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INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO AGRÁRIA DE MOÇAMBIQUE Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologias Relatórios Preliminares de Pesquisa República de Moçambique PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA GALINHA LANDIM EM MORRUMBALA, ZAMBÉZIA Acções para o aumento da produtividade e eficiência da comercialização Custódio Amaral Paula Pimentel Sandra Gonçalves Relatório Preliminar de Pesquisa No. 2P Junho de 2012

Produção e Comercialização da Galinha Landim em Morrumbala

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INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO AGRÁRIA DE MOÇAMBIQUE

Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologias

Relatórios Preliminares de Pesquisa

República de Moçambique

PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA GALINHA LANDIM EM MORRUMBALA, ZAMBÉZIA

Acções para o aumento da produtividade e eficiência da comercialização

Custódio Amaral Paula Pimentel

Sandra Gonçalves

Relatório Preliminar de Pesquisa No. 2P

Junho de 2012

ii    

DIRECÇÃO DE FORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS

Relatórios de Pesquisa

A Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologias (DFDTT) em colaboração com a Universidade Estadual de Michigan está lançando a produção de três séries de relatórios sobre resultados de investigações na área de pesquisa socio-económica e transferência de tecnologias agrárias. As publicações da série Sumário de Pesquisa são relativamente breves (3-4 páginas) e muito focalizadas, visando fornecer resultados preliminares de uma forma sucinta e objectiva para maximizar a sua utilidade. As publicações da série de Relatórios de Pesquisa e da série Relatórios Preliminares de Pesquisa visam proporcionar análises profundas e mais elaboradas do ponto de vista metodológico. A preparação e edição destas publicações apresentam um passo importante na missão da DFDTT para análise de políticas agrárias e da pesquisa agrária em Moçambique.

Todos os comentários e sugestões referentes à matéria em questão são relevantes para identificar questões adicionais a serem consideradas em análises e edições posteriores e no delineamento de outras actividades de pesquisa agrária. Deste modo encoraja-se aos utentes das publicações a submeterem os seus comentários e a informarem a respeito das suas necessidades em termos de questões e tipos de análises que julgam ser do seu interesse profissional e das instituições a que estão afectos.

Este relatório não reflecte as perspectivas ou posições oficiais nem do Governo da República de Moçambique nem da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

Feliciano Mazuze Director Técnico Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologias Instituto de Investigação Agrária de Moçambique

iii    

AGRADECIMENTOS A Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologias, em coordenação com o Departamento de Economia Agrária, Alimentar e de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Michigan, vem desenvolvendo investigação nas áreas de socio-economia e transferência de tecnologias. Gostaríamos de agradecer ao Instituto de Investigação Agrária de Moçambique e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) em Moçambique, pelo apoio financeiro no desenvolvimento destas áreas de pesquisa em Moçambique. Também endereçamos os nossos agradecimentos ao "Bureau of Economic Growth, Agriculture and Trade/Agriculture program" da USAID/Washington pelo apoio prestado, possibilitando assim a participação de investigadores da Universidade nesta pesquisa e a realização de trabalhos de campo em Moçambique. Este relatório não reflecte as perspectivas ou posições oficiais nem do Governo da República de Moçambique nem da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Rafael Uaiene Coordenador de MSU em Moçambique Departamento de Economia Agrária, Alimentar e de Recursos Naturais Universidade Estadual de Michigan

iv    

AGRADECIMENTOS DOS AUTORES

Agradecemos o apoio de muitos indivídous e instituições que possibilitaram a realização deste estudo. Agradecemos o apoio prestado pelo INGC através de fundos disponibilizados pela AusAID ao PNUD.Agradecemos ao S. Uqueio (delegado provincial do INGC-Quelimane na altura da realização do estudo), J. Maria (chefe dos SPP-Zambézia), M. Sozinho (INGC-Quelimane), A. Augusto (delegado da INGC-Morrumbala) e M. Gemusse (delegado da pecuária, SDAE-Morrumbala) pelo suporte técnico, logístico, condução do inquérito e em vários aspectos de assistência durante o estudo. Estamos agradecidos também pelos representantes das instituições locais (DOPH, IDPPE, DPCAA, DPIC) pelas suas valiosas contribuições técnicas.

Reconhecemos e agradecemos a assistência na pesquisa e na análise prestada pela equipa de investigadores do IIAM.

Os autores estão gratos pelo esforço imensurável do Dr Benedito Cunguara, Pesquisador Associado, Desenvolvimento Internacional, nos comentários e subsequente melhoramento do documento. Grande estima vai também para os criadores e os seus líderes comunitários, que prestaram atenção e responderam o questionário de boa vontade e de forma incansável e dispensando o seu tempo precioso para a entrevista.

v      

EQUIPA DE PESQUISA DO IIAM/MSU

Feliciano Mazuze, Director, Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologia e Coordenador do Centro de Estudos Socio Económicos (CESE) Alda Tomo, Analista do CESE, baseado na sede do IIAM Isabel Sitoe Cachomba, Analista do CESE, baseado na sede do IIAM Venâncio Salegua, Analista do CESE, Centro Zonal Nordeste João Mudema, Analista do CESE, baseado na sede do IIAM Graça Manjate, Analista do CESE, baseado na sede do IIAM Custódio Amaral, Analista do CESE, baseado na sede do IIAM Rogério Sitole, Analista do CESE, baseado na sede do IIAM Rosalina Mahanzule, Analista do CESE, Estudando na Universidade de Paraná Maria da Luz Miguel, Analista do CESE, Estudando na Universidade de Pensilvânia Ana Lídia Gungulo, Analista do CESE, Estudando na Universidade de Pretoria Maria Jose Teixeira, Coordenadora Administrativa Amélia Soares, Assistente Administrativa Rafael Uaiene, Coordenador Residente da MSU em Moçambique Ellen Payongayong, Analista da MSU e Coordenadora de Formação e Estatística e Benedito Cunguara, Analista da MSU em Moçambique Jaquelino Massingue, Analista da MSU em Moçambique Duncan Boughton, Coordenador do Grupo de Segurança Alimentar da MSU David Tschirley, Investigador Principal da MSU Cynthia Donovan, Analista da MSU Rui Benfica, Analista da MSU David Mather, Analista da MSU Helder Zavale, Analista da MSU e candidato a PhD

vi    

INDICE

Lista de Tabelas ......................................................................................................................................... viii

Lista de Gráficos .......................................................................................................................................... ix

Lista de Figuras ............................................................................................................................................ ix

Lista de Tabelas no Anexo ........................................................................................................................... ix

ACRONOMIA .............................................................................................................................................. x

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1

1.1 Antecedentes e Contexto do Estudo ................................................................................................ 1

1.2 Termos de Referência e Objectivos do Estudo ............................................................................... 2

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................. 4

2.1 Pobreza e meios de vida nas comunidades rurais ........................................................................... 4

2.2 A galinha como meio de sobrevivência para as Comunidades Pobres e Vulneráveis .................... 5

3. METODOLOGIA ................................................................................................................................. 7

3.1 Descrição da zona de estudo ........................................................................................................... 7

3.2 Método de amostragem e recolha de dados .................................................................................... 7

3.2.1 Amostragem .......................................................................................................................... 7

3.2.2 Recolha de dados e análise ...................................................................................................... 8

4. RESULTADOS ..................................................................................................................................... 9

4.1 Sistemas de produção da galinha .................................................................................................... 9

4.2 Características dos agregados familiares ...................................................................................... 10

4.3 Estrutura do bando e suas características ...................................................................................... 11

4.4 Perdas e taxa de extracção ............................................................................................................ 12

4.5 Aspectos sócio-económicos na produção de galinha .................................................................... 13

4.6 Características produtivas da galinha local nas populações inquiridas ......................................... 13

4.6.1 Produção de ovos ................................................................................................................ 13

4.6.2 Eclosão e mortalidade ......................................................................................................... 14

4.7 Maneio geral ................................................................................................................................. 15

4.7.1 Maneio alimentar e suas práticas ........................................................................................ 15

vii    

4.7.2 Abeberamento ..................................................................................................................... 17

4.7.3 Alojamento .......................................................................................................................... 17

4.8 Principais doenças das aves .......................................................................................................... 19

4.9 Predadores e aspectos sanitários ................................................................................................... 20

4.10 Características do mercado e comercialização de galinhas locais na zona de estudo ................. 21

4.10.1 Caracteristicas sócio-económicas dos agentes do mercado na área de estudo ................. 22

4.10.2 Tipo de comprador de galinha ao nível do criador ......................................................... 22

4.10.3 Outras características do mercado da área de estudo ....................................................... 23

4.10.4 Fonte de informação do mercado ..................................................................................... 23

4.10.5 Local de comercialização por parte dos criadores ........................................................... 24

4.10.6 Principais clientes da galinha landim ......................................................................... 24

4.10.7 Espécie de ave com maior procura .................................................................................. 25

4.10.8 Constrangimentos na comercialização da galinha landim ............................................... 25

4.10.9 Fonte da galinha local para os mercados de Quelimane .................................................. 26

4.10.10 Modo de transporte da galinha para o mercado .............................................................. 26

4.10.11 Mapeamento da cadeia de comercialização da galinha landim predominante. .............. 28

4.10.12 Preço da galinha .............................................................................................................. 30

4.10.13 Quantidade média de galinha comercializada em Quelimane ........................................ 33

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 35

5.1 Conclusões .................................................................................................................................... 35

5.2 Recomendações ............................................................................................................................. 36

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 41

ANEXO ....................................................................................................................................................... 43

viii    

Lista de Tabelas

Tabela 1. Tamanho da amostra de AFs e comerciantes de galinha local inqueridos 8

Tabela 2. Origem das primeiras galinhas 9

Tabela 3. Principal objectivo de criação da galinha 9

Tabela 4. Classe de idade dos membros dos AFs inqueridos 10

Tabela 5: Distribuição de membros do AF por sexo 10

Tabela 6. Nivel de educação dos membros diferenciado por género 11

Tabela 7. Percentagem de AFs que possuem espécies pecuárias 11

Tabela 8. Percentagem de AFs por número de galinhas 12

Tabela 9. Indicadores de produtividade 14

Tabela 10. Percentagem de produtores que suplementaram as galinhas 15

Tabela 11. Resumo da disponibilidade anual de alimentos suplementares 16

Tabela 12. Fonte de água 17

Tabela 13. Tipo de alojamento para galinhas 18

Tabela 14. Local onde as galinhas põem ovos 19

Tabela 15. Tempo e local de protecção dos pintos 19

Tabela 16. Doenças que afectam a produção de galinhas 20

Tabela 17. Percentagem de respondentes que vacinaram as galinhas 20

Tabela 18. Predadores e parasitas que atacam as galinhas 21

Tabela 19. Fonte de informação de mercado 24

Tabela 20. Local onde comercializam as galinhas 24

Tabela 21: Tipo de cliente, tipo de ave comercializado e razões para vender 25

Tabela 22. Constrangimentos na aquisição e de produção 26

Tabela 23. Modo de transporte da galinha para a comercialização 27

Tabela 24. Análise de preços de comercialização da galinha de Morrumbala 31

Tabela 25. Número médio de galinhas comercializadas/semana 34

ix    

Lista de Gráficos Gráfico 1: Entrada de Pintos de Dia na Província da Zambézia, 2004 – 2010 5

Gráfico 2. Local de transacção das compras dos agentes do mercado 21

Gráfico 3. Período em que os criadores vendem as suas galinhas 22

Gráfico 4. Tipo de comprador de galinha ao nível do criador 23

Gráfico 5. Tendência do preço da galinha ao longo do ano nos pontos de comercialização visitados 32

Gráfico 6. Variação da procura e disponibilidade da galinha nos mercados visitados 33

Lista de Figuras

Figura 1: Capoeira anexa à casa principal .................................................................................................. 18

Figura 2. Foto ilustrando o modo de trasporte comum dos agentes do mercado ........................................ 27

Figura 3. Cadeia de comercialização da galinha landim na área de estudo ................................................ 28

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Lista de Tabelas no Anexo

Anexo A 1. Principais causas de perda de galinhas .................................................................................... 43

Anexo A 2. Movimento dos efectivos nos últimos 6 meses ....................................................................... 43

Anexo A 3. Indicadores de produtividade por bairro .................................................................................. 44

Anexo A 4. Locais onde os predadores/parasitas frequentimente atacam as galinhas ............................... 44

Anexo A 5. Coeficiêntes de produção de galinhas landim nos países em desenvolvimento ...................... 45

Anexo A 6. Distribuição do tamanho do AF .............................................................................................. 45

x      

ACRONOMIA

AFs Agregados Familiares

AusAID Australian Agency for International Development

DN Doença de Newcastle

FGD Discusão em Grupo

IIAM Instituto de Investigação Agrária de Moçambique

INE Instituto Nacional de Estatística

INGC Instituto Nacional de Gestão de Calamidades

IOF Inquérito aos Orçamentos Familiares

MINAG Ministério da Agricultura

MPD Ministério de Planificação e Desenvolvimento

ONGs Organizações Não-Governamentais

PEDD Plano Estratégico do Desenvolvimento Distrital

PIB Produto Interno Bruto

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SPP Serviços Provinciais de Pecuária

TIA Trabalho de Inquérito Agrícola

USD Dólares Americanos

1      

Produção e comercialização da galinha landim em Murrumbala, Zambézia: Acções para o aumento da produtividade e eficiência da comercialização

Custódio Amaral, Paula Pimentel, e Sandra Gonçalves

1. INTRODUÇÃO

1.1 Antecedentes e Contexto do Estudo

No âmbito das actividades do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), e do seu respectivo Plano Director para a Gestão de Calamidades Naturais, constitui prioridade desenvolver acções com vista à diminuição de risco e vulnerabilidade das populações de zonas ribeirinhas propensas a ocorrência de cheias cíclicas. Contudo, o reassentamento destas populações em novas zonas deverá ser acompanhado por acções que permitam, de forma digna, a instalação das novas famílias (alojamento), sua sobrevivência (meios de vida sustentáveis) e actividades de geração de rendimento com base na potenciação dos recursos existentes ao nível local.

