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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ Departamento de Economia e Contabilidade Departamento de Estudos Agrários Departamento de Estudos da Administração Departamento de Estudos Jurídicos CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO JAIRO JAIR TAVARES PRODUÇÃO DE ETANOL E DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR: Potencial e Viabilidade da Agroindustrialização de Pequeno Porte na Região das Missões – RS Ijuí (RS) 2009

PRODUÇÃO DE ETANOL E DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp117447.pdf · nos poderes públicos, discutindo a implantação de projetos de pequenas plantas de usinas

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

Departamento de Economia e Contabilidade

Departamento de Estudos Agrários Departamento de Estudos da Administração

Departamento de Estudos Jurídicos

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

JAIRO JAIR TAVARES

PRODUÇÃO DE ETANOL E DESENVOLVIMENTO DA

AGRICULTURA FAMILIAR: Potencial e Viabilidade da

Agroindustrialização de Pequeno Porte na Região das Missões – RS

Ijuí (RS)

2009

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

JAIRO JAIR TAVARES

PRODUÇÃO DE ETANOL E DESENVOLVIMENTO DA

AGRICULTURA FAMILIAR: Potencial e Viabilidade da

Agroindustrialização de Pequeno Porte na Região das Missões – RS

Ijuí (RS)

2009

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JAIRO JAIR TAVARES

PRODUÇÃO DE ETANOL E DESENVOLVIMENTO DA

AGRICULTURA FAMILIAR: Potencial e Viabilidade da

Agroindustrialização de Pequeno Porte na Região das Missões – RS

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento – Mestrado, Linha de pesquisa: Integração Regional e Desenvolvimento Local Sustentá-vel, objetivando a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento. Unijuí – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientador: Professor Doutor Arlindo Jesus Prestes de Lima

Ijuí (RS)

2009

2

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

PPRROODDUUÇÇÃÃOO DDEE EETTAANNOOLL EE DDEESSEENNVVOOLL VVII MM EENNTTOO DDAA AAGGRRII CCUULL TTUURRAA

FFAAMM II LL II AARR:: PPOOTTEENNCCII AALL EE VVII AABBII LL II DDAADDEE DDAA AAGGRROOII NNDDUUSSTTRRII AALL II ZZAAÇÇÃÃOO

DDEE PPEEQQUUEENNOO PPOORRTTEE NNAA RREEGGII ÃÃOO DDAASS MM II SSSSÕÕEESS NNOO RRSS

elaborada por

JAIRO JAIR TAVARES

como requisito parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Arlindo Jesus Prestes de Lima (UNIJUÍ): __________________________________ Prof. Dr. Vilmar Antônio Boff (URI): ____________________________________________ Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ): ________________________________________________

Ijuí (RS), 25 de agosto de 2009.

3

edico esta conquista aos meus

pais (in memorian), à minha

companheira Ana Jupira, e aos meus filhos,

Jairo Júnior e Vanessa, por terem dedicado

parte de suas vidas a mim, pelo amor, carinho

e estímulo que me ofereceram. A vocês, minha

gratidão por estarem ao meu lado, me

incentivando, acreditando e torcendo por mim.

D

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me deu o dom para realizar este trabalho, pela vida e pela saúde, por

iluminar meu caminho e me dar forças para seguir sempre em frente. Obrigado por mais esta

etapa que está se concretizando em minha vida que, sem Sua ajuda, não seria possível.

Aos membros do Johrei Center, de São Luiz Gonzaga-RS e Maringá-PR, que me

fortaleceram espiritualmente.

Ao meu orientador, professor doutor Arlindo Jesus Prestes de Lima, pela ajuda

prestimosa, paciência e atenção com que sempre me acolheu.

Aos demais professores que sempre souberam me encaminhar nos estudos, em

especial aos professores Davi Basso, Vilmar Antonio Boff e Antonio Zotarelli.

Aos meus colegas do Mestrado em Desenvolvimento, turma 2007; à Unijuí; ao meu

amigo Wilson Antonio Nascimento de Oliveira; e aos agricultores, que me auxiliaram e

forneceram as informações necessárias para que eu pudesse desenvolver este trabalho.

Que não lhes falte saúde, esperança, alegria e muita paz!

Muito Obrigado!

5

RESUMO

O presente estudo visa a analisar a viabilidade econômico-financeira e de reprodução social da fabricação de etanol em duas indústrias de pequeno porte localizadas na Região das Missões, Estado do Rio Grande do Sul. Para tanto foram estabelecidos dois cenários: o primeiro teve como parâmetro a lógica da comercialização do etanol produzido para as empresas distribuidoras de combustíveis; no segundo simulou-se um caso em que os agricultores comercializam o etanol diretamente com os consumidores. Na região existem várias iniciativas que atuam mediante a participação nos movimentos sociais, nas lideranças e nos poderes públicos, discutindo a implantação de projetos de pequenas plantas de usinas de álcool combustível. Com esse enfoque, são incorporados na análise, elementos objetivando contextualizar a crise energética e a produção de etanol no Brasil, o mercado da cana-de-açúcar e do etanol, revelando dados do desenvolvimento da agricultura familiar e da produção de etanol. Ainda, procura-se relacionar e caracterizar a importância da agricultura familiar e do agronegócio, em especial da agroindustrialização familiar de produção de pequeno porte de etanol. Para tanto, são analisadas as condições de viabilidade das experiências no contexto da dinâmica do desenvolvimento dos agricultores familiares envolvidos, bem como o impacto econômico da produção de álcool combustível na capacidade de reprodução social dos agricultores familiares. Como consequência, foi possível verificar os estrangulamentos que ocorrem no desenvolvimento do programa das indústrias de pequeno porte de produção de etanol no contexto brasileiro. A metodologia empregada foi a bibliográfica, quantitativa, qualitativa e de campo. Conclui-se que os projetos se viabilizam tanto na comercialização do etanol para a empresa distribuidora, como na venda direta do produto ao consumidor. Nesse aspecto, os projetos indicaram que o nível de reprodução social corresponde a uma renda suficiente para que os agentes econômicos em questão não apenas possam sobreviver biologicamente, mas também tenham interesse em se manter na unidade de produção, mantendo e ampliando suas especificidades de agricultores familiares. Trata-se, portanto, de uma alternativa viável para as pequenas agroindústrias familiares que encontram na atividade uma fonte de geração de renda e diversificação da produção. De forma articulada com as demais atividades produtivas de uma pequena propriedade, a agroindústria do etanol proporciona sentido à reprodução social no campo.

Palavras-chave: Agricultura familiar. Agroindústria de etanol. Geração de renda. Reprodução social.

6

ABSTRACT

The present study seeks to analyze the economical-financial viability and of social reproduction of the ethanol production in two industries of small load in the Area of the Missions, State of Rio Grande do Sul. For so much they were established two sceneries: the first had as parameter the logic of the commercialization of ethanol produced for the distributing companies of fuels; in the second it grew a case simulation in that the farmers market the ethanol directly with the consumers. In the area several initiatives that act by the participation in the social movements exist, in the leaderships and in the public powers, forums of discussion of the implementation of projects of small plants of combustible alcohol. With this approach, the analysis, elements are incorporated in having objectified to contextualized the energy crisis and the production of ethanol in Brazil, the market of the sugar cane-of-sugar and ethanol, disclosing given of the development of familiar agriculture and the production of ethanol. Still, is looked to relate and to characterize the importance of familiar agriculture and the agronegócio, in special of the family agribusiness of production of small transport of ethanol. For so much, the conditions of viability of the experiences are analyzed in the context of the dynamics of the involved family farmer’s development, as well as the economical impact of the production of combustible alcohol in the capacity of the family farmer’s social reproduction. As consequence, was possible to verify the strangle that they happen in the development of the program of the industries of small load of ethanol production in the Brazilian context. The used methodology was the bibliographical, quantitative, qualitative and of field. It is ended that the projects are made possible so much in the commercialization of ethanol for the distributing company, as in the direct sale to the consumer. In that aspect, the projects indicated that the level of social reproduction corresponds to an enough income so that the economical agents in subject cannot just survive biologically, but they also have interest in staying in the unit of production, maintaining and enlarging your specificities of family farmers. It is treated, therefore, of a viable alternative for the small family agribusiness that it find in the activity a source of generation of income and diversification of the production. In articulate way with the other productive activities of a small property, the agribusiness of the ethanol provides sense to the social reproduction in the field. Key words: Family agriculture. Ethanol Agribusiness. Generation of income. Social reproduction.

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LISTA DAS ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa geográfico da Região das Missões...................................................... 44 Figura 2: Mapa da proposta de zoneamento da cultura da cana-de-açúcar e o

potencial de produção.................................................................................... 46

Quadro 1: Estágio dos programas do consumo de álcool/ano no mundo, segundo a

Comissão Européia FO Licht: Copersucar ................................................... 21

Tabela 1: Linhas de enquadramento e taxas de juros para contratos de investimentos

do Pronaf ...................................................................................................... 33

Tabela 2: Comparação dos indicadores econômicos e sociais da Região das Missões 44 Tabela 3: Estrutura produtiva setorial do Estado e da região ....................................... 44 Tabela 4: Investimentos: em máquinas/equipamentos e galpão da agroindústria de

etanol, Dezesseis de Novembro, 2009 .......................................................... 48

Tabela 5: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009 .....................................

49

Tabela 6: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009 . 50 Tabela 7: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de produção de etanol,

Dezesseis de Novembro, 2009...................................................................... 50

Tabela 8: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009...........................................................

51

Tabela 9: Fluxo de caixa final do projeto de agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009 ...........................................................................................

52

Tabela 10: Capacidade de reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009 ..........................................................

52

Tabela 11: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009 .....................................

53

Tabela 12: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009... 53 Tabela 13: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de etanol, Dezesseis de

Novembro, 2009 ........................................................................................... 54

Tabela 14: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009...........................................................

54

Tabela 15: Fluxo de caixa final da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009 ..............................................................................................................

55

Tabela 16: Capacidade de reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009...........................................................

56

8

Tabela 17: Investimento: em máquinas/equipamentos e galpão da agroindústria de

tanol, Rolador, 2009...................................................................................... 57

Tabela 18: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção de etanol, Rolador, 2009................................................................

58

Tabela 19: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Rolador, 2009............................ 59 Tabela 20: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de etanol, Rolador, 2009...... 59 Tabela 21: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de

etanol, Rolador, 2009 .................................................................................... 60

Tabela 22: Fluxo de caixa final da agroindústria de etanol, Rolador, 2009.................... 60 Tabela 23: Capacidade de reprodução social dos agricultores da agroindústria de

etanol, Rolador, 2009 ................................................................................... 61

Tabela 24: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção do etanol, Rolador, 2009 ...............................................................

61

Tabela 25: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Rolador, 2009............................. 62 Tabela 26: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de etanol, Rolador, 2009...... 62 Tabela 27: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de

etanol, Rolador, 2009..................................................................................... 63

Tabela 28: Fluxo de caixa final da agroindústria de etanol, Rolador, 2009.................... 63 Tabela 29: Capacidade de reprodução social da agroindústria de etanol, Rolador,

2009................................................................................................................ 64

9

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1: Variedade de cana-de-açúcar adaptada à região das Missões do Rio Grande do Sul e a mais usada na produção de etanol...................................................

72

Anexo 2: Planta de uma micro-destilaria......................................................................... 73 Anexo 3: Foto da Indústria de Pequeno Porte de Produção de Etanol de Dezesseis de

Novembro, RS..................................................................................................

74 Anexo 4: Esquema elaborado pelo pesquisador.............................................................. 75 Anexo 5: Composição do custo do AFJC desde o produtor............................................ 76

10

LISTA DE SIGLAS

AEHC – Álcool Etílico Hidratado Carburante AM – Amortização do Capital CO – Custo Operacional CODETER – Colegiado de Desenvolvimento Territorial das Missões – RS CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento D – Depreciação DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf FEPAGRO – Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do RS FLC – Fluxo Líquido de Caixa Final ha – hectare IPPE – Indústrias de Pequeno Porte de Produção de Etanol MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário MO – Margem Operacional NRS – Nível de Reprodução Social ONU – Organização das Nações Unidas PB – Produção Bruta PRK – Período de Retorno do Capital PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PUI – Potencial Útil de Industrialização R – Renda do projeto RA/UTF – Renda Agrícola por Unidade de Trabalho Familiar SAU/UTF – Superfície Agrícola Útil por Unidade de Trabalho Familiar SAU – Superfície Agrícola Útil SM – Salário Mínimo SM/UTH – Unidade do Trabalho Homem ST – Superfície Total TIR – Taxa Interna de Retorno TMA – Taxa Mínima de Atratividade UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar UT – Unidade Trabalho UTF – Unidade Trabalho Familiar VPL – Valor Presente Líquido

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................13 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................................15 1.1 A CRISE ENERGÉTICA E A PRODUÇÃO DE ETANOL NO BRASIL.........................15 1.2 O MERCADO DA CANA-DE-AÇÚCAR E DO ETANOL..............................................20 1.3 DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E A PRODUÇÃO DE ETANOL ............................................................................................................................22 1.3.1 Características e importância da agricultura familiar ..............................................22 1.3.2 Agronegócio e agroindustrialização familiar..............................................................28 1.4 AGROINDUSTRIALIZAÇÃO FAMILIAR DE PEQUENO PORTE DE ETANOL .......29 2 METODOLOGIA ................................................................................................................34 2.1 O CONCEITO DE REPRODUÇÃO SOCIAL ..................................................................35 2.2 COLETA DE DADOS E INFORMAÇÕES.......................................................................39 2.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ..............................................................39 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................................43 3.1 A REGIÃO DAS MISSÕES DO RIO GRANDE DO SUL E A AGRICULTURA FAMILIAR ...............................................................................................................................43 3.2 CONDIÇÕES AGROCLIMÁTICAS PARA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR NAS MISSÕES ........................................................................................................................45 3.3 VIABILIDADE DA AGROINDÚSTRIA DE ETANOL DE DEZESSEIS DE NOVEMBRO – RS ..................................................................................................................47 3.3.1 Proposta técnica.............................................................................................................47 3.3.2 Orçamentação: investimentos, receitas e custos da agroindústria de etanol...........47 3.3.3 Resultado financeiro da agroindústria de etanol: venda para a distribuidora........50 3.3.4 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol................................52 3.3.5 Resultados da agroindústria de etanol com venda ao consumidor...........................52 3.3.5.1 Resultado financeiro da agroindústria de etanol.....................................................53 3.3.5.2 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol.............................55 3.4 VIABILIDADE DA AGROINDÚSTRIA DE ETANOL DE ROLADOR – RS................56 3.4.1 Proposta técnica.............................................................................................................56 3.4.2 Orçamentação: investimentos, receitas e custos da agroindústria de etanol...........56 3.4.3 Resultado financeiro da agroindústria de etanol: venda para a distribuidora........59 3.4.4 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol................................61 3.4.5 Resultados da agroindústria de etanol com venda ao consumidor...........................61

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3.4.5.1 Resultado financeiro da agroindústria de etanol.....................................................62 3.4.5.2 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol.............................64 CONCLUSÃO.........................................................................................................................65 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................67 ANEXOS .................................................................................................................................71

13

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem o objetivo de analisar o papel da produção de etanol no

desenvolvimento da agricultura familiar, bem como o potencial e a viabilidade da

agroindustrialização de pequeno porte em duas situações: a comercialização do etanol para

uma empresa distribuidora de combustíveis, conforme o previsto na legislação vigente, e a

simulação de um caso em que os agricultores envolvidos nos projetos estudados fazem a

comercialização direta ao consumidor. Também, procura-se entender como as famílias dos

agricultores envolvidos podem se manter ao longo do tempo na compreensão do sentido da

reprodução social.

O tema escolhido originou-se da preocupação em analisar uma nova fonte alternativa

de energia, uma vez que a maior parte dela provém do petróleo, do carvão e do gás natural.

Conscientes de que essas fontes são limitadas e que há previsão de esgotamento num futuro

próximo, buscam-se fontes alternativas para sua substituição.

Na Região Missioneira existem várias iniciativas apoiadas por movimentos sociais,

lideranças e poderes públicos que estão discutindo a implementação de projetos para a

formação de pequenas plantas de usinas de álcool combustível. Para uma melhor

compreensão do tema, este estudo está dividido em três capítulos: o primeiro apresenta uma

breve revisão bibliográfica; o segundo traz a metodologia do trabalho e; finalmente, o terceiro

expõe as discussões e os resultados obtidos.

A revisão bibliográfica versa sobre a produção de etanol e sua contribuição no

desenvolvimento da agricultura familiar, as particularidades na produção do etanol no Brasil,

sua industrialização em projetos familiares e de pequeno porte. Além disso, apresenta

informações do agronegócio e da agroindustrialização, o desenvolvimento da agricultura

familiar e suas características, a produção e o mercado da cana-de-açúcar e do etanol.

