setores da economia. Com efeito, em 2011, dos

41.053 empregados dos setores do comrcio, da indstria e da agricultura com registro no

25.000

30.000

35.000

40.000

45.000

2006 2007 2008 2009 2010 2011

Empr

ego

Anos

Total geral de empregos com incremento do dend Total geral de empregosFonte: Elaborao prpria, com base em Brasil MTE (2012) e em dados de pesquisa.

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Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

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Ministrio do trabalho, 5.548 trabalhavam na agricultura do dend, o que equivale a 13%

do total de empregos formais da regio (Figura 7).

Figura 7 Emprego do dend no Vale do Acar (PA) (2002-2011).

Fonte: Elaborao prpria, com base em Brasil MTE (2012).

Os empregos formais, que eram praticamente residuais antes de 2005, tiveram um

crescimento significativo entre 2006 e 2010. Alm disso, houve um incremento

exponencial de postos de trabalho em 2011.

Outro dado relevante diz respeito distribuio de gneros na atividade formal no

cultivo de dend no Vale do Acar. Em 2011, o perfil da mo de obra contratada foi

predominantemente masculino: homens ocupavam 4.914 postos de trabalho, o que

representa 89% dos 5.549 empregos formais apurados, com base nos dados ponderados a

partir da referncia da RAIS/MTE; logo, apenas 11% dos postos de trabalho eram

ocupados por mulheres. A essa predominncia do gnero masculino na mo de obra

contratada, soma-se a faixa etria: a quase totalidade dos trabalhadores tem entre 18 e 39

anos de idade. Isso significa que 82% dos empregos criados so preenchidos por

trabalhadores que esto na faixa etria com maior potencial fsico, fato de extrema

relevncia, dado o carter intensivo da atividade agrcola (Figura 8).

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

10 62 49 51 679

1.028 915 1.603

2.025

5.548

Nm

ero

de e

mpr

egos

Anos

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Figura 8 Empregos por faixa etria no cultivo do dend no Vale do Acar (PA) (2011).

Fonte: Elaborao prpria, com base em Brasil MTE (2012).

O estabelecimento de uma relao entre os empregos formais do dend e a

produo da mandioca sugere que possvel confirmar que a absoro da mo de obra

pelas empresas de dend na regio afetou a produo da mandioca. A indicao da

parbola ascendente (emprego) e da parbola descendente (produo de mandioca) pode

ser uma referncia a partir de 2006 (Figura 9).

Figura 9 Produo de mandioca e emprego do dend no Vale do Acar (PA) (2002-2011).

Fonte: Elaborao prpria, com base em Brasil MTE (2012) e em dados de pesquisa.

Nessa correlao entre emprego e produo de mandioca, deve ser levada em conta

a diferena temporal existente entre a contratao da mo de obra e o plantio. Tal fato est

relacionado com o processo agrcola da cultura. O dend passa cerca de 10 a 15 meses em

viveiros antes de ser levado para o campo; no cultivo da mandioca, entre a limpeza da rea

e a colheita, tambm decorre um perodo mnimo de um ano.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

at 18 anos 18 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos acima de 50 anos

35

2.605

1.952

764

192

Empr

egos

Faixa etria

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

0200000400000600000800000

1000000120000014000001600000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011Anos

Mandioca - Quantidade produzida (Toneladas)Empregos no cultivo do dend

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Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

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Em 2011, houve um grande incremento no emprego. Esse nmero maior, segundo

dados das empresas, deve-se ao crescimento do prprio segmento, que incorporou a

produo de viveiros para novos plantios, e ao incio da produo no campo que ocorre a

partir do terceiro ano, demandando maior contratao de mo de obra.

5. Concluso

H evidncias de que a expanso do dend na Amaznia afeta as trajetrias

camponesas. Alm de provocar o embate pela terra, estimula a disputa pela mo de obra.

Dadas as tenses entre as trajetrias que atuam na regio, em especial entre a

trajetria camponesa e a trajetria empresarial do dend, em expanso esta ltima

associada, no Sudeste asitico, aos significativos impactos ambientais, sociais e

econmicos decorrentes das plantaes de leo de palma , pergunta-se: quais sero os

efeitos da expanso do plantio do dend em reas da Amaznia oriental?

Esse fenmeno da expanso do dend deve ser mais investigado como uma sntese

de mltiplos fatores: o ambiente fsico; os estoques de recursos naturais e sua capacidade

de carga; o desenvolvimento econmico; os impactos das atividades humanas; os atores e

organizaes sociais; os valores ticos e culturais; o bem-estar humano; a evoluo

tecnolgica. Todos esses elementos esto relacionados no presente, e no se conhecem as

consequncias a longo prazo.

Este trabalho buscou enfocar a expanso dos biocombustveis, em particular do

dend, cuja anlise, alm dos aspectos ambientais e fundirios, deve considerar a

realocao da mo de obra.

Em relao agricultura tradicional, os dados iniciais indicam que houve um

declnio da produo da mandioca; em contrapartida, registrou-se um grande aumento do

nmero de pequenos produtores que passaram a trabalhar nas empresas do dend. O

plantio do dend introduz um novo processo agrcola na regio, por meio de cultivo

permanente, que necessita de um gerenciamento intensivo. Isso altera consideravelmente

os hbitos de muitas comunidades, retirando das famlias a mo de obra jovem que servia

de apoio prtica tradicional da lavoura de subsistncia.