O presente Projecto é proposto para ser realizado no âmbito da colaboração entre o INGC e instituições vocacionadas na implementação de acções que dão o devido suporte aos objectivos preconizados no referido Plano Director. O papel do INGC é de coordenação de actividades de emergência e de gestão pós-desastre, conforme preconizado no Plano Director de Prevenção e Mitigação de Calamidades Naturais. A colaboração institucional, através da mobilização de recursos e da formação de equipas técnicas, é feita, quer ao abrigo de acordos de colaboração técnica existentes, quer no espírito de colaboração entre o INGC e outras instituições públicas, mobilizando-se assim as sinergias dos diferentes actores.

Para materializar o objectivo da redução da vulnerabilidade das populações residentes no Vale do Zambeze, o INGC está a implementar um programa de transferência das populações residentes em zonas de risco de inundações para zonas altas. Esta transferência nem sempre é bem-vinda pelos beneficiários quando a mesma resulta no aumento das distâncias percorridas para a obtenção de meios de vida, geralmente baseados na prática da agricultura nas margens dos rios, colocando a população em constante risco de vida na época chuvosa. Assim sendo, a estratégia do reassentamento da população transferida das zonas ribeirinhas inclui uma componente de desenvolvimento de actividades económicas que visam criar alternativas de geração de rendimento suficientemente sólidas para motivar uma menor dependência em relação à prática da agricultura.

Na maioria dos distritos da província da Zambézia é notória a presença de um significativo efectivo de aves, com predominância para a galinha local. No distrito de Morrumbala, uma grande percentagem das famílias é detentora de galinhas, de efectivo variável, que serve para subsistência através do fornecimento directo de proteína animal (carne e ovos) bem como para a

2      

geração de renda familiar a partir da venda de galinhas e/ou seus ovos. Neste contexto, o poder negocial das famílias é enfraquecido devido ao facto de o sistema de comercialização de galinhas indígenas (galinhas landim) ser com os animais em vida, o que reduz drásticamente a sua procura nos centros urbanos. Na rede comercial da República da África do Sul por exemplo, uma galinha indígena devidamente embalada e congelada pode custar entre 2.5 e 3 vezes mais relativamente à de aviário, sendo a sua disponibilidade bastante limitada. No caso moçambicano, não foram encontradas referências desta prática na literatura e fontes de informação disponíveis.

Para melhorar a contribuição da produção de galinhas na geração de rendimento familiar e estimular a sua maior produtividade e comercialização o INGC propõe construir um Matadouro para o abate e embalagem de galinha local, melhorando a sua qualidade como produto para o mercado urbano. O empreendimento goza da aceitação do Governo da província e do distrito de Morrumbala, existindo elevada expectativa quanto ao mesmo. Pretende-se explorar oportunidades que se abrem pelo facto de a galinha indígena ser bastante apreciada pelo público consumidor moçambicano e a zona de Morrumbala ser famosa pela disponibilidade de números significativos destes animais. O consumo da galinha indígena tem vindo a ser associado a certas lendas locais, podendo-se por esta via conseguir o reforço da segurança alimentar e da geração de rendimento, minimizando os riscos associados às cheias do Vale do Zambeze.

Para colher dados sobre os sistemas produtivos, oportunidades e constrangimentos à produção da galinha local, bem como para identificar os agentes de mercado envolvidos na sua comercialização e estimar possíveis volumes de galinhas comercializadas nos mercados locais, foi solicitado um estudo a investigadores do IIAM. O estudo deve traçar algumas recomendações sobre as áreas de intervenção futura para aumentar a produtividade da galinha, efectivos sustentáveis para a indústria pretendida e o ambiente favorável que incentive o sistema de comercialização.

1.2 Termos de Referência e Objectivos do Estudo

A equipe de pesquisa foi formada por três investigadores do IIAM, nomeadamente a Dra. Paula Pimentel, então Investigadora na área de Sistemas de Produção e Transferência de Tecnologias, como coordenadora da equipe de trabalho; O Dr. Custódio do Amaral, Investigador e Analista Socio-económico; e a Dra. Sandra Gonçalves, Investigadora da área de Avicultura. Como Termos de Referência para o estudo e actividades a desenvolver, foram estabelecidos os seguintes:

Implementação de um Diagnóstico Rápido Participativo (PRA), para:

• A descrição dos sistemas de produção praticados na produção da galinha Landim em Morrumbala;

• A identificação de todas as oportunidades e constrangimentos (técnicos e sócio-económicos) à produção e comercialização da galinha Landim na zona;

3      

• A clara definição do local que reúna requisitos para a instalação do centro de processamento da galinha Landim (acesso a àgua potável e energia eléctrica permanente; facilidades de acesso por via rodoviária a uma capital provincial) e obtenção de garantias das autoridades locais sobre o apoio ao Projecto;

• O dimensionamento da unidade a instalar em face da potencial oferta de galinhas vivas e procura de galinha congelada constatadas;

Uma indicação da possível viabilidade sócio-económica do Projecto, devendo a abordagem medir também o impacto no bem-estar das comunidades beneficiadas pelo Projecto, nos seguintes termos:

• Viabilidade de mercado: 1) Indicar os sub-sectores e os segmentos do mercado; 2) Indicar a competitividade dos criadores que a serem envolvidos no Projecto vs outras possíveis cadeias de abastecimento existentes; 3) Estimar o possível volume de vendas de produtos vs a demanda do mercado; e 4) Listar os potenciais clientes com as suas preferências, volume e indicativos de preços.

• Viabilidade organizacional: 1) Clara indicação do lugar ocupado pelo produto final resultante do projecto no mercado local, distrital, provincial; e 2) Identificação de possíveis sinergias que podem ser estabelecidas com organizações governamentais e não-governamentais de nível local, distrital, provincial, nacional ou internacional envolvidas ou interessadas em actividades afins na zona em causa a curto, médio ou longo prazos.

Espera-se que toda a informação recolhida e processada pela equipe técnica permita ao INGC conceber a componente de comercialização da galinha Landim em Morrumbala no âmbito do projecto financiado pela AusAid através do PNUD para o ano 2010.

4      

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Pobreza e meios de vida nas comunidades rurais

Cerca de 70% da população Moçambicana vive nas zonas rurais e pratica a agricultura de subsistência como sua principal fonte de rendimento. Contudo, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita por ano desta população, em 2007, estimado em apenas 395,5 USD (dólares americanos) ou seja de 1,08 USD/dia (INE, 2008) é considerado entre os dez mais baixos do mundo. Muito embora as estatísticas oficiais mostrem que a economia moçambicana atingiu uma média de crescimento do PIB de cerca de 7% nas últimas duas década, os níveis de pobreza e má nutrição crónica são elevados em todo o país (MINAG, 2009). De acordo com o Inquérito aos Orçamentos Familiares 08/09 (IOF, 2008), existe uma sólida evidência de progresso nos indicadores não-monetários de redução da pobreza, traduzidos por melhores serviços sociais nas zonas urbanas e rurais (educação, saúde, estradas, água potável e distribuição da rede eléctrica). Como efeito verifica-se ao nível dos agregados familiares (AFs) maior acesso a educação e saúde e relativa maior acumulação e melhoria em bens duradouros (MPD/DNEAP, 2010).

Contudo, no mesmo período os indicadores de pobreza medidos pelos níveis de consumo de alimentos, decresceram em 7 pontos percentuais na zona sul do país e aumentaram na zona centro. Os factores que podem estar na origem desta tendência podem ser: fraca produção e produtividade agrária, fenómenos ligados às mudanças climáticas como secas e inundações, impacto da crise mundial nos mercados locais e regionais (MPD/DNEAP, 2010). Consequentemente os desafios que se identificam como imediatos são baixos níveis de consumo, altos níveis de vulnerabilidade e persistentes altos níveis de má nutrição infantil, associados a diminuição de refeições ou dieta alimentar pobre e pouco diversificada, principalmente em meses de escassez alimentar.

A pecuária constitui uma das mais importantes reservas de capitais das famílias rurais, dando um contributo significativo nos meios de sustento e segurança alimentar. De acordo com os dados do Censo Agropecuário de 2008, estima-se a existência de 1.7 milhões de cabeças de gado bovino na sua maioria concentradas nas regiões Centro e Sul e 4.8 milhões de caprinos concentrados na região Centro do país (províncias de Tete e Nampula). Esta fonte estima ainda que os efectivos de suínos rondam a volta de 1.5 milhões e de ovinos estão a volta de 250 mil cabeças.

Em 2008, o tamanho estimado do bando de galinha local foi aproximadamente 17 milhões para pequenas e médias explorações, com uma contribuição maioritária da zona Centro. A província de Zambézia tem um total estimado de 3.1 milhões de galinhas, (TIA, 2008). Dentro da província, Morrumbala é o distrito com mais galinhas locais, seguido de Milange e Mocuba (SPP, 2009).

5      

2.2 A galinha como meio de sobrevivência para as Comunidades Pobres e Vulneráveis

A galinha local é a espécie de aves mais criada pelas familias rurais ao nível do país. Ela fornece rapidamente a proteina de origem animal em forma de ovos e carne, e constitui a fonte de rendimento mais imediata nas comunidades rurais, funcionando como um banco vivo, que responde as necessidades mais básicas nos momentos mais críticos. Podem ainda cobrir várias funções que não se traduzem em valores monetários, tais como o seu papel no controle de pragas ou cerimónias tradicionais, fornecimento de estrume e no tratamento de algumas doenças. Contudo a galinha local é produzida com poucos insumos, o que tem como resultado baixos rendimentos. Deste modo, existe a necessidade de se criarem estratégias de desenvolvimento para se verificar um salto quantitativo e qualitativo na avicultura rural.

Por outro lado, a avicultura comercial tem avançado a largos passos. A importação de frangos congelados baixou de 2005 para 2010, e a produção de frango para abate aumentou em quase 400% no período entre 2004 e 2008 (MINAG, 2008 citado por Amaral e Mlay, 2012).

Neste momento a indústria avícola encontra–se muito diversificada e em desenvolvimento em todo país, incluindo toda a cadeia de produção desde a reprodução até aos matadouros. Esta indústria envolve uma grande rede de intervenientes, desde o produtor de matérias-primas até ao distribuidor do produto final.

Na província da Zambézia, a produção de frangos ainda é incipiente. Novos interessados surgem em alguns distritos cuja produção ainda está aquém das reais necessidades. A província não produz pintos de dia (Gráfico 1).

Gráfico 1. Entrada de Pintos de Dia na Província da Zambézia, 2004 – 2010

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Pintos de 1 dia

Fonte: SPP, 2010.

