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PRODUÇÃO DE ENERGIA NO ESTADO DO AMAPÁ: CENÁRIOS E PERSPECTIVAS Euclere Junior Conceicao Souza (UEAP ) [email protected] Emili Miranda Pantoja (UEAP ) [email protected] EVEN FIGUEIRREDO BARROS (UEAP ) [email protected] Manuela Barbosa Pereira (UEAP ) [email protected] Wylckson Machado Costa (UEAP ) [email protected] O presente artigo busca analisar as questões envolvidas com a geração/oferta de energia elétrica no estado do Amapá. Analisa-se a atual infra-estrutura energética instalada, e os entraves ao crescimento/desenvolvimento econômico decorrentes de sua baixa capacidade de oferta de energia elétrica industrial. Também se analisa as possibilidades de mudança nesse cenário decorrentes da chegada do “Linhão de Tucuruí” - interligação do sistema local de produção de energia ao Sistema Integrado Nacional de produção de energia - SIN. Também se busca analisar, o impacto da implantação das três hidrelétricas privadas em construção no estado - Hidrelétrica Ferreira Gomes 252 MW, Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão 219 MW e Hidrelétrica de Santo Antônio do Jarí 373,4 MW. As questões orientadoras envolvem: como e porque, o atual sistema regional amapaense de produção de energia, não oferece espaço de crescimento econômico para as empresas instaladas no estado do Amapá, e de desenvolvimento regional? E como e porque, a integração do sistema regional amapaense de produção de energia ao sistema nacional, pode oferecer espaço para o crescimento das empresas e o desenvolvimento regional? Este artigo é composto por três capítulos - Fundamentação teórica, Situação atual da infra-estrutura energética instalada no Amapá e Novas possibilidades de geração /oferta de energia elétrica no estado do Amapá - além de Introdução, Considerações finais e Referências. Palavras-chaves: Energia, crescimento, desenvolvimento XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

PRODUÇÃO DE ENERGIA NO ESTADO DO AMAPÁ: CENÁRIOS E ...abepro.org.br/biblioteca/enegep2014_TN_STO_195_101_25327.pdf · A análise dos mecanismos que promovem e aceleram o processo

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PRODUÇÃO DE ENERGIA NO ESTADO

DO AMAPÁ: CENÁRIOS E

PERSPECTIVAS

Euclere Junior Conceicao Souza (UEAP )

[email protected]

Emili Miranda Pantoja (UEAP )

[email protected]

EVEN FIGUEIRREDO BARROS (UEAP )

[email protected]

Manuela Barbosa Pereira (UEAP )

[email protected]

Wylckson Machado Costa (UEAP )

[email protected]

O presente artigo busca analisar as questões envolvidas com a

geração/oferta de energia elétrica no estado do Amapá. Analisa-se a

atual infra-estrutura energética instalada, e os entraves ao

crescimento/desenvolvimento econômico decorrentes de sua baixa

capacidade de oferta de energia elétrica industrial. Também se analisa

as possibilidades de mudança nesse cenário decorrentes da chegada

do “Linhão de Tucuruí” - interligação do sistema local de produção de

energia ao Sistema Integrado Nacional de produção de energia - SIN.

Também se busca analisar, o impacto da implantação das três

hidrelétricas privadas em construção no estado - Hidrelétrica Ferreira

Gomes 252 MW, Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão 219 MW e

Hidrelétrica de Santo Antônio do Jarí 373,4 MW. As questões

orientadoras envolvem: como e porque, o atual sistema regional

amapaense de produção de energia, não oferece espaço de crescimento

econômico para as empresas instaladas no estado do Amapá, e de

desenvolvimento regional? E como e porque, a integração do sistema

regional amapaense de produção de energia ao sistema nacional, pode

oferecer espaço para o crescimento das empresas e o desenvolvimento

regional? Este artigo é composto por três capítulos - Fundamentação

teórica, Situação atual da infra-estrutura energética instalada no

Amapá e Novas possibilidades de geração /oferta de energia elétrica

no estado do Amapá - além de Introdução, Considerações finais e

Referências.