As relaes sociais de produo e seus respectivos processos agrcolas so

ameaados pela dinmica da economia da implantao dos biocombustveis. No caso da

monocultura do dend, alm de ser danosa biodiversidade, pode estar provocando a perda

da identidade cultural dos agricultores. A identidade das populaes tradicionais est

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diretamente ligada a uma referncia espacial organizada em funo de um modo de

produo especfico. Em virtude da pobreza dos solos das florestas tropicais, a agricultura

tradicional praticada por meio do sistema de rotao de reas, plantando-se culturas de

ciclo curto, o que exige um uso intensivo da mo de obra familiar.

Outro fator que tambm contribui para essa mudana a dependncia das

trajetrias camponesas de sua produtividade, que est sendo afetada pela diminuio da

rea para o cultivo da agricultura de subsistncia e para a produo do excedente, que

garantia a sua sobrevivncia.

H indcios de que a produo da monocultura do dend em larga escala tende a

retirar os filhos dos pequenos proprietrios das atividades camponesas, transformando-os

em assalariados agrcolas, reduzindo a produo da agricultura familiar, que a base da

segurana alimentar das comunidades locais.

Portanto, a monocultura do dend acarreta, alm da perda cultural, uma insegurana

alimentar, provocada pela mudana nos hbitos da populao. Essa transformao tira a

soberania da comunidade, que deixa de plantar a sua prpria produo alimentar e passa a

depender totalmente da venda da sua mo de obra, para obter recursos financeiros para

garantir sua subsistncia. Dessa forma, a comercializao do dend regula e aumenta o

custo de vida nas comunidades. Os demais produtos so indexados pelos preos do leo

cru de palma (CPO) e pela renda salarial.

Permanecendo essa tendncia, a mdio e a longo prazos, as reas ligadas s

trajetrias camponesas devero diminuir, no s em decorrncia da ocupao fundiria

provocada pela expanso do dend, mas tambm pela retirada da sua mo de obra, o que

tornar invivel a sua manuteno. Em consequncia de tudo isso e em razo da sua baixa

capacidade de reproduo social, as trajetrias camponesas tendero a ser incorporadas por

outras trajetrias empresariais da regio.

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1

CONCENTRAO NO SETOR CANAVIEIRO NO ESTADO DE SO PAULO E NA MESORREGIO DE ARAATUBA (SP),

BRASIL

RCIO ROBERTO PROENA1; MARIA APARECIDA ANSELMO TARSITANO1;

SILVIA MARIA ALMEIDA LIMA1; ROSALINA MARIA ALVES RAPASSI1; RODRIGO ANSELMO TARSITANO2.

Resumo: A forte expanso do setor canavieiro, a partir dos anos 2000, no Estado de

So Paulo e na mesorregio de Araatuba deu origem a esse estudo. Este trabalho teve

como objetivo analisar a evoluo do grau de concentrao das agroindstrias

canavieiras no Estado de So Paulo e na mesorregio de Araatuba. Foram estimados os

ndices de concentrao (CR) e Hirschmann-Herfindahl (HH). No total so 194 usinas

canavieiras j implantadas e em operao distribudas em 11 mesorregies do Estado de So

Paulo, a mesorregio de Ribeiro Preto apresentou maior nmero 41, seguida por So Jos

do Rio Preto com 30, Bauru com 24, Assis 20 e Araatuba com 19 usinas. Na mesorregio

de Araatuba, a rea com cana-de-acar cresceu 155%; se encontram 13 Grupos

Canavieiros instalados: Razen, Aralco, Biosauro, Campestre, Clealco, Da Mata, Diana, Da

Pedra, Agroindustrial, Renuka, Santa Adlia, Unialco e Viralcool, a Pioneiros Bioenergia

S/A e a indiana Shree Renuka Sugars. Evidenciou-se que existe pouca concentrao das

20 maiores unidades industriais (usinas) no Estado de So Paulo. Todavia, constatou-se

concentrao dos 3 maiores Grupos Canavieiros na mesorregio de Araatuba, o ndice HH

mostrou valores acima de 1000 indicando preocupao quanto competio. O Grupo

Razen com cinco unidades responsvel por quase 50% da produo total de cana na

mesorregio estudada.

Palavras-chaves: Cadeias Agroindstriais, ndice de Concentrao CR, ndice

Hirschmann-Herfindahl.