14

A metodologia consiste na apresentação dos procedimentos adotados no

desenvolvimento da pesquisa em suas sucessivas etapas de investigação. O capítulo inclui

conceitos e métodos de avaliação de projetos, fazendo referência às determinações dos

parâmetros nacionais. A natureza da pesquisa é de um estudo de caso realizado na região das

Missões – RS, precisamente nos municípios de Dezesseis de Novembro e Rolador. São

descritos os procedimentos de análise do potencial da produção de etanol para o

desenvolvimento dos agricultores familiares, discutindo a noção ou conceito de reprodução

social. Ainda, descrevem-se os procedimentos de cálculo da análise, do investimento, dos

custos operacionais e da receita, e de análise da reprodução socioeconômica das unidades de

produção familiar, bem como são descritos os procedimentos de análise da viabilidade das

pequenas agroindústrias de produção de etanol.

Nos resultados e discussões procura-se identificar as condições de viabilidade de

instalação de uma agroindústria de etanol e da reprodução social nos referidos municípios.

Em outras palavras, procura-se avaliar o impacto econômico na produção de álcool

combustível e a capacidade de reprodução social dos agricultores familiares e o

desenvolvimento local. Com isso, foi possível verificar alguns dos pontos de estrangulamento

no desenvolvimento do programa das Indústrias de Pequeno Porte de Produção de Etanol

(IPPE).

A título de informação descreve-se a caracterização da região das Missões e da

agricultura familiar, esclarecendo as condições agroclimáticas existentes na região para a

produção de cana-de-açúcar, buscando compreender o funcionamento das indústrias de

pequeno porte de produção de etanol.

E, para finalizar, constam as conclusões a que se chegou com o estudo, apresentando

as referências bibliográficas que fundamentaram a dissertação que ora se apresenta.

15

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo objetiva contextualizar a produção de etanol como alternativa para o

desenvolvimento da agricultura familiar. Para tanto, busca a partir da literatura material que

verse sobre o problema (crise) energético e a produção de etanol como uma alternativa,

focando sempre a produção do etanol em pequena escala. Procura-se mostrar ainda que o

desenvolvimento agroindustrial privilegiou as médias e grandes indústrias, geralmente

localizadas em centros mais populosos, em detrimento das formas artesanais e pequenas

agroindústrias familiares. Mediante esta realidade procurou-se discutir a política de produção

de energias alternativas a partir de agroindustrialização familiar de pequeno porte.

1.1 A CRISE ENERGÉTICA E A PRODUÇÃO DE ETANOL NO BRASIL

No contexto do processo de desenvolvimento, o mundo procura, cada vez mais, por

alternativas na matriz energética baseada no petróleo. O uso de energias limpas e renováveis,

mais do que uma necessidade, é uma obrigação, diante do quadro assustador apresentado pela

Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o futuro do planeta Terra. O relatório do Painel

Intergovernamental de Mudanças Climáticas, divulgado em Paris, em fevereiro de 2007,

prevê que nas próximas décadas a humanidade irá conviver com temperaturas mais altas, com

a elevação no nível dos oceanos e com secas, cheias e furacões mais frequentes e

devastadores.

O grande vilão da mudança climática do Planeta é o efeito estufa, causado por gases

poluentes do ar, principalmente o dióxido de carbono, consequência da utilização do petróleo,

do gás natural e do carvão, e, ainda, da destruição das florestas tropicais. A partir do protocolo

de Kioto1, tratado internacional assinado no ano de 1992, que prevê a diminuição nos níveis

de poluição mundial, os países se comprometeram a buscar soluções para o problema.

Os investimentos e as perspectivas oferecidas pela agroenergia estão constituindo tema

central nas discussões do agronegócio brasileiro e mundial. Muito mais do que oportunidade

econômica, o cultivo agrícola e o aproveitamento da biomassa na geração de energia limpa

são requisitos para a sustentabilidade ambiental do Planeta.

1 Tratado de Kioto: constitui-se no protocolo de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a

redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das investigações científicas, como causa antropogênica do aquecimento global.

16

Os produtores brasileiros de açúcar e de álcool vivem e presenciam uma espécie de

montanha-russa. Até o final da década de 90, o setor era visto como um fiel retrato do Brasil

arcaico, aquele que não respeita as leis trabalhistas e vive às custas de benesses estatais.

Repentinamente, o etanol entrou na moda no mundo todo e o setor tentou sair do atraso para

entrar na vanguarda das organizações capitalistas.

Diante deste quadro, segundo o Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA),

em 2007 e final de 2008, grandes grupos brasileiros se capitalizaram na Bolsa de Valores e

investidores internacionais anunciavam a compra e construção de novas usinas. A produção

de etanol no Brasil movimentou, em 2008, cerca de 141 bilhões de dólares, viabilizados por

70 mil agricultores, gerando mais de um milhão de empregos. Mas a crise financeira mundial

evidenciada em outubro de 2008, nos Estados Unidos, centro financeiro mundial, fez com que

os produtores brasileiros e internacionais do setor sucroalcooleiro interrompessem os

investimentos.

Mesmo assim, o Brasil apresenta oportunidades únicas e definitivas para a exploração

da agricultura de energia, que vão muito além dos diferentes fatores climáticos e territoriais.

Entre os pontos que favorecem o entusiasmo nacional no segmento de agroenergia está

certamente, um custo final que estimule o interesse em torno da substituição do petróleo por

uma fonte renovável, seja a cana-de-açúcar, oleaginosas, florestas plantadas ou resíduos

agrícolas em geral.

As ações do governo quanto às da iniciativa privada levam em conta esse fato. O

Brasil não tem apenas vocação para a atividade agrícola, mas possui mão-de-obra com custo

que viabiliza a exploração dessa nova área. Por isso, vários municípios na Região das Missões

do Estado do Rio Grande do Sul, por meio dos movimentos sociais, das lideranças e dos

poderes públicos, discutem a implementação de projetos para a formação de pequenos

empreendimentos de energia renovável para a transformação de álcool e biodiesel.

Cabe ressaltar, no entanto, que a viabilidade desses empreendimentos está diretamente

relacionada à forma como se conhece esta questão. Existem poucos estudos que possam

demonstrar a contribuição social e suas relações de trabalho, o conhecimento tecnológico dos

agricultores familiares com a cultura da cana-de-açúcar, os insumos e os processos de

industrialização, e muito menos ainda, que possam demonstrar a viabilidade econômica e

financeira e da reprodução social, além da gestão dos empreendimentos de produção de etanol

de pequeno porte.

17

Diante da realidade que se está presenciando, a agroenergia tem sido apontada como o

grande caminho. E o Brasil se apresenta como um campo fértil para a exploração desses

novos potenciais. O país, efetivamente, assumiu a vanguarda há várias décadas. Há 30 anos, o

governo estimulou o uso do álcool de cana-de-açúcar como combustível, por meio do

Programa Brasileiro do Álcool (Pró-álcool). Em torno de 95% dos automóveis fabricados no

Brasil, no auge do programa, eram movidos a etanol (VOLPATO, 2007).

Nos últimos anos, a crescente dependência de energia fez com que o indivíduo

buscasse fontes energéticas capazes de atender às necessidades humanas e que ao mesmo

tempo pudessem ser obtidas facilmente, sem causar danos ao ambiente.

A procura por uma matriz energética limpa que possa servir como substituta ao uso do

petróleo é um desafio travado por muitas nações. Essa incansável busca resultou em diversos

combustíveis alternativos, os quais não solucionam tal equação, mas amenizam os problemas

do emprego em massa dos combustíveis fósseis. É o caso do álcool oriundo da cana-de-

açúcar, que recentemente tornou-se alvo de uma grande discussão nos Estados Unidos e em

diversos países europeus acerca da possibilidade de sua produção em larga escala,

principalmente no Brasil. Segundo Volpato (2007), os principais fatores que estimulam o

interesse de diversos países pela produção de etanol e, consequentemente, o aumento da

demanda deste combustível no mercado internacional são, entre outros:

a) as consecutivas altas no preço do barril de petróleo no mercado internacional;

b) o declínio das reservas mundiais de petróleo, um combustível não-renovável;

c) a demanda crescente por petróleo, tanto nos países desenvolvidos, como nos países

emergentes, como a China e a Índia, que estão alavancando seu desenvolvimento;

d) a necessidade que as nações desenvolvidas têm em atender às prerrogativas do Protocolo

de Kyoto, reduzindo em 5% as emissões de dióxido de carbono (CO2), gás resultante,

principalmente, da queima de derivados de petróleo;

e) a concentração dos poços de petróleo em países envolvidos com conflitos políticos e

religiosos.

Por isso, atualmente, a cana-de-açúcar lidera a produção energética brasileira de

biomassa e diante dos benefícios econômicos que pode trazer e da necessidade de se obter

uma matriz energética mais limpa, é possível que se vislumbre um cenário de grande

expansão em território nacional, colocando o país na liderança da produção de etanol no

mundo.

18

É importante evidenciar nesse trabalho que o setor sucroalcooleiro, depois de um

período de crise, passa pela fase de recuperação. O álcool combustível constitui-se, como já

foi visto, momentaneamente, no único exemplo de sucesso como alternativa à gasolina para

uso em larga escala. Com a tecnologia dos carros Flex-fuel (que permite abastecer tanto com

gasolina como com álcool), o brasileiro voltou a ser consumidor de etanol. Atualmente,

segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores do Brasil, mais de

80% dos automóveis saem da fábrica com o motor preparado para receber tanto gasolina

quanto álcool.

Além disso, a busca mundial por energias menos poluentes e a crise que envolve o

esgotamento das fontes de combustíveis fósseis tornaram o Brasil um grande exportador do

produto. As vendas externas têm crescido, anualmente, com preços igualmente em alta. Em

2006, as exportações aumentaram quase 25% em volume e mais 50% em faturamento. Para

atender à demanda, novas usinas foram construídas e o plantio da cana-de-açúcar amplia-se

em áreas que antes eram ocupadas por outras culturas (MAPA, 2007).

Os produtores brasileiros de cana-de-açúcar se preparam para suprir a demanda

crescente por álcool combustível e expandem suas lavouras para além de zonas tradicionais de

cultivo. Na safra 2006/2007, a área plantada aumentou 6% em relação à safra anterior – 6.188

milhões de hectares contra 5.840 milhões no período 2005/2006, conforme levantamento da

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Este avanço territorial resultou na produção

de 475.725 milhões de toneladas, com incremento de 10,3% em comparação à safra

2005/2006, quando foram colhidos 431.413 milhões de toneladas. A produtividade estimada

era de 78.871 toneladas por hectare, 4,1% mais do que no período anterior, quando se situou

em 73.868 toneladas (MAPA, 2007).

Considerando-se a área ocupada com grãos, cana-de-açúcar e café, que contém a

grande maioria das atividades agrícolas no país, verifica-se que ela passou de 45,1 milhões

hectares em 1990, para 55,4 milhões hectares em 2004, ou seja, 5,2 milhões hectares a cada

sete anos. Assim, se a área de cana-de-açúcar aumentar 2,0 milhões de hectares entre 2005/

2006 e 2012/2013, este crescimento representará 38,5% da expansão observada nos últimos

anos das principais atividades agrícolas brasileiras. Se a área de cana-de-açúcar crescer 3,0

milhões de hectares, o que é provável, sua participação na expansão da área será de 57,7%.

Muito dificilmente isso não provocará disputa pela área agrícola com outras

atividades, especialmente naquelas regiões onde o crescimento da cana-de-açúcar tende a se

19

concentrar, como é o caso do Centro-Sul, particularmente em São Paulo. Neste Estado, a área

com cana-de-açúcar passou de 2,5 milhões de hectares, em 2000, para 3,4 milhões de

hectares, em 2004 (IEA, 2005), crescimento de 225 mil hectares por ano.

Em 2004, a cana-de-açúcar ocupava 48,4% da área das principais lavouras em São

Paulo e 20,5% da área trabalhada (lavouras mais pastagens plantadas mais florestas

plantadas). Se sua expansão mantiver o ritmo do período 2000-2004, chegará a 2013 com

novos 2,0 milhões de hectares incorporados em sua área, provavelmente ultrapassando 70%

da área das principais lavouras no Estado.

Deve-se considerar também que a expansão da área de cana-de-açúcar ocorrerá em

grandes estabelecimentos rurais e, na maior parte, controlados diretamente pelos proprietários

de usinas e destilarias. O uso de máquinas de grande porte, como as colhedoras, vem fazendo

com que a área média dos canaviais seja cada vez maior2. Nas safras 2003/2004, 2004/2005 e

2005/2006, a participação da cana-de-açúcar entregue por fornecedores atingiu média de

38,2% contra 61,8% de cana-de-açúcar própria das agroindústrias canavieiras (MAPA, 2007).

Do total da cana-de-açúcar produzida (2007), a Conab apurou que 38,6%, ou seja,

183,82 milhões de toneladas, se destinaram à fabricação de álcool, ficando o açúcar com

50,9% e outros itens com os restantes 10,5%. A previsão era de que o setor sucroalcooleiro

esmagaria 425,99 milhões de toneladas na safra 2006 e 2007 que estava em andamento, o

volume que resultaria em 17,64 bilhões de litros de álcool (MAPA, 2007).

Portanto, o agronegócio da cana-de-açúcar tem gerado grandes oportunidades ao país.

Conforme análises do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2007), o

comércio no setor sucroalcooleiro tem se formatado com base em aspectos preponderantes,

devendo ser levado em consideração o outro produto obtido desta matéria-prima, que é o

aumento do consumo per capita de açúcar em países asiáticos e a reforma do regime

açucareiro na União Européia. Estas circunstâncias proporcionaram a forte expansão do

mercado internacional para o produto.

O volume de cana-de-açúcar processado até o final da segunda metade de novembro

de 2008 foi 12,31% maior do que o acumulado no mesmo período da safra anterior, de acordo

com os dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), divulgados em 10/12/08,

sendo moídos 468,63 milhões de toneladas nesta safra.

2 O crescimento da área de cana-de-açúcar de fornecedores se dá por esse motivo e pela tendência das

agroindústrias reduzirem custo administrativo, recebendo matéria-prima de menor número de fornecedores.

20

De acordo com a entidade, a permanência de condições meteorológicas favoráveis à

colheita durante os primeiros dias de dezembro e o número de unidades ainda em operação

permitiram afirmar que a estimativa de moagem, de 487,0 milhões de toneladas, foi cumprida

até o final da safra.

Um número maior de unidades ainda se encontrava em atividade no mês de dezembro

em comparação ao ano anterior, o que indicou uma safra mais longa. Até 30 de novembro de

2008, 43 unidades produtoras haviam encerrado a moagem nessa safra, contra 99 unidades em

30 de novembro de 2007. Conforme previsto pela Unica, 29 novas unidades tiveram sua

primeira moagem na atual safra. Essas unidades responderam por 3,2% da cana-de-açúcar

esmagada até o final de novembro de 2008.

A produção de etanol na segunda quinzena de novembro foi de 1,51 bilhões de litros,

42,60% superior à mesma quinzena da safra anterior. A produção de etanol anidro atingiu 580

milhões de litros e a de etanol hidratado3 somou 930 milhões de litros. No acumulado, a

produção de anidro até o final de novembro atingiu 7,99 bilhões de litros e a de hidratado,

15,09 bilhões de litros, num total de 23,08 bilhões de litros. A produção final da safra atual

deverá superar 24,0 bilhões de litros de etanol.

As saídas físicas de etanol para o mercado externo do início da safra, em abril, até o

final de novembro de 2008, somaram 3,68 bilhões de litros, enquanto o total distribuído para

o mercado interno foi de 13,67 bilhões de litros. Segundo a Unica, a expectativa de

exportação é de 4,2 bilhões de litros de etanol a partir da região Centro-Sul até março de

2009. Já as vendas para o mercado interno deverão ficar em 20,0 bilhões de litros de etanol

dos tipos anidro e hidratados para o mercado automotivo, assim como para outros fins. Os

números indicam volumes suficientes para garantir a mistura de 25% do etanol anidro na

gasolina e o abastecimento até o início da nova safra.

1.2 O MERCADO DA CANA-DE-AÇÚCAR E DO ETANOL

A cana-de-açúcar é uma planta semiperene com ciclo fotossintético do tipo C4,

pertencente ao gênero Saccharum, da família das gramíneas, composta por espécies de

3 Hidratado (tipo de álcool produzido nas IPPEs desta pesquisa) encontrado no álcool comum é de 96% de etanol

+ 4% de água, em volume. Essa mistura álcool-água não pode ser separada por destilação, pois é uma mistura azeotrópica, de ponto de fusão constante (78,15°C) e inferior ao álcool puro (78,3°C), sendo utilizado nos motores a álcool.

21

gramas altas perenes, oriundas de regiões temperadas quentes a tropicais da Ásia,

especialmente da Índia.