Palavras-chaves: Energia, crescimento, desenvolvimento

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1. Introdução

O presente artigo é resultado da pesquisa desenvolvida pelos acadêmicos do curso de

Engenharia de produção, da Universidade do Estado do Amapá – UEAP, cujo problema

pesquisado buscou focar na pergunta: a montagem da infraestrutura de apoio ao setor

econômico, especialmente a capacidade de ampla geração/oferta de energia, é fator de

desenvolvimento econômico no estado do Amapá. A hipótese na qual se baseia o artigo afirma

que sim, a montagem da infraestrutura de apoio ao setor econômico, especialmente a

capacidade de ampla geração /oferta de energia, é fator desencadeador de significativo

desenvolvimento regional, pela capacidade de atração das empresas para esses locais

privilegiados – com abundancia de energia - e pelos efeitos decorrentes do processo de

transferência de renda para o Estado, pela via tributaria.

Os objetivos deste estudo consistem em: a) Analisar a atual infraestrutura energética

instalada no estado do Amapá, e os entraves ao desenvolvimento decorrentes de sua baixa

capacidade de oferta de energia elétrica industrial; e b) Analisar as recentes possibilidades de

desenvolvimento regional, decorrentes da expansão da geração/oferta de energia elétrica

industrial, proporcionada pela chegada do “Linhão de Tucuruí” – interligação do sistema local

de produção de energia ao Sistema Integrado Nacional - SIN.

Ao final deste trabalho pretende-se responder as seguintes questões orientadoras:

a) Como e porque, o atual sistema regional amapaense de produção de

energia, não oferece espaço de crescimento econômico para as empresas instaladas

no estado do Amapá, e de desenvolvimento regional;

b) Como e porque, a integração do sistema regional amapaense de produção

de energia ao sistema nacional, pode oferecer espaço para o crescimento das

empresas e o desenvolvimento regional.

A justificativa para esse trabalho decorre das evidências empíricas sobre o tema e do

momento privilegiado de análise ocupado pelo Amapá, nesse período de transição de um

sistema para outro; da carência de pesquisas sobre o tema, e; da oportunidade de debate pelo

contexto. Assim sendo, surgiu o interesse em aprofundar esta análise contribuindo para uma

abordagem científica qualificada sobre os temas.

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2. Fundamentação teórica

O Amapá é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Historicamente, o território

ocupado atualmente pelo Amapá denominava-se Guiana Portuguesa.

Figura 01 – Mapa do Brasil

Fonte: IBGE

Segundo o IBGE (2010) o Amapá está localizado no extremo norte do país e é um dos

nove estados que compõe a Amazônia brasileira. Situado na Amazônia oriental, o Amapá

limita-se ao norte com a Guiana Francesa (pelo rio Oiapoque e Serra do Tumucumaque), a

noroeste com o Suriname (pela Serra do Tumucumaque), a leste com o Oceano Atlântico e ao

sul (pelo rio Amazonas) e a oeste (pelo rio Jarí) com o estado do Pará. Possui 1.691 km de

fronteira nacional e 707 de fronteira internacional, é atravessado pela Linha do Equador e

ocupa uma área de 142.814 km2, que corresponde a 3,71% da região norte e 1,68% da área

nacional. O estado é dividido em 16 municípios.

Figura 02 – Mapa do Amapá

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Fonte: IBGE

O Amapá é fisicamente isolado dos demais estados brasileiros, pela inexistência de

interligações físicas - pontes - que atravessem o Rio Amazonas no limite interestadual sul

com o estado do Pará; o Rio Jarí no limite interestadual oeste, também com o estado do Pará.

Na fronteira internacional norte, com a Guiana Francesa e sobre o Rio Oiapoque, esta sendo

finalizada a obra da ponte binacional que interligara o Amapá a Guiana Francesa.

2.1. Caracterização econômica do estado do Amapá

Segundo Abrantes (2010), o estado do Amapá é um importador da maioria dos produtos

que são comercializados localmente, face principalmente a incipiência dos setores produtivos

da sua economia, especialmente os segmentos agropecuário e industrial. Destaca-se, ainda, o

baixo dinamismo do seu mercado interno e o isolamento do estado em relação às demais

unidades da Federação, já que este não possui ligação rodoviária com os principais centros

produtores e consumidores do país.