1 Docente da UNESP Campus de Ilha Solteira So Paulo -Brasil 2 Docente da UNEMAT Cmpus Universitrio de Nova Xavantina MT, Brasil

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CONCENTRATION IN SUGARCANE SECTOR THE STATE OF

SO PAULO AND OF MESOREGION ARAATUBA (SP), BRAZIL

ABSTRACT: The high expansion of the sugarcane sector, from the beginning of

2000s, in the So Paulo State in the middle region of Araatuba gave support to this

study. This study aimed to evaluate the distribution and concentration of sugarcane

agribusiness in the State of So Paulo in the middle region of Araatuba. Concentration

Index (CR) and Herfindahl-Hirschmann index (HH) were estimated. The total amount

of sugarcane mills industries are 194 deployed and running in 11 mesoregions of the

So Paulo State, the middle region of Ribeiro Preto had the highest number 41,

followed by So Jos do Rio Preto 30, Bauru with 24, Assis with 20 and Araatuba with

19. In the middle region of Araatuba the area with sugarcane grew 155%, with 13

Groups sugarcane are installed: Raizen, Aralco, Biosauro, Campestre, Clealco, Da

Mata, Diana, Da Pedra, Renuka, Santa Adelia, Unialco, Viralcool and the Pioneiros

Bioenergy S / A and indiana Shree Renuka Sugars. It was evident that there is a little

concentration of the top 20 industrial units (plants) in the State of So Paulo. However,

it was observed a concentration of the 3 sugarcane major groups in the mesoregion of

Araatuba, the HH index showed values above 1000 indicating concern about the

competition. Raizen Group with five units is responsible for almost 50% of total

production of sugarcane in the middle region studied.

Keywords: agribusiness chains, Concentration Index CR, Hirschmann-Herfindahl

Index.

1 INTRODUO

A produo mundial de cana-de-acar em 2010, em uma rea de 23,8 milhes

de hectares, foi de 1.711,1 milhes de toneladas. O Brasil o maior produtor de cana-

de-acar com 41% da produo mundial, seguido por ndia (17%) e China (7%). O

Brasil tambm o maior exportador de cana-de-acar, e de acar e lcool a partir da

cana-de-acar (AGRIANUAL 2012).

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3

O Brasil o maior produtor e exportador de lcool obtido da cana do mundo,

pioneiro na utilizao em larga escala de combustvel limpo e renovvel, e o mercado

externo pode ser alternativa para comercializar os excedentes, haja vista o interesse de

vrios pases preocupados com a reduo de gases poluentes e com o atendimento da

NR313.

A rea cultivada com cana-de-acar destinada atividade canavieira na safra

2013/2014 est estimada em 8.893,0 mil hectares. O Estado de So Paulo responde por

51,3%, seguido por Minas Gerais com 9,31%, Gois com 9,3%, Paran com 7,0%,

Mato Grosso do Sul com 6,6%, Alagoas com 5,0% e Pernambuco 3,3%% de acordo

com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2013)

A previso de produo brasileira 2013/2014 para a regio Centro-Sul dever ser

de 594,07 milhes de toneladas, 11,5% maior que a safra anterior e a Regio

Norte/Nordeste de 59,74 milhes (6,8% maior que a safra anterior) de um total de cana-

de-acar a ser moda de 653,81 milhes de toneladas (11,% maior comparada com a

safra anterior), - CONAB (2013).

A previso atual da produo de acar na safra 2013/14 de 43,56 milhes de

toneladas (13,61% maior do que a safra anterior). A produo de etanol total estimada

em 25,77 bilhes de litros, um incremento de 8,99% em relao a safra anterior. Deste

total, 11,37 bilhes de litros devero ser de etanol anidro, e 14,40 bilhes de litros sero

de etanol hidratado (CONAB, 20134).

As unidades agroindustriais produtoras de acar e lcool cadastradas no

Departamento da Cana-de-acar e agronergia totalizavam 415 unidades, deste total,

299 unidades so mistas, isto , produzem acar e lcool, 105 somente lcool e 11

unidades produzem acar no Brasil. No Estado de So Paulo so 185 unidades

produtoras de acar e lcool, com 151 usinas mistas, 33 produtoras de etanol e 2

produtoras de acar (BRASIL, 2012). 3 NR 31 tem por objetivo estabelecer as normas a serem observados na organizao e no ambiente de

trabalho e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuria, silvicultura, explorao florestal e

aquicultura com a segurana e sade e meio ambiente do trabalho. Repblica Federativa do Brasil - MTE.

Normas Regulamentadoras Ministrio do Trabalho e Emprego Brasil (2011).

http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D33EF459C0134561C307E1E94/NR-31%20(atualizada%202011).pdf 4 Primeiro levantamento abril de 2013.

3362 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

Nos ltimos anos vem ocorrendo expanso da produo de cana-de-acar no

Estado de So Paulo decorrente das condies favorveis em relao ao mercado

internacional de acar e lcool e no mercado nacional pela demanda de carros flex

(CAMARGO JNIOR; TONETO JNIOR, 2009).

A procura incessante pela reduo de custos e o aumento da competitividade5

fizeram com que as empresas buscassem novas formas de gerenciamento. Diante disso,

essas mudanas promoveram a modernizao da gesto com a implementao de novas

formas de organizao. Porter (1990) identifica como um dos elementos-chave das

vantagens competitivas6, a presena de fornecedores e distribuidores internacionalmente

competitivos, apontando as relaes verticais de dependncia que so subentendidos ao

desempenho positivo das firmas.

Para Vian (2003) as estruturas produtivas das usinas canavieiras vm-se

reorganizando de forma heterognea, resultando em diferenas tecnolgicas,

aumentando a concentrao da produo canavieira. Assim, o atual processo de

concentrao/centralizao de capitais que vem marcando algumas regies no Brasil

pode ser visto como uma etapa do processo de reestruturao dinmica e expanso em

novas bases competitivas.