A parte aérea da planta é composta pelos colmos, nos quais se concentra a sacarose, e

pelas pontas e folhas, que constituem a palha da cana-de-açúcar.

Com o possível mercado que se abrirá a partir das novas energias, a cana-de-açúcar

entrará em discussão quanto à necessidade de mudanças na matriz produtiva brasileira,

principalmente por ser energia limpa e renovável. A biomassa moderna, assim como o gás

natural, obtido através da biodigestão aeróbica e anaeróbica, possivelmente dominará os

estudos, as pesquisas e o mercado de energias nos próximos anos. Isso porque a energia

oriunda principalmente do petróleo é finita e de alto custo de extração, além de altamente

poluidora do meio ambiente.

Outros países também pretendem adotar programas de utilização do etanol produzido

a partir da cana-de-açúcar, tais como a Austrália, o México, o Canadá e a Colômbia.

Nos Estados Unidos a mistura de 5,7% em toda a gasolina significa consumo de 30

bilhões de litros de álcool/ano, segundo a Comissão Européia FO Licht: Copersucar, o que

fica demonstrado no Quadro 1.

Quadro 1: Estágio dos programas do consumo de álcool/ano no mundo, segundo a Comissão

Européia FO Licht: Copersucar

Países Demanda potencial (bilhões de litros)

Mistura de álcool (%)

Observações

Japão

1,7

3

Potencial de consumo se a mistura voluntária de 3% de álcool na gasolina for adotada por toda a gasolina consumida no país.

E.U.A

16,8

Sem informação Volume previsto para 2.012com base na Lei Renewable Fuels, ainda não aprovado. O máximo de mistura per metida é de 5,7%.

China

4,5

10%

Potencial de consumo se a mistura de 10% na gasolina vigente em algumas províncias for implantada em toda a gasolina consumida na China.

U.E

7,4

5%

Potencial de álcool em adição de 5% em toda a gasolina em 2.011. Limite permitido pela Diretiva Européia dentre os 5,75 de biocombustíveis.

Índia

5%

Autorizado 5% de mistura de álcool em algumas regiões.

Tailândia

0,7

5%

Potencial de consumo considerando legislação que determina mistura de 5% em toada gasolina consumida

Fonte: Unica (2005).

22

Essa projeção permite afirmar que a grande expansão canavieira não depende somente

de incentivos públicos específicos, já que tanto o mercado de álcool quanto o de açúcar estão

favoráveis. O “entusiasmo” alcooleiro e o predomínio dos incentivos de mercado, muitas

vezes, procuram impedir que o governo exerça um papel mais efetivo no planejamento e na

regulamentação setorial.

Nesse aspecto é importante e necessário que o governo discipline a instalação das

novas agroindústrias sucroalcooleiras com mais rigor, evitando a intervenção do agronegócio

na produção de alimentos. Esse é um ponto crucial para que as indústrias de pequeno porte de

produção de etanol tenham sucesso, pois elas têm a capacidade de interagir com a

diversificação produtiva, especialmente a de alimentos, sem comprometer as especificidades

do agricultor familiar.

1.3 DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E A PRODUÇÃO DE ETANOL

Este item busca, em parte, demonstrar a importância da agricultura familiar e da

agroenergia, bem como os incentivos às atividades produtivas e agroindustriais e as

potencialidades dos mercados que tendem num futuro próximo ganhar espaço. Os produtores

familiares, em geral, possuem pequenas propriedades, que necessitam de diferentes estratégias

para sua reprodução socioeconômica, visando a uma maior geração de renda na unidade de

produção.

Algumas concepções serão abordadas neste estudo, porém sem um aprofundamento

maior. Outrossim, destacam-se temas relacionados à importância da agricultura familiar.

1.3.1 Características e importância da agricultura familiar

A agricultura familiar dispõe de uma ampla diversidade de sistemas produtivos e

diferentes estratégias de produção e sobrevivência, usando tecnologias que estejam ao seu

alcance. A exploração familiar corresponde a uma unidade de produção agrícola onde a

propriedade e o trabalho estão intimamente ligados à família (LAMARCHE, 1993). Nestas

unidades geralmente desenvolvem-se atividades mais intensivas em relação à área, visando

proporcionar adequada ocupação da terra, uso mais intensivo da mão-de-obra e maior renda

aos agricultores.

23

Para Denardi (2001), o conceito da agricultura familiar é relativamente recente,

principalmente no Brasil, utilizando-se anteriormente termos como pequeno agricultor,

pequena produção e, em épocas anteriores, ainda se utilizava o termo camponês. O autor

enfatiza, em linhas gerais, que os empreendimentos familiares têm duas características

principais: eles são administrados pela própria família e neles a família trabalha diretamente,

com ou sem auxílio de terceiros, e a gestão da unidade de produção é familiar, assim como o

trabalho também. Pode-se dizer que um estabelecimento familiar é uma unidade de produção

de consumo, sendo uma unidade de produção e de reprodução social.

De acordo com Nunes da Silva et al. (2001), durante muito tempo a agricultura

familiar foi vista como sinônimo de pobreza e de subdesenvolvimento, e o homem do campo,

agricultor familiar, considerado pouco inteligente e incapaz de tomar decisões eficazes no

gerenciamento de seu negócio.

É importante afirmar que agricultura como um todo tem redefinido os processos e os

espaços de produção e dos seus segmentos, cujas tendências nos dias atuais estão inseridas

num cenário de transformações rápidas e, muitas vezes, problemáticas em nível de mundo.

São novos processos de produção que se organizam, ao mesmo tempo em que os perfis dos

produtores são, também, redefinidos. É o caso da agricultura familiar.

Pode-se dizer que o início da modernização da agricultura fez com que o Brasil

adquirisse indústrias de tratores e equipamentos agrícolas, fertilizantes químicos, rações e

medicamentos veterinários.

A partir da constituição desses novos ramos da indústria agrícola, outros mercados

também tinham que se abrir. O governo brasileiro, durante esse período, implementou um

conjunto de políticas agrícolas destinadas a incentivar a aquisição dos produtos desse novo

ramo da indústria, acelerando o processo de incorporação de modernas tecnologias pelos

produtores rurais.

Este modelo desenvolvimentista que caracterizou a agricultura brasileira gerou uma

grande concentração de terras e de renda no meio rural, marginalizando do processo muitos

pequenos proprietários de áreas rurais.

O resultado deste modelo tem se refletido, de maneira geral, apesar do aumento na

produção global, no agravamento do desemprego, tanto no campo quanto na cidade, no

aumento dos preços dos alimentos, na degradação do meio ambiente e na ocupação

24

desordenada do território nacional. Outros problemas estão também vinculados ao modelo,

como a queda na qualidade biológica dos alimentos e o progressivo desaparecimento das

tradições culturais no meio rural.

É importante assinalar que no Brasil, o debate sobre agricultura familiar ainda é

recente e não possui contornos bem definidos. Entre os estudos publicados no Brasil,

Abramovay (1992), Lamarche (1993), Tedesco (2001) e Schneider (2003) deram impulso

decisivo e merecem ser citados neste trabalho. O maior mérito desses estudos, para Schneider

(2003, p. 29), deve-se ao fato de terem revelado que a “agricultura familiar é uma forma

social reconhecida e legitimada na maioria dos países desenvolvidos, nos quais a estrutura

agrária é majoritariamente composta por explorações nas quais o trabalho da família assume

uma importância decisiva”.

Essa descoberta, sublinha Schneider (2003, p. 29), foi fundamental

não apenas por ter difundido entre os estudiosos brasileiros a noção de agricultura familiar, mas, sobretudo, por ter operado um deslocamento teórico e analítico decisivo na sociologia dos estudos rurais e agrários, cujas preocupações, até então, giravam em torno da discussão do caráter capitalista tradicional ou moderno, das relações sociais predominantes na agricultura.

Ao contrário do que muitos ainda pensam, agricultura familiar não “é sinônimo de

pobreza, atraso ou oposição à modernidade”, declara Portugal (2004, p. 34).

Na visão de Tedesco (2001, p. 13),

a ótica da precariedade, em termos de condições objetivas de existência, dos limites fundiários, da contemplação de recursos públicos, da seletividade econômica que os agentes do capital (agro) industrial, financeiro e comercial impõem, da fragmentação, atomização e incipiente barganha em relação aos vínculos mercantis, é o desafio enfrentado cotidianamente pela agricultura familiar.

O autor completa afirmando que é por isso que a dimensão da família e o recurso à

forma social de produção familiar não são meros processos analíticos. Constituem-se, sim, em

combinações possíveis no seio da modernidade produtiva, problematizam definições

conceituais que se enraízam na ótica da irracionalidade econômica do atraso, do antifuncional,

bem como se vinculam às novas exigências da sociedade. Portanto, entende-se como

agricultura familiar, conforme os autores que estão contribuindo com suas ideias neste

trabalho, uma forma de produção em que o núcleo de decisões, gerência, trabalho e capital

são controlados pela família.

25

No Brasil, em torno de 85% do total de propriedades rurais do país pertencem a

grupos familiares. De acordo com a Secretaria de Agricultura Familiar, órgão do Ministério

do Desenvolvimento Agrário, são 13,8 milhões de pessoas em cerca de 4,1 milhões de

estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da população ocupada na agricultura.

Cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira e 37,8% do valor bruto da

produção agropecuária são produzidos por agricultores familiares (VOGT, 2009).

A política governamental, conforme assinala Portugal (2004, p. 56), tem priorizado o

desenvolvimento da agricultura familiar,

pois entende que a manutenção do homem no campo, com qualidade de vida, além de evitar o êxodo rural, reduz a pressão por emprego e bem-estar social nos centros urbanos. A agricultura familiar está representada por 24 milhões de pessoas, o equivalente a 16% do total da população brasileira é responsável pela produção da maior parte dos alimentos ofertados aos demais 150 milhões de brasileiros.

Em um artigo publicado na Revista Agroanalysis, em março de 2004, Portugal afirma

que a “agricultura familiar tem um papel crucial na economia das pequenas cidades, pois,

4.928 municípios têm menos de 50 mil habitantes. Deste, mais de quatro mil têm menos de 20

mil habitantes”, que é o caso dos municípios de Dezesseis de Novembro e Rolador, que

possuem as indústrias de pequeno porte de produção de etanol e que serviram de fonte de

pesquisa para o presente estudo.

Estes produtores e seus familiares são responsáveis por inúmeros empregos no

comércio e nos serviços prestados nas pequenas cidades. A melhoria da renda deste segmento,

por meio de sua maior inserção no mercado, tem impacto importante no interior do país e, por

consequência, nas grandes cidades.

Para possibilitar esse incremento na renda, é necessário que agricultores que trabalham

sob regime familiar tenham acesso a mais tecnologia. Precisam modernizar seus sistemas

gerencias e organizativos, verticalizar a produção, descobrir nichos de mercado e desenvolver

atividades não-agrícolas para complementação de renda.

A definição de agricultura familiar assume grande importância na atualidade para

respaldar o debate em torno do assunto. Para Tedesco (2001, p. 11),

falar em agricultura familiar e, como conseqüência, utilizar a noção de unidade familiar como unidade de produção, consumo e convívio é algo por demais difícil e polêmico; é adentrar por um terreno movediço, um campo de discussões e análises que manifesta ambigüidades, ambivalências, heterogeneidades e especificidade.

26

Mesmo assim, é interessante aqui destacar, levando em consideração os estudos de

Tedesco (2001, p. 21), que a agricultura familiar não é uma

categoria social nova, nem a ela corresponde uma categoria analítica recente na sociologia rural. No entanto, sua utilização, com o significado e a abrangência que lhe tem sido atribuídos nos últimos anos, no Brasil, assume ares de novidade e renovação.

Nesse sentido, fala-se de uma agricultura familiar como um novo personagem,

diferente do camponês tradicional, que teria assumido sua condição de produtor moderno

(TEDESCO, 2001, p. 22). Para o autor, “propõe-se políticas para estimulá-los fundadas em

tipologias que se baseiam em uma viabilidade econômica e social diferenciada. Mas, afinal, o

que vem a ser uma agricultura familiar?”.

O ponto de partida, para responder a questão levantada por Tedesco (2001), está no

conceito de agricultura familiar, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de

produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo. É importante insistir que esse

caráter familiar não é um mero detalhe superficial e descritivo, ou seja, o fato de uma

estrutura produtiva associar família-produção-trabalho tem consequências fundamentais para

a forma como ela age econômica e socialmente. No entanto, assim definida, essa categoria é a

combinação entre propriedade e trabalho, que assume no tempo e no espaço uma grande

diversidade, de formas sociais. Como afirma Lamarche (apud TEDESCO, 2001, p. 23), “a

agricultura familiar não é um elemento da diversidade, mas contém nela mesma, toda a

diversidade”.

Vale destacar que a agricultura familiar, na visão de Tedesco (2001), tão em evidência

hoje no campo político, econômico, cultural e social, manifesta a dinâmica dos novos

processos sociais que perpassam o meio rural/agrícola.

De acordo com a bibliografia brasileira recente sobre os processos sociais e agrários,

percebe-se que a incorporação da expressão agricultura familiar ganhou projeção somente a

partir do final dos anos de 1980, do século XX e, sobretudo, a partir da primeira metade da

década de 1990, do século XX.

É importante ressaltar que as políticas públicas em prol da agricultura familiar

surgiram, no Brasil, a partir de meados dos anos 90 (século XX), em decorrência do contexto

macroeconômico da reforma do Estado. Foram dois os fatores, conforme sublinha Schneider

(2003), que motivaram o aparecimento dessas políticas públicas: a crescente necessidade de

27

intervenção estatal frente ao quadro crescente de exclusão social e o fortalecimento dos

movimentos sociais rurais.

Na opinião de Bergamasco (apud ANTONOV et al., 2004, p. 34),

a formulação de políticas públicas para a agricultura brasileira precisa levar em conta, principalmente a grande diversidade regional e fundiária registrada no país. Uma política como a que sempre ocorreu no Brasil, leva ao agravamento dessas disparidades regionais, sociais e econômicas.

As políticas públicas, para Castilhos (apud ANTONOV et al., 2004, p. 23), devem

se orientar, em suas estratégias de desenvolvimento, para os territórios mais marginalizados e empobrecidos do país. Essas políticas têm que ter como principal objetivo a minimização das fortes desigualdades regionais. Para que isso aconteça, as regiões mais atrasadas econômica e socialmente deverão contar com maior presença de agentes e organismos estatais, ao contrário de regiões mais desenvolvidas que poderão contar com menor apoio do Estado.

Numa definição conceitual mais objetiva da agricultura familiar, a qual reconhece a

necessidade de considerar os elementos endógenos de funcionamento das unidades familiares,

atribuindo-lhes um papel muito mais destacado, Abramovay (apud SCHNEIDER, 2003, p.

41) assim afirma: “a agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior

parte do trabalho vêm de indivíduos que mantêm entre si, laços de sangue ou de casamento”.

E prossegue afirmando:

que esta definição não seja unânime e, muitas vezes tampouco operacional, é perfeitamente compreensível, já que os diferentes setores sociais e suas representações constroem categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas: a definição de agricultura familiar para fins de atribuição de crédito, pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com finalidade de quantificação estatística num estudo acadêmico (SCHNEIDER, 2003, p. 41).

O importante, vale salientar, é que estes três atributos básicos: gestão, propriedade e

trabalho familiares, estão presentes em todas elas.

Para Tedesco (2001, p. 11), “[...] a família como proprietária dos meios de produção, o

trabalho na terra, modalidades de produção e manifestação de valores e tradições (patrimônio

sócio-cultural) em torno da e para a família”. O reconhecimento da importância da

agricultura não esgota, evidentemente, as suas possibilidades como agente fundamental do

desenvolvimento do país. A ela devem ser agregados os componentes de valorização social,

cultural e tecnológica das populações que vivem e trabalham no meio rural.

28

Atualmente se sabe que a agricultura familiar tem grande importância no papel da

valorização do meio rural, uma vez que tem demonstrado ser possível unir a eficiência

econômica com a “eficiência social”, segundo Guanziroli et al. (2001).

A agricultura familiar também está associada à dimensão espacial de desenvolvimento

por permitir uma distribuição populacional mais equilibrada no território em relação à

agricultura patronal normalmente vinculada à monocultura, gerando grandes vazios popula-

cionais, além da diminuição da população rural evidenciada também na região missioneira.

1.3.2 Agronegócio e agroindustrialização familiar

Para dar suporte teórico ao estudo o conceito de agroindústria é uma abordagem de

aspectos relevantes. Neste estudo, a agroindústria é caracterizada como indústria de pequeno

porte de produção de etanol. O termo “agroindústria” vai além do beneficiamento de produtos

oriundos da agricultura, como já foi citado. Ela pode ser definida como uma unidade

produtiva, transformadora, que usa os produtos agropecuários ou subprodutos não-

manufaturados no processo intermediário ou final (LAUSCHNER, 2001).