6      

Contudo, de acordo com os dados dos Serviços Provinciais de Pecuária (2010), baseados na entrada de frangos entre 2004 e 2010, o consumo de carne de frango aumentou na provincia de Zambézia. Estes dados mostram que a Zambézia tem um crescente mercado de carne de frango, o qual poderá ser parcialmente satisfeito por uma maior produção da galinha local, desde que esta produção e comercialização possam corresponder às exigências de quantidade, qualidade e higiene deste mercado.

Existem três sistemas de produção em Moçambique, nomeadamente o intensivo, semi-intensivo e extensivo. Estes são diferenciados na base da relação de insumos e rendimento produtivo, como por exemplo, o tipo de raça utilizada, tamanho do bando, alojamento, tipo de alimentação, saúde e controle de doenças, e mercado.

O sistema intensivo é baseado em raças especializadas (aves híbridas); o tamanho do bando é superior a 500 aves; o alojamento é convencional com a utilização de cimento para construção; e a alimentação é na base industrial e balanceada. O cumprimento do programa sanitário é regular e com um mercado estabelecido onde as carcaças das aves são vendidas.

No sistema semi-intensivo, as raças são de duplo propósito, o tamanho do bando varia entre 50 e 500 aves, o alojamento pode ser construido com material quer convencional ou mesmo local, o programa sanitário é variado, os mercados são baseados em locais de venda existentes e a venda é maioritáriamente feita à base de ave viva embora possa haver casos de venda da ave processada.

O sistema extensivo é praticado pela maior parte das famílias que vivem nas zonas rurais, em pequenos bandos com número inferior a 50 aves por família, onde predominam as raças locais, neste caso a galinha landim (Gallus domesticus). O alojamento é praticamente inexistente e quando existe é inadequado e construido apenas com material local. O sistema de alimentação é a base do que a galinha encontra em redor das casas quando esgravata a terra, e de cereais e sub-produtos e desperdícios de alimentação que recebe dos seus donos. Normalmente, não existe controlo sanitário, nem um mercado formal para a venda das galinhas. Estas são vendidas ao nível da aldeia ou comunidade.

7      

3. METODOLOGIA

3.1 Descrição da zona de estudo

A área de estudo foi o distrito de Morrumbala, que se localiza a Sudoeste da província da Zambézia e faz limite ao Norte com o distrito de Milange, a Sul com o distrito de Mopeia, através do rio Chiraba, a Este com os distrito de Nicoadala e Mocuba, a Oeste com os distritos de Mutarara da província de Tete e Nsanje da República do Malawi, ambos através do rio Chire. Esta localização favorece as relações socio-económicas e culturais com as populações circunvizinhas.

O distrito apresenta uma área total de cerca de 13 mil km2. Tem uma precipitação anual média de 1200 mm, com uma temperatura média anual de 23,5oC. A produção pecuária no geral é praticada pelo sector familiar, cerca de 95% da população residente (PEDD de Morrumbala, 2007-2011).

3.2 Método de amostragem e recolha de dados

3.2.1 Amostragem

A selecção da área de estudo baseou-se nas áreas onde o INGC desenvolvia acções. Adicionalmente, foram considerados os hábitos culturais de criação de galinha local, tendo sido escolhido o distrito de Morrumbala como a área de estudo. Neste distrito foi seleccionada a localidade de Pinda onde parte da população foi reassentada provindo de zonas de risco de inundações.

Com base na técnica de amostragem estratificada aleatória, foram seleccionados na localidade de Pinda quatro (4) bairros dos seis existentes, nomeadamente os bairros de Suzi, Ndambuenda, Mponha e Mecaula. Com o mesmo método de amostragem, foi seleccionada uma amostra de 99 AFs de uma população de criadores de galinhas dos 4 bairros seleccionados que foram inquiridos sobre aspectos relacionados com sistemas de produção no geral e de comercialização da galinha local em particular.

Para os mercados, a técnica de amostragem usada baseou-se na sua localização e na importância do comércio da galinha local. Uma amostra total de 27 respondentes de quatro mercados nomeadamente mercado de Pinda, mercado central de Morrumbala, mercado central de Quelimane e mercado Brandão, incluindo um (1) supermercado na cidade de Quelimane e um (1) restaurante/bar na vila de Morrumbala (Tabela 1).

8      

Tabela 1. Tamanho da amostra de AFs e comerciantes de galinha local inquiridos

Bairros No de AFs inqueridos

Nome do mercado No de agentes do

mercado inquiridos Bairro Mecaula 25 Mercado Central de Morrumbala 5 Bairro Mponha 24 Mercado Central de Quelimane 7 Bairro Suzi 26 Mercado Brandão 5 Bairro Ndambuenda 24 Mercado de Pinda 8 - - Restaurante/Bar Paraiso 1 - - Supermercado (casa de frutas) 1 Total 99 27

O primeiro passo na selecção dos respondentes foi a identificação do lider dos comerciantes de galinha dentro de cada mercado. O lider providenciou a lista de todos os comerciantes de galinha local. Para cada mercado, e com base na lista, foram aleatoriamente seleccionados os comerciantes de galinha local. Um número variado de comerciantes foi seleccionado em cada um dos quatro mercados, como mostra a Tabela 1 acima. Das listas de comerciantes fornecidas em cada mercado, não foram encontradas mulheres comerciantes de galinha.

3.2.2 Recolha de dados e análise

Os 99 criadores e os 27 comerciantes de galinha local foram entrevistados usando um questionário previamente elaborado. Para complementar os dados e/ou informação recolhida, foram realizadas discussões de grupo com informantes-chave e os criadores, e também foram efectuadas observações pelos investigadores para os aspectos de alojamento, transporte e apresentação da galinha local no mercado. O inquérito foi conduzido durante o mês de Setembro de 2010.

Os dados obtidos da entrevista de 99 AFs e 27 agentes do mercado, foram codificados, introduzidos e limpos no pacote estatístico para ciências sociais (SPSS), com posterior análise estatística simples da amostra em STATA, onde se produziram tabelas de frequência e gráficos.

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4. RESULTADOS

4.1 Sistemas de produção da galinha

O sistema de produção da galinha predominante na área de estudo é um sistema extensivo de subsistência, que é baseado nas galinhas locais (galinhas landim), que encontram os alimentos esgravatando a terra, com ocasional e sazonal suplementação alimentar de grãos e restos de comida. Mais de 95% dos criadores da área de estudo criam galinhas locais, tendo apenas sido encontrado um (1) AF (0,83%) proprietário de ambas raças, a local e exótica.

Cerca de 94% dos respondentes obtiveram as suas galinhas iniciais no mercado local (Tabela 2), O desenvolvimento do efectivo de galinhas do bando é realizado a partir das galinhas existentes em casa do AF.

Tabela 2. Origem das primeiras galinhas Origem de galinhas Frequência Percentagem Comprados no mercado local 87 94,5 Emprestados 2 2,2 Oferecidos 3 3,3 Total 92 100,0 Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

A principal razão de criar galinhas foi como fonte de renda através da venda de aves vivas (83,5%) e também para o consumo (16,5%), Tabela 3. O principal objectivo de criação comprova que a galinha funciona como um “banco vivo” nos momentos críticos para pequenas despesas domésticas de rotina diária.

Tabela 3. Principal objectivo de criação da galinha Objectivo da criação Frequência Percentagem Consumo 16 16,5 Venda do animal vivo 81 83,5 Total 97 100,0

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

No geral, na área de estudo, não existe um alojamento (capoeira) específico e separado para galinhas. Foi referido que diferentes espécies de aves partilham o mesmo espaço. Durante a noite, os abrigos (instalações) comumente usados são simples capoeiras construídas com material local, em cima de árvores, num cantinho ou poleiro dentro da casal ou na cozinha do AF. Este sistema de produção de galinha é também caracterizado pela alta taxa de mortalidade de pintos causados por doenças e predadores.

Nenhum dos criadores neste estudo segue o programa de vacinação e de controlo de parasitas de forma a regular o seu efectivo de galinhas. Segundo os dados, quase todos os respondentes

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(89,8%) fornecem água as suas aves, mas segundo observado no campo, a água fornecida não era suficiente e em certos casos era suja, podendo transmitir doenças.

Na área de estudo, especificamente para a produção de galinha landim, foi referido pelos respondentes a falta de apoio de serviços de extensão ligados a gestão, práticas de maneio melhorado e muito menos a comercialização. Tradicionalmente, as familias fazem uso do seu conhecimento de criação de galinha adquirido ao longo do tempo. Nenhum dos respondentes referiu ter tido uma formação sobre criação de galinha, no entanto, durante a discusão em grupo (FGD), os participantes estavam entusiasmados, o que sugere que eles necessitam e exigem formação na criação de galinhas.

4.2 Características dos agregados familiares

As familias da amostra são constituidas em média por 8 membros, (Anexo A6), podendo o número do AF variar entre 2 – 17 membros. A composição da idade dos membros dos AFs inquiridos parece-se tipicamente com a pirâmide de população da maioria dos países em desenvolvimento, em que a maioria dos membros do AF são crianças com idade abaixo dos 15 anos de idade. As crianças (≤ 12 anos) representam mais de 47% enquanto os jovens (13 – 25 anos) representam aproximadamente 23%. Os restantes membros das famílias com mais de 25 anos de idade cobrem a restante proporção.

Tabela 4. Classe de idade dos membros dos AFs inqueridos Classe de idade (anos) Frequência Percentagem 5 ou menos anos 157 19,8 6-12 214 26,9 13-17 91 11,5 18-25 91 11,5 26-50 189 23,8 50 ou mais anos 53 6,7 Total 92 100,0

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Em relação ao género, constatou-se que a proporção de homens (48%) é quase igual à das mulheres (52%), (Tabela 5).

Tabela 5: Distribuição de membros do AF por sexo Sexo No de membros Percentagem Masculino 382 48,2 Feminino 410 51,8 Total 792 100,0 Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

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A maioria dos membros do AF com idade superior a 14 anos apresenta um nível de educação entre a alfabetização e ensino secundário (68%) e entre estes os membros com nível primário representam 48%. O nível de escolaridade difere segundo o género: os homens têm maior nível de escolaridade tanto no nível primário como no secundário comparado com as mulheres. Entre os membros analfabetos (32%), a maioria são mulheres com cerca de 72,7% comparativamente aos homens com 27,3%, Tabela 6.

Tabela 6. Nivel de educação dos membros diferenciado por género Niveis educação Percentagem Masculino Feminino Não formal e Analfabeto 31,7 36 (27,3%) 96 (72,7%) Não formal e Alfabetizado 7,2 6 19 Primario 47,6 198 179 Secundario 13,5 52 9 Total 100,0 292 303 Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Tratando-se de AF’s que vivem à base da agricultura e pecuária, as associações são identificadas como cruciais para o desenvolvimento dos criadores de forma a estes poderem ter acesso a informação, formação, bom preço como também para ter acesso a serviços financeiros. Na área de estudo, maior parte dos criadores de galinha não está integrada/organizada em associações, apenas 5,7% dos membros do AF pertencem a alguma associação.

A posse de animais por AF na área de estudo está apresentada na Tabela 7. A percentagem de galinhas locais possuídas por cada AF é de 48%. Comparativamente aos bovinos, caprinos, ovinos e outras aves, as galinhas estão representadas em maior proporção.

Tabela 7. Percentagem de AFs que possuem espécies pecuárias Espécies Pecuárias Frequência Percentagem Bovino da raça local 8 3,9 Bovino cruzado 1 0,5 Caprino da raça local 60 28,9 Ovino da raça local 3 1,4 Galinhas locais 99 48,0 Suinos locais 6 2,9 Patos 26 12,5 Galinha-do-mato 4 1,9 Total 100,0 Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

4.3 Estrutura do bando e suas características

A estrutura do bando é descrita em termos de número e proporção dos diferentes grupos etários e sexo de galinhas no bando. As galinhas criadas pelos AF’s apresentam heterogeneidade

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pertencendo a várias classes, sendo o número médio do bando por AF de 9 galinhas, podendo este número variar entre 1 – 60 galinhas.

Na área de estudo, a maioria dos respondentes (34%) tem tamanho do bando que varia de 10 – 20 galinhas, Tabela 8.

Tabela 8. Percentagem de AFs por número de galinhas No de galinhas Frequência Percentagem Menos de 5 12 12,1 6-10 22 22,2 10-20 34 34,3 20-35 22 22,2 Mais de 35 9 9,1 Total 99 100 Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

A variação do tamanho do bando nas zonas rurais pode ser atribuída ao sistema de criação praticado e factores locais como doenças e predadores.