A origem a esse estudo foi a evoluo do grau de concentrao das

agroindstrias canavieiras no Estado de So Paulo e na mesorregio de Araatuba,

localizada a oeste do Estado de So Paulo.

5 Martins e Laugeni (2005) salientam que o termo tem sido objeto de variados estudos, e seguramente muito ainda ser dito e escrito

sobre o tema. Assim, ser competitivo ter condies de concorrer com um ou mais fabricantes e fornecedores de um produto, ou servio em um determinado mercado.

6 Segundo Porter (1989) a Vantagem Competitiva decorre do valor que a empresa cria para seus clientes em oposio ao custo que tem para cri-la, assim a formulao de uma estratgia competitiva fundamental para a empresa. Para tanto nos apresenta um modelo tido como das estratgias genricas para uma empresa confrontar-se com seus competidores: A estratgia de liderana no custo envolve a orientao da empresa em operar com o menor nvel de custo possvel, atravs da eficincia produtiva, ampliao do volume de produo e minimizao de gastos com propaganda, assistncia tcnica, pesquisa e desenvolvimento etc. A estratgia de diferenciao constitui uma maneira de oferecer um produto ou servio exclusivo e nico por meio da imagem, qualidade, tecnologia etc; e quando a empresa opta por um alvo restrito foco (custo ou diferenciao ou ambos) focaliza um determinado grupo de compradores, um segmento da linha de produtos ou um mercado geogrfico especfico.

Atas Proceedings | 3363

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

5

2 METODOLOGIA

2.1 Fonte de Dados

A Diviso Regional7 do Brasil em mesorregies e microrregies foi criada pela

Fundao Instituto de Geografia e Estatstica (FIBGE) em 1989 e utilizada para fins

estatsticos e no constitui, portanto, uma entidade poltica ou administrativa. A

mesorregio congrega diversos municpios de uma rea geogrfica com similaridades

econmicas e sociais. As microrregies foram definidas como parte das mesorregies

que apresentam especificidades quanto organizao do espao, estrutura de produo

agropecuria, industrial, extrativismo mineral ou pesca, bem como produo,

distribuio, troca e consumo, incluindo atividades urbanas e rurais.

A abrangncia do estudo teve como referncia as Mesorregies Geogrficas do

Estado de So Paulo e com nfase na de Araatuba com suas trs microrregies:

Andradina Araatuba e Birigui.

A mesorregio de Araatuba uma das quinze mesorregies do Estado de So

Paulo (Figura 01), formada pela unio de 36 municpios agrupados em trs

microrregies:

Andradina: Andradina, Castilho, Guaraa, Ilha Solteira, Itapura, Mirandpolis,

Murutinga do Sul, Nova Independncia, Pereira Barreto, Sud Mennucci e

Suzanpolis;

Araatuba: Araatuba, Bento de Abreu, Guararapes, Lavnia, Rubicea, Santo

Antnio do Aracangu e Valparaso, e

Birigui: Alto Alegre, Avanhandava, Barbosa, Bilac, Birigui, Brana, Brejo

Alegre, Buritama, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicrio, Lourdes,

Luizinia, Penpolis, Piacatu, Santpolis do Aguape e Turiba (Figura 02).

7 http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20%20RJ/DRB/Divisao%20regional_v01.pdf

3364 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

Figura 01. O Estado de So Paulo dividido em 15 Mesorregies, destacando a de

Araatuba.

Fonte: IBGE, 2012.

Figura 02. O Estado de So Paulo dividido em 64 Microrregies, destacando as

microrregies estudadas.

Fonte: IBGE, 2012.

Atas Proceedings | 3365

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

7

Lopes et al. (2010), analisando a dcada de 1960, verificou que boa parte da

regio Centro-Sul do Brasil, inclusive o Estado de So Paulo, passou pelo processo de

modernizao da agricultura. Mas apenas na dcada de 1990, atravs do advento das

biotecnologias e do progresso cientfico mecnico e qumico, o Estado de So Paulo

intensificou a modernizao da agricultura. Afirmam ainda que a cultura da cana-de-

acar teve maior expresso nesse processo, sendo incentivada pelos diversos Planos

Governamentais para sua produo, principalmente para o setor de combustveis na

dcada de 1970, com o Programa Nacional do lcool - Prolcool.

Em 1975, aps o Prolcool, houve no Estado de So Paulo, desenvolvido pela

Secretaria da Agricultura e Abastecimento, o direcionamento das novas plantas

industriais produtoras de lcool para a regio Oeste, dando origem ao que ficou

conhecido como Pr-Oeste ou Pr-Cana, com objetivo de ocupar terras novas,

principalmente as utilizadas com a pecuria extensiva, com a cultura canavieira

(FERREIRA; ALVES, 2009).