Para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (2004):

Compreende-se como agroindustrialização o beneficiamento e/ou transformação dos produtos provenientes de explorações agrícolas, pecuárias, pesqueiras, aqüícolas, extrativistas e florestais, abrangendo desde processos simples, como secagem, classificação, limpeza e embalagem, até processos mais complexos que se incluem operações física, química ou biológica como, por exemplo, a extração de óleos, a caramelização e a fermentação. Inclui, também, o artesanato em geral no meio rural.

Araújo (2003) destaca que em agronegócios existem dois grupos distintos de

agroindústria: as agroindústrias não-alimentares e as agroindústrias alimentares. A primeira

transforma fibras, couros, calçados, óleos vegetais não-comestíveis, e engloba a produção de

etanol. Já a agroindústria alimentar está voltada para a produção de alimentos (líquidos e

sólidos), como suco, polpas, extratos, lácteos, entre outros. O autor ressalta que no caso da

agroindústria alimentar, devem haver cuidados específicos para cada alimento devido à

segurança alimentar dos consumidores. No caso da transformação da cana-de-açúcar em

etanol, a preocupação não é de segurança alimentar do consumidor, mas de conhecimento da

tecnologia para ofertar um produto de qualidade.

29

Tratar da agroindústria familiar envolve cuidados para diferenciar as agroindústrias de

grande porte. Quando se pronuncia a palavra “agroindustrialização” tem-se em mente a ideia

de agregação de valores aos produtos oriundos da agricultura. Mas no Brasil, nos últimos

anos, a agricultura vem passando por uma mudança de paradigma, em que os agricultores

familiares estão buscando seu espaço com as atividades familiares.

Dentro da realidade atual do agronegócio, os pequenos produtores, em especial os que

se dedicam à produção de grãos para as grandes agroindústrias, vem descapitalizando a

propriedade e a diminuição da renda causa uma série de problemas sociais. No afã de novas

alternativas, a agroindustrialização dentro da propriedade tem se tornado uma realidade

constante. Acredita-se que ela seja um dos caminhos viáveis, já que a procura por produtos

mais saudáveis tem crescido, assim como a produção artesanal e o respeito à natureza, com

consideração aos seus aspectos sociais e culturais.

1.4 AGROINDUSTRIALIZAÇÃO FAMILIAR DE PEQUENO PORTE DE ETANOL

Os dados do agronegócio sucroalcooleiro são interpretados pelo Ministério de

Desenvolvimento Agrário (MDA) de uma forma diferente, segundo o qual as políticas de

desenvolvimento rural sustentável devem combinar o combate à pobreza, a preservação

ambiental e o aumento/melhoria do dinamismo da economia e renda da agricultura familiar,

dos assentados da Reforma Agrária, das mulheres e jovens rurais, bem como a melhoria das

condições de vida da população em geral.

Com esse viés, o MDA entende que a produção de álcool combustível, a partir de

micro-destilarias ou das Indústrias de Pequeno Porte de Produção de Etanol (IPPE)4, é impor-

tante como mais uma alternativa de renda. É fundamental a presença dos agricultores familia-

res na produção de biocombustíveis, desde a produção até a comercialização. De acordo com

Sachs (2004, p. 34), “a categoria de ‘pequenos produtores’ inclui todos aqueles envolvidos em

atividades de pequena escala realizadas fora do universo das empresas modernas”.

A implantação das IPPEs representará, na visão do MDA, um grande avanço na

diversificação da produção, no incremento de renda às famílias envolvidas e na agregação de

valor à produção. Representará, efetivamente, uma ampliação na oferta de produtos, além dos

grãos, leite, suínos, frutas e hortaliças. As pequenas indústrias possibilitarão, além da

4 IPPE: Indústria de Pequeno Porte de Produção de Etanol, denominação definida pelo pesquisador.

30

produção de álcool combustível, integrar a produção de leite e carne, haja vista que se extrairá

da cana-de-açúcar subprodutos como a ponta da cana-de-açúcar, o bagaço e o vinhoto que,

entre outros destinos, podem ser fornecidos aos animais ou utilizados na adubação dos solos.

No projeto do MDA, as IPPEs procuram sintonizar com as estratégias de

desenvolvimento defendidas pelas organizações da agricultura familiar. Os pequenos

empreendimentos constituem-se em reduzidas plantas industriais, implantadas de forma

descentralizada e administradas de forma cooperada pelos próprios associados, ou

individualmente. A proposta que vem sendo trabalhada pelas organizações dos agricultores

familiares e pelo MDA é produzir biocombustíveis de forma integrada com as demais

atividades presentes nas propriedades, bem como construir um processo de integração entre as

unidades produtivas, ampliando assim a viabilidade econômico-social das mesmas em se

reproduzirem ao longo do tempo, mantendo as suas especificidades.

Portanto, percebe-se que o desafio do MDA é transformar pequenos produtores em

empresas organizadas de pequena escala, capazes de competir no mercado capitalista. Porém,

a sua consolidação se dará mediante o desenvolvimento de competências e capacidades

administrativas, tecnológicas e de competitividade no mercado.

A denominação Indústria de Pequeno Porte de Produção de Etanol (IPPE) possibilita

visualizar a sua influência na estrutura de empregos e autoempregos. A sua consolidação,

expansão e geração de empreendimentos de pequeno porte podem ocupar lugar de destaque

na estratégia de inclusão social pelo trabalho decente e na reprodução social dos agricultores

familiares (SACHS, 2004).

Para Sachs (2004, p. 44), tal abordagem exige a combinação de várias políticas

complementares: “desenhar políticas para consolidar e modernizar a agricultura familiar como

parte de uma estratégia para estimular o desenvolvimento rural, dando um salto na direção de

uma civilização moderna baseada na biomassa (biodiversidade-biomassa-biotecnologia)”.

A agroindustrialização tem várias motivações sociais em que se destacam a fixação do

produtor na propriedade rural e a manutenção da integridade familiar via envolvimento de

todos na produção, inclusive as donas-de-casa (RUIZ et al., 2009).

No segmento da agroindústria familiar pode-se verificar que existem particularidades

deste pequeno empreendimento com vários aspectos positivos, em que o aporte tecnológico

geralmente se origina da própria família ou do agente de extensão rural, tornando o projeto

31

interessante e rentável do ponto de vista econômico, pois em pequena escala não necessita de

mão-de-obra contratada.

A agroindústria familiar apresenta potencialidades e vantagens, pois a família utiliza

matéria-prima e mão-de-obra próprias. Acima de tudo, porém, deve-se ter a capacidade da

gestão do empreendimento com a atuação e responsabilidade dos agricultores familiares desde

o planejamento até a implantação do empreendimento. Dessa forma, seriam abrangidos

processos desde os mais simples até os mais complexos, incluindo o artesanato no meio rural

(PORTAL SAF, 2009).

No Portal SAF (2009) é mencionado que um dos principais objetivos da

agroindustrialização familiar é apoiar a comercialização dos produtos oriundos destes

empreendimentos, de modo a agregar valor, gerar renda e oportunidades de trabalho no meio

rural, com consequente melhoria de vida dos agricultores.

Na visão geral, a agroindústria familiar se constitui de motivações de natureza

econômica e social. Contudo, a principal motivação na maioria dos casos é de ordem

econômica, visando agregar valor sobre o seu produto, que no caso deste estudo é avaliar a

produção de etanol por meio da cana-de-açúcar em pequenas plantas industriais.

A agroindústria familiar rural apresenta-se como uma das “novas” faces da

especialização produtiva no espaço rural gaúcho. Esse processo, ainda em construção, toma

dois pontos de partida: a crise na agricultura moderna e sua consequente necessidade, sentida

pelos sujeitos rurais, de investir em outras atividades a fim de garantir a reprodução

socioeconômica da propriedade familiar. Ainda, leva em conta os incentivos por parte da

esfera pública, a fim de promover o desenvolvimento territorial rural, centrado nas

especificidades locais (PECQUER, 2005).

Conforme trabalhos de Silva Neto (2006), Brum (1985), Neumann e Silveira (2000) e

Silveira e Balem (2004) sobre a reprodução social das famílias rurais, constata-se a inviabili-

dade de modelos de especialização produtiva baseados na produção de commodities agrícolas,

que constituíam a referência das políticas de modernização (SILVEIRA et al., 2006).

A relevância do tema deve-se ao protagonismo que a Agroindústria Familiar assume

nas escalas locais/regionais ao promover a articulação entre os grupos familiares, os agentes

de desenvolvimento e os espaços de disputa política por projetos de desenvolvimento. Na

escala nacional, observa-se um significativo avanço por parte das políticas públicas quanto à

32

concepção da agroindustrialização dos produtos da agricultura familiar e na concessão de

programas de fomento, tanto de crédito quanto para a formação e a qualificação dos

agricultores envolvidos com processamento.

No universo acadêmico, as discussões teóricas também se constroem em torno das

ponderações sobre os limites e potencialidades da atividade na promoção do desenvolvimento

rural. Dentre alguns estudos que se dedicaram ao tema, destacam-se Silveira e Balem (2004),

Wesz Jr. (2006), Sulzbacher (2007) e Silveira et al. (2006). Os limites são postulados a partir

dos pontos de estrangulamento das atividades, postos, principalmente, pelo enfrentamento de

um ambiente institucional restritivo a este novo leque de atividades. O fato implica na

necessidade de regularizar e estabelecer padrões mínimos de qualidade e, noutra esfera, os

limites também incidem sobre as racionalidades produtivas dos próprios agentes de

processamento. Os agricultores acabam por transitar da sua racionalidade de produção para

aquela exigente em domínios sobre áreas da administração e economia de mercado

(SILVEIRA et al., 2006). Nesse caso identifica-se um dos fatores limitante para as indústrias

de pequeno porte de produção de etanol, pois não existe um marco legal estabelecendo a

comercialização de etanol em pequena escala.

Mesmo diante destes obstáculos, as potencialidades e os impactos positivos se colo-

cam deveras pertinentes. No estudo realizado por Wesz Júnior (2006)5, observa-se uma série

de impactos gerados a partir da consolidação de agroindústrias familiares. O autor analisa o

uso da mão-de-obra familiar, o caráter artesanal da produção, a diversificação na linha de

produção, a agregação de valor e as relações de proximidade e de confiança entre produtor e

consumidor, que conferem competitividade e legitimação dos produtos junto à sociedade:

Além de trazer renda e qualidade de vida para os dependentes deste processo, a agroindustrialização rural começa a ser reconhecida como atividade que segura o agricultor no seu espaço de origem, além de fomentar toda a economia local, pela relação de proximidade que existe tanto na contratação de mão-de-obra como no fornecimento da matéria-prima pelos vizinhos, bem como na comercialização dos produtos, numa escala estreitamente regionalizada (WESZ JÚNIOR, 2006, p. 25).

A relação de proximidade pode ser demarcada pela significativa interação na

circulação de matérias-primas e produtos (como a própria mão-de-obra) entre as

agroindústrias na escala local (comunidade) ou extra-comunidade. Neste sentido, Vieira

5 O estudo tomou por objeto as agroindústrias familiares que trabalhavam com derivados de cana-de-açúcar

(melado, cachaça, licores, mandolate, açúcar mascavo) nas microrregiões de Santa Rosa, Santo Ângelo e Cerro Largo no Estado do Rio Grande do Sul. Como objetivo, buscou caracterizar as propriedades que tinham agroindústrias familiares e visualizar se a pluriatividade (com o processamento) acabava por fortalecer ou por desestimular a perda de vínculos e semelhanças com a agricultura familiar monoativa (WESZ JÚNIOR, 2006).

33

(1998) também reforça o papel “social” da agroindústria familiar e a importância de fomentá-

la como uma estratégia para a geração de empregos:

Pela sua importância social, como fonte geradora de empregos em um ambiente cada vez menos intensivo em mão-de-obra e como fator de interiorização, interessa, porém, criar condições para a constituição e o desenvolvimento da agroindústria familiar de pequena escala, seja ela urbana ou rural (VIEIRA, 1998, p. 13).

Considerando a visão da verticalização ou de agregação de valor, Wilkinson (1997)

destaca alguns elementos que contribuíram para o desenvolvimento e a considerável expansão

da atividade no espaço rural, tais como a miniaturização tecnológica, a segmentação de

mercados e a persistência de mercados de proximidade. As consequências desta expansão

podem ser visualizadas na elaboração de políticas específicas para agroindústrias familiares,

dentre elas o Pronaf /Investimento – linha especial Agroindústria Familiar.

Um dos fatores indispensáveis para o sucesso das indústrias de pequeno porte de

produção de etanol, sem dúvida nenhuma, serão as linhas de créditos disponíveis. Pretende-se

demonstrar aqui apenas as linhas de crédito do programa de incentivo aos produtores

familiares que é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Para tanto, a seguir apresenta-se alguns exemplos nas linhas especiais: Pronaf Investimento e

Pronaf Agroindústria.

É possível constatar através da Tabela 1 que os financiamentos de até sete mil reais

possuem o juro de 1% ao ano, de sete a 18 mil de 2%, de 18 a 28 mil de 4% e de 28 a 36 mil

de 5,5%.

Tabela 1: Linhas de enquadramento e taxas de juros para contratos de investimento do Pronaf

Financiamento Taxa de juros/ano Até R$ 7 mil 1% De R$ 7 mil a R$ 18 mil 2% De R$ 18 mil a R$ 28 mil 4% De R$ 28 mil a R$ 36 mil 5,5%

Fonte: Pronaf/MDA (2009).

Com as informações do Pronaf buscar-se-á demonstrar as variáveis quando o

agricultor ou um grupo de agricultores utiliza esses recursos para potencializar o investimento

na instalação de uma Indústria de Pequeno Porte de Produção de Etanol.

34

2 METODOLOGIA

Este capítulo consiste na apresentação dos procedimentos metodológicos adotados no

desenvolvimento da pesquisa nas suas sucessivas etapas de investigação. Tais procedimentos

permitem analisar o potencial e a viabilidade da produção de etanol em unidades de produção

agroindustriais familiares de pequeno porte, em que são utilizados os padrões nacionais.

Buarque (1991) apresenta alguns desses padrões, os quais são básicos para uma análise

econômico-financeira: a Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa de remuneração do capital

investido nas indústrias de pequeno porte de produção de etanol. O Valor Presente Líquido

(VPL) é o transporte para a data zero de todos os desembolsos e recebimentos esperados

(saldos) ao longo do horizonte de planejamento. O payback ou Período de Retorno do Capital

(PRK) determina o número de períodos necessários para recuperar o capital investido.

Compara-se também a TIR com a Taxa Mínima de Atratividade (TMA), taxa segura que seria

possível aplicar o capital ao invés de investir em outras atividades. Para isso determina-se a

taxa de 5,5%, que é a taxa de juros do Pronaf Investimento.

Ainda como metodologia para a presente análise adota-se a teoria da reprodução

social. É importante salientar que essa abordagem permite incorporar na análise econômica

processos não relacionados ao mercado, mas relações sociais relativas ao uso dos recursos

disponíveis e a estratificação da produção na estrutura social dos agricultores familiares

envolvidos nos projetos das indústrias de pequeno porte de produção de etanol.

Para tanto, foi necessário buscar embasamento em uma pesquisa bibliográfica.

Conforme Silva (2005), este procedimento procura explicar um problema a partir de

referências teóricas publicadas em documentos. A pesquisa bibliográfica, portanto, foi o

primeiro passo para realizar o presente estudo. Porém, foram encontradas poucas referências

bibliográficas voltadas à produção de etanol em pequena escala, o que levou a intensificar a

pesquisa de campo para identificar as unidades de produção e suas características.

Nesse procedimento inicial buscou-se ainda mediante a técnica qualitativa conhecer as

características dos agricultores familiares e das unidades de produção pesquisadas. Segundo

Moreira (2002), o pesquisador interpreta o mundo real a partir das perspectivas subjetivas dos

sujeitos em estudo. E com as visitas a campo os sujeitos podem interagir com o pesquisador,

auxiliando-o ou não. Utilizou-se a técnica da entrevista por meio da visita aos locais e

conversa aberta para obtenção das informações.

35

Outra técnica utilizada foi a quantitativa que permitiu a construção correta dos dados,

de forma adequada aos objetivos da investigação, oferecendo parte dos elementos para a

análise. Estes dados tratam de probabilidades, associações estatisticamente significantes e

importantes para se conhecer uma realidade. A partir daí foi possível avaliar e analisar o

potencial e a viabilidade da produção de etanol em unidades industriais de pequeno porte e a

sua importância para a agricultura familiar da região e a sua reprodução social.

2.1 O CONCEITO DE REPRODUÇÃO SOCIAL

O tema da reprodução social das formas familiares de produção no meio rural vem

ganhando espaço nos debates das ciências agrárias. Esse debate tem gerado uma diversidade

de abordagens, possibilitando analisá-lo a partir de diferentes esquemas conceituais e de

diferentes aspectos e relações. Devido à importância que a noção assume neste estudo, fica

claro que se atribui a ela a reprodução da força de trabalho, condição indispensável à

reprodução social.