4.4 Perdas e taxa de extracção

Segundo os criadores de galinhas entrevistados, as perdas de galinhas no bando são atribuídas maioritariamente a doenças (90%), predadores (9%) e roubos (1%), (veja anexo A1). No entanto, as taxas de extracção no bando são atribuídas maioritariamente a vendas seguido do consumo e em menor numero as ofertas, (veja anexo A2), o que indica de facto que o propósito primário de criação de galinha é a venda. Em relação a proporção de galos e galinhas, é notável um número maior de galinhas. Esta desproporção é de esperar considerando que as galinhas são o pilar importante para a reprodução e desenvolvimento da criação (veja anexo A2).

Contudo verifica-se que tanto nos galos como nas galinhas o número de aves vendidas é superior ao número de aves consumidas e oferecidas. O número de aves mortas também é bastante alto pressupondo-se que haja algum factor que os AF’s não estejam a conseguir controlar para evitar que as aves morram. De acordo com os dados apresentados pode–se observar que maior número de aves mortas tanto nos galos, galinhas e pintos, ocorre no Bairro de Mecaula.

Os pintos têm uma dinâmica diferente em relação às aves adultas. Embora se tenha referido à alta mortalidade dos pintos no bairro de Mecaula comparativamente aos outros bairros verifica-se que em geral, a mortalidade nesta classe é bastante elevada.

Não existe prática de compra de pintos, nem de venda ou oferta, contudo o bairro de Mecaula é o único referenciado para a realização da oferta de pintos, bem como de vendas.

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4.5 Aspectos sócio-económicos na produção de galinhas

Na área de estudo não existem tabús na produção e consumo de galinha. Assim, o principal objectivo da produção de galinha é a venda (84%), seguido do consumo (16%). Isto indica que no sistema de produção extensivo na área de estudo é principalmente usado para gerar renda.

Em relação às despesas relacionadas com a produção de galinha, os respondentes investem no início da criação na compra das primeiras galinhas e por vezes na compra de vacina contra a doença de Newcastle. De referir que a fonte de dinheiro para todas estas despesas é proveniente da sua renda pessoal.

Segundo Tomo (2009), a actividade de criação de galinhas é rentável e de baixo custo. Quase todos os criadores querem melhorar o nível de produção da galinha. Contudo resultados do inquérito revelaram que os criadores não têm acesso ao crédito designado para a produção de galinhas. Isto indica que na área de estudo existe um grande interesse dos criadores em aumentar a sua produção não obstante, há falta do acesso ao crédito e outros serviços de extensão.

A contribuição da galinha na renda do AF é geralmente difícil de se quantificar. Maior parte dos investigadores económicos em países em desenvolvimento indicam que este sector é uma alternativa viável e promissora como fonte de renda para os AF rurais (Oh, 1990). O valor médio das vendas de galinhas vivas na área de estudo no ano de 2010 de 355 MTs com um intervalo que varia de 30 – 2250 MTs no ano da pesquisa. Estes dados indicam que as galinhas suportam a segurança alimentar ao nível do AF não só através do seu consumo, como também através da criação de um ambiente económico que permite o criador ter um melhor poder de compra ou melhor acesso à compra de alimentos e um suporte financeiro para a escola das crianças.

4.6 Características produtivas da galinha local nas populações inquiridas

4.6.1 Produção de ovos

Na área de estudo, o número médio de postura anual de uma galinha foi de 3,2 podendo variar num intervalo entre 3,1 – 3,4 posturas/ano. O número médio de ovos por galinha por postura foi de 13,4 ovos, com uma variação de 8 – 20 ovos/galinha. Os dados médios obtidos sobre número de postura por ano e o numero de ovos por postura, estão dentro dos intervalos encontrados na literatura, (ver anexo A5).

Comparando os quatro (4) bairros visitados, as galinhas não mostraram diferenças estatísticamente significativas (p < 0,05) em relação ao número de ovos produzidos, número de postura/ano, número de pintos que eclodem e a taxa de sobrevivência até aos dois (2) meses.

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4.6.2 Eclosão e mortalidade

A produção de ovos, eclodibilidade (eclosão ?) e a sobrevivência de pintos são provavelmente os principais determinantes na produtividade do bando no sistema de produção extensivo de subsistência. A taxa média de eclosão neste estudo foi de 83%, (Tabela 9), o que cai dentro do intervalo reportado na literatura (Anexo A5).

Tabela 9. Indicadores de produtividade

Variáveis Observações Média Desvio padrão Min Máx

Nr de postura/ano 96 3,2 1,2 2,0 3,4 Nr de ovos/postura 98 13,4 2,7 8,0 20 Nr.de pintos que eclodem 98 11,1 2,8 5,0 20 Nr.de pintos que sobrevivem até 2 meses 91 7,9 3,2 1,0 16 % de sobrevivência de pintos - 71,5 - - - % de mortalidade de pintos - 28,5 - - -

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Dados do inquérito mostram que dos 13 ovos postos em média por postura, eclodem em média cerca de 11 pintos mas só sobrevivem 8 pintos até aos 2 meses de idade. Deste modo até aos 2 meses verifica-se a uma taxa de sobrevivência de 72% e uma taxa de mortalidade de 28,5%. A taxa de eclosão encontrada na área de estudo é alta comparativamente as taxas encontradas no Mali, Gana e Etiópia (FAO, 1998).

A alta eclosão pode melhorar a produção da galinha se existir boa taxa de sobrevivência de pintos. No entanto, a alta taxa de mortalidade de pintos (44%) pode ser uma das razões para o tamanho pequeno do bando por AF na área de estudo. A mortalidade no sistema de produção extensiva da galinha pode ser devida ao maneio inadequado, falta de suplementação alimentar, falta de água fresca e limpa suficiente, predadores e doenças (Pandey 1992).

Comparando os 4 bairros (veja anexo A2) existe uma diferença estatisticamente significativa (p<0,05) na mortalidade de galinha, sobretudo de pintos em Mecaula do que nos restantes 3 bairros e isto pode provavelmente ser devido a alta ocorrência de predadores e maneio inadequado. No geral, a mortalidade de galinha desde a eclosão até a venda ou consumo foi de 37% (veja anexo A2), com 28,5% de mortalidade que ocorre nos pintos com idade igual ou inferior a 2 meses (veja anexo A3).

A taxa de mortalidade decresce com o aumento da idade. O estudo não detalhou, em separado, as causas da mortalidade de pintos, mas através das informações recolhidas nas entrevistas prevê-se que seja devido ao mau maneio em especial aos predadores, doenças e falta de alimentação adequada.

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Estes resultados indicam que, intervenções para reduzir a mortalidade de pintos podem provavelmente resultar numa grande melhoria na produtividade do sistema em geral.

4.7 Maneio geral

4.7.1 Maneio alimentar e suas práticas As galinhas locais são criadas em regime extensivo e na época chuvosa alimentam-se, segundo os AF’s, de capim, formigas, gafanhotos, térmitas e minhocas (alimentos ricos em proteinas) que tem maior disponibilidade no período chuvoso, do que no período seco, havendo contudo outros alimentos como a mapira, meixoeira, e milho (alimentos ricos em carbohidratos) que têm maior disponibilidade no período seco.

Pressupõe-se que mesmo que houvesse uma combinação perfeita destes alimentos as galinhas nos meses de maior escassez ficariam limitadas, não satisfazendo os seus requerimentos nutricionais. Por outro lado a alta densidade da população de galinhas que compete no mesmo local vem agravar esta situação de carência de alimentação.

A falta de suplementação alimentar é uma das características do sistema de produção extensivo da galinha (Gueye, 2003).

Os alimentos mais fornecidos nos 4 bairros visitados encontram–se indicados na Tabela 10. Os alimentos suplementares na área inquirida incluem o farelo de milho (52%), o milho (15%), a mapira (14%), a mexoeira (9%) e restos da comida (2%).

Tabela 10. Percentagem de produtores que suplementaram as galinhas Tipo de alimentos Percentagem Farelo mapira 3,0 Farelo milho 53,0 Mapira 14,0 Mexoeira 9,0 Milho 15,0 Restos de comida 2,0 Outros alimentos 5,0 Total 100,0

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Em muitos casos, a provisão de alimentos para as galinhas é sazonal. Dependendo da quantidade e disponibilidade de recursos no AF. O maioria dos alimentos suplementados encontra-se disponível nos meses que vão desde Março ate Agosto, depois das colheitas (Tabela 11).

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Tabela 11. Resumo da disponibilidade anual de alimentos suplementares Alimentos/Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezFarelo de milho x x x xMilho x x x x x xFarelo de mapira x x x xMapira x xCasca de batata doce x x Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Tendo em conta a alta percentagem de AF’s que diz fornecer o farelo de milho, e observando-se que este é o tipo de alimento mais fornecido, verifica-se que o farelo de milho é o produto eleito de maior fornecimento.

Considerando que o farelo de milho é um alimento mais rico em carbohidratos do que em proteinas, pode-se avaliar no geral que a alimentação fornecida as galinhas é deficitária em termos de proteinas, especialmente no tempo seco quando não existem muitos insectos e outras fontes de proteinas.

Os AFs fornecem pouco ou nada no fim da estação seca quando o recurso alimentar torna-se escasso na família. No período de menor escassez (estação seca) cerca de 44% dos respondentes fornece apenas 1 vez/dia e 42% fornece 2 vezes/dia e os restantes alimentam 3 vezes/dia. No entanto, os dados mostram que os alimentos fornecidos na área de estudo não são suficientes em qualidade nem em quantidade, sendo irregular ao longo do ano e não constitui uma ração balanceada, situação agravada no período chuvoso.

Contudo apesar de todos esses constrangimentos apontados, a produção de galinha em pequena escala ainda é viável porque as galinhas convertem os insectos, outros alimentos encontrados no pasto e desperdícios de comida da família em proteína animal de qualidade, convertida em carne e ovos, sendo de baixo custo para o AF. No entanto, alguns criadores na área de estudo queixaram-se das galinhas estragarem partes de certas culturas alimentares, competindo desta forma com a fonte alimentar da família. Contudo, pode-se dizer que isto não é ameaça para o desenvolvimento futuro do sector; é apenas um problema de maneio controlável através do melhoramento das instalações.

De referir que a alimentação fornecida é geralmente lançada ao chão, o que implica que as aves poderão estar a comer produtos contaminados. Esta alimentação fornecida não respeita o número nem a classe de aves, sendo muito frequente verificar que galos, galinhas e pintos se encontram a comer numa mesma zona, entrando estes últimos em desvantagem, pelo seu menor tamanho e

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menor força para competir com os adultos. Isto resulta em fraca nutrição e maior vulnerablidade a predadores e doenças.

Esta situação também é verificada no campo de pastagem especialmente quando a população de galinhas é bastante elevada, comparativamente aos recursos encontrados nesse local.

4.7.2 Abeberamento

A água tem um papel importante na digestão e no metabolismo das aves, podendo também servir como meio para administração de medicamentos que neste caso não é muito comum.

Na área de estudo, 90% dos respondentes fornece água às suas galinhas, e destes, 96% fornece em recipientes. Isto é promissor e deve ser considerado como um aspecto positivo na criação de galinha. Não obstante, constatou-se que a água era fornecida em recipientes sujos, não sendo sujeitos a uma limpeza diária que contribui para a contaminação da água o que pode causar muitas doenças.

De acordo com os dados, a água fornecida as galinhas provem de furos (63%) e do poço (37%) (Tabela 12), indicando que a água fornecida é de boa qualidade. Cerca de 52% dos respondentes fornece água as galinhas duas vezes/dia e 37% fornece uma vez/dia.

Tabela 12. Fonte de água Fonte Frequência Percentagem Poço 33 36,7 Furo 57 63,3 Total 90 100,0

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

4.7.3 Alojamento

A capoeira é essencial para proteger as galinhas contra os predadores, roubos, diferenças de temperaturas e para providenciar abrigo às galinhas que estão a incubar ou que cuidam da sua ninhada acabada de eclodir. No entanto, o inquérito revelou que 65% dos respondentes não tem instalações para as galinhas ou são inadequadas. Durante o inquérito ao AF e durante o FGD referiram ao roubo, proliferação de parasitas (pulgas), predadores e falta de experiência como principais razões para não construir capoeira para galinhas. De acordo com a forma de pernoita, cerca de 14% de respondentes deixam as suas galinhas passar as noites dentro da cozinha, 22% compartilham a casa principal e 2% pernoitam em cima das árvores, Tabela 13.