A estrutura produtiva do Amapá está principalmente concentrada no setor terciário,

responsável pela maior ocupação da PEA (População Economicamente Ativa) e pela maior

participação do PIB (Produto Interno Bruto) estadual, particularmente quando comparado aos

setores produtivos: setor primário e secundário, demasiadamente incipientes. O setor primário

é caracterizado por baixo nível tecnológico, crédito restrito (principalmente em razão de

problemas fundiários) e por contingente populacional reduzido. O setor secundário está

concentrado nas atividades do extrativismo mineral, da construção civil e da indústria de

transformação e tem sua capacidade de expansão limitada pela oferta de energia e por outras

deficiências de infraestrutura. O setor terciário, incluído a administração pública, é o mais

representativo da economia amapaense, conforme comprovado por Chelala (2008).

2.2. Desenvolvimento econômico

A análise dos mecanismos que promovem e aceleram o processo de desenvolvimento

econômico em uma região é de suma importância para aquelas regiões que ainda estão em

busca de respostas para seus problemas econômicos.

Bresser-Pereira (2006) analisa que o desenvolvimento econômico é um processo

histórico deliberado de elevação dos padrões de vida que ocorre dentro de cada Estado ou

região. É o crescimento sustentado na renda dos trabalhadores, derivado, principalmente, da

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transferência de parte dos lucros empresariais para os salários, implicando a melhoria do

padrão de consumo desses indivíduos; acompanhado por melhorias na qualidade de vida

dessas pessoas.

Drucker (1991) analisa que o mundo pós-revolução industrial encontra-se dividido em

dois segmentos. De um lado os países e regiões desenvolvidas caracterizados pela posse do

capital e das tecnologias, com baixos níveis de pobreza, distribuição de renda desconcentrada,

e usufruto por parte da população de boa qualidade de vida; de outro lado, países e regiões

subdesenvolvidas caracterizados pela dependência de investimentos e de tecnologias

estrangeiras, elevado endividamento externo, altos níveis de pobreza, elevada concentração de

renda, elevados níveis de corrupção, e usufruto por parte da população de uma baixa

qualidade de vida.

Segundo a análise de Sicsu (2005), o novo-desenvolvimentismo tem sua origem, na

visão de Keynes (1986) e de economistas keynesianos contemporâneos, como Davidson

(1994) e Stiglitz (1999), que analisaram o processo de complementaridade entre Estado e

mercado, e por outro lado, da visão cepalina neo-estruturalista que, tomando como ponto de

partida que a industrialização latino-americana não foi suficiente para resolver os problemas

da desigualdade social na região, defende a adoção de uma estratégia de transformação

produtiva com equidade social, que permita compatibilizar um crescimento econômico

sustentável com uma melhor distribuição de renda.

2.3. Produção de energia por fonte hidráulica

A energia elétrica produzida pelas hidrelétricas tem um papel importante no

desenvolvimento do país, proporcionando autossuficiência na geração de energia elétrica a

baixos custos. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (2014), a produção de energia

hidráulica, ou energia proveniente de usinas hidrelétricas, é a que mais contribui para o

cenário atual, contando com 73,1% de produção no país.

O Brasil faz parte do grupo de países em que a produção de eletricidade é derivada,

em sua maior parte, de usinas hidrelétricas por conta de seu potencial hidráulico. Em virtude

de sua grande extensão territorial, apresenta 12 grandes bacias hidrográficas, de acordo com o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Conselho Nacional de Recursos

Hídricos (CNRH).

2.4. Bacia Amazônica

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Segundo o Ministério dos Transportes (2012), a maior bacia hidrográfica é a Bacia

Amazônica com sete milhões de quilômetros quadrados, ela compreende uma área de

3.870.000 km², estando presente nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Roraima,

Rondônia, Mato Grosso e Pará. Como mostra a mapa a seguir:

Porto (2003) analisa que o estado Amapá possui uma bacia hidrográfica constituída de

vários rios que se destacam pela seu potencial. Cerca de 39% da bacia hidrográfica do estado

faz parte da Bacia do Amazonas, porém, muitos rios do Amapá também deságuam no Oceano

Atlântico. Dessa forma, o estado possui duas bacias hidrográficas: a Bacia Amazônica e a

Bacia do Atlântico Ocidental/Norte.