Nas formações sociais em que os indivíduos se situam em estratos e classes sociais

que se posicionam de forma diferenciada face à propriedade dos meios de produção, a

reprodução da força de trabalho tem sido assegurada pelo salário.

O salário deverá assegurar a reprodução da força de trabalho, garantindo a

sobrevivência dos trabalhadores e ainda dos seus descendentes, pois são eles que irão garantir

a continuidade do processo produtivo.

Segundo Silva Neto (2006), para entender melhor o sentido da reprodução social é

necessária a compreensão do funcionamento da sociedade a partir da análise das condições

materiais de sua existência. Isso deve ser efetuado de um ponto de vista dinâmico, ou seja, é

preciso que se procure compreender não apenas como estas sociedades funcionam, mas

principalmente como elas “se reproduzem” ao longo do tempo.

Assim, na medida em que se entende a sociedade como um sistema não-conservativo,

é importante efetuar uma análise especifica dos processos de reprodução social que permitem

que os diversos agentes sociais não apenas asseguram a sua subsistência, mas também

mantenham sua identidade ao longo do tempo. Esta etapa exige a realização de uma análise.

Neste sentido, é interessante agrupar os diversos agentes que compõem uma sociedade

segundo “categorias sociais”, isto é, agentes que mantêm relações sociais específicas e que

permitem o seu agrupamento em uma categoria comum.

36

Além de relações sociais específicas, a cada categoria social correspondem também

meios de produção que lhe são próprios e que configuram um conjunto bem delimitado de

sistemas de produção possíveis de serem manejados por cada categoria social. Por isto, a

preocupação deste estudo em relação à reprodução social desloca-se do sistema econômico

como um todo, mais comum na literatura, para concentrar-se ao nível das unidades de

produção na medida em que é que por meio destas que as categorias sociais mantêm as suas

especificidades.

A discussão da reprodução social possibilita explicar alguns aspectos econômicos

importantes do desenvolvimento sustentável. Porém, a forma como a economia analisa a

reprodução social está longe de ser homogênea, ou pelo menos, minimamente consensual.

Para os economistas fisiocratas, clássicos e marxistas, a reprodução social se constituía

em um problema central na ciência econômica. Porém, apesar dos diferentes pontos de vistas,

a análise da reprodução social esteve associada pelo menos dentre os fisiocratas e os clássicos

com a preocupação de discernir um estágio estacionário da economia. Além disso, os

esquemas de reprodução elaborados pelos economistas fisiocratas e clássicos não

incorporavam elementos, como por exemplo, as mudanças tecnológicas, que lhes permitiriam

melhor refletir o dinamismo dos processos de reprodução.

É sob Marx que a análise da reprodução social se detém nos aspectos mais dinâmicos

da reprodução social. Preocupado com a acumulação de capital, Marx distingue, por um lado,

a reprodução “simples” que reflete um estado estacionário da economia, tido pelo autor como

improvável devido às próprias características do sistema capitalista, e de outro, a reprodução

“ampliada” que reflete o processo de acumulação de capital, considerado como típico deste

sistema econômico.

Para os economistas neoclássicos a reprodução social não se constitui propriamente

em um problema. Isto porque, de acordo com a teoria do valor utilidade, revelado por

Guerrien (1989), os preços devem refletir a escassez relativa dos recursos, o que permite que

o mercado se constitua em um eficiente mecanismo de regulação da economia, assegurando

automaticamente a sua reprodução (apud SILVA NETO, 2006). Neste sentido, ignorando a

influência das relações sociais sobre a repartição da produção, os neoclássicos pregam que

cada agente social, individualmente, deve ser remunerado segundo a produtividade. A teoria

neoclássica, portanto, trata implicitamente a sociedade como algo homogêneo, em que os

fatores de produção têm uma perfeita mobilidade, podendo ser alocados de forma a

maximizar a utilidade dos agentes, assumindo a teoria do mercado de concorrência.

37

A questão que se coloca para os neoclássicos é a de como definir os processos

produtivos e as atividades que permitam o uso mais eficiente dos fatores de produção

disponíveis. Desta forma, a reprodução social se coloca ao nível do sistema econômico, ou

pelo menos a partir das relações do agente social em questão com outros agentes que, direta

ou indiretamente, participam do processo produtivo.

De acordo com os neoclássicos, uma unidade de produção pode ser considerada

“reprodutível” quando todos os seus fatores de produção estão sendo remunerados a um nível

igual ou superior aos seus preços de mercado.

As duas abordagens da reprodução social acima discutidas, embora diametralmente

opostas quanto aos seus pressupostos, possuem em comum o fato de não tratarem, de forma

explícita e sistemática, dos processos de diferenciação social. No entanto, a análise desses

processos é essencial para que se possa compreender adequadamente as transformações da

sociedade e, portanto, as condições imediatas para sua evolução (SILVA NETO, 2006).

Para a análise dos processos de diferenciação é necessário que se disponha de

instrumento de análise econômica que permita captar as especificidades de cada categoria

social e dos sistemas de produção que asseguram a manutenção, permitindo avaliar toda a

diversidade de situações presentes em uma sociedade. Isto remete à análise da reprodução

social para o nível da unidade de produção, porém sem perder de vista as especificidades de

cada categoria social e dos seus sistemas de produção.

Para o desenvolvimento de uma análise deste tipo, o ponto de partida é a noção de que

uma unidade de produção é reprodutível quando fornece uma renda suficiente para assegurar

a reprodução social dos agentes econômicos dela dependente. Assim, considera-se que há um

certo patamar de renda denominado “nível de reprodução social” que a unidade de produção

deve atingir para que os agentes econômicos que dela dependem diretamente se mantenham

na mesma categoria social (produtores familiares, capitalistas, etc.) ou, no caso de uma

reprodução “ampliada” em uma categoria social tendencialmente mais capitalizada, o que

pode levar a mudanças na relações de produção (passar de familiar para patronal).

Isso significa que o nível de reprodução social corresponde a uma renda suficiente

para que os agricultores não apenas possam sobreviver biologicamente, mas também tenham

interesse em se manter na unidade de produção. Assim, para uma adequada compreensão

desta análise, utiliza-se neste estudo o método que identifica a renda, isto é, o valor gerado na

38

unidade de produção subtraído do valor dos insumos e equipamentos por ela consumido, e a

repartição desse valor entre os diferentes agentes econômicos que, direta ou indiretamente

participaram da sua geração.

Ainda de acordo com Lima et al. (2005), essa avaliação pode ser feita, por um lado,

segundo o ponto de vista da sociedade, que se interessa pela quantidade de riquezas novas

geradas pelo sistema de produção e, por outro lado, segundo o ponto de vista do produtor, que

se preocupa com a renda agrícola que o sistema de produção pode lhe oferecer.

Do ponto de vista da sociedade, um valor da renda maior significa um melhor

aproveitamento dos recursos disponíveis, ou seja, os agentes sociais que ofertam insumos,

serviços, máquinas e equipamentos, entre outros, são também beneficiados com o bom

desempenho econômico das unidades de produção agropecuária.

Outra contribuição utilizada neste estudo foi a de Lima et al. (2005), para quem a

reprodução e o desempenho da unidade familiar ocorrem de forma integrada à dinâmica de

desenvolvimento de uma sociedade, enquanto que os agricultores familiares visam a

reproduzir-se social e economicamente. Assim, o nível de reprodução dos produtores

familiares depende fundamentalmente do desempenho econômico e financeiro de suas

unidades de produção.

Para este estudo utilizou-se ainda o método do Nível de Reprodução Simples (NRS),

que é a renda mínima necessária à reprodução do agricultor e sua família ao longo do tempo.

Essa renda deve permitir um nível mínimo de alimentação, de habitação, saúde e educação.

Neste caso usou-se como indicador o custo de oportunidade do trabalho, medido por meio do

salário mínimo vigente na Unidade do Trabalho Homem (SM/UTH), pois geralmente os

agricultores não conseguem continuar por muito tempo na atividade se a remuneração for

inferior ao salário mínimo.

O Nível de Reprodução Simples constitui-se indicador básico para analisar a

capacidade de reprodução. Caso o indicador se mostre abaixo do SM, a atividade não é

atrativa, porém se ficar acima, o agricultor além de se manter poderá fazer novos

investimentos.

Na análise e interpretação do NRS, os procedimentos básicos consistem em comparar

o desempenho global do sistema de produção, no caso, a receita das indústrias de pequeno

porte de produção de etanol com o nível de reprodução esperado.

39

2.2 COLETA DE DADOS E INFORMAÇÕES

Foram realizadas visitas a campo nas indústrias de pequeno porte de produção de

etanol nos municípios de Dezesseis de Novembro e Rolador, de forma dirigida para buscar a

compreensão do funcionamento das unidades e a organizações dos agricultores. Além das

visitas a campo participou-se de vários seminários e encontros que versavam sobre o tema “a

produção de etanol e a agricultura familiar”, o que possibilitou sistematizar as informações e

construir o Projeto Técnico para, posteriormente, reunir, sistematizar e interpretar os

resultados.

Também foi realizado um levantamento de dados secundários mediante análise de

material publicitário de empresas e metalúrgicas, principalmente em páginas da Internet

(diversas fontes), que divulgavam informações referentes à fabricação, implantação e

viabilidade de micro-destilarias de álcool. O objetivo inicial deste levantamento foi resgatar e

obter informações referentes às diferentes variáveis nas dimensões das plantas industriais,

principalmente nos preços, pois era necessário identificar o investimento.

2.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Nesta etapa foram analisados os dados obtidos pela pesquisa. A seguir serão

explicadas algumas questões relativas aos procedimentos utilizados. Posteriormente, faz-se a

avaliação com apresentação dos resultados e discussões. A área de estudo objeto da pesquisa

compreende o universo das indústrias de pequeno porte de produção de etanol nos municípios

de Dezesseis de Novembro e Rolador, RS. Para realizar a avaliação econômica e financeira do

estudo alguns conceitos foram importantes, sendo o seu modo de obtenção descrito a seguir.

Os projetos são instrumentos técnico-administrativos elaborados por meio de

procedimentos lógicos e racionais. Permitem avaliar e decidir sobre as alternativas de

investimento e os efeitos em termos de rentabilidade e eficiência econômica e financeira, bem

como os impactos do ponto de vista social e ambiental.

O projeto técnico permite avaliar a viabilidade da implantação e funcionamento dos

projetos pesquisados, analisando as informações referentes à engenharia do processo de

produção e do sistema, preços de insumos e estudo de mercado. Esta intervenção demonstra o

desempenho econômico e financeiro global das unidades de produção.

40

A indústria do município de Dezesseis de Novembro, segundo o projeto técnico,

possui capacidade de produção de 1.200 litros/dia, envolvendo cinco pessoas, com carga

horária acima de 12 horas e aproximadamente sete meses de plenas atividades. Já a indústria

do município de Rolador tem a capacidade de produção de 500 litro/dia, envolve três pessoas

e possui a mesma capacidade de horas e período de produção da anterior.

No orçamento obteve-se o detalhamento preciso de todos os itens previstos para a

implementação do empreendimento, sendo que seu objetivo foi estimar o valor do

investimento, dos custos e da receita do projeto. Trata-se de um levantamento físico e

monetário dos meios de produção, do consumo intermediário, além da necessidade de mão-

de-obra, do pagamento de impostos, taxas e de juros do financiamento.

Para demonstrar o valor de investimento de uma indústria de pequeno porte de

produção de etanol utiliza-se a expressão “Kit/investimento”, pois se busca sintetizar tudo o

que se gastou em equipamentos para instalar a planta industrial. Nos anexos deste estudo

constam, de forma genérica, os elementos e equipamentos que compõem as plantas

industriais.

O custo operacional diz respeito a todos os recursos necessários para manter o

funcionamento por um determinado período do empreendimento – no caso sete meses – pois é

levado em conta o período de safra. Os custos dividem-se em Custos Fixos (referem-se às

despesas que ocorrem ordinariamente em uma organização, cuja variação independe do

volume comercializado) e Custos Variáveis (referem-se aos itens de despesas que aumentam

ou diminuem conforme a produção). Somados, estes custos compõem o chamado Custo

Operacional.

Os cálculos foram realizados com base nas informações obtidas por meio das

entrevistas direcionadas aos agricultores familiares que possuem pequenas plantas industriais

de produção de etanol.

Outro custo a ser considerado são os itens adquiridos e que compõem o investimento.

Estes sofrem anualmente uma depreciação em seu valor, visando manter o Balanço

Patrimonial da empresa adequado à realidade do patrimônio. Porém, mesmo considerando o

desgaste periódico dos itens, no fim da vida útil estimada ainda restará um valor residual, o

que será considerado para fins de cálculo de depreciação e liquidação do projeto. Nesse

sentido, aplica-se uma taxa de 5% do valor residual sobre o preço de compra dos bens.

41

Depreciação:

– VN = Valor Novo

– VR = Valor Residual (considera-se 5% do valor)

– VU = Vida Útil

– DA = Depreciação

– DA = VN-VR/VU

Considera-se ainda como custo a implantação do canavial, cujo quadro sintético dos

custos será apresentado no presente estudo.

O item Receitas representa a entrada de recursos por meio de sua atividade. Neste

caso, o Álcool Etílico Hidratado Combustível (AEHC) para os produtores deve atender a

alguns pressupostos. Entre eles o de cobrir os custos de produção que, naturalmente, incluem

os custos da matéria-prima e a operação da planta de produção, bem como os custos de capital

correspondentes aos investimentos produtivos realizados.

Para avaliar a rentabilidade do projeto utilizam-se alguns valores como o Fluxo

Econômico do Projeto (Flec), que representa a contribuição anual do projeto em termos de

disponibilidade monetária (saldo de caixa), sendo representado pelo valor da Renda Líquida

anual acrescido do valor anual da depreciação do capital fixo.

Procedimento: Flec = RL + Depreciação.

A parte mais importante do projeto está representada pelo Fluxo de Caixa, que resume

as entradas e saídas de dinheiro ao longo do horizonte do planejamento do projeto. O fluxo de

caixa é a base que permite ao analista conhecer a rentabilidade e viabilidade econômica do

projeto. Ele sempre deverá estar estruturado para determinado número de períodos que a

atividade passará a gerar renda econômica.

Tem-se o Valor Presente Líquido (VPL), que trata da atualização dos valores

projetados no futuro para os dias atuais. Sobre o Fluxo Econômico anual projetado aplica-se

uma taxa de atualização (desconto) equivalente à remuneração do capital investido. Essa taxa

de atualização deve corresponder ao custo de oportunidade do capital.

Procedimento: VPL: = Flec/(1+txremk)^n

42

Já a Taxa Interna de Retorno (TIR) demonstra a rentabilidade do capital investido

evidenciado, ou seja, o ganho anual (taxa de juro) com a aplicação do capital no projeto. O

que a TIR quer determinar é a taxa de retorno (juros) do projeto, a qual será encontrada

quando zerar o Fluxo Econômico atualizado (VPL total = 0). Quanto maior a porcentagem da

TIR mais atraente é o projeto, e para que seja aceitável nunca deve ser inferior ao custo de

oportunidade do capital (12%).

O valor do Período de Retorno do Capital (PRK) representa o tempo (nº de anos)

necessário para a recuperação do capital investido, isto é, quanto tempo levará para retornar o

dinheiro investido no projeto. Esses foram os procedimentos adotados nesta etapa do trabalho

e, por fim, desenvolveram-se os resultados da reprodução social dos agricultores envolvidos

nos projetos.

43

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este estudo pretende analisar as potencialidades e as condições de viabilidade e de

reprodução social obtidas a partir da produção de etanol em duas indústrias de pequeno porte

na Região das Missões no Estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, estabeleceram-se dois

cenários: o primeiro considera a lógica da comercialização do etanol produzido para as

empresas distribuidoras de combustíveis; o segundo simula um caso em que os agricultores

comercializam o etanol diretamente aos consumidores. Ambos os cenários são apresentados e

analisados neste capítulo, partindo da caracterização política, econômica e agroclimática da

região.

3.1 A REGIÃO DAS MISSÕES DO RIO GRANDE DO SUL E A AGRICULTURA FAMILIAR

A Região das Missões localiza-se ao Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul,

fronteira com a Argentina. Possui 267.567 habitantes (IBGE, 2006) e uma dinâmica

populacional que reflete nas últimas décadas as tendências da população gaúcha, bem como

fenômenos regionais específicos, sendo uma das regiões mais pobres do Estado. A redução

acentuada do crescimento populacional, entre 1980 e 2000, evidencia-se como um dos

maiores problemas da região, com taxas negativas de crescimento na maioria dos municípios,

sendo possivelmente resultante da expulsão de contingentes migratórios para outras regiões.