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Tabela 13. Tipo de alojamento para galinhas Tipo de alojamentos para aves adultas Frequência Percentagem Árvore 2 2 Capoeira no chão (material local) 45 48 Capoeira no chão (material convencional 9 10 Capoeira elevada (material local) 4 4 Varanda/dentro de casa 20 22 Cozinha 13 14 Total 93 100 Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

As instalações para galinhas na área de estudo são possuídas por aproximadamente 48%, sendo pequenas, feitas de material local (capim e palha) no solo, não respeitando as normas do espaço vital e não permitindo a realização de limpeza pela sua pequena estrutura. Alguns AFs constrõem as capoeiras anexas à casa principal (Figura 1) como uma pequena extensão da mesma, com igual material de construção e acesso pelo interior da habitação. Existe uma coabitação estreita entre as galinhas e o AF.

Apesar de ser seguro durante a noite quer para os ladrões como para os predadores, esta coabitação cria condições para a transmissão de doenças ao AF.

A incubação natural é o método comumente usado na área de estudo para repor e aumentar o tamanho do bando. A maior parte das galinhas (52%) encontra um local escuro e calmo próximo da casa para pôr ovos e 23% dos respondentes referiram que as suas galinhas põem ovos dentro de casa, havendo apenas 3% que põem ovos dentro da capoeira. Depois dos ovos postos, maior parte dos criadores (85%) preparam os ninhos, Tabela 14.

Figura 1. Capoeira anexa à casa principal

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Tabela 14. Local onde as galinhas põem ovos Local de postura Frequência Percentagem Longe de casa 4 4,0 Perto de casa 47 51,7 Dentro de casa 21 23,1 Capoeira 3 3,3 Cozinha 3 3,3 Outros 13 14,3 Total 91 100,0

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

No sistema tradicional de produção extensiva de galinha, é natural a galinha ser responsável pela nova ninhada. Neste caso a galinha local também apresenta uma grande habilidade de ser mãe. Em muitos casos, especificamente no caso em estudo, os criadores libertam os pintos deixando os seguir a sua mãe, 5 dias depois da eclosão, ficando os pintos protegidos apenas nesse período, Tabela 15.

Tabela 15. Tempo e local de protecção dos pintos

Intervalos de tempo (dias) de permanência após a eclosão

Local onde ficam os pintos após a eclosão 1 a 2 dias 3 a 4 dias

5 a 7 dias

Mais de 8 dias Total

Capoeira 20 17 4 8 49 Varanda 7 8 0 2 17 Dentro de casa 10 8 7 3 28 Baixo do celeiro 1 0 0 0 1 Cozinha 1 1 0 0 2 Outros 0 1 0 0 1 Total 39 35 11 13 98

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

4.8 Principais doenças das aves

No sistema de criação da galinha extensivo e livre, as doenças são o maior factor limitante para a produção de galinha landim (Aini, 1990). Existem várias doenças que afectam as galinhas, podendo dizimar até os bandos com as altas mortalidades que causam. Foi encontrado neste estudo as doenças como o principal factor de perdas de galinhas (veja anexo A1). Este número pode ser maior em galinhas jovens com menos de 8 semanas de idade, que são extremamente vulneráveis a predadores e doenças. Cerca de 90% de respondentes confirmaram o perigo na eclosão de surto de Newcastle na área de estudo, que causa uma completa devastação do bando de aproximadamente 97%, Tabela 16. Os respondentes referiram que esta doença é comum aparecer nos meses mais quentes (Agosto a Novembro).

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Tabela 16. Doenças que afectam a produção de galinhas Doenças Nomes locais Frequência Percentagem Ectoparasita (pulga) Pituto 1 1,0 Newcastle Chitucua/ndjiri/Nhacaluelue 93 96,9 Variola Unqui/Capitite 2 2,1 Total

96 100,0

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Tabela 17. Percentagem de respondentes que vacinaram as galinhas Vacinou as galinhas? Bairros (%) Mecaula 4,0  Mponha 75,0  Zuzi 80,8  Ndambuenda 29,2  Todos 47,0  

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Cerca de 53% de respondentes não vacinou as suas galinhas contra a doença de Newcastle, (Tabela 17). Parte dos que não vacina, recorre ao tratamento tradicional e os outros simplesmente não fazem nada.

Dos 4 bairros visitados, observou-se que em Ndambuenda e Mecaula mais de 70% dos criadores não vacina as suas galinhas, (Tabela 17). Dos que vacina, tem acesso da vacina através dos vacinadores comunitários (58%) e de alguma ONG (2%), que obtem por sua vez do MINAG. Os AFs pagam por cada dose da vacina um valor de 1 metical/galinha.

Estes resultados revelam que os criadores não têm acesso aos serviços veterinários de forma regular e extensiva, indicando a existência de uma lacuna a este respeito. Para os que tem acesso, não se cumpre com rigor o calendário de vacinação por vários motivos. Deste modo existem todas condições favoráveis para a transmissão de doenças associadas à natureza de comercialização e práticas de criação.

4.9 Predadores e aspectos sanitários

Foi reportado que das perdas causadas pelos predadores (74%), a maior perda reportada na classe das aves jovens (pintos) é causada pelos milhafres em 85% durante o pastoreio e na classe das aves adultas a maior perda, aproximadamente em 41%, é causada pelas raposas durante o pastoreio. Assim, é aparente que para galinhas jovens, predação pelos milhafres, raposas, gatos-do-mato (nhenga), contribui para a perda substancial do bando (Tabela 18).

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Tabela 18. Predadores e parasitas que atacam as galinhas

Classe de galinhas

Predadores/Parasitas Nome local Adultos Pintos Todos Cães Chicos 2 1 0 Cobra Nhoca 5 0 1 Ladrões Mbava 6 0 0 Milhafre Tangue/Lumbira 10 58 (85%) 3 Pulgas Ungui/Pituto 10 2 18 (60%) Raposa Nhenga/Paca 23 (41%) 3 8 Gato-do-mato Chilo 0 3(4,4%) 0 Vermes Nquinha 0 1 0 Total

56 68 30

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Também foi referido por 60% dos respondentes que as pulgas são os parasitas externos que mais afectam as galinhas dentro das capoeiras ou nos outros locais de abrigo (veja anexo A4).

Cerca de 83% das galinhas que adoecem ou morrem na área de estudo são queimadas e/ou enterradas.

4.10 Características do mercado e comercialização de galinhas locais na zona de estudo

As saídas comerciais da galinha landim seguem um perfil de demanda da respectiva mercadoria. O mapeamento dos padrões de utilização indica que os locais de compras e os intermediários (colectadores rurais), são os pontos de saída da mercadoria mais significantes. A maior parte das compras (89%) é efectuada ao nível rural à porta da casa do criador (Gráfico 2).

Gráfico 2. Local de transacção das compras dos agentes do mercado

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Em geral, não existe um esquema formal e bem organizado da comercialização da galinha na área de estudo. Vender galinha viva é prática comum no país como também no local do estudo.

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Os criadores vendem as suas galinhas principalmente quando eles têm uma necessidade urgente (Gráfico 3).

Gráfico 3. Período em que os criadores vendem as suas galinhas

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

4.10.1 Caracteristicas sócio-económicas dos agentes do mercado na área de estudo

Todos agentes do mercado entrevistados são de sexo masculino, com uma idade média de 33 anos, com um intervalo que varia entre os 17 e 58 anos de idade e com mais de 80% alfabetizados. Em média, os agentes entrevistados possuem cerca de 7 anos de experiência no negócio de venda de galinha local. Mas existe uma certa variação, incluindo entre mercados. Enquanto alguns tinham entrado no ano anterior outros já estavam a completar 17 anos no negócio. Dado que os resultados indicam que esta categoria de agentes do mercado está altamente envolvida na comercialização da galinha, futuras pesquisas de mercado da galinha devem olhar para este grupo. A outra categoria que também deve ser considerada inclui chefes de AFs e jovens não alfabetizados.

4.10.2 Tipo de comprador de galinha ao nível do criador Os criadores de galinha entrevistados referiram que os intermediários, chamados colectores rurais (41,5%), são o tipo de compradores mais importantes em termos da quantidade comprada (Gráfico 4). Os colectadores rurais levam uma certa vantagem comparativamente a outros compradores, como por exemplo: (i) não tem custos adicionais, (ii) compram muita quantidade, (iii) e pagam de imediato. Para os colectadores rurais, foi referido em 75,6% dos respondentes que tem a maior desvantagem de tentar estabelecer preços baixos.

Em relação ao segundo importante comprador, (Gráfico 4), os AFs vizinhos (25,2%), foi referido pela maioria (56,3%) como uma vantagem social de ajuda mútua. Como desvantagem para este

23    

tipo de comprador foi referido que: (i) compram a baixos preços (67,8%) e (ii) não pagam de imediato (14,3%). Para o terceiro importante comprador de galinha, os comerciantes fixos no mercado rural e da vila, mencionaram que tem a vantagem do preço ser relativamente alto (37,5%), mas com a desvantagem de os criadores terem que transportar as galinhas para um determinado ponto (50%).

Para os agentes do mercado, os consumidores singulares são os maiores clientes de galinha com 66,7%, seguido dos outros comerciantes com 25,9%, Tabela 21.

Gráfico 4. Tipo de comprador de galinha ao nível do criador

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

4.10.3 Outras características do mercado da área de estudo

A venda da galinha é feita na forma viva e não processada. Atribui-se este facto, à falta de facilidades de refrigeração em muitas famílias. De acordo com Babji (2001), citado por Emuron et al. (2010), o condicionamento e a melhoria do sistema de armazenamento a frio pode resultar num aumento significativo na comercialização de produtos avícolas locais processados.

Dos agentes do mercado entrevistados, 44,4% responderam que estão dispostos a comercializar a galinha processada caso haja disponibilidade, mas foi imposta pela maioria o condicionamento do sistema de frio para conservação do produto.

4.10.4 Fonte de informação do mercado

Do total dos respondentes, 42,4% não tem recebido informação sobre os preços de venda da galinha antes de ir ao mercado. Dos 57,6% que receberam a informação, 34% obtiveram a mesma informação através de familiares e amigos que já tinham estado no mercado e 58,5% referiram que obtiveram informação de preços via rádio (Tabela 19).

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Tabela 19. Fonte de informação de mercado Características No de respondentes % de

respondentes Fonte de informação (94)

Familiares e amigos 32 34,1 Rádio 55 58,5 Comerciantes pecuarios 5 5,3 Outros 2 2,1

Teve informação de Mercado (99) Sim 57 57,6 Não 42 42,4

Nota: Números dentro de parênteses indicam o número de respondentes Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

4.10.5 Local de comercialização por parte dos criadores

Em relação aos criadores de galinha, mais de metade vende as suas aves em casa, no entanto há criadores que vendem no mercado local rural (26,9%) e outros ao lado das “picadas” que passam pelas suas residências (16,4%), (Tabela 20), razão pela qual não chegam a percorrer longas distâncias, isto é, superiores a 1Km para comercializar.

Tabela 20. Local onde comercializam as galinhas Local de comercialização (67) No de respondentes % de respondentes Em casa 34 50,7 Ao lado da estrada 11 16,4 Mercado local/aldeia 18 26,9 Sede do distrito 2 3,0 Mercado distante 2 3,0

Números dentro de parênteses indicam o número de respondentes

4.10.6 Principais clientes da galinha landim Os principais clientes no mercado são os consumidores singulares de diferentes níveis sociais (66,6%), que compram uma a três galinhas de cada vez, seguindo de outros comerciantes (25,9%). Os consumidores singulares abatem as suas aves em casa, pois não existem serviços de matança na província da área de estudo. A carne da galinha landim é servida em poucos restaurantes/hotéis da vila e cidade, ao contrário da carne do frango de corte que é servida em quase todos os restaurantes e hotéis.

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Tabela 21 Tipo de cliente, tipo de ave comercializado e razões para vender

% de respondentes

Tipo de clientes (27) Consumidor singular 66,7 Outros comerciantes 25,9 Restaurantes/casas de pasto/barracas 7,4

Ave que mais vendem (27) Galinha landim 92,6 Frango de corte 7,4

Razões de vender (27) Baixo preço 3,7 Consumidores gostam de galinha 3,7 Maior quantidade que as outras 11,1 Fácil de adquirir 3,7 Familiarizado com o negócio 14,8 Falta da galinha local 3,7 Muita procura 59,3

Nota: Números dentro de parênteses indicam o número de respondentes Fonte: Inquérito a Criadores e Comeciantes (2010).