O Estado, entretanto, produz uma diminuta quantidade de energia elétrica de base

hidráulica, se comparado aos demais estados da Região Norte, porém com significativas

possibilidades de expandir esses números, devido a sua vasta bacia hidrográfica. Uma

pesquisa feita pela Eletrobrás - Eletronorte (2012) mostra que a produção do estado na

atualidade totaliza em 78 MW, através da Hidrelétrica Coaracy Nunes.

2.5. Situação atual da infraestrutura energética instalada no amapá

Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), o estado do Amapá dispõe, no que se

refere a capacidade de geração de energia elétrica, uma potência instalada de 256,1 MW. São

combinadas geração hidráulica e térmica. Em relação a geração de energia proveniente de

hidrelétricas, a potência instalada na Hidrelétrica de Coaracy Nunes é de 78 MW, que são

complementados por 178,1 MW da Usina Termoelétrica Santana. No período de seca no

reservatório de Coaracy Nunes, entre setembro e dezembro, a Térmica Santana supre a

necessidade de energia elétrica no Estado. No período chuvoso, quando a hidrelétrica opera a

plena carga, a usina térmica atua como complemento de carga.

Segundo dados da Eletrobrás-Eletronorte (2012) a energia gerada por ela é distribuída

no Estado pela Companhia de Eletricidade do Amapá – CEA, que atende 13 dos 16

municípios do estado. Os outros três municípios - Oiapoque, Laranjal do Jarí e Vitoria do Jarí

- são atendidos por polos de geração descentralizada da Companhia de Eletricidade do

Amapá.

A Eletrobrás-Eletronorte chegou ao Amapá em 1974, 13 meses depois de sua criação,

com o objetivo de concluir as obras da Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes no Rio Araguari. A

hidrelétrica de Coaracy Nunes foi a primeira usina da Empresa na Amazônia, sua inauguração

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foi em janeiro de 1976, marcando o início da trajetória da Eletronorte na região, com a missão

de gerar e transmitir energia no sistema isolado do estado do Amapá.

O sistema de transmissão que transporta a energia elétrica no Estado foi estruturado a

partir da entrada em operação de Coaracy Nunes, e conta com 505 km de linhas de

transmissão em 69 kV e 138 kV, nove subestações e capacidade de transformação de 672

MVA.

Os municípios de Macapá, Santana, Ferreira Gomes, Serra do Navio, Tartarugalzinho,

Amapá e Calçoene são interligados por linhas de transmissão e neles encontram-se

subestações com ramificadores e alimentadores, que transmitem a energia gerada pela

hidrelétrica de Coaracy Nunes e pela termelétrica de Santana para as demais localidades,

como podemos observar no quadro a seguir:

Figura 04 – Linhas de transmissão no Amapá

Fonte: Eletrobrás - Eletronorte

Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), o sistema de geração de energia no estado

do Amapá apresenta desvantagem em relação ao chamado Sistema Elétrico Interligado

Nacional, ou SIN, em função dos custos de produção/geração da usina térmica, o que

representa um aspecto negativo do ponto de vista da competitividade dos investimentos

empresariais, que alavancam o desenvolvimento e permitem a geração de emprego e renda em

larga escala.

No processo de geração de energia termoelétrica no Amapá a principal matéria-prima

utilizada como combustível é o óleo diesel, cuja queima gera uma série de problemas ao meio

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ambiente. A quantidade e o tipo de efluentes gerados no processo variam conforme a

tecnologia utilizada, mas em geral predominam gases e material particulado. Estima-se que

esse consumo seja da ordem de 600.000 a 1.000.000 litros/dia.