Conforme dados apurados tem-se que a região das Missões está vinculada na escala

das regiões de Coredes “em dificuldades”. Essa classificação tomou como referência os

fatores descritos no item conclusivo sobre o perfil de cada região, conforme segue:

COREDE MISSÕES – causas prováveis de seu desempenho: a) Mercados locais pobres, pequenas e grande distância a outros; b) Movimentos oscilatórios das culturas empresariais; c) Movimentos migratórios expulsores de populações qualificadas; d) Deficientes infra-estruturas socioeconômicas; e) Indicadores sociais médios; f) Baixo empreendedorismo e atratividade; g) Baixa geração de conhecimento e inovações; h) Baixos investimentos públicos; i ) Mescla de potencialidades e restrições ambientais; j) Baixa governança. (CONSÓRCIO BOOZ ALLEN, 2005, p. 2-14).

44

Figura 1: Mapa geográfico da Região das Missões. Fonte: Consórcio Booz Allen (2005) - Missões6.

Tabela 2: Comparação dos indicadores econômicos e sociais da Região das Missões

Dados/indicadores Rio Grande do Sul Região Missões População total (2005) 10.749.595 hab 249.133 hab Área em km² (2005) 281.748,5 km² 12.844,6 km² Densidade demográfica (2005) 38,2 hab/km² 19,4 hab/km² Taxa de analfabetismo (2000) 6,65% 8,74% Expectativa de vida ao nascer (2000) 72,05 anos 72,08 anos Coeficiente de mortalidade infantil (2005) 13,64 por mil 14,29 por mil PIB per capita (2004) R$ 13.320,00 R$ 9.870,00

Fonte: FEE/RS – Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul (2009).

Tabela 3: Estrutura produtiva setorial do Estado e da região

Setor Rio Grande do Sul Região das Missões

Agropecuário 14,9% (2002) 36% (2005)

Industrial 40,9% (2002) 10% (2005)

Serviços/Comércio 44,2% (2002) 54% (2005)

Fonte: Consórcio Boos Allen – estudos da Secretaria da Coordenação e Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul (2005).

6 Dados extraídos da Secretaria Estadual da Coordenação e Planejamento/RS, verificados no Estudo sobre

Desenvolvimento Regional e Logística de Transporte no RS (Projeto Rumos 2015) e da Fundação de Economia e Estatística (FEE/RS).

45

A economia regional está baseada na pequena propriedade rural, e tem vivido um

processo de estagnação, caracterizado pelo esvaziamento demográfico, queda na produção

agropecuária e redução da qualidade de vida de sua população. No aspecto econômico passa

por dificuldades, assim como as outras regiões brasileiras, devido à política macroeconômica

implantada.

3.2 CONDIÇÕES AGROCLIMÁTICAS PARA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR

NAS MISSÕES

Historicamente, a cana-de-açúcar vem sendo cultivada na Região das Missões há cerca

de quatro séculos. Durante esse período foi utilizado para alimentação animal e como

importante componente energético na dieta alimentar de humanos. Na alimentação animal,

seu uso ainda hoje é considerado pelos agricultores como fundamental em épocas de escassez

de alimentos, como períodos hibernais e estiagens prolongadas. Apresenta melhor

comportamento em climas quentes (tropical) e também em climas distintos: quente e úmido

para germinação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo, e frio e seco para a maturação

e acúmulo de açúcar.

Dentre outras características, a cana-de-açúcar apresenta alta eficiência fotossintética e

ponto de saturação luminoso elevado. A temperatura do ar exerce grande influência no

crescimento dos colmos, sendo que a faixa ótima varia entre 20 e 35°C. O crescimento é

lento, abaixo de 25ºC e nulo a temperaturas inferiores a 19°C (SEBRAE, 2005).

A cultura da cana-de-açúcar está presente, praticamente, em todas as propriedades

familiares e é de conhecimento dos produtores da região. As principais variedades utilizadas

na produção são conhecidas como 18 RB76-5418 e RB 85 (Branca), que é largamente

utilizada para a produção de álcool no município de Porto Xavier, RS (ASTRF, 2005).

Procura-se cultivar variedades que mais se adaptem às diferentes situações da unidade

de produção, como o tipo de solo, a disponibilidade de mão-de-obra, entre outros, observando

que o Ponto Útil de Industrialização (PUI) é determinado pelos ciclos. Os cultivares precoces

acumulam açúcares mais cedo, já as tardias, num período maior. As espécies precoces devem

ser colhidas logo que atingirem 18º Brix, não deixando ultrapassar muito esse ponto, o que

pode provocar a inversão de sacarose (transformação do açúcar em glicose), diminuindo o

teor de açúcar.

46

Cabe ressaltar a observância dos dois diferentes tipos de solos predominantes na

Região Missioneira, quais sejam: o latossolo argiloso de mapeamento Santo Ângelo, e o solo

do tipo Podzóico vermelho-amarelo de mapeamento Ciriaco-Charrua (tosca).

A Figura 2 apresenta a proposta de zoneamento da cultura, segundo pesquisa da

Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do RS (FEPAGRO-RS, 2007).

O C E A N O A T L Â N T I C O

0 100 200 300 400

ESCALA: 1:4.000.000

U R U G U A I

A R G E N T I N A

S A N T A C A T A R I N A

Zoneamento Agroclimático da Cana-de-açúcar Estado do Rio Grande do Sul Produção de Açúcar e Álcool

Açúcar e Álcool - Pref. 1

Regiões de Cultivo

Açúcar e Álcool - Pref. 2

ÁlcoolNão indicado

Figura 2: Mapa da proposta de zoneamento da cultura da cana-de-açúcar e o potencial de produção. Fonte: FEPAGRO-RS (2007).

Percebe-se, então, que segundo os resultados da pesquisa da Fepagro/RS, a região é

indicada para a produção da cultura e sua transformação em açúcar e álcool.

A fim de apresentar um rápido esboço do comportamento espacial desta

especialização produtiva no espaço rural missioneiro, optou-se por utilizar o trabalho da

Fepagro/RS. Na oportunidade, o estudo propôs uma regionalização do Estado do Rio Grande

do Sul, considerando os aspectos geoeconômicos, com ênfase para a produção da cultura da

cana-de-açúcar.

47

3.3 VIABILIDADE DA AGROINDÚSTRIA DE ETANOL DE DEZESSEIS DE

NOVEMBRO – RS

O município de Dezesseis de Novembro possui uma população total de

aproximadamente 3.009 habitantes. Sua área é de 216,8 km², densidade demográfica de 13,9

hab/km², a taxa de analfabetismo é de 14,98%, expectativa de vida ao nascer (2000) era de

69,75 anos e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita no ano de 2003 foi de R$ 5.893 (IBGE,

2006).

3.3.1 Proposta técnica

A indústria, segundo o projeto técnico, possui uma capacidade de produção de 1.200

litros/dia, envolvendo cinco pessoas nesse processo, com carga horária acima de 12 horas e

aproximadamente sete meses de plenas atividades.

3.3.2 Orçamentação: investimentos, receitas e custos da agroindústria de etanol

As características físicas da planta industrial visitada no município de Dezesseis de

Novembro são: galpão coberto, medindo 80 m², com capacidade para abrigar três dornas de

fermentação de cinco mil litros e a parte eletrônica da coluna de destilação; moenda para a

moagem da cana-de-açúcar; gerador de calor (caldeira); coluna para destilação do etanol

hidratado; decantador e filtro da calda; diversos utensílios de pequeno porte, como decímetro

para medição do álcool, termômetro, refratômetro, Phmetro para medir o Ph; tanque móvel de

aço com capacidade de 5.000 litros para a retirada do vinhoto e esparramar nas pastagens e

duas caixas de água de 1.000 litros cada.

– Investimento: para a implantação da Indústria de Pequeno Porte de Produção de Etanol

(IPPE), segundo informações dos agricultores, o investimento foi de R$ 315.000,00,

incluindo a construção do galpão e infra-estrutura para o funcionamento básico. Na Tabela

4 podem ser visualizados os principais investimentos realizados em máquinas e

equipamentos para compor a infra-estrutura inicial da IPPE. O destaque fica para a coluna

de destilação que apresenta o maior valor (R$ 247.200,00).

48

Tabela 4: Investimento: em máquinas/equipamentos e galpão da agroindústria de etanol,

Dezesseis de Novembro, 2009

Itens Valor em (R$) Coluna de destilação 247.200,00 Caldeira/gerador de calor 18.000,00 Moenda c/motor estacionário 18.000,00 Dornas de fermentação 12.000,00 Decantador de calda 800,00 Tanque aço/móvel 2.000,00 Utensílios de pequeno porte 2.000,00 Galpão/infra-estrutura 15.000,00 Total 315.000,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

– Custos fixos: como custos fixos foram identificadas as despesas de luz, água, telefone,

materiais diversos e a depreciação dos equipamentos. Também se considerou a

implantação da lavoura de cana-de-açúcar (39,37 hectares) que, juntando despesas de

mudas, insumos, preparo do plantio, mão-de-obra gerou um custo de R$ 1.400,00 por

hectare, conforme informado pelos agricultores envolvidos no projeto e confirmados pela

pesquisa. Neste estudo, porém, dividiu-se esse custo inicial por oito, pois é o período de

anos de produção vegetativa da cana, sendo que nos demais anos apenas é feito o manejo

e, em alguns casos, a reposição de nutrientes, ficando o valor de R$ 175,00 por hectare,

multiplicado por 39,37/ha, resultou em R$ 6.889,75. Portanto, somados com os demais

custos fixos tem-se o valor de R$ 20.864,75.

– Custos variáveis: quanto aos custos variáveis foram considerados os seguintes itens:

– Óleo diesel (Motor Estacionário do Engenho);

– Lenha (abastecimento da caldeira) Gerador a vapor /consumo da caldeira: 1/2 m³;

– Kit produtos (utilizado no processo de transformação do etanol), mais o transporte da

cana-de-açúcar da lavoura até a indústria que, somados, representam R$ 18.657,78.

Somando os custos fixos, variáveis e a depreciação das máquinas e equipamentos (R$

9.975,00), compôs-se os custos operacionais da indústria de pequeno porte de produção de

etanol de Dezesseis de Novembro, que resultaram em R$ 39.522,53.

– Receita: nesta fase da pesquisa, para ter uma melhor compreensão da entrada da receita,

necessariamente foram feitos alguns recortes:

49

a) a capacidade total de litros de etanol produzido apenas na safra em sete meses;

b) analisar e diferenciar a comercialização ao distribuidor, e simular a venda direta ao

consumidor;

c) produtividade tonelada/hectare de cana-de-açúcar.

Os agricultores informaram que a produção média de cana por hectare é de 80 toneladas,

ficando a capacidade de transformação (PUI) da cana-de-açúcar em álcool AEHC7, com

aproximadamente 8% de aproveitamento.

X = 80 t/ha/8%

Y = 6.400 litros por ha.

Com essa configuração a capacidade produtiva nos sete meses desta indústria de pequeno

porte é de 251.968 mil litros de etanol.

Ainda no item da receita é importante ressaltar que para o processo da comercialização

do etanol, a empresa distribuidora de combustível precisa estar cadastrada no Ministério de

Minas e Energia através da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

Também precisa estar de acordo com a Medida Provisória nº 413, de 03/01/2008, que foi

convertida na Lei Federal n. 11.727, de 23 de junho 2008 (Anexo 5).

Os valores pagos pelas Distribuidoras para os usineiros, segundo Unica (2009), é de

R$ 0,72, sem os encargos. Neste cenário, portanto, tem-se o valor de R$ 181.416,96 como

receita. A Tabela 5 apresenta ainda os custos operacionais (R$ 39.522,53), resultando em R$

141.894,43 a sobra líquida do processo de agroindustrialização da produção de etanol.

Tabela 5: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção

de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009

Itens Quant. litros etanol Total valores (R$) Receita 251.968 181.416,96 Custos operacionais - 39.522,53 Resultado - 141.894,43

Fonte: dados da pesquisa (2009).

7 AEHC: Álcool Etílico Hidratado Combustível, sigla utilizada pela Associação Nacional de Petróleo (ANP).

50

3.3.3 Resultado financeiro da agroindústria de etanol: venda para a distribuidora

Na Tabela 6 procura-se sintetizar a análise econômica, determinando o período de oito

anos, havendo relação entre a capacidade produtiva da cana-de-açúcar com o financiamento

do Pronaf. Os dados mostram o capital de investimento, os custos operacionais e a receita e,

por fim, o fluxo de caixa-saldo.

Tabela 6: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009

Anos Investimento Receita Custo Operacional FLC = Saldo 0 315.000,00 - - - 1 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43 2 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43 3 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43 4 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43 5 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43 6 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43 7 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43 8 - 181.416,96 39.522,53 141.894,43

Total - 1.451.335,68 316.180,24 1.135.155,44

Fonte: dados da pesquisa (2009).

A Tabela 7 demonstra os resultados num planejamento de oito anos, porém não foram

estabelecidas variáveis que alterassem os indicadores no prazo planejado, ficando os

indicadores fixos durante todo o período. O Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de

Retorno (TIR) e o Período de Retorno do Capital (PRK) são indicadores que minimamente

mostram a viabilidade do investimento.

Tabela 7: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro,

2009

Anos FLC = Saldo PRK VPL = 5,5% TIR 0 - 315.000,00 - 315.000,00 1 141.894,43 - 173.105,57 134.497,09 78.014,02 2 141.894,43 -31.211,14 127.485,39 42.892,36 3 141.894,43 110.683,29 120.839,24 23.582,36 4 141.894,43 252.577,72 114.539,56 12.965,66 5 141.894,43 394.472,15 108.568,30 7.128,56 6 141.894,43 536.366,58 102.908,34 3.919,31 7 141.894,43 678.261,01 97.543,45 2.154,85 8 141.894,43 820.155,44 92.458,25 1.184,74

Taxa Interna de Retorno (TIR): 0,23 VPL: R$ 134.497,09 no primeiro ano, com uma taxa de 5,5%

Fonte: dados da pesquisa (2009).

51

A TIR = 0,23 é considerada atrativa, pois a cada real investido os agricultores

envolvidos na indústria de produção de etanol de pequeno porte são remunerados com mais

0,23 centavos. Já o retorno (PRK = 2-3 anos) mostra que em menos de três anos os

agricultores já conseguem a reposição do capital investido.

Na Tabela 8 o estudo mostra a viabilidade do investimento obtida mediante um

financiamento do Pronaf com taxa de juros de 5,5%, situação dos agricultores envolvidos no

projeto. O caso possui ressalvas, uma vez que existe um limite máximo de crédito para o

investimento que cada um poderia acessar.

Tabela 8: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de etanol,

Dezesseis de Novembro, 2009

Ano Investimento Capital Amortização Juros Prestação Saldo devedor 0 315.000,00 315.000,00 1 315.000,00 39.375,00 17.325,00 56.700,00 275.625,00 2 275.625,00 39.375,00 15.159,38 54.534,38 236.250,00 3 236.250,00 39.375,00 12.993,75 52.368,75 196.875,00 4 196.875,00 39.375,00 10.828,13 50.203,13 157.500,00 5 157.500,00 39.375,00 8.662,50 48.037,50 118.125,00 6 118.125,00 39.375,00 6.496,88 45.871,88 78.750,00 7 78.750,00 39.375,00 4.331,25 43.706,25 39.375,00 8 39.375,00 39.375,00 2.165,63 41.540,63 0,00

Total 315.000,00 315.000,00 77.962,50 392.962,50 1.102.500,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

Nessa planilha fica mais uma vez demonstrada a viabilidade da unidade produtiva de

etanol, pois as prestações do financiamento de R$ 56.700,00, com decréscimo nos demais

anos, correspondem a 39,95% do resultado obtido no fluxo de caixa, que é de R$ 141.894,43,

implicando na capacidade de pagamento extremamente satisfatória.

Na Tabela 9 a capacidade de pagamento demonstrada nos indicadores do Fluxo

Líquido de Caixa Final (FLC) no primeiro ano é de R$ 85.194,43, o que corresponde a

60,04% do saldo de caixa que desconta o Custo Operacional. Ao longo dos oito anos de

pagamento do financiamento as prestações sofrem um decréscimo, fator positivo na

viabilidade do projeto.

52

Tabela 9: Fluxo de caixa final da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009

Anos Resultado Prestações FLC (saldo final) 0 141.894,43 1 141.894,43 56.700,00 85.194,43 2 141.894,43 54.534,38 87.360,06 3 141.894,43 52.368,75 89.525,68 4 141.894,43 50.203,13 91.691,31 5 141.894,43 48.037,50 93.856,93 6 141.894,43 45.871,88 96.022,56 7 141.894,43 43.706,25 98.188,18 8 141.894,43 41.540,63 100.353,81

Fonte: dados da pesquisa (2009).