4.10.7 Espécie de ave com maior procura

No mercado, os respondentes referiram que em relação às outras aves, também comercializavam patos, galinhas-do-mato e frangos de corte, mas foi referido que a galinha landim é a que mais vendem (93%), portanto tem muita procura (59,3%) e estão familiarizados com o negócio (14,8%).

4.10.8 Constrangimentos na comercialização da galinha landim Os maiores constrangimentos na aquisição da galinha reportados pelos agentes de mercado foram as longas distâncias que percorrem (de casa em casa) para adquirir a mercadoria (25,9%) e a baixa disponibilidade da galinha (22,2%).

Como é de esperar, os criadores familiares de pequena escala, reportaram constrangimentos diferentes aos reportados pelos agentes de mercado. Os criadores referiram como principal constrangimento na comercialização os preços baixos oferecidos (36,5%) seguido da exploração pelos compradores-agentes de mercado, (24,7%), isto é, há falta de um mecanismo adequado e transparente na determinação do preço, uma vez que os mecanismos usados são subjectivos e altamente dependentes da avaliação dos compradores.

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Tabela 22. Constrangimentos na aquisição e de produção

Constrangimentos ao nível do criador (85) Mercados distantes 22,4 Preços baixos 36,5 Falta de acesso a informação do mercado 2,4 Falta de transporte para o mercado 9,4 Exploração pelos compradores 24,7 Fraco conhecimento para estabelecer preço 4,7 Fonte: Inquérito a Criadores e comerciantes (2010).

4.10.9 Fonte da galinha local para os mercados de Quelimane Os comerciantes de galinha adquirem as galinhas em diversas locais ao nível da província. Por exemplo, os comerciantes do mercado de Pinda, adquirem as suas galinhas maioritariamente em Nhangoma mas também adquirem, em Mponha, Moni, Megaza e Kanhungue em baixas quantidades.

Os comerciantes da vila de Morrumbala tem a sua principal fonte de galinha local na localidade de Pinda, mas também referiram a localidade de Megaza e Fábrica como fonte. Os mercados urbanos (terminais), isto é, mercado Brandão e mercado central de Quelimane, são abastecidos principalmente pelas galinhas que vem do distrito de Morrumbala como também de Inhassunge e de Nicuadala. Em geral, a maioria dos comerciantes de galinha local (40,7%) em Quelimane, adquire as suas galinhas locais em Morrumbala, seguido de Inhassunge com 11,1%.

4.10.10 Modo de transporte da galinha para o mercado

O modo de transportar a galinha viva dos criadores aos mercados foi principalmente a bicicleta (81,5%). No entanto, há casos em que o colectador rural para além de usar a bicicleta, usa também os transportes privados de passageiros (7,4%) e/ou barco (11,1%) para transportar a sua mercadoria, o seu meio de transporte e ele próprio até ao mercado urbano, conforme ilustra a Figura 2. Isto pode-se atribuir ao facto dos agentes obterem galinhas nos distritos distantes e

Características % de respondentes Constrangimentos na aquisição (27)

Altos custos de transporte 3,7 Baixa oferta 22,2 Falta de dinheiro 18,5 Falta de transporte 3,7 Longas distâncias 25,9 Meios de transporte não eficientes 7,4 Preço alto 11,1 Deficiente via de acesso 7,4

27    

localizados na outra margem do rio Zambeze. Em geral, os agentes dos mercados que percorrem longas distâncias, isto é, em média 62 km, com um intervalo que varia de 1 a 250 km à procura da galinha, referiram que as vias de acesso para os meios de transporte que usam são acessíveis (81%), (Tabela 23).

Estes resultados, mostram que os agentes dos mercados não têm meios especializados de transportar as aves. O modo actual de transporte expôe a galinha a situações de lesões, alteração da condição fisiológica, incluindo o stress térmico, os impactos do movimento de vibração, o jejum e a falta de água e até à morte em alguns casos. Estes efeitos adversos durante o transporte não só devem ser considerados de interesse público, mas também de importância económica em relação ao aumento das perdas e diminuição da qualidade de carne da galinha local.

Tabela 23. Modo de transporte da galinha para a comercialização Características % de respondentes

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

Figura 2. Foto ilustrando o modo de trasporte comum dos agentes do mercado

Tipo de transporte (27) Bicicleta 81,5 Carro 7,4 Barco 11,1 Vias de acesso (21) Acessiveis 81,0 Inacessiveis 19,0

28    

4.10.11 Mapeamento da cadeia de comercialização da galinha landim predominante na área de estudo.

A cadeia de comercialização da galinha landim nas zonas rural e urbana na área de estudo está apresentada na Figura 3. Os principais actores na cadeia de comercialização da galinha são os colectadores ao nível rural, colectador ao nível urbano, comerciantes ao nível do mercado da aldeia, comerciantes ao nível do mercado da vila, comerciantes ao nível do mercado urbano, casas de pasto, “barracas”, restaurantes e hotéis.

Figura 3. Cadeia de comercialização da galinha landim na área de estudo

Fonte: Autores.

Criadores vendem cerca de 800 mil galinhas anualmente

Criador familiar [galinha viva]

Mercados Vizinhos

Mercado da aldeia

Colectador rural

Rural

Consumidor urbano

Casas de pasto, barracas, restaurantes, etc.

Ofertas

Mercado da vila

Consumidor rural

Urbano

Colectador no mercado urbano

Mercado urbano/Mercado urbano/Mercado urbano

Casas de pasto, barracas, restaurantes, Hotéis, etc.

Consumidor urbano

Menor fluxo

Maior fluxo

Provisão de serviços: Investigadores do IIAM Extensionistas Vacinadores comunitários

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O canal de comercialização seguido é geralmente “simples”. As galinhas são frequentemente vendidas pelos criadores e atingem ao consumidor directamente e/ou, na maioria dos casos, após a passagem pelo intermediário, chamado colectador rural1, que comercializa nos mercados próximos (aldeia ou da vila) ou mesmo pode vender directamente às casas de pasto, barracas, restaurantes, etc, até mesmo no mercado urbano.

O mercado da aldeia tem um tipo de agentes do mercado chamados comerciantes fixos na aldeia, que compram maior parte da sua mercadoria (galinhas) com os colectadores rurais e criadores circunvizinhos. Vendem a sua mercadoria aos consumidores rurais locais e da vila, e aos comerciantes fixos no mercado da vila.

Os comerciantes fixos da vila vendem as suas aves aos comerciantes do mercado urbano aos consumidores da vila e urbanos, casas de pasto, restaurantes, hotéis, etc.

Os colectadores rurais e os comerciantes fixos da aldeia são os dois actores intermediários com uma forte competição para a galinha ao nível do criador. Também competem para o mercado urbano onde vendem para os colectadores urbanos, comerciantes fixos urbanos, consumidores singulares, restaurantes, casas de pasto e hotéis.

O envolvimento dos intermediários na comercialização da galinha local aumenta os custos e riscos no processo de comercialização. No entanto, a formalização da comercialização da galinha local em Moçambique pode trazer futuras melhorias no comércio da galinha.

Os comerciantes do mercado urbano recebem maior parte da sua mercadoria (galinha) dos comerciantes do mercado da vila, e dos colectadores ao nível do mercado urbano, e a outra parte da mercadoria vem dos colectadores rurais e dos comerciantes rurais. Estes, operam dentro das instalações dos mercados municipais e as suas aves, diferentemente dos outros comerciantes dos mercados, ficam confinados em gaiolas e são vendidos lado a lado com outras espécies de aves (Figura 4).

A proporção de venda que passa através dos colectadores de mercados é provavelmente maior durante os períodos festivos. Existem possíveis razões da alta proporção de venda nesse período através dos colectadores de mercado: (i) chefes de AFs (homens/mulheres) ou mesmo membros

1  Agente com uma relação comercial mais próxima ao criador, com compras de galinha regulares.

Figura 4. Modo de comercialização nos mercados urbanos

30    

activos do AF, geralmente quando vão ao mercado com o objectivo de fazer compras de material básico para o consumo do AF levam consigo as suas aves. Como resultado, vendem as suas aves imediatamente aos colectadores de galinha ao nível urbano, (ii) a segunda observação no mercado indica que os colectadores ao nível do mercado urbano forçam os criadores a venderem as galinhas para eles a um preço baixo. Com esta acção, o criador mostra estar a ser explorado pelos colectadores ao nível do mercado urbano.

Comparativamente aos agentes do mercado, independentemente do local de comercialização, o grande número de galinhas passa pelos colectadores rurais e do mercado. Justifica-se serem os que mais galinhas recolhem para a venda, porque são eles que vão á fonte (no criador longínquo) e distribuem tanto para os outros agentes do mercado como também para os consumidores singulares.

Estes têm um papel preponderante nos canais de comercialização como também desempenham um papel decisivo na determinação de preço da galinha no mercado final.

Os colectadores ao nível do mercado, geralmente vendem as galinhas a um preço elevado no mesmo mercado e a parte da mercadoria (galinha) que resta, levam para o mercado vizinho.

Alguns colectadores rurais, até mesmo os criadores de galinhas, à procura de um preço relativamente atractivo, levam as suas galinhas às vilas e aos centros urbanos, onde passam de casa em casa, restaurantes, hotéis e casas de pasto (barracas) e vendem-nas. Também vendem ao longo das estradas para os viajantes.

Os consumidores entrevistados, incluindo os hotéis, restaurantes e casas de pasto da vila e da cidade, referiram que preferem comprar as galinhas com os criadores ou colectadores rurais que passam de casa em casa a vender, porque o preço definido por estes é relativamente baixo comparativamente aos de comerciantes fixos da vila e/ou comerciantes urbanos e colectadores ao nível do mercado urbano.

Os criadores vendem as suas galinhas aos consumidores não só na sua casa, como também ao longo das picadas que passam pelas suas casas, no mercado rural, até mesmo andando de casa em casa dentro das zonas urbanas batendo portas nos hoteis, restaurantes e casas de pasto.

4.10.12 Preço da galinha

O preço estimado da galinha ao longo do ano está apresentado na Tabela 24. O mecanismo de estabelecimento do preço é na base de negociação quer para o comprador como para o vendedor. A determinação do preço da galinha depende do tamanho e o peso da mesma, e do período do ano (por exemplo, o preço pode ser mais alto durante a quadra festiva). No geral, os agentes do mercado usam a sensibilidade da mão para estimar o peso da galinha. De acordo com os diferentes agentes do mercado, o preço mais alto é atribuído às galinhas adultas como mostra a Tabela 24.

31    

Tabela 24. Análise de preços de comercialização da galinha de Morrumbala Pontos de

comercialização

Categoria de galinha

Preço médio de compra

(MZN)

Preço médio de venda (MZN)

Margem bruta

(MZN)

% de retorno

% do valora

% do preço do mercadob

Margem de comercialização

(%)

Criador

Galo jovem - 39 (20-55) 0 0 0 0 64 Galo adulto - 98 (80-120) 0 0 0 0 39 Galinha jovem - 32 (20-40) 0 0 0 0 63 Galinha adulta - 76 (60-80) 0 0 0 0 38

Colectador rural

Galo jovem 52,5 (40 -70) 66,3 (50-80) 13,8 26 62 13 25 Galo adulto 90 (80-100) 113,7 (65-130) 23,7 26 70 15 10 Galinha jovem 40 (25-50) 48,7 (30-60) 8,7 22 56 10 19 Galinha adulta 71,3 (60-80) 82,5 (60-90) 11,2 16 67 9 5

Comerciante na aldeia

Galo jovem 55 (25 - 80) 73,7 (45-100) 18,7 34 69 17 7 Galo adulto 90 (50-110) 115 (100-120) 25 28 71 15 1 Galinha jovem 52,5 (30-65) 62,5 (40-75) 10 19 73 12 16 Galinha adulta 72,5 (50-85) 85 (80-90) 12,5 17 69 10 2

Comerciante na vila

Galo jovem 86,2 (75 -100) 105,7 (55-150) 19,5 23 98 18 30 Galo adulto 120 (110-130) 145 (140-150) 25 21 90 15 19 Galinha jovem 55 (50-65) 72,5 (65-85) 17,5 32 84 20 12 Galinha adulta 86,3 (75-100) 110 (100-120) 23,7 27 89 19 20

Comerciante urbano

Galo jovem 87,7 (40 -130) 107,5 (90-120) 19,8 23 100 18 2 Galo adulto 138(120-170) 162 (130-200) 23,8 17 100 15 10 Galinha jovem 70,7 (40-90) 86,2 (70-100) 15,5 22 100 18 16 Galinha adulta 105 (80-130) 123,4 (90-150) 18,4 18 100 15 11

Note: Números dentro de parenteses indicam o intervalo dos preços. a= % do valor do preço terminal; b = % da margem líquida sobre o preço do mercado terminal. MBTC – Margem bruta total de comercialização / MBC – Margem bruta de comercialização ao nível do criador Fonte: Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010)

Principais pontos resultantes das análises do preço de comercialização são as seguintes:

• Os galos atraem maior rendimento ao longo da cadeia de comercialização comparando com os restantes tipos de aves.