Ao longo dos últimos anos, o Estado do Amapá vem conseguindo suprir sua demanda

residencial por energia elétrica com a atual matriz instalada, porém com o desenvolvimento

econômico, o potencial instalado da UHE de Coaracy Nunes e da Termoelétrica de Santana se

tonaram inferiores às necessidades do empresariado, no que se refere a energia para as

industrias. Analisado o momento que o estado passa e visando uma melhoria, foi aprovada a

vinda do linhão de Tucuruí para o estado e a implantação de novas hidrelétricas.

3. Novas possibilidades de geração de energia elétrica no estado do Amapá

Segundo Amapá (2009), o Amapá é o Estado mais preservado do Brasil, mas também

é um dos menos desenvolvidos. Rico em recursos naturais, a falta de energia elétrica

industrial é um gargalo que impede seu desenvolvimento e provoca a estagnação econômica e

social do Amapá.

As principais obras em execução no Amapá, e que permitem mudanças nas

perspectivas futuras de desenvolvimento são:

3.1. Linhão de Tucuruí

A capacidade de geração de energia elétrica, por parte da empresa Eletrobrás -

Eletronorte, no estado do Amapá, na atualidade, é de 256,1 MW (sendo 78 MW na Usina

hidrelétrica de Coaracy Nunes e 178,1 MW na Usina Térmica de Santana) com um consumo

total, nos momentos de pico, aproximando-se de180 MW.

A baixa capacidade de oferta de energia elétrica para o setor industrial, que acontece

na atualidade, e um gargalo problemático para os planos de atração de empresas para o estado,

que marcarão o processo de implementação da Zona Franca Verde do Amapá.

Segundo a Eletrobrás - Eletronorte (2012), a opção mais viável para a expansão da

oferta de energia elétrica no estado, e a interligação do sistema isolado amapaense ao sistema

nacional via Hidrelétrica de Tucuruí. Essa interligação exigiu a construção de linhas de

transmissão entre as cidades de Tucuruí – Altamira – Almerim – Laranjal do Jarí – Macapá,

as quais foram concluídas em finais de 2013. Na atualidade, estão sendo construídas as usinas

de rebaixamento, com previsão de entrega em finais de 2014.

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Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), a principal geradora do sistema Norte-Nordeste,

a Hidrelétrica de Tucuruí, passou a fazer parte do Sistema Interligado Nacional - SIN em

março de 1999, com a conclusão da Interligação Norte-Sul. Essa linha permite a preservação

de reservatórios hidrelétricos em outras regiões durante o período hidrológico favorável no

Rio Tocantins.

A energia de Tucuruí é escoada por linhas de transmissão em 69 kV, 138 kV, 230 kV

e 500 kV. Além de atender os mercados do Pará, Maranhão e Tocantins, com cerca de 3.500

MW médios mensais, a Usina exporta ou vai exportar energia para os sistemas Norte,

Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.

Figura 05 – "Linhão de Tucuruí"

Fonte: Eletrobrás - Eletronorte

A linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus permite a ligação dos estados do

Amazonas, Amapá e do oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Com

aproximadamente 1.800 quilômetros de extensão total, em tensões de 500 e 230 kV, em

circuito duplo, ela passa por trechos de florestas e atravessa o Rio Amazonas.

Além de interligar sistemas isolados do extremo norte do Brasil, a nova linha diminui

o custo com geração termelétrica. O “linhão”, como é chamada a linha de transmissão,

possibilita ao País uma economia de R$ 2 bilhões por ano.

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Foram avaliadas várias alternativas para o traçado da linha para encontrar a que

ofereceria menor impacto ambiental. O tipo de vegetação e o uso do solo foram pontos

decisivos na escolha. Quando havia interferência em áreas legalmente protegidas, como terras

indígenas e unidades de conservação, foi feita mudança no traçado.

3.2. Bacia do Rio Araguari e suas usinas

Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), a Bacia do Rio Araguari tem área total

42.711,18 km², ela é uma das mais importantes no Estado do Amapá,tanto por sua

proximidade da capital Macapá, como também pela sua potencial contribuição em geração de

Energia .