3.3.4 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol

Quanto ao Nível de Reprodução Social (NRS), a pesquisa identificou a renda como a

parte da riqueza gerada pela unidade de produção, repartida entre os cinco agricultores

envolvidos na questão. Para efeito deste estudo, tomou-se como parâmetro o fluxo de caixa de

R$ 85.194,43 após desconto dos custos operacionais e das prestações do empréstimo,

demonstrando bom nível de reprodução.

Tabela 10: Capacidade de reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol,

Dezesseis de Novembro, 2009

Renda Nº agricultores NRS anual NRS mensal R$ 85.194,43 05 R$ 17.038,88 R$ 1.419,90

Fonte: dados da pesquisa (2009).

No resultado do NRS utilizou-se o salário mínimo nacional de R$ 465,00 a fim de

determinar a relação com a renda distribuída. O resultado corresponde a 3,05 salários

mínimos mensais para cada agricultor envolvido no projeto de produção de etanol em

pequena escala.

3.3.5 Resultados da agroindústria de etanol com venda ao consumidor

Numa simulação em que os agricultores poderiam comercializar o etanol produzido de

maneira direta aos consumidores ao valor médio de R$ 1,20 o litro, os resultados seriam os

seguintes: receita de R$ 302.361,60, os custos operacionais se manteriam os mesmos (R$

53

39.522,53) e o resultado seria de R$ 262.839,07. Esses dados da agroindústria de produção de

etanol podem ser visualizados na Tabela 11.

Tabela 11: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção

de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009

Itens Quant. litros etanol Total valores (R$) Receita 251.968 302.361,60 Custos operacionais - 39.522,53 Resultado - 262.839,07

Fonte: dados da pesquisa (2009).

3.3.5.1 Resultado financeiro da agroindústria de etanol

Na Tabela 12 procura-se sintetizar a análise econômica, determinando o período de

oito anos, havendo relação entre a capacidade produtiva da cana-de-açúcar com o

financiamento do Pronaf. Os dados mostram o capital de investimento, os custos

operacionais, a receita e, por fim, o fluxo de caixa-saldo.

Tabela 12: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009

Anos Investimento Receita Custo Operacional FLC = Saldo 0 315.000,00 - - - 1 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07 2 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07 3 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07 4 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07 5 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07 6 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07 7 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07 8 - 302.361,60 39.522,53 262.839,07

Total - 2.418,892,80 316.180,24 2.102.712,56

Fonte: dados da pesquisa (2009).

A Tabela 13 demonstra os resultados num planejamento de oito anos, porém não

foram estabelecidas variáveis que alterassem os indicadores no prazo planejado, ficando os

indicadores fixos durante todo o período. O Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de

Retorno (TIR) e o Período de Retorno do Capital (PRK) são indicadores que minimamente

mostram a viabilidade do investimento.

54

Tabela 13: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro,

2009

Anos FLC = Saldo PRK VPL = 5,5% TIR 0 -315.000,00 -315.000,00 1 262.839,07 -52.160,93 249.136,56 144.509,77 2 262.839,07 210.678,14 236.148,40 79.451,94 3 262.839,07 473.517,21 223.837,34 43.682,94 4 262.839,07 736.356,28 212.168,10 24.017,02 5 262.839,07 999.195,35 201.107,20 13.204,64 6 262.839,07 1.262.034,42 190.622,94 7.259,95 7 262.839,07 1.524.873,49 180.685,25 3.991,54 8 262.839,07 1.787.712,56 171.265,64 2.194,56

Taxa Interna de Retorno (TIR): 0,65 VPL: R$ 249.136,56 no primeiro ano, com uma taxa de 5,5%

Fonte: dados da pesquisa (2009).

A TIR = 0,65 é considerada ainda mais atrativa, pois a cada real investido os

agricultores envolvidos na indústria de produção de etanol de pequeno porte são remunerados

com mais 0,65 centavos. Já o retorno (PRK = 1-2 anos) mostra que em menos de dois anos os

agricultores já conseguem a reposição do capital investido.

Na Tabela 14, o estudo mostra a viabilidade do investimento obtida mediante um

financiamento do Pronaf com taxa de juros de 5,5 %, situação dos agricultores envolvidos no

projeto. O caso possui ressalvas uma vez que existe um limite máximo de crédito para

investimento que cada um poderia acessar.

Tabela 14: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de etanol,

Dezesseis de Novembro, 2009

Ano Investimento Capital Amortização Juros Prestação Saldo devedor 0 315.000,00 315.000,00 1 315.000,00 39.375,00 17.325,00 56.700,00 275.625,00 2 275.625,00 39.375,00 15.159,38 54.534,38 236.250,00 3 236.250,00 39.375,00 12.993,75 52.368,75 196.875,00 4 196.875,00 39.375,00 10.828,13 50.203,13 157.500,00 5 157.500,00 39.375,00 8.662,50 48.037,50 118.125,00 6 118.125,00 39.375,00 6.496,88 45.871,88 78.750,00 7 78.750,00 39.375,00 4.331,25 43.706,25 39.375,00 8 39.375,00 39.375,00 2.165,63 41.540,63 0,00

Total 315.000,00 315.000,00 77.962,50 392.962,50 1.102.500,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

55

Busca-se demonstrar na Tabela 14 a viabilidade do investimento que é obtida por meio

de um financiamento do Pronaf. Para efeito desta simulação, a viabilidade permanece a

mesma do resultado anterior (situação real).

Nessa planilha fica demonstrada a viabilidade desta unidade produtiva de etanol, pois

as prestações do financiamento de R$ 56.700,00, com decréscimo nos demais anos,

correspondem a 21,57% do resultado obtido no fluxo de caixa de R$ 262.839,07, o que

implica numa capacidade de pagamento extremamente satisfatória.

Na Tabela 15, a capacidade de pagamento demonstrada nos indicadores do Fluxo

Líquido de Caixa Final (FLC) no primeiro ano é de R$ 206.139,07, o que corresponde a

78,42% do saldo de caixa que desconta o Custo Operacional. Ao longo dos oito anos de

pagamento do financiamento as prestações sofrem um decréscimo, fator positivo na

viabilidade do projeto.

Tabela 15: Fluxo de caixa final da agroindústria de etanol, Dezesseis de Novembro, 2009

Anos Resultado Prestações FLC (saldo final) 0 1 262.839,07 56.700,00 206.139,07 2 262.839,07 54.534,38 208.304,70 3 262.839,07 52.368,75 210.470,32 4 262.839,07 50.203,13 212.635,95 5 262.839,07 48.037,50 214.801,57 6 262.839,07 45.871,88 216.967,20 7 262.839,07 43.706,25 219.132,82 8 262.839,07 41.540,63 221.298,45

Fonte: dados da pesquisa (2009).

3.3.5.2 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol

Quanto ao Nível de Reprodução Social (NRS), a pesquisa identificou a renda como

sendo a parte da riqueza gerada pela unidade de produção e repartido entre os cinco

agricultores envolvidos na questão. Para efeito deste estudo toma-se como parâmetro o fluxo

de caixa de R$ 206.139,07 após desconto de todos os custos operacionais e as prestações do

empréstimo, demonstrando que houve bom nível de reprodução.

56

Tabela 16: Capacidade de reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol,

Dezesseis de Novembro, 2009

Renda Nº agricultores NRS anual NRS mensal R$ 206.139,07 05 R$ 41.227,81 R$ 2.400,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

No resultado do NRS foi utilizado o salário mínimo nacional de R$ 465,00 para

determinar a relação com a renda distribuída. O resultado corresponde a 5,16 salários

mínimos mensais para cada agricultor envolvido no projeto de produção de etanol em

pequena escala.

3.4 VIABILIDADE DA AGROINDÚSTRIA DE ETANOL DE ROLADOR – RS

O município de Rolador (RS) possui uma população total de aproximadamente 2.764

mil habitantes, sua área é de 293,5 km², densidade demográfica de 9,4 hab/km² e o Produto

Interno Bruto, per capita, no ano de 2003, foi de R$ 18.190 (IBGE, 2006).

3.4.1 Proposta técnica

Segundo o projeto técnico, a indústria possui uma capacidade de produção de 500

litros/dia, envolvendo três pessoas, com carga horária acima de 12 horas e aproximadamente

sete meses de plenas atividades.

3.4.2 Orçamentação: investimentos, receitas e custos da agroindústria de etanol

As características físicas da planta industrial visitada na Comunidade de Serrinha são:

galpão coberto, medindo 60 m², com capacidade para abrigar a parte eletrônica da coluna de

destilação; moenda para a moagem da cana-de-açúcar; gerador de calor (caldeira); coluna

para destilação do etanol hidratado; duas dornas de chapa de aço de carbono para

fermentação; decantador e filtro da calda; diversos utensílios de pequeno porte, como

decímetro para medição do álcool, termômetro, refratômetro, Phmetro para medir o Ph; caixas

de água de 1000 litros cada.

57

– Investimento: para a implantação da Indústria de Pequeno Porte de Produção de Etanol,

segundo informações dos agricultores, o investimento foi de R$ 136.000,00, incluindo a

construção do galpão e infra-estrutura para o funcionamento básico. Também nesta

unidade o equipamento de maior valor é a coluna de destilação, que custa R$ 94.500,00.

Este e demais itens que compõem os investimentos da unidade estão representados na

Tabela 17.

Tabela 17: Investimento: em máquinas/equipamentos e galpão da agroindústria de etanol,

Rolador, 2009

Itens Valor em (R$) Coluna de destilação 94.500,00 Caldeira/gerador de calor 11.000,00 Moenda c/motor estacionário 12.000,00 Dornas de fermentação 8.000,00 Decantador de calda 500,00 Utensílios de pequeno porte 2.000,00 Galpão/infra-estrutura 8.000,00 Total 136.000,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

– Custos fixos: como custos fixos foram identificadas as despesas de luz, água, telefone,

materiais diversos e depreciação dos equipamentos. Considerou-se ainda a implantação da

lavoura de cana-de-açúcar em 16,40 hectares que, juntando despesas de mudas, insumos,

preparo do plantio e mão-de-obra gera um custo de R$ 1.400,00 por hectare, conforme

informação dos agricultores envolvidos no projeto e confirmado pela pesquisa. No

presente estudo, porém, dividiu-se esse custo inicial por oito, período de anos de produção

vegetativa da cana, sendo que nos demais anos apenas é feito o manejo e em alguns casos

a reposição de nutrientes, restando o valor de R$ 175,00 por hectare que, multiplicado por

16,40/ha, origina o valor de R$ 2.870,00. Portanto, somados com os demais custos fixos

tem-se o valor de R$ 8.500,00.

– Custos variáveis: quanto aos custos variáveis foram considerados os seguintes itens:

– Óleo diesel (motor estacionário do engenho);

– Lenha (abastecer a caldeira) Gerador a vapor/consumo da caldeira: 1/4 m³;

– Kit produtos (utilizado no processo de transformação do etanol), mais o transporte da

cana-de-açúcar da lavoura até a indústria somam o valor de R$ 9.000,00.

58

Somados os custos fixos, variáveis e mais a depreciação das máquinas e equipamentos de

R$ 4.306,66, compôs-se os Custos Operacionais da Indústria de Pequeno Porte de

Produção de Etanol de Rolador, RS, no valor de R$ 17.500,00.

– Receita: nesta fase da pesquisa, para ter uma melhor compreensão da entrada da receita,

necessariamente foram feitos alguns recortes:

a) a capacidade total de litros de etanol produzido apenas na safra em sete meses;

b) analisar e diferenciar a comercialização ao distribuidor, e simular a venda direta ao

consumidor;

c) produtividade tonelada/hectare de cana-de-açúcar.

Os agricultores informaram que a produção média de cana é de 80 toneladas por hectare,

sendo que a capacidade de transformação (PUI) da cana-de-açúcar em álcool AEHC é de

aproximadamente 8% de aproveitamento.

X = 80 t/ha/8%

Y = 6.400 litros por ha.

Com essa configuração, a capacidade produtiva nos sete meses desta indústria de

pequeno porte é de 104.960 mil litros de etanol.

Ainda no item da receita é importante ressaltar que para o processo da comercialização

do etanol, a empresa distribuidora de combustível precisa estar cadastrada no Ministério de

Minas e Energia através da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

Também precisa estar de acordo com a Medida Provisória nº 413, de 03/01/2008, que foi

convertida na Lei Federal n. 11.727, de 23 de junho 2008 (Anexo 5).

Os valores pagos pelas distribuidoras para os usineiros, segundo Unica (2009), é de R$

0,72, sem os encargos. Neste cenário, portanto, tem-se o valor de R$ 75.571,20 como receita,

R$ 17.500,00 como custos operacionais e um resultado de R$ 58.071,20. Os dados podem ser

visualizados na Tabela 18, a seguir.

Tabela 18: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção

de etanol, Rolador, 2009

Itens Quant. litros etanol Total valores (R$) Receita 104.960 75.571,20 Custos operacionais - 17.500,00 Resultado - 58.071,20

Fonte: dados da pesquisa (2009).

59

3.4.3 Resultado financeiro da agroindústria de etanol: venda para a distribuidora

Na Tabela 19 procura-se sintetizar a análise econômica, determinando o período de

oito anos, havendo relação entre a capacidade produtiva da cana-de-açúcar com o

financiamento do Pronaf. Os dados mostram o capital de investimento, os custos

operacionais, a receita e, por fim, o fluxo de caixa-saldo.

Tabela 19: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Rolador, 2009

Anos Investimento Receita Custo Operacional FLC = Saldo 0 136.000,00 - - - 1 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20 2 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20 3 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20 4 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20 5 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20 6 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20 7 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20 8 - 75.571,20 17.500,00 58.071.20

Total - 604.569,60 140.000,00 464.569,60 Fonte: dados da pesquisa (2009).

A Tabela 20 demonstra os resultados num planejamento de oito anos, porém não

foram estabelecidas variáveis que alterassem os indicadores no prazo planejado, ficando os

indicadores fixos durante todo o período. O Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de

Retorno (TIR) e o Período de Retorno do Capital (PRK) são indicadores que minimamente

mostram a viabilidade do investimento.

Tabela 20: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de etanol, Rolador, 2009

Anos FLC = Saldo PRK VPL = 5,5% TIR 0 58.071.20 -136.000,00 -136.000,00 -136.000,00 1 58.071.20 -77.928,80 55.043,79 31.927,73 2 58.071.20 -19.857,60 52.174,21 17.553,97 3 58.071.20 38.213,60 49.454,23 9.651,23 4 58.071.20 96.284,80 46.876,04 5.306,28 5 58.071.20 154.356,00 44.432,27 2.917,41 6 58.071.20 212.427,20 42.115,90 1.604,00 7 58.071.20 270.498,40 39.920,28 881,88 8 58.071.20 328.569,60 37.839,13 484,86

Taxa Interna de Retorno (TIR): 0,21 VPL: R$ 55.043,79 no primeiro ano, com uma taxa de 5,5%

Fonte: dados da pesquisa (2009).

A TIR = 0,21 é considerada atrativa, pois a cada real investido os agricultores

envolvidos na indústria de produção de etanol de pequeno porte são remunerados com mais

60

0,21 centavos. Já o retorno (PRK = 2-3 anos) mostra que num período um pouco maior de

dois anos os agricultores já conseguem fazer a reposição do capital investido.

Na Tabela 21, o estudo mostra a viabilidade do investimento obtido mediante financia-

mento do Pronaf, situação dos agricultores envolvidos no projeto. O caso possui ressalvas,

uma vez que existe limite máximo de crédito para investimento que cada um poderia acessar.

Tabela 21: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de etanol,

Rolador, 2009

Ano Investimento Capital Amortização Juros Prestação Saldo devedor 0 136.000,00 136.000,00 1 136.000,00 17.000,00 7.480,00 24.480,00 119.000,00 2 119.000,00 17.000,00 6.545,00 23.545,00 102.000,00 3 102.000,00 17.000,00 5.610,00 22.610,00 85.000,00 4 85.000,00 17.000,00 4.675,00 21.675,00 68.000,00 5 68.000,00 17.000,00 3.740,00 20.740,00 51.000,00 6 51.000,00 17.000,00 2.805,00 19.805,00 34.000,00 7 34.000,00 17.000,00 1.870,00 18.870,00 17.000,00 8 17.000,00 17.000,00 935,00 17.935,00 0,00

Total 136.000,00 136.000,00 33.660,00 169.660,00 476.000,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

Nessa planilha fica mais uma vez demonstrada a viabilidade desta unidade produtiva

de etanol, pois as prestações do financiamento de R$ 24.480,00, com decréscimo nos demais

anos, correspondem a 42,15% do resultado obtido no fluxo de caixa de R$ 58.071,20,

implicando numa capacidade de pagamento extremamente satisfatória.

Na Tabela 22, a capacidade de pagamento demonstrada nos indicadores do Fluxo

Líquido de Caixa Final (FLC) no primeiro ano é de R$ 33.591,20, o que corresponde 57,84 %

do saldo de caixa que desconta o Custo Operacional.