• A maior e menor margens de comercialização vai para os comerciantes da vila e da aldeia, respectivamente.

• Todos os agentes do mercado têm custos de transporte, com excepção dos colectadores rurais. Se os custos de transporte para os agentes do mercado estivessem disponíveis, era de esperar uma maior margem líquida dos colectadores rurais, comparando com os outros intervenientes. E ainda, o forte poder de negociação de preço sobre os criadores “vulneráveis” para um preço favorável aos colectadores rurais constitui serviços com baixos riscos e insumos.

• Os criadores de galinha recebem 47% do preço médio do mercado terminal da cidade de Quelimane. Os agentes justificam isto em virtude dos custos de transacção que incorrem ao longo da cadeia do mercado. Além disso, há várias categorias de agentes desde os criadores até ao mercado terminal.

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A análise para saber se os comerciantes fazem as margens desordenadas na cadeia é complexa. Os criadores são muitas vezes prejudicados por falta de uma orientação para o mercado. Eles também estão em desvantagem porque encontram-se distantes dos mercados “funcionais”. Os criadores vendem as suas aves como último recurso para cobrir as suas necessidades urgentes encontrando-se numa fraca posição da negociação agravada pela falta de informação actualizada sobre os mercados e as tendências do mercado.

O Gráfico 5 mostra que os preços tendem a apresentar um aumento ligeiro nos meses de Agosto à Setembro, progredindo até meados de Janeiro, com pico em Dezembro. Este comportamento está relacionado com a quadra festiva (Natal e Ano novo) e também porque a oferta não cobriu a procura, o que pode tornar o preço elevado.

Os preços das galinhas a serem vendidas diminuem geralmente a partir dos meados de Janeiro até ao mês de Agosto. Esta baixa de preços em parte pode se dever às poucas reservas de dinheiro existentes depois dos períodos festivos, e na tentativa de cobrir as necessidades urgentes (o condicionamento do material escolar) os criadores vendem as suas galinhas a um preço “baixo” determinado pelo comprador, isto é, o comprador aproveita-se da condição vulnerável do criador para rentabilizar o seu negócio, em prejuizo do criador.

Segundo os dados, verifica-se um ligeiro aumento dos preços em Junho, causado pela celebração do dia da independência. Tanto a oferta como procura durante este período foi também elevada tendo um efeito na tendência de preços.

Gráfico 5. Tendência do preço da galinha ao longo do ano nos pontos de comercialização visitados

Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010). O Gráfico 6, mostra uma situação onde há uma oferta maior que a procura a partir dos meados de Janeiro até Março. Este comportamento, fez em parte, o preço da galinha baixar (Gráfico 5). A seguir à uma estabilização da procura e da oferta, seguindo uma queda da disponibilidade que justifica-se pelo facto do criador vender quase todo seu efectivo antes da época quente, temendo

33    

em parte a ocorrência do surto causado pela doença de Newcastle, que segundo os dados do inquérito dos AFs criadores de galinha, mais de 97% de respondentes, indicaram a doença de Newcastle a mais frequente e sendo comum aparecer e dizimar nos meses mais quentes, especificamente em Setembro, Outubro e Novembro. Esta queda não acentuada da disponibilidade da galinha entre os meados de Janeiro à Julho também está relacionada com a disponibilidade dos produtos agrícolas. Isto é, os criadores têm mais uma alternativa para a sua segurança (“alimentar e financeira”).

Gráfico 6. Variação da procura e disponibilidade da galinha nos mercados visitados

Fonte: Inquérito a Criadores e comerciantes (2010).

4.10.13 Quantidade média de galinha comercializada em Quelimane

O volume da venda ao consumidor pode ser maior do que o reportado na Tabela 24, devido a inexistência de pontos específicos para comercialização, tornando difícil avaliar e quantificar.

Entre os diferentes mercados visitados, a grande proporção de galinha vendida directamente ao consumidor, independentemente do período da disponibilidade, ocorre nos mercados da cidade de Quelimane (mercado Central e do Brandão), seguido do mercado da vila de Morrumbala e por fim o mercado da aldeia. Este comportamento pode dever-se, a demanda relativamente elevada, o poder de compra dos consumidores comparado com os consumidores frequentadores dos mercados rurais e um preço prémio oferecido, Tabela 25.

De um total de 50 agentes do mercado, distribuídos pelos 4 mercados visitados, são vendidos semanalmente para o consumidor aproximadamente 9.230 galinhas no período com maior disponibilidade, o que significa que para o mesmo período de maior disponibilidade, vendem anualmente cerca de 480 mil galinhas. Ao longo do ano, isto é, nos três períodos de disponibilidade da galinha, os comerciantes vendem um total de cerca de 800 mil galinhas, Tabela 25.

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Tabela 25. Número médio de galinhas comercializadas/semana

Nome mercado No total agentes

Período de maior disponibilidade

Período de média disponibilidade

Período de menor disponibilidade

M.Central de Morrumbala 14 2450 (26,5) 1414 (34,6) 791 (38,0) M.Central de Quelimane 11 3514 (38,1) 1454 (35,6) 459 (22,1) Mercado Brandao 9 1013 (11,0) 398 (9,8) 230 (11,1) Mercado de Pinda 16 2138 (23,2) 810 (19,8) 598 (28,8) Total/semana 50 9230 4081 2080 Total/ano 50 479.960 212.212 108.160 Total 800.332 Supermercado (Casa de frutas)* 1 21000 15000 10000

* Este comercializa frangos de corte congelados para diferentes classes sociais. Note: Números dentro de parênteses indicam percentagens (%) do total comercializado em cada mercado Fonte: Inquérito a Criadores e Comerciantes (2010).

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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1 Conclusões

A produção e comercialização da galinha em Moçambique é uma cadeia de actividades económicas inter-relacionadas realizadas dentro de um contexto social.

Esta actividade pode variar desde a criação até a venda da galinha local. Compreendendo os cenários das cadeias de criação e comercialização da galinha e a dinamica dentro do sistema, é crucial desenvolver determinadas estratégias para melhorar o sistema.

Assim, 99 AF´s criadores de galinhas e 27 Agentes de mercado e consumidores foram entrevistados para avaliar o sistema actual de produção e comercialização no distrito de Morrumbala.

Os membros do AF especificamente mulheres e crianças participam na produção de galinhas usando raças e conhecimentos locais de prática de maneio para gerar renda e/ou para o consumo do AF.

O sistema de criação predominante na área de estudo é um sistema extensivo para subsistência baseado nas galinhas locais, que procuram os seus alimentos esgravatando, com suplementação alimentar ocasional e sazonal com cereais produzidos pelo AF e restos de comida do AF, sem um alojamento adequado, para as galinhas. A maioria dos respondentes não tem acesso a programas de vacinação e dos poucos que fazem a vacinação não cumprem com rigor o calendário das mesmas. A alta taxa de eclosão (83%) e mortalidade (44%) são duas caracteristicas conflituosas do sistema.

Os constrangimentos criticos reportados na produção de galinhas são em parte devido à prevalência da baixo nivel de maneio (falta de cuidados sanitários, inexistência de instalações, predadores) e baixa informação de mercados.

Apesar de muitos problemas na criação de galinhas o desempenho da galinha local é relativamente promissor na área de estudo, onde é notável em termos de alta taxa de eclodibililidade e produção relativamente de ovos/postura. Além disso quase todos AF fornecem sazonalmente alimentos suplementares e água para as suas galinhas e isso pode ser considerado como uma força para o sector. Quase todos os criadores entrevistados também necessitam de aumentar a produção e produtividade da galinha o que se pode considerar como uma oportunidade e potencial para a produção da galinha na área de estudo.

Depois de analisado em detalhe o sistema de produção da galinha na área de estudo e relacionando o nível de produção actual verifica-se que um incremento significativo nos níveis produtivos e nos efectivos existentes será necessário, bem como um melhor sistema de recolha,

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transporte e venda para que o investimento na construção e gestão de um matadouro local possa ser um negócio sustentável e lucrativo.

5.2 Recomendações

As seguintes recomendações são sugeridas baseando-se nos resultados deste estudo: .

Desenvolver e Melhorar Serviçcos locais de assistencia técnica

Estabelecer redes de promotores locais de assistencia técnica e disseminação de tecnologias. Explorar possibilidades entre os Criadores de formação e capacitação dos mais jovens com potencialidades para prestar estes serviços.

Estabelecer feiras locais de venda de galinhas em estreita colaboração com os SPP, envolver asscociações de produtores muitas vezes existentes, formadas por projectso ou ligadas a produção agrícola. Ampliar a área de intervenção destas associações capacitando-as em técnicas avícolas.

Capacitação dos criadores de galinhas locais

Treinar os produtores locais em técnicas melhoradas de maneio e controle produtivo de galinhas. Identificar todas as possiveis fontes locais de alimentos produzidos pelos Afs na província da Zambézia, incluíndo os feijões e a soja (ricos em proteina). Treinar os produtores na produção destes alimentso e no fornecimento higiénico e regular de alimento e água e vacinas.

Sensibilizar e treinar os AF’s para mudarem o objectivo de produção que não deve ser apenas para vender nos periodos criticos, mas para produzir como actividade rentável.

Criar um sistema de informação do mercado ao nível do produtor, incluíndo as escolas ou os encontros dos residentes. A informação pode ser agregada ao sistema de mercados agrícolas existente e com o qual muitos produtores estão familiarizados. O uso de tecnologias móveis (celular) pode ser explorado para um sistema de extensão de mensagens técnicas (mensagens sobre peridodo de vacinação), mensagens associadas ás épocas de colheitas agrícolas para uso dos sub-produtos e respectivas misturas.

Treinar os criadores para construir capoeiras melhoradas e adequadas a preservção da saúde dos Afs e das aves. (permitem evitar o roubo e morte pro predadores).

Alojamento

Desenvolver esenhar-se uma capoeira modelo viável, capaz de ser implementada por cada AF.

O alojamento para pintos e aves adultos deve ser diferenciado devido às diferentes características e susceptibilidade de cada um. Deste modo, atenção especial deverá ser prestada as aves jovens

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(pintos) que deverão ser submetidas a uma forma de protecção e alimentação nos primeiros 60 dias para se evitar a elevada mortalidade.

Alimentação

A alimentação fornecida é feita na base da disponibilidade de alimentos existentes no AF. Contudo é de se referir que estes alimentos são competitivos com a alimentação humana e não havendo disponibilidade para os homens não haverá para as galinhas em diversos períodos do ano em especial na época chuvosa. Esses alimentos pela sua característica são ricos em carbohidratos, existindo um grande défice em proteinas que nem sempre é compensado pelo consumo de larvas, vermes, gafanhotos e formigas entre outros que são potenciais fontes de proteinas encontradas no pasto.

A província da Zambézia é uma das maiores produtoras de soja do País, a qual é na sua maioria comercializada para a produção de rações avícolas pelos grandes produtores de aves comerciais. Desenvolver fórmulas locais de alimentos balanceados, com todas as actuais fontes e outras culturas adicionais (soja) existentes. Nos períodos de grande disponibilidade de alimentos deve-se aplicar as tecnologias de conservação de alimentos para posterior utilização nos períodos de menor disponibilidade.

Alimentos alternativos não competitivos com a alimentação humana especialmente ricos em proteínas, tais como a Moringa oleifera ou outros, devem ser promovidos no local e incorporados na alimentação para melhorar a qualidade da ração.

Maneio sanitário

Observa-se que embora haja 56.2% de criadores que tratam das doenças de galinhas ainda existe uma grande parte deles que não as trata. De referir que a percentagem acima mencionada inclui muitos criadores que tratam das galinhas com medicamentos tradicionais que nem sempre têm efeito para a cura das mesmas.