Este crescimento na mesorregio se deve ao fato da desregulamentao do

setor canavieiro em 1990 com a extino do IAA- instituto do Acar e do lcool que

centralizava as operaes de exportao do acar brasileiro, sendo a nica instituio

autorizada a comprar acar no mercado domstico e a estabelecer contratos de

exportao. Szmrecsnyi (1979) salienta que a criao do IAA tinha como objetivos:

Assegurar o equilbrio interno entre as safras anuais de cana e o consumo de acar,

mediante a aplicao obrigatria de uma quantidade de matria-prima, a determinar, ao

fabrico do lcool; Fomentar a fabricao do lcool anidro, mediante instalao de

destilarias centrais e Controlar os preos de venda e das frmulas qumicas dos

carburantes fabricados base de lcool pelos importadores de gasolina.

O Governo de So Paulo, no ano de 1980, procurou deslocar os recursos da

Comisso Executiva Nacional do lcool (CENAL) para o Oeste do Estado de So

Paulo, tendo como meta bsica alcanar o equilbrio econmico regional (SO

PAULO, 1980). Dentro deste programa, tivemos as aes voltadas ao setor canavieiro

denominado PROCANA. Os autores concluem que a regio de Araatuba, entre outras,

no foi considerada prioritria implantao e expanso de novas destilarias autnomas

e anexas. Foram destacadas as regies de Marlia e o Centro-Leste de So Jos do Rio

3366 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

Preto. Mas o que se verificou posteriormente foi o grande avano do setor canavieiro

tambm na regio de Araatuba (FERREIRA; ALVES, 2009).

2.2 Tcnicas de Pesquisa

Para o desenvolvimento desta pesquisa efetuou-se uma reviso bibliogrfica

sobre a expanso da produo de cana de acar e a evoluo do nmero de usinas

canavieiras no Estado de So Paulo e na Mesorregio de Araatuba. Os dados foram

coletados junto Fundao Instituto de Geografia e Estatstica (FIBGE) para definio

das mesorregies e as respectivas microrregies do Estado e para caracterizar os Grupos

e as Usinas pertencentes ao Estado e mesorregio de Araatuba os dados foram

obtidos na Unio da Agroindstria Canavieira de So Paulo (NICA).

Para se estimar a concentrao utilizou-se a Relao de Concentrao Yi que

mede a proporo representada por um nmero fixo das maiores empresas da indstria,

em relao ao total delas, a partir dos dados coletados de produo da cana-de-acar

moda. Das usinas estudadas foi medida a evoluo da produo utilizando a

participao de cada Grupo/ Unidade no total da cana-de-acar moda atravs da

frmula abaixo:

1

1

qxYi

Sendo Yi = participao da i-sima agroindstria no total da cana moda;

x = volume de cana moda da i-sima agroindstria; e

qi = volume total da cana moda.

Somando-se a participao das 20 maiores unidades canavieiras valeu-se do

CR20 e, finalmente, para mensurar a concentrao dos 3 maiores Grupos na mesorregio

de Araatuba utilizou-se o CR3. Kon (1994) assegura que a mensurao da concentrao

fornece os elementos empricos para se avaliar uma situao de competio em um

determinado mercado alm de examinar o processo de mercado pelo lado da oferta.

Aps foi utilizado o ndice de Hirchman-Herfindahl (HH), que um mtodo de

avaliao do grau de concentrao num mercado conforme Rezende e Boff (2000).

O ndice de Hirchman-Herfindahl (HH) definido como:

Atas Proceedings | 3367

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

9

n

iiYH

1

2

n= nmero de usinas no mercado

2iY = participao da i-sima firma no mercado.

De acordo com Rezende e Boff (2000) as agncias antitrustes8 trabalham com

ndices HH calculados a partir de participaes de mercado medidos com base 100%.

Neste caso, o ndice pode potencialmente variar entre 0 e 10.000, trs so as faixas

propostas no Mergers Guidelines9 para balizar os processos de fuses entre empresas:

1. 0 HH < 1000: no existe preocupao quanto competio na indstria;

2. 1000 HH 1800: existe preocupao quanto competio; 3. HH > 1800: considerado concentrado.

Gremaud (2007) corrobora que ndice 10.000 traduz em situao de monoplio,

ndice superior a 1800 um mercado considerado muito concentrado e ndice entre

1.000 e 1.800 considerado um mercado com pouca concentrao.

3 RESULTADOS E DISCUSSO

3.1 Evoluo dos Principais Grupos Canavieiros e os Indicadores de Concentrao

no Estado de So Paulo

A tabela 01 apresenta a evoluo do nmero de usinas e da produo de Cana-

de-acar dos vinte principais Grupos Canavieiros no Estado de So Paulo, nas safras

1999/00, 2005/06 e 2008/09. Comparando as safras 1999/2000 com 2008/2009 o

8 Conselho Administrativo de Defesa Econmica (CADE) o principal rgo antitruste brasileiro com

atribuies de analisar previamente atos de concentrao (fuses e aquisies), punir agentes econmicos que provocam contra a ordem econmica do pas etc.

9 As orientaes relativas s concentraes so um conjunto de regras internas promulgadas pela Diviso Antitruste do United States Department of Justice (DOJ), em conjunto com a Comisso de Comrcio Federal (FTC). Estas regras foram revisadas vrias vezes nas ltimas quatro dcadas. http://www.justice.gov/atr/hmerger/11251.pdf

3368 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

nmero de usinas dobrou. A produo de cana-de-acar mostra um crescimento ainda

maior de 145%.