Tabela 22: Fluxo de caixa final da agroindústria de etanol, Rolador, 2009

Anos Resultado Prestações FLC (saldo final) 0 1 58.071.20 24.480,00 33.591,20 2 58.071.20 23.545,00 34.526,20 3 58.071.20 22.610,00 35.461,20 4 58.071.20 21.675,00 36.396,20 5 58.071.20 20.740,00 37.331,20 6 58.071.20 19.805,00 38.266,20 7 58.071.20 18.870,00 39.201,20 8 58.071.20 17.935,00 40.136,20

Fonte: dados da pesquisa (2009).

61

3.4.4 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol

Quanto ao Nível de Reprodução Social (NRS), a pesquisa identificou a renda como

sendo a parte da riqueza gerada pela unidade de produção, dividida entre os três agricultores

envolvidos na questão. Para efeito deste estudo, tomou-se como parâmetro o fluxo de caixa de

R$ 24.120,00 após o desconto de todos os custos operacionais e as prestações do empréstimo,

demonstrando que houve um bom nível de reprodução. A Tabela 23 apresenta essa

sistematização de forma clara, proporcionando uma melhor compreensão.

Tabela 23: Capacidade de reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol,

Rolador, 2009

Renda Nº agricultores NRS/anual NRS/mensal R$ 33.591,20 03 R$ 11.197,06 R$ 933,08

Fonte: dados da pesquisa (2009).

No resultado do NRS foi utilizado o salário mínimo nacional de R$ 465,00 para

determinar a relação com a renda distribuída. O resultado corresponde a praticamente dois

salários mínimos mensais para cada agricultor envolvido no projeto de produção de etanol em

pequena escala.

3.4.5 Resultados da agroindústria de etanol com venda ao consumidor

Numa simulação em que os agricultores poderiam comercializar o etanol produzido de

maneira direta aos consumidores ao valor médio de R$ 1,20 o litro, os resultados seriam os

seguintes: receita de R$ 125.952,00, já os custos operacionais se mantêm os mesmos de R$

17.500,00, enquanto o resultado seria de R$ 108.452,00. Esses dados podem ser visualizados

na Tabela 24, a seguir.

Tabela 24: Orçamento de receitas, custos e resultado econômico da agroindústria de produção

de etanol, Rolador, 2009

Itens Quant. litros etanol Total valores (R$) Receita 104.960 125.952,00 Custos operacionais - 17.500,00 Resultado - 108.452,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

62

3.4.5.1 Resultado financeiro da agroindústria de etanol

Na Tabela 25 procura-se sintetizar a análise econômica, determinando o período de

oito anos, havendo relação entre a capacidade produtiva da cana-de-açúcar com o

financiamento do Pronaf. Os dados mostram o capital de investimento, os custos

operacionais, a receita e, por fim, o fluxo de caixa-saldo.

Tabela 25: Fluxo de caixa da agroindústria de etanol, Rolador, 2009

Anos Investimento Receita Custo Operacional FLC = Saldo 0 136.000,00 - - - 1 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00 2 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00 3 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00 4 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00 5 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00 6 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00 7 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00 8 - 125.952,00 17.500,00 108.452,00

Total - 1.007.616,00 140.000,00 867.616,00 Fonte: dados da pesquisa (2009).

A Tabela 26 demonstra os resultados num planejamento de oito anos, porém não

foram estabelecidas variáveis que alterassem os indicadores no prazo planejado, ficando os

indicadores fixos durante todo o período. O Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de

Retorno (TIR) e o Período de Retorno do Capital (PRK) são indicadores que minimamente

mostram a viabilidade do investimento.

Tabela 26: Indicadores de rentabilidade da agroindústria de etanol, Rolador, 2009

Anos FLC = Saldo PRK VPL = 5,5% TIR 0 -136.000,00 -136.000,00 1 108.452,00 -27.548,00 102.798,10 -136.000,00 2 108.452,00 80.904,00 97.438,96 59.627,26 3 108.452,00 189.356,00 92.359,21 32.783,26 4 108.452,00 297.808,00 87.544,27 18.024,34 5 108.452,00 406.260,00 82.980,35 9.909,84 6 108.452,00 514.712,00 78.654,36 5.448,46 7 108.452,00 623.164,00 74.553,90 2.995,58 8 108.452,00 731.616,00 70.667,20 1.646,98

Taxa Interna de Retorno (TIR): 0,61 VPL: R$ 102.798,10 no primeiro ano, com uma taxa de 5,5%

Fonte: dados da pesquisa (2009).

63

A TIR = 0,61 é considerada ainda mais atrativa, pois a cada real investido os

agricultores envolvidos na indústria de produção de etanol de pequeno porte são remunerados

com mais 0,61 centavos. Já o retorno (PRK = 1-2 anos) mostra que em menos de dois anos os

agricultores já conseguem a reposição do capital investido.

Na Tabela 27 enfatiza-se que a viabilidade do investimento é obtida mediante finan-

ciamento do Pronaf que, para efeito da simulação, permanece a mesma do resultado anterior.

Tabela 27: Financiamento do projeto com crédito do Pronaf da agroindústria de etanol,

Rolador, 2009

Ano Investimento Capital Amortização Juros Prestação Saldo devedor 0 136.000,00 136.000,00 1 136.000,00 17.000,00 7.480,00 24.480,00 119.000,00 2 119.000,00 17.000,00 6.545,00 23.545,00 102.000,00 3 102.000,00 17.000,00 5.610,00 22.610,00 85.000,00 4 85.000,00 17.000,00 4.675,00 21.675,00 68.000,00 5 68.000,00 17.000,00 3.740,00 20.740,00 51.000,00 6 51.000,00 17.000,00 2.805,00 19.805,00 34.000,00 7 34.000,00 17.000,00 1.870,00 18.870,00 17.000,00 8 17.000,00 17.000,00 935,00 17.935,00 0,00

Total 136.000,00 136.000,00 33.660,00 169.660,00 476.000,00 Fonte: dados da pesquisa (2009).

Na planilha do financiamento fica demonstrada a viabilidade desta unidade produtiva

de etanol, pois as prestações do financiamento de R$ 24.480,00, com decréscimo nos demais

anos, correspondem a uma percentagem muito baixa em relação do resultado obtido no fluxo

de caixa, implicando numa capacidade de pagamento extremamente satisfatória.

Na Tabela 28, a capacidade de pagamento demonstrada nos indicadores do Fluxo

Líquido de Caixa Final (FLC) no primeiro ano é de R$ 33.591,20, o que corresponde 57,84%

do saldo de caixa que desconta o Custo Operacional.

Tabela 28: Fluxo de caixa final da agroindústria de etanol, Rolador, 2009

Anos Resultado Prestações FLC (saldo final) 0 1 108.452,00 24.480,00 83.972,00 2 108.452,00 23.545,00 84.907,00 3 108.452,00 22.610,00 85.842,00 4 108.452,00 21.675,00 86.777,00 5 108.452,00 20.740,00 87.712,00 6 108.452,00 19.805,00 88.647,00 7 108.452,00 18.870,00 89.582,00 8 108.452,00 17.935,00 90.517,00

Fonte: dados da pesquisa (2009).

64

3.4.5.2 Reprodução social dos agricultores da agroindústria de etanol

Quanto ao Nível de Reprodução Social (NRS), a pesquisa identificou a renda como

sendo a parte da riqueza gerada pela unidade de produção e repartida entre os três agricultores

envolvidos na questão. Para efeito deste estudo toma-se como parâmetro o fluxo de caixa de

R$ 83.972,00 depois de terem sido descontados todos os custos operacionais e as prestações

do empréstimo, demonstrando um bom nível de reprodução. Estes dados podem ser

visualizados na Tabela 29, a seguir.

Tabela 29: Capacidade de reprodução social da agroindústria de etanol, Rolador, 2009

Renda Nº agricultores NRS/anual NRS/mensal R$ 83.972,00 03 R$ 27.990,66 R$ 2.332,55

Fonte: dados da pesquisa (2009).

No resultado do NRS foi utilizado o salário mínimo nacional de R$ 465,00 para

determinar a relação com a renda distribuída. O resultado corresponde a 5,1 salários mínimos

mensais para cada agricultor envolvido no projeto de produção de etanol em pequena escala.

65

CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos com a realização deste estudo percebeu-se um bom

nível de viabilidade do empreendimento. Vários aspectos levam as indústrias de pequeno

porte de produção de etanol a obterem resultados relativamente satisfatórios. Um deles é que

as famílias conseguem realizar quase todas as atividades, e no ambiental é praticamente

possível reutilizar todos os dejetos em múltiplos usos e aproveitamentos dentro da própria

unidade de produção.

Os dados referentes ao trabalho foram baseados no conhecimento empírico e de

algumas observações de que os agricultores familiares constroem seus próprios mecanismos

que permitem atingir aos múltiplos objetivos, demandas e necessidades concernentes à

agricultura familiar, o que ficou evidente nas duas unidades de produção pesquisadas.

Assim sendo, buscou-se demonstrar a partir dos dois casos mencionados neste estudo,

a pertinência de saídas estratégicas para os agricultores familiares. Frente a tal realidade, os

agricultores familiares buscam alternativas econômicas visando a garantir a reprodução social

enquanto produtores rurais, assim como preservar e manter as relações de sociabilidade e a

coesão social. A experiência das indústrias de pequeno porte de produção de etanol é

entendida como uma semente ou broto da transição para processos de desenvolvimento das

famílias em questão e também da região.

Segundo os próprios atores locais/regionais, o que tem motivado o desenvolvimento

de projetos de produção de etanol nestas pequenas plantas industriais é o econômico, o que

ficou demonstrado nos ganhos ambientais e sociais que podem decorrer desses projetos.

Nesse sentido, pode-se citar: geração de mais trabalho no meio rural; melhor remuneração das

pessoas envolvidas; sistemas de produção mais sustentáveis e que sejam capazes de

incrementar a renda das famílias; a possibilidade de integração das indústrias de pequeno

porte de produção de etanol às demais atividades da propriedade, dentro de uma dinâmica

66

onde se possa utilizar os subprodutos (a ponta da cana-de-açúcar, o bagaço e o vinhoto),

visando a alcançar maior autonomia energética e alimentar das propriedades. Dessa forma,

esta parece ser uma atividade capaz de atender a múltiplos objetivos e racionalidades dos

agricultores familiares envolvidos, enfatizando a reprodução social.

Outro aspecto importante a se destacar é o esforço das organizações dos agricultores

familiares na busca pela inserção em toda a cadeia dos biocombustíveis (produção,

transformação e comercialização). Esses projetos das indústrias de pequeno porte de produção

de etanol, bem como inúmeras pequenas agroindústrias familiares, que já estão organizadas

em cooperativas da agricultura familiar, poderão ser uma boa alternativa. Certamente,

merecerão em estudos futuros uma abordagem mais profunda, tendo em vista os indicadores

financeiros e econômicos que se apresentaram neste estudo. Como já mencionado, são

experiências endógenas, decorrentes da crescente inviabilidade da monocultura da soja na

agricultura familiar regional. Os atores locais/regionais, frente a esta realidade, optam por

desenvolver experiências coletivas ou individuais que melhor atendam a suas demandas e

expectativas, seja objetivando maior renda, visando manter os filhos no campo, ou mesmo

buscando atividades mais sustentáveis ambientalmente.

Embora se tenha presente que haja ainda a necessidade de estudos mais aprofundados

sobre esta questão, e o fato de serem experiências bastante recentes, entende-se que existem

fortes indícios de que são viáveis operacional, financeira, ambiental e socialmente. Pois tem

sido satisfatória à racionalidade, às demandas e necessidades daqueles agricultores familiares

envolvidos pelo menos nestes dois projetos estudados.

Com base no acima mencionado, sugere-se a realização de novas pesquisas e maior

aprofundamento in loco, de modo que seja possível elencar e aprofundar as análises dos

casos, apontando as potencialidades e debilidades de cada uma das experiências, tanto no que

concerne aos modos de organização social, aos resultados financeiros e econômicos ou aos

dispositivos coletivos usados pelos atores locais/regionais, quanto ao que diz respeito à

mobilização de recursos políticos e públicos originados das mobilizações sociais.

A breve discussão acima evidencia que a abordagem da reprodução social permitiu a

compreensão de que a obtenção dos recursos econômicos disponíveis e gerados pelas

indústrias de pequeno porte de produção de etanol não implicam na aceitação, pura e simples,

de automatismos e a repartição da produção. Fica claro também que os agricultores familiares

envolvidos conseguem se reproduzir socialmente, sem alterar a sua configuração e

especificidades de agricultores familiares.

67

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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Anexo 1

VARIEDADE DE CANA-DE-AÇÚCAR ADAPTADA NA REGIÃO DAS MISSÕES DO

RIO GRANDE DO SUL E A MAIS USADA NA PRODUÇÃO DE ETA NOL

RB76 5418• Produção de massa verde: Alta

• Teor de sacarose: Alto

• Maturação: Precoce

• PUI: maio-outubro

• Porte: Semi Ereto

• Duração de Soca: 5 a 7 anos média

• Desfolha: facilitada

• Exigência Fertilidade do solo:Alta

• Diametro de Colmo: Grande

• Observações: 60% da área (Missões)

plantada. Geralmente Acama no

1° ano. Bom ponto de açúcar

Fonte: dados da pesquisa (2008).

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Anexo 2

PLANTA DE UMA MICRO-DESTILARIA

AONDE: 1. fornalha 2. boca da fornalha 3. panela de 400L 4. saída do vinhoto 5. entrada do vinho 6. retificador inferior 7. refluxo 1 9. refluxo 2 10. tubo de cobre de 22mm(3/4”)utilizado para levar o vapor do chapéu chinês até o condensador. 11. condensador, E=entrada de água fria,F=saída de água quente) 12. suporte do condensador(o mais perto possível da coluna.) 13. copo para alcoômetro(opcional). Obs.: Salientamos que essa planta não caracteriza nenhuma das visitadas pela pesquisa, sendo inserida aleatoriamente apenas para figurar. Fonte: dados da pesquisa (2008).

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Anexo 3

FOTO DA INDÚSTRIA DE PEQUENO PORTE DE PRODUÇÃO DE ETANOL

DE DEZESSEIS DE NOVEMBRO, RS

Fonte: dados da pesquisa (2008).

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Anexo 4

ESQUEMA ELABORADO PELO PESQUISADOR

PUI* > 18° Brix 8%

Capacidade de moagem 75%

Dias de produção 210

Produção da cana-de-açúcar 80 t/ha.

Área/hectares de cana-de-açúcar plantada 39,37

Total de litros produzidos IPPE anualmente 252.000

Fonte: dados da pesquisa (2008).

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Anexo 5

COMPOSIÇÃO DO CUSTO DO AFJC DESDE O PRODUTOR

Esquema da portaria da ANP que compõe os indicadores para fixar o preço do etanol

pago pelas distribuidoras aos produtores. Com essa configuração o preço pago é de R$ 0,72/l.

COMPOSIÇÃO DO CUSTO DO AEHC DESDE O PRODUTOR a) Preço de realização (1) b) Base de cálculo do ICMS e PIS?COFINS B = A/[1 – (PIS + COFINS) – ICMS%] c) PIS/PASEP e COFINS do produtor (2) C = (PIS + COFINS) x B d) Preço de faturamento sobre ICMS D = A + C e) ICMS produtor (3) E [D/{1-ICMS %)] – D f) Faturamento do produtor F = D + E

COMPOSIÇÃO DO CUSTO A PARTIR DA DISTRIBUIDORA g) Frete do AEHC até a base de distribuição (1) h) Preço de aquisição da distribuidora H = F + G i) Margem da distribuição (1) j) Frete da base distribuidora até o posto revendedor (1) k) Base de cálculo do ICMS K = [(H+I+J) – E]/[1-ICMS%] l) ICMS da distribuidora (3) L = (ICMS% x PMPF – E – L) m) Substituição tributária ICMS (4) M = ICMS% x PMPF – E – L n) Preço de faturamento da distribuidora N = H + I + J + L + M

COMPOSIÇÃO DO PREÇO DE VENDA o) Preço de aquisição da revenda O = P p) Margem de revenda (1) q) Preço bomba Q = O + P Obs.: (1) Valores não-sujeitos a tabelamento (2) MP nº 413, de 03/01/2008 (3) Alíquotas estabelecidas pelos governos estaduais (4) Margem de Valor Agregado (MVA) estabelecida em convênios ICMS ou preço médio ao consumidor final (PMPF) estabelecido por Atos COTEPE

Fonte: Unica (2009).

É importante salientar os encargos e impostos que incidem na produção e

comercialização do AEHC:

PIS Cofins CIDE ICMS/RS Total IPI

1,65 %

7,6% 10% 25 %

44,25 % Isento

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