Verifica-se que dos bairros estudados em Ndambuenda e Mecaula 70.8% e 96% dos AF’s não fazem a vacinação, o que é bastante crítico e perigoso, porque a doença de Newcastle é bastante devastadora.

Explorar possiveis mecanismos locais para prevenção regular de doenças e seguimento de programas de vacinação. Treinamento de elementos da comunidade (promotores) e esensibilização para o pagamento da vacina e efeitos nefastos da doença deverõa ser constantes para desenvolver sensibilidade e mudança de atitude os produtores. Maneio reprodutivo

Para melhorar a produtividade, cuidados específicos devem ser prestados ao local de postura, durante o período de postura, e à proteção dos pintos contra o frio, predadores e parasitas fornecendo uma alimentação rica em proteinas principalmente nos primeiros 60 dias.

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No entanto, a médio/longo prazo, mudanças na produtividade e rentabilidade da galinha devem ser tomadas em consideração, baseados no seguinte:

• Organização/formação de grupos de produção e de comercialização e estabelecimento da cadeia de comercialização estável é importante para que os criadores obtenham ou possam negociar um bom preço no mercado. Os criadores precisam de estar juntos para assegurarem melhores preços, acesso a informação, treinos e insumos e também para terem acesso a serviços financeiros,

• Há uma necessidade de ligar a produção à comercialização focalizando numa produção de galinha orientado para o mercado. A intervenção da extensão deve abordar tanto a produção (produtividade) como a comercialização.

• Treinamento para os criadores e extensionistas orientado para controlo de doenças, melhoramento de capoeiras, alimentação e comercialização.

Tentativas devem ser feitas para mudar o paradigma da produção tradicional para produção intensiva de pequena escala melhorado, com um suporte de serviços de saúde, extensão, crédito (particularmente destinado a criação de galinhas) e comercialização, para torna-la produtiva e rentável. Para tal, exige uma especial e urgente intervenção por parte das instituições governamentais em causa e das ONGs.

Considerações e aspectos a ponderar na construção de um matadouro de aves na vila sede do distrito de Morrumbala

Construção do matadouro

Assumindo o fluxo e a prática de criação actual, sugere-se numa primeira fase seguir as recomendacoes efectuadas e a implementação das estratégias abaixo descritas.

Estratégias para viabilizar o matadouro

ü Dar capacitação aos criadores dos AF’s para melhorar o maneio geral e garantir uma produção de galinhas sustentavel.

ü Criar Associações de criadores com o mesmo propósito da criação de galinhas.

ü Treinar e equipar vacinadores comunitários para vacinar durante as campanhas contra a doença de Newcastle, nos meses recomendados sem grande dependencia dos Serviços de Pecuária.

ü Construção de aviários de produção de frangos de corte para viabilização do abate diário sem depender apenas da produção da galinha local.

ü 2 aviários com a capacidade de produção de 5000 pintos cada.

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ü Formação dos gestores dos aviários em técnicas de produção de frangos de corte maneio geral.

ü Orientação de revendedores para a venda de pintos, ração e de medicamentos mediante encomendas para início de produção de frango de corte em Morrumbala. Quelimane neste momento depende das provincias vizinhas para abastecimento do frango congelado.

ü Instalação de moageiras para moagem do milho e leguminosas entre outros que po derão melhorar a alimentação das galinhas locais.

ü Instalação de misturadoras para o fabrico de ração, baseada em concentrados (adquiridos fora da provincia) e milho (adquirido dentro da provincia).

ü Produção de viveiros e multiplicação de Moringa oleifera como fonte potencial de proteina não competitiva com a alimentação humana.

ü Distribuição de galos da raça Koekoek adaptados ao sistema de produção extensiva e consequente aumento da produção de carne.

ü Aquisição de uma viatura para a recolha e transporte de galinhas dos criadores para o matadouro.

ü Aquisicão de uma viatura frigorífica para o transporte dos produtos do matadouro de Morrumbala para a cidade de Quelimane.

Tipo de matadouro a ser construído

Depois do cumprimento das prioridades para viabilizar o matadouro existe a necessidade de se seguir as normas de contacto com as Instituições regulamentadas e relacionadas para a sua construção com as caracteristicas básicas abaixo indicadas:

ü Construção de uma casa de matança em vez de um matadouro, que seja funcional, viável

e que cumpra com todos os requisitos de higiene e bioseguranca do próprio local e das

aves antes e depois do abate.

ü Matadouro Semi – automático com uma capacidade minima de abate de 500 frangos por dia, perfazendo um total de 11000 frangos por mês.

ü Com capacidade de se realizar a expansão do empreendimento no futuro, com a previsão do aumento da produção e produtividade das galinhas locais.

ü Com tanques de água e sistema de água canalizada, para fornecimento de um produto de qualidade.

ü Com sistema de cámaras frigoríficas.

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ü Com sistema de drenagem para um bom saneamento do meio, higiene, limpeza e biossegurança que não comprometam o meio ambiente.

Para a construção do matadouro devem ser respeitados os seguintes requisitos

ü Atendimento aos critérios de elegibilidade do local para a construção do matadouro.

ü Submissão deste tipo de empreendimento ao Governo da província envolvendo a partida

as Instituições Distritais e Provinciais de Agricultura e Pecuária e Obras Públicas e

Habitação.

ü Estabelecimento de parceria do INGC com Instituições de Investigação, Indústria e

Comércio e outras relevantes.

41    

REFERÊNCIAS

Aini, I. 1990. Indigenous chicken production in South-East Asia. World’s poultry science journal.

Amaral, C. C., e Mlay, G. 2012. Análise de Custos e Rentabilidade da Produção Frangos no Sul de Moçambique – Estudo de Caso na Granja da Faculdade de Veterinária. Relatório de Estudo No. 1. Maputo: Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologias- Centro de Estudos Sócios-Económicos.

Babji A S. 2001. Asian poultry processing adjusts to domestic market demands. World Poultry.

Emuron, N., Magala, H., Kyazze, F. B., Kugonza D. R., and Kyarisiima C. C. 2010. Factors influencing the trade of local chickens in Kampala city markets. Department of Animal Science, Makerere University. Kampala, Uganda.

FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), 1998. Village chicken production systems in rural Africa Household food security and gender issues. FAO Animal Production and Health Paper 142. http://www.fao.org/docrep/003/w8989e/W8989E04.htm.

Gueye, E. F. 2003. Poverty alleviation, food security and the well-being of the human population through family poultry in low income food-deficit countries. Senegalese Institute of Agricultural research (ISRA), B.P.2057, Dakar-hann, Senegal.

Garcês, A. 2008. Poultry Production in Southern Africa. 1st edition. Eduardo Mondlane University. Maputo. Mozambique.

IOF 2008/09. Inquérito sobre Orçamento Familiar. 2008. Quadros básicos. Instituto Nacional de Estatística. Maputo, Moçambique.

INE (Instituto Nacional de Estatísticas). 2008. Estatísticas de Moçambique. Maputo: Instituto Nacional de Estatísticas.

MINAG (2009). Estudo de Caso sobre a segurança Alimentar e Nutricional no processo de desenvolvimento em Moçambique. Ministerio da Agricultura. Relatório. Maputo. Moçambique.

MPD/DNEAP (2010) Third Poverty Assessment in Mozambique. Maputo: Ministry of Planning and Development, National Directorate of Applied Studies and Policy.

Oh, B.T. 1990. Economic importance of indigenous chickens in west Malaysia. In proceedings, CTA Seminar. 3rd

international symposium on poultry production in hot climates, Hamelin, Germany

42    

Pandey, V.S. 1992. Epidemiology and economics of village poultry production in Africa: overview. In Pandey, V.S. and Demey, F., Village poultry production in Africa, 1992. Conference proceedings. Rabat, Morocco.

PEDD (Plano Estratégico do Desenvolvimento Distrital), 2007-2011. Distrito de Morrumbala.

SPP (Serviços Provinciais da Pecuária). 2009. Relatório dos Serviços Provinciais de Pecuária. Quelimane, Moçambique.

SPP (Serviços Provinciais da Pecuária). 2010. Relatório dos Serviços Provinciais de Pecuária. Quelimane, Moçambique.

Ssewannyana, E., Ssali, A., Kasadha, T., Dhikusooka, M., Kasoma, and Kalema, P. 2004. Characterization of indigenous chickens of Uganda, Kampala, Uganda.

TIA, Trabalho de Inquérito Agrícola. Surveys conducted in 2008 by the Direcção de Economia, Departamento de Estatistica, Ministério da Agricultura, Maputo.

Tomo, A., A. (2009). Economic Impact of Newcastle Disease Control in Village Chickens: A case study in Mozambique. MSc Thesis, Michigan State University.

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ANEXO

Anexo A 1. Principais causas de perda de galinhas 1ro problema mais importante Frequência Percent Doenças 87 89.7 Predadores 9 9.3 Roubos 1 1.0 Total 97 100 Anexo A 2. Movimento dos efectivos nos últimos 6 meses

Galo

Galinha

Bairro Nr comprados

Nr consumido

Nr oferecido

Nr vendido

Nr mortas

Mecaula 15 88 32 119 119 Mponha 13 32 13 30 32 Zuzi 10 49 10 41 35 Ndambuenda 12 47 11 73 66 Total_galinha 50 216 66 263 252 (32%)

Bairro Nr comprados

Nr consumido

Nr oferecido

Nr vendido

Nr mortas

Mecaula 1 42 4 54 39 Mponha 9 23 2 40 13 Zuzi 2 22 2 21 3 Ndambuenda 3 25 5 22 15 Total_galo 15 112 13 137 70 (32%)

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Pinto

Bairro Nr comprados

Nr consumido

Nr oferecido Nr vendido Nr mortas

Mecaula 0 3 22 16 192 Mponha 0 0 0 4 48 Zuzi 0 2 0 0 45 Ndambuenda

0 15 0 0 55

Total_pinto

0 20 22 20 340 (44%)

Anexo A 3. Indicadores de produtividade por bairro

Bairros Nr.médio de

postura/ano Nr.médio de ovos/postura

Nr.de pintos que

eclodem

Nr.de pintos que

sobrevivem até aos 2meses

% de sobrevivência

% de mortalidade

Mecaula 3.1 13.9 11.5 8.1 70.1 29.9 Mponha 3.1 13.9 11.4 8.0 70.2 29.8 Ndambuenda 3.4 12.4 10.5 7.7 73.5 26.5 Suze 3.1 13.4 11.1 8.0 72.0 28.0 µ. Total 3.17 13.4 11.1 7.9 71.5 28.5

Anexo A 4. Locais onde os predadores/parasitas frequentimente atacam as galinhas

Predadores/Parasitas Nome local Local onde ataca Pastoreio Capoeira

Cães Chicos 3 (2.3%) 0 (0%) Cobra Nhoca 6 (4.5%) 0 (0%) Ladrões Mbava 2 (1.5%) 4 (19%) Milhafre Tangue/Lumbira 68 (51.5%) 3(14.3%) Pulgas Ungui/Pituto 19 (14.4%) 11(52.4%) Raposa Nhenga/Paca 31(23.5%) 2 (9.5%) Gato-do-mato Chilo 2 (1.5%) 1 (4.8%) Vermes Nquinha 1 (0.8%) 0 (0%) Total

132 21

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Anexo A 5. Coeficiêntes de produção de galinhas landim nos países em desenvolvimento

País Nr. de posturas por ano

Nr. de ovos por postura Eclodibilidade (%) Mortalidade (%)

Pintos Aves adultas Africa2 - - 60 - 95 - - Ethiopia - - 39–42 - 1.1–1.7 Burkina Faso 2.7–3.0 12–18 60–90 - - Tanzania - 6–20 50–100 >80 - Ghana 2.5 10 72 50 50 Mali 2.1 8.8 69.1 56 - Sudan 4.5 10.87 90 - - Uganda3 2 - 3 14 80 - 90 25 Fonte: FAO, 1998

Anexo A 6. Distribuição do tamanho do AF Tamanho do AF Frequência Percentagem Menos de 3 membros 5 5 4 – 5 membros 12 12 6 – 9 membros 52 53 Mais de 9 membros 30 30 Média 8 Mínimo 2 Máximo 17

2 Fonte: Gueye, 2003. 3 Fonte: Ssewannyana et al., 2004.