No Rio Araguari já esta instalada a Hidroelétrica de Coaracy Nunes e, futuramente,

mais duas hidrelétricas serão instaladas, a Hidrelétrica Ferreira Gomes e a Hidrelétrica

Cachoeira Caldeirão.

Figura 06 - Hidrelétricas no Rio Araguari

Fonte: Eletrobrás - Eletronorte

3.3. Hidrelétrica Ferreira Gomes

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Segundo a FGE- Ferreira Gomes Energia (2012), a Usina Hidrelétrica (UHE) Ferreira

Gomes pretende contribuir para o desenvolvimento do Estado do Amapá gerando energia, que

poderá ser utilizada por consumidores residenciais, comerciais e industriais; e também

gerando tributos e empregos.

A UHE terá capacidade de gerar 252 MW de energia elétrica, o suficiente para atender

a uma cidade de cerca de 700 mil habitantes.

O cronograma oficial prevê o início da operação em 2015, mas a empresa está

trabalhando para antecipar este cronograma.

3.4. UHE Ferreira Gomes - Informações Técnicas

Distância da foz: 224,3 km;

Área de drenagem: 30.850 km²;

Localização: Bacia do Rio Araguari, em Ferreira Gomes (AP);

Coordenadas geográficas: 51º11’41,071ºW / 00o51’20,126ºN;

- Vazão: 938 m³/s;

- Área Alagada: 17,7 km²;

- Queda d’água: 18,04 metros;

- Nível de montante: 21,3 metros;

- Nível de jusante: 4,12 m;

- Potência: 252 MW;

- Energia firme: 149,16 MW;

- Turbinas: 03 turbinas Kaplan de eixo vertical;

- Reservatório: 17,72 km².

Com a interligação do Amapá ao SIN, a energia gerada na região irá compor o

volume total disponível no Brasil. Essa energia local estará acessível a todas as regiões, o que

fará com que o Amapá possa vir a se tornar um exportador de energia.

Pelo contrato de concessão com o Governo Federal, a Hidrelétrica Ferreira Gomes

está obrigada a disponibilizar para o SIN 70% da energia que produzir. Os outros 30%

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poderão ser vendidos no chamado Mercado Livre para grandes consumidores como indústrias

e/ou a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA).

3.5. Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão

Segundo a EDP – Energias de Portugal (2013),o investimento para a obra de

construção da hidrelétrica de Cachoeira Caldeirão, no Rio Araguari, estado do Amapá, está

estimado em 1,1 bilhão de reais.

A hidrelétrica Cachoeira Caldeirão será construída entre os municípios de Ferreira

Gomes e Porto Grande, com capacidade de geração de 219 megawatts. A EDP do Brasil

pretende investir no projeto, nos próximos anos, R$ 1,1 bilhão, do quais já foram

investidos16% em 2013; 43% estão sendo investidos em 2014; 35% será investido em 2015 e

6% em 2016. O início da comercialização de energia da usina está previsto para janeiro de

2017, e o prazo do contrato com o governo é de 30 anos.

A hidrelétrica faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para

aumentar a capacidade de geração de energia no Brasil. A UHE Cachoeira Caldeirão será

ligada à rede nacional através da Subestação Ferreira Gomes, com uma linha de transmissão

de 230 KV com cerca de 10 km de comprimento.

Segundo Amapá (2013), o Governo do Estado vem discutindo com a diretoria da EDP

um amplo quadro de ações estruturantes, para compensar as comunidades atingidas pelos

impactos causados a partir da instalação da Usina Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão, que será

construída no Rio Araguari.

3.6. Rio Jarí e a Hidrelétrica de Santo Antônio do Jarí

Segundo a EDP – Energias de Portugal (2013), esta em fase adiantada de construção da

hidrelétrica de Santo António do Jarí, que deverá começar a produzir energia em meados de

2015.

Localizada no Rio Jarí – sul do Amapá - na divisa dos estados do Pará e Amapá, entre

os municípios de Almeirim e Laranjal do Jarí, a UHE Santo Antônio do Jarí terá 373,4 MW

de potência, energia suficiente para abastecer uma cidade com cerca de 3 milhões de

habitantes (5 vezes a cidade de Macapá), e será interligada ao SIN – Sistema Interligado

Nacional.