Tabela 01. Evoluo do nmero de usinas e da produo e cana-de-acar dos

principais Grupos Canavieiros no Estado de So Paulo safras 1999/2000; 2005/2006 e

2008/2009 (em ton.).

Grupo Empresarial Safra 1999/00 N de

Usinas Safra

2005/06 N de

Usinas Safra

2008/09 N de

Usinas Cosan (Razen) 9.900.995 5 34.583.539 16 44.212.507 18 Santa Eliza (LDC-SEV) 6.692.522 1 14.894.891 4 17.589.069 5 Guarani - Treos 3.523.825 2 6.920.221 4 13.800.721 5 So Martinho 9.393.534 2 9.739.229 2 10.792.451 2 Zilor 9.638.163 3 7.857.727 3 10.255.300 3 Moreno 1.984.649 1 5.298.583 2 9.516.068 3 Virgolino Oliveira 4.416.006 2 5.074.517 2 9.002.535 4 Pedra Agroindustrial 5.240.997 3 6.746.115 3 8.808.588 4 Nova Amrica 7.040.773 2 4.978.823 2 8.423.188 3 Moema 2.260.663 1 5.284.115 2 7.548.238 4 Equipav 2.582.138 1 3.307.472 1 7.460.785 2 Aralco 3.416.420 3 3.930.516 3 7.222.772 4 Colombo 3.055.883 1 4.127.661 1 6.700.244 2 Cerradinho 1.480.370 3 3.404.030 1 6.348.599 2 Clealco 1.160.625 1 2.518.724 1 6.338.000 2 Batatais 1.730.428 1 3.134.416 1 5.107.274 2 Santa Isabel 912.877 1 1.802.055 1 4.463.978 2 Virlcool 1.867.204 2 2.795.859 2 4.288.622 3 Furlan 1.379.783 1 1.404.382 1 2.096.296 2 Cocal 1.282.638 1 2.408.071 1 3.747.025 2 TOTAL 78.960.493 37 130.910.246 53 193.722.260 74 Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados bsicos da nica.

O Grupo Cosan (em 2010-Grupo Razen) que se destaca como a maior

processadora de cana do mundo obteve um crescimento de 260% em nmero de usinas

(5 na safra 1999/2000 para 18 usinas safra 2008/2009) e uma variao na produo de

cana de 346%.

O Grupo Santa Elisa (a partir de 2010 LDC-SEV), neste mesmo perodo

passou de 1 usina para 5 usinas e uma mudana na produo de cana de 6,6 milhes de

Atas Proceedings | 3369

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

11

ton. Para 17,6 milhes de ton. (166%).

Confrontando tambm o crescimento nas safras 1999/2000 com 2008/2009

destacam-se os Grupos Guarani (Treos) com 2 para 5 Usinas; Grupo Moreno de 1 para

3 Usinas e Grupo Moema (Bunge) de 1 para 4 usinas no Estado de So Paulo. Isso

demonstra os investimentos de Grupos estrangeiros no Estado.

3.2 Evoluo das Principais Unidades Canavieiras e os Indicadores de

Concentrao do Estado de So Paulo.

A evoluo da produo de cana-de-acar das vinte maiores usinas canavieiras

do Estado de So Paulo nas safras de 2000/2001, 2004/2005 e 2008/2009, pode ser

observada na Tabela 02. Comparando as safras de 2000/2001 e 2008/2009, verifica-se

que a usina So Martinho manteve-se a posio de maior produtora de cana-de-acar

do Estado de So Paulo; a usina Da Barra, ocupou a 3 a e 2 a posies, respectivamente;

mantendo-se ambas em destaque entre as cinco maiores produtoras. Contrariamente, as

usinas Santa Elisa e Bonfim perderam as posies de destaque ao longo do perodo

analisado, apresentando declnio da 2 para 6 posio e de 4 para 8 posio,

simultaneamente. Entretanto, as usinas Equipav (Grupo Renuka) e Colorado (do mesmo

Grupo) foram as que apresentaram maiores crescimentos, a primeira da 17 para 3 e a

segunda da 15 para a 4 posies.

3370 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

Tabela 02. Evoluo da produo de cana-de-acar das vinte m

aiores usinas canavieiras do Estado de So Paulo nas safras 2000/2001, 2004/2005 e 2008/2009 (em

ton.).

n.o U

sinas 2000/2001 U

sinas 2004/2005 U

sinas 2008/2009

1 So M

artinho 5.313.581 D

a Barra 6.898.571 So M

artinho 8.004.221

2 Santa Elisa

5.074.654 So Martinho

6.779.276 Da Barra

7.378.408 3

Da Barra

4.930.166 Vale do Rosrio

5.100.393 Equipav 6.518.126

4 Bonfim

3.981.008 Santa Elisa

4.687.741 Colorado 6.103.406

5 V

ale do Rosrio 3.822.169 Bonfim

4.466.073 V

ale do Rosrio 5.922.940

6 So Joo - A

raras 3.247.780 Colom

bo 4.131.993 Santa Elisa

5.585.370 7

So Jos - Macatuba

3.167.860 Moem

a 3.909.535 Colom

bo 5.152.190

8 Barra G

rande 3.086.609 Barra G

rande 3.901.453 Bonfim

4.785.973

9 N

ova Am

rica 2.846.447 So Jos M

acatuba 3.853.613 A

lta Mogiana

4.751.584 10

Colombo

2.638.163 Da Pedra

3.792.727 Moem

a 4.608.925

11 D

a Pedra 2.584.960 Colorado

3.755.972 Cruz Alta

4.436.982 12

Costa Pinto 2.576.002 Costa Pinto

3.609.241 Barra Grande

4.376.621 13

Catanduva 2.513.938 Catanduva

3.584.729 So Jos-Macatuba

4.222.913 14

Santa Cruz - AB

2.315.406 Nova A

mrica

3.391.549 Costa Pinto 4.180.869

15 Colorado

2.295.114 Equipav 3.105.776 N

ova Am

rica 4.145.247

16 Iracem

a 2.150.426 So Joo A

raras 3.074.704 Catanduva

4.039.739 17

Equipav 2.029.255 Bazan

3.054.389 Da Pedra

4.006.495 18

So Luiz - Pirassununga 1.917.323 Santa Cruz A

B

2.903.399 Santa Cruz 3.808.287

19 M

araca 1.837.851 A

ndrade 2.837.907 Cerradinho

3.752.650 20

Bazan 1.800.227 Cerradinho

2.736.436 So Joo-Araras

3.609.207 Total SP

160.157.467

230.280.444 346.293.389

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados bsicos da nica.

12

Atas Proceedings | 3371

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

13

Nas Figuras 03 e 04 encontram-se os resultados obtidos referentes aos

indicadores de concentrao calculados para a indstria canavieira no Estado de So

Paulo.

Observa-se que ocorreu reduo na concentrao do setor das 20 maiores usinas

(CR20), com reduo de 23,7% no perodo analisado 2008/2009 em relao a 2000/2001

(Figura 03).

Figura 03. Concentrao (CR20) das 20 maiores usinas canavieiras no Estado de So

Paulo, Safras 2000/2001, 2005/2006 e 2008/2009 a 2009/2010.

3834

29

0

10

20

30

40

50

2000/2001 2005/2006 2008/2009

Safras

CR

20 (%

)

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados da nica (2011).

O outro indicador calculado ndice de Hirschmann-Herfindahl (HH) tambm

demonstra a ntida reduo no perodo analisado, ou seja, uma queda de 27,5%. Os

dados evidenciam que existe pouca concentrao dessas usinas, considerando que os

resultados se referem concentrao da moagem de acordo com as unidades industriais

(usinas). Assim sendo, a participao relativa das maiores empresas na moagem total de

cana tem cado, refletindo a queda da concentrao (Figura 04).

Estudo realizado por Hersen et al. (2008) na agroindstria canavieira mineira no

perodo 1996/97 a 2005/06 concluiu que houve um aumento da concentrao tanto CR4 (17,7%), quanto no CR8 (5,5%).

Siqueira e Castro Junior (2010) confirmaram em seu estudo analisando a

participao e a parcela de mercado das empresas esmagadoras de cana-de-acar na

3372 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

regio Centro Sul que as quatro maiores empresas no concentram mais do que 31,86%

e um ndice HH de 86,73% em 2009. Valores semelhantes ao obtido neste trabalho.

Figura 04. Evoluo do ndice de Hirschmann-Herfindahl e das 20 maiores (CR20) usinas canavieiras do Estado de So Paulo, Safras 2000/2001, 2005/2006 e

2008/2009.

120109

87

0

20

40

60

80

100

120

2000/2001 2005/2006 2008/2009

Safras

HH

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da nica (2011).

3.3 Evoluo dos Principais Grupos Canavieiros e os Indicadores de Concentrao

na Mesorregio de Araatuba.

A evoluo da produo de cana-de-acar dos Grupos/Usinas da mesorregio

de Araatuba pode ser observada na Tabela 03. Pode se afirmar de forma geral que as

Usinas aumentaram sua produo na mesorregio em estudo no perodo de 2000/2001 a

2008/2009. Evidenciam-se os crescimentos das usinas: Gasa (427%), Campestre

(272%), Unialco (207%) e Clealco (205%). Adicionando todas as usinas do Grupo

Cosan/Razen: Gasa, Mundial, Benlcool, Univalem e Destivale, na mesorregio de

Araatuba a variao foi de 188% de crescimento entre 2000 a 2009 na produo de

cana-de-acar.

Atas Proceedings | 3373

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

Tabe

la 0

3. E

volu

o

da p

rodu

o

de c

ana-

de-a

ca

r em

tone

lada

s, do

s Gru

pos/U

sina

s da

mes

orre

gio

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Ara

atu

ba n

as s

afra

s 200

0/20

01

a 20

08/2

009

(em

ton.

).

Safr

as/A

no

USI

NA

S 20

00/2

001

2001

/200

2 20

02/2

003

2003

/200

4 20

04/2

005

2005

/200

6 20

06/2

007

2007

/200

8 20

08/2

009

Var

.%

Ara

lco

Sant

o A

nton

io d

o A

raca

ngu

1.

092.

091

1.23

9.10

8 1.

422.

386

1.65

2.43

0 1.

792.

437

1.73

7.73

9 1.

897.

023

2.19

0.15

8 2.

466.

804

126

Ara

lco

- Alc

oazu

l 72

4.03

1 84

9.02

9 80

2.79

4 93

1.33

9 1.

100.

475

1.17

1.22

0 1.

259.

133

1.71

9.68

4 2.

160.

056

198

Ara

lco

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(Bur

itam

a)

833.

436

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24.2

75

100.

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66

7.86

8 87

2.01

6 1.

075.

871

1.03

5.49

1 1.

284.

646

1.44

1.85

9 2.

268.

673

2.72

0.48

3 2.

485.

506

272

Clea

lco

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men

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1.

003.

061

1.33

0.28

4 1.

410.

066

1.72

0.03

4 2.

137.

487

2.51

8.72

4 3.

109.

100

4.68

3.48

8 3.

058.

000

205

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a (V

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1.31

8.64

6 0

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na (A

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345.

613

503.

345

555.

790

761.

369

715.

703

785.

235

817.

911

804.

063

902.

083

161

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a - I

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7.82

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9 1.

092.

504

1.17

8.78

2 1.

300.

244

1.37

3.56

7 1.

356.

702

1.81

7.67

4 19

0 Ra

zen

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lco

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ento

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643.

105

984.

158

1.11

6.78

9 1.

215.

396

1.37

3.61

0 1.

305.

244

1.17

7.22

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2 1.

102.

185

71

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en -

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4.96

2 57

4.57

3 65

8.09

2 88

5.61

8 1.

030.

530

862.

465

984.

896

1.38

4.69

0 1.

459.

427

173

Raiz

en -

Gas

a (A

ndra

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) 35

6.34

2 66

8.10

3 71

0.54

2 80

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3 90

9.66

9 1.

084.

958

1.19

2.08

3 1.

200.

177

1.87

9.15

9 42

7 Ra

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undi

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493.

883

554.

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0 1.

074.

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1.31

8.64

6 16

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para

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839.

537

1.09

1.18

0 1.

642.

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2.45

4 1.

792.

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1.73

5.42

7 2.

050.

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6 2.

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199

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0.73

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7 1.

751.

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1.96

0.68

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096.

936

2.12

9.01

3 2.

559.

446

2.70

4.79

5 20

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728.

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598.

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4.24

6 1.

483.

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148

TOT

AL

8.20

9.05

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.601

.502

11

.826

.310

13

.921

.623

16

.106

.464

16

.849

.910

19

.760

.350

25

.133

.078

31

.319

.658

28

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009/

10.

15

3374 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

As Figuras 05 e 06 apresentam os resultados obtidos referentes aos indicadores

de concentrao calculados para os Grupos Canavieiros na Mesorregio de Araatuba

(SP).

Constata-se um ndice de concentrao para os trs maiores Grupos variando

entre 47% a 56% demonstrando que toda produo gerada nas usinas canavieiras da

mesorregio esto em posse das trs Grupos canavieiros: Razen, Aralco e Unialco (na

Figura 05).

Quando se refere ao HH o ndice variou entre 1.091 (2001/2002) a 1.643

(2007/2008), (Figura 06). Vale lembrar que mercado com ndice superior a 1800 um

mercado considerado muito concentrado e ndice entre 1000 e 1800 considerado um

mercado com pouca concentrao.

Figura 05. Evoluo dos trs maiores (CR3) Grupos Canavieiros na mesorregio de

Araatuba, safras 2000/2001, 2005/2006 e 2008/2009 a 2009/2010.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da nica (2011).

16

Atas Proceedings | 3375

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

Figura 06. Evoluo do ndice de Hirschmann-Herfindahl, dos trs maiores Grupos

Canavieiros na mesorregio de Araatuba nas safras 2000/2001 a

2008/2009.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da nica (2011).

4 CONSIDERAES FINAIS

Os resultados evidenciaram que existe pouca concentrao das 20 maiores

unidades industriais (usinas) no Estado de So Paulo.

Constatou-se concentrao dos 3 maiores Grupos Canavieiros na mesorregio de

Araatuba, o ndice HH mostrou valores acima de 1000 indicando preocupao quanto

competio. O Grupo Razen com cinco unidades responsvel por quase 50% da produo

total de cana.

5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

AGRIANUAL (2012): Anurio da agricultura brasileira. So Paulo: Informa economics South America/FNP, 2012. p. 245 - 246. BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (2012). Sistema de Acompanhamento da Produo Canavieira. Departamento da Cana-de-Acar e Agroenergia. Relao das unidades produtoras cadastradas no Departamento da

17

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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusfono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

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dezembro de 2011. Altera a redao da norma regulamentadora n 31. *Dirio Oficial

da Unio, *Braslia, DF, de 16 dez. 2011 - Seo 1, p. 207 a 216, 2011. Disponvel em:

.

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Atas Proceedings | 3377

Produo de alimentos e bioenergia: em busca de um modelo desenvolvimento sustentvel P07

PORTER, M. E. (2011)The competitive advantage of nations. Harvard: Harvard Business Review, 1990. p. 73-93. Disponvel em: < http://kkozak.wz.cz/Porter.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011. RESENDE, M.; BOFF, H. (2000) Concentrao industrial. In: KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. (Org.) Economia