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Na UHE Santo Antônio do Jarí, em 2014, no auge das obras, a geração de empregos é

de cerca de mil e quatrocentos empregos diretos, e aproximadamente 3.000 indiretos. Os

municípios de Laranjal do Jari e Almeirim estão tendo um significativo aumento na

arrecadação de ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), um reforço

importante nos orçamentos municipais.

As capacitações profissionais fazem parte do Projeto Básico Ambiental da empresa,

tendo como objetivo a qualificação profissional dos trabalhadores de Laranjal do Jarí, Vitória

do Jarí, Almerim e Monte Dourado, facilitando o acesso aos postos de trabalho gerados pelo

empreendimento. Todas as ações do Programa estão sendo realizadas através de parceria entre

a CESBE - construtora das obras - Fundação Orsa e as Prefeituras de Laranjal do Jarí, Vitória

do Jarí e Almerim.

4. Considerações finais

Este artigo se propôs a analisar, em primeiro lugar, a atual infraestrutura de geração de

energia instalada no estado do Amapá e os entraves ao crescimento econômico das empresas e

ao desenvolvimento regional. Ficou caracterizado que ao longo dos últimos anos, o Estado do

Amapá vem conseguindo suprir sua demanda residencial por energia elétrica com a atual

matriz instalada, utilizando o potencial instalado da UHE de Coaracy Nunes e da

Termoelétrica de Santana.

No que se refere às demandas das empresas por energia elétrica industrial, também

ficou caracterizado que a atual matriz energética instalada não tem condições de atender às

necessidades decorrentes do crescimento das empresas já instaladas na região, e muito menos

de novas empresas atraídas para a região.

Com o advento da Zona Franca Industrial, prestes a ser instalada no estado, a situação

se tornaria crítica, já que no projeto da Zona Franca, esta contemplado a isenção do Imposto

sobre Produtos Industrializados – IPI - isenção condicionada a instalação das empresas na

região amapaense. Essa desoneração fiscal tende a representar um forte incentivo para a

atração de empresas para a região amapaense, promovendo o crescimento econômico e o

desenvolvimento regional. A assinatura do processo de crescimento econômico se caracteriza

pela expansão das atividades das empresas já instaladas no Estado ou na região ou pelo

surgimento/instalação de novas empresas, sendo os principais efeitos decorrentes: a) Expansão

na geração de empregos; b) Expansão nos níveis de renda dos indivíduos, com reflexos no

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consumo; c) Expansão na geração de tributos, com reflexos no Tesouro do Estado; e d)

Expansão na qualidade/diversidade de produtos para consumo.

Analisando o momento que o estado do Amapá atravessa no tocante a produção de

energia, e visando melhorias, foi aprovado pelo Governo Federal a vinda do "Linhão de

Tucuruí' para o estado e a implantação de novas hidrelétricas privadas. O segundo objeto de

análise desse artigo é, como e porque, a interligação do sistema isolado amapaense de geração

de energia ao SIN – Sistema Integrado Nacional, pode oferecer espaço para o crescimento

econômico das empresas e o desenvolvimento regional.

Num primeiro momento a interligação com o SIN, tornará o estado do Amapá um

importador de energia, que equilibrará, com a energia de Tucuruí, as deficiências do sistema

de geração local de energia. Também deixaremos de queimar o caro e poluente óleo diesel,

que abastece a UTE de Santana. Finalmente, a médio prazo, findado o período de implantação

das três hidrelétricas em construção – Hidrelétrica Ferreira Gomes 252 MW, Hidrelétrica

Cachoeira Caldeirão 219 MW e Hidrelétrica de Santo Antônio do Jari 373,4 MW – o estado

do Amapá se tornará um exportador de energia, sendo capaz de prover energia elétrica

residencial e industrial de maneira abundante para o mercado local – vencendo um dos

entraves a instalação de industrias no estado – e com o Estado recebendo significativa parcela

de tributos, capitalizando-se, e podendo investir em melhorias sociais na região amapaense